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Cuidado com suas Palavras

E . B ra d l e y B e e v e r s 1

Recentemente, assisti a um filme de eu tivesse dito, um comentário impensado,


Disney chamado Aladim. Como bom expec- talvez feito sem intenção hostil, mas pecami-
tador, coloquei-me no lugar do herói. Mais noso, maldoso - ou até mesmo tolo. Se você
tarde, pensando sobre o filme, perguntei tivesse um cupom que lhe desse direito a ter
a mim mesmo o que eu pediria a Deus se um desejo atendido no final do dia, quantas
pudesse ter três desejos realizados. Imedia- vezes você o usaria para “desdizer” palavras
tamente, a história do sonho de Salomão que saíram da sua boca? Você poderia usar
veio-me à mente. Deus deu oportunidade esse cupom em diversas situações. Por exem-
ao rei para expressar um desejo, e ele pediu plo, digamos que você estava conversando
sabedoria para governar Israel. Será que eu informalmente e soltou uma piada boba ou
também teria desejado sabedoria? Mas eu um comentário que ofendeu outra pessoa.
não tenho a responsabilidade de governar Ou talvez você estava nervoso e acabou fa-
Israel como ele, pensei. Talvez eu desejasse lando demais. Ou então você estava em casa,
santidade. Por fim, acabei descartando da irritado, e se expressou de modo agressivo
minha mente estes pensamentos. com um colega, com o cônjuge ou as crian-
No entanto, alguns dias mais tarde, ças. Ou depois de cometer um erro, você
a ideia do “desejo” voltou-me à mente. Eu tentou se explicar; mas quanto mais você
havia pensado em algo que poderia pedir. falou, pior ficou a situação. A lista poderia
Desejei poder retirar alguma palavra que não ter fim. Como Tiago está certo em dizer
que “... se alguém não tropeça no falar é
perfeito varão, capaz de refrear também todo
1
Tradução e adaptação de Watch your Language! o seu corpo” (Tg 3.2)!
Publicado em The Journal of Biblical Counseling. v.12,
n.3, Spring 1994, p. 24-30.
As Escrituras advertem-nos quanto
a levar a sério as nossas palavras. Trata-se
E. Bradley Beevers dirige um centro de discipulado
e é candidato a PhD no Westminster Theological de uma batalha contínua, ao longo da vida
Seminary. cristã. Jesus descreveu o dia do julgamento

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final como aquele dia em que os homens torpe; no seu significado correto, refere-se
darão conta “de toda palavra frívola que pro- a um ato divino. Deus condena o perver-
ferirem...” (Mt 12.36). O uso que fazemos so. Quando o mundo usa esta palavra no
das nossas palavras, disse Jesus, estabelece a sentido imprecatório, banaliza e zomba do
diferença entre o salvo e o perdido. “Porque, julgamento divino. Outro exemplo poderia
pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas ser o uso que os crentes fazem dos termos
tuas palavras, serás condenado” (Mt 12.37). “Deus”, “Senhor” ou “Jesus” em expressões
As palavras são muito importantes, pois elas vulgares de surpresa ou irritação.
revelam quem de fato somos. As árvores Escolhi, deliberadamente, dois exem-
boas produzem frutos bons, enquanto que plos que esclarecem como uma cosmovisão
as más, frutos maus. Cada um revela o que pervertida faz de uma expressão comum uma
há no seu interior: “... a boca fala do que está imprecação. “Maldito” ou “Deus” são pala-
cheio o coração” (Lc 6.45). Por conseguinte, vras que podem ser usadas indevidamente ou
Paulo exorta aqueles que se despiram do de maneira correta. No entanto, a maioria
velho homem para que não deixem sair da das palavras obscenas ou expressões vulgares
sua boca “nenhuma palavra torpe, e, sim, não são tão flexíveis assim; elas são sempre
unicamente a que for boa para edificação, blasfemas ou pervertidas. Carregam uma
conforme a necessidade, e assim transmita cosmovisão “embutida” nelas mesmas. Tais
graça aos que ouvem” (Ef 4.29). expressões comunicam por si só rebeldia e
Conversa torpe não consiste apenas incredulidade - não naquilo que descrevem,
em falar quando você deve ficar calado ou mas na interpretação implícita na descrição.
em dizer alguma coisa da qual venha a se Por exemplo, a maioria das expressões obs-
arrepender logo em seguida. Algumas coisas cenas expressam hostilidade e/ou atitudes
que dizemos são más por outras razões. Por imorais por meio de termos baseados nas
exemplo, em algumas conversas, determina- funções naturais do corpo humano. Aquilo
mos o que é bom ou mau perguntando-nos que descrevem foi criado por Deus; a inter-
quando, para quem, em que circunstâncias, pretação maldosa avilta e perverte aquilo que
com que tom de voz falamos alguma coisa. Deus criou. Não há como usar corretamente
Por outro lado, fazemos distinção entre uma estas palavras. Elas devem ser simplesmente
“conversa obscena” e outros tipos de conver- evitadas. As Escrituras reconhecem esta
sa. A “conversa obscena” é intrinsecamente cosmovisão pervertida: “Ninguém que fala
má. Não é uma questão de dizer algo na pelo Espírito de Deus diz: Jesus seja amal-
hora errada ou à pessoa errada. Este tipo de diçoado.” (1Co 12.3)2. Há exemplos que
“conversa torpe” é sempre errada e deve ser talvez nem devam ser mencionados, pois
sempre evitada pelo crente. “o que eles fazem em oculto, o só referir é
Pense nisto. A linguagem obscena é vergonha” (Ef 5.12). Os cristãos, em geral,
torpe, sempre, e os cristãos estão certos em identificam este vocabulário como expressão
evitar o seu uso. Mas afinal, o que faz esta de uma cosmovisão incrédula e, corretamen-
linguagem ser torpe? Não é o fato dela se re- te, consideram o seu uso pecaminoso.
ferir a coisas que não deveríamos mencionar.
Ela é torpe porque expressa uma cosmovisão
pervertida, blasfema ou fortuita. Por exem- 2
O Novo Testamento. Nova Versão Internacional da
plo, “maldito” não é sempre uma palavra Sociedade Bíblica Internacional.

