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A religião na constituição do Estado – Marcel

Gauchet e a “história” da construção das


sociedades democráticas

Marco Antonio Barroso


Membro do Núcleo de Estudos Ibéricos e
Ibero-Americanos da UFJF.
Mestrando no Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Religião da UFJF.
marco.barroso78@gmail.com

Explanaremos, ainda que de forma esquemática, sobre o papel e a importância do estudo


das religiões ditas (talvez erroneamente) primitivas para a compreensão da formação da
subjetividade e da capacidade de “ser-com” das sociedades humanas. Exploraremos, desta
forma, o lado filósofo do pensador multifacetado que é Marcel Gauchet. No intuito de
realizarmos o objetivo proposto, nos centraremos majoritariamente na leitura de seu livro
O desencantamento do mundo1, mais propriamente na introdução, local onde o autor
expõe sua metodologia. Dividiremos o trabalho em duas partes, para o bom
desenvolvimento do tema, a saber: em um primeiro momento de nosso trabalho
desenvolveremos uma visão panorâmica da obra O desencantamento do mundo, dado o
quase desconhecimento desta obra clássica, no Brasil; em seguida nos focaremos na
proposta de trabalho do autor, uma vez que, através dessa, poderemos aprofundar as
peculiaridades metodológicas desenvolvidas por Gauchet em sua pesquisa.

1Marcel GAUCHET. El desencantamiento del mundo mundo – una historia política de la religion.
Tradução de Esteban Molina. Madrid: Trotta, 2005.

1
1. Visão geral do livro “O desencantamento do mundo”

Marcel Gauchet é o que podemos chamar um “pensador holístico”, isto porque sua
meditação, embora centrada sobre a política, não se restringe à especificidade de um
campo de conhecimento. Tal característica, que muitas vezes pode ser considerada
negativa, pois indicaria superficialidade de conhecimento, não se aplica a Gauchet. Aqui
falaremos especificamente de seu livro O Desencantamento do mundo. Nesta obra
encontramos várias camadas de texto, que vão do conhecimento histórico e social,
passando pela psicologia até a proposição de uma filosofia da história, uma filosofia da
religião e uma filosofia política. Esse último traço é mais marcante do citado livro de
Gauchet. Tanto que nos subtítulo da obra que ora estudamos encontramos a seguinte
epígrafe demarcatória “Uma história política da religião”. E é ao aspecto de filósofo
político do pensamento de nosso autor que nos centraremos.

Podemos dizer que o que interessa, de forma relevante, ao filósofo político Marcel
Gauchet é a reconstrução histórica das instituições democráticas, mormente “o homem
democrático”, e apreender suas principais características, que para o autor são anteriores ao
surgimento do estado moderno. Então, para compreender esta história e necessário
compreender o que está antes do estado moderno. O que explica o subtítulo da obra do
pensador francês. Para Gauchet, é necessário entender o movimento de “saída da religião”
que se operou (e opera?) nas sociedades em uma época da humanidade, para compreender
o que hoje denominamos estado moderno. É necessário entender a função da religião na
sociedade e seu papel unificador. A religião é para Gauchet uma forma de “ser-com-o-
outro”, de ser em sociedade, e que pode ser substituída por outras formas. Todavia a
religião possui, para nosso autor, a condição de necessária à existência humana, enquanto
tal, mas é uma constante em todas as sociedades.

Outra característica marcante que encontramos no pensamento de Marcel Gauchet é


sua identificação da religião como a forma que o homem encontrou para alienar, de si, a
responsabilidade de transformar o mundo, que lhe é própria. É o que Gauchet chama de
heteronomia. A posição do autor contemporâneo é inversa aquela dos filósofos e
antropólogos evolucionistas que viam na história da religião uma linha de aprofundamento
na experiência do sagrado, que se aprofundava à medida que a religião ganhava
complexidade. Das menos racionais (chamadas primitivas) para as mais racionais

