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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 127-147, 2007.

Repensando a tradição: a variabilidade estilística na arte rupestre do período


intermediário de representações no alto-médio rio São Francisco

Loredana Ribeiro*

RIBEIRO, L. Repensando a tradição: a variabilidade estilística na arte rupestre do


período intermediário de representações no alto-médio rio São Francisco. Revista
do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 127-147, 2007.

Resumo: Este artigo apresenta os principais resultados das análises estilístico-


comparativas realizadas em sítios rupestres do norte mineiro e sudoeste baiano:
[1] uma periodização hipotética para a arte rupestre regional; [2] a caracterização
da distribuição e uso do espaço pelos estilos atribuídos ao período intermediário
de ocupação dos suportes; e [3] a caracterização de aspectos gráficos desses estilos,
cujo aparecimento e desaparecimento demarcam as rupturas de padrão observadas.
Aliada aos resultados da pesquisa empírica, a discussão final sobre a noção de
tradição arqueológica reflete sobre as implicações metodológicas desse conceito
na arqueologia da arte rupestre.

Palavras-chave: Arte rupestre – Brasil central – Tradição arqueológica –


Análises estilísticas.

E ste artigo discute a variabilidade


estilística na arte rupestre do norte
mineiro e sudoeste baiano no período interme-
der o desenvolvimento das manifestações
rupestres nesta região, para identificar novas
expressões e para organizar a arte rupestre
diário de representações, a partir de uma centena regional em cronologia relativa, acreditando
de sítios arqueológicos estudados entre 2001 e que uma seqüência estilística detalhada poderia
2006 (Mapa 1).1 Os abrigos analisados se ser melhor cotejada à seqüência arqueológica
distribuem por uma região que cobre cerca de estratigráfica regional, favorecendo, assim, as
17.000km2 no sudoeste da Bahia (municípios correlações entre arte rupestre e demais
de Serra do Ramalho, Coribe, Cocos, Carinhanha testemunhos de atividades humanas pré-
e Feira da Mata) e extremo norte de Minas históricas. Para definir os estilos regionais
Gerais (Montalvânia, Itacarambi e Januária). foram privilegiadas características temporais
A classificação estilística foi o critério das figuras (cronologia relativa); de inscrição
adotado nesta pesquisa para buscar compreen- no espaço (da escolha do suporte à inserção
dos abrigos na paisagem, observando os
atributos físicos e visuais recorrentes nos
suportes, abrigos e áreas onde ocorrem as
(*) Setor de Arqueologia, MHN/UFMG
(loredana.ribeiro@gmail.com) figuras de cada estilo); e gráficas (temática,
(1) Projeto de tese de doutoramento desenvolvido no MAE/ morfologia, associações preferenciais, tratamento
USP com financiamento da Fapesp (Ribeiro 2006). técnico etc.), buscando focar a análise igualmente

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Mapa 1. Localização da região da pesquisa e delimitação aproximada das concentrações de sítios estudados.

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em todos estes aspectos da arte rupestre e não mesmos estilos nas três categorias de variação pode
apenas em seus marcadores gráficos. favorecer a elaboração de periodizações hipotéticas
A pesquisa teve como ponto de partida os da arte rupestre regional, associando-a aos demais
repertórios temáticos caracterizados nas itens do registro arqueológico.
tradições rupestres descritas nos últimos vinte Adiante se apresenta a seqüência cronológi-
anos que podem ser encontrados na região em co-estilística disponibilizada pelos trabalhos
estudo: tradições Agreste, Nordeste, São contínuos da equipe do Setor de Arqueologia
Francisco e Complexo Montalvânia (Guidon com a arte rupestre do norte mineiro, apontan-
1981; Isnardis 2004; Martin 1997; Pessis 1989, do-se os limites observados nessa organização e
2003; Pessis e Guidon 2000; Prous 1989; a necessidade de mudanças na orientação das
Ribeiro e Isnardis 1996-97; Silva e Ribeiro pesquisas para obtenção de resultados mais
1996; Schmitz e outros 1997, entre outros). As abrangentes. Posteriormente é discutida uma
manifestações regionais de cada um desses periodização hipotética elaborada para a arte
padrões gráficos foram inicialmente agrupadas rupestre regional (Ribeiro 2006), na qual as
em momentos (ou níveis) crono-estilísticos de informações cronológicas disponíveis (datações
realização, definidos pela cronologia relativa e absolutas e relativas, superposições e pátinas)
aspectos gráficos das figuras. Posteriormente, os são utilizadas para inserir os estilos rupestres
momentos pertencentes a cada repertório intermediários na seqüência regional de ocupa-
temático foram comparados entre si, em busca ção humana pré-histórica e balizar cronologica-
de elementos (gráfico-temáticos, cronológicos e mente os padrões observados nas formas de
espaciais) que confirmassem sua classificação utilização do espaço e na variação gráfica dessa
independente ou que articulassem mais de um arte rupestre. A partir de então, as discussões
momento de realização de figuras na composi- são focadas em características da distribuição e
ção de um estilo (para descrições detalhadas dos uso do espaço e em aspectos gráficos das
estilos identificados, ver Ribeiro 2006: 164- manifestações rupestres do período intermediá-
229). Assim, dos doze estilos regionais definidos rio, cujo aparecimento e desaparecimento
nesta pesquisa, três deles foram atribuídos pela demarcam as rupturas de padrão observadas.
temática à Tradição Agreste, três à Tradição São A discussão desenvolvida aqui sugere que
Francisco, dois ao Complexo Montalvânia e um seria mais proveitoso deixarmos temporariamente
à Tradição Nordeste, enquanto três outros não de lado as amplas categorizações culturais e
foram atribuídos a nenhum dos repertórios buscarmos antes compreender o registro rupestre
gráficos descritos. das ocupações pré-históricas em suas particularida-
A análise regional buscou então comparar des temporais e espaciais, para depois observar
entre si as características dos estilos identificados como suas especificidades se alinham. Juntamente
em três dimensões: no tempo, no espaço e em seus com os resultados da pesquisa empírica, a
marcadores gráficos. Possíveis afiliações culturais discussão final sobre a noção de tradição
podem ser melhor discutidas com a observação de arqueológica pretende refletir sobre as
relações significativas entre estilos em mais de uma implicações metodológicas do uso desse conceito
destas dimensões do que a partir de relações na arqueologia da arte rupestre, implicações que
observadas em apenas uma delas – seja, por independem de conhecermos ou aplicarmos
exemplo, a temporal ou a gráfico-temática, a mais voluntariamente as noções de cultura subjacentes.
utilizada.2 A observação de padrões envolvendo os

