Sei sulla pagina 1di 392

s_·~-

_ _o
_
· e~_
lés..;. . _--
-~,~dorés

~rson
n1listas
Pttine
•qm'l\ • ill(II

tt Deus, (•IE"i-
t1rani.a so-

05 hc.1men.s espalhados na CSl}ilÇ.O


.amem:ano nã.o fo·mam, Cúrno na Ernor,a .
mesma Iarnílra. Descobrt""m-se e-nt..,,
. ao pnmciro contato, lril~ raças nat
nte ci'tstintas e, poderia:mo~ d1z.er. ini-
educação. .'l 1ei. a OJigP.1n e ~té a
~ c>xtPrior <los traces unham erigido
elas uma bJrrcir.:i inuran-sponivel; a
:e os 1"€uniu sobre o mesmo solo, mas
··•.1,1roi.;1-as sem ~Jdér mesclà-tas, e cada
o'eJas pros~Que. it parte, f'.>m 5l'U des-

TOCQUl::VI LLE: A Demcxr1Jcia naAmétiC:..-l


Os Pensadores
fi>.IJz·asil. Cn.taJog.nçúlJ·n.a.~Publku,
Cfunara Brasileira do Uvro, St'

J49'J,
3:' ed.

-;;,73,l
-3-20.973
-321.
-342.4(71) (091J

inc.Líce. parn cnr:.'tlogo ,~i~1qmâ~ioo:


L Dcmocmeia: Ciçocia po[ilíca 321.8
2. &iarlos U11ido:.1: Hi:-. rori~ constltltcÍQflgl
342.(73-, (091) {CDU)
3. Estado$ Unidos: Poíitica J20.97J
4. Revoíucão: &t::i,do~ Unidos: Jii~16ria W3.3
ESCRITOS POLÍTICOS

THOMAS PAINE

SENSO COMUM

HAMILTON, MADISON, JAV

O FEDERALISTA

ALEXIS DE TOCQUEVILLE

A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
o ANTIGO REGl ME E A REVOLUÇÃO
1

• werrort

1985
EDITOR: VlCl'OR CIVITA
lutos origm111s:
Texto de lbii>mlS Jefferson: Tne. Pofitit'al IVritirik.!· of TlaQmas- Jeff~rson
Texto dr Thomas Pnine; ÚJ>tlff/t'.m Sense
Tv.--t.l) de AJCJ1ande,r namilton, J11.mt:s Madlq(u1, Jult.n. Ja,·~ ilre Fedtraltst
Talo:,; dé Ah:m d" To(qu~,·illc: /k la n,m.oc:-ru.cü1 en A mlrique
L 'Andt'n Rékltnr: et la Ré-.,olutian

R~.

i:rc.l~OJ aclp:iJ...,o~ ~brc • 'P.aill~ • Fedc:r.1.I1scas •


Jç:fferso11 - Ylda e Obra;" e "Toequevitle - Vida e Obra",
Abril S,A, Cultural, S~o Pauió.
JEFFERSON PAINE

FEDERALISTAS

VIDA E OBRA
VIII JEFFERSON - PAINE - FEDERALISTAS
Em 1783. sete anos após a Declar.lao de lndenendência, o único vin-
culo institucional que unia ,os tirc,:e Estados norte-arnerlcanes eram os "Art}
gos de Confederação", f1 rmados em 1781. A fraqueza do Congresso - ünica
autoridade fooer<1I - e a autonomia dos E.s-t.ado-5 eram p<1teotes, Todas as
decisões importantes requeriam o 3JXJiO de sete delegados estatais ao Con-
gresso; as resoluções acerca da gu~tl'a e da paz, os tratados com o estrangej-
ro, a impressão de papel-moeda e ootras questões fundamentais deviam
contar com nove votos estatats afirmativo). Üe55a íorme. as abstenções re-
ptP.wnt.iv.arn verdadeiros vetos. O Congresso não tinha ,rutorídade direta so-
bre 05 indivTduo:;1 mas somente dtrav~ dos. Estados, e não tinha meios de im-
por 5Ua vontade aos mêSmru.. Assim, o:, congressistas foram iricapaze:i; de en-
caminhar medidas cficaaes p-aw aliviar ab dificuldades econômicas que apa-
ecersrn depois da Guerra da lnde~ndêncit1 Nao conseguiram lmpor a esta-
blhdade, nem mesmo à. uniforrnicii!.-de da moeda dos Estados, nem recolher
os impostos. necessários eo png,amento de dívidas. A íôm disso, o Congre~o
foi incapaz 1-ambêm de proteger de-termmada5 indústria.§ nacionars. que de-
viam enfrentar a competição da lngl.,t{'rr;i. /\ lentativQ de alguns Estados d
desenvolver uma politka prolecJoniStd e instínnr impostos dentro dê ~eu
erdlàrios aumentou amda mais él confusâe, põi!l. levou à r naçâo de bt1rreu·~,::
cJuian"ira~ que 0:5 scparavcrn uns dus. out,ntl~, ocentuandc as l~n<lt:m:;1u:, tJ
dí-. •• clucsc. A debiridade dcí unidõ tarnbém refletJu-se no m,;dml)f.l polittc-o. os
talã,-r;, come:caram ,1 rfr,p11lar erirre, 5l ~ alguns cfofo.~ não sornent
orno também chC-f.li!r.1.n1 ~ b~r i:,~u~ próprios bMCO.

O Feder-alista
X IEF:FERSON • PAINE FEDERALISTAS.

erlcanes deviam constituir


m;:1nwr é1 unidade da nacão

A. perig~ maioriil

A concepçêo fed.-,alísta asL.'i constituídi.l em tomo de um dHema bás


XH I fITTRSON · PAINE - FEDERAU:STAS

Thomas Jeffer50:n
VIDÃ E OBRA XIJ I

Urna naç~o de ~róprietârio

Jefferson costumava dí,P.r que se dif erer,r;iava dos fader.afü:tils porqu


ele a;p:r,e:cia.va ó povo, enQuatito seus oponente,.s. desconfiavam ~tele_ Amd
que essa rma~em tenha contríbuido para que em tomo dele se reunissem
amencanos de tendências démocirâtb1.s, afastava-se dos federaJ~tas J)Or ou,.
XIV JEFFERSON PAíNE - FfDHUUS1'AS

Cronologia

1735 - N,1çc;imemo de John Aaí~n..,,


1717 - N,:1.sclmento de T1'orna~ Pam
1743 - Nasc1rnM10 d61 lhomar J(!-ffetron.
1757 - Na.,c;,mcmo ck Hamrtrori.
177& - f-'.lín~ publicà o J]anfieto Senso Ccmum Dedaraç.!'l.o da lnd'P.penciência nórtt.""
:lm('ricün
779 - Jefrooon as:s.LJrrie o governo do t!l1~do da \lif8mia, onde pemraf'Jecer-iJ ar!'! ·178"/.
,:735 - Nom:ado ernban:ador dos Estados Unidos na Fr.mç.1. JcffeMt'r 1X1rte para n fo.
rop:i.
11787 - A convençãe 1')mt::ti~a111a redi
1'739' - lnrdo da RcvoluçZro Francesa N(.15. Estados U11ido~ G~ Wa.~hi11gton toma.
e presidente da ~epübl.lêii Hamiflon "-SSlltne .J S.cx:rClaria dó Tesouro.
1790 - fánwnd B-urkf:!puhfic.J Reflexoo.~ Sôbn:<.- Revolução rnt França.Je#erson teux.
na ~ E.~t.:ldi½ U,>ido!> e; é nome-.i.do 5eén:rã.rio de Eswdu
17~-1792 - P.iinc ~cre-ve Os Dift:!1tm do Homem.
1793 - bea.ção dei Luís XVI c:1.1 t-rJJ1ça. leik>r!ion abandõro a SecroJ:lm de Esuxio:
1:71J7 - John Adams l<xt11 w o Set".Ulidó preidente dos Estados Unidos. MOitc ck Bu,
1601 - Jl!fkrson é deito pre.:Jidl:nlc dru fatedo$ Unidos.
1001 - Ndpn!eçio tocna-:ie Jmpc-r.Jdor da Franca. Morte de HamiUon
184Xi - 1-i~LIJ publlC'.i a Fiiosoffa rlo Dimd.a
ilB09 - Mort.é dP Pame
OH - Abdlcm;:ão de Nr11,1<Jli.:ao.
1826 - MorlP- de John Adnm,; ~ ~ Jettt!fson.

'nitP.(I S,.a.t,::s.. N'OV,i

b I Nf!W H , 19'11-193,7
, 194i

ult.ura, 1~6-1
THOMAS JEFFERSON

ESCRllOS POÚTICOS
CAPÍTULO II

AS BENÇÃOS DE UM GOVERNO LIVR

t. OBJETO DE GOVERNO: PROTEGER OS DIREITOS NATURAí,


PROMOVER A PELLCilDADE DO POVO

COl!fbrm.e f'llJ11u:iado na lieclarnçii.Q da fnd('pendJ,wia. 14f . cuo,,


crvn» iw,-t.rum,•,110 pura prul,:g,;r e s11J1·uguardor
L1u1,,o;iJ/(,rm•11 o ,l;IWt·rnn
os dtrclto« de, fJOL'O, Eféi devia, pm taut», ser mmlelatfa da melho··
maneira pata "pmpnrrlomrr /h.1,• .//fJsuror1ça e fdiri'rid,h: ''.

Direitos naturais em geral

L'> a Convencão pr

sem

nO!ITT31'. Nel\.OD, Pil~cj('lfia, 16d.: m.~irJ dr E716.

charn ap~ ... -,


m outra1-1 brilhan-
JEFFERSON

justos direitos que recorremos de; qualquer modo ao governo), é preciso que ela
Lenha tal amplitude de modo a que egoísmos locais jamais atinjam a maior parce-
la; que em cada questão particular se encontre, em seus conselhos, urna maioria
livre. de imerc.sses privados li ue de. portanto. uma prcvaíêncís uniforme aos prin-
cípios de justiça.

A François d'iveraoís, M:onLic,elJo. 6 de fevc.-eim de 1795.

Quero j ... Ht!i11lar(, .• )definir (._.)os tc:rmos''L1berdaàe" e "República",


sabendo. entretanto, que têm sido aplicados tâo variadamente a. ponto de não
transmirlrcrn nenhuma idéia precisa. ao espírito. Da liberdade, pois, diria que. cm
Lôda a plenitude de seu alcance. ela esui. na ação não obstruída de acordo com
nossa vontade, mas a. liberdade justa é a ação livre de conforrnldadc com nosss
vontade dentro dos limites traçados em torno de nós pelos direitos iguais de
utros. Não acrcsecntc "dentro dos limites da lei" porque a lei é.. muitas vezes,
apenas a vontade do tirano, e é sempre assim quando viofo o dir~ito dó indivíduo.
creseentarei, em segundo lugar, que unia república pura é um Estado de socie-
dade na qual todo membro de espírito maduro e são tem igual direito de panicl-
par. pessoalmente, na direção dos negócios da. sociedade. Tal regime é. obvia-
mente. irnpratícável além dos limites de um acampamento ou de uma pequena
aldeia. Quando números. distincí~ ou l'orça obrigam-no :. ngii por meio de depu-
tados, então seu governo continua republicano somente na proporção cm que as
'unções que eles exercem, pessoal mcn te. são maiores ou menores e. como nsque-
las cxr:rcidias [Pelo deputado. o direito de nomear o denotado deles somente é pr1
andetos mais curtos. ou mai

A ISil11c:H. (Jrf:my.Monticcllo.4d"~Elrilcl,c 1819.

e •...

igualmente, nossos códigos municipais,

A Francls W. Gilmes, MontlcelJu, '7 deJunbo de 1816.


ESCRITOS POLÍTlCOS

ão só é vão como. também. pernicioso formular o legislador leis em oposr-


çao à~ leis da natureza e arm.ií-Jas com os horrores da .m orte ... A Jei da natureza
impele todos a escapar da reclusão. n,ão deve, portanto. estar sujeita a punição.
Restrinja o legislado!' o criminoso pelo encarceramento e u.io por proclamacôes,
Nota oara o Projcco para se Harmonizarem Crimes e
Pua ccve~ em CmiOS Ami~trJlC Capltal,

O sentimento de que as leis ex po:stfacca são contra o direito narural ê tão


forte nos Estados Unidos, que poucas. talvez nenhuma. das constituições dos
Estados deixaram de proscrevê-las. ( .. _) Além disso. lefs que reduzem o dirclt,
natural do cidadão devem ser restringidas por meio de rigorosas interpretações
dentro de. seus mais estreitos limites.
Pre~endcrn. alguns (,,; na Inglaterra especialmente) que inventores têm direito
nuh1ral e exclusí vo a suas invtnçoes, que nao s6 é para toda a vida como, tam-
bém. ê transrnissíve; aos ncrdeíros, Mas. concuaruo seja questão para debate se a
origem de yit11alquer espêcic de propric.!dadc deriva da naturez a, seria singular
admitir um dírelto natural e até mesmo hereditário para inventores. Aqude~ que
têm considerado seriamente a questão concordam em que nenhum indivíduo tem.
de direito natural. uma propriedade separada num acre til! terras, por exemplo.
Por uma ld universal, de fruo, o que quer que seja fixo ou rnôvel pertence a todos
lguelmeruc e. em comum. a propriedade ê daquele que a ocupa duran-
m momento, mas, quando ele renuncia à oi:;upação. a propriedade acompanha
a renúncia. Propriedade estável é a dãdivn da lei sooiul, concedidu tarde rio pr
resso Lia sociedade. Seria curioso. pois. se uma idéia, a fugitiva fermcntaçâo ao
cérebro de um iuili vídeo, pudesse, per direito nmurat, ser rei vim.!i,..mda em
propriedade excl usiva ~ ostávcl. Se a naturezu LOl'nou uma coisa qualquer mcno
de propriedade exclusiva de que todas as demais. é a: ação do poder d
to chamada ldêia.

Onde exlstern em qualquer pais tcrrus não cultivadas e pobres descmpre-


ados, é claro que as leis da propriedade se estendam, de tal forma, a pomo de
iolarem o direito natural.

Encarregado de cuidar dos inrcrcsses gerais da nação, e entre est


~ de suas ~enas contra .intll'usõcs1 exerci ;!l favor (:lrl:!çt, u direito
natureza 2 todo homem, individualmente ou associado: o de salvar-lhe
dnde injustamente tomada,

A W_ C. C. Cfa1home, Montíceuo, 3 de maiio de IR 10.


6 J.CFFERSO

Nenhum direito natural nem razâo submete o corpo de um homem a reclu-


sâo por dívida.

Gt"OQÍ<-" Harnmond. l.. :ilai.JHfia, 2.9 de maio de l 792.

Tornou-se uma posição universal ~ quase Incontestada nos. vários Estados


que os objetivos da sociedade não exigem a cessão de Lodos os nossos direitos a
nossos governadores comuns; há certas parcelas de direito não rtccc..'i::árias. para
que possam eles desempenhar um governo eficaz !! que- a experiência tem. entre·
tanto. provado Gue os governadores constantemeu te os usurparão se ficarem sub-
metidos à eles: há também certos obstáculos que a experiência tem provado ser
peculiarmen te eficazes con ua in] u:;1 tc;m,. i.: raramente obstruidores de direitos, os
quais ainda as forças governnrncruuis sempre 1em mostrado disposiçâo para
enfraq IJICCcr i; r.:limin ar, Da primeira espécie é, 1141r exern plo, a liberdade de reli-
ião; da scgund a .. ó julgamento pelo júri. leis de habeas corpus, !iben.htJc de
imprensa.

nas, e não de sua destruiçâo. constitui


prim ÍI imo do bom governo,

Rqrnhli~1un1< do Condado çie W.'.l~.hi11~t1m,


Ma1)'ktnd, ~fontic:dlo, 31 dernarco dl! 1809.

Uma pane de minhas. ocupações. e de forma. alguma ::i menos agradável, é


oricntnr os estudos. desses jovens: ao solicitarem eles. El1-:s se colocam ,,a aldeia
vizinha {: servem-se de minha blhlioteca e conselhos e fazem ('lfü'le de minha
sociedade. Ao oricntá-kis em suas leituras. esforço-me por manter-lhes a atenção
fixa nos. principais objetivos de todas as. ciência i::, 0:1 1 íherdnde e felicidade do
homem, d~ modo que, quando participarem dos conselhos e governança de seu
país. manrcrâo sempre em mente os únicos objetivos de todo governo legítimo.
A Thaddeus Kosclusko, Monticello, 26 de fevereiro de 1810.

Sendo o único objetivo do governo civil formar sociedades. sua adrninis-


raçâs) deve ser conduzida mediante asscruirncrnc comum. Toda espécie de gover-
no cem seus princípios especíücos, Os nossos talvez sejam mais peculiares que os
de c.i- uai:;;qucr outros no mundo. Ê a composiçâo dos princípios mais livres da
Consrhuicâo inglesa com os de outros derivados do direito natural e da razão
natural.
nmt.as sobre a Vfrgínia. Quesíto vn 1.

O único objetivo ortodoxo da instituição de governo é assegurar o mais alto


grau de felicidade possível :i massa geral daqueles que se acham associados sob
la.
Franei» A, \lru1Ll~rk1. rnpl.. Muntic_d lc, 21 de maren d1.: 1812.
1

is,.is!\'Íri . .nfü, creio se


parte
Joseph Prlcstlcy, V!•'n..-1h innton. 29 de ja11Jdr<1 de 18v~.

m
ncsm J(!rl

JMTil:'1 MOOfOC. P;irjo;, ':l dejulho de 178 ...

• c.:1. W1ll1nm 11. rrnwfor{l, Manuccllo, 2.fJ tl~junlto ,Jr lPtH1. Wur~-Y, XJ, DS. il
li,1111 ::it,urt, MonlKcllo, 111 de jauelrn <lt: ll'IZ<, 1 Rlbllmcc~ de
g
JEFFERSON

O rei (LLmÍ:S XVI e-m 1789) teria então concedido, por convenção, liberdade
de religião, liberdade de imprensa, julgamento pelo júri, habeas corpus e corpo
legislaE.ivo de representantes. Considero estes os fundamentos que constituem o
governo livre, e que a organizaçâo do Bxecutlvo é interessante, porquanto pode
assegurar sabedoria e integridade em primeiro lugar, mas pode, cm seguida, favo
recer ou pôr em risco a preservaçâo destes fundamentes.
PierreSflffluel Dupon; de Nemour'.'., Momkellu, 18 de fe,,.erdro de 1815.

Ad.'lirulutlo:i; CôrJy, Monfüiclln. 3J de outubrade 1&2J,

ura, uma vi

ocas as: relações entre senhor e escravo são o perpétuo exercido das. mai
turbulentas paixões, do mais constante despotismo por parte de um e de submis-
ESCRITOS POLÍTTCO

ão degradante por parte cl~ outro. ( ... ) Deve ser prod~gioso o homem Que Possa
manter sua conduta e moral sem que elas fiquem depravadas por tais cin.:unstãn-
cías. E com que execração se deve cumular o estadista que. permitindo que meta-
de dos cidadãos tripudie sobre os direitos de outrem. transforma aqueles em dês-
potas e este em inimigo, destrói a moral de um e o amor patriae de outro! Pois,
se um escravo pude ter um país neste mundo. este deve ser qualquer outro em
preferência àquele em que nasceu para viver e trabalhar para outrem. {. , • ) E
podemos julgar seguras as liberdades de uma nação quando removemos sua
úniua base firme, a convicção no espírito do povo de que ~stas liberdades são dà-
divas de Deus - que elas não devem ser violadas sob pena de ii,correr em sua
ira1 Na verdade, estremeço por minha pátria quando reflito que Deus é justo: que
ua justiça não pode dormir pum todo o scrnpre; que, considerando números,
naturcze e meios. naturais apenas, uma reviravolta da roda da farLúna, uma
mudança de situaçâo tigura entre o:,. eventos possíveis; que Isso pode tornar-se
provável por maio da interferência sobrenatural ! O Todo Poderoso n3o tem atri-
buto que: possa tornar nosso partido em tal contenda.

No,as :,.t,bn:.i Virgfnir1, Quc:$1lo XVIH,


JEFFERSON

triação geral; e gradativamente. ~ com os devidos sacrifícios. creio que poderi


efetuar-se. Mas. tomo está, ternos o lobo pelas orelhas e não podemos ficar segu-
rando-o nem soltá-lo sem perigo, A justiça está num prato da balanca e a
.,,u roprcscrvaçâo noutro .. _
Lamento que deva agora morrer na crença de que o sacrifícíu deles p&lia a
gct:.11,çào de 1776: a fim de adquirir o autogoverno e a felicidade para seu país,
deva ser desprezado pelas paixões insensatas e índígnas de seus n lhos: e que meu
único consolo ê não estar vivo para derramar lágrimas sobre isso. Se eles apenai
pesassem. desapaixonadamente. as beaçáos que desprezarão contra um principio
abstrato mais. provável di; ser conseguido p<.:la união <lo que pela cisão, fariam
urna pausa antes de perpetrarem este alo de suicídio contra si mesmos e de trai-
ção contra .as esperanças do mundo .
A John 1--Eolm~!.. l'vicm1icL"llc), 12 tlc ubril til! 1!!10.

permitirei expressar uma

~íll.,1~ ~1mi gc'ls qu


Persuasão. perseverança e paciência s
dccendem cl.L vomadc de outros,

d
n

"Jmne 1~26.

H.
1. Os males. do governo hereditá.rro e as vantageas
do governo republicano

Realmente. é difícil conceber como um povo tâo bom. com um rei tão bum.
com ,governaoles. em geral- com tão boas disposições, um clima tão arnerm, um
solo láo fêrti]. se torne tà.o ineficaz para produz ir a felicidade humana por meio
de uma única maldição - a da má forma de governo. 8. entretanto. uma realida-
de. A despeito da moderaçâo de seus governantes. o povo ê pulverizada petos ví-
cios d~~ forma de governo. Dos vinte rnilhôes de habitantes que :::e supõe existiam
na França, sou de opinião que há dezenove milhões mais 111 felizes. mais malfada-
Jo.:.;, que a mais conspícuamente infeliz individuo de todos os Estados Unidos,
ra. Eli1::iheth Trist, Paris, 18 &o.: :Lgost1.1 de 1 785,

Que quantidade de llçôes :l"- aluais misétiãs da H.:.lanch.1 nos ensinam?


ão ter um Iuncionário de cargo heredítêrio de qualquer espécie: não permitir
ue o cidadão se alie a reis; não apelar para nações .esLmngeiras para. que solucio-
nem divergências internas; nâo supor que qualquer naçâo ~e exporá :a lutar para
nôs. etc.

onn .<\dom~. P~ r-ii.. 28 de l;t!lembrv lll:' 17.,,.

Qu ru($1 retlexão. u. de um nc àÍS não p(\dcr ser livre durante .JltCI


tempo
Notas de \•ia11cm (mllrço di.: l 7RJ.l),

···"Hõeer
belo solo mais compn
JEFFF.RSO

de povo e todas as vantagens terrenas combinadas são insuficientes para impedir


que esse flagelo torne a existência uma maldição ~ vinte e quatro das vime e cinco
partes dos habitantes desce país.
George Wa~hi11gton. P:rns., 14 de novembro d~ l 7i6.

Nosso

saeer
males, e que o tributo a ser i,ago para es
parte do que será pago a :n:h,, sacerdote.
se deixarmos o povo ni.1 ignorãru;ia.
A Geo.rsL' Why1he, Paris, 1

Estou convencido de que aquelas sceiedades (corno· os índios) que vive


-~em governo de~rrutnm, crn su.n massa _geral, de um grau de felicidade infinita-

Estamro da Virgír1ii! J1'•r11 1t Liberdade Rell!;io~, J '786 (cí. E'~- JJ e~.).


scnrros ror.trrco l3

mente maior que aqimdes que vivem sob governos europeus. Entre os primeiros, a
opinião pública figura em lugar da lei e restringe a moral com o mesmo poder
com que as leis sempre fizeram em qualquer parte. Entre os segundos, sob o simu-
lacro de governar. dividiram suas nações em duas classes; lobos e cordeiros. Nâo
estou exagerando. Este é o quadro verdadeiro da Europa. Venerai, portanto, o
espírito de nosso povo e rnamcnde viva a atençâo dele. NãÕ sejais demasiado se-
vero para com seus erros: cumpre corrigi-lo esclarecendo-o. S,: se tornarem uma
vez desatentos aos negócios públicos, vós e e~ o Congresso e as assernblêias, os
juizas e o~ governadores, Lr-ansformar-nos-erno.:s, todos, em lobos. Afigura-se a Jej
de nossa natureza gera 1. a despeite dos exccçées individuais, e: a experiência
declara que o homem é o ~11100 animal que devora sua própria espêcie; isso por-
que não sei apliic.tr um termo mai1> suave aos governos Ja Europa t.: à pifhagem do
rico sobre o pobre.

A Edwil!'d Co.rrin2ton. P~ris, 16 de janeiro dç J'787.

JII

dos em a:ran
monarquia
cxistênci

• Prcil:rQ Ubr:nlat.k com 11enR.Os a umn escravidão Lr:inquíl11.


JEFFERSON

ver, uma pequena rebelião, de quando em vez, é boa mecída e tão necessária. no
mundo político cerno tempestades ao mundo físico. Rebeliões mal sucedidas, de
fato; geralmente criam u~utpações dos direitos do povo que as produziu, A obser-
vação desta verdade deve fazer com que os. governantes republicanos honesto
amenizem as punições contra as rebeliões de sorte :i não as desencorajar demai
É um remédio necessária à saúde saudável do governo.
James Madison, Pari-&. 30 ci.l.lj:meim.c.fe liS7.

'6.

tribunais
uina de governo. Educai e esclarecei toda a massa dô povo. Capacitai-o .a. ver
que é dQ! interesse dele preservar a paz: e a ordem. e ele as preservará, E isto não
requer elevadíssimo grau de educação pat"a convencê-lo. O povo ia única base de
confiança para preservação de nossa liberdade.
A Jamt:;:; Madison, Paris. 2-0 de dezembro d~ 1787.

As agitações que ocorreram na América. tanto quanto delas tenho conheci-


mento, nada oferecem de ameaçador. Constituem prova de que o povo tem sufi-
ciente liberdade, e eu não poderia desejar-Jhe menos do que tem. Se se pode asse-
gurar a [ibcrdade da massà do povo a expensas de uma pequena ternpcstade, vez.
ou. outra. ou mesmo de um pequeno derramamento de sangue, será isso preciosa
aq ulslçâo,

Ezrn SLili;-s, Paris. 24 de dc-,.;cmbro de L 'JS~.

A Willinm S. Smifü, Pnris. 13 de nevembru dr l 7R7.

:i.16:,;,. oriundos da forma republicana de

e apresentou 1 senso e111

J\ Bcnjam'in Hawklns, .f'ai!l'i1,, 4 de agosto de I nr,.


L6 JEFf'ERSO

Durante al,gun~- sêculos tem sido prática dos reis casarem-se somente em
fa..mi1ias da realeza, Ora. tomemos qualquer ra9a de animais; confinemo-los ii.
ociosidade e inaüvidade, numa pocilga, estábulo ou salão nobre: mimemo-tos
com dieta, satisfaçarnos-Íhes todos os apetites, mergulhemo-los cm sensualidades,
alimentemos-lhes as paixões: deixemos que rudo se curve perante eles, afastemos
o que quer que possa levá-los a pensar; em poucas gerações tornar-sc-âo, todos
eles, corpos sem espírito. Isso por força de uma lei da natureza. a lei segundo a
qual nos acostumamos a modificar constantemente a índole e as propensões dos.
animais que criamos pera nossos próprios.. fins. Ta] é o regime de criar reis.
nesse nroccsso têm eles. continuado durante séculos. e:
Joba um11:don, Menticello, 5 de mu~e de J 8 L .

Isso para as bênçãos de ter reis e magistrados que seriam reis. Desses
aeontcclrnentos, nossa jovem república poderá aprender lições úteis: j:unais
recorrer a potências estrangeiras para resolverem lhe as divergências: resguar-
dar-se de m:igi~rados hereditârios, irnpedi:r que os eidadâos S'IJ tornem de tal
forma estabelecidos em rjQuc:zas e poder a pomo de .iulgarem-se dignos. de alian-
. pelo casamento, com sobrinhas, irmãs. etc., eh: reis; e, em suma, assediar o
irono do céu com eternas preces. extirpar da criaçâo esta classe de leões. tizres e
mamutes humanos chamados reis, dos quais pereça aquele que não dis
vraí nos deles, bom Dcns",
t1..,.i,J Uumphr~y11,, J>-.:u-i.s, 1-1 d.i: rl,!l:m,m dl! 1787.

Joseph Jo11i::-;.. Paris, l4 de a,ll.<J:íto de l 78íl.

li! VtJ-iuiml>ém cnrt:s u Jóhn Jay, Paris. l I de janeno de 1789 Worb, V, J.!I 1-.4'.'.
Podemos dizer, com confiança. que a pior das constituições americanas é
melhor que a melhor que já tenha exfatido em. qualquer outro país.
1\ Thomas M. Randolph.Jr; Paris, 6 dejulliode J 781.

Tenho consciência de que hã. defeitos em nosso governo federal: são. entre-
tanto. tão mais leves que os das monarquias que os encaro com muita indulgên-
cia. Confio também no bom senso d!o povo para remediá-los. ao passo que os
males do governo monárquico são irremediáveis. Se Qualquer dos: nossos compa-
triotas desejar um rei, dai-lhe u fábula de Esopo, das rãs que pediram um rei; se
isso não o curar, mandai-o à Eueopa, Voltará bom republicano.
D111,·1d Rumsay. Pa.ris.4 de agosto de 17S7.

·sais. achar conveniente vir aqui: o prazer da

A J.:,,n,es Mc,r,mc:. P111ri~. 17 de junho dll' 118"i.

n. AMPR:C

• ri11 um

ai; tão importante quamo o separar-se a América do


pa e estabelecer o seu próprio. Nossas circunstâncias, nossas aav1aaac!) e nos;
imeresses são distintos; os prin.cipios do nossa polí~ica devem também sê-lo. Tod
JEFFERSO

envolvi meato com essa quarta parle da globo deve ser evitado se pretcnde:mos
que a paz. e a justiça selam as estrelas polares das sociedades americanas,
A Joseph Correa de- Scrr:1, Mont:icdlo, 24 de outubro de .1810.

,( ... ) Muitas vezes imagino se devo perturbar o Congresso ou meus amigo


com esses detalhes da política européia. Sei que eles não despertam esse interesse
na América, do qual é impossível despojar-se quando se está aqui. Sei, também
que é principio entre 1u.6s, e e julgo sábio, não nos envolvermos nas questões: da
Europa. Creio, contudo, que as devemos conhecer. Os turcos têm observado esse
mesmo principia de não se envolverem nas complicadas contendas deste conti-
nente. Entret.mto. preferiram insensatameate desconhecê-Jus íambêm.

noss
delas

mHl:".I, n Lll dr 1803.

,, Jo~·J>h R. Corroa dC' s~rr:i, d1(tl01l'll'llJ'l ! bó1anâeo português, era compunhelro f;Wnri{~1 do klltr~on. Vi:r;
Amertcan Taurist (J 94ti). p. 149,
T}rr,. ,111tt.J4Jéi',t{}1T,
tórios de ambas as Américas. a~ ferozes e sangrentas contendas da Europa. Dese-
ja ver esta coalizâo começada.
A Wi11iaw Shi>tl;. 4- de~ gosto de l 820.

A questão q uc agora confunde- a Europa, 1 0 a presunção de ditar a fonna de


governo a uma naçâo independente, é tão arrogante, tâo atroz, que a indignação
bem corno o sentimento moral, recruta nossas facciosidades e orações a favor de
uma e igual:rncnrte nossa exi2cra.çào contra a outra, Não sei. realmente. se todas as
nações devem umas às outras uma declaração ousada de suas simpatias por um
partido e de sua abominação pela conduta de outro. Mais longe que isso. porém.
não devemos ir: e. de fato, para o be1111 do mundo, nâo dcvemos aumentar os ciú-
mes. ou atrair contra nós a. força desta formidável Confederação. Sempre julguei
fundamental, para os Estados Unidos, jamais participarem ativamente das dispu-
tas da Europa, Os interesses políticos dela são inteiramente distintos. dos no
Seus mútuos ciútnt::s, equijíbrio de forças. alianças complicadas, formas ,; princí-
pios de governo nos são de todo estranhos. São nações em ~ucrra eterna. Todas
as suas energias são gastas na destruição do trabalho, da propriedade e da vida. de
seu povo, De nossa parte. jamais: um povo tem oportunidade tão favorável para
experimentar o sistema oposto de paz e fraternidade com os homens e a direção
de todos os nossos meios. ~ faculdades para firl5 d~ melhoramento D.O invés de

11,m:. Muriticello. 11 de jyoh,çi de I UJ.

James Monr,

li lamar 1! Duuttü:tt1 de Monm-.


20 JEFFERSON

restringir homens em numerosas


- - oral

Willi.:un Jobnson, Morni1;clto, 12 d1:Jun'10 de 1823,


Considero u criação e o êxito do governo deles (da França) como neccssâ-
rios para sustentar o nosso e impedir que ele tome .a cair nessa espécie de meio-
termo, u Constituição inglesa. Não se pooc negar que ternos, entre nós, uma seita
que acredita comer (a Constiruiçâo) o que quer que seja perfeito nas instíruiçócs
humanas; que os membros desta seita tem. muitos deles, nomes e: cargos que nos-
sos compatriotas têm em alta conceito, Ainda confio em que a grande massa de
nossa comunidade não esteja contaminada por estas heresias como está f> seu
hefe. Sobre isso assemo minhas esperanças de que não trabalhamos em vão .. e de
que nossa experiência ainda provará que us homens podcrâo ser governados pela
razao,

A Ct:-,.rgi: Maso,J, fl~déll'ia. 4 clt: fevereiro de ]191.

Jurei, perante o altar de.: Deus. eterna hostilidade a toda forma de tirania
sobre o espírito do homem,

esta: instituiçiio (a Universidade <la Virgínia) basear-se-á na ilimitada Uber-


dade elo espírlto humano. Isso porque, aquj, nâ(J rececremos ~qtufr a verdade
aonde quer que nos conuuza, nem tolerar qualquer erro enquanto se dtix.J1r ~ivrc
a razâo para com batê-lo,

· Wi11,~,n Ru:;c:1•1:. Monticdlo, 27 .ri.: dL'7.~mbr,

fHlções. l: tambêm
Hk l80:2.. WorJ:s.
22 JEFFERSO

esforços comparados aos dos líderes do outro, lado que desencorajaram todo pro-
grcsso na ciência como inovações perigosas, esforçaram-se para tornar a filosofia
e o republicanismo termos de censura e por persuadir-nos de que o homem só
pode ser governado por meio de vara. etc ! Terei a felicidade de viver e morrer
00111 esperança contrária.

;.\ John Dickinscn, Washington. 6 de março de JSOJ,

a grande obra que se realizou na Atnêricü., nenhum individuo tem o direito


de reivindicar para si urna parte nela. Todo o nosso povo é sensato, porque se
acha sob a atuação ilimitada e não pervertida de sua própria compreensão. Aq111e.-
les aos quais atribuímos a direção dos negócios manüveram-se razeavelmente
Se qualquer deles foi retirado I rn ui los outros ili teiramente iguais
t;()emelilltes.
iram-se prontos para preencher-lhe o lugar com .a mesma capacidade, Urna
nação composta dê tais 1.:!cm.:,mtos. e livre, em todos os seus membros, de contris-
tadoras necessidades. fornece esperançosos instrumentos para a intcrcssant
experiência de autogoverno, e achamos que estamos agindo sob obrigações não
confinadas aos limites ee nossa própria sociedade. t impossível não perceber que
estamos agindo para todos os homens: que as circunstâaclas negadas a outros.
porém a nós concedidas. nos impuseram o dever de provar qual o grau de liber-
dade e autogoverno em que uma sociedade !"Ode aventurar-se a deixar sei
membr

fo<;:eph Prtestle:,', Wo.shin&C~n. 19dcjtmbod-: !8{Jl,.

. ue . -
provar-se o co
levolente .

rtlC)'. Paris. l d.;: .h11 no de 11787

m governo tão
cíedade inteira '
o

com a
prova de que um

1\ Riclrnrd Rush, Momlcello. 20 dt outubro de n:zo

Convencido de que a forma republicana. de governo é a única que não se


acha eternamente em guerra aberta 011 secreta com o~ direitos dos homens, mi-
ESCRITOS iPOLtrrcos

nhas preces e esforços serão cordialmente distribuídos pura apoio desse governo
que com tanta felicidade estabelecemos. É realmente um pensamento encorajador
que. enquanto estamos assegurando os direitos de nós mesmos e dr; nossa posteri-
dade, estamos apontando o caminho para as. nações. em luta que desejam. como
nós. emergir também de suas tiranias. Possam os céus auxíliar-lhes íl luta e
conduzi-las, corno ílzeram a nós, triunfantemente através dela.
A William Hunter, AJe,:andria, t 1 d, março de il190,

O espírito de 1776 não morreu. Esteve apenas cochilando. O corpo do pov,


americano é substancialmente republicano.
A ThQmas Lomax, Mondccllu. 12 de março de L 79':J.

CAPÍTULO Ili

GOVER FU A VONTADE DO POV

t/ Ili! ~ur,q4,• cnn.tlrm/1•m,•11IP 110 fU'I•·

1. O POVO COMO FO /\A A

pintão do Gabinete, 28 de nbril de J 7~ 1


.,.

Em rodo pais em que o homem tem lfüerdadc para pensar e falar • .surgem
divergências de opinião sobre diferença Lfc perccpçâo i.! irnperfeiçâo da razão; mas
24 JEFFERSO

SS:1$ divergências, quando permitidas corno neste pais: para puríflcar-se pelo
livre debate, são apenas nuvens passageiras. que se estendem transitoriamente
pelo país e deixam nosso horizonte mais brilhante e mais sereno . .t::sse amor pela
ordem eessa obediência às leis; que caracteriz.arn tão- extraordinariamente o
cidadãos dos Estados Unidos, constituem penhores seguros da ltraaqüitidade
interna; e o direito de voto eletivo, se preservado como a arca de nossa segurança.
dissipará pacificamente todas ~s cornbinaçôes de subverter-se uma Consthuição
ditad.•i pela sabedoria e apoiada na vontade d.o povo. Essa vontade é o único fun-
damento legitimo de qualquer governo. e proteger .SU1\ livre manifcstaçâc deve ser
nosso primeiro objetivo ..

A lienjarnin Waring. Wa&hing-mn, 2J de mn~o a~ 180 ••

O govcmo de ~1ma m.19,iiQ poderá ser exercido Indevidnmeme pela usurpação


forçada do trono por um individuo, Mas c:onq'lllsla,-lbc a vontade de sorte a
apoiar nela o direito, a única base legitima. requer lortgtJ servidão e cessação de
'todn oposição,

Ci!.¾!.1rg,i; W. t.ewts, Munlkellt1, 1.5 dê uúll.íbm da: 18 •• _,.

Ao GovcrnJtdor Morri.li, Fil11dé-Hi1. 1 c;1c no\lembrt> dê 17'113.

mais que
tem
,C

Considere nossa fonte de autoridade a nação. Sua vontade. declarada Mr~-


vé.s de seu próprio 6rg:ão, ~ válida atê q uc seja revogada pela vontade igualmcrne
declarada também através de seu próprio t~rgào_ Entre l 776 e ] 789, era o Con-
gresso, formado de uma maneira particular, que manifestava sua vontade. quer
legislativa, IIJUl.?li executiva, Desde 1789, ê um Congresso formado de maneira
,_.,

diterenre, para legislar, e um presidente eleito, de modo particular, para fazer


nomeações e praticar outrosatos executivos. As leis e nomeações do antigo Con-
gresso eram tão válidas e permanentes em sua natureza quanto as do novo Coa-
gresso ou nomeações do novo Executivo. essas leis e notne.a4tôes, em ~bos os
casos, dcriv~ndo igualmente sua força da vontade da nação: e quando surge uma
questão sobre se qualquer lei pa.rt-icu!.:1r ou nomeação se acha ainda em vigor,
cumpre-nos examinar não se foi instituída Jjê[o antigo órgão ou pelo atual, mas se.
foi. cm qualquer tempo, revogada pela autoridade da nação, expressa peto ôrnão
competente na ocasião.

•• VOL'OfRC:: W.a:.hington, fiJ.iuJélfia, 4 de rr::,ren:iro di.: 17':J?.


26 JEFFERSON

especiais somente. Todos eles Linba.rn suas leis a fazer, como a Virgínia tinha
durante seu primeiro estabelecimento como nação. Mas não passaram a adotar,
como o fizera .i VirgÍn1n~ todo o sistema de leis adrede preparado. Como a asso-
iaçâo deles corno nação fora apenas: para fins especiais - a saber, para dirigi-
rem seus negócios uns. com os outros e com países estrangeiros - e os Estados
que compunham a associação decidiram dar-lhe poderes para tais fins. e nenhum
outro, não podiam adotar qualquer sistema geral JJOi''tuc i1:1Lo Leria abarcado objc-
tos sobre os Li uaís esta associação não tinha direito ai guru de formar ou declarar
uma vontade. Não era o órgão para declarar 11 vontade nacional nesses Ca,$.O.,,,
os casos confíados a ek.s. tinham liberdade de declarar a vontade da nação. a
lei; mas, que fosse declarada, não poderia haver lei. De sorte que a lei comum
;;i,ti;
não se transformou. lpso faeta, em lei na nova associaçâo: podia somente passar
e11 sê-lo por adoçâo positiva e tâo-somcnte à medido. que fossem autorizados a
adotá-la
AEd,mund Raudolpb. Moõ1.1~1.1-lk1. IS di: lü de 17

n. O DIREITO DE AU'J OGOVER.NO

ver

esm:
uant
pela

Opírti:ão do Gabinete, IS de julho de L 790.

A geração acuai tem o mesmo dlrcíto de autogoverno que n anterior teve


para si,
A John H.. Pk~~nL~~ l\;fonticcllo. 19'dnbril de: 1824.
SCR lTOS P0L1TlCOS 27

O primeiro princí pio de repuhlicanismo é que a lex majoris partis 1 4 cons-


titui lei fundamental de toda sociedade de indivíduos de iguais direitos: conside-
rar a vontade da sociedade enunciada peb maioria de um único voto tão sagrado
como se fosse unânime é a primeira de todas as lições em importância. todavia a
última que se aprende exatamente. :Esta lei uma vez desrespeitada, nenhuma outra
resta senão a da força que, inevitavelmente. termina em despotismo militar,
Alexander Hurnboldt, Monticello, 13 dti junho de 1817.

Na última revolução fizeram-se fucilrncnre 11.s mudanças que a nova forma


de governo deles tornou necessárias. Foi apenas preciso dizer que os poderes do
Legislativo, do Judiciário e do Executivo. até então exercidos por pessoas de tal
tal classe. serão doravante exercidos por pessoas a serem nomeadas de tais e
tais maneiras. Foi isso o que fizeram as constituições deles.

Com respeito ao Estado da Viq,,f, oin em particular. o povo parece Ler deixs
do à parte o governo monárc uico e adotado o republicano com a mesr11:1 facili-
dade com que se teria desembaraça.do de um terno de roupa velho i,,í cnv~rs;;ada
um novo.

8•• ojomln h,1111kJi11, Virgíni!l. 1

f'>-!inh.11, 18 cti.: m de l "192..

ue desejamos ver o eovo de outros países livre ê tã(') nntur:,,I e. pelo menos,
justificávc] quanto o de um rei desejar ver os reis de outros países mantidos em
"U despotismo,

Desejava poder dar melhores esperanças a nossos irmãos do sul. A realiza-


ção de sua independência da Espanha nào {!: mais uma questão, Contudo. é muito
' • Lei do mair.:Jr pane. f N. do B,
JEFFERSO

srave. Que acontecerá agora a eles? ( ... ). Ninguém. espero, podera duvidar de
eu desejo de vê-los e a todos os homens exercerem o autogoverno e com capaci-
dade para exercê-lo. Mas a questão não é o que desejamos, e sim o que é
praLic.llvel. 1 s

LaraycHt>.Monl.iccllo. 1.4 de lfl.âj'u de 18r7.

Seguramente ê nosso dever desejar lhes (os Estados !atino-americanos)



1
1dcpéndênci ü. ç: autogoverno porque: eles mesmo!). o desejam. e têm o direi 10, e
nós nenhum. de escolher para sí mesmos.
A John Adams, MonliceUo. 17 de m.:.10 de as E ••.

mbora não tenhamos direi to de Ul.lerfe rir na forma de governo de outras


nacôes. é. entrutanro, lícito não dc..,~.iarrnos ver nenhum f mperador ou ret em
ri osso hcmisfêrio,

J.umc:. t,,fonrnc. Monlkcllo, l ,Y de clÇt,én1bl"('I de .18'.2-.

ias, B

de um uesrão
dos
esplêndido libelo contra os governos deles. e ele está lutando pelos princípios de
· dependência nacional, dos quais toda a sua vida tem sido até então urna conu-
ua violaçjio,

fohn Adatm,Moaricello. ]O de agosto de 1815.

A subjugação da Inglaterra seria uma calamidade geral, Mas. fclizrrrente, é


ímpossive]. Caso termine em ser apenas r~publicanizada~ não sei sobre que prin-
ci pio um verdadeiro republicano de nosso paf s póderja Iamentá-lo, se o considera
mo estendendo a:; bênçãos d~ um governo mais puro a outta:, porções da
humanidade ou fortalecendo a causa da Iíberdadc em nosso próprio pais pela
influência. desse exemplo. Rc~Jme11Lc não desejo ver qualquer nação ter uma
forma de governo forçada sobre ela. mas. se t: que- isso tem que ser feito, rejubi-
lar-me-ia de da ser a de um l!t>Verno, mais livre,
Ptn:grí11é Fi11:huI?h. FilàdéHiB. 23 de- fo,.cr.:1r(I ;.1.,. !71J.,_

Os trnnccses têm sido culp:H.fos. de grandes err m sua conduta para com
01..1trns 11:::i,çô1:_s. não só insultando inut ilmente todas a. abeças coroadas como,
também. Lenrando forcar u liberdade -obre seus vizrnh •• SUfl pi-(,pna maneira.

rnt.:m o pov rt1a.


U-:li.<tdl Hú\~ cll, Mt1111icell(', 1 ~ de dt1trnnm dt' 1 Slv.

1790
d

ócrira ~ vi me, na maior PMte das v


o JEFFERSON

defensor do lado republicano da questão, a menos que entre os convidados hou-


vesse, por acaso, algum membro desse partido nas casas legislativas.
Anas, 4 de fevereiro dt 1818.

A Isaac H. TilTany, flr·lon1loel10. 26 a-e a,gos10 c!e 18 L.. •

A amlrace que ex.is:ic. entre n .~


de nossos princípios e a1ivich1d.cs têm sido fonte de constante felicidade a.t.ra.vé.
desse longo período. E s
da fonte da \1ida; co
sob VOSS(l cu idade
mim grande consolo acreditar que estais empenhado em vindicar para a posteri-
dade o curso que remos seguido para preservar-lhe, cm toda a sua pureza, as bên-
cães do autogoverno, que ajudamos também a adquirir para ela. Se algum dia a
terra contemplou um sistema de admlnisrração conduzido com um só e firme
ESCRITOS POLÍTICOS 31

olhar visando ao interesse e à felicidade gerais daqueles com ele comprometidos.


- um que, protegido pela verdade, jamais conhecerá ccnsuras-s-, é esse: .a que
temos devotado nossas vidas. A mim mesmo fostes um baluarte de apoio durante
a vida. Cuidai de mim quando morto, e tende certeza de que deixara convosco
minhas últimas afeicões.

A James IM adiron. MontícelJo_ 17 de fevereiro de 1826.

UI. PARTICIPAÇÃO DO POVO EM TODOS OS :RAMOS DE GOVERNO

Para u tfit{ilté:ia dó àJJto;:m-emo. na oplnjiir1 ,/e Jef}"rmw11. requer-se qü« r, poi•o


pam'c(p<1 til! todas as cararrarisucas da processo pol{tfoo. Dai' o ter ern ri.lia ,r;{llt((J
n siuc:mà do júl'i1 ctr:r~clila11do cm que: "A execuçà» das Jeis l' matr nnpotlante
Ué lilta e/rJbnrrrr:Jir,"

Pensamos, um América, ser necessârlo intro<.luiir e, povo em todo departa-


mento de governo enquanto tenha capacidade de exercer lhe es funções e que este
~ o único meio de assegurar urna longa, contínua e honesta administração de: seu
poderes.
1.
mente

Ao Abade Arnuu», Paris. l9 de julho de l?.!L.

1
•· füpír.ilo rle .::orr,oroçüo. (N. cki E.)
32 EFFERSO
Aqui. todos os ramos de governo são eletivos pelo próprio povo. salvo o
judiciário, de cuja ciência e aptidões ele não é juiz competente, Mesmo nesse
departamento, contudo, convocamos o jún de pessoas para decidir todas as oues-
tões controvertidas de fato. porque parn essa invesrigaçâo eles são intcir amcrue
»npetentes, de:ix:ando assim o, mínimo possível. aocuas a lei aplicável ao caso.
à decisão dos. juízes. A verdade é que o povo, espcciafmenle quando moderada
mente il'll)irw'do, é o único seguro, porque o único honesto. depositáric dos direi
tos públicos, e deve ser. portanto, introduzido na adminr~Lração destes cm toda
a~ funções cm que for eficiente. Errarão ás vezes, e acidtnrnlmcnte, mas jamais
deliberadamcn1r.!, com o propóuro sistcmêtico t: constante de derrubar O,!; li vres
princípios de lDverr,c,. Corps», hercditúrios. ao cornrário, :<.empre existentes. sem
prc alerta para seu engrandccunenm, aprovcuarn-sa de toda oporlunidndc- para
fomentar os pnviJégios de sua ordem e usurpar os uin:iLo., do povo.
A Al.lam.attàos Cum:i.•, MonúceJlu, 3 l de, r11.1tub:ro de 1,8,..J,

::i ccnst i tuiçõe:

li. John Cnrh\·r1ghL, ~fomlci:lk,. S dl' Junho Jl.l 1 . •.• ..,,

Ccncoruo COHV("l:,CO em que há uma anstocraci


Os Iundarncraos e.lesta são virtude o miemo. Antignmcme, íl t°cffÇ
nava entre O!> uristoi. Mas. desde que a invcnç56 da pólvora armou tane
__ mo o forte com projêtei :i morfffcros, o poder do corpo como beleza, bom-hu-
mor. polidez e outros dons tornou-se apenas fundomcnro auxiliar de distinçiL.
Hâ, também. uma arlstocrncia artificial, fundada na riqueza P. no nascimento.
sem virtude QU talento; c.s~ pertenceria â primeira classe. Considero a arisin-
cracía natural corno o mais precioso dom da natureza para. n instruçâo. 1 con-
fianç..-, ,e o governo da oodedadc. E, rcalrneme. Leria sido inconsistente na criação
ESCRITOS P0LIT1C0S 3J

formarem-se homens para o Estado social sem os prover de virtude e sabedoria


bastantes para poderem dirigir os interesses da sociedade. Não podemos, mesmo,
dizer que essa forma de governo é à melhor para prover mais eficazmente de uma
pura sdeçào desses aristoi naturais para funções de governo? A. aristocracia arti-
ficial é ingrediente mal.(!volo no governo. e. devia-se Iazer provisão para impedir-
lhe a ascendência. Na questão de qual ::i melhor provisão. vós é! eu diferimos
como amigos racionais, servindo-nos do livre e.xcn;:icio de nossa própria raz âo e
mutuamente perdoando-nos os erros. Achais melhor colocar úS psettdo-oristoi
numa Câmara legislativa separada. onde possam ser impedidos de causar mal
por seus ramos coordenados e onde, também. possam proteger a riqueza contra
as empresas agrárias e saqueadoras da maicria do, povo. Creio que dar lhes
der. a Iim de impedir '-l ue façam m.:11. é armá-los jltWl ele. aumentando o mal a.,
invês de diminuí-lo.

ohn Ada11l!i. Moniiccllo. 28 de outubro de- t8J....

cu./\ i11
indivídu

oro..•. sobr iraf11i:.i. silo xr

Em vossa situação (depois da derrota de Bonaparte em Waterloo), elabora-


r~,~ urna Constàuiçâo na qual a vontade da nação Lcní controle organízado sobre
os mo::i do govemo ~ os cidadãos proteçâo regular contra oprcssôes,
Lafayerre, MomiceUu. 17 clL· maio d~ 181 v,
34 JEFFERSO

governo poderá continuar a ser bom. a não ser sob o controle do


povo.
-John Adams:. Montloello, IO de d~cmbn;1 de J 8 lh

É incorreto chamar republicano um governo no qual um <los ramos: do poder


uprerno seja indcpcndc.:nte. da a ação,
A James Pleasnnts. Monticetlo. 16 de dL·t.embrn de l8Z l.

LV. DA EDUCA CÃO PÚBLJCA E DA IMPR.EN IVRE

sei de nenhum dcpositáriu seguro d,,


propno dono e, se não o julgamos suficieru
trote com critério sadio. o remédio não esrá
ducacãc,

::. axioma. em meu 1;sp:[rito. que nossa 1ihcrd~i:lo jamais !,)' Qo~r:.i. estar segur
ão nas 1,,iios do próprio povo, mas também do povo com cerro grau de ínstru
que cumpre ao Estado levar n d'eito. com base num plano geral.
lifti: Washin,~toJ1. t':,rf:,,, 4 cleJm1-1.:iro cie l 7a-ib.

A Cl,ulc:11 Y:lncey, J::m,úro dJ 11! ! "'

lJm sistcm~ de lnstrução geral que atinja TC'H'fns :\


dãos, desde os mais ricos atê os mais pobres, du rnesm
e será : a última de todas as preocupaçêes pública permitirei
interessar.
ESCRJTOS POLITIÇOS 3

Esperava que os tumultos na América (Rebelião de Shays) provocassem 111a


Europa urna opinião desfavorável sobre nosso Estado político. 1 7 Mas não provo-
caram. Ao contrário. o pequeno efeito desses tumultos parece ter inspirado maior
confiança na firmeza de nossos governos. A interpcsição do próprio povo ao
lado, do governo produziu grande efeito na opfni5ó aqui, ELJ mesmo estou persua-
dido de que sempre se verá ser o bom senso do J}O\lO c melhor exército. Ele
poderá desviar se por um momento: mas logo corrigirá a si próprio. O povo
é o único censor de seus govetnantes., e mesmo seus erros tenderão a mantê [os
adstritos aos. verdadeiros princípios. de sua instituição. Punir esses erros mt11to
severamente seria suprimir a iínic.a salvaguar du das liberdades públicas. O mci
de impedir essas interposições irregulares do povo é dar~lhe amplas inforrnuçôes
sobre sem. negócios airavês \1o canal dos Jornais e providenciar que estes pene-
trem toda a massa do povo. /\ base de nossos governos sendo a opinião do povo.
primeiro objetivo deve ser mantê-la exata: fosse deixado e m in, decidir se dev
riam ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo. não hesitaria um
ento em preferir este úl1imo. Ma$ Insistiria em que Lodo homem recebesse
esses jornais e os soubesse ler.
36 JEFFERSON

maneira: dividiria o jomul em. quatro, capítulos, dando ao primeiro o título Verda
des: ao segundo, Probabilidades: ao terceiro, Possibilidades; e ao quarto, Menti-
as. O primeiro seria muito curto, porquanto conteria pouco mais que documen-
tação e informaçôes de fontes autênticas, p0r cuja verdade estaria disposto ~
arriscar a própria reputação. O segundo conteria o que. ep6s. madura considera-
ção de todas as circunstâncias. o levasse em seu julgamento à conclusão ,k ser
erovavelmente verdade: este, porêm, devia conter mais. pouco do que demasiado
muito. O terceiro e o quarto seriam declaradamente pará <JS leitores que preferem
mentiras para seu dinheiro a um espaço cm branco que elas possam ocupar .
A John Norvcll, \'lo'.i~lilogu:m, 11 dê junho()(.' l 8/07,

V. OSISTE~fAIEFF-EL~..SON

"Uin« Jlratlaç-iio di· nurr1r-irlmlt>:." ,·w1!>ti1ui t:H11m•11•rf.sti'1J11 vtuü /Jct ,·:i.frzJJu~u ,k,
fJ,m, jfG11·r1w1. ,-ISSL'g~ru M·, t:Ulll iss«, o /JG1 firipoflir> d~· w,trl rldadcir> flll co11tÍJWJ
dc.J I H•1,1,.rt.ii;ir~1 ptiltllro.1. f.. p,•Jn dil•l.~1r1J )11d1tw1a do trobalh», "colm·tt11drul' ,'iOb
·nela 1111111 q111• ~~·11 ..,. µ1•ijp1·Jv:. ,i//i;.,,\ p1nln,1 rll1•;gir ·; qll~ o gorcnr" Jka mais ~·111
uâ111iui:ihmlt1 t' "prJL'1• prvh:fl,c'úl) auuru u má iJ1b11mi,\lrtrçàu. ÜU(J 1hJ11fmrc1 t', ltu
l 't'.:, u PiJafç l.iâ.firo ("t1l'dl'U lf~1 lca 1fo p(rt.rr11111•1ll11 (!oú'Jii•o (/l• J,:J{i,:l'W'lr1 1 fi~Hl,·rio,
1

nr,•.1 ·rm, ~,·r .l, 111, 11ln11d11 ''SiJt,•11w Ji.f.f~r~,miun,."


1 1

inistrar e
ída:dãus. ~ estas
CRITOS POL[T[CO 37

mesmas circunsrâncias, por tomarem impcssível a descoberta u seus consti-


uintes, incitarão as agentes pu blicos à
corrupçâo, pilb;agem e desperdício. E JÍeal
mente acredito que se fosse prevalecer o princípio de urna lei comum ficar em
igor nos Estados U11i1.fos (cujo princípio despoja imediatamente ,o Governo
Geral de rodos. o~ poderes tios governos de Estado e nos rcdu:z a um simples
governo consolidado), ele tornar se-ia o governo mais corrupto da terra, vísres a
prática peta qua! os servidores públicos puderam encobrir sua conduta ou, onde
isso não peide ser feito, recorreram a subterfúgios para que seus constituinte
nada percebessem. Que aumento do campo para ne..goçj3tas~ especulações, pilha
gcns, criação e procura de cargos ::e produziria assumisse o Governo Geral todo
os poderes dos Estados! A verdadeira teoria de nossa Constituição r:. segura-
mente, a mais sábia e a melhor, à de que o~ Estados são inclcp"ndentes qaant
ludo dentro de si mesmos e unidos quanto a tudo que dil respeito às nações
Limite-se o Governo Geral râo-só aos negócios estrangeiros e fj
questões desemaranhadas das de outras nações, exceto quanto a
s ncgoeinntes dirigfr:io melhor se dei iÚd.os livres para fazê-lo eles
mesmos. t: nosso Governo Geral poderá ficar assim redo,.i<lo a um
muito simples e.: pouco dispendiosa, cujas funções também simples
das por poucos tuncêonários,

en1om.st1J ciL' 1

Pou n~gól.!ios públicos. Há. de fato. ous


para a.
bJica e a suecnvrsao aos cor
governo republicano como ~b·'
Josi:ph C. C:1-bc!U. M rim iccllo.31 crL'.! jiI~1elro dL, 1814.
38 JiEFFERSON

converter para seu próprio proveito os ganhos daqueles de cujos cargos foram
incumbidos. { __ ; -
(. _ . ) Informaram-me que, na questão de representação igual. nossos conci-
dadâos, em algumas. seções do Estada. reivindicam. percmptoriameatc, o direito
de repreeentação para seus escravos, O princípio. nesse como em muitos outros
casos. abrir-nos-á caminho paira corrigir conclusões. Fosse nosso Estado uma
pura democracia, na qual todos os habitantes se reunissem para tratar de seus
negócios, hevcriam de ser excluídos das deliberações: l) os infames. atê chegarem
à idade da 1'a7àO~ 2) mulheres que. para evitar depravação da moral e amhigili-
dade d-e deliberações, não poderiam misturar-se promiscuamente nas reuniões pú-
blicas de homens: 3) escravos, dos quais o infeliz estado de coisas conosco tira v··
direitos de vontade e de pmpried~de. Ãqueles, pois, que não tê-m vontade. não se
poderia permitir que a exercessem qa assemolêia popular e, naturalmente, nâo
poderiam delegar nenhuma a um agente numa assembíêia representativa.
de 'ieEemb,o ú,c 1816.
União formariam uma graduaçâo de autoridades, figura:rufo eada uma na base da.
lei e mantendo a parte de poderes que Ihe é delegada ,e constituindo verdadejra-
mente um s-iste1m1 de equilíbrio e controle fundamentais para o governo. Onde
cada homem seja um participante na direção de sua república-distrito ou de algu-
mas mais. elevadas, e. ache que não participe no governo dos negócios, não
simplesmente na eleição de um :só dia no ano mas todos os dias. onde não haja
um homem no Estado Que não seia membro de algum de seus conselhos- grandes
ou pequenos, ele preferirá arrancar o coração do corpo a deixar que seu poder
seja arrancado por um Cêsar ou um Bonaparte, Como sentimos poderosamente a
energia desta organizaçâo no caso do embargo? (. __ ) Como Catâo, pois. que
concluía cada discurso com as palavras; "Cwthago delenda ess •t, 1 8 assim em.
toda opinião com a injunção: "dividir os condados em distritos", Comecemo-lo
apenas para um único Iim: eles logo mostrarão quais os outros para os quais são
os melhores instrumentos.
or.l!13b C. Cabcll, Mootic~UQ, 2 de ícvcreiro ~e l 81 ti,

Na primeira

seus admjr1istradore
remro o verdadcir
40 JEFFERSO

taria ô Estado a agir cm massa, como cem feito tantas vezes vosso povo e com tão
grande efeito pelas assembléias das cidades. A lei relativa à liberdade religiosa,
que fazia parte do sistema, tendo eliminado a aristocracia do clero e restituído ao
cidadão :a liberdade de cspftito, e as dos vínculcs e descendentes criando uma
igualdade de conôição entre eles, isso na educação teria elevado a massa do povo
ao alto nível da respeitabilidade moral necessária â própria segurança do povo e
a um governo ordeiro, e teria com,pletadà o grande objetivo de qualificá-lo para
selecionar o verdadeiro oristoi para os: encargos de )!ovemo.
A John Adams, Motttfo:dfo. 2.8 de outubro d~ 1813,

Meu

com su.
para um
John CarMritd1L Momlccllo.:i i.Jcjunhodt! 1814.
THO,MAS PAINE-

SENSO COMUM
Introdução

Talvez os scn timentos contidos nas páginas seguintes nno estejam ainda
suficientemente na moda para lhes granjear um favo, geral: o longo hábito de não
pensar que uma coisa seja errada lhe dá o aspecto superficial de ser certa, e: ergne
de início um temível brado em defesa do costume. Mas o tumulto não tarda em

dcfen-
de
p

Autor

1
P.S. - A publicação desta nova edi.ção foi postergada com o fito d
necessário) qualquer tentativa de refutar a doutrina de independência. Corno
até agora não apareceu nenhuma resposta, presume-se q uc não aparecerá. uma
z que já passou, bastante, o tempo necessârlo para aprontar tal feno.
PAJNE

Saber quem e o autor deste trabalho t- inteiramente desnecessário ao público.


visto que C} objetivo de atenção é a própl'ia doturtna, e não o homem. Mas talvez
convenhr3 dizer que nâo está ligado a nenhum partido e que não sofre influência
nenhuma, nem pública nem privada, a não ~r a influência da razão e do
principio.
FHadélfia., l 4 de; fevereiro de 17 76.
Da origem e do plano de governo em geral
com concisas obscrvacões sobre a Constituição íngles,
46 PAI

nem de erguer a madeira; a fome o afastaria do trabalho, e as mais diversas


necessidades o atrairiam nas maneiras mais diversas. A enfermidade, e até a
desventura, seria a morte: embora nenhuma delas fosse mortal, torná-lo-iam jnca-
paz de viver e o redirziriam a um estaco em que mais perece-ria. do que viveria,
ssim, a necessidade. como força gravitadora, não tardaria em organizar os
imigrantes recém-chegados em sociedade, cujas reciprocas bênçãos substituiriam
e tomariam us obrigações de lei e de governo desnecessárias. mantendo-se perfei-
tamente justas uma para com ~L outra: mas, como anda. a não SCj l..l céu. é .impri;:g-
náveJ ªº vicio, há de suceder inevitavelmente que. à medida que forem sobrepu-
jando as primcira.':i dificuldades da imigração. que os unem numa causa comum,
começarão :1 descuidar-se no dever e ~1'lego mútuos, e essa dcsi'd~:-. fará surgir -a
necessidade de se estabelecer uma forma qua k1 uer dl: governo destinada a suprir
n falta de vi rtude moral.
Uma árvore conveniente lhes propmcloiiarà um parlumento, sob cujos
poderá reunir-se a assembléia para deliberar em tomo de questões publl-
uas primeiras lei.s rerâo apena
m virtude de uma úniea pena:
Lerão assemo, por direito naturul, t

preconceito deturpe a nossa von-


SENSO COMU}..f 4"1

tade é o interesse obscureça a nossa compreensão. a simples voz da natureza e da


razão dirá que ele é certo.
Tiro a minha idéia da forma de governo de um pnncípío natural que nenhu-
ma arte pôde abater. ou seja, o de que quanto mais simples uma coisa ramo
meoos propcrtde a. desordenar-se; e tanto mais facilmente ~e repara quando desor-
denada;:: e com essa máxima diante dos olhos. ofereço algumas consideraçôes
sobre a tifo gabada Constituiçâo da lnglaterra, Concedamos que foi nobre para

O$ tempos sombrios e servis em que a. redigiram, Quando no mundo imperava :a
tirania. afastar-se dela, n mínimo que fosse. constituía uma gloriosa salvação.
Mas facilmente se demonstra que é· impcrfoit a. sujeita ~1 convnlsôes e:: incapaz. d
produzir o que parece prometer.
Ü.!i governos absolutos: (apesar de ser um maleficio para. a Natureza humana)
possuem esta vantagem: são s1 mples, Se o povo sofre, sabe de que fonte jorram o
seus padeci_rncntos. i,a.bc igualmente qual o rcmêdio, e não fica perplexo por uma
multlplicidade de causas e curas, Mas a Constituição d:1 lngbterra é tifo cxeessí-
-amcnie complexa que :i nação pode sofrer durante. anos sem conseguir descobri
onde está o defeito: :1lguns. diriio que está aqui, outros que está ~li. e car.li.l médico
lítico aconselhará um remédio dtíere.ntc.
Sei que é dilicH superar preconcciios locais ou antigos; mas se nós dermo
trabalho de examinar as partes cõrnponenres d:} Constituíçâo inglesa, veremo,
que sãc restos rundnmenraís de duas arnlgns Liranin~. de m istura com ttl9,un~
novos materiais republicanos:
da tirania mcnàrquica, 1111 pessoa dó rei.
irunia ari~Locràlicu. na pessou dos pares.
matt!riti.is republicanos, na pessou dos Comuns. de cuJ
liberdade dn lrudaterl'a.
no sentido

·timple
., Comuns constituem um freio imp •.•. ·•

ex-
clui do mundo; no entanto, a sua ativídad
mundo: e
destruiu

LO,

quer realizar ó Iln


rnaíor sempre h:'1 d

caminho I lvre

um .

