Sei sulla pagina 1di 242

Programa de Apoio à Produção de Material Didático

Sarita Leonel
Aloísio Costa Sampaio

ABACATE:
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO
L583a Leonel, Sarita
Abacate : aspectos técnicos da produção / Sarita
Leonel, Aloísio Costa Sampaio. – São Paulo :
Universidade Estadual Paulista : Cultura Acadêmica
Editora, 2008
239 p.

ISBN 978-85-98605-44-9

1. Abacate – produção. I. Sampaio, Aloísio Costa. II.


Título.
CDD 634.653

Ficha catalográfica elaborada pela Coordenadoria Geral de Bibliotecas da Unesp


Universidade Estadual Paulista

Reitor
Marcos Macari

Vice-Reitor
Herman Jacobus Cornelis Voorwald

Chefe de Gabinete
Kléber Tomás Resende

Pró-Reitora de Graduação
Sheila Zambello de Pinho

Pró-Reitora de Pós-Graduação
Marilza Vieira Cunha Rudge

Pró-Reitor de Pesquisa
José Arana Varela

Pró-Reitoria de Extensão Universitária


Pró-Reitora
Maria Amélia Máximo de Araújo

Pró-Reitoria de Administração
Pró-Reitor
Julio Cezar Durigan

Secretaria Geral
Secretária Geral
Maria Dalva Silva Pagotto

Cultura Acadêmica Editora


Praça da Sé, 108 - Centro
CEP: 01001-900 - São Paulo-SP
Telefone: (11) 3242-7171
APOIO:

FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP


FUNDAÇÃO PARA O VESTIBULAR DA UNESP - VUNESP
CGB - COORDENADORIA GERAL DE BIBLIOTECAS

COMISSÃO EXECUTIVA

Elizabeth Berwerth Stucchi


José Roberto Corrêa Saglietti
Klaus Schlünzen Junior
Leonor Maria Tanuri

APOIO TÉCNICO

Cecilia Specian
Ivonette de Mattos
José Welington Gonçalves Vieira

PROJETO GRÁFICO
SUMÁRIO

Mercado nacional para o abacate.................................... 7


Botânica e biologia reprodutiva do abacateiro.................... 17
Ecofisiologia do abacateiro............................................. 25
Principais variedades de abacateiro................................. 37
Propagação do abacateiro.............................................. 65
Planejamento e instalação de pomares de abacateiro........... 75
Viabilidade econômica da irrigação no abacateiro.............. 81
Nutrição e adubação do abacateiro.................................. 113
Adubação orgânica do abacateiro.................................... 125
Manejo de culturas intercalares no pomar de abacateiro...... 137
Sistema de podas e reguladores vegetais no manejo da copa
do abacateiro............................................................... 153
Doenças do abacateiro................................................... 167
Principais pragas do abacateiro....................................... 175
Colheita do abacate....................................................... 185
Pós-colheita do abacate.................................................. 199
Abacate como fonte terapêutica...................................... 215
SOBRE OS ORGANIZADORES

Sarita Leonel, Engenheira Agrônoma, Mestre e Doutora em


Agronomia/Horticultura pela Faculdade de Ciências Agronômicas da
UNESP, câmpus de Botucatu/SP. Professor Adjunto do Departamento
de Produção Vegetal, setor Horticultura da FCA/UNESP/Botucatu.
Vice-coordenadora do Programa de pós-graduação em Horticultura.
Atua em nível de graduação e pós-graduação na área de fruticultura.

Aloísio Costa Sampaio, Agrônomo, Mestre em Produção Veg-


etal pela FCAV/Unesp/Jaboticabal, Doutor em Horticultura pela FCA/
Unesp/Botucatu. Docente do Departamento de Ciências Biológicas
da Unesp/FC/Bauru e do Curso de Pós-graduação em Horticultura
da FCA/Unesp/Botucatu. Coordena o grupo de pesquisa e extensão:
Biologia aplicada à agricultura.
MERCADO NACIONAL E MUNDIAL PARA O ABA-
CATE

Angela Vacaro de Souza1

Dentre as atividades agropecuárias, a fruticultura é uma das


maiores demandadoras de mão-de-obra. Num país que apresenta
grande carência de emprego e de melhores condições de vida no meio
rural, esse seu potencial empregador pode contribuir para minimizar
problemas como o êxodo rural, o desemprego permanente ou sazonal
e a baixa geração de renda pelo segmento produtivo.
Apesar do desenvolvimento, inclusive com a adoção de programas
de qualidade e rastreabilidade das frutas (PIF - Produção Integrada de
Frutas), que atendem a mercados mais exigentes, é fato que a oferta
de informações, para embasar a tomada de decisão dos empresários
nos vários segmentos da cadeia produtiva ainda é bastante escassa no
país. Foram poucos instrumentos disponibilizados nos últimos anos
para uma avaliação mais precisa dos mercados, suas oportunidades e
riscos, frente às várias opções de fruteiras cultiváveis no país.
Nesse ambiente, podemos esperar que momentos de dificuldade
possam surgir em um futuro próximo para algumas espécies ou varie-
dades de frutas, já que o crescimento observado na atividade não foi
planejado de acordo com a evolução dos mercados.
Outro fator de risco, que deve ser considerado, é a concentração
da produção de algumas fruteiras em poucas variedades, já que podem
haver riscos sanitários, caso surjam pragas que afetem fortemente essas
variedades, ou de mercado, com a queda na aceitação da variedade,
pelo surgimento de outra com características melhores, ou pela simples
substituição, pelo consumidor, por outras frutas.
Recente estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO, 2004) indica uma excelente perspec-
tiva para a demanda de frutas tropicais nos principais mercados, pre-
vendo uma taxa anual média de 8% para o crescimento das impor-
tações mundiais até 2010. O mesmo estudo, no entanto, alerta para
a necessidade de investimentos no controle de qualidade, ao mesmo
Eng. Agrônoma, Mestranda pelo Departamento de Produção Vegetal – Horticultura, Faculdade de Ciências
1

Agronômicas/FCA/UNESP – C.P. 237 – CEP 18.610-307- Botucatu, SP – angelavacaro@hotmail.com.


8 • ABACATE
tempo que crescem as barreiras não tarifárias nos principais países
importadores.
Os produtores brasileiros vêm investindo pesadamente, com o
apoio do governo federal, na produção e pós-colheita, para adequar
nossas frutas às exigências dos principais mercados e têm buscado
ampliar os mercados compradores, através de ações de promoção.
Originário da américa tropical, de regiões colonizadas pelos espa-
nhóis, o abacate se espalhou até a América do Sul chegando a Amazônia,
podendo ser encontrado em todas as regiões do globo que possuem
solos férteis e onde haja calor que lhe seja suficiente.
Considerado uma das frutas tropicais mais valiosas, o abacateiro
é cultivado na maioria das regiões tropicais e subtropicais, princi-
palmente no México, América Central, partes das América do Sul,
nas Índias Ocidentais, África do Sul, Israel e no Havaí; e em menor
expressão, na Índia, República Malgache, Reunião, Madeira, Samoa,
Taiti, Argélia, Austrália, EUA (Flórida e Califórnia), entre ou-tros
(TEIXEIRA, 1991).
Certamente, o primeiro fator a ser considerado, durante a escolha
do local é o mercado final para o cultivar que se pretende plantar. O
abacateiro somente inicia sua produção a partir de 3-4 anos de idade,
atingindo o pico aos 15 anos, requerendo-se desse modo, uma escolha
cuidadosa. O mercado deve ser analisado a nível local, estadual, na-
cional e internacional. É necessário estudar a evolução dos preços
nos últimos anos, e realizar projeções com relação às tendências ou
comportamentos futuros.
O padrão de fruta exigido pelo mercado a que se pretende atingir
deve ser levado em conta. Nos países europeus e América do Norte, a
preferência é por frutos pequenos com alto teor de óleo. O consumidor
brasileiro, ao contrário, prefere frutos grandes e com baixo teor de óleo.
Cultivares precoces ou tardias, comercializadas no início ou final da
safra são preferidas por alcançarem melhores preços para a produção.
Além disso, a precocidade pode ser acentuada se o plantio for realizado
em regiões com altas temperaturas, e a colheita dos cultivares tardios
pode ser retardada pelo plantio em regiões mais frias. Todavia, estes
cultivares podem ser menos produtivos (KOLLER, 1984).
O agronegócio frutícola no Brasil apresentou grande dinamismo
nos últimos 15 anos, o que permitiu ao país atender boa parte da de-
MERCADO NACIONAL E INTERNACIONAL • 9
manda interna de frutas in natura e derivados e, ainda assim, ampliar
sua participação no mercado mundial desses produtos, principalmente
de frutas tropicais. A safra brasileira de frutas alcançou o volume re-
corde de 41,4 milhões de toneladas em 2004.
O Brasil destina 52,5% da sua produção de frutas para o consumo
in natura (interno e externo) e 47,5% para o processamento industrial
(LIMA, 1999). As frutas destinadas ao consumo in natura são volta-
das, em sua quase totalidade, para o mercado interno, com exceção do
melão que tem 24% da produção voltada à exportação. Especialistas
do setor em todo o mundo desenham um cenário bastante positivo para
o comércio internacional de frutas e os principais indicadores com-
provam, destacando-se as frutas tropicais, cuja demanda nos países
desenvolvidos é crescente.
Segundo o Agrianual (2007), a produção mundial de abacate foi
de 3,2 milhões de toneladas no ano de 2005. Do ano de 1998 até 2005
a produção mundial da fruta apresentou um aumento substancial de
cerca de 30% enquanto que a área colhida mundial no mesmo ano teve
um aumento de cerca de 20%
O abacate é consumido como alimento sob diversas formas no
Norte da América do Sul, América Central e México, tais como, purê,
saladas, temperado com sal, pimenta, vinagre e outros condimentos,
além de outros pratos, nas diversas refeições do dia (KOLLER, 1984).
Além do seu valor na alimentação, o abacate tem sido aproveitado
para várias outras aplicações: da polpa obtêm-se óleos comerciais; da
semente produz-se uma tinta castanho-arroxeada; as flores odoríferas
fazem do abacateiro uma planta melífera, e outras partes da planta, tais
como: folhas, caroços, casca dos frutos e casca do tronco, têm sido
utilizadas pela medicina popular (Teixeira, 1991).
Segundo Donadio (1995), apesar do grande volume produzido por
países americanos como o Brasil e o México (maior produtor mun-
dial), apenas os EUA, entre os países americanos, tem sua produção
voltada para a exportação, sendo o principal fornecedor do Japão. O
mercado externo é bastante exigente no tocante a padrões de quali-
dade e variedades específicas. Destacam-se na produção destinada à
exportação, Israel, Espanha e África do Sul. A importação européia,
que ao final da década de 60 era apenas de 10 mil toneladas, conforme
Donadio (1995), chegou a mais de 120 mil toneladas no final da dé-
10 • ABACATE
cada de 80, projetando um volume de 275 mil toneladas anuais para
o final da década de 90. Segundo uma análise de mercado feita pelos
espanhóis, os preços caíram e persistem com tendência de queda, mas
ainda assim, são atraentes. Ainda de acordo com este autor, o mercado
europeu é considerado pequeno em termos de consumo per capita por
ano, que está em torno de 100g. Donadio (1995) lembra que o abacate
não é consumido na Europa como fruta, mas sim, como hortaliça, em
entradas, saladas e outros pratos. O mercado externo do abacate tem
mostrado crescimento devido, principalmente, a fatores que incluem
avanços nas tecnologias de pós-colheita e no sistema de transporte
marítimo; reduções contínuas de barreiras comerciais; forte demanda
pelo consumo de abacate baseado, entre outros motivos, pela divul-
gação dos benefícios do consumo da fruta na saúde, além do aumento
de áreas e incentivos nos maiores países produtores, particularmente
México e Chile, que devem continuar na liderança dos países exporta-
dores (Evans e Nalampang, 2006). Vilela et al. (2005) ao avaliarem as
tendências de mercado, desenvolveram uma tabela de risco, alertando
para as culturas e condições econômicas que poderiam significar maior
ou menor grau de risco futuro aos produtores e definiraram três grupos
de fruteiras, distinguidos pelo grau de risco futuro projetado de mer-
cado. No primeiro, onde foram listadas as culturas com menor risco de
mercado estão o abacate e a banana. Estes produtos apresentaram taxa
negativa de crescimento da produção entre 1990 e 2003 e, em qualquer
cenário econômico futuro, a demanda supera a produção. No segundo
grupo, o das culturas com risco futuro aumentado em condições de
baixo crescimento econômico, estão goiaba, limão e uva; são produtos
com baixo consumo per capita e/ou alto valor agregado, exigindo maior
capacidade de compra para incorporação na dieta dos consumidores.
Em cenários de menor crescimento econômico poderá haver excesso
de oferta no mercado interno entre 2010 e 2015. O terceiro grupo de
culturas que, mesmo com elevadas taxas de crescimento da economia,
apresentam maior risco de excesso de oferta no mercado interno são o
abacaxi, coco, mamão, manga, maracujá, pêssego e tangerina.
Em relação ao aproveitamento industrial, apesar das qualidades
para o aproveitamento desta fruta, não há grande demanda no mercado
mundial para este fim (DONADIO, 1995).
O maior produtor mundial é o México ficando o Brasil em quarto
MERCADO NACIONAL E INTERNACIONAL • 11
lugar no ranking, com uma produção, em 2006, de 169.335 toneladas
em área de 11.548 ha, para uma produção mundial de aproximada-
mente 3,3 milhões de toneladas e área de 346 mil ha (FAO, 2007).
No Brasil, a abacaticultura teve grande desenvolvimento na década
de 1970 devido aos incentivos fiscais concedidos pelo Governo Fede-
ral, dentro do programa de reflorestamento do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF), que financiou pomares com ca-
racterísticas comerciais a partir de mudas enxertadas (Campos, 1984).
Segundo dados do Agrianual (2007), para o ano de 2005, a situação
econômica da cultura nos principais países produtores da cultura em
produção (ton) e área (ha) estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1: Situação econômica mundial da cultura do abacate.


SITUAÇÃO ECONÔMICA DA CULTURA
País Área (ha) Produção (ton)
México 100.000 987.000
Indonésia 41.232 263.575
Estados Unidos 28.000 247.000
Brasil 12.000 185.811
Africa do Sul 12.500 182.000
Mundo 389.247 3.229.121
Fonte: Agrianual 2007.

Embora o Brasil esteja bem posicionado na classificação dos


maiores produtores, exportou em 2003 apenas cerca de US$ 302 mil
(SECEX, 2003). Com certeza grande parte deste volume exportado,
deve-se ao trabalho da Fazenda Jaguacy, localizada no Município de
Bauru (SP), que cultiva o cv. Hass desde 1980. Atualmente, a Jaguacy
Brasil através de um sistema de parceria conta com 20 produtores
associados distribuídos pelo Estado de São Paulo, sendo apenas um
produtor no Estado de Minas Gerais. As áreas produtivas dos parceiros da
Jaguacy Brasil variam de 05 a 170 hectares em produção. A safra de 2006
do cv. Hass produzido pelos parceiros e comercializado pela Jaguacy Bra-
sil foi de mil toneladas da fruta, sendo 86% destinada à exportação e 14%
ao mercado doméstico (Informação pessoal de Vitor Carvalho, 2007).
12 • ABACATE
O México é o maior exportador e a França, o maior importador.
Assim, a produção brasileira é praticamente destinada ao mercado
nacional. No Estado de São Paulo, na Companhia de Entrepostos e
Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), o comércio de abacate
encontra-se concentrado em poucos atacadistas. Nos últimos cinco
anos os cultivares mais comercializados foram: Geada e Fortuna.
A produção brasileira está distribuída principalmente pela Região
Sudeste, seguida pelo Nordeste e Sul, sendo o Estado de São Paulo o
maior produtor, com produção em 2005, de 79 mil toneladas (46% do
total nacional). O segundo Estado produtor, Minas Gerais, apresenta
participação ao redor de 20%, seguido pelo Paraná com 12%, Espírito
Santo com 5% e o Rio Grande do Sul com 4,7% (Agrianual, 2007). O
Mercado interno é o maior consumidor da fruta. A tabela 2 mostra a
produção brasileira (ton) da fruta dividida por região de cultivo.

Tabela 2: Produção brasileira de abacate (ha) e área colhida.


PRODUÇÃO BRASILEIRA E ÁREA COLHIDA – 2005
Região Produção (ton) Área colhida (ha)
Norte 4.599 700
Nordeste 9.074 946
Sudeste 123.467 7.918
Sul 30.350 2.218
Cento-oeste 3.044 151
Brasil 17.534 11.933
Fonte: Agrianual 2007.

Diferenças nos rendimentos agrícolas entre os Estados devem-se,


principalmente, às formas de cultivo, de tratos culturais além da di-
versidade de cultivares em função das preferências dos consumidores
das várias regiões.
No Estado de São Paulo, 16% da área com abacate é colhida no
mês de abril, seguida por 13% em março e 11% em fevereiro, porém a
colheita de abacate no Brasil é feita o ano todo. Isto é possível através
do plantio de diferentes variedades.
Levando em consideração os estados maiores produtores da fruta,
segue a tabela 3 mostrando a situação econômica da cultura em área
MERCADO NACIONAL E INTERNACIONAL • 13
colhida (ha) e produção (ton).

Tabela 3: Situação econômica da cultura em 2005.


SITUAÇÃO ECONÔMICA DA CULTURA
Estado Área (ha) Produção (ton)
São Paulo 4.458 79.864
Minas Gerais 2.705 34.361
Paraná 1.567 22.034
Espírito Santo 715 8.555
Brasil 11.933 17.534
Fonte: Agrianual 2007.

A cultura do abacate pode ser encontrada em praticamente todo


o Estado de São Paulo, porém 75% da área total cultivada encontra-se
em 39 municípios, sendo os principais, Mogi-Mirim e Jardinópolis. O
plantio de novas áreas nos primeiros anos da década de 1990 justificou
o aumento dos rendimentos a partir de 2001.
O Brasil é um país que tem a sua produção voltada principalmente
para o mercado interno. Por isso, a lista de variedades tende a aumentar
muito devido à seleção local. As variedades locais são importantes por
sua adaptação às condições climáticas, hábitos de consumo, resistência
a doenças, qualidade, aparência e conservação pós-colheita. No Brasil,
destacam-se as variedades Quintal e Fortuna.
A definição das zonas climáticas de maturação de abacate no Es-
tado de São Paulo é de grande importância prática, pois permite a
escolha das variedades que produzam, em uma determinada região,
exatamente na época em que os preços de mercado sejam mais com-
pensadores.
A época de maturação das variedades de abacate no Estado de São
Paulo é bastante diferenciada em suas diversas regiões ecológicas. Isso
se deve basicamente ao efeito da temperatura do ar sobre o desenvol-
vimento da planta, principalmente no período entre o florescimento e
a maturação (LUCCHESI & MONTENEGRO, 1975).
Montenegro (1956), em levantamentos do número de abacateiros
do Estado de São Paulo, verificou que uma mesma variedade ama-
durecia em épocas diferentes nas distintas regiões do Estado. Baseado
14 • ABACATE
nessas observações, regionalizou o Estado de São Paulo em cinco
zonas de maturação: 1) Zona de Ribeirão Preto; 2) Zona de Limeira;
3) Zona de Valinhos; 4) Zona de Buri e 5) Zona de São Sebastião.
Trabalho semelhante foi realizado por Platt (1975) para abacateiros
na Califórnia (EUA).
O zoneamento feito por Montenegro (1956), que representou im-
portante contribuição na implantação e desenvolvimento da abacati-
cultura paulista, sendo até hoje bastante utilizado por extensionistas
e produtores, é pouco detalhado, pois coloca em uma mesma zona
de maturação regiões climáticas bastante distintas. Este é o caso das
regiões de Franca e de Votuporanga, situadas na Zona de Ribeirão Pre-
to, porém com características climáticas diferentes. Esses equívocos
provavelmente se devem à pequena disponibilidade de informações
sobre o desenvolvimento da planta nas diferentes regiões do Estado
na época em que o estudo foi realizado.
Atualmente, técnicas como a estimativa da temperatura média em
função de variáveis geográficas (PEDRO JR. et al, 1991) e o conceito
dos Graus-dia (HOLMES & ROBERTSON, 1959) permitem a obten-
ção de resultados mais precisos e detalhados do desenvolvimento das
plantas nas diferentes regiões ecológicas.
Os cultivares mais utilizados no mercado interno são: Simmonds,
Barbieri, Collinson, Quintal, Fortuna, Breda, Reis, Solano, Imperador,
Ouro Verde e Campinas. No mercado externo e para a industrialização
são mais empregados os cultivares: Tatuí, Hass e Wagner. As varie-
dades Hass e Fuerte vêm sendo comercializadas no mercado nacional
sob a denominação “Avocado” e por serem cultivares diferenciados
têm sido mais valorizados. As variedades: Ouro Verde, Geada e For-
tuna são mais comerciáveis no exterior, devido ao seu formato.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGRIANUAL. Anuário da Agricultura Brasileira. 10. ed. São Paulo:


FNP Consultoria & Agroinformativos, 2007. p. 142-144.

CAMPOS, J. S. Abacaticultura paulista. Campinas: CATI, 1984.


92p. (Boletim Técnico, 181).
MERCADO NACIONAL E INTERNACIONAL • 15
DONADIO, L. C. Abacate para exportação: aspectos técnicos da
produção. 2a. ed. rev aum. Publicações técnicas FRUPEX, n º 2.
Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária,
Secretaria de Desenvolvimento Rural, Programa de Apoio à Produção
e Exportação de Frutas, Hortaliças, Flores e Plantas Ornamentais. Bra-
sília. EMBRAPA – SPI, 1995. 53p.

EVANS, E.; NALAMPANG, S. World, U.S. and Florida Avocado


Situation and Outlook. World Trade Organization, 2006. 10p.

FOOD AGRICULTURAL ORGANIZATION – FAO (2007). Statistical


database. Disponível em: www.apps.fao.org. Acesso em: 26 nov. 2007.
HOLMES, R.M., ROBERTSON, G.W. Heat units and crop growth.
Ottawa, Canada Department of Agriculture. Publication n. 1042, 1959.
35 p.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICO –


IBGE. Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro, 2004. Dis-
ponível em: www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 10 abr. 2007.

KOLLER, O.C. ABACATICULTURA. Porto Alegre. Ed. Da Univer-


sidade/UFGRS, 1984. 138p.

LIMA, J. P. R.; MIRANDA, E. A. Novo ciclo de investimentos e


inovação tecnológica no Nordeste. Segmento: Fruticultura. Con-
trato de Consultoria para o Banco do Nordeste, Relatório 1, Recife,
abr,1999.

LUCCHESI, A.A., MONTENEGRO, H.W.S. Influência ecológica no


desenvolvimento do fruto e no teor de óleo na polpa do abacate (Per-
sea americana, Miller). Anais da ESALQ, Piracicaba, v. 32, n. 1, p.
419- 447. 1975.

MONTENEGRO, H.W.S. Contribuição para o estudo pomológico


do abacateiro. Piracicaba: USP,1956 92 p. Tese (Livre Docência) Es-
cola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo, 1956.
16 • ABACATE
PEDRO JR., M. J.; MELLO, M. H. A.; ORTOLANI, A. et al. Estima-
tiva das temperaturas médias mensais das máximas e das mínimas
para o Estado de São Paulo. Campinas. Instituto Agronômico, 11
p., 1991 (Boletim Técnico n. 142).

SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR – SECEX. 2003. Dis-


ponível em: Acesso em: 10 abr. 2007.

TEIXEIRA, C. G. Cultura [do abacate]. In: TEIXEIRA, C. G. et


al. ABACATE: cultura, matéria prima, processamento e aspectos
econômicos. 2a. ed. Série Frutas Tropicais n º 8, ITAL, Campinas,
1991. 250p.

VILELA, P.S.; CASTRO, C.W. de; AVELAR, S.O. de C. Análise


da oferta e da demanda de frutas selecionadas no Brasil para o
decênio 2006/2015, 2005.
BOTÂNICA E BIOLOGIA REPRODUTIVA DO ABA-
CATEIRO

Márcia Regina Antunes Maciel1

Características botânicas do abacateiro


O abacate (Persea Americana Mill.) teve origem na América Cen-
tral e possui ampla distribuição, desde regiões tropicais e subtropi-
cais do planeta. Pertence a família Lauraceae, que é considerada uma
das famílias mais primitivas dentro da divisão Magnoliophyta. Tal
fato se deve às suas características morfológicas e anatômicas que as
aproxima de outras famílias como Calycanthaceae, Idiospermaceae e
Hernandiaceae. As Lauraceae apresentam-se amplamente distribuídas
através das regiões tropicais e subtropicais do planeta, sendo formadas
por 49 gêneros e 2.500 - 3.000 espécies, sendo que no Brasil ocorrem
cerca de 400 espécies. É considerada uma das mais complexas famílias
do ponto de vista taxonômico devido ao grande número de espécies
e por serem utilizados caracteres crípticos na distinção de gêneros e
espécies (Cronquist, 1988; Werff e Richter, 1996; Castro e Lorenzi,
2005).
Atualmente, o abacate é inserido no gênero Persea e é conside-
rado nativo do Brasil (Castro e Lorenzi, 2005). Os primeiros registros
relativos à utilização das espécies desta família datam de 2.800 A.C,
sendo originários da Grécia antiga. Isso influenciou o nome de muitos
gêneros que fazem uma alusão àquela época. Laurus L., por exemplo,
vem do celta “lauer” que significa verde ou ainda “laus” que significa
louvor e o gênero Phoebe, tem o seu nome relacionado ao Deus Apolo.
Outras espécies utilizadas desde a Grécia antiga são as pertencentes ao
gênero Cinnamomum Schaeffer, que significa “caneleira” em grego
(Barroso et al., 1978; CO-TEIXEIRA, 1980, in Marques, 2001), e os
nativos do Peru já usavam-na há mais de três mil anos.
Marques (2001) estudou a importância econômica da família
Lauraceae; comentando que há um número expressivo de espécies,
com uma grande diversidade de usos, com destaque para as que pos-
1
Doutoranda Horticultura/Dept.° Produção Vegetal/Faculdade de Ciências Agronômicas/ UNESP/Botucatu,
SP. macieletno@fca.unesp.br
18 • ABACATE
suem utilização medicinal e na indústria. Ainda ressalta que o alto
valor econômico das espécies com uso madeireiro, tem levado a uma
exploração crescente ao longo dos anos, fazendo com que estas se
tornem “vulneráveis” ou mesmo “em perigo de extinção”, segundo
classificação da União Internacional para Conservação da Natureza e
Recursos Naturais (I.U.C.N) (Vieira et al., 1997). Concordando com
o referido autores é necessário e urgente estudos direcionados para
as espécies nativas desta família, que podem ser fonte de vários usos
como alimentício e medicinal, entre outros. Para as espécies comerci-
ais, o abacateiro, já é consagrado, no entanto é interessante pesquisar
o uso múltiplo dos produtos, como o óleo de abacate, que é comestível
e pode ter outras aplicações, como por exemplo, a medicinal.
O abacateiro é uma árvore com copa aberta, e ramos bifurcados e
o crescimento decorre da gema apical. A casca dos ramos e tronco é
suberosa, recortada, grossa, com espessura de até 3 cm e cor variável
entre cinza claro e escuro, podendo atingir 20 metros de altura.
As folhas mostram variações de comprimento de 14 a 19 cm,
largura de 7 a 9 cm, com pecíolos de 3 a 4,5 cm. O ápice da folha é
geralmente afilado, com a base foliar de ângulo maior, com 90 a 100
graus. A face superior é glabra e a inferior pubescente. São perenes
podendo haver renovação total na época da florada. São simples e in-
teiras, com pecíolo curto, sua forma é elíptica e a nervação penada. O
limbo é de cor creme claro, quebradiço e com vasos grandes. Os ramos
novos possuem pêlos e podem variar de cor, dependendo da raça.
As flores possuem sépalas com 5 mm, e pétalas um pouco maiores
e os estames são quadriloculares, fornecem pólen (mantem-se viáveis
5-6 dias, a uma temperatura de 20 a 32ºC). Três estaminódios secretam
néctar e são hermafroditas, simétricas, verde-amareladas, com aproxi-
madamente 1 cm de diâmetro. As panículas podem possuir até 200
flores, originárias de gemas florais terminais (apenas 1% irá originar
frutos), além disso, esta planta apresenta dicogamia.
O fruto é do tipo drupa, com casca (pericarpo) delgada, grossa ou
quebradiça, de coloração verde-oliva e brilhante, tem polpa (mesocar-
po) carnosa, espessa e cremosa, de coloração creme-amarelada, rica em
óleos vegetais. As sementes são cobertas pelo endocarpo (envoltório
coriáceo) recobrindo os cotilédones. O pedúnculo é de tamanho médio
a longo, inserido no centro ou lateralmente no fruto por uma parte mais
BOTÂNICA E BIOLOGIA • 19
grossa chamada pedicelo. As grandes variações de cor, formato, ta-
manho, casca, polpa e semente podem ocorrer nos frutos do abacateiro,
dependendo das raças e variedades. Seu peso pode variar de 50 g a
2,5 kg, e tem grande valor alimentício. O fruto quando maduro tem a
seguinte composição bromatológica: água, 71,51%; proteína, 2,15%;
matérias graxas, 19,31%; carboidratos, 5,63%; cinza 1,36%.
O abacate é um fruto que tem grande apreciação popular, e é comu-
mente encontrado nos quintais, em especial nas áreas mais afastadas do
centro urbano. As pessoas que mantém esta árvore em seus quintais,
além de saborear a fruta, faz uso medicinal das folhas, casca. O poten-
cial industrial desta planta é pouco estudado e explorado no Brasil.
Portanto maiores pesquisas, voltadas para o aproveitamento múlti-
plo e industrialização do óleo, por exemplo, pode ser interessante para
os produtores e para a economia do país.

Abacateiro comercial
Segundo Maranca (1993), deve-se a Willians (1976), a classifica-
ção das variedades de abacateiro existentes em três raças, como ele as
chamou e continuam sendo assim conhecidas. O abacateiro apresenta
três raças comerciais: a Mexicana (Persea americana var. drymifolia),
Antilhana (P. americana var. Americana) e Guatemalteca (P. nubi-
gena var. Guatemalensis). Essa classificação é atualmente bem aceita,
embora todos também podem se referir ao abacateiro apenas como P.
americana Mill. Cultivares de abacate são em geral, híbridos entre as
espécies ou raças mexicana, antilhana ou guatemalense (Quadro 1).
Maranca (1993), salienta que a chave para diferenciar as três raças leva
em consideração o aroma emitido pelas folhas e outros caracteres do
abacateiro, como época de maturação dessas três raças.
A) As folhas, quando esfregadas, exalam cheiro de anis.
1. Árvore relativamente resistente ao frio; maturação dos frutos
em 6 a 8 meses depois do florescimento, dependendo do clima.
Fruto pequeno com casca fina, suave, lisa. Semente relativa-
mente grande.................................................. Raça Mexicana.
AA) As folhas, quando esfregadas, não exalam cheiro de anis.
2. Árvore menos resistente ao frio; maturação dos frutos em 10
a 15 meses depois do florescimento. Fruto de tamanho médio
a grande. Casca grossa e dura, superfície geralmente áspera.
20 • ABACATE
..................................................................................................
Raça guatemalteca.
3. Árvores ainda menos resistente ao frio; maturação dos frutos
em 6 a 8 meses depois do florescimento. Fruto de tamanho
médio a grande. Casca grossa, mas suave e com superfície li-
sa...............................................................................................
Raça antilhana.
QUADRO 01 – Outras características utilizadas para diferenciar
as três raças de abacateiro:
Antilhana Guate- Mexicana
malense

Folhas Sem aroma Sem aroma Cheira igual er-


20 cm de 15-18 cm va-doce (anis)
de 8-10 cm
Época de floresci- Ago-Set Set-Out Jul-Ago
mento
Estação de Dez-Mar Mar-Set Dez-Abr
amadurecimento
Tempo entre a for- 5-8 meses 10-13 meses 6-8 meses
mação do fruto
e a maturação
Tamanho dos frutos 400-2000 g 200-2000 g 50-400 g
Textura da casca Coriácea Grossa e Macia e fina
quebradiça
Teor de óleo Baixo Médio a alto Médio a alto
Origem (altitude) 0-1000 m 1000-1800 m 1800-2600 m
Suscetibilidade Alta Média (-4 ºC) Baixa (-5,5 ºC)
à geada (planta (-2,5 ºC)
adulta)
Vida pós-colheita Baixa Alta Média
Tolerância à alcali- Alta Média Baixa
nidade
Tolerância à salini- Alta Média Baixa
dade
BOTÂNICA E BIOLOGIA • 21
Fonte: MARANCA (1993)
Biologia reprodutiva do abacateiro
O abacateiro inicia a produção, por volta dos três anos de idade
em plantas enxertadas, e até os oito anos, nas oriundas de pé-franco.
A polinização e fecundação são necessárias para a produção de fru-
tos. O pólen pode ser levado até 2 Km. A fecundação ocorre em 28
horas e é possível a partenocarpia, que originará frutos pequenos. A
frutificação pode ser afetada por uma série de fatores, como o clima,
tipo de raças, cultivares, porta-enxertos, tratos culturais, polinização
cruzada e os insetos.
A germinação ocorre a partir de 25ºC. Temperaturas de 28-33ºC
ocasionam queda das flores. A participação de insetos é essencial para
a reprodução do abacateiro, em especial as abelhas.
É uma planta que apresenta dicogamia protogínica das flores, ou
seja, o órgão feminino está sempre pronto para funcionar antes dos
órgãos masculinos e dependendo do período desse comportamento,
convencionou-se classificar as variedades de abacateiro nos tipos A
ou B (quadro 2).

QUADRO 2 – Dicogamia das flores do abacateiro


Tipo A Tipo B

Manhã Flores abertas com ----------


estigmas
receptivos
1º dia Tarde Flores fechadas Flores abertas com
estigmas receptivos
Noite Flores fechadas Flores fechadas
Manhã Flores fechadas Flores abertas nova-
mente com estames
deiscentes
2º dia Tarde As flores abrem
novamente com
estames deiscentes
Fonte:  Portal Toda Fruta (2007).   
22 • ABACATE

Assim o interplantio de variedades dos tipos A e B, atende à ne-


cessidade de polinização cruzada, aumentando assim as possibilidades
de fecundação e formação de frutos.
As flores hermafroditas apresentam dicogamia. A época da matu-
ridade do pistilo não corresponde à da deiscência das anteras e isto é
um fato que precisa ser considerado na escolha das variedades. Nunca
se planta uma só variedade. Num pomar bem organizado e fecundo,
25% das plantas serão do grupo A, outros 25% do grupo B e os 50%
restante poderão ser de outras variedades. A classificação se refere ao
modo de floração do abacateiro.
Para obter uma boa polinização é preciso que no mesmo pomar
existam variedades de abacateiro A e B. Nos abacateiros de variedades
A, a primeira abertura da flor ocorre de manhã, quando o estigma (parte
que recebe o pólen) está aberto, pronto para ser polinizado. Mas as
anteras, que contêm os grãos de pólen, só vão abrir-se na tarde do dia
seguinte, quando o estigma não tem mais condições de receber o seu
pólen. Nos abacateiros do grupo B, a abertura do estigma e da antera
tem alternâncias diferentes, complementando as aberturas das flores
dos abacateiros do grupo A. Assim, o pólen saído das anteras das flores
de um grupo de abacateiros vai para os estigmas das flores do outro
grupo e ocorre o que se chama de polinização cruzada. O pólen é le-
vado de uma planta para outra por insetos, principalmente abelhas. Por
isso é aconselhável que as plantas polinizadoras não estejam a mais
de 15 m de distância das que devem ser polinizadas e que haja duas
colméias por hectare. Caso o agricultor queira colher abacates de uma
só variedade, é preciso que haja no mínimo 10% de plantas polinizado-
ras do outro grupo. Sabendo-se escolher as variedades, é possível ter
abacate durante o ano inteiro, pois cada uma delas terá a sua própria
época de frutificação (Pimentel, 2007; todafruta, 2007).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUCKNER, C., H. Melhoramento de fruteiras tropicais. Ed.


UFV, 2002.

PIMENTEL, G. R. Fruticultura Brasileira. São Paulo: Nobel. 2007.


BOTÂNICA E BIOLOGIA • 23

MARANCA, G. Fruticultura comercial: manga e abacate. São


Paulo: Nobel. 1993.

MARQUES, C. A.,. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FAMÍLIA


LAURACEAE Lindl. Floresta e Ambiente. Universidade Federal de
Viçosa. V. 8, n.1, p.195 - 206, jan./dez. 2001.

SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática: Guia ilus-


trado para identificação das famílias de angiospermas da flora
brasileira, baseado na APG II. Nova Odessa, SP: Instituto Plan-
tarum, 2005.

http://www.todafruta.com.br/todafruta/noticias_su.asp?menu=257
acesso em 15/03/2007.
ECOFISIOLOGIA DO ABACATEIRO

Jaime Duarte Filho1


Sarita Leonel2
Csaignon Mariano Caproni1
Ronaldo Simões Grossi3

1 – INTRODUÇÃO
O abacateiro pertence à família Lauraceae, que compreende cerca
de 50 gêneros, sendo Persea o subgênero do abacate, com várias es-
pécies se aproximando do abacateiro comercial, este pertencente a
três espécies e variedades hortícolas que caracterizam as três raças: a)
Mexicana – Persea americana var. drymifolia; b) Antilhana – Persea
americana var. americana e c) Guatemalense ou Guatemalteca – Per-
sea nubigena var. guatemalensis.
As variedades comerciais são em geral híbridas dessas três espé-
cies. Essa diversidade genética confere ao abacateiro condições de
adaptação às mais variadas situações de clima e solo que superam as
de muitas outras frutíferas. Sob este aspecto, segundo Donadio (1992),
vale destacar a grande resistência ao frio que tem a raça mexicana,
enquanto a antilhana é considerada de boa adaptação à região tropical,
e a guatemalense é tida como intermediária. Quanto ao solo destaca-se
a maior adaptação da raça antilhana aos solos salinos, o que tem pos-
sibilitado o seu plantio comercial em áreas com estas características,
mediante o uso de porta-enxertos da raça ou de seus híbridos.

2 – EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS DO ABACATEIRO

Para que possa crescer e produzir bem, o abacateiro necessita de


condições climáticas e de solos favoráveis.

2.1 – Solo
O solo, através de suas características físicas, químicas e biológi-
cas, deve fornecer suporte adequado ao abacateiro, influindo direta-
1
Engenheiros Agrônomos. Pesquisadores da EPAMIG-CTSM. duartefilho@epamig.br
2
UNESP. Faculdade de Ciências Agronômicas. Departamento de Produção Vegetal. Setor Horticultura.
sarinel@fca.unesp.br
3
Engenheiro Agrônomo. SAA/CATI. Casa da Agricultura de São Manuel. ca.saomanuel@cati.sp.gov.br
26 • ABACATE
mente sobre o seu crescimento e produtividade. São importantes no
solo: a disponibilidade de água, de ar e de nutrientes. A água e o ar
dependem das condições físicas, e os nutrientes, das condições quími-
cas e biológicas.
Na seleção dos solos, devem ser observadas com prioridade as
condições físicas, que são difíceis de serem mudadas. As melhorias
químicas podem ser obtidas mais facilmente, através de calagem e
adubações.
Do ponto de vista das condições físicas, segundo Donadio (1992)
o abacateiro é uma das frutíferas mais exigentes em matéria de solo,
devendo estes terem boa drenagem e profundidade. Desta forma, solos
mistos, areno-argilosos e profundos são os mais indicados, devido à
sensibilidade desta espécie à asfixia, de maior ocorrência em solos
argilosos ou rasos com camada impermeável. Afora essas considera-
ções, são características importantes do solo a acidez (pH) e o nível
de umidade e salinidade, em relação aos quais o abacateiro é muito
sensível e exigente.
O índice de salinidade, medido pela condutividade elétrica, de até
2 mm hos/cm é considerado normal para a cultura, enquanto que aque-
les acima de 3 mm hos/cm pode causar problemas à planta, tais como
queima da ponta e bordos das folhas e queda da produção (Donadio,
1992).
Em muitas partes do mundo, o crescimento e a produtividade do
abacateiro são bastante prejudicados em solos com deficiência de oxi-
gênio resultantes da má drenagem dos solos, da compactação ou de
inundações na zona radicular (Schaffer, 2006). A privação total (ano-
xia) ou parcial (hipoxia) do oxigênio no solo provoca no abacateiro:
redução do desenvolvimento tanto do sistema radicular quanto da parte
aérea, murcha moderada a severa do caule e das folhas, abscisão de
folha e necroses nas raízes (Schaffer, Whiley, 2002).
O desenvolvimento vegetativo e reprodutivo do abacateiro e de
muitas outras plantas é diretamente proporcional à disponibilidade de
água no solo. Segundo Larcher (2000) a primeira e mais sensível res-
posta ao déficit hídrico é a diminuição da turgescência e, associada a
esse evento, a diminuição do processo de crescimento (particularmente
o crescimento em extensão). Essa resposta e muitas outras foram ob-
servadas no abacateiro por Chartzoulakis et al. (2002), que avaliando
ECOFISIOLOGIA DO ABACATEIRO • 27
o efeito do estresse hídrico sobre dois cultivares de abacateiro ‘Fuerte’
e ‘Hass’, observaram que o diâmetro do tronco de ‘Fuerte’ e ‘Hass’ foi
reduzido em 34 e 39%, respectivamente, após seis meses sob condições
de estresse. Além disso, esses mesmos cultivares apresentaram uma
redução significativa de 57 e 69% na área foliar total e de 63 e 80% na
massa seca total das plantas, respectivamente. Foi observado, também,
que plantas sob condições de estresse apresentaram folhas de tamanho
inferior e com menor peso específico e uma redução da biomassa das
raízes fibrosas em ambos cultivares, entretanto, com maior expressão
em ‘Hass’.
A faixa de pH ideal está entre 5 e 7. Solos com pH mais baixo de-
vem ser corrigidos via calagem, já solos com pH mais alto podem pro-
vocar deficiência de microelementos, especialmente de ferro, bastante
demandado pelo abacateiro (Donadio, 1992; Maranca, 1980).
De acordo com o relato de koller et al. (2002), deve ser tomado um
cuidado especial com o uso de solos compactados, com teor de argila
superior a 70%, mal drenados, ou em locais planos, onde na época das
chuvas o lençol freático aflora a menos de 2 m de profundidade, porque
essas condições de mau arejamento são propícias ao aparecimento da
doença gomose (Phytophthora cinnamomi). A doença se manifesta no
sistema radicular, causando o apodrecimento das radicelas, da casca
de raízes grossas e do tronco das árvores da região do colo, sendo o
controle difícil e caro. O mais aconselhável é o plantio em solos pro-
fundos, porosos e bem drenados.

2.2 – Clima
O abacateiro possui ampla capacidade de adaptação às condições
mais variadas de clima. Em que pese à variabilidade genética e sua
interação com o ambiente, os principais parâmetros climáticos que
exercem influência sobre o abacateiro são:

Temperatura
A temperatura do ar atua no processo de evapotranspiração, devido
ao fato de que a radiação solar absorvida pela atmosfera e o calor
emitido pela superfície cultivada elevam a temperatura do ar. O ar
aquecido próximo às plantas transfere energia para a cultura na forma
de fluxo de calor sensível, aumentando as taxas evapotranspiratórias.
28 • ABACATE
Além disso, a temperatura interfere na atividade fotossintética das
plantas, por que este fenômeno envolve reações bioquímicas, cujos
catalisadores, as enzimas, são dependentes da temperatura para expres-
sar sua atividade máxima (Larcher, 2000).
A temperatura, juntamente com a luminosidade, exerce forte in-
fluência no desenvolvimento reprodutivo do abacateiro, afetando prin-
cipalmente o florescimento em todas as suas fases, desde o processo
de dicogamia, verificada nesta espécie, até o processo da polinização e
da germinação do grão de pólen (Davenport, 1986, Sedgley e Annells,
1981; Donadio 1992).
Segundo Davenport (1986) temperaturas durante o dia de 20ºC
e a noite entre 5-15ºC promovem a indução floral do abacateiro. En-
tretanto, essa resposta é variável conforme o cultivar, em função da
sua descendência, segundo Wolfe et al. (1942), que observou que
abacateiros da raça antilhana não suportam temperaturas inferiores a
-4,4ºC e são injuriadas consideravelmente a -2,8ºC, enquanto a maio-
ria dos cultivares guatemalenses não suportam temperaturas abaixo
de 6,1ºC, e alguns cultivares mexicanos, muito resistentes, suportam
temperaturas inferiores a -7,7ºC.
A temperatura do solo exerce, também, influência sobre o desen-
volvimento do abacateiro e, da mesma forma, é variável conforme a
raça. Yusof et al. (1969) observaram que abacateiros jovens da raça
mexicana submetidos a três temperaturas de solo (21, 27 e 32ºC), apre-
sentaram diferenças significativas nos seguintes parâmetros: massa
fresca do sistema radicular, massa seca do caule e total e na altura
e circunferência do caule. Foi observado também que as diferentes
temperaturas influenciaram no status nutricional das folhas, pela maior
ou menor absorção de macro e microelementos.
De acordo com o relato de Bergh & Lahav (1996) um dos objetivos
do melhoramento genético do abacateiro é a seleção de cultivares tole-
rantes ao frio, visando à exploração econômica em regiões sujeitas a
geadas. Estudos já comprovaram que existe uma grande variabilidade
genética em relação à tolerância ao frio entre as raças e entre cultivares
dentro das raças.
Platt (1975) estabeleceu os limites de tolerância ao frio sob
condições da Califórnia/EUA para o cultivar Fuerte que foi de -2,8ºC.
Toohill & Alexander (1979) ponderaram que a fixação de limites exa-
ECOFISIOLOGIA DO ABACATEIRO • 29
tos de tolerância ao frio é de difícil demarcação, visto que os danos
causados a um cultivar são influenciados pelo grau e duração do frio e
pelas condições fisiológicas da planta no momento da ocorrência das
baixas temperaturas.
Em trabalho de pesquisa realizado por Soares et al. (2002), em
Capão Bonito/SP, avaliando a tolerância ao frio de diferentes cultivares
de abacateiro foi concluído que os cultivares Fuerte, Jumbo, Ermor e
Solano mostraram menor grau de injúria na copa. O cultivar Ermor foi
o mais afetado pelas baixas temperaturas em relação à queda de fru-
tos. Os autores indicaram os cultivares Fuerte e Solano para a região,
devido ao baixo nível combinado de danos apresentados (injúrias e
queda de frutos).

Radiação solar
A radiação solar absorvida pela cultura do abacateiro interfere no
ciclo vegetativo e no período de desenvolvimento do fruto, sendo de
grande importância para o crescimento, floração e frutificação, daí a
importância do manejo cultural, principalmente, em plantios muito
adensados. Em decorrência do hábito de crescimento vigoroso da
árvore, existe, geralmente, uma porcentagem relativamente alta de
folhas sombreadas, em comparação com folhas ensolaradas. Dessa
forma, grande parte das folhas localizadas no interior da copa recebe
baixos níveis de luz, diminuindo a disponibilidade de carboidratos
provocando, consequentemente, reduções no crescimento e produção.
Uma maior penetração da luz na copa, como resultado da realização
da poda, pode provocar um aumento significativo na produção, au-
mento no calibre dos frutos e melhora a execução das outras práticas
no pomar (Mena, 2005).

Umidade Relativa do Ar
A umidade do ar durante o ciclo do abacateiro é muito importante,
por favorecer o surgimento de doenças fúngicas. Quando altos valores de
umidade relativa estão associados a temperaturas elevadas, ocorre uma
maior incidência dessas doenças, tais como oídio e antracnose, provo-
cando danos econômicos, podendo, inclusive, inviabilizar a produção
comercial de frutos. Segundo Donadio (1992) as variedades antilhanas
são mais adaptadas a locais com alta umidade, ou seja, acima de 70%.
30 • ABACATE
Altitude
A altitude está geralmente associada à temperatura, exercendo,
desta forma, bastante influência sobre o ciclo produtivo do abacateiro
pela alteração da época de maturação das diferentes variedades de
abacateiro. No Estado de São Paulo, por exemplo, uma variedade pode
ser colhida com até três meses de diferença, se for plantada no norte
ou sul do estado, devido tanto ás variações de temperatura quanto a
esse parâmetro e a latitude.
Sentelhas et al. (1995), com base neste parâmetro e na latitude,
temperatura média do ar e a necessidade de graus-dia de cada vari-
edade (maturação precoce, meia-estação e tardia) determinaram as
zonas climáticas de maturação para os três grupos de variedades de
abacateiro no estado de São Paulo (Tabelas 1, 2 e 3). A determinação
das zonas de maturação é um parâmetro técnico de relevância para os
produtores de abacate, pois com base nele, poderão ser determinadas
às épocas de colheita, bem como poderá melhorar a sazonalidade da
oferta do produto no mercado, o que muito provavelmente acarretará
em melhores preços de venda para o produto.
ECOFISIOLOGIA DO ABACATEIRO • 31
Tabela 1 - Duração média estimada do subperíodo “florescimento
– maturação” (DFM), em dias, para variedades de abacateiro de matu-
ração precoce, em função da latitude e da altitude, no Estado de São
Paulo.
Alt. Latitude (graus)
(m) 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0
50 97 102 106 110 114 119 123 127 132 136 140
100 106 111 115 119 123 128 132 136 141 145 149
150 115 120 124 128 133 137 141 145 150 154 158
200 124 129 133 137 142 146 150 154 159 163 167
250 133 138 142 146 151 155 159 163 168 172 176
300 142 147 151 155 160 164 168 172 177 181 185
350 151 156 160 164 169 173 177 181 186 190 194
400 160 165 169 173 178 182 186 190 195 199 203
450 169 174 178 182 187 191 195 199 204 208 212
500 178 183 187 191 196 200 204 208 213 217 221
550 187 192 196 200 205 209 213 217 222 226 230
600 96 201 205 209 214 218 222 226 231 235 239
650 205 210 214 218 323 227 231 235 240 244 248
700 214 219 223 227 232 236 240 244 249 253 257
750 223 228 232 236 241 245 249 253 258 262 266
800 232 237 241 245 250 254 258 262 267 271 275
850 241 246 250 254 259 263 267 271 276 280 284
900 250 255 259 263 268 272 276 280 285 289 293
950 259 264 268 272 277 281 285 289 294 298 302
1000 268 273 277 281 286 290 294 298 303 307 311
1050 277 282 286 290 295 299 303 307 312 316 320
1100 286 291 295 299 304 308 312 316 321 325 329
Fonte: Sentelhas et al. (1995)

Ventos
A presença de ventos constantes e fortes é prejudicial ao abacateiro
tanto do ponto de vista fitossanitário quanto fisiológico. O vento em
velocidade superior a 10 Km h-1 é prejudicial, favorecendo o surgi-
32 • ABACATE
mento de doenças e ácaros. Na fisiologia, a presença de ventos acelera
a evaportranspiração das plantas, aumentando o consumo de água e
em muitos casos, limitando a produção.

Tabela 2 - Duração média estimada do subperíodo “florescimento


– maturação” (DFM), em dias, para variedades de abacateiro de matu-
ração de meia-estação, em função da latitude e da altitude, no Estado
de São Paulo.

Alt. Latitude (graus)


(m) 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0
50 101 109 117 124 132 140 148 156 163 171 179
100 115 123 131 138 146 154 162 170 177 185 193
150 129 137 145 152 160 168 176 184 191 199 207
200 143 151 159 166 174 182 190 198 205 213 221
250 157 165 173 180 188 196 204 212 219 227 235
300 171 179 187 194 202 210 218 226 233 241 249
350 185 193 201 208 216 224 232 240 247 255 263
400 199 207 215 222 230 238 246 254 261 269 277
450 213 221 229 236 244 252 260 268 275 283 291
500 227 235 243 250 258 266 274 282 289 297 305
550 241 249 257 264 272 280 288 296 303 311 319
600 255 263 271 278 286 294 302 310 317 325 333
650 269 277 285 292 300 308 316 324 331 339 347
700 283 291 299 306 314 322 330 338 345 353 361
750 297 305 313 320 328 336 344 352 359 367 375
800 311 319 327 334 342 350 358 366 373 381 389
850 325 333 341 348 356 364 372 380 387 395 403
900 339 347 355 362 370 378 386 394 401 409 417
950 353 361 369 376 384 392 400 408 415 423 431
1000 367 375 383 390 398 406 414 422 429 437 445
1050 381 389 397 404 412 420 428 436 443 451 459
1100 395 403 411 418 426 434 442 450 457 465 473
Fonte: Sentelhas et al. (1995)
ECOFISIOLOGIA DO ABACATEIRO • 33
O fruticultor deve ter muito cuidado com a escolha da área de
plantio. Além disso, o plantio de quebra-ventos é sempre aconselhável,
para amortecer a velocidade dos ventos. Koller (2002) recomenda o
plantio de quebra-ventos a uma distância de 8 metros dos abacateiros,
mencionando as seguintes espécies que podem ser utilizadas para esta
finalidade: pinus, grevíleas, eucaliptos e o próprio abacateiro de pé-
franco.
34 • ABACATE
Tabela 3 - Duração média estimada do subperíodo “florescimen-
to – maturação” (DFM), em dias, para variedades de abacateiro de
maturação tardia, em função da latitude e da altitude, no Estado de
São Paulo.
Alt. Latitude (graus)
(m) 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0
50 146 156 165 175 185 195 205 214 224 234 244
100 161 171 181 191 201 210 220 230 240 249 259
150 177 187 196 206 216 226 236 245 255 265 275
200 192 202 212 222 232 241 251 261 271 280 290
250 208 218 227 237 247 257 267 276 286 296 306
300 223 233 243 253 263 272 282 292 302 311 321
350 239 249 258 268 278 288 298 307 317 327 337
400 254 264 274 284 294 303 313 323 333 342 352
450 270 280 289 299 309 319 329 338 348 358 368
500 285 295 305 315 325 334 344 354 364 373 383
550 301 311 320 330 340 350 360 369 379 389 399
600 316 326 336 346 356 365 375 385 395 404 414
650 332 342 351 361 371 381 391 400 410 420 430
700 347 357 367 377 387 396 406 416 426 435 445
750 363 373 382 392 402 412 422 431 441 451 461
800 378 388 398 408 418 427 437 447 457 466 476
850 394 404 413 423 433 443 453 462 472 482 492
900 409 419 429 439 449 458 468 478 488 497 507
950 425 435 444 454 464 474 484 493 503 513 523
1000 440 450 460 470 480 489 499 509 519 528 538
1050 456 466 475 485 495 505 515 524 534 544 554
1100 471 481 491 501 511 520 530 540 550 559 569
Fonte: Sentelhas et al. (1995)
ECOFISIOLOGIA DO ABACATEIRO • 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGH .B.O, LAHAV, E. Avocados. In: JANICK, J., MOORE, J.N.,


(Ed.). Advances in fruit breeding. West Lafayette: Purdue Univer-
sity Press, 1975. p. 541-567.

CHARTZOULAKIS, K.; PATAKAS, A.; KOFIDIS, G.; BOSABA-


LIDIS, A.; NASTOU, A. 2002. Water stress affects leaf anatomy,
gás exchange, water relations and growth of two avocado cultivars.
Scientia Horticulturae. 95: 39-50

DAVENPORT, T.L. 1986. Avocado Florewing. In: Janick, J. (Ed.).


Horticultural Reviews. 8:257-289

DONADIO, L.C. 1992. Abacate para exportação: aspectos técni-


cos da produção. Brasília: Denacoop/IICA Séries publicações técni-
cas DENACOOP/FRUPEX. 109p.

KOLLER, O. C. Abacate: produção de mudas, instalação, manejo de


pomares, colheita e pós-colheita. Porto Alegre: Cinco Continentes, p.
127-139, 2002.

LARCHER, W. 2000. Ecofisiologia Vegetal. São Carlos: RiMa


Artes e Textos. 531p.

MARANCA, G. 1980. Manga e abacate. São Paulo: Nobel.


138p.

MENA, F.V. 2005. Poda en paltos. In: SEMINARIO INTERNA-


CIONAL DE PALTOS. Quillota, 2. 8p.

PLATT, R.G. Climate zones of avocado maturity in California. Cali-


fornia Avocado Society Yearbook, Los Angeles, v. 58, p. 49-53,
1975.

SCHAFFER, B. 2006. Effect of oxygen deficit in the soil on the phy-


siology and productivity of avocado. Proc. Seminario de manejo del
riego y suelo en el cultivo del palto. Quillota, Chile.

SEDGLEY, M.; ALEXANDER, D.M. 1981. Flowering and fruit-


set response to temperature in the avocado cultivar ‘Hass’. Scientia
Horticulturae. 14:27-33

SENTELHAS, P.C.; PIZA JUNIOR, C.T.; ALFONSI, R.R.; KAVATI,


R.; SOARES, N.B. 1995. Zoneamento climático da época de ma-
turação do abacate no estado de São Paulo. Revista Brasileira de
Agrometeorologia. 3: 133-140.

SOARES, N.B., PEDRO JÚNIOR, M.J., TEIXEIRA, L.A.J., CAS-


TRO, J.L. Tolerância a baixas temperaturas de cultivares de abacate
(Persea americana MILL). Revista Brasileira de Fruticultura, Ja-
boticabal, v. 24, n. 3, p. 721-723, 2002.

TOOHILL, B.L., ALEXANDER, M.E. Frost tolerance of 19 avo-


cado cultivars in the Mildura region of Murray valley. The Journal
of the Australian Institute of Agricultural Science. Osford, v. 45, p.
196-199, 1979.

YUSOF, I.M.; BUCHANAN, D.W.; GERBER, J.F. 1969. The res-


ponse of avocado and mango to soil temperature. Journal Amer.
Soc. Hort. Sci. 94: 619-621.

WOLFE, H.S.; TOY, L.R.; STAHL, A.L. 1942. Avocado produc-


tion in Florida. Gainesville: Agricultural Extension Service. 111p.
(Bulletin 112).
PRINCIPAIS VARIEDADES DE ABACATEIRO

Dayana Portes Ramos1


Aloísio Costa Sampaio2

I – INTRODUÇÃO

O abacateiro, Persea americana, é uma fruta tradicional do con-


tinente americano, que em milhares de anos se foi multiplicando em
milhares de diferentes linhas genéticas, sendo impossível hoje tentar
uma lista completa de variedades.
As principais características das variedades mais cultivadas indi-
cam que o mercado brasileiro é amplamente abastecido em meados do
ano, enquanto no início e no final da safra (janeiro-fevereiro e outubro-
dezembro em São Paulo, respectivamente) há pouca oferta, a preços
geralmente mais altos. Os produtores têm preferido selecionar varie-
dades que produzem nos períodos de menor oferta, tornando menores
as diferenças de preços entre as épocas (Donadio, 1995).
As variedades locais são importantes por sua adaptação tanto às
condições climáticas existentes, quanto à forma de utilização do fruto
e outros hábitos de consumo, bem como por sua resistência às doen-
ças e sua aparência, qualidade e conservação pós-colheita (Donadio,
1987).
Escolher a variedade certa para determinado local, não é fácil,
pois há várias exigências climáticas, problemas de polinização, de-
mora na maturação, exigências na qualidade do fruto e o mercado a
ser abastecido.
Sabendo da importância da escolha de uma variedade, este capítu-
lo objetivou mostrar algumas variedades conhecidas, descrevendo as
mais importantes, bem como apresentar características almejadas para
estas. Procurou-se ainda mostrar os fatores que interferem no desen-
volvimento das variedades, a fim de facilitar a escolha em relação ao
mercado e qualidades da fruta.

1
Eng. Agrônoma, Mestranda pelo Departamento de Produção Vegetal-Horticultura, Faculdade de Ciências
Agronômicas/FCA/UNESP – Cx. P. 237 – CEP 18610-307 - Botucatu, SP – pitchagro@yahoo.com.br.
2
Docente do Departamento de Ciências Biológicas, FC/UNESP – Cx. P. 473 – CEP 17033-360 - Bauru, SP e
do Curso de Pós-graduação em Horticultura/FCA/UNESP – Botucatu, SP - aloísio@fc.unesp.br
38 • ABACATE
II – CARACTERÍSTICAS ALMEJADAS NAS VARIEDADES

Escolher a variedade certa para determinadas regiões não é fácil,


pois as exigências são muitas: polpa uniforme, de gosto agradável,
sem fibra, que se descolora lentamente quando cortada, casca fina ou
média de fácil remoção, cor atrativa, falta de manchas ou defeitos,
forma ovalada regular, semente aderente à polpa, peso não excessivo,
alto conteúdo de óleo. Bergh (1975), relata que a maioria dos mercados
classificam como ideal, frutos com peso em torno de 300 g. Segundo
Ceagesp (2007) os abacates são classificados como de alto teor de
óleo quando possuem 20-25%, médio (12-15%) e baixo (5-10%). O
rendimento de polpa é classificado, segundo Donadio (1987), em alto
(+68%), médio (64-68%) e baixo (menos de 64%). Segundo Tango et
al. (2004) a média geral que um abacate pode ter de casca e semente
para não se tornar inviável para comercialização é de 31,4% e os teores
de óleo acima de 18% são viáveis para a extração.
Têm-se ainda as exigências de alto valor nutritivo, de capacidade
de longa conservação e de resistência ao frio, além do vigor da planta,
produtividade, resistência às pragas e doenças, fácil propagação, to-
lerância aos ventos, à cal e à salinidade, continuidade da produção
sem alternância anual, produção precoce ou tardia e adaptabilidade ao
porta-enxerto. São tantos, pois, os requisitos da técnica, do ambiente e
do mercado, que fica difícil encontrar em somente uma variedade to-
das essas características (Maranca, 1980). Segundo Gustafson (1976),
citado por Maranca (1980) seriam necessárias de 4 a 10 variedades
para produzir e vender bem no mercado o ano todo. Tal proeza, se-
gundo o autor, foi conseguida, na Califórnia, com híbridos mexicanos-
guatemalenses, sendo apenas 5 as variedades recomendadas: Hass,
cultivar que cobre 50% daquele estado norte-americano, Fuerte, com
outros 26% da área, Bacon, com outros 11% da área, e outras culti-
vares menores que cobrem o restante 13% da área do estado. Isso só
foi possível porque, naquelas condições, a fruta dos cultivares citados
se conservam na árvore por vários meses, sem amadurecer e perder-
se. Já isso não acontece no Brasil e na Flórida, nos quais os frutos se
conservam por pouco tempo na árvore (Maranca, 1980).
No entanto, no Brasil deveria haver abacate o ano inteiro, em
maior ou menor quantidade; mas de fato, a produção é limitada. No
Principais variedades • 39
estado de São Paulo, o abacateiro floresce de maio a dezembro, depen-
dendo da região e especialmente da altitude, sendo mais intensamente
de julho a outubro. A maior produção vai de fevereiro a julho, com
maior escassez de outubro a janeiro. É difícil dizer quais os cultivares
escolher em condições tão diferenciadas como as que apresentam o
Brasil. Por outro lado são tão grandes as possibilidades no país, que
muita coisa poderia ser feita, por enquanto aproveitando os cultivares
já introduzidos, experimentados e mais comuns (Maranca, 1980).

III – DESCRIÇÃO DAS VARIEDADES

A espécie Persea americana pode ser dividida em três raças de ori-


gens diferentes, na qual cada raça possui características específicas.
A Raça Antilhana reúne os abacateiros conhecidos como “comum”
ou “manteiga”, onde são procedentes das regiões baixas das Américas
Central e do Sul. É a menos resistente ao frio, danificando-se com
temperaturas inferiores a -2ºC. Os frutos possuem pedúnculos curtos,
casca lisa, coriácea, com cerca de 1,5 mm de espessura e polpa com
baixo teor de óleo. As sementes são de tamanho relativamente grande
e normalmente, encontram-se soltas na cavidade. Os cultivares desta
raça amadurecem os frutos geralmente no verão, sendo portanto, os
mais precoces (Campos, 1984).
A Raça Guatemalense é originária das regiões altas da América
Central, seus representantes são mais resistentes ao frio que os da Anti-
lhana. Os frutos são grandes, com pedúnculos compridos, casca grossa,
com 1,5 a 3,0 mm de espessura, geralmente rugosa. A maturação se
completa, conforme a variedade, de maio a novembro. O caroço ocupa
toda a cavidade que o contém. O teor de óleo na polpa é médio, em
torno de 12%. Possui folhas mais verde intenso do que as Antilhanas
(Campos, 1984).
A Raça Mexicana é originária das regiões altas do México e da
cordilheira. È a mais resistente ao frio, suportando temperaturas próxi-
mas a -6ºC. Tem como característica o cheiro de anis nas folhas e
flores, quando esmagados. Os frutos são geralmente pequenos, com
pedúnculo curto, possuem alto teor de óleo. Os frutos amadurecem nos
meses quentes do ano, geralmente de dezembro a fevereiro (Campos,
1984).
40 • ABACATE
Além dessas raças, têm-se as variedades híbridas resultantes de
cruzamentos entre as diferentes raças. No Brasil, é grande o número
dessas variedades exploradas com sucesso comercial. Bertanha, Er-
mor, Herculano, Paulista, Solano e Vitória são variedades híbridas gua-
temalense-antilhano pouco conhecidas, mas que se mostram bastante
promissoras, principalmente a Ermor, considerada a maior produtora
de todas as variedades conhecidas (Campos, 1984).
Maranca (1980) classifica as variedades de abacate basicamente
em duas categorias principais: as de clima tropical (como Lula, Col-
linson, Taylor, Pollock, Booth-8, Waldin) e as de clima subtropical
(como Fuerte, Hass, Bacon, Zutano, Reed, Ettinger). As primeiras são
geralmente variedades da raça antilhana, da raça guatemalense, e/ou
híbridos das duas; as variedades de clima subtropical são das raças
mexicana ou guatemalense, ou híbridos das duas, podendo citar a Hass
e a Fuerte. Para Donadio (1995) as variedades do abacateiro agrupam-
se em variedades para exportação e para consumo interno. No Brasil,
entretanto, as variedades de exportação são pouco aceitas no mercado
interno, o que reduz as possibilidades de cultivo. As variedades desti-
nadas ao consumo interno baseiam-se em seleções locais, geralmente
de frutos grandes com baixo teor de óleo, na sua maioria das raças
antilhana, ou híbridos destas.
A maioria dos países vem utilizando a seleção de híbridos locais
como meio de obtenção de novos cultivares. Assim, foram obtidas
diversas variedades tardias no Brasil (Gonçalves, 1999, citado por
Bruckner 2002), que tem sido plantadas em escala comercial em alguns
locais, tais como Geada, Quintal, Fortuna, Ouro Verde, Solano, Tatuí,
Dourado, Margarida, Reis e Campinas. Segundo a Ceagesp (2007), as
variedades que estão sendo comercializadas em São Paulo são Fucks,
Geada, Margarida, Ouro Verde, Breda, Fortuna, Quintal e Hass.

1 – Variedades com destino ao mercado interno

Fortuna
É um híbrido antilhano, do grupo floral A, muito comum no Estado
de São Paulo, especialmente na região de Mogi-Mirim, aconselhado
pelo IAC (1972). Possui fruto grande e bonito, de formato piriforme,
pesando de 600 a 800 g (Donadio, 1987). O período de colheita varia
Principais variedades • 41
de maio a agosto, no entanto a Ceagesp (2007) cita que essa variação
é de fevereiro a junho e que a polpa do fruto é amarela sem fibras
e a casca é verde lisa, com espessura média. Como inconvenientes
possui sabor aguado, baixo conteúdo de óleo, que faz a fruta menos
conservável, pouca resistência à podridão do pé (Phytophtora spp) e
rápido envelhecimento. Apesar disso tem uma boa comerciabilidade,
alto rendimento (25 caixas/planta) e boa resistência à ferrugem (Ma-
ranca, 1980).
Sabendo da dificuldade de se conservar o fruto desse híbrido, Ger-
mano et al. (1996) estudaram o uso de dose de radiações gama do
Cobalto-60 e observaram que houve um prolongamento dos dias de
vida de prateleira quando os frutos foram irradiados com 75 e 100 Gy
e depois mantidos em condição ambientes.
Segundo Campos (1984) esse híbrido tem ótima aceitação no mer-
cado interno e boa produtividade, boa resistência às doenças e ao trans-
porte e alto rendimento de polpa. Tango et al. (2004) caracterizaram
frutos de variedades de abacateiro e observaram para esse híbrido um
alto rendimento de polpa (75,7%); 12,5% de caroço; 11,8% de casca e
24,3% de caroço e casca. Em relação à porcentagem de óleo apresentou
um valor baixo (5,9%) e um alto valor de umidade (87,2), não sendo
viável para extração de óleo.

Figura 1 – Abacate do cultivar Fortuna (Pratânea-SP).


(Foto: Dayana Portes Ramos)
42 • ABACATE
Quintal
É um híbrido antilhano-guatemalense, do grupo floral B, menos
popular que o anteriormente citado, também aconselhado pelo IAC
(1972). A árvore é menos produtiva (8 caixas/planta), mas a madeira
resiste bem à carga dos frutos, dispensando o custoso escoramento. A
fruta possui casca fina, com poucas manchas pretas (Maranca, 1980).
Seu período de colheita varia de abril a junho, possui alto rendimento
de polpa (68%), sendo a polpa amarela sem fibras (Ceagesp, 2007),
baixa porcentagem de óleo, frutos oblonga, com pescoço, pesando
400-600 g (Donadio, 1987). Tango et al. (2004) observaram para
esse híbrido o mais alto rendimento de polpa (81,3%) e as menores
proporções de caroço e casca, respectivamente: 10,1 e 8,6%, quando
comparado a outras variedades. Em relação à porcentagem de óleo
apresentou um valor médio (14,7%) e valor de umidade de 77,4%. A
composição em ácidos graxos foi de: palmítico - 19,0%, palmitoléico
– 7,6%, esteárico: 0,5%, oléico – 65,2% e linoléico – 9,3%.
Segundo Campos (1984) esse híbrido tem boa aceitação no mer-
cado interno, ótima produtividade, boa resistência às doenças e regular
resistência ao transporte. Germano et al. (1996) objetivando aumen-
tar a vida de prateleira, devido a sua pouca resistência ao transporte,
estudou doses de irradiação e observou que ‘Quintal’ não respondeu
às radiações, porém se conservou significativamente melhor quando
mantido em local refrigerado (12-13,5ºC; UR: 45-55%).

Figura 2 – Abacate do cultivar Quintal (Pratânea-SP).


(Foto: Dayana Portes Ramos)
Principais variedades • 43
Solano
É um híbrido antilhano-guatemalense, de maturação tardia, onde
a colheita ocorre de agosto a novembro. Apresenta mais resistência ao
frio que outras, devido à descendência da raça guatemalense ou mexi-
cana. O cultivar se desenvolveu, bem ao sul-oeste do Estado de São
Paulo, na divisa com o Paraná, na zona de Itararé (Donadio, 1987).
O fruto é verde escuro, com formato piriforme (Donadio, 1987),
com casca dura pontilhada, comprimento de até 11-12 cm e peso de
700 g a 1 kg ou mais, ou seja, grande demais para as normas de exi-
gências e possibilidades do mercado. Não obstante o inconveniente
do tamanho, a casca é dura e a resistência da fruta a embalagem e ao
transporte é baixa. Apresenta polpa amarela, abundante e aromática,
com pouco óleo. As sementes não são muito grandes e nem se desta-
cam facilmente, o que constitui uma qualidade comercial positiva
(Maranca, 1980).
No conjunto, o fruto não é muito bem aceito, possuindo caracterís-
ticas da raça antilhana, como polpa muito aguada, pouco óleo, doce,
pouco conservável; mas com a vantagem da resistência ao frio e da
maturação tardia, quando o consumidor está apto a pagar melhores
preços pela fruta (Maranca, 1980).

Ouro verde
É um híbrido antilhano-guatemalense, do grupo floral A, que tem
ótima aceitação no mercado interno e boa resistência ao transporte
(Campos, 1984). O seu período de colheita varia de julho a setembro
(Donadio, 1987).
Possui fruto elíptico, pesando 500-700 g, alto rendimento de polpa
e média porcentagem de óleo (Donadio, 1987). Tango et al. (2004)
citam um alto rendimento de polpa (73,7%); 12,7% de caroço; 13,6%
de casca e 26,3% de caroço e casca. Em relação à porcentagem de óleo
apresentou alto valor (19,9%) e uma umidade de 70,4%, sendo estas
características viáveis para extração de óleo. A composição em ácidos
graxos foi de: palmítico - 18,3%, palmitoléico – 6,8%, esteárico: 0,5%,
oléico – 60,6% e linoléico – 13,2%.
Soares et al. (2002) estudando tolerância de cultivares a baixa tem-
peratura (-2,8ºC), em Capão Bonito, observaram que essa variedade
apresentou 65% de injúrias na copa.
44 • ABACATE
Dourado
É um híbrido antilhano-guatemalense, do grupo floral A, originário
de Arapongas-PR, que apresenta fruto orbicular, pesando 580 g, com
médio rendimento de polpa e média porcentagem de óleo. O período
de colheita ocorre de outubro a dezembro (Donadio, 1987). Segundo
Carvalho et al. (1983) as características mais marcantes desse híbrido
são a polpa de coloração amarelo forte, a relativa tolerância às baixas
temperaturas e a produção concentrada nos meses de outubro-novem-
bro, no norte do Paraná.
Carvalho et al. (1983) estudando algumas características físicas e
químicas dos frutos do abacateiro ‘Margarida’ e ‘Dourado’, no Norte
do Paraná observaram para o híbrido Dourado que o peso médio do
fruto foi de 580,34 g, no qual a polpa pesou 420,75 g (72,5%), o caroço
97,04 g (16,7%) e a casca 62,55 g (10,8%), ou seja, observou-se um
alto rendimento de polpa, diferente do que foi relatado por Donadio
(1987). A composição química da planta constituiu-se de 77,7% de
umidade; 1,70% de cinzas totais; 1,40% de proteína bruta e 16,10%
de extrato etéreo.

Margarida
É um híbrido antilhano guatemalense, do grupo floral B, originário
de Arapongas-PR. Segundo Carvalho et al. (1983) esse híbrido tem se
destacado pela tolerância às baixas temperaturas e pela época de matu-
ração tardia que, nas condições do Norte Paranaense, ocorre nos meses
de novembro e de dezembro. Soares et al. (2002) estudando tolerância
de cultivares às baixas temperaturas, observaram que essa variedade
apresentou 40% de injúrias na copa e 30% de queda dos frutos.
Possui fruto obvocado, pesando 750 g, com médio rendimento de
polpa e baixa porcentagem de óleo (Donadio, 1987). A casca é verde
rugosa, espessa e a polpa amarela sem fibras (Ceagesp, 2007). Car-
valho et al. (1983) observaram que o peso médio do fruto foi de 750,2
g, na qual a polpa pesou 572,36 g (76,3%), o caroço 119,46 g(15,9%) e
a casca 58,36 g (7,8%). A composição química da planta constituiu-se
de 76,3% de umidade, 1,30% de cinzas totais, 1,20% de proteína bruta
e 12,60% de extrato etéreo.
Principais variedades • 45

Figura 3 – Abacate do cultivar Margarida (Pratânea-SP).


(Foto: Dayana Portes Ramos)

Reis
É um híbrido antilhano-guatemalense, do grupo floral B, cujo
período de colheita varia de agosto a setembro. Possui fruto piriforme,
com pescoço, pesando 700-800 g, com alto rendimento de polpa e
baixa porcentagem de óleo (Donadio, 1987).
Soares et al. (2002) estudando tolerância de cultivares à baixa tem-
peratura, observaram que essa variedade apresentou 40% de injúrias
na copa e 20% de queda dos frutos.

Campinas
É um híbrido antilhano-guatemalense, do grupo floral B, que pos-
sui fruto elíptico, pesando 600-700 g, alto rendimento de polpa e média
porcentagem de óleo. O período de colheita pode variar de setembro
a outubro (Donadio, 1987).
Soares et al. (2002), estudando tolerância de cultivares à baixa
temperatura, observaram que essa variedade apresentou 25% de in-
júrias na copa, porém elevada taxa de queda de frutos (80%).

Geada
É uma variedade da raça antilhana, do grupo floral B, cujos frutos
46 • ABACATE
são piriforme-elípticos, pesando 600-750 g, com alto rendimento de
polpa e baixa porcentagem de óleo. O período de colheita ocorre de
janeiro a fevereiro (Donadio, 1987), porém a Ceagesp (2007), cita esse
período como sendo de novembro a abril e comenta que o fruto tem a
polpa amarela com poucas fibras e a casca verde lisa, com espessura
fina.
Soares et al. (2002) estudando tolerância de cultivares às baixas
temperaturas, observaram que essa variedade apresentou quase 100%
de injúria na copa, devido ser da raça antilhana, ou seja, não suportar
baixas temperaturas.

Ryan
É um híbrido mexicano-guatemalense, pertencente ao grupo floral
B, de produção tardia. Apresenta má aceitação no mercado interno,
estando voltado mais para o mercado externo. Tem ótima produtivi-
dade; boa resistência às doenças e ao transporte; médio rendimento de
polpa e alta porcentagem de óleo (Campos, 1984).
Gómez Lopes (2002), caracterizando frutos de variedades de aba-
cate, na Venezuela, observou para o fruto peso de 146,46 g, altura de
8,48 cm e diâmetro de 5,92 cm. Apresentou 64,85% de polpa, 22,41%
de caroço e 12,74% de casca.

Breda
É um híbrido antilhano-guatemalense, do grupo floral A, que pos-
sui fruto de tamanho médio (400-600 g), elíptico, com casca lisa fina
e polpa amarela sem fibras. A época de produção é tardia, variando
de junho a dezembro. Apresenta um alto valor comercial, porém a
produção é alternante (Ceagesp, 2007).
Soares et al. (2002) observaram que essa variedade apresentou
100% de injúrias na copa, mostrando que esse híbrido apresenta mais
características da raça antilhana, do que guatemalense.
Principais variedades • 47

Figura 4 – Abacate do cultivar Breda (Pratânea-SP).


(Foto: Dayana Portes Ramos)

Pollock
Originou-se da Flórida/EUA e começou a propagar-se comercial-
mente no início do século, sendo ainda hoje uma das melhores varie-
dades antilhanas. O fruto é alongado, piriforme, grande, pesando de 0,5
a mais de 1 kg; é verde brilhante, com superfície lisa, polpa amarela,
semente grande, algumas vezes solta na cavidade. O conteúdo de óleo
na polpa é baixo, tendo cerca de 5% (Maranca, 1980).
Bleinroth (1978), Fersini (1975), Montenegro (1956) e Tango et
al. (1969/70) estudaram a caracterização de frutos e observaram que
os frutos pesaram 530,70 g, 890-1000 g, 775,2 g e 719,7 g, respectiva-
mente. Os mesmos autores também encontraram baixa porcentagem
de óleo, porém os valores variaram um pouco, na qual Fersini (1975)
observou 6,10%, Medina et al. (1978): 7,54%, Lucchesi e Montenegro
(1975): 7,90 e Tango et al. (1969/70): 13,40%. Os últimos autores em
2004 encontraram para essa variedade um valor mais baixo, quando
comparado às outras variedades (5,3%) e o valor mais alto de umidade
(87,9%), tornando-se inviável para extração de óleo. A composição em
ácidos graxos foi de: palmítico - 22%, palmitoléico – 8,6%, esteárico:
0,4%, oléico – 57,7% e linoléico – 13,1%.
Na Flórida é a variedade de maior precocidade de maturação
48 • ABACATE
(metade de julho a fins de setembro). No estado de São Paulo é uma
das cultivares mais importantes, pois amadurece em janeiro e feve-
reiro, com produções constantes.
A fruta resiste à refrigeração discretamente a 5,5ºC. Soares et al.
(2002) estudando tolerância de cultivares à baixa temperatura, obser-
varam que essa variedade apresentou 100% de injúrias na copa, sendo
pouco resistente.
Esta variedade confirmou sua elevada produtividade em pesqui-
sas realizadas na Venezuela (Maranca, 1980). Campos (1984), dis-
corda, citando que essa variedade tem pequena produtividade, ótima
aceitação no mercado interno, ótima resistência às doenças, regular
resistência ao transporte e alto rendimento de polpa. Bleinroth (1978),
Montenegro (1956) e Tango et al. (1969/70) obtiveram alto rendimento
de polpa, respectivamente: 80,4%, 80,9% e 78,7%. Tango et al. (2004)
também encontraram um alto rendimento de polpa, porém um pouco
mais baixo que os outros autores (73,1%); 12,8% de caroço; 14,1% de
casca e 26,9% de caroço e casca.

Waldin
É uma variedade antilhana, originária da Flórida, do grupo floral
A, que se pode alternar no plantio com a Pollock, coincidindo aproxi-
madamente o período de floração. No estado de São Paulo amadurece
em fevereiro-março e até em abril, com produtividade elevada e cons-
tante, sendo necessário às vezes fazer o raleamento para que os frutos
não fiquem pequenos demais e com defeitos. A fruta não resiste bem
à refrigeração (Maranca, 1980).
Tem fruto ovalado, mais curto e arredondado que ‘Pollock’, ca-
racteristicamente achatado de um lado na parte terminal, de tamanho
médio a grande, pesando 400 a 800 g; com casca suave, verde clara
a cinzenta amarelada, polpa amarela de bom aroma, semente média
a grande, quase presa à cavidade, conteúdo de óleo de 5 a 10% (Ma-
ranca, 1980). Gómez Lopes (2000), caracterizando frutos de varie-
dades de abacate, na Venezuela, observou para o fruto peso de 176,28
g, altura de 8,56 cm e diâmetro de 6,30 cm. Apresentou 63,63% de
polpa, 25,93% de caroço e 10,44% de casca. Em relação ao teor de
óleo, Medina et al. (1978) observaram um valor de 10,05%; Lucchesi
e Montenegro (1975): 10,0% e Tango et al. (1969/70): 6,9%. Tango et
Principais variedades • 49
al. (2004) também encontraram valor nesse intervalo (9,6%) e 81,7%
de umidade. A composição em ácidos graxos foi de: palmítico - 29%,
palmitoléico – 8,2%, esteárico: 0,4%, oléico – 47,0% e linoléico –
14,3%. Em relação à porcentagem de polpa, apresentou médio ren-
dimento (61,4%); 25,1% de caroço; 13,5% de semente e 38,6% de
casca e semente.

Simmonds
É uma velha variedade antilhana, do grupo floral A, originada da
Flórida. Possui o fruto grande, com formato elíptico e com casca verde
amarelada, lisa, atrativa, com polpa de excelente qualidade e produção
abundante, sem alternância anual (Maranca, 1980).
Segundo Campos (1984) tem boa aceitação no mercado interno,
boa produtividade, boa resistência às doenças, regular resistência ao
transporte, alto rendimento de polpa e baixa porcentagem de óleo. Ou-
tros autores também encontraram baixa porcentagem de óleo, porém
os valores variaram um pouco, no qual Medina et al. (1978) obser-
varam 3,86%, Lucchesi e Montenegro (1975): 6,60%, e Tango et al.
(1969/70): 10,20%.
Bleinroth (1978) observou que os frutos dessa variedade apresen-
taram peso médio de 400,40 g; 66,30% de polpa e 24,48% de caroço;
no entanto Tango et al. (1969/70) encontrou 551 g, 69,30% e 15%,
respectivamente. Em 2004, Tango et al. encontraram valores seme-
lhantes, nos quais observaram 71,8% de polpa; 14,7% de caroço;
13,5% de casca e 28,2% de casca e semente. Em relação à porcentagem
de óleo, apresentou um valor baixo (7,2%) e um alto valor de umidade
(84,0%), não sendo está característica viável para extração de óleo. A
composição em ácidos graxos foi de: palmítico – 26,3%, palmitoléico
– 10,3%, esteárico: 0,5%, oléico – 47,1% e linoléico – 14,0%.
Soares et al. (2002) estudando tolerância de cultivares à baixa tem-
peratura, observaram que essa variedade apresentou 100% de injúrias
na copa, mostrando a baixa resistência às baixas temperaturas.

Linda
É uma variedade guatemalense do grupo floral B, comum na zona
entre Limeira e Ribeirão Preto, assim com na de Valinhos, no estado
de São Paulo, amadurecendo de julho a agosto, com elevada produ-
50 • ABACATE
tividade. A fruta é de qualidade boa a excelente, com casca purpúrea
quando madura, de tamanho grande, com peso de 700-800 g, semente
pequena; a forma elíptica, a casca dura e lenhosa, a polpa sem fibra
(Maranca, 1980). Alguns autores, estudando o peso dos frutos, en-
contraram valores bem próximos ao intervalo acima, onde Bleinroth
(1978) verificou frutos pesando 853,50 g, Fersini (1975): 890-1000 g,
Montenegro (1956) e Tango et al. (1969/70): 641 g.
Segundo Campos (1984), essa variedade tem boa aceitação no
mercado interno, regular resistência às doenças, ótima resistência ao
transporte, alto rendimento de polpa e porcentagem de óleo. Bleinroth
(1978) e Montenegro (1956) observaram 73,3% de polpa, e Tango et al.
(1969/70): 65%. Em relação à proporção de caroço, Bleinroth (1978) e
Montenegro (1956) observaram valor de 13% e Tango et al. (1969/70):
25%. Tango et al. (2004) relataram que frutos apresentaram 69,6% de
polpa; 15,7% de caroço; 14,7% de casca e 30,4% de casca e semente.
Fersini (1975), observou frutos com 12,20% de óleo, Medina et al.
(1978): 7,54%, Lucchesi e Montenegro (1975): 12,30 e Tango et al.
(1969/70): 15,20%. Em 2004, Tango et al. (2004) encontraram 7,7% de
lipídeos e 86,2% de umidade, ou seja, inviável para extração de óleo. A
composição em ácidos graxos foi de: palmítico – 18,9%, palmitoléico
– 7,1%, esteárico: 0,4%, oléico – 58,8% e linoléico – 12,9%.

Wagner
É uma variedade guatemalense do grupo floral A, comum nas zo-
nas de maior altitude do estado de São Paulo, onde frutifica de agosto
a setembro. Apresenta porte alto, boa produtividade, fruto pequeno
arredondado, de polpa amarela, com bom aroma, casca corrugada de
cor verde, peso de 450 g, que permanece na árvore por muito tempo
(Maranca, 1980). Bleinroth (1978) encontrou frutos pesando 312,2 g;
Fersini (1975): 220-340 g, Montenegro (1956): 400,3 g e Tango et al.
(1969/70): 344 g.
Segundo Campos (1984) essa variedade tem má aceitação no mer-
cado interno, má resistência às doenças, ótima resistência ao trans-
porte, baixo rendimento de polpa e alta porcentagem de óleo. Blein-
roth (1978) observou frutos com rendimento de polpa de 59,55%,
Montenegro (1956): 67,44% e Tango et al. (1969/70): 62,70. Tango
et al. (2004) observaram 65,2% de polpa, 24,5% de caroço, 10,3% de
Principais variedades • 51
casca e 34,8% de caroço e casca. Em relação ao teor de óleo Fersini
(1975) observou 16,0%, Medina et al. (1978): 20,80%, Lucchesi e
Montenegro (1975): 18,70 e Tango et al. (1969/70): 24,80%. Tango
et al. (2004) encontraram nos frutos 20,6% de óleo e 71,6% de umi-
dade, sendo viáveis para a extração de óleo. A composição em ácidos
graxos foi de: palmítico - 23,2%, palmitoléico – 7,8%, oléico – 58,9%
e linoléico – 10,1%.

Prince
É uma variedade guatemalense, do grupo floral B, com fruto médio
de boa qualidade. A árvore é vigorosa, de boa e constante produtivi-
dade e apresenta a maior precocidade entre as variedades desta raça,
começando a amadurecer em julho. Prospera bem na região entre Ri-
beirão Preto e Limeira, no estado de São Paulo, em zonas frescas e
ventiladas, relativamente mais altas, sendo uma das mais importantes
no estado (Maranca, 1980).
Segundo Campos (1984), essa variedade tem boa aceitação no
mercado interno, regular resistência às doenças, ótima resistência ao
transporte, alto rendimento de polpa e porcentagem de óleo. Bleinroth
(1978) e Montenegro (1956) encontraram 74% de rendimento de polpa
e Tango et al. (1969/70): 69,30. Bleinroth (1978) encontrou como
peso dos frutos 825,9 g, Montenegro (1956): 669,16 g e Tango et al.
(1969/70): 551 g.

Collinson
É um híbrido guatemalense-antilhano do grupo floral A, aconse-
lhado pelo IAC (1972) e seguramente uma das melhores variedades
(Maranca, 1980). Amadurece no estado de São Paulo, em maio e junho.
O fruto é grande, com 600 g, ovalado, de casca lisa e coriácea, verde
brilhante (Maranca, 1980). Bleinroth (1978) observou frutos pesando
612,10 g, Fersini (1975): 560 g, Medina et al. (1978): 600 g, Monte-
negro (1956): 628,50 g e Tango et al. (1969/70): 458,3 g. È a única
variedade conhecida que não produz pólen, devendo ser plantada com
árvores dos grupos A e B. A produtividade é boa e constante, com polpa
de ótima qualidade, mas de difícil conservação (Maranca, 1980).
Em relação ao rendimento da polpa os autores encontraram eleva-
do rendimento, na qual Bleinroth (1978) encontrou 71,8%, Medina et
52 • ABACATE
al. (1978): 78%, Montenegro (1956): 78,5% e Tango et al. (1969/70):
66,3%. Tango et al. (2004) obtiveram 73,0% de polpa, 16,8% de caroço,
10,2% de casca e 27% de casca e semente. Com relação ao teor de óleo,
os autores encontraram média porcentagem de óleo, no qual Lucchesi
e Montenegro (1975) encontraram 13,00% e Tango et al. (1969/70):
11,50%. Tango et al. (2004) encontraram alta porcentagem de óleo
(21,2%) e 67,9% de umidade, sendo viável para a extração de óleo. A
composição em ácidos graxos foram: palmítico - 20,6%, palmitoléico
– 2,9%, esteárico: 0,7%, oléico – 63,1% e linoléico – 11,8%.

Fuchs
É também conhecida como Fuchsia, sendo difundida em São
Paulo. Pertence ao grupo floral A e tem fruto grande de 500 g ou 1
kg, em formato de pêra, com casca coriácea, fina, lisa, verde brilhante
(Maranca, 1980) e polpa amarela, com fibras. O período de colheita
varia de janeiro a março (Ceagesp, 2007).

Lula
É uma variedade criada na Flórida/EUA cerca de meio século
atrás, de uma semente de variedade guatemalense fertilizada por pólen
desconhecido. No estado de São Paulo proporciona alta produtivi-
dade, com maturação de maio a junho. É variedade do grupo floral A.
O freqüente odor de anis nas folhas, faz pensar que se trate de uma
variedade mexicana. O fruto é piriforme, geralmente com pescoço,
de médio tamanho, pesando de 400 a 700 g, casca lisa ou levemente
granulada, de cor verde clara, bonita. Polpa excelente, semente grande,
presa à cavidade; conteúdo de óleo de 6 a 15% (Maranca, 1980). Ou-
tros autores também encontraram esse intervalo, entre os quais Hulme
(1971) observou 13,6% de óleo e Medina et al. (1978) 16,6%.
A fruta se presta bem para refrigeração. O inconveniente desta
variedade é a susceptibilidade à verrugose das folhas e frutos (Maran-
ca, 1980). Gómez Lopes (2002) caracterizou frutos de variedades de
abacate, na Venezuela e observou que o peso dos frutos foi de 336,84
g, com altura de 13,16 cm e diâmetro de 7,88 cm. Apresentou um ren-
dimento de polpa de 55,68%, 31,77% de caroço e 12,54% de casca.
Principais variedades • 53
Puebla
É uma variedade mexicana, do grupo floral A, que amadure em
janeiro-fevereiro, com fruto médio de boa qualidade, ovalado, pesando
150 a 350 g, polpa amarela de bom aroma. Pode desenvolver-se em
zonas mais frescas dos estados sulinos (Maranca, 1980). Fersini (1975)
observou alta porcentagem de óleo (19,5%) e Medina et al. (1978) mé-
dia (10,8-11,9%). Gómez Lopes (2000), caracterizando frutos de va-
riedades de abacate, na Venezuela, observou que o fruto pesou 106,96
g, com altura de 7,90 cm e diâmetro de 4,72 cm. Apresentou 63,23%
de polpa, 26,00% de caroço e 10,78% de casca.

Gottfried
É outra variedade mexicana, do grupo floral A, cujo amadureci-
mento vai de dezembro a fevereiro. Possui fruto de casca purpúrea,
polpa amarela, fruto grande, com peso variando de 250 a 500 g (Ma-
ranca, 1980).

Booth 8
É uma variedade originária da Flórida/EUA em 1920, difundida
em muitos países latino-americanos com sucesso. Apresenta árvore
vigorosa de porte aberto, com enorme produtividade. A alternância
da produção é freqüente, como conseqüência da excessiva carga. Os
frutos aparecem em grupos; são oblongo-ovalados, pequenos a médios,
pesando desde 250 até 800 g; casca mais ou menos verde, um pouco
áspera, espessa e de consistência lenhosa; polpa creme claro, semente
de médio tamanho, presa a cavidade; teor em óleo de 6 a 12%. A
fruta resiste moderadamente à refrigeração. Nascida de uma semente
de variedade guatemalense, provavelmente polinizada por variedade
antilhana, é do grupo floral B (Maranca, 1980).

Itzamna
É uma variedade guatemalense, do grupo floral B, hoje pouco di-
fundida no Brasil, ao contrário de muitos outros países do continente.
No estado de São Paulo, amadurece em agosto-outubro, isto é, mais
tarde que as outras variedades guatemalenses, sendo considerada como
uma das variedades mais tardias, com fruto de excelente qualidade.
Tais características poderiam fazê-la merecedora de maior difusão,
54 • ABACATE
futuramente no país; porém deve-se observar seu comportamento em
relação às doenças, fator que limitou sua extensão em países onde foi
cultivada em condições ecológicas não ideais (Maranca, 1980).
Segundo Tango et al. (2004) encontraram baixo rendimento de
polpa (58,3%), 19,7% de caroço, 22,0% de casca e 41,7% de caroço
e casca. Apesar disso apresentou alta porcentagem de óleo (20,7%)
e 69,2% de umidade, sendo viável para a extração de óleo. A com-
posição em ácidos graxos foi de: palmítico – 24,2%, palmitoléico –
5,8%, esteárico: 0,4%, oléico – 47,3% e linoléico – 21,2%. Tango et
al. (1969/70) e Medina et al. (1978) encontraram valores menores,
14,5% e 7,4%, respectivamente.

Princesa
É uma variedade antilhana, do grupo floral A, difundida na zona
de Limeira, juntamente com ‘Linda’ e ‘Simmonds’, amadurecendo em
março, com produtividade constante (Maranca, 1980).

Taylor
É considerada uma das melhores variedades guatemalenses, do
grupo A, de boa produtividade, com fruto pequeno. Amadurece em
agosto. Seu comportamento deve ser estudado em cada região, para
polinização da variedade Linda, que começa sua floração um pouco
mais tarde, prolongando-se quinze dias ou mais depois de terminada
a das outras variedades do grupo A. O fruto é piriforme, um pouco
ovalado, pesando de 350 a 500 g, com casca verde escura granulada,
polpa amarela, semente média, presa à cavidade, médio conteúdo de
óleo, de 12 a 17%. Hulme (1971) e Lucchesi e Montenegro (1975) ob-
servaram o mesmo (12%). O sabor e o aroma são excelentes (Maranca,
1980). Fersini (1975) observou frutos pesando 350-500 g, Medina et
al. (1978): 370 g, Montenegro (1956): 370,3 g. Em relação ao rendi-
mento da polpa, observou valor médio, na qual, Medina et al. (1978)
e Montenegro (1956) encontraram 66,2% de polpa. A árvore produz já
nos primeiros anos de plantio, mas a carga não é sempre constante. A
preferência desta variedade é para clima mais ameno, cujo fruto resiste
bem à conservação refrigerada. Sua difusão ficou um pouco limitada
devido a se adaptar em ambientes mais frios (Maranca, 1980).
Principais variedades • 55
2 – Variedades para exportação

Quanto às variedades destinadas à exportação, em que pese à


seleção ou mesmo a obtenção de novas variedades mediante hibrida-
ção, principalmente na Califórnia/EUA, as duas variedades mais im-
portantes na maioria dos países exportadores ainda são a Fuerte e a
Hass, originadas de polinização aberta, não controlada.

Fuerte
É um híbrido guatemalense-mexicano, exigente em clima mais
ameno e localização com altitude elevada. É aconselhado oficialmente
no estado de São Paulo, com fruto de polpa manteigosa excelente e
aromática. O inconveniente, que está limitando sua área de difusão é
a produção alternada, com anos de carga reduzida. Apesar de ser do
grupo floral B, a plantação alternada com outras variedades pode ser
freqüentemente dispensada, em condições climáticas normais, pois
esta variedade consegue freqüentemente autopolinizar-se. É também
a variedade mais difundida em Israel (Maranca, 1980).
A casca é flexível, elástica, de cor verde, sem brilho. A polpa não
possui fibras, mas é firme. A semente tem tamanho pequeno a médio,
cônica e aderente à polpa. O fruto é facilmente descascável e resistente
ao transporte. Registra-se nesta variedade a tendência à produção de
frutos sem sementes, pequenos, de pouco ou nenhum valor comercial
(Donadio, 1995).

Figura 5 - Abacate do cultivar Fuerte (Bauru - SP). (Foto: Vítor Carvalho)


56 • ABACATE
Young (1965), na Califórnia, objetivando aumento na vida de
prateleira do fruto, irradiou frutos no estágio pré-climatérico com do-
ses de 50 a 100 Gy e verificou que amadureceram normalmente, ainda
que alguns dias mais tarde que as testemunhas. Kahan et al. (1968)
irradiaram abacates uniformemente maduros em intervalos maiores
entre colheita e irradiação, na qual retardaram mais o amadurecimento.
Observaram ainda que a dose de 150 Gy causou ligeiro escurecimento
na superfície da polpa quando cortada.
Segundo Campos (1984) esta variedade tem má aceitação no
mercado interno, estando voltada para o mercado externo, além de
baixa resistência às doenças e baixo rendimento de polpa. Tango et
al. (1969/70) encontraram para essa variedade médio rendimento de
polpa (66,30%). O mesmo ocorreu em 2004, onde encontraram 65,8%
de polpa, 22,3% de caroço, 11,9% de casca e 34,2% de caroço e casca.
A polpa alcança o teor de óleo de 22% em média (até 26%), com o
fruto piriforme e de tamanho médio a pequeno e peso de 150 a 350 g
(Donadio, 1995). Os autores observaram o mesmo intervalo de peso
em seus experimentos, na qual Fersini (1975) encontrou o valor vari-
ando de 240 a 450 g, Medina et al. (1978): 225-450 g e Tango et al.
(1969/70): 159 g. Gómez Lopes (2002) estudando frutos de variedades
de abacate, na Venezuela, observou para esta variedade peso de 192,86
g, com altura de 12,04 cm e diâmetro de 5,86 cm. A polpa apresentou
um rendimento de 70,90%, 17,04% de caroço e 12,06% de casca.
Com relação ao teor de óleo, os valores disponíveis na literatura
variaram bastante, no qual Fersini (1975) encontrou valores de 25 a
29%, Medina et al. (1978): 10,37%, Lucchesi e Montenegro (1975):
35,0%, Tango et al. (1969/70): 25,50% e Tango et al. (2004): 30,3%,
sendo considerada viável para extração de óleo. A composição em áci-
dos graxos foi de: palmítico – 20,2%, palmitoléico – 7,9%, esteárico:
0,4%, oléico – 61,4% e linoléico – 10,1% (Tango et al., 2004).
Essa variedade é exigente no tocante à temperatura-ambiente, prin-
cipalmente na época de floração e no começo da frutificação, quando
fica mais sensível às baixas temperaturas, embora a planta resista bem
às geadas. Soares et al. (2002) concordam com esse relato, pois ob-
servaram que essa variedade apresentou maior tolerância às baixas
temperaturas, não verificando injúria na copa e nem queda de frutos,
quando comparada a outras variedades. Esse resultado é concordante
Principais variedades • 57
com a literatura (Krezdorn, 1974; Campbell e Malo, 1976), que rela-
ciona o grau de tolerância ao frio com a raça do cultivar.
Exige polinizadores específicos para melhorar sua produção. Guill
e Gazit (1991) demonstraram que as variedades Topa-Topa e Tova são
ótimos polinizadores para Fuerte. A colheita dessa variedade inclui-se
na categoria de precoce a média, sendo de cinco a sete meses o espaço
de tempo da floração à maturação. No Brasil, há poucas plantações co-
merciais da variedade. A maior delas, localizada em Bauru/SP, produz
frutos para exportação de março a junho, época que em parte coincide
com a produção da África do Sul e da Austrália (Donadio, 1995).

Hass
É um híbrido guatemalense-mexicano, com acentuada predo-
minância da primeira. Surgiu na Califórnia/EUA na década de 20. É
mais suscetível ao frio que a Fuerte, principalmente na época de flo-
ração. É sensível a baixa umidade, sobretudo onde há ventos quentes
e secos, que dessecam as flores e folhas jovens, fazendo-as cair. Pro-
duz flores em grande quantidade, tendendo muitas vezes à excessiva
frutificação, com reflexo negativo no seu tamanho médio. É em geral,
muito produtiva e apresenta a interessante característica de reter fruto
na planta mesmo depois de atingida a maturação comercial, por isso
pode ser colhida durante longo tempo (Donadio, 1995).
O fruto é oval-piriforme, de casca grossa e rugosa, resiste bem
ao transporte. Tem cor verde, que escurece na maturação, chegando
ao violáceo-escuro. É facilmente descascável, pesa de 180 a 300 g
e tem uma polpa de excelente qualidade, sem fibras. O teor de óleo
é de 20% em média, indo de 18 a 22%, embora seja colhido com o
mínimo de 8 a 10%, para fins de exportação, na África do Sul e nos
Estados Unidos (Donadio, 1995). Tango et al. (2004) verificaram em
seu experimento alta porcentagem de óleo (31,1%) e 57,2% de umi-
dade, podendo ser feita à extração de óleo. A composição em ácidos
graxos foi de: palmítico – 24,5%, palmitoléico – 13,3%, esteárico:
0,3%, oléico – 47,7% e linoléico – 14,2%.
A semente é pequena, esférica e aderente à polpa. Em Bauru/SP
esta variedade é colhida para exportação de junho a setembro. Mais
tarde, portanto, que a Fuerte. Guill e Gazit (1991) indicam como po-
linizador mais eficiente, nas condições de Israel, a variedade Ettinger
58 • ABACATE
plantada até 18 m de distância, que resultou na produção de 17 a 20 t/
ha. Esta caiu para 8-10 t/ha com o plantio do polinizador a 50 m, e a
menos de 5 t/ha com outros polinizadores.
Segundo Campos (1984) essa variedade tem má aceitação no mer-
cado interno, ótima produtividade, boa resistência às doenças, ótima
resistência ao transporte e alto rendimento de polpa. Tango et al. (2004)
também observaram alto rendimento de polpa (67,5%), 19% de caroço,
13,5% de casca e 32,5% de caroço e casca.

Figura 6: Abacate do cultivar Hass (Bauru-SP).


(Foto: Dayana Portes Ramos)

Figura 7: Abacate do cultivar Hass colhido para exportação (Bauru-SP)


(Foto: Aloísio Costa Sampaio)
Principais variedades • 59
Outras variedades de abacateiro são plantadas em pequena escala
em outros países e são descritas abaixo, segundo Calabrese (1989) e
Suppo (1982).
Bacon e Zutano são híbridos mexicano-guatemalense, originários
da Califórnia, do grupo floral B, que produzem precocemente frutos
de 250-300 g.
Reed é uma variedade guatemalense, originária da Califórnia, do
grupo A, que produz tardiamente frutos de 300-400 g.
Ettinger é um híbrido mexicano-guatemalense originário de Isra-
el, do grupo floral B, que produz precocemente frutos de 200-300 g.
Edanol é uma variedade guatemalense originária da África do
Sul, do grupo floral B, que têm produção precoce ou média e apresenta
frutos de 250-300 g.
Horshim é um híbrido mexicano-guatemalense, originário de Isra-
el, do grupo floral B, que produz medianamente frutos de 250-300 g.
Gwen é uma variedade guatemalense originária, da Califórnia,
do grupo floral A, que produz precocemente frutos de 200-350 g. É
resultante de um trabalho de melhoramento por cruzamento realizado
na Califórnia. É a mais promissora dentre os vários híbridos selecio-
nados, na qual pode chegar a 70 t/ha.
Rincon é um híbrido mexicano-guatemalense, originário do Méxi-
co, do grupo floral A, que tem produção precoce ou média e apresenta
frutos de 150-300 g.
Tova é uma variedade mexicana, originária de Israel, do grupo A,
que produz precocemente frutos de 250 g.
Nabal é um híbrido guatemalense, originário de Israel, do grupo
floral B, que produz precocemente frutos de 300-400 g.
As variedades acima citadas foram obtidas da Fuerte e Hass,
por isso lembram suas características. Estas não chegaram a adquirir
grande importância comercial, porque ou têm os mesmos defeitos ou
não têm qualidades superiores às das duas variedades. Algumas são
empregadas como polinizadoras de outras variedades (Suppo, 1982).
Conforme o relato de Martins et al. (2006), nos últimos anos os
produtores de abacate têm procurado outras variedades que possam
ser alternativas às atuais disponíveis. Para disponibilizar material que
possa atender a demanda foram realizados trabalhos de melhoramento
de plantas, disponíveis no campo e no Banco Ativo de Germoplasma
60 • ABACATE
da FCAV/UNESP/Campus de Jaboticabal, originadas por cruzamentos
ou mutações, que permitiram a seleção de variedade com frutos de
tamanho pequeno e ausência de semente. A planta matriz, denominada
‘Inêz’, tem características típicas da raça antilhana, com maturação
precoce (fevereiro/março), para as condições de Jaboticabal/SP. O
fruto de formato alongado tem, em média, 15,6 cm de comprimento e
5,6 cm de largura, pesando 230 g, dos quais 96% corresponde a polpa,
que é de coloração creme-esverdeado, com palatabilidade muito boa
e ºBrix de 7,6, sendo a casca verde e lisa. Os trabalhos, ainda na fase
inicial, já indicam resultados bastante promissores para o desenvolvi-
mento de novos cultivares com características desejáveis.

IV – FATORES QUE INTERFEREM NA ESCOLHA DAS VARI-


EDADES

Escolher variedades, entre as citadas e as demais existentes, no


País e fora dele, não é tarefa fácil, quando se pensa nas numerosas
exigências climáticas ou florais de cada uma delas, ao problema da
polinização, à demora na maturação, ao tamanho, cor e outras quali-
dades da fruta, já discutidas. (Maranca, 1980).
Também é importante a associação entre espécies e condições
climáticas capazes de mudar a época de produção, antecipar a das vari-
edades precoces, ou retardar a das tardias, um fator de grande interesse
prático na escolha das variedades a serem plantadas em determinada
região (Donadio, 1995).
Um fator importante na escolha da variedade baseia-se na necessi-
dade de polinização cruzada, com vistas ao aumento de produção, pois
já se viu que há combinações de variedades que levam à melhoria da
produção (Gazit, 1976). No caso da variedade Fuerte, foi demons-
trado que a Tova é a melhor polinizadora. Na Ettinger, por sua vez,
a variedade Tova induz um aumento de produção de 200 a 300%,
comparando-se com outras polinizadoras (Donadio, 1995).
Para facilitar a escolha da variedade a ser plantada é necessário
observar o comportamento das variedades em cada região, para saber
melhor as características apresentadas, como por exemplo, se a varie-
dade tem a possibilidade de extração de óleo, se possui alto rendimento
de polpa, ou ainda, se necessita de polinizadores.
Principais variedades • 61
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe a necessidade de mais estudos com a cultura do abacateiro


no Brasil, visando solucionar problemas, dentre os quais destaca-se a
necessidade de oferta do produto no mercado o ano todo.
É possível verificar que as variedades apresentam características
diferentes em determinadas regiões, destacando-se com isso a necessi-
dade da pesquisa local, com o objetivo de indicar as variedades mais
adaptadas ao clima, além do conhecimento prévio das exigências do
mercado consumidor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGH, B. O. Avocados. In: JANICK, J.; MOORE, J. N. Advances


in fruit breeding. West Lafayette: Purdue University Press, 1975. p.
541-567.

