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Annie Besant
O CAMINHO DO
DISCIPULADO
Tradução de E. NICOLL
EDITORA PENSAMENTO
SÃO PAULO
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Título do original:
The Path of Discipleship
Índice
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Capítulo I
O Caminho do Discipulado
PRIMEIROS PASSOS
Quando, há dois anos, eu falei pela primeira vez nesta sala, chamei vossa atenção sobre
a construção do Cosmos em geral, sobre as fases pelas quais passou esta evolução e,
também, sobre os métodos seguidos no decurso desta vasta sucessão de fenômeno. No
ano passado tratei da evolução do Ego, do Ego humano mais do que do Ego cósmico, e
procurei explicar como o Ego adquiria experiência elevando-se de veículo em veículo,
chegando a dominar seus corpos inferiores. Para o homem como para o universo, para o
indivíduo como para o Cosmos, o fim é o mesmo: um esforço constante para reunir-se ao
eterno e único Ego do qual tudo emana. Mas, muitas vezes, discutindo sobre estes assuntos
sublimes, me hão objetado nos seguintes termos: "Que importância tem tudo isto sobre a
conduta dos homens no mundo, cercados como estamos pelas necessidades da vida, pela
atuação do mundo fenomênico, subtraídos sempre de elevarmos o pensamento ao único
Ego, e obrigados pelo Carma a tomar parte nestas múltiplas atividades? De que servem as
superiores doutrinas sobre a conduta humana e como é possível que os homens do mundo
elevem-se a tão alta vida?" É sobre este assunto que eu vou tratar nas atuais conferências.
Procurarei demonstrar como o homem do mundo, sujeito às obrigações de família, com
deveres sociais a cumprir com todas as atividades da vida do século, pode, não obstante,
preparar a união com o Ego e fazer os primeiros passos no caminho que conduz ao Único.
Procurarei descrever os progressos neste caminho, de modo que, começando pela vida que
um homem qualquer possa levar na atualidade, e colocando-me no ponto de vista da
maioria de todos vós, reconheçais a possibilidade de alcançar uma meta, de trilhar um
caminho que começa aqui, na vida da família, do município e da nação, mas que termina
em um ponto muito além de todo pensamento e conduz o peregrino a sua eterna pátria.
Tal é o objeto destas quatro conferências, esperando que me acompanheis neste caminho.
Para melhor compreender o assunto, examinemos rapidamente o decurso da evolução, sua
significação e seu fim, para que este golpe de vista lançado no conjunto, nos ponha em
condições de apreciar a oportunidade da marcha que vamos efetuar passo a passo.
Sabemos que a Unidade tornou-se a multiplicidade. Lançando um olhar para trás e
considerando as trevas iniciais que tudo envolviam, ouviremos um murmúrio que exclama:
Eu me multiplicarei. Esta multiplicação não é outra coisa senão a construção do universo e
dos seres que nele existem, Nesta vontade de multiplicar-se que tem o "Único sem
segundo", vemos a fonte de toda a manifestação, reconhecemos o gérmen primordial do
Cosmos. E quando tivermos compreendido de que modo teve começo o Universo e de
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como a complexidade e a multiplicidade surgiram da simplicidade e da unidade primordiais,
só então perceberemos que cada uma destas manifestações fenomênicas deve ser
imperfeita, é que o fato de um fenômeno só ser possível sob a condição de ser limitado é a
prova irrefutável que ele é inferior ao Único e, por consequência, imperfeito. Isto nos dá o
porquê da variedade, da vasta multiplicidade das coisas e dos seres vivos. E só então
podemos compreender que a perfeição do universo manifestado reside nesta mesma
variedade; e lá onde houver mais do que Um, indispensável é esta variedade infinita, a fim
de que o Único, que é como um sol projetando seus raios em todás as direções, possa
difundir-se por tudo, e é na totalidade destes raios que reside a perfeição e a iluminação do
mundo. Quanto mais numerosos, notáveis e variados forem estes objetos, mais fiel será -
embora sempre imperfeita - esta imagem do Único, Daquele donde tudo emana.
O primeiro esforço da evolucionante vida consiste em produzir existências
aparentemente distintas, de modo que, vistas de fora, pareçam separadas; mas,
contempladas em sua essência, se reconheça que é o Único o Ego de todas elas. Tendo isto
presente, compreenderemos que no processo da multiplicidade individual, o indivíduo
manifesta-se como débil e limitado reflexo do Ego Único. E assim principiamos a
compreender qual será a finalidade deste universo, porque a evolução destes numerosos
indivíduos é necessária, porque esta separatividade representa um papel indispensável na
evolução do conjunto. Este universo tem por objeto a evolução de um Logos para outro
Universo, de poderosos Devas que deverão servir de guias a todas as forças cósmicas deste
futuro universo, e de divinos Instrutores da infantil humanidade que há de povoá-lo. Em
todos os mundos de existência individual se efetua agora um contínuo processo de
evolução, pelo qual um universo proporciona a outro futuro universo seus Logos, seus
Devas, seus primeiros Manus e todos os grandes Seres necessários para construir, adestrar,
governar e instruir este universo que ainda-não nasceu. Assim se enlaçam entre si os
universos, e os manvantaras se sucedem e os frutos de um universo são a semente do que
o sucede. No meio desta multiplicidade evolui uma unidade ainda mais vasta que servirá de
vigamento do futuro universo, que será o Poder diretor do Cosmos futuro.
Perguntam-me, tanto no Oriente como no Ocidente, por que a evolução é assim
cercada de dificuldades, por que tantos insucessos em sua execução, por que os homens se
conduzem mal antes de conhecerem o bem? Não seria possível ao Logos do nosso universo,
aos seus agentes, os Devas e os Manus, que vêm guiar nossa infantil humanidade, traçar o
plano de modo que não houvesse semelhantes insucessos no decurso da evolução? Não
lhes seria possível guiar de forma a tornar o caminho reto e direito, em lugar de tortuoso e
revolto? Aqui está a dificuldade da evolução humana, se se leva em conta seu objeto final.
Fácil, na verdade, teria sido organizar uma humanidade perfeita, dócil e fácil de dar aos
seus poderes nascentes uma direção que lhe faria marchar sempre no caminho do bem,
sem que jamais se desviasse para o que chamamos o mal. Mas, que vantagem haveria
numa obra assim tão fácil? Seria, certamente, fazer do homem um autômato movido por
uma força exterior que o forçaria a cumprir uma lei iniludível. O mundo mineral está sujeito
a uma lei deste gênero; as afinidades que ligam entre si os átomos obedecem a esta
imperiosa impulsão. Mas, à medida que nos elevamos nos reinos da natureza, observamos
cada vez maior liberdade nos seres, até que encontramos no homem uma energia
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espontânea, uma liberdade de escolha que é a aurora da manifestação da Divindade, que
começa a transparecer no ser humano. Ora, o fim a atingir, o objetivo real não é construir
autômatos destinados a seguir cegamente uma linha traçada, mas edificar um reflexo do
Logos, uma poderosa coletividade de sábios e homens perfeitos, suscetíveis de preferir o
bem, porque o conhecem e o compreendem, e de repelir o mal, depois de terem aprendido
a discernir, por experiência, a sua impotência e as dores às quais ele conduz. Assim é que,
no futuro universo e entre os Grandes Seres que guiam o universo atual, há de haver uma
unidade de vontades concentradas pelo conhecimento, isto é, graças ao saber e ao livre-
arbítrio, movidas pelo mesmo desejo porque tudo sabem, identificadas pela Lei porque
aprenderam que a Lei é justa. Neste universo futuro, a Lei será Una, como o é no universo
atual, e será executada graças ao concurso daqueles que dela são a personificação, por
causa da unidade de suas vistas, da unidade de seus conhecimentos e da unidade de seu
poder. Não será uma lei cega e inconsciente, mas uma coletividade de Seres vivos que
formam a Lei, porque são divinos. Outro caminho não há para alcançar esta meta, para
harmonizar a livre vontade de muitos em uma grande Lei e uma superior Natureza, senão o
caminho pelo qual seja possível adquirir experiências, conhecer tanto o bem como o mal, a
derrota e o triunfo. Assim os homens convertem-se em Deuses e, pela experiência sofrida,
querem, pensam e sentem todos igualmente.
Para alcançar esta meta, os divinos Instrutores e Guias de nossa humanidade
estabeleceram várias civilizações, todas elas constituídas em vista do fim visado. Não me
detenho a examinar a grande civilização da quarta raça que precedeu o nascimento do
poderoso povo ariano. Basta dizer que uma alta civilização foi posta a prova e que durante
algum tempo logrou êxito sob o governo de seus divinos Reis, os quais, finalmente,
retiraram sua imediata proteção, como a mãe solta a mão à criancinha que começa a andar,
para ver se já é capaz de valer-se de seus membros e dar por si os primeiros passos. Assim
os divinos Reis e Guias deixaram solta a infantil humanidade, para ver se já podia andar só
ou se tropeçavam no caminho. Mas, a infantil humanidade tropeçou e caiu; e embora
potente e perfeita em suas instituições, gloriosa pela força e pelo saber que tinham
presidido a sua formação, sucumbiu sob o peso do egoísmo humano, esmagada pelos
instintos inferiores que não tinham sido ainda dominados. Foi necessário fazer outra
tentativa e assim foi fundada a grande Raça Ariana, também com seus Reis e Guias Divinos,
com um Manu que lhe deu suas leis, fundou sua civilização e desenvolveu sua política
auxiliado pelos Rishis que, grupados em torno Dele, asseguraram a execução dessas leis e
guiaram a jovem civilização. Assim teve a humanidade outra norma, outro modelo sob o
qual devia evoluir. Em seguida, mais uma vez os grandes Instrutores afastaram-se por
algum tempo para que a humanidade exercitasse suas próprias forças e sentisse se era
bastante forte para andar só, confiante em si mesma, sob a direção do seu Ego interno, e
não mais por manifestações exteriores. Mas, também, segundo sabemos, a tentativa
redundou em completo insucesso. Lançando um olhar para trás, vemos esta civilização,
originariamente divina, degenerar pouco a pouco pela influência dos instintos inferiores do
homem e das indomáveis paixões da humanidade.
Na Índia de outrora vemos sua constituição perfeita, sua maravilhosa espiritualidade
que foi, de milênio em milênio, decaindo à medida que se retirava da vista do homem a
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mão que o guiava; e ainda mais uma vez a humanidade tropeça e cai ao querer andar
sozinha. Em todas as tentativas vemos malograr-se o ideal divino. O mundo atual nos dá a
prova de que a natureza inferior do homem triunfou do ideal divino que se fixou como
meta no começo da raça ariana. Nesta época o ideal do Brâmane consistia na liberação da
alma que já não suspira por bens terrestres, nem pelos gozos da carne, nem por
autoridade, prazeres mundanos, mas sim pela sabedoria eterna acompanhada da pobreza;
enquanto que hoje vemos no que se diz Brâmane rico e ignorante, em vez de ser pobre e
sábio. Na casta dos Brâmanes, como nas outras três, descobrimos sinais de
degenerescência que produziu a ruína do antigo regímen.
Vejamos agora como os Instrutores se propuseram conduzir os homens a preferir livre
e voluntariamente o ideal que lhes foi proposto e do qual se afastaram: como os grandes
Instrutores esforçaram-se em dirigir a evolução da humanidade tão imperfeita para o ideal
perfeito, que se viu no começo servindo de exemplo à raça, e que não foi alcançado por
causa da fraqueza e puerilidade dos homens.
Para atingir este ideal no decorrer dos séculos, ensinou-se-lhes o caminho da ação -
Carma Ioga. É a forma de Ioga que convém aos homens do mundo, assediados pelas
atividades da vida; e mediante estas atividades, graças à sua ação disciplinar, damos os
primeiros passos que conduzem à união. Vemos assim que Carma Ioga serve para
disciplinar os homens.
