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Temas Gerais em Educação

Coletânea de artigos

Organização e Edição: Bruno Gerônymo Fellippe

Celiane dos Santos • Fabio Rogerio Nepomucemo •


Rafael Gonçalves Campolino • Roseli Alves Moreira da
Silva • Vilma Ribeiro da Silva

São Paulo
2018

Editorial Coletivo das Letras


Copyrigth © 2018 Autores

Todos os Direitos Reservados


Editorial Coletivo das Letras, 2018
Editor: Bruno G Fellippe
Edição, capa e Diagramação geral: Equipe técnica Editorial
Coletivo das Letras
Revisão: Os Autores (as)

CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


BIBLIOTECÁRIO RESPONSÁVEL: Lucas Rafael Pessota CRB-8/9632

F319t Fellippe, Bruno Gerônymo, org


Temas gerais em educação / organização Bruno
Gerônymo Fellippe. – São Paulo : Coletivo das
Letras, 2018.
46 p.

ISBN 978-85-90644-82-8

1. Educação I. Santos, Celiane dos. II.


Nepomucemo, Fabio Rogerio. III. Campolino,
Rafael
Gonçalves. IV. Silva, Roseli Alves Moreira da.
V.
Silva, Vilma Ribeiro da. VI. Título.

CDD
SUMÁRIO

JOGOS E PROTAGONISMO NA EDUCAÇÃO


INFANTIL, por Celiane dos Santos ................................. 6

INICIANDO UM DEBATE SOBRE GESTÃO ESCOLAR,


por Fabio Rogerio Nepomuceno 14

A JUSTIÇA EM ARISTÓTELES: UMA APROXIMAÇÃO


CONCEITUAL A PARTIR DACONCEPÇÃO DE
ESTUDANTES DE GESTÃO PÚBLICA, por Rafael, Roseli e
Vilma.............................................................................. 31
JOGOS E PROTAGONISMO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Celiane dos Santos

Ivan Cruz. Bafo Bafo. Dimensão: 0,90 X 1,30 m, 1998. Técnica:


A.S.T.

Temas Gerais de Educação


7|j o g o s e P r o t a g o n i s m o n a E d u c a ç ã o I n f a n t i l

Defesa teórica sobre a importância da brincadeira


no desenvolvimento infantil

Na educação o objetivo deve ser aproveitar o brincar e o


jogo, para despertar na criança o gosto pela vida, dar
oportunidades e fornecer possibilidades para que através das
brincadeiras elas interajam umas com as outras e com o
ambiente que as rodeiam.

A escola poderá proporcionar um desenvolvimento mais


saudável e que auxilie na aprendizagem e socialização de um
modo geral, só que nas escolas de educação infantil não há
espaço suficiente e adequado, também não tem material
diversificado e em quantidade para que as crianças brinquem
livremente.

De acordo com TIZUCO MORCHIDA KISHIMOTO, a


criança precisa de espaço para o seu desenvolvimento, e
conhece o mundo através de diferentes meios, músicas,
observação, brincadeiras, jogos, etc, aprende por meio de tudo o
que está a sua volta, tem um jeito próprio de ser que é só dela,
seja para entender o mundo que a cerca ou para investiga-lo.
Elas precisam de carinho, apoio e de confiança para que cresçam

em toda a sua plenitude e autonomia, se tornando um ser


completo em todos os sentidos.

Referindo-se a aprendizagem, o educador FRIEDICH


FROEBEL, afirmou que a criança traz consigo uma metodologia

Temas Gerais de Educação


8|C e l i a n e d o s S a n t o s

natural que as leva a aprender de acordo com seus interesses e


por meio de atividades práticas, com os sentidos e o contato que
eles criam com o mundo, ou seja, a criança aprende de acordo
com as suas necessidades individuais e em seu próprio ritmo.

Desde o nascimento temos contato com os brinquedos e


brincadeiras, mesmo antes de andar e falar, já estamos brincando
com alguma coisa que nos deram, e assim vamos nos
desenvolvendo fisicamente, emocionalmente e intelectualmente,
através de um aprendizado significativo e que ao mesmo tempo
faz parte do nosso cotidiano.

Segundo o educador Italiano Loris Mallaguzzi,

“as crianças aprendem interagindo com seu ambiente e


transformando ativamente seus relacionamentos com o mundo
dos adultos, das coisas, dos eventos e, de maneiras originais,
com seus pares. Em certo sentido, elas participam da construção
da própria identidade e da dos outros. Os conflitos construtivos
(resultantes do intercâmbio de ações, expectativas e idéias
diferentes) transformam a experiência cognitiva do indivíduo e
promovem aprendizagem e desenvolvimento”.

Temas Gerais de Educação


9|j o g o s e P r o t a g o n i s m o n a E d u c a ç ã o I n f a n t i l

Como a Criança se Desenvolve


O desenvolvimento da criança define-se como o conjunto de
competências por meio das quais a criança interage com o meio
que a rodeia, numa perspectiva dinâmica de acordo com a sua
idade e seu grau de maturação, os seus fatores biológicos e os
seus estímulos do ambiente. Os primeiros anos de vida são de
fundamental importância para um desenvolvimento saudável.

Segundo Harada (2006, on line),


“A criança em seus primeros anos de vida é extremamente frágil, sua
sobrevivência depende dos cuida dos recebidos de sua mãe ou
substituta. As primeiras experiências são fundamentais para que a
criança construa gradualmente uma imagem coerente de seu mundo.
Através da reciprocidade estabelecida nessa relação, a criança torna-
se capaz de transformar estímulos significativos”.

Se a criança tiver um ambiente saudável para se desenvolver,


consequentemente terá influências positivas para sua vida
futura.

A importância do brincar:

O Brincar é importante na vida das crianças para que elas


cresçam sem frustrações , adquirindo confiança em si mesma e
nos outros.

Temas Gerais de Educação


10 | C e l i a n e d o s S a n t o s

Para Vigotsky

“O brincar e o brinquedo preenche necessidades das crianças.


Estas necessidades estão ligadas a tudo aquilo que é movida a ação.
Através do brinquedo, o que na vida real passa despercebido pela
criança, torna-se agora uma regra de comportamento, que estão
presentes em todas as situações imaginadas, mesmo que de forma
oculta”.

