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Universidade Federal de Roraima


Centro de Comunicação Social, Letras e Artes
Trabalho de Conclusão de Curso

DEFASAGEM DO PISO SALARIAL DOS


JORNALISTAS DE RORAIMA

Orientanda: Rebeca de Alencar Silva


Orientador: Maurício Zouein

Boa Vista-RR
2011
2

REBECA DE ALENCAR SILVA

DEFASAGEM DO PISO SALARIAL DOS JORNALISTAS DE RORAIMA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Comunicação
Social/Jornalismo da Universidade Federal
de Roraima (UFRR), como requisito parcial
para obtenção do Título de Bacharel em
Comunicação Social.

Orientador: Msc. Maurício Zouein

Boa Vista
2011
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Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Departamento de Comunicação Social


de autoria de Rebeca de Alencar Silva, intitulada de “DEFASAGEM DO PISO SALARIAL
DOS JORNALISTAS DE RORAIMA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do
grau de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, da Universidade
Federal de Roraima, em 14 de agosto de 2011, defendida e aprovada pela banca examinadora
abaixo:

___________________________________________________
Prof. MSc. Maurício Zoueim
Orientador
Comunicação Social - UFRR

____________________________________________________
Prof. Andrezza Mariot
Comunicação Social – UFRR

_____________________________________________________
Prof. MSc. Antônia Costa
Comunicação Social - UNAERP

Boa Vista - RR
2011
4

Dedico à minha mãe por sua coragem,


sabedoria e bondade. Dedico também aos que,
de alguma forma, me motivaram e a todos que
acreditam no meu potencial.
5

AGRADECIMENTO

A Deus, por ter me dado sabedoria.


À Eli Macuxi, por me mostrar que compromisso é fundamental.
Vavá e Maria José, professores que marcaram minha vida.
Ao Zequinha Neto, responsável pela minha evolução na vida acadêmica.
À professora Vângela Morais, por ser tão dedicada.
À professora Antônia Costa, pela paciência.
À professora Andrezza Mariot, por aceitar a fazer parte da minha banca.
Ao professor Taylor Nunes, pela ajuda.
Ao professor Maurício Zouein, meu orientador.
Ao jornalista Wirismar Ramos, pela ajuda nas pesquisas.
Ao Presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais de Roraima, Gilvan Costa, por estar
sempre disposto a cooperar com a pesquisa.
Aos acadêmicos Ádria Albarado, Anderson Caldas, Cristian Cruz, Déborah Machado,
Deniane Bezerra, Marcelo Marques, Patrícia Sifuentes, Rodolfo Magno e Yanna Lima, por
contribuírem com as entrevistas do projeto experimental.
Aos jornalistas Marcone Lázaro, Rebeca Lopes e Shirleide Vasconcelos.
À professora Sandra Gomes, pela ajuda.
À amiga Francisca de Andrade pela imensa ajuda e por quase sempre está disposta a me
atender.
À Dona Eulina Vasconcelos, que sempre esteve disposta a me atender.
6

“Acredito no idealismo e nos idealistas, mas


não vejo um há muito tempo”.
Bob Dylan
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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) aborda a importância de um piso digno e


justo aos profissionais da comunicação em Roraima. A discussão teórica ampara-se em uma
abordagem exploratória para demonstrar a origem das lutas por melhores condições de
trabalho e pelo pagamento justo da mão de obra dos assalariados com o objetivo de
demonstrar a natureza do problema e sugerir soluções. O trabalho inicia com uma pesquisa
sobre a origem dos sindicatos até as associações de jornalistas e sindicatos no país e em
Roraima. O projeto fundamenta-se na metodologia da entrevista em profundidade. Para isso
foram entrevistados pouco mais de 20 personagens, quantidade mínima exigida para a
utilização do método. No terceiro capítulo, é apresentado o projeto experimental. Para o
projeto foi elaborado uma matéria de rádio sobre a defasagem do piso salarial dos jornalistas
em Roraima. Dos 20 entrevistados, foram selecionados três para a matéria. Os entrevistados
falaram sobre a falta de engajamento sindical, dificuldades de conseguir reajuste e sobre as
alternativas adotadas pela maioria dos profissionais que desejam viver de jornalismo. O
material foi incluso na programação da Rádio Roraima.

Palavras-chave: Jornalismo; Piso salarial; Sindicato; Roraima.


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ABSTRACT

This work of course conclusion approaches the importance of a worthy and righteous
salary bottom line for the professionals of communications in Roraima. The theoretical
discussion is sheltered in an explanatory approach to demonstrate the origin of the struggles
for better conditions of work and for the righteous payment of the professionals with the aim
of presenting the nature of the issue and offer solutions. The work begins with a research on
the origin of the unions and the journalists associations and syndicates all around the country
as well as in Roraima. The project is based on the methodology deep interviews. In that
regard there were over twenty personages interviewed, which is the minimum quantity
demanded for the use of the method. In the third chapter, the experimental project is
presented. A radio article was elaborated covering the salary loss of the journalist in Roraima.
From among the 20 interviewed three were selected for the issue. The interviewed journalist
spoke of the lack of commitment of the syndicates, the difficulties in obtaining correction in
the salaries, and the adopted alternatives taken by the most part of the professionals who
desire to live out of journalist. The radio material was included in the programmation of
Rádio Roraima.

Key words: Journalism; Worthy Salary; Syndicate; Roraima.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................... 10

1 ORIGEM DOS SINDICATOS.................................................................... 13


1.2 A EXPANSÃO DAS LUTAS SINDICAIS................................................ 15
1.3 UNIDADE SINDICAL............................................................................... 16
1.4 SINDICATO NO BRASIL........................................................................ 16
1.5 LUTAS OPERÁRIAS NO GOVERNO DE VARGAS............................... 18
1.6 REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE JORNALISMO................... 20
1.7 MILITÂNCIA ENTRE OS PROFISSIONAIS DA COMUNICAÇÃO......... 22
1.8 FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS (FENAJ)..................... 22
1.9 GREVES ORGANIZADAS PELO SINDICATO DE JORNALISTAS DE SÃO
PAULO .................................................................................................... 23
1.10 FIM DA GREVE.................................................................................. 26
1.11 SINDICATO DOS JORNALISTAS DE RORAIMA.............................. 26

2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO.......... 29


2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
....................................................................................................................... 30
2.2 ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE................................................... 32
3. O RÁDIO................................................................................................... 34
3.1 A RADIODIFUSÃO.................................................................................. 35
3.2 RÁDIO EM RORAIMA............................................................................ 36
3.3 EMISSORAS DE RÁDIO EM RORAIMA................................................ 38
3.4 TEXTO NO RÁDIO.................................................................................. 39
3.5 LEAD OU LIDE....................................................................................... 40
3.6 ENTREVISTA NO RÁDIO....................................................................... 41
3.7 PRODUÇÃO.......................................................................................... 41
3.8 MATÉRIA................................................................................................ 42
3.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 45
ANEXOS..................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 69
10

INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) discute a importância de um piso salarial


digno e justo a uma categoria que tem uma função social importante para a sociedade.
Principalmente em um momento no qual a mídia tem importância central na sociedade
globalizada.
O jornalismo ajuda a formar opiniões e manter os cidadãos informados sobre os fatos
que acontecem no mundo e no Brasil. O jornalismo realiza o registro histórico da história
recente e colabora com o desenvolvimento crítico da população.
Como estabelece o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros no art. 6º e incisos XI e
XIV, é dever do jornalista defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das
garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres,
dos idosos, dos negros e das minorias. Além de combater a prática de perseguição ou
discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de
orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza.
No entanto, mesmo com toda a importância do jornalista para a sociedade, a carreira
de jornalismo, no Brasil, levou muito tempo para ser reconhecida como atividade profissional.
Por isso, o primeiro capítulo do trabalho aborda sobre as origens das lutas sindicais na
Inglaterra, quando os camponeses tiveram de abandonar suas terras por terem sido reduzidas
devido aos cercamentos.
Na busca de maiores lucros, os capitalistas começaram a utilizar a mão de obra de
homens, mulheres e crianças em condições desumanas. Propiciaram o surgimento de uma
nova classe social, os proletariados. Os assalariados iniciam uma luta pelo direito de
associação para terem a oportunidade de negociarem com os patrões os salários e as
condições de trabalho.
No Brasil, as lutas sindicais iniciam no fim do século XIX. Os grandes cafeicultores
passam a investir nas indústrias. Com isso, há um aumento de assalariados no país. Os
imigrantes europeus, que vieram em busca de uma vida melhor, criam as primeiras
associações de ajuda, pois se depararam com salários baixos e alta jornada de trabalho.
Com a chegada de alguns imigrantes, em especial os italianos, com ideal anarquista, as
associações viraram sindicatos e passaram a funcionar com o objetivo de lutar pela classe
operária. Ou seja, impedirem que o assalariado seja obrigado a aceitar um salário inferior ao
mínimo indispensável para seu sustento.
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Ainda no primeiro capítulo é relatada a história das lutas sindicais dos jornalistas
desde o século passado, em meio às mudanças políticas, econômicas e sociais, mais
especificamente, após a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder no país,
que a atividade é regulamentada. Na época, o jornalismo era visto como bico. Por isso, quem
fazia jornalismo tinha outra atividade como fonte de renda.
Mesmo com a atividade regulamentada, a salário pago aos profissionais não dava
para cobrir o mínimo necessário para atender as necessidades básicas de despesas. Surgiram
as primeiras associações e os sindicatos de jornalistas. O Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de São Paulo é criado em 1937. Em 1947 é criado o primeiro curso superior de
jornalismo Casper Líbero.
A luta por melhores condições de trabalho e salário inicia com a Revolução Industrial
na Inglaterra. A partir daí, aumentou a competitividade entre os trabalhadores. Os assalariados
foram em busca de estabilidade no emprego. As categorias profissionais criaram associações,
instituições, sindicatos, credenciamentos, registros, licenças e cursos superiores.
Para conseguirem um reajuste salarial, os jornalistas de São Paulo fizeram a primeira
greve em 1961. A categoria conseguiu o aumento. Em 1979, os jornalistas paralisam os
trabalhos novamente para reivindicar reajuste de 25%, estabilidade no emprego para os
representantes dos sindicatos nas redações e melhores condições de trabalho para os
fotógrafos.
O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) julgou a greve ilegal e muitos jornalistas
foram demitidos. Artistas doaram gravuras, pinturas, desenhos, fotos, entre outras obras, ao
fundo de greve para serem vendidos e auxiliar os demitidos. Em dezembro, data-base da
categoria, jornalistas conquistam o reajuste salarial e o fotógrafo obtém condições melhores
de trabalho.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Roraima (Sinjoper) foi fundado em 13 de
setembro de 1991. O sindicato foi criado a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj) para emitir a carteira de jornalistas. Mesmo com o piso baixíssimo, pouco tem sido
feito para melhorar o piso salarial da categoria em Roraima. Hoje, os jornalistas convivem
com o menor piso dos estados brasileiros.
No segundo capítulo, foi apresentado o método da pesquisa. Nela foi aplicada a
metodologia da entrevista em profundidade. Para isso foram entrevistados pouco mais de 20
personagens, quantidade mínima exigida para a utilização do método.
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No terceiro capítulo, foi apresentado o projeto experimental, a matéria de rádio. Ou

seja, foi elaborada uma matéria sobre a defasagem do piso salarial dos jornalistas em

Roraima. Foram selecionadas três pessoas para a matéria. O material foi incluso na

programação da Rádio Roraima.


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1 ORIGEM DOS SINDICATOS

A mecanização industrial iniciou na Inglaterra a partir da segunda metade do


século XVIII. Os burgueses passaram a investir o dinheiro acumulado da atividade
comercial para o setor de produção. Segundo Dorigo (2005), a Inglaterra tinha a
vantagem de possuir enormes reservas da principal fonte de energia da época, o
carvão mineral.
De acordo com Sene (2005, p. 272), a enorme quantidade de reservas
minerais na Inglaterra e o grande número de burgueses com capital para investir
“[…] possibilitou a disseminação do uso de máquinas a vapor, inicialmente na
indústria têxtil e mais tarde nos demais ramos industriais”.
Graças às reservas de carvão e de minérios de ferro, as siderurgias
expandiram. Os comerciantes ingleses estavam praticamente em todos os cantos do
mundo vendendo seus produtos. A cada dia aumentava o número de concorrentes.
De acordo com Sene (2005), para sobreviver no mercado seria necessário
oferecer produtos mais baratos. Com isso, os burgueses investiram nas indústrias.
Assim, os custos de produção passaram a diminuir. De acordo com Schimidt (2002,
p. 109):

O desenvolvimento do capitalismo estimulou os fazendeiros a investirem


diretamente na produção agrária. Para ampliar as áreas de cultivo,
ocuparam terras onde moravam famílias camponesas. Eles encurralaram as
famílias em pequenos pedaços de terra circundados por cerca. Os terrenos
eram tão pequenos que os camponeses quase não tinham como sobreviver.
A saída para esses camponeses, então, foi buscar trabalho em outro lugar.

O intenso desenvolvimento do capitalismo trouxe grandes mudanças, tanto


econômicas quanto sociais. Por causa da busca por maiores lucros, os cercamentos
e a utilização da mão de obra de homens, mulheres e crianças em condições
desumanas propiciaram o surgimento de uma nova classe social chamada
proletariado.
Schimdt (2002) destaca que as pessoas aceitaram trabalhar horas e horas
seguidas nas fábricas, recebendo pequenos salários, para não morrerem de fome.
Os trabalhadores não tinham qualidade de vida, pois, como registra Schimidt (2002,
14

p. 112), “[…] os salários eram baixíssimos e a jornada de trabalho podia alcançar


quatorze ou dezesseis horas por dia e não havia direito a férias“.
Apesar de a revolução ter enriquecido muitos burgueses, a maioria dos
operários vivia em péssimas condições. A mecanização do trabalho deixou muitos
operários sem emprego. Schimidt (2002) relata que o aumento da pobreza, entre a
classe operária e os demais moradores, trouxe como consequência as favelas e os
cortiços para as cidades. Com tanta gente nas cidades e o aperfeiçoamento das
máquinas, ocorreu o desemprego de muitos operários.
Segundo Antunes (1989, p. 10), esse excedente de mão de obra “[…]
substituído pela máquina fortaleceu ainda mais o capitalista que, a partir de então,
passou a pagar um salário ainda mais humilhante para os operários”. Para Borges
(2006, p. 02):

É dessa luta cotidiana, inerente ao capitalismo, que surgem as primeiras


formas de organização dos trabalhadores. Elas nascem como resultado do
esforço espontâneo dos operários para impedir ou atenuar a exploração.
Não aparecem por inspiração de “subversivos”, como a burguesia propaga,
mas sim por uma necessidade natural dos que vivem de salário. Para elevar
os seus lucros, o capitalista necessita extrair o máximo de mais-valia, que é
o trabalho excedente não repassado ao operário na forma de salário. Essa
é a lógica do sistema, em que a concorrência leva os empresários a uma
incessante busca por maiores lucros - com a redução dos custos
operacionais e a elevação da produtividade. Por sua vez, os trabalhadores
têm a necessidade de lutar pela diminuição da taxa de mais-valia, pelo
aumento do seu poder aquisitivo, e por condições humanas de trabalho.
Nessa luta, o operariado conta com a vantagem de se constituir em grande
quantidade.

Conquistado o direito de associação, as uniões sindicais ou trade-unions,


como eram conhecidas pelos ingleses, tornaram-se poderosas, pois passaram a
negociar os salários em função dos lucros. De acordo com Antunes (1989, p. 18):

As trade-unions negociavam com os capitalistas a criação de uma escala de


salários, forçando sua aceitação, e deflagravam greve sempre que esses
salários eram rejeitados. Ante as constantes manobras dos capitalistas, as
trade-unions auxiliavam financeiramente os operários em greve ou
desempregados, através das “Caixas de Resistência”, o que aumentava
sobremaneira a capacidade de luta da classe operária e tornava arriscado
para o capitalista diminuir os salários ou aumentar as horas de trabalho.
15

Assim, os operários têm a oportunidade de negociarem em pé de igualdade


com os patrões e impedir que cada trabalhador trate de forma isolada o valor de sua
mão de obra. Para Antunes (1989), esta é a função primeira dos sindicatos,
impedirem que o operário se veja obrigado a aceitar um salário inferior ao mínimo
indispensável para seu sustento e de sua família.
Os sindicatos foram criados para a manutenção de condições humanas e
dignas de trabalho e salários. Desta forma, quando os operários constituíram suas
organizações de classe, ficou mais difícil para o capitalista baixar o salário ou
aumentar a jornada de trabalho sem consultar a categoria. Os sindicatos reuniam
várias categorias de uma região.
Na Inglaterra, surge, em 1830, a Fundação Nacional para Proteção do
Trabalho com o objetivo de atuar como central de todos os sindicatos. Borges (2006)
destaca que este é mais um avanço da categoria, pois a associação agrupou vários
operários, entre eles: mecânicos, mineiros, têxteis, fundidores, ferreiros, entre outras
profissões. A Associação chegará a ter cerca de 100 mil membros e editará um
periódico, A Voz do Povo1.