Notemos a justaposição dos termos "ação" e "união". Significa o Carma Ioga que a ação
se executa de modo que seu resultado seja a união. Convém recordar que é precisamente a
atividade, as ações, os múltiplos afazeres que separam e distanciam os homens uns dos
outros. Por isso parece paradoxal falar de união por meio da ação, como se fosse possível
unir valendo-se do que divide e separa. Mas, a sabedoria dos divinos Instrutores nos explica
o aparente paradoxo, como vamos ver.
Sob a influência das três energias da natureza, as qualidades da matéria ou gunas, o
homem move-se desordenadamente em todas as direções. O morador do corpo, o Ego, fica
sob o domínio das gunas cuja atividade constitui o universo manifestado, e com as quais se
identifica o homem, que julga atuar quando elas atuam e estar atarefado quando elas de
fato produzem sua atividade. Vivendo com elas, o ofuscam e alucinam, e perde por isso
todo o conhecimento do seu verdadeiro ser, de modo que tudo quanto vê na vida se reduz
à atividade das gunas que o impelem para todos os lados, arrastado por desencontradas
correntes. Nestas condições não se sente o homem apto para as formas superiores da Ioga
sem primeiro desvanecer, embora parcialmente, estas ilusões.
Deve começar por compreender as gunas, separando-se das atividades do mundo dos
fenômenos. Podemos considerar como doutrina de Carma Ioga as declarações de Krishna a
Arjuna no campo de batalha de Kurukshetra, quando ensinava esta forma de Ioga ao
príncipe, ao guerreiro, ao homem chamado a viver no mundo, a combater no mundo, a
governar e a tomar parte em todas as atividades exteriores; aí se encontra a eterna lição
para os homens que vivem neste mundo, lição que ensina a nos elevar gradualmente acima
das gunas e chegar à união com o Supremo. A primeira etapa, portanto, da Carma Ioga
consiste na disciplina das atividades, serenando as gunas. Há três gunas: Sattva, Rajas e
Tamas com as quais tudo que nos cerca foi edificado, combinado de mil maneiras. As três
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atuam e operam em todas as direções; daí a necessidade de equilibrá-las e subjugá-las. O
Ego encarnado, o morador do corpo, deve tornar-se senhor soberano e procurar
estabelecer uma distinção entre ele e as gunas, conhecendo as funções destas,
controlando-as e dirigindo suas atividades. Não podemos elevar-nos repentinamente acima
delas, ou vencê-las prontamente, assim com uma criança jamais poderá executar o trabalho
de um homem. Pode a humanidade, no estado imperfeito de sua evolução, atingir a
perfeição- da Ioga? Não; e não seria prudente tentar fazê-lo, pois, se procurássemos impor
à criança o trabalho do adulto, não somente nada obtenhamos, como ultrapassaríamos o
limite de suas forças nesta tentativa, resultando um insucesso, tanto no presente como no
futuro, por ser a empresa superior à sua constituição. É necessário que os homens
exercitem suas forças antes de empreender a tarefa, como é necessário que a criança atinja
a idade do homem antes de se tornar apta ao trabalho viril.
Consideremos as funções da qualidade Tamas - que se traduz por obscuridade,
preguiça, inércia, negligência, etc. Que serviço pode prestar esta guna à evolução humana?
Qual a utilidade desta guna no desenvolvimento do homem? Sua utilidade para Carma Ioga
consiste que ela age como resistência a qual se deve combater e vencer, de modo que a
luta e a vitória desenvolvam a vontade, conquistando-se o domínio e a disciplina de si
mesmo. Podemos comparar a utilidade de Tamas na evolução humana, aos halteres e às
massas nos exercícios dos atletas. Estes jamais conseguiriam robustecer seus músculos se
não os exercitara em vencer alguma resistência, esforçando-se repetidamente em levantar
os pesos e manejar as massas. A utilidade não está no peso destes artifícios ginásticos, mas
no emprego que se lhes dá; e se alguém deseja robustecer os músculos de seus braços, o
único meio é tomar uma dessas massas e diariamente esforçar-se em vencer a resistência
que se opõe ao seu manejo. Do mesmo modo Tamas (negligência, ignorância, inércia)
interveio na evolução. O homem deve vencer esta guna e desenvolver suas forças na luta.
Os músculos da alma se robustecem quando o homem triunfa da negligência, vence a
preguiça e a atonia, que são as qualidades tamásicas de sua natureza.
Assim vemos que os ritos e cerimônias religiosas foram estabelecidos com o propósito
de vencer a qualidade tamásica, pois em grande parte servem para adestrar o homem em
combater a lentidão, a preguiça e a indolência de sua natureza inferior, colocando-o em
presença de certos deveres que devem ser cumpridos em momentos determinados - quer o
homem sinta ou não o desejo neste momento de os cumprir, quer esteja ou não dominado
pela atividade ou pela preguiça.
Se considerarmos a qualidade Rajas, veremos que as atividades do homem são guiadas
em Carma Ioga por certos caminhos que eu me proponho assinalar, mostrando como a
atividade, tão ardente e vivaz no mundo moderno, manifesta-se em todos os sentidos,
movendo-se em esforços precipitados, em que tudo se faz apressadamente. Também esta
qualidade pode ser gradualmente dirigida, exercitada e purificada, até que ela não mais
possa impedir a real manifestação do Ego. O objeto de Carma Ioga é substituir o desejo
imoderado dos gozos materiais pelo dever; o homem age para satisfazer seus instintos
inferiores, na ânsia de obter o fruto das suas ações, com a esperança de recompensa,
apetecendo dinheiro para gozar a vida material e satisfazer seus baixos instintos. Todas
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estas atividades da qualidade rajásica têm por fim a satisfação da natureza inferior; e para
discipliná-las, de modo que sirvam ao propósito do Ego superior, é necessário conduzir o
homem a substituir o dever ao gozo pessoal, a trabalhar porque o trabalho é um dos seus
deveres, a girar a roda da vida porque é sua incumbência assim fazer o que Shri Krishna
declarou fazer por Si mesmo, isto é, não porque tenha a ganhar qualquer coisa, nem neste
mundo nem no outro, mas porque sem sua ação deixaria o mundo de ser o que é, e ficaria
parado o giro da roda.
Quem pratica a Ioga deve agir segundo o espírito de Shri Krishna, com a intenção posta
em todo o conjunto e não em parte separada, com o propósito de cumprir a divina vontade
no Cosmos e não pelo prazer de uma entidade distinta, que se imagina independente,
quando devia secundar a ação de Shri Krishna. O homem atingirá este alvo elevando
gradualmente a esfera de suas atividades. O dever substituirá a concupiscência, e os ritos
religiosos, como as cerimônias, são prescritos para conduzir gradualmente os homens à
verdadeira vida. Todas as cerimônias religiosas são processos para conduzir os homens à
verdadeira vida, à vida superior. O homem começa a meditar ao levantar-se e ao deitar-se,
mas dia chegará em que sua vida será uma prolongada meditação. Medita durante uma
hora e assim se prepara à meditação perpétua. Toda atividade criadora é o resultado da
meditação, e convém recordar que pela meditação Tapas todos os mundos foram criados.
Assim, pois, para que o homem alcance este vigoroso e divino poder criador de
meditação e seja capaz de exercê-lo, deve ir-se fortalecendo por sucessivas cerimônias
religiosas, por esforços mentais intermitentes, por periódicos tapas alternados. A
meditação a horas fixas é um passo para a meditação constante. Tomando uma parte da
vida diária para, em seguida, tomá-la toda, o homem medita diariamente para que pouco a
pouco o absorva por inteiro. Chega um momento em que o iogue não tem mais hora
marcada para a meditação, porque toda sua vida é uma contínua meditação. Sejam quais
forem as atividades em que se empregue, o iogue medita e está sempre aos pés do Mestre,
embora mente e corpo estejam ativos no mundo dos homens. O mesmo podemos dizer de
todas as modalidades de ação. Primeiro aprende o homem a cumprir a ação como um
sacrifício do dever, como o pagamento de sua dívida para com o mundo no qual vive,
retribuindo aos diversos reinos da Natureza o que deles recebeu. Mais tarde, o sacrifício
torna-se mais que o pagamento de uma dívida: é a jubilosa oferta de tudo quanto o homem
tem para dar. O sacrifício parcial é a dívida que se há de pagar; o sacrifício perfeito é a
oferta total. O homem se dá com todas as suas atividades, com todos os seus poderes, não
já desejoso de dar parte do que possui em paga de uma dívida, mas ele mesmo é dádiva de
sua oferta. Quando se chega a este ponto, realiza-se a Ioga e se aprende a lição de Carma
Ioga.
Considerai como um passo para este fim os cinco sacrifícios diários que a religião
hinduísta exige de seus fiéis, procurando compreender a razão de cada um deles. Cada um
deles é o pagamento de uma dívida, o reconhecimento do que o homem deve
individualmente à coletividade em que vive. Consideremos o primeiro: o sacrifício aos
Devas. Por que foi prescrito este sacrifício? Porque o homem precisa saber que seu corpo
contraiu uma dívida com a terra e com as entidades inteligentes que presidem às funções
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da Natureza, graças às quais a terra dá seus frutos e fornece ao homem o alimento; e por
isso, o corpo do homem, em pagamento desta dívida, restitui à Natureza o equivalente
daquilo que dela recebeu, graças à cooperação destas Inteligências Cósmicas ou devas que
guiam as forças do mundo inferior.
Por que se ordenou ao homem que consumasse sua oferenda pelo fogo? A explicação
desta cerimônia está na frase: "AGNI é a boca dos Deuses". Os homens repetem esta
expressão sem procurar compreender a sua significação, sem ir além do nome deva para
alcançar sua função no mundo. A verdadeira significação da frase é que por toda a parte em
torno de nós se encontram os operários conscientes e subconscientes da Natureza em
cortes de diversos graus com um superior deva cósmico à frente de cada uma das falanges
do numeroso exército. Subordinados aos devas que respectivamente governam o fogo, a
água, o ar e a terra, se encontra um grande número de legiões dévicas, de categoria
inferior, que presidem às diversas operações das forças naturais no mundo, tais como as
chuvas, as faculdades produtoras da terra, as influências fertilizantes de várias espécies.
Este primeiro sacrifício serve de alimento aos devas inferiores que o recebem por meio
do fogo; e o fogo é chamado "a boca-dos-deuses" porque o fogo desintegra e transmuda
primeiro em vapor, depois em éter os sólidos e os líquidos que se submetem à sua ação,
convertendo as oferendas sacrificiais em alimento etéreo dos devas inferiores,
encarregados de executar as ordens dos devas cósmicos. Assim satisfaz o homem a dívida
para com eles contraída, e em recompensa cai a chuva, frutifica a terra e recebe o homem
seu alimento. É o que queria dizer Shri Krishna quando ordenava ao homem: "alimenta os
deuses e os deuses te alimentarão". É este ciclo de alimentação que o homem deve
aprender a reconhecer. A princípio aceitou como um ensinamento religioso. Em seguida
veio um período em que o considerou como superstição, por desconhecer os motivos reais,
pois apenas via o lado exterior. Mais tarde, aumentando o homem seus conhecimentos,
embora a ciência se incline para o materialismo, ele chegará, por um estudo mais profundo,
ao conhecimento do reino espiritual. A ciência começa a dizer hoje, em termos técnicos, o
que os Rishis disseram na terminologia espiritual, isto é, que o homem é capaz de governar
e dirigir as forças inferiores da Natureza e, deste modo, o conhecimento científico
corrobora os antigos ensinamentos; e a inteligência confirma o que o homem espiritual vê
por intuição direta, pela visão espiritual. Temos, em seguida, o Sacrifício aos antepassados;
o reconhecimento do que o homem deve aos que o precederam no mundo; o pagamento
de sua dívida para com os que trabalharam no mundo antes que ele viesse; a gratidão e a
veneração aos que, por seu esforço, melhoraram o mundo. Este sacrifício é a dívida de
gratidão com quem imediatamente nos precedeu na humana evolução, os que tomaram
parte nela durante suas vidas terrenas e nos legaram o resultado do seu labor. Pois que
hoje colhemos o fruto de seus trabalhos, paguemos essa dívida testemunhando o nosso
reconhecimento. Eis por que um dos sacrifícios diários é o reconhecimento da dívida de
gratidão que contraímos com os que partiram· antes de nós, os antepassados. Em seguida
vem o sacrifício de conhecimento, o estudo das Escrituras que prepara o homem para
instruir aos ignorantes, de modo que estes possam também adquirir o conhecimento para a
manifestação do Ego interno.
