Sei sulla pagina 1di 63

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

MARXISMO & NACIONALISMO EM CUBA:


O marxismo-leninismo e o pensamento martiano
na construção do socialismo cubano (1959 – 1961)

BRUNO TORRES MENDES SOARES

RECIFE, 2018

1
BRUNO TORRES MENDES SOARES

MARXISMO & NACIONALISMO EM CUBA:


O marxismo-leninismo e o pensamento martiano
na construção do socialismo cubano (1959 – 1961)

Monografia apresentada para o


Departamento de História da
Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), como
requisito para conclusão do curso
de Licenciatura em História, sob
orientação da Profª. Drª. Maria
Socorro do Abreu e Lima.

RECIFE, 2018

2
FICHA CATALOGRÁFICA
(CONFIRMAR SE É NESSA
PÁGINA)

3
FOLHA DE APROVAÇÃO DE
BANCA? (CONFIRMAR SE É
NESSA PÁGINA)

4
A Waldemira Torres (in memoriam).
A insubstituível mulher que partiu
precocemente do nosso mundo, mas
deu-me todo alicerce de minha
formação moral e ética sendo, além de
mãe, uma grande amiga.

5
AGRADECIMENTOS

AAAAA

6
RESUMO

O nacionalismo possui grande peso na Revolução Cubana, não só no movimento popular


de oposição à Ditadura de Batista, nem apenas no processo de insurreição em 1959, mas
também no próprio processo de construção do socialismo cubano. Até chegarmos ao
momento em que países do terceiro mundo, como Cuba, promovam uma construção
revolucionária deste gênero – onde tratam a questão nacional e social, ambas, em pé de
prioridade – o movimento comunista internacional teve de desenvolver-se e realizar
novas formulações teóricas compatíveis com novos contextos históricos. De Marx e
Engels (que não davam grande atenção a questão) à Lênin e Stálin (que vão dá alguma
importância ao tema), até as lideranças comunistas do terceiro mundo (que vão tratar o
tema com centralidade e prioridade), vemos um movimento que se desenvolve, com
mudanças de ideias que acompanham as mudanças conjunturais. Contrariando a ideia de
que o socialismo e o nacionalismo não podem andar de mãos dadas, Cuba constrói um
projeto de sociedade inaugurado por uma revolução que eles mesmos definem como
Martíana (em referência ao anticolonialista José Martí), ao mesmo tempo que também
definem como uma revolução de caráter Marxista (em referência a construção do
socialismo e a influência do marxismo-leninismo).

Palavras-Chave: ----

7
ABSTRACT

AAAA

Palavras-Chave: ----

8
“Moriremos por la libertad verdadeira;
no por la libertad que sirve de pretexto
para mantener a unos hombres em el
gozo excessivo y a otros em el dolor
innecesario”.

José Martí no Jornal Pátria

9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 12

CAPÍTULO I. O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE


NACIONALISMO NO SEIO DO MOVIMENTO COMUNISTA: DE
MARX E ENGELS, LÊNIN E STÁLIN, AOS COMUNISTAS DO
TERCEIRO MUNDO ............................................................................... 17
1.1 – MARX & ENGELS: O NACIONALISMO NO SÉCULO XIX .............................. 17

1.1.1 – O Contexto: A ideia de Nação no século XVIII e a eclosão do problema nacional


no século XIX ..................................................................................................................... 18

1.1.2 – A “negligência” do movimento comunista para com a questão nacional no século


XIX ...................................................................................................................................... 21

1.1.3 – A década de 1870: a postura dos comunistas perante a questão nacional começa
a mudar ............................................................................................................................... 24

1.2 – LÊNIN & STÁLIN: OS COMUNISTAS E A QUESTÃO NACIONAL NO INÍCIO


DO SÉCULO XX................................................................................................................... 26

1.2.1 – O contexto do Império Russo em finais do século XIX......................................... 26

1.2.2 – As contribuições de Lênin e Stálin sobre a Questão Nacional ............................. 28

1.2.3 – A Insurreição de Outubro e a URSS ..................................................................... 31

1.3 – KIM IL-SUNG, MAO TSÉ-TUNG, AMÍLCAR CABRAL E FIDEL CASTRO: O


NACIONALISMO NA CONCEPÇÃO DOS MARXISTAS DO TERCEIRO MUNDO
EM MEADOS DO SÉCULO XX ......................................................................................... 34

1.3.1 – Os movimentos comunistas em diferentes contextos: da Europa à Rússia, e da


URSS aos países de passado colonial ................................................................................ 35

1.3.2 – A ênfase na independência e na libertação nacional: imperialismo-nação como a


principal contradição a ser resolvida ................................................................................. 37

1.3.3 – Nova forma de conceber o nacionalismo no seio do movimento comunista


internacional....................................................................................................................... 44

CAPÍTULO II. A REVOLUÇÃO CUBANA: DO NACIONALISMO


DE JOSÉ MARTÍ AO SOCIALISMO LENINISTA ............................ 47
2.1 – CONTEXTO HISTÓRICO E REVOLUÇÃO CUBANA ........................................ 47

2.1.1 – Colonialismo espanhol e imperialismo estadunidense.......................................... 48

10
2.1.2 – Configuração econômica e social .......................................................................... 51

2.2 – REVOLUÇÃO MARTIANA & MARXISTA-LENINISTA .................................... 55

2.2.1 – Os martianos ortodoxos e os marxistas ................................................................. 55

2.2.2 – As influências teóricas em torno de Fidel Castro ................................................. 56

2.2.3 – As concepções em disputa no seio do processo revolucionário ............................ 56

2.3 – DA LIBERTAÇÃO-NACIONAL AO SOCIALISMO ............................................. 56

2.3.1 – A estratégia programática dos revolucionários cubanos antes de 1959 ............... 56

2.3.2 – De 1959 em diante: revolução nacional-libetadora ininterrupta ao socialismo .. 56

2.3.3 – A concepção martiana e marxista-leninista como concepções complementares . 56

CAPÍTULO III. O NACIONALISMO NA FORMAÇÃO


EDUCACIONAL E CIDADÃ DO POVO CUBANO ............................ 57
3.1 – EDUCAÇÃO, CONSCIÊNCIA SOCIAL E IDEOLOGIA ...................................... 57

3.1.1 – aaa ........................................................................................................................... 57

3.2 – PENSAMENTO MARTIANO E MARXISTA NA FORMAÇÃO EDUCACIONAL


E CIDADÃ DO POVO CUBANO ....................................................................................... 57

3.2.1 – aaa ........................................................................................................................... 58

3.3 – O NACIONALISMO E A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO............................. 58

3.1.1 – aaa ........................................................................................................................... 58

CONCLUSÃO ........................................................................................... 59

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 60

11
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema o nacionalismo e o movimento comunista nos


países do terceiro mundo a partir da experiência da Revolução Cubana. A construção do
socialismo em Cuba, norteada simultaneamente pelo ideal martíano e pelo marxismo-
leninismo, apesar das particularidades, nos apresenta características presentes na
esquerda e no movimento comunista dos países do terceiro mundo como um todo.
Refletiremos acerca das diferentes abordagens sobre o nacionalismo no seio do
movimento comunista internacional – no transcorrer do século XIX e em princípios do
século XX – para compreender a relação entre nacionalismo e movimento comunista nos
países do terceiro mundo em meados do século XX.

O nacionalismo, antes visto pelos comunistas enquanto um obstáculo político para


a organização do movimento operário, e também pouco tratado nos escritos de Marx e
Engels, passa a ter uma maior importância – mesmo que secundária – nos escritos de
Lênin e Stálin. O Marxismo e a Questão Nacional (redigido por Josef Stálin, entre 1912
e 1913), por exemplo, foi uma obra chave para orientar a posição dos bolcheviques na
Rússia e dos comunistas em vários outros países acerca da questão nacional. Posterior a
isso, podemos perceber como o processo de descolonização e as lutas de independência
possibilitaram uma mudança de entendimento do nacionalismo entre os comunistas dos
países de terceiro mundo. Por exemplo, nos escritos de Kim Jong-Il, Para Compreender
Corretamente o Nacionalismo (2002) ele esboça a posição dos comunistas coreanos, que
em síntese diz que os teóricos anteriores do movimento comunista não compreenderam
corretamente a questão nacional, afinal, este tema merecia atenção, não apenas
secundária, mas sim primordial.

Para além dos comunistas coreanos, esta nova perspectiva do nacionalismo também
pode ser encontrada nos marxistas presentes nas lutas de independência do continente
africano, nas lutas anticoloniais de outros países da Ásia, assim como nos processos de
resistência anti-imperialista na América Latina. O processo revolucionário cubano situa-
se dentro deste contexto, em que o nacionalismo e a luta de classes estiveram intimamente
ligados. A luta nacional aqui, passa a ser parte constituinte, e não um entrave, da luta de
classes, não como um elemento secundário à parte da infraestrutura econômica, mas sim
prioritário, na busca pela independência econômica da nação em relação ao imperialismo.

12
E no caso cubano, este aspecto é ainda mais exposto, uma vez que a estratégia da
revolução foi de libertação nacional e só anos mais tarde o seu caminho socialista é
colocado de maneira oficial pela República de Cuba.

O objetivo deste trabalho consiste, portanto, em analisar a relação orgânica que há


entre o nacionalismo martíano e o socialismo marxista-leninista, na concepção dos
comunistas cubanos. Quais os interesses socioeconômicos motivaram o surgimento desse
nacionalismo? Quais interesses de classe justificam historicamente a presença do
nacionalismo no ideário comunista cubano? São questões a serem levantadas.

E, uma vez que, a infraestrutura condiciona as superestruturas do resto da sociedade


(MARX, Karl. 2008. p.47), é preciso se atentar também como a questão nacional irá se
refletir nas superestruturas políticas, em particular na Educação. E devemos compreender
“Educação” não apenas como as estruturas formais do ensino básico, mas também as
demais instituições e organismos que tenham como finalidade formação política, cidadã
e de consciência. É possível notar a presença de elementos nacionalistas nestas
instituições? No que concerne aos valores morais, políticos e de cidadania, o ideal
martíano cumpre algum papel na formação da população além dos já conhecidos valores
socialistas? Estas também são indagações pertinentes que devem ser respondidas.

Para esse processo de conscientização sobre a questão da libertação nacional e


social – que aqui, fazem parte de um mesmo processo –, a Educação em Cuba tem um
papel fundamental. As instituições de ensino estão alinhadas ao interesse de formar um
novo homem; as eleições, por exemplo, possuem uma forte participação popular e um
intrínseco elemento patriótico. O nacionalismo e patriotismo cubano está presente em
todas essas esferas da sociedade, é um sentimento que se faz presente no povo cubano
desde antes da tomada de poder pelo Exército Rebelde (Mundo Socialista: A Revolução
Cubana. 2016. p.35-41).

Portanto, o nacionalismo cubano possui uma base material, foi construído e


condicionado por interesses de classes desde antes da revolução, se consolida com o
processo revolucionário – uma vez que ele se alinha aos interesses do projeto societário
do Partido Comunista de Cuba (PCC) – e é parte fundamental da formação educacional e
cidadã do povo cubano após 1959.

13
Cabe a nós abordar o nacionalismo não como um fenômeno histórico em si, isolado
da economia, da política e das demais esferas da sociedade, mas sim inter-relacionar o
nacionalismo com a infraestrutura e as superestruturas. Compreenderemos, assim, a
contradição imperialismo-nação em termos de classes (e dos interesses destas classes), a
partir do materialismo histórico, não empregando as usuais definições de nacionalismo
que desprezam estas questões.

A associação entre movimento comunista e sentimento nacionalista pode parecer


uma heresia aos ouvidos de muitos, dentre militantes de organizações políticas até à
acadêmicos. Na própria tradição trotskista (e de outras correntes anticapitalistas, como o
anarquismo) há uma resistência a se associar ao nacionalismo, seja por pontuarem como
erro tático ou estratégico, seja por execrarem o nacionalismo como algo nefasto
(geralmente associado à direita política).

Nos próprios postulados de Trotsky podemos ver a resistência do mesmo em


relação a um projeto societário nacional, na sua defesa da conhecida “Revolução
Permanente”, para ele, a vitória das revoluções de países não centrais depende
necessariamente da vitória da revolução nos países centrais e desenvolvidos, o que
desencadearia necessariamente o sucesso da Revolução Internacional (TROTSKY, Leon.
1985. p. 24-25). Isto claro, no posto da esquerda internacional, mas também há que se
considerar fatores nacionais. No caso do Brasil, essa ressalva quanto ao nacionalismo por
parte da esquerda foi fomentada por diversos fatores, desde as divergências teóricas bem
como motivações históricas. Quando ao aspecto teórico mais geral já citamos na presente
introdução, também discorreremos com maior precisão no 1º capítulo. Mas ainda
podemos refletir sobre as motivações históricas. Numa América Latina marcada em sua
história por cruéis ditaduras e regimes de exceção que justificavam seus crimes – para
além do fantasma do comunismo insuflado pela Guerra Fria – com a defesa da pátria, da
ideia de que tudo se justifica em prol da segurança nacional, da promoção de um
sentimento patrioteiro exagerado e do estímulo do ufanismo, é de se esperar que tenha
plantado entre alguns setores da esquerda uma semente antinacionalista. Entretanto,
sentimentos não podem se misturar com método de análise, e não podem interferir a
precisão das informações e na busca da verdade histórica.

Ora, a importância de estudarmos este tema se dá pela necessidade de esclarecermos


estas questões; de expor que sim, é possível haver um nacionalismo no seio da esquerda

14
e no movimento comunista, sobretudo se estamos tratando dos países do terceiro mundo.
E os exemplos práticos – tanto em termos de movimentos organizados em países
dependentes, quanto em termos de países que já passaram por processos revolucionários
e de independência – são muitos. No caso do presente trabalho, a Revolução Cubana é
um dos maiores destes exemplos históricos, e por isto é objeto de estudo da mesma.

E, para fins de uma melhor compreensão sobre o tema, sistematizamos o presente


estudo em três capítulos:

No primeiro capítulo – O desenvolvimento do conceito de nacionalismo no seio


do movimento comunista: de Marx e Engels, Lênin e Stálin, aos comunistas do
Terceiro Mundo – analisamos a abordagem do movimento comunista sobre o
nacionalismo em distintos contextos históricos. Primeiramente no momento do
surgimento do socialismo científico, no século XIX, logo depois nos escritos de Lênin e
Stálin no início do século XX e, por último, nas formulações teóricas de dirigentes e
lideranças comunistas de países do terceiro mundo.

No segundo capítulo – A Revolução Cubana: do nacionalismo de José Martí ao


Socialismo Leninista – traz a análise das particularidades do nacionalismo cubano e da
aplicação das ideias de José Martí concomitante ao marxismo-leninismo na edificação do
socialismo em Cuba. Analisa na Revolução Cubana o seu caráter nacional-libertador (que
deu início ao processo) e socialista (do qual ela se encaminhou), e os interesses de classe
por trás desta estratégia programática.

