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Os africanos que propuseram ideias iluministas antes de Locke e Kant

(publicado na Folha de S.Paulo de hoje, caderno Ilustríssima. Compartilho a partir da


página da minha filha, Marina Costin Fuser)
RESUMO Os ideais mais elevados de Locke, Hume e Kant foram propostos mais de um
século antes deles por Zera Yacob, um etíope que viveu numa caverna. O ganês Anton
Amo usou noção da filosofia alemã antes de ela ser registrada oficialmente. Autor defende
que ambos tenham lugar de destaque em meio aos pensadores iluministas.
*
Os ideais do Iluminismo são a base de nossas democracias e universidades no século 21:
a crença na razão, na ciência, no ceticismo, no secularismo e na igualdade. De fato,
nenhuma outro período se compara à era do Iluminismo.
A Antiguidade é inspiradora, mas está a um mundo de distância das sociedades
modernas. A Idade Média é mais razoável do que sua reputação sugere, mas ainda assim
é medieval. A Renascença foi gloriosa, mas em grande medida graças ao seu resultado: o
Iluminismo. O romantismo veio como reação à era da razão, mas os ideais dos Estados
modernos não se expressam em termos de romantismo e emoção.
Segundo a história mais contada, o Iluminismo tem origem no "Discurso do Método"
(1637), de René Descartes, continuou por cerca de um século e meio com John Locke,
Isaac Newton, David Hume, Voltaire e Kant e terminou com a Revolução Francesa, em
1789 —talvez com o período do terror, em 1793.
Mas e se a história estiver errada? E se o Iluminismo puder ser associado a lugares e
pensadores que costumamos ignorar? Tais perguntas me assombram desde que topei
com o trabalho de um filósofo etíope do século 17: Zera Yacob (1599-1692), também
grafado Zära Yaqob.
Yacob nasceu numa família pobre numa propriedade agrícola perto de Axum, a lendária
antiga capital do norte da Etiópia. Como estudante, ele impressionou seus professores e
foi enviado a uma nova escola para estudar retórica ("siwasiw" em ge'ez, a língua local),
poesia e pensamento crítico ("qiné") por quatro anos.
Em seguida, estudou a Bíblia por dez anos em outra escola, recebendo ensinamentos dos
católicos e dos coptas, bem como da tradição cristã ortodoxa, majoritária no país.
Na década de 1620, um jesuíta português convenceu o rei Susenyos a converter-se ao
catolicismo, que não tardou a virar religião oficial da Etiópia. Seguiu-se uma perseguição
aos livres-pensadores, mais intensa a partir de 1630. Yacob, que nessa época lecionava
na região de Axum, havia declarado que nenhuma religião tem mais razão que outra —e
seus inimigos o denunciaram para o rei.
Yacob fugiu, levando apenas um pouco de ouro e os Salmos de Davi. Viajou para o sul,
para a região de Shewa, onde se deparou com o rio Tekezé.
Ali encontrou uma área desabitada com uma "bela caverna" no início de um vale.
Construiu um muro de pedra e viveu nesse local isolado para "encarar apenas os fatos
essenciais da vida", como Henry David Thoreau descreveria uma vida também solitária,
dois séculos mais tarde, em "Walden" (1854).
Por dois anos, até a morte do rei, em setembro de 1632, Yacob permaneceu na caverna
como ermitão, saindo apenas para buscar alimentos no mercado mais próximo. Na
caverna, ele alinhavou sua nova filosofia racionalista.
Ele acreditava na primazia da razão e afirmava que todos os seres humanos, homens e
mulheres, são criados iguais. Yacob argumentou contra a escravidão, criticou todas as
religiões e doutrinas reconhecidas e combinou essas opiniões com sua crença pessoal em
um criador divino, asseverando que a existência de uma ordem no mundo faz dessa a
opção mais racional.
Em suma: muitos dos ideais mais elevados do Iluminismo foram concebidos e resumidos
por um homem que trabalhou sozinho em uma caverna etíope de 1630 a 1632.