BLEINROTH, E. W. Matéria-prima. In: MEDINA, J. C. et al. Aba-


cate. Campinas: ITAL, 1978. p. 75-94 (Série Frutas Tropicais, 1).

BRUCKNER, C. H. Melhoramento de Fruteiras Tropicais. Viçosa:


UFV, 2002. 422p.

CALABRESE, F. Fruticultura moderna: Avocado. Itália: Edizioni


Agricole, 1989. 217p.

CAMPBELL, C. W.; MALO, S. E. A survey of avocado cultivar. In:


INTERNATIONAL TROPICAL FRUIT SHORT COURSE, 1., 1976,
Miami Beach. Proceedings… Gainesville: University of Florida,
1976. p. 24-33.

CAMPOS, J. S. de. Abacaticultura paulista. Campinas: CATI 1984.


92p. (Boletim técnico, 181).

CARVALHO, S. L. C. de. et al. Margarida e Dourado: novas cultiva-


res de abacate. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 18, n.
62 • ABACATE
6, p. 635-639, 1983.

CEAGESP. O abacate e suas variedades. São Paulo, 2007. Dis-


ponível em: <http://www.journalentreposto.com.br/fev2007/cqh.
htm>. Acesso em: 8 jun. 2007.

DONADIO, L. C. Present status of Brazilian avocado industry. In:


WORLD AVOCADO CONGRESS, 1., 1987, South Africa. Procee-
dings… SAAGA: Yearbook, 1987. v. 10, p. 82-85.

DONADIO, L. C. Abacate para exportação: aspectos técnicos da


produção. 2. ed. ver. ampl. Brasília: EMBRAPA: SPI, 1995. p 21-52
(Série Publicações Técnicas FRUPEX, 2).

FERSINI, A. El cultivo del aguacate. México: Diana, 1975. 132p.

GAZIT, S. Pollination and fruit set of avocado. Proc. First Int. Tro-
pical Fruit Short Course: The Avocado, Flórida, p. 92-95, 1976.

GERMANO, R. M. de A. et al. Conservação pós-colheita de abacates


Persia americana Mill., variedades Fortuna e Quintal, por irradiação.
Scientia agrícola, Piracicaba, v. 53, n. 2-3, p. 249-253, 1996.

GÓMEZ-LÓPEZ, V. M. Fruit characterization of Venezuela avocado


varieties of medium oil content. Scientia agrícola, Piracicaba, v. 57,
n. 4, p. 791-794, 2000.

GÓMEZ-LÓPEZ, V. M. Fruit characterization of high oil content


avocado varieties. Scientia agrícola, Piracicaba, v. 59, n. 2, p.403-
406, 2002.

GUILL, L.; GAZIT, S. Pollination of the Hass avocado cultivars. In:


WORLD AVOCADO CONGRESS, 2., Califórnia, 1991. Procee-
dings… Califórnia, 1991. v. 10, p. 241.

HULME, A. C. The biochemistry of fruits and their products.


London: Academic Press, 1971. v. 2. 780p.
Principais variedades • 63
INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS. Instruções agríco-
las para o Estado de São Paulo. IAC: Campinas, 1972 (Boletim,
200).

KAHAN, R. S. et al. Effect of radiation on the ripening of bananas


and avocado pears. In: INTERNATIONAL ATOMIC ENEERGY
AGENCY. Preservation of fruits and vegetables by radiation. Vi-
enna: IAEA, 1968. p. 3-11.

KREZDORN, A. H. Influence of rootstock con cold hardiness of avo-


cado. Proceedings of the Florida State Horticultural Society, Win-
ter Haven, v. 86, p. 346-348, 1974.

LUCCHESI, A. A; MONTENEGRO, H. W. S. Influência ecológica


no desenvolvimento do fruto e no teor de óleo na polpa do abacate.
An. Esc. Sup. Agric. Luiz de Queiroz, Piracicaba, v. 32, p. 419-
445, 1975.

MARANCA, G. Fruticultura comercial: manga e abacate. 4 ed. São


Paulo: Nobel, 1980. 138p.

MARTINS, A. B. G. et al. Inêz: Nova variedade de abacate sem se-


mente. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 19.,
Cabo Frio, 2006. Anais... Cabo Frio, 2006. p. 400.

MEDINA, J. C. et al. Abacate da cultura ao processamento e comercia-


lização. Campinas: ITAL, 1978. p. 75-94 (Série Frutas Tropicais, 1).

MONTENEGRO, H. W. S. Contribuição para o estudo pomológico


do abacateiro. Piracicaba, 1956. Tese Livre-docência.

SOARES, N. B. et al. Tolerância a baixas temperaturas de cultivares


de abacate (Persea americana Mill.). Revista Brasileira de Fruticul-
tura, Jaboticabal, v. 24, n. 3, dez. 2002. Disponível em: <http://www.
scielo.br>. Acesso em: 7 jun. 2007.

SUPPO, F. R. El aguacate. México: A.G.T, 1982. 167p.


64 • ABACATE
TANGO, J. S. et al. Composição do fruto e do óleo de diferentes vari-
edades de abacates cultivados no Estado de São Paulo. Colet. Inst.
Tecnol. Alim., Campinas, v. 3, p. 283-292, 1969/70.

TANGO, J. S. et al. Caracterização física e química de frutos de aba-


cate visando a seu potencial para extração de óleo. Revista Brasileira
de Fruticultura, Jaboticabal, v. 26, n. 1, p. 17-23, 2004.

YOUNG, R. E. Effect of ionizing radiation on respiration and ethy-


lene reduction of avocado fruit. Nature, v. 205, p. 1113-1114, 1965.
PROPAGAÇÃO DO ABACATEIRO

Tatiana Rezende Pires de Almeida1


Aloísio Costa Sampaio2
1. Introdução
O abacateiro é propagado basicamente através de sementes ou
pelo método de enxertia. Para fins comerciais recomenda-se a enxer-
tia, já que se trata de uma planta de porte alto e bastante passível de
variações genéticas, visto ser uma planta alógama. A enxertia também
visa antecipar o período produtivo das plantas e garantir uma maior
uniformidade fenotípica no pomar (Cyro, 1991 citado por Moraes et
al., 2002).
Em razão do abacateiro ter sido propagado durante muitos anos
exclusivamente por meio de sementes, obteve-se um grande número
de híbridos, visto que a semente do abacate é monoembriônica geran-
do apenas plantas híbridas, normalmente diferentes entre si, algumas
vezes, porém, os fenótipos são similares dificultando o processo de
melhoramento (Grecco et al., 2006).
Geralmente a semente do abacate quando germina apresenta vários
caules, que podem ser confundidos com a poliembrionia, mas neste
caso trata-se de policaulia, ou seja, a formação de vários caules pro-
venientes de apenas um embrião gamético (Zaccaro, 2003).
Por outro lado, os pomares que foram formados com mudas propa-
gadas através de sementes apresentavam grande variabilidade na forma
e dimensão das copas das árvores e os frutos colhidos também eram
muito diferentes em relação à forma, tamanho, qualidade da polpa e
época de maturação (Zaccaro, 2003).
Desta forma a utilização de sementes restringe-se à formação de
porta enxertos para serem enxertados com cultivares melhoradas. A
utilização da clonagem através da formação de plantas obtidas através
da estaquia, alporquia e cultura de tecidos tem apresentado resultados
animadores (Zaccaro, 2003).

1
Engenheira Agrônoma. Mestranda em Horticultura pela UNESP/FCA/Botucatu
2
Docente do Departamento de Ciências Biológicas, FC/UNESP – Cx. P. 473 – CEP 17033-360 - Bauru, SP
e do Curso de Pós-graduação em Horticultura/FCA/UNESP – Botucatu, SP - aloísio@fc.unesp.br
66 • ABACATE
2. Propagação do Abacateiro por Enxertia
A propagação do abacateiro por enxertia é o método empregado
comercialmente pelos viveiristas. Este método consiste basicamente
na obtenção dos porta-enxertos através de sementes e na posterior
enxertia dos cultivares copa. A seguir, são descritas as etapas para a
obtenção da muda de abacateiro por enxertia.

2.1. Preparo da semente para obtenção dos porta-enxer-


tos
As sementes de abacate para formação dos porta-enxertos devem
ser retiradas de plantas adultas, sadias e produtivas, colhendo-se os
frutos quando maduros ou “de vez”, com o maior cuidado possível para
que não caiam no chão e danifiquem a semente (Zaccaro, 2003).
As sementes devem ser lavadas retirando-se a película que as
envolve. Utiliza-se um banho com água quente a 49 – 50ºC por 30
minutos e após devem ser lavadas com água fria, colocando-as para
secarem a sombra. Se não for utilizado o banho com água quente,
recomenda-se utilizar um fungicida específico para proteção das se-
mentes. A semeadura deve ser realizada o mais rápido possível, pois
o poder germinativo decresce rapidamente (Zaccaro, 2003).
Recomenda-se a utilização de sementes da raça mexicana (Got-
tfried), raça guatemalense (Nimlioh) que amadurecem entre feve-
reiro e abril e da raça antilhana (grupo manteiga) e seus híbridos que
amadurecem normalmente entre dezembro e fevereiro. Geralmente os
viveiristas retiram as sementes de plantas vigorosas e produtivas e que
amadurecem até março – abril. Normalmente são híbridos da raça anti-
lhana que se adaptam melhor às condições tropicais (Zaccaro, 2003).

2.2. Semeadura
O método da semeadura consiste na utilização de sacos plásticos
medindo 20 cm de diâmetro por 40 cm de altura ou também, pode
ser realizada no campo plantando os porta enxertos no espaçamento
de 1,00 x 0,30 m. Neste caso, as sementes devem ser semeadas em
canteiros de areia em condições semelhantes às utilizadas para forma-
ção de mudas em sacos plásticos e, após a germinação das sementes,
as plantas são transplantadas para o viveiro. Este tipo de plantio não é
aconselhável por ser difícil de retirar a planta do chão para posterior-
propagação do abacateiro • 67
mente colocá-las em jacazinhos ou embalagens semelhantes, neces-
sitando de um maior tempo de aclimatação, pois o corte das raízes
realizado durante o arranquio da muda causa um traumatismo muito
grande e, pode existir contaminação das raízes com o fungo causador
da podridão das raízes (Zaccaro, 2003).

Figura 1. Semeadura direta de sementes de abacate comum visando obten-


ção de Porta-enxerto. (Foto: Aloísio Costa Sampaio)

Figura 2. Porta-enxertos em desenvolvimento para futura enxertia por


fenda cheia, na Fazenda Jaguacy, Bauru (SP).
(Foto: Aloísio Costa Sampaio)
68 • ABACATE
2.3. Enxertia
Utiliza-se a garfagem em fenda cheia e a borbulhia. A enxertia por
borbulhia é empregada apenas no caso de porta-enxertos formados
no campo, pois necessita de maior diâmetro destes para a enxertia da
borbulha que deverá ser mais lenhosa (Zaccarro, 2003).
Devido às inúmeras vantagens da garfagem em fenda cheia, como
o uso de sacos plásticos para formação dos porta-enxertos, melhor pe-
gamento da enxertia, maior rapidez de aclimatação da muda e melhor
pegamento das mudas no campo, atualmente a borbulhia tornou-se
obsoleta para a produção de mudas de abacateiro (Zaccaro, 2003).
Os porta enxertos estarão em condições propícias para a enxertia
quando atingirem a altura de 0,20 – 0,30 m de altura, com o caule de
coloração bronzeada e diâmetro de um lápis. Os garfos deverão ser
retirados de plantas matrizes de cultivares selecionados, registrads e de
alta produtividade. Os ponteiros deverão ser cortados com 5 – 8 cm de
comprimento retirando-se os pecíolos das folhas (Zaccaro, 2003).
Os porta enxertos devem ser aparados a 4 cm acima do ápice da
semente, efetuando-se um corte longitudinal de 3 cm de comprimento
ao longo do caule. No garfo efetuam-se dois cortes longitudinais con-
vergentes de 3 cm de comprimento formando uma cunha. A seguir,
introduz-se o garfo dentro da fenda do porta-enxerto, fixando-o com
um fitilho de plástico, envolvendo-se toda a área do corte para a pro-
teção local da enxertia. Após protege-se o enxerto com um saco plás-
tico transparente que é envolvido e fixado sobre o enxerto para evitar
o ressecamento e queimaduras do sol (Zaccaro, 2003).
Depois de 30 a 40 dias, o enxerto inicia a brotação, quando deve
ser retirado o saco plástico e o fitilho. De 40 a 90 dias após a enxertia,
deve-se realizar a desbrota do porta enxerto, condução da muda e
aclimatação gradativa da muda ao sol. A muda de abacateiro estará
pronta para o plantio no local definitivo quando atingir 0,40 – 0,50 m
de altura, que ocorrerá com 10 a 12 meses após a semeadura do porta-
enxerto (Zaccaro, 2003).
O sucesso da enxertia depende do conhecimento da técnica, da
habilidade do enxertador, das condições da planta, do ambiente e de
outros fatores. Um cuidado especial é quanto à proteção do enxerto
contra a desidratação após a operação, principalmente quando se trata
de enxertia por garfagem (Hartmann et al., 1990 citados por Jacomino
propagação do abacateiro • 69
et al., 2000).
Além da sacola de polietileno pode ser utilizado o parafilme que
é um material a prova d’água, bastante flexível e maleável, que é apli-
cado sobre o local a ser protegido, de forma a proporcionar cobertura
adequada e ajustar-se às formas do enxerto (Jacomino et al., 2000).
O parafilme constitui-se num plástico especial, bastante flexível,
maleável e biodegradável, não necessitando ser retirado (Jacomino
et al., 2000). O mesmo autor, estudando seis tipos de materiais para
a proteção, como o saco de polietileno, parafina, parafina + vaselina,
cera de abelha, parafilme e filme de PVC, obtiveram que parafilme e
filme de PVC foram os melhores materiais para a proteção do enxerto
em abacateiro ‘Fortuna’.
Segundo Koller (1984), o saco de polietileno utilizado para cobrir
o enxerto tem a finalidade de conservar a umidade do ar, evitando a
desidratação do garfo, sem impedir as trocas gasosas de O2 e CO2,
importantes para o pegamento do enxerto.
Mindêllo Neto et al. (2004) também estudando materiais para a
proteção do enxerto, obtiveram que o parafilme promoveu um aumento
percentual no pegamento quando comparado ao saco de polietileno.

Figura 3. Porta-enxerto de abacate comum enxertada com a cv. Hass na


Fazenda Jaguacy, Bauru (SP). (Foto: Aloísio Costa Sampaio)
70 • ABACATE
3. Propagação do abacateiro por estaquia
O abacateiro possui problemas para propagação por estaquia, devi-
do ao difícil enraizamento das estacas. Para solucionar este problema
pode utilizar-se fitorreguladores, especialmente o ácido indolbutírico
(AIB), que aumenta a concentração endógena de auxinas nos tecidos
e induz a formação de raízes (Gaspar & Hoffinger, 1988 citados por
Silveira et al., 2004).
O anelamento, associado à utilização de fitorreguladores, é outra
solução já que este é utilizado com o objetivo de seccionar os va-
sos do floema, situados no córtex do ramo, impedindo a translocação
descendente de carboidratos, fitormônios e co-fatores benéficos ao
enraizamento, como o ácido isoclorogênico e terpenóides oxigenados
(Hartmann & Kester, 1997).
O estiolamento (crescimento na ausência de luz) dos ramos, tam-
bém é outra técnica para auxiliar, pois aumenta a concentração interna
de auxinas no ramo, diminui a lignificação dos tecidos, aumenta o
acúmulo de amido na região estiolada e diminui o conteúdo de co-
fatores negativos ao enraizamento, especialmente AIA – oxidase (Bas-
suk & Maynard, 1987; Hartmann & Kester, 1997 citados por Silveira
et al., 2004).
Estudando o efeito do estiolamento nos cultivares Ouro Verde
(raça guatemalense x antilhana) e Baronesa (raça antilhana), Silveira
et al. (2004) observaram que a técnica proporcionou uma maior por-
centagem de sobrevivência, brotação e enraizamento nas estacas da
cultivar Ouro Verde, porém o mesmo não pôde ser observado para a
cultivar Baronesa, indicando que o estiolamento não é uma prática
recomendada para todas as cultivares de abacateiro.
Reuveni & Raviv (1976) e Koller (1992), citados por Silveira et al.
(2004) afirmam que os clones mexicanos apresentam maior facilidade
para enraizar, os guatemalenses e os híbridos são intermediários e os
antilhanos são de difícil enraizamento.
Entre os reguladores de crescimento, o mais utilizado é o AIB
(ácido indolbutírico), cujo efeito estimulante do enraizamento já foi
comprovado para diversas espécies frutíferas (Mindêllo Neto et al.,
2006). Segundo o mesmo autor, outro fator que pode influenciar no
enraizamento de estacas de abacateiro é o tempo de imersão das estacas
na solução hidroalcoólica, ocorrendo divergências na literatura, onde
propagação do abacateiro • 71
alguns autores citam 10 segundos (Silveira et al., 2004), 20 segundos
(Bourdeaut,1970) e 24 horas (La Pena, 1975).
Mindêllo Neto et al. (2006) empregando AIB em estacas do cv.
Fuerte nas concentrações de 0, 500, 1000, 2000, 4000 mg L-1 durante 5
segundos (imersão rápida) e 24 horas (imersão lenta) obtiveram que as
concentrações maiores que 500 mg L-1 ocorreu uma diminuição na por-
centagem de estacas enraizadas, principalmente nas concentrações de
2000 e 4000 mg L-1. Isso provavelmente devem-se à concentração de
AIB acima da necessária para estímulos ao enraizamento ocasionado
desbalanço hormonal nas estacas e desequilíbrio entre promotores e
inibidores (Tabela 1).

Tabela 1 - Porcentagem de estacas herbáceas enraizadas de aba-


cateiro cv. Fuerte, em função do tempo de imersão e diferentes concen-
trações de AIB (mg L-1) diluídas em solução hidroalcoólica (1:1), com
testemunha (1) somente água. Canoinhas, SC, 2004. Fonte: Mindêllo
Neto et al., 2006.

Tempo de
imersão Concentração AIB (mg L-1)
0 500 1000 2000 4000
5 segundos 22,5 A d 47,5 A a 37,5 A b 32,5 A c 30,0 A c
24 horas 27,5 A a 0,0 B b 0,0 B b 0,0 B b 0,0 B b
C.V. (%) 17,24
(1) Médias seguidas de mesma letra maiúscula, na coluna,e minús-
cula, na linha, não diferem significativamente entre si, ao nível de 5%
de probabilidade, pelo teste de Scott-Knott.

4. Micropropagação do Abacateiro
A micropropagação através da proliferação de ápices caulinares
e gemas axilares são os processos mais utilizados para multiplicação
“in vitro” de plantas, por ser um método de propagação vegetativa que
apresenta grande estabilidade genética (Amato, 1977; Krikorian, 1991
citados por Biasi et al., 1994).
Em abacateiro este método foi utilizado visando a propagação ve-
getativa de porta enxertos necessária para a manutenção de caracterís-
72 • ABACATE
ticas importantes como a resistência à salinidade e à podridão de raiz.
No entanto, os resultados apesar de promissores, ainda não permitem
a utilização do processo em escala comercial (Biasi, et al., 1994).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIASI, L.A.; KOLLER, O.C.; KÂMPF, A.N. Micropropagação do


abacateiro ‘Ouro Verde’ a partir de segmentos nodais. Pesquisa Agro-
pecuária Brasileira, v. 29, n. 7, p. 1051-1058, 1994.

GRECCO, C.S.; SAWAZAKI, H.E.; BARBOSA, W.; SOARES, N.B.


Caracterização de híbridos de abacateiro e pereira através de RAF.
Disponível em: www.iac.sp.gov.br, Maio, 2006. Acesso em: 18 mar-
ço 2007.

JACOMINO, A.P.; MINAMI, K.; KLUGE, R.A.; KISHINO, A.Y.


Métodos de proteção de enxerto da produção de mudas de mangueira,
abacateiro e nogueira macadâmia. Pesquisa Agropecuária Brasile-
ira, v. 35, n. 10, p. 1985-1990, 2000.

HARTMANN, H.T.; KESTER, D.E.; DAVIES JR., F.T. Propagacion


de plantas: principios y praticas. 5 ed. México: Continental, 1997.
760p.

KOLLER, O.C. Abacaticultura. Porto Alegre: Ed. Da Universidade/


UFRGS, 138p., 1984.

MINDÊLLO NETO, U.R.; TORRES, A.N.L.; HIRANO, E. et al. In-


fluência da proteção do enxerto na produção de mudas de abacate.
Revista Brasileira de Fruticultura, v. 26, n 1, p. 189-190, 2004.

MINDÊLLO Neto, U.R.; HIRANO, E.; TELLES, C.A.; BIASI, L.A.


Propagação de abacateiro cv. Fuertes por estacas herbáceas. Scientia
Agrária, v.7, n. 1-2, p. 101-104, 2006.

MORAES, A.V.; MACHADO FILHO, J.A.; FAGUNDES, G.R. et al.


Avaliação da influência do tamanho da semente de abacate na germi-
propagação do abacateiro • 73
nação e na formação de porta-enxertos. XVII Congresso Brasileiro de
Fruticultura, Belém, PA, 2002.

SILVEIRA, S.V.; SOUZA, P.V.D.; KOLLER, O.C. Propagação vege-


tativa de abacateiro por estaquia. Revista Brasileira de Fruticultu-
ra, v. 26, n. 1, p. 191-192, 2004.

ZACCARO, R.P. Propagação do abacateiro. Disponível em: www.


todafruta.com.br, Junho, 2003. Acesso em: 18 março 2007.
PLANEJAMENTO E INSTALAÇÃO DE POMARES DE ABA-
CATEIRO

Sarita Leonel1
Jaime Duarte Filho2
Ronaldo Simões Grossi3
1 – Planejamento do pomar
Para a instalação e condução de pomares de abacateiro, vários
aspectos devem ser considerados visando o sucesso do empreendi-
mento, uma vez que a cultura, de caráter perene, uma vez instalada,
deverá permanecer na área por vários anos. Os abacateiros começam
a produzir comercialmente aos 4 anos de idade e a produção comercial
com retorno econômico começa a partir do 8º – 10º ano. Além disso,
é importante salientar que quanto mais favoráveis forem as condições
para o crescimento e desenvolvimento das plantas, melhor e mais
rápido será o retorno financeiro do empreendimento.
Somado a isso, um estudo e posterior planejamento econômico
do capital a ser investido, que envolve os custos para a instalação e
manutenção da cultura são muito importantes e devem ser feitos ini-
cialmente. O mercado consumidor do produto deve ser identificado e
caracterizado no tocante às suas principais necessidades e demandas.
A definição do mercado consumidor do abacate é de fundamental im-
portância, uma vez que os principais cultivares aceitos no mercado
internacional de exportação, não são bem aceitos no mercado interno.
A preferência de consumo dos brasileiros é para um abacate como
fruta de sobremesa e utilizado no preparo de sucos e vitaminas com
casca verde, tamanho grande, com peso médio dos frutos entre 400
– 700 g. Internacionalmente, o abacate é mais consumido como um
legume, no preparo de saladas ou pratos salgados como o guacamole.
Na Europa e Estados Unidos principalmente, a preferência é por frutos
pequenos, com peso entre 200 – 400 g, alto teor de óleo e casca roxa,
características encontradas nos cultivares Fuerte e Hass.

1
UNESP. Faculdade de Ciências Agronômicas. Departamento de Produção Vegetal. Setor Horticultura.
sarinel@fca.unesp.br
2
Engo Agro. Pesquisador EPAMIG-CTSM. duartefilho@epamig.br
3
Engenheiro Agrônomo. SAA/CATI. Casa da Agricultura de São Manuel. ca.saomanuel@cati.sp.gov.br
76 • ABACATE
2 - Escolha do local de plantio
O local de plantio deve ser escolhido cuidadosamente. Inicial-
mente o local escolhido deve ter clima e solo favoráveis para a cul-
tura. Outro aspecto a ser considerado é a topografia do terreno, que
preferencialmente deve ser plana, com declividades entre 3 a 10%. A
facilidade de boas estradas de acesso à propriedade, visando não só o
manejo da cultura, mas principalmente o escoamento da produção, são
itens importantes no planejamento do pomar. Se o destino final for
à exportação dos frutos, a proximidade de portos ou aeroportos, que
permita a rápida remessa do produto, é muito desejável.

3 – Escolha dos cultivares


Conforme o que já foi abordado anteriormente, a escolha dos
cultivares a serem plantados deve inicialmente considerar o destino
da comercialização do produto final. Para a promoção de algumas
facilidades no manejo da cultura e também visando a sazonalidade
da produção, o abacate dispõe de cultivares com época de maturação
precoces, de meia-estação e tardios.
De acordo com o relato de Koller (2002), cultivares precoces ou
tardias, cujos frutos amadurecem, respectivamente no início ou no
final da safra, geralmente alcançam melhores preços no mercado. En-
tretanto, o autor salienta que os cultivares tardios podem estar sujeitos
a alternância de produção, o que acarreta num menor rendimento,
quando comparados com os cultivares de meia-estação. A antecipa-
ção da colheita pode ser obtida com o plantio de cultivares precoces
em regiões quentes. O retardamento da colheita também pode ser
conseguido, através do plantio de cultivares tardias em regiões mais
frias.

4 – Preparo do solo para o plantio


O solo destinado ao cultivo deve ser profundo, bem drenado e
conter água e nutrientes em quantidades adequadas para que a planta
atinja um bom desenvolvimento. O preparo do solo deve ser realizado
numa profundidade de 40 a 50 cm, para a incorporação dos fertilizantes
e corretivos que promoverão a correção do solo. Esta é a melhor oca-
sião para a incorporação dos mesmos em profundidade, tendo em vista
as dificuldades para a colocação após o pomar instalado.
planejamento e instalaÇÃo • 77
4.1 – Preparo do solo com subsolagem e aração profunda
A subsolagem é uma prática realizada a uma profundidade de 40
a 50 cm no solo, seguida de aração e gradagem. Conforme Fachinello
et al. (1996), este sistema permite colocar os nutrientes em maiores
profundidades e à distância das raízes do abacateiro. Melhora a aera-
ção do solo e a infiltração de água, além de romper camadas adensadas
existentes, facilitando a penetração e o desenvolvimento do sistema
radicular das plantas. Os inconvenientes desse sistema são de que
não pode ser utilizado em solos rasos, pedregosos ou com horizonte
adensado, exige máquinas apropriadas e apresenta um custo inicial
mais elevado.
O calcário e o fósforo devem ser aplicados em duas etapas: metade
antes da subsolagem e metade antes da aração.

4.2 – Preparo convencional do solo


Neste sistema, o solo é preparado e corrigido numa profundidade
menor, que varia de 20 a 25 cm. Realiza-se normalmente de 1 a 2
arações, seguidas de gradagem superficial. Este sistema é utilizado
em locais onde possa haver impedimentos à mecanização, tais como
pedras e declive acentuado. Apresenta menor custo operacional. A
adubação fosfatada e o calcário também são aplicados em duas etapas,
metade antes da aração e metade antes da gradagem.

5 – Sistemas de plantio

5.1 – Plantio em covas


As covas são abertas através de broca acoplada ao trator, em pro-
fundidades que podem variar de 50 x 50 x 50 a 70 x 70 x 70 cm de
profundidade, largura e espessura, dependendo do tipo de solo onde
será instalado o pomar. O plantio em covas prevê somente a marca-
ção inicial do terreno e facilita o plantio. Contudo, pode apresentar
alguns inconvenientes como a compactação das paredes da cova em
solos argilosos, que dificultam a penetração das raízes das plantas
e em casos graves, forma uma verdadeira barreira de impedimento
(Fachinello et al, 1996).
78 • ABACATE
5.2 – Plantio em sulcos
É o sistema mais adotado para a implantação de grandes pomares.
Os sulcos são abertos nas linhas de plantio, normalmente com sulcado-
res empregados para o plantio de cana-de-açúcar, a uma profundidade
de 40 cm. Posteriormente, são demarcados os locais para o plantio das
mudas e em seguida, procede-se o fechamento dos sulcos.
Neste sistema, as plantas podem desenvolver raízes mais uni-
formes e o gasto operacional costuma ser menor.

6 – Época de plantio
O plantio deve preferencialmente ser realizado na primavera, nos
meses de outubro e novembro no estado de São Paulo, porém sempre
condicionado à disponibilidade de água. As mudas de abacateiro nor-
malmente são comercializadas na forma de torrão, pois as de raízes
nuas normalmente não sobrevivem, pois o sistema radicular é delicado
e sujeito à dessecação. A muda deve ser colocada um pouco acima
do nível do terreno para compensar o acamamento da terra na cova,
antes de chegar terra no torrão. A bacia de irrigação feita ao redor da
muda, aliada a colocação de palha de capim seco é importante para a
conservação da umidade.

7 – Espaçamento
O espaçamento a ser adotado deve levar em consideração vários
fatores, dentre eles: o sistema de crescimento lateral ou vertical dos
cultivares escolhidos, a profundidade e a fertilidade do solo, a topogra-
fia da área, o trânsito de máquinas e equipamentos, o tamanho do
pomar e principalmente, os objetivos comerciais que condicionarão
a longevidade dos pomares. Em pomares pequenos, onde não serão
utilizados máquinas e implementos grandes, os espaçamentos podem
ser menores. Atualmente existe uma tendência para o adensamento
dos cultivos, mesmo em grandes áreas, com o manejo da copa através
da poda, visando maiores produtividades.
O plantio em quadrado é sempre o mais preferido para o aba-
cateiro, pela facilidade nos tratos culturais e colheita (Ramos, 1982).
Nesse sistema, os espaçamentos podem variar de 7,5 x 7,5; 8,0 x 8,0
a até 10,0 x 10,0 m entre linhas e entre plantas, respectivamente, para
pomares onde não será realizado o adensamento de plantio. Quando
planejamento e instalaÇÃo • 79
a área necessitar da instalação de curvas de nível, o plantio retangular
promove normalmente uma melhor distribuição dos talhões.
No sistema de plantio adensado, com a utilização da poda, é pos-
sível utilizar espaçamentos menores de 5 x 8 m até 7 x 9 m (Koller,
2002). Em propriedades comerciais na região de Botucatu/SP os
produtores cultivam abacate para mesa, dos cultivares Breda, Mar-
garida, Fortuna e Quintal, no espaçamento de 5 x 6 m. Os produtores
preconizam o adensamento para aproveitamento do espaço e o cresci-
mento das plantas é controlado através das podas.

8 – Necessidade do plantio de cultivares polinizadores


Pelo fato de apresentar o processo de dicogamia protogínica, que
regula a polinização e fecundação das flores do abacateiro, os culti-
vares foram divididos, conforme o horário de abertura das flores em
dois grupos florais denominados de A e B. A dicogamia protogínica
favorece a polinização e fecundação cruzada entre cultivares per-
tencentes aos dois grupos (Koller, 2002). Devido a este fato, existe
concordância entre os especialistas de que, no plantio de pomares de
abacateiro é recomendável o plantio intercalar de cultivares dos dois
grupos florais, para assegurar a produção comercial dos frutos. As
recomendações convergem para o plantio de 1 árvore polinizadora
para 8-10 do cultivar mais importante.
Existem plantios de linhas inteiras de plantas de um grupo floral
intercaladas com linhas de plantas de outro grupo, com a finalidade de
facilitar a colheita e os tratos culturais.
Não é raro, entretanto a constatação de que, em certas circunstân-
cias, árvores isoladas frutificam satisfatoriamente. Tal fato encontra
explicação nos estudos realizados por Isham e Elisikowitch (1991) os
quais mostraram que a temperatura, durante o florescimento, afeta as
fases feminina e masculina de abertura das flores. Para cada aumento
ou diminuição de 1ºC da temperatura acontece, respectivamente, uma
antecipação ou um atraso de 15 a 50 minutos no início da abertura
da flor, bem como uma igual diminuição ou aumento na duração da
abertura até o fechamento da flor. Essa falta de sincronia, causada
por variações da temperatura no florescimento faz com que, em régios
de temperaturas baixas, na mesma árvore, possa haver flores abertas,
algumas com os estigmas receptivos e outras liberando o pólen, pos-
80 • ABACATE
sibilitando a autofecundação.
Segundo Koller (2002), a autofecundação é verificada, com maior
freqüência, nos cultivares do grupo floral A, porque, quando acontece
o retardamento da fase pistilada, o estigma pode permanecer receptivo
desde a amanhã até a tarde, favorecendo a polinização por insetos.
Nos cultivares do grupo B, quando corre o retardamento da abertura e
fechamento da flor, a fase pistilada se estende para a noite, dificultando
a polinização entomófila.

REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS

FACHINELLO, J.C., NATCHIGAL, J.C., KERSTEN, E. Fruticul-


tura: fundamentos e práticas. Pelotas: Editora Universitária, Uni-
versidade Federal de Pelotas, 1996. 311p.

ISHAM, G., EISIKOWITCH, D. New insight in to avocado flowe-


ring in relation to its pollination. In: California Avocado Society
Yearboock, Saticoy, v. 75, p. 125-137, 1991.

KOLLER, O.C. Abacate – produção de mudas, instalação e


manejo de pomares, colheita e pós-colheita. Porto Alegre: Cinco
Continentes. 2002. 154 p.

RAMOS, V.H.V. Propagação e implantação de pomar de abacateiro.


Informe agropecuário, Belo Horizonte, v. 8, n. 86, 1982.
VIABILIDADE ECONÔMICA DA IRRIGAÇÃO NO ABA-
CATEIRO

Adilson Pacheco de Souza1


José Antônio Frizzone2

Considerações iniciais
A técnica da irrigação pode ser definida como sendo a aplicação
artificial de água ao solo, em quantidades adequadas, visando propor-
cionar a umidade necessária ao desenvolvimento normal das plantas
nele cultivadas, a fim de suprir a falta ou a má distribuição das chuvas.
Dessa forma, o objetivo que se pretende com a irrigação é satisfazer as
necessidades hídricas das culturas, aplicando a água uniformemente
e de forma eficiente, ou seja, que a maior quantidade de água apli-
cada seja armazenada na zona radicular à disposição da cultura. Este
objetivo deve ser alcançado sem alterar a fertilidade do solo e com
mínima interferência sobre os demais fatores necessários à produção
cultural.
Os fatores necessários para prover as culturas de água necessária
para máxima produtividade são principalmente: energia, água, mão-
de-obra e as estruturas de transporte da água, devendo existir uma
completa inter-relação entre eles de tal forma que se um deles não se
encontrar bem ajustado, o conjunto ficará comprometido, prejudicando
o objetivo a ser alcançado que é a máxima eficiência de utilização do
sistema, juntamente com a máxima produtividade.
A irrigação no Brasil depende de fatores climáticos. No semi-árido
do Nordeste é uma técnica absolutamente necessária para a realização
de uma agricultura racional, pois os níveis de chuva são insuficientes
para suprir a demanda hídrica das culturas. Nas regiões sul, sudeste
e centro-oeste, pode ser considerada como técnica complementar de
compensação da irregularidade das chuvas.
O insumo água é tão importante quanto qualquer outro, mas pouco
se tem feito quanto ao seu uso racional. A partir daí, nos deparamos
com as técnicas de manejo da irrigação. Conhecendo-se as caracterís-

1
Engenheiro Agrícola, Mestrando em Irrigação e Drenagem, DA / FCA / UNESP, Botucatu - SP, pacheco@
fca.unesp.br
2
ESALQ/USP. Departamento de Engenharia Rural/Irrigação; frizzone@carpa.ciagri.usp.br
82 • ABACATE
ticas físico-hídricas do solo, o clima, a cultura e os princípios de fun-
cionamento dos equipamentos de irrigação, pode-se propor um uso
racional da água e conseqüentemente, sem danos ao meio ambiente.

Exigências da cultura do Abacateiro


Antes de iniciar um projeto de irrigação para a cultura do aba-
cateiro é preciso descrever bem a fenologia (fases de desenvolvimento
e crescimento) da planta. Irrigar implica em conhecer as necessidades
das plantas, as características do solo e fornecer água em quantidade
adequada no momento requerido. Dos fatores climáticos que afetam o
abacateiro, os principais são a temperatura, luminosidade, precipitação
pluviométrica, os ventos e a umidade relativa do ar (KOLLER, 1984),
destacando-se dentre estes, a temperatura e a precipitação (TEIXEIRA
et al, 1991). Neste capítulo serão abordados apenas os efeitos da pre-
cipitação.
Segundo Teixeira (1991), precipitações da ordem de 1200 mm
anuais são suficientes para a cultura, desde que haja uma distribuição
razoável ao longo do ano. A distribuição das chuvas durante os meses
do ano nos diferentes períodos de crescimento do abacateiro é funda-
mental, sendo comprovado que essa distribuição resulta na existência
de umidade no solo durante o período de crescimento ativo (crescimen-
to de novas brotações, florescimento e desenvolvimento dos frutos).
Minimizando assim a queda intensa de flores ou frutos pequenos, que
podem influenciar tanto no tamanho como na qualidade dos frutos co-
lhidos, resultando em uma grande redução da produtividade por planta
e por hectare. As estiagens prolongadas causam a queda de folhas e,
por conseguinte, da produção. Já o excesso de precipitação no período
de florescimento e frutificação provoca queda na produção e prejudica
a qualidade dos frutos (TEIXEIRA, 1991). Koller (1984), alerta para
o fato de que as folhas do abacateiro não apresentam murchamento
nítido por ocasião do déficit hídrico, permanecendo praticamente nor-
mais, até o momento em que as folhas apresentam manchas necróti-
cas, secam e caem, comprometendo a produção. Por isso é necessário
bastante atenção na prevenção de déficit de água, especialmente em
plantas jovens cujo sistema radicular não é muito profundo. A obser-
vação de outras plantas mais sensíveis ao murchamento como fonte de
indícios seguros sobre a necessidade de irrigação é fundamental. É uma
Viabilidade econômica • 83
planta muito sensível ao encharcamento, devendo por isso, tomar-se
muito cuidado com o excesso de água que favorece o aparecimento
de podridões nas raízes.
Naturalmente não é verificada a ocorrência das chuvas de maneira
distribuída ao longo do ciclo da cultura do abacateiro, assim utiliza-
se da técnica da irrigação, como uma maneira de suprir esse déficit
hídrico que a cultura possa ter nos seus estádios de maior exigência
de água. A necessidade, freqüência e quantidade de água de irrigação
a ser aplicada dependem fundamentalmente da capacidade de armaze-
namento do solo em forma disponível para o abacateiro.
No verão, as plantas necessitam de muito mais água do que no
inverno, devido ao aumento da temperatura e do tamanho do dia. A
Tabela 01 apresenta a necessidade hídrica anual de algumas fruteiras
e a sua distribuição espacial e temporal na adoção de um sistema de
irrigação por gotejamento, sendo que a vazão total necessária é depen-
dente do número de plantas a serem irrigadas. O abacateiro prospera
nos mais diversos tipos de solos, desde que eles sejam bem drenados,
apresentando o nível do lençol freático abaixo de 1,50 metros.

Tabela 01 – Necessidade hídrica da algumas fruteiras.


Necessidade Anual de Necessidade diária por m²
Cultura água (mm) para gotejamento
Abacate 1300 1,51 litro por m²
Abacaxi 1200 1,39 litro por m²
Acerola 1400 1,33 litro por m²
Caju 1200 1,39 litro por m²
Caqui 900 1,03 litro por m²
Goiaba 1500 1,58 litro por m²
kiwi 1200 1,39 litro por m²
Maçã 1000 1,14 litro por m²
Manga 1400 1,33 litro por m²
Pera 1100 1,28 litro por m²
Fonte: Adaptado de AGROJET, (2006).
84 • ABACATE
Quando atendidas todas as necessidades da cultura do abacateiro
com relação às demais variáveis que possam interferir na produção,
não existindo restrição de umidade para a cultura, tanto no déficit como
no excesso, a planta não apresenta desequilíbrio energético, permitindo
expressar todo o seu desenvolvimento vegetativo e/ou produtivo, con-
forme o seu estádio de desenvolvimento. Porém, sabe-se que o sistema
solo-planta está sob influencia direta dos fatores climáticos atuantes na
região, ocasionando a transferência de água deste sistema para a atmos-
fera, pelos processos de evaporação de água do solo e transpiração da
planta que ocorrem simultaneamente na natureza gerando o fenômeno
da evapotranspiração. A ocorrência da evapotranspiração máxima da
cultura do abacateiro depende dos elementos climáticos envolvidos,
do solo, dos fatores fisiológicos e da restrição hídrica.
Donadio (1995) enfatiza que o abacateiro é uma das fruteiras mais
sensíveis ao fator solo, principalmente no que diz respeito à drenagem
e profundidade. Segundo Simão (1971), solos profundos, férteis, bem
drenados, leves e pouco ácidos são os desejáveis. Solos argilosos, com
alto poder de retenção de água e de difícil drenagem podem causar a
morte das raízes do abacateiro, que são muito exigentes em aeração
(SETTER & BELFORD, 1990). Além disso, o excesso de umidade
no solo predispõe as plantas do abacateiro ao ataque do fungo Phyh-
tophtora cinnamomi Rands. Somado a isso, o abacateiro se desenvolve
mais lentamente em solos pesados, retardando o início da frutificação.
Donadio (1995) afirma que solos rasos, porém com boa drenagem,
também podem ser utilizados, pois a planta apresenta sistema radicu-
lar superficial. Segundo Plessis (1991), cerca de 21% das raízes do
abacateiro se concentram em 30 cm de profundidade, porém quando
o solo apresenta sinais de compactação esse valor pode chegar a 50%,
sendo a profundidade considerada para fins de irrigação de 60 cm. De
acordo com Bower (1984), a tensão de água no solo influenciará ad-
versamente a maturação e qualidade dos frutos, sendo recomendado
que a irrigação seja realizada quando a tensão da água no solo estiver
próxima à 55 KPa ou 0,55 atm.
Um outro fator relacionado ao solo, muito importante a ser con-
siderado para a cultura do abacateiro, no momento de implantação do
pomar, é a salinidade. De acordo com Donadio (1995), o abacateiro é
muito sensível à salinidade. Medida pela condutividade elétrica, pode
Viabilidade econômica • 85
causar danos à planta quando excede 3mm hos/cm. Os principais pro-
blemas associados com salinidade do solo e toxicidade alta por cloreto
incluem reduções no rendimento dos frutos e tamanho das plantas,
baixo conteúdo de clorofila nas folhas, diminuição da fotossíntese e do
crescimento das raízes (CROWLEY, 1999). Os sintomas são, queima
da ponta e borda das folhas e queda da produção. A salinidade pode
ser provocada por altas concentrações de sulfatos, cloretos, carbone-
tos e nitratos no solo, ou água de irrigação com concentração acima
de 0,2g/l de cloreto. De acordo com Bernardo et al., (2006), o aba-
cateiro apresenta tolerância a concentração de cloro (Cl-) na água de
irrigação ou no solo de 4,0 e 6,0 me/L, respectivamente. Sendo ainda
considerada uma cultura sensível à concentração de sódio trocável no
solo e à concentração de boro na solução do solo, segundo Ayres e
Westcot (1985). A Tabela 2 mostra os níveis de tolerância de algumas
fruteiras à salinidade do solo, relacionado com diversas concentra-
ções de sais solúveis na solução do solo e na água de irrigação com
o potencial de produção das culturas, desde produção com 100% do
potencial da cultura até condições em que não haverá mais produção.
O controle da salinidade pode ser feito mediante a aplicação de uma
quantidade de água além daquela requerida para repor a quantidade
de água evapotranspirada para promover a lixiviação do excesso de
sais para camadas mais profundas do solo, longe do sistema radicular
das plantas (FOLEGATTI et al., 2005). Uma alternativa interessante
é a utilização de porta-enxertos da raça antilhana, que são resistentes
à salinidade. Outra prática também recomendável é a aplicação de
nitrato na água, que aumenta a tolerância da planta à salinidade. Em
relação ao pH, a faixa adequada ao abacateiro está entre 5,0 e 6,5. Fora
desses limites, a planta é muito prejudicada, principalmente em pH
alcalino, que também é mais difícil de ser corrigido.
86 • ABACATE
Tabela 02 – Tolerância e produção potencial de algumas fruteiras
em função da salinidade da água de irrigação (CEi) ou do solo (CEs),
em dS/m, a 25ºC, segundo Ayers e Westcot.
Produção Potencial
100% 90% 75% 50% "Zero" %
Culturas CEs CEi CEs CEi CEs CEi CEs CEi CEs CEi
Abacate
(Persea americana) 1,3 0,9 1,8 1,2 2,5 1,7 3,7 2,4 6,5 4,4
Laranja
(Citrus sinensis) 1,7 1,1 2,3 1,6 3,3 2,1 4,8 3,2 8,0 5,3
Limão
(Citrus limon) 1,7 1,1 2,3 1,6 3,3 2,2 4,8 3,2 8,0 5,3
Uva
(Vitis vinifera) 1,5 1,0 2,5 1,7 4,1 2,7 6,7 4,5 12,0 7,9
Grapefuit
(Citrus paradisi) 1,8 1,2 2,4 1,6 3,4 2,2 4,9 3,3 8,0 5,4
Fonte: Adaptado de Bernardo et al., (2006).

Custo do sistema de irrigação versus incremento da produ-


tividade
O preço de aquisição do equipamento de irrigação está diretamente
relacionado à qualidade do material empregado e às características
específicas de cada projeto, influenciando de maneira significativa no
incremento de produtividade, necessário para viabilizar a irrigação.
MONTEIRO et al., (2005) estudando a implicação do preço de aquisição
e vida útil do sistema de irrigação sobre a viabilidade econômica em
mamoeiro, verificou que a implementação de um sistema de irrigação
nesta cultura demanda alto investimento, concluindo que a vida útil
do equipamento exigiu um incremento de produtividade variando de
13 a 88,0%, enquanto que o preço de aquisição exigiu de 9 a 79,0%
de incremento, para viabilizar a implantação do sistema de irrigação.
Já para a cultura da goiabeira, SANTOS et al., (2005) analisando o
incremento de produtividade necessário para se viabilizar a irrigação
na cultura, observou que o preço de aquisição do equipamento de ir-
rigação influenciou a um incremento de produtividade necessário para
viabilizar a irrigação, que chegou a ultrapassar 150%, em pomares de
Viabilidade econômica • 87
plantas jovens, ao redor de 2 anos, porém à medida que a produção
tende a se estabilizar devido à idade do pomar, este incremento reduz
substancialmente, mesmo optando-se pelo equipamento de maior custo
de aquisição. Enquanto que nos pomares de goiabeiras em idade adulta
e em condições ideais de clima e solo exigiram um incremento de
produtividade para se viabilizar a irrigação é menor do que 20%.
Em um trabalho objetivando estudar os efeitos do custo de aquisição
e vida útil do sistema de irrigação sobre a viabilidade econômica dos
pomares de manga, FERRAZ et al., (2005) concluiu-se que a vida útil
do equipamento de irrigação exigiu um incremento de produtividade
de até 25,0%, enquanto que o preço de aquisição exigiu até 23,0% de
incremento de produtividade.
Para a cultura do abacateiro não se encontra na literatura nenhuma
referência quanto à existência de um incremento na produtividade para
viabilização da implantação de um sistema de irrigação, cabendo ao
produtor fazer essa análise seguindo as equações apresentadas poste-
riormente, pois dessa maneira, estará verificando essa necessidade de
aumento da produtividade para as suas condições locais.

Custo da água
No processo de toda de decisão sobre a forma de manejo do re-
curso hídrico, é importante considerar o custo da água. Quando a água
é um recurso escasso e caro (em termos de outros recursos que devem
ser sacrificados para aumentar a sua disponibilidade), é justificável
fazer investimento no seu uso. O custo da água é definido em termos
de outros recursos que devem ser sacrificados para aumentar sua dis-
ponibilidade. Este custo é definido pelos economistas como preço de
sombra ou custo de oportunidade, o qual nem sempre é expresso em
termos de valor monetário (preço), mas em espécie. Por exemplo, se
numa região árida é necessário a retirada de uma fonte de abasteci-
mento 2,5 milhões de metros cúbicos de água para produzir 5 toneladas
de abacate, o custo de 1 milhão de metros cúbicos de água é igual a
500 kg de abacate, porque no caso em que a água não estivesse di-
sponível, sacrificaria a produção de 500 kg de abacate por m³ de água
deficiente (FRIZZONE, 1993).
88 • ABACATE
Eficiência econômica da irrigação na cultura do abacateiro
Uma produção eficiente e rentável deve constituir o principal obje-
tivo econômico da empresa agrícola. Para isto, os recursos disponíveis
devem ser utilizados racionalmente no processo de produção, de forma
a se obterem os mais altos níveis de produtividade econômica. Na
atividade de irrigação, a água é o recurso natural sobre o qual se tem
maior interesse em exercer controle, no sentido de alterar seu padrão
de disponibilidade espacial e temporal, adequando-o à demanda da
cultura do abacateiro. A eficiência do uso da água pode ser avaliada
em função da produção e/ou receitas obtidas pela quantidade de água
aplicada, conforme exemplificado pela Tabela 03.
A produção da cultura do abacateiro em reposta à água aplicada
depende de muitos fatores, tais como quantidade e freqüência de ir-
rigação, método de aplicação de água, estádio de desenvolvimento da
cultura, variabilidade do solo, condições climáticas, etc. Neste item
serão utilizadas como base as considerações apresentadas por Friz-
zone, (1993) sobre funções de respostas de culturas à irrigação, por
ser uma das maiores referências quanto à avaliação do desempenho
das culturas quanto à lâmina irrigada e, por conseguinte, à eficiência
econômica da irrigação.
Viabilidade econômica • 89
Tabela 03 – Eficiência do uso da água para as principais espécies
de frutas irrigadas.
Produtividade Física Eficiência Física Eficiência Econô-
Cultura (t/ha/ano) (kg/m³) mica (US$/m³)
Abacate 10,00 1,79 0,54
Abacaxi 30,00 7,49 1,50
Acerola 15,00 3,25 0,97
Banana 40,00 3,40 1,06
Goiaba 20,00 4,34 2,71
Graviola 10,00 2,17 2,06
Limão 20,00 4,34 2,93
Manga 20,00 5,00 3,00
Tangerina 20,00 4,34 1,30
Uva 40,00 8,13 6,10
Fonte: Adaptado de FRUPEX, (1994) e Banco de Dados do Laboratório de
Hidráulica e Irrigação da Universidade Federal do Ceará apud Salzburg,
(1998).

Um enfoque conceitual de função de resposta ou de produção


da cultura do abacate pode ser considerado como uma relação física
entre a quantidade de água aplicada e as quantidades físicas máximas
que podem ser obtidas do produto, para dado sistema de irrigação uti-
lizado (FRIZZONE, 1993). Segundo o mesmo autor, muitas funções
de produção foram obtidas pelos pesquisadores para as mais variadas
culturas, em que estas apresentam em sua maioria relações lineares,
onde o valor ótimo (máximo lucro) será sempre limitado por uma res-
trição, neste caso, a disponibilidade de água. Entretanto, na maioria
dos problemas práticos, haverá um valor ótimo (que resulta na máxima
renda líquida) que ocorre dentro de uma região factível, antes da efe-
tiva limitação da água, conforme pode ser observado na Figura 01.
90 • ABACATE

Figura 01 – Esquema de uma função de receita líquida para a cultura do


abacate. Fonte: Frizzone, (1993).

Na Figura 02 ilustra-se um modelo da função de resposta de uma


cultura à quantidade total de água aplicada, dada pela relação evapo-
transpiração-produção, que pode ser facilmente adaptada para a cul-
tura do abacateiro, deve-se considerar que o método de irrigação pode
afetar significativamente a produção, independente da quantidade de
água a ser aplicada.
Quando uma pequena quantidade de água é aplicada, ela é quase
totalmente utilizada pela cultura, mas as curvas de evapotranspiração
e água aplicada, apesar de próximas, não são coincidentes. A relação
produção-água aplicada pode ser considerada linear até aproxima-
damente 50% da quantidade que resulta na produção máxima. Para
maiores quantidades de água aplicada, os acréscimos na produção são
progressivamente menores, refletindo as várias perdas de água que se
desenvolvem próximo da condição de máxima produção (irrigação
sem déficit). A perda de água por percolação profunda aumenta com
o aumento da quantidade de água aplicada; se o aumento da lâmina
de irrigação é associado com altas freqüências de irrigação, maior
perda por evaporação poderá ocorrer, especialmente em irrigação por
aspersão, com relativamente pequeno aumento na produção (FRIZ-
ZONE, 1993).
Viabilidade econômica • 91

Figura 02 – Função de resposta de uma cultura à irrigação. Fonte: Frizzone,


(1993).

