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Título

HOMOEROTISMO E RASURA HISTÓRICA NO PAÍS DAS SOMBRAS

Resumo

Nossa análise visa a construção de estórias/histórias literárias que rasurem a história oficial Commented [almp1]: RETIRE ISSO, pois vc não faz nem estuda
micro-história literária nem aqui nem no BRasil-colônia
heteronormativa e visibilizem personagens e autores contrapostos à ótica imanentista e
textualista dos estudos literários. Dessa maneira, orientamos a nossa perspectiva crítica para o
romance No país das sombras, de Aguinaldo Silva (1979). Nós procedemos reflexões acerca
do ato ficcional que apresenta o desfecho do relacionamento amoroso de dois soldados “del-
rey” numa condenação por terem conspirado contra a administração da coroa portuguesa em
Pernambuco no século XVII. Nossa análise busca visibilizar como o escritor traça paralelos
entre os contextos do Brasil-colônia (séc XVI-XVII) e da ditadura civil-militar no Rio de
Janeiro (1970-80). Para tal proposta, buscamos no romance eleito, representações
homoeróticas que se contraponham as imagens que consolidaram o Brasil como Estado nação
moralista e convoquem, ao palco da literatura, a presença das sempre atuantes dissidências
sexuais e de gênero.

Palavras-Chave: Homoerotismo, Brasil Colônia, Ditadura Civil-Militar.

Introdução

Aguinaldo Silva é um conhecido dramaturgo, escritor, roteirista, jornalista e cineasta


brasileiro. Por último, a profissão que o consagra nacionalmente é a de telenovelista da rede
globo, que o torna popularmente conhecido por diferentes gerações e classes sociais, uma
personalidade que está nas mídias de massa. No entanto, Aguinaldo Silva, foi também um
escritor de extensa (e subversiva) obra literária durante o período da ditadura civil-militar
1965-1988. Boa parte de seus escritos são classificados por Malcolm Silverman em Protesto e
o novo romance brasileiro (2000) de Romance problema, no qual os textos de Aguinaldo
Silva são descritos como Romance Jornalístico e Romance realista-político. É fato que essa e
outras “etiquetas literárias” trazem análises críticas pertinentes. Porém aqui, procuramos
seguir em nossa crítica literária o conselho do Historiador Carlo Ginzburg de “reconduzir ao
conhecimento histórico não mais fenômenos aparentemente atemporais, mas fenômenos
aparentemente negligenciáveis” (GINZBURG 1989, p. 10), os rastros e sinais que nos
permitem construir outras facetas (pouco revisitada e bastante produtiva) de Aguinaldo Silva,
esse romancista da resistência, autor de A república dos assassinos (1976) e jornalista dentre
outros do jornal político e homossexual “O lampião da esquina” (que circulou entre 1978-
1981). Não pretendemos aqui negar ou afirmar um ou outro lado (subversivo do passado -
conformado do presente) do autor: as migalhas de pão na trilha existem para serem
investigadas e os fragmentos de um todo (apenas idealizado) apresentam diferentes facetas do
ser humano. Ao “supor como potencialmente mais rica a documentação mais improvável”
(GINZBURG 2007, p. 277) analisamos o romance da editora Civilização Brasileira: No país
da sombras (SILVA, 1979) e sua potencialidade homoerótica, política e crítica de rasurar
visões moralistas de nossa colonização religiosa e estabelecer redes de sentido que lê a
“tragédia” do passado como precursora das “farsas” autoritárias do presente. Daqui em diante
ao referirmo-nos ao romance (para evitar repetitividade), colocaremos apenas a referência da
página (p.).

