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RECIFE, 2018
1
BRUNO TORRES MENDES SOARES
RECIFE, 2018
2
FICHA CATALOGRÁFICA
(CONFIRMAR SE É NESSA
PÁGINA)
3
FOLHA DE APROVAÇÃO DE
BANCA? (CONFIRMAR SE É
NESSA PÁGINA)
4
A Waldemira Torres (in memoriam).
A insubstituível mulher que partiu
precocemente do nosso mundo, mas
deu-me todo alicerce de minha
formação moral e ética sendo, além de
mãe, uma grande amiga.
5
AGRADECIMENTOS
AAAAA
6
RESUMO
Palavras-Chave: ----
7
ABSTRACT
AAAA
Palavras-Chave: ----
8
“Moriremos por la libertad verdadeira;
no por la libertad que sirve de pretexto
para mantener a unos hombres em el
gozo excessivo y a otros em el dolor
innecesario”.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 12
1.1.3 – A década de 1870: a postura dos comunistas perante a questão nacional começa
a mudar ............................................................................................................................... 24
10
2.1.2 – Configuração econômica e social .......................................................................... 51
CONCLUSÃO ........................................................................................... 59
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 60
11
INTRODUÇÃO
Para além dos comunistas coreanos, esta nova perspectiva do nacionalismo também
pode ser encontrada nos marxistas presentes nas lutas de independência do continente
africano, nas lutas anticoloniais de outros países da Ásia, assim como nos processos de
resistência anti-imperialista na América Latina. O processo revolucionário cubano situa-
se dentro deste contexto, em que o nacionalismo e a luta de classes estiveram intimamente
ligados. A luta nacional aqui, passa a ser parte constituinte, e não um entrave, da luta de
classes, não como um elemento secundário à parte da infraestrutura econômica, mas sim
prioritário, na busca pela independência econômica da nação em relação ao imperialismo.
12
E no caso cubano, este aspecto é ainda mais exposto, uma vez que a estratégia da
revolução foi de libertação nacional e só anos mais tarde o seu caminho socialista é
colocado de maneira oficial pela República de Cuba.
13
Cabe a nós abordar o nacionalismo não como um fenômeno histórico em si, isolado
da economia, da política e das demais esferas da sociedade, mas sim inter-relacionar o
nacionalismo com a infraestrutura e as superestruturas. Compreenderemos, assim, a
contradição imperialismo-nação em termos de classes (e dos interesses destas classes), a
partir do materialismo histórico, não empregando as usuais definições de nacionalismo
que desprezam estas questões.
14
e no movimento comunista, sobretudo se estamos tratando dos países do terceiro mundo.
E os exemplos práticos – tanto em termos de movimentos organizados em países
dependentes, quanto em termos de países que já passaram por processos revolucionários
e de independência – são muitos. No caso do presente trabalho, a Revolução Cubana é
um dos maiores destes exemplos históricos, e por isto é objeto de estudo da mesma.
Acreditamos que esta estruturação nos permite debruçar com clareza sobre a
presença do nacionalismo em Cuba, situando o movimento comunista historicamente a
partir das diferentes abordagens que o mesmo teve sobre o nacionalismo e a questão
nacional. Situando também o movimento comunista cubano no quadro geral dos
15
comunistas que se fizeram presentes nas lutas anticolonialistas e anti-imperialistas de
países de África, Ásia e América Latina.
Por estes motivos elencados a estruturação deste estudo tem por base não apenas o
traçar da linha da história do movimento comunista do século XIX à meados do século
XX, como também chegamos ao nosso objeto de análise – a Revolução Cubana – indo
do geral ao específico, partindo do total para entender o particular. Isto significa que
nossa análise situa a Revolução Cubana no contexto geral do terceiro mundo, antes
mesmo de nos aprofundarmos no contexto específico e nacional do movimento comunista
de Cuba.
16
CAPÍTULO I.
Desde o século XIX à meados do século XX, a questão nacional deixa de ser um
tópico à parte (como entre Marx e Engels), passa a ser um tema discutido e de certa
relevância (como com Lênin e nos escritos de Stálin), e, por último, se torna um assunto
central e prioritário (como entre os comunistas Kim Il-Sung e Amílcar Cabral).
Como essa mudança na postura dos comunistas se desenvolveu nestes anos? Como
houve marxistas simpáticos ao nacionalismo se na origem da tradição marxista havia um
forte sentimento antinacionalista?
17
movimento operário; e a questão nacional e o nacionalismo eram vistos, é óbvio, como
um “entrave”. O movimento comunista, portanto, “herdou” uma Europa imersa no mar
do problema nacional, e avaliavam esta imersão justamente como um “empecilho”.