2
(monoteístas). Para nosso autor, é preciso ver que na realidade as religiões mais perto da
originalidade são aquelas denominadas primitivas, pois nelas encontramos um alto grau de
heteronomia. Já nas religiões de cunho monoteísta esse grau é bem inferior. Nas religiões
primitivas não há a ruptura entre o divino e o humano que se dá nos monoteísmos.
Principalmente no cristianismo. Se antes as relações se davam através de mediações
externas, no cristianismo esta mediação entre o homem e o sagrado passa a ser e cunho
interno. A encarnação de Deus na pessoa do Cristo trás a subjetivação do ato religioso.
Com essa interiorização, surge uma nova religião que é apenas auxiliar na busca do homem
pelo contato com o divino. Torna-se possível então a escolha por fazer parte dessa
comunidade ou se colocar de fora dela, é possível mesmo escolher não acreditar no
sagrado. Passamos então do mundo da heteronomia para o da autonomia. Nesse ovo
mundo as regras da vida social não são mais ditadas pelo que é externo, mas pela própria
consciência. Temos então no cristianismo a “a religião da saída da religião.” O que,
conforme Céline Couchouron-Gurung, “não significa saída da crença religiosa, mas, a
saída de um mundo onde a religião é que estrutura a forma política das sociedades e define
a economia da relação social.”2

2. A teoria proposta

Diz Gauchet que seu livro trás uma proposta. Mas que esta proposta não esgota, nem tem a
pretensão de a “história política da religião.” Seu projeto é, ao contrário, lançar as bases
para a construção deste edifício. Limitando-se a definir seus limites e perspectivas, este
projeto está escrito em função de uma dupla tese, a saber: primeiro que por detrás das
igrejas que perduram e da fé que subsiste, “a trajetória viva do religioso em nosso mundo
está acaba.” Em segundo lugar que “a originalidade radical do Ocidente moderno consiste
inteiramente na incorporação, no coração do vínculo e da atividade dos homens, do
elemento sagrado os modelou sempre desde fora.”3 É a própria inversão da lógica
organizadora da religião primitiva que permite ao homem a saída da religião. Afirma ainda
o autor francês que “a compreensão da religião, desde suas origens e em suas principais
mutações, não pode ser separada dos esforços para compreender a imensa transformação

2Cf. Céline COUCHOURON-GURUNG. Un monde desénchanté? Achives de sciences sociales des religions.
In, <http://assr.revues.org/document3947.html>, consultado em: 10/03/2008.
3GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.9.

3
da qual somos produtos e que se realizou graças ao desencantamento do mundo.”4
Expressão já encontrada no vocabulário weberiano que configura o conceito da seguinte
forma: “eliminação da magia como técnica de salvação.”5 E o que pretende Gauchet ao
retomar este termo é ampliá-lo. Para ele o termo ganhará o sentido de esgotamento do
invisível. O desencantamento do mundo é uma verdadeira revolução que inverte o
posicionamento cosmológico entre o céu e a terra. Apesar da sobrevivência dos deuses na
cidade moderna, e daqueles que neles crêem, seu poder já não existe mais. Diz Gauchet
que o que sumiu nas engrenagens do tempo e das civilizações não foram os deuses, mas a
função “cujas necessidades definiram desde o princípio o conteúdo das religiões,
determinaram suas formas e proporcionaram suas evoluções.”6 As religiões que
conhecemos hoje já não são as mesmas de da origem. Sobrevivem graças a seu
enraizamento cultural, às possíveis respostas que oferece, ainda que subjetivamente, a
questões existenciais, como a da morte, por exemplo. Até como elemento de legitimação
social, mas não mais sobrevivem pela função que possuíam em suas origens. Engana-se
aquele que pensa que estas são as funções primordiais da religião, afirma nosso autor.
Assim podemos ver em suas próprias palavras:

pero que engañan absolutamente si se trata de dar conta del contenido


primordial del hecho religioso, de su lugar en la economía de las antiguas
sociedades y de las vías de su história. Pues juzgan com el criterio de lo que
corresponde en realidad a su cambio de categoria. Con pleno desconocimento
de causa vienen a apreciar en los rasgos de su decrepitude la figura de su edad
de oro. Tomando por la religion misma lo que el acabamiento de su reino deseja
subsistir de religión, impiden apreenderla en su estado nativo, cuando daba
forma de parte a parte a la habitación del mundo y al ordenamiento de los seres.