1. A arte rupestre regional no Holoceno


(2) Análise inspirada na proposta de Hodder (1986) e médio: seqüências estilístico-sucessória e
Hodder e Hutson (2003) de organizar e inquirir o registro estratigráfica dos abrigos
arqueológico a partir de quatro dimensões da variação,
correspondentes ao tempo, ao espaço, à unidade deposicional
e à tipologia, para favorecer a elaboração de um contexto A região norte de Minas Gerais e o
arqueológico mais amplo. sudoeste da Bahia tem sido alvo de estudos

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arqueológicos de equipes da UFMG, da antropomorfos realistas e grafismos geométri-


UNISINOS, da UCG e do IAB, desde os anos cos, pouco freqüentes nos abrigos e em poucas
de 1970. Ao passo que a ocupação humana figuras por sítio, definindo o período antigo de
regional recebia datações muito recuadas representações rupestres. Sobre elas encontra-
(cerca de 12-11.000 AP) já na primeira década ríamos figuras geométricas, de armas e outros
de escavações, um rico e diversificado registro temas da Tradição São Francisco, descritos em
rupestre foi desde então identificado e classifi- vários estilos, além de pinturas e gravuras de
cado em tradições e unidades estilísticas (Prous seres antropomorfos, geométricos, armas e pés
1996-97; Prous e outros, 1980, 1984; Ribeiro do Complexo Montalvânia. Não é clara a
1996-97; Schmitz e outros 1984 e 1997; Seda ordem de sucessão entre os conjuntos de
2003; Silva 2002; por exemplo). grafismos São Francisco e Montalvânia, devido
Como na maior parte das pesquisas à raridade de superposições e aos sinais de
disponíveis sobre arte rupestre brasileira, estes alternância entre estilos desses repertórios
estudos foram norteados pela organização e temáticos distintos, mas alguns pesquisadores
classificação temática, definindo tradições acreditam que as vistosas figuras São Francisco
rupestres (a unidade classificatória maior) e possam ter começado a ser pintadas antes das
completando essas caracterizações através da figuras Montalvânia e que estas últimas apareçam
identificação de sub-tradições, estilos ou fácies de modo intrusivo em painéis sanfranciscanos
(categorias menores, geralmente componentes (Isnardis 2004; Prous 1996-97). De todo modo,
de uma tradição). De modo geral, as tradições ambos os repertórios são inseridos no período
rupestres foram definidas a partir da repetição intermediário da arte rupestre regional. Posterior-
de traços temáticos – o que indicaria continui- mente, na transição para o período recente de
dade cultural e corresponderia a códigos ou expressões rupestres, aparecem novos grafismos
repertórios partilhados por grupos separados de seres vivos (principalmente zoomorfos,
no espaço, no tempo ou em ambos (Calderón antropomorfos e vegetais cultivados), passíveis de
1970; Martin 1997; Pessis e Guidon 2000; serem atribuídos à Tradição Agreste pela temática
Prous 1999a). A variação interna às tradições, realista e o característico detalhamento
as sub-tradições, estilos ou fácies, normalmente anatômico dos seres vivos, pintados sobre os
apresenta diferenças sutis de definição, e tem estilos sanfranciscanos e Montalvânia. Sobre as
sido descrita principalmente através dos figuras de seres vivos realistas, manifestações
tratamentos gráficos (morfologias e técnicas) e regionais da Tradição Nordeste, além de uma
supressões/ampliações na representação dos sucessão de grafismos não atribuídos ou de
temas tradicionais, tal como ocorrem no ocorrência apenas local, vários deles com
tempo (cronologia relativa) e/ou no espaço representações de cultígenos, ocupam os supor-
(distribuição geográfica). tes rochosos do norte de Minas Gerais.
Destas equipes que atuam ou atuaram na Essa seqüência sugeria que três grupos
região norte mineira e sudoeste baiana, a do culturais, representados graficamente pelas
Setor de Arqueologia da UFMG foi uma das tradições Agreste, São Francisco e Montalvânia,
que mais se envolveu com a caracterização e seriam os responsáveis pelo registro rupestre
organização de seqüências estilístico-sucessórias anterior à introdução das representações
regionais (Isnardis 2004; Prous 1989, 1992; realistas de vegetais cultivados na região. Essa
Ribeiro e Isnardis 1996-97; Ribeiro 2003; sucessão cultural poderia ter se dado entre
Silva e Ribeiro 1996, entre outros). De acordo 12.000 AP (data das primeiras ocupações
com esses trabalhos, a seqüência das tradições humanas conhecidas) e 3-2.000 AP (período
rupestres identificadas no norte de Minas que corresponde a uma datação disponível
Gerais pode ser esquematizada no Quadro 1 e para figura recente de uma dessas tradições –
brevemente descrita conforme segue. São Francisco – e à presença de vestígios
As figuras pioneiras crresponderiam a uma inquestionáveis de agricultura nas camadas
expressão regional da Tradição Agreste, com arqueológicas).

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Quadro 1. Esquema de periodização hipotética da arte rupestre do norte mineiro e sudoeste baiano.