.., C.irru~ 1, f!U!: ~i: tornou rei Jn lrl~Í1krrn rm 1 í115, li•i ~oniirnrtd1"1 pur traidor ,e 1nltn:tgô dn nação e d~c.ipi
tiuk• em lóel'.9. fN. d!\ i!'fi. ,ni1,I. J
SENSO COMUM 419

esta altura se impõe com extrema necessidade o estudo dos erros constitu-
cionais inerentes ã forma inglesa ele governo. Assim como nunca estaremos em
condições adequadas de fazer justiça a outros, se continuarmos. sob a influência
de qualquer parcialidade principal, assim tambêrn não poderemos fazê-la a nós
mesmos cnqaaero continuarmos agrilhados por qualquer obstinado precouccito,
E assim corno o indivíduo apegado a uma prostituta não tem capacidade para
escolher ou julgar uma esposa, assim tarnbêrn Qualquer inclinaçâo em favor de
ma Constituição ou de um governo apodrecido nos tomará incapazes de disco-
nir umbcrn governo.

Da monarquia e da sucessão hereditária

Sendo o.s homens origit1a1"1á:rm!t'lt~ iguais m1 ordem da criaçâo, u igualdade


' foi dcssruida por uma circunstância qualquer subseqüente; é possível ,.,.
cm grande parte. as distinções entre ricos e pobres, e- isso sem recorrerrn
nomes duros e mal-sonantes de opressão e avareza. A opressâo. muita
conseqüência, mas só ra_ra.s'vcl1,;s1 ou nunca, meio da riqueza;
.
evite M indivíduo ser ncocs:$Lt,1cfa:m.,;;nlc pobre, cm geral e ro
não consegue ser rico,
Hâ1 porê •••.
ra1.ão verdadeir
südlms. Macho e
do cêu,

1·uvorcç elros
pu triorcas. possui leia
luduica,
O governo dos reis foi introduzidn no mundo pcln., pa~ào~. dos quais o~ fi-
lhos de Israel tomaram o costume, FoL a invenção mais nróspcra nara mo-
Idolatria. Os pngãos prestavam honras divinas ,1ns rei.,; fo1
risrâo melhorou .a coisa, i}r\'ii:l:mdu honras divinas '"'" n.·i..: vi\•111-,, Ql1..: irr ev .• -
ia o título de sagrada majestade ;1 um verme tJLJC, no meio do :.t.u esplendor,

i m como mio se just ifica tão grande elevação d,:; um home


outros pelos direitos i!!IUílÍS da muurcza. assim tarnbêm não s~ defende c-0111
autoridade da F.scr~ll.'lra. porque 11 v~111tade dn. TuJ(I-Podcró:-;o, duclarada pôr
Gedeão e pelo profeta Samuel, desaprove expressarnenre o governo -dos reis.
Todas n::; partes antimonárquicas da Escritura têm sldo cuidadosamente encober-
50 PAJNE

tas nos governos monárquicos, mas irtdubitavclrnenre merecem a atenção dos pai
-es que devem ainda formar o seu próprio governo. "Dai a César u que é de
3
Cêsar" é a doutrina bíblica dos tríbunais: contudo. não constitui apoio ao gover-
no monárquico. pois os judeus, naquele tempo. não tinham rei e viviam em estado
de vassalagem com respeito aos romanos,
Passaram se qua.sc três mil anos, desde a descrição mosaica da criação. até
que os judeus. impelidos por uma dect!pç.ào nacional. exigissem um rei. At6 então.
a sua forma de governo (salvo cm casos extraordlnários aos quais intervinha o
rodo-Poderoso) fora urna espécie de república, a.dnünís1rada por um jui.,. e pelo
anciãos das tribos. Não tinham rei nenhum, e era tido por pecado chamar alguém
com esse titulo, :i não ser 9 Senhor dos Exêrcitos, E quando a gente reflete c:eria-
mente na homenagem idólatra prestada :i. pessoa dos reis" 1100 pode admirar-se d
o Todo-PodcroS-o. sempre zeloso da sua honra, desaprovar uma forma de- govern
que tão irnpiedosnrncme 'ie arroga a prcrro~àliv:i. do cêu.
i\ monarquts, na Bíbliu. ocupa. o lugar de um dos pt;cado·s clo~ judeus, pelo
uc pairu sobre eles a matdlcão, V.aJc a pena atentar para a histôrfo dessa

,um
rcpli
"6NS0 COMUM 51

ou cm
arte:,; de
Ll!i pUL$CS
if:.nirk:a -crnpre pepismo ee governo.
narquia acrescentamos o da sucessão herediiúrfa; ~e a pri-
meira é urna degradacão e diminulçâo de nós mesmos, .i segunda, apresentada
e
ob o aspecto d1.: q uestão de direito. um insulto e ums impo~içào ã posteridade.
endo rodos os entes humanos iguais pela origem, ninguém peide ter, por nasci-
mcnto, o direito de colocar cm perpêtuo preferência, no tocante às demais. sua
5 l?AINE

familia; e se alguém rnerec dida de honra

eo
eonqui sra, conheceu alguns bons monarcas
meu ,i::oh 11111 1111mcn1 muito rnnior de maus: nirignén, poderá djzcr , com sensn-
tez, 4uc i.cjU- coisa bastarue uon rosu u exigência '-l LI!.; aprcscmam crn nome de Ofl.li-
lhcrmc ~' Conquistador. ª O desembarque de 1.1m ba~tarclo fnmc1:s rodeado de ban-

:11llh1•rm,• 1 n·i d.;i. ln~:flli:,if&., efa [ih,,, il.:,.,'1ir1111 ,li! Rolx-rt() o 0;;1
Jr,_gl,!11<?rt'.A l:!rn J(ln(." ~-Oni!IIISlnu" Ir.,,,,,, a.!111 r1..M1l 1,1..J,, J.1 w.i , uúrtu n
.•• ~NSO COMUM 5·

e faz .. contra a vontade dos

que supêe perdida em


dmi
:5 PAl

lico torna-se presa de qualquer canalha capaz de, com êxito. lidar com as tolices
da idade ou da infância.
A defesa mais piausíve1 jamais oferecida cm favor da sucessão hereditária é
preservar ela a nação das guerras civis: se tal fosse verdadeiro, seria importante;
mas na realidade é a mentira mais deslavada imposta à humanidade. Toda a his-
ória da Inglaterra nega esse fato. Trirua reis e dois menores reinaram nesse
insensato país, desde a conquista. e nesse tempo (incJuindo--s,e, a Revolução)., nâo
ouve menos. do que oito guerras civi_s e dezenove rebeliões. Portanto. em vez d
defender a paz, luta con tra ela e destrói o próprio alicerce sobre o qual parece
fil"mar-s.e.
A lura pela monarquia e pela sucessão entre as c .•rsas de York e Lancaster"
mergulhou em sangue, durante munes anos. :l lagl:nerra.. Entre Hénriqu,·
Eduardo feriram-si! doze duras bstalhas, alêrn de escaramuças e cercos. Por duas.
ezcs foi Henriq uc prisioneiro de Eduardo. que. por sua vez, o Io] de Henriq ue. E
~ tão incerto {} destino de uma guerra e o humor de tuna nação. quando a razão
da luta esrâ apenas em questôes pessouis. que Henrique foi levado em triunfo da
ptisào ao paJticio~ e Eduardo obrigado :1 fugir do palácio paro um país estran-
iro: entretanto, sondo pouca dur.1douras as repentinas mudanças de humor, foi
Henrique, por sua vez, expulso do troem. substituindo.e nele Eduardo, Q1J.ant,
Parlarnemo. semerc :icarnn:1111hou o lado mais forte.
de Hcnricuc VI e .. ~ ínou inteiramente
com
d<: do

n no primeiro Min.htérit> de ttoc


' tht t:d. Íúi;!.I.)
de tal nome. porque a corrupta influência da Coroa, Lendo ã sua disposição todos
os postos, de tal modo absorveu o poder e devorou: a virtude da Câmara dos Co-
muns (parte: republicana na Consntuiçào) que o governo da inglaterra é quase tão
monárquico quanto o da frança ou da Espanha. Os. homens desentendem-se com
os nomes sem compreendê-los. porque é da parte republicana. é não da parte
monárquica da Constituição da Inglaterra que os ingleses se gloriam. ou seja, da
liberdade de escolher uma Câmara dos Comuns saída do se:u próprio grupo e
é fácil ver que quando as virtudes republicanas falham o resultado ê a escravirrão,
Constituição da lngla~erra se encontra enferma porque- a monarquia envenenou
u repúbtica; a Coroa absorveu. os Comuns.
Na Inglaterra o rei pouco mais faz do que levar a efeito a g;nerra e ceder
lugares, o que, em palavras simples. signiíjca empobrecer a n"ção e mergulhá-la
na cisoórdí«. Belo negócio para qualquer individuo receber oitocentas mil Iibres
por ano e, ainda por cima. ser adorado! Muito mais vale para a sociedade e para
Deus o homem honesto do que todos os n1fiões coroados que jamais viveram.

stado atu

nada mais ofereço do que simples; fatos. simples arzu-

mérí-
r dife
56

virtualmente envolvida na contenda, e ficará atingida mais. ou menos, o_té o fim


dos tempos pelo que ora sucede. Estamos na época da sementeira da união. da fé,
da honra continental. A menor fenda agora serâ como o nome gravado a estilete
na tema casca de um jovem carvalho; o ferimento crescerá com a árvore. e a
posterídade o lerá em letras completamente desenvolvidas.
Transfenndo o problema da argumentaçâo para as armas, abre-se uma nova
era para a política, surge um novo método de pensamento. Todos os planos
rodos os propésitos. etc .. anteriores ao dia J 9 de abril, isto é·1 ao começo cfas
11
hostilidades. são corno as folhinhas do anu passado: embora adequadas então.
hoje são superadas e im'ttei.s. Tudo quanto foi apresentado pelos defensores, cm
qualquer lado da questão. terminou entâo num só e único ponto. o da uniâo com
a Gr'â-Bretanha: a única diferença entre. os partidos fui o método seguido para
efetuar, propondo um deles a força. a amizade o outro; mas o que aconteceu foi
falhar o primeiro, e.: retirar a sua infü.1!ncia o segundo.
Como se tem falado muito das V3ntagcns da rc,eoncili.açà.o., n quat,
melh.,.mtcmentt a. um sonho agradável, se rui. debtm,da-nos como esLávam.os.
nada mais certo que c,rnmin.i.rmus o lado contrário da argumentação e estudar ai
guns dos inúmeros males materiais padecidos por e5
padcccrâc, Sê permanecerem ligadas n Grã-Bretanha
naremos a ligação e a dependência com os principi
comum: veremos aquilo cm que devemos confiar, "e nos sl.!parârol., •••
nos c:iberã esperar • se continuarmos dependentes
Tenho ouvído alguns afirmar que. havendo a
Grií Bretanha, a. mesma ligacã
d3

admue-se que

sem con!-1-iderar que nãe nos protcg~u dos nossos inimtgos por nO$.sa causa. senão
dos inimiJ!os dela, e por CQu.Sa dela. daqueles que não tinham nenhuma diver-

l2 Em í9 de nbril c:k 1775, íerjf-jiffl•Se as l:1111a1l1a~ de Lc..rio~kln e Cencord. que ai;s:in:i.lcmm n 11bem,:r.t d
ho!l'rifüt~1d,1,.~í ela Reovol1,1ção Amerk.ru,:i. (N. da ed, inl!.L
SENSO COMUM 57

gênci:l conosco rm outra causa, e que serjio sempre nossos inimigo» pela mesma
causa. Desista a Grã-Bretanha das suas pretensões ao continente, ou desfaça-se
da dependência o continentcve estaremos em paz com a frança e a Espanha, no
caso de guerrearem contra a Inglaterra. Deveriam acautelar-nos contra qualque
ão as misérias da última guerra de Hanôver. 1 3

Tem se dito ultimamente. no Parlamento. que as colônias não &e rclacio-


narn urna à outra senão através da mâc-pátria. isto é, que a Pensilvánia e as Jer-
seys, e assim por diante para o resto. são colônias irmãs per intermédio da Ingla-
rdaçiio, m.1~ é t1 mod
terra; -L: ccrtarnen ti.: rnaneiru as::;J:t,1, inJi reta d i.= provàr ê.1.

ruais próximo e o único verdadeira de provar a inimizade, se assim me é dad


.,harná ia. Nem :1. França nem D Espanha jamais foram, e provavelrnente jamais
..• erão, nossas inimigas, cm nossa qualidade de omcriconos. e sim cm nossu quali-
dade de súditos da Grã-Bretanha,
as. objetam outros. l1 Jn3laLetra e: a mãe-pátria. Nesse caso, mais verg,
~' • ,- " DS

i., o:. chama de "conterrâneos"; mas


ciarem na França. ou em qualquer
expan dira e mg 1 cscs ,1E
• na d'"" . , por
PAlNE

uma justa semelhança de raeioclnio, todos os europeus que se encontram na


Arnêrica, ou em qualquer outra parte do globo, são "conterrâneos", urna vez que.
comparadas ao môo. a Inglaterra, a Hclanda, a Alemanha ou a Suécia ocupam
os mesmos lugares. na escaln mais ampla, que à~ divisôes de rua. cidade e conda-
do nas escalas menores, disiinçôes demas.iadc1.111eme limitadas para espíritos
continentais.. Nem a tt:rça pane dos habitan tcs, mesmo desta província 1 4 é- de
ascencêncía in_gk:,;a_ Portanfn, reprovo a expressão mâc pátria aplicada. & lugla-
terra por falsa, ego: sta, estroit u e uão generosa,
Admitindo. todavia. que fôssemos todos de ascendência inglesa. que signirr
caria isso? Nada. Sendo a~ora a tngtaterra um ini migo declarado, desapoirec"~
iodo e qualquer outro nome e título: e é verdadeiramente ridiculc dizer que o
nosso dever ê a re,conciliacâo_ O primeiro irei da lngiotc:rra da preseme linhagem
(Guilherme o Conquistador] em francês ê descende do mesmo país metade dos
pares da Jnglatcrra. Logo. r,elo mesmo método de raciocínio. a íngli:ut:trà deveria
ser governada pela França.
Muito se tern falado da força unida da Inglarcrra é das eolônlas. capaz de
desafiar o mundo. É mera presunção: o destino da g,uerrn é incerto, e as exprcs-
sões nada significam, pois este cominemc jamais aceitaria ser privaoo dos seu
habiuntes para ap<.'int a~ armas inglesas na Ásia, na ÁJrica uu na liuropa.
Aíôm do mais. que nos importa desafiar o mundo? O nosso plano é o cornér
cio. e este, bem cxercído, nos garantirá a paz e a arnizade de toda a Europa, por-
que é do interesse da Europa ter n América como porto livre. O seu comêrcío
onstiurlrâ sempre urna prOEeção. e a :ius,-êncfa de ouro e nrata a g:iramir:í eontr

cu preço
rtndn~ tcri1J1 d..:

e
mos. nos mo!.tra term

"tá dcmasiudamcntc coalhada de reinos para que seja longa a


paz. : e ue irrompe uma guerra entre a Ini::laccna e qualquer potênc]

' ~ Pà!;.;(lvfinin. l N. J11 i.:rl. inil.)


-·.;:

estrangeira, vai à ruina o ccmêrcio da América, pela sua ligação com a Grã-Bre-
tanha. A prÕiiima guerra não será provavelmente corno a última; e se não for, os
atuais defensores da reconciliação hão de. naquele dia, desejar a separação, visto
como a neutralidade seria em tal caso escolta mnis segura que o barco de: guerra.
Tudo quanto é direito ou natural pede a separaçâo. O sangue dos assassinados, a
voz lastimosa da natureza grita "É tempo de separar-se". A. própria rustflncia a
que o Todo-Poderoso colocou n tnglaterra da América constitui prova forte e
natural de que a autoridade de uma sobre a outra jamais foi desígnio do cé •...
Izualmcme, a época em que o c-0nLineote foi descoberto d;. mais valor ao argu-
ento, e a maneira pela qual foi povoado aumenta ~ sua fot,ça. A Reforma foi
precedida pelo descobrimento dn América, como se o Onipotente pretendesse,
com benevotêncra. abrir um santuário para os pen;egwdos do futuro, quandç, a
ázria já lhes nio oferecesse amizade nem segurança,
autoridade da Gri-.8.çt.o,nlla sobre este continente é uma forma de gove1·
no que. miüs cedo ou mais tarde. deve ter fim. E o espi rito sério não pode tira,
verdadeiro prazer da antccipaçâo, na dolorosa e posíuva certeza de qu
chama de "presente Constituiçâo" ~ s.impl~smcnt<: temporário, Como
podemos ter alegria, sabendo que este governo não é suficícntcmenre d
para garautir coisa que possamos legar ~ posreridadc, E por um ;i;impf
Jç argumcntaçâo, visco que estamos mergulhando a préxlma geração na dívida.
dc-v1.:ríarn-0: , fazcr lhe. o trabalho; diversamente. usamo-la vil e desproiiv"lmc.rn ....
rirmos acertadamente a linha do nesse dever, te-ríamos de ~gu ú~ fi-
. col
uJ-
t

·, por uma
te, d

.a; o mal não


ade dos b

,.klt.:i1,~ur.-ln
60 PA IN E

u fogo dos amigns. se continuam no interior da cidade; saqueia-os a soldadesca,


se a abandonam, Na atual conjuntura sâo prisioneiros sem esperança de reden-
ção; e num ataque geral destinado a socorrê-los. ficariam CX!))Cl~Ws à fúria dos
Jo1~ exércitos.
Os homens de espírito pu.S$ivo encaram com cena leviandade ;a!, ofensas da
Grã-Bretanha e, sempre esperando n melhor, sâ<1 capazes de exclamar: "Vinde,
vinde, seremos novamente amigos apesar de tudo". Mas exnrnmai as paixões e os
sentimentos da humanidade, submetei a doutrina <la rcconciliaçâc à pedra d!e
toque da natureza. t! dizei-me: ~e sereis capazes, depois, de: amar, honrar e fiel-
mente servir a potência que trouxe ferro e fogo ã vossa terra. Se não puderdes
assim fazer. estais apenas vos enganando. e, com a vossa hesüaçãu, acarretando
a ruína à posteridade. A vo~:1 futura lig:içio à Bretanha, ti qual não podeis amar
nem honrar. será uma ligação forçada. antinatural e. formado somente no plano
da conveniência atual, em pouco tempo sofrerá uma recaída ainda mais ign~Ybil.
Mas se disserdes que podeis passar por cimo das violações, e~ vos perguncare.i:: a
vossa casa ardeu? A vossa propriedade foi destruída diante de v6s? Vossa espo-
sa. vossos filhos. não têm cama em que dormlr nem pâo para comer? !Perdestes
um pai. um filho. pelas mãos deles. e sois v6~ próprios urn sobrevivente arruinado
infeliz? Se não for esse o vosso caso, não sois juíz es dos que padeceram tais
moles. Se- ainda estreitaia, :;,,; ainda pc,d!;h:i estreitar a mão dos assasslnes, sei
indignos do nome de marido. pai. amigo, amante; e seja '4u1d for :i. vossa põsi,;.àv,
•o:s~o titulo, na vida, tendes coração de covarde e espírito de !iiCGfMt~.
ão estamos inOaniando. n.:io estamos cxagerundo a:; coisas. Lstamos
xpenmeutá-las pelos sentlmemes e afetes que a narurez a jusliJica ~ sem os quai
não conseguiriamos deslncurnbír-nos dos deveres sociaL~ da vida ou de lhe dcsfru-
prcteodo apresentar ç horror com o ílco de p
· de sonos fatais e tíbios. par.
bjetivo fixa

mplos ces
. tempo sujei-
to a uma Iorça exterior. O maior otimista d:1 Bretanha não pensa assim. O rasgo
uprcrno de sabedoria humana não pode, hnje, não consegue conceber plano,
menos que não seja o da sepnraçâo, capaz de prometer ao continente um ano d··
. A reconciliação t agora um .sonho Ialaz, A nan.irC4.a. abandonou s
ligação," e: :.i. arre não consegue tornar-lhe o lugar! pois, como dil muito bem Mil-
ron, ··flàO há reconciliaçao que brote sobre os profundos ferimentos do ódio
morto p·. 1 6
1 111
Ci1nç-ii<l Ji., i';,,w',.,u Pe.nfl'âo-, IV, 98 IJ"i. {N. d~ ed. 111.r.l.t
SENSOCOMU

foram ineficazes todos os métodos tranqüilos em prol da paz. As nossas


súplicas. repelidas; com desdém, serviram apenas para nos convencer de que nada
lisonjeia mais a vaidade nem confirma a obstinação dos reis: do que os repetidos
rogos, e nada contrlbui mais tio que essa maneira para fazer absolutos os reis da
Europa, Vede a Dinamarca e a Suécia. Por conseguinte, uma vez. que somente os
golpes lograrão impor-se. cheguemos. pelo amor de Deus. à separação final. e
não deixemos que a próxima gi!ra1rão corte cabeças pelos nomes violad
significsçâo de pai e filho.
Dizer que jamais empreenderão nova tentativa é coisa ociosa e visionária,
Assim pcri~lmo.s, quando se revogou a Lei do Selo," 7 é no entanto um ou doj
anos nos desiludiram; seria o mesmo que supor que as nações. uma vez derrota-
das. jamais renovarão a luta. .
Quanto :ts questões de governo. nio estn em poder dá Bretanha ministr
justiça a este continente. O comércio deste não tardará cm ser demasiadamente
pesado e intrincado para que o. possa dirigir, com Qualquer gruu tolerável de
conveniéndzi, uma nação liio di.!,lt~mtti'c:11.! nós e que ciio pouco nos. conhece, Se nã
nos pode conquistar, não nos pode governar. Estar sempre a correr três ou quatro
mil milb~s com um relato ou urna petição, sc:mrrc u esperar
uma resposta (11.lC. uma v~ ob·rida, exige cinco
ção, acabará pôr ser censidcrado, cm pou
~o indicado. e 11.:-1 urna cecca m<!Jcatla oara

m :t sistem uropa, n

ê recuar numa época cm que um pouco mais. mais um passo. faria dest
miMotc u gfúrin da terra,
havendo à Grã Bretanha manifestado a menor 1ncfü1aç00 por um
compromisso. podemos ter 3 certeza de que nas·: se ló~J·,ar:'.io termos dignos da
aceitação do conLinc:ritc, senão os costumeiros modos de dispêndio de ·:xm~uc e:
dinheiro .i que j6 temos sido submcudus,

11 hrn r 74:1~ u l'11rlruY1etm1 iti~lcs !lprnvm111 tc:1 d,'l Selo, cx_i~i1nl~1 que todos o~ jomei~. p:iníkll)~, docurnea-
Lo;, le-i;:,J~. ,,LJ;, ionrni:r.1n<:J~ IN'Ul'!H,,.:m um :,çJu Ji., í111µv~Lu. 1\ lei, ituç, enturcccu m.: cofón1.u americ mns, f~I
re\l<t~~otln M ue111 ,ei.:umti: ( N. da 6'.!. 1n11Ll
62 PAJNE

O objetivo disputaoo deve sempre estar crn justa proporção com o dispên-
dio. O afastamento de North, 18 ou de todo o gn.ipo detestável. é questão indigna
dos milhões por nõs gastos, A temporâna parada do comércio era uma inconve-
niência que houvera suficientemente equilibrado a revogação de todas as lei
reprovadas, se se tivessem consegu idn tais revogações: mas se todo o continente
m <l~ empunhar armas. se: cada homem deve transformar-se em soldado, mal
vale a pena lutar apenas contra um ministério desprezível, Caro; bem caro, paga-
mos a revogação das leis . se é pnr isso apenas que combatcmcs, pois cm ju~ta
avaliação. é a mesma loucura pagar o preço de Bunker Hill pela lei ou pela
terra. 1 51
Tendo sempre considerado a independência deste comincnte falo que
mais cedo ou mais tarde se: verificaria, pressinto que esse fato não pode estar
muito longe. U:i.mlc do rápido progresso do continente rumo ~ maturidade, Por
conscgulntc. ao se iniciarem ai) hostilidades. não teria valido a pena discutir uma
questão que o tempo acabaria. fi nalmen te, por reparar. não fora séria a nossa
intençâo; diversamente, houvera sido o mesmo que dissitlíH urna propriedade en
ação kga! destinada a regular as violuçôes do indivíduo cujo arrendutncnto está
a lerrtiinnr Nmguêm festejou mais ardentemente do que! cu a rcconei.
antes do fatídico 19 de abril de J775; 2ª mal. porúrn, se torno
daouele dta. r<!ncli Mrn .;cml'IL"c n endurecido mal humon.t<lo foraó d
I!
pretenso titulo de r,a1 do seu povo,
dormir plncidamcntc com

ías. qual seria

os. rcgecdircmos, ou
ficaremos perpetuamente a brigar. ou a suplicar ridiculamente. Já somos maiores
do que deseja o rei sejamos. Não tratará, pois. de: fazer-nos menores? Afinal, ~ta-
tá indicada para nos governar n potência que nos inveja ::i prosperidade? Quem
responder "não" será uni independente, pois a independêncin quer dizer: faremos
nós. as nossas leis. ou nos dirá o rei .• o maior inimigo que este continente tem ou
pode ler. "não haverá outras leis senão as que me agradarem",
Mas o 1tci. direis vós, possui o direito de veto na Inglaterra: o povo não pode
fazer leis sem o seu consentimento. À luz do direito e da boa ordem é sumarncnt
ridículo que um rapaz de vinte e um anos (o que já aconteceu freqüentemente
diga a vários milhôes de pessoas mais idosas e sensatas: "1Proíbo que esta ou
qucla decisão vossa passe a ser lei". Aqui, todavia.. ponho de lado essa espécie
de réplica. embora jamais deixe de mostrar r, seu absurdo. e respondo apenas que.
sendo a Inglaterra a morada do re], :e não o sendo a A mêrica, o caso é inteira-
mente outro, O veto mal é aqui dez vezes mais perigoso r fatal do que na Ingla-
terra, lá mal recusará o consentimento u um projet« de ler destinado a propor-
cionar ã lnglaterrn o estado de defesu mais forte possível: nu América; jamal
permitiria que tal projeto :,;e trnm,formasse em lei.
A América niio passa til: objeto sccundárío no sistema ela política britânic .•.
inglaterra só cnnsulta o bem desfl! pafs tHi. medida cm que corresponde ao pro
· ito dela. Logo. o seu interesse a leva a suprimir o desenvotvlmento do noss.
cm qualquer caso que lhe não acarrete vantagem ou que com ela interfira o mínl-
o que seja. Em que lindo ('~l!tdt, não lic;u'iomos <:m pouco tempo debaixo desse
governo tâu de segunda mão, conslderando-sc o que ocomcccu ! o~ homens n.""
passmn de Inimigos a arnigo« pela :llLi.!rução de uu1 nome. J.! pura mostrar quão
erigosa doutrinn {i agor Li 11 recon ei liaç2'to 1 ,:1f1 rmo qtu: nessa hora ser la ponnco do
rei re11,opr as lei». paro poder reempossar-s« no governo das ptóvÍl1cias, a lim de,
pf!!o arl(/!clo e pela argzí.cia. realizar com o ltmpu u que Ili<! não tJ dtuk» fa::.er peJ.
força 1: pela vioiênc!« agora. Rel:icít1nam-sc intimamcnj« a rceonciliacâo e ~

.,_

seus bens !.! nar o conunent.•...



Porém. o mais poderoso de todos os argumentas ê que nenhuma ourr.a colsa,
enão ll independência. isto ê, uma forma continental de governo. é cAp-82 de man-
ter paz do continente e prer;;ervá lo de gucrr.:u: civis. Terno n reconcülacâe com
R
a Inglaterra a~ara. pois é: mais do que prov 1,•cJ que será scguidn por uma rcvolm
4 PAINE

züg,urcs. cujas conseqüências poderão ser mais fatais do que toda s malignidade
da Bretanha.
Milhares de pessoas já estão arruinadas pela barbárie britânica (e provavcl-
mente outros milhares sofrt:rà.õ o mesmo desuno). Essas criaturas têm senti-
mentos diferentes dos que ternos nós, que nada sofremos. Tudo quanto possuem
agora é a liberdade; Hq uilo de que antes desfrutavam está sacrificado a serviço
dd~11 e. nada mais lhes restando por perder. desdenham a submissão. Adernais. a
atl tude geral das colônias cm face de um governo britân ice será como a do moço
que está quase fora do seu tempo: pouco se. importarâo com ele. E, o governo
incapaz de preservar a paz não ê governo. e nesse caso pagaremos dinheiro por
nada; e, dizei-me. que pode fazer a Inglaterra. cuja força estará inteiramente n
papel, se 110 mesmo dia da reconciliação irromper um tumulto civil? Tenho ouvi-
do alguns. arirmarem. ~ creio que multos ralaram sem pensar. que temiam uma
independência capaz de sr.:rill" guerras: civis, S6 r~ra~ vezes é que são verdadeira-
mente correios o~ nossos primeiros pensamentos, e é o caso aqui: lná dez veze
mais razões para temer u~ resultados de uma ligvçilo remendada do que os resul-
udos dt\ i11depie-n~l~neit1. Paço meu o caso do sofredor, e afirmo solenemente que.
se me expulsassem do lar t: ua pátria. se me destruissem a propriedade, se me
arruinassem ::i.& circunsrâneias. como homem, consciente dos males.jamais con,
reclsr ~ doutrina da reconcillaçâo e: tampouco me consideraria ligado a

menti

. Façamos. ma1
·ujcíLa à auiorl-
ENSOCOMUM 65

,ml,1 pch•1.l .11,.l<• díl ln=.'.lnh'JT'll


! em l~l,!; 1.•'1 b,,r,:k •• O t.:imow doeum
1..nr,~frh:,.11'11• ..?111 ~c,:11 fin1d;Hnt1m1 das llh1:r.1cut;::<; ín:~lC'i,H (N. iJ.n ál. in1'I.J
66 PAINE

equalquer grupo de pessoas for delegado para esse: ou uutro firn serne-
íhante, ofereço lhe bs seguintes extratos de Dragonetti. i~ sábio observador d
governos: '· A Ciência do político". diz, "consiste cm lixar o verdadeiro ponto de
felicidade e liberdade. Hão de merecer a gratidão dos tempos os que descobrirem
um modo uc guvcrno que contenha a maior soma de felicidade individual. corn <J
menor dispêndio nacional", Dragoncttj, cm Virt:t1cs and Rewerd (Virtudes e
Prêmio),
Mas, pcrguntarâo alguns, onde está o rei da América'? Digo-vos, meus ami-
gos, que ele. reiria cm cima, e uâo devasta a humanidade como faz o facínora real
da Bretanha, Contudo. para não parecermos Iacunosos nem sequer em honras
terrenas, marque-se solenemente um dia para a proclamação do estatuto; apre-
sente-se esse estatuto colocado sobre a Jej divina. a palavra de Deus: coloque-se
obre ele urna coroa, mediante a qual saiba o mundo que. segundo a nossa manei-
rá dti aprovnr o monarquia, ü ltd I! o rei na América. Assim ~ômo nos governos
absolutos o rei é a lei, nos países livres à lei deve ser o rei; e não existirá outro.
Ma.:s: para nâo surgir posteriormente nenhum mau uso, i:ícja a coroa, ao término d
cerimônia, dcsmontad« e dispersa pelo povo, que a ela tem diri.?i..._...
O governo nosso é u nosso direito natural= e quando alguêm reflete seria
i.sa,;; humnnas, não tarda \;m s~ convencer de que é
rmar uma Cor1.stituiçti.c> nossa, do mnncira
1~11, do que confiar cio interessante evento
ra, um Mn~~:inelfo qualquer. z 4 valendc-
unir os desesperados \:
m
ar do continente o bárbaro e infernal poder que tem impelido indios 1c negros a
nos. destruir: E a crueldade se reveste de uma dupla culpa: trata a nós brutal-
mente, e traiçoeiramente a eles.
Ê estultícia, é loucura, falar de amizade com aqueles em quem a razão nos
proíbe depositar confiança, e que o sentimento, ferido por nul pontos. nos ensina
a detestar. Cada dia consome o resiinho de afinidade entre nós e eles; e poderá
haver- motivo para esperar que. cessada ã f"eJaçào, aumente o afeto. ou concorda-
remos, mais Facilmente em que haverá interesse dez veses mais numerosos e mais
i m portantes para brigarmos mais do que nunca.
Vós que nos falais de harmorna e reeonci liação podeis, acaso. devolver-nos
o tempo jâ passador Sereis capazes de devolver ã prostituição a primitiva inocên-
cia? Tampouco podereis reconciliar a Grã-Bretanha e a. América. Rort~pc::u ~~ o
derradeiro cordão. afinal, e o povo da Inglaterra oprcscnta reclamações contra
nós. Exixtcm danos que a natureza não consegui: perdoar: se o fizesse. deixaria de
'.Cr natureza. Perdoar o conuneme os crimes da Bretanha sesia como perdoar o
amante ao raptor da criatura amada. O Todo-Poderoso enraizou em nós senti
mentes tão irnperecedouros para fim; bons e sensatos, Esses sentimentos s?io os
guardas da sua imagem em nosso coração. Distinguem-nos do rebanho de ani-
mais. comuns. O contraio social se dissolveria e a ju:sLiçu seria extirpada da terra.
ou teria apenas exístêncla casual. SI.? fôssemos insensíveis tios apelos do afeto. O
lsdrâo e o assassino conscguírtam, freqüemcmente. a im1,unidade se os danos
suocnadcs pelo nosso c.spkho nao nos levassem a fazer justiça
humanidade, vós que ousais opor-vos não somente à tirania
xistc lugar do Velho Mundo que não esteia esma-
de foi perscguidit cm todo o globo. A .r\sia e a Áfri
considera uma estranha, e a Inglaterra
e preparai em tempo um asilo par~

m
doiR pafa
do que n
aptidâo do ccntin
E corno e 'Pinião n
8 P.AlNE

Não r: no número. é na unidade que está a nossa grande força; no entanto.


o nosso número amai basta para repelir il forço. de todo o mundo. O continente
possui agora o maior corpo de homens armados e disciplinados. superior ao de
qualquer potêncio na face da terra. e já atingiu o ponto culminante da força em
que nenhuma eolõnie individuai pode manter-se sozinha, em que o todo, unido, é
a_paz de tanto e cm que poderia ser fatal nos efeitos mais do que isso. ou meno .•.
e
J :í suficiente a nossa 'força terrestre: quanto ao lado naval. não podemos deixar
"r que à Grã Bretanha jamais permitiria a construçâo de um so vaso e!
ra americano enquanto do111im1i.:~c o continente, Por eonsegumte. nesse
daqui a cem anos não estaríamos mais adiantados do que agora; a verdade, pelo
ontrârio, ê que cstanamos al~ menos. uma vez que diminui de din para dia a
madeira do país; e a que sobrar ficara. por fim. muito distume, e sera difícil de
" rr an rar.
e
padecimen
maior

comércio proporciona
mêrcio.

S.8.
d

• ~ John Pntlck. ,l .\Tr.iv ,\aw:J llr.:11ory, ú! Ctm1p/1•,11 l'frli' 1lth,• llri(Mr Marilu•, l.~1;1.:Jr~:s. 1757. íntrõJu~.:i...,,
pá11-56. (N, ,Jn.°CLI. lr1.C:1,
SfNSOCOMUM

CusLO de construção de um navio de cada categoria e do seu aparelhamento


com mastros, depósitos. velas e cordame, com um estoque para contramestre e
carpinteiro, suficiente para oito meses, calculado pelo Sr. Burchett, 2 6 secretário
da Armada:

Para um navio de l 00 canhões ! 35 553


9 29 886
&O 23 638
o 17 785
óO 14 ]97
o !060ó
40 7 558
30 ~4
20 7m
nJ é fácil totalizar o valor. ou melhor, u cust ri Lã n i ca,
a qual. em 1757. no momento do seu maior esplend guintes
navios ê canbões:
v,1 vios
6
12 9
12 R
43 7
3-5 60 M IY7
(.) 50 1
-45 4
s 2
S Chnlupus, barcos morteiros 1.:
bn I lnit1.~?> •. íttnM4-. :a

Nãn existe r11b, no mund


preparar uma frutu
madeira. n, ferro ,.
asso que os holau

1 ª ,lt•~rnh l3un.:hrll t I l'l/i,,·1 1 'N6~ foi cr1,1,la11i,if1, n1<1çu, u,., .111hm,·i.; n .• \'UI p11r ~:1mud 1-'.:p~•r,. I', ,r til'""""""

•• vida, ll.urd11.·L• 1;;, 'li " :,~ ,p,t·.t..'lci n,!\'lli• in~lo,::.,, ;, servindo, J.; 1(1'JB ,1 t H2., (NIIII r..:..:rt:tiin~ d,, ,\tmrrttn
lli\11). (N. ~.1 i:"d 1111!
70 PAlNE
orecisarmos dos barcos, vendê-los-ernos. E assim substituiremos o nosso papel-
moeda por ouro e:: prata,
o tocante ao problema dê arranjar tripulaçáo, o povo cm gera! comete
grandes erros. Não é preciso que a quarta pane seja de marínnetros, O terrível
corsário. Capiiâo Dcath, que na última guerra 2 7 travou o mais encarniçado com-
bate, não contava com vinte marinheiros a bordo, embora no navio se encon-
trassem mais de duzentos homens, Bastará um reduzklo grupo de marinheiros hâ-
beis e sedais para. instruir em pouco tempo o número suficiente de cidadâos ao
manejo comum de um barco. Por conseguinte. nunca seremos mais capazes. de
iniciar as q ucsíões marítimas do que agora, enquanto a nossa madeira se encon-
tra parada. inativa a indústria. da riesc~, e sem trabalho marinheiros e cnnsb·1,_1-
tores navais, Ser há quarenta anos, se faziam na Nova Inglaterra barcos de guer-
ra, de setenta e oitenta canhões. por que .não se farão agora 'l A construção nava]
o maior orgulho da América. e nessa arte não tardaremos em sobrepujar o
undo inteiro. Os grandes impêrlos do Orierne são, na maioria, Internos e, por-
tanto, excluídos da possibilidade de com ela rivalizar. A África encomra-se 11:
barbárie, e não há nação da Europa que possua tamanha extensão de litoral ou
tamanha reserva interna de materiais. A natureza, se lhes dá urna coisa, nâo lhe
dá outra, Sômente com .a América (: que tem sido liberal em ambas. O enorme
império do Rússia esrâ qua~ ~tpàrndo do mar, motivo pelo qual as suas inárnc-
ras tlorest.ris, o nlcatrão. o ferro e o eordame constituem simples artigos d~
oméreío

ne>s nossos portos, pergunto,

11 r"aí.n.l!',e:r•••. c s"' .••q •• , A g.io,rn l'rn11L-O indL,nn í l 7!, f, 176;3-), N:&u_LL.1.[11; 1111 r 11,kti.k
1
ritwn{II entre I!
l11~Jau:rr:1 eº f r.a11ça. {N. Jtt ed, ingl.
"' Fil:ictélfiuttuil-sdi rmtre,cm do no fJebw.tué. (N. cio ecl. in.r,I )
proteger-nos? Pouca ulilidade terá uma esquadra a três ou quatro m1I milhas de
distância, e não terá nenhuma c111 súbitas emergências. Sendo assim, se nos cabe;
depois. proteger a nós próprios, por q1Je o não faremos por nós próprios? Por que
o faremos por outro?
Ê longa e imponente a lista de barcos de guerra ingleses, mas nem a décima
parte se encontra. em condições de serviço permanente, e um bom número nem se-
quer existe: no entanto. pomposamente continuam os. nomes a figurar na lista se
do barco resta apenas uma prancha; nem a quinta parte dos que estão em condi-
ções de servir pode. em qualquer tempo, ficar de prontidão num lugar qualquer.
A 1ndia Oriental e Ocidental, o Mediterrâneo, a África, e outras partes que a
Grã-Bretanha reivindica. muito exigem da &otrL Por um misto de preconceito t
descuido, adquirimos uma falsa noção relativamente à Marinha da Inglaterra, e
ternos falado como se nos Iosse dade encontrá-la toda à nossa disposição imedia·
tamente; por esse motiva. temos de acreditar dever possuir uma do mesmo tama-
nho. o que, não constituindo coisa imediatamente praticável, tem servido de base
para um grupo de conservadores disfarçados t10:s dissuadir de começar, Nada se
afasia mais da verdade do que isso, pois. se a Amêrica tivesse apenas a vigésima
parte da força naval da Bretanha. seria para esta adversária de força muíto supe-
rior. visto corno. nrio possuindo nem reivlndlcando nenhum domínio estrangeiro,
toda a nossa torça seria empregada cm nosso próprio litoral, onde. com o tempo,
acabariamos por dispor de uma vantagem d~ doi s pnr a u111 retativamcntc aos qu
'Criam obrigados a percorrer trl!S t:>ll quatro mil mitnas 3.JlCC~ dé. nos atacarem, e
rccrrcr ouuus L..t.nllL~ cm busçu di.: reabastccimemc e recrutamente. E não
te. pela sua frota. controlar {li Inglaterrn o n,ns~u com~rcio com a Europ
6s conuolarcmos, nu mesma medida, o comércio dela c,om ft India Ocidcmal,
uc, situada na vixinhnnçn do conrloente, se encontra ô sua intl!rr~1 mercê.
ria possível descobrir um rnêicdo qualquer para manter uma ío"
cmpo de paz. si: nfüi julgássemos necessário manter uma M.arinha
dessem prêmios aos mercadores p!lrn ccnsrruírorn o empregarem em seu ser-
u cinqücraa canhões (sendo os prémio
aos mercadores), cinqüenta ou scss
rda em r;cr-vJco perrnuncnte, constitui-
L.: tanto ~e queixar
••..• iques; É bon rirá-
a nossa ÍOl'Ç

rístico inercnt
falta? Por que rnoti
mais uma Vi!"J for admitida ao governo da
2 PA

neste eontineme. Surgirão a rodo instante rivalidades. verificar-se-ão constante·


mente insurreições. Quem as extinguirá? Quem arriscará a vida para submeter 0"'
conterrâneos à obediência ao estrangeiro? A diferença entre a Pensilvânia e o
Connectícut. relativamente a umas terras indefinidas, mostra iJI .in:iignificãncfa de:
um governo britânico e prova inteiramente que só a. autcrídade continental 6-
capaz de resolver questõ-es continentais.
0mm razão pela qual ê preferível a época prcscme às demais é que, quanlo
menor o DC)SW número, tantn mais terra ainda não ocupada, a qual, em vez de ser
pelo rei desperdiçada por indignos dependentes, poderá ser depois aplicada, não
emente para o pagamento da atual divida, senão para o constante apoio do
governo. Nenhuma nação da terra dispõe de vantagem como essa.
A infância das colônias, como lhe chamarn.ú argumento a favor da indepen-
nte numcroso s, se fêssemos triais. pode-
ríamos estar menos unido:;.~ fato digno de cbservaçâo quê quanto mais. povoado
um pais, e ruim menores os cxércÍt-01i. Em números m ilitares, os antigos excediam
e
em muito os modernos: e o rnotivo evidente. porque. sendo o comercio uma
conseqüência da população, o~ hornc11~ nele se absorvem em demasia para se
dedicarem :1. outros rnistcres, O ecmêrcic diminui tanto o espírito pntriôtico com
espírLto de defesa tnilitur. E a história nos diz suficientemente que: os feitos mai
ilustres sempre foram realizados nn mcnorldudc dns naeôcs, Com o aumento d
comercio. a Inglaterra perdeu n v1
submete-se a contínuos insultos com n paciênci
homens i,ara i,i.rt.!cr. l:111111

ta.-
e-
t,,11
ENSOCOMUM 73

vatnamo-ncs úa presenu rtunidade par« intctar o governa na extremidade

d
vinte e oi
PAíNE

A necessidade imediata tom

epresenter

n çno,

uer

,r: coisa qu

um rnanifes
pacíficos que emprega-

H Chtirlb w. Comwtlll ti 735-1799) desempenhou o e;ir~..i dç, l1.>L'~L1 ilP T~iiOllfO c.1c 17H o I nm, no &l}\'Cf
110 dê North. (N. d:lll «l. ~g,I.J
:ra Os ~ue (lrc~d.;t'cm oo-u1pitadcr ir..rfclmmcme o tri!!!thl valor de uma tc:prr;:s1.'flla.;:ii.o grande B jmltl! para
o EsradQ, lciacn Political UflquJ~icions_, c!e Rurgh, (James Bul"!'!,h, P11filJc-lll Disqu!~'i1io,i.~: ar, m1 1-/nq,ri-ry inu»
Ptil>/{r: Error». Defects unJ!.Ahu.,;cs, 3 vols., L:iil\'ll'é!'<, 17'4--.5.) {N. d<1 A.
mos. sem resultado, para a repat:l'Çào. declarando ao mesmo tempo que, 1100
podendo mais viver Ielizmcntc nem seguramente ame a cruel atitude da cone
brirânica, tínhamos sido impelidos à necessidade de cortar LOÜas as relaçôes com
ela. e assegurando, igualmente. a nossa pacífica disposição com respeito às de-
mais nações, e o nosso desejo de comerciar- com elas, o manifesto produziria mais
bons efeitos a este continente do que .-;e enviássemos i lngl.atcrra um navio abar-
rotado de petições.


Com ~ nossa atual dcnominaçâo de cidadãos britânicos. não podemos ser
recebidos nem ouvidos no cxterior . o costume de todas ris corres cst.í contra nós.
e assim cstarâ até que. pela independência. nos enfileiremos com outras naçôes.
Tais prL.-:~os poderão, a princ:í-pio~ parecer estranhos ê difíceis, mas, corno os
outros passos que jit demos. se tomarão. em pouco tempo, familiares e agradá
eis; e alé que a independência seja declarada, o continente se sentirá corno um
homem que continua a. adiar uma quc.sti10 desagradável de dia para dia. mas sabe
C!uc deve. ser resolvida, detesta íniciá-la. quer vê-La terminada. e fica constantiJ-
mente perseguido pelo pensamento da sua necessidade.
.
Apêndice

Dc=sr. k: u. publicação da primcnra edição deste panfleto, ou melhor, IDO mesmo


dia em que foi publicado. apareceu 11é.H3 i::idaw:3 1 ií1 fala. do reia~~ Sê O espírito da
proíccía tivesse tliri.~.klu t1 nascímenro úesta pruduçâo, nâo pe-daría tê-lo lêho em
momeruu mais adequado, nem em hora mais necessánu, A crueldade de um
moslr~33 a necessidade de seguir a doutrina dt1 outro. Os homens lêem por vin
gança. E. a fala, em vez de terrificar, preparou um carnlnho para os viris princí-
pios. da independê.neta.
A cerimônia, e a.é~ 1.1 s:Hém:io. seja qual for o motivo do qual nascem. pos-
ruem 1.m,.1 r!i!t1dlêna.ia pcrniclosa quando irnprlmern o menor grc1.u d!c cernpostura
a llQÕ~~ i.nfümes e malignas: louo, se ádmínrrnos essa mthimn. segue-se natural.
mente 'ILic u fala do rei. por ~cr 11111a peça de r:cquinta.l.la patifaria, rnereccu e ainda.
merece ger.:tl e.l{ectaçio. M.nt·.r~ .;..., COli'lCfCSSCl quanto do povo. Porêrn, como -a
mmc,1Uilidade dOOli;sth:11 de urna naeão dependi'!. em grande parte dia cascidade do
que. se pude chamar adequadamerne de "meneires nacionais ••.. muito6 vezes é me·
lhor silcnclar alguma.s coisas d11;.1sdcnhosamer1te d('I que 1.1Liliza.t· neves m~todol1 de
de:silgrndo possíveis ll:c serem lmroduzido~ pt.:lu menor inm•ação com res~.:ito à
guards da nossa paz e seguranç«, 1: talvez .1,c d;vn prineipalrnente :i tio cauLcfo-sEl
cortesia ·nãt, ter sido i1té ugorn lj, fala do rei submetidn ~ c:u:craciio ~úblicrl. A
'ailn.1 se e qu~ 1mdlcmos dar-lhe o nome de faiu. não passa de voíuntartoso ! atre-
vido lfb~lo C<lM.tn n verdade, o bem comum e ~t existência da humanidaek, e é um
mêLoc.io formal e pomposo tl~ oferecer sacrillclos bumaaos ii sobcrb!I d~ tiranos;
Mm: c~s:a JWmJ clt:ici1i.1 cJ:i ILHm:mic"l:idu ~ 1.1m .-1~1!> pri,•il~p.mt. i: .a ,.:~,nsi.:qí~énrfa.
1
r: illll1~11ifl, 11"1 Wl i:t.l. 111r,l l
w
~ .A' l~1lt1 i.llJ I i.llnii\lil uv i'Jtl:i111.lil11 1• d, .;i.;1 J;.J'l~-OJ1tr11ill1 n11 fl~'í,'IHll'll'blfl/11 a,1rr,w1• ili: IO id.: Jrinc1m ~,;
rnr,. f)j~ i.u :ri ô ffi (IU!! QllllWI ,...tift,Íô:si.'I flt,r f'l'l'.t:1•1.mir, t:i'.l P,..\::,~\'d, .p. 1:f11<.Íi;o ~11 &pq~1ll4' ti<i,, 011:U• ,Útl 11\ü, d n~
t:lLlmrriditi:11·., m...i:pi.rÍll'di'I ~ •• ,:,.1.,!J.u J11 ,u,i.it<i·r,i. JJl!'f11;f!!l!ld.,, pimJ,t -Q!l~ o 111110 1wi~11 t.11-1 Ami:ric:JI i,cn;.:b:i ,1!1
irtLro.,-..'.'i.,,, lrníli"dP• ,Jo clt\"l'i:, .e ;1.,; •;ü11,•,r.,,:1 ,h: 111,.a ~,~ nuJjlt1 du (; n! '1*r,mmho, c..:im Cl.lJ.1~ iJ~ -.u:1:. Wfill:\"
i:i,ü~a~t31i. l ,,;:~ i, rnc.mbw mals livre ue q1.111i.q11i:r oo.c:1~d11dé ci\1J I uc m IJ.mll'i etint«.i<l(t, 1\ ii:,~rr;i .:ta r.ehelifü,
cprqau-,r.i 111.m:, ;;:cr:1J1 e é- mru1if~t:1mcnh1 lc11-1dll 1i ewm cmn 11 i,mtr~l.i~ Q-<t ct.t.'lol'lil'«t' um ímpiirm lndc:rc:n
dente, Nãr1 r,r~LS.Q dulJ'.ttmr-m~ rior, t:lt!itoil: fotol\i il.11 êxim d0t>&c pf1111r:.1 •• , l"llfllO\M.;: L18(1r11 r>11no da k:11!ia.ta
{o JlM >1oc•11~ 1:.fi:tt<1s} ci:ll olc:enC:m'!i.;i jx'lr cobro 1mec!i11111 tJ IJ.µu J.e.:,tn:fe11s Cum Uó lllC:iO~ rnnls '-'ecirJ,•o:.. i'.ar,
0

T.;intl'l, 11u:rnrrrr.ri o meu rio.Ji;:~(11 .Q;:iv[~ ~· m ulLo a~ minlHu r.irç-11~ 1err~1ri;;,,, mas de tal mo1,fo que wbrcçarrcgl!lc
U ud'ul IU<.i> fl1)1.íd•·..,J \):à ~n.;l,l,5 nino:.. Tr.1lll11;i, IHllfV-51\.Líll, A riillH~Í,IÇillJ ili; l.nfor nur guc recelrí ns, IJJ'*I~ 11.mi_gã\'l?lil
otenas de llrnd.hot11M'ior-''.(N. d;'l ed. í11g.l.)
u ,\ novu 1.:,fü;i?ii> cr:11. .:i/.l.(Jn' \mc:,:m·amJ.•N. rl:i i:ld, m1iJ,}
78 PAJNE

cerra. dos reis. pois, assim como n natureza 1;1ila OK eorshece, eles ,ião a conhecem
embora sejam criaturas da nossa própria criação não nos. conhecem. e tornam-
se deuses. dos seus coadores. A fala. possui uma boa quaJir•.h.l.úc, e é a de não pre-
tendei' enganar: e mesmo que quiséssemos nãn poderíamos ser enganados por eia.
Dela transparecem a brutalidade e a tirania. Não nos assombra. E toda linha con-
vence; mesmo no momento de ser lida, que o Indio nu e desamparado .•caçando na
mata, é menos. selvagem que o rei da Grâ-Bretanha,
ir John Dalrymple, suposto pai de urna chorosa peça jesuítica, falsamente
chamada 'T)1e. address of lhe people of Englmtd to the inhabitaeus nf A merica ''l
Discurso do povo da Inglaterra aos habitantes da Américal, movido talvez pela
vii suposiçâo de que o povo daqui se arncdronluria com a pompa e a descrição de
um rei. deu (apesar d~ bastante tolamente de sua parte) o verdadeiro caráter do
atual. "Mas", diz o autor, "se tendes a intenção üc,:, apresentar cumprimentos a
uma administraçâo ela qual nâo nos queixamos (querendo dizer a do marquês de
Roekingham 3 8 na revogação da Lei do Selo), é assaz incorreto não anresentâ-los
ao príncipe, por cnjo consentimemo cJ.xc:h.1sfrcunenre puderam fazer algzmia
ColSQ, •> ~ conservantismo com testemunha l f: idolatria sem máscara, I! qucrn
,, a_ doutrin u. perde o, dl rcho à racionalldade
apostata da ordem da. virHtdade - e deve ser considerado com.
somente do~istiu da J)IIQpria digni\Eath.: de homem, mas também rnersu-
do níve] dos nr~imais.., e desprczivclmcnlc rasteja como verme pelo

ou censu-
da moral de uma

mêriea separar se da Bretanha.


· ··· reconeí H«cao ou a
indep
m apoio ao primeiro ponto. poderia. se o julgasse adequado. transmitir a
opinião de alguns dos varões mais lrâbeis. e experimentados deste eontíneme, cujo
parecer sobre a questão não é. ainda publicamente conhecido, Na realidade; 6
uma posição evidente por si, pois nenhuma nação, em estado de dependência
estrangeira, limitada no comércio e presa e agrilhoada nos seus poderes lcgíslati-
vos, pode jamais atingir qualquer eminência material. A América ainda não sabe
o que vem a ser a opulência. e apesar de o progresso por ela reaíízado não ter
paralelo 11a história de outras nações. nâo passa de infância comparado ao que
scrí amos capazes de obter se ela tivesse em suas próprias mãos, como deveria ter
os poderes legislativos, A Inglaterra, neste momento, cobêça soberbamerue o que
nenhum bem lhe faria se o conseguisse, e o continente hesita numa questân que
negligenciada, será a sua derradeira ruína, Não será com a conquista, será com o
comércio da América quê' a In,gfoterr.::t se h:í de bcm:fii;;:jar, e de continuaria cm
grund1,; medida se o~ países fossem independentes um cio curro como a França e
~ Espanha. visto qu~ em numerosos artigos nenhum dos tfois pode vot Lar-se para
um mercado melhor. Mas agora a independência deste pais da Grã-Bretanha, ou
de outra nação. constitui o principal e único objcLo digno de discussão; como a
demais verdades descobertas pela necessidade, esse objeto ser{, cada dia m-ai
Iam e forte
F.m primeiro lugar, por4uc este pais chegará a isso um dia ou out•.•...
Em segundo lugar, porque, quanta mais Ior postergado, tanto mais diffcil
.iL.Tá de reallzar,

11Q11Rdra bem no ntufo Que dei

tinuar a ser
ovérnantc
como estio a•'

'' P:iln,c: H.•lí.:rc se IIQLIÍ if ruem, Íf.lllPL:ll rndlans 11756 [76Jl. [N U[] ed. inr,I.)
8'0 PAlNb

coisas agora. é desistir inteiramente tio pomo). privar-nos-emos dos próprios


meios d~ amortizar a" dívida que contraímos ou poderemos contrair. O valor das
terras interiores, de que sâo despojadas clandestinameme algumas das províncias
pela injusta extensão dos limites do Canadá? 1 calculado apenas em cinco libras
por centena de acre- .. :•O~ a mais de vinte e cinco milhões em moeda da Pensilvâ-
nia: quanto aos alugueis fixos. 3 um pt!rtllY por acre. sobem a dois milhões
an ualmentc,

o plano lâcil e praticável. a

ente derrota no seu aq~u·


u tndependêncl« uma
SENSO-CO~fUM 81

segundos

a convencerá
82
cites em promovê-la, pois, assim como a nomeação de comissões o~ protegeu. a
princípio. da cólera popular. assim também uma forma de governo prudente e
bem estabelecida constituirá o único meio certo de- continuar a lhes garantir pro-
teç ão. Logo. se não têm valor suficiente para ser h'lzigs, cabe-lhes ter suficiente
cnsatcz para desejar a independência.
Em resumo. a independência é o único laço capaz de nos unir e de nos rnan-
ler unidos, Yerernos, então. o nosso objetivo. C" os nossos ouvidos iLcarão Legal-
mente sutd();:, aos arriflcios de um inimigo intrigante e cruel. Desfrutaremos da
poSLÇ.ÕO adequada para discutir com a Crã-.Brctanhj_~ pois há motivo para coa-
cíuir CJliC o orgulho daquela corte será menos ferido pela discussâo de condições.
de paz com o~ Estados americanos do que pelas ccndíçôes de acomodação com
aqueles a quem chamam ~·súditos rebeldes". A nossa demora o anima a esperar
conquista. e a. nossa relutância sú tende a prolongar a luta. Sem nenhum bom
efeito. já cootíveraos o mosso comércio para obter a reparação aos nossos vexa-
mes; tentemos, aaora, a alternativa, reparando-os nós próprios e oferecendo,
depois. a abertura do comêrcio. A parte mercantil e sensata da tngtatcrta comi
nuará conosco, por ser <1 paz com o comêrcio preferível à guerra sem ele, E se a
oferta não for aceita, poderemos recorrer a outras naçêes.
obre tais. motivo!'> é que assento 11 q uci;t,.10. E nâo tendo havido. atl! agora
refutaçâu da doutrina cornída nax primeiras edições deste panfleto, hii uma prova
negativa de, ou não poder ser refutada a doutrina. ou serem os seus partidário
iJernnstad~mtnl't numerosos para qualquer oposlçâo. Logo, cm vez de olharmo
um paru o outro com iama curiosidade desconfiada ou duvidosa. estendamos, um
no outro, a rnào cordial da omizade 1.: unemo-nos parn o traçado de um c..'lminl
que. como ato de esq ueeimento, faça de~opan:cer qualquer anterior divergência,
:,'lting&mos O!, nomes de wltigs e conservadcrcs, e selam ouvidos entre nós ape-
nas os de .bo1J1 cidadão, amigo leal e resoluto, vlrtuoso def,.msor dos direitos da
tuunanidade e tios Estados ttvn» e lndept!nd~n te« da A mértaa.
ALEXANDER HAMILTO
JAMES MADISC)N
JOHN JAY

O FEDERALJSTA
.
CAPITULO (

l Imroduçâo]
(Por Hamiliou}

Depoi la maneira menos equívoca, a.


ínscficiênci ente existe. eis-vos charnad
E~ta.dos Un [dos da América,
da exls-
HAMfLTON-MADISON JAY

oposrçoes nascidas e por nascer pega em motivos inocentes, se nifo rcspeitávcss:


r;: lastimamos, sem acusá-las as prevenções deu ma desconfiança que pode ter por
prin:.Ípio a boa-fê, Há umras e tão poderosas causas que podem fal.i!t errar ! Ho-
mens de provada virtude e de C'iência incontcstáve] temos nós visto, que. 11fu. qucs-
tões da mais alia monta para o bem da sociedade, têm adorado tantas vezes
erro corno verdade. E isto basta parn inspirur modcraçâo a rodos os que têm
pretensões de infa libilidade. qunndo emitem a sua opinrâo p3.J'lic11h1r em todas ª"
CÜS:ClLtSÔC&.