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O quarto sacrifício é o que se faz em proveito do próximo, dando de comer cada dia a
um necessitado, em reconhecimento do dever contraído com a humanidade, para
proclamar que os homens se devem mutuamente ajudar, no mundo físico, por meio de
boas obras. O sacrifício aos homens é o formal reconhecimento deste dever, e,
alimentando os que têm fome, dando hospitalidade aos que sofrem, embora seja apenas
um homem, no ponto de vista ideal e em razão da intenção, é à humanidade inteira que se
leva o auxílio. Quando oferecerdes a hospitalidade ao homem que passa diante de vossa
porta, abris a porta do vosso coração à humanidade considerada como uma grande
unidade; ajudando e abrigando um indivíduo, e à humanidade, em geral, que se oferece
ajuda e abrigo. O último sacrifício diário é o prescrito em favor dos animais. O chefe de
família deve colocar alimentos no solo para que deles se aproveitem os animais que
passam. É este o dever para com o mundo inferior. O sacrifício aos animais tem por fim
gravar na mente humana a ideia de que o homem deve ser o auxílio, guia e valimento das
criaturas que estão abaixo dele na escala da evolução. Quando somos cruéis, ásperos e
violentos para os animais, pecamos contra o supremo Ser que neles mora e de quem eles
são manifestações inferiores. Assim, para que o homem aprenda a discernir o que há de
bondade no bruto e compreender que Shri Krishna também reside nos animais, embora sob
forma mais velada que no homem, se lhe ordenou que sacrificasse aos animais, em honra
ao deus que neles mora. O único meio que temos de fazermos sacrifícios pelos animais
consiste em tratá-los com carinho, doçura e compaixão e nunca os repelir com brutalidade
e crueldade como geralmente vemos em torno de nós.
É assim que o homem aprende, graças aos ritos e às cerimônias externas, as internas
verdades espirituais que devem saturar sua vida. E depois de ter cumprido os cinco
sacrifícios, entregava-se a suas ocupações diárias, que podem também considerar-se como
sacrifício quando têm por objetivo o cumprimento dos deveres ordinários. A vida diária,
que começou com estes cinco sacrifícios, escoou-se santificada na vida exterior dos
homens. Mas, a negligência na prática dos cinco sacrifícios trouxe como consequência os
descuidos dos deveres da vida quotidiana, não porque estes sacrifícios sejam, por si
mesmos, indispensáveis - pois chega um momento em que o homem se eleva acima deles -
mas porque só podem ser transcendidos quando a vida se torna um contínuo sacrifício.
Enquanto não chega este momento, o reconhecimento formal destes deveres é necessário
para tornar a vida mais elevada. Infelizmente, na Índia de hoje, liga-se pouca importância a
estes sacrifícios, não porque os homens se elevassem acima deles, nem que suas vidas
sejam assaz puras e espirituais, mas porque os homens se materializaram e caíram na
indiferença muito abaixo do ideal concebido pelo Manu. Eles recusam hoje reconhecer
quanto devem às Forças que estão acima deles e, por isso, não cumprem seus deveres para
com os homens que os rodeiam.
Examinemos agora os deveres do indivíduo na vida social. Seja quem for, ele nasceu
em determinada família de tal município e de tal nação. Seu nascimento marca seus
deveres para com a família, o município e a nação. As circunstâncias do nascimento limitam
os deveres do homem, pois a Boa Lei o coloca segundo o seu carma no lugar propício ao
seu desenvolvimento, na escola onde vai aprender. Assim se diz que, cada homem, se lhe
incumbe cumprir seu próprio dever ou dharma. Vale mais cumprir nosso peculiar dever,
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embora imperfeitamente, que executar o dharma superior de outrem. Por isso o lugar de
seu nascimento é fundamental para cada um, porque ali se aprende o que melhor convém
saber. Cumpra-se o nosso dever sem nos preocuparmos com as consequências, e só então
se aprende a lição da vida dando os primeiros passos no caminho da Ioga. No início, cada
ação será naturalmente executada tendo em vista os seus resultados, o desejo de
recompensa. Isto nos explica porque se ensina ao homem agir com a esperança de receber
no céu (svarga) o prêmio de suas boas obras. Ao homem-criança ensina-lhe o estímulo do
prêmio, apresentando-lhe o céu como recompensa do cumprimento de seus deveres
morais e das cerimônias religiosas. Assim é ele induzido a portar-se com elevação moral,
como se diz à criança que aprenda as lições porque terá um prêmio como recompensa.
Mas, se a ação a cumprir tem por fim a Ioga, e não a obtenção de recompensas, é
necessário que ela seja executada unicamente porque constitui um dever.
Estudemos agora as quatro castas da Índia e vejamos qual foi o propósito de sua
instituição.
O Brâmane tinha por dever ensinar, com o fim de formar uma estirpe de sábios
instrutores, capazes de dirigir a evolução da raça. Não devia ensinar por dinheiro, nem para
subir ao poder, nem por proveito pessoal, senão pelo cumprimento de seu dever em
transmitir aos outros seus conhecimentos. Em toda nação bem organizada devia haver
sempre instrutores capazes de guiar, dirigir e aconselhar sem móveis egoístas, sem jamais
nada adquirirem pessoalmente, embora o que juntassem fosse para todos. Desta maneira
cumpririam seu dever e obteriam a libertação da alma. A casta dos guerreiros, os
kshattriyas, tinha por objeto a educação e adestramento da atividade dos homens nascidos
para o governo e defesa do país. Mas não se os educava nem nasciam nesta casta para
abusarem do poder, e sim para administrarem justiça de modo que o pobre estivesse
amparado e o rico impedido de tiranizá-lo, tudo para que a imparcial justiça prevalecesse
neste agitado mundo dos homens. Porque neste mundo de lutas, rancores e contendas,
onde os homens somente procuram sua satisfação pessoal em vez do bem coletivo,
devemos ensinar-lhes o império da justiça, e que se o forte abusa de sua força, deve o
governante justo reprimir o abuso, nunca deixando que o oprimido seja vítima do
poderoso.
Por isso, o dever do Rei era administrar justiça entre os homens, de modo que todos os
vassalos olhassem o trono real como a fonte donde fluía a divina justiça. Este é o ideal da
monarquia divina, do rei divino. Rama e Krishna vieram ensinar este ideal; mas tão grande
foi a torpeza humana que ninguém aprendeu a lição, porque os kshattriyas empregaram
seu poder para fins egoístas, oprimindo os demais, apoderando-se das riquezas e do
trabalho alheio em proveito próprio. Perdeu o kshattriya o ideal do governante divino que
encarnava a justiça no belicoso mundo dos homens. Contudo a sua razão de ser era fazer
deste ideal o objeto de sua vida; para isso seu dever era governar o país em proveito dos
seus habitantes e não pela satisfação pessoal de si mesmo. O mesmo cabe dizer das
funções do kshattriya como soldado. A nação devia prosperar em paz. As pessoas simples e
inermes deviam gozar em segurança de suas propriedades, para viverem contentes e
ditosas. Os comerciantes se dedicariam em paz aos seus negócios. Todas as profissões
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sociais poderiam se exercer sem perigo de agressões. Assim ao kshattriya competia
guerrear em defesa da população inerme, sacrificando generosamente sua vida para que os
homens pudessem viver em paz. O seu fim não era lutar para ganhar glórias na vitória, nem
com intenção de conquistas e domínio, mas cercar como uma muralha de ferro o território
nacional, de modo que todo ataque viesse se quebrar contra seus corpos, e assim
pudessem viver as pessoas em paz, segurança e felicidade no recristo nacional, fortificado
com seus peitos. Para seguir o caminho da Ioga dentro do dever do kshattriya, este devia
considerar-se como agente do divino Autor, e por isto disse Shri Krishna que Ele havia feito
tudo isto e que Arjuna não fazia senão reproduzir esta ação no mundo dos homens. E
quando se encontra o divino Autor em todas as ações do homem, cumpre a este executá-
las como um dever, sem desejo de recompensa, e assim estas ações não entravam a alma.
Análogas considerações cabe aplicar ao comerciante ou vaishya, encarregado de
acumular riquezas, não em seu proveito, mas para sustento da nação. Devia ser rico a fim
de que todos os gêneros de atividade, que necessitassem riquezas, pudessem encontrar
nele uma reserva a seu alcance e se desenvolvessem em todas as direções, de modo que os
pobres tivessem casas, os viajantes albergues e os enfermos hospitais (tanto para homens
como animais); para os devotos, templos, e assim servisse a riqueza para manter todas as
funções da vida nacional. Portanto seu Dharma exigia a acumulação destas riquezas no
interesse comum e não pela satisfação pessoal. Deste modo podia, ele também, praticar a
Ioga e, pela Carma Ioga preparar-se para uma vida superior.
Igualmente ao shudra cumpria exercer suas atividades na coletividade social. Era ele o
braço manual da nação, trazendo-lhe tudo que ela tinha necessidade e exercendo as
atividades domésticas. Sua Ioga era de cumprir alegremente seus deveres, por seus deveres
e não pelo fruto que deles proviesse.
Vemos, pois, que, a princípio, os homens não obram senão por interesse pessoal e
deste modo adquirem experiência. Em seguida aprendem a agir por dever e com ele iniciam
a prática da Ioga na vida diária. Finalmente, sua ação é um jubiloso sacrifício sem pedir
nada em recompensa, ao contrário, entregando quanto possuem para o cumprimento da
obra divina. E assim realizam a união com Deus.
A significação de purificação fica compreensível quando observamos as três etapas de
egoísmo, dever e sacrifício. São as etapas do caminho de purificação. Mas, como deve ser
esta purificação para que conduza aos graus superiores, a entrada do discipulado a cuja
preparação toda a atividade concorre? O homem todo deve purificar-se em corpo e alma.
Não me deterei a discorrer sobre a purificação do corpo; basta recordar o que, segundo os
ensinamentos do Bhagavad-Gita, se ganha com a moderação e a temperança, e nunca pela
maceração ascética que, como disse Shri Krishna, tortura ao corpo e ao morador do corpo.
A Ioga realiza-se pela suave subjugação e calma disciplina da natureza inferior, adotando
puro regímen dietético, regulando as atividades físicas e disciplinando o corpo de modo que
se submeta ao governo da vontade do Ego. Eis por que se prescreveu a vida conjugal,
porque os homens, exceto poucos, não estavam em condições de seguir o áspero caminho
do celibato. O estado de Brahmacharya (celibato bramático ) não era para todos. Graças à
vida de família o homem aprendia a disciplinar suas paixões sexuais, não aniquilando-as
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violentamente por um só esforço (coisa impossível à generalidade dos homens, e se acaso
alguém intente com Imprudente energia, conduz a uma reação que precipita o imprudente
nos piores excessos de uma vida desregrada), mas por gradual moderação, praticando as
abnegadas virtudes domésticas de modo que a natureza inferior acostume-se, pela
temperança, a obedecer à superior. Então intervém a ação de Carma Ioga. O chefe de
família aprendeu gradualmente a dominar sua personalidade pela prática da moderação
submetendo a natureza inferior à superior e disciplinando-a dia a dia ate que se sujeite à
vontade. Deste modo purifica o corpo e se predispõe a dar os altos passos da Ioga. Em
seguida deve purificar por completo as paixões da natureza inferior.