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A partir destes três padrões temáticos da sugerido por Isnardis 2004), que deixaria
arte rupestre, propõe-se agora discutir as vestígios arqueológicos menos numerosos e
relações entre esta seqüência estilístico-cultural talvez arqueologicamente menos visíveis. Mas a
e os padrões tecnológicos observados no raridade de informações para estas ocorrências
registro arqueológico das camadas estratigráficas gráficas mais antigas impede maiores avanços
dos abrigos nesse intervalo de quase dez mil na análise, elas tanto podem ter sido pintadas
anos. por grupos pós-lascadores Itaparica que
A estratigrafia dos abrigos do norte ocuparam a região, quanto por grupos contem-
mineiro mostra a predominância de um porâneos a essa indústria lítica, não há ainda
padrão tecnológico lítico inicial, associado à como atribuir.
Tradição Itaparica, que é bruscamente substitu- Já para os estilos posteriores às figuras
ído em 9.500 AP. O outro padrão lítico que Agreste, atribuídos à Tradição São Francisco e
começa a ser encontrado em camadas arqueo- ao Complexo Montalvânia, existem informa-
lógicas do norte de Minas Gerais e do sudoeste ções mais numerosas, tanto cronológicas,
da Bahia dessa época é acompanhado, no quanto espaciais e gráficas, que permitem
Peruaçu, pelos primeiros vestígios datados de inferências hipotéticas de contextualização
arte rupestre na região, em 9-7.000 AP, e de dessa arte rupestre no restante do registro
sepultamentos nos abrigos ao menos desde arqueológico.
cerca de 7.000 AP (Fogaça 2001; Prous 1996- As gravuras do bloco enterrado são
97; Prous e Schlobach 1997; Rodet 2006; redes, anéis concêntricos, linhas sinuosas e
Schmitz e outros 1989). A datação relativa biomorfos, que aparecem às centenas em
para a arte rupestre regional indica que entre 9- painéis expostos de gravuras e pinturas do
7.000 AP um bloco se desprendeu do teto da Complexo Montalvânia (Ribeiro 2006). As
Lapa do Boquete, foi coberto por incisões, superposições entre essas gravuras e pintu-
depois por gravuras, depois por cupules, e ras são raríssimas (cada qual ocupa um
finalmente quase totalmente soterrado (Prous suporte específico, como se verá adiante) e
1999b). dentre os poucos casos conhecidos há tanto
Ainda que a datação do bloco enterrado gravuras muito erodidas subpostas a
esteja no intervalo definido pelas evidências vestígios de pinturas, quanto gravuras que
seguras de arte rupestre mais antiga no Brasil se superpõem a pinturas. Na seqüência da
(Pessis 1999; Prous 1999b), ela não permite arte rupestre, além do Complexo
afirmar que essa atividade apenas tenha tido Montalvânia, o outro conjunto mais recente
início nesse período de 9-7.000 AP. É possível que as pinturas Agreste é a Tradição São
que a arte rupestre já fosse anteriormente Francisco. Tal como acontece entre as
praticada, todavia de modo pouco intensivo, gravuras e pinturas Montalvânia, não há
deixando assim vestígios arqueologicamente segurança na ordem sucessória entre os
menos visíveis. As mudanças no padrão estilos sanfranciscanos e Montalvânia.
tecnológico lítico e o novo uso (ou intensifica- Geralmente, as pinturas São Francisco e
ção no uso) de abrigos rochosos para sepultar Montalvânia ou não se superpõem entre si
os mortos podem ter sido acompanhados não ou o fazem em alternância. Fortes distin-
pela introdução da arte rupestre, mas por um ções de pátinas em figuras de um mesmo
investimento nessa atividade suficientemente painel de gravuras ou pinturas Montalvânia
maior que em épocas anteriores para deixar e a presença de três estilos sanfranciscanos
indicadores arqueológicos mais visíveis. que se superpõem entre si, sugerem que as
As manifestações Agreste pioneiras, execuções dos grafismos dos dois repertóri-
caracterizada por poucas figuras (às vezes uma os temáticos se deram ao longo de muito
ou duas), sem superposições ou diferença de tempo. Tanto nos estilos São Francisco
pátina e presentes em poucos sítios, evocam quanto naqueles Montalvânia, há evidências
uma prática esporádica da arte rupestre (já de que essas representações continuaram a

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ser realizadas até o período agricultor. 3 Uma espaciais sugerem continuidade e conectividade
datação direta por AMS do pigmento de entre dois repertórios, sugerindo que as
um grafismo atribuído aos estilos sanfranciscanos descrições anteriores da Tradição São Francis-
intermediário ou recente resultou na idade co e do Complexo Montalvânia possam estar
2.680 ± 180 AP (Russ e outros 1990), e separando manifestações aparentadas, no lugar
pinturas que sugerem cultígenos aparecem de caracterizar comunidades culturais distintas.
entre os grafismos menos patinados de um Questões como essa sugerem que uma
e outro repertório. flexibilização dos critérios de classificação,
Ambos os conjuntos gráficos mostram adaptando-os às contingências contextuais da
grande investimento na prática de arte rupestre. arte rupestre em estudo, permite explorar
Nos estilos São Francisco, esse investimento é melhor o potencial informativo da arte rupestre.
evidenciado na sua variação estilística e no Perspectivas que abordam a arte rupestre como
tratamento visual dado aos painéis, por vezes manifestação ou reflexo de regras culturais
muito altos, repletos de figuras grandes, podem ser questionadas em favor da afirmação
coloridas e elaboradas. Nos estilos Montalvânia, do estilo como produção, atuação e manipula-
o investimento está no uso intenso de painéis e ção de orientações e modulações culturais,
abrigos. São essas figuras que ocupam o maior onde repertórios temáticos tradicionais podem
número de sítios dentre os aproximadamente ser criados, combinados e modificados. Isso
150 estudados em trabalhos recentes na região: permite expandir os critérios classificatórios,
são 125 abrigos com figuras Montalvânia, desvinculando a análise da arte rupestre de
contra cerca de 60 abrigos com ocorrências rígidos padrões temáticos pré-determinados.
sanfranciscanas (Isnardis 2004, tabelas 1 e 2; Pensar que os estilos São Francisco e os estilos
Ribeiro 2006, anexo 1). São também essas Montalvânia se relacionavam a distintas
figuras que se apresentam em painéis que comunidades de autores embotava o estudo
mostram um horror vacui em sua composição, das associações e dos diálogos observados
onde, virtualmente, todo o suporte é ocupado, entre estas representações, restringindo a
por vezes com milhares de figuras. explicação a contatos indiretos entre os autores
Em resumo, existem elementos cronológicos dos estilos, através de figuras preexistentes nos
diretos e indiretos que permitem uma atribui- abrigos ocupados. Também reduzia a visibilida-
ção hipotética dos estilos sanfranciscanos e de de oposições sutis em diversos aspectos do
Montalvânia ao intervalo entre 9-7.000 e 3- comportamento destes estilos, da seleção
2.000 AP, sem que haja elementos conclusivos temática à distribuição espacial, como se
para ordenar sucessoriamente estes dois discute adiante.
repertórios temáticos entre si. Nos abrigos
regionais, as camadas arqueológicas dessa
época costumam ser perturbadas por fossas 2. A domesticação do meio ambiente: paisa-
posteriores (sepultamentos, “silos”, “postes”), gens complexas São Francisco e Montalvânia
mas o registro arqueológico de sedimentos
intactos de alguns sítios sugere continuidade Cerca de 200 km separam o sítio mais
ao longo de boa parte deste período para setentrional na região da pesquisa daquele mais
vários autores (Prous 1996-97; Prous e outros meridional. As áreas entre eles são compostas
1996-97; Schmitz e outros 1996; Rodet 2006, por um diversificado contexto físico, no qual
etc.). Do mesmo modo, as análises gráficas e são conhecidas atualmente mais de duas
centenas de sítios com arte rupestre (Ribeiro
2006). Estes sítios se distribuem por áreas com
paisagens naturais muito distintas, especialmen-
(3) Os vestígios inquestionáveis de agricultura na região são
datados de cerca de 2.000 AP, mas a idade estimada para o
te no que diz respeito a seus relevos calcários e
início do cultivo de vegetais na região do Peruaçu é 4.000 recursos hídricos. Existem marcadas diferenças
AP, a partir de negativos de fossas de “silos” (Prous 1996-97). no grau de evolução cárstica local e os recursos

