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Patrimonial
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EDITORIAL
O
inventário, descrição e valoração do Património cultural imóvel preservado
nos diferentes municípios portugueses é uma obrigação legal que, felizmente,
tem tradução crescente em levantamentos que actualizam, sistematizam e
enriquecem o conhecimento local e regional. Aqui e ali ainda realizados a contragosto,
apenas para satisfazer essas obrigações e garantir a aprovação de planos directores e outros
instrumentos sujeitos à tutela da administração central, a verdade é que muitos deles aspiram
transformar-se no essencial: poderosas ferramentas de integração plena dos recursos patrimoniais
na gestão do território e nas políticas e estratégias que não menosprezam a importância da
Capa | Jorge Raposo Cultura, da História e do Património para dar sustentabilidade e qualidade de vida às
Imagem do lagar rupestre de São João I comunidades do presente e às gerações futuras.
com o castelo de Moreira de Rei em pano
de fundo, captada em trabalho de campo
Este tomo da Al-Madan Online é particularmente rico de exemplos e reúne projectos desse
para a Carta Arqueológica do Município tipo nos municípios de Trancoso, Penamacor e Cinfães, que passam a dispor de informação
de Trancoso.
também indispensável para, conhecendo o existente, minimizar o impacto de pequenas e grandes
Foto © João Carlos Lobão, obras públicas e privadas. A Arqueologia preventiva em ambiente urbano está também presente
Maria do Céu Ferreira e Rui Parente
de Figueiredo. através de intervenções nas cidades de Óbidos e de Portalegre, e no balanço do que a investigação
arqueológica vem acrescentando à interpretação da transformação histórica de Leiria.
Noutro plano, as páginas da Al-Madan Online apresentam o que dados preliminares apontam
ser um dos mais importantes sítios arqueológicos submersos até agora localizados em Portugal,
no caso junto à praia de Belinho, a Norte de Esposende. Podem ainda ler-se abordagens
metodológicas ao estudo da cerâmica fina da Idade Moderna, à análise de pastas cerâmicas
II Série, n.º 21, tomo 3, Julho 2017 por recozedura e à reavaliação das centuriações romanas propostas para o território de
Conimbriga, bem como a proposta de aplicação de um modelo estatístico preditivo para
Proprietário e Editor | localização de povoados pré-históricos da Beira interior.
Centro de Arqueologia de Almada,
Apartado 603 EC Pragal,
Outros trabalhos compõem um conjunto de grande diversidade. Um deles aborda a temática
2801-601 Almada Portugal da espiritualidade islâmica que marcou os séculos X a XII na região costeira entre a serra da
NIPC | 501 073 566 Arrábida e Sines, intensificada e conjugada com as medidas defensivas impostas pelas incursões
Sede | Travessa Luís Teotónio vikings. Outro relata um curioso incidente na tentativa de inspecção técnica a duas locomóveis
Pereira, Cova da Piedade,
2805-187 Almada
a vapor, em 1931, na zona de Linda-a-Pastora (Oeiras), e realça o papel da análise documental
Telefone | 212 766 975 na Arqueologia industrial. Por fim, um último artigo fala-nos de etnografia e erudição nos
E-mail | c.arqueo.alm@gmail.com artefactos de couro, num testemunho pessoal que interage com a obra de Gil Vicente e histórias
Internet | www.almadan.publ.pt de vida de vários artesãos, até ao Museu dos Samarreiros, em Vila Verde (Seia). A terminar,
ISSN | 2182-7265 faz-se balanço de encontros de Zooarqueologia e Arqueomalacologia recentes e listam-se
Estatuto editorial | vários outros eventos em agenda para datas próximas ou de médio prazo.
www.almadan.publ.pt
E não esqueça que, na mesma data deste tomo digital, iniciou a sua distribuição o
Distribuição | http://issuu.com/almadan
N.º 21 da Al-Madan impressa, com um dossiê especial dedicado ao Património Cultural
Patrocínio | Câmara M. de Almada
Parceria | ArqueoHoje - Conservação
Subaquático de Época Contemporânea e vários outros motivos de interesse.
e Restauro do Património Na Internet ou nas páginas impressas, votos de boa leitura.
Monumental, Ld.ª
Apoio | Neoépica, Ld.ª Jorge Raposo
Director | Jorge Raposo
(director.almadan@gmail.com)
Publicidade | Centro de Arqueologia
de Almada (c.arqueo.alm@gmail.com) Resumos | Jorge Raposo (português), Carvalho, Tânia Manuel Casimiro, Manuel Resende, J. A. Severino
Luisa Pinho (inglês) e Maria Isabel dos Filipe Castro, Cláudia Costa, Cleia Rodrigues, Helena Santos, João Luís
Conselho Científico | Santos (francês) Detry, José d’Encarnação, Marta Sequeira, Maria João Valente e
Amílcar Guerra, António Nabais, Estanqueiro, Maria do Céu Ferreira, Chia-Chin Wu
Luís Raposo, Carlos Marques da Silva Modelo gráfico, tratamento de imagem
e paginação electrónica | Jorge Raposo Sara Ferro, João Figueiredo, Rui
e Carlos Tavares da Silva Parente de Figueiredo, Bruno R. Os conteúdos editoriais da Al-Madan Online
Redacção | Centro de Arqueologia de Revisão | Fernanda Lourenço Bairrão de Freitas, Luís Gomes, Sofia não seguem o Acordo Ortográfico de 1990.
No entanto, a revista respeita a vontade dos
Almada (sede): Vanessa Dias, Colaboram neste número | de Melo Gomes, Eliana Goufa, Marco autores, incluindo nas suas páginas tanto
Ana Luísa Duarte, Elisabete Alexandre Monteiro, Ana Almeida, Liberato, João Carlos Lobão, Ivone artigos que partilham a opção do editor
Gonçalves e Francisco Silva Guilherme Cardoso, António Rafael Magalhães, Franklin Pereira, Jorge como aqueles que aplicam o dito Acordo.
3
ÍNDICE
EDITORIAL ...3
Arqueologia em Leiria:
CRÓNICAS análise do seu contributo para
a compreensão da evolução
A Arqueologia e o Rigor | histórica da cidade |
José d’Encarnação...8 Luís Gomes...65
ARQUEOLOGIA
ARQUEOLOGIA
SUBAQUÁTICA
Análise de Pastas de
Cerâmica Através de Recozedura |
Reavaliação das Centuriações Guilherme Cardoso...108
Propostas para o Território
de Conimbriga: uma abordagem
arqueogeográfica | Bruno
Ricardo Bairrão de Freitas...115 OPINIÃO
PATRIMÓNIO
O Despertar da Espiritualidade
- de al-Qasr / Alcácer
Islâmica no Sahil
. .
[do Sal] entre o emirato andalusi
e o califado almóada |
António Rafael Carvalho
e Chia-Chin Wu...128 Modelos Preditivos em
Arqueologia: uma aplicação
aos povoados proto-históricos
da Beira Interior | Marta
Estanqueiro...122
“Retire-se Que Isto Não Acaba Bem”: o caso do
processo n.º 3062 da 3.ª Circunscrição Industrial
e a importância das Circunscrições Industriais
para a Arqueologia Industrial | João Luís
Sequeira, Tânia Manuel Casimiro e
João Figueiredo...145
EVENTOS
Zooarqueologia e
Arqueomalacologia da Península
Ibérica | Cleia Detry, Cláudia
De Gil Vicente ao Museu Costa e Maria João Valente...179
dos Samarreiros: etnografia e
erudição nos artefactos em couro | Agenda...182
Franklin Pereira...157
5
CRÓNICA
A Arqueologia
e o Rigor
“ Há, pois, necessidade
de uma educação para o
rigor, que deve ser cada
vez mais incentivada,
José d’Encarnação
[Catedrático de História, aposentado, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra].
sobretudo agora que os
Por opção do autor, o texto não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990. meios tecnológicos colocados
ao nosso dispor se revelam
susceptíveis de nos facilitar
a vida, diminuindo em
muito o tempo necessário,
aqui há duas décadas atrás,
para levar a cabo com êxito
A
miúde se sublinha quanto o verdadeiro estudante
de Arqueologia se apercebe da importância do rigor,
mormente na observação. Um tijolo é diferente de uma
telha, ainda que, por vezes, seja tão diminuto o fragmento nos propusemos fazer.
“
e perfeição a tarefa que
Essa facilitação propiciadora de maior tempo livre deve ou a digital podem ficar muito bonitos, mas não são desenhos técnicos
ser encarada como tal; ou seja, eu tenho esta tarefa para cumprir; fiáveis, no sentido de reproduzirem fielmente estruturas e outros
vou conseguir fazê-la em muito menos tempo do que fazia outrora; contextos identificados no terreno. Não há noção do erro
conclusão: posso dedicar-lhe muito mais atenção, e das suas consequências.
que não sairei daí prejudicado. E assusta-me também a perda de qualidade das técnicas de registo
Ora, reside aí o perigo e a tentação: custa-me menos, fotográfico, agora substituídas por múltiplos disparos de máquinas
faço mais depressa, não preciso de lhe dedicar tanta reflexão! digitais (ou de smartphones), na esperança de que algum fique bom.
E era precisamente o inverso que deveria suceder: Há gente a trabalhar muito bem nestes domínios e a tirar bom partido
tenho mais tempo livre, vou reflectir mais, vou analisar melhor, das novas tecnologias. Mas vejo coisas que me deixam perplexo
vou estudar todos os aspectos que se me afigurarem de interesse; e que parecem não afligir quem assim procede”…
mesmo que as não saiba resolver, vou levantar as questões
que ora me surgem. 2. O “ASSUNTO” DAS MENSAGENS
Ainda que uma citação de teor religioso possa ser considerada
intrusa aqui, não resisto a transcrever o que Jesus Cristo terá dito Todos nós usamos o correio electrónico e, sabiamente,
aos Seus discípulos, na sequência do Sermão da Montanha: o inventor dessa modalidade de comunicação criou um campo
“Ninguém acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique que tem toda a razão de ser: o “assunto”. Vale a pena darmos uma
escondida, nem debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no olhadela à nossa caixa de correio para verificar quanta vez
velador, para que assim alumie todos os que estão em casa” a falta de rigor aí existe. Recebes uma mensagem do teu amigo,
(Mateus, 5, 15). mas queres aproveitar a circunstância para tratar com ele doutra
Na verdade, as nossas reflexões as não guardamos para nós: questão; pensa, pois, em mudar o “assunto”, caso se trate, de facto,
difundimo-las, publicamo-las, a fim de que essa partilha redunde de um assunto diferente. Fico perplexo quando recebo uma
em eficaz progresso científico. Não há que ter vergonha nem receio mensagem de França e vem no assunto “aucun”, “nenhum”!
de vir a ser refutado. Desde que haja boas razões assim se progride,
no respeito pela opinião de cada um. E mau será se, vistas essas boas
razões contrárias às nossas, não tivermos a humildade de aceitar.
Podemos, por vezes, ser mal interpretados e, nesse caso,
há duas opções: ou nos explicamos melhor ou deixamos que o
assunto de per si se esclareça. Recordo que um oficial do mesmo
ofício houve por bem publicar na Al-Madan violenta diatribe
contra mim, resultante de má interpretação de um dos meus textos;
essa diatribe é uma das primeiras referências que aparece sob
o meu nome quando se abre o Google; optei por não alimentar
a discussão, que porventura algum dia se esclarecerá por si.
É, porém, sobre o modo de publicação que hoje gostaria de
reflectir, na sequência do tal rigor que, por norma, caracteriza o
arqueólogo. Há sintomas – penso eu, mas posso estar errado –
de que poderia haver ainda maior reflexão. Exemplifico:
1. DESENHOS E FOTOGRAFIAS
7
CRÓNICA
RESUMO
1. Inventário ABSTRACT
RÉSUMÉ
A
região interior do Centro e Norte de Portugal é um dos espaços peninsulares
com maior concentração de lagares escavados na rocha (PEÑA CERVANTES, MOTS CLÉS: Plan archéologique;
Pressoirs rupestres.
2010: 90-91; ALMEIDA, 2011-2012: 489 e 492-493). No entanto, tendo em
consideração os dados publicados, o Concelho de Trancoso contrastava com esta realida-
de, já que, para o seu território, eram escassas as estruturas deste tipo mencionadas na
bibliografia.
Assim, e ainda que, por oposição,
1 2
a existência de lagares rupestres Na globalidade, os lagares O seu número ascenderá,
nesta área administrativa seja há rupestres são os vestígios seguramente, à centena e meia
arqueológicos mais facilmente de exemplares. De facto, a par
muito localmente reconhecida 1, reconhecíveis e dos que mais dos cinco lagares referenciados
o número exponencial de exem- curiosidade despertam entre a para a freguesia de Valdujo
plares identificados no decurso das comunidade local, motivando a que não foram identificados
sua divulgação, fortemente (COSTA, 2011: 100), existem,
prospecções para actualização da incrementada, nos últimos anos, pelo menos, mais dez por localizar:
Carta Arqueológica concelhia não com o surgimento das redes um na freguesia de Aldeia Nova,
sociais. Infelizmente, o crescente quatro na freguesia de Moreira
deixa de ser, de certo modo, sur-
interesse popular por estes sinais de Rei (no aro das aldeias de
preendente, tendo-se procedido, do passado, sendo uma condição Moreirinhas, Casas, Zabro e
até ao momento, ao registo de 135 essencial para a preservação dos Golfar), dois na freguesia de Rio
mesmos, revela-se também de Mel, um nas imediações de
estruturas, distribuídas por 123 lo-
prejudicial, pois a remoção de Benvende (Palhais), um na
cais 2. terras para colocação integral das Quinta do Salgado (Tamanhos),
I
Arqueólogo (jclobao@yahoo.co.uk).
II
estruturas à vista é uma prática e um em Monte Zebro Arqueóloga, Câmara Municipal de Trancoso
que se tem vulgarizado e que, (União das Freguesias (maria.ferreira@cm-trancoso.pt).
em vários casos, poderá conduzir de Freches e Torres). III
Câmara Municipal de Trancoso.
(e ter já conduzido) a uma
irreversível perda de Por opção dos autores, o texto não segue as regras
informação científica. do Acordo Ortográfico de 1990.
9
ARQUEOLOGIA
CATÁLOGO DE SÍTIOS
Na sequência do já efectuado para os restantes sítios arqueológicos do O catálogo encontra-se organizado por ordem alfabética de freguesias
concelho (LOBÃO e FERREIRA, 2016), concluída a elaboração da Carta e, em cada uma delas, por ordem geográfica, segundo um sentido
de Património Cultural do Plano Director Municipal (PDM), que se geral Norte-Sul e Oeste-Este. Por sua vez, a identificação e caracteri-
encontra em fase de revisão, apresenta-se, neste artigo, o inventário zação dos sítios com lagares rupestres é feita de acordo com o seguinte
dos sítios correspondentes a laga- esquema:
3
res escavados na rocha . N.º de inventário.
3 5
As descrições constantes do catá- Dezanove dos sítios Designação / topónimo Sempre que numa freguesia
logo procedem única e exclusiva- catalogados foram registados na (outras designações) ;5 exista mais de um sítio com a
base de dados do Gabinete de mesma designação, a esta
mente da observação dos vestí- Arqueologia Municipal depois de Folha CMP: número da folha da acrescenta-se um número,
gios, pois o trabalho desenvolvi- terminada a Carta de Património Carta Militar de Portugal em algarismos romanos, atribuído
do, em função dos objectivos e Cultural do PDM, pelo que, (CMP) à escala 1/25.000 do por ordem geográfica ou de
por enquanto, não constam descoberta; no caso de se
metodologia delineados, não pre- desse documento. Instituto Geográfico do desconhecer a sua designação,
conizava a limpeza e levantamen- 4
Sobre o âmbito, objectivos e Exército (IGeoE); o sítio é denominado pelo
to gráfico dos lagares, nem a des- metodologia das prospecções que Coordenadas ETRS89 ; 6 acrónimo da freguesia e por um
estão na origem do presente número de ordem; perante as
matação do seu local de implanta- inventário, veja-se LOBÃO e
Altitude média; dificuldades e incongruências
4
ção . Deste modo, para além de FERREIRA, 2016: 11-12. Contextualização geomorfológica verificadas na identificação dos
topónimos de alguns locais,
ser susceptível de incorrecções e, e hidrográfica;
este campo deve ser encarado
sobretudo, omissões, a caracteri- Descrição sumária do(s) lagar(es); como meramente indicativo,
zação dos lagares está longe de ser pormenorizada, o que inviabiliza a Observações complementares; prevalecendo, sobre ele,
a informação geográfica.
realização de um estudo detalhado e abrangente sobre os mesmos. Referências bibliográficas 7. 6
Respeitantes ao ponto central,
Pela sua natureza, os trabalhos de prospecção também não possibili- no Sistema de Referência
taram a recolha de informações significativas para um conhecimento Europeu 1989 (European
mais fundamentado e aprofundado desta temática e das principais Terrestrial Reference System),
com base na projecção Transversa
questões que a mesma encerra – algo que só poderá ser conseguido de Mercator ajustada ao território
com a promoção de escavações arqueológicas, quer em lagares que continental português desde
possam preservar contextos estratigráficos primários, quer na envol- 2006 – PT-TM06/ETRS89.
7
vente imediata destes vestígios. Sempre que este campo
esteja ausente, o sítio é
Apesar das limitações supra-evidenciadas, considerado inédito.
tendo por base os dados coligidos neste in-
ventário e os estudos existentes acerca desta BIBLIOGRAFIA
temática, encontra-se em ultimação um es-
tudo preliminar sobre os lagares rupestres ALMEIDA, Carlos A. Brochado (2011-2012) – GORJÃO, Sérgio (2009) – Cogula. Apontamentos
do Concelho de Trancoso (a publicar pos- “Estruturas Vinárias da Lusitânia e Gallaecia para a monografia de uma freguesia de Trancoso.
Meridional”. In De Vino et Oleo Hispaniae. Trancoso: Junta de Freguesia de Cogula.
teriormente nesta mesma revista), no qual Áreas de Producción y Procesos Tecnológicos del Vino LOBÃO, João Carlos e FERREIRA, Maria do Céu
se procede ao estabelecimento de um qua- y el Aceite en la Hispania Romana. Murcia: (2016) – “Pontos no Mapa: notícia preliminar
dro tipológico para os exemplares identifi- Universidad, pp. 485-494 (AnMurcia, Anales de sobre a Carta Arqueológica do Concelho de
Prehistoria y Arqueología, 27-28, actas de colóquio Trancoso”. Al-Madan Online. Almada: Centro
cados, bem como à realização de breves internacional, Museo Arqueológico de Murcia, de Arqueologia de Almada. 21 (1): 11-33.
considerações sobre algumas das problemá- 5-7 Maio 2010). Em linha. Disponível em https://issuu.com/almadan/
ticas que envolvem este tipo de estruturas, COSTA, Santos (1999) – Breve Monografia docs/al-madanonline21_1.
de Trancoso. Trancoso: Almanaque Bandarra. PEÑA CERVANTES, Yolanda (2010) – Torcularia.
nomeadamente sobre o seu modo de fun- COSTA, Santos (2011) – Valdujo: três povoados, La Producción de Vino y aceite en Hispania.
cionamento, implantação e cronologia. um povo. Trancoso: ed. do autor. Tarragona: Institut Català d’Arqueologia Clàssica
FERREIRA, Maria do Céu (2000) – “Contributos para (Documenta, 14).
a Carta Arqueológica do Concelho de Trancoso”. TEIXEIRA, Irene Avilez (1982) – Trancoso:
In Beira Interior: História e Património. Guarda: terra de sonho e maravilha. Trancoso: ed. da autora.
ARA / Câmara Municipal da Guarda, pp. 361-373
(Actas das I Jornadas de Património da Beira
Interior, Guarda, 1998).
11
ARQUEOLOGIA
CONCELHO DE
TRANCOSO
MOREIRA DE REI
14. MR-2
Folha CMP: 160
Coordenadas ETRS89:
70118.665, 131443.630
Altitude:723 m
Contextualização: pequena elevação
rochosa, em encosta de declive
moderado e sobranceira a um ribeiro.
Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro
correspondente a uma estrutura inacabada,
que ostenta um tanque quase totalmente Povoações
delineado com uma linha picotada, estando já
numa fase de rebaixamento quer dos limites da Limites de Freguesia
superfície interna, ao longo de uma faixa com Estradas
largura e profundidade variáveis, quer da zona
central, onde são visíveis duas linhas de desbaste IP.2
da rocha; o segundo constituído por um tanque 0 1,5 km
Sítios Arqueológicos
de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos
laterais rectangulares para fixação da prensa e
com orifício de escoamento, que comunica
com um pio semicircular.
14. Vista geral, com o lagar 1, inacabado, em primeiro plano. 16. MR-5
Folha CMP: 160
Coordenadas ETRS89: 69254.164, 130738.032
15. FONTE SECA I Altitude: 771 m
Folha CMP: 160 Contextualização:pequena elevação,
Coordenadas ETRS89: 68207.434, 130797.606 escoamento, com dois buracos laterais em encosta de relevo irregular e junto
Altitude: 823 m rectangulares para fixação da prensa, a uma linha de água.
Contextualização: encosta suave com vários dotados de entalhes para cunhas (o direito Descrição: lagar rupestre constituído por
afloramentos e blocos graníticos, no sopé possui ainda um canal direccionado para o um tanque de pisa/prensagem rectangular,
de uma imponente elevação rochosa e exterior da rocha), e com quatro cavidades com dois buracos laterais rectangulares para
sobranceira a um ribeiro. nos cantos do tanque (rectangulares no flanco fixação da prensa, um dos quais dotado de
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque direito e circulares no esquerdo) talvez para entalhes para cunhas, com três fossetes/entalhes
de pisa/prensagem subrectangular invertido e instalação de uma cobertura ou outra na lateral direita e com orifício/canal de
bastante profundo, com orifício/canal de estrutura complementar. escoamento, que comunica com
um pio semicircular.
13
ARQUEOLOGIA
CONCELHO DE
TRANCOSO
Povoações
Estradas
IP.2
Povoações
Limites de Freguesia
Estradas
IP.2
24. SORTES II
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 68420.753, 129802.320
Altitude: 822 m FIG. 4 − Lagares rupestres do Descrição:lagar rupestre constituído por um tanque
Contextualização:ver n.º 23. Concelho de Trancoso. de pisa tendencialmente quadrangular e com
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque orifício de escoamento, que comunica com um
de pisa/prensagem moldurado e tendencialmente pio rectangular na base e semicircular no topo.
quadrangular, com um buraco rectangular
na lateral esquerda para fixação da prensa, 30. LUCAS
e com orifício de escoamento que comunica Folha CMP: 170
com um pio semicircular. 27. TAPADA GRANDE I Coordenadas ETRS89: 69409.894, 129486.321
Folha CMP: 170 Altitude: 707 m
25. PILRAL Coordenadas ETRS89: 68021.529, 129713.955 Contextualização:encosta suave com vários
Folha CMP: 170 Altitude: 822 m afloramentos graníticos, em área de relevo
Coordenadas ETRS89: 69274.088, 129805.288 Contextualização: vertente suave de um pequeno irregular e sobranceira a um ribeiro.
Altitude: 749 m vale, irrigada por pequenas linhas de água. Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro
Contextualização:encosta suave com inúmeros Descrição: lagar rupestre de que se conservam constituído por um tanque de pisa/prensagem
afloramentos e blocos graníticos, em área de somente – e de forma parcial – o tanque de subrectangular, sem parede frontal, mas com
relevo irregular e sobranceira a uma linha de pisa/prensagem rectangular, o buraco lateral entalhes nas laterais para encaixe de um
água. esquerdo, de formato rectangular, para fixação barrote/tábua que rematasse o tanque,
Descrição: lagar rupestre constituído por um da prensa, e o canal de escoamento. com um conjunto de dois/três buracos
tanque de pisa/prensagem tendencialmente rectangulares em cada uma das laterais para
subquadrangular, com buracos laterais para 28. TAPADA GRANDE II fixação da prensa e com canal de escoamento,
fixação da prensa (apenas visível o lateral Folha CMP: 170 que comunica com um pio rectangular;
esquerdo, de formato rectangular) e com Coordenadas ETRS89: 68116.049, 129675.527 o segundo composto por um tanque de
orifício de escoamento junto ao canto direito, Altitude: 824 m pisa/prensagem tendencialmente quadrangular,
que comunica com um pio descentrado Contextualização: vertente moderada de uma elevação com dois buracos laterais rectangulares para
de configuração em “L”. rochosa, sobranceira a uma linha de água. fixação da prensa e com canal de escoamento.
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque Observações: junto ao primeiro lagar, encontrava-se
26. FREIXINHOS DE BAIXO de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos um peso subparalepipédico em granito, com
Folha CMP: 170 laterais rectangulares para fixação da prensa cavidade circular central nas faces anterior e
Coordenadas ETRS89: 67524.410, 129759.736 e com orifício de escoamento, que comunica posterior e com dois entalhes nas laterais
Altitude: 859 m com um pio igualmente rectangular. (actualmente à guarda da Junta de Freguesia).
Contextualização: planalto com ligeiras elevações
e alguns afloramentos graníticos destacados. 29. VALE (Chães de Moreira) 31. MR-3
Descrição: lagar rupestre constituído por um Folha CMP: 170 Folha CMP: 170
tanque de pisa/prensagem subrectangular, Coordenadas ETRS89: 68383.271, 129529.351 Coordenadas ETRS89: 67540.413, 129458.511
com entalhes laterais para fixação da prensa Altitude: 810 m Altitude: 860 m
(apenas visível o lateral direito, de formato Contextualização: encosta de declive acentuado com pequena elevação em encosta de
Contextualização:
rectangular), com orifício de escoamento e inúmeros afloramentos e blocos graníticos, relevo ondulado suave com muitos afloramentos
com a rocha afeiçoada na zona frontal a este. sobranceira a uma linha de água. graníticos, sobranceira a uma linha de água.
15
ARQUEOLOGIA
Povoações
Limites de Freguesia
Estradas
IP.2
0 1,5 km
Sítios Arqueológicos FIG. 5 − Lagares rupestres do Concelho de Trancoso.
Descrição:lagar rupestre constituído por um tanque 34. TOSCANA II sob um dos dois orifícios de escoamento da
de pisa/prensagem subquadrangular, com buracos Folha CMP: 170 estrutura (o outro situa-se no canto direito).
laterais para fixação da prensa (apenas visível Coordenadas ETRS89: 67987.220, 129264.546
o lateral direito, de formato rectangular), Altitude: 810 m 36. CORREDOURA
com orifício de escoamento e com a rocha Contextualização:cabeço alongado e de encostas Folha CMP: 170
afeiçoada na zona frontal a este. suaves, com muitos afloramentos e blocos Coordenadas ETRS89: 68863.506, 129271.565
graníticos. Altitude: 752 m
32. MR-4 Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro Contextualização: encosta de declive moderado
Folha CMP: 170 constituído por um tanque de pisa/prensagem com várias plataformas e cabeços rochosos
Coordenadas ETRS89: 67254.960, 129298.904 tendencialmente quadrangular, com dois buracos e inúmeros afloramentos e blocos graníticos.
Altitude: 870 m laterais rectangulares para fixação da prensa Descrição: lagar rupestre de pequena dimensão,
Contextualização:encosta em área de relevo ondulado e com dois orifícios/canais de escoamento, constituído por um tanque de pisa/prensagem
com vários afloramentos e blocos graníticos um na parede frontal, que comunica com um tendencialmente quadrangular, com dois buracos
dispersos, junto a uma linha de água. pio subrectangular invertido, e outro na parede laterais rectangulares para fixação da prensa,
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque posterior; o segundo composto por um tanque um dos quais dotado de entalhes para cunhas,
de pisa/prensagem tendencialmente de pisa/prensagem tendencialmente com uma fossete junto ao canto inferior
subquadrangular, com dois buracos laterais quadrangular, com um buraco na lateral direita esquerdo e com canal de escoamento no canto
rectangulares para fixação da prensa, dotados para fixação da prensa, junto ao qual se encontra direito, que comunica com um pio descentrado,
de entalhes para cunhas, com duas pequenas uma fossete, e com bica de escoamento no de formato indeterminado (soterrado).
cavidades circulares junto ao buraco lateral canto direito, que comunica com um pio
direito e com orifício/canal de escoamento. descentrado, de configuração subtriangular 37. LAGAR DO CASTELO
irregular. Folha CMP: 170
33. TOSCANA I Coordenadas ETRS89: 68573.020, 129169.660
Folha CMP: 170 35. TOSCANA III Altitude: 780 m
Coordenadas ETRS89: 67733.584, 129343.134 Folha CMP: 170 Contextualização: plataforma aplanada com diversos
Altitude: 830 m Coordenadas ETRS89: 67724.500, 129142.990 afloramentos e lajes graníticas, em encosta de
Contextualização:pequena elevação em encosta suave Altitude: 810 m relevo irregular (interior da povoação).
com vários afloramentos e blocos graníticos, Contextualização:topo de uma pequena elevação Descrição: lagar rupestre inacabado, com um
sobranceira a pequenas linhas de água. em encosta de relevo ondulado com muitos tanque de pisa/prensagem ligeiramente
Descrição: lagar rupestre constituído por um afloramentos e blocos graníticos, irrigada por rebaixado, estando apenas perfeitamente
tanque de pisa/prensagem tendencialmente pequenas linhas de água. delineadas a parede lateral esquerda e parte
quadrangular, com um buraco rectangular para Descrição: lagar rupestre constituído por um da parede frontal, com dois buracos laterais –
fixação da prensa, uma pequena cavidade circular tanque de pisa/prensagem subrectangular desalinhados e de formato rectangular –
e duas fossetes na lateral direita e com irregular, com três buracos para fixação da para fixação da prensa e com uma cavidade
orifício/canal de escoamento, que comunica prensa, dois rectangulares nas laterais e um de circular de função indeterminada, junto à
com um pio subtriangular irregular. formato elaborado no centro da parede frontal, face frontal da estrutura.
39. CASAL
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 68005.268, 129026.751
Altitude: 796 m
Contextualização:afloramento granítico destacado,
em área plana e irrigada por pequenas linhas
de água.
Descrição: lagar rupestre (?) delimitado por um
sulco de perímetro rectangular, com cerca de
10-15 cm de largura e profundidade, e com
uma pequena cavidade ovalada descentrada,
no interior do espaço definido por aquele.
43. Lagar 2, com apoios para a prensa nas quatro faces e com base circular para assentamento de um peso.
17
ARQUEOLOGIA
rectangulares para fixação da prensa nas quatro 47. LAPAS 51. QUINTAS DOS MOSQUEIROS II
faces, um deles dotado de entalhes para cunhas Folha CMP: 170 Folha CMP: 170
e o frontal aberto sobre o orifício/canal de Coordenadas ETRS89: 68471.027, 128091.912 Coordenadas ETRS89: 70289.634, 127245.465
escoamento, que comunica com um pio Altitude: 717 m Altitude: 563 m
tendencialmente quadrangular e pouco Contextualização:vertente moderada de um Contextualização: pequena elevação rochosa,
profundo; à esquerda do segundo lagar, pequeno vale com inúmeros afloramentos e em área de relevo ondulado suave.
no alinhamento dos buracos laterais, blocos graníticos, frequentemente aglutinados, Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro, oculto
encontra-se um rebaixamento circular e junto a uma linha de água. pela vegetação, parece ser constituído por um
aplanado, possivelmente, para melhor Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque tanque de pisa/prensagem muito incipiente ou
assentamento de um peso de lagar. de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos inacabado, com buracos laterais para fixação
laterais rectangulares para fixação da prensa, da prensa (apenas visível o lateral esquerdo,
44. PICOTO com uma fossete no rebordo da parede lateral de formato rectangular) e com canal de
Folha CMP: 170 direita e com orifício de escoamento, escoamento, que comunica com um pio
Coordenadas ETRS89: 67319.304, 128335.607 que comunica com um pio trapezoidal. semicircular; o segundo composto por um tanque
Altitude: 793 m Observações: sítio denominado na Carta de Património de pisa/prensagem tendencialmente quadrangular,
Contextualização:vertente de uma pequena elevação Cultural do PDM por Chão da Presa. com buracos rectangulares para fixação da prensa
com inúmeros afloramentos e blocos graníticos, nas faces anterior e posterior e com dois canais
irrigada por pequenas linhas de água. 48. CHÃO DA EIRINHA de escoamento junto ao canto direito, um dos
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque Folha CMP: 170 quais rematado por uma bica, que comunicam
de pisa/prensagem subquadrangular irregular, Coordenadas ETRS89: 67615.942, 127593.604 com um pio irregular e profundo; o tanque de
com buracos rectangulares para fixação da Altitude: 760 m pisa/prensagem do segundo lagar é também muito
prensa nas quatro faces, com vários entalhes e Contextualização: aglomerado de afloramentos e incipiente, pois está apenas parcialmente escavado
cavidades nas paredes frontal e lateral direita blocos graníticos no topo de uma pequena e, no lado esquerdo, onde a rocha foi somente
para apoio na instalação do sistema de elevação, em encosta de declive irregular e nivelada, exibe dois entalhes para colocação de um
prensagem e/ou de outras estruturas sobranceira a uma ribeira. barrote/tábua de madeira que servisse de parede.
complementares, com canal de escoamento Descrição: lagar rupestre constituído por um
no canto inferior esquerdo (?) e com tanque de pisa/prensagem tendencialmente 52. BARRIO
a rocha afeiçoada junto a este. subquadrangular, com buracos laterais para Folha CMP: 170
fixação da prensa e com bica de escoamento, Coordenadas ETRS89: 68604.151, 127135.229
45. CORDAVEIRA II (Lapas) que comunica com um pio ovalado. Altitude: 677 m
Folha CMP: 170 Contextualização:encosta de declive irregular com
Coordenadas ETRS89: 67979.840, 128216.750 49. RUA DAS MOITAS I diversos afloramentos graníticos destacados e
Altitude: 771 m Folha CMP: 170 junto a uma linha de água.
Contextualização: pequena elevação rochosa, Coordenadas ETRS89: 67633.161, 127550.341 Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque
em área de relevo irregular com diversos Altitude: 749 m de pisa/prensagem subrectangular, com dois
afloramentos e blocos graníticos. Contextualização: encosta de declive moderado, buracos laterais rectangulares para fixação da
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque sobranceira a uma ribeira (interior da prensa e com canal de escoamento, que comunica
de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos povoação). com um pio subquadrangular irregular.
laterais rectangulares para fixação da prensa, Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque
um dos quais dotado de entalhes para cunhas, de prensagem rectangular, com dois buracos 53. TERRAS DE FORA I (Peto)
com longo orifício/canal de escoamento e laterais rectangulares para fixação da prensa, Folha CMP: 170
com um rasgo no alçado da parede frontal, e por um tanque de pisa com o mesmo formato, Coordenadas ETRS89: 69925.805, 126543.594
à esquerda do canal, que na base da rocha que comunicam com um pio igualmente Altitude: 571 m
parece delinear o canto de um pio (soterrado?). rectangular, o qual corresponde ao ângulo Contextualização: extensa laje, no topo de uma
do “L” resultante da disposição dos três tanques; pequena elevação com diversos afloramentos e
46. CORDAVEIRA I a separação entre estes é, aparentemente, blocos graníticos.
Folha CMP: 170 efectuada por pequenas reentrâncias, isto é, Descrição: lagar rupestre constituído por um
Coordenadas ETRS89: 68207.380, 128099.543 por paredes que não encerram por completo tanque de pisa/prensagem rectangular, com
Altitude: 755 m cada compartimento. buracos laterais para fixação da prensa
Contextualização: encosta de relevo irregular (apenas visível o lateral direito), com um
com diversos afloramentos e blocos graníticos, 50. QUINTAS DOS MOSQUEIROS I pequeno entalhe no rebordo da parede frontal
por vezes aglutinados. Folha CMP: 170 e com orifício/canal de escoamento,
Descrição: lagar rupestre constituído por um Coordenadas ETRS89: 70367.529, 127431.186 que comunica com um pio rectangular.
tanque de pisa/prensagem subrectangular Altitude: 565 m Observações: junto ao lagar, identificaram-se
invertido, com um buraco de formato em “U” Contextualização: pequena elevação, em área de dois pesos em granito: um de formato cilíndrico,
no flanco posterior para fixação da prensa e relevo ondulado suave. com cavidade circular no topo; o outro cónico,
com orifício de escoamento no canto esquerdo, Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque com dois entalhes laterais.
que comunica com um pio descentrado, de pisa/prensagem trapezoidal, com dois buracos
de configuração rectangular invertida. laterais rectangulares para fixação da prensa,
dotados de entalhes para cunhas, e com
orifício/canal de escoamento.
57. BARREIRA
Folha CMP: 169
Coordenadas ETRS89: 58174.423, 127952.291
Altitude: 704 m
Contextualização:encosta de relevo irregular,
irrigada por pequenas linhas de água.
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque
de pisa rectangular alongado, com orifício de
escoamento, e por um prato ou base de prensa
circular e pouco profundo, com canal de
escoamento, dispostos lado-a-lado e
55. Lagar 1, que apresenta um par de buracos em cada lateral para fixação da prensa. direccionados para uma zona em que o
contorno da rocha se apresenta afeiçoado;
no flanco oposto do tanque de pisa, regista-se
54. TERRAS DE FORA II (Peto) de entalhes para cunhas, e com canal de ainda um rebaixamento quadrangular com canal,
Folha CMP: 170 escoamento, que comunica com um pio de função indeterminada.
Coordenadas ETRS89: 69922.416, 126477.494 descentrado de configuração rectangular;
Altitude: 569 m o segundo formado por um tanque de 58. SENHORA DA RIBEIRA I
Contextualização: vertente suave de uma pequena pisa/prensagem tendencialmente Folha CMP: 169
elevação com inúmeros afloramentos e blocos subquadrangular e talvez inacabado Coordenadas ETRS89: 57784.667, 127578.552
graníticos, em área de relevo ondulado suave e (superfície interna muito irregular), Altitude: 657 m
sobranceira a um ribeiro. com dois buracos laterais rectangulares para Contextualização: extensa laje granítica sobrelevada,
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque fixação da prensa e com canal de escoamento, em encosta suave com vários afloramentos e
de pisa/prensagem rectangular invertido, com que comunica com um pio rectangular. blocos graníticos, frequentemente aglutinados,
bica de escoamento junto ao canto esquerdo, junto a uma linha de água.
que comunica com um pio descentrado, Descrição: lagar rupestre constituído por um
tendencialmente quadrangular e com uma das tanque de pisa tendencialmente subquadrangular,
paredes rematada com uma pedra rectangular
PALHAIS com orifício/canal de escoamento, com a rocha
alongada; integra-se num edifício que conserva a afeiçoada na zona frontal a este e com uma
estrutura intacta, estando apenas sem cobertura; 56. CARVALHOSA pequena cavidade circular pouco profunda,
de perímetro rectangular e acessível por uma Folha CMP: 169 escavada num afloramento junto à parede
única porta, o interior do imóvel é um espaço Coordenadas ETRS89: 58309.825, 128066.288 lateral direita.
amplo, que detém somente uma possível lareira Altitude: 700 m Observações: situa-se nas imediações de uma
no canto posterior esquerdo (acima da qual se encosta suave com alguns
Contextualização: sepultura rupestre e de um sítio com ocupação
observa uma pilheira) e o lagar, que ocupa todo afloramentos e blocos graníticos, junto a romana e medieval (?) (LOBÃO e FERREIRA, 2016:
o flanco à direita da entrada; o tanque de pisa uma linha de água. 19, n.ºs 39-40).
tem a face posterior encostada ao alçado lateral
do imóvel e – por oposição ao pio, que está ao
nível do chão – encontra-se numa posição
sobrelevada, sendo o acesso a ele facultado
pela presença de um degrau escavado no
extremo da rocha; sensivelmente a eixo do
tanque de pisa, observa-se ainda, na base da
parede lateral do imóvel, uma perfuração
para fixação da cabeça da vara de lagar.
55. BARROCAL
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 68886.162, 126460.671
Altitude: 650 m
Contextualização:vertente moderada de um
cabeço rochoso, sobranceira a uma ribeira.
Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro
constituído por um tanque de pisa/prensagem
quadrangular irregular, com um par de buracos
rectangulares em cada uma das laterais para
fixação da prensa, estando os exteriores dotados 57. Lagar com tanque de pisa alongado e prato.
19
ARQUEOLOGIA
59. PL-1
Folha CMP: 169
Coordenadas ETRS89: 58943.470, 126756.034
Altitude: 664 m
bloco granítico, em encosta suave.