Tomemos três exemplos que podemos empregar na conduta a vida. Consideremos a
cólera, e examinemos como a Carma Ioga a transforma em virtude. A cólera é uma energia
que surge do homem e produz seu efeito exterior. No homem inculto e atrasado é uma
paixão que se manifesta em várias formas brutais que, sem reparar nos meios, se atira
contra tudo que se lhe opõe a satisfação do seu desejo. Nesta forma é uma indisciplinada e
destruidora energia natural e quem deseja praticar Carma Ioga deve certamente domina-la.
Como vencer a paixão da cólera? Primeiramente deve se eliminar o elemento pessoal.
Quando alguém nos injuria, ou quando nos causa um prejuízo pessoal, não mostremos
ressentimento do agravo. Tal é o dever. Se recebeis um dano ou sois vítima de uma
injustiça, que fazer? Podeis soltar a rédea à ira e atacar o agressor e feri-lo. À injustça
recebida respondeis com igual injúria. Assim a cólera mostra seus destruidores efeitos.
Como purificar esta paixão? A resposta nos dão os Instrutores que ensinaram Carma Ioga,
isto é, o modo pelo qual a ação do mundo dos homens possa servir à finalidade do Ego.
Recordai-vos que no Decálogo do Manu figura, como um dos dez mandamentos, o perdão
das injúrias. Também o Buda disse: "O ódio não cessa pelo ódio, senão pelo amor".
Igualmente o Instrutor cristão S. Paulo expressou-se em termos análogos: "Não te deixes
vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem" (Rom. 12 e 21). Eis Carma Ioga. Perdoai as
ofensas. Respondei com amor ao ódio. Vencei o mal com o bem. Assim eliminareis o
elemento pessoal e já não sentireis cólera quando vos fizerem dano. Eliminando-se o
elemento pessoal, a ira não mais revestirá esta forma inferior. Mas um gênero de cólera, de
natureza mais elevada, pode subsistir ainda. Quando se vê cometer uma injustiça com o
fraco, experimenta-se cólera contra o autor. Quando se vê maltratar um animal, nasce a
indignação contra o agressor. A opressão contra o pobre desperta ira contra o opressor. É
uma cólera impessoal, mais nobre que a modalidade anterior e necessária à evolução
humana, porque muito mais nobre é nos revoltarmos contra o agressor do desvalido do
que presenciar a agressão com estólida indiferença, sem a mais leve simpatia com o
sofrimento alheio. A cólera impessoal é mais nobre que a indiferença; todavia é imperfeita
e devemos transformá-la na qualidade superior de fazer justiça tanto ao forte como ao
débil, de compaixão idêntica ao agredido como ao agressor, porque se sabe que sobre o
agressor recairá maior dano. Devemos nos compadecer por ambos e o mesmo sentimento
de amor e justiça envolverá os dois. Quem assim purifica a paixão da cólera, abomina o
agravo porque é seu dever abominá-lo; mas, ao mesmo tempo mostra-se benigno com o
agressor porque necessita lição e auxílio. Deste modo a ira dirigida contra uma injúria
pessoal transforma-se em justiça que evita todo o agravo e igualmente protege o forte e o
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fraco. Esta é a purificação executada no mundo da atividade por meio do esforço diário que
vai depurando a natureza inferior, a fim de alcançar a união com o Ego superior.
Consideremos agora o amor. Pode revestir a baixa e brutal forma da paixão animal
entre os sexos; uma paixão de índole má que não leva em conta o caráter da pessoa por
quem se sente este amor, mas apenas encara a beleza física, a atração carnal e o prazer
material. Esta é a mais inferior modalidade do amor. Seu móvel é o egoísmo. Mas, quem
segue Carma Ioga o transforma no amor que se sacrifica pelo ser amado, que cumpre os
deveres de família, cuidando da esposa e dos filhos, por eles tudo fazendo, sacrificando
suas inclinações pessoais, prazeres e gostos. Trabalha para aumentar as comodidades da
família e satisfazer mais folgadamente as necessidades do lar. Nele o amor não se limita ao
gozo material, ao prazer pessoal, mas na proteção e auxílio aos seres amados, desviando os
males que os ameaçam, a fim de que vivam com segurança. Mediante Carma Ioga o
homem purifica seu amor eliminando seus elementos egoístas, e o que era paixão animal
"pelo outro sexo, transmuda-se em amor conjugal, amor do irmão maior, do parente que
cumpre seu dever trabalhando em proveito dos seres amados para que vivam mais
contentes e ditosos.
É então que começa a última fase, em que o amor, depurado do egoísmo, se derrama
por todos. Não mais atua no reduzido círculo da família, mas em todo o semelhante vê um
necessitado de auxílio, em todo faminto um irmão a alimentar e, em toda mulher
desamparada, uma irmã a quem proteger. O homem assim purificado converte-se em pai,
irmão e auxiliador do desvalido, não porque o ame pessoalmente, mas porque o ama
idealmente, favorecendo-o em virtude de seu desinteressado amor, mesmo que o
favorecido não o corresponda. O amor supremo, o amor que flui de Carma Ioga nada pede
em troca do que dá; não aspira gratidão nem reconhecimento; obra em segredo e deseja
ficar ignorado. É mesmo mais feliz quando não atrai a atenção, nem recebe recompensa.
Enfim, a purificação definitiva do amor é a que o transmuda no divino, quando apenas dá,
porque sua natureza é difundir a felicidade, nada pede para si e só procura a satisfação
alheia.
Falemos agora da cobiça e da avidez. Os homens desejam o lucro para desfrutar os
prazeres, adquirir posição e poderio. Em seguida purificam esta baixa modalidade de cobiça
pela avidez do ganho para melhorar a condição da família e pô-la a coberto da miséria e do
sofrimento. Já não é o homem, que assim procede, tão egoísta como antes. Mais tarde
deseja poderes para empregá-lo para o bem, a fim de alcançar uma esfera de ação mais
ampla que a da família, campo mais vasto que o lar, até que aprenda a dar sem desejo de
recompensa. Deseja conhecimentos e poder, não para os conservar e gozar só, mas para
difundi-los. Assim o egoísmo é eliminado.
Nunca procurastes pensar por que se representa a Mahadeva ou Siva sobre chamas?
Singular morada para tão poderosa Entidade, aquele que é, por excelência, a pureza. Mas a
representação simboliza a Siva, isto é, a vida humana consumindo tudo que é inferior pelo
fogo do sacrifício. Se assim não fosse as coisas terrestres se corromperiam até a putrefação
e fariam um foco de infecção que se espalharia por toda a parte. Mas na parada ardente
em que Ele mora, cujo fogo o atravessa de lado a lado, tudo que é egoísta e pessoal, tudo
quanto pertence à natureza inferior é consumido. Destas regeneradoras chamas surge
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triunfante o iogue, completamente depurado de todo o elemento pessoal, porque o fogo
do Senhor queimou as baixas paixões e não resta corrupção alguma capaz de difundir o
contágio. Por isto Siva é chamado o Destruidor. É o destruidor do inferior a fim de tornar
possível a regeneração. Do fogo de Siva emanou originariamente a alma e de suas chamas
brota o purificado Ego.
É assim que estes primeiros passos guiam o homem ao discipulado e ao encontro do
Mestre, no recinto interno do Templo em cujo ádito sagrado reside o Guru (Instrutor) da
humanidade. São estes os primeiros passos que se devem dar e o caminho que se há de
percorrer. Embora se esteja no mundo, ligado por mundanos laços, com atividades sociais e
políticas, no fundo do nosso coração palpita o anelo pela verdadeira Ioga e pelo
conhecimento de permanente e não transitória vida. Se cada um de vós auscultar as
profundezas de vosso coração, aí descobrireis o ardente desejo de cada vez mais se instruir,
de mais nobremente viver, mais do que o fazeis hoje. Podeis amar as coisas do mundo e vós
as amais realmente pela vossa natureza inferior, mas no coração de quem não renegou de
todo sua religião e seu país há sempre uma aspiração para um ideal mais elevado que o
deste mundo, um desejo por mais fraco que seja, qual as tradições do passado, de ver a
Índia tornar-se mais nobre do que hoje é, e seus habitantes mais dignos do seu glorioso
passado. Eis aqui, pois, o caminho que deveis seguir. Não é possível a grandeza de uma
nação se não forem magnânimos seus filhos. Não será poderoso um povo se os indivíduos
forem mesquinhos, sórdidos e egoístas. Podeis partir do ponto em que vos achais e com a
conduta que observais, seguindo sempre a direção que acabo de vos assinalar, e assim
dareis os primeiros passos que vos aproximará do Caminho.
Permiti que eu termine recordando-vos onde vai terminar o Caminho, embora em
sucessivas conferências ainda mais ampliarei o tema. O término do Caminho é a união por
meio da ação. Há ainda outros passos a dar; mas, que significa "união"? Recordemos como
Shri Krishna assinala as características do homem que já transcendeu as gunas e é capaz de
beber o néctar da imortalidade, de conhecer o Supremo e de unir-se com Ele. Um homem
assim não conhece outro agente senão as gunas, mas sabe que ele fica além, pois conhece
Aquele que está além delas. Percebe a atuação das gunas, e não as deseja quando ausentes
nem as repele quando presentes. Conserva-se equânime entre amigos e inimigos, nos
louvores e no opróbrio. Confiante olha todas as coisas de igual maneira o barro da terra e a
barra de ouro, o amigo e o inimigo. Para todos é o mesmo, porque transcendeu as gunas e
já não o alucina sua ação. Tal é a meta a que aspiramos. Estes são os primeiros passos para
o Caminho que passa pelas gunas. Enquanto não forem dados estes primeiros passos, não é
possível seguir adiante; mas, uma vez dados, descobre-se o começo do verdadeiro
Caminho.
16
Capítulo II
28
Capítulo III
A Vida do Discípulo
O caminho probatório. As quatro iniciações.
Temos tratado até agora da vida que os homens levam habitualmente no mundo,
mostrando como é possível ir preparando-se gradualmente para etapas superiores de
evolução e como adestrar-se para mais rápido progresso e adiantamento. Porém maior
dificuldade opõe a tarefa de nos colocarmos acima da vida ordinária do homem, não
quanto ao seu aspecto externo, mas no que toca à realidade da vida interna. As etapas do
progresso humano que agora vamos considerar são distintas e definidas, pois conduzem os
homens da vida do mundo a regiões superiores, da humanidade ordinária à humanidade
divina.
É precisamente porque seu estudo nos faz transcender os limites dos conhecimentos
habitualmente adquiridos que a tarefa é, como vos disse, mais difícil, tanto para quem fala,
como para quem escuta, porque, ao tratar de tão elevadas matérias, é preciso fazer intervir
faculdades superiores, e por consequência, será muito mais fácil fazer compreender estes
elevados ensinamentos a quem até certo ponto, pelo menos, haja purificado sua vida e
formado seu caráter, tal como nos referimos nas conferências anteriores.