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Mas palavras “obscenas” não são as úni- baseado em uma visão mundana contrária
cas expressões baseadas em uma cosmovisão ao cristianismo. Mas agora vamos lidar com
incrédula. Muitas das nossas descrições e de- um caso um pouco menos óbvio: como as
finições mais comuns concordam sutilmente pessoas usam as palavras para diminuir a
com a maneira de pensar do incrédulo. responsabilidade por seu comportamento.
Assim como as imprecações, os eufemismos Primeiro, considere como o mundo costu-
também trazem uma cosmovisão implíci- ma se referir aos pecados óbvios. Vivemos
ta. Quando o mundo chama adultério de em uma sociedade onde gastar demais é
“caso”, será que não está torcendo a descrição comum. No entanto, dificilmente usamos
para eliminar qualquer avaliação moral e a palavra cobiça para descrever este tipo de
indignação? E a palavra substituta não foi comportamento. Trata-se simplesmente de
pega por acaso no dicionário. Adultério um estilo de vida “confortável”. Padrões de
lembra pecado; caso lembra quase um di- desobediência são “problemas”, e não peca-
vertimento. O mundo está constantemente dos. Reclamar ou murmurar são maneiras
procurando uma maneira de fazer com de dizer “o que eu estou sentindo” ou de
que o seu comportamento pareça normal, “ser honesto”. Às vezes, até mesmo na igreja,
aceitável e correto. Substituindo fornicação falamos mal de alguém e chamamos isso de
por “transa”, ele elimina qualquer senso de “compartilhar” ou “pedir um conselho”, em
desaprovação. “Sexualmente ativo” sugere vez de maledicência ou calúnia.
que abstinência é sinônimo de passividade Compreenda o que está acontecendo
ou fraqueza. O que antes era sodomia (men- aqui. Palavras não apenas descrevem, mas
cionada inicialmente em Gênesis 19) veio a interpretam. Quando usamos uma palavra
ser “homossexualidade”, em seguida “gay”, como maledicência, muitas imagens e exor-
e depois uma mera “preferência sexual” ou tações bíblicas vêm à nossa mente - e é certo
“estilo de vida alternativo”. Atualmente, que venham! Quando tentamos descrever a
até mesmo a indignação moral contra estas mesma atividade de maneira mais “neutra”,
perversões é rotulada pejorativamente de o que fazemos, na verdade, é uma descrição
“homofobia”. não bíblica. As categorias descritivas de
Deus não são neutras. Uma mente cienti-
Um passo à frente ficamente orientada pode nos condicionar
Esses exemplos são bem conhecidos a pensar na neutralidade como apropriada.
e o preconceito que expressam para com a Mas não é assim que deve ser. Vivemos em
Bíblia é obvio. Os cristãos devem vigiar as um universo que ecoa a voz de Deus. Tudo
suas palavras (e frequentemente o fazem) quanto Ele criou e governa expressa a Sua
para que não reforcem a perspectiva mun- glória e manifesta a Pessoa de Deus. Na
dana nem se rendam sutilmente a ela. Mas verdade, “neutralidade” é uma rendição à
vamos dar um passo à frente. Todas as áreas incredulidade. É uma recusa a falar e pensar
em que a rebeldia e a incredulidade são de acordo com a perspectiva de Deus. Falar
expressas em forma de palavras devem ser com “neutralidade” é falhar na proclamação
igualmente confrontadas. Até aqui, eu não da verdade de Deus a um mundo perdido
ataquei aspectos sutis do linguajar. Aquilo e deixar de convocá-lo ao arrependimen-
que definimos como expressões blasfemas to. Será que não estamos proclamando a
e “politicamente corretas” está obviamente verdade de Deus e Sua perspectiva quando