Essa lista, mais que uma coleção arbitrária, sintetiza a ampla gama de
perspectivas que o tema “nação” motivou: o romantismo democrático de
Rousseau e Jefferson; o conservadorismo exaltado de Burke; o idealismo de
18
Fichte e Hegel; o liberalismo de Mazzini; o historicismo conservador de
Ranke. De fato, tanto a ideia de nação quanto a materialização concreta das
nações e dos nacionalismos a partir da Revolução Francesa são marcados
pelas disputas e pelas tensões, pelos conflitos e pelas guerras. (DE PAULA,
João Antônio. 2008. p. 1).
19
movimento de independência dos Estados Unidos, pode-se constatar que não havia a ideia
de uma “nação americana oprimida”. No início da luta que desencadeou a independência,
eles não deslegitimavam o rei enquanto o governante, o que denota uma motivação
diretamente administrativa e não política e nacional. Nos Estados Unidos, a ideia de
nação vem depois da independência já ter sido realizada. Surge da “necessidade” de se
constituir uma “identidade nacional” no contexto de pós-independência.
Como vemos nas palavras de Thomas Jefferson, ainda havia uma noção de que os
mesmos pertenciam ao império britânico, assim como eles não eram hostis a possibilidade
de união. Todavia, os termos impostos para essa união, por parte do colonialismo
britânico eram bastante hostis aos “sentimentos de toda América”. Não há aqui uma
identidade nacional forjada, e apesar de haver alguns casos em que a identidade nacional
precede o Estado, nos EUA (como em muitos casos) foi o Estado que precedeu a Nação.
E ainda há, na Europa, as minorias nacionais que são obrigadas a viverem sob um
Estado Nacional do qual elas não se reconhecem ou não se identificam, desejando ter sua
autonomia e independência em relação àquele Estado. Um exemplo deste caso, é a
questão irlandesa na luta contra os britânicos. Um problema que não se expressou apenas
no século XIX e que, já existia em séculos anteriores e, persiste até os dias atuais.
1
Original em inglês: Believe me, dear Sir: there is not in the British empire a man who more cordially
loves a union with Great Britain than I do. But, by the God that made me, I will cease to exist before I
yield to a connection on such terms as the British Parliament propose; and in this, I think I speak the
sentiments of America (Disponível em: https://www.khouse.org/articles/2013/1128/print/, acessado em
12 de setembro de 2018).
20
independência dos Estados Unidos; o nacionalismo enquanto a defesa da
autodeterminação, como no caso irlandês; e entre outros casos.
Fica evidente para nós como os conceitos não são fixos: eles precisam ser situados
historicamente, pois a depender do lugar ou do momento histórico, um mesmo conceito
pode carregar significados completamente diferentes. Assim é o nacionalismo, que
permuta seu significado histórico se enquadrando à desde um Estado chauvinista que
utiliza os interesses da nação como justificativa para invadir e colonizar um outro país,
até para definir o sentimento de um povo que busca sua independência e
autodeterminação na intenção de viver segundo sua própria nacionalidade. Esta
historicidade presente no conceito de nacionalismo deriva também das especificidades –
econômicas, políticas e culturais – de como a questão nacional tem avançado em
determinado país e em determinado tempo.
Essa é, grosso modo, a situação da questão nacional no século XIX: ela está presente
na sociedade francesa de uma forma, que é diferente da forma tratada na Itália e Alemanha
que, por sua vez, é diferente da questão irlandesa, que, também, é bastante distinta da
questão nacional nos Estados Unidos. Assim está posta a questão nacional no século XIX,
no momento histórico vivido pelos “pais” do socialismo científico, Marx e Engels.
Não é difícil encontrar materiais que teçam a perspectiva “pouco simpática” dos
socialistas científicos com a questão nacional e o nacionalismo nas primeiras décadas do
movimento comunista. A abordagem dos comunistas nesta época variava do destrato e
afastamento do assunto para uma completa e total secundarização do mesmo.
21
advinha do fato de que o capitalismo estava, naquela época, se consolidando cada vez
mais como um modo de produção econômico “internacionalizado”; apresentava-se
menos “localizado” e mais “integrado” em distintos países e nações. E essa percepção
entre os comunistas era reforçada pela célebre frase do Manifesto do Partido Comunista,
“Os operários não têm pátria”.
22
Estados e as distinções de classe, por meio da revogação de sua base: a
propriedade privada (Ibidem. p. 33).
