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CARTOGRAFIA SOCIAL DA REGIÃO ECOLÓGICA DO BABAÇU: estratégias e

interpretações dos processos sociais atinentes aos babaçuais.

1
Jurandir Santos de Novaes
2
Alfredo Wagner Berno de Almeida
3
Helciane de Fátima Abreu Araújo
4
Poliana de Sousa Nascimento

RESUMO

Pretende-se refletir sobre estratégias e interpretações adotadas por agentes sociais


referidas à denominada “região ecológica” do babaçu; debater os resultados de
pesquisa em andamento desde 2013, que atualizam e ampliam pesquisas anteriores e
se estendem aos principais estados brasileiros de maior incidência dos babaçuais.
Diferentes fontes de pesquisa são acionadas e evidenciam uma diversidade da
produção relativamente ao tema do babaçu como elemento empírico, analítico, de
intervenção estatal, privada e pelo movimento social. As fontes documentais, o
trabalho de campo, a realização de encontros, oficinas e produção de uma cartografia
social do babaçu têm apontado para a um farto arcabouço normativo originado em
diversas instituições, apoiado em um repertório de ações e de concepções, retratadas
nas propostas que incidem sobre as áreas dos babaçuais. Tal intervenção vem
provocando desmatamento, restrição e impedimento de acesso aos babaçuais e da
permanência nas terras historicamente sob controle e uso de povos e comunidades
tradicionais, de pequenos produtores rurais decorrentes da apropriação com
cercamentos, queimadas, expulsões e toda ordem de violência de agentes vinculados
ao agronegócio, à pecuária, à mineração, à infraestrutura, com apoio e estímulo
estatal. Identifica-se, ainda, ameaça às formas organizativas dos movimentos e às
identidades coletivas Tais estratégias buscam eliminar os recursos físicos e culturais
de reprodução destes povos e se, por um lado, fragiliza e obscurece a luta,
contraditoriamente provoca novos arranjos atinentes à organização política aliada às
alternativas de produção econômica pelo aproveitamento do babaçu e seus

1
Doutora. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). E-mail: jurandirnovaes@yahoo.com.br
2
Doutor. Universidade do Estado do Amazonas (UEAM).
3
Doutora. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). E-mail: helcianearaujo@hotmail.com
4
Mestre. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

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subprodutos como resistência e preservação dos babaçuais. Há uma produção
cartográfica oficial que registra os babaçuais, mas em grande medida estas áreas são
classificadas como áreas “desmatadas”, “degradadas”, o que é reforçado pelos
agentes em conflito com estes povos e comunidades como busca de legitimação do
processo predatório que compõe uma dinâmica de devastação presenciada na região
dos babaçuais. Considera-se este como relevante para reflexão sobre o Brasil
contemporâneo e padrão de desenvolvimento que nega as formas de vida que não se
coadunam às práticas predatórias. As situações sociais apreendidas se articulam na
pesquisa onde são produzidas tais reflexões. Alfredo Wagner Berno de Almeida
(UFAM) abordará o babaçu pela análise de fontes documentais do Congresso
Nacional; Jurandir Santos de Novaes (UFPA/UEMA) reflete sobre processos
desmobilizatórios e de resistência evidenciados na região dos cocais com a instalação
de conglomerados econômicos ao lado de estruturas históricas de relações que
envolvem “donos” de terras e “moradores”; Helciane de Fátima Abreu Araújo (UEMA)
analisa efeitos das políticas públicas na pauta dos movimentos de quebradeiras de
coco; Benjamin Alvino de Mesquita (UFMA) analisa a luta pela posse da terra e
alternativas econômicas criadas no âmbito da pequena produção e do extrativismo;
Poliana Nascimento (UEMA/UFPI) apresentará interpretação dos babaçuais por
diferentes agentes expressa em uma base cartográfica que redefine mapas anteriores
e os atualiza mediante a representação de povos e comunidades tradicionais.

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CARTOGRAFIA SOCIAL DA REGIÃO ECOLÓGICA DO BABAÇU:
estratégias e interpretações dos processos sociais atinentes aos babaçuais
5
Helciane de Fátima Abreu Araújo

RESUMO

Neste texto, destaco situações vivenciadas por famílias de


quebradeiras de coco babaçu contactadas em pesquisas de campo de
três projetos de pesquisa em andamento, nos municípios de Codó,
Timbiras e Coroatá e no eixo Santa Inês - Imperatriz. Identifica-se, nas
duas áreas recortadas, que o crescimento de investimentos
econômicos oriundos da iniciativa privada, com o apoio estatal, tem
afetado diretamente as diferentes práticas do extrativismo do coco
babaçu, bem como as formas organizativas econômicas e políticas
das agentes sociais que predominantemente assumem esse tipo de
economia. O artigo faz uma reflexão sobre a concepção de
desenvolvimento, seus efeitos sobre os modos de vida de povos e
comunidades tradicionais e as formas de resistência.

PALAVRAS-CHAVE: investimentos, quebradeiras, lutas sociais.

ABSTRACT

In this text, I highlight situations experienced by families of babassu


coconut breakers contacted in three field research projects in progress
in the cities of Codó, Timbiras and Coroatá and axis Santa Ines -
Imperatriz. It is identified in the two areas cropped, that the growth of
economic investments from the private sector, with government
support, has directly affected the different practices of extraction of
babassu coconut, as well as the economic and political organizational
forms of social agents that predominantly take this kind of economy.
The article is a reflection on the concept of development, its effects on
the lifestyles of traditional peoples and communities and forms of
resistance .

5
Doutora. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). E-mail: helcianearaujo@hotmail.com

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1. INTRODUÇÃO

Proponho, neste texto, contribuir para a reflexão sobre as estratégias e


interpretações adotadas por agentes sociais referidas à denominada “região ecológica”
do babaçu6, com especial atenção para as políticas públicas na pauta dos movimentos
de quebradeiras de coco, a partir da interpretação dos resultados de pesquisas em
andamento desde 2011, em duas áreas de maior incidência dos babaçuais, no estado
do Maranhão: o oeste de Imperatriz e a denominada região dos cocais.

As duas áreas priorizadas para efeito desta reflexão, nas últimas quatro
décadas, vivenciam diferentes formas de intervenção, seja de empreendimentos
econômicos privados, seja de empreendimentos de infraestrutura financiados por
recursos públicos, que resultam em desmatamento, restrição e impedimento de
acesso aos babaçuais e da permanência nas terras historicamente sob controle e uso
de povos e comunidades tradicionais e grupos de trabalhadores rurais.

Para efeito desta exposição, destacarei situações vivenciadas por famílias


de quebradeiras de coco babaçu contactadas em pesquisas de campo de três projetos
de pesquisa em andamento7, nos municípios de Codó, Timbiras e Coroatá e no eixo
Santa Inês - Imperatriz. Identifica-se, nas duas áreas recortadas, que o crescimento de
investimentos econômicos oriundos da iniciativa privada, com o apoio estatal, tem
afetado diretamente as diferentes práticas do extrativismo do coco babaçu, bem como

6
As situações aqui elencadas expressam experiências de mulheres autodenominadas
“quebradeiras de coco” nos estados do Maranhão, Pará, Tocantins e Piauí. Em termos de
delimitação da territorialidade das quebradeiras de coco babaçu a principal referência oficial
que se tem concerne à última pesquisa sobre a extensão das regiões de ocorrência de
babaçuais, realizada em 1982, pelo Ministério da Indústria e do Comércio – Secretaria de
Tecnologia Industrial (MIC/SIT, 1982). Os resultados deste mapeamento informam que os
babaçuais ocupam uma área de aproximadamente 18,5 milhões de hectares nos estados do
Maranhão, Pará, Piauí, Tocantins, Goiás e Mato Grosso, sendo que, desse total, 10,3 milhões
de hectares estão concentrados no Maranhão. Mapeamentos posteriores discutiram uma
caracterização sociológica desta região denominada “ecológica do babaçu” (ALMEIDA, 1995).
7
MEMÓRIA EM MOVIMENTO: trajetórias e percursos nas lutas sociais da Amazônia
Maranhense, desenvolvido por um grupo de professores e alunos do Departamento de Letras,
Pedagogia e Enfermagem do Centro de Estudos Superiores de Santa Inês (UEMA/CESSIN),
integrantes do Grupo de Estudos Educação, Saúde e Sociedade (GEESS); MAPEAMENTO
SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO TERRITORIAL CONTRA O DESMATAMENTO
E A DEVASTAÇÃO: Processos de Capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais,
financiado pelo Fundo Amazônia, desenvolvido no âmbito do Projeto Nova Cartografia Social
da Amazônia (PNCSA); e, mais recentemente, o Projeto Cartografia Social dos Babaçuais:
mapeamento social da região ecológica do babaçu, financiado pela Fundação Ford, em
parceria com o PPGCSPA

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as formas organizativas econômicas e políticas das agentes sociais que
predominantemente assumem esse tipo de economia.

A partir da reflexão sobre as situações observadas, reflito sobre os


processos de devastação identificados e seus efeitos nos processos mobilizatórios dos
grupos de quebradeiras de coco na denominada região ecológica dos babaçuais.
Procuro destacar as estratégias empresariais e as pressões sobre as formas
organizativas políticas das agentes sociais afetadas por esses empreendimentos
econômicos. Outro aspecto considerado é a ampliação das lutas das quebradeiras,
para além dos confrontos com interlocutores diretos responsáveis pela devastação ou
pela privação dos cocais, uma luta que se manifesta dentro do Estado, pela garantia
de direitos sociais, econômicos e ambientais, como forma de preservar suas
identidades coletivas.

2. Conglomerados de negócios, programas governamentais e


mobilização política.

Os estudos realizados no oeste do Maranhão e na região dos cocais


identificaram diferentes situações em que as famílias que vivem do extrativismo do
babaçu se vêem confrontadas com a expansão de conglomerados de negócios, com
ênfase para o comércio e com investimentos no agronegócio, na pecuária, na
mineração, na infraestrutura como duplicação de estradas e ferrovias, construção de
hidrelétricas, produção de carvão para siderúrgicas, plantio de monoculturas de
eucalipto para a produção de celulose e de cana de açúcar.

A implantação desses negócios implica o acirramento de questões


fundiárias antigas e a disputa por recursos naturais necessários à existência dos
povos e comunidades tradicionais e de grupos camponeses que habitam essas
regiões. Os conflitos com cercamentos, queimadas, derrubadas de palmeiras e
deslocamentos de famílias que ora se configuram envolvem a luta por outros direitos
também ameaçados, como a saúde, tendo em vista que as técnicas agrícolas de
monoculturas como a de eucalipto, implicam aplicação de agrotóxicos por avião,
poluindo rios e córregos de toda a região. O processo de “degradação” que dessas
práticas resulta tem apresentado efeitos sobre modos de vida seculares.

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Em suas reflexões sobre o termo “degradação”, Almeida (2008, p.20)
relativiza a ideia de “natureza” ou de “quadro físico” implícito no termo e alerta para a
necessidade de se pensa-lo enquanto construção social, observando-se o campo de
disputa que o envolve, bem como os sujeitos da ação ambiental. O autor aponta,
também, para um mapeamento das ações e dos agentes sociais que provocam a
devastação, bem como daqueles que, apesar das condições adversas, preservam o
ambiente, atraindo para si novos campos de disputa pelos recursos ainda disponíveis.

Na denominada região dos cocais, há uma diversidade no formato das


organizações que disputam não somente o acesso aos babaçuais, como também o
acesso aos programas governamentais que têm como público extrativistas e
agricultores familiares. As diferentes formas organizativas econômicas e políticas são
imbricadas e estão associadas às redes de relações estabelecidas pelas
quebradeiras.

Na disputa pelo acesso ao recurso natural, as mulheres enfrentam


situações de venda de coco inteiro, cujo preço, na região dos cocais chega a R$ 2,00
por 10 kg de coco inteiro. Outras situações as mulheres pegam coco inteiro para
vender para as empresas, trocando a profissão de quebradeiras para a de catadeiras.
As empresas que compram - FC Oliveira, NASSAU, Maratá - pegam o coco para torrar
para fazer o carvão e usar nos fornos. Eles estão desmatando, derrubando as
palmeiras. As mulheres estão com medo de ficar sem o babaçu. Os grandes projetos
estão desmatando para plantar capim e eucalipto.

As quebradeiras de coco entram, também, em outro campo de disputa


para ter acesso às políticas públicas relativas ao extrativismo do babaçu e concorrem,
entre si, o acesso aos programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Na relação que se estabelece com o
Estado para se inserirem como beneficiárias dos programas governamentais,
as quebradeiras alteram o modo de atuar politicamente. Ampliam-se as formas
organizativas formais perante a burocracia estatal, mas fragiliza-se o poder
mobilizatório e de pressão dessas organizações.

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3. Oeste do Maranhão: estratégias empresariais e devastação

No oeste do Maranhão, os problemas sociais e ambientais se agravam


com a intensificação do processo de transferência de terras devolutas para
corporações empresariais, mínero siderúrgicos, vinculados ao Programa Grande
Carajás8 viabilizado através de incentivos oficiais e creditícios aos grandes projetos
agropecuários e agroexportadores centrados na monocultura, com implementos
agrícolas da mais alta tecnologia
Os investimentos implicam a devastação de grandes áreas, a
contaminação das bacias dos principais rios do Estado, com o uso de agrotóxicos
(pesticidas e inseticidas) e de adubos químicos e a consequente desertificação dos
solos, causando o que Almeida (2005, p. 27) chama de processo predatório,
caracterizado por relações sociais e conflitos, que compõem o processo de
devastação (idem), particularmente na região dos babaçuais9.
O eixo que compreende os municípios de Monção, Santa Inês, Pindaré,
Bom Jardim, Açailândia, João Lisboa, Cidelândia e Imperatriz, configura-se como um
corredor impactado pelos grandes empreendimentos que formam o conglomerado de
negócios do Projeto Grande Carajás. O conglomerado de negócios que compreende
projetos agrícolas, agroindustriais e de infraestrutura (transporte e energia elétrica),
para o processamento de minérios, agropecuária, exploração madeireira e
monoculturas de cana de açúcar, de soja e de eucalipto para a produção de celulose
pressionam os recursos naturais preservados por povos e comunidades tradicionais
que habitam a região, entre eles: quilombolas, pescadores, quebradeiras de coco
babaçu, trabalhadores rurais, agricultores e povos indígenas.

8
O Programa Grande Carajás, iniciado em 1986, arregimentou um grande volume de
investimentos na Amazônia Oriental, para projetos agrícolas, agroindustriais (eucalipto e soja)
e implantação de infraestrutura (transporte e energia) para o processamento de minérios,
agropecuária e exploração madeireira, Ver Nóbrega (2013); Sobre outros grandes
empreendimentos, como Consórcio Alumar, Base Aérea de Alcântara Ver Arcangeli (1987) e
Pereira Jr (2009)
9
O babaçu é uma palmácea que predomina em zonas de várzeas, próximas dos vales dos rios
e em pequenas colinas ou elevações, associado a outros tipos de vegetação como capoeira,
caatinga, mata aluvial, cerrado... (MIC/SIT, 1982, p.21). Tal região, denominada por Almeida et
al (2005, p. 41) “região ecológica do babaçu” engloba, no Maranhão, as regiões do cerrado,
cocais, baixada e chapadões; no Piauí, no curso médio e baixo curso do rio Parnaíba; e no
Tocantins, baixadas e vales úmidos, às margens dos rios Tocantins e Araguaia.

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No caso específico da microrregião de Imperatriz as comunidades da
Estrada do Arroz10, até o município de Cidelândia, a implantação do empreendimento
da Suzano S.A11 resulta em imobilização da força de trabalho dos agricultores e das
mulheres quebradeiras de coco babaçu, atualmente sujeitos a acordos, com a
empresa, que limitam, cada vez mais, o acesso aos recursos naturais ainda
disponíveis.

A dinâmica econômica imposta aos moradores desse corredor resulta em


questões ambientais associadas aos projetos agroindustriais e suas ramificações de
comércio - polo siderúrgico (carvoarias, guzeiras), mineração, plantações homogêneas
com fins industriais (soja e eucalipto) - e outros ligados mais às questões urbanas, a
exemplo dos lixões12. As áreas de incidência de babaçuais evidenciadas têm sido
apreendidas como “áreas desmatadas” e “degradadas”, resultado de uma economia
política do babaçu que se desenvolve na região num conflito permanente entre
empresas e comunidades tradicionais que fazem do uso dos babaçuais o seu meio de
vida.

Todos esses investimentos implicam devastação de grandes áreas, na


derrubada de babaçuais, nos desmatamentos das florestas ombrófilas e na
contaminação das bacias dos principais rios do estado, com o uso de agrotóxicos

10
Assim denominada, em função de um fenômeno apresentado na década de 1960, quando
Imperatriz consolida-se como polo econômico regional, sobretudo, na produção do arroz. A
denominada “estrada do arroz”, ocupada por nordestinos desde os anos 1950, facilitava o
escoamento da produção de Imperatriz para outras regiões. Ver FRANKLIN (2008, p. 132).
11
Um investimento de R$ 6 bilhões, com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas
de celulose por ano para exportação, a fábrica tem por meta alcançar uma área de 167 mil
hectares no estado do Maranhão, para o plantio de eucalipto. Toda a produção é escoada via
11
ferrovias Norte-Sul e Carajás para o Porto de Itaqui, em São Luís, capital do Maranhão, de
onde segue para os Estados Unidos e Europa. Instalada em uma vicinal a 2 km da Estrada do
Arroz, a fábrica vem causando impactos diretos e indiretos nos modos de vida das famílias que
residem nos povoados situados ao longo da rodovia MA 125, quais sejam: Esperantina 1,
Esperantina 2, Nova Bacaba, São José da Matança, São Francisco do Açaizal, Altamira, Olho
D’agua dos Martins, Coquelândia, São Félix e Petrolina, além dos acampamentos Viva Deus e
Eldorado. Os mais afetados são as famílias que não têm terra e que moram às margens da
Rodovia, entre as cercas de arame que demarcam as propriedades das empresas/fazendas e
a estrada. Para a instalação da fábrica de celulose, o governo brasileiro garantiu a
infraestrutura, financiando a construção da estrada ligando a BR 010 à fábrica de celulose e
ampliando a linha de ferro também interligando a fábrica.
12
Caderno Nova Cartografia Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial
contra o Desmatamento e a Devastação: processo de capacitação de povos e comunidades
tradicionais. Nº 4 (julho, 2014) – Manaus: UEA Edições, 2014.

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(pesticidas e inseticidas) e de adubos químicos, e a consequente desertificação dos
solos, causando o que Almeida (2005, p. 27) chama de processo predatório13,
caracterizado por relações sociais e conflitos, que compõem o processo de
devastação ambiental, particularmente na região dos babaçuais.

A devastação se materializa por meio das derrubadas das palmeiras


adultas com o uso de tratores, envenenamento das pindovas, aplicação de agrotóxicos
com o uso de aviões e queimadas. Como consequência dessas práticas as áreas de
coletas estão cada vez mais distantes dos locais de moradia. As mulheres se sentem
inseguras no exercício da atividade, porque a distância as colocam em situação de
vulnerabilidade, sujeitas a diferentes tipos de violência. Quando têm acesso ao coco e
conseguem beneficiá-lo enfrentam dificuldades em manter uma rede de
comercialização dos subprodutos extraídos do babaçu, como: azeite, óleo, farinha do
mesocarpo, sabonete e artesanato.

Nessa dinâmica, os investimentos econômicos vêm pressionando, de


forma sistemática e acelerada, grupos que fazem uso comum dos recursos naturais e
vivem da agricultura, extrativismo e da pesca, com base na produção familiar. Eles
disputam os recursos naturais ainda preservados por grupos camponeses, povos e
comunidades tradicionais que secularmente habitam a região, entre eles: quilombolas,
pescadores, quebradeiras de coco babaçu, povos indígenas.
Essa perspectiva de desenvolvimento relacionado a esse conglomerado de
grandes negócios alterou de maneira significativa a vida desses povos, inclusive suas
formas de se relacionar com a natureza, seus ritos, suas atividades produtivas, festas
e muito fortemente suas terapias holísticas e práticas medicinais tradicionais, como a
confecção de chás de ervas e outros preparados terapêuticos.

13
Em Economia do Babaçu e em Guerra Ecológica nos Babaçuais, Almeida et al (2005)
apresentam uma cartografia social do processo de devastação da região ecológica dos
babaçuais, mapeando as tensões e os conflitos sociais, configurados no processo de
destruição desse ecossistema, mostrando os diferentes agentes sociais envolvidos, bem como
as especificidades das formas organizativas emergentes.

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CONCLUSÃO

O mapeamento social que esses estudos vêm realizando na região


ecológica dos babaçuais revela uma dinâmica, qualificada por estudiosos como
“guerra”, na chamada região dos babaçuais, nem sempre “percebida” pelo
planejamento público e muito distante do reconhecimento destas áreas como
preservadas ou como “floresta de babaçuais”.

Apesar de toda a pressão pela disputa dos recursos naturais, o território


denominado “região dos babaçuais” tem seus focos de preservação nas áreas que
estão sob o controle das unidades familiares que vivem da agricultura, da pesca, da
caça e do extrativismo.
As pesquisas realizadas nos anos 2000 dão visibilidade às formas de vida
que têm sido objeto sistemático de tentativa de destruição, que, contudo as
quebradeiras resistem (SCOTT, 2004) assim como o babaçu desde que a ação se
fazia como cotidiano, antes mesmo da constituição da identidade coletiva objetivada
em movimento social (ALMEIDA, 1995), que neste caso são associações e grupo de
mulheres, e o MIQCB com movimento aglutinador das mulheres quebradeiras de coco
babaçu.

Uma das formas de manifestação de resistência das quebradeiras de coco


tem sido as campanhas pela aprovação das “Leis Babaçu Livre”, leis municipais que
proíbem a derrubada de palmeiras, queimada dos babaçuais e envenenamento das
pindovas. As mulheres já conseguiram aprová-las nos municípios de Lago do Junco,
Lago dos Rodrigues, Esperantinópolis, Capinzal do Norte, Imperatriz, Cidelândia, Vila
Nova dos Martírios e Pedreiras (Maranhão); São Domingos do Araguaia (Pará); São
Miguel, Buriti, Praia Norte e Axixá (Tocantins). Em Tocantins foi aprovada a Lei
Estadual Babaçu Livre.

Em seus encontros interestaduais, as quebradeiras elaboram cartas aos


órgãos governamentais, nas quais reivindicam, dentre outras coisas: desenvolvimento
de tecnologias adequadas para a utilização integral do coco babaçu; o acesso das
quebradeiras a programas governamentais que lidam com a saúde da mulher; efetiva
implantação das reservas extrativistas; garantia do livre aceso aos babaçuais, punição

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para aqueles que cometem crimes ambientais, devastação dos babaçuais, castanhais
e seringais; desapropriação imediata das áreas de conflito que envolve a quebradeira
de coco.

Quanto às estratégias das empresas nesse confronto, Acselrad (2012;


2014) avalia que os procedimentos em curso dos grandes empreendimentos
econômicos são muito inspirados em lógicas de operação semelhantes ao
pensamento militar do período de exceção. Ações denominadas de “inteligência
corporativa” visando à obtenção de informações sobre comunidades, movimentos
sociais e lideranças locais incluem atos de espionagem, estudos denominados de
“riscos sociais”, contratação de cientistas sociais e comunicadores para “estudar” os
movimentos sociais e contratação de técnicos vinculados aos movimentos sociais para
a aplicação das ditas ações de “responsabilidade social empresarial”.

Entre as estratégias adotadas pela Suzano S.A. com vistas à instalação do


seu parque industrial, a empresa compra terras ao redor das comunidades,
interferindo nas relações de trabalho que as famílias mantinham com os antigos
proprietários das fazendas; contrata empresa e profissionais liberais formados na
militância junto aos movimentos sociais para realizar estudos sociais (ACSELRAD,
2014) e “facilitar” na mediação na relação empresa/comunidade; além de dissimular
um tipo de negociação com as comunidades deslocadas compulsoriamente, sem
oferecer condições de opção para os moradores.

Para Acselrad (2014), tratam-se de confluências autoritárias entre


estratégias empresariais e militares de controle de território. Tal confluência vem
exigindo dos movimentos sociais uma reinvenção de suas formas de resistências e,
em situações específicas, um deslocamento de suas lutas, atualmente, configuradas
dentro e fora do Estado, um importante agente gerador desses conflitos
socioambientais. A situação aqui recortada, o caso específico das quebradeiras de
coco babaçu, é emblemática porque articula diferentes dimensões desses conflitos,
que nos leva a pensar como as mulheres nos seus processos políticos combinam
diferentes dimensões, como a econômica, a social, a cultural e a política.

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REFERÊNCIAS

ACSELRAD, Henri. Estratégias empresariais e militares de controle de território.


Confluências autoritárias. In: Le Monde Diplomatique Brasil. 5 mai 2014.
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1655. Consulta em 30 jan 2015.

_____________. Meio Ambiente e Democracia. 1. Ed. Rio de Janeiro: IBASE, 1992.

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Antropologia dos Archivos da Amazônia. Rio
de Janeiro: Casa 8/ Fundação Universidade do Amazonas, 2008.

______________. Quebradeiras de coco babaçu: identidade e mobilização. São


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Regionais, v. 6. n.1, p. 9-32, maio 2004
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de (Org); SHIRAISHI NETO, Joaquim (Org);
MESQUITA, Benjamin Alvino de (Org.); ARAUJO, Helciane de Fátima Abreu;
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ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno; MARTINS, Cynthia Carvalho; SHIRAISHI NETO,


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ARAUJO, Helciane de Fátima Abreu; NOVAES, Jurandir Santos; MARIN, Rosa


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ARAUJO, Helciane de Fátima Abreu. Estado/movimentos sociais no campo: a


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ALVES, Vicente Eudes e NÓBREGA, Mariana Leal Conceição. Do arroz para o
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In: Simpósio Internacional de Geografia Agrária – SINGA. João Pessoa – PB,
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Caderno Nova Cartografia Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial


contra o Desmatamento e a Devastação: processo de capacitação de povos e
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Fascículo Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. Série: Movimentos


Sociais, identidade coletiva e conflitos. Fascículo 5. Quebradeiras de coco babaçu do
Pará. São Luís, 2005;

FRANKLIN, Adalberto. Apontamentos e fontes para a história econômica de


Imperatriz. Imperatriz, MA: Ética, 2008.

Mapeamento e Levantamento do Potencial das ocorrências de babaçuais


(Estados do Maranhão, Piauí, Mato Grosso e Goiás). Brasília: MIC/STI, 1982.

PNCSA/MIQCB. Fascículo 5 Quebradeiras do Coco Babaçu do Pará. São Luis:


Casa 8, 2005.

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CARTOGRAFIA DOS BABAÇUAIS – A PALMEIRA DOS MAPAS14.

15
Poliana de Sousa Nascimento
16
Luis Augusto Pereira Lima

1.INTRODUÇÃO

Com a intenção de expressar conhecimentos tradicionais e formas de uso dos


recursos naturais a partir de representação dos mapas, esse artigo busca para, além
disso, demonstrar técnicas de elaboração dos mapas e análise da cartografia social
interpretada pelos agentes sociais em trabalhos de campo, realizados em
comunidades tradicionais no âmbito do projeto Cartografia Social dos Babaçuais:
Mapeamento Social da Região ecológica do Babaçu .

A maneira como os agentes se apropriam desse mecanismo para reivindicar


seus direitos e se colocarem contra situações adversas em seus territórios, constitui
parte de um processo de relações que estabelecem entre si e entre seus pares diante
de contextos de mobilizações que permeiam a luta das mulheres quebradeiras de
coco nos locais de ocorrência do babaçu.

De forma que, o olhar do sujeito pesquisado que interpreta o seu lugar,


transparece nas representações daquilo que é considerado relevante e que seus olhos
ressaltam. Os mapas produzidos pelos agentes sociais nas oficinas são reflexos do
conhecimento tradicional objetivado pelos agentes sociais (FARIAS JUNIOR, 2013).Os
símbolos atribuídos aos itens desenhados, são espelhos da importância oferecida aos
lugares considerados relevantes, cujos elementos contemplam conhecimentos sobre o
território que permitem situá-los quanto a forma de organização social e política do
território. Como ressalta Bourdieu (1997) o espaço social se retraduz no espaço físico.

14
Artigo produzido a partir de experiências na elaboração de cartografias sociais e pesquisas
de campo realizadas no âmbito do projeto Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento
Social da Região Ecológica do Babaçu.
15
Mestre. Pesquisadora do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA/GESEA)
16
Mestrando. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Pesquisador do projeto Nova
Cartografia Social da Amazônia (PNCSA)

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CARTOGRAFIA SOCIAL DOS BABAÇUAIS E SUA TÉCNICA DE ELABORAÇÃO.

As percepções iniciais constituem a “palmeira dos mapas”, os primeiros


mapas dos babaçuais. Um desenho, uma aventura, que vai se conectando aos pontos,
às curvas das linhas de áreas, de caminhos que tornam visíveis mulheres que
quebram coco. Suas vidas, suas lutas pela vida, pela palmeira dos mapas, o babaçu.

Essas percepções se dão, também, pelo processo de elaboração das


informações cartográficas. Estas, conciliadas com as informações de bancos de dados
e com as experiências de pesquisa em campo. Situações localizadas que podemos
discorrer sobre os procedimentos e métodos de pesquisa e as técnicas de laboratório
de cartografia social.

Sobre estas técnicas podemos considerar inicialmente o levantamento de


dados sobre as bases cartográficas já existentes. Os mapas que foram elaborados por
diferentes fontes, constituem a base fonte a princípio. As fontes, neste momento,
apresentam realidades que podem compor um diálogo preliminar. Seja como fonte
temporal e como fonte de constatação, por interesses comerciais ou industriais e
sociais pelos povos e comunidades tradicionais.

De imediato, as fontes até o momento são físicas, mapas antigos impressos.


Considerando assim, cinco mapas que constituem as fontes cartográficas para
iniciarmos o levantamento de dados técnicos digitais sobre os mapas. No entanto,
apenas um desses, detínhamos os dados técnicos digitais em formato de base
cartográfica, nos referimos ao mapa Guerra do Carvão. Sobre os outros mapas, até o
momento não havia dados digitais em linguagem para Sistema de Informações
Geográficas (SIG), que pudéssemos “alimentar” o banco de dados, elaborar novos e
reelaborar os mesmos mapas. Para isto, recriar as bases cartográficas dos mapas
impressos, físicos, seria necessário usar técnicas cartográficas sociais aliadas a
conhecimentos de cartografia e tecnológicos de SIG avançados.

Diante desta análise, iniciou-se o procedimento de consulta de dados


geográficos nas fontes de bases cartográficas levantadas disponíveis como: IBGE,
ANA, MINISTÉRIOS DOS TRANSPORTES, ICMBIO, IBAMA, FUNAI, IMAGENS DE

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SATÉLITE e os próprios mapas como bases de referência. Para isto, considerando as
referências de Sistemas de Informações Geográficas, o SIRGAS 2000.

Os mapas referidos como fontes temporais ou de constatação para este


projeto de pesquisa, como informações técnicas para o laboratório de cartografia
social temos: i - (1911) - Mapa Mattas e Campos no Brasil. Esboço organizado pelo
Serviço Geológico e Mineralógico por determinação do Ministro da Agricultura,
Indústria e Comércio. Ministério de Agricultura, Indústria e Comércio - Serviço de
Informações – 1925. Reprodução do mapa da primeira edição deste trabalho. ii –
(1983) - Mapeamento e Levantamento do Potencial das Ocorrências de Babaçuais
1983. Ministérios do Exército – Diretoria de Serviço Geográfico. Ministério da Indústria
e do Comércio – Secretaria de Tecnologia Industrial. Escala 1:1.000.000. iii – (1993) -
Guerra dos Mapas – Programa Grande Carajás: áreas reservadas, uso e ocupação do
solo, conflitos sociais e recursos naturais. Mapa elaborado para o seminário/consulta:
“Carajás: Desenvolvimento ou Destruição”. Promovido pelo GTA/Carajás e pelo
GTA/Babaçu. Escala 1:1.300.000. iv – (2005) - Guerra Ecológica nos Babaçuais -
Conflitos Socioambientais. Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco
Babaçu (MIQCB).

Projetos “Campanha contra o desmatamento e a coleta de coco inteiro”, “Lei


do Babaçu Livre” e “Coleção Nova Cartografia Social da Amazônia”. Escala
1:1.000.000. v – (2014) - Mapeamento Social como instrumento de gestão territorial
contra o desmatamento e a devastação: processo de capacitação de povos e
comunidades tradicionais – Guerra do Carvão. Projeto Nova Cartografia Social da
Amazônia (PNCSA). Escala 1:1.300.000.

Após consulta às bases cartográficas fontes e aos mapas fontes impressos,


iniciou-se o processo de reelaboração das bases cartográficas a partir dos mapas
impressos, com exceção do quinto mapa, o Guerra do Carvão, do qual já detemos as
informações e bases cartográficas...

Sob as técnicas de cartografia social. Primeiro identificamos as legendas com


organizