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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 48.736 - PA (2005/0167728-9)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP:


Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de ANA TEREZA SERENI
MURRIETA, contra ato do Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do
Pará, o qual designou determinado magistrado para conduzir, em 1º grau jurisdicional, o processo
em que se apura a eventual prática de crimes pela paciente, quando ainda era Juíza Titular da 1ª
Vara Cível da Comarca de Belém/PA.
Colhe-se dos autos que em 23/10/2002 a Procuradoria Geral da República - PGR
protocolizou notícia crime perante esta Corte Superior de Justiça, na qual narrava a suposta
prática, pela paciente, de saques de depósitos judiciais realizados pelas partes e postos à
disposição do Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Belém/PA (Notícia Crime N.º 293/PA –
2002/0136340-6).
Á época da referida notícia criminal, a paciente ocupava o cargo de
Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Pará.
A notícia crime foi reautuada como inquérito policial, com segredo de justiça, pela
Relatora Ministra Eliana Calmon (Ação Penal n.º 317 – PA - 2002/0136340-6).
Em 04/06/2004, todavia, os autos foram remetidos ao Juízo de primeiro grau, em
decorrência da aposentadoria da paciente (fls. 43/44).
Os autos ingressaram na Corte Estadual em 03/02/2005, sendo distribuídos ao
Juízo da 7ª Vara Penal da Capital/PA (Proc. n.º 2005.2.004.551-6).
A denúncia contra a paciente foi oferecida pelo Ministério Público local em
29/04/2005, imputando-lhe a prática dos delitos previstos nos arts. 312, caput, (157 vezes), 297, §
1º (157 vezes) e 299, § único (03 vezes), c/c arts. 70 e 71, todos do Código Penal (fls. 61/81).
Aos 04/05/2005, porém, o Juiz em exercício perante aquela 7ª Vara Penal alegou
suspeição para presidir o processo (fl. 82).
Redistribuídos os autos, o mesmo ocorreu em 17/05/2005 com o Magistrado da 9ª
Vara Penal (fl. 87) e em 25/05/2005 com a Juíza da 11ª Vara Criminal (fl. 91).
Em razão das referidas recusas, a Diretora do Fórum Criminal enviou ofício (Of.
n.º 636/2005) ao Presidente do Tribunal a quo, Desembargador Milton Augusto de Brito Nobre,
ora tido como autoridade coatora, por meio do qual foram relatados os fatos que dificultavam o
regular andamento do feito e comprometiam a celeridade processual (fls. 09/10).
Foi então que o Presidente da Corte a quo expediu a portaria n.º 0776/2005 – GP,
na qual designou o Juiz de Direito da 14ª Vara Penal da Capital/PA, Dr. Paulo Gomes Jussara
Júnior, para presidir os autos do referido processo.
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Eis o teor da Portaria (fl. 11):

“Portaria Nº 077/2005 – GP.

O Desembargador MILTON AUGUSTO DE BRITO NOBRE ,


Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, no uso de suas atribuições
legais, etc
.
CONSIDERANDO o teor do Ofício nº 363/2005, da Exma. Sra.
Diretora do Fórum Criminal da Comarca da Capital, acerca das sucessivas
argüições de suspeição de Magistrados nos autos de Procedimento Criminal nº
2005.2.004.551-6;
CONSIDERANDO que a redistribuição de autos exige medidas que
importam em dilação temporal, evidenciando retardamento no seu regular
processamento;
CONSIDERANDO ser objetivo desta Presidência coibir a
morosidade da Justiça;
CONSIDERANDO a necessidade e de imprimir celeridade nos feitos
submetidos a tutela judicial,

RESOLVE :

DESIGNAR o Exmo. Sr. Dr. PAULO GOMES JUSSARA JÚNIOR,


Juiz de Direito da 14ª Vara Penal da Capital, para presidir os autos do
Procedimento Criminal nº 2005.2.004.551-6, os quais deverão ser redistribuídos à
respectiva Vara.

