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SANTOS
2017
JULIANE SANTOS GUIMARÃES SILVA
LARISSA NASCIMENTO ALVES
SANTOS
2017
JULIANE SANTOS GUIMARÃES SILVA
LARISSA NASCIMENTO ALVES
Banca Examinadora
SANTOS
2017
SILVA. Juliane. ALVES. Larissa. Aspectos Históricos e Teóricos da Bissexualidade.
2017. 64 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Psicologia. Universidade Católica de
Santos.
RESUMO
This study had as objective to explore and analyze in first degree the historical and
theoretical aspects of Bisexuality from the ancient Greece to our present days, it’s
identity, identifications, sexual behaviors and the psychologist's work with people
who identify themselves as bisexual beings. The efforts to make the acronym B
acknowledged among the LGBT community, as well as myths and prejudices are
clarified through a brief analysis of researches done by the authors Camila Dias
Cavalcanti, Vânia Maria Congro Teles, Valdeci Gonçalves da Silva, Valter
Andrade and Marianna Barbosa Almeira.
Em primeiro lugar, a Deus, por ter nos dado coragem, foco, determinação e
a todo momento por sua mão para que tudo pudesse dar certo durante as
dificuldades, especialmente neste ano e na realização do trabalho.
Aos nossos familiares em geral por ter nos ajudado quando possível. Em
particular, aos nossos pais e mães, por não terem desistido e ido atrás do
impossível para que essa etapa fosse finalmente concluída, que nos apoiou e nos
incentivou em todos os momentos, especialmente nos momentos de fragilidade.
Nossos queridos amigos que entenderam nossas ausências e estiveram
disponíveis para ajudar no que fosse preciso, assim como nos motivando a não
desistir e servindo de um apoio de extrema importância.
A nossa orientadora, Dr. Ivanise Monfredini, pela compreensão, por se
esforçar em nos ajudar, mesmo não sendo sua área de atuação. Pela paciência e
a compaixão em entender as dificuldades que nos cercaram.
As nossas professoras da banca, Iara Chalela e Thalita Nobre, por
disponibilizarem um espaço em suas agendas que mesmo lotadas, nos incluiu.
Também as dicas e conselhos que nos foram passados.
Em especial aos autores que nos ajudaram diretamente com seus
trabalhos, Vânia Maria Congro Teles e Valdeci Gonçalves da Silva.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO 9
2. OBJETIVOS 10
3. METODOLOGIA 11
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14
4.2. Identidade 20
4.5. Bifobia 30
4.6. Heteronormatividade 32
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 56
REFERÊNCIAS 57
9
INTRODUÇÃO
2.1. OBJETIVOS
2.1.1 Objetivo Geral
● Realizar um estudo histórico e teórico sobre a bissexualidade, em artigos de
periódicos, teses e livros.
2.1.2. Objetivos Específicos
● Levantar a discussão sobre a história da identidade da bissexualidade.
● Compreender em que medida os estereótipos heteronormativos podem
comprometer na formação da identidade bissexual.
11
3. METODOLOGIA
em João Pessoa.
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.2. IDENTIDADE
com o intuito de formar uma pessoa sábia e responsável. Outro motivo da união
de dois homens, era para fortalecer as forças armadas. Após o contato íntimo
entre eles, se esperava um comportamento de fidelidade e proteção para com
todos, diante dos obstáculos e perigos.
O objetivo das relações heterossexuais na Grécia antiga, de acordo com
Lewis (2012) eram a reprodução, sendo essa união, a heterossexual somente
para fazer filhos. E a homossexual para a formação de um cidadão e proteção
das forças armadas.
Os gregos praticavam a bissexualidade como vinda da atração física das
pessoas, ignorando o sexo biológico.
A diversidade da escolha entre moça e rapaz não se refer[ia], de modo
algum, à distinção entre duas tendências, ou à oposição entre duas formas
de desejo. [...] não se concebia dois apetites distintos, distribuindo-se em
indivíduos diferentes, ou confrontando-se numa mesma alma; encarava-se
antes como duas maneiras de obter seu prazer, uma das quais convinha
melhor a certos indivíduos ou a certos momentos da existência. As práticas
com rapazes e com mulheres não constituíam categorias classificatórias
entre as quais os indivíduos pudessem repartir-se; o homem que preferia os
paidika não se experimentava como “outra” face àqueles que buscavam as
mulheres. (FOUCAULT, 1984 p. 169-170 apud LEWIS, 2012 p. 29).
