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IMUNIDADE é a defesa do organismo contra a ação de microrganismos, substâncias

químicas e células tumorais.

Existem basicamente duas formas de imunidade: a inata (inespecífica) e a adaptativa (específica).

A imunidade inata protege o organismo contra uma série de invasores de forma inespecífica:

a pele, que impede mecanicamente a penetração de corpos estranhos e microrganismos.


secreções como o suor, a saliva e a lágrima, que contém lisozima, uma enzima que
promove bacteriólise (lise bacteriana),
o ácido clorídrico do estômago, que mantém o pH próximo de 2 e torna o ambiente inóspito
para a maioria dos microrganismos,
o muco do sistema respiratório que retém e aglutina bactérias e material particulado
inalado, e que também é rico em lisozima,
a bile secretada no intestino, que age como detergente, promovendo a bacteriólise e o
bicarbonato que eleva o pH do intestino, matando certos microrganismos que não toleram
pH elevado,
o pH vaginal, cujo ambiente ácido inibe a proliferação de alguns fungos e principalmente de
algumas bactérias,
o espirro, a tosse, a diarreia e o vômito, que expulsam microrganismos e toxinas,
minimizando seus efeitos nocivos ao organismo,
A flora indígena de bactérias e fungos, que normalmente vive em nossa pele, mucosas e
intestino, e que impede a colonização de microrganismos patogênicos oportunistas,
as células fagocitárias, que “caçam” e engolfam corpos estranhos, microrganismos e
substâncias exógenas, entre outras.

Já a imunidade adaptativa é resultante da adaptação do organismo contra uma agressão


específica, como uma infecção ou envenenamento. Essa imunidade complementa a defesa inata e
é composta por diversos componentes, como as imunoglobulinas (anticorpos) e as proteínas do
sistema complemento (ativação pela via clássica).

A imunidade adaptativa tem duas características importantes: a primeira, como já foi citada é a
especificidade da resposta contra determinados corpos estranhos. A segunda trata-se da memória
imunológica após um primeiro contato com determinados antígenos (resposta primária), que
permite ao sistema imune produzir uma resposta bem mais rápida e eficiente num segundo
contato com o mesmo patógeno (resposta secundária).

Isso se dá por causa da formação de células de memória que são capazes de reconhecer e
combater rapidamente os antígenos, mesmo após muitos anos da exposição.

A imunidade adaptativa pode ser dividida em naturalmente adquirida e artificialmente adquirida.

A imunidade adaptativa naturalmente adquirida pode ser ativa quando há contato com agentes
agressores, como bactérias, vírus, protozoários e fungos, e o organismo tem que se adaptar para
debelar a infecção, produzindo anticorpos específicos, ou passiva (passada da mãe para o filho,
que recebe anticorpos de forma passiva).
Durante a vida intrauterina o bebê humano e outros primatas recebem imunoglobulinas das mães,
de forma natural passiva: as IgG da mãe ultrapassam a barreira placentária, atingindo o líquido
amniótico e o sangue do bebê, fornecendo assim, proteção específica contra patógenos presentes
nos ambientes que sua mãe frequentou nos últimos meses.

O colostro é uma secreção concentrada, viscosa, amarelada e riquíssima em imunoglobulinas do


tipo A (IgA), que fornece grande parte da imunidade do bebê nos primeiros dias de vida. Com o
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passar dos dias, o colostro é gradualmente substituído pelo leite, que possui mais nutrientes, e é
mais claro e menos viscoso, mas ainda muito rico em IgA, que é abundante principalmente até o
sexto mês de vida do bebê. Após o sexto mês, a concentração de anticorpos diminuem,
justamente quando o sistema imunológico do bebê está mais maduro e imunocompetente para
produzir seus próprios anticorpos.

A imunidade artificialmente adquirida também pode ser passiva ou ativa.

Na imunidade adaptativa artificialmente adquirida ativa, utilizam-se vacinas contra doenças como
poliomielite, gripe, febre amarela, hepatite, raiva e tétano, para permitir ao organismo aprender a
combater os verdadeiros patógenos dessas doenças, por meio da criação de anticorpos
específicos. Com a vacina simulamos de forma mais segura uma exposição ao patógeno
verdadeiro. Assim, num contato subsequente com o patógeno verdadeiro (exposição secundária),
o organismo conseguirá combatê-lo muito rapidamente, inviabilizando sua colonização (resposta
secundária).

Na imunidade adaptativa artificialmente adquirida passiva, utilizam-se soros ricos em anticorpos


IgG contra infecções, toxinas, peçonhas ou venenos, tais como soro antirrábico (contra raiva), anti-
hepatite b, antitetânico, antibotulínico, anti-escorpiônico, antiofídico (contra veneno de cobra) e
anti-aracnídico (contra veneno de aranha).

Esses soros são retirados do sangue de animais como cavalos e cabras que foram previamente
inoculados com os respectivos agentes infecciosos ou toxinas e por isso, passaram a produzir
anticorpos específicos para se defenderem das infecções. Em seguida, o soro rico em
imunoglobulinas é injetado no paciente, defendendo-o imediatamente contra os mesmos agentes
inoculados nos animais doadores.

Outra situação em que se utiliza a imunidade adaptativa artificial passiva é quando se aplica numa
paciente gestante ou em trabalho de parto, o soro anti-anti-RhD (Rhogan), que evita que
anticorpos maternos prejudique as hemácias do feto quando há incompatibilidade sanguínea entre
os dois (a mãe é RH- e o feto é RH+).

Determinados pacientes, sobretudo com imunodeficiências, viroses ou transplantados podem


receber uma mistura de soro de milhares de doadores, chamada Gamaglobulina, que ajuda a
protegê-los contra uma variedade enorme de patógenos e toxinas.

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SISTEMA LINFÁTICO

Consiste em uma extensa rede de vasos e capilares paralelos ao sistema cardiocirculatório, que
se distribuem por todo o corpo, penetrando nos órgãos periféricos, recolhendo (drenando) os
fluidos que extravasaram dos capilares sanguíneos para os tecidos, filtrando a linfa e
reconduzindo-a ao sistema circulatório sanguíneo.

Além dos vasos linfáticos, participam do sistema: órgãos filtradores como os linfonodos e as
tonsilas, órgãos de proteção como os tecidos linfoides associados às mucosas e as células
brancas (principalmente os linfócitos).

Os capilares linfáticos estão presentes em quase


todos os tecidos do corpo, vão se unindo em
vasos linfáticos maiores, que terminam em dois
grandes vasos principais: o duto torácico, que
recebe a linfa procedente da parte inferior do
corpo, do lado esquerdo da cabeça, do braço
esquerdo e de partes do tórax e o duto linfático,
que recebe a linfa procedente do lado direito da
cabeça, do braço direito e de parte do tórax.
Ambos os dutos desembocam em veias próximas
ao coração (veia subclávia esquerda e direita),
onde a linfa se mistura com o sangue e
finalmente volta à circulação.

A linfa, do latim “limpha”, deriva do grego


“numphe”, que significa água corrente, córrego
límpido e puro, é um líquido incolor ou levemente
amarelado de composição semelhante à do
sangue, mas sem hemácias e plaquetas, mas
abundante de células brancas, principalmente
linfócitos.

Os vasos linfáticos possuem válvulas


unidirecionadas que impedem o refluxo da linfa,
mas não possuem uma bomba como o coração.
Por isso, após algum período em pé ou sentado,
é importante contrair os músculos da perna para
auxiliar a “drenagem linfática” e venosa.

Especialistas recomendam que a cada hora


sentada, a pessoa fique em pé e se movimente
por alguns minutos e quando isso não for
possível, como em viagens longas, que pelo
menos sejam feitos exercícios musculares, por
exemplo, escrevendo o alfabeto inteiro com cada
um dos pés.

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Órgãos linfoides primários x Órgãos linfoides secundários

Órgãos linfoides primários ou centrais – são aqueles que produzem as primeiras células do
sistema linfático, fornecendo células que “colonizarão” os órgãos secundários.

Os principais órgãos primários são o timo e a medula óssea, podendo ainda se considerar o fígado
fetal nessa categoria.

Inicialmente, a atividade hematopoiética no humano está restrita ao saco vitelino até seis a oito
semanas de idade gestacional, quando o timo e o fígado passam a ser os principais locais de
produção de células do sangue fetal. Por volta da vigésima semana, a medula óssea torna-se o
principal órgão da hematopoese, enquanto o fígado normalmente deixa de ser um órgão
hematopoiético.

TIMO - Glândula localizada na parte anterossuperior do tórax, por detrás do esterno e adiante do
coração, na região do mediastino superior. O órgão é originado a partir da sexta semana de vida
embrionária, e é o primeiro a iniciar a produção de glóbulos brancos.

O timo não participa diretamente das reações imunológicas porque está protegido da exposição
aos antígenos por uma membrana epitelial que cerca os vasos sanguíneos que passam por ele
(porção cortical tímica), mas fornece o ambiente ideal para a proliferação, diferenciação e
maturação de linfócitos T.

Na idade adulta o timo para de produzir novas células brancas, mas continua amadurecendo os
linfócitos T que são produzidos pela medula óssea, mas que são atraídos para o timo, onde
entram pelo córtex, migram para a medula, onde se diferenciam, adquirem novas funções, e
então, saem em direção aos tecidos periféricos.

É o órgão linfático mais desenvolvido no período pré-natal, mas diminui seu tamanho relativo até a
puberdade e após esse período diminui de tamanho absoluto. No recém-nascido está no seu
maior tamanho (proporcional ao resto do organismo) pesando até 35g, continua crescendo até os
15 anos mais ou menos, quando alcança um peso de até 50g. Daí por diante, atrofia
progressivamente até que atinge pouco mais de 5g no idoso.

Além da função imunológica de produção das primeiras células brancas no feto e da maturação
dos linfócitos T até a vida adulta, o timo tem uma função endócrina: É uma glândula que produz
vários hormônios, tais quais a timosina e a timulina. A timosina está relacionada com a maturação
dos linfócitos e a estimulação de órgãos linfoides como o baço e os linfonodos, enquanto a
timulina exerce função na placa motora (junção dos neurônios com os músculos).

Em adultos, quando por algum motivo não ocorre diminuição gradual do timo após a puberdade, o
indivíduo apresenta miastenia grave, que é uma doença que leva à fraqueza muscular, podendo
levar à morte, se essa fraqueza atinge os músculos da deglutição e da respiração. Nesse caso, a
retirada do timo (timectomia) costuma produzir remissão total ou melhora significativa em cerca de
50% dos doentes.

MEDULA ÓSSEA - É responsável pela produção de todas as linhagens de células do sangue


(hematopoese), por meio da diferenciação de células pluripotentes (células tronco), que possuem
a capacidade de se transformar em eritrócitos, plaquetas, neutrófilos, eosinófilos, basófilos,
linfócitos ou monócitos. É também na medula do osso que os linfócitos B amadurecem e
desenvolvem.

Após o nascimento, a maioria das células do sangue é produzida pela medula óssea, o miolo
gelatinoso que preenche o interior dos ossos. Nessa época, a medula de praticamente todos os
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ossos é vermelha, sendo capaz de produzir células sanguíneas até os cinco anos de idade. A
partir daí, a medula dos ossos longos torna-se mais gordurosa (medula amarela), exceto o úmero
e a tíbia, e deixam de produzir células, principalmente após os vinte anos de idade.

Acima dos vinte anos, a medula dos ossos membranosos, como as vértebras e as costelas, alguns
ossos curtos, as extremidades dos ossos longos dos membros inferiores e superiores, o interior
dos ossos do crânio, o esterno e a pelve são os grandes produtores de células sanguíneas.

Os ossos que possuem medula amarela são incapazes de produzir sangue, mas quando há uma
necessidade maior de células, como no caso de uma anemia, parte desta medula óssea amarela
pode voltar a produzir células sanguíneas, tornando-se vermelha.

Estudos indicam que células troncos, principalmente as embrionárias (totipotentes), possuem


potencial terapêutico para doenças que hoje não tem cura, como “consertar” a medula espinhal de
pessoas tetraplégicas, substituir células cardíacas mortas em infarto do miocárdio, substituir
células nervosas mortas por Alzheimer e Parkinson, células do pâncreas em pacientes diabéticos,
entre outras tantas.

As células tronco hematopoiéticas da medula óssea, apesar de possuírem capacidade de se


diferenciar em diversos tecidos (pluripotentes), não possuem a mesma versatilidade das células
tronco embrionárias. Mas cientistas estudam maneiras de aumentar a capacidade de diferenciação
das células-tronco medulares, a fim de obter uma fonte quase inesgotável de células-tronco do
próprio organismo, evitando assim problemas de compatibilidade entre doador e receptor, e
principalmente, evitando problemas éticos e morais envolvendo aborto ou uso de embriões
humanos.

Órgãos linfoides secundários ou periféricos – filtram antígenos do sangue e da linfa,


armazenam linfócitos B e T maduros (aqueles que migraram dos órgãos primários), fornecem
ambiente para a divisão de células B e T (expansão clonal) e para a produção de Imunoglobulinas
(anticorpos). Os órgãos secundários também produzem células imunológicas, mas estas são
cópias (CLONES) de células originais que foram produzidas pelos órgãos primários.

São órgãos secundários os linfonodos, o baço, o MALT e as tonsilas (consideradas por alguns
autores como linfonodos).

LINFONODOS ou gânglios linfáticos - São estruturas encapsuladas em forma de feijão ou


arredondadas, localizadas nas junções dos trajetos linfáticos, principalmente no abdômen,
mediastino, axilas, pescoço e virilha. Normalmente medem de 1 a 25 mm, mas na infecção,
aumentam drasticamente de tamanho, a ponto de serem palpáveis (ínguas).

Funcionam como filtros do sistema linfático, capturando partículas estranhas, restos celulares da
linfa e tecidos intersticiais. Quando partículas invasoras ficam retidas nos linfonodos, que possuem
células imunológicas, os linfócitos T são “apresentados” aos antígenos e começam a produzir
substâncias que iniciam uma reação imunológica em cadeia, induzindo, por exemplo, a
multiplicação e o amadurecimento de milhares de linfócitos T e B, para defenderem o organismo e
produzirem anticorpos para debelar a infecção. Essa divisão desenfreada (expansão clonal) das
células imunológicas após uma infecção, faz com que os gânglios inchem e se tornem ínguas.

Geralmente o linfonodo que incha é justamente o mais próximo à área de entrada do patógeno.
Por exemplo, uma lesão no dedo da mão possivelmente gerará resposta num gânglio próximo ao
cotovelo ou às axilas.

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Quando um paciente faz mastectomia (retirada da mama) por causa de um tumor, é comum que
se faça também a retirada do ramo linfático e o linfonodo mais próximo da área afetada. Isso se dá
para minimizar o risco de metástase, ou seja, procura-se resgatar no linfonodo alguma célula do
tumor que porventura tenha se desprendido e ficado presa no gânglio linfático, antes de colonizar
outras regiões do organismo.

BAÇO - Trata-se de um órgão esponjoso, macio e de cor púrpura, quase do tamanho de um


punho e localizado na região superior esquerda da cavidade abdominal, logo abaixo das costelas,
que funciona como dois órgãos distintos: a polpa branca faz parte do sistema imune, filtrando
antígenos da circulação sanguínea e armazenando células brancas como os linfócitos B. Já a
polpa vermelha produz hematocaterese com o auxílio de macrófagos que “desmontam” plaquetas
e eritrócitos velhos ou defeituosos do sangue. O baço chega a destruir cerca de 2500 hemácias
por segundo!