Ficamos ontem no ponto em que o homem melhora sua conduta e domina seu
pensamento, a fim de se preparar para o papel de discípulo e desse modo atrair a atenção
dum grande Mestre, dum Guru. Só então fica em condições de atravessar as primeiras fases
da vida do discípulo. São estas fases preliminares que vamos abordar hoje. Embora seja um
tema muito vasto, tentemos passar em revista a vida inteira do discípulo, do chela. As
primeiras etapas constituem o "caminho probatório”, isto é, o estágio em prova, para
distinguir do estado de discípulo aceito. Embora no caminho probatório se reconheçam
certas etapas assinaladas pela aquisição de qualidade definidas, estas não são tão
acentuadas e distintas como as do Caminho propriamente dito, ou seja do chela
reconhecido e aceito, onde o Mestre e discípulo se reconhecem mutuamente. As quatro
etapas deste Caminho superior estão traçadas com admirável precisão, recebendo nomes
adequados e seus respectivos limites são as quatro iniciações, enquanto que as etapas do
caminho de prova, embora distintamente traçadas, não os separam análogos limites, pois
melhor se podem considerar como paralelas do que sucessivas. Ao que entra no caminho
de prova não se exige que cumpra perfeitamente tudo quanto começa a praticar, mas
apenas que se esforce em atingir essa perfeição. Basta que seja fervoroso, que mostre
perseverança em seus esforços, que não mude de propósito nem perca de vista sua
finalidade. Muitas são as coisas que lhe são desculpadas em razão da fragilidade e da
fraqueza humanas, mesmo em consideração da falta de conhecimento que dificulta todo o
progresso. As provas por que passa e as dificuldades a que é submetido, são provas e
dificuldades que se encontram na vida ordinária, a qual nos oferece grande diversidade de
29
atribuições, mas que.não são ainda da mesma natureza das que vamos encontrar no
Caminho Superior.
Um Brâmane, membro de Sociedade Teosófica, Mohini Mohum Chattergi, de Calcutá,
mas residente na Inglaterra, extraiu dos ensinamentos do Hinduísmo as principais
características das etapas do caminho probatório que o aspirante deve percorrer com o
auxílio do Mestre, embora sem o conhecer pelo menos em consciência de vigília. O chela
então imagina que vence só o caminho, julgando contar com suas próprias forças, fiando-se
em suas próprias energias. Não é necessário dizer que isto é uma ilusão devida à sua
cegueira e sua ignorância, pois seu Mestre não tira os olhos de cima dele, embora não o
perceba em sua consciência física, mas recebendo, nos planos superiores, auxílio contínuo
que se manifesta em sua conduta sem que ele sinta claramente.
Vejamos agora as qualidades preliminares que se necessitam no caminho do noviciado,
qualidades que devem tomar uma forma precisa e intensa nesta fase.
Viveka. Equivale ao discernimento, e é o resultado das experiências passadas que
ensinam ao homem a distinguir entre o real e o ilusório, entre o eterno e o transitório.
Enquanto não se adquire esta qualidade fica-se ligado à terra pela ignorância, e as coisas
deste mundo exercerão sobre nós suas seduções e encantos. Os olhos devem-se abrir para
vencer o véu de Maia com percepção aguda para dar às coisas terrenas seu verdadeiro
valor. A segunda qualidade que se deriva de viveka, é: Vairagya. Já fiz observar que o
aspirante ao discipulado deve começar por prescindir do fruto de suas ações que devem ser
cumpridas como um dever, sem aspirar a nenhum lucro pessoal. É de supor que o homem
já deve ter-se exercitado nesta qualidade em vidas anteriores de modo que seja capaz
agora de satisfazer as exigências que dele se esperam antes de ser possível a iniciação, e
que se mostre de todo indiferente às coisas terrenas e mundanas. Vairagya é a segunda
qualidade do caminho probatório, derivada de viveka ou discernimento entre o real e o
ilusório, entre o permanente e o transitório, porque quando o aspirante se convence
sinceramente da distinção entre o que é eterno, real e permanente, as coisas deste mundo
perdem para ele toda a sedução, ficando indiferente a elas. Quando se vê o real já não mais
satisfaz o ilusório. Quando, mesmo por um instante, se contempla o permanente, o
transitório torna-se indigno dos nossos esforços. No caminho de prova tudo quanto de
mundano nos rodeia perde seu encanto, e o homem já não mais se esforça em possuí-lo,
nem trabalha com a preocupação do fruto do seu labor. As coisas por si mesmas vão
perdendo todo o poder de sedução; as raízes do desejo gradualmente se atrofiam e como
diz o Bhagavad-Gita, os objetos terrenos se afastam do austero morador do corpo, não
porque se abstenha deles, mas porque eles perdem a propriedade de satisfazê-lo. Os
objetos de sensação afastam-se dele em consequência da disciplina a que se submeteu.
Vendo, de ora em diante, o caráter transitório dos objetos de desejo, é natural que a
indiferença com que olha para estes produza igualmente a indiferença pelo fruto das ações,
porque em rigor este fruto é também um objeto apetecível; e se o homem está convencido
de sua ilusão e fugitividade dele se absterá pelo perfeito reconhecimento do real e
permanente.
Shatsampatti. É a terceira qualidade a adquirir no caminho de prova e compõe-se de
um grupo de seis atributos mentais que fazem parte da vida do candidato-cheIa. Largo
30
tempo lutou para dominar seus pensamentos pelo modo que sabemos. Pôr em prática os
métodos já tratados para dominar-se, adquirir o hábito de meditação e formar o seu
caráter. Adquiridas estas qualidades, virá então manifestar-se no homem real (pois estamos
tratando do homem real e não de sua aparência) a qualidade de Shama ou domínio da
mente, esta disciplina exata do pensamento, esta perfeita compreensão dos seus efeitos e
das relações que o pensamento estabelece entre o homem e o mundo, sentindo quando
ele afeta para o bem ou para o mal aqueles que o cercam. Convicto da certeza que possui o
poder de ajudar ou perturbar a existência de outrem, de atrasar ou favorecer a evolução da
raça, converte-se o chela em obreiro consciente do progresso humano e de todos os seres
que evolucionam no mundo a que pertence. A disciplina do pensamento e a firme atitude
da mente o predispõe ao discipulado, durante o qual todos os seus pensamentos deverão
servir a causa do Mestre, e a sua mente assim perfeitamente educada e exercitada vai
deslizando suavemente e sem esforço pelos sulcos traçados pela vontade.
Desta disciplina dos pensamentos, agora tão solidamente estabelecida decorre
inevitavelmente 'Dama', o domínio dos sentidos e do corpo, ou melhor: a disciplina da
conduta. já não observastes que quando se trata de questões e coisas, do ponto de vista
oculto, elas se apresentam invertidas em relação às mesmas coisas vistas da terra? Os
homens do mundo ligam maior importância à conduta do que ao pensamento. Os
ocultistas, ao contrário, consideram o pensamento acima da conduta. Se o pensamento é
reto, forçosamente o será também a conduta. Se o pensamento estiver disciplinado, não
deixará de estar igualmente a conduta, porque a ação não é nem mais nem menos que a
realização do pensamento concreto no mundo das formas, mas forma que depende da
conduta interna da energia modeladora que concebe a ação. O mundo arrúpico é o mundo
das causas e o mundo rúpico o dos efeitos. Por isso, se disciplinarmos o pensamento,
disciplinada ficará a conduta, porque esta é a natural e inevitável expressão do
pensamento.
O terceiro atributo mental que caracteriza esta atitude do homem interno é Uparaii,
que significa a mais ampla, a mais nobre e completa tolerância por tudo quanto nos rodeia:
uma sublime paciência capaz de esperar e de compreender e que, para isso, não reclama de
ninguém senão o que se pode dar. É também esta qualidade uma preparação para outra
importante etapa do caminho do discipulado.
A tolerância é indulgente com todas as pessoas e com todas as coisas, porque não
considera os homens sob seu aspecto exterior, mas pelo seu interior, e vê assim suas
aspirações, desejos e motivos e não apenas os artifícios que a dissimulação aparenta no
mundo exterior. O homem aprende a exercer a tolerância absoluta com todas as formas de
religião, com os diferentes costumes e tradições dos povos, pois sabe que tudo Isto são
fases passageiras que o homem transcenderá um dia.
Tendo suficiente discernimento não vai exigir da humanidade infantil a paciência ampla
e completa própria da humanidade em seu período viril e não desta que ainda está nas
primeiras fases de sua evolução.
Esta atitude mental de tolerância deve o homem cultivar constantemente, à medida
que se aproxima da iniciação, e deve adquiri-la por um conhecimento profundo da verdade
capaz de reconhecer a verdade mesmo encoberta sob os véus de enganadoras aparências. E
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não observastes já que, durante o percurso do caminho do noviciado, a grande mudança
que se opera no homem outra coisa não é senão a aurora do sentimento da realidade?
Já não o enganam as aparências como a princípio o enganavam. A medida que se
desenvolve, percebe melhor a realidade e se desembaraça pouco a pouco da ilusão.
Liberta-se de toda a sujeição às aparências e reconhece a verdade qualquer que seja a
forma ilusória que ela tome.
O atributo imediato ou qualidade mental é:
Titiksha, o poder de suportar com serenidade tudo que seu carma pode lhe fazer sofrer,
renunciando aos objetos terrestres quaisquer que sejam. Esta qualidade significa a ausência
total de ressentimento. Segundo já disse é necessário esforçar-se na aquisição desta
qualidade, desprendendo-se pouco a pouco da propensão de sentir-se ofendido,
acostumando-se à compaixão e ao perdão.
O resultado deste exercício mental é a firme e definida atitude de renúncia impassível
ou titiksha. O homem interno liberta-se assim de todo o ressentimento para pessoas e
coisas, para as circunstâncias e quanto o rodeia na vida, porque descobriu a verdade e
conhece a Lei, sabendo que, quaisquer que sejam as circunstâncias em que se encontre,
são consequências da boa Lei. Compreende que tudo quanto os homens podem fazer-lhe, o
fazem como agentes inconscientes da Lei. Sabe que o que lhe acontece nesta vida é efeito
de causas por ele despertadas no passado, e assim abandona toda a atitude de
ressentimento. Agindo sempre com justiça, jamais se encoleriza por coisa alguma, pois
nada pode afetá-lo se não o mereceu, nem pode interpor-se no seu caminho se ele mesmo
não o colocou em suas vidas anteriores.
Vemos assim que nem sofrimentos nem alegrias o podem desviar do seu caminho, nem
coisa alguma que aconteça será capaz de o desviar de sua meta.
Vê o caminho e o segue, olha o alvo, e para ele corre. Não caminha mais vagueando
indeterminado, mas segue firme com a perseverança de quem escolheu o caminho. O
prazer não o faria desviar, como a dor não o obrigaria abandonar o caminho. Jamais sente
desânimo, nem tristeza, nem o tédio, nem apelo algum o abalaria, exceto o dos Mestres em
cujos Pés deseja prostrar-se. Ser incapaz de desviar-se, ter a força de ânimo para tudo
suportar, eis as qualidades do verdadeiro chela. Já vos falei das provas que se encontram
no caminho e é bom que eu vos faça compreender a necessidade destas dificuldades. O
homem que se encaminhou pelo noviciado propõe-se de executar, em número limitado de
vidas, o que o homem do mundo gastará centenas de existências a cumprir. Ele faz como o
homem que, desejando atingir o cimo da montanha, recusa seguir a estrada que
lentamente serpenteia em espirais em torno da montanha e diz "Eu vou subir diretamente
até o cimo. Não quero perder meu tempo no caminho batido e sinuoso que é tão longo,
embora suave e cômodo, trilhado por milhões de pés. Subirei pelo atalho e apesar de todas
as dificuldades escalarei a montanha. Por maiores que sejam os obstáculos chegarei ao
cume. Havendo precipícios, rochedos, hei de vencê-los, pois estou resolvido a escalar o
cume".
Que resultará disto? Encontrará milhares de dificuldades no caminho, mas o que ganha
em tempo é compensado pelo esforço necessário para vencê-las. Quem entra no caminho
de chela faz o mesmo que quem escolhe o atalho para subir a montanha, acumulando
32
sobre si todo o seu carma passado para esgotá-lo antes de vencer a iniciação.
