Sei sulla pagina 1di 61

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE APLICADAS


CURSO DE PSICOLOGIA

JULIANE SANTOS GUIMARÃES SILVA


LARISSA NASCIMENTO ALVES

ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DA BISSEXUALIDADE

SANTOS
2017
JULIANE SANTOS GUIMARÃES SILVA
LARISSA NASCIMENTO ALVES

ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DA BISSEXUALIDADE

Trabalho de conclusão de Curso apresentado à


Universidade Católica de Santos como exigência parcial
para a obtenção do título de Psicólogo.
Orientadora: Profa. Dra. Ivanise Monfredini

SANTOS
2017
JULIANE SANTOS GUIMARÃES SILVA
LARISSA NASCIMENTO ALVES

ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DA BISSEXUALIDADE

Banca Examinadora

Profº Iara Cândida Chalela Genovese

Profº Ivanise Monfredini

Profº Thalita Lacerda Nobre

SANTOS
2017
SILVA. Juliane. ALVES. Larissa. Aspectos Históricos e Teóricos da Bissexualidade.
2017. 64 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Psicologia. Universidade Católica de
Santos.

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo explorar e analisar em primeira etapa os


aspectos históricos e teóricos da Bissexualidade desde a Grécia até a atualidade,
sua identidade, identificações, comportamentos sexuais e a atuação do psicólogo
com pessoas que se identificam como bissexuais. A luta para o reconhecimento
da sigla B da comunidade LGBT, assim como mitos e preconceitos são
esclarecidos através de uma breve análise de pesquisas feitas pelos autores
Camila Dias Cavalcanti, Vânia Maria Congro Teles, Valdeci Gonçalves da Silva,
Valter Andrade e Marianna Barbosa Almeira.

Palavras-chave: Bissexualidade; Bissexual; LGBT; Identidade.


ABSTRACT

This study had as objective to explore and analyze in first degree the historical and
theoretical aspects of Bisexuality from the ancient Greece to our present days, it’s
identity, identifications, sexual behaviors and the psychologist's work with people
who identify themselves as bisexual beings. The efforts to make the acronym B
acknowledged among the LGBT community, as well as myths and prejudices are
clarified through a brief analysis of researches done by the authors Camila Dias
Cavalcanti, Vânia Maria Congro Teles, Valdeci Gonçalves da Silva, Valter
Andrade and Marianna Barbosa Almeira.

Keywords: Bisexuality; Bisexual; LGBT; Identity.


AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a Deus, por ter nos dado coragem, foco, determinação e
a todo momento por sua mão para que tudo pudesse dar certo durante as
dificuldades, especialmente neste ano e na realização do trabalho.
Aos nossos familiares em geral por ter nos ajudado quando possível. Em
particular, aos nossos pais e mães, por não terem desistido e ido atrás do
impossível para que essa etapa fosse finalmente concluída, que nos apoiou e nos
incentivou em todos os momentos, especialmente nos momentos de fragilidade.
Nossos queridos amigos que entenderam nossas ausências e estiveram
disponíveis para ajudar no que fosse preciso, assim como nos motivando a não
desistir e servindo de um apoio de extrema importância.
A nossa orientadora, Dr. Ivanise Monfredini, pela compreensão, por se
esforçar em nos ajudar, mesmo não sendo sua área de atuação. Pela paciência e
a compaixão em entender as dificuldades que nos cercaram.
As nossas professoras da banca, Iara Chalela e Thalita Nobre, por
disponibilizarem um espaço em suas agendas que mesmo lotadas, nos incluiu.
Também as dicas e conselhos que nos foram passados.
Em especial aos autores que nos ajudaram diretamente com seus
trabalhos, Vânia Maria Congro Teles e Valdeci Gonçalves da Silva.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

SciELO - Scientific Electronic Library Online


LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
PUCRJ – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
APA - American Psychiatric Association
AFFIRM - Psychologists Affirming their Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender
Family
CRPSP - Conselho Regional de Psicologia de São Paulo
CFP – Conselho Federal de Psicologia
ILGA - Internacional Lesbian ad Gay Association
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

2. OBJETIVOS 10

2.1. Objetivo Geral 10

2.2. Objetivos Específicos 10

3. METODOLOGIA 11

3.1. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO 11

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14

4.1. O Complexo de Édipo e a Bissexualidade 14

4.2. Identidade 20

4.3. A história da Bissexualidade 22

4.4. A Bissexualidade na Psicoterapia 26

4.5. Bifobia 30

4.6. Heteronormatividade 32

4.7. Teoria Queer e Gênero 33

4.8. Visibilidade Bissexual 40

5. A BISSEXUALIDADE NA BIBLIOGRAFIA SELECIONADA 41

5.1. Pesquisas e Mitos 45

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 56

REFERÊNCIAS 57
9

INTRODUÇÃO

A escolha do tema Bissexualidade parte da curiosidade por parte das


alunas sobre o assunto, devido ao fato de terem sido encontrados poucos
estudos. A grande maioria dos estudos sobre sexualidade refere-se ao masculino,
feminino e ao homossexual, deixando de lado a questão da Bissexualidade em si.
De início buscamos o trabalho de teóricos que tomaram por base os
estudos de Freud sobre o Complexo de Édipo para construir a base de nossa
pesquisa.
Buscando oferecer uma visibilidade maior a essa população que muitas
vezes sofre discriminação da sociedade, por meio do estudo pretendemos
entender a causa, os estereótipos e as suas vivências pessoais e emocionais.
O trabalho parte do problema que os estereótipos que pessoas bissexuais
carregam podem comprometer na aceitação pessoal, trazendo transtornos
mentais e sociais na luta pela liberdade de ser quem são.
A promiscuidade, poligamia, estar em cima do muro, ser confuso, ter medo
de se assumir gay ou lésbica, acusações de transmitir doenças sexuais para a
comunidade LGBT e comunidade heterossexual, são estereótipos pregados aos
bissexuais, tirando o direito da liberdade de estar incluso em sociedade, sem
julgamentos.
A importância do trabalho é mostrar a sigla B da comunidade LGBT que é
visivelmente apagada e quase sem importância no contexto cultural em que
vivemos. Além de mostrar à sociedade o impacto que a discriminação causa às
pessoas bissexuais, resultado do afrontamento da sua dignidade como pessoa
humana.
Os capítulos do presente trabalho contém informações sobre a História da
Bissexualidade e sua Identidade, Visibilidade Bissexual; Bifobia, Mitos e a
Psicologia no Consultório e a Sexualidade, visando à importância da aceitação
pessoal.
10

2.1. OBJETIVOS
2.1.1 Objetivo Geral
● Realizar um estudo histórico e teórico sobre a bissexualidade, em artigos de
periódicos, teses e livros.
2.1.2. Objetivos Específicos
● Levantar a discussão sobre a história da identidade da bissexualidade.
● Compreender em que medida os estereótipos heteronormativos podem
comprometer na formação da identidade bissexual.
11

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, que segundo Gil (2002,


p. 44), é feita por materiais já existentes principalmente em artigos científicos e
livros, o que permite ampliar o conhecimento do assunto.
A pesquisa bibliográfica ou revisão bibliográfica, é desenvolvida através de
etapas, que segundo Gil (2002, p. 59), é entendida como um processo que
envolve: a) escolha do tema; b) levantamento bibliográfico preliminar; c)
formulação do problema; d) elaboração do plano provisório do assunto; e) busca
das fontes; f) leitura do material; g) fichamento; h) organização lógica do assunto;
i) redação do texto.
Para a busca das fontes de estudo para a pesquisa, utilizou-se sites
específicos das bibliotecas e repositórios online da UERJ, UFRJ, PUCRJ, UFPB,
UFPE, SciELO, além de livros impressos e/ou em PDF obtidos diretamente com
os autores via e-mail. Por meio do formulário de busca, foram utilizados os termos
“bissexualidade” e “bissexual”. Inicialmente obteve-se um total de 290 publicações,
nos períodos entre 1999 e 2016.

3.1 – CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO


Após ler os resumos das 290 publicações, foram excluídos aqueles que não
contribuíram com o objetivo desta pesquisa, sendo eles, os que não tinham uma
relação direta com tema bissexualidade.
Portanto, foram selecionados no total de 13 artigos catalogados no quadro
a seguir:
Quadro 1: Caracterização dos artigos analisados
AUTOR ANO DE PUBLICAÇÃO TÍTULO

TELES, V. M. C. 1999 Bissexualidade – Identidade,


Identificações e
Comportamento sexual: um
estudo de casos.

SILVA, V. G. 1999 Faca de dois gumes:


Percepções da
Bissexualidade Masculina
12

em João Pessoa.

ZIMERMAN, D. E. 1999 Fundamentos Psicanalíticos


– Teoria, técnica e clínica.

MOREIRA, J. O. 2003 Édipo em Freud: O


movimento de uma teoria.

SEFFNER, F. 2003 Derivas da Masculinidade:


Representação, Identidade e
Diferença no âmbito da
masculinidade Bissexual.

CAVALCANTI, C. D. 2007 Visíveis e invisíveis: práticas


e identidade bissexual.

MOLEIRO, C; PINTO, 2009 Diversidade e psicoterapia:


N. expectativas e experiências
de pessoas LGBT das
competências multiculturais
de psicoterapeutas.

ADELMAN, M. 2010 Paradoxos da Identidade: A


política de orientação sexual
no século XX.

CAVALCANTI, C. D. 2010 Práticas Bissexuais: uma


nova identidade ou uma
nova diferença?.

LEWIS, E. S. 2012 “Não é uma fase”:


construções identitárias em
narrativas de ativistas LGBT
que se identificam como
bissexuais.

SALIN, S. 2012 Judith Butler – E a Teoria


Queer.
13

ALMEIDA, M. B. 2015 Bissexualidades femininas:


repertórios entre jogos de
(in)visibilidade

ANDRADE JUNIOR, V. 2016 On-line, saída do armário;


C. Off-line, assujeitamento à
heteronormatividade.

Formas-sujeito nas salas de


bate-papo UOL-Salvador/BA

• CARACTERIZAÇÃO DOS ARTIGOS

Os artigos selecionados tiveram como propósito um estudo direto com o


tema abordado neste trabalho. Observou-se um período de 17 anos desde o
primeiro artigo selecionado de 1999 ao último de 2016, com um aumento
significativo sobre o assunto nos anos 2000.
A formação acadêmica dos autores difere entre Sociologia, Psicologia,
Letras e Medicina.
14

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 O COMPLEXO DE ÉDIPO E A BISSEXUALIDADE

Ao explanarmos sobre o tema Bissexualidade observou-se que há um


campo muito vasto a ser explorado. A Bissexualidade ainda hoje é associada ao
estereótipo de indecisão, ou o enquadramento por leigos em outra orientação que
não corresponde a sua opção sexual, como a Homossexualidade. Em diferentes
locais e épocas o termo Bissexual recebeu e ainda recebe diferentes significados.
Por meio do presente trabalho buscamos caminhar na direção de oferecer
outro olhar sobre esses indivíduos e a valorização dos mesmos como um todo.
Explicitam-se aspectos da história da bissexualidade em diferentes épocas e
lugares do mundo, mostrando uma pequena conexão entre a prática dos povos
gregos, japoneses, romanos e indígenas.
Também se explica o início da identidade da bissexualidade, como foi tirada
do ramo patológico, sua integração na sociedade e esclarecimento de práticas
psicológicas no atendimento com o público bissexual, as diferentes teorias
abordadas e a referência do aspecto heteronormativo.
Através dos estudos de Elizabeth Sara Lewis (2012), pode-se observar que
o histórico do termo Bissexual era utilizado por médicos e teólogos como um sexo
distinto, outro sexo em que se agregava a anatomia e o biológico de ambos os
sexos.
Em relação à Psicanálise, Lewis (2012) pontua que o termo Bissexual partia
da ideia de uma suposta alteração psicológica favorável à fusão entre o masculino
e feminino. Parte dessa ideia o termo de “hermafroditismo psicossexual” difundida
por Freud utilizando o termo “Bissexual”.
Ainda com base nos estudos de Lewis (2012, p 26) apud Freud ([1905]
2006); Heenen-Wolf (2010):
Nas notas de rodapé adicionadas pelo próprio autor ao decorrer dos anos,
Freud argumentou que esta bissexualidade (feminilidade e masculinidade)
psicológica fazia parte de uma “predisposição bissexual” inata que levava os
indivíduos a se desenvolverem como heterossexuais ou homossexuais
enquanto amadureciam.
Observa-se que nesse momento a Bissexualidade não era vista como uma
opção e sim como uma tendência natural comum a todos.
Ao referir-se sobre a sexualidade, Santos (2011, p.8) descreve que desde o
15

início da civilização, configurou-se como algo inquietante para os indivíduos.