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hídricos se distribuem regionalmente em res e, por outro, delimitando fluidamente cada


variados níveis de abundância e acessibilidade uma das áreas através de características
(Bitencourt e Rodet 2002; Baggio Filho 1991; ambientais particulares.
Rodet e outros 2005) e as áreas em estudo A primeira evidência da importante
apresentam um mosaico de formações vegetais transformação do meio cárstico regional
pertencentes aos domínios do cerrado e da promovida pela arte rupestre dos estilos São
caatinga. A diversificada configuração bio-física Francisco (SF) e Montalvânia (M) está na
da região permite estudar sítios arqueológicos quantidade de abrigos utilizados para pintar ou
rupestres de variada inserção na topografia gravar as figuras desses estilos, especialmente as
local e regional, com diferentes tamanhos e pinturas Montalvânia, e em sua dispersão
morfologias e implantados em cenários espacial (Prancha 1). São 130 abrigos ocupa-
naturais que podem ser bastante distintos de dos por figuras dos cinco estilos atribuídos a
uma área a outra. Os grupos de praticantes da estes repertórios temáticos, dentre os cerca de
arte rupestre São Francisco e Montalvânia 150 estudados em pesquisas sistemáticas dos
domesticaram estes cenários naturais de modo últimos anos (Isnardis 2004; Ribeiro 2006;
radical e exclusivo no contexto rupestre do Ribeiro e Isnardis 1996/97; Silva e Ribeiro
norte mineiro e sudoeste baiano. 1996), número ainda sem par em outros
A geomorfologia das áreas em estudo pode períodos da seqüência estilístico-sucessória
ser descrita desde aquela que apresenta um regional. Enquanto os abrigos com figuras
carste menos evoluído (Peruaçu) até a que Montalvânia se distribuem de norte a sul na
apresenta relevo cárstico mais residual região (inclusive aparecendo nos sítios mais
(Montalvânia), com a Serra do Ramalho setentrional e mais meridional indicados no
ocupando uma posição intermediária entre Mapa 1), os abrigos ocupados por figuras
estes dois extremos regionais de evolução sanfranciscanas se concentram em áreas com
cárstica. O Peruaçu oferece paisagens fechadas características específicas no carste regional
(a largura do cânion principal não ultrapassa (Prancha 1).
150 m), com horizonte dominado por altas Cada estilo tem suporte ou suportes
escarpas e suntuosas entradas de cavernas. preferenciais, que muitas vezes foram despreza-
Montalvânia, pelo contrário, pode ser descrita dos ou timidamente ocupados pelos outros
por seus belos cenários descobertos, com (Prancha 2). As pinturas de todos os estilos
campos de lapiás a perder de vista, abrigos e São Francisco estão principalmente em painéis
cavernas magníficos, porém abertos em altos e destacados; as pinturas Montalvânia
escarpas que não nos fazem tombar a cabeça estão geralmente em painéis discretos, coloca-
para trás para serem admiradas. Na Serra do dos sobre superfícies de média altura, irregula-
Ramalho as formas cársticas são modestas, res e compartimentadas; as gravuras aparecem
ainda que grandiosas e exuberantes cavernas nos suportes naturalmente polidos que estão
com rios subterrâneos guardem mistérios de em pisos nas zonas de penumbra dos abrigos
padres e aventureiros que nelas entraram e ou nas bases de paredes. As diferenças de
nunca mais saíram – são paisagens entremeadas suporte preferencial são tão marcadas que,
de espaços abertos e fechados. excluindo as seqüências sanfranciscanas em
Como a colonização humana na região é alguns sítios do Peruaçu (por exemplo estilos
posterior à formação desses relevos, pode-se SF1, SF2 e SF3 bem representados na Lapa do
considerar que as populações pré-históricas Rezar) não se conhece ainda nenhum painel
depararam com paisagens cársticas similares às que tenha sido igualmente utilizado por dois
que atualmente nos encantam a vista. Diferen- ou três destes estilos combinados (MG, MP,
tes contextos hídricos e florísticos também SF1, SF2 e SF3). Na Lapa do Gigante
podem (e podiam) ser encontrados na região, (Montalvânia), essa compartimentalização
configurando, por um lado, fontes alternativas preferencial dos suportes foi evidenciada
e relativamente próximas de recursos alimenta- graficamente através de linhas paralelas pinta-

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Prancha 1. Distribuição espacial dos estilos São Francisco e Montalvânia.

das, acompanhadas por pontos gravados. As exposição dos painéis distinguem estes estilos
gravuras são encontradas na parte inferior dos entre si conforme apresentado na Tabela 1.
suportes, abaixo das linhas, enquanto acima Um padrão marcante, no que diz respeito
delas estão as pinturas sanfranciscanas, raras aos sítios densamente utilizados pelos estilos
figuras Montalvânia, e grafismos mais numero- São Francisco é a ausência de representações
sos de outros estilos (Ribeiro 1996-97). igualmente numerosas dos estilos Montalvânia
De modo geral, as alturas médias dos e vice-versa. O mesmo vale para a ocupação
suportes preferenciais e a maior ou menor mais intensa dos abrigos para receber

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Prancha 2. A arte rupestre São Francisco e Montalvânia no carste regional.