Outro motivo de eircunspccçâo ~ {(IJC' n.ãu pode haver certeza de que os que
advogam .i boa causu sejam animados de motlvos mais puros que sem; antagoriis.
tas: uns e outros podem ser acessíveis ~s ~ugt::-.lÕc.'i da ambição, l1it avareza, tia
animosidade pessoal. do espíritu de partido e d~ outros rnotivos iguulmerue pouc
louvávcls,
Por outrn parte. 11:10 h:'i nrar;fa rnuis absurdo dó C!Ue este l!:::.piriki de intole-
rância que. cm todas m, épocas, tem caructerizndo os partidos pohticcs, O rcrr,
e o fogo n:kt foz!:'m mais 1:m ,liéhto!i cm tialiLicu que cm rcligiâo: t;!\t:'.i já provado,
la experiência ele sccu los, que a perseguição não cura nem as heresias pchtica«.
nem as heresias religiosas.
• F. contudo. ]'OI' mai« ju.-:los que i:<it~i,; sentimentos devam parecer aos nornen
imparc:iab,j.fi ce-mo~ desgraçadamente dcmasindos indrcios de que eeomecerú no
nosso caso o 'LLH! tem nconrecldo ••.. m wtlu.s as di'icl1,.,~t:b nacionais, A animosi
dadc e a~ rrni xôes aol'i rnun iosas r"n,re,riin tndc;~ ti:Ç diq ucw ~ já í'(ld.: presumir :.<:.
celo procedlrneruo dos partidos opostos, que cudu um clcl~1, conta. pnru ruzer
triunfar a ·""íl op~ni:lo e para ganhar votos, C(.)111 n vlolênein d~1.:; suas cli;,:clnnrn.çô~.
e cem a o cri môni a li as !iUi'1S invectiva-.
V rtUCI\.r\LI.) l 1-\.

dência da venlade. A tenoêncía de rodas das vos lerá leito ver que foram dit~das
por um espírito favorável it nova Constituiçâo: nem eu prcct."r:iclo encobri-la: por-
que. depois de ter atentamente examinado. estou convencido de que na sua ado
çào consiste o ínu. .rcssc da vossa liberdade. do vosso poder e da vossa felrcidadc.
Não quero fa7.er alarde de circunspccçjio que não renho e ainda menos enga
nar. afetando dúvidas. quando a minha opinião e&t:1 tomada: confesso a rnir,.ha
onvicção com l°r.uh.J uc.,:;1 t: exporei com Hberdadc o.'! motivos: cm que a fundo.
Quem tem n consciência das suas boas inte-,1ções não deve buscar rodeios.
Não me canso com prorestacõcs a este respeito: AS minhas intenções íicam
o meu coração: m:1-. us minhas r.::.1Lo<;1s serão expostas ao~ Dlho:s de rodo~ para
que Lodos as possam avaliar. A coragem com QUf pretendo apresentá las 111iio há
e fazer desonra n causa da \ erdadc,
Proponho-me discutir ncstrr obra os objetos seguintes: â 1di/idade aa
UNL:fO ,; nossa prosperidade poiãtca; a fllSUficiêJlc:ia da Confederaçãri atua)
para mame la: a necessidade do ttn» governo ao menos ,ii(J. rnérgicrJ corno aque!
que ,,, m.-i• pl'Opije; a cml}h,·midarle dn Cr>11stf11ti(ào uropossa com as verdadeiros
prinelpios do ~01•,·r110 1•cpub!fr:a1ra; u sua armlogiu com a Ca11s,irulçc'1v dos nú~!J'O."
Estados paf'ricul.a . re.,·; Iinaimont», o aumento t:! a st!gui11t,ça da mmwlt.•nçãa dest«
espécie tle governo, da nossa lfb{1tdade e das nossas nroprtedades, (JIIL' da adoçõo
o .fJtOjetc, proposto dav» resultar. TraLt.1.rti de responder ocasionalmeuto ti todas
)bjcçõ1:s g uc me parecerem digna..., d~ Bfcn~!ÚC'I.
Talvez pareçam supértlua« m, rnzôes com que eu prc
NIÃO: a afeiç5c) para esta forrnn de governo est ·
no coraçâo ~fa maior pune dos habita rues de cad,
parecer tJUC e-la encontre :idvcr~:iritis. Mn!'i o fato é
CAPÍTULO II
[Dos perigos que podem resultar da iuíluência e hcspltalldadc
das nações estrangeiras]

'Por John Jay)

ão é possível que os habliamcs da Amêrica, chamados. a dccidjr uma das


mais impcrtantcs questões que jamais excitaram S\Jã atençâo, deixem de conhecer
a necessidade de examiná-la com a mais seria rellexão.
Nada mais certo do que a indispensável necessidade de um governo; porêm
não é menos certo que, para que esse governo possa t,cr a força necessâein para
obrar, é preciso que o povo sacriüquc em seu favor uma parte da sua indepen-
dência. Segundo estes princípios, vejamos se é do interesse dos americanos for-
mar urna só naçâc com um governo federativo. ou dividir-se em confederações
parcials, d anuo ao cl1cít de cada uma o mesmo poder que se Lrata de delegar a um
covcrnc único,

em sooeran u
esta doutrina tem rnuit

• 1 •
de n vos pnno pios . .:il!m que
qu polílica lhes. serve d

1:'i. n.iiuitl'.l!:; vezes observei com pm.-.er que ~ Amí:u·icn independente 11ão ·
composta de· territórios separados e d1!.HU1lc:s 1.1m; dos outros, Esra terra de hber
dadc ê vasta, K:rtU e nunca interrompida: a Providencio. o dotou. com predileção
particular. de prodigiosa variedade de terrenos e produções; deu-lhe rios inumerâ-
eis para prazer e mílldadc de seus haeltantes: lançou em torno, de seus límíre,
urna cadeia ccntinuada d1;; lagos e mares n..avegáveis pQ.nt servirem de laço às par
tes que ;:3 compõem; fez. correr no seu seio os mais. nobres rios do universo, e col
.ou-us a distâncias convenientes para que servissem de meio de comunieaçâo ao
ocorros Fraternais de seus habitantes e de canais s. permutação dos. seus produ
tos. Com igual prazer observei a complacência com que o Criador como qu
empenhou em dar habitantes unldos :i este país unido descendentes dos rnes-
mos antepassados, falando a mesma língua. professando a mesma religião. afeí-
çcados aos mesmos princípios de govot:rno, semelhantes cm hábitos e cm costu-
mes. e que. reunindo Sua.': armas. seus esforços. sua prudência - pelejando crua
pelejas em uma guerra de morte, compraram a prece de sangue a liberdade
CO m LHTI ,
Assim, u país parece ter sido criado para o povo e o-povo criado para o país:
e como qur.! se vê o empenho d~ Providência em embaraçar que uma herança, tão
visivelmente destinada para um povo de irmãos.. viesse a retalhar s~ em sobera-
nias isoladas. sem outra sociedade ou relação que a de um ciúme recíproco. Tal
tem sido até agora a sctHimento unânime dos homens de todas as classes e de
todas as seitas. F.m todas as relações gerais não temos formado até agora mais
que um povo somente; cada cidadão tem gozadc por Leda parLI! dos mesmo
direitos, dos mesmos privilégios, <la mesma proteção. Como- um só povo fizerno
; como
laçà"

cns inapreciáveis da União. o povo se


o governo federativo; e:: de
::i estabelecer e perpetuar
momento ~m que começou a sua existêncla política
111 em chamas=->, quando o sangue de
quando u guerra, estendendo ()$

Co:n vençãe, C\Jm


cujo psrrlotísmo. subedori
spoca di!idl que pôs à prov
ombros esta pcsa•fa mi
lnterru pçâo, alguns m
Livres de Lodo susto e sem influência d~ outra pnh:ãr, que nâ
pátria. eles apresentaram e recerncndarnrn AO
quase unânimes, E pais que esse plano ~
lembremo nos de que nã.o deve ser aprovndo e n..,m rejeitado às cegas. A impcr-
Lâlleía do objeto exige reflexâo tranqüila e imparcial; mas (jâ o disse) é um benefi-
io que ardentemente desejo, sem ter demasiados motivos de o esperar: já a expe-
2 HAMILTON-MAOISON-JAY

riência nos mostrou que não devemos conceber esperanças antes do tempo-
Ainda todos se lembram das apreensões bem fundadas de um perigo iminent •..
qu~ determinaram li couvocaçâo do memorável Congresso de L 77~. Esta Assem-
bléia recomendou aos seus constituintes certas medidas. cuja prudência foi justifi
cada pelo resultado; e, não obstante isto. que imensidade de folhetos e de folha
hebdomadárias não produziu ai imprensa para desacreditá-las ! Alguns membros
la arJrni,1it;L.ração. guiados por interesses pessoais, outros pm uma suposta previ-
dência de males imaginários e por antigas aleições Incornpativeis com o vcrda-
deiro patriotismo. outros. enfim, com vistas decididamente contrârtas ao bem p.ú-
blico. todos fizeram infatigáveis ~srorc;o:s para levar o 110\10 a releírar a opinião
daquele Congresso patriótico. Alguém huuvc que se deixasse seduz ir: mas n grau
de maioria pensou e decidiu conforme- com :.: razâo e recolheu o fruto da sua
sabc:oori11. Refletiu-se que no Congresso havia muitos homens sisudos e experi-
mcmauos: que estes homens. reunidos de diferentes panes do país, 1inh,1111 trezido
e : ,e hnviurn cornun icado grande q uaruldadc de ÚLéÍs esclarecrmcmos: que deviam
ter apc-rfoi,;:<,ado 01.1 retificado as suas idêias, durante o tempo passado nu discus-
são dos verdadeiros mteresses elo pais~ que cmlô"'i ~e achavum individualmcnt
interessudos na prosperidade i; liberdade públicas: e que em cada um deles a incli-
nação ~é uniria ao dever parn lhe não inspirar outras medidas. cuja p.rudéo,cia e
uühdade lhi.: não houvessem sido demonstradas depois de madura delibcracüo,
V 1'.l...:LJl:r..;'l,.Llr.) m r\ J

go. Se o dito plano se rejeitasse. posso afirmar lhes que a sua previsão ficaria
complctamcme verifica, '
eja n resultado quul for. desejaria que todos cidadãos ficassem bem
convencidos desta importante verdade: que qualq uCT que venha a ser a época em
que a dissolução <la União se verifique. nesse rnomen lo poderão dizer os america-
nos com o poeta:
Adeus, minha grandeza, adeus pra.sempre]
1
CAPÍTULO X
1 Utilidade- da Uniâo corno preservativo contra
as facções e insurreições]

(Por !vfadisnn

Entre as numerosas vantagens que nos promeLe t1111i, União fundada em bons
princípios, não há nenhuma que tanto mereça ser desenvolvida como ;l. sua ten-
dência a amortizar e reprimir n violência das. facções.
Nada assusta mais vivamente os amigos dos governos populares sobre a sua
prosperidade e durn.çàu do q1,1c o1 soa tendência para este perigoso vício, donde se
segue que ninguém, tanto como eles. pode sen Lír todo e valor de um plano. que.
violar 1)S seus principies. possa opor um poderoso rcm~dliu àquela funesta
tendência.
instabilidade, a iojusúça e a confusão nos ccnselhos púbHcos são as
moléstias mortais que por toda parte têm feito perecer os i:;1>11t.:ruv~ populaecs, t;
nesta fonte L,o fecunda de lugnrcs-eomuns é quti" os inimigos da liberdade vão
uscar as suas declarnaçôes com melhor êxito ~ mais predilecâo .
., inapreciáveis melhoramentos que n Constituiçâo arn
modelos dos governos populares, tanto antigos corno modernos.. não podem ser
m uma insustentável parcialidade não pode pretender se
perigos de que se trata. eum tanta eficácia. como teria
Estes efeillo!. sàõ inteiramente devidos, ou pelo menos cm ,grande parte, f
instabilidade e ã injustiça que um espírita de facção manchou a nossa adminis-
tração pública, Entendo por facção uma reunião de cidadãos. quer formem a
maioria ou a minoria do todo, uma vez que sejam unidos e dirigidos pelo impulso
de urna paixão ou interesse contrário aos direitos dos outros cidadâos, ou ao ime-
ressc constante e geral da sociedade. 1
á doas métodos de evitar as desgraças da facção: ou prevenir-lhe ~ cau-
sas. ou corrigir 111c os efeitos.
Os métodos de prevenir as causas das Iacçõcs são igualmente dois; o primei-
ro, destruir a liberdade essencial à sua existência; o segundo. dar a rodos 01> cida-
dãos as mesmas opiniões, as mesmas paix,õcs e os mesmos Interesses.
O primeiro remédio é pior que o mal. É cerro que a liberdade é ptlra a facçâ
o mesmo que o ar é nara o fogo - um alimento. sem o qual ela expiraria n
mesmo momento: mas seria coisa t~o insensata destruir u. liberdade que é esscn-
cial ã vida política. só parque ela {;, o alimento das facções, como desejar :::i, priva
çâo do ar, só porque ele conserva ao fogo a sua força destrutiva.
O segundo meio teria tantó de impratlcávcl corno o primeiro de insensato
Enquanto ::1. rnzno do homem niio for infalível e ele tiver a faculdade de exercitá-
l:1, há de haver diversidade de opiniões: e enquanto c:...' is1ircm relações entre a su
uas palxõcs hâo de ter urnas

que é a 0Ji~en1 !.los direitos de


1 ti uniformidade dos Interesses.
9G
UAM ILTON-MADíSON-J A

Mas a causa que mais cornumente tem dado lugar ao nascimento das fac-
ôes tem sempre sido a desigual discribuiçiio das propriedades, Os interesses. dos
pmprletáríos têm sempre sido diferentes dos interesses daqueles. que o não são
ma linha de. demarcaçâo sernelharuc separa igualmente os devedores do
edores,
É de necessidad interesses de
agricultur
talistas e

Ull

de ho-

e os

e que
Quando uma facção não compreende a maioria. o remédio existe no mesmo
ri ncipio do governo republicano que t!á à maioria os meios de destruir os proje-
os sinistro« da faoçâo por uma votação regular.
Pode talvez o partido faccioso embaraçar a administração, pode- fazer tre-
mer o Estado; mas n~o pode executar nem cobrir as suas víotências mm formas

orna parte numa facção, .a forma do g0:veru.o popu-

espetá-
98 H1\.MlL TON-MADJSON-J A. Y

A república aparta-se da democracia em dois- pontos essenciais: não só a.


rimeira é mais vasta e muito maior o número de cidadãos, mas os poderes são
nela delegados a um pequeno número de indivíduos que o povo escolhe.
O efeito desta segunda diferença é de depurar e de aumentar o espírito 11úbli-
co, fazendo-o passar para um corpo escolhida de cidadãos, cuja prudência saberá
distinguir o verdadeiro interesse da sua pátria e que. pelo seu patriotismo e amor
da justiça, estarão mais longe de o sacrificar a considerações momentâneas ou

possí vel que a vontade pública, expressa pelos


em harmonia com o interc

algum; cas
ízos, filhos de
r corruocão

emasiad am
que eles nomearem serão pouco
Instruídos de suas circunstâncias locais e dos seus interr;s~;;:s paruculuees: se se
diminui demais, flcarâo os r~rrcscnmni~cs cri1 dependênciu muito ln1e<füna di;;;
quem os. elege e nilo poderão os eleitores. por muito ocupados, reconhecer o inte-
resse geral da nação e conformar-se com ele na eleição que fizerem.
A eornbinaçâo que oferece a esLi: ri:$pcüo ü governo federativo é a mais feliz
de rodas as que se podem imaginar: os interesses gerais sâo confiados à legisl
rura nacíonat. os particulares e:: locais aos legistadores dos Estados,
O FEDERALIST

Outra circunstância que Javorece mais as. repúblicas. federativas. que a


democracias; é que as primeiras podem compreender maior número cfc cidadãos e
um território mais vasto que as últimas; e é precisamente esta circunstância que
torna os. planos: dos faccieses menos temíveis naquelas,
Quanto menos, extensa é uma sociedade, tanto menor ê o número dos parti-
dos e l..trHo menos diferentes são os interesses-te quanto menor é o número dos
interesses e dos partidos, tanto mais Iacilrnente o mesmo partido pode reunir
maioria: ora, quanto menor e o número de indivíduos de que se compõe a meio-
ria. tanto menor ê o círculo que a encerra e tanto mais facilmente ela pode con-
certar e executar planos de opressão.
O contrário devê acontecer q,..iande se estende ,\ esfera da maioria: neste
,o cresce .i variedade dos p •.rrtldos e dos uneresses diferentes: o perigo de que
a maioria tenha um motivo comum para violar os direitos dos outros cidadão •
menos iminente. ou. se esse motivo existe. é mais difícil àqueles, sóhre que ele
Ji: influir, conhecer a sua. própria força e obrar de concerto.
inda quando para isso não houve::;1-e outro obsu'icuJ.o. ê evíderu
quer que exista a consciência de um projeto injusto e contrário aos prineípi
honra. a ctimunic:ação é sempre reprimida pela dcsconfinnça. a proporção da nú-
mero de pessoas cuja coneorrêneín ~ necessária para u execução do projt:~11.
Daqui resulta. com evidência, que â mesma vantagem que tem uma repú-
biica reder~tivà sobre uma democracia para corrigir o i.:f.dto das fü.cçijc8. Lcrn
urna renúbl tca maior sobre outra república menor, ou uma união de reeúblic

influêncl
nos seus Esmdo
Outros; uma seit.

m
JU lLJ\M ILJ VN-MALJDUN-JA 'i'

Assim. a extensão e a sábia vrganização da União oferecem-nos, cornra os


males, a que c:.st::i. sujejto de ordinário um governo republicano, um remédio tirado
da própria natureza desse governo. e. portanto. quanto maiores sâ
e o orgulho que devem inspirar-nos o nome de republicanos. tanto rnai
o il:!lo com que! devemos sustentar e conservar o tÍLub de confederados.
CAPÍTULO XT
l Utilidade da União rcíarivamenre ao comércio, e à Marinhai

(Por A lesonder Hamtlton)

comercio com as naçocs

da

SS,j rros~dCtl
tcmoo em

ie e n:tveg~ç:1C1 de qualquer µotêm:í:i européia


entre
América por meio dm seus própnus navios
I02 HAMlLTON·MADISON-JAY

mandar por navios estrangeiros as suas produções, recebendo pela mesma manei-
ra o valor delas
Suponhamos. por exemplo. que o nosso governo está em circunstáncias de
fechar os. nossos portos à Grã-Bretanha, com quem por ora não ternos tratado
:algum de COrt1.€"1'C10: qual serii o efeito natural de tal comportamento sobre n Sl18
politica? Não nos poria ele em estado de negociar com vantagem, a fim de obter
em todos os portos do reino privilégios comerciais tão varuajosos corno extensos?
Tem-se respondido a estas questões de: uma maneira que tem. mais de especiosc
do que de só lido.
Pretende-se que as nossas medidas proibitivas não poderiam fazer mudar o
istcrna dos ingleses. cujo conién;iu 1;0110~~0 continuaria, corno dantes, por meio
dos holandeses, que lhes cornprarjarn <i pagariam imediatamente os gênero"
necessários para prover nossos mercados.
as não receberia .i:li nevcgaçâc inglesa um golpe funesto, perdend
tante vantagem de não serem os ingleses os seus próprios feitores neste e
Não tomariam rara si oi. holandeses a maior parte dos lucros em compcnsaça
<lo trabalho e dos seus perigos? Não ocasicnaria, p.clC> menos, o Irctc 1,1m
!-i.~1,.1
considerável desfnlcue? Não facilitaria um cornêrcio tão indire
das outras naçôes, fazendo variar o pr
crcados e transportand
británi

ma vez ot,tjdn do governo inglês, a qucl nu.o poderia ser


essa pnrté senão com isenções i: imunidades equivalentes nos nos-
rodu2.i1·i~ naturalmente o mesmo efeito no procedimento das 011•
e n~{i quereriam ser suplantadas no comêrclo que podem fazer

ações européias par


m1 o csrabelccimonto de uma Marinha com·
pôr em duvida que a conservação da União, ajuoada ,.h: um
de suücícruc poder. não nos ponha bem depressa cm estado de
criar uma Murfoh:1, 3 qual, ainda que inferior' l1 das potêndn~ marítimas da pri
melra ot·dcm, será, pelo menos. de grande peso na balança entre duas nações belí-
gerantes, particularmente quando U.':i Índias Ocidentais forem o teatro d!a guerra,
Um pequeno número de vasos, mandados a propó5,ito em socorro de um
as panes. bastaria muuas vezes para decidir da sorte de uma campanha de que
dependessem jnteresses da últim~ importância.
O FEDERALIST 103

É evidente- qu.-nto a nossa posição nos assegura a possibilidade de adquirir


influência neste sentido: e se a esta consideração se reúne a utilidade de que
podem ser os fornccimcmos de viveres pelo nosso país para a execução de todas
as operações militares nas lndias Ocidentais. reconheceremos facilmente que urna
posição tào feliz J11os pode t:K"it em estado de tratar com a maior vantagem possí
vel, a fim de obter privilégios comerciais,
Seria preciso não só 11::iga r fl T'IOSsa aliança, mas mesmo a nossa neutrali-
d;.ade. Assim n oon:,crvuçào de uma uniâo.indissotúvet nos fará, dentro de pouco
os árbltros da Europa na Arnêrica e nós porá cm estado de: fazer pender a balan-
ç~ entre duas nações europeias rivais, para o tado que mais convier aos nos
teres ses.
Se a conservação da União nos promete um futuro tão lisonieiro. é fácil ver
o que no caso eontràrio aconteceria. a::: rivalidades dos Estados- em
independência 1'hes peariam os movimentos e nos privariam de toda
que a natureza. por urna bondade particular; pôs à nossa di
este estado de impotência, o nosso comercie viria
chusas empresas das nações que se fizessem a guerra.
ão tendo que temer ele nós
nossas propriedades, todas as vezes q ue lhes
, direitos de neutralidade nunca são respeitado
r fôrç;1 suflcicnte,

p
., meios
irrretrnmente passl:
Então, ob:ri~i:i.dos a contentar-nos com o preço origin~1rír1 dos nossos san .• -
ros, é preciso renunciar a todos os lucros do nosso comércio, que servirão par.
nrlquecer os nossos inimigos e os nossos oerseauldorcs.
Igualmente se perderia este gQsto pelas empresas que caracteriza tão cxclusí-
varncntc o gênio dos mercadores e navegantes americanos, fonte inesgotável d
ri.gueza nacional, e a. pobreza e a vergonha cobririam de miséria e opróbriô um
país que, com o socorro da prudência, pode vir a ser a 3d]miraç.ào e a inveja do
l'HIJJl •
Existem direitos de grande importância para o comércio da. América. que se
perderiam perdendo-se a União: por exemplo, a pesca. a navegação dos. lagos e a
do Mississípi. A dissolução da União traria consigo questões mui delicadas sobre
n conservação destes: direitos: e o interesse dos nossos adversários, mais fortes do
g uc nós, as decidiria cm nossa desvantagem, quase com toda certeza.
s intenções da Espanha a respeito do Mississipi nâo têm necessidade de
comentárío, e O.'J franceses e ingleses. interessados na pesca tanto ou mais do que
nós, olham-na corno um objeto importante para a sua navegação.
eriarn eles com olhos indiferenres a nossa superioridade. demonstrada pela
experiência, neste precioso ramo de comércio. que nos põe cm circunstâncias de
.ender mais barato do que eles nos seus próprios mercados'! Não seria hem natu.
ral que eles procurassem retirar do campo da contenda t.,1.0 perigosos rivais.
Não eonsideremos este ramo de comercio como uma vantagem particular 3
alguns Estados somente: não hâ um só que não possa ter paru•.: nele com mais ou
menos vantagem: e para aproveità-lo não se espera provavelmente sendo pelo
11111enw dos capitais: destinados ao comércio.
A pesca é o seminário <los marinheiros; nâo há nada que tão essencial seja
para a Marinha; e quando o tempe tiver assimilado em todos os l~stados os de-
,i
ntos da navegaçâo, a pesca viri:1 ser um recurso universal.
Que il União nos: deve conduzjr por carnin hns diferemcs ao estabeleciment
e uma boa Marinha - objeto de tanta importância para a 11.m;:â,.J -. ~ coisa
fora de dúvida.
"'d.1 ÍnScLituiçio aumcnt.ca s~ e prospcru na razào da quantidacl1; e extensão
dos meios empregados. para rormã-!a t: ~1J.mmtá-l:1: e portnnto os Esrados Unido .. ,
ue reúnem Oi,. meios de todo o corpo rPi!llcraLivo. podem ter uma Mílrinl1.'I muita
cedo de, que um dos F.!<t~<lo~ cm sepnrndo. que: rião pode di~por :,çnâo c.11.:

Conrêdcrr:icla
p.·

d
asos, quando são construidos com
ra t1 forca naval como para
LiíilÍ

õe
empresas comerc111is adquirirâo muito maior extensão pela variedade das produ
.ôcs dos diferentes Estados: quando houver falta num dos mercados por causa da
m~ colheita, irá procurar recursos nos dos Estado~ vizinhos.
variedade das mercadorias nâo contribui menos do que a sua qualidade
para a atividade do comércio externo. Um grande número de gêneros de valor
diferente: promete muito maiores vantagens que um pequeno número de objeto
de valor igual, o que depende da maior concorrência e flutuaçâo nos mercados:
tal artigo km grande extração neste momento e não pode vencer-se em outro;
mas, havendo c~1idado d~ reunir grande quautidade dr: objetos. dificilmem
charão lodos sem compradores. o que evitará aos negociantes os inconvenientes
de considerável empate.
Q11111lquer pessoa farniliarizndn com cspcculaçôes, de cornercio conhece à 1:wi-
rneira vistu a rmça destas observaçôcs t.:. reconhece que a balança do comercio
gerul dos E.'ítado~ Unido, deve ser mais vantajosa que n dos lr1..:a: E~tados isola-
(,u reunidos por confederuçôes pnrciniis.
Responde- se á ta lvcz y uc, ainda no ca:in d(; os L!.&tt1dü~ Ilcarern separad
.empre haverá entre eles L1111a cnmunicaçân íntima q1,11; 11rntlu1ir~1 o rncxrno deito
1.JU{' na supos.iç:ãu dos btadn:o. Unidos: mas J~ se li:.-t ver em todos os: capitul
anteccdenrcs que, na prunejra f1ÍJ1(\l~S.I.!. umu mulLÍUUO de C3U!iaS há de cacudear,
intcrrurnper e restrinair ú cnmérciu de cada E.r.1::itlr~ LlU i:ôt1Íe'dernçi1u parcial, N~
h;\ SC'l'ifi<') a u111J:1dc de'> i•1\\h•l'sln .,.,.. ,...,_.,,...} ..,mdlil.ir ti unidade ílClS interesses O

u~ quuis se pode encarar este ohje10


seria preciso. rum consíde
mba rncnr nos cnrn digr

submeteu ~ .• ;1e, seu ímpi:rc r armu, por

A Asln, ri

nos cum.
J"ICU,
· animais
;0111
;1.,culdad
de 1
,t:1s urrcgnntes prcrcnsôes dos
europeus: pertence aos umcricanos restabelecer a honra da raçu humana ofendida
· ensinar L1 que~ rnodcraçâo a 1nn~l)s usurpudorcs,
106 H LT0N-MADIS0N-JA Y

Se nos conservarmos unidos .• teremos os meios de o fazer; se os Estados se


separarem, prepararemos aos nossos inimigos novos triunfos e lhes sacrifica-
remos mais vitimas.
Possam o~ americanos cansar-se. enfim. de servir de instrumentos da gran-
deza europêia ! Possam os. treze Estados, unidos por uma estreita e indissolúvel
União, concorrer para a· rormacão de. um vasto sistema político. que eleve a Amé-
rica acima dos obstáculos que a força ou a intluêneía do outro uemísíérío lhe qut-
erern opor e que lhe assegure o direito de ditar as condições do ttatato entre o
Antigo e o Novo Muni.lo t
CAPÍTULO XV
[Dos defeitos da. Confederação atual]

(Por A lexander H.umilton}

iro
r

stqjarn
nosso sistema nacional aerertos esseneists 0 que se deve fazer alguma coisa para
subiralr-nos à anarquia que nos am ·
s ratos que servem de fundamento a esta opinião ji não são objc:to de refle-
õcs puramente especulativas: por toda parte os. povos os têm sentido, ç por tod
parte· eles têm arrancado àquclC8 mesmos, cuja falsa política é a causa prindpa]
cas nossas des~iraças. f1 cenf ssão forç.ada dos defeitos deste rihin,o do nos
governo federativo, que- os defensores ilustrados da União há longo tempo ha-
viam percebido e lamentado.
Com razão se pode dizer que havemos chegado ao último grau de humilha-
ção política, De tudo o que pode ofender o orgulho dle uma nação, ou degradar o
IU H ILTO N·MADISON-J AY

St!U caráter. quase que não há nada por que nós nâo tenhamos passado. Empe-
nhos, a cuja execução nós éramos obng_í:uJo::; por todos u::;, laços respeitados. entre
I)!; homens, foram violados a lodvs. os momentos e sem pudor.

Contraímos c.th1idmi (;OID os. estrangeiros e com os nossos concidadãos para


l3 conservação da nossa existência política. e o pagamento ainda se rilo acha
aríancaco de uma maneira satisfatória. Uma potência estrangeira possui tcrrit<',-
rios consideráveis, e postos, que por estipulações expressas hã longo tempo devia
ter-nos restituído. e, apesar d<! nossos interesses e dos nossos direitos, estes posto
e esses terruórins ainda se conservam em seu poder.
.o nosso est'"ch.1 é tnl que àl~ devemos dissimular o~ ataques que rios fizerem.
por não os podermos repelir: porque nno ternos nem ttopas, nem tesouro, nem
governo para faze-lo. Até não nos podemos queixar com dignidade: porque seria
preciso começar por ocorrer as justas inerepaçôes de infidelidade que se nos
noocrtam fazer a respeito ela execução do mesmo tratado que invocésseroos.
A naturezu e os tratados nos dão o direito de apruvcitar-nos livremente da
vantagens <la rrnvegã<;ân da Missis~Ípi '. mas a Espanha no-la proíbe. O crédito pú
blícc ~ um recurso jn/Ji~pcnsüvel nos perigos: públicos: mas parece que- terno.
renunciado para sempre u ndquiri-Io. O comércio ê o primeiro manancial d
riquezas para as: nações; mas o nosso está no último grnu de decadência.
A consideração ao:s olhos das potências estrangeiras ~ o remédio profilâiico
das suas usurpsçêcs; mas a fruquezu do nosso governe at6 lhes tíra ~ td~fa de
rruses estrangeiros n
cerras é u interna
d

·~ redu
timo

de. íns-
dêncín
tio
ra-
eas préli>f!ntcs,
'I'n] é rriste situ.açfto ;1 que no~ têm reduzido e~lm, mesmas mfl>l.ir
;i
conselhos pc!os quais se trata hoje de nos desviar da ad
iic;-itti proposta. N~o comentes <k nos hnvercm eonduzrdo i1 borda <lo abismo.
querem preci pia ar-nos nele.
Mas hoje, concidadão« mc:k1'>, hoje: que nos .neh.a11"!1.>~ profundamente penetra-
dos de todos M motivos. que podem nhr::1r ,,,brc uni povo ilustrado, é chegado
momento de opormos a tantos esforços iriim1gns umt1 invcneive! firmeza - de;
pug1latmos pela nossa segurança, pcln nossa rranqüilidndc, pela nossa dignidad
O FEDERt\USTA 109

pela nossa reputação -. de romper finalmente o encarno que nos tinha arrastad
para lnttgc da felicidade e da ventura,
É certo, corno j~ ficou observado, que murros fatos de tal evi<lérn;:1a. 4uc não
admitem comt,taç:ào. têm prcduzido uma csp;cjl;! til: m•. seruirnen Lo gemi à propo-
içâo absoluta de que existem defeitos essenciais na forma atual do nosso sistema
político: mas ~ utilidade dt.:'~Lt.: reccnhechncnrn, por pane dos antigos inimigos .da
Fi;tli.:raçào. ê destruída pela ll!n.acidridc da ~LJa oposição no único rcrnêdlo de que,
pelos princípios cm que se funda. ~~ pode esperar alguma probabilidade de
resultado.
Cunccde-s

da

níão,

surdo ncrn de impraticável na idéia. de uma liga. cntr,


nnçõo,:: indepcndcnícs, para objcws exatamente clclinld-Os por um tratado qu
determine rodas as particularidades de tempo, de lugar, de circunstâncias e d··
quantidadi;;s '1 w,,;: não deix:t? às partes nada ele arbitrário para o futuro -, e: Que
sennsc sobre :ii Sl-!::t bem r~ na cxccucão do contrato.
IJO H AM1LTON-MADIS0N-J t\ Y

Convenções desta natureza existem enrrc rodas as nações civilizadas. sujei-


las às vicissitudes ordinárias de paz e de guerra. de exatidão e de infidelidade,
segundo os interesses ou as pah:ões das potências contratante....
Pelos princípios deste- século foi a Europa invadida de um furor epidêmico
por c:H<1 espécie de tratudos, de que os poli-ricos do tempo esperavam com muita
confiança vantagens que nunca se realizaram,
Na idéia de consolldar o equihbno das potências e a paz nesta parte ao
mundo. ioda a arte das negociações se esgotou; triplas e quádruplas alianças se
orgrrnizururn: mas. quase tão depressa desfeitas ctimn fonn.-:\dM, elas ensinaram
aos homens por um triste, mas C11il exemplo. a pouca confiança que se deve ter em
rratados. pnrn q uc n;c Ml rnnis fiudor (iLIC os deveres da boa fé e que pêcm as
considcrnçôcs .gerais da paz e da justiça em opostçâo com a influencia de um inte-
esse ou de urna paixão atual,
·' - - - ·~todos particulare dispostos a colocar-se
reciprocamente nas circunstância dcrar e :i abandon :u toda
idêia de uma auturidadc sunrerna rá funesto 1: ruraiir~ -obre
nos capítulos antcccdcn
üente e praticável.
plan
O FEDERALISTA HJ

Houve tempo crn que se 110s dizia que não era. de temer que o.~ Estados vies
sem a despreaar a. autoridade do corpo Icdcrativo: qu(; o senumento do interesse
ornurn regularia o procedimento õos diferentes membros e :1sscguraria em todo,
o caso a mais perfeita obediência às di:cisôe~ constítucíonaís da União.
Esta lfr1guagem nos parece hoje extravagante. e assim nos 1,á de parecer u
dia tudo quanto ho,je nos dizem as pessoas do mesmo partido. quando a cxperiên-
eia, que 6 o oráculo soberano <la sabedoria. nos tiver dadc novas Iiçôes, Serne-
lhante pretensão revela a mais profilnda ignorância ciaR causas que determinam o
procedimento dos homens e. de mais a mais. um esquecimento completo do
motivos que. na origem das causas, prcduzjrurn a necessidade do csiabcloci ruent
do poder civil.
Por que moLivo se estabeleceram os governos'! Porque as paixões dos 1i.,.
mcns não obedecem espontaneamente aos preceitos da raaâc e du justiça, E~ por
ventura demonstrado que a.s massas obrem com mais desinteresse e rctitliii(i do
que ,o~. i.ndiví<lúoS',~ Os observadores da marcha do espírite, humano estão persua
didos i.Jo contrário: e a sua opinião nesta pane ê fundado cm mui Ct)nv,ncente
ruzoes,

pessoas
'.UZ.inho.

,,orpo federal não pu er executa-


.~ particulares. há probabilidade
se lhes manda com os sem; interesses ou pretensões atuais; h âo de sempre discutir
as vantagens ou i nconvcnicntcs atuais de que a execução pode ser seguida.
Eis aqui o que hão de fazer sem dúvida: e hào de faze-lo com um cspêrim d•::
análise interessado e suspeitoso - sem aquele conhecimento da causa nacional e
das razões de [\.tatlo. tão essencial para poder julgar sem paixão -. e. além
disso. com uma predileçào decisiva pum considerações locais. que nâo pode-o
eixar de influir dcsvantajosamcutc na decisão que tomarem,
J\ mesma marcho s~ní si.:guid,1 por todos os membros do corpo político, e::.
por conseqüência. n cxccuçáo dos planos formados pelo conselho geral fü.:~trá à
iscrição d::t::; opiniôcs pouco ilu,trmfa.::i e.: prevenidas de cada uma <las panes d~1
Cn.11 rede ração.
As pessoas que tiverem consunado a marcho das assembléias popul:-tr,
e
que tiverem visto quanto difícil fazê las concordai" rllr~ pontos mais essenciais,
todas as vezes que a presença de um grande perign exterior lhes não f::t1 toe.ir
com o i.ll!<lu ~ necessidade dl..' t, lazercm. conceberão lucllurcntu a lrnposslbllidude
de dcterminur um cena número ,fa ussomb lêins deste gênero. deliberando cm
lugares e épocas dtlcreruex e aguadas por impressões diver=us. a cooperar lonzo
tempo parn o 111i.:s1)1ú fim com visurs unânimes.
Entre nos, :u; fnrl'n.J!'\ da nessa Confederaçâo atual t!,d~e
treze vonü1.d1.·:s soberanas oara dc::tcrt111n::u· :::1 éxe~111~;111 de toda

;mándaram: porq IJ
desta naturcxa: e se alguém
orn a

ameaça cnir s
rui nas.
CAPfTULO XXXVII
iftcu~dade~ que a Convenção teve para orgamzar
um prnj~to satisfatôric]

'Pôr James A-fudisonJ

n de

acil

e 11h:--erv1.: que. corno n nossa suuaçâo e ccrtarneme rn1u


crítica e. por con scguintc, exige esforços para melbuni J11 ramo pode o defensor
prencupado da rrova ordem de coisas 11.!r !o;id,, .:lrLcr-min:H:ln rela pc!1'n destas consi
dernçõe~ como por consideraçôcs de naturcz a sinistra: porém o adversário. de
caso pensado. não pode ler sida determinado por motivos realmente irreprecn-

rnnte nao p

orno r;:.
· "icis:::i
Por um lado, exiseo gênio republicano que não somente o poder emane
sempre do povo. mas que aqueles a quem u poder é confiado estejam sempre na
depcm.lcntia do povo. J3 pela e urra dul'aç:ào dos seus cargos e já pelo grande nú-
mero dos depositános do poder público; por outra parte. :l estabilidade e a ener-
gia do governo exigem .1 l)ro]ongaçào do poder e a suu execução por uma pessoa
somente,
ALé: que ponto n Convcnçâu foi feliz na resolução deste problema. ver se-.á
examinando com cuidado a sua obra; mas, pela rápidu vista de olhos que aLé aqui
Lemos lançado sobre o objeto, já se vi; quanto iu. ruela rcsoluçâo devia ter sido
dificultosa,
Que o estabelecimento dn linha do demarcação entre a autoridade do gover-
no geral .e: a dos governos especiais não c;r.rt menos uíficultoso, tacürncnec conhe-
cerão as pessoas acosturnadas a refletir e a considerar objetos de natureza
complicada.
faculdades do pensamento niio estão ainda :.ati~fttt1Jriamcnte definidas,
apesar de todos m: csforces da metafísica e da filo:-,.oíh; a sensação. a percepção.
n. vontade. o juízo, o desejo, n memória, a irnaginaçâo, todas estas faculdades
estão separadas urnas das outras por linhas de dcm:1_0·c:)ç6.o tão f1.1,üivas que Iacil
mtnro eséupltm li,:, m;J.is sutis indagações 1.: deixam à meditação e à oontrovérsi
largó · .. ·
is ainda, entre as suas

l-

manum •....•.
rias são tratadas com ruais aténçào e intdigênria do que cm qualqui;r outra parte
do mundo.
Aj1,iri:s.diçãoi dos seus diferentes tribunais gerais e locais. de direito. de eqüi-
dade. de. a lmirantado e outrns, ainda é origem de fn:.qüeatc.s e cornplieada ••
discussôes. que denotam suficientemente quanto são indeterminados- os limite
g m.· ~epara.rn a.!i -atdbui~cs Ja~ autoridade, congêneres.
Não há lei nova Que 11:ã<'! po.-.~i"! dar lugar m indecisôcs t.: equívocos at;.é que ,o
seu verdadeiro sentido tenha sido determinado por uma. longa sêríe dê discussôes
e apl icaçóes particn lares:: e isto por mais. preci~o::. que sejam os termos em que füi
onccbída e por m:iii~ madura que fosse a deliberaoãn tom q, 1e [:r)i organizada.
Atém da obscuridade resultatU,;; da complicaçiio dos objt::i..m;. e dia lmperfeí-
,.ri.o das faculdades humanas, hú ainda novos embm-açm'l priWcnicnlL-s do meio de
q ue o:, homens se servem para comunicar os.seus sernimenros recípmcos.
A:-1 rmbwrns servem para exprimir as l<iéia~ L'.. portante. ~ preciso que rüi.,o .: •
u:,_ idêku; sejam dlsriruas e cL)!l'l\S, mas que selam e-xprimida~ com palavras d·r.sti:11
tas e que lhes. sejam cxclusívnrnente apropriadas.
Ora, nem hã lintua Lâo rica que tlfereca um termo pum cada idéia abstrato.
nem tão correta que possa exprimir wd:n, as iJ!!iU!s sem ~t: servir de termo,"
cq Lti vuco~.
i\s.sim. qualquer que tenha sido~ cxatidâo com que um ubjcu.i foi disculkf
pode viril ser ::i dctínir;ào LIH!x:ato peln impç,rfi.:ê~ão dm~ termos e,1~ ~,uc se apresen-
Lr~: e muuo mais td111.fo quand,, ~e trmu de um nbJ1:m l!'otnplir:~t<lo I! novo. A!é
quando o TOIJO PODEROSO ..• ~ digna ,ã comunicar :w~ homens :~ suas voma
des, ficu a suu ~,-.r,rt:S: ,'ãa. ião clnrn e lumint-1~:1 cerne .Jc.::ve; ser, de i.:crlO modo equi-
voca e obscura .. por causa da melo ppr que chi.: ~m1 ;'H~ n~):..
Há .. portamo, rrês CHU!i~H, dii! incorreção: indccisàt) 11,Js objicb"'~. impcrteiçm,
·no:. 6rg,iio:i, un pí!ns;u1rumto. in<:ulid~nci.t no. linguugom, Cuda uma dcst,0.5 trê
eausas deve ,~r f11'rn.hu.i1.lo um certo i.tmu de obscurldadei e a Cnnvençâo, para
tst,1hclecer ti! [inhn de dc111nr<.":l4-!:i~, emrc t1}11ri!'ldiq5.t'J, r~dc.:ra.1 ~ u dos lL'<lt!tclos. deve
ter cxperi mcnmdo ti efeito de 11.11.Jas.
A.s ,,.Hfícu ld ades ai ê flqui apontadas acrc.':~cc:mo,ni,~ ugoru 1,1.i,; dl fcJ·cn1ce-.
pretensões dos grandes e Jos J">equcrms Est.:ido:-,,
Se supusermo» que os printclros hfü1 ,k nretcnder mi ft1rm.aç&,1 do govern
uma pnrte rm>norci,onad::i d ~un riquezn i: irnnortânciu. ao mesmo rernpe que os
segundos ndô hfü, r.k ser menos t~n:ut::s cl<..t~ direitos a perfoitu igualdade que
arn~lmcnlc ,r.h::sfrnlorn. nãe iremos long.é' d:1 verdade,
evcrnes impor que fle111hu111 c.h.:h.:;'i rcrã qucrrdn ceder: e que :i q~1cstãõ nii
pô1.k.: ser 1!!irmin~d't11 :<,cnii" por meio Ji.:o 11rrmsnçõL:"': é mesmo extremarneme prová-
vel tJU~. depor~ que '1 questão da n.i;pre~e111a1;àL1 l"ni concertada, novas de~:,.v~nças
nascc-arn entre :u, panes, u fim de darem ta! organit.açào ao t1..Jven10 e â dâstríh1J,-
çã.o dos J1t),i,.l-,res que se concedes;;;;~ precisnrneruc mals importâacie, nqueE(lós ramos
c1T1 que cada urna havin uh-ti,.h• rnaiur ,!ZJtHJ de ínílu~nda.
,r lá dh.11osiu11os n;1 Consrlturçúo por onde :,; e prova a rcafüfade destas suposi-
õcs ~ por onde s~ vc quantas v~1.C:, fot preciso ;l Convenção sacrificar príncípk,s
a esrrnnbas (:f\11;'\lc.ft:rnçõcs_ -
O FEDERA.1..lSTA 117

E não é sorncnte a diferença de CAlcnz;iiçi •.muc os Estados que devia colocá


los em recíproca poslção: ourras combinnçiir;:s. resultantes de inLcrc~~es e situa
- cs particulares. devem I c.'"1- produzido novos obstáculos,
Do mesmo modo que um Estado qualquer é dividido em diferentes distrito
c cs seus cidadãos em classes diferentes. com interesses e ciúmes particulares.
assim as diferentes partes dos Et>t;;idos Unidos esmo separadas umas ú:a:ii outras
por um sem número de circunstâncias. semelhantes, que produaem o mesmo efei-
te. posto que em mais extensa escala: e posto que esta cíversicade de ínteresses.
pelas razões expostas noutro lugar, pode ter- benéfica influência sobre o governo.
depois de lormado, ~ evidente que deve Ler obrado de uma maneira: oposta no ar
de o formur.
Que 111~ra vi Ilia é. pois. q uc Ih' meio d~ 1 antas d ificuhiudes a C oo v~nçà
/isse muitas vezes nhrigad:i ;i apartar 'le daquela pr..:rfoiç:io tdc.il que o Lt.'i,nstn
cnzcnhuso concebe fli) silencio do ,:!ahinerc?
. . O que certamente espanta é que todas aH dificuldades fossem vencidas. ~·
"'>IITl uma unanimídade que não ern nadu d!! esperar

Ê im possí vcl que qu !! lg uer pessoa de piedade sincera refl ito nesta circuns
tância, ~e-111 parucipar da nosso adrniraçâo e sem reconhecer neste foto a mão do
TODO-PODEROSO, que tantas vezes assínalou a sua presença nos momentos
d.:t nol{s::1 revcluçâo,
Jâ vimos. cm um doa caouulos antecedentes. os inúld:,, ~srorço~ dcs Países
B!1ixos parn reformar vícios notórios da "IU:S Constlnriçâo: I! o histôrin de quas
t'l~
das as as~~mhl~iM dclihernntcs, t.:,;l1W()Ctid-t1r,, para rcun ir opln íi'iCb. npagar elu
e~. nâo :lfJl'L.:S<.!lfüL senão uma sêne de rrrrndc-;. de perndL,,
• pr'<'irria paro dur ,J mais rriste kli:1:J dt1 depravaçâo i: da fra_quL!l.,'1 dü
caráter humano.
~ po, aqui e por ali aluuns espctâculo-, nrnb lisonjr2íro~ ~!.! :tpn:sent.-im. tamo
1m11:.i ~enc;:ivl!J ~ o eontrnsrc: e i.c w examinam .:i.~ caus~~ deste pequeno numero d
•. n..::ci:s::iarkLmcnti; cendurldos ~1 duns ronclu'=iic.i; importantes: pri-
nvcnçiiu escapou por milagre il funcsu. inftui:-nc1~ do . :spirito dê
partido. 1 ii,, comum ;'1 l('.)Jrn; 111> corpos dclibi;mrr Lt.'.!t ,: qu.; ínfoli
vclrnentc o:-. ~urrorupc~ scgumfa. i1 ue ,l convicç;;h,i un nccessídade de sacrificar ao
~n, gcrn! lodosº" intcrc-:-;ci; t? opi11iõ(!., p.-rtic;ul.nrc:i-. ííbi111 como o th.:Sccngano de
que, novas demoras I! experiências nâo diminuiriam esta necessidade, foi a causa
que conciliem fin.rllmcnt,;: todos os deputados du Convenção,
e APíTuLo xxxix
[Conformddade do plano proposto eom os princípios republicanos.
reame de ums objecãol
(Por James Madi:son)

mais

governo
mas onde
naraula
herc
los. cão distantes uns dos outros como O:\! m<101c 1·op
pulavra república tem s,

xpressâo, recorrermo

tcmpórnr:io, a arbitri
E é da: essência que não uma só classe favorecida, mas que a maioria da
sociedade tenha parte em tat governo; porque de outro modo um corpo poderoso
de nobres, que exercitasse sobre o povo uma autoridade opressiva, ainda que
delegada, poderia reclamar paru si a honrosa denominação de- república.
É bas.lanJ.e, para que tal governo exista, que os administradores do poder
selam designados direta ou indiretamente pelo povo; mas sem esta condição, slne
qua non, qualquer governo popular que se organize nos Estados Unidos. embora
bem organizado e bem .administrado~ perderá infalivelmente tudo o caráter
republícuno.
Em diferentes Estados da União muitos dos fündonários do governo são
nomeados indiretamente só pelo povo; e na maior parte até o magistrado

cm que este modo de eleição estende a um do

rme ~os princípios rcpubli-

M'LS:
210
eleição de presidente é anual: mas cm nenhum
upremo sejn acusado e julgado: L! em Delawar
idcnre é inviolável durarue ,o pen'odo inteiro d· a
magísrrmur •..
No plano da Convenção n presidente dos Es.(ados Unidos não, o é nunc
Quanto aos juízes, depende u duração dos seus empregos do seu honrad
omportamcnto, e não podia ser de· outra maneira: e, pelo que diz respeito ao
oflclais ministeriais, deve fazer-se um regulamento particular sobre a duração dos
seus cargos, conforme com a razão do ciso e· com as constiroições dos Estados.
Se alguma outra prova se. pudesse pedir ~o caráter republicano deste sisre-
ma. uma que bastaria por todas é ._-L absoluta proibição ti.,: títulos de nobreza,
tanto no geverno federativo como nos dos Estudos. e a expressa garantia das for
mas republicanas a cada um dos últimos.
'"l'vhi.s nâo basta ·•• dizem o~ advcrsanos. "que n Convcrt,çào proposta adira ã
forma. republicana: ~ preciso que conserve ainda ru formasjederatfras. que do ~G
únicas: que podem fo7.e1 da Unijío urna Cunfeaeru.ç-ào de Hstad()s soberanos: e
comudo o governo nacional que !\C propõe não pode ter outro d"c:,w que o de uma
verdadeira consolidação. E com que direito se Ih esta ousada inovuçâo?"
O caso qo1.: ~e tem feito dcllLa 11hjeç;o merece yue n examinemos com rnuitn
par ticul arl i.J ude.
8em querer agora examinar 11t~ que ponto u distinção é exata. t! necessário,
para julgar da força do argumento, responder prrmerro que ludo a três qucsuos.
I ."' qual é o verdadeiro caráter do governo proposto:
V' ate que pm1(,, estava a Con vençâo nu Lürin1d,, para propô-lo;
," utê onde a rullá d~ autoridade legul podia ser suprrda pelo inte-re!:>se qu
a Cenvençâo d1wi;1 tomar pelo bem da pátria,
Prtmetr», Para hem deterrrunar o& verdadeiros caracteres de um governo, ~
preciso considerá lo. não ~ em relação ao pnncípio sobre que lbi estabclecitk
mas relativamente it origem dn -.e,J poder. na 11,n L' i.:>:Li.:ns:in dc<~L !'k'l<l1:r ~· ii allli.,
ridudc por que podem ~l.!1 feitas 2s rnudança« ruturas na Min nrl!:mizaçio,

t.:1'\ 11!.
ma.

nta
·n~
vo dlr c

o urnn 1~:-11;511
minoria, corm
ívidunis ou n
ntaue de rodos

tv:t e 'l'lfio naerenaí,


nsiderar aaora a origem ai: onde tis poderes ~r derivam.
O FEDERALISTA 12l

'.âo,:, ra d0:; Renrcsentsntcs deriva os seus do povo americano: e como o


povo [:_ nela representado precisamente na mesma pmp.1rç~o 411e na." legislaturas
de cada Estudo particular. o governo ,,1n-
este lado é nacional 1,; não federati
mas. corno por outra parte o Senadu recebe m -.cu~ poderes dos E:.st:i.dos:, como
cotpno,.; políticov iguais. t= no Congresso não têm mais represcntaçâo uns que
outros, nesrc segundo elemento do poder volta o governo nos pnnd pios

d1:i~,10 imediata tln presidente; f;


corno t:nrp,ls políticos indcpen-
dentes: porém i.l clr.:ivJl1 prl111ári
:m parte votam o~ r~t=idm: corno corpos igunis r indept:n<lcme$: em parte
corno membros Lli:,l:.rnais da me . • ma sociedade,
Se II pessoa cleim nâo reunir maioria ah~d11t1.1. das cinco que ríverem Lido
mais vou», csculhe 111m1 tl Câmara dos Deputados: mus neste caso particular <J
vou», si111 C'(.)Jll;.t<fo:- JlOm Est~do~. l!..!rn.l~) <t ucputai;ào de t.:~H.I« E:,rnuo um \'OLO. 3
s:,,1111. q11a1HL1 à eleiçâo d,1 presidente. a Iisiononua do governo é mist ••.
tendo ronludo tüv grnnde numero 1,.h; fc1~úc.:s nacionais c1,rnü/i:!detal11·0
~krtmJü o, :t(h,i:r.,úrim, J,:> plane} proposto, ri diferença entre g11\'t:fliu federa·
Liv~1 e: nacionnl t.'\lnSÍ'ilL' cm "-ILIC" n~, printeir« :., inj111,111çia do padc:t Jmiila S"''
~n111..:n te 1w:s CL"rrt.1!) con Fed crudov na sua c-:i:1.,;ien da p11lir1cu. ~ no .'il!l!Undo esren
tJc ~!! :1 c~ula cídad5o nn 'ilia cxrstcncia [1t1..liviJ11:1l.
~n<.:arr11H.h1 u C'on;,L.tluiç:i~t sub ~..,,e prin1.·ir,i0. ccrramcrue ~1 ,ti(Wcmn é naclo-
na! 1· nan )<'chw11ii,,,: m:i-: :'l.;.,.,.i,,1 m.:-:,mv 11~~l iuruu C()IU~) i1 1·" iurciru v iMa se pude:
rla super.
Frn mui

nos s1.:1.1.., mais

·11l;,rilmi:11!C' ,'l'11111'>rr;~11J1J,, ·~1,1 li;-r f1 1)f'lfh' li.,

11 L :mmm ,111•1 fl~pl1r.1Jw, llllll!l",1PI r ·~I c."llllllllJIIIII

:, 1;:1w r.lL• 1111,~uêm 1r1 11m1u1111. n ~trn C1h1tilr


icm rr1.1111r 11ún,..:r,1 J~ ,..,110,
l\fa,;, ~;.~·ullwndLI 11 r,rçi.1d~mc. 11• w10, ~t-1":t,1 1in11ado, ,.,,,r l·'iT:Vln n,í,, lr.fülil :-;l,1;1 r:..:t.1~11 ,cnúo u,n ~·~i10:,:,
nãc1 h:11.~ru ,:i-..J ~,; µ,::111 11i,:,n1h níio hom.r~ n,,.,1 ''" "'' ~Jt: uwa. tCl",;nr, ,Jv~ l~i,.t.rJn~. J)i'I kt pl',;1:,..,fJ U1!J<tUn
p.rrn l'lllcr l!' l'ul!111
! 111 11.>1.ll- .:;LMl. ,, pt,w.a que, ,,t!.,11,, ,b dL"1,-~.,. du rn.·,l(Ji.:n,~ 111 t!r 1;1111r 11úm~r11 L!i: \tH,1\, ~i:r;'1 ni::c t)re~,
,~cnto.!; t! ,e: twuvcr t.k•is ou m:11~ com lpulll mímL·ro de- "Oios."' S.:n,10111·srnlhL'f'á' por esernnnm um para \'IC<'·
re-Iuenre. 1~. µn T.1
ordinârios e essenciais procedimentos, é inegável a asserção dos adver:itrios de
que o governo naclona],
ê

Todavia, se o reconhecemos tal no uso dos seus poderes, ,re-lo-cmos mudar


de aspecto. considerandoa extensão desses poderes,
A idéia de governo nacional inclui não somente a idéia de autoridade sobre
os Indivíduos, mas ainda a de poder absoluto sobre todas as pessoas e sobre toda
as coisas que são objetos de um governo legil..Ímo.
um povo que- faça urna naçào somente, este poder pertence todo inteiro à
leaislatura nacional: mas numa confederação de sociedades, reunidas para obje-
particulares, parte pertence à legislatura. gcrn], parte às legislaturas

tribunal

leis da t.:on

inova·

rcçiio não SC' fun~a nem sobre um. nem


sobr
• calculando ns
propcrçôc

i melro do.s Estados, L,


tio nacional.
Assim. a Constituiçâo proposta. mesmo adorando os princípios invocados
pelos seus antagonistas, não é nem verdadeiramente Iederauva, nem verdadeira-
mente nacional, é um composto de ambas; nos princípios que lhe servem de base
e federativa: na origem dos seus poderes é mista ,e. participa dos caracteres do
dois governos; na operação destes poderes é nacional; na extensão deles: é federa-
ti va; n:1 maneira de introduzir as reformas nem é intcirameute federativa, nem
inteiramcnre nacional.
CAPÍTlJLO Vll
fEx:m11e e explicação dn principie da !".Bparaçâo dos poderes]

Depois de ter exanunado a forma gerul do governo ptopost.c e .a. massa geral
de poder que lhe compete, segue-se o exame d:i sua urganizução particutar e da
distrihu iç,ilo1.'"l dess;.i massa d~ p~idt!r pelas di ferentes partes de que o diío g-ovc.rm.i $é
compõe.
Repreende-se ~ Constituiçâo proposta (j lnfruçâo do principio pclítlco que
exiae a sepa r:aç·ão e JísLim;:ào dos poderes Lcgi :s lativo, Execut ívc e Judiciário.
Estn prccauçâo, tãq,; csscnclat iL lil1-er,hvJ1.· - di.zcrn -. f,1i inteirumerne des-
pr,e:1 a d A 1u1 Mr;.aniza.çâo ;in r,1,vcrnõ fedem l. onde os diferentes poderes se acham
distrihL11dL11:. e conrunLlic.lu:~ com (,!'.li exclusão de toda idéiti. de ordem ê simetria que
rnuitns das suas partes csscntinis ficam c:.;pom1.~ a s,c:r l!i,.tnta.gad.a!li pelo peso
desproporcionado de t1lguma~ outras.
Ni,, J1~ verdade p,i,:ilitkH de maior v:Llrn intrínseco. ULL escorauu por melhores
u.lorid~di!.~, do que aque ia cm q ue estn ohj c."ÇÜ·o ~·e funda: ti uc umuluçâo d11J:i.
poclc1·c;i; Li.:!!,i~h1Llvn. E:x\':i: :uliv~) I! Judicrâno nm: mãos de um sô individuo. i,ndl.':
umu ~ c:orpomção, sojtL por efeito de (;Onqu.ista nu de ctciçâo, cu11:s1irn~ nccessa-
riamente ,L tirania.
Pon.:mm• .se ~~ Corn1Lfl ui1;ão pmpu,i:;u1 se p1)dC' fazer n objeção de acumular
a~,-:i m os poderes nu de o~. misi urar J..: rnaneiru r, ue possa vir ~- resultar esu
acumulu~:1o. ê: precls.• 1 rc,:jdn-'.H ~ ~cm mais exame: mas muito enganado 11;:,;t01J c.11
,~e dc:..(L' capítulo nâo resu] Lur prova cri rnpleta de q ue " acusaçüo ~ 81ilm [unida
mente, e de que o principio que lhe serve deo h:"l~<: f:Oi mal ~ffLi.!iFltH~,.,: aindu pier
,,.plieil~fo.
Examin~moi primeiro cm que sentido é essencial 5 liberdade n separaçâo
d\1S t1'ês puderes principais.
O orúc~.lo sempre consuliado ,;:. s~mpr;: cit.aicl() neata nHIL~ria é Monrtisquicy,
Se eh: não é autor do mes1imht!I preceito d!.:' que folnmn~. pelo menos, tbi ele
quem melhor o dcscnv('lh'eu 1.: quem o recorrH.'fü.kHJ ele uma maneira mc1is efeuva
à atenção lio :gêntro huma
Comecemos por determinar o ::.c.:utido que se Ih~ lig •.•.
A Con~tituiçâo i.ngle~n era p,am M~ntesquieu. !;> c.JLH: é Homem para m,h,,) os
escritores d.mdáfü:1,s ~onrc poesia ~pica.
Do mesmo rno<io qm:: o:,; poe1n1i::-; do cantor J'i"!. Tróia [êm sido para c.>s ülti
mo,;; o modelo por excelência, de onde devem partir rodos es prir.i:cipios ,e todas as
]- J

obra« do nesrno gênero devem :-:e,· julgadas, assim ri escritor francês unha cnca-
rado ,\ Constituição inglesa corno o verdadoirn tipo dn líb{:rtladl' política. e nos
deu, na forma c.k verdades dementares. os princípio, carac1<;ris.ticos deste sistéma
anlcular: portanto, para termos toda a cencz.a de nos não enganarmos no verda
dciro sentido do princípio que ele estabeleceu. vamos procurá-lo na própria. ori-
gern de onde ele o tirou.
O mais ligl~irn exame tla Conslituiçio inglesa nos deixará convencidos d
que u~ três poderes, Lcgislauvo. Fxccutivo e- Judiciário, se nâo acham nela imei-
ramentc distintos ç separados, /\ magistratura executiva forma parte r:t1:nstih1imc
do Poder Legislativo.
prerrog:uiva de f:17cr tratados pertence exclusivamente ao primeiro poder:
porque todos C'1:-. que- fizer. salvo pequenas cxccç6e5. ficam tendo Força de atos
lezislativos.
!OdO!-i O or ele

~ forma 11w t1~1s seus cunsc

nstitu

corpo kJLisla-

rc.:i. 4u1: ~
suprema
te) mcsrnu tcrnp

ç,r nenhuma:
e pur sij

s juízes sejam delegados do Poder Executivt ..


