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PARTE I

Trauma

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Trauma: considerações gerais

em crianças e adultos jovens. O neurotrauma é o respon-


Introdução ............................................................................ 3
Epidemiologia do traumatismo craniencefálico .........................3
sável pela grande maioria desses casos. Apenas nos EUA,
Etiologia e mecanismos de lesão ................................................3 mais de dois milhões de pessoas por ano sofrem uma le-
Classificação do traumatismo craniencefálico ............................4 são cerebral traumática. Destas, 500.000 necessitam de
Imagem do traumatismo craniencefálico agudo ............... 4 tratamento hospitalar. Pelo menos 10 milhões de pessoas
Como realizar o exame? ..............................................................4 no mundo sofrem TCE anualmente.
Em quem e quando realizar o exame? .......................................5 De todos os pacientes com lesão craniencefálica, cer-
Imagem do trauma: pontos-chave para a interpretação .. 6 ca de 10% apresentam dano cerebral fatal, e um adicional
Imagem do topograma ................................................................7 de 5 a 10% terão déficits neurológicos permanentes im-
Janelas para parênquima cerebral ..............................................7 portantes. Uma porcentagem ainda maior terá déficits le-
Janelas subdurais..........................................................................8 ves (“traumatismo cerebral menor”), enquanto 20 a 40%
Tomografia computadorizada óssea ...........................................8
dos sobreviventes de TCE apresentarão incapacitação
Angiotomografia ..........................................................................9
moderada.

O trauma é uma das indicações mais frequentes para exa- Etiologia e mecanismos de lesão
mes de imagem neurológicos de emergência. Como os
O trauma pode ser causado por lesões relacionadas a
exames de imagem desempenham um papel fundamental
projéteis ou não. O primeiro grupo resulta da penetração
na triagem e conduta, começaremos este livro discutindo
no crânio, meninges, e/ou cérebro de um objeto externo,
o traumatismo craniencefálico (TCE).
como uma bala.
Iniciaremos com uma breve consideração sobre a
As lesões por traumatismo craniano fechado (TCF)
epidemiologia. O TCE é um problema de saúde pública
são muito mais comuns do que as lesões relacionadas a
mundial que tem grande impacto para o indivíduo e para a
projéteis. Acidentes automobilísticos em alta velocidade
sociedade. Os custos diretos com o tratamento médico dos
exercem importantes forças de aceleração/desaceleração,
pacientes com traumatismo agudo são enormes. Os custos
levando o cérebro a se mover subitamente dentro da ca-
indiretos relacionados à perda de produtividade e ao trata-
lota craniana. A impactação forçada do cérebro contra a
mento crônico dos sobreviventes são ainda maiores.
calvária inflexível e contra a dura-máter rígida leva à con-
Discutiremos brevemente a etiologia e os mecanis-
tusão giral. Rotação e mudanças súbitas no momento an-
mos do TCE. A compreensão das diferentes formas em
gular podem deformar, alongar e danificar axônios longos
que crânio e cérebro podem ser danificados fornece subsí-
vulneráveis, lesionando-os.
dios para o entendimento do espectro de achados de ima-
A etiologia do TCE também varia de acordo com a
gem que podem ser identificados.
faixa etária do paciente. De maneira geral, quase 30% dos
TCEs são causados por quedas, as quais são a principal
causa em crianças menores de 4 anos e em idosos maiores
Introdução de 75 anos. Ferimentos por arma de fogo são mais comuns
em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, mas
Epidemiologia do traumatismo craniencefálico relativamente raros em outros grupos. Acidentes de auto-
O trauma – às vezes chamado de “epidemia silenciosa” – móvel e atropelamentos ocorrem em todas as idades, sem
é a causa mundial mais comum de morte e incapacitação predileção por gênero.