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Tabela 1
Estilos Altura relativa dos painéis Exposição relativa dos painéis
São Francisco (SF1, SF2 e SF3) altos ou médio-altos Muito visíveis
médios e médios-baixos
Montalvânia em pinturas (MP) discretos ou muito discretos
(tetos escalonados)
baixos (piso) ou
Montalvânia em gravuras (MG) discretos (zonas de penumbra)
baixos-médios (base de paredes)

grafismos dos estilos Montalvânia em pintura e pisos no fundo dos abrigos, tetos baixos e
gravura: onde há um não costuma haver o escalonados, reentrâncias das paredes, peque-
outro. Por outro lado, em todas as áreas da nas cavidades nos maciços rochosos. Muitos
pesquisa podem ser encontrados abrigos onde dos locais que receberam estas figuras parecem
painéis com figuras Montalvânia ou São sinalizar pontos de captação sazonal ou
Francisco foram reutilizados por estilos subterrânea de água (abrigos com reservatórios
posteriores. Não se observam, no comporta- naturais, zonas de forte gotejamento, sítios nas
mento dos estilos recentes, padrões de ausên- bases de encostas onde correm águas temporá-
cia ou baixa freqüência de figuras dos estilos rias; além de sítios vizinhos a fendas verticais
sanfranciscanos ou Montalvânia nos abrigos que interceptam o lençol freático e em entra-
escolhidos (Ribeiro 2006: 269-299). das de cavernas com acesso ao lençol ou com
Ao contrário dos suportes escolhidos, as ponto de ressurgência hídrica). Os painéis
características físicas dos abrigos regionais que Montalvânia parecem ser mais numerosos
comportam cada uma das manifestações onde as paisagens cársticas são mais evoluídas e
sanfranciscanas e Montalvânia variam bastante pobres em exuberantes paisagens subterrâneas,
(por exemplo, tamanho da área abrigada, como as áreas de relevos abertos e dissecados
posição nas vertentes, tipo de piso e proximida- de Montalvânia e setores sudoeste e nordeste
de com a água). Os atributos físicos dos da Serra do Ramalho. Esta arte rupestre se
abrigos rochosos não permitem estabelecer associa às zonas mais profundas dos abrigos
grandes associações entre abrigos e estilos, seja rochosos ou visualmente menos acessíveis,
por atração ou rejeição. Mas características dos conjugando painéis geralmente discretos ou
painéis de arte rupestre e das paisagens natu- pouco evidentes a relevos abertos e formas
rais onde se encontram os abrigos utilizados cársticas superficiais muito evidentes. Se vemos
permitem-no, levando a crer que o uso dos a arte rupestre como forma de apropriação do
abrigos para pintar ou gravar pudesse ser espaço, a prática do estilo Montalvânia em
guiado mais por uma identificação entre gravuras talvez possa ser relativa a um contexto
representação rupestre, suporte rochoso e muito particular de ritualização das conexões
meio circundante do que propriamente por entre os grupos humanos locais e as paisagens
características dos abrigos rochosos. Tão subterrâneas: com esse estilo, as figuras não
importante quanto as diferenças entre os são colocadas sobre a rocha (tinta sobre o
painéis desses estilos (localização, altura e suporte), mas retiradas da rocha dos fundos
exposição dos painéis e certa exclusividade, nos dos abrigos ou na base das paredes – uma
painéis e nos abrigos, de um estilo em relação figura gravada é o resultado de pontos de
aos outros) é o contraste que se define entre rocha retirados no suporte.
esses painéis e as paisagens naturais nas quais Já os painéis sanfranciscanos são destaca-
se inserem os abrigos escolhidos. dos nos abrigos, geralmente em suportes altos
Os painéis Montalvânia em gravura e e bem visíveis, e são mais numerosos em áreas
pintura são encontrados em zonas de certo de exuberantes formações subterrâneas, onde
modo subterrâneas no interior dos sítios: são muitas vezes estão nas entradas de grutas. Os

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sítios sanfranciscanos estão em posições densamente ocupados por pinturas ou gravu-


topográficas elevadas (Montalvânia) ou em ras, ao contrário do padrão anterior, caracteri-
áreas com relevos fechados e imponentes zado por poucas figuras em poucos sítios. Esse
(como os cânions do Peruaçu e do Morro padrão também não ocorre nos períodos
Furado, além do setor sudeste da Serra do posteriores da seqüência estilística regional,
Ramalho). Também é possível ver uma associa- onde as expressões tendem a aparecer em áreas
ção entre os locais onde estão os painéis geográficas bem menores e nunca em tão
sanfranciscanos e a disponibilidade de água numerosos abrigos ou figuras (Ribeiro 2006:
permanente em superfície. Assim é que a 269-299).
maioria dos sítios está em cânions ainda ativos As diferenças nos graus de pátina das
ou desativados nas últimas décadas (Peruaçu, figuras Montalvânia em gravura e pintura,
Minará, Morro Furado, Boqueirão, Bomfim assim como as superposições entre os estilos
etc.). Esta arte rupestre que salta à vista está sanfranciscanos, são evidências de grande
associada justamente a ambientes cujas forma- intervalo cronológico englobando este conjun-
ções rochosas precisam ser descobertas aos to de representações. Esses elementos indicam
poucos, na medida em que se caminha entre altas também o uso repetido dos mesmos locais
vertentes de cânions ou se atravessa cavernas para pintar e gravar, na maioria das vezes em
profundas, escuras ou pouco iluminadas. relativo respeito preservacionista às ocorrênci-
As inversões entre as características visuais as pré-existentes. A possibilidade do desenvolvi-
dos estilos, dos suportes escolhidos e das mento de diferentes estilos de arte rupestre
paisagens onde se inserem os abrigos sugerem associados a setores/características especiais da
que os contrastes e as similaridades entre os paisagem, bem como sua manipulação por
estilos Montalvânia e São Francisco possam longo tempo, evoca um alto investimento na
fazer parte, de modo complementar, de uma prática da arte rupestre que por sua vez pode
mesma apropriação e transformação do meio ser indício de grande importância sóciocultural
ambiente. Paisagens culturais são construídas desta atividade. A paisagem construída por
através das relações entre pessoas e o espaço, estes estilos é fortemente domesticada e pode
autores como Ingold (1995, 2000); Hodder ter sido configurada num contexto temporal
(1999); Hodder e Hutson (2003) e outros têm amplo e de maior fixação regional de grupos
defendido que o espaço é qualitativamente humanos.
experienciado, e que nossas visões de mundo
são criadas no engajamento prático e cotidiano
com o meio circundante. A atuação da arte 3. Diálogos internos: as similaridades e os
rupestre Montalvânia e São Francisco na contrastes entre os estilos São Francisco e
construção da paisagem talvez incluísse Montalvânia
realizações gráficas com atributos opostos a
algumas características naturais do meio Assim como a observação das relações
cárstico. Eventualmente, essa oposição podia espaciais entre os estilos São Francisco e
estar relacionada a uma inversão simbólica que Montalvânia, a discussão de suas relações
favorecesse a apropriação humana e socializa- gráficas sugere que estes dois repertórios
ção do meio ambiente rochoso. temáticos podem ser melhor compreendidos
Tomando em conjunto as distribuições se analisados como complementares.
espaciais dos estilos sanfranciscanos e Montalvânia Uma relativa liberdade de trânsito entre as
nesta região, observa-se um padrão de uso e orientações estilísticas Montalvânia e São
transformação do espaço radicalmente diferen- Francisco pode ser observada em painéis de
te daquele definido pelas expressões rupestres diversos abrigos da região e algumas vezes torna
pioneiras. Os abrigos onde estes estilos difícil a atribuição das figuras. Freqüentemente,
intermediários ocorrem são muito mais as formas geométricas que participam das
numerosos e seus painéis costumam ser associações temáticas Montalvânia são simila-