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usamos o termo adultério ou fornicação em (esvaziada de valor em termos descritivos)
lugar de usar uma linguagem mais neutra como “abalo emocional”. Padrões pecami-
com um colega de trabalho? Ou será que o nosos que geram contendas são chamados
termo “estilo de vida alternativo” não tem a de “conflitos de personalidade” (a respeito
função de suavizar a consciência e silenciar dos quais nada se pode fazer). Hábitos
a condenação de Deus? O nosso falar deve escravizadores pecaminosos são chamados
afirmar a interpretação de Deus, opondo-se de “doenças”, “compulsões” (irresistíveis),
ao pensamento rebelde do mundo. Não “vícios”. Tais termos ignoram a perspectiva
somos “neutros”; somos a favor de Deus. Os de Deus acerca destas experiências humanas,
incrédulos também não são “neutros”; eles e fazem com que a maneira de pensar do
são contra Deus. O nosso falar deve refletir mundo sobre emoções, ações ou opiniões
esta verdade de tal maneira que “quer comais, pareça normal ou mesmo natural. Os passos
quer bebais, ou façais outra cousa qualquer, para o distanciamento de uma perspectiva
fazei tudo para a glória de Deus”. bíblica são frequentemente sutis. Eu só
A linguagem do mundo subestima a estava “mal-humorado” - não fui grosseiro
responsabilidade pessoal quando descreve nem expressei ódio ou falta de amor. Estou
padrões emocionais e de comportamento. “desencorajado” - não perdi a verdadeira
Estes são assuntos importantes que têm perspectiva nem vacilei na fé. Estes exemplos
recebido a atenção popular. Mas quando mostram claramente que não há como falar
descreve um comportamento sexual, o mun- de maneira neutra. Procurando ser neutro, o
do muda os termos para que a atenção não incrédulo está na verdade tentando justificar
recaia sobre a responsabilidade pessoal e o o seu comportamento pecaminoso. A assim
pecado. Primeiro, o mundo desvia a atenção chamada neutralidade é um pretexto para
da responsabilidade pessoal falando como se ódio e rebeldia para com Deus.
a situação, e não a pessoa, fosse responsável Mas espere um pouco. Nós ouvimos
pela ação. “Isso me deixou muito irado”. “O expressões semelhantes a estas não só no
comportamento dele deixou-me amargurado”. trabalho, mas na igreja também. Preci-
“Você é tão irritante”. “O sofrimento intenso samos saber mais a esse respeito. Por que
tirou-me o desejo de seguir a Deus”. Suposta- esses termos são tão populares? O que há
mente, nada podemos fazer quanto às nossas de atraente neles? Uma possível explicação
reações. Desde que elas são resultados diretos é que as descrições neutras são atraentes aos
da situação, elas se tornam parte da própria incrédulos porque elas justificam sua rebel-
situação. Não há como escapar. dia. Elas fazem o pecado parecer normal.
Segundo, o mundo desvia a atenção da Naturalmente, essa dinâmica pecaminosa
pecaminosidade da situação buscando uma atrai também o crente. Ela alimenta desejos
descrição “neutra” da experiência. Por exem- carnais de autocomiseração e justiça própria.
plo, os cristãos reconhecem a diferença entre Mas há uma outra razão a ser considerada.
falta de esperança, tristeza, culpa, medo, ira Frequentemente, fatores circunstanciais,
e aflição. Biblicamente, são distintos. Cada lutas pessoais, tentações, pensamentos,
descrição refere-se a algo específico, e cada desejos, anseios e experiências podem ser
uma destas emoções pode ser facilmente descritos em detalhes vívidos. “Sexta-feira
inserida em um contexto moral. O incrédu- à tarde, após uma semana estressante, meu
lo as reúne todas em uma categoria neutra chefe chamou-me em seu escritório. Em

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cinco minutos eu estava despedido, sem amargura, a ira e a frustração; poderia fugir;
muitas explicações. Eu não sabia bem o que deixar o emprego sem mais falar com ele;
fazer. Nem mesmo me lembro do momen- poderia alimentar em meu coração amargura
to em que saí da sala. Eu queria sair dali e ódio. Ou então eu poderia fazer o que
correndo; eu queria bater nele. Eu queria Jesus teria feito: ser gentil, retribuir o mal
desistir de tudo. Eu simplesmente sentei à com o bem, orar por ele. Eu poderia voltar
minha mesa em estado de choque. Eu estava na segunda-feira, bem disposto, e limpar a
transtornado. Que ousadia! Passei os três minha mesa”.
dias seguintes dividido entre o desânimo e o Qual a diferença básica entre as duas
desejo de matá-lo. Eu não conseguia dormir. descrições? Você já sabe. A primeira preten-
Não conseguia pensar em nada mais. Foi dia ser neutra, mas na verdade expressou
um tremendo choque. Eu precisava parar de as tendências da carne. Ela ignorou tudo
pensar nele, pois cada vez que isso acontecia quanto diz respeito à vida cristã: o propó-
eu ficava ensaiando o que eu deveria ter dito sito de Deus, Sua perspectiva, a natureza
a ele, e eu tremia de raiva”. espiritual da tentação, a luta em busca de
Ouvimos esta descrição e pensamos: esperança e da resposta correta, a solução
“Foi assim mesmo!”. A precisão é impres- para o problema. No processo, a primeira
sionante. Mas cuidado! “Esse homem de descrição sutilmente justificou a ira e a
fato entende o que significa passar por isso!” depressão, fazendo-as parecer naturais. E
Cuidado! Estas descrições são seletivas. As de certa forma, tais reações são muito natu-
respostas naturais ou carnais são retratadas rais. Mas desde que Cristo nos salvou, não
em grandes detalhes. As lutas espirituais não. somos mais como o “homem natural” que
Detalhes vívidos não são neutros; eles trazem não entende as coisas do Espírito de Deus.
uma visão secular implícita. Uma descrição precisa é importante; as lutas
A descrição daquela sexta-feira à tarde espirituais precisam ser descritas em detalhes
poderia ter sido muito diferente. “Quando vívidos para que o nosso ensino seja prático e
eu saí daquele escritório, fui tentado a extra- reflita a realidade da vida. No entanto, uma
vasar a ira como nunca antes nos três anos descrição exata inclui uma interpretação exa-
em que trabalhei lá. Eu estava em estado ta. Precisamos compreender corretamente o
de choque. Lembro-me vagamente de ter quadro todo.
balbuciado uma oração pedindo ajuda, ao
mesmo tempo que eu repassava em minha Um exemplo para estudo:
mente aquilo que ele havia dito e lutava com “Estou mal”.
minha ira. De repente, as passagens bíblicas Como você pode começar a identificar
que eu havia memorizado vieram à minha a linguagem torpe e se arrepender de seu uso?
mente de maneira clara: ‘Deus não permitirá Comece um passo por vez. Vamos trabalhar
que sejais tentados além das vossas forças; um exemplo específico. Os cristãos deveriam
pelo contrário, juntamente com a tentação, usar a expressão “estou mal?”. “Estar mal”
vos proverá livramento, de sorte que a possais é uma maneira neutra de expressar tristeza
suportar’. A situação ficou clara aos meus ou depressão, que pode ser traduzida como
olhos, como se o Senhor tivesse acendido a falta de esperança ou fé, como uma maneira
luz em um quarto escuro. Eu sabia que estava de focalizar em situações desagradáveis em
em uma encruzilhada. Eu poderia nutrir a vez de se concentrar no cuidado soberano