Como o baço está localizado na parte superior esquerda do abdômen, um golpe forte sobre o
estômago pode rompê-lo, lacerando a cápsula que o recobre e o tecido interno. A ruptura do baço
é a complicação grave mais frequente de lesões abdominais causadas por acidentes
automobilísticos, por acidentes esportivos ou por agressões. Quando o baço rompe, um grande
volume de sangue pode extravasar para o interior da cavidade abdominal, tornando necessária a
realização imediata de uma cirurgia para a remoção do órgão e contenção da hemorragia
potencialmente letal.

Quando se remove o baço (esplenectomia), o corpo perde parte da sua capacidade de produzir
anticorpos e remover partículas bacterianas do sangue. Consequentemente, a capacidade do
corpo de combater infecções é reduzida. Após um breve período, outros órgãos (principalmente o
fígado) aumentam sua capacidade de combate às infecções para compensar essa perda e, por
essa razão, o risco de infecção não dura toda a vida.

Entretanto, antes e após a remoção do baço, são necessárias precauções contra a ocorrência de
infecções. Antes de uma esplenectomia eletiva, o indivíduo deve ser vacinado contra
pneumococos e após a mesma, é recomendável a vacinação anual contra gripe, por exemplo. A
antibioticoterapia profilática também pode ser indicada.

A principal diferença entre baço e linfonodos, é que o baço filtra sangue e não linfa.

TECIDO LINFÓIDE ASSOCIADO A MUCOSAS (MALT) – é um sistema difuso de pequenas


concentrações de tecido linfoide em várias partes do corpo. É o maior dos órgãos linfoides,
possuindo em si quase 80% de todos os linfócitos do organismo.

É composto principalmente por linfócitos T, que protegem as mucosas gastrintestinais,


respiratórias e urogenitais, por exemplo, que são algumas das partes mais vulneráveis do nosso
organismo para a entrada de patógenos.

No intestino, o MALT é denominado GALT (tecido linfoide associado ao intestino), no sistema


respiratório, é chamado BALT (tecido linfoide associado aos brônquios), NALT na área
nasofaríngea, SALT na pele, VALT nos vasos sanguíneos e CALT nas conjuntivas dos olhos. Além
desses tecidos, o MALT é encontrado também nas glândulas mamárias, salivares e lacrimais, nos
órgãos urogenitais e no ouvido interno e apesar de apresentarem características morfológicas
distintas em cada uma das áreas citadas, possuem diversas semelhanças entre si: todos tem o
papel de neutralizar e capturar antígenos que tentam invadir o organismo pelas mucosas,
impedindo a colonização de microrganismos. Os linfócitos B têm papel fundamental nesses
tecidos, pois secretam anticorpos do tipo IgA nas secreções desses locais.

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TONSILAS - As amigdalas palatinas (amídalas), as amigdalas orofaríngeas (adenoides ou carne
esponjosa) e as tonsilas linguais também estão estrategicamente localizadas na porta de entrada
de uma série de antígenos, tanto aéreos, quanto alimentares.

Funcionam mais ou menos como os linfonodos, (sendo inclusive consideradas como tal, por
alguns autores). Capturam antígenos e os apresentam aos linfócitos, que lá se multiplicam em
caso de infecções, tornando-as inchadas e doloridas.

As amídalas são cheias de buraquinhos, as criptas, onde se acumulam restos de alimentos, saliva
e bactérias que formam uma massinha amarelada chamada de caseum e que pode provocar mau
hálito e gosto ruim na boca, um sinal de amidalite crônica.

Antigamente era muito comum se extrair as amídalas e adenoides em quem tinha amidalites e
adenoidites recorrentes, mas hoje, tenta-se preservá-las ao máximo, já que constituem
importantes barreiras às infecções, só sendo recomendada a cirurgia em casos bem específicos.

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CÉLULAS IMUNOCOMPETENTES

As células do sistema imune são denominadas leucócitos (leukos em grego = branco). O número
de leucócitos no adulto normal é de 5.000 a 10.000 células por mililitro de sangue, mas nas
crianças esse valor é mais alto, justamente por não possuírem um sistema imunológico adaptativo
e a imunidade inata completamente desenvolvidos.

Leucopenia é quando o número de células brancas está abaixo dos níveis normais, e pode estar
associado a imunodeficiências e intoxicação por agentes químicos.

Leucocitose é quando o número destas células sobe acima do normal, e está frequentemente
associada às infecções recentes (podendo nesses casos chegar até 30000 células por mL). A
leucocitose que precede uma infecção é normalmente rápida, voltando aos níveis normais em
questão de 2 ou 3 dias.

Na leucemia, uma neoplasia das células brancas, a concentração de leucócitos aumenta muito,
chegando a 100.000/mm³, entretanto, apesar do volume aumentado, as células são imaturas e mal
formadas, conferindo ao paciente imunodeficiência grave.

Até a década de 1960, a leucemia não tinha cura e o paciente morria em até 6 meses após os
primeiros sintomas. O tratamento atualmente consiste principalmente de quimioterapia e de
terapias que combatem sintomas e complicações da doença, e é eficiente para cerca de 70% dos
pacientes.

Leucocitopoiese é o nome dado a origem e maturação de células brancas a partir de células


pluripotentes (células com alto poder de diferenciação). Todas as células do sangue originam-se
dessa célula-mãe comum, denominada célula-tronco hematopoiética, presente principalmente na
medula óssea.

Obs. Alguns livros grafam “poese” ao invés de “poiese”, sendo ambos equivalentes.

Essa célula pluripotente pode se diferenciar em três séries distintas, a linhagem mielóide, a
linhagem linfoide e a linhagem eritróide (essa última não está relacionada ao sistema imune, mas
sim à produção de eritrócitos).

LINHAGEM LINFÓIDE: é composta pelos linfócitos (Ly) que circulam pelo sangue e
pela linfa, além daqueles que se concentram nos órgãos linfoides. Os linfócitos são
frequentemente chamados de agranulócitos, pois não apresentam muitos grânulos em
seu interior como as células da linhagem mielóide. Os linfócitos são geralmente
esféricos, com diâmetro variável, núcleo arredondado e citoplasma escasso.

Basicamente existem três tipos de linfócitos, os linfócitos T, os linfócitos B, e os linfócitos grandes


granulares, também conhecidas por células NK (natural killer), ou células matadoras ou
assassinas naturais.

Os linfócitos T são produzidos na medula óssea, mas de lá saem ainda imaturos e migram para o
timo, onde se desenvolvem, amadurecem e adquirem funções que os diferenciam em linfócitos T
auxiliares (LyTh ou LT helper), linfócitos T citotóxicos (LyTc) ou linfócitos T supressores (LyTs).

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Os linfócitos Th são responsáveis pelo reconhecimento dos antígenos apresentados pelas
Células Apresentadoras de Antígenos (APC), os linfócitos B e os macrófagos.

São eles, que após reconhecerem esses antígenos iniciam a resposta imunológica, produzindo
citocinas que agem como fatores de crescimento celular e fatores de ativação celular, que
induzem outras células do sistema imunológico a se multiplicarem, amadurecerem e atuarem
contra a infecção.

Quando um LyTh reconhece um antígeno, duas respostas podem ser iniciadas. A resposta TH1
caracteriza-se pela produção de citocinas como IL-2, IFN-gama e TNF-beta, que promovem
ativação de macrófagos e de Linfócitos Tcitotóxicos, levando a extensa destruição das zonas
infectadas. Esse mecanismo é muito eficaz na eliminação de patógenos intracelulares. A resposta
TH2 caracteriza-se pela secreção de citocinas como IL-4 e IL-5, que estimulam a ativação dos
linfócitos B e a produção de anticorpos específicos. É muito eficaz contra organismos
extracelulares que circulam pelo plasma.

O HIV (vírus da imunodeficiência humana) infecta principalmente as células Th, apesar de haver
trabalhos que indicam a presença do vírus em menor quantidade, em outras células do sistema
imunológico. A importância desse linfócito no desencadeamento da resposta imune é tão grande,
que o paciente se torna imunodeprimido e perde a capacidade de se defender eficientemente
contra agentes agressores, ficando vulnerável às infecções oportunistas.

Os linfócitos T auxiliares possuem em suas membranas uma proteína chamada CD4, que pode
ser usada como marcador para a diferenciação dessas células de outros linfócitos. CD significa
“cluster differentiation”, que pode ser traduzido como “diferenciação de grupo”. Por esse motivo,
célula CD4 virou sinônimo de linfócito T auxiliar. O HIV utiliza essa proteína de superfície (CD4)
para aderir ao linfócito Th e inocular seu material genético para dentro da célula invadida.

Algumas citocinas produzidas e liberadas pelos LyTh induzem a multiplicação e a ativação dos
próprios LyTh, amplificando assim, a resposta imune contra um agressor. Alguns clones desses
Linfócitos T auxiliares ativados se transformam em LyTh de memória, permitindo uma reação mais
rápida do organismo no caso de um novo contato com o mesmo antígeno.

Os linfócitos T citotóxicos (LyTc) são responsáveis por reconhecer e destruir células tumorais,
células infectadas por vírus e as próprias partículas virais. Essas células possuem em suas
membranas um marcador de superfície chamado CD8.

Os LyTc são células capazes de destruir células que apresentam antígenos complexados com
proteínas de superfície do complexo de histocompatibilidade principal classe I (MHC-1) e células
portadoras de MHC-1 estranho (não-próprio) causando a rejeição de aloenxertos (transplantes).

Ao reconhecer células tumorais e infectadas por vírus, libera substâncias como as perforinas, que
produzem poros nas membranas das células alvo, a granzima, que induz apoptose da célula
infectada, o interferon gama, que interfere na replicação viral, ou ainda substâncias indutoras de
necrose nas células tumorais, os Fatores de Necrose Tumoral (TNF- alfa e TNF-beta).

Os linfócitos T citotóxicos virgens, que nunca entraram em contato com antígenos virais ou
tumorais, podem ser ativados pelas citocinas produzidas e liberadas pelos linfócitos T helper para
que se multipliquem e iniciem o ataque às células alvo.

Alguns clones desses Linfócitos T citotóxicos que participaram do ataque às células alvo se
transformam em LyTc de memória, permitindo uma reação mais rápida do organismo no caso de
um novo contato com o antígeno.

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Os linfócitos T supressores (LyTs) são responsáveis por limitar a resposta imunológica, ou seja,
produzem citocinas que servem como fatores de supressão sobre os linfócitos Th e B, regulando a
ativação dos mesmos.

Os linfócitos B são produzidos na medula óssea e de lá já saem amadurecidos e migram para a


circulação linfática e sistêmica e colonizam os órgãos secundários como linfonodos e baço.

Quando são estimulados por citocinas dos LyTh podem se multiplicar (expansão clonal) e ao
entrar em contato com antígenos podem se transformar em plasmócitos, que são células com o
citoplasma bastante volumoso especializadas em produzir grandes quantidades de anticorpos que
atuarão de diversas formas no combate ao agressor.

Os LyB, são Células Apresentadoras de Antígenos (APC) que possuem como


principal marcador de superfície o anticorpo IgM, que participa do complexo
receptor de antígenos. A apresentação dos LyB aos antígenos pode se dar
diretamente ou pela intermediação de macrófagos.

A IgM na superfície dos LyB se liga ao antígeno e internaliza carregando para


dentro o antígeno e o anticorpo complexados. Esse processo realiza diversas
modificações na célula, que se transforma em plasmócito, célula que possui
na sua ultraestrutura, Retículo Endoplasmático Granular (REG) e Complexo
de Golgi bastante desenvolvidos e o núcleo com aspecto de “roda de carroça”, transformando-se
em uma grande “fábrica” de imunoglobulinas.

Alguns clones desses Linfócitos B que foram ativados se transformam em LyB de memória,
permitindo uma reação mais rápida do organismo no caso de um novo contato com o mesmo
antígeno.

As células NK (natural killer) são consideradas assassinas ou exterminadoras naturais porque


destroem células tumorais e infectadas por vírus sem que estas expressem antígenos ativadores
da resposta imune específica. As células NK são capazes de reconhecer alterações que podem
ocorrer na superfície de células tumorais e células infectadas por vírus. Nesses casos, as células
NK conseguem se ligar às células alteradas e matá-las. Este tipo de reação na qual um linfócito
mata uma célula alvo é denominado citotoxicidade. As células NK também são capazes de
produzir o interferon gama (IFN-γ), que ativa macrófagos, aumentando sua capacidade
microbicida e inibe a replicação viral.

LINHAGEM MIELÓIDE - é formada por fagócitos (monócitos, macrófagos e


neutrófilos) e não fagócitos (eosinófilos, basófilos e mastócitos).

Ao engolfar uma partícula imunogênica, um fagócito produz um fagossomo, que se


funde com lisossomos que contém proteases e outras enzimas que normalmente causam a
destruição do imunógeno, criando um fagolisossomo.

Na realidade o termo “não fagócito” é impróprio, pois mesmo os “não fagócitos” têm a capacidade
de engolfar e destruir certos antígenos, porém com menor frequência e competência que os
“verdadeiros fagócitos”.

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Os fagócitos mononucleares são os monócitos, as células dendríticas e os macrófagos, que
têm como principal função fagocitar antígenos e apresentá-los aos linfócitos Th, portanto, são
Células Apresentadoras de Antígeno (APC).

Na medula óssea são formados promonócitos que se dividem formando monócitos que são as
células circulantes e que dão origem aos macrófagos (grandes comedores) e células dendríticas
que migram para os tecidos. Todas essas células apresentam frequentemente citoplasma
abundante, o núcleo arredondado, oval, reniforme ou em forma de ferradura. Possuem grande
capacidade de locomoção por emissão e retração de pseudópodes (falsos pés) e movimentos
amebóides.

Os macrófagos podem ser ativados por citocinas dos LTh, tornando-se mais “agressivos”,
liberando enzimas e produzindo radicais livres diretamente no foco da infecção.

Macrófagos secretam citocinas pirogênicas, que aumentam a competência dos leucócitos.

Obs. O bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis) tem a capacidade de infectar e permanecer vivo nos
macrófagos que foram enviados ao sistema respiratório justamente para destruí-los.

Nos diferentes tecidos os monócitos se tornam morfologicamente


diferentes e recebem nomes distintos, mas possuem basicamente a
mesma função fagocítica:

- Células da Micróglia – no SNC;


- Células de Langerhans – na pele;
- Células dendríticas – nos linfonodos
- Células de Kuppfer – no fígado;
- Macrófagos alveolares – no pulmão;
- Mesangio intraglomerular - no glomérulo de Malpighi renal;
- Macrófagos sinusais dos baço – nos cordões de Billroth da polpa
vermelha do baço.
- Macrófagos das serosas – no peritônio, pericárdio e pleura;
- Ostoclastos – nos ossos e maxilas.

As células de Langerhans quando são inativadas, reduzem suas organelas e diminuem o seu
metabolismo ficando em “estado vegetativo”. Estes histiócitos são responsáveis pela formação e
permanência das tatuagens, já que seu citoplasma fica repleto de pigmentos que foram
fagocitados.

Obs. Alguns autores consideram as células dendríticas da região subcortical dos linfonodos, da pele e do
sistema nervoso central como macrófagos, enquanto outros as consideram como uma linhagem a parte,
apesar de muitas semelhanças funcionais que apresentam.