Os Senhores do Carma - os dispensadores da Lei Cármica e a quem muitas vezes
chamamos os Arquivistas ou Registradores do Carma, Inteligências poderosas cuja grandeza
excede a nossa compreensão, entidades que conservam as crônicas akhsicas onde se
anotam os pensamentos e ações dos homens - estes Seres divinos abrem para cada vida
humana uma conta-corrente que se deve saldar antes de transpor o portal da iniciação. E
quando se entra no caminho de noviciado ou de prova e se põem os pés nele
voluntariamente, este fato só constitui um apelo aos Poderosos Senhores do Carma para
que possam extrair a conta que deve ser paga. Nestas condições, é de admirar que o
caminho se encontre cheio de dificuldades? A conta cármica que deveria se estender
durante centenas de existências deve ser saldada em poucas, talvez em uma só resultante
disto naturalmente a grande dificuldade no percurso do caminho. O homem se encontra no
meio de pesares de família, cumulado de dificuldades nos negócios, presa de perturbações
físicas e intelectuais.
Como dissemos, necessita o homem muita firmeza para prosseguir no caminho
probatório sem desalento e sem retroceder. É como se tudo se levantasse contra ele, e
sente-se como abandonado do seu Mestre. Por que, quando se esforça no melhor, há de
cair sobre ele o pior? Por que, quando sua conduta se excede em bondade, então lhe
assaltam tantos sofrimentos e atribulações? Parece injusto, duro e cruel que, quando vive
mais nobremente, veja-se mais duramente tratado pelo destino que quando seguia pior
conduta. Mas deve vencer a provação e não consentir que o sentimento de injustiça
penetre em sua vida interna. Deve dizer: "Eu assim o quis; desafiei o carma, devo, pois, me
admirar que seja convidado a pagar?" Ao menos sente alívio ao recordar-se que, uma vez
saldada a conta, esta não voltará a perturbá-lo mais. Cada dívida cármica que satisfaz é
riscada para sempre do grande livro da vida.
Desta, pelo menos, sente-se desembaraçado. Eis por que permanece alegre no meio
dos pesares, cheio de esperança nos sofrimento, porque o homem interno bendiz a Lei e
sente-se feliz pela resposta que recebe ao seu pedido. Se não houvera resposta, significaria
que sua voz não chegou aos ouvidos dos Mestres, que sua prece caiu por terra; mas as
atribulações são a resposta do seu pedido.
É no entrechocar destas lutas, dificuldades e esforços que se adquire o quinto atributo
mental, a fé, a confiança no seu Mestre e em si mesmo:
Shraddhâ, a fé nos ensinamentos do Mestre. É fácil compreender como a confiança ou a
fé resulta de semelhante luta, porque, como a flor abre-se sob a influência do sol e das
chuvas, assim surge a confiança. O discípulo adquiriu confiança em seu Guru, porque Este o
fez transpor o caminho espinhoso, levando-o para o outro lado, lá onde as portas da
iniciação abrem-se diante dele. Também conquistou a confiança em si mesmo, não no ego
inferior do qual domou as fraquezas, mas no seu Ser divino cuja fortaleza reconhece. Só
então percebe que todo o homem é divino e que, no decurso das vidas que o esperam
chegará a ser o que hoje é seu Mestre, em cujo poder, para ensiná-lo e guiá-lo, em cuja
sabedoria para conduzi-lo, tem plena confiança.
Tem também em si uma inabalável confiança, embora seja humilde, confiança que lhe
dá a convicção real de possuir o poder de se aperfeiçoar, porque sente dentro de si a
33
essência divina; confiança que lhe dá a certeza que é Brama, e é quanto basta para triunfar
de provações e obstáculos.
O sexto atributo mental é Samâdhâna, que significa a ponderação e a calma, a paz da
mente, o equilíbrio e a firmeza que são resultantes das qualidades precedentemente
adquiridas.
Depois da conquista desta última qualidade, o candidato deixa o noviciado e se
encontra no portal da iniciação e a quarta qualidade aparece:
Mumukshâ: o desejo de emancipação, a ânsia de libertação que, coroando os
prolongados esforços do candidato, o converte em um Adhikari, isto é, apto para a
iniciação. Foi posto em prova e nada se achou contra ele; seu discernimento é agudo; sua
indiferença pelas coisas terrenas não é um desgosto momentâneo, ocasionado por
desenganos passageiros; seu caráter mental e moral subiu de elevação. Sente-se apto e
disposto para a iniciação.
Já não se pede mais nada.
Sente-se digno para ver seu Mestre face a face, e entrar na vida que tanto tempo
desejou.
Antes de abrir as portas da iniciação convém advertir que cada qualidade do caminho
de provação é duplamente mental e moral, e serve de preparação para adquirir as do
Caminho Superior.
São qualidades morais e mentais que não se devem confundir com os siddhis ou
poderes resultantes de um anormal desenvolvimento físico. De maneira alguma são
exigidos tais poderes a quem percorre o caminho.
É possível que, às vezes, alguém tenha adquirido algum poder psíquico ou siddhi e, no
entanto, não esteja em condições de ser iniciado. Deve possuir as qualidades morais que se
exigem com inquebrantável rigidez, porque assim o requer a experiência dos Mestres.
Os grandes Gurus, com a profunda experiência da humanidade, formaram, pouco a
pouco, esta humanidade através de milhares de anos. Sabem muito bem que a aptidão
para o verdadeiro chela consiste no valor da mente e no caráter moral e nunca no
desenvolvimento da natureza psíquica, que chegará com seu devido tempo. Mas, para ser
discípulo aceito é preciso estar mental e moralmente disposto a afrontar o semblante do
Mestre, o qual exige as qualidades aludidas que o discípulo há de possuir antes de receber
o segundo nascimento que só o Mestre pode outorgar. Notai também que estas qualidades
implicam o conhecimento e a devoção, a fim de que, pelo conhecimento, possa o homem
contemplar o caminho e pela devoção, amá-lo. Assim diz o Upanishad que não basta o
conhecimento sem devoção, nem devoção sem conhecimento. Estas qualidades,
combinadas, são necessárias porque são as asas com as quais o discípulo levanta o voo.
Chegamos agora ao Caminho propriamente dito. De longe em longe caem, dos lábios
dos Mestres, no mundo material, algumas declarações explícitas sobre as quatro grandes
Iniciações que assinalam as etapas do Caminho, a partir do momento em que o Mestre
aceita o discípulo e o coloca sob sua direção. Sobre este particular encontramos várias
alusões comprovadas pela experiência dos que transpõem o portal, alusões permitidas
divulgar, não para satisfazer curiosidades ociosas, mas para a instrução dos que desejam se
preparar para darem mais um passo. Percebe-se que há de ser forçosamente incompleto
34
tudo quanto se diga sobre as iniciações, pois só informes fragmentários de tão grandes
mistérios são proporcionados ao mundo profano, e por isso, a declaração de quanto é lícito
se dizer desperta, nos ouvintes, inúmeras perguntas que seria indiscrição responder,
porque tais informações, que conduzem a curiosas perguntas, jamais se tornam públicas,
sendo apenas dadas aos que ardentemente desejam aprender e compreender, a fim de
preparar-se ao cumprimento do seu trabalho.
A história nos apresenta dois grandes Mestres que nos deixaram descrições sobre este
assunto. Foram Instrutores e fundadores de duas grandes religiões mundiais, embora este
adjetivo não seja tomado no sentido de extensão física, mas sim quanto à intensidade e
alcance espiritual sobre as almas melhor dispostas a receber a iniciação.
Um deles foi o Senhor Buda, fundador do Budismo; o outro foi Shri Shankaracharya,
que fez pelo Hinduísmo o que o Senhor Buda fez pelos países onde purificou a fé exotérica
destes.
Quanto ao Caminho, os ensinamentos de ambos os Instrutores são idênticos, como o
devem ser de todos os grandes iniciados, pois todos apontam os mesmos estágios e os
assinalam por iniciações perfeitamente definidas que separam cada fase da precedente e
da seguinte. Os ensinamentos dos iniciados são essencialmente idênticos e apenas diferem
na terminologia empregada necessária para adaptá-las às respectivas religiões. Por isso
vemos porque devem os homens procurar a verdade em todas as formas e sob todos os
aspectos e aparências, pois do contrário são levados a discutir e duvidar do fato exterior,
em vez de procurarem descobrir a identidade que subjaz em todas as verdades.
Há no Caminho quatro fases distintas, assinaladas cada uma por sua respectiva
iniciação. Iniciação significa o desabrochar da consciência superior, a alvorada de uma nova
fase espiritual pela intervenção direta do Guru que atua em nome do Supremo Iniciador da
humanidade, o único em cujo nome o Mestre pode conferir o segundo nascimento do
discípulo. Esta expansão da consciência é a nota característica da iniciação porque dá ao
discípulo "a chave do conhecimento", isto é, abre-lhe novos horizontes de conhecimento e
de poder, pondo-lhe em sua mão a chave das portas da natureza, tornando-o capaz de
prestar mais eficaz auxílio ao mundo, maior aptidão para o serviço. Fica assim incorporado
à pequena falange de homens que, renunciando ao ego inferior, se consagram ao serviço
da humanidade, idêntico ao serviço do Mestre, sem desejar mais nada, pois recusam
quanto o mundo pode lhes oferecer só para servirem de instrumentos de ação aos Mestres,
como canais por onde se derrama a Sua graça sobre o mundo.
Entre cada uma destas quatro iniciações produzem-se, no homem interior, mudanças
totalmente diferentes das que temos até agora considerado. Do momento em que um
homem passou por uma Iniciação, tudo o que ele faz, tudo o que executa deve ser feito
com toda a perfeição; não poderá prosseguir sem haver terminado a obra peculiar da fase
em que se encontra.
Não se permite no Caminho Superior nada feito pela metade, obras imperfeitas, e por
mais que demore a tarefa deverá terminá-la definitivamente antes de prosseguir na
ascensão. Chama-se tecnicamente a este período "quebrar as cadeias" pelas quais ficam
ainda entravadas as aspirações da alma. Ao terminar o Caminho alcança o estado de
yivanmukti, cuja vida é absolutamente livre, e para alcançar este estado deverá partir todas
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as prisões, a fim de que nada possa impedir o homem Superior.
A primeira iniciação converte o discípulo em parivraiaka, segundo Shankaracharya ou
Srotapatti segundo Buda.
Esta palavra srotapatti é do idioma páli e significa "o que entrou na corrente", isto é,
aquele que já se separou do mundo, não mais lhe pertence, embora ainda viva, pois nada
mais existe que o prenda ao mundo. Exatamente o mesmo conceito exprime a palavra
parivraiaka, que significa errante e sem lugar; mas isto não significa que ele seja um
vagabundo sem casa nem albergue no sentido vulgar, mas que vive inteiramente separado
do mundo sem ter moradia fixa, tanto lhe importando este ou aquele sítio, indo sempre
onde lhe ordena o Mestre. Não tem predileção por nenhum lugar, pois cortou todas as
ligações com nacionalidades e por isso é chamado "errante".
Sabemos que atualmente se considera este estágio em sentido completamente
exotérico; mas eu o considero no significado esotérico como sempre o deram os Mestres.
Desgraçadamente todos sabemos como se tem alterado as coisas da mais alta antiguidade,
e o que era antes uma realidade da vida tornou-se hoje apenas mera aparência exterior.
Mas, desejo dar a conhecer as quatro etapas do Caminho tal como as explica o hinduísmo e
que, segundo alguns julgam, embora erradamente, foram reveladas pelo Senhor Buda,
quando este nada mais fez do que restaurar os ensinos do antigo e áspero Caminho que
todos os Iniciados da única Loja Branca percorrem e hão de percorrer no futuro.
Consideremos primeiramente a realidade do caso. Aquele que entra na corrente e
separou-se, em absoluto do mundo, espera apenas a ocasião de servi-lo. Unicamente aspira
fazer no mundo o que seu Mestre determina. Esta é a característica da primeira grande
Iniciação, o sinal do homem renascido. Em geral, na maioria dos casos, este renascimento é
conferido fora do corpo físico, embora em consciência de vigília, isto é, a primeira Iniciação
consiste em despertar a consciência ativa do homem em seu corpo astral, enquanto o seu
corpo físico fica em êxtase, embora, às vezes, o discípulo receba a iniciação sem que tenha
a menor percepção de havê-la recebido em estado de vigília. Contudo, tanto num como no
outro caso jamais perde o que acaba de receber. O homem não será nunca mais o que foi.