“Desta forma, aquilo que poderia parecer uma concentração de homens e mulheres
numa única classe operária” acabava por se resumir a apenas uma “gigantesca dispersão
de fragmentos da sociedade” (HOBSBAWM, Eric J. 1988. p.173), que podemos chamar,
de fato, como uma divisão entre velhas e novas comunidades.2
2
Estas colocações da obra de Hobsbawm se remetem aos últimos anos do século XIX e anos iniciais do
século XX. Elas foram escritas a fim de contextualizar e apresentar os antecedentes do problema nacional
nos 40 anos que precederam a I Grande Guerra Imperialista; apesar de focar em dar contexto à I Grande
Guerra, esses trechos nos elucidam sobre os problemas dos comunistas com a questão nacional e com os
nacionalistas (no seio do movimento operário) na segunda metade do século XIX de uma forma geral.
23
Esta relação distante e “problemática” dos socialistas científicos com a questão
nacional persistiu por longa data após a publicação do escrito Princípios Básicos do
Comunismo (1847) e do Manifesto do Partido Comunista (1848). Isso pode ser
constatado com a atitude dos socialdemocratas alemães que, contando com o aval de
Marx, recusaram-se a acrescentar a questão nacional no programa do partido, e ainda
declararam que tal problema era “uma questão meramente burguesa” (GALLISSOT,
René In HOBSBAWM, Eric J. (Org.). 1986. p.173).
Com tudo que foi levantado, entendemos o porquê de Marx e Engels serem
considerados apenas internacionalistas que atribuíam ao socialismo científico um caráter
necessariamente internacional. Não entendemos só isso, como compreendemos como o
movimento comunista em suas primeiras décadas ficou conhecido por ter uma postura
quase que de “oposição” às lutas nacionais. Esta era uma relação completamente distante
da questão nacional, por serem consideradas “questões burguesas” que
de resto, em muitos casos, faziam atrasar a luta do proletariado por sua plena
emancipação, que seria, também, a que significaria a emancipação do
conjunto da humanidade de sua efetiva "menoridade" (DE PAULA, João
Antônio. 2008).
Muito falamos sobre o tratamento dos comunistas para com o problema nacional
no decorrer do século XIX, entretanto, temos de lembrar que, a partir da década de 1870,
a postura do movimento comunista em relação a questão nacional dá suas primeiras
24
mostras de mudança, antes das formulações mais basilares sobre o tema que serão
elaboradas pelos bolcheviques no Império Russo décadas mais tarde.
Outra questão, nem por isso menos importante, é a relativa ao modo particular
como Marx e Engels consideraram, em suas atividades como jornalistas e
políticos, as questões relativas às nações, às lutas nacionais. Nesse caso, é
preciso dizer que também aqui há que distinguir duas fases no tratamento da
questão da nação por parte de Marx e Engels (Ibidem).
a partir do início dos anos 1870, que vai até o final da vida de Marx, em 1883,
em que assumem importância as questões nacionais, destacando-se aí o
interesse crescente de Marx pela realidade russa e, por extensão, pela realidade
de outros países da periferia do capitalismo, sem que isso signifique abandono
da perspectiva internacionalista (Ibidem).
Mediante isto, Marx começa a se debruçar sobre à Rússia, talvez mesmo antevendo
que de lá viriam elementos determinantes de uma nova onda revolucionária no mundo.
Então, a partir de 1872, Marx passa observar de maneira mais atenta a vida política deste
país; ele entre em contato com militantes e intelectuais de lá, e é por isso que a primeira
tradução de O Capital será, não coincidentemente para o idioma russo (Ibidem).
A partir daí, também podemos observar declarações de Engels que tratam sobre a
questão nacional numa carta enviada a Kautsky em fevereiro de 1882:
25
A pequena mudança de postura deles frente aos russos, assim como a postura deles
frente à questão irlandesa, possui uma importância teórica substancial. Estas mudanças,
ainda que pequenas, demarcam uma nova etapa na abordagem do problema nacional no
movimento comunista em finais do século XIX, o que pode ser levado em conta como
um primeiro passo antes das formulações teóricas mais aprofundadas sobre o problema
nacional realizada pelos bolcheviques.
Pela primeira vez na história, uma organização comunista leva a questão nacional
para o centro de seus debates, realizando escritos e obras inteiras destinadas integralmente
a debater tal problema. Do inicial destrato total em relação a tal tema, a Questão Nacional
passa a ganhar corpo e ter alguma importância prática real.
26
étnicos (russkaia imperiia), mas como uma coleção cosmopolita de povos e
nações (rossiskaia imperiia) sob um soberano único (SUNY, Ronald G.
1998).
As elites políticas eram cooptadas ao serviço imperial e, por muito dos séculos
XVIII e XIX, a política russa foi extraordinariamente vitoriosa em desenraizar
aqueles que poderiam ter sido os líderes da resistência ao domínio do Estado
central (Ibidem).