O nome da célula dendrítica se refere a projeções ramificadas que se assemelham a galhos de


árvores. Estas células foram descobertas em 1968 por Paul Langerhans, enquanto estudava a
pele humana. Por sua aparência, o pesquisador achou que se tratava de células nervosas, mas
sua verdadeira função imunológica foi descoberta um século depois.

Além da pele, células dendríticas podem ser encontradas no sistema nervoso central, onde são
chamadas de micróglia.

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 11


O neutrófilo é um fagócito que possui núcleo polimórfico, geralmente trilobulado, mas
que também pode apresentar-se pentalobulado, com segmentos nucleares geralmente
unidos entre si por finos filamentos. Seu nome refere-se ao fato de ter afinidade por
corantes neutros (pH=7), diferente de outras células que se coram com corantes
alcalinos ou ácidos.

Por conter grânulos com substâncias mediadoras da reação inflamatória e imunológica, os


neutrófilos além de fagócitos também são considerados granulócitos polimorfonucleares (PMN),
mas sua principal função é a fagocitose de antígenos.

O neutrófilo é bastante sensível a agentes quimiotáxicos liberados por mastócitos, basófilos e pelo
sistema complemento e possui tamanho reduzido (até 12 microns) que o permite migrar facilmente
para fora dos vasos sanguíneos em direção aos tecidos infectados (diapedese). É um agente
piogênico, já que o pus é composto por pedaços de bactérias e seus metabólitos, sangue, mas
principalmente por neutrófilos mortos durante a “batalha” contra a infecção.

A leucocitose por neutrófilos (neutrofilia) pode indicar infecção bacteriana, já que são altamente
estimulados numa infecção deste tipo.

Os neutrófilos constituem 95% dos granulócitos polimorfonucleares (PMN), mas junto com
outras três células que contém grânulos em seus interiores (lisossomos) representam até 70% dos
leucócitos do sangue e são constantemente substituídos por células mais jovens, tendo uma vida
média de apenas 2 ou 3 dias.
Além dos neutrófilos, os eosinófilos, os basófilos e os mastócitos são PMN relacionados aos
processos alérgicos, por meio da desgranulação de substâncias dos seus lisossomos, como
resposta ao contato com alérgenos ou com citocinas específicas. Estes três PMN são chamados
“não fagócitos” porque apesar de serem capazes de engolfar antígenos, executam essa função de
forma secundária e tímida.

Os eosinófilos são células que quando coradas pelo corante universal


hematoxilina/eosina, apresentam grande afinidade pela eosina, ou seja, pelo corante
ácido, por isso, também são chamados acidófilos.

Frequentemente apresentam núcleo bilobulado, com segmentos unidos ou não por filamentos.
Têm como principal função a exocitose da PBM (proteína básica maior), que é uma substância
tóxica para parasitas humanos. A leucocitose eosinofílica (eosinofilia) é forte indicadora de
esquistossomose, ascaridíase, filariose, estrongiloidose, triquinose, toxocaríase, entre outras
tantas infecções parasitárias.

Os eosinófilos também estão presentes em reações alérgicas, principalmente porque basófilos e


mastócitos liberam fator quimiotáxico dos eosinófilos (ECF-A), que atrai eosinófilos até o foco da
alergia. No local da inflamação o eosinófilo procura inibir a reação alérgica liberando histaminase
e aril sulfatase B, que metabolizam a histamina (substância vasodilatadora) e o SRS-A
(“substância de reação lenta da anafilaxia”, um potente broncoconstritor), ambos liberados por
mastócitos e basófilos.

Os mastócitos têm como principal função armazenar e desgranular potentes


mediadores químicos da inflamação, tais como: histamina, heparina (coagulante),
fator quimiotáxico dos eosinófilos, serotonina (vasodilatador), fatores quimiotáxicos
dos neutrófilos e SRS-A (slow reacting substance of anaphilaxis – potente
brococonstrictor). É a principal célula responsável pelo choque anafilático,
deflagrado por alérgenos em indivíduos com predisposição à reação exacerbada aos mesmos.
Mastócitos sensibilizados, como o da figura ao lado, são cobertos por IgE específicas e
desgranulam facilmente quando entram em contato com os antígenos específicos. Mastócitos
Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 12
também estão envolvidos na resposta imune deflagrada por parasitas intestinais, causando morte
e expulsão dos mesmos.

Os basófilos levam esse nome porque apresentam afinidade pela hematoxilina que é
um corante básico. Tem função semelhante à dos mastócitos, possuindo
praticamente os mesmos mediadores químicos nos seus lisossomos e receptores de
IgE, participando de reações alérgicas da mesma forma que os
mastócitos. Além da estrutura morfológica diferente, a principal
diferença entre os dois granulócitos PMN está no fato dos basófilos
serem mais encontrados no sangue, enquanto mastócitos estão
concentrados nos tecidos conjuntivos. Por isso, sua participação no
choque anafilático (sistêmico) é bem mais grave que os mastócitos,
pois liberam os mediadores químicos diretamente na circulação. Os
basófilos contém granulações maiores e em maior quantidade que
as outras células brancas, de tal forma que frequentemente esses
grânulos mascararam o núcleo bilobulado.

O quadro ao lado apresenta algumas das substâncias existentes


nos grânulos lisossomiais das células da linhagem mielóide,
utilizadas, por exemplo, para destruir patógenos, promover
quimiotaxia de células brancas, ativar ou desativar outras células e
substâncias:

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Citocinas ou citoquinas são mediadores proteicos de baixo peso molecular que servem para a
comunicação entre células imunológicas. Geralmente têm meia vida curta, sendo produzidas e
liberadas imediatamente, em resposta a um estímulo, não ficando estocadas em grânulos. Sua
ação pode ser autócrina (ação sobre a própria célula que a produziu), parácrina (ação sobre
células vizinhas) ou endócrinas (ação sobre células distantes).

Citocinas podem exercer inúmeras funções, tais como: estimular a multiplicação (expansão clonal)
e o amadurecimento de células de defesa, estimular a morte de células alvo, estimular a produção
de substâncias necrosantes de células tumorais, estimulam a migração de células de defesa para
o foco da infecção, entre outras tantas. As citocinas são divididas em vários grupos: interferons
(IFN), fatores de necrose tumoral (TNF), interleucinas (IL), fatores estimuladores de colônia (CSF),
fatores de transformação de crescimento (TGF).

Interferons (IFN): grupo de glicoproteínas importantes na limitação da propagação de infecções


virais, inibindo a replicação viral através da degradação de RNAs mensageiros virais e inibição da
tradução de proteínas virais. Adicionalmente, os IFNs conferem resistência antiviral às células
vizinhas à célula invadida. Existem três tipos principais de interferon: alfa, beta e gama. Os IFN
alfa e beta são chamados interferons tipo I, são produzidos por células infectadas por vírus e
promovem maior resistência à infecção das células vizinhas, aumento de produção de enzimas
antivirais, aumento na expressão e na apresentação de peptídeos ao MHC classe I e estimulam os
linfócitos NK e linfócitos T citotóxicos. O IFN gama que é produzido por linfócitos Th, ativa
macrófagos, tornando-os mais eficientes e agressivos, promove inflamação, estimula a resposta
TH1 e inibe a resposta TH2 dos LTh.

Interleucinas (IL):
IL-1: produzida por macrófagos e células epiteliais, é pirógeno (produz febre, tremores, calafrios e mal-
estar); promove inflamação e ativa LTh, macrófagos e células tronco medulares.
IL-2: produzida por linfócitos Th, estimula a multiplicação e ativação de outros e do próprio linfócito Th
original e de linfócitos B.
IL-3: produzida por LTh e por células tímicas epiteliais, estimula a hematopoese.
IL-4: produzida por LTh e mastócitos, estimula a multiplicação de linfócitos B, promove a produção de
anticorpos e induz a resposta do tipo TH2 nos LyTh.
IL-5: produzida por linfócitos Th e mastócitos, estimula multiplicação e diferenciação de eosinófilos e a
produção de IgA e IgE.
IL-6: produzida por LTh e macrófagos, promove crescimento e diferenciação de LTh e LB, ativação de
células tronco e a produção de proteínas de fase aguda.
IL-7: produzida no estroma medular, promove maturação de linfócitos B e T.
IL-8: produzida por macrófagos, atrai LTh e neutrófilos para o foco da infecção.
IL-9: produzida por linfócitos Th, promove ativação de macrófagos.
IL-10: produzida por linfócitos Th, macrófagos e por vírus como o Epstein-Barr, reduz a resposta imune pela
inibição da produção de interferon-gama.
IL-11: produzida pelos fibroblastos do estroma medular, estimula hematopoese.
IL-12: produzida por LB e macrófagos, ativa LNK e induz resposta TH1 em LTh.
IL-13: produzida por linfócitos Th, promove crescimento e diferenciação de linfócitos B e inibe a ação de
macrófagos.
IL-14: produzida por LTh e LB, estimula crescimento de LB, inibe a síntese de Ig.
IL-15: produzida por LTh, ativa LNK, LTh, LTc, LB e macrófagos.

Fatores de Transformação de Crescimento (TGF): são citocinas particularmente importantes


nas reações inflamatórias e citotóxicas.

Fatores de necrose tumoral (TNF): citocinas produzida por monócitos/macrófagos (TNF-alfa) e


LT (TNF-beta), são tóxicos para células neoplásicas, ativam fagócitos e estimulam a resposta
citotóxica (TH1) dos LTh.

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Fatores Estimuladores de Colônia (CSF): estão relacionados com a divisão e diferenciação das
células-tronco na medula óssea e a formação dos precursores de leucócitos.

O quadro abaixo apresenta diversas células imunocompetentes e algumas das citocinas que
utilizam para produzir efeitos como: ativar ou desativar células, induzir expansão clonal de
linhagens específicas, induzir apoptose, induzir diferenciação e maturação, ou produzir quimiotaxia
numa resposta imunológica celular ou humoral.

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 15


Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 16
ANTICORPOS

Microrganismos, como bactérias e vírus, e certos corpos estranhos ao organismo, possuem


substâncias químicas capazes de serem reconhecidas por anticorpos específicos criados pelo
hospedeiro em resposta a uma exposição. Anticorpos são específicos, ou seja, aqueles
produzidos como resposta ao poliovírus ou à vacina SABIN, não reagem com outros vírus senão o
da poliomielite. Tais substâncias são chamadas antígenos (Ag).

Os anticorpos (Ac) ou imunoglobulinas (Ig) são proteínas produzidas pelos plasmócitos (Linfócitos
B ativados), que se ligam aos antígenos de forma específica, como chave/fechadura. Em outras
palavras, cada anticorpo tem capacidade de se ligar a um determinado “epítopo” para o qual foi
“desenhado”.

Epítopos são áreas das moléculas dos antígenos que se ligam aos anticorpos (sítio de ligação). A
resposta imunológica humoral na realidade é dirigida contra os epítopos do antígeno e não contra
a totalidade da molécula ou do microrganismo invasor. Os epítopos antigênicos que ocorrem na
natureza são geralmente formados por proteínas ou polissacarídeos de alto peso molecular.

O conjunto formado pela ligação Ag/Ac é chamado Imunocomplexo.

Os anticorpos podem ser encontrados livres no plasma, nos fluidos orgânicos, ou ligados à
superfície de células imunológicas como os linfócitos B, macrófagos e plasmócitos, permitindo sua
ligação aos antígenos específicos.

Alguns Linfócitos B que já foram ativados e participaram de uma resposta imunológica prévia se
transformam em Linfócitos B de memória, permitindo o pronto reconhecimento e a produção
imediata de anticorpos numa exposição secundária. A memória imunológica na produção de
anticorpos possibilita ao organismo defender-se contra uma invasão de forma tão rápida e
eficiente, que frequentemente impede o aparecimento de sinais e sintomas de uma doença na
exposição secundária. Isso é a base do processo de imunização decorrente de vacinações e de
“doenças da infância”, por exemplo.

Os primeiros anticorpos a aparecerem no soro, após uma


exposição primária a um antígeno, são do tipo IgM, para em
seguida se formarem anticorpos IgG, a medida que o nível de
IgM decresce.

Na exposição secundária, a principal espécie de anticorpo


produzido é o IgG, por isso, o IgG é conhecido como
anticorpo de memória.

Após sua produção pelo plasmócito, o IgG ainda permanece


estável e em níveis séricos elevados, por várias semanas, continuando a proteger o organismo de
uma possível reinfecção por muito tempo e permitindo estender essa proteção a um neonato que
porventura venha a nascer daquele organismo.

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Funções dos anticorpos:
As funções de um anticorpo são desencadeadas pela sua ligação ao epítopo de um antígeno
específico. Uma vez ligado a este, diferentes respostas podem acontecer, dependendo de
diversos fatores, tais como, a estrutura anatômica onde a resposta imunológica ocorreu, as células
imunocompetentes participantes, e o tipo de anticorpo envolvido no processo:

Inativação direta de toxinas por precipitação e aglutinação - Alguns anticorpos se ligam


diretamente aos venenos, peçonhas e toxinas que foram inoculados, ingeridos ou
produzidos no próprio organismo, anulando sua ação tóxica e facilitando seu
reconhecimento, captura e destruição pelo sistema imunológico.

Neutralização de vírus - Vírus circulantes também podem ser “neutralizados” por


anticorpos específicos que se ligam às moléculas que formam seu capsídeo e envelope
viral, impedindo que ele infecte uma célula e facilitando seu reconhecimento, captura e
destruição pelo sistema imunológico.

Receptores de superfície para APC (Células apresentadoras de antígenos) – Alguns


anticorpos (IgM e IgD) funcionam como receptores de superfície
para APC, permitindo que Linfócitos B e Macrófagos,
principalmente, reconheçam antígenos e apresentem-nos aos
Linfócitos Th.

Liberação de mediadores químicos - Mastócitos e basófilos


expressam receptores de alta afinidade para IgE.

A exposição a um antígeno específico, como proteína de pelo de gato,


causa agregação da IgE ao “corpo estranho” e promove
desgranulação de mastócitos e basófilos, que liberam mediadores
vasoativos, causando uma resposta inflamatória chamada
hipersensibilidade imediata.

Opsonização de fagos – Alguns anticorpos, chamados “opsoninas”, se ligam aos


microrganismos de tal forma que estes são mais facilmente reconhecidos e fagocitados
pelos fagócitos.

O pneumococo, por exemplo, possui uma cápsula que


“repele” fagócitos, mas quando opsoninas se ligam ao
polissacarídeo capsular do coco, ele é facilmente engolfado
por fagócitos.

O termo “opsonina termoestável” é usado para se referir


aos anticorpos, que resistem a temperaturas de até 56°C
por até 30 minutos.

Citotoxidade - Neutrófilos, eosinófilos, monócitos, macrófagos e especialmente linfócitos


NK, possuem a capacidade de destruir células revestidas com anticorpos.

Esse processo é chamado citotoxidade mediada por células dependente de anticorpo


(ADCC – antibody dependent cell-mediated cytotoxicity).
Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 18
Por exemplo:
Helmintos são relativamente resistentes ao ataque de neutrófilos, monócitos e macrófagos,
mas podem ser mortos por uma substância chamada “proteína básica principal (PBP)”,
presente nos grânulos de eosinófilos, e que é liberada quando esta célula reconhece IgE
agregada ao parasita.

Linfócitos NK, quando reconhecem uma célula revestida com IgG liberam citocinas como o
fator de necrose tumoral (TNF), que como o próprio nome sugere, causa a morte de células
mutantes, o interferon-gama, que atua sobre a produção de anticorpos e ativação de
macrófagos e a perforina, uma substância que perfura a membrana de células tumorais,
células infectadas por vírus e microrganismos, facilitando suas destruições.

Ativação do sistema complemento - Anticorpos participam da ativação da via clássica do


sistema complemento, que consiste de um conjunto de proteínas que interagem entre si,
produzindo amplificação dos fenômenos inflamatórios, participando da citotoxicidade contra
microrganismos, das reações mediadas pelos leucócitos polimorfonucleares (PMN), das
reações anafilactóides, dos fenômenos fagocitários e dos fenômenos secundários das
reações de hipersensibilidade.

Expansão clonal de linfócitos B – Existem milhões de linfócitos B virgens num organismo,


cada qual com anticorpos de superfícies específicos confeccionados para determinados
epítopos, determinados por milhões de combinações possíveis para a região hipervariável
do anticorpo. Todas as combinações possíveis são determinadas pelos genes.

Quando um linfócito B virgem reconhece um antígeno específico (forma imunocomplexo), ele


amadurece, se transforma em plasmócito e é clonado, principalmente sob a influência de citocinas
liberadas pelos LyTh.

Após algum tempo, a maioria dos clones morre, mas alguns permanecem vivos por anos como
células B de memória, o mesmo ocorrendo com outras células que sofreram expansão clonal no
processo, como os linfócitos Th.

Estrutura do anticorpo:
Os anticorpos são compostos por quatro cadeias
peptídicas distintas, duas cadeias laterais leves (LC –
Light Chain) e duas cadeias centrais pesadas (HC –
Heavy Chain), unidas entre si por pontes de dissulfeto,
que podem ser quebradas com substâncias redutoras
como o mercaptoetanol. Essas cadeias leves e pesadas
se entrelaçam de forma que o anticorpo assume o formato
aproximado da letra Y.

A papaína, uma enzima retirada da papaia, quebra os


anticorpos em três fragmentos, duas frações AB (Fab) e
uma fração C (Fc). A pepsina, uma protease de origem
animal, separa o anticorpo em duas frações, uma Fc e
uma Fab.

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A fração AB é responsável pela ligação do anticorpo aos antígenos específicos. Como cada
anticorpo reconhece um determinado antígeno (ligação tipo chave/fechadura), essa fração AB é
justamente aquela que contém as inúmeras combinações dos seus 110 aminoácidos terminais
do domínio hipervariável (V domain), que confere ao anticorpo especificidade contra uma
infinidade de antígenos existentes na natureza. Estima-se que existam de 2 a 10 milhões de
idiotipos (anticorpos diferentes), um para cada
epítopo específico. É essa porção hipervariável que
possui o sítio de ligação ao antígeno (antigen
binding site).

A fração C é responsável pela ligação do anticorpo a


células imunológicas e por deflagrar reações
imunológicas, como a ativação do sistema
complemento.

Essa fração C é bem mais constante que a


hipervariável (Fab), contendo pouca variabilidade na sequência de aminoácidos que a forma,
diferindo apenas nas diversas classes de imunoglobulinas (isotipos).

Cada linfócito B é capaz de produzir apenas um idiotipo dos milhões anticorpos possíveis e
cada um dos 5 isotipos diferentes.

Normalmente, linfócitos B que produzem anticorpos que reajam contra auto-antígenos (moléculas
do próprio organismo) sofrem apoptose antes de sair da medula óssea, ou seja, são destruídos
antes de causarem algum dano ao organismo.

Porém, em determinadas situações, um linfócito B pode produzir doença autoimune, fazendo


com que o próprio sistema imunológico seja responsável pela destruição de determinados tecidos.

Uma dessas situações é quando o epítopo presente em um antígeno de um microrganismo é


muito semelhante a uma molécula do próprio organismo, e após a exposição primária ao agente, o
organismo passa a destruir células próprias que apresentem epítopos semelhantes (reação
cruzada).

Classes dos anticorpos

A imunoglobulina pode apresentar-se sozinha na forma de monômero, ou em grupos de dois


(dímero) ou grupos de cinco unidades (pentâmero), dependendo de sua classe, da sua localização
no organismo e da sua função.

Basicamente existem 5 classes de imunoglobulinas (isotipos), que podem ser determinadas por
diferentes sequências de aminoácidos na fração C: IgM, IgG, IgE, IgA e IgD. Os nomes das
globulinas provém do nome das letras gregas que deram origem às mesmas: Mu, Gama, Épsilon,
Alfa e Delta.

IgM – É uma imunoglobulina presente na superfície dos linfócitos B


(forma monomérica) e no soro (forma pentamérica), também
denominada macroglobulina.

Compreende cerca de 10% das imunoglobulinas séricas dos indivíduos


adultos. Na prática, tem a capacidade de se ligar a cinco epítopos
antigênicos de peso molecular elevado. Normalmente não passa pela
placenta e somente aparece nas secreções e no líquor em condições
patológicas, infecções ou doenças autoimunes.
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É o primeiro anticorpo a ser formado pelo feto, ainda intra-útero, constituindo elemento essencial
na sua proteção contra vírus e bactérias. Utiliza-se a dosagem de anticorpos da classe IgM nos
recém-nascidos para se verificar se houve ou não infecções intrauterinas.

A IgM monomérica é a imunoglobulina predominante na superfície dos linfócitos B e também, o


anticorpo que se forma mais precocemente após uma primeira exposição a um antígeno (desafio
antigênico primário ou exposição primária), por isso, níveis séricos elevados deste costumam
indicar infecção recente. Os anticorpos contra vírus são predominantemente da classe das IgM.

Fato importante é que as isoaglutininas anti-A e anti-B são da classe das IgM, o que explica
porque os anticorpos do sistema ABO formados pelas mães raramente agridem as hemácias dos
fetos que apresentam fatores sanguíneos diferentes dos seus.

A peça J (Joint) é um polipeptídio que interliga as cadeias pesadas de IgM e IgA à outras
imunoglobulinas das mesmas classes, através do penúltimo resíduo de sistema das cadeias mu e
alfa.

IgG – É a imunoglobulina de maior concentração no soro, constituindo


aproximadamente 75% das imunoglobulinas presentes no plasma. Apresenta-
se sob a forma monomérica e divide-se em 4 subclasses: IgG1, IgG2, IgG3 e
IgG4.

O IgG é a única classe de anticorpos que atravessa a barreira placentária,


conferindo ao bebê imunidade natural passiva, mesmo antes da lactação.
Estes anticorpos são posteriormente catabolizados e ao fim do terceiro mês o recém-nascido
quase não mais apresenta IgG materno, mas o recém-nascido inicia a síntese de suas próprias
IgG logo após o nascimento.

Essa imunoglobulina também é conhecida como gamaglobulina e é o anticorpo que é mais


produzido na resposta imune secundária (a partir da segunda exposição ao mesmo antígeno).

A gamaglobulina policlonal (produzida por vários doadores) é frequentemente utilizada na


prevenção (imunoprofilaxia passiva) ou na atenuação dos sintomas de doenças como o sarampo e
a hepatite, ou ainda para reforçar as defesas do organismo em casos especiais de
imunodepressão, como em alguns tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Em todos os casos
o princípio é o mesmo: fornecer anticorpos prontos com a finalidade de proteger o paciente
evitando uma infecção ou aumentando suas chances contra uma infecção que já está presente,
para tanto, o medicamento deve ser produzido com o sangue de pelo menos 1000 doadores
voluntários e sadios, a fim de assegurar alta concentração e diversidade de anticorpos.

Anticorpos maternos contra o fator Rh pertencem à classe das IgG. Por isso, são capazes de
atravessar a placenta e de se ligarem às hemácias fetais, se estas contiverem o fator Rh,
causando a doença hemolítica do feto ou eritroblastose fetal, principalmente no segundo filho Rh+,
após uma resposta imune ocasionada pela exposição primária da mãe Rh- aos antígenos Rh do
primeiro filho, que geralmente acontece durante o parto.

A situação mais frequente dessa condição é quando com o deslocamento da placenta durante um
primeiro parto, acontece a passagem de pequenas quantidades de sangue do feto para a
circulação materna. A mãe Rh- passará a produzir anticorpos anti-Rh e se tornará sensibilizada a
esse antígeno.

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 21


Em uma próxima gestação, se a criança for novamente Rh+, os anticorpos IgG produzidos pela
mãe sensibilizada, irão passar para a circulação fetal, atacando suas células vermelhas,
hemolizando-as. Por isso, é chamada frequentemente de doença hemolítica do feto.
Por causa da hemólise maciça, a criança costuma apresentar anemia severa e o acúmulo de
grandes quantidades de bilirrubina, que a deixa com coloração amarelada (icterícia), chegando
muitas vezes a impregnar o sistema nervoso central (SNC), provocando lesões neurológicas
importantes (kernicterus).

Para compensar a anemia, a medula óssea passa a produzir e a liberar quantidades enormes de
eritrócitos imaturos nucleados, os eritoblastos, por isso, frequentemente chama-se a doença de
eritoblastose fetal.

Esse mecanismo de transmissão pela placenta é quase exclusiva de primatas, já que em outras
espécies, a placenta quase não permite a passagem das IgG: em cães e gatos passa pouquíssimo
IgG pela placenta e em ruminantes, equinos e suínos a placenta não permite a passagem de
anticorpos. Por isso, quando nascem, os filhotes são muito dependentes do colostro, e quando um
deles tem dificuldade para mamar, frequentemente morre em poucos horas.

IgA – É uma Ig que pode ser encontrada sob a forma monomérica (IgA sérica) ou dimérica nas
secreções externas (IgA secretora). Essa classe de anticorpo corresponde à aproximadamente
15% das imunoglobulinas.

A forma dimérica é a principal imunoglobulina presente em secreções como lágrima, colostro, leite
materno, suor, suco gástrico, saliva e muco, é a mais importante delas, por constituir importante
mecanismo de defesa aos neonatos e na proteção de portas de entrada de diversos antígenos,
tais quais os olhos, o sistema digestório, o sistema respiratório e o sistema geniturinário, por
exemplo.

Um outro papel importante da IgA intestinal é o de impedir que os antígenos dos microrganismos
da flora intestinal normal entrem em contato com nosso sistema imunológico, deflagrando reação
imunológica contra os mesmos.

As IgA diméricas são formadas pela união de duas IgA à peças J ou à peças transportadoras
(componente secretor), que é descrita à seguir:
As peças transportadoras ou secretoras são cadeias polipeptídicas ricas em
carboidratos, produzidas pelas células epiteliais, que se ligam às moléculas de
IgA, possibilitando a passagem deste anticorpo através das mucosas. A
deficiência da peça transportadora impede a ligação de duas ou mais moléculas
de IgA, que não conseguem passar pelos
epitélios e consequentemente não podem
desempenhar a sua função biológica.
Pacientes sem IgA secretora apresentam
frequentemente infecções oculares,
respiratórias e orais, dermatites fúngicas e
cáries.

IgE – Apresenta-se sob a forma monomérica, tendo como principal função a sua capacidade de
ligação a mastócitos e basófilos, por sua porção Fc, ativando a cascata de
eventos que leva à desgranulação dos mesmos, produzindo a liberação de
mediadores químicos como os leucotrienos, a heparina e a histamina, capazes
de produzir broncoespasmo, vasodilatação, aumento da permeabilidade
vascular, contração de músculos lisos e quimiotaxia (atração de outras células
inflamatórias), iniciando resposta inflamatória local (urticária e dermatites) ou
sistêmica (choque anafilático). Por esse motivo, essa imunoglobulina está
Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 22
relacionada às reações de hipersensibilidade (alergias). Razão pela qual é também chamada de
alergina ou reagina. Sua proporção relativa é de cerca de 0,004% das imunoglobulinas séricas,
mas em pacientes alérgicos pode estar até dez mil vezes mais elevada.

Desempenha também um papel importante na defesa contra parasitas intestinais, frequentemente


apresentando-se com níveis elevados nas infecções por helmintos como o Ascaris lumbricoides,
Taenia saginata, T. solium, ou protozoários como o Schistossoma mansoni.

IgD – Apresenta-se sob a forma monomérica, principalmente ligada à superfície


de linfócitos B (assim como os IgM), atuando principalmente como receptores de
antígenos. Sua concentração no soro é muito baixa e praticamente não varia em
caso de infecções.

Quadro esquemático com a formação, maturação e diferenciação de Linfócitos B em plasmócitos, geração células de
memória e produção de imunoglobulinas:

Quadro esquemático sobre a produção dos diversos isotipos de imunoglobulinas e suas principais funções

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Quadro esquemático sobre o reconhecimento de antígenos por fagócitos, apresentação de antígenos aos Linfócito Th,
diferenciação de Linfócitos B em plasmócitos e ativação de Linfócitos Tc em resposta às substâncias liberadas pelo
Linfócito Th, ação citotóxica do LyTc, produção de anticorpos pelos e de células de memória.

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Sistema complemento
É um importante mecanismo de defesa da imunidade inata do organismo de vertebrados e invertebrados, formado por
um conjunto de cerca de 30 proteínas termolábeis (sensíveis ao calor), presentes em grande concentração no
plasma (cerca de 4 mg/mL) e nos tecidos. Tais proteínas são produzidas principalmente por hepatócitos e
macrófagos, sob forma inativa, até que são ativados e exercem suas funções.

Três vias iniciam a cascata de ativação do sistema complemento: via clássica, via alternativa e via das lectinas.
Resumidamente podemos dizer que ao serem ativadas, enzimas do sistema complemento promovem clivagens
proteolíticas (quebra de proteínas) sequenciais (em cascata), ativando outras proteínas do sistema, culminando na
formação de um “complexo de ataque à membrana”, que ao se ligar à membrana plasmática das células-alvo,
causa lise osmótica das mesmas.
Ao mesmo tempo, alguns dos fragmentos produzidos pelo sistema complemento, levam à amplificação da resposta
imunológica, ao induzir: desgranulação de mediadores inflamatórios de granulócitos (mastócitos e basófilos),
opsonização de fagócitos (facilitação do processo fagocítico), quimiotaxia (atração de células imunocompetentes
para o foco inflamatório) e formação de células imunocompetentes (leucocitopoiese).
O sistema complemento é tão importante que alterações em alguns de seus componentes permitem infecções
recorrentes, doenças autoimunes como Lúpus Eritematoso ou doenças inflamatórias como angioedema e
glomeronefrite em seus portadores. Algumas deficiências do complemento chegam a ser incompatíveis com a vida,
produzindo a morte do portador ainda no útero ou nos primeiros dias de vida.
Observações:
Após clivagem das proteínas do sistema complemento, o pedaço maior dos peptídeos recém-formados é
sempre chamado “b” e o pedaço menor é chamado “a”.
O peptídeo maior sempre se fixa ao complexo e o peptídeo menor é liberado ao ambiente, com exceção do
fragmento C2a, que se fixa, enquanto C2b é o fragmento liberado.

VIA CLÁSSICA – inicia-se pela formação do imunocomplexo Ag/Ac e a ligação do componente 1 (C1) ao
imunocomplexo. O sistema é ativado apenas quando C1 se liga a um IgM (pentamérico) ou a dois IgG.

O complexo, agora formado por antígeno/anticorpo/C1, cliva componente 4 (C4) em C4a e C4b.
C4b se liga à membrana e atrai o componente 2 (C2).
C2 é clivado por C4b, em C2a e C2b.
C2a fixa-se ao complexo que se torna C4b2a, chamado de C3 convertase clássica.
A enzima C3 convertase cliva o componente 3 (C3) em C3a e C3b.
C3b, se liga à convertase, formando C4b2a3b, chamada C5 convertase clássica.