Igualmente, ainda que dois dos membros da legislatura possam, reunido . ...
privar os juízes dos seus oficias, e que mesmo um dos três goze do Poder Judi
ciário cm última apelação, nem por lsso a legislatura inteira pode fazer atos, um
só que seja, judiciários. Finalmente, ainda que num dos membros. <la legislatura
o rei) resida o supremo poder executivo, e que outro, em caso de impeacbment,
possa julgar e condenar lodos os agentes subordinados ao Pçder Executivo, 11(;.m
por isso o corpo legislativo inteiro pode exercitar função alguma executiva,
.l\s razões em que Montesquieu funda o seu princípio são uma nova prova
do :-entido que ele quer dar-lhe. "Qun.ndo na mesma pessoa", diz ele "ou no
mesmo corpo de magistratura o Poder Legislativo está reunido ao Poder Executi
~o, não pode haver liberdade: porque pode temer-se que o mesmo monarca ou
enado faça leis tirânicas para Iiraniearnente executá-las. '1 E em ÔULra parn
resccnta: 1'Se o poder de julgar estivesse unido ao Poder Lcaístauvo. o poder
sobre a vida e liberdade dos cidadãos serio. arbitrário, porque o [ui: seria leglsla
dor; e se o poder de julgar estivesse u n, do ao Executivo. o jui: poderia tell' toda a
força de um opressor". Algumas destas razões acham-se mais particularmente
desenvolvidas noutras passagens, mas. por concisas ÇJ\JC: sejam aquelas de que nos
servimos, bastam para determinar o semido da célebre máxima do pubjicista
francês.
Se foi-mos examinar as constituicôes dos diferente

rcs legislativo e Execudv


mente com a dou trina d a
plano da Convenção. Tudo quanto ela exige 6 que um dos; poderes não exercite
completamente as atrihulçôes do outro; e de fato a Constituição, a testa da qual
ela se acha, admire a mistura parcial deles. O magistrado executivo goza do veto
sobre as decisões do corpo legislarivo, posto que com certas limitaçôcs; e o S1..ma-
do, que foz parte da legislatura, também é tribunal. em caso uc impeachment,
para os agentes do Poder Exec uuvo e par::i os juí zcs. Os jufaes. são nomeados pe]
Poder Executivo. que. do mesmo modo que na Inglaierra, pode privá-los dos seus
empregos. mediante urna mensagem das duas câmaras do corpo legislativo; e este
último nomeia todos os anos um certo número de: agentes. do governo. Portanto,
como a nomeação dos empregos, sobretudo dos do Poder Exccutjvo, é uma fun-
ção executiva, claro está que, ao menos nesta circunstância. a regra estabelecida
pelos redetores da Constituição roi inrringida por eles mesmos.
Passarei em silêncio as constituiçôcs de Rhodc Island e de Connecticut, por
terem sido formadas untes da revolução; e mesmo porq ue. na época cJ:a sua fo
mação, o princípio que vamos exami:n~ndo ainda não era (.ohjeco de discussã
olitiea,
.\ Constituição de Nova York nâo contém declnraçâo :] este respeito: mas
bem se vê, pela sua organ iaação, q ue quem a redig] u II ão fechou os olhos aos peri
gos da imprudente confusâo de: poderes: não cbstaruc isto, du ao magistrado exe-
cutivo~ assim corno aos juí1.ç:s, um certo grau de autoridade sobre os atos d
tor:po legistarivc. e reúne os depositários destes dois poderes para o exercício t.llai
mesma amotldadc. No seu conselho de norncaçâo o::: membros do corpo legiala-
tive acha rn-se associados ao Pod~r Exeeueivo paru u norncuçâo dos ernpregad
judiciúdos~ e o seu tribunal par~ os cases de iJnpeachmeru e corr
de um dos rarnoe da lcsishJ.Lur:i t.: dos principais rnem-

diferentes

dtário supremo do Poder


foição em que domin
nsclho executivo, é ele quem nomela o.~ mern-
tribunal de imptJaclmJ&J1!t para jui&ill' todos os
mpregados executivos e judíciãrios. ü~ juízes do tributt.rtl supremo e os juízes de
cm também ser pr;vadps dos seus oucios pela lcl;i.'31aLurn, que em. certo
casos exercita o puder de perdoar. pertencente ao Poder Executivo. Os membros
<lo conselho executivo sito ao mesmo tempo ex ojjicin juízes de r,1.12 em tod~ o
Estado.
Em Del:ni,,uc . .:. o supremo magbtrm.Jo executivo é anualmente eleito pel
corpo lcgi,1fotivo; eis presidentes elas duas câmaras sãn vice-presidentes cm repn.r
tição da L~xc,...:utivo: o Supremo Tribunal dr Apelação compõe-se do magistrado
executivo com xe rx pessoas. das quais cada Câmara nomeia ln'.'.~; e os outros jui
zes são nomeados pelo magistrad« executivo de acordo com o corpo Iegistativo.
Em todos ~1:-. 0111 ros Estados parece que os membros d:~ legislatura podem ~r H
mesmo- tempo juizos de paz: nestes são-no de direito não so os membros de urna
das Câmaras, mas mesmo u:-i. du conselho executivo. Os principais empregados
do Poder Executivo sàtl nomeados pela legislnturu; e uma das duas câmaras que
a compõem forma ~ tribunal de impeachment, Todn:i u8 empregados público'i
pedem ser destituído» i:.'11'1 conseqüência. de uma mensagem d~ legislatura,
Mar) l:mtl adotou 3 111.him~ de que se trata. sem resrriçâo algu1na. decla
rando "que 1.1. ~ puderes Lcgistativo. hxecutivn e Judiciário devem sempre ser sepa-
rados e disuntos uns dos outros" Lrurctnnto. pela sua Ccnsutuíçâo. n corpo
legisla I ivn nomeia o magi strado executivo, e este oi; JUtzc~.
Cúm,LiLuu;uu t.la Virginin cxplica-xe cm termos ainda mais claros. Eis aqui
que da diz ; "'0.!i- poderes Lcgi),,l:nivo. Executivo e Judiciário Jcvc111 xer de UÜ
medo separados t" distintos que nenhum xlelcs exercite ~s atribuiçôes do outro. e
que neohumu pessoa possa exercirar ao mcsrno tempo utribuiçôes de mais que de
um deles: eorn a única exceção d~ que os jUÍi"cS dos tribunais dos condados serão
cJc.:gívd:. por uma um; cúrnurux dr: Asscrnblêin", E. não obstante r~to. alem desta
cceçâo e~p~cr:i 1 ::1 respeito un1' membro . • dos tribunais inferiores. n lc~isJalUrn no-
meia o magistrado supremo assim como l, seu con~ellw executivo: fa~ dele sair de
três emtrês anos. por ,-,uhsLituição de outros, dois membros à sua escolha: nomeia
)S principn:s 1ific1:11:.; e."\cCLltivo~ ;,; jucfü:i:irms, e. num caso punicule r. cxereitr
Ji1 .:ilu dl.! p1:rtlo;1r,
n,liu.iit;~u J
iislauvo. F!\eçmivo e
d n n1."'lmt:.l1(,:ao
UC'l magistrado S:U!1rCn1ô. mus H dos i, executiva
judlclàrl
Na C'arolinn d<"l Sul () cMpo lçg:i~lathfo nomeia o magistrado
1od1.1s os empregados do Puder Exectmvu. até capuães dei 1':xé.rcitn
M arinha, assim como rnmh~m loi.fo:, os mcrn bros do C<1rj'>O j1,ir,fü:iârio, comprccn-
füJo~ Oi-1 ju.1zec1, de i,.11 e.: oi; seus xerifes,
Na Gt.:órgma. cujn Constuuícão dedura igualmeme "que as trcs repunições.
fegisl~ltiva. executivo e jwdictrtrLtl. devem sempre ser de mi modo separadas t! dis
Limas. que nenhuma delas exercite poderes que pertençam :1 outra", :i lcRisl:11L,ra
reenche m, lugares de ,'Ht"ibuic.;é"ic..~ exccurivas. nomela t'h, juir.i.;s de pa:,.: e 1cm o
direun de perdoar,
Citnndn rodas t.:.-.L~~ circunsrâncras, \!m que a separação compteia dos três
poderes não cem srdo observada, não quero defender a orgnruzação particular do
O FEDER lSTA 129

diferentes governos dos Estados: porque sei muito bem que no meio dos excelen-
cs princípios, proclamados pelus constimiçôcs respectlvas. aparecem vestígios
manifestos da precipitação. e mais ainda da inexperiência com que foram organi-
zadas, Sei que muitas vezes o prmcipio fundamental que ::;e examina tem si
infringido por demasiada confusâo, e mesmo por verdadeira consoiidaçâo dos
poderes; e que nunca se fez disposição eficaz para que fosse mantido em prática
oder proclamado cm teoria. A minhn intcnçâo tem sido fazer ver que a acusa-
cão. foi La à Constituiçâo, de infringir um principio sagracki para todo govcrn
livre. não é fundada nem 110 verdadeiro sentido atribuído a este princípio por seu
autor. ne1L1 ,rnqudc que atê aqui se lhe tem dado na América. Em outra ocasião
tomaremos a falar sobre este importante assunto.
---
13 HAMil.L TON-MAD!SON-J AY

ainda f muito menos favoráve 1 àq uela s: mas, atém destas considerações. há ainda
outras duas não menos importantes. particularmente aplicá veis ao sistema federal
da América, o qual. por meio delas. se apresenta debaixo de um novo ponto de
vista cheio de imercssc.
Primeira. Num.~ repú blica simples. todo autoridade delegada pelo povo [;
ionfiada a um aovcrno único. ctrj~s usurpações são prevenidas pela divisão do
poderes: mas na república c.mnpiJst.1 i:l.i América. não somente a autoricadc dele-
iada pelu povo ee;tíi dividida em dois governos bem distintos, mas " porção de
poder confiada a cada um deles é ainda subdividida em frações muito distintas e
separadas. Daqui ck,hrad,i segurança para os direitos <lo povo, porque cada
gtn·1..:r110 diferente, retido por Lodo}; ns ourrns nos seus limites constitucionais. se

i n.! ~1 maioria. ou me.


Ih- ''°snufos Unido:-;[)
O FEDER AL1STA

dele

rla se veriam
ndc11k d
,.k dúvida, Pdo
dos.
diíl

'<:, por mci•

,,11~111111~::-1111,1~11r,. 111.1•, ure ,:1111,;111[)1mr1,1 /lf'•ut·,, ., 11-:111,·,1,


•d, r Jvll',1-1• 1.J.i "'~,,rn.J:. •• d-: 1;,J ~11 im.:1pL<• 4JX. J,, T. I
- - ---
13(,. ~ AMl"LTON-MADJSO N-J AY

do povo ao~ seus constitulrues. Assim. :sl: pelo grau de libcrdudc ym: a lnglutcrrn
ainda hoje conserva. não ob:c,;tt111te a~ 'mas clcicôcs serenais. ~ apesar dos outro.
vícios da urganização do seu Parlamento. não pode pôr-se em dúvida que, rcstrin-
gindo-se a três. o período de sele anos e fazendo se ao mesmo tempo as outras
reformas. convenientes, a influencia do povo sobre os seus representantes cresce-
ia até tornar-se satisfatória: por muito mais forte ratão devemos pensar que a.,
eleicôes bienais com um sisrcrna íecfor~I não podem ser insuficientes para obter ii
dependência tão essencial em que a Cârn ara dos Representantes deve ficar dos
seus constituintes,
elei~ões na Irlanda foram •. llé estes últimos tempos reguladas pela únit.1
vontade tlu~ n.:b da Inglaterra. e quase se não renovavam senão por ucasião da
x:Jltnçiln de cada novo .sobcríl110. OtJ pur Ot:ài,iào de outro motivo igualmcmc
importante. O Parlamento que começou com Jorge IJ continuou tllurrmte; todo o
u reinado. oue se estentli.:u a coisa de trinta e cinco anos. A única dcpcndencia
ue este tinhu d;,:
do alnum :'.3

servava algurnn somoru


41.11.: pode rcsuluu du iruimidad

enais. Não clu,


O Fl::DER.AUSTA Ll7

merecimento purliculnr: ao coruruno. estou bem persuadido de que- as. circuns-


tâncias a q!-ic a Virgínia deveu ter tido a prioridade na revolução que nos condu-
ziu :i independência foram inteiramente casuais. Ainda menos. me persuado d
que s..: dq··o1,; defender o sistema das ckiç,:ucs serenais. porque visivelmente devem
ser mais freqüentes: mas quero sim plcsrnente que se cone lua que, se o período d
sete anos não teve nada de perigoso para a liberdade da Viri;tíriia. muito men
pode esperar S~ tj LIC O tenh am ::L~ fdeiÇU ~:, bicu ais,
Apontarei ainua três circunstâncias que servem para ronific~1r .:.1 autoridade
cJ~·sLt:H exemplos. r~m primeiro lugur, a Jcgislarura federal não deve ter senâo uma
par k; do supremo Poder Legixlativ», que ô Par lamento ua Ingtatcrrn exercita é
toda a sua plenhudc. e que, cum pequenas exceções. era exercitado pelas assem
bl~i:,~ ét~k)J11ais. i.: pelo Parlamento du Irlunda: e ~ regra ger:i! 4uc~ cr,e/t'ri~; pari-
w;, QUÍ1l~ rnai . • limmtildo r: um poder tanto menos perigo h~ cm estender-lhe
ternpu J)1)r que- durar. Em segundu lugur, já se ÍCl ver que, além da mlluêneia d
1HWC'I snhn: a legislarur» federal. <.k onde deve resultar a esta nsscrnbléia n mesma
rcstriçâo que aos outros corpos lcgi5lativrn,. terá chi de rnnís :i mais sobre si a
vigâl&nd:.i du~ uffc:1·c:1it~!> J i: ~i~Ju11,.iri:is col utcruis, 11 <.l uc L1:'\ 1JUlnJ!i corpos legi'llct
tiv<,s nfi.L1 rém, Finnlmcrnc, não pode haver Clltnp~1r:u,;~r, entre ox mcio.lii <lc qtie!
po.Jc.:di.o Jispor os membros m:tis permnncntes do governo. se deles quiserem
1·,w.:r uso para desviar o c:1.-:;1 dos representantes t.1:1~ sUtl~ iJbti!;l:.1\\\)cs paru com
povo, e aqueles porque rou~m inlluir sobre ~,u :.t~ li:im~loturns particulares: d··
maneira que, C(m, muito menos meios d;.: abusar. o Câmara J,1t,. Representante
~ lénltH,.'(~>C::- d e o f:ver. mas sera.
' :1 1 em
• d'1~:-ú. rnms
' v1g.m
. ' d :t )"l:_1r'~i qu
140 1IAMl1 TON-MADISON JA 'l

vas aos seus habitantes: I.'. exigiriam, por can:-.cq(iêm:ia. que os escravos fossem
por inteiro admitidos nu censo, i1 sernclhunçn do que acontece com ar;1.11el1.:s habl
tantos c1 quem os outros Es1.1Jo.s não concedem todos os direitos de cidudâo. N~(·
obstante isto. nãn é a observannia rigorosa do princípio tJU'-' favorece o t,J_LLC de:,;
exigem: tudo ü q ue pedem é nus seus adversários ~i mesma moderação. Se:j~1m os
esernvos c,nlsi<.lcruJo~ s .•.,b um ponto UI.'. ,·isLa particular: e cdotando Sl" o 1;xpe
díente proposto pela C' onvencâ». que os conxidera corno pessoas. mas colocadas
pela servidão abaixo da classe de cidadâns uvrcs, fiquem os escravos privados
dos três quintes dos seus direitos J."' humunidudc, i:i

•.1.111 p,1~11-r t'fl!cfl\1,,,- ~~,e r1u:1t'.rnf.1, e ,·,n :Jli.!r.il lúJu t"lite tupüulil, i! JlfC'C l'oil h:r r,ri:~~·nc( :a ~b11~11ln J.'1 .:!11
,L-.;.i" ~ • lk, .u L>}J.1~ 1 ," d.1 C"<111',l1luti,,1,1, 4~c: d1l. :ll~1111;
"f,'i~ru ~.: .1 ,, l!Ú1111,·1t> Ji. ri:rm.~l'.11i.i111,:-,. ~- U Ç.j llll-nrhJ.iút• ÚO\ lnhUJ<1, 1frr~!tl"i ili' c:11J1.1 f-.qm,11' ~"2,L111J.lc• u numc
r11 111•~ l1111,1t;111IL''. tf~t· ~a: ddi:rnun:m:i 1,J11numd,1 ,1-;; til'\. lt11incm. ,h,1, 1·~cr11vo" n1• m.u11~.• ., \lm, pi.:.,'iltih livre
mcluindo ü-.,,h,i1~-1úu~ a -.~r\it,) 1em1111r1ín'-', tllCnl•\ o~ indiv" n~ 1:1:1:.1d11~. r.•. c..i um1mJ."raçáo si:ró feit11 11nl~·~
1 l!rmn d,: tres !lílíl':, a ~on!i,t J:1 prim~'ll",'I ~1":i:;,cfnhlt<lll Llv C't111gn;~M), i,õ Ui(i Jll1í cJiJntC cfC' tfa7 f.'111 dez !lílllli,
p,:'ln 11iam.:1rn r,,r ~I"" ,,.,. t.1e1c-r,11111a11lc> pt•r ll:'i'. l l','. do 1 .J
O FEOERAtlST A E4J

à decisão dos membros confederados. Nestas constituições, ainda que os Estados


tenham cm teoria voto igual na Assembléia lcderal. vêm a rcr de fato difer'eate
influência. porque as suas resoluções -ubscqüente-, nâo t~rn todas na balança
mesmo peso: mas no pluno da. Convcnçâo as- decisôc!4 do Congr'çsso hão ue re
ber a sua execução. sem que para isso tcn ha lugar .a rníni ma intervençjio dos Estn
dos particulares. Estas decrsôcs liâo u..: ser formadas pela rrmioria dos votos d11
lcgislruura Icdernl, onde cada voto há de ter () mesmo valor. quer provenha UI!' um
~:-:1.uc.lo maior ou menor, mais rico ou mais pobre: do mesmo modo que. n:l legis-
latura de um Estado particulnr, os votos, individualmente dados pelos represe»-
1 antes de condados ou distritos desiguais. produzem precisamente 0 rnesrn
lo. sem mai::, diferença que u que resulta do caráter do individu
dLJ distrito que representa.
Tal ~ o argumento que ~e poderia invocar para defes
~uJ: aindu que um pouco exagerado a certos respeitos. e
me parece plenamente concludente a favor do modo tlt..: repr
·enc:'io nos propõe.
I\ auocão d~ urna medida

de quc :
L44 H A MILTON-MAD ISON-J A

nado oferecer um obstáculo à prevaricaeâo. porq ue Íúr'rt'la na Asscmbjêia Legisla


tiva uma parte distinta. participando ao mesmo tempo da autoridade da outra.
Com o Senado é nccc'.>,>Úda a concorrência de dois corpos diferentes para qual
quer plano de usurpação. que sem ele poderia ser executado pela corrupção de
um sú: t:. por conseqüêncía, é tão dara que a segurança do povo com a existência
d.o Senado é maior. que inútil parece demorarmo-nos mais tempo em demonstrá-
lo. J:'. note s,.; que, sendo ri Jific11tôade de concerto entre o:,; dors corpos. para pr
jdo.:. cuntritrios ao ÜHt:n;,5:;.-c público. proporcional à dllercnça de máximas, uc
espinto e de .::ari~tcr de cada um deles, 6 boa polilic:a estabelecer entre os dois
iodas aquelas uiícrcn,;a::i que forem compatívci» com a harmonia das medidas do
governo e com os prin ct pios ~~fluí nci~ de 0111 goi, erno rcpu blicano.
r..G U NDO. A ncc..:,;sid:11:k do Senado é lgualmcmc indicada pela tendência
de todas as assembleias únicas e numerosas a ceder ao impulse dã1'. paixões súhi-
tas e violentas, que tantax ,•(;'1.~..: se desenvolvem no xcu seio.~ pela funesta Iacili-
ade com q Ltc podem ser arrastadas 1>0r chefes facciosos ~t rc.~ol Uí;<>cs precipi
ti:rdo~ i.: imprudentes, Numeroso ... f:itos. turno domésucos como alheios, pediam
servir de prova a esta asscrçâo: mas, corno cl:i não rode sei' cornbutida. inúL~I 6
dc:mQ111strá ln: h.Ji:füt notar que. parn que o Senaco possa corrigir o:,;. dcftik.H, da
C ámara dos Reprcscnt:mJ cs, ~ preciso que o~ n fio tenha: de onde, sem outr
; segue que não deve ser t.:'k, n urnero ...;<l, f:. sobretudo. preciso que
firmeza; e, per t!~lc motivo, cumpre que u sua autoridade dure mai~

segura ao
povo repr
O FEDERAUST 145

QUARTO. A. inconstância inevitável nas disposições de uma Asscrnbl~ia


Legi:füHiva freqüentemente renovada. par qualquer maneira que isso tenha Iugar,
rige no governo ..- existência de algum elemento menos instável, Cada eleição
nova que nos Estados se faz importa a mudança de metade dos seus represen-
antes, e. portanto. mudança de opiniões~ de medidas; mas, mudança contínua de
medidas, embora justificada, nem é coisa prudente, nem pode ser proveitosa, A
experiência o mostra na vida particular e nos aegôcios públicos por muito mais
forte moti vo.
Seriam precisos volumes para apontar todas. .a.,c: mâs conseqüências da
inconstância dos governos: indicarei somente algumas de que uma infinidade de
outras pode ser resu Itado.
Ei
L46 HAM1LTON-MADISON-J AY

Sob outro ponto de vista, são ainda mais graves os prejuízos de um governo
instável. A Iaha de confiança no corpo legislativo não pode senão desanimar
todas as empresas úteis, cujo resultado depende da estabilidade das leis existen-
rcs. Qual será o comereiame sensato que vai arriscar n sua fortuna num ramo de
omêrcio, quando souber que os planos que adotou podem ser contrários à lei,
antes de terem execução'? Que fabricante ou fazendeiru irá expor os seus fundo
ou comprometer g seu trabalho para-fazer algum estabelecimento ou melhorar
algum gênero de indústria sem ter a certeza de que os seus primeiros esforços ou
sacrifícios não hão de ~r vitima da inconstância do governo? Numa pulavra, não
há rnelhornmcato ~ empresa que possam ir para a frenlc com um governo sem
prtncípios constantes e permanentes.
O mais deplorável efeito da inconstância do governo é. porém. a perda do,
respeito e da afeição do povo para um sistem« político que mostra tanta fraqueza
e engana tantas esperanças. Nenhum governo merece respeito sem que mereça ser
respeitado, ê não é p<)J:i,-;Ív~1 merecê-lo sem um certo graui d.., ordem e d
constáncia,
CAPÍTULO LXIII
[Continuação do mesmo assunto]

'Por A. Hamilton ouJ. Ma<lisorr)

Uma nova consideração. que fa1 sentir a necessidade do Senado, é que sem
sentirneruo do caráter nacional, Sem um el

rpo
1 tivesse

i.!. que a outn


i~8 HA TON-MADTSON-JAY

governo para com o povo. Talvez alguém julgue isso um paradoxo; mas a expli-
um teorema tão incontestável corno digno

1i m d

p
O FEDERALISTA

nía das suas próprias paixões. pelo emprego de um tão poderoso recurso! Se
assim fosse. não se estaria hoje repreendendo a liberdade popular o ter feito beber
a cicuta aos mesmos, cidadãos a quem elevou estátuas no outro dja,
Talvez se diga que um povo. espalhado numa vasta região. não pode, como
os numerosos habitantes de um pequeno distrito, ser infectado de violentas pai-
'.Ões e coalízar-se para ti execução de projetos injustos, Bem longe de querer pôr
em dúvida a importância desta distinçâc. jà num dos capitules antecedentes. fii.
ver que esta precisamente ~ urna das mais irnoortames vantagens do sistema fede-
rativo; mas esta importante vantagem não dispensa u emprego de outras cautelas.
Se a extensão da América defende l'l.i.; seus habitun~es dos perigos a que se acha
expostas a:'> pequenas repúblicas. expõe-nos. por outra parte. ã longa influência
daquelas insinuações pérfidas que os arlificios concertados d.05 Intrigantes podem
espalhar pd<, meio deles.
1:50

ciar-lhe o valor: observei, contudo, que a ignorância das antigas re-públicas, ares-
peito do sistema representativo, nâ<~ era cão grande corno geralmente se pensa; e.
para prová-lo. basta apontar um pequeno número de fatos.
Nas mais puras demucr~cim; da Grécia. muitas dias funções executivas eram
desempenhadas, não pelo povo. mas por magistradcs da sua escolha, que o repre-
sentavam no exercício do Poder Exeeutivo.
Antes da reforma de Sólon. era Atenas governada por nove arcontes,
nomeados anualmente pelo povo: o grau de poder que lhes competia perde-se na.
noite dos. tempos. Depois desta época, acha-se uma assembléia composta, primei-
ro, de quatrcccntos e depois de seiscentos membros, eleitos anualmente peto
povo, que o representavam parcialmente no cxcr.:;Í.;;io do Poder Lt!gülaliFo; por-
que não só faziam as leis conjuntamente com o povo. mas atê tinhum o direito
exclusivo de as propor. O Senado de Cartago, fosse qual fosse a extensão do seu:
Poder e a duraçâo das suas funções. e certo que era eleito pelo povo: e todos ou
quase todo.~ os governos populares da Antiguidade rHJS oferecem circcnsrâncía
da mesma natureza.
::-m E$putw havia êforos: em Roma havia tribunos: corpos na realidade
s. mas eteüos todos os anos pr'!!ç totalidade do povo, e desrinad
a representá-lo no exercício de um poder que quase não reconhecia limites.

s, porém,
152 AMlL"tON-MADISON-JAY

constantemente fazendo: e que não pode perocr, par um momento que seja, t
apoio do rei. sem ficar no mesmo momento esmagado pelos Comuns,
Os exemplos da Antiguidade confirmam esta opinião. Em Espartá. todo o
mundo sabe por que guisa os representantes anuais do povo. ou os êforos. contra-
balançaram o poder do Senado vitalício, usurparam succssivarnenre a sua autori-
dade: e acabaram por concentrar nas suas mãos Lodos os poderes. Os tribunos
romanos, que-tarnbêm eram representantes do povo, levaram quase sempre vanta-
gem nas suas desavenças com o Senado vitalicic e por Ílm de comas acabaram
por rri un t"il r dele; fato ta nto mujs digno de ponderação quanto, aínca depois de o
número dos tribunos ter sido elevado a dez. nenhum dos seus atos podia ter segua
mente sem a condiçâu indispeasàvet de absoluta unanimkl3-die de lodo o corpo
tribunicío. l'âo irn.:ststh•el força h f, de ter sempre cm tmJo país livre u membro do
governo que tiver ó povo da sua parte 1 A todos estes exemplos pode acrescentar-
$C- 11 de Cartago, cujo Scrludo. segundo o testemunho de Poííbie, bem longl' d
poder rnv:1d1r todos os poderes, já pelos princípios da Segunda Guerra Púnica
a petJiuu quuse toda a autoridade que de princípio tivera.
~lc:;i. foto.s nos demonstrum que não e possíve: que o Senado do Uniüu
venha l'I mrn~forrnar-s.e em corpo independente e aristocrático: entretanto, se, por
c.:111~;.1:, que il prudência humana nâo pode prever, r.;stL1 revotução vier um di
IU!Z,ar. J C amara dos keprescnrantes, cora lndü ~ pt'v~, <,h1 suu parte, de
u tempo ter ba::a.amc forçn paro ri.:sliluir a Constitulçâo ~los principio
nem mesmo o Scm,dc, p,1tlcr/1 de-tender a sua nL1toridntlc lego) comra
reseruantcs lmcl.li,H1Js do povo, senão por meio de uma f''1lit1ca Lào !h.1strn...i~ e
te um tal Leio pelo b~m público, que lhe faça LC.:I!' parte na nJciçãu t! ~immuias uo
povo. naturalmente tcnidcntes parn o~ primeiros,
CAPÍTULO LXVII
[Da autoridade do presidente. ArtiJfoiu com que se pretende
inimizar ai opinião pública com este artigo da Constituição J
(Por A lexandor Hamllloe)

í_!!anb.açào do Poder Executivo. segundo n, plano que

seus autores prestassem


rão srances dificulda

lo imp~-._.,, 1irft uq1,11Jl,.;s que prueururn


1 rei da lnglarerra e o rm."sidcnLc ,.fos
m, putaç.io Uõ desru i,;J.ivcí.-. meios rin.crrú~ ern mm para chegar ao fim q uo -:e preteri
154 A MIL TON-M AD ISO

de'? Citarei para exemplo a temeridade com que se censurou um poder concedid
ao presidente dos Estados Unidos, o qual. pelo próprio texto da Co11F:tituiçào, é
evideneementc confiado à autoridade executiva de cada E'lLado particular. Falo
o poder de preencher as vagas que acidental mente possam vir a ter lugar no
Senado.
Um escritor estimado no seu partido. qualquer que seja o seu merecíment
obre a credulidade dos seus concidadâos: e deste
mal fundadas.

do seg un<lo artigo dá ao preslden ie


de nomear. com o conscnlimcnto do
úblicos. os cônsules, juízes da Supre-
Estados

forem

ade suplemento do precedente,


., nele designados, com os quais os d
Terceiro:Segundo a. leva da cláusula. a duração deste puder ê restringida
ao« intervalos das sessães dn Senado e a das comissões até o fim. tia _tf!Ssiio ime-
diat». Logo. se nela ~e tratasse de senadores, o puder de prover os Iugares vagos
teria sido concedido para os intervalos das sessões. das legislaturas dos :Estados.
que são os que fazem definitivamente estas nomeações, e não para os intervalos
das sessões do Senado nacional. que nisso não tem a mínima intervenção; e pelo
mesmo motivo a duração dos empregos temporários teria sido atê o fim da pró
xima sessão da legislatura do Estado a que pertencesse a vaga de q11.Le se tratasse.
e não até o fim da do Senado nacional, Que a modificação do poder relativo às
nomeações temporárias devia ser regulada pelas circunstancias do corpo autori-
zado para fazer as. permanentes, não pode entrar em dúvida; e como aqui se trata
ó dC') Senado. claro está que os empregos indicados não são senão aqueles par
cuj a nomeação o Senado concorre com ü presidente, De resto, a primeira e segun-
da cláusulas da terceira sessâo previnem e destroem toda possibilidade;: de dúvida,
Diz a primeira que o Senado dos Estados Unidos scrfi composto de doi~
senadores por cada Estado, eleitos para seis anos: . .: manda a segunda que. se.
"durante os íntervulos das sessôes legislativas dos Estados particulares", vier a
haver vagas. o~ governos "respectivos" as proverão por meio de comissões
ccmporárias, cujo efeito durará "3.1.ê a próxima reunião ela legislatura... Aqui se vê
em termos precisos o c'Jirci~o dado no Poder ~!l!e.cuti"'º dos Es~ados, de prover as
vagas do Senado f)M comissões temporúrius: e. portamo, não pode supor-se que
ste direito. pela cláusula antecedentcrnentc considerada. pertença ao presidente.
nclulrei, pois. que ião ínsôlna imputaçâo. que nem :10 menos pode corar-
al.gu1n. pretexto plausível. embora os sofismas da hipocrisia se esforcem para
atenuar a verdade, só pedia nascer do projeto de enganar o p
Escolhí d<: propó.silO C$LC' exemplo pura prova da perfidia posta em uso par
n sobre o merecimento da Constituiçâo que!
ma S·CVCridade pouca conform
mbrneter ao juízo de quu]
(> pulevras u
ver os meios que se emprc
gam
CAPÍTULO LXX
[Cominuaçâo do mesmo assunto. Unidade do Poder Executivo.
Exame do pr-ojctu de um conselho executivo l

{Por A lcxander Hamilton)

Poder Executivo ~ incomparívcl com a


índ cnerzia do Poder Executivo é um dos
ta circunstância ê tão

pC'S$0~LS.
arccendo-lhcs que o v.gor 1.: uuulidane essencial :10 primeiro, qm . • erar
segurá-la deixnndo-o nas rn:ius de mn ,ó; mas cnrendernm que !I autoridade legls-
lal iva não poderia vigiar convcnienrerneme os. interesses do povo e conciliar se a
sua confi ança sem prudenre discussão e deliberação refletida. Que ,'l energía '
O FEDERALISTA

filha da unldade, não pode en trar cm dúvida: a decisão, a atividade. o segredo. a


dfügéncia, nâo podem esperar-se senáo das operações de Lu'.rl homem sô, e qui:tnt,
mais numeroso for o corpo de que emanarem os atos do Poder Executivo, tanto
mais eles se rcssentirâo dos inconvenicmcs opostos.
A unidade pode ser alterada ou destruída por duas causas diferentes: ou
dividindo a autoridade entre dois ou mais magistrados iguais. entre sí, ou pare-
cendo dcpesitá-la nas mãos de um i;Ó homem. mas sujeitando-o à flscalizaçâo de
algumas pessoas e prescrevendo-lhe cooperadores debaixo do nome de conselhei
ros. Da primeira circunstância pode servir de exemplo Roma, onde .a aueoridade
estava te-partida entre dois cônsules: d~ se~unda. a. maior parte dos Estados da
União: apenas em Nova York e Nova Jersey o Poder Fxecutívo pertence inteira-
mente a L1m homem só. e Ambos t:stct'.> métodos clr.: destruir a unidade du Pud
Executivo têm tido seus partidistas: a maior parte. porêm, <los que assim pensam
inslstc no conselho tfo execução, Examinaremov nl:i dois slsternns ao mesmo
tempo, porque a muitos respeitos podem ser cnmhatidns. pclu:,, mesmas objcçêcs.
experiéncia das outras nações pouco nf\s diz n este rc'-peito; nlà.f-t tudos as
fat0s hOS ensinam {r não adorar pluralidade n,) poder encarregado da execuçâ
das leis. Os. aqueus não ~:1rdararn a abolir 11m ,.!<>~. dnis preteres ciuc tinham esta-
belccidn. A hLSt\Jrca romana mostra a cada morncn to as desgraças causadas pcl»
divisâo dos cônsules e dos trtbunos militares que lhes sucederam, ~ ~m nenhum,
caslâo se norn vantagem ulgurnn que :-:e r,c-.si.;.i atribuir tt plurnlidudc dos magis-
rrados executivos. É mesmo de espantar não ver rnats funestas cor1set1íi~ncins de
telhantes: o que. coruudo, a respeito de Roma. ~e pode explicar pcl
ircunstâncias singulares cm que u repúbhc» .,.~ achava
LJ necessidade de prover ô. sua segurança - tinham

epartir a autoridade entre o.:: cônsules,

ouvir

1
TI certo que C!1il mnln,, IN i,:~w..r~~ .,iecu\-ih11 111 t~. v 1.h: ."l,lrn Yr,11. 5u tcrn d,;d1·1d.id:
p.ar.a v un 1,;(1 fim J.a; 11o111c!!i;~n dos tmprcgos; Jçr.~e}' -ç1'3dt o ir0vi:mridor oomul1.ti lo. m:"I, nàQ ~
,'1rl !a!rlili.l 11 ,~gu1r :,~ suns Licci~.:i;.. 1 N, do r.)
158 Mil. TON-MADISON-IAY

causas devem
isto se verifica
1 .J ;r

ua tendân

. .•

" ª'
is nor tudo quanto a
J.60 HAMILTON-MADTSON-JAY

tá las. e é perfeitamente absoluto no excrcicio do seu poder. Numa república.


porém, em que cada. magistrado ~ pessoalmente responsável. ~s razões que se ale-
gam cm favor do conselho adjunto un rei da Grã-Bretanha não "6 não têm aplica-
ção, mas até se tornam em favor da npiniào contrária. Na Inglaterra. o conselho
upre a responsabilidade do monarca e serve. por assim dizer. de refém it naçâc
bre o seu procedimento; mas. na América. 'um semelhante conselho não fa.ri·'
.,,;-n210 debilitar a responsabilidade do magistrado.
idêia de um conselho não pode ter outro fundamento senão este ciume
republicano que cuida achar segurança na divisâo do poder que o assusta, É urna
máxima que cem mais de perigoso <lo QUe útil e que. aplicado ~o Poder Executivo
r: absolutamente inadrnissivel, E r1i~111 sou da opinião de Lolmê. escritor que o ~'
lebre Júnio chama engenhoso, prnftmdo e sálida. ··o Poder Executivo". &,. ele.
"pode mais facilrncrne ser reprinudn, quando e úmco": isto t'. t.1u:tnck• for único
,,b_iet1..11 d:1 inq ui t:t~1çiio e i.:L:_1
Uma só consldcracã
lurnlidud

tio que qual

ilté dnze

Lembro me (e com isto acf1ho) que. longo tempo antes de se traear


Çon~thuiçào, raras vezes me acontecia encontrar um lmmcm sensato, de qual
uer nrovmcia que fosse. que, pela sua própria experiência, não coM.ider:as,sc a
unidad» no Poucr Executivo deste .E~ti.U.lo de Nova York como urna das mais bri-
lhantcs feições. da nossa Constituição.
CAPÍ'ruLo LXXVIII
[Da inamovibilidade do Poder J udiciâri

(Por A texander Hamilton

ra a organizaçào do Poder Judiciário. segundo o plan

odn de n, ,_

anpregos. quer dizer. por


mpetcrn,

reia-

r que,
162 HAM[L TON-MADISON-J

e o depositérío da força pública; o Legislativo dispõe- da bolsa de todos e decide


dos direitos e uo~ deveres dos cidadãos: mas o Judiciário não dispõe da bolsa
nem da espada e não pode tomar nenhuma rcsoluçâo ativa, Sem/orça e sem votl'·
tade, apenas lhe compete juizn; j,! este ~ deve a sua eficácia ao socorro do Poder
Executivo.
Já esta simples observação nos habilita a estabelecer os principios seguintes:
1) que o Poder Judiciário é sem questão alguma o ruais fraco dos três: 2)que,por
isso mesmo, não pode atacar nenhum dos dais outros com boa esperança de
resultado: 3) que é preciso dar-lhe todos OS; meios possíveis para poder dcfondcr-
.,c dos outros dois, Segue-se mais; que ainda que os tribunais de Justiça possan
i\1lg11mas vezes excitar algum :1to de opressâo individual, nunca podem pôt cm pi.:·
rigo a liberdade gera], ao menos enquanto o Poder J11.1diciá,no estiver conveniente-
mente sepurndo dos outros dois, porque é preciso concordar oom Montesquieu.
quê nân pode haver liberdade onde o poder de julgar nào estiver bem separado do
de: fazer :1s leis e do de as executar. Segue-se, flnalmentc, que, como a liberdade
nado 1ern que temer do partido judiciário sczlaho, e tudo que recear da sua união
com qualquer dos dois outros - como a dependência em QUC de se achasse de
um dele" eroduxiria todos os efeitos de uma verdadeira união. apesar de uma
maria ilusória e nominal-. e-orno. pcl
Poder Judiciário c-stií sernnre l~A'I n,,rill'H.IC ser intimida

·, particulurmcnte essen
Liluiçào que limita ,

ibunai
J
tivo: porque ~e pensa q1,1C! de semelham
rodcr Judicrário sobre a l'egislatuni. vis
nulos os atos de outrn sem que Ilhe seja neccss
nina e: ue grande importância em todas as constituiçôe •.•.• n
. o;cr'
forn de propôslto discutlr us prtnciplos ern que se ronda.
Todo ato de uma amoridade delegada, co11Lr.l1io aos termos da. comlssão. ·
nulo. Hst.ci principio ~ iml\lbilitvel: e. ponanto, lodo mo do corpo legislativo, con-
trário à Consuruíção. não pode- ter validade. Negar isto seria o mesmo que díze
que o delegado é superior ao constituinte. o criado no amo. os repl'cscman:t.cs do
O ffil)ERALISTA 1,6:]
l64 HAMlLTON-MAD]SON-J A

Pouco valeria objetar que os triarmais de judicatura. com o pretexto de


contradiçâo. poderão substituir a sua vontade às instituições constitucionais da
legislatura: o mesmo poderia acontecer com a decisão entre dois estatutos contra-
ditórios ou mesmo na aplicação de um só estatuto. Que os tribunais devem decla-
rar ,u sentido da LeL é coisa indubitável: ora, se eles estivessem dispostos a exerci-
tar vontade cm lugar de j"&{fro. em q ualqucr ocasião poderiam substituir as suas
intenções às do corpo legislativo. Já s~ vê que esta observação não prova nada;
ou.. se provasse alguma coisa, seria que não deve haver juízes separados do co
legislativo.
Portamo. se

c1 r aos j uíze

uc a indepen-

:ra circun •.. -


tância deve influir sobre o espi rito do nosso governo mais do que se pensa; já em
mais de um dos nossos Estados se experimentaram a~ vantagens: da integridade e
moderação dos juízes; e, apesar do descontcntamenro que ela causou àqueles que
haviam concebido projetos sinistros, nem por isso deixou de encontrar estima e
aprovação em todos os homens desinteressados e virtuosos. Nem é preciso maí
do que dar ouvidos às regras da prudência ordinária para prezar altamente tudo
o- que pede fortificar esta disposição dos juízes; porque ninguém pude ter a cen
za de que: não h:á de ser vítima amanhã da injustiça de que hoje se aproveita: e
todo o mundo deve sentir que o efeito de semelhante espírito não pode ser outro
do que o de destruir os fundamentos de toda a confiança pública e- particular.
-ubst-ituj11do-lhe a desconfiança e a miséria geral,
Este apego constante e invencível à Constiruiçâc e aos direitos iirlclividua.is,
indispensável nos tribunaís de Justiça. não pode certamente achar-se eQJ juízes d:1.?
comissão temporária: de qualquer modo e por quem quer que as norneãçôes
periódicas Iossem feitas, em todo caso não poderia deixar de ser nocivo o seu efci-
to à independência indispensável aos juízes. Si;S o direito de elegê-los fosse con-
fiado ao Poder Executivo ou ao Legi!l1ativo. ou a ambos juntos, haveria notável
per:ig~1 de ccndescendêncía ou de- colisão com o corpo que o possuísse. em toda.
11:s suas prcrensôes injustas: se se deixasse ao ptn1t.1 ou a pessoas especlalmeme
escolbidas para este fim. o desejo de adquirir popularidade nâo podia deixar de
influir dcsvanrsjesemente sobre a .adesão~ que deve ser inalterável, à Constituiçã

para admitir a permanência dos crnpre


uitas veie
HAMlLTON-MADJSONPJAY

das; funções do juiz depende do seu bom procedimento; e que, bem longe de ser
censurável a este respeito. indesculpavelmente vicioso teria sído o seu plano. ser
esta instituiçâo, essencial ~L todo bom governo. O exemplo da Inglaterra é muito
boa prova do quanto ela tem de excelente.
CAPÍTULO LXXXIV
lObj~ções mistas]

enho

rpus só poderá ser


cgurança públi
, .. : ·· Não poderá pãii.~1.1r bilJ d"auaindel', 01,1 lei 1..k efeito
rctroati v - "
Cláusula 7.s'; "Os Estados Unidos não poderão conceder títulos de nobreza:
e nenhuma pessoa. q uc, debaixo da sua autoridade. exercitar emprego lucrativo ou
16-8 HAMJLTON-MADESON~JAY

oas contestes, ou
111·7

; "Nós, o povo dos Estados Unidos. para assegurar a


beneficio da liberdade. Lemos ordenado e estabelecid
Estados. Unidos da Am~dca ,._ c-ont(~~m um reconhect-


de
170 llAMlLTON-M,AD[SON-JAY

E por esta ocusiâo acrescentarei algumas observações a respeito da liber-


dade de imprensa. Nem a nossa Con:;tituiçào diz. dela uma palavra, nem as dos
outros Estaclos contêm a este respeito disposição eficaz. Que quer dizer. por
exemplo, a declaração de que ··a liberdade de imprensa será ínviolavetmenro man-
tida'!" Que coisa é. liberdade de imprc.:nsa? Quem pode dar a este respeito urna
definição qu,e não deixe pretexto à má-fé? Sustento Que é coisa impossívck e con-
cluo desta impossibilidade que a manutcnçjio <lesta liberdade! apesar de todas a·'
belas declarações inseridas em qualquer Consrituiçâo para segurá-la, há de sern-
pre depender da opinião pública i: do espírito geral do povo e do governo, únicas
bases sólidas de todos os nossos direitos.

c:.:.tc respeito nao p


nbjctn.
Há aind

não há ncccssi-
V 1&_·L.:..LJ'.L:.-.l'..ttJ... Q.l!'t. 1"11

de Nova York? De observação pessoal não podem esperar coisa alguma; porque
essa só pode ser feita pelos habitantes dos lugares cm que a legislatura reside. Em
conseqüência disto, não tem outro rernêdio senão fiar-se nas informaçóes de ho-
mens inteligentes cm que confiem; mas como hão de estes últimos obter a.~ sua
informações? Examinando as medidas do governo, por meio da imprensa; corres-
pondendo-se com os seus representantes ou com outras pessoas residentes: no
lugar das deliberaçôes. Todos estes. meios de informar-se do procedimento dos
seus representantes na legislatura nacional terá o povo à sua disposição; e. quan-
to à tardança das comunicações ocasionada pela dlstâocía. essa será contraba-
lançada pela vigilância dos governos dos Estados. Os depo-sit~rius dos poderes
Executivo e Legisl3tivo em cada Estado serão outras; tantas: sen rinelas postas às
pessoas empregadas aos diferentes ramos da administração nacional; 1;; como ele,
devem ter sempre entre si correspondência regular e detiva, ~,à.o podem Ler falta
de rneKJs de se informar do ccmoortarncnte dos represemanjes e de o fazer F:~ber
ao povo. A única riv~1lid:1de de poder é quanto basta para os dispor a informar â
nação de tudo quanto o governo federal puder fazer de contrário aos seus interes-
ses; e é bem de crer que. por este- meio, o povo lift de ter mais exa tu conhecimento
<lo comportamento dos seus representantes no _gnvcrn~) nacional que do dos mem
bros d:1 legisluturu do seu próprio ~i>lado.
cvirta-sc. alem disto, que os habitantes da residência do governo e suas
imcdiaçucs devem ter tanto interesse nas questões relativas ~"t liber&lc:fe- ~ prospcri-
dade geral como o~ dos mai5 apartados: e que por isso mesmo não si.; devei
achar menos prontos que os primeiros :, dar rebate 110s outros, e a chamar
indiunação pübJica sobre us autores de qualquer proJ~to pernicioso. Por outro
• a., lê'llhmi públicas Ievarílo us notícias á toda pnrtc com toda :i. pronudào que
ror possível.
1:n rtc \'Úria.
exrruo rdinária de
ração rctatlva às
como também concordam em q uc o governo nacional deve ser investido de novos.
(,; mais extensos poderes. que, por não poderem ser confíados a um corpo único,
xigern uma: nova aíganizaçào dó governo federal Isto posto. é preciso abando-
nar de 'Lodo a questão da despesa, porque sem comprometer a segurança pública.
não se pode diminuir a extensão das bases do novo· sistema, A.s. duas câmaras não
d evem constar por ora senao -d e sessenta e crnco
'· mern b FOs, numero
' .. el
que nao
superior ao dos membros do Congresso atual. É certo que: este número há de ser
progressivamente aumentado; mas este aumento há de ir Lendo lugar na mesma
razão do aumento de população e de riqueza do país. É supérfluo advertir que,
ainda mesmo agora, seria insuficiente menor número de deputados; é que, quando
com O tempo tiver crescído a ropul::1çio,. 0 mesmo nómcro representará incom-
pletamente o povo.
E de onde pode provir este aumento de despesa que se receia? Diz-se que da
multídão de empregados que deve. exisfü adotando-se o novo governo. Veiamo

tual, é evidente que são os


ções, deve achar-se mais tempo reunido. Só esta dlífer,ença entre a duração das
funções do Congresso atual e a das do futuro produzirá urna economia mui consí
derâvel nas despesas públicas. até o momento em que o número dos membros da
Câmara dos Representantes vier a ser oomid.eravelmcnte maior.
Outra circunstâncía, não menos digna de atenção, é que os ncgôcios dos
Estados Unidos têm até agora ocupado as legislaturas dos Estados do rnesrn
modo que o Congresso: por exemplo, são elas que se acham encarregadas de exe-
curar as suas requisições: de onde resulta que vêm a estender-se as suas sessões.
muito adiante do tempo necessário para a administração local respectiva. sendo
mais de.metade do tempo empre2,ada com objetos rciativó~ aos Estados Unidos.
Os membros que atual rrtcnte compõem as legislaturas dos Estados vão até dois
mil, e mais; ~ este número rern sido aLê aqui empregado cm fazer o que no novo
regime deve ser feito por sessenta (;: cinco pessoas atualmente e para o fururo por
quinhentos representantes. ou talvez mesmo quatrocentos. O Congresso fará po
·i mesmo todos os negócios dos Estados Unidos: as legisla1uras ocupar-se-ão uni-
camente com os que lhes dizem respeito: e encurtando considernveJmenti;: por este
modo o tempo das suas scssÕes, fru-~o uma economia equivalerne, pelo menos:• ao
aumento de despesa ocasionado pelo n<ivo governo.
Ponderadas todas estas circunstâncias. conto convêm, e comparadas as. de
s resultantes da Consthuíçâo proposta eorn a~ cconcmias que devem resultar
do seu estabckc-imc;nw. pode entrar em dúvid~ paru que lild-O ficará ;a balança
pendendo. mas, penda pum onde pender, o que é certo ê que um J;tOverno rnen
extenso ser-ia insuficiente para produzir rodos os efeitos que .,ç esperam da União.
CAPÍTULO LXXXV
[Conclusão]

(Por A lexander Hainiiltm

Segundo a divisão do objeto desta obra. anunciada no primeiro capitulo. fal-


íariam ainda par a discutir duas das suas partes. a saber: a analogia do governo
proposto com a Const ituiçào particular deste Estado de Nova York e a. nova
egurança que o seu estabelecimento nos dã a r~:;;p,e-1 Lo da conservação do gover
no republicano, :~ssim como da propriedade 1.: da lib1.:tdaide~ mas, se entri~=>
nestas dlscussôes, em particular. não poderfnrnos fazer outra coisa senão repetir
u que cm diferentes partes deste escrho já tem sido expo:sto e cxaminauo corn
muita indi vkruacão.
constitucional
tri b Ué 111 • .Sôn 5,..,,
le~ibi
formal
O PEDERAL1S"f A

dadcs qu

:n-
- les
ias poliúcas. os
q

·,n primeiro
migo-s da
qu

que
76 HAMILTON-MAD lSON-J AY

e tem tirado tão extraordinária conclusão. Ninguém nega. que o sistema de


g.ovcn10 submetido ao nosso exame tenha alguns defeitos. de circunstância ou
secundários: mas tem-se constantemente defendido que o seu rodo é bom e que
promete toda a segurança que de uma Constiruiçâo pode esperar-se.
Além disto, estou profundarnente persuadido de que: seria o cúmulo da
imprudência prolongar ::i situação prediria em que tios achamos e expor a União
ao perigo das experiências sucessivas. a que daria lugar este desejo de uma pcrfeí-
cão imaginária. Nenhuma ohra pcrfoitA há de sair jamais das mãos de um ente
lmperfeitc como o homem. O resultado das. deliberaçôes de qualquer assembléia
que seja há de ser a agregado dos usos, prejuízos. bom senso e luzes dos indhi
duos que a compõem. O contrato que liga treze Estados diferentes com o laço de
uma uaião geral não pode deixar di.: ser ô compromisso de outros tan Los vot
interesses diferentes: e c-0 mo pode de semelhaeses elernen tos nascer a perfeição?
m excelente opúsculo publicado ne$tà cidade, 0 prova com evidência que
ja.m.::1i~ urna Convenção poderá reunir-se, deliberar e decidir cm eircun:stiineia1>
mais favoráveis do que a última. Não repetirei aqui os seus argumentos, porque
estou persuadido de que esta pequena obra já tem Lido toda a publicidade a que
o seu merecimento lhe dá direito: há. contudo, uma eonsidcraçâo sobre a facili
dade das mudanças "J u:e ainda não foi apresentada t: que não posso dispensar-me
de expor, antes ,di. terminar.
JuJgo que é mais fiei! fazer na Ccnstitulçâ
o seu estabelecimento do que agora. Logo que:
fleacão, virá n ser para aqueles que o aprovaram objeto de um n
~a recebido em ioda a União, tornar-se-á necessária
tados. mas, se. ele vier a ser recebido por rodos os E:su
tu 31 men l~ está. n vontade de nove F:stados sçtÚ sempre sufleicnte para fazer-Ih
aueraeões, Assim, ,t1 dit1cu1tl:aJ~ do estabelecimento atua l de um novo sistem
esta, para a das mudanças posteriores da Constituição prepostu, na proporção d

•" .Ili: Addres« lo tlrf• Poop!e of thc Sta/J! o/Nr;11< Ynr«, (N, (]~ PublmK,)
O riEDERALIST A 111
pode consumar pelas únicas forças: do raciocínio (l da reflexão. É preciso. para o
conseguir. a reunião de muitos juízes; é preciso que a experiência dirija os. seus
trabalhos - que o tempo aperfeiçoe a sua experiência; e os enganos inevitáveis
1.;m Lodos os primeiros ensaios não podem ser corrigidos senão pelo sentimento
dos inconvenientes que deles devem seguir-se, ,. Estas judiciosas reflexões contêm
uma lição de rnoderaçâo a lodos os amigos sinceros da União para que se acaute
lem do perigo, tanto de recear. de chamara anarquia • .a guerra civil. a discórdia
perpétua entre os Estados e talvez o despotismo militar de algum demagogo viro-
rioso, nas diligências que fizerem para obter por meios pouco apropriados o que
mais facilmente devem esporar do tempo e mi experiência. Se falo, porém, desta
pessoas com tanta moderação. confesso que não posso tratar com .igual U'anqfü-
lidadc aqueles que afetam trator de imaginários os perigos de continuarmos mais
empo na situação em que nos achamos: será em mim falta de: longanimidad
potluca; mas não está na minha mão fazer outra coisa, Urna nação sem govern
nacional é. um espetáculo assustador; e o estabelecimento de uma Constituição
cm tempo de prorunca paz. pelo consentimento voluntário de um povo inteiro. é
um prodígio, por cujo eomplcmento ~u nãc posso esperar sem ansiedade. Em tão
árdua empresa nâo posso concilittr com as regras du prudência que vamos abrir
mão do que jâ ternos cm sete dos treze Estados. p.ara recomeçar uma carreira, de
que j!i andamos mais de metade: é temo tanto mai8 a$ conseqüências de nova
renrarivas quanto sei muito bem que poderosas personagens neste e em outro
Estados se têm declarado inimigtts de todo e qualquer governo nacíonal, qualouer
que .seja. a orgarrizaçâo que se lhe de.
TOCQUEVILLE

VIDA OBRA
A Dcmocraci.3 na Ami.•fica, Tocqueville cfinna que os. homens
o lijvro
alimentam uma "paixão msaciàvel, ardente. eterna. invendvef" pela iguaJda
de, e que a sociedade evolui necern~riamente no sentido do igu,.llililrismo,
ameaçando a liberdade individuê'I. O autor vlu na dvilizctt;ão americana
uma forte tendência para a unlformizaçâo e uma difiçuld;id1;1 muito gl'"çinde
no sentido de tolerar pessoas ou gru pos que qu ísesscrn pensar ou viver como
lhes eprouvesse,
Deputado n,J Assembleia Nacional, em 18481 Tocqucvllre colaborou na
redaçõo da Constitinção da Segunda República Francesa, Durame quatro
meses. cm 1849. foi ministro das RPl~çõ@, Fderiores do governo cie Lu,s Na-
poleão (1808-18731 I ncompatibillzadc com o diefe de Estado, retirou-se deli-
nítivamente da vida política, recolhendo-se a suas propriedades. onde f ale-
ceu cm 1859. Nos Oltirno!í. anos de vid.,c1, termino~, O Aniieo R~ime e él Rr:va-
lu~ão, pubHcado em 1656, e Lembr.mça~ de 1848, publrcado em 1893. A pri-
eira dessas obras trata da cent.ralil:.ação monêrqulca e da decadência ria
aristocracla, Tocqueville acredita q1,.n; {I centrellzaçâo conduz ao mesmo r
sultado que o nive!amento democrático. o isolamento de indivíduos unifor-
mes. incapazes d,p, sP oporem ao despotlsmo. A~ Lõm branças tratam d'i1 Rn
veluçâo de 1848 e de sua experiência posterlor corno membro do governo

Cronologja

ní,'ei'Síl.v l'r~,. Nov


A DEMOCRACIA
NA AMÉRICA
Introdução

Dentre as coisas novas que. duraute minha estada nos Estados Unidos.
chamarem-me a e1Je11ção. nentuana impressionou-me úio intensamente quanto a
igllaidade de condições. Descobri. sem dificuldadas, a in./luência prodigiosa exer-
cida por este fawr na marcha da sociedade: da ao espírtlo fll'Jblico certa. direção:
às leis, um ar especlal: aos govcrnante«, 1101ros prittcipios, t' aos ga vemados, l1ábi-
tos parttcuiares. ( ... -
Desse moda, à medida que estudava a sociedade americana, ,,
mais, na i.gua/dad11 de con<J.i~es o fato originárin de qne cada aspecto parecia
provl« e reencontrava-o, incessamememe, como o pomo central a que rheg.a,,am
todas as minhas observaeões.
enaon

li
Desde que w, trabalhos da inteligênci« se tomaramfontes deforça e riqueza,
teve-se que considerar cadu desenvolvimento da ciência, cada ri.ovo eonhecimento
ou idéia nova, corno gerou? de- poder posto ao alcance do p011cJ·. A poesia, a
eloqüência, a memória, as graças do espírito, os ardores da imaginação, a pr,Q{l.m-
didade do pensamento, todos esses dons que o céu repartiu (w acaso, têm sido
proveitosos à democracia. Suas conqutsta» estenderem-se, portanto. com àS da
dvilir:açâo e da cultura, a litcrauuu tornou-se arsenal aberto a rodos, em que
fracos é os pobres vieram, todos os dias. buscar armas. ( _ . _)
Se, a partir do século XI, e xaminamos o que se passa na França a cada cm-
qiir:nta anos. ao fim d,• cada um de.~~,)-~ periodos será fiu:ii perceber que um.
dupla revotucõa se operou 1w :•f;/tJdo der saciedade. O ttnbre tt..•rá ha:Lnuln na esca-
la social, t• o plebeu, subido; utn desce, o uu11;u ascende Cuda meio século ()S
aproxima r:, breve. tocar-se-ão
isso udo ~ peculiar ã Fiança. D,• qualquer lado que observemos, notamas a
mesma revoluçâo que prossegue ~m todo o universo cristiio, Em toda parle viu-se
os diversos t"m:idenres da viua do~· povos tornarem-se proveuosos à democrocia;
todos os homens ajudaram vss« processo com seus esforços: tant» os que preten
diam colaborar como os que nPm sonhavam em servi-lo; tanto 08 que· combate-
rani em seu favor como os qu(! ~e declararam mimlgo«; rodos foram impelido.•.
onfusamente, na mesma via e todos trabalharam em comum, 1ms contra a vontu-
de, outros seru sabê-l», cegos instrumentos das mãos de Deus. ( ... )·
1Và<J Irá povo na Europa em que a grande revolução &Ocial a que.fiz alusãô
terrhafei!a progressos mais ró-pfdas do que entre nós; 11-uJ'S a revolução. neste p · '
desen volveu-se sempre ao acaso. Nunca os chefes de Estado pensaram em prt-p11.-
, em seu favor: /a-s..: opesar deles ou sem
mais poderosas, mais i11ralig<1,1tes é mais
da uaçdo nao buscara.rr1 apoderar-se dessa revoluçdo para dirigi~la. A
emocracio foi. portamo, obcndonad« o seus instl11tos $C/vug,ms: cresceu com
essa« crianças privad«: dos cuidados patemos, que se crtam
'düd~s. qtw s6 CQ1iheccm da sociedade o~· v(clc,,)· e as mlsérias. Parecia-
inaa, a eslstênet« tia revotução, qu,mdo apoderou-se, i,ropil,udamellfe, do podf:r.
Então, cada qual se submeu.:u serl'llme,1/e a seus mfnimos desejos; adoraranNia
coma lmag1:m da força: quando, depois, en.ftaquece.JJ. por culpa de seus próprto
cessas. os legfsladores conceberam u projeto lmprudenie ti.e destmf-la, ao lrwés
de buscar ütstruí-la a corri!Ji la t'; sl.'m p<Msur cm enstnâ-l« a governar, sd qw'sa·
ram expulsá-la do govemo.
O resullado Jot' qu« a revotuçdo democrúlica operou-se no pkuu: maietia! da
·nctc.dade. sen: que houvesse, nas leis. nas idéias, nos hltbilôs e costumes, a
mudcmça que leria sido necessária para tomá-Ia ríttl. Assim, remos a democracta,
o que deve atenuar seus victas I! re~Jçur-lh'! as 11a.1uage,,s namrafs; já
u.Jo os- motes que provoca. ignoramos os bens que pode proporeionar.