Estas tensões nacionais para com o poder central, no seio do Império Russo vão, de
alguma forma, influenciar a política dos comunistas. Se organizando para lutar contra o
Estado que “governa várias nacionalidades”, os comunistas russos, no início do século
XX, se encontrarão numa situação muito distinta dos comunistas europeus do século XIX.
27
1.2.2 – As contribuições de Lênin e Stálin sobre a Questão Nacional
A polêmica colocada é sobre a forma como comunistas defendem como deve ser a
representação no Estado. O Bund defendia uma organização que delimitava as
representações por nacionalidades e etnias independentes das unidades territoriais as
quais tais povos faziam parte. A divisão parlamentar segundo a concepção do Bund,
deveria “repartir” os cargos do parlamento a partir das identidades nacionais e culturais,
ao invés de cidades, distritos, províncias, estados, etc., como é mais “convencional” das
Repúblicas Democráticas.
28
independentemente de onde residissem os seus membros), os bolcheviques
rejeitaram a ideia de autonomia cultural em favor de autonomia regional não-
étnica (SUNY, Ronald G. 1998. Grifos meus).
No ensaio Marxismo e Questão Nacional (1913), Stálin expôs esta posição do Bund
de uma “representação cultural”, e aponta que há uma outra alternativa para a
representação do Estado: o Estado deveria ser de um tipo internacional onde as cadeiras
do parlamento devem seguir princípios da autonomia territorial, fazendo com que os
trabalhadores judeus (do qual o Bund visa representar) caminhem para a “causa da
unificação imediata” com os “trabalhadores das demais nacionalidades”.
Em síntese, esta é a proposta colocada por Stálin em seu ensaio de janeiro de 1913.
Alguns meses depois, em março do mesmo ano, Lênin, no texto Sobre o Direito
das Nações à Autodeterminação também contribuirá para este debate.
A dificuldade é criada, até determinado grau, pelo fato de que na Rússia lutam
e devem lutar juntos o proletariado das nações oprimidas e o proletariado da
nação opressora. Defender a unidade da luta de classe do proletariado pelo
socialismo, repelir todas as influências burguesas e cem-negristas3 do
nacionalismo — eis em que consiste a tarefa (LÊNIN, Vladimir. 1914).
3
Cem-negros: bandos monárquicos criados pela polícia czarista para lutar contra o movimento
revolucionário. Os cem-negros assassinavam revolucionários, atacavam intelectuais progressistas,
organizavam ações contra judeus.
29
Como vemos o nacionalismo é repelido como uma influência burguesa e “cem-
negrista”. A tarefa revolucionária dos comunistas é colocada em termos de unificar as
lutas do proletariado das nações oprimidas com o da nação opressora que fazem parte do
mesmo Império Russo. Todos os nacionalismos são vistos como um desvio a ser
combatido, e o mais nocivo destes nacionalismo, obviamente, é o grão-russo.
Tal estado de coisas coloca ao proletariado da Rússia uma tarefa dupla ou,
melhor, bilateral: 1) lutar contra toda a espécie de nacionalismo e em primeiro
lugar contra o nacionalismo grão-russo (Ibidem).
30
Mas que solução seria a mais compatível com os interesses das massas
trabalhadoras? A autonomia, a federação ou a separação? São todos eles
problemas cuja solução depende das circunstâncias históricas concretas, que
rodeiem a nação em foco. Mais ainda: as circunstâncias, como tudo, se
modificam, e uma solução acertada para um momento dado pode ser
completamente inaceitável para outro momento. (STÁLIN, Josef. 1913).
31
Como bem sabemos, a maior prova de mudança de postura quanto a estas questões
foi a própria estrutura do Estado no terminar da guerra civil em 1921.
A propósito, com o passar dos anos, é possível dizer que a mudança de postura dos
bolcheviques foi um pouco além de ser uma mera concessão parcial à posição federalista
pró-nacionalidades; afinal, da mera concessão ou reconhecimento às nacionalidades, a
URSS praticamente fomentará estas identidade nacionais.
33
Há então um reconhecimento das nacionalidades e de certa importância da Questão
Nacional, mas há, entretanto, uma forte crítica, a qualquer intenção de colocar a nação
como um assunto central. Ou seja, há uma forte crítica ao nacionalismo.
34
1.3.1 – Os movimentos comunistas em diferentes contextos: da Europa à Rússia, e da
URSS aos países de passado colonial
Em países com algum passado colonial ou semicolonial, como foi a Coreia, a China,
praticamente todos os países africanos, alguns países do Oriente Médio, e a América
Latina em peso, a Questão Nacional será colocada como um tema de importância vital,
uma pauta prioritária.