LIVROS
A filosofia de Yacob, baseada na razão, é apresentada em sua obra principal, "Hatäta"
(investigação). O livro foi escrito em 1667 por insistência de seu discípulo, Walda Heywat,
que escreveu ele próprio uma "Hatäta" de orientação mais prática.
Hoje, 350 anos mais tarde, é difícil encontrar um exemplar do trabalho de Yacob. A única
tradução ao inglês foi feita em 1976 pelo professor universitário e padre canadense Claude
Sumner. Ele a publicou como parte de uma obra em cinco volumes sobre a filosofia etíope,
que foi lançada pela nada comercial editora Commercial Printing Press, de Adis Abeba.
O livro foi traduzido ao alemão e, no ano passado, ao norueguês, mas ainda é
basicamente impossível ter acesso a uma versão em inglês.
A filosofia não era novidade na Etiópia antes de Yacob. Por volta de 1510, "The Book of
the Wise Philosophers" (o livro dos filósofos sábios) foi traduzido e adaptado ao etíope
pelo egípcio Abba Mikael. Trata-se de uma coletânea de ditados de filósofos gregos pré-
socráticos, Platão e Aristóteles por meio dos diálogos neoplatônicos, e também foi
influenciado pela filosofia arábica e as discussões etíopes.
Em sua "Hatäta", Yacob critica seus contemporâneos por não pensarem de modo
independente e aceitarem as palavras de astrólogos e videntes só porque seus
predecessores o faziam. Em contraste, ele recomenda uma investigação baseada na
razão e na racionalidade científica, considerando que todo ser humano nasce dotado de
inteligência e possui igual valor.
Longe dele, mas enfrentando questões semelhantes, estava o francês Descartes (1596-
1650). Uma diferença filosófica importante entre eles é que o católico Descartes criticou
explicitamente os infiéis e ateus em sua obra "Meditações Metafísicas" (1641).
Essa perspectiva encontra eco na "Carta sobre a Tolerância" (1689), de Locke, para quem
os ateus não devem ser tolerados.
As "Meditações" de Descartes foram dedicadas "ao reitor e aos doutores da sagrada
Faculdade de Teologia em Paris", e sua premissa era "aceitar por meio da fé o fato de que
a alma humana não morre com o corpo e de que Deus existe".
Yacob, pelo contrário, propõe um método muito mais agnóstico, secular e inquisitivo —o
que também reflete uma abertura ao pensamento ateu. O quarto capítulo da "Hatäta"
começa com uma pergunta radical: "Tudo que está escrito nas Sagradas Escrituras é
verdade?" Ele prossegue pontuando que todas as diferentes religiões alegam que sua fé é
a verdadeira:
"De fato, cada uma delas diz: 'Minha fé é a certa, e aqueles que creem em outra fé creem
na falsidade e são inimigos de Deus'. (...) Assim como minha fé me parece verdadeira,
outro considera verdadeira sua própria fé; mas a verdade é uma só".
Assim, ele deslancha um discurso iluminista sobre a subjetividade da religião, mas
continua a crer em algum tipo de criador universal. Sua discussão sobre a existência de
Deus é mais aberta que a de Descartes e talvez mais acessível aos leitores de hoje, como
quando incorpora perspectivas existencialistas:
"Quem foi que me deu um ouvido com o qual ouvir, quem me criou como ser reacional e
como cheguei a este mundo? De onde venho? Tivesse eu vivido antes do criador do
mundo, teria conhecido o início de minha vida e da consciência de mim mesmo. Quem me
criou?".
IDEIAS AVANÇADAS
No capítulo cinco, Yacob aplica a investigação racional a leis religiosas diferentes. Critica
igualmente o cristianismo, o islã, o judaísmo e as religiões indianas.
Ele aponta, por exemplo, que o criador, em sua sabedoria, fez o sangue fluir mensalmente
do útero das mulheres, para que elas possam gestar filhos. Assim, conclui que a lei de
Moisés, segundo a qual as mulheres são impuras quando menstruam, contraria a natureza
e o criador, já que "constitui um obstáculo ao casamento e a toda a vida da mulher,
prejudica a lei da ajuda mútua, interdita a criação dos filhos e destrói o amor".