ão tenda ó nobre lmaginado que se quisesse arrancar-the privi!égia.s que


acredttav« ifglttmos. e v sen~o concebendo sua inferior(dade como efeito da
ordem imuttivei da natureza, admite se que pôde estabelecer-se uma espécie de
benevolência reciproca entre essas duas classes ião dilerentemenre aquinhoadas
pela sorte. Viam-s», entiio, nu sociedade, (.} desigualdade, as misérias. mas as
almas - não se tinham degradado. 1Viio é n uso do p
obediência o que deprava os homens;
_ oder nem o hábito
é o uso de poder que eles consideram ife!!Í

timo, e a {Jbediencla à uutoridade vista como usurpada e opressora. ( .. ,)
Mas eis quf.' o.~ nfrel,; u confundem; as barreiras l!rgu.idas entre os homem
cedem; diddem-se os dmm'uios, pàrfillui })'e v poder, as luzes se difundem. as
uuetigência: se igualam; a estrutura social torno-se democrâüea e o Império da
democracia estabetcce se, 111"1.fim, pac(ficameme, nas im,·Utt-lfçiies e nas costumes,
{.J
Há. um país no nwndo em que a gronde revoluçã» social ele que/uJu parece
ter atingido, de perto ..seus Umires naturais; ela se imolamo» de maneira simples
,e fácil, ou melhor, pode-se dizer que esse país 11~ os r~~-u/tculr,s da revotução
democrática que progride entre nás sem ler assisli°do à própria revolução.
Os emigratüa; que ''icramfixar·lf! na América. ,w começo da século X V!!,
isolaram, de algum tuodo, ,o prinapio da demf1<:"raâa de! todos os outros cuntra os
quais lllluM na» velha» sociedades da !Suropa, t" transptantoram-« o, isolado, para
rs margens do Nü110 Mimdo. Ai' pâde crescer cm libctdatit e, adequando-s« ao
costumes, d<!sc1111of Pttr-se pa.ciftcmmmte nas Ieis:
Parece-me fora 11'- d1í.Pida que cedo ou tarde chegaremos. como os america-
110~·, à ig1,.u1,/d{ldé quase completa do co11,diçõ1.•s. Não concluo, absóJutamente, que
~~amos chamadas um dia à obte: de UI./ 5lluação soe!al as cm,j·eqiiéncins polz'ti
cas qu« dda tiraram os ameriaanos, lcmge de tnitn achar que renham encontrado
a 1111ica forma de govemo qu« a democracia possa. aceitar: mas hasta que. no.
dois oaises, a causa geradora das lefs e ér'>Shntl(!,~ seia a mesma para que tenha-
mos imenso imcrcsse 11m saber o qu« produ:iu em cada um deles,
'ànfri. l.portanto, somema para s«./isfa.:er a unta curiosldade. aliás leg(rima,.
que examine! a Amlrica: quts tmco111ra~· t1rr.~lnamenm:, tic que passamos tirar pro-
nganar se iam ,•cdor1da111c1m• u~· que pemiassem que quts fa.:.er um panegi-
rtco; quem quer qu« leia este h'w·ô canvonccr-se-â que tctl uãa eí 111,m propósito;
rmm tJbjelivo n{io /vi' o de preconizar tal Iormo de soverna r:171 gorai, pots faça
parte daqueles ql1.e crêem que! quase nunca as leis são absolWamamP boas. Não
pret«1uJi nem mesmo j11Jgar s« a rcvotuçõo social. CtfJa marcho me parece trrests-
tll'.ei, fot vcmrajos.a ou funesta pare a humanideâe. Admiti essa ,·,wolução com
f(lto consumado ou prestes a desenrotar-s« e. dentre os povos que a viram operar
em seu solo. procurei aquele em que ela aclngiu o desenvotvnnenro mJJ,fS compl~co
e p-aclji'co. u fim de discernir cJaramenle suas cons.t!q1'j'ência.t nQJt.1rais, e({~ pcrce-
r. se posstvet, <1~· metas ac tortui-ta proveüosa para os homens. Confesso que,
na América, quis mais do qwJ ç A mérica; busquei tuna lmngem ria próprl'a demo-
cracia, de !.1.1as le.mJJ,1clas. de seu. carárcr. de seus preconceitos, de suas paixães,:
quis t.·011hccê-la, nem que fosse Pª''ª saber ao menos o que devemos d.ria t'Spl.-?'w
Oli temer. ( ... '
LIVRO 1

A VIDA
-
POLITICA
---
RIM:t:IRA PAR1 E

AS FORMAS INSTITUCIONAIS DA SOC1EDADE POLÍTCCA

1 - As origens de povo americano (CAP. 2)

Um homem nasce. Seus primeiros anos passam-se obscuramente, entre O!;


prazeres e os trabalhos da infür,ci:i. Ele cresce, a virilidade se a.nufü,;ia. as portas
dn mundo abrem-se para recebe-lo. enllm, entra .t;:ID contam com seus sernelhan.,
lês. Quando alguém o estuda pelo pr~meir(L vez, imagina ver ~e formar nele v~ ger-
rnes dos vi cios e virtudes Lia idade madu ra,

braços da
ma
eu clhnr. obscu-

p
192 TOCQUEVILLE

exercida. pelo ponto de partida, sobre o futuro dos Estados. Suficientemente pró-
ximos da época cm que as sociedades americanas foram fundadas para conhecer
em minúcias seus elementos, e- suficientemente longe desse momento para pode,
julgar o que esses germes já produziram, os homens de nossos dias parecem estar
destinados. a ver, mais longe do que seus predecessores. os eventos da burnani-
dade.( ... )
Os emigrantes que vieram, em diferentes períodos, ocupar o rerrnórío da
Uniáo americana diferiam uns dos outr

Podem-se distinguir, na grand ·mília anglo-àmeneana•. dois ramos prrnci


1

país que, àLé o momento, cres em se confundirem irueírameme, um no sul


outro no norte.
A Virgínin recebeu a primeira colônia inglesa. Os emigrantes ai chegaram
em 1607. A Europa, nessa época, estava ainda especialmente preocupada com .
lOCRAClA :• e
jdei;:t ui; lJ LlC 'JS minas de L'Ut por-

acima d
nhum

... )
Foi uu.::,. t;ULVUla:; ITI!!ICSni.: rfl, nnrtí'! n-'IJll<C ,,"nlt,,,.;,r .•. ,.. .•. , .....•. ,, __ ...I~. Estados
ue hoje

erritório ~m território, r1té


, pene-
us pro•

mundo um espetáculo desconhe


lecer-se

doutrina

m
virtude deste COntTJ.(O,
rnagisrredos, segundo as necessidades, aos quais prcmeiemes submissão e
obediêrtcia". Já não é uma pequena tropa d,; aventureiros buscando fortuna além
dos mares: 6 a semente de um grande povo que Deus vem plantar. com suas pró-
prias mãos. mi terra predestinada.
Isso se passou em 1620. A partir desta data, n emigrução niio parou mais.
:s paixões religiosas e polJ1mcas que dividiram o Império Britânico durante todo
o reino-de Carlos 1 impeliram, cada ano, às costas do América. novas levas de
sectários. Na Inglaterra. o núdoo do puritanismo continuava a situar-se nos elas-
ses médias; foi do seio dessas ctasses que saiu a rnaloría dos emigrantes. A popu-
lação da Nova Inglaterra crescia rapidamente, e., enquanto a hierarquia classifi-
cava ainda despodcamemc os homens. na mãe-pátria, a colônia apresentuva, cada
vez mais, o espetáculo novo de uma sociedade homogênea em todas os Slh:-L.S par-
tes. A democracia. tal como Q própria Actüsuid~de não ousara sonhar, ~rr1crgiu
grande e sufictcruernerue armada. do seio da velha sociedade feudal. (.
Por isso mesmo.é Jreqíientementc difícil, percorrendo-se os primeiros monu-
mentos históricas e legislativas da Nova Inglatcrrn, perceber o liame que atava os
e:m-igr~,u~s ao país de SéU:; ancestrais. Vé se. ~ cada momento. que fazem ata de
soberania; nomeiam magi!;tra.dos, fazem a paz e a guerra. estabelecem regula-
mentos de polícia, outorgam-se leis. como s~ nâc dependessem senão de Deus.
(. ...
··raii,;; sobre que r ,..
principi
pnncípíos, desconhecidos nas nações européias .• oµ por elas desprezados. foram
proclamados nos desertos cfo Novo Mundn e tomaram-se o .c,frnbolo futuro de um
grande povo. As teorias mais audaciosas do espírito humano foram postas en
prática nessa: sociedade, tão humilde em aparêacla. de que nenhum estadista teria
então se diHm1do o. ocupar-se: abandonuda à! origínatldade de sua narureza, a
imaglnação do homem improvisou flli Lima legislação sem precedentes. ( ... }
Já disse bastante parra revelar o caráter da civilizaçáo anglo americana, E. o
produto ( e este ponto, de pa:rlida deve estar ·a coei o momento presente 110 pensa-
mento) de dois elementos perfeitamente distimos, que. em outras ocasiões.
xrmbarem.se Ircqüeruemente, mas' que, na Amêrica, conseguiram se incorporar,
de algum modo, um ao outro. combinando-os. admiravelmeate. Penso no espirita
de rellgiiio e no àspirito de liberdoâe.
Os fundadores da Nova Inglaterra eram ao mesmo tempo ardentes sectários e
inovadores exultados, Presos aos Liames mais estreitos de certas crenças religio
..,~1s. eram livres Jc: qualquer preconceito político. Dai duas tendências diversas.
. cujos traços encontramos facilmente e sempre nas leis e cos-

ua

2 - A situa
' - -
imd:<J mP01":)"; •le influências iruelect U~lS. Ú vO'.'iJ ha 'ar certos
uornes corno emblemas de luzes ~ virtudes, A
sobre cs::.1.: pJ.,O poder que haveria razão de eh
podido transmitrr se de rmi rm.r.: f lho.
IJmf-
DEMC CRAClA NA AMÉRICA 7

Em virtude ela lei sobre as sucessões, a mane de cada proprietáno provoca


uma revolução na propriedade: não somente os bens mudam de dono, mas
mudam, por assim dizer, de natureza; Iracíonam-se, incessantemente. em porções
menores. É este o efeito direto e. de certo modo, material da lei. Nós países. em
que a lei estabejece a igualdade nas partilhas. os bens e, em particular, as rorlunas
territoriais, devem, portanto. ter tendência constante u diminuir. ( ... )
Mas: a lei d:::. partilha igual não exerce somente influência sobre- o destino do
bens; age sobre a prõprsa alma tios proprietários e chama. em sua ajuda, a~ pai-
xões. São seus efeitos indiretos que destroem rapidamente as grandes fortunas e,
obretuco, os grandes domínios_ ( ... )
Quando a foi sobre as heranças estabelece a partilha igual. des-nrói a ligaça
Íntima que existia entre o cspirito de fo.núfia e .a conservação Ja LCITa: esta deixa
de; representar a família, pois, não podendo deixar de ser panilhada no fim d
urna ou duas ger açôes, é eviden Lc que- deve diminuir incessantemente e acabar por
de.sa,:,arecer lntciramente. Os filhos de ~rrulde proprietário de terras, se silo~
pequeno número, m11 se a sorte lhes é favorável. podem conservar u esperança d
não serem menos ricos do que 0 pai. m~,~ não de possuir os mesmos bens que- ele;
suas riquezas compor-se-ão. necessarlameme. de outro!': elementos que ,1 dei ...•
( ... ) .

cerca de nossos
aínda por fazcr.
obs1ácu !-..,.
nhecível; as familias dos grandes pronnetârios de terras foram rodas, ou quase
todas. absorvidas no seio da massa comum. Os filhos desses opulentos cidadãe •.
são hoje comerciantes, advogados. médicos. A maioria caiu ua obscuridade mais
profunda. O último traço das hierarquías e distinções hereditárias foi destruído; a
le_f nivelou todo mundo. ( .•. ·
ão foram somente as fortunas que se igualaram na A rnêrica; a igualdade
estende-se, aeê certo ponto, às próprias Intcligêncías.
Não creio que haja país no mundo em que: proporcionalmcme à população
; encontrem tão poucos ignorantes e menos sábios do que na América, A instru-
ção primária está ao alcance de todos: a educação superior não cst.á ao alcance
de guas.~ ninguém. Isso é facilmente compreensível e, de certa formi,l, é o resul-
tado do que dissemos acima. ( ...
a Arnêrica há poucos ricos; quase todos os americanos precisam, portan-
to, exercer uma proãssão. Ora. toda profissão exige aprendizado. Os american
só podem, portanto, dar os primeiros anos da vida ao culuvo geral da intelí-
ência: com quinze anos. entram para uma carreira: assim, sua educação acaba,
freqüentemente .. na época cm que começa a nossa. Se prossegue. dirige-se apen
a urna matêría especial e lucrativa; estuda-se uma ciência como se exerce uma
profissão: retêm-se dela as aplicações de utitídadc atual reconhecida,
a América • .i maior parte dos ricos começou pobre; q uase Lodos os ocioso
foram. na juventude, gente ocupada; resulta que, quando se podia ter gosto para
s estudos, niio ~i.: tem o tempo; quando SI.! adquiriu o tempo para dedicar-lhes,
não selem mais
os praze-
O rico, ao contrário. consegue, sempre, escapar ã prisão. ( .. , ) Pode-se dizer
que, para ele. todas as penas infligidas pL!.!a lei reduzem-se a multas. Haveria algo
mais aristocrático do que tal lcgislaçâo?

J - A soberania popular

O princípio de soberania do povo, que se encontra mais ou menos nos


undnrncntos de :(lUasc todas as instituiçôes humanas, aí permanece geralmente
ent,errado. Obedece-se a esse prmcfpio sem reconhecê-lo ou. se algum dia acon-
tece de alguém acenar com ele· cm público. apressam-se a repô-lo nas trevas do
antuàrio ..
A vontade nacional é uma das paluvras de Que. os intrigonle.S de todos o.
tempos. e os déspóws de todas as Idades, mais abusaram. Uns vêem-lhe a exprcs-
ão. nos sufrágios comprados de alguns agentes. da poder; outros .. nos votos de
uma minoria interes:;acla ou amedrontada; há mesmo quem a descobriu. perfeita-
mente formulada, ao silêncio dos. povos.u pensou que. do/ato da: obcdiê11cia, nas-
cia para eles o direi/o do comando.
Na Amêrlca, o princípio do soberani
estéril como cm certas nações: i:: reconhecid
leis: estende-se com liberdade e atinge. sem cbstâculcs, suas iihirnas conseqüên-
eia•.•.
pular
n.No

no

soberania populur saiu d


rnunae a m por sua causa;
leis.

~(I 1,uír.:.í~it1 rrnrvcrsal, N.:J.gu.!!I<! ~() p0clcci \'Oi:M a~ 11er1tc::,. tk bem, b10 6.
ri11m lnscritos 11.h füt::i" cl1.:bor::u~ >Pmt!ntt: o.:; QIJC- f:lª!t:'I~-
TOCQUEVILL •..

Hoje em dia. o principio de soberania do povo tomou, nos Estados Unidos.


todos os desenvolvimenros que a imaginação pode conceber. Desembaraçou-se de
todas as ficções de que st teve ó cuidado de cercá-lo em outros lugares; vê se que
se reveste de ti. idas as formas. segundo as exigências de cada caso. Ora faz o povo
as leis. corno em Atenas: ora os deputados erigidos pelo voto universal represen-
tam-no e agem em seu nome. sob sua vigilância quase imediara.
Há pai ses cm que um poder, de certo modo exterior ao corpo social. age
obre ele e o força ã mover-se em certa via. Há outros em que a força &e cncontr
ividida, situando-se. ao mesmo tempo. na sociedade e fora dela. Nada se vê de
semelharuc nos Estados Unidos: ~ sociedade age por si só e sobre si mesma. S6
existe poder cm seu seio: nem ~e encontra ninguém que ouse conceber, e sobre
Ludo exprimir, a idéia de procurá-lo alhures. O povo participn da composição das
leis. através da escolha dos legisladores, e d~ sua áplicrtçio. pela escolha dos.
egerues do Poder Execurivo: pode-se dizer que governa diretamente. tanto é frac
e restrita a parte que toc.u :'.t odministraçâo, ramo esta se resse!1Lt: de suo origem
popular e obedece ao poder de que cm~11a. O povo reina sobre o mllndo polític
nmericumJi. corno Deus sobre o universo. Ê a causa e o fim de todas ris coisas;
udo dele ~at e nele .~e absorve.

4 democracla .:.idmini~trntrva ( • 5)

it.a~os da mesma maneira em rocas


•• ,. prtrcci,; dn~ E,,:1;11io-.; IJ111.dm.: é fácil. ei:mlre,tar1to. reconhecer que em toda a Ualã,
01io mesmos principios.
instituições,
Pareceu me que esses pri ncí r,io~ receherarn, na Nova lngbterra. dcsenvolv]
JTirnto~ mnis con;')a.d,.;r.'1vcis e aLi11~J1 arn conseqãêncras rn.a1~ longínquas da que em
r\ i'iA AMí' RICA 20I

qualquer orríra parte. Ai estâo em maior destaque e oferecem-se mui!; facilmente


à observação do estrangeiro.
Na Nova Inglaterra, a maior-ia age através de representantes, quando se
trata dos negocios do Est:100_ 8 necessário que assim seja: mas na comuna, cm
que as ações le.gisl-.H:h·a e governamental estâu mais próxlmas dos guvernados, a
representação nâo se admite, Não há conselho municipal; o corpo de eleitores.
após nomear seus maaisrrattos, dirige-os diretamente cm 1udo o que não é cxecu-
çâo pura. e simples das leis do E.~li~do.
Iss.o ê tão corurárío às nossas 1t1~as. tão oposto ao nábié0$0 qLLe é
necessário dar aqui alguns exemplos, para q1.1i.: seja mpreendê-lo
perfeitamente.
As funço · públicas são extremamente numerosas t! bastante
entanto. ri maior pane dos poderes administrativos e ncemra-se
li equeno número de indivíduos. eleitos cada ano. humados

iga-
r ela.

ivn
Certos interesses são comuns a todas as panes da nação, raiscorno a forma-
ção das leis gerais ,e a. relação do povo com 9.s estrangt.:fros. Outros interesses sâo
especifícos ele cenas partes da naçâo. tais como. por exemplo, as empresas
comunais.
Concentrar num mesmo lugar. ou numa só mão, Q poder de dirígir os pri-
meiros é fundar o q uc chamarei de cen tralizaçâo governarnen tal.
Concentrar, da mesma maneira, o poder de d[rigir os últimos é fundar o que
chamarei de centralização administrativa.
Compl'tt:nd~se que a cenrralizaçãn governamental adquira imensa forya
quando se combina com a centralização administratíva. Desta maneira. habitua
os homens a fazer abstração completa e: eonunun de suas vontades; n obedee •. ,.
não só um a vez e em um só aspecto. mas em tudo, todos os dias. Não somente os
doma, neste caso. pela força, mas também domma-os pelo hâblto; isola-os e, em
seguida. apodera -se de um por um n11 massa comum. Estas duas espécies de
centralização socorrem-se mutuamente e atraem-se tuna à outra; mas nã,
crer que sejam inscpar.'J
amo a mim. n5. muito

lt!gi~la cm ca

cn 1e em toda
parte nos Estados Unidos. É ubjeto de solicitude, desde o povoado ã União Iruei-
ra. O hábito aferra-se a cada um dos interesses do pais como se fossem intrusos
pe5soau;. Glorifica-se com a glória da nação; nos sucessos que obtém {) país,
pensa reconhecer sua obra pessoal, e com isso se exalta; alegra se com a prospcrí
dade geral. de que tira proveito. Tem. pela pátria, sentimento análogo ao que o
liga à família, e é ainda por uma espécie de egoísmo que se interessai pelo Estado.
(_ .. )
uma aristocraeía, sempre se tem certeza de manter alguma ordem no seio
da liberdade. "fendo os governantes muito a perder, a ordem ê-lhes de grande inte-
ressc .. Pode-se dizer. ígualmeutc, que numa aristocracia o povo está ao abrigo dos
excessos do despotismo, pois sempre 5c encontram forças prontas a resistir a,
déspota.
Uma democracia sem instiuuçôes nrovincíais não tem nenhuma garantia
con tra tais. males.
mo fazer suportar a liberdade nas grandes coisas n uma multidão que não
a
nprcndcu .a servir-se dela nus pequenas? Como rcslstlr tirania em um pais onde
1~ indivíduo é fraco, e os cidadãos não esiâo unidos por nenhum interesse
comum? Os que temem a lírenciosidade. como os que reoeiarn o poder absoturo,
de •.rem. portanto, desejar igualmc11Lé u dcscnvolvirneruo eradual das Iiberdad

vencido de qu
per igo de cair sob ,1 jogo dai een I raliz
ial é democ.:rálica. M1,1i1

5-0 Poder J f'. ó)

• seus trê.s caracteres


não há litigiu. Só se
pcrar que haja uma

rfeitarncntc aos rnagis: r:idr,s das


imenso poder político. De onde isso pro-
e serve-se dos mesmos meios que os outros
s outros nfio lê!ll,?
A causa reside num só faro; os americanos reecnhecern.m n
de fundamentar seus veredictos na Constituição mais tio que na,
palavras, permitiram-lhes não aplicar leis que lhes pareçam inconstuucionais. Se1
que direito similar foi. algumas vezes. reivindicado pelos tribunais de outros pai
cs; mas nunca lhes foi conccôtdo. Na Amêrica, é reconhecido por todosos pode-
res; não se encontra partido 11cm indivíduo que o conteste. ( .•.
Uma Conslituição americana niir~ ê tida por imutável, como na França; nao
pode ser modificado pelos poderes ordinários. como na inglaterra. E obra à parte
que. representundo a vontade de todo o povo. obriga os legisladores enquanto
irnples cidadãos. mas pode ser modificada pela vontade popular. segundo fôrmu-
las estabclccídas e ern casos previstos,
Na América. a Constituíção pode. portanto. variar; rnas. enquanto existe. '
::i origem de todos. os poderes. A [orçu predominante reside nela ~- ( .. 1
Se. na França, os. tribunais pudessem desobedecer às leis. fundando-se cm
consruuinte estaria, na realidade. cm sua
c:iue seriam incon ..•. títucionais, o fl(idcr
mãos. pois só os tribunais têm o direito de interpr~t.ir urna Constituição,
Lermos ninguém pode modificar. Pôr-se-iam, portanto, no lugar cltt naç5
nariam c:t sociedade, pelo menos canto quanto a fraqueza, incrente ao P
ciáric. lhes permiusse. ( , ..
Nj América. cndc a n4çiio pode sempre. mudando a Ccnstituição, reduzir
os rnagistrndos ;.i obediência, não se deve temer tal perigo. Neste pomo, a polflicu
e: u íÓgica -c-.luo de acordo. i.: tanto O !X'IYO como o juiz, guardarn seus pnvl]í,si(, .,
uando ~~ invoca. diante dos tribunais americanos, uma lei que o ju i1. cst
ma cont,·ária à Constituição, este pode, portanto, recusar-se :1 aplicá-la, Este ,ê
únic,> poder exclusivo dos ma;ixcrmll.ls. am~rk:HH'):,, mas dele decorre uma grande
intluêncfo poliric,
Exi~liem. de fato. bem

,e

iminui. mns
repetido»
A DE~10CRACfl,. N MÉRI~A 20

processo movido conira um homem. está se :St:_guru de que ~ lei não será
levianamente, Neste sistema. nãu esta a lei exposta às agressões cotidi
ssinalandc 01'> erros do lqfr.,rmlor. obedece ~e a uma necessidade real:
parte-se <'!e foto rm.1.::i1ívn e observável. pois deve servir de base a processo legal.
( • • J

ord 1nál"i()$~ ••
cidadãos,
Mas. quando tentava fazê-los. entender que o Consetho de Estado mio era
órgio judiciário, mas instituição administrativa, cujos membros dependiam do
rei. de tal maneira .lilUC este, após havei· ordenado sobernnnmente ~, um de seus
functonários. chamado prcfcito.f cometer 1.1m;1 iniqüidade, podia ordenar a outro
de seus servidores, chamado c;onselilciru de Lstarío. impedir Que se punisse o pri-
meiro: quando lhes mostrei o cidadão. le~'ldo por ordem do príncipe. reduzido í1
pedir ,i~próprio príncipe :..t ,:nnor-i,.a1yào para obter jusüça. recusavam-se ~i crer
cm semelhantes exageros. e acusavam-me de mentira e iznorâncín. r ... )

rí - A Constituição Federal americana (CAP. 8)

J. Breve !Jistóricv (Seção 1

11

r o

titulnte. ~.
utindu
ü .. ,1
.. .. . ,
ritos e os mais nobres caracteres que jamais. surgiram no Novo Mundo. George
Washington a presidiu.
Esta comissão nacional, após longas e rnad uras deliberações. ofereceu
mfirn, à adoção do povo, o corpo de. leis orgânicas que rege, ainda hoje, a União.
Todos o-; Estados a adotaram sucessivamente, O novo governo federa] entrou en
funções em l 789. 31]Ós dois. anos d~ interrcgnn. A rcvoluçâo da Amêrica termina,
portanto. precisammtc no momento cm que começava a nossa. ( ... )
Os deveres e direitos do governo _fedêJ"aJ eram simples e fáceis de definir.
pois a Uniào havia sida Jormadu com o fim ele responder a algumas grandes
necessidades gerais, Os deveres e direitos do governo dos Estados eram. ao
.onrrârío, múltiplos e complicados, já que esse governo penetrava em todos os
detalhes. dti. vida social.
Definiram-se, portanto, com cuidado. 11s mribu içôcs do governo fi.• xícral, e
declarou se que ludo o que não estava contido na definiçãci caía nas alrihuiçôe
do governo dos Estados , Assim, o governo rJo~ tstadm; tornou-se o direito
comum: o itovemn federal tornou ~é' ::i exceção. ( ..

2. Caraaeistlcu« ao Poder Executiv« (Sccão 5J


, tarefa ditíci 1
J~',ranr7
g,~lati \,'l

Q srstcm
de pais. aprcserun
·uriclentcwc,11 •:.

lu.:ad1l ao cncic

lei~
funcionam. de
A DEMOCRACIA NA AMÉRfCA

certo modo, sozinhas. Sem dúvida, pode-se combinar as leis de maneira que.
sendo as eleições realizadas imediata e rapidamente, a sede do Poder Executivo
não caia nunca cm vacância; mas. o que quer que. se faça. o vaxio existe nos. espí-
ritos, apesar dos esforços do legislador. Ao aproximar-se a eleição. o chefe do
Poder Executivo só pensa na luta que se prepara; etc não tem mais futuro. nada
pode empreender e faz. prosseguir. sem convicção. o que talvez um outro irá ter-
minar. "Bstou tão próximo do momento de aposentar-me", escrevia o Presidenj
Jefl'hs.o11 a 21 de janeiro de 1809 (t-:eis semanas antes da eleiçâo), "que só torno
parte nos negócios atravês da expressâo de minha opinião. Parece-me justo deixar
a meu sucessor medidas cuja execução ele terá que seguir. e cuja responsabilidade
terá que assumir." Por seu lado, 3 nação tem seus olhos voltados para um s6,
ponte: ocupa-se apt:m.i:j em supervisionar o trabalho de parto que se prepara.
Quanto mais vasto é o lugar ocupado pelo Poder Executivo na dijreção do
negócios do Estado. quanto maior e mais necessârio é sua ação habitual. tanto
ais perigoso é esse estado de coisas. Em povo qtre se habituou u. ser governado
pelo Poder Executivo. e. com maior razão, a ser' administrado por um ta! pode
a elciç3o não pode deixar de produz.ir profunda. pcnurbação.t ...
Quando o chefe do governo ,é elcüo. n com,c.:tpl&ncia é. qu::is-e semere, certa
falm de cstabi tidade na polltica ímerior ~ exterior do Esta.do. É um cio.
.1foioi; dr. sistema, ,._. __ ·--- - -' · •
de poder ntribuídn

4. Peculiaridadt:~ e Pcrlgo 9. 10. J I L! 12)

que se ohs: , -
a

regifio neva; entrcumto,


se cxtens
da Hbcrdadc~ duas causa: im1,;mo. Além dlsso, it
mêrtca não temia a conq uista. us legtslndore» arnericanes, aprovciL;i.ndo-i:...:. dcs-
~:1s circunssâncias, não tiveram dificuldBdes cm estabelecer um Poder Excc::uLi,10
fraco e de11cndencc: tendo-o criado. puderam. sem perigo. tomá-Io eletivo.
Só restava C$;C01her, dentre os diferentes sistemas de eleição, o menos perl-
goso, as regras que traçaram neste particular completam admiravelmente as
garantias que a constituição física e po~tica do país já lhes dava.
O problema a resolver con$ã~tia e111 encontrar o modo de deição que, ao
mesmo tempo que exprimisse as vontades reais do povo! excitasse pouco as pai-
xões e o mantivesse o menos possível em suspense. Admitiu-se, antes de ma·
nada. que a maioria simples determinaria a lei. Mas já seria diâeil obter essa
maioria sem ter q uc temer as demoras-que, acima de tudo. se q ueria evitar.
Para contornar esse segundo obstáculo, apresentava-se um meioe delegar os
poderes eleitorais da nação a um corpo que a representasse. Este modo de el.eíçâo
tornava a maioria mais provável; pois menos. são nom1::rosos os eleitores e mai«
fácil é que se entendam. Apresentava, também. maiores garantias quanto à quali-
dade da escolha. {, • , }
Estabeleceu-se, portanto, que cada Estado nomearia certo número de eleito-
res que, por sua vez, elegeriam o presidente. Convencionou-se que os votos d,
eleitores seriam transmitidos, fechados, ã(.) presidente do Senado; t que. no dia
determinado, e em presença das duas câmaras, este faria a apueação. Se nenhum
dos candidatos tivesse reunido a maioria, a própria Câmara dos Depurados pro-
cederia à eleição. mas teve-se o cuidado de li mitar-lhe o direito. Õs de pulados
não poderiam eleger senão um dos três candidatos mais votados.
!Entretamo., pode-se ainda considerar o momento da eleição do presiden
dos Estados Unidos como êpoca de crise nacional.
influência exercida pelo presidente na conduta dos. negócios do Estado ,é.
sem dúvida. fraca e indireta, mas esrende-se sobre toda a nação; a escolha do prc-
idente só é moderadamente importante para cada cidadão. m:1.S i:J muito impor-
tanre para todos os cidadãos. Ora. um interesse, par menor que seja. toma dimen

têm grande interesse cm iavor


uas doutrinas com u ajuda do presíderne,
sua eleição, que essas doutrinas contam com

eleição torna-se o maior .....


dizer. o único evento que: preocupa v~ t,;~píritos, As fru;çõc-s. redobram de ardor:
todas as paixões factícias que a imaginação eode eríar, em pais felii7. e tranqiiil . . ,
agítarn-se, nesse momento, em praça pública,
Por seu lado, o presidente encontra-se absorvido na tarefa de defender-se,
ao governai mais no interesse do Escada, mas no de sua própria reeleição: pros-
i\ DEMOCRACIA NA AMÉRICA •• 11

.erna-se <liame da maioria e-! rreqüemernr;nte. em lugar de resistir-lhe às. paixões.


como o devera obrigaria, antecipa-se a seus caprichos,
À medida q uc se aproxima a eleição, às intrigas torrtarn-se mais ativas, .a.
agitação mais viva e extensa, Os cidadãos dividem-se em vários campos qu
tomam o nome do respectivo candidato, A nação inteira cai em estado febril, a
leíçâo torna-se o texto cotidiano dos. jornais. o assunto das conversas privadas,
o fim de iodas as providencias, o objeto de todos os pensamentos, o único inte-
resso do presente.
verdade, logo que .a sorte S-C pronuncia, e ardor se dissipa. tudo se acalma,
e o rio, que num rnomentn transbordara, volta pacificernemc a seu. tcito, Não se
deveria, entretanto, admirar-se de que a tempestade tenha podido formi:lr-se?
s tegi:.ladorcs dos Estados Unidos tiveram razão ou não de permitir a ree-
lciçâo do presêdtnre?
lmpc:dir1 que o chefe do Poder Executivo pudesse reeleger-se parece. primei-
a
ro, contrario razão, Sabe-se que influência os talentos ou o carâtcr de um único
ornem exercem sobre o desuno de toüo um povo, sobretud
dífíceis e em tempo de crise. Ar. fois que proibissem os cida
lstrado tomar-lhes-iam o melhor meio de tornar próspero o Estad
Hás. a este resultado surpree.ndente. de ,excluir do
basse de provar que era capaz de

m dúvida pode.rosas: Poder-se:fa. entretanto, oeor-se-Ihe


?

quand
L V\... 1-.! U t:. 111.LL.t:

Cada governo carrega em si mesmo um vício natural que parece ligado ao


seu próprio princípio de vida; o gênio do legislador consiste em discerni-lo clara-
mente. Um Estado pode triunfar sobre numerosas leis más e. com freqüência, cxa-
gera-se Q anal que elas causam, Mas toda lei cujo efeito seja desenvolver esse
germe de morte nâo pode deixar. a longo prazo, de se tomar fata], embora não se
percebam imediatamente seus maus efeitos. (. . ) Desse modo, nos países em que.
governa a democracia, e onde o povo ludo atrai incessanremcrne para si próprio
as leis que lhe tornam a ação cada vez. mais pronta e irresistível atacam de mod
direto a existência do governo.
O maior mérito dos lcgi1~Jadores americanos foi ter percebido claramente
esta verdade e ter tido à coragem de pô-la. cm prática. Cónceberam a. idéia de qu
seria ,necessi'.tri.- a existência, fora do pt'IV<), de certo número de pcderes que, sem
serem completamente independcrues do próprio povo. g,ozasscm em suas esferas
cspectivas de amplo grau de- liberdade: de tal maneira que. forçados ~ obedecer
à direção permanente d::, maioria. pudessem. ainda. lutar contra seus caprichos. é
ecusar-se à suas exigências perigosas. Com este (lm. concentraram todo o Poder
xeeutivo da nação numa s6 mão: deram ao presidente prerrogativas extensas. e
armaram-no do veto. para resistir aos avanços do Legislativo.
Mas. introduzindo o princCpio .da rcclciçâo. destruíram cm parte a própria
obra. Atribuíram ao presidente 1.1m grande poder e til-aram-lhe ai vontade d
exercê-lo.

ê suas queixas,
que n guiass •.•
segue n.
Desse modo. ,.,. não p,·i ,, iatcntos de um homem, torna-
ram-nos qua~c inú Lei!,; ara recurs nas i rcun stân ci as
xtraordinarías, expuseram o s u pen'
5. As do Ststem« Federmtvo {~eção 19
histôrin do mundo não nos dá exemplo de grande noção que: rcnhs
permanecido república muito tempo, o que permite dize:r que a coisa ~ em si
imposaivel. Quanto a mim. j~1!go que é bustamc imprudente querer o homem lirnl-
tar O possivel e julf;.o.r o futuro. este homem de quem o real e n presente, escapam
a caea instante. que se encontra, incessantemente, surpreso e sem recursos. diante
das coisas qw melhor conhece, O que 11e pode l1iic:J. sem incorrer em maiores dú
vidas, é que a erisrência de uma grande república encontra-se inlin~utmente mais
exposta no perigo do que uma peq ucna nação republicana. ( ... )
ADEMOCRACm AMÉRICA 213

res, também o smot d•


deu

e, mesmo, da Cl\i.
i.: a de um povo que não poss

, .. para unir as Vllt'ltrtgens diversas que resultam da granl.Jçzij,: oa pequenez


das nações que foi criado o sistema federativo, Basta deitar ü& olh
Estados Unldos da A rnêrlca piira perceber todo u bem que decorre. nara eies. da
ado'0ãô deste sistema,
Nas grandes: nações ccnvatízadas. o fegislador ê ohri leis cará-
ter uniforme, que não comporta a diversidac.le dos lugares e do
estando a par dos casos particulares, não pode proceder senâu através, de regra
gerais; os homens são então obrigados a inclinar-se. diante das exigências da
Iegislaçâo, pois esta não pode acomodar-se às necessidades e costumes dos
homens, o que se toma causa importante de distúrbios e de misérias.
Tal inconveniente nâo existe nas confederações; o Congresso regulamenta
os principais atos da existência social; todo detalhe é deixado a cargo dos legisla-
ivos estaduais.
- impossível imaginar a que ponto esta divisão da soberania esta a serviço
do bem-estar de cada um dos Estados que compõem a União. Nessas pequena
ociedades.em que não existe .:i. preocupação de defender-se ou de crescer, lodo o
poder público, toda energia individual voltnm-sc para as melhorias internas, O
governo central de cada Bstado, colocado ao lado dos govcrnadus. está constan-
emente a par das necessidades sentidas: desse modo vêem-se ap:1c'é,cer, cada ano.
novos planos ll uc, discu tidos nas assemblêias comunais ou nú Legislativo esta
dual e reproduzidos na imprensa. provocam o interesse universal e o zelo d
cidadãos. Esta necessidade de melhoria agita incessantemente as repúblicas
americanas, e não as perturba: a amblcão do puder dá lugar ao amor ao bem-es-
tar. paixão mais vulgar. mas menos perigosa. É opinião gcralmcntu difundida na
América que a existência e e duração das formas republicanas no Novo Mundo
ependern <ln existência e duraçãc do iiÍl)t1;ma federativo, Atribui-se iraride parte
das misérias cm que estão mergulhados os novos E'.!m.\dos d~ América do Sul a
faro de terem, ai, 41..u.:rido estabelecer grandes repúblicas. ao lnvês de rractonar a
berania. ( ... )

6. Sobre a Ap!it·ubilidadr: do Ststema f·edera1ftm


m Outros Palses (Seç.iio 20)

mais visível de lodos é a

. O lcgi.~l ador

Em geral, somcn te as concepções "implc:: se apoderam Jc.'\ espírito do povo.


Uma idéi:'.'I rnl~á, mas clara e precisa, 1erâ sempre mais poder 110 mundo do qiuc
urna verdadeira e complexa. Daí de-corre Que os partidos. como pequenas. naçõ
dentro de uma grande. apressem-se sempre em
adotar um nome- ou princípio, eri-
gido cm símbolo, que frequentemente não representa senão Éncompiemmente o
fim a que se propôem e os meios que empregam. mas sem o qua] não poderiam
subsistir nem mover-se, Os governos que repousam apenas em uma só idéia ou
um único sentimento fácil de definir talvez mão sejam os melhores, mas são cerra-
mente os mais fone.') e mais duráveis.
Quando ~e examina a Constituiçâo dos Estados Unidos. a mais. perfeita de
das as consrituiçôes federais conhecidas, causa admiração. entretanto, a imensi-
dão de conhccimcmos diversos e de discernimento que ela supôc naqueles que ela
rege. O governo da Uniâo repousa quase todo cm ficções legais. A União é uma
nação ideal que ro existe. por assim ÓL2.~r. nos espíritos. ~ da qual só :a intclí-
zência descobre u extensão e os limites.
Tendo sido compreendida ~t teoria geral, ficam às dificllldades de aplicação;
ão inúmeras. pois a soberania da Uniâo está de tal forma penhorada na do
tados que é impossível, à primeira vista. perceber-lhe os limites. Tudo é
convencionai! e artificial nesse tiro de governo. e só pode convir .i um povo há
muito tempo habituado a dirigir. por si só, seus negócios e no qual a ciência polí-
tica desceu atê os derradeiros extratos da sociedade. Nunca admirei tanto o bom
senso e a inreli~éncia prãüca dos americanos quanto na maneira como escapa
fu: difh:ul(fades sem conte que nascem de sua Constituição Federal. Quase nun
eneomreí homem do povo, i"l:i América, que aâo fosse capaz de- discernir, com
urpreendcntc facilklatlc, as obrigaçôes nascidas dAS leis do Congresso e aquelas
rigem ~e encontra nus le:i'< de seu Estado, e nem quê. após ter disLingu.ido as
·· tribuicão geral da União das que devem ser regulamentaea» pero
• indicar, ainda, o pomo em que começa a c,ompe

... o~ c1: o fraciona-


frae kmamentor
116 TOCQUEVlLl.E

para se defender e encontrariam urna organização perfeitamente preparada na


porção de soberania que, ao Estado. permitiu-se gozar. A ficçau desapareceria
então para dar lugar à realidade, e poder-se-ia ver o poder organizado de uma
pane da território em luta contra a autoridade centrar. l - .. )
Os Ieglsladores americanos, tornando menos provável a luta entre as duas
oberanias, nem por isso desrruirarn ::is causas de ..;'onílâto. Pode-se mesmo ir mais
longe, dizendo que em caso de Juta não puderam assegurar a preponderância. do
poder federal. Deram ã União dinheiro e soldados, mas os Estados mantiveram o
amor e o preconceito favorável dos povos.
A soberania da Uniiio é um ser abstrato que está ligado a apenas pequeno
número de objetos exteriores. A soberania dos estados é perccptÍvcJ em todos os
sentidos; comprcensvet 8.~m difículdades: é vista agir a cada morneate. Uma é
1 •
nova, a outra nasceu com o propno povo.
A soberania da União só coca aos homens em a ttuns grandes interesses:
representa urna imensa pá.triã. di:,umtc. um sentimento vago e indefinido. A sobe-
rania dos E5-tados envolve cada cidadâo, de certa forni:'I. e cotidinnamentc, nos
mínimos decaíhcs, É quem se encarrega de garantir-lhe a prcprledade, a liberdade
a vida: influi, a cada ini;1.rnte. em seu bem-estar ou sua misêda, A soberania dos
tados apóia-se em lembranças, háblros. preconceitos tocais, no egoísmo de pro-
víncia ~ de Iarnília; em 11m;, palavra, cm todas as coisas que tornam a inst1nt·
lrióLica tão poderoso no ccraçâo humano.
( ...
A DEMOCRACIA NAAMERJCA 21 '7

,em dúvida. o esp1 rito nacional. as paixões coletivas. os preconceitos


provinciais de cada Estado, rendem ainda a criar. singularmente, centros de resis-
tência ii.~ vontades. do poder redera!,..
... , Entretanto. cada Estado tem poucas ocasiões e tent.ições para resisti
e. se vorn :a idéia de fazê-lo, nâo pode pô-la em execução sem violar acenamente
a.5 leis da União. interrompendo o curso ordinário da justiça, alç:nnd:o o pavilhão
da revolta: é preciso. numa palavra. tornar inesperadamente o partido do extre-
mismo, mas os homens hesitam longamcruc antes de fazê-lo,
SEGUNDA PARTE
O .EX.ERCIClO DO PODER POPULAR E SUA

I - Os partidos políticos (CAP. 2)

Os partidos políticos sâo um ma.l inerente aos governos livres; mas


nao têm, sempre. o mesmo caráter e o., mesmos instintos,
H á épocas em que as nações se sentem atormentadas por tão grandes malc
que a idéia de total mudança na constituição política apresenta-se ao pensa-
e
mcnro, Jlá outras ern que D mal-estar ainda mais profundo. e ern (IUC 5C compro-
mete a própria estrutura social. É o momento das grandes revoluções r.:. dos gran-
des partidos,
Entre esses sêculos de desordens
·-ciedade!-: rcoou sarn,
220 TOCQUEVILLE

dilaceram. outros a depravam; os primeiros a salvam. à8 vezes abalando-a, os


egundos a perturbam, sempre sem proveito.
A América teve grandes partidos; hoje não existem mais; com isso. muili
ganhou em felicidade. mas não e111 moral.
Quando teve fím a guerra. da lndependêncla e tratou-se de estabelecer as
bases do novo governo, a nação achou-se dividida entre duas opimõcs. Tais opi-
niões eram tão velhas tomo o mundo e se encontram cm todas as sociedades, sob
diferentes nomes e diversas formas. Uma queria restringir o poder popular. outra
queria estendê-lo indefin id arncnte.
A luta entre essas duas opiniões jamais tomem, entre os americanos. o carà-
ter- de violência que. freqücntememe, singularizou-a cm outros lugares, Na Améri-
ca. os dois partidos estavam de acordo sobre os pontos essenciais. Para vencer,
nenhum dos dois linha que destruir a ordem an!igu. nem abalar toda a estrutur
ocial, Nenhum dos dois vinculava um grande número de existências individuais
ao triunfo de seus prindpios. Mas tocavam a interesses imaterinis de primcifa
ordem. L~is ccHno o arnor' da igualdade e da independência, Foj o bastante para
desencadear violentas paíxôes,
O partido qu der popular procurou, sobretudo. apíic
uas doutrinas â que lhe valeu o nome: defedetaifsta.
O outro, q,uc xclusivo da liberdade, tomou o ó1ulo d
republican o.
A terra da democracín.

de nrmar-se, e
ue eles mes-
mos tinham combatldo, Grande número dentre os seus princípios terminou, aliás,
lateforma de seus adversários; e:: a Constituição Fê<kral. que
TOCQUEVlLLE

particular, com gostos e. prazeres à parte. O rico submete-se a isto como a um mal
irremediável; evita mesmo, euidadosamcnte, mostrar que isso o fere: ou ve-se, por-
amo, elogiarem em público a serenidade do governo republicano e as vantagens
das formas democráticas. Pois. após o fato de odiar o inimigo. ·o que há de mai
nar ural do que lisonjeá-to?
ede este cidadão opulento. Dír-se-ia um judeu da Idade Méd,a. temeroso de
que suspeitem de suas riquezas. VesLC·Se com simplicidade. move-se com modés-
tia; 1::tllrc as quatro paredes de sua casa. adora-se o luxo; só deixa penetrar neste
antuário alguns hóspedes seletos que considera, insolentemente, seus iguais. Não
se vê .. na Europa, nobre mais exclusivo em seus prazeres, mais zeloso das míni-
mas vantagens que uma posição prmvilegiada pode assegurar. Mas eis que sai dle
casa para trabalhar num refúgio poeirento que ocupa no centro da cídade e dos
egócios, em que rodos são livres de vir abordá-lo. Na meio do caminho. o sapa-
teiro passa. e ambos se detêm: começam a conversar. Que podem dizer? Ocu-
pam-se dos negócios do Estado. ~ não se deixarão sem dar-se a mão.
No fundo desse entusiasmo de convenção e no meio dessas formas obse-
quiosas face ao poder dominante, é fácil perceber nos ricos profundo desprezo
Las 1n~tituições democráticas de seu pais. O povo ~ um pod!er c:tue temem e des-
prezam. Se u_m mau governo da democracia trouxesse um dia a crise potítica, ''""
algum dia a monarquia se apresentasse, nos !Estados Unidos~ como ar,go praticá-
vel, descobrir-se-la c.:1.:db n verdade do que afirmo.

' - A liberdt1dc de imprensa

comelesa
nei-me, apenas aumentamos o mal. Tornariarnos, por acaso, a, pensamento por
um desses elementos materiais que aumenta com o número de seus agentes?
Contaríamos os eserilores como soldados de um exercito? Ao inverso de todos os:
clemeruos materiais, o poder do pensamento aumenta, com freqüência, com o
pequeno número dos que o exprimem. A 'palavra de um homem poderoso, que
penetra sozinha no meio das paixões de uma platéia muda, tem mais poder do
que os grlros conrosos de mil oradores: e por pouco que possa falar livremente
num único, lugar público, é como se falasse publicamente em cada povoado.
É-nos. portanto. necessário destruir tanto a liberdade de falar como a de escrever:
desta vez, chegamos ao ponto: todos se calam. Mas aonde chegamos? Partimos
das abusos da liberdade t enconsramo-nos sob os pés de um déspota,
Passamos da extrema independência à extrema servidão. sem encontrar. em
tâo longa cxtensào. um só lugar cm que pudéssemos repousar. (. __ )
um país em que reina ostensivamente o dogma da soberania popular. a
censura não é somente um perigo. é um absurdo, Quando se dá a todos. ó direito
de governar a sociedade, é. preciso reconhecer-lhe a cnpncidade de escolher entre
as difercnLes opiniões que a.giutm· Sr.!IJ.:S contemporâneos, f apreciar 05 diferentes
ratos cujo conhecirnemo pode guiá-los,
/\ s,ober.ania popular e à liberdade de imprensa são duas coisas absoluta-
mente correlatas: a censura e o vem unlversal são. ao ccnrráríe, duas corsas qu
se: ccntradiscm e não podem encontrar.se, muita tempo, nas instituições politiea
de um mesmo povo. Dentre o:; doze milhões de homens. que vivem no território
encontrou um só que ti vessc proposto restringir a llberdade de

aca-
224 TOCQUEVTLLE

lentam 41s nações enfermas, no momento, em que. tarigadas de lulas e exaustas de


esforços, buscam os meios de coexistência no mesmo sola de opiniões inimigas e
princípios contrários. l- .. )
Todo poder aumenta a ação de suas forças na medida em que as centraliza;
-t! lei geral na natureza que se impôe ao observador e que se tomou conhecida dos
menores déspotas. por instinto ainda mais firme.
Na França, a imprensa reúne dois tipos distintos de centralização. Quase
todo o seu poder se concentra num mesmo lugar. e, por assim dizer. nas mesmas
mãos. pois seus órgãos existem em pequeno número. Assim constituído no meio
de uma nação cética, o podi:r da imprensa deve ser q uasc sem Iimítcs, É um inimi ·
go com que o governo pode fazer tréguas anais ou menos longas. mas em face do
qm1l ê-lhc difícil viver muito tempo.
Nem uma nem outra das duas espécies de centraliaação de que acabo de
falar existem m1. América. Os f.slados Unidos não têm cai pi ta 1: a cultura, como o
poder, dissemina -se cm rodas as partes dc!;;~c vasto país: os raios da fnteUgencia
humana, ao iavé:$ de partirem de centro comum. cruzam-se em todos os sentidos:
s amcrleuncs mio puseram em nenhum lugar a direção gemi do pensamem
dos neaôcics.

Unidos. quase não hã pcvcade mais importanie sem seu jorna].


Admite-se, sem diriculdAde, que entre Lanlos combatentes não se pcssa estabe-
leccr disci plina • nem unidade de ação: cada um alça seu próprio pavilhâo, Os jor-
riais não podem, portamo .. nos Estados Unidos, fomentar essas grandes correntes
de opinião Que derrubam ou transbordam dos mais compactos diques, Essn divi-
•ão das f.atças da imprensa produz, ainda, outros efeitos não, menos notáveis:
DEMOCRACIA NA AMÉRICA 22.:5

sendo Fácil a criação de um jornal, rodo mundo pode faze-lo: por outro lado, a
.oncorrência faz com que um jornal não possa esperar grandes lucros, o que im-
pede as :1lt,:1s. capacidades industriais. de se meterem nesse ripo de empresa. Se o
iornais fossem, aliás, a fonte das riquez.as, corno são excessivamente numerosos,
os escritores de talento não bastariam parai dirigi-los. Os jornalistas. nos Estados
Unidos, têm em geral posição pouco elevada, sua educação é precária. e a feição
de suas idéias é. com Ireqílêncin. vulgar. (. , • ) O espírito do jornalista. na Arnêri-
c~. ê atingir. grosseiramente. sem preparo e sem arte. as paixões daqueles a quem
..t.: Llirig.1::, abandonar vs pdncípi.os para se lhar nos homens: segui-los em sua vid:
privada. p:·u·.u pôr .o iHI suus fraqoct.a!: ~ ,;; cios.
Não se pode negar quem efeitos políticos dessa licenciosidade da imprensa
contribuem indiretamente para a rnanutençâo da tranqüilidade pública. Resulta
11w m~ homens que já tem posição elevada na opinião de seus concidadãos não
rdem, assim. a mais remível arma de que pode-
.. ., )

lJ

mdos, cada Jornal tem. mdividualmcntc. pouco poder: mas


inda ê. após o povu. o, primeiro J

e perigos da as.sociaçâo polilic:a

mundo cm que mais se tirou provei;


1: cm meio de acâo foi nplicndc !l número mais divcrsif'i
1jct1v ••..•.
O hobitMlc.: dl,1' na:i.cimcnc
if euldudc:
226 TOCQUEVILLE

a libcrd~dc ilimitada de assocíar-se, em:


os efeitos funestos nos Estados, Unido~
ciação ê! n
. O uso desse direít:
Atualmente. a liberdade de. .r1.s.soéiaçào tornçu-se urna garantia necessária
contra a tirania da maioria. Nos Estados Unidos, quando um partido se torna
dominante. todo.o poder público encontra-se em suas rnâos: seus partidários ocu-
pam todos os postos e dlspóern de Iodas as forças organizadas. Os homens mai
ilustres do partido contrário, não podendo ultrapassar a barreira que os separa do
poder, devem nec~s:sariarnenLe estabelecer-se fora dele; é preciso que a minoria
oponha toda a sua força moral à força. material que a oprime. É. portanto. um oe
rfgo que se opõe a perigo mai:. temivcl.
A onipotência dá maioria parece-me. de fato. perigo imenso pata o~ Estados
cmcricaeos, de tal modo que o meio perigoso 1,,J ue empregam para contê-la pare-
ce-me um bem. ·
Exprimirei aqui uma idéia que lembrará o que disse sobre
comunais: não há pais em que as associaçôcs sejam mais necessárias para impe-
dir o despotismo dos partidos, ou o poder arbitrário dos pri ncipes, do que o::.. de
strutura social democrática. Nas o&i,:1}c::i arlsrocrâticas. os corpos secundário
formam associações naturais. que detém os abusos do poder. Nos países em qu
tais associações não existem. se os pardculares não podiam criar artificialmente
algo q~tc se lhes assezneihc, nüo vejo outra barreira à tirania, e um grande pov
pod.e ser oprimido i m11uncmentc- p-or um pun hedo de facciosos ou por um homem.

em.
obter o sucesso.
ão é assim que se emende o dirci~o de associação nos Estados Unidos. Na
mêriea, os cidadãos-que fottnilm ~ minoria assoeiam-sc pri rneiro para c-0n statar
TOCQllEVILLE

sua força e, assim. enfraquecer o império moral da maioria: o segundo objetivo


dos U~SOCiadOS ê O de SUSCÍlfü'" C descobrir, dessa maneira. OS argumentos mai
apropriados a impressionar CJ maioria; pois guardam sempre a. esperança de
atraí-la e dispor. assim, do poder. As associações pcJÍLicas. nos Estados Unidos,
ão, portanto, pacificas em seu objetivo e legais cm seus mE!iOs~ quando pretcn
dcm só querer triunfar pelas leis, cm geral estão dizendo a verdade.
A diference que existe, neste ponto, entre os americanos e nós depende d
ârias caus
Existem. na. Europa. partidos que diferem de ta! modo <la maioria que não
podem jamais esperar seu apoio, mas crêem se suficicntememc Iurtes para lutar
contra ela. Quando um panitlo desse iipo forma uma associação, não quer con-
vencer, 111:ls combater. ( .. )
O que nos leva ainda a ver n~ libord.ide de associaçâo mula mais que o direi-
to de guerrear corura 0s governantes é Mossa Inexperiência cm rnatêria de libcrda-
ª"'
e, A primeira idéia que se aprc!}Çnt.a espírito d~ um partido. como t10 de um
homem, quando atinge a idat.fo à~ força.~ a ícléiu de violência: a do persuasão s6
vem mais t~rde.: nasce da exper1ênckt Tem-se, alêrn disso, entre nós um gosto
excessivamente epnixonado pelu guerra. ue tai modo que não h~ empreendimcrn
insensato. mesmo que ah:ll~ o Estado. cm que nâo se ache gloríos» morrer e
. (. . ,)

uropa cstã

dad

ue a que se exerce n
gov~rno que s~ ataca.
Isso diminui bnstanté a for\ja moral dcss
raoo. vinculado ~ luta doi
podcrí
c~sos. _
pensamento'!
DEMOCRACJA Ati..'1ERfÇ, 229

4 - li stintos e inelirraçóes naturais da democracia

1. Os Instintos Democréticos e as Causas que os Corrigem


M una geme na Europa crê sem dizer, ou diz sem acreditar. que uma das
a
grandes va.rHàgcns do voto uni versai é chamar direção das coisas públicas ho-
mens dignos da confiança geral. O povo não poderia governar-se a ~i próprio, ao
ue se diz, mas \.Jc~cja sinceramente o bem do Estado e seu instinto não deixa de
designar-lhe os que se animam do mesmo desejo. capazes de Ler nas mãos o
der.
Qu

vo a afastur Cio
instinto nâu rnen 3 afastarem,
'"m se
"·'º TOCQUEVILLE

tornarem vis, Assim, demonstrou-se-me que o uc vêem no voto universal um


garantia da perfeição da escolha iludem-se pletamente. O sufrágio universal

ao

r-

ea
democracia fe, melhores e

m que

r.:UOS entre OS tõvcr11~nlt'S,


Quando se penetra, enfim, nos novos Estados do sudoeste, onde o corpo so-
cini formado ornem apresenta apenas uma aglomu:1ção de aventureiros e especu-
fodóres. estranha ver a que mãos o poder público foi entregue. e ignora-se com
li!. .J 1

Que torça independente d:b Legisl::tção e dos homens de Estado pode ai crescer
prosperar a sociedade. ( ... )

l_ Co1rseqiiê,1cia_~ da Democracia Qua1110 aos- Encargos P1í!Jlica,'i


... ) Como os homens não fazem mais do que passar um instante pelo
poder, para se perderem. cm seguida. numa massa que. q!-'anto n ela. muda de
face diariamente. os atos da sociedade. na América. deixam menos traços do que
as ações de uma simples familia. A adrninlstraçâo pública é. de cerro modo, oral
e tradicional. N:â.~ J.:é;: escreve. ou, o que se escreve voa ao menor vemo. como as
folhas da Sibila. desaparecendo sem retorno.
Os únicos monumentos históricos Jos Estados Unidos são o~ jornais. Se
falta um número, a cadeia do tempo ê rompida: o presente ~ o passado não mais
se encontram, Niio duvido que dentro de cinqüentn anos seja mais difícil reunir
ocurnenros autênticos sobre o~ detalhes da existência social dos amcncanos d
hoic cm dia tio trué sobre u wJministracão rrance~a na Idade Média~ ~e Lima inva

J. os vi'ck,.-. da Democraci
aristocracia e ;i. di::mocroci.n acusam se mutuamente de facHlr.ar a corrup-
- ; é preciso dis-cingw.ír:
governos aristeeráucos, os l10me11.'S 4ue chegam ao poder são gente rte ••-,
e e:/:, desejam o poder. Nas demccro.cias, os estadistas sâo pobres ~ ainda lhes falta
232 TOCQUEVILLE

fazer fortuna. Conclui-se que, aos Estados artstocrátícos, os govcrnrne são pouco
acessíveis à corrupçjio, e só têm gosto moderado pelo dinheiro, enquanto o con-
trárío se d,; nos povos democráticos.
as, nas aristocracias. já que os que almejam atingir o poder dispõem de
grandes riquezas corno o número dos que ::i.UO suscetíveis de elevá los a essa
I'.'.

posição é circunscrito dentro de certos limites. o governo acha-se de certa forma


cm leilâo, Nas democracias, ao eonrrârio. os que disputam o poder quase nunca
o número dos que concorrem para ::i.tfr1gj lo é muito elevado. Talvez.
racias, o número de homens à venda não seja inferior. mas quas
n unes se encontra comprador: e, aliás, seria preciso comprar muita gente ac
mesmo tempo para atingir o objcnvo. ( .. _)
Jamais ouvi dizer, nos 13M:ci.u.os Unidos, que ~e empregassem grandes rique-
z as para conqui-uar o-. governados; mos vi. com frê:cjüilGcia, pôr-se cm dúvida
probidade! dos funcionános públicos, Mais freqüentemente ainda ouvi atribuire
seus sucessos .a baixas intrigas e rnnnobras culpáveis.
Se. ronamo. os homens que dirigem u
hefcs das democracias mostram-s

4. Os Esf<>rços de que a Democracia é Cap«:


r, , . ) É inconrestâvet que m, r,ov-0~ livres desenvolvem nos perigos uma
ncrgla lnfiniramcme maior uo que os não livres. mas sou lcvAd1"i.:., crer que i,,..
, sobretudo nos povos livres cm q LW pr~do,nin:l o domemo arisl;.,cnhieo. l
dcmoeracta parece-me hem mais apropriada a dírigirsociedade p,11eilíc~, ou
1.1m11
a fo1/.ér, ~e necessário, um grande esforço súbiro, do que :1 enfrentar, duran
multo tempo, as grandes tempcsrades da vida política de um povo. A razão é sim-
ples: os. homens ~e expõem Í't0~ perigos e as privações por entusiasmo. mas só de
A DEMOCRACI A AMF.RJCA 233

vido à reflexão permanecem expostos muito tempo. H.'1. mesmo no que se cham:
coragem instintiva, mais cálculo do que. se pensa: e- ainda que a]) paixões levem.
cm geral. por si sós. a fazer os primeiros esforços, é cm vi:o:;L,1 dos n::::;ultadós qu.
se continua. Arrisca "e urna parte do que caro. para salvar o resro,
é

Ora. é essa percepção clara do futuro. Jundamcntada nas luzes da experlên-


da. que deve Ircqâentemcrue Ialtur ~ democracia. O P.º"º sente muito mais do
que raciocina: e se os mates aluais sâo grandes. pode-se temer que esqueça os
males maiores que o esperam, talvez, em caso d-e derrota, ( ... )
Esta dificuldade da democracia em vencer as paixôes e calar ai- necessidades
do momento em vista do ünuro. pode-se notá-la, nús Estados Unidos, nas mfni-

SJ

ê-
JJ" TOCQUEVTLLE

esclarecidos do que os outros, mas r, de terem a faculdade de cometer erros


eoarúveís.
1
Acrescenre-.R' que para aproveítar convc:nienlemen{c a experiência do passa-
do é prccüo que a democracia já tenha chegado a certo grau de civiiizaçâo t: de
ullura.
F.l'Jcontram~se povos, cuja educação miginaJ foi tão viciosa. cujo caráter
apresenta mescla tão estranha de paixf;es, de ignorôncfa e de noções errôneas
sobre todas :i~ coisas. que não poderiam discernir sozinhos a causa de seus pró-
prios. males: sucumbem sob males. que Ígnorilrn.
Percorr! vastas regiões habitadas antignménk por póJ.;r,,>1,i:11~ nações inJia·"
que hoje nfo mais existem: habitei com tribos j:í mutiladas. que assistem ,i dimí
nuícâo de <:eu~ membros e: à desapariçâo do brilho de sua ~16ria selvagem: ouvi
esmus indíos preverem o destino fina! reservado â sua própriu raça. Não
ruunlo, na Europa quem nâo perceba o que seria nccessárlo f.ai.c, para
preservar esses povos des~fortunados da dcstruiçâo total. Eles não o
1cm o mal que n t:a<la anu se nc~1111uJa sobre suas
ncé o ultimo membro, rcjeüum)
para cbrigá-!

5- neaacns reais da dcmocra.cia amcricaua (C..-\P, ·

"Seções l e .5)
Os víeios e à$ fraquc-za& do governo dt!mocrâtko ~iío vis{vcis: pode-se
clemonslrá-l1.1s através etc e~emplos patentes, enquarno sua iníluéncia salutar se
e,::crcc de maneira i11:oicnsívçl e, por assim dizer, oculta. Seus defoiLos aparecem â
primeira vists, mas suas qualidades sé se põem a descoberto a longo prazo,
eis da democracia americana são. cosn rrcr1üência. defeituosas ou incorn-
pletas; suct:de-lhc~ violar dírcitus adquiridos ou legalicar outros q 1,1e, por sua vez,
são perigosos, ( .. ) Como ~e dn que os Esta,fos americanos se mantenham e
prosperem:
'O êve-se distinguir cuidadosamente nas leis o objetivo que buscam e~ rn.111c1
ra corno se dirigem ;;i esse fim. a perfeição absoluta e o valor relativo.
Suponho que o objetivo do 'legislador seja favorecer uos inrercsscs de um
pequeno número, às expensas da maioria: seus disposiovos combinam-se de
maneira a obter 0 resultado que se propôe no menor tempo e com o mínimo de
esforços, A lei será bem feita. o fim. mau: será pcrigos;:i na medida mesma de sua
perfeição.
~m geral, as leis da democracia tendem ao bem do maior número, pois ema-
11am da maioria tios. cidadâos. que pode se enganar, mas não poderia ter interesse
contrário a si mesma, Ais leis aristccráticas tendem, ttc, contrário, a monopolizar
nas n1àús de um pequeno numero a riqueza e- o poder. pois n aristocracia. por sua
própria natureza, é sempre minoria. Pode-se. portanto. diz.cr que, de maneira
geral. o objetivo e.la democracia em sua legislação é mais útil :i humamdade do
que o da nristocrneia.
tas s:i terminam as tagcns, r ••. ) Pois as. leis democráticas c:ào quase
sempre defeituosas ou inrem stivas, com fiieqiil!11dn. sem ú quererem. trabalham
contra a própria democracia. ' ... )
136 TOCQUEVTLl..ê

hscura que faz


~ SCL1S VÍCH)S C

iséri

ndidn

UC<.l.

n~o seria pos


cina 110~ Estado.
americano. cncontramn-nos, jil. no meio de um
clamor eleva-se de todas U"
mesmo t~mJID, nos. ouvi ••los: cada uma dda.s exprlm
torno da gente. tudo se move: aqui o povo de um
saber se se deve construir uma igreja: ali trabalha se na escolha de um deputada;
mais longe. os depl.!IL.-1dos prnvLrLciílis dirigem-se rapidamente à ddade a fim de
deliberar sobre melhorias locais; em outro luaar, são cultivadores l.le LLm povoa-
<lo. que abandonam O$ an:1uo::; nara irem discunr sobre um plano de estrada nu
A DEMOCRACJA NA AMÊ.RrC,i\ 7

escola. Cidadãos se rc-úniem com o t'.iniço objetivo de declararem desaprovar a


conduta do governo, enq uanio outros fazem o mesma a fim de proclamar que os
~
homens no poder sâo os. pais, da pátria. E eis ainda outrus. que vêem nu alcoo-
lismn a fome principal dos males do Estado. engajar se a dar cx{:mplo de

um imenso

~J estabelecesse um dia na América.


ôlraÍUO:i com a m,cr-

DOCiJ..em al,:.1JmJ1 parte


:ngitnç(les: de Ul113 C!:iS
2] TOC QUEVlLLE

governo de um só, supondo-se de ambas as partes ;:i igualdade de cultura, tem


mais espírito de seqüência em seus empreendimenros do que a multidão. { .. , ) A
liberdade democráLica não executa cada um de seus empreendimentos com a
mesma perfcíçãc que o despotismo esclarecido: com freqüêncía. abandona-os
ante:, de colher os frutos, ou roma iniciativas perigosas: mas. a longo prazo, a
democracia produz mais: do quê o despotismo. faz menos: bem cada coisa, porém
mais coisas. O que é grandioso nesse regime não é o que a :idministruçào i,ública:
executa, é o que se faz sem ela, fora dela. A democracia não dâ ao povo o gover-
ao mais hábil. mas cria o que o governo mais h:ibil nem sempre pode criarc difun-
de cm todo P corpo socfai uma atividade inquieta. uma força superabundante,
uma energia. que mão existem sem ela, e que, por pouco que lhes sejam favorâ vei
a~ circunstuncias, podem fazer maravilhas. E&s3S são as suas vantagens.
este século, ~ que parecem suspensos os destinos do mundo cristão, uns se
apressam a atacar a democracia como uma potência 1nimig~, enquanto eta ainda
está crescendo; outros }á adoram nela um novo deus que sai cfo nada; mas uns e
outros só conhecem tm0ctfüicnmi:nh.~ seu obiero de ódio ou amor: combat~m-se

6 - O perigo da dcmncracia: a onipotência. (CAP. 7)

( ... ) Várias circunstânclas particulares tendem a tornar. na América, o


poder da maioria não somente predommante m~s irresistível,
.L.)?