1.2 A EXPANSÃO DAS LUTAS SINDICAIS

Em países como Itália e França, onde a exploração capitalista atingia níveis


ainda mais violentos, surgiu uma segunda tendência, precursora do anarquismo,
esta segunda corrente se auto-intitulou de revolucionária. Como registra Antunes
(1989, p. 23), “[...] os anarquistas acreditavam que a prática da luta exclusivamente
econômica, através da ação direta nas fábricas e da deflagração da greve geral,
constitui-se na única forma da ação efetivamente revolucionária da classe operária”.
Os anarquistas rechaçavam a necessidade de luta política e, por isso,
negavam qualquer forma de organização partidária. Segundo Schimidt (2002), além
de serem avessos ao Estado, ao exército e a qualquer instituição em que existam
hierarquias de poder, para os anarquistas, o capitalismo devia ser destruído por uma
grande revolta popular de todos os oprimidos. Assim, logo surgiria uma sociedade
sem Estado, sem polícia e sem burguesia.

1
Em 1829 John Doherty fundou o periódico dos trabalhados, A Voz do Povo. O material teve uma
tiragem inicial de 30 mil exemplares e circulava na primeira central sindical de todos os ofícios da
história: a Associação Nacional para a Proteção do Trabalho. Agrupava 150 sindicatos com mais de
100.000 membros. A intenção era resistir à diminuição dos salários e dar apoio aos operários.
16

1.3 UNIDADE SINDICAL

Manter a unidade sindical é importante, pois evita a fragmentação e o


enfraquecimento do movimento sindical. Com isso, evita-se que exista um sindicato
para cada empresa e, consequentemente, fica mais fácil para a direção da empresa
controlar a direção do sindicato.
O pluralismo sindical proporciona alguns aspectos negativos, entre eles, a
divisão da classe operária. Há interesses entre falsos representantes da classe
operária em dividir de todas as formas o sindicalismo operário, visando com isso ao
seu enfraquecimento. Com isso, não há adesão de todos os operários de uma
mesma categoria a um único sindicato quando se propõe o pluralismo sindical.
Conforme Antunes (1989), quando há um único sindicato representando os
trabalhadores de várias empresas de um mesmo ramo, fortalece-o, aumentando sua
força frente aos patrões. Assim, quando o sindicato obtém várias vitórias, toda a
categoria é beneficiada.

1.4 SINDICATO NO BRASIL

Bueno (2003) relata que, após a abolição do trabalho escravo no Brasil, em


13 de maio de 1888, a ordem social e econômica no país toma novos rumos. Com
isso, o trabalho escravo foi substituído pelo assalariado, os produtores de café
passaram a transferir seus lucros às atividades industriais e, assim, surgiram as
primeiras indústrias instaladas no Brasil.
Com a substituição dos escravos por trabalhadores assalariados, aumentou a
circulação de capital no país. As cidades começaram a crescer rapidamente, novas
necessidades surgiram, entre elas, bancos, estradas de ferro e seguros. Segundo
Füchtner (1980), as firmas estrangeiras investiram a prazo, em ramos importantes e
estratégicos, como os de prestação de serviços, por exemplo: meios de transportes
e comunicação, de informação e abastecimento de energia. Com a Primeira Guerra
17

Mundial, os ingleses diminuíram os investimentos realizados no Brasil, já os


americanos começaram a dominar a economia brasileira.
O crescimento das cidades e o aumento do número de trabalhadores
assalariados propiciaram a formação de um mercado interno, expandindo de tal
maneira que a criação de uma indústria nacional de bens e consumo passou a ser
compensadora. Os imigrantes europeus passaram a procurar emprego no Brasil. De
acordo com os registros de Füchtner (1980), em Niterói foi criada a primeira
organização profissional no Brasil com Associação Tipográfica Fluminense.
As primeiras associações de trabalhadores não foram organizadas segundo a
profissão, pois na associação havia uma solidariedade mútua, estabelecendo a
pensão e a aposentadoria, cuidaram da assistência médica, prestando a assistência
mútua em caso de necessidade de qualquer tipo. Assim, Füchtner (1980) explica
que as associações urbanas de trabalhadores estavam mais preocupadas com os
programas destinados ao melhoramento de sua situação social.
No Brasil, de acordo com os registros de Antunes (1989), a greve eclodiu pela
primeira vez em 1858. Os tipógrafos se rebelaram reivindicando aumentos salariais.
Com a vitória dos tipógrafos, as greves começaram a expandir-se para as demais
categorias. Nesse contexto, nasceram os sindicatos no Brasil, cujo principal objetivo
era conquistar os direitos fundamentais do trabalhador.
Sob o ponto de vista organizacional, no Brasil, as associações eram muito
fracas. Para Füchtner (1980), isso ocorria porque elas eram fundamentadas nas
relações pessoais e nos interesses comuns que se estabeleciam nos locais de
trabalho, nas mesmas localidades residenciais ou quando se tratava de pessoas da
mesma origem étnica. Até a chegada do anarquismo no Brasil, essa ideologia era
adotada por um pequeno grupo de operários urbanos. Quando os anarquistas
dominavam os sindicatos, passou a ser adotada uma base ideológica.
O Governo procurava controlar o movimento sindical brasileiro. As lideranças
sindicais governistas conciliavam com o Estado e nisto se diferenciavam dos anarco-
sindicalistas. Daí, como informa Antunes (1989), a denominação de sindicatos
„amarelos‟2, sendo verdadeiros precursores do sindicalismo „pelego‟3, por isso, a
obediência e subordinação ao governo.

2
Sindicato amarelo acredita numa aliança entre a classe trabalhadora e as autoridades ou
empregador.
18

1.5 LUTAS OPERÁRIAS NO GOVERNO DE VARGAS

Getúlio Vargas procurou controlar o movimento sindical inserindo-o no


aparelho do Estado. Por isso, uma de suas primeiras medidas foi criar o Ministério
do Trabalho para conter a classe operária dentro dos limites do Estado e, assim,
estabelecer uma política de conciliação entre o capital e o operário.
Getúlio Vargas nomeou João Goulart para atuar no Ministério do Trabalho.
Ele foi um dos responsáveis pela organização dos sindicalistas pelegos. Segundo
Mota (2010, p.135) Goulart também “auxiliou na formação dos sindicatos rurais e
garantiu a participação desse grupo nas discussões acerca do salário mínimo”.
Quanto às greves no Brasil, Antunes (1989, p. 60) destaca que:

O movimento grevista foi intenso, ao contrário do que diz a história oficial,


foi intenso durante esse período e, como consequência, o proletariado
conquistou inúmeras vantagens trabalhistas, como a lei de férias, descanso
semanal remunerado, jornada de oito horas, regulamentação do trabalho da
mulher, do menor etc. Frise-se que algumas destas leis já existiam mesmo
antes de 1930, porém limitadas a algumas categorias como ferroviárias e
portuárias.

Desta forma, a luta operária possibilitou a abrangência dessas vantagens às


demais classes trabalhadoras. Junto com as lutas sindicais, crescia a mobilização
das massas trabalhadoras. De acordo com Bueno (2003), em março de 1935 foi
fundada a Aliança Nacional Libertadora [ANL]. O governo, prevendo o avanço
popular, iniciou sua ação repressiva. Assim, cinco dias após o primeiro comício da
ANL, foi decretada a Lei de Segurança Nacional, que proibia o direito de greve e
dissolvia a Confederação Sindical Unitária.
Com isso, o campo sindical ficou mais aberto às associações amarelas já
existentes. Intensificou-se o controle e cooptação de dirigentes sindicais por parte do
Ministério do Trabalho. Conforme Antunes (1989), para consolidar ainda mais a
subordinação dos sindicatos ao Estado, promulgou-se o Decreto-lei nº 1.402 em

3
Pedaço de lã de carneiro utilizado para amenizar impactos em uma cavalgada. Sindicalistas pelegos
são aqueles que, aparentemente representando os trabalhadores, atendem de fato os interesses dos
patrões ou do governo.
19

1939, que instituiu o enquadramento sindical. Com isso, uma categoria, para ser
reconhecida enquanto tal, teria de ser aprovado pela Comissão de Enquadramento
Sindical, órgão governamental vinculado ao Ministério do Trabalho.
A criação do Imposto Sindical era uma revelia, pois os trabalhadores
deveriam pagar seus salários de um dia de trabalho por ano de todos os
assalariados e isso, de acordo com Antunes (1989, p. 63), “[...] constituiu-se numa
robusta fonte financeira para a manutenção dos dirigentes pelegos. Assim, estava
constituída a estrutura sindical brasileira, vertical e subordinada ao Estado”.
Mesmo assim, houve lutas operárias, elas atingiram seu ápice nos anos 60. O
Comando Geral dos Trabalhadores [CGT] foi a expressão mais significativa do
movimento sindical brasileiro. Para Antunes (1989), sua presença foi decisiva na
direção de grandes manifestações operárias. O campo foi atingido pelas lutas dos
trabalhadores. Em 1955, surgiu a primeira Liga Camponesa e pouco a pouco
surgiram os sindicatos rurais. Com isso, ocorre a entrada decisiva do campesinato
no cenário político nacional, exigindo uma radical transformação da estrutura
agrária, por meio da substituição dos latifúndios pela propriedade estatal.
Os camponeses exigiam acesso à terra para aqueles que desejavam
trabalhar, além da extensão da legislação trabalhista para o campo, com o objetivo
de garantir alguns direitos mínimos aos trabalhadores rurais. Mas, com o golpe de
64, as lideranças sindicais foram esmagadas. De acordo com Antunes (1989), em
1979, as greves voltaram com um novo peso. Os operários deflagraram uma greve
geral nas empresas metalúrgicas do ABC. A adesão foi maciça. A greve já
ultrapassava seu décimo dia quando o governo decretou intervenção nos três
sindicatos metalúrgicos do ABC.
Neste momento, Luís Inácio Lula da Silva4 consolida sua liderança, contando
com a participação de todos os sindicatos do país. Com isso, patrões e governo,
apesar de sua radicalização, não conseguiram amedrontar e derrotar a classe
operária. E assim, foram forçados a negociar com os operários. Mas, para Antunes
(1989), o principal foi conquistado: a volta das lideranças sindicais. Junto com isso o
movimento operário avançou, desde a sua organização na base até a luta pelo
fortalecimento e unidades sindicais.

4
Ex-presidente da República Federativa do Brasil por dois mandatos seguidos. O primeiro de 2003 a
2006 e de 2007 a 2010. Luís Inácio Lula da Silva foi o primeiro ex-operário a ocupar o posto mais
importante do Brasil.
20

1.6 REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE JORNALISMO

Com a Revolução de 1930, o gaúcho Getúlio Vargas toma posse como


presidente provisório do Brasil. Conforme Bueno (2003), o novo presidente promove
modificações no sistema eleitoral, tributário e judiciário, além de criar o Ministério do
Trabalho. Com Getúlio Vargas surge um Estado nacionalista, centralizador e
paternalista. A intervenção do Estado na economia crescia, pois os sindicatos e as
relações trabalhistas passaram a ser controladas pelo governo.
No início do século XX, o jornalismo não é uma atividade profissional,
regulamentada e sujeita às leis de mercado. Por isso, de acordo com Bahia (1990),
os mais importantes jornalistas dessa época são também funcionários graduados do
governo, diplomatas e ministros que acumulam funções nas redações. Só dois anos
após a instalação do governo provisório, Getúlio Vargas determina, por meio de
decreto, a expedição da carteira de jornalista aos empregados.
Outras decisões governamentais ampliam as normas do exercício das
funções de jornalista, definindo e esclarecendo suas faculdades de categoria
profissional. Segundo Bahia (1990), o decreto 24 776, de 14/07/1934, em seu artigo
69, estabelece a criação da Ordem dos Jornalistas Brasileiros para reger a
Associação Brasileira de Imprensa, com a colaboração das associações congêneres
dos Estados. A Ordem dos Jornalistas Brasileiros é responsável, ainda, pela
disciplina e seleção da classe dos jornalistas.
Desta forma, de acordo com os registros de Bahia (1990), a Ordem dos
Jornalistas Brasileiros foi criada para funcionar como a Ordem dos Advogados do
Brasil e para servir de baliza ética para a profissão. Com a legislação autoritária e de
natureza tutelar, em conflito com a realidade, a Ordem dos Jornalistas Brasileiros
não vingou.
Getúlio Vargas instaura o Estado Novo em 10 de novembro de 1937.
Conforme Bueno (2003), esta era uma forma indireta de se eleger. O Estado Novo
nada mais foi que um golpe dentro do golpe. Um ano após a implantação do Estado
Novo, em 1938, Getúlio Vargas dispõe as medidas de proteção do trabalho de
jornalista, por meio do Decreto 910. Assim, de acordo com o DECRETO-LEI N. 910
– 30 DE NOVEMBRO DE 1938:
21

Considerando que as medidas de proteção ao trabalhador, no que dizem


respeito ao horário e às condições de trabalho, já atingiram a maioria dos
empregados, por meio de legislação especial; Considerando que,
entretanto, esse regime de proteção ainda não se entende de um modo
geral aos que dedicam suas atividades às empresas jornalísticas;
Considerando que esses trabalhadores intelectuais são merecedores do
amparo do Estado, tanto mais quando este deve à Imprensa valiosa
colaboração na obra do progresso nacional e no engrandecimento do Brasil
[...].

O Decreto dispõe sobre a duração de cinco horas para os jornalistas e


condições do trabalho na imprensa. Além disso, o Decreto trata de outros
dispositivos como da fiscalização, do exercício da profissão de jornalista e das
penalidades. As medidas atingem toda a categoria como repórteres, ilustradores,
revisores, redatores e fotógrafos. Alguns itens do decreto são introduzidos na
Consolidação das Leis do Trabalho, melhorando, assim, a legislação referente às
categorias profissionais do jornalismo.
Getúlio Vargas estabelece a criação de escolas de preparação ao jornalismo.
As escolas seriam destinadas à formação dos profissionais da imprensa. Só com o
Decreto 5 380, de 13 de maio de 1943, foi criado o primeiro curso de jornalismo do
país5.
A tentativa do presidente de regulamentar a profissão ocorreu em uma época
na qual a categoria apresenta fragilidades como salários impontuais e baixos. Roxo
(2006) declara que os jornalistas eram submetidos ainda a grandes instabilidades,
por isso o jornalismo era visto como bico para pessoas de outras áreas profissionais.
O jornalismo deixou de ser um bico e passou a ser considerado uma
ocupação provisória a partir de 1950. Esse tipo de visão se deu com a melhor
estruturação salarial e aos poucos, de acordo com Roxo (2006 p. 07), “foi
desaparecendo a figura do aventureiro, que fazia do jornalismo um lugar de
reconhecimento”.
No governo de João Goulart, segundo Ribeiro (2000, apud Roxo, 2006, p. 08)
em 1962, “o Decreto 1 177 estabelece o regulamento sobre o registro de jornalista

5
A licença para a Escola Superior de Jornalismo saiu em setembro de 1939 e foi concedida pelo
Conselho Nacional de Educação. Ela seria no Rio de Janeiro, mas não chegou a funcionar. Em maio
de 1947, São Paulo instala a Escola de Jornalismo Cásper Líbero, elevada, posteriormente, à
condição de Faculdade de Comunicação da Universidade de São Bento. A partir daí cresce o
interesse pelas escolas de jornalistas.
22

profissional”. Para isso, foi criada uma comissão composta por um representante do
Ministério do Trabalho, do Sindicato dos Proprietários de Jornais e Revistas
Profissionais e da Federação Nacional de Jornalistas [Fenaj], mas só em 1969 é
feita a definição jurídica da profissão de jornalista.