O terceiro capítulo – O Nacionalismo na Formação Educacional e Cidadã do


Povo Cubano – relaciona a questão nacional e o legado de José Martí na formação básica
do povo de Cuba. Analisa a presença do nacionalismo e do ideal martíano em todas as
esferas de formação da sociedade – como nas escolas, nas faculdades, na política, nas
eleições – levando em conta o nacionalismo como um instrumento de mobilização
perfeitamente alinhado aos propósitos da construção do socialismo na pátria cubana.

Acreditamos que esta estruturação nos permite debruçar com clareza sobre a
presença do nacionalismo em Cuba, situando o movimento comunista historicamente a
partir das diferentes abordagens que o mesmo teve sobre o nacionalismo e a questão
nacional. Situando também o movimento comunista cubano no quadro geral dos

15
comunistas que se fizeram presentes nas lutas anticolonialistas e anti-imperialistas de
países de África, Ásia e América Latina.

Um projeto societário nacionalista em sua forma e socialista em seu conteúdo, não


foi algo inédito em Cuba e, nem muito menos, aconteceu apenas lá. A Revolução Cubana
possui suas particularidades inegavelmente nacionais, mas é fruto de um contexto geral
da luta de classes no século XX, entre as emancipações nacionais e anticoloniais contra o
que Domenico Losurdo chama de “reação colonial” (2017). Cuba, não por menos, faz
parte deste contexto.

Por estes motivos elencados a estruturação deste estudo tem por base não apenas o
traçar da linha da história do movimento comunista do século XIX à meados do século
XX, como também chegamos ao nosso objeto de análise – a Revolução Cubana – indo
do geral ao específico, partindo do total para entender o particular. Isto significa que
nossa análise situa a Revolução Cubana no contexto geral do terceiro mundo, antes
mesmo de nos aprofundarmos no contexto específico e nacional do movimento comunista
de Cuba.

Sabemos que as “esquematizações”, das mais simples as mais complexas, podem


excluir em menor ou maior grau, aspectos importantes da história da Revolução Cubana
ou do estudo do movimento comunista e nacionalista no terceiro mundo. Entretanto,
devido à falta de uma alternativa mais adequada, achamos que a estruturação de capítulos
proposta ajudará na leitura sobre o tema.

Isto é o que almeja o autor do presente estudo.

16
CAPÍTULO I.

O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE NACIONALISMO

NO SEIO DO MOVIMENTO COMUNISTA: DE MARX E ENGELS,

LÊNIN E STÁLIN, AOS COMUNISTAS DO TERCEIRO MUNDO

A maneira como o movimento comunista internacional tratou o nacionalismo


passou por diferentes estágios. Para compreender como se inicia a relação íntima entre
comunistas e nacionalismo nos países do terceiro mundo, por sua vez, é necessário
entender os antecedentes do movimento comunista no que concerne a questão nacional.

Desde o século XIX à meados do século XX, a questão nacional deixa de ser um
tópico à parte (como entre Marx e Engels), passa a ser um tema discutido e de certa
relevância (como com Lênin e nos escritos de Stálin), e, por último, se torna um assunto
central e prioritário (como entre os comunistas Kim Il-Sung e Amílcar Cabral).

Como essa mudança na postura dos comunistas se desenvolveu nestes anos? Como
houve marxistas simpáticos ao nacionalismo se na origem da tradição marxista havia um
forte sentimento antinacionalista?

Analisaremos essa histórica mudança de postura no movimento comunista, como


também analisaremos o desenvolvimento histórico destas categorias e conceitos. Assim,
estas e outras questões serão respondidas no presente capítulo.

1.1 – MARX & ENGELS: O NACIONALISMO NO SÉCULO XIX

Na “primeira geração” do movimento comunista (se assim pudermos chamar a


geração de socialistas que militou sob a liderança de figuras como Marx e Engels)
podemos ver um movimento que se caracterizava por uma abordagem pouco receptiva
em relação ao nacionalismo.

Assim, o movimento comunista se constitui no Século XIX, século justamente


caracterizado pela eclosão do problema nacional, um problema que está “na ordem do
dia” em toda a Europa, e é sentido constantemente pelos comunistas no seio do

17
movimento operário; e a questão nacional e o nacionalismo eram vistos, é óbvio, como
um “entrave”. O movimento comunista, portanto, “herdou” uma Europa imersa no mar
do problema nacional, e avaliavam esta imersão justamente como um “empecilho”.

Para compreendermos isso é importante nos debruçarmos sobre a própria categoria


de Nação em vigor na Europa daqueles tempos, e de como o problema nacional
influenciou de forma prática o movimento operário nos países europeus.

1.1.1 – O Contexto: A ideia de Nação no século XVIII e a eclosão do problema


nacional no século XIX

Marx e Engels estão dentro de um determinado contexto. Este contexto tem um


local, a Europa; e tem um momento histórico, o século XIX. E quando tratamos da Europa
do século XIX, aqui, não nos limitamos a citar uma localização territorial sob determinada
faixa de tempo, vazia de conteúdo histórico e social; ela tem em si um contexto, isto é,
um momento histórico. Que momento histórico seria este? O momento da eclosão do
problema nacional. Para além do acelerado crescimento do movimento operário, do
crescimento numérico dos adeptos do comunismo e do anarquismo, temos a ascensão de
outros fenômenos. Sim, de fato, o movimento comunista cresce e a “questão social” ganha
corpo, mas o problema nacional ainda era uma questão muito latente para além da própria
questão da recém “descoberta” luta de classes. Como diz Otto Vossler:

O nacionalismo é a força política mais característica dos séculos XIX e XX.


Como os séculos XVI e XVII podem ser chamados de séculos das guerras de
religião, o final do século XVII e o século XVIII de séculos do iluminismo, o
século XIX e o XX, pode ser dito, são séculos do nacionalismo. Com efeito,
todos os grandes movimentos políticos posteriores à Revolução Francesa são,
expressões e efeitos da vontade nacional (VOSSLER, Otto, 1949, p. 1 apud
DE PAULA, João Antônio, 2008).

Para entendermos a magnitude do tema, a priori devemos compreender a proporção


da força que tinha o nacionalismo entre os intelectuais e movimentos políticos, chegando
a influenciar em vários países – sobretudo da Europa – muitas correntes de pensamento e
teóricos renomados de distintas áreas acadêmicas.

Como nos diz João Antônio de Paula:

Essa lista, mais que uma coleção arbitrária, sintetiza a ampla gama de
perspectivas que o tema “nação” motivou: o romantismo democrático de
Rousseau e Jefferson; o conservadorismo exaltado de Burke; o idealismo de

18
Fichte e Hegel; o liberalismo de Mazzini; o historicismo conservador de
Ranke. De fato, tanto a ideia de nação quanto a materialização concreta das
nações e dos nacionalismos a partir da Revolução Francesa são marcados
pelas disputas e pelas tensões, pelos conflitos e pelas guerras. (DE PAULA,
João Antônio. 2008. p. 1).

O nacionalismo pode não ter surgido na França, mas é no desenrolar da Revolução


Francesa que ele ganha corpo. A Revolução Francesa, como um dos maiores eventos
políticos da história no século XVIII, influencia várias nações emergentes na Europa:

Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a


influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram
formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. (...) foi a França que
fez suas revoluções e a elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de
um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as
nações emergentes (HOBSBAWM, Eric J. 1989, p.71).

A França deu “o primeiro grande exemplo”, consolidando o conceito e o


vocabulário do nacionalismo (além de outros conceitos e outros assuntos); a questão da
nacionalidade na Europa ganha uma dimensão política sem precedentes, afinal esta foi a
“obra da Revolução Francesa” (Ibidem. p.71). Entretanto não podemos nos limitar a
entender a questão nacional no século XIX a partir, apenas, da França do século XVIII.
É preciso entender o nacionalismo historicamente a partir, também, de outros eventos
históricos que se sucedem.

Olhando o nacionalismo no século XIX, para além do legado deixado pelos


franceses no século XVIII, a questão nacional vai se manifestar nos diversos países de
formas muito distintas. Não nos limitando ao tratamento da questão nacional nos países
que já haviam Estados Nacionais estabelecidos (como a França), devemos levar em conta
como se dava a questão nacional nos países que ainda não tinham levado a cabo o
estabelecimento destes mesmos Estados Nacionais. Havia ainda nações que estavam em
pleno movimento de unificação, e neste contexto, é preciso destacar que tanto a Alemanha
quanto a Itália só vieram resolver a questão nacional (na formação de um Estado Nacional
unificado) na década de 1870. E não só isso, pois há mais exemplos onde a questão
nacional se expressão de formas distintas da França, a exemplo do contexto pós-
Independência (como nos Estados Unidos).

O que motivou o processo de independência dos Estados Unidos foram


divergências políticas e administrativas com a coroa inglesa. Em toda história do

19
movimento de independência dos Estados Unidos, pode-se constatar que não havia a ideia
de uma “nação americana oprimida”. No início da luta que desencadeou a independência,
eles não deslegitimavam o rei enquanto o governante, o que denota uma motivação
diretamente administrativa e não política e nacional. Nos Estados Unidos, a ideia de
nação vem depois da independência já ter sido realizada. Surge da “necessidade” de se
constituir uma “identidade nacional” no contexto de pós-independência.

Segundo o próprio Thomas Jefferson, líder da independência dos EUA:

Acredite em mim, caro senhor: não há no império britânico um homem que


ama tão cordialmente uma união com a Grã-Bretanha do que eu. Mas, pelo
Deus que me criou, que eu deixe de existir caso me renda a um acordo nos
termos tais quais o Parlamento britânico nos propõe, e neste caso, eu acho que
falo em nome dos sentimentos de toda América.1

Como vemos nas palavras de Thomas Jefferson, ainda havia uma noção de que os
mesmos pertenciam ao império britânico, assim como eles não eram hostis a possibilidade
de união. Todavia, os termos impostos para essa união, por parte do colonialismo
britânico eram bastante hostis aos “sentimentos de toda América”. Não há aqui uma
identidade nacional forjada, e apesar de haver alguns casos em que a identidade nacional
precede o Estado, nos EUA (como em muitos casos) foi o Estado que precedeu a Nação.

E ainda há, na Europa, as minorias nacionais que são obrigadas a viverem sob um
Estado Nacional do qual elas não se reconhecem ou não se identificam, desejando ter sua
autonomia e independência em relação àquele Estado. Um exemplo deste caso, é a
questão irlandesa na luta contra os britânicos. Um problema que não se expressou apenas
no século XIX e que, já existia em séculos anteriores e, persiste até os dias atuais.

Fica perceptível que a questão nacional e o nacionalismo no século XIX expressava-


se de distintas formas. O tema pode ser abordado em diferentes conjunturas e contextos:
o nacionalismo que persistiu na França desde a Revolução Francesa; a unificação nacional
da Itália e da Alemanha na década de 1870; a identidade nacional construída no pós-

1
Original em inglês: Believe me, dear Sir: there is not in the British empire a man who more cordially
loves a union with Great Britain than I do. But, by the God that made me, I will cease to exist before I
yield to a connection on such terms as the British Parliament propose; and in this, I think I speak the
sentiments of America (Disponível em: https://www.khouse.org/articles/2013/1128/print/, acessado em
12 de setembro de 2018).

20
independência dos Estados Unidos; o nacionalismo enquanto a defesa da
autodeterminação, como no caso irlandês; e entre outros casos.

A questão nacional nunca se expressa em um país da mesma forma que se expressa


em outro. E apesar destes muitos nacionalismos guardarem em si fortes semelhanças ou
“pontos essenciais”, há aqueles casos que se demonstram quase que antagônicos de tão
diferentes que são uns dos outros (ou por serem realmente movimentos antagônicos em
termos práticos, no sentido de conflito político, conflito armado ou outro tipo de embate).

Fica evidente para nós como os conceitos não são fixos: eles precisam ser situados
historicamente, pois a depender do lugar ou do momento histórico, um mesmo conceito
pode carregar significados completamente diferentes. Assim é o nacionalismo, que
permuta seu significado histórico se enquadrando à desde um Estado chauvinista que
utiliza os interesses da nação como justificativa para invadir e colonizar um outro país,
até para definir o sentimento de um povo que busca sua independência e
autodeterminação na intenção de viver segundo sua própria nacionalidade. Esta
historicidade presente no conceito de nacionalismo deriva também das especificidades –
econômicas, políticas e culturais – de como a questão nacional tem avançado em
determinado país e em determinado tempo.

Essa é, grosso modo, a situação da questão nacional no século XIX: ela está presente
na sociedade francesa de uma forma, que é diferente da forma tratada na Itália e Alemanha
que, por sua vez, é diferente da questão irlandesa, que, também, é bastante distinta da
questão nacional nos Estados Unidos. Assim está posta a questão nacional no século XIX,
no momento histórico vivido pelos “pais” do socialismo científico, Marx e Engels.

1.1.2 – A “negligência” do movimento comunista para com a questão nacional no


século XIX

Não é difícil encontrar materiais que teçam a perspectiva “pouco simpática” dos
socialistas científicos com a questão nacional e o nacionalismo nas primeiras décadas do
movimento comunista. A abordagem dos comunistas nesta época variava do destrato e
afastamento do assunto para uma completa e total secundarização do mesmo.

Na primeira metade do século XIX, os comunistas não consideravam que a questão


nacional tivesse tamanha importância, uma vez que o capitalismo estava cada vez mais
diminuindo as diferenças entre os povos de distintas nações europeias. Essa noção

21
advinha do fato de que o capitalismo estava, naquela época, se consolidando cada vez
mais como um modo de produção econômico “internacionalizado”; apresentava-se
menos “localizado” e mais “integrado” em distintos países e nações. E essa percepção
entre os comunistas era reforçada pela célebre frase do Manifesto do Partido Comunista,
“Os operários não têm pátria”.

Os isolamentos e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada


vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a liberdade de comércio,
com o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e com as
condições de existência a elas correspondentes. A supremacia do proletariado
fará com que desapareçam ainda mais depressa. A ação comum do
proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras
condições para sua emancipação. (MARX & ENGELS. 2005. p. 56)

No escrito de Engels, Princípios Básicos do Comunismo, datado de 1847 (ano


anterior a publicação do Manifesto Comunista) podemos encontrar alguns trechos que
reforçam esse tratamento dos socialistas científicos da época com o assunto. Na resposta
da 19º pergunta, que aborda sobre a possibilidade de a revolução ocorrer apenas em um
país, Engels fala, entre outras coisas, que:

A revolução comunista não será, portanto, uma revolução simplesmente


nacional; será uma revolução que se realizará simultaneamente em todos os
países civilizados, isto é, pelo menos em Inglaterra, na América, em França e
na Alemanha. Ela desenvolver-se-á em cada um destes países mais rápida ou
mais lentamente, consoante um ou outro país possuir uma indústria mais
avançada, uma maior riqueza, uma massa mais significativa de forças
produtivas. Na Alemanha ela será efetuada, portanto, mais lenta e
dificilmente, em Inglaterra mais rápida e facilmente. Ela terá igualmente uma
repercussão significativa nos restantes países do mundo, transformará
totalmente e acelerará muito o seu atual modo de desenvolvimento. Ela é uma
revolução universal e terá, portanto, também um âmbito universal (ENGELS,
Friedrich, 2018. p. 29).