O impêrio moral da maioria fundamenta-se na i<lêia que há mais luzes e


sabedoria em muitos homens, reunidos do que, num só e no número do que na
escolha feita pelos. legisladores, É a teoria da igualdade aplicada às íntelijgências.
Essa doutrina ataca o orgulho do homem, cm seu último asilo: por isso, a minoria
' 11 acata com d.ifl'culdade; sô se habitua com o tempo. Corno todos os tipos de
poder. talvez mais do que todos. o poder da maro:ria precisa ser duradouro para
arecer legítimo. Q~1.u1.do começa a se estabelecer, só é obedecido peta fcrça:
somente após viver muito tempo sob seu domínio é. que se começa a respeitá-lo.
( ... )
0.-:. franceses. sob a an liga mo11arq1uia. tinham por certo que oi rei nâo podia
errer; e quando lhe acoruecia de fazer o mal. pensavam ser culpa de algum do
conselheiros. Isso muito facilitava .a obediência. Podiu-sc murmurar contra o rei
em deixar de amar e respeitar o legislador. Os americanos têm a mesma opinião
sobre a maioria.
O império moral da maioria fundamertta-se, ainda, em que os int.cre.sses do
maior número devem ~r preferidus aos da minoria. Ora. compreende-se sem difl-
culdade 4 ue se lt.:nha por este direito um respeito que cresce ou dirnin ui segundo
a situação rios ;p!lttidos. Quando um.: 1_ nação cstâ dividida entre vários interesse
importantes e Inconclliâveis. o privilégio da maioria é ignorado com freqüência,
porque se torna difícll submeter-se a ele.
Se existisse. na América, uma elas
_ ,u, ( ... ) ~ provâ,•eJ que: a minoria nno :
as
faciltt1\!nte leis. Mas os Estados Unidos foram povoad
entre· si. niu se encorura dissidência natural e p
·cus diversos babitantes. ( ... l Todos os partidos. ne
reconhecer os direito.'! da rnaicria, porque rod
los cm seu próprio proveítc.
Portanto, s maloria tem, nos Estados Unidos. imcnsc
do opinião quase rãe grande; r: quando est
n5o hii, t.o lvez, o'bstáculos que possam, não di
clxà-la escutar a
de •..

r,
sshn, n
uma linguagem de escravo
240 TOCQUEVILLE

O que é uma maioria. tomada coletivamente, se não um indivíduo que tem


opiniões e:, com freqüência. interesses contrários aos de um outro individuo. cha-
mado minoria? ( ... ) Os homens, reunindo-se, muduriarn de caráter? Tomar-se
iam mats pacientes ante os obstáculos, porque sé tornaram mais fortes? Não
posso crê-lo: ~ o puder de fazer rude, que recuso a um só dos meus semelhantes,
não o daria a vários.
Não & que eu queira. para conservar a liberdade, m ísturar diversos princí
pios de governo num me..smo regime, de maneira ;t opor, realmente, uns ao,
outros. O regime que chamam mi!.l(l sempre me pareceu uma quimera. Não há,
para díxer u verdade. governo misto (no sentido que dão ao termo) porque em
cada sociedade termina-se descobrindo um principio que damina1od.
(- ' .
A DEMOCRACfA NA AMÉRICA )11

certos pensamentos hostis à sua autoridade de circular inaudívelmerue cm seus


E.stado.s e. mesmo, no seio da corte. Não é o mesmo na América: enquanto a
maioria. não se definiu. fala-se: desde que se pronunciou irrevogavelmente, todos
se calam. e tanto os amigos 00010 os. inimigos parecem tomar assento em sua car-
ruagem. A razão é bem simples: não há monarca absoluto que possa reunir ~m
sua mão todas as forças da sociedade e vencer as resistências, corno uma maioria,
investida do direito de fazer as leis e executá-Las.
m rei, aliás, só tem poder material, que age sobre: as ações .. e não pode atin-
gir as vontades: mas 31 maioria. reveste-se deforça moral e material, que age sobr
as vontades como sobre as ações, que impede. ao mesmo tempo. o feito e o desejo
de fazer
ão conheço país em que reine, em geral. menos independência de espírito
e menos liberdade verdadeira de discussão do que na An1éricu.
Não hâ t~o,111 políLica ou rellglosa que não se possa pregar nos: Estado
constitucionais europeus e que não penetre nos outros; pois não há, na Europa.
país tão inteiramente submetido a um único poder, que aquele que quer dizer a
verdade nâo encontre anoio capaz de 111rnlr.:ge~lo contra os resultados de sua
independência, Se tem a infeílclcade de viver sob um governo absolutista •
reqüeruemenre tem o povo em seu ía_,i,or: ::;.r.; •
mente, abrigar-se sob o poder real. A fa.c.c;ão 3ristocr-ártic.1 o
demccrátlcas, ~ a. dcrnocracin nas out !'E;:lni
zada como nos E~1a.do~ lJntdo~. encontra-se um urnco m único elemento
cesso, e nada (or:i dele,

ntos antigos de que se servi a tirania:


atualmente, a civi líz u ;:i.té: o despotismo, Que. n
parecia na.da mru s ~er a eiprendi;:r.
Os príncipes tinham, por assim diier. materializa
blioas democráricas atuais tornaram na. tão íntelccniaí qu •.••.••...•••.••.•••.••.•••.•••.• '" ••••.•• ,
que almeja sujeitar. No regime absoluto de um só. o despotismo, parn chegar ~
ahna, violentava grosseiramente o corpo: e a alma, escapando aos golpes. eleva-
a-se glorlosa acima dele; mas, :n" repúblicas democráticas, não é assim que pro-
cede a tirania; deixa de lado o corpo e vai direto à alma. O mestre não diz maisr
'Pensarás corno eu ou morrerás"; mas diz: ··És livre de não pensar como eu; a
vida, os bens, tudo te é assegurado, mas, deste dla em diante, ê_s. um estrangeiro
242 TOCQUEVILLE

mrre nós. Os privilégios da cidadania são mantidos, mas rornar-se-âo imiteis:


pois se buscas o VQtO de teus concidadãos, não o darão, se só pedes a estima,
farão como se recusassem. Restarás entre os homem, perdendo o direito a huma-
nidade. Quaudo re aproximares. de um semelhante, ftJgíní como de um impuro; é
os que crêem em tua inocência também te abandonarão, porque. seriam evitados
por sua. vez. Vaj em paz, deixo-te a vida, mas tomo-a pior do que a morte'.
; monarquias absolutas tinham desonrado o despctisrno; evitemos que as
democracias o reabilitem e qu~, tornando-o mais pesado para alguns, impeça a
maioria de ver seu aspecto odioso e seu caráter envilccedor ~
as nações mais orgulhosas do Velho Mundo, publicaram-se. obras destina-
das a retratar fielmente os. vícios e os ridícujos dos contemporâneos; La Bruyêre
morava no p~lnc:io de Luis XIV quando compôs seu capitulo sobre os grandes, ,e
oliêre cruicnva a corte em 11\:Çíi~ que eram representadas diante dos corte-
ãos, Mas o poder que domioa nos Estados Unidos não prcLcndc que se zombe
dele assim. A menor crítica o fere, a mínima verdade plcanie a exaspera: é prccí-
ouvem desde as Iorrnas do sua linguagem até suas mais sólidas virtudes,
autor. por mais famoso que seja, pode escepar a essa obrigaçâo de
incensar seus concidadâcs. A maioria vive, portanto. em perpêtua adoraçâo de si
nesmu; só estrangeiros, ou a exeeriênera. podem fazer chegar certas verdades à$
elhas ameticnnns.
e ã Ameríca ainda não teve grandes escritores, não é preciso buscar outras
xistc gênio liLcni.rio sem llbcrdade de cspírrro. e não hã liberdade de
rados Unidos.

7 ausa da república n:t A li. 9

I.

ísse, anteriormente. que via n


partida, o. primeira e a mn]
idade mual, Os amerlcan
:u:; pais importa ram, outrora, para
diçêes e :i de lutcligência, de onde
craciu republíean
de:sccnclcnices os hábims, as ídêias e os costumes mais apr
república florescente, Quando penso no que esse fato original produziu. paree
m,: ver o destino da América todo contido no primeiro puritano que desceu em
suas praias, como toda a raça humana estava na primeiro homem. Entre as
circun'.'.tãnci.as
favorâveis que facilitaram o estabelç:cimenl.o e asseguram a manu-
tcução üa república. a primeira em irnportância é a escolha do pr-6prío pais e
ue o.'\ americanos habitam. Seus ancestrais lhes deram o gosto pela igualdade e
pela liberdade. mas foi Deus quem lhes deu os meios de pcrmaeeeer muito tempo
1gunis e Iivres.
O bem-estar geraí facilita s. estabilidade de todos os governos, mas particu-
larmente do governo dernoerático, que repousa sobre as disposições da maioria e
principalmente sobre as disposições dos que estão mais expostos às necessidades,
Quaado o povo governa, é necessário que seja feliz para que não abale o Estado.
A miséria produz nele o que- a ambiçâo faz dos reis. Ora. ~ causas materiais e
independentes da legislação, que podem levar ao bem-estar, são mais numerosas
na América do que jamais foram cm qualquer país do mundo, em qualquer época
da história. Nos Estados Unidos, não é só a leglslaçâo que é democrática. a pró-
pria natureza trabalha pelo povo,
Onde cncontrur, na lembrança dos homens, algo de semelhante ao que se
passa sob 110$-~oi:: olhos '1'1-' Amér.ica do Nwle1 No momento em que falo. treze
milhões de europeus cíviliz.ados So\ó! estendem, trancüítamente, nos desertos furtei
de que clt::s; mesmos não conhecem ainda éxaramente os recursos nem a extensão.
Três ou quatro mil soldados impelem diante deles a raça errante dos indígetl!ls:,
atrás dos homens armedos, avançam os lenhadores, que abatem florestas, afas-
tam os animais selvagens, exploram o curso dos. rios e preparam a marcha tri
Iante da clvifização através do deserto. ( ...
Imagina-se. gcralmcmc, que os desertos americanos se povuarn com a ajuda
dos imtg-rantcs dê origem européia .. que descem, todos os anos, às margens do
NôVó .M uado, enquanto a pcpulacâo arnerfcana cresce e se multiplica sobre o
lo um dia ocupadu por seus puis: i: um Ji(avc erro. O europeu que desembarca
nos Estadcs Unidos chegá sem amigos e. quase sempre. sem recursos. é- obrigadó
lugar-se para viver e: é raro ver-se ultrupussarern a larga zona industrial que s
estende to longo do oceano. Não se pode desmatar uma regíão deserta sem capí-
caJ ou sem cri:dim: antes de se arriscar no meio das florestas, ê preclso que o
coroe se tenha hrib~toaclo uos rigores de um clima novo. São, portanto, os amari-
que. abandonando dia a dia o lugar de origem. vão criar ao longe vastos
domí nu sue palhoça para ir habi~ar
trans seido nessas rnesmss condiçê
; duplo movlrncrno
ropa, ccntínun no grande oceano e s~g
do Novo Mundo. Mi1hões de homens dirigem-se, ao m
<, mesmo ponto do hcrízonrc: a Ungua, a religião. os costumes.
mmn. Foi-lhes dito que a fortuna se encontrava em algum lua

' ... 1tt3


? encontra-
Providênci
destruição e ~

em direção ªº
,
são .fáceis
roa mpre em pm.\i senu-ocu-
4 TOCQUEVILL E

ruí
rindo
rpressa-se cm apa-
A DEMOCRACIA NA AtvLÉRIC 245
246 TOCQUEVILLE

2. Os Costumes, Ünico Suporte Real da Democracia (S<;ção 3)


São os costumes que- tornam oi-.: americanos os Únicos capazes, cm toda a
América, tfo suportar o irnpêrío da democracia: sâo eles. ainda, que fazem da
diversas democracias anglo-americanas países ordeiros e prósperos .
or isso mesmo exagera-se na Btirop.a: a influência exercida pela posiçâo
geográfica do pais sobre a duração das ínstituícões democráucas, Atribui·
demasiada importância às leis. pouca aos costumes. Essas três grandes causa
.servem. sem dúvida. no senudo de dirigir ri demccrucia: mas, se fosse preciso
classificá-las, diria que as caus~s fisicas cornribucrn menos do que as leis, e as lei~
menos do que os ccstornes.
u~tou convencido de: que a situação gcográfíce mais favorável e as mclhóres
leis não podem manter uma consthuiçâo upcsar dos costumes. enqunmo que estes

snírho, l1L1111 oonto een-

nJ

sre futuro não assusta.

da
nh
DEMOCRACIA NA AMÉRICA

rnurt.•.
geral
terem

,\ vontade:
imperfeitas; LI
.1 império d...i dtmocrnci~ e o jugo de um ~\. ni'to deveríamos tendei" antes para
primeira do que submetermo-nos volunrariarnentc ao outro'! E se fosse preeiso •
.nfirn, ehcgar à completa igualdade, não seria melhor deixar-se nivelar pela liber-
dade do que por um déspota?
248 OCQUEVJLLE

Aqueles que. após lerem lido este Iivro, julgarem que. escrevendo-o, quis
propor as leis e os costumes anglo-americanos como exemplo para todos os
wos de estrutura social democrática, cometeriam enorme erro: dariam impor-
tância a forma, abandonando a substância mesma do meu pensamento. Meu
objetivo foi mossrar, através do exemplo da América. que as leis e, sobretudo, o
costumes podiam permitir :n um povo democrático permanecer livre. De toda
maneira, veria corno grande infelicidade para o gênero humano que a. liberdade
tivesse que apresentar os mesmos traços cm todos os lugares.
Mas creio que se não ~e consegue introduzir pmJCO a pouco, e fundar. final
mente. entre nós, instillli~·õcs democráticas. e que, se se renuncia 11 dar a todos o
idadâos idéi~:1s e sentimentos que os. preparem para a llberdnde, permitindo-lhes
'm seguida o 11:,;u, não haverá independência para ninguém. nem para o burguê . . ,
nern p.arà o nobre, nem para C1 pobre, nem paru o rico. mas uma Lirani.l igual para
todos: e prevejo que se não se consegue fundar. entre nós. o império padfícu da
maioria. c.h<:g:1re1no~. cedo ou tarde! ao poder iltm. ltado de rum só.
3. O lmpério da Religiãn
;\o lado

que tenham Lima religiiic>.


runcJ.q,; unidade c.:ristd. I.' u mora 1
)
Não se pode dizer que, nos. Estudos Unidos. rcligi-
(1

u sobre as particularldades cla opinião pÜblica, mas lliri~e os cn~rn


nc.~ e e oníennndo a familia, que trabalha na crienraçâo do Estado. Não duvido
nem um fn-:-t.1mc que ,l gnmdc severidade UI! costumes que se nota nus Estudo
lnidos tenha ~u~ fome primeira nas crenças. A rclig1fü.:i é. com freqü~ncia, impo-
tente para reter o~ homens no mcfr~ de renraeôes sem número, criadas pela fortu-
A OE.M OCRAClA ANLÉRfCA 4

na. Não poderia moderar-lhes u gosto pelo enr-iquecimcnto. excitado por todas a··
coisas, mas reina soberanamente na alma da mulher, e ê a mulher que faz O$ cos-
rumes A Amêrica é certnrneute o país do rnuudo em que o~ laços do matrirnóni
onde se concebeu a ideia mais alta e mais justa da foliei-

nidn.

(1 fofr
TOC EVrLLE.

Quantia cheguei aos Estados Unidos, foi o aspecto religi{)~O o que primeiro
me chamou a atenção. A medida que prnkmgavu minha estadia, percebia as gran-
des conscqõências 4uc decorriam desses Iates novos. Tinha visto entre nós o esp[
rito de religião e o espírito de I ibcrdade moverem-se sempre em sentidos contrá-
rios- AL1ui encontro os Intimamente ligados um ao outro: reinam juntos sobre o
mesmo seio. Cada dia. s;c~tia crescer me o desejo de conhecer a causa deste
fenómeno,
Para consegui-lo, iruerroguei os fiéis de lOÜH_::; as 'Sei Las. A cada um exprimi
meu espanto e expus 11t1rL~;1:- dúvidas; mns todos atribuíarn principalmente (1 com-
pleta separação entre a lgrej~ e ú Estado o im pério pacifico exercido pe Ia rcligiào
em "cu paí~, Não lemo afirmar que durante minha. estadia m1 América jamais
encontrei um só homem, padre ou leigo. que não se tenha posto de acordo com
·~s~ idéia. ( ....
uando tentei saber qual era o pensamento do clero, f'Cl'CCbi que ç1 maioria
de st!U~ membros parecia afnstar-se vnluntnriumente dn poder, e desenvolver unia
or'gulho profisxionn] com rclnçâo oo füto de permanecer estranho a
poder. Vi-os separarem Si! de todos os partidos e se íurtarem a seu contato eom
todo o ardor de interesse pessoal,
sses ra.u,s !IC!lb:un111 ~M pr<,var que tinham me dlto u verdade. Então quis
,,ir dos raros. às causas: Íntt!rrngtJéi me de que maneira podia acontecer quc.dlml-
nuindo a força uparcrue du rcligrâo, Sé pudesse a1.1n1i.:11 Lar-lhe o poder real. e consí
derei não ser difici I desce, bri J n.
d.1.: scsscn 1a :~nos encer mu L1\CF!1J n i PM1 tti ,..,..,..'11"1 --lo
4. A In/lu.ê"cia da. lnstruçéo (Seção 7)
Procurar-se-ia inutilmente 110s Estados Unidos um único município mergu-
lhado na ignorância, A razão i: bem simples: oi- povos da Europa partiram das
trevas e da barbárie. para avançar em direção à civilização e à cultura. Seus pro-
grcssos são desiigua.1s; nessa corrido. uns correram. outros upcreas carrti
muitos se detiveram, e ainda dormem no caminho.
os Estados U nidus, nau xc deu n mesmo.
Os anglo-americanos chegaram perfeitamente civilizados ao solo que sua
po:slc.:ri(h1dc ocupa hoje: não tivera m que aprender, bastava-lhes não esquecer,
OnL, sâo os filhos desses mesmos americanos que todos O!$- anos transferem para
o deserto, com suas casas. os conhecimentos já adquiridos e a estima pelo saber.
ducação fez-lhes sentir a utilidade da cultura . e pô-los e111 estado de transmiti-
la aos seus descendentes. Nos Estados Unidos. a sociedade não tem infância.

ra camponês; não empregam a palavra.


rímeiras Idades, a simplici-
não s~ conscrvarurn entre eles. e não
t<- há.hitt;~ ~n~si«:Íro~. ni.::m as grnças

füli
serve
nenhuma reir

na
251 TOCQUEV ILLE

com o povo americano. e não saberia dizer o quanto admirei sua experiência
~m~~ .
- participando na legislaçiio que o americano aprende a conhecer as lels; é
overnando que se instrui sobre as formas de governo. A grande obra da sccie-
dade cumpre-se, a cada dia, diante de seus olhos e, de certo modo. em suas mãos.
. . .)

{Se.çàu I)
s Jlorncns espathados
urna mesma f:nnilia. Desce
natural
1; nté a

'
snno.
chama a atenção, o pti ·
m branco, o europeu. u

( ...
Ch
DEMOCRACIA NA AMÉRTC 253

O negro entra ao mesmo tempo na servidão e na vida. Digo ma]: com


freqüência, ~ comprado ainda no ventre matemo, e começa. por assim dizer, a ser
escravo ames de nascer. Sem necessidades, sem prazeres. inúril a si mesmo
compreende. através das primeiras noções que recebe sóbre o e-xistência. que &:,
ropricdade (.k um outro, cujo interesse ~ velar por seus dias: percebe que o cui-
dado com seu próprio destino nâo lhe cabe; o próprio uso útt inteligência parece-
lhe um dom inútil da Provldêncía. e goza pacíücamente de Lados os privilégios de
sua própria baixeza.
Se .se torna livre, a independência parece-lhe então algema mais dura do que
n própria escravidão: pois, no t.leç.uíS1,.1 de sua existência, aprendeu a subrnetcr-s
a tudo. exceto à razão: e. quando a razão se toma o seu único guia, mio sa
como reconhecer sua V07•• Mil necessidades novas o assediam. nâo tem conheci
rncntos

s ho.
ean

e.
u
15-4 TOCQUEVIl LE

O negro faz mil esforços inú1ci~ para. se: introduzlr numa sociedade que o
repele; inclina-se ante os gostos de seus opressores, adota-lhes a::; opiniões, aspi-
ra, irmtando-os, a confundir-se com eles. Disseram-Lhe. desde o nascimento, qn
sua raça ,é naturalmente inferior ã dos brancos, e nâo esrâ longe de crê-ln - por-
tamo. tem vergonha de si mesmo. Em cada um de seus traços descobre uma
marca de escravidão e. se pudesse, consentíriu ulegremerrte em repudiar-se intei-
ramente. O índio. ao contrârlo, tem a ímagjnação repleta da pretensa nobreza d
sua origem, Vive e morre em meio a esses sonhos de seu próprio orgulho, Longe
de querer subsfüuir seus costumes pelos nossos. apega-se ·à barbárie como a um
igno distintivo de suu raça e repele a civilização. talvez menos por ódio contra
·la do que por medo de parecer com os europeus. ( ... )
O negro gostaria de contundir-se com o europeu. e não pode. O índio poce-
ria, até certo ponto. consegui lo. mas desdenha tentá-lo. A servili1.ht.Jc de um, le-
Vil-o à escraviuâo, o orgulho do outro. à morte, { ... \.
J. A Destruição das Tribos ludlgem1.s (Seção 2)

ova tnsh•l~rra. o

m(ljc; solva~i.:m, somente par


IÚnÍCO~ QUé podia oferecer••.• .,.,..,. ••• ,,., .-.,ai, ,,..,...,ç,:,.:.11.:1uu1.:s uu:N mmgt:nm, aumeUHI.V;J.m
dessa maneira. seus rccu rso
arur do dia cm que um estabelecirnento europeu ~e forma nas vm-
nhm1ça~ de um territôrio ocupado polos índios, a: caça se espanta. Milhares de sei
ª$'-'"S errando nus florestas, sem habitação íixa. não a assustam; mas uesde o
instante em que os ruídos contínuos da indústria européia se Iazem ouvir cm
lguru lugar. começa a rugir e retirar-se em direção ao Oeste, onde- o instinto lhe
mostra que encorurarà regiões inabitadas sem limites, Asseguraram-me que este
efctto da proximidade dos brancos se fazia sentir a duzentas léguas de- suas fron-
reiras. Sua influência. exerce-se, desse ntQdo, sobre tribos de que quase nem sabem
o nome. as quais sofrem os males da usurpação antes de conhece, lhe: os autores.
.... )
ão se poderiam imaginar os mates hediondos que acontpenham as emigra-
coes forçadas dos indígenas. No momento em que deixam os campos paterncs.já
se encontram esgotados e reduz idos. A reghiio onde vão lixar-se é. ocupada por
populações que olham os recêm-chcg ados com desconfinnça. Altá:. deles está a
fome. adiante a guerra. e a miséria. em toda parte. A fim de escapar a tantos ini-
migos. dividem-se. Cada qual busca isolar-se para encontrar furtivamente O::,
meias 1,!ç subsistir. e vive na imensidâo dos desertos como o proscrito no seio das
sociedades civilizadas. Os. laços sociais. jã ha muito tempo enfraquecidos, rom-
pem-se então. Já não há pátria p::tra eles. cedo não haverá mais povo; será muito
·e ainda restarem famJtia.s: perde-se o nome comum, esquece-se a. língua. os tra-
ços da origem desnpnreccrn. A nação deixou Jc: existir. Vive somente nas lem-
branças de amiquários americanos e só é conhecida por alguns eruditos europeus.
( .. ,'
Os indi

rerâ

nao
dai

ue

nossos p.11s,

iovc
uando
256 TOCQUE LE

··I

ancestrais.
Os espantrôis, pôr meio de monstruosida.dc:,. sem precedentes, cobrindo-se de
vergonha indelével, não conseguiram exterminar a raça índia, nem mesmo impe-
di-ln de compartilhar de seus direitos; os americanos obtiveram esse duplo resul-
DEMOCRACil.A NA AMffRJCA ZS7

tado com maravilhosa facilidade, tranqüilamente, legalmente. filantropicamente


sem derramar sangue, sem violar uru único grande: princípio <la moral aos olhes
do mundo. Não se poderia destruir uma raça humana respeitando melhor as lei
da humanidade,
2-A Süuação âos Negros{s_eção 3)
Os í ndios morrerão no Isciamento em que viveram: mas o destino dos ne-
gros está de algum modo ligadn ao dos europeus. As duas raças estâo ligadas
uma â outra. sem pOí isso eonfundir-se; é-lhes tão dlfícll separar-se completa·
mente como unir-se, O mal mais temível, entre os que ameaçam o futuro dos
Estados Unidos. é :a presença dos negros em seu solo. Quando se procura a causa
das dificuldades presentes e dos perigos futuros da União, c-hvga,-;,e quase sempre
fato. de onde quer oue se pasta, ( ...
Iricano que Lenha vindo livrernenje para o Novo Mundo: donde se
conclui que todos os que ru ~e encontram atuajrnente são escravos ou nlíorriad.os..
Desse modo, o negro transmite com a vida o signo exterior de sua ignomfnía
todos os. seus descendentes. A lei pode destruir a servidão, mas sé Deus pod
fazer•lhc desaparecer os traços, { ...
Não~ só isso: este homem nascido na baixeza; este estrangeiro que a servi-
dão introduziu entre nós. quase raio reconhecemos nele os traços gerais da huma-
nidade. Seu rosto nos parece hediondo. sua inteligência limitada, seus gostos sã
uco ralwpara que o roeremos por um ser intcrmcdiàrío entre u animal
e o homem. o~ modernos. aoós terem abolide g eseravídâo, ainda têm que dcs-
prccon.cei10 do senhor.

ião :a lei permite aos negros contrafrem elian-


: mas a o~inião pública declara iPfamc o branco que
se essa com urna 111c,sr,a, ç :icria muito difü:il citar o exemplo de: semelhante fato.
Em quase modns os Estados cm que ,a escravidâo roi abolida, deu-se ao nieg;ro o
direito eleitoral: mas, se se apresenta para votar. corre risco de vlda, Oprimid .....
poder queixar-se, mai:. ~, encontra hr~1H:;o::i e-orno juíze.c:i. A lei faculrra-fhe o banco
dos jurados, mas o preconceito o repele. Seu filho é excluído da escola cm que o
descedcntc dos europeus vem estudar. Nos teatros, não poderia comprar .a prcç_1
de ouro o direito ele sentar-se ao lado daquele qu~ foi seu senhor: nos hospitais
jaz à pane. Permite-sé ao, negro implorar ao mesmo Deus que os brancos, mas
2.5S TOCQUfVTLL

nao rezar no mesmo altar. Possui seus padres e templos. Não se U1e rocha .a porta
do céu: mas a desigualdade termina quase aos limites do outro mundo. Quando
o negro morre, seus ossos são jogados à parte e a diferenca de condiçâo é encon-
trada ,ué na desigualdade diante da morte. ( ...

nl
nort
idâ

. e

mah tlilícil ubollr, uti lmcnt

eéias crescem no norte da União; ô sul J)Ossui produ


~~bQCÇJ, do algoduo C S(ibr~~yt.Jc, da C'llll:'\-óe-açÜC:nr

se
m em escravos, e ema riam que suportar a
concorrência dos outros Estados do sul que conservassem a escravidão. Desse
modo, o .sul tem razões para conservar a escravidão. que o norte não possuí.
as eis outro motivo mais poderoso do que todos os demais. A rigor, o sul
poderia abolir a servidão; mas corno poderia Ilvrar-se dos negros? No norte.
expulsam-se ao mesmo tempo escravidâo e escravos. No sul, não se pode esperar
atingir os dois resuhados ao mesmo Tempo. ( .. , ) Naturalmente, ali os negros são
mais numerosos do que 110 norte. E cada dia tornam-se mais numerosos. pois à
medida que se abole :1 escravidão em uma extremidade da União, os negros se
acumulam na outra. Assim. o número de negros aumenta no sul. não somente
pelo movimento natural da população. mas ainda através da emigração forçada
dos negros do norte. ( ... )
Se fo~.st: absolutamente necessário prever o futuro. diri a Que, de acordo com
<J curso provável dus coisas. a abolição da escravidão no sul aumentará a repug-
nância da população branca pelos negros, Fundamento esta opinião no que já vi
de Mliilogo no norte. ( ...
u obrigado a confessar que não considero a abolição da servidâo um me:i
de retardar. nos Estados Unidos. a luta entre ~u: du;,~ raças, ( __ ) No norte, lodo
proveito estava cm alforríar os escravos: livravam-se. axsirn. da cscravidâo. sem
nadn tér a temer dos negros libertos, Estes eram pouco numerosos pura tentarem
cxigl:r direiros, No sul, não é o mesmo. A questão de cscravidâo era para d"
,,~•,horc.:o.: cio norte uma questão comercial e industrial. No sul, é q uestãn de vida
nu ,,, , 1r1c. i J

Qu~isqu.cr que s.ejan1, ,11))ú~. ,o~ ~=-f1.m;v) dos. americanos ,.!l, sul dos estado
nídos ['l:lrtt conservar ~· escravícão, não n cnmseguiriio sempre, Encerrada e!
um $J ponto do globo, atacada pelo crlstlanlsrno eomo injusta. pel:
riorí·1icfl corno funesta. ::i. escrnvldâo. em meio à libi: :r,fodc democrátic,
d~ nesse século. não t! tnselnncâo que possa ser durndcur», Em ambos os cas
reparar se para grande» desgrucas.

(~ -f) de pl,"r'lll!Jnencia d:1 repúbliea nos nidcy

cupad ~ .au:J trncme

m,~lc umericanas

panes da Uniâc, mas não


coruradiçãc entre as mesmas,
Os Estados do .•• ui são quase excíustvamenre agrícolas; os do norte são parti
cularrnense industriais e comerciais; os E~cado.s_ do oeste sào, ao mesmo, tempo
rnanufaturciros e agrícolas. Ao sul, colhe-se õ tabaeo.o urroz, o algodão e o açá-
260 TOCQUEVlLLE

car; no norte e no oeste. milho e trigo, Eis que são fontes diversas de riqueza;
mas. para se abastecer nessas fontes, há um meio comum. a união.
O norte, que exporta para todas as partes do mundo as riquezas dos anglo-
arnerjcanos e as riquezas do Universo para o seio da União, tem interesse evi-
dente em que a Federação permaneça tal corno hojê cm dia. a fim de. que o núme
rodos produtores e consumidores americanos que serve seja o mais alto possível.
O norte é o 1111termcd1ilrro mais natural que existe entre v sul e o OC1)le da Unià
tom relação ao resto do mundo; o norte deve. portanto, desejar que o sul e o oeste
errnaneçam unidos e prosperem. para QúC lhe forneçam matéria-prima para as
manufaturas e frete para os navios.
O sul e o oeste têrn, por seu lado. interesse aínda maior na conservação da
união e na prosperidade do norte, Os produtos do sul sâc exportados, cm grande
parte, além dos mares; u sul e a oeste tem. portanto, necessidade dos recarsos
comerciais do norte. Devem querer que a União tenha grande: poderio marítimo.
para poder protegê-los eficaxmen te. O sul e o oeste devem éontribuk pruzcirosa-
mente para .u man l.!llCnçào d a Marinha. embora não possuam navics; pois se a
frotas da 8uropa vie-.~~~m a bloquear- os portes do sul e o delta do Mlississipi, qu
erla do arroz da Carolina.1 d() tabaco da Yirgínia, do açúcar e d'o algodão qu
crescem nos vales do Mississipi? Não 1,ãi, portante, parte: do orçamento federel
quê não eomribue à conservação de um interesse material comum a 10d
Estados da Pcdcr.açiio.
(ndep,indcntêméntc de.ssu un idade comercia], o sul Uniâo (e:
lítica cm permanecerem unidos entre ~ n~. ( ... )
pintõ~s é dos semírneruos que poderiam

m
instinuvc e,


h em Que os ang 1 o-amencanos tem-lum, vanas
' • 1' ,,.
re~~s10- cs. to d- O:., tom
• uma
maneira de considerar a rcligiiio. Não se entendem sempre Quanto aos meios: a
empregar para bem governar e variam quanto ãs formas que convém dar :\1
governo, m.1ui estão de acerco q uan LO aos prinei pios gerais que devem reger a
sociedades humanas. Do Mai111; ~ F'lóri<la. do Mi~;:;ouri ao oceano Atlàntk
.acredi-ca-s.t que a fonte de todo poder Iegítlmo é o povo. Tem-se a mesma idéia da
liberdade r= d.1 igualdade: professam-se as mesmas opiniões quanto à_ imprensa, ao
direito de associação. ao júti it responsabilidade dos agentes do poder,
Se passamos das idéias políueas e religiosas. à~ opiniões lilasôfica.s e mor-ai
que regem as açôes cotidianas da vida e dirigem o conjunto da conduta, observa-
remos o mesmo acordo,
A DEMOC KACIA NA AMÉRTC A 61
2.62 TOCQUEVLLLE

tardai cm atingir a excelência neste particular; sabe, admiravelmente, tirar p:1.li'iido


da natureza e dos homens para produzir riquezas; compreende, maravilhosa-
mente, a arte de ohtcr o concurso da sociedade para a prosperidade de cada um
de seus membros, e de extrair do egoísmo individual a felicidade de todos.
o sul, o americano é mais espontâneo, mais cspírltuoso, aberto, generoso
miais intelectual e brilhante. No norte, o americ,no é mais ativo, racionnl. esclarc-
cído e hábil.
Reúnam-se dois homens em sociedade, d~em-.se-Jhcs ó:;; mesmos interesses e.
em parte, as mesmas opiniões: se seus caracteres. grau de civilizaçâo e d,; cultura
diferem. há muita probabilidade de que não se ponham de acordo. A mesma
bservacão é aplicàvel a urna sociedade de naçôes.
A escravidão não ataca. portanto. diretamente a Confederação americana
através de seus in teresses, mas, indil"C.lümente, utravês dos costumes.
Os Estados que aderiram ao pacto federal em 1 790 eram treze: hoje em dia.
a t-cderac,ão conta com vime e quatro membros. A população, que era de quatro
milhões em l 790, triplicou no e~pi1ç.o de quarenta anos; em I S30, elevava-se a
cerca de u·tte milhões. ·
crnelharucs mudanças não podem passar se sem perigo. ( ... ) Mas o maior
e a União corre com relação a seu crescimento é o dcslocurnento conrí
nuo de forças que ::.e.: opera em seu seio, ( ... )
É difkH conceber uma união durável entr

r:e sua voa


arncaça retirar-se de uma sociedade de Que tem os
coisas de que foi tesremunna, o perigo seria mínimo; mas há algo de precipitado,
diria, mesmo, de rcvolucioaário nos progressos feitas pela sociedade na América.
O mesmo cidadão pôde ver seu Est.ado à fren Le: da Uniâo e tomar-se. cm seguida
Impotente diante dos conselhos federais. Há um Estado que cresceu tão depressa
quanto um homem: nasceu, cresceu ,e. chegou à maturidade em trima anos.
entretamo. não .se deve: imaginar que os Estados que perdem poder se despo-
voem ou pereçam, a prosperidade não se detêm; crescem, mesmo, mais rapida-
mente do que qualquer reino europeu, Mas parece-lhes quê empobrecem. porqu
não enriquecem Lão depressa quanto os vizinhos, e crêem que perdem fodo o
poder. porque entram cm contato com potência maior do que a deles: seus sentí-
mentos e paixões são feridos. mais. do que seus próprios interesses. Nâo bastaria
para pôr c111 perigo a Federação? Se. desde t> começo do mundo. os povos e os
reis só tivessem em vista seus interesses reais, praticam-ente não se saberia o que
seria a guerra entre os homens.
Desse mod

. inveja.
264 TOCQUEVH..LE
iióimigos do que então. E, entretanto. se se estuda cuídadosarnente a história dos
Estados Unidos nos últimos quarenta e cinco anos, notar-se-á, sem dificuldade,
que o poder federal lcm decrescido.f , _.)
Quer-se a União, mas reduzida a uma sombra: querem-na fone em certos
casos ,t.: fraca em todos os outros: pretende-se que, em tempo de. guerra, ela possa
reunir em suas mãos as forças a acionais e todos os recursos. do pais, e que, em
tempo de paz, praticamente não e'.lrista; como se essa alternância de debilidade e
vigor estivesse cm sua natureza, No presente. nada vejo que possa deter lêL">se
movimeill.to geral dos espiritos: as causas que o fizeram nascer não pararam d
oper~r ao mesmo sentido. Continuará, ptl!"{ál:lto_ e pode-se predizer que, se não
surgir circuns.tància extra.ordinária, o governo da União se enfraquecerá cada dia
mais,
de que o poder federal, incapaz
tínaa, de alg11,rm

ca-
u-
A DEMOCRACIA NA A"M :ÊRlCA 26

Mas, na Europa. fizemõs estranhas descobertas.


A república. segundo alguns dos nossos, não é o reino da maio da. é o reino
dos que combatem em seu favor. Nào é o povo que d frige. nesses tipo.s de gover-
no. são aqueles que conhecem o bem do povo: distirlçào feliz, que permite agir em
nome: das nações sem consultá-las, exigir-lhes o reconhecimento, pisoteando-as,
O governo republicano seria. além disso, o único ao qual se reconheceria o direito
de fazer tudo e de desprezar tudo o que, atê C) momento, os homens respeitaram.
desde as mais altas. leis da moral até as regras mais vulgares do bom senso.
Pensava-se, ,tté agora, que o despotismo fosse odioso. sob todas as suas. formas,
Mas deacobriu-se, ultimamente, que há no mundo tirania .., legitimas e santas
'njustiçmi, desde que sejam exercidas em nome" do povo.
As ideias que· têm os americanos sobre a república facilitam o uso que lh
dão e asseguram-lhe a duração. Entre ele. ;,1 se :;i prática do governo republicano é.
freqüentemente, defeituosa. pelo menos a teoria é boa, e o povo termina sempre
.a d equan d o seus aios a' propna
' . teorsa,
'
o começo era impossível e seria ainda muito difieil estabeleecr. na Amêri-
a. uma admioistração'"()entralizad,,., Os homens encomram-se dispersos em
..• tensão dcmaslado grnnde e separados por obseácutos naturais demasíade
1mrortantcs DarQ que uma única pessoa possa tentar dirigir O!; detalhes. de sua
r excelência, o país do so"erno provincial

ria pre
os Fstodos Unidos. a reli-

00111-
266 TOCQUEVELLE

ira que reconhece a cada cidadão o direito de esco-

deria

ex plico-se fucilmcnrc: <.f

urnrn
meu pensamento.
Duramc as guerras da Revoluçãn Francesa, in1rndu:;,írnos n::i arte militar
urna tárícn nova que confundiu os mals velhos generais e quase destruiu as mais
antigas monarquias européias. Tentararn o~ franceses, pela primei,·a vez, ignorar
uma lmensidâo de coisas are cruãn julgadas indispensáveis ,à guerra; exigiram de
seus soldados novos esforços, que as naçêes eivilizadas jumais tinham pedido aos
•U r

seus; trzeram tudo correndo. e arriscaram a vida dos homens, com vistas aos
resullados esperados. Os franceses eram menos numerosos e ricos do que os. rrtL
rnigos; possuíam menos recursos; no entanto, foram cunstantemente vitcríosos,
atê que os outros tomaram a decisão de imitá-los,
Os americanos introduzjrarn algo de análogo no comércio. O que os trance-
ses faziam pela vitórin eles fazem pelos bom, preços,
O navegador europeu só se aventura nos mares com prudência; St) pane
quando o tempo permite; se sucede acidente- imprevisto. volta ao porto: de noite,
~uarda apenas parte das velas e. quando vê clarear o oceano com a proximidade
de terras, diminui a velocidade e consu I ta o sol.
O umericano 11egligen.cia essas precauçôes e enfrenta os perigos: Parte quan-
uo a tempestade ainda ronca; de noite. cerno de dia. abandona todas as velas a
ven to: conserta, cm marcha. o navio castigado pela tempestade e. q_ uando vê
aproximar se o fim da vi.1gem, continua 3 voar cm direção ii margem. como se já
tivesse descoberto o porto, Nà() poderia exprimir melhor meu pensamente do que
dizendo que o~ americanos colocam urna espécie de heroísmo cm seu medo d
fazer corn êrclo.

Eslt! movímemo umverscl que reina nos Esrados Unidos, essas reviravolta
68 TóCQUEYtl.LE

freqüentes da sorte, esse~ deslocamentos imprevistos das riquezas públicas e pri-


radas, tudo se: une para manter a alma numa espécie de agitação febril, que adis-
põe admiravelmente em fa\it)r de todos os esforços, e a mantém. por assim dizer
acima do nível comum da. humanidade. (. __
Não ~e pode duvidar que os americanos do norte sejam, um dlia, chamados
atender às necessidades dos sul-americanos. A natureza colocou-os lado a lado.
Deu-lhes assim grandes. facHidãdes para conhecer-lhes as necessidades, para: esta-
belecer com esses povos laços permanentes e apoderar-se. gradualmente, do mer-
·.:1do que constituem, O comerciante americano só poderia perder essas vanta-
ens naturais se fosse muito inferior ao comerciante europeu e, ao contrário, é-lhe
superior cm vário:,; poatos, Os americanos dos Estados Unidos já exercem grande
influência moral sobre liJdos os povos do Novo Mundo. Ê. deles que panem as
luzes. Todas as nações que habitam o continente já se habituaram a considerá-los
s Iilhos mais esclarecidos, mais poderosos e: mais ricos. da grande família ameri-
cana. Porrarito. voltam incessantemente os seus ôlli:'.ll'll!S em direção à Unr·
assimltarn-sc, canto quamo podem, aos. povos (JúC a compõem. Todos os dias vem
stndos Unidui,, inspirar-se nas doutrinas piJIÍtica.s e compilar as leis,
s americanos dos Estados Unidos aeham-se, face aos. povos da América d
Sul. ercclsamerae na mesrnn siltJlu~!in '1111~ •U•n..: nni<:: ínaleses têm em relação üO
uropa, que, estando
de suas mãos; os objetos

C{)f1-

nelusâo do livro 1 (CAP, 10}

is que me aproximo do termo. Até o momento. falando do destino futuro


dos Estados Unidos. esforcei-me por dividir n assunto cm diversa
de estudar com mais euidado cada uma delas.
Gostaria agora de reuni-las todas. sob um só ponto de vista, O que direi será
m.rnos rninueioso, porém mais seguro. Verei menos distintamente cada objeto~
abarcarei com maio'" certeza o-s fa.tos serats. Serei como o viajante que, ~a;-ndo
uos muros de uma grande cidade, sobe num a colina próxima. À medida que se
afasta. os homens que acaba de deixar desaparecem da vista; suas, casas se coa-
das
.ira vez,

neles

ci americanos
glcsa nos des
orte território
do continent

no

V
meio ,a

que
70 TOCQUEVILLE

trnagina-se que o movimento prodigioso que se fez notar no crescimento


populacional dos E~tados Unidos date da Independência: é um erro. A população
crescia tão rápido no tempo da cclónia quanto hoje cm dia: dobrava. da mesma
forma. a cada vinte e dois anos, (
Durante os oito anos da guerra da indcpcndênciu. a população não cessou
de aumentar nu mesmo ritmo. Se bem que existissem, então. nas fronteiras do
oeste, grandes nações indígenas ligadas nos ingleses. o movimento de migração
par.-. u oeste. de certa forma. jamais diminuiu. Enquanto o inimigo devastava as
istas do Atlânti.co. o Kenluck.y. os distritos ocldentais da Pensilvânia. o Estado
de vermont e o do Maine enchiam-se de habitantes, A desordem consecutiva iJ

ca

sma origem, .a m
/ 1

e neles circulará o mesmo pensamento, da m~nia forma. carregado das mesmas


cores, Tudo o mais e duvidoso. Ora, trata se de um fato inteiramente novo no
mundo. do qual ~ própria imaginação não consegue apreender o alcanc....
Há hoje, na terra. dois grandes povos que. pa1·tinJa de pontos diferentes.
parecem avançar em ilir~ão ao mesmo ohjct ivo: os russos e os an~lo-aTIJcrí-
canos,
Ambos cresceram na obscuridade~ é. enquanto os olhares do mundo esta-
vam voltados parti. outros pomos, colocaram-se repentinamente no primeiro
phrno das nações !! <J mundo conheceu quase ao mesmo tempo <J nascimento e a
grandeza <.k ambos.
Todos os outros povo:; parecem ler mais ou menos .iringido o~ limites qu
lltt.:s traçou a natureza e só precisam conservâ los; m~ estes l-"Slàó em cresci
menlo: todos o~ outros pararam, ou só avançam com m uito esforço. estes cami-
nham com passo rnpidn e fácil. cm c-af"ri:ira cujo ponto culminante não se pode
divisar a olho nu.
americano Iuta contra o~ obstáculos opostos pela ni'IU.frt'J.lt~ o russo
enfrenta os homens. Urn combate o deserto e n b.arbiiric, o outro, H civihzaçâo,
da

1110 principa] meio


tro.
ponto de p:tnid.1 é difercmc. n vius divergem; entretamo,
parece chamado. J1iJr vccaeilo secreta ela Prm•idêncin, 3 coni:tmLri1r nas m,..
destino de mctatlc Jo rnundo.
IVRO li
PRIMEfRA PART
CDA [1'4TELECl'UAL E SEUS FUNDAMENTO

l - Igualdade e pcrfectlbílidade humanas (CAP. 6)

A igualdade sugere ao espírito 11 u mano uma série de ideias que não se lhe
apresemarínm sem cla;e mNlific~ 4utl!je todas ris qucjn possufa,. Tornemos como
exemplo a idéia da perfectibilid~dc humana, pois í: uma das principais idêias que
a inteligência humana pode conccb1,:r i: consttruí por '-l só uma grande teoria filo-
.,.\.fLca. t;ujas conscqüt!nc:ias ~e pndcm notar ~m cuda momerno, nu vida prática.
e bem que o horncru ~t pareça • sob vários aspectos, com os: anirnuis, um
traço ê-lhc peculiar: aperfeiçoa 8-C ç os anirnais não se aperfeiçoam,
mana n ão pode Ler deixado de descobri r. desde o princípio. esta dife,·em;,a. /\ tchM
de pcrfeccib1!idaJt.: é, pcrumto, tàr, velha 1.:0111ü ti mundo; a igualdade não lhe deu
ida. mas deu IJ1e nove, caráter.
!t..,.,

homem, que r>


persuaJi r-se d

monumentos
3cs ruturas .
27 TOCQUEVILL E

posição. e compreende-se bem demais que um povo ou indivíduo, por mais escla
recído que seja, não é infalível. Os outros melhoram r.: conclui se que o homem.
cm gera]. & dotado da faculdade indefinida de se aperfeiçoar. Seus reveses faze
no ver que ninguêrn pode se gabar de Ler descoberto l) bem absoluto; seus suces-
sos encorajam-no a prossegu ir sem pestanejar. Assim, buscando, tombando,
levantando-se. decepcionado com freqüência, nunca desencoraiado. tende sem
cessar para essa grandeza, imensa. conlusarnente entrevista ao funJo da longa
carreira que a humanidade ainda deve percorrer.
É incrível q u:311fos fatos decorrem, naturalmen l1.:. desta teoria Iilosófiea, de
que o homem é indefinidamente perfectível. e CJ ir, fluência ;prodígi()Sa que exerce
sobre aqueles mesmos que, tendo-se ocupado sempre de tJg..ir. e não de pensar,
parecem segui-la sem a. eonhcccrcm.
i=ncontrci um marinheiro americano a quem perguntei por que os navios de
seu país são construidos- tl::lr.a durarem pouco, e rcs.pt,ndeu me. sem hesitar, que a
rtc da navegação f,.li/,. cada dia. progressos tão n\p,1tlu~. que o mais belo navio
cedo s~ mtnwi.a quase inúlj], se p1'<.)kinga:.s~ sun. existência além de alguns anos.
estas palavras, pronunciadas ao acaso por um homem grosseiro e a propósito
de füt,;, particular. ,mtrevcji.:i u ideia ;ge:rnl e !i.Üm:mi'nicu segundo a qu:.'lJ um grande
povo dirige todas as coisas.

rieanos Pi.H'U as ciências.


P, ~
A DEMOCRACLI\.NA AMÉRICA 7

Chega, portanto. de- ver todas as nações democrâticas i::oh a imagem do pov
rnericano , e tratemos de enxergá-las cada uma sob seus próprios traços .
. . . ) Quando os homens que vivem no seio da sociedade democrática 1 ~
esclarecidos, descobrem, com facilidade. que nada os limita. nem o~ Iixa, nem o,
força a contentar :.,e com suas fortunas presentes. Todos, portanto, con
idéia de aumentá-la e, se são livres. tentam todos fazê lo, mas nem todos o conse-
guern da mesma maneira. A legislaçâo não concede mais privilégios. é verdade.
mas a naturezu, sim. A desigualdade natural sondo muito grande. as fortunas tor-
narn-se desiguais, a parur do momento em que cada um faz uso de todas as suas
Iacu Idades para enriquecer,
lei das partilhas opõe-se, ainda. a que se formem famílias ricas, mas n.io
impede mais que haja ricos. Devolve, Incessanterncnrc, os cidadãos a um nível
comum, ao qual escapam freqüentemente: tornam se mais. desiguais cm bens, na
edida em que a cultura é mais extensa, e a Iiberdnde, maior, (. .. ) All socicda
dcs democtnücas sempre encerrarão cm seu seio uma multídâo de pessoas opu
lentas 011 abastadas, ( ... ) E tais homens nem sempre ficaráo fechados cm preo-
cupações d3 vida mmeriat. e poderâo, se bem que em graus diferentes, dedlcar-s
aos trabal nos e prazeres d:1 rnteUgênci::i: e ,fadicm s_..: Eo. pois :.iil é verdade que
•• ;! inclina. por um it1dô. ao limitado. ao mri1~rinl. un lÍtiJ, ~d

a-se nuturalmenre para o infinito, o irnarerlal, o belo. As neccssidad


lr,gm11 à cerra. mns, 1
bre-

m cessar. e acab.

urros. O número
de:

se pode. portamo, dizer que os homens que vivem nos períodos demo
crâtícos sâo, naturalmente, indiferentes à~ ciências, letras e ar1es; é preciso
somente. reconhecer que as cultivam à sua maneira e que assim lhes emprestam
suas próprias qualidades e defeitos,
278. TOCQUEV1lLE

J 1:.s.pí rito pratico e desinteresse pela teoria (CAP. 1 O}

Se a csrrutera e as msrnuiçõcs dcmocráncas não detêm n desenvolvimento


do espírito humano. pelo menos 6 incontestável que o dirigem paru um lado. em
detrimento do outro. Seus esforços. desta mnoeira limitados. são. 110 cntant .... _
imensos e me .S(.;'f.Í perdoado, espero, sr me detenho um momento par
coniemplâ-lcs.
igl1aldad..: desenvolve em cada homem o desejo de jufgar tudo por si
mesmo: portanto, ~m tudo lhe c.lá L' gosto pelo tangível e pelo real. o desprezo
pel:.;~ tradições t? :it; formas, Esses instintos gcrui:, :siiu nmúvi.:fa peincipalrncnu
quanto au objeto deste capitulo.
o~ uuc cultivam a~ ciências,
um J)O\!O bastante civilizado. não pode- deixar de dar súbito impulse .aos senti-
rncntos e idéias. Sobretudo nas revoluções democráricas que, convulsionando. ao
mesmo tempo. todas as classes. de que um povo se compõe. dão lugar, ao mesmo
tempo .. a imensas. ambições no coração de cada cidadão.
e os franceses de repente íh:cram progressos tão admiráveis nas ciências
exatas, no próprio momento em que acabavam de destruir os restos da antiga
sociedade feudal, é preciso atribuir' ct-:ta fecundidade nâo ã democracia. mas ã
revolução sem precedentes que acompanhou esses faros, O que aconteceu, cntâo.
fui falo particular; seria imprudente ver nele o índice de urna lei geral.
Não somente os homeris que vivem nas sociedades democrática ...
dedicam dificilmente à meditação. mas têm-lhe pouca estimá. A estrutura social
e as instiruições democráticas levam a maioria dos homem, a agir constante
mente: Ma. os hábitos do cspi'rítt1 convenientes â açâe nem sempre convêm ao
pensamemo. Com freqüência, u homem de ação ~e_ comenta com aproximaçô
pois jamais chegaria ao fim de seus designio:s. se quisesse aperíciçoar cada deta-
lhe. ( ... ) Nas épocas em que Lodo mundo age, e-se, portanto. geralmente levado
presença de cspírho e à:, concepções superficiais da ínteli-
asiado, o trabalho profündo e:- lento.
o~to eaoista, mereanti I e lndustrial
d es m te

id

da
28 TOCQUE VLLLE

maioria dos homens que compõe1n essas nações é muito ávid« de prazeres mate-
riais e atuais. Para espíril<lS com esta disposição, qualquer método que: teve, por
caminho mais curto, à riqueza, toda máquina que abrevie o trabalho, todo instru-
mento que diminua os gastos de produção. Wdai dcs:ctiberta que focilite os praze
res e os aumente. parecem o esforço mais grandioso da inteligência humana, E
principalmente sub este ponto de vista que ó:; povos democráticos se apegam à
ciências. compreendem nas e as honram Nos penedos aristocráticos. esperam-
se, particuL:umemc, das ciências. os prazeres do espírito; nas democracias, -OS d~
cor

[ue dcscnvotvc sua força e sua atividad


ericnnos, CJLle não desce-
lca, lmroduviram 11u mwegai.;ão uma nova má-

cebesscm e! ara e
tíveis, facilmeate
A DEMOCRAC TA AMÉRIC 281

compr~entlcdam que com cultura ~ liberdade os homens que vivem nas épocas.
democráticas não podem deixar de aperfeiçoar a porção industrial das ciências, e
que, dora vantc, todo o esforço do poder social deve ser posto no sustento do-e
altos estudos e na criação de grandes paixões cieru.ífic::as .
e
Atualmente, preciso reter o espírito na teoria: por si mesmo procura a prá-
tica e. ao invés de levá-lo, incessantemente. ao exame detalhad
dârios, ê bom aras.tá lo, algumas vezes para elevá-lo à com
primeiras.
Porque a civili.1.açào romana morreu em consegüénda dn invasâo dos bár-
baros. não devemos crer füc-iJm~rm;: que a oivilir.açào não poderia morrer de outra
maneira. Se as luzes que nol> esclarecem viessem a extinguir-se um dia, a civiliza
ç:io definltVJrio. pouco a pouco, por si própria. Ã força de encerrar-se na anlica-
çâo. pcrc1i:r-:,;i.:-i:;trn de vista os princípios. e, quando se tiV(:~~e esquecido os princí-
pios 111loirnmcme. :-ft:guir-.sc-imn mal us métodos que deles derivam; não se r,ode-
iam inventar novos. e fie empregnriam, se-n inreligência ç sem une. processos.
'"U.d1LOS q_Lit! nfüJ l:H.: compreenderiam ruais.
1

... ) Não se.'. th~ve1 portanto. sossegar. pensendo que os bárbaros ainda
tão longe de nossas portas: pots, se há povos que deixam arrnncar a cultu 1·à de
•. uai; rniios, hfl outros cuc a abufarn com os próprios ~)~S-

lguma" rfadore~

ccrt

de Que. nas próprias. naçôes dcmocráricas, o


gênio, os vícios ou as virtudes de certos Indivíduos retardam ou pr,ccipitam o
282 fDCQUEYILLE

1u ~ orcguica ~lt) espírito,

eia necessâno arnbúir

contrarlar

Ei..:i:stc, .nliás, tendência mais pari


Quando desaparecem ns traços da ação do:o; indivíduos sobre as nações
fteqücru:cmer1tc: sucede que se i,•e.in mover ô mundo sem se ver o motor. Como
torna muito dificiJ entrever n$ r~1.ões que, agindo separadamente sobre a vcmade
de cada ciuu,Jiio, acabam produztndo o, movimento do povo, é-se tentado
:" movimento não é voluntário. e que a:,, so~iedt.1dc11 obedecem, sem o
que L.\l
rem. a uma força superior que as. domina. ( .. , ) Isto não poupa a libcrd"de
humana. Uma cacsa eào vasta a ponto de aplicar-se a milhões de homens, e tão
forte a }'fln:to de incliná-los todos para o mesmo [ado, parece simplesmem
irresistível. após ver que se lhe cede, é-se levado a crer que não se podia resistir-
lhe.O.') hisroriadores que vivem cm tempos deruocrfrticos njio recusam sarnente a
alguns cidadãos o poder de: agir sobru o destino dn povo, reriram .-io.s próprios
povos :1 faculdade de: modificar o, destino e suhrnctcrn-nus ou a uma provitf~n~ia
inflexível. ou a ruma espécie de fatalidade cega. De acordo com eles, e-ada nação
está indcfectivelrnente atada por sua posição, sua origem, seus ameccdemes. sua
narureza . .:i certo destino que todos os seus esforços nâo poderiam modificar, Tor-
nam as gerações selidârlas uma às outras e. retrocedendo assim de Idade em
]d~de e de neomecimcnto necc::-;,~ário cm acomectmeuto necessário, ligam-nas ã
origem do mundo, através de cadeia imensa e apertada. q1.1~ envolve e une tod
gênero humano. Não lhes basta mostrar como os. fatos aconteceram: têm prazer
m mostrar que nâo podiam acontecer dr; outra maneira. Tomam uma nação che-
gada " certo ponto de sua historie C! afirmam que foi obrigada a seguir o cu minho
que a Levou atê l.l É mais fâc·il do que mostrar como poderia ter feito para cnvere-
dar por carnmho melhor.
Pnrcce. quando 1,e lêem os historiadores das epocas anstocrâticas
rarmemc ,,i;; dá Antiguidrn..lc. que para tornar-se senhor de seu próprio, destino
paru governur ,"lCLl:S semelhantes o homem ~ó precisa saber do min" r-se t1 si
mesmo. Dir-sc-iu, quando .:,e percorrem as histórias escritas noje em dia, que o
homem nada pode. nem sobre si mesmo, nl.!m em torno de ::;Í. Os historiadores da
ntlguidade ensinavam a comandar, o~ de hoje só ensinam a ohedecer. E:m seus
utor parece fre.qü enLi;mc:nt~ grand ioso. mas a h u manit.lfük é sernpr

sceial
não,d
SEGUNDA PARTE

A VIDA SOCJAL

O individualismo, tendêt11cia natura] das democracia

{ .. ) idéia.

o csoiritc. tanto

mais il um
rígern dcm

mesma pela e,; 11~ll d::i hnm~nid


hntre os povo~ dernocrâucos, n
outras vol u-101ele com a mesrwa freqüência e iod.as as que permanecem mudam
i~

de face; a trama do tempo se rompe a cada instante e o vestígio das gerações


apaga, Esquecem-se facilmente os que precedem e não Sé tem nenhuma idéia d
2 TüCQU EVILLli

ruc scguirâo, Só interessam os Imediatamenre próximos. Cada classe. aproximnn.


o-se das outras e misturando-se a elas, vê seus membros tornarem-se indiferentes
e como que estrangeiros entre si. A aristocracia tinha fe-ito de todos os CLdac..lâos
uma cadeia. que i~ do camponês ao rei, ...1 democracia rompe a corrente e deixa
cada elo â ria rte,
• medida que as cundiçôes se igualum, encontra-se maior número de indivi-
ducs que. não sendo suficientemente ricos, nem bastante poderosos para exerce
zrande Influência sobre o destino de seus semelhantes, adquiriram. entretanto, o
onservnvarn bastante cultura 1,; bens para poderem bastar-se. Nada devem a n~11-
ruérn: hah1L1.1Hm-c;:e a considerar-se sempre Jsoladumcrue e imaginam. com prazer.

ais

es democrálicns Que os

us SCmi:!llrnntes.;
grande vantagem dos americanos t terem chesado .ã democracia sem
terem passado por revoluções democráticas, e de terem nascido iguai::,;, ao invé
de Lerem voltado a esse estado,

2 - Do uso das assecíacôes

ra agir.

e unir
rle

bngar seus
...• não aprendem u

,; homens que vivem cm países democráticos não tivessem o direito nem


n. gosco de se unir com fin$ politicm, sua independência correria graves riscos.
18 TOCQUEVfLlE

mas poderiam conservur, por muit~..1 tempo. riquezas l: luzes: enquanto que. se não
adquirissem <1 !ISO da nssocincão na vida cotidiana, a própria clvillzaçâo estaria
cm perigo. Um pnvt1 cm que m; particulares perdessem o noder de fazer isolada-
mente grandes coisas. sem adq uirír a faculdade de produzj-las cm comum, retor-
naria à barbárie.
Infelizmcnt . a mesma cstnnura social que torna as associacêes tão necessâ-
rias aos po ernucráticos torna as mais difíceis do que cm qualquer outra
situação. (. _ . J
'ei que isso não causa. embaraço a muitos de meu
dern que, na medida cm que os cidadãos ~~ tornam ma is Iracos e incapazes. é prc
ciso tornar o governo mais h.'.tt,j l i.: ative, a fim de que a sociedade possa executar
o que os ind1v-fcluos não podem fai.~-r. Crêem responder a Ludo com isto. M
pen .'m que s<:: enganam. ( ...

3 - As associações i? :.i irnprensa

"')

.;
m com
; mas se
mul que: produzem é.

comum

ci
tlplicu de maneira extraordináría o número de! jornais n~ América. Se todos os
habitantes d~ Uniâo fossem eleitores sob o Imperio de um sistema que limitasse
o direito eleitoral à escolha dos legisladores, não reriam nec-cssidad.c de mais que
um número reduz ido de Jornais. porque ~ó Leriam algumas ocasiões muito impor·
lantes. mas raras, d~ agir em conjunto. Mas, no interior da grande associação
nacional, a lei estabeleceu cm cada província. cidade e. de certo modo. em cad
povoado. pequenas associaçôcs com fins de adminislracáo local. O legislador for-
çou dessa maneira cada americano a participo.r. cctidianarnente, junto com ou-
tros cidadãos. de uma obra comum. e cada um deles necessita de umjomal. pura
saber o que falem os outros. ( ... J
Podería atribuir igualmente o poder ceescente dos jornais a razões mais ge-
ruis do que as usadas Ireqüen temeu lc; para explicá-lo.
Um jornal sé• pode sobreviver !':e reprcduzjr urna doutrina ou sentimento co-
muns a um grande número de pessoas. Um jornal, pertarrto, sempre representa
uma associação cujos membros sâo os leitores. Esta associação pode ser mais ou
ncnos dcllnida. rnaís ou menos estreita, mais ou menos numerosa: rnas existe .aó
menos em germe nos. espí rires, pelu única raziio de que o jorna t não rnort.•.
Isso nos leva n uma última reíle~i:io quo terminará o capítulo. Quanto mai
as condições ~e tornam iguais, menos os homens são individualmente, fortes, mais
se dclxam lev.u pela massa ~ mais lhr.:s é dificil manterem uma opinião ou •..
i'l bandonu. O jorriàl rec rcsenta s associação; pode-se dizer q uc faln com
a leitor em M.mne dos outros e os conduz tanto rnars facumemc quanro mai
Iracos são h1,lividuaimc.:011!.
dos jorn~is deve, portanto, crescer à medida q ue os homens se

4- pelo bem-estar rnatcrl oa:. c(ln scqü ên eras


290 OCQUEV~LE

Estando a inclinação natural que todos os homens têm pelo bem-estar satis-
feita, sem difíeuldade e sem l.emor. a alma dirige-se para outros lados. apega-se a
empreendimento mais difícil e maior, que a anima e seduz. É assim que .. em meio
aos gozos materiais. os membros de uma arístocracía demonstram com
freqüência um despreze orgulhoso por esses mesmos prazeres e encontram forças
insuspeitas q uando, enfim, é-lhes necessário privar-se deles. Todas a~ revoluçôe
que abalaram ou destruíram as aristocracias mostraram com que facilidade pes-
óas acostumadas ao supértluo podiam privar-se do necessário. enquanto que ho-
mens laboriosamente alçados à abastança quase não C1Clli .Segtda.rn viver aoô
1

ha vê- ta perdido.
Se dos níveis superi

as

os privilégio~ são destruí-


liberdade se difund
A DEMOCRACIA NAAJ\.fÉRICA 91

, por maior q
cm ore u ltrapassndo

desordenada. Caem,

em
i'. TOCQUEVIL

Dentre m. bens materiais, há uns cuja posse ~ criminosa: torna se- o cuidado
de renunciar a eles. Há outros. cujo uso a moral e a rcligiiio permitem: a este
abandona-se- sem escrúpulos o coraçâo, a imaginação, a vida, ~ perdem-se de
vista. no esforco de possui-los, os bens mais preciosos que faz,cm :1 gJótia e a
gr:l(jdcz.a da espécie humana,
O que condeno na igual'dade não é levar os homens â procura de prazeres
proibidos; é absorvê-los inteiramente na procura das prazeres p4:nni1idos.
Desse modo. poder-se-ia estabelecer nu mundo uma espécie de materiatisrno
honesto. que não corromperia as almas, mas as amoleceria e terntinaria rompen-
do-lhes todas as fibras..