Tanto da ordem do que não é dito, quanto pelos instrumentos que surgem para
seu controle. Confirma-se também a importância da teoria de Freud sobre a
sexualidade, na qual a Bissexualidade sempre ter sido vista como algo delicado e
que ainda hoje é um tema considerado tabu para a sociedade.
Conforme os estudos fundamentados em Freud, o momento do Complexo
de Édipo é de extrema importância para a definição da escolha sexual de cada
indivíduo.
O Complexo de Édipo, ainda em Santos, (2011, p.10 apud LAPLANCHE E
PONTALIS, 1992, p.77) pode ser entendido como:
Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em
relação aos pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se
como na história do Édipo-Rei: desejo de morte do rival que é personagem
do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob sua
forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do
mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade,
essas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma
completa do complexo de Édipo.
Ainda, conforme a autora que se baseia nos estudos de Freud é a partir do
momento do Complexo de Édipo, que ocorrerá, de acordo com a sua identificação
com uma das figuras parentais, a escolha do objeto amoroso e que resultará no
Superego.
(...) a escolha de um objeto, tal como mostramos ser característica da fase
puberal do desenvolvimento, já foi frequente ou habitualmente feita durante
muitos anos da infância: isto é, a totalidade das correntes passou a ser
dirigida para uma única pessoa em relação a qual elas buscam alcançar
seus objetivos. (FREUD, 1923, p. 157 apud SANTOS, 2011, p. 10)
A autora menciona também que a escolha do objeto amoroso é dividida em
dois períodos. Inicia-se entre os três e cinco anos de idade e é suprimida pelo
período da latência, reaparecendo no início da puberdade.
De acordo com Moreira (2003), o complexo de Édipo é o ponto central da
psicanálise. Ainda, de acordo com as ideias da autora, o Édipo não é somente o
centro das neuroses. Também é o momento decisivo da formação da identidade
sexual do indivíduo.
É por meio do Complexo de Édipo que o indivíduo irá constituir e compor
seu modo de ser, com base na distinção entre masculino e feminino e do modo de
lidar com a angústia de castração.
O movimento que afirma o complexo de Édipo como fundamental na
estruturação do sujeito e a sua consequente relevância incontornável na
teoria psicanalítica, também anuncia, ao mesmo tempo, a presença
irredutível do outro na constituição do sujeito. A construção conceitual da
16

categoria do Édipo, como operador teórico e clínico, realiza-se ao longo da


obra freudiana num processo tortuoso que, em alguns momentos, parece
enquadrar-se numa lógica linear e, em outros, aparece na figura do
aprèscoup, da posterioridade (Nachträglichkeit) (MOREIRA, 2004, p. 219)
Nesse sentido, ressaltamos que nós seres humanos, nascemos em
sociedade e também é através dela que adquirimos nossos valores culturais,
políticos e morais. É através desse relacionamento com o outro, entre eles as
figuras parentais que fazemos nossas escolhas, com base nos conteúdos
apreendidos e introjetados por cada um. Entre essas escolhas, a escolha da
orientação sexual.
(...) os sujeitos vivenciam o complexo de Édipo, simultaneamente, em suas
formas positiva e negativa. No declínio do complexo de Édipo positivo, no
menino, a identificação com o outro-pessoa, representado na figura paterna,
coloca em cena a problemática especular do outro-narcísico. O querer-ser-
como–o-pai possibilitará a preservação psíquica da mãe como outro-objeto
de investimento e, concomitantemente, substituirá a catexia objetal em
relação ao próprio pai. A identificação do filho com o pai se concretiza,
portanto, a partir de dois vetores. No primeiro vetor, temos a terceira
modalidade de identificação, e no segundo, presenciamos a regressão da
catexia objetal para o mecanismo da identificação, onde o pai era, também,
objeto de amor. Na forma negativa, observaremos, no declínio do Édipo no
menino, uma identificação com a mãe e uma fixação na relação com o pai
sob o signo da catexia objetal. No declínio do Édipo negativo,
encontraremos apenas a segunda modalidade de identificação, ou seja, a
catexia objetal em relação à mãe regrediu para uma identificação. Mas,
anteriormente a esse desfecho, a criança vivencia, em toda a sua
complexidade, variadas formas de combinações identificatórias ou libidinais
com os sujeitos da trama. O menino ama a mãe e reproduz uma relação
ambivalente com o pai, mas, concomitantemente, apresenta atitudes
femininas afetuosas em relação ao pai e hostilidade dirigida à mãe. Existe a
possibilidade de ter a mãe e o pai como outros-objetos de catexia libidinal e
como outros narcísicos para o modelo de identificação. As mesmas
possibilidades povoam o universo da menina. Entretanto, é importante
salientar que a identificação com o pai ou com a mãe determinará o
desfecho da situação edipiana e, consequentemente, a escolha do pai ou
da mãe como objetos de catexias libidinais. O tipo de escolha de objeto do
jovem sujeito depende da opção identificatória efetivada no declínio do
Édipo. O Édipo constitui, pois, um momento decisivo no processo de
subjetivação e sexuação. Não podemos deixar de considerar que as
escolhas excludentes e necessárias, no declínio da situação edipiana,
podem não ocorrer, criando, assim, novas formas de sexualidade, que
podem ser mais patológicas do que as formas provenientes das escolhas
excludentes. (MOREIRA, 2004, p. 224)
Ainda de acordo com a autora, vivencia-se o Complexo de Édipo negativa
e positivamente, assim como mostram as ideias de Santos, (2011, p. 10 apud
LAPLANCHE E PONTALIS, 1992, p. 77) ambas pontuam que conforme a
identificação que o indivíduo terá com a figura paterna ou a figura materna
ocorrerão escolhas referentes à sexualidade em suas variadas formas. Sendo
possível ressaltar então a importância do Édipo como um período determinante
do desenvolvimento pessoal de todos os indivíduos.
17

Freud estabeleceu uma diferenciação entre o biológico e o psíquico,


recusando-se a ver um como causa do outro. É na obra “Três ensaios sobre
a teoria da sexualidade” que Freud apresenta a bissexualidade como
fundamento da homossexualidade e de outras inversões. Segundo Freud, o
senso comum com relação ao instinto sexual está referenciado na ideia de
que homem e mulher são duas metades, que se procuram para se
completar, através do amor. Causa espanto, portanto a descoberta de que
“há homens cujo objeto sexual é outro homem, e não uma mulher, e
mulheres cujo objeto sexual é outra mulher, e não um homem.” (FREUD,
1972, p. 136 apud SEFFNER, 2003, p. 46)
Nascemos sem distinção do que é considerado referente à figura feminina
e à figura masculina, porém desde cedo através de roupas e brinquedos somos
ensinados que meninas devem gostar de rosa e meninos de azul, e quando
começamos a nos relacionar aprendemos que os relacionamentos ditos normais
devem ser com pessoas do sexo oposto. Porém a Homossexualidade, bem como
a Bissexualidade, foco do presente trabalho, caminham em contraponto a esses
ideais. Desde sua descoberta a Bissexualidade causa desconforto àqueles que
pensam de acordo com as formas consideradas “normais” de relacionamentos.
Fundamental para compreendermos as falas que situam a Bissexualidade
como indefinição, [...], é lembrar as reiteradas afirmações de Freud,
especialmente no artigo “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, mas
também “Uma criança está apanhando” e “Psicopatologia da vida cotidiana”,
que afirmam a existência de “elementos e características masculinas em
todas as mulheres, e elementos e características femininas em todos os
homens”, ou uma “disposição bissexual geral dos animais superiores”.
Sendo assim, temos desde autores que situam a repressão sexual como
derivada desta necessidade de reprimir um dos sexos – o sexo subordinado
– para que o outro se afirme, até considerações sobre a natureza
intrinsecamente bissexual de todos os indivíduos, o que não deveria lhes
causar problema, uma vez que está inscrita de certo modo em sua própria
anatomia, na forma de centros cerebrais masculino e feminino, que só se
desenvolvem na puberdade, sob a ação de glândulas sexuais:
[...] a atitude sexual definitiva do indivíduo não se define senão depois da
puberdade e é o resultado de numerosos fatores, nem todos ainda
conhecidos: alguns são de natureza constitucional, ou outros, porém, são
acidentais [...] geralmente, a multiplicidade dos fatores determinantes se
reflete na variedade das atitudes sexuais manifestas com que se expressam
nos seres humanos. (FREUD, 1972, p. 146 apud SEFFNER, 2003, p. 47)
A partir dessa reflexão salienta-se a presença de elementos de ambos
os sexos em todos os indivíduos e ressalta-se que para afirmar sua escolha
sexual o indivíduo deve coibir os traços de determinado sexo, para que o outro se
afirme. Com isso conclui-se que para Freud, todos os indivíduos são de natureza
bissexual, que poderá ou não se afirmar na puberdade.
De acordo com Santos (2011, p. 11 apud Freud, 1905, p. 210), a
bissexualidade pode ser percebida na alternância de objetos de amor infantis, ora
a mãe da criança, ora o pai. Variação que influenciará as escolhas futuras, pois
“O encontro do objeto, é na verdade, um reencontro”.
18

Ainda para a autora, não existe fundamentalmente uma conexão biológica


entre a determinação do sexo e a escolha objetal, é a partir do Édipo e como se
enfrenta esse período que cada indivíduo se direciona e se molda entre as
determinadas categorias sexuais.
Uma ideia freudiana importante, derivada da noção central de
bissexualidade, foi a de que “ambos os sexos recalcavam o que dizia
respeito ao sexo oposto: a inveja do pênis, na mulher, e no, homem, a
revolta contra sua própria feminilidade e sua homossexualidade latente.
(ROUDINESCO, 1998, p. 74 apud SEFFNER 2003, p. 48)
Roudinesco (1998, p. 74 apud Seffner 2003, p. 48) sugere que a libido
tende a ser voltada para apenas uma figura, tendo de aceitar a perda da outra
para definir sua própria identidade sexual, caminhando em posição contrária ao
fato de todos os indivíduos serem de natureza bissexual.
Os resultados da análise da teoria própria sobre a origem da condição
bissexual aponta para os seguintes aspectos: os sujeitos não tem uma
teoria a seu respeito, mas atribuem a sua condição uma constelação
familiar especial na infância, ou vivência de alguma situação infantil
importante, mas não sabem especificar que condições especiais são essas.
[...] Cada pessoa conta um pouco de como foi essa vivência: falam de um
pai distante, ausente, mas percebido como autoritário, violento, agressivo e,
ao mesmo tempo, desvalorizado como homem, um pseudo-macho, pouco
viril. [...] Assim, os entrevistados referem que a situação familiar mais
marcante foi o fato de possuírem uma mãe forte, super cuidadosa,
opressora, dominante, ocupada e com pouco tempo para os filhos, mas
vista como sensível, com sensibilidade feminina. (RISSON; MIGOTT, 1996,
p. 21 apud SEFFNER, 2003, p. 65)
Seffner (2003) e Adelman (2000) salientam a importância da teoria de
Freud para a compreensão da Homossexualidade, a partir da problemática dos
fatos vivenciados durante a infância, bem como a relação estabelecida com as
figuras fundamentais, além de outras questões a serem ressaltadas como: a
primeira experiência sexual se foi ou não com um par do mesmo sexo e se foi ou
não bem-sucedida, pode ser considerada um fator determinante de um futuro
molde Bissexual. Estabelecer o começo da postura bissexual se ocorreu antes ou
depois da puberdade, ou depois de algum trauma no matrimônio, também são
utilizados para justificar as procedências da postura bissexual.
A bissexualidade também é entendida e problematizada como uma das
possibilidades de identificação a partir da qual se definem posições de
sujeito e/ou atribuídas ao longo de suas trajetórias de vida. Isto é, o
indivíduo nunca é entendido como universal ou um projeto acabado, mas
sim em constante modificação que lhe permite ou leva a assumir uma ou
outra posição no contexto social. [...] compreender como a bissexualidade é
percebida e aceita na sociedade. [...] Entendendo que, assim como a homo
e a heterossexualidade, a bissexualidade é mais uma das orientações
sexuais possível de ser agregada às identidades dos indivíduos, baseando-
se no processo multidentitário que se caracteriza pelas diversas maneiras
de identificação. (CAVALCANTI, 2007)
A partir dessa reflexão compreendemos a bissexualidade como mais uma
19

das possíveis formas de identificação que ocorre resultante do período Edipiano,


e que como as orientações sexuais hetero e homo, pode ser considerada também
uma forma de identificação, saindo do processo de exclusão ou categorização
errôneo e ganhando mais visibilidade e atenção para essa categoria de indivíduos
que fica a margem de outros rótulos.
Com a superação do Complexo de Édipo, resulta no Superego definido por
Moreira (2003, p. 224):
É o representante da consciência moral, aquela instância que garante os
limites entre as relações. O superego representa um símbolo abstrato da lei
da proibição do incesto, psiquicamente introjetada.
Reiterando as ideias de Moreira (2003), Zimermam (1999) estabelece a
partir dos escritos de Freud que o Superego resulta da ruptura do Complexo de
Édipo. Ainda, de acordo com Zimermam (1999, p. 134), parafraseando Freud, o
Superego ocorre:
Quando a criança supera, com mais ou menos êxito, a sua conflitiva
edípica, ele encontra uma solução para as angústias acompanhantes desse
conflito, pela interiorização de seus pais dentro de si. Isto é, a criança
identifica-se com eles e, assim, internaliza as interdições deles. No entanto,
essa identificação não é completa, porquanto a criança pode identificar-se
com certos aspectos dos pais e não com outros, de acordo com esse
mandamento interno: “deves ser assim... (como teu pai)”, mas também
abarca a proibição “não deves ser assim... (como teu pai; não podes fazer
tudo o que ele faz; muitas coisas são prerrogatórias exclusivas dele; ai de ti
se o desobedeceres...”
É através da passagem do Complexo de Édipo para a formação do
Superego que inicia o processo de introjeção do sujeito sobre errado e certo,
permeando seu modo de agir com o outro. Por meio da sua organização psíquica
o indivíduo se organiza também socialmente e sexualmente. A sexualidade
segundo Freud sempre esteve presente em todos os indivíduos e é através da
relação com o outro que se aflora para que o indivíduo amadureça e faça a
própria escolha sexual.
20

4.2. IDENTIDADE

De acordo com Cavalcanti (2007 apud Bauman (2005, p. 30):


Quando a identidade perde as âncoras sociais que a faziam parecer
‘natural’, predeterminada e inegociável, a ‘identificação’ se torna cada vez
mais importante para os indivíduos que buscam desesperadamente um
‘nós’ a que possam pedir acesso.
Para a mesma, a busca por representatividade, por um "nós" como
cita Bauman, se manifesta mais claramente através da identificação da
sexualidade, correlacionada ao sexo biológico, a cultura e os gêneros masculino e
feminino, a partir de uma reprodução de ideias. Quando essas ideias
reproduzidas tornam-se mutáveis, surgem novas formas de identificação. A
questão da normalidade ou naturalidade passa a ser reinterpretada ou também
pode chocar-se com outras possibilidades de ser que antes eram consideradas
impraticáveis ou incoerentes.
Assim sendo, a escolha bissexual entra em conflito com os padrões
ditos normais. Todavia as certezas afirmadas por teóricos como citado Freud,
passam a ser remodeladas, ou passam a receber outro olhar, não apenas aquele
de repressão:
A sociedade de hoje não é a mesma de um século atrás, quando Freud e
Foucault brilhantemente revolucionavam os discursos sobre o sexual.
Existem outras demandas, outras leis que regem a estruturação dos sujeitos
e, portanto, outras milhares de sexualidades. Tanto no que se refere às
escolhas, como aos padrões de normalidade que norteiam as práticas
sexuais. SANTOS ( 2011, p.6)
A partir dessa reflexão podemos perceber que as ideias de teóricos como
Freud e Foucault, serviram de base para muitos estudos. Todavia, vale ressaltar a
importância de considerar modificações em suas teorias, não tirando-lhes o
crédito, mas adaptando-as à sociedade atual. Inserindo também as variadas
formas de escolhas sexuais como práticas comuns, tirando do padrão de
normalidade apenas o que se refere às escolhas Heterossexuais.
Seffner (2003, p. 97), afirma que:
As principais dimensões que interessa vincular à discussão das identidades
culturais são aquelas do gênero e da sexualidade, e isto porque é
perceptível que na sociedade ocidental estas duas dimensões são as mais
importantes para a definição de identidade cultural de um indivíduo.
21