Segundo Frizzone (1993), a irrigação é tão menos eficiente quanto


mais a quantidade de água aplicada se aproxima da irrigação sem
déficit. Este declínio da eficiência está associado com a variabilidade
na quantidade de água aplicada, com as características da cultura e ca-
racterísticas do solo. A curva de produção-água aplicada está próxima
da reta produção evapotranspiração para baixos níveis de irrigação,
mas se afasta progressivamente para maiores níveis de irrigação. A
forma da curva na zona II é governada por outros fatores. Após o ponto
de produção máxima, a curva se declina em conseqüência da redução
na aeração do solo devido ao excesso de água, lixiviação dos nutri-
entes e doenças associadas com solo úmido. Uma vez que os fatores
que afetam a produção na zona II são diferentes daqueles da zona I,
é necessário uma formulação matemática diferente para a zona II. A
natureza dessa relação depende do tempo de duração do excesso de
água, da temperatura durante o período de excesso de água e de outros
fatores de solo e clima. Quando a quantidade de água aplicada excede
a necessidade de água da cultura, o lucro diminui linearmente com o
aumento do nível de irrigação.
Na Figura 03, observa-se um esquema de funções de receita bruta,
custos e receita líquida. Desde que a receita bruta é igual à produção
da cultura multiplicada por uma constante (o preço do produto), a
relação entre o uso da água de irrigação e a receita bruta tem a mesma
forma geral da curva produção-água aplicada. A função de custo tem
92 • ABACATE
três importantes características. A primeira é seu limite inferior (custo/
ha), o qual está associado com os custos fixos anuais (do equipamento
de irrigação, da maquinaria agrícola e das operações de campo para
preparo de solo) e com os custos variáveis de produção da cultura, in-
dependentes da irrigação (sementes, fertilizantes, defensivos, cultivo e
colheita). A segunda característica da função de custo é a declividade, a
qual representa os custos marginais da produção, nos quais incluem os
custos variáveis da irrigação, tais como custos de bombeamento, custos
da água, da mão-de-obra e de manutenção, ou seja, correspondente à
diferença entre os custos variáveis de produção da cultura irrigada e
da cultura não irrigada, dividido pelo total de água aplicado. A terceira
característica é o limite superior que está relacionado à capacidade de
operação do sistema. Assumindo que é razoável adotar uma função de
custo linear, têm-se:

C A B = C0 + ( C W x W ) (01)

em que: CAB – custo de produção da cultura do abacate, por uni-


dade de área; C0 – custo de produção da cultura do abacate, por uni-
dade de área, incluindo todos os custos não diretamente relacionados
à aplicação de água e os custos de irrigação que não são função da
lâmina de água aplicada, como a depreciação do sistema de irrigação;
CW – custo do volume unitário de água aplicado; W – volume de água
aplicado por unidade de área.
Se não existirem outros custos envolvidos na produção, tais como
custos de drenagem, a função de receita líquida por unidade de área
pode ser dada por:

IL ( W ) = P x Y ( W ) - C AB (02)

em que: IL(W) – receita líquida por unidade de área; P – preço de


venda produto; Y(W) – quantidade produzida; CAB – custo de produção
da cultura do abacate, por unidade de área.
A equação (02) tem um máximo em Wm = W*, conforme obser-
vado na Figura 02. O valor de W* é considerado a necessidade ótima
de irrigação durante o ciclo produtivo da cultura. Em outras palavras,
se toda área for uniformemente irrigada, W* corresponde à quantidade
Viabilidade econômica • 93
de água que deve ser infiltrada no solo para se obter o máximo desem-
penho produtivo e econômico.
Sob a hipótese de que nos projetos de irrigação implantados nas
lavouras de abacateiro é essencialmente comercial e não de subsistên-
cia, o agricultor tem (ou pelo menos age como se tivesse) o objetivo
de maximizar a receita líquida. O emprego da irrigação em pomares
de abacate somente será economicamente viável se o incremento de
produção for suficiente para gerar uma receita líquida maior que o
incremento de custo anual do projeto. Por conseguinte, FERRAZ et
al., (2005) apresentam uma metodologia para determinação do incre-
mento de produtividade que pode ser adaptado para todas as fruteiras,
em especial para o abacate que apresenta poucas informações técnicas
sobre a viabilidade da utilização de sistemas de irrigação.

IP = ( PP cc si x 100 ) - 100 (03)

em que: IP é o incremento de produtividade necessário para via-


bilizar o emprego da irrigação; %, Pci é a produtividade da cultura
irrigada (kg.ha-1.ano-1); Pcs é a produtividade da cultura de sequeiro
(kg.ha-1.ano-1).

Para a viabilidade econômica do projeto, a receita líquida do po-


mar irrigado deveria ser, no mínimo, igual à receita líquida do pomar
de sequeiro:
-1
P c i = [( Pc s x Pp ) = C TA ] x Pp (04)

em que: Pp é o preço de venda do produto (US$.kg-1); CTA é o


custo total anual do projeto de irrigação (US$.ha-1.ano-1); CTA é cal-
culado por
C TA = C FA + C VA (05)

em que: CVA é o custo variável anual (US$.ha-1.ano-1); CFA é o


custo fixo anual (US$.ha-1.ano-1).

C FA = ( F R C X C si ) (06)
94 • ABACATE
em que: Csi é o preço de aquisição do sistema de irrigação (US$.
ha-1); FRC é o fator de recuperação do capital obtido por:

[ ][ ]
VU VU -1
F R C = ( j x 1 0 0 ) x (( j x 1 0 0 ) + 1 )
-1
x ( ( jx1 0 0 ) + 1 ) - 1
-1 -1

(07)
em que: j é a taxa anual de juros (%); VU é a vida útil do projeto
(anos); O custo CVA foi dado por:
C VA = C e + C m + M o (08)

em que: MO é o custo da mão-de-obra para a operação do sistema


de irrigação (US$.ha-1.ano-1); Cm é o custo da manutenção do equipa-
mento (US$.ha-1.ano-1); Ce é o custo total anual da energia (US$.ha-1.
ano-1), obtido por:
C e = F D A + F C A (09)

em que: FCA é o faturamento de consumo anual (US$.ha-1.ano-1);


FDA é o faturamento de demanda anual (US$.ha-1.ano-1); dado por:
-1
F D A = (12 x C ei x P i) x (1,36) (10)

em que: Cei é o custo da energia instalada (US$.ha-1.ano-1); Pi é a


potência instalada (cv.ha-1) e FCA :

(11)
em que: Tr é o tempo de funcionamento da irrigação no período de
tarifa de energia reduzida (h.dia-1); Rt é a redução na tarifa de energia
(%); Cec é o custo da energia consumida (US$.kW-1).

Pode observar-se em publicações de empresas de assistência téc-


nica, consultoria e comércio, como por exemplo, a FNP Consultoria
& Comércio, que publicou o Agrianual 2005, que no estudo da via-
bilidade da implantação de um sistema de irrigação na cultura do aba-
cateiro, independente do sistema a ser implantado, devem ser observa-
das algumas características importantes como: a) potência do sistema
de irrigação (cv.ha-1); b) preço de aquisição do sistema de irrigação
com motor elétrico ou a diesel (US$.ha-1); c) vida útil do sistema de
Viabilidade econômica • 95
irrigação (anos); d) tempo de operação do sistema de irrigação (h.dia-1);
e) tempo de irrigação no período com tarifas reduzidas ou políticas
especiais dos fornecedores locais de energia (h.dia-1); f) período de
operação do sistema de irrigação (meses.ano-1); g) custo de energia
instalada (US$.kW-1); h) custo da energia consumida (US$.kW-1.h-1); i)
custo de aquisição da rede elétrica (US$.km-1); j) comprimento da rede
elétrica (km); k) redução na tarifação da energia (%); l) espaçamento
entre linhas e plantas (m); m) área a ser irrigada (ha); n) produtividade
do abacateiro (kg.ha-1.ano-1); o) preço de venda do produto ((US$.kg-1);
p) lâmina projetada a ser irrigada (mm.dia-1).
Vale ressaltar que, de acordo com a observação destas variáveis
citadas acima, é possível observar que nem sempre é economicamente
viável optar por equipamentos de menor custo de aquisição e vida útil.
Além disso, deve-se considerar que um equipamento com preço muito
baixo pode possuir partes de baixa qualidade, que exigem manuten-
ções ou substituições freqüentes, apresentando baixa eficiência e uni-
formidade de distribuição de água, assim como tubulações de menor
diâmetro, que provocam maior perda de carga e consumo de energia.

Manejo racional da irrigação

O manejo racional da irrigação consiste na aplicação da quantidade


necessária de água às plantas no momento correto. Por não adotar um
método de controle da irrigação, o produtor rural usualmente irriga em
excesso, temendo que a cultura sofra um estresse hídrico, o que pode
comprometer a produção A adoção de técnicas racionais de manejo
conservacionistas do solo e da água é de fundamental importância
para a sustentabilidade, de tal forma que se possa, economicamente,
manter ao longo do tempo esses recursos com quantidade e qualidade
suficientes para a manutenção de níveis satisfatórios de produtividade.
Segundo TENÓRIO et al., (2005) a necessidade de utilizar um sistema
de irrigação de maneira eficiente, torna-se uma das mais importantes
tarefas do nosso tempo, sendo necessário aprofundar os conhecimentos
relativos às propriedades e ao comportamento do binômio solo-água,
devido a sua relação direta com o desenvolvimento das culturas.
Se as relações mostradas nas Figuras 01 e 02 fossem conhecidas
com precisão para a cultura do abacate, seria possível escolher com
96 • ABACATE
rigor o nível ótimo de água para uma situação particular. Contudo, en-
quanto a função de custo pode ser razoavelmente estimada, a função de
resposta do abacateiro é muito variável e difícil de ser prevista. Devido
a variação do clima, dos atributos físicos e hídricos do solo, da unifor-
midade de distribuição de água pelo sistema de irrigação, do tempo
necessário para obter tais resultados em experimentações e de muitos
outros fatores, torna-se difícil prever quanto de água é armazenada e
disponibilizada na zona do sistema radicular da planta. Quando estas
incertezas são combinadas com a variabilidade da resposta da cultura
ao uso de fertilizantes, condições fitossanitárias e de manejo do solo,
a produção real obtida para um determinado nível de água aplicada é
praticamente imprevisível.
Incerteza na produção significa risco econômico, através de estra-
tégias de irrigação (manejo racional), o risco poderá ser abrandado,
mas um substancial grau de incerteza ainda permanecerá, podendo
confundir qualquer tentativa no sentido de determinar um plano ótimo
de irrigação. Este é o problema essencial encontrando na irrigação do
abacateiro, uma vez que não se pode conhecer com precisão a forma
da curva de produção em função da água aplicada e, portanto, não se
determinará com certeza o nível de água que maximizará a receita
líquida. Também, a quantidade de água ótima representa apenas um
ponto sobre a curva de produção, tendo pouco significado prático. En-
tretanto, é possível definir um intervalo dentro do qual a receita líquida
é maior que aquela obtida quando se utiliza a quantidade de água que
maximiza a produção (Figura 03), onde no intervalo entre Wm e We,
a irrigação com déficit deverá ser mais rentável que a irrigação sem
déficit (irrigação para máxima produção).
Viabilidade econômica • 97

Figura 03 – Definição do intervalo para manejo racional da irrigação em


função das receitas. Fonte: Frizzone, (1993).

Em uma análise, a extensão deste intervalo pode ser interpretada
como uma indicação do grau de segurança no manejo racional da
irrigação com déficit. Se o intervalo é relativamente amplo, o risco
associado à decisão pode ser pequeno. Um intervalo pequeno implica
em maior risco e na necessidade de um cuidadoso manejo da irrigação.
Desta forma, conhecido este intervalo e a incerteza da estimativa da
quantidade ótima de água, a decisão de quanto irrigar pode ser tomada
com mais segurança.
Em projetos de irrigação, muitas variáveis influenciam nas meto-
dologias empregadas para se obter o uso racional da água. Porém, a
estimativa de consumo de água pelas culturas assume grande destaque,
na medida em que se busca maximizar a produção e minimizar custos
(MEDEIROS, 2002). Existem diversas formas de quantificar a ne-
cessidade diária de reposição de água através da irrigação, sendo que
as mais utilizadas são através da utilização de dados climáticos e mo-
98 • ABACATE
delos matemáticos estabelecidos pela FAO ou através de um balanço
hídrico do solo, que permite observar a quantidade de água que ainda
está armazenada na região do sistema radicular, quantificando apenas
a reposição até a condição da capacidade de campo do solo.
Para realização do manejo da água via clima é necessário se
conhecer o consumo de água pelas culturas (ETc), que representa a
lâmina que deve ser aplicada ao solo para manter o crescimento e a
produtividade em condições ideais (PEREIRA et al., 1997). Segundo
DOORENBOS & KASSAM (1979), a ETc é o resultado do produto
da evapotranspiração de referência (ETo) e o coeficiente da cultura
(Kc). Portanto, a determinação do consumo de água por uma cultura
é dependente do conhecimento da evapotranspiração de referência,
que diz respeito às condições climáticas do local da sua implantação
e também das características fisiológicas e morfológicas que lhe são
peculiares, representadas através do coeficiente de cultivo.
A evapotranspiração é uma variável muito estudada devido a sua
importância na estimativa do consumo de água pelas plantas. THORN-
THWAITE (1948) definiu a evapotranspiração potencial de uma cul-
tura (ETpc) como a quantidade de água utilizada por uma extensa área
vegetada, em crescimento ativo, sob condições ótimas de umidade
do solo. A evapotranspiração pode ser determinada ou estimada de
diferentes maneiras. De acordo com Miranda et al. (2001), ela pode
ser mensurada utilizando métodos diretos ou estimada por meio de in-
formações climáticas. No primeiro grupo, entre outros, estão incluídos
os diferentes tipos de lisímetros e o balanço de água no solo; enquanto
no segundo, estão enquadrados os métodos teóricos e empíricos, como
os de Penman (1948), Thornthwaite (1948), Blaney & Criddle (1950),
Jensen & Haise (1963), Priestley & Taylor (1972), Hargreaves (1977),
Penamn Monteith (Allen et al, 1998) e evaporímetros como o tanque
“Classe A” (SENTELHAS, 2003), dentre outros métodos apresentados
no Boletim 56 da FAO.
Dentre esses métodos destaca-se o do tanque “Classe A”, em
função da sua facilidade de operação, custo relativamente baixo e
principalmente, a possibilidade de instalação próxima à cultura a ser
irrigada. O tanque classe A apresenta área de aproximadamente 1,15
m2 e deve ser instalado sobre uma superfície gramada em um estrado
de madeira. Segundo Sentelhas (2001), sua simplicidade de manu-
Viabilidade econômica • 99
seio é contraposta a algumas desvantagens como a superexposição às
condições ambientais, a facilidade de acesso de animais e ao fato da
evaporação ocorrer também no período noturno, fato que dificulta sua
correlação com métodos tradicionais de estimativa de ETo. O método
do tanque é baseado na evaporação de água livre e num coeficiente do
tanque (kp), relacionando às condições do meio onde se determinam
ETo (MEDEIROS, 2002). Doorenbos & Pruitt (1977) apresentam uma
tabela com valores de kp que depende de fatores como velocidade do
vento, umidade relativa e tamanho da bordadura, relacionados à grama
irrigada. Os autores lembram da necessidade de ajustes locais no valor
de kp, dependendo da altura da cultura de referência e das condições
climáticas existentes. Valores de kp também podem ser obtidos por
meio de equações utilizadas em função da disponibilidade de dados
climáticos (Doorenbos & Pruitt (1977), Cuenca (1989), Snyder (1992),
Pereira et al. (1995), Raghuwanshi & Wallender (1998), Allen et al.,
1998).
Exemplo de uma seqüência para manejo da irrigação pelo método
do Tanque Classe A, vale ressaltar que este modelo apresenta suas
limitações, porém pode ser utilizado por possibilitar sua instalação
próximo à lavoura:
O cálculo da lâmina de água a ser aplicada pode ser realizado di-
ariamente após leitura da evaporação (Ev) do tanque classe A. Assim,
as leituras diárias de Ev são transformadas em evapotranspiração de
referência (ETo), conforme equação 12:

E to ( ta n q u e ) = kp x E v (12)

em que: kp - coeficiente do tanque, cuja estimativa pode ser efetua-


da conforme equação proposta por Allen et al. (1998), dentre vários
outros modelos matemáticos existentes:

(13)

em que: U = velocidade do vento medida a 2 m de altura, em m.s-1;


H = umidade relativa média (%) e F = bordadura, em m, (espaço entre
o tanque e o final da área de contorno).
100 • ABACATE
A evapotranspiração da cultura (ETc) pode ser determinada utili-
zando a equação:

E T = K c x E to (14)

em que: kc - coeficiente de cultivo do abacate. A Tabela 03 apre-


senta os coeficientes de cultivo para algumas fruteiras.
Tabela 03 – Valores médios do coeficiente (kc) para algumas
fruteiras.
Cultura Coeficiente de cultivo Altura da
Kc inicial Kc médio Kc final cultura (m)
Abacate (solo não coberto) 0,60 0,85 0,75 3,00
Banana (1º ano) 0,50 1,10 1,00 3,00
Banana (a partir do 2º ano) 1,00 1,20 1,10 4,00
Cacau 1,00 1,05 1,05 3,00
Abacaxi (solo não coberto) 0,50 0,30 0,30 0,60 – 1,20
Abacaxi (solo coberto com
grama) 0,50 0,50 0,50 0,60 – 1,20
Kiwi 0,40 1,05 1,05 3,00
Fonte: Adaptado de ALLEN et al., Boletim FAO 56, (1998).

Para melhor representar as condições climáticas locais, diari-


amente os coeficientes de cultivo eram corrigidos, conforme meto-
dologia apresentada por Allen et al., (1998):

(15)

(16)

(17)

em que: Kcini = coeficiente de cultura do abacate para fase 1; Kcmed


= coeficiente de cultura do abacate para fase 2; Kcfim = coeficiente
Viabilidade econômica • 101
de cultura do abacate para fase 3; IE = intervalo entre eventos de
umedecimento do solo, em dias; h = altura máxima da planta na fase
correspondente, em m.
O balanço hídrico do solo é o somatório das quantidades de água
que entram e saem de um volume de solo, em determinado intervalo
de tempo, durante o ciclo de uma cultura. Torna-se necessário avaliar
a umidade pelo menos na profundidade, ocupada por 95% do sistema
radicular ativo (REICHARDT & TIMM, 2004). O balanço hídrico
apresenta componentes que contribuem positivamente, aumentando
a umidade do solo no volume de controle, ou negativo, reduzindo a
disponibilidade de água no solo, sobretudo na profundidade do sistema
radicular efetivo. Uma equação simplificada do balanço hídrico no solo
é apresentada por REICHARDT E TIMM (2004):

P + I +- D S - E T +- Q Z +- A z = 0 (18)

em que: P = precipitação pluviométrica (mm); I = irrigação (mm);


DS = deflúvio superficial (mm); ET = evapotranspiração (mm); QZ =
fluxo vertical (ascensão capilar ou drenagem profunda) (mm); ∆Az =
variação no armazenamento da água no solo (mm).
Lopes et al. (2005), avaliando o manejo da irrigação por tensiome-
tria e o balanço hídrico climatológico, baseado no Tanque Classe A,
para a cultura do feijoeiro em sistemas de plantio convencional e dire-
to, concluíram que ambos os métodos são possíveis de serem adotados,
sendo que o manejo por meio da tensiometria proporcionou economia
de 15% na água de irrigação aplicada, sem afetar a produtividade em
grãos.
Para ser útil no controle da irrigação, o balanço hídrico precisa ser
de fácil execução e entendimento. Com esse objetivo, CAMARGO
& PEREIRA (1990) simplificaram o balanço hidrico climatológico
considerando apenas a água disponível (AD) diretamente ao invés do
armazenamento total como é apresentado acima. Esse controle pode
ser feito em qualquer escala de tempo (período), devendo ser adotada
aquela que for mais conveniente para as operações de campo, ou seja,
o turno de rega utilizado no próprio projeto. PEREIRA et al., (1997),
propõe uma planilha específica para o controle da irrigação, a qual
teria a seguinte configuração:
102 • ABACATE

Período ETo P I ADi Adf


ND= ... dias mm Kc ETc mm mm mm mm

Em que as colunas ADi e Adf representam a água disponível no


início e no fim do período considerado, sendo a ADi de um período
igual à ADf do período anterior. A irrigação quando necessária, deve
ser feita no início do período para garantir suprimento adequado no
intervalo pré-estabelecido.
Quanto ao turno de rega a ser adotado, Lahav & Kalmar (1997)
estudaram nas condições climáticas de Israel, o efeito de quatro inter-
valos de irrigação diferentes, 7, 14, 21 e 28 dias, na com aplicações de
água anual média respectiva eram 8890, 7450, 6680 e 5940 m³ ha-1. A
redução de intervalos de irrigação aumentou a taxa de crescimento e
tamanho de frutos individuais, podendo ser de importância econômica,
pois a superprodução resultou em frutos pequenos inadequado para
exportação. Porém as reduções dos turnos de rega tendem a aumen-
tar a porcentagem de óleo da fruta, que retardam a data de colheita.
Devido aos rendimentos iguais obtidos e a predominância de frutos
com tamanhos comerciais, recomenda-se que o intervalo de 21 dias era
a freqüência de irrigação ótima (LAHAV & KALMAR, 1997). Vale
ressaltar que, é importante à adequação do turno de rega conforme
as condições de solo, clima e sistema de irrigação adotado para cada
caso.

Métodos de irrigação
Vários são os fatores que afetam o desenvolvimento das plantas,
onde se ressalta a água, que em excesso ou escassez, contribui para a
diminuição dos rendimentos das culturas, sendo assim, o seu manejo
racional, um imperativo na maximização da produção agrícola. A
seleção do método de irrigação tem a finalidade de estabelecer a via-
bilidade técnica e econômica, maximizando a eficiência e minimizando
os custos de investimento e operação, e ao mesmo tempo, mantendo
as condições favoráveis ao desenvolvimento das culturas. Entre os
Viabilidade econômica • 103
critérios mais utilizados, destacam-se: a topografia, características do
solo, quantidade e qualidade da água, clima, cultura e considerações
econômicas. DONADIO (1995) salienta que todos os sistemas de irri-
gação possuem vantagens e desvantagens, incluindo-se os tradicionais
sistemas de irrigação por sulco, até a aspersão e gotejamento e reque-
rem aplicação criteriosa e acompanhamento rigoroso. Destaca-se o uso
de aspersão na Califórnia, aspersão subcopa em Israel e o gotejamento
que é muito utilizado e indicado para a cultura, sendo bastante difun-
dido em Israel, Califórnia e África do Sul. O gotejamento tem como
grande vantagem, a economia de água, além de permitir o uso de águas
salinas e permitir a fertirrigação. No dimensionamento de um projeto
de irrigação, é imprescindível dispor de informações relacionadas com
as variáveis climáticas, com o solo e com a cultura. Relacionada com
o solo, uma das principais características é a velocidade de infiltração,
pois reflete a capacidade do solo em conduzir a água.
Neste texto, não será detalhado os princípios básicos de funciona-
mento de cada sistema de irrigação utilizado na cultura do abacateiro,
portanto, serão apresentadas apenas as vantagens e limitações dos
sistemas de irrigação por aspersão e localizada, que são mais empre-
gados na cultura do abacateiro. A adoção de um sistema ou outro de-
pende das características locais da propriedade, principalmente com
relação ao tipo de solo (velocidade de infiltração), da disponibilidade
hídrica e dos recursos financeiros disponíveis.
O sistema de irrigação por aspersão, apresenta suas vantagens
derivadas principalmente de dois aspectos fundamentais: 1) o con-
trole da irrigação só está limitado pelas condições atmosféricas e 2) a
uniformidade de aplicação da água é independente das características
hidrofísicas do solo. Dessa forma, as principais vantagens do sistema
são: a) uma vez que a dose de rega é dependente do tempo de aplicação,
o sistema pode se adaptar tanto a pequenas quanto a grandes doses;
b) não há necessidade de sistematização do terreno, adaptando-se a
topografias onduladas, permitindo preservar a fertilidade natural do
solo; c) adapta-se perfeitamente à rotação de culturas e cultivos consor-
ciados entre abacate e outra culturas. Neste caso, o dimensionamento
deve ser feito para o cultivo mais exigente em termos de necessidade
de água; para cultivos de menor exigência hídrica, o manejo é feito
unicamente com o controle do tempo de aplicação; d) permite a apli-
104 • ABACATE
cação de fertilizantes e tratamentos fitossanitários como também é
muito eficiente contra o efeito de geadas nos cultivos; e) é o método
mais eficiente para a lixiviação de sais por originar um movimento
de água no solo em subsaturação, obrigando-a a circular pelos poros
menores e, portanto, mais em contato com a solução do solo. As prin-
cipais limitações de uso do sistema são as seguintes: a) é possível a
aspersão propiciar a queda de flores da planta, caso atinja a copa; b)
pode causar problemas de sanidade na parte aérea da planta quando se
utiliza água salina ou residual para a irrigação; c) é fortemente afetada
pela ação dos ventos; d) maior custo de implantação e manutenção ao
ser comparado com os sistemas de irrigação por superfície.
A irrigação localizada desponta como uma das contribuições mais
promissoras para o desenvolvimento da fruticultura irrigada no Bra-
sil. Mais especificamente no Nordeste, onde a competição futura por
água e energia elétrica, principalmente no vale do São Francisco, ten-
derá a priorizar o emprego de sistemas de irrigação mais eficientes,
criando, assim, possibilidades de aumento das áreas irrigadas nessa
região (NASCIMENTO et al.,1999). São sistemas com elevado grau de
automação, capazes de aplicar produtos químicos dissolvidos na água
de irrigação (fertirrigação). Ao mesmo tempo são exigentes de água
com boa qualidade e um eficiente sistema de filtragem para reduzir a
possibilidade de obstrução dos emissores.
De uma maneira geral, o sistema de irrigação localizada apresenta
como vantagens: a) maior eficiência no uso da água; b) maior produ-
tividade, pois como a irrigação é diária, há maior uniformidade da umi-
dade do solo e com isso, maior desenvolvimento da cultura; c) maior
eficiência de adubação; d) maior eficiência de controle fitossanitário; e)
não interfere nos tratos culturais; f) pode ser adotado para qualquer tipo
de solo e qualquer topografia; g) pode ser usado com água salina ou em
solos salinos; h) maior economia de mão-de-obra. Porém este sistema
apresenta como limitações principais o entupimento dos emissores e
a distribuição do sistema radicular da planta é mais concentrado. De
acordo com KELLER & KARMELLI (1975), torna-se necessária a
realização periódica de avaliações do sistema de irrigação, pois apesar
das inúmeras vantagens apresentadas, existem problemas na irriga-
ção localizada, dentre os quais destaca-se a obstrução dos emissores.
Esta obstrução é causada por material orgânico em suspensão, por
Viabilidade econômica • 105
deposição química e por partículas minerais, características hidráuli-
cas, topografia do terreno, pressão de operação, tamanho dos tubos,
espaçamento entre emissores, variabilidade de vazão dos emissores e
filtragem da água não adequada.
A irrigação localizada aplica-se a água apenas em parte da área
ocupada pela cultura do abacate, atingindo principalmente o volume de
solo explorado pelas raízes. Os sistemas mais utilizados são os de gote-
jamento e de microaspersão, ambos constituindo-se de sistemas fixos
de irrigação. A irrigação por microaspersão, tem sido intensamente uti-
lizada nas plantações de abacate, onde a área superficial molhada por
um emissor é maior do que por gotejamento. A água aplicada é asper-
gida em círculos completos ou na forma de setores circulares irrigados,
com um raio de alcance, que varia de 0,80 a 3,50 m. Como o sistema
radicular do abacate é do tipo axial, com ramificações secundárias,
onde aproximadamente 80% do volume radicular se concentra a 1,0 m
de profundidade (KOLLER, 1984), aconselha-se que as plantas adultas
sejam molhadas em 50% da sua área total ou, no mínimo, na área de
projeção da copa. Procurar, também aplicar a água numa faixa molhada
na direção da linha das plantas; no caso do espaçamento de 5,0 m entre
plantas na linha (por exemplo) de um microaspersor por planta, deve
o raio de molhamento ficar em torno de 2,5 metros.
A irrigação por gotejamento consiste na aplicação freqüente de
pequenas quantidades de água, procurando-se umedecer somente a
região explorada pelas raízes da planta. Com isso, ocorre uma diminu-
ição da evaporação da água da superfície do solo, uma menor infesta-
ção de plantas daninhas permitindo-se a redução do gasto de água, por
não irrigar áreas não cultivadas, principalmente quando a planta ainda
tem um porte pequeno. Por outro lado, o periódico fornecimento de
água garante a manutenção de seu elevado potencial no solo, reduzindo
os efeitos negativos da concentração de sais na área de absorção do
sistema radicular, fator muito importante em regiões onde pode ocorrer
uma elevada concentração de sais na água disponível.
O sistema de irrigação por gotejamento pode alcançar cerca de
95% do aproveitamento da água em zonas tropicais, mas não é reco-
mendado para os solos arenosos, pois nestes o bulbo molhado não é
suficiente para um bom suprimento de água para as plantas. Então, para
a irrigação em solos arenosos, tem sido recomendado utilizar o sistema
106 • ABACATE
de microaspersão em substituição ao sistema de gotejamento.

Eficiência dos sistemas de irrigação


KELLER & BLIESNER (1990) comentam que é recomendável,
após a instalação de um sistema de irrigação, proceder-se a testes de
campo, com o objetivo de se verificar a adequação da irrigação reco-
mendando, quando necessário, ajustes na operação e principalmente,
no manejo. Esses procedimentos visam maximizar a eficiência do
sistema. Para auxiliar na avaliação de um sistema no campo, torna-se
preciso conhecer alguns valores, como eficiência de aplicação (Ea),
coeficiente de uniformidade (CU) e eficiência de armazenamento (Ks).
Para se conhecer o nível de eficiência de um sistema de irrigação
é necessário que se façam avaliações sistemáticas. Uma avaliação
completa requer a análise de fatores como superfície molhada e a
avaliação do funcionamento de acessórios como emissores, filtros,
reguladores de pressão e válvulas volumétricas. Com o resultado, caso
seja necessário, devem ser feitos ajustes na operação e principalmente
no manejo de irrigação (SOUSA, 2003).
A obstrução dos emissores afeta a uniformidade de aplicação da
água, a qual é avaliada através do coeficiente de uniformidade de dis-
tribuição e uniformidade absoluta que dependem completamente das
vazões dos emissores do sistema. À medida que se prolonga o tempo
de uso do equipamento no decorrer do ciclo da cultura, aumenta a pos-
sibilidade de obstrução dos orifícios, afetando o rendimento da cultura,
necessitando, assim, da avaliação da uniformidade de distribuição da
água (SOUSA, 2003). A falta de uniformidade poderá ser causada por
diversos fatores, entre eles as diferentes características dos emissores,
devido a um insuficiente controle de qualidade, falhas ou incompetên-
cia no cálculo do sistema, ou sua operação, outras pressões de serviço,
além daquelas projetadas para os tipos de emissores usados, e varia-
ções físicas no sistema, que aparecem com o tempo (SALES et al.,
2001). A partir desses resultados obtidos em uma avaliação do sistema
de irrigação, será possível avaliar a adequação do equipamento, relati-
vamente aos requerimentos de água dos cultivos utilizados, bem como
a eficiência de aplicação de água do sistema de irrigação. Esses pro-
cedimentos visam maximizar a eficiência do sistema. A uniformidade
é um indicador da igualdade (ou desigualdade) das taxas de aplicação
Viabilidade econômica • 107
dentro do diâmetro padrão de um emissor.
É importante destacar dentro de um sistema de irrigação, inde-
pendente do qual está sendo utilizado na lavoura de abacate, que a
eficiência de irrigação é função da quantidade de água mobilizada
para a irrigação e a realmente incorporada ao solo. Esse valor varia
em função do método de irrigação empregado. A eficiência total de
irrigação é função das eficiências de condução, de distribuição e a de
aplicação. A eficiência de condução (Ec) representa todas as perdas
que ocorrem desde a tomada d’água até os limites da área a ser irrigada.
É variável em função do tipo de conduto utilizado para o transporte
da água, que pode ser um canal em terra ou revestido, ou mesmo uma
tubulação. A eficiência de distribuição (Ed) representa todas as perdas
que ocorrem na distribuição de água por toda a área. Por fim, a eficiên-
cia de aplicação (Ea) representa todas as perdas que ocorrem durante
a aplicação de água por toda a área. Varia de 65 a 90%, dependendo
do método de irrigação empregado. A eficiência total de irrigação (Ei),
será então determinada pelo somatório das eficiências de condução
da água, distribuição e aplicação. Normalmente, os valores de Ei são
os seguintes: - para métodos de irrigação por superfície: 40 a 60%; -
para métodos de irrigação por aspersão: até 85%; - para métodos de
irrigação localizados: até 95%.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGROJET. Irrigação localizada com tecnologia Agrojet. Apos-


tila informativa. 2006. Disponivel em: http:\\ www.agrojet.com.br.
Acessado em 03/04/2007.

ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapo-


transpiration: guidelines for computing crop water requirements.
Rome: FAO, Irrigation and Drainage Paper, 56. Food and Agriculture
Organization of the United Nations, 1998. 301p.

AYRES, R. S.; WESTCOT. Water quality for agriculture (Revised).


Rome: FAO, Irrigation and Drainage Paper, 29. Food and Agriculture
Organization of the United Nations, 1985. 174p.
108 • ABACATE
BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de
irrigação. 8ª ed. Viçosa: UFV, 2006. 625p.

BOWER, J. P. Effect of fruit water stress and irrigation regime in the


ripening of stored avocado fruit, cultivar Fuerte. South African Avo-
cado Growers’ Association Yearbook v. 7, p.55-56, 1984.

CAMARGO, A.P.; PEREIRA, A.R. Prescrição de rega por modelo


climatológico. Campinas: Fundação Cargill, 27p. (Série Técnico
Científica, 170 p). 1990.

CROWLEY, D. E. Salinity tolerance in avocado. In: California Avo-


cado Research Symposium, 1999. California Avocado Society and
University of California, Riverside. Anais... p.15-16.

DONADIO, L. C. Abacate para exportação: aspectos técnicos da


produção. 2a. ed. rev aum. Publicações técnicas FRUPEX, n º 2.
Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária,
Secretaria de Desenvolvimento Rural, Programa de Apoio à Produção
e Exportação de Frutas, Hortaliças, Flores e Plantas Ornamentais.
Brasília. EMBRAPA – SPI, 1995. 53p.

DOOREMBOS, J; KASSAN, A.H. Crop response to water. Rome:


FAO, 1979. 194p. Irrigation and drainage Paper, 33.

FAO. Perspective on food and water. In: Water and sustainable de-
velopment international conference, 6 p., Paris, 1998.

FAO. Sustainable Management of Water Resources for Agricultural


Development. In: The World of Agriculture, Hong Kong, p. 110-
112, 1993.

FERRAZ, P.; MONTEIRO, R. O. C; SANTOS, R. A.; TAVARES,


A. C. S.; COELHO, R. D. Aspectos econômicos da irrigação em
mangueiras. In: XV Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem,
2005. Teresina – PI, Anais.... Teresina: ABIRD, 2005. Cd-rom.
Viabilidade econômica • 109
FNP Consultoria e Comércio. Agrianual 2005: anuário da agricul-
tura brasileira. São Paulo: Argos Comunicação, 2005. 521p.

FOLEGATTI, M. V.; BLANCO, F. F.; SILVA, L. B. D. Manejo da ir-


rigação. Série didática nº 14. Piracicaba – SP: ESALQ, 2005. 123p.

FRIZZONE, J. A. Funções de respostas das culturas à irrigação. Série


didática nº 06. Piracicaba – SP: ESALQ, 2005. 123p.

FRIZZONE, J.A.; NETO, D.D. Avaliação de sistemas de irrigação.


Série Engenharia Agrícola – Irrigação, v2. p. 573-651. Piracicaba:
FUNEP, 2003.

LAHAV, E. ; KALMAR, D. Water requirements of avocado in Israel.


II.* Influence on yield, fruit growth and oil content. Australian Jour-
nal of Agricultural Research. v.28, n. 5, p. 869 – 877. 1977.

KELLER, J. ; BLIESNER, R.D. Sprinkle and trickle irrigation.


New York: van Nostrand Reinhold, 1990. 615p.

KELLER, J.; KARMELI, D. Trickle irrigation design. S.1: Rain


Bird Sprinkler Manufacturing Corporation, 1975. 133 p.

KOLLER, O. C. Abacaticultura. Porto Alegre. Ed. Da Universidade/


UFGRS, 1984. 138p.

MEDEIROS, A.T. Estimativa da evapotranspiração de referência


a partir da equação de Penman-Monteith, de medidas lisimé-
tricas e de equações empíricas em Paraipaba-CE. 2002. 103 p.
Tese (Doutorado em Agronomia: Irrigação e Drenagem). Piracicaba-
SP.

MONTEIRO, R.O.C.; FERRAZ, P.; SANTOS, R.A.; COELHO, R.D.


Implicação do preço de aquisição e vida útil do sistema de irriga-
ção sobre a viabilidade econômica em mamoeiro. In: XV Congresso
Nacional de Irrigação e Drenagem, 2005. Teresina – PI, Anais....
Teresnia: ABIRD, 2005. Cd-rom.
110 • ABACATE
NASCIMENTO, T.; SOARES, J.M.; AZEVEDO, C.A.V. de. Carac-
terização hidráulica do microaspersor RAIN-BIRD QN-14. Enge-
nharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.3, n. 1, p. 30-33,
Jan/Abr. 1999.

PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.; SEDIYAMA, G.C.


Evapo(transpi)ração. Piracicaba: FEALQ, 1997. 183 p.

REICHARDT, K.; TIMM L.C. Solo, Planta e Atmosfera: Conceitos,


processos e aplicações. Barueri, SP. Ed. Manole, p.323-340, 2004.

SALES, E.G.M.; OLIVEIRA, M.H.M. de; SOUZA, F. Avaliação de


um sistema de irrigação localizada por gotejamento na fazenda fruta-
cor 1 em Limoeiro do Norte/Ceará. In: Congresso Nacional de Irriga-
ção e Drenagem, 11., 2001, Fortaleza. Anais... Fortaleza: CONIRD,
2001. p.43-47.

SANTOS, R.A.; MONTEIRO, R.O.C.; FOLEGATTI, M.V.;


COELHO, R.D. Incremento de produtividade necessário para se via-
bilizar a irrigação na cultura da goiaba. In: XV Congresso Nacional
de Irrigação e Drenagem, 2005. Teresina – PI, Anais.... Teresnia:
ABIRD, 2005. Cd-rom.

SENTELHAS, P.C. Agrometeorologia aplicada à irrigação. In:


MIRANDA, J.H., PIRES, R.C.M. Irrigação. Piracicaba: FUNEP,
v.1, p.63-120, 2001.

SETTER, T.; BELFORD, B. Waterlogging — how it reduces plant


growth and how plants can overcome its effects. Journ Agric West
Australia, v.31, p.51-55, 1990.

SIMÃO, S. Manual de Fruticultura. São Paulo, Editora Agronômi-


ca Ceres, 1971. 530p. p.147-169.

SOUSA, A. E. C. Avaliação de um sistema de irrigação por gote-


jamento na cultura da manga (mangifera indica L.). Sobral: CEN-
TEC/CE, 2003. 21 p. (Monografia).
Viabilidade econômica • 111
TEIXEIRA, C. G. Cultura do abacate. In: TEIXEIRA, C. G. et al.
ABACATE: cultura, matéria prima, processamento e aspectos
econômicos. 2a. ed. Série Frutas Tropicais n º 8, ITAL, Campinas,
1991. 250p.

TENÓRIO, F.J.C.; CALHEIROS, C.B.M.; CUNHA, J.L.X.L.; SIL-


VA, J.A.C.; SILVA, E.T.; MORAIS, T.A.; SANTOS, C.G. Economia
de água em irrigação por aspersão com base na técnica de definição
da velocidade de infiltração para projetos. In: XV Congresso Nacio-
nal de Irrigação e Drenagem, 2005. Teresina – PI, Anais.... Teresnia:
ABIRD, 2005. Cd-rom.
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO ABACATEIRO

Felipe Rodrigues da Silva1

1. INTRODUÇÃO
A fertilização dos pomares necessita ser orientada devidamente,
pois representa uma prática cultural muito importante. Sua racionali-
dade, com base, principalmente, na disponibilidade mineral do solo
e na exportação de nutrientes através das colheitas, é procedimento
essencial na obtenção de safras compensadoras (Campos, 1985).
As reais exigências das plantas, o desempenho dos diferentes cul-
tivares em face da reação e da riqueza do solo, a diagnose foliar, são
outros tantos pontos importantes a considerar na condução da nutrição
do abacateiro. Infelizmente, nossa literatura mostra poucas informa-
ções seguras a respeito.
Através das raízes, as plantas absorvem muitos elementos minerais
existentes no solo, os quais após metabolizados entram na composição
dos tecidos.
Dentre os elementos absorvidos, apenas 13 são indispensáveis,
porque na ausência deles a planta não completa o ciclo de vida, desde
a germinação da semente, crescimento e reprodução. Os 13 nutrientes
indispensáveis são conhecidos como essenciais, porque exercem fun-
ções vitais (Koller, 2002).
Os nutrientes essenciais são divididos em duas categorias, os ma-
cro e micronutrientes, respectivamente, em função das quantidades,
maiores ou menores, que as plantas deles necessitam. Segundo Epstein
(1975), são considerados como macronutrientes o N (nitrogênio), P
(fósforo), K (potássio), Ca (cálcio), Mg (magnésio) e S (enxofre). São
considerados micronutrientes o B (boro), Cl (cloro), Cu (cobre), Fe
(ferro), Mn (manganês), Mo (molibdênio) e Zn (zinco).
O carbono (C), oxigênio (O) e o hidrogênio (H) também são ele-
mentos essenciais às plantas, porem é muito abundante no ar e/ou na
água, de onde as plantas os obtém em quantidades suficientes.
Em geral, os solos considerados férteis, com boas propriedades
físicas e químicas, contêm os nutrientes essenciais em quantidades
e proporções adequadas, principalmente quando o teor de matéria
1
Engenheiro Agrônomo, mestrando em Horticultura pela Faculdade de Ciências Agronômica, UNESP,
Botucatu-SP. e-mail: frsilva@fca.unesp.br.
114 • ABACATE

orgânica for superior a 2%. Contudo, solos que foram cultivados du-
rante vários anos, ou mal utilizados e erodidos, frequentemente se apre-
sentam deficientes de um ou de vários nutrientes essenciais. Alguns
solos, mesmo sendo virgens, também podem apresentar deficiências
de nutrientes minerais, devido ao processo de sua origem e formação.
Nesses casos, as raízes dos abacateiros encontrarão dificuldades em
absorver um ou vários nutrientes em quantidades e proporções adequa-
das para um satisfatório crescimento e frutificação, sendo conveniente
para o fruticultor corrigir as deficiências do solo através de adubações
e/ou calagens.
Para fazer adubações racionais é necessário antes saber se, nas
condições de solo e clima onde está localizado o pomar, os abacateiros
conseguem absorver nutrientes minerais em quantidades e proporções
adequadas às suas necessidades (Koller, 2002).
Existem vários métodos de avaliar necessidades de adubação, tais
como: analise do solo, analise foliar, exportação de nutrientes pelas
colheitas, sintomas visuais de deficiência de nutrientes e experimentos
de adubação.

2. NUTRIÇÃO
A planta do abacateiro absorve do ar, água e solo os elementos que
necessita para crescer e frutificar. São eles o carbono, o oxigênio e o
hidrogênio, considerados nutrientes elementares retirados essencial-
mente da água e do ar; eles representam cerca de 90% de seu peso. O
nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, magnésio e cálcio, considerados
macronutrientes, e ferro, boro, zinco, cobre, manganês e molibdênio,
considerados micronutrientes, são retirados do solo (Campos, 1985).
De acordo com Marchal e Bertin (1980) o abacateiro é considerado
a fruteira que mais exporta, através da colheita. Segundo Montenegro
(1973), Hiroce et al. (1977), Avilan et al. (1978), Silva et al. (1980) e
Marchael e Bertin (1980), a importância dos macronutrientes exportados
resulta na seguinte ordem de grandeza: K>N>P>S>Mg>Ca. Quanto aos
micronutrientes, a ordem de importância é: Fe>B>Zn>Cu>Mn>Mo.
nutrição e adubação • 115

3. ADUBAÇÃO

3.1 Análise de Solo


A análise de solo é o método de avaliação da fertilidade mais
conhecido e utilizado na agricultura. Ela é muito importante antes da
instalação do pomar para avaliação, principalmente da necessidade
de correção da acidez e adubação corretiva com fósforo. Porque tanto
o calcário como os adubos fosfatados se movem muito lentamente
no solo, devendo por isso, serem incorporados desde a superfície até
30 a 50 cm de profundidade, bem misturados a toda essa camada de
solo, onde mais tarde se concentrará o maior volume de raízes (Cruz,
1979).
Essa questão é importante porque, mais tarde, quando os aba-
cateiros estiverem crescidos e o sistema radicular estiver ocupando
toda a superfície do solo, não se recomenda incorporar corretivos nem
adubos através de gradagens profundas, porque podem cortar ou dani-
ficar raízes e essas lesões podem servir de entrada de patogenos, prin-
cipalmente da gomose causada por Phytophthora cinnamoni (Koller,
2002).
Posteriormente ao plantio, a cada 2 a 4 anos é recomendável re-
alizar análises de solo, para avaliar os reflexos de aplicações de adubos
e corretivos sobre a acidez e disponibilidade de nutrientes minerais no
solo e verificações de eventuais correções e modificações necessárias
nas doses que estão sendo utilizadas.

3.2 Análise Foliar


O teor de nutrientes contidos na matéria seca das folhas é um dos
métodos mais adequados para avaliar a necessidade de adubação de
plantas frutíferas. Conhecendo-se a concentração ótima de nutrientes
para um crescimento e produção satisfatória da planta, analisando-se as
folhas do abacateiro, é possível verificar se as raízes estão conseguindo
absorvê-los em quantidades e proporções adequadas (Koller, 2002).
Contudo, os teores de nutrientes variam com a idade das folhas
e época de coleta (Wutscher e Maxwel, 1975, Koo e Young, 1977 e
Koen e Du Plessis, 1991). Por isso deve-se tomar cuidado ao coletar
folhas para analise. Como exemplo, Tabela 1 a seguir, refere-se a fo-
lhas com 5 a 7 meses de idade. Folhas mais nova ou mais velha podem
116 • ABACATE

conter quantidades menores ou maiores de determinados nutrientes,


fornecendo dados enganosos.
TABELA 1. Padrões de teores foliares de nutrientes, para
comparação do estado nutricional de abacateiros através da
análise de folhas com 5 a 7 meses de idade.
Nutrientes Baixo Adequado Excessivo
% (m/m)
N < 1,6 1,6 a 2,5 > 3,0
P < 0,17 0,17 a 0,3 > 0,4
K < 0,8 1,0 a 2,0 > 3,0
Ca < 1,0 1,0 a 3,0 > 5,0
Mg < 0,3 0,3 a 0,6 > 1,0
S < 0,2 0,2 a 0,5 > 0,8
mg/kg (ppm)
B < 35 40 a 100 > 150
Cu < 4,0 5 a 15 > 20
Fé < 40 50 a 120 > 200
Mn < 25 30 a 80 > 100
Mo < 0,1 0,1 a 1,0 > 0,2
Zn < 25 30 a 80 > 100
Fonte: Koen & Du Plessis (1991)

Para interpretar a analise foliar, basta comparar o resultado com


valores tabelados para a cultura, como por exemplo, na Tabela 1, cu-
jos teores adequados são fundamentados em plantas sadias e muito
produtivas. Se todos os nutrientes da analise foliar estiverem na faixa
adequada, será um bom indicio de que o pomar está bem nutrido,
devendo-se continuar com as adubações que estão sendo realizadas.
Devem-se fazer adubações com nutrientes, cujos teores estão abaixo
do adequado, ou aumentar as doses desses nutrientes que estão sendo
aplicados no pomar. Quando alguns nutrientes se encontram na faixa
excessiva, então não devem mais ser aplicados ou suas doses devem
ser diminuídas nas adubações subseqüentes (Koller,2002).
nutrição e adubação • 117

3.3 Exportação de Nutrientes


A exportação de nutrientes é um instrumento valioso na avaliação
da necessidade de adubação em pomares que se encontra em franca
produção, mas esse critério não é suficiente por si só. Em geral, ela
não leva em consideração o potencial do solo fornecer nutrientes para
as plantas; também não considera as quantidades de nutrientes que
são imobilizados, fazendo parte dos demais órgãos da planta como um
todo e, por outro lado, alguns nutrientes aplicados nas adubações são
fixados, de forma indisponível para as plantas e outros são perdidos
pela erosão, sendo lixiviados para camadas muito profundas do solo,
onde eles não são mais alcançados pelas raízes (Koller, 2002).

TABELA 2: Exportação de nutrientes em kg/tonelada de aba-


cates de diversos cultivares
Autores Cultivares N P K Ca Mg S
Hiroce (1977) Collinson 2,85 0,30 2,03 0,08 0,18 0,17
Marschal & Bertin
(1980) Lula 2,80 0,35 4,53 0,13 0,20 -
Pollok 2,91 0,63 2,99 0,55 0,31 -
Waldin 3,01 0,81 3,49 0,67 0,29 -
Sta. Ana 3,69 0,65 3,37 0,54 0,87 -
Avilán (1980) Sta. Clara 3,00 0,85 4,27 0,43 0,43 -
Fonte: Koller (2002).

3.4 Sintomas de Deficiência


Quando as plantas estão mal nutridas, evidenciam alguns sinais,
que são chamados sintomas de deficiências, tais como cloroses e mo-
dificações no tamanho ou forma das folhas, atraso ou retardamento
do crescimento, diminuição ou ausência de floração ou frutificação e
anomalias nas características dos frutos. Conhecendo-se os sintomas
característicos de deficiência de todos os nutrientes, especialistas na
questão podem identificar, através deles, qual ou quais nutrientes estão
em deficiência, através da diagnose visual.
Segundo Koller (2002), uma regra quase geral nas plantas frutíferas
é que os sintomas foliares de nutrientes pouco móveis no interior da
planta, como o B, Cu, Fe, Mn, Zn e Ca, manisfestam-se primeiramente
118 • ABACATE

nas folhas novas, ao passo que os dos nutrientes que se translocam


facilmente de uma parte da planta para outra, como N, P, K e Mg,
aparecem inicialmente nas folhas velhas, porque, quando há carência
no solo, eles se deslocam das folhas velhas para as novas, onde a pre-
sença deles é mais importante.
Para a identificação de sintomas de deficiência é necessário recor-
rer à diagnose visual ou consultar as respectivas descrições e/ou fo-
tografias em bibliografias especializadas, sendo o mais recomendável
à análise foliar.

3.5 Recomendações de Adubação

Na bibliografia existem muitas recomendações de adubação,
porém, com base naquilo que foi abordado nos critérios de avaliação
das necessidades de adubação é fácil concluir que não se pode reco-
mendar uma formula que possa ser utilizada indiscriminadamente em
todos os pomares.
As melhores recomendações de adubação, que geralmente são
elaboradas com base em diversos métodos de avaliação das necessi-
dades de adubação, são importantes para orientar o abacaticultor, mas
na situação de cada pomar em particular, o uso de determinados nutri-
entes pode não ser necessário, enquanto outros podem ser requeridos
em quantidades maiores do que as recomendadas.
Tais fatos alem de significarem gastos desnecessários, podem
causar grandes desequilíbrios nutricionais, desde carências agudas de
alguns nutrientes até efeitos fitotóxicos pelo uso excessivo de outros,
principalmente com fertilizantes químicos, diminuindo a produtivi-
dade do pomar. Por isso as doses de adubos, de recomendações de
adubação, devem ser sempre adaptadas às condições de cada pomar,
através de consulta a especialistas, realização de análises de solo, aná-
lises foliares, observação de sintomas de deficiência, produtividade do
pomar e qualidade físico-química dos frutos (Koller, 2002).
Então, a titulo de orientação, a seguir será apresentada uma reco-
mendação de adubação baseada em Soares e Quaggio (1997).
As recomendações foram realizadas para pomares plantados com
espaçamento de 10 x 8 m ou 10 x 6 m. Recomenda-se que antes de
começar qualquer tipo de aplicação, deve-se ter em mão uma análise
nutrição e adubação • 119

de solo da área.
Com relação à calagem, recomenda-se aplicar calcário para elevar
a saturação por bases a 60% e o teor de magnésio a um mínimo de 9
mmolc.dm-3. Para a adubação de plantio, recomenda-se aplicar de 15
a 20 litros de esterco de curral, ou 4 litros de esterco de galinha por
cova, em mistura com 250 g de P2O5, no mínimo 30 dias antes do
plantio do pomar. Utilizar também 3 vezes 20 g de N por planta, aos
30, 90 e 150 dias após o pegamento das mudas.
Na adubação de formação, aplicar os adubos de acordo com a
análise de solo, dividindo as doses em três períodos, no inicio, meio e
final da estação das chuvas, ao redor da planta e na projeção das copas
(Figura 1). As doses recomendadas estão na tabela 3.

Projeção da Copa

Figura 1. Planta de abacateiro, com o local onde deve ser aplicada


a adubação. Foto: Silva, F. R. (2007)
120 • ABACATE

TABELA 3. Quantidade de nutrientes de acordo com análise de


solo para realização da adubação de formação em abacateiro.
K+ trocável, mmolc/
P resina, mg/dm3
dm3

Idade N 0-12 13-30 >30 0-1,5 1,6-3,0 >3,0

Anos N, g/planta P2O5, g/planta K2O, g/planta

1-2 100 100 80 40 50 20 0

2-3 100 200 160 80 100 50 0

3-4 300 300 240 120 200 100 0


Fonte: Raij et al. (1997).
Em pomares com mais de 4 anos, deve-se realizar a adubação
de frutificação, onde se deve aplicar, de acordo com análise de solo
e produtividade esperada, as seguintes quantidades de nutrientes por
ano, Tabela 4.

TABELA 4. Quantidade de nutrientes de acordo com análise de solo


para realização de adubação de frutificação em abacateiro.
K+ trocável,
Produtivi- N nas folhas, g/kg P resina, mg/dm3 mmolc/dm3
dade
Esperada <16 16-20 >20 0-12 13-30 >30 0-1,5 1,6-3,0 >3,0
t/ha N, kg/ha P2O5, Kg/ha K2O, kg/ha
<6 80 60 30 60 40 0 60 40 20
6-10 100 80 40 80 50 20 90 60 30
11-20 120 100 50 100 60 40 120 90 50
>20 140 120 60 120 70 60 150 120 70
Fonte: Raij et al. (1997).