A seguir, no mesmo texto, a 22ª pergunta traz o seguinte questionamento: “qual


será a postura do comunismo face as nacionalidades existentes?”. Em resposta, Engels
reafirma a sua visão quase “cosmopolita” da integração “internacional” e “universal”
defendendo a posição de que as nacionalidades deverão se dissolver por consequência da
abolição da instituição da propriedade privada. Como ele mesmo aborda:

As nacionalidades dos povos se associam de acordo com o princípio da


coletividade, sendo estes obrigados a conviverem uns com os outros, como
resultado desta associação, dissolver-se-ão as nacionalidades, assim como os

22
Estados e as distinções de classe, por meio da revogação de sua base: a
propriedade privada (Ibidem. p. 33).

As declarações de Marx e Engels nos apontam para um movimento com pouca


preocupação com a questão nacional, e absolutamente nenhuma proximidade pelo
nacionalismo. Até aí, sempre que os socialistas científicos apresentavam alguma
declaração que citasse o tema das nacionalidades, quase sempre a questão girava em torno
de como as nacionalidades irão “desaparecer” no “triunfo da revolução” ou de como “a
revolução deve desconhecer fronteiras e nacionalidades”, afinal, “a revolução não será
simplesmente nacional, mas sim, uma revolução em todos os países civilizados” (Ibidem.
p. 29). Tal era a perspectiva do movimento comunista nesta época.

Além do próprio desenvolvimento da burguesia – cada vez mais internacional, e


menos “localizada” – há a questão do nacionalismo ser visto como um entrave para o
avanço do comunismo no seio do movimento operário. No século XIX, um dos “séculos
do nacionalismo” (VOSSLER, Otto, p.1 apud DE PAULA. 2008), podemos perceber o
crescimento vertiginoso do movimento operário:

os partidos socialistas e trabalhistas cresciam em quase toda parte, num ritmo


que, dependendo do ponto de vista do observador, seria extremamente
alarmante ou maravilhoso (HOBSBAWM, Eric J. 1988. p.170).

Entretanto, tal crescimento estaria “vulnerável” a certos problemas, como na


questão das diferenças de funções e ofícios no seio da classe operária, que viam sua
função como “melhor” ou “superior”, enquanto viam os operários de outra divisão ou
função como “piores” ou “inferiores”, e, para além disso, haviam as diferenças por
questões religiosas e, mais ainda, por questões de nacionalidade.

“Desta forma, aquilo que poderia parecer uma concentração de homens e mulheres
numa única classe operária” acabava por se resumir a apenas uma “gigantesca dispersão
de fragmentos da sociedade” (HOBSBAWM, Eric J. 1988. p.173), que podemos chamar,
de fato, como uma divisão entre velhas e novas comunidades.2

2
Estas colocações da obra de Hobsbawm se remetem aos últimos anos do século XIX e anos iniciais do
século XX. Elas foram escritas a fim de contextualizar e apresentar os antecedentes do problema nacional
nos 40 anos que precederam a I Grande Guerra Imperialista; apesar de focar em dar contexto à I Grande
Guerra, esses trechos nos elucidam sobre os problemas dos comunistas com a questão nacional e com os
nacionalistas (no seio do movimento operário) na segunda metade do século XIX de uma forma geral.

23
Esta relação distante e “problemática” dos socialistas científicos com a questão
nacional persistiu por longa data após a publicação do escrito Princípios Básicos do
Comunismo (1847) e do Manifesto do Partido Comunista (1848). Isso pode ser
constatado com a atitude dos socialdemocratas alemães que, contando com o aval de
Marx, recusaram-se a acrescentar a questão nacional no programa do partido, e ainda
declararam que tal problema era “uma questão meramente burguesa” (GALLISSOT,
René In HOBSBAWM, Eric J. (Org.). 1986. p.173).

Há também dois fatores – não intencionais – que reforçam esse internacionalismo


presente no socialismo científico, e nada colaboram para a existência de um sentimento
nacionalista entre os comunistas: o exílio e a expatriação. Como diz Hobsbawm:

Entre os movimentos sócio-revolucionários, que aceitavam cada vez mais a


orientação proletária, o internacionalismo aumentou a sua força. A
Internacional, como organização e canção, viria a se transformar em parte
integrante dos movimentos socialistas já para o final do século. Um fator
acidental que reforçou o internacionalismo de 1830-48 foi o exílio. A maioria
dos militantes políticos da esquerda continental foram expatriados durante
certo tempo, muitos durante décadas, reunindo-se em relativamente poucas
zonas de refúgio e asilo: a França, a Suíça e, até certo ponto, a Grã-Bretanha
e a Bélgica (HOBSBAWM, Eric J. 1989, p.147-148).

Com tudo que foi levantado, entendemos o porquê de Marx e Engels serem
considerados apenas internacionalistas que atribuíam ao socialismo científico um caráter
necessariamente internacional. Não entendemos só isso, como compreendemos como o
movimento comunista em suas primeiras décadas ficou conhecido por ter uma postura
quase que de “oposição” às lutas nacionais. Esta era uma relação completamente distante
da questão nacional, por serem consideradas “questões burguesas” que

de resto, em muitos casos, faziam atrasar a luta do proletariado por sua plena
emancipação, que seria, também, a que significaria a emancipação do
conjunto da humanidade de sua efetiva "menoridade" (DE PAULA, João
Antônio. 2008).

1.1.3 – A década de 1870: a postura dos comunistas perante a questão nacional


começa a mudar

Muito falamos sobre o tratamento dos comunistas para com o problema nacional
no decorrer do século XIX, entretanto, temos de lembrar que, a partir da década de 1870,
a postura do movimento comunista em relação a questão nacional dá suas primeiras

24
mostras de mudança, antes das formulações mais basilares sobre o tema que serão
elaboradas pelos bolcheviques no Império Russo décadas mais tarde.

Outra questão, nem por isso menos importante, é a relativa ao modo particular
como Marx e Engels consideraram, em suas atividades como jornalistas e
políticos, as questões relativas às nações, às lutas nacionais. Nesse caso, é
preciso dizer que também aqui há que distinguir duas fases no tratamento da
questão da nação por parte de Marx e Engels (Ibidem).

A primeira grande etapa do pensamento de Marx sobre a questão nacional é


“marcada por perspectiva internacionalista, que secundariza, absolutamente, a questão
nacional, e que se encerra no início dos anos 1870”.

E a segunda grande etapa seria

a partir do início dos anos 1870, que vai até o final da vida de Marx, em 1883,
em que assumem importância as questões nacionais, destacando-se aí o
interesse crescente de Marx pela realidade russa e, por extensão, pela realidade
de outros países da periferia do capitalismo, sem que isso signifique abandono
da perspectiva internacionalista (Ibidem).

O crescimento da Primeira Internacional e a formação do primeiro governo operário


da história – a Comuna de Paris (em 1871) – colaboram de alguma forma com a inflexão
de Marx sobre a questão nacional, e a sua posição de que a revolução social terá como
sede primordial as potências capitalistas centrais. Entretanto, depois do desfecho histórico
da Comuna – isto é, de sua derrota –, Marx se vê obrigado a reavaliá-la, tanto em suas
virtudes quanto em suas limitações. Grosso modo, reavalia o conjunto de suas táticas e
estratégias, bem como das ideias dos movimentos socialistas.

Mediante isto, Marx começa a se debruçar sobre à Rússia, talvez mesmo antevendo
que de lá viriam elementos determinantes de uma nova onda revolucionária no mundo.
Então, a partir de 1872, Marx passa observar de maneira mais atenta a vida política deste
país; ele entre em contato com militantes e intelectuais de lá, e é por isso que a primeira
tradução de O Capital será, não coincidentemente para o idioma russo (Ibidem).

A partir daí, também podemos observar declarações de Engels que tratam sobre a
questão nacional numa carta enviada a Kautsky em fevereiro de 1882:

Duas nações na Europa têm não só o direito senão a obrigação de serem


nacionais antes de serem internacionais: os irlandeses e os poloneses. Uma
vez que logrem ser nacionais, serão também melhores internacionais.

25
A pequena mudança de postura deles frente aos russos, assim como a postura deles
frente à questão irlandesa, possui uma importância teórica substancial. Estas mudanças,
ainda que pequenas, demarcam uma nova etapa na abordagem do problema nacional no
movimento comunista em finais do século XIX, o que pode ser levado em conta como
um primeiro passo antes das formulações teóricas mais aprofundadas sobre o problema
nacional realizada pelos bolcheviques.

1.2 – LÊNIN & STÁLIN: OS COMUNISTAS E A QUESTÃO NACIONAL NO


INÍCIO DO SÉCULO XX

A pequena mudança de postura dos socialistas científicos na década de 1870 foi


precursora do “salto qualitativo” que vai haver no tratamento da questão nacional entre
os marxistas russos anos mais tarde.

Lênin escreverá o panfleto A Classe Operária e a Questão Nacional (1913) e depois


Sobre o Direito das Nações à Autodeterminação (1914). Nesta mesma década Stálin
escreverá um consagrado ensaio intitulado O Marxismo e a Questão Nacional (1913).
Como vemos, na Rússia, a década de 1910, entre os debates teóricos dos bolcheviques, a
Questão Nacional figurará entre os temas de importância.

Pela primeira vez na história, uma organização comunista leva a questão nacional
para o centro de seus debates, realizando escritos e obras inteiras destinadas integralmente
a debater tal problema. Do inicial destrato total em relação a tal tema, a Questão Nacional
passa a ganhar corpo e ter alguma importância prática real.

1.2.1 – O contexto do Império Russo em finais do século XIX

Ao contrário do que se concebe nos Estados Nacionais europeus – como o Estado


Nacional da França, um “Estado da nação francesa” –, o Império Russo era constituído
de várias nações e culturas. Não há um Estado Nacional russo, mas sim um Império
formado com “retalhos” de diversas nacionalidades, ainda que os russos figurassem no
centro da política nacional. Como o Cientista Político Ronald Suny nos conta:

A variedade de entidades políticas no interior do império russo, desde o grão-


ducado da Finlândia e o vice-reinado da Caucásia até o canato de Bukhara e
Khiva, eram lembranças indeléveis dos estágios da expansão que continuou
até os últimos dias do domínio dos Romanov. Mantido unido pela força militar
e pela ideia de lealdade ao czar, o império russo não foi concebido em termos

26
étnicos (russkaia imperiia), mas como uma coleção cosmopolita de povos e
nações (rossiskaia imperiia) sob um soberano único (SUNY, Ronald G.
1998).

A elite dirigente – para além do soberano – era “cosmopolita” (seus membros


partilhavam várias origens distintas), apesar de serem russófilas. Todavia, devido ao fato
de tornarem-se leais servidores do imperador, estas mesmas elites perdem muito de sua
identificação com seus povos de origem.

As elites políticas eram cooptadas ao serviço imperial e, por muito dos séculos
XVIII e XIX, a política russa foi extraordinariamente vitoriosa em desenraizar
aqueles que poderiam ter sido os líderes da resistência ao domínio do Estado
central (Ibidem).

Até meados do século XIX a política de um absolutismo burocrático centrado na


administração russa não vai sofrer grandes intentos de resistência, todavia, essa realidade
sofrerá mudanças na década de 1880:

Entre os efeitos do czarismo estavam a imposição de uma nova ordem estatal


em sociedades que tinham pouco contato com fortes estruturas estatais, novos
regulamentos e leis, a difusão da servidão a certas regiões, como a Geórgia, e
a compulsoriedade de nova taxação. Essa russificação administrativa – sobre
sujeitos não-russos – foi acompanhada por uma auto-russificação espontânea,
que muitos não-russos consideraram vantajosa nos dois primeiros terços do
século XIX. Mas após 1881, quando o governo adotou um conjunto de
políticas mais estridentemente antinacionais e antissemitas que ameaçavam
uma homogeneização cultural forçada, etnias como a dos armênios, que
tinham sido russófilas, tornaram-se hostis ao regime czarista (Ibidem).

Estas tensões nacionais para com o poder central, no seio do Império Russo vão, de
alguma forma, influenciar a política dos comunistas. Se organizando para lutar contra o
Estado que “governa várias nacionalidades”, os comunistas russos, no início do século
XX, se encontrarão numa situação muito distinta dos comunistas europeus do século XIX.

Negligenciar a Questão Nacional num Estado de bases “multinacionais” não era


uma opção para os comunistas russos. Os comunistas precisavam estudar e se posicionar
sobre este problema que, na situação russa, “salta aos olhos”. Ao contrário do que
concebiam antes os próprios marxistas, não o fazer é que era considerado um entrave para
o avanço do movimento comunista.

27
1.2.2 – As contribuições de Lênin e Stálin sobre a Questão Nacional

No início do século XX, na Rússia, o problema nacional – em particular das


nacionalidades oprimidas do Império Russo – vai ganhar mais força depois do massacre
de 1905. Enfraquecendo a credibilidade do Estado central e da figura do czar (LÊNIN,
Vladimir. 1914). Além disso, as lutas nacionais vão ter maior expressão na política russa
a partir do momento em que o capitalismo se desenvolve mais e mais no Império Russo,
fazendo com que as burguesias identificadas com cada um desses “grupos” se
desenvolvam nestes “bairros nacionais” (STÁLIN, Josef. 1913).

A posição levantada pelos bolcheviques, claro, não serão as únicas. Há as


organizações políticas de influência marxista na Rússia, que vão fazer defesas
contundentes e exacerbadas de sua nacionalidade e cultura, se comparados com as
análises e posições dos bolcheviques. Dentre as organizações que mais se destacavam por
essa defesa contundente das identidades nacionais estavam o Bund (organização judia) e
o Dashnaktsutiun (armênio). As colocações destas organizações na década de 1910 vão
entrar em divergência ora ou outra com as posições dos bolcheviques, inclusive o Bund
é citado por Stálin em janeiro de 1913:

Das duas, uma: ou [devemos defender] o federalismo do Bund e então a


socialdemocracia da Rússia terá de se reorganizar segundo os princípios da
“delimitação” dos trabalhadores por nacionalidades; ou [devemos defender]
o tipo internacional de organização e o Bund terá de reorganizar-se segundo
os princípios da autonomia territorial, segundo o modelo da socialdemocracia
caucasiana, letã e polaca, abrindo o caminho para a causa da unificação
imediata dos trabalhadores judeus com os trabalhadores das demais
nacionalidades da Rússia (STÁLIN, Josef. 1913. Grifos meus).

A polêmica colocada é sobre a forma como comunistas defendem como deve ser a
representação no Estado. O Bund defendia uma organização que delimitava as
representações por nacionalidades e etnias independentes das unidades territoriais as
quais tais povos faziam parte. A divisão parlamentar segundo a concepção do Bund,
deveria “repartir” os cargos do parlamento a partir das identidades nacionais e culturais,
ao invés de cidades, distritos, províncias, estados, etc., como é mais “convencional” das
Repúblicas Democráticas.