Para o autor, na sociedade ocidental, ao falar sobre identidade de um


sujeito, leva-se em conta seu gênero e sua sexualidade.
Segundo Foucault (1985,1990) precisamos todos de um verdadeiro sexo,
de um sexo definido, esta é informação importante sobre nós. Esta foi e tem
sido a regra nas sociedades ocidentais. Neste terreno a ambiguidade, a
incerteza, a indefinição, podem trazer muitas complicações para a pessoa.
Saber da raça, da etnia, do pertencimento religioso, da nacionalidade, da
naturalidade, da classe social de alguém é seguramente importante no
sentido de perceber sua identidade, mas é o conhecimento que possamos
ter das dimensões do gênero e sexualidade do indivíduo aquele mais
valorizado, aquele que efetivamente funciona quando se procura “definir”
“quem” é o indivíduo. Mas ainda, saber do gênero e da sexualidade do
indivíduo pode nos fazer rever todo o conhecimento que temos das outras
dimensões de sua identidade.
A partir dos levantamentos do autor sobre as ideias de Foucault em relação
à escolha da opção sexual de quem foge do padrão que ainda é considerado
“normal” na atualidade, parte-se da ideia de que quando se sabe sua opção
sexual o indivíduo deixa de ser um todo e passa a ser apenas aquele que tem
uma opção sexual diferente. Reduz-se a sua escolha.
Em outras palavras, o conhecimento que possamos ter da identidade de
gênero e da identidade sexual de um indivíduo em geral opera
deslocamentos naqueles conhecimentos que temos acerca da identidade da
raça, da identidade nacional, da identidade religiosa, etc. Na sociedade
ocidental, gênero e sexualidade se ligam de maneira chave com o conceito
de identidade, e por vezes é a partir da identidade sexual que todas as
demais construções identitárias do sujeito se ordenam, em outras palavras,
esta dimensão de sua vida torna-se totalizadora de sua identidade, e
quando dele se fala, é para lembrar, em primeiro lugar sua identidade
sexual. SEFFNER (2003, p. 99 e p. 100)
A partir dessa reflexão observa-se que o conhecimento que se tem sobre a
opção sexual do outro passa a ser sua única definição para quando se vai falar
sobre ele, desconsiderando lhe todos os outros tipos de identidade que possa ter.
A sexualidade diz respeito ao modo como os indivíduos organizam e
valorizam as questões relacionadas à satisfação do desejo e do prazer
sexuais. A identidade do gênero refere-se à identificação do indivíduo com
aqueles atributos que culturalmente definem o masculino e o feminino, num
dado contexto social e histórico, revelando-se na expressão de modos de
ser, de gestos, de jeitos de vestir, de atitudes, de hábitos corporais, de
posturas para andar, sentar, movimentar-se, de tonalidade da voz, de
seleção de objetos e adornos, etc. Estas escolhas serão nomeadas como
representações vinculadas ao mundo masculino ou ao mundo feminino,
permitindo que o indivíduo em algum desses dois grandes universos, e
dizendo que “é feminino” ou “é masculino”, coincidindo isto ou não com sua
identidade sexual. São, portanto, dois processos a serem vividos e
administrados pelo sujeito. SEFFNER (2003, p. 102)
O autor reafirma a ideia de que o relacionamento com o outro, bem como
os valores apreendidos interfere significativamente sobre as escolhas de cada
indivíduo em relação a sua identificação com o sexo feminino ou masculino.
Essas ideias apontam que o indivíduo possa se identificar com um destes modos
22

de ser, independente de sua identidade sexual.


As relações de gênero e as relações sexuais constituem-se em episódios
valorizados na construção da identidade cultural dos indivíduos, o que
significa dizer que, nas interações que um indivíduo mantém com outros,
sempre estão presentes desníveis de poder, representados por diferenças
de gênero e de preferência sexual, embora se reconheça que também
operam com diferenciais de poder dimensões como raça, etnia, classe
social, nacionalidade, pertencimento religioso, nível de escolaridade, faixa
etária, etc. SEFFNER (2003, p. 102)
Ainda, para o autor nas relações interpessoais sempre existirão várias
diferenças em relação aos indivíduos, mas as que se destacam na construção da
identidade cultural ainda são o gênero e a sexualidade.
Em nossa sociedade, o sexual veio a constituir-se num elemento de
fundamental importância quando alguém fala das verdades de si: “a
identidade sexual constitui-se na cultura ocidental uma das dimensões
centrais da identidade social da pessoa. (HEILBORN, 1996, p. 137 apud
SEFFNER 2003, p. 103)
Falar sobre a sexualidade, para a nossa sociedade, faz parte de quem
somos, de como o outro irá nos ver. O fato de ser ou não bissexual, não altera a
percepção do indivíduo bissexual sobre o outro, e não significa que investirá
sobre qualquer indivíduo com sentimentos amorosos, para a finalidade de obter
uma relação sexual, fato este que ainda está muito enraizado na cultura ocidental.
A sexualidade pode ser vista como uma atividade lúdica, inventada e
reinventada todos os dias, com diferentes nomes e possibilidades. A
competência para nomear como correta uma determinada modalidade de
vida sexual, empurrando as variações para o campo do patológico, é um
exercício de poder que está atualmente bastante concentrado nas mãos da
medicina, da psiquiatria, da psicologia e dos agentes da moral. SEFFNER
(2003, p. 106)

4.3. A HISTÓRIA DA BISSEXUALIDADE

Retomando aos significados adquiridos ao uso da palavra “bissexual”, e


terceiro significado segundo Lewis (2012), diz respeito à mistura de desejo entre a
homossexualidade e a heterossexualidade.
Ainda, conforme Lewis (2012), as práticas bissexuais acontecem desde a
época da Idade da Pedra, focando o sexo masculino. Histórias na Grécia antiga,
Japão, Roma e povos indígenas.
Na Grécia antiga, Lewis (2012) afirma que era comum o envolvimento
sexual ou afetivo de um homem casado, com adolescentes ou jovens adultos,
conhecidos como “paidika”. A prática era vista como um ensinamento parecido
com os da escola, na época. O homem cobre o papel do professor e o jovem, do
aluno. A troca de experiência baseava-se em ensinar práticas sexuais e filosóficas
23

com o intuito de formar uma pessoa sábia e responsável. Outro motivo da união
de dois homens, era para fortalecer as forças armadas. Após o contato íntimo
entre eles, se esperava um comportamento de fidelidade e proteção para com
todos, diante dos obstáculos e perigos.
O objetivo das relações heterossexuais na Grécia antiga, de acordo com
Lewis (2012) eram a reprodução, sendo essa união, a heterossexual somente
para fazer filhos. E a homossexual para a formação de um cidadão e proteção
das forças armadas.
Os gregos praticavam a bissexualidade como vinda da atração física das
pessoas, ignorando o sexo biológico.
A diversidade da escolha entre moça e rapaz não se refer[ia], de modo
algum, à distinção entre duas tendências, ou à oposição entre duas formas
de desejo. [...] não se concebia dois apetites distintos, distribuindo-se em
indivíduos diferentes, ou confrontando-se numa mesma alma; encarava-se
antes como duas maneiras de obter seu prazer, uma das quais convinha
melhor a certos indivíduos ou a certos momentos da existência. As práticas
com rapazes e com mulheres não constituíam categorias classificatórias
entre as quais os indivíduos pudessem repartir-se; o homem que preferia os
paidika não se experimentava como “outra” face àqueles que buscavam as
mulheres. (FOUCAULT, 1984 p. 169-170 apud LEWIS, 2012 p. 29).
O shudo do Japão antigo, segundo Lewis (2012), é semelhante aos
acontecimentos da Grécia. Os samurais adultos e casados, tinham relações com
jovens aprendizes para ensinar-lhes os códigos de samurais e sabedoria sexual,
mas estes não se estendiam para os campos de batalhas, sendo somente para a
formação do aprendiz. Essa relação era importante para os samurais, pois
segundo eles, mantinham o equilíbrio entre os elementos feminino e masculino
(yin e yang).
Acreditavam que os samurais que tinham relações somente com um sexo
biológico, não podiam chegar no equilíbrio dos elementos e consequentemente,
não seriam bons guerreiros. Alguns samurais também faziam votos de castidade,
seguindo a religião do “percurso magnífico”, o que os impedia de ter relações
sexuais com mulheres, o que, no entanto, era permitido com os aprendizes, por
acreditarem na aproximação do que era divino.
Na Roma antiga, Lewis (2012, p. 30) menciona a diferença perante as
outras, sobre a relação sexual entre os homens que aconteciam pelas diferentes
posições sociais. As relações sexuais eram aceitas, mas desde que respeitassem
as ordens: “A penetração do homem na mulher, do mestre no escravo e do
24

homem romano no homem estrangeiro”. Os homens desta época só eram


respeitados se fossem masculinos, não fisicamente, mas por ser o penetrador nas
relações.
Por último, Lewis (2012) refere-se às práticas em tribos indígenas, os
deuses que mostravam comportamentos e relações que chamamos de
bissexuais. Era comum a prática bissexual em rituais de iniciação e no
xamanismo. No início do século XX, soldados do Oásis de Siuá praticavam atos
iguais aos dos gregos e samurais, como ensinamento para aprendizes e proteção
militar. Em tribos da África e Oceania, os povos acreditavam que o esperma de
um homem adulto transmitia via oral ou anal, as virtudes da masculinidade. Já em
xamãs acreditavam que a prática bissexual ajudava a entender melhor os
membros do grupo do que uma pessoa heterossexual.
A sexualidade se define através da cultura, não existindo uma “sexualidade
natural” ou uma forma natural de se praticar a sexualidade.
O âmbito da sexualidade [...] tem sua própria política interna, iniqüidades e
modos de opressão. Como acontece com outros aspectos do
comportamento humano, as formas institucionais concretas da sexualidade
humana, num espaço e tempo determinados, são produto da atividade
humana. Elas estão repletas de conflitos de interesse e manobra política,
tanto de natureza proposital quanto circunstancial. Nesse sentido, o sexo é
sempre politizado. Há, porém, períodos históricos nos quais a sexualidade é
mais contestada e abertamente politizada. Nesses períodos, o domínio da
vida erótica é efetivamente re-negociado” (RUBIN, 1998 p. 100 apud
ADELMAN, 2000, p. 164).
Segundo Adelman (2000), com o histórico do passado, as instituições
sempre seguiram os modelos impostos por autoridades ideológicas. As religiões
em sua maioria, investem em um modelo único de sexualidade, sendo essa a
heterossexualidade, com o intuito de promover casais monogâmicos para
procriação. A partir da ideia Freudiana, segundo a qual a expressão sexual se
choca com as “regras” sexuais impostas pelas instituições, elas de alguma forma
nos limitam de formas repressivas, violentas, que podem trazer mal-estar a um
indivíduo ou grupo coletivo.
No fim do século XIX, houve uma mudança com o aparecimento de
pessoas intituladas “homossexuais”, quando a ciência se ocupou com o estudo e
a classificação patológica do comportamento homoafetivo. Alguns estudos
partiram do princípio da identificação das causas e manifestações da
homossexualidade, interessados em normatizar a vida sexual, sendo esse um dos
projetos da higiene social. (Adelman, 2000).
25

De acordo com Adelman (2000), no século XIX surgiu uma nova ciência
com a tarefa positivista em classificar os comportamentos sexuais, contribuindo
para a “produção” da homossexualidade. Em princípio, tinham uma visão
patológica, mas a discussão se deu por justificar ser uma “natureza” diferente em
algumas pessoas. Nesse momento, “nasceu” de fato a figura homossexual, tendo
seu corpo e sua existência como um objeto de estudo e pesquisa, em busca de
sua representação. O desejo sexual devia ser cauteloso, pois era considerado
perigoso para a sociedade, com questões patológicas e doentias que deviam ser
controladas, pois a ameaça afetaria a ordem social sobre a cultura europeia.
Adelman (2000) aborda que para grande maioria dos europeus, a
homossexualidade era considerada uma condição congênita.
Os estudos de Adelman (2000) vão ao encontro às ideias de Santos
(2011), Moreira (2003) e Cavalcanti (2007) evidenciando a importância do
Complexo de Édipo presente em todos os indivíduos.
Uma configuração moderna da sociedade com o indivíduo em particular,
deu espaço para a criação de uma identidade sexual individual, o qual Adelman
(2000) explica que buscavam apoio em um mercado de consumo que incentivava
a busca de vida diferenciada na construção de uma identidade pessoal.
Os significados sexuais relacionam os sistemas de regulação ou controle
da sexualidade e a política sexual. São elementos que mostram como a
sociedade forma e organiza a sexualidade. Nos EUA em sua época de
colonização, Adelman (2000) mostra que a sexualidade não tinha um outro olhar
a não ser para a procriação, centrado somente pela igreja. Já no século XX, a
sexualidade virou fonte do prazer e expressão individual, ligado ao mercado.
Através desse ligamento indireto com as formas antigas e novas (igrejas e
estado), pessoas de diferentes idades, gêneros e sexualidades sofreram com
suas políticas.
As pessoas homossexuais podiam criar laços e identidade em razão do
estado, que fez com que algumas cidades oferecessem espaço para convivência
entre pessoas que tinham o mesmo interesse erótico. Já segundo D’Emilio
(1988), citado por Adelman (2000), grandes cidades americanas viveram um
período entre as duas guerras mundiais, em que foi “libertada” uma subcultura
gay, permitindo às pessoas de se exporem, tornando-se coletivo.
A opressão estigmatizada da década de 1950 exerceu influências
26

contraditórias sobre os gays. Ao condenar repetidamente o fenômeno,


polemistas ‘anti-gay’ romperam o silêncio que existia em torno do tema da
homossexualidade. Portanto, ampliaram-se significativamente os recursos
com os quais as lésbicas e os homossexuais dispunham para dar
significado a sentimentos que de outra forma ficavam pouco
compreendidos. Os ataques aos homens e mulheres apressou a articulação
de uma identidade homossexual e divulgou o fato da sua existência, como
uma população numerosa. Ironicamente, o esforço de erradicar os
homossexuais da sociedade norte-americana facilitou que os mesmos se
encontrassem” (D’EMILIO, 1988 p. 52 apud ADELMAN, 2000).
Nos anos seguintes, Adelman (2000) relata que houve uma resistência à
perseguição e a subcultura gay continuou através da vida social em bares. Nas
comunidades que se formavam também tinham suas inseguranças, e todos com o
mesmo objetivo e propósito de ter uma vida social normal, tanto individualmente
como coletivamente.