Contextualização:
lagar rupestre constituído por uma base
Descrição:
de prensa de superfície convexa, definida por um
sulco de perímetro ovalado, com canal de
escoamento.
RIO DE MEL
61. Lagar com tanque de pisa e pio.
60. RUA DAS LAGINHAS
Folha CMP: 169
Coordenadas ETRS89: 62400.911, 127063.382
Altitude: 780 m 62. MOINHO DO JOSÉ FORCA Descrição:lagar rupestre constituído por uma
Contextualização: encosta suave, junto a uma linha Folha CMP: 169 plataforma de prensagem (inclinada e de
de água (interior da povoação). Coordenadas ETRS89: 61411.325, 126224.267 superfície regular), definida por um sulco de
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque Altitude: 742 m perímetro subtriangular irregular e com uma
de pisa rectangular invertido e com orifício de Contextualização: aglomerado de extensas lajes reentrância em forma de meia-lua no alçado
escoamento junto ao canto direito, que graníticas, em encosta suave e sobranceiro à frontal, para encaixe de uma telha.
comunica com um pequeno pio descentrado, ribeira de Rio de Mel.
de formato irregular. Descrição: lagar rupestre constituído por uma
plataforma de prensagem (ligeiramente inclinada
61. BARROCA e de superfície regular), definida por um sulco de
TAMANHOS
Folha CMP: 169 perímetro ovalado e afunilado na zona de
Coordenadas ETRS89: 59796.930, 126731.544 escoamento. 64. TM-1
Altitude: 700 m Folha CMP: 170
Contextualização:sopé de uma pequena elevação com 63. LANTEJANO Coordenadas ETRS89: 69846.874, 123898.480
alguns afloramentos graníticos, em encosta de Folha CMP: 169 Altitude: 646 m
relevo ondulado suave. Coordenadas ETRS89: 60479.183, 126019.632 Contextualização:vertente suave de um cabeço,
Descrição: lagar rupestre constituído por um Altitude: 677 m junto a um ribeiro.
tanque de pisa trapezoidal e com orifício de pequena elevação rochosa,
Contextualização: Descrição: lagar rupestre oculto por um
escoamento, que comunica um pequeno em área de relevo irregular e junto à ribeira amontoado de madeira, de que se observam
pio semicircular. de Rio de Mel. somente parte do tanque de pisa/prensagem
e os dois buracos laterais para fixação da prensa.
70. Lagar com tanque de pisa/prensagem, apoios laterais para a prensa e pio.
21
ARQUEOLOGIA
74. VALES IV 76. QUINTA DAS CORGAS II lagar rupestre constituído por um
Descrição:
Folha CMP: 181 Folha CMP: 181 tanque de pisa/prensagem rectangular e pouco
Coordenadas ETRS89: 66426.478, 116177.227 Coordenadas ETRS89: 66637.643, 116064.553 profundo, com buracos laterais para fixação da
Altitude: 481 m Altitude: 480 m prensa (apenas visível o lateral direito), com bica
Contextualização:encosta com alguns afloramentos Contextualização: afloramento granítico destacado, de escoamento e com o afloramento afeiçoado
e blocos graníticos, em área de relevo ondulado em área de relevo ondulado suave e junto na zona frontal a esta.
suave. a uma linha de água.
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque Descrição: lagar rupestre que aproveita uma ligeira 78. PLAMES
de pisa rectangular invertido e com bica de depressão natural como área de pisa/prensagem, Folha CMP: 160
escoamento; integrava um edifício, de que se possuindo dois pequenos buracos rectangulares Coordenadas ETRS89: 65376.244, 133504.572
observam, apesar da vegetação, as ruínas de três no lado direito para fixação da prensa e uma Altitude: 797 m
paredes, uma delas adossada à face posterior bica de escoamento, que comunica com um Contextualização:encosta suave com alguns afloramentos
do lagar e outra correspondente a uma tanque de recolha irregular, rudemente afeiçoado graníticos destacados.
divisória interna. e também ele com um canal de escoamento, Descrição: lagar rupestre constituído por
que escorre para o exterior da rocha e é um tanque de pisa/prensagem rectangular,
75. QUINTA DAS CORGAS I ladeado por dois entalhes semi-rectangulares; com um buraco rectangular junto à lateral
Folha CMP: 181 detém ainda um terceiro canal, que tem início esquerda para fixação da prensa e com bica de
Coordenadas ETRS89: 66801.118, 116176.909 junto à bica, dirigindo-se para o limite da rocha. escoamento, que comunica com um pio igualmente
Altitude: 490 m Observações: junto ao lagar encontram-se gravadas rectangular, ao qual liga ainda um canal de função
Contextualização: afloramento granítico sobrelevado, duas cruzes; situa-se nas imediações do sítio indeterminada, que se processa paralelo à
em área de relevo ondulado suave. romano e medieval (?) da Quinta dos Corgos parede frontal do tanque.
Descrição: provável lagar rupestre integrado (LOBÃO e FERREIRA, 2016: 24, n.º 86).
num edifício, de que, face à vegetação existente, 79. CABEÇO DO LAGAR (Lagariça do Pedro)
são somente perceptíveis dois pequenos Folha CMP: 160
alinhamentos pétreos perpendiculares a Coordenadas ETRS89: 64205.900, 133389.998
flanquear um tanque (?) escavado na rocha UNIÃO DE FREGUESIAS DE TORRE Altitude: 913 m
e entulhado com pedra aparelhada ou DO TERRENHO, SEBADELHE DA Contextualização: afloramento granítico destacado,
rudemente afeiçoada; junto a estes vestígios, SERRA E TERRENHO em área planáltica de relevo ondulado suave com
encontra-se outra estrutura rupestre, vários afloramentos e blocos graníticos.
de formato rectangular e pouco profunda. Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque de
Observações: situa-se nas imediações do sítio 77. ROSMANINHO pisa rectangular, com várias fossetes junto à parede
romano e medieval (?) da Quinta dos Corgos Folha CMP: 160 posterior e com bica de escoamento, que comunica
(LOBÃO e FERREIRA, 2016: 24, n.º 86). Coordenadas ETRS89: 66067.363, 134087.862 com um pio semicircular com uma concavidade
Altitude: 730 m circular pouco profunda no interior.
Contextualização: cabeço rochoso, junto a um ribeiro. Bibliografia: TEIXEIRA, 1982: 321.
23
ARQUEOLOGIA
87. LAGINHAS 92. QUINTA DA FONTE DA MERENDA Contextualização:planalto com alguns afloramentos
Folha CMP: 170 Folha CMP: 170 e blocos graníticos dispersos.
Coordenadas ETRS89: 68020.596, 125473.913 Coordenadas ETRS89: 69399.151, 125253.113 Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque
Altitude: 770 m Altitude: 650 m de pisa/prensagem rectangular, com um conjunto
Contextualização:elevação pouco pronunciada, Contextualização: encosta de declive moderado, de três buracos/entalhes rectangulares em cada
em encosta de declive irregular. sobranceira a um ribeiro. uma das laterais para fixação da prensa e
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque com orifício/canal de escoamento.
de pisa/prensagem quadrangular irregular, com de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos
dois buracos laterais rectangulares para fixação laterais rectangulares para fixação da prensa, 97. QUINTA DA FONTE
da prensa e com orifício/canal de escoamento, dotados de entalhes para cunhas, e com Folha CMP: 170
que comunica com um pio semicircular irregular. orifício/canal de escoamento, que comunica Coordenadas ETRS89: 69245.653, 124761.891
com um pio trapezoidal e profundo. Altitude: 664 m
88. SM-1 Contextualização: sopé de uma encosta de declive
Folha CMP: 170 93. LAGARINHO moderado com vários afloramentos e blocos
Coordenadas ETRS89: 68755.262, 125491.736 Folha CMP: 169 graníticos.
Altitude: 699 m Coordenadas ETRS89: 61785.822, 125167.595 Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro
Contextualização:encosta de declive moderado Altitude: 774 m constituído por um tanque de pisa/prensagem
com diversos afloramentos e blocos graníticos. Contextualização:vertente suave, em encosta de relevo rectangular, com buracos laterais para fixação
Descrição: lagar rupestre soterrado, visualizando-se irregular, irrigada por pequenas linhas de água. da prensa (apenas visível o lateral esquerdo,
apenas o contorno superior de um tanque, Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque de formato rectangular) e com canal de
provavelmente o de pisa/prensagem. de pisa trapezoidal, com orifício de escoamento escoamento, que comunica com um pio
no canto direito e com uma pequena cavidade rectangular; e o segundo composto por um
89. BILROTA circular pouco profunda, a cerca de um metro tanque de pisa/prensagem tendencialmente
Folha CMP: 170 da parede frontal. quadrangular, com dois buracos laterais
Coordenadas ETRS89: 70935.527, 125503.182 rectangulares para fixação da prensa e
Altitude: 652 m 94. QUINTA DO SAMEIRO III com canal de escoamento, que comunica
Contextualização:aglomerado de blocos e lajes Folha CMP: 169 com um pio rectangular.
graníticas, na encosta suave de um monte Coordenadas ETRS89: 61927.318, 125048.451
aplanado, sobranceira à ribeira do Freixo. Altitude: 747 m 98. QUINTA DA CORTELHA
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque Contextualização: encosta suave com alguns Folha CMP: 170
de pisa/prensagem subrectangular, com buracos afloramentos e blocos graníticos, por vezes Coordenadas ETRS89: 70127.852, 124745.874
laterais para fixação da prensa (apenas visível aglutinados, sobranceira a um ribeiro e irrigada Altitude: 625 m
o lateral direito, de formato rectangular) e com por várias linhas de água. Contextualização: encosta suave com vários
orifício/canal de escoamento no canto direito. Descrição: lagar rupestre soterrado, visualizando-se afloramentos graníticos, sobranceira à ribeira
apenas parte do contorno do tanque de pisa e do Freixo.
90. QUINTINHAS I o respectivo orifício/canal de escoamento Descrição: lagar rupestre constituído por um
Folha CMP: 170 no canto esquerdo. tanque de pisa/prensagem rectangular e pouco
Coordenadas ETRS89: 69515.304, 125470.231 Observações: situa-se no limite da área de profundo, com buracos laterais para fixação
Altitude: 625 m dispersão de vestígios do sítio romano/medieval da prensa (apenas visível o lateral direito,
Contextualização: encosta de declive moderado da Quinta do Sameiro II (LOBÃO e FERREIRA, de formato rectangular) e com canal de
com diversos afloramentos e blocos graníticos, 2016: 27, n.º 111). escoamento, que comunica com um
sobranceira a um ribeiro. pio rectangular irregular.
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque 95. LAGARINHO
de pisa/prensagem trapezoidal, com dois buracos Folha CMP: 170 99. TERRA-CRUZ
laterais rectangulares para fixação da prensa Coordenadas ETRS89: 68646.799, 125086.693 Folha CMP: 170
e com orifício/canal de escoamento. Altitude: 730 m Coordenadas ETRS89: 69627.135, 124349.299
Contextualização:extensa laje granítica, na transição Altitude: 630 m
91. QUINTINHAS II de uma área aplanada para uma encosta de Contextualização:encosta suave, sobranceira à ribeira
Folha CMP: 170 declive moderado (interior da povoação). do Freixo.
Coordenadas ETRS89: 69384.236, 125389.596 Descrição: lagar rupestre constituído por um Descrição: lagar rupestre parcialmente destruído (?)
Altitude: 646 m pequeno tanque de pisa subrectangular irregular, e soterrado, do qual se observam somente parte
Contextualização: ver n.º 90. pouco profundo e com canal de escoamento, do tanque de pisa/prensagem, de formato
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque que comunica com um rebaixamento natural irregular, um dos buracos laterais para fixação
de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos da rocha de configuração irregular, à direita do da prensa, de configuração rectangular,
laterais rectangulares para fixação da prensa, qual se encontram ainda dois pequenos e o canal de escoamento.
com um entalhe rectangular junto ao canto buracos circulares interligados.
direito e com orifício/canal de escoamento, 100. LAJÃO
que comunica com um pio trapezoidal. 96. RECHÃ (Alto de Souto Maior) Folha CMP: 170
Folha CMP: 170 Coordenadas ETRS89: 66680.979, 123927.769
Coordenadas ETRS89: 67666.443, 124761.849 Altitude: 784 m
Altitude: 830 m
104. PRAZO II
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 66784.819, 122565.429
Altitude: 734 m
vertente de uma pequena elevação
Contextualização:
rochosa, em encosta suave e junto a um ribeiro.
25
ARQUEOLOGIA
109. VS-1
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 72275.373, 124667.960
Altitude: 608 m
Contextualização:pequena elevação rochosa,
em encosta de declive moderado e sobranceira
a um ribeiro.
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque
de pisa/prensagem rectangular, com dois buracos
laterais rectangulares para fixação da prensa e
com canal de escoamento no canto direito,
que comunica com um pio de formato irregular.
110. OUTEIRO I
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 72213.640, 124598.977
Altitude: 619 m
Contextualização:encosta de declive moderado, 112. Lagar com tanque de pisa de pequena dimensão.
com o afloramento granítico visível em grande
parte da área.
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque
de pisa/prensagem tendencialmente quadrangular Observações: englobado na área de dispersão de buracos também rectangulares na lateral oposta
e pouco profundo, com dois buracos laterais vestígios do sítio romano e medieval (?) do Casal para fixação da prensa e com canal de
rectangulares para fixação da prensa, dotados de da Fonte Grande I (LOBÃO e FERREIRA, 2016: 30, escoamento, que comunica com um pio
entalhes para cunhas, e com bica de escoamento, n.º 142). rectangular.
que comunica com um pio subrectangular e Bibliografia: COSTA, 1999: 122 e FERREIRA, 2000:
sem parede frontal (destruída?). 365-366, n.º 10. 115. OITEIRO
Folha CMP: 181
111. SOITO DAS CINCO VILAS Coordenadas ETRS89: 71969.404, 115912.028
Folha CMP: 170 Altitude: 519 m
Coordenadas ETRS89: 72018.257, 124181.866 UNIÃO DE FREGUESIAS Contextualização: elevação pouco pronunciada,
Altitude: 664 m DE VILARES E CARNICÃES em encosta de declive moderado com vários
Contextualização: pequena elevação com vários cabeços rochosos e sobranceira à ribeira
afloramentos e blocos graníticos, em área de de Vilares.
relevo ondulado suave. 113. CEREJO Descrição: lagar rupestre constituído por um
Descrição: lagar rupestre constituído por um Folha CMP: 181 tanque de pisa rectangular, com canal de
tanque de pisa (?) e prensagem subrectangular, Coordenadas ETRS89: 72064.971, 117212.949 escoamento no canto direito.
com dois buracos laterais rectangulares para Altitude: 596 m Observações: esta estrutura parece decorrer
fixação da prensa e com uma depressão (?) Contextualização:afloramento granítico destacado, da transformação de uma sepultura rupestre.
na parede frontal, que o interliga com um tanque em encosta de declive moderado, modelada por Bibliografia: LOBÃO e FERREIRA, 2016: 31, n.º 156.
de pisa ou pio também subrectangular, o qual, socalcos e junto a uma linha de água.
por sua vez, comunica com um possível terceiro Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque 116. RODO
tanque (pio?), através de uma bica. de pisa (e prensagem?) subrectangular irregular, Folha CMP: 181
com dois orifícios de escoamento, abertos em Coordenadas ETRS89: 72455.185, 115887.176
paredes e planos altimétrico distintos, e, Altitude: 493 m
possivelmente, com dois entalhes laterais de Contextualização:encosta suave com vários
UNIÃO DE FREGUESIAS DE VILA pequena dimensão para fixação da prensa. afloramentos graníticos, sobranceira à ribeira
FRANCA DAS NAVES E FEITAL de Vilares.
114. DEPROMOIRO Descrição: dois lagares rupestres: o primeiro
Folha CMP: 181 constituído por um tanque de pisa/prensagem
112. CASAL DA FONTE GRANDE II Coordenadas ETRS89: 70885.341, 116583.132 rectangular, sem parede frontal, mas provido
Folha CMP: 181 Altitude: 499 m de entalhes laterais para colocação de um
Coordenadas ETRS89: 73026.869, 119711.041 Contextualização: laje granítica em encosta suave, barrote/tábua que fechasse o tanque,
Altitude: 660 m junto a um ribeiro. com buracos laterais (apenas visível o lateral
Contextualização: encosta suave com alguns Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque esquerdo, de formato rectangular) e um entalhe
afloramentos e blocos graníticos, junto a de pisa/prensagem rectangular e, aparentemente, na parede posterior para fixação da prensa e
uma linha de água. inacabado (superfície interna não delimitada ou com bica de escoamento, que comunica com um
Descrição: lagar rupestre constituído por um tanque escassamente desbastada e irregular), com um pio trapezoidal; o segundo composto por um
de pisa trapezoidal e com bica de escoamento. buraco rectangular na lateral direita e um par de tanque de pisa/prensagem igualmente rectangular
119. SERPE
Folha CMP: 170
Coordenadas ETRS89: 72190.371,
129876.245
Altitude: 626 m
123. Lagar com tanque de pisa/prensagem, apoios laterais para a prensa e pio.
27
ARQUEOLOGIA
RESUMO
RÉSUMÉ
A
de la région. elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Penamacor surgiu por inicia-
Le catalogue inclut la localisation, la description
et l’encadrement chronologique des 53 sites inédits. tiva da Câmara Municipal, num momento em que se aproximava a revisão do
La liste complète et une brève description des 279 archéosites Plano Diretor Municipal. Tendo como principais objetivos inventariar o patri-
connus, jusqu’à présent, sont également publiées.
mónio arqueológico e promover a sua salvaguarda, estudo e divulgação, pretendeu-se
MOTS CLÉS: Plan archéologique; Patrimoine. com este levantamento criar um instrumento de gestão do património arqueológico do
concelho.
A metodologia seguida baseou-se na Circular do Instituto Português de Arqueologia de
10 de setembro de 2004 sobre os Termos de Referência para o Descritor Património Arqueo-
lógico em Estudos de Impacte Ambiental, nomeadamente a “Caracterização da Situação de
Referência”, adaptada ao tipo de projeto. Foi considerado para este inventário apenas o
património arqueológico, conforme definido nos n.ºs 1 e 2 do art.º 74.º da Lei n.º 107/
/2001, de 8 de setembro, que estabelece as bases da política e do regime de proteção e
valorização do património cultural.
Os trabalhos desenvolveram-se em duas fases, uma primeira de janeiro a agosto de 2013,
tendo sido feito o levantamento documental e bibliográfico até abril desse ano. A recolha
de informação oral, análise toponímica e fisiográfica da cartografia, bem como as prospe-
ções, realizaram-se essencialmente em maio e junho, fazendo-se nos dois meses seguintes
a sistematização do trabalho desenvolvido. A segunda fase decorreu de maio a outubro
de 2015, tendo-se concluído os trabalhos de prospeção, e sistematizado o trabalho desen-
volvido.
A pesquisa documental e bibliográfica foi constituída essencialmente pela consulta de
bibliografia arqueológica, bibliografia especializada, nomeadamente história local e regio-
I
nal, bases de dados da Direção-Geral do Património Cultural, cartografia geológica
Arqueóloga (sara.ferro@sapo.pt).
(Carta Geológica de Portugal), cartografia militar (Carta Militar de Portugal) e sítios na
Por opção da autora, o texto segue as regras
Internet com informação sobre a história e o património locais, nomeadamente o site da
do Acordo Ortográfico de 1990. Câmara Municipal.
29
ARQUEOLOGIA
1. CANCHAL DA NORA
Tipologia: Núcleo de povoamento o concelho de Idanha-a-Nova, freguesia de
Localização e ambiente: Localiza-se a sudeste da aldeia Medelim. O acesso faz-se por caminho em terra
das Águas, no vale do Ribeiro do Monte a batida a sudoeste, que sai da Aldeia de João Pires
ocidente da Serra (Serrinha), no sítio do Canchal em direção à Serrinha, passando pela Fonte da
da Nora, também conhecido por Águas Velhas. Lapa e depois seguindo pelo cume da Serra até
O acesso faz-se por caminho de terra batida em ao alto do Dongalinho. Para sudeste corre a
direção à Serra (Serrinha), virando-se para sul Ribeira de Aldeia de João Pires / Medelim e a
em direção ao Ribeiro do Monte e Sítio da oeste o Ribeiro do Monte. Altitude: 510 m.
ALDEIA DE JOÃO PIRES
Tenda. Fica numa zona plana, à cota de 451 m O substrato geológico é constituído por
e próximo de linhas de água (Ribeiro do Lagar granitos. 3. BROSQUE / LAJINHA
de Água). O substrato geológico é constituído Coordenadas WGS84: 40º 5’ 10.21” N; 7º 11’ 2.19” W Tipologia: Lagar
por granitos. Folha CMP: 258. Localização e ambiente: Localiza-se a oriente da Aldeia
Coordenadas WGS84: 40º 5’ 36.69” N; 7º 11’ 24.23” W Descrição: Segundo informação de Silvina Silvério, de João Pires, numa encosta suave (426 m),
Folha CMP: 258 são visíveis restos de paredes de habitações de num afloramento granítico na margem direita
Descrição: Segundo tradição local, seria aqui o local planta circular ou oval e troços de possível área da ribeira da Aldeia de João Pires. Tomando a
de povoamento mais antigo da aldeia das Águas, fortificada no cabeço, numa área de cerca de estrada que liga Aldeia de João Pires às Aranhas,
abandonado devido a um ataque de formigas e 3000 m2 de dispersão de vestígios. Foram segue-se por um caminho de terra batida para
transferido para a aldeia atual. No local pudemos identificados fragmentos de cerâmica manual e o sítio da Lajinha. A estrutura fica junto a um
observar restos de muros em pedra seca de artefactos líticos. No local, devido à vegetação, muro de pedra próximo de um palheiro.
possíveis habitações e ombreiras de portas. não nos foi possível observar essas possíveis Coordenadas WGS84: 40º 6’ 20.09” N; 7º 8´12.92” W
São visíveis também em toda a zona fragmentos estruturas. Contudo, é abundante a cerâmica de Folha CMP: 258
de cerâmica comum a torno. fabrico manual. Entre as zonas mais altas de Descrição: Lagar rupestre com dois tanques com
Cronologia: Indeterminado penedos graníticos, há uma naturalmente abertura para o pio de menores dimensões.
Bibliografia: Inédito protegida que deve corresponder ao local onde São ambos trapezoidais, tendo o maior as
se teria desenvolvido o povoado, ficando grande dimensões 188 x 137 x 188 x 120 cm, e o mais
2. DONGALINHO parte da área já na freguesia de Medelim. pequeno 77 x 94 x 69 x 75 cm. A abertura para
Tipologia: Povoado fortificado (?) Cronologia: Neolítico Final-Calcolítico / Idade do o pio é oval e tem um diâmetro interno de
Localização e ambiente: Localiza-se a sudoeste da Bronze (?) cerca de 6 cm. Está em bom estado de
Aldeia de João Pires, no promontório mais a sul Bibliografia: Inédito. Informação do Dr. José Luís conservação.
da Serra (Serrinha), no limite de fronteira com Cristóvão e da Dr.ª Silvina Silvério. Cronologia: Indeterminado
Bibliografia: Inédito. Informação da Dr.ª Silvina Silvério.
4. CHÃO DA EIRA
Tipologia: Sepultura
Localiza-se a ocidente da Aldeia
Localização e ambiente:
de João Pires e fica muito próximo da aldeia.
Tomando um caminho de terra batida em
direção à Serrinha, situa-se numa pequena
encosta à cota de 436 m, próximo de uma eira
e de um palheiro. Está junto da sepultura do
Chão do Monsanto, mas do lado oposto da
estrada, a ocidente desta. O substrato geológico
é constituído por granitos.
Coordenadas WGS84: 40º 6’ 7.44” N; 7º 9’ 25.14” W
Folha CMP: 258
31
ARQUEOLOGIA
ARANHAS
33
ARQUEOLOGIA
35
ARQUEOLOGIA
37
ARQUEOLOGIA
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
ϭ ĂŶĐŚĂůĚĂEŽƌĂ EƷĐůĞŽĚĞƉŽǀŽĂŵĞŶƚŽ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ ŐƵĂƐ ϰϬǑϱ͛ϯϲ͘ϳϵ͟E͖ϳǑϭϭ͛Ϯϱ͘ϰϵ͟t Ϯϱϴ /ŶĠĚŝƚŽ
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ϰϬ DŽŝŶŚŽĚŽsĞŶƚŽϰ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ EĞŽͲĂůĐŽůşƚŝĐŽ ĞŵƉŽƐƚĂ ΎΎΎ Ϯϱϳ ,EZ/Yh^ Ğ^EdK^͕ϮϬϭϰ͗Ŷ͘Ǒϭϳ
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ϰϮ EĂǀĞĚĞĂŝdžŽϮ sŝůůĂ;͍Ϳ ZŽŵĂŶŽ ĞŵƉŽƐƚĂ ΎΎΎ Ϯϱϳ ,EZ/Yh^ Ğ^EdK^͕ϮϬϭϰ͗Ŷ͘Ǒϲ
ϰϯ EĂǀĞĚĞŝŵĂ ƌƚĞƌƵƉĞƐƚƌĞ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ ĞŵƉŽƐƚĂ ΎΎΎ Ϯϱϳ ,EZ/Yh^ Ğ^EdK^͕ϮϬϭϰ͗Ŷ͘Ǒϰ
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ĞŵƉŽƐƚĂͬ&ŽƌĐĂ
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ϰϵ ZĂŵĂůŚĂϭ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ ĂůĐŽůşƚŝĐŽ ĞŵƉŽƐƚĂ ΎΎΎ Ϯϱϳ ,EZ/Yh^ Ğ^EdK^͕ϮϬϭϰ͗Ŷ͘ǑϭϬ
* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente.
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
ϱϬ ZĂŵĂůŚĂϮ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ ĂůĐŽůşƚŝĐŽ;͍Ϳ ĞŵƉŽƐƚĂ ΎΎΎ Ϯϱϳ ,EZ/Yh^ Ğ^EdK^͕ϮϬϭϰ͗Ŷ͘Ǒϭϭ
sŝůůĂ;͍ͿͬsĞƐƚşŐŝŽƐ >/dK ĞZd͕ϭϵϴϬ͖,EZ/Yh^
ϱϭ ZĞƉƌĞƐĂ ZŽŵĂŶŽ ĞŵƉŽƐƚĂ ΎΎΎ Ϯϱϳ
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ϳϮ &ŽŶƚĞĂůĚĞŝƌĂϮ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϰϮ͘ϴϴ͟E͖ϳǑϭϱ͛ϭϭ͘Ϭϯ͟t Ϯϯϲ
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ϳϱ 'ĂůĞŽƚĂ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϱ͛Ϯ͘ϭϳ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϭϵ͘Ϭϵ͟t Ϯϯϲ
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ϳϴ >ŝŵŝƚĞƐ DĂŶĐŚĂĚĞKĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϱϭ͘ϭϴ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϰϵ͘ϳϱ͟t Ϯϯϲ
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ϳϵ DĂƌǀĆŽ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϯϬ͘ϴϰ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϰϲ͘ϳϯ͟t Ϯϯϲ
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EĞŽůşƚŝĐŽͬĂůĐŽůşƚŝĐŽͬ
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ϴϲ ZŽdžŝŶĂ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϯ͛ϴ͘ϭϰ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϰϱ͘Ϭϯ͟t Ϯϯϲ
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ϴϳ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϱ͛Ϯ͘ϭϳ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϴ͘ϯ͟t Ϯϯϲ
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ϴϴ ^ĞŝdžĂŝƐϲͬ>ĂŵĞŝƌŽ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϱ͛ϳ͘ϲϰ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϱ͘Ϯ͟t Ϯϯϲ
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* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente.
39
ARQUEOLOGIA
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
^ĞŝdžĂŝƐϳͬ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ ϯϭ͘
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ϵϭ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϭϰ͘ϳϲ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϰϭ͘ϴϳ͟t Ϯϯϲ
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ϵϮ ^ĞƌƌĂĚĂ>ĂŐŽĂ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϱ͛ϭϭ͘ϵϱ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϮϮ͘ϬϮ͟t Ϯϯϲ
ͬĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ ͬ/ĚĂĚĞƌŽŶnjĞ;͍Ϳ E^ϮϲϮϵϴ'
ϵϯ ^şƚŝŽĚŽŝĐŽϭ sĞƐƚşŐŝŽƐĚĞƐƵƉĞƌĨşĐŝĞ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ΎΎ Ϯϯϲ E^ ϮϮϬϴϰ
ϵϰ ^şƚŝŽĚŽŝĐŽϮ sĞƐƚşŐŝŽƐĚĞƐƵƉĞƌĨşĐŝĞ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ΎΎ Ϯϯϲ E^ ϮϮϬϴϱ
/ĚĂĚĞĚŽ&ĞƌƌŽ ͬ >D/͕ϭϵϰϱ͗ ϰϳϲ͘
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ďƌŝŐŽ ͬ ZŽŵĂŶŽ ͬ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ ϱϯ͘
ϵϲ dĂƉĂĚĂĚĂ^ĞƌƌĂ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϯ͛Ϯϱ͘ϳϴ͟E͖ϳǑϭϰ͛Ϯϰ͘ϳϳ͟t Ϯϯϲ
ͬĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ ͬEĞŽůşƚŝĐŽͲĂůĐŽůşƚŝĐŽ E^ϮϲϮϵϵ'
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ϵϴ sĂůĞƵŶƋƵĞŝƌŽ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϰϮ͘ϭϮ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϯϯ͘ϯϳ͟t Ϯϯϲ
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>ZdK^&/ZDd ĞEdK͕ϭϵϳϳ͗
ϵϵ sĞŝŐĂƐ ĐŚĂĚŽƐŝƐŽůĂĚŽƐ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ΎΎ Ϯϯϲ
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ϭϬϭ sŽůƚĂĚĂZŝďĞŝƌĂϮ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϰϮ͘ϰϭ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϱϵ͘ϱ͟t Ϯϯϲ
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ϭϬϮ sŽůƚĂĚĂZŝďĞŝƌĂϯ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ĞŶƋƵĞƌĞŶĕĂ ϰϬǑϭϰ͛ϯϱ͘Ϯϳ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϵ͘Ϯϭ͟t Ϯϯϲ
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ůşƐŝŽƐͬsĂůĞĚĂƐ
ϭϬϯ WŽǀŽĂĚŽ;͍Ϳ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϳ͛ϯϴ͘ϵ͟E͖ϳǑϳ͛ϰϮ͘Ϯ͟t Ϯϯϲ &ZEE^͕ϭϵϵϰ
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ϭϬϱ ƐƚĞůĂ ƌŽŶnjĞ&ŝŶĂů DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϱ͛ϰϴ͘ϳϱ͟E͖ϳǑϱ͛ϮϬ͘Ϯϱ͟t Ϯϯϳ
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ϭϬϲ ĂƐŝŶŚĂƐ DĂŵŽĂ EĞŽͲĂůĐŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϴ͛Ϯ͘Ϭϲ͟E͖ϳǑϱ͛ϱϴ͘ϯϱ͟t ϮϮϲ
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E/E^ ĞƚĂů͕͘ϮϬϬϵ͗ Ϯϭ͘
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E^Ϯϭϵϭϭ'
E/E^ ĞƚĂů͕͘ϮϬϬϵ͗ Ϯϭ͘
ϭϬϴ ĂƐŝŶŚĂƐϮ DĂŵŽĂ EĞŽͲĂůĐŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϴ͛ϭϴ͘ϴϲ͟E͖ϳǑϱ͛ϱϭ͘ϰϳ͟t ϮϮϲ
E^ϮϭϵϭϮ'
E/E^ ĞƚĂů͕͘ϮϬϬϵ͗ Ϯϭ͘
ϭϬϵ ĂƐŝŶŚĂƐϲ DĂŵŽĂ EĞŽͲĂůĐŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϴ͛ϭϴ͘ϯϵ͟E͖ϳǑϱ͛ϱϬ͘ϵ͟t ϮϮϲ
E^Ϯϭϵϭϲ';^Ϳ
E/E^ ĞƚĂů͕͘ϮϬϬϵ͗ Ϯϭ͘
ϭϭϬ ĂƐŝŶŚĂƐϳ DĂŵŽĂ EĞŽͲĂůĐŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϴ͛ϭϴ͘Ϯ͟E͖ϳǑϱ͛ϱϬ͘ϲϲ͟t ϮϮϲ
E^Ϯϭϵϭϳ';^Ϳ
ϭϭϭ DĞŝŵĆŽϭ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ WĂůĞŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϳ͛ϯ͘ϰϲ͟E͖ϳǑϳ͛ϵ͘ϴϴ͟tΎ Ϯϯϳ E^ Ϯϲϯϯϯ
ϭϭϮ DĞŝŵĆŽϮ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ WĂůĞŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϳ͛ϯ͘ϰϲ͟E͖ϳǑϳ͛ϵ͘ϴϴ͟tΎ Ϯϯϳ E^ Ϯϲϯϯϰ
/ĚĂĚĞĚŽ&ĞƌƌŽŽƵ
ϭϭϯ DĞŝŵĆŽϯ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϳ͛ϯ͘ϰϲ͟E͖ϳǑϳ͛ϵ͘ϴϴ͟tΎ Ϯϯϳ E^Ϯϲϯϯϱ
ZŽŵĂŶŽ
WZ/Z ĞEdK͕ϭϵϳϵ͗ϲϬϱ͘
ϭϭϰ DĞŝŵĆŽsĞůŚŽ WŽǀŽĂĚŽĨŽƌƚŝĨŝĐĂĚŽ;͍Ϳ /ĚĂĚĞĚŽ&ĞƌƌŽ;͍Ϳ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϳ͛ϯ͘ϰϲ͟E͖ϳǑϳ͛ϵ͘ϴϴ͟tΎ Ϯϯϳ
E^Ϯϲϯϯϳ
/ĚĂĚĞĚŽƌŽŶnjĞͬ
ϭϭϱ ^ĞƌƌĂĚĂDĂůĐĂƚĂ ĐŚĂĚŽƐŝƐŽůĂĚŽƐ DĞŝŵĆŽ ΎΎ Ϯϯϳ ZKZ/'h^͕Ɛ͘Ě͗͘Ϯϯϯ
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sŝůůĂĚĞDĞŝŵĆŽ ͬ
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ϭϭϲ ͬWŽŶƚĞĚŽZŝďĞŝƌŽĚĞ sŝůůĂͬ/ŶƐĐƌŝĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵĆŽ ϰϬǑϭϳ͛ϱ͘Ϯϯ͟E͖ϳǑϳ͛ϭϱ͘ϲϭ͟t Ϯϯϳ
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ϭϭϳ ǀŝĂů ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛Ϯϵ͘ϴϮ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϱϰ͘ϭϳ͟t Ϯϯϲ
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ϭϭϴ ĂƌƌĞŝƌŽƐ dĞƐŽƵƌŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛Ϯϱ͘ϳϯ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϰϯ͘ϵϵ͟t Ϯϯϲ
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ĂďĞĕŽĚŽƐ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ ϰϲ͘
ϭϮϭ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϱϵ͘ϱϱ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϯϳ͘ϱϭ͟t Ϯϯϲ
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ϭϮϮ ĂŶĂĚŝŶŚĂͬsŝůĂ sŝĐƵƐ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϴ͘Ϯϵ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϯϵ͘ϯϴ͟t Ϯϯϲ
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ϭϮϯ /ŶƐĐƌŝĕƁĞƐĚĂDĞŝŵŽĂ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϰϬ͘ϴ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϭϰ͘Ϭϱ͟t Ϯϯϲ
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ϭϮϰ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϭϯ͘Ϭϰ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϮϬ͘ϱϳ͟t Ϯϯϲ
DƵƌŽƐͬ&ĞƌƌĂŶŚĂ E^ϮϲϯϭϬ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente;
CS ‐ Sítios que o Endovélico regista no concelho do Sabugal, mas efetivamente situados no concelho de Penamacor.
