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HISTÓRIA DO CARIRI: UM OLHAR SOBRE OS

INDIGENAS DA REGIÃO, NA OBRA DE J. DE FIGUEIREDO FILHO

Caio Victor Semião Alexandre1


(Orientadora) Fatiana Carla Araújo2

RESUMO:
O nosso artigo trata de analisar o discurso sobre os indígenas, na obra, História do
Cariri (1964), de J.de Figueiredo Filho, um dos fundadores do ICC (Instituto Cultural do
Cariri). Esta obra foi criada como compêndio, para a disciplina de História do Cariri e do
Ceará ministrada por ele na Faculdade de Filosofia do Crato, hoje Universidade Regional do
Cariri (URCA). É importante analisarmos, por que podemos observar nos seus discursos
como ele exalta personagens da história da região, principalmente do Crato como grandes
heróis, e nos despertou a dúvida, e os seus primeiros habitantes? Como será que ele se refere
aos nativos? A forma de estudarmos os índios vem tendo modificações, e devemos dar este
mérito ao diálogo interdisciplinar entre a História e a Antropologia, colocando os índios como
sujeitos nas pesquisas, permitindo novas interpretações, reformando conceitos e teorias. De
vítimas passivas, começam a surgir como agentes sociais que também contribuíram para
explicar o processo histórico. Com o arcabouço metodológico e teórico da História Social, o
estudo sobre representação e análise do discurso e motivados por esta proposta de uma “nova
história indígena”, observaremos como ele desenhou os nativos do Cariri e em qual lugar os
colocou. Temos também como intenção do nosso artigo dar uma maior visibilidade, a os
nativos que influenciaram o nosso processo histórico e nossa cultura.

PALAVRAS CHAVE: Analise. Intelectual. História. Indígena. Cariri.

Este trabalho que nos propomos a fazer, sobre a história da região do Cariri situada ao
sul do Ceará, busca a reflexão a respeito do discurso produzido sobre os indígenas pelos
intelectuais da região; em particular neste artigo, iremos tratar da obra História do Cariri
volume I (1964) escrito pelo memorialista e farmacêutico J. de Figueiredo Filho.
Nascido em 1904 na cidade do Crato, formado em 1925 na Faculdade de Farmácia e
Odontologia do Ceará. Se tornou um dos principais intelectuais da região, foi um dos
fundadores do ICC ( Instituto Cultural do Cariri) estabelecido em 1953, órgão responsável
pela construção e manutenção da história e da cultura da região. Assumiu o cargo de professor
do Departamento de Geografia e História na Faculdade de Filosofia do Crato, hoje
Universidade Regional do Cariri (URCA), no qual ministrou as disciplinas de História do
Cariri e do Ceará, sendo membro da Academia Cearense de Letras e da ANPUH (Associação
Nacional de Professores Universitários de História).

1 Graduando em História pela Universidade Regional do Cariri. Caio.a@hotmail.com


2
Mestre em Serviço Social, pela Universidade Federal de Pernambuco. fatianaaraujo@ymail.com
1
J. de Figueiredo Filho junto com outros intelectuais do Cariri como Irineu Pinheiro3 e
Padre Antônio Gomes de Araújo 4 , foram de extrema importância para a construção e
divulgação da cultura e história da região, conquistando lugares de destaque na historiografia
regional. Ele foi colaborador de vários periódicos como por exemplo a revista ITAYTERA e
como escritor tem vários livros publicados sobre a história e a cultura regional, tais como:
Cidade do Crato (1953) em parceria com Irineu Pinheiro, Engenhos de Rapadura do Cariri
(1958), O Folclore do Cariri (1962), História do Cariri em quatro volumes (1964- 1968).
Suas pesquisas tiveram grande relevância e aceitação nos Simpósios promovidos pela
ANPUH dos quais participou. No ano de 1973 este pesquisador de paixão, faleceu5, causando
grande comoção por toda a região.
Iremos utilizar a obra História do Cariri, volume I, de J.de Figueiredo Filho publicado
em 1964 pela Faculdade de Filosofia do Crato, através da coleção Estudos e Pesquisas.
Observamos que esta obra tem uma grande relevância tanto para a pesquisa como para o
ensino de história desta região. Ela foi criada para ser utilizada como compêndio da
disciplina de História do Cariri e do Ceará, nesta mesma instituição de ensino.
Este livro é uma síntese da história da região em que o autor assim se refere, “meu
mérito apenas é o de concatenar o muito que estava escrito e esparso em torno da heróica e
movimentada historia do vale caririense” ( FILHO, 1964, p.2). Nesta citação conseguimos
observar que a intenção do autor seria o resumo dos fatos históricos da região, e também
vemos uma certa idolatria por sua terra quando ele se refere “ heroica e movimentada história
do vale caririense", assim esquecendo o rigor que o pesquisador deveria ter, com o seu objeto
de estudo. Ele se utilizara de pesquisas produzidas por outros intelectuais como Irineu
Pinheiro e o Padre Antônio Gomes de Araújo.
J. de Figueiredo Filho deixa bem claro sua intenção ao escrever este livro: “destina-se
aos meus alunos e também servirá como orientação ao ensino da história regional, nos
estabelecimentos secundários, nos grupos escolares e escolas isoladas” ( FILHO, 1964, p.2).
Então para ele, esta obra serviria como base para os estudantes caririenses conhecerem a sua
história.