Em contraste com o Bund judeu e o Dashnaktsutiun armênio, que advogavam


a posição austro-marxista de autonomia nacional-cultural extraterritorial para
as etnias (cada nacionalidade seria representada no parlamento

28
independentemente de onde residissem os seus membros), os bolcheviques
rejeitaram a ideia de autonomia cultural em favor de autonomia regional não-
étnica (SUNY, Ronald G. 1998. Grifos meus).

No ensaio Marxismo e Questão Nacional (1913), Stálin expôs esta posição do Bund
de uma “representação cultural”, e aponta que há uma outra alternativa para a
representação do Estado: o Estado deveria ser de um tipo internacional onde as cadeiras
do parlamento devem seguir princípios da autonomia territorial, fazendo com que os
trabalhadores judeus (do qual o Bund visa representar) caminhem para a “causa da
unificação imediata” com os “trabalhadores das demais nacionalidades”.

Como podemos ver:

Não há meio termo: os princípios vencem, mas não se “conciliam”. Temos,


pois, o princípio da coesão internacional dos trabalhadores como ponto
indispensável para a solução do problema nacional (STÁLIN, Josef. 1913.
Grifos meus).

Ou seja, para Stálin, o melhor caminho para a resolução da Questão Nacional é o


“princípio da coesão internacional”. A melhor forma de resolver o problema nacional
russo, segundo o mesmo, é pautando uma política de representação dos trabalhadores a
nível territorial de “toda a Rússia”. Os integrantes das distintas nações teriam direito a
representação política, como trabalhadores membros de um Estado internacional, e não
necessariamente como os representantes de uma fração nacional, cultural, etc. no seio de
um Estado cortado em “retalhos” de etnias e culturas.

Em síntese, esta é a proposta colocada por Stálin em seu ensaio de janeiro de 1913.

Alguns meses depois, em março do mesmo ano, Lênin, no texto Sobre o Direito
das Nações à Autodeterminação também contribuirá para este debate.

A dificuldade é criada, até determinado grau, pelo fato de que na Rússia lutam
e devem lutar juntos o proletariado das nações oprimidas e o proletariado da
nação opressora. Defender a unidade da luta de classe do proletariado pelo
socialismo, repelir todas as influências burguesas e cem-negristas3 do
nacionalismo — eis em que consiste a tarefa (LÊNIN, Vladimir. 1914).

3
Cem-negros: bandos monárquicos criados pela polícia czarista para lutar contra o movimento
revolucionário. Os cem-negros assassinavam revolucionários, atacavam intelectuais progressistas,
organizavam ações contra judeus.

29
Como vemos o nacionalismo é repelido como uma influência burguesa e “cem-
negrista”. A tarefa revolucionária dos comunistas é colocada em termos de unificar as
lutas do proletariado das nações oprimidas com o da nação opressora que fazem parte do
mesmo Império Russo. Todos os nacionalismos são vistos como um desvio a ser
combatido, e o mais nocivo destes nacionalismo, obviamente, é o grão-russo.

Tal estado de coisas coloca ao proletariado da Rússia uma tarefa dupla ou,
melhor, bilateral: 1) lutar contra toda a espécie de nacionalismo e em primeiro
lugar contra o nacionalismo grão-russo (Ibidem).

Como vemos, a primeira tarefa é a luta contra o “desvio nacionalista”. Qual a


segunda tarefa? A autodeterminação:

2) reconhecer não só a plena igualdade de direitos de todas as nações em geral,


mas também a igualdade de direitos em relação à constituição de um Estado.
Isto é, o direito das nações à autodeterminação, à separação (Ibidem).

Há em Lênin a defesa da separação e de autodeterminação enquanto um direito da


nação, caso assim seja a vontade daquela nacionalidade. Um direito a ser exercido por
sua vontade, caso assim deseje àquela nação a se separar, mas não que todas as nações
necessariamente se separem (o princípio da separação por meio da autodeterminação é
um direito e não um dever, pois não é algo obrigatório). Para maiores esclarecimentos
sobre esse princípio do direito à autodeterminação advogado pelos bolcheviques podemos
recorrer ao mesmo ensaio de Stálin de 1913:

A nação tem o direito de organizar-se autonomamente. Até o direito da


separação. Isto não significa, porém, que deva fazê-lo sob quaisquer
condições, que a autonomia ou a separação sejam sempre e em toda a parte
vantajosas para a nação, isto é, para a maioria dela ou para as camadas
trabalhadoras. Os tártaros da Transcaucásia, como nação, poderão reunir-se
(...), decidir a sua separação do Estado. De acordo com o princípio da
autodeterminação, têm perfeito direito de fazê-lo. Mas iria isto ao encontro
dos interesses das camadas trabalhadoras da nação tártara? (...) Não deveria a
socialdemocracia imiscuir-se no assunto e influir na vontade da nação num
determinado sentido? Não deveria apresentar um plano concreto de solução
do problema, o mais vantajoso para as massas tártaras? (STÁLIN, Josef. 1913.
Grifos meus).

E quais alternativas teriam os comunistas (na época, organizados no partido


socialdemocrata) para além da separação? Stálin prossegue:

30
Mas que solução seria a mais compatível com os interesses das massas
trabalhadoras? A autonomia, a federação ou a separação? São todos eles
problemas cuja solução depende das circunstâncias históricas concretas, que
rodeiem a nação em foco. Mais ainda: as circunstâncias, como tudo, se
modificam, e uma solução acertada para um momento dado pode ser
completamente inaceitável para outro momento. (STÁLIN, Josef. 1913).

De um lado os que advogavam um Estado internacional de autonomia territorial


(como os bolcheviques, a exemplo de Lênin e Stálin), do outro os que advogavam um
Estado baseado em nacionalidades e representações étnicas, de autonomia cultural (como
os “federalistas”, a exemplo do Bund); eram estas as posições defendidas na Rússia antes
da insurreição de Outubro de 1917.

1.2.3 – A Insurreição de Outubro e a URSS

O direito à nação e a autodeterminação são princípios aceitos pelos bolcheviques –


a depender das circunstâncias, sobretudo dos interesses da classe trabalhadora que
constituem aquela nação –, como podemos ver desde os escritos de Stálin e Lênin de 1913
e 1914. Mas, ao mesmo tempo a categoria de nacionalismo segue sendo criticada e
apontada como um desvio pelos mesmos autores. Até depois de 1917, o grosso dessas
análises dos bolcheviques se mantém. Entretanto, as posições defendidas pelos
bolcheviques quanto a um Estado internacional vão ser repensadas.

Era muito forte entre os bolcheviques a concepção de um Estado baseado na


unificação internacional, dos vários povos do Império Russo, em detrimento de um
Estado baseado nas diferenças nacionais deste mesmo país. Ou seja, a análise de Lênin e
Stálin antes da insurreição de 1917 eram, não o federalismo nacional ou as
representações culturais e étnicas, mas sim um Estado internacional. Todavia, após 1917
os comunistas “cedem” em alguns aspectos à posição federalista:

Lênin era também firme em sua resistência ao federalismo. No ano


revolucionário, a posição bolchevique ofereceu às nacionalidades uma escolha
dura: ou completa independência e separação do resto da Rússia, ou tornar-se
parte de um Estado socialista unitário com todos os direitos civis e culturais
garantidos ao povo trabalhador. Lênin acreditava que o separatismo nacional
seria reduzido pela tolerância russa e apoio à completa autodeterminação (...).
Somente em 1918 os bolcheviques mudaram sua posição em favor de um
Estado federal, no qual as nacionalidades teriam suas pátrias nacionais
territoriais (SUNY, Ronald G. 1998).

31
Como bem sabemos, a maior prova de mudança de postura quanto a estas questões
foi a própria estrutura do Estado no terminar da guerra civil em 1921.

Não se tratava do Estado russo internacional, mas da União das Repúblicas


Socialistas Soviéticas (URSS), um Estado formado pela união de várias Repúblicas
Federativas baseadas nos distintos grupos nacionais e culturais deste tão extenso país.
Assim a URSS, enquanto país, se constituiu como uma Federação de várias nações, ao
invés de ser um Estado único internacional não-federativo.

A propósito, com o passar dos anos, é possível dizer que a mudança de postura dos
bolcheviques foi um pouco além de ser uma mera concessão parcial à posição federalista
pró-nacionalidades; afinal, da mera concessão ou reconhecimento às nacionalidades, a
URSS praticamente fomentará estas identidade nacionais.

O pensamento pré-revolucionário dos bolcheviques não sobreviveu intacto à


revolução. O novo Estado soviético era ao mesmo tempo federativo (...) e
baseado em unidades políticas étnicas. De fato, por mais de uma década
seguinte à guerra civil, nacionalidades como os judeus e os armênios, e os
ucranianos na Rússia, gozaram de privilégios extraterritoriais, com suas
próprias escolas e sovietes operando em repúblicas de outras nacionalidades
(...). E a grande expectativa de que tais concessões ao princípio nacional
conduzissem à consolidação da etnia ao invés de seu desaparecimento provou
ser correta para as maiores nacionalidades. Ao invés de cadinho, a União
Soviética tornou-se incubador de novas nações (Ibidem. Grifos meus).

Assim sendo, é possível dizer que as circunstâncias e o curso histórico da URSS


marcará uma nova mudança de postura dos comunistas frente a Questão Nacional. Mas
ainda há que se levantar como os soviéticos tratavam a categoria de nacionalismo e como
também, eles tratavam outras categorias, como patriotismo.

As palavras de ordem em defesa da Pátria Soviética serão levantadas sobretudo na


II Grande Guerra – não atoa conhecida na Rússia como Grande Guerra Patriótica. O
patriotismo vai ser levantado pelos comunistas soviéticos para instigar no povo a defesa
da grande pátria socialista, a defesa do Estado soviético, em prol da edificação econômica
do país e a defesa contra invasores estrangeiros (como a Alemanha Nazista).

O patriotismo será então exaltado. O nacionalismo, todavia, será criticado.

O patriotismo, baseado na defesa do Estado, da pátria soviética em geral (formada


por várias nações) será um elemento bastante exaltado nos congressos do partido, na
32
política de propaganda do Estado, etc. Podemos conceber a posição dos soviéticos da
época, a partir deste texto de P. Fedosséiev de 1954:

Desde que o marxismo – o comunismo científico – existe, os ideólogos da


burguesia afirmaram e continuam a afirmar que o socialismo e o comunismo
seriam incompatíveis com o patriotismo, pois que defendendo os interesses do
movimento operário internacional, solidarizando-se com a política do campo
socialista e democrático, os comunistas dos países capitalistas deixariam de
ser patriotas. Na realidade, porém, é justamente a burguesia que espezinha a
bandeira da soberania nacional, a bandeira do patriotismo, e são os comunistas
que reerguem e levam avante a bandeira da luta pela liberdade e a
independência dos povos – a bandeira do patriotismo – e que reúnem em torno
de si amplas massas trabalhadoras de todos os países (FEDOSSÉIEV, P.
1954).

E, no mesmo texto, Fedosséiev ainda completa:

Os comunistas, que defendem firmemente as liberdades democráticas, entre


elas a independência nacional, elevam o movimento patriótico dos povos a um
grau superior, e cultivam o patriotismo como uma grande força na luta pela
vitória da paz, da democracia e do socialismo (Ibidem).

Como podemos ver, a categoria de patriotismo é levantada. Mas no mesmo texto


Fedosséiev cita o nacionalismo da seguinte forma:

Desenvolvendo nos homens soviéticos o sentimento patriótico de orgulho


revolucionário pelas grandes transformações socialistas realizadas, pela
primeira vez, em nosso país, e cultivando as melhores tradições nacionais, o
Partido Comunista travou e trava uma luta decidida contra a sobrevivência do
chauvinismo e do nacionalismo, que impedem a consolidação da amizade
entre os povos (Ibidem. Grifos meus).

O nacionalismo, não baseado no país, na pátria e no Estado multinacional soviético,


mas sim numa nacionalidade específica, é colocado pelos comunistas ao lado de outros
desvios – tais como o como o chauvinismo – considerados nocivos a união dos povos.

A URSS será uma “incubadora de nações” (SUNY, Ronald G. 1998), todavia os


comunistas desejam manter estas distintas nações sob a união do Estado soviético. Assim,
enxergam no nacionalismo um perigo que pode fustigar a desunião entre estes povos,
ainda que eles reconheçam o fenômeno da nacionalidade. O Partido Comunista da União
Soviética (PCUS) realizava constantes declarações sobre as “sobrevivências do
nacionalismo, de grande potência ou local”, e que ele pode se transformar em perigo se
não for travado contra ele “uma luta decidida” (FEDOSSÉIEV, P. 1954).

33
Há então um reconhecimento das nacionalidades e de certa importância da Questão
Nacional, mas há, entretanto, uma forte crítica, a qualquer intenção de colocar a nação
como um assunto central. Ou seja, há uma forte crítica ao nacionalismo.

As nacionalidades são reconhecidas, o patriotismo do Estado das várias nações é


incentivado, mas o nacionalismo em si será visto como um fenômeno que pode “colocar
os povos da União Soviética uns contra os outros” (Ibidem).

Como vemos, desde os comunistas europeus no século XIX (a exemplo de Marx e


Engels), aos comunistas russos e soviéticos na primeira metade do século XX (como
Lênin e Stálin), o debate sobre a Questão Nacional vai se desenvolvendo mais e mais, o
assunto vai ganhando mais importância, sendo mais recorrentemente citado entre a
literatura marxista; todavia, mesmo assim o nacionalismo ainda será encarado com
críticas, visto como um desvio e como um fenômeno nocivo a união dos povos, diferente
de como será visto o nacionalismo entre os marxistas do chamado terceiro mundo.

1.3 – KIM IL-SUNG, MAO TSÉ-TUNG, AMÍLCAR CABRAL E FIDEL


CASTRO: O NACIONALISMO NA CONCEPÇÃO DOS MARXISTAS DO
TERCEIRO MUNDO EM MEADOS DO SÉCULO XX

Dos comunistas europeus do século XIX ao movimento comunista russo no início


do século seguinte, a mudança na forma como lidam com a Questão Nacional ocorrida na
URSS vai ser predecessora para uma nova tomada de postura dos marxistas do dito
terceiro mundo (geralmente em países de passado colonial) em meados do século XX. As
posições dos movimentos comunistas sobre nacionalismo em países como Coreia, China,
em países do continente africano, etc., tirarão a Questão Nacional do patamar de “assunto
importante, porém não central”, para colocá-lo um assunto de caráter realmente
prioritário. Nos países asiáticos, africanos e também nos países latino-americanos, a
Questão Nacional – e o nacionalismo – será tratada pelos comunistas de uma forma
distinta como era tradado normalmente pelos comunistas europeus ou soviéticos.

O porquê disso? Devido as distintas circunstâncias histórias desses países – isso é,


o passado colonial – e da forma também distinta esse assunto se apresenta no âmbito das
contradições econômicas.

34
1.3.1 – Os movimentos comunistas em diferentes contextos: da Europa à Rússia, e da
URSS aos países de passado colonial

Na Europa o capitalismo se desenvolvia num quadro de “interdependência entre as


nações”. O capitalismo cada vez mais caminhava em prol da atenuação das “fronteiras
econômicas” entre os países centrais europeus. As diferenças entre as classes burguesas
e o proletariado de toda Europa ganham força, em detrimento das sobrevivências de
diferenças de uma nação e outra. Na concepção marxista, as diferenças entre nações serão
um conflito menor que as diferenças entre as classes que não reconhecem fronteiras.