O shudo do Japão antigo, segundo Lewis (2012), é semelhante aos
acontecimentos da Grécia. Os samurais adultos e casados, tinham relações com
jovens aprendizes para ensinar-lhes os códigos de samurais e sabedoria sexual,
mas estes não se estendiam para os campos de batalhas, sendo somente para a
formação do aprendiz. Essa relação era importante para os samurais, pois
segundo eles, mantinham o equilíbrio entre os elementos feminino e masculino
(yin e yang).
Acreditavam que os samurais que tinham relações somente com um sexo
biológico, não podiam chegar no equilíbrio dos elementos e consequentemente,
não seriam bons guerreiros. Alguns samurais também faziam votos de castidade,
seguindo a religião do “percurso magnífico”, o que os impedia de ter relações
sexuais com mulheres, o que, no entanto, era permitido com os aprendizes, por
acreditarem na aproximação do que era divino.
Na Roma antiga, Lewis (2012, p. 30) menciona a diferença perante as
outras, sobre a relação sexual entre os homens que aconteciam pelas diferentes
posições sociais. As relações sexuais eram aceitas, mas desde que respeitassem
as ordens: “A penetração do homem na mulher, do mestre no escravo e do
24
De acordo com Adelman (2000), no século XIX surgiu uma nova ciência
com a tarefa positivista em classificar os comportamentos sexuais, contribuindo
para a “produção” da homossexualidade. Em princípio, tinham uma visão
patológica, mas a discussão se deu por justificar ser uma “natureza” diferente em
algumas pessoas. Nesse momento, “nasceu” de fato a figura homossexual, tendo
seu corpo e sua existência como um objeto de estudo e pesquisa, em busca de
sua representação. O desejo sexual devia ser cauteloso, pois era considerado
perigoso para a sociedade, com questões patológicas e doentias que deviam ser
controladas, pois a ameaça afetaria a ordem social sobre a cultura europeia.
Adelman (2000) aborda que para grande maioria dos europeus, a
homossexualidade era considerada uma condição congênita.
Os estudos de Adelman (2000) vão ao encontro às ideias de Santos
(2011), Moreira (2003) e Cavalcanti (2007) evidenciando a importância do
Complexo de Édipo presente em todos os indivíduos.
Uma configuração moderna da sociedade com o indivíduo em particular,
deu espaço para a criação de uma identidade sexual individual, o qual Adelman
(2000) explica que buscavam apoio em um mercado de consumo que incentivava
a busca de vida diferenciada na construção de uma identidade pessoal.
Os significados sexuais relacionam os sistemas de regulação ou controle
da sexualidade e a política sexual. São elementos que mostram como a
sociedade forma e organiza a sexualidade. Nos EUA em sua época de
colonização, Adelman (2000) mostra que a sexualidade não tinha um outro olhar
a não ser para a procriação, centrado somente pela igreja. Já no século XX, a
sexualidade virou fonte do prazer e expressão individual, ligado ao mercado.
Através desse ligamento indireto com as formas antigas e novas (igrejas e
estado), pessoas de diferentes idades, gêneros e sexualidades sofreram com
suas políticas.
As pessoas homossexuais podiam criar laços e identidade em razão do
estado, que fez com que algumas cidades oferecessem espaço para convivência
entre pessoas que tinham o mesmo interesse erótico. Já segundo D’Emilio
(1988), citado por Adelman (2000), grandes cidades americanas viveram um
período entre as duas guerras mundiais, em que foi “libertada” uma subcultura
gay, permitindo às pessoas de se exporem, tornando-se coletivo.
A opressão estigmatizada da década de 1950 exerceu influências
26
chamadas “Reversões sexuais”, que acabam por trazer ainda mais sofrimento aos
indivíduos, assim como diz Moleiro e Pinto (2009).