Ag + Ac + C1 -> C4b -> C4b2a -> C4b2a3b (C5convertase)

VIA ALTERNATIVA – é a principal via de ativação do sistema, ocorrendo sem a participação de anticorpos. Inicia
quando C3 sofre hidrolise espontânea, formando C3a e C3b.

Constantemente C3 se dissocia em seus dois fragmentos, mas esses são inativados rapidamente por enzimas
regulatórias, impedindo que promovam reação imunológica sem a presença de um imunógeno. Entretanto, algumas
membranas celulares com superfícies aceptoras, favorecem a ligação com C3b, “protegendo-o” da ação das
enzimas regulatórias, desencadeando a via alternativa do sistema complemento.
Obs. Alguns patógenos, células infectadas por vírus, células tumorais, células envelhecidas (apoptóticas) e células
estranhas ao hospedeiro apresentam superfícies aceptoras para C3b.

Após a ligação de C3b a uma superfície aceptora, um fator B se liga ao conjunto, e é clivado por um fator D,
formando a C3 convertase alternativa (C3bBb).

A enzima criada produz mais e mais C3b, que por sua vez, com o intermédio dos fatores B e D, formam mais e mais
C3b convertase, num processo chamado de “alça de amplificação” de formação de C3b.

A presença maciça de C3b, Bb e uma proteína chamada Properdina (P), formam um complexo (C3b)nBbP, que é a
C5 convertase alternativa.

C3b -> C3bBb -> (C3b)nBbP (C5convertase)

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VIA DAS LECTINAS –semelhante à via clássica, mas não tem a participação de anticorpos.
Inicia quando um complexo homólogo de C1, formado por proteína lectina ligante de manose (MBL - manose binding
lectin) e manoses serino-protease (MASP1 e MASP2) se ligam a polissacarídeos, contendo manose e N-acetil-
glicosamina (NAG), açúcares frequentemente presentes na superfície de bactérias, produzindo um complexo
enzimático que ativa sequencialmente C4, C2 e C3, culminando na formação de C5 convertase, exatamente como na
via clássica.
MASP1 + MASP2 + MBL -> C4b -> C4b2a -> C4b2a3b (C5convertase)

COMPONENTES TERMINAIS (eventos comuns a todas as vias de ativação do complemento):

A C5 convertase produzida por uma das 3 vias cliva o componente 5 (C5) em duas frações C5a e C5b.
C5b se liga à membrana da célula-alvo, dando início aos componentes terminais.
A ligação de C5b origina o complexo de ataque à membrana (MAC), ao unir-se aos C6, C7 e C8, formando C5b678,
um complexo anfifílico que penetra a bicamada lipídica, produzindo poros que permitem a entrada de água para o
interior da célula e a saída de íons e moléculas de baixo peso molecular. O MAC também é chamado “Complexo Lítico
de Membrana (CLM)”, ou Sistema de Ataque à Membrana.

Quando 9 a 12 unidades do componente 9 (C9) se juntam ao complexo (polimerização), formando C5b678(9)n, são
produzidos poros bem maiores, com até 10 nanômetros, permitindo mais entrada de água, favorecendo a ruptura da
membrana da célula-alvo (lise osmótica).

C5b + 6 + 7 + 8 + 9(9-12) = (MAC)

Outros efeitos do sistema complemento:


C4a e C5a são anafilotoxinas, ou seja, promovem desgranulação de granulócitos. Também são agentes
quimiotáticos, recrutando células imunocompetentes para o foco inflamatório (quimiotaxia) e ainda estimulam
a produção de anticorpos pelos linfócitos B, que possuem em suas superfícies receptores de complemento
CR2.
C3a faz tudo o que os dois anteriores fazem e ainda promove agregação plaquetária.
C3b, C4b e C5b, além de participarem da formação das C5 convertases, também são opsoninas, ou seja, se
ligam covalentemente a moléculas das superfícies dos imunógenos e aos receptores de complemento CR1
de neutrófilos e macrófagos, aumentando assim, a velocidade da fagocitose.
Bb inibe a migração de monócitos e macrófagos para o foco inflamatório.
C5b67, além de participar do MAC, também é agente quimiotático.
Alguns fragmentos do sistema complemento estimulam a formação e a saída de neutrófilos da medula óssea
e a expressão de receptores de complemento em neutrófilos.

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Assim, as principais funções do sistema complemento são:

1) Induzir a LISE OSMÓTICA das células-alvo e vírus envelopados.


2) Promover OPSONIZAÇÃO.
3) Amplificar a INFLAMAÇÃO por meio da desgranulação de peptídeos regulatórios da inflamação.

Eventualmente, o MAC se deposita em membranas de células saudáveis, que são metabolicamente ativas e bastante
resistentes ao acúmulo de eletrólitos e água, bombeando-os novamente para fora e restabelecendo o equilíbrio
osmótico, além de eliminar os MAC por exocitose. Esse método é muito utilizado por certos parasitas e células do
próprio organismo, que por acaso sejam “atacados” pelo MAC.
Outra estratégia das células humanas para evitar a lise é a produção de uma proteína de superfície chamada CD59,
que impede a polimerização de C9 e a formação dos grandes poros.

Além disso, algumas células humanas, como os fagos e as plaquetas, são ativadas quando o MAC se deposita em
suas membranas, e ao invés de sofrerem lise osmótica, respondem ao estímulo liberando no local da infecção:
prostaglandinas, leucotrienos, peróxidos, mediadores vasoativos e quimiotáxicos, entre outros tantos agentes
químicos, que participam do processo imunológico.

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INFLAMAÇÃO
A inflamação (flogose) é uma resposta do organismo a uma lesão, invasão ou agressão sofrida,
que permite a chegada de componentes de defesa, como células imunológicas, proteínas do
sistema complemento e anticorpos ao foco inflamatório. Deste modo, a inflamação não é uma
doença, mas sim um mecanismo importante de nossas defesas.

Diversas substâncias, os mediadores inflamatórios, participam do processo inflamatório, como


os eicosanoides e as aminas vasoativas, que são liberadas pelas células danificadas ou por
células imunológicas que chegam ao foco inflamatório, e que fazem aumentar o fluxo sanguíneo e
permitem o extravasamento de plasma no local.

Origem dos mediadores da resposta inflamatória (reação flogística):

Tecidos lesados e vasos rompidos fazem extravasar substâncias que ativam enzimas
que promovem o reparo do tecido lesado, opsoninas, mediadores vasoativos, fatores
quimiotáxicos e fatores algogênicos (que “produzem” dor).
Fagócitos liberam mediadores vasoativos que promovem vasodilatação e aumento da
permeabilidade vascular, além de fatores quimiotáxicos, que promovem diapedese de
células imunológicas em direção ao foco da inflamação.
O sistema complemento, que produz fragmentos peptídicos vasoativos, quimiotáxicos e
opsonizantes, além dos fragmentos peptídicos que atuam sobre granulócitos, que por sua
vez, liberam mais mediadores quimiotáxicos e vasoativos, amplificando a resposta
inflamatória.
A formação de imunocomplexos entre antígenos e anticorpos presentes na superfície de
mastócitos e basófilos (do isotipo IgE), que induz a desgranulação de mediadores
inflamatórios e quimitáxicos.

A lesão no tecido produz quatro sinais principais: rubor, calor, tumor e dor.

Rubor (vermelhidão) e calor produzidos pela dilatação de capilares e arteríolas aumenta o


fluxo de sangue para o foco inflamatório (hiperemia). Além disso, o aumento no
metabolismo celular local também contribui para o
aumento da temperatura no local.
Tumor (edema) pelo aumento na permeablidade das
vênulas pós-capilares, que deixa extravasar exudato
ou exsudato com as proteínas do sistema
complemento e os anticorpos para o foco da
inflamação.

Frequentemente, essa saída de plasma concentra o


sangue venoso local, fazendo com que o fluxo do
sangue diminua (estase), facilitando a saída de
leucócitos do vaso para o local agredido.

Dor causada pela pressão do edema sobre


terminações nervosas e pelo distendimento dos
tecidos no local e intensificada pela ação de mediadores químicos algogênicos, que
diminuem o limiar da dor, tornando os neurônios locais muito mais sensíveis e excitáveis
(hiperalgesia) do que normalmente.

Os processo envolvidos:

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1 – Aumento no calibre dos vasos (vasodilatação arteriolar):

Mediadores vasoativos relaxam a musculatura das arteríolas, que deste modo, dilatam, levando a
um aumento no fluxo sanguíneo que irriga o local.

2 - Aumento na permeabilidade vascular (ou venular):

É causado pela contração e afastamento das células endoteliais das vênulas, que formam “fendas”
ou “poros” nas paredes, como resposta a substâncias vasoativas.

Figuras: Acima, na primeira foto temos o endotélio vascular normal e na segunda, a formação de um “poro”
devido ao afastamento de duas dessas células.

Figura: Ao lado notamos um poro e uma elevação na parede da


vênula, causada pela presença de um leucócito em busca do
mesmo.

O aumento da permeabilidade venular permite a saída de


exudato (plasma) para o foco inflamatório, além de
células imunocompetentes, nutrientes, proteínas do
sistema complemento, células e proteínas para reparo do
tecido agredido e imunoglobulinas.

O exudato também auxilia a diluir as toxinas liberadas no


local, além de aumentar a drenagem linfática, a fim de
conduzir imunógenos ao linfonodo, onde serão
apresentados aos outros componentes do sistema imunológico, tais como linfócitos T e B.

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Migração dos leucócitos do vaso para o tecido adjacente ocorre em fases:

1 – Marginação, rolagem e adesão às células


endoteliais do vaso (pavimentação): Com a
vasodilatação e a perda de exudato, ocorre diminuição
transitória no fluxo sanguíneo (estase), permitindo a
migração dos leucócitos do centro para a periferia do
vaso (marginação leucocitária) e a adesão transitória
destas células às paredes por meio de proteínas
(integrinas, selectinas, moléculas de adesão intercelular e
moléculas de adesão vascular). Em seguida, estas rolam
até encontrarem um local adequado, onde realizam uma
fixação mais intensa (adesão).

2 - Emissão de pseudópodes (falsos pés) e diapedese: Aderidos fortemente às paredes e


próximos a uma fenda, os leucócitos emitem prolongamentos que “tateiam” a superfície dos vasos
na tentativa encontrar um poro por onde possam sair.

Quando encontram o mesmo, os leucócitos se “espremem” pela fenda passando de dentro para o
lado de fora do vaso (transmigração leucocitária ou diapedese).

3 – Migração por quimiotaxia: Depois que saem dos


vasos, as células “caminham” com movimentos
ameboides em direção ao foco inflamatório, atraídos
por mediadores químicos que estão sendo liberados no
local, obedecendo ao gradiente de concentração
dessas substâncias.

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Principais mediadores inflamatórios:

Durante o processo inflamatório, existem mediadores


de ação rápida (aminas vasoativas) e mediadores de
ação prolongada (substâncias plasmáticas e derivados
do ácido araquidônico).

Mediadores de ação rápida são liberados


imediatamente após o estímulo agressor, têm ação
principalmente sobre os vasos e envolvem o grupo das
aminas vasoativas (principalmente a histamina e a
serotonina). A histamina, por exemplo, originária do
próprio tecido agredido, de mastócitos ou de basófilos,
atuam sobre a parede vascular, promovendo vasodilatação e contração das células endoteliais,
mas não exerce quimiotaxia sobre leucócitos.

Mediadores de ação prolongada são liberados tardiamente diante da persistência do agente


flogístico. Atuam tanto nos vasos quanto nos mecanismos de quimiotaxia celular. Compreendem
dois grupos principais: substâncias plasmáticas e derivados do ácido araquidônico.

1 - As substâncias plasmáticas: são divididas em três grandes sistemas: o sistema das cininas
(plasmina e bradicina), o sistema complemento e o sistema de coagulação (fibrinopéptideos). São
mediadores mais tardios que as aminas vasoativas porque precisam chegar ao foco inflamatório
junto com o exudato. Portanto, depois que a inflamação já iniciou.

Plasmina: protease que quebra proteínas teciduais como fibrina, protrombina, e globulinas.
Sua forma inativa, o plasminogênio, é ativada por enzimas dos granulócitos, bactérias, tecidos
e plasma. Além disso, ela incrementa a permeabilidade vascular, provoca o surgimento de
fibrinopéptideos, libera outras cininas e atua sobre o sistema complemento.

Bradicinina: peptídio vasodilatador e aumentador da permeabilidade vascular. Atua em


terminações nervosas provocando diminuição no limiar da dor.

Sistema complemento: fragmentos formados pela ativação do sistema complemento agem


nas: permeabilidade vascular, vasodilatação, produção de derivados do ácido araquidônico,
fatores de adesão leucocitária, quimiotaxia e opsonização de fagócitos.

Fibrinopeptideos: produtos da transformação do fibrinogênio em fibrina ou da ação da


plasmina sobre essas duas substâncias, têm ação quimiotática e podem aumentar a
permeabilidade vascular, além de estimular a clivagem de C3, induzindo a ativação do sistema
complemento pela via alternativa.

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2 - Lipídios derivados do ácido araquidônico ou eicosanoides (prostaglandinas, prostaciclina,
leucotriênos e tromboxanos).

O ácido araquidônico (AA) [20:4(5,8,11,14)] é um ácido graxo eicosatetraenóico (20 carbonos e 4


insaturações), do tipo ômega 6, essencial, presente nos fosfolipídios das membranas das células.

Os seus derivados são produzidos pela ação de enzimas como a cicloxigenase (COX) e a
lipoxigenase (LOX), que metabolizam o ácido araquidônico, formando mediadores químicos que
participam das fases mais tardias da inflamação. Esses lipídios provocam, entre outras coisas,
contração das células endoteliais (aumento da permeabilidade vascular), vasodilatação,
quimiotaxia e potencialização da ação da bradicinina, além de uma série de efeitos biológicos não
relacionados à inflamação, como a produção de ácido clorídrico, a formação de coágulos e a
contração uterina.

Praticamente todas as células humanas produzem os eicosanoides, com exceção das hemácias e
apesar de serem chamados de mediadores de ação prolongada, os eicosanoides têm meia-vida
curta, sendo constantemente produzidos durante a manutenção do estado de inflamação ou de
seus outros efeitos biológicos.

Os principais eicosanoides produzidos pela LOX são os leucotriênos:

Os leucotriênos (principalmente o leucotrieno C) são potentes broncoconstrictores e estimulam a


secreção de muco no sistema respiratório. Na inflamação promovem vasodilatação, aumento da
permeabilidade vascular, expressão de moléculas de adesão no endotélio vascular, ativação da
COX, e quimiotaxia de polimorfonucleares (PMN), principalmente neutrófilos.

Os principais eicosanoides produzidos pela COX são as prostaglandinas, a prostaciclina


(prostaglandina I2) e o tromboxano A2:

Existem várias prostaglandinas e tromboxanos, e cada um deles promove ações bastante


diversas, muitas vezes antagônicas. Por exemplo, a prostaglandina E2 (PGE2) tem propriedades
broncodilatadoras, estimula o aumento da permeabilidade vascular, inibe a produção de ácido
clorídrico pelo estômago, estimula a produção de muco e bicarbonato na parede do estômago e
estimula a contração da musculatura do útero, enquanto promove o relaxamento da musculatura
do colo uterino. Já a prostaglandina D2 (PGD2), além de vasoativa é broncoconstrictora. Algumas
prostaglandinas, como a prostaciclina ou prostaglandina I2 (PGI2) apresenta efeito vasodilatador e
anticoagulante, inibindo a agregação plaquetária, enquanto o tromboxano A2 (TXA2) é
vasoconstritor e estimula a agregação de plaquetas, formando trombos ou coágulos.