De: como a indústria poderia reintroduzir a aristocracia (CAP. 20

ré uma industria.
s. ( ... ) Nflo
rcs quant

id

f')l'<lr1SS3õ
:impet <:m
de abrir lhe cm todas as direções mH
para a fortuna~ uma teoria industrial mais poderosa do que
o~ costumes e a::. leis atou-o '1 urna pro11ssl'.fo e, muita::; vezes, a um h1gar que não
pode abandonar. Atribuiu-lhe um lugar determinado na sociedade, do qual nã
pode: sair. Em meio ao movimento universal, tornou-o imóvel.
"' medida que a divisâo do trabalho recebe aplicação mais completa, o ope-
rário torna-se mais fraco, limitado. dependente. A arte progride, o artesão retn ,_
a
cede. Por outro lado, medida que se descobre com maior evidência que os pro-
dutos t1e uma indústria são tanto mais perfeitos e menos caros quanto mais vasta
~ .a fábrica e maior o capital, homens riquíssimos e esclarecidos: apresentam-se
para explorar setores que, até lá, tinham sido abandonados a artesãos cgnorantes
u pobres. Atraem-nos u quamidade de esforços necessária e a imensidão dos
resultados esperados.
Portamo, ~IJ mesmo tempo que abaixa a classe dos operários. a eiencra
industrial eleva a dos mestres.
Enquanto o operário concentra sua inteligência cada vez mais num só deta-
lhe, o mestre passeia, cada dia, o olhar cm vasto conjunto, seu espírito estende-
ua mesma nroporçâo cm que o do OULE'o se ,etrai. Breve, bast•.trá . ao segundo a
força física sem ii inccligiucia: 1J primeiro precisa da ciênc1a e quase do gênio
para ser bem sucedicfo. Um assemelha-se cada vez mais ao adm.i.nmstraclor de um
vasto império, e o outro. a um animal. O mestre ~ o operário nada tê111, portanto.
de semelhame e diferem cada dia mais. Só estão lizados como os dois elos cxtre-

quena -

ela

preemínêncta sobre aquele.


do se lhe escapam. Não li-iibe
êculos passados era obrigada pela ki ou
erro 1.k seus servidores e n minorar
TOCQUEVILLE

uas rruscrías. Mas a aristocracia manufatureira de hoji:: em dia, após ter empo-
brccido e. embrutecido o~ homens de que se serve, em tempos de crise abandona-
os ât caridade públiea, Isto é um resultado natural do que dissemos acima. Entre
o operário e o patrão, as relações sâo freqüentes, mas não há verdadeira
associaçâo ,
Creio que, em todo caso. a aristocraeia manufatureira que vemos crescer
ob nossos. olhos é a mais dura que jamais apareceu sobre a face da terra; mas é
ao mesmo tempo. uma das mals restritas e menos perigosas. 'Entretanto, é desse
lado que O$ amigos da democracia devem. sem cessar, voltar seus olhares inquie-
tos: pois se alguma vez H desiguukíadc permanente das condições e a aristocracía
penetrarem rio Novo Mundo, pode-se diz er que será. por esta porta,
A DEMOCRACIA NA AMÉRf,~

TERCEIRA PARTE
FLUÊNCIA DA DiEM0CRACTAS0BRE OS COSTUMES

l - De como os americanos compreendem 2 igualdade


entre o homem e a mulher(CAP. 12

Vimos que a democracin destruía ou modfficawa as diversas desigualdades


que c1 sociedade produz.iu; mais seria ludo'! Não conseguiria agir. finalmente
sobre esta grande desigttàldJlde en írc o homem e a mulher, que perecia, atê nosso
dias, ler fundamentos eternos na própria natureza? Creio que o movimento social
que aproxima os níveis. do filho e do pai, do servidor e do mestre. e. em geral. do
inferior e ilia superior, ctevn a mu !hér e deve torná-ln cada dia mais igua] ao
h"'---·~
necessidade de ser bem ccrnpreen-
.) 1;rosscir:::i e. desordcnadn ele: nosso

ira
>,.o~ u grande principio da econe-
no!:~O tempo. Dividiram cuidndos~me
fim de que o grrrnde trabalho social fosse

o mundo em
.j $ sexos linhas de ação nitidamente separadas
uis que os dois marchassem com n mesmo passo, mas em caminhos sempre dife-
'entes, Não se vêem americanas, dirigindo os negócios extcrnus da familia. condu-
.cindo um comérclo ou peneuando, enfim. na esfera rolítica'. mas tambêm não se
encontram mulheres y ue sejam obrigadas u dcdlcar-se aos rudes trabalhos do
2% TOCQUEVJLLE

campo, nem a ne11hum dos exercrcios penosos qm: exigem o desenvolvimento da


força ílsica, Não há Iarnüia. por mais. pobre que seja, que escape .a i:~la regra.
Se a americana não pode escapar do CLn:;:1.110 tranqüilo das ocupações dornés
ticas, nâo ê, por outro lado.jamais obrigada a agir fora dele. Daí que as américa
nas. que freqüentemente manifestam uma razão masculina e LJliI1a energia viril,
conservem em geral uma aparência bastante delicada e permaneçam sempre
mulheres cm suas maneiras, se bem que se mostrem homens no espírito e no
-
racao.

em me]
peu seja.

l.tl

Os lcg.islatlorcs arneri
go penal. punem a vinlaei
condene com ardor r ..
~ cm õ~ mais precioso do que a honra de
quanto sua independência, estimam que não há castigo demasiado severo para o
que as destroem sem seu consenurnento. Na França. cm que o mesmo crime é pu•
nido de maneira bem mais suave, é freqüentemente dificil encontrar um jlhi que
condC'nc- nesses casos, Seria desprezo pelo pudor. ou pela mulher? Não posso dei
••. ar ui;: crer que são ambos. ( ... )
Quanto u mim. não hesitarei em dizê-lo: ~e bem 1-1 u~ nos EsL:adus Unidos a
mulher não saia nunca do círculo doméstico e que. nesse particular, ela seja bas-
tante dependente, ~m nenhuma parte sua posição me pareceu tão elevada. ~ se,
agora que me aproximo <lo fim desta obra, cm que mostrarei tantas coisas coasi-
deràveis sobre os americanos, me perguntassem a que atribuo, principalmente, a
pro5pcddadc extraordin ária e i-1 força crescente desse povo, responderia y ue é à
uperioridade de suas mulheres .

- Por q,ue ~& revoluções se tornarâe raras (CAP. 2 J

uco a perder, leremos fel

i
ã parte. facil-
•cic;,ociocs dcmocráticr.••.
crcm nrceisa-
não
d
d

inquietos que f ;11ccss.3ntem


29 TOCQUEVILLE

rocredadcs democráucas. a maioria dos cidadào:

da que
l":ícil de

esgota em querer animar essa massa jn(iiferemc e di straída, e encontra-se. enflm.


reo uzido à Impotência. não que S:l!j~ vencido. mas parque c~tá só.
Não considero que o~ homens L{IJC vivem nas sociedades democrãticas sejam
naturalrnente Imóveis: creio. ao contrário, que reina em tal tipo de sociedade um
que ninguém conhece o repouso; mas penso que o~ homens
- ,, '
'C agitam, nessas sociedades, entre certos limites que nunca ultrapassam. Variam.
alternm, 011I renovam cada. dia a~ coisas secundárias: mas têm o grande- cuidadc
de não cocar nas principais. Gostam da mudança. mas temem as revoluções: .
. .).
tados Unidos e onde a maioria manifeste
300 TOCQU:EVTLLE

Se os cidadãos contir1t1am a encerrar-se cadn vez mais estreitamente no


pequeno circulo de seus imcr..:s::;cs domestico, e a agitar-se ai sem repouso, pode-
s~ temer li ue acabem tornando :,;e inaccssiveis a essas grandes e poderosas emo-
~11,::; púhlicas que perturbam os povos, mas os desenvolvem r renovam. Quando
vejo a propriedade tornar se tàn móvel e o amor da propriedade tão inquieto e
ardente. nâo posso deixar de temer que os homens cheguem ao pomo de ver um
perigo em roda teoria- nova, uma penurbaçâo detestável cm toda: inovação. en
cdo progresso social o primeiro passo para u revolução e que tcrminaruememe se
de medo de serem levados, Tremo, confesse. ante a idéia d··
resentes,
endentes e

mo

O cxêreítc e a am

·mo •
·~ fWr~L extingui

'OOf.tanac que entre


s vívidas·

A igualdade
vam, não furtam
exércitos. sempre têm grande influencfo sobre o destino dessas naçêcs. F.. portan-
ro. necessário conhecer o~ lnsiiruos naturais dos que os compõem. (, .. l
os exércitos democráticos, todos os soldados podem tornar-se oficiais, o
que generaliza o desejo de promoção e estende os limites da ambição militar
quase até os extremos. Por seu lado. o oficial nada vê que o detenha natural e
obrigatoriamente num posto determinado e cada posto possui a seus olhos valor
imenso, pois sua posição na sociedade quase sempre depende de sua posíção n
ixêrcitc.
Entre os povos. democráticos. freqüentemente sucede que o oficial nao pos
ua cetros bens salvo seu salário, e não possa esperar consideração exceto por
u as hon rns militares. C adu vez que mudo de fu nçêes, muda, portante, ele fortuna
e ê de certa forma outro homem.. Por isso. o que era acessório na existência dos
exêrcltos uristocràrlcos a: o principal. o todo. à própríu existência do exército
dcm

mi I imr del xa log


funcionâ-
ucede,

o
02
OCQUEVllLE
mina dando lhe o ,,
amor pela
política e a

impaciênc]
que sempr
DEMOCR.AC IA NA AMÉRJCA 303

mente resulta que cada um deles só fica alguns anos sob a farda, ( ... ) Dentre os
ldados que compõem um exército democrático, alguns se apegam à vida mili-
Lar: mas a maioria, levada contra a vontade ao uniforme e sempre pronta a retor-
nar ao lar. não se considera seriamente engajada na carreira militar e só pensa em
sair. Estes nunce contraem os desejos e sô compartilham pela metade das paixõc:
criadas por essa carreira. Inclinam se ante os deveres militares. mas a alma conti-
nua apegada aos interesses e desejos yuc .a marcavam nu vida civil. NMo assimi-
la111. portanto. o espírito do exército: levam ante:- ao seio do exército o espírito da
sociedade e ai o conservam. Entre os povos democráticos são os simples soldados
que permanecem mais verdadeiros cidadãos; é sobre eles que os hábitos nacionai:
i: a opinião pública têm mais poder. É sobretudo através dos ~otdadm; que se pode
gabar de Iazcr penetrar num exército democrático o amor pela liberdade e o res-
peito peles direi tos que se soube inspirar no próprio povo. (. , .
cm cidadãos esclarecidcs, 01·J.c1m.~. Firm..:,:; e livres pode se conseguir sol-
dados disciplinados, obedientes. Toda lei que. reprimindo o espírito turbulento d-
exército, tendesse l diminuir no seio da 1~açào o espírito de liberdade civil e a
ensombrar 11 1dêi(1 do que e certo e dos direitos. seria. portanto. contrária a seu
objetivo. Favorcccriu (, csutbelccimento de tirnnia~ milhares multe m.ai:... do que
lhes serià prejudicial.
final eh: contas 1: apcsnr a Iazer. um grande exército.
110 seio de um povo dernocrál ico, sempre serâ um ande perigo, e o meio rnai
e diminuir esse perigo será reduzir o exérc] t : mas é uma soíuçâo de que
s os povos podem ~

() sobre a auerra íeim por uma democracia (CAP. 24)

odo e-xl'.lrcu: rlsca-se a ser venci-


TOCQUEVILL..

Essas <luas causas não agem da mesma maneira sobre os exércitos aristocrá-
ticos. Corno a promoção seguç mais o direito de nascença do que o de antigui-
dade, há sempre em todos os postos certo número de jovens que levam à auerr
toda a energia. dú corpo I! tia alma. ( ... )
Mostrei. i~uaJmc.:r'lle. que nas naçocs dernocrálicas a carreira militar é pouco
considcsada e procurada ern remoo de paz. Esse desfavor púbHco é um peso
demasiado grande que puira sobre o espírilo do exército. As almas ficam coma
que curvadas sob ele: e. quando enfim chega ;1 guerra. nâo conseguem retomar a
elasticidade e o vigor que ..t'i caructcrizarn. {. __
Creio, portanto, que: u 111 pov~, dernocráricu 4uc faça u guerra após longa paz:
arrisca-se muito mais do que 1;1111 ro .., a ser vencido: rnas não deve deixar -se nhater
facilmente pelos revc«. ~. pois us cbances do seu exército crescem ~~m a própri
duruçâo d~1 guerra.
Quando a guerra, prolongandu se, retireu, enfim, todos n~ cidadãos LIC! seus
trabulhos f')adftcos e fe, frnc:is~nr suas pequenas ~ntpri.:_~m;. sucede que a1, mes-
mas paixôc:, 4u1,.: o~ fl.17.i:1111 dar tanto valor á paz,
~Uetrá. apó~ ter destruído todas as imlú:,trias, tornu-se ela m~ . • rnn .,
'nica indústria e e para cta que convergem enüh1 d..: todos os ludos
.,m b, ciosos 01·isi ntiriúb da igualdade. f' por isso que essas
ações ucmocr~tic~~ que se levam curn tanta diflculuaue ao carnpo c.k b:tl:llh
Fazem nele ~lli::itu, prodigiosns, quando enllrn se conseguiu pó-las de- arrnne nas

nt rc os costurnes mi litares e os democráricos uma relação secreta


que a guerra revela.
Os homens das dernocractas possuem naturalmente o desejo secreto de
adquirir depressa os bens 4ue almejam e de gozá-los tranqüílamenre. A maioria
deles adora o risco e teme menos a morte do que a sofrimento. É com ~e espi
rito que fazem tanto o comercio como a indústria; esse mesmo espírito. transpor-
A DEMOCRACIA NA AlvfF..Rl :105

tado por eles ao campo de baralha. leva-os a expor a vida para se assegurar. num
momento, o~ prêmios da vitória. Não bá grandezas que: satisfaçam imagi-
mais à
n:1.q:10 de um povo democrático do que ~ grandezu milirar, brilh~.111tc...: súbita. que
se obtêm 5cm trab alho, arriscando apen as a vid n. Desse modo. enquanto o inte-
resse <: ox gostos afastam <la guerra os ctdadãos de uma democracia, o~ hábitos
a a] ma os prepururn para fazê-la bem; tornam-se bons soldados na medida cm
que :>e consiga arrancá-los do trabalho e do bem estar. Se a paz ê particularmente
nociva aos exêrcuos democráticos, a guerra dá-lhes, portanto, vantagens que os
outros cxêrcuos não têm: e essas vantagens. s.e hem que não sejam muito sensí-
/cis, terminara dando-I hc~ .• a longo prazo, a vi tória,
Um povo aristocrático que. lutando contra uma nacáo democrática, não
consiga arruiná-la desde as primeiras batalhas, sempr arrisca a ser por ela
vencido.
QUARTA PARTE
OBSERVAÇÕES SOBRE O DtSTINO POLJTCCO
DAS SOCIEDADES DEMOCRÁTICA

J - A igualdade u as tendências à concentração do poder (CAPS_ 1 e 2.

con-

levar' pela

êncí a dos povo


isrernas cornpll-
308
OCQUEV]LLE

cados ti repelem e contentam-se cm imaginar uma grande nação cujos cidadão


assemelham-se todos a um só modelo e são dirigidos por um único poder.
.pós a idéia de um poder único e central. a que se apresenta mais csponta-
neamente ao espírito dos homem nos sé1.;ulos de igualdade é a idêia de uma iegis.-
Jaçào uniforme. Como cada. um se considera pouco diferente do vizinho. com-
preende mal porque a regra aplicável a um homem nâo o seria igualmente a todos
ps outros. Os mínimos privilégios repugnam lhe, portanto, à razão. (, __
medida que as condições ~e igualam num povo, os indivíduos parecem
menores e a sociedade rnuior, ou melhor, cada cidadão semelhante â todos os ou
tros perde-se na massa, e só se percebe a \ asta e mngnífica imagem do próprio
p~u·J'"\. i \
Disse que. entre os povos democráticos. o governo se apresenta natural-
mente ao espírito !IDb a forma de um poder único e central. e que a noção de
poderes inL-crmcdiário~ não lhe é ramílíar. Isso se aplica particularmente- à
nações- democráticas q uo assistiram ao triunfo JQ princípio d.: igualdade atravé
de uma revolução vtoíenra. Tendo as classes que dirigi.im os negócios tocais
desaparecido subitamente na tempestade e a massa confusa que restou não tendo
ainda nem organizaçâo, nem hábito::; que permitissem tornar em mãos esses pro-
blernas, nada mais se vê senão u Estado capaz d~ encarregar s.e de todos ,>s deta
lhes do governa. A ccruraliz açâo iorna-se um falo de cena forma necessário;
· r. nas épocas de i~ualdadc, os homens apreendem facilmente a idéia de um
grande poder central, aào se pode duvidar. por outro lacto, Que seus hábitos e
sentimentos os predisponham a reconhecer um poder análogo e a dar lhe it1Jc,
forte. A dernunscração pude ser feita cm poucas palavras. jf1 que 3 1nnêoda dos
.argumentos foi tratada cm outras parte ..,, (,. , )
Junca é sem esforço que esses homens se deixam arrancar a seus negóciu
particulares para ~t.: ocuparem dos problemas comuns: sua inclinação natural •
nhandonar o cuidado cnm esses problemas ao única., . rcpreseruamc visível t: per-
manente dos interesses coletivos. o estado. Não somente não tJm prazer cm ocu-
par-se LitL coisa pública. r11H.s com frt:qüêncla Iulra-lhes ô térnpo. A vida nnvada
nas ~poc.as dcmccrática-, é tão ativa. do rigitnda. tão cheia d~ desejos. d~ lruba-
lhos, que a cada homem não sobram mais energia nem lazer 11M;1 a vida pública,
Que ials indin.nçrics nuo s~jam invencivcís. mio serei cu quem o frâ nc.:llar. poi
meu objetivo pdndpat escrevendo este livre, é combatê-las. Afirmo somente que"
dins uma forç~ secrete as dcsc.:r1volvc sern cessar no coração dos h
baua não cJe,e la:-. para que si.! apoderem dele.
r peln trnnqiiilidndc pública é muitas vez
pi.:los. povos dcmocráricos ~ iorn
310 TOCQUEVJLLE

Deste modo. atingi por duas vias diferentes o mesmo objetivo, Mostrei que
e igualdade sugeria aos. homem; a idéia d~ um governo único, uniforme e fone.
Venho demonstrar que lhe~ <li. também a. inclinação para essa forma de governo;
C!, portaruo, para um governo desse tipo que tendem as naçôes contemporâneas. A
inclinação natural do espírito e dos corações leva-as a ísso t: basta-lhes não :se
reterem para que o atinjam.
Creio que. nus épocas democráticas qu omeçam. a independência indivi-
dual e us liberdades locals sempre ser âo um pr dum da arte. A centralizacâo será
o governo natural.

•.. - O despotismo nas nações dcmoeráticas {CAP. t;_)

Tinha observadu. durante minha pcrmanêucm nos Estudos Unidos. que urna
estruturn socin] dt:mocd.úc:t, scrnelhunte à cio~ umcricanos podena facilitar
cxt ruordinariameme o cstabelecimenm de v111 déspoljsrno, e vira, recomando à
ropa, d~ que manei: a u muior!a dos nos~Li:,, pnnctpcs já se linha servido da
idéias. scnlimcaros. :1 ncccs:-1i1.fau~ que essa mi.:1:1111a estrutura seclal nroduz por
estenderem n cf rculo dó nodur.
Isso levou me a crer u11e !1, nncôes .,;rht-à~ terminarlarn, talvez. sofrendo u1
· <la AnriguidJdú.

reno

curo, cm vfio, u111:l cxprcssao qut: rcprouuaa e


faço; m; termos Mtigos. despotismo e tirania, ,13<."I convêm. A
ciso, pvrt;rnLo, tratar de cleílnHa. jít que não posso denomínà-ta.
'i: quisesse imuginnr cem que traços novos u despotismo poclcriu produ7.fr
i.: no mundo. veria urna mul1[d:il") incon1àvcl d..: homem;semetbanres e iguais, qu
,r: movem sem cessar pnrn nktu1i.:1m.:m pequenos e vulgares prazeres, de que en-
.hern u própria alma. Cndn um ck!c.:.. separado dos outros. e- como que estranho
'O dcsilno de rodos eles: sem; 1i1J1os e amigos narüculares formam, para ele. ro
fl espécie humana; quanto uo restante de seus concidadãos. C8tá ao !ado dele ... ,
mas não os vê: toca-os, mas não os sente; ~ó existe em ~i mesmo e para si mesm
e, se lhe resta ainda urna família, pode-se dizer que não tem mais pátria.
Acima desses homens erige-se um poder imenso e. tutelar, que se encarrega
sozlnbo de asscgurur-Ihes os prazeres e de velar-lhes a sorte. F,ste poder é absol«
A DEMOCRACIA NA MlÉRlCA .3 1 l

to, minucioso. regular. previdente e suave. Assemelhar-se-ia ao poder paterno. ~-


com ele. teria: como objetivo preparar os homens para a idade viril: mas. ao
contrário. procura somente mantê-los irrevogavelmente na. infância: tem prazer
cm que os cidadãos se regozijem, desde que não pensem ein outra coisa. Trabalha
om prazer para seu bem mas quer ser o único a fazê lo e o árbitro exclusivo:
provê lhes a segurança, prevê-Ihes r satisfaz-lhes as necessidades. facilita-lhes os
praz cres. conduz ._,.w · 1 próprios negócios, dirige :i~ indústrias. regulamenta as
ucessões, divide a~ heranças: por que não poderia poupar-lhes inteirarnente a
prcccupação de pensar e o trabalho de viver?
De •.•}.:e modo. toma cada dia menos util e mais rnro o emprego do livrc-arbí-
trio: se vier a encerrar a ação da vontade num espaço ainon menor. furtará ti
cndu cidadão o nrénrlo u~,1 ~k si mesmo. A igualdade prcparuu os homem, paro
redispô loii: ;:i suportâ-las i.:: Jreqüentemcnte ::i. vê las como

mãos roc.lt.:ro:ia.s eada indivíduo e apô:,, ter-


bcrano estende os braços snbre todo ,1 soeic
red '
alm

e acomode facilmente com essa cspêcle de


dministrativo e n soberania p.or>LtlM e qu
cmrcgarn au
11 ;1tt1rp7:, do mestre im pQrl:i menos puni

:i.n nego que uma Constituição deste tipo s1;J4J preferível iL que, tendo
centrado todos os poderes. os deixosse nas mãos de urn homem ou de um
corpo irresponsável dia.1,'lll do povo. Dentre toda« as diferentes formas que o des-
porismo ôemocrático poderia apresentar, esta seria certamente a pior.I. . )
Criar unia repn.:~·çnLação nacional em pais muito cenrralizado é. ponaoro.
diminuir o mal que 1~ extrema ccntraliznçâo pode produzir, mas não chega a
J2 TOCQUEVI [..LE

destrui-lo. Admiio que, dessa m arteira. conserva-se a intervenção individua I nos


negócios mais Irnportantes, mas não se deixa de suprimi-la nos problemas peque-
nos e particulares. Esquece-se, com isso. que é principalmente: nos. detalhes que é
perigoso escravizar-se os homens, Quanto a mim. estaria inclinado a pensar que
a. liberdade é menos necessárta nas grandes coisas do que nas menores. se acredí-
lasse que se pode Ler uma sem ler a outra. A sujeição nas pequenas coisas mani-
festa-se todos os dias e faz-se presente indistintamente a todos. os: cidadãos. Ela
não provoca desespero; comrarta inccssan temente e leva-os a ren unciar ao uso da
vontade. Lrnbuta pot,co :u pouco os. espíritus e enerva a alma, enquamo a
obcdiêncru, cp.ie nâo seja devida senão cm p.eq ueno número de ci rcunsiâocra
gravíssima),. mMJ mgualmc11tc rnras, r1ao maniícsta a servidão senão d~ tempos cm
tempos, f sú pesa sobre cerres homens. É cm vão que se pode crat.-arrcgar esses
mesmos cidadjios, tornados tâu dcpendi:nLes do poder cent ral, d!! escoJher. d,•
tempos em tempos, os reprcscntnntcs desse poder: esse emprego tifo Irnpcrtanr .••
mas LâlJ curro i..: raro do Iivrc-arbitno. não impedir;', de perderem pouco a pouc
a faculdade de perisur, etc .,;énlrr i.: 1.k ngir por si mesmos. nem de caírem assim
radualmcnre abaj;i:.o do nível da humanrdade.
Acre-cento que se wrnnr~w. muito cedo, incap:i,f.!o.: de exercer o grnnd\;
una co cnvi lêg,m q uc lhes resta, Os povos di.::mocri'.uicm,. i.J ui; in I roduzjrurn n liber

3 - De que maneira dcfê.ndcr- ,1 liberdade ameaçada (CAI'. 7)

( ... ) O que mais contribuia para assegurar a imJependL·n


nu arisrucracln é lJUC o soberano não St: encarregava sozinho de
nisrrar os cidadãos: era obrigado a abandonar parte dessas. preocupaçocs ao
membros da aristocracia. de modo ciuc o poder social, sempre dividido, nunca pe-
sava com rodo o seu peso e da mesma maneira sobre cada homem. Não somente
não fazia tudo por si só. mas a maioria dos funcionários que agiam em seu lugar
retirava o puder de sua origem familiíllr e: não do próprio soberano, e assim não
estavam sempre em ruas mãos. Não podia criá-los e cl.~tn•Í-los à vontade, nem
incliná-los uniformemente a seus caprichos. Isso garantia ainda íl inde~ndência
dos indivíd1.H)S.
Compreendo que. cm nossos dias. njio se poderia utilizar e.> mesmo recuo•.u.
mas noto que hil procedlmeruos democráticos que o substituem •
.Em. lu~i.lr de entregar somente ao soberano tudos oi; poderes administrati
que ~e retirou dns crn·porsç-Ôcs ou dos nobres, pode :.e confiar uma parte desses
poderes i• corpos secundários. teruporarêamcnrc formado~ por símnlcs cidadã
desta maneira, :1 liberdade dos indivíduos será mais certa, sem que a i,~uald:ide
.. eja menor. Q..; americanos. que nâo rJ:t.en'I tanta questão quanto nó::. das pala-
vras. t:ünsi.::n-.1rarn t, nome de condado a maior das circunscrições administra
rívas: mm; subslituírn111, cm parte, o condado por urna assembléia provincial.
mitn sem dificuldude que. m.11m:1 êpoca d-1: igualdade corno ..1 nossa. ser-ia
inju:t.tu e pouco razoúve] instituir functonnrio~ hereditários: mn.:; nada impccle de
.,ubstitui los por fura:ionil·ios elcsiveis, A clciçâo ~- um proccctmento
uco. que assegura ;:i independência de Fundmi~rro unte ri poder centra], tanro e
:uJ mui:.- a haedi111ril!dac.lé' entre os povos ari stocráiico ...
\Jl'.11!'.j LIC
.~ p:ti ses aristecráticos csrâo cheios d~ indh•í
hasrn
mnmêm

., pare-

1i
J]4
TóCQUEVJLLE

dia.

pruncrs

- Visão geral do assunto (CAP. tO

rosta.ri.a. antes de deixar definírivarnc.:nle o caminhei que acabo ae percorrer,


de poder abarcar com um último olhar todos os diversos traços que marcam
A DEf\,10CRACJ A AMF,RíC

que:

,, d

se estreita.
Se, dentre todos esses traços, procuro o que me parece rnais geral e mais eví-
dente. noto que o que se observa 11<1s rortunas reproduz-se sob mil outras Iorma: ..
Q1.1tts.c todos os extremos ~e :-1.ni\'il.nm e: se embotam: quase uidos os pomo
salientes ~e ruen unrn para J:.i.r lugar n. 3Jg:o ijc, medluno. que é. ao mesmo tempo
menos elevado e:. menos baixo, menos brílharll{; e menos obscuro do que o que se
1,•iJ. antes no mundo.
31
TOCQUEVILLE

que só os homem: fracos r as nnçdcs pusilâ-


nlrnes poderinrn produzir: ::i Providência não criou o gêm:m humano m.:m inteira-
JI /

mente independente. nem completameme escravo. Traça. é certo. em torno de


cada homem um círculo fatal de que não pode sair: mas dentro de seus vastos
limites o homem é poderoso e livre: assim são o~ pOVO!i,
As n~ic;Ões amais nâo poderiam fazer que as condições não fossem iguais em
se-u seio; mas depende delas que a igualdade as conduza à servidão ou à liberda-
de,~ cuiture ou à barbárie, à prosperidade ou à miséria.
ALEXIS DE TOCQUEVILL

O ANTIGO REGIME E
A REVOLUCÂO'

• Wcl'l'c111

• O, l;!IJ1Ílul,,~ IH(Ut 11µtJlle111dç,s f~ram g~J,:ci'<>nndos de f. '<111d1m RJtiuu• 111 /e R,l1•1ih11fcm. C!JitlOf'I, ifieilli
mard, P95"'. ,.,.~1,• u1t~rl\lc,di1,nlopor J. P, Mll}'tlf.
Nc..~i~ 1·,(liçâ•i 1~,.;;1rúul4.~ m~11iê"m :i numeração da edição Í"11nc:..:.i.~ ç :.àu Lro..iuz_i(ltJ,, nn ,,,1,,
lmrf-'l.fuç1fo l'•m.im cJ'cLu::11:l·n-s oorti:HJ.:: parã.~rnío:squc se encontram assinalados por(.,. J.
tos foi feíHl por J,)se AtiJ~us.tQ <iiilHoo d'-" • . ,1~11(J11crqut'.
Prefácio

E,s-re Iivro mio é uma história do Revoluçiia mas um estudo sobre ela . .)UCJ
htsujr/ajáfolfefra e com tanto 1>1·J/lu; que não ouso refa:rê-la.
Ern 1789, os ftances1Js l'<'uli:.:uram o mnio» esforço oue gttalquer pO\"O jamais
terá feito, na :;1;m ido de, por ussim âi-=er" produzir uma ruptura em sua histári«
oue vtesse d separar por um ab;smo o C)lJf! desejavam ser do que tinham sido até
então. Deste modo. empenharam-se em assumir uma conformação diversa do. de
eus pais e tomaram todus as medidas para que sua nova condição nada preser-
Passe do passado. Fizeram, enfim. tudo r, que se poderia tmaginar qwi. devessem
fazer para prôdu:.ir turu: lra,1.efonnação completa de si próprios.
ontudo, sempre acredltei qul' eles tiveram nesta empresa exuaordiluí.r1'a
milito menos êxuo do que se pensava no exterior e do que- eles prôpno» pensaram
inicialrrumJe. Sempre acreditei que. apesar de tudo. IN.:n1iam conservado do W'ltigo
regime n maior parte dos sentimentos. dos hábifos e das prâpnas idéias, com a,"
:1uair haviam dirlgirlrJ a ret'Oh.tçiio que o destruira. D,•ste modo, ete«. embora sem
o deseiav, se haviam apoiado nas minas dn amtgo regime para construir ó edi}Tció
da nova sociedade. AS5im, puru compreender a Revolução e s1ui obra seria neces-
sârio esquece, pnr um momento o França de> presenu: pura lutorrogor cm sua
tumba c1 França do passado. P. tsto que tentei jaze: aqui, embora mi d(/it:uldade5
tenhan) sido CCl'ta,ncmt maiares do qu« uu leria podido imagtnar. (. , . )
T~,,rtf penetrar tJIÚ o cem« do a11tig<,; r>6·1tlme, aue. embora rên pn;xlmo d,
nó~· nu u:mpo,jti ${" acita oeuliada pel« Jl.'1'l 0l1Jr,iio. ,{. , .)
1

medida qaa 01'a11çaw1 nost« estudo, st,t_preandia-,m! a todo rrrômcnfo ao


reencontrar na França r.Jaqm~te tempo muttos dos traços mats notávets aa França
de, nossos dias, Encontrei uma qrum1idadt1 de senrimemos que u.,·"•ciitcwa nosci-
'n,,. da Revolução, uma quamfriade de hJéias que supunha terem na Rct- 0/uçào1

rtgem, um« infimilcuJ.11. de háblws que só a ela são mribu(dos. Encoturui. m1


os lugares, as raizes da sociedade alua/ profu11da.man1.c implantadas naqm1·
lo amigo. Mai« me aproxlnutva de 1789 e mais claramente me apercebia do
<'.rpfrito que [cz a R,:rQ/t.,ção formar-se, nascer e crescer. Desvenda-se pouco a
pouco ante meus olhos a sua fishmamia: ~ra o própria Revolução que, desd.
t:flliiu, unuuclova seu temperemetuo e seu gtmn. Escava lá t1iio apenas a raz.iio do
ue trio fa::.er em seu prtmclro impu/sr, más também; talvez, o u111lt1cio do qu
deven« estuhr:lecrtr a longo prazo. país a. fi.el'Oblçào teve duas fases bem dis1inlas:
32:!
TOC QUEVILLE

na primeira, os franceses parecem q-1,erer abolir lodo o passado; na segunda, vot-


tam a de par:a recuperar parle do que haviam deixado. Há um grande número de
leis e de hilbilos po.Jüicos do antigo regime que desapart!cem repenttnamem« em
J 789 para ~·e restabelecerem alguns anos depois. Sâo como cedos riQ~ que des-
cem ds entranhas da terra para voltar, um pouco mais adiante, à superf[cfe. Apa-
recem então como se fossem n01•Qs rios, mas, defato, S' ii.(J as mesmas águas.
O objetia,o lia obra que dou ,a pâbltco é a de' permitir compreender po,, qm!
esta grande revolução irrompeu aqui e ndo 'em outro pais, embora tenha sido pre-
parada ao mesmo tempo em quase rodo o continente europru: por que emergiu da
sociedade que fria destruir como se emergisse de .~l própria; por que, enfint, a an-
tiga monarquia caiu de maneira tão compteta e Lào repeutina. ( .. , )
,1/Josb·Q neste livro um pendor para a llberdade q1,e talvez rmrilos venhasr
onsiderar Inoportuno. Segundo se diz: já 11ão !lú, em toda a frança. quesn df!là

t camra-
ocicdad.es

de S(!US intor
tturn i11dlvidualis1no

lia.

,,, ele
O ANTlGO REGJME E A REVOLUÇÃO 23

marca que classifica e distingue os homens .e alcançou, ao mesmo tempo, uma


singular mobilidade, transformando a condição dos indivíduos, elevando ou
degradando as familias. À sede de ennquecer a quulquer preço, o gosto dos negó-
cios, a amor do lucro, a busca do bem-filar e dos prazeres materiais são então as
poixães mais comuns. Paixões que facilmente se d[fu.ndem em todas as classes
penetrando mesmo o.quelas que até entdo as repeliam. Paixões que, assim. che-
gam be(!I rapidamente a debilitar e a degradar a 11a.vi10 tntetra, qumuio nada as
detêm em seu caminho, Ora, é da próprià essência da despotismo /al)OU!ci! las e
estimuJá-ta.s. Estes sentimentos debtlicantes vêm em seu mJ.XÍlio, pois desvian
pare longe das queslef(!S públicas a irrwgmctçào dos homens.fazendo-os tremer à
simples idéia da possibilidade de uma revolução. Só ele pode assegurar o sigiiD ~
a penumbra oue factluam a cupidez e permitem a aquisição de lucros desonesto
e indignos, Sem o despotismo euas paixâes seriam fortes. Cutn ele, são
domtnautes.
Só á liberdade, pelo contrário, pode combate» de modo efica: o:.,· vicios naiu-
ruis a estas saciedades, retirando-os do plano inctlnado em que se encontram:
Co;n efeito, só a liberdade pôde retirar os cidadãos do tsolamento, no quat ~d,iem
porforça da 1ul>pria independência de sua condiçõa. para obrigá-los a se raapro-
ximarem uns aos outros. Só a liberdade pode reanimar e reunlr os cidadãos rodos
ói dias, pela necessidade da persuasão e do entendimento reciprocas. bem como
da cooperação na prátiaa dtJs auestões comuns. S6 ala é capaz de libertá-los do
culto do dinheir» e das pequenos l/(flcu!êiades <:Ctldirma.s de seus ne-góc:tos ponic«
lares para [azê-los, li todo momento, p,•rr:eb,•r e sentir a plÍJria acima deles e ao
lado deles. S6 a llberdade pode subsututr de um momento por« outro o amor do
em-estar por paixões mais e11é.rg!cos a mais elevadas. ofereceoüo à amblçào
b}etl'l.ías maiores oue 6 aquisição de riquezas e criando a tu: que permita ver ,,
ji~fgetr os vtcta» e asvirtuaes dos homem
As ,1/ôC-fedades demncrúfi,•as qtte não são iivres podem ser ricas, refinadas,
sofisrfcadas e aré mesmo magn(flcas e poderosus em virtude d-0 peso de sua massa
l1cmog.§nca. Pode se eneoutrar, nestas saciedades, quªlldades privadas: bons pats
de familia. comerctontes nonossos t prõprictários dígmH dr: «stim«, Pode-se
nctmtrar netas aié mesmo bons cristãos. po!5· a pâtrt« dos criuãos f1àO J desk
inundo e a glória da sua religião está em crfá-Jos sob os piores go1·ernos ,. em
meio à maior corrupção dos costumes; na época de sua decadéncla mais e:xtrerna
o Império Romano estav« rcplcio de cristãos. Atas ouso dizer que não se rmco,r-
trarão jamals .r:tandes cidadãos. e sobretudo grandes povos. em sooiedades seme-
tbamcs. Ouso tll.::er que, 1Jnquanm a Iguatdad« e CJ rlesporísmo estiverem assoctu-
'os, a qualidad~ dos corações e aos tspi'ritos nõa cr!SSl'wá j't1mois de degradar-se.
no geral clus Jwmens destas saciedades.
Eis o que, há vime anos, eu pensava e dl; ia. Confesso que nada ocorreu no
mundo desde emiio que me levasse a pensar 2 dizer de maneira dife-renUt. Se se
considera o apreço em que tive a Iiberdode numa época em que esia se eneontrova
em situação m11is favorâvet, creio que nio se poderá recriminar que persista em
minha opinião neste momento em que eia se encontra ao abandono,
24 TOCQUEVIlL

Considere-se, ademais, que sou, neste parücular, menos diferente da maior


parle dos meus adversários do que eles pr6prios poderiam supor. Haverá homem
ú.io 1,•ii por sua própria natureza que, considerando sua nação dotada das virtudes
necessárias parafazer bom uso da liberdade, ainda preferisse depender dos capri-
chos de um dos seus semethtuues a seguir as leis que ele próprio contribuiria para
estabelecer? Penso que não h(i. Os próprios déspotas não negam a excetência da
liberaade. Ocorre apenas que a desejam exclusivamente para si, considerand:
como totalmeme indignos dela 11 lodos os outros. Assim,"' dil'e.rgência não está
m torno da upini~o que ternos da lfberdadc mas ~m tomo da estima, maior ou
menor, em cue temos os homens. Deste modo, pode-se dtzer, de maneira 111?,0Y'OStJ,
que a preferêru:ta de uma pessoa pf!ln governo absohno está em relaçã» exala
com o desprezo C/LU: profiNiS<' por seu p(1fs. Peço que me pl'rmi1am esperar ainda
um pouco mais untes dl! i,w évm·crh·r a este sentimetuo. ( .
LIVRO

CAl-'llºULO T
Juízos eontraditórios sobre a Revolução

ada mel
aos fiió!llof-0~ e

no-

ram
u rar seu pres-
1ício ::i

d
TOCQUEVILLE

sua forma, porque a vêem como se fo~se através de um espesso véu. obscurecen-
do-se, assim. a influência que. desde o início. ela deveria exercer sobre os destinos
do mundo e da própria Inglaterra. Arthur Young, que percorre a França. no
momento em que a Revolução Ma eclodir e que .i corrsjdcra iminente, ignora suas
dimensôcs e chega a perguntar-se se o ~u resultado não seria o de uma amplia-
ção rios privilôgios. "Penso que esta revolução faria antes o mal que o bem se vier
:a dar ainda mais preponderância à nobreza."
Qurmto a Burke, a. Revolução inspirou-lhe, desde o início, um ódio que ilu-
minou seu espírito. Contudo. o próprio Burke permaneceu por alguns momentos
na incerteza, Seus prognôsueos iniciais são de que a. Revolução debilmtaria e, do
certo modo, aníq uilaria :i França. "Pede-se admitir", diz ele. "que as faculdad
guerrcíras da frança estão extintas por' muito tempo. talvez mesmo para sempre.
ão é improvável que os homens da próxima geração venham a dizer como os
amigos; Gal/os quoque i,1 h-e!lisfloruisstJ audi1 imus; ouvimos dizer que. outrora
1

ani' mesmo u~ gauleses eram esplêndidos nas armas."


Para e°' exame dn,s acontecimentos. a proximidade não i! melhor que a dísrân-
ia. Â,o:. vésperas d(') dia cm que a Revolução deveria eclodir. não se tem na Fran-
n nenhumu idéia pl"c;(;isa sobre o que está para acontecer. Encoru
escritos. em meio aos mcitos que forW11 publicados -0. respeito, qu
certa compreensão do povo, Teme-se f)tla preponderância que deve conservar o
poder real ou a 'corte, como é ainda chamada. A debilidadr.: e a curta duração do
estados gerais são motivo de inquictaçâo. Teme-se que se lbes faça violência. A
nobreza. cm particular. estâ dominada por este temor. '·As tropas suíças". diz
munes destes esc ri Los••• prestar ão junmcnco J.; não voltar suas armas contra ,
idadãos, mesmo cm caso de insurreição ou de revolta." Que se conceda. a liber-
ade [lQS l.:S.t8d0S aerais L'. tncJ'(H. tH :srh11i,nr <"DPi!in r.•.• ..,:1-~-•- -'~-.e-.• L Ernbor

cabe-
O ANTIGO REGTME E A REVOLUÇÃO :327

unen-
ado a

r,..,,.

·xiio.

CAPÍTULO l lt

ão francesa foi uma revolução política qu


procedeu :.i. m:rndra da!1 revoluções rcligio

xlas as revoluções civis e políticas riverum u111a pátria e :t i:!ln se Iirnucram.


Revolução francesa nâo teve terrhório próprio. Além dis~o, seu t:fe.itv füi. d•·
algum nll,)do. o de apagar do mapa todas as :1n1i,gas: froruciras. Aproximou ou
dividiu os homens ri despeito dás leis, tradições, caracteres e idiomas. rransfor-
mando às vezes cempatricras em inimigos e cst:u1gelros cm irmãos. Noutras pala-
.ras, formou, acima de todas as nacionalidades particulares. unia pátria intelec-
tual comum d;1 qual os homens de todas as nações tornurarn-sc cidadãos.
TOCQ U EVILLE

Fxamincrn-se todos os. anais da história e não se encontrará uma única revo-
1 uçâo política que tenha tido este caràtcr, Só nas revoluções religiosas ele será
encontrado, Assim, se queremos fazer-nos compreender com a ajuda da analogia.
é às revoluções. religiosas que devemos comparar a Revolução francesa.
Schiller observa. com razão. em sua história da Guerra dos Trinta Anos. que
a grande reforma do século XVJ teve por cfei Lo imediato a aproxirn açâo de povo
que mal se conheciam. unindo-os estreitamente por novas simpatias, Viram &e
então. de: fato. fr::uiceses combaterem contra franceses enquanto o~ ingleses vi-
nham cm r.:;ua ajuda. 1 lornens nascidos nos confins do Báltico penetraram atê
oraçâo cfo Alemanha para proteger alemães dos quais jamitiS haviam ouvido
falar atê então. Todas m, ~uen-a:s estrangeiras passaram a ter algo das guerra»
civis e em todas as guerras civis apareceram estrangeiros. Os antigos interesses de
cada naçâo foram esquecidos em Iavor de interesses 110,10::!. As questões de tcrri-
16rio foram irnb~Litoítlal:i por questões de principio, Para grande espanto e desa-
irado dos políücos da êpoca, todas as regras da diplomacia tomaram-se rníxôr-
ia e confusão. foi isto. precisamente. o que passou a ocorrer n~ Europa di:-pois
de 1769.
Rcvoluca

pouc e relacicnari
a nlaumn
.• i ml!smo.

flHt~ e um; homens,


O ANTIGO REGfME E A REVOLUÇÃO 29

As. religiões pagãs da Antiguidade. que estiveram sempre mais ou rnen


Iig adas ~ coe1s(ituiçàó políuca ou ao estado social de cada povo e que conser-
aram em seus dogmas uma cena fisionomia nacional e freqüentemente munici-
pal, limitavam-se. d~ modo geral, às fronteiras de um território e só excepcional-
ruente expandiam-se além dele. Derarn origem. às vezes. à intolerância e à
rseguíçâo, mas desconheciam quase inteiramente o proselitismo. Deste rnod ..••
nao houve grandes revoluçôcs religiosas em nosso Ocldcntc antes do crisüa-
riismo. Este. por sua vez. conquistou cm pouco tempo uma grande pa.rrc do gêne-
ro humano, ultrapassando facilmente todas as barreiras que haviam deiillo as
religíôcs pugãs. Creio não faltar ao respeito a esta santa religiiic ao dizer que ela
deve f'K.u"Lt: de !',CU triunfo ao fato de haver-se separado. mais que qualquer outra,
d~ Ludo o que pedia xer tido corno especifico ele um povo, de urna forma de. gover-
no. de um estado socíaí, de uma é11oca ou de uma raça.
. --. Revolução frur,ç<;~U procedeu diante deste mundo precisamente da mesma
maneira que ~s revoluçôes rditn<i";::is. diante do outro, Considerou o cidadâo de
modo abstrato, fora de rodti~ as sociedades particulares. como às religiões consi-
deraram n homem em geral, independcmcrncme do pws e do tempo, Niio M.: inda·
rc o direito particular do cidadâo francês, mas
cveres e tfüéitos g~rai:s. dos homens cm matéria política.
i deste modo, por se haver remontado sempre ao q uc h,
tlcular ~. por assim dizer. de mais natura: na realidade ctn estaco socim e do
ruprcensível pnra todos e imitável ~m centenas d
'30 TOCQUEV1LLE

O mais extraordinário não é que a Revolução lranccsa eenha empregado o


procedimentos que vimos e concebido a~ idéias. que produaiu. A gr:m.de novidade
está n.1 quantidade de povos que chegaram àquele ponto em que tais procedi.
mcntos poderiam ser empregados de: maneira eficaz e tais idéia~ facilmente
admitidas.

CA:P?°TULO IV

Quase toda a Europa teve precisamente as mesmas instinríçôes


e estas ruíram ê111 todos os paí.sc··

estas
O ANTlGO REGTh'lE E A REVOLUÇÃO

Em 1.odo as

o o emoe-

repi

' vendo
despojos.
Subsistem ainda, no século xvrn. 3,
fos xnr e :XJ
e cultas. Ma

ma"

1
Em francês. l'errsl1,1e é :a cl!:\ig1mçw~1 parn. as ,errm, eoncedldas por nohres :l 11lchcii~ l!m lfllca de uma f\rM
t:\Çêt• ~.eunifoi:1.{N. d.ó T.J
332 TOCQUEVILLE

e fecundas Que as inspir aram .. Ê_ com o s~ estas antigas i n::;tüuições tivessem. sem
se deformar, perdido o sentido que as animava.
ediu que ainda subsiste

de nov:1
A

n
ns-cit1.JJi-
sque-
4uc
. _ . class__
que se mesclam entre ~i, urna oobrcz~, apagadn, uma. aristocraeía aberta, a rique-
za cransformada cm poder. igualdade perante a lei. igualdade dos encargos. Iiber-
dadc de imprensu e debutes públicos, Todos princípios novos e ignorados pela
ciedade da Idade Mécha. Ora, foram prcclsamenre estas novidades que, introdu-
zidas lenta e habilmente num velho corpo, o reamrnararn sem o risco de dissolvê-
lo e, embora mantendo suas formas antigas, deram-lhe um novo vigor. No século
O ANTIGO REG™EE A REVOLUÇÃO 3

XYU, ,L Inglaterra já é:, no seu rodo, uma nação moderna. com a peculiaridade de
haver preservado. como se fossem embalsamados, alguns restos du Idade Média.
Era necessário este rápido exame de outros países para entender os capítulos
seguintes. Ouso dizer que quem estudou e viu apenas a França, nunca compreen-
derá nada da Revolução [rancesa.

PITULO V

obra lia Revolução fruncc.:,s,l:I


forma, se ligava a elas e trazja suas marcas, em qu::i.lquer grau é por menores que
fossem. Só conservou tio antigo mundo o que sempre fora estranho, a estas instí-
rnlço~s. ou poderia existir independentemente delas. Nâo se: pode dizer de modo
algum que a R.evoluçâô tenha sido um evento fortuito, Embora tenha, por certo
surpreendido o mundo, foi apenas o complemento de um longo Jat,or. apenas o
término repentino e violento de urna obra na qual dez geraçõe:s de homens traba-
lharam. Ainda que a Revolução não ocorresse, o velho edifício social desmoro-
naria mais cedo cu mais tarde em toda parte. A única diferença estaria em que
teria continuado a cair peça por peça. ao invés de ser derrubado de: um só golpe.
A Revolução realizou de maneira repentina. num movimento convulsivo e dolo-
roso. sem transição. precauções ou deferências, o que, a longo prazo, se realiza-
ria, ;1 pouco e pouco, por si mesmo. Esta Foi sua obra.
.É surpreendente que isto, que hoje parece ciio fácil de discernir. tivesse
permanecído tão confuso e obscuro aos. olhos mais perspicazes.
"Quereis Córrigir os abusos de vosso governo", diz o próprio Burke aos rran-
coses, "mas por que começar ele novo? Por que nâo vos reportais a vossas antigas
tibcrcludcs? L sendo impossível para vós reencontrar a fisionomia destruída da
constituiçâo de vossos antepassados, por que não voltar os olhos para u noss
lado? Aqui vós !criem, reencorurado a antiga lei comum da Europa." Burkc nâ
percebe que (") que tem sob os olhos é a R-.!volução que precisamente deve abolir
esta antiga lei comum d11 Europa. Não percebe que é exatamente disto e apenas
diste que S'-! truta,
r que esta Revolução. preparada em roua parte i:! em toda parle imi-
iu na França I.! nâo cm uutros J13.Í.,(,!Sc';• Por que teve 11qui certos traços
que não serão mais recucomrados cm pafa algum ou que reaparecerão apt:?nl.l~ _
p,arcinlmcnte"! Cennmente, C-St;'I segunda qucscâo preci.st1 ser p1·oposLn. Seu t:
co,islitui o obj~to tlv~ livres scgurntes.
LIVRO li

CAPlTULO ll

J\ cenl.r~liizaç5ó administrativa é uma instituiçâo do antigo regime,


nio da Revoluçâo nem do Irnpêri«

st
va de prm'Íncius
am tl si próprias;
·i

num conjunto que

a(Jministraçuo do reino aparece como diversidade


nru~ão de poderes. A França aparece repleta d
uncionártns isõl~dos

2
1\.ll ririnc:i1}:11,pro1·Jllcfas ,fr rulílli<J -ram o L~irlAIJ\Jdt'Q_Ue . .i Provenc:1, il llôf11cmhn ~ (1 Rr-.!rn.nh:i. {N. t,111 l 1
de sua jurisdiçâo, Ocupam-se, â::. vêzes, da adminístraçâo propriamente dita. cen-
surando ruidosamenre suas medidas e sentenciando seus agentes. Simples juízes
cstebclcccm normas de poli eia nas cidades e burgos. de sua comarca.
As cidades tem constituições muito diferentes. Seus magistrados são poria-
dores de nomes diferentes ou tornam seus poderes em diferentes fontes: aqui um
prefeito. ali côns1,11 les, acolá !)-índicos. Algun ~ :ião escolhidos pelo rei. o urros peío
amigo senhor ou pelo príncipe ao qual o soberano concedeu p,rrt~ do seu domínio
como apanágio. 11-iii os que são eleitos para o período de um ano por seus cida-
d.RO$t e outros que adquirir am a tiLulo perpétuo o direito de governá-los.
Estas são as sobras dos antigos poderes. Contudo. estabeleceu se em meio
delas, pouco a pouco, algo que. (.'m comparação. era novo ou transformação de,
antigo.É o que resta n mostrar agora,
No centro t!o reino. e peno do trono, formou-se um corpo administrativo do-
tado d~ um poder singular onde se reuniam, de maneira nova. rodos os poderes.
... ra o Conselno do Rei,
•wil origem i.:. antign mas ., maior parte {li.; suas funçc'k-:; é de data recente. ,~·
ao mesmo tempo. corte suprema de justiça. pois. tem o direito de anular as sentei,
ças ele lodos os tribunais comuns, c tribunal administrativo superior, pois a ele
competem. cm última instância, todas a::; jurisdiçôcs especiais, AL~m disso. _po
.sul, como conselho U(J governo e de acordo com a vontade do rei, o puder legislu
tivo, discutindo e pror,orido :i maior parte das leis. csrabclecendo e distribuiudo li
Impostes. Como conselho ~upedor de :i.d111[11io;tr,u,.ii.o, cnbe lhe estabelecer .t:-. re
os gerai~ que devera oricn ta r os agentes do p.overno. Decide sobre todas as.
questões irnportamcs e supcrvislona os poderes ~ecuritf~rios. Tudo ucabn por chu
h: r..: dele parte o movimento que a urdo se comumcn, cntrct::mm, ele n.à<'I
modo ulF,um,j1,ff18diçifo prúprln. É só o te, quem decide; mt•:i:1110 yu:.v11J
parece ser i:., conselho que se pronuncia, Embora tenha np::iir~ncias de distribuir
justiça. o conselho J compcsio apenas de simpícs comudheiros (donneurs d'avís).
como foi dito pelo Parlamerno em uma de: suas rcprcsearaçôcs.
O conselho não { composto de grandes senhores. mas de personagens de ori-
m medíocre ou inferior. de andges in1cndLnLe!-. e ou1r~-1ii. pessoa» I.JI.IC i,;c c,,.,.. ..
rncrn na prârica admlnlsrrauva. Todos sãu dcmissivuis.
n, geral. o conselho l\été' discrcturnerue e sem ruído. cvidcncian
menores rpr~ren~ôc-i. que poder. Assim, n~o tem, por si próprio, nenhu
Pelo contrário, desaparece diante do esplendor do I rono que lhe csrá pd>,dn,o, tti
poderoso que afetn ~ tudo e. ao rnesrn n tempo, tão obscuro q uc Ji f'h;iln,cmc se: foz
tar pela história.
o mesmo mudo Que iodu a admiflJSLraçào do Jl8.ÍS é dirigida p
, tl\J~S,1! todn ~ gestâo tl~ts questêcs internas é çonliildU. aos
'nico agente, u inspetor geral•
uern ubrie um almanaque uo antigo regime encontrará que cada provindJ
tinha seu mini c:tro parti cu lar. Mas, qunndo SI! estuda a admini~trnçuo atravês de
$c.:u:. próprios documentos, se percebe rapidamente que a ministro da província
tinha apenas algumas oportunidades, e ainda assim pouco importantes, de agir. O
O ANTIGO REGIME E A REVOLUÇ.ttO 337

lirsados pelos
I:? esta ainda possuía.
i Ficuldadc-. embora já
mo, de geme muito desprezível Contudo. estes homens. governavam a França
como dissera Law e como teremos ocasião de ver.
Comecemos pelo direito de imposto que. de certo modo! contém em si todos
os outros.
Sabe-se que uma parte dos impostos era dada em concessão, Neste-caso. era
o Conselho do Rei que tratava com as compantuas financeiras. estabelecendo as
condições do contrato e reguiando o modo da arrecadação. Todos os outros tri-
butns, como a talha, a capitação e as vigésimas, eram estabelecidos .e arrecadados
diretamente pelos agentes da administração central ou sob seu controle
lodo-poderoso.
O conselho fixava todo ano, por meio de uma decisão secreta, o montante da
talha e de seus numerosos complementos, como também sua distribuição·emre a
províncias. Assim, a talha cresceu de ano em ano, sem que niguêm fosse adver-
tido de: antemão por nenhum sinal.
Sendo a talha um velho imposto, seu lançamento e arrecadação haviam sldo
antigamente confiados a agentes locais, lodos mais ou menos independe:n·tes do
governo porque exerciam seus poderes por direito de nascimento, ctcíçêo ou em
virtude de comissão adquirida. Eram o senhor, o coletor paroquial, os tesoureiro.
da França, os eleitos. Estas surorídades existiam ainda no século XVTH, ma
algumas haviam absolutamente cessado de. i:;.a ocup~r da talhai e outras só o foi.
aiam de maneira muito secundárla e inteiramente subordinada. O poder já esta
todo nas mãos do intendente e de seus agenres. Só ele, na realidade, distribuía a
talha erure as ffeg-ucsias, dirigia e suoervislcnavs os coletores, coneedla prorr
coes e ...
- • "li,;
Ml"l,t'\.M i.A.A.A .A
O ANTIGO REGIME E A REVOLUÇÃO 339

Do mesmo modo, poder-se-ia dizer que. à exceção das províncias de Estado,


todas as obras públicas, mesmo aquelas que possuíam à destinação mais partícu-
1::n\ eram decididas e dirigidas apenas pelos agentes do poder central
certo que havia ainda autoridades. locais e independentes que podiam par-
ticipar destes aspectos ola acrninistração pública. como o senhor, esjuntas de
finanças e os inspetores gerais dos caminhos. Mas. em geral, estes velhos podere
agiam pouco ou simplesmente não agiam. como se torna evidente. pelo mais leve
,.. xarnc dos documentos administrativos da época. Todas as grandes estradas, e
mesmo os caminhos que conouxiam de uma cidade a outra, eram abertos e
conservados corn 1) concurso das contribuições gerais. O conselho estabelecia o
plano e fixava à ,adjudic:1c;Ão. O intendente dirigia os trabalhos dos engenheiros e
o subdelegado reunia a corvéia que deveria executá-los. Deixava-se aos antizos
poderes locais apenas n ma.nute:rtçàu dos caminhos vicinais, os quais s
desde então. impraticáveis.
A adrnini:;tração de po,ues e camlnho« era então, como é agora.• a grand
agencMt1 do governo eemral paro as obras públicas. em
que pesem M diferenças
e tempo, 111do aqui se assemelha de maneira muito singular. A administração de
caminhos tem um conselho e uma escelsr inspetores que percorrem
te- toda. a França. engenheiros que residem nas localidades e são encar-
"'Ob as ordens do intendente, de dirigir todos os trabalhos. As iostituiçõe,
regime que. arn número bom maior do que se im::i
nova sociedade. jeralménlé perderam. il181 transi ..
as lorrnos. Por ter preservado am

cxclusívidadc a tarefa ce m
rpo de p ·· ·

oficiais.
Os corpos de justiça ti!lh:u-ri preservado o direito de estabelecer regul
mentes policiais e usavam-no com freqüência. M:l::; estes regulamentos se aplica-
vem upcnas a uma parte do território e, mais freqüentemente, a um s6 lugar. O
conselho podia sempre derrogá-los e, de fato, o [aaia com grande freqüência
uando se tratava de- jurisdições inferiores. Por seu lado. o conseuie comumente
estabelecia normas gerais, a.pli.dvcis igualmente a todo o reino. seja sobre maté-
rias já reguladas pelos tribunal !i, seis sobre rnatêrías diferentes. O número dcstés
regulamentos ou, como se dizia então, dcsres arestos do comelJm é imenso e cres-
ce sem cessar ã. medida que se aproxima a Revoluçâo. Durante; os quarenta anos
34 TOCQUEVILLE

que a precedem, não há quase nenhuma parte da economia social ou da.organiza-


ç ão politica que nâo ten fia sido remanejada por decisões do conselho.
Na antiga sociedade feudal. o senhor possuía grandes direitos mas também
grandes encargos. Cabiã~füc acolher os indigentes no interior do seu domínio.
Encontramos um último sinal desta velha Ieglslaçâo da Europa ao código prus-
siano de 1795, 011de se diz: '"O senhor deve cuidar para que os camponeses po-
bres recebam educaçâo, Deve, tanto quanto possível, obter meios de vida para os
seus vassalos que não possuam terra. Se alguns destes se tornam iittdigt.:ntcs. cl
estâ obrigado n dar-lhes socorro".
ão há. desde há muito tempo, nenhuma lei similar na França. Como lhe
retiraram os antigos poderes, o senhor
passou a esquivar-se ás suas antigas obrl-
gaçôes. E não foi substituído nestas funções por nenhuma autoridade local. ne-
nhum c-011 se lho, nenhuma assoe Lação pro\ iridal ou paroq uial, Ninguém estava
1

mais cbrigado por lei d ocupar-se dos pobres do campo, O governo central cha-
mara a sj com ousadia a tarefa de prover sozinho às SUi.\§ necessidades.
O consethc atribuía todos os. anos a cada prevíncia certos fund
rbtraídos do produto geral clos trtbutos. que o Intendente distnbuía como :a.uxilt1
nas freguesias. A ore deveria dirigir-~i; o agricultor pobre. Nos tempos de- escas-
sez. era o intendente q uern ma11d(n•a dím·tbuir o trigo 01.,1 o arroz no povo. O con
selhe promu]gavn anualmente sc.::ntcnça."t que ordenavam se estabelecessem, em
lugares que o pr'Ópdo conselho tornava ô cuidado de indicar, oficinas de caridad
ndc O$ cnmponc.:scs mais pobres poderiam trabathar em troca d,!! um
salário. P. fácil perceber q,uc uma caridade que &i.' fa, de tio longe ê, co
ia. cega ou caprichrnm ~. em 1ado c,1so. sempre insuficiente.
O izovcmo ccn trat não ~e limitava a. vir cm socorro
lho:. ,1J, arte de enriquecer, ajudar .•.
te Opjeti vn, d'r:. !ri bu

de LOCla~ estas normgs:, havia inspetor.


províncias para este !i'm ,
Há normas do co,~.sclho que proíbem certas culturas oa!o; terras constdcrade ,.
por ele corno pouco ::tdequ.:ida:'.i. Do mesmo mudo, há normas cm que ordcnr1
sejam arrancada, as vinhas plantadas. segundo lhe parece, cm solo ruim.
governo já passara do papel de soberano ao de tutor.
O AN"fJGO REGnfE E A REVOLUÇÃO 341

C.-\P(TlJl..O V
A ccntntLização lntroduziu-se em meio aos antigos poderes
.: suplantou-os sem destrui-Ios

Façamos agora. o resumo do que foi dito mos três úttimos

tabelecerem

um p1

ta grande cm pre
da .a substância d
342 TOCQUEVU.

dos magistrados, o governo central deixava, por um momento, a administração


aos. parlamentos, permitindo-lhes fazer um estrêpuo que, muitas vezes, foi regís-
tradc pela história. Logo dcpoi&, contudo, retomava, em silêncio, seu lugar w,
ditscretamcnle, recolocava H mão sobre todos os homens. e todos: os negócios.
Quem observar com atcm;;ão a luta dos parlamentos contra o poder reat verá
que ela: se encomra quase sempre sobre o tetreno da política e 111ào sobre ó terreno
dai administração. Em geral. as disputas nascem a propósito de um novo imposto,
Significa dizer que os dois adversários não competem pelo poder administrativo
mas pelo poder legislativo. c-ujo controle nâo deveria caber, de direito, nem a um
nem a outro.
Maii; se aproxima a RC?volução
.
e mais estas di:.pLil.bts se tornam frcqücmes.
.

Mais as paixões populares se lnüamam, mais o parlamento se mistura n~ política


e menos se ocupa da administração propriamenee dita. A cada dia que passa,
parlamento se torna menos administração que trihuna. inclusive porque, ão
poder central e seus agentes se tornam mais experimentados

da
O ANTIGO REGIME E A REVOLUÇÃO 34

inclinado que para impedi-lo de cair. Em seu seio. lodos os poderes tendem natu-
ralmente para a unidade e só com muita habilidade se pode mantê-los: divididos.
A revolução democrática, embora destruísse tantas instituições do antigo
regime, deveria, deste modo, consolidar a centralização. pois esta encontrava: seu
lugar de modo tão natural na sociedade que a Revoluçâo havia. criado que se
poderia tomá-la facilmente como uma de suas obras.

CAPÍíULOX

A destruieâo da liberdade política e a separação das classes causaram toda


as enfermidades que levara m à morte do antigo regim

ernprc

teri
00""
TOCQUEVILLE

permitissem governar. Aqui, conservou até o fim .a imunidade de. intposto parai se
consolar de ler perdido o governo. ·
o século Xl V. a máxima, Nêa imponha tributos a quem não os quer, pare-
ce estabelecida tão sohdamente na França quanto na própria Inglaterra. É lem-
brada com frCt,lüê:ncia~ infringi-la parece sempre um ato de tirania, obedecê-La é
conduzir-se de acordo com o direito. Nesta época se encontra, como já. foi visto,
uma quantidade de analogias entre as nossas im,tituíçõe~ política:; e as tios. ingle-
ses. Depois. os destinos dos dois povos se separam e tornam-se cada ver mais
difereates medida que o tempo avança. f como duas linhas que. embora par-
à

eando, de pontes próximos, tomam drr~çõ~s um pouco diferentes e &e desviam n se-
guir indefinidamente à medida que: se .alongam.
Atrevo-me a dizer que no dia em que a naç.â(), fat.gad!a com ns prolongada
desordens que acompanharam o cativeiro da Rei João e a demência de Càrlos V[,
permitiu aos reis est:i~lecerem 1,1.m imposto geral sem seu concurso. em que
nobreza teve a fraqueza de permitir o lançamento de tributos sobre o Terceiro E
ado à condição de que ela própria e~frvcsse isenta - neste dia roi semead
ermc de quase todos os "icios e de quase mLi()s os abusos que minaram o anti
rregimé durante o resto de sua. vida e iermínararu por causar-lhe violentamente
morte. Admiro ::i incomum sagacidade de Comrnincs quando diz: "Carlos Vl
dfo,âu d~ impor a talha a seu gosto. sem n consentimenro dos
de seus sucessores e fel ao mino uma rerida qu

,.

nome de talha, não pesava.