Desse modo, inclui em seu argumento filosófico a perspectiva da solidariedade, da mulher
e do afeto. E ele próprio viveu segundo esses ideais.
Depois de sair da caverna, pediu em casamento uma moça pobre chamada Hirut, criada
de uma família rica. O patrão dela dizia que uma empregada não estava em pé de
igualdade com um homem erudito, mas a visão de Yacob prevaleceu. Consumada a união,
ele declarou que ela não deveria mais ser serva, mas seu par, porque "marido e mulher
estão em pé de igualdade no casamento".
Contrastando com essas posições, Kant (1724-1804) escreveu um século mais tarde em
"Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime" (1764): "Uma mulher pouco se
constrange com o fato de não possuir determinados entendimentos".
E, nos ensaios de ética do alemão, lemos que "o desejo de um homem por uma mulher
não se dirige a ela como ser humano, pelo contrário, a humanidade da mulher não lhe
interessa; o único objeto de seu desejo é o sexo dela".
Yacob enxergava a mulher sob ótica completamente diferente: como par intelectual do
filósofo.
Ele também foi mais iluminista que seus pares do Iluminismo no tocante à escravidão. No
capítulo cinco, Yacob combate a ideia de que "possamos sair e comprar um homem como
se fosse um animal". Assim, ele propõe um argumento universal contra a discriminação:
"Todos os homens são iguais na presença de Deus; e todos são inteligentes, pois são
suas criaturas; ele não destinou um povo à vida, outro à morte, um à misericórdia e outro
ao julgamento. Nossa razão nos ensina que esse tipo de discriminação não pode existir".
As palavras "todos os homens são iguais" foram escritas décadas antes de Locke (1632-
1704), o pai do liberalismo, ter empunhado sua pena.
E a teoria do contrato social de Locke não se aplicava a todos na prática: ele foi secretário
durante a redação das "Constituições Fundamentais da Carolina" (1669), que concederam
aos homens brancos poder absoluto sobre seus escravos africanos. O próprio inglês
investiu no comércio negreiro transatlântico.
Comparada à de seus pares filosóficos, portanto, a filosofia de Yacob frequentemente
parece o epítome dos ideais que em geral atribuímos ao Iluminismo.
ANTON AMO
Alguns meses depois de ler a obra de Yacob, enfim tive acesso a outro livro raro: uma
tradução dos escritos reunidos do filósofo Anton Amo (c. 1703-55), que nasceu e morreu
em Gana.
Amo estudou e lecionou por duas décadas nas maiores universidades da Alemanha (como
Halle e Jena), escrevendo em latim. Hoje, segundo o World Library Catalogue, só um
punhado de exemplares de seu "Antonius Guilielmus Amo Afer of Axim in Ghana" está
disponível em bibliotecas mundo afora.
O ganês nasceu um século após Yacob. Consta que ele foi sequestrado do povo akan e
da cidade litorânea de Axim quando era pequeno, possivelmente para ser vendido como
escravo, sendo levado a Amsterdã, para a corte do duque Anton Ulrich de Braunschweig-
Wolfenbüttel —visitada com frequência pelo polímata G. W. Leibniz (1646-1716).
Batizado em 1707, Amo recebeu educação de alto nível, aprendendo hebraico, grego,
latim, francês e alemão —e provavelmente sabia algo de sua língua materna, o nzema.
Tornou-se figura respeitada nos círculos acadêmicos. No livro de Carl Günther Ludovici
sobre o iluminista Christian Wolff (1679-1754) —seguidor de Leibniz e fundador de várias
disciplinas acadêmicas na Alemanha—, Amo é descrito como um dos wolffianos mais
proeminentes.
No prefácio a "Sobre a Impassividade da Mente Humana" (1734), de Amo, o reitor da
Universidade de Wittenberg, Johannes Gottfried Kraus, saúda o vasto conhecimento do
autor, situa sua contribuição ao iluminismo alemão em um contexto histórico e sublinha o
legado africano da Renascença europeia:
"Quando os mouros vindos da África atravessaram a Espanha, trouxeram com eles o
conhecimento dos pensadores da Antiguidade e deram muita assistência ao
desenvolvimento das letras que pouco a pouco emergiam das trevas".