3
Irineu Pinheiro (1881-1954) nascido na cidade do Crato, formado em medicina, um dedicado estudioso da
historia da região com diversos livros publicados e colaboração em diversos periódicos da região.
4
Padre Antonio Gomes de Araújo (1900- 1989), professor de história, estudioso da região e escritor de varias
obras sobre a região do Cariri.
5
A revista ITAYTERA, órgão do instituto cultural do cariri, em 1974 dedicou a sua memoria quase toda a sua
publicação de N°18.
2
Em meados do século XX, mais particularmente em 1953 com a fundação do Instituto
Cultural do Cariri e os anos seguintes, os intelectuais envolvidos naquele projeto desejavam
construir uma identidade em que fosse ressaltadas as qualidades de bravura e ousadia daquele
povo. Motivados por esta ideologia a história ali produzida estava repleta de “heróis” e
movimentos “gloriosos” pois tentavam identificar no passado as origens da sua civilização,
enaltecendo as gerações passadas. Foi neste contexto que na década de 1960, J. de Figueiredo
Filho publica a sua coletânia de quatro volumes da História do Cariri. Partindo de uma
cronologia eurocêntrica, ele iniciou com invasão da região que hoje denominamos Cariri, o
contato dos colonos com os indígenas, as construções das primeiras vilas, a elevação e o
surgimento de cidades, disputas politicas na região e a modernização das cidades.
O nosso intuito é aprofundar a análise deste livro, que trata da chegada dos colonos
nesta região, do seu povoamento e os primeiros atos políticos. O volume I é o único em que o
autor se refere aos indígenas, e é a partir destas narrações que iremos poder observar quando e
como o autor se refere aos nativos.
É importante observarmos neste primeiro momento que os indígenas não seriam o
objeto principal de observação de J. de Figueiredo Filho, pois ele trata de como se estruturou
esta região, a sua história geral. E como os indígenas foram os primeiros habitantes do Cariri,
ele narra e descreve alguns movimentos e ações destes, neste lugar. Não diferente de outros
autores do século XIX e XX, que se referem aos índios somente na “gênese” das sociedades,
o momento em que os colonos invadem a região e subjugam os nativos, esses se tornando
aldeados, e assim sumindo das páginas da história oficial, ignorando-os, como se eles
existissem somente no passado.
Partindo dessas narrativas sobre os indígenas da região iremos, fazer uma reflexão
dessas descrições, confrontando-as com novas perspectivas da história indígena, para
conseguirmos entender o papel do indígena no Cariri. Colocando os nativos como sujeitos
ativos.
Durante muito tempo se acreditava que após a aculturação, os índios se misturavam
com o restante da população e deixava de ser índio, assim fazendo com que ele desaparecesse
das páginas da história. Em meados do século XX, essa forma de pensar foi tendo mudanças,
desconstruindo este conceito de aculturação, trazendo novas observações para este fato.
Surgindo assim a nova história indígena, sendo produzida por uma interdisciplinaridade entre