A burguesia estava cada vez mais internacionalizada e, portanto, também estava o


proletariado. Nestas circunstâncias concluem: “os proletários não têm pátria”. A partir
desse contexto compreendemos esta posição do movimento comunista na Europa.

Na Rússia – e posteriormente na União Soviética – onde o problema nacional eclode


de forma diferente, e em um só país há várias nacionalidades, o tratamento da Questão
Nacional vai ser visto, obviamente, de forma distinta como era vista pelos comunistas
europeus. Há, aqui, um reconhecimento parcial das nacionalidades, embora mantenham-
se as críticas ao nacionalismo. Seu contexto é outro, o problema nacional eclode de uma
outra forma e, portanto, sua posição será outra.

Igualmente é nos países do terceiro mundo: o contexto histórico de um país de


passado colonial será distinto do contexto do Império Russo, e mais distinto ainda do
contexto europeu. E se “para uma época e contexto distintos, uma posição distinta”,
como se dará este contexto e esta posição?

Em países com algum passado colonial ou semicolonial, como foi a Coreia, a China,
praticamente todos os países africanos, alguns países do Oriente Médio, e a América
Latina em peso, a Questão Nacional será colocada como um tema de importância vital,
uma pauta prioritária.

Se na Europa já se constituem os Estados Nacionais baseados na Soberania, e se no


Império Russo temos um Estado “cosmopolita” de várias nacionalidades, em boa parte
do resto do mundo, as nações não possuem sequer o direito de serem independentes: são
submetidas a se manterem enquanto colônias, como semicolônias, ou como países
formalmente independentes que sofrem a chaga da dependência nacional (no campo
econômico, cultural, etc.).

35
Os povos destes países são marcados pelo peso de não terem direito à própria nação
e de não serem independentes.

Os países que sediaram movimentos comunistas marcados por esta forte influência
das lutas nacionalistas, que vão possuir traços notadamente anti-imperialistas e
anticoloniais serão vários, dentre eles: a Coreia, a China, o Vietnã, o Laos, etc. na Ásia;
Guiné Bissau e Cabo Verde, Moçambique, Angola, Alto Volta (atual Burkina Faso), etc.
no continente africano.

Na América-Latina, os movimentos comunistas também vão sofrer forte influência


do nacionalismo – inclusive o Brasil onde os comunistas formarão a Aliança Nacional
Libertadora (ANL). Em nosso continente, teremos algumas organizações bastante
conhecidas: Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-
EP), Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) em El Salvador. E dentre
vários e vários movimentos. As organizações com mútua influência marxista e
nacionalista (as vezes mais uma do que a outra) na América Latina durante todo o século
XX, serão inúmeras, algumas existindo até os dias atuais.

Notadamente, dentre os movimentos que possuem um norte com base no marxismo,


a única experiência da América Latina que “logrou sucesso” foi o movimento comunista
cubano, por meio de uma cambiante trajetória dos revolucionários nacionalistas
organizados no M26-7, do Exército Rebelde, do Partido Socialista Popular (PSP), e das
demais organizações que mais tarde organizarão o que vem a se tornar o Partido
Comunista de Cuba (PCC), dirigindo a construção do socialismo naquele país (Mundo
Socialista. 2016. p.65). Todavia, ainda que só em Cuba haja a construção do socialismo
orientada pela doutrina do marxismo-leninismo em todo continente americano, as
esquerdas em geral e os setores democráticos-populares na América Latina possuem,
também, sua importância nesse debate.

Ainda que nem sempre adeptas do marxismo, estes setores vão promover
plataformas populares quase que sempre apoiada pelos comunistas e serão marcadas por
fortes traços de um apelo ao patriótico e ao nacional (como Jango e Brizola, no Brasil),
pelas referências históricas (como Simón Rodríguez e Simón Bolívar, na Venezuela),
pela cultura popular nacional (como as canções de Víctor Jara, no Chile), etc.

36
Na maioria desses países de passado colonial ou semicolonial (da América Latina
à África, e até na Ásia), os comunistas e as esquerdas em geral vão possuir uma postura
semelhante quanto ao nacionalismo. O porquê disso? Na concepção dos próprios
comunistas haverão certas circunstâncias históricas e certa configuração de classes que
condicionará as esquerdas dos países do “terceiro mundo” à estas posições simpáticas e
próximas ao próprio nacionalismo.

Quais são estas circunstâncias citadas? Que configuração de classes seria essa?

1.3.2 – A ênfase na independência e na libertação nacional: imperialismo-nação


como a principal contradição a ser resolvida

O materialismo histórico é reconhecidamente uma corrente teórica que se encuba


de estudar a realidade, neste caso, a realidade social. Enquanto corrente teórica presente
em várias ciências (a exemplo da história, da sociologia e entre outras), o marxismo tende
a ser considerado como uma corrente que estuda a história a partir do desenvolvimento,
observando esse desenvolver e esse movimento como a consequência das contradições
materiais. No caso da economia, o estudo das relações de produção e das forças
produtivas, pressupõe compreendermos o que há de “harmonia” ou “atrito” entre esses
dois objetos (relações e forças) da produção e, no caso da história, compreendermos como
determinados grupos sociais (mais exatamente: classes) agem e reagem sobre essa base
concreta que a sociedade condiciona a todos nós, percebendo que de forma aberta ou
velada, essas condições materiais concretas vão impulsionar (ou não) o embate entre esses
grupos, sendo esses embates econômicos, sociais, políticos, e etc., “estímulos” para o
“desenvolver da história”. Basicamente o que se concebe como luta de classes.

No caso das relações entre relações de produção e forças produtivas, Marx cita que

na produção social da própria existência, os homens estabelecem relações


determinadas, necessárias, independentes da sua vontade; essas relações de
produção correspondem a um determinado grau de desenvolvimento de suas
forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção constitui
a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma
superestrutura jurídica e política e a qual correspondem formas sociais de
consciência (MARX, Karl. 2008).

Daí a necessidade da compreensão da totalidade das relações econômicas em


determinado contexto histórico e geográfico. Antes de analisar fenômenos políticos,
jurídicos, etc., num determinado país que se distingue, em muito, dos países europeus (e

37
também do contexto soviético), é necessário compreendermos as contradições
econômicas e a formação histórica do próprio “terceiro mundo” e aquilo que as constitui
como um campo diferente dos países centrais.

O movimento comunista tende a elaborar programas e plataformas para um país a


depender do contexto histórico desde mesmo país. Historicamente, os comunistas
constituem um movimento que se liga a mobilizações operárias (e de outros ramos de
trabalhadores) por meio da atenção ao contexto e as condições materiais: o programa do
Partido Comunista do Brasil (PCB) na época da ANL no Brasil constituía um programa
muito distinto da carta-programa dos comunistas britânicos e da Europa. No caso do
terceiro mundo em geral, e de Cuba em particular, nosso trabalho com este estudo é
compreender as condições materiais (e as contradições econômicas) que impulsionaram
um tipo especial de programa, especialmente o de tipo nacional-libertador.

Marx dedicou anos de sua vida nos estudos do capitalismo, na compreensão da


economia política e da própria contradição Capital-Trabalho. Por largo tempo, a
superação desta contradição é o que orientou o movimento comunista. A superação da
contradição Capital-Trabalho – que significa necessariamente a libertação do trabalho –
sempre foi o ponto nodal e de destaque da literatura marxista. Todavia, o movimento
comunista no terceiro mundo compreenderá a questão das contradições de uma forma um
pouco distinta; isto não significa que essa contradição ligada ao trabalho e ao Capital
foram esquecidas, todavia, outras contradições (econômicas) passaram a serem também
consideradas na literatura marxista, seja em tomos teóricos seja em textos panfletários.

Desde as formulações de Lênin e Dimitrov (e isto fica mais evidente com Stálin e
outros teóricos da III Internacional), a questão das contradições econômicas passou a ser
pensada de uma forma um pouco distinta do movimento comunista europeu para outros
países. No caso de países coloniais ou semicoloniais, era bastante evidente que a III
Internacional passava a priorizar uma luta de libertação do colonialismo e do
semicolonialismo. Nestes contextos, a orientação da III Internacional era a de que os
comunistas deveriam levar em consideração a burguesia nacional (ainda que esta classe
não possua uma postura “uniforme” e possa vir a se somar a reação). A contradição entre
os países coloniais e semicoloniais para com os países centrais vai ser colocada em
evidência (1928).

38
A contradição objetiva entre a política colonial do imperialismo mundial e o
desenvolvimento independente dos povos coloniais não foi eliminado, nem na
China, nem na Índia nem em nenhum país colonial ou semicolonial; pelo
contrário, a contradição acentuou-se; e ela só pode ser ultrapassada através
da luta revolucionária vitoriosa das massas trabalhadoras coloniais. Até lá, ela
[a contradição entre o colonialismo e os países subalternos] vai continuar a
operar em todas as colônias e semicolônias como um dos fatores objetivos
mais poderosos para a revolução (VI Congresso da III Internacional. 1928).

Ainda que estas análises se encontrem presente nos documentos da III


Internacional, os próprios teóricos e lideranças comunistas de cada um desses países, vai
enfatizar o contexto nacional e as próprias contradições locais.

No caso dos comunistas coreanos, liderados por Kim Il-Sung, podemos observar
isto na Conferência de Kalun, em 1930.

No dia 30 de junho de 1930, ocorre em Kalun, na China, uma reunião de


dirigentes da Juventude Comunista e Anti-imperialista. Tal reunião
representaria um marco na história do movimento comunista coreano. Nela,
Kim Il-Sung apresentou um informe intitulado O Caminho a ser Seguido pela
Revolução Coreana, que apresenta pela primeira vez as concepções da Ideia
Juche. As principais diretrizes da reunião definiram:

1) A primeira etapa da Revolução Coreana era democrática, anti-imperialista


e antifeudal;

2) As principais forças da revolução são constituídas pelos amplos setores


anti-imperialistas da sociedade coreana, formados por camponeses,
trabalhadores, estudantes, intelectuais, pequenos proprietários, religiosos e
capitalistas que possuíam alguma consciência nacional;

3) Constituir um Exército Revolucionário da Coreia, que conduziria a Luta


Armada Antijaponesa;

4) Fundar de maneira independente um partido revolucionário comunista,


corrigindo todos os erros que levaram a liquidação do antigo partido.

(Centro de Estudos da Ideia Juche In Mundo Socialista. 2015. p.26)

Em outras palavras, a libertação nacional da Coreia perante o colonialismo japonês


passou a ser considerado o ponto central dos princípios programáticos do movimento
comunista coreano desde a década de 30.

Além da Coreia temos um quadro político muito semelhante na China. Desde a


década de 1920, segundo a leitura do movimento comunista (internacional e chinês), a

39
configuração de classes existente na China preconizava uma aliança entre várias classes,
bem como entre partidos políticos que representavam essas distintas classes.

Em 1923 é celebrada a aliança entre as quatro forças capazes de fazer frente


aos senhores da guerra e tentar reunificar a China: o Kuomintang, o Partido
Comunista chinês, o Regime de Cantão e o apoio da então URSS. O Partido
Comunista chinês participa dessa aliança, seguindo a linha política da “frente
única” do Komitern, então comandada por Lênin (...). Essa linha preconizava
a aliança dos partidos comunistas com outros agrupamentos políticos não-
comunistas (MAO JR, José Rodrigues & SECCO, Lincoln. 1999. p.29).

Obviamente, no período tratado acima, o Kuomintang estava sob a liderança de Sun


Yat-sen, uma liderança nacionalista que dialogava com o movimento comunista chinês.
Após sua morte, com o Kuomintang passando a ser liderado por Chiang Kai-shek, a
relação de aliança entre os partidos se esfacelaram, sobretudo com a política de
perseguição e assassinatos de Chiang Kai-shek contra milhares de comunistas. Todavia,
a estratégia de libertação nacional, priorizando pautas anti-imperialistas, antifeudais e
democráticas, permaneceu como norte do partido.

Hu Qiaomu, militante histórico do Partido Comunista da China, pontua que essa


estratégia programática era necessária, para conseguirem contrapor a revolução à reação:

Os fatos ensinaram ao Partido e à classe operária que, para que a vitória da


Revolução Chinesa fosse conquistada, era necessário formar uma aliança
anti-imperialista e antifeudal com os camponeses, que constituíam então 80%
da população do país, com os milhões que constituíam a pequena burguesia
urbana, com os elementos democráticos da burguesia que eram pela luta
contra o imperialismo e o feudalismo e opor a contrarrevolução armada com
a revolução armada (QIAOMU, Hu. p.32).

Além desses dois exemplos na Ásia (da China e Coreia), veremos formulações
semelhantes de marxistas de países africanos, a exemplo do anticolonialista Amílcar
Cabral, reconhecido líder marxista africano, pai da nacionalidade de Guiné-Bissau:

A nossa luta é fundamentalmente uma luta de libertação nacional ou uma luta


de classes? (...) somos um povo dominado pelo colonialismo português (...).
A nossa luta é uma luta de libertação nacional. Isto quer dizer que queremos
acabar no nosso país com a dominação estrangeira, dominação sob forma
política e sobretudo sob forma econômica (...). Mas naturalmente que há, seja
no interior do país, seja sobretudo no plano das relações exteriores com o
domínio colonial, um problema de classe. A dominação colonial na nossa terra
é a dominação da classe dirigente portuguesa sobre o nosso povo ou, se o
preferirem, sobre a nossa nação considerada no seu conjunto como uma

40
classe e, portanto, a primeira contradição a resolver é exatamente acabar com
essa dominação de classe do estrangeiro sobre nós (CABRAL, Amílcar.
1974. Grifos meus).

A compreensão de Amílcar Cabral é a de que, ainda que permaneça um conflito de


classes evidente, a principal contradição de classes que aflige a nação de Guiné-Bissau é
a contradição de todo o conjunto de classes entendido como “povo guiné-bissauense”
para com as classes dominantes de Portugal. A luta de classes aqui assume um caráter
internacional e nacional simultaneamente. Internacional porque se dá além das fronteiras
de Guiné-Bissau, contra uma classe dominante de outra nação. Nacional, porque se trata
de uma luta pela emancipação nacional e um país africano contra o colonialismo
praticado por uma nação europeia, uma luta, por assim dizer, de independência.

Além desses já citados países da Ásia e da África (Coreia, China, Guiné-Bissau),


temos o exemplo concreto do próprio contexto cubano. O historiador cubano José Cantón
Navarro nos traz o debate programático em que o movimento comunista cubano coloca
sobre a Cuba pré-revolucionárioa, discutindo a questão do anticolonialismo e do
patriotismo de esquerda:

La condición de colonia en que vivía Cuba en el siglo pasado, molde ya


insoportable para la nacionalidad cubana, hacía que la tarea principal de la
nación fuera la de conquistar su independencia. Y este objetivo constituía, a
su vez, un prerrequisito para acabar con las nefastas consecuencias de la
esclavitud – no abolida hasta 1886 –, para liquidar los rasgos feudales
existentes en el campo cubano, eliminar los principales obstáculos que se
oponían al desarrollo de las fuerzas productivas y construir una república
verdaderamente democrática (NAVARRO, José Cantón. 2008. p. 40).