4.5. BIFOBIA
4.6. HETERONORMATIVIDADE
escolha, pois o “eu” que poderia entrar está dentro delas desde sempre: não
há possibilidade de ação ou realidade fora das práticas discursivas que dão
a esses termos a inteligibilidade que eles têm. A tarefa não consiste em
repetir ou não, mas em como repetir, ou, a rigor, repetir e por meio de uma
proliferação radical do gênero, afastar [ou deslocar] as normas do gênero
que facultam a própria repetição. (BUTLER, 1990 apud LEWIS, 2012, p. 55)
Portanto, há uma possibilidade de quebrar a regra da matriz, mas que seja
de uma forma linguística clara e que parta do interior de um sistema para que
possa ser entendida e compactuada. Porém, não se pode sair desse sistema,
mas pode-se reproduzir novas “abordagens” dentro da matriz heteronormativa.
Para que ocorra mudança, deverá ocorrer uma desconstrução do que seria a fala
heteronormativa.
A desconstrução não pode limitar-se ou passar imediatamente a uma
neutralização: deve [...] praticar uma inversão da oposição clássica e um
deslocamento geral do sistema. É somente sob essa condição que a
desconstrução achará os meios para intervir no campo das oposições que
ela critica, que é também um campo de forças discursivas. [...] A
desconstrução consiste não em passar de um conceito a outro, mas em
inverter e em deslocar uma ordem conceitual, bem como a ordem não-
conceitual na qual se articula. (DERRIDA, 1972 apud LEWIS, 2012, p. 56)
Lewis (2012) afirma que para desconstruir um sistema, não se deve
derrubar o que é imposto por ele, por necessitar de referências impostas pelo
sistema para que haja a desconstrução.
manifestações e práticas.
Butler, segundo Salih (2002) parte de uma concepção de que o sujeito não
é um indivíduo preexistente, primordial, e que a construção da identidade significa
que as personalidades podem se reedificar em formas que desafiam e substituem
as estruturas existentes. O argumento é que a identidade de gênero é o
seguimento de atos em que não existe um figurante na prática dos atos,
denominado de performatividade, uma ideia já diferente de Moreira (2003) citada
no início do trabalho.
Salih (2002) menciona o trabalho de Simone de Beauvoir, que contribui
para a obra de Butler, segundo o livro “O segundo sexo”, no qual Beauvoir (1980,
v.2, p.9) declara que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino
biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no
seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado, que se qualifica de feminino”. Butler
comenta a afirmação de Simone com argumentos de que a mulher em si está em
processo de construção que não tenha origem ou fim, seguido de uma crítica em
que para Beauvoir nunca será possível se tornar mulher.
O gênero é um processo sem início e fim, que se cristalizou, segundo Salih
(2002), sendo algo que “faça” e não algo que “é”. Gênero por definição não é
natural. A suposição de que por ser fêmea, tem que ter traços femininos e desejos
por homem é afastada de Butler, que enfatiza o mundo heteronormativo em que a
heterossexualidade é vista como uma norma.
Ao partir do pressuposto de Butler em que gênero é “não natural”, pois não
faz relação entre o corpo e o gênero, um corpo “feminino” não necessariamente
possui traços femininos, podendo haver uma inversão de “papéis”, com um corpo
macho “feminino” e um corpo fêmea “masculino”.
Segundo Salih (2002), Butler declara que o gênero de fato é uma “escolha”,
mas uma “escolha” em que um “a gente” não é “livre” ou que uma “pessoa”
seleciona o gênero que quer, sendo esse um caso impossível. A escolha de
gênero imposta por Butler, segundo Salih (2002), afirma que a escolha do gênero
tem sentido de interpretar o gênero e suas normas impostas, mas com uma nova
maneira.
Salih (2002) menciona o estudo de Butler a partir das teorias de Freud
(1915; 1923), o que complementa a ideia de Santos (2011) e Moreira (2003), com
36
patologizar, nem excluir aquele que foge dos padrões impostos por aqueles que
têm o poder.
Em suma, o capítulo trata da Bissexualidade a partir de conceitos
psicanalíticos postulados por Freud, bem como ideias de autores como Foucault e
outros estudiosos sobre o tema.
Os estudos desses autores, como Zimermam (1999), Moreira (2003),
Santos (2011) e Lewis (2012), vêm ao encontro de nossos anseios, no sentido de
mostrar que a Bissexualidade é originária da resolução do Complexo de Édipo
que explicam, da tríade entre, criança, pai e mãe, bem como o que o indivíduo
introjetou nessa relação. E de como lidou com o enfrentamento diante das
proibições impostas, resultando em sua definição de opção sexual, a partir da
formação do Superego.
Ainda sobre a Teoria Queer, Pereira (2013), menciona que pode ser
entendida como resultância de outras teorias, entre elas a Teoria Psicanalítica, a
Teoria Foucaultiana e as teorias feministas que nortearam os estudos sobre a
categoria de sujeito nos anos 80.
Salih (2002) e Motta (2016) pontuam que o termo queer pode ser definido
como estranho, excêntrico, raro, extraordinário, ridículo, passando a ser utilizado
por teóricos que estudam questões de gênero e sexualidade baseando-se em
uma perspectiva pós-crítica.
Ainda sobre Motta, o autor define a escolha do termo Queer para:
Se autodenominarem, ou seja, um xingamento que denota perversão e
desvio, destaca um "compromisso em desenvolver uma analítica da
normalização focada na sexualidade". Dessa forma, passam a refletir sobre
como a sexualidade é moldada e atravessada por discursos de
normalização e, trazendo para o campo da investigação, irão pensar "a
dinâmica da sexualidade e do desejo na organização das relações sociais"
(Milkolci, 2009, p. 150 apud Motta, 2016).
Pereira (2013) apud Salih (2012), ressalta que para a Teoria Queer o sexo
é visto como resultante de processos sócio-culturais e não como resultante de
caráter biológico. A teoria considera que as percepções sobre gênero, sexo, raça
entre outros criam identidades as quais o sujeito se identifica.
Salih (2002), Rocha (2014) e Motta (2016) definem quase que
simultaneamente o termo Queer como uma apropriação de uma palavra que era
comumente utilizada para injuriar e ultrajar, conforme foi apropriado ressignifica-
se o termo. A elaboração de significado positivista da palavra Queer dá-se no
contexto de lutas de movimentos gay, lésbico e feminista nos Estados Unidos e
38
Para Kolodny, Masters e Johnson (1982), citados por Teles (1999) definem
a identidade sexual ou de gênero a partir do modo como as pessoas sentem-se
sobre suas individualidades e ambivalências sobre suas auto-percepções. Para
Andrade Silva (1997), de acordo com Teles (1999), o núcleo da identidade de
gênero forma-se a partir das identificações e relacionamentos parentais, papéis
sócio-sexuais, sentimentos e percepções, aceitação (de erro ou acerto),
autoimagem corporal e psíquica infantil, vivência da puberdade/adolescência,
erotismo-orientação sexual adolescente, aceitação e desempenho sexual, auto
estima adulta.
Segundo Kinsey (1954), também citado por Teles (1999), o comportamento
sexual do indivíduo está relacionado ao envolvimento afetivo e emocional. A partir
da definição dos principais conceitos utiliza-se do estudo do histórico-
antropológico da sexualidade de Ana Maria Ramos Seixas (1998), que permite a
compreensão dos papéis sexuais e diferenças de gêneros. O estudo é importante
para a compreensão a respeito da Bissexualidade, tendo em vista que esteve
presente em várias épocas e sociedades, apesar de não haver muitos estudos
sobre tal fato.
A Bissexualidade segundo Teles (1999) ou a atração por pessoas de
ambos os sexos, tende a ser ignorada ou considerada como confusão ou falta de
(auto) conhecimento.
Teles (1999) utilizando-se de estudos de Klein(1993), Kinsey (1948),
Groddeck (1997) e o Complexo de Édipo compreende que todos os seres
humanos somos homossexuais e tendemos a resolução do complexo de Édipo
para nos afirmar. A autora ressalta que para Freud, a Bissexualidade, vai além de
ter dois conjuntos de órgãos sexuais, duas psiques e de ter uma sexualidade
dividida, que é fluida e não fixa em relação a identificação ao objeto. A autora
ressalta também que os autores concordam que o termo “Bissexual” sugere
problema, promiscuidade, imaturidade ou indecisão.
Para os psicólogos ela pode sugerir problemas de ajustamento; para os
psicanalistas um complexo de Édipo mal resolvido; para antropólogos, a
estreiteza de uma visão ocidental (judaico-cristã). Em relação a Bissexualidade e
a política sexual, a Bissexualidade destrói as certezas de hetero, gay ou lésbica,
podendo ter pontos em comum com ambas e não ter a delimitação de nenhuma.
43
hetero/homossexual, tem que ser “oito ou oitenta, não existe meio termo” Teles
(1999) e Lewis (2012).
determinado por eles de que bissexuais são promíscuos, é devido a que pessoas
bissexuais poderem se relacionar com homens e mulheres, tornando maior suas
opções ao buscarem parceiros e não sendo necessário firmarem um
compromisso.
Cavalcanti (2007) ressalta, o que também se encontra em Teles (1999),
Lewis (2012), Almeida (2015), Andrade Junior (2016) que essa visão não é
exclusiva dos homossexuais, mas também dos heteros, que utilizam do mesmo
discurso de que bissexuais tem mais oportunidades de se relacionar, como se os
bissexuais estivessem mais sexualmente ativos do que eles.
Já Silva (1999) realizou pesquisa de campo constituída de entrevistas
semi-estruturadas com 14 homens acima dos dezoito anos que já tiveram
relações com ambos os sexos, michês (homens que têm relação com o mesmo
sexo visando o dinheiro) ou não-michês (homens que têm relação entre o mesmo
sexo caracterizada pela troca afetiva ou sexual). Os 14 entrevistados escondem
de amigos e familiares as suas práticas bissexuais, se comportando como
indivíduos heterossexuais, o que também ocorreu na pesquisa de Teles (1999),
no caso de dois rapazes que se separaram com medo de assumir e sofrer
preconceito. Os michês são classificados como promíscuos por seus atos na hora
de negociar com o “cliente”, o que envolve somente o ato sexual em diversos
lugares públicos ou privados, a ser combinado na hora.
Através dos relatos de Silva (1999) e Andrade Junior (2016), homens
casados que provavelmente não se assumem bissexuais ou gays, mantém
contato com outros homens para fins sexuais, seja na internet ou em lugares
físicos. Os relatos mostram que mesmo os homens assumindo o casamento, não
muda o objetivo, focalizando o ato sexual e as conversas maliciosas, como por
exemplo trazido por Andrade Junior (2016, p. 89):
-CASADO-40-BA (reservadamente) fala para de boa: qual a sua idade?
-de boa (reservadamente) fala para CASADO-40-BA: 34
-de boa (reservadamente) fala para CASADO-40-BA: casado tb (...)
-CASADO-40-BA (reservadamente) fala para de boa: deliciaaaa, e vc chupa
gostoso mesmo, tem bunda gostosa?
Voltando para Cavalcanti (2007), a promiscuidade pode acontecer com
heteros, homo ou bissexuais. Os conflitos emocionais nas relações bissexuais
são comuns, justamente por não ser só sexo ou prazer sexual, mas sim um
49
envolvimento afetivo.
Cavalcanti (2007), deixa claro que sexo sem proteção que espalha o
HIV/AIDS, assim como partilhar seringas, entre outros equipamentos na hora de
usar drogas. Ativistas bissexuais afirmam que todas as pessoas estão expostas
ao vírus e que pessoas bissexuais não fazem parte do “grupo de risco”.
Entretanto, há a acusação em que os homossexuais foram responsáveis pela
“peste gay”, porém, foram os bissexuais que espalharam para o “mundo hétero”,
sendo assim até hoje a bissexualidade é apontada como a responsável.
A associação entre bissexualidade e HIV/AIDS pode se fundamentar na
facilidade de pessoas bissexuais transitarem entre os homossexuais e
heterossexuais. O discurso que responsabiliza os homossexuais sobre a “peste
gay” que se espalhou no ambiente heterossexual, é analisada como um discurso
heterossexual de não aceitação das práticas homossexuais.
Cavalcanti (2007) cita Lago (1999), em um estudo sobre bissexualidade
masculina, em que a vulnerabilidade de bissexuais em relação ao HIV/AIDS não é
mais alta em relação aos homossexuais e heterossexuais.
O discurso de que bissexuais foram os que disseminaram o HIV/AIDS
surgiu para justificar homens e mulheres casadas que se contaminaram. A
bissexualidade tem um histórico como causa da propagação da doença entre
pessoas heterossexuais, o que prejudicou a imagem na sociedade. Essa situação
não foi muito problematizada e hoje em dia se sabe que pessoas que mantém
52
diferentes motivos pelos quais uma pessoa pode sentir atração por pessoas trans.
Além do fato de que pessoas que são transgêneros, transexuais e travestis
possam também serem bissexuais, já que a mesma é uma identificação pessoal.
Existem diferenças entre identidade de gênero, identidade sexual e
orientação sexual, mesmo todas se relacionando, elas não precisam seguir a
mesma linha. Um exemplo dado por Cavalcanti (2007), mostra que se um homem
muda de sexo e agora é mulher, em anatomia e genericamente, ela pode se
relacionar com outras mulheres ou com homens, pois o desejo não é ligado
somente ao órgão genital, e sim na percepção que cada um tem do outro que lhe
possa atrair.
O Núcleo Bis, segundo Cavalcanti (2007), afirma que dentro do movimento
LGBT, travestis e transexuais são mais abertos e se preocupam menos em ter
que estabelecer fronteiras, mesmo lutando pelos seus direitos.
Cavalcanti (2007) menciona que esse é outro mito de acordo com o Núcleo
Bis, que alegam serem pessoas comuns iguais a todas as outras, com defeitos e
qualidades. Alguns bissexuais podem se achar modernos e liberais, mas não é
uma característica da bissexualidade.
Mencionando Seffner (2003) novamente, Cavalcanti (2007), cita que os
bissexuais gostariam de uma humanidade sexualmente liberal, com a justificativa
de que a bissexualidade acabaria com as barreiras de gênero, já que o importante
é desejar as pessoas e não seus sexos ou gêneros.
Uma importante atividade além da entrevista, é através de algum teste de
análise. Na pesquisa feita por Teles (1999), trouxe um novo elemento
interessante para ser mostrado, sendo esse o Grid Klein, de orientação sexual,
que busca o reconhecimento da identidade, identificações e o comportamento
sexual dos entrevistados. Além da história de vida de cada um dos participantes.
Nos dois casos de testes, Teles (1999), apresenta o resultado de que
ambos são inegavelmente casos de bissexualidade. Os dois participantes são
bissexuais assumidos e aceitam suas condições normalmente.
Teles (1999, p. 66, 71), mostra a tabela de Grid Klein preenchida:
54
caso de Rafael. Teles (1999) explica que a identidade dele é masculina, porém a
identidade sexual é bissexual e sua identificação é tanto com figuras masculinas
quanto femininas, e de uma forma positiva.
Daniela, segundo Teles (1999), com sua história de vida diferente da de
Rafael, mantém relações sexuais com mulheres somente em clubes de swing ou
com pessoas conhecidas nestas situações, o que não significa que seja uma
bissexual “episódica”. Explica Dr. Klein (1993) citado por Teles (1999), por
Daniela afirmar que se relacionaria com mulheres fora do clube, se tivesse a
oportunidade de conhecê-las. A autora menciona que as respostas de Daniela
para o Grid Klein de Orientação Sexual, a classificam como bissexualidade
histórica, de acordo com o Dr. Klein (1993) citado por Teles, que são pessoas que
levam a vida predominantemente hetero ou homossexual, mas que possuem
experiências e desejos bissexuais. Sendo essas experiências em grandes ou
poucas quantidades. Sua identidade é feminina, auto identificada como bissexual,
possui identificações positivas mais com as figuras femininas do que com as
figuras masculinas, seu comportamento sexual é bissexual.
Após as análises, Teles (1999), assim como os outros autores citados no
trabalho, mostram que a bissexualidade não deve ser caracterizada somente pela
identidade, ou somente pelo comportamento sexual, mas sim pelos dois aspectos
conjuntos, assim como a história da pessoa.
56
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Disponível em:
<http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/281/272>. Acesso
Disponível em:
<http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1012069_2012_pretextual.pdf>.
<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4340/000399778.pdf?sequence=1
SALIN, Sarah. Judith Butler – E a Teoria Queer, 2012. São Paulo: Autêntica, 2012
uma abordagem didática, Porto Alegre: Artmed Editora, 1999. Acesso em: 03 de
outubro de 2017.
de julho de 2017.
59
https://www.dropbox.com/s/ym4ovezsumf9x15/Marianna-dissertacao-2015.pdf?dl=0.
de 2017.
http://paradasp.org.br/23-de-setembro-dia-de-celebrar-a-bissexualidade/. Acesso
http://www.ma10.com.br/2017/09/23/biweek-combate-adjetivos-negativos-contra-
2017.
2017.
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outubro de 2017.
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1991 Disponível em:
http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/031120162924_AntonioCarl
osGil_ComoElaborarProjetosdePesquisa_EditoraAtlasCopia.pdf Acesso em: 03 de
outubro de 2017.