É recomendado dividir as doses anuais dos adubos em três par-


celas, aplicando no inicio, meio e final do período chuvoso, em faixas,
nos dois lados das plantas.
nutrição e adubação • 121

Também se recomenda pulverizar, durante o fluxo de vegetação


da primavera e do verão, com solução contendo, por litro: uréia, 5g;
sulfato de zinco, 5 g; sulfato de manganês, 2,5 g; e ácido bórico, 1g.
Não se pode esquecer de realizar análises de solo e foliar pelo
menos a cada dois anos e com os resultados em mãos, aumentar ou
reduzir as quantidades dos adubos aplicados no pomar.
Importante frisar que o manejo da adubação varia para cada po-
mar, sendo necessário o produtor adequá-lo para as suas necessidades,
sempre consultando especialistas, realizando análises de solo e foli-
ares, observando sintomas de deficiências, produtividade do pomar e
qualidade dos frutos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AVILAN, R. L.; et al. Extracción de nutrients por una cosecha en


algunos frutales de importancia econômica em Venezuela (Aguacate,
mango, níspero y guanábana) Fruits, Paris, v.35, n.7-8, p.479-484,
1980.
CAMPOS, J. S. Cultura racional do abacateiro. São Paulo: Ícone
Editora, 1985. 150p.

CRUZ, A. D. Adubação de plantas frutíferas: princípios e critérios


para recomendação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTI-
CULTURA, 5, 1979, Pelotas. Anais. Pelotas: Sociedade Brasileira
de Fruticultura, 1979. p.1010-1015.

EPTEIN, E. Nutrição mineral de plantas – princípios e perspec-


tivas. Trad. e notas de Eurípedes Mallavolta. São Paulo: Livros Téc-
nicos e Científico Editora, 1975. 341p.

GENO, P. J. C.; AZEVEDO, J. A.; CAMPELO JR., J. H.; AQUINO,


A. R.; VIEIRA, A. Nutrição mineral e adubação do abacateiro. In:
HAAG, H. P. (Coord.). Nutrição mineral e adubação de frutíferas
tropicais no Brasil. Campinas: Fundação Cargill, 1986. p.1-29.

HIROCE, R. et al. Composição mineral de frutos tropicais na co-


lheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, IV,
122 • ABACATE

1977, Salvador. Anais. Salvador: Sociedade Brasileira de Fruticul-


tura, 1977, p.357-364.

KOEN, T. J.; DU PLESSIS, S. F. Optimal leaf analysis norms for avo-


cado (cv. Fuerte). In: WOLRD AVOCADO CONGRESS, 2º, 1991,
Orange. Proceedings. Orange: University of Califórnia, Riverside
and Califórnia Avocado Society, Saticoy, 1991, v.1, p.289-299.

KOLLER, O. C. Abacate: Produção de mudas, instalação e manejo


do pomar, colheita e pós-colheita. Porto Alegre: Cinco Continentes,
2002. 285 p.

KOO, R. C. J.; YOUNG, T. W. Effects of age, position and fruiting


status on mineral composition of ´Tonnage´ avocado leaves. Journal
American Society Horticultural Science, Alexandria, v.102, n.3,
p.311-313, 1977.

MALAVOLTA, E. ABC da adubação. 4. ed. São Paulo: Agronômica


Ceres, 1979. 255p.

MARCHAL, J.; BERTIN, Y. Contenu em élements ninéraux des or-


ganes de l’avocatier ´Lula´ e relations avec da fumure. Fruts, Paris,
v.35, n.3, p.139-149, 1980.

MONTENEGRO, H. W. S. Abacateiro – esse desconhecido. Correio


Agrícola. v.13, 1973, 225p.

SILVA, A. Q.; SILVA, H.; MALAVOLTA, E. Composição mineral


de frutos de abacateiro (Persea americana Mill) na colheita. Agro-
pecuária técnica. Areia, v.1, p.1-6, 1980.

SOARES, N. B.; QUAGGIO, J. A. Abacate. In: RAIJ, B. von et al.


Boletim Técnico 100. Recomendações de adubação e calagem para o
Estado de São Paulo. 2. ed. Campinas: Instituto Agronômico/Funda-
ção IAC, 1997. p.126-127.

WUTSCHER, H. K.; MAXWEL, N. P. Seasonal changes in 12 leaf


nutrição e adubação • 123

nutrients of ´Lula` avocado with drip and flood irrigation. Hort-


science, Mount Vernon, v.10, n.5, p.512-514, 1975.
ADUBAÇÃO ORGÂNICA DO ABACATEIRO

Erval Rafael Damatto Junior1


Sarita Leonel2

O interesse pelo cultivo orgânico de fruteiras tem apresentado um


crescente aumento devido ao anseio mundial por frutos oriundos de
modelos agrícolas mais sustentáveis e nesse contexto, está inserida a
adubação orgânica, que é um importante pilar da produção orgânica
(Damatto Junior, 2005).
O abacateiro, bem como a maioria das frutíferas, possui grande
exigência nutricional, portanto faz-se necessária a reposição ao solo
dos nutrientes exportados pela colheita dos frutos. Nesse sentido as
adubações desempenham um papel fundamental na reconstituição
química do solo.
As adubações convencionais restituem ao solo os elementos mine-
rais exportados pelas plantas ou mesmo perdidos por processos de
lixiviação, volatilização ou erosão. Em muitos casos, esses adubos
químicos podem prejudicar a microfauna do solo devido a sua acidi-
ficação, enquanto que a adubação orgânica mostra-se muito eficiente,
repondo ao solo não apenas os nutrientes dele extraídos, como também
favorece a diversidade biológica e melhora a estrutura física. Essa ma-
téria orgânica adicionada ao solo também é responsável por algumas
reações químicas, como complexação de elementos tóxicos e micro-
nutrientes, influência na capacidade de troca catiônica e pH.
Com relação às exigências nutricionais do abacateiro, segundo
Malo, citado por Donadio (1995), o nitrogênio e o potássio são os
elementos mais requeridos pela planta, seguidos pelo cálcio e magné-
sio. Em relação aos micronutrientes, o principal é o zinco, e em solos
alcalinos, o ferro assume maior importância.
Segundo Donadio (1995), a adubação deve basear-se no conheci-
mento das exigências nutricionais da cultura e deve ser avaliada medi-
ante análises foliares periódicas, bem como análises de solo. As doses
e a época de aplicação dos adubos devem adequar-se às características
da variedade plantada, dos porta-enxertos e da idade da planta, às
1
Engenheiro Agrônomo. Mestre em energia na Agricultura pela FCA/UNESP/Botucatu
2
UNESP. Faculdade de Ciências Agronômicas. Departamento de Produção Vegetal.sarinel@fca.unesp.br
126 • ABACATE

características do solo e aos tratos culturais executados.


Jacob, citado por Teixeira (1991) relata que o sistema radicular do
abacateiro não é muito extenso, mas de penetração profunda, o que
somado ao seu rápido crescimento, requer no solo, grande quantidade
de nutrientes de fácil disponibilidade.
Os adubos e condicionadores de solo a serem utilizados para as
adubações orgânicas podem ser produzidos ou não na propriedade,
contudo antes de se realizar uma adubação, a análise química do solo
é necessária para indicar a quantidade do nutriente a ser aplicada. A
calagem, se necessária, é a primeira prática a ser realizada, objeti-
vando fornecer Ca e Mg, elevar o pH do solo e neutralizar o alumínio
tóxico. Na cova de plantio, recomenda-se aplicar composto orgânico
ou vemicomposto ou esterco e fosfato natural ou termofosfato (fonte
de fósforo), estes se forem constatadas as necessidades pela análise
química do solo.
Os adubos orgânicos contêm todos os nutrientes necessários às
plantas, como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, en-
xofre e micronutrientes (Kiehl, 1985), sendo que para as plantas, os
estercos de animais devidamente compostados são considerados um
excelente adubo, fornecedor de nutrientes, e no solo, esses compostos
orgânicos melhoram as características físicas, ajudam na manutenção
da umidade, além de aumentarem a diversidade biológica. Segundo
Mielniczuk (1999), o teor de matéria orgânica do solo é provavelmente
o atributo que melhor representa sua qualidade.
De acordo com o relato de Kiehl (1985), a relação C/N e os teores
de umidade, N, P e K presentes nos compostos orgânicos varia con-
forme a Tabela 01:
adubaÇÃO ORGÂNICA • 127

Tabela 01 – Relação C/N e teores de N, P e K de alguns adubos


orgânicos.
N (dog Umidade
Fonte C/N kg )* P2O5 (dog kg ) K2O (dog kg ) média (%)
-1 -1 -1

Esterco de
bovinos 18/1 1,92 1,01 1,62 65,3
Esterco de
galinha 10/1 3,04 4,70 1,89 55,3
Esterco de
suínos 10/1 2,54 4,93 2,35 78,0
Esterco de
eqüinos - 1,80 1,00 1,40 70,5
Esterco de
ovinos - 2,80 1,70 2,0 65,4
Fonte: Kiehl (1985) adaptado.
*dog kg-1 equivale a 1% no Sistema Internacional de Unidades.

Campo Dall’Orto et al. (1996) salientam que o principal efeito da


adubação orgânica é na melhoria das propriedades físicas e químicas
do solo. No entanto, conforme os mesmos autores, a liberação dos nu-
trientes dos adubos orgânicos é mais lenta que a dos adubos minerais,
pois é dependente da mineralização da matéria orgânica. De acordo
com a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais
(1989), a conversão do nitrogênio da forma orgânica para a mineral
ocorre 50% no primeiro ano, 20% no segundo ano e 30% após o se-
gundo ano. Bartz et al. (1995) citou que 50% do nitrogênio aplicado
mineraliza no primeiro cultivo e 20% no segundo, enquanto que o
fósforo, mineraliza 60% no primeiro cultivo e 20% no segundo.
Ribeiro et al. (1999) acrescentam ainda que a porcentagem de
conversão dos nutrientes aplicados via adubos orgânicos, para a forma
mineral é de:
a) Nitrogênio (N): 50% no primeiro ano, 20% no segundo ano e
30% no terceiro ano;
b) Fósforo (P2O5): 60% no primeiro ano, 20% no segundo ano e
20% no terceiro ano;
c) Potássio (K2O): 100% no primeiro ano.
128 • ABACATE

Contudo, deve ser lembrado que os compostos orgânicos apresen-


tam quantidades variadas de nutrientes, dependendo de sua procedên-
cia, além disso, a mineralização dos nutrientes ocorre em períodos
diferentes após sua aplicação ao solo e em função dessas diferenças,
ocorre dificuldade de se determinar o quanto e quando aplicar. Quan-
do se conhece o comportamento da decomposição de certos resíduos
orgânicos, práticas culturais, especialmente as adubações podem ser
otimizadas para desempenharem funções benéficas em estágios críti-
cos do ciclo das culturas (Budelman, 1988).
Para Lynch (1986) a decomposição desempenha importante fun-
ção na parte nutricional, na contribuição da ciclagem de nutrientes
e formação da matéria orgânica. Alguns fatores como a composição
dos organismos decompositores, o ambiente, o microclima do solo
e a qualidade dos resíduos acumulados afetam essa decomposição.
Todos esses fatores reunidos irão determinar o tempo de permanência
dos resíduos adicionados ao solo, bem como a taxa de liberação de
nutrientes.
A velocidade de decomposição do material orgânico depende da
facilidade com que esse material pode ser decomposto, de suas carac-
terísticas químicas e do pH do meio onde este se encontra. O material
baseado em celulose é decomposto três vezes mais rápido em relação
às partes lenhosas ricas em taninos (Larcher, 2000). Essa diferença no
tempo de decomposição dos estercos assegura um fluxo contínuo de
nutrientes no solo.
O nitrogênio orgânico aplicado ao solo é liberado aos poucos, à
medida que o material se mineraliza, garantindo o suprimento mais
uniforme e prolongado de nutrientes às plantas (Kiehl, 1985).

Efeitos da adubação orgânica nas características químicas,


físicas e biológicas do solo.
A matéria orgânica incorporada ao solo através das adubações
orgânicas pode apresentar um efeito semelhante ao da calagem, em
termos de correção da acidez. Segundo Hunter et al., (1995) e Wong et
al., (1995) a matéria orgânica no solo tem a capacidade de neutralizar
o alumínio no solo.
O aumento do pH do solo devido à adição de resíduos orgânicos
tem sido atribuído à própria adsorção de hidrogênio e alumínio na
adubaÇÃO ORGÂNICA • 129

superfície do material orgânico (Hoyt & Turner, 1975). Contudo, se-


gundo Bloom et al. (1979), os resíduos orgânicos não podem ser con-
siderados substitutos satisfatórios do calcário em virtude dos efeitos
serem temporários, a não ser que sejam incorporados anualmente ao
solo em grandes quantidades.
Tem sido recomendada a aplicação de matéria orgânica humifi-
cada ao solo como uma maneira de controlar a toxidez causada por
certos elementos encontrados em quantidades acima do normal, como
o alumínio, ferro e manganês, uma vez que o húmus tem a propriedade
de fixar, complexar ou quelatar esses elementos (Kiehl, 1985).
De acordo com Miysaka & Okamoto (1992) o emprego de adubos
orgânicos nos cultivos agrícolas proporciona mudanças em algumas
características físico-químicas do solo como densidade, retenção de
água, textura, estrutura, porosidade, condutibilidade térmica e atua
aumentando a capacidade de troca catiônica (CTC), a soma de bases,
além de promover uma ação quelante, evitando que alguns nutrientes
necessários às plantas se insolubiblizem.
Santos & Camargo (1999) relataram que a matéria orgânica do
solo atua na agregação do mesmo, o que indiretamente influencia as
demais características físicas, como por exemplo, densidade, porosi-
dade, aeração, capacidade de retenção e a infiltração de água.
Em solos argilosos a aplicação de matéria orgânica é importante,
pois estimula a agregação, tornando os solos mais arejados e faci-
litando o desenvolvimento das raízes. Seu efeito em solos arenosos
também tem importância fundamental, uma vez que em sua ausência
foi observado que as raízes ficam curtas, finas, desprovidas de radicelas
e a coifa, que normalmente é branca, fica com aspecto enegrecido,
dando a impressão de ter sido queimada (Moreira, 1987).
Os efeitos da matéria orgânica sobre os microrganismos do
solo podem ser avaliados a partir da biomassa e atividade microbi-
ana, parâmetros que representam uma integração de efeitos sobre as
condições biológicas do solo (Cattelan & Vidor, 1990). Assim sendo,
a matéria orgânica serve como fonte de carbono, energia e nutrientes
para os organismos que participam de seu ciclo biológico, mantendo
o solo em estado de constante dinamismo.
A matéria orgânica no solo é tida como uma excelente forma de
armazenamento de nitrogênio, pois as formas minerais, amoniacal e
130 • ABACATE

nítrica, estão sujeitas a perdas por volatilização ou por lavagem, res-


pectivamente (Kiehl, 1985).
Todos esses benefícios gerados pela aplicação de adubos orgâni-
cos ao solo vem de encontro com as reais necessidades de nossos
solos, uma vez que os solos tropicais apresentam limitações de ordem
química, com baixos teores de nutrientes e pouca matéria orgânica, o
que dificulta o bom desenvolvimento das plantas.

Recomendações de adubação orgânica para o abacateiro


Baseado na premissa de que toda a forma de adubação orgânica
deve estar fundamentada na sustentabilidade da propriedade rural, ou
seja, de que devem ser utilizados, no máximo possível, os compostos
e materiais disponíveis nos próprios locais de cultivo. Considerando
ainda que a composição dos materiais orgânicos à disposição é bastante
variável, as recomendações generalizadas de adubos orgânicos para o
abacateiro são difíceis de serem elaboradas.
Existem sugestões de recomendações baseadas no teor de ni-
trogênio necessário para a cultura, sendo as dosagens calculadas to-
mando como base a porcentagem do elemento presente nos adubos
orgânicos. Porém, muitas vezes, esse método acarreta na necessidade
do emprego de dosagens elevadas dos adubos orgânicos, o que pode
inviabilizar a economia da fertilização da cultura.
Nesse contexto, alguns autores recomendam apenas a adubação
orgânica complementar à adubação química convencional, para a
cultura do abacateiro. Assim é que Maranca et al. (1980) salientam
que nos abacateiros jovens seria muito importante o fornecimento de
grande parte do nitrogênio na forma orgânica, critério que aumentaria
a longevidade das plantas.
Campos et al. (1984) também enfatizam a necessidade e os
benefícios da adubação orgânica para o abacateiro, recomendando as
seguintes dosagens e fontes:
adubaÇÃO ORGÂNICA • 131

Tabela 02 – Dosagens recomendadas de compostos orgânicos para


o abacateiro em formação e em produção.
Pomar em Formação Pomar em Produção
Fonte (kg planta-1) (kg planta-1)
Esterco de galinha 5,0 10,0
Torta de mamona 2,0 5,0
Esterco de curral 12,0 26,0
Fonte: Campos et al. (1984) adaptado

Os autores ainda recomendam a mistura de superfosfato simples


aos estercos de galinha e de curral, na proporção em peso de 1:30, para
redução das perdas de nitrogênio dos estercos.
Koller (2002) também sugere, a título de orientação, o uso de
dosagens próximas das apresentadas na Tabela 03 para o abacateiro
em formação. Após o período de formação, do quinto ano em diante,
o autor recomenda usar a mesma dose do quarto ano, acrescentando
anualmente 25% para cada aumento real ou esperado de 10 toneladas
de frutos por hectare.
Para o estado de São Paulo, Raij et al. (1997) recomendam na
adubação de plantio a aplicação de 15 a 20 litros de esterco de curral
ou 4 litros de esterco de galinha por cova, em mistura com 250 g de
P2O5, 30 dias antes do plantio. Na adubação de formação, que vai do
primeiro até o quarto ano, a aplicação de adubos é baseada na analise
de solo inicial, sendo aplicados de 100 até 300 g planta-1 de nitrogênio,
100 a 300 g planta-1 de P2O5 e 50 a 200 g planta-1 de K2O. Enquanto
que para a adubação de frutificação (a partir do 5º ano), a adubação é
recomendada baseada na análise de solo e na produtividade esperada,
sendo que as quantidades aplicadas variam de 30 a 140 kg ha-1 de ni-
trogênio, 0 a 120 kg ha-1 de P2O5 e 20 a 150 kg ha-1 de K2O.
132 • ABACATE

Tabela 03 – Recomendação de doses para a adubação orgânica do


abacateiro em formação.
1º ano 2º ano 3º ano 4º ano
Adubos orgânicos (t ha )
-1
(t ha )
-1
(t ha )
-1
(t ha-1)
Cama de aviário 0,75 1,5 2,5 6,0
Composto orgânico 2,0 4,0 6,0 15,0
Esterco de suínos
semi-curtido 1,5 3,0 5,0 12,0
Estrume de bovinos
semi-curtido 2,0 4,0 6,0 15,0
Fonte: Koller (2002) adaptado.

Em propriedades comerciais de abacate para mesa, localizadas na


região de Botucatu/SP, os produtores adotam a associação da adubação
orgânica com a adubação química em cobertura. Alguns produtores
utilizam o esterco bovino curtido, na quantidade de 20 litros por planta,
nos meses de dezembro a janeiro, sem incorporação do mesmo, para
não danificar o sistema radicular da planta.

Considerações Finais
Sistema de produção agrícola que vem crescendo a cada ano, ne-
cessitando ainda de maiores estudos, que possam esclarecer dúvidas
de produtores e consumidores, a produção orgânica não constitui tarefa
fácil e simples. Do ponto de vista técnico e científico, os desafios que
a agricultura orgânica impõe são imensos. Neste sentido, é necessária
muita pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias adequadas e
operacionais para aumentar a produtividade das culturas em manejo
orgânico.
Devido aos estudos e pesquisas com adubação orgânica levarem
alguns anos para serem executados, somado ao fato de que a apli-
cação dos resultados obtidos possam ter uma aplicação limitada às
condições edáficas locais, com possibilidades de utilização em regiões
seme-lhantes, praticamente não existem resultados de pesquisa com
adubação orgânica na cultura do abacateiro.
Contudo, à medida que crescem as necessidades e exigências dos
mercados mundiais, para o consumo e aquisição de produtos oriun-
adubaÇÃO ORGÂNICA • 133

dos de sistemas de produção que utilizem, cada vez menos, produtos


que possam causar prejuízos à saúde e ao meio-ambiente, tais estudos
tornam-se necessários e viáveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTZ, H.R. (Cood.) et al. Recomendações de adubação e calagem


para os estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 3ed. Passo
Fundo: SBCS-núcleo Regional Sul, 1995. 224p.

BLOOM, P.R.; McBRIDE, M.B.; WEAVER, R.M. Aluminium or-


ganic matter in acid soils, buffering and solution aluminum activity.
Soil Sc. Soc. Am. J., n.43, p.488-93, 1979.

BUDELMAN, A. The decompositon of the leaf mulches of Leucaena


leucocephala, Gliricia sepium and Flemingia macrophylla under hu-
mid tropical conditions. Agroforest Systems, v.7, p.33-45, 1988.

CAMPO DALL’ORTO, F.A. et al. Frutas de clima temperado II:


Figo, maçã, marmelo, pêra e pêssego em pomar compacto. In:
RAIJ, B. van. et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem
para o Estado de São Paulo. 2 ed. Campinas: Fundação Instituto
Agronômico (IAC), 1996, p.139-140.

CATTELAN, A.; VIDOR, C. Flutuações na biomassa, atividade e


população microbiana do solo, em função da variações ambientais.
Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.14, p.125-132, 1990.

COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MI-


NAS GERAIS. Recomendações para o uso de corretivos e fertili-
zantes em Minas Gerais, 4. aproximação. Lavras, 1989. 176p.

DAMATTO JUNIOR, E.R. Efeitos da adubação com composto


orgânico na fertilidade do solo, desenvolvimento, produção e
qualidade de frutos de bananeira ‘Prata-anã’ (Musa AAB). 2005.
70f. Dissertação (Mestrado em Agronomia / Energia na Agricultura).
Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista,
134 • ABACATE

Botucatu, 2005.

DONADIO, L. C. Abacate para exportação: aspectos técnicos da


produção. 2a. ed. rev aum. Publicações técnicas FRUPEX, n º 2.
Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária,
Secretaria de Desenvolvimento Rural, Programa de Apoio à Produção
e Exportação de Frutas, Hortaliças, Flores e Plantas Ornamentais.
Brasília. EMBRAPA – SPI, 1995. 53p.

HOYT, P.B.; TURNER, R.C. Effect of organic materials added to


very acid soils on pH, aluminum, exchangeable NH4 and crop yelds.
Soil Science, v.119, p.227-37, 1975.

HUNTER, D.J.; YAPA, L.G.G.; HUE, N.V.; EAQUB, M. Compara-


tive effects of green manure and lime on the growth of sweet corn and
chemical properties of an acid oxisol in Western Samoa. Commun.
Sci. Plant anal, v.26, p.375-88, 1995.

KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba: Agronômica Ceres.


1985. 492p.

KOLLER, O.C. Abacate – produção de mudas, instalação e


manejo de pomares, colheita e pós-colheita. Porto Alegre: Cinco
Continentes. 2002. 154 p.

LARCHER, W. Ecofisiologia Vegetal. São Carlos: Rima Artes e Tex-


tos, 2000. 531p.

LYNCH, J.M. Biotecnologia do solo. Editora Manole, 1986. 208p.

MIELNICZUK, J. Matéria orgânica e a sustentabilidade de sistemas


agrícolas. In : SANTOS, G. de A. ; CAMARGO, F.A. de O. (Eds.).
Fundamentos da matéria orgânica do solo: ecossistemas tropicais
e subtropicais. Porto Alegre : Genesis, 1999. p.1-8.

MIYSAKA, S., OKAMOTO, H. Importância da matéria orgâni-


ca na agricultura. In: Encontro sobre matéria orgânica do solo –
adubaÇÃO ORGÂNICA • 135

problemas e soluções. Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP,


Botucatu, 1992. p 01.

MOREIRA, R.S. Banana: teoria e prática de cultivo. Campinas:


Fundação Cargil, 1987. 335p.

RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI,


A.M.C. (Ed). Recomendações de adubação e calagem para o Esta-
do de São Paulo. 2.ed. rev. e atual. Campinas: Instituto Agronômico/
Fundação IAC, 1997. 285p. (Boletim Técnico 100).

RIBEIRO, A.C., GUIMARÃES, P.T.G., ALVAREZ, V.V.H. Reco-


mendações para o uso de fertilizantes e corretivos para o estado de
Minas Gerais. 5ª aproximação, Viçosa, MG: Comissão de fertilidade
do Solo do Estado de Minas Gerais. 1999. 359 p.

SANTOS, G.A.; CAMARGO F.A.O. Fundamentos da matéria


orgânica do solo. Porto Alegre: Genesis, 1999. 491p.

TEIXEIRA, C. G. Cultura [do abacate]. In: TEIXEIRA, C. G. et al.


ABACATE: cultura, matéria prima, processamento e aspectos
econômicos. 2a. ed. Série Frutas Tropicais n º 8, ITAL, Campinas,
1991. 250p.

WONG, M.T.F.; AKEAMPONG, E.; NORTCLIFF, S.; RAO, M.R.;


SWIFE, R.S. Initial responses of maize and beans to decreased con-
centrations of monomeric inorganic aluminium with application of
manure or tree prunings to an oxisol in Burundi. Plant Soil, v.171,
p.275-82, 1995.
MANEJO DE CULTURAS INTERCALARES NO POMAR
DE ABACATEIRO

Sarita Leonel1
Carlos Renato Alves Ragoso2
Jaime Duarte Filho3

Introdução
O abacateiro, originário do México e América Central, foi intro-
duzido no Brasil no século XVI no Rio de Janeiro, com mudas e se-
mentes oriundas da Guiana Francesa, de onde se expandiu para todo
o país, devido ao sucesso de sua aclimatização, sendo a maioria das
plantas Guatemalenses ou híbridos Guatemalenses.
O abacate é uma fruta tropical rica em proteínas e vitaminas lipos-
solúveis A, D e B, com quantidade variável de óleo na polpa, utilizado
na indústria farmacêutica e de cosméticos e na obtenção de óleos co-
merciais substituindo o óleo de oliva.
A realização de tratos culturais necessários para uma boa produção
é medida indispensável na condução da cultura do abacateiro. Um
dos tratos culturais importantes é o manejo das plantas invasoras. O
pomar de abacateiro, no tocante a este manejo, pode ser conduzido de
diferentes maneiras. Segundo Wildner (2004), nas propriedades de
produção frutícola, o período de adoção de novas tecnologias passou
por várias adaptações: a) inicialmente o solo era mantido no limpo
apenas na projeção da copa e ou na linha de plantio, através de capinas
ou herbicidas; b) solo mantido coberto através do manejo mecânico
(ceifa) ou químico da vegetação espontânea das entrelinhas e c) solo
das entrelinhas mantido coberto pelo cultivo de adubos verdes. A
adoção de cada uma dessas tecnologias dependerá de fatores técnicos
e econômicos a serem definidos pelo próprio produtor e também, pela
assistência técnica disponível ou contratada.

1
UNESP. Faculdade de Ciências Agronômicas. Departamento de Produção Vegetal. Setor Horticultura. sari-
nel@fca.unesp.br
2
Engenheiro Agrônomo. Doutor em Horticultura. UNESP. FCA/Botucatu. JR RAGOSO LTDA. jrragoso@
uol.com.br
3
Engo Agro. Pesquisador EPAMIG-CTSM. duartefilho@epamig.br
138 • ABACATE

Pomar permanentemente limpo


Neste sistema toda área do pomar é mantida livre da vegetação
nativa ou invasora, por meio de controle mecânico ou químico através
de herbicidas. Este sistema tem como vantagens:
• Evitar a competição das plantas daninhas;
• Facilitar os tratos culturais;
• Facilitar a adubação.
Como desvantagens podem ser mencionadas:
• Exposição do solo a erosão;
• Possibilidade de provocar a compactação do solo e de diminuir
o teor de matéria orgânica do mesmo;
• Deixar o solo mais sujeito as variações de temperatura diurna
e noturna;
• Possibilidade de provocar riscos ao meio-ambiente e ao apli-
cador.

De acordo com Ramos (1982) nos dois primeiros anos de cul-


tivo do pomar, especial atenção deve ser dada ao controle das plantas
daninhas, pois as mesmas concorrem com o abacateiro em água, luz
e nutrientes. Conforme o autor, o sistema de cultivo mais adotado
pelos produtores da frutífera consiste em controle com roçadeira nas
entrelinhas e herbicida ou capina manual com enxada nas linhas de
plantio (Figura 01). Normalmente são necessárias de 4 a 5 ceifas por
ano. Os produtos químicos a serem utilizados devem ser os recomen-
dados com registro para a cultura.
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 139

Figura 01 – Manejo do pomar com roçada nas entrelinhas e controle


químico nas linhas de plantio. (Foto: Carlos Renato Alves Ragoso em
pomar cítrico).

Pomar com cultivo intercalar


O pomar pode ser cultivado com culturas intercalares de interesse
econômico, consorciadas com a cultura principal. Esse consórcio deve
levar em conta objetivos definidos do fruticultor, a fim de que não haja
competição com a cultura principal. Podem ser utilizadas espécies
como grãos, olerícolas e outras frutíferas, respeitando a concorrên-
cia por água, luz e nutrientes, além da facilidade no manejo. Outras
espécies intercalares são as leguminosas, consideradas como adubos
verdes, pois têm a capacidade de fixar nitrogênio e carbono atmos-
férico e quando incorporadas ao solo, fornecê-lo à cultura principal.
As leguminosas são reconhecidas por melhorarem as propriedades
físicas e químicas do solo (Figura 02).
140 • ABACATE

Figura 02 – Plantio direto dos adubos verdes nas entrelinhas do pomar.


(Foto: Carlos Renato Alves Ragoso em pomar cítrico).

Adubação verde
A adubação verde consiste na prática de se incorporar ao solo
massa vegetal não decomposta de plantas cultivadas no local ou im-
portadas, com a finalidade de preservar e/ou restaurar a produtividade
das terras agricultáveis (Von Osterrhot., 2002).
Segundo estudos científicos e evidências práticas, os adubos verdes
desempenham ações em diferentes aspectos da fertilidade do solo, tais
como: proteção do solo contra os impactos das chuvas e também da in-
cidência direta dos raios solares; rompimento de camadas adensadas e
compactadas ao longo do tempo; aumento do teor de matéria orgânica
do solo; incremento da capacidade de infiltração e retenção de água no
solo; arrasto de bases a camadas mais profundas do solo; diminuição
da toxicidade do Al e Mn devido ao aumento de complexificação e
elevação do pH; promoção do resgate e da reciclagem de nutrientes
de fácil lixiviação; extração e mobilização de nutrientes das camadas
mais profundas do solo e subsolo, tais como Ca, Mg, K, P e micro-
nutrientes; extração do fósforo fixado; fixação do N atmosférico de
maneira simbiótica pelas leguminosas; inibição da germinação e do
crescimento de plantas invasoras seja por efeitos alelopáticos ou pela
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 141

simples competição por luz (Von Osterrhot, 2002).


Segundo Igue (1984), com a prática da adubação verde é possível
recuperar a fertilidade do solo proporcionando aumento do teor de ma-
téria orgânica, da capacidade de troca de cátions e da disponibilidade
de macro e micronutrientes; formação e estabilização de agregados;
melhoria da infiltração de água e aeração; diminuição diuturna da am-
plitude de variação térmica; controle dos nematóides e, no caso das
leguminosas, incorporação ao solo do nitrogênio (N), efetuada através
da fixação biológica.
Weber e Passos (1991), afirmam que as leguminosas são particu-
larmente importantes pela capacidade de estabelecer associação com
bactérias fixadoras de nitrogênio do ar. As bactérias dos gêneros Rhizo-
bium e Bradyrhizobium formam nódulos nas raízes, fornecendo produ-
tos nitrogenados à leguminosa e recebendo em troca, fotossintatos.
Essa simbiose resulta em economia da adubação nitrogenada.
Segundo Ambrosano et al. (2000), as leguminosas normalmente
empregadas em adubação verde, fixam em média 188 Kg de N/ha/ano,
sendo estes adicionados ao solo, podendo assim racionalizar o uso de
N. Com esta prática, se pode recuperar a fertilidade do solo, perdida
devido ao manejo inadequado e à adoção de monocultivo, obter N
para a cultura seguinte e evitar assim, adubos altamente solúveis que
podem poluir o ambiente.
As quantidades fixadas de nitrogênio variam entre as espécies le-
guminosas e dentro de uma mesma espécie. Condições de solo, clima
e genéticos determinam o potencial de fixação biológica do nitrogênio,
conforme pode ser observado pela Tabela 01 (Lima et al., 2002).

Tabela 01 – Estimativa de fixação de nitrogênio em leguminosas.


Leguminosa N2 fixado (kg ha-1ano-1 ou ciclo)
Amendoim forrageiro (Arachis pintoi) 30-196
Lab-lab (Dolichus lablab) 180
Mucuna anã (Mucuna spp) 210-220
Feijão-de-porco (Canavalia
ensiformis) 49-190
Trevo (Trifolium sp) 100-150
Fonte: Lima et al. (2002) adaptado.
142 • ABACATE

Lima et al. (2002) salientam que o emprego das leguminosas


como adubos verdes não contribui apenas com o fornecimento de ni-
trogênio. A princípio, todos os nutrientes essenciais são fornecidos
por esta adubação, que também precisa ser considerada, visando o
complemento com outras fontes. Algumas quantidades extraídas do
solo pelas leguminosas foram obtidas por Tanaka (1981) e são apre-
sentadas na Tabela 02.

Tabela 02 – Produção de massa seca e nutrientes extraídos pelas


leguminosas.
Produção Nutrientes extraídos (kg ha-1)
Leguminosas (t ha-1) N P2O5 K20
Guandu 11,6 324 35 199
Mucuna Preta 7,0 195 23 144
Feijão-de-porco 8,0 279 30 202
Crotalaria juncea 16,4 290 41 217
Fonte: Lima et al. (2002) adaptado.

Para a escolha de um adubo verde, também denominado de planta


de cobertura do solo, é necessário levar em consideração as caracterís-
ticas individuais de cada espécie, tais como:
• Facilidade de implantação (sementes ou mudas) e condução
a campo;
• Rapidez no crescimento inicial;
• Rapidez na cobertura do solo;
• Boa produção de fitomassa;
• Sistema radicular profundo e robusto;
• Capacidade de reciclagem de nutrientes;
• Floração intensa e prolongada;
• Facilidade no manejo da fitomassa;
• Hábito de crescimento que não cause competição com o cul-
tivo principal;
• Persistência dos resíduos sobre o solo;
• Tolerância às condições de baixa fertilidade;
• Tolerância às secas e ou geadas;
• Não ser hospedeiro de pragas ou doenças;
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 143

• Tolerância ao sombreamento;
• Não se comportar como invasora, causando problemas à cul-
tura principal;
• Produzir sementes nas condições edafoclimáticas do local;
• Boa capacidade de rebrote após o manejo, caso seja uma cul-
tura perene;
• Ter potencial para outros usos dentro da propriedade.

Dificilmente uma única espécie apresentará todas as características


descritas acima, por isso, em função das condições edafoclimáticas
de cada região, das características de cada propriedade e da cultura
principal (espécie frutícola), apenas algumas delas serão importantes,
devendo então, ser utilizadas como critérios de seleção das espécies
a serem semeadas como adubos verdes. Após a seleção inicial, os
conhecimentos práticos sobre o comportamento de qual a melhor es-
pécie para ser utilizada, dependerá fundamentalmente das observações
práticas do fruticultor (Wildner, 2004).
Conforme o autor supracitado, os adubos verdes conhecidos e que
possuem potencial para o cultivo intercalar na fruticultura podem ser
classificados quanto ao:
1 – Clima: de inverno (clima frio) e de verão (clima quente);
2 – Ciclo: anuais e perenes;
3 – Família botânica: leguminosas, poáceas; crucíferas, cariofilá-
ceas, poligonáceas e outras;
4 – Hábito de crescimento: ereto, trepador e rasteiro.
As espécies mais conhecidas de inverno são: ervilha (Pisum ar-
vense), nabo forrageiro (Raphanus sativus), aveia preta (Avena stri-
gosa), centeio (Secale cereale), tremoços (Lupinus sp) e trevos (Tri-
folium sp). As mais conhecidas de verão são: guandu-anão (Cajanus
cajan), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), mucuna-anã (Mucuna
deeringiana), crotalárias (Crotalaria spectabilis, C. breviflora, C.
grantiana), soja perene (Neotonia sp), amendoim forrageiro (Arachis
pintoi), calopogônio (Calopogonium mucunoides), feijão mungo (Vi-
gna radiata) e outras.
Dentre as várias espécies que podem ser utilizadas como adubos
verdes, Silva et al. (1999) apresentaram algumas espécies que podem
ser utilizadas em pomares cítricos. Os autores relataram que as espé-
144 • ABACATE

cies utilizadas como adubo verde se dividem em plantas de verão,


normalmente leguminosas plantadas no início das chuvas e mane-
jadas até o final do período das águas, e as de inverno (leguminosas
e gramíneas), plantadas no final das chuvas e manejadas quando em
pleno florescimento. Dentre as espécies de verão mais utilizadas em
citros podem destacar-se a Crotalária breviflora (Crotalaria breviflo-
ra), Crotalária juncea (Crotalaria juncea L.), Crotalária spectabilis
(Crotalaria spectabilis Roth.), Guandu (Cajanus cajan L. Millsp),
Guandu-Anão (Cajanus cajan L. Millsp), Mucuna-Preta (Stizolobium
aterrimum = Mucuna aterrima), Mucuna-Anã (Mucuna deeringiana
ou Stizolobium deeringianum, Steph e Bart = Mucuna pruriens), Labe-
Labe (Dolichos lablab L. ou Lablab vulgaris Savi), Feijão-de-porco
(Canavalia ensiformis (L.) DC.) e Milheto (Pennisetum glaucum) e
dentre as de inverno as mais recomendadas são a Aveia-Preta (Avena
strigosa Schreb) e o Nabo-Forrageiro (Raphanus sativus L.). Como
espécies perenes recomendadas para a cultura dos citros tem-se o
Amendoim-Rasteiro (Arachis sp).
Ragoso et al (2006) avaliaram e recomendaram para pomares
cítricos as seguintes espécies, cujas características serão descritas re-
sumidamente a seguir:

Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis DC)


Planta arbustiva, anual, formando dossel ao redor de 0,8 a 1,0 m
de altura, recomendada para adubação verde. Suas sementes, brancas
e graúdas, não são indicadas para consumo humano, pois contêm fa-
tores antinutricionais, embora apresentem altos teores de proteína de
excelente qualidade segundo Braga et al citado por Ambrosano et al.
(2000).
Cultivar: Comum
Época de semeadura: ideal em outubro/novembro sendo também
possível em setembro/março.
Espaçamento entre as linhas: 50 cm para adubação verde.
Densidade linear na semeadura: 3 sementes por metro linear.
Sementes necessárias: 80 Kg/ha.
Adubação verde: no surgimento das primeiras vagens, cerca de
120 dias após a semeadura, efetuar o corte da parte aérea das plantas
por meio de roçadeira ou grade de discos, seguindo-se ou não sua
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 145

incorporação ao solo.
Colheita de sementes: aproximadamente aos 180 dias depois da
semeadura, as plantas poderão ser arrancadas manualmente ou ceifa-
das para posterior operação de batedura ou trilhagem após seca das
vagens e sementes.
Produtividade normal: fitomassa seca de 5 a 8 t/ha e 1,2 a 1,8 t/
ha de sementes segundo Ambrosano et al. (2000).

Labe-labe (Dolichus lablab L.)


Planta anual ou bianual rasteira, de hábito indeterminado e de
ampla adaptação, recomendada principalmente para adubação verde.
Suas vagens e sementes podem ser processadas para arraçoamento
animal ou consumo humano. Apesar de menos digestível, sua forragem
e feno são comparáveis aos da alfafa. Sua massa pode ser utilizada
para enriquecimento de silagem ou palha de milho, situação em que
se efetua o cultivo consorciado (Figura 03).

Figura 03: Plantio de Labe-labe nas entrelinhas do pomar.


(Foto: Carlos Renato Alves Ragoso em pomar cítrico).

Cultivar: IAC-697.
Época de semeadura: adubação verde: outubro a fevereiro; se-
mentes: outubro a março.
Espaçamento e densidade de semeadura: 50 cm entre as linhas
146 • ABACATE

com 10 sementes por metro linear.


Sementes necessárias: 50 Kg/ha.
Adubação verde: no surgimento das vagens, 150 a 180 dias após
a semeadura, realizar o corte da parte aérea das plantas por meio de
roçadeira ou grade de discos, para aproveitamento como cobertura
morta ou posterior incorporação ao solo.
Colheita de sementes: decorridos 240 dias da semeadura, os le-
gumes maduros poderão ser colhidos, parceladamente, por via manual.
Para prevenir ocorrência de carunchos, efetuar a colheita sem atraso,
seguida de expurgo.
Produtividade normal: fitomassa (matéria seca): 5 a 7 t/ha; se-
mentes: 1 a 1,5 t/ha de acordo com Braga et al citado por Ambrosano
et al. (2000).

Feijão guandu-anão (Cajanus cajan L. Millsp)


Leguminosa anual, de ciclo curto (90-120 dias), porte baixo (0,8-1,2
m), crescimento rápido e arbustivo. Pode ser utilizada em rotação, con-
sorciada e como forrageira. No caso do citros é mais usada no sistema
intercalar, devido ao baixo porte, permitindo o trânsito dos equipamentos
para operações de adubação e pulverização (Figura 04).
Cultivar: IAPAR 43.
Época de semeadura: de setembro a dezembro.
Espaçamento e densidade de semeadura: 50 cm entre as linhas
com 20 sementes por metro linear.
Sementes necessárias: aproximadamente 25 Kg/ha.
Adubação verde: 90 a 120 dias após a semeadura realizar o corte
da parte aérea das plantas por meio de roçadeira ou grade de discos,
para aproveitamento como cobertura morta ou posterior incorporação
ao solo.
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 147

Figura 04 – Feijão guandu-anão em pleno florescimento. (Foto: Carlos


Renato Alves Ragoso em pomar cítrico).

Produtividade normal: 4 a 7 t/ha de fitomassa de acordo com


Piraí Sementes (2002).
Especificamente para o abacateiro, a literatura nacional não dis-
põe de resultados de pesquisa que possam indicar as espécies a serem
utilizadas.
A recomendação de espécies de adubos verdes está na dependência
do estágio de formação do pomar, as quais seriam empregadas para
promover a formação de uma boa cobertura do solo. Outras espécies
são empregadas para o pomar já instalado, para promover a recicla-
gem de nutrientes e estimular a formação da maior biodiversidade
possível.
Para promover um sinergismo positivo dos efeitos da adubação
verde, é recomendável, sempre que possível, cultivar mais de uma
espécie ao mesmo tempo.
Normalmente, na adubação verde não se utiliza adubação química
no plantio e em cobertura, nem mesmo cultivos pós-plantio (Figura
02). Após o pleno florescimento, estes devem ser roçados ou triturados,
ficando a massa verde sobre a superfície do solo. Nunca devem ser
utilizados equipamentos que revolvam o solo, para evitar a desestru-
turação e rompimento dos canais formados pelo sistema radicular dos
148 • ABACATE

adubos verdes, por onde ocorrerá translocação de ar e água. Após esta


etapa, procede-se ao sulcamento das linhas e plantio das mudas cítricas
(SILVA et al., 1999).
O autor supracitado reporta que em situações nas quais o pomar
se encontrar implantado, antes da semeadura, deve-se proceder a ins-
peção do mesmo com relação a pragas e doenças, e se necessário,
recorrer à aplicação de produtos fitossanitários, aplicando uma das
parcelas da adubação e ao controle das plantas daninhas nas linhas da
frutífera instalada. Na escolha da espécie a ser plantada, deve-se levar
em conta o porte e o hábito de crescimento, evitando que esta provoque
sombreamento e competição com as plantas de citros. Pode optar-se
por plantio rua sim, rua não; intercalando uma rua com espécie de
porte alto e outra de porte baixo e plantio somente na metade de cada
rua. Essas opções de plantio possibilitam o trânsito no pomar e em
todos os casos, no ano seguinte as posições são invertidas. A primeira
linha de plantio deve ficar a pelo menos 50 cm da projeção da copa
dos citros, evitando sombreamento e competição. A semeadura deve
ser efetuada evitando movimentação do solo em excesso e o corte de
raízes da cultura, dando preferência aos sistemas de cultivo mínimo e
plantio direto. Não é necessária a utilização de adubação de cobertura
e cultivadores. Após a germinação e o desenvolvimento, caso seja
necessário entrar no pomar com máquinas, devem-se alinhar as rodas
nas entrelinhas dos adubos verdes, e, mesmo que haja tombamento,
os danos serão mínimos sobre os adubos verdes.
A fitomassa dos adubos verdes deve ser manejada de tal forma
que a palhada permaneça sobre o solo. Por isso, o manejo deve visar
sempre que possível, o acamamento dos adubos sobre o solo (Figura
05). O corte com roçadeiras, pode ser feito direcionando os adubos
verdes para a linha de cultivo e para baixo da projeção da copa das
árvores (Wildner, 2004).
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 149

Figura 05 – Ceifa do adubo verde com roçadeira no pleno florescimento.


(Foto: Carlos Renato Alves Ragoso em pomar cítrico).

Pomar com cobertura morta


Neste sistema o solo é mantido com uma cobertura de restos vege-
tais, cortados de espécies forrageiras como palha de arroz, bagacinho
de cana, serragem, casca de pinus, entre outros.
A espessura da cobertura varia de 10 a 20 cm, conforme o material
a ser utilizado (Figura 06). No caso de cobertura com capim cortado,
experimento relatado por Fachinello et al. (1996) demonstrou que é
necessário cortar 3 m2 de capim para cobrir 1 m2 do pomar.
Trata-se de um sistema oneroso e limitado a pequenas áreas, mas
que tem como vantagens:
• Manutenção da umidade do solo, evitando as perdas por eva-
poração direta;
• Controle da erosão pela diminuição do impacto das partículas
de chuva;
• Possibilidade de aumento nos teores de N. S, B e P no solo;
• Contribui para o controle de plantas daninhas.

As desvantagens do sistema são:


• Em solos mal drenados aumenta o problema de aeração;
150 • ABACATE

• Se houver abandono do sistema, as raízes das plantas tendem


a ser superficiais, o que acarreta problemas;
• A cobertura morta aumenta o risco de geadas por impedir a
irradiação do calor do solo para o ar;
• Favorece o risco de incêndio e o ataque de roedores;
• O custo é alto, pois tem que adicionar matéria seca anual-
mente;
• Não deve ser estabelecido antes de três anos de vida da planta,
pois estimula o desenvolvimento de raízes superficiais;
• Altera a relação C/N, com isso necessita-se de uma adubação
suplementar de nitrogênio, na base de 50 kg N/t de cobertura
morta (Fachinello et al., 1996).

Figura 06 – Uso de cobertura morta com capim seco (Foto: Márcia Regina
Antunes Maciel).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMBROSANO, E. J. MURAOKA et al. O papel das leguminosas


para a adubação verde em sistemas orgânicos. In: AMBROSANO,
ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO • 151

E.J.; MURAOKA T.; CERVEIRA, R. Adubação verde para a agri-


cultura orgânica. Piracicaba: Degaspari, 2000. p. 17-76.

FACHINELLO, J.C., NATCHIGAL, J.C., KERSTEN, E. Fruticul-


tura: fundamentos e práticas. Pelotas: Editora Universitária, Uni-
versidade Federal de Pelotas, 1996. 311p.

IGUE, K. Dinâmica da matéria orgânica e seus efeitos nas proprie-


dades do solo. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ADUBAÇÃO
VERDE, 1, 1983, Rio de Janeiro. Anais... Campinas: FUNDAÇÃO
CARGILL, 1984. p. 232-66.

LIMA, P.C., MOURA, W.M., AZEREDO, M.S.F.R., CARVALHO,


A.F. Estabelecimento de cafezal orgânico. Informe agropecuário,
Belo Horizonte, v. 23, n. 214/215, p. 33-52, 2002.

PIRAÍ SEMENTES. Recomendações básicas para adubação verde


apropriadas para regiões sudeste, sul e centro-oeste. Adubação
verde, Piracicaba, 2002.

RAGOZO, C.R.A., LEONEL, S., CROCCI, A.J. Adubação verde em


pomar cítrico. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.
28., n. 1, p. 69 - 72, 2006.

SILVA, J. A. A.; DONADIO, L. C.; CARLOS, J. A. D. Adubação


verde em citros. Jaboticabal: Funep, 1999. 37 p.

TANAKA, R.T. Adubação verde. Informe agropecuário, Belo Ho-


rizonte, ano 7, n. 81, p. 62-67, 1981.

VON OSTERROHT, M. O que é uma adubação verde: princípios e


ações. Agroecologia Hoje, n. 14, p. 9-11, mai/jun 2002.

WEBER, O. B.; PASSOS, O. S. Adubação verde: aspectos relacio-


nados a citricultura. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das
Almas, v. 13, n. 4, p. 295-303, out. 1991.
152 • ABACATE

WILDNER, L.P. Adubação verde na fruticultura. Agroecologia


Hoje, Botucatu, ano IV, n. 22, 2004. p. 21-22.
SISTEMA DE PODAS E REGULADORES VEGETAIS NO
MANEJO DA COPA DO ABACATEIRO

Maria Aparecida do Carmo Mouco1


Elizabeth Orika Ono2

1. CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS DA CULTURA


O crescimento do abacateiro ocorre a partir do desenvolvimento
de gemas apicais que se alongam, formando os primórdios foliares e
os novos ramos, em vários ciclos vegetativos por ano, durante a prima-
vera e o verão. No inverno acontece o período de repouso, seguindo-se
a floração, que é mais definida e intensa quanto maior for o período de
repouso. O desenvolvimento da inflorescência do abacateiro ocorre em
ramos com um ano de idade e do mesmo ano. A floração é principal-
mente lateral, com gemas apicais latentes ou vegetativas, conforme a
variedade. (Donadio, 1992).
A temperatura é o principal fator responsável pela diferenciação da
fase vegetativa para a reprodutiva na cultura do abacateiro. Cultivares
de abacateiro originários de raça subtropical podem produzir flores
somente quando estão submetidas às condições de baixa temperatura.
O cv. Hass não floresce sob condições de temperatura de 30/25°C,
25/20°C ou 24/19°C (dia/noite), porém floresce por 3 a 4 meses em
condições de 15/10°C, 18/15°C e 23/18°C; sob esta última combinação
de temperatura, a floração diminuiu consideravelmente, o que pode
provavelmente ser associado a um limite crítico para a floração do
cultivar Hass a condição de 23/18°C (Gazit e Degani, 2002).
A indução floral do abacateiro também pode ser favorecida pela
relação carbono/nitrogênio, quantidade de reservas, condições nutri-
cionais e outras ambientais como a umidade, e os reguladores vegetais.
Na faixa de temperatura entre 13°C e 40°C pode ocorrer o floresci-
mento, mas fora deste limite, independente da cultivar, a temperatura
pode ser limitante, como também na ocorrência de ventos fortes e
secos (Donadio, 1992).
O processo de abertura de flores, nos dois períodos ou fases, femi-

1
Embrapa Semi-Árido, BR 428, km 152, Zona Rural, C.P. 23, CEP 56302-970, Petrolina, PE.
UNESP, Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Departamento de Botânica, C.P. 510,
2

CEP 18618-000, Botucatu, SP.


154 • ABACATE

nina e masculina, também pode ser alterado em temperaturas abaixo


de 25°C (dia) e 15°C (noite). A superposição das fases foi observada
em temperaturas elevadas ou menor luminosidade, como também a
ocorrência de autofecundação (Whiley e Winston, 1987).
O período total de florescimento de cada variedade varia de um a
dois meses. Na Austrália foi demonstrado que abacateiros das varie-
dades Fuerte e Hass se comportam melhor, no tocante ao florescimento
e frutificação, com temperaturas 25°C (dia) e 20ºC (noite). Em tem-
peraturas de 33°C (dia) e 23°C (noite), as variedades Hass e Fuerte
produziram um menor número de flores e tiveram período de floração
mais curto (Sedgley, 1987).
A porcentagem de flores polinizadas no abacateiro é alta, mas
a frutificação é baixa. Wolstenholme (1990) reporta que uma planta
adulta pode chegar a produzir entre meio milhão a um milhão de flores,
entretanto, a frutificação pode variar desde um em 500 até um em
5000 flores. No primeiro mês após a frutificação foi observado que
apenas 10% dos frutos apresentavam desenvolvimento normal, o que
explicaria a queda de grande parte deles. Muitos dos que caem não
possuem embrião, endosperma ou ambos (Gazit, 1976).
Schaffer e Whiley (2002) encontraram efeito da concentração de
CO2 (150 to 2000 µmol CO2 mol-1) na fotossíntese do abacateiro. Wit-
jaksono et al. (1999) também reportam maior crescimento dos ramos
vegetativos e acumulação de biomassa em ambiente enriquecido com
CO2. A quantidade acumulada de matéria seca no abacateiro ‘Hass’
aumentou com a concentração de CO2 de 350 a 600 µmol mol-1 (Schaf-
fer e Whiley, 2002); os autores ainda mencionaram que 45 dias depois
da floração, as plantas que se desenvolveram em condições de 600
µmol CO2 mol-1 seguraram mais frutos que sob 350 µmol CO2 mol-1.
Assim, já que existe uma relação direta entre a fixação de frutos aos
40-50 dias depois da floração e o rendimento final, o incremento das
concentrações de CO2 atmosférico poderá beneficiar a produção de
abacate (Howden et al., 2005).
A frutificação é afetada por vários fatores, entre eles o clima, as ra-
ças, os cultivares, os porta-enxertos, os tratos culturais, o anelamento, a
polinização cruzada e os insetos (Bergh, 1976). O tempo entre a florada
e a maturação do fruto está entre 8 a 10 meses (Donadio, 1992).
O bom desenvolvimento do fruto depende da existência de
sistemas de podas • 155

condições adequadas, principalmente com as relacionadas à disponibil-


idade de água, nutrientes, superfície foliar e clima. A relação de 30 a 50
folhas adultas para cada fruto é indicada como necessária ao abacateiro
(Suppo, 1982).