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4 Trauma

Classificação do traumatismo craniencefálico (p. ex., RM). Técnicas que são relativamente novas in-
A classificação clínica mais utilizada em traumatismo ce- cluem perfusão por TC e RM, imagem do tensor da di-
rebral, a Escala de Coma de Glasgow (GCS), depende da fusão (DTI) e ressonância magnética funcional (RMf).
avaliação de três fatores: melhores respostas ocular, ver-
Radiografia craniana
bal e motora. Por meio da GCS, o TCE pode ser classifi-
cado como leve, moderado ou grave. Durante décadas, a radiografia craniana (antes chamada
O TCE também pode ser dividido cronologicamente de “radiografia simples” ou, mais recentemente, “radio-
e patoetiologicamente em lesão primária ou secundária – grafia digital”) foi a única técnica de imagem não invasiva
sistemática que foi utilizada neste texto. A lesão primária disponível para avaliação do TCE.
ocorre no momento do trauma inicial. Fraturas cranianas, As radiografias cranianas são razoavelmente efetivas
hematomas epi e subdurais, contusões, dano axonal e la- para identificar fraturas de calvária, mas não conseguem
cerações cerebrais são exemplos de lesões primárias. demonstrar a presença de hemorragias extra-axiais e de
lesões parenquimatosas, de longe mais importantes.
A lesão secundária ocorre em um momento poste-
Entre um quarto e um terço das autópsias dos pa-
rior e inclui edema cerebral, alterações de perfusão, her-
cientes com lesões craniencefálicas fatais não têm fratura
niações cerebrais e perda de líquido cerebrospinal (LCS).
identificável! Então, radiografias cranianas obtidas apenas
Embora as lesões vasculares possam ser imediatas (“ate-
com o propósito de identificar a presença de fraturas cra-
nuação” do impacto) ou secundárias (laceração de vasos
nianas não têm fundamento no manejo atual do paciente
por fraturas, oclusão secundária a herniações cerebrais),
com TCE. Com raras exceções, é o cérebro que importa
para fins de discussão foram incluídas no capítulo de le-
– não o crânio!
sões secundárias.
TC sem contraste
CLASSIFICAÇÃO DO TRAUMATISMO Hoje, a TC é mundialmente aceita como ferramenta de
CRANIENCEFÁLICO rastreamento no TCE agudo. Desde sua introdução, há 40
anos, a TC foi aos poucos substituindo a radiografia como
Efeitos primários exame de imagem de escolha. As razões são simples: a TC
● Lesões do escalpo e do crânio
● Hemorragia/hematomas extra-axiais
revela lesões tanto ósseas quanto em partes moles. Também
● Lesões parenquimatosas é um método de imagem acessível, rápido, efetivo e de bai-
● Miscelânea xo custo quando comparado a outros métodos de imagem.
Devem ser realizados cortes tomográficos (com 4 ou 5
Efeitos secundários mm de espessura), sem a injeção de contraste endovenoso,
● Síndromes de herniação
iniciando logo abaixo do forame magno até o vértex cra-
● Edema cerebral
● Isquemia cerebral
niano. São obtidas imagens utilizando-se algoritmos de re-
● Dano vascular (primário ou secundário) construção para parênquima cerebral e ósseo. A visualiza-
ção das imagens com janelas mais abertas (150 a 200 UH,
a chamada janela subdural) deve ser realizada no PACS
(ou filme, se o PACS não for disponível). A imagem do to-
pograma deve sempre fazer parte do estudo (ver adiante).
Imagem do traumatismo craniencefálico Já que o desenvolvimento tardio ou a progressão de
agudo hemorragias extra e intracranianas pode ocorrer nas pri-
meiras 24 a 36 horas após o evento traumático inicial, a
Exames de imagem são fundamentais no diagnóstico e TC deve ser repetida se houver declínio súbito e inexpli-
manejo do paciente com lesão traumática cerebral aguda. cável das condições clínicas do paciente, a despeito dos
Os objetivos da neuroimagem de urgência se desenvolvem achados de imagem iniciais.
em dois aspectos: (1) identificar lesões potencialmente tra-
táveis, sobretudo as que exigem tratamento de urgência, Angiotomografia e tomografia computadorizada
e (2) detectar e avaliar a presença de lesões secundárias com multidetectores
como síndromes de herniação e lesões vasculares. Devem ser realizadas imagens tanto do encéfalo quanto
da região cervical por meio de TC com multidetectores
Como realizar o exame? (TCMD), já que quase um terço dos pacientes com TCE
Diversas modalidades de exames de imagem podem ser moderado a grave têm lesões da coluna cervical em asso-
utilizadas para avaliar os pacientes com TCE, as quais ciação. Devem ser realizados algoritmos de reconstrução
incluem desde técnicas ultrapassadas (i.e., radiografias para osso e partes moles, bem como reformatações multi-
de crânio) até exames muitos sensíveis, porém caros planares da coluna cervical.

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Trauma: considerações gerais 5

Com frequência a angiotomografia (ATC) faz parte Na tentativa de reduzir a utilização desenfreada da
do protocolo de trauma do corpo todo. A ATC craniocer- TC nas emergências, algumas organizações desenvolve-
vical deve ser especificamente considerada (1) no trau- ram critérios clínicos que ajudam a separar os pacientes
ma penetrante de pescoço, (2) se uma fratura de forame de “alto risco” dos de “baixo risco”. (Alguns desses cri-
transverso ou subluxação facetária é identificada na TC térios estão especificados nos quadros a seguir.) Contudo,
de coluna cervical, ou (3) se uma fratura de base de crânio o impacto no comportamento dos médicos emergencistas
compromete o canal carotídeo ou um seio venoso dural. ao solicitar exames tem sido inconsistente. Em locais com
Laceração ou dissecção arterial, pseudoaneurisma trau- altas taxas de má prática, muitos médicos emergencistas
mático, fístula carótido-cavernosa ou lesão de seio venoso solicitam TC sem contraste de rotina em todos os pacien-
dural são bem demonstrados na ATC de alta resolução. tes com TCE, a despeito do escore da GCS ou dos acha-
dos clínicos.
RM A decisão de realizar ou não – e quando realizar –
Há um consenso de que a TC sem contraste é o exame de es- exames de imagem de controle em pacientes com trauma-
colha para a avaliação inicial do TCE. Com uma importante tismo também é controversa. Em um grande estudo que
exceção – suspeita de maus-tratos –, o uso da RM como avaliou crianças com escore na GCS de 14 ou 15 e com
exame de rotina para rastreamento no âmbito do trauma uma TC inicial normal, apenas 2% prosseguiram com TC
agudo é incomum. A RM convencional associada a novas ou RM de controle. Destas, apenas 0,05% apresentaram
técnicas tais como a DTI é mais útil nos estágios subagudo resultados anormais no exame de controle, e em nenhu-
e crônico do TCE. Outras modalidades, a exemplo da RMf, ma delas foi necessária intervenção cirúrgica. O valor
estão desempenhando um papel cada vez mais importante preditivo negativo para intervenção neurocirúrgica para
na detecção de alterações sutis, especialmente em pacientes uma criança com GCS inicial de 14 ou 15 e TC normal
com déficits cognitivos leves após um TCE leve. foi 100%. A partir desses dados, os autores concluíram
que crianças com um escore na GCS de 14 ou 15 e uma
Em quem e quando realizar o exame? TC inicial normal têm risco muito baixo para posteriores
achados de neuroimagem relacionados ao traumatismo e
A resposta para essa pergunta é paradoxalmente ao mes-
baixo risco extremo para intervenção cirúrgica. A hospi-
mo tempo bem estabelecida e controversa. Pacientes com
talização de crianças com trauma craniano leve para ob-
um escore na GCS que indica prejuízo neurológico mode-
servação, após um resultado normal na TC, é considerada
rado (GCS = 9 a 12) ou grave (GCS ≤ 8) invariavelmente
desnecessária.
realizam exames de imagem. As divergências ocorrem em
qual seria o melhor manejo para pacientes com escore na Diretrizes
GCS de 13 a 15.
Foram publicadas três maiores e mais largamente utiliza-
das Diretrizes para a Imagem no Traumatismo Cranience-
ESCALA DE COMA DE GLASGOW fálico Agudo: as Diretrizes do American College of Ra-
diology (ACR), os Critérios de Nova Orleans (NOC) e a
Melhor resposta ocular (máximo = 4)
● 1 = ausente
Regra Canadense de TC do Crânio (CHCR).
● 2 = abertura ocular a estímulos dolorosos CRITÉRIOS DO ACR. A TC sem contraste de urgência em TCF
● 3 = abertura ocular ao comando verbal
leve com a presença de um déficit neurológico focal e/ou
● 4 = espontânea
outros fatores de risco é considerada muito recomendada,
Melhor resposta verbal (máximo = 5) assim como o exame de imagem em toda criança trau-
● 1 = ausente
matizada com menos de 2 anos de idade. Embora a TC
● 2 = sons incompreensíveis
sem contraste em paciente com TCF leve (GCS ≥ 13) sem
● 3 = palavras inapropriadas
● 4 = confuso
fatores de risco ou déficit neurológico focal tenha poucos
● 5 = orientado benefícios, o ACR ainda o classifica como 7 de 9 na indi-
cação do método.
Melhor resposta motora (máximo = 6)
● 1 = ausente NOC E CHCR. Tanto os Critérios de Nova Orleans como
● 2 = extensão à dor a Regra Canadense de TC do Crânio tentam triar pa-
● 3 = flexão à dor cientes com lesões craniencefálicas mínimas/leves em
● 4 = retirada à dor
uma maneira custo-efetiva. Um escore na GCS de 15
● 5 = localiza a dor
(i.e., normal) na ausência de quaisquer indicadores do
● 6 = obedece a comandos
NOC é um preditor negativo altamente sensível para le-
Soma = “escore do coma” e classificação clínica são cerebral importante ou necessidade de intervenção
● 13 a 15 = lesão cerebral leve
● 9 a 12 = lesão cerebral moderada
cirúrgica.
● ≤ 8 = lesão cerebral grave