4.4. A BISSEXUALIDADE NA PSICOTERAPIA

Já no processo de psicoterapia, segundo Moleiro e Pinto (2009 p. 2) em “A


diversidade e psicoterapia: expectativas e experiências de pessoas LGBT acerca
das competências multiculturais de psicoterapeutas”, foram implantados novos
desafios para os terapeutas com a grande diversidade cultural. Estudos sobre
atendimento com a comunidade LGBT tem se expandido nos últimos anos como
resultado de um passado histórico de patologia e discriminação desta população
na saúde pública. A população LGBT sofre risco com problemas associados à
saúde psicológica. Apesar das mudanças serem significativas em relação a
minoria, os noticiários ainda trazem manchetes de casos diversos da LGBTfobia.
Em 1973, de acordo com Moleiro e Pinto (2009), a APA desconsiderou a
homossexualidade como doença, retirando-a da segunda edição do Manual
Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais. Em seguida, a APA, fundada
em 1982, tornou público uma carta em que defende a homossexualidade, dizendo
que os profissionais da saúde mental possuem uma responsabilidade ética, social
e profissional, removendo o estigma associado às pessoas não-heterossexuais.
Nos anos de 1980 começou a intervenção psicológica para a comunidade
LGBT, que tira o foco da pessoa em si, e olha para o contexto do preconceito em
que se desenvolve. Na psicoterapia, o foco e o objetivo não são na orientação
sexual, mas sim nos problemas que as mesmas sofrem com os preconceitos,
discriminação, queixas de conflitos amorosos, familiares, depressão, local de
27

trabalho e a procura do desenvolvimento pessoal. "A reeducação da homofobia e


do heterossexismo internalizados, e o desenvolvimento da identidade são centrais
nesta abordagem" (JORDAN E DELUTY, 1995 apud MOLEIRO; PINTO, 2009, p.
02)
De acordo com Moleiro e Pinto (2009), a APA publicou em 2000 o artigo
'Affirming' their support of gay relatives com recomendações para o atendimento
de pessoas LGBT. As orientações em respeito aos familiares é que os terapeutas
estejam informados sobre o impacto que a revelação da orientação sexual
diferente pode ter nos familiares de pessoas LGBT.
Baseado na experiência que o psicólogo Norman Weissberg teve em
relação ao seu filho homossexual Jay Weissberg, no início evitou sair de casa
como um “pai de um gay”, mas sabia que tinha de lidar com seus sentimentos.
Após uma década, Weissberg decidiu enfrentar a sexualidade de seu filho e deu
início a discussão com amigos e familiares.
O problema para Weissberg não era de aceitar seu filho, mas sim com a
quebra da expectativa de ver seu filho casando e tendo filhos, assim como o da
discriminação que receberia de outras pessoas. Então em 2000, o irmão da
fraternidade de Weissberg, Marvin Goldfried, enviou um e-mail para APA
(American Psychological Association) pedindo apoio e que outros membros
possam entrar no grupo AFFIRM. Weissberg entendeu que o grupo pode ajuda-lo
e ajudar outros psicólogos que passaram ou passam o mesmo.
Segundo o artigo da APA ('Affirming' their support of gay relatives, 2005) a
experiência de Weissberg não é uma raridade, Donald Freedheim, professor de
psicologia da Case Western Reserve University, menciona que quando as
crianças saem do armário, os pais entram.
AFFIRM é um grupo formado por psicólogos que apoiam abertamente os
membros das famílias de pessoas LGBT, fornecendo informações, recursos e
apoio a outros psicólogos.
Existem ainda psicoterapeutas que encaram a homossexualidade e a
bissexualidade como psicopatologias. Segundo Moleiro e Pinto (2009), existem
também técnicas psicoterapêuticas que visam a mudança da orientação sexual
como uma "perturbação de personalidade".
Moleiro e Pinto (2009) abordam que o foco de alguns estudos se dá pelo
sexo de ambos, terapeuta e cliente, determinando que terapeutas do sexo
28

feminino possuem um potencial para encarar melhor os clientes LGBT. São


considerados apoiadores e favoráveis tanto quanto as mulheres, os terapeutas
homossexuais do sexo masculino.
A abordagem multicultural, que discute sobre populações minoritárias,
étnicas, estuda a diferença de grupos e culturas dominantes na clínica. A partir
desta informação, para os terapeutas trabalharem com clientes culturalmente
diferentes, existem três dimensões: (1) consciência - das próprias atitudes,
valores, suas crenças e preconceitos; (2) - conhecimento – dos grupos
minoritários, suas práticas, valores, comportamentos, desenvolvimento da
identidade; e (3) competências específicas - avaliar e intervir com ética.
(MOLEIRO, PINTO, 2009, p. 03)
Psicólogos e terapeutas, com uma formação em LGBT, segundo Moleiro e
Pinto (2009), tendem a respeitar e seguir o modelo afirmativo como uma melhor
forma de atendimento, sendo inaceitável o modo como a homossexualidade é
vista como uma doença de desenvolvimento, e como se fosse possível tratar para
uma mudança de orientação sexual.
Cabe então ao profissional de Psicologia oferecer o auxílio aos sujeitos
Bissexuais que devido ao preconceito ou aos estereótipos recebidos sentem-se
confusos em relação a sua sexualidade.
Lê-se no Código de Ética do CRPSP no Art.2º, letra b, que: "Ao psicólogo é
vedado: Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas,
de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quanto ao exercício de
suas funções profissionais".
O Conselho Federal de Psicologia na Resolução CFP Nº 001/1999 cita as
Normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação
Sexual:
O Conselho Federal de Psicologia, no uso de suas atribuições legais e
regimentais, Considerando que o psicólogo é um profissional da saúde;
Considerando que na prática profissional, independentemente da área em
que esteja atuando, o psicólogo é freqüentemente interpelado por questões
ligadas à sexualidade; Considerando que a forma como cada um vive sua
sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser
compreendida na sua totalidade; Considerando que a homossexualidade
não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão; Considerando que há,
na sociedade, uma inquietação em torno de práticas sexuais desviantes da
norma estabelecida sócio-culturalmente; Considerando que o Psicólogo
pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre
as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e
discriminações.
29

Ainda sobre a Resolução CFP Nº 001/1999 o Conselho Federal de


Psicologia, resolve:
Art. 1º Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão
notadamente aqueles que disciplinam a não-discriminação e a promoção e
bem-estar das pessoas e da humanidade.
Art. 2º Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma
reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e
estigmatizações contra aqueles comportamentos ou práticas homoeróticas.
Art.3º Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a
patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão
ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não
solicitados.
Parágrafo Único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços
que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4º Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de
pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo
a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais
como portadores de qualquer desordem psíquica.
Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 6º Revogam-se todas as disposições em contrário.

Cass (1979), definiu seis estágios para a formação da identidade


homossexual ou Homosexual Identity Model, são eles:
a) Confusão de Identidade (identity Confusion): O indivíduo se percebe
como diferente;
b) Comparação de Identidade (Identity Comparison):O indivíduo passa a
comparar sentimentos e emoções;
c) Tolerância de Identidade (Identity Tolerance): O indivíduo tolera sua
identidade não-heterossexual;
d) Aceitação da Identidade (Identity Acceptance):O indivíduo aceita sua
sexualidade e busca explorá-la;
e) Orgulho da Identidade (Identity Pride): O indivíduo se torna orgulhoso de
sua sexualidade
f) Síntese da Identidade (Identity Synthesis): O indivíduo aceita
plenamente sua sexualidade.
A autora considera o modelo como uma forma ampla de orientação,
levando em conta que existem diferenças entre os indivíduos.
Embora seja um modelo australiano desenvolvido para Homossexuais,
acreditamos que também pode ser útil para a compreensão da Identidade
Bissexualidade.
Em suma, os Psicólogos não devem considerar a orientação sexual como
uma escolha suscetível de mudança. Sendo consideradas impraticáveis as
30

chamadas “Reversões sexuais”, que acabam por trazer ainda mais sofrimento aos
indivíduos, assim como diz Moleiro e Pinto (2009).

4.5. BIFOBIA

A bissexualidade de um modo geral, permanece submersa quando se fala


em identidade, orientações e práticas sexuais não-heteronormativas, por ser
taxada como aspecto negativo.
Por seu caráter ambivalente, a bissexualidade é tida como a mais polêmica
e controversa das orientações sexuais. Quer dizer, dentro da polaridade
hetero/homossexual, que consolidou o objeto de desejo sexual (BUTLER,
2003 apud CAVALCANTI, 2010, p. 09).

A dificuldade que a sociedade tem em lidar com as diferenças, segundo


Cavalcanti (2010), principalmente as envolvidas com identidade mutável, justifica
a invisibilidade dos que são bissexuais perante aos demais. São sujeitos
discriminados como promíscuos, sujos, que não querem compromisso algum.
Seguindo o ponto de coerência entre o sexo, gênero e desejo (masculina e
feminina), uma personalidade e um desejo sexual é esperado, sendo nesse
sentido, irrepresentável para pessoas bissexuais. Ao marginalizar as práticas
bissexuais aumentam as dificuldades de legitimá-la.
Pessoas bissexuais diversas vezes passam despercebidos por algum tipo
de representação e significação, onde se faz proibido discordar de uma
lógica binária e polarizada. Em nossa cultura a representação majoritária da
sexualidade se organiza a partir de dois pólos bem marcados, sendo esses
a heterossexualidade e a homossexualidade, e a cada pólo correspondem
identidades bem definidas, quais sejam, os heterossexuais e os
homossexuais" (SEFFNER, 2004 p. 235 apud CAVALCANTI, 2010, p. 10).

O foco das críticas e ataques contra bissexuais, se refere a transição entre


homo e hetero, tornando a prática suspeita. A fidelidade é uma crítica bastante
comum, justamente por serem vistos como promíscuos e desinteressados
emocionalmente e afetivamente.
O anseio por identidade vem do desejo de segurança, ele próprio um
sentimento ambíguo. Embora possa parecer estimulante no curto prazer,
cheio de promessas e premonições vagas de uma experiência ainda não
Vivenciada, flutuar sem apoio num espaço pouco definido, um
teimosamente, perturbadoramente, "nem-um-outro", torna-se a longo prazo
uma condição inerente e produtora de ansiedade. Por outro lado, uma
posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades também não é uma
perspectiva atraente. Em nossa época líquido-moderna, em que o indivíduo
livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, "estar fixo" - ser
"identificado" de modo inflexível e sem alternativa - é algo cada vez mais
malvisto" (BAUMAN, 2005 p. 35 apud CAVALCANTI, 2007, p. 13)
31

Fazer parte, estar dentro de uma categoria é o que se intitula de


"identidade". Ser bissexual é considerado "estar em cima do muro", não tendo um
prefixo ou uma segurança de quem é esse ser.
Cavalcanti (2007) afirma que a descontinuidade é insuportável, pois escapa
ao limite do pensável. Sendo assim, difícil de pensar em uma definição exata para
aquilo que é estranho. Práticas como homossexualidade, travestismo e a
bissexualidade, se tornaram marginalizadas socialmente, relegadas aos guetos.
As identidades assumem formas de acordo com a vivência no decorrer do
tempo, sendo essas não propriedades do corpo ou da mente, de acordo com
Cavalcanti (2007). O "normal" heteronormativo é o que a sociedade ainda impõe
para as pessoas, que sigam as "normas" do corpo que foi dado, fazendo com que
pessoas de um sexo incorporem seu papel e sintam atrações físicas e afetivas
para com pessoas do sexo oposto. Pessoas que não seguem esse sistema são
consideradas marginalizadas. O preconceito se aplica também ao padrão de
“família”, o qual lares que não tem uma figura masculina ou que a família seja
liderada por mulheres.
Seguindo essa vertente, pessoas bissexuais são excluídas de ambos os
grupos sociais, mesmo este sendo minoria tanto quanto LGT.
Se, como suspeito, a bissexualidade não é somente outra orientação
sexual, e sim uma sexualidade que desfaz a orientação sexual como
categoria, uma sexualidade que ameaça e questiona a fácil dualidade de
hetero e gay [...] e mesmo, através de seus significados biológicos e
fisiológicos, as categorias de masculino e feminino, então a busca de
significado para a palavra “bissexual” oferece uma lição diferente. Em vez
de dar nome a uma minoria invisível, mal percebida, que agora encontra
seu lugar ao sol, a categoria “bissexual” passa a estar, como os próprios
bissexuais, em todo lugar e em lugar nenhum. Resumindo, não existe um
“realmente”. A questão de saber se alguém era “realmente” hetero ou
“realmente” gay deixa de reconhecer a natureza da sexualidade, que é
fluída, não fixa, ainda que complexa. A descoberta erótica da
bissexualidade é o fato de ela revelar que a sexualidade é um processo de
crescimento, transformação e surpresa, e não um estado conhecível e
estável". (GARBER, 1997 apud ADELMAN, 2010, p. 163)

Entretanto, assumir a opção sexual ainda é um tema que está repleto de


tabus, pois, muitos dos indivíduos sentem medo de assumir sua opção sexual e
perder o amor da família, amigos ou dos problemas que poderão enfrentar frente
à sociedade, como: virar alvo de piadas ou de sofrer algum tipo de violência física
e/ou psicológica, como explica Cavalcanti (2010).
A partir das ideias de Cavalcanti (2007), Santos (2011), enfatiza-se a
problemática sobre os padrões de normalidade em relação aos relacionamentos,
32

mostrando que ainda há preconceitos sobre os que optam por relacionamentos


com pessoas do mesmo sexo, independentemente de quem seja. Preconceitos
sobre aqueles que não fizeram a resolução esperada do Complexo de Édipo
postulado por Freud, que prevê em “padrões normais” a repetição de casais
heterossexuais.
Importante pontuar a importância da terapia, Moleiro e Pinto (2009), para
oferecer o fortalecimento do indivíduo em relação aos preconceitos que poderão
enfrentar ou enfrentam, queixas amorosas, problemas familiares, depressão,
problemas em relação ao trabalho e ao seu desenvolvimento.