35
Os povos destes países são marcados pelo peso de não terem direito à própria nação
e de não serem independentes.
Os países que sediaram movimentos comunistas marcados por esta forte influência
das lutas nacionalistas, que vão possuir traços notadamente anti-imperialistas e
anticoloniais serão vários, dentre eles: a Coreia, a China, o Vietnã, o Laos, etc. na Ásia;
Guiné Bissau e Cabo Verde, Moçambique, Angola, Alto Volta (atual Burkina Faso), etc.
no continente africano.
Ainda que nem sempre adeptas do marxismo, estes setores vão promover
plataformas populares quase que sempre apoiada pelos comunistas e serão marcadas por
fortes traços de um apelo ao patriótico e ao nacional (como Jango e Brizola, no Brasil),
pelas referências históricas (como Simón Rodríguez e Simón Bolívar, na Venezuela),
pela cultura popular nacional (como as canções de Víctor Jara, no Chile), etc.
36
Na maioria desses países de passado colonial ou semicolonial (da América Latina
à África, e até na Ásia), os comunistas e as esquerdas em geral vão possuir uma postura
semelhante quanto ao nacionalismo. O porquê disso? Na concepção dos próprios
comunistas haverão certas circunstâncias históricas e certa configuração de classes que
condicionará as esquerdas dos países do “terceiro mundo” à estas posições simpáticas e
próximas ao próprio nacionalismo.
Quais são estas circunstâncias citadas? Que configuração de classes seria essa?
No caso das relações entre relações de produção e forças produtivas, Marx cita que
37
também do contexto soviético), é necessário compreendermos as contradições
econômicas e a formação histórica do próprio “terceiro mundo” e aquilo que as constitui
como um campo diferente dos países centrais.
Desde as formulações de Lênin e Dimitrov (e isto fica mais evidente com Stálin e
outros teóricos da III Internacional), a questão das contradições econômicas passou a ser
pensada de uma forma um pouco distinta do movimento comunista europeu para outros
países. No caso de países coloniais ou semicoloniais, era bastante evidente que a III
Internacional passava a priorizar uma luta de libertação do colonialismo e do
semicolonialismo. Nestes contextos, a orientação da III Internacional era a de que os
comunistas deveriam levar em consideração a burguesia nacional (ainda que esta classe
não possua uma postura “uniforme” e possa vir a se somar a reação). A contradição entre
os países coloniais e semicoloniais para com os países centrais vai ser colocada em
evidência (1928).
38
A contradição objetiva entre a política colonial do imperialismo mundial e o
desenvolvimento independente dos povos coloniais não foi eliminado, nem na
China, nem na Índia nem em nenhum país colonial ou semicolonial; pelo
contrário, a contradição acentuou-se; e ela só pode ser ultrapassada através
da luta revolucionária vitoriosa das massas trabalhadoras coloniais. Até lá, ela
[a contradição entre o colonialismo e os países subalternos] vai continuar a
operar em todas as colônias e semicolônias como um dos fatores objetivos
mais poderosos para a revolução (VI Congresso da III Internacional. 1928).
No caso dos comunistas coreanos, liderados por Kim Il-Sung, podemos observar
isto na Conferência de Kalun, em 1930.
39
configuração de classes existente na China preconizava uma aliança entre várias classes,
bem como entre partidos políticos que representavam essas distintas classes.
Além desses dois exemplos na Ásia (da China e Coreia), veremos formulações
semelhantes de marxistas de países africanos, a exemplo do anticolonialista Amílcar
Cabral, reconhecido líder marxista africano, pai da nacionalidade de Guiné-Bissau:
40
classe e, portanto, a primeira contradição a resolver é exatamente acabar com
essa dominação de classe do estrangeiro sobre nós (CABRAL, Amílcar.
1974. Grifos meus).
41
seguinte questão: o que todos eles possuem em comum? A centralidade da Questão
Nacional, colocando suas revoluções como de caráter primordialmente anti-imperialista
e de libertação nacional, antes mesmo da construção do socialismo, e uma política comum
de categorizar teoricamente o que eles consideram como contradições principais e como
contradições secundárias. Nas palavras do próprio Mao Tsé-Tung:
42
Em resumo, pode-se dizer que a base material de todos estes países, possuem
contradições semelhantes. Mais do que isso, na leitura do movimento comunista em cada
um destes países citados, onde existem diversas contradições materiais, será de “comum
acordo” que a contradição principal será a contradição Imperialismo-Nação. Ainda que
se reconheça a existência de outras contradições, a exemplo do Capital-Trabalho,
Latifundio-Campesinato, além das contradições no seio da própria burguesia, em todos
esses casos a contradição Imperialismo-Nação saltará aos olhos do movimento comunista
e será pedra-de-toque da estratégia programática de seus partidos e organizações.