O fato de essas palavras terem saído do coração da Alemanha na primavera de 1733
ajuda a lembrar que Amo não foi o único africano a alcançar o sucesso na Europa do
século 18.
Na mesma época, Abram Petrovich Gannibal (1696-1781), também sequestrado e levado
da África subsaariana, tornava-se general do czar Pedro, o Grande, da Rússia. O bisneto
de Gannibal se tornaria o poeta nacional da Rússia, Alexander Pushkin. E o escritor
francês Alexandre Dumas (1802-70) foi neto de uma africana escravizada e filho de um
general aristocrata negro nascido no Haiti.
Amo tampouco foi o único a levar diversidade e cosmopolitismo a Halle nas décadas de
1720 e 1730. Vários alunos judeus de grande talento estudaram na universidade. O
professor árabe Salomon Negri, de Damasco, e o indiano Soltan Gün Achmet, de
Ahmedabad, também passaram por lá.
CONTRA A ESCRAVIDÃO
Em sua tese, Amo escreveu explicitamente que havia outras teologias além da cristã,
incluindo entre elas a dos turcos e a dos "pagãos".
Ele discutiu essas questões na dissertação "Os Direitos dos Mouros na Europa", em 1729.
O trabalho não pode ser encontrado hoje, mas, no jornal semanal de Halle de novembro
de 1729, há um artigo curto sobre o debate público de Amo. Segundo esse texto, o ganês
apresentou argumentos contra a escravidão, aludindo ao direito romano, à tradição e à
razão.
Será que Amo promoveu a primeira disputa legal da Europa contra a escravidão?
Podemos pelo menos enxergar um argumento iluminista em favor do sufrágio universal,
como o que Yacob propusera cem anos antes. Mas essas visões não discriminatórias
parecem ter passado despercebidas dos pensadores principais do iluminismo no século
18.
David Hume (1711-76), por exemplo, escreveu: "Tendo a suspeitar que os negros, e todas
as outras espécies de homem em geral (pois existem quatro ou cinco tipos diferentes),
sejam naturalmente inferiores aos brancos". E acrescentou: "Nunca houve nação civilizada
de qualquer outra compleição senão a branca, nem indivíduo eminente em ação ou
especulação".
Kant levou adiante o argumento de Hume e enfatizou que a diferença fundamental entre
negros e brancos "parece ser tão grande em capacidade mental quanto na cor", antes de
concluir, no texto do curso de geografia física: "A humanidade alcançou sua maior
perfeição na raça dos brancos".
Na França, o mais célebre pensador iluminista, Voltaire (1694-1778), não só descreveu os
judeus em termos antissemitas, como quando escreveu que "todos eles nascem com
fanatismo desvairado em seus corações"; em seu ensaio sobre a história universal (1756),
ele afirmou que, se a inteligência dos africanos "não é de outra espécie que a nossa, é
muito inferior".
Como Locke, Voltaire investiu dinheiro no comércio de escravos.
CORPO E MENTE
A filosofia de Amo é mais teórica que a de Yacob, mas as duas compartilham uma visão
iluminista da razão, tratando todos os humanos como iguais.
Seu trabalho é profundamente engajado com as questões da época, como se vê em seu
livro mais conhecido, "Sobre a Impassividade da Mente Humana", construído com um
método de dedução lógica utilizando argumentos rígidos, aparentemente seguindo a linha
de sua dissertação jurídica anterior. Aqui ele trata do dualismo cartesiano, a ideia de que
existe uma diferença absoluta de substância entre a mente e o corpo.
Em alguns momentos Amo parece se opor a Descartes, como observa o filósofo
contemporâneo Kwasi Wiredu. Ele argumenta que Amo se opôs ao dualismo cartesiano
entre mente e corpo, favorecendo, em vez disso, a metafísica dos akan e o idioma nzema
de sua primeira infância, segundo os quais sentimos a dor com nossa carne ("honem"), e
não com a mente ("adwene").