Como Navarro demonstra, a concepção vigente em Cuba no século XX, é uma


concepção focada na conquista de sua verdadeira independência nacional. Além disto,
tratava outras contradições econômicas – como os resquícios do trabalho escravo e servis
no meio rural, e outros obstáculos do desenvolvimento – como contradições
necessariamente relacionadas (ou até mesmo subordinadas) à contradição imperialismo-
nação. Assim, segundo a concepção dos marxistas cubanos, seria impossível realizar
avanços no sentido de resolver estes outros problemas sem a emancipação nacional.

Até então observamos a estratégia programática do grosso do movimento


comunista na Ásia (com os exemplos da Coreia e China), da África (com o exemplo de
Guiné-Bissau) e da América Latina (com o exemplo de Cuba), mas devemos responder a

41
seguinte questão: o que todos eles possuem em comum? A centralidade da Questão
Nacional, colocando suas revoluções como de caráter primordialmente anti-imperialista
e de libertação nacional, antes mesmo da construção do socialismo, e uma política comum
de categorizar teoricamente o que eles consideram como contradições principais e como
contradições secundárias. Nas palavras do próprio Mao Tsé-Tung:

Na questão do carácter específico da contradição, restam dois elementos que


requerem uma análise particular, a saber: a contradição principal e o aspecto
principal da contradição.

No processo, complexo, de desenvolvimento dum fenômeno existe toda uma


série de contradições; uma delas é necessariamente a contradição principal,
cuja existência e desenvolvimento determinam a existência e o
desenvolvimento das demais contradições ou agem sobre elas (...).

Assim pois, se um processo comporta várias contradições, existe


necessariamente uma delas que é a principal e desempenha o papel diretor,
determinante, enquanto que as outras ocupam apenas uma posição secundária,
subordinada. Por consequência, no estudo dum processo complexo, em que há
duas ou mais contradições, devemos fazer o máximo por determinar a
contradição principal. Uma vez dominada a contradição principal, todos os
problemas se resolvem facilmente. Tal é o método que ensina Marx no seu
estudo da sociedade capitalista. Esse é o método que igualmente nos ensinam
Lênin e Stálin nos seus estudos sobre o imperialismo e a crise geral do
capitalismo, bem como no seu estudo da economia da União Soviética.
Milhares de sábios e homens de ação não chegam a compreender esse método;
o resultado é que, perdidos nas brumas, eles são incapazes de ir ao nó dos
problemas e, por consequência, não podem encontrar o método para resolver
as contradições.

(TSÉ-TUNG, Mao. 1937. Grifos meus).

O que há em comum com os comunistas destes distintos continentes do dito terceiro


mundo, é que em todos eles há em comum uma condição semelhante de dependência
econômica perante o imperialismo e as potências capitalistas centrais, em muitos dos
casos reforçados por laços políticos colonialistas ou mesmo por relações semicoloniais.
A maioria dos países da América Latina, Ásia e África se encontram num quadro de
semelhante dependência e, portanto, o movimento comunista de todos esses países reagirá
de uma forma um tanto quanto semelhante a estes mesmos problemas. A formulação
programática dos partidos comunistas (e outras organizações dirigidas por marxistas)
nestas nações correspondem as leituras comuns que os mesmos possuem do quadro de
desenvolvimento econômico nestas nações, e de uma configuração de classes similar.

42
Em resumo, pode-se dizer que a base material de todos estes países, possuem
contradições semelhantes. Mais do que isso, na leitura do movimento comunista em cada
um destes países citados, onde existem diversas contradições materiais, será de “comum
acordo” que a contradição principal será a contradição Imperialismo-Nação. Ainda que
se reconheça a existência de outras contradições, a exemplo do Capital-Trabalho,
Latifundio-Campesinato, além das contradições no seio da própria burguesia, em todos
esses casos a contradição Imperialismo-Nação saltará aos olhos do movimento comunista
e será pedra-de-toque da estratégia programática de seus partidos e organizações.

A aplicação do programa de libertação nacional será levantada como passo


fundamental, e quase um pré-requisito para construção do socialismo.

Para os comunistas coreanos e para a Ideia Juche, a expulsão do colonialismo


japonês e do imperialismo norte-americano, bem como a neutralização de seus aliados
internos, é pré-requisito fundamental para construção do socialismo na Coreia. Para os
comunistas chineses e para o Pensamento Mao Tsé-Tung, a expulsão das forças
japonesas, do imperialismo britânico e a eliminação do que restou das relações feudais,
são ações prioritárias para fomentar o desenvolvimento das forças produtivas no campo
e na cidade, e para a construção do socialismo chinês.

Para o Partido Africano para a Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde,


fundado por Amílcar Cabral, a luta de classes em seu país é fundamentalmente uma luta
de libertação nacional, entre o conjunto de forças populares contra as classes dominantes
da sua antiga metrópole colonial; segundo Amílcar Cabral, apenas com a realização da
independência e da libertação nacional, Guiné-Bissau e Cabo Verde poderiam construir
uma sociedade socialista em África.

Para os marxistas cubanos, mais tarde liderados pela figura de Fidel Castro, a
construção do socialismo em Cuba, pressupunha uma luta por sua real independência,
afim de não só buscar a construção de um novo projeto societário, bem como para
resolução de outras contradições fundamentais alimentadas pela independência ao
imperialismo, como os resquícios pré-capitalistas da escravidão e servidão. Com a
resolução dessas contradições, se poderia dar passos rumo a construção socialista.

Em todos esses casos o caráter nacional-libertador esteve presente na motivação


dos agrupamentos políticos que se insurgiram contra as classes dominantes.

43
1.3.3 – Nova forma de conceber o nacionalismo no seio do movimento comunista
internacional

O nacionalismo que antes não era alvo das atenções dos comunistas no século XIX,
e que ainda era considerado como um desvio pelos bolcheviques e pela URSS no início
do século XX, agora passa a ser tratado de uma forma distinta pelos movimentos
comunistas da ampla maioria dos países do terceiro mundo. De um conceito praticamente
ignorado (no século XIX), à um desvio (para bolcheviques e URSS no século XX), o
nacionalismo passou a ser um conceito amplamente defendido e até mesmo necessário.

No discurso de Kim Jong-Il em 2002 para com membros do Comitê Central do


Partido do Trabalho da Coreia (partido governante da Coreia do Norte), ele faz uma
comparação de como o movimento comunista coreano passou a tratar o conceito de
nacionalismo, e como a tradição marxista a tratava antes:

A teoria revolucionária antecedente [i.e. o marxismo no século XIX e início


do XX] da classe operária não possui explicações corretas sobre o
nacionalismo. Prestou a atenção primordial ao fortalecimento da unidade e
solidariedade da classe trabalhadora mundial; questão que se apresentou
naquele tempo como um problema essencial no movimento socialista, mas
não se interessou como era devido pelo problema da nação. Para piorar a
situação, a causa dos grandes prejuízos que causava o nacionalismo burguês a
este movimento, foi marcada por uma corrente ideológica antissocialista,
razão pela qual seria considerado incompatível com o comunismo e passou
então a ser repudiado (JONG-IL, Kim. 2002).

E no mesmo discurso Kim Jong-Il aborda a questão do nacionalismo concomitante


ao internacionalismo e da forma como estes dois conceitos devem se relacionar:

O nacionalismo não está em contradição com o internacionalismo.


Internacionalismo é ajudar, apoiar e solidarizar-se com todos países e nações.
Dado que existem fronteiras entre os países e diferenças de nacionalidades, e
o processo revolucionário e construtivo se efetua pela unidade da nação, o
internacionalismo representa as relações entre os países, as nações, e possui
como premissa o nacionalismo. A verdade é que um internacionalismo
separado da nação e divorciado do nacionalismo não significa nada. Se um é
indiferente ao destino de seu país e povo, este não pode ser fiel ao
internacionalismo. Os revolucionários de cada país devem ser leais ao
internacionalismo mediantes os esforços, principalmente, pelo
desenvolvimento e pela prosperidade de sua nação (Ibidem).

É correto dizer que essa posição não será exclusiva da tradição comunista na Coreia
do Norte, assim como será estimulada por movimentos anticolonialistas em África. Um

44
dos maiores exemplos é o movimento anticolonialista da Guiné-Bissau e Cabo Verde. No
programa do PAIGC o 1º artigo enunciará:

União orgânica de todas as forças nacionalistas e patrióticas da Guiné e de


Cabo Verde, para liquidar a dominação colonial portuguesa e qualquer outra
espécie da dominação colonialista e imperialista nesses dois países africanos
(CABRAL, Amílcar. 1974).

E no 3º artigo encontraremos:

Aliança eficaz com as organizações nacionalistas e patrióticas de outras


colónias portuguesas, para a coordenação e a ajuda mútua na luta de
liquidação do colonialismo português. Colaboração com os povos africanos,
asiáticos e latino-americanos que lutam contra o colonialismo e o
imperialismo (Ibidem).

Seja na Coreia, seja em Guiné-Bissau e Cabo Verde e, obviamente, em Cuba, a


esquerda de todos estes países encontrarão em situação semelhante frente ao domínio
estrangeiro, e colocarão, da mesma forma, a questão nacional como pedra-de-toque de
seus processos revolucionários. Só a título de exemplo: a célebre frase que foi entoada
por Fidel Castro, “Pátria o muerte!”, em discurso de 19604 não era uma frase por mera
retórica patrioteira, mas sim porque possuía um fundo programático e estratégico de
cunho nacional-libertador, um sentimento partilhado por amplos setores de Cuba.

Assim temos esse quadro desenhado em meados do século XX: na China, ainda que
dentro da insígnia do marxismo-leninismo, os comunistas desenvolvem o que chamam
de Pensamento Mao Tsé-Tung; na Coreia, os comunistas desenvolvem teoricamente a
chamada Ideia Juche; nos países africanos ainda que os marxistas não tenham
desenvolvido – ou nomeado – uma nova corrente política, tivemos uma série de lideranças
e intelectuais que realizaram uma grande produção teórica sobre o contexto de seus
países; em Cuba, semelhantemente, ocorreu o desenvolvimento do pensamento martiano
na revolução de 1959, concomitante o crescimento da influência marxista na direção do
processo revolucionário.

Assim, seja o maoísmo na China, a Ideia Juche na Coreia, ou a combinação da ideia


martiana com o marxismo em Cuba, temos claros exemplos de uma esquerda que prioriza

4
Frase entoada por razão de atentado realizado num barco francês que se encontrava em Cuba em março
de 1960. Fidel denunciou o papel dos Estados Unidos no atentado e entoou essa palavra de ordem pela
primeira vez, em alusão ao fato de que Cuba deve se realizar como pátria independente sem os
desmandos dos EUA, ainda que isso custe sacrifícios.

45
a libertação nacional – e outras pautas estratégicas, tal como a questão agrária – antes
mesmo do desenvolvimento de uma economia planificada.

Toda essa mudança de paradigma na tradição marxista, ou mesmo o


desenvolvimento de um conceito (o nacionalismo) a um sentido completamente diferente
de como era tratado em outros tempos, demonstra a própria historicidade com o qual
devemos tratar o assunto. Não podemos definir o nacionalismo em termos simples e
fixados independente de um contexto histórico.

Não existe uma resposta única para a pergunta “o que podemos definir por
nacionalismo segundo o movimento comunista?”. Para isso precisamos perguntar
também de qual teórico marxista estamos tratando, ou mesmo a definição de qual partido
e organização, e de qual país estamos tratando, assim como qual época está se
abordando e em qual contexto político.

Este é o contexto geral do terceiro mundo, é contexto em que o socialismo cubano


nascerá em meados do século XX, e é considerando todo este ambiente internacional de
lutas nacionalistas e anticolonialistas que devemos situar a Revolução Cubana. Sem este
entendimento, qualquer tentativa de compreender o processo revolucionário cubano seria
necessariamente incompleta.

46
CAPÍTULO II.

A REVOLUÇÃO CUBANA: DO NACIONALISMO DE JOSÉ

MARTÍ AO SOCIALISMO LENINISTA

O debate teórico sobre o conceito de nacionalismo entre os marxistas – sobretudo


nos países de terceiro mundo – nos proporciona uma compreensão dos aspectos gerais
que influenciaram a Revolução Cubana, e de como este processo revolucionário está
situado no quadro geral das lutas nacionalistas e anticolonialistas que assolaram o mundo
no século passado. Todavia, uma vez que o objetivo primordial deste trabalho é uma
compreensão do nacionalismo na construção socialista em Cuba, nós não devemos nos
limitar aos aspectos teóricos gerais nem ao contexto internacional, devemos tratar
também os aspectos específicos e nacionais do processo revolucionário cubano.

Obviamente, para tratar dessas condições específicas, devemos nos mergulhar na


história cubana, particularmente na história de suas lutas e mobilizações populares.

Estudar a relação entre nacionalismo e a construção do socialismo em Cuba


pressupõe abordar as lutas de libertação nacional que a ilha sediou, além do legado
político do mais célebre anticolonialista cubano: José Martí, uma referência central dos
revolucionários cubanos. Igualmente é importante citar as influências marxistas em torno
de Fidel e de outros dirigentes do processo revolucionário, como o próprio Raul Castro,
Ernesto ‘Che’ Guevara e o Partido Socialista Popular (PSP).

Assim, a discussão especificamente assentada na história cubana – ainda que


referendada pela discussão teórica e conceitual sobre o nacionalismo presente no capítulo
anterior – é o que encontraremos no presente capítulo.

2.1 – CONTEXTO HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO CUBANA

Muito antes de ser conhecida como o único país socialista das Américas, sede de
uma das mais conhecidas revoluções do nosso continente, Cuba também foi palco de
vários conflitos de importância que retomam as disputas políticas entre distintas potências
colonialistas e neocolonialistas, com destaque para a Espanha e os Estados Unidos.

47
O conflito político – e militar – entre as forças locais que buscam a independência
de Cuba, e as potências estrangeiras que possuem interesses econômicos na ilha (Espanha
e EUA), vão ser pontos de destaque da história cubana no século XIX. O imperialismo
inglês também atuará na ilha, todavia, como coadjuvante.

Assim sendo, para compreender o contexto histórico em que se desenvolveu o


pensamento martiano, devemos nos debruçar sobretudo no contexto do domínio
espanhol; assim como, para compreendermos os fatores que impulsionaram a Revolução
Cubana, devemos nos debruçar no contexto de dominação dos Estados Unidos, que se
pintaram até aquele momento como “aliados do povo cubano” na sua luta pela
independência contra a Espanha, quando na verdade sempre possuíam interesses muito
bem definidos em relação a retirada da presença espanhola na ilha.