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A B
1-1A Corte axial de TC sem contraste de um preso, realizada por trau- 1-1B Topograma do mesmo caso mostrando um corpo estranho 4
ma, não demonstrando alterações grosseiras. (a chave das algemas) na boca do preso. Ele fingiu o trauma e estava
planejando escapar, mas o radiologista alertou os guardas, que impedi-
ram a fuga. (Cortesia de J. A. Junker, MD.)

CRITÉRIOS DE NOVA ORLEANS EM LESÕES REGRA CANADENSE DE TC DO CRÂNIO EM LESÕES


CRANIENCEFÁLICAS LEVES CRANIENCEFÁLICAS LEVES
A TC está indicada se GCS = 15 além de quaisquer dos TC se GCS = 13 a 15 e perda da consciência presenciada,
seguintes achados: amnésia ou confusão
● Cefaleia
Alto risco para intervenção neurocirúrgica
● Vômitos ● GCS < 15 em 2 horas
● Paciente > 60 anos ● Suspeita de fratura craniana aberta ou com
● Intoxicação (drogas, álcool)
afundamento
● Déficit de memória a curto prazo (amnésia ● Sinais clínicos de fratura de base de crânio
anterógrada) ● ≥ 2 episódios de vômitos
● Trauma visível acima das clavículas ● Idade ≥ 65 anos
● Convulsões
Risco moderado para lesão cerebral detectada pela TC
Adaptado de Stiell IG et al: Comparison of the Canadian CT ● Amnésia anterógrada ≥ 30 minutos
head rule and the New Orleans criteria in patients with minor ● Mecanismo de trauma de alto risco (i.e.,
head injury. JAMA 294 (12): 1511-1518, 2005
atropelamento, ejeção do veículo, etc.)
Adaptado de Stiell IG et al: Comparison of the Canadian CT
De acordo com a CHCR, pacientes com um escore na head rule and the New Orleans criteria in patients with minor
GCS de 13 a 15 e com perda da consciência presenciada head injury. JAMA 294 (12): 1511-1518, 2005
por terceiros, amnésia ou confusão necessitam de exames
de imagem, assim como aqueles considerados de “alto ris-
co” para intervenção neurocirúrgica ou de “médio risco”
para lesão cerebral. Imagem do trauma: pontos-chave
Entre 6 e 7% dos pacientes com TCE leve têm al-
terações na TC. A maioria também apresenta cefaleia,
para a interpretação
vômitos, intoxicação por drogas ou álcool, convulsões, Quatro componentes são essenciais para a interpretação
déficits de memória recente ou evidência clínica de acurada dos exames de TC em pacientes com TCE: a ima-
trauma acima do nível das clavículas. A TC deve ser gem do topograma, somada às visualizações do parênquima
utilizada sem restrições nesses casos, bem como em pa- cerebral, às estruturas ósseas e ao espaço subdural na TC
cientes acima de 60 anos e em crianças menores de 2 sem contraste. Informações de extrema importância podem
anos de idade. estar presentes em qualquer um desses quatro componentes.

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Trauma: considerações gerais 7

A B
1-2A TC sem contraste em janelas-padrão para parênquima cerebral 1-2B Janela intermediária (175 UH) demonstrando a presença de um
(80 UH) não mostrando nenhuma anormalidade definida. pequeno hematoma subdural 2. Hematomas subdurais de pequena