Comprender lo que fue exige em este caso calibrar rigurosamente lo que ya


no es.7

Sugere ainda nosso autor que aquele que pretenda estudar a religião deve se desprender

4GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.9.


5GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.9. Segundo ALVES de SOUZA, o termo já houvera sido
usado anteriormente. “O sintagma desencantamento do mundo teve sua origem ou pelo menos serviu de
inspiração para Weber a parti de um filósofo alemão chamado Friederich Schiller (1750-1805). Essa
afirmação é baseada em vários comentadores de Weber. Porém, cabe ressaltar que o [termo] desencantamento
do mundo é algo essencialmente weberiano. Segundo Pierucci, “o o termo não foi cunhado pelo próprio
Weber, nem adotado ipsis litteris de Schiller, e sim por ele adaptado de um sintagma similar.” O termo
cunhado por Schiller seria desencantado do mundo. (Darli ALVES de SOUZA. O desencantamento do
mundo. Ultimo andar. São Paulo, (15), 153-162, dez. de 2006. in,
http://www.pucsp.br/ultimoandar/download/UA_15_resenha_desencantamento_mundo.pdf, consu em
11/03/08.
6GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.10-11.
7GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.12.

4
tanto da adesão ocasionada pela fé como daquela causada pelo ateísmo. Colocando-se
assim fora do objeto estudado e apontando para um mais além da era religiosa, nosso autor
se coloca fora da tradição de estudos fenomenológicos da religião. Mas também pretende
desprender-se do que chama de “ingenuidade obtusa da tradição laica.”8

Escapar da preocupação metódica de reconciliar-se com o que há de seminal e


secreto da atitude religiosa, é uma das tarefas impostas por Gauchet na pesquisa realizada
para livro que ora estudamos. E, comenta o autor, a maior dificuldade dessa tarefa é ir
contra aquilo que há de mais arraigado em nossa representação, e de nossa pré-
compreensão da história: “a identificação do devir com um crescimento e, de trás dele,
com uma marcha desde uma ordem totalmente sofrida, haveria uma ordem cada vez mais
9
querida.” Em outras palavras, o que Gauchet pretende é captar o homem que cria o
universo material, mas que ao mesmo tempo cria a religião como forma de “alijá-lo” de
sua potencialidade criadora. Nosso autor procura o homem que se nega na religião ao criá-
la. Esta negação é para Gauchet a própria essência da religião, como escreve no teto a
seguir:

Allí donde se ve quel el orden planteado como enteramente sufrido es al mismo


tiempo aquel com el que es posible una adequacion voluntaria sin reserva,
mientras quel el ordem que creamos es de hecho aquel em que, para empezar, es
difícil reconecerse – nos solicita esfuerzo de desciframento – y aquel además
cuyos resortes y resultados nos desbordan, y cuyos afectos sufrimos sin poder
controlarlos. Paradoja capital que contiene la clave de toda nostra história. Pues
esta eleccíon de poseerse consintiendo su deposición y abandonando el proyecto
de dominar la naturaleza, de legislar por cueta propia em benefício de otro
proyecto, el de asegurarse una identidad de parte a parte definida y dominada,
es la religion en su misma esencie.10

E do ponto de vista da organização religiosa, ou melhor, do ponto de vista da religião,


afirma o pensador francês, que não a possibilidade de se afirma que conheçamos alguma
sociedade primitiva. Para ele, não podemos conhecer esta sociedade inaugural. As
sociedades que temos registro são, a seu ver, já estruturadas e civilizadas, fazendo parte de
nossa história. Mantém o autor a denominação de “selvagem” ou “primitiva”, para estas
sociedades arcaicas, por falta de um termo que se aplique de forma mais adequada. Diz ele
que prefere manter o vínculo a uma tradição que pode ser criticada de forma consciente, do

8GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.13.


9GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.13.
10GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.15.