1.7 MILITÂNCIA ENTRE OS PROFISSIONAIS DA COMUNICAÇÃO

Para Leuenroth (1951), não é fácil informar quando iniciou a militância entre
os profissionais da imprensa na América para tratarem de seus direitos. Ao longo
dos anos, os jornalistas incentivavam as organizações das demais categorias.
Leuenroth (1951, p.57) narra que:

Os jornalistas sempre viveram a pugnar pelos interesses de toda a gente,


menos de seus. Propagavam a necessidade da organização de todas as
corporações, mas descuidavam da própria sorte. Por isso, suas
agremiações não figuravam no movimento inicial da vida associativa
brasileira.

A escassez dos salários dos jornalistas, o que não dava para cobrir o mínimo
necessário para atender suas necessidades, foi um dos motivos que incentivou o
surgimento da primeira associação de jornalistas. Assim, os primeiros movimentos
de luta pelos direitos dos profissionais da comunicação não ocorreram por meio de
sindicatos. Como se pode constatar, nos registros de Leuenroth (1951, p. 57), “em
1908 que o idealismo e a tenacidade do repórter libertário Gustavo Lacerda
fundaram a Associação Brasileira de Imprensa, antecedida pelo Círculo dos
Repórteres”.
Surgiram entre os militantes de alguns veículos as caixas de beneficências
formadas por contribuições, havia até formações de caixas de empréstimos. Depois,
os militantes criaram a associação que abrangia toda a classe dos jornalistas.

1.8 FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS (FENAJ)

Segundo Bueno (2003), em julho de 1945, uma contradição tornou-se


evidente para toda a nação, o Exército nacional lutou pela democracia na Europa,
23

mas, em casa, o Brasil vivia sob o regime ditatorial. No mesmo ano, o ex-ministro
José Américo, em entrevista a Carlos Lacerda, rompeu com a censura, criticando
abertamente o governo. Com isso, Vargas fixa o prazo de 90 dias para novas
eleições.
O general Dutra, do Partido Social Democrático [PSD], apoiado por Getúlio
Vargas e pelo Partido Trabalhista Brasileiro [PTB], vence as eleições. Bueno (2003)
informa que foi durante o governo de Dutra que surge, em 20 de setembro de 1946,
a Fenaj. Em 2004, com 40 mil jornalistas associados aos seus 27 sindicatos
estaduais e quatro municipais, a Fenaj comanda campanhas nacionais por melhores
condições de salários.
Alguns sindicatos se engajaram em atividades de natureza classista como,
por exemplo, os Sindicatos dos Jornalistas de São Paulo. A entidade sindical criou
uma Bolsa de Empregos, em 1975, com a intenção de ampliar e garantir o mercado
de trabalho para os jornalistas reconhecidos pela instituição.
Para suprir as necessidades das empresas de comunicação e outras em
geral, seja para trabalho fixo, temporário ou mesmo de free-lancers, o Sindicato
encaminhava currículos de profissionais como repórteres, revisores, redatores,
fotógrafos e diagramadores, propondo a estas a criação de jornais ou assessorias
de imprensa, que ficariam sob responsabilidade dos profissionais encaminhados
pela Bolsa.

1.9 GREVES ORGANIZADAS PELO SINDICATO DE JORNALISTAS DE


SÃO PAULO

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo realizou, em fevereiro de 1979, um


seminário para debater a criação de um partido dos trabalhadores no Brasil.
Fernando Henrique Cardoso [FHC]6, Mário Covas, Luís Inácio da Silva [Lula], Jacó
Bittar e Arnaldo Gonçalves, entre tantas outras personalidades, compareceram ao
auditório do sindicato. Todos concordaram com a ideia, exceto FHC e Covas. Após
um mês começam as discussões sobre a possibilidade de greve na categoria.
Na igreja da Consolação, em São Paulo, houve uma grande assembleia para
discutir sobre a necessidade da greve e maturidade dos jornalistas de São Paulo

6
Ex-presidente do Brasil. Fernando Henrique Cardoso governou o país por dois mandatos seguidos,
do período de 1995 a 2002.
24

ainda no fim da década de 1970. O sindicato era pequeno demais para receber um
grande número de pessoas, por isso a igreja foi escolhida para sediar o encontro.
Foram mais de nove horas de discussão para votarem no assunto. No entanto, a
democracia da decisão foi assegurada e no final houve votação secreta e individual.
Os jornalistas não votaram a favor da greve. Ou seja, não se obteve a maioria de
dois terços necessários para a decretação da greve.
A greve só seria decretada na segunda grande assembleia feita no Teatro da
Pontifícia Universidade Católica [TUCA]. Na ocasião a greve foi decidida por
aclamação. Entende-se a segunda assembleia dos jornalistas como polêmica e
decisiva para a organização da greve.

O último ano da década de 70 marcaria a movimentação da segunda (e


talvez a mais polêmica) greve geral dos jornalistas de São Paulo. A primeira
foi em 1961, quando houve até bloqueio dos caminhões que saíam com
jornais feitos nas gráficas. Na esteira das mobilizações dos metalúrgicos do
ABC, dos bancários de São Paulo e dos professores em todo o país, os
jornalistas engajaram-se na luta.

Os preparativos para a greve foram decididos e começaram em maio, apesar


da data-base ser em dezembro. A categoria já havia passado por outra experiência
de greve em 1961. Na época, a greve durou cinco dias e encerrou em 5 de
dezembro. De acordo com Rocha (2006), a “[...] greve consagrou o piso profissional
estabelecido pelo Tribunal Regional de São Paulo de dois salários mínimos na
época. As empresas recorreram ao Tribunal Superior do Trabalho e perderam”. Em
entrevista concedida ao O Brasil de Aloysio Biondi, em 2004, realizada por Aloisio
Milani, Antonio Biondi e Rodrigo Savazoni, Washington Novaes relata que em 1961:

[...] foi uma greve curiosa, porque uma grande parte dos jornalistas não
aderiu à greve, e os que aderimos à greve resolvemos usar uma estratégia
que foi impedir a saída física dos jornais, bloquear. Não deixar sair o jornal.
Os jornais foram feitos, mas nós fizemos piquete na frente do Estado, na
frente da Folha, na frente da Última Hora. Isso foi uma coisa um pouco
nervosa, ameaça da polícia de dar porrada, e tal. Acabaram não batendo e
com isso os caminhões de entrega não puderam sair. E de manhã nós
fomos ao aeroporto e também confiscamos os jornais de fora que
chegaram. E também nessa época conseguimos que o pessoal de televisão
não tivesse notícia para dar, porque eles se baseavam muito no que estava
nos jornais.
Então foi uma coisa interessante, porque São Paulo ficou três dias sem
notícia, ficou sexta, sábado e domingo sem notícia. Nem de jornal, nem de
televisão, nem de rádio, nem nada. E essa é uma coisa inusitada. Uma
25

cidade que já tinha 4 milhões de pessoas, sem nenhuma notícia até


segunda-feira à tarde, quando foi julgado o dissídio pelo Tribunal de
7
Trabalho e nós ganhamos. Então voltamos a trabalhar .

Os jornalistas reivindicaram reajustes de 25%, sem desconto no fim do ano na


greve de 1979. Segundo Batista (2010), o dissídio anual dos jornalistas estava
previsto para dezembro, ou seja, sete meses após a decisão de início de greve
feita pelos jornalistas. Além disso, era exigida a estabilidade no emprego para os
representantes sindicais nas redações.
Para que não houvesse dúvida quanto à paralisação iminente, dois terços da
assembleia deveriam votar a favor, caso contrário a greve não saía. Existiam
aqueles jornalistas que tinham as opiniões divergentes. Para alguns a categoria
não estava preparada. A assembleia, porém, pensava diferente, e 90% votaram
a favor da paralisação.
Mesmo com um grande número de profissionais aderindo à greve, havia
rivalidades pessoais entre os jornalistas. Os grevistas acusavam os colegas de
fura-greves. Conforme os registros de Silva (2004), Geraldo Mayrink [Pasquim]8
afirma que os jornalistas que não aderiram à greve foram fundamentais na derrota
do movimento, garantiram a produção das empresas durante o movimento. Desta
forma, de acordo com Silva (2004, p. 08), “[...] 20% da categoria acabaram tendo
um peso maior do que os 80% participantes do movimento. Porém, o que
causava uma certa revolta era o fato dos jornalistas que trabalharam aceitarem
algumas regalias por parte das empresas”.
O jornal O Estado de S. Paulo utilizou como estratégia, aos jornalistas que
não aderiram ao movimento, o serviço de carona. Assim, o ônibus da empresa
era utilizado para transportar os funcionários do centro de São Paulo. Os
jornalistas usavam o portão destinado à entrada dos gráficos e com cortinas
fechadas para os piqueteiros não identificá-los.

7
Washington Luíz Rodrigues Novaes é um jornalista que trata com destaque os temas de meio ambiente e povos
indígenas. Atualmente, é colunista dos jornais O Estado de São Paulo e O Popular, consultor de jornalismo da
TV Cultura, documentarista e produtor independente de televisão.

8
O Pasquim foi um semanário brasileiro editado entre 26 de junho de 1969 a 11 de setembro de
1991. Com tiragem inicial de 20 mil exemplares atingiu a marca de mais de 200 mil em seu auge, em
meados de 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial.
26

1.10 FIM DA GREVE

No dia 28 de maio, o Tribunal Regional do Trabalho [TRT] julgou a greve


ilegal e muitos jornalistas foram demitidos. Artistas doaram gravuras, pinturas,
desenhos, fotos, entre outras obras, ao fundo de greve para serem vendidos e
auxiliar os demitidos. Em dezembro, data-base da categoria, jornalistas
conquistam o reajuste salarial e o fotógrafo obtém condições melhores de
trabalho.
Com o fracasso da greve houve a necessidade de discutir o papel social do
jornalista e redefinir a profissão em termos éticos e políticos. Segundo Kucinski
(1990, apud, Silva, 2002, p. 21):

a greve mostrou os limites da visão simplesmente classista da problemática


jornalística [...] quatro pessoas fazem um jornal nas condições de produção
existentes hoje [...] A homogeneização da notícia, com a produção em
massa, com as agência de notícias (internacionais e nacionais), com os
pólos de informação, com a relativa promiscuidade ou pouca definição do
campo do press-release e o campo do jornalismo, aliados à predominância
da concepção sindicalista sobre as lutas da categoria, levaram a que o
jornalista abdicasse da luta pelo exercício de sua função crítica na
sociedade, de sua identidade como personalidade pública, permitindo o
esvaziamento da categoria como categoria.

Desta forma, com o fracasso da greve, uma outra concepção, que via o
jornalismo também como uma profissão liberal, pôde ter espaço, sem que o
jornalista negasse a sua condição de trabalhador. Para Kucinski (1990, apud,
Silva, 2002, p. 21), a questão da ética jornalística residia na tensão entre essas
identidades jornalísticas: a do trabalhador assalariado, a da personalidade de
conhecimento público e a de operador de computador.
A partir da greve de 79, a categoria cresceu em quantidade e em qualidade.
Organizou-se, enfrentou as renovações tecnológicas e as demissões, organizou
os assessores de imprensa e os jornalistas que não tinham vínculo empregatício.

1.11 SINDICATO DOS JORNALISTAS DE RORAIMA

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o território de Roraima


foi transformado em estado. Em 1º de janeiro de 1991, o brigadeiro Ottomar de
27

Souza Pinto tomou posse como primeiro governador eleito. De acordo com
Rodrigues e Souza (2008, p. 313):

A passagem de território para estado trazia perspectivas variadas que


obedeciam às novas exigências. Havia a necessidade de se formar uma
nova estrutura administrativa e política. A estruturação do Estado se fazia
de maneira imediata e contando com muitos recursos, principalmente
federais, sendo necessário também que o Estado estivesse pronto para
atender às populações que aqui se instalavam.

Na época, Roraima estava repleto de mudanças, tanto no campo político


como no migratório. A influência de Ottomar Pinto na região iniciou em 1979, quando
era governador indicado do território. Segundo Rodrigues e Souza (2008), devido à
disponibilidade de terras, muitos migrantes vieram para Roraima, principalmente, os
maranhenses. O governo do estado estimulou essa migração por meio de incentivos
e garantias oficiais. Além disso, o estado apresenta uma grande disponibilidade de
terras e o garimpo.
Em meio a tantas mudanças políticas, o Sindicato de Jornalistas de Roraima
foi formado em 1991. A Federação Nacional dos Jornalistas motivava a abertura de
sindicatos em todo o país. De acordo com o atual presidente do Sindicato Gilvan
Costa, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima (Sinjoper) foi
fundado no dia 13 de setembro de 1991, tendo como sua primeira presidente a
jornalista Fátima Oliveira.
Junto com ela, estiveram na criação do sindicato os jornalistas: Márcia
Seixas, Marcelo Bussachi, Flávio Rabelo, Expedito Perônico, Gustavo Abreu, Suely
Ruiz, Kátia Brasil e Sebastião Valentim. Entre os primeiros integrantes das diretorias
iniciais do Sinjoper figuram nomes como Plínio Vicente, Rui Figueiredo, Fernando
Estrela, Laucides Oliveira, Péricles Perrucci, Humberto Silva, Fernando Heder,
Alfredo Maia, JR Rodrigues, Zuleida Viana, Waldir Waissmann, Taylor Nunes,
Galvão Soares, entre outros, muito dos quais ainda labutam na profissão até hoje.
Costa explica que a primeira missão do sindicato foi:

Regularizar a atividade profissional em Roraima, concedendo o registro


profissional aos jornalistas que já exerciam a profissão até então.
Inicialmente, os registros foram concedidos através da Delegacia Regional
do Amazonas, já que em Roraima ainda não havia sido instalada uma
Delegacia Regional do Trabalho.
28

O sindicato também tem como função, representar perante as autoridades


administrativas e jurídicas, os interesses gerais da categoria e os interesses
individuais de seus associados; celebrar acordos, contratos e convenções
coletivas de trabalho; representar a categoria profissional em congressos,
conferências e encontros no âmbito municipal, estadual, nacional e
9
internacional; entre outras (informação verbal) .

Ao longo desses quase 20 anos de história, além de Fátima Oliveira,


passaram pela presidência do sindicato nomes conhecidos do cenário jornalístico
local como Rui Figueiredo, Márcia Seixas, Ionio Alves, Jessé Souza e Humberto
Silva. Atualmente, o Sinjoper é presidido pelo jornalista Gilvan Costa, que está em
seu segundo mandato. Sua atual gestão vai até setembro de 2012.

9
Informações fornecidas por Gilvan Costa, Presidente dos Jornalistas Profissionais do Estado
de Roraima, durante entrevista em abril de 2011.
29

2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO

Os meios de comunicação de massa expandiram e ocuparam o cotidiano das


pessoas. Segundo Martino (2009), no início do século 20, o ritmo de expansão dos
meios de comunicação pegou de surpresa os pesquisadores. Este crescimento das
mídias alterava a dinâmica da sociedade em diferentes níveis, como tomadas de
decisões políticas e relações de poder na hierarquia familiar.
Santella (2001) reforça que a preocupação dos pesquisadores com os
fenômenos de comunicação coincide com a explosão dos meios de comunicação de
massa. Do livro para o jornal, houve um salto para a comunicação massiva, pois a
tiragem diária de um jornal alcança número que poucos livros podem chegar. Assim,
Santella (2001, p. 25) explica que

A grande explosão da comunicação massiva, entretanto, viria com seus dois


gigantes, o rádio e a TV que, tendo seus alimentos fundamentais na
publicidade, instauraram a cultura popular massiva. Foi só então que a
comunicação se instituiu como área de conhecimento reclamado para si
uma certa autonomia, por exemplo, nos estudos da publicidade, nas
análises de conteúdo das mensagens veiculadas pelos meios e na pesquisa
de opinião.