2. SISTEMA DE PODAS
O abacateiro, pela origem na América Central e México, tem o
hábito de planta de floresta úmida, o que influencia a tendência ao
crescimento vegetativo vigoroso. Este vigor vegetativo resulta nos dois
maiores problemas para os produtores: o primeiro está relacionado ao
porte das plantas que acaba fechando o pomar depois de quatro a cinco
anos de plantio (condução), dificultando os tratos culturais, com as
pulverizações e a colheita mais difíceis e caras. O segundo problema
está relacionado à competição do crescimento vegetativo com os frutos
pelos fotoassimilados, nutrientes e água. O fluxo vegetativo que ocorre
logo após a floração origina uma grande demanda de carboidratos nos
quarenta dias seguintes (Whiley e Schaffer, 1994, citado por Penter e
Stassen, 1998). Esta demanda reduz as fontes e compromete a fruti-
ficação efetiva (principalmente nos cultivares mais vigorosos). Esta
situação fica mais evidente com a emissão de um outro fluxo vegetativo
(verão), que ocorre quando o fruto tem de 10 a 40% do seu peso final;
a competição promovida por esta brotação pode causar de 45-60% de
queda dos frutos (Wolstenholme et al., 1990). O clima e as condições
de solo, incluindo a nutrição, tendem a estimular o crescimento vi-
goroso do abacateiro e a copa do abacateiro pode aumentar de 50 a
100% por ano (Köhne, 1988); o autor ainda reporta que o nível de N
nas folhas do abacateiro deve ser inferior a 1,8%, como meio prático
de controlar o crescimento vegetativo excessivo da planta.
Assim, pelos fatores mencionados, o rendimento do abacate em
áreas mais quentes, como é o caso da região nordeste, está abaixo de
10 t ha-1, porque esta condição climática estimula a brotação vegetativa
mais vigorosa.
A necessidade de poda de um cultivo está relacionada não só à
fenologia como a ecofisiologia do cultivo. Segundo Wolstenholme
(2002), o hábito natural do abacateiro é de formar uma copa frondosa
que permite a captação de um máximo de luz disponível. Na busca de
luz, a planta vai produzir ramos longos, de crescimento vigoroso. Este
156 • ABACATE

comportamento pode ser explicado também pelo local de origem do


abacateiro, onde a planta competia com árvores muito altas e a única
forma de sobreviver era através da capacidade de crescer para a capta-
ção de luz. Esta característica de crescimento vigoroso do abacateiro
é o que acaba favorecendo a formação de plantas com copa mais alta,
afastada do tronco, que acaba sombreando os ramos da base, que ten-
dem a perder folhas e a capacidade de produção.
Segundo Mena (2005), a poda apresenta como vantagens os me-
lhores calibres de fruto, a facilidade na execução de outras práticas
no pomar e adequação ao espaçamento. Como desvantagens, a perda
inicial da produção, quando a poda é mais severa, além do aumento
dos custos no manejo do pomar.
Em pomares implantados com maiores densidades, a poda tem
como objetivo um maior aproveitamento da luz e eficiência produtiva
(kg m-2). O manejo da luz em pomares de abacate é um dos princi-
pais fatores para a obtenção de pomares sustentáveis (Wolstenholme,
2002).
As podas podem ser feitas de forma mecânica ou manual. A
mecânica é mais rápida, mas não discrimina os ramos e pode eliminar
os produtivos, podar além do adequado, como também deixar ramos
que terão que ser eliminados numa poda manual, durante um repasse,
normalmente necessário.
A poda manual é mais seletiva e eficiente, e facilitada pela maciez
da madeira do abacateiro. No entanto, o custo e o tempo da prática
é maior que na mecânica e a dificuldade é maior em pomares muito
densos e com árvores com copa mais alta.
A poda, em pomares mais antigos e plantados em maiores espa-
çamentos, têm sido considerada como um manejo adequado, já que o
fechamento do pomar (entre as copas) determina a perda da capaci-
dade produtiva, determinada, inicialmente, pelo tamanho e depois pelo
número de frutos por planta, principalmente, pela perda na produ-
tividade no interior da copa (Stassen et al., 1999). Assim, a produção
tende a se concentrar na parte alta da planta, mais afastada do tronco,
já que a luz no interior da copa é insuficiente, comprometendo a fotos-
síntese líquida e reduzindo a produção de matéria seca por unidade de
superfície. A eliminação de plantas nem sempre é eficiente porque as
copas das plantas mantidas, com o tempo, acabam ocupando o espaço
sistemas de podas • 157

das plantas eliminadas. Mena (2005) propõe duas formas de recuperar


a folhagem no interior da copa e, assim, a capacidade produtiva do
pomar.
A primeira opção é podar os ramos principais, para logo voltar a
formar a copa das brotações oriundas deles. Este tipo de poda deve ser
realizado cedo, depois da colheita, para que seja possível o manejo da
copa dentro do mesmo ciclo (ano). No entanto, na maioria das vezes,
a brotação depois da poda é muito vigorosa, o que acaba comprome-
tendo o início da produção, que pode acontecer só depois de dois anos
e, também, é necessário que esta poda continue sendo feita para que
as plantas não recuperem logo o tamanho excessivo da copa e, asso-
ciado a este, o problema da produção (Hofshi, 1999). A pintura com
cal, nas partes podadas e naquelas expostas ao sol, é necessária para
evitar danos aos ramos, que acabam servindo de ponto de entrada de
patógenos ou que comprometam novas brotações.
A poda realizada apenas para reduzir os ramos principais a uma
altura entre 4 a 5 metros também pode ser usada para recuperar a
produção no interior da copa. Nesta prática, o objetivo é deixar uma
quantidade de folhagem que permita controlar o vigor da brotação
vegetativa oriunda da poda. Com o objetivo de evitar uma brotação
excessiva no extremo dos ramos, formando os “pés de galinha”, pode
ser feita a pintura dos últimos 20 a 30 cm do ramo com uma solução de
tinta látex e ácido naftalenacético - NAA (1% i.a.), que deve eliminar
a dominância apical e permitir a brotação mais uniforme nos ramos
(Mena, 2005).
Nos tipos de poda mencionados anteriormente, a forma de colheita
deve ser considerada na definição da altura da planta. Nestas práticas
de condução, as plantas são manejadas individualmente ou em setores
de produção; o manejo como árvores individuais deve ser feito conside-
rando a necessidade de deixar áreas abertas para a iluminação dos ramos
centrais da planta (Partida, 1997). O manejo como setores de produção,
pode ser feito com o objetivo de formar copas de formato piramidal, com
a poda sendo realizada em duas etapas, ou seja, uma face (parte) da copa
em cada ano, para evitar que o produtor fique sem produção durante o
período do manejo (um ano), como também reduz em parte o vigor na
parte podada. Neste caso, também é recomendada a pintura dos ramos
expostos com a tinta látex e a utilização do ácido naftalenacético.
158 • ABACATE

3. REGULADORES VEGETAIS NO MANEJO DA COPA


O fechamento da copa do abacateiro tende a ocorrer quatro a cinco
anos depois do plantio, quando são utilizados espaçamentos menores,
como de 5 x 5 metros. As práticas de manejo para controlar o cresci-
mento das plantas são necessárias, já que plantas menos vigorosas
apresentam vantagens nos custos da manutenção e produção do pomar.
Os rendimentos podem ser incrementados pela redução do vigor no
fluxo vegetativo da primavera. Além disso, plantas menores oferecem
a oportunidade de incrementar a produção pelo plantio de altas densi-
dades e, também, antecipar o máximo de produção (estabelecimento
do pomar), segundo Köhne (1998).
A poda do abacateiro, apesar de importante, reduz o número de
gemas/ ramo reprodutivo, já que a inflorescência do abacateiro ocorre
na parte terminal dos ramos produzidos no verão. O manejo com po-
das severas, para manter a copa em tamanho desejável, também pode
comprometer a produção (Toerien e Basson, 1979).
Na África do Sul, a busca de estratégias para otimizar a penetra-
ção de luz, maximizar e manter a qualidade e rendimento dos frutos,
reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência de colheita e
operações no pomar (pulverizações), indica que a poda mecânica pode
ser implementada sem afetar os rendimentos durante a fase de esta-
belecimento do pomar (Stassen et al., 1999). Entretanto, em pomares
muito densos, podas imediatamente após a colheita comprometem os
rendimentos no ano seguinte. Stassen e Davie (1996) mostraram que
a melhor forma para interceptação de luz pelas plantas é o sistema de
plantio em que se utiliza espaçamento pequeno nas ruas, resultando em
uma “cerca”, como também a forma piramidal da copa, tendo como
altura máxima da planta, 80% da largura da linha (ou copa).
A prática da poda durante o cultivo do abacateiro em países como a
África do Sul, devido ao crescimento vigoroso, demonstram eficiência
no manejo do tamanho da copa. Entretanto, enquanto a poda elimina
a brotação vegetativa indesejada e também ajuda na manutenção da
forma da copa adequada, ela também estimula uma nova rebrota. Neste
caso é que os reguladores vegetais têm um papel importante e essen-
cial na condução da cultura. Assim, inibidores da síntese de giberelina
além de reduzir o comprimento dos ramos vegetativos, incrementam a
floração e o rendimento de frutos (Penter e Stassen, 1999).
sistemas de podas • 159

Os três diferentes tipos de reguladores vegetais que interferem


na síntese da giberelinas podem ser relacionados como: compostos
quaternários, como o cloreto de mepiquat e o cloreto de chlormequat,
que inibem a conversão de geranil geranil pirofostato para o caureno;
os compostos cíclicos contendo um nitrogênio, como o ancimidol,
flurprimidol, paclobutrazol e uniconazole, que inibem a passagem do
caureno a GA12-aldeído, que é catalisado por monoxigenases e os acil-
ciclohexanodionas como o trinexapac-etil e o prohexadione-Ca, que
podem bloquear as reações finais do metabolismo de GA (conversão
do GA12-aldeído nos diferentes GAs), relativas à ação de dioxigenases
(Rademacher, 1993).
Os triazóis, como o paclobutrazol e o uniconazole, formam um
grupo de reguladores vegetais que inibem a síntese das giberelinas
(Singh, 2001), tem registro como redutores do crescimento vegetativo,
como também incrementam o tamanho do fruto de abacate (Köhne e
Kremer-Köhne, 1987; Adato, 1990; Wolstenhome et al., 1990; Kremer-
Köhne et al,1991; Whiley et al,1991; Eramus e Brooks, 1998; Penter
et al., 2000).
As aplicações foliares e injeção de paclobutrazol na fase da floração
reduziram o entrenó e aumentaram a retenção de frutos no abacateiro
‘Fuerte’ (Köhne e Kremer-Köhne, 1987). Em trabalho conduzido por
Köhne (1988), o paclobutrazol foi aplicado no solo, ao redor do colo
da planta em abacateiro com seis anos, na primavera. No início do
experimento, o tamanho da copa media 12 m2. No experimento, foram
testadas duas doses de paclobutrazol, 0,4 e 0,8 g i.a. m-2 de área de
copa, mas nenhum efeito foi observado nos primeiros 12 meses depois
da aplicação. No ano seguinte, depois da colheita, o paclobutrazol foi
novamente aplicado na metade da dose utilizada no primeiro ano e, 18
meses da primeira aplicação, o comprimento dos ramos foi reduzido
em 50% quando comparado com o controle. Os tratamentos com as
duas doses de paclobutrazol testadas não apresentaram diferença no
crescimento dos ramos, como também não houve diferença significativa
entre os tratamentos com relação ao rendimento de frutos. Assim, apli-
cações foliares de paclobutrazol visando à redução do vigor do fluxo de
primavera podem ser efetivas no incremento da produção da cv. Fuerte,
como também, aplicações de paclobutrazol no solo em plantas jovens
podem reduzir o porte de plantas, auxiliando no manejo da copa.
160 • ABACATE

O trabalho de Leonardi (2005) para identificar o efeito da poda


e de reguladores vegetais no crescimento dos ramos, floração, rendi-
mento e qualidade dos frutos de ‘Hass’, mostrou que a poda depois da
colheita reduz o rendimento no primeiro ano, mas este efeito negativo
diminui nos anos subseqüentes. A poda pode estimular o crescimento
vegetativo e o momento da poda depois da colheita irá influenciar na
quantidade de rebrota durante a floração e pegamento de frutos. Esta
rebrota vai competir com o desenvolvimento de frutos e interferir na
qualidade dos mesmos. O momento da poda de verão também pode
afetar a quantidade de rebrota e floração na primavera seguinte. Apli-
cação de reguladores vegetais, como o uniconazole na floração, au-
menta o tamanho de frutos e pode reduzir o comprimento dos ramos e
incrementar a floração, quando aplicado na rebrota, resultante da poda
de verão. A poda, segundo o autor, altera a distribuição de frutos, que
tendem a se concentrar na parte inferior da copa, até os dois metros da
planta. A poda pode reduzir a concentração de cálcio nos frutos e pode
ser responsável pelo incremento de distúrbios fisiológicos.
Experimento conduzido em abacateiro, por Penter e Stassen
(1999), mostrou que a aplicação de reguladores vegetais no fluxo de
crescimento da primavera apresentou melhor efeito no rendimento
que aplicações na floração. Os resultados também mostraram que o
cloreto de chlormequat foi mais eficiente no incremento do rendimento
e tamanho de fruto que o paclobutrazol e o uniconazole.
O primeiro fluxo vegetativo emitido logo após a frutificação do
abacateiro funciona como um dreno de água, minerais e fotoassimila-
dos, durante aproximadamente 40 dias (Whiley e Schaffer, 1994 citado
por Penter e Stassen, 1998). Durante este período, o desenvolvimento
do fruto do abacateiro é privado dos nutrientes e é a principal causa da
grande perda de frutos. Um segundo fluxo vegetativo no verão tem um
efeito similar, induzindo uma perda de frutos da ordem de 60% daque-
les que ficaram na planta depois da primeira queda (Wolstenholme et
al., 1990). Esta competição, entre o fluxo vegetativo e o crescimento de
frutos, pode também contribuir para o pequeno tamanho dos frutos em
alguns cultivares de abacateiro; neste caso, visando minimizar o pro-
blema, é que os reguladores vegetais também poderiam ser eficientes
no manejo do abacateiro. Assim, pela redução do crescimento vege-
tativo, seria possível reduzir o efeito de dreno dos fluxos vegetativos
sistemas de podas • 161

e, então, reduzir a competição com o crescimento reprodutivo, como


também incrementar a fixação (retenção) e tamanho dos frutos.
A principal causa dos baixos rendimentos do cv. Fuerte é o baixo
pegamento de frutos, associado ao vigor vegetativo. Adato (1990) re-
porta incremento de 90% no rendimento do abacateiro ‘Fuerte’ utili-
zando paclobutrazol. As pulverizações de paclobutrazol não alteraram
a emissão de novos fluxos vegetativos, mas afetaram o comprimento
dos fluxos, reduzidos em 30% utilizando a concentração de 2%. O
tempo entre a frutificação e o início da brotação vegetativa foi maior
em quatro a cinco dias nas inflorescências tratadas. As aplicações de
paclobutrazol na fase de alongamento das inflorescências dobraram e
triplicaram os rendimentos do abacateiro desta cultivar, em quatro anos
de avaliação, e pode ser uma alternativa para plantas com rendimentos
baixos, como é o caso do cv. Fuerte, ou no ano seguinte a uma alta da
produção.
Segundo Penter e Snider (2001), o efeito do paclobutrazol no
rendimento no abacateiro ‘Fuerte’ parece ser resultado da inibição
do crescimento, que ocorre concomitantemente no processo de fruti-
ficação. Efeito semelhante foi observado na videira pela eliminação
da brotação nova (Coombe, 1972), que estimula a frutificação e o de-
senvolvimento de frutos, sem a competição de assimilados essenciais
(Wolstenholme, 1988).
As giberelinas são essenciais no crescimento e retenção de fru-
tos e parece que o paclobutrazol tem efeito favorável no rendimento
quando o método, concentração e momento de aplicação assegurem
um efeito limitado, de forma que o crescimento vegetativo seja retar-
dado, mas que a redução nos níveis de giberelina sejam mínimos. Por
conseguinte, o efeito que se busca do paclobutrazol é no vigor da planta
e as concentrações recomendadas ficam em 2% para plantas muito
vigorosas e 1% para as de vigor moderado; as aplicações devem ser
feitas no momento antes da antese (abertura das flores), quando se têm
condições apropriadas para a frutificação (Adato, 1990).
Os resultados descritos sugerem que os efeitos do paclobutrazol
e compostos similares no incremento do rendimento são devidos à
retenção de frutos e é função da inibição ou atraso no crescimento
vegetativo, que acontece concomitante ao processo de frutificação.
No entanto, é possível que o paclobutrazol não tenha efeito quando o
162 • ABACATE

crescimento vegetativo não ocorre na mesma época que a frutificação,


como acontece em outros cultivares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADATO, I. Effects of paclobutrazol on avocado (Persea americana


Mill) cv Fuerte. Scientia Horticulturae, v.45, p.105-115, 1990.

BERGH, B.O. Factors affecting avocado fruitfulness. Proceddings


First International Tropical Fruits Short Course: The avocado.
Florida, 1976, p.83-87

COOMBE, B.G. The effect of removing leaves, flowers and shorts


tips on fruit set in Vitis vinifera L. Journal Horticulturae Science,
v.37, p.1-15, 1972.

DONADIO, L.C. Abacate para exportação: aspectos técnicos da


produção. Brasília: Denacoop/ IICA Série Publicações Técnicas
DENACOOP/ FRUPEX. 1992. 109 p.

ERAMUS, H.D.; BROOKS, W.H. Foliar application of uniconazole


(Sunny) to avocado trees to improve fruit size and yield and to chance
fruit shape. South African Growers’ Association Yearbook, v.21,
p.52-53, 1998

GAZIT, S. Pollination and fruit set of avocado. Procedings First In-


ternational Tropical Fruit Short Course: The avocado. Florida,
1976. p.92-95.

GAZIT, S.; DEGANI, C. Reproductive Biology. In: WHILEY, A.W.;


SCHAFFER, B.; WOLSTENHOLME, B.N. The Avocado: Botany,
Production and Uses. CABI Publishing. 2002. p.101-134.

HOFSHI, R. 1999. High-Density Avocado Planting - An Argument


for Replanting Trees. http://www.avocadosource.com. Acesso em 20
janeiro 2007.
sistemas de podas • 163

HOWDEN, M.; NEWETT, S.; DEUTER, P. Climate Changes – Risks


and Opportunities for the Avocado Industry. In: NEW ZEALAND
AND AUSTRALIA AVOCADO GROWER’S.Tauranga, 2005. Con-
ference … Tauranga, Session 1, 19p.

KOHNE, J.S. Methods of increasing avocado fruit production. South


African Growes´Association Yearbook, v.1, p.53-55, 1988.

KOHNE, J. Distancias de plantación y control del tamaño en paltos


en Sud Africa. In: Seminario Internacional de Paltos. Vina del Mar,
1998. Anais ... Vina del Mar, Sociedad Gardiazabal y Magdhal, 1998.
p.73-80.

KOHNE, J.; KREMER-KOHNE, S. Comparison of growth regula-


tors paclobutrazol and uniconazole on avocado. South African Avo-
cado Growers’ Association Yearbook, v.12, p.38-39, 1987.

KREMER-KOHNE, S.; KOHNE, J.S.; KIRKMAN, B. Yield and


Fruit quality of avocado cv. Fuerte as influenced by paclobutrazol
foliar applications. South African Growes´Association Yearbook,
v.14, p.22-23, 1991.

LEONARDI, J. New strategies and tools for avocado canopy. In:


New Zealand and Australia Avocado Grower´s Conference. Tauran-
ga, 2005. Anais … Tauranga, 2005. Session 9, 15p.

MENA, F.V. Poda en Paltos. In Seminario Internacional de Paltos.


Quillota, 2, 2005. 8 p.

PARTIDA, G. Avocado Canopy Management For Greater Yield and


Orchard Eficiency. California Avocado Society Yearbook, v.80,
p.117-131, 1997.

PENTER, M.G.; SNIJDER, B. Avocado tree management- a holistic


approach: Chemical manipulation. South African Avocado Grow-
ers’ Association Yearbook, v.24, p.52-54, 2001.
164 • ABACATE

PENTER, M.G.; SNIJDER, B.; STASSEN, P.J.C.; SCHÄFER, E. The


efect of inhibitors of fruit production in Hass avocado trees. South
African Avocado Growers’ Association Yearbook, v.23, p.46-51,
2000.

PENTER, M.G.; STASSEN, P.J.C. The effect of Growth Inhibitors on


Vegetative Growth, Fruit Size and Fruit Set in Hass Avocado Trees: A
preliminary Report. South African Avocado Growers’ Association
Yearbook, v.21, p.54-57, 1998.

PENTER, M.G.; STASSEN, P.J.C. Chemical manipulation as part of


a magement programme for improved fruit yield and quality in avo-
cado orchards. South African Avocado Growers’ Association Year-
book, v.22, p.69-75, 1999.

RADEMACHER, W.Growth retardants: Biochemical features and


applications in horticulture. Acta Horticulturae, Wageningen, v.394,
p.57-74, 1993.

SEDGLEY, M. Flowering, pollination and fruit set of avocado. South


African Avocado Growers’ Association Yearbook, v.10, p.142-143,
1987.

SCHAFFER, B.; WHILEY, A.W. Environmental Physiology. In:


Whiley, A.W.; Schaffer, B.; Wolstenholme, B.N. (eds). The Avocado:
Botany, production and Uses. CAB- Publishing, 2002. p.135-160.

SINGH, D.K. Triazole Compounds in Horticulture. New Delhi:


Agrotech Publishing Academy UDAIPUR, 2001. 120p

STASSEN, P.J.C.; SNIDJER, B.; BARD, Z.J. Results obtained by


pruning overcrowed avocado orchards. Revista Chapingo Série
Horticultura, v.5, p.165-171, 1999.

STASSEN, P.J.C.; DAVIE, S.J. Manipulation of avocado trees- pru-


ning. South African Avocado Growers’ Association Yearbook,
v.19, p.73-76, 1996.
sistemas de podas • 165

SUPO, F. R. El Aguacate. México: A.G.T. Ed., 1982. 167p.

TOERIEN, J.C.; BASSON, A.M. An investigation into thining of na


avocado orchard. South African Avocado Growers’ Association
Yearbook, v.3, p.59-60, 1979.

WHILEY, A. W.; WINSTON, E.C. Effect of temperature at flowering


on varietal productivity in some avocado-growing areas in Australia.
South African Avocado Growers’ Association Yearbook, v.10, p.8-
11, 1987.

WHILEY, A.W.; SARANAH, J.B.; WOLSTENHOLME, B.N. ;


RASSMUSSEN, T.S. Use of paclobutrazol sprays at mid-anthesis for
increasing fruit size and yield of avocado (Persea americana Mill. Cv
Hass). Journal of Horticultural Science, v.66, p.593-600, 1991.

WITJAKSONO; SCHAFFER, B.A.; COLLS, A.M.; LITZ, R.E.;


MOON, P.A. Avocado shoot culture, plantlet development and net CO2
assimilation in an ambient and CO2 enhanced environment. Vitro Cel-
lular & Developmental Biology –Plant, v.35, n.3, p.238-344, 1999.

WOLSTENHOLME, B. Some thoughts on flowering in avocado


trees. Journal of the South African Avocado Growers Association,
v.10, p.3-4, 1990.

WOLSTENHOLME, B. Ecology: Climate and the edaphic environ-


ment. In: WHILEY, A.; SCHAFFER, B.; WOLSTENHOLME, B.N.
(eds). The Avocado, Botany, Production and Uses. CABI Publishing,
2002. 233 p.

WOLSTENHOLME, B.N; WHILEY,A.W.; SARANAH, J.B. Mani-


pulating Vegetative: Reproductive Growth in Avocado (Persea Amer-
icana, Mill) with Paclobutrazol Foliar Sprays Scientia Horticultu-
rae, v.41 p.315-327, 1990.
DOENÇAS DO ABACATEIRO

Ariane da Cunha Salata1


Aloísio Costa Sampaio2

Introdução
Muitas doenças podem atacar o abacateiro, destacando-se as
causadas por fungos, porém existe uma virose que é relativamente
importante, outras doenças como as causadas por microplasma e vírus
que tem sido relatadas, mas ainda com disseminação pequena.
As principais doenças que ocorrem são: gomose, antracnose, oídio,
verrugose, cercospora, podridão dos frutos, murcha, podridão radicu-
lar, cancro do tronco, fumagina e mancha das folhas. Estas doenças
podem ocorrer com maior ou menor intensidade, dependendo das
condições ambientais.

Gomose
Essa doença tem como agente causador o fungo Phytophtora cin-
namomi Rand, que destrói as raízes e causa a morte da árvore. A planta
atacada exibe uma exsudação branca cristalina na casca do tronco,
próximo as fendas enegrecidas. O ataque do fungo à raiz produz ne-
crose progressiva em plantas de todas as idades, pode eliminar boa
parte das raízes e causar lesão no tronco, ao nível do solo e acima
deste.
Os sintomas externos da doença podem ser assim descritos: depau-
peramento progressivo da planta; perda de cor das folhas; produção
de folhas menores e de frutos pouco desenvolvidos; ramos secos e
desfolhação; queda de produção, morte da planta. Esse fungo se de-
senvolve em solos úmidos e mal drenados, por mudas de viveiros
infectados e por sementes e não se conhece porta enxerto resistente.
A única medida passível de resultado é evitar os solos pesados e mal
drenados e o plantio acima do nível do solo, além da aquisição de
mudas de qualidade, remoção de restos culturais, cuidado com balanço
nutricional, evitando-se níveis elevados de N, pH alcalino e deficiência
1
Mestre em Agronomia. Aluna de doutorado do PPGA/Horticultura/UNESP/Botucatu. ariane_salata@yahoo.
com.br
2
Docente do Depto de Ciências Biológicas da UNESP/FC/Bauru e do Curso de Pós-graduação em Horticul-
tura/FCA/UNESP/Botucatu. – aloísio@fc.unesp.br
168 • ABACATE

de Ca e P.
Como medida curativa, devem remover-se os tecidos afetados e
proteger as regiões com pasta à base de fungicida cúprico. Tem sido
recomendado o uso de fosetyl e metalaxyl como tratamento foliar e
do tronco. Recentemente, foi desenvolvido um tipo de controle com
aplicação de ácido fosfórico injetável (Figura 1), cujo custo, entretanto
é muito alto, porém é um método muito eficiente.

Figura 1. Detalhe da aplicação de ácido fosfórico no tronco de abacateiro


na Fazenda Jaguacy, Bauru (SP). (FOTO: Aloísio Costa Sampaio)

Em junho de 2006, implantou-se projeto de pesquisa na Fazenda


Jaguacy utilizando mudas enxertadas de Hass sobre Dusa, porta-en-
xerto importado da África do Sul, cujo contrato de cessão do material
foi realizado entre a Fazenda Jaguacy e a Westfalia. Nos países que
empregam o Dusa como porta-enxerto, há um aumento de produtivi-
dade ao redor de 25% em relação à porta-enxertos comuns utilizados
no Brasil, possivelmente em função da maior tolerância desde porta-
enxerto ao fungo de solo Phytophtora cinnamomi Rand. As mudas
(Figura 2) antes de serem plantadas juntamente com material de Hass
enxertado com porta-enxerto comum (tratamentos), foram analisadas
DoenÇAS do abacateiro • 169

pelo Complexo Quarentenário do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvi-


mento do Jardim Botânico do IAC.

Figura 2. Vista geral das mudas enxertadas de Hass sobre Dusa, na Fazenda
Jaguacy, Bauru (SP), provenientes da África do Sul. (FOTO: Aloísio Costa
Sampaio)

Antracnose
O agente causal é o Colletrotrichum gloeosporioides Penz. Essa
doença causa danos aos frutos, sendo também atacados os ramos e as
folhas.
Os sintomas mais evidentes são manchas escuras circulares na
casca, além de manchas claras irregulares e purulentas nas folhas que
depois adquirem um tom marron. Nos ramos as manchas são esbran-
quiçadas, nos frutos são arredondadas e de cor escura.
Em condições favoráveis ao patógeno, pode ser observada, sobre
as lesões do fruto, a formação de uma massa gelatinosa, que contém
os conídios do agente. Esta massa constitui fonte de inóculo podendo
ser dispersa para outras partes da planta ou outras plantas nas pro-
ximidades.
O controle é feito com calda bordalesa ou fungicidas à base de
170 • ABACATE

cobre, e também por essa doença ser favorecida por altos níveis de
umidade, a aeração na copa pode ajudar no seu controle. Também o
uso de aspersores foliares utilizando iodo ou extratos de cebola deram
bons resultados no controle dessa doença em frutos de abacate.
Após a colheita, deve ser feita imersão em solução com fungicida
registrado para a cultura durante dois minutos, pois essa doença ataca
desde a frutificação até a pós-colheita.

Oídio
O agente causal é o fungo Oidium perseae, que ataca de prefe-
rência as flores e folhas. Quando o ataque se dá nas flores reduz a
polinização e provoca queda dos frutos.
Os sintomas nas folhas são reconhecidos pelas manchas arredon-
dadas, cloróticas, com pequenas áreas pardas na face superior e man-
chas escuras mal definidas na inferior. Em folhas novas, verifica-se
na superfície inferior mancha com leve massa branca, constituindo as
frutificações do fungo.
As condições que favorecem essa doença são a umidade elevada
(70-80%) e a temperatura de 20ºC, sendo seu desenvolvimento afetado
por chuvas constantes.
O controle é feito com enxofre pó molhável, calda sulfocálcica ou
fungicida recomendado para a cultura.

Verrugose
É uma das principais doenças do abacateiro, atacando folhas e
frutos. As variedades pertencentes à raça antilhana são mais resistentes.
O agente causal é o fungo Sphaceloma persea, Jenkins, que ataca de
preferência folhas e frutos quando novos.
Os sintomas surgem no limbo ou na nervura. As manchas são de
cor parda e quando em grande número, deformam e causam rompi-
mento do limbo foliar, daí constituir doença importante nos viveiros,
por afetar o desenvolvimento inicial da planta. Os frutos são atacados
quando novos e as lesões que se formam durante o desenvolvimento
resultam em cicatrizes de cor parda que se distribuem no sentido lon-
gitudinal.
A disseminação do patógeno é realizada pela água das chuvas e
pelo vento. Temperatura baixa e a umidade elevada favorecem a espo-
DoenÇAS do abacateiro • 171

rulação do fungo que infecta os tecidos novos e suculentos das folhas,


ramos e frutos do abacateiro. As folhas jovens sofrem o ataque do
fungo até atingirem um mês de idade, enquanto os frutos novos estão
sujeitos à ação do patógeno por um período aproximado de dois meses
de idade, desde que ocorram condições favoráveis ao seu desenvolvi-
mento, sendo os frutos extremamente susceptíveis ao patógeno, logo
após a queda das pétalas.
Em condições desfavoráveis, o fungo sobrevive nas folhas infecta-
das. Quando há aumento de umidade e baixa temperatura, o fungo
esporula e infecta os tecidos novos e suculentos das folhas, ramos e
frutos, formando, então, características da doença, nas quais produz
as formas de reprodução.
O controle é feito eliminando-se os ramos secos e com calda
bordalesa ou fungicidas à base de cobre e oxicloreto de Cu a 2%. A
primeira aplicação deve ser feita no início do período de vegetação,
devendo-se seguir duas ou três vezes durante o ano, num intervalo de
20 a 30 dias dependendo das condições.

Cercosporiose
Tem como agente causal o Cercospora purpurea CKE, cujo fungo
causa danos aos frutos, às folhas e aos ramos.
Os frutos atacados caem, principalmente quando a infecção atinge
a região do pedúnculo. As lesões são circulares, pequenas, ligeira-
mente deprimidas. Nas folhas, são como pontos marrons, com 2 mm
de diâmetro, que quando aglutinados apresentam aspectos típicos. A
doença incide nas variedades mais tardias, e o cultivar Wagner parece
ser o mais suscetível.
Condições favoráveis, iniciam-se gradativamente na primeira
metade do período chuvoso, com pico em junho e julho, que é quando
inicia a queda das folhas. Permanece na cultura por infecções foliares.
Sua disseminação se dá pelo vento.
Controle é o mesmo da verrugose e além do uso de cultivares
resistentes.

Podridão dos frutos


Os agentes causais são: Diplodia natalensis Pol Evans , Hender-
sonia sp., Rhizopus nigricans, causadores de podridões pretas, verdes
172 • ABACATE

e vermelhas dos frutos.


A infecção normalmente ocorre quando os frutos ainda se encon-
tram em desenvolvimento na árvore. Localiza-se no tecido do pedún-
culo, em estado latente e se desenvolve após a colheita.
O controle é feito com pulverização com produtos cúpricos. O
tratamento é feito após a colheita com fungicidas recomendados para
a cultura.

Murcha
Tem como agente causal o Verticillium alboatrum, que causa a
murcha de ramos e folhas. Estas se escurecem e caem facilmente das
folhas.
A doença ocorre quando há ferimentos nas raízes, solo úmido,
mas não encharcado e em solos nos quais anteriormente se cultivaram
plantas hospedeiras. As variedades guatemalenses são mais sensíveis
ao fungo.
O controle é feito pela poda dos ramos afetados, a aeração do solo
e a aplicação de fungicidas cúpricos. Se tiver muito afetada, a árvore
deve ser erradicada e o local desinfetado para o replantio.

Podridão do tronco
Tem como agente causal Nectaria galligena que é favorecida
pela alta umidade.
Os sintomas são: manchas negras e oleosas que aparecem no tron-
co eliminando um exsudado branco de cheiro característico.
É possível controlar essa doença no seu início com o pincelamento
do tronco com cal e sulfato de cobre, após a limpeza e a raspagem da
área que também pode ser pintada com tinta de vinil.

Podridão das raízes


Agente causal Rosellinia necatrix. Não tem grande importância
econômica, sendo problema apenas em áreas isoladas, principalmente
em áreas recém desbravadas.
Sintomas iniciais são murcha e lesões que lembram deficiências
nutricionais, caracterizadas por amarelecimento foliar. É uma doença
que se manifesta lentamente, demorando meses ou anos para matar a
planta. Caracteriza-se por murcha ou seca das folhas novas, gerando
DoenÇAS do abacateiro • 173

seca dos ponteiros que pode ser em toda a planta ou em alguns dos
lados, correspondendo ao lado do sistema radicular afetado. Nas raízes
aparece podridão e coloração branca logo abaixo da casca.
Facilmente encontrado em restos de troncos, raízes mortas ou ma-
téria orgânica devido a sua capacidade saprofítica. Com alta umidade
pode observar-se cordões miceliais negros sobre as raízes ou sobre a
matéria orgânica próxima a planta afetada.
O controle recomendado é evitar o plantio em áreas recém desbrava-
dos ou em regiões muito ricas em matéria orgânica, amontoar e queimar
restos de cultura e raízes presentes no solo, eliminar plantas doentes e seus
sistemas radiculares, evitar o plantio em solos úmidos, evitar ferimentos
nas plantas principalmente nas raízes e utilizar porta-enxertos resistentes.

Fumagina
Agente causal Capnodium sp, pode ocorrer em ramos, folhas e
frutos, mas não é uma doença muito comum no abacateiro. Controle
com cúpricos.

Outras doenças
Das doenças causadas por outros microorganismo que não os fun-
gos, o sum blotch é a principal, ocorrendo em vários países. É causada
por um vírus que se transmite até pela semente.
Os sintomas típicos são: manchas cloróticas nas folhas, frutos e
ramos que debilitam a planta. A sun blotch pode ser transmitida pelo
pólen, embora em pequena proporção, de 1 a 3%.
Novas doenças foram estudadas, como um cancro bacteriano, uma
doença de stem pitting, o black streak, de causa ignorada, e outras
viroses de etiologia desconhecida, porém potencialmente perigosas
para a cultura do abacateiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, M. H. C.; MELO, B. Cultura do abacateiro. Disponí-


vel em: < www.fruticultura.iciag.ufu.br>, acesso em 16 de março
de2007.

El cultivo del aguacate. Disponível em: <www. infoagro.com.>, aces-


174 • ABACATE

so em 16 de março de 2007.

EMBRAPA. Abacate para exportação: aspectos técnico da


produção. Ministérios da Agricultura, do abastecimento e da refor-
ma agrária, secretaria de desenvolvimento rural, programa de apoio à
produção e exportação de frutas, hortaliças, flores e plantas ornamen-
tais. Brasília – SPI, 2 ed. 1995. 3p.

MICHEREFF, S. J. Antracnose. Disponível em: <www.ufpel.tche.


br>, acesso em 16 de março de 2007.

MICHEREFF, S. J. Verrugose. Disponível em: <www.ufpel.tche.


br>, acesso em 16 de março de 2007.

SIMÃO, S. Tratados de fruticultura. pág. 236-238. 1998.


PRINCIPAIS PRAGAS DO ABACATEIRO

Luiza Maria de Souza Fernandes1

1- Introdução
A cultura do abacateiro é uma atividade agrícola de grande po-
tencial de exploração em climas subtropicais, tropicais, semi-árido, e
com excelente adaptação ao solo de cerrado. Entretanto um dos fatores
determinantes da produção do abacateiro esta relacionado à pragas e
doenças, que constituem componentes importantes do manejo desta
cultura
Praga, segundo Houaiss (2001) é qualquer forma de vida animal
que possa destruir aquilo que o ser humano considera um bem seu.
O conceito agronômico para pragas, é baseado em danos causados
por insetos a uma cultura com perdas econômicas.
O ataque de pragas assim como surgimento de doenças no cultivo
de abacateiro é favorecido por fatores ambientais tais como: clima
(temperatura e precipitações pluviométricas) e características físicas
do solo. A forma de manejo do solo e os tratos culturais do abacateiro
podem exercer influência no controle de pragas e doenças.
As principais pragas na cultura do abacate no Brasil são: lagarta
do fruto ou chamada de broca do fruto, lagarta das folhas, coleobrocas
e cochonilhas. Em outros países há registro de ataques de ácaros e
tripes em abacateiro.

1.1 - Ácaros
A literatura brasileira não cita ataque de ácaros em abacateiro,
mas em outros paises, como no México, existem referencias aos da-
nos provocados por espécies de ácaros vermelhos. Koller (2002) cita
as espécies Olioninchus punicae e Paratetraninchus yorthersi. Estas
espécies atacam as folhas raspando as aberturas estomatais, afetando
a transpiração e fotossíntese, sendo que em ataques severos as folhas
podem apresentar coloração marrom roxo, levando a um grande des-
folhamento da planta.

1
Bióloga /SEDUC/MT, MSc em Agricultura Tropical, Doutoranda em Horticultura-FCA - UNESP
176 • ABACATE

Tabela 1 - Principais pragas do abacateiro e conseqüências do


ataque.
Pragas Espécies Parte atacadas Conseqüências
- Oligoninchus punicae Folhas ( raspando Afeta a transpi-
Ácaros - Paratetranichus as aberturas esto- ração e diminui a
yorthersi matais) fotossíntese
- Frutos caem ou
- Sternocolaspis - folhas novas e amadurecem preco-
Besouros quatuordecimcostata frutos cemente
- Costalimaita -folhas novas - diminuição da
ferruginea vulgata área foliar
- grande quantidade
de seiva sugada
- Aspidiotus destructor -Folhas - inoculação de
Cocho- - Protopulvinária (pagina inferior ) substâncias tóxicas
nilhas longivalvata e frutos - excremento açu-
carado- atração de
formigas e fungos.
Ramos e galhos
- Apate terebrans -Tronco, ramos atacados secam e
Coleo- - Acanthoderes jaspi- e especialmente morrem
brocas dea frutos Os galhos semi-
- Heillipus cratagra- cerrados secam e
phus caem
- Frutos novos
- Stenoma catenifer - Frutos novo e caem e desenvolvi-
Lagartas Wals desenvolvidos dos são comercial-
- Papilo scamander e - Folhas mente inutilizados
Saurita cassandra - Sem causar danos
expressivos
Fonte: Adaptação de Donadio (1995)
Principais pragas • 177

1.2- Besouros

Sternocolaspis quatuordecimcostata

Descrição: É um besouro de coloração geralmente verde – azulada


brilhante, apresenta carenas longitudinais nos élitros; as antenas são
negras azuladas, com 11 segmentos. Os machos medem cerca de 7 mm
de comprimento e as fêmeas ,10 mm. Após o acasalamento, ela efetua a
postura no solo, a pouca profundidade, sendo os ovo postos em grande
número e aglomerados. As larvas vivem no solo e os adultos, após sua
emergência, atacam a parte aérea das plantas. A época de ocorrência é
de outubro a fevereiro, com maior intensidade de janeiro a fevereiro.
Prejuízos: Atacam a parte aérea das plantas, o limbo das folhas no-
vas fica perfurado ou totalmente destruído. O ataque mais importante é
nos frutos verdes que caem ou provocam amadurecimento precoce.

Costalimaita ferruginea vulgata

Segundo Campos (1984), o adulto tem forma quase elíptica, mede


5 a 6,5 mm de comprimento e apresenta cor creme amarelada. O be-
sourinho ataca, de preferência, as folhas e frutos relativamente novos,
danificando-os e causando sérios prejuízos.

1.3- Cochonilhas
Donadio (1995) descreve varias espécies como pragas do aba-
cateiro as quais são: Aspidiotus destructor, Protopulvinaria longival-
vata, Protopulvinaria pyriformis, Saissetia hmisphaeria. Chysonpha-
lus dictyospermi, Aspidiotus spp. e Dysmicoccus alazan. Tanto Gallo
eti al. (2002) e koller (2002), destacam somente as duas primeiras
espécies que merecem atenção. Referenciam como pragas que atacam
as folhas, sendo que a primeira pode atacar também os frutos.
Descrição: São insetos desprovidos de carapaça, de forma acha-
tada, piriforme, estriada. Coloração vermelho-acastanhada, medindo
aproximadamente 3 mm de comprimento. Vivem na página inferior
da folha, em colônias.
Danos: Constante sucção da seiva e inoculação de substâncias
tóxicas. Devido a eliminação de excrementos açucarados, atraem as
178 • ABACATE

formigas e fungos causador de fumagina.


Controle: Segundo Gallo et al. (2002), o controle pode ser feito
com pulverizações de óleo mineral ou vegetal a 1%, juntamente com
fosforados sistêmicos ou não. Fazer duas aplicações espaçadas de 20
dias quando se empregar somente óleo. Koller (2002) acrescenta que
no período de inverno é conveniente fazer aplicação a 2%. Alerta para
evitar queimaduras em frutos e folhas novas, devem-se evitar apli-
cações nas horas de maior incidência de luz e quentes do dia. Alerta
ainda que, antes de iniciar o controle, é importante a observação da
atuação dos inimigos naturais que existem no meio ambiente dos quais
se pode relacionar micro himenópteros joaninhas e diversas espécies
de fungo.

1.4- Coleobrocas
São besouros que geralmente atacam ramos e troncos do aba-
cateiro, além dos frutos. Segundo Donadio (2002), os besouros podem
apresentar coloração preta, castanha ou cinza. Entre as espécies pra-
gas de importância econômica no Brasil destacam-se Apate terebrans,
Acanthoderes jaspidea e Heeillipus cratagraphus.
A espécie Apate terebrans apresenta coloração preta, com élitros
finamente pontuados. Medem aproximadamente 25 mm de compri-
mento e têm antenas pequenas. Suas larvas são esbranquiçadas, do
tipo escarabeiforme. Abrem galerias nos ramos e troncos do abacateiro,
dentro das quais vivem os adultos.

Acanthoderes jaspidea
São besouros de coloração cinza-escura com pontos e manchas
marrons sobre o élitro. Medem aproximadamente 25 mm de compri-
mento, com antenas longas. A fêmea deposita um ovo no ramo e em
seguida, faz uma incisão anelar logo abaixo em direção ao tronco,
cortando totalmente a casca e boa parte do lenho. Após alguns dias,
o galho serrilhado seca, condições indispensáveis às larvas que só se
desenvolvem em madeiras secas, que caem facilmente ao solo. Nele
as larvas se desenvolvem ate chegar ao adulto. As larvas são esbran-
quiçadas, ápodas.
Principais pragas • 179

Heillipus cratagraphus
É um curculionídeo, no estágio adulto mede 17 mm de compri-
mento, de coloração castanho-escura. Com habito de fazer perfurações
nas cascas dos galhos e tronco, coloca seus ovos, um em cada orifício.
As larvas se desenvolvem abaixo da casca denunciando sua presença
pela serragem expelida e por um liquido branco que escorre dos ori-
fícios. Suas larvas são de coloração creme e cabeça escura, não têm
patas, podendo atingir 16 mm de comprimento.
Controle: A população A. jaspidea pode ser controlada pelo re-
colhimento sistemático e queima dos ramos serrados à medida que
caem no chão.
As outras duas espécies também podem ser controladas através
da poda (bem abaixo da região atacada)dos ramos secos e queima do
material podado.
Segundo Simão (1998) e Koller (2002), o controle pode ser feito
através de pulverização de inseticida fosforado e fosfina em pasta nos
orifícios feitos pela broca. O segundo autor alerta que o uso freqüente
e indiscriminado de inseticidas além de ser caro pode provocar o dese-
quilíbrio biológico, favorecendo o aparecimento de outras pragas, não
condenando o uso, mas o indicando apenas em casos em casos espe-
ciais e no momento propício em que ocorre a postura, ocasião em que
as coleobrocas são vulneráveis.

1.5- Lagartas ou broca dos frutos

Este inseto tem sido relatado como uma das pragas mais impor-
tantes na cultura do abacateiro, trazendo sérios prejuízos tanto a nível
internacional como nacional. Em diversas regiões de São Paulo e
Paraná nos últimos anos, a cultura do abacate vem sofrendo crescentes
e severos ataques da broca, Stenoma catenifer (Wals.) causando sérios
prejuízos ( Medina, 1978; Hohmann & Meneguim,1993).
Stenoma catenifer é a principal praga do abacateiro (Persea ameri-
cana Mill.) na região Neotropical, sendo registrada desde o México até
o norte da Argentina. No Brasil, ocorre nas principais regiões produ-
toras, incluindo o Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo
(Medina 1978).
O ataque desta praga ocorre desde o estagio inicial de desenvolvi-
180 • ABACATE

mento dos frutos, acarretando queda prematura e depreciando o valor


comercial dos mesmos.
O adulto é uma mariposa, cujas asas são de coloração branca palha
a esverdeada, classificada como Stenoma catenifer. O adulto faz uma
pequena ranhura na casca onde deposita seus ovos, dando origem a
lagartas, as quais logo penetram no fruto brocando a polpa em direção
a semente, da qual se alimenta. Na fase mais adiantada de crescimento
a broca expele para fora seus excrementos pela galeria aberta na polpa.
Quando bem desenvolvida, mede aproximadamente 15 mm de com-
primento, cor cinza esverdeada com estrias transversais cor de rosa
sobre o dorso.
Os ovos de S. catenifer são colocados isoladamente, próximos ao
pedicelo do abacate (Hohmann et al. 2000). Após a eclosão, as lagartas
penetram nos frutos, alimentando-se inicialmente da polpa e posterior-
mente podem atingir a semente (Hohmann et al. 2000). O ataque pode
ocorrer também em galhos novos e pedúnculos de frutos pequenos, por
meio de galerias próximas à casca (Wille 1952). Os danos provocados
pela broca-do-abacateiro variam em função da cultivar, do ano, do
local e do manejo da cultura, podendo haver perdas totais (Hohmann
& Meneguim 1993). Ventura et al. (1999) observaram que a cultivar
Beatriz é mais suscetível ao ataque da broca em relação à 'Margarida',
embora ambas possam apresentar, no final do ciclo, perdas próximas
de 97 e 81%, respectivamente.
A distribuição vertical de S. catenifer em abacateiro ainda existem
poucos estudos, embora sejam essenciais para a compreensão do com-
portamento relacionado ao ataque e estabelecimento de estratégias
de controle desta praga. Características da planta tais como altura e
arquitetura, podem ser limitantes para a eficácia dos inseticidas uti-
lizados, desde que os pulverizadores disponíveis não propiciam boa
cobertura dos frutos, especialmente daqueles encontrados na parte
superior (Hohmann et al. 2003). Por outro lado, o controle cultural
tem sido citado como complementar ao químico, e se baseia na coleta
dos frutos infestados localizados nas plantas de abacate e no chão, e
posterior destruição dos mesmos (Gallo et al. 2002).
Nava et al. (2006), estudando a distribuição vertical, os danos e
verificando o efeito do ensacamento dos frutos infestados na sobre-
vivência de S. catenifer, em um pomar comercial de abacate, obser-
Principais pragas • 181

varam que ao longo da safra 2002/2003 a queda de frutos, devido ao


ataque da broca, ocorreu em três épocas. A primeira no final de março
e início de abril, a segunda no mês de julho e a terceira no final da
safra agrícola, no mês de agosto. Essas perdas, apesar de variáveis,
foram crescentes ao longo da safra, sendo registradas quedas de até 6%
nos frutos em uma única quinzena. Assim, de março a agosto, a perda
acumulada foi de 27%, correspondendo a 1/4 da produção. Quanto
ao ataque em relação a altura, o número de frutos infestados por S.
catenifer, nas alturas inferior, média e superior foi de 2,7; 4,1 e 0,7;
correspondendo a 35,6; 54,5 e 9,8%, do total coletado.
Controle: O controle é dificultado pela falta de técnicas eficientes
de monitoramento e pela inexistência de inseticidas registrados para
combater a praga. Nos últimos anos vem sendo conduzidos trabalhos
de medidas alternativas de controle como a catação e destruição de
frutos caídos. Isso impede que a praga complete seu ciclo no solo,
reduzindo as populações das gerações seguintes. Uma outra medida
alternativa é presença de outra cultura mesmo que seja erva daninha,
aumentando a diversidade de plantas e insetos hospedeiros, permitindo
assim o estabelecimento de vários grupos de inimigos naturais que
podem contribuir na redução da população de S. catenifer. Os inimi-
gos naturais mais freqüentes são citados os parasitóides de lagartas
pertencentes às famílias Ichneumonidae (Eudeldeboea costa neto) e
Braconidae (Apanteles desantisi), segundo Hohmann & Meneguim
(2006), estes parasitóides apresentam níveis de parasitismo próximo
de 10% e que a presença de nematóides entomopatogênicos em cerca
de 18% dos espécimes coletados.
Estudos conduzidos no Norte do Paraná para avaliar a tendência de
ataque da broca por cultivares de abacate, como também a eficiência
de inseticidas piretroides no controle de S. catenifer. Foi observado
por Hohmann et al. (2000), que todos os piretróides utilizados foram
eficientes no controle apresentando alta redução de danos ocasionados
pela praga em estudo, esta eficiência de controle foi acima de 93%,
em comparação com a testemunha, mesmo quando reduziu a dose de
um dos piretroides (deltametrina) em cerca de 30%.
182 • ABACATE

Tabela 2 - Avaliação da eficiência de piretróides no controle de


Stenoma catenifer em abacateiro variedade Margarida.
Porcentagem
Ingredientes Dose Eficiência de media cumulativa
ativo (g i.a./100l água) controle (%) 1,2 de frutos atacados
Cipermetrina
(200 CE) 6,00 94 2,28
Deltametrina
(25 CE) 1,75 99 0,32
Fenvalerato
( 750 CE) 37,50 98 0,88
Permetrina
( 384 CE) 19,20 97 1,16
Testemunha - - 39,07
Fonte- Hohmann et al.(2000)
1 Habbot (1925)
2 Nove pulverizações (dezembro-91 a junho-92

Esta praga tem provocado o uso abusivo de inseticida ou abandono


da cultura. Falta pesquisa para determinar uma maneira de controle
desta praga que se torne viável ao produtor, pesquisas de controle
integrado, utilizando controle biológico e técnicas de manejo para per-
manência de inimigos naturais, uso de feromônio e outras práticas para
que venha diminuir a incidência e reinfestaçao da praga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS,J.S. Cultura Racional do Abacateiro. Campinas: Ícone,


1984

DANADIO, Luiz Carlos. Abacate para exportação: aspectos técnicos


da produção. 2 ed. Brasília: EMBRAPA - SPI,1995. p.31-32.

GALLO, D.; NAKANO O.; SILVEIRA NETO S.; CARVALHO


R.P.L.; BATISTA G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA J.R.P.; ZUCCHI
Principais pragas • 183

R.A.; ALVES S.B.; VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES


J.R.S. & OMOTO C.. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ,
2002. 920p.  

HOHMANN, C.L.; SANTOS, W. J.dos; MENEGUIM, A.M. Avalia-


ção de técnicas de manejo para controle da broca-do-abacate, Steno-
ma catenifer (Wals) (Lepidopptera: oecophoridae). Revista Brasilei-
ra de Fruticultura. Jaboticabal, v. 22,n.3, p.359-363, 2000.

HOHMANN, C.L.; MENEGUIM, A.M. Observações preliminares


sobre a ocorrência da broca-do-abacate, Stenoma catenifer Wals. no
Estado do Paraná. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil,
Viçosa, 1993 v. 22, p.417-419.

HOHMANN, C.L., MENEGUIM, A.M.; ANDRADE, E.A.; NO-


VAES T.G. & ZANDONÁ, K.. The avocado fruit borer, Stenoma
catenifer Wals. (Lepidoptera: Elachistidae) egg and damage distribu-
tion and parasitism. Rev. Bras. Frutic. 25: 432-435, 2003.

KOLLER, O.C. ABACATICULTURA. Porto Alegre. Ed. Da Uni-


versidade UFGRS, 1984. 138p.417.

KOLLER, O. C. Abacate: produção de mudas, instalação, manejo


de pomares, colheita e pós – colheita. Porto Alegre: Cinco Conti-
nentes, 2002.