3
a História e a Antropologia, percebendo que a cultura é algo transformável, mutável, que não
é algo estável, parado como se acreditava por muito tempo.
Com a iniciativa de pesquisadores como John Manuel Monteiro e Maria Regina
Celestino de Almeida, a historiografia indígena vem tomando um novo rumo, área que por
muito tempo ficou como objeto de estudo somente entre os antropólogos, também está sujeita
à análise histórica, não por causa do surgimento de novas fontes, mas sim por releituras
destas, e colocando o índio como sujeito ativo das suas ações.
O maior desafio que o historiador dos índios enfrenta não é a simples tarefa de
preencher um vazio na historiografia, mas, antes, a necessidade de desconstruir as
imagens e os pressupostos que se tornaram lugar comum nas representações do
passado brasileiro.6

Motivados por esta proposta, nos apoiamos nesta nova perspectiva para estudar o
discurso sobre o indígena na região do Cariri.
Antes de adentrarmos a análise do discurso sobre os nativos no livro, é importante
observarmos a linha de pensamento do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro),
pois sabemos que eles serviram de referência para os estudos relacionados à história e aos
índios. Conseguimos observar alguns discursos em meados do século XIX produzidos pelo
IHGB em que seus sócios eram compostos, em sua maioria, pela elite de intelectuais
escolhidos, que se reuniam com o intuito de escrever uma história para o Brasil e exaltar os
seus heróis. Tinham uma visão dualista, simplista em que colocava os índios bravos, como
obstáculos a serem ultrapassados e o índio manso como colaborador dos portugueses.
Pregavam a assimilação e aculturação dos indígenas, prevendo assim, o seu desaparecimento
do Brasil. E sempre se referiam aos índios no passado. “Escreviam histórias nacionais que
valorizavam os índios extintos como antepassados bravos e valorosos, desconsiderando a
existência dos seus contemporâneos presentes nas comunidades indígenas”. 7
Podemos observar que a missão dos intelectuais do IHGB é bem parecida com a dos
intelectuais do ICC, construir uma história do Cariri, exaltando os seus heróis e os seus
grandes feitos. E como será que J. de Figueiredo, um desses intelectuais trata os indígenas da
região?

6
MONTEIRO, John M. Armas e armadilhas - História e resistência dos índios. In: NOVAES, Adauto(Org.). A
Outra Margem do Ocidente, São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 239.
7
ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Comunidades indígenas e Estado nacional: histórias, memórias e
identidades em construção (Rio de Janeiro e México - séculos XVIII e XIX). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007. p. 192.
4
Na obra que nos propomos analisar, em seu primeiro capítulo intitulado “O Cariri
Cearense. Origem do nome. Habitantes indígenas”, observamos que o autor faz uma relação
bastante interessante sobre a região, sua natureza e os indígenas aqui encontrados. Utilizando
escritos de Capistrano de Abreu, ele afirma que os índios cariris encontrados aqui na região é
um dos grandes ramos indígenas do Brasil.
Esta localidade foi denominada de Cariri, por causa dos seus primeiros habitantes, os
índios da tribo Cariri; “esta família foi encontrada ocupando uma área não muito extensa,
que se estendia do sul do Ceará ao centro da Bahia e do oeste de Pernambuco” ( FILHO,
1964, p.6). Não podemos esquecer que estes indígenas eram nômades, eles estavam situados
nos melhores sítios, nos lugares mais férteis, e ficavam até o momento em que era favorável
para sua sobrevivência. Algumas vezes caímos no erro que só existia esta família de nativos
nesta região, mas isto não é certo, pois viviam aqui também as tribos Gê, Tupi, Fulniê,
Tarairiú e outras mais. Na maioria das vezes esses grupos entravam em conflitos entre si.
O nome da tribo Cariri, segundo Estevão Pinto, “no dizer de Porto Seguro, significa
tristonho, calado e silencioso” ( FILHO, 1964, p.6) Este significado do nome, também pode
ser associado à covardia, no qual J. de Figueiredo Filho, defende os seus antepassados com
fervor:
“Os indígenas que viviam aqui, como em outras importantes regiões nordestinas, era de
bravura inexcedível e a significação de seu nome quer dizer ser covarde, apelido que lhe fora
dado pelos tupis, não passa de mentira indigna de registro.” (FILHO, 1964, p. 9).

Podemos observar nesta citação o civismo, o amor a sua terra e a sua gente, e a sua
intenção acentuada de construir uma história heroica desde os primeiros habitantes aqui no
Cariri, na qual, não só ele, mas outros autores se referem à valentia dos guerreiros cariris,
como uma tribo forte e destemida. Fica claro essa afirmação em textos de Capistrano de
Abreu, Raimundo Girão, João Brigido entre outros.
O autor descreve algumas influências dos indígenas na região; primeiro ele nos fala da
moradia dos nativos, “a própria habitação do pobre é copiada, em partes, dos aborígenes”
( FILHO, 1964, p.8). Elas são feitas de palha de palmeiras e as paredes do mesmo material
com maior abundancia. Assim se referindo aos moradores dos sítios e subúrbios da sua época
em meados do século XX. Em alguns momentos do seu discurso o autor se refere aos
indígenas chamando-os de “selvagens”, denominação preconceituosa, observada em demasia

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nos escritos sobre os nativos do Brasil, por conta da sua simplicidade e dos diferentes
costumes dos colonos.
Alguns utensílios presentes na vida dos sertanejos e vaqueiros o autor aponta que
foram influenciados pelos índios; seriam as cabaças, cuias, coités, pilão, arupemba, abano e
tantos outros utensílios que se fazia presente ou se faz em algumas casas dos sítios do Cariri.
No cariri, tudo concorria a vida fácil e primitiva, com a natureza a fornecer, em
abundancia a macaúba, babaçu, piqui, araçá e outras frutas silvestres, alem da
caça farta das matas, tudo isso nessa espécie de paraíso terreal, com dezenas e
dezenas de córregos, riachos e extensos brejos. (FILHO, 1964, p. 8).

Ele descreve algumas frutas que faziam parte da alimentação dos índios e que ainda
fazem parte das florestas do Cariri. Observamos também que o autor, mais uma vez idolatra a
sua região, a qual é conhecida como “Oasis do Cariri”, em virtude do clima, da fauna e flora
que é diferenciada do restante do interior Cearense. Orgulho para estes intelectuais como J.
de Figueiredo Filho, no seu discurso, mostra um Cariri forte e belo, cheio de perspectivas para
o futuro da sua região, mas não e só a sua terra mais também a sua gente. Povo guerreiro e
forte, herdou dos seus antepassados os índios Cariris, segundo o autor, a sua coragem e
determinação.
Como vimos, até bandeirantes paulistas tiveram de romper longos e ínvios
caminhos a fim de destruir os mais bravos indígenas que encheram as selvas do
Brasil. E este destemor, provado em mil lutas e vicissitudes, ficou também em seu
descendente, depois do caldeamento com o branco e, em pequena cota, com o
negro. O mestiço do Cariri, pela sua afoiteza em lutas individuais, de cacete ou de
facas, com o nó na camisa, ou nos movimentos épicos da guerra da independência,
dos embates contra a natureza hostil, é autentico herói nacional. ( FILHO, 1964, p.
9).

Em 1780, restavam poucos indígenas aqui na região, pois tinham sidos transferidos
para as vilas de “índios mansos” da Capitania do Ceará, como por exemplo Messejana,
Parangaba, Caucaia e outras mais. Onde segundo o autor “foram dentro de algum tempo,
absorvidos pela população local” ( FILHO, 1964, p.11). Então eles teriam sido “aculturados”
segundo alguns estudiosos do século XX, eles teriam sido misturados com o restante da
população brasileira e perdido os seus costumes e a sua cultura. Sendo que este conceito já foi
revisto principalmente por causa dos novos olhares sobre a história indígena, pois
interpretamos hoje em dia e vemos que mesmo com a inserção dos indígenas no restante da
população eles contribuirão com alguns traços dos seus costumes e cultura no restante da
população.

