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O TRABALHO DO PRESO COMO FATOR DE


RESSOCIALIZAÇÃO E A SUA NATUREZA JURÍDICA

João Batista Machado Júnior

A ideia de escrever este artigo surgiu Federal, ministra Carmen Lúcia, comparou
em 2000, ao ver que a imprensa1 noticiava os o custo mensal de um preso com o de um
gastos do Governo Federal com os presos no estudante do ensino médio, tendo afirmado
Brasil. Segundo os dados da reportagem, o custo que “Um preso no Brasil custa R$ 2,4 mil por
médio de cada um, ao mês, já naquela época, mês e um estudante do ensino médio custa
era de R$ 700,00, totalizando um gasto anual de R$ 2,2 mil por ano. Alguma coisa está errada
1,7 bilhão de reais. Enquanto isso, discutia-se na nossa Pátria amada.” (http://www.cnj.
qual deveria ser o novo valor do salário mínimo jus.br/noticias/cnj/83819-carmen-lucia-diz-
daquele ano, que acabou sendo fixado em R$ que-preso-custa-13-vezes-mais-do-que-um-
151,00, importância percebida pela maioria estudante-no-brasil)
de nossos trabalhadores e aposentados que
Partindo daí, resolvemos realizar um
recebem benefícios pagos pela Previdência. Os
estudo sobre o trabalho do presidiário, meio que
gastos mensais com um preso no Brasil eram,
entendemos ser de valiosíssima importância
portanto, quase cinco vezes maiores do que se
para alcançar a finalidade maior da pena, que
gastava com um aposentado.
é exatamente a reeducação e recuperação do
Agora, passado todo esse tempo, a indivíduo privado de sua liberdade, passaporte
questão relativa aos gastos com os presos no para sua reinserção no meio social. O trabalho
Brasil permanece merecendo atenção. No final dignifica o homem (observância do princípio
de 2016, a presidente do Supremo Tribunal da dignidade humana). Além disso, pela dicção
legal, o trabalho do preso servirá para propiciar
uma reparação pelos danos resultados do
1 Revista Veja, abril, edição 1637, 23 fev. 2000, crime praticado e para reduzir as despesas
fls. 44/46. no setor penitenciário, já que o produto

João Batista Machado Júnior

Procurador Regional do Trabalho, lotado na PRT-22ª Região, Ex-Promotor de


Justiça do Estado do Piauí, Especialista em Direito Processual pela Universidade
Federal de Santa Catarina.

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da remuneração pelo trabalho do preso seguintes artigos do Código Penal brasileiro:


deverá atender: a) à indenização dos danos
causados pelo crime, desde que determinados Art. 34. O condenado será submetido,
judicialmente e não reparados por outros no início do cumprimento da pena, a
meios; b) à assistência à família; c) a pequenas exame criminológico de classificação
despesas pessoais; d) ao ressarcimento para individualização da execução.
ao Estado das despesas realizadas com a § 1º O condenado fica sujeito a trabalho
manutenção do condenado, em proporção a no período diurno e isolamento
durante o repouso noturno.
ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista
nas letras anteriores ( art. 29, § 1º, da Lei de § 2º O trabalho será em comum dentro
do estabelecimento, na conformidade
Execução Penal - LEP , Lei nº 7.210, de 11 de
das aptidões ou ocupações anteriores
julho de 1984 ).
do condenado, desde que compatíveis
Com o objetivo de melhor sermos com a execução da pena.
compreendidos, reputamos oportuna uma § 3º O trabalho externo é admissível, no
análise sobre os fundamentos e as finalidades regime fechado, em serviços ou obras
públicas. (Regras do regime fechado)
das penas.