Ao mesmo tempo, Amo diz que vai tanto defender quanto atacar a visão de Descartes de
que a alma (a mente) é capaz de agir e sofrer junto com o corpo. Ele escreve: "Em
resposta a essas palavras, pedimos cautela e discordamos: admitimos que a mente atua
junto com o corpo graças à mediação de uma união natural. Mas negamos que ela sofra
junto com o corpo".
Amo argumenta que as afirmações de Descartes sobre essas questões contrariam a visão
do próprio filósofo francês. Ele conclui sua tese dizendo que devemos evitar confundir as
coisas que fazem parte do corpo e da mente. Pois aquilo que opera na mente deve ser
atribuído apenas à mente.
Talvez a verdade seja o que o filósofo Justin E. H. Smith, da Universidade de Paris, aponta
em "Nature, Human Nature and Human Difference" (natureza, natureza humana e
diferença humana, 2015): "Longe de rejeitar o dualismo cartesiano, pelo contrário, Amo
propõe uma versão radicalizada dele".
Mas será possível que tanto Wiredu quanto Smith tenham razão? Por exemplo, será que a
filosofia akan tradicional e a língua nzema continham uma distinção cartesiana entre corpo
e mente mais precisa que a de Descartes, um modo de pensar que Amo então levou para
a filosofia europeia?
Talvez seja cedo demais para sabermos, já que uma edição crítica das obras de Amo
ainda aguarda ser publicada, possivelmente pela Oxford University Press.
COISA EM SI
No trabalho mais profundo de Amo, "Treatise on the Art of Philosophising Soberly and
Accurately" (tratado sobre a arte de filosofar com sobriedade e precisão, 1738), ele parece
antecipar Kant. O livro trata das intenções de nossa mente e das ações humanas como
sendo naturais, racionais ou de acordo com uma norma.
No primeiro capítulo, escrevendo em latim, Amo argumenta que "tudo é passível de ser
conhecido como objeto em si mesmo, ou como uma sensação, ou como uma operação da
mente".
Ele desenvolve em seguida, dizendo que "a cognição ocorre com a coisa em si" e
afirmando: "O aprendizado real é a cognição das coisas em si. E assim tem sua base na
certeza da coisa conhecida".
Seu texto original diz "omne cognoscibile aut res ipsa", usando a noção latina "res ipsa"
como "coisa em si".
Hoje Kant é conhecido por seu conceito da "coisa em si" ("das Ding an sich") em "Crítica
da Razão Pura" (1787) —e seu argumento de que não podemos conhecer a coisa além de
nossa representação mental dela.
Mas é fato sabido que essa não foi a primeira utilização do termo na filosofia iluminista.
Como diz o dicionário Merriam-Webster no verbete "coisa em si": "Primeira utilização
conhecida: 1739". Mesmo assim, isso foi dois anos depois de Amo ter entregue seu
trabalho principal em Wittenberg, em 1737.
À luz dos exemplos desses dois filósofos iluministas, Zera Yacob e Anton Amo, talvez seja
preciso repensarmos a Idade da Razão nas disciplinas da filosofia e da história das ideias.
Na disciplina da história, novos estudos comprovaram que a revolução mais bem-sucedida
a ter nascido das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade se deu no Haiti, não na
França. A Revolução Haitiana (1791-1804) e as ideias de Toussaint L'Ouverture
(1743""1803) abriram o caminho para a independência do país, sua nova Constituição e a
abolição da escravidão.
Em "Les Vengeurs du Nouveau Monde" (os vingadores do novo mundo, 2004), Laurent
Dubois conclui que os acontecimentos no Haiti foram "a expressão mais concreta da ideia
de que os direitos proclamados na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de
1789, eram de fato universais".
Nessa linha, podemos indagar se Yacob e Amo algum dia serão elevados à posição que
merecem entre os filósofos da Era das Luzes.
*
Este texto foi publicado originalmente no site Aeon.
DAG HERBJORNSRUD, 46, é historiador de ideias e fundador do SGOKI (Centro de
História Global e Comparativa de Ideias), em Oslo.
CLARA ALLAIN é tradutora.
FABIO ZIMBRES, 57, é quadrinista, designer e artista visual.

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