espessura podem ser visíveis apenas com janelas mais abertas.

Sugestões de como analisar as imagens de TC sem onde o sangue se deposita quando o paciente está em de-
contraste em pacientes com lesão traumática craniencefá- cúbito dorsal.
lica aguda estão demonstradas a seguir. Qualquer hipodensidade no interior de uma coleção
extra-axial deve considerar a possibilidade de sangramen-
Imagem do topograma to ativo com acúmulo de sangue não coagulado (espe-
cialmente em alcoolistas ou em pacientes idosos) ou uma
Antes de iniciar a análise dos cortes tomográficos, exami-
coagulopatia subjacente. Este é um achado que indica ur-
ne a imagem do topograma! Procure por anormalidades
gência e notificação imediata do clínico responsável.
da coluna cervical tais como fraturas ou luxações, trauma
Procure por ar intracraniano (“pneumoencéfalo”).
de mandíbula e/ou facial e a presença de corpo estranho
Esse achado sempre é anormal e indica a presença de
(Fig. 1-1). Caso exista uma suspeita de fratura ou desali-
uma fratura que trespassa ou uma cavidade paranasal ou
nhamento da coluna cervical, uma TCMD da coluna cer-
a mastoide.
vical deve ser realizada antes que o paciente seja retirado
Agora siga com o parênquima cerebral. Cuidadosa-
do aparelho.
mente examine o córtex, em especial as áreas de maior
risco para contusões corticais (aspecto anteroinferior dos
Janelas para parênquima cerebral lobos frontais e temporais). Se houver um hematoma no
Direcione a interpretação do exterior para o interior com escalpo devido ao impacto (lesão de “golpe”), procure por
atenção e metodologia. Primeiro avalie as partes moles, uma clássica lesão de “contragolpe” a 180 graus na direção
começando pelo escalpo. Procure por aumentos de vo- oposta. Áreas hipodensas na periferia de focos hiperdensos
lume, os quais frequentemente indicam o ponto de im- hemorrágicos indicam edema precoce e contusão grave.
pacto do trauma. Com cuidado, examine as partes moles Siga um pouco mais para o interior, do córtex para a
periorbitais. substância branca subcortical e substância cinzenta pro-
A seguir, procure por sangramento extra-axial, cuja funda. As hemorragias petequiais frequentemente acom-
forma mais comum é a hemorragia subaracnóidea trau- panham dano axonal difuso. As hemorragias subcorticais
mática (HSAt), seguida de hematomas sub e epidurais. vistas na TC sem contraste inicial são a “ponta do ice-
A prevalência de HSAt no TCE moderado a grave é pró- berg.” Em geral, há muito mais dano do que aparenta o
xima de 100%. Ela é comumente encontrada nos sulcos primeiro exame. Uma regra diz: quanto mais profunda é a
adjacentes às contusões cerebrais, ao longo das fissuras lesão, mais grave é o dano.
silvianas, circundando os lobos temporais e as porções Finalmente, procure no interior dos ventrículos por
anteroinferiores dos lobos frontais. O melhor local para níveis LCS-hemáticos e por hemorragia em decorrência
procurar por HSAt sutil é a cisterna interpeduncular, de lesão por cisalhamento do plexo coroide.