Com a expansão dos meios de comunicação de massa, cientistas sociais,


filósofos e psicólogos se debruçaram sobre a comunicação para tentar explicá-la,
pois era preciso entender o mundo que estava sendo alterado pelas mídias.
Apesar de o cinema e a fotografia terem sidos inventados na França; o rádio,
na Itália; a imprensa, na Alemanha; o desenvolvimento dos meios ocorreu em
grande parte nos Estados Unidos. Conforme Martino (2009, p.19), “o público
americano consumia imensas tiragens de jornais. Os leitores se convertiam
rapidamente em ouvintes de rádio e expectadores de cinema”. Desta forma, houve
investimentos americanos em produção de notícias e entretenimento. Por isso,
justifica Martino (2009, p.19), “os norte-americanos foram os primeiros a desenvolver
pesquisas sobre mídia, conhecido como Mass Communication Research”.
Os Estados Unidos abrigaram diferentes tradições de estudos em
comunicação. Araújo (2008) informa que, no início do século XX, houve
pesquisadores em torno da Escola de Chicago. No mesmo período, é aberto um
campo de estudos preocupados com a semiótica e, nos anos 40, vários autores da
Escola de Palo Alto inauguram uma nova tradição de estudos em comunicação.
30

Mas, entre os anos 20 e 60, Araújo (2008) destaca que os estudos norte-americanos
foram dominados pelo Mass Comunication Research. Este campo de estudos é
composto por autores com formações variadas que vão desde a engenharia das
comunicações, psicologia e sociologia. Contudo, afirma Araújo (2008, p. 120):

O que permite dar unidade a esse conjunto de estudos são quatro


características comuns. A primeira delas é a orientação empiricista dos
estudos, tendendo, na maioria das vezes, para enfoques que privilegiam a
dimensão quantitativa. A segunda é a orientação pragmática, mais política
do que científica, que determinou a problemática de estudos. As pesquisas
em comunicação desta tradição de estudos têm origem em demandas
instrumentais do Estado, das Forças Armadas ou dos grandes monopólios
da área de comunicação de massa, e tem por objetivo compreender como
funciona os processos comunicativos com o objetivo de otimizar seus
resultados. A terceira trata-se de estudos voltados prioritariamente para a
comunicação mediática. Por fim, a quarta diz respeito ao modelo
comunicativo que fundamenta todos os estudos.

Ao mesmo tempo, registra Martino (2009), os meios de comunicação de


massa eram utilizados como forma de propaganda política e de guerra. Desta forma,
tornavam-se um poderoso instrumento político. Para Martino (2009, p. 19), “a
democracia encontrava algo com que se preocupar: mal usados, os meios de
comunicação poderiam ser um caminho para o autoritarismo. Eram necessários
resultados rápidos para explicar o que estava acontecendo e serem aplicados
imediatamente”.
Toda a preocupação com os estudos dos meios de comunicação de massa
deu status acadêmico à mídia. Martino (2009, p. 20) destaca que “os pesquisadores
norte-americanos podem não ter achado as respostas, mas formularam as questões
certas”.

2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

No Instituto de Ciências da Informação (Icinform) é fundado, em 1963, o


primeiro núcleo universitário de pesquisa comunicacional do Brasil. Conforme Melo
(2005), Luiz Beltrão preocupava-se em construir uma metodologia apropriada para o
campo comunicacional, por isso não se restringiu aos efeitos. Assim, para Melo
(2005, p. 02):
31

A uma única etapa do fluxo informativo (efeitos), mas contemplando as suas


múltiplas fases. Essa estratégia está implícita no arrojado projeto sobre o
noticiário policial, através de que ele pretendeu correlacionar diferentes
metodologias para captar a essência do fenômeno midiático, ou seja,
contemplando-o processualmente. Na tentativa de observar os elementos
explícitos no paradigma aristotélico/lasswelliano: emissor – mensagem –
canal – receptor – efeitos - , recorreu-se tanto ao questionário (estudo da
recepção e dos impactos) e à entrevista (estudo emissor), quanto às
análises de morfologia (estudo do canal) e conteúdo (estudo da mensagem).

Ao contrário das primeiras pesquisas em comunicação que se limitavam aos


efeitos da mídia, Beltrão procurou captar o fenômeno midiático em todas as fases da
comunicação, conforme o paradigma aristotélico.
Quando se fala de pesquisa em comunicação no Brasil, as pessoas remetem
seu significado à pesquisa quantitativa e qualitativa. Isso ocorria de fato no Brasil, ou
seja, as únicas pesquisas realizadas no Brasil, até alguns anos atrás, de acordo com
Melo (2005), “eram destinadas a conhecer a penetração dos veículos de
comunicação coletiva junto às populações urbanas, permitindo determinar índices
de circulação de jornais ou revistas, ou a audiência dos programas de rádio e
televisão”.
A Pesquisa em Comunicação compreende o estudo científico dos elementos
que integram o processo comunicativo, a análise de todos os fenômenos
relacionados ou gerados pela transmissão de informações seja dirigida a uma única
pessoa, a um grupo ou a um vasto público. Assim, entende-se que a Pesquisa em
Comunicação é, de acordo com Melo (2005, p. 04),

O estudo do comunicador, suas intenções, sua organização, sua estrutura


operacional, sua história, suas normas éticas ou jurídicas, suas técnicas
produtivas. É o estudo da mensagem e do canal, seu conteúdo, suas
formas, sua simbologia, suas técnicas de difusão. É o estudo do receptor,
suas motivações, suas preferências, suas reações, seu comportamento
receptivo. É o estudo das fontes, sua sistemática para a recuperação de
informações. É, enfim, o estudo dos efeitos produzidos junto ao receptor, a
partir das intenções do comunicador.

Assim, a Pesquisa em Comunicação vai além de investigações qualitativa ou


quantitativa, ela assume uma natureza interdisciplinar. A Pesquisa em Comunicação
envolve não apenas as pesquisas próprias de Ciências da Informação, mas engloba
32

também outras áreas das ciências humanas como, por exemplo, as sociológicas,
históricas, psicológicas, antropológicas, entre outras.

2.2 Entrevistas em profundidade

Para realizar a pesquisa, foi utilizado o recurso metodológico entrevista em


profundidade, pois ela possibilita a busca de informações por meio de informantes. A
entrevista oferece, ainda, ao entrevistado, a possibilidade de definir as respostas. Já
o entrevistador pode ajustar livremente as perguntas. Segundo Demo (2005), os
dados não são apenas colhidos, mas também resultados de interpretação e de
diálogo com a realidade, pois as perguntas permitem explorar um assunto e
descobrir como ele é percebido pelo conjunto de entrevistados. Duarte (2005, p. 82)
relata que:

Mais do que uma técnica de coleta de informações interativa baseada na


consulta direta a informantes, a entrevista em profundidade pode ser um
rico processo de aprendizagem, em que a experiência, visão de mundo e
perspicácia do entrevistador afloram e colocam-se à disposição das
reflexões, conhecimento e percepção do entrevistado.

Dessa forma, a entrevista é um método útil para o pesquisador, possibilita a


chance de explorar o máximo determinado tema. A entrevista, por ser uma técnica
dinâmica e flexível, permite a compreensão de uma realidade, por ser uma
ferramenta, segundo os relatos de Duarte (2005, p. 63), “bastante útil para lidar com
problemas complexos ao permitir uma construção baseada em relatos de
interpretação e experiências, assumindo-se que não será obtida uma visão objetiva
do tema de pesquisa”.
Duarte (2005) explica que, apesar da flexibilidade e dinâmica, a entrevista
como técnica de pesquisa exige procedimentos metodológicos específicos como,
por exemplo, critérios de seleção das fontes, aspectos de realização e uso
adequado das informações são necessários para dar validade aos resultados
obtidos durante a pesquisa.
33

Nas pesquisas feitas por meio do método de entrevista, por existir caráter
subjetivo, é necessária a formulação adequada dos procedimentos metodológicos e
a confiança nos resultados alcançados. Para isso, foram selecionadas fontes
capazes de ajudar a responder sobre o problema proposto, por possuir, de alguma
forma, envolvimento com o assunto pesquisado.
Ainda, conforme as dicas de Duarte (2005), serão selecionados para a
pesquisa informantes chave e informantes padrão, pois o primeiro grupo será
fundamental para a pesquisa por estar diretamente envolvido com o assunto
pesquisado. Já o informante padrão, apesar de estar envolvido com o tema
pesquisado, poderá ser substituído por outro entrevistado sem prejuízo das
informações necessárias para o trabalho, isso porque a pesquisa aborda um tema
relacionado a uma categoria.
Com o intuito de manter a imparcialidade durante a entrevista, o modelo
utilizado será neutro. A entrevista em pesquisa não se limita na coleta de
informações, pois há uma interação entrevistado e pesquisador. Os riscos devem
ser minimizados como buscar um ambiente de naturalidade, confiança e interesse.
É importante deixar o informante à vontade, para que ele relate o assunto de
forma livre e franca. Para Duarte (2005), o entrevistador deve buscar empatia e
interesse pelo que o entrevistado pensa e sabe sobre o tema, o pesquisador deve
ainda seguir o tempo da fonte. Além de evitar perguntas indutoras de respostas,
ambíguas ou que gerem respostas do tipo sim/não.
Telefone, internet, gravação e anotações foram utilizados como instrumentos
de coleta de informações. Isso porque juntos forneceram diversas vantagens como
agilidade, no caso de telefone. A gravação, por possibilitar o registro literal e integral
das respostas de cada entrevista, e as anotações, caso o entrevistado recusar a
gravação da entrevista.
O objetivo foi descrever os resultados obtidos durante o trabalho de pesquisa
em campo, com a utilização da técnica de entrevista em profundidade. Com isso,
gerar sugestões sobre o tema analisado.
34

3. O RÁDIO

O rádio é considerado um meio de comunicação de massa de audiência


ampla, pois atinge uma área de abrangência muito grande. Desde as primeiras
experiências, o veículo se expandiu tornando-se um meio de comunicação quase
universal. O rádio é considerado heterogêneo por alcançar pessoas de diversas
classes sociais. Além disso, é anônimo, pois o comunicador não sabe quem é,
individualmente, cada um de seus ouvintes. McLeish (2001) afirma que o veículo
trata-se de um meio cego que estimula a imaginação.
Para McLeish (2001, p. 15), “Ao contrário da televisão, em que as imagens
são limitadas pelo tamanho da tela, as imagens do rádio são do tamanho que você
quiser”. O veículo foi criado por efeitos sonoros, diferente da televisão, as paisagens
e os sons do rádio são criados dentro da imaginação de cada ouvinte. Tecnicamente
Ferraretto (2001, p. 23) define rádio como:

Meio de comunicação que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas para


transmitir a distância mensagens sonoras destinadas a audiências
numerosas. A tecnologia é a mesma da radiotelefonia [ou seja, transmissão
de voz sem fio] e passou a ser utilizada, na forma que se convencionou
chamar de rádio, a partir de 1916, quando o russo radicado nos Estados
Unidos David Sarnoff anteviu a possibilidade de cada indivíduo possuir em
sua casa um aparelho receptor.

Desta forma, o rádio é o veículo de comunicação mais popular e de maior


alcance público, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Muitas vezes, o rádio é o
único a levar informações às populações mais distantes. Além disso, destaca
Ortriwano (1985), o rádio é o mais privilegiado dos meios de comunicação de massa
por ter características intrínsecas, entre elas, linguagem oral, penetração, por ser um
dos mais abrangentes dos meios; mobilidade, baixo custo, imediatismo,
instantaneidade, sensorialidade e autonomia.
Além de informar, o rádio apresenta diversas formas de utilidades. Os
militares o utilizaram na guerra. O veículo controla o tráfego aéreo, orienta o trabalho
dos policiais, bombeiros e taxistas, sem falar que ele é à base da telefonia móvel. No
jornalismo, segundo McLeish (2001, p. 15), “o rádio traz esse mundo para aquele
que não sabem ler e ajuda a manter contato com os que não podem ver”.
35

3.1 A RADIODIFUSÃO

A radiodifusão começou ainda na Primeira Guerra Mundial. De acordo com


Costella (2002), os governos submeteram as ondas hertzianas e as experiências
com radiotelefonia a finalidades militares. Assim, o rádio fez sua estreia aeronáutica
em aviões de combate. Por isso, explica Costella (2002, p. 166), “a guerra inibiu
qualquer utilização do rádio para transmissões abertas ao público, mas,
indiretamente, as pesquisas por ela incentivadas acabaram revelando-se úteis à
radiodifusão, porque a soma de conhecimentos armazenada facilitou o florescimento
das estações radiofônicas no pós-guerra”.
O rádio conquistou várias regiões do globo em pouco tempo. Costella (2002)
afirma que conforme o lugar houve uma variação de alguns aspectos de
desenvolvimento. Na Europa, por exemplo, houve uma tendência à maior ingerência
do poder público na utilização das ondas. Nas Américas, a iniciativa privada
conseguiu larga participação no processo de utilização das ondas. Costella (2002, p.
166) destaca que em apenas uma década as emissoras se instalavam em vários
países.

Assim, em 6 de novembro de 1919, na Holanda iniciam-se as emissões


provadas. No mesmo ano instalam-se emissoras experimentais nos Estados
Unidos. Em 15 de junho de 1920 começam as transmissões de Chelinsford,
na Inglaterra, promovidas pelo “Daily Mail” em conjunto com a Companhia
Marconi. Na França, em novembro de 1921, o general Gustave Ferrié
(1968-1932) principia a transmissão de resenhas de fatos econômicos e de
boletins meterológicos [...]. Marcam ainda o início do rádio na Bélgica, na
Itália e na Alemanha, respectivamente os anos de 1923, 1924 e 1926. Na
antiga União Soviética, as emissões começam em 1924, embora se registre
a transmissão de um discurso de Lênin em 1922 a partir do cruzador
Aurora. O Japão inaugura sua radiofonia em 1926.

A Argentina, em 1920, torna-se o primeiro país a implantar a radiofonia na


América Latina. No Brasil, o rádio tornou-se um fato do domínio público em 1922.
Segundo Costella (2002, p. 167), “poucas realizações humanas lograram sucesso
tão rápido e êxito tão retumbante quanto à radiodifusão”. Porém, Sampaio (1971,
apud Ortriwano, 1985, p. 13) registra que “experiências já eram feitas por alguns
amadores, existindo documentos que provam que o rádio, no Brasil, nasceu em
Recife, no dia 6 de abril de 1919”. Para Jung (2004, p.17) “a história da radiodifusão
é marcada por dúvidas e controvérsias”.
36

Como parte das comemorações do Centenário da Independência, Ortriwano


(1985) registra que oficialmente o rádio é inaugurado em 7 de setembro de 1922 e,
assim, algumas pessoas da sociedade carioca puderam ouvir em casa o discurso do
Presidente Epitácio Pessoa. Por alguns dias, foram transmitidas óperas diretamente
do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Ortriwano (1985) considera a data de 20 de abril de 1923 a de instalação da
radiodifusão no Brasil, pois nesse período Roquette Pinto e Henry Morize fundam a
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com conteúdos educativos. Mas, segundo
Ortriwano (1985, p. 14), “o rádio nascia como meio de elite, não de massa, e se
dirigia a quem tivesse poder aquisitivo para mandar buscar no exterior os aparelhos
receptores, então muito caros”. As programações incluíam óperas, recitais de
poesias, palestras etc.
Só a partir de 1930, afirma Ortriwiano (1985), a publicidade nos rádio foi
permitida para garantir sua sobrevivência. Desta forma, o que era erudito, educativo
e cultural transforma-se em popular, voltado ao entretenimento. Por isso, de acordo
com Ortriwano (1985), o governo passa a preocupar-se com o veículo. Ortrwano
(1985, p. 17) registra que “logo após a Revolução de 30, havia sido criado o
Departamento Oficial de Propaganda – DOP, encarregado de uma seção de rádio
que antecedeu a hora do Brasil. Em 1934, o DOP foi transformado em
Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, surgindo então A Voz do Brasil”.
Algumas emissoras começam a especializar-se em determinados campos de
atividades. De acordo com Ortriwiano (1985, p. 20) a partir de 1940 “[...] o
radiojornalismo começa a surgir como atividade mais estruturada, com o lançamento
de alguns jornais que marcaram definitivamente o gênero. Entre eles, [...] o Repórter
Esso, o Grande Jornal Falado Tupi e o Matutino Tupi”.