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de Deus, ou ainda como uma murmuração. específicos nos dão informações cruciais
“Estou mal” tira qualquer indício de que haja sobre a pessoa, permitindo-nos saber como
uma problema moral envolvido na emoção. melhor lidar com a situação dentro de uma
A maioria de nós ficaria muito surpreso se perspectiva bíblica. O mundo não tem essa
um amigo nos dissesse que deveríamos nos visão. Quando alguém “está mal”, o mundo
arrepender quando compartilhamos que não pode oferecer nada além de inúmeras
“estamos mal”! No conceito popular, não expressões de compaixão e um fraco “tudo
ficamos “mal” porque há alguma coisa errada vai dar certo” na melhor das hipóteses. Não
conosco. Nós simplesmente ficamos desse há esperança de mudança verdadeira de vida
jeito. Algo está errado na situação; nós esta- nem de uma melhora futura.
mos reagindo normalmente. Isso vale para Será que a Bíblia não fala da expe-
todos nós, quando falamos com pessoas que riência de “estar mal” focalizando especi-
“estão mal”. Costumamos perguntar “O que ficamente a pessoa, Deus e aquilo que é
aconteceu?”, em vez de perguntar “Por que certo, em vez de olhar simplesmente para a
você está reagindo assim à situação?”. situação? Observe, por exemplo, os Salmos
Há outras coisas a considerar sobre 42 e 43. Quando o salmista está “abatido” e
esse termo. Primeiro, ele é vago. As emoções “perturbado”, não é porque ele parou de ir à
descritas são amplas - depressão, ira, falta de casa de Deus com a multidão de adoradores.
esperança, tristeza, aflição, ressentimento, Não é porque ele está sendo oprimido pelos
culpa, autocomiseração. Segundo, a expli- inimigos, homens fraudulentos ou injustos.
cação do porquê nos sentimos dessa ma- Essas coisas estão acontecendo. Mas a causa
neira é inadequada. O foco recai quase que da angústia é que a sua alma não está es-
exclusivamente sobre a situação; nenhuma perando em Deus. Ele não descreveria a si
atenção é dada aos demais pensamentos ou mesmo como alguém que “está mal”. Ele vê
sentimentos que nos levaram a “estar mal”. a situação de maneira mais clara: “Por que
Poderíamos traçar o seguinte diagrama: estás abatida, ó minha alma? ...Espera em
Situação  Emoção. O termo central e cru- Deus”. O foco do Salmo é que o salmista
cial é omitido: Situação  Pessoa  Ação. tem sede de Deus assim como a corça suspira
Mais uma vez, isso é neutralizar! Quando por água corrente.
omitimos o termo “pessoa”, não faz dife- Que quadro diferente do quadro de
rença se a situação atinge um crente ou um transferência de culpa e autocomiseração da
incrédulo, o próprio Senhor Jesus ou o pior linguagem do mundo! O vocabulário que
dos pecadores. Certo ou errado deixam de o salmista usa indica um estudo cuidadoso
ser categorias relevantes. Mas isso não é nem do seu coração, a descoberta do verdadeiro
de longe verdadeiro no que diz respeito aos problema e a busca de uma solução em
termos mais específicos que listamos ante- Deus. Esse vocabulário deve ser o seu alvo!
riormente. Quando uma pessoa diz que está O seu falar deve não apenas evitar a lamú-
triste por causa da morte de seu pai, sabemos ria desagradável do mundo, mas expressar
que ela está triste porque sofreu uma perda. com precisão a sua situação espiritual e sua
A reação é boa. Se aquela pessoa dissesse reação. Já descrevi esse tipo de atitude em
estar sem esperança, deprimida ou imersa alguns exemplos que mencionei acima. Mas
em autocomiseração por causa dessa morte, este é apenas o começo! Precisamos de um
nossa reação deveria ser diferente! Termos vocabulário completamente cristão; devemos