O brincar na vida, no cotidiano da criança faz com que


ela seja mais extrovertida, desenvolvendo a sua intelectualidade,
curiosidade, criatividade, imaginação permitindo que ela se
expresse de maneira natural. Desenvolve sua identidade cultural,
social, religiosa, sua autoestima, desenvolve também os
movimentos, quando ela corre, pula, ou joga bola,
desenvolvendo assim a sua autonomia, pois a criança tende a ir
em busca daquilo que ela quer e deseja obter, sozinha, sem
precisar ou pedir ajuda. Assim a criança brinca de faz-de-conta,
imita o adulto, transformando tudo o que ela vivencia no seu dia-
a-dia, no seu cotidiano, em brincadeira.

Segundo Winnicott,

“O brincar é o modo pelo qual as crianças contatam e


experênciam o mundo, tanto interno quanto externo. É
brincando que elas se inserem socialmente, fazendo amigos e
inimigos, assumindo papéis e formando relações emocionais e,
assim como as artes e a religião, a brincadeira tende a
unificação e a interação da personalidade”.

Temas Gerais de Educação


11 | j o g o s e P r o t a g o n i s m o n a E d u c a ç ã o I n f a n t i l

A criança brinca o tempo todo, e é através do brincar que ela


aprende a se socializar, dá sentido as descobertas e busca a auto
realização. Experimentam o mundo como se fossem cientistas,
investigando tudo a sua volta. O professor deve saber trabalhar
com a diversidade, saber o contexto da criança, compreendendo,
conhecendo e reconhecendo o jeito particular de cada uma de
ser e estar no mundo, pois esta é a fase mais importante da vida
da criança e é onde a criança aprende a interagir com os demais.

De acordo com Euclides Redin (2004),

“brincar é essencial à saúde física, emocional e intelectual do


ser humano. Brincar é coisa séria, também, porque na
brincadeira não há trapaça há sinceridade de conhecer e
reinventar. E tudo isso desenvolve atenção, concentração e
muitas outras habilidades (...) no espaço criado pelo brincar
nessa aparente fantasia, acontece a expressão de realidade
interior que pode estar bloqueada pela necessidade de
ajustamento as expectativas sociais e familiares”.

Através dos jogos e brincadeiras as crianças vivenciam


sentimentos bons e maus, podendo entende-las e transforma-las
em linguagem simbólica. A espontaneidade das crianças
pequenas faz com que elas aprendem com maior facilidade,
internalizando o aprendizado adquirido e de maneira livre e
sincera.

Temas Gerais de Educação


12 | C e l i a n e d o s S a n t o s

Referências bibliográficas:

Texto: O Lúdico nos processos de desenvolvimento e


aprendizagem escolar (Lino de Macedo, Ana Lucia Sícoli Petty,
Norimar Christe Passos).

Livro Os Jogos E O Lúdico Na Aprendizagem Escolar, Editora


Artmed, Porto Alegre/RS, 2005.

Texto: Os Jogos E Sua Importância Na Escola, do Livro 4 Cores


Senha e Dominó, de (Lino de Macedo, Ana Lucia Sícoli Petty,
Norimar Christe Passos), São Paulo: Casa do Pscicólogo, 1997.

Referencial Curricular Nacional Infantil (Volume 1, 2 E 3)

Pcn’s

Revista Nova Escola.

Revista Direcional Educador ( Março 2009, Pag 6-11 Editora


Cortez, Entrevista – Tizuco Morchida Kishimoto – Brincar Pelo Bem
Das Crianças.

Temas Gerais de Educação


13 | j o g o s e P r o t a g o n i s m o n a E d u c a ç ã o I n f a n t i l

CELIANE DOS SANTOS

Temas Gerais de Educação


Iniciando um Debate Sobre Gestão Escolar1

Fabio Rogerio Nepomuceno

Diretor da EMEF Prof Luiz David Sobrinho

Introdução: Ser Diretor de Escola…

Após 14 anos de serviços no funcionalismo público, sempre


na área da educação, aceitei o desafio de ser diretor de escola.

O caminho que me trouxe aqui pareceu natural. Quase um


acaso. Nasci em 1976. Sempre estudei em escolas públicas,
tendo me formado inicialmente em Letras na FFLCH/USP em
2004. Prestei muitas provas, passei em algumas delas, após ser
jornaleiro por quase 2 anos e trabalhar 8 anos ocupando alguns
cargos e funções numa empresa de transporte, passei num
concurso público da Prefeitura de São Paulo e ingressei como
Auxiliar Técnico de Educação em 2003, trabalhando em
secretarias de duas escolas. Em 2006 assumi como professor de
língua portuguesa, em 2007 assumi a função designada de POIE
(professor orientador de informática educativa), cargo que
ocupei por 4 anos e onde aprendi muito sobre uso de tecnologias

1
Esse artigo adapta e complementa post de blog pessoal disponível em:
https://ekalafabio.wordpress.com/2017/12/24/serdiretor/ Acesso em 13/10/2018.

Temas Gerais de Educação


15 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

na escola e descobri o Programa Nas Ondas do Rádio2, o


conceito educomunicação3 e desenvolvi projetos de imprensa
jovem, rádio e jornal escolar. Interessado no tema, que intuí ser
um futuro possível para a educação de massa, cursei
especialização em Mídias na Educação da parceria MEC/E-
Proinfo com a ECA/USP e iniciei em 2011 uma segunda
graduação, no curso Licenciatura em Educomunicação também
da ECA/USP. Em diferentes momentos acumulei cargo, por ter
passado novamente no concurso para professor de língua
portuguesa; e duas vezes exonerei o segundo cargo.

Em 2013, por indicação do colega Marcelo Augusto dos Santos,


assumi novamente uma função designada, dessa vez de
Assistente Técnico de Educação atuando no setor de
Tecnologias (TIC) da DREPJ – Diretoria Regional de Educação
de Pirituba e por isso abandonei a graduação na ECA, dois anos
após iniciada. Por ser uma jornada J40 (40 horas semanais) essa
designação melhorou um pouco minha remuneração. Também
ocupei essa função por 4 anos, ajudando as escolas da região a
lidar com demandas administrativas, com destaque para o
Educacenso, a coleta de frequência do Bolsa Família e uso do
sistema EOL (Escola on Line); aprendi muito sobre uso de
tecnologias na administração escolar.