2.1.1 – José Martí e o domínio espanhol

Havia a presença de variadas forças internacionais na ilha; obviamente, com a


Espanha como principal privilegiada pelas próprias relações coloniais. Até as forças
inglesas se encontravam presentes em Cuba, com propriedades na ilha por meio da
Companhia das Índias Ocidentais, mas, como já dito, seu papel como agente político no
conflito em torno da independência da ilha, será um papel coadjuvante. Mas não é
incorreto dizer que a presença dos ingleses agudizou os primeiros conflitos sociais que
serão precursores da luta contra os interesses coloniais da Espanha.

Se em países como o Brasil os interesses ingleses eram bem atendidos no


período colonial, em Cuba, a situação não era tão diferente, ainda que os
ingleses conflitassem muito mais com os espanhóis do que com os
portugueses. Em Cuba, os britânicos mantinham propriedades por meio da
Companhia das Índias Ocidentais e, em certo momento, passaram a estar
muito mais interessados na mão-de-obra baseada no trabalho assalariado. Daí
sua interferência no sentido de impor restrições à escravidão: com isso,
criariam certo mercado consumidor para suas mercadorias e minariam as
propriedades espanholas que dependiam do trabalho escravo (Mundo
Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p.25).

Essa pressão internacional da Inglaterra privilegiando o trabalho assalariado, com


restrições ao trabalho escravo, criaria um cenário propício para que amplas camadas
sociais de Cuba se mobilizem em prol de seus interesses econômicos. As camadas
populares, e até comerciantes e alguns latifundiários, se colocarão contra os espanhóis. A
Espanha visou aumentar sua parcela de apropriação do fruto do trabalho dos cubanos,

48
fossem escravos ou camponeses, e isso prejudicaria os setores proprietários locais – desde
comerciantes, latifundiários e entre outros – e prejudicaria diretamente os próprios
trabalhadores, sua maioria do setor rural – como camponeses, ex-escravos, etc. (Mundo
Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p.25).

Assim, no século XIX, em Cuba, se desenha uma tendência contínua de revoltas de


escravos e camponeses, e é este mesmo cenário de revoltas que influenciará o espírito do
movimento anticolonialista cubano. É neste cenário que se forja uma identidade nacional
com uma forte inspiração republicana e, ao mesmo tempo, antiescravista. E é, neste
mesmo espírito que fundarão o Exército Libertador5 em 1868. Declaram a independência
de Cuba e lutam sob a liderança de Carlos Manuel de Céspedes na chamada Guerra dos
Dez Anos. O grupo não é bem-sucedido, mas deste conflito derivam outros combates
armados entre os cubanos e os espanhóis. Além de Carlos Manuel de Céspedes, houveram
outras lideranças e mártires da luta anticolonialistas que se tornaram heróis nacionais
nestes embates: Máximo Gómez, Antonio Maceo e José Martí. Este último morreu em
1895 e será considerado a maior liderança política de Cuba – ficando atrás, talvez, apenas
do próprio Fidel Castro em termos de importância para a história do país.

José Martí é quem, na prática, desenvolve o conceito de partido revolucionário pela


primeira vez em Cuba. Segundo Martí

os cubanos independentes, os porto-riquenhos que lhes são irmãos,


abominariam a palavra “partido” se significasse um mero bando ou seita, ou
reduto onde uns crioulos se defendem de outros. Se amparam à palavra
“partido”, para dizer que se unem em um esforço ordenado, com disciplina
franca e fim comum; os cubanos já entenderam que, para vencer um
adversário moribundo, o único que precisam é que se unam (MARTÍ, José.
1991. p. 365 apud Mundo Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p. 27).

Assim, funda o Partido Revolucionário Cubano (PRC), uma organização que


“conjunta a disciplina indispensável a um empreendimento de tal envergadura”, isso é,
ao empreendimento da luta revolucionária pela libertação de Cuba (NAVARRO, José
Cantón. 2008. p. 46). O próprio Fidel enunciou no informe central do I Congresso do
Partido Comunista de Cuba (PCC) as seguintes colocações sobre o conceito de partido
revolucionário desenvolvido em José Martí:

5
Ejército Libertador, em espanhol.

49
De nuevo los cubanos en 1895 se levantaron en armas. Esta vez la lucha se
había preparado politicamente durante largos años. Bajo la guía de Martí, cuyo
genio político rebasó las fronteras de su tierra y de su época, se organizó un
partido para dirigir la revolución. Esta idea, que paralelamente desarrolló
también Lenin para llevar a cabo la revolución socialista en el viejo imperio
de los czares, es uno de los más admirables aportes de Martí al pensamiento
político. Se organizó en nuestra patria un solo partido revolucionario. Ese
partido unió a los gloriosos veteranos de la guerra de los Diez Años,
simbolizados por Gómez y Maceo, con las nuevas generaciones de
campesinos, obreros, artesanos e intelectuales, para llevar a cabo la revolución
en Cuba (...). En este pensamiento y en a interpretación y calificación de Lenin
de la guerra hispanoamericana como la primera guerra imperialista, se dan la
mano dos hombres, de dos escenarios históricos diferentes y dos pensamientos
convergentes: José Martí y Vladímir Ilich Lenin. El uno símbolo de la
liberación nacional contra la colonia y el imperialismo, el otro forjador de la
primera revolución socialista en el eslabón más débil de la cadena
imperialista: liberación nacional y socialismo, dos causas estrechamente
hermanadas en el mundo moderno. Ambos con un partido sólido y
disciplinados casi simultáneamente entre fines del passado siglo y comienzos
del actual (CASTRO, Fidel. 1975).

Assim, o próprio movimento comunista cubano enumera que foi o próprio Martí
que concebeu a formulação de um partido revolucionário disciplinado, que buscasse
mobilizar e dirigir as lutas das camadas populares e nacionalistas de Cuba frente o
domínio colonial espanhol, trabalhando uma concepção de partido que muito se
assemelhava ao conceito do partido de vanguarda trabalhado por Lênin na Rússia.

José Martí veio a falecer em 1895, com apenas 42 anos, por ocasião de seu regresso
do Haiti a Cuba, quando foi surpreendido pelo ataque de aproximadamente 600 soldados
espanhóis. Martí não viveu para ver o fim do domínio espanhol sob a ilha, mas já
preconizava os interesses dos Estados Unidos que vão se evidenciar na Guerra Hispano-
Americana. Segundo Fidel, “Martí conhecia o monstro porque viveu em suas entranhas”
e “sabia de suas vis pretensões de apoderar-se de Cuba em virtude da política
expansionista”. Por isso, em 1975, no informe central do I Congresso do PCC, Fidel cita
as colocações de José Martí sobre os Estados Unidos:

[Martí] que él supo ver con claridad impresionante: “Ya estoy todos los días
en peligro de dar mi vida por mi país y por mi deber – puesto que lo entiendo
y tengo ánimos com que realizarlo – de impedir a tiempo con la independencia
de Cuba que se extiendan por sobre nuestras tierras de América. Cuanto hice
hasta hoy, y haré, es para eso. En silencia ha tenido que ser y como
indirectamente, porque hay cosas que para lograrlas han de andar ocultas, y

50
de proclamarse en lo que son, levantarían dificultades demasiado recias para
alcanzar sobre ellas el fin” (Ibidem).

Palavras que deixam mais evidente a preocupação de Martí em relação as “asas” do


expansionismo dos EUA frente a ilha caribenha vão ser pronunciadas em setembro de
1894, no jornal Pátria (órgão de imprensa do Partido Revolucionário Cubano), no artigo
de José Martí intitulado “Las guerras civiles em Sudamérica”:

De nuestra sociología se sabe poco, y de esas leyes, tan precisas como esta
otra: los pueblos de América son más libres y prósperos a medida que más se
apartan de los Estados Unidos (MARTÍ, José. 1894).

Em outras palavras, Martí chega à conclusão que para os distintos povos do


continente americano, era evidente que só alcançariam a liberdade e o progresso conforme
busquem se afastar da influência dos EUA, e ainda reforça esta afirmação dizendo que
não há “lei da sociologia tão precisa quanto esta”. O mártir da independência de Cuba
não presenciou o domínio político e econômico dos Estados Unidos sobre Cuba, mas
percebeu – e deixou claro isto em seus textos e nos artigos do jornal Pátria – as tendências
históricas que preconizavam este rumo político em Cuba e no continente americano.

2.1.2 – A interferência dos Estados Unidos em Cuba

Ainda que observemos um quadro de conquistas nas batalhas dos soldados


independentistas e anticolonialistas frente as tropas espanholas, mesmo depois dos
avanços conquistas sob duras batalhas, os Estados Unidos se colocam na guerra,
obviamente, não visando uma solidariedade desinteressada com o povo cubano, mas
visando tão somente seus próprios interesses econômicos.

A interferência dos EUA muda o quadro da guerra: onde os independentistas


cerravam as principais fileiras de expulsão do domínio espanhol, agora teremos a
presença ostensiva dos Estados Unidos. Obviamente, isto não se dará apenas em Cuba,
mas também em outras colônias de domínio espanhol, a exemplo de Porto Rico e
Filipinas. A disputa por essas colônias espanholas, do qual os Estados Unidos se alçaram
“libertá-las” do domínio colonial, será a chamada Guerra Hispano-Americana, evento que
sinaliza a “eclosão beligerante” do imperialismo estadunidense contra a Espanha (Mundo
Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p. 28).

51
O interesse dos Estados Unidos quanto a ilha caribenha não era novidade, e pode
ser vista em documentos que confirmam os interesses dos norte-americanos:

Há leis da política como há leis da gravitação física. E se uma maçã, separada


de uma árvore nativa pela tempestade, não pode escolher, mas apenas cair no
chão, Cuba, por força desligada do seu vínculo não natural com a Espanha, e
incapaz de se auto sustentar, só pode gravitar na direção da União Norte
Americana, a qual, pela mesma lei da natureza, não pode segregá-la do seu
seio (ADAMS, John Quincy. 1832. apud GOTT, Richard, 1991. p. 75).

Esta carta foi endereçada a Hugh Nelson (representante estadunidense em Madrid,


Espanha), e foi cunhada por John Quincy Adams, então Secretário de Estado dos EUA
em 1832. Mais do que o interesse dos ianques nos outros povos do continente americano
– já conhecido por todos e evidenciado em textos de José Martí – esta carta expressa a
forma como o governo dos EUA percebia Cuba: como um objeto de pequeno porte que
deve meramente orbitar sobre eles próprios, concomitante afaste-se da Espanha.

No início do século XIX esses interesses dos EUA sobre Cuba eram mais velados
e pouco evidentes, e o próprio Martí, malgrado algumas críticas, nutria relativa admiração
pelo país, a “pátria de Lincoln” (NAVARRO, José Cantón. 2018. p. 42), não à toa terá
uma estadia longa lá. Obviamente, em seus longos anos como residente nos Estados
Unidos, ele não morou lá como um mero estrangeiro, mas sobretudo como um observador
e um intelectual atento. No período em que Martí lá esteve ele pode observar a
concentração da produção capitalista, a formação de monopólios, o surgimento da
oligarquia financeira (Ibidem. p. 44) e, por estas e outras razões, ele antecipa a investida
do imperialismo nascente dos Estados Unidos sobre a América Latina. Além de tudo já
citado de Martí, sobre os EUA, há uma correspondência de 1889 que merece destaque:

Sobre nuestra tierra, Gonzalo hay otro plan más tenebroso que lo que hasta
ahora conocemos, y es el inicuo de forzar a la Isla, de precipitarla, a la guerra,
para tener pretexto de intervenir en ella, y con el crédito de mediador y de
garantizador, quedarse con ella. Cosa más soberbia no la hay en los anales de
los pueblos libres: ni maldad más fría (MARTÍ, José. 1991. p. 128. apud
RAMÍREZ Cañedo, Elier. 2018).

Assim, segundo o próprio Martí, estava no plano dos EUA a intervenção deles no
conflito com a Espanha a fim de colocar os estadunidenses como “mediadores” da
independência de Cuba frente a Espanha. Segundo as próprias palavras de Martí, não
haveria plano mais tenebroso, não haveria maior traço de arrogância ou mesmo

52
“soberba”, e nem muito menos haveria uma maldade tão fria. Estas intenções e planos
quase que maquiavélicos, na concepção do próprio José Martí, ao contrário de demonstrar
uma aproximação desinteressada e de solidariedade ao povo cubano, mostrava que
qualquer retórica de país bem-intencionado era um verniz sob qual se escondia as
intenções não de libertar cuba de qualquer domínio estrangeiro, mas sim de substituir o
domínio espanhol pelo domínio norte-americano. Martí previu tais maquinações no final
de sua vida, e foi mais ou menos isso que ocorreu alguns anos após seu falecimento:

Três anos após a morte de Martí, em 1898, quando a guerra de independência


ainda era levada adiante, explode, por acidente, o Encouraçado Maine, navio
estadunidense atracado no porto de Havana. Estava dado o pretexto da
intervenção esperada, para realizar a “lei da natureza”.6

Os Estados Unidos declaram guerra à Espanha e o neocolonialismo


estadunidense e o velho colonialismo se enfrentam, levando Cuba assim como
Porto Rico e as Filipinas, como prêmios. Isso como resultado de uma guerra
que terminou no mesmo ano, com a assinatura do Tratado de Paris, sem
nenhuma representação de Cuba nos termos de paz. Os ianques vencem e a
ilha deixava de ser colônia da Espanha, passando a ser território ocupado pelos
Estados Unidos.

(Mundo Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p. 31).

O cenário que virá disto nós já conhecemos: Cuba será sede uma ditadura militar
imposta pelos Estados Unidos de 1898 a 1902.

Nesta época mais de 10 mil estadunidenses adquiriram terras em Cuba


(aproximadamente 13 mil se buscarmos números mais precisos). O avanço econômico
dos EUA sobre a ilha foi tanto, que mais da metade das propriedades rurais se tornaram
propriedades de cidadãos estadunidenses ou mesmo de empresas norte-americanas; isso
porque ainda não estamos considerando entre as porções de terras restantes (e
minoritárias) o quantitativo de proprietários rurais cubanos que fossem alinhados ao
imperialismo estadunidense, o que demonstraria uma gama maior ainda de domínio e
influência da economia de um país sobre o outro (GOTT, Richard, 1991. p. 90).

Ao final do período militar, os Estados Unidos passam o poder ao primeiro


presidente civil da ilha. Evidentemente, esse presidente – assim como os

6
Quanto a “lei da natureza” é uma alusão a famosa carta de John Adams (Secretário de Estado dos EUA)
endereçada ao representante yanque de Madrid onde fala que Cuba deve ser um objeto pequeno
gravitando em torno de um objeto maior (sem a Espanha, seria os EUA). Essa citação pode ser encontrada
exatamente na página anterior.

53
seguintes – era alguém que mantinha os interesses e todo tipo de prerrogativas
dos ianques sobre a ilha. Seria, então, o primeiro presidente cubano Tomás
Estrada Palma, o típico fantoche. Cubano nascido nos Estados Unidos, Palma
assumia sob uma vergonhosa Constituição.