Publique-se, Registre-se e Cumpra-se.

Belém (PA), 31 de maio de 2005.

Des. MILTON AUGUSTO DE BRITO NOBRE


Presidente do T.J.E./Pa. ”

Daí o presente writ, no qual se alega que a designação de magistrado para


presidir um feito criminal, sem que seja observado o devido processo de distribuição, privilegiando
critérios subjetivos em detrimento do comando legal, revela inequívoca ofensa ao princípio do juiz
natural e à legislação infraconstitucional pertinente.
Aduz-se que as disposições do Código Judiciário do Pará, bem como o Regimento
Interno do Tribunal a quo prevêem a possibilidade de o Desembargador Presidente designar
magistrado em caso de falta ou impedimento de juiz, “mas, unicamente, onde haja uma só
Vara; não, porém, como na hipótese dos autos, onde remanesciam, ainda, dezoito juízes
para o legal sorteio” (fl. 05).
Ao final, pugna-se pela nulidade do processo, desde o início, com a renovação dos
atos instrutórios.

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Liminar indeferida (fl. 21).
Informações prestadas pela autoridade apontada coatora às fls. 25/32,
acompanhadas dos documentos de fls. 34/171.
Sobreveio aos autos sentença penal proferida em desfavor da paciente pelo Juízo
da 14ª Vara Penal da Capital/PA (175/254), na qual restou condenada à pena de 12 anos, 09
meses e 10 dias de reclusão, em regime fechado, e 240 dias-multa, pela prática do delito previsto
no art. 312, c/c art. 71, ambos do Código Penal.
A Subprocuradoria-Geral da República opinou pela concessão da ordem
(fls. 256/258).
É o relatório.
Em mesa para julgamento.

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HABEAS CORPUS Nº 48.736 - PA (2005/0167728-9)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP (Relator):


Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de ANA TEREZA SERENI
MURRIETA, contra ato do Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do
Pará, o qual designou determinado magistrado para conduzir, em 1º grau jurisdicional, o processo
em que se apura a eventual prática de crimes pela paciente quando atuava como Juíza Titular da
1ª Vara Cível da Comarca de Belém/PA.
Em razões, alega-se que a designação de magistrado para presidir um feito
criminal, sem que seja observado o devido processo de distribuição, privilegiando critérios
subjetivos em detrimento do comando legal, revela inequívoca ofensa ao princípio do juiz natural e
à legislação infraconstitucional pertinente.
Aduz-se que as disposições do Código Judiciário do Pará, bem como o Regimento
Interno do Tribunal a quo prevêem a possibilidade de o Desembargador Presidente designar
magistrado em caso de falta ou impedimento de juiz, “mas, unicamente, onde haja uma só
Vara; não, porém, como na hipótese dos autos, onde remanesciam, ainda, dezoito juízes
para o legal sorteio” (fl. 05).
Ao final, pugna-se pela nulidade do processo, desde o início, com a renovação dos
atos instrutórios.
Merece prosperar a impetração.
Com efeito. Ao prestar informações no presente writ, a autoridade apontada
coatora aduziu que “a designação do MM. Juiz titular da 14ª Vara Criminal para presidir a
ação penal em referência, após três sucessivas argüições de suspeição, atendeu a
imperativo de ordem prática visando dinamizar outro postulado igualmente importante,
qual seja a observância à celeridade processual, sem a qual a prestação jurisdicional não
se efetiva” (fl. 29).
E prosseguiu dizendo:

“Ora, a excessiva demora na prestação jurisdicional estava


evidente e precisava ser coibida, pois não se pode admitir que decorrido
quase um mês da apresentação da denúncia, ainda não houvesse nenhum
magistrado apto a instruir o feito. Além do mais, deve-se considerar que a
ação penal em comento apura a conduta da ré que, segundo a denúncia do
parquet, utilizando-se da qualidade de juíza, assinava alvarás de conteúdo
ideologicamente falsos para assim apropriar-se de valores colocados a sua
disposição, fato que, além de causar repercussão negativa na opinião
pública, ofende todos os princípios da ética e do direito.
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Ressalte-se, por oportuno, que o juízo designado deu pronto
impulso ao feito, recebendo a denúncia oferecida pelo Ministério Público
Estadual, ofertada com fundamento no art. 312, caput (157 vezes), art. 297,
§ 1º (157 vezes), art. 299, parágrafo único (3 vezes) combinado com os arts.
70 e 71 do CPP, instruindo o feito, ouvindo testemunhas de acusação e de
defesa, interrogando a ré, decidindo questões incidentes, enfim garantindo
à denunciada o direito a mais ampla defesa e ao contraditório, sendo que
no momento, o processo encontra-se suspenso até a conclusão do incidente
de sanidade mental argüido pela ré, e acatado pelo magistrado, que corre
em autos apartados (cópias anexas).
Aliás, em 22/06/2005, o patrono da paciente interpôs exceção
de incompetência, argumentando, àquela altura, que o foro competente para
processar e julgar desembargadora aposentada é o Tribunal de Justiça do
Estado do Pará. O MM. Juiz da 14ª Vara Criminal, calcado na decisão
prolatada pela Min Eliana Calmon – já transitada em julgado – declinando
de sua competência para a Justiça Estadual de 1º grau do Estado do Pará,
rechaçou a exceção, dando-se como competente para prosseguir na
presidência da instrução processual e para prolatar futura decisão
terminativa (cópias anexas). Dessa decisão não houve recurso.
Deve-se frisar, portanto, que a garantia da ré ao processo
justo e julgamento imparcial, um dos embasamentos do princípio do juiz
natural, vem sendo cumprido, estando evidenciado que todos os
procedimentos legais para o bom andamento do feito vêm sendo observados,
inclusive quanto aos prazos previstos em lei, havendo o regular trâmite da
ação.
Cai por terra, desse modo, a alegação do impetrante de que a
designação do magistrado – que só decorreu, repita-se, após a evidência de
demora injustificada – trouxe incontornáveis prejuízos aos direitos da
paciente, pois a instrução célere e isenta do feito, inclusive com o
acatamento de incidente processual interposto pela ré, que culminou com a
suspensão do processo, revela que a idéia reitora do princípio do juiz
natural, qual seja a garantia das partes e eficácia plena da jurisdição, vem
sendo observada.
Também não é demais registrar que, conforme dispõe o art.
563 do CPP 'nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para a defesa'. Na hipótese, está sobejamente
demonstrado que não houve qualquer prejuízo para a defesa, tendo sido
garantido seu direito ao contraditório e ampla defesa, corolários do devido
processo legal. Na verdade, a impetração deste habeas corpus, passados
mais de quatro meses da edição da Portaria impugnada, revela tão somente
a intenção protelatória do impetrante, insatisfeito, por certo, com a pronta
resposta do judiciário em impulsionar e julgar a ação penal intentada
contra a magistrada aposentada.
Pelo exposto, apresentando as informações solicitadas,
espero que não seja deferido o pedido de habeas corpus.” (fls. 30/31)

Da análise das informações, entretanto, verifica-se assistir razão ao impetrante no


tocante à alegada violação ao princípio do juiz natural, esculpido nos incisos XXXVII e LIII do
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art. 5º, da Carta Magna, que assim dispõem, respectivamente:

“CF/88 - Art. 5º - (...)