2
Recomendável consultar http://www.abpeducom.org.br/category/programa-
nas-ondas-do-radio/ Acesso em 13/10/2018.
3
Consultar https://pt.wikipedia.org/wiki/Educomunicação/ Acesso em
13/10/2018.

Temas Gerais de Educação


16 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

Nesse período, para me atualizar e ouvindo dicas de colegas da


DREPJ, fiz cursos parcialmente a distância de especialização em
Gestão Pública Municipal no polo UNICEU Pera Marmelo e
uma segunda graduação em Pedagogia, como complementação
para licenciados. Esse segundo curso me habilitou a prestar o
concurso para diretor de escola, em que fui aprovado.

Fiz uma carta me despedindo4 do setor TIC da DRE Pirituba


onde também contei um pouco do meu percurso. Agora estou
aqui. Desde o início de 2017 no cargo/função de Diretor de
Escola efetivo, dois anos neste 2018 em que escrevo esse artigo.
Na mesma época me tornei pai da linda Elisa, outro grande
desafio; mas preciso agora refletir sobre o que é ser diretor numa
escola pública municipal de periferia.

Expectativa

O que acontece quando um professor inovador, ou pelo


menos preocupado em buscar a inovação, resolve ser diretor de
escola? Ou ainda. O que acontece quando um “burocrata de
nível de rua”5, um quase técnico de informática num setor de
gestão intermediário, como é a DRE Pirituba – preocupado

4
Consultar a carta em https://ekalafabio.wordpress.com/2016/12/14/foi-bom-
despedida-do-setor-tic-da-dre-pirituba/ Acesso em 13/10/2018.

5
Sobre essa expressão, consultar:

https://revistaaskesis.files.wordpress.com/2014/07/04_dossie_askesis2014_tarcic3acc
281sioperdigac3acc692o.pdf Acesso em 13/10/2018.

Temas Gerais de Educação


17 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

sempre em ajudar as escolas públicas a atenderem bem seus


alunos, por quase acaso acaba sendo ele próprio um gestor
escolar em contato direto com alunos, professores e comunidade
de um escola que não conhecia?

Mais até. Um certo tempo pesquisei o conceito


educomunicação, na interface entre educação / comunicação e
continuo interessado nisso – mesmo diretor estou procurando
meios de fomentar atividades educomunicativas e sou associado
à ABPeducom - Associação Brasileira de Pesquisadores e
Profissionais em Educomunicação. Alguns me julgam
educomunicador, nome cunhado e possivelmente inventado por
Mario Kaplún.

O que acontece quando um educomunicador vira direção


escolar?

Me faço essa provocação pois às vezes me vejo como um


professor absolutamente comum, que ficou quatro anos longe da
sala de aula e se tornou um gestor inexperiente; mas muita gente
espera muito de mim. Altas expectativas.

Oportuno

Tive a grata oportunidade de não sair diretamente da sala de


aula para a gestão escolar, ao contrário da maioria dos meus
colegas. Minha experiência na DRE e o curso de gestão pública
municipal me prepararam pra esperar muita coisa. Mas nem
tudo.

Temas Gerais de Educação


18 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

A dinâmica diária da escola traz uma enormidade de


questões, que havia quase me esquecido atuando alguns anos
num órgão central, apenas com visitas ocasionais nas escolas.

Também tive a sorte de poder escolher uma escola com boa


condição estrutural, apesar de ser antiga e precisando de
reformas como a maioria dos equipamentos públicos; e
principalmente sem problemas documentais ou processos
administrativos. Os colegas da DRE, principalmente os
professores Lilian Maria Winner e Durval Barros Cavalcante,
me indicaram as melhores escolhas entre aquelas que sobraram
na minha vez de escolha (num concurso público a sequência de
escolha é de acordo com a ordem de classificação). Isso tornou
minha adaptação às novas responsabilidades relativamente fácil.
Mesmo assim… e exercitando uma paciência enorme…,
como qualquer novo diretor cheguei querendo fazer muitas
coisas. Fui cuidadoso ao máximo tentando manter a equipe
gestora que já estava na escola, Alexandre Tadeu Afonso,
Tereza Cristina Machado e Cintia Diniz Gomes (assistentes de
direção e secretária, cargos de confiança na secretaria
municipal de educação que posso escolher livremente, entre
aqueles habilitados), pensando que se necessário poderia fazer a
transição depois, sem pressa e sem quebrar a dinâmica da
escola.
Tive a sorte de contar com duas coordenadoras pedagógicas
boas, Rosana Costa e Juliana Quintino, eleitas pelo Conselho de
Escola, uma delas iniciando sua atividade naquele mesmo ano e

Temas Gerais de Educação


19 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

a outra apenas em seu segundo ano de atividade, mas desde do


início ambas demonstraram talento e dedicação.

Consegui manter a organização da escola e em alguns pontos


me esforcei para melhorar os processos. No entanto uma das
minhas metas, que era fomentar projetos de educação integral,
simplesmente fracassou. A escola hoje talvez tenha menos
projetos para atender alunos nos seus contraturno do que já teve
em anos anteriores e com poucos alunos participando. Uma
parte da culpa disso foi a terrível diminuição do projeto Mais
Educação federal e o baixo enfoque em educação integral na
gestão da Secretaria Municipal de Educação na época, mas o
principal motivo foi realmente a falta de professores com
disponibilidade de tempo.
No geral, um grande problema na escola é a falta de
profissionais, tanto professores quanto auxiliares, o que
atrapalha muito qualquer proposta de qualidade no atendimento.
Recentes chamadas de concursos públicos têm aos poucos
diminuído esse déficit, mas também temos muitos professores e
auxiliares em afastamento por licença médica.

Há também problemas visíveis de aprendizagem e vários


procedimentos pedagógicos que não são implementados por
todos ou precisam urgentemente melhorar muito.
Rotação

Meditando sobre essas dificuldades e também sobre tudo que


ainda é possível fazer nessa adversidade, pensei que a gestão
escolar pode ser analisada pelo viés de pelo menos quatro

Temas Gerais de Educação


20 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

(4) eixos: Concepção de Educação, Recursos Disponíveis,


Ousadia e Saúde.