MEDINA, J. C. Abacate: da cultura ao processamento e comerciali-


zação. Ital. Campinas, 1978. 73p. ( Série Frutas tropicais).

NAVA, D. E.; PARRA, J. R.P.; BENTO, J. M.S.; DIEZ-RODRI-


GUEZ, G. I.; HADDAD, Marinéia L. Distribuição vertical, danos
e controle cultural de Stenoma catenifer Walsingham (Lepidoptera:
Elachistidae) em pomar de abacate. Neotropical Entomology. Lon-
drina v.35 n.4, 2006.

SIMÃO, Salim.Tratado de fruticultura. Piracicaba: FEALQ,1998.


184 • ABACATE

Ventura, M.U.; DESTRO U.D.; LOPES E.C.A. & MONTALVÁN R.


Avocado moth (Lepidoptera: Stenomidae) damage in two avocado
cultivars. Fla. Entomol. 1999 82: 625-630.  

WILLE, J.E. Entomologia agrícola del Perú. Estación Experimental


Agrícola. La Molina, 1952. Publicación Especial, 543p.  
COLHEITA DO ABACATE

Gláucia Cristina Moreira1


Douglas Seijum Kohatsu2

A colheita apresenta como principais objetivos à retirada dos


produtos do campo em níveis adequados de maturidade, com um
mínimo de dano ou perda, com a maior rapidez possível e com um
custo mínimo (CHITARRA e CHITARRA, 2005).
Ponto de colheita, ou de “maturação fisiológica” é o momento ou
época em que o desenvolvimento fisiológico do fruto atingiu um está-
gio tal, que a polpa do fruto, após colhido, amolece apropriadamente
e adquire um sabor mínimo aceitável (KOLLER, 2002).
Segundo Chitarra e Chitarra (2005), maturidade fisiológica refere-
se ao estádio de desenvolvimento da fruta, no qual ocorrem o cresci-
mento máximo e a maturação adequada, para que a ontogenia continue
após a colheita.
A identificação do ponto de colheita é difícil porque, em geral, a
polpa dos abacates não amolece, enquanto os frutos permanecem na
árvore. A maturação completa, tornando os frutos aptos para o con-
sumo, só ocorre alguns dias após a colheita (KOLLER, 2002).
Nas variedades das raças antilhana e mexicana, os frutos caem
um a dois meses, após atingida a maturação fisiológica e então, a
polpa amolece rapidamente, dentro de um a três dias, restando pouco
tempo para a comercialização, até chegarem às mãos do consumidor.
Por outro lado, em cultivares guatemalenses ou híbridos, como Hass
e Ouro Verde, os frutos podem permanecer nas árvores, aptos para a
colheita, durante um período de até 6 meses (KOLLER, 2002).
Para que o produtor não venha a ter prejuízos econômicos, o ideal
é não deixar que os frutos amadureçam completamente nas árvores.
Se os frutos amadurecerem nas árvores, ao caírem no chão, sofrem
injúrias, não permitindo seu manuseio, transporte e por conseqüência,
sua comercialização.
Segundo Chitarra e Chitarra (2005), todas as frutas, com algumas
exceções como o abacate e a banana, atingem sua melhor qualidade
comestível quando amadurecem na planta.
1
Eng. Agrônoma, Doutoranda pelo Departamento de Produção Vegetal-Horticultura, Faculdade de Ciências
Agronômicas/FCA/UNESP – Cx. P. 237 – CEP 18610-307 - Botucatu, SP – gcmoreira@fca.unesp.br
2
Eng. Agrônomo, Doutorando pelo Departamento de Produção Vegetal-Horticultura, Faculdade de Ciências
Agronômicas/FCA/UNESP – Cx. P. 237 – CEP 18610-307 - Botucatu, SP – kohatsu@fca.unesp.br
186 • ABACATE

Os frutos de certas cultivares, entretanto, mesmo após o completo


desenvolvimento fisiológico, podem permanecer na árvore durante
algum tempo (dias ou semanas), sem que a sua qualidade interna e
externa se altere. Isso ocorre, em geral, na época em que a temperatura
da região do pomar está sob controle. Essa característica é observada
principalmente nos cultivares Hass, Prince e Wagner (BLEINROTH,
1995).

Figura 1 – Abacate em ponto de colheita (“maturação fisiológica”).


(Foto: Gláucia Cristina Moreira)

Segundo Bleinroth (1995), para a determinação do ponto de co-


lheita do abacate, tem-se recorrido a vários parâmetros, tais como:
1. Aderência do pedúnculo: é considerada em parte, como um
índice de maturação. A aderência do pedúnculo é tanto maior quanto
mais verde for o fruto. Quando este amadurece, o pedúnculo se des-
prende facilmente.
2. Coloração da casca: em geral, a cor da casca do abacate apre-
senta–se brilhante enquanto o fruto está verde. À medida, porém, que
este vai amadurecendo, ela vai tornando-se opaca. Neste estádio a
maturação se completa em menos de sete dias. Poucas variedades de
abacate apresentam casca de cor púrpura na maturação. A maioria sofre
pouquíssimas mudanças na cor da casca, o que dificulta o reconheci-
colheita do abacate • 187

mento do ponto ideal de colheita. Há cultivares que, quando maduros,


apresentam casca verde, mas têm em sua superfície pequenas manchas
ou pontos de cor marrom ou amarela.
3. Característica da polpa: para verificá-la, deve tomar-se alguns
frutos bem desenvolvidos, localizados no lado da copa que não é
atingida pelos raios solares. A polpa desses frutos deve ter uma cor
verde-clara uniforme. A coloração desuniforme ou esbranquiçada in-
dica que o fruto está muito verde. Este, quando colhido, não amadurece
em boas condições para o consumo.
4. Revestimento do caroço: o caroço do abacate, quando o fruto
ainda está verde, encontra-se recoberto por um tegumento carnoso,
espesso, de cor branca. Com o início do processo de maturação, esse
tegumento diminui de espessura e adquire uma coloração marrom. Este
índice, entretanto, não deve ser tomado com absoluta segurança, uma
vez que nas análises realizadas nos frutos verdes de diversas variedades
foi constatada a presença dessa película marrom em distintas épocas.
Frutos que se desenvolveram sob condições de insolação excessiva e
em conseqüência sofreram danos pelo calor, ou frutos armazenados
sob condições impróprias, também apresentam a película do caroço
com coloração marrom.
5. Peso e volume: conhecido o peso do fruto de cada cultivar
pode-se pela calibração do seu diâmetro, obter uma medida indicativa
para a colheita.
6. Densidade do fruto: este método de determinação da maturação
é simples, rápido e não causa danos aos frutos. Consiste na determina-
ção do seu peso específico real, cujos valores decrescem com a matu-
ração. Em geral, nos frutos verdes, esses valores situam-se entre 1,02
e 0,95 g/cm3, e nos maduros, entre 0,90 e 0,85 g/cm3. Variações muito
grandes podem ocorrer nessa determinação, que não dependem apenas
da composição do fruto, mas também das diferenças de tamanho do
caroço e da sua cavidade. Frutos com caroço solto têm baixa densi-
dade. Já se demonstrou que o pericarpo varia menos de densidade do
que o fruto inteiro.
7. Resistência da polpa: a aferição da resistência ou da textura da
polpa é feita com a ajuda do penetrômetro, que é introduzido na polpa
do fruto, através da sua punção, após a remoção da casca. São feitas
de duas a três medidas por fruto. Como durante o desenvolvimento
188 • ABACATE

fisiológico o abacate tende a perder umidade, há o endurecimento gra-


dativo da polpa, cuja resistência à penetração aumenta, provocando
a elevação desse índice. Completado o desenvolvimento inicia-se a
fase seguinte que é o amadurecimento do fruto, quando então a sua
consistência começa a diminuir.
8. Teor de óleo: o conteúdo de óleo do abacate é, de um modo
geral, o critério mais utilizado para se determinar a maturação do fruto,
principalmente nos países exportadores. Alguns países admitem como
índice de maturação do abacate um mínimo de 4 a 10% a menos do teor
de óleo do fruto completamente maduro, segundo cultivar e o usam
como indicativo para a colheita. De acordo com a California Avocado
Standard Bill, para que o abacate seja colhido, seu teor de óleo deve
ser, no mínimo, de 8% do seu peso. Esse regulamento, entretanto, não
foi estabelecido só para determinados tipos de abacate; abrange todos
as cultivares existentes, alguns dos quais possuem um teor muito baixo
de óleo, mesmo quando completamente maduros. Este fator, portanto,
não é considerado como um índice satisfatório de referência para que
se proceda à colheita dos frutos.
Segundo Chitarra e Chitarra (2005), a maturidade do abacate pode
ser testada pelo teor de óleo ou colhendo-se algumas frutas para testar o
amadurecimento. As frutas imaturas não amaciam e nem amadurecem
adequadamente, já as frutas maturas, amadurecem entre 3 e 5 dias a
27ºC e em 30 a 40 dias a 4ºC.
Há uma boa correlação entre o teor de óleo e o peso seco, podendo-
se utilizar esse último como índice de maturidade mínima (CHITAR-
RA e CHITARRA, 2005).
O caroço começa a diminuir com o avanço da maturação, até a
maturidade completa, quando ele se torna solto, sendo percebido por
agitação da fruta. Essa prática não é aconselhável por provocar danos
internos ao produto (CHITARRA e CHITARRA, 2005).
Segundo Blumenfeld et al. (1991), existem vários indicadores
do ponto de colheita, porém nenhum deles, por si só, é perfeito, tais
como:
- o tempo necessário para o amolecimento da polpa diminui com o
avanço da maturação fisiológica do fruto, podendo-se então, colher fru-
tos testes, para verificar se o tempo de amadurecimento é adequado;
- a determinação dos teores de óleo e de matéria seca da polpa
colheita do abacate • 189

aumenta com o avanço da maturação fisiológica, podendo ser usados


como indicadores do ponto de colheita, mas eles variam de uma cul-
tivar para outra;
- a época em que normalmente ocorre a colheita, em determinada
região, também é um indicador, mas para a mesma cultivar ela pode
variar mais de 3 semanas de um ano para outro;
- o tamanho e o peso característico dos frutos de cada cultivar é
outro critério que pode ser usado, porém ele pode variar com a carga
de frutos e com as condições climáticas.
Chitarra e Chitarra (2005) citam que, na Califórnia/EUA, durante
muitos anos, utilizou-se um teor mínimo de óleo no abacate como
padrão de maturidade, mas esse índice mostrou-se insatisfatório, uma
vez que alguns cultivares, mesmo apresentando teor de óleo acima do
mínimo requerido, tinham qualidade organoléptica insatisfatória. Por
meio de um painel de avaliação sensorial para determinar a qualidade
da fruta, constatou-se que o padrão de crescimento do abacate pode
ser usado não apenas para determinar a época na qual a maturidade
mínima aceitável é atingida, como também, permite estabelecer a data
da colheita.
Os teores mínimos de óleo para o início da colheita, foram deter-
minados na Califórnia/EUA, por Ranney et al. (1991), como sendo os
seguintes: Bacon, 18,5%, Fuerte, 19,9%, Gwen, 25,9%, Hass, 21,6%,
Pinkerton, 23,0%, Reed, 19,8% e Zutano, 18,8%.
Outro fator que pode ser utilizado para indicar o ponto de colheita
é a força de retenção do fruto ao pedúnculo (FRF). A força necessária
para destacar o fruto do pedúnculo diminui conforme o decorrer da
maturação fisiológica.
Koller (2002), cita que em poucas cultivares, como Hass e Gwen,
ao atingirem o ponto de colheita, os frutos começam a apresentar colo-
ração roxa na casca.
Segundo Chitarra e Chitarra (2005), uma série de fatores deve ser
levada em consideração, durante e após a colheita. Por exemplo, o es-
tabelecimento do período em que será realizada. Colheitas após chuvas
pesadas devem ser evitadas, devendo ser realizadas nos períodos mais
frios do dia, usualmente no período da manhã. Os frutos não devem
ser colocados diretamente no solo, nem ficarem expostos às condições
climáticas ambientais. Os frutos que permanecem descobertos no cam-
190 • ABACATE

po podem adquirir temperatura interna muito elevada, adversa à sua


conservação. O sucesso de uma boa colheita está relacionado com
uma coordenação eficiente das operações, da disponibilidade de mão-
de-obra treinada, transporte, operações nas centrais de embalagem e
demanda de mercado.
Ao realizar a colheita deve-se tomar o máximo de cuidado para
evitar que os frutos sofram qualquer tipo de injúrias. Se a colheita não
for bem feita e ocorrer um ferimento na casca, por exemplo, o fruto
se torna vulnerável à entrada de fungos e consequentemente, ocorre a
podridão dos mesmos, tornando-os impróprios para a comercialização.
Essas injúrias também são responsáveis pela aceleração no amadure-
cimento dos frutos, diminuindo, portanto, sua vida útil.
A supervisão das operações de colheita e do manuseio no campo
deve ser cuidadosa visando proteger os produtos dos danos mecânicos,
os quais podem resultar de quedas do produto nas cestas ou sacos de
colheita, batidas dos contêineres contra as superfícies, transferência
do produto das caixas de campo para os contêineres e superenchi-
mento desses últimos. Cada pequena queda ou impacto é cumulativo
e contribui para a redução da qualidade final do produto (CHITARRA
e CHITARRA, 2005).
Segundo Sanches et al. (2007), as lesões mecânicas, durante o
manejo na colheita e pós-colheita, são responsáveis por perdas sig-
nificativas durante a distribuição e comercialização. Elas afetam dire-
tamente a aparência externa, que é um dos mais importantes atributos
de qualidade das frutas e é o principal fator de rejeição pelo consu-
midor.
As injúrias mecânicas são definidas como deformações plásticas,
rupturas superficiais e destruição dos tecidos vegetais, provocadas por
forças externas. Adicionalmente, levam a modificações físicas (danos
físicos) e/ou alterações fisiológicas, químicas e bioquímicas que modi-
ficam a cor, o aroma, o sabor e a textura dos vegetais (MOHSENIN,
1986).
A suscetibilidade ao dano mecânico é influenciada por vários fa-
tores, como espécie, cultivar, grau de hidratação celular, estádio de
maturação, tamanho, peso, características epidérmicas e condições
ambientais (WADE e BAIN, 1980; KAYS, 1991).
As injúrias mecânicas em frutas são geralmente acompanhadas
colheita do abacate • 191

por elevado número de respostas fisiológicas. Quando tecidos vegetais


são lesionados, ocorre elevação na atividade respiratória e na produção
de etileno, algumas vezes dentro de poucos minutos, mas usualmente
dentro de uma hora (ABELES et al., 1992; BRECHT, 1995). O etileno
acelera a deterioração e a senescência dos tecidos vegetais e promove
o amadurecimento de frutos climatéricos, levando as diferenças na
idade fisiológica entre os tecidos intactos e os feridos (WATADA et
al., 1990).
Injúrias mecânicas podem causar alterações na síntese de pig-
mentos de alguns frutos, tornando-os inviáveis à comercialização
(SANCHES et al., 2007).
No caso do abacate, os danos externos não levam ao efeito ime-
diato e somente quando a fruta amadurece, a polpa se apresenta, parcial
ou totalmente, escura. A queda durante a colheita, a colocação das
frutas nas embalagens e o modo como são transportadas são algumas
das operações que lhes têm causado danos mecânicos, comprometendo
sua qualidade (BLEINROTH e CASTRO, 1992).

Figura 2 – Abacate apresentando injúria mecânica.


(Foto: Gláucia Cristina Moreira).
192 • ABACATE

A colheita de abacates requer muitos cuidados na manipulação,


acondicionamento e transporte dos frutos até o local de beneficiamento
e embalagem. Isso, aliado ao grande tamanho e peso dos frutos, bem
como os galhos quebradiços e a grande altura das árvores, as vezes
superior a 6 ou 7m, torna a colheita como uma das atividades mais
custosas da abacaticultura (KOLLER, 2002).
Os abacates jamais devem ser colhidos sem o pedúnculo. Pelo
contrário, parte deste deve acompanhar o fruto na colheita. É impor-
tante deixar o pedúnculo para evitar a entrada de fungos nos frutos.
Posteriormente apara-se o excesso do pedúnculo com uma tesoura de
poda ou uma faca afiada, para facilitar o acondicionamento na embala-
gem. Constatou-se que em pomares comerciais, o índice de ferimentos
causados nos frutos pelo contato com o pedúnculo de outros frutos
chega a ser relativamente alto, por não se tomarem os devidos cuidados
na hora da colocação dos frutos nas caixas e não se aparar o excesso
do pedúnculo (BLEINROTH, 1995).
Durante as operações de colheita deve-se manter um padrão de
higiene no campo. Os produtos não desejáveis para o mercado de-
vem ser removidos. A colheita deve ser realizada na época certa e
com seleção imediata do produto para possibilitar as operações sub-
seqüentes. Pode-se ainda deixar o produto descartável na planta du-
rante a primeira operação e em seguida, fazer a operação de limpeza
(CHITARRA e CHITARRA, 2005).

Figura 3 - Detalhe da classificação e corte de parte do pedúnculo dos frutos de


abacate cv. Hass na Fazenda Jaguacy, Bauru (SP).(Foto: Vítor Carvalho)
colheita do abacate • 193

Figura 4. Embalamento dos frutos em caixas de papelão ondulado para


exportação na Fazenda Jaguacy, Bauru (SP).
(Foto: Vítor Carvalho)

Em nenhuma circunstância o produto rejeitado deverá permanecer


no solo por períodos longos de tempo, por ser tornar uma fonte de
infecção aos produtos sadios. Preferivelmente, o material que poderá
ocasionar alguma infecção deverá ser destruído. A limpeza adequada
dos instrumentos e equipamentos utilizados na colheita e manuseio
é também de importância fundamental (CHITARRA e CHITARRA,
2005).
Primeiro, são colhidos os frutos mais baixos, ao alcance das mãos,
pelo corte do pedúnculo, rente à casca do fruto. De imediato, operários
habilidosos sobem na árvore e colhem os frutos que estão mais próxi-
mos de galhos grossos e resistentes no interior da copa. Para colher os
frutos da periferia da copa (entre 2 a 4 m de altura) é possível utilizar
escadas com tripé, que não necessitam ser apoiadas nos galhos, desde
que elas sejam apropriadamente fixadas sobre o solo. Finalmente, os
frutos mais altos podem ser colhidos, subindo-se em escadas de apoio,
feitas de metal ou madeira leve e resistente, cuja base é larga, e a ex-
tremidade superior deve ser apoiada firmemente em galhos suficiente-
mente resistentes para não quebrarem (KOLLER, 2002).
A colheita que emprega varas ou ganchos com os quais se bate nos
194 • ABACATE

frutos para derrubá-los da árvore deve ser totalmente abolida. Utilizan-


do-se, em seu lugar, escadas e tesouras apropriadas, ou “apanhadores
de saco” (BLEINROTH, 1995).
Os frutos mais altos também podem ser colhidos com o auxílio de
varas longas e leves, na ponta das quais se fixa uma sacola de lona, com
a boca presa a um pequeno arco metálico. O fruto é ensacado através
de um movimento adequado: um dispositivo existente na borda do
saco corta ou quebra o pedúnculo; a seguir a ponta da vara é baixada
até o solo, recolhendo-se o fruto (KOLLER, 2002).
Esse processo de colheita com vara é demorado. Talvez ele possa
ser agilizado, substituindo a sacola por um tubo de lona ou de pano,
com diâmetro superior ao do fruto, o qual, após destacado da árvore,
escoa suavemente pelo tubo, até ele ser aparado e recolhido por um
operário que o apanha. Assim, vários frutos podem ser colhidos, um
após outro, sem necessidade de baixar a ponta superior até o nível do
solo (KOLLER, 2002).
Para retirar os frutos que se encontram nas partes mais altas das
árvores são utilizados “apanhadores de saco”, que consistem em longas
varas de bambu (aproximadamente quatro metros de comprimento)
providas na extremidade de uma sacola de tecido resistente presa a um
aro de ferro de ¼”, com cerca de 20 cm de diâmetro e que tem no ex-
tremo oposto à vara uma lâmina de metal cortante de aproximadamente
cinco centímetros. Este colhedor é o mais recomendado. O outro tipo
consiste em um aro de chapa de ferro de 1/16” dotado de saliências na
sua borda em forma de dentes, as quais permitem encaixar o pedúnculo
e, com um puxão, destacar o fruto do galho. Este tipo de colhedor, en-
tretanto, causa danos mecânicos aos frutos. No sistema recomendado,
o operário introduz na sacola o fruto a ser colhido e com um puxão
dado à vara secciona o pedúnculo com lâmina cortante do apanha-
dor. Convém sempre que o pedúnculo seja cortado com o máximo de
comprimento possível. Um colhedor prático é capas de colher, por dia,
cerca de 900 Kg de abacate ou o correspondente a 30 caixas de colheita
ou 45 caixas de mercado (caixa M) (BLEINROTH, 1995).
Após serem colhidos da planta, os frutos são depositados numa
cesta, ou num saco de colheita de fundo falso, da qual eles podem ser
escoados suavemente para o interior de um “bin” ou caixa de colheita,
de forma semelhante à colheita de frutas cítricas (KOLLER, 2002).
colheita do abacate • 195

Na Califórnia/EUA, onde o custo da mão-de-obra é alto, já estão


sendo usadas máquinas acopladas a reboques, que se deslocam entre
as linhas de árvores e que são providas de um pequeno guindaste,
extremamente móvel, em todas as direções, na extremidade superi-
or do qual se acomoda um operário dentro de um recipiente, onde
ele deposita os frutos que colhe, até transferi-los mais tarde para um
“bin”. Essa máquina é provida de 4 sapatas hidráulicas, duas de cada
lado, que permitem fixá-la firmemente ao solo, inclusive em terrenos
bastante íngremes. Evidentemente que, com apenas uma pessoa fa-
zendo a colheita manualmente, o custo operacional de uma máquina
desse tipo é muito alto em países, onde os salários pagos a operários
são tão baixos como no Brasil (KOLLER, 2002).
Após a colheita as frutas devem ser imediatamente levadas para
o packing house, onde serão submetidas a tratamento fitossanitário,
seleção, classificação, embalagem e armazenamento, para em seguida
serem transportadas e comercializadas.

Figura 5 – Frutos com aparência externa ideal para comercialização.


(Foto: Gláucia Cristina Moreira).
196 • ABACATE

REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS

ABELES, F.B.; ; MORGAN, P.W.; SALTWEIT, M.E. Ethylene in


plant biology. 2ª ed. San Diego: Academic Press, 1992.

BLEINROTH, E.W. Colheita e tratamentos. In: GAYET, J.P. et al.


(Ed.). Abacate para exportação: procedimentos de colheita e pós-
colheita. Brasília: Embrapa- SPI, 1995. p. 10-13.

BLEINROTH, E.W.; CASTRO, J.V. de. Matéria-prima. In: ITAL.


Abacate: cultura, material-prima, processamento e aspectos econômi-
cos. 2.ed. Campinas: ITAL, 1992. p.58-148.

BLUMENFELD, A.; OFFER, R.; ELIMELECH, M.; DEGANI, C.


et al. Avocado fruit maturation and criteria for harvest. In: WORDL
AVOCADO CONGRESS, 2o, 1991, Orange. Proceddings. Orange:
University of California, Riverside and California Avocado Society,
Saticoy, 1991. v.II, p.489.

BRECHT, J.K. Physiology of lightly processed fruits and vegetables.


HortScience, Alexandria, v. 30, n.1, p. 18-22, 1995.

CHITARRA, M.I.F.; CHITARRA, A.B.C. Pós-colheita de frutas e


hortaliças: fisiologia e manuseio. 2 ed. revisada e ampliada. Lavras:
UFLA, 785 p., 2005.

KAYS, J.S. Postharvest physiology of perishable plant products.


New York: Van Nostrand Reinhold, 1991. 453p.

KOLLER, O. C. Abacate: produção de mudas, instalação, manejo de


pomares, colheita e pós-colheita. Porto Alegre: Cinco Continentes, p.
127-139, 2002.

MOHSENIN, N.N. Physical properties of plant and animal mate-


rials: structure, physical characteristics and mechanical properties.
New York: Gordon and Breach, 2º ed., 1986, 891p.
colheita do abacate • 197

RANNEY, C.A.; GILETTE, G.; BRYDON, A.; et al. Physiological


maturity and percent dry matter of California avocado. In: SECOND
WORLD AVOCADO CONGRESS, II, 1991, Orange. Proceedings.
Orange: University of California, Riverside and California Avocado
Society, Saticoy, v.II, p.379-385, 1991.

SANCHES, J.; DURIGAN, J.F.; SANTOS, J.M. Utilização da mi-


croscopia eletrônica como varredura como ferramenta de avaliação
da estrutura do tecido de abacate ‘Quintal’ após danos mecânicos.
Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.29, n.1, p. 057-
060, 2007.

WADE, N.L.; BAIN, J.M. Physiological and anatomical studies of


surface pitting of sweet cherry fruit in relation to bruising, chemical
treatments and storage conditions. Journal of Horticultural Science,
Ashford, v.55, n.4, p.375-384, 1980.
WATADA, A.; ABE, K.; YAMAUCHI, N. Physiological activities of
partially processed fruits and vegetables. Food Technology, Chicago,
v.20, p. 166-122, 1990.
PÓS-COLHEITA DO ABACATE

Douglas Seijum Kohatsu1


Gláucia Cristina Moreira2
INTRODUÇÃO

O abacate (Persea americana) é um fruto climatérico caracteri-


zado por alta taxa de produção de etileno (JEONG et al., 2002) propor-
cionando um rápido amadurecimento, aproximadamente 5 a 7 dias
após a colheita (SEYMOUR e TUCKER, 1993). Contudo, o etileno
não é o único hormônio vegetal responsável por este processo, o ácido
abscísico (ABA) parece desempenhar um papel chave no amadureci-
mento. Lieberman et al. (1977) mostraram aumento no etileno após
aplicação de ABA antes do pico climatérico.
A auxina parece atuar de diversas maneiras, estimulando a síntese
de etileno em figos (MAXIE e CRANE, 1967) e atrasando o amadure-
cimento em peras (FRENKEL e DYCK, 1973). Segundo Tingwa e
Young (1975) a ação da auxina, em abacate, dependendo da concen-
tração, pode induzir a respiração e produção pré-climatérico de etileno
em altas concentrações e atrasar o amadurecimento em baixas concen-
trações. Os mesmos autores não encontraram influência da giberelina
e citocinina nestes processos.
O acelerado amadurecimento do abacate proporciona alterações
indesejáveis para o setor de comércio, restringindo muito o tempo de
comercialização. Segundo Kluge et al. (2002) o principal fator que
limita o transporte e o tempo de comercialização, e que deprecia a
qualidade pós-colheita de fruta é o amolecimento excessivo decorrente
do amadurecimento.
Sakurai e Nevins (1997) relatam que se ocorrer à degradação da
celulose e de outros polissacarídeos da parede celular em abacates,
por enzimas responsáveis pela hidrólise da parede, durante o ama-
durecimento, poderia resultar em mudança da estrutura dos substratos
(polissacarídeos), associando-se com mudanças na firmeza.
A importância de enzimas neste processo de amolecimento tem
1
Eng. Agrônoma, Doutoranda pelo Departamento de Produção Vegetal-Horticultura, Faculdade de Ciências
Agronômicas/FCA/UNESP – Cx. P. 237 – CEP 18610-307 - Botucatu, SP – gcmoreira@fca.unesp.br
2
Eng. Agrônomo, Doutorando pelo Departamento de Produção Vegetal-Horticultura, Faculdade de Ciências
Agronômicas/FCA/UNESP – Cx. P. 237 – CEP 18610-307 - Botucatu, SP – kohatsu@fca.unesp.br
200 • ABACATE

sido reportada por vários autores. Awad e Young (1979) observaram


que parcial desmetilação da pectina é necessária antes que a poliga-
lacturonase (PG) possa trazer significante hidrólise em abacate. En-
tão, a pectinametilesterase (PME) pode ter a função de preparar o
substrato para ser hidrolisado pela PG. Os autores observaram que,
quando houve diminuição abrupta da PME, iniciou-se o aumento da
PG e celulase, salientando a estreita correlação entre o amolecimento
e a atividade da enzima celulase. Enquanto, Pesis et al. (1978) correla-
cionam o aumento desta enzima com o aumento da produção de etileno
em abacate, Ronen et al. (1991) observaram aumento da atividade da
celulase, xilanase e xilosidase após o aumento deste hormônio vegetal
e sugerem que enzimas que hidrolisam xilano podem estar envolvidas
no amolecimento do abacate.
O escurecimento da polpa do abacate durante o amadurecimento
ou sob condições de estresse é outro fator de extrema importância na
qualidade do mesmo durante o armazenamento e este processo fisi-
ológico/bioquímico é atribuído a enzima polifenoloxidase (PPO).
Cutting e Bower (1986) reportaram que estresse ou atraso na co-
lheita causou aumento no ácido abscísico resultando em efeito nega-
tivo na qualidade do fruto, como mensurado pela polifenoloxidase.
Os mesmos autores observaram que o ABA é um agente causador
da senescência e o tratamento com este ácido poderia ter causado
degradação da membrana com subseqüente aumento de PPO. Segundo
Cutting e Bower (1987) a irrigação pode influenciar a atividade desta
enzima quando aplicada em baixa quantidade ou em excesso, assim
como, observado em frutos submetidos a três tratamentos de estresse
hídrico e análises de ABA e PPO durante o amolecimento.
O nível de ABA quando os frutos estavam com 50% de amoleci-
mento (pico de etileno) teve um eventual efeito na qualidade do fruto,
determinado através do conteúdo de PPO (potencial de escurecimento)
em frutos completamente amolecidos.
Devido a estas características do abacate, o controle do amadure-
cimento é fundamental para o aumento da vida útil após a colheita,
visando à exportação que demanda de um maior período de comercia-
lização e ao mercado interno que ainda é carente de uma boa logística
para este setor.
pÓS - colheita • 201

FATORES QUE AFETAM O ARMAZENAMENTO DO ABA-


CATE

Temperatura
A utilização da temperatura ideal de armazenamento para cada
produto é indiscutível, porém mo Brasil a refrigeração é restrita a
poucas culturas, principalmente para frutíferas “in natura” ou produtos
processados.
A baixa temperatura associada à alta umidade é o principal método
de conservação pós-colheita empregado no abacate, cuja temperatura
ideal e o tempo de armazenamento é dependente do cultivar, como ob-
servado na Tabela 1 descrita por Gayet et al. (1995). Perda de umidade
excessiva pode ocasionar maior incidência de distúrbios fisiológicos,
assim como maior conteúdo de PPO solúvel (CUTTING e BOWER,
1987).

Tabela 1. Conservação dos principais cultivares de abacate em


frigoríficos convencionais.
Tempo de
Cultivares Temperatura Umidade Conserva- Tempo de comer-
(°C) Relativa (%) ção (dias) cialização (dias)
Collinson 7 85-90 20 3-5
Fortuna 7 85-90 22 4-6
Fuerte 7 85-90 14 2-3
Quintal 7 85-90 14 3-4
Linda 5-7 85-90 20 3-4
Mc Donald 7 85-90 16 2-3
Pollock 7 85-90 14 2-3
Prince 5-7 85-90 25 2-3
Simmonds 7 85-90 12 2-3
Wagner 7 85-90 20 3-5
Waldin 7 85-90 18 2-3
Fonte: Gayet (1995)
202 • ABACATE

Há uma convicção geral que cultivares de abacate das raças indi-


anas são mais sensíveis às baixas temperaturas do que àquelas prove-
nientes das raças guatemalenses e mexicanas (ZAUBERMAN et al.,
1973). Zauberman et al. (1973) analisando três cultivares de abacate
mostraram que o ‘Nabal’, um guatemalense, tem maior tolerância a
baixa temperatura do que os guatemalense-mexicanos ‘Fuerte’ e ‘Et-
tinger’. Todos os cultivares não apresentaram chilling (injúria por
frio) quando armazenados por 6 semanas a temperatura de 6ºC. Ainda
observaram que, o estádio de amadurecimento do fruto influencia na
susceptibilidade do mesmo, quanto mais avançado este estádio menos
suscetível às baixas temperaturas.
Zauberman et al. (1977) observaram que a resposta de frutos de
abacates de três cultivares para várias temperaturas diferiram na faixa
de 0 a 25ºC e estas faixas foram divididas em 3 grupos: entre 10 e
25ºC, no qual o amolecimento do fruto aumentou com o acréscimo da
temperatura; entre 5 e 8ºC, no qual o amolecimento foi inibido e o fruto
amoleceu apenas quando transferido para temperaturas mais altas; e
entre 0 e 4ºC, no qual o tempo de armazenamento sem a ocorrência
de chilling foi limitado.
Hopkirk et al. (1994) observaram a importância da temperatura
de prateleira após o armazenamento e concluíram que o aumento da
temperatura a partir dos 15ºC até 30ºC, a cada 5ºC, diminui a vida
de prateleira, aumentam os distúrbios fisiológicos, o escurecimento
vascular e o amadurecimento desuniforme.
Segundo Fuchs e Zauberman (1995) os sintomas de chilling po-
dem aparecer de diferentes formas: escurecimento da casca e polpa,
problemas na respiração, aumento da susceptibilidade a ataques de
microrganismos, pulp spot, bem como, manchas cloróticas na casca.
Embora, estes sintomas não possam ser somente uma resposta à baixa
temperatura (BOWER e CUTTING, 1988).
Tratamentos com calor estão recebendo aumento de atenção como
meio de reduzir a injúria por frio em alguns frutos (WOOLF et al.,
1995). Este tratamento pode também ser utilizado como técnica de
desinfestação (PAULL, 1990). Woolf et al. (1995) concluíram que
o ótimo tratamento de calor (38ºC para 3 a 10 horas e 40ºC por 30
minutos) reduziu os níveis de danos externos de frutos armazenados a
2ºC e dos frutos armazenados a 6ºC sem redução da qualidade interna
pÓS - colheita • 203

após o amadurecimento em 20ºC. Contudo, Woolf (1997) observou


que o tempo de 60 minutos de imersão em água a 38ºC foi suficiente
para reduzir o índice de frutos desuniformes, escurecimento vascular
e “tissue breakdown”.

Atmosfera modificada e controlada


Para Spagnol et al. (1994), embora a refrigeração se apresente
como prática eficiente na redução das perdas pós-colheita, a suplemen-
tação com atmosfera modificada ou controlada, poderá trazer melhores
benefícios, quando empregada adequadamente. Gayet et al. (1995)
mostraram a eficiência da associação destes métodos de conservação
pós-colheita (Tabela 2). Spalding e Reeder (1972) relataram que o
tempo de armazenamento pode ser dobrado sob condições de atmos-
fera controlada (AC).
O etileno é um hormônio vegetal diretamente relacionado com o
amadurecimento do fruto, sendo assim, contribuí para um dos prin-
cipais aspectos que interessam na pós-colheita, pois a diminuição do
período de comercialização é uma característica indesejável, não so-
mente atribuída ao abacate. Fuchs e Zauberman (1995) citam a venti-
lação, permanganato de potássio e outras tecnologias como a atmosfera
modificada como removedores de etileno.
204 • ABACATE

Tabela 2. Conservação dos principais cultivares de abacate em


frigoríficos convencionais.
Tempo de
Umidade Tempo de comer-
Temperatura Relativa CO2 O2 Conservação cialização
Cultivares (°C) (%) (%) (%) (dias) (dias)
Collinson 7 85-90 10 2 35 2-4
Fortuna 7 85-90 10 2 37 3-4
Fuerte 7 85-90 10 2 32 3-5
Quintal 7 85-90 10 2 27 2-4
Linda 5-7 85-90 10 2 35 3-5
Mc Donald 7 85-90 10 2 34 2-4
Pollock 7 85-90 10 2 27 2-4
Prince 5-7 85-90 10 2 33 3-5
Simmonds 7 85-90 10 2 25 2-4
Wagner 7 85-90 10 2 37 3-5
Waldin 7 85-90 10 2 33 2-3
Fonte: Gayet et al. (1995)

Pesis et al. (1994) observaram que baixos níveis de oxigênio di-


minuem o nível de etileno, reduzem a produção de dióxido de car-
bono, ou seja, a respiração do abacate, e ainda, relataram que houve
correlação inversa entre o conteúdo de clorofila da casca e o nível
de severidade do chilling. Os mesmo autores relataram aumento nos
grupos SH (radicais que participam de aminoácidos como cisteína e
glutationa) na casca e polpa do abacate. Segundo Foster e Hess (1980)
a glutationa colabora na proteção de tecidos de plantas contra a ação
de peróxidos que são gerados durante o estresse oxidativo.
As espécies de oxigênio reativo (ROS) são produzidas durante o
curso do metabolismo normal e reagem com as estruturas orgânicas
estáveis (lipídeos e proteínas das membranas celulares, aminoácidos,
etc.), retirando delas um elétron. Dessa forma tem início a peroxida-
ção de lipídeos e a agregação de proteínas com os seguintes efeitos:
danos às membranas, vazamento de eletrólitos, distúrbios metabólitos,
perda de funções celulares e morte das células e tecidos (CHITARRA
pÓS - colheita • 205

e CHITARRA, 2005).
Outro aspecto de importância para a qualidade do fruto de abacate
é a manutenção da firmeza, o qual proporciona maior resistência ao
transporte e aumenta a vida de prateleira. Pesis et al. (1994) trans-
portaram frutos de 2ºC para 17ºC e observaram melhor manutenção
da firmeza no tratamento com baixos níveis de O2. Dori et al. (1995)
trabalhando com anaerobiose nos aspectos do amadurecimento do
abacate observaram que a aplicação de nitrogênio (97%) retardou o
amolecimento do fruto e diminui a atividade de poligalacturonase em
30%, além de reduzir levemente a atividade de endoglucanase.
Awad e Young (1979) relataram a importância desta enzima respon-
sável pela degradação da parede celular de frutos de abacate durante o
amadurecimento. Enquanto, Rose et al. (1998) sugeriram que o rompi-
mento de associações não covalente entre xiloglucano e microfibrilas
de celulose poderia também resultar em mudança na firmeza, bem
como, aumento na acessibilidade do substrato, para o ataque enzimáti-
co, pelas hidrolases da parede celular.
Truter e Eksteen (1987) observaram que o tratamento no dia
seguinte após a colheita, com 25% de CO2, por três dias, não apresen-
tou antracnose, diminuiu a injúria por frio em 25%, escurecimento da
polpa em 15% e o escurecimento vascular em 2%. Truter et al. (1991)
observaram diminuição ao redor de 10% a descoloração de polpa do
abacate e 60% de anomalias vasculares nos frutos tratados com atmos-
fera modificada e “choque” de CO2.
O potencial de escurecimento da polpa de abacate é principalmente
em função da enzima polifenoloxidase (KAHN, 1975). Bower et al.
(1990) estudaram o efeito do armazenamento em atmosfera contro-
lada, “choque” com CO2 e condição ambiente na atividade de poli-
fenoloxidase em abacates ‘Fuerte’ e observaram menor atividade no
tratamento com “choque” com CO2. Truter et al. (1991) observaram
menor atividade de polifenoloxidase e conteúdo de ABA em frutos
amadurecidos com “choque” com CO2, no qual sugerem que estes
frutos podem ter sido sujeitos a menos estresse pós-colheita que outros
frutos não tratados.
206 • ABACATE

Cálcio
Tem sido relatado em muitos estudos que este nutriente está en-
volvido em numerosas desordens fisiológicas e outros resultados su-
gerem que o cálcio tem importante papel na susceptibilidade, de frutos
armazenados, ao chilling.
Chaplin e Scott (1980) observaram que quanto mais se aproxima
ao pedúnculo do fruto, menor a presença de injúria por frio. Sub-
seqüentes investigações revelaram que a concentração de cálcio no
mesocarpo não é uniforme, mas é invariavelmente menor na base do
fruto do que próximo ao pedúnculo. Ainda relataram que a aplicação
de cálcio na maior concentração apresentou pontuação no índice de
chilling de 0,94 contra 4,69 em escala que variava de 0-5 pontos.
Rensburg e Engelbrecht (1985) trabalhando com o efeito de di-
versas fontes de cálcio nos componentes de escurecimento do abacate
observaram que a aplicação de produtos a base deste nutriente supri-
miu a respiração e a polifenoloxidação. Eaks (1985) observou que
a concentração acima de 0,1 M foi o suficiente para reduzir a taxa
respiratória e a produção de etileno em frutos de abacate dos cultivares
‘Hass’ e ‘Fuerte’.
Tratamentos pré-colheita com variadas fontes de cálcio em aba-
cate ‘Fuerte’ reduziram a perda de peso em aproximadamente 4%,
diminuíram a porcentagem de danos por frio em 65%, e aumentaram
a firmeza do fruto e a vida de prateleira em dois dias (LÓPEZ e BON-
TEMPS, 1996).

OUTROS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO

Irradiação
O emprego da irradiação no Brasil mostra-se muito promissor
e de suma importância, através de sua contribuição na conservação,
reduzindo as perdas pós-colheita e a possibilidade de melhorar a oferta
de alimentos (LIMA et al., 2001).
A irradiação associada aos procedimentos pós-colheita normal-
mente empregados, em baixas doses, têm mostrado ser um excelente
método para prolongar a vida comercial de frutas, retardando os
processos de amadurecimento e a senescêcia, bem como, reduzindo
significativamente o apodrecimento causado por fungos e bactérias
pÓS - colheita • 207

patogênicas (KÄFERSTEIN e MOY, 1993).


A irradiação tem que ser melhor estudada para aplicação em frutos
de abacate, já que assim como a temperatura ideal varia de cultivar
para cultivar, a dose ideal de irradiação apresenta o mesmo compor-
tamento.
Segundo Germano (1996), os resultados já obtidos para incremen-
to da vida comercial de abacate, indicam que não há dose ou faixa de
doses uniformes que poderia ser preconizada para todos os cultivares.
O abacate mostrou-se como sendo uma das frutas mais sensíveis as
radiações ionizantes, sendo que para a maioria dos cultivares, doses
acima de 100 ou 200 Gy causam severas descolorações e escureci-
mento da polpa. Contudo, segundo López et al. (1996) doses entre 60 e
100 Gy provocaram maior perda de peso. A aparência externa do fruto,
especialmente a da casca, apresentou os maiores danos, com mancha e
certa desidratação, podendo ser considerada oelas características dos
danos, como um efeito indesejável para a variedade estudada ‘Colin
v33’. Além disso, todas as doses receberam nota ‘aceitável’ em relação
ao sabor, enquanto o controle recebeu nota de ‘bom sabor’.
A irradiação para o abacate ‘Fortuna’ induziu prolongamento na
vida de prateleira quando comparado com o controle que era de 7 dias,
para 11 dias quando irradiados com 75 Gy e para 15 dias se irradiados
com 100 Gy, portanto, comprovando a necessidade de estudos espe-
cíficos para cada cultivar.

1-MCP (1-metilciclopropeno)
Segundo Kluge et al. (2002), no Brasil, a comercialização do aba-
cate, a varejo, ocorre sem refrigeração, o que torna a aplicação de tec-
nologias de conservação em temperatura ambiente bastante desejável,
pois, a ampliação do período entre a colheita e o amadurecimento pode
proporcionar o transporte a longas distâncias e aumento no período
de comercialização.
Embora, o 1-MCP seja um gás, ele tem sido formulado em pó,
o qual libera o ingrediente ativo quando misturado a uma solução
básica ou água. O 1-MCP se liga fortemente ao sítio de ligação do
etileno, evitando que sua ligação e ação procedam (KLUGE et al.,
2002). Segundo Sisler e Serek (1997) este material não é tóxico, não
apresenta cheiro e é efetivo quando as plantas são tratadas em baixas
208 • ABACATE

concentrações.
Jeong et al. (2002) observaram que frutos de abacate do tratamen-
to controle amoleceram e completaram o amolecimento rapidamente
quando comparados com os tratados com 1-MCP e observaram que
quanto maior o tempo de exposição ao produto, melhor era a ma-
nutenção da firmeza, conseqüentemente, diminuindo a perda de massa.
Este produto dobrou de 6 para 12 dias o início do pico climatérico e
a máxima produção de etileno foi menos da metade da apresentada
pelos frutos controle, além de menor taxa respiratória. O mesmo trata-
mento auxiliou na manutenção da coloração verde da casca quando
comparadas com o controle, quando os frutos estavam completamente
amadurecidos.
Os mesmo autores observaram que não houve aumento na ativi-
dade da poligalacturonase durante o amadurecimento do fruto, en-
quanto que a testemunha apresentou acentuado aumento na atividade.
A celulase também teve sua atividade reduzida após a aplicação de
1-metilciclopropeno. Segundo Awad e Young (1979) estas duas enzi-
mas poderiam ser as principais responsáveis pelo amolecimento dos
frutos.
Kluge et al. (2002) observaram os mesmos resultados, retendo a
coloração da casca e polpa e proporcionando maior firmeza da polpa
e menor incidência de podridão dos frutos. Frutos não tratados inicia-
ram o amadurecimento após quatro dias a 24ºC, enquanto nos frutos
tratados o amadurecimento iniciou-se após sete dias.
A resposta ideal dos dois autores foi encontrada em dosagens dife-
rentes, portanto, assim como para os outros métodos, há necessidade
de experimentos com diferentes cultivares para obter resultados mais
precisos. Além disso, a viabilidade da aplicação deste produto em larga
escala ainda é pouco relatada.

Cera
A utilização desta técnica é comum na comercialização de diversas
frutíferas, sendo principalmente para exportação.
A aplicação de ceras é um método que começou a ser estudado na
década de 80, apesar de se mostrar eficiente, tem como principal limi-
tação o custo e o possível efeito residual nos frutos. As ceras aumentam
o período de conservação de frutas e hortaliças, através da diminuição
pÓS - colheita • 209

da taxa respiratória e da atividade metabólica (OLIVEIRA, 1996).

Figura 1. Vista de aplicador de cera natural visando reduzir a transpiração e


melhorar a aparência dos frutos de abacate para exportação.
(Foto: Vítor Carvalho)

Figura 2. Vista Geral do Packing-house da Fazenda Jaguacy, Bauru (SP).


(Foto: Vítor Carvalho)
210 • ABACATE

Segundo Gayet et al. (1995) frutos encerados podem estender a


vida de prateleira por um tempo maior, o que depende diretamente
da concentração aplicada, podendo aumentar de 10 para 17 dias se a
concentração aumentar de 20 para 25%, respectivamente.
Oliveira et al. (2000) observaram que a perda de peso em frutos
encerados foi muito menor em relação aos frutos não tratados, além
disso, auxiliou na manutenção da firmeza dos frutos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AWAD, M.; YOUNG, R. E. Postharvest variation in cellulase, poly-


galacturonase, and pectinmethylesterase in avocado (Persea ameri-
cana Mill, cv. Fuerte) fruits in relation to respiration and ethylene
production. Plant Physiology. v.64, p.306-308, 1979.

BOWER, J. P.; CUTTING, J. G. Avocado fruit development and ripe-


ning physiology. Hort. Rev. v.10, p.229-271, 1988.

BOWER, J. P.; CUTTING, J. G.; TRUTER, A. B. Container atmos-


phere, as influencing some physiological browning mechanism in
stores ‘Fuerte’ avocados. Acta Hort. v.269, p.315-321, 1990.

BOWER, J. P.; CUTTING, J. G.; VAN LELYVELD, L. J. Long-term


irrigation as influencing avocado abscisic acid content and fruit qua-
lity. South African Avocado Grower’s Association Yearbook. v.9,
p.43-45, 1986.

CHAPLIN, G. R.; SCOTT, K. J. Association of calcium in chilling in-


jury susceptibility of stored avocados. Hortscience. v.15, n.4, p.514-
515, 1980.

CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas


e hortaliças: Fisiologia e manuseio. 2.ed, Lavras: UFLA, 2005,
785p.

CUTTING, J. G.; BOWER, J. P. Stress, delayed harvest and fruit


pÓS - colheita • 211

quality in Fuerte avocado fruit. South African Avocado Grower’s


Association Yearbook. v.9, p.39-42, 1986.

CUTTING, J. G.; BOWER, J. P. Some factors affecting post-harvest


quality in avocado fruit. South African Avocado Grower’s Associa-
tion Yearbook. v.10, p.143-146, 1987.

FOSTER, J. G.; HESS, J. L. Response of super-oxide dismutase and


glutathione reductase activities in cotton leaf tissue exposed to na at-
mosphere enriched in oxygen. Plant Physiol. v.66, p.482-487, 1980.

FRENKEL, C.; DYCK, R. Auxin inhibition of ripening. Plant Phy-


siol. v.51, p.6-9, 1973.

FUCHS, Y.; ZAUBERMAN, G. Effect of potharvest treatment and


storage conditions on avocado fruit ripening and quality. Procee-
dings of The World Avocado Congress III. p.323-333, 1995.

GAYET, J. P. et al. Abacate para exportação: procedimentos de


colheita e pós-colheita. Brasilia: FRUPEX, 1995, 37p.

GERMANO, R. M, DE A.; ARTHUR, V.; WIENDL, F. M. Conser-


vação pós-colheita de abacates Persea americana Mill., variedades
Fortuna e Quintal, por irradiação. Sci. Agric. v.53, n.2-3, p.249-253,
1996.

KAHN, V. Polyphenol oxidase activity and browning by three avoca-


dos cultivars. J. Sci. Fd. Agric. v.36, p.1319-1324, 1975.

KÄFERSTEIN, F. K.; MOY, G. G. Public health aspects of food ir-


radiation. Journal of Public Health Policy. v.14, n.2, p.149-163,
1993.

KLUGE, R. A. et al. Inibição do amadurecimento de abacate com


1-metilciclopropeno. Pesq. Agropec. Bras. v.37, n.7, p.895-901,
2002.
212 • ABACATE

KOPKIRK, G. et al. Influence of postharvest temperatures and the


rate of fruit ripening on internal postharvest rots and disorders of New
Zealand ‘Hass’ avocado fruit. New Zealand of Crop and Horticul-
tural Science. v.22, p.305-311, 1994.

JEONG, J.; HUBER, D. J.; SARGENT, S. A. Influence of 1-methyl-


cyclopropene (1MCP) on ripening and cell matrix polysaccharides of
avocado (Persea americana) fruit. Postharvest Biology and Tech-
nology. v.25, p.241-256, 2002.

LIEBERMAN, M.; BACKER, J. E.; SLOGER, M. Influence of plant


hormone on ethylene production in apple, tomato and avocado slices
during maturation and senescence. Plant Physiol. v.60, p.214-217,
1977.

LIMA, K. S. C. et al. Efeito da irradiação ionizante γ na qualidade


pós-colheita de cenouras (Daucus carota L.) cv Nantes. Ciênc. Tec-
nol. Aliment., Campinas, v.21, n.2, p.202-208, 2001.

LÓPEZ, L. L.; MANJARREZ, J. A.; TORREZ, E. DE LA C. Estú-


dios de diferentes dosis de radiacion gamma de 60Co sobre la calidad
em frutos de aguacate Colin v33. Yearbooks 1996: Fundación Sal-
vador Sánches Colin CICTAMEX S. C. Coatepec Harinas, México,
p.148-153.

LÓPEZ, L. L.; BONTEMPS, J. F. C. Tratamientos precosecha com


fuentes de cálcio sobre la capacidad de almaciamento de frutos de
aguacate ‘Fuerte’. Yearbooks 1996: Fundación Salvador Sánches
Colin CICTAMEX S. C. Coatepec Harinas, México, p.141-147.

MAXIE, F. C.; CRANE, J. C. 2,4,5-Trichlorophenoxacetic: Effect on


ethylene production by fruits and leaves of fig trees. Science. v.155,
p.1548-1549, 1967.

OLIVEIRA, M. A. Utilização de películas de féculas de mandioca


como alternativa a cera comercial na conservação pós-colheita de
frutos de goiaba (Psidium guayava) variedade Kumagai. Piraci-
pÓS - colheita • 213

caba. 1996, 73p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agri-


cultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

PAULL, R. E. Postharvest heat treatments and fruit ripening. Poshar-


vest News Info. v.1, p.355-363, 1990.

PESIS, E.; FUCHS, Y.; ZAUBERMAN, G. Cellulase activity and


fruit softening in avocado. Plant Physiol. v.61, p.416-419, 1978.

RENSBURG, E.; ENGELBRECHT, A. H. P. The effect of calium


salts on the components causing browning of avocado fruit. South
African Avocado Grower’s Association Yearbook. v.8, p.14-21,
1985.

RONEN, R. et al. Xilanase and xylosidase activities in avocado fruit.


Plant Physiol. v.95, p.961-964, 1991.

ROSE, J. K.; HADFIELD, K. A.; BENNET, A. B. Temporal sequence


of cell wall disassenbly in rapidly ripening melon fruit. Plant Physi-
ology. v.117, p.345-361, 1998.

SEYMOUR, G. B.; TUCKER, G. A.; Avocado. In: SEYMOUR, G.


B. et al. Biochemistry of Fruit Ripenig. Chapman and Hall, London,
p.55-81, 1993.

SISLER, E. C.; SEREK, M. Inhibitors of ethylene responses in plants


at the receptor level recent development. Physiol. Plant. v.100, p.577-
582, 1997.

SPAGNOL, A. W.; ROCHA, J. L. V.; PARK, K. J. Pré resfriamento


de frutas e hortaliças. Informativo Agropecuário, Belo Horizonte,
v.17, p.5-9, 1994.

SPALDING, P. H.; REEDER, W. F. Quality of booth and lula avo-


cados stored in controlled atmospheres. Proceedings of the Florida
State Horticultural Society. v.87, p.403-405, 1972.
214 • ABACATE

TINGWA, P. O.; YOUNG, R. O. Studies on the inhibition of ripening


in attached avocado (Persea Americana Mill.) fruits. J. Am. Hort.
Sci. v.100, p.447-449, 1975.

TRUTER, A. B. et al. Effect of modified atmosphere on internal


physiological browning of Fuerte avocados. South African Avocado
Grower’s Association Yearbook. v.14, p.50-52, 1991.

WOOLF, A. B. et al. Reducing external chilling injury in stored ‘Hass’


avocados with dry heat treatments. J. Amer. Soc. Hort. Sci. v.120,
n.6, p.1050-1056, 1995.