Um recém-nascido ficará durante algum tempo inconsciente do novo mundo que o rodeia;
mas não pode voltar ao seio materno como se não houvera nascido. Assim igualmente não
pode, o iniciado renascido, ser como era antes e agir na vida do mundo como se não
houvesse renascido. Poderá atrasar-se no caminho, retardar seu progresso, gastar muito
tempo em quebrar as correntes que o ligam ainda; mas não pode mais deixar de ser
iniciado; a chave não mais se escapará de suas mãos. Entrou na corrente, desligou-se do
mundo e há de seguir adiante por muitas vidas que lhe são indispensáveis ao progresso.
Tem sido objeto de discussão o número de vidas intermediárias entre a primeira
Iniciação e a obtenção final do estado de Jivanmukti. Lembro-me que Swami Subba Row, ao
examinar a opinião geralmente admitida de que se necessitam ainda sete vidas no
Caminho, observou muito acertadamente que "tanto podiam ser sete vidas como setenta,
ou mesmo sete dias ou sete horas". Com efeito, a vida da alma não se conta por anos de
almanaque, pelo tempo da terra, mas o sucesso depende de sua energia, de sua força e de
sua vontade para vencer. Um homem pode desperdiçar seu tempo ou empregá-lo
proveitosamente, mas somente dele dependerá seu progresso.
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Durante a fase que começa na primeira grande Iniciação e termina na segunda, deve o
homem libertar-se de três coisas antes de penetrar no segundo portal. A primeira é a ilusão
do eu pessoal. Deve destruir a personalidade. Não basta dominá-la, refreá-la, vencê-la; é
preciso destruí-la, esmagá-la para sempre. É necessário destruir a ilusão do eu pessoal. O
discípulo deve reconhecer sua unidade com todos os demais seres, porque um único é o
Ego de todos. Deve convencer-se de que tudo que o rodeia, homens, animais, plantas,
minerais e formas elementares de vida, constituem uma só unidade. Para isto muito o
ajudará a expansão de sua consciência na iniciação. O reconhecimento do verdadeiro Ego o
permitirá desembaraçar-se do falso. A visão do real desvanecerá o ilusório, e assim matará
a ilusão do eu pessoal, porque ficam abertos seus olhos que podem penetrar através do
véu de ilusão. Desta maneira liberta-se da "ilusão da personalidade". O segundo obstáculo
que o impede adiantar-se é a dúvida da qual se liberta pelo conhecimento. As coisas do
mundo invisível não serão para ele meros temas de especulação, as grandes verdades da
religião não devem ser simples ideias filosóficas, mas fatos positivos. Não se admite que
pergunte o "como" e o "porquê" das coisas. Há certas verdades fundamentais sobre as
quais não poderá mais ter a menor dúvida. Antes de dar outro passo à frente, deve estar
absolutamente convencido da grande verdade da Reencarnação, uma convicção inabalável
sem sombra da mais ligeira dúvida; a grande verdade do carma deve ser um fato
consumado, como a existência dos Jivanmuktas ou Mestres da humanidade. Sobre estes
pontos não poderá ter a mais insignificante dúvida, isto é, não se limitará a conhecê-los
teoricamente, mas realmente, de forma que nenhuma vacilação o perturbe. E o único
modo de conseguir esta certeza é quando o conhecimento direto substitui a teoria, e o
contato com a realidade torne, para sempre, impossíveis as decepções e as ilusões do
mundo da matéria. A terceira e última ligação que deverá partir, nesta etapa do Caminho, é
a superstição. Se nos compenetrarmos bem do que significa a superstição só então se
perceberá porque Shri Shankaracharya e Buda fizeram uso de nomes pelos quais ambos
respectivamente designaram esta fase da vida do chela. Superstição quer dizer, no sentido
técnico do termo, confiança nos ritos exteriores das seitas para se obter assistência
espiritual. No que concerne à natureza externa destes ritos, o homem percebe, debaixo da
forma, a verdade que eles contêm e, se a verdade está realmente lá, o valor da aparência
exterior depende de maior ou menor adaptação a este mundo de ignorância e de ilusão.
Assim o chela deve elevar-se acima das formas e cerimônias exotéricas.
Aos que na Índia chamam Sannyasis se lhes supõe serem homens que já transcenderam
a superstição porque conhecem a realidade das coisas e não necessitam subir os degraus
por onde em geral sobem os homens. Tais degraus são necessários no início, pois, para
subir ao piso de uma casa, torna-se preciso uma escada, a menos que quem tenha que
subir possua já o conhecimento e com ele domine as leis da natureza; quem seja capaz de
inverter a polaridade de seu corpo e possa elevar-se, por levitação, em virtude da força de
sua vontade, em vez de subir degrau por degrau. A um tal homem a escada não lhe faz
falta, pois sabe elevar-se por sua própria energia e chegar ao ponto mais alto sem o lento
método dos degraus da escada. Mas contudo não se conclui que a escada seja inútil, pois os
que não sabem subir por si mesmos ainda a necessitam; e muitos, hoje em dia, incapazes
de energia própria, repugnam valer-se da escada, esquecendo que, enquanto a vontade
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não estiver desenvolvida de todo, as formas inferiores são indispensáveis para a ascensão
humana. Isto me leva a dizer alguma coisa sobre "o verdadeiro Sannyasi". Há cinco mil anos
já esta palavra havia perdido sua significação genuína. No começo do Kali-Yuga, vemos que
Shri Krishna distingue entre o Sannyasi aparente e o real. É bom lembrar que, ao tratar
deste assunto, disse: "Aquele que cumpre a ação como um dever, independentemente do
fruto da ação é Sannyasi, é iogue, porque carece de fogo e nada faz". A frase "carece de
fogo" significa que não acende o fogo do sacrifício, não pratica ritos nem cerimônias, pois
ao sannyasi isto não mais se exige. Mas, acrescenta Shri Krishna, não é verdadeiro sannyasi
quem apenas prescinde de ritos e cerimônias e se abstém de agir no mundo dos homens.
Se, há cinco mil anos, isto era uma verdade, muito mais o é, infelizmente, agora. Se quando
o Grande Avatar afirmava isto, ao percorrer as planícies da Índia, quanto mais agora depois
de cinco mil anos de trevas.
Ao observar os países orientais e especialmente a Índia, com seus inumeráveis
sannyasis, vemos que alguns o são pelo hábito que trazem e não interna renúncia das
coisas terrenas. Se da Índia passarmos a Ceilão, Birmânia, China e Japão veremos ali
monges budistas que também o são por suas vestes amarelas e não por nobreza de
conduta; em aspecto externo e não pela vida interna. Contudo, é certo que, na Índia, se
pratica a religião com mais sinceridade que nos outros países, e por tradição religiosa é o
seu solo mais sagrado e seu ambiente mais espiritual que nas outras terras. Há na Índia
lugares tão santificados pelos ascetas que ali viveram, que o visitante profano sente a
mente se acalmar e despertar em sua alma aspirações espirituais; mas se tudo isto é certo
na Índia, seus filhos, na verdade, não são dignos dela, porque decaíram em todos os
conceitos.
Observando o mundo profano não encontramos lugar algum onde predomine a vida
espiritual, nem nação que reconheça sua supremacia. Sente o seu coração se despedaçar
quem sabe o quanto o homem poderia fazer, e que vê o que ele faz; quem tem consciência
do quanto ele poderia ser e observa o que ele, de fato, é. Mas, apesar de tudo, o ânimo do
discípulo não desfalece, porque eternamente vivem os Mestres, e seus discípulos
continuam servindo ao mundo dos homens. Contudo, o discipulado não tem agora nenhum
hábito por distintivo, senão a sua vida interna; não é o traje que o discípulo traz, mas o
conhecimento, a pureza e a devoção que lhe abrem as portas da Iniciação.
Chegamos agora ao segundo estágio do Caminho, no qual o discípulo torna-se um
kutichaka, segundo a terminologia de Shankaracharya, e um sakridagamin segundo a de
Buda, com que se designa o homem a quem um novo nascimento é conferido. Nesta etapa
não tem que partir ligações, mas adquirir certas qualidades. É o momento em que os
Siddhis são necessários, porque se exige do discípulo, nesta fase, um grande serviço a
cumprir em nome do seu Mestre, não só no mundo físico, como no astral e mental. Para
isso necessita não falar com os lábios, mas, sim, de mente a mente, transmitindo
conscientemente as suas mensagens.
Veremos mais adiante as possibilidades que se oferecem de servir ao mundo físico; e se
estas possibilidades forem aceitas mudam com vantagem o rumo das coisas, mesmo da
vida física do homem. Mas para que o discípulo possa realizar esta parte da obra e se
disponha a executar ainda outra mais importante que o espera para quando ele possuir
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outros conhecimentos e a natureza não tenha nenhum véu para vendar-lhe os olhos,
compete-lhe ir desenvolvendo sucessivamente cada uma das suas faculdades internas, das
capacidades latentes. Se antes não o fez, torna-se indispensável que nesta etapa consiga
acender o fogo interno, fazendo funcionar kundalini nos seus corpos físico e astral.
Podeis ler em certas obras, como em Ananda Lahiri de Sankaracharya, passagens que
tratam do modo de despertar o fogo vivo, o qual confere ao homem o poder de deixar, à
vontade, seu corpo físico, pois, à medida que este fogo sobe de chakra em chakra,
desprende o corpo astral do físico, dando-lhe liberdade. Só então, sem interrupção da
consciência, sem solução de continuidade, o homem é capaz de agir conscientemente nos
mundos astral e mental, deles trazendo ao voltar ao físico, o conhecimento de tudo que lá
efetuou.
É durante este segundo estágio que se desenvolvem estes poderes ou faculdades, se já
não foram despertados; e enquanto o discípulo não conseguir agir com toda eficiência com
eles nos mundos invisíveis, não poderá prosseguir no Caminho. Quando todas estas
barreiras caírem em consequência do desenvolvimento dos sentidos e poderes latentes,
pela aquisição dos Siddhis, o chela se encontra pronto a transpor o terceiro grande estágio
no caminho do progresso, podendo entrar numa fase nova de existência mais elevada
ainda.
Facilmente se compreende o mal enorme que fazem a si mesmos homens mal
preparados, procurando atingir artificialmente este estágio, antes que a evolução os leve a
ele, e sem que possuam a necessária espiritualidade. Há alguns livros, especialmente os
Tantras que seduzem os desejosos de possuir faculdades psíquicas, livros que são lidos
avidamente sem que eles antes cuidem do seu mental e do moral para usá-los com retidão.
Em alguns Tantras encontram-se muitas verdades proveitosas para os que acertam
descobri-las; mas sua expressão literal, sendo bastante incompleta, conduz a perigosos
enganos para quem não conhece a realidade dos fatos, ou não tem um Mestre que lhe
levante os véus e preencha as lacunas.
Assim é que as pessoas, cuja ignorância e ambição as levam a estas práticas, que
violentam seu desenvolvimento psíquico antes do mental e do caráter, obtêm resultados
que lhes trazem grandes males em vez de benefícios, minando a saúde, desequilibrando a
razão, porque intentam colher o fruto da árvore da vida antes de ter amadurecido.
Com impuras mãos e contaminados sentidos querem penetrar no Santo dos Santos,
neste ádito sagrado cujo ambiente é de tal natureza que nele nada de impuro subsiste, e
suas vibrações são tão intensas que despedaçam tudo que não entra no mesmo diapasão,
que não se adapta à sua formidável atividade vibratória.