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res a formas atribuídas à Tradição São Francis- todos estes estilos (Prancha 3). A conexão
co (Jácome e Ribeiro 2001; Ribeiro 2006: 241- entre as duas tendências estilísticas é dada
257). Nas pinturas, onde as associações se dão principalmente pelos elementos geométricos
particularmente com formas angulares, as mínimos (triângulos, losangos, anéis...),
figuras mais geométricas que participam das congregados na composição das figuras São
transformações são “redes”, “pentes”, “grades”, Francisco e desagregados nas composições
ziguezagues e losangos encadeados, figuras esquemáticas Montalvânia em pintura e
muito comuns nos painéis sanfranciscanos, gravura. Chamei estas relações estilísticas de
onde entretanto são mais elaboradas, maiores e diálogos internos porque – avaliando junta-
em policromia. mente as semelhanças e diferenças entre as
As comuns “cirandas” de antropomorfos características gráficas destes estilos, sua
esquemáticos Montalvânia são composições inserção na seqüência sucessória relativa e no
onde se repetem elementos geométricos espaço, considerando aí suportes típicos, os
mínimos (anéis, bastonetes, losangos...) abrigos e as áreas onde ocorrem em maior
articulados por algum detalhe anatômico freqüência – parece mais produtivo tomar
(braços, pernas, cabeça, dedos). A repetição de estas expressões como relativas a um único
elementos geométricos mínimos é o princípio sistema de representações visuais do que como
geral de composição das figuras sanfranciscanas estilos de tradições culturais distintas.
iniciais (SF1) e a combinação de diferentes Os resultados da pesquisa levam a
formas geométricas elementares é recorrente defender a necessidade de refletirmos sobre a
nas figuras do estilo posterior (Prancha 3). noção de tradição rupestre que utilizamos no
Elementos comuns aparecem de modo estudo da arte rupestre brasileira. A discussão
assistemático nos estilos sanfranciscanos SF1 e elaboração de uma metodologia adequada à
e SF2 e nas pinturas e gravuras Montalvânia, pesquisa deste registro arqueológico passa,
mas são as figuras sanfranciscanas mais antes, por uma avaliação da viabilidade
recentes (SF3), de ocorrência restrita ao conceitual das categorias que aplicamos. No
cânion do Peruaçu, que apresentam de caso brasileiro, onde tradição arqueológica e
modo muito mais contundente elementos cultura são noções indissociáveis, precisamos
característicos de ambos os conjuntos ao menos conhecer os conceitos de cultura
(Ribeiro 2006: 252-257). subjacentes às categorias classificatórias em
As análises comparativas entre os estilos uso para que possamos definir em que
Montalvânia e São Francisco (detalhadas em medida estas categorias são válidas para o
Ribeiro 2006: 241-268, 2007) permitiram contexto arqueológico em análise e que
observar uma especialização temático-estilística reformulações são possíveis ou necessárias
própria a cada um dos repertórios temáticos, para ajustar as formulações conceituais e a
com os estilos sanfranciscanos primando pelas pesquisa empírica.
belas e elaboradas figuras geométricas bicrômicas
e policrômicas, enquanto as figuras Montalvânia
são principalmente relativas a figuras geométri- 4. Tradição e cultura na arqueologia brasileira
cas simples, seres antropomorfos com maior
ou menor esquematismo e objetos. Ao mesmo O conceito de tradição arqueológica foi
tempo, temas (como as cirandas ou as armas, trazido ao Brasil por Betty Meggers e Clifford
por exemplo), tratamento gráfico (monocromia, Evans, coordenadores dos projetos arqueológi-
bicromia, uso de pincéis ou dedo, técnicas de cos de larga escala da década de 1960, como o
preenchimento etc.) associações temáticas PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas
(como antropomorfos e armas, antropomorfos Arqueológicas) e o PROPA (Programa de
e figuras losangulares) e trocadilhos gráficos Pesquisas Paleoindígenas). Com o objetivo de
(geometrização da figura antropomorfa ou vice- fornecer um quadro geral das culturas arqueo-
versa) similares podem aparecer em painéis de lógicas brasileiras em curto prazo, através

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Prancha 3. Afinidades gráficas entre estilos São Francisco e Montalvânia.

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destes programas4 foram realizadas prospecções comparações etnográficas, assumia-se que a