ZAUBERMAN, G.; SCHIFFMANN-NADEL, M.; YANKO, U. Sus-


ceptibility to chilling injury of three avocados cultivars at various
stages of ripening. HortScience. v.8, n.6, p.511-513, 1973.

ZAUBERMAN, G.; SCHIFFMANN-NADEL, M.; YANKO, U. The


response of avocado fruits to different storage temperatures. Hort-
Science. v.12, n.4, p.353-354, 1977.

ZAUBERMAN, G.; FUCHS, Y.; AKERMAN,, M. Peroxidase activ-


ity in avocado fruit stored at chilling temperatures. Scientia Hort.
v.26, p.261-265, 1985.
ABACATE COMO FONTE TERAPÊUTICA

Andréa Carvalho da Silva1

1. As Propriedades Medicinais das Frutas
De acordo com o Jornal Folha de São Paulo (2003), com o decor-
rer do tempo, o homem veio a descobrir que as frutas possuem não
só um grande valor nutritivo, mas também efeito medicinal. As fru-
tas hoje estão entre os maiores agentes terapêuticos dados pela natu-
reza. Todas as frutas são dotadas de propriedades medicinais. Umas
são adstringentes, outras emolientes, etc. Umas excitam as funções
gástricas, outras ativam as funções intestinais, etc. Umas desintoxicam
o organismo, dissolvendo e expelindo os venenos; outras suprem ao
organismo as vitaminas necessárias e os sais indispensáveis. Quando
ingerimos frutas frescas e hortaliças, nossos corpos retiram das suas
fibras os líquidos de que precisam; em seguida essas fibras passam para
o trato digestivo inferior. Tomando sucos, eliminamos uma etapa do
processo digestivo - extraímos o líquido das fibras - e oferecemos ao
nosso corpo, com mais eficiência, os nutrientes de que ele necessita.
O suco feito em casa é muito diferente dos sucos em garrafas, latas,
caixas. Primeiro é absolutamente fresco, o que é importante, porque
os nutrientes perdem muito de seu valor depois de algum tempo que
o suco foi feito. Segundo, não é pasteurizado, "cozido", e suas células
vivas, recebidas de maneira direta pelo organismo, garantem a boa
saúde. Terceiro e último, o suco fresco é absolutamente puro, livre de
aditivos e conservantes.
De acordo com BemStar (2007), as evidências epidemiológi-
cas estão continuamente providenciando recomendações para que
as pessoas aumentem o consumo de frutas e verduras como medida
preventiva para reduzir os riscos de diversas doenças degenerativas.
Existem altíssimas correlações de efeitos benéficos de nutrientes es-
senciais, ou não, que podem modificar processos celulares, com efeitos
fisiológicos protetores, muitos compostos encontrados nos alimentos
são responsáveis por efeitos benéficos observados em indivíduos que
os consomem, como, por exemplo, compostos importantes como os
1
Engenheira Agronôma; Mestranda em Agronomia – Horticultura, FCA/UNESP, Botucatu – SP. andcar@
fca.unesp.br
216 • ABACATE

carotenóides, encontrados em frutas e verduras. Este novo conceito de


alimentos promotores de boa saúde está emergindo como uma nova
fronteira no desafio de diversos profissionais tanto das áreas agrárias
como biomédicas. Nutrientes são necessários para o desenvolvimento
e crescimento normais dos indivíduos. Mas não é somente para todas
essas necessidades, é preciso também, proteger os indivíduos contra
os riscos por agressões genéticas e do meio ambiente, incluindo os
hábitos alimentares, reduzindo riscos que poderiam ser minimizados
ou, protelados, através de uma nutrição preventiva, iniciada logo após
o desmame e continuada ao longo de toda a vida. Obviamente, que
não se proíbe o consumo de alimentos menos recomendados, mas é
necessária moderação.

2. Desmistificando o abacate (Persea sp.)


Enaltecendo a variedade de frutas brasileiras e seu beneficio à
saúde humana, este trabalho tem como objetivo apresentar o abacate
(Persea sp), como fonte terapêutica. O abacate é um fruto originário
do continente americano, é notadamente rico em gordura sendo fonte
de ácido oléico e de calorias. Até pouco tempo atrás, seu consumo era
vetado para portadores de obesidade, hipertensão arterial, diabetes,
dislipidemias, doenças cardiovasculares e outras patologias que estão
associadas ao acúmulo de gordura no organismo, devido à inter-relação
entre a alimentação e a origem destas doenças. Alguns estudos popula-
cionais chamam a atenção para uma maior suscetibilidade às doenças
crônicas em grupos submetidos à modernização do seu estilo de vida.
Mudanças na dieta, estresse psicológico, sedentarismo, obesidade,
hereditariedade e mudanças sócio-econômicas têm sido considerados
fatores de risco para essa situação (CARDOSO et al., 2001). Quanto
maior a intensidade e o tempo de exposição ao fator de risco, maior a
possibilidade de desenvolver a doença. A hipercolesterolemia é um im-
portante fator de risco para doenças cardiovasculares. De acordo com
os dados da American Hearth Association (2001), citados por Godim
et al. (2005), mais de 30% da população brasileira e 51% da população
americana, apresentam altos níveis de colesterol (maior que 200 mg/
dl), um dado preocupante, já que estudos mostram que taxas acima de
240 mg/dl de colesterol total, duplicam o risco de sofrer um ataque
cardíaco. Aproximadamente 70% do peso do abacate se referem à
abacate como fonte terapÊUTICA • 217

polpa do fruto. De acordo com Gondim et al., (2005), a Ingestão Diária


Recomendada (IDR) é a quantidade de vitaminas, minerais e proteí-
nas que deve ser consumida diariamente para atender às necessidades
nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de uma popula-
ção sadia. Para a população consumir equilibradamente os nutrientes
de acordo com a IDR, são necessários dados sobre composições de
alimentos. Essas composições são importantes para inúmeras ativi-
dades, como para avaliar o suprimento e o consumo alimentar de um
país, verificar a adequação nutricional da dieta de indivíduos e de
populações, avaliar o estado nutricional, desenvolver pesquisas sobre
as relações entre dieta e doença, em planejamento agropecuário, na
industria de alimentos, além de outras.
Frutas e verduras são exemplos de importantes fontes de elementos
essenciais. Os minerais desempenham uma função vital no desenvol-
vimento e saúde do corpo humano e as frutas são consideradas as
principais fontes de minerais necessários na dieta humana.
Tabela -1. Composição centesimal do teor de nutrientes das cascas
de frutas analisadas.
100g de amostra in natura das cascas das frutas
Parâmetro Abacate Abacaxi BananaMamão Maracujá Melão Tangerina
Umidade (g) 76,95 78,13 89,47 90,63 87,64 93,23 49,10
Cinzas (g) 0,75 1,03 0,95 0,82 0,57 0,96 1,75
Lipídeos (g) 11,04 0,55 0,99 0,08 0,01 0,10 0,64
Proteínas(g) 1,51 1,45 1,69 1,56 0,67 1,24 2,49
Fibras (g) 6,85 3,89 1,99 1,20 4,33 1,42 10,38
Carboidratos(g) 2,90 14,95 4,91 5,71 6,78 3,05 35,64
Calorias (Kcal) 117,02 70,55 35,30 29,80 29,91 18,05 158,30
Cálcio (mg) 123,94 76,44 66,71 55,41 44,51 14,69 478,98
Ferro (mg) 2,018 0,71 1,26 1,10 0,89 0,40 4,77
Sódio (mg) 76,75 62,63 54,27 53,24 43,77 8,54 77,76
Magnésio (mg) 26,24 26,79 29,96 24,52 27,82 13,27 159,59
Zinco (Mg) 1,24 0,45 1,00 0,56 0,32 0,23 2,83
Cobre (mg) 0,18 0,11 0,10 0,11 0,04 0,07 0,58
Potássio (mg) 236,70 285,87 300,92263,52 178,40 110,39 598,36
Fonte: Godim et al, (2005).
218 • ABACATE

Tabela – 2. Percentual da ingestão diária recomendada (IDR) para


um adulto.
% IDR em relação a 100g de amostra in natura das cascas das frutas
Parâmetro AbacateAbacaxiBanana Mamão Maracujá Melão Tangerina
Lipídeos (g) 14 1 1 0 0 0 1
Proteínas(g) 3 3 3 3 1 2 5
Fibras (g) 23 13 7 4 14 5 35
Carboidratos(g) 1 4 1 1 1 1 6
Calorias (Kcal) 5 3 1 1 1 1 6
Cálcio (mg) 15 9 8 7 5 2 60
Ferro (mg) 14 5 8 7 6 3 32
Sódio (mg) 3 3 2 2 2 0 4
Magnésio (mg) 9 9 10 8 9 4 53
Zinco (Mg) 8 3 7 4 2 1 19
Cobre (mg) 6 4 6 4 1 2 19
Potássio (mg) 12 14 15 13 9 5 30
Fonte:BemStar, (2007).
abacate como fonte terapÊUTICA • 219

Tabela – 3. Teor de nutrientes das partes comestíveis dos frutos.


100g de amostra in natura das cascas das frutas
Parâmetro Abacate Abacaxi Banana Mamão Maracujá Melão Tangerina
Umidade (g) 84 86 64 87 83 91 89
Cinzas (g) 0,5 0,4 0,8 0,6 0,8 0,5 0,6
Lipídeos (g) 8 0 0 0 2 0 0
Proteínas(g) 1 1 1 1 2 1 1
Fibras (g) 6,3 1 1,5 1,8 1,1 0,3 0,9
Carboidratos(g) 6 12 34 12 12 8 10
Calorias (Kcal) 96 48 128 45 68 29 38
Cálcio (mg) 8 22 0 25 5 0 13
Ferro (mg) 0,2 0,3 0,3 0,2 0,6 0,2 0,1
Sódio (mg) <0,4 <0,4 <0,4 3 2 11 <0,4
Magnésio (mg) 15 18 24 17 28 6 8
Zinco (Mg) 0,2 0,3 0,3 0,2 0,6 0,2 0,1
Cobre (mg) 0,15 0,11 0,05 1,36 0,19 0,04 0,03
Potássio (mg) 206 131 328 222 338 216 131
Fonte: Godin et al., (2005).

Pela observação das Tabelas 2 e 3 que relatam a composição de
frutos cultivados no Estado do Rio Grande do Norte, verifica-se que a
amostra da casca do abacate teve o maior teor de lipídeos, 11,04 g ha-
vendo uma enorme diferença em relação às amostras das demais frutas,
as quais não ultrapassaram valores de 1,0 g, sendo assim considerado
uma boa fonte de lipídeos, pois fornece 14% do IDR. Com relação às
fibras, podemos considerar as cascas de tangerina, abacate (Persea
Amercicana), maracujá e abacaxi como boas fontes, regularizando
as funções intestinais. É recomendado o consumo diário de 20-25 g
de fibra dietética de ambas as fontes (solúveis e insolúveis) e de uma
ampla variedade de origens alimentares (verduras, legumes, frutas,
alimentos integrais). Não há razão para não recomendar o consumo
de frutose, encontrada naturalmente nas frutas e vegetais, bem como
a ingestão de fibras contidas no abacate. Comparando as Tabela 1 e
3, verificamos que as cascas das respectivas frutas apresentam quan-
tidades de nutrientes maiores que as partes normalmente comestíveis,
220 • ABACATE

indicando o potencial de aproveitamento das mesmas sob a forma de


farinha usada como complemento alimentar de baixo custo.
Fica evidente a diferença de composição nutricional da fruta de
uma região produtora para outra região como o especificado nas Ta-
belas 3 e 4, onde a mesma fruta (abacate), produzida no Estado do
Rio Grande do Norte possui valores distintos dos frutos produzidos
no Estado de São Paulo nos seguintes parâmetros: proteínas, fibras,
calorias, cálcio e ferro.
Tabela – 4. Teor de nutrientes das partes comestíveis dos frutos
do Estado de São Paulo.
Composição Nutricional em 100g de
polpa
Calorias 167 Kcal
Proteínas 2,1 g
Gorduras 16,4 g
Carboidrato 6,3 g
Água 73,8%
Fibra 1,6 g
Sódio 4,0 mg
Vitamina A 87 mcg
Cálcio 10 mg
Fósforo 42 mg
Ferro 0,6 mg
Vitamina B1 0,11 mg
Vitamina B2 0,20 mg
Vitamina B3 1,6 mg
Vitamina C 14 mg
Fonte: BemStar (2007)
Segundo Klack (2006), As vitaminas são substâncias orgânicas
presentes em pequena quantidade nos alimentos, tendo por finalidade a
participação em variadas reações metabólicas controladas por enzimas
e coenzimas. São indispensáveis ao funcionamento do organismo na
forma de co-fatores. Abbey (1991), diz que em algumas enzimas o co-
fator é um participante direto do processo catalítico, em outras serve
como um transportador transitório de algum grupo funcional específico
abacate como fonte terapÊUTICA • 221

derivado do substrato. Esses co-fatores enzimáticos são essenciais para


a ação de muitas enzimas, desempenhando um papel vital no metabo-
lismo celular. O organismo humano promove a síntese de algumas
vitaminas, necessitando, no entanto, do suprimento alimentar. Dentre
as vitaminas lipossolúveis encontra-se a vitamina K, esta vitamina é
conhecida como vitamina da coagulação. Pode ser encontrada em ali-
mentos animais e vegetais, como o abacate com a maior concentração
em folhas verde escura. As formas da vitamina K são:
- Filoquinona (vitamina K1) que é a forma predominante, presente
nos vegetais, sendo os óleos vegetais e as hortaliças suas fontes mais
significativas.
- Dihidrofiloquinona (dK), formada durante a hidrogenação co-
mercial de óleos vegetais.
- Menaquinona (vitamina K2), sintetizada por bactérias, podendo
variar de MK4 a MK13 (série de vitaminas designadas MK-n, sendo
n o número de resíduos isoprenóides). Presente em produtos animais
e alimentos fermentados.
- Menadiona (vitamina K3) que é um composto sintético a ser
convertido em K2 no intestino.
A biodisponibilidade é definida como a proporção da vitamina
ingerida que sofre a absorção intestinal e conseqüente aproveitamento
pelo corpo. A absorção da filoquinona presente nos vegetais é um pro-
cesso lento, sendo influenciado por fatores digestivos. Já a presença
de gorduras na dieta possibilita um aumento na absorção (podendo
conter de 30-60 µg de dK em 100 g do alimento), O fato de a filoqui-
nona estar associada a tecidos que realizam a fotossíntese faz com que
os vegetais contenham os maiores teores dessa substância. As frutas
cítricas contêm baixos teores, tendo como exceção o kiwi, abacate,
ameixa seca, figo, amora silvestre e as uvas, que contêm de 15,6 a
59,5 µgK1/100 g.
Segundo Protasio (2005), a Vitamina B1 foi a primeira do com-
plexo B a ser descoberta. Doses diárias recomendadas são de 1,5 mg.
Para mães que amamentam e para idosos é 3,0 mg. Como principais
funções, atua principalmente no metabolismo energético dos açúcares.
A sua função como neurotransmissor é discutida. A doença carencial
clássica é o Beribéri que se manifesta principalmente em alcoóla-
tras desnutridos e nas pessoas mal-alimentadas dos países pobres. A
222 • ABACATE

manifestação neurológica da carência de vitamina B1 é também de-


nominada de Beribéri seco, caracterizando-se por neurites periféricas,
distúrbios da sensibilidade com zonas de anestesia ou de hiperestesia,
perda de forças até a paralisia de membros, podendo haver depressão,
perda de energia, falta de memória até síndromes de demência como a
psicose de Korsakoff e a encefalopatia de Wernicke. Enquanto que nas
manifestações cardíacas, são denominadas de Beribéri úmido, que se
manifesta por falta de ar, aumento do coração, palpitações, taquicardia,
alterações do eletrocardiograma, inclusive insuficiência cardíaca do
tipo débito elevado.
As Vitaminas B2 são compostos amarelados isolados de alimentos
que foram denominados de flavinas. Ficou sendo chamada de Ribo-
flavina. As doses diárias recomendadas são 1,7 mg para homens e 1,6
mg/dia para mulheres. Desempenha um papel importante no metabo-
lismo energético e como protetor das bainhas dos nervos. É um fator
importante no metabolismo de enzimas. As primeiras manifestações
de carência são inflamações da língua, rachaduras nos cantos da boca,
lábios avermelhados, dermatite, seborréia da face, tronco e extremi-
dades, anemia e neuropatias. Nos olhos, pode surgir a neoformação
de vasos nas conjuntivas, além de catarata. As carências de vitamina
B2 costumam acompanhar a falta de outras vitaminas.
Vitamina E (alfatocoferol) substância lipossolúvel é considerada
aquela que possui determinada participação na prevenção da ateroscle-
rose por meio da inibição do processo oxidativo do LDL-colesterol,
encontrada na natureza sob quatro formas diferentes (ß,γ,δ e α), sendo
α-tocoferol a forma antioxidante mais ativa e amplamente distribuída
nos tecidos e no plasma. De acordo com Cordeiro (1996), alguns estu-
dos epidemiológicos têm revelado associação entre elevada ingestão
na dieta de rotina ou alta concentração plasmática de alfatocoferol
e baixa incidência de cardiopatia isquêmica. Esta vitamina também
é muito importante em casos de sintomas da menopausa, displasia
mamária, TPM, dismenorréia, alergias, diabetes, prevenção da cata-
rata, nevralgia pós-herpética e na preparação de atletas.
abacate como fonte terapÊUTICA • 223

3. Colesterol - “O vilão”
Segundo os Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabo-
logia (1999), os Lipídios são um grupo heterogêneo de compostos
relacionados direta ou indiretamente com ácidos graxos, que possuem
a propriedade de ser relativamente insolúveis em água e solúveis em
solventes apolares. Os seguintes lípidios são importantes para o ser
humano: ácidos graxos, triglicérides (TG) e fosfolípides. O colesterol
(lipídeo) é um álcool monoídrico não saturado da classe dos esteróides.
Os ácidos graxos são constituídos por cadeias de carbono hidrocar-
boxiladas, podendo apresentar-se como saturados e insaturados, como
exemplos de ácidos graxos saturados temos, os ácidos láurico, palmíti-
co, mirístico e esteárico e, de insaturados, os ácidos oléico, linoléico e
os do grupo ômega-3. Grob (1989) relata que os mesmos têm função
energética e participam da síntese de lipoproteínas e prostaglandinas.
Os TG são formados pela esterificação do glicerol por três moléculas
de ácidos graxos, sendo usado de imediato ou armazenado para pos-
terior utilização. Naveh (2002), diz que os fosfolípidios são formados
por glicerol, ácido graxo, base nitrogenada e fósforo. O colesterol pode
se apresentar sob a forma livre ou esterificada (ésteres de colesterol),
não sendo encontrado nos vegetais. Juntamente com os fosfolipídios,
possui função estrutural, formando a dupla camada que constitui as
membranas celulares e a camada única que reveste as lipoproteínas,
sendo precursor de ácidos biliares, hormônios esteróides e vitamina D.
Os lipídeos são transportados no organismo sob a forma de partículas
denominadas lipoproteínas, formadas por uma capa hidrofílica cons-
tituída por fosfolipídios, colesterol livre e proteínas, envolvendo um
núcleo hidrofóbico que contém TG e colesterol esterificado. As proteí-
nas são denominadas apolipoproteínas ou apoproteínas, que além da
sua função estrutural, interagem com receptores da membrana celular
e/ou atuam como co-fatores enzimáticos (Kuust, 1989).
De acordo com Costa et al (1997), o colesterol é encontrado so-
mente em alimentos de origem animal, portanto, para reduzir a in-
gestão, deve-se restringir o consumo de leite integral e seus derivados
(queijos amarelos, manteiga, creme de leite), biscoitos amanteigados,
“croissants”, folhados e sorvetes cremosos, além de carnes vermelhas
gordurosas, carne de porco, “bacon”, embutidos em geral (lingüiça,
salsicha, frios), vísceras (como fígado, coração, língua) e alguns ani-
224 • ABACATE

mais marinhos.
Dos ácidos graxos monoinsaturados, pertencentes à série ômega-9,
cujo precursor é o ácido oléico, as principais fontes dietéticas são
o óleo de oliva, óleo de canola, azeitona, abacate e as oleaginosas
(castanha, nozes, amêndoas). Segundo Jialal (1992), entre os principais
efeitos dos ácidos graxos monoinsaturados, incluem-se o de diminuir
o colesterol total e o LDL-colesterol, ser antitrombótico e inibir a
agregação plaquetária.
O ácido oléico é o mais comum dos ácidos graxos monoinsaturados
e se encontra na maioria das gorduras animais, bem como em azeito-
nas, sementes e nozes. O ácido linoléico é o expoente mais importante
da série (ω-6) e está presente de forma abundante nos óleos vegetais
como girassol, cártamo, milho etc. O ácido α-linoléico, representante
da família ω-3, é encontrado em quantidades apreciáveis em sementes
oleaginosas como canola, soja e linhaça (DOLORES, 2003).
No óleo de oliva, predomina o ácido oléico (ω-9), além do alto
teor de α-tocoferol, isômero ativo da vitamina E. O fato de a estrutura
molecular do ac. oléico ter somente uma dupla ligação, justamente na
presença da vitamina E, confere ao óleo de oliva maior proteção contra
a peroxidação lipídica. Essa é uma das vantagens do óleo de oliva que
estimula sua utilização na terapia nutricional (WAITZBERG, 2002).
O óleo de abacate é constituído de 60 a 84% de ácidos graxos in-
saturados e se destaca pelo alto teor de ácido oléico (TANGO, 2004). O
teor de óleo na polpa varia segundo os diferentes cultivares e dentro de
uma mesma variedade pode sofrer variações com a altitude, insolação,
queda pluviométrica e umidade relativa do ar (LUCCHESI, 1975). As-
sim como Tijero (1974) cita que o conteúdo de óleo no abacate varia
com o grau de maturação do fruto, o teor de óleo na polpa do abacate
eleva-se progressivamente, desde o inicio da formação do fruto até
sua maturação.
O significado nutricional da presença de ácidos graxos trans as-
sume importante papel, uma vez que interferem no metabolismo dos
ácidos graxos essenciais, possuem propriedades físicas, químicas e me-
tabólicas comparáveis à dos ácidos graxos saturados e muitas questões
relacionadas à absorção, catabolismo e incorporação nas membranas
celulares ainda não foram completamente elucidadas. Ainda segundo
Matvienko (2002), na natureza, os ácidos graxos apresentam-se pre-
abacate como fonte terapÊUTICA • 225

dominantemente na forma cis, sendo os isômeros trans praticamente


presentes em quantidades muito pequenas em óleos e gorduras vegetais
naturais não refinados. Já em produtos de origem animal, especial-
mente leite e derivados, o teor de ácidos graxos trans pode chegar até
5% do total de ácidos graxos presentes na gordura total.

Tabela – 5. Composição em ácidos graxos do óleo de abacate


da variedade Margarida, comparado as especificações do Mercado
Internacional de óleo bruto, bem como composição de diferentes va-
riedades.
Óleo da Óleo da Óleo da Óleo da
% Ácidos cultivar Padrão Inter- cultivar cultivar cultivar
Graxos Margarida nacional Wagner Quintal Fuerte
Mirístico 0,13 Max 1,0 0,02 - 0,04
Olamítico 27,74 Max 13,0 20,53 19,86 20,84
Palmitoléico 3,92 Max 3,5 4,64 4,20 5,63
Esteárico 1,07 Max 1,0 0,50 0,86 0,69
Oléico 55,81 Max 78,0 66,47 66,20 62,99
Linoléico 15,30 Max 12,0 7,09 8,85 9,35
Linolênico 1,03 Max 1,0 0,79 - 0,37
Fonte: Daniele (2006).

Em um estudo realizado por Danieli (2006), verificou-se que o
óleo contém uma quantidade menor de ácido oléico quando compa-
rado aos óleos extraídos das variedades Wagner, Fuerte e Quintal, mas
encontra-se dentro dos limites do padrão internacional.

4. O uso do abacate na medicina Popular


Em pesquisa feita por Annichino et al (1986), nos municípios de
Dois Córregos, Bocaina, Piratininga, Duartina, Presidente Alves, Bo-
racéia e Potunduva (distrito de Jaú), pertencentes à região de Bauru
(7ª Região Administrativa). Duartina, Piratininga e Presidente Alves
pertencem à microrregião de Bauru, Bocaina, Boracéia e Dois Cór-
regos, além do distrito de Potunduva, se incluem na microrregião de
Jaú, contatou-se o uso freqüente pelos moradores do abacate como
ferramenta medicinal. Da seguinte forma: das folhas do abacateiro se
226 • ABACATE

faz um chá que possui a fama de ser diurético e carminativo, ou seja,


que elimina gases intestinais. O caroço tostado e moído bem fino com-
bate à diarréia e a disenteria. É conhecido, também por seus poderes
afrodisíacos. Segundo a crença popular, a polpa do abacate é um ótimo
estimulante sexual, assim como seus botões florais. Quem sofre de dor
reumática e dor da gota possui no azeite de abacate um bom remédio.
Segundo Ravagnani(1981) e Lainetti (1979), é aconselhado a pessoas
que sofram de obstipação, problemas digestivos, flatulência, problemas
de pele, reumatismo entre outras indicações. As cascas são benéficas
para combater problemas de hemorragias.
O abacate também é muito utilizado pela indústria de cosmé-
ticos, em forma de cremes nutritivos e hidratantes, xampus, emulsão
protetora hidratante, creme de limpeza, máscara refinadora, creme de
mãos e unhas, sabão cremoso, leite de limpeza, entre outros.
Segundo Balbach (2004), as utilidades medicinais do abacate
seriam:
• Aftas- mastigar as folhas tenras (brotos novos) da planta, tendo
o cuidado de se fazer a higiene dessas folhas.
• Amidalite- Deve fazer-se um gargarejo com o chá das fo-
lhas, combinado com um chá de tanchagem conseguindo uma
maximização do efeito;
• Bronquite- Para esta enfermidade as folhas do abacateiro
devem ser fervidas e tomadas como chá morno, seu efeito
melhor é melhor quando se mistura a esse chá de própolis e
guaco, tomando-se de duas a quatro xícaras por dia.
• Cansaço- Afirma-se que a folha do abacateiro contém proprie-
dades revitalizantes. Recomenda-se tomar esporadicamente
o chá juntamente com limão e mel;
• Diarréia - Caroço tostado e moído bem fino. Dissolver duas
colherinhas deste pó em uma xícara de água morna. O efeito
é mais potente se, em lugar de água, for utilizado o decocto
dos brotos da goiabeira.
• Distúrbios da digestão- Recomenda-se o chá das folhas do
abacateiro para a dispepsia atônica;
• Dor-de-cabeça- devem ser feitas compressas com o chá morno
das folhas e colocadas sobre à cabeça. Convém também bebê-
lo;
abacate como fonte terapÊUTICA • 227

• Tosse - Chá das folhas do abacateiro, morno, com mel, tomado


aos goles;
• Verminoses - Lavar e moer bem a casca de abacate e misturar
em partes iguais com casca de limão ralado, acrescentar mel
e tomar em jejum uma colher de sopa.

5. O abacate como fonte terapêutica


Graeff (1993) relata que várias são as causas que podem provo-
car irritabilidade e descontrole emocional. Antenas de TV, torres de
celular e altos níveis de poluição eletromagnética na atmosfera estão
provocando aumento no potencial bioelétrico, o que causa inúmeros
males, inclusive confusão nas ligações neuronais e conseqüente baixa
de serotonina, substância sedativa e calmante que eleva o humor e pro-
duz sensação de bem-estar. Segundo Banki (1991) pessoas sob estresse
profundo e desvitalização bioenergética acabam por perder o controle
dos impulsos, e a baixa da serotonina cria quebras na formação de
outros neurotransmissores controladores do comportamento explosivo.
Os níveis cerebrais de serotonina também são dependentes da ingestão
de alimentos fontes do aminoácido triptofano e de carboidratos.
Uma alimentação pobre em carboidratos, assim como uma ali-
mentação com excesso de proteínas, por vários dias, pode levar as
alterações de humor e depressão. Rohlfs (2005) diz que a serotonina
talvez seja um dos mais importantes neutransmissores do cérebro. Seus
níveis determinam se a pessoa está deprimida, propensa à violência,
irritada, impulsiva ou gulosa. E as principais fontes de triptofano são
o leite e iogurte desnatados, queijos brancos e magros, carnes magras,
peixes, nozes, banana, arroz, batata, feijão, lentilha, castanhas, abacate,
soja e derivados.
O Diabetes mellitus é uma doença endócrina que altera o me-
tabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e de outras substâncias.
Emerge de forma global como um importante problema de saúde
pública, atingindo cerca de 142.5 milhões de pessoas em todo mundo,
sendo o Diabetes mellitus tipo 2 responsável por 90% do total de casos
existentes da síndrome (RODRIGUES, 2003). Os fatores de risco são a
obesidade, a idade e os fatores genéticos, surgindo em geral, em indi-
víduos acima de 40 anos. A síndrome cursa com diversos graus de de-
ficiência na produção e na ação da insulina, tendo seu início freqüente-
228 • ABACATE

mente insidioso, podendo levar anos até chegar ao diagnóstico. Cerca


de 80% dos pacientes são obesos. A ingestão excessiva de calorias é
um fator importante, sendo que a obesidade, em particular a obesidade
intra-abdominal, é provavelmente o mais poderoso fator de risco e
mesmo pequena perdas de peso estão relacionadas a uma alteração
nos níveis de glicose em direção ao normal em indivíduos com este
tipo de diabetes. Segundo Santiago (1994), um importante objetivo do
tratamento é prover o indivíduo com as ferramentas necessárias para
atingir o melhor controle glicêmico possível para prevenir, retardar
ou interromper as complicações micro e macrovasculares do paciente
enquanto minimiza a hipoglicemia e o excesso de ganho de peso, in-
cluindo terapia nutricional, medicações, exercícios, monitorização da
glicose sangüínea e autotratamento. As pessoas com Diabetes Mellitus
tipo 2 têm um aumento de 2 a 4 vezes na prevalência da dislipidemia
devendo limitar o consumo de gorduras a < 30% das calorias totais
diárias. A ingestão de gorduras polinsaturadas (óleo vegetais) deve ser
< 10% de calorias, com gordura monoinsaturada (azeite de oliva, aba-
cate) na faixa de 10-15% de calorias e colesterol < 300 mg diários. É
recomendado o consumo diário de 20-25 g de fibra dietética de ambas
as fontes (solúveis e insolúveis) e de uma ampla variedade de origens
alimentares (verduras, legumes, frutas, alimentos integrais).
Mesmo não considerado como fonte protéica, o abacate contém
quantidades muito superiores deste nutriente quando comparado às
outras frutas (SALGADO, 2005), sendo que tanto a variedade como
o clima de cultivo podem interferir no teor dos nutrientes do fruto.
Segundo Credidio (2004), dada à relevância do consumo de abacate em
dietas de determinados países, incluindo o Brasil, estudos foram feitos,
especialmente no México, relatando o papel protetor que os compo-
nentes do abacate possuem tanto na prevenção como no tratamento
de cardiopatias. Ainda segundo o mesmo autor em 1992 foi publicada
a primeira evidência científica sobre a eficácia do abacate como fonte
de ácidos graxos monoinsaturados em pessoas saudáveis, reduzindo o
colesterol total, o colesterol de baixa densidade (LDL) e os triacilgli-
ceróis. Em 1997, foi constatado em pacientes com hipercolesterolemia
que, além do consumo do fruto induzir redução nas taxas de colesterol
total, LDL e TAG, ele favorece o aumento desejável nos níveis do
colesterol de alta densidade (HDL). Conforme a American Diabetes
abacate como fonte terapÊUTICA • 229

Association (2000), os resultados do consumo de dietas compostas por


abacate aparecem logo após o período de uma semana, onde já ocorre
alterações sensíveis nos indicadores lipídicos do sangue. Além disso,
já foi identificado que o consumo do abacate influencia também na
glicemia. Após quatro semanas consumindo dieta contendo abacate,
mulheres diabéticas insulino dependentes, compensadas e sem com-
plicações graves decorrentes da patologia, tiveram redução tanto no
colesterol sérico total como na glicemia.
De acordo com Salgado (2005), o consumo de abacate auxilia
no tratamento de doenças crônicas, especialmente nas cardiopatias, di-
abetes e dislipidemias, isso devido ao fato de que parte da sua gordura
é monoinsaturada. Sua composição é nutricionalmente interessante
dada às quantidades significativas de ácido oléico, vitamina C, fibras,
esteróis e mesmo calorias. Estudos comprovando os benefícios do
consumo do fruto em longo prazo ainda são requeridos no sentido de
reforçar seu papel terapêutico. Em pesquisa realizada pelo mesmo au-
tor, onde foi avaliada a influência do consumo de abacate da variedade
Hass, durante sessenta dias, nos níveis séricos de colesterol total, HDL
e LDL colesterol, triglicérides, colesterol hepático e excretrado de ratos
hipercolesterolêmicos. Ao final de 30 dias, a dieta com 15% de abacate,
mostrou ser mais efetiva para reduzir os níveis de colesterol total, HDL
e LDL em comparação ao controle. Independente do tempo de estudo,
foi percebido que para o teor de colesterol excretado a melhor dieta
foi a de 5% de abacate, pois quanto maior a concentração de abacate,
menor a excreção de colesterol. A dieta com 5% também foi a que in-
fluenciou nos níveis de triglicérides e colesterol hepático independente
do tempo de análise. Além disso, a grande quantidade de gordura é
um importante fator para a biodisponibilidade dos carotenóides. Unlu
et al. (2005) verificaram que a adição de abacate e óleo de abacate na
salada, como únicas fontes lipídicas, aumentaram signicativamente a
absorção de leuteína e a ß-carotenos.
Salgado (2005), nos remete que a imagem do abacate, vilão das
frutas por conter alta taxa de gordura, está com seus dias contados.
Pesquisas recentes indicam que a fruta pode trazer benefícios à nossa
saúde se incluída com freqüência na dieta. Os abacates, assim como
outras frutas e vegetais, contém vitaminas A e do complexo B e alguns
sais minerais como ferro, cálcio e fósforo. São ricos em vitaminas E e
230 • ABACATE

C, potentes antioxidantes que ajudam a promover a saúde dos dentes


e gengivas, e protegem os tecidos do corpo de danos oxidativos. Além
disso, a presença de folatos (vitamina do complexo B) no abacate,
promove o desenvolvimento saudável das células e tecidos. Recente-
mente, pesquisas têm mostrado que o abacate é rico em fitonutrientes,
substâncias naturais da planta que funcionam como nutrientes agem
como antioxidantes neutralizando a ação de radicais livres e auxiliam
na redução do risco de doenças, tais como as cardiovasculares e o cân-
cer. Esses fitonutrientes recentemente descobertos no abacate são o beta
sitosterol e a glutatoína. O beta sitosterol auxilia na redução dos níveis
de colesterol enquanto que a glutatoína, age como um antioxidante. Os
antioxidantes ajudam o corpo a neutralizar a ação dos radicais livres,
os quais têm sido apontados como um dos fatores responsáveis no
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e câncer.
Segundo Jansen (2006), o abacate, é uma das melhores fontes
de glutatoína, podendo oferecer certa proteção contra o câncer oral,
de garganta e outros tipos de câncer, segundo investigações recentes.
Vários estudos têm mostrado que o abacate regula os níveis de coles-
terol no sangue. Mercatelli (2007), relata que numa das pesquisas,
cardiologistas australianos estudaram o efeito do tipo de dieta sobre
o nível do colesterol sangüíneo em 15 mulheres, submetidas a dois
tipos de dietas alternadas, durante três semanas, elas consumiram uma
refeição com 37% das calorias provenientes da gordura do abacate,
usado cru em saladas. Após esse tempo, passaram a ingerir refeições
à base de um cardápio pobre em qualquer espécie de gordura. Os re-
sultados dessa pesquisa mostraram que nas duas dietas houve diminu-
ição dos níveis do colesterol sangüíneo, mas na dieta com abacate o
resultado foi muito mais significativo, ou seja, os níveis de colesterol
sangüíneo diminuíram cerca de 8,2%, comparado com 4,9% na dieta
sem abacate.
No Japão, na Universidade de Shizuoka, outras pesquisas têm sido
desenvolvidas para comprovar os poderes do abacate em proteger o
corpo contra toxinas que prejudicam o fígado. Entre 22 frutas pesqui-
sadas, o abacate mostrou-se o mais capaz em diminuir os danos pro-
vocados no órgão por fatores semelhantes aos causados por hepatites
virais.
Assim como o controle das doenças cardiovasculares pode ser feito
abacate como fonte terapÊUTICA • 231

com o auxílio de medicamentos ou através de dietas, que geralmente


são indicadas como prevenção pelos cardiologistas. Recomendações
recentes sugerem que o consumo de grãos, frutas e vegetais deve ser
aumentado para se prevenir ou tratar essas doenças (COMMITTEE
ON DIET AND HEALT,1989). Dentre os possíveis componentes
destes alimentos, que teriam ações hipocolesterolêmicas destacam-
se as proteínas vegetais, as fibras e alguns compostos fitoquímicos
como esteróis/estanóis, ácido fítico, taninos inibidores de enzimas,
saponinas, entre outros. Entre os alimentos fontes destas substâncias,
o óleo de abacate se destaca pela excelente qualidade nutricional. Al-
guns estudos dizem que o óleo é rico em ß-sitosterol e ácido oléico,
uma gordura insaturada utilizada como coadjuvante no tratamento de
hiperlipidemias.
Além disso, assemelha-se muito com o óleo de oliva (importado e
altamente consumido no País), por ser extraído da polpa dos frutos e
pela similaridade de suas propriedades físico-químicas, principalmente
pela composição de seus ácidos graxos, predominando em ambos o
ácido oléico (TANGO, et al., 2004).
Além da possibilidade de introduzir o óleo de abacate puro para
uso comestível como substituto do óleo de oliva, uma das alternati-
vas para oferecer ao consumidor brasileiro um produto de qualidade
superior seria a produção de óleo de oliva e abacate mesclado, em
substituição às misturas de óleo de oliva com óleos vegetais (óleo
de soja), normalmente oferecidas pelo mercado interno com a finali-
dade de diminuir os custos de importação do azeite de oliva no Brasil
(SOARES et al. 1992).
Danieli (2006), verificou que, embora as quantidades de campes-
terol e estigmasterol presentes no óleo de abacate da variedade Marga-
rida inferiores às quantidades presentes no óleo de oliva, a quantidade
de ß-sitpsterol presente em ambos era muito semelhante. Fator muito
importante, pois este componente é o esterol presente em maior quan-
tidade no azeite de oliva responsável pela redução dos níveis séricos
de LDL- colesterol.
232 • ABACATE

Tabela – 6. Comparação da composição de esteróis de abacate


da variedade Margarida com a composição de esteróis do azeite de
oliva.
Esteróis Óleo de abacate Azeite de oliva
Campesterol 6,6 14,35
Estgmasterol 1,5 16,61
B-sitosterol 71,8 69,04
Fonte: Daniele (2006).

Portanto, a imagem do abacate como uma fruta que mais trazia
malefícios do que benefícios estão com os dias contados, pois é uma
fruta com excelentes qualidades nutricionais e terapêuticas, podendo
sim ser incorpora com o titulo de fruta fonte de saúde.

6. Substâncias insaponificáveis no abacate e a redução do
colesterol
Segundo Danieli (2006), o óleo de abacate apresenta um eleva-
do teor de insaponificáveis (1 a 4%), quando comparado aos óleos
comestíveis comuns, como, por exemplo, o de soja ou o de girassol.
Definem-se insaponificáveis como sendo substâncias presentes comu-
mente nos óleos de origem vegetal e animal, insolúveis em água e não
susceptíveis de modificações por reações de saponificação.
O valor comercial da fração insaponificável do óleo de abacate é
muito elevado, em decorrência de suas conhecidas propriedades me-
dicinais e cosmetológicas. Sua utilização é devido às propriedades
funcionais, onde geralmente se usa o óleo enriquecido com alta con-
centração de insaponificáveis.
Os componentes geralmente encontrados na fração insaponificável
dos óleos e gorduras são os esteróis, álcoois, alifáticos e terpênicos,
hidrocarbonetos terpênicos, tocoferóis, dentre outros compostos, al-
guns ainda não elucidados. O componente predominante nos insa-
ponificáveis do abacate é o grupo dos esteróis e o responsável por
80% dessa fração é o beta-sisosterol. Outros esteróis presentes são o
campesterol, stigmasterol e colesterol.
Os fitoesteróis ou esteróis vegetais são os componentes chaves das
membranas celulares vegetais, assim como o colesterol é um compo-
abacate como fonte terapÊUTICA • 233

nente chave das membranas celulares animais. Existem mais de 40


tipos de esteróis vegetais, mas, relativamente poucos são encontrados
em quantidades significantes em alimentos. Os fitoesteróis mais abun-
dantes são os já citados beta-sitosterol, campesterol e o estigmasterol,
que apresentam uma estrutura química semelhante ao colesterol, dife-
rindo somente em seus comprimentos de cadeia lateral. Esta similari-
dade na estrutura explica a capacidade dos fitoesteróis em reduzir o
colesterol.
De acordo com Moreno et al (2001), o β-sitosterol é um dos
componentes do azeite de oliva responsável pela redução de doen-
ças cardiovasculares e desenvolvimento de câncer no Mediterrâneo.
Em estudos realizados anteriormente conclui-se que o β-sitosterol
inibe a produção de O2 (-) e H2O2 (peróxidos), compostos estes que
contribuem para o aumento das doenças cardiovasculares e placas de
aterona.
Matvienko et al (2002), mostrou em seu estudo radomizado, que
o consumo de 1,3 β-sitosterol ao dia, durante 30 dias reduziu em até
14,6% o LDL-colesterol no plasma de estudantes do sexo masculino
moderadamente hipercolesterolêmicos. Esta redução está associada ao
papel preventivo dos fitoesteróis na redução do colesterol plasmático,
que vem se confirmando cada vez mais.
Foi investigado por Werman (1991) o efeito da ingestão de vários
tipos de óleo de abacate no metabolismo hepático de ratas fêmeas.
Os animais foram alimentados com dietas contendo 10% de óleo de
abacate durante 4 semanas e ratos alimentados com óleo refinado ob-
tido através da centrifugação da polpa úmida foram comparados com
ratos alimentados com óleo bruto extraído por solvente orgânico. Os
resultados mostraram que os ratos alimentados com o óleo extraído
do caroço exibiram um aumento da incorporação de acetato (1-14C)
nos lipídeos totais do fígado. Além disso, foi observada uma redução
significativa nos níveis de triglicerídios e colesterol total dos ratos
alimentados com óleo extraído do caroço.
Estudos clínicos também demonstraram que adição a de fitoesteróis
na dieta reduz os níveis plasmáticos de colesterol total e LDL-coleste-
rol. Em humanos, há necessidade de no mínimo 3 g/dia de fitoesteróis
para a redução da colesterolemia, embora as concentrações de HDL-
colesterol não se alterem. Esses resultados levaram ao enriquecimento
234 • ABACATE

de margarinas comercialmente disponíveis, com ésteres de fitosteróis


ou fitostanóis, que são os fitoesteróis reduzidos (LAW, 2000).
O valor comercial da fração insaponificável do óleo de abacate
é muito elevado, em decorrência de suas propriedades medicinais e
cosmetológicas. Sua utilização decorre das propriedades funcionais,
e em geral utiliza-se o óleo enriquecido com altas concentrações de
insaponificáveis (MEDINA, 1978).
Em estudo com diferentes variedades analisando o teor de óleo,
Danieli (2006), constatou que o óleo da variedade Margarida destacou-
se em relação às demais, pelo seu alto teor de beta-sitosterol e campes-
terol, com a vantagem de possuir menor quantidade de colesterol,
como pode ser visto na tabela 07.

Tabela 07. Compostos presentes na fração esterólica de abacate,


em g/100g de esteróis totais.
Variedades de abacate
Esteróis Margarida Fuerte Waldin
Colesterol 0,3 1,8 2,3
Campesterol 6,6 6,3 4,9
Stigmasterol 1,5 0,8 1,1
Beta-sitosterol 71,8 8,7 83,7
Delta-5-avenasterol 7,0 1,8 5,8
Sitostanol 6,0 - -
Clerolterol 13,4 - -
Campestanol 0,7 - -
Outros 2,7 - -
Fonte: Daniele (2006).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBEY, M. Antioxidant Vitamins and low-density-lipoprotein oxida-


tion. American Journal Clinical Nutrition, Australia, n.53, p.201-
205, 1991.

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION ANO 2000 III - Re-


abacate como fonte terapÊUTICA • 235

comendações de nutrição para pacientes diabéticos. Diabetes


Clínica,v.4,p.128 – 132, 2000.

ANNICHINO, G.P, et al. Medicina caseira em sete localidades da


região de Bauru SP, Caderno da Saúde Pública,  Rio de Janeiro 
v.2, n.2,  Apr-Jun 1986.

BALBACH, A. e BOARIM, D.S. F., As frutas na medicina natural,


jul, 2004. Disponível em: <http://www.todafruta.com.br/todafruta/
mostra_conteudo.asp?conteudo=6293>. Acesso em:19 mar. 2007.

BANKI, Csaba M. Serotonin: La chica de moda in Biological Psy-


chiatry?. Biol. Psych. 1991 v.29, n. 29. p.949-952.

BEMSTAR, alimentos podem substituir remédios, 2004. Disponível


em:<http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteúdo.asp
conteudo=5804>, Acesso 25 mar. 2007.

BENDICH, A. Vitamins and immunity. Jornal of Nutrition, Boston,


122, p.601-603, 1992.

CARDOSO, A. M.; MATTOS, I. E.; KKOIFMAN, R.J. Prevalência


de fatores de risco para doenças cardiovasculares na população Gua-
rani-Mbyá do Estado do Rio de Janeiro. Caderno de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, mar-abr. 2001, v.17, n.2, p.345-354, 2001.

COMMITTEE ON DIET AND HEALTH. Diet and helth implica-


tions for reduncing chronic disease risk. National Academy Press,
Washington DC: 1989.

CONSENSO BRASILEIRO SOBRE DISLIPIDEMIAS DETECÇÃO:


AVALIAÇÃO E TRATAMENTO. Arquivos Brasileiros de Endo-
crinologia & Metabologia, São Paulo,  v.43 n.4   Aug. 1999.

CORDEIRO, M.B.C. Aumento da atividade da superoxido dismutase


no eritrócito de retos deficientes em vitamina E e submetidos a ne-
frectomia subtotal. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILE-
236 • ABACATE

IRA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (SBAN), 1996. São Paulo.


Resumos... São Paulo: SBAN, 1996. 135p.

COSTA, R.P. e MARTINEZ, T. da R. Revista da Sociedade Cardio-


logia, São Paulo v. 7, n. 4 Jul-Ago, 1997.

CREDIDIO, E. ABACATE, UMA FRUTA COMPLETA, 2004.


Disponível em: <http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_con-
teudo.asp?conteudo=6271>. Acesso em: 25 mar.2007.

DANIELI, F. Óleo de abacate (Persea americana Mill.) como ma-


téria prima para a industria alimenticia. 2006. 48 f. Dissertação
(Mestrado em Ciência)- Faculdade de Ciências e Tecnologia de Ali-
mentos, ESALQ / USP, Piracicaba, 2006.

DOLORES, B. G. M. E., de los. Modulação da composição de áci-


dos graxos poliinsaturados ômega 3 ovos e tecidos de galinhas
poedeiras, através da dieta.1.Estabilidade oxidativa. 2003. 120 f.
Tese (Doutorado em Ciência)- Faculdade de Ciências Farmacêuticas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

FOLHA DE SÃO PAULO, Dieta balanceada supre necessidade de vi-


taminas, 2003. Disponível em:<http://www.todafruta.com.br/todafru-
ta/mostra_ conteúdo.asp conteudo=4790>. Acesso em: 21 jun. 2007.

GONDIM, J. A. M. et al. Composição Centesimal e de Minerais em


Cascas de Frutas. Ciência e Tecnologia na Alimentação, Campinas,
v. 25 n.4, p. 825-827, out-dez.2005.

GRAEFF F. et al, 1993. Serotonina : a molécula da ansiedade e da


depressão. Ciência Hoje,16 (94) p.50 - 58.

GROB, K.; LANFRANCHI, M. Determination of Free and Esteri-


fied Sterols and of Was Esters in Oils and Fats by Coupled Liquid
Chromatography-GasChromatography, Journal of Chromatography,
v.471, p.397-405, 1989.
abacate como fonte terapÊUTICA • 237

JANSEN, P. As gorduras presentes do abacate fazem bem para a


saúde. Medplan, 2006. disponível em: <http://www.medplan.com.
br/novo/secao.php?s=6&id=1066>. Acesso em: 25 mai. 2007.

JIALAL, I.; GRUNDY, S.D. Influence of antioxidant vitamins on


LDL oxidation. Annais of the New York Academy Sciences, New
YorK, n.30, p.237-248,1992.

KLACK, K. e Carvalho, J. F. Vitamina K: metabolismo, fontes e in-


teração com o anticoagulante varfarina. Revista Brasileira de Reu-
matologia, São Paulo,  v.46, n.6, p. 398-406 , nov./dez. 2006.

KUUST, G.H.; VANHANEN, H.; MIETTINEN, T.A. Apolipoprotein


E phenotype and cholesterol metabolism in familial hypercholestero-
leimia. Atherosclerosis, Ireland. N.80, p.27-32,1989.

LAINETTI, R. & BRITO, N.R.S. A cura pelas ervas e plantas medici-


nais brasileiras. Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1979. p. 169. 

LAW, M. Plant sterol and satanol margarines and health. British


Medical Journal, London, n. 320, p. 861-864, 2000.

LUCCHESI, A. A, Evolução do teor de óleo em frutos do abacateiro


em diferentes regiões do Estado de são Paulo. 1975. 91 p. Dissertação
(mestrado) Escola Superior de agricultura Luiz de Queiroz, Universi-
dade de São Paulo, Piracicaba, 1975.

MATVIENKO, O. A., LEWIS, D.S.; SWANSON, M.; ARNDT, B.;


et al. A single daily dose of soybean phytosterols in ground beef de-
creases serum total cholesterol and LDL cholesterol in young, mildly
hypercholesterolemic men. American Journal of Clinical Nutrition,
London, v.76, n.1, p.57-64, jul 2002.

MEDINA, J.C. Abacate: da cultura ao processamento e comer-


cialização. Campinas: Ital, 1978. 255p.

MERCATELLI, R. Coração: para o peito bater forte. Disponível em:


238 • ABACATE

< http://www.geocities.com/mopetroy/Coracao.htm>. Acesso em: 25


mai. 2007.

MORENO, J.J.; et al. Olive oil decreases both oxidative stress and
the production of arachidonic acid metabolites by the prostaglandin
G/H Synthase Pathway in Rat Macrophages. Journal of Nutrition,
Barcelona, n.131, p. 2145-2149, 2001.

NAVEH.; WERMAN M.J.; SABO E.; NEEMAN I. Defalted avocado


pupo reduces body weight and total hepatic fat but increases plasma
colesterol in male rats fed diets with cholesterol. Journal of Nutrition,
Haifa, v.132, p.2015-2018,2002.

PROTASIO R. Vitaminas: elas tem a força, Jul, 2005. Disponí-


vel em: <http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.
aspconteudo=9692>. Acesso em: 25 mar. 2007.

RAVAGNANI, O.M. Medicina popular no estado de São Paulo. Ara-


raquara, 1981. (Dissertação de mestrado — Instituto de Letras, Ciên-
cias Sociais e Educação — UNESP).

RODRIGUES, A.M., Terapêutica nutricional do adulto com diabetes


mellitus tipo 2. BD Terapêutica, 2003. Disponível em: <http://www.
dbbomdia.com/periodicos/terapeutica/art_04.html>.

SALGADO, J.M. Alimentos Inteligentes. São Paulo: Editora Presti-


gio, 2005. p. 32-38.

ROHLFS, I. C. P.de M. Relação da síndrome do excesso de treina-


mento com estresse, fadiga e serotonina. Revista Brasileira Médica
de Esporte, Niterói, v. 11, n. 6, p.367-372, Nov-Dez. 2005.

SALGADO, J.M.; BIN, C.; CORNELIO, A.R. Efeito do abacate


(Persea Americana Mill) variedade Hass na lipidemia de ratos hi-
percolesterolêmicos: versão preliminar. In: SIMPOSIO LATINO
AMERICANO DE CIENCIA DOS ALIMENTOS, 6., 2005. Campi-
nas. Anais... Campinas, UNICAMP, 2005. 1 CD ROOM.
abacate como fonte terapÊUTICA • 239

SANTIAGO, S. V. (ed); Medical Managenent of Insulin - Dependent


(type 1 ) Diabetes Ind. Ed. Alexandrina, V.A., American Diabetes As-
sociation, 1994.

SOARES, S. E., et al. Sensory detection limits of avocado oil in


mixtures with olive oil. Revista Española de Ciencia y Tecnologia
de Alimentos, v. 85, n.6, p. 2337-2344, 1992.

TANGO, J. S. et. al. Caracterização física e química de frutos de aba-


cate visando o seu potencial para extração de óleo. Revista Brasileira
de Fruticultura, Cruz das almas, abr., v. 26, n.1, p. 17-23, 2004.

TIJERO, R. F. Cultivo Del palta. Servicio de investigacion y promo-


cion agraria. Boletim técnico do Ministerio da Agricultura, Lima,
v.52, p. 431-436, 2005.

UNLU, N.Z.; et al. Carotenoid absorption from salad and salsa by


humans is enhanced by the addtion of avocado or avocado oil. The
Journal of Nutrition, Philadelphia, Mar; n.135, p.431-436, 2005.

WAITZBERG, D. Gorduras. Nutrição oral, enteral e parente-


ral na prática clínica. 3 ed. São Paulo: Editora atheneu, 2002, c.4,
p.55.78.

WERMAN, M.J; et al. Avocado oils and hepatic lipid metabolism


in growing rats., London, v. 29, n.2, p.93-99, 1991.

Potrebbero piacerti anche