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agir como cristãos em cada detalhe da vida. que as nossas palavras, assim como as nossas
Isso não quer dizer que inventamos e inter- ações, apliquem os ensinos da Bíblia.
nalizamos uma atitude de “super-crentes” Vejamos um exemplo. Roberto e Su-
que nos faz menos acessíveis ao mundo. sana saem para uma caminhada no campo.
Nosso alvo é usar palavras que proclamam a Sem querer, esquecem um dos cantis no
verdade de Deus a respeito de nós mesmos e carro. O dia está quente e a trilha é difícil.
do Seu universo - uma linguagem que evita a Depois de aproximadamente uma hora e
maneira enganosa de falar do mundo. meia, a água disponível acaba. Eles conti-
nuam a caminhada na montanha, mas não
Um outro exemplo para estudo: há nenhuma bica à vista. Eles prosseguem
“Porque”. por mais uma hora e avistam uma placa de
Porque. Trata-se de uma palavra tão sinalização. Roberto descobre, então, que ele
simples, mas de muito conteúdo. Usamos deixou passar a entrada de retorno há cerca
esta palavra quando queremos falar sobre o de 45 minutos. Susana diz: “Ótimo. Que di-
que causa o nosso comportamento ou nos vertido! Obrigada por ter-me trazido aqui”.
motiva a fazer algo. Por que eu fiz aquilo? Roberto, um pouco surpreso com o sarcasmo
Eu fiz porque ... A Bíblia fala alguma coisa dela, decide não responder. Susana percebe o
sobre o porquê agimos como agimos? Ela que disse e tenta se explicar: “Desculpe-me.
nos ensina o que causa nossas reações? Sem Eu disse isso apenas porque...
dúvida que sim. Nossas ações revelam as ŠŠestou muito cansada. Não ligue para
motivações que há no nosso coração. Se os isso”.
pensamentos e as intenções do coração são
ŠŠeu sou assim mesmo. Às vezes sou
maus, então nosso falar e comportamento
um pouco ríspida. E apenas minha
refletirão isso; se o nosso coração for puro,
maneira de me relacionar. Não é nada
nossas ações serão puras. Embora eu esteja
com você”.
dando um resumo rápido, tudo o que a Bí-
blia diz sobre causas e motivações encaixa-se ŠŠeu sempre fui tratada assim na minha
nesta estrutura. família, e agora faço o mesmo”.
Esta é a questão básica. Todas as nossas
ŠŠmeu dia está péssimo hoje. Esse é o
palavras, assim como todas as nossas ações,
problema”.
refletem obediência ou desobediência a
Deus. Linguagem torpe é aquela que comu- ŠŠé horrível ficar sem água, sentir calor e
nica o que é falso ou impiedoso. As palavras estar perdida. Eu só estou chateada”.
retratam uma cosmovisão e expressam (ou
ŠŠsó estou falando o que eu sinto”.
nos traem ao expressar) o que acreditamos
na prática. Nossas ações revelam aquilo em É possível até imaginar estas respostas
que acreditamos. Lucas 6.45 ensina-nos cla- sendo dadas. Mas qual delas está certa? Qual
ramente a este respeito: “O homem bom do delas você esperaria receber de um crente
bom tesouro do coração tira o bem, e o mau, naquela situação? Dê uma olhada novamente
do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala para a lista. Quais respostas são razoáveis?
do que está cheio o coração”. Não podemos A resposta correta é nenhuma delas. Por
nos esconder; as nossas palavras revelam quê? Porque nenhuma oferece uma explica-
quem somos. A nossa tarefa é fazer com ção bíblica adequada para o comportamento

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de Susana. A maneira ríspida com que Susa- água, então sairá água. O mesmo acontece
na dirigiu-se a Roberto é errada; é pecado. com o crente. Se você está cheio da vida
Talvez o cansaço, o pano de fundo familiar de Cristo, você responde às circunstâncias
ou os hábitos de relacionamento possam desagradáveis de maneira que evidencia a
ser fatores de influência. Eles certamente Cristo. Se você está cheio de desejos egoístas
moldam as tentações específicas que Susana e mundanos, o seu comportamento reflete
enfrentou. Mas eles não explicam o porquê tais desejos. 2Coríntios 4.6-18 ensina isto
ela respondeu com frustração. Susana é certa- com clareza. Temos o tesouro da luz do
mente singular em seu cansaço, no calor, na conhecimento da glória de Deus que brilha
família de origem ou no “dia péssimo”. Mas nos nossos corações, um tesouro contido
em termos bíblicos, nenhum desses fatores em vasos de barro. Visto que contamos
causam o seu comportamento pecaminoso. abundantemente com o poder de Deus,
Nenhum deles nos dá o porquê dela ter sido quando somos “pressionados”, não ficamos
ríspida. Portanto, ela não deveria dizer “Eu angustiados, desamparados nem destruídos.
agi assim porque...,” e completar a frase com Antes, a vida de Jesus revela-se em nosso
razões que na verdade são desculpas. corpo mortal. Não ficamos desanimados,
Lembre-se de que vimos que o sal- pois embora o nosso exterior se desgaste, o
mista refletiu sobre o seu comportamento nosso interior renova-se a cada dia. Os nossos
e estudou o que estava acontecendo. Tente problemas leves e momentâneos produzem
imitá-lo. Tente ver a situação de Roberto e eterno peso de glória, pois aguardamos
Susana de um ponto de vista cristão. O que ansiosamente pelas coisas eternas que agora
“causou” o comportamento? Você se lem- não vemos.
bra do nosso diagrama? Situação Pessoa As circunstâncias espremem a esponja,
 Ação (no diagrama anterior, o terceiro e a tinta sai. Por quê? Há duas possíveis res-
item era emoção; neste, comportamento). postas: (1) porque a esponja foi espremida (a
A Bíblia nos ensina que o comportamento razão da tinta sair); ou (2) porque havia tinta
de Susana não procede da situação, mas da na esponja (a razão de sair tinta). A resposta
pessoa que reage à situação. Sendo assim, a bíblica à pergunta “por quê?” é a segunda.
pergunta “por quê” não deve ser respondida Deus está interessado no porquê saiu tinta,
com referência à situação, mas com referên- em vez de sair alguma outra coisa. E Ele tem
cia à pessoa. Por que Susana expressou seu uma boa razão! Ele está interessado na ques-
mau-humor com sarcasmo? Não é porque ela tão central a respeito de Susana. A questão
estava com calor ou sede. É porque ela não não é saber o porquê Susana reagiu. Sabemos
queria o transtorno e o incômodo de estar que ela reagiu porque é um ser humano vivo
com calor e sede. que se expressa! Mas a questão real é saber o
Quero dar uma ilustração simples que porquê Susana reagiu daquela maneira. Por
aprendi quando criança, na escola dominical. que aquilo foi exteriorizado? As explicações
Uma pessoa é como um esponja; as circuns- de Susana, listadas acima, são várias maneiras
tâncias da vida espremem a esponja. O que de dizer “a tinta saiu porque eu fui pressio-
sai de uma esponja quando você a espreme? nada”. A explicação bíblica é sempre “a tinta
Bem, isso depende daquilo em que ela está saiu porque havia tinta lá dentro”. Palavras
banhada. Se a esponja estiver ensopada de duras e pouco amáveis não têm como causa
tinta, sairá tinta; se ela estiver ensopada de o calor excessivo, a falta de água, o cansaço,