3.2. RÁDIO EM RORAIMA

No Anuário do Departamento de Imprensa e Propaganda [DIP] constava a


existência de 75 emissoras de rádio no Brasil. Porém, segundo Barbosa (2007), o
Território Federal do Rio Branco não dispunha de uma emissora até a metade da
década de 50. Em Boa Vista, no mesmo período, a população reivindicava a
instalação de uma emissora de rádio na cidade.
37

O então governador Auris Coelho e Silva serviu de porta-voz do povo


solicitando ao candidato que viabilizasse a instalação de uma usina de energia
elétrica e de uma emissora de rádio. Em 1955, em visita a Boa Vista, capital do
território, o então candidato à presidência da república, Juscelino Kubitschek de
Oliveira, prometeu instalar uma emissora em Boa Vista.
Juscelino Kubitschek cumpriu as promessas mandando construir uma
termoelétrica no bairro Rói Couro, hoje bairro São Pedro. Em 1956, o presidente
Juscelino Kubitschek criou, por meio de decreto presidencial, a Rádio Difusora
Roraima. Porém, conforme registra Barbosa (2007), “somente em 4 de janeiro de
1957, a emissora seria inaugurada oficialmente, com a presença do presidente na
capital do território. No início, a programação sofria frequentes interrupções, devido
ao racionamento de energia elétrica”.
A primeira rádio do território federal do Rio Branco passou a funcionar com o
nome de Radiodifusora Roraima. No início, registra Mesquita (2007), a rádio operava
com o prefixo ZYA, na frequência de um KW de potência. Na época a emissora
funcionava na Escola Lobo D‟Almada, um tempo depois passou a ocupar as
dependências da Secretaria de Educação, após diversas sedes provisórias, a
Radiodifusora Roraima passou a ocupar o Teatro Carlos Gomes.
Segundo Mesquita (2007), além de mudanças de sede, houve várias trocas
de diretores da rádio. Todos por indicação política. Entre os diretores que estiveram
à frente da Radiodifusora Roraima, Mesquita (2007) cita Áureo Cruz, que assumiu a
direção da rádio de 1964 a 1966 e em 1968; Jaber Xaud em 1969 e Galvão Soares
de 1970 a 1974.
A Radiodifusora Roraima entrava no ar às seis horas. Entre os horários das
nove e onze horas interrompia a programação. Havia ainda um segundo intervalo no
período das quatorze às dezenove horas. Só então, iniciava o Programa "O
Mensageiro do Ar”. A programação prosseguia normal até as vinte e três horas. O
programa de maior audiência era o “Brasil Cantando” apresentado pelos radialistas
Magnos Malta e Jaber Xaud. De acordo com Mesquita (2007, p. 18), “esse programa
era transmitido ao vivo direto do Teatro Carlos Gomes, todas as tardes de domingo”.
Mesquita (2007, p.18) destaca, ainda, que a Radiodifusora Roraima sofre
mudanças em 1977. A Rádiodifusora Roraima passa a ser a Rádio Nacional de Boa
Vista. O governo federal incorpora a emissora roraimense à Empresa Brasileira de
Radiodifusão (RADIOBRÁS). Segundo Barbosa (2007), o governo federal utilizou o
38

programa A Voz do Brasil como uma forma de chegar à população mais distante dos
grandes centros do país para veicular informação do governo.
O objetivo do governo federal era exercer maior influência no território de
Roraima. Com isso, o público de Roraima passou a ter acesso às notícias do Brasil e
do Mundo. No mesmo período, o espaço publicitário foi mais valorizado e os
profissionais de rádio ganhavam 10% por propaganda veiculada . Só em 1981,
continua Mesquita (2007), a emissora é instalada no atual prédio da Emissora, hoje
Rádio Roraima, localizado na Avenida Capitão Ene Garcez. Ainda segundo Barbosa
(2007, p. 37):

Até a primeira década do século XXI, a Rádio Roraima não sofreu grandes
transformações no que diz respeito à sua grade de programação e estrutura
física.
[...].
Em se falando de transmissão, no início do ano de 2007, a Rádio Roraima
passou a ser transmitida também via internet. Dessa forma, em qualquer
lugar do mundo, onde haja um computador ligado à internet, a programação
pode ser sintonizada, ampliando ainda mais o alcance da emissora.

Em 2007, na administração do governador Ottomar Pinto, a direção da Rádio


Roraima passou para o radialista Barbosa Júnior, que continua comandando a
emissora. Em 2009, no governo de José de Anchieta Júnior, a Rádio Roraima
transformou-se em empresa pública.
Os deputados aprovam, no Plenário da Assembleia Legislativa de Roraima, o
Projeto 013/09, de autoria governamental, em abril de 2009. Nele, a Rádio Roraima
passa a funcionar como empresa pública. O processo confere à emissora ter seu
próprio quadro de funcionários, Plano de Cargos e Salários entre outros. A emissora
também passa a gerir seus próprios recursos, podendo, inclusive, receber verbas de
emendas parlamentares e/ou de convênios.

3.3 EMISSORAS DE RÁDIO EM RORAIMA

De acordo com Barbosa (2007), em 1983, no novo prédio Rádio Roraima é


criada a FM Nacional. Porém, no governo de Romero Jucá, em 1989, o Estado volta
a administrá-la. A emissora volta para as mãos do Estado com o nome de fundação
Rádio Difusora de Roraima. Ainda em no mesmo ano, o Partido da Frente Liberal
[PFL] compra a FM Nacional.
39

Hoje, a antiga FM Nacional se chama Tropical FM [91.1 Mhz], inaugurada em


28 de novembro de 1988, e pertence à Rede Tropical de Comunicações. Além da
Tropical, surgiram outras rádios, entre elas, Rádio Equatorial [93,3 Mhz] em 06 de
junho de 1981, Monte Roraima [107,9 Mhz] em 29 de dezembro de 2002 e Rádio
Folha [1020 Kilohertz – Khz], ligada ao grupo que dirige o jornal impresso Folha de
Boa Vist,a inaugurada em 23 de outubro de 2003.
Há no estado de Roraima rádios comunitárias espalhadas por vários
municípios, entre eles Rádio Comunitária de Mucajaí, Rádio Comunitária de
Iracema, Rádio Comunitária do Cantá, Rádio Comunitária Anauá FM de Rorainópolis
e Rádio Transamérica Caracaraí.

3.4 TEXTO NO RÁDIO

A forma manchetada passou a ser o aspecto formal mais característico do


rádio. A manchetada facilita a absorção das informações pelos ouvintes que são
transmitidas no rádio. Porchat (1993) define manchetar como uma maneira de redigir
as notícias de forma curta e clara. Conforme McLeish (2001, p. 61), o texto de rádio
“[...] é uma fala armazenada”. Desta forma, o radialista ou jornalista deve falar para o
ouvinte e não passar a impressão de que esteja lendo para ele. Porchat (1993, p.
99) explica por que se deve ter um cuidado ao escrever para o rádio.

A facilidade de transportar um aparelho de rádio e o alcance de suas ondas


sonoras fazem com que ele esteja em toda a parte – dentro e fora de casa;
no centro da cidade e fora do campo. Acrescente-se a isso o fato de
qualquer pessoa, mesmo analfabeta, poder escutar rádio. E também o fato
de isso poder ser feito a qualquer momento: quando se acorda, trabalha ou
adormece.

Por isso, o texto no rádio exige simplicidade, pois as informações devem ser
entendidas por todos os ouvintes. O conteúdo deve ser nítido para que as
informações sejam claras. Ou seja, para evitar a ambiguidade. No caso de
entrevistas de rádio, não pode ser diferente. As entrevistas devem fornecer, pelo
entrevistado, suas opiniões em relação a determinados assuntos. E, com isso, o
ouvinte pode tirar sua própria conclusão do que foi dito.
40

3.5 LEAD OU LIDE

Qualquer notícia deve responder a seis perguntas básicas de Kipling: O quê?


Por quê? Quem? Quando? Onde? Como? Nas respostas está a notícia. Para Bahia
(1990, p.40), “Não deixar indagação sem resposta é uma exigência da notícia, que
deve dar aos seus destinatários uma visão mais ampla e mais precisa do
acontecimento”. Na parte principal da matéria, o lead é respondido às seis perguntas
de Kipling. O lead é o primeiro parágrafo da notícia. Erbolato (2008, p. 67) define
lead como “o parágrafo sintático, ao vivo, leve com que se inicia a notícia, na
tentativa de prender a atenção do leitor”. Para reunir o mais importante no começo
da notícia, dando uma sequência lógica, Bahia (1990, p. 44) explica que

[…] deve observar: a) um resumo conciso das principais e mais recentes


informações, explicada com detalhe no desenvolvimento do texto, desde
que responda logo no lead: o quê? quem? quando? onde? como? por quê?
ou, b) um panorama sugestivo e interessante do acontecimento de modo
que possa satisfazer a curiosidade de quem lê, ouve ou vê. Pois, em
jornalismo, não há critérios imutáveis. […]
O resto da notícia será mais valorizado se levar em conta a hierarquia de
importância dos pormenores. Usar parágrafos curtos, evitar palavras
desnecessárias, qualificativos, principalmente tendenciosos, preciosismos e
frases feitas. Só excepcionalmente usar parágrafos longos.

Desta forma, o texto deve evitar o uso de adjetivos, palavras difíceis e, o mais
importante, deve estar numa linguagem simples para que todos possam entendê-lo.
Erbolato (2008) apresenta três técnicas de apresentação da matéria. A primeira é a
pirâmide invertida que inicia a matéria com os fatos culminantes, seguida dos fatos
importantes ligados ao lead e por último os detalhes dispensáveis.
A forma literária ou pirâmide normal é montada com detalhes da introdução
do acontecimento logo no início, seguida de fatos de crescente importância para
criar suspense, fatos culminantes e por último o desenlace. No sistema misto são
apresentados os fatos culminantes logo na entrada, seguidos de narração em ordem
cronológica.
Os leads apresentam formas diferentes. Erbolato (2008) apresenta os
seguintes tipos de leads: o simples, que se refere apenas a um fato principal; o
composto, que anuncia vários fatos importantes, abrindo a notícia; o integral, que dá
a noção perfeita e completa do fato; o suspense ou dramático, pois provoca emoção
41

em quem o lê; o flash apresenta uma introdução lacônica de uma notícia; o resumo,
pois conta praticamente tudo o que ocorreu ou vai ocorrer. Há ainda os leads citação
que transcrevem um pronunciamento; o contraste que revela fatos diferentes e
antagônicos; o chavão que cita um ditado ou slogan; o documentário, pois serve de
base histórica; o direto que anuncia a notícia sem rodeios e o pessoal que fala ao
leitor.

3.6 ENTREVISTA NO RÁDIO

A entrevista é uma maneira de informar. Para isso, McLeish (2001) identifica


três tipos de entrevistas: informativa, interpretativa e emocional. McLeish (2001)
explica que o objetivo da entrevista informativa é, obviamente, transmitir informações
ao ouvinte. Por isso, segundo McLeish (2001, p. 61), “[...] a sequência torna-se
importante para que os detalhes sejam bem claros”.
O objetivo da entrevista emocional é transmitir ao ouvinte uma ideia de como
está o estado emocional do entrevistado. Isso pode ocorrer em casos de euforia ou
tristeza do entrevistado. Já na entrevista interpretativa o entrevistado explica os
fatos. De acordo com McLeish (2001, p. 61), “[...] o objetivo é expor o raciocínio dele
ou dela, permitindo ao ouvinte fazer um julgamento de valores [...]”.
O estilo utilizado na construção da matéria, neste Trabalho de Conclusão de
Curso, é o da pirâmide invertida. Assim, os fatos são expostos no primeiro
parágrafo, no lead. A matéria foi apresentada durante a programação da Rádio
Roraima. Para isso, foram entrevistados três personagens: o presidente do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima, Gilvan Costa; a jornalista
Rebeca Lopes, o estudante do curso de comunicação social da Universidade
Federal de Roraima [UFRR], Marcelo Marques e a coordenadora do curso de
comunicação da UFRR, Sandra Gomes.

3.7 PRODUÇÃO

Para justificar a pesquisa sobre a defasagem salarial dos jornalistas de


Roraima, foram entrevistados três calouros, três formandos, três estagiários e três
42

profissionais formados e experientes. Além do presidente do Sindicato de Jornalistas


Profissionais de Roraima e seis pessoas que não são da área jornalística.
As entrevistas têm o objetivo de obter e analisar o grau de conhecimento dos
entrevistados com relação ao piso salarial, o que os motivou a escolher o jornalismo
como profissão, o nível de aceitação dos profissionais ao salário ofertado pelo
mercado e a conduta ética dos profissionais quando são mal remunerados. As
perguntas feitas aos formandos, estagiários e profissionais foram semelhantes.
Durante a produção, calouros, acadêmicos e focas foram os mais prestativos.
O objetivo do trabalho era entrevistar os profissionais formados que atuam em
veículos de comunicação impresso, onde estão os jornalistas com a menor
remuneração do mercado. Eles tiveram, porém, certa resistência em aceitar a
conceder as entrevistas, mesmo quando era explicado o conteúdo do trabalho.
Pelo menos dois jornalistas foram bem diretos em recusar passar as
informações. Eles não falaram o motivo, simplesmente disseram não. Outros dois
concordaram, mas um não compareceu no local combinado; o outro desmarcou em
última hora. Os três jornalistas que concederam as entrevistas para o trabalho não
tiveram encontro marcado, simplesmente foram abordados no local de trabalho.
As seis pessoas entrevistadas nas ruas de Boa Vista foram abordadas de
forma aleatória. Para elas, apenas uma pergunta foi feita. Elas tiveram de responder
quanto um jornalista formado recebe no mercado de trabalho.

3.8 MATÉRIA

CABEÇA: Você, ouvinte, conhece as dificuldades que os jornalistas


enfrentam para informar a sociedade com ética e qualidade? Qual a sua opinião?
Jornalista ganha bem?

ENQUETE:
TEC/SONORA: 1.600?
TEC/SONORA: 2.600.
TEC/SONORA: 3 mil.

LOC/REPÓRTER: Só para diminuir um pouco a curiosidade; em Roraima o


piso salarial do jornalista é o menor do Brasil. A última vez que o piso salarial passou
43

por um reajuste foi em 1997. O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais


do Estado de Roraima, Gilvan Costa, explica a dificuldade de negociar o reajuste
para a categoria.

TEC/SONORA: “Nós temos um problema sério aqui que é com relação da


falta da existência de um sindicato patronal éee dadada empresa de comunicação.
Isso impede uma negociação pra que se estabeleça um piso. Cê teria que fazer uma
negociação de empresa por empresa. O que dificulta muito e acaba dando uma
disparidade com relação a valores de piso salarial. (8) E também um certo
engajamento da categoria. Falta isso também”.

LOC/REPÓRTER: Já o sindicato de jornalista de São Paulo, por duas vezes,


mobilizou a categoria para lutar por reajuste salarial. Lutaram e venceram. A
jornalista Rebeca Lopes acredita que, diferente de São Paulo, a desunião entre a
categoria contribui com a desvalorização do profissional.

TEC/SONORA: “A nossa classe, infelizmente, ela é muito desunida né?.


Roraima tá com R$ 700. E a gente tem um sindicato. E eu num vou culpar o
sindicato de jeito nenhum. Eu acho que o sindicato não é feito de um, ele é feito de
todos. Mas ficou tão desacreditado em Roraima por usar o sindicato como trampolim
político, como benéficos e benefícios pessoais que hoje a gente tá aí. Com um
piso... Hoje pagam o que quer e fazem o que quer e ninguém faz nada”.

LOC/REPÓRTER: Em 20 anos de curso, a Universidade Federal de Roraima


formou 266 profissionais. Hoje, ex-alunos da UFRR chefiam os principais veículos e
secretarias de comunicação do estado. Para saber a opinião dos futuros jornalistas
sobre o valor do piso pago em Roraima, fomos a UFRR e perguntamos a
acadêmicos se é justo o piso de 750 reais. Vamos ouvir a opinião do acadêmico
Marcelo Marques.

- Marcelo, É possível viver com um piso de R$ 750?

TEC/SONORA: Dá não. Por isso, a gente tem que estudar pra concurso, ter
dois empregos, ter assessoria, ter várias assessorias na realidade. Eu conheço
44

jornalista que tem várias assessorias, num sei quanto eles ganham como
assessores de políticos, mas eu acho que num passa de mil reais. Mas mesmo
assim, você tem que ter várias rendas para você manter o padrão que você quer de
vida.

LOC/REPÓRTER: Ainda na Universidade Federal de Roraima fizemos a


mesma pergunta a Coordenadora do Curso de Comunicação Social professora
Sandra Gomes, é justo o piso de 750 reais?