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Outros mediadores inflamatórios importantes:

Quimiocinas e citocinas - proteínas produzidas por linfócitos, macrófagos, células endoteliais,


células epiteliais e células do tecido conjuntivo. Suas ações principais são: vasodilatação e
reações de fase aguda: febre, sudorese e anorexia.

Óxido nítrico (NO) - gás solúvel produzido por células endoteliais, macrófagos e alguns
neurônios. Suas ações principais referem-se: ao relaxamento do endotélio (vasodilatação) e à
destruição de microrganismos.

Fator ativador plaquetário (PAF) - fosfolipídio derivado das membranas de plaquetas, basófilos,
mastócitos, macrófagos e células endoteliais, cujos principais efeitos são:

Ativação e agregação plaquetária, vasoconstricção e broncoconstricção quando em altas


concentrações, vasodilatação e aumento da permeabilidade venular em baixas concentrações,
adesão leucocitária ao endotélio vascular, quimiotaxia, desgranulação de granulócitos e explosão
oxidativa (produção de radicais livres do oxigênio).

Radicais livres do Oxigênio - Produzidos principalmente por neutrófilos estimulados por agentes
quimiotáticos, imunocomplexos e macrófagos. Seus principais representantes são o ânion radical
superóxido (O2-), o peróxido de hidrogênio (água oxigenada – H2O2) e o ânion hidroxila (OH-), que
oxidam e destroem os agentes invasores e os tecidos.

A presença de pequenos níveis de radicais livres aumentam a expressão de citocinas e moléculas


de adesão, favorecendo a resposta inflamatória. Por outro lado, altos níveis dessas substâncias
provocam ativação de proteases (enzimas que degradam proteínas) e lesão celular, causando
necrose e sérios danos aos tecidos atingidos.

Constituintes lisossomais dos leucócitos – proteases que causam principalmente morte


bacteriana, potencialização dos efeitos inflamatórios e lesão tecidual.

Neuropeptídios - Seu principal representante é a substância P cujas ações são: aumento da


permeabilidade vascular, transmissão facilitada da dor, regulação da pressão sanguínea e
estímulo da atividade secretória de células endoteliais e imunológicas.

Principais fármacos com atividade anti-inflamatória:

Anti-histamínicos: bloqueiam a ação da histamina, principal mediador de ação rápida. Ex.


prometazina, dexclorfeniramina, cetirizina, fexofenadina, loratadina, terfenadina, etc.

Anti-inflamatórios não esteroides (AINES): inibem a produção de derivados do ácido


araquidônico (mediadores de ação prolongada): Ex. aspirina, dipirona, naproxeno, paracetamol,
ibuprofeno, diclofenaco, piroxican, indometacina, nimesulida, meloxican, celecoxib*, lumiracoxib*,
etoricoxib*, rofecoxib*, etc.

* Por inibirem seletivamente a COX2, essas substâncias diminuem a ação anticoagulante da PGI2
(prostaciclina), mas por não inibirem a COX1, não diminuem a ação agregadora de plaquetas do TXA2
(tromboxano A2). Com isso, no longo prazo elevam o risco da formação de trombos e placas de ateroma em
pacientes predispostos. São chamadas de drogas com efeito pró-trombótico.

Anti-inflamatórios esteroides, corticoides ou corticosteroides: Interferem na transcrição do


genoma celular, inibindo vários componentes imunológicos: sistema complemento, expansão
clonal, produção das imunoglobulinas, citocinas, citotoxinas, eicosanoides, cininas, desgranulação
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de granulócitos, ativação de leucócitos, e outras tantas ações inibitórias do sistema imunológico:
Ex. Prednisolona, prednisona, hidrocortisona, triancinolona, betametasona, dexametasona, etc.

Também interferem no metabolismo das gorduras, carboidratos e proteínas (favorecendo diabetes


e obesidade), na retenção de líquidos e eletrólitos (predispondo a hipertensão arterial), no
crescimento infantil, na resposta imune celular, na deposição de cálcio ósseo (estimulando a
osteoporose), e em muitos outros sistemas orgânicos importantes.

Anti-leucotrienos (antagonistas dos leucotriênos): drogas como montelucaste, pranlucaste e


zafirlucaste bloqueiam a ação dos leucotriênos sobre receptores da musculatura brônquica e das
células secretoras de muco do sistema respiratório, promovendo alívio nos sintomas da rinite e da
asma.

Inibidores da lipoxigenase (LOX): o zileuton é uma droga que inibe a formação de leucotrienos,
por bloqueio da enzima lipoxigenase. Com isso, obtém-se efeitos semelhantes aos dos anti-
leucotrienos em pacientes asmáticos.

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Antígenos, imunógenos e imunização

Imunogenicidade ou poder imunogênico é a capacidade de um agente ou substância


produzir resposta imune. Imunógenos são substâncias capazes de produzir resposta
imunológica humoral ou celular.

Antigenicidade é a capacidade de um agente reagir com anticorpos. Antígenos são


substâncias capazes de serem reconhecida por Linfócitos B e/ou Linfócitos Th e deflagrar
a produção de anticorpos.

Um vírus ou bactéria pode ter vários imunógenos e antígenos em suas estruturas, tais
como: proteínas, lipídeos e polissacarídeos que formam a parede celular, a membrana
externa, o capsídeo ou o envelope.

Anticorpos não interagem com o antígeno todo, mas apenas com uma parte chamada
epítopo ou determinante antigênico, que pode ser definido como a menor estrutura
capaz de interagir com anticorpos. Uma molécula antigênica pode possuir diversos
epítopos, cada qual com capacidade para interagir com um determinado idiotipo (anticorpo
específico).

O epítopo interage com o anticorpo, formando o imunocomplexo (Ag/Ac), cujas principais


características são:

- Reversibilidade – forças fracas reversíveis formam o imunocomplexo.


- Estabilidade – soma das forças fracas geram estabilidade ao imunocomplexo.
- Especificidade – anticorpos reconhecem epítopos específicos (chave-fechadura).

Requisitos para imunogenicidade:


Ser estranho ao organismo. O sistema imune é capaz de reconhecer substâncias
próprias (self) e trata qualquer outra estrutura como corpo estranho (não próprio).
Natureza química: Proteínas > Carboidratos > Lipídeos > Ácidos nucléicos
Complexidade da molécula: substâncias com sequências muito homogêneas
(repetição de unidades de aminoácidos, por exemplo) formam imunógenos mais
fracos que substâncias com composição mais variada.
Degradabilidade: imunógenos que são facilmente engolfados e degradados por
fagócitos são mais imunogênicos que agentes mais resistentes. Isso ocorre por que
os macrófagos são as principais células apresentadoras de antígenos (APC), e o
processo de apresentação envolve a quebra do imunógeno em fragmentos que são
conduzidos à superfície dos macrófagos e então apresentados aos Linfócitos Th.
Tamanho: quanto maior é o imunógeno, maior é sua capacidade para produzir
resposta imune. TAYLOR et alii (1987) consideram que o peso molecular de 10 KDa
representa o limite mínimo para produção de uma resposta imunogênica.

Haptenos são moléculas pequenas que não produziriam imunogenicidade sozinhas, mas
que podem se ligar a proteínas carreadoras e induzir uma resposta imune haptênica.

O interessante, é que quando os LyB reconhecem o conjugado hapteno/carreador, os


anticorpos produzidos a partir de então são capazes de se ligar ao hapteno isolado, sem a
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proteína carreadora. Ou seja, a partir de então, desenvolve-se memória imunológica contra
o hapteno original, e não contra o conjugado apenas.

Adjuvantes: Para melhorar a resposta imunológica frente a um imunógeno, algumas


substâncias podem ser adicionadas ao inóculo. Substâncias como os sais de alumínio
podem estimular uma maior migração de leucócitos ou a produção mais intensa de
citocinas, se administrados juntos a uma vacina, porém, frequentemente intensificam
também os efeitos adversos como febre e inflamação.

Além desses, diversos outros fatores concorrem para que um imunógeno seja
plenamente reconhecido pelo organismo, dentre eles, podemos citar:

Características genéticas (Existem milhões de idiotipos produzidos por combinações


do genoma, algumas substâncias são imunogênicas para alguns indivíduos, mas
não para outros – responsivos e não responsivos),
Presença de imunodeficiências genéticas ou adquiridas,
Estado nutricional (estados carenciais causam imunodeficiências),
Idade (as idades extremas são menos responsivas aos imunógenos),
Via de exposição ao imunógeno (Ex. vacina Sabin x Salk) e
Dose de exposição (dose infectante X tamanho do inóculo)

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IMUNIZAÇÕES

Vacina – Produto biológico que, administrado a um indivíduo, confere imunidade ativa contra
doenças infecciosas, devida à memória imunológica adquirida contra os epítopos dos antígenos
que foram inoculados.

Reforços: Algumas vacinas precisam ser dadas em doses seguidas, com um espaço de algumas
semanas ou meses entre uma e outra inoculação, para que produzam um índice de imunidade
mais adequado.

A vacina contra poliomielite de Salk, por exemplo, numa primeira dose imuniza menos de 70% das
pessoas que a utiliza, mas após a terceira dose de reforço, quase que a totalidade das pessoas
consegue produzir imunidade. Já a vacina de Sabin (a da gotinha), logo após a primeira dose,
consegue índices de eficácia que beiram a totalidade de pessoas imunizadas.

“Validade” da imunização: Como a memória imunológica reside na presença de linfócitos B e T


de memória, e estes podem morrer com o passar dos anos, a maioria das vacinas precisa ser
readministrada após um determinado período, que pode variar de poucos anos, até décadas. As
vacinas contra febre amarela e tétano, por exemplo, devem ser readministradas após um período
de cerca de 8 a 10 anos.

Reações de hipersensibilidade: Como muitas vacinas são produzidas a partir de vírus cultivados
em ovos de galinha, pessoas alérgicas aos componentes dos ovos devem procurar vacinas
alternativas, produzidas com outros métodos, tais quais as vacinas de DNA recombinante. Não é
incomum pessoas também apresentarem hipersensibilidade a conservantes, estabilizantes ou
outros adjuvantes da vacina.

Doença vacinal: Algumas vacinas podem causar a própria doença para as quais foram
desenvolvidas em uma parcela da população. A vacina Sabin, por exemplo, causa 1 caso de
poliomielite para cada duas milhões de crianças imunizadas, já a vacina Salk, não apresenta
nenhum risco de causar poliomielite entre os imunizados.

Facilidade de administração: Vacinas que podem ser dadas por boca têm a vantagem de poder
ser administrada por pessoal não especializado, o que as torna especialmente importantes em
campanhas de imunização, como as contra a poliomielite e contra o rotavírus, que requerem que a
vacina seja enviada para locais sem infraestrutura ou profissionais de saúde. Entretanto, essas
vacinas não podem ser utilizadas por pessoas que estejam apresentando vômitos ou diarreia, sob
o risco de não produzirem efeito.

Pessoas imunizadas por boca, frequentemente ajudam a promover ampliação da cobertura vacinal
ao propagarem o vírus vacinal na comunidade do entorno, principalmente nas comunidades mais
carentes, onde as pessoas vivem em condições mais precárias, sem saneamento básico, e que
normalmente apresentam mais dificuldade de acesso aos postos de saúde.

Isso ocorre porque parte dos vírus inoculados por boca são lançados no ambiente, junto com as
fezes, onde continuam viáveis, imunizando pessoas pela contaminação oral-fecal. No caso da
vacina Sabin, por exemplo, uma criança imunizada contra poliomielite continua liberando vírus no
meio por aproximadamente 2 semanas após a vacinação.

Cobertura vacinal: Uma ampla cobertura vacinal é muito importante para que se obtenha
“imunização de rebanho”. Quando uma grande proporção da população se torna resistente a
uma doença, a probabilidade do agente infeccioso ser transmitido de um portador a um suscetível
se torna baixa e a doença tende a desaparecer, mesmo quando a cobertura vacinal não chega a
100%.
Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 38
Doenças concomitantes: Quando uma pessoa está com determinadas doenças
infectocontagiosas, como a gripe, recomenda-se que não use vacinas. Isso porque seu sistema
imunológico estará muito ativo naquele momento, podendo diminuir a eficácia da imunização.

No entanto, em determinadas condições, como uma epidemia, o risco de uma pessoa contrair uma
doença mais grave pode ser motivo para se recomendar a imunização da mesma, mesmo que
haja o risco de ter sua eficácia diminuída.

Uso de várias vacinas: O uso de diversas vacinas ao mesmo tempo aumenta a chance de
reações adversas e reações de hipersensibilidade, além da possibilidade de diminuição da eficácia
das mesmas. Recomenda-se um período mínimo de 3 a 4 semanas entre cada imunização.

Alguns profissionais de saúde e veterinários costumam insistir que a administração de diversas


vacinas no mesmo dia não oferece quaisquer riscos ou desvantagens sobre dar as mesmas
vacinas em dias separados, mas tais profissionais não costumam ser isentos de interesse para
fazerem tais afirmações.

Entretanto, há que se comentar que algumas combinações, protestadas, realmente imuniza contra
várias doenças de uma só vez, promovendo baixo incremento de risco e baixa diminuição na
eficácia. Por exemplo, a vacina tríplice bacteriana (DTP), que imuniza ao mesmo tempo contra
difteria, pertussis (coqueluche) e tétano, a tríplice viral, que é preparada a partir de vírus vivos
atenuados de sarampo, caxumba e rubéola, a vacina Pentavalente (contra Difteria, Tétano,
Coqueluche, Hemófilos e Poliomielite) ou a vacina Hexavalente (contra as mesmas doenças da
pentavelente, mais a Hepatite B).

Outro fator que se deve levar em conta na associação de vacinas é que apesar dos riscos
aumentados, pode ser interessante aproveitar uma campanha para imunizar contra várias doenças
de uma só vez, já que dificilmente se conseguiria a adesão das pessoas se tivessem que voltar a
cada 3 ou 4 semanas ao posto de saúde para uma nova vacina.

Tipos de vacinas:

a) Vacinas de microrganismos vivos atenuados são feitas com culturas de micróbios vivos com
virulência diminuída por agentes físicos, como a luz ultravioleta, produtos químicos, como a
betapropilactona, ou mais frequentemente, com a inoculação repetida do microrganismo em ovos
embrionados ou em tecidos animais, como células renais de porco ou de hamster.

Esse tipo de vacina costuma ter eficácia alta, produzindo imunidade numa grande proporção da
população exposta, mesmo após uma única dose, entretanto, tende a produzir doença vacinal e
reações indesejáveis, como febre e dor em algumas pessoas.

A vacina Sabin contra a poliomielite, por exemplo, produz casos raros de paralisia, de 4 a 40 dias
após a administração da vacina, em uma a cada 2 milhões de doses aplicadas. Por isso, essa
vacina é inadequada para populações de onde a doença não existe.

Outra coisa a se levar em conta é que o risco da Sabin produzir doença vacinal em
imunodeprimidos é 7000 vezes maior que na população geral, por isso, regra geral, as vacinas
de agentes vivos atenuados devem ser evitadas em pessoas com imunodeficiência adquirida ou
congênita, exceto HIV positivos.

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 39


Pelo mesmo motivo, pessoas sob efeito de corticosteroides, imunossupressores e/ou radioterapia
só devem ser vacinadas após três meses da suspensão da terapêutica.

São exemplos de vacinas de microrganismos atenuados a vacina antipoliomielítica tipo Sabin, a


vacina contra Sarampo, vacina contra Rubéola, a vacina antirrábica de Pasteur, vacina contra
febre amarela e a vacina antituberculosa (BCG).

b) As vacinas de microrganismos mortos ou inativados são preparadas com culturas de


microrganismos mortos por agentes físicos como o calor ou por substâncias químicas como o
formol. Tais microrganismos não podem causar doenças, mas seus produtos antigênicos ainda
são capazes de provocar imunidade no indivíduo que os recebe.

Esse tipo de vacina, apesar de muito seguro, costuma apresentar menor eficácia, ou seja, imuniza
uma proporção menor de usuários e por um período mais curto, que as vacinas de agentes
atenuados, necessitando de mais doses para atingir um resultado satisfatório.

A vacina contra poliomielite é um exemplo disso: em regiões onde a pólio é endêmica, a vacina de
Sabin, apesar de menos segura, oferece maior proteção à população, poupando vidas. Mas onde
a doença está erradicada, produzir a morte de algumas crianças por reação vacinal passa a ser
inaceitável, por isso, prefere-se a vacina Salk, de vírus inativado “morto”.

No Brasil, apesar da poliomielite ter sido erradicada há décadas, a imunização ainda se dá pela
Sabin, o que é justificado pelas autoridades de saúde pela facilidade de aplicação, pelo custo e
pela imunização indireta que confere por contaminação oral-fecal, nas populações menos
favorecidas.

São exemplos de vacinas de microrganismo inativado: a vacina contra a coqueluche C, a vacina


antipoliomielítica tipo Salk e a vacina anticolérica.

c) As vacinas à base de toxina modificada (anatoxina) são feitas a partir de filtrados de cultura
microbiana, contendo apenas as toxinas, e não o do patógeno em si.

Esse tipo de vacina é muito seguro porque não contém o agente microbiano, mas frequentemente
necessita vários reforços para produzir eficácia adequada e a imunização costuma ter duração
curta. Algumas pessoas podem ainda apresentar reação exacerbada contra a toxina inoculada, o
que requer atenção do profissional de saúde.

São exemplos: a vacina antitetânica e a vacina antidiftérica

d) As vacinas de DNA recombinante são produzidas por engenharia genética.

De forma resumida, genes do patógeno são isolados e clonados por tecnologia de biologia
molecular. Esse gene é introduzido em um microrganismo não patogênico (normalmente o
Saccharomyces cereviesae). O microrganismo transgênico passa então a produzir e secretar a
proteína do gene clonado em larga escala (cultivo em tanques, como os de cerveja), este produto
é então purificado e utilizado na produção da vacina.

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Com relação à eficácia, esse tipo de vacina costuma ser semelhante à vacina de toxina
modificada, mas como são utilizados microrganismos não patogênicos para a produção dos
antígenos do patógeno, ela chega a ser mais segura que todas as vacinas anteriores.

Como os microrganismos podem ser cultivados em tanques com caldo nutritivo, e não em ovos de
galinha, esse tipo de vacina constitui alternativa às pessoas alérgicas e para a produção de
quantidades imensas da vacina em curto período e baixo custo.

As vacinas para Hepatite B, disponíveis no Brasil, são produzidas por tecnologia de DNA
recombinante e vêm apresentando altos índices de segurança. Entretanto, é necessária uma série
de 3 doses para induzir resposta adequada em cerca de 90% dos adultos e 95% dos lactentes,
crianças e adolescentes.

Obs. Método semelhante é usado para produzir insulina humana e hormônio do crescimento de
forma segura e barata. Ou seja, clonam-se os genes humanos dessas proteínas e os introduzem
em microrganismos não patogênicos, que passam a produzi-las em escala industrial.

Datas de introdução de algumas das principais vacinas humanas:

1798 Varíola
1885 Raiva
1897 Peste
1923 Difteria
1927 Tétano e tuberculose
1935 Febre amarela
1955 Polio injetável (VIP)
1962 Polio oral (VAP)
1964 Sarampo
1967 Parotidite (caxumba)
1970 Rubéola
1981 Hepatite B

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Vacinas importantes e a história das imunizações

VARÍOLA: Acredita-se que a varíola tenha surgido há


mais de três mil anos, na Índia ou no Egito. De lá para
cá, se espalhou pelo mundo, causou inúmeras
epidemias, aniquilou populações inteiras (como
diversas tribos de índios brasileiros) e mudou o curso
da história.

Marcas da doença foram encontradas na múmia do


faraó Ramsés II, além de atingir personagens
importantes da história ocidental, como a rainha Maria
II da Inglaterra, o rei Luis I da Espanha, o imperador
José I da Áustria, o rei Luis XV da França, o ditador
romano Marco Aurélio, o imperador asteca Ciutahuac,
os filhos, o rei e a rainha do Ceilão, William II da
Holanda e sua esposa Henrietta, o imperador
Ferdinando IV da Áustria, o imperador Gokomyo do
Japão, o imperador Fu-lin da China, o rei Nagassi da
Etiópia, o imperador Higashiyama do Japão, o Czar
russo Pedro II, além das cerca de 400 mil pessoas por
ano, no final do século 18, na Europa.

No século 18 poucas pessoas ultrapassavam a juventude sem contrair varíola e estima-se


que a taxa de mortalidade situava-se em
torno de 40%.

Em algumas regiões a letalidade era tão


grande, que as crianças só recebiam nomes
após contraírem a doença, se sobrevivessem.

Muitos dos que não morriam, carregavam


cicatrizes profundas no rosto, e até perdiam a
visão. Num relato do Vietnã, estimam-se que
em 1898, 95% dos adolescentes carregavam
marcas da doença e 90% das cegueiras eram
atribuídas à moléstia.

No século 18, a mulher de um embaixador


inglês, Lady Mary Montagu, observou em
Istambul, que a varíola podia ser evitada
introduzindo o líquido extraído de uma crosta
da pústula de varíola de um indivíduo
infectado na pele de indivíduos sãos, num
método conhecido por “variolação”, que
segundo relatos, teria originado na China,
onde cascas das feridas de varíola eram
secas e trituradas, e o pó assoprado nas

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 42


narinas, por meio de um canudo de bambu. Esse método produzia bons resultados em
muitos dos inoculados, mas também era responsável por causar morte em
aproximadamente 2% daqueles que se submetiam a ele e deformações em tantos outros.

Após as observações de Lady Mary, o método foi trazido para a Europa Ocidental e de lá
para a América do Norte, onde apesar de provocar incontáveis casos de morte, foi
largamente utilizado, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, até que vieram a
público as investigações do médico inglês Edward Jenner, publicadas em 1798.

Na região de Gloucestershire, na Inglaterra, onde Jenner nasceu, o gado era


frequentemente acometido por uma doença chamada varíola da vaca, “vaccinia” ou
bexiga vacum, que apresentava semelhança com a varíola humana.

A varíola da vaca era causada pelo Poxvirus officinale, aparentado ao vírus da varíola
humana (Orthopoxvirus variolae) e as vacas acometidas apresentavam pústulas no ubre,
que frequentemente contaminavam as pessoas que as ordenhavam, que manifestavam
nas mãos lesões parecidas com a da varíola, mas que desapareciam espontaneamente
após alguns dias.

Como o próprio Jenner havia sofrido aos 8 anos de idade a imunização por “variolação”
com o vírus da varíola humana, e principalmente porque durante o início de seus estudos
em medicina, em Sodbury, ele ouvira uma tratadora de gado dizer com extrema confiança
que as feridas que tinha na pele não se tratava de varíola como os médicos
desconfiavam, porque já havia pego vaccinia na infância, o médico resolveu investigar a
crença dos camponeses de que a varíola da vaca protegia contra a varíola humana.

Inicialmente Jenner inoculou a doença da vaca em seu próprio filho, que desenvolveu no
local da inoculação apenas pústulas moderadas por cerca de duas semanas. Meses
depois, o médico arranhou e esfregou a pele de seu filho com secreções retiradas das
feridas de um paciente com varíola, mas não percebeu a formação de reação ou ferida
decorrente da infecção.

Certo de que havia descoberto um meio eficaz de imunização, Jenner repetiu a


experiência com arranhões nos braços de Jacobo Phipps, um rapaz de 8 anos saudável,
que nunca havia contraído varíola ou vaccinia, com a linfa retirada de uma vesícula da
mão direita de uma camponesa portadora de vaccinia, chamada Sara Nelmes, que havia
contraído a doença ao ordenhar uma vaca chamada “Blossom” (botão de flor).

O rapaz teve sintomas benignos e posteriormente foi inoculado com vírus da varíola
humana, que fora retirado das pústulas de outro paciente, sem, entretanto, desenvolver a
doença.

Dessa experiência, Jenner escreveu um artigo detalhado que foi sumariamente rejeitado
pela academia de ciências da Sociedade Real.

Posteriormente, Jenner voltou a escrever e publicou por conta própria um manuscrito


intitulado: “An Inquiry into the Causes and Effects of the Variolae Vaccinae, a Disease
Discovered in some of the Western Counties of England Particularly Gloucestershire, and
Known by the Name of Cowpox” (um estudo sobre as causas e efeitos da Variolae

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 43


Vaccinae, uma doença descoberta em alguns dos condados do oeste da Inglaterra,
particularmente Gloucestershire, e conhecida pelo nome de varíola da vaca).

Jenner passou então a usar o vírus da vaccinia em adição à técnica de variolação que já
existia, produzindo uma imunidade bastante alta, mas com mortalidade muito inferior
àquela do vírus da varíola humana.

As primeiras inoculações eram feitas diretamente através da pele, utilizando fragmentos


das pústulas de um paciente em outro, que se comprometia a voltar à clínica alguns dias
depois para doar secreções e fragmentos de pústula para a imunização de outros.

Somente no século 19 é que o processo popularizou e tomou maiores dimensões, com a


cultura do vírus na pele de bezerros, que podiam ser usados para várias inoculações ao
mesmo tempo, além de transportado para várias localidades. Esta técnica teve início na
América do Norte em 1800.

Em 1805, Napoleão Bonaparte ordenou a vacinação de todos os soldados franceses, o


que tornou a prática mais conhecida e aceita no mundo todo.

Entretanto, um ano antes, em 1804, a vacina já havia chegado ao Brasil por iniciativa do
Barão de Barbacena, que enviou cinco escravos à Lisboa para serem imunizados com
vaccinia, que posteriormente voltaram para o Brasil inoculando a vaccinia um a um, de
braço a braço. Quando os escravos chegaram ao Rio de Janeiro, a vacinação continuou
de braço em braço, usando material de uma pessoa para inocular outra, por décadas.

Somente em 1887, graças a Pedro Afonso Franco, diretor da Santa Casa de Misericórdia,
o Brasil começou a produzir a vacina em bezerros, dentro de laboratórios do próprio
hospital, aumentando a capacidade de imunização dos brasileiros.

O episódio histórico mais marcante


ocorrido no Brasil envolvendo a
varíola se deu no ano de 1904,
com a Revolta da Vacina.

Indignada com a lei proposta pelo


médico Oswaldo Cruz, que tornava
obrigatória a vacinação contra a
varíola, e estimulada pela
imprensa carioca, a população
promoveu vandalismo pela cidade
do Rio de Janeiro, provocando
estado de sítio e uma insurreição
militar, que quase derrubou o
Presidente Rodrigues Alves.

Bonde virado em virtude de protestos gerados pela lei


que tornava a vacinação contra a varíola obrigatória

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 44


Já em meados do século 20, a OMS instituiu um programa internacional que pretendia
erradicar a varíola no mundo. O programa foi um sucesso e em 1977 registrou-se o último
caso natural da doença na Somália, seguido de outro ocorrido em Londres, no ano
seguinte, devido a um acidente: em julho de 1978, Janet Parker, uma fotógrafa científica,
que trabalhava na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, contaminou-se
acidentalmente com o vírus e morreu em 11 de setembro.

Poucos dias depois, o Dr. Henry Bedson, responsável pelo laboratório que ficava logo
abaixo da sala escura onde Janet revelava seus filmes no mesmo edifício, se suicidou por
se sentir culpado pela morte da fotógrafa e de seu pai, que sofrera um ataque cardíaco
diante do leito da filha enferma e pelo adoecimento da mãe (posteriormente curada) da
fotógrafa, que com 70 anos contraiu a varíola durante uma visita à sua filha.

Nas Américas, os últimos registros de varíola vieram do Brasil, onde alguns casos foram
notificados em abril de 1971, no bairro de Olaria, no Rio de Janeiro e dois anos depois, a
doença foi declarada erradicada do continente.

Em 1980, após inúmeras verificações, a OMS finalmente declarou a doença extinta no


mundo e pediu para que os laboratórios de todos os países destruíssem suas amostras
do vírus. O pedido foi atendido por quase todos os países, menos pelo laboratório do
Centro de Controle de Doenças (CDC) de Atlanta, nos EUA e pelo Instituto Vector da
Rússia, últimas instituições com estoques declarados do Orthopoxvirus variolae.

A partir da declaração de erradicação da doença no mundo o governo brasileiro parou de


imunizar contra a varíola, já que havia muitos anos nenhum caso era notificado no país ou
em seus vizinhos e a própria imunização produzia sequela e morte em algumas crianças.

O adjetivo latino vaccina (de vaca) foi adaptado a praticamente todos os idiomas: inglês
(vaccine); francês (vaccin); alemão (vakzine); espanhol (vacuna); italiano (vaccino); e em
português (vacina), que passou a designar todo inóculo antigênico.

POLIOMIELITE: Cerca de cinquenta anos atrás (1954), o cientista americano Jonas Salk
produziu a primeira vacina contra a poliomielite, doença também chamada de paralisia
infantil.

um dos mais famosos doente de pólio foi o presidente


americano Franklin Delano Roosevelt, que a contraiu após a
idade adulta, aos 39 anos de idade, em 1921. A história de
sua força de vontade para superar a doença pode ser vista no
filme Warm Springs, produzido em 2005.

Na época em que viveu Roosevelt, os EUA haviam passado


por diversas melhorias: as principais cidades já tinham
saneamento básico, o que protegeu muitos americanos da
exposição ao vírus e à doença, mas que também não permitiu

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 45


que os mesmos se tornaram imunes a ele na infância.

Com o acúmulo de suscetíveis, houve naquele período uma série de epidemias de


poliomielite acometendo indivíduos de todas as idades (a pólio normalmente só acomete
crianças).

O fato interessante desse episódio, é que o vírus da poliomielite apesar de se espalhar


com muita facilidade na população (alta infectividade), produz doença em uma parcela
muito pequena da população infectada (baixa patogenicidade), tornando a maior parte da
população naturalmente imunizada.

Porém, numa população adulta suscetível, a patogenicidade é maior, fazendo com que a
doença ocorra em uma parcela maior dos indivíduos infectados. Além disso, os sintomas
em adultos doentes costumam ser mais severos que nas crianças (maior virulência).

Outro doente famoso foi o imperador romano Claudius, que sofreu paralisia numa das
pernas, ainda na infância, e desde então passou a “Claudicar” (mancar).