Para os marxistas cubanos, mais tarde liderados pela figura de Fidel Castro, a
construção do socialismo em Cuba, pressupunha uma luta por sua real independência,
afim de não só buscar a construção de um novo projeto societário, bem como para
resolução de outras contradições fundamentais alimentadas pela independência ao
imperialismo, como os resquícios pré-capitalistas da escravidão e servidão. Com a
resolução dessas contradições, se poderia dar passos rumo a construção socialista.
43
1.3.3 – Nova forma de conceber o nacionalismo no seio do movimento comunista
internacional
O nacionalismo que antes não era alvo das atenções dos comunistas no século XIX,
e que ainda era considerado como um desvio pelos bolcheviques e pela URSS no início
do século XX, agora passa a ser tratado de uma forma distinta pelos movimentos
comunistas da ampla maioria dos países do terceiro mundo. De um conceito praticamente
ignorado (no século XIX), à um desvio (para bolcheviques e URSS no século XX), o
nacionalismo passou a ser um conceito amplamente defendido e até mesmo necessário.
É correto dizer que essa posição não será exclusiva da tradição comunista na Coreia
do Norte, assim como será estimulada por movimentos anticolonialistas em África. Um
44
dos maiores exemplos é o movimento anticolonialista da Guiné-Bissau e Cabo Verde. No
programa do PAIGC o 1º artigo enunciará:
E no 3º artigo encontraremos:
Assim temos esse quadro desenhado em meados do século XX: na China, ainda que
dentro da insígnia do marxismo-leninismo, os comunistas desenvolvem o que chamam
de Pensamento Mao Tsé-Tung; na Coreia, os comunistas desenvolvem teoricamente a
chamada Ideia Juche; nos países africanos ainda que os marxistas não tenham
desenvolvido – ou nomeado – uma nova corrente política, tivemos uma série de lideranças
e intelectuais que realizaram uma grande produção teórica sobre o contexto de seus
países; em Cuba, semelhantemente, ocorreu o desenvolvimento do pensamento martiano
na revolução de 1959, concomitante o crescimento da influência marxista na direção do
processo revolucionário.
4
Frase entoada por razão de atentado realizado num barco francês que se encontrava em Cuba em março
de 1960. Fidel denunciou o papel dos Estados Unidos no atentado e entoou essa palavra de ordem pela
primeira vez, em alusão ao fato de que Cuba deve se realizar como pátria independente sem os
desmandos dos EUA, ainda que isso custe sacrifícios.
45
a libertação nacional – e outras pautas estratégicas, tal como a questão agrária – antes
mesmo do desenvolvimento de uma economia planificada.
Não existe uma resposta única para a pergunta “o que podemos definir por
nacionalismo segundo o movimento comunista?”. Para isso precisamos perguntar
também de qual teórico marxista estamos tratando, ou mesmo a definição de qual partido
e organização, e de qual país estamos tratando, assim como qual época está se
abordando e em qual contexto político.
46
CAPÍTULO II.
Muito antes de ser conhecida como o único país socialista das Américas, sede de
uma das mais conhecidas revoluções do nosso continente, Cuba também foi palco de
vários conflitos de importância que retomam as disputas políticas entre distintas potências
colonialistas e neocolonialistas, com destaque para a Espanha e os Estados Unidos.
47
O conflito político – e militar – entre as forças locais que buscam a independência
de Cuba, e as potências estrangeiras que possuem interesses econômicos na ilha (Espanha
e EUA), vão ser pontos de destaque da história cubana no século XIX. O imperialismo
inglês também atuará na ilha, todavia, como coadjuvante.
48
fossem escravos ou camponeses, e isso prejudicaria os setores proprietários locais – desde
comerciantes, latifundiários e entre outros – e prejudicaria diretamente os próprios
trabalhadores, sua maioria do setor rural – como camponeses, ex-escravos, etc. (Mundo
Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p.25).
5
Ejército Libertador, em espanhol.