TEC/SONORA: Pra um profissional que dedicou quatro anos de sua vida, na sua
formação, na sua qualificação. Absolutamente, não faz o menor sentido. É uma
afronta; e a gente enquanto jornalista precisa ter primeiro essa noção e segundo, a
gente precisa pensar em mobilização efetiva pra mudar essa realidade. Uma
alternativa que se ver aqui no estado é concorrer a concursos públicos para,
inclusive, em outras áreas. No entanto, essa não deve ser a solução efetiva. Isso
precisa ser encarado de forma mais direta, mais concreta e precisa haver uma
mobilização pra que essa realidade mude.

LOC/REPÓRTER: De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas, o piso


salarial do jornalista em Roraima é o menor do Brasil. O valor de 750 reais não
chega nem a metade do piso do estado de Alagoas que é de R$ 2.324, 05. Não será
um jornalista sozinho que vai mudar essa realidade. Segundo Gilvan Costa:

TEC/SONORA: “A questão envolve tudo negociação com as empresas. Não é que


o sindicato seja omisso. Não é. E tem uma coisa, o sindicato não é só a diretoria. O
sindicato são todos os sindicalizados. Se não houver mobilização geral não adianta.
Porque negociação só se faz sob pressão e quem faz pressão não é só o sindicato,
a diretoria; tem que ser toda a categoria”.

LOC/REPÓRTER: Será que as esperanças deixaram de existir? No geral, os


jornalistas reclamam do baixo piso. O quê os profissionais estão fazendo? Não só
enquanto sindicato, mas principalmente enquanto cidadãos para melhorar as
condições de trabalho; colocar comida em suas mesas e saciar a fome de
informação da sociedade?
45

3.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maior parte dos entrevistados não sabia o valor do piso salarial dos
jornalistas em Roraima. De doze entrevistados, isto é, formandos, estagiários, focas
e profissionais, 41,67% deles não sabem o valor do piso. Alguns fazem ideia, mas
ao arriscarem dizer o valor erraram para mais, estes correspondem a 33,33%.
Apenas 25% souberam informar o valor do piso salarial, embora tenham afirmado
que não tinham certeza, pois o valor correspondia há mais de dez ou quinze anos,
quando começaram a atuar no mercado de trabalho.
Desta forma, apenas os três jornalistas formados souberam informar o valor
do piso. Dos que tinham ideia e arriscaram a informá-lo foram dois formandos, um
calouro e um estagiário. Dois calouros, dois estagiários e um formando não
souberam dizer o valor do piso salarial dos jornalistas de Roraima.
Pouco mais de 90% dos entrevistados afirmaram que o piso de R$ 750 não é
condizente com um padrão de vida confortável. Apenas 8,33% confirmaram que
viveriam com o valor, pois o valor dá para suprir as necessidades básicas. De
acordo com Cruz10 (informação verbal), “para início de carreira, ou seja, começando
do zero, acho que R$ 800 é digno de um jornalista”.
Os entrevistados sugeriram o salário adequado e a média de piso ficou em
torno de R$ 2.500,00. O valor é bem maior que o sugerido pelo Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Estado de Roraima (Sinjoper), de R$ 1.400.
De acordo com o presidente do sindicato dos Jornalistas Profissionais de
Roraima, Gilvan Costa, o piso de R$ 750 foi estabelecido em 1997. Costa apontou
dois fatores que dificultam a negociação de um novo piso. O primeiro é a falta de um
sindicato patronal das empresas de comunicação. Segundo Costa (informação
verbal)11 isso impede uma negociação para que se estabeleça um piso.
O segundo problema, apresentado por Costa, está relacionado à falta de
engajamento da categoria, mobilização sindical dos jornalistas profissionais. Costa
reclama que os jornalistas não aparecem nem para uma assembleia quando o
sindicato convoca. Assim, de mais de 600 profissionais da comunicação que atuam
no mercado de Roraima, pouco mais de 200 são sindicalizados e nem todos
comparecem às reuniões promovidas pelo sindicato.

10
Informação verbal fornecida pelo acadêmico de jornalismo Cristian Cruz.
11
Informações fornecidas por Gilvan Costa em 15 de maio de 2011.
46

Para um dos entrevistados, hoje, o sindicato perdeu credibilidade entre os


profissionais por ter sido usado como um trampolim político. Com isso, as empresas
que ganham. Os empresários contratam jornalistas baseados em um piso de mais
de dez anos. Desta forma, os jornalistas precisam manter dois empregos e fazer
bicos para completarem a renda.
De acordo com a pesquisa feita, boa parte das respostas sobre os motivos
que os influenciaram a escolher o jornalismo como profissão envolve o jornalismo
heroico, aquele que aborda assuntos polêmicos em prol da sociedade e das
minorias. Porém, em Roraima, os salários para os que seguem carreira em setores
do jornalismo, como impresso, eletrônico, rádio, televisão e revista são defasados.
Há uma variação salarial entre os setores, mas o piso, ainda é base de referência
para o pagamento dos jornalistas desses segmentos.
O piso salarial para o jornalista no estado é R$ 750 desde 1997. Já as
assessorias de comunicação pagam bem melhor que o piso, R$ 1.800. Por isso,
como forma de melhorar ou complementar a renda, os jornalistas procuram
empregos em assessorias do governo ou políticos, mesmo sem ter escolhido o
segmento como a área de realização profissional, e sim, como saída do mau
pagamento feito pelas outras áreas da comunicação.
Apesar de existir uma amplitude de variação entre regiões do país, as
mudanças correspondem às diferenças de desenvolvimento econômico entre as
regiões. Porém, a média de salários apresentados pelo site da Fenaj está acima do
piso de Roraima.
Assim, ao analisar as informações fornecidas pelas entrevistas constatou-se
que os profissionais da área de comunicação e os futuros jornalistas não
apresentam interesse em lutar por um pagamento justo e digno de salário. Para
eles, é mais prático conciliar dois ou mais empregos.
47

ANEXOS

Entrevistas com profissionais, estagiários, calouros e formandos.

1. O que lhe motivou a cursar Comunicação Social na Universidade Federal de


Roraima?
2. Quais suas perspectivas em relação ao mercado de trabalho?
3. Pretende exercer somente a profissão de jornalismo?
4. Tem conhecimento sobre o valor do piso salarial para o jornalista em Roraima?
5. Com o valor atual do piso salarial consegue-se manter o padrão de vida que você
deseja?
6. Qual o valor do piso salarial ideal para o profissional jornalista?
7. O salário influencia a ética profissional?
8. Tem outra fonte de renda?

Entrevista com Presidente dos Jornalistas Profissionais de Roraima, Gilvan Costa.


1. Quanto é o piso salarial de jornalistas em Roraima?
2. Que ações o sindicato tem feito para melhorar o valor do piso?
3. Quantos jornalistas sindicalizados existem no estado?
4. Muitos jornalistas procuram o sindicato para reclamar do piso?
5. O sindicato faz alguma campanha para conquistar novos formandos?
6. Roraima tem um dos menores pisos. Isso demonstra pouca atuação do sindicato?
Entrevista com coordenadora do Curso de Comunicação Social-Jornalismo da
Universidade Federal de Roraima.

1. É justo um piso de R$ 750?


48

Entrevista com profissionais

Marcone Lázaro: jornalista, secretário de comunicação da Assembleia Legislativa de


Roraima. Formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba.
Atua em Roraima desde 1996.
Entrevista concedida às 9 horas do dia 12/05/11.

1 he he he, jorna... peraí deixa eu te responder legal. Jornalismo é o seguite: eu ...


cara eu ficava perdido até os meus... até os meus 16 anos. Até que eu descobri que
a única coisa que eu sabia fazer na minha vida era falar. Gostava um pouco de
escrever e contar história. Eeee foi crescendo e a partir do momento que eu fui
terminando o ensino médio e a única coisa que parecia que tava dentro daquilo que
... meu perfil era jornalismo. Fiz o vestibular, passei e me encontrei.

2 Jornalista? Eu acho que a perspectiva, ela segue a realidade do estado. Nós ainda
somos um estado pequeno. Nós ainda não temos é é é muito espaço, mas nós
podemos éee partir pro ramo que independe de onde você esteja pra você poder
fazer um jornalismo, que eu acredito que é a questão do produto, que é web. Eu
acho que a grande sacada, o grande mercado pro jornalista é internet.

3 Eu sou ... srsrsr. Jor ... oh! Aliás, até você chegar num cargo de secretário, você já
não é só jornalista, você também trabalha nessa parte de administrar. Claro que
nunca foi meu sonho, nem minha vontade. Mas são coisas que a gente acaba sendo
levado e e e pela nossa profissão um cargo que tá para quem é jornalista. Mas eu
também sou empresário. Também tenho uma pequena empresa de comunicação,
também tenho o site também de comunicação, J7 comunicação é minha empresa e
o site J7.com também. E eu também tramito nisso eu faço essa parte também de
assessoria de imprensa e também cuido do site que é minha paixão, que a coisa
que eu mais gosto que é poder fazer jornalismo mediato que é através da internet.

4 Olha, hehehe. Faz muito tempo eu... Olha, nem lembro e nunca nem ouvi falar
também desse piso. Mas eu acho que se existir num é muito bom não srsrsr. (num
tem nem noção de mais ou menos quanto é?) Olha, eu não sei. Há muito tempo
atrás, eu fico até com medo de errar, mas eu acho que eu cheguei a ver alguma
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coisa, a última vez que vi, acho que era em torno de R$ 700. Mas faz muito tempo
isso, eu to te dizendo isso ... mais de dez anos. Então quer dizer, não sei como está
agora. Eu sugiro que você pergunte isso do presidente do sindicato dos jornalistas.
(É é eu já perguntei dele, continua o mesmo piso, desde 97 não mudou, tá!) Foi em
97 mesmo que eu ouvi falar. É isso mesmo em torno de R$ 700? (isso, é) Meu Deus
do céu!
5 Olha, não. Não, até porque você tem todo o trabalho e você tem toda uma
perspectiva. Você tem curso superior. Você tem que se movimentar. É muito
trabalhoso vida de jornalista, muito, mas muito mesmo. E pra você que trabalha e
pela responsabilidade que nós temos, que o jornalista tem, a remuneração tem que
ser um pouco melhor. E eu acho que hoje em dia é uma coisa que tem que se
pensar. Até porque um profissional bem remunerado, remunerado justamente, ele
vai render. Seja em qualquer área for. Seja jornalista, médico, advogado, quem quer
que seja.

6 Ah! Mais aí vai depender srsr. (pro jornalista em Roraima) Aí depende rsrs do
padrão de vida de cada um. Mas eu acho que seria o quê? O padrão de vida dos
sonhos? Justo? (Isso, o que você acha justo para o piso de jornalista?). Eu acho,
dentro da minha concepção hoje, o jornalista que tá iniciando, o jornalista que... pra
ele poder trabalhar, pra ele poder se focar só num veículo. Eu creio que em torno de
R$ 3 a 3.500 reais.

7 Eu não acredito nisso. Eu acho que ética, caráter é uma coisa que num tá
associado com ganho, entendeu? Num é porque eu sou pobre que eu vou roubar,
num é verdade? Num é porque eu estou desempregado que eu vou virar bandido?
Num é porque que eu ganho pouco que eu vou me corromper. Que eu vou achar
que eu tenho o direito, que eu vou agir de forma errada. Eu acho que não é o
pensamento. Eu acho que nós temos que lutar de todas as maneiras pra ser ético.
Porque ético é uma questão de caráter e caráter num tem nada haver com lucro,
questões financeiras. Porque se você for entender uma coisa, os que mais agem de
forma desonestas, se nós formos pensar, são os que mais são bem remunerados.

8 Vem do jornalismo, meu trabalho.... (Então o jornalismo te sustenta?) Graças a


Deus. Até porque eu me formei pra isso. Apostei todas as minhas fichas nisso. Mas
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aquilo que eu quero dizer pra você, uma coisa que a gente tem que entender. É... Se
nós nos colocarmos a disposição, se nós encontrarmos dentro do jornalismo, da
comunicação aquilo que é ... nós temos uma vocação um direcionamento. Eu acho
que é mais por aí. Eu imagino que geralmente o profissional, ele tá mal remunerado,
e ele tá infeliz quando ele não tá fazendo aquilo que ele gosta. Ele faz bem feito e
ele fazendo bem feito, ele vai ser bem remunerado.

Shirleide Vasconcelos: Diretora de Jornalismo da Assembleia Legislativa de


Roraima. Formada em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba.
Atua em Roraima desde 1996.
Entrevista concedida às 9 horas do dia 12/05/11.

1 Eu sempre gostei muito de escrever, desde criança. Eu ... claro, eu fui criança,
adolescente. A gente... quando perguntam o que você vai fazer profissionalmente,
você sempre fica na dúvida. Fiz vestibular muito novinha, tinha 16 anos, mas eu já
sabia. Tinha amadurecimento assim com relação ao que eu queria fazer. Na área de
letras, comunicação. Aí optei por comunicação pra escrever, mesmo. Gostei desse
mundo da escrita, da leitura.
2 Quando eu cheguei aqui era bem maior o mercado. Hoje em dia tá bem mais
amadurecido. Esse é um ponto positivo. Profissionais amadurecidos. O campo
continua... Eu creio que continua aberto pros bons profissionais.
3 Hoje, atualmente não. (E quando você chegou aqui?) Quando eu cheguei aqui,
tava ... eu não me lembro bem. Mas depois de um ano, se eu não me engano
passou pra R$ 700. Eu não sei se continua o mesmo.
4. Sim. Trabalho só como jornalista.
5 Esse valor que você fala do piso? (sim, o mesmo de 97). Não. Não.
6 Aqui. Local. Eu creio que o ideal seria R$ 2 mil.
7 De forma alguma. Não. Por que a ética é um valor que a pessoa tem dentro de si.
Independente do que ela recebe. Se você tem um bom caráter, é um bom caráter,
num é o pagamento ou a falta dele ou o pouco pagamento que vai te influenciar. Eu
não acredito nisso.
8. Não. (O jornalismo te mantém?) Sim.
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Rebeca Lopes: Assessora de Comunicação da Secretaria Estadual de Saúde


(Sesau). Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Roraima
(UFRR). Concluiu o curso em 2001, mas desde 1998 atua na área.

1. Inicialmente nada. Apenas um opção de passar no vestibular. É ... tendo em vista


que eu já tinha feito dois ou três vestibulares. Sempre fui apaixonada pelas ciências
exatas, ou seja, os números. Eee eu tentei e não consegui. E quando eu fui fazer a
inscrição eu falei: Vou fazer comunicação. Eu num tinha... nem sonhava fazer
jornalismo, embora sempre, sempre eu tenha sido uma pessoa muito curiosa.

2 Eu... De modo geral, eu acho que jornalismo, ele num é um mercado, por exemplo,
ele solta, é... sei lá. Num sei se a Universidade Federal que foi a primeira é ... se ela
consegue soltar todo ano uma turma. Uma turma que eu falo, sei lá, quatro ou cinco
pessoas, num sei. Mas éee, eu acho que tem mercado pros bons profissionais. Eu
acho que os bons profissionais, embora falem, as pessoas falem em saturação de
mercado, eu acho que pros bons profissionais sempre vai ter mercado. Porque o
bom profissional é aquele que tem ética e ética é uma coisa que tem sempre que
amojar em qualquer, em qualquer profissão. Então eu acho que existe sim mercado.
Esse negócio de saturação de: ai, Meu Deus! Ter mais turmas, o que que vão fazer
com tanta gente? Os bons se firmam.

3 A notícia que eu tenho, que ainda é de R$ 700. Um piso de ... acho de 11 anos
atrás. De 99, 98 se eu não me engano. (97) Oh! 97. Quer dizer.... E é uma coisa que
precisa ... A nossa classe, infelizmente ela é muito desunida né?. A gente vê a
classe de médicos, de advogados, eles se xingam, mas eles não se acusam
publicamente. A gente tem um grave defeito. A gente trabalha matéria ... com a
informação e a gente não usa isso a nosso favor. Ao contrário, a gente se denigre e
o que prejudica a nossa categoria. Se a gente fosse unido, eu tenho certeza, mas o
nosso piso, eu não sei se você tem informação, mas parece que na região norte é
mais de mil reais. E hoje a gente... Roraima tá com R$ 700. E a gente tem um
sindicato. E eu num vou culpar o sindicato de jeito nenhum. Eu acho que o sindicato
não é feito de um, ele é feito de todos. Mas ficou tão desacreditado em Roraima por
usar o sindicato como trampolim político, como benéficos e benefícios pessoais que
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hoje a gente tá aí. Com um piso... Hoje pagam o que quer e fazem o que quer e
ninguém faz nada.