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o pano de fundo familiar ou o fato do casal Deus. Guarda os mandamentos do
ter-se perdido por culpa de Roberto. A causa Senhor teu Deus, para andares nos
é um coração não consagrado. seus caminhos, e o temeres.
Que situação difícil! E o propósito de
Sofrimento, comportamento e Deus em usar o deserto como “cenário” era
linguagem humilhar, testar e ensinar o Seu povo. O
Essa abordagem levanta uma questão texto continua:
bíblica ainda mais ampla. Qual é a relação Porque o Senhor teu Deus te faz
entre as situações difíceis, dolorosas (ou de- entrar numa boa terra, terra de
sagradáveis) e o comportamento? A resposta ribeiros de águas, de fontes, de
mais clara é que a situação é como o cenário mananciais profundos, que saem
de uma peça teatral. Ela é o palco, mas não dos vales e das montanhas; terra de
a ação. Se alguém disser que a cena se dá em trigo e cevada, de vides, figueiras
uma estação de trem, isso ainda não nos diz e romeiras; terra de oliveiras, de
muito a respeito do enredo! Este poderia ser azeite e mel; terra em que comerás
alegre, triste ou de terror. O mesmo acontece o pão sem escassez, e nada te faltará
com as nossas situações. “Eu cresci em uma nela; terra cujas pedras são ferro, e
família marcada por abuso” poderia dar iní- de cujos montes cavarás o cobre.
cio a uma história que destaca a fidelidade e Comerás e te fartarás, e louvarás ao
o livramento de Deus, ou poderia dar início Senhor teu Deus pela boa terra que
a uma história centrada em autocomiseração te deu. Guarda-te não te esqueças do
e murmuração. Cada situação tem suas ten- Senhor teu Deus, não cumprindo os
tações próprias, mas a trama é encenada pelo seus mandamentos, os seus juízos e
coração. Olhe para Deuteronômio 8.2-6: os seus estatutos, que hoje te ordeno;
Recordar-te-ás de todo o caminho, para não suceder que, depois de teres
pelo qual o Senhor teu Deus te comido e estiveres farto, depois de
guiou no deserto estes quarenta haveres edificado boas casas, e mora-
anos, para te humilhar, para te pro- do nelas; depois de se multiplicarem
var, para saber o que estava no teu os teus gados e os teus rebanhos, e se
coração, se guardarias ou não os seus aumentar a tua prata e o teu ouro,
mandamentos. Ele te humilhou, e e ser abundante tudo quanto tens,
te deixou ter fome, e te sustentou se eleve o teu coração e te esqueças
com o maná, que tu não conheceste, do Senhor teu Deus, que te tirou da
nem teus pais o conheceram, para terra do Egito... Não digas, pois, no
te dar a entender que não só de pão teu coração: A minha força e o poder
viverá o homem, mas de tudo o que do meu braço me adquiriram estas
procede da boca do Senhor, disso riquezas. (Dt 8.7-14, 17).
viverá o homem. Nunca envelheceu Esta situação é diferente; completa-
a tua veste sobre ti, nem se inchou mente oposta à primeira. Mas o foco de
o teu pé nestes quarenta anos. Sabe, Deus ainda está no coração. Ambas as cir-
pois, no teu coração que, como cunstâncias constituem testes para o povo
um homem disciplina a seu filho, de Deus, embora sejam testes diferentes.
assim te disciplina o Senhor teu Dificuldades no deserto (p. ex., Roberto e