Vou dissertar um pouco sobre cada ponto em separado, mas


pensei que cada um desses eixos poderia ter um segundo nome,
como uma visão alternativa para ajudar a entendê-los enquanto
conceitos. Esses nomes alternativos seriam: Ideologia da equipe
gestora, Parcerias, Precaução e Sorte.

1- Concepção de Educação / Ideologia da Equipe Gestora

É fácil dizer que não existe dois lados. Talvez existam


muitos. Mas em essência se dividem em dois e quem diz que
não tem lado geralmente está do lado do qual discordo. Meu
compromisso é com a esquerda: que compreendo como a
obrigação do Estado em ser representante do povo e se
preocupar com tudo relativo ao povo; o planejamento para cada
vez mais pessoas comuns participarem diretamente da gestão,
sem precisar delegar todas as decisões para um grupo
privilegiado; a necessidade de estar sempre engajado na luta
constante para promover e garantir cada vez mais igualdade
econômica e social.

Quem acha que a educação serve também para isso está do


meu lado. Mas nem sempre somos coerentes em nossos
pensamentos e na execução daquilo que nosso discurso diz ser o
mais correto. Há pessoas com discursos que considero lindos
que no final simplesmente fazem o serviço sujo do lado
contrário – desserviços à educação de qualidade.

Temas Gerais de Educação


21 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

Como já deve ter sido dito em algum lugar, a gestão escolar


é essencial para promover essa concepção em toda a escola;
orientar profissionais para trabalharem todos os dias com esse
horizonte: a qualidade da educação, que deve ser sim
transformadora; e se necessário fiscalizar e restringir a ação
daqueles que fazem o contrário disso – por sorte, uma minoria.
A educação é realmente a área que mais atrai profissionais
comprometidos com o compartilhamento do saber e a promoção
da igualdade.

Não há consenso sobre a melhor forma de alcançar os


melhores resultados. Espero aos poucos, pelo diálogo com
aqueles que sabem mais, ir formando uma visão consistente que
pode ter bons resultados e articular minha equipe nesse rumo.

2- Recursos Disponíveis / Parcerias

A maior parte das demandas da escola, principalmente


manutenção, insumos e materiais básicos, são tratadas
diretamente pela escola através de verba vinculada. Ou seja, a
escola recebe dinheiro para administrar. Em certa medida a
escola, ou melhor, a APM – Associação de Pais e Mestres,
funciona como uma empresa, com registro em cartório, conta
corrente corporativa, contador… Como se pode imaginar, isso é
bem complicado para quem tem formação para ser professor de
ensino fundamental. Além disso, nem sempre os recursos
monetários que recebemos são suficientes.

Temas Gerais de Educação


22 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

Falta também recursos humanos, é comum que a gestão e


até o quadro administrativo tenha que se desdobrar para atender
bem alunos, por falta de professores. Com frequência também
sofremos com falta de profissionais do administrativo. Falta no
sentido de não ter mesmo o profissional disponível para a vaga,
ou no sentido de absenteísmo pelos mais variados (justos,
compreensíveis ou incompreensíveis) motivos.

Sei de poucas escolas públicas que não sofram por essas


faltas de recursos e a minha não é exceção. Por isso mesmo a
escola sempre precisa de boas parcerias. Colegas que nos
visitem trazendo olhares diferentes e novas ideias. Prestadores
de serviço de qualidade que possuam preço justo, dentro dos
nossos orçamentos, e consultores que nos ajudem a usar os
recursos de forma transparente e correta. Muitas vezes
conseguimos na Diretoria Regional de Ensino – DRE essa
consultoria, outras vezes com colegas gestores de outras
unidades, inclusive através de consultas informais em grupos de
mensagens coletivas.

Os sindicatos também podem ser pontos de apoio


importantes, não apenas para reivindicar mais verbas e
melhorias nas condições de trabalho, mas também para orientar
ações imediatas no meio do furacão. Os programas de
estagiários Parceiros de Aprendizagem, Cefai (apoio à inclusão)
e Mais Alfabetização também trouxeram para dentro das escolas
estudantes para aprender, mas que acabam ajudando bastante.

Temas Gerais de Educação


23 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

O importante é sempre buscar e ter ajuda.

3- Ousadia / Precaução

É normal querer mudar tudo. Nós educadores, ou pelo menos


a maioria dos bons professores e professoras que conheço,
sentimos também que a escola precisa evoluir. Que é necessário
atualizar as formas de aprendizagens. Mas a escola, como é
hoje, mesmo com todos os problemas e com toda falta de
recursos, ainda funciona. Queremos o novo, mas percebi que ser
ousado e apressado demais seria temerário. Antes de mudar
algo, é preciso garantir que o sistema não entre em colapso.

Por tudo que contei aqui fica claro que fui precavido. Talvez
até demais. Mas o acerto dessa decisão me pareceu evidente
após um ano e meio na função. Ainda estamos construindo as
bases da educação e apesar da minha escola ter sido aberta em
1988 e ter alguns profissionais que já trabalham na unidade a
mais de 10 anos, ela ainda está construindo um perfil. A ousadia
e a inovação não devem e nem precisam ser uma quebra nessa
estrutura, já que ela ainda está em formação.

4- Saúde / Sorte

O termo sorte vem de algo que o colega diretor Antonio


Francisco de Paula Filho, conhecido como Tico, da EMEF
Ernani Silva Bruno, me disse quando soube que eu também me
tornaria diretor. É preciso muito preparo e muita dedicação para
fazer um bom trabalho, mas também é preciso um bocado de
sorte. Às vezes as coisas simplesmente não dão certo.

Temas Gerais de Educação


24 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

Mas a saúde, tanto do gestor quanto dos muitos profissionais


da escola, é parte dessa sorte. E zelar para evitar ao máximo
prejudicar a própria saúde e a saúde de todos na escola é algo
que sempre deve estar em mente. É preciso um nível de energia
e disposição, tanto física quanto mental, excepcional para
aguentar o tranco constante do trabalho na escola. Uma obra
difícil, pois envolve relações intensas com muitas pessoas muito
diferentes entre si. Em vários momentos vi colegas fraquejarem
e eu mesmo tive que usar toda força de vontade para me manter
firme, sem ceder às sombras que às vezes anuviam nossa visão,
sem ceder ao desânimo que às vezes nos faz pensar que nada
dará certo.

Não é verdade. Não deu tudo certo, mas muito coisa boa
aconteceu nesses dois anos e analiso esperançoso que os
processos estão avançando. No segundo ano os repasses de
verbas foram um pouco maiores do que era em 2016, permitindo
pequenas reformas e boas aquisições na escola e há previsão de
que as prestações de contas sejam simplificadas, o que deve
ampliar nosso poder de ação e diminuir o trabalho burocrático
da equipe gestora.

Alguns profissionais novos estão chegando na escola


mediante concursos, no segundo ano escolhi uma nova
Assistente de Direção, Rosana Reis, para me ajudar após a saída
/ aposentadoria da colega Tereza e agora que eu a equipe de
profissionais da escola nos conhecemos melhor podemos
planejar ações que preservem nossa saúde e permitam que a
escola realmente avance em sua função social de ensinar.

Temas Gerais de Educação


25 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

Nuances

Entremeados nesses EIXOS há algumas nuances da gestão


escolar (Inclusive pedagógica) que considero importantes e
merecem análise. Espero que gerem comentários que me ajudem
a pensar e quiçá possam ajudar outras pessoas. São esses os
eixos:

Curadoria
Zeladoria
Apoio (inclusive burocrático)
Liderança

Para um início de conversa, comento brevemente essas


nuances.

Curadoria

Ser diretor é estar atento a conteúdo. Em todos os sentidos.


Os cartazes na parede, as mensagens que a escola divulga em
suas paredes e nas páginas de redes sociais. O planejamento
pedagógico dos professores e projetos interdisciplinares. É
impossível, é verdade, olhar tudo.

Por isso é essencial a parceria com uma boa equipe de


coordenação pedagógica. Mas mesmos essa equipe será
insuficiente. Por isso é preciso sempre formar parceria e
estimular a liderança de professores referência.

Temas Gerais de Educação


26 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

Nem sempre o colega professor se vê como referência, mas


toda escola que conheci sempre tem vários. São eles que
movimentam a escola de uma forma que pode ir contra o fluxo
tradicional e previsível. Como comentei antes, escolher qual o
direcionamento desse fluxo é uma decisão ideológica, podendo
ir mais para esquerda ou fingir-se neutra.

Mas sempre será um lado. O importante é que o gestor não


tente inserir algo artificial à comunidade escolar, mas sim
valorize e estimule os movimentos que já são naturais do
espaço, vindo de seus professores e alunos.

Zeladoria

A escola é feita por alunos e professores. É o elemento


humano que a constitui de verdade. Mas escola também é um
prédio. É um terreno. É um lugar que precisa de cuidados,
manutenção, reformas, mudanças… Sempre. O planejamento
para garantir todos os insumos e equipamentos necessários para
a qualidade da educação precisa estar o tempo todo na mente do
gestor escolar.

Uma boa equipe de limpeza e manutenção, mesmo que


terceirizada como é atualmente, pode ser orientada para garantir
a conservação do espaço e evitar desperdício de recursos. Assim
como uma boa equipe administrativa, agentes escolares,
assistentes de direção, professores readaptados e auxiliares
técnicos, podem favorecer e orientar o bom uso dos materiais
pedagógicos.

Temas Gerais de Educação


27 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

Mas é o gestor escolar quem deve garantir que tudo isso


esteja disponível, seja usando as verbas de que a escola dispõe,
seja requisitando na Diretoria Regional. Andar pela escola o
tempo todo, olhar o que está acontecendo mas também olhar o
prédio é tarefa diária.

Apoio

Para tudo isso, é preciso apoio. Pedagógico inclusive, com


orientações da Secretaria Municipal de Educação e da Diretoria
Regional. Burocrático inclusive, recebendo orientação para não
perder os prazos de respostas a obrigações e pesquisas, sempre
apertados. E principalmente saber como responder melhor. Mas
na verdade a escola está o tempo todo recebendo apoios de
muitos lados. Às vezes é preciso selecionar aqueles que irão
apoiar sem atrapalhar e sem exigir nada em troca. Esse trabalho
de saber onde procurar ajuda e como ouvir de forma crítica os
conselhos e dicas é outra tarefa sensível para um bom gestor
escolar. Não é algo que se ensina, mas é algo que o gestor
precisa aprender e treinar sempre.

Liderança

Os termos diretor, diretora, gestor, gestora estão muito


impregnados de uma lógica corporativa empresarial, que não
contempla a complexidade do fazer na gestão escolar. Alguns
colegas acham que poderia ser um outro termo, difícil é definir
qual seria, já que coordenador já tem um uso específico na rede.

Temas Gerais de Educação


28 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

Como sugeri aqui, sim, também tem muito trabalho com


gerenciamento de recursos monetários e humanos. Mas o que
realmente faz uma gestão ser boa é a liderança.

Liderança das equipes em primeiro lugar. Mas sempre que


possível é necessário delegar essa liderança pros parceiros na
equipe administrativa, assistentes de direção, coordenação
pedagógica, secretária… Para que sobre tempo hábil para o
diretor ou diretora ser também, sempre que precisar, um líder
para seus professores e para seus alunos. É difícil, mas com o
tempo se descobre que não é necessário ter um talento
extraordinário de oratória ou ser um grande estrategista pra ser
um bom líder.

Basta ser aberto ao diálogo, ouvir sempre que necessário e


não ter medo de se posicionar, ter opinião e pedir,
educadamente, para as pessoas fazerem o que é melhor para
todos. Esses exercício precisamos fazer sempre e vai ficando
menos impossível com o tempo. Uma forma de liderar na escola
que tenho tentado é propor projetos interdisciplinares em
parceria com a coordenação, professores e alunos, sem obrigar e
sem separar. Os resultados têm sido muito interessantes e estão
divulgados nas páginas de redes sociais da minha escola.

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29 | I n i c i a n d o u m d e b a t e s o b r e G e s t ã o E s c o l a r

Esperando retornos

Em 2019 continuo firme aqui na escola que escolhi – EMEF


professor Luiz David Sobrinho. Agora com o desafio de
começar a desenvolver e implantar as minhas concepções de
educação com a ajuda da minha equipe.