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Com as novas teorias sobre esse objeto, podemos observa nas narrativas de J. de
Figueiredo Filho, que a sociedade do Cariri foi muito influenciada pela cultura indígena, tanto
pela utilização dos seus utensílios como na sua culinária, como por exemplo, a mandioca e o
preparo da farinha, que hoje é presente no cotidiano das pessoas do interior do Ceará.
Não se encontram tribos indígenas na região do Cariri, mas ainda se estão presente
algumas das suas contribuições, como por exemplo, o nome da nossa região, o Cariri. Neste
capítulo primeiro o autor se refere mais à trajetória ou à presença do indígena aqui na região,
não levando em conta o seu contato com os colonos; algo que iremos poder observa melhor.
Os dois próximos capítulos se referem às tentativas de colonização e de catequese, do
povoamento do Cariri e as primeiras vilas. Todavia não iremos adentrar as discussões que
estão por traz destes assuntos, mas sim analisaremos a presença do indígena neles.
No início do século XVIII, em 1703 os indígenas da região, que posteriormente foi
chamada de Cariri, se depararam com os invasores, os colonos, conhecidos como ciclo da
civilização do couro que teriam vindo da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Segundo a
historiografia trilharam o mesmo caminho dos antepassados indígenas das tribos que lá se
encontravam, seguindo os rios e riachos aqui chegaram, “encalçando índios belicosos, ou
movidos pela ânsia da fundação de currais de vacarias, os sapatões dos sertanistas
despertaram o Cariri” ( FILHO, 1964, p. 20).
Movidos pelo pastoreio, aqui adentraram os sertanejos. O livro em analise não relata
os conflitos existentes entre invasores e os indígenas e ao mesmo tempo ele nos passa a ideia
que os nativos receberam os colonos de “braços abertos”. Onde estavam os “bravos
guerreiros” da tribo Cariri? A lógica e outros textos nos revelam que esta inserção dos colonos
na região, foi como em todo restante do Ceará e do Brasil, cheio de conflitos. O nosso autor
esquece, de citar ou faz de propósito, para que os estudantes que forem estudar este livro
pensassem que os indígenas, lá estavam “esperando o progresso”, como nos vemos em muitos
escritos do século XIX e XX.
“Em seguida, a humilde aldeia do brejo do Miranda, habitado por índios catequizados por
capuchinhos italianos que lhes ensinaram a rezar e exaltar, em sua língua barbara, a gloria
de Deus e da virgem” (FILHO, 1964, p. 19).
E Como podemos observar, os índios foram aldeados, no local onde se chama Missão
do Miranda que depois se tornou a Vila Real do Crato e hoje a cidade do Crato. Os

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missionários tinham o intuito de trazer a “fé e os elementos do progresso”, vinham de
Pernambuco.
Essas aldeias tinham a sua importância de acordo com os agentes sociais envolvidos
na colônia, pois os interesses para cada um era diferente como podemos notar. Vemos que
para o governo ou a coroa, elas serviram como meio para a integração dos indígenas à
sociedade, tornando-se súditos cristãos. Para os religiosos, os missionários, eles poderiam
catequizar os nativos e extirpar seus vícios, suas práticas culturais e espirituais, que para os
missionários eram práticas demonizadas. E para os índios era, de certa forma, uma proteção
contra ataques de tribos inimigas e do próprio homem branco e também uma forma de ter
garantidas as terras onde lá poderiam viver, já que a maioria da sua tribo já tinha sido morta.
Então o aldeamento para eles foi uma forma de sobreviver.
Chamou-se Carlos Maria de Ferrara o frade que os aldeou, em lugares onde se
acha o Crato, doados, em 3 de dezembro de 1743 aos indígenas, pelo capitão mor
domingos Álvares de matos e sua mulher Maria Ferreira da Silva, filha do capitão
Antônio Mendes Lobato, grande sesmeiro do sul do Ceará ( FILHO, 1964, p.19).

Estas terras cedidas aos nativos ficavam a princípio, num local mais afastado onde
hoje é a urbe. Conserva- se ainda o nome Miranda, no qual é um bairro da cidade. Em 1763 a
Missão do Miranda se torna vila e é movida para a localidade a onde atualmente é a Praça da
Sé, no centro da cidade. O Governador de Pernambuco ordenado pelo Marques de Pombal
mudou o nome daquela vila, pois ele desejava que “ desse o nome de localidades
portuguesas a toda vila que fosse criada em sua jurisdição.” ( FILHO, 1964, p. 32). Então
assim a vila recebeu o pomposo nome de Vila Real do Crato.
Segundo J. de Figueiredo Filho o nome Missão do Miranda não estaria ligado ao velho
cacique daquele povo, como contava alguns escritores, não poderia ter vindo de um indígena
pois normalmente os índios quando catequisados, tinham nomes de santos e sobrenome. Ele
afirma que este nome poderia estar ligado ao sesmeiro Gil de Miranda que foi um dos
primeiros colonos da região.
O fato mais sensacional e mais injusto que ocorreu em Crato, no ultimo quartel do
século XVIII, foi a expulsão dos indígenas , espoliados de suas terras doadas pelo
capitão- mor Alvares de Matos e sua esposa foi consequência de um ato do
governador de Pernambuco ( FILHO, 1964, P.38).