Ao fazermos um estudo sobre as penas,


Art. 35. Aplica-se a norma do art. 34
verificamos a existência de três correntes
deste Código, caput, ao condenado
doutrinárias principais: 1) absolutas; 2)
que inicie o cumprimento da pena em
relativas; e 3) mistas. Para a primeira, a pena regime semiaberto.
é uma mera retribuição jurídica, não existindo
§ 1º O condenado fica sujeito a
nela qualquer finalidade social. Já os relativistas trabalho em comum durante o período
veem na pena uma necessidade social, vez que diurno, em colônia agrícola, industrial
se dirige não somente ao que delinquiu, mas ou estabelecimento similar.
também aos delinquentes em potência, como § 2º O trabalho externo é admissível,
um sinal para que não cometam crime. Por fim, bem como a frequência a cursos
supletivos profissionalizantes, de
para os que se filiam à corrente mista, a pena
instrução de segundo grau ou superior.”
tem não só índole retributiva, mas também tem
(Regras do regime semiaberto)
como finalidades a reeducação do criminoso e
a intimidação geral.
Resta saber, porém, se o trabalho do
No nosso ordenamento jurídico, o
preso é um direito ou um dever. Com amparo na
trabalho constitui-se em uma modalidade de
Lei de Execução Penal - LEP, particularmente na
execução da pena, no que não se confunde com
leitura do artigo 31, a resposta à questão parece
uma espécie de pena, valendo lembrar, nesse
inclinar-se por ser um dever: “O condenado
particular, que o Constituinte de 1988 vedou
à pena privativa de liberdade está obrigado
expressamente a adoção de pena de trabalho
ao trabalho na medida de suas aptidões e
forçado (art. 5º, XLVII, “c”). Vejamos, para
capacidade”. O art. 28 ajuda nessa conclusão
eliminar qualquer dúvida, o que preceituam os

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ao dizer que o trabalho do condenado deve questão, que entendemos necessário em face
ser encarado como dever social e condição do que iremos enfocar a seguir, pois, entre os
de dignidade humana, tendo ainda finalidade direitos dos presos, consta expressamente o de
educativa e produtiva. Contudo, para alguns atribuição de trabalho e sua remuneração (art.
penalistas renomados, entre os quais 41, II, da LEP), sendo a sua remuneração fixada
destacamos Celso Delmanto, o trabalho é, ao por tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três
mesmo tempo, direito e dever dos presos. quartos) do salário-mínimo (art. 29 da LEP) –
de duvidosa constitucionalidade, haja vista o
Não poderíamos deixar de aderir a esse
disposto no art. 7º, IV, da CF/88.
entendimento, pois o trabalho do preso não
pode ser visto somente como um dever. Assim Visto que o trabalho do preso é um
pensamos porque o art. 126 da LEP dispõe que direito seu, mas também um dever, resta
“o condenado que cumpre a pena em regime agora enfrentarmos a seguinte questão ainda
fechado ou semiaberto poderá remir, pelo tormentosa na doutrina e na jurisprudência:
trabalho ou por estudo, parte do tempo de O trabalho realizado pelo preso pode ser
execução da pena”. Ora, se pelo instituto da considerado como de natureza empregatícia?
remição o preso pode, para cada três dias de Como forma de provocar a discussão,
trabalho, cuja jornada normal não poderá ser vejamos o seguinte dispositivo legal: “O
inferior a seis nem superior a oito horas, com trabalho do preso não está sujeito ao regime da
descanso aos domingos e feriados, abater um Consolidação das Leis do Trabalho” (art. 28, §
dia da pena (combinação dos arts. 33 e 126, 2º, da LEP).
§ 1º, da LEP), temos aí a caracterização do
Mas será que é isso mesmo? Essa lei
trabalho do preso também como um direito seu,
especial tem, de fato, o condão de afastar
já que se trata de um meio que lhe beneficia no
o reconhecimento do vínculo empregatício
cumprimento da pena, tornando-a mais breve,
mesmo quando presentes os elementos
possibilitando ao preso um retorno mais cedo
configuradores do contrato de trabalho stricto
à liberdade, que é um direito fundamental
sensu - pessoalidade, não eventualidade,
(art. 5º da CF/88). Soma-se a esse argumento
subordinação jurídica e onerosidade?
o de que os estabelecimentos penitenciários
deverão contar, em suas dependências, com Inicialmente, cumpre-nos dizer que, em
áreas e serviços destinados a propiciar, entre casos de serviços de preservação, conservação
outras coisas, trabalho para o preso (art. 83 e limpeza do estabelecimento penitenciário,
da LEP). Tudo isso é uma forma de respeitar bem como trabalhos artesanais, de panificação,
a Constituição da República, que insere o serrarias, na agropecuária, além de tantos outros
trabalho como direito social (art. 6º). Além desenvolvidos no interior dos estabelecimentos
disso, trabalhar assegura dignidade à pessoa, penitenciários, que são promovidos pelas
um dos fundamentos da República. próprias direções desses estabelecimentos,
principalmente por aqueles destinados ao
Utilizamo-nos desses dois argumentos
cumprimento de pena em regime semiaberto,
apenas para um aprofundamento maior da
não vislumbramos como possa ser formado o