4 Hoje, eu vivo do jornalismo. Graças a Deus, eu tenho o privilégio. Eu num sei se


outras pessoas têm esse privilégio. Eu queria muito poder dizer: eu sou do
jornalismo. Mas até pra abrir meus horizontes eu vou buscar novas áreas. Eu queria
muito viver, porque eu amo jornalismo, eu amo fazer jornalismo. Mas eu tô buscando
outras áreas até pra conhecimento, pra não ficar apenas sendo jornalista. Eu
pretendo sim ter outros horizontes.
5 Nunca. Jamais. Num dá nem de pagar a prestação de uma moto, quanto mais de
um carro. Rsrsrsrs.

6 Olha eu acho que num... O piso tem que ser de acordo com ... tem que obedecer
trabalho, tem que obedecer éeee custo de vida. Utopia né?, mas pra mim uns R$
2.500 seria, assim... um bom piso.

7 Não. Eu acho que ética, ela independe. Se você é um mendigo você vai respeitar
o teu colega mendigo. Ética num tem piso não. Eu acho que quando a pessoa tem
ética ela é honesta. Ela respeita os princípios básicos da profissão. E não tem esse
negócio: ah, eu recebo mal, por isso que eu faço isso. Não. Isso é caráter. Chama-
se falta de caráter. Quem usa ética pra falta de caráter, eu não aceito. Ou você é
ético, ou você não é ético. Num tem esse negócio de que o salário vai te influenciar,
não. Claro que ... se éeee... A gente tem que levar em conta que cada veículo tem
uma linha editorial. A gente sabe que todos os veículos no Brasil, no mundo, eles
estão veiculados a algum partido, a algum grupo político, alguma coisa. Então,
geralmente, você tende obedecer à linha editorial. Mas o que você vai fazer depende
de você. Você pode sim apurar uma notícia buscando, aaaa impessoalidade não,
buscandoooo ser mais imparcial. Porque é muito difícil você ser imparcial. No fundo
qualquer notícia vai ter parcialidade que é a sua formação de opinião. Mas você tem
que buscar, chegar o máximo possível. Ouvindo os dois lados, escrevendo
exatamente o que te informaram. Né porque você está num veículo que tem uma
linha editorial que é contra o governo, contra a prefeitura que você vai meter o pau
vai começar. Você tem que apurar as notícias e se colocar no lado de quem vai ouvir
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as notícias, de quem vai receber as notícias. Então, você tem que ter
responsabilidade nisso.

8 Tenho. Eu sou consultora natura. Sempre tiveee, desde pequena tive um tino pra
venda. Vai que eu me embrenho por um caminho desses. Enfim, mas assim, só pra
falar que sou consultora natura, porque viver da consultoria num vivo porque o
jornalismo num me deu tempo pra isso.

Entrevista com estagiários

Marcelo Marques: acadêmico do Curso de Comunicação Social da Universidade


Federal de Roraima. Escreve sobre política no Jornal Roraima Hoje.
Entrevista concedida às 9 horas do dia 23/05/11.

1. O que me motivou? Foi à escrita mesmo. Como eu tenho uma certa ... eume
identifico muito em escrever algumas coisas, eu queria ter essa... criar uma prática
né? E o jornalismo veio como uma oportunidade pra mim desenvolver isso né?E eu
acho também interessante no jornalismo fazer denúncias que são de interesse da
sociedade, né?. Então, aliando isso, essa identificação com a escrita de escrever e
com a oportunidade de fazer denúncias no âmbito político, denúncias de interesse
geral da sociedade que condizem de forma geral para a população eu fiz jornalismo,
daí comecei.
2. As perspectivas são... Eu vejo de uma forma não muito positiva. Eu acredito que
aparecendo uma oportunidade pra mim trabalhar em outro estado com melhor
remuneração eu num vou pensar duas vezes antes de ir. Claro se aqui aparecer
alguma coisa mais agradável, mais... próspero pra mim... Eu pretendo trabalhar em
uma assessoria que pagam muito mais que no próprio jornal impresso, em qualquer
meio de comunicação. Eu acredito nisso, acho que não vai ser muito difícil logo, logo
eu vou tá trabalhando. Mas é como eu digo, se aparecer uma outra oportunidade
para eu viajar para outro local eu irei sem problema nenhum.
3. Olha o piso salarial, me falaram que tava em torno de mil... de 800 a 1200 reais. Iria
para 1200 reais, houve uma reunião, eu cheguei até ir a essa reunião, mas o piso
salarial, que eu saiba, ainda permanece 800 reais. Claro que isso vai muito do meio
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de comunicação né? Mas têm emissoras aqui, como a TV RR, que não pagam esse
valor. Acho que pagam entre 1500 a 1800 reais, né? É um piso padrão, acho que
por ser da rede globo manter um certo padrão de salário.Agora outros locais, por
exemplo, onde eu trabalho pagam 800, não pagam mais do que isso.
4. Você fala para fazer outra profissão paralela? (Ter outro meio de ganhar dinheiro,
outra fonte de renda?) Eu creio que .... Não. Assim, eu posso fazer outro curso né.
Posso atrelar esse meu conhecimento jornalístico com outro curso como psicologia,
que eu acho muito interessante, que eu creio ainda que vou fazer ainda. Mas assim,
eu acredito que com essa experiência que eu tô tendo vai ser suficiente pra mim,
não vai me deixar levar para outra profissão, buscar outra forma de renda,
entendeu?
5. Dá não. Por isso, a gente tem que estudar pra concurso, ter dois empregos,ter
assessoria, ter várias assessorias na realidade. Eu conheço jornalista que tem várias
assessorias, num sei quanto eles ganham como assessores de políticos, mas
euacho que num passa de mil reais. Mas mesmo assim, você tem que ter várias
rendas para você manter o padrão que você quer de vida.
6. Pra mim,uns quatro mil reais tá bom, pra mim rsrsrsrs. Porque eu num tenho filhos,
num sou casado, então acho que é o suficiente.
7. Sim, com certeza. De que forma? Eu já vi colegas, por não receberem o salário em
dia, derrubarem pautas. Já vi várias vezes, isso nunca aconteceu comigo. Eu faço
jornalismo porque eu gosto mesmo. Eu já trabalhei com salários atrasados várias
vezes, mas nunca derrubei pauta. Acho que meu compromisso é mais com a
profissão que com o salário mesmo. Mas já vi vários jornalistas derrubarem pauta
por causa de salário. Ou até, às vezes mesmo, por outro colega ter um salário maior
e derrubar também, achar que tá trabalhando mais do que o colega que teve um
aumento de salário, num ter essa competência.
8. Tenho, mas não é com profissão.
Ádria Albarado: acadêmica do curso de Comunicação Social da Universidade
Federal de Roraima. Atua como apresentadora e repórter da Rádio Tropical (94 FM).
Entrevista concedida às 8 horas do dia 16/05/11.
1 É uma área que eu podia falar de vários assuntos ao mesmo tempo e não e
especificar em uma área. Tipo se eu resolver fazer biologia que é uma área que eu
tenho vontade, eu só ia saber de biologia, na minha opinião. Aí, eu queria fazer uma
área que eu pudesse saber de política, de economia, de mano, enfim.
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2 O mínimo de aprendizado pra cair fora.


3 Ah! Tem piso aqui? Num tem piso aqui. (Tem. Desde 97, o piso é 750 reais). Que
vergonha. Desde? (97) Legal.
4 Não. (Não?) Não. (Você pretende se dedicar só ao jornalismo?) É, é a única coisa
que eu sei fazer. É só o que eu sei fazer por enquanto, eu ainda não me especializei
em outra área.
5 Lógico que não.
6 1.500 reais.
7 Na conduta ética, eu não sei, mas no empenho. Eu num sei? O empenho tá
envolvido com a ética? (Não está à pessoa não fazer o serviço direito?) Não. O
serviço direito faz, mas assim ... Tipo, escuta todas as versões. Têm notícias que eu
poderia dar, mas porque eu não tenho estrutura, o veículo não me oferece estrutura,
então eu não faço. (Então influencia?) Diretamente.
8 Toda do jornalismo.

Yanna Lima: acadêmica da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e repórter da


Folha de Boa Vista.
Entrevista concedida às 19h do dia 17/05/11.

1. Foi mais uma questão percepção das minhas aptidões mesmo. Por conta da minha
família. Minha família sempre disse que me achou bastante comunicativa. E foi uma
questão de falta de opção mesmo. Eu sempre disse que gostaria de fazer isso e
nunca pensei em nenhuma outra coisa que eu pudesse fazer.
2. Minhas perspectivas pessoais? (Isso) Olha, eu acho que eu tenho o perfil bastante
pro impresso. A gente sabe que é uma área muito difícil, que poucos repórteres
querem trabalhar. Só que a gente sabe que a questão salarial no impresso impede a
gente de ficar só no impresso. Então, meu objetivo é conciliar uma assessoria sem
sair do impresso que é realmente o que eu gosto de fazer.
3. Até onde eu sei é 800 reais né? Num sei se mudou. (Certo. É 750, desde 1997, tá?)
Passei perto. (É, chegou perto mesmo).
4. Sim, só como jornalista. Eu pretendo fazer outros cursos. Fazer publicidade e quem
sabe fechar o tripé com RP. Mas pra poder me dar um embasamento nas minhas
ações como jornalista.
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5. Não.
6. Bom, essa questão é difícil, porque o jornalista, ele ...é uma responsabilidade ... é
uma profissão que sobre a qual pesa uma responsabilidade muito grande. Com base
nessa questão da responsabilidade e da carga horária que a gente sabe que é
corrida, eu creio que pelo menos o dobro. (Então, no caso 1.600 e 1.500?) 1.600
entre 1.500 e 1.600.
7. Talvez não na questão ética, mas sim na questão motivacional. Muitas vezes o
profissional, ele se sente mais desmotivado. A gente é desmerecido por muitas
pessoas que dizem: ah! Já que não precisa de diploma então vamos lá. Acha que
qualquer um pode fazer. Mas num é porque eu tô ganhando pouco que, eu vou
deixar de ser ética ou vou fazer meu trabalho de outra forma entendeu?
8. Não. (Só do jornalismo). Só do jornalismo por enquanto. E deve ser até ... Por isso
que muitos jornalistas precisam trabalhar em vários outros ...é ... Mais de um ... Às
vezes até ... Conheço pessoas que trabalham em quatro, cinco empregos pra poder
ter um padrão de vida né? Assim, que dê pra você viver.
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Entrevista com formandos

Rodolfo Magno: cursa o oitavo semestre do curso de Comunicação Social –


Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Entrevista concedida por volta das 9 horas do dia 26/05/11.
1. Bem. Antes de prestar o vestibular eu gostava de escrever, escrever umas poesias,
escrever uns textos, isso me motivou. A universidade, dentro dos cursos que a
universidade havia oferecido, jornalismo me pareceu que o que mais se encaixava
comigo assim.
2. Oh, aqui em Roraima a área de jornalismo é muito boa. Tanto que os próprios
acadêmicos, ée, antes mesmo de terminar o curso já trabalham na área. Tem
bastante vaga, acredito que é conforme o passar do tempo também não deva
diminuir. Em Roraima é muito bom o mercado pra jornalismo, é muito bom.
3. Ah... Não ... Mais ou menos. Eu creio que deva ser em torno de dois mil reais, um
jornalista é.
4. Não. É pretendo vincular as duas atividades se for possível. A atividade jornalística
juntamente com música alguma outra coisa do tipo né? Eu não sei a gente vai
experimentado aí pra ver o que acontece.
5. Bom, com o piso que eu imagino que seja não. Assim, depende. Varia de empresa,
de jornal pra jornal. Você tem um piso, mas com um piso de dois mil reais é possível
viver sozinho.
6. Ah! Pelo menos quatro mil reais. Ah, visto que a inflação é alta no Brasil né? As
coisas ... Eu acho que pelo nível superior e pela qualidade do trabalho do jornalista,
valorizando o trabalho, deva ser em torno de quatro mil reais.
7. Com certeza. Porque ele vai buscar outros meios para adquirir o dinheiro. Pra é ...
O jornalista é um ser humano como qualquer outro e precisa de dinheiro pra
alimentar sua família, pra levar uma vida digna. Então, normalmente ele vai procurar
uma outra forma de ganhar dinheiro e muitas vezes éeee isso implica ter duas
funções de jornalista, como uma de jornalista e uma de assessor que não é
recomendável eticamente na profissão né?
8. Não. Eu sou servidor público e eu desempenho um cargo onde eu, éeee, tenho uma
função de assessoria de imprensa né? Mas é só esse trabalho mesmo.
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Déborah Machado: acadêmica do oitavo semestre do curso de Comunicação Social


/ Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Entrevista concedida por volta das 14h do dia 23/05/11.

1. Eu fazia serviço social, larguei um curso né? Tranquei um curso pra fazer jornalismo.
Porque na minha concepção, eu tinha aquela concepção de jornalismo heroico, de
que ele ia veicular todas as notícias ruins, ia denunciar, ia mostrar a verdade né? Só
que agora, na prática, a gente vê que as coisas são bem diferentes né? Que vai do
veículo de comunicação que você está trabalhando. Praticamente todas né? São
ligadas a algum governo, governantes. Mas foi isso, a questão mesmo do heroísmo
mesmo, de mostrar a verdade.
2. Eu já tô pensando que quando eu me formar, vou ter que arrumar dois empregos
rsrsrrs. Porque o salário é muito baixo e para complementar vou ter que ter dois
empregos. O que paga melhor é assessoria de comunicação né? Mas, mas eu não
sei se vou querer. De repente eu até consiga.
3. De veículo de comunicação é de 800 a 1000 reais. Agora pra assessoria, depende
muito do órgão que tá trabalhando. Eu já vi assessor ganhar 3 mil, 5 mil reais.
Depende muito do órgão.
4. Eu pretendo rsrsrs. Tô toda confiante. Eu pretendo.
5. Acho que dá sim. Eu não tenho a pretensão de ser rica.
6. Acho que seria uns três mil.
7. Com certeza. Porque assim oh, por exemplo, ele ganhaaaa... Deixa eu ver se eu
consigo explicar. Ele tem um trabalho, então ele acaba se submetendo a
determinada situação de até mesmo, acho que não existe essa palavra antético?
Trabalhar contra a ética. Se submetendo aquele piso. Tem um amigo meu que fala
que praticamente nem um jornalista trabalha de forma ética aqui no estado né?
Porque se submete sempre a pressão do veículo de comunicação que ele trabalha.
Mas, eu acho que deixar de veicular alguma coisa porque de repente tem um
comercial na TV ou porque de repente ou porque de repente: ai! Eu não me dou
bem com fulano por isso eu não vou ajudar a divulgar, sendo que aquilo ali é bom
pra sociedade saber. Eu acho que é mais ou menos isso.
8. Não.
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Anderson Caldas: acadêmico do oitavo semestre do curso de Comunicação Social /


Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Entrevista concedida por volta das 14h do dia 23/05/11.