49
De nuevo los cubanos en 1895 se levantaron en armas. Esta vez la lucha se
había preparado politicamente durante largos años. Bajo la guía de Martí, cuyo
genio político rebasó las fronteras de su tierra y de su época, se organizó un
partido para dirigir la revolución. Esta idea, que paralelamente desarrolló
también Lenin para llevar a cabo la revolución socialista en el viejo imperio
de los czares, es uno de los más admirables aportes de Martí al pensamiento
político. Se organizó en nuestra patria un solo partido revolucionario. Ese
partido unió a los gloriosos veteranos de la guerra de los Diez Años,
simbolizados por Gómez y Maceo, con las nuevas generaciones de
campesinos, obreros, artesanos e intelectuales, para llevar a cabo la revolución
en Cuba (...). En este pensamiento y en a interpretación y calificación de Lenin
de la guerra hispanoamericana como la primera guerra imperialista, se dan la
mano dos hombres, de dos escenarios históricos diferentes y dos pensamientos
convergentes: José Martí y Vladímir Ilich Lenin. El uno símbolo de la
liberación nacional contra la colonia y el imperialismo, el otro forjador de la
primera revolución socialista en el eslabón más débil de la cadena
imperialista: liberación nacional y socialismo, dos causas estrechamente
hermanadas en el mundo moderno. Ambos con un partido sólido y
disciplinados casi simultáneamente entre fines del passado siglo y comienzos
del actual (CASTRO, Fidel. 1975).
Assim, o próprio movimento comunista cubano enumera que foi o próprio Martí
que concebeu a formulação de um partido revolucionário disciplinado, que buscasse
mobilizar e dirigir as lutas das camadas populares e nacionalistas de Cuba frente o
domínio colonial espanhol, trabalhando uma concepção de partido que muito se
assemelhava ao conceito do partido de vanguarda trabalhado por Lênin na Rússia.
José Martí veio a falecer em 1895, com apenas 42 anos, por ocasião de seu regresso
do Haiti a Cuba, quando foi surpreendido pelo ataque de aproximadamente 600 soldados
espanhóis. Martí não viveu para ver o fim do domínio espanhol sob a ilha, mas já
preconizava os interesses dos Estados Unidos que vão se evidenciar na Guerra Hispano-
Americana. Segundo Fidel, “Martí conhecia o monstro porque viveu em suas entranhas”
e “sabia de suas vis pretensões de apoderar-se de Cuba em virtude da política
expansionista”. Por isso, em 1975, no informe central do I Congresso do PCC, Fidel cita
as colocações de José Martí sobre os Estados Unidos:
[Martí] que él supo ver con claridad impresionante: “Ya estoy todos los días
en peligro de dar mi vida por mi país y por mi deber – puesto que lo entiendo
y tengo ánimos com que realizarlo – de impedir a tiempo con la independencia
de Cuba que se extiendan por sobre nuestras tierras de América. Cuanto hice
hasta hoy, y haré, es para eso. En silencia ha tenido que ser y como
indirectamente, porque hay cosas que para lograrlas han de andar ocultas, y
50
de proclamarse en lo que son, levantarían dificultades demasiado recias para
alcanzar sobre ellas el fin” (Ibidem).
De nuestra sociología se sabe poco, y de esas leyes, tan precisas como esta
otra: los pueblos de América son más libres y prósperos a medida que más se
apartan de los Estados Unidos (MARTÍ, José. 1894).
51
O interesse dos Estados Unidos quanto a ilha caribenha não era novidade, e pode
ser vista em documentos que confirmam os interesses dos norte-americanos:
No início do século XIX esses interesses dos EUA sobre Cuba eram mais velados
e pouco evidentes, e o próprio Martí, malgrado algumas críticas, nutria relativa admiração
pelo país, a “pátria de Lincoln” (NAVARRO, José Cantón. 2018. p. 42), não à toa terá
uma estadia longa lá. Obviamente, em seus longos anos como residente nos Estados
Unidos, ele não morou lá como um mero estrangeiro, mas sobretudo como um observador
e um intelectual atento. No período em que Martí lá esteve ele pode observar a
concentração da produção capitalista, a formação de monopólios, o surgimento da
oligarquia financeira (Ibidem. p. 44) e, por estas e outras razões, ele antecipa a investida
do imperialismo nascente dos Estados Unidos sobre a América Latina. Além de tudo já
citado de Martí, sobre os EUA, há uma correspondência de 1889 que merece destaque:
Sobre nuestra tierra, Gonzalo hay otro plan más tenebroso que lo que hasta
ahora conocemos, y es el inicuo de forzar a la Isla, de precipitarla, a la guerra,
para tener pretexto de intervenir en ella, y con el crédito de mediador y de
garantizador, quedarse con ella. Cosa más soberbia no la hay en los anales de
los pueblos libres: ni maldad más fría (MARTÍ, José. 1991. p. 128. apud
RAMÍREZ Cañedo, Elier. 2018).