Esta ação foi movida por algumas acusações feitas aos antigos Cariús de não se
sujeitarem ao trabalho e à disciplina. Mais uma vez o autor, para defender os indígenas,
afirma que a capacidade de adaptação à civilização, foi acolhida por estes nativos, ele fala de
um exemplo de um desses índios: “foi tamanha, que um deles Jose Amorim foi escolhido
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como juiz ordinário da vila do Crato, recém-criada, ao lado do branco- capitão. Francisco
Gomes de Melo” ( FILHO, 1964, p. 39).
Com esta ação de expulsão de sua localidade alguns nativos resolveram se aventurar
pela serra do Araripe, pois não aceitaram esta ordem e fugiram, sendo que até os capuchinhos
também se revoltaram contra os colonos, pois estavam perdendo a sua influência e eles
também estariam sendo mandados de volta para Pernambuco.
“Em Parangaba, com o nome então mudado para Arronchos pela opção antibrasileira do
Marques de Pombal os indígenas cratenses definharam, ate o desaparecimento completo, em
frente ao diretório inativo dos índios” (FILHO, 1964, p. 39).

Sendo assim o aldeamento da Vila Real do Crato se extingue e os poucos indígenas


que ficaram na região foram aqueles que conseguirão fugir. E as terras que eram dos nativos,
foram doadas aos homens brancos.
Esta perseguição não partiu somente do governo, o autor também nos traz notícias de
outros indígenas da região do Cariri, os índios jardinenses que foram perseguidos “a ferro e
fogo” pelos fazendeiros da região; eles acusavam os nativos de roubar o gado. Além do
governo, também tinha os conflitos entre os indígenas e fazendeiros, conflitos esses ainda
hoje presentes em outras regiões do Brasil.
No livro Historia do Cariri volume I, a historiografia direcionada aos nativos termina
com a sua expulsão das terras cratenses em 1779, que está presente nos três primeiros
capítulos. Colocamos como sujeitos da nossa pesquisa o indígena, mas na obra que
analisamos está cheia de nomes de antigos sesmeiros, posseiros, capitães e de datas
importantes para o desenvolvimento da região, para posteriormente se tornar cidade. Podemos
dizer figuradamente que utilizamos uma lupa, pois se formos ler sem ter a intenção de
aprofundarmos a nossa análise, mais uma vez o indígena passa despercebido pela nossa
história.
O interessante deste livro é que ele faz o possível para construir um estereótipo do
indígena da região do Cariri. O índio forte guerreiro está muito presente nas narrativas
relacionadas ao indígena. Através da análise de discurso conhecemos um processo chamado
paráfrase que seria uma repetição das ideias, para fazer com que a sua ideologia fique
consistente. Mas no decorre da análise nos sabemos qual a sua intenção. Ele insiste tanto
nisso, para afirmar que os nossos antepassados eram povos guerreiros, fortes e que nós

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herdamos isso deles. Então, o povo da região do Cariri também é um povo guerreiro e
destemido.
Outro ponto interessante que vemos presente na obra é que o J. de Figueiredo Filho
nos mostra que mesmo com a expulsão do indígena da região, existe a manifestação da
influência destes nativos no dia-a-dia do caririense, principalmente aqueles que vivem nos
sítios e nas cidades menores da região; os utensílios que ele cita, ainda os vemos hoje.
Como na maioria das regiões do Brasil, trabalhar com a historia indígena é muito
difícil, pois há poucas fontes deixadas por eles ou não há nenhuma. Muito dos resquícios
registrados pela historiografia são as anotações de colonos e os trabalhos que foram
influenciados por teorias eurocêntricas em que inferioriza os nativos. Da mesma forma foi
aqui, o próprio J. de Figueiredo Filho afirma que os documentos relacionados aos indígenas
eram muito escassos aqui na região.
Este artigo é o primeiro passo para mergulharmos na história indígena do Cariri.
Iremos aprofundar a nossa pesquisa em outros intelectuais da região, para podermos analisar
os discursos de todos eles, com o intuito de conseguir mais informações e notícias sobre os
nativos que foram tão importantes para a formação da nossa região e sociedade.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10
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