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
ϭϮϱ DĞŝŵŽĂϮ ŶƚĂƐ EĞŽůşƚŝĐŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϰϬ͘ϴ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϭϰ͘Ϭϱ͟tΎ Ϯϯϲ WZKE:jE/KZ͕ϭϵϭϬ͗ ϭϬ
ϭϮϲ DĞŝŵŽĂϯ /ŶƐĐƌŝĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϰϬ͘ϴ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϭϰ͘Ϭϱ͟tΎ Ϯϯϲ hZK͕ϮϬϬϴ͗ ϭϮϱ
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ϭϮϳ DŽŝƚĂYƵĞŝŵĂĚĂ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϱϲ͘ϲϲ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϱϵ͘ϴϬ͟t Ϯϯϲ
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DŽŝƚĂdĂƉĂĚĂͬ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ϰϰ͘
ϭϮϴ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϰ͛ϭϬ͘ϲϱ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϭϬ͘ϰϬ͟t Ϯϯϲ
ͬDŽŶƚĂĚŽ E^ϮϲϮϴϵ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
WŽĕŽĚŽ^ŝŶŽϭ ͬ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ ϱϳ͘
ϭϮϵ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϵ͘ϲϵ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϱϱ͘Ϭ͟t Ϯϯϲ
ͬ^ĂŶƚŽŶĚƌĠϭ E^Ϯϲϯϭϲ'
WŽĕŽĚŽ^ŝŶŽϮ ͬ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ ϱϳ͘
ϭϯϬ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϵ͘ϱϰ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϰϱ͘ϰϴ͟t Ϯϯϲ
ͬ^ĂŶƚŽŶĚƌĠϮ E^Ϯϲϯϭϳ'
ϭϯϭ WŽŶƚĞĚĂWĞĚƌĂ sĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϱ͛ϭϴ͘ϵϵ͟E͖ϳǑϴ͛ϱϯ͘Ϯϯ͟t Ϯϯϲ E^ ϭϵϵϳϱ '
^/>s͕ϭϵϳϬ͘E^Ϯϳϳ͘
ϭϯϮ ZŝďĞŝƌĂĚĂDĞŝŵŽĂ WŽŶƚĞ /ĚĂĚĞDĠĚŝĂ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϯϰ͘ϴϭ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϭϲ͘ϲϮ͟t Ϯϯϲ
ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
>ZdK^&/ZDd ĞEdK͕ϭϵϳϳ͗
ϭϯϯ ^ĂŶƚŽŶĚƌĠ YƵŝŶƚĂ;͍Ϳͬ/ŶƐĐƌŝĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϮ͛ϰϮ͘Ϭϱ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϱϬ͘ϰϰ͟t Ϯϯϲ
ϭϮϬϰ͘E^Ϯϲϯϭϴ'
^ĂŶƚŽŶĚƌĠϯͬ
ϭϯϰ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϮ͛ϱϰ͘ϱϰ͟E͖ϳǑϭϮ͛Ϯ͘ϵ͟t Ϯϯϲ /ŶĠĚŝƚŽ
ͬƵĚĞůƀďŽ
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ϭϯϱ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϰ͛ϰ͘ϴϴ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϱϴ͘ϴϮ͟t Ϯϯϲ ^͕ϭϵϲϯ͗Ϯϳϭ͘E^Ϯϲϯϭϵ'
'ĂůĞŐĂ
^/>sZ/K ĞW/s͕ϮϬϬϳ͘
ϭϯϲ ^şƚŝŽĚŽƚĂůŚŽ sŝůůĂ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛Ϯ͘ϭϵ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϰϰ͘ϵϵ͟t Ϯϯϲ
E^ϮϯϴϭϬ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͗ ϱϯ͘
ϭϯϳ dĞƌƌĂĚŽZŝďĞŝƌŽ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϯ͛ϮϬ͘ϳϮ͟E͖ϳǑϵ͛ϯϭ͘ϵϰ͟t Ϯϯϲ
E^ϮϲϯϮϬ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
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ϭϯϴ sĂůĞĚŽƐ&ƌĂĚĞƐ ZŽŵĂŶŽ DĞŝŵŽĂ ϰϬǑϭϰ͛ϭϯ͘ϯϱ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϯϬ͘Ϭϯ͟t Ϯϯϲ
ŽĐƵƉĂĕĆŽ ϭϭϵϵ͘E^ϰϱϰϬ'
sĞƐƚşŐŝŽƐĚĞƐƵƉĞƌĨşĐŝĞͬ E'>K ĞƚĂů͕͘ϮϬϭϱ͗ Ŷ͘Ǒϱϰϱ͘
ϭϯϵ njŝŶŚĞŝƌĂ ZŽŵĂŶŽ WĞĚƌŽŐĆŽ ΎΎ Ϯϱϳ
ͬ/ŶƐĐƌŝĕĆŽ E^ϴϰϵϬ
ZŽŵĂŶŽ;͍Ϳͬ/ĚĂĚĞ
ϭϰϬ ĂůĕĂĚĞŝƌŝŶŚĂƐ ĂůĕĂĚĂ WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϱ͛ϴ͘ϭϳ͟E͖ϳǑϭϰ͛Ϯ͘ϲϰ͟t Ϯϱϳ hZK͕ϭϵϴϮ͗ϵϮ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
DĠĚŝĂ;͍Ϳ
ϭϰϭ ĂŶĐĞůĂĚĂDĂƚĂϭ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ WĞĚƌŽŐĆŽ ΎΎ Ϯϱϳ E^ ϭϱϮϲϲ
ϭϰϮ ĂŶĐĞůĂĚĂDĂƚĂϮ sĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ /ĚĂĚĞĚŽ&ĞƌƌŽ;͍Ϳ WĞĚƌŽŐĆŽ ΎΎ Ϯϱϳ E^ ϭϵϲ
ƐƚĂĐĂůͬsĂůĞĚĞ
ϭϰϯ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϲ͛Ϯϳ͘ϯϴ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϱϵ͘ϲ͟t Ϯϱϳ /ŶĠĚŝƚŽ
ĂďƌŝƚŽͬDĂƚĞƌŶŽƚĞ
ϭϰϰ &ĞŝƚĞŝƌĂ WŽůĚƌĂƐ /ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ;͍Ϳ WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϲ͛ϭϱ͘ϵϴ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϰϰ͘ϱϵ͟t Ϯϱϳ /ŶĠĚŝƚŽ
ϭϰϱ &ĞŝƚĞŝƌĂϭ DŽŝŶŚŽ /ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϲ͛ϭϵ͘ϯϴ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϰϰ͘ϲϱ͟t Ϯϱϳ /ŶĠĚŝƚŽ
WŽůĚƌĂƐĚĂĞŝƌĂͬ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽͬ
ϭϰϲ WŽůĚƌĂƐ WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϱ͛ϱϱ͘ϭϴ͟E͖ϳǑϭϱ͛ϭϬ͘Ϯϰ͟t Ϯϱϳ /ŶĠĚŝƚŽ
ͬ>ĂũŝŶŚĂƐ ͬDŽĚĞƌŶŽ
DKEd'hK͕ϭϵϲϱ͗ ϯϬ͘
ϭϰϳ WĞĚƌŽŐĆŽ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ ƌŽŶnjĞ&ŝŶĂů WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϱ͛ϭϵ͘ϯϮ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϭϲ͘ϱϭ͟tΎ Ϯϱϳ
E^Ϯϲϱϳϳ
ϭϰϴ WĞĚƌŽŐĆŽϭ ŶƚĂƐ EĞŽůşƚŝĐŽ WĞĚƌŽŐĆŽ ϰϬǑϱ͛ϭϵ͘ϯϮ͟E͖ϳǑϭϰ͛ϭϲ͘ϱϭ͟tΎ Ϯϱϳ WZKE:jE/KZ͕ϭϵϭϬ͗ ϭϮ
/ĚĂĚĞDĠĚŝĂ;͍Ϳͬ
ϭϰϵ ŐƵĂƐ&ĠƌƌĞĂƐ ĂůĕĂĚĂ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϱϰ͘ϴϭ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϮϮ͘ϮϮ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ͬ/ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ
ZŽŵĂŶŽͬ
ϭϱϬ ƌĂŶŚƁĞƐ sĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϮϬ͘Ϭ͟E͖ϳǑϭϮ͛ϰϱ͘Ϭ͟t Ϯϰϴ >E/ZK͕ϭϵϰϬ͗ϭϵϲ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ͬ/ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ
ϭϱϭ ƌƌĂŶĐĂĚĂ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϰϬ͘Ϭϵ͟E͖ϳǑϴ͛ϳ͘Ϭϭ͟t Ϯϰϴ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ
ƚĂůĂŝĂĚĞůĚĞŝĂĚŽ >D/͕ϭϵϰϱ͗ ϰϳϳ͘
ϭϱϮ WŽǀŽĂĚŽ;͍Ϳ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϱϰ͘Ϯϭ͟E͖ϳǑϵ͛ϱϬ͘ϯϳ͟t Ϯϰϴ
ŝƐƉŽͬƌŝŐĂĚĞŝƌĂ E^ϮϲϳϮϱ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϱϯ ĂůƵĂƌƚĞϭ ĂůƵĂƌƚĞ DŽĚĞƌŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϯ͘ϵϭ͟E͖ ϳǑϭϬ͛ϯ͘Ϭϲ͟t Ϯϰϴ KZ'^͕ϮϬϭϬ͗ Ϯϭ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϱϰ ĂůƵĂƌƚĞϮ ĂůƵĂƌƚĞ DŽĚĞƌŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϭϮ͘ϰϰ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϱ͘ϳϮ͟t Ϯϰϴ KZ'^͕ϮϬϭϬ͗ Ϯϭ͘ ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϱϱ ĂůƵĂƌƚĞϯ ĂůƵĂƌƚĞ DŽĚĞƌŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϭϮ͘Ϭϯ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϭϮ͘ϬϮ͟t Ϯϰϴ KZ'^͕ϮϬϭϬ͗ Ϯϭ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϱϲ ĂůƵĂƌƚĞϰ ĂůƵĂƌƚĞ DŽĚĞƌŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϭϭ͘Ϭϴ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϭϯ͘ϱϰ͟t Ϯϰϴ KZ'^͕ϮϬϭϬ͗ Ϯϭ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϱϳ ĂůƵĂƌƚĞϱ ĂůƵĂƌƚĞ DŽĚĞƌŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛Ϭ͘Ϭϳ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϭϬ͘Ϭϱ͟t Ϯϰϴ KZ'^͕ϮϬϭϬ͗ Ϯϭ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ĂƌƌŽĐĂĚŽŶƚĞƌŽͬ
ϭϱϴ ͬĂƌƌŽĐĂĚŽKƵƌŽͬ dĞƐŽƵƌŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϯϵ͘Ϭϵ͟E͖ϳǑϳ͛Ϯ͘ϴϳ͟t Ϯϯϳ ZD/Z^͕ϭϵϱϯ͗ϮϳϮ͘E^ϭϬϯϲϲ
dƵƌƋƵŝŶĂ
ZŽŵĂŶŽ;͍Ϳͬ
ϭϱϵ ĞŝƌĂĚĂƐ sĞƐƚşŐŝŽƐĚĞƐƵƉĞƌĨşĐŝĞ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϰϬ͘ϲϱ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϭϬ͘ϯϮ͟t Ϯϰϳ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ
ͬ/ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ
ϭϲϬ ƵƌĂĐŽĚĂƐZĞǀŽůƚĂƐϭ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϵ͘ϴϲ͟E͖ϳǑϮ͛ϱϱ͘Ϯ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ͘E^ϮϲϱϮϮ
ϭϲϭ ƵƌĂĐŽĚĂƐZĞǀŽůƚĂƐϮ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϲ͘ϲϭ͟E͖ϳǑϮ͛ϱϱ͘Ϯϵ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ͘E^Ϯϲϰϴϴ
ϭϲϮ ƵƌĂĐŽĚĂƐZĞǀŽůƚĂƐϯ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϵ͘ϴϲ͟E͖ϳǑϮ͛ϱϱ͘Ϯ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ͘E^Ϯϲϰϴϳ
ϭϲϯ ƵƌĂĐŽĚĂƐZĞǀŽůƚĂƐϰ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛Ϯϲ͘ϭϯ͟E͖ϳǑϮ͛ϱϴ͘ϵϲ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ
DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽͬ
ϭϲϰ ĂďĞĕŽĚŽƐdŝƌŽƐ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϱ͛ϰϮ͘ϴϳ͟E͖ϲǑϱϲ͛ϰϮ͘ϭϱ͟t Ϯϱϵ /ŶĠĚŝƚŽ
ͬ/ŶƐĐƌŝĕĆŽ
ĂůĐŽůşƚŝĐŽ;͍Ϳͬ
ϭϲϱ ĂďĞĕŽĚŽƐdŝƌŽƐϭ WŽǀŽĂĚŽ;͍Ϳ /ĚĂĚĞĚŽƌŽŶnjĞ;͍Ϳͬ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϱ͛ϰϲ͘ϳϭ͟E͖ϲǑϱϲ͛ϱϵ͘ϰϲ͟t Ϯϱϵ /ŶĠĚŝƚŽ
ͬ/ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ
ϭϲϲ ĂĨĂůĂĚŽ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϱϲ͘ϱϵ͟E͖ϳǑϭϬ͛Ϯϯ͘ϴϮ͟t Ϯϰϴ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ
ĂůĕĂĚĂͬĂŵŝŶŚŽĚŽ /ĚĂĚĞDĠĚŝĂ;͍Ϳͬ
ϭϲϳ ĂůĕĂĚĂ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϮϬ͘ϮϮ͟E͖ϳǑϵ͛ϱϴ͘ϭϮ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
^ĂďƵŐĂů ͬ/ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ
ϭϲϴ ĂŶĂĨŝĐŚĂů DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϭ͛Ϯϲ͘ϴϭ͟E͖ϳǑϳ͛ϰϱ͘Ϭϱ͟t Ϯϰϴ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ
ĂƉĞůĂĚĞ^͘WĞĚƌŽͲ >ZdK^&/ZDd ĞEdK͕ϭϵϳϳ͗
ϭϲϵ ĐŚĂĚŽŝƐŽůĂĚŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛Ϯ͘Ϭϴ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϰ͘ϭϭ͟t Ϯϰϴ
ͲŝŵŽĚĞsŝůĂ ϭϮϬϱ͘E^ϰϴϭϰ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente.
41
ARQUEOLOGIA
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
,/WM>/dK͕ϭϵϲϭ͗ ϭϭ͘
ϭϳϬ ĂƌƌĞŐĂů dĞƐŽƵƌŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϰϬ͘ϳϮ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϭϲ͘ϭϲ͟t Ϯϰϴ
E^ϮϲϯϴϱĞϭϬϯϲϯ
ϭϳϭ ĂƐĂĚŽWƌĞƚŽ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϱ͛ϰϬ͘ϯϴ͟E͖ϲǑϱϵ͛ϭϭ͘ϭϰ͟t Ϯϯϴ ^^dZ ĞƚĂů͕͘ϮϬϭϮ
EĞŽůşƚŝĐŽͬĂůĐŽůşƚŝĐŽ ͬ
ĂƐƚĞůŽĚĞWĞŶĂŵĂĐŽƌͲ ^/>sZ/K͕ZZK^Ğd/y/Z͕ϮϬϬϰ͗
ϭϳϮ ĂƐƚĞůŽ ͬZŽŵĂŶŽͬ/ĚĂĚĞDĠĚŝĂͬ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϭ͘ϭϮ͟E͖ϳǑϵ͛ϱϲ͘ϱϮ͟t Ϯϰϴ
ͲŝŵŽĚĞsŝůĂ ϰϳϯ͘E^ϮϬϮϭϮ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ͬ/ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ
ϭϳϯ ĞŝĨĞ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϰϯ͘Ϭ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϱϵ͘ Ϭ͟t Ϯϰϴ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͘ ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
&ZEE^͕ϭϵϵϰ͘
ϭϳϰ ŚĆŽĚŽWŝƌĞƐ sĞƐƚşŐŝŽƐĚĞƐƵƉĞƌĨşĐŝĞ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϱϴ͘Ϭ͟E͖ϳǑϳ͛Ϯϳ͘ϲ͟t Ϯϰϴ
E^Ϯϲϰϭϯ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϳϱ ŽŝƚŽĚĂƐWŽƌƚĞůĂƐ WŽǀŽĂĚŽ;͍Ϳ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ΎΎ ;͍Ϳ E^ ϳϯϭϰ
ϰϬǑϭϮ͛ϰϭ͘ϲϯ͟E͖ϳǑϴ͛ϰϵ͘ϲϭ͟t
ϰϬǑϭϮ͛ϰϭ͘ϳϴ͟E͖ϳǑϱ͛ϯϵ͘Ϯϲ͟t
ŽŵƉůĞdžŽŵŝŶĞŝƌŽ >ZdK^&/ZDdĞEdK͕ϭϵϳϳ͗
ϰϬǑϭϭ͛ϯϱ͘ϱϮ͟E͖ϳǑϳ͛ϯϵ͘ϱϮ͟t Ϯϯϳ
WĞŶĂŵĂĐŽƌͲDĞŝŵŽĂ DŝŶĂͬ ϭϮϬϬ͘
ϭϳϲ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϭ͛ϯϱ͘ϭϲ͟E͖ϳǑϳ͛ϵ͘ϵϯ͟t Ğ
;ŽƌƚĂƐĚĂWƌĞnjĂ͖ ͬsĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ E^ϰϮϭϭ͖Ϯϲϰϴϭ͖Ϯϲϰϴϲ͘
;ůŝŵŝƚĞƐͿ Ϯϰϴ
^ĂůŐƵĞŝƌŝŶŚĂͿ ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ŽǀĆŽĚŽhƌƐŽ͗
ϰϬǑϭϮ͛Ϭ͘ϵϱ͟E͖ϳǑϲ͛ϱϵ͘ϵϲ͟t
E/^^/>s͕ϭϵϴϮ͗ϰϱ͘
ϭϳϳ ƵƌƌĂůĚŽƐƉŝŶŚŽ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ΎΎ Ϯϱϳ
E^ϴϰϵϰ
&ĞƌƌĂĚŽƌͬ sŝůĂDĞůĆŽ
>E/ZK͕ϭϵϵϱ͗ϭϲϱ͘
ϭϳϴ ͬsŝůůĂƌŽŵĂŶĂĚĂ sŝůůĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϰϵ͘ϯϴ͟E͖ϳǑϴ͛ϱϭ͘ϭϭ͟t Ϯϰϴ
E^ϭϱϵϰ͖ϯϰϳϴϰ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
^ĂŝďƌĞŝƌĂ
ϭϳϵ &ŽŶƚĞĚĂƐ&ƌĞŝƌĂƐ >ĂŐĂƌ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϯϬ͘Ϯϱ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϭϬ͘ϰϲ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ϭϴϬ &ŽŶƚĞĚĂƐ&ƌĞŝƌĂƐϭ >ĂŐĂƌ /ŶĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϭϵ͘ϰϲ͟E͖ϳǑϭϭ͛Ϯϱ͘ϱ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ϭϴϭ &ŽŶƚĞĚŽƐĂŶƚŽƐ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϮϮ͘ϴϵ͟E͖ϳǑϵ͛ϯϰ͘ϱϰ͟t Ϯϯϳ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ
&ŽŶƚĞƌĄŐƵĂͬ >ZK͕ϭϵϴϴ͗ ϳϬ͘
ϭϴϮ sĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϴ͘ϵϴ͟E͖ϳǑϭϭ͛ϱϯ͘ϰϲ͟t Ϯϰϳ
ͬZŽĚĞŝŽͬWĂůĆŽ E^ϭϲϰϰϮϳ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϴϯ &ƌĞŝdžŝĂůͲ ĂnjĄŐƵĞĚĂ ^ĞƉƵůƚƵƌĂ /ĚĂĚĞDĠĚŝĂ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϰϳ͘ϰϴ͟E͖ϳǑϰ͛ϭϲ͘Ϭϰ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ϭϴϰ 'ŝŶŐĞŝƌĂƐϭͬƵƌĂĐŽϲ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϰϵ͘ϯϮ͟E͖ϳǑϯ͛Ϯϳ͘ϵϭ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ
ϭϴϱ 'ŝŶŐĞŝƌĂƐϮͬƵƌĂĐŽϳ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛ϰϲ͘ϮϮ͟E͖ϳǑϯ͛ϯϲ͘ϰϲ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ
>ĂƌŐŽĚĞ^ĂŶƚĂDĂƌŝĂͲ
ϭϴϲ ^ĞƉƵůƚƵƌĂ /ĚĂĚĞDĠĚŝĂ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϯ͘ϴϭ͟E͖ϳǑϵ͛ϱϵ͘ϳ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ͲŝŵŽĚĞsŝůĂ
>ĂƌŐŽĚĞ^ĂŶƚĂ ƌƚĞƌƵƉĞƐƚƌĞͲ
ϭϴϳ /ĚĂĚĞDĠĚŝĂ;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϯ͘ϱϮ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϭ͘ϰϱ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
DĂƌŝĂϮͲŝŵŽĚĞsŝůĂ Ͳ:ŽŐŽŐƌĂǀĂĚŽ
>ĞŶƚĞŝƌŽͬDŽŶƐĂŶƚĂͬ KDZ'h͕ϭϵϴϳ͗ ϱϭϮ͘
ϭϴϴ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϭ͛ϱϱ͘ϯϳ͟E͖ϳǑϳ͛ϰ͘Ϭϰ͟t
ͬŽǀĆŽĚŽhƌƐŽ Ϯϰϴ E^Ϯϲϰϴϭ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
DĂůŚĂĚĂĚĂ
ϭϴϵ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϰ͛ϭϰ͘Ϯ͟E͖ϳǑϮ͛ϯϭ͘ϲϭ͟t Ϯϯϳ ^^dZĞƚĂů͕͘ϮϬϭϮ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
DĂĚƌŽŶŚĞŝƌĂ
^E,ͲW>E/ ĞWZ'Z/͕
ϭϵϬ DŽŝŶŚŽĚĂDĂƌŵŝƚĂ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϱϮ͘ϭϵ͟E͖ϳǑϱ͛ϯϱ͘ϲϲ͟t Ϯϰϴ
ϮϬϬϱ͗Ϯϳϴ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
^E,ͲW>E/ ĞWZ'Z/͕
ϭϵϭ DŽŝŶŚŽĚŽDĂŶĞŝŽ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϯϬ͘ϵϳ͟E͖ϳǑϱ͛Ϭ͘ϱϱ͟t Ϯϰϴ
ϮϬϬϱ͗Ϯϳϴ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
DŽŝŶŚŽĚŽWŝŶŚĞŝƌŽͬ DŝŶĂͬ ^E,ͲW>E/ ĞWZ'Z/͕
ϭϵϮ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϭ͛ϵ͘ϯϭ͟E͖ϳǑϱ͛ϰϴ͘ϴϵ͟t Ϯϰϴ
ͬĂƐĂůĚŽZĂƚŽ ͬsĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ ϮϬϬϱ͗Ϯϳϴ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
EĞŽůşƚŝĐŽ ͬ ĂůĐŽůşƚŝĐŽͬ s/>͕ϭϵϵϯ͗ ϰϵϵ͘
ϭϵϯ DŽŶƚĞĚŽ&ƌĂĚĞ WŽǀŽĂĚŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϴ͛Ϯϰ͘ϲϯ͟E͖ϳǑϴ͛Ϭ͘ϲϭ͟t Ϯϰϴ
ͬƌŽŶnjĞ&ŝŶĂů E^ϯϳϮϲ'͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ϭϵϰ EĂǀĞĚĂDĂƚĂϭ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ;͍Ϳ /ĚĂĚĞDĠĚŝĂ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ΎΎ Ϯϰϳ E^ ϳϲϬϱ
>KdK͕ϭϵϴϮ͗ ϭϲϱ͘
ϭϵϱ KůŝǀĂůŽŵƉƌŝĚŽ sĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϭ͛Ϯϭ͕ϱϭ͟E͖ϳǑϳ͛ϯϱ͘ϰϮ͟t Ϯϰϴ
E^Ϯϲϰϴϯ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
KůŝǀĂůĚĂZĞůǀĂĚĂ
ϭϵϲ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϮ͛Ϯϵ͘Ϯϯ͟E͖ϳǑϮ͛ϱϬ͘ϰϭ͟t Ϯϰϴ &ZEE^͕ϭϵϵϰ
DĂƌŝĂDĂƚĞƵƐ
Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͘
ϭϵϳ KůŝǀĂůYƵĞŝŵĂĚŽ sŝůůĂͬ/ŶƐĐƌŝĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϵ͛ϱϴ͘ϭϲ͟E͖ϳǑϵ͛ϯϳ͘ϵϮ͟t Ϯϰϴ
E^Ϯϲϰϭϴ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
/ĚĂĚĞƌŽŶnjĞͬ
ϭϵϴ WĂƚĂĚĂĚĂDƵůĂ ƌƚĞƌƵƉĞƐƚƌĞ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϱ͛Ϯϯ͘ϲϲ͟E͖ϳǑϱ͛ϴ͘ϵϵ͟t Ϯϯϳ &ZEE^͕ϭϵϵϰ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
ͬ/ĚĂĚĞ&ĞƌƌŽ;͍Ϳ
ϭϵϵ WĞŐŽĚŽDŽĐŚŽ WŽǀŽĂĚŽ ƌŽŶnjĞ&ŝŶĂů;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϯϰ͘Ϭ͟E͖ϳǑϭ͛ϭϴ͘Ϭϳ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ϮϬϬ WĞŐŽĚŽDŽĐŚŽϭ DŝŶĂ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϳ͛ϯϯ͘Ϭϭ͟E͖ϳǑϭ͛Ϯϯ͘ϵϴ͟t Ϯϰϴ /ŶĠĚŝƚŽ
ϮϬϭ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ĐŚĂĚŽƐŝƐŽůĂĚŽƐ EĞŽůşƚŝĐŽŽƵĂůĐŽůşƚŝĐŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϭϬ͛ϳ͘ϵϵ͟E͖ϳǑϭϬ͛ϮϮ͘ϵϴ͟tΎ Ϯϰϴ WZKE:jE/KZ͕ϭϵϭϬ͗ ϭϮ
&ZEE^͕ϭϵϵϰ͘
ϮϬϮ WŽŶƚĞsĞůŚĂ sĞƐƚşŐŝŽƐĚŝǀĞƌƐŽƐ ZŽŵĂŶŽ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϴ͛ϭϲ͘ϲϱ͟E͖ϳǑϰ͛ϱϲ͘ϱϭ͟t Ϯϰϴ
E^Ϯϲϰϭϰ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
WŽŶƚĞsĞůŚĂϭ Ͳ
ϮϬϯ ͲĂƌƌĂŐĞŵĚŽ WŽŶƚĞ /ĚĂĚĞDŽĚĞƌŶĂ;͍Ϳ WĞŶĂŵĂĐŽƌ ϰϬǑϴ͛Ϯϱ͘Ϭϯ͟E͖ϳǑϰ͛ϱϴ͘ϴϱ͟t Ϯϰϴ hZK͕ϭϵϴϮ͗ϵϭ͘ZĞůŽĐĂůŝnjĂĚŽ
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* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente.
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
YƵŝŶƚĂĚŽ
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* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente.
43
ARQUEOLOGIA
n.º inv. topónimo tipologia cronologia freguesia coordenadas [WGS84] CMP bibliografia
sĂůĞ ^͘ǐ ĚĂ
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WſǀŽĂ
sĂůĞ ^͘ǐ ĚĂ
Ϯϲϳ DĂƐĐŽƚŽƐ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϱ͛ϱϰ͘ϱϳ͟E͖ϳǑϭϮ͛ϭϯ͘ϵϭ͟t Ϯϯϲ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͘E^ϮϲϮϲϬ'
WſǀŽĂ
sĂůĞ ^͘ǐ ĚĂ
Ϯϲϴ KůŝǀĂůĚŽŽŶĚĞ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϲ͛ϴ͘ϭϵ͟E͖ϳǑϭϮ͛ϱϱ͘ϴϴ͟t Ϯϯϲ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͘E^ϮϲϮϲϮ'
WſǀŽĂ
sĂůĞ ^͘ǐ ĚĂ
Ϯϲϵ WĂŝŽDĞŶĚĞƐ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϱ͛Ϯϱ͘ϯϱ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϰ͘ϰϮ͟t Ϯϯϲ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͘E^ϮϲϮϲϯ'
WſǀŽĂ
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Ϯϳϭ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϱ͛Ϯϲ͘ϵϵ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϯϳ͘ϭϴ͟t Ϯϯϲ
ͬ^ĂůŐƵĞŝƌŝŶŚŽ WſǀŽĂ E^ϭϱϴϵϰ'
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ϮϳϮ ^ĞŝdžĂŝƐϮ DĂŶĐŚĂĚĞŽĐƵƉĂĕĆŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϱ͛ϮϬ͘ϳϲ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϱϰ͘Ϯϳ͟t Ϯϯϲ
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WſǀŽĂ
sĂůĞ ^͘ǐ ĚĂ
Ϯϳϱ ^ĞŝdžĂŝƐϴ ďƌŝŐŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϱ͛ϰ͘ϳϳ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϯϲ͘ϳ͟t Ϯϯϲ Z/^dMsK͕ϭϵϵϮ͘E^ϮϲϮϲϲ
WſǀŽĂ
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Ϯϳϲ ĂƐĂůƌƷƐƚŝĐŽ ZŽŵĂŶŽ ϰϬǑϭϲ͛Ϯϵ͘ϭϲ͟E͖ϳǑϭϮ͛ϰϴ͘ϵϴ͟t Ϯϯϲ ^͕ϭϵϲϯ͗Ϯϲϵ͘E^ϮϲϮϲϰ'
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ĚĂWſǀŽĂϭ Ͳ:ŽŐŽŐƌĂǀĂĚŽ WſǀŽĂ
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Ϯϳϵ sĂůĞĚŽDŽƌĞŝƌŽ ϰϬǑϭϰ͛ϯϲ͘ϲϳ͟E͖ϳǑϭϯ͛ϭ͘ϭϳ͟t Ϯϯϲ /ŶĠĚŝƚŽ
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* Localização aproximada; ** Localização desconhecida; *** Coordenadas omitidas por decisão dos arqueólogos responsáveis pelos sítios.
CNS ‐ Código Nacional de Sítio no sistema Endovélico (DGPC); GE ‐ Georreferenciado no Endovélico; GEI ‐ Georreferenciado no Endovélico Incorretamente.
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129, n.º 545. Coimbra. 9-10: 172-174.
45
ARQUEOLOGIA
RESUMO
ABSTRACT
um sistema de informação
Presentation of the project for the Archaeological
Inventory of Cinfães, developed within the framework
arqueológica municipal
of a professional training course in Archaeology
promoted by the Cinfães Municipal Council.
The aim of the creation of a municipal Archaeological
Information System, which can provide easy access and
interpretation, is to promote the council’s Heritage Jorge Manuel Resende I
conservation, dissemination and management.
RÉSUMÉ
É
comum no discurso patrimonial contemporâneo a referência aos inventários e
catálogos de património, sendo ideia geral deste tipo de trabalhos identificar e
caracterizar bens de valor cultural (móveis ou imóveis), com o objetivo não ape-
nas de classificar, mas também de divulgar, preservar e prevenir, pois “é impossível gerir o
que não conhecemos” (RESENDE, 2013: 27). Martín Ruiz designa o inventário arqueológi-
co como a recolha de toda a informação de uma área específica (por exemplo, o municí-
pio). Este levantamento tem como resultado uma lista de sítios na qual se podem encon-
trar referências à cultura, cronologia, localização e aos achados mais importantes (MAR-
TÍN RUIZ et al., 1996: 243). Através do conhecimento assim recolhido, os trabalhos de
gestão, divulgação e conservação, assim como a investigação científica, são facilitados.
I
Licenciado em Arqueologia, Mestre em História Esta ferramenta, que dá a conhecer o património que nos rodeia, é essencial quando po-
e Património (especialização em Mediação Patrimonial)
pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
mos em prática trabalhos que envolvem bens arqueológicos. Quer sejam de conservação,
Estagiário em Arqueologia na Câmara Municipal de Cinfães valorização, restauro, divulgação, dinamização patrimonial, turismo ou planeamento e or-
(jorge.resende@cm-cinfaes.pt).
denamento do território, e até mesmo escavações, acompanhamentos, levantamentos, son-
Por opção do autor, o texto segue as regras
dagens ou ações de salvamento. A criação deste tipo de trabalhos é uma medida de pre-
do Acordo Ortográfico de 1990. venção, cujo objetivo é diminuir os danos causados ao património (MARQUES, 1992: 9).
47
ARQUEOLOGIA
das de documentação, diminuição dos papéis em circulação, integra- No que toca ao património arqueológico, os sítios identificados nem
ção do trabalho técnico e administrativo, e uma maior rapidez no sempre coincidem com a realidade, uma vez que raramente são reali-
acesso aos dados, modernizavam o inventário arqueológico nacional zadas prospeções adequadas ao efeito (LEMOS e RORIZ, 2003: 111).
(COSTA e MARQUES, 2002: 118). Os dados relativos a este sistema de Apesar de se ter desenvolvido um conjunto de leis para assegurar a
informação arqueológica foram constantemente atualizados, estando proteção destes bens, através da sua identificação e registo, de entre as
disponíveis online desde, pelo menos, o ano 2000 (Fig. 2). Atual- quais destacamos o Decreto-Lei n.º 69/90 (onde se refere a importân-
mente, é possível consultar a base de dados em http://arqueologia. cia de incluir os valores patrimoniais nos planos de ordenamento 3),
patrimoniocultural.pt/. o Decreto-Lei n.º 380/99 (onde se promove a criação de instrumen-
Os municípios têm também uma responsabilidade legal perante a tos de gestão territorial apoiados com informação arqueológica 4), e a
inventariação arqueológica, considerando a cooperação entre as au- Lei n.º 58/2007 (que garante a proteção dos valores ambientais e do
tarquias e os outros organismos estatais “para o objectivo comum da ci- património natural, paisagístico, ru-
3
dadania que é o da preservação do património cultural de matriz arqueo- ral e cultural em contexto de orde- Artigo 5.º, alínea 1.a
lógica” (SILVA, 2005: 88). Vítor Oliveira Jorge afirma mesmo que as 5
namento do território ). Os Planos (D IÁRIO DA REPÚBLICA,
1990: 881).
autarquias “têm uma grande responsabilidade no futuro da arqueologia de Ordenamento e Planeamento Ter- 4
Capítulo I, secção I, artigo 4.º
portuguesa”, sendo essencial a integração de arqueólogos nos seus qua- ritorial continuam a ser os instru- (DIÁRIO DA REPÚBLICA,
dros (JORGE, 2000: 161). Neste contexto, os inventários de patrimó- mentos mais importantes de que as 1999: 6593).
5
nio possuem um papel preponderante, nomeadamente no que toca autoridades municipais dispõem no Artigo 5.º, alínea 2.a
(DIÁRIO DA REPÚBLICA,
aos planos de ordenamento do território. Para tal, é essencial que es- que toca à gestão patrimonial. Posto 2007: 6126).
tes projetos tenham mapas de zonamento e condicionantes onde se isto, é necessário promover um “co-
incluem os valores patrimoniais. nhecimento generalizado” destes pla-
nos a nível das entidades municipais (LEMOS e RORIZ, 2003: 113). É
FIG. 2 − Resultado de uma pesquisa na base de dados Endovélico - aqui que o inventário entra como meio privilegiado na identificação
- Portal do Arqueólogo (http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/). do património arqueológico.
A importância de um projeto de inventário arqueológico para Cinfães Em 1997, no âmbito do Projeto PRONORTE (Sub-Programa C), surge
é pela primeira vez referida por Eduardo Jorge Lopes da Silva, em outra proposta para inventariação, salvaguarda e dinamização do pa-
1983, num artigo mais tarde publicado na revista regional Terras de trimónio arqueológico cinfanense, por Luís Silva PINHO (1997b: 79).
Serpa Pinto (SILVA, 1992). Este arqueólogo defende a elaboração de Mais uma vez, e apesar da Carta Arqueológica do Concelho de Re-
uma Carta Arqueológica para o Município, projeto iniciado em 1982 sende ter sido financiada por este projeto (SILVA e MEDEIROS, 1997),
com o apoio da Câmara Municipal de Cinfães e do Grupo de Inves- não foi publicado nenhum inventário arqueológico no sentido clássi-
tigação Arqueológica do Norte (IDEM: 23-26). Todavia, e ao contrá- co, tendo apenas sido disponibilizado ao público um registo relativo
rio das cartas arqueológicas dos concelhos vizinhos de Castelo de Pai- à arqueologia da região do rio Bestança (PINHO, 1997a) e, um ano
va e de Resende, que seriam publicadas pelo autor, os resultados finais depois, um Roteiro Arqueológico de Cinfães, cofinanciado pelo referido
deste projeto nunca foram divulgados. São apenas referidos os primei- projeto (PINHO et al., 1998).
ros dados em 1986, no 1.º Congresso Internacional Sobre o Rio Dou- O inventário restringido à área bestantina apresenta objetivos liga-
ro, mais tarde publicados na revista GAYA (SILVA e CUNHA, 1995). dos ao estudo da ocupação humana do referido vale, sendo um pouco
O projeto proposto é criado tendo em conta a importância que um descuradas as vertentes de gestão patrimonial. Contudo, este projeto,
trabalho de inventário tem na identificação, conservação e gestão do tratando-se uma “etapa determinante” que levará à intensificação da
património arqueológico, em contextos de ordenamento territorial, “gestão global desta paisagem” (DIAS, 1997: 7), apresenta também
existindo uma perspetiva de integração no PDM, no que toca ao plano preocupações relativas à relevância do património arqueológico e às
de ocupação dos solos (RESENDE, 2013: 83). Os seus objetivos pri- suas ameaças (PINHO, 1997a: 9-10). Já o Roteiro Arqueológico será um
mordiais foram a criação de medidas de conservação, restauro e clas- instrumento turístico proeminente, sendo a primeira publicação on-
sificação, assim como a realização de projetos de dinamização patri- de se mostra um mapa georreferenciado dos vestígios arqueológicos
monial, tais como a promoção de palestras, exposições, e a criação de cinfanenses (em anexo), intitulado Carta Arqueológica de Cinfães (ver
um museu com núcleo arqueológico (SILVA, 1992: 27; SILVA e CU- Fig. 3).
NHA, 1995: 327-328).
FIG. 3 − Carta
Arqueológica de Cinfães
publicada no Roteiro
Arqueológico de Cinfães
(PINHO et al., 1998).
49
ARQUEOLOGIA
Mais tarde, em 2013, surge um novo trabalho de inventário arqueo- Desta maneira, houve mais tempo para localizar sítios que ainda não
lógico, desta vez relacionado com um projeto de dissertação de mes- tinham sido identificados, assim como alguns locais inéditos. Para es-
trado (RESENDE, 2013). O Inventário Arqueológico de Cinfães estuda tes trabalhos foi criada uma ficha de campo estilizada de registo de ar-
o impacto que uma proposta deste tipo teria na área concelhia iden- queossítios. A informação aqui apontada seria depois transferida pa-
tificada, apresentando um conjunto de dados que evidenciam a im- ra uma Ficha de Sítio, criada a preceito para ser integrada no inventá-
portância que um trabalho de inventariação tem na gestão, divulga- rio. Esta foi regida segundo os Princípios para o Registo de Monumen-
ção e conservação patrimonial (IDEM: 86-102). Esta seria a primeira tos, Grupos de Edifícios e Sítios do ICOMOS, onde se explica que o re-
publicação de um inventário (clássico) completo do património ar- gisto dos bens patrimoniais deve conter quatro itens base (ICOMOS,
queológico cinfanense – tendo em conta que a publicação de Luís Sil- 1996: 4-5):
va PINHO (1997a) restringe-se apenas à área do vale do Bestança, e 1) Identificação, que inclui o nome, o número de identificação, a data
nunca foram divulgados os dados finais do projeto de Eduardo Lopes de registo, o nome da organização responsável pelo registo, etc.;
da Silva. 2) Localização;
Com base neste registo, iniciou-se em 2015 um novo projeto de In- 3) Fontes sobre informação não retirada diretamente do objeto;
ventário Arqueológico de Cinfães (IAC), tendo em conta a correção de 4) Outras informações, que podem ser relativas à natureza, significa-
erros do projeto anterior, a atualização de dados e o desenvolvimento do cultural, características, etc.
de um sistema de gestão e informação arqueológica fácil de utilizar e Uma vez que os campos de um inventário devem identificar, descre-
disponível ao público. Dos melhoramentos feitos ao inventário de ver, informar e avaliar, mostrando os fatores que condicionam o pa-
2013 destacamos: trimónio, é imperativo que tenham uma linha de leitura lógica (GO-
1) O aumento do espectro cronológico, passando o inventário a in- MES, 2012: 82-83). Para além da organização destes itens, é também
cluir vestígios relativos à arqueologia moderna e contemporânea; necessário usar termos pré-definidos. Estes contribuem para uma
2) Uma melhor identificação geográfica, incluindo a identificação análise mais simples do inventário (IDEM: 83), e evitam o surgimento
dos sítios em carta militar e imagem satélite; de pequenos erros de caracterização. O conjunto de campos usados
3) A correção de informação errónea, destacando os erros de identi- no inventário (tanto nas Fichas de Sítio como na Base de Dados), as-
ficação da Capela de São Vicente (Nespereira) e do Menir da Pedra sim como os quadros de termos pré-definidos, encontram-se regista-
Posta (Tendais); dos no Manual Para o Uso e Atualização da Base de Dados do Inven-
4) Uma melhor representação gráfica, no que toca a imagens, mapas tário Arqueológico de Cinfães (IAC), que se encontra disponível em
e gráficos; conjunto com o inventário. Posto isto, foram cuidadosamente esco-
5) Uma nova e extensa pesquisa bibliográfica; lhidos os campos mais indicados a usar, de maneira a criar uma linha
6) A identificação de diversos sítios desaparecidos. de leitura simples e lógica, para que o registo não seja apenas fácil de
consultar, mas também fácil de atualizar (uma vez que qualquer in-
ventário patrimonial está em constante atualização), evitando assim
4. A CONSTRUÇÃO DO I AC itens cuja informação não é exatamente necessária, e que tornam o in-
ventário demasiado confuso.
Desde o início do estágio em arqueologia promovido pela Câmara Desta maneira, as fichas de caracterização do IAC, que são a base de
Municipal de Cinfães (2015-2016), que nos propusemos realizar um todo o trabalho e que apresentam uma descrição pormenorizada dos
projeto de inventário atualizado e melhorado. Pegando nas ideias itens registados, encontram-se organizadas em seis partes (Fig. 4):
postas a priori no inventário de 2013, decidimos intitular este projeto 1) Cabeçalho: informação básica (n.º de inventário, localização, coor-
de IAC (Inventário Arqueológico de Cinfães), como o proposto dois denadas, altitude, designações, cronologia, tipologia e CNS);
anos antes. Foi então feito um plano de trabalhos de prospeção ar- 2) Características: informação representativa do sítio (descrição, im-
queológica, com vista na observação, caracterização e localização de plantação / envolvente, relação com outros elementos, uso do solo, es-
sítios a registar no inventário. Alguns dos vestígios identificados em tado de conservação, espólio identificado e outras observações);
2013 não foram sujeitos a novo reconhecimento, sendo referenciados 3) Localização: informação geográfica (localização administrativa –
conforme os dados obtidos nesse concelho, freguesia, lugar –, coordenadas, altitude, área e localização
ano 6. 6
Embora, em muitos do sítio em Carta Militar de Portugal na escala 1:25 000, e imagem
dos casos, a informação tenha satélite – google.pt/maps);
sido corrigida, especialmente
no que toca às coordenadas
geográficas.
51
ARQUEOLOGIA
FIG. 5 − Vista geral da Base de Dados do Inventário Arqueológico de Cinfães, em Microsoft Excel®.