O ANTIGO REGIME E.A REVOLUÇÃO 45

tributo que não parecesse atingir diretamente os nobres. Estes, que apareciam
então para a realeza como uma classe riva I e perigosa, nào t~r:iam aceito jamais
urna novidade que lhes fosse tão prejudicial. O rei escolheu, portanto, a talha. um
imposto do qual os nobres estavam isentos. ·
todas as desigualdades particulares que já existiam. juntou-se assim uma
desigualdade mais geral que agravou e manteve todas as culta::,_ Desde então, a
lalha Se estende e SC diversífica à mcdída que as necessidades do tesouro público
crescem com as atribuições do poder cemral, Pouco tempo depois, ela estará dez
vezes maior e todos o~ novos impostos tornam-se talhas. Portanto, a cada ano
que passa, a desigualdade dos impostos separa as classes e isola os homens ma;
profundamente do que havia sido aLé então. Desde o momento ~m. que o imposto
tinha por objetivo não os mais capazes de pagar mns os mais incapazes de se:
defender. éramos conduzidos a esta. conseqüência monstruosa que consistia em
isentar o rico e tributar o pobre. Diz.-:!-l. s que Mazarin , para cobrir necess.idntf(!S d,,
dinheiro, pretendeu estabelecer uma taxa sobre as principais casas d!.! Paris. mas
.J ue, tendo encontrud« t:crto resis tênciu c11Lrc os Interessados, limitou-se a juntar
· cinco mltbões que lhe eram necessários ao decreto geral da tnliia. Queria
impor um tributo aos eidadâos mnis opulentos e se viu obrigado a lançá lo sobre
os mais míserávels. Mas o tesouro não perdeu nada,
O produto de taxas tão mal distribuídas tinha limites e: as necessidades do
príncipes eram Uimi,.o.das. Enjrctanto, estes não qlLçrinm. convocar os Estado
para obter subsídios nem impô-los à nobreza, provocando-a a reclamar a eenvo
·uçào daquelas essemblêlas.
Vem dai esta prodigiosa e pemicicsa feeundidnde do espírito financelro que
s dinheiros público

]C) perpétuo são perpetuamente reromad


esgosms causados por un1a eola vaidad •. ,
Ilrados infcli-zes que durante todo o curso
que resgatar .l.~ honras inúteis e. os injusto
zes. Luís X rv anulara todos os tím!eis d
Proíbe-se a substituiçâo dos milicianos por temor de tornar mais elevado
para o Estado o preço dos recrutas.
Cidades, comunidades. e hospitais são obrigados a faltar a seus compro-
missos: para colocar-se à disposição do rei. As freguesias são impedidas: de reali-
zar trabalhos. úteis, por receío de que assim dividam seus recursos e não pa-
g!Jem fielmente a talha
Conta-se que Orry e de Trudaíne - um, inspetor geral. e o diretcr
OUlfO,
cral das pontes e caminhos - conceberam um projete para substituir a corvéia
dos caminhos por orna prestaçâo em dinheiro por parte dos habitantes de cada
cantão para a reparação de suas estradas. É instruava a razão que levou os hfu
beis adtninistradores te renunciarem a sett intento: di:t·se que eles temeram que os
fundos obtidos desta forma pudessem impedir o tesouro púbHco de desviá-lo
para outros usos que entendesse convenientes. de modo a. obrigar QS contri-
buintes, logo depois, a aceitar ao mesmo tempo o novo imposto e as corvéia ....
ão terno afirmar que nenhum particular poderia escapar àjusciça se condezissc
seus uegôcíos como o grande rei, ern toda a sua glória, conduzia 3 Iaz end
pública,
- e encontrais alguma novidade perniciosa ou algum antigo estabelecimento
uIdade Médio que se lenha mantido e agravado seus vícios ao revês do espírito
do tempo, pcnelra1 até :i raiz do mal e ai encontrareis um expediente financeiro
· ~e converteu em Ífl;Stituiç-ão . Para pagar a~ dívidas de um dia.·vereis estabele-
cerem-se novos: c:,odcrêS que devem durar sêculos,
época muito recuada. foi estabelccldo, sobre os plebeus que possuíâm
ben~ nobres, uri1 impos.to particular, chamado direito de prédio livre. Este direito
criava entre as terras a mesma divisão que exisliu entre os homens e tomava-a
ainda maior do que jâ era. Mais do que outros direitos, este serviu. sobretudo,
para manter sepa rt1(t{)s o pebleu (; u nobre. pois que os 1m pedia de confundlrem-
no_quilu que melhor ,o mais depressa. assimila os homens, ou seja, a propricdadi
fundüí.ri,a. De tempos em tempos. reabrta-se assim um abismo entre o p,roprfotiriõ
nobre a seu vizinho. o pr,oprtelário plebeu. Por o~tra parte, nada acelerou. mais ,a
eôesiio destes duas classes (l~ce a. abolíçãc, no século XV H. de todos os sinais qu
diferenciavam o fcvdo da terra lrabaihada por plebeus.
No século XIV. o dfreito f1?1Jdal de prédio iivte é leve e s6 se aplica com
grandes intervalas de tempo. No sêcvlo XVIII, porém, quando o lêudalismo es-tá
quase destruído, este imposto é dgorosamt-nte exigido a cadl vince anos e repre-
senta n renda de um ano todo. O ílU10 o pa,ga em sucessão ao pai. '~Este direilv ,
diz a Sociedade de Agricultura do Tours, cm 176]. "prejudica enormemente o
progre~so das artes ~gricolas:. Dentre todos os tributos dos súditos do rei, nio h ·
b$olutarncntc nenhum outro ,cuja Imposiçâo seja tio onerosa nos campos.
·=sta connlbuição··. diz outro oontempQrâneo. "que iniclalmente só se impunha
urna vez na vido, tornou-se, com o passar do tempo, um tributo muito cruel." A
próprif.l nobreza Ll!ria desejado sua aboJiçào. pois que ele impedia a venda de sullJ'l
terras aos pmebeus1 mas as necessidades do l'i,1;co requeriam sua manutenção e
umento,
O ANTIGO REGl'ME E A REVOl UÇÃO 341

'.e um equívoco- acusar a Idade Média por todos os males produz.idos pelas
corporações industriais. Tudo Indica que. inicialmente, os mestrados e juízes de
ofício eram apenas meios de ligar entre si os, membros de urna mesma. profissâo
e: de estabejecer. no âmbito de cada indústria, um pequeno governo livre cuja mi
são era, ao mesmo tempo, a de assístír e controlar os trabalhadores. Não parece
que Sâo Luís tivesse dc:,c;:jado mais do que isto.
Foi só no começo do século XVI. em plena Renascença. que se imaginou
pela primeira ,,ez o direito de trabalhar como um privilégio que o rei poderia ven-
der. Só 1l partir de então cada COí'pO de Estado &e tomou uma pequena a.ri~•
cracia fechada. estabelecendo-se estes monopólios tãn prejudiciais ao progresso
das artes e que causaram tanta revolta em nossos antepassados. Desde Henrique
U, que. se não foi quem deu origem ac maí, foi por certo quem o generalizou, até
Luís XVI. que o cxLfrpou. pode-se dizer que os abusos do sísrema de juízes de ofi-
cio não cessaram jamais de crescer e de estender-se. e neste mesmo pcrfodo o
progresso da sociedade tornava tals abusos ainda mais difíceis: de suportar :à me-
dida que eram melhor percebidos pela consciência pública. A cada ano, que pas-
sava. novas profissões deixavam de ser livres; do mesmo modo, cresciam os priv;i-
l~gios da.s antigas. mas o mal jamais cbegou cão longe quanto nesta fase qu
habitualmente se designa como es belos anos do reinado de Luís XIV. porque ja-
mais em outra época as necessidades de dinheiro foram maiores nem mais defini-
tiva a resolução de não diir1sir-se, de modo algunt~ à. na
etronne dizia tom razão em 1775: ··o
Estado csrabeleeeu as comunidad
industriais apenas como Icnie de recursos, tanto pelos patentes que vende cerno
pelos novos oficias que cria ,e que as comunidades são obrigadas a comprar. O
edito de 1673 velo tírar a.s últimas conseqüências dos princípios de· Henrique Jl!
comunidades a pagarem pelas cartas de conürrnaçâo e
rtesãos que ainda não estavam em com1,midades a juntarem-se
l:i:s. Este n~iscrillvo1 negóc,o prod\Ulu. trci.cntas mil libra:s",
Vimos: como fo1 perturbada r,oda a constituição das cidades, niio por razôe;
políticas mas pela esperança de atrair alguns recursos para o tesouro.
Estai mesma necessidade de dinheiro, associadt11 à decisão de nadu pedir 40S
Estados, deu origem à vcnalidau:c d
ôrneno 1,jo estranhe que nmi
1Jnd.o. A vaidade do Terceiro Estado. que se compraz unicarnel'\tc. na
de funções. públíeas, será rna:ruída cm vigor durante uês séculos graças a esta
inslit:uiçãio nascida do cspíritc fiscal. Fazia-se assim penetrar até as entranhas da
nação esta paixão universal dos cargos que deveria tornar-se fonte comum das
revoluções e da servidão,
À medida que cresciam as dilicuhiades financeiras. surgiam novos empre-
go&, sempre retribuídos por isenções de impostos ou pOr privil.ê·gios . .E. como a
decisão da criação de novos cargos dependia das necessidades do tesouro e não
d4 edministração, chegou-se, deste modo, a instituir um número quase incrível
funções inteiramente inúteis ou daninhas, IEm 1664, quando da pesquisa feita por
Cclben, encontrou-se Que o capital comprometido nesta míser·ável propriedade se
3,4eo
TOCQUEVlLL
O ANTJGO REGIME E A REVOLUÇÃO

encontra
sem. ao mesmo tempo,
um engano: só um dei
raoâo: Iol (quem poderâa
--
LIVRO m

C,\PíTULO l

Os homens de letras tomaram-se, em meados do


..• érulo XVH1, os principais políticos do país

Deixo agora os faros antigos e gerais que: prepararam .:.:t grande Revolução
que desejo descrever ,e passo a examinar os faros particulares e mais recentes que
determinaram seu lugar, sua emergência e sea caráter.
A França é. há muito tempo. a mais literária de todas as nações da Europa.
Comudo, os homens de letras da França jamais haviam dado mostras do e$pírioo
que trouxeram à luz em meados do século XVUT~ nem ocupado o lugar que ent.iio
cupararn. Coisa jamais vista entre nós e. penso ~u, em qualquer parte.
Eles não se cinccmrrnvam, de modo algum, metidos nos assuntos. cotidiano
como na !nglaterra. Antes pelo contrário, nunca estiveram tão longe. destas ques-
tôes, Além disso, não estavam revestidos de qualquer ripo de- autoridade e n
preenchiam nenhuma função pública. numa sociedade 'J.Ue era, de resto, repleta de
funcionários.

n..,.
dias. a d issertar sobre
hr,

maior
e cnc
oea, N3Q hó. nenhuma, dcbdi,;
ão comenha um pôLLCU desre e~pírito.
s. sistemas poHticos destes escritores variavam tanto
u.asst: conciliú los para formar uma única teoria de governo e
um trabalho intermináve].
Contudo, descohrc-"-e facilmente
:s<.: utingirem as idé!as matrizes, que
darn, pelo menos, com 14!l'ltl noção muito geral. quu cada um parece te
352 TOCQUEVlLl

igualmenre concebido. Noção que parece preexistir. em seu espírito. a todas as


idêias particulares das quais é a_ fonte comum. Por separados que estejam no
desenvolvirnento de suas: teorias. são todos solidários neste ponto de p~rtida: pen-
sam que é conveniente substituir os costumes complicados e tradicionais que
regem a. sociedade de sl:1,1 tempo por regras simples e elementares apoiadas na
raz ão e na lei natural
Sr observarmos com alen.,ii.1.,1, perceberemos que o que se poderia chamar
filosofia polí tica do século X V UC consiste, de maneira rigorosa, nessa única

nccberam

destes escritores os predispunha a apreciar e a confiar


cegamente nas reorlas j!,crnis e:: abstratas em metêría de governo, Viviam .n uma
distâncla quase infinira dn prârica. de cal modo 4J.J!.! não po~iam Ler nenhum~
e-NpêFiêneia ~u.e temperasse seus enm~íasmo~ nacurnis. Nada hnvfo que pudesse
adverti los sobre os obstáculos q u..: a realidade poderia opor às retorm~ e:, mesmo
às mais desejáveis, Deste modo, não tinham nenhuma idéia dos perigos que sem-
pre acompanham as revoíuçôes mais necessárias, Nem chegavam a pressenti-los
o Troo REGIME E A REVOLUÇÃO .5 3

[cios e para ó coraçâ

t.lc-

seu dosnínio.
ar q uc havia
TOGQUEVILLE

estender-se à vontade

ordens antes de sua


a
aos que govema\l·am. uns Imr
gmuo e circunscreven •.io as teorias com a ajudn dos falos. 11 mundo polrtico. 11;1
França, divid ia-se cm du as provi ncias separadas e sem relações en m~ si. Na pri-
meira ~e admmistravn .e na segunda esta.helcc,.r,n-se o~ princi pios abstrntcs :;r,hn;:
s quais mi.la a adrrumstrnçáo dever ia se ar,)1:ir. Aqui se tomavam M) medida
particula res que a rurina indicava. lá pruclnmr=atn ~e: leis gc-n~i~. sem qualquer
prcocupaçâo cem, L):,; tr1c1u:-i de sua aplicaçân Com os primeiros C.'.:t;iq a dircçâo
dos negócios, com os outrni; a dii·eç~o das irueliuências.
Acima da :soc1ed::ide- real c111a constiturcâo i~ra ,,ind:i tradicional. confusa ··
irregular, com leis diversas r contradnonos. r,osiçúe:; suciais isoladas. condições
rígidas e encargos d~s,gu:ii"- cnnstrurn i,i;. assiin. pouco a poucu mm, sociedade
imaginária. na qual tudn parecia simples t: coordenado. unifnrrn». rqüit:itivo e
conforme à razâo,
A irnaginacão da multldâo ahnndonou ,grad11:1lm~n1:c il primcirn para reco-
lhcr iI>t.;l à segundo. Desinteressou :::.e do tJ111..: era. paru xonhur ,~ qlli~ ,md~.-i~ ser.
ara. enfim. viver pelo l!sptrilo m, cidade kh::.11 que l1s cscruures haviam
construído.
NO..,'.'\a R
ccsa.
rnav o que se
mesma e roca nos F's ltldl

1:m Su lente.
Esm oi reunstâner». Ui~, neva ri a hi.-.1ôri". i.l 1.11.: ~u bo: dinuv a 1 ~1 cducnç
hticn de: um grande covo Inteiramente aos homc!"I~ d~ fcll'~t!i, foi l:dYC:t V L1lli!
ais contribuiu puro. dar a Revolução rr.ancc.'lr1 seu earárer nrl'.'mri e paru torná-
que vemos ht1Jc-.
crerccerurn upcnus sun
OA LGO REGUvlE E A REV O L U Ç Ã O 357

procurar emendá la por purtcs. Espetáculo lcrrível. pois o que e qualidade no


critor é as vezes vício no homem de Estado. e as mesmas coisas que freqüente-
mente fazem belos livros podem conduzir a grandes n~Vl'llu~:lic~.
A própria fo1~uagem polílit:a tomou enrâo aluo do que falavam os aUCON:S.
1 ornou-se repleta de c:,.:pres.:-.:o~s gerais; de rerruos abstratos. de palavras ambicio-
sas e de am1njo:1 literários. Aj ududo pelas paixões po líticas .à~ quais servia, este:
estilo conquistou todas as classes e desceu. com singular facilidade, atê a~ inferio-
res. Os editos do Rei Loís X V 1. bem anteriores ;J Revolução. fa?em referência ''
freqüentes à lei natural 1.: ucs direi1í1::, Llú homem, Sei de camponeses que, em suas
petiçôes, chamam ciríadâos ao . .. -.cus vizinhos, respeitável magistrado 2.0 inrcn
dente. ministro dos altares ao cura da paréquin. Ser Supremo nó bom Deus. Para
se tomarem escritores ruins nada lhe::. falta, a n ãu ser w ma onografía correta.
~ novas qualidades encontramve t::io bem incorporadas fr, antigas bases
Jo 1.:ará ter t'htni.:L;:, 4u1: foram rrcqüememcmc atribuídas .a nossa natureza quando
não provinham senâo dcsu. educação srngul ar. Tenho ()1,1viuo dizer 1.1u1.: Q gosto.
ou, melhor. :i pai\.àO que. desde l1á sessenta anos, tcrnns mostrado cm questões
polílic-~s- pdu:i mdo.:it1:> gcruis. pcloe !-it:.L.!1nw, i: pda" palavras solenes. vincula-se a
nâo sei qual atributo parliculnr dé' no...• ·H1 r aça: é l' que se llc:'>igna. um pouc
nfudeamemc. corno o 1•splrito JhtncL;!i. Pretenso utributo que. por certo, nã
xleria aparecer rcpcntinumcnte no ílni d,~ s~culn pr1!-s.1clo depois de h:wi:r C"Slad
escondido tlur,\nte todo e• r<;::JLu 1..l;i nessa histôrb,
.·dngular que tenhamos gLc:irdad() o:,; h~bitN tornados da Iiterutura e perdi
do qu{1SI! complctarncute nos-o ant[gu amor petns belas letras. N1., curso de minh
vidu pública, cspnruo-me com Ireqüênci« ao wt come certas pcssous retêm d
111m.k, ião fiel nlguns Üfh r11m.:ipais defeitos criados pelo l.!' ~i,idm lucrârio em
cpoca muitr. nnlérior il d~ siJu nascimento, Aind« mais porque ~e uat,.1, de pcssoes
que nem sequer lcrnrn ~1s livros lfn ~~culr, XVI [I. corno nno leram IJvr"Of: de uunl-
quer êpoca, ~ que Lêm enorme desprezo pc]\)S l!:;.cri1on.:::i.

lo governo a,:m
duc:1çiio rc\•olueiomÍri:i do J)O,'r"O

próprio governo trabalha a. desde h:'1 muito, para fuzer penetr


l'ixar no espírito do povo m u 1 as idéias que depois foram consideradas
' '
rcvo 1 uc1rn1:H·101o1.
1 ,j..
011 s<~Jn, 1,,"•1;1~
• 11
stis t\O in..Ji •• iduu, 1.ami.d d~tb aos direitos r,nrci-
culnres e nmiga~ da viulêncin,
O rei foi o primeiro H mostrar com que desprezo se pmha tratar a:-. institui
coes mais :.m t.i&ilS e. ~pfl,rcrncmc..-.tl!. muito bem estnbelceidas. Lui•: X.V abalou a
monarquia í.' uprcssou a Revolução ramo por -,.113:s novidades quanto por
cios. tanto por sua cncrg1:J quanto por ,;1u1 l'ti1qui.:~u~ Quando o l:'IJ\'O viu cair
csaparccer o parlamento, quase eoruemporâneo da realeza e que. corno ela,
parccja innbalévcl, compreendeu vagamente tiuc i3C aproximava de~ws ópocas d
violência e de incerteza onde tudo se toma possivel, onde já. nâo h3 co.i:s(I~ tão
antjgas q uc sejam por isto respeitáveis nem tão novas que não possam ser
e asai adas.

de

rnoco algum.
A u~s:cmblda provincial da brai:,.;a
~dminis1.ração dali mãos do intendente, (JUC, havia vinte anos, as autorid
pagavam a~ terras tomadas para a con$lrução de C;:tminhos. A divida assim
o.ncraid.a, e aindt:1 não rcsgetaita pelo Estado neste pequeno rincão da Franç
elevava-se a 250 000 libras_ Era rcs;trifo o número de grandes prcnricrános atingi
dos desta maneira, mas grande o número dos pequenos pr<1pri~tãrios cujos ime-
O ANTIGO REGmME E A REVOLUÇÃO '59

sscs foram lesados, pois a terra já estava dividida, Cada um deles havia apren-
ido por experiência própria que o direito do individuo merece pouca deferência
quando o irneresse público requer que se lhe Faça violência. Doutrina que certa
mente não csq uecerarn qu andu ~ tratou de aplicá-ln a outros e em proveito
próprio.
Houve antigamente, num grande número de freguesias. fundações de cari
dsde que tmnham por' objetivo, na irneuçâo de seus fundadores, socorrer os habi-
tantos em certos casos e da maneira Que o doador indicava em seu testamento.
m sua maior parte, estas fundações foram destruidas aos últimos tempos da
rnonarquía ou desviadas de seus objeti v<.1s iniciais por simples decretos do conse-
lho, isto é, pelo mero arbírrio do governo. Em geral, os fundos que haviam sido
assim doados âs aldeias eram Ievantados cm proveito dos ho~pi1ai.s vizinhos, Na
mesma época, r1 propriedade destes hospitais foi por sua vez transformada em
bediêi1cià a idéias que o FimJaiJor não d vera e que, sem dúvida. não reria adota
do. Um edito de ~ 780 autorizou todos e~l~~ i.:,sti.1l.,~l1,.·dm1.:mo:, u venderem u::i. bens

m
todas .a~ cortes
360 • .,O C Q U E V íL LE

fez jurisprudência durante todo n lli.êCU!O XVHI_


Vê-se pelos proccssc« verhai ..., do corpo de policia que, m:~1.m; circunstâncias, as
aldeias suspeitas eram bloqueadas :, noite. penetrava-se nas casas antes do ama-
nhecer e. xern necessidade de mandrtdo. prcndiamso os camponeses :,:;uspc1tos.
Freqüentemente, v homem f)f'l:;:.O deste modo permanecia muno tempo na prisão
antes de poder falar 3 s~11 juiz. embora os editos determinassem que Ludo acusado
fosse irucrrogado cm vinte e quatro horas. Esta Jispi:.1'>ição não era menos formal-
nem mais respeitada, que em nossos dias.
Era assim que um governo humano e estável ensinava cada dia no povo o
código de instruçá« criminal muis upi npriudo cm época ~k revolução e o 111!.ll~ cô-
mndn para 3 tirania, Eo:;LL c,cul., f!CT111~1n..,;c1a xcmpre aberta. O anrir;n regime deu
esta educaçjio peJ'1,gc.}:..J ú~ classes hai.-;tl:> m1: 'll~ hrniu..:~ mais extremos. Atê Tur-
got- não houve quem deixasse de imitar Iiclrncnre os seus pri.:d~c,e: :;sorc~ neste
ponto. Quando em l 77~" suu nova lcgi~l;1c,~o sobre O'< cercais ft·i nascerem resis-
rcncras no parh1mt>11t.;1 e 11w,ti11:-. nos campos. L!lt! obteve do n.•; umn ürdcruiç:io ,cpic
··bnndo mão Llm, tribunais. deixava as rchçlíõcs ~ jurisdiçào polrcml e dizia que
:s1,1 ··i} destinuda princip •.dmcnte a reprimir (::, cmoçôcs populares quando é Útil
que excmpk» sejnm dados de modo rápido" _ A lcm disso. tnuo~ ')~ camponeses
que se afastassem de -.ua.~ f I t.:.Lml·-.;ias sern t"'.t:'I rl.!111 rnun 1dll!\ de um atestado nssi
nado pek: pároco e i-,ck, símfü.·o dcvimn -er prucurudos. presos e julgudo~ inapc-
lavclmcnte corno vagabum.l.l,!..
' verdndc li Ui: cm l"'nr:t n"i procedimcn rn" fl,sscm tem veis. a 11uniçifo era
q11r1:-~ sempre temperada nl!,t:1 nwr,ar<.juin d1, sé..::ulu XVJIJ. Prcleria-se fazer
mede u Í.lL11,;r mal. ou melhor, a:-. pé,,u~1!- eram mhi1drta.l-. e vhiknlu
rcnça, nu:. :m:1vi: . • por rcmpcrnmcnro. C'r.mni,.fo. :1 preferêncra 11,,r C::it!l justiç
-urnárla u11ra1t.J\'i.1 rnclhur 1ii.:~Lc amruemc. l\bi~ leve era r.t pena, nuu, facilmente
:-.~ csqucciu :1 [orma pclu 4u._,I era prcm1.1r1i.:ith.ia. 1\ suuvidrule <ln sentença l!~c.;u,ndia
Q horror do prnccdrmcmo.
i,
trevo me di;,cr. r,~rqüc Jhpt>11h11 ~h.: 1·.1 t,,s :i mâo, que II m l,!r:tndc númer
de procedimento» empt~g.;Ldw, 1}!,?I,1 .ll.lW&:rn11 r1.·Vt\l11cion;'1rit'> teve precedentes e
exemplos n:,~ mc1.lidns tonh-11.lH., a rc.src1 lo d,., J"í('V(' 1nfcri,,r u urnnte os dois ulti-
mos ~étul,1..; da rnonarqura. O antigo regime l_•frr,m.:u ô Ki.:vuluçri<.1 muitas de suas
n,rmn-". F.~t •. , acrescenmu lhes a atrocidade de seu .a:cnio.

u1fr111 n \-' 111

Paru conchnr; desejo reunir ,1lgum~s .J:._1:. i.:.1r:.1cw1istica" que descrevi ante
rn separado e mostrar corno ,, Revnlui;tro emergiu do (lnlig,• regime. que acabo
de reuatar. come i-.t: :-.urg;1:,s-t; de ,,;j prórma
O ímu de L[UC a Revolução. que deveria abolir vtolcntamemc a velha consti-
unção da Europa, tenha eclodino na l-rança :m invés de cm outro país. passa ij
·"r menos surpreendeu LI.' 4u1m1,fo s.~ considera 4ui: era emre nôs que o sistema feu
O ANTTGO REGIME E A REVOLUÇ ,\O .-61

uai rnuls tinha ~rJíJ,1 de 111do o '-[Ut.: podia pr •..itcgcr 1.m ~cn ir. sem mudar o que
pn-cfo) incomodar 11u irritar.
Quando se dá arençâo ao lmo de que a nobre? H. depois de Ler perdido seus
anriaos t.lin:itm; políticos e abandonado. mais do que se viu cm qualquer outro
pais da Europa Icudul a ~tdmmii::trnçào e- a direção dos habirnntcs, hm•1:i contu-
do. nâo apenas conservado ma" aumentado suas imunidades pecuniánas e as
11:mt:1~~c:n~ Ó;.> 41.1e seus membros individualmente desfrutavam. quando <.~ dá aten-
ção ao falo de que, crnhora tornando-se uma classe s11hNUll1üda. cln permanecia
uma d.hM: pri, 1l~gi;~dn e fi.:chad~l. ,.- como foi dito antes. cada ver menos uma
1

aristocracm ~ cadn vr'/ 111;11s nmn t::is1a J:-1 n5<1 havera razâo para espanto err
que -;.;t!u~ privil~.f!iº~ tenham parecido tão inexplicávci« t> tàn ue1t.:~t~v1:is ã(.):!. fran-
cscs l' que ~ asnirnçâo democrática tenha i11f1amau~, i.'.'US l.:t)ta~·t•i.::-. a pc~nm de
permanecer :-1intl:t hoje aces:•.
Quando M! ubscrvu, enfim. C(Lt<: este nobreza. scpurada deu, classes mêüias
que rcpchr« de seu melo. e do povo. cujo coraçâo perdera, estava mteírament
is<1l,11.lu tJ~ nação. Lendo ~e tranxíur.nado. em apureuer«. nu t.l.Lrc1yàll de um exér
cilf" ma~. ri .a rcn li dadu, •·m urn corpo d~ ofic] m:i. sem ~nld:1do~. 'lC compreende
corno pôd, ser derrubada no c,11~t~'(1 til' um minuto dt:f}l.)J:,. de SL:: haver mnntidn de
pé- púr milhares de anos.
imos como o govcrn« dn re i se hn via ntr ih ui d L, rodns :1, c.1 Ul;°'ih.,L" •••• ris 1n 1.:11c
ri;:, umw quanto :a~ maiores, dt.!p..,Ji:-i di.: ,ttx,hr ti~ lih-cl"O~llh.~·, pruvrncruis e de i..u1..,"itl-
t1111 iodr~i; n.:: rritlérc:i llh.:ai~ em rré~ ~111111·rn:,; 1•:Lrl~ ... da França. Vimo». por outra
pane, como t>arb ~e L11m ara. por c2m~i:t.1üênci11 necessâun. senllLlf íl ,to pai:-.. ou
melhor, 'li.: tt,ri1nrr1 trn.ln ,, pu.í~, quundo :11~ tmi1,1 forn npen 1s n capitnl, ês1c~; deis
t:ml'i r,:ir{iCLlla.1\1:~ ~1 França bastarium por 1,i ~os para cxpucar por que uma rebe-
li5o pôd,· dcarruir ccu11pl..:1um1.:m~ unrn monarquia que lravrn suportnde choques
t.1<., vrolentns durante Hum•~ ..:êculni;: I.! que, :1~ v~spc,·~1~ du 1.1u1.·~.b. aindu prm:ch•
inuhulúvo! mi:smti aqlLclc.:i.. que dl.'vc.:·n~l,n t.J •.•rruh:í la.
Frnnçn era um rn.is nnde u1d:1 :1 vidn p,1li1i~a se achnvn
tnpkt:111'1:nic..: liaviu 111111:; t1:mp1.) qut· cm qualquer ouir« pai:-. <la Eurupa, ,. oncc
o . . r:mi:.:ulttrt!~ 1irnis huvium perdido '-' hãhilL' tfas •. p,~:a~""ic., rul->lii,;as. n i.:11stumc tk
lc, no- fu1t1,. :1 c.:xpçriC:nc1 u Jrts nl\íVi 1rn:nt~):) popu lnr,s . . q uasc il. füi~i10 J,u povo.
E m~,1 int~~i~inar como lodos os Irnnccscs. '.>l"m o rl.". rcc~i.;r puderam cair numa
t~rrt, c.:I i: i.:\mw. ao mesmo tcmpu, 11~ mui-, ,1111i.::J1,,~l\h1, (Qv-.c.m o:, r;>ri-
1·\.!v\iluç~t1
metros ~• marchar pura da, encarregando-se 1.k ubrir r.: nlargar o caminho que
clu conduzra.
Jil nfio hnvln m:lt~ in~1i1uiçii..:!. livres e. por eonscqücncin. enmbêm fnltavam
=\•1 po:- J1P!.i1,ico=- vivos <= r:irtitln,; e1Lr,nn11-sdo~ e Jín~1cJPl>. Na nusú11ch de todas
CS1.:ts torças regulares, ~ eor,du~ii<1 da opir1i:iL1 pública, qunndL~ c:.:~ta , d,1 o renas-
er, coube unicamente aos rilós.rJfos I!, deste modo. a R~·\.•oJuç~o foi conduzi
menos p,t'lr considernçjio de cc:rco1 f.itl,:-i particulares que segunde pnne, µins abs-
1 rnto_s e 1 orias gerais. Era ernân previsiv d que. ao invés de atacar scpnradarnerue
7
as leis mas, :'ll::tta~!>e a todas f1S leis. Lo; quisesse substíunr u nn1igc1 t.:~~n,ciu11ç:h.1 da
frança 1;.c-10 sistema de governo completamenre novo que os escntores haviam
concebido.
Como a Igreja se encontrava naturalmente mesclada a tçda8 as velhas insti-
tuições que :;e trutava d<.~ destruir. 11âo se podia duvidar que a ~évoJução devesse
abalar a religião au mesmo tempo que punha abaixo o poder civil. A partir dest
momento era impossível dizer a quais temeridades inauditas poderia deixar arre-
bater-se o espírito dos inov~dorcs que· !:>C Jiberavam. a um só tempo. de todos ô
lmpcdírncntos que à religião. os costumes e as leis impõ,em à imaginação do
homens.
Quem tívesse estudado bem o estado do país, teria facilmente previsto que
não havia temeridade, por mais extraordinária. que não pudesse ser tentada. nem
-iolêncía que não viesse a ser sofrida.
Em um de seus c!oqüentes paníletos, Burke se admirava; "É notável que nao
,,e veja um hmncm que possa responda pelo menor distrito I Mais ainda, não se
vê um homem que possa responder por outro. Todos estào ptc:::~os em suas casas
em rcsistêncta, scium os reattsias. os moderados ou quat-:quer outros:... Burkc
conhecia mal as cnudiçôes em que bavíamos sido deixadv:, aos nossos novo,
narquía que ele lastirrtavs. A administração do nntigo regi"
me havia supnrnído. por antedpaçiio, a possibilidade e o desejo de coopernçâo
entre os Jranccses Quando sobreveio a Revolução. não se encontrariam na maior
pane da F-rnljt:1 ~k.1. Jiorncn-'b CJUe tivessem o hábito de agir em cernem de maneira
regular e de cuidar, por si próprios, de sua defesa. O r,micr central deveria encar
regar-se disto, Deste modo. l) potkr central não i.:nco,ih'ou nada diante de si que
pudesse ch:I~ lo, 11cm mesmo r1.:turdá-lu par um momento. quando <aiu das mão'°'
da ,idmini~traçii(> reul paru 3S di: umn asi,çrnbléia irrcsp011sável e soberana que
passa, sem trauslcâe, dª cu111pl:1c~nci.fl ao terror. J-'\ 111.1:smn causn. que üit> facil
mente rin:ra cair ;i monarqula, iornaru Ludo pos~jvcl aws ,1 suu queda.
!m nenhurnn época mais do que no sêculo X Vl}] se pregon1. e . apercnta-
mente. se :,Himhira o totcrância ern matérf.a rcli~iosa. a amnbilid:1de nn cornand ..•.
1
a humunicladc .: rncsmc a bcncvnlêncía. Até mesmo o direito uc ,!!LtCrra, ú.ltini
cfuiio da vioJ~m:ra . .:.e havia rcstrlnurdo -
,. ---

parte do solo, isolado antes que dependente, o povo se mostrava comedido e alti
vo. Es1ava fatigado lias muitas dificuldades e indiferente aos prazeres da vida, era
resignado freme aos maiores males e firme em face do perigo. Ruça simples e viril
que consrnuíra os poderosos exerci tos diante dos quais a Europa deveria dobrar-
::.e. Mas isto mes.1110 o transformava num perigoso senhor. Como suportara quase
só e desde há muitos sêculos o fardo dos abusos. vivendo à parte e alimentan-
o-se cm silêncio d~ seus preconceitos. de seus ciúmes e de seus ódios, endurecera
nos rigores. de seu destino e se corriam capaz. ao mesmo tempo, de enrijecer tudo
e· de fazer sofrer a lodos.
ra da Revolu-
ão e por impor-se a

m de mais longe, é o ódio vÊo!ento e


· "e alimentara da visão tia rmípria desi-
uma força
J,V(l tJ•·,,~

querer viver

. e, .. orno seu opressor, om uovcrno


bsolut __
1\·1a:. quando n gcrnçno vigorosa qu., havia começado luçâo foi des-
gcr,1~.íi·
1r111d:1 nu d~hiln:td:,'1. como ocorre cm s~r·,.I a toda
eta tais emprc-
TOCQUEVfLL.E

sas, e quando. ~cµ.uintlo I t:Llr:-.ci natural de acoutccimentos deste :,faero. o amor


da liberdade i,;(' f1;f de!.enr.:<"1nl_101l.(.h~ C eflÍl':.l.f.jlll;!C~nJo í.!111 mi.:uo à anarquia e :11.fü:I
drra popuJur e ,1 n.rçâo 1111~·,t.: íma ue si e. de rnndo tmtbe::rnle. cmn~1:iu u pmcu
rar o seu ~cn!i('!!i- r\ !W~ crni:1 ah1-olt1to encontrou facifidadcs prodigiosas p:'l r~
1

renascer ~- L"õtt,lilfdar-!'i i.:. Seu r.!~f}irito punha-se à mostra :-1c111 r.Jifo::ulc:k1des: dc\'s:ria
ser ao mc).;mu tem p,,1 n cnntinua<lur da Revoluçâo eu seu ucstrutor,
Com ,..:lt'itõ. o unugn regime mntiI1J1a Indu um conjum« de ins1ltuiçi'ie:1 de
d::tta moderna que. sem ser J~ modo algum hoslis- ~ igualdade. poderiam foc-il
mente incorpnrsr-se A- rtt•v:1 ,1}C"!da.Je, ofereccnJ11. conurdu .• faciJiui1dcs cxtmnrdí
niirias ,m despi uismu, E~L:iO.: lílRI it11iQ5c;) for:1 m 11rneur:1dns e énct1ntt·:J.da~ cm m!l·iu
às rufo as de todas ~[},, outrus•. Arni~aini.:n te, tín hum uaút, origem a hábitcs. paixões
· e idéias que tendiam :1 manter º" homens divididos e :-.11bmis!íos. Tudo isto foi res
ni rnado ,e cstimulndo. A central ir.aç.ã - ("l fü1 rl'.sg AHHfct de sL1a s rw· 11:J"i o rexrnurada.
~como.ao mesmo h1m1~1 em &.JUC! e~tn se rcsrabclecl», perruunccm dc~1ruido IIJ(k•
u LJL!e fl'Ude1'il limit rí-l:1 cm niu ras t>poc!u,. CftJL.!f~i u rerentinnmcnre, Jw, p,ri 'ipr~at.
cntranhns du riati:t11l que vinha de dt.:rruh~1UL rc11lL·:.:.a. um pnd.:r 111J1i~cx1i:-ni;;11. naii
minucioso e mai 11 nhsoluto do q ui! j!i mais :,;e :wuo:! tetrlru ~ld\1 1.:;,,.1aird,h1 11or nc
nhum <lui; nossos r,1.,, A empresa parcela de umt1 ttt1i1t!r1'l.fad1: extrnordJnitri.:1 t: seu
sucesso •m111dill~ !')11r1.ph~ "i1\ si:. pcnsavn llq 4111: :-1e vi.11 . : s~ e;,;,i:1uccfo u que nâu si.!
viu. O tkrm1n..Li..fúr t.:,JIU, mm, f1·C"r'm:i.nce-cu de
1
pc
o que httviu de mais substuneiul
~m .m:1 obrn, Sc1.1 t1ov1Jn1n c~'Llwu mono mas SLHJ. adrn i11isrnçíio eontirruuva t1
viver. E lt)uas ns vc-1..11:::.; que, dcr,,n-i~. s~ dcs~jr,u abater o poder absuluto, nâc si.'
pôJc (w;t:_r nuns do que i..:~ilui.::11 a cahc~:u tia LihcrdadL• sobre um corpo servil.
Desde que: o R~vtJluçtfo começou ~H~· no~~v.,, diui,,. 8\.i tem muluis vezes vasto
l~ pub1âo ~u Hhi.:1·u:1di: cxnnpuir .:-:e. dépms fl!!1!1\.:C~I"'. ~"1;line1wr' ~>,,.· urnn \'C/. ffltli
pura de n,w<r> nwo::n.:ur, ,·\., ..• ,m tem xido (.lt::s<lc l1ú mulr« tempo. !l~morti 111ul exnerl
rnent mfa e m.: 11 rc~L1 índn. rucíl de tlci;1.'!flé(ll'11J11r. de tlm(.!,çfrnnt.u e ,Jt: 'l'c-nc.:cr, super-
icla1 i? fJ{t)!l!ll!,í:rl'u. At) mexrnn tempo, ~1 paix~11 p.~1n igt,:ddr,d...: ocupa <l!! medo
constnme o nnrngo dos c{,r:\çr>~:-.. Jm, ,1 unis fnl u prhnciru a se ;_ip(ldcra.r. ~(s.1,;ucüm
do-se aos Xl.'nlimi.:nto:i;qw.;: 1111s são 11wis qu,i,;tilfo:s. Sr u prime1r'a muda sem ..:l.'2f~.:n
de aspcct». ,11 minui, cresce. ;;e forrnlé~L! ,.1u ,11e dcbllim .,c~undt1, 011 ,1conl E!{;'i111c11u ..•
1

,ti ou I ru e scmpn: a mesm rJ ..scrnpro hp:nde1 il<~ i'nl.'-:in,~ 1 \h.i1.-ii"r'O com ti mesmo ardm·
ibstirtado i.: rnuitus vL--.t.l.:!s .c...:su. pronta u .,n11;riticn:r ludt1 ii.4111.:lcs (.Jli..: lhe permitum
snt'iisfazíff·.~C. guurncccnd11 l.l _g'1\'Crl(() que lhe sejn f;'.lVl)ruvr;:r ,C fü,ünjcanc.lo O.Ili hitbi
tes, h.kiíw, e teis ,,w.: o dci,;pmi:snlú neccssi ru para reinar,
A Revn] llii!:10 írnni.:c.Hl ~çru apcn as trevas pa: a aqueles que só ~s ,1,.•l:-1 dc.sejc-m
1

-bservar, (: nu~ tempos que a precedem 4u~ é prci;;ho 1'11.1!<.t.;tJr n uni cu h.i-Z que pode
ih1mini1 IIL. Sem uma vr~iin nilich1 Lia ~mtíga ~o-cicd;túc.~ dl" .:rnn~ leis. de seu.a; vícios,
d'c seus. rwi1co11te.ítos. d~ li:Ua:-. mh~ri~!i e de :;uJ1 ft.rnn<l:e.rtt. não ~e cum,,rç;:endcrájn-
mais fl q ue fizeram i,~
franceses durante n curso dos :.!c' ••• s~ntu .un,,~ que sc-guirüm
sua queda, l\,1'.~.s nem mesmo esrn visâo seria su llcicntc :">C ni11 • \e penerrasse s, 11~·(1
priu natureza de nossn nnçâo,
Quando considero a nação cm si própria, encontro-a mais e_)(Jrnordiniiri:1
,que qualquer dn:=:; aêm'tkcimrntol-: d(.! sua hi!'it&ria. Jamais houve o~Jl.n.i sobre a
O ANTIGOREGJMF 1.: A REVOtUÇÃO

terra que fosse tão checa dt.: contrastes t l~ü extrema cm cadu 11111 d~ seus atos, ou
mais oricnuu.i.1 pdao:; sensações e menus DClú:<. principi.1.1s. A ssim. torna ai. coisas
.. ernpre pior 111.1 me1J10,r do que 1':iC espernva . .às vexes abaixo. u& vezes acima do
uivei comum i..f.A humanidade. Um povo de mi modo constante cm . ;eu~ principni .
insumos q ue pode ser reconhecido mcsmu 110~ retratos, q ue fizeram dele h.:í dois
ou rrês mil anos. ~ .:-1.-i mesmo tempo de.: (aJ .nmdu in~o11~tM.t;.;S em seus pensa
mentes diários e em seus gustos.quc acuba por se tomar JJm espetaculo incspe.
rado parn :1_i pmprto. muü.:11-. vezes se surprccndemío tanto quunt« u~ cstrangcirus
diunte do que ele próprio ncabs de fazer. Quando dr:!itado a 11,í r1·{,pi:rio. é o mais
w~sdn~ t.' n mais rorinciro 1.k WJ.n:'.., mas, 4u1rnth.1 1.: arrancado à sun morada 1..· a
seus l1áhiwi.; cornru ~J vontnde. Ji-!>p0l" s1.: a i1· t1 cxrrcmos t'. n IL1dn, ousar. 11 jnd1'>i;il
,1
por Lcli1p1.:inm1i.::11w mas se m.:ur11rnL1 mulher sob irnpéno arhi1d1ri" r:: mesmo vi,
lcnM de um príncipe, que sob ü ,1tDva;::1"itl1 ri:.:-_gL,lar e livtc llu!I prmndr,ui~ i.=itlaufü,~.
l·:h.11,: munigu declarado de toda C1hc<fü:11da. :iinanh~ i.l'nl rq, ne a umn ~sp6cil:' d('_
pai,'iíâo 4ur.:: mesmo as ntu.,:.õcs mais 1,~m ,••l 1l11«Ja:') para ti sr:n;id~Jn nà(1 podem igun
lar, P1ldl' ser Ctifü:.luzmdo J'lM u m fio ucs.JL' qu~ ninguêrn r~.:.Í:.;ta mo~ torna :,;:e iugo
vcrnável dc:Mk que. cm il lg~I inn parle. M! .aprc:si;;ní~ alaum exemplo .dt' rcsistcncin.
iludinrlo nssim sempre a. S(.!U:.. :-1,i.:,,h11r1:~ .• que ,1;.1rG temeu: niuitu, ma tem,cm muho
pouco, i\ u11~11 ~ t.ão livre qiu. · n~o lwja 1!~111'.!"l'.'lnça~ J4.: . :uhmcl.& k1. num tnC1 sul.
misso ~1u<.: j{, 11,1P possa qucõrnr ,,-, juglJ . ..\plo p;,1 ra 11.,dt1:--i as i.:11í~r1:.. sobretudo rmra
n aucrra. Am:111k do risco, d:1 força. do sucesso, dü brilh» ~ da bulha, mais qu
kt vtrJ~nh.:it,t glorin.. Mai:-i <.:,1p~w de herorsmo que de: virtude, dé gênio qu.c d••
ho,n senso, llHl.J.S arui pura conceber imensos jJL'\J)L!:LU~ 'i.llltl' pm'~I t,;OllclUií !?nlll\JL.'
empresas, ,~:amais hrill111ntc i.: a mais r,c.:rítri:o1:i 1.h1-. n~1~;c,., dn fawnrt1. P·t•d.: con
tituir !'1:-C 11ltan:.1.tiv111l11.!1Hr,; em nbji,;'Ll1 ,h: Hdmirnçêio. de udio, di.: n1cJ~idc,. d~ terror,
J'n('!.Sj:'.lmai:. de, intliri.:nmçn .
Só ~la pm,laii, uar origem n li mil I t!Vt 11 uç~n ião repentinn. r1:h1 rridl cnl, tãc\
impetuosn cm ~~LI curso 1:. contudo. lctn cheia de racua?JS, de folo> ,c, de 1.;~..-n1µJo::,.
ç;,lmtrml11.ôrlo,s. sem ns r:v.iie?.~ que i11u1q0t.H. ()S l"rimc<..,.e~ jam~ii1. ~, t,ud:m, feit
M ~i ••• e preciso I econhecer que ~{; m1 P1 un i.;:1 u conjun l(J de Loc.li1~ c~ta!,. ntY-Üc:, ti1:ri~1
sido suflelcrnc p:ll'a explicar urna rcvnluçfü, corno 1:!1~~1.
Eh; mi: dit111Li;: r.lli umbral 1.k:.stêl Revuluçâo mcnrorável. Não cruraret dcc;;10
·1., tct.lvc:, n f:"IÇ-1 k)i~l mais. Não 111:.i:; ~1 censlderurui unü'io nas ,íitJ..fl~ cuusas. mas;
~l cxamtnareí ~m si proprtn, u. enrlm, OJJ.sarcí julg.nr A ~m;icdmic que da ~rim1.
ÍNDICE

THOMAS JEFFERSON - Vida e obra ..•........•.. _ .....• _ Vtl


Cronologi ••• ~ ••• &. •••• .,, ••••••••••••••• ••.•.•••••••••• _ •••_ ••••••

XIV
Bihiiografia ,. --. l 1, .i.. & ;a a • • 6 li • • • ,. •• , • .• • a ;, • • 1 • • •••.. ,. • 1 • • • • • • • 1 ,·:.v
ESCRITOS POLíTICOS ..•.... _ .. , . . . , ..........• , •....
AP. H - As bênçãos de um governo 1i vre ......•...........•.
1. Ohj,ao de governo: proteger os direitos naturuis e promover
u felicidade do povo , , ....• , . , , .. , .. , .. , .
1. Direitos naturais i!m geml . . . . . • . _ .. , • ; . 3
2. Es,:rtwa1ura, uma 1•io!açâo dos dfrefros nutumis , B
1 J. i-: leito da forma d!! governo sobre a felicidade ,;fo pó
1. Os m1.lle$ do g,01111mo heredirúrlo e QS 111mtaJ!l!tr.f; d1
rt'publicano , .. . • . , . . .. _ , , ..•

11
bre o.~ males tias nu;Ul(lrquias , .••.......• , ..• 15
1 1 • li I li 1 • • f 1 • 1 • • f 1,, • • • • • ~ • • 17
•• • 1 •• •• ._ •• • ' • .• • •

···~, ...,,., .....


..,. • • f t a 1 1 1 1 1 • • 1 1 t • • • 1 1

v~rno • , •... 31
34
36

• - Vida e ubr •r•••·te••••••,••••••,.•••••~, IJ


• • " • • a • • 1 ·t 1 ,t 1 • • f' 1 1 1 6o • • 1 9 • • • <I • • 1 ~ •• ~ • • . .,
rv
••..•..•••.••• ,1.,•.•..• ~ •••••.• .- •••• "···•1,- •• ,
UM 1 1 t • 1 1 a
1
• ., 1 1 • • !! 1 ~ • t e. • • 1 1 5, • 1 t 1 1 • 1 lo 1 " 1 • t t

............... , ~ ..
- Da origem e t.lo plano de governe cm geral, com crn1ds.as obscrvaç·Õt.!15
sohJ't". r:. Ct1nstiLuiç.ão inglesa , _ , . .. . .. .•.. .• . 45
- Da monarquia e da sueessão heredhá.ria , , ..•.... 4Y
- J<eílcxoes sobre o estado atual Ja'i qucstci.e~ :lm~ric.mm-a~ ••.• _ .•. 5S
Da prcscme éupaddad.t da América. com algumas reílexêcs \'a-
ria<la..s , .... , ····" -- . ·········-- , ....•
Apêodice ~. , . , _ .•.•... , , , ....• , •. .. _ .

f-lAMlLTON. MADISON, JAY- Vid:i~ obra .. , ....•..... vu


t.~ ronnlogl a • •• - , o• , ••• • • • • • • • • • , 1 , • , > , , • • •
xrv
~ tb lioaralia ... , ••.... , .. , ....•.•.•.•....••.... , .. _ . , . XV

• • • • Ili •• ' •• l j 8S
C,\P, r lmrodução , • • • 1 • , 1 , , , " • • , , • •• • , • • • • , 1 l • • "•
89
CAP. H - Do.<: perigos que podem rcsuhar Ja influênein e ho~p!La:lidade
das na~õc:.s ,c,::-Mangcints . .•. •• . .. . .. , .••. , .... , .... p
C,\IP, X - U1ilidode da União cerno preaervatív« contra a:, fac:r;Ü~!i e
insi.1.rrc..:íçõe~ , .... , . _ . . . • . ...• , . . . . . . , ...• , ..•. 94
i\P. )0 ~ Utiridndu da União r~h1LÍvilmcml}; m, cmnljrcío e- it Marmha
IOT
'AP. XV - 0.us defoilO/o: dr! Corlcdcr~ç~o ari..1nl • • , • , •••• , , , 107
C,,P. XX X Vll Dificult.h:i.Jc~ qu_,: t1. Convenção Leve para o-rg~, nizar
. . f ..
um próJeto sal1s ,rilt,no , , , . ; .. , . .. , ..• , • • . • . lf j
CAP. XXXIX Cori:formrdadc uo pluno 1):m1wsto com os principio»
ri.;r,ubhc:im,s: . Exame de unia 1)hjççfio , . • • . . . . . . •.. , .••.. 11~
CAP,XL VU - Exam~ e cxphcação do pdncípm d., sepílrnção dos p~>·
deres .. , ... , . , . . .....• , .. , ..•.. , ; , , , ...• , .•... , . , .. 124
C,w. LI - Comi1\,LJW,:;:~o lfo mcllrn.O os.sunh1 t •• , •• , , ••••• , IJO
CAI'. LH - .Da Câmara dos rcpre!-i~l'ltüf1tct. CurHhç?i,c~ Jt,~ clcittm:,.;
e r.:k:t,dveis. Durnçin, do s ••. rví,çu d,~.., Llcputa,.h,:,; , , , •. , .
rv - Cominu.nç:h~ do mt:H,10 assuruu. Do modo du reprusenta.
ç:l,. ' . . .. . ' ' .. ' ' ' ..... ' ' . . . . . 1 •• ' •••

C AJ1' •. LXll - Con!il iunção d~-, Senado. Col!'ldiçõc~ dos seus memhro«.
li1"Jrnrn das ~UUI:) num,eaçut::s.. 1,iu:aldndc ui; repr~~t;:lfü·tção. Número do--:
!.cn:tdor~~. Durnçfio d.n !1-U:t.}. funç>l;ê:s ••. , . , , , , .. , ••••
AP. LXUJ - Ctrntinmtç.M do mc~mo l1SNL1!'11l0 • • • • t.. . . r ••••
CM• .. LX VU - Da {luturid:;u.ilc do presidemo, Anmcio com que se
pretende
.. ~' fnimizar a opinião públic.:u com este iílrtigo diJ ConMi
tu-aç.no .. • • ti • • 1 1. • .• 1 ! t J li i. ! ~ • " • .•. tt • ..- ,. • ~ ., • • • ~ -
153
CJ\I?, 1 .•. xx - Cont inunçâ« d~ (1'1t:.Smr1 assunto, LJnjd:tdiJ r.lu .Pode:"]' l:'.IIC·
cutivu, E.1n1mc do prii. ,jcLt,1 cle um Crn1~cthn Exe~utivo ...•.. , , _ •
15u
ÇA1,, I..XXVHl D~ inamnvTbilic:f. n,Jç <.1o Poder Judídúrío , .. ~. , ..
16 i
CAP, LXXXJV - Objc::,ç;õcs. mi.,tm, . , .. . , , ••.. , .. , . , , .... 157
CÀl"". [.7\XX.V - Conclusão . , , , . ,- .. 174
ALEXIS IJE TOCQtJEVlLLE - V[da t: obra _. _ •.. 11~)
Crnnuk)giu " ~ _,. ,-.,.
, ,.
__ 182
Hihliografia
·······---- ~---···-···----·••••""---·- 182

A OEMOCR.ACtA NA AMÉRICA '"' •.• - - .•.••••••• - •••••••• 1 •.•.• - 179


lmmdiu;ilu • - • • • _. f 1 1 1 i " • • - • • • -. 1 • • 1 "- - - - 185
UVRU 1 V 1D A ror.í UG\

Primeil".a Pare
IS l-0}0,1AJ fNS1 '/'t"[,ICW•V,H.S l>A SOCIEJ).l[)'t POU"J'TCA

11ri~cn" dn r,ovo nmcricano (Cap, 2) . , , • . . ...•.....•


A .. ilua\ân sociai na~ cclônias e or.;11::1.~ t.:ons1..'(líiênd:1.~ • _ ••..•..
A soberania por,ular _ . , . _ ........• _ , . , , .
dcmocraciu admmistrativa (C;.1p. 5) .... , ••...••••...•..
.5 - O Püdcr Ju.uki~irit.1 (Cap, ll) . . . , •.•..•••.....•••... _ •.
ft - A Ccmstih1ii;;ih1 Federul :1m1.:r1t!1.m,1 (Cap, 8) .• , •......•. , ...
Br« 1•e ltistcirft:o (Sc<,:Jo l 1 • • • • • • • • •••••• , •••••
2. C'art1.d1:.·r(~·th:u.s do Pndn· Executlvo { Si.:çifo j)
J. l 'ama,:t'Jll "' /11c(mve,1IC!l1fl!s do roglme prrxidenctal (Seções 6
u 7, .. ' .. ~ . . . 1 ••••••• ' • • ••••••• 1 1 1 • • • 2.fJ8
Pe<:u.líaridadl1r: " Pt•rsgn.or: dn ststomo oleltoro! (
; 12) ' 1 1 1 •• • ~ .• • 1 • • 6 • 1 • • •• • ' •· . • • 20~
. As vunta,gl!ns d,1 sistema /erieraril-t) ( St.'çi'ío I ')) , , . . . . 212
). Sobre u upbcnbUt,1adt.• do r:i':re,na /Nlcratlw, ,,~,, mj ,,,,., pais'-':>'
(Si::ç:io 20) .. , , , ..•. , , .••...... , •..•.•.•.. , , .•. _ . . 214

~i;iunda Pnrcc
Í('JO IJOPO[)'F:)~ POPUJ.Af< t,, sr ,1."i' BASI.

, r,;1ni<lo, pç,11L1co!-. 11..,,.~1p, •.q •••••••• , , •.•• , • , • • • . • . • • • 21


A f,bcrdadc dl' i111rrcn..:a .. . •. . . • .•. , • . • . • . • . • • 222
V.anLng1.:n:i " p~rjg\lr, du as:mc1:1c;üo políttc.a ...•...... , , , . . . 22
4 - lnsumr», e incllnaçôos nmurt~i~ da dcrnocrnein .... , ••• , , • • 22
1. Os lrr,,·tinim lf1,nu>cr(Í(/l'''-~ t! ú.S causas que o.i: corrigem . •... 22(J
2. Ctm.w~1i',~,Jrlm; rln domocraei« quantn "ª-'i encargos públicn."i 231
~3 • ..-11
' ~ o:;
corrunçao • • da r,rwwtracw
1'1l"fOS ,l •
. __ . . . . . . . . . . . . . . -~, 1
., ••

Qr l!~forçus d1.• tJUC' a democracia ~ çupa.:: . , •... _ . . . . . . . . 1)2


~ vantagen-, reais da dcrnocraciu americana t Cap, (>) • , , • • • • 234
6 - O pcngo da dcmocrncra: u onipolência (Cafl, 7) . , _ . . . . . . . . 238
7 - Couvas da m:imn~nç."io da r-.cp1ibJica. na Am~ri(;;,, (Cap. 9') _.. .. 14.-
J. Causas ucidemcts (Seção J J • • ..••••••.•...• , .• , , • • • 24.:2
l 0.'i ,·rn·lmm.·!., única l.'lf[IWl<: real da dei11,i<:rucia (Sccãu 3) 246
3. O império da reügião (Seção 4) . _ _ _ . .. ... 248
4. A hifl.uência da instnu;âa (Seção 7) . . .. , _ __ . . . 25 J
8 - Considerações sobre as três raças americanas (C~p. LO) . . . . . . 252
J. A del·trrdçàn dos h-tba~· indígenas (Seção 2) .... _ ..•. __ • . . 254
2. .,rl ~ihcaç-iiu dos negros ( Seção 3 } _ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 7
9 - Possibilidud~ de permanência da República nos Estados Unidos 259
Conclusão do LIVRO J (C<Jp. 1 O).. . . . . . _ .. , . . . . . . . . . . . . . . . . . 268

LIVROU DEMOCRACJA E SOÇH~OADE

.P.rlme_ir'1 Parte
. -1 VJDA lNTliLEC'JVA L f.' seus FUNJ>.·IMEtVjOS

lgu::ildac.h: e pcrfcclibiliüadi; humana (Cap. 6) . . . .


A~ aptidões 01.1.:i americanos par à as Ciências, as Letras ,e: a~ Arte
(C.1p. CJ} • , • . • •. • • • • . • .• , •.••.• _ , • • •.••••• _ , • .•. 16
espírito prático e desinreresse pela u:.:,ir'in (Ca-p. 10) . , , . 21
lgurn\ls Lt:ndências puniéuJercs dos historiadoreR nas dcmoer a-
elas (Cap. 20) , , .•.... 281

J O índi neis natural das democracias ....• , •. 28S


11 11 f • • 1 1 -• • • • f 1 ,. • • • • :un
4
li • • t • .• 11 1 1 • 1 • • f 1 1 • • • 1 • • •
2~
u:.1:,.; r.!~n1:rc4üêraci 281>
5 dmrodulir a arlstocraci ... ...... 2
tccira. Pnr(~
l.rlf:NCl.11 !)A DEMOCRACIA sose« OS COS!'U,~fF.S

'e como o:,. arnencanos comprcendcrn a igualdade entre o homem


e a mulher (Cap. 12) ... ,, .........•... ,, •.......•.•..
2 que ,m,. revo lu1;õ~~ se tornarão raras. 1 Cap, 2 1) •.•.• , , ••.• ..,.
_,, 1
O Exército e a amc.m;a que rcpresema para as democracias (Cap.
2) , , · ..- , · ·
4
• • • • 1 • • • • 1 t • • • 1 1 +- • .- • • • , 300
onsideracêcs sobre a guerra feita por uma democrncia (Cap, 24 303

Qum:t Pnn.c
DBSERVAÇ'/l}."S SOJ:lRé' o Dl,STINCJ rournco fJAS SOCIE[}Al)ES DTiMOCRATJCAS

- A igualdade e a~ tendências ôj coneemração do poder (Caps. 1


e 2) _ . . . . . . . . . _ . . . . . . . . . . . . . , . , . . . . . . . . . _... 3D7
2 O despotismo nas. nações. democráticas (Cap. 6, .. _ . JO
3 De que maneira defender a liberdade ameaçada (Cap, 7 1 ••••• , 312
4 V11:>.ão geral do assunto (Cap. 8) •..............••....•... 314

O ANTIGO REGIME E A REVOLUÇÃO , . 19


.Prefácio " • • 1 1 1 li. •• a. _. • • - • • t • t • _. ..._ - -1 • • - 1 • • • • • • - - • ., • • • • • - -: ~ _. f )2]

LíVROI

CAP. rn· Juízos contraditórioz sobre a Ri.:voluç:ão . . . . . . • • . • . . . . 325


.• • P. nr - A Revolução Francesa foi uma revolução pqfüica que prece-
deu i'l maneira u~ revoluções rdígio~,-1s . . . . . . . . . . . . . . . . 327
CAP, IV Quase toda a Europa teve precisamente ª" mesmas institui
ções e estas ruiram em codos O.!I países ...............•....
CAP. V - A obra da Rcvclução Fnwcc-: m ..•....•....• , •.....

LIVROI

CAP. II - A ccmralízaçãc admínístrativa é uma in!.tituiição do Antmgo


Ri-:. gime. nau da Revolução nc:m do lmpêdu ... , • , . . . . • . , . . . 33
P. V - A cemralização intrnduxiu-se cm mcin aos antigos poclc:.-rcs
uplnntou-os sem substitu] los ..... , .• , ..... _ . . . . . . , . . . 341
CAP, X - A destruição da liberdade poHcica 1.: a separação das clas:'ie~

.ame
causaram todas as enfermidades que levaram à mor
• • • • f O! " • • • I' • • ' '! 1 1 • 1 1 1 1 1 1 • i • • ,. I' • t. io ._ • • 1 • 1 t • • 1 _. f t •
,i.1413

LIVRO JII

,w. 1 - Os homens ue li.'!iras tornarem se, cm meaees do século XVTII,


. . ' o;, pol', ucos
os pr1r,c1pa1 . d o rm1s
• , . . .. . . . . .• . , . , . 51
,w. Yl - Al~umas prúticas usadas pelo governo para n ci;luc:iç.ão rc
volucionártn d.o povo , •. , . . . . . . . . . . . . . . . . . "7
. .,r. VHI - Como n Revolução cmcraiu du 4u~ precede , ......• , J6(
FAZEM PARTE
DESTA SÉRIE:

'QUINO

OUTRO·
THOMAS J EffERSO;

ESCRITOS POUJICOS (17-76/1824)


Um <los fundadore:; d'1 nação norte-americana expõe suas 1d~1i1S
sobre importantes te-mas: os. direito.!> naturais, ;.i escravatura como
violação dos dlreltos n.aturai.!>, o governo fundado na vontade do
povo, o direito de autogoverno, a paníclpaçêo d-o povo no governo.

lHOMA5 PAIN

SE:NSO COMUM (1776)


Poucos meses. antes da Declaração áe Jnd~pend~n<:i.a dos Estado.
Unidos, P.amc fo7 ('.I crince do regime monárquico e defond,
1:1. mdependênc1a corno iJdequ(l.da aos le.gitimo:,_ direlto~ do homem

AlEXANOER HAMrLTON/ JAM[S MADl$0N/ JOHN JAY

id'·

ALEXJS Dl2 TOCQUEVII I F.

P<;>::;qu1:;ç1 d
Consultor d

Potrebbero piacerti anche