Até os anos 50, a poliomielite representou uma praga terrível.


As epidemias eram frequentes e provocavam pânico na
população, até que Salk (na foto ao lado), desenvolveu uma
vacina eficaz, obtida com vírus mortos.

Outro cientista, Albert Sabin (foto abaixo), vinha de uma


escola antagônica de pesquisa de vacinas, que como
Pasteur, acreditava que para produzir imunidade permanente
era necessária a criação de uma leve infecção, mediante o
uso do vírus vivo, com virulência atenuada, ou seja, com
baixa capacidade para produzir sintomas graves.

A vacina injetável de Salk foi testada pela primeira vez


em 1952, e dois anos depois, Salk e um colega
iniciaram a vacinação em massa na maior experiência
médica realizada nos Estados Unidos. Foram
vacinadas mais de um milhão de crianças, entre 6 e 9
anos, parte com vacina e parte com placebo. O
resultado foi excelente.

A vacina de Sabin, com vírus vivo, de administração


por via oral, ficaria pronta apenas em 1961, mas
demonstrou produzir imunidade superior e mais
prolongada que a de Salk.

Graças às vacinas de Sabin e Salk, o mundo está


quase livre da pólio, e existe uma vontade política e
social sem precedentes para atingir o objetivo da
eliminação da doença, que tem diminuído ano-a-ano:

1988: 350.000 casos 1999: 7.083 casos 2004: 1300 casos

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 46


A Salk consiste nos três serotipos do poliovirus inativados com formol. Tem a vantagem
de ser bastante estável, mas muito cara e precisa ser injetada pelo menos três vezes para
produzir um efeito abrangente e duradouro. A Sabin também consiste nos três serotipos
dos vírus, mas vivos, embora pouco virulentos. É de administração oral, baixo preço e alta
eficácia, mas em 1 caso a cada 2 milhões de imunizados, a vacina causa paralisia.

Por isso, nos países onde a poliomielite ainda existe, recomenda-se o uso da Sabin
porque o risco de paralisia pela vacina é infinitamente menor que o risco real de se
infectar com a verdadeira poliomielite, mas nos países onde ela já foi erradicada, a vacina
Salk oferece uma proteção adequada com uma segurança muito maior, já que nela os
vírus são injetados mortos.

Em 1994 o Brasil recebeu o Certificado Internacional de Erradicação da Transmissão


Autóctone do Poliovírus Selvagem porque o último caso da doença foi registrado em
1989. Entretanto, como alguns países no mundo ainda não erradicaram a doença, é
necessário continuar vacinando nossas crianças.

A Sabin continua sendo a vacina de escolha no Brasil porque não requer profissionais
especializados para sua aplicação e porque é muito mais barata que a injetável (Salk).

Alguns países africanos resistem a usar vacinas, por causa de uma teoria conspiratória
que se espalhou pela população muçulmana do norte da Nigéria, e de lá para países
asiáticos, como a Índia e Paquistão.

A teoria parece ser criação do presidente do Conselho Supremo da Sharia na Nigéria, o


médico Ibrahim Datti Ahmed, que acusa americanos e europeus de adicionarem à vacina
uma substância que esterilizaria crianças muçulmanas.

Líderes locais repetem e espalham essa teoria, que se tornou consenso entre a
população muçulmana, que não aceita qualquer vacina, mesmo com frequentes
desmentidos da OMS, do governo e de inúmeros médicos e cientistas nigerianos.

Anos depois de se espalhar pela África, em meados de 2004, a teoria conspiratória já


havia chegado à Índia, onde um funcionário do serviço de saúde observou que em uma
das favelas do país “muitas mulheres pobres e ignorantes veem na vacinação antipólio
uma estratégia de controle da natalidade".

Essas teorias tiveram consequências diretas na luta pela erradicação da doença: 16


países onde a infecção estava erradicada relataram surtos desde 2005 – 12 deles na
África (Benin, Botswana, Burkina Faso, Camarões, República da África Central, Chade,
Etiópia, Gana, Guiné, Mali, Sudão e Togo) e 4 na Ásia (Índia, Indonésia, Arábia Saudita e
Iêmen), em regiões com muitos muçulmanos, principalmente porque a epidemia alastrou-
se da Nigéria para o resto do mundo islâmico, através de um costume tipicamente
muçulmano, o haji (a peregrinação à Meca). Estudos confirmam que os três tipos de pólio
que surgiram na Ásia nos últimos meses são provenientes do norte da Nigéria.

Outro foco de epidemia de poliomielite foi anunciado no dia 8 de novembro de 2005, num
local improvável: os Estados Unidos. A doença declarada extinta há décadas em todo o
Hemisfério Ocidental ressurgiu numa pequena comunidade Amish, em Minnesota, que
preserva estilo de vida do século 19 e se recusa a usar vacinas.

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 47


A primeira paciente parece ter sido uma menina de 8 meses, portadora de uma
deficiência imunológica que a tornou incapaz de debelar a infecção, e agora se tornou um
reservatório e fonte de disseminação da doença. Outras 4 crianças da comunidade foram
afetadas, mas nenhuma delas produziu sequelas graves, apesar da infecção.

A origem da doença nos EUA ainda é desconhecida e intriga os epidemiologistas, já que


esse vírus tem uma valência ecológica muito baixa, só sendo encontrado em humanos.

O problema pode se agravar ainda mais porque nos EUA, muitos adultos resistem a
imunizar seus filhos, temendo que as vacinas provoquem autismo, demência e outras
doenças improváveis, que aparentemente não têm relação alguma com imunização, mas
cujo mito é propagado pela população.

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 48


Doenças autoimunes: São doenças em que as reações do hospedeiro contra
antígenos do próprio organismo (auto-antígenos) levam a um estado de doença.
Podem ser mediadas por auto-anticorpos ou linfócitos auto-sensibilizados.

Exemplos de doenças autoimunes:


Diabetes mellitus tipo 1 (pâncreas) Síndrome de Goodpasture (rins e pulmões)
Pênfigo (pele) Lúpus eritematoso sistêmico (SLE)
Doença de Addison (suprarrenais) Artrite reumatoide
Tireoidite de Hashimoto (tireoide) Escleroderma (esclerose sistêmica progressiva)

Possíveis causas:

Exposição a antígenos semelhantes (Reação cruzada a miméticos


moleculares): Raramente pode ocorrer de um anticorpo reconhecer e se ligar
a um epítopo com arranjo molecular semelhante ao de outra molécula
antigênica (mimetismo molecular). Mas quando ocorre, esse “erro de
identidade” pode resultar em imunização cruzada, protegendo o organismo
contra duas espécies patogênicas assemelhadas entre si.

Entretanto, esse mesmo erro pode produzir algumas doenças autoimunes,


quando há a produção de auto-anticorpos após exposição a um antígeno
verdadeiro de estrutura semelhante a um auto-antígeno. (Ex. Estreptococos
beta-hemolíticos do grupo A possuem epítopos comuns ao tecido cardíaco
humano e uma cepa de E. coli possui epítopo comum ao tecido do cólon
humano).

Exposição a auto-antígenos normalmente inacessíveis: reconhecimento


de moléculas próprias que normalmente ficam “enclausuradas”, e que por
isso não passaram pelo processo de tolerância imunológica, mas que após
trauma, cirurgia ou infecção iniciam uma resposta imunológica autoimune
(Ex. proteínas dos espermatozoides e proteínas do cristalino).

Exposição a auto-antígenos alterados: infecção viral e reação com


toxinas, drogas e outros produtos químicos podem causar alterações em
moléculas próprias, que podem causar autossensibilização e destruição do
tecido.

Alteração em células do sistema imunológico: efeito de drogas ou vírus


sobre células imunológicas pode deflagrar a produção de auto-anticorpos.
(Ex. infecção de linfócitos B pelo vírus de Epstein-Barr pode induzir a
produção de auto-anticorpos na mononucleose).

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 49


ROTERIOS DE ESTUDO:
TIPOS DE IMUNIDADE

1 - Qual é a principal diferença entre a imunidade inata e a imunidade adaptativa?

2 - Cite cinco componentes da imunidade inata humana.

3 - Quais são as duas principais características da imunidade adaptativa?

4 - Cite pelo menos um exemplo de imunidade adaptativa naturalmente adquirida passiva, naturalmente
adquirida ativa, artificialmente adquirida passiva e artificialmente adquirida ativa.

ÓRGÃOS LINFÓIDES

1 – como são os vasos linfáticos e a linfa? Quais são os órgãos linfoides primários e os órgãos linfoides
secundários?

2 - Qual é o primeiro órgão a iniciar a produção de linfócitos, fornecendo o ambiente ideal para a
proliferação, diferenciação e maturação dos linfócitos T?

3 - Onde são produzidas as células que dão origem ao linfócitos T, e que posteriormente são atraídas para
o timo?

4 - Qual é o órgão responsável pela produção de todas as linhagens de células do sangue, incluindo as do
sistema imunológico?

5 - Quais são as principais funções dos órgãos linfoides secundários ou periféricos?

6 - Quais são os principais órgãos linfoides secundários?

7 - Onde estão localizados os LINFONODOS?

8 - O que são as ínguas?

9 - Qual é principal função imunológica do baço?

10 - Qual é principal diferença do baço para os linfonodos?

11 - O que é o TECIDO LINFÓIDE ASSOCIADO A MUCOSAS e por que são importantes para a defesa do
organismo?

12 - Por que as TONSILAS são importantes para a defesa do organismo?

CÉLULAS IMUNOCOMPETENTES

1 - O que é Leucocitose, e o que geralmente representa?

2 - O que é Leucopenia, e a que geralmente está relacionada?

3 - Por que na leucemia, apesar de um grande aumento na concentração de leucócitos, o paciente


apresenta imunodeficiência?

4 - O que e a leucocitopoese?

5 - Que células compõem a LINHAGEM LINFÓIDE?

6 - Como podem ser divididos os linfócitos T?

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 50


7 - Quais são as principais funções dos linfócitos Th?

8 - Por que os Linfócitos Th são também chamados de células CD4?

9 - Quais são as principais funções dos linfócitos Tc? Porque são chamados células CD8?

10 - Quais são as principais funções dos linfócitos Ts?

11 - Quais são as principais funções dos linfócitos B?

12 - Quais são as principais funções dos linfócitos NK?

13 - Que tipos de células fazem parte da LINHAGEM MIELÓIDE?

14 - Quais são os fagócitos mononucleares e qual é sua principal função?

15 - Quais são os granulócitos polimorfonucleares (PMN)?

16 - Por que os neutrófilos frequentemente são os PMN que chegam mais precocemente no foco de uma
infecção?

17 - Quais são as principais funções dos eosinófilos?

18 - Quais são as principais funções dos mastócitos?

19 - Quais são as principais funções dos basófilos?

ANTICORPOS

1 - O que são anticorpos ou imunoglobulinas (ig)?

2 - O que são epítopos?

3 - Quais são os primeiros anticorpos a aparecerem no soro após uma primeira exposição a um antígeno?

4 - Quais são os principais anticorpos a aparecerem no soro após uma segunda exposição a um antígeno?

5 - Quais são as principais partes que formam os anticorpos?

6 - Qual delas é responsável pela ligação do anticorpo aos antígenos específicos?

7 - Em qual das frações do anticorpo ocorre inúmeras combinações de aminoácidos no domínio


hipervariável, conferindo ao anticorpo especificidade contra uma infinidade de antígenos existentes na
natureza?

8 - Qual é a fração anticórpica que contém pouca variabilidade na sequência de aminoácidos, e que é
responsável pela ligação do anticorpo às diversas células imunológicas e deflagrar reações da resposta
imunológica como a ativação do sistema complemento?

9 - Quais são as 5 classes dos anticorpos?

10 - Que classe de imunoglobulina costuma indicar infecção recente?

11 - Porque um feto que tenha fator sanguíneo ABO diferente de sua mãe raramente apresenta problemas
de incompatibilidade com a mesma, mas o mesmo não ocorre com relação ao fator RH?

12 - Qual é a única classe de anticorpos que atravessa a barreira placentária, conferindo ao bebê imunidade
natural passiva, mesmo antes da lactação?

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 51


13 - Que classe de imunoglobulina pode ser encontrada nas secreções externas como lágrima, colostro,
leite materno, suor, suco gástrico, saliva e muco?

14 - Qual é a classe de imunoglobulina cuja principal função é a ligação a mastócitos e basófilos, ativando a
cascata de eventos que leva à desgranulação dos mesmos?

15 - Quais são as principais funções dos anticorpos?

16 - O que significa opsonizar?

SISTEMA COMPLEMENTO

1 - Qual é a natureza química dos componentes do sistema complemento?

2 - Qual é o principal órgão produtor dos componentes do sistema complemento?

3 - Quais são as principais funções do sistema complemento?

4 - Quais são as três vias de ativação do sistema complemento?

5 - O que é o Complexo de Ataque à Membrana (MAC)?

6 - Como se inicia a ativação do sistema pela via clássica?

7 - O que significa dizer que o componente 3b (C3b) também possui função de opsonização?

8 - Como ocorre a ativação do sistema pela via alternativa?

9 - Como ocorre a ativação do sistema pela via das lectinas?

10 – Desenhe um esquema que mostre cada passo da ativação do sistema complemento, para cada uma
das vias, mostrando cada componente que entra na reação, as transformações e ativações em cascata e os
componentes que são produzidos a partir das mesmas, até a produção do MAC e a lise osmótica da célula
alvo.

INFLAMAÇÃO

1 - No que consiste a tríplice resposta que se segue após uma lesão da epiderme?

2 - De onde se originam os mediadores químicos que produzem a resposta inflamatória após uma lesão?

3 - Qual é o papel dos fagócitos, do sistema complemento e dos granulócitos, na resposta inflamatória?

4 - Quais são os 4 principais sinais e sintomas que característicos da inflamação? Explique como ocorre
cada um deles.

5 - Como se dá o aumento na permeabilidade vascular e qual é sua importância na produção da resposta


inflamatória?

6 - Explique detalhadamente como é feita a migração das células brancas dos vasos para o tecido
adjacente durante a inflamação.

7 - O que é um pseudópode?

8 - O que é a diapedese?

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 52


9 - O que é a quimiotaxia?

10 - Quais são os principais mediadores inflamatórios de ação rápida? Explique como agem no processo
inflamatório.

11 - Quais são os principais mediadores inflamatórios de ação prolongada? Explique como agem no
processo inflamatório.

12 - Quais são os lipídios derivados do ácido araquidônico? Como agem na inflamação?

13 - Cite outros mediadores inflamatórios importantes e descreva seus papéis na resposta inflamatória.

IMUNÓGENOS

1 - O que são imunógenos?

2 - O que é Imunogenicidade ou poder imunogênico?

3 - O que é Antigenicidade?

4 - O que são epítopos ou determinantes antigênicos?

5 - O que é o imunocomplexo?

6 - Quais são as principais características do imunocomplexo formado pela ligação Ag/Ac?

7 - Quais são os principais requisitos para uma substância produzir imunogenicidade?

8 - Qual é a natureza química das biomoléculas mais imunógenas?

9 - Qual é a natureza química das biomoléculas menos imunógenas?

10 - Como o tamanho da molécula pode influenciar no seu poder imunogênico?

11 - O que são haptenos?

12 - Com relação à complexidade das moléculas, que tipo de molécula forma melhor imunógeno, as mais
complexas ou as mais simples?

Imunologia – Prof. Américo Focesi Pelicioni - 29/8/2018 – pág 53

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