Como foi referido, após o preenchimento das Fichas, os dados deve- se quiser consultar o património arqueológico relativo ao período ro-
rão ser inseridos na Base de Dados do IAC, criada numa folha de cál- mano, basta carregar na seta que se encontra no canto inferior direito
culo Microsoft Excel® (Fig. 5). Para este catálogo foram selecionados da caixa relativa ao campo “Cronologia”, desselecionar a opção que
alguns dos itens mais preponderantes do registo prévio. Tratando-se indica “Selecionar Tudo”, e selecionar apenas as opções com a indi-
este de um inventário de património arqueológico, que pretende cação “Romano”. Este processo pode ser aplicado em todos os cam-
transmitir informações sobre as características físicas dos vestígios em pos do inventário (Fig. 6).
questão e sobre o seu estado de conservação, para uso municipal, fo- Quando finalizámos o trabalho de inventariação, tínhamos registado
ram escolhidos os seguintes pontos: n.º de inventário, localização, de- 258 itens, mais do dobro dos sítios registados em 2013. Destes novos
signações do sítio, tipo de sítio, cronologia histórica, descrição sucin- sítios, destacamos os de cronologia moderna e contemporânea, ele-
ta, espólio, estado de conservação, coordenadas geográficas e biblio- mentos adicionados a um novo limite cronológico, raramente tido em
grafia (informação previamente descrita na Ficha de Sítio). Este regis- conta nos inventários anteriores. Contudo, diversos elementos fica-
to torna a pesquisa de património muito mais fácil, podendo ser feita ram por identificar, muitas vezes devido à densa cobertura vegetal,
uma relação entre os números de inventário para se aceder a uma que dificulta a observação e a deslocação, outras devido à falta de veí-
ficha descritiva. culo apropriado às deslocações em ambiente serrano.
Para uma consulta mais simples de sítios arqueológicos específicos,
cada campo pode ser filtrado, de maneira a que apenas seja visível de- FIG. 6 − Imagem representativa da filtração
terminada informação relativa a esse ponto. Por exemplo, se apenas de campos em ambiente da Base de Dados do
Inventário Arqueológico de Cinfães (Microsoft Excel®).
O IAC, como ferramenta de gestão, divulgação e conservação do pa- É também importante que se mantenha este registo sempre atualiza-
trimónio arqueológico, é um elemento essencial ao Município de do, uma vez que um inventário patrimonial é um trabalho de renova-
Cinfães. Através dele, a identificação de sítios em trabalhos de valori- ção constante. Desta maneira, constrói-se uma visão sempre atualiza-
zação, aproveitamento turístico e ordenamento torna-se muito mais da das características do património.
fácil. A sua utilidade desenvolve-se também a nível académico, onde No que toca ao inventário arqueológico, a permanente atualização
a pesquisa deste recurso facilita a investigação de uma área com gran- torna-se ainda mais pertinente, uma vez que estes bens se encontram
des potencialidades arqueológicas. dispersos por um vasto território, muitas vezes ocultos, o que leva à
Assim sendo, o Inventário Arqueológico de Cinfães está disponível para sua descoberta inesperada e fortuita, o que torna todos os inventários
consultas, através das entidades responsáveis pelos Pelouros do Turis- de bens arqueológicos inacabados. Por mais intensivo, pormenoriza-
mo, Cultura, Urbanismo, Ordenamento do Território e Ambiente do e extensivo que seja o trabalho, este nunca poderá ser dado como
do município. completo (JORGE, 2000: 11-12).
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Dissertação de Mestrado em História e Património. Arqueológico de Cinfães. Cinfães: Câmara Câmara Municipal Resende.
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53
ARQUEOLOGIA
RESUMO
RÉSUMÉ
A
sur des aires de petite dimension. presentam-se os resultados de quatro intervenções de carácter preventivo reali-
Les auteurs présentent les résultats de quatre interventions
archéologiques au caractère préventif réalisées dans la zone
zadas na área urbana de Óbidos e sua envolvente. Como sempre no tipo de pro-
urbaine de Óbidos et ses environs. Ils cherchent ainsi à jectos aqui considerados (construção ou reabilitação de pequenas unidades habi-
démontrer comment l’information cumulative de ces actions
de minimisation peut être utilisée pour récupérer les paysages
tacionais), quer as medidas de minimização preconizadas, quer as áreas intervencionadas
urbains qui se sont succédé dans les périodes médiévale não permitem o reconhecimento de troços extensos da estratigrafia histórica. Será esta a
et moderne.
principal razão pela qual estas intervenções pontuais na malha urbana, entendidas como
MOTS CLÉS: Archéologie préventive; Archéologie urbaine; demasiado parcelares, tendem a ser subvalorizadas no momento de reconstituir a evolu-
Urbanisme; Moyen Âge; Période moderne.
ção da malha cadastral dos centros urbanos.
Esta menorização, aliada aos ritmos e pressões decorrentes de um estaleiro de construção
civil, bem como às precárias condições laborais de grande parte dos arqueólogos, vão di-
fundindo em muitos profissionais e entidades relacionadas com as questões patrimoniais
I
Bolseiro de doutoramento da Fundação para a a ideia da existência de duas práticas arqueológicas, distintas e inconciliáveis. Uma, con-
Ciência e a Tecnologia - FCT (SFRH/BD/99597/2014); siderada como “verdadeira” e geralmente referida como de “investigação”, só será possível
Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do
Património - CEAACP (marcoliberato@hotmail.com). em projetos genesicamente destinados a objetivos de pesquisa ou, quando muito, em em-
II
lenamps@hotmail.com. preitadas de grande envergadura. Por antinomia, a restante pode ser estruturalmente “aci-
III
ICArEHB - Universidade do Algarve entífica”, consistindo geralmente os seus serviços mínimos em fotos avulsas de movimen-
(e.goufa.arq@gmail.com). tações de terras. O seu único propósito tem sido reduzido à libertação das áreas para a
construção ou, no limite, à redação de relatórios minimalistas para a tutela, onde abun-
Por opção dos autores, o texto segue as regras
dam sínteses como a “inexistência de contextos arqueológicos” ou os “aterros modernos e
do Acordo Ortográfico de 1990. medievais”.
55
ARQUEOLOGIA
TABELA 1 – Inventário do conjunto de indústria lítica das TABELA 2 – Inventário do conjunto de indústria lítica das
sondagens 1, 2, 3 e 4 por matéria-prima sondagens 5, 6 e 9 por matéria-prima
57
ARQUEOLOGIA
FIGS. 7 A 9 − Em cima,
caneiro identificado no pátio superior.
Ao centro, cerâmicas recolhidas
no depósito U.E. [180].
Em baixo, calçada registada junto 0 1m
do Aqueduto da Usseira.
59
ARQUEOLOGIA
0 5 cm
ras murárias U.E. [2], [9] e [12], que delimitavam o ambiente 2. Não FIG. 11 − Os materiais do depósito U.E. [4]:
foi possível delimitar este compartimento a Este, uma vez que o seu enchimento de estrutura negativa tipo silo.
61
ARQUEOLOGIA
0 5 cm
63
ARQUEOLOGIA
FIG. 17 − Cerâmicas
recolhidas no sedimento
U.E. [34].
0 5 cm
Verifica-se, portanto, nova alteração urbanística de relevo na Óbi- aliás, visível ao nível da calçada da rua Direita, no n.º 52). Assim, o
dos dos inícios da Idade Moderna. Provavelmente existiria todo um arco identificado na parede Sul corresponderá, provavelmente, a uma
eixo viário (baixo-medieval?) a uma cota inferior ao atual traçado da antiga ligação entre esta área e a da cave do prédio vizinho, demons-
rua Direita. De facto, informações orais referem que o prédio existen- trando uma lógica urbanística parcialmente desarticulada no sécu-
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RESUMO
histórica da cidade at the end of the 20th century, it wasn’t until the past
few years that this transformation was accompanied
by Heritage safekeeping mechanisms.
The author identifies and interprets the positive
impact of increased urban Archaeology in Leiria.
Luís Gomes I He also aims to understand to what extent this
development has stimulated a closer connection between
archaeological data and historic narrative, as well as
promoting the fruition of this heritage by the population
and the development of Heritage valorisation actions.
N
os finais do século XX, a cidade de Leiria assistiu a um crescimento popula- RÉSUMÉ
cional e económico notório. Entre 1996 e 2006, o crescimento populacional La ville de Leiria a connu un développement
no concelho situava-se nos 13 %, havendo mais de 35 % da população resi- particulier à la fin du XXème siècle, mais cette
transformation n’a été accompagnée de mécanismes
dente na sede de município (LEIRIA HISTÓRICA…, 2008). Apesar da criação, em anos an- de sauvegarde du Patrimoine que dans
teriores, do Gabinete Técnico Local (GTL), em funções entre 1985 e 1987, ter levado à les dernières années.
L’auteur cherche à identifier et à interpréter
elaboração um primeiro Plano de Salvaguarda do Centro Histórico, e do Plano Diretor les reflets positifs de la progression de l’Archéologie
Municipal (PDM), de 1995, delimitar o Núcleo Histórico e o classificar como área de rele- urbaine à Leiria. Il tente également de comprendre
comment son développement a permis le rapprochement
vante interesse histórico, não foi possível reverter o “processo de desqualificação física” dos des données archéologiques avec le discours historique,
bens patrimoniais da cidade, processo que se associava ao seu crescimento. son partage avec la communauté et le développement
d’actions de valorisation du Patrimoine.
O facto do aumento demográfico não se refletir positivamente na gestão do Património
levou à necessidade de considerar, no Estudo de Enquadramento Estratégico, elaborado em MOTS CLÉS: Archéologie urbaine; Patrimoine.
65
ARQUEOLOGIA
documentais e científicos, possibilitando assim não só apurar estraté- curso esse já amplamente explorado. Os recentes dados arqueológicos
gias de desenvolvimento do concelho, como também constituir uma parecem refletir uma reduzida intensidade de ocupação do morro do
base fundamental para qualquer futuro trabalho de investigação Castelo para os períodos tardo-antigo e islâmico, pelo que só é possí-
(CÂMARA MUNICIPAL…, 2007). vel falar da existência de Leiria a partir da fundação do seu castelo, por
No decorrer do projeto CARQLEI, foram delimitados Conjuntos de D. Afonso I, em 1135 (GOMES, 1995; CARVALHO e CARVALHO, 2011).
Interesse Arqueológico, que permitiram estabelecer áreas de elevada A fundação do Castelo numa “terra despovoada, erma e bravia” (CAR-
sensibilidade arqueológica, remetendo assim para um apuramento do VALHO e CARVALHO, 2011), enquadrada no complexo defensivo da
processo de proteção do Património arqueológico. No que toca ao es- cidade de Coimbra, constituiu o primeiro momento em torno de um
paço urbano propriamente dito, é de destacar a criação do Conjunto crescimento populacional e de um desenvolvimento económico e ad-
Arqueológico Núcleo Urbano do Centro de Leiria, cuja área corres- ministrativo da região. A independência económica da vila encontra-
ponde à Zona Crítica de Reabilitação Urbana apresentada no Estudo se associada ao foral de 1142, e foi incrementada com o foral de 1195
de Enquadramento Estratégico (LEIRIA HISTÓRICA…, 2008). O estabe- (MARGARIDO, 1988; GOMES, 1995). Este fenómeno está aliado ao de-
lecimento deste Conjunto Arqueológico justifica-se pela larga diacro- saparecimento da função defensiva após a conquista de Santarém e de
nia de ocupações identificadas no morro do Castelo (cerca de 5000 Lisboa, em 1147 (MARGARIDO, 1988; CARVALHO e CARVALHO, 2011).
anos), e pelo centro da cidade se encontrar desde logo sujeito a diver- O aumento da área muralhada do Castelo, de que é exemplo a fun-
sos projetos de planeamento urbano, que iriam necessariamente afe- dação da Igreja de S. Pedro, possivelmente ainda no século XII (MAR-
tar os vestígios materiais da cidade (CÂMARA MUNICIPAL…, 2007). GARIDO, 1988), constitui um reflexo da dinâmica precoce.
Em consequência do conjunto de estudos de reabilitação urbana, e da Ao longo dos séculos XIII e XIV, produto desta mesma vocação ad-
existência de uma carta arqueológica consubstanciada, foi considera- ministrativa e económica, consubstancia-se a ocupação das áreas exte-
da necessária a revisão do PDM, cujo documento final foi apresentado riores ao núcleo central muralhado, assumindo esta realidade um pa-
em 2015. O novo Plano Diretor Municipal apresenta uma secção res- pel cada vez mais decisivo na estruturação da vila. Na zona alta esta-
trita ao Património arqueológico (Secção III), na qual os vestígios ar- belecem-se as paróquias de Santiago (a nordeste), indo de encontro
queológicos são definidos e inventariados com base nos resultados do aos arrabaldes agrícolas, e de Santo Estevão (a sudoeste). Esta última,
PNTA - CARQLEI (artigo 15.º). Tem como anexo uma Planta de Orde- com uma clara vocação industrial (com ferreiros, lagares, etc.), açam-
namento pormenorizada do centro da cidade, onde se encontram car- barcava estratos sociais pouco elevados, e incluía a mouraria (MAR-
tografados os sítios arqueológicos identificados até à data, bem como GARIDO, 1988; CARVALHO e CARVALHO, 2011). Já na zona baixa, em
os limites das zonas de proteção afetas a cada um. O novo PDM prima direção ao leito do rio (e por isso limitada pelo mesmo), estabeleceu-
não só pela explicitação de um regime de salvaguarda, como também se a paróquia de S. Martinho. Articulada em torno da atual rua Barão
pela delimitação cronológica do Património arqueológico edificado de Viamonte (rua Direita), num modelo de organização em “espinha
submetido ao regime de salvaguarda (Artigo 16.º, alínea 6) – consubs- de peixe”, era o centro económico da vila, distribuidor das riquezas
tanciando assim a importância da Arqueologia de cota positiva nos produzidas na região de Leiria, e onde se inseria a judiaria (MARGA-
trabalhos desenvolvidos no centro histórico –, e pela subordinação do RIDO, 1988; CARVALHO e CARVALHO, 2011). O crescimento demo-
regime aos dados científicos existentes ou a surgir em futuros traba- gráfico e económico da vila também se refletiu na sua periferia, fenó-
lhos (Artigo 16.º, alínea 2) (REVISÃO DO PLANO…, 2015). meno de que é exemplo a fundação do convento de São Francisco, à
Assim, na sequência do dinamismo do gabinete de Arqueologia do mu- beira do rio, no século XIV (MARGARIDO, 1988).
nicípio e dos vários trabalhos desenvolvidos (como é o caso da CARQLEI) Nos primeiros momentos da Idade Moderna (século XVI), Leiria é
tem sido identificado no centro histórico da cidade um elevado con- elevada ao estatuto de cidade por D. João III e adquire o título de Se-
junto de materiais que permitem não só consolidar o conhecimento his- de de Bispado (MARGARIDO, 1988; CARVALHO e CARVALHO, 2011).
tórico medieval e posterior, como também vislumbrar antigas fases de É neste século XVI, produto de uma nova visão urbanística, poten-
ocupação, como é o caso das escavações na Casa do Fabião, ex-RAL 4, ciada pelo movimento renascentista, que ocorrem algumas das prin-
e no interior do Castelo (CARVALHO e CARVALHO, 2011). cipais alterações à malha urbana medieval, com a fundação da Sé, que
levou, por sua vez, à destruição da Igreja de S. Martinho, e à reestru-
2. A CIDADE DE LEIRIA, turação de alguns espaços adjacentes à rua Direita, de que é exemplo
DA SUA FUNDAÇÃO À CONTEMPORANEIDADE a zona da Misericórdia (MARGARIDO, 1988). É de destacar ainda a
fundação do Convento de Santo Agostinho, que segue o leito do rio,
Para compreender de que modo o conjunto de material arqueológico de forma análoga ao convento de S. Francisco, mas para montante,
identificado na cidade de Leiria reflete a sua evolução diacrónica é ne- reestruturando assim os espaços agrícolas e industriais da periferia
cessário, antes de tudo, uma aproximação ao discurso histórico, dis- (MARGARIDO, 1988).
67
ARQUEOLOGIA
FIG. 1 − Mapa de distribuição por zonas dos sítios considerados no presente FIGS. 2 E 3 − Em cima, distribuição por zonas
trabalho (adaptado de LEIRIA HISTÓRICA…, 2008). dos sítios arqueológicos inventariados em Leiria
(segundo o PDM de 2015).
Em baixo, distribuição por zonas dos sítios
considerados no presente estudo.
de espólio arqueológico com potencial para ser utilizado no discurso
histórico, a par dos dados documentais já bastante explorados.
No que toca à distribuição espacial dos sítios considerados (ver Fig. 3), dados arqueológicos relativos a períodos históricos mais recentes, com-
a maioria insere-se na Zona IV, havendo um total de 17 intervenções provando que a intensidade de ocupações para estas zonas aumentou
sobre conjuntos históricos, sendo que apenas a Igreja da Misericórdia nestes períodos, em detrimento do núcleo urbano original.
ficou sem intervenção finalizada até à data de elaboração do trabalho. No que toca à funcionalidade das ocupações (ver Fig. 6), é de destacar
A Zona III, igualmente extramuros, regista apenas três sítios e um to- que as estruturas com funcionalidade defensiva apenas surgem nas
tal de quatro intervenções em locais com importante ocupação histó- zonas I e II, confirmando a curta função militar que a cidade teve na
rica. Foram realizadas seis intervenções sobre o Castelo de Leiria (Zo- sua origem. A Zona II apresenta ainda uma grande heterogeneidade
na I), mas a Igreja de Santa Maria da Pena, monumento de especial de funcionalidades (ao contrário do Castelo), o que atesta a sua im-
relevância que se insere no complexo do Castelo, anda não foi alvo de portância como centro económico, religioso e habitacional da vila na
estudos arqueológicos aprofundados. Na Zona II, intramuros, ocor- Idade Média, mas também na Idade Moderna.
reram nove intervenções para apenas seis sítios arqueológicos de pe-
ríodo medieval e posterior. Finalmente, na zona exterior ao centro
histórico, foram realizados seis trabalhos de arqueologia, ficando de
parte apenas um sítio do conjunto considerado.
Através de análise de conjunto e com base em dados cronológicos (ver
Fig. 5), vemos que os resultados das intervenções consideradas refle-
tem a dinâmica histórica da cidade de Leiria apresentada nos parágra-
fos anteriores. As Zonas I e II, correspondentes ao espaço intramuros,
apresentam uma maioria relativa de ocupação medieval, e uma menor
intensidade de ocupações de Idade Moderna e Contemporânea. Con-
trariamente, as Zonas III, IV e V forneceram um maior manancial de FIG. 4 − Gráfico cumulativo de intervenções ao longo do tempo.
69
ARQUEOLOGIA
Existem também casos de reabilitação de estruturas antigas. Estes ca- Já a análise dos dados corológicos e cronológicos relativos aos sítios
sos foram potenciados quer por parte de entidades municipais, como selecionados leva a considerar que é possível alicerçar o discurso histó-
nas escavações na zona do ex-RAL 4 (NEVES, BASÍLIO e COUTO, 2013), rico em dados que transcendem os registos documentais. De facto,
associadas ao novo Museu da Imagem e Movimento (Zona II), quer existe um claro reflexo material da evolução da cidade:
por entidades privadas, como na escavação e reabilitação do Solar dos 1) Encontra-se evidenciada, no Castelo (Zona I) e na zona de S. Pedo
Ataídes (ALEGRIA, 2008; VALINHO e SILVEIRA, 2009), na zona II. (Zona II), a sua origem militar;
Também o Mercado de Santana (Monumento de Interesse Público 2) É também possível aferir a importância da zona de S. Pedro ao lon-
inserido na zona IV) se enquadra nesta categoria. go dos primeiros séculos de existência da cidade de Leiria, evidente
Há ainda que destacar que a Igreja da Misericórdia, classificada como nos forais redigidos no século XII;
Monumento de Interesse Público, está atualmente em projeto de rea- 3) A realidade material identificada nas escavações permitiu consubs-
bilitação, e apresentará brevemente resultados positivos no que toca à tanciar com dados arqueológicos a hipótese de que o centro econó-
sua valorização. Finalmente, os três monumentos nacionais da cidade mico foi transladado, ainda na Idade Média, para a baixa (Zona IV),
– Castelo de Leiria, Igreja de São Pedro e Sé de Leiria (com a respe- em direção ao rio Lis, e que esta zona constituiu o centro da urbe nos
tiva Torre) – foram alvo de trabalhos arqueológicos e constituem séculos seguintes;
igualmente pontos atrativos explorados pelo Turismo de Leiria. 4) É evidente a alteração da malha urbana em parte da zona baixa no
Apesar dos variados projetos de valorização, o potencial do patrimó- início da Idade Moderna, especialmente no que toca ao terminus da
nio edificado leiriense não se encontra completamente explorado. Dos utilização da Praça Rodrigues Lobo como espaço sepulcral;
três imóveis classificados como de Interesse Público – os conventos de 5) Pode ainda destacar-se a relevância do espaço periurbano (Zona V)
Santo Agostinho, de São Francisco e de Santo António dos Capuchos como zona económica de grande importância na evolução histórica
–, o último não conheceu ainda intervenções arqueológicas nem de da cidade, estruturada por instituições conventuais.
projetos de reabilitação, mas apresenta um claro potencial valorativo
para o futuro. Apesar da elevada quantidade de intervenções na cidade de Leiria ao
longo dos últimos anos, raramente ocorreu a continuação da investi-
4. DISCUSSÃO gação para o meio científico. É assim evidente que grande parte dos
trabalhos arqueológicos realizados na cidade têm como ponto fulcral
Apesar das limitações inerentes ao método de análise dos sítios utili- aliviar a sua “carga arqueológica” (MARTINS e RIBEIRO 2009-2010).
zado no presente trabalho, a análise de conjunto efetuada permite De facto, o trabalho em meio de salvamento é, frequentemente, a úl-
compreender de que modo as intervenções arqueológicas têm refleti- tima etapa, deixando de lado a igualmente importante fase de estudo
do as valências históricas da cidade, e como presentes e futuros traba- e divulgação científica dos dados arqueológicos obtidos.
lhos de investigação científica e de valorização do património arqueo- No entanto, é de notar que existe, por um lado, recolha de espólio ar-
lógico podem articular as especificidades aferidas para cada sítio com queológico e, por outro, trabalho de gabinete. Articulando este traba-
uma visão holística da história leiriense. lho com o espólio recolhido em escavação preventiva, ainda que com
No que toca à localização dos diferentes sítios arqueológicos em estu- todas as limitações inerentes a tal articulação, será possível no futuro
do, é possível adiantar que existe uma ação diferenciada para as diver- obter informação científica de relevo que permita entrever pontos
sas zonas consideradas: relevantes sobre a dinâmica histórica da cidade e de cada sítio em par-
1) As Zonas II e IV, respetivamente o centro da urbe medieval e o ticular, e também dar continuidade ao trabalho de campo.
centro da cidade atual, apresentam uma grande intensidade de traba- Apesar de muitas das intervenções não terem uma continuidade de
lhos arqueológicos com resultados importantes para a compreensão trabalhos num panorama científico, existe uma prática coerente e su-
da evolução da cidade de Leiria, bem como variados projetos de valo- ficientemente ampla de reabilitação e valorização do património ar-
rização e requalificação do património material; queológico e arquitetónico. Muitos dos projetos realizados neste sen-
2) Também no interior do Castelo foram realizadas várias interven- tido levaram a estudos de qualidade no âmbito da arqueologia de cota
ções, muitas das quais com fins meramente investigativos/valorativos, positiva. Vários projetos têm ainda a finalidade de promover a divul-
o que faz desta zona um ponto de destaque, não só a nível turístico, gação patrimonial ao público em geral e também o intuito de albergar
mas também a nível científico; espaços de gestão do património e de investigação. Assim, ainda que
3) A Zona III apresenta um défice na valorização do património ar- seja reduzida a produção científica, a existência de material por estu-
queológico e edificado, mas é de destacar que a renovação urbanística dar, de espaços para o estudar e de meios para transmitir os resultados
da mesma foi acelerada nos últimos anos, pelo que novos projetos po- (em espaços museológicos, por exemplo), possibilita a futura amplia-
derão surgir proximamente. ção da investigação sobre a arqueologia da cidade de Leiria.
Ao longo dos últimos anos, face ao crescimento da cidade de Leiria, A continuação dos procedimentos evidenciados, e a futura articulação
tem sido desenvolvido sobre a mesma um conjunto de ações que dos resultados das diversas intervenções, pode levar a que a cidade de
visam, por um lado, a proteção do património arqueológico e, por Leiria se constitua ela própria como um laboratório de estudo das pro-
outro, o enquadramento da prática arqueológica no planeamento do blemáticas associadas à Arqueologia urbana, como um paradigma a
desenvolvimento do centro urbano. É inegável que tais práticas cons- nível nacional da gestão e investigação do património arqueológico de
tituem um contributo positivo para o aumento das intervenções ar- idade medieval e posteriores.
queológicas em meio urbano, permitindo assim obter dados materiais
relevantes para a compreensão da dinâmica histórica da cidade.
Em resultado do aumento das intervenções arqueológicas, foi possível
obter um conjunto de informações contextuais e materiais que per-
mitem, numa visão de conjunto, não só obter um reflexo material da 6. AGRADECIMENTOS
evolução da urbe leiriense ao longo dos últimos séculos, como tam-
bém alicerçar as informações históricas e documentais nos dados ma- O presente texto deriva de um trabalho realizado no âmbito da uni-
teriais, consubstanciando assim o discurso histórico, já existente. Ain- dade curricular de Arqueologia das Cidades, lecionada em 2016 no
da que raramente as intervenções tenham continuado para a fase de Mestrado em Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de
produção de trabalhos científicos, existe uma boa prática de valoriza- Lisboa. Cabe assim um agradecimento global à instituição e, em par-
ção do património arqueológico na cidade. A arqueologia urbana tem ticular, à professora Ana Margarida Arruda, docente da disciplina.
assim contribuído de forma positiva para a criação de espaços de edu- A sua realização não teria sido possível sem a disponibilidade de aces-
cação histórica, de fruição cultural, mas também de apoio à investi- so ao arquivo documental do Museu da Cidade de Leiria. Deixo as-
gação científica. sim um amplo agradecimento à equipa do museu e, em especial, à ar-
Considerando o desenvolvimento destas práticas, e tendo em conta a queóloga Vânia Carvalho. Espero ainda que o presente trabalho possa
relativamente reduzida dimensão do centro histórico de Leiria, é pos- contribuir positivamente para a instituição e para a cidade de Lei-
sível adiantar que a prática arqueológica em Leiria constitui um estu- ria.
do de caso exemplar.
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71
ARQUEOLOGIA
RESUMO
RÉSUMÉ
O
sítio arqueológico de
En 2015, dans le cadre de l’Etude sur l’Impact Santo André foi iden-
Environnemental de l’implantation d’une usine de
produits laitiers dans la zone industrielle de Portalegre,
tificado no âmbito do
a été identifié le site archéologique de Santo André, Estudo de Impacte Ambiental
avec une aire de matériaux archéologiques étendue sur
près de 9,5 hectares, où se démarquaient les éléments
da Unidade Industrial de Lacti-
lithiques et la céramique courante de production sur tour. cínios, a localizar no parque in-
L’auteure présente le résultat de sondages de diagnostic
postérieurs qui ont révélé un four céramique dustrial da cidade de Portalegre
de la période moderne. (freguesia de Urra, concelho de
MOTS CLÉS: Archéologie urbaine; Période moderne;
Portalegre), por iniciativa do Gru-
Poterie. po Jerónimo Martins.
Durante os trabalhos de prospe-
ção, realizados em abril de 2015,
foi possível identificar uma man-
cha de materiais em cerca de 9,5
FIG. 1 − Localização do sítio arqueológico de
hectares. Apesar da vegetação Santo André (Portalegre). Fonte: extrato de
densa, na zona mais alta foi pos- Carta Militar de Portugal, folha n.º 359.
sível observar fragmentos cerâ-
micos conformados a torno.
Por se prever a construção de uma unidade fabril para este espaço, a Declaração de Im-
I
NEMUS, Gestão e Requalificação Ambiental, Lda pacte Ambiental (DIA), emitida a 2015-10-14, determinou a realização de sondagens
(sofia.gomes@nemus.pt).
arqueológicas de diagnóstico. Em Reunião de Comissão, e após observação dos materiais
Por opção da autora, o texto segue as regras
por parte do técnico da Direção-Regional de Cultura do Alentejo, ficou estabelecido que
do Acordo Ortográfico de 1990. as sondagens de diagnóstico totalizariam 20 m2.
2. INTERVENÇÃO NO
SÍTIO DE S ANTO A NDRÉ
73
ARQUEOLOGIA
A partir deste conhecimento, programou-se uma intervenção em de quantidade de raízes de grandes dimensões (tal como a UE [1]),
duas frentes: uma que avaliasse o potencial pré-histórico do local destacando-se pela concentração de pedras de grandes dimensões e
(sondagem 1), e uma segunda que procedesse à caracterização tipoló- por uma terra castanho-escuro. A unidade revelou-se solta devido à
gica e cronológica das estruturas (sondagem 2). presença de raízes e animais. A UE [3] (Fig. 4) possui as mesmas ca-
Os trabalhos na sondagem 1 não revelaram contextos arqueológicos, racterísticas morfológicas da UE [2], distinguindo-se por apresentar
sendo o presente texto focado nos trabalhos realizados na sondagem 2. uma tonalidade mais clara e por se situar no interior da estrutura cir-
cular que se começou a pôr a descoberto.
2.1. SONDAGEM 2 Os materiais observados nestas duas unidades são muito coerentes
entre si, tendo-se observado cerâmica de construção diversa e restos
A sondagem 2 foi instalada de forma a intercetar a elevação onde se de cerâmica de revestimento com marcas de terem estado sujeita a al-
podiam observar alinhamentos de estruturas. tas temperaturas.
Em função dos vestígios que começaram a surgir, procedeu-se ao alar- A UE [4] corresponde à estrutura pétrea do forno que foi construído
gamento da sondagem em 9 m2 para sul das estruturas visíveis. num só momento. A estrutura possui alvenaria em pedra de aparelho
parcial, sendo utilizados ocasionalmente fragmentos de tijolo ou tijo-
los burro completos. O ligante é em terra local de cor castanha e gra-
TABELA 1 – Coordenadas da sondagem 2 nulosidade média. É de referir a recolha de dois fragmentos cerâmicos
latitude [N] longitude altitude [m]
pertencentes à mesma peça (um alguidar de grandes dimensões), que
terão sido fraturados e colocados sobrepostos como reforço entre duas
39.261890 -7.439341 347.65
39.261933 -7.439300 347.70
pedras.
39.261880 -7.439324 347.65 A estrutura possui cerca de 2,20 m de altura máxima conservada no
39.261923 -7.439282 347.81 interior, e 1,30 m de altura máxima conservada no exterior. A espes-
sura a oeste é de 0,56 m, e a sul de 0,85 m.
Sistema de Referência Europeu 1989 (European Terrestrial Reference System), com base na projeção
Transversa de Mercator ajustada ao território continental português desde 2006 (PT-TM06/ETRS89). Por baixo da UE [2] surgiu um outro derrube que se numerou de
UE [7]. Este distinguia-se por apresentar uma grande quantidade de
2.1.1. Estratigrafia material de construção e uma terra de cor castanha avermelhada escu-
ra e uma granulosidade média. Aqui as raízes surgem numa quanti-
Os trabalhos iniciaram-se com a limpeza do terreno até se atingir o dade muito inferior e apresentam uma espessura tendencialmente fi-
topo da Unidade Estratigráfica [1]. Esta unidade era muito densa e na. Nesta unidade já foi possível recolher alguma cerâmica comum,
humosa, com uma enorme concentração de raízes, sobretudo de sil- nomeadamente bordos, fundos e asas, tendo-se identificado fragmen-
vas, que se expandiam entre os elementos pétreos existentes. Toda tos fraturados in situ.
esta concentração vegetal proporciona-
va, naturalmente, abrigo natural a uma
variedade de animais.
Ao nível dos materiais, a UE [1] reve-
lou sobretudo muita cerâmica de cons-
trução, nomeadamente telha de meia-
cana, tijolos-burro paralelepipédicos e
tijolos tipo ladrilho.
Com a remoção da UE [1] ficaram a
descoberto três realidades: as UE [2],
[3] e [4].
A UE [2] corresponde ao derrube ex-
terno da estrutura, estando depositada
ao longo da vertente sul. Esta unidade
mantém na sua composição uma gran-
A UE [7] encostava à UE [4] e sobrepunha-se às UE [14] e [11]. A A estrutura do forno, para além da UE [4], é ainda composta pelas
UE [14] corresponde ao depósito natural original que seria o solo de UE [12] e [13] (Fig. 7). A UE [12] é uma banqueta irregular que se
pisoteio à data de utilização do forno. Possui uma cor bege amarelada dispõe ao longo da parede do forno. É construída em tijolo tipo ladri-
e uma granulosidade média. Esta unidade, que se revelou estéril de ma- lho, com cerca de 18 x 18 x 1 cm aproximadamente (os mais conser-
teriais, sobrepunha-se ao afloramento granítico, designado de UE [11], vados). No entanto, esta é uma observação difícil, dado o seu estado
e preenchia as reentrâncias e bolsas criadas por este. de destruição. O topo da unidade é ondulado, tendo vários cortes
No interior da estrutura, por baixo da UE [3], identificaram-se as provocados pela UE [13]. Possui cerca de 30 cm de largura e tem es-
UE [9] e [12]. A UE [9] caracteriza-se por uma grande concentração pessura apenas correspondente ao ladrilho. Dista da base do aflora-
de fragmentos de tijolos de várias dimensões, desde tijolos inteiros a mento cerca de 1,10 m.
pequenos fragmentos de 3 x 3 cm. Estão ainda pre-
sentes algumas pedras de médias e grandes dimensões,
mas que ocorrem sobretudo no topo, no que podem
ainda ser intrusões da UE [3]. A terra que envolve es-
tes materiais é de cor avermelhada e granulosidade mé-
dia. Nesta unidade recolheram-se vários fragmentos
de cerâmica, sendo de destacar uma bilha e uma tam-
pa em xisto (apresentadas adiante, na Fig. 13).
A UE [9] assentava num depósito de cor bege amare-
lada, designado de UE [10], que, apesar de uma cor
clara, possuía várias manchas escuras associadas a
combustão. Nesta unidade foram recolhidos apenas
três fragmentos cerâmicos (um bordo, um fundo e um 0 1m
75
ARQUEOLOGIA
2.1.2. Materiais
2.1.2.1. Cerâmica
a) Cerâmica de construção
A cerâmica de construção presente no sítio de Santo André corres-
ponde a telha de meia-cana fina, a tijolo burro e a ladrilho, sendo a
maioria fragmentos de médias e pequenas dimensões. A telha de
meia-cana possui em média 7 mm de espessura, apresenta uma cor
vermelha acastanhada e a pasta é relativamente bem depurada.
O tijolo-burro surge sobretudo nos contextos de interior da estrutura
de forno, com elevada representatividade na UE [9]. Os tijolos apre-
sentam sinais de terem estado sujeitos a temperaturas elevadas, ou se-
ja, uma cor cinzenta e uma pasta muito cozida e porosa.
FIG. 10 − Matriz estratigráfica.
0 3 cm
b) Cerâmica comum
Apesar de se ter identificado um conjunto limitado de cerâmica co-
mum, este apresenta alguma diversidade nas pastas e nos acabamen- FIG. 11 − Elemento de função indeterminada.
tos.
As pastas diferenciam-se pelo tratamento e cozedura que receberam,
e não tanto pelos elementos não plásticos que a compõem. Estes são A bilha, recolhida na UE [9], encontra-se praticamente completa
angulosos, ocorrendo maioritariamente o quartzo e o quartzito, mas (Fig. 13). Possui um bordo direito reto com uma canelura imediata-
também o feldspato e, ocasionalmente, minerais máficos (anfíbolas). mente abaixo. A asa inicia-se no bordo e termina na parte inferior da
Em alguns fragmentos são visíveis negativos de minerais. pança. As medidas da peça são: abertura interior: 10,2 cm; diâmetro
Em relação às pastas, é possível diferenciar os três grupos apresenta- de bordo: 11,3 cm; altura total da peça: 13 cm; altura do colo: 3,5
dos na Tabela 2. cm; altura interior da pança: 8,7 cm; largura máxima da pança: 14,6
cm; espessura da peça: 0,5 cm; largura da asa: 2,7 cm; espessura da
TABELA 2 – Grupos de pastas identificados em Santo André asa: 0,7 cm.
diferenciação
grupo principal descrição
Grupo 1 pasta cinzenta Fratura laminada, elementos não plásticos
angulosos. A pasta pode ser mais ou menos
depurada em função da peça. Quando se trata de
uma peça grande, tipo alguidar, a pasta está
menos depurada; se for mais pequena, tipo bilha
ou pote, a pasta já está mais depurada.
Grupo 2 pasta castanha Fratura laminada, elementos não plásticos
angulosos. Os vários fragmentos associados a este
grupo revelam pouca diferença ao nível da
0 10 cm
depuração das pastas.
Grupo 3 pasta vermelha Fratura laminada, elementos não plásticos
angulosos. Os vários fragmentos associados a este FIG. 12 − Alguidares provenientes da UE [7].
grupo revelam pouca diferença ao nível da
depuração das pastas.
77
ARQUEOLOGIA
Junto à bilha foi recolhida uma tampa em xisto. A peça possui uma A separação entre a fornalha e a câmara de cozedura é marcada por
forma tendencialmente circular, com afeiçoamento marcado em uma uma banqueta em ladrilho que se destaca da parede em cerca de 30 cm.
das faces. Com um diâmetro máximo de 12,6 cm, a tampa poderia Não se conservou a grelha que estaria ao nível desta banqueta. No
ter pertencido à bilha, já que se encaixam na perfeição. entanto, foram recolhidos bastantes tijolos do interior da fornalha
que sugerem a existência de algum tipo de arco de suspensão da gre-
lha, podendo também esta ter sido construída em tijolo.
3. ANÁLISE DE DIAGNÓSTICO : Em relação à cobertura, não há qualquer indício de como seria a sua
A OCUPAÇÃO NO PERÍODO MODERNO construção. Apenas que poderia ser coberta com telha de meia-cana.
Contudo, pode-se sempre conjeturar a possibilidade do teto ter sido
3.1. O FORNO em abóbada de berço, de modo a permitir um movimento circular de
ar quente (CORREIA: 2005-2007).
O forno foi intervencionado em duas fases:
– A primeira incidiu no derrube sul e no interior do forno, não se ten- 3.2. INTERPRETAÇÃO PRELIMINAR
do escavado a totalidade em área. No entanto, os dados obtidos fo- DOS CONTEXTOS INTERVENCIONADOS
ram reveladores de se estar na presença de um forno de cerâmica;
– A segunda decorreu já durante o acompanhamento arqueológico, Os séculos XVI e XVII correspondem a um momento de expansão
onde se colocou à vista a totalidade da estrutura e se procedeu ao seu de Portalegre, sendo de referir a sua elevação a cidade em 1550. Por
desmonte. esta época, muitos burgueses e nobres constroem as suas casas extra-
Para a construção do forno foi aproveitado o afloramento granítico, muralhas, aumentando claramente o edificado da cidade. Ao forte cres-
tendo-se erguido a estrutura em torno de uma depressão do mesmo. cimento da cidade estará associada a necessidade de material de cons-
O forno possui uma estrutura exterior tendencialmente quadrangular: trução, bem como de cerâmica utilitária.
– Fachada sul conservada = comprimento 4,06 m; altura máxima Os elementos obtidos na intervenção permitem dizer que o forno de
1,30 m; largura 0,88 m; cerâmica terá estado ativo nesta época. O elemento datante que per-
– Fachada norte conservada = comprimento 3,80 m; altura máxima mite situar o sítio de Santo André no período moderno é a telha de
1 m; largura 0,56 m. meia-cana cuja espessura não ultrapassa os 7 mm. A fraca presença de
A estrutura possui alvenaria em pedra de aparelho parcial, sendo uti- materiais não significa que este forno não tenha produzido cerâmica
lizados ocasionalmente fragmentos de tijolo ou tijolos burro comple- utilitária. Pressupõe sim um encerramento e abandono controlado da
tos. O ligante é em argila local. atividade produtiva. As poucas tipologias identificadas possuem uma
A fornalha e a câmara de cozedura possuem uma forma tendencial- produção bastante prolongada no tempo, não sendo possível uma
mente circular (oval), com um diâmetro máximo interno de 2,20 m atribuição de cronologias a partir destas.
e uma altura máxima conservada de 2,20 m. Em relação aos materiais, é de referir que o predomínio de alguidares
A fornalha tem 1,10 m de altura e assenta no afloramento rochoso, o de grande diâmetro poderá estar relacionado com a própria atividade
que permitiria a potenciação das temperaturas alcançadas. Atual- de produção.
mente, ainda são visíveis marcas de fogo na rocha. A relativa distância a que o forno se encontra da cidade poderá ser jus-
A parede da fornalha é forrada a argila, encontrando-se bastante alte- tificada, em primeiro lugar, pela proximidade com os barreiros, como
rada devido às altas temperaturas a que esteve sujeita. Possui atual- se pode observar na Fig. 14, e, em segundo lugar, para evitar que a
mente uma cor cinzenta, com uma superfície exterior baça mas com população em geral sofresse com os odores provocados pelo processo
uma fratura vitrificada, sendo a sua principal característica as bolhas de cozedura.
que apresenta.