4.6. HETERONORMATIVIDADE

“A performatividade não é algo que o sujeito faz, mas é um processo


através do qual o sujeito é constituído, e que o gênero não é algo que possa ser
colocado ou removido à vontade” (Butler, 2003, p. 89).
Lewis (2012) afirma que para Butler há normas,
Embora existam corpos individuais que encenam essas significações
estilizando-se em formas do gênero, essa “ação” é uma ação política. Essas
ações têm dimensões temporais e coletivas, e seu caráter público não deixa
de ter conseqüências; na verdade, a performance é realizada com o objetivo
estratégico de manter o gênero em sua estrutura binária – um objetivo que
não pode ser atribuído a um sujeito, devendo, ao invés disso, ser
compreendido como fundador e consolidador do sujeito. (BUTLER, 1990
apud LEWIS, 2012, p. 54)
Ainda segundo Lewis (2012), essas normas que criam um parâmetro
heteronormativo, o qual o “sexo biológico” que causa o gênero e esse, o desejo.
Butler caracteriza o sistema,
A heterossexualização do desejo requer e institui a produção de oposições
discriminadas e assimétricas entre “feminino” e “masculino”, em que estes
são compreendidos como atributos expressivos de “macho” e de “fêmea”. A
matriz cultural por intermédio da qual a identidade de gênero se torna
inteligível exige que certos tipos de “identidade” não possam “existir” – isto
é, aquelas em que o gênero não decorre do sexo e aquelas em que as
práticas do desejo não “decorrem” nem do “sexo” nem do “gênero”.
(BUTLER, 1990 apud LEWIS, 2012, p. 54)
Por dentro da matriz heteronormativa, há uma expectativa em que as
pessoas tenham um sexo biológico original, junto do gênero, com interesses em
pessoas de sexo e gênero opostos. Pessoas que são diferentes ou se sentem
diferentes dessa matriz heteronormativa, são discriminadas. Segundo a autora,
Butler explica sobre a possível mudança dessa heteronormatividade sem que haja
discriminação,
Entrar nas práticas repetitivas desse terreno de significação não é uma
33

escolha, pois o “eu” que poderia entrar está dentro delas desde sempre: não
há possibilidade de ação ou realidade fora das práticas discursivas que dão
a esses termos a inteligibilidade que eles têm. A tarefa não consiste em
repetir ou não, mas em como repetir, ou, a rigor, repetir e por meio de uma
proliferação radical do gênero, afastar [ou deslocar] as normas do gênero
que facultam a própria repetição. (BUTLER, 1990 apud LEWIS, 2012, p. 55)
Portanto, há uma possibilidade de quebrar a regra da matriz, mas que seja
de uma forma linguística clara e que parta do interior de um sistema para que
possa ser entendida e compactuada. Porém, não se pode sair desse sistema,
mas pode-se reproduzir novas “abordagens” dentro da matriz heteronormativa.
Para que ocorra mudança, deverá ocorrer uma desconstrução do que seria a fala
heteronormativa.
A desconstrução não pode limitar-se ou passar imediatamente a uma
neutralização: deve [...] praticar uma inversão da oposição clássica e um
deslocamento geral do sistema. É somente sob essa condição que a
desconstrução achará os meios para intervir no campo das oposições que
ela critica, que é também um campo de forças discursivas. [...] A
desconstrução consiste não em passar de um conceito a outro, mas em
inverter e em deslocar uma ordem conceitual, bem como a ordem não-
conceitual na qual se articula. (DERRIDA, 1972 apud LEWIS, 2012, p. 56)
Lewis (2012) afirma que para desconstruir um sistema, não se deve
derrubar o que é imposto por ele, por necessitar de referências impostas pelo
sistema para que haja a desconstrução.

4.7. TEORIA QUEER E GÊNERO

Seguindo essa vertente de desconstrução, a teoria Queer, seria um


posicionamento contra a normatividade, explica:
Queer significa colocar-se contra a normalização – venha ela de onde vier.
Seu alvo mais imediato de oposição é, certamente, a heteronormatividade
compulsória da sociedade; mas não escaparia de sua crítica a normalização
e a estabilidade propostas pela política de identidade do movimento
homossexual dominante. Queer representa claramente a diferença que não
quer ser assimilada ou tolerada, e, portanto, sua forma de ação é muito
mais transgressiva e perturbadora. (LOURO, 2004 apud LEWIS, 2012)
A teoria Queer, segundo Lewis (2012), faz com que sejam desconstruídas
categorias, mudar a visão do que seria normal e neutralizar de alguma forma, a
heteronormatividade, deixando mais ampla a visão de uma aceitação de novas
identidades.
Lewis (2012) e Cavalcante (2010) cita a identificação de uma pessoa
bissexual sendo uma performance identitária em si, ao invés de juntar a
combinação da performance identitária heterossexual e a performance identitária
homossexual.
34

A Teoria Queer precisa da abordagem interseccional, para que não seja


reproduzido os pensamentos elitistas heteronormativos.
No livro escrito por Sara Salih (2002) “Judith Butler – E a Teoria Queer”,
traduzido em 2012 por Guacira Lopes Louro, Butler designava o “sujeito” do
estudo não como um indivíduo, mas como uma estrutura linguística que está em
formação da identidade. Segundo Salih (2002), Butler e Foucault descrevem a
origem e formação do sujeito como processo que deve ser analisado para então
ser compreendido.
Salih (2002) junto também da ideia de Lewis (2012), menciona a resolução
de ideias e teorias ditas como “verdades”, muitas vezes são a porta de entrada
para pressupostos ideológicos que servem para oprimir grupos sociais, em
particular as minorias ou grupos marginalizados. Um exemplo claro seria a
definição da homossexualidade sendo como “imprópria” ou “contra a natureza”,
tendo assim que ser proibido e discriminado em sociedade.
A teoria queer teve início através de uma aliança, segundo Salih (2002),
entre teorias feministas, pós-estruturalistas e psicanalíticas que já investigavam
sobre o “sujeito”. A palavra “queer” tem origem a uma versão radical de insulto,
resistindo a sua definição. A tradução raiz da palavra significa “atravessado”.
De acordo com Salih (2002), difere um pouco do pensamento de Moreira
(2003), Adelman (2010) e Cavalcanti (2010), os estudos de gênero, gays, lésbicas
e teoria feminista tem tomado a identidade do indivíduo, em que a teoria queer
contribui na investigação e desconstrução dessas categorias, consolidando a
definição e a instabilidade dessas identidades.
De acordo com Salih (2002), Butler percorria Freud em sua teoria da
heterossexualidade como uma identidade “melancólica”, por categorizar a perda
ou rejeição primária que estaria imposta pelo desejo homossexual.
O trabalho de Butler, segundo Salih (2002), mostra os processos da
identidade no interior da linguagem e do discurso. Butler caracteriza a análise
feita por teorias construtivistas que não tentam a redução das construções
linguísticas, mas sim nas descrições sobre as condições do sujeito, denominando
este tipo de análise como “genealógico”. A genealogia é um meio de investigação
histórica que não possui como objetivo a “verdade” ou pensamento.
A investigação genealógica que constitui o sujeito, de acordo com Salih
(2002), mostra que “sexo” e “gênero” são resultados e não causa de instituições,
35

manifestações e práticas.
Butler, segundo Salih (2002) parte de uma concepção de que o sujeito não
é um indivíduo preexistente, primordial, e que a construção da identidade significa
que as personalidades podem se reedificar em formas que desafiam e substituem
as estruturas existentes. O argumento é que a identidade de gênero é o
seguimento de atos em que não existe um figurante na prática dos atos,
denominado de performatividade, uma ideia já diferente de Moreira (2003) citada
no início do trabalho.
Salih (2002) menciona o trabalho de Simone de Beauvoir, que contribui
para a obra de Butler, segundo o livro “O segundo sexo”, no qual Beauvoir (1980,
v.2, p.9) declara que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino
biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no
seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado, que se qualifica de feminino”. Butler
comenta a afirmação de Simone com argumentos de que a mulher em si está em
processo de construção que não tenha origem ou fim, seguido de uma crítica em
que para Beauvoir nunca será possível se tornar mulher.
O gênero é um processo sem início e fim, que se cristalizou, segundo Salih
(2002), sendo algo que “faça” e não algo que “é”. Gênero por definição não é
natural. A suposição de que por ser fêmea, tem que ter traços femininos e desejos
por homem é afastada de Butler, que enfatiza o mundo heteronormativo em que a
heterossexualidade é vista como uma norma.
Ao partir do pressuposto de Butler em que gênero é “não natural”, pois não
faz relação entre o corpo e o gênero, um corpo “feminino” não necessariamente
possui traços femininos, podendo haver uma inversão de “papéis”, com um corpo
macho “feminino” e um corpo fêmea “masculino”.
Segundo Salih (2002), Butler declara que o gênero de fato é uma “escolha”,
mas uma “escolha” em que um “a gente” não é “livre” ou que uma “pessoa”
seleciona o gênero que quer, sendo esse um caso impossível. A escolha de
gênero imposta por Butler, segundo Salih (2002), afirma que a escolha do gênero
tem sentido de interpretar o gênero e suas normas impostas, mas com uma nova
maneira.
Salih (2002) menciona o estudo de Butler a partir das teorias de Freud
(1915; 1923), o que complementa a ideia de Santos (2011) e Moreira (2003), com
36

“Luto e melancolia” e “O ego e o id”. Em luto e melancolia, há uma distinção feita


por Freud em que o luto, sendo uma reação a perda pela morte de alguém. A
melancolia nem sempre é interpretada por quem é melancólico, sendo esse um
sujeito que às vezes não sabe o que perdeu ou que não sabe que houve uma
perda. A patologia se dá para Freud, pela internalização do objeto perdido,
havendo uma identificação com ele. Já a introjeção, é uma forma de introduzir
subjetivamente o objeto externo, preservando no ego, com efeitos de
identificação.
O ego então, é um depósito de desejos, segundo Salih (2002), Moreira
(2003) e Santos (2011), em que o desejo primitivo faz com que a criança deseje
mais um progenitor do que o outro, sendo essa uma atribuição chamada de
disposições, em que o desejo inato do bebê por alguém do mesmo sexo ou do
sexo oposto.
Segundo Salih (2002) e Moreira (2004), as disposições escritas por Freud
não têm o desejo como primeiro lugar. A formação do ego imposta por Freud faz
com que o bebê seja forçado a quebrar seu desejo pelo progenitor por conta do
tabu contra o incesto, que seria uma antecipação para o tabu contra a
homossexualidade. O objeto que fora perdido é introjetado no ego em forma de
identificação, já que para Butler a identidade de gênero é baseada numa catexia
ou desejos homossexuais proibidos. Seguindo a visão sobre a melancolia ser a
perda real, a identidade de gênero heterossexual tem formação baseada na perda
de um objeto primitivo de desejo com o mesmo sexo, sendo assim, a
heterossexualidade é um gênero melancólico.
Quando consideramos a identidade de gênero como uma estrutura
melancólica, faz sentido dar preferência à ‘incorporação’ como a maneira
pela qual tal identificação é efetuada. A identidade de gênero seria
estabelecida por meio de uma recusa da perda que se encripta no corpo
[...]. A incorporação literaliza a perda sobre o corpo ou no corpo e se
apresenta, assim, como sendo a facticidade do corpo, ou seja, o modo pelo
qual o corpo passa a carregar o ‘sexo’ como sua verdade literal. (BUTLER,
1999, p. 68 apud SALIH, 2012, p. 81)
Salih (2002) formula que a negação heterossexual da homossexualidade é
recorrente da melancolia, e se a melancolia ocorre pela incorporação, então, o
amor homossexual vetado é conservado pelo cultivo de uma identidade de gênero
caracterizada por oposição.
Não nos cabe aqui fazer julgamentos sobre o que é certo ou errado
sobre a opção de cada indivíduo, apenas ressaltamos a importância de não
37

patologizar, nem excluir aquele que foge dos padrões impostos por aqueles que
têm o poder.
Em suma, o capítulo trata da Bissexualidade a partir de conceitos
psicanalíticos postulados por Freud, bem como ideias de autores como Foucault e
outros estudiosos sobre o tema.
Os estudos desses autores, como Zimermam (1999), Moreira (2003),
Santos (2011) e Lewis (2012), vêm ao encontro de nossos anseios, no sentido de
mostrar que a Bissexualidade é originária da resolução do Complexo de Édipo
que explicam, da tríade entre, criança, pai e mãe, bem como o que o indivíduo
introjetou nessa relação. E de como lidou com o enfrentamento diante das
proibições impostas, resultando em sua definição de opção sexual, a partir da
formação do Superego.
Ainda sobre a Teoria Queer, Pereira (2013), menciona que pode ser
entendida como resultância de outras teorias, entre elas a Teoria Psicanalítica, a
Teoria Foucaultiana e as teorias feministas que nortearam os estudos sobre a
categoria de sujeito nos anos 80.
Salih (2002) e Motta (2016) pontuam que o termo queer pode ser definido
como estranho, excêntrico, raro, extraordinário, ridículo, passando a ser utilizado
por teóricos que estudam questões de gênero e sexualidade baseando-se em
uma perspectiva pós-crítica.
Ainda sobre Motta, o autor define a escolha do termo Queer para:
Se autodenominarem, ou seja, um xingamento que denota perversão e
desvio, destaca um "compromisso em desenvolver uma analítica da
normalização focada na sexualidade". Dessa forma, passam a refletir sobre
como a sexualidade é moldada e atravessada por discursos de
normalização e, trazendo para o campo da investigação, irão pensar "a
dinâmica da sexualidade e do desejo na organização das relações sociais"
(Milkolci, 2009, p. 150 apud Motta, 2016).
Pereira (2013) apud Salih (2012), ressalta que para a Teoria Queer o sexo
é visto como resultante de processos sócio-culturais e não como resultante de
caráter biológico. A teoria considera que as percepções sobre gênero, sexo, raça
entre outros criam identidades as quais o sujeito se identifica.
Salih (2002), Rocha (2014) e Motta (2016) definem quase que
simultaneamente o termo Queer como uma apropriação de uma palavra que era
comumente utilizada para injuriar e ultrajar, conforme foi apropriado ressignifica-
se o termo. A elaboração de significado positivista da palavra Queer dá-se no
contexto de lutas de movimentos gay, lésbico e feminista nos Estados Unidos e
38

de reflexões de grupos acadêmicos.