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Janelas subdurais Procure por fraturas na base do crânio envolvendo o es-


Procure nas aquisições com filtro para tecidos moles fa- fenoide que comprometam o canal carotídeo, fraturas do
zendo uso de janelas fechadas (“parênquima cerebral”) e osso temporal (com ou sem luxação da cadeia ossicular),
intermediárias (“subdural”) (Fig. 1-2). Hematomas sub- luxação mandibular (fossa condilar “vazia”) e fraturas da
calvária. E lembre-se: fraturas cranianas sem deslocamen-
durais pequenos e sutis podem por vezes passar desperce-
to que não envolvem estruturas vasculares (tais como um
bidos em janelas-padrão fechadas (75 a 100 UH). Porém,
seio venoso dural ou a artéria meníngea média) são por si
são prontamente identificados quando janelas mais aber-
só insignificantes. O que importa é o cérebro e os vasos
tas (150 a 200 UH) são utilizadas.
sanguíneos!
O principal dilema é decidir se uma imagem lucente é
Tomografia computadorizada óssea uma fratura ou uma estrutura anatômica normal (p. ex., li-
A tomografia computadorizada óssea se refere a um al- nhas de sutura e canais vasculares). Lembre-se: praticamen-
goritmo de reconstrução para osso visualizada com ja- te não se tem descrição de fraturas de calvária na ausência
nelas abertas (janela óssea). Se não for possível realizar de lesão de partes moles associadas. Se não houver aumen-
um algoritmo de reconstrução para osso de sua base de to de partes moles, é improvável que a imagem radiolucente
dados, amplie as janelas e use ferramentas de realce de represente uma linha de fratura sem deslocamento.
bordas para melhorar a definição da imagem. A exibição Imagens de TC com janela óssea também são muito
da superfície sombreada em três dimensões (imagem de úteis para distinguir a densidade baixa do ar em relação à
reconstrução em 3D) é especialmente boa para demons- gordura. Embora nas imagens de TC com janela óssea a
trar fraturas complexas (Fig. 1-3). gordura se torne imperceptível e o ar permaneça muito hi-
Embora exames tomográficos convencionais sejam podenso, a maioria das estações de PACS possui a função
realizados com 4 ou 5 mm de espessura, com frequên- de região de interesse (ROI) que pode prontamente medir
cia é possível a detecção de fraturas com a janela óssea. a atenuação de determinada área.

1-3A TC óssea em um menino


de 3 anos de idade com trauma
grave mostrando múltiplas fra-
turas lineares na base do crânio.
Fratura através do osso occipital
à direita 4 penetrando o fora-
me jugular. Há uma importante
fratura com diástase através da
sincondrose esfenoccipital 2.
1-3B Corte mais caudal mos-
trando fratura transversa do osso
temporal 2, diástase da sutura
lambdoide direita 4 e extenso
pneumoencéfalo 6.