Aprovada sob ocupação militar dos Estados Unidos, a carta fundante da


república continha a famosa e humilhante Emenda Platt como apêndice:

“Artigo III – O governo de Cuba concorda que os Estados Unidos podem


exercer seu direito de intervir para a preservação da independência cubana,
para a manutenção de um governo adequado à proteção da vida, propriedade
e liberdade individual e para a execução das obrigações relacionadas com
Cuba que lhe foram impostas pelo Tratado de Paris, e que devem ser agora
assumidas e cumpridas pelo governo de Cuba. Artigo IV – Para permitir aos
Estados Unidos manterem a independência de Cuba, e protegerem o povo
cubano, bem como para a sua própria defesa, o governo cubano venderá ou
arrendará aos Estados Unidos a terra necessária para a instalação de bases ou
estações navais, em certos pontos específicos, a serem estabelecidos pelo
presidente dos Estados Unidos”

(Mundo Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p. 31-32. Grifos meus).

Da retirada do domínio aberto do colonialismo espanhol ao domínio mais sútil do


país do Norte: a constituição cubana, sob novo regime, permite que os EUA decidam
quando bem entenderem instalarem bases militares no território cubano, sob única
decisão dos norte-americanos; isto, além do 3º artigo que permite a intervenção dos EUA
“para assegurar a independência cubana”. Foi, inclusive, por meio desta constituição, que
veio a surgir a base naval de Guantánamo.

No plano econômico temos um aumento da presença de capitais norte-americanos.


A título de comparação, enquanto de 1898 a 1902 foram investidos cerca de 30 milhões
de dólares na ilha, de 1902 a 1906, teremos um aumento para 160 milhões (VALDÉS
GARCIA, Orlando. 2007. p. 31). Ainda teremos um aumento vertiginoso da produção de
cana-de-açúcar destinada, sobretudo, ao mercado internacional: entre os anos de 1907 e
1930, 33,64% de toda receita vem do valor da safra de cana-de-açúcar processada e
exportada (Ibidem. p. 38-39).

E após o grande crack de 1929, o domínio estadunidense se aprofundou sobre a ilha.


Não só os EUA sofreram as consequências da crise, mas Cuba também sofreu bastante,
já que era absurdamente dependente das importações advinda dos EUA, e houve uma
queda catastrófica de sua receita nacional (58,5%) após a famigerada crise. Neste
contexto Cuba realiza as privatizações de seus bancos nacionais, e desnacionaliza até
54
mesmo centrais açucareiras. E qual o resultado dessas medidas? Em 1931, mais de 90%
do capital bancário sediado em Cuba, na verdade, era estrangeiro (Ibidem. p. 37).

É de se esperar que neste contexto, desde esse período até 1959 (ano da revolução),
esse quadro não se altere substancialmente, marcado sempre por “tratados comerciais
abusivos, corrupção latente, intervenções militares baseadas na Emenda Platt ” (Mundo
Socialista: A Revolução Cubana. 2016. p. 34). Não é à toa que o pensamento nacionalista
e anticolonialista de José Martí terá grande peso no processo revolucionário: o país ainda
estará submergido num contexto de dependência neocolonial, com os EUA realizando
todo tipo de interferência e violações dos princípios básicos de soberania.

Desde o fim do domínio espanhol, o país passou por grandes tensões políticas. De
1898 a 1902 viveu sobre uma ditadura militar de ocupação, um governo estadunidense
instalado sobre a ilha. De 1902 a 1906, assume um presidente civil de Cuba, mas
perfeitamente alinhado ao Norte, seu nome é Tomás Estrada Palma. De 1906 a 1909
teremos novamente um período de ocupação, com governantes designados diretamente
pelos EUA que, não por acaso, são estadunidenses: William Howard Taft e Charles
Edward Magoon. Após esse período de ocupação de governo provisório, os governantes
que se sucederam vão sempre estar dentro de um marco de aproximação com os norte-
americanos, e qualquer que seja a administração teremos sempre algum grau de controle
dos Estados Unidos.

Por isso era esperado que, em qualquer processo revolucionário que se sucedesse
na ilha, a chaga do problema da dependência e a luta por uma autêntica libertação
nacional viesse a ganhar destaque, independente de termos ou não comunistas na direção
do processo revolucionário (ou lhe influenciando de alguma medida). E assim se
desenhará a mútua influência entre martianos e marxistas na Revolução iniciada em 1959.

2.2 – REVOLUÇÃO MARTIANA & MARXISTA-LENINISTA

2.2.1 – Os martianos ortodoxos e os marxistas

55
2.2.2 – As influências teóricas em torno de Fidel Castro

DÁ UM JEITO DE INSERIR: Martí será uma referência central dentre aqueles que
realizaram a insurreição de 1959 e até antes da revolução, em 1953, por ocasião do
julgamento daqueles que realizaram a tentativa de assalto ao Quartel Moncada. Por
ocasião do julgamento aos que realizaram o assalto ao quartel, Fidel Castro declarará à
justiça de Cuba que o autor intelectual do assalto ao quartel é José Martí (RAMÍREZ,
Narciso. 2017).

DÁ UM JEITO DE INSERIR: Igualmente é necessário falar das influências


marxistas de Fidel: não apenas Ernesto ‘Che’ Guevara, como também seu irmão Raul, e
lideranças de importância do Partido Socialista Popular (PSP), que contribuirão de forma
significativa com sua formação política e intelectual, tudo isso muito antes de 1959
(BIOGRAFIA CONSENTIDA, VER PÁGINA).

2.2.3 – As concepções em disputa no seio do processo revolucionário

2.3 – DA LIBERTAÇÃO-NACIONAL AO SOCIALISMO

2.3.1 – A estratégia programática dos revolucionários cubanos antes de 1959

2.3.2 – De 1959 em diante: revolução nacional-libetadora ininterrupta ao socialismo

2.3.3 – A concepção martiana e marxista-leninista como concepções complementares

56
CAPÍTULO III.

O NACIONALISMO NA FORMAÇÃO EDUCACIONAL E CIDADÃ

DO POVO CUBANO

[SUBTÓPICO À ESCREVER.

relaciona a questão nacional e o legado de José Martí na formação básica do povo


de Cuba.

Analisa a presença do nacionalismo e do ideal martíano em todas as esferas de


formação da sociedade – como nas escolas, nas faculdades, na política, nas eleições –
levando em conta o nacionalismo como um instrumento de mobilização perfeitamente
alinhado aos propósitos da construção do socialismo na pátria cubana.

3.1 – EDUCAÇÃO, CONSCIÊNCIA SOCIAL E IDEOLOGIA

Falar mais teoricamente sobre consciência social, ideologia, etc etc aspectos gerais,
como educação serve pra formar as pessoas, teóricos em geral da educação e outras áreas
de formação ideológica

3.1.1 – aaa

3.2 – PENSAMENTO MARTIANO E MARXISTA NA FORMAÇÃO


EDUCACIONAL E CIDADÃ DO POVO CUBANO

Aspectos da formação do novo homem, o homem socialista, internacionalista,


patriota, solidário, altruísta, concepção de educação para fomentar esse homem, como
josé martí e o marxismo influem nisso

USAR O ARTIGO “La educación cívica y la formación ciudadana en la educación


de la personalidade” da revista EduSol da Universidad de Guantánamo

57
USAR SEÇÃO DO EcuRed “Educación Cívica”

USAR O TEXTO “O socialismo e o novo homem em Cuba” de Che, Edições


Manoel Lisboa, Pernambuco Recife, 2005,

USAR LIVRO “QUEM SABE, ENSINA, QUEM NÃO SABE APRENDE”,


buscar referencias sobretudo a formação ideológica, histórica, etc.

3.2.1 – aaa

3.3 – O NACIONALISMO E A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO

Como a questão nacional e patriótica pesa na consciência da cidadania e na


mobilização social, na coletividade, etc etc., como isso contribui para construção do
socialismo

Nacionalista em sua forma, socialista em seu conteúdo

Nacionalismo como instrumento de mobilização (meio), socialismo como garantia


do aprofundamento e avanço das pautas nacionais e populares (finalidade)

Nacionalismo como discurto e retórica mais palatável para tal mobilização

3.1.1 – aaa

58
CONCLUSÃO

[SUBTÓPICO À ESCREVER.

conclusão

59
REFERÊNCIAS

CABRAL, Amílcar. Manual Político do Partido Africano para a Independência da


Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Edições Maria da Fonte. 1974. 4º tópico“A Nossa
luta é fundamentalmente uma luta de libertação nacional ou uma luta de classes?”.
(Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/cabral/ano/paicg/01.htm#i4,
acessado em 10 de novembro de 2018).

CASTRO, Fidel. Informe Central del Primer Congresso del Partido Comunista de
Cuba. 1975. (Disponível em: http://www.granma.cu/septimo-congreso-del-
pcc/2016-03-30/documentos-del-primer-congreso-del-partido-30-03-2016-10-03-
18, acessado em 22 de novembro de 2018).

ENGELS, Friedrich. Princípios Básicos do Comunismo (1847) In TORRES, Bruno


(Org.) Princípios do Comunismo & Outros Escritos (Marx e Engels). Jornal A
Pátria: Edições Vermelho À Esquerda, 2018. Pernambuco. p. 29.

FEDOSSÉIEV. P. Socialismo e Patriotismo, 1954. Revista Problemas - Revista Mensal


de Cultura Política nº 57, maio de 1954 (Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/57/patrio.htm, acessado em
19 de setembro de 2018).

JEFFERSON, Thomas apud PETERSON, John. Declaring our Independence; citação


de Thomas Jefferson de 29 de novembro de 1775, em artigo publicado em julho de
2013 (Disponível em: https://www.khouse.org/articles/2013/1128/print/, acessado
em 12 de setembro de 2018).

JONG-IL, Kim. Para Compreender Corretamente o Nacionalismo; discurso para


membros do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coreia (PTC) em 28 de
fevereiro de 2002 (Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/kim_jong-
il/2002/02/28.htm, acessado em 18 de novembro de 2018).

60
LÊNIN, Vladimir. A Classe Operária e a Questão Nacional, 10 de maio de 1913
(Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/05/10.htm,
acessado em 14 de novembro de 2018).

__________. Sobre o Direito das Nações à Autodeterminação, maio de 1914


(Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1914/auto/index.htm,
acessado em 14 de novembro de 2018).

LOSURDO. Domenico. ENTREVISTA | Losurdo: ‘Toda a história da guerra fria foi


a luta entre a emancipação anticolonial e a reação colonialista’, 2017
(Disponível em: https://www.novacultura.info/single-post/2017/04/06/Losurdo-
Toda-a-historia-da-guerra-fria-foi-a-luta-entre-a-emancipacao-anticolonial-e-a-
reacao-colonialista, acessado em 13 de novembro de 2018).

GALLISSOT, René In HOBSBAWM, Eric J. (Org.). História do marxismo IV: o


marxismo na época da Segunda Internacional. 5º capítulo: Nação e
nacionalidade nos debates do movimento operário. Editora Paz e Terra, 1986. Rio
de janeiro. p.173.

GOTT, Richard. Cuba: Uma Nova História. Editora Jorge Zahar, 2006. Rio de Janeiro.
p. 75, 90.

HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Editora Paz e Terra.
Rio de Janeiro, 1989. p.71, 147-148.

__________. A Era dos Impérios: 1875-1914. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro. 1988.
p. 170, 173.

MAO JR, José Rodrigues & SECCO, Lincoln. A Revolução Chinesa: até onde vai a força
do dragão? Editora Scipione. São Paulo. 1999. p.29.

MARTÍ, José. Las guerras civiles en Sudamérica. Artigo publicado no jornal Pátria,
escrito em Nova York. 22 de setembro de 1894 (Disponível em:
http://www.josemarti.cu/publicacion/las-guerras-civiles-en-sudamerica/, acessado
em 24 de novembro de 2018).

61
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Boitempo Editorial,
Jinkings Editores Associados Ltda. São Paulo. 2005. p. 56

MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. Editora Expressão


Popular, São Paulo, 2008. p.47.

NAVARRO, José Cantón. Una Revolución martiana y marxista. Centro de Estudios


Martianos. Havana. 2008. p. 40, 42, 44.

DE PAULA, João Antônio. A ideia de nação no século XIX e o marxismo, 2008.


Revista Estudos Avançados, publicação do Instituto de Estudos Avançados da USP
(Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n62/a15v2262.pdf, acessado em
10 de setembro de 2018).

RAMÍREZ Cañedo, Elier. El ideario martiano en el pensamiento y la práctica política


de Fidel Castro frente a los EEUU. Cubadebate. Artigo de 27 de janeiro de 2018.
(Disponível em: http://www.fidelcastro.cu/es/articulos/el-ideario-martiano-en-el-
pensamiento-y-la-practica-politica-de-fidel-castro-frente-los, acessado em 24 de
novembro de 2018).

RAMÍREZ, Narciso Amador Fernández. ‘Nadie debe preocuparse, el autor intelectual


del Moncada es José Martí’. Matéria de 2017 da Primera Revista Digital de Cuba
- CUBAHORA (Disponível em: http://www.cubahora.cu/historia/nadie-debe-
preocuparse-el-autor-intelectual-del-moncada-es-jose-marti, acessado em 23 de
novembro de 2018).

Revista Mundo Socialista. Coreia Popular. Volume I. Edições NOVA CULTURA em


parceria com CEIJ-BR (Centro de Estudos da Ideia Juche – Brasil), Editora Raízes
da América. São Paulo, 2015. p. 26.

Revista Mundo Socialista. A Revolução Cubana. Volume I. Edições NOVA


CULTURA em parceria com a equipe do site Fuzil contra Fuzil, Editora Raízes da
América. São Paulo, 2016. p. 25, 27-28, 31-32, 34, 65.

STÁLIN, Josef. O Marxismo e a Questão Nacional, janeiro de 1913 (Disponível em:


https://www.marxists.org/portugues/stalin/1913/01/01.htm, acessado em 14 de
setembro de 2018).

62
SUNY, Ronald G. A Revolução de Outubro e o problema das nacionalidades, 1998.
Revista Estudos Avançados, publicação do Instituto de Estudos Avançados da USP
(Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v12n32/v12n32a04.pdf, acessado em
10 de setembro de 2018).

TROTSKY, Leon. A Revolução Permanente. Kairós Livraria Editora. São Paulo. 1985.
p. 24-25.

TSÉ-TUNG, Mao. Sobre a Contradição, agosto de 1937 (Disponível em:


https://www.marxists.org/portugues/mao/1937/08/contra.htm, acessado em 14 de
novembro de 2018).

VALDÉS GARCÍA, Orlando. La revolución Cubana: premisas económicas y sociales,


Editorial de Ciencias Sociales, La Habana. 2007. p. 31, 37-39.

VI Congresso da Internacional Comunista (III Internacional). Teses Acerca do


Movimento Revolucionário nos Países Coloniais e Semicoloniais. Projetado e
introduzido por Kuusinen. Excertos. 1 de setembro de 1928 (Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/1928/09/teses_comintern.htm,
acessado em 18 de setembro de 2018).

QIAOMU, Hu. Trinta anos do Partido Comunista da China: um esboço da história.


Edições NOVA CULTURA, Editora Raízes da América. São Paulo, 2015. p.32.

63

Potrebbero piacerti anche