Queer, palavra inglesa utilizada há quase 400 anos. Utilizada como sinal
de ofensa para indivíduos homossexuais, travestis, transexuais e todos os
indivíduos que não são heterossexuais. O termo pode ser definido como
“desviante”, assim como pontua os autores.
Conforme Rocha (2014) tal contexto pode ser resumido como:
As crises internas dos movimentos pautados pela política da identidade, a
recepção do pós-estruturalismo por intelectuais feministas, gays e lésbicas
e a epidemia do vírus HIV ao longo da década de 1980. Essa tensa mistura
resultou em críticas radicais à possibilidade de identidades essencializadas
de sexo e de gênero, abrindo espaço para uma categoria mais abrangente,
elástica e atenta às práticas e aos grupos até então relegados a segundo
plano.
Para o autor, com as crises dos movimentos de identidade na década de
70, como a liberação gay, por exemplo, o termo Queer tornou-se um símbolo para
problematizações de qualquer cunho. O termo então se mostra como uma
possível identidade de todos que reinvidicavam, mostrando-se como algo instável,
indefinível, transitório.
Não aceitando sujeitos como pressupostos, buscando a desconstrução da
categoria, acobertando a instabilização e a indeterminação de todas as
identidades sexuadas e generificadas.
Sobre modelos de identidade, principalmente gênero/sexual, Salih (2002) e
Rocha (2014) pontuam que Butler define o sujeito em constante processo que se
molda conforme os atos que executa. Sendo assim, a identidade de gênero
definida como um seguimento de atitudes sem ator ou atores precedentes. Um
exemplo, é a identidade da mulher, vista como um vir a ser, uma arquitetura sem
começo ou final. Por fim, a identidade pode sofrer intervenções e ressignificações.
Butler utiliza o modelo foucaultiano de poder, considerando a livre escolha
do indivíduo em relação ao gênero, ao sexo há limites em relação a escolha.
Considerando o gênero como performatividade, um dos conceitos mais
importantes de Butler, Rocha (2014) conclui:
Se o gênero é um conjunto de atos repetidos no interior de um quadro
regulatório altamente rígido, a identidade é constituída pelas próprias
expressões que supostamente são seus resultados. A performatividade é
um ato que faz surgir o que nomeia e constitui-se na e pela linguagem.
Apropriando-se do modelo foucaultiano de inscrição, Butler estabelece toda
identidade de gênero como uma forma de paródia produzida nas relações
de poder. A lei é incorporada e, como consequência, são produzidos corpos
que significam essa lei sobre o corpo e através do corpo. Logo, os gêneros
são apenas efeitos de verdade.
39

Perfomatividade é um conceito que possibilita as representações de gênero


atraiam atenção para o caráter estabelecido por todas as identidades,
principalmente as mais estáveis.
Para a autora estamos distantes da performatividade. A autora também
pontua com base nos estudos de Butler que:
A identidade de género é performativa, na medida em que decorre do
discurso (v.g. sobre as características do que é feminino e masculino). É
através de certas afirmações e sua repetição que a realidade e as
diferenças de gênero são construídas. Decorre, também, de certos
comportamentos repetidos, inscritos em scripts socialmente construídos e
disponíveis; desta forma, o comportamento de gênero é roteirizado, ou seja,
obedece a scripts. Desempenhando o comportamento previsto nos scripts
(performance), os atores transformam esses atos na sua realidade, dia após
dia. Neste sentido, o gênero não é uma expressão do que se é, mas do que
se faz. (Butler, 1990 apud Policarpo, 2016)

Segundo Motta, o objetivo da teoria é:

“complicar a questão da identidade e, indiretamente, também a questão da


identidade cultural e social". A política queer consiste, assim, em perturbar
os binários de gênero. Nesse sentido, os teóricos queer serão influenciados
por uma vertente dos estudos culturais americanos, notadamente, alguns
estudos feministas. Entre eles, destacam-se os escritos de Judith Butler.
(Silva, 2007, p. 105. Apud Motta, 2016)

A conforme os estudos de Motta sobre a autora Butler acende-se uma


inquietação permanente em relação ao binarismo de gêneros, pontuando que:
A hipótese de um sistema binário dos gêneros encerra implicitamente a
crença numa relação mimética entre gênero e sexo, na qual o gênero reflete
o sexo ou é por ele restrito. Quando o status construído do gênero é
teorizado como radicalmente independente do sexo, o próprio gênero se
torna um artifício flutuante, com a consequência de que 'homem' e
'masculino' podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo feminino
como um masculino, e 'mulher' e 'feminino', tanto um corpo masculino como
um feminino. (Butler, 2008, p. 24-25 apud Motta, 2016)

Policarpo (2016) define que assim como ocorre nas categorizações de


gênero, a identidade sexual também pode ser entendida como resultante de uma
constituição incerta, que coloca em discussão os compartimentos identitários,
trazendo para perto uma compreensão antes impensável sobre categorias que
até então eram opostas. A autora afirma que:
Tal como masculino e feminino deixam de ser categorias fixas, mas, sim,
uma condição (circunstancial) performativa, decorrendo do desempenho ou
da ação repetida, o mesmo se passa com as categorias que pretendem
descrever a identidade sexual, como heterossexualidade,
homossexualidade, bissexualidade.
Por fim, Motta (2016 apud Miskolci, 2012) conclui que os teóricos da causa
Queer repesentam:
40

Uma luta em que em sua perspectiva política, ao invés de uma simples


defesa da homossexualidade, tal qual reivindicavam os movimentos LGBT,
preocupa-se com a crítica aos regimes de normalização, reafirmando não
uma perspectiva de diversidade, mas, sim, de diferença. Ao mesmo tempo,
fazem um contraponto às concepções de poder centradas na função
repressora, para denunciar suas formas de disciplinamento e controle.
(Miskolci, 2012 apud Motta, 2016)
A Teoria Queer, não se refere apenas a identidade, mas as suas múltiplas
formas. Buscando lutar em prol das múltiplas formas, indo contra os meios que
consideraram as múltiplas formas de identidade como algo atípico.

4.8. VISIBILIDADE BISSEXUAL

Em 23 de Setembro comemora-se o Dia da Visibilidade Bissexual ou


Celebrate Bisexuality Day, criada pelos ativistas americanos Wendy Curry,
Michael Page e Gigi Raven Wilbur. O Dia da Visibilidade Bissexual ou Celebrate
Bisexuality Day foi instituído durante a 22ª Conferência Mundial da ILGA
(Internacional Lesbian ad Gay Association), no ano de 1999.
A importância da data se mostra na medida em que os Bissexuais assim
como lésbicas, gays, travestis e transexuais do movimento LGBT também
precisavam de um espaço para que pudessem ser ouvidos em relação aos
enfrentamentos diários, aos preconceitos e necessidade se expressarem.
A data 23 de setembro foi escolhida devido à morte de Sigmund Freud, o
pai da Psicanálise, além de o primeiro teórico a falar sobre a Bissexualidade.
Infelizmente, ainda hoje é comum que os Bissexuais sejam vistos como
pessoas confusas ou indecisas e não como uma orientação sexual definida,
assim como os Homossexuais ou Heterossexuais.
A visibilidade da Comunidade Bissexual é importante, pois visa à
diminuição da discriminação em relação aos Bissexuais. O objetivo é a
participação de toda a sociedade para que conheçam melhor a comunidade
Bissexual.
41

5. A BISSEXUALIDADE NA BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

A tese de mestrado Bissexualidade: Identidade, Identificações e


Comportamento Sexual - Um estudo de casos foi um estudo realizado na
Universidade Federal do Rio de Janeiro para Mestrado em Psicologia Social,
Cognitiva e da Personalidade com o objetivo de analisar a identidade, as
identificações e o comportamento sexual de pessoas que se consideram
Bissexuais, de autoria de Teles (1999).
Na primeira parte, Teles (1999), explica o desenvolvimento histórico da
sexualidade e da bissexualidade e implicações psicológicas, sociais, políticas,
míticas e sociológicas. Já na segunda parte foram apresentados dois casos de
bissexualidade, de um homem e de uma mulher, analisando questões de
identidade, identificação e comportamento sexuais baseados nas teorias
utilizadas na primeira parte. A autora conclui que o estudo de caso possibilitou um
aprofundamento da realidade da pessoa bissexual e que a Bissexualidade não é
um assunto que tem sido muito explorado no meio acadêmico.
Desde a pré-história até hoje houve grandes mudanças em relação à
experiência e expressão sexual humanas. Teles (1999) utilizou-se de estudos de
autores como Andrade Silva (1977) sobre Identidade Sexual, o termo vem sido
trocado por Identidade de Gênero por considerar Gênero, um conceito mais
abrangente do que sexo, considerando componentes genitais, eróticos, sociais e
psicológicos agregados ao sexo de cada indivíduo.
Ainda, Teles (1999) pontua que a identidade e a percepção de si na
sociedade estão ligadas diretamente a identidade de gênero. Considerando a
divisão entre masculino e feminino sobre tudo e todos, causando estranhamento a
uma classificação diferente. Observa então que a formação da identidade e
gênero e a de identidade pessoal estão interligadas, utilizando-se também
estudos de Canella (1977) sobre identidade sexual, sendo está observada através
do meio em que o indivíduo reside por sua expressão psicossexual.
Money(1981) segundo Teles (1999), define dois períodos e interações que
formam a base da identidade de gênero. Estaríamos, então, sujeitos a ter uma
identidade sexual, assim como estamos sujeitos a falar, entretanto não estamos
preparados para falar uma língua específica. A partir daí com a compreensão de
ser homem ou mulher a criança sofrerá a influência do meio sociopsicológico.
42

Para Kolodny, Masters e Johnson (1982), citados por Teles (1999) definem
a identidade sexual ou de gênero a partir do modo como as pessoas sentem-se
sobre suas individualidades e ambivalências sobre suas auto-percepções. Para
Andrade Silva (1997), de acordo com Teles (1999), o núcleo da identidade de
gênero forma-se a partir das identificações e relacionamentos parentais, papéis
sócio-sexuais, sentimentos e percepções, aceitação (de erro ou acerto),
autoimagem corporal e psíquica infantil, vivência da puberdade/adolescência,
erotismo-orientação sexual adolescente, aceitação e desempenho sexual, auto
estima adulta.
Segundo Kinsey (1954), também citado por Teles (1999), o comportamento
sexual do indivíduo está relacionado ao envolvimento afetivo e emocional. A partir
da definição dos principais conceitos utiliza-se do estudo do histórico-
antropológico da sexualidade de Ana Maria Ramos Seixas (1998), que permite a
compreensão dos papéis sexuais e diferenças de gêneros. O estudo é importante
para a compreensão a respeito da Bissexualidade, tendo em vista que esteve
presente em várias épocas e sociedades, apesar de não haver muitos estudos
sobre tal fato.
A Bissexualidade segundo Teles (1999) ou a atração por pessoas de
ambos os sexos, tende a ser ignorada ou considerada como confusão ou falta de
(auto) conhecimento.
Teles (1999) utilizando-se de estudos de Klein(1993), Kinsey (1948),
Groddeck (1997) e o Complexo de Édipo compreende que todos os seres
humanos somos homossexuais e tendemos a resolução do complexo de Édipo
para nos afirmar. A autora ressalta que para Freud, a Bissexualidade, vai além de
ter dois conjuntos de órgãos sexuais, duas psiques e de ter uma sexualidade
dividida, que é fluida e não fixa em relação a identificação ao objeto. A autora
ressalta também que os autores concordam que o termo “Bissexual” sugere
problema, promiscuidade, imaturidade ou indecisão.
Para os psicólogos ela pode sugerir problemas de ajustamento; para os
psicanalistas um complexo de Édipo mal resolvido; para antropólogos, a
estreiteza de uma visão ocidental (judaico-cristã). Em relação a Bissexualidade e
a política sexual, a Bissexualidade destrói as certezas de hetero, gay ou lésbica,
podendo ter pontos em comum com ambas e não ter a delimitação de nenhuma.
43

A Dissertação intitulada "On-line, saída do armário; off-line, assujeitamento


à heteronormatividade formas-sujeito nas salas de bate-papo do UOL -
Salvador/BA” foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudo de
Linguagens, da Universidade do Estado da Bahia, por Silva (1999).
Para o autor a homoafetividade há muito tempo é alvo de debates
acadêmicos, religiosos e familiares. Em função do desejo sexual por pessoas do
mesmo sexo ter tornado-se um erro. Silva (1999) reflete acerca da raiz histórica
de que a homoafetividade é errônea, incluindo a bissexualidade.
A pesquisa apresenta a homoafetividade como um comportamento sem
verdades absolutas, vista como uma construção. Baseado nos estudos de Butler
(2003), Silva (1999) trata do gênero como algo que nem sempre é constituído de
forma coerente ou consistente em diferentes contextos históricos. O autor não
teve por foco encontrar causas para a homossexualidade e sim compreender sua
ocorrência na sociedade.
A dissertação "Faca de dois Gumes: Percepções da Bissexualidade
Masculina" defendida em João Pessoa por Silva (1999) foi uma pesquisa teórica
empírica apresentada a Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciência
Humanas, Letras e Artes ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia com o
foco na relação bissexual com o mesmo sexo.
Silva (1999), realizou entrevistas semidirigidas com quatorze indivíduos
com idade acima de dezoito anos que já tiveram ou tem relação sexual com
indivíduos de ambos os sexos, baseando-se em estudos de Foucault e Freire
Costa sobre a construção social da Bissexualidade e a compreensão de
estratégias utilizadas por sujeitos “desviantes”, para vivenciarem sua prática
sexual na clandestinidade. Silva (1999), afirma que a repressão à sexualidade
sempre esteve relacionada ao poder e ao saber.
Silva (1999) afirma que ainda nos dias atuais falar sobre sexualidade
sugere indecência, mesmo que com a quebra de tabus sociais as ações ainda
são contrárias às ideias de abolição de discriminação. O estudo mostra que na
Paraíba, cidade onde foi realizada a pesquisa, policiais perseguiam travestis e
homossexuais com abuso de violência, inclusive sexual, pontuando que o
preconceito está ligado ao abuso de poder dos atores envolvidos.
Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria, APA, define que a
homossexualidade não é doença e a Organização Mundial de Saúde (OMS), em
44

1993, também retira da categoria de transtornos mentais o homossexualismo.


Entretanto no senso comum ainda permanece o preconceito ao “desviante”, os
indivíduos considerados “desviantes” introjetam em si as atitudes como doença,
passando a sentir culpa, inadequação social e autodestruição, como os
Homossexuais e Bissexuais.
Para Silva (1999) a bissexualidade ainda é um tema pouco discutido. Na
Paraíba a homofobia faz com que homossexuais e bissexuais se finjam de
heterossexuais para se proteger, mantendo relacionamentos duplos. No Brasil
não há dados sobre a população Bissexual, com a criação da Rede Bis Brasil,
fortalecem a consciência e reivindicam seus direitos.
"Bissexualidade femininas: repertórios entre jogos de (in)visibilidade" é uma
dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, por Almeida (2015).
O trabalho analisa a bissexualidade feminina na comunicação bissexual,
destacando a pouca visibilidade em relação a estudos e movimentos sociais,
assim como na vida cotidiana, por serem poucos os que assumem pertencerem a
essa identidade ou orientação sexual, que ainda é colocada em condição de estar
em cima do muro, de incerteza e de desconfiança.
Baseando-se no Construcionismo social, formado por linguagem como
ação e na noção de sexualidade como performatividade, Almeida (2015) parte da
ideia de que a bissexualidade pode ser entendida como uma posição
questionadora de relações binárias de sexo e de orientação sexual, onde nesse
cenário as mulheres bissexuais ocupam uma particular invisibilidade.
O trabalho de Almeida (2015) não busca responder o que é ou a causa da
bissexualidade, mas sim como se nomeiam ou narram experiências bissexuais na
construção da identidade bissexual.
"Visíveis e Invisíveis: Práticas e Identidade Bissexual" é uma dissertação
de mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade Federal de Pernambuco para obtenção de Mestre em Sociologia,
por Cavalcanti (2007).
O trabalho problematiza a bissexualidade como prática, orientação e
identidade sexual, considerando discursos e analisando a possibilidade de
discriminação tanto dos heterossexuais quando dos homossexuais.
Cavalcanti (2007) legitima a bissexualidade inserindo-a em um processo de
45

identificação. A autora enfatiza a pouca discussão sobre o tema, utilizando-se de


estudos de Foucault, Bauman e Butler.
“Não é uma fase”: Construções Identitárias em Narrativas de Ativistas
LGBT que se identificam como Bissexuais é uma dissertação apresentada por
Lewis (2012) ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Departamento de
Letras do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, na qual se
analisam construções identitárias performativas de três ativistas LGBT que se
identificam como Bissexuais.
Lewis (2012) cita que pessoas bissexuais ainda são pouco aceitas em
movimentos LGBT, tratando a sua sexualidade com uma fase ou com
desconfiança. Para isso Autor (ano) fundamenta-se em estudos de Linguística
Aplicada, Linguística Queer, Antropologia, Teoria Queer, Epistemologias
Bissexuais e Análise de Narrativas.
Autor (ano) define a bissexualidade, assim como a heterossexualidade e a
homossexualidade como construções sócio-histórico-culturais. A classificação da
sexualidade e de categoria identitária da Bissexualidade é algo recente, mesmo
que tais práticas permaneçam desde o início da história da humanidade.