5
que acreditar evadir-se dessa por magia de um termo novo11, que em nada acrescentaria ao
estudo dessas sociedades. Gauchet acredita que é necessário

penetrar en la identidad que nos une a estas sociedades com es necessario


perseverar em concebirlas en función de la descontinuidad decisiva qu nos
separa de ellas, y que durante tanto tiempo las ha ordenado del lado de lo otro:
la manifestación patente de la separación es la ausencia de Estado y el secreto
de la identidad es el papel de la religion. Em efecto, a partir del momento em
que discernimos que lo religioso ocupa todo el sitio, uma vez que comprendido
el que corresponderá en lo sucesivo al Estado, tenemos el principio que las
diferencia y las identifica en la vez. Son semejantes em el hecho de que su
organización más profunda procede de una distribuicón de los mismos
elementos y de las mismas dimensiones que las nuestras.12

Então a partir desse ponto de vista, afirma o autor, a aparição do Estado pode ser vista
como o maior acontecimento da humanidade. Não podemos esquecer que a visão de
Gauchet não se encaixa entre aquelas que acreditam em uma evolução paulatina entre as
duas esferas, estado e religião. Nem daquelas que vêem no surgimento do Estado uma nova
forma de organização, que venha abolir o que era antes mais natural e justo. Para ele o
surgimento da organização estatal corresponde

a un gigantesco cambio de las articulaciones constitutivas del estabelecimento


humano, a una tranformación em el sentido estricto del término: todos los
elementos del dispositivo anterior se encuentran en el dispositivo seguinte,
repartidos y ligados de otro modo. Con la exepción de que la redistribuición
lógica implica inmensos efectos práticos.13

Por volta de 5000 anos tem o Estado14, tal como o conhecemos, e antes o que havia?
Aquela manifestação que denominamos de religiosas. O que havia antes de destes 5000
anos era a religião, em seu estado mais puro sem a concorrência do Estado. Logo, afirma
Gauchet, a visão de que as religiões primitivas eram precárias, em visões mais
complacentes embrionárias, é um pontos de vista errôneo.

De tal manera que lo que costumbramos a llamar “grandes religiones”, o


“religiones universales”, lejos de encarnar el perfeccionamento quintaesenciado
del fenómeno, representan en realidad otras tantas etapas de su relajamento y
dissolución, siendo la nuesta, la más grande y universal, la religion del dios
único, aquella a través de la cual pudo operarse la salida de la religión.15

11GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.16.


12GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.16.
13GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.17.
14A este período denomina Karl Jaspers de período axial. Para maiores informações cf. Karl JARSPERS.
Iniciação filosófica. Lisboa: Guimarães editores, 1987.
15GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.17-18.

6
E, um pouco mais à frente encontramos a seguinte afirmação de Gauchet:

La religion plenamente desarrollada es la religion anterior al progresso, anterior,


anterior a esta bifurcacion que, em alguma parte alredor del ano de 300 a.C. em
Mesopotâmia y em Egito, nos preciptó, primeiro em otro universoreligioso,
aquel en que todavía podemos espontáneamente reconecernos y, después, en un
universo dotado del poder de prescindir un dia de religion, ese mismo que
estamos descubrindo, cada dia más, que a devenido el nostro.
Esto significa que si conservamos la denominacion de “salvaje” parar
designar a esos pueblos de la religion primira es com el vigor original del
término, el que podia tener ya em la boca de um súbdito del Faraón o del Inca
para ablar de agitadores periféricos, “sin rey ni ley”, y que la acepcion europea,
con la el descubrimiento del século XVI, se limitó a econducir. Por sociedad
salvaje se entiende estrctamente aquí la sociedad no solo sin Estado, sino
anterior al Estado.16
Novamente a pesquisador francês insiste que a verdadeira religião é aquela que é anterior
ao surgimento do estado. Que o surgimento do estado é mesmo uma nova forma de
organização cosmológica, que permite a vida paralela à religião ou mesmo sem ela. O que
para ele é diferente de povo sem escrita. Um povo sem escrita pode ser um povo com
organização estatal muito bem estabelecida. Insiste que esta noção de “povo sem escrita” é
uma noção ampla e que engloba uma vasta gama de civilizações “extraordinariamente
diferentes,” “Assim, nos obstinamos em compreender juntas, de fato em nome de um
primitivismo que alardeamos recusar, realidades que só uma separação essencial pode dizer
algo.”17