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79
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
RESUMO
ABSTRACT
In the winter of 2014, an important set of wood, Ana Almeida I, Filipe Castro II, Alexandre Monteiro III e Ivone Magalhães I
diverse metal artefacts, iron concretions and gunstones
washed ashore North of Esposende, at Belinho beach.
Between 2015 and 2017, a succession of storms resulted
in more wreckage being washed ashore.
In April and May 2017, both geophysical surveys carried
out off the coast and recognition diving made it possible to
identify an anchor, four bronze and iron cannons, related
wood, and several artefacts belonging to a shipwreck site.
This is probably one of the most important underwater
archaeological sites to have ever been found in Portugal.
INTRODUÇÃO
KEY WORDS: Nautical Archaeology; Shipwreck;
Archaeological survey; Geophysics.
C
riado no nexo de dois mundos, Portugal desenvolveu uma cultura náutica sin-
RÉSUMÉ
gular, que misturava os saberes e as tradições do Atlântico e do Báltico com os
do mundo mediterrânico. Embora esta cultura seja muito mais antiga do que
Pendant l’hiver 2014, un important ensemble de bois,
objets métalliques divers, concrétions ferrugineuses et piloris
o país, o desenvolvimento dos navios oceânicos que acabaram por permitir a expansão
en pierre a été rejeté sur la côte au nord de Esposende, europeia pelo mundo data dos séculos XIV a XVI. Durante os séculos XIX e XX, a inves-
sur la plage de Belinho. Entre 2015 et 2017, des tempêtes
successives ont provoqué de nouveaux échouages.
tigação histórica estabeleceu cronologias e narrativas baseadas no estudo e interpretação
En avril et mai 2017, des prospections géophysiques réalisées cuidada de documentos, mas os navios dos séculos XIV a XVI são-nos ainda largamente
au large de la plage et des plongées de reconnaissance ont
permis d’identifier une ancre, quatre canons en bronze et en
desconhecidos (MONTEIRO e CASTRO, 2015).
fer, des boiseries en connexion et différents objets en contexte A Arqueologia náutica é uma subdisciplina da Arqueologia com pouco mais de meio sé-
de site de naufrage. Nous sommes probablement en présence
d’un des plus importants sites archéologiques sous-marins
culo de existência, que está ainda a desenvolver as metodologias necessárias ao estudo da
jusqu’à aujourd’hui localisés au Portugal. História da construção de navios, de forma padronizada e que permitam a elaboração de
MOTS CLÉS: Archéologie Nautique; Naufrage;
estudos comparados de restos de navios escavados e publicados.
Prospection Archéologique; Géophysique. A reconstrução dos navios deste período requer um trabalho paciente, de análise das ca-
racterísticas regionais que diferenciavam os navios construídos em diferentes portos e de
análise cronológica da evolução das formas dos cascos, dos aparelhos e dos apetrechos ne-
I
Divisão de Acção Cultural, Câmara Municipal cessários a cada tipo de viagem, que variavam em função da distância, da altura do ano
de Esposende (ana.almeida@cm-esposende.pt;
ivone.magalhaes@cm-esposende.pt). em que as viagens se realizavam, ou das ameaças ou oportunidades criadas pelas circuns-
II
ShipLAB. Nautical Archaeology Program. tâncias políticas de cada conjuntura.
Anthropology Department, Texas A&M University
(fvcastro@tamu.edu).
No Inverno de 2014, um importante conjunto de madeiras de cariz náutico começou a
III
Instituto de Arqueologia e Paleociências, Faculdade de ser arrojado à costa portuguesa, a norte de Esposende, na praia do Belinho. Juntamente
Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa com as madeiras, deram igualmente à costa artefactos metálicos diversos, concreções fer-
(almonteiro@fcsh.unl.pt).
rosas e pelouros em pedra. Madeiras e artefactos provinham indubitavelmente de um lo-
Por opção dos autores, o texto não segue as regras
cal de naufrágio ainda desconhecido, mas situado ou ao largo daquela praia ou nas suas
do Acordo Ortográfico de 1990. imediações mais a norte.
81
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
ralela à duna frontal, com declive acentuado e de largura e altura va- – o qual se situa a 1,75 km a sul da praia de Belinho 1 – um conjunto
riável, crista essa que se estende desde a base da arriba até aos bancos de pelouros em ferro e diversas peças concrecionadas, também em
e às pequenas regueiras orientadas Norte-Sudoeste, regueiras essas ferro, de tipologia indeterminada. Este gotejar de achados sofre uma
formadas pelos afloramentos rochosos paleozóicos existentes na zona alteração quando, durante a forte e excepcional agitação marítima oca-
inferior da praia (Fig. 2). sionada pela super-tempestade Hércules, em Janeiro de 2014, Luís
Ao longo da última década, o fenómeno erosivo acima descrito tem Miguel Calheiros, residente local que fazia a sua caminhada matinal
originado no concelho de Esposende um conjunto notável de desco- pela costa, encontrou algumas peças “que pareciam capacetes metáli-
bertas arqueológicas relacionadas com o mar (ALMEIDA e MAGA- cos”. Duas semanas após o contacto feito pelo escultor, a colecção de
LHÃES, 2013). achados já incluía duas cronologias distintas: centenas de fragmentos
Estas descobertas correspondem a contextos tanto marítimos como de ânforas romanas, e as madeiras (desarticuladas) e os objectos pós-
fluviais, e associam-se directamente à posição geográfica da costa de -medievais
Esposende, em cuja fachada atlântica (pré-praia) abundam restingas Dada a curiosidade que este achado despertou, Luís Calheiros pediu
submersas que, criando condições para ancoragem, são também pro- auxílio a João Sá, seu familiar e o achador original dos pelouros em
piciadoras de naufrágios (ALMEIDA, 1979 e 1986). A actual configu- ferro. A partir desta descoberta e com a colaboração de mais dois fa-
ração e o reduzido estado da praia de Belinho levaram a que a espes- miliares – Alexandre Sá e Emanuel Sá –, os quatro achadores deram
sura de sedimentos que recobria a sua parte imersa diminuísse. início à recolha das diversas peças que a baixa-mar permitia visualizar,
Tal terá conduzido a que situações de agitação marítima extrema, nomeadamente madeiras de grandes dimensões e dezenas de pratos
ocorridas num passado muito recente, tenham desestabilizado um sí- em latão e estanho, os tais “capacetes”.
tio arqueológico submerso ao largo, arrojando-se, em diversos mo- Face ao insólito dos materiais, João Sá comunicou o achado ao Cen-
mentos, parte deste à costa. tro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática / Direcção Geral
O aparecimento dos restos de um navio ali perdido no século XVI do Património Cultural (CNANS / DGPC).
deixa supor que as praias agora erodidas eram de formação geológica
relativamente recente. Os processos de carregamento da praia e sub-
sequente erosão serão objecto de estudo pormenorizado, que nos per- ESTUDO E PROTECÇÃO
mita perceber o processo de perca do navio e formação do sítio ar-
queológico. Este conjunto de madeiras e artefactos da praia de Belinho foi pron-
Não é, contudo, de descartar que este sítio fosse conhecido anterior- tamente identificado pelas arqueólogas da CME, Ana Paula Almeida
mente. Afinal, existia informação oral – recolhida por Ivone Ma- e Ivone Magalhães, como sendo de excepcional importância – até
galhães, aquando da implementação, na década de 1990, do projecto porque o achamento se caracterizava por uma extraordinária quanti-
de Carta de Arqueológica IPARMALE
– de que nesta zona estariam sub-
mersos uma âncora de característi-
cas enquadráveis na Época Moder-
na e dois canhões em bronze.
Seja como for, é apenas entre 2011
e 2013 que alguns achados na costa
aludem à possibilidade de haver ao
largo um naufrágio. Com efeito, é
nesse período que o escultor João Sá
recolhe no sítio arqueológico pre-
sentemente denominado Belinho 2
FOTO: Filipe Castro.
FIG. 2 − A zona de
arrojamentos na praia de
Belinho, em plena baixa-
mar.
Rede de Museus do Mar de Esposende, bem co- apresentam diâmetros entre 24 e 25 cm; os
mo do CNANS, cujos contributos permitiram comple- 0 5 cm
mais pequenos, têm 18 cm de diâ-
mentar o plano de conservação. Em sequência, a autarquia metro, medidos igualmente
de Esposende, através do Serviço de Património Cultural, proto- no bordo.
colou com o Laboratório de Conservação e Restauro do Ga- Várias peças apresen-
binete de Arqueologia da Câmara Municipal de Vila do Con- tavam marcas. O seu
de e o Laboratório do Museu de Arqueologia D. Diogo de estado de conser-
Sousa, de Braga, colaboração para o acompanhamento vação não permite
técnico, tomada de decisão e implementação de boas prá- pormenorizar es-
ticas nos trabalhos eventualmente necessários no processo tas marcas nesta
de conservação do material de proveniência subaquática. fase dos trabalhos,
A zona foi alvo ainda de registo topográfico, com recurso ao mas o levantamento
Serviço de Topografia da CME, sendo nomeadamente executa- sumário realizado per-
da a georreferenciação da área de dispersão dos vestígios. mitiu já identificar um
Após a denúncia do achado foram estabelecidos contactos entre a tu- pequeno conjunto.
tela e a Autarquia de Esposende, a qual, em articulação com a tutela FIGS. 3 E 4 − Pratos em estanho Das marcas identificadas por
e com o auxílio dos achadores, iniciou de imediato um conjunto de arrojados à costa em Belinho. Ana Valentim, técnica de con-
acções de salvamento. servação e restauro do Gabine-
Entre 2014 e 2015, o sítio de Belinho 1 esteve diariamente sob vigi- te da Arqueologia da Câmara Municipal de Vila do Conde e por
lância visual, até à linha de água e durante a baixa-mar diurna, vigi- Christopher Dostal, conservador da Texas A&M University associa-
lância essa reforçada sempre que houvesse previsão de forte agitação do ao projecto, uma parece conter uma coroa e uma rosa. A rosa co-
marítima e baixa-mar inferior a 0,50 m. Decorrente dos trabalhos de- roada é uma marca frequente desde o século XVI nos pratos em esta-
senvolvidos e enquanto a maré o permitisse, promoveu-se a recolha e nho, demonstrando qualidade de produção (COTTEREL, 1963). Ou-
o registo. tra marca, a mais abundante, contém um martelo coroado.
83
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
Estas marcas têm muitas variantes, dependendo do produtor. Em um Igualmente em estanho foi recuperado, já em 2016, um pote despro-
dos casos é possível reconhecer duas iniciais de fabricante, “U” e “C”, vido de asas, mas que, pela perfuração no bordo, pode ter contido
um tipo de marca utilizado com frequência nas produções dos Países uma tampa. A sua funcionalidade é discutível.
Baixos ou Alemanha.
Os martelos coroados estão representados na Bélgica, no final do sé- OBJECTOS EM LIGAS DE COBRE
culo XV (GREENLAND, 1904: 94), no século XVI na Suíça, e no sécu-
lo XVII na Escócia (FISKE e FREEMAN, 2016). Até finais de 2014, cerca de cinco dúzias de pratos em latão tinham
Ainda que escudelas de asas recortadas, quase que sugerindo pétalas, sido recuperados na praia de Belinho (Figs. 8 a 12). Ainda que alguns
sejam achados frequentes durante o século XVI, o sítio de Belinho 1 deles estejam muito fragmentados, estamos perante pratos de enor-
até ao momento revelou apenas dois destes objectos (Fig. 5), sendo o mes dimensões, com um diâmetro que varia entre os 47 e os 50 cm.
diâmetro do seu bordo de 17 cm e o fundo ligeiramente em ônfalo. A maioria não apresenta qualquer decoração (Fig. 8). No entanto,
Peças afins foram recuperadas no naufrágio português na Namíbia pelo menos quatro enquadram-se dentro do tipo de pratos co-
(KNABE e NOLI, 2012: 185), mas igualmente a bordo do Mary Rose e mummente designados por pratos de esmolas, cujo maior centro pro-
do Aldernay Wreck, datado da segunda metade do século XVI, e nos dutor europeu se localizava em Nuremberga – ainda que centros pro-
naufrágios da Grande Armada de 1588 (MARTIN, 1975: 144, fig. 7). dutores sejam conhecidos na Bélgica, em diversos pontos da Alema-
Outros objectos em estanho foram recuperados, nomeadamente uma nha e mesmo nos Países Baixos (MARTINS, 2010: 26).
caneca com asa (Fig. 6), que certamente possuiria uma tampa. São conhecidas diversas decorações – apesar das peças encontradas na
Peças afins são recuperadas com frequência em contextos de naufrá- praia de Belinho se limitarem a iconogra-
gio, nomeadamente no presumível Bom Jesus fias religiosas e a um prato decorado
(KNABE e NOLI, 2012: 185), mas igual- com elementos vegetalistas, ao
mente no Mary Rose (WEINSTEIN, centro, tipo pétalas
2005: 4-6). (Fig. 9). As ce-
Dois candelabros em estanho, nas religiosas en-
destinados à iluminação com ve- contram-se entre as
las, foram igualmente recuperados mais frequentes des-
(Fig. 7). Peças afins foram identifi- te tipo de produ-
cadas no Punta Cana Wreck, datado de ções, tanto na Ale-
meados do século XVI (ROBERTS, 2013). Re- manha como em outros
85
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
0 5m
As 80 peças de madeira arrojadas
deram à costa desarticuladas, uma a
uma, e apresentam vestígios do pro-
cesso dinâmico de desmantelamento
FIG. 14 − Esquema provisório
da estrutura a que pertenciam (Fig. 14). mostrando as madeiras arrojadas em 2014
e 2015 e a sua localização no navio.
87
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
Paralelamente, e como referido anteriormente, a análise da matéria Simultaneamente, era imperativo contribuir para a prossecução dos
empregada na protecção da madeira não está ainda concluída. objectivos consagrados na Convenção da UNESCO para a Protecção e
O pé do mastro é uma extensão da sobrequilha, alargada e denteada Salvaguarda do Património Cultural Subaquático, ratificada por Por-
sobre as cavernas. Esta configuração é típica dos navios ibéricos e nor- tugal, maximizando a preservação da informação científica contida
te-europeus. neste sítio.
Em consequência, a CME e o IAP decidiram submeter à consideração
CONSERVAÇÃO da DGPC uma proposta metodológica de prospecção geofísica arqueo-
lógica subaquática e de mergulho em apneia e escafandro para verifi-
Todos os artefactos foram armazenados nas instalações da Câmara cação das anomalias eventualmente detectadas, no sentido de se loca-
Municipal de Esposende e devidamente acondicionados, depois de lizar o sítio do naufrágio de onde provinham os arrojamentos.
receberem os cuidados paliativos apropriados. Assim, de 13 de Abril a 4 de Maio, decorreram os preparativos logís-
As madeiras foram primeiro conservadas húmidas, embrulhadas em ticos, os contactos com os achadores e as deslocações dos técnicos en-
filme plástico e depois imersas num tanque construído pelos serviços volvidos a Esposende, bem como os referidos trabalhos de prospecção
da CME, com condições excelentes para o armazenamento de madei- geofísica e de verificação de anomalias, efectuados entre finais de
ras húmidas. Abril e princípios de Maio.
Os pratos em estanho foram objecto de tratamento inicial, tendo sido
acondicionados por diâmetros e tipologias, para tratamento posterior METODOLOGIA DA PROSPECÇÃO GEOFÍSICA
por electrólise.
As concreções foram radiografadas e os restantes materiais foram acon- Factores tão diversos como a natureza do fundo (areia ou rocha), a
dicionados e armazenados em condições apropriadas. Efectuou-se o profundidade, a natureza das águas, o local, o tipo de embarcação
registo dos artefactos através da inventariação em ficha acompanhada (em ferro ou madeira) ditam a maior ou menor sobrevivência dos ves-
de fotografia com escala e, quando possível, de radiografia de alguns tígios e a nossa maior ou menor capacidade de os identificar. Para
dos materiais compósitos. mais, quando a área a prospectar é de dimensão incerta, os fundos são
Foi ainda realizado um registo fotográfico, nomeadamente dos traba- de natureza irregular e é de todo expectável que o sítio arqueológico
lhos executados, bem como dos bens recuperados. que procuramos esteja, para além de submerso, soterrado sob o sedi-
Nesta fase do projecto, e considerando a quantidade e diversidade de mento – como acontece em Belinho –, então a estratégia de prospec-
espólio, a CME está a avaliar várias possibilidades para a conservação ção mais adequada é a de se recorrer a técnicas e equipamentos de de-
dos artefactos por um laboratório especializado. tecção geofísica remota, ou seja, utilizar-se um sonar de varrimento
lateral (SVL) e um magnetómetro (MAG).
No caso do SVL, à medida que o sensor atravessa a massa de água, este
PROSPECÇÃO GEOFÍSICA vai emitindo impulsos sonoros com uma determinada frequência. Es-
tes impulsos são reflectidos pelas irregularidades do leito marinho,
Dada a desestabilização do sítio ocorrida em 2014 aquando da tem- que os enviam como ecos de retorno para a superfície, formando-se as-
pestade Hércules, era de todo expectável que tempestades similares, sim uma imagem sonora da natureza e da morfologia do fundo do mar.
mesmo que de intensidade dita normal, degradassem o contexto até Estes ecos, depois de convenientemente processados por um compu-
ao seu arrojamento final e consequente dispersão e destruição dos mais tador, fornecem uma imagem de qualidade quase fotográfica do fun-
variados artefactos, quer por perda pela acção dos elementos naturais, do do mar – teoricamente, os hipotéticos vestígios de naufrágios ou
quer pela sua recolha por “curiosos” e demais utentes da praia e da outras protuberâncias que se projectem por mais de 5 cm por sobre o
orla marítima. exterior da superfície do leito marinho serão registados digitalmente.
Tais perdas eram atestadas pelos arrojamentos sucessivos de material Já o magnetómetro é um instrumento que analisa a duração e a inten-
arqueológico proveniente obviamente do mesmo sítio – a última ocor- sidade das variações do campo magnético terrestre, registando as ano-
rência comprovada foi a provocada pela tempestade Doris, em Feve- malias magnéticas causadas por compostos ferrosos, situados acima
reiro deste ano de 2017, que novamente fez dar à costa pratos metá- ou no interior do leito marinho, sempre que as suas intensidades se-
licos e madeirames. jam superiores à média das variações para a região. O ferro, sendo o
Assim, dada a impossibilidade de se exercer vigilância reactiva, contí- metal mais utilizado na construção naval das épocas Moderna e Con-
nua e aturada sobre a zona, e dada ainda a inevitabilidade da destrui- temporânea, surge sob a forma de anomalias magnéticas sempre que
ção total e final deste património à guarda do nosso país, urgia imple- o magnetómetro se aproxime da jazida arqueológica onde esse metal
mentar uma estratégia proactiva de salvaguarda deste sítio. esteja presente em quantidades razoáveis.
89
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
91
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
FIG. 21 − Unha da
pata da âncora.
93
ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA
CONCLUSÕES PRELIMINARES
Embora os materiais arqueológicos apontassem preliminarmente para Neste caso, estamos perante o primeiro naufrágio quinhentista em
um intervalo cronológico entre o último quartel do século XVI e o águas portuguesas a ser encontrado praticamente intocado desde a sua
primeiro do século XVII – nomeadamente observando-se os pratos perda; o único a produzir artilharia em bronze; e o mais capaz de con-
em estanho e em latão, cujas marcas sugerem origem alemã ou fla- ter ainda em si todo o espólio de um navio dessa altura: astrolábios,
menga, sem dúvida do Norte da Europa –, as características arcaicas compassos de navegação, armamento colectivo e pessoal, numismas,
do ferro de fundear e a tipologia da artilharia encontrada (comunica- carga, possessões individuais dos marinheiros e, claro, o próprio cas-
ção pessoal de Kay Smith e Ruth Brown) sugerem uma data anterior co, que tudo leva a crer ser ibérico, espanhol ou português.
para a perda deste navio: 1525-1550. A ser ibérico, tratar-se-á de um dos mais completos sítios desta tipo-
É de ressalvar, no entanto, que apenas uma análise detalhada da co- logia e cronologia a ser encontrado a nível mundial. Daqui deriva tam-
lecção de artefactos permitirá avançar com uma datação mais precisa bém a presumível importância deste naufrágio, que poderá constituir,
para este sítio – até por não ser raro encontrarem-se bocas-de-fogo sem grandes margens para dúvidas, uma das mais importantes desco-
com várias décadas de uso em restos de navios naufragados entre a se- bertas arqueológicas subaquáticas feitas até agora em Portugal Conti-
gunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII. nental e Ilhas, a par dos dois grandes cepos pré-romanos da Berlenga,
Seja como for, as colubrinas octogonais em bronze de Belinho 1 são das pirogas 4 e 5 do rio Lima, e dos destroços dos navios de Ria de
em tudo similares a uma outra, também de secção octogonal, que sur- Aveiro A, do Cais do Sodré, do Angra D e da Nossa Senhora dos Már-
giu no naufrágio da presumida nau Bom Jesus, da frota da Índia de tires.
1533 (MONTEIRO, 2017). Aliás, parte do espólio deste sítio localiza-
do na costa da Namíbia em 2008 – as escudelas e os pratos em esta-
nho, os pelouros em pedra – tem paralelos com os artefactos encon-
trados no naufrágio de Belinho 1 (KNABE e NOLI, 2012).
Embora os materiais de cobre e estanho encontrados até agora não te- AGRADECIMENTOS
nham ainda sido estudados por especialistas, sendo impossível indicar
com segurança a sua datação precisa, um inventário dos punções exis- Contribuíram para este artigo: Francisco J. S. Alves, Rosa Varela Go-
tentes nos pratos de estanho está a ser realizado para posterior estudo, mes e Tânia Casimiro (IAP, FCSH/UNL), José Pinto (LSTS/FEUP) e
com as tipologias a serem definidas de acordo com a taxonomia pro- Matthew Kowalczyk (OFG).
posta por GOTELIPE-MILLER (1990). O estudo dos restantes artefactos
está em curso e esperamos ter resultados no fim do corrente ano. Este projecto não teria sido possível de implementar sem a colabora-
Resumindo: se, com os dados que possuímos neste momento, não é ção e a participação do executivo da Câmara Municipal de Esposen-
possível avançar uma datação deste sítio com segurança, o horizonte de; da EAMB – Esposende Ambiente, Empresa Municipal; do Fórum
temporal para a perda deste navio parece-nos estar compreendido en- Esposendense; do Centro de Mergulho e Ecologia Marinha de Espo-
tre 1520 e 1580. Curiosamente, há um registo de naufrágio nesta área, sende; do Centro de Arqueologia Náutica do Alentejo Litoral (IAP/
o navio Nossa Senhora da Rosa, perdido em 1577 “através de Espo- /IHC-FCSH e Câmara Municipal de Alcácer do Sal); do Laboratório
sende” (BARROS, 2015), quando vinha das Canárias para Vila do Con- de Arqueologia e Conservação do Património Subaquático do Insti-
de com uma carga de vinho e breu, mas os destroços encontrados até tuto Politécnico de Tomar; do Laboratório de Sistemas e Tecnologia
agora sugerem ter sido este um navio de maior porte – bem maior do Subaquática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
que a maioria dos navios que percorriam as rotas das Canárias, Açores da Ocean Floor Geophysics; da OceanScan - Marine Systems and
e Madeira no século XVI, navios esses normalmente com tonelagens Technology; do Projecto ForSEADiscovery PITN-2013 GA607545
ligeiramente inferiores a 100 toneladas. Marie Curie ITN EU Grant; ShipLAB, Texas A&M University; da
Seja como for, talvez a característica mais importante e rara deste sítio University of Wales Trinity Saint David; e, finalmente, dos verdadei-
seja o facto de estar intacto, sem nunca ter estado exposto depois de ros heróis desta história, os achadores Luís Miguel Calheiros, João
ter sido coberto por sedimentos. Sítios de naufrágios intocados são ra- Alves Sá, Alexandre Alves Sá e Emanuel Sá. Sem eles, não haveria pre-
ríssimos e extremamente importantes pela quantidade de informação sente ou futuro para este sítio arqueológico. A eles, o nosso muito
que podem conter. obrigado.
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95
ESTUDOS
RESUMO
RÉSUMÉ
A
de formage et de décoration, afin d’asseoir le concept qui s cerâmicas foscas de paredes muito finas, de uso tão vulgarizado no quotidiano
associe à ces productions un ensemble particulier de das populações dos séculos XVI a XIX e amplamente divulgadas na Europa e no
caractéristiques techniques et formelles.
“Novo Mundo” pela sua delicadeza e fragilidade, que tantos elogios mereceram
MOTS CLÉS: Période moderne; Époque contemporaine; e se registaram nas fontes escritas, afiguram-se-nos nos contextos arqueológicos, na gene-
Céramique; Méthodologie.
ralidade, não como vasos inteiros mas sim como um grupo de pequenos fragmentos de
difícil interpretação.
Nos conjuntos das cerâmicas provenientes destes contextos, encontramos sistematica-
mente um grupo de cerâmicas de uso comum, de fina espessura, na sua maioria com pro-
fusa decoração, as quais têm vindo a ser classificadas com uma multiplicidade de nomen-
claturas.
1
Termos como cerâmicas “moldadas” 1 (MOITA, 1964), Para cada um destes
“modeladas” (FERREIRA, 1994), com “reflexos do barroco” termos apresentamos apenas
as referências aos autores
(FERREIRA, 1995), ou “terra sigillata portuguesa” (BAART, que os usaram pela
I
Arqueólogo. Associação Cultural de Cascais.
1992), são algumas das designações mais comuns que primeira vez.
Este texto, com ligeiríssimas alterações, podemos encontrar na bibliografia arqueológica dispo-
foi entregue para publicação em 2006 para integrar o nível. No entanto, poucos são os casos em que estas ter-
volume das Actas do VI Encontro de Olaria Tradicional
de Matosinhos, organizado pela autarquia de Matosinhos, minologias se encontram associadas a um conjunto de características específicas que defi-
em conjunto com o Dr. Paulo Dórdio. Infelizmente, nam ou caracterizem com rigor o tipo de cerâmicas a que se referem.
este e outros textos, nunca chegaram a ser dados à estampa.
Por nossa opção, mantivemos praticamente integral Ao redigirmos este artigo tivemos como preocupação principal, não a definição estanque
o texto e não actualizámos a bibliografia. de uma nova tipologia cerâmica, mas sim agrupar um conjunto de características técnicas
Por opção do autor, o texto não segue as regras
e decorativas que, associadas a uma nova terminologia, permitam definir, em traços ge-
do Acordo Ortográfico de 1990. rais, este tipo de cerâmica tão comum nos contextos anteriormente referidos.
97
ESTUDOS
A somar a todas estas possíveis funcionalidades, há que juntar a de ser- Não nos restam dúvidas que o fabrico da maioria destes recipientes é
vir apenas como objecto puramente decorativo, nomeadamente em feito em torno rápido, já que se tornam bem visíveis as estrias de mo-
alguns exemplares com aplicações de pedras ou de figuras aquáticas, delação que muitos apresentam. No entanto, a modelação de qual-
e em que no seu interior seria vertida água. quer recipiente torneado à roda rápida nunca permite obter a fina es-
Parece-nos assim que a multifuncionalidade, principalmente no que pessura de paredes que muitos destes exemplares apresentam, carac-
respeita às taças, seria uma realidade, tornando-se por isso difícil ou terística particular que os distingue da restante cerâmica fosca. Veri-
impossível a atribuição de uma função específica a estes vasos. ficámos ainda a assimetria de espessuras que encontramos ao longo
dos perfis destas peças, nomeadamente nos das taças, ressalvando que
2.1.3. Técnica de manufactura muitas das caneluras e ressaltos não são colados às paredes como se de
cordões plásticos se tratassem.
O que melhor individualiza este tipo de cerâmica é, sem dúvida, a Com base nas técnicas de modelação conhecidas e na observação das
técnica usada na sua manufactura. As observações que seguidamente técnicas de manufactura da olaria tradicional 9, traçaremos, de segui-
enumeramos, tal como muitos dos princípios que aqui apresentamos, da, uma sequência de passos que julgamos poderem ter sido usados
baseiam-se numa cuidada observação de vários milhares de fragmen- na manufactura da generalidade das Cerâmicas Finas da Idade Mo-
tos, distribuídos por diversas colecções. Através do exame de cada um derna.
destes recipientes, procurámos verificar as técnicas usadas durante a A execução em torno rápido da matriz destes recipientes criaria objec-
sua modelação. tos muito diferentes do produto final que conhecemos. As paredes,
7
Nos artigos e publicações em que Procurámos compilar quando levantadas pelo oleiro, deveriam ter espessuras que rondariam
são apresentados estudos que inte- o maior número possível de os três milímetros ou mais, e, por vezes, não apresentariam fundo.
referências bibliográficas
gram cerâmicas finas da Idade Mo- em que é referido ou Postas a secar durante um a dois dias, até que a lenta perda de água
derna 7, várias são as alusões à possí- representado este tipo deixasse a pasta com a consistência
vel construção deste tipo de vasilhas de cerâmicas. do couro, as peças encontrar-se-iam 9
Cumpre-nos agradecer ao
recorrendo ao uso de moldes (MOI- “meio enxutas” (PARVAUX, 1968: Mestre Domingos, oleiro com
oficina em Muge, toda a
TA, 1964; REGO e MACIAS, 1993; FERREIRA, 1994). Talvez pela pro- 107-108; RICE, 1987: 138), prontas disponibilidade e empenho
fusão e repetição dos motivos decorativos ou pela própria assimetria para uma segunda fase de processa- que demonstrou em nos
da forma destes exemplares se possa inferir que se trata de um traba- mento. Seria neste momento que se transmitir os seus
conhecimentos técnicos
lho executado por molde, já que a sua execução através da técnica colava o fundo e se desgastavam as relativos à olaria tradicional
manual exigiria demasiado tempo. paredes da peça até obter a espessura portuguesa.
10 10
Uma observação mais aprofundada demonstrou que o recurso a mol- desejada . Posteriormente proce- Sendo esta a principal
característica sobre a qual
de não se encontra presente na totalidade dos exemplares que tivemos dia-se à decoração, à qual se seguia a
assenta o conceito de cerâmica
oportunidade de examinar, julgando que o mesmo possa acontecer aplicação das asas, finalizando-se o fina da Idade Moderna,
em muitas das peças que se encontram publicadas. Existem alguns processo, em muitos dos casos, com excluímos naturalmente todas
as peças que, embora
estudos que procuraram demonstrar o uso de moldes na manufactura a aplicação de um engobe. apresentem a mesma forma,
destas cerâmicas (FERREIRA, 1994), sem que o tenham conseguido, Muitos destes passos podem ser não foram manufacturadas
no entanto, de forma cabal. Continuámos a assistir, entretanto, a observados em vestígios ou marcas segundo esta técnica.
Trata-se, portanto,
uma profusão de terminologias para as técnicas utilizadas que se tor- deixadas pelo oleiro, e que se conser- de cerâmicas foscas
nam igualmente ineficientes na sua caracterização. vam nos exemplares arqueológicos de uso comum que,
A proposta do uso do termo “cerâmica modelada” surge assim como estudados. É o caso da aplicação pos- em consequência da
vulgarização de um dado
forma justificativa do recurso não ao molde, mas sim à utilização do terior dos fundos, que pode ser reco- modelo amplamente aceite,
torno e da mão enquanto instrumentos que tentam suprir as exigências
produzem a peça ou a decoração (RAMALHO 8 do mercado.
No Dicionário da Língua
e FOLGADO, 2003). Portuguesa Contemporânea,
No entanto, a falta de parametrização deste da Academia das Ciências de
Lisboa (CASTELEIRO, 2001),
termo não permite individualizar este grupo encontramos a seguinte entrada:
de cerâmicas, já que a modelação, enquanto “modelado, a […] 1. Que foi
técnica, é aplicada à cerâmica em geral e, con- moldado para adquirir nova
forma; que se modelou. […]
sequentemente, qualquer recipiente em barro 2. Que está feito segundo
manufacturado num torno é modelado 8. um modelo”.
99
ESTUDOS
12
outro, evitando assim o rompimento da parede. É esta a razão que Termo usado na olaria
explica o facto de, por vezes, se verificar a existência de “teias de ara- tradicional para descrever as
marcas formadas por um
nha” 12, negativos de impressões digitais ou mesmo das unhas do arte- conjunto de pequenos e
são nas faces que se encontram menos expostas e que, consequente- sinuosos levantamentos de
mente, não necessitam de um tão apurado trabalho de finalização. argila resultantes do contacto
dos dedos húmidos com a FIG. 3 − Decoração através
superfície molhada de digitação simples interna:
a) Digitação simples externa: quando a maior pressão é executada so- da peça. exterior (à esquerda) e
bre a face externa, produzem-se ônfalos, subcirculares ou ovóides, cu- interior (à direita).
jo contorno é dificilmente observável (Fig. 2).
101
ESTUDOS
A decoração brunida é também corrente nas cerâmicas comuns finas O grande grupo de formas ao qual pode ser atribuída a designação de
da Idade Moderna, nomeadamente sob a forma de linhas onduladas cerâmica fina da Idade Moderna assenta no conjunto de característi-
(GIL, 2005: 27-37 e 47-49) ou reticuladas (Fig. 9). Não deverão ser cas que anteriormente delineámos, sendo, no entanto, a espessura das
incluídos neste grupo todos os exemplares que apresentam a totalida- paredes a principal expressão visível a verificar.
de da superfície brunida, já que nesta condição estamos perante uma Trata-se, portanto, de uma técnica de manufactura que condiciona e
forma de acabamento e não de uma decoração. é condicionada por um conjunto de acções e cujo resultado é passível
de ser individualizado através das seguintes características:
– Pasta branda, cuja granulometria dos elementos não plásticos é fina,
na generalidade, permitindo a transpiração do recipiente e, conse-
quentemente, o arrefecimento dos líquidos;
– Manufactura executada ao torno, observando-se em muitos dos ca-
sos as estrias de modelação;
– Fundos colados numa fase posterior à execução do corpo, sendo a
junção “limpa” no momento em que se aplanam as paredes;
103
ESTUDOS
Preocupação idêntica em definir e caracterizar este termo tinha já pre- Estas vasilhas estavam tão em voga nos séculos XVI e XVII que o pró-
sidido à investigação da grande filóloga D. Carolina Michaëlis de prio rei as usava à sua mesa (RESENDE, 1991 [1607]; VASCONCELOS,
Vasconcelos quando, em 1905, produziu uma obra fundamental para 1957), cedendo mais tarde o nome ao festejo designado por “púcaro
o estudo dos púcaros e que, volvidas seis décadas, continua a ser a de água” e a que hoje chamamos de
17
principal referência de quem se dedica a estas problemáticas (VAS- “copo de água” (MANOEL, 1765) 17. Agradecemos a inclusão
CONCELOS, 1957). Do levantamento bibliográfico que desta nota a Olinda Sardinha,
que gentilmente nos cedeu a
Foi sua intenção, de facto, provar que a palavra “púcaro” não tinha efectuámos, no qual se regista a re- publicação, e a quem este
origem no termo “búcaro”, designação para uma tipologia de vaso pa- colha de púcaros, as cronologias ba- estudo da cerâmica fina
ra ingestão de líquidos, em argila fina, produzido pelos indígenas do lizam-se maioritariamente entre os da Idade Moderna
muito deve.
continente americano durante o século XVI. finais do século XV e o século XVIII.
A sua demonstração, clara e muito bem defendida, baseava-se funda- As formas mais comuns conhecidas
mentalmente nos conteúdos de fontes documentais, e sustentava-se apresentam colo cilíndrico ou troncocónico, ressalto na ligação com
na continuidade do uso deste tipo de vasos até à actualidade, realida- o bojo, corpo globular ou ovóide, e pé que, sendo ou não em bolacha,
de que tão bem conhecia através dos estudos etnográficos que havia se apresenta geralmente destacado (CARDOSO e RODRIGUES, 2003).
conduzido. Registamos apenas uma outra variante inédita, que até agora se cir-
Se quanto à nomenclatura não parecem restar grandes dúvidas, no cunscreve a intervenções arqueológicas realizadas na região de Lisboa,
que respeita à forma e à funcionalidade dos púcaros, o abundante nú- e que apresenta como característica marcante um ressalto na ligação
mero de referências encontradas nas fontes documentais, escritas e do bojo com a base, podendo o colo exibir várias caneluras horizon-
impressas, é, na maioria dos casos, pouco ou nada esclarecedor, pois tais (Fig. 11).
desconhece-se a forma exata a que se referem. De facto, os únicos exemplares de que tivemos conhecimento estão
Muitas e diferentes funções foram referidas para este tipo de vaso, pe- associados a quatro intervenções arqueológicas, das quais três realiza-
lo que passaremos a enunciar apenas algumas das mais expressivas, o das na cidade de Lisboa e uma no concelho de Cascais, no lugar de
que demonstra bem a multiplicidade de aplicações e a versatilidade Alapraia. Da última os resultados não se encontram publicados, em-
do recipiente. bora o arqueólogo Victor S. Gonçalves, responsável por estas escava-
Um elevado número de representações podem ser encontradas na pin- ções, nos tenha autorizado a referenciá-los.
tura do século XVI, tanto portuguesa como estrangeira. São por Em Lisboa, conhecemos um elevado número de exemplares prove-
demais conhecidos nos quadros da autoria de Josepha d’Óbidos (RA- nientes da intervenção arqueológica realizada no Largo do Corpo San-
POSO, 1985; SERRÃO, 1993). Também em Diego Velasquez (SESEÑA, to (VALE e MARQUES, 1997), da responsabilidade dos arqueólogos
1991) se observa, no quadro “Las Meninas”, a Princesa Margarita, Ana Vale e Clementino Amaro, que nos autorizaram o estudo parcial
filha de Filipe IV de Espanha, recebendo das mãos de uma dama de desta colecção.
honor um púcaro de barro.
No entanto, já seu bisavô, Filipe II de Espanha, enviara de Estremoz
uma caixa de púcaros para as suas filhas (ÁLVAREZ, 1999), pondo al-
guns autores a hipótese de estes vasos poderem ter também proprie-
dades medicinais (ESCUDERO, 1999; VASCONCELOS, 1957), nomea-
damente quando roídos. Este procedimento aparece designado na bi-
bliografia como “bucarofagia” (VASCONCELOS, 1957), havendo mes-
mo discussão sobre as causas que podiam levar ao consumo do fino
barro dos púcaros. Adição de ferro ao sangue, o adelgaçar da cintura,
o tratamento da síndrome de Albright ou do bócio e hipertiroidismo,
são algumas das hipóteses colocadas por estes autores.
Outras atribuições dos púcaros são conhecidas, tais como o uso na
dosagem das tintas para pintura (NUNES, 1982), ou na dosagem da 0 3 cm
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105
ESTUDOS
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[http://www.almadan.publ.pt/Mapa(geral).htm]
Inclui Código de Conduta Para uma Visita
Responsável a Sítios Arqueológicos
Dossiê especial na
Al-Madan n.º 20 (2016).
127 páginas
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107
ESTUDOS
RESUMO
É
prática comum na análise de pastas cerâmicas a utilização do método macroscó-
RÉSUMÉ
pico. Esta observação, efectuada através de lupa de mão com 10-20x de aumen-
to, possibilita caracterizar diversos elementos não plásticos (e.n.p.), a sua classifi-
L’observation macroscopique avec ou sans l’aide
d’une loupe de faible grossissement, est la forme la plus
cação granulométrica, cor e grau de dureza.
simple et courante d’analyse des céramiques. A experiência resultante deste tipo de análise revela algumas dificuldades, decorrentes do
Cependant, cette analyse est rendue difficile quand la
céramique est cuite dans une atmosphère réductrice et/ou
fenómeno em que as cerâmicas submetidas a cozeduras em ambiente redutor, devido às
des milieux très enfumés qui provoquent le películas de carbono depositadas sobre os seus componentes e superfícies, impedem a
noircissement artificiel des pâtes.