A B

1-3C Imagem de reconstrução


em 3D da calvária mostrando di-
ástase da sutura lambdoide 3,
fraturas temporal e parietal com
importante diástase 1.
1-3D ESS 3D da base do crânio
demonstrando diástase esfenoc-
cipital 1 e da sutura occipito-
mastóidea 4.

C D

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Trauma: considerações gerais 9

TC NO TRAUMATISMO CRANIENCEFÁLICO: Janelas subdurais


CHECKLIST ● 150 a 200 UH (para HSs finos subcranianos)

Topograma TC óssea
● Procurar por ● Algoritmo de reconstrução para osso > janela óssea
○ Fraturas-luxações da coluna cervical ● Alguma das fraturas atravessa um canal vascular?
○ Luxações de mandíbula, fraturas faciais
○ Corpo estranho

Janelas para parênquima cerebral


Angiotomografia
● Aumento de partes moles no escalpo (ponto de A angiotomografia (ATC) geralmente é indicada se (1)
impacto) fraturas da base do crânio atravessam o canal carotídeo ou
● Hematomas extra-axiais (hipodensidade focal no um seio venoso dural, (2) se uma fratura-luxação está pre-
interior do coágulo sugere sangramento ativo) sente, sobretudo se um forame transverso estiver envolvi-
○ Hematoma epidural
do ou (3) se o paciente apresentar sintomas de isquemia
○ Hematoma subdural (HS)
cerebral ou piora clínica inexplicada. O sistema vascular
○ Hemorragia subaracnóidea traumática
● Pneumoencéfalo
tanto cervical quanto intracraniano deve ser estudado.
● Contusão cortical
Mesmo que seja importante analisar a circulação ve-
○ Porção anteroinferior dos lobos frontais e temporais nosa e arterial, uma ATC em geral é suficiente. Uma ATC
○ Laceração do escalpo no lado oposto/fratura craniana convencional normalmente mostra bem as artérias e os
● Dano axonal hemorrágico seios venosos durais, enquanto uma venografia por tomo-
● Hemorragia intraventricular grafia (VTC) com frequência não consegue demonstrar a
fase arterial.

1-3E Janela para tecidos moles


do mesmo paciente demons-
trando extenso pneumoencéfalo
6. A fratura occipitomastóidea
4 é vista adjacente ao ar, que
parece delinear o seio sigmoide
deslocado 2.
1-3F Cranialmente, a TC sem
contraste mostra edema cerebral
difuso com obliteração de todas
as cisternas basais. Observe o
pneumoencéfalo 6 e a hemor-
ragia subaracnóidea traumática
2.

E F

1-3G A ATC foi obtida em


razão de múltiplas fraturas na
base do crânio. Uma delas apa-
rentemente atravessa o forame
jugular direito. O seio sigmoide
2 está intacto, porém deslo-
cado medialmente. Extenso san-
gramento no escalpo é notável,
como se pode perceber pelo rá-
pido aumento dos tecidos moles
extracranianos 4 comparativa-
mente ao exame de ATC obtido
poucos minutos antes.
1-3H Corte mais cranial de-
monstrando vasto hematoma
subgaleal 2.

G H

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10 Trauma

Examine as imagens-fonte, bem como as reconstru-


ções multiplanares e as imagens com técnica de projeções Referências selecionadas
de máxima intensidade (MIP). Dissecção traumática, ● Holmes JF et al: Do children with blunt head trauma and
lacerações de vasos, flaps intimais, pseudoaneurismas, normal cranial computed tomography scan results require
fístulas carótido-cavernosas e oclusões dos seios durais hospitalization for neurologic observation? Ann Emerg Med.
geralmente são identificados na ATC. 58(4):315-22, 2011
● Gean AD et al: Head trauma. Neuroimaging Clin N Am.
20(4):527-56, 2010
● Stiell IG et al: Comparison of the Canadian CT Head Rule
and the New Orleans Criteria in patients with minor head
injury. JAMA. 294(12):1511-8, 2005

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