(...)
XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)
LII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente”

Ora, a designação de determinado magistrado para presidir o processo instaurado


contra a paciente foi justificada na necessidade de se imprimir celeridade ao feito, atendendo ao
imperativo da ordem pública – fundamento cerne do ato impugnado.
No entanto, o referido aspecto é mera conseqüência da anterior e necessária
observância ao princípio do juiz natural, que impõe seja fixado previamente ao crime praticado o
órgão do Poder Judiciário competente para o seu julgamento, como condição de existência da
própria atividade jurisdicional do Estado.
Conforme relatado, após três magistrados terem se declarado suspeitos para
presidir o feito, houve por bem o Presidente da Corte a quo designar o Juiz da 14ª Vara da
Comarca da Capital/PA para presidi-lo, por meio de Portaria expedida exclusivamente para esse
fim.
Em pesquisa feita pelo Gabinete na página eletrônica do Tribunal de Justiça do
Estado do Pará, verificou-se a existência de 22 (vinte e duas) Varas Penais na Comarca da
Capital, todas, em tese, competentes para processar o feito.
Assim, não obstante as três declarações de suspeição ocorridas pelos Juízes
atuantes nas 7ª, 9ª e 11ª Varas Penais, o critério objetivo, transparente e imparcial de distribuição
automática dos processos deveria continuar sendo observado pelo Tribunal a quo, até que algum
dos Juízes daquela Comarca aceitasse julgar o processo.
Destaco, nesse sentido, o que restou consignado no parecer da
Subprocuradoria-Geral da República (fl. 257):

“(...)
No caso dos autos, resta evidente que não foram esgotadas as
possibilidades de distribuição do feito entre os juízes em princípio
competentes para processá-lo e julgá-lo. De modo que, como inscrito no
voto proferido pelo Ministro Felix Fischer, no HC 12.403, trazido à colação
na inicial do writ, a designação e um juízo sem a observância do critério legal de
distribuição fere frontalmente o princípio do juiz natural, eivando de nulidade todos
os atos praticados após a referida designação.
Tampouco se diga que é possível fazer uma ponderação entre
os princípios do juiz natural e da celeridade processual, estipulando-se
aquele que há de prevalecer em face do caso concreto, ainda em situação
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de absoluta excepcionalidade.
É que, rigorosamente, o princípio da celeridade processual
pressupõe a observância do princípio do juiz natural. Só há que se falar em
processo em face de juiz competente. A ofensa ao princípio do juiz natural
impede que se instaure validamente a relação processual. E se esta não
existe, não há como lhe conferir maior celeridade.”

De fato. Não há como se sobrepor a garantia da celeridade processual ao


princípio do juiz natural, eis que a inobservância deste princípio – frise-se, pressuposto de validade
da atuação jurisdicional do Estado –, faz com que celeridade e todas as demais garantias
processuais asseguradas pela Constituição Federal não tenham razão de ser.
Assim, ainda que visando a imprimir celeridade na prestação jurisdicional e
afastar o clamor público que a conduta atribuída à paciente causou na população local, é
imprópria e ilegal a designação de determinado órgão jurisdicional para julgar o feito, eis que
referido ato possui nítida natureza discricionária, fruto de critério subjetivo de escolha,
subtraindo-se do processo de determinação do órgão judicante a necessária lisura e
transparência, próprias do critério de distribuição automática e aleatória.
Nesse mesmo sentido, transcrevo as lições de Antônio Scarance Fernandes sobre
o Princípio do Juiz Natural e as garantias dele decorrentes, em sua obra “Processo Penal
Constitucional”, 4ª Edição, Ed. Revista dos Tribunais, 2005, págs. 132/133:

“Embora dúplice a garantia, manifestada coma proibição de


tribunais extraordinários e com o impedimento à subtração da causa a
tribunal competente, a expressão ampla dessas garantias desdobra-se em
três regras de proteção:
1ª) só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela
Constituição;
2ª) ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o
fato;
3ª) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa
de competências que exclui qualquer alternativa deferida à
discricionariedade de quem quer que seja.” (g.n).

Ante o exposto, concedo a ordem para anular o processo n.º 2005.2.004551-6,


desde o recebimento da denúncia, inclusive, determinando-se sejam os autos redistribuídos, tanto
quanto necessário, de forma automática e aleatória dentre os juízos criminais de primeiro grau da
Comarca da Capital do Estado do Pará, a fim de se que seja validamente fixado o órgão
jurisdicional competente para presidir o feito.
É como voto.

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