Helena Vieira nos faz refletir sobre o fato de a História ser uma narrativa, um meio de
interpretar o passado e como diria Donna Haraway, uma tecnologia de olhar, um saber
localizado através dos corpos que importam em determinado contexto. Nessa perspectiva, O
saber histórico das narrativas está em constante disputa. É assim também com as versões de
história única de poderes e discursos autoritários sobre o passado sangrento da ditadura civil-
militar (1964-1985), que visam silenciar as vozes daqueles e daquelas que amargaram os seus
porões brutos e sangrentos. As pessoas LGBTQ+1 não escaparam desta realidade de
violência, assassinato e silenciamento no contexto da ditadura civil-militar. As obras:
Ditadura e homossexualidades: Repressão, resistência e a busca da verdade (2015),
organizado por James Green e Renan Quinalha; O relatório da comissão nacional da verdade
(2014) e a tese de doutorado Contra a moral e os bons costumes: A política sexual da ditadura
brasileira (1964-1988), de Renan Quinalha nos dão um bom panorama da questão. É fato que
o Brasil é o país que mais mata LGBTQ+ no mundo, diante da crescente onda de preconceito,
fundamentalismo e fascismo em nosso país, julgamos urgente reforçar o esforço da
pesquisadora e militante Helena Vieira:

No caso específico das pessoas transexuais, travestis, gays e lésbicas, é preciso um


esforço na releitura do período da Ditadura civil-militar para encontrarmos nossa
participação. Tanto as violações que sofremos, quanto nossa participação nas lutas,
como foi o caso de Herbert Daniel, do Colina (Comando de Libertação Nacional),
organização à qual também pertenceu Dilma Roussef, nossa atual Presidenta
(VIEIRA, 2016)

1 Julgamos ser esse a sigla mais inclusiva até o momento. A ideia de colori-la nos relembra a máxima que afirma
sempre haver corpo em um texto e como estamos falando de corpos diversos, as cores quentes do movimento
fazem mais pulsante e afetiva a presença desses corpos.
Nosso esforço é visibilizar a produção pouco trabalhada do autor Aguinaldo Silva e
sua participação política, jornalística e autoral nessa época como uma presença gay positiva,
bem como sua capacidade, nessa e em outras obras, de tematizar o autoritarismo e a
resistência de pessoas e personagens LGBTQ+.

A história se desenvolve no contexto da ditadura civil-militar (década de 60), na qual o


narrador personagem é um jornalista que investiga como dois soldados (que eram amantes)
foram acusados de conspiração contra o rei e condenados à forca. Esse amor foi manipulado
pela coroa e pela igreja para forjar uma condenação de insurreição que daria suporte para uma
sequência de perseguições e condenações que visavam prevenir o aparecimento de
movimentos contrários a Portugal, segundo o poder colonial os insurretos visavam a “criação
de um Estado separatista no qual seriam devidamente liquidados todos aqueles que se
mostrasse fiéis à coroa” (p. 71). É importante frisar que estamos falando de um texto que foi
escrito em 1979 e ficcionaliza o passado colonial do Brasil, tendo como hipótese que
aquelas figuras intransigentes: cortesãs, soldados, bárbaros e degredados seriam os primeiros
fundadores de nossa identidade nacional:

Havia uma loucura qualquer se espalhando naquela terra recém-descoberta, eram as


raízes de alguma coisa que talvez pudesse ser achada depois [...] aquela estranha
gente que eu fora descobrindo – a cortesã Tália, o general-provedor, os bárbaros e
degredados, [...] teriam sido o que hoje se chama de “as origens da nacionalidade”?
Não, eu me recusava a acreditar (p.70).

Não é pertinente para nosso recorte a análise de documentos e fatos da inquisição que
perseguiu homossexuais no Brasil colonial, mas é importante pontuar que textos como Commented [almp2]: Qual o seu problema com as
MAIÚSCULAS iniciais que sempre despreza?
Trópico dos pecados: Moral, Sexualidade e Inquisição no Brasil (2010) de Ronaldo Vainfas
e Relações raciais entre homossexuais no Brasil colonial (1992) de Luiz Mott, podem trazer Commented [almp3]: Itálicos em títulos de livros

luz à discussão.