em várias partes do território brasileiro (Prous tentativa de interpretação dos significados
1992). deveria ser precedida pela identificação de
A primeira ordenação da arte rupestre eventuais estruturas de organização dos
brasileira, seguindo o estabelecimento de grafismos entre si e com a topografia local –
cronologias relativas e absolutas e sistematiza- dos suportes e dos abrigos (Prous 1977: 57).
ção dos dados empíricos nos conceitos de fase Termos como vocabulário, gramática, sistemas
e tradição, foi desenvolvida em 1970 por gráficos e regras sintáticas eram recorrentes
Valentin Calderón (1970). Entretanto, suas nestas análises, que partiam de princípios
pesquisas com a arte rupestre não tiveram tomados de empréstimo à lingüística. Buscava-
seqüência ou repercussão e, de fato, os se, por exemplo, identificar as relações sintáti-
primeiros estudos acadêmicos de arte rupestre cas entre os grafismos – cor, posição no
brasileira foram marcados pela presença suporte e/ou no sítio – com o auxílio de
estruturalista das Missões Arqueológicas gráficos estatísticos e tabelas tipológicas.
Franco-Brasileiras, que começaram suas As tipologias desempenhavam um papel
atividades na mesma época. Rapidamente, as destacado nos estudos estruturalistas da arte
classificações da arte rupestre em tradições rupestre na medida em que possibilitavam um
caracterizadas por padrões de similaridade inventário das figuras disponíveis ao uso e
temática e gráfica, seriam adotadas pelos combinação de temas pelos artistas rupestres.
arqueólogos das Missões de Minas Gerais e do De modo geral, os inventários se apresentavam
Piauí, além de pesquisadores independentes. aos pesquisadores simpáticos ao estruturalismo
As pesquisas da Missão Arqueológica (na arqueologia e na antropologia) como uma
Francesa com a arte rupestre brasileira começa- importante ferramenta de evidenciação da
ram em 1971 (em Minas Gerais) e tinham por padronização cultural. O que a arqueologia
objetivos a determinação estilística crono- estruturalista buscava, era, em síntese, recons-
geográfica, a caracterização dos temas e truir as etapas sucessivas da evolução das
composições gráficas, e propostas de interpre- culturas humanas (Emperaire 1973: 129).
tação da arte rupestre, através das característi- Como a cultura material expressaria uma ordem
cas próprias dos sítios e através da iconografia simbólica e inconsciente imposta pelos seres
e mitologia indígenas (Laming-Emperaire e humanos a determinadas áreas de suas vidas,
outros 1974). Paralelamente às detalhadas inventariando detalhadamente os itens que a
monografias de sítio, com análises de centenas compunham e comparando inventários de
de metros quadrados de decalques, classifica- grupos distintos seria possível identificar tanto a
ção e contagem de grafismos, iam sendo variabilidade cultural, a diversidade aparente,
publicadas apresentações gerais dos abrigos e quanto a invariabilidade, estruturas inconscien-
seus painéis rupestres, com acurado interesse tes e universais do pensamento humano (Lévi-
nas relações observadas das figuras entre si, Strauss 1955). O objeto de estudo da arqueolo-
com o sítio e entre este e o meio ambiente gia estrutural era, portanto, a estrutura de
(Laming-Emperaire e outros 1974; Guidon pensamento presente na mente dos seres
1975; Prous e outros 1977). Procurava-se humanos que produziram o registro arqueológi-
identificar as regularidades na seleção do co (Renfrew e Bahn 2000: 446). Tais estruturas
espaço gráfico para evidenciar as normas gerais seriam como ante-projetos da produção da
seguidas em cada conjunto e a variação cultura material. Estariam manifestas nas cadeias
permitida dentro dos padrões. Ainda que operatórias, onde os processos técnicos seriam
houvesse uma abertura nesses trabalhos para “organizados em cadeia por uma verdadeira
sintaxe que dá às séries operatórias sua fixidez e
sutileza” (Leroi-Gourhan 1984: 117); estariam
(4) E da adesão a esta agenda metodológica por outros refletidas também nas regras de composição dos
pesquisadores que não participavam do PRONAPA e PROPA. sítios rupestres (Leroi-Gourhan 1964).

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A atuação da escola francesa no Brasil A noção desde então vigente de tradição


caracterizou-se por trabalhos regionais com rupestre em muito se sustenta na idéia de que
inventários de sítios e determinação de seu os conjuntos de temas representados com mais
potencial científico (Laming-Emperaire e freqüência na arte rupestre são manifestações
outros 1974) e estudo detalhado de poucos de repertórios culturais, distintos a partir dos
sítios, tomados como típicos da unidade maior repertórios temáticos (Isnardis 2004: 46-47;
desconhecida (Barreto 1999). Os sítios Pessis e Guidon 2000: 21; Prous 1999a: 255
escolhidos recebiam escavações de amplas etc.). Nesta abordagem, a arte rupestre é
superfícies para reconstrução de solos de interpretada como reflexo passivo da orienta-
ocupação e análises tecno-tipológicas de ção cultural de seus autores, onde as mudanças
artefatos, principalmente líticos (idem, ibidem). nos padrões de continuidade gráfica são
Aplicada à arte rupestre, esta abordagem indicativas de mudanças culturais. A noção de
resultou em explorações de grandes áreas tradição rupestre como repertório temático,
passíveis de comparação, em sistemáticas e por sua vez manifestação de repertório cultu-
exaustivas reproduções de acervos gráficos e ral, está fortemente enraizada na arqueologia
em classificações tipológicas de figuras. Existe brasileira desde a presença estruturalista nos
uma evidente complementaridade entre os primórdios da pesquisa sistemática da arte
métodos franceses de delimitação espaço- rupestre. No pensamento de Lévi-Strauss, de
temporal através de seqüências regionais grande impacto nas análises da arte paleolítica
fundadas na reconstrução minuciosa de pisos européia desenvolvidas por Leroi-Gourhan
de ocupação (“reconstruções paleoetnográficas”, (1965) e Laming (1962), a ordem simbólica da
no dizer de Prous 1992: 16) e o estudo cultura pode ser inclusive reconstruída através
amostral de amplas regiões com sistematização de inventários. Lévi-Strauss sugeria que
dos dados nas classificações em fases e tradi- inventariando todos os costumes e crenças
ções defendidas pelos membros do PRONAPA. reais ou possíveis, poder-se-ia elaborar com os
A noção de tradição arqueológica como mesmos uma tabela periódica (como a dos
correspondendo a conjunto de regras culturais elementos químicos) agrupando-os em famílias,
cuja aplicação inconsciente orienta a produção onde seria preciso apenas reconhecer aqueles
da cultura material, condizia com o interesse efetivamente adotados pelas sociedades. As
estruturalista em identificar, através de inventá- sociedades humanas, assim como seus indiví-
rios, os padrões culturais da pré-história. Deste duos, não criariam costumes: escolheriam
modo, logo após as primeiras pesquisas, os combinações em um repertório ideal passível
arqueólogos das Missões Franco-brasileiras de reconstrução (Lévi-Strauss 1955: 203).
passaram a adotar tanto intensivas prospecções A noção de tradição rupestre como
com levantamentos mais rápidos, definidos repertório temático também encontra suporte
por pequenas sondagens, coletas de superfície em outras correntes antropológicas, não
e reprodução de acervos rupestres, quanto o estruturalistas. Ela também pode ser trabalha-
agrupamento de seus dados em tradições da segundo a conceituação de Geertz de
arqueológicas.5 cultura enquanto sistema simbólico público,

(5) A assinatura estruturalista da abordagem da arte rupestre


brasileira em seus primeiros anos, caracterizada pelos esforços figuras (ver, p. exemplo, Baeta e outros 1992; Laming-
de identificação da estrutura orientadora dos acervos Emperaire e outros 1974; Ribeiro 1996/97; Vialou 1983-84,
rupestres, manteve-se apenas nos trabalhos das equipes de 2005, entre outros). O grande investimento de Prous na
Prous e Vialou (que se envolveu com o tema nos anos de elaboração das seqüências crono-estilísticas leva alguns
1980). Algumas das relativamente freqüentes monografias de arqueólogos (como Dias 2003: 11) a ignorarem a ótica
sítios rupestres das últimas décadas contemplam especialmente estruturalista que ainda orienta seus trabalhos com arte
as relações entre grafismos e entre estes e o espaço físico que rupestre, descrevendo-os como redimensionados para as
ocupavam, em busca da lógica que regia a distribuição das classificações e seqüências estilísticas.