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vínculo empregatício em tais hipóteses, pois, possível aplicar punição alguma, consectário
além de o trabalho prestado dessa forma ser natural do poder disciplinar do empregador.
um dever, como analisado acima, não haverá Outro aspecto importante a ser observado é
autonomia de vontade por parte do preso, saber quem seleciona os presos que trabalharão,
o que impede a formação do contrato de quem promove as substituições desses presos
trabalho, como podemos perceber nas sempre e quem dirige a execução dos serviços. Se isso
sábias palavras do mestre Délio Maranhão: “O competir à administração do presídio, será mais
contrato pressupõe a liberdade de contratar um complicador ao reconhecimento do vínculo
ou não; a igualdade dos contratantes no plano empregatício, pois restará evidente que para a
jurídico; e o respeito à palavra empenhada... A empresa não interessa quem vai desempenhar
noção do contrato traduz a ideia de uma união os serviços previstos no convênio, mas sim
para produzir e do trabalho livremente aceito”. que o resultado seja o acordado, podendo
Somando-se a isso, temos ainda que existiria haver constante alteração na relação de presos
o óbice do art. 37, II, § 2º, da CF/1988, já que envolvidos no trabalho, tudo a cargo de quem
nossos presídios são administrados, em regra, dirige o sistema prisional.
pelo Poder Público. Entretanto, para evitar-se abusos, em
Em alguns Estados, é comum a que “empresídias” (empresa + presídio), sob o
existência de convênios celebrados pela pálio de contribuição para a ocupação da mão
administração carcerária com empresas para de obra carcerária e promoção da dignidade do
dar oportunidade de trabalho aos presos (art. presidiário pelo trabalho, procurariam ampliar
34, § 2º, da LEP), por meio dos quais estas cada vez mais os limites desses convênios,
oferecem o material para que os presidiários já que a produção nessa situação tem um
trabalhem dentro dos presídios na fabricação custo bem menor do que aquela resultado
do seu produto (fabricação de bolas, calçados, do trabalho de empregados contratados pelo
vestuários etc.). Nessa hipótese, considerando regime da Consolidação das Leis do Trabalho
o disposto no art. 6º da Consolidação das Leis - CLT, entendemos que a matéria merece
do Trabalho - CLT (trabalho no domicílio), até melhor regramento, de forma a estipular
admitimos que haja uma certa controvérsia: o um limite máximo de utilização do trabalho
beneficiário direto da mão de obra do preso do preso, sempre em relação ao número de
será um terceiro, com quem seria reconhecido empregados devidamente registrados na
o vínculo. Porém, ainda assim não será fácil empresa, a exemplo do que já existe quanto ao
configurá-lo. Faz-se necessário analisar o caso trabalho externo do preso, cujo limite máximo
concreto, sobretudo para avaliar se presentes do número de presos será de 10% (dez por
dois requisitos essenciais da relação de cento) do total de empregados na obra ( art.
emprego: pessoalidade e subordinação jurídica 36, § 1º, da LEP). Pensamos que, dessa forma, o
(a onerosidade sempre vai existir). A empresa mercado de trabalho para os cidadãos livres, no
poderá alegar que não tem nenhum controle qual há um grande número de desempregados,
sobre os presidiários que desempenharão os também ficará preservado, impedindo-se, com
serviços objeto do convênio, não lhe sendo isso, o agravamento da profunda crise social já