Para Gauchet, se quisermos chegar ao mais básico da matriz que subjaze à eleição
religiosa, apenas de forma indicativa (pois não é possível chegar a esta de forma efetiva),
deveríamos buscar-la em um equívoco constitutivo da experiência do tempo,

Na division de aspecto que lo divide em siempre-ya-ahí que nos reduce a nada,


y un todavía-no-advenido que nos proycta a la libre apertura de hacer. Por um
lado, y para hacer sensible en términos psicológicos un fenómeno de naturaleza
más originária, siempre llegamos despues de que las cosas se han decidido. Así,
ni tenomos influência sobre ellas, y com ellas hacernos olvidar. Por otro lado,
somo arrojados al mundo como seres-fuentes para lo que no hay nada antes; y
por eso somos seres de acción que no pueden dejar de transformar lo que los
rodea, aun cuando se dediquen a rechazarlo, como fue el caso de la mayor parte
del recorrido histórico.18

Assim parece ter ocorrido uma encolha da espécie humana entre esta duas opções, afirma
nosso autor. Ora se escolheu pela opção da anterioridade do mundo, ou seja, já chegamos

16 GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.18.


17CF. GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.18.
18GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.19.

7
ao mundo com as coisas prontas e decididas; ora entendeu-se que o ser humano é ser
jogado no mundo, para o qual não há nada de anterior e que por isso é um ser de ação, e
criação. Gauchet caracteriza o que entende por eleição religiosa, não como algo dado ao
acaso. Pela simples escolha a partir de um vazio existencial. Assim define Gauchet o que
entede por eleição:

lo que tenemos em vista son algunas posibles maneras de asumir um numero


defenido de coaciones constitutivas; coaciones que estabamos obligado a
asimilar a elecciones no porque fueran adaptadas com conocimiento de causa, o
testemoniaram la potencia imprevisibile de nuestras imaginación instittuyente,
sino em la medida en que pertencen a su miesmo contenido no desarse vincular
com causas que decidirían sobre su preponderancia. No caen del cielo ni nacen
de la nada: se arraigan em un cuerpo restringido de condiciones primordiales de
las que explotan y expresan sus virtualidades predeterminadas y que
conciernem a la definición general del estabelecimento colectivo. Consideremos
la opción del pasado puro que evocábamos hace um instante, la ilustración
ejemplar de la recuperacion y la utilización sistematica de uma dimensión
fundadora que continúa teniendo profundamente sentido para nosotros, aun
cuando ya no informe em nada el sistema de legitimación de nostras
sociedades.19

Do mecanismo descrito, sugere o autor que, nasce a idéia de inscrição do ser humano no
universo natural. Uma forma de agrupamento que cria um vínculo político e social “e até
uma economia do pensamento”. Isto se dá a partir do momento em que se acredita que as
coisas são o que são, e que são boas como são, porque assim as herdamos de nossos
antepassados desde o imemorial do tempo, cabendo aos vivos a mera recondução, piedosa,
desta tradição. Todavia, corre paralela a esta organização social a “duração concreta da
vida”, que força a mobilidade do sistema estabelecido.

O que pretende demonstrar Gauchet é que há

algo de transcendental em la história, a cuya naturaleza pertenece preparar la


latitude uma relación reflexiva a través de la qual la especie humana elige de
hecho entre un cierto número de maneras posibiles de ser lo que es. Con
algunos de estos ejes invariables, que encontramos al hilo de las grandes
conformaciones sucessivas del ser-conjunto, tocamos las condiciones de
possibilidad mismas de un espacio humano-social, de una identidad personal e
colectiva.20

Temos com esta afirmação de nosso autor um indicativo forte de seu pensamento.
Encontramos aqui o enunciado de uma ontologia, a indicação de “onde” Gauchet pensa

19GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.20.


20GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p.20.