5.1. PESQUISAS E MITOS

As dissertações e teses dos autores Teles (1999), Bissexualidade –


Identidade, Identificações e Comportamento Sexual: um estudo de casos; Silva
(1999), Faca de dois gumes: percepções da bissexualidade masculina em João
Pessoa; Cavalcanti, (2007), Visíveis e invisíveis: práticas e identidade bissexual;
Lewis (2012), “Não é uma fase”: construções identitárias em narrativas de
ativistas LGBT que se identificam como bissexuais; Almeida (2015),
Bissexualidades femininas: repertórios entre jogos de (in)visibilidade e Andrade
Junior (2016), On-line, saída do armário; Off-line, assujeitamento à
heteronormativade, utilizam pesquisas com pessoas bissexuais a fim de identificar
e analisar os sujeitos e seus comportamentos, que vivem em um mundo
heteronormativo.
Silva (1999), Almeida (2015) e Andrade Junior (2016), utilizaram da
comunicação virtual para a pesquisa com pessoas que se identificaram como
bissexuais, sendo que Almeida (2015) pesquisou em site aberto, usando a
46

expressão “bissexualidade feminina”, o qual encontrou um site que possivelmente


foi o mais acessado por quem buscava sobre o assunto, com o nome de
“BlogSouBi.com”. O site contém 5.655 páginas, de acordo com a autora, que
utilizou o método de análise das produções discursivas disponíveis em uma
sessão chamada “Bissexualidade feminina”, que incluía 134 postagens, com a
mais recente publicada em 25 de outubro de 2014.
De acordo com Almeida (2015), foram identificados dados sobre a
bissexualidade feminina que vão da "reafirmação da heteronormatividade de
relacionamentos" à influência cultural na aceitação.
A autora levanta a hipótese, assim como Silva (1999), Teles (1999),
Cavalcanti (2007), Lewis (2012) e Andrade Junior (2016) da bissexualidade
transitar entre a afirmação identitária e o questionamento da identidade como
construção de si, o que já abre uma porta para que o assunto venha à tona para a
diminuição dos conflitos entre gênero e sexualidade.
Teles (1999), Cavalcanti (2007) e Lewis (2012) utilizam da pesquisa e
estudos de casos envolvendo homens e mulheres bissexuais, gays e queer.
Cavalcanti (2007) durante sua pesquisa, traz a análise de dez mitos sobre
a bissexualidade, que são discursos que aparecem também nos trabalhos de
Teles (1999), Silva (1999), Lewis (2012), de acordo com os jornais impressos,
com dez edições, que o Núcleo Bis (Núcleo de Bissexuais de Brasília – DF) faz na
tentativa de poder explicar mais sobre a bissexualidade, trazendo as seguintes
possibilidades:

● Bissexualidade não existe

A “prática” bissexual, segundo traz Cavalcanti (2007) é questionada pela


ausência de bissexuais ativistas e atuantes. O que os entrevistados acreditam
existir é a identidade bissexual, ou seja, pessoas que possuem desejos,
comportamentos ou identidades sexuais por não estarem interessadas em
apenas um dos sexos.
A dificuldade de criar uma identidade representacional, principalmente por
meio da comunidade homossexual, fez com que a bissexualidade fosse uma
orientação inexistente ou muito difícil de compreender para se levar a sério. O
motivo segundo os autores, é por não conseguirem escapar ao binarismo
47

hetero/homossexual, tem que ser “oito ou oitenta, não existe meio termo” Teles
(1999) e Lewis (2012).

● Bissexuais são emocionalmente imaturos e não sabem o que querem

O Núcleo Bis responde a essa questão, de acordo com Cavalcanti (2007),


com a fala de que ser confuso ou emocionalmente imaturo não é exclusivo de
quem é bissexual, mas sim característica que está presente em qualquer pessoa,
independente da orientação sexual.
Almeida (2015), que utilizou da internet para sua pesquisa, se deparou com
uma publicação no facebook da página “Moça, você é machista” sobre o “Dia
Internacional da Visibilidade Bissexual” (23 de setembro), que continha o seguinte
comentário:
Não estou confusa. Não estou passando por uma fase. Não estou
experimentando. Não sou meio gay meio hetero. Não sou gananciosa. Não estou
mentindo. Não preciso me decidir. Não estou tentando ser legal. Estou segura.
Não estou dizendo que todos são, mas EU SOU BISSEXUAL (p. 18)
Esse comentário, segundo Almeida (2015), gerou repercussão e diferentes
respostas por parte de outras pessoas. Havia quem discordasse afirmando que
bissexualidade era falta de personalidade, com mais chances de serem traídos, e
aqueles que concordavam, justificando com frases como “ninguém me entende,
mas sou assim”.

● Bissexuais são promíscuos, eles/elas querem sexo e não


compromisso.

A resposta dessa questão, segundo Cavalcanti (2007), afirma que ser


bissexual não determina que uma pessoa se envolva com mais de um parceiro/a
ao mesmo tempo. Essa fala vem de um contexto dos estudos sobre a
sexualidade, que pela sua história confirma a orientação sexual como
independente na construção do sujeito.
Já a promiscuidade que os homossexuais atribuem a bissexualidade,
segundo dados de Cavalcanti (2007), revela que esta seria uma determinante
própria dos bissexuais. O discurso feito por homossexuais sobre o fato
48

determinado por eles de que bissexuais são promíscuos, é devido a que pessoas
bissexuais poderem se relacionar com homens e mulheres, tornando maior suas
opções ao buscarem parceiros e não sendo necessário firmarem um
compromisso.
Cavalcanti (2007) ressalta, o que também se encontra em Teles (1999),
Lewis (2012), Almeida (2015), Andrade Junior (2016) que essa visão não é
exclusiva dos homossexuais, mas também dos heteros, que utilizam do mesmo
discurso de que bissexuais tem mais oportunidades de se relacionar, como se os
bissexuais estivessem mais sexualmente ativos do que eles.
Já Silva (1999) realizou pesquisa de campo constituída de entrevistas
semi-estruturadas com 14 homens acima dos dezoito anos que já tiveram
relações com ambos os sexos, michês (homens que têm relação com o mesmo
sexo visando o dinheiro) ou não-michês (homens que têm relação entre o mesmo
sexo caracterizada pela troca afetiva ou sexual). Os 14 entrevistados escondem
de amigos e familiares as suas práticas bissexuais, se comportando como
indivíduos heterossexuais, o que também ocorreu na pesquisa de Teles (1999),
no caso de dois rapazes que se separaram com medo de assumir e sofrer
preconceito. Os michês são classificados como promíscuos por seus atos na hora
de negociar com o “cliente”, o que envolve somente o ato sexual em diversos
lugares públicos ou privados, a ser combinado na hora.
Através dos relatos de Silva (1999) e Andrade Junior (2016), homens
casados que provavelmente não se assumem bissexuais ou gays, mantém
contato com outros homens para fins sexuais, seja na internet ou em lugares
físicos. Os relatos mostram que mesmo os homens assumindo o casamento, não
muda o objetivo, focalizando o ato sexual e as conversas maliciosas, como por
exemplo trazido por Andrade Junior (2016, p. 89):
-CASADO-40-BA (reservadamente) fala para de boa: qual a sua idade?
-de boa (reservadamente) fala para CASADO-40-BA: 34
-de boa (reservadamente) fala para CASADO-40-BA: casado tb (...)
-CASADO-40-BA (reservadamente) fala para de boa: deliciaaaa, e vc chupa
gostoso mesmo, tem bunda gostosa?
Voltando para Cavalcanti (2007), a promiscuidade pode acontecer com
heteros, homo ou bissexuais. Os conflitos emocionais nas relações bissexuais
são comuns, justamente por não ser só sexo ou prazer sexual, mas sim um
49

envolvimento afetivo.

● Bissexuais sofrem menos preconceitos.

O informativo Bis, segundo Cavalcanti (2007), responde ao discurso feito


pelo movimento homossexual, que se posiciona como assumidos publicamente e
os que sofrem os preconceitos sociais. Mas o que acontece, segundo o Núcleo
Bis e de acordo com Cavalcanti (2007), é que os bissexuais sofrem preconceitos
tanto dos homossexuais como de heterossexuais.
Importante ressaltar, segundo Cavalcanti (2007), são as piadas e
preconceitos referentes aos bissexuais, que são diferentes aos que se referem os
gays ou lésbicas. Segundo Teles (1999), a bifobia é uma “crise de significado”,
um conflito entre compreender que as categorias sexuais são mutáveis e se
alteram de acordo com fatores culturais, e as realidades do preconceito.
Cavalcanti (2007) menciona que a heteronormatividade marginaliza os
indivíduos que não se enquadram em suas normas. Andrade Junior (2016)
menciona Butler, que uma reflexão histórica homoafetiva trouxe a ideia de que ser
homossexual confronta o divino, sendo um pecado, o que para muitos ainda é
uma doença.

● Bissexuais sofrem preconceito apenas quando têm relação


sexual/afetiva com pessoas do mesmo sexo. Quando estão com pessoas do sexo
oposto, não sofrem preconceito.

Segundo Cavalcanti (2007, p.82) este mito é o mesmo discurso do anterior.


Pessoas bissexuais afirmam que sofrem preconceito em diversos momentos de
suas vidas, motivo do qual ninguém possui o direito de querer dizer quem é
bissexual ou não. A decisão de se assumir é individual e merece respeito, mesmo
esse sendo um dos mitos mais comuns dentro do próprio movimento LGBT em
que a bissexualidade é somente uma forma de ser para quem não quer se
assumir homossexual.
Um indicativo de dificuldade para aceitação de uma sexualidade é acreditar
que pessoas bissexuais sofrem menos preconceito quando estão em uma relação
heterossexual, segundo Cavalcanti (2007).
50

Seffner (2003) citado por Cavalcanti (2007), fez um trabalho sobre a


identidade bissexual masculina, que mostrou além das práticas bissexuais, uma
representação do que chamam de masculinidade forte, que os fazem negar
qualquer semelhança com a imagem de um homossexual afeminado, passivo.
Segundo Silva (1999), o homem “passivo” era semelhante à condição de mulher,
uma figura de reprodução e não de objeto sexual. Para os gregos, segundo Silva
(1999), ser “ativo” era sinônimo de controle do outro, ter o prazer em resposta da
própria atuação sexual sendo um agente “ativo”.
“A relação entre corpo, identidade e sexualidade pode conduzir a política
de um grupo minoritário, seja ele homo/bissexual ou transgênero, a uma
temerária demarcação do desejo” (Cavalcanti, 2007 p. 83). Para o Núcleo Bis, e
outros grupos a qual a autora teve contato, as identidades que são fechadas dão
espaço para que ocorram exclusões e impedem o conhecimento de que pessoas
podem ser desejadas e desejantes.

● Um homem bissexual vai deixá-lo por uma mulher e vice-versa. Não


se pode confiar neles/as

Cavalcanti (2007) cita que uma dinâmica de relacionamento saudável não


está ligada a sexualidade do/a companheiro/a, pois um rompimento e uma troca
por outra pessoa pode acontecer em qualquer relacionamento.
Essa questão respondida pelo Jornal Bis demonstra que a bissexualidade
não é diferente das outras, pois relacionamentos bissexuais também lidam com
elementos emocionais, afetivos e sexuais.
Cavalcanti (2007, p. 84) cita Seffner (2003), em que a bissexualidade tem
de ser entendida no plural, sendo assim, bissexualidades, por existir diferentes
maneiras de representações e práticas. Ter o envolvimento com os dois sexos
não significa tê-los como se fossem mercadorias em prateleiras, algo fácil de se
acessar. Pessoas bissexuais costumam reclamar da dificuldade em aceitar que se
pode gostar de ambos os sexos e assim ter um relacionamento sério.
Essa visão que antecede a bissexualidade tem uma continuidade em outro
mito, o qual se afirma que pessoas bissexuais não tem compromisso ou
maturidade. Porém, segundo Cavalcanti (2007), ter compromisso ou maturidade é
algo específico que se encontra em cada pessoa disposta a assumir um
51

relacionamento, independente se for hetero, homo ou bissexual.


Cavalcanti (2007) menciona que participou de uma reunião do Espaço B
em São Paulo, em que o assunto discutido era fidelidade, e um dos participantes
conta sua dificuldade de entender e viver a bissexualidade: “O meu namorado não
se sente realizado sexualmente em apenas uma relação homossexual. Ele me diz
que precisa se relacionar com mulheres, e eu aceito, embora não tenha a mesma
necessidade”. A autora afirma que mesmo o participante se dizendo “aceitar” a
necessidade do namorado, a angústia em não conseguir satisfazer por completo
o parceiro é presente em sua fala. Porém, o que ficou claro durante essa reunião,
é que a liberdade em expressar o desejo diferente da norma heterossexual não é
um motivo para possa se relacionar com diversas pessoas.

● Bissexuais espalham HIV/AIDS

Cavalcanti (2007), deixa claro que sexo sem proteção que espalha o
HIV/AIDS, assim como partilhar seringas, entre outros equipamentos na hora de
usar drogas. Ativistas bissexuais afirmam que todas as pessoas estão expostas
ao vírus e que pessoas bissexuais não fazem parte do “grupo de risco”.
Entretanto, há a acusação em que os homossexuais foram responsáveis pela
“peste gay”, porém, foram os bissexuais que espalharam para o “mundo hétero”,
sendo assim até hoje a bissexualidade é apontada como a responsável.
A associação entre bissexualidade e HIV/AIDS pode se fundamentar na
facilidade de pessoas bissexuais transitarem entre os homossexuais e
heterossexuais. O discurso que responsabiliza os homossexuais sobre a “peste
gay” que se espalhou no ambiente heterossexual, é analisada como um discurso
heterossexual de não aceitação das práticas homossexuais.
Cavalcanti (2007) cita Lago (1999), em um estudo sobre bissexualidade
masculina, em que a vulnerabilidade de bissexuais em relação ao HIV/AIDS não é
mais alta em relação aos homossexuais e heterossexuais.
O discurso de que bissexuais foram os que disseminaram o HIV/AIDS
surgiu para justificar homens e mulheres casadas que se contaminaram. A
bissexualidade tem um histórico como causa da propagação da doença entre
pessoas heterossexuais, o que prejudicou a imagem na sociedade. Essa situação
não foi muito problematizada e hoje em dia se sabe que pessoas que mantém
52

relação sexual sem usar preservativo está exposta.

