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Como visto, o Constituinte Originário fez alusão à necessidade de lei para definir
as condições para a concessão do benefício -- clássico exemplo de NORMA DE
EFICÁCIA LIMITADA OU REDUZIDA, pois demanda a integração de norma
infraconstitucional que lhe garanta a aplicação, cabendo ao legislador regulamentá-
la.
Tal prestação pecuniária assistencial foi instituída pela Lei nº 8.742, de
07/12/1993, denominada Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, que veio a
regulamentar o dispositivo constitucional acima mencionado.
Embora não se trate de benefício previdenciário, sua concessão e administração
cabem ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em razão do princípio da
eficiência administrativa. Tratando-se de pessoa jurídica de direito público, a
Autarquia Previdenciária atua vinculada ao PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA.
O caput do artigo 20 da Lei 8.742/93 dispõe que o benefício de prestação
continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao
idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Há, portanto, um
REQUISITO ECONÔMICO, detalhado no parágrafo terceiro, PARÂMETRO
OBJETIVO para a aferição da miserabilidade daquele que requer o benefício
assistencial.
A prática mostrou ser o requisito econômico o mais tormentoso e polêmico,
dando azo a infindáveis questionamentos judiciais e doutrinários.
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A realidade mostrou-se mais complexa do que inicialmente previra o legislador
ordinário, revelando que tal definição não era capaz de promover a justiça em
determinados casos.
Diante dos fatos, ocorreu que os juízes de primeira instância, ao tomarem
contato direto com os potenciais beneficiários do auxílio, passaram a entender que o
requisito econômico, na forma prevista na lei de regência, seria apenas um dos
elementos possíveis para a aferição da miserabilidade, não excluindo outros
elementos de prova que pudessem vir a ser colhidos pela no âmbito administrativo
ou judicial.
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3.2 Reclamação nº 4.374/ PE e Recurso Extraordinário nº 567.985/MT
Foi então que o Supremo Tribunal Federal decidiu que o parâmetro objetivo do
parágrafo 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93 passou por um PROCESSO DE
INCONSTITUCIONALIZAÇÃO, tornando-se incompatível com a Constituição Federal
de forma superveniente, em decorrência de manifestas mudanças fáticas e jurídicas
– notadamente, sucessivas modificações legislativas que tratam de outros benefícios
assistenciais prestados pelo Estado – que revelaram a insuficiência do parâmetro
legal para dar a devida cobertura aos necessitados do benefício de prestação
continuada. Por fim, restou consignado que a situação de inconstitucionalidade do
referido dispositivo demandaria a necessária intervenção do legislador para ajustar a
sistemática legal aos ditames constitucionais.
Na mesma oportunidade, foi julgado pelo Plenário do STF o Recurso
Extraordinário 567.985/MT, que também teve como Relator para o acórdão o
Ministro Gilmar Mendes, e ratificou a declaração de inconstitucionalidade
incidenter tantum do parágrafo 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93.
Sobre a INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA do dispositivo em tela,
reconhecida pelos Ministros da Suprema Corte, encontramos na doutrina as
seguintes considerações tecidas por Kildare Gonçalves Carvalho (2008, p. 357):
“Ocorre nos casos em que a lei, que nasceu constitucional, vai
transitando para a esfera da inconstitucionalidade,até tornar-se írrita.
A implementação de uma nova ordem constitucional não é um fato
instantâneo, mas um processo em que a possibilidade de realização
da norma da Constituição subordina-se muitas vezes a alterações da
realidade fática que a viabiliza.”
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Aplica-se à evolução interpretativa do dispositivo em questão A TEORIA DA
NORMA AINDA CONSTITUCIONAL, em trânsito para a inconstitucionalidade ou
inconstitucionalidade progressiva, marcada pela influência das mudanças no quadro
fático na atualização da interpretação das normas infraconstitucionais. Assim, uma
norma já considerada constitucional em ocasiões anteriores, pode ser reanalisada
sob o prisma dos novos acontecimentos fáticos-normativos, que resultam em sua
inconstitucionalidade superveniente.
Tal como apontado por Daniel Sarmento, entre críticos e entusiastas deste novo
paradigma há relativo consenso na definição de suas características centrais, que
seriam: a valorização dos princípios, adoção de métodos ou estilos mais abertos e
flexíveis na hermenêutica jurídica, com destaque para a ponderação, abertura da
argumentação jurídica à Moral, mas sem recair nas categorias metafísicas do
jusnaturalismo, reconhecimento e defesa da constitucionalização do Direito e do
papel de destaque do Judiciário na agenda de implementação dos valores da
Constituição. A virada no entendimento da Corte constitucional acerca do requisito
da miserabilidade do benefício de prestação continuada ilustra bem este seu novo
modo de atuação.
5. CONCLUSÃO
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apontamento do Judiciário ao Legislativo, para que este despenhe sua função
institucional de criar normas conformes à Constituição – o que não deixa de suscitar
sérios questionamentos sobre provável ameaça à separação dos poderes.
Contudo, não parece totalmente adequado classificar a situação presente como
de insegurança jurídica, mas sim como uma fase de transição, que antecede a
fixação de novas balizas de concessão e a regulamentação de um novo
procedimento administrativo de aferição da miserabilidade do postulante ao benefício
assistencial.
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Seção IV
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
§ 4o O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com
qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e
da pensão especial de natureza indenizatória. § 5o A condição de acolhimento em instituições de
longa permanência não prejudica o direito do idoso ou da pessoa com deficiência ao benefício de
prestação continuada. § 6º A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do
grau de impedimento de que trata o § 2o, composta por avaliação médica e avaliação social realizadas
por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social - INSS.
§ 7o Na hipótese de não existirem serviços no município de residência do beneficiário, fica
assegurado, na forma prevista em regulamento, o seu encaminhamento ao município mais próximo
que contar com tal estrutura. § 8o A renda familiar mensal a que se refere o § 3o deverá ser
declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujeitando-se aos demais procedimentos
previstos no regulamento para o deferimento do pedido.§ 9º A remuneração da pessoa com
deficiência na condição de aprendiz não será considerada para fins do cálculo a que se refere o § 3 o
deste artigo. § 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do § 2 o deste artigo,
aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos.
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