Desenvolvimento

“Em agosto de 1604, dois homens foram condenados à morte pela justiça do rei, nos
tribunais de Olinda.” (p. 18). Essa é a afirmação que levará o narrador personagem (que
deseja ver seu trabalho transformado em obra e financiado pelo Instituto Nacional do Livro) à Commented [almp4]: MAIUSCULAS iniciais

sua incansável investigação pelos documentos históricos acerca do caso: autos da condenação,
escritos de personagens centrais da trama e as confissões dos soldados apaixonados, Antônio
Bentes de Oliveira e Pedro Ramalho de Sá. A narrativa se desenvolve sem linearidade
temporal, está entre o presente do qual o narrador é personagem (não é nomeada durante a
narrativa), a apresentação dos textos investigados são apresentados ao leitor e as suposições e
divagações do protagonista, quando se propõe a preencher com imaginação o que a carência
dos documentos históricos não dá conta. O personagem se encontra num contexto de
repressões policiais ao movimento estudantil, de fuga de amigos e artistas para o exílio no
exterior, pressionado pela angústia de ver aquelas pessoas fugindo e sendo presas sem poder
se envolver mais, o que o leva a questionar sua pouca ação nos fatos. Em um diálogo com um
amigo líder estudantil sobre sua pesquisa, quando o outro parece concluir que o trabalho
caminha por fazer “uma analogia com o que se passa atualmente” (p. 31), o protagonista
nega-o: “faço questão de dizer que em nenhum momento foi essa a minha intenção. Sempre
achei que a história se basta a si mesma, não é honesto que nós, pesquisadores, tentemos
encaminhá-la em direção às nossas idéias” (p.31). Esses posicionamentos reflexivos sobre o
fazer histórico e literário, sobre ficção e realidade, aparecem em outros momentos do livro,
como nas citações de epígrafe e na nota (elementos pré-textuais), nas quais o autor afirma que
as personagens são seres de ficção “A ação é, por vezes, roubada à realidade, mas acaba por
ter uma solução imaginária. Qualquer semelhança entre a literatura e a história é acidental”.

Essas justificativas parecem estar de acordo com uma época muito austera, na qual
havia a necessidade de deixar claro que se tratava de ficção, para não correr o risco de ser
censurado ao tentar falsear “a História”. Essa História com H maiúsculo, única, oficial,
higienizada e moralizada, que despolitiza2 (ação de esvaziar a força e potência política de
algo) as presenças marginais, sempre colocadas às margens do saber e da cidade. Embora
desde a introdução essa “neutralidade” do autor com a história seja defendida, o que ocorre no
texto é diferente: A narrativa pode ser vista como produto de uma estratégia de releitura3
(conforme descrito por Bonnici 2003) que empreende um movimento descolonizador da visão
moralista e católica. A narrativa nos leva à reflexão de que o processo de condenação que
combateu homossexualidade, luxúria e insurgência política foi fruto da aliança sempre
presente na história do ocidente, a articulação entre poder e religião: A coroa (depois a
Ditadura) e a Igreja: “desse encontro abençoado entre a Igreja e a Ordem, talvez o primeiro, e
a partir do qual, nesse abençoado país em que vivemos, elas seguiram sempre juntas” (p. 92).
É nessa trama que identificamos que “A transgressão, e não o acomodamento, eis a ideologia
inicial deste ‘país das sombras’ e futuro país do carnaval, a qual já principiava então a ser

2Afirmação feita por Rolland Barthes no livro Mitologias (2009), sobre o Mito como uma fala política que
despolitiza o fato social ao concebê-lo como natureza, algo fixo e imutável.
3 Analisar as narrativas da colonização sob o ponto de vista das culturas periféricas, colonizadas.
duramente reprimida pelas armas e pela religião” (orelha). Essas imagens são sempre
correlacionadas no decorrer da trama.