Mas, quando sob a direção de seu Guru - só nestas condições deve ele tentar isto - o
discípulo consegue vencer este estágio, então atinge a terceira grande Iniciação que o
converte em hamsa segundo Shankaracharya, e anâgâmin segundo Buda. É o homem que
não mais voltará a nascer, a não ser por sua livre vontade.
Nesta fase, conforme indica a palavra hamsa, o homem percebe a unidade e conhece
que é uno com o Supremo. Sua consciência ascende à região do universo na qual percebe a
identidade de todas as coisas e onde experimenta a certeza da expressão "Eu sou Aquele".
O aperfeiçoamento de seus sentidos psíquicos em correspondência com os físicos, não
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somente o capacita para elevar-se à região onde atinge a concepção da unidade de
consciência, como também pode transmitir ao corpo físico, nas horas de vigília, a memória
de tão excelsa consciência. É neste momento que o discípulo abandona as últimas migalhas,
se as tem, dos desejos terrenos, devendo eliminá-las por completo. Estes resíduos são
chamados kâmarâga, fragmentos das aspirações terrestres que se desvanecem neste
momento, porque perdem, diante da unidade universal, o poder de seduzir. O discípulo
elevou-se muito acima das limitações da separatividade, e por consequência não somente
transcende os desejos terrenos, como também os mais sutis e depurados desejos
espirituais que arrastam o homem à separatividade.
Estes desejos espirituais se desvanecem para quem alcança tão elevados cimos, para
quem se sente como fazendo parte integrante do todo, do conjunto de todos os seres.
Tudo o que ganha o ganha para todos; tudo o que adquire, para todos o adquire.
Permanece, nesta região do universo, donde flui toda a energia divina e sobre o mundo dos
homens derrama toda a força que adquire e com todos partilha o que recebe.
Cada homem que alcança este estado é, pois, um estímulo de aperfeiçoamento para o
mundo.
Tudo quanto consegue em espiritualidade é para a humanidade e tudo que suas mãos
recebem o remete logo para o mundo dos homens.
É um com Brama e, por isso, uno com todas as suas manifestações; e realiza isto em sua
própria consciência e não somente por esperanças e aspirações.
Outra prisão, que ainda deve partir nesta etapa, se designa pelo termo patigha, que
não tem significado exato nem tradução nas línguas ocidentais, embora a mais aproximada
seja animosidade, bem que este termo seja absurdo neste caso. Patigha quer dizer que o
homem, quando sente-se em unidade com todos os seres e todas as coisas, não pode já
distinguir entre raças, nem nações, nem famílias, nem entre os objetos diferenciados do
mundo, e por isso não manifestará animosidade contra coisa alguma, nem amor nem ódio
por causa de distinções exteriores. Já não pode amar nem odiar a ninguém por causa da
raça a que pertença. Já não pode amar nem odiar levado pelas distinções entre os homens
e as circunstâncias que os rodeiam.
Lembrai-vos desta curiosa frase de Shri Krishna quando diz que o sábio não sabe
distinguir entre o iluminado Brama e um cão, porque o sábio já alcançou a unidade e vê
Brama em todas as coisas. Isto equivale a dizer que o sábio vê a Shri Krishna em toda a
parte, e o aspecto exterior do Senhor não faz diferença para a sua visão purificada. Deste
modo não manifesta absolutamente animosidade, ódio ou repulsa. Nada lhe repugna nem
nada o repele. É amor e compaixão para todos os seres e todas as coisas. Em volta dele
estende-se um círculo de afetos que tudo envolve. Todos que dele se aproximam recebem
a influência de sua compaixão divina. Por isto, no tempo em que os Brâmanes eram
realmente o que seu nome significa, se dizia deles que eram "amigos de todas as coisas e
de todas as criaturas". Seu coração estava unido com Deus e era bastante amplo para
conter tudo quanto Deus criou.
Anulada para sempre a separatividade, passa o discípulo à etapa final do Caminho, a
cujo termo será um paramahamsa, conforme Shankaracharya e um arhat, segundo Buda.
Devemos aqui deplorar a terrível degradação moderna dos nomes sagrados, pois os deste
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elevadíssimo estado espiritual são empregados sem consideração alguma, por mera lisonja
ou cortesia, em vez de serem reservados à perfeição humana.
O verdadeiro significado do termo arhat é que o homem recebeu a quarta grande
Iniciação e atravessa o estado que precede o de Jivanmukti, sendo capaz de agir com plena
consciência no plano búdico ou seja a região de Turiya (2). Não necessita deixar o corpo
físico para agir conscientemente no plano búdico, pois sua consciência já se expandiu até o
ponto de envolver o próprio cérebro físico. Esta ubiquidade é um dos sinais característicos
de que já recebeu a quarta Iniciação. Já não mais necessita ficar fisicamente inconsciente
para remontar à região superior da consciência; e, enquanto fala, conversa e vive no
mundo dos homens, sua dilatada consciência atua também, com pleno conhecimento e
vontade, no plano búdico.
É nesta quarta etapa que se rompem as cinco últimas ligações que devem desaparecer
para que o homem se converta no Jivanmukta. A primeira se chama ruparâga, isto é, o
desejo de "vida com forma". Não o deve mais seduzir tal desejo. Depois deve abandonar
aruparâga ou desejo de "vida sem forma". Em seguida libertar-se-á de mana, o orgulho.
Não deve vangloriar-se da magnitude do seu triunfo, da deslumbrante altura a que
atingir, porque para ele já não existe nem alto nem baixo, nem alturas vertiginosas nem
humildes vales. Tudo ele percebe na unidade do conjunto. Nada que possa ocorrer no
mundo manifestado conseguirá perturbar a sublime serenidade com que logrou perceber o
Ego em todas as coisas. Não o preocupam as catástrofes, porque sabe que só desaparecem
as formas. Que importa que os mundos se entrechoquem, se apenas se altera o modo de
manifestação?
Vive no único Eu, no eterno, imortal e imutável a quem nada pode alterar sua
serenidade nem perturbar sua perfeita paz.
Em seguida desliga-se da última prisão, de avidyâ, a tecedeira de ilusões, tênue venda
que impede a perfeita intuição e a completa liberdade.
Embora não mais necessite renascer, pode contudo reencarnar-se se tal for sua
vontade. Seu saber agora abraça tudo o que comporta nossa cadeia planetária.
Já é sabedor de tudo quanto esta manifestação lhe pode ensinar nem deixou de
aprender lição alguma, nem há para ele segredos escondidos, nem recanto que sua vista
não possa esquadrinhar, nem possibilidade que escape à sua ação. Ao terminar este estágio
sabe todas as lições e possui todas as faculdades.
É onisciente e onipotente nos limites desta cadeia planetária. Terminou a sua evolução
humana. Deu o último passo que a humanidade dará quando terminar o grande
manvantara e se execute a obra deste universo. Nada se lhe oculta, nem nada há que não
exista no seu interior. Sua consciência expandiu-se a ponto de tudo abraçar e tudo
envolver.
Pode entrar, se assim quiser, no Nirvana, onde existe unidade e plenitude de
consciência e vida. Chegou à meta da humanidade. Tem diante de si apenas o último portal
que se abrirá ao ruído dos seus passos. Uma vez transposto este portal, converte-se no
Jivanmukta, segundo o Hinduísmo, ou no asekha adepto, isto é, aquele que nada mais tem
que aprender, segundo a nomenclatura budista.
Tudo ele conhece e tudo executou. Diante dele abrem-se diversos caminhos, entre os
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quais pode optar, como também se estendem numerosas possibilidades que pode utilizar
ao seu arbítrio.
Muito além de nossa cadeia planetária, em regiões que transcendem a nossa mais
profunda compreensão, abrem-se para o Jivanmukta caminhos que ele pode percorrer. Um
destes, o mais dificultoso e áspero de todos, embora o mais rápido é o Caminho da Grande
Renúncia.
Se foi este que escolheu, ao contemplar o mundo dos homens, o Jinvanmukta não o
deixa nem dele se afasta, mas toma, de vez em quando, um corpo para ensinar e auxiliar os
homens. Shri Shankaracharya nos fala dos que ficam para trabalhar, até que toda a obra
esteja terminada.
Sua tarefa terminou, mas Eles ficam identificados com a humanidade até que esta
acabe sua evolução, sem que Eles se afastem dos homens.
São livres, mas prendem-se voluntariamente, porque não querem gozar de sua
liberação até que toda a raça humana fique liberada. São os excelsos Mestres de
Compaixão que vivem ao alcance dos homens, a fim de que a humanidade não fique órfã, e
os desejosos de aprender encontrem quem os ensine. São estes os Grandes Mestres por
quem sentimos imensa gratidão, que vivem na consciência nirvânica e permanecem dentro
da esfera da terra, para manterem um laço dos mundos superiores com o dos homens que
vivem prisioneiros no cárcere do corpo.
Todos quantos alcançaram o nível asekha são igualmente gloriosos e divinos; mas, sem
falta de respeito, devemos dizer que os mais queridos da humanidade, os mais
intimamente ligados ao coração dos homens pelos laços de gratidão por sua renúncia, são
Aqueles que, podendo separar-se de nós, permanecem conosco; que podendo nos
abandonar como órfãos, quiseram ser Pais dos homens.
Tais são os divinos Mestres a cujos Pés nos prostramos; tais são os Mestres que guiam a
Sociedade Teosófica. Enviaram como mensageiro H. P. Blavatsky, a qual trouxe Sua
mensagem ao mundo, mensagem quase esquecida pelo mundo, e que veio de novo
mostrar o estreito e antigo Caminho que alguns estão nesta hora percorrendo e que todos
podem igualmente pisar.
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Capítulo IV
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Glossário de Termos Sânscritos usados no Texto
Akasha. O principal dos cinco ou sete Tattvas; o éter, causa psíquica e espiritual do som.
Nos arquivos akásicos ficam permanentemente gravados todos os sons, acontecimentos e
palavras que proferimos.
Arhat, "Digno"; é aquele que atingiu a quarta iniciação e se tornou um adepto. Pode ver
o Nirvana durante a vida.
Avatar. Uma encarnação Divina.
Chela. "Criança". Discípulo de um guru ou sábio; prosélito de algum adepto de escola de
filosofia. No Oriente também se chama chela ao discípulo aceito para o estudo de
Ocultismo.
Dharma. Lei, dever, religião; é o dever e o seu cumprimento.
Gunas. São as três qualidades da matéria, os três modos de manifestação cósmica:
Rajas, a energia, a atividade, a força centrífuga; Tamas, a inércia, a resistência, a
obscuridade, a força centrípeta; Sattva, o ritmo ou equilíbrio que há de resultar de ambas
as anteriores, isto é, a verdade, a pureza, a luz.
Hamsa. "Cisne", o pássaro branco, símbolo da sabedoria e da iniciação. Segundo a
tradição, tinha o poder de separar a água e o leite misturados, e daí representar a virtude
ou faculdade do Discernimento espiritual. No Hinduísmo chama-se Hamsa àquele que
atingiu a terceira grande iniciação.
Jivanmukta. "O liberto ou emancipado em vida". Um adepto ou iogue que chegou ao
último estado de santidade e se libertou da escravidão da matéria.
Karana Sharira. O corpo causal que, por ser permanente, passa de uma encarnação
para a outra.
Linga Sharira. É o duplo etérico, que faz parte integrante do corpo físico.
Paramahama. Aquele que está além de Hamsa.
Sannyasi. O asceta que renunciou a todos os atrativos da vida terrestre.
Siddhis. "Atributos de perfeição", poderes ocultos que, graças à sua santidade,
adquirem os iogues.
Titiksha. Longa e inalterável paciência; resignação, renúncia.
Tattva. "Aquilo" eternamente existente, e também os diferentes princípios da Natureza,
em seu significado oculto. Dá-se também o nome de Tattva aos abstratos princípios de
existência, ou categorias, físicas e metafísicas, que são correlativos aos sentidos externos e
internos do homem.
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