Coletânea de Aconselhamento Bíblico  Volume 2 113


Susana caminhando na trilha sem água!) cia nossa, de nós outros sobre quem
pressionam-nos por um lado. O que virá à os fins dos séculos tem chegado,.
tona - murmuração ou fé? A terra prometida Aquele, pois, que pensa estar em pé,
(p. ex., Roberto e Susana de volta ao carro veja que não caia. Não vos sobreveio
com um cantil de água fresca) pressionam- tentação que não fosse humana; mas
nos por outro lado. Eles esquecerão de Deus Deus é fiel, e não permitirá que se-
ou lembrarão de agradecê-lO? A questão é jais tentados além das vossas forças
sempre se o povo de Deus responderá de pelo contrário, juntamente com a
maneira justa ou pecaminosa. O que Deus tentação, vos proverá livramento, de
diz é que a situação é o cenário, mas Ele está sorte que a possais suportar.
interessado na trama. Ele quer saber se a Há lições profundas aqui. Pense nesta
pessoa responderá corretamente ou não. situação! Coloque-se no lugar do povo de
Vamos olhar para um outro relato Israel. Como você reagiria se tivesse somente
bíblico sobre essa época da história do povo uma muda de roupa (que nunca se gastou!),
de Israel - 1Coríntios 10.1-13: não tivesse abrigo permanente, estivesse
Ora, irmãos, não quero que ignoreis incerto quanto ao futuro, em meio a calor,
que nossos pais estiveram todos sob areia e vizinhos hostis, ficasse frequente-
a nuvem, e todos passaram pelo mar, mente sem água e não houvesse qualquer
tendo sido todos batizados, assim na variação na dieta alimentar ou na rotina?
nuvem, como no mar, com respeito Isso é duro! É de se esperar que aquele povo
a Moisés. Todos eles comeram de lutasse com descontentamento. Sentimo-nos
um só manjar espiritual, e beberam inclinados a ser compreensivos com alguém
da mesma fonte espiritual; porque que murmurasse em tal situação. Você po-
bebiam de uma pedra espiritual deria imaginar como seria o compartilhar de
que os seguia. E a pedra era Cristo. um grupo pequeno de oração no deserto?
Entretanto, Deus não se agradou da Eles acabavam de se acomodar, ajeitando as
maioria deles, razão por que ficaram tendas confortavelmente, e então a nuvem
prostrados no deserto. Ora, estas movia-se repentinamente e tudo tinha que
cousas se tornaram exemplos para ser removido! Isso é dureza.
nós, a fim de que não cobicemos as Mas qual é o foco de Deus no relato
cousas más, como eles cobiçaram. de 1Coríntios? Ele ignora completamente as
Não vos façais, pois, idólatras, como “circunstâncias atenuantes”. Ele olha apenas
alguns deles; porquanto está escrito; para a murmuração, para o ato de colocá-lO
‘O povo assentou-se para comer e à prova, a prática da imoralidade, os desejos
beber, e levantou-se para divertir- maus e a idolatria. Ele nem mesmo mencio-
se’. E não pratiquemos imoralida- na as dificuldades que o povo enfrentava. E
de, como alguns deles o fizeram, com uma boa razão: Deus está interessado
e pereceram pelas mordeduras das na trama. Ele adverte os coríntios - e nós
serpentes. Nem murmureis como também - para que não voltemos a represen-
alguns deles murmuraram, e foram tar esta trama em nosso cenário particular.
destruídos pelo exterminador. Estas O cenário não tem importância. A mesma
cousas lhes sobrevieram como exem- trama poderia ser montada em um cenário
plos, e foram escritas para advertên- totalmente diferente do Sinai. Ela pode ser

114 Coletânea de Aconselhamento Bíblico  Volume 2


encenada em sua vida. Deus sabe disso, e afirmações sobre causas e motivações são
a advertência que Ele faz coloca o cenário um ataque à verdade de Deus. Desculpamos
no devido lugar: as circunstâncias são ir- parcialmente a nós mesmos e deixamos de
relevantes para a causa do comportamento nos arrepender devidamente. Apontando
pecaminoso. Talvez sejamos mais predis- para as circunstâncias em lugar de apontar
postos à murmuração quando as coisas são para nós mesmos, deixamos de crer que as
difíceis ou à arrogância quando as coisas coisas podem realmente ser diferentes. As cir-
vão bem; mas estamos sempre propensos a cunstâncias podem voltar a ser desagradáveis.
cometer esses pecados porque eles não são Susana não tem nenhuma garantia de que ela
causados pela situação. Tanto a murmuração e Roberto não se perderão em uma caminha-
como a arrogância procedem de um coração da futura (ou mesmo no caminho de volta).
pecaminoso. Se foi esse o motivo que a levou a ser ríspida,
Com frequência, somos tentados a poderá acontecer de novo. Mas em Cristo ela
pensar nestas reações pecaminosas como tem uma esperança real e magnífica. O evan-
causadas por um coração pecaminoso e por gelho pode transformá-la. É possível que
circunstâncias difíceis. Esta é a tentação sutil Roberto e ela se percam novamente. Mas
da justiça própria: reconhecer a própria cul- se ela estiver sendo transformada pelo Es-
pa, mas apenas parcialmente; assumir parte pírito Santo, Roberto não precisará temer
da responsabilidade, mas apenas parte. Pense as mesmas palavras ríspidas nem mesmo
novamente no relato que Deus faz sobre a a frustração interior e falta de amor ante-
peregrinação de Israel no deserto. Não há riormente expressadas! O alvo de Deus é
sequer uma alusão a essa responsabilidade que em uma situação semelhante, no fu-
“compartilhada”. Na verdade, como poderia turo, Susana esteja pronta para reagir com
haver? Confira novamente Deuteronômio 8. alegria, paz, perseverança e amor. Talvez
Podemos presumir que Israel certamente te- ela rirá da situação e até mesmo apreciará
ria entrado na terra prometida não fossem os a caminhada de volta! Ou talvez encarará
inimigos, a fome e a sede, e se a jornada tives- a situação pacientemente e sem murmurar
se sido curta. Mas Deus diz que Ele mandou e, no final da caminhada, beberá água com
as dificuldades para testar Israel, “para saber gratidão a Deus.
o que estava no teu coração”. Se dissermos O caminho de Deus é reto. Os nos-
que Israel murmurou porque era um povo sos caminhos são insensatos. Precisamos
de pecadores e porque as circunstâncias eram cultivar e dirigir a vida em todas as suas
difíceis, dividimos a responsabilidade entre áreas de acordo com a verdade dEle. O
Israel e Deus. Isso não pode ser! O povo de uso de “porque” é algo pequeno. Mas a
Israel não pôde entrar na terra prometida prática de desculparmo-nos parcialmente,
por uma só razão: eles pecaram. de arrependermo-nos superficialmente, de
Por que isso é importante? Porque termos uma fé pequena porque o nosso
somos todos parecidos com Susana. Nossa objetivo é conforto e não a semelhança
tendência é explicar o comportamento pe- com Cristo - estes são problemas maiores,
caminoso falando da situação. Dizemos que e muito comuns. Treinar os nossos lábios
fizemos algo porque... e não admitimos que pode nos ajudar, de maneira específica,
o nosso coração é a única causa. Será que a lidar com os assuntos mais sérios do
isso é tão mau? Sim! É algo sutil, mas estas coração.