Assim, segundo o próprio Martí, estava no plano dos EUA a intervenção deles no
conflito com a Espanha a fim de colocar os estadunidenses como “mediadores” da
independência de Cuba frente a Espanha. Segundo as próprias palavras de Martí, não
haveria plano mais tenebroso, não haveria maior traço de arrogância ou mesmo
52
“soberba”, e nem muito menos haveria uma maldade tão fria. Estas intenções e planos
quase que maquiavélicos, na concepção do próprio José Martí, ao contrário de demonstrar
uma aproximação desinteressada e de solidariedade ao povo cubano, mostrava que
qualquer retórica de país bem-intencionado era um verniz sob qual se escondia as
intenções não de libertar cuba de qualquer domínio estrangeiro, mas sim de substituir o
domínio espanhol pelo domínio norte-americano. Martí previu tais maquinações no final
de sua vida, e foi mais ou menos isso que ocorreu alguns anos após seu falecimento:
O cenário que virá disto nós já conhecemos: Cuba será sede uma ditadura militar
imposta pelos Estados Unidos de 1898 a 1902.
6
Quanto a “lei da natureza” é uma alusão a famosa carta de John Adams (Secretário de Estado dos EUA)
endereçada ao representante yanque de Madrid onde fala que Cuba deve ser um objeto pequeno
gravitando em torno de um objeto maior (sem a Espanha, seria os EUA). Essa citação pode ser encontrada
exatamente na página anterior.
53
seguintes – era alguém que mantinha os interesses e todo tipo de prerrogativas
dos ianques sobre a ilha. Seria, então, o primeiro presidente cubano Tomás
Estrada Palma, o típico fantoche. Cubano nascido nos Estados Unidos, Palma
assumia sob uma vergonhosa Constituição.
É de se esperar que neste contexto, desde esse período até 1959 (ano da revolução),
esse quadro não se altere substancialmente, marcado sempre por “tratados comerciais
abusivos, corrupção latente, intervenções militares baseadas na Emenda Platt ” (Mundo
Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p. 34). Não é à toa que o pensamento nacionalista
e anticolonialista de José Martí terá grande peso no processo revolucionário: o país ainda
estará submergido num contexto de dependência neocolonial, com os EUA realizando
todo tipo de interferência e violações dos princípios básicos de soberania.
Desde o fim do domínio espanhol, o país passou por grandes tensões políticas. De
1898 a 1902 viveu sobre uma ditadura militar de ocupação, um governo estadunidense
instalado sobre a ilha. De 1902 a 1906, assume um presidente civil de Cuba, mas
perfeitamente alinhado ao Norte, seu nome é Tomás Estrada Palma. De 1906 a 1909
teremos novamente um período de ocupação, com governantes designados diretamente
pelos EUA que, não por acaso, são estadunidenses: William Howard Taft e Charles
Edward Magoon. Após esse período de ocupação de governo provisório, os governantes
que se sucederam vão sempre estar dentro de um marco de aproximação com os norte-
americanos, e qualquer que seja a administração teremos sempre algum grau de controle
dos Estados Unidos.
Por isso era esperado que, em qualquer processo revolucionário que se sucedesse
na ilha, a chaga do problema da dependência e a luta por uma autêntica libertação
nacional viesse a ganhar destaque, independente de termos ou não comunistas na direção
do processo revolucionário (ou lhe influenciando de alguma medida). E assim se
desenhará a mútua influência entre martianos e marxistas na Revolução iniciada em 1959.
55
2.2.2 – As influências teóricas em torno de Fidel Castro
DÁ UM JEITO DE INSERIR: Martí será uma referência central dentre aqueles que
realizaram a insurreição de 1959 e até antes da revolução, em 1953, por ocasião do
julgamento daqueles que realizaram a tentativa de assalto ao Quartel Moncada. Por
ocasião do julgamento aos que realizaram o assalto ao quartel, Fidel Castro declarará à
justiça de Cuba que o autor intelectual do assalto ao quartel é José Martí (RAMÍREZ,
Narciso. 2017).
56
CAPÍTULO III.
DO POVO CUBANO
[SUBTÓPICO À ESCREVER.
Falar mais teoricamente sobre consciência social, ideologia, etc etc aspectos gerais,
como educação serve pra formar as pessoas, teóricos em geral da educação e outras áreas
de formação ideológica
3.1.1 – aaa
57
USAR SEÇÃO DO EcuRed “Educación Cívica”
3.2.1 – aaa
3.1.1 – aaa
58
CONCLUSÃO
[SUBTÓPICO À ESCREVER.
conclusão
59
REFERÊNCIAS
CASTRO, Fidel. Informe Central del Primer Congresso del Partido Comunista de
Cuba. 1975. (Disponível em: http://www.granma.cu/septimo-congreso-del-
pcc/2016-03-30/documentos-del-primer-congreso-del-partido-30-03-2016-10-03-
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60
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acessado em 14 de novembro de 2018).
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61
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TROTSKY, Leon. A Revolução Permanente. Kairós Livraria Editora. São Paulo. 1985.
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63