Engraçado como a escola (instituição / espaço / coletivo) ao


mesmo tempo que nos cansa, também nos re-alimenta. Nesses
dois anos iniciais tive muito estímulo para virar um diretor
fechado e conservador. Na verdade comecei a entender aqueles
que são ou parecem ser assim. Mas encontrei também força e
ânimo para manter minhas convicções e continuar acreditando
que é possível fazer diferente e melhor. Um ano. Mas aconteceu
tanta coisa… E isso é só o começo.

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30 | F a b i o R o g e r i o N e p o m u c e n o

FABIO ROGERIO NEPOMUCENO

Professor de língua portuguesa. Professor orientador de


informática educativa. Atualmente diretor de escola na EMEF
Prof. Luiz David Sobrinho, bairro Jaraguá. Com experiência em
projetos de mídia educação e educomunicação. Funcionário
público da prefeitura de São Paulo desde 2003 atuou na
Diretoria Regional de Educação Pirituba Jaraguá no setor TIC,
tecnologias, entre 2013 e 2016. Primeira graduação em Letras
Linguística Língua Portguesa pela FFLCH-USP; Especialista
em mídias na educação pela E-Proinfo-UFPE e Gestão Pública
Municipal pela Uniceu-Unifesp.

Contato: diretor@escolaluizdavid.com

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A JUSTIÇA EM ARISTÓTELES: UMA
APROXIMAÇÃO CONCEITUAL A PARTIR
DACONCEPÇÃO DE ESTUDANTES DE GESTÃO
PÚBLICA6

Rafael Gonçalves Campolino


Vilma Ribeiro da Silva
Roseli Alves Moreira da Silva

INTRODUÇÃO

O Brasil está inserido no contexto das “grandes”


manifestações, nas quais os participantes conduzem bandeiras
com o pedido de justiça e frases de ordem, denunciando a
injustiça e o descaso no trato da coisa pública [res publica].

Tanto nos movimentos mais antigos, como a passeata dos


100 mil, de 1968; o movimento pelas diretas já, de 1984 e o
impeachment, de 1992, quanto os mais recentes, que são
observados diariamente no cenário político nacional e
internacional, o que se pode notar é a reinvindicação por justiça.
No entanto, tais reivindicações acabam por distorcer o seu real
conceito.

6
O resumo deste capítulo foi apresentado no XIII Seminário Nacional de
Políticas Educacionais e Currículo e II Seminário Internacional de Políticas
Públicas Educacionais, Cultura e Formação de Professores do Programa de
Pós-Graduação em Educação (PPGED) – Universidade Federal do Pará
(UFPA – Brasil) em novembro de 2017.

Temas Gerais de Educação


32 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

A realização desta pesquisa justifica-se devido à


possibilidade de oferecer uma visão, a partir da opinião dos
sujeitos participantes, sobre a compreensão conceitual da justiça,
partindo da leitura de Aristóteles e também pela relevância
social do tema e sua implicação na realidade formativa desses
sujeitos. Não constituiu objeto deste capítulo encontrar todas as
respostas e os caminhos conceituais relacionados à temática,
mas atingir com responsabilidade os objetivos estabelecidos.

Neste aspecto, a presente investigação teve por objetivo


conhecer o conceito de justiça dos estudantes que dela
participaram e, a partir disso, construir uma leitura reflexiva do
Livro V capítulo V do livro Ética a Nicômaco, de Aristóteles,
usando como plano de fundo a questão das manifestações
populares que ocorreram no Brasil recentemente. Buscou-se,
ainda, conhecer o perfil da população participante.

METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado na Faculdade Anhanguera de


Valparaíso de Goiás, mantida pela Kroton Educacional, em um
município limítrofe com o Distrito Federal (DF), capital do
Brasil.
Quanto aos meios, o estudo de caso surgiu como linha
mestra condutora da investigação devido ao fato de ser essa
forma de estudo particularística e estabelecer análise sobre
determinados “fenômenos contemporâneos dentro de um
contexto real” (YIN, 2001, p. 33), o que, de fato, culmina com
os objetivos aqui descritos (REIS, 2012).

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33 | R a f a e l , R o s e l i e V i l m a

Optou-se pela abordagem mista, quantitativa e qualitativa,


por meio da análise de conteúdo concebida por Bardin (2006,
2011), por se tratar de um método validado internacionalmente e
muito utilizado em pesquisas sociais (FLICK, 2004; MINAYO,
2001). A análise de conteúdo concebida por Bardin (2006) é
conhecida como um método híbrido que utiliza uma série de
técnicas de análise (BARDIN, 2006, p. 42).

Os sujeitos foram selecionados segundo os seguintes


critérios: estudantes do curso superior com campo de atuação
voltado para o setor público ou seus stakeholders; ter tido
contato com o componente curricular de ética e terem assinado o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Seguindo
tais critérios, os participantes foram aqueles vinculados ao curso
superior de Tecnologia em Gestão Pública, último período, do
turno noturno, do segundo semestre de 2016.

Devido à preocupação com a fidelidade dos achados da


pesquisa, foi calculado o tamanho mínimo da amostra e, para
tanto, foi estabelecida a amostra aleatória simples do tipo
probabilística, fato pelo qual todos os elementos da população
eleita aparecem com a mesma probabilidade de pertencerem à
amostra (MORETTIN & BUSSAB, 2010).

Seguindo os parâmetros, a população da pesquisa foi de 98


estudantes. O valor crítico representativo da variável normal
padronizada está associado ao grau de confiança da amostra,
valor este já conhecido pela sua frequência de uso comum
tabelado.

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34 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

Neste caso, foi definido um nível de confiança de 95% e


valor crítico correspondente de 1,96 e o erro amostral foi
estabelecido em 5%, gerando uma amostra mínima desejável de
79 estudantes (FONSECA & MARTINS, 2008) que foi
superada, tendo tido, efetivamente, a participação de 82
estudantes, dos quais todos responderam ao questionário
composto por cinco questões, sendo três destinadas a analisar o
perfil dos participantes e as outras duas, para investigar a
questão do conceito de justiça.