Pour dépasser cette difficulté, l’auteur présente comme
observação correcta dos elementos das pastas.
méthode de soumettre les céramiques à une deuxième cuisson Ao longo do tempo, fomos confrontados com algumas questões pertinentes resultantes
dans un four à moufle électrique, dans un milieu oxydent
qui rétablit la couleur originale, facilite la caractérisation
de uma pesquisa exaustiva de fenómenos ocorridos durante o processo de cozedura. Um
des pâtes et, également, des engobes et des vernis. dos problemas prendia-se com a questão cromática, ou seja, se a cor observada nas peças
MOTS CLÉS: Céramique; Méthodologie.
cozidas em ambientes oxidantes era constante, ou se mudava conforme a temperatura a
que tinham sido sujeitas. Na observação da experiência realizada, constatámos que exis-
tiam modificações em algumas pastas e que, possivelmente, teriam relação com os am-
bientes deposicionais onde se encontravam. Mas também foi colocada a hipótese de algu-
ma variação cromática ser atribuída à temperatura atingida na cozedura das cerâmicas.
Outra questão para a qual tentámos encontrar resposta relaciona-se com a temperatura
de cozedura a que as peças estiveram sujeitas durante o seu fabrico, procurando saber se
existiam alterações significativas no resultado final.
I
Arqueólogo da Câmara Municipal de Lisboa
Poster apresentado no 7th European MÉTODO
Meeting on Ancient Ceramics, realizado na
Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa,
entre 27 e 31 de Outubro de 2003. Nesta primeira experiência utilizámos para análise fragmentos de paredes de recipientes
Por opção do autor, o texto não segue as regras
cerâmicos, recolhidos à superfície do solo e sem qualquer contexto arqueológico definido,
do Acordo Ortográfico de 1990. excepto o sítio onde haviam sido recolhidos. Desta forma, evitámos sempre a utilização
109
ESTUDOS
CONCLUSÕES
Esta abordagem, embora aparentemente simples, vem comprovar a Verifica-se ainda que, nos casos das cerâmicas cozidas em atmosferas
reversibilidade de diversos factores físicos referentes às cores cinzentas oxidantes, as pastas não tenderam a alterar-se, devido certamente à
e negras obtidas durante a cozedura das peças em ambientes reduto- pureza das argilas originais.
res. Fica ainda demonstrado que, ao serem utilizados vernizes negros São excepções as cerâmicas portuguesas com origem nos barros da
pigmentados com corantes de origem orgânica, estes sofrem alteração bacia do baixo Tejo, nas quais se observam alterações cromáticas das
decorrente do processo de recozimento das peças, dando-lhe um as- pastas, decorrentes das elevadas temperaturas a que foram sujeitas du-
pecto diferente do original, possibilitando uma melhor leitura das rante a recozedura.
pastas através da observação macroscópica.
Catálogo
A2
Cozedura redutora.
Pasta negra.
Neolítico Final / Calcolítico.
Amostra A.
Fragmento de bojo de recipiente.
Região de Lisboa. Portugal.
A1, original;
A2, recozida a 1040º C;
A3, recozida a 1080º C.
A1 A2 A3 A1 A3
Cozedura redutora.
Pastas negras e cinzentas.
Idade do Ferro.
Amostra B.
Fragmento de asa de secção
cilíndrica. Região de Lisboa,
Portugal.
B1 B2
B1, original;
B2, recozida a 1080º C.
B1 B2
Amostra C.
Fragmento de bojo de recipiente.
Região de Lisboa. Portugal.
C1, original;
C2, recozida a 1040º C.
C1 C2 C1 C2
Cozedura redutora.
Pastas negras e cinzentas.
Idade do Ferro [continuação].
Amostra D.
Fragmento de bojo de recipiente.
Região de Lisboa. Portugal.
D1, original;
D2, recozida a 1040º C.
D1 D2 D1 D2
Amostra E.
Fragmento de bojo de recipiente.
Região de Lisboa, Portugal.
E1, original;
E2, recozida a 1040º C.
E1 E2 E1 E2
Cozedura redutora.
Cerâmica campaniense “B”-oid.
Período Romano.
Amostra F.
Fragmento de bojo de recipiente.
Região de Lisboa. Portugal.
F1, original;
F2, recozida a 1040º C.
F1 F2 F1 F2
Amostra G.
Fragmento de parede de taça?
Origem?
G1, original;
G2, recozida a 1040º C.
G1 G2
G1 G2
111
ESTUDOS
Catálogo [continuação] H2
Cozedura oxidante.
Terra sigillata.
Período Romano.
Amostra H.
Fragmento de bojo de taça.
Península Hispânica?
H1, original;
H2, recozida a 1040º C.
H1 H2 H1
Amostra I.
Fragmento de bojo.
Península Hispânica.
I1, original;
I2, recozida a 1040º C.
I1 I2 I1 I2
Amostra J.
Fragmento de bojo.
Terra sigillata Clara C.
Norte de África.
J1, original;
J2, recozida a 1040º C.
J1 J2 J1 J2
Amostra K.
Fragmento de bojo.
Terra sigillata Clara D.
Norte de África
K1, original;
K2, recozida a 1040º C.
K1 K2 K1 K2
Cozedura redutora.
Pastas negras e cinzentas.
Período Islâmico.
Amostra L.
Fragmento de bojo de pote.
Região de Lisboa. Portugal.
L1, original;
L2, recozida a 1040º C.
L1 L2 L1 L2
Amostra M.
Fragmento de parede de panela.
Região de Lisboa, Portugal.
M1, original;
M2, recozida a 1040º C.
M1 M2 M1 M2
Amostra N.
Fragmento de parede de panela.
Região de Lisboa. Portugal.
N1, original;
N2, recozida a 1040º C.
N1 N2 N1 N2
Cozedura oxidante.
O1 Pasta clara sevilhana.
Século XVI.
Amostra O.
Fragmento de prato vidrado
a branco estanífero.
Origem: Sevilha (Espanha)
O1, original;
O2, recozida a 1040º C;
O3, recozida a 1080º C.
O1 O2 O3 O2 O3
113
ESTUDOS
Catálogo [continuação] P2
Cozedura oxidante.
Pasta clara sevilhana.
Século XVI [continuação].
Amostra P.
Fragmento de malga vidrada a
branco estanífero.
Origem: Sevilha (Espanha)
P1, original;
P2, recozida a 1040º C;
P3, recozida a 1080º C.
P1 P2 P3 P1 P3
Q3
Q1 Cozedura oxidante.
Pasta clara da bacia hidrográfica do Tejo.
Século XVI.
Amostra Q.
Fragmento de prato de faiança de Lisboa, com
decoração azul. Recolhido em Alenquer (Portugal).
Q1, original;
Q2, recozida a 1040º C;
Q3, recozida a 1080º C;
Q1 Q2 Q3 Q2
R3
Amostra R.
Fragmento de chacota de malga
de pasta clara, usada para
vidrados plumbíferos.
Origem Alenquer (Portugal).
R1, original;
R2, recozida a 1040º C;
R3, recozida a 1080º C.
R1 R2 R3 R1 R2
S3
Amostra S.
Fragmento de chacota. Tigela de pasta clara,
usada para vidrados plumbíferos.
Origem Alenquer (Portugal).
S1, original;
S2, recozida a 1040º C;
S3, recozida a 1080º C.
S1 S2 S3 S1 S2
RESUMO
o Território de ABSTRACT
uma abordagem The author claims that the elements that sustain
previous proposals are insufficient and should be
subject to interdisciplinary debate.
RÉSUMÉ
1. INTRODUÇÃO
N
o seguimento da bem-sucedida publicação de um trabalho sobre a aldeia me-
dieval e a forma rádio-concêntrica da actual vila de Ega na revista Al-Madan
Online (n.º 21, Tomo 2), continuamos a colaborar na divulgação da investiga-
ção científica nacional. Publicando uma vez mais na revista digital, com comprovadas
vantagens na partilha do conhecimento científico a um público mais abrangente, damos
a conhecer a nossa reavaliação, originalmente presente na dissertação de Mestrado em Ar-
queologia e Território da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 1, das centu-
riações propostas por Vasco Mantas para o território de
1
Conimbriga. Objecto de uma abordagem interdiscipli- Com o título Paisagens do
nar, mas sobretudo alicerçada sobre a recente discipli- Baixo Mondego: por um debate
acerca de Ega, Arrifana e Picota,
na de Arqueogeografia, criticamos o que Vasco Man- na especialidade de Arqueologia
tas tem apresentado desde os anos 80 do século XX Medieval e Moderna, sob a
como “vestígios” destas planificações. orientação da Professora Doutora I
Mestre em Arqueologia e Território, na especialidade
Helena Catarino. Os leitores de Arqueologia Medieval e Moderna, pela Faculdade de Letras
interessados podem consultar a da Universidade de Coimbra (bruno_arch@hotmail.com).
dissertação no sítio da Internet:
https://cegot.academia.edu/ Por opção do autor, o texto não segue as regras
BrunoFreitas. do Acordo Ortográfico de 1990.
115
OPINIÃO
2. AS CENTURIAÇÕES
DE C ONIMBRIGA
Discordando do cenário de ocupação romana que Vasco Mantas de- Privados do dominium, os indígenas que conservassem os seus bens
senhou, ainda nos anos 1980, para a civitas de Conimbriga, analisa- privados (ager publicus provincialis) faziam-no não mais como pro-
mos, em termos gerais, o quadro histórico-jurídico do território e da prietários mas como possuidores (possessor), visto que sobre eles reca-
cidade e as evidências morfológicas das centuriações. íam diversas taxas. Neste caso, tratava-se de uma posse perpétua,
transmissível em vida ou após a morte (inter vivos o mortis causa) e
3.1. O QUADRO HISTÓRICO - JURÍDICO definia-se em função do direito local e do ius gentium (CHOUQUER e
DO TERRITÓRIO DA CIVITAS DE CONIMBRIGA FAVORY, 2001: 99-100).
Retomando a proposta de Virgílio CORREIA (2010: 134-135), apa-
A partir dos trabalhos de Gérard CHOUQUER (2005 e 2007), e sobre- rentemente, a conquista romana não interferiu nas estruturas gentili-
tudo em colaboração com François Favory (CHOUQUER e FAVORY, tárias e fundiárias de Conimbriga, ten-
2
2001), começamos por problematizar a proposta de Virgílio CORREIA do respeitado a quase certa proprieda- Privadas da cidadania romana,
(2010). Com a campanha militar de Decimus Junius Brutus, con- 4
de pública pré-romana . Testemu- as comunidades provinciais não
tinham acesso ao dominium ex iure
cluída em 136 a.C., o povoado pré-romano de Conimbriga e o res- nhando-o, a “sobrevivência” dos traça- Quiritium (estatuto da propriedade
pectivo território entraram no orbe romano, integrando, ainda que dos proto-históricos na cidade romana em Itália), o que as impedia de
nominalmente, o ager publicus. Teoricamente, com a conquista des- revela que o povoado indígena não foi aceder à propriedade pretoriana
(ou bonitária), entendida como
tas terras, até aí domínio indígena, sofreria uma dupla apropriação: alvo de divisão – não apresenta o mo- uma posse de boa-fé que lhes
aos cidadãos e colonos romanos atribuir-se-iam terras para serem ex- delo “clássico” da cidade romana –, de permitia tornarem-se proprietárias
ploradas a título privado (ager privatus) e colectivo (ager publicus po- forma que a ocupação decorreu no quiritárias por usucapio (isto é,
pelo uso, não reivindicado;
puli Romani). As últimas estavam disponíveis aos cidadãos das res pu- modus arcifinius (IDEM: 135). no caso dos bens imóveis durante
blica – entendida como uma comunidade cívica, fosse o Povo roma- De acordo com os autores latinos, so- dois anos) (CHOUQUER e
no, uma colónia ou um município – sob a forma de bens comunais bretudo Siculus Flaccus, o ager arcifi- FAVORY, 2001: 99).
3
A propriedade quiritária
explorados colectivamente (pastagens, florestas, pântanos, etc.) ou nius/arcifinalis (ou ager solutus) asseme-
era transferida por mancipatio e
terras e pastagens exploradas por particulares (ager vectigalis), cujo lhava-se ao ager occupatorius 5, norma in iure cessio, os dois meios
proveito dependeria do pagamento de uma taxa (vectigal) semelhante jurídica romana cuja noção de occupa- formalistas (CHOUQUER e
FAVORY, 2001: 98-99).
a um arrendamento (CHOUQUER e FAVORY, 2001: 96-97). tio apareceu inicialmente, ainda antes 4
Neste sentido, interessa-nos
Dissimulados no rigor jurídico da ordenação das terras, encontram- de ser uma forma jurídica (mas sim,
o testemunho do historiador
-se dois factores essenciais para compreender as intenções da adminis- uma categoria técnico-gromática dos Apiano sobre o povoado
tração romana, cujas implicações se ressentiam no regime jurídico da agrimensores), num contexto militar pré-romano de Talabriga.
Ao mencionar que Decimus
propriedade: um, a heterogeneidade do estatuto das cidades conquis- como uma das primeiras formas de
Junius Brutus “[…] despojou-os
tadas, por vezes na mesma região; outro, a dualidade histórica entre a posse de terras (BOTTERI, 1992; dos cavalos, das provisões, de todo
península itálica e as províncias (IDEM: 95 e 97). Conscientes do pri- CHOUQUER e FAVORY, 2001: 103-107 o dinheiro que tinham em comum
e de toda a propriedade pública”,
meiro facto, deter-nos-emos no ager publicus das províncias. e 408-409). Uma vez conquistadas deu a conhecer, inequivocamente,
À semelhança do “domínio público” itálico, o provincial não era sus- (entrando no ager publicus) e afastadas a existência de propriedade
ceptível de apropriação privada. Todavia, estava disponível para ar- (do latim arcere) as comunidades au- pública pré-romana
(CORREIA, 2010: 134).
rendamento, cujos contratos variavam entre um, cinco, trinta ou até tóctones, esta noção permitia integrar 5
Porém, não reúne consenso
cem anos (CHOUQUER e FAVORY, 2001: 99). Neste caso, a posse (pos- estas terras, inicialmente res nullius entre os investigadores.
sessio) da terra seguia o regime de propriedade útil – diferente da pro- (significa literalmente “que não per- M. J. Castillo PASCUAL (2011:
priedade eminente (semelhante ao arrendamento enfitêutico), como tence a ninguém”), na possessio, defi- 107-108, nota 145) distingue-os:
o ager occupatorius referia-se às
acontecia com o Estado romano –, excluindo assim o dominium 2. nindo deste modo o regime dos agri terras ocupadas (e conquistadas) do
Consequentemente, ainda que beneficiasse dos atributos da proprie- capti/captivi (ou arcifinales). Segundo ager publicus e domínio do Estado,
dade, entre os quais o da transmissão – obrigatoriamente pelo meio o direito romano, estas terras depende- enquanto o ager arcifinius referia-se
às terras não medidas de modo
não formalista (traditio) 3 –, não usufruía da prescrição aquisitiva e da riam do ius occupatorius (CHOUQUER e romano e delimitadas por
possibilidade de reivindicar judicialmente a propriedade ou posse de FAVORY, 2001: 107 e 408; CHOUQUER, elementos naturais; portanto,
um lugar (rei vindicatio) (IDEM: ibidem). 2005: 35-36). tratar-se-ia de uma noção
exclusivamente gromática.
117
OPINIÃO
Ao contrário do ager divisus et adsignatus, território dividido por uma sa” (CORREIA, 2004: 281), reforçariam a capacidade económica das
limitatio com vista à distribuição de terras, o ager arcifinius designava elites, imprescindível no desempenho dos cargos públicos necessários
um território sem limites 6, uma vez que não estava afecto a uma me- para a ascensão política. Com efeito, o decréscimo da importância de
dida (romana) e não tinha uma fronteira limitada e avaliada (CHOU- bens alimentares, constatável desde os finais do século I d.C., poderia
QUER e FAVORY, 2001: 408). Após o afastamento dos autóctones, não estar relacionado com o desenvolvimento económico da região 9; con-
só as terras eram deixadas à livre apropriação, muito provavelmente tudo, o contrário também era possível, visto que o exigente acesso a
mediante um “contracto econó- uma romanidade provincial e imperial, agravado por um decréscimo
6
mico”, como eram definidos ver- Eixos paralelos ou ortogonais dos recursos, obrigaria às elites reforçar os meios – arquitectura do-
7
naculamente os seus limites , re- que constituem uma limitatio. méstica palaciana – de controlo social e económico (IDEM).
7
Sobre os quais figuravam as
presentados por cursos de água, Independentemente da resolução, a acção das elites reflectir-se-ia na
terras indígenas não divididas
árvores, montanhas, caminhos, por Roma (CHOUQUER, posse e exploração da terra, principal fonte de riqueza. O ager arcifi-
muros e montículos (scorofiones) 2005: 36). nius (ou occupatorius), submetido a um imposto difícil de definir, vis-
de pedra, mausoléus, etc. (IDEM: to que o modo vernacular de delimitação dos territórios (ausência de
104, 185-192 e 307, fig. 112). No caso de Conimbriga, sabemos que um plano cadastral) obrigava a confiar no possuidor e impedia a reso-
a população não foi afastada, certamente perante a necessidade de lução de conflitos (CHOUQUER e
9
braços para trabalhar e contribuintes para tributar, visível, em parte, FAVORY, 2001: 108), criava um Certos recursos beneficiaram
na rápida integração da economia monetária nas estruturas locais problema de gestão na fiscalidade certamente das remodelações
públicas e privadas da cidade.
(CORREIA e DE MAN, 2010). das terras públicas, sobretudo em Excepto as marcas de oficinas
Na viragem da Era ocorreu uma completa reorganização provincial, face de uma civitas responsável pe- produtoras de materiais de
resultando na criação da civitas de Conimbriga. No quadro do Im- la repartição e recolha da carga fis- construção e as pedreiras em,
e em torno de, Conimbriga,
pério, as civitates consistiam em unidades judiciais, territoriais e tri- cal e de uma elite indígena inte- estas explorações dificilmente
butárias, sobre as quais recaia o pagamento do stipendium ou tribu- ressada na exploração das terras 10. aparecem no registo arqueológico
tum ao Estado romano, bem como em pólos de integração das comu- A propósito, mencionamos uma (CORREIA, 2010: 137-146).
10
Especialmente em função
nidades indígenas na organização provincial (CARVALHO, 2007: 95). inscrição recolhida em Santiago da
do controlo da atribuição das
Fundada na época augustana, a acção política, sob a forma de contri- Guarda, no concelho de Ansião, terras e da repartição fiscal,
butio, confirmou a centralidade do povoado de Conimbriga, doravan- com o seguinte texto: VE(ctigal) domínios das magistraturas
locais (CARVALHO,
te capital de civitas e núcleo difusor da romanidade. Em função disso, R(ei) P(ublicae) M(unicipium)
2007: 96-97).
beneficiou de um aparelho urbano público imprescindível no cum- VICINI, interpretado como “Tri-
primento das funções de uma cidade romana, mas “discutível” – em- butário da República do Municí-
bora compreensível, visto que se constata a importância histórica des- pio vizinho”. Na nossa opinião, é ainda incerto o município colector
te núcleo populacional – no quadro de um oppidum stipendiarium (Conimbriga ou Sellium), embora os autores o identifiquem como o
(CORREIA, 2009: 398). municipium conimbrigense (MONTEIRO e ENCARNAÇÃO, 1993-1994).
Contemporânea da concessão do Ius Latii a toda a Hispania, a inter- Seja como for, esta inscrição, datada do início do século III d.C., tes-
venção Flávia na cidade conimbrigense, agora municipium (Flavia temunha o interesse e a preocupação do município (res publica) em
Conimbriga), remodelou enormemente o fórum e os espaços urbanos gerir correctamente os seus prédios, sobre os quais recaia um imposto
envolventes. Continuando no trilho de Virgílio CORREIA (2004: 280- (vectigal) pelo seu arrendamento, especialmente porque representava
-281), a partir do final do século I d.C., a evolução arquitectónica da uma das principais fontes de financiamento das entidades locais.
cidade centrou-se exclusivamente no interior das residências das eli- Em função disto, interrogamo-nos a respeito de uma evolução fiscal
tes. Interpretando os cenários urbanos como representantes de um dis- que se coadunasse com a crescente pressão sobre as terras. Diante da
curso ideológico, observou, durante e após a época flaviana, o refor- diversidade de situações cadastrais – oscilando, nos séculos I-II d.C.,
ço dos domínios domésticos aristocráticos em detrimento dos domí- entre uma região dividida por uma limitatio (ou por várias, ocorrendo
nios artesanais e comerciais. Tra- uma imbricação de formas), uma região ordenada por uma quadra-
8
dicionalmente, esta observação Permitindo, a partir do tura (fictícia), uma região organizada por um “pavage de circonscrip-
ius Latii, que os indígenas
explicar-se-ia pela promoção jurí- que exercessem as magistraturas tions” (a partir de domínios específicos nomeados de pagi, possessiones,
dica 8 e melhoria dos ritmos eco- locais usufruíssem do estatuto de praedia, fundi, casae, etc.), uma região marcada por complexas e com-
nómicos que, “fruto de uma muta- cidadãos romanos (ius adipiscendi petitivas heranças da Idade do Ferro, etc. –, o percurso revela-se si-
civitatem Romanam per
ção dos processos agrícolas muito sig- magistratum) (ALARCÃO e nuoso, se bem que bastante fecundo: constata-se não só que as socie-
nificativa e particularmente frutuo- BARROCA, 2012: 189). dades antigas tinham, para além da limitatio, vários modos de refe-
Conhecemos, no entanto, uma outra concepção que permitia respon- o que supõe uma grelha de avaliação.
der às obrigações fiscais do poder local e imperial, nomeadamente a Nesta apreciação fiscal, a avaliação do valor dos solos (aestimatio),
arva publicus das províncias (Frontino) ou o ager arcifinalis vectigalis sobre a qual se estabelecia o montante do tributo, partia da declaração
(Higino Gromático) (CHOUQUER e FAVORY, 2001: 139). Predominan- oficial (professiones) dos possuidores, obrigados a declarar onde e
te na época republicana, o binómio das terras conquistadas do ager quantas propriedades detinham. O mesmo autor latino informa-nos
publicus – segundo os Gromatici veteres, distinguia as terras ocupadas e que em certas províncias o imposto dependia desta estimativa (IDEM).
atribuídas, repercutindo, ao nível administrativo, fiscal, gromático e Esta avaliação fiscal realizar-se-ia através de uma limitatio, recorrendo
jurídico, o interesse do Estado (IDEM: 106) – alterou-se gradualmente a um quadriculado de rigores, no interior do qual encontrar-se-iam
a partir do governo de Augusto com o crescimento do ager publicus unidades rectangulares nomeadas scamna e strigae. Surpreendente-
vectigalis, procurando, assim, garantir os rendimentos do Estado, das mente, ao contrário de uma centuriação (Higino Gromático distin-
colectividades territoriais ou do fisco imperial. Consequentemente, gue-as), não implicava a transformação do parcelário local, visto que
em função de um maior controlo fiscal, resultando na arpentagem este quadriculado (quadratura), confirmado no solo apenas por mar-
das superfícies para melhor aferir o imposto (vectigal), as terras públi- cos, formava uma rede “teórica” para referenciar as terras e determi-
cas do ager arcifinalis, inicialmente não medidas, evoluíram para o ager nar o imposto (Fig. 2) (IDEM: 267-268; CHOUQUER, 2007: 353-354).
119
OPINIÃO
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121
OPINIÃO
RESUMO
RÉSUMÉ
A
On présente une synthèse du travail réalisé, identificação do nosso património cultural é essencial para a sua salvaguarda e
de la méthodologie employée et des résultats obtenus. correta gestão, para o que os modelos preditivos concorrem, ao diminuir drasti-
MOTS CLÉS: Archéologie; Protohistoire;
camente a morosidade dos trabalhos de prospeção, bem como os gastos resul-
Peuplement; Statistique. tantes, pelo sinalizar prévio das zonas de elevada probabilidade de existência de sítios ar-
queológicos.
A modelação preditiva em Arqueologia, face aos últimos avanços a nível tecnológico, que
permitiram a integração de ferramentas de geoprocessamento e algoritmos complexos e
poderosos, viabilizando assim a criação de mapas preditivos mais eficientes, tem vindo a
despertar um maior interesse por parte dos arqueólogos.
Socorrendo-se de variadas técnicas de análise, é objetivo da previsão arqueológica, partin-
do de uma amostra de arqueossítios conhecidos e de fatores que se julga terem sido im-
portantes na escolha de implantação destes locais arqueológicos, criar um mapa de áreas
prováveis de ocorrência de sítios desconhecidos.
Foi sobretudo nos E.U.A. que os modelos preditivos conheceram grande expansão e apli-
cação, principalmente desde os anos 1970-1980, em grande parte impulsionados pelo Na-
I
tional Historic Preservation Act, de 1966 (KOHLER, 1988: 34). Esta legislação responsabi-
Mestre em Arqueologia e Território na
especialidade de Proto-História pela Faculdade
lizava as agências federais pela identificação e registo do património histórico afetado por
de Letras da Universidade de Coimbra projetos por elas financiados e em terras de domínio estatal. Os custos elevados das pros-
(estanqueiromarta@gmail.com).
peções, em áreas de extraordinária dimensão, levaram ao desenvolvimento de muitos mo-
Por opção da autora, o texto segue as regras
delos preditivos que foram então utilizados no planeamento territorial e na gestão do pa-
do Acordo Ortográfico de 1990. trimónio.
Administrativamente, a área de estudo compreende os distritos da Oeste, contrastando com o cenário anterior, surgem os relevos da Cor-
Guarda e de Castelo Branco, com exceção dos concelhos de Aguiar dilheira Central, as Serras da Estrela e Gardunha e, a Este, as da Mal-
da Beira, Seia e Gouveia, encontrando-se delimitada a Norte pelo rio cata, Marofa, Penha Garcia e Rodão, imprimindo um carácter mais
Douro, a Sul pelo Tejo, a Este pela fronteira luso-espanhola, a No- montanhoso à paisagem (CUNHA, 2008).
roeste pelos relevos da Cordilheira Central, e a Sudoeste pelo curso A rede hidrográfica é marcada pelas bacias dos rios Douro, Mondego
do Zêzere (Fig. 1). e Tejo.
Localizada no Maciço Antigo, mais precisamente na zona Centro-
-Ibérica, a região apresenta um relevo diversificado, com planaltos 2.1 OCUPAÇÃO HUMANA NA PASSAGEM
graníticos elevados, cristas quartzíticas ou suaves colinas xistosas (RI- DO II PARA O I MILÉNIO A .C.
BEIRO, 1945; CUNHA, 2008). Região de transição entre o Norte e o
Sul do País, a sua geomorfologia pauta-se pela existência de vastos O padrão de assentamento humano na região sofreu uma alteração
planaltos com altitudes entre os 700-800 m, que descem progressiva- no e a partir do Bronze Final, com a implantação de povoados em lo-
mente para cotas mais baixas. Chegam aos 300 m na zona das “Cam- cais eminentes que se destacam na paisagem, perto de declives acen-
pinas de Idanha”, fazendo a passagem para a paisagem alentejana. A tuados, com bom controlo visual do território em redor e na proxi-
123
OPINIÃO
midade da ocorrência de minérios ou de rotas que a eles conduzam todo o território em estudo, e afastados 1000 m de povoados conhe-
(VILAÇA, 1995; SILVA, 2006). cidos. Estes pontos constituíram a amostra de ausências, contra a qual
No Ferro Pleno assiste-se ao aumento da área ocupada e à generaliza- a de presenças foi contrastada.
ção da construção de muralhas. Apesar de ainda se observar a locali- A primeira etapa da análise passou pela seleção dos preditores inde-
zação em altura, privilegia-se agora uma maior vizinhança a linhas de pendentes que apresentavam um comportamento diferenciado entre
água, possibilitando desta forma o seu controlo direto. o conjunto de povoados proto-históricos e o das pseudo-ausências,
Intercalando estes dois períodos encontra-se o Ferro Inicial, ainda de recorrendo a testes estatísticos como os de Kolmogorov-Smirnov,
difícil perceção na região, e onde sítios como a Cachouça (VILAÇA, Wilcoxon-Mann-Whitney, Teste exato de Fisher e Qui-quadrado
2007) ou o Cabeço das Fráguas (SCHATTNER e SANTOS, 2010) assu- (DYTHAM, 2011).
mem particular importância. De acordo com o valor p obtido nos vários testes, eliminaram-se al-
Ao atentarmos nesta descrição para a localização dos sítios proto-his- guns preditores por não apresentarem diferenças estatisticamente sig-
tóricos, apercebemo-nos que várias áreas nela se enquadram, embora nificativas entre as duas amostras. Este foi o caso da declividade, que
apenas algumas possuam vestígios de ocupação. Somos assim levados foi afastada da fase seguinte, pois não apresentava um padrão diferen-
a interrogarmo-nos sobre os fatores subjacentes à escolha destes lo- cial entre as ausências e os povoados. A sua exclusão pode causar es-
cais, em detrimento de outros aparentemente semelhantes. tranheza, atendendo a que a declividade é uma variável recorrente-
mente utilizada nos modelos preditivos e o conhecimento empírico
Tentando responder a esta e a outras questões, procurou-se recriar alerta-nos sobre a sua importância para os povoados deste período. A
computacionalmente os fatores que se pensa terem influenciado a es- justificação para esta situação prende-se com o facto destes últimos se
colha destas comunidades pretéritas, construindo um mapa preditivo encontrarem na contiguidade a vertentes com maior declive e não di-
que ajudasse a preencher os vazios de informação arqueológica em retamente sobre as mesmas, ou seja, o problema reside na construção
algumas faixas do território e a identificar as zonas de elevada proba- da variável em si, a proximidade a um elemento não pode ser repre-
bilidade de ocorrência de povoados. sentada diretamente por esse mesmo elemento.
Apresentavam-se duas soluções para contornar este obstáculo: a cons-
trução de um preditor baseado em valores de proximidade a declives
3. METODOLOGIA elevados, ou encontrar um outro índice que refletisse estas condições.
Optou-se pelo cálculo da diferença máxima de elevação descendente,
Como técnica de modelação dos dados recorreu-se à regressão logís- que exprime a queda máxima de elevação entre uma célula do Mo-
tica multivariada, que permite o trabalho com variáveis resposta biná- delo Digital de Terreno (MDT) e as suas vizinhas, num raio predefi-
rias, ou seja, que possuem apenas dois estados possíveis, como é o ca- nido. Esta variável acusou diferenças estatísticas significativas, ao con-
so de presença ou ausência de sítios arqueológicos, através da equa- trário da anterior, tendo sido selecionada para a etapa seguinte da cons-
ção: trução do modelo. Este exemplo é demonstrativo das dificuldades
1 que o investigador enfrenta na escolha e adequação dos preditores a
P=
1+e -(a+b1X1+...+bkXk) integrar na análise e na tradução computacional do conhecimento ar-
queológico.
É assim possível obter a probabilidade de ocorrência de um evento de Após a pré-seleção de variáveis preditoras, avaliou-se a existência de
interesse (presença de um arqueossítio) em função de uma série de fa- multicolinearidade entre as mesmas através do coeficiente de correla-
tores ambientais e culturais (variáveis preditoras independentes) que ção de Spearman. Nesta etapa foram detetados problemas com o pre-
se pensa terem sido importantes na escolha dos seus locais de implan- ditor altitude, pelo que se optou pela sua eliminação.
tação. Procedeu-se seguidamente à modelação dos dados com vista à obten-
A partir da base de dados da Direção Geral do Património Cultural ção da equação de regressão logística. Para a escolha das variáveis mais
(DGPC) e da bibliografia existente para a região em estudo, foi sele- significativas utilizou-se a metodologia descrita em HOSMER e LEME-
cionada uma amostra georreferenciada com 89 povoados proto-his- SHOW (2000), assente sobretudo na análise da deviance, no teste da
tóricos. Estes foram divididos aleatoriamente em duas subamostras, Razão de Verosimilhanças e no teste de Wald.
uma com 70 sítios, utilizada nos testes de significância estatística e Este procedimento originou um modelo multivariado que engloba
construção do modelo, e outra com 19, reservada para testar a eficácia quatro fatores preditivos: a geomorfologia, a diferença máxima de ele-
do mapa preditivo construído. vação descendente, o índice de visibilidade e a proximidade a ocor-
Para representar as características do meio criaram-se computacional- rência mineiras, todos em concordância com o conhecimento cientí-
mente 350 pontos de pseudo-ausências aleatórias, distribuídos por fico para o objeto em estudo.
125
OPINIÃO
0 300 m
6. ALGUMAS OBSERVAÇÕES
PUBLICIDADE
BIBLIOGRAFIA
127
PATRIMÓNIO
RESUMO
ABSTRACT
[do Sal]
Study of the Islamic spirituality awakening on the coast
of the Qaṣr al-Fatḥ region (Alcácer do Sal), highlighting the
role of caves and promontories in this process.
entre o emirato andalusi
The author also analyses the rābiṭa (place of meditation)
that existed in the Arrábida mountain range and stresses the
historic importance of Viking incursions off the coast of the
e o califado almóada
Alentejo, which was particularly suited to the ribāṭ practice
related to territory defence.
Finally, he refers to an Arab inscription found in the Sines
castle which mentions the foundation of a rābiṭa in that
place in 1009 (339 of Hegira).
António Rafael Carvalho I e Chia-Chin Wu II
KEY WORDS: Middle ages (Islamic); Gharb al-Andalus;
Qasr al-Fath (Alcácer do Sal); Ribāṭ; Rābiṭa.
RÉSUMÉ
1. INTRODUÇÃO
Etude sur l’éveil de la spiritualité islamique sur le littoral
de la région de Qaṣr al-Fatḥ (Alcácer do Sal), insistant le rôle
O
tenu par les grottes et les promontoires dans ce processus.
presente estudo aborda a questão do despertar da espiritualidade Islâmica no
On analyse également la problématique de la rābiṭa (local de Sāḥil de al-Qaṣr, tentando entender como este se processou, no seio de uma
méditation) qui a existé sur le mont Arrabida, et on insiste
sur le marqueur historique que représentent les incursions
longa diacronia, desde a conquista Islâmica até ao Período Almóada. O tema
vikings dans le littoral de l’Alentejo, dédié à une pratique du é vasto, as fontes documentais são escassas e o panorama de investigação, apesar dos gran-
ribāṭ liée à la défense du territoire.
Pour finir, on fait référence à une inscription arabe trouvée
des avanços efetuados nas últimas décadas, não nos autoriza a efectuar as sínteses de que
dans le château de Sines qui mentionne la fondation d’une gostaríamos. Face a esta realidade, achamos oportuno reto-
rābiṭa dans ce lieu, la situant en 1009 (339 de l’Hégire.
mar algumas das reflexões que demos a conhecer no âmbito 1
Ver os trabalhos alusivos
MOTS CLÉS: Moyen Âge (islamique); Gharb al-Andalus; dos Encontros de História do Alentejo Litoral, que têm ti- a estes encontros, que se
Qasr al-Fath (Alcácer do Sal); Ribāṭ; Rābiṭa. encontram referidos na
do lugar em Sines, desde 2008 1.
bibliografia. Dado que um
O litoral atlântico do Ġarb, nomeadamente o correspon- desses estudos está no prelo
dente ao Alentejo Litoral e à costa da Arrábida, sempre fo- desde 2014 (CARVALHO e WU,
ram encarados como “espaços míticos”, onde, em locais toca- no prelo), face ao seu interesse
para o presente trabalho, achámos
dos pelo sagrado e pelo sobrenatural, seriam evocadas memó- oportuno seguir, grosso modo,
rias de âmbito ancestral. Tal terá permitido um fértil desabro- as reflexões nelas contidas.
char da imaginação para aqueles que entravam em contato, Manteve-se grande parte da sua
estrutura original, mas adaptada ao
I
Gabinete de Arqueologia, História, Património e
neste território de desafio, entre o continente e o oceano. horizonte cronológico em análise
Museus do Município de Alcácer do Sal Ao contrário do Mar Mediterrâneo, delimitado por três no presente estudo, atualizando,
(antonio.carvalho@m-alcacerdosal.pt). quando necessário, algumas
massas continentais que, de certo modo, o protegiam e con-
II
chiachinwu@uclmail.net. referências bibliográficas
trolavam, o Oceano Atlântico apresentava-se como uma fron- 2
Falamos das margens
Por opção dos autores, o texto segue as regras
teira oceânica, regida por marés e tempestades, onde se co- continentais da Europa e
do Acordo Ortográfico de 1990. nhecia um início 2, mas não o seu fim para lá do horizonte. da costa marroquina.
129
PATRIMÓNIO
litoral por parte das autoridades islâmicas antes do referido ataque. Em Mar Envolvente é a Igreja dos Corvos, famosa junto das gentes do mar.
seguida, abordamos as transformações e consequências a nível espiri- Entre ela e o Cabo dos Corvos, o qual foi referido no extremo da latitude
tual e na defesa do território por parte das mesmas autoridades. Apre- do Clima Quinto, são sete milhas. A longitude ali, tomada desde as Ilhas
sentamos a inscrição árabe que foi encontrada nas paredes do castelo Eternas, é de seis graus. Daí até onde está o rio Sado, no Golfo do Âmbar,
de Sines e que testemunha a construção de uma rābiṭa no ano de 1009, quarenta milhas. Sobranceiro a ele [o Sado] está o Castelo com ele rela-
mas sem avançar muito por agora, dado que o seu devido enquadra- cionado, tendo os Cruzados no nosso tempo tido aí uma famosa batalha.
mento necessita de uma reflexão mais demorada que foge da linha Situava-se no extremo das fronteiras
orientadora deste trabalho. Terminamos por referir o achado de uma do Islão daquela região. Desde aqui 9
Os destaques a
janela geminada de tipologia almóada, patente na torre de menagem [Alcácer do Sal] até à desembocadu- negrito são nossos.
do castelo de Sines, colocando a hipótese de ter havido uma rābiṭa nes- ra do grande rio de Lisboa, o mesmo 10
Tal como foi definido
te período, algures dentro do recinto amuralhado. que cruza Toledo, há quarenta mi- na carta de doação à Ordem de
Santiago por D. Sancho I.
lhas, e desde o mar até Lisboa, trin- A este território deve-se juntar
ta [...]” (REI, 2005: 21)” 9. uma faixa de território até ao
2. O Ṭ AGR DE QAṢR AL -F ATḤ : O TERRITÓRIO Apesar deste grau de incerteza, que estuário do rio Mira e áreas
limítrofes mais para o interior,
SEGUNDO OS TESTEMUNHOS DOCUMENTAIS naturalmente condiciona a nossa que depois foram incluídas
reflexão, julgamos aceitável que o no Termo de Aljustrel, após
O espaço geográfico escolhido para este “olhar” corresponde ao lito- Ṭagr debaixo da jurisdição alcace- a sua conquista definitiva,
ocorrida em 1233.
ral/sāḥil que fazia parte da jurisdição da madīna Alcacerense em con- rense em contexto almóada cor- 11
A recuperação da Arrábida
texto almóada e que, grosso modo, incluía grande parte do litoral que respondesse, em larga medida, ao e dos seus castelos por parte da
atualmente corresponde ao Alentejo Litoral e à região da Arrábida. território definido pelo Termo de Ordem de Santiago, após a
As fontes muçulmanas não nos in- 10
Alcácer em 1186 , incluindo a conquista almóada de 1191,
ainda é uma questão em aberto
dicam com clareza a estrutura e ex- 6
Este texto já foi dado região da Arrábida, numa primei- que iremos referir mas
tensão desta região, utilizando pa- a conhecer por CARVALHO ra etapa 11. não aprofundar.