Esse poder Colonial teme “o caráter subversivo da luxúria da paixão e da conspiração


como elementos inseparáveis e igualmente corrosivos” (orelha do livro), já que, libertinos,
homossexuais e soldados insatisfeitos reuniam-se na casa de Tália, a cortesã que colocada sob
suspeita como uma possível “protetora” desses elementos: “sua casa é praticamente o único
divertimento de que dispõe a tropa [...] a pretexto de que ali vão com o objetivo puro e
simples da esbórnia” (p. 67). Essa subversão se personificaria na condenação política do
relacionamento dos soldados, alvo da investigação do protagonista do romance, revelada
como produto da aliança entre o padre Barruel de Lajenest e o Capitão-Geral que definiriam
“o apoio da igreja à história que, em relação ao crime dos amantes, deveria prevalecer” (p.
91). Os fatos que se seguiram às condenações são cuidadosamente ficcionalizados em uma
relação de semelhança com o que aconteceu após o AI-5:

No mesmo dia em que os motivos oficiais do crime dos dois soldados se tornaram
públicos, houve perseguições e mortes. Algumas cassas acabaram incendiadas, bens
foram sequestrados e outras pessoas igualmente submetidas a julgamentos sumários.
Muitas fugiram para o interior da floresta, e lá aderiram a uma clandestinidade que
não durou muito – o ambiente adverso os perdeu, e eles morreram de fome, ou
foram devorados por feras. E o que prevaleceu foi a mentira que ele ajudara a
institucionalizar (p. 93).

Na tentativa de restabelecer todos os elos da história, por meio de um enredo fictício,


chega-se no contexto real, A História: “a polícia a perseguir estudantes com cassetetes e
bombas de gás lacrimogêneo no Brasil dos anos 60.” (orelha)

Conclusão

O romance analisado promove uma rasura ao afirmar uma colonização feita por
padres, cortesãs, degredados, libertinos e homossexuais. Expõe a visão presente na ditadura
Militar de que homossexualidade e liberação sexual caminhavam juntas com comunismo e
reivindicação política através da confissão forjada de Antônio Bentes de Oliveira, feita pelo
padre Barruel: “Após nossos encontros e as muitas vezes em que nossos corpos se enlaçaram
passamos a ver que a vida fora feita para muito mais: cabe ao homem gritar suas razões e
defendê-las [...] Nossos encontros passaram do amor febril à condução febril das nossas
idéias” (p. 94). O texto coloca em risco duas das maiores ficções que serviram de base para o
discurso do regime autoritário: a moralidade da família brasileira e a harmonia do governo
militar. Gostaria de encerrar minha pesquisa com uma fala de Tália, questionada pelo padre:
“E você considera o fato de dois homens se amarem uma coisa natural? – (Tália) A natureza,
para mim, é uma força em constante expansão, padre. Ela se permite a tudo” (p 51).

Referências:

BARTHES, Roland. Mitologias. Trad. Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. 4a ed. - Rio de
Janeiro: DIFEL, 2009. (Edição Francesa de 1957).

BONNICI, Thomas. Teoria e crítica pós-colonialistas. In: BONNICI, Thomas e ZOLIN, Lúcia Osana. (orgs.)
Teoria da Literatura, abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá, Ed. da UEM, 2003, p.258-
284.

GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros. Verdadeira, falso, fictício. Trad. Rosa Freire d’Aguiar e Eduardo
Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (Edição Italiana de 2006).

_______________. Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e história. Trad. Federico Carotti. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. (Edição italiana de 1986).

MALCOLM, Silverman. Protesto e o novo romance brasileiro. Trad. Carlos Araújo. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2000.

SILVA, Aguinaldo. No país das sombras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

VIEIRA, H. Onde estavam as travestis durante a ditadura? Disponível em: <


www.revistaforum.com.br/osentendidos/2015/04/05/onde-estavam-travestis durante-ditadura/>. Data de acesso:
09/10/2018.

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