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existente. executado no novo domicílio do empregado


(art. 76, parágrafo único, do CC), nada impede
Porém, não obstante a regra do artigo
que esse presidiário mantenha o seu contrato
28, § 2º, da LEP, entendemos que o preso pode
de trabalho em vigor. Igualmente, a empresa
trabalhar com reconhecimento de vínculo
poderá contratar um determinado preso para
empregatício, como adiante procuraremos
prestar-lhe serviços no seu domicílio, ou seja,
demonstrar.
no estabelecimento prisional, contrato esse que
Como é sabido, a condenação criminal será de emprego. A hipótese aqui é diferente da
do empregado, passada em julgado, caso não analisada anteriormente, quando o trabalho era
tenha havido suspensão da execução da pena, interno e a seleção do preso e a fiscalização dos
constitui justa causa para rescisão do contrato serviços competiam à administração carcerária.
de trabalho pelo empregador (art. 482, d, da Pensar de forma contrária seria até mesmo um
CLT). Ao contrário do que possa parecer, não é atentado aos fins sociais a que se dirige a lei.
que a condenação venha a ser considerada uma
Igualmente, se desde o início o
falta autorizadora do rompimento do contrato
condenado tiver de cumprir a pena em regime
por justa causa, salvo, é claro, quando houver
semiaberto, nada impede que ele mantenha o
quebra da fidúcia, mas sim o fato de que o
seu emprego já existente, pois o trabalho externo
empregado ficará, em regra, impossibilitado de
é permitido nesse regime, conforme previsto
executar os serviços, já que terá de se recolher
no § 2º do art. 35 do Código Penal brasileiro
ao estabelecimento penitenciário, ficando sem
(transcrição anterior), e já dissemos que a pena
poder comparecer ao local de trabalho. Mais
não é motivo, por si só, para o rompimento
uma vez recorremos aos ensinamentos de Délio
do contrato de trabalho. Além disso, se o
Maranhão: “Não é a condenação, em si mesma,
próprio preso condenado a cumprir pena em
que justifica a resolução contratual, mas a
regime semiaberto conseguir um trabalho
impossibilidade da execução do contrato, que
que preencha os requisitos do art. 3º da CLT,
dessa condenação decorre”.
haverá, naturalmente, um contrato de trabalho
Todavia, há diversos trabalhos que não stricto sensu, com todos os direitos trabalhistas
precisam ser realizados no estabelecimento assegurados aos demais empregados.
do empregador, podendo ser executados no
Concluindo, temos que há necessidade
domicílio do empregado, sem que isso seja
de um melhor aproveitamento da mão de
empecilho à caracterização da relação de
obra carcerária, de sorte a fazer com que seja
emprego (art. 6º da CLT).
afastada de vez a ociosidade reinante em
Dessa forma, no caso de um empregado nossos presídios, que pouco ressocializam,
que antes da condenação criminal já executava servindo quase sempre como meio de
o seu trabalho no seu domicílio, em sendo “profissionalização” criminal. O trabalho do
condenado à prisão, ainda que em regime preso é fator de sua valorização pessoal, retira-
fechado, desde que o empregador concorde lhe a pecha de ser inútil para a sociedade, além
em remeter o material de trabalho para o de facilitar o seu reingresso no meio social
presídio e haja condições do trabalho ser

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e propiciar a redução dos custos do Estado


com a manutenção dos estabelecimentos
prisionais. Se esse trabalho vai gerar um vínculo
empregatício, dependerá de cada caso, sendo
certo, porém, que, conquanto a Lei de Execução
Penal “aparentemente” disponha em contrário,
em certas hipóteses será impossível não
reconhecê-lo.

REFERÊNCIAS

NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. 26. ed.


São Paulo: Saraiva, v. 1.

DELMANTO, Celso. Código penal comentado.


3. ed. Atual. e ampl. Roberto Delmanto. Rio de
Janeiro: Renovar, 1991.

SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio;


VIANNA, Segadas. Instituições de direito do
trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 1991.

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