1. Bom. Assim. Na verdade, quando fui fazer o vestibular tinha várias opções né? E eu
estava muito em dúvida no que fazer mesmo. E assim. Diferente, muito diferente.
Biologia, jornalismo, administração, muitas coisas assim. Mas acho o que motivou foi
o que eu vi na época. Tudo levava o jornalismo. Foi a questão da grade curricular do
curso, que tinha sempre assim, fotojornalismo, telejornalismo, planejamento e
editoração, enfim, tudo levava ao jornalismo e eu achava muito interessante e no
começo a gente tem aquele sonho né? Meio que utópico no jornalismo da
imparcialidade e a gente vai descobrindo no decorrer do curso, a gente sabe que
nenhuma matéria, nem um telejornal é imparcial, mas que a gente pode fazer
jornalismo na mais sua pura essência, que é a responsabilidade social de levar
informação séria e confiável pra população.
2. Em Roraima? Nenhuma. Assim, porque se a gente partir pro lado meio que
ambicioso da sua vida, num tem como você ganhar bem, aqui em Roraima já que a
empresa que melhor paga é a TV Roraima. E pro iniciante lá é 1.300, 1.200 reais por
aí né? A perspectiva pra mim em Roraima seria os concursos públicos relacionados
à área de jornalismo. Agora ser mais digamos assim, assessoria de comunicação no
caso. Agora aquela prática mesmo eu queria mesmo se fosse por mim eu queria
telejornalismo, mas aqui em Roraima não dá num sei se vou seguir essa profissão
de telejornalismo, aqui em Roraima o mercado de trabalho seria assessoria de
comunicação, por meio de concurso público porque paga melhor, mas não é o que
eu queria.
3. Eu num sei, a última vez que vi era de 800 e pouco.
4. Não. Eu num sei, eu tô numa fase da minha vida q eu não sei. Mas assim acredito
que não só jornalista não dá para, tipo assim, pela minha vida, pelo padrão de vida
que eu quero ter eu num quero ser só jornalista, pelo menos aqui em Roraima.
5. Não. Claro que não.
6. Acho que no mínimo devia ser 2.500, no mínimo entendeu?
7. Influencia, mas não deveria influenciar né? Eu acho assim que as pessoas elas ...
Não é um fator que deve influenciar. Mas eu não sei, acho que é meio confuso falar
sobre isso, mas mesmo que não seja para influenciar, influencia né? Às vezes, a
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pessoa ganhando mal, ganhando pouco, ela acaba cometendo ... É meio que aquela
coisa se você num é remunerando bem você não faz o trabalho bem feito entendeu?
O que não deveria e aquela coisa você já é contratado já sabe o seu salário de
quanto você vai ganhar já sabe o que você vai passar com aquilo né? Mas sempre
que sempre uma pessoa, isso aí, independente de ser ético ou não acontece né?
influencia sim.
8. No momento não. Tenho outra fonte de renda que não é de jornalismo.
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Entrevista com calouros

Cristian Cruz cursa o segundo semestre da faculdade de Comunicação Social-


Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Entrevista concedida por volta das 8 horas do dia 25/04/11.
1. O que me motiva é ser apto acho que as pessoas que fazem jornalismo e que
querem fazer é porque têm uma certa tendência pra isso e gostam do ramo. Com
certeza o que me motivou não foi o salário, mas de ter um sonho realizado.
2. A gente sabe que as referências de trabalho aqui em Boa Vista não são grande,
mas a eu creio que existe e eu pretendo atuar na área de TV. Tem sim é um ramo
que tem crescido que dá pra crescer basta meter a cara mesmo.
3. Bem em média é 700 reais.
4. Não, porque apesar de ser meu sonho, acho que a vida financeira fala mais alto.
Agente trabalha em busca de algo mais. 700 depois para uma família é complicado,
então querendo outras funções. Não só repórter, não só jornalista, mas se
especializando mais.
5. É tendo em vista que as coisas são caras e eu sendo um jovem solteiro, eu diria...
Eu num sei se é porque eu tó ganhando bem pouco rsrsr e eu tó me acostumando
com isso, mas um jornalista formado, sem família, começando do zero acho que 800
reais é digno de um jornalista. Eu acho isso.
6. Acho que mil. Mil reais resolveria.
7. Acho que influência depende do jornalista, mas na minha visão influencia aquele
jornalista que já tá lá há algum tempo. Porque quando a gente é mal remunerado, a
tendência não éee fazer aquilo de... é fazer o melhor, a tendência é você fazer o que
sempre faz padrão né? Acho que quando você tá com vontade de crescer, quando
você não alcançou seu objetivo a tendência é sempre querer mais, é sempre fazer o
melhor. Procurar se especializar e fazer mais. E quando você tá em busca de um
salário melhor. Agora quando você já tá naquele padrão que... Ah! já estou satisfeito
ou então não tem visão de que vai aumentar. Acho que fica jogada a forma de se
comportar.
8. Tô estagiando. Agora, no momento né? Eu tô no terceiro semestre, mas desde o
primeiro eu estagio. Faço estágio de TV, em uma emissora de TV no estado. E a
mensalidade que eu recebo é 300 reais é só um horário. Só de manhã, é um horário.
Então, por exemplo, a gente que tá começando, a gente quer mais. Então a gente
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aguenta muita coisa calado se esforça, é humilhado para poder ter algo melhor, um
salário a mais.
Deniane Costa Bezerra: acadêmica do segundo semestre do curso de Comunicação
Social – Jornalismo (UFRR).
Entrevista concedida por volta das 8h do dia 25/04/11.

1. Primeiramente foi meus pais que me incentivaram. Vou ser bem sincera, foi falta de
opção. E aí assim eu num conhecia daí foram me apresentado com o passar do
tempo no primeiro semestre, conheci bem o curso e fui gostando pelas áreas que
ele segue. Ele é bem amplo, você pode fazer várias coisas. (Mas por que os teus
pais?) Meus pais? Porque assim, o que eu queria mesmo eu não podia fazer. (O que
era?) Psicologia que era em tempo integral. E eu tinha a tarde e a noite livre e o
curso que se encaixou foi esse. Ele era bem adaptável aos meus horários e o que
eu queria.
2. Nossa! Eu vou ser bem sincera. Eu não tenho pretensão de trabalhar aqui. Eu creio
que como tá se desenvolvendo ainda há muita oportunidade a chegar aqui. Porque
dá de ver que não tem muita opção aqui em Roraima a se seguir, ou o salário é
baixíssimo como estagiário. Você tem que passar por várias coisas tipo meio que
uma certa humilhação para trabalhar aqui que é pouco. Você num tem muito
conhecimento sobre a comunicação social aqui dentro. Então, assim, minhas
expectativas são baixíssimas em relação à comunicação aqui em Roraima.
3. Sinceramente não. Ainda não fui ainda atrás disso, mas eu pretendo sim me
informar de tudo, vê se realmente é o que eu quero ainda tô no segundo semestre,
ainda tem muito chão pela frente.
4.
5. Não. Jesus....
6. Nessa área básico, básico, básico mesmo. Eu acho q assim... mil reais.
7. Na minha opinião, não. Porque se você estudou tantos anos pra seguir aquela
carreira num vai ser o mau pagamento que vai te desmoralizar você é ético em tudo
o que você faz.
8. Ainda não. Dos meus pais mesmo, dependente total, por enquanto.
63

Patrícia Sifuentes: acadêmica do segundo semestre do Curso Comunicação Social


da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Entrevista concedida por volta das 8h do dia 25/04/11.
1. Bom. O que eu queria, mesmo, era seguir na área publicitária, mas não deu pra
mim prosseguir no curso que eu fiz de um semestre. Aí, eu optei pela área
jornalística aqui na Universidade Federal tendo com base que o português é a
principal disciplina do curso e onde eu mais me identifico. Então, eu gosto de
escrever, eu gosto de ler. Essa foi a principal característica, peraí, principal motivo
pra mim entrar no curso.
2. Hoje, eu vejo que tem mercado de trabalho pra jornalista. Tá que não é dos
melhores salários, não é dos melhores cargos, mas tem sim, tem muita facilidade.
Eu tô no segundo semestre e já consegui estágio. Tem várias pessoas do segundo
semestre que tão trabalhando na área, já tem uma carreira jornalística. Então, acho
que o trabalho, a carreira de um jornalista vai da dedicação dele. Então, se ele
persistir, ir atrás, ele vai conseguir sim.
3. Não. Não sei.
4. Não. Pretendo seguir na área do marketing jornalista. É meu foco, é meu objetivo.
Aí, até lá num sei por onde eu vou percorrer o caminho.
5. Se for só um emprego, creio que não.
6. Ah, assim, viver bem, isso varia muito porque depende com quem você mora tem
que não. Pra mim sozinha dois mil reais tá ótimo que dá pra fazer tudo que a gente
quer.
7. É, acho que desmotiva. Então, o profissional se sente triste né? Com que ele vê.
Ele estuda muito que nem um médico, um advogado pra quando ele receber o
diploma vai lá trabalhar e ganha 750 como tu falou. enquanto outros que estiveram
na mesma academia, que estudaram igualmente ganham muito mais e sendo que
nosso trabalho hoje em dia influencia muito nessa questão, como é que eu digo de
submeter, informar, gerenciar certos assuntos, informar mesmo a população. Tipo, o
médico só vai saber de algumas coisas se o jornalista informar. Creio, na minha
visão, que a gente tá no topo, mas em certas ocasiões, a gente tá em baixo.
8. Sim. Eu estagio aqui na coordcom na universidade e eu também estagio como
assistente de palco no Roraima da Sorte.
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Entrevista com Presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais de


Roraima.

Gilvan Costa: Presidente do Sindicato de Jornalistas de Roraima.


Entrevista concedida às 12 horas do dia 15/05/11.
1. Olha, na realidade nós temos um piso que é um piso teórico. E é de 750 reais que
foi instituído ainda no final da década de 90. Éeee, nós temos um problema sério
aqui que é com relação da falta da existência de um sindicato patronal éee dadada
empresa de comunicação. Isso impede uma negociação pra que se estabeleça um
piso. Cê teria que fazer uma negociação de empresa por empresa. O que dificulta
muito e acaba dando uma disparidade com relação a valores de piso salarial. Por
conta disso, nós nunca conseguimos ter um piso. Já mandamos uma proposta,
inclusive, no ano passado, fizemos uma assembleia, definimos um piso em média de
1.400 reais. Mas não conseguimos negociação por falta da existência de um
sindicato patronal.
2. É. Nós fizemos no ano passado, em março do ano passado, uma assembleia geral.
Chamamos a categoria, discutimos qual seria o piso ideal, fizemos o levantamento
do que é paga nas empresas hoje, em média aqui no estado. Fizemos o
levantamento dos pisos regionais pra se ter uma ideia do que cada estado aqui na
Amazônia paga. Em cima disso, chegamos a um consenso de enviar a proposta pra
Superintendência Regional do Trabalho com o que foi definido. Fizemos ...
colocamos nessa proposta, inclusive, colocamos um valor de 1.800 reais que era pra
negociação cair pra 1.400, que era o que a gente imaginava que seria o ideal, que a
categoria discutiu. Mas, por conta da falta de um sindicato patronal, nós não
conseguimos uma negociação. Ou seja, não temos ainda ... éee estamos esperando
até já o indicativo de quem vai criar esse sindicato. Porque fica muito complicado
você negociar empresa por empresa. Até porque nem todas as empresas hoje
pagam ... Nós temos o maior salário hoje, em média, é o da TV Roraima que é em
média pra iniciante 1.100 a 1.200 reais. Né? Pro repórter iniciante. Então, têm
empresas que pagam 800, têm empresas que pagam éee 900 e é muito variável. O
que se paga mais é em assessoria. Em assessoria você tem um piso em média de
1.500 reais, um salário médio de 1.500 reais aqui no estado. Mas, ainda a maioria,
muita gente trabalha é em órgão de comunicação mesmo né? (Você disse que
vocês fizeram um balanço né?) Foi. Foi. (Quanto era mais ou menos?) Não. Em
65

média, se fosse colocar, em média, o que se paga hoje aqui mesmo pra um
jornalista entre assessoria e ... dá em média 1.400 reais. Foi exatamente por isso
que a gente colocou nessa média de piso. Por que algumas empresas pagam 800 e
a gente sempre trabalhou com o que se paga inicial quando a pessoa é contratada
né? Então, inicial em média é de 800 a 1.200, o inicial. Só que considerando órgão
de comunicação. Quando você entra pra assessoria o nível aumenta. Então quando
você pega um média, deu em média mais ou menos 1.400 reais que era o que a
gente propôs que fosse nosso piso.
3. Olha, não temos um número exato, porque muita gente que não é sindicalizada.
Tem muita gente que é de fora que veio pra atuar na área. O levantamento que a
gente tem em média éee... pelo que se formou na universidade Federal e pelo que a
gente tem em média de pessoas que atua na área aqui há muito tempo. Então, a
Universidade Federal de Roraima já formou, hoje, cerca de 250 profissionais né?
Então, considerando o pessoal que já vinha de outras épocas, que trabalhavam aqui
antes dododo ... Nós temos aqui em média na .... Considerando jornalistas
profissionais e o pessoal que atua na área de diagramação, fotojornalista,
cinegrafistas dá em média de 500 a 600 profissionais.
4. Sindicalizados, nós temos hoje uns 200 e pouco. 220 pouco, por aí.
5. Olha, até que não existe uma reclamação tanto assim. Porque na realidade a
questão ... o piso é, ele é só um balizador. Ele não é um fator determinante. Ele é
um balizador. É pra dizer que num pode pagar menos do que aquilo. Aqui, em
média, se ganha bem acima de qualquer piso aí fora no país. Esse 1.400 que ganha
aqui, só tem ... no norte só tem Rondônia o piso de 1.400 e até baixaram o piso pra
1.300, porque uma medida cautelar lá. E o piso maior que tem no país hoje é dois
mil e um quebradinho que é no Paraná. É o maior piso hoje. Mas em média, os pisos
no Brasil são em torno de 1.200 a 1.300 reais. Aqui, se a gente conseguir 1.400
seria um dos maiores em média.
6. É, a gente vinha fazendo. A gente deixou de fazer depois da queda do diploma. Até
porque houve ... Muito indefinido algumas coisas. A própria Fenaj orientou a gente a
não fazer campanhas de sindicalização, não fazer novas filiações por conta éee aaa
... Até aconteceu um caso em São Paulo que o sindicato foi obrigado a sindicalizar
um não diplomado, a emitir a carteira nacional aí ... tá ... Depois dessa pendenga o
sindicato não fez mais campanhas. Fazíamos antigamente, mas da queda do
diploma, nós paramos por conta de algumas orientações da Fenaj. (Como eram
66

essas campanhas?) A gente ia nas universidades, fazia éee o corpo a corpo mesmo.
Eu sempre ia nos cursos e tal. Era muito mais dividido de corpo a corpo.
7. Não, não necessariamente. É aquilo que eu te falei. É a dificuldade que a gente tem
de negociação né? Não é que ... O piso do Rio Grande do Norte é 900, um dos
menores do país, e o sindicato lá é super atuante. A questão envolve tudo
negociação com as empresas. Não é que o sindicato seja omisso. Não é. E tem uma
coisa, o sindicato não é só a diretoria. O sindicato são todos os sindicalizados. Se
não houver mobilização geral não adianta. Porque negociação só se faz sob pressão
e quem faz pressão não é só o sindicato, a diretoria; tem que ser toda a categoria.
8. É, o principal é a questão éee a inexistência de um sindicato patronal que isso faz
com que não possa ter uma negociação direta. Que possa negociar diretamente
com todas as empresas. E também um certo engajamento da categoria. Falta isso
também. A gente vê ... sou costumado a ver por aí a fora, o pessoal vai pras ruas.
Aqui você chama pra uma assembleia, num vai quase ninguém pra uma assembleia,
você imagina pra uma ... Mas isso é uma questão cultural aqui em Roraima. Você
pode ver quase todo sindicato aqui, tirando o Sinter que é o maior sindicato e o
sindicato municipal o Sitran, quase ninguém vai pras ruas. E outro detalhe, digo isso
porque eu trabalho lá também, o Sinter tem cinco mil e poucos sindicalizados, se
você for pra mobilização você num bota nem 500 pessoas. Então, é uma questão
cultural mesmo do estado, essa questão de falta de mobilização sindical.
67

Entrevista com a coordenadora do curso de Comunicação Social/Jornalismo


da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Sandra Gomes.

1. Um piso de 750 reais pra um profissional que dedicou quatro anos de sua vida, na
sua formação, na sua qualificação. Absolutamente, não faz o menor sentido. É uma
afronta; e a gente enquanto jornalista precisa ter primeiro essa noção e segundo, a
gente precisa pensar em mobilização efetiva pra mudar essa realidade. Uma
alternativa que se ver aqui no estado é concorrer a concursos públicos para,
inclusive, em outras áreas. No entanto, essa não deve ser a solução efetiva. Isso
precisa ser encarado de forma mais direta, mais concreta e precisa haver uma
mobilização pra que essa realidade mude.
68

Enquete

Quanto o jornalista recebe em Roraima?

Dagmar Batista: doméstica.


Deve ser 1.000. R$ 1.000, eu acho.

Alzinete Brito Carvalho: autônoma.


Acho que uns R$ 1.800 por mês.

Cleide Nunes: Professora


uns 1.800?

Eloiza dos Anjos Viana: Assistente Administrativo


Três. É R$ 3 mil.

Airton Romão: Autônomo


Dois mil. R$ 2 mil.

Josias Souza: Feirante


R$ 1.500.
69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CALDAS, Anderson. Defasagem do piso salarial dos jornalistas de Roraima. 23


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