ALGUMAS DISCUSSÕES

Ética a Nicômaco e a questão da justiça

Aristóteles (384-322 a.C.), filho do médico Nicômaco, na


tenra idade, foi aluno de Platão, em Atenas e, posteriormente,
professor de Alexandre, o Grande. Foi “na Escola de Platão que
Aristóteles amadureceu e consolidou a própria vocação
filosófica, de modo definitivo, tanto que permaneceu na
academia por vinte bons anos, ou seja, enquanto Platão viveu”
(REALE & ANTISERI, 2003, p. 188), e onde produziu uma
significativa gama de conhecimentos.

No Livro V Capítulo V objeto da leitura, Aristóteles escreve


para Atenas, que vivia em uma democracia direta em que todos
participavam de forma coletiva, desde que tivessem a cidadania
grega, que, à época, era bastante elitista. O autor aborda a
questão da justiça, no sentido completo, com seus mais diversos
tipos e relações, oferecendo uma série de exemplos que

Temas Gerais de Educação


35 | R a f a e l , R o s e l i e V i l m a

facilitam o entendimento do leitor. Em 11 sessões, nesta obra ele


parte da indagação precisa a respeito de quais extremos o ato
justo (to dikaion) é considerado mediano. Estabelece-se o
conceito de justiça e injustiça, sendo o primeiro “o estado que
torna os indivíduos predispostos a realizar atos justos e que os
faz agir justamente e desejar aqueles atos”. Já o segundo
relaciona-se aos indivíduos predispostos a agir injustamente e
desejar atos injustos (ta adika) e, após tal estabelecimento,
apresenta um exemplo partindo do princípio das ciências e
faculdades. Conclui que o injusto é observado como o
“indivíduo” que não obedece às “leis” ou, mesmo, aquele que
quer mais do que “aquilo que lhe é devido” e o justo significa o
“legal e o igual ou equitativo”, que age dentro da legalidade em
comum acordo com a legislação vigente e que “produz e
preserva a felicidade e as partes componentes da comunidade
política” (ARISTÓTELES, 2014).

O autor finaliza a primeira parte citando uma frase,


supostamente atribuída a Teógnis, que afirma que “na justiça
está toda a virtude somada” (em de dikaiosyne syllebden pas
arete ni), sendo a justiça vista como disposição de caráter, em
que se aprende a desejar/fazer o justo como uma forma de
aplicação aos afazeres da coletividade e a virtude, nesse sentido,
é algo que pode ser aprendida e “não é uma parte da virtude,
mas a virtude total e a injustiça como a totalidade do vício”
(ARISTÓTELES, 2014, p. 183).

Temas Gerais de Educação


36 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

O autor estabelece a questão da equidade e do equitativo,


conceitos utilizados pelos juristas romanos, que mais tarde se
tornarm o fundamento de todo o direito. Para Aristóteles, a
equidade serve para atenuar os rigores da lei e o juiz a utiliza
para racionalizar e atenuar o rigor da legislação, dando
flexibilidade ao julgamento. Ele emprega a metáfora da régua de
plúmbea, ou régua de Lesbos, devido à sua capacidade de
estabelecer regras, de medir, mas também à sua capacidade
flexível de estabelecer as medidas, deixando claro que “justo e
equitativo são o mesmo, sendo ambos bons, ainda que o
equitativo seja o melhor” (ARISTOTELES, 2014, p. 211).

Resultados e Discussões

A proposta, nesta seção, centrou-se na apresentação dos


resultados e das discussões, a partir da aplicação dos
questionários. O perfil dos participantes revelou maior
frequência na faixa etária entre 21-24 anos e 25-30 anos de
idade, o equivalente a 67,07%, demonstrando ser uma população
jovem, sendo 53 do sexo feminino e 29 do sexo masculino.

Com relação à participação dos jovens no processo político,


entender o conceito de justiça e sua aplicabilidade é ter a certeza
de investimento com retorno garantido, vez que, se o jovem já
inicia sua vida política com capacidade de pensamento na
coletividade, é bastante provável que se terá uma população, no
futuro, com uma capacidade maior de pensar e refletir sobre os
diversos problemas no contexto mundial (GAUTHIER &
GRAVEL, 2003).

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37 | R a f a e l , R o s e l i e V i l m a

Foi verificado o período, em anos, que os estudantes levaram


para iniciar o ensino superior, o que evidenciou que a maioria
“demorou” entre 2 e 4 anos para retomar seus estudos, contra
apenas 8 (9,75%) que não tiveram interrupção. Chama a atenção
o fato de que 13,41% ficaram mais de sete anos fora do sistema
formal de ensino, fato constatado entre participantes do sexo
feminino.

A análise do conteúdo permitiu categorizar as respostas


conceituais dos participantes, sendo definidas as seguintes
palavras categóricas: direito, descrença e obrigação, conforme
demostrado na tabela 1.

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38 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

Tabela 1: Extrato do conceito de justiça para os sujeitos da


pesquisa.

Pergunta Categorização Principais respostas

É a forma de garantir direitos ao


homem./ É a forma de manter a salvo os
direitos das pessoas./ Vejo a justiça como
uma forma de salvaguardar os diretos dos
Direito homens./ A justiça é a forma com que o
Estado garante o direito dos cidadãos./
Em minha opinião, justiça é quando
somos atendidos nas nossas necessidades
sem pegar nada dos outros e temos a
consciência tranquila.
O que você
A palavra justiça me deixa um pouco
entende por desacreditado. Eu vejo muita coisa
justiça? injusta, mas, na verdade, eu acho que a
justiça está sempre do lado de quem tem
Descrença mais dinheiro, de quem tem mais poder./
Relação direta com a vontade de fazer a
coisa certa, uma obrigação enquanto
pessoa.

Para mim, tem relação direta com a


vontade de fazer a coisa certa, uma
Obrigação obrigação enquanto pessoa.

Fonte: Pesquisa de campo. Autor, 2016.

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39 | R a f a e l , R o s e l i e V i l m a

A partir dos dados da tabela 1, constata-se que os conceitos


dos estudantes encontram-se ligados ao fato de a justiça aparecer
como uma forma garantidora de direitos, como algo “fantástico
e maravilhoso”. No entanto, observou-se também que há certa
descrença quando o conceito é associado diretamente ao locus
em que os respondentes estão inseridos, o que demonstra um
conceito particular e vinculado às experiências que eles tiveram
ao longo da vida.