8
encontrar o fundamento da identidade pessoal do ser humano, ao mesmo tempo em que se
pode encontrar a identidade social. Ambas estariam, para esse autor, entrelaçadas. Logo,
estamos, por essa teoria, ligados inseparável e originalmente ao todo que nos cerca e do
qual fazemos parte. Isto seria o que nos permite vermos o ponto de vista do outro; o que
faz com que tenhamos capacidade de irmos contra nós mesmo fazendo com que criemos
leis. Que outorguemos poderes a determinados membros da comunidade etc. Mas este seria
um primeiro nível das relações humanas. Mas não é este o nível que justifica a existência
do livro ora estudado, nem seu objetivo. Tanto um como outro se justificam em um
segundo nível,

el de la ralación de los hombres con lo que les permite de este modo existir, en
el que esas dimensiones fundadoras y las combinaciones que autorizan devienen
la materia de una opición global que ordena uma u otra de las grandes formas
sociales que nos presenta la história. Tal es la convicción que justifica en última
instancia el método y el objeto de este libro. El método, en el sentido de que
legitima una busqueda específica, tras la infinita variedad y profusa movilidad
de las sociedades y de las culturas, de los esquemas organizadores
fundamentales que an definido, uno tras otro, las bases y las orientaciones del
estabelecimento humano. El objeto, porque las religiões constituyen el lugar de
paso obligado de uma investigación de este orden.21

Seria então a religião chave para o entendimento do humano? No entender de Gauche, sim.
Só através do entendimento dessas conseguiríamos entender a disposição das sociedades
pelo tempo, e só entendendo as religiões enxergaríamos a lógica “das diferentes figuras
que revestiram as relações coletivas com as articulações que fazem com que haja algo de
coletivo.”22 Desta forma pretende o autor recompor o sistema de crenças que antecedem o
surgimento do Estado. Um sistema que, como foi assinalado, a alteridade é a forma
dominante. Nele imperam a despossessão e a imutabilidade. O presente é uma herança dos
antepassados e deve ser conservado tal como era no início dos tempos. O que existe não
pertence, pois, aqueles que, ritualisticamente, repetem as atitudes recebidas. Aqui se trata
de estudar a forma mais radical da presença do religioso,

poes la separación temporal del fundamiento, que resulta de su asignación a un


pasado primordial, es la única separación absolutamente rigurosa y sin
apelación. Los acontecimentos e los actos fundadores tuvieram lugar y fueram
irremediablemente revolucionados y simultáneamente destinados para siempre a
pepetuarse a través de los rituales que los hacem revivir y de la piedad filial que
manda reproducir su erencia idénticamente. Sólo hay exterioridad verdadera y,
consequentemente, completa obediencia, por la divisón entre un pasado-fuente

21GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p. 21.


22GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p. 21.

9
23
y un presente-copia.

Todo dispositivo social se desenvolve e ordena em função da articulação de subordinação


do presente ao passado. Somente a compreensão da obediência por despossessão dá conta
do modo de concepção das origens. É no âmbito da despossessão que se uma forma de
explicação dificilmente concebida por nós; a explicação que chamamos de compreensão.
No universo mítico, da religião selvagem, a explicação exclui o ato de passar para o lado
do que é explicado. Pensar é, neste universo, receber a herança dos antepassados e “colocar
em ato de pensamento a separação do princípio, daquilo que se pensa.”24 A este conjunto
de disposições, que se fazem característicos, de uma determinada época da história da
humanidade, Gauchet, denomina de religião. A religião. Que mais tarde será substituída
pela forma de organização social que hodiernamente denominamos de Estado. É a este
período de transição, em grande parte, que nosso autor dedicará sua obra.

Referências Bibliográficas

Céline COUCHOURON-GURUNG. Un monde desénchanté? Achives de sciences sociales


des religions. In, <http://assr.revues.org/document3947.html>, consultado em: 10/03/2008.

Carlos Alberto STEIL. Para ler Gauchet. In, Religião e sociedade. 16/3: 1994.

Darli ALVES de SOUZA. O desencantamento do mundo. Ultimo andar. São Paulo, (15),
153-162, dez. de 2006. in,
<http://www.pucsp.br/ultimoandar/download/UA_15_resenha_desencantamentomundo.pdf
, consu em 11/03/08.>

Karl JASPERS. Iniciação filosófica. Lisboa: Guimarães editores, 1987.

Marcel GAUCHET [1985]. El desencantamiento del mundo – una historia política de la


religion. Tradução de Esteban Molina. Madrid: Trotta, 2005.

23GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p. 21.


24GAUCHET. El desencantamiento del mundo, p. 22.

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