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Aqui está o meu desafio. Vigie os seus Conclusão
lábios nas próximas duas semanas; observe Ao seu redor, há forças invisíveis que
como você usa “estou mal” e outras catego- querem impedir que você se conforme à
rias enganosas para descrever suas emoções. imagem de Jesus Cristo: o mundo, a carne
Pense naquilo que você está sentindo, e o diabo. A Bíblia o adverte para que você
pensando e fazendo, à luz do contexto do lute contra as influências destas forças: não
que está acontecendo entre você e Deus. se conforme com o mundo, mortifique os
Observe como você usa a palavra “porque”. desejos da carne, revista-se de toda a arma-
Quando você se pegar falando sobre como as dura de Deus contra as forças espirituais
circunstâncias eram “difíceis” ou “dolorosas”, do mal. Deus também nos adverte que a
pare e dirija o seu foco para obediência e batalha é travada particularmente no nosso
desobediência. O restante é apenas o cenário. falar. As atitudes do coração são reveladas
Se você precisar falar sobre situações difíceis, por meio daquilo que você fala. À medida
use a expressão “embora” em vez de “porque” que você procura andar na justiça, deve dar
- uma expressão que mantém o foco nas uma atenção especial às suas palavras, pois
questões importantes do coração. Mas depois elas são a melhor maneira de transparecer o
destas duas semanas iniciais, deixe que esses que realmente está em seu coração. Quando
exemplos venham a ser dois entre muitos estiver travando batalhas espirituais, você
outros à medida que você, como o salmista, deve ser diligente na análise de como os seus
aprender a considerar e analisar as suas pa- inimigos procuram distorcer o seu linguajar,
lavras. Que as palavras dos nossos lábios e fazendo com que maneiras rebeldes de falar
o meditar do nosso coração sejam aceitáveis pareçam “normais”. Ser santo no seu falar
diante de Deus. E que Deus conceda graça não é fácil. Tiago nos adverte que embora
para que “quer comais, quer bebais ou façais possa domar animais selvagens de várias
outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória espécies, o homem não consegue domar
de Deus” (1Co 10.31). sua língua - ela é “mal incontido, carrega-
Não fique com medo nem se deixe do de veneno mortífero” (Tg 3.8). Assim
abater pelo processo. Se você avaliar as suas como em outras situações, aqui também o
palavras e identificar pecado por todo lado, que é impossível para o homem é possível
este é um primeiro passo encorajador! A para Deus. A sabedoria que vem do alto,
menos que tenhamos uma experiência de concedida liberalmente por Deus, faz com
pecado abundante, nossa experiência de que nossa língua seja uma fonte que jorra
graça não poderá ser superabundante. A água fresca.
graça é muito mais abundante onde uma
conscientização elevada de pecado nos leva Estudo Pessoal
a um arrependimento mais profundo e a 1. De que maneira você e as pessoas ao
uma apreciação maior do poder tremendo seu redor usam termos neutros para
de Cristo para nos libertar, perdoando-nos e descrever experiências emocionais?
transformando-nos. Para o cristão, Romanos (p. ex., “estou chateado”, “estou mal”,
8.9 deve oferecer a interpretação para Gálatas “meu dia está péssimo”).
5.16-25; 1Coríntios 1.30, para Provérbios 2. Que termos neutros você e as pesso-
12.18-19 ou Mateus 12.37. as ao seu redor usam para descrever

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comportamentos pecaminosos? (p. ex., adequados para cada uma das frases
“caso”, “conflitos de personalidade”, acima.
“baixa autoestima”, “desabafo”). 5. Busque a Cristo em arrependimento,
3. Que termos neutros você e as pessoas e cultive a esperança e a fé bíblicas de
ao seu redor usam para descrever as que Ele o transformará. Medite sobre
razões para certos comportamentos quem você é nEle e como essa união o
e emoções? (p. ex., “Porque ele/ ela libertará.
fez...”, “Eu sinto necessidade de...”, “Eu 6. Diga a outras pessoas como você quer
tenho vontade de...”). mudar o seu falar. Peça a elas que
4. A palavra de Deus não é neutra. Deus orem pelo poder do Espírito e prati-
define o que é bom, mau, verdadeiro quem uma cobrança cristã durante o
e falso. Encontre termos bíblicos mais processo.

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