● São todos/as casados/as, enrustidos/as ou fazem swing.

A resposta do Núcleo Bis, segundo Cavalcanti (2007), é de que pessoas


heteros ou homossexuais podem estar envolvidas em relações extra-conjugais ou
troca de casais, o que não significa que todos/as necessariamente se envolvam.
A falta de compreensão da bissexualidade faz com que esteja associada sempre
a “orgias, putaria e sacanagem”.
Promiscuidade não depende da orientação sexual, segundo Cavalcanti
(2007) menciona, um homem casado e com filhos que procura um relacionamento
com pessoas do mesmo sexo não significa que seja uma condição da
bissexualidade.
Sobre o fato dos bissexuais não se assumirem ou não se definirem, dizem
que são por causa de críticas que escutam sobre sua orientação, sendo acusados
de “falsos definidos”. Mesmo que se assumam, segundo Cavalcanti (2007),
estarão sendo sempre observados, para o momento em que se “movem” para um
dos lados. A autora cita a fala de alguns homossexuais, segundo Seffner (2003),
em que a bissexualidade é um momento de transição, um estágio da sexualidade
a ser completo.
A autora também cita o discurso de um gay que teve a oportunidade de
conversar, e que mostrou a imagem que tem de um bissexual sendo um homem
que não demonstra seus sentimentos homoeróticos, e sai à “caça” de outros
homens em alguns lugares, mas que socialmente mantém a identidade
heterossexual.
Os valores que são tradicionais sobre gênero e sexualidade estão
fortemente demarcando a mesma sexualidade que é conhecida como desviante.

● Pessoas que se relacionam sexual/afetivamente com travestis,


transexuais ou transgêneros são bissexuais ou procuram apenas esconder seu
desejo pelo mesmo sexo.

Segundo Cavalcanti (2007), não é possível determinar que uma pessoa é


bissexual por se relacionar com travestis, transexuais ou transgêneros. Existem
53

diferentes motivos pelos quais uma pessoa pode sentir atração por pessoas trans.
Além do fato de que pessoas que são transgêneros, transexuais e travestis
possam também serem bissexuais, já que a mesma é uma identificação pessoal.
Existem diferenças entre identidade de gênero, identidade sexual e
orientação sexual, mesmo todas se relacionando, elas não precisam seguir a
mesma linha. Um exemplo dado por Cavalcanti (2007), mostra que se um homem
muda de sexo e agora é mulher, em anatomia e genericamente, ela pode se
relacionar com outras mulheres ou com homens, pois o desejo não é ligado
somente ao órgão genital, e sim na percepção que cada um tem do outro que lhe
possa atrair.
O Núcleo Bis, segundo Cavalcanti (2007), afirma que dentro do movimento
LGBT, travestis e transexuais são mais abertos e se preocupam menos em ter
que estabelecer fronteiras, mesmo lutando pelos seus direitos.

● Bissexuais são melhores do que o resto da humanidade, são mais


livres ou são o futuro em direção ao qual caminhamos.

Cavalcanti (2007) menciona que esse é outro mito de acordo com o Núcleo
Bis, que alegam serem pessoas comuns iguais a todas as outras, com defeitos e
qualidades. Alguns bissexuais podem se achar modernos e liberais, mas não é
uma característica da bissexualidade.
Mencionando Seffner (2003) novamente, Cavalcanti (2007), cita que os
bissexuais gostariam de uma humanidade sexualmente liberal, com a justificativa
de que a bissexualidade acabaria com as barreiras de gênero, já que o importante
é desejar as pessoas e não seus sexos ou gêneros.
Uma importante atividade além da entrevista, é através de algum teste de
análise. Na pesquisa feita por Teles (1999), trouxe um novo elemento
interessante para ser mostrado, sendo esse o Grid Klein, de orientação sexual,
que busca o reconhecimento da identidade, identificações e o comportamento
sexual dos entrevistados. Além da história de vida de cada um dos participantes.
Nos dois casos de testes, Teles (1999), apresenta o resultado de que
ambos são inegavelmente casos de bissexualidade. Os dois participantes são
bissexuais assumidos e aceitam suas condições normalmente.
Teles (1999, p. 66, 71), mostra a tabela de Grid Klein preenchida:
54

Já para a análise, segundo Teles (1999), é necessário fazer um passo-a-


passo de todas as variáveis coletadas.
Ambos os entrevistados são reservados em contar sobre sua sexualidade,
mesmo que algumas pessoas saibam, ainda assim não misturam vida pessoal
com as outras pessoas.
As duas tabelas acima, mostram que no item “passado”, a predominância
era heterossexual, mas no “presente”, se identificam sendo bissexuais, como no
55

caso de Rafael. Teles (1999) explica que a identidade dele é masculina, porém a
identidade sexual é bissexual e sua identificação é tanto com figuras masculinas
quanto femininas, e de uma forma positiva.
Daniela, segundo Teles (1999), com sua história de vida diferente da de
Rafael, mantém relações sexuais com mulheres somente em clubes de swing ou
com pessoas conhecidas nestas situações, o que não significa que seja uma
bissexual “episódica”. Explica Dr. Klein (1993) citado por Teles (1999), por
Daniela afirmar que se relacionaria com mulheres fora do clube, se tivesse a
oportunidade de conhecê-las. A autora menciona que as respostas de Daniela
para o Grid Klein de Orientação Sexual, a classificam como bissexualidade
histórica, de acordo com o Dr. Klein (1993) citado por Teles, que são pessoas que
levam a vida predominantemente hetero ou homossexual, mas que possuem
experiências e desejos bissexuais. Sendo essas experiências em grandes ou
poucas quantidades. Sua identidade é feminina, auto identificada como bissexual,
possui identificações positivas mais com as figuras femininas do que com as
figuras masculinas, seu comportamento sexual é bissexual.
Após as análises, Teles (1999), assim como os outros autores citados no
trabalho, mostram que a bissexualidade não deve ser caracterizada somente pela
identidade, ou somente pelo comportamento sexual, mas sim pelos dois aspectos
conjuntos, assim como a história da pessoa.
56

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao optarmos pelo tema Bissexualidade, sabíamos que iríamos nos deparar


com certa dificuldade em relação a conteúdos científicos específicos, pois em
grande maioria os estudos a respeito de sexualidade se referem ao hetero e
homossexual, feminino ou masculino, categorizando a Bissexualidade como algo
desviante ou duvidoso. Não buscamos com este trabalho assim como autores
utilizados como referência definir o que é a Bissexualidade e sim chamar atenção
da sociedade para o tema, que é um assunto embora pouco estudado que já
estava presente na humanidade desde seus primórdios.
Optando inicialmente por retomar os estudos de Freud, nos deparamos com
estudos de outras áreas, além da Psicologia, como Sociologia, Letras e Medicina.
Analisaram-se inicialmente aspectos históricos da Bissexualidade desde a Grécia
até os dias atuais, assim como questões relativas à identidade, identificações,
comportamentos sexuais e atuação do psicólogo com pessoas Bissexuais, assim
como mitos e preconceitos.
Ao oferecer uma visibilidade maior a população discriminada que mesmo
dentro do movimento LGBT, é visivelmente apagada auxilia-se na aceitação
pessoal do indivíduo que busca pertencimento na sociedade.
57

REFERÊNCIAS

ADELMAN, Míriam. Paradoxos da Identidade: A política de orientação sexual no

século XX, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a09n14.pdf>.

Acesso em: 27 de outubro. 2016.

CAVALCANTI, Camila Dias. Visíveis e invisíveis: Práticas e identidade

bissexual, 2007. Disponível em:

<http://repositorio.ufpe.br/bitstream/handle/123456789/9574/arquivo9196_1.pdf?seq

uence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 27 de outubro. 2016.

OLIVEIRA, Fernando; ALBUQUERQUE, Lígia; SÃO PAULO, Camila; LACERDA,

Amanda; FORTUNA, Fernando; FARIAS, Samuel; PORTELA, Daniel; CHRISTI,

Ágnor; ACOSTA, Angelina. Defeitos Congênitos – Tópicos Relevantes, 2007.

Disponível em:

<http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/281/272>. Acesso

em: 27 de outubro. 2016.

LEWIS, Sara Elizabeth. “Não é uma fase”: Construções Identitárias em

narrativas de ativistas LGBT que se identificam como bissexuais, 2012.

Disponível em:

<http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1012069_2012_pretextual.pdf>.

Acesso em: 3 de novembro. 2016.

MOLEIRO, Carla; PINTO, Nuno. Diversidade e psicoterapia: expectativas e

experiências de pessoas LGBT acerca das competências multiculturais de

psicoterapeutas, 2009. Disponível em:


58

<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-

55602009000200015&lang=pt>. Acesso em: 27 de outubro. 2016.

CAVALCANTI, Camila Dias. Práticas Bissexuais: uma nova identidade ou uma


nova diferença?, 2010. Disponível em:
<http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/viewFile/2710/1858>.

Acesso em: 27 de outubro. 2016.

MOREIRA, Jacqueline de Oliveira. Édipo em Freud: O movimento de uma teoria.

Psicologia em Estudo, Maringá, vol. 9, n. 2, p. 219-227, Mai/Ago 2003. Disponível

em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n2/v9n2a08>. Acesso em 26 outubro de 2016.

SEFFNER, Fernando. Derivas da Masculinidade: Representação, Identidade e

Diferença no âmbito da masculinidade Bissexual, 2003. Disponível em:

<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4340/000399778.pdf?sequence=1

> Acesso em: 21 de outubro de 2016

SALIN, Sarah. Judith Butler – E a Teoria Queer, 2012. São Paulo: Autêntica, 2012

ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos – Teoria, técnica e clínica

uma abordagem didática, Porto Alegre: Artmed Editora, 1999. Acesso em: 03 de

outubro de 2017.

Stony Brook, AFFIRM – Psychologists Affirming their Lesbian, Gay, Bisexual

and Transgender Family. Disponível em:

<http://www.stonybrook.edu/commcms/affirm>/. Acesso em: 27 de julho de 2017.

American Psychological Association. ‘Affirming’ their support of gay relatives.

Disponível em: <http://www.apa.org/monitor/oct05/affirming.aspx>. Acesso em: 27

de julho de 2017.
59

TELES, Vânia Maria Congro. Bissexualidade: Identidade, Identificações e


Comportamento Sexual – Um estudo de casos. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
Acesso em: 06 de outubro de 2017.

SILVA, Valdeci Gonçalves da. FACA DE DOIS GUMES: Percepções da

Bissexualidade Masculina em João Pessoa. João Pessoa: UFPB, 1999. Acesso

em: 08 de outubro de 2017.

ALMEIDA, Marianna Barbora. Bissexualidades femininas: repertórios entre

jogos de (in)visibilidade. Disponível em:

https://www.dropbox.com/s/ym4ovezsumf9x15/Marianna-dissertacao-2015.pdf?dl=0.

Acesso em: 08 de outubro de 2017.

ANDRADE JUNIOR, Valter Cezar. ON-LINE, SAÍDA DO ARMÁRIO; OFF-LINE,

ASSUJEITAMENTO À HETERONORMATIVIDADE: formas-sujeito nas salas de

bate-papo do UOL-Salvador/BA. Salvador: UNEB, 2016. Acesso em: 08 de outubro

de 2017.

O que é a Teoria Queer. Disponível em: http://paradasp.org.br/o-que-e-a-teoria-

queer-de-judith-butler/ Acesso em: 03 de outubro de 2017.

23 de Setembro: dia de Celebrar a Bissexualidade. Disponível em:

http://paradasp.org.br/23-de-setembro-dia-de-celebrar-a-bissexualidade/. Acesso

em: 03 de outubro de 2017.

Biweek combate adjetivos negativos contra Bissexuais. Disponível em:

http://www.ma10.com.br/2017/09/23/biweek-combate-adjetivos-negativos-contra-

bissexuais/. Acesso em: 02 de outubro de 2017.


60

Psicanálise e Homossexualidade. Disponível em:


https://www.psicologosberrini.com.br/psicanalise-e-psicanalista/psicanalise-e-
homossexualidade/. Acesso em: 02 de outubro de 2017.

Pereira, Guilherme Bessa Ferreira. Resenha Salih, S. (2012). Judith Butler e a

Teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v6n1/v6n1a12.pdf. Acesso em: 03 de outubro de

2017.

Theories on LGBTQ Development. Disponível em:

https://safezone.uncc.edu/allies/theories Acesso em: 03 de outubro de 2017.

CASS, Vivienne C. MPsych, MAPsS, 1979. Homosexual Identity Formation: A

Theorical Model. Disponível em: http://www.brightfire.com.au/wp-

content/uploads/Journal-of-Homosexuality-1979.pdf Acesso em: 03 de outubro de

2017.

Bissexualidade, preconceito e objetivos de um ativismo bissexual. Disponível

em: http://bisides.com/index.php/2017/07/11/bissexualidade-preconceito-e-objetivos-

de-um-ativismo-bissexual/ Acesso em: 02 de outubro de 2017.

23 de Setembro: Dia da Visibilidade Bissexual. Disponível em:

http://www.crppe.org.br/2016/dia-visibilidade-bissexual/ Acesso em: 03 de outubro

de 2017.

Rocha, Cássio Bruno Araujo. Cadernos Pagu, 2014. Um pequeno guia ao

pensamento, aos conceitos e à obra de Judith Butler. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/cpa/n43/0104-8333-cpa-43-0507.pdf Acesso em: 03 de

outubro de 2017.
61

Teoria Queer: O que é isso? Disponível em:


https://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2015/06/07/teoria-queer-o-que-e-isso-
tensoes-entre-vivencias-e-universidade/ Acesso em: 03 de outubro de 2017.

Motta, Jose Inacio Jardim. Sexualidades e políticas públicas: uma


abordagem queer para tempos de crise democrática. Rio de Janeiro, 2016.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
11042016000500073&lng=en&nrm=iso Acesso em: 03 de outubro de 2017.

A despatologização da orientação sexual: O papel da Resolução 01/99 e o


enfrentamento da homofobia. Disponível em:
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/cadernos_tematicos/11/frames/fr_despat
ologizacao.aspx Acesso em: 02 de outubro de 2017.

Gil, Antonio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. Editora Atlas SA. 3ª ed.
1991 Disponível em:
http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/031120162924_AntonioCarl
osGil_ComoElaborarProjetosdePesquisa_EditoraAtlasCopia.pdf Acesso em: 03 de
outubro de 2017.

Potrebbero piacerti anche