(2014: 138), mas, pelo seu
ra a definir conceitos muito vagos, interesse, voltamos a referi-lo,
quase sempre alusivos à sua natu- assim como algumas notas de
reza de fronteira/ṭagr do califado rodapé que o acompanham. 3. A LEITURA DO TERRITÓRIO LITORAL EM
7
al-Muwaḥḥid. Um bom exemplo Trata-se de uma alusão clara CONTEXTO I SLÂMICO : OS ACIDENTES GEOGRÁFICOS
6 de que Alcácer era nessa altura
é o testemunho de Ibn Abbār que, a sede da fronteira do califado
E AS GRUTAS AÍ EXISTENTES , PERSPECTIVADAS
ao falar do governador de Alcácer, al-Muwaḥḥid frente ao Reino COMO “ OBJETOS HISTÓRICOS ”
Abd Allāh b. Muḥammād b. Wazīr de Portugal, tendo jurisdição
sobre vários castelos que não
(Ḥulla, II, p. 295), refere: “Son pè- são mencionados nesta fonte, De uma forma geral, os cabos e os promontórios correspondem a aci-
re fut mentionné auparavant à la mas que, pela posição geográfica dentes geográficos que se desenvolvem ao longo da costa. De natureza
fin du 6ème siècle (de l’H.), il était em relação a Alcácer, teriam que agreste, quase sempre com vertentes íngremes, resultam de processos
estar localizados na região da
gouverneur du Qaṣr al-Fatḥ [Al- Arrábida e no Alentejo litoral. geológicos complexos associados a erosão marinha costeira desenca-
cácer do Sal] et de ses dépendants, De recordar a presença de deada por fenómenos de natureza eustática e isostática. Antigamente,
de la Région (Ṭagr) Ouest 7. Suite à cerâmicas e moedas desta época quando as explicações científicas desses fenómenos naturais não esta-
nos castelos de Sesimbra, Palmela,
sa mort, son fils Abd Allah a été Montemor-o-Novo e Aljustrel. vam disponíveis, acreditava-se que na sua génese estariam poderes
nommé à sa place, puisqu’il était Recentemente, identificámos sobrenaturais, fora da compreensão humana.
l’ainé et l’héritier de sa culture et de elementos de natureza A costa atlântica de Portugal, nomeadamente o litoral alentejano,
arquitetónica almóada no
sa poste, parmi ses fils”. castelo de Sines (CARVALHO e WU, onde os perigos naturais estão presentes e as escarpas são íngremes e
Por seu lado, Abū-l-Hasan cAlî no prelo). Infelizmente, pouco convidativas, estes acidentes geográficos não passaram desaper-
ibn Mûsâ Ibn Sacîd 8, também co- por razões que desconhecemos, cebidas e terão contribuído para um desinteresse na implantação de
as Atas ainda não foram
nhecido como al-Maġribī, na sua publicadas, pelo que voltamos grandes estruturas habitacionais nesses locais. No entanto, a existên-
obra Kitâb bast al-ard fî-l-tûl wa- a repetir neste estudo alguns cia de grutas naturais em alguns acidentes geomorfológicos desta cos-
l-ard, escreveu o seguinte, no ca- dos elementos inseridos ta terá convidado algumas pessoas ou comunidades a buscar nelas abri-
nesse trabalho.
pítulo referente ao “Clima VI, Sec- 8 go “físico” e por vezes “espiritual”, em buscas pessoais cujo eco e me-
Nasceu em Granada,
ção primeira”: [...] O primeiro que 610H/1213, e faleceu em mória imaterial encontraram espaço na espiritualidade das comuni-
encontras dele [o Clima] sobre o Tunes, 685H/1286. dades rurais das regiões confinantes.
131
PATRIMÓNIO
pos pré-islâmicos, no seio de uma teoria que, segundo alguns investi- por outro lado, a caverna seria vista como o lugar da Revelação Co-
gadores, pode ter tido uma matriz maternal, numa espécie de “regres- rânica (waḥy) 21. Por fim, o mesmo investigador, realça a importância
sus ad uterum” (CHEVALIER e CHEERBRANT, 1986: 182). A manuten- da ṣurat n.º 18, onde aparece o episódio do Aṣḥāb al-Kahf, que é,
ção desta devoção após a anexação segundo ele, uma das ṣurat mais vene-
17 21
deste território ao Dār al-Islām 17 Entre as mais recentes radas pelos crentes. Segundo WENSINCK
vai ser alimentada simbolicamen- sínteses sobre esta questão, Reforçando esta linha de investigação, [Rippin] (2002: 53), o Waḥy é
ver VAN STAEVEL (2010) “… a term of the Ḳur’ān,
te pela ligação que começou a ha- e MEOUAK (2010). temos os estudos referentes ao culto primarily denoting revelation in the
ver entre as grutas (al-Kahf ou Ġār– das grutas em Marrocos, onde é evi- form of communication without
Ar.) e o que VAN STAEVEL (2010: dente a utilização desses espaços por speech […]. In the Ḳur’ān, waḥy is
presented as an exceptional modality
319) denomina de “imitatio Muḥammādī”, referido anteriormente, walī Allāh, como espaço de habitação of God’s speaking to His creatures.
que o arabista explica da seguinte forma: [O] “… prototype de l’ana- ou de transformação em rābiṭa 22. Es- This waḥy forms a concept of
chorèse musulmane dans les grottes réside dans le fameux épisode, parti- tas práticas piedosas, entendidas como inspiration and communication
without linguistic formulation,
culièrement mis à l’honneur par la Tradition musulmane, de la révéla- zuhd, eram encaradas como veículos conveying the will of God,
tion coranique sur le mont Ḥirā’, au nord-est de La Mekke. C’est là que que transmitiam baraka a esses lugares as in VII, 117…”.
22
le futur prophète de l’islam avait coutume de se retirer, dans une grotte subterrâneos que, nalguns casos, po- MEOUAK (2010: 335),
refere, entre outros exemplos, que:
(ġār), pour s’y livrer à des actes d’adoration. À ce haut lieu qui sert de deriam evoluir para polos de peregri-
“… d’Abū ‘Imrān al- Haskūrī al-
cadre inaugural au processus miraculeux de la Descente du Livre, s’ajoute nação. Aswad avait été enterré à
une autre grotte, celle du Ǧabal Ṯawr où, selon le Coran (al-Tawba, IX, Em suma, é este o mecanismo que, Marrakech, dans un endroit
situé à proximité d’un centre
40), Muḥammad et Abû Bakr auraient trouvé refuge, lors de l’hégire, julgamos, estará por detrás da santifi-
spirituel appelé rābiṭat al-Ġār,
pour échapper à leurs poursuivants” (VAN STAEVEL, 2010: 319). cação da cordilheira da Arrábida/Rā- ou «centre spirituel de la grotte»”.
O que julgamos importante realçar, no âmbito dos exemplos selecio- biṭa, desde o morro de Palmela até à 23
O culto das grutas
nados, é a noção de território sagrado e esca- serra da Azoia/Zāwiya, ter- e a sua utilização como ribāṭ
18 ou rābiṭa encontra-se bem
tológico que a gruta tem para o crente mu- Quase sempre era um minando no cabo Espichel 23, documentado no Magrebe.
religioso que poderia viver numa
çulmano, que geralmente habita esse espaço comunidade monástica. Sobre esta
como veremos de seguida. Ver WENSINCK [Rippin]
e o transforma em polo de peregrinação ou questão, ver CARVALHO (2009). (2002) e MEOUAK (2010).
de ensino. Para os cristãos, esse espaço caver- 19
O Zuhd representa as tendências
noso era sentido como um desafio do ermita ascéticas e místicas no seio do 4. A PROCURA DO SAGRADO
Islão. No âmbito do Taṣawwuf,
ou anacoreta, que opta por lá viver para po- E DE A LLĀH NO J ABAL AL -R ĀBI Ṭ A /S ERRA
estas materializam-se numa ascese
der combater as trevas e o Demo, devendo material e espiritual que marca DA A RRÁBIDA
para tal contar com apoio espiritual de al- uma vontade de fugir do mundo
e das suas vaidades. Citando
guém fora deste território, que deveria rezar VAN STAEVEL (2010: 312), 4.1. UMA VISÃO DE CONJUNTO
18
por ele . “Le renoncement prend de multiples
Assistimos deste modo, ao longo do litoral formes: biens, honneur et statut Território sagrado desde tempos imemoriais, sabe-se que,
social, nourriture, vêtements,
da Arrábida e nos locais da costa do Sudoeste logement et confort, désirs et do Neolítico/Idade do Bronze até à Idade do Ferro, os gru-
com grutas, à transformação gradual da con- appétits s’effacent ou son rejetés pos humanos que frequentavam e habitava a serra da Arrá-
cepção de um espaço subterrâneo. Em con- comme peu compatibles avec bida conheciam algumas cavernas, tendo algumas delas sido
l’isolement, voire la réclusion,
texto cristão, estes espaços de perdição en- que recherche désormais celui usadas como locais de enterramento humano (CALADO et
contravam-se povoados de monstros e pelo ou celle qui veut devenir un al., 2009). Essa prática parece ter desaparecido em contexto
demónio. Após a conquista islâmica no sécu- modelé de vertu et de piète”. romano, mantendo-se essa postura inalterável desde o Pe-
20
A Istiḵhāra pode ser vista,
lo IIH/VIII, estes espaços transformam-se ríodo Islâmico até à atualida-
segundo AYDAR (2009: 123), 24
em territórios sagrados, onde o crente mu- como: “…a ritual practice de 24. Poderemos estar em
çulmano podia ter um contacto mais íntimo that has been highly valued by Durante o Baixo-Império presença de mudança de hábitos
Muslims (particular those in Sufi culturais, que desvalorizam as
com Allāh, numa concepção zuhd 19 e (284-408 d.C.), a emergên- grutas como espaços de
circles) who desire to live according
taṣawwuf da utilização do espaço. Segundo to the rules of the Islamic religion. cia do Cristianismo neste enterramento ou de
CHEBEL (1995: 187-188), estamos perante In its simplest terms, Istikhara is fim do Mundo Ocidental te- complemento em termos de
used when a Muslim is unsure or estruturação da ocupação
duas dimensões: uma ligada ao ritual de in- ria feito desta “finis terra”, da do território.
whether or not to perform an action
cubação (lugar ou algo assim que espera a in waking life”. Ver também
sua criação), que denomina de Istiḵhāra 20; FAHD (1997).
133
PATRIMÓNIO
efetuou no século IVH/X sobre a rābiṭa existente nesta parcela do Com base nos conceitos existentes nas fontes muçulmanas do Ġarb
Ġarb al-Andalus, e que é naturalmente anterior ao seu testemunho 33. al-Islām, o conceito de ribāṭ não se adeqúa ao conjunto identificado
Por outro lado, a sua localização, num pequeno cabo sobre o mar, em Colares. Pela sua implantação geográfica, arquitetura e toponímia
reúne todas as condições canónicas para a prática do zuhd e do da região, estaremos perante uma
36
taṣawwuf 34. zāwiya 36, como sinónimo de rā- O conceito de Zāwiya
Os defensores de que uma rābiṭa obedece a um programa arquitectó- biṭa, interpretação que é coerente ainda permanece confuso e
sujeito a interpretações ligadas a
nico especifico tendem a ignorar que os estudos mais recentes têm de- com a cronologia proposta para o diferentes escolas de pensamento.
monstrado que essa leitura corresponde mais a uma exceção do que a local, que a coloca em contexto al- Ver igualmente BLAIR (2002)
uma norma. Naturalmente, existem semelhanças entre o complexo re- morávida. TAHIRI (2012: 12) cha- e KATZ (2002).
ligioso identificado na Arrifana (Portugal) e o conjunto similar iden- ma “… la atención sobre el empla-
tificado em Guardamar (Espanha), zamiento de la mayoría de las Rabitas […], situadas al borde del mar o
pelo que podemos conjecturar a 33
Como foi visto anteriormente, con vista abierta hacia él”. Para este arabista (TAHIRI, 2012: 12-13),
existência, em casos pontuais, de a população preferia o uso “… una simples rabita […], generalmente, no superaba la dimensión de
toponímico de rābiṭa em vez da
um programa arquitectónico espe- denominação jabal Banu Matri,
una pequeña mezquita rural”, concluindo com a expressão “al-Rābiṭa:
cífico para o al-Andalus que é di- como aparece na documentação al-’ulqa wa-l-wusla”, sinónimo de “… que la rabita significa apego, la-
ferente do identificado na Ifrīḳiya oficial do Califado, segundo o zo y unión del asceta con su rabita y con sus propios adeptos”.
testemunho deixado por Ibn
(Tunísia). Hayyān no Muqtabis V.
Para a nossa reflexão, parece-nos 34
Reconhecemos, contudo, FIG. 3 − Portinho da Arrábida, onde foi identificada a presença
importante mencionar uma des- que a expressão “arqueológica” islâmica em dois sítios arqueológicos: na Praia dos Coelhos
coberta dada a conhecer na revista da dimensão religiosa no seio (CARVALHO e SOUSA, 2003) e na estação romana do Creiro (SILVA e
da documentação disponível é COELHO-SOARES, 1987). Estamos em presença de um território
digital Portugal Romano, n.º 0 sempre problemática, na ausência taṣawwuf entre a foz do rio Abū Dānis (Sado) e o Ḥiṣn Sesimbra,
(LOUSADA, 2012), referente a uma de outro tipo de fontes, tal como é indicado pela raiz etimológica do topónimo Arrábida,
pequena masŷid/mesquita junto à nomeadamente as de assim como pelo carácter peculiar deste território para a prática
natureza epigráfica. privilegiada da siyāḥa ou retiro espiritual ṣūfī. Aqui era possível
praia das Maçãs (Colares, Sintra), 35
Pouco depois foi publicada a subsistência humana na mais completa solidão, com base na
interpretada pelos arqueólogos que uma análise mais completa. Ver pesca eventual, na recoleção de marisco, no consumo de
a escavaram como ribāṭ 35. BORGES (2012: 114 e 118). plantas selvagens e da água na nascente do Creiro.
135
PATRIMÓNIO
ANVERSO
Estamos em presença de dois dirham cunhados em prata. Encon-
lā llā illā Allāh Não há outro Deus senão ele
tram-se bem conservados, pelo que é clara a sua leitura epigráfica.
Esta encontra-se inserida dentro de uma dupla moldura quadrangu- al-‘amr kulluhu li-‘llāh O comando inteiro pertence a Deus
lar, delimitada por linhas direitas 45. Cronologicamente, podemos in- lā quwwat illā billāh Não existe poder senão em Deus
seri-los entre 587H/1191 e 596H/1200, fase em que a região de Se-
simbra esteve debaixo da jurisdição militar e religiosa almóada sedia- REVERSO
da em Alcácer. Se aceitarmos a última data como válida, a sua presen-
Allāh rabbunā Deus é o nosso Senhor
ça na serra da Arrábida, numa gruta, numa altura em que grande par-
te dos medievalistas sugere que a serra já estaria debaixo da jurisdição Muḥammad rasūlunā Muḥammad é o nosso Profeta
portuguesa 46, levanta naturalmente questões que serão debatidas al-Mahdī imāmunā O Mahdī é o nosso Imām
noutros estudos.
0 1 cm
Parece-nos vislumbrar um modelo de ocupação do território que tural, se transformam em moçárabes, deixando de falar e compreen-
segue de perto o existente na baía de Sesimbra 52. Quanto ao cabo de der o Latim 54.
Sines, pela ligação que teria ao sagrado, vai sofrendo uma transforma- O poder islâmico terá optado, nesta fase inicial, por ocupar algumas
ção, da passagem da concepção pagã do mundo para a cristã. das vrbs sobreviventes da Antiguidade Tardia, que serão transforma-
Mais uma vez, temos a atração do fim, a sedução da fronteira e a in- das em madīna. Foi o caso de Pax Iulia/Beja. Outros locais povoados
terrogação do eterno no seio de um território peculiar. Talvez por essa terão sido valorizados, nomeadamente a antiga Vrbs Imperatoria Sala-
razão, enquanto no cabo Espichel as grutas aí existentes eram um de- cia/Alcácer, claramente despovoada e despromovida em termos de
safio que incentivava o eremita cristão a sofrer em vida para alcançar hierarquia urbana aquando da conquista islâmica 55.
o paraíso, na sua luta contra o terror subterrâneo, no cabo de Sines, Deste modo se explica o desinteresse islâmico por Sines e pela linha
a eventual ausência de cavidades naturais impedia uma residência fixa de costa do Alentejo litoral nesta fase inicial, grosso modo entre nos
frente ao demónio e aos monstros que, na concepção da época, habi- séculos VIII/IX, dado que esta-
54
tavam as redondezas. Admitimos que será neste panorama de percep- mos perante um território areno- Seria provavelmente uma
ção sobrenatural da realidade que so, batido pelo vento Norte e com pequena comunidade, que viveria
52
da pesca e de uma agricultura
terá sido erguida uma igreja em Adaptado, naturalmente, inexistência de bons terrenos agrí- básica autossuficiente.
53
contexto visigótico , nos séculos a uma escala diferente, colas em quantidade 56. Por outro 55
Um importante estudo
às características locais e ao
posteriores encarada como um fa- respetivo potencial lado, a gradual desativação das ro- sobre as questões ligadas à
conquista do ponto de vista fiscal
rol de luz nesse combate “ad eter- económico. tas marítimas a longa distância
53
e dos pactos celebrados no
num” contra o mal. Esta igreja foi construída após a conquista islâmica permite al-Andalus entre as autoridades
A natureza, o prestígio e a riqueza no seio de uma comunidade de explicar o despovoamento gradual islâmicas e as autóctones pode ser
tipo portuário, ainda de natureza visto em IBRAHIM (2011).
da igreja paleocristã erguida em demográfica e administrativa desta região e a gradual caída no 56
E os poucos que existem
Sines terão cimentado a coesão pouco clara, mas que remonta esquecimento como polo de pere- são invadidos pelas areias da
social dos cristãos aqui residentes ao Período Romano. grinação cristã. costa Norte trazidas
ou que aqui vinham em peregri- pelos ventos.
nação, após a anexação deste território ao Dār al-Islām. Mas tal não
terá impedido uma gradual arabização desses mesmos cristãos que,
com o passar das décadas e sujeitos a novos estímulos de âmbito cul-
137
PATRIMÓNIO
Se a confirmação de uma presença islâmica em Sines, de natureza reli- Durante a primeira presença portuguesa no Alentejo litoral, entre
giosa, de finais do século X, ficou clarificada com o aparecimento de 555H/1160 e 587H/1191, o local de Sines, inserida no Termo de
uma inscrição em Árabe, mais complexo torna-se traçar a história des- Alcácer, ter-se-á comportado como porto de abrigo da navegação cos-
ta presença nos séculos seguintes, tendo em conta a escassez de evi- teira, com uma presença humana
63
dências documentais de natureza arqueológica e textual. esporádica 63. Por outro lado, este Esta hipótese, sujeita a
Alguns investigadores têm admitindo, de algum tempo a esta parte, ancoradouro estava exposto aos confirmação, parece-nos a
leitura mais sustentável face à
que Sines talvez possa corresponder ao porto de mar que aparece nas ataques da armada almóada, bas- documentação textual e
fontes islâmicas do Ġarb Andalusī com a designação de Marsā Hāšim, tante ativa nessa fase. A única arqueológica de que
famosa pelas ruinas da sua Igreja Cristã (MACIAS, 2005). Contudo, frente possível do lado cristão pa- dispomos de momento.
outras correntes de investigação defendem que esta Marsā Hāšim cor- ra contrariar estas debilidades na
responde a Castro Marim. Mais recentemente REI (2012: 190) per- defesa da costa, assentava nas armadas de cruzados que sulcavam estas
gunta se, por erro de leitura do documento árabe, estamos perante águas, no trânsito entre o Norte da Europa e a Palestina.
marsā/porto de Hāšim ou marsā/porto de Qāsim, alusivo a Santiago Com a conquista almóada de Alcácer, em 587H/1191, ter-se-á assis-
do Cacém? tido à reformulação da ocupação do território numa escala regional,
O texto dado a conhecer por MACIAS (2005: 175-176) diz que: “Não desde a Arrábida, a Norte, até Sines, a Sul, passando pelo interior, ao
muito longe de Mértola, no oceano fica o porto de Hasim [...] este é um longo da bacia hidrográfica do rio Sado. A nova praça-forte almóada,
antigo castelo, onde antigas ruínas estão localizadas, bem como uma transformada agora numa madīna marsā ribāṭ, vai receber o nome sa-
grande igreja que foi construída no reinado do Império Romano...”. grado de Qaṣr al-Fatḥ, que grosso modo significa “O palácio [onde
vivem os virtuosos que combatem] na conquista [no caminho de
FIG. 8 − Enquadramento do Castelo de Sines na área urbana. Deus – fi sabīl Allāh/Ğihād].
139
PATRIMÓNIO
64 65
SILVA e SOARES (1998: 37, fig. 3). Até 2013, era afirmado que
Esta cerâmica oferece-nos imensas a construção do castelo de Sines
duvidas quanto à datação proposta tinha aproveitado unicamente
pelos autores do referido estudo. material de construção de
Com base no desenho que aparece cronologia romana e visigótica.
Estes testemunhos documentais, fornecidos por IBN IḎĀRĪ (1953: na publicação, esta segue um modelo A identificação desta janela
168-170) para Alcácer, associados à identificação de cerâmica que tipológico almóada, dado que é claramente almóada, não só
idêntica às centenas de peças com a mostra um reaproveitamento de
segue uma tipologia almóada no interior do castelo de Sines 64, assim mesma tipologia exumadas nos elementos pós-visigóticos,
como ao reconhecimento inesperado, no ano de 2013, de uma janela contextos almóadas do al-Andalus. como testemunha uma presença
geminada de tipologia almóada na torre de menagem do castelo de Os autores dataram esta cerâmica islâmica em Sines, sugerida por
num contexto cristão de finais do vários investigadores, mas só
Sines 65, permitem desde já equacionar se terá existido uma ocupação século XIV, exumada numa lixeira agora testemunhada por um
al-Muwaḥḥid/Almóada em Sines? anterior à construção do castelo. elemento arquitetónico.
141
PATRIMÓNIO
67
Indicamos os estudos mais
relevantes utilizados ao longo
deste trabalho, dada a
BIBLIOGRAFIA 67 impossibilidade de os
referir a todos.
FONTES
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Centro de Estudos Históricos da Universidade (Coleção Digital - Elementos para a História Sesimbra. 5: 21-23.
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Velázquez, pp. 203-221.
Isto Não Acaba Bem” principalmente para evitar os graves danos humanos e
materiais que poderiam resultar da explosão de uma caldeira.
As Circunscrições Industriais, criadas em 1891, eram as
entidades responsáveis por essas vistorias. Os proprietários
evitavam-nas sempre que possível, originando contenciosos
o caso do processo cujos processos são fundamentais para a Arqueologia
industrial. Os autores tratam um desses
processos, datado de 1931.
n.º 3062 da 3.ª Circunscrição PALAVRAS CHAVE: Arqueologia industrial; Século XX;
Património; Análise documental.
Industrial e a importância das
ABSTRACT
RÉSUMÉ
A
s Circunscrições Industriais foram criadas em 14 de Abril de 1891 1, com o ob-
jectivo de controlar o processo de industrialização à escala nacional, o qual não Depuis le début du XIXème siècle, s’est généralisée
l’utilisation de la machinerie à vapeur au Portugal,
possuía uma entidade reguladora efectiva até ali, subordinada ao Estado. Esta de l’agriculture à l’industrie. Cependant, de fréquents
iniciativa orbita no grupo das medidas governamentais consequentes da Regeneração e accidents ont augmenté la préoccupation avec l’inspection
de ces équipements, principalement pour éviter les graves
da visão de progresso para o país, epicentradas na figura de Fontes Pereira de Melo e nas dommages humains et matériels qui pourraient
directivas do Partido Regenerador (JUSTINO, 2016; BONIFÁCIO, 1991; MÓNICA, 2009). résulter de l’explosion d’une chaudière.
Les Circonscriptions Industrielles, créées en 1891,
Os principais objectivos das circunscrições seriam o controlo das condições de trabalho, étaient les entités responsables de ces inspections.
com especial atenção nos casos de operariado infantil, as ocorrências e prevenção de sinis- Les propriétaires les évitaient aussi souvent que
possible créant des contentieux dont les procès sont
tros e acidentes, a elaboração de inquéritos periódicos contributivos para a estatística fondamentaux pour l’Archéologie industrielle.
industrial, e a verificação do “estado, condições e necessidades das industrias do paiz, e a L’auteures traitent l’un de ces procès, datant de 1931.
situação dos respectivos operarios, ou [...] o modo de promover o desenvolvimento d’essas indus- MOTS CLÉS: Archéologie industrielle; XXº siècle;
trias ou de melhorar as condições sociaes das classes trabalhadoras” 2. Nas palavras de Luís Patrimoine; Analyse documentaire.
Graça, “a produção legislativa sobre Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho não é uma con-
sequência automática da industrialização. Tem de ser compreendida no âmbito do papel de I
Instituto de História Contemporânea, Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
regulação social que cabe ao Estado, na sequência do processo de modernização” 3. (IHC-FCSH-UNL); jlpbsequeira@fcsh.unl.pt.
Consequentemente, passou a ser da responsabilidade II
Instituto de Arqueologia e Paleociências / Instituto de
dos inspectores de cada uma destas delegações a inspec- 1
Ver http://legislacaoregia. História Contemporânea, Faculdade de Ciências Sociais e
parlamento.pt/V/1/65/86/p171 Humanas, Universidade Nova de Lisboa (IAP/IHC- FCSH-UNL).
ção das unidades produtoras de energia a vapor, tec- Pós-doc Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT);
(consultado em 2017-06-22).
nologia de ponta à data e, por isso, novidade pontual- 2
tmcasimiro@fcsh.unl.pt.
Ver nota anterior. III
mente perigosa na ausência de pessoal especializado na 3
jcnf76@gmail.com.
Ver http://www.ensp.unl.pt/
sua manipulação, utilização e manutenção. A passagem luis.graca/historia1_legis_laws.html Por opção dos autores, o texto não segue as regras
da manufactura para a maquinofactura processou-se (consultado em 2017-06-22). do Acordo Ortográfico de 1990.
145
PATRIMÓNIO
FOTO: J. L. Sequeira.
ridades “competentes” em vistoriar uma
tecnologia que cada vez mais se multi-
plicava em Portugal, entre a passagem
do século XIX para o século XX: as uni-
dades a vapor móveis. A título de exemplo, veja-se o processo número FIG. 2 − Chapas de vistoria em locomóvel
809, que corresponde à vistoria de uma locomóvel pertencente à So- (Museu Municipal de Almeirim).
147
PATRIMÓNIO
ca, pois, no meio de diversas palavras ofensivas e obscenas que não são ao administrador do concelho, informando que o senhor Gravata não
mencionadas no processo, referiu várias vezes que as caldeiras não pode pôr as máquinas a trabalhar sem fazer um novo pedido de vis-
funcionavam, contradizendo informações obtidas pelo fiscal junto a toria técnica para cada uma. As vistorias tinham um prazo de dez
dois trabalhadores da propriedade. Perante a insistência de Alexan- anos 11, pelo que a circunscrição
11
drino Reis, ameaçou com as palavras “retire-se que eu já não o vejo e em apreço deveria ter algum dos Conforme Boletim do
isto não acaba bem” e, demonstrando-se irrequieto fisicamente, conti- seus funcionários encarregue de Trabalho Industrial n.º 120,
de 1928, p. 7.
nuou a proferir ameaças. manter um histórico de gestão das
Ainda que não existam informa- licenças. Esta pode ser uma das ra-
10
ções sobre os procedimentos 10 que No Regulamento de zões que levaram a incursão inusitada do fiscal à localidade rural de
os fiscais das circunscrições de- Caldeiras publicado no Boletim Linda-a-Pastora: entre o pedido de vistoria por parte do proprietário
do Trabalho Industrial n.º 120,
viam tomar em casos de ofensa e de 1928, Título XIII - Infracções (que remonta a 7 de Julho de 1921) e a deslocação ao terreno do fiscal
recusa em colaborar com a visto- e Penalidades, página 12, (11de Setembro de 1931) não existem documentos no processo.
ria, o presente processo revela que em momento algum é De destacar ainda que, quando chega ao local, o fiscal depara-se com
contemplada a penalização por
uma das primeiras atitudes seria a resistência ofensiva à fiscalização. “dois homens acabando de carregar dois carros de bois, com fardos pren-
de procurar as autoridades locais. No entanto, as multas sados de palha e moinha”, revelando como no início dos anos 1930 a
Alexandrino Reis assim o fez e in- são muito pesadas. força motriz associada ao mundo rural seria ainda a animal, assumida
quiriu quem era a autoridade na- como perfeitamente natural por Alexandrino Reis, demonstrando
quele local, obtendo a informação de que se tratava do Cabo-chefe, como o mundo moderno das energias a vapor ainda vivia em conci-
ainda que não o tenha encontrado. Perante a ausência de uma auto- liação com as vetustas formas de tracção.
ridade legal em Linda-a-Pastora, desloca-se cerca de 3,5 quilómetros,
até Carnaxide, onde também não encontra quem o possa ajudar. Dali AS “CALDEIRAS TIPO LOCOMÓVEL ”
foi até Linda-a-Velha, percorrendo mais 2,5 quilómetros e, depois,
até Algés e ao Dafundo, num total de cerca de dez quilómetros à pro- Não cabe neste artigo a explicação detalhada do que era uma locomó-
cura dos agentes da autoridade. Desconhecemos se esta distância foi vel. No entanto, é fundamental compreender o equipamento que le-
percorrida a pé, de bicicleta ou com qualquer outro transporte. No vou à criação deste processo. Muito resumidamente, uma locomóvel
entanto, sabemos que chegou a Algés já depois das 13h, onde final- (portable steam engine) era um gerador de força motriz a partir da pro-
mente encontrou o Regedor no Dafundo. Ali mostra-lhe a legislação dução de vapor em alta pressão de uma caldeira (Fig. 3). Esta caldeira,
que transportava consigo, o que revela que estas autoridades desco- com a sua caixa de fogo e chaminé dobrável, era transportada por for-
nheciam os procedimentos de fiscalização dos equipamentos a vapor. ça exógena (normalmente por animais de carga), montada em cima
O facto de ter saído daqui pelas 14h e ter es-
tado em Algés até às 15h, seguindo depois
para Caselas, a cerca de três quilómetros de
distância, demonstra que se deveria estar a
deslocar de bicicleta ou de outro meio de
transporte. Não tendo encontrado nenhum
guarda ou polícia, não voltou a Linda-a-
-Pastora.
O volume refere, em diferente documento,
de 13 de Abril de 1933, que o proprietário
também possuía uma outra unidade da
mesma marca, com o número de processo
3063, também ele no acervo da ex-DRE,
FONTE: http://www.gracesguide.co.uk.
149
PATRIMÓNIO
AS CIRCUNSCRIÇÕES INDUSTRIAIS
A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) explica, num conservem affixadas no local da machina, para serem vistas a todo o
breve resumo na sua página da Internet, o motivo pelo qual foram momento, pelos ditos fogueiros, a fim de se colher todo o proveito a que a
criadas as Circunscrições Industriais: “para efeito de inspecção (não res- sua observancia deve conduzir” 16.
16
trita às condições de trabalho de Em 5 de Junho de 1855, é publi- Ver http://legislacaoregia.
mulheres e menores [...])” 15. De 15
Ver http://www.act.gov.pt/ cada uma Carta de Lei de D. Fer- parlamento.pt/V/1/58/39/p324
(pt-PT)/SobreACT/QuemSomos/ (consultado em 2017-06-22).
facto, o diploma de 14 de Abril de nando a autorizar o governo 17
EvolucaoHistorica/Paginas/ Ver http://legislacaoregia.
1891 legisla principalmente sobre default.aspx (consultado em (art.ºs 3 e 4) a decretar regula- parlamento.pt/V/1/30/108/p188
um conjunto de normas que, na 2017-06-22). mentos relativos às condições de (consultado em 2017-06-22).
18
actualidade, equivalem às leis re- fundação, conservação e polícia Ver http://legislacaoregia.
parlamento.pt/V/1/30/108/p323
guladoras das inspecções de higiene e segurança no trabalho (MEN- dos estabelecimentos industriais
(consultado em 2017-06-22).
DES, 1999). Reflecte também uma preocupação, por parte dos gover- perigosos, incómodos ou insalu-
nos do período da Regeneração (1851) em diante, na necessidade de bres 17. No mesmo ano, a 27 de
conhecer a realidade laboral do país através da estatística. Para tal, Agosto, são legisladas as Licenças de Estabelecimentos 18. Os pedidos
também foram criadas comissões especiais para realizar inquéritos in- de licenciamento eram dirigidos ao Administrador do Concelho ou
dustriais, que seriam de grande utilidade para o conhecimento do país Bairro, este procedia à vistoria do equipamento com dois peritos de
real. Estas inquirições feitas in loco revelaram uma série de outras la- sua confiança e o dono do estabelecimento nomeava um terceiro pe-
cunas, tais como as condições laborais ou o número de funcionários rito. Após a afixação em lugares públicos da intenção da abertura do
que possuíam educação básica (JUSTINO, 2016; CARVALHO, 2001). estabelecimento, havia um prazo de 30 dias para a oposição à funda-
Mas também mostraram a quantidade de máquinas a vapor que ex- ção do mesmo. As licenças tinham caducidade, conforme está assina-
ponencialmente surgiam utilizadas nos sectores primário e secundá- lado no artigo 10.º. No artigo 15.º, os proprietários dos estabeleci-
rio, e a falta de uma campanha de prevenção para a monitorização ne- mentos industriais já existentes ficavam obrigados, no prazo de três
cessária e incondicional de tão perigosos equipamentos. meses, a solicitar uma licença para os seus estabelecimentos, o que
O surgimento das Circunscrições Industriais nasce de uma sequência atesta a retroactividade da lei. Claro está que o pagamento das perita-
legislativa. O primeiro registo que alerta para os problemas que envol- gens ficava a cargo dos donos das instalações. A tabela de estabeleci-
vem a escassa atenção que se dava à vistoria das novas máquinas a va- mentos anexa a esta legislação é por si só muito interessante de anali-
por, é exarado em circular do Ministério das Obras Públicas, Co- sar: em breve apresentará lacunas incontornáveis com a criação de no-
mércio e Indústria – Direcção das Obras Públicas, Repartição técni- vas indústrias, o que suscitará reclamações internas dos engenheiros
ca, em 21 de Março de 1853, e assinado pelo Barão da Luz: “[...] Sen- responsáveis das circunscrições industriais 19, no que diz respeito à
do certo que o serviço das machinas de vapôr, empregadas na industria necessidade de revisão desta tabela.
nacional, é entregue a operários, dos quaes a maior parte não têem os co- No entanto, não foi por falta de atenção a pormenores que a legisla-
nhecimentos necessários para bem o dirigir, regulando-se apenas pelas re- ção não ia sendo aperfeiçoada. O facto de ser uma tecnologia em per-
gras praticas que lhes foram transmittidas, as quaes são deficientes para manente modificação, e com tanta capacidade de adaptação, num
conduzirem o trabalho convenientemente, segundo as diversas condições período conturbado nas esferas política e social do país, não permitiu
em que uma machina se possa achar; e depende da boa e intelligente di- que os ajustamentos nos decretos acompanhassem com igual rapidez
recção deste trabalho, não só a economia do combustível, e a conservação o desenvolvimento tecnológico da
19
das caldeiras e apparelhos, mas sobre tudo o poder prevenir-se os casos de indústria. Os decretos de 3 de Ou- Um dos engenheiros que
explosão, quasi sempre acompanhados da perda de vidas: determina S. 20
tubro de 1860 e de 5 de Julho escreveu sobre isto foi Adriano
Augusto da Silva Monteiro,
Exª o Ministro e Sacretario de Estado desta Repartição que, em quanto de 1862 21 são a prova disto: ten- nos seus relatórios registados no
se não publica o Regulamento o sobre o emprego e uso das machinas a va- tou-se, sempre que possível, agili- Boletim do Trabalho Industrial,
pôr em Portugal, V. Exª chame a attenção dos proprietários dos estabele- zar processos, simplificar burocra- n.ºs 19 (1907), 91 (1915)
e 108 (1917).
cimentos desse Districto, onde haja machinas a vapôr, sobre as inclusas cias, vincar a necessidade imperio- 20
Ver http://legislacaoregia.
instrucçòes, que devem ser observadas pelos fogueiros a quem habitual- sa de manter as máquinas vistoria- parlamento.pt/V/1/35/9/p679
mente se incumbe o serviço das referidas machinas; sendo muito para das para segurança de quem com (consultado em 2017-06-22).
21
desejar que os mesmos proprietários, dando-lhes a devida importancia, as elas trabalhava. Ver http://legislacaoregia.
parlamento.pt/V/1/37/92/p209
(consultado em 2017-06-22).
151
PATRIMÓNIO
153
PATRIMÓNIO
Isto adicionado ao facto de existirem poucos efectivos disponíveis Sobretudo, não esqueçamos que a estes técnicos não competia apenas
para cobrir as áreas das circunscrições. as fiscalizações de maquinaria a vapor. Era também da responsabili-
Com a reorganização e renomea- dade dos mesmos a fiscalização do trabalho nocturno das mulheres, o
44
ção dos Ministérios, em 1916 44, é Ver Diário do Governo, exame técnico de complexos fabris, a superintendência dos serviços
criada a Direcção Geral do Traba- I Série, Número 52, sábado, camarários de pesos e medidas, o levantamento de autos de contra-
18 de Março de 1916,
lho, dentro do Ministério do Tra- p. 265. venção, os inquéritos a desastres no trabalho, entre outras obrigações
balho e Previdência Social. Com- de relatórios, não contando com as peripécias pontuais e caricatas
petia a esta direcção entre outros como a que dá o tema a este trabalho.
serviços, a fiscalização da “execução das leis e regulamentos sôbre o traba- Pode o alargamento do número de Circunscrições Industriais entre
lho; higiene, salubridade e segurança dos lugares do trabalho; laboratório 1891 e 1916, de cinco grandes áreas para sete, ser um indicador do
de higiene profissional; jornas, salários e contratos de trabalho; conflitos crescimento industrial português que alguns autores teimam em repe-
operários; desastres de trabalho; inlabor; tribunais de árbitros avindores; tir que não existiu. A. H. de Oliveira Marques afirma mesmo, no vo-
agências de colocação; provas de geradores o motores; instalações de ofici- lume III, da sua História de Portugal: “Não existia grande indústria”
nas, máquinas operatórias e iça-cargas; inquéritos; estatística; boletim do (MARQUES, 1983-1986: 300). A resposta não é fácil e não pode ser
trabalho; estudos da legislação operária; estudos sôbre. Indústrias especiais dada apenas com base no número de máquinas a vapor que parece ter
e sôbre as condições do trabalho na indústria caseira; congressos; relações crescido inegavelmente no período mencionado. O aumento do nú-
com as instituições estrangeiras”. mero de máquinas levou certamente ao aumento do número de fis-
calizações e à criação de processos. No entanto, parece certo afirmar
que a figura do fiscal estava longe de ser bem-vinda, ainda que com-
DISCUSSÃO provando em primeira mão a perigosidade dos equipamentos, pelo
que, supostamente, a fiscalização servia também para evitar os aciden-
O processo aqui em apreço é, provavelmente, um dos casos mais bem tes. A fiscalização, para além de onerosa, era ainda incómoda. A má-
documentados da obrigatoriedade que os donos de quaisquer equipa- quina tinha de parar para ser avaliada, o que poderia implicar um dia
mentos a vapor, de acordo com o Decreto n.º 8:332, Regulamento das de trabalho. A deslocação do engenheiro ao local, se nos primeiros pas-
Caldeiras, de 17 de Agosto de 1922, seriam obrigados a prestar, dali sos da legislação requer-se gratuita, de forma a atestar a eficácia de um
resultando um processo de fiscalização. No entanto, e como verificá- serviço profilático, como veremos de seguida, torna-se incomportá-
mos através da diversa legislação mencionada, essa obrigatoriedade é vel, devido à multiplicação de maquinaria no terreno.
bem anterior, remontando à segunda metade do século XIX. O valor das coimas para quem não cumprisse esta legislação era cu-
A validação da capacidade de funcionamento das caldeiras e motores mulativo e pouco amigável. Segundo o supra-citado Regulamento de
encontrava-se sob a responsabilidade dos funcionários das Circuns- Caldeiras, só em estampilhas fiscais (Decreto n.º 9: 657, p. 30), um
crições Industriais que, segundo frequentes queixas, estavam longe de pedido de licença para instalação de gerador ou recipiente de vapor
conseguir “dar conta do recado”. Em 1914 (decreto n.º 1:177), elen- podia ir até 100$00. Lavrar o termo de vistoria ou de prova, 10$00
ca-se pela primeira vez (artigo 2.º) um conjunto de procedimentos cada. Se antes não se pagava ao engenheiro vistoriador, com esta legis-
por parte dos fiscais, assim como os quadros de pessoal de cada cir- lação já não é bem assim, pois podem os honorários ir até 140$00 no
cunscrição. Se contabilizarmos o pessoal que este decreto atribui a ca- total, por vistoria. Requerimentos, laudas, chapa de timbre, tudo é
da circunscrição, veremos que os postos de efectivos não são iguais despesa. As infracções e penalidades (Título XIII, p. 12) variam entre
entre elas. Se a 1.ª e a 2.ª possuem o mesmo número de pessoas – um os 500$00 e os 100$00 para as mais diversas situações, tais como inu-
engenheiro-chefe, dois engenheiros adjuntos, três funcionários auxi- tilização de chapas e dispositivos, ausência de provas, omissões, negli-
liares e um servente –, à 3.ª circunscrição atribuem-se mais funcioná- gências e subterfúgios. As reincidências eram punidas com o dobro
rios – um engenheiro-chefe com dois adjuntos, dois condutores, cin- das multas (artigo 55.º). Com tudo isto, será que compensaria o risco
co auxiliares e um servente. Este aumento pontual de postos faz todo de não ser fiscalizado? O Sr. Augusto Gravata era o proprietário de
o sentido, já que é a área de Lisboa. As outras circunscrições têm duas locomóveis, segundo o processo, de diferentes dimensões. Estes
menos efectivos, sendo que para a ilha da Madeira apenas dois postos seriam equipamentos dispendiosos, mesmo em 1931. Seria o Sr. Gra-
são abertos, o de engenheiro-chefe e o de servente. As publicações vata um próspero dono de uma quinta em Oeiras? Desconhecemos a
subsequentes dos relatórios dos engenheiros-chefes no Boletim do Tra- dimensão da propriedade. No entanto, seria suficientemente grande
balho Industrial vão invariavelmente para chamar a atenção para esta e produziria o cereal suficiente para ter uma debulhadora e uma
contenção de custos versus volume de trabalho exigido. enfardadeira, a par de diversos assalariados.