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Loredana Ribeiro

concebido não como padrões concretos de um modo de vida, no qual produção material,
comportamento, mas como mecanismos de tensões sociais, subsistência, ideologia e
controle para governar o comportamento. crenças religiosas estariam simbolicamente
Neste sistema simbólico, os significados são articuladas. Potencialmente holísticas, noções
objetivos, sociais e públicos, já em uso corrente de estilo como as propostas por Hodder
na comunidade quando nasce o indivíduo e (1990), Shanks e Thiley (1990) e outras que
permanecendo após sua morte, com modifica- têm surgido nas duas últimas décadas, no
ções (acréscimos, subtrações e outras alterações contexto das discussões sobre os significados
parciais) das quais ele participou ou não (Geertz da cultura material (Conkey 1987, 1990;
1989). Lévi-Strauss e Geertz disponibilizam Hodder 1982, 1986; Hodder e Hutson 2003 e
dois conceitos de cultura que permitem discutir outros), permitem trabalharmos no sentido de
e validar a aplicação da noção de tradição estudos contextualizados da arte rupestre, nos
rupestre como repertório temático e cultural. quais ela possa ser mais facilmente associada
Mas existem outras concepções de cultura aos outros itens do registro arqueológico.
que não lidam com a idéia de repertório e que
permitem discutir uma noção de tradição
rupestre e seu componente normativo sem se Considerações finais
restringir aos repertórios temáticos.6 Tradição
arqueológica também pode ser discutida de O estudo da arte rupestre do alto médio
acordo com a proposta de Marshall Sahlins, de São Francisco, aqui apresentado em parte,
estrutura na história e enquanto história, em sugere que as definições da Tradição São
que os conceitos culturais são utilizados Francisco e do Complexo Montalvânia
ativamente para se engajar no mundo e separam, equivocadamente, expressões estilísticas
adquirem novos conteúdos empíricos na ação, de um mesmo sistema de representações
alterando a cultura enquanto a reproduzem visuais que pode ter se desenvolvido por longo
(Sahlins 1999: 179 e ss). Essa noção de cultura período, hipoteticamente durante boa parte do
não é marcada pela dicotomia entre continui- Holoceno. Abordar estas expressões a partir de
dade e mudança, ou estrutura e história, mas dois repertórios temático-culturais distintos
pela síntese. Ela é interacional e dinâmica, uma mascara a complexidade e intensidade da
“indissolúvel síntese de coisas como passado e prática de arte rupestre que pode ser observa-
presente, sistema e evento, estrutura e história” da no período, ainda sem par nos momentos
(Sahlins 1999: 193). A partir dela, os padrões que a antecedem ou sucedem no contexto
de similaridade podem passar a dividir a gráfico regional.
atenção com padrões de contrastes, buscando O componente normativo da noção de
conexões entre eles que sejam significativas de estilo aqui utilizada permite trabalhar com a
um padrão maior. possibilidade de identificar expressões rupestres
Essa formulação de cultura pode ser que se alinhem culturalmente,7 todavia acredi-
pensada, por exemplo, na proposta de estilo tando que uma categorização cultural mais
como qualidade histórica de Ian Hodder (1990). ampla (a definição de tradições rupestres) deve
O estilo pelo qual Hodder se interessa não ser um eventual resultado da pesquisa e não
envolve apenas uma prática social, mas todo definição apriorística. A tendência a buscar
apenas os padrões de similaridade na arte
rupestre, não considerando que as diferenças
(6) Algumas destas concepções, inclusive, não foram gestadas
podem indicar conexão (Sahlins 2004), tem
na antropologia, como é o caso da Biologia do Conhecer de nos levado a uma reconstrução pré-histórica
Maturana (1997), segundo a qual, a cultura não é algo que
se possui, mas uma rede de conversações que define um
modo de viver e de agir: um meio interacional do qual se faz
parte e que justamente por isto alinha modos de agir (7) De acordo com Conkey (1990) qualquer concepção de
(Castro 2003). estilo tem, necessariamente, um caráter normativo.

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rio São Francisco. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 127-147, 2007.

em que rígidos repertórios temáticos se similaridade, encontraremos. Se buscarmos


sucedem ou permanecem, evocando uma contrastes, encontraremos. Se buscarmos
equivalente presença de grupos culturais que ambos, talvez possamos construir um cenário
eventualmente não encontra correspondente arqueológico de sociedades mais dinâmicas,
nas camadas arqueológicas estratigráficas. onde as repetições e os contrastes constituís-
Para muitos, pode não ser satisfatória essa sem e fossem constituídos em complexas
lógica conceitual que sustenta a noção de tradições.
tradição rupestre e que permite nortear as
análises através de parâmetros fixos e estáticos.
O que se defende não é o abandono da noção Agradecimentos
de tradição arqueológica, mas a necessidade de
refletir sobre ela e redefini-la, se for preciso, Ao mestre André Prous, interlocutor
ampliando nesse exercício as perspectivas de desde o início; a Pedro Ignácio Schmitz, cujos
análise e as metodologias de estudo. A questão comentários sempre foram bons para pensar; a
não é se a arqueologia é capaz de identificar e Paulo de Blasis, orientador estimulante junto
diferenciar culturas do passado, mas que ao MAE/USP e à Fapesp e a esta agência de
aspectos de culturas do passado queremos fomento, cuja bolsa de doutoramento concedi-
discutir através da arqueologia. Se buscarmos da viabilizou o desenvolvimento das pesquisas.

RIBEIRO, L. Rethinking tradition: the rock art stylistic variability in the intermediate
period of representations at the high-medium San Francisco River. Revista do
Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 127-147, 2007.

Abstract: This article presents the main results of the stylistic-comparative


analysis carried through in rock art shelters at the north of the Minas Gerais
and southwestern of the Bahia: [1] an hypothetical time-line for the regional
rock art occurrences, [2] the characterization of the distribution and use of the
space by the styles attributed to the intermediate period occupation of
supports, and [3] the characterization of the graphical aspects of these styles,
whose appearance and disappearance demarcates the observed ruptures of
pattern. Allied to the empirical research results, the final quarrel [4] reflect on
the methodological implications of the notion of archaeological tradition in
rock art archaeology.

Keywords: Rock art – Central Brazil – Archaeological tradition – Stylistics


analysis.

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Loredana Ribeiro

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Recebido para publicação em 4 de junho de 2007.

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