Apenas um respondente afirmou que o conceito de justiça


encontra “relação direta com a vontade de fazer a coisa certa,
uma obrigação enquanto pessoa”. Contudo, pode-se observar
que uso da palavra obrigação não nos parece ser em seu sentido
denotativo, vez que o participante deixa claro o desejo de fazer a
coisa certa, surgindo uma espécie de inadmissibilidade de coisa
errada ou, em outras palavras, da prática da injustiça.

Por mais que o conceito apareça como forma de produzir


igualdade, resgatou-se a resposta de um participante que assim
definiu: “eu vejo a justiça como algo maravilhoso, mas
infelizmente no nosso país ainda há muita injustiça, mas temos
visto a justiça se cumprir não só para os pobres, mas atualmente
eu vejo as pessoas ricas também sendo presos”. Esse argumento
deixa claro que, por mais que a injustiça exista em consideráveis
proporções no Brasil, há uma luz no fim do túnel, quando as
pessoas começam a depositar confiança na materialização da
justiça, uma vez que o papel do juiz “é como se fosse a justiça
dotada de alma” (ARISTÓTELES, 2014, p. 190).

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40 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

Com base nos dados analisados das respostas dos estudantes


pode-se observar que, na maioria das vezes, o conceito trazido
por eles já representa, mesmo que em partes, pontos
fundamentais do conceito concebido por Aristóteles, uma vez
que “a justiça é o bem alheio” e vincula-se às “virtudes morais”
(2014, p. 199-215).

POSSÍVEIS CONSIDERAÇÕES

Os ensinamentos de Aristóteles, no que se refere à


questão da justiça, como abordado no Livro V - Capítulo V,
relacionado a uma das partes da Ética a Nicômaco, trata-se de
uma incursão conceitual com aplicabilidade atual e
profundidade que desafia o entendimento com relação à
temporalidade dos escritos, pois demonstram uma preocupação
com os mais diversos problemas, visto que o conceito de justiça
cabe em todos os aspectos relacionados ao ser humano.

A presente investigação surgiu com os objetivos de conhecer


o conceito de justiça dos estudantes, sujeitos da pesquisa
possuem e, ainda, conhecer o perfil desses participantes. Nesse
aspecto, pode-se afirmar que os objetivos foram plenamente
atendidos e a visão do conceito, a partir de Aristóteles, trouxe
aos participantes uma abertura sobre novas formas de olhar a
questão da justiça e entender o seu campo de aplicabilidade.

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41 | R a f a e l , R o s e l i e V i l m a

Devido às limitações do estudo, seriam úteis e necessárias


mais investigações voltadas para esta temática, para que seja
possível realizar comparações com os resultados aqui
encontrados, oferecendo possibilidades de cruzamento com os
dados obtidos, possibilitando outros olhares sobre o assunto.

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42 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

REFERÊNCIAS

ARISTOTELES (384-322 a.C). Ética a Nicômaco. Trad. Edson


Bini – São Paulo: EDIPRO, 2014. (Série Clássicos Edipro).

BARBETTA, P. A. Estatísticas aplicadas às ciências sociais.


7ª ed. Florianópolis: FAPEU- UFSC, 2007.

BARDIN, Laurence. n lise de conte do. São Paulo: Ediç es


70, 2011.

BARDIN, Laurence. n lise de conte do. Lisboa: Ediç es 0,


2006.

FLICK, U. Triangulation in Qualitative Research. In: Flick,


U., E. V. Kardorff, e I. Steinke (eds.). A Companion to
Qualitative Research, Sage, 2005.

FONSECA, J.S.; MARTINS, G. A. Curso de Estatística. 6a ed.


São Paulo: Atlas, 2008.

GAUTHIER, M. GRAVEL, P. La participation des jeunes à


l’espace public au Québec, de l’associationnisme à la
mobilisation. IN GAUTHIER, M. (org.). La jeunesse au Québec.
2003. Montreal : Université Laval.

MORETTIN, P. A; BUSSAB, W.O. Estatística Básica. 6ª ed.


São Paulo: Saraiva, 2010.

MILONE, Giuseppe. Estatística Geral e Aplicada. São Paulo:


Pioneira Thomson Learning, 2004.

Temas Gerais de Educação


43 | R a f a e l , R o s e l i e V i l m a

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social:


teoria, método e criatividade. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da filosofia:


filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus. 2003. Disponível em:
http://faa.edu.br/portal/PDF/livros_eletronicos/psicologia/Histor
ia_da_Filosofia_Volume_1.pdf>. Acesso em 2 Set. 2016.

REIS, Linda G. Produção de monografia: da teoria à prática:


o Método Educar pela Pesquisa (MEP). 4. ed. Brasília:
SENAC-DF, 2012.

YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed.


Porto Alegre: Bookman, 2001.

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44 | A J u s t i ç a e m A r i s t ó t e l e s

AUTORES

Rafael Gonçalves Campolino


Mestre. Doutorando em Educação pela Univesidad Nacional del
Centro de la Provincia de Buenos Aires (Argentina) - Faculdad
de Ciencias Humanas – Programa de Doutoramento em
educação.
Contato: rafaelcampolino@yahoo.com.br
Rua General Rodríguez 471, Tandil - Província de Buenos Aires
Argentina – CEP: B7000

Vilma Ribeiro da Silva


Mestre. Doutorando em Educação pela Univesidad Nacional del
Centro de la Provincia de Buenos Aires (Argentina) - Faculdad
de Ciencias Humanas – Programa de Doutoramento em
educação.
Contato: vilmaribeiros@yahoo.com.br
Rua General Rodríguez 471, Tandil - Província de Buenos Aires
Argentina – CEP: B7000

Roseli Alves Moreira d a Silva


Mestre. Doutorando em Educação pela Univesidad Nacional del
Centro de la Provincia de Buenos Aires (Argentina) - Faculdad
de Ciencias Humanas – Programa de Doutoramento em
educação.
Contato: Rua General Rodríguez 471, Tandil - Província de
Buenos Aires Argentina – CEP: B7000

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