...156
Engenheiro Chefe da 3ª Circunscrição Industrial Lisboa não estava e uma senhora, pessoa de familia,
disse-me que ele sahira de manhã para o traba-
Para os devidos efeitos me cumpre informar Percebendo que estava na presença do proprio lho e que só recolhia à noite.
V. Exª. do seguinte: expliquei que, tendo estado na eira a verificar a Resolvi ir a Carnaxide, que è a freguezia, soli-
Quando no dia 11 do corrente mês, cêrca das caldeira de vapor pequena e vendo que não ti- citar o auxilio do regedor, para o serviço que
10 horas e vinte Minutos, em serviço de fisca- nha chapa de fiscalização, lhe pedia para me me cumpria fazer, mas chegando ali fui infor-
lização me dirigia para a povoação de Linda a mostrar o certificado de prova hidraulica da- mado de que não havia regedoria, mas sò o
Pastora, freguezia de Carnaxide, concelho de quela caldeira. Cabo-Chefe, que è o Sr. Jose Branco, também
Oeiras, vi que numa eira proxima estava uma Respondeu-me «Ahi vem vòce (termo obsce- com estabelecimento de comercio.
caldeira de vapor, tipo locomovel, portanto, no no) por causa da caldeira», esta resposta fez-me Fui falar com o Sr. Jose Branco a quem mani-
cumprimento dos meus deveres, para ali me di- julgar estar na presença de um alcoolico ou de festei a minha surpresa por não ser ali a regedo-
rigi a fim de verificar se a mesma estava nas um louco; retorqui-lhe, muito suasoriamente, ria_ respondeu-me que tinha razão, mas que o
condições devidas, como determina o Decreto que não ia ali para o incomodar nem eu ser in- Sr. regedor era o Sr. Adelino Correia, na Rua
nº. 8:332, Regulamento das Caldeiras, de 17 comodado, mas sim fazer-lhe as perguntas ne- Direita do Dafundo e que sò ali, no seu estabe-
de Agosto de 1922. cessarias para cumprimento dos meus deveres. lecimento de sapataria, eu o podia encontrar;
Entrando na eira, onde se encontravam dois ho- Respondendo evasivamente começou a dizer: que quanto a autoridade só qualquer patrulha
mens acabando de carregar dois carros de bois, que a caldeira não debulhava; que não traba- da Guarda Republicana ou de Polícia do con-
com fardos prensados de palha e moinha, per- lhava; etc. etc. Fui retorquindo aos factos apon- celho por lá aparecia, mas em dias incertos e
guntei-lhes quem estava encarregado da caldei- tados: que se não debulhava è porque ele tinha horas desencontradas.
ra, que estava paralisada e com a chaminè jà ar- outra para esse fim e esta enfardava; que traba- Verdadeiramente contrariado com esta sucessão
reada; adeantou-se um deles procurando o que lhava visto que a mesma tinha estado a fazer os de factos, que bem prejudicavam o meu serviço,
eu desejava, respondi que era ver e verificar a cal- fardos; que se lhe tinha dado baixa, foi indevi- contei-lhe o facto passado em Linda a Pastora,
deira, dizendo-me que o podia fazer à vontade. damente porque elas continuavam a trabalhar; com o Augusto Gravata; não se mostrou admi-
Verificada a caldeira, que é da marca Clayton que se não era dele me informasse quem era o rado com o que eu lhe expuz e aconselhou-me a
& Shuttlewort [sic], com o nº. 44:140 de cons- dono, para com ele resolver este caso. ir ha Cabine Telefonica e solitar que, do Posto
trução, sem manometro porque jà o tinham A resposta foi «E ahi està você a crer-me outra de Policia em Algés, ali fossem dois guardas.
retirado, vi que nem a caldeira nem o seu res- vez (o mesmo termo obsceno) por causa das Como estes assuntos de serviço oficial não se-
pectivo motor, montado sobre a mesma, ti- caldeiras» – «retire-se que eu já não o vejo e isto jam de tratar pelo telefone e tendo mais serviço
nham qualquer chapa de fiscalisação. não acaba bem», e começou a passexx de um a fazer, segui para Linda a Velha e depois para
Procedendo a inquerição dos mesmos homens lado para o outro no dito terreiro; de dentro de Algés; chegando a Algés, jà depois das treze ho-
apurei que a dita caldeira de vapor tinha estado casa umas mulheres tinham fechado a porta en- ras, fui ao Posto que encontrei fechado, procu-
ultimamente a trabalhar, acionando um apare- vidraçada, não sei se por causa das obscenidades rando informações no Posto de Bombeiros, que
lho de enfardar palha e moinha que junto da se por causa dos cães que estavam ladrando. ha ao lado, disseram-me que se o Posto policial
mesma se encontrava; que o dono da caldeira Como o referido Augusto Gravata continuava estava fechado è porque naturalmente tinham
era o Sr. Augusto Gravata, residente em Linda passeando e falando, estando eu no mesmo lo- saido em serviço.
a Pastora, e que ainda tinha uma outra que era cal ao pè da porta, sem eu ainda ter podido fa- Fui então ao Dafundo procurar o Sr. Regedor,
a do aparelho de debulha, mas que essa era maior zer edeia de qual era e seu estado, percebi que| tendo-o encontrado e feita a minha apresenta-
e estava já guardada e se eu as queria comprar. ele dizia «Não me bastava o desgosto de se xxx ção, que confirmei com o bilhete de identida-
Desfiz o equivoco destes homens, explicandoo ter enterrado hontem o filho, de 27 anos, e vem de, fiz-lhe sciente de todos os factos e minha
serviço de fiscalisação das caldeiras e procurei este (termos obscenos) com as caldeiras». odisseia para encontrar autoridade que me co-
informar-me ondeera a residencia do Sr. Gra- Disse-lhe então, que o facto de estar desgostoso adjuvasse; disse-me que estava sòsinho no esta-
vata, tendo-me sido indicada para là me dirigi. pelo falecimento de um filho, não era motivo belecimento e que ia falar telefonicamente para
A situação da casa è desviada da estrada e numa para me estar insultando e nem o desculpava, o Posto de Algés, visto que era um caso de polí-
ruela escusa e pxxa|se ir até à residencia entra- sò porque eu queria esclarecer um caso de ser- cia, mas feita a chamada não foi esta atendida,
-se por um corredor descendo para um peque- viço, e retirei-me sem me importar com as o que eu jà esperava.
no terreiro interior, visto que aquele Sr. se en- ameaças que me ia dirigindo. Tendo á vista os regulamentos das caldeiras e
contrava na parte da casa que è a cave; não ven- Subindo para o lado da estrada entrei no pri- dos motores expliquei-lhe as atribuições de fis-
do ninguem a quem me dirigir bati as palmas meiro estabelecimento que encontrei e procu- calisação e penalidades e que visto o que se pas-
e chamei, então abriu-se uma porta envidraça- rei informações a respeito da auctoridade que sava se daria conhecimento deste caso à Admi-
da a apareceu-me um sujeito que interrogou so- por ali haveria, respondeu-me um distribuidor nistração do Conselho e ele seria solicitado a
bre o que eu desejava, respondi que precisava rural que sò o Cabo-chefe, que era o Sr. Antó- tratar deste assunto e por isso eu o esclarecia
falar ao Sr. Augusto Gravata, então o que lhe nio dos Santos Coelho, e indicou-me uma ven- respondeu-me que o caso seria tratado pela
quer? me retorquio. da que lhe pertencia,; ahi o fui procurar, mas policia ás ordens do concelho. ...156
155
155... Retirei do Dafundo eram já mais de 14 segui para Caselas, e depois apresentar a V. Ex. Tendo em atençaõ a circunstancia de poder ter
horas, e ainda voltei ao Posto Policial em Algés este meu auto de noticia, parecendo-me que de- sido a contrariedade do falecimento do filho do
mas continuava fechado; demorei-me por ali verá ser dado conhecimento á Administração arguido Augusto Gravata, o qual tinha sido se-
atè cerca das 15 horas, não aparecendo qual- do Concelho de Oeiras e lhe seja solicitado pa- pultado no dia 10, como me foi confirmado
quer policia do posto. Desnecessario serà infor- ra que, nos termos do artº. 44º do regulamento pelo Sr. Jose Branco, Cabo-chefe de Carnaxi-
mar V. Exª. de que em todo o perceurso, desde [...] sejam mandadas fiscalisar as duas referidas de, que mal disposesse o mesmo arguido para
Linda a Pastora, Carnaxide, Linda a Velha, caldeiras de vapor, aplicadas á debulha de ce- me atender, resolvo, com a devida venia, pôr de
Algés, Dafundo e Algés, não encontrei qual- reaes e ao enfardamento de palha, para verificar parte o que pessoalmente se refere aos termos
quer patrulha da Guarda Republicana ou da se teem as respectivas chapas de fiscalisação da obscenos dirigidos á minha pessoa, desejando,
Policia, porque se os encontrasse a eles teria Circunscrição Industrial, tomando nota dos res- porem, ver respeitado o serviço publico que ori-
recorrido. pectivos numeros gravados a punção, ou, não ginou este caso, o que V. Exª. resolverá como
Vendo que não me era já possivel resolver o ca- tendo as chapas, que lhes sejam entregues os cer- muito julgar conveniente.
so de voltar ao local da eira e residencia do Gra- tificados de provas hidaulicas das mesmas cal-
vata, acompanhado de autoridade, para verifi- deiras, devendo as notas ou os certificados se- Lisboa, secretaria da 3ª. Circunscrição
carem os factos de transgressão e poderem tes- rem enviados a esta Circunscrição, para efeitos Industrial, em 12 de Setembro de 1931.
temunhar o auto que teria de lavrar, resolvi con- de fiscalisação e do artº. 56º. do mesmo regu- o sub-inspector de trabalho
tinuar no meu serviço de fiscalisação, pelo que lamento. [assinatura de Alexandrino dos Reis]
154... CONCLUSÃO
Após a análise de diversos processos, dos quais o que aqui apresenta- que ainda hoje sobrevivem, não demonstram sinais de terem tido al-
mos é apenas um episódio extraordinário, é indiscutível a importân- guma chapa de vistoria, o que pode ser um indicador de que nunca
cia da documentação produzida no âmbito das Circunscrições Indus- foram sujeitas a prova.
triais para diversos estudos de Arqueologia industrial. Elas permitem São processos fundamentais na determinação de diversas característi-
a reconstituição de uma imagem, ainda que muito fragmentada, do cas destes equipamentos a vapor, tais como proprietários, durabilida-
tipo e quantidade de máquinas a vapor que laboraram em Portugal de ou mesmo tipo de utilização, se industrial ou rural. Uma análise
nos séculos XIX e XX. No entanto, é esse número credível? Quantas exaustiva, com as devidas ressalvas relativamente à universalidade das
máquinas a vapor funcionaram em Portugal sem que fossem alvo de vistorias que, como mencionámos, podiam falhar, permitiria mesmo
vistorias constantes, ou alguma sequer. Alguns destes equipamentos, compreender que tipo de marcas eram mais apreciadas e se aquelas se
relacionavam com alguma actividade especí-
BIBLIOGRAFIA fica. Permitiria ainda compreender a adversi-
dade dos proprietários às vistorias e inspec-
ções. São documentos produzidos no âmbito
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História de Portugal. Lisboa: Palas Editora. os empreendimentos fabris do Visconde da Junqueira Ainda ao Professor Doutor Jorge Custódio,
Vol. III. (1843-1870). Dissertação apresentada para por nos ter apresentado o fantástico acervo
MENDES, José M. Amado (1999) – “O Trabalho cumprimento dos requisitos necessários à obtenção da ex-DRE.
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V Cursos Internacionais de Verão de Cascais. Disponível em https://run.unl.pt/handle/10362/
Cascais: Câmara Municipal. Vol. 1, pp. 95-132. 18318 (consultado em 2017-06-22).
RÉSUMÉ
C
omo provável primeva manufactura e matéria-prima imprescindível no desen- étude sur divers objets en cuir : bottes, sacoches de bergers,
supports de jougs, tamis, colliers de bovins, un autel portatif,
volvimento do Homem, o couro e as peles permitem um sem-fim de usos, do un bahut gothique altéré, des masques et des étoffes.
mais banal e simples – mas nem sempre simplório –, como o saco e o sapato, Il termine par la Casa da Memória dos Samarreiros,
à Vila Verde (Seia), création d’un tanneur local qui
ao mais requintado frontal de altar ou paramento renascentista. É admirável como as héberge des pièces archaïques du métier ainsi que
peles tiveram tantas utilizações, utilitárias e de luxo, mas, ao mesmo tempo, triste como des ouvrages en cuir de différentes origines.
o registo é escasso e o seu estudo também: não se dá valor ao corrente, ao prático, ou aos MOTS CLÉS: Pâturage; Cuir;
artefactos eliminados pela mudança de modas e de gostos. Arts décoratifs.
Portugal apresenta, de Norte a Sul, um registo diversificado que indicia séculos ou milé-
nios de uso, e um saber-fazer alicerçado em tecnologias construídas desde os primórdios.
Nesta viagem às aplicações do couro, deixei de lado os artefactos de maior requinte e arte,
como frontais de altar, espreguiçadeiras, paramentos, safões, quadros, coxins, tamboretes,
arcas, sobremesas, guardaportas; também não falo de selas, arreios, adargas e apetrechos
militares; as duas colecções de cadeiras adiante estudadas foram aqui consideradas por
não se inserirem no lavrado clássico das obras portuguesas.
Alguns termos estão completamente fora de uso – caso dos chapins, borzeguins, talabar-
tes, odres e borrachas –, já que os séculos colocaram de lado muitas produções, populares
e eruditas, eliminando também oficinas e modos de fazer; os últimos decénios colocam
ainda mais em perigo de extinção o que ainda resta, avançando uma perda de diversidade
produtiva e cultural – perda esta comparável à diminuição da biodiversidade por força da I
Investigador do ARTIS - Instituto de História da Arte,
actividade humana industrializada e regida pelos mercados de consumo. Pode dizer-se Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa
(frankleather@yahoo.com / www.frankleather.com).
que a causa é a mesma: um império transnacional de modas voláteis e um uso acelerado
de matérias-primas. Por opção do autor, o texto não segue as regras
do Acordo Ortográfico de 1990.
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Pela sua resistência e finura, o couro da cabra era coberto de folha de dos con algún tipo de decoración […], argentados de oro o plata”. Direc-
ouro e usado em sapatos de luxo: a Estatística de Lisboa, de 1552, re- tamente ligados à herança andalusí, havia os “cintos moriscos, que eran
fere que “entram da mesma maneira quatro mil dúzias de cabritas que hechos a imitación de los utilizados por la población musulmana”. Os
vendem a quatrocentos réis a dúzia; as quais cabritas são douradas e va- correeiros cordoveses fabricavam também “esqueros o pequeñas bolsitas
lem quatro mil cruzados” (BRANDÃO, 1990: 51). de cuero que, asidas a él [cinto], servían para guardar algunas pequeñas
O cordovão era empregue na construção de bainhas de armas bran- cosas” (CÓRDOBA DE LA LLAVE, 1990: 204).
cas: “Vimte espadas mouriscas [...] Com suas bainhas de cordovam baio De acordo com o item 8 do regimento quinhentista dos barbeiros lis-
lavradas a terços douro partido”; “huua espada mourisca [...] E a bainha boetas, competia a estes artífices “saber guarnecer hua espada noua e
de cordovam roxo lavrada de fio douro”; “outra espada douro mourisca laurarlhe as taboas e assentar lhe sua bainha bocal e punho” (CORREIA,
[...] com sua bainha de cordovam baio lavrada de fio douro”, eram peças 1926: 61), pois não era só de barbas e cabelo que os barbeiros dessa
de luxo do inventário do guarda-roupa de D. Manuel, de 1522. Su- época tratavam.
gerem também o apreço que a corte tinha pelos artefactos ricos pro- Em Espanha, o cordovão marcou a designação dos “cordobaneros”
duzidos no al-Andalus; não era só a moda decorativa nos interiores pa- (GONZALO MAEZO, 1975: 144), equivalentes aos portugueses “çapa-
lacianos, com tapeçarias e guadamecis, e o “sentar-se à mourisca” sobre teiros de cordouam”. A fama de tal tipo de couro saiu da Ibéria e, em In-
almofadas de têxtil e guadameci, que influenciaram os gostos antes e glaterra, usava-se para o ofício de sapateiro o termo “cordwainer”; na
depois da Reconquista. Holanda a designação foi “cordewanier”, e em França “cordouanier”.
A mesma lista inclui “quoremta çymtas mourisquas de cordovam verme- Entre os curtidores portugueses também se utilizou este termo para o
lho lavradas a terços douro partido”, “Outra çymta de cordovam roxa la- couro de cabra, segundo o que me foi dito por Antenor Santos, im-
vrada douro partido”, e ainda “Outra cymta de cordovam roxa lavrada pulsionador da Casa da Memória dos Samarreiros.
douro de cruzados” (FERRÃO, 1990: 160). Ou seja, além das bainhas Voltando a Ambrosio de Morales, o cronista deixou ainda referido:
para armas brancas, o requinte ornamental no vestuário requeria cin- “Las badanas sirven para los guadamecis, que se labran tales en Cór-
tas de couro bordadas a fio de ouro. doua” (MORALES, 1610: 110). A “badana”, atrás referida por Gil Vi-
Este trabalho em bordar a pele de cabra com fio de ouro estava a car- cente, é couro de carneiro, que em Portugal se denomina “carneira de
go de artífices bordadores específicos, denominados “os que Lavrão o casca”: é a casca, de árvores ricas em tanino, o principal ingrediente
fio”. No longo e importante documento Treslado da Carta de reparti- do curtume, misturada com o arbusto sumagre. A badana, pela sua
ção dos Homens que cada Officio ha-de dar na Camara de Lisboa, de fraca resistência, tinha um uso secundário nos artefactos antigos, con-
D. João III, e datado de 26 de Agosto de 1539 – reestabelecendo o trariamente ao cordovão, que, sendo também fino, é couro resistente.
número de vinte e quatro para a Casa “Como de Antigamente herão”, A badana é a matéria-prima para o trabalho artístico e luxuoso do
e a organização dos ofícios sob uma Bandeira –, estão “os que Laurão guadameci, pois este material era requerido pelos regimentos ibéricos
o fio” como anexos (tal como os “adergueiros”/fabricantes de adargas) para elaborar cobertas de paredes, almofadas e frontais de altar (PE-
dos correeiros de obra grossa e delgada, sabendo-se que “estes todos da- REIRA, 2016: 55-56).
rão em a Caza dous Homens” (LANGHANS, 1948: 89-90). Atendendo Dir-se-ia esclarecida a diferença entre um curtido de cabra e uma téc-
à lista de artefactos do guarda-roupa de D. Manuel, dir-se-ia que o nica decorativa sobre couro de carneiro. Contudo, entre os artífices
bordado a fio de ouro era corrente no luxo cortesão da época. O cou- espanhóis que contacto desde os anos de 1980, há a facilidade em
ro fino mas resistente, como era o cordovão, proporcionava a base pa- considerar que todos os couros decorados – excepto o guadameci –
ra estes bordadores trabalharem; são equivalentes aos “correeros de hilo são “cordobanes”, ou couros decorados pela técnica do “cordobán”. Tal
de oro” espanhóis. Na reorganização e sistematização dos documentos facto deriva duma generalização a que também não é estranha a fama
oficinais de 1572 – o famoso Livro dos Regimentos dos Ofícios Mecâ- de Córdova muçulmana, e das suposições de que os artífices do couro
nicos lisboetas –, os bordadores de fio não se encontram referidos. no al-Andalus decoravam todos os artefactos de couro (utilitário e de
Obra dos correeiros da Granada nazarí, a bainha da espada de Muha- luxo). No famoso catálogo Cordobanes y Guadamecíes repete-se o erro
mmad XII (Boabdil), último sultão da Península, é soberbamente de- em denominar de “cordobán” (FERRANDIS TORRES, 1955: 7) várias
corada: esmaltes sobre prata dourada (execução de ourives) e, no cou- técnicas, aplicadas em couro que não o de cabra, cujo uso era limitado
ro, bordado a fio de prata dourada. Já a adaga do sultão está acompa- e reduzido nos artefactos de luxo. Outros livros do século XX deno-
nhada por correia e bolsa, com o couro bordado com fio de prata; a minam de “cordobanes” os couros decorados e não apresentam justi-
decoração da prata inclui o lema da dinastia: “Só Deus é o vencedor” ficação para tal; mesmo nos catálogos de museus ou em visitas guia-
(ANDALUS..., 1992: 288 e 293). das encontra-se esse erro, facilmente detectável sem ter em mãos os
A variedade de cintos na Córdova medieval incluía aqueles bordados objectos referenciados, nomeadamente cadeiras. Também em L’art
a fio de ouro pelos “correeros de hilo de oro”. Havia-os também “labra- en la pell: cordovans i guadamassils de la Col.lecció Colomer Munmany
frontoffice/pages/314?geo_article_id=7353,
consultado em 2017-06-30).
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Nos finais dos anos de 1980 visitei a última das fábricas de cola de cou- Em baixo, detalhe.
ro em Adaúfe, perto de Braga, e pude esclarecer e fotografar o proces-
so. Cozido numa caldeira, o couro transforma-se em gelatina; esta é,
seguidamente, despejada em reservatórios rectangulares, e depois cor-
tada, indo para secar totalmente (Figs. 11 e 12).
Conforme a limpeza da cola, assim a havia de primeira, segunda e ter-
ceira qualidade. O seu aspecto é de tablete, do castanho translúcido ao
escuro. Os restos da cozedura (sujidade vária que se deposita na cal-
deira) são óptimos para a agricultura, e esta era também uma das acti-
vidades da quinta onde estava a fábrica; coloco o verbo no passado,
pois esta fábrica encerrou o fabrico pouco tempo depois da minha vi-
sita.
A primeira crise na comercialização desta cola animal deu-se com a
independência dos países que formam actualmente os PALOP (que re-
cebiam muita “cola de couro”), logo seguida pela introdução rápida
de colas químicas no mercado português.
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FIG. 28
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FIGS.
29 E 30
Outras duas peças raras encontram-se no Palácio Nacional de Mafra Como o couro é grosso, os motivos flo-
e, segundo as informações que recebi, foram executadas nas oficinas rais puderam ser talhados e modelados
da Penitenciária de Lisboa, e oferecidas ao Rei D. Carlos; estão data- com profundidade (Figs. 38 a 42).
das como de início do século XX. Talvez houvesse então uma oficina Todas as outras cadeiras, que comple-
de marceneiro e entalhador, pois o lavrado recorreu de novo às afia- tam os móveis de assento da sala de jan-
das goivas da talha. tar, estão estofadas em palhinha.
Devido à raridade do método de gravura, e ao desenho “neo-clássi- Admiro-me como é que existem
co”, estas duas peças são de salientar no mobiliário português. A es- apenas estes exemplares executados
trutura de madeira tem, no topo do espaldar, o escudo português sob por alguém com destreza de enta-
a coroa. lhador, e muita inteligência para
Aqui o artífice, com certeza mestre da arte, deixou ficar a derme dos pensar no couro como tábua a es-
motivos do topo do espaldar, desbastando-a na restante superfície; tal culpir, e que, aparentemente, fun-
é facilmente notado pois a derme tem brilho e, sem ela, o couro é ba- cionava à margem dos métodos cor-
ço e tem toque de veludo. FIG. 38 − Cadeira.
171
PATRIMÓNIO
FIGS. 39 E 40 − Espaldar
de cadeira e detalhe.
FIGS. 41 E 42 − Assento
de cadeira e detalhe.
12. Esta é mais uma peça que faz jus à inventiva e capacidade
em descobrir uma saída eficiente para um caso que poderia
ser frequente: o cavalo da carruagem poderia perder uma ferradura, e
impossibilitar o cavalgar do animal; uma carruagem sem um animal
substituto poderia não atingir o objectivo. Assim, inventou-se um
modo para aguentar o animal até chegar ao destino: uma ferradura
presa a um “sapato” em couro que, através duma presilha e fivela, se FIG. 43
fixa ao casco do animal (Figs. 43 e 44).
173
PATRIMÓNIO
zaro pelo topónimo de rio de couros” (CARVALHO, 1942: 30), onde até A aldeia de Encourados, na estrada Braga-Barcelos, apresenta na ban-
recentemente labutou uma fábrica de curtumes, hoje transformada deira uma couraça com um rosto humano pintado (Fig. 47). Na Casa
em local de exposições, com os grandes tambores rotativos revelando do Povo de Martim (que engloba a freguesia de Encourados), infor-
o ofício de curtidor. As alterações na cidade-património mundial de- maram-me que o nome e a representação se devem ao facto da aldeia
ram uma nova vida a esta emblemática zona, mantendo muitos tan- ter enviado alguns homens a combater nas Invasões Francesas. Con-
ques em granito – expostos ou integrados na arquitectura – e o brasão tudo, perante as armas de fogo, a couraça não era eficaz. Talvez o mi-
dos curtidores numa parede de granito. to e a lenda venham de mais longe, pois, face à arma branca que ante-
Na Lisboa de finais do século XIII, os correeiros e sapateiros teriam cede a de fogo, o couro moldado e seco oferece resistência e protege
rua própria; “contudo, não nos é possível localizar rigorosamente tais bair- a vida.
ros” (PRADALIÉ, 1975: 65). A par das Ruas dos Correeiros e Sapa- A representação na bandeira é a couraça, com pintura de um rosto
teiros, considere-se ainda a Rua dos Douradores, onde existiam sete entre decoração vegetalista; as flores-de-lis são estilizações da maçaro-
guadamecileiros a trabalhar, dos nove que o Livro do Lançamento e ca.
Serviço que a cidade de Lixboa fez a el Rei nosso
S.or. o ano de 1565 (DOCUMENTOS PARA A HIS-
TÓRIA..., 1947) considera. Lisboa conta ainda
com o Beco dos Curtumes e a Travessa dos
Curtidores – ou seja, tem uma tradição de
curtimenta e trabalho artístico do couro, co-
mo revelam os regimentos dos ofícios da capi-
tal.
Em Évora, na Idade Média, existiam as Ruas
da Correaria Velha, Sapataria, Selaria e dos
Pelames (BEIRANTE, 1995: 119). A Rua dos
“Correeyros” (PEREIRA, 1891: 115) aparece em
documentação do século XIV, e a Rua da “Se-
FIGS. 46 E 47
larya” é citada em título do século seguinte.
Encontra-se, em documento do século XV,
uma referência à “Çafoaria” (IDEM: 126), rua
ou local onde estariam os “çafoeiros”, fabricantes de safões.
Num “translado de uma inquirição régia”, datando de 1412, encon-
tra-se a “Rua direita da çapataria” em Ponte de Lima; mais adiante
está o “Título da rua da carnaçaria […] e doutro de ssellas” (ANDRADE,
1990: 199 e 211), talvez se referindo à rua dos fabricantes de selas.
Em Santarém existiram, ligadas ao trabalho do couro, as ruas dos Al-
bardeiros e dos Pelames, e a Rua dos Odreiros (BEIRANTE, 1981: 54
e 75). Em Alpedrinha existia a Rua das Alcaiçarias, onde estavam os
curtidores, junto à Fonte das Peles, agora lavadouro público. Em Cas-
telo Branco ainda existe a Rua dos Peleteiros, onde, no n.º 42, um
lintel de porta manuelina está esculpido com uma tesoura e uma pele
de ovelha (Fig. 46).
Anos atrás, perto de Castro Laboreiro, passei na pequena aldeia de
Pousa-Foles de Baixo, separada de Pousa-Foles de Cima, já em Es-
panha, por uma ribeira. Tal designação, explicou um idoso, deveu-se
à existência de moinhos no rio, onde vinham os habitantes trazer os
foles (sacos de pele) carregados de cereal; ora chegavam ao moinho, e
pousavam o fole. Novos tempos e novo ritmo significaram o fim dos
moinhos e da necessidade básica em moer o cereal do cultivo.
175
PATRIMÓNIO
Por volta de 2008, Antenor Santos, curtidor por tradição familiar e Desde os finais do século XIX, melhores entradas e sobretudo o cami-
sócio-gerente da firma Fabrícios (http://fabricios.pt/, consultado em nho-de-ferro permitiram às fábricas locais expandir o negócio e atin-
2017-06-30), de Vila Verde (Seia), contactou-me por telefone, pois gir as grandes cidades. Em Vila Verde, tal como noutras aldeias, fo-
tinham-lhe referido o meu nome em visita ao Museu de la Pell, em ram construídos grandes edifícios em pedra, devedores à expansão do
Igualada (Catalunha). negócio dos curtumes; as casas serviam muitas vezes também de ade-
Encontrámo-nos meses depois num seminário em Ponte de Lima, ga e mercearia, além de celeiro, curtimenta e arrecadação das alfaias
onde eu apresentei uma comunicação sobre artefactos Mandinga em agrícolas.
couro. A sua ideia era criar um núcleo museológico ligado aos curtu- As duas guerras mundiais ajudaram ao crescimento destas pequenas
mes e seus derivados, aproveitando alguma maquinaria desactualiza- indústrias, devido à necessidade de couros para apetrechos dos solda-
da, fotografias dispersas, e acrescentar visibilidade a Vila Verde, uma dos.
terra de curtidores. Nas últimas décadas, a abertura de Portugal aos mercados internacio-
Até aos anos de 1980, os rebanhos de cabras e ovelhas providencia- nais levou a um declínio da indústria nacional; muitas destas peque-
vam a lã para as indústrias de lanifícios da Covilhã, sendo também nas empresas fecharam, incapazes de providenciar preços baixos e
usada em microempresas familiares na tricotagem de agasalhos, a par prazos de execução. A fábrica herdada do pai de Antenor Santos, de-
de outros recursos, como a agricultura. As peles dos animais abatidos nominada Fabrícios, teve de se modernizar e adaptar às inovações dos
para consumo eram recolhidas (secas e salgadas) por indivíduos a pé, curtumes, e a novas regras de protecção ambiental. Antenor e seu ir-
de bicicleta, burro ou mula; calcorreando caminhos entre aldeias, esta mão José, a par dos filhos e filhas de ambos que decidiram continuar
recolha alimentava diversas fábricas de curtumes em Vila Verde; no a empresa familiar, adaptaram a fábrica para curtir usando crómio,
curtume usava-se o arbusto sumagre (também recolhido na região, incluindo tingimento, superfícies texturadas e adesivos decorativos.
incluindo Trás-os-Montes), que faz parte dos métodos antigos do Adquiriram maquinaria mais eficiente e ligaram-se a outros países –
curtume “vegetal”. Transformadas, as peles e couros serviam para a Paquistão, Índia, Marrocos –, de onde importam “couro azul” (peles
elaboração de roupa quente e calçado, sendo outro dos recursos da parcialmente curtidas) para terminar em Vila Verde. Nos anos de
vasta região interior. 1980 apareceu a moda dos blusões em couro e, nos últimos anos, o
Em 1882, o crescimento da linha férrea no interior do país facilitou expandir do calçado “made in Portugal” nos mercados internacionais
a recolha de peles em lugares impossíveis de atingir de bicicleta ou proporcionou um terreno mais sólido para o investimento neste cam-
mula. po – peles diversificadas para a produção de vestuário e calçado –, aju-
A cavalo na coleta de peles, por vezes significava ficar fora de casa por dando esta e outras pequenas empresas que se mantiveram em fun-
alguns dias. Os agricultores/pastores chegavam a dar aos curtido- cionamento.
res/recolectores itinerantes abrigo e alimento, por vezes significando O pai de Antenor Santos, Fabrício Lopes dos Santos, ainda teve de
dormir em palheiros ou perto dos animais. As peles eram recolhidas arregaçar as calças para mover com as pernas as águas escuras dos tan-
todo o ano, apesar do frio e da neve no Inverno. Era corrente curti- ques de pedra com os couros a demolhar – um acto corrente na pro-
dores e pastores terem ligações familiares, mesmo vivendo longe. dução arcaica, denominado “lavar à perna”, executado seja por ho-
Os donos dos curtumes eram também trabalhadores, não se afastan- mem ou mulher, e muito incomodativo no tempo frio, em que as
do do trabalho manual e duro que é o curtume. Actualmente, a reco- águas tinham uma camada de gelo na superfície. Os enormes cilin-
lha de peles frescas é feita usando carrinhas com refrigeração, indo a dros rotativos e outra maquinaria (para rebaixar as peles) só chegaram
matadouros licenciados, e não mais a casas ou quintas particulares. nos anos de 1960 às indústrias portuguesas.
Mesmo assim, o horário de trabalho permanece adaptado às longas Em 1970, Antenor Santos persuadiu o pai a ir a Paris ver a exposição
horas na estrada, partindo de madrugada e regressando noite dentro. anual da indústria dos curtumes; viajaram num Renault 4L, onde
Imprescindível no curtume era o sumagre; o seu corte era feito com dormiram, gastando dinheiro apenas na gasolina; outras viagens se
a “pedoa”, de lâmina mais larga e cabo maior que a foice. Os arbustos sucederam, já incluindo hotel. Uma grande mudança foi deixar de
eram moídos em moinhos de pedra (atafonas), com a mó movida na trabalhar ao domingo e, mais tarde, ter livre o sábado à tarde.
vertical por força do equino; essa matéria-prima era ensacada e trans- Em 2007, Antenor Santos publicou o livro Vila Verde, Terra de Sa-
portada em carro de bois ou em burros até às fábricas de curtumes. O marreiros: peles, curtumes, gentes e costumes (SANTOS, 2007) e uma no-
comércio de sumagre aparece com frequência nos forais manuelinos va edição está a ser preparada. Depois de tentar comprar uma fábrica
(por exemplo, de Silves e Lisboa). Muitas vezes, o curtume recorria a de curtumes desactivada, com tanques, Antenor Santos conseguiu
outro método: a pele era retirada do animal sem abrir pela barriga, e que a Câmara Municipal de Seia lhe emprestasse a escola primária (já
o pescoço servia de gargalo do saco; pendurado e cheio de líquido desactivada) e ajudasse economicamente na reparação do telhado.
curtiente, tal saco acaba por ficar curtido. Como muitas vezes acontece, apenas o impulso (e o dinheiro) de
FIG. 50 − Taça
em couro lavrado
e folha de ouro.
Obra de Ana Caldas (2011).
177
PATRIMÓNIO
Até aos nove anos de idade, vivi em Trás-os-Montes (Miranda do (hoje dez cêntimos); o animal cresceu e tornou-se domesticado e
Douro e Picote), estando o meu pai a trabalhar nas recentes barragens brincalhão. Teve de ser vendido, sem eu saber, quando deixámos Pi-
da Hidro-Eléctrica do Douro. Na última casa onde vivemos, em Pi- cote. Como acontecia, as peles dos animais abatidos eram recolhidas
cote – ainda hoje arquitectura moderna –, para manter aparado o pelos peliteiros/samarreiros – daí eu ter estado envolvido nesta trama
grande relvado, o meu pai comprou uma ovelha-bebé por 20 escudos das peles logo em criança.
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Zooarqueologia e Arqueomalacologia
da Península Ibérica
Cleia Detry, Cláudia Costa e Maria João Valente
Por opção das autoras, o texto não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990. FIG. 1 − Logótipo conjunto
do EZI2017 e da 5RCAPI.
179
EVENTOS
FIG. 3 − Fotografia de
grupo no final do EZI2017,
28 de Abril de 2017.
A primeira sessão de comunicações inscritas na animais (como, por exemplo, a da púrpura) e os tribuiu para o reforço e estreitamento das relações
5RCAPI dedicou-se, exclusivamente, ao estudo depósitos em contextos funerários. Esta sessão entre os investigadores que se dedicam ao estudo
de restos arqueofaunísticos de várias espécies de revelou a variedade de informações que os estudos da Zooarqueologia no espaço e sobre a Península
mexilhão. A individualização deste tema demons- arqueomalacológicos podem fornecer para o Ibérica.
tra bem a importância que estes animais têm na conhecimento do passado humano. O sucesso da iniciativa parece óbvio: participaram
dieta ao longo da história humana, mas também Na tarde de 28 de Abril, o dia que associou os 120 investigadores, em 73 comunicações orais e
como funcionam como indicadores de alterações encontros EZI2017 e 5RCAPI, procedeu-se tam- 38 posters. Os debates foram extensos e partici-
paleoambientais. bém a uma sessão conjunta de posters que foi bas- pados. Cedo se percebeu, portanto, que a inicia-
Na segunda sessão foram analisados os restos ma- tante participada, beneficiando de um ambiente tiva teria que ter continuidade.
lacológicos em contextos da Pré-História antiga mais informal que, por vezes, resultou numa dis- Em princípio, o próximo EZI será organizado
(principalmente do Mesolítico), desde a sua uti- cussão científica ainda mais profícua. pela Universidade Autónoma de Madrid em as-
lização como recursos alimentares às informações Os eventos tiveram também um programa social sociação com o CSIC de Madrid, após proposta
ambientais. Combinou a utilização de metodo- extenso. No primeiro dia, decorreu uma agradável de Arturo Morales Muñiz, Marta Moreno-García
logias zooarqueológicas mais clássicas com meto- recepção oficial oferecida pela Câmara Municipal e Corina Liesau, estando tentativamente progra-
dologias complementares, como as desenvolvidas de Faro, no claustro do Museu Municipal. No mado para 2020.
por análises isotópicas. dia 28, os congressistas visitaram o Museu Mu- A 6ª edição da RCAPI foi proposta por Miquel
Na Sessão 3, as apresentações foram dedicadas nicipal de Loulé e a Casa das Bicas (banhos islâ- Àngel Vicens e será realizada na ilha de Maiorca,
aos estudos de adornos e utensílios em concha, micos), e depois usufruíram do jantar oficial no em finais de 2019, numa organização conjunta
temas importantes para a interpretação de con- cenário impressionante do Mercado Municipal da Universitat de les Illes Balears e da Societat
textos arqueológicos e do comportamento huma- de Loulé, oferecido pela respectiva Câmara. d’Història Natural de les Balears.
no do Passado, nomeadamente na vertente do Estes encontros desenrolaram-se sempre num O livro de resumos está disponível em https:/
simbólico. ambiente descontraído e agradável, em que a /www.academia.edu/32415085/Book_of_Abstracts
A quarta sessão fez um pequeno desvio temático, discussão dos temas foi entusiasmada, o que con- _EZI2017_and_5RCAPI.
em estilo de comparação com os con-
textos ibéricos, com comunicações
sobre sambaquis (isto é, concheiros)
pré-coloniais e coloniais na costa do
Brasil.
Por fim, as duas últimas sessões in-
cluíram apresentações desde a Idade
do Bronze até ao período Medieval,
passando pelo período Romano. Os
temas apresentados variaram entre
o consumo de moluscos, as indús-
trias ligadas à exploração de certos
181
EVENTOS 13 - 14 Nov. 2017, Granada (Espanha)
International Workshop Dialogues in Late
Medieval Mediterranean. Between East and West
http://bit.ly/2vjFWgM
edição impressa
1.ª Série
(1982-1986)
2.ª Série
(1992-...)
edições
[http://www.almadan.publ.pt]
[http://issuu.com/almadan]
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uma edição
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[212 766 975 | 967 354 861]
[travessa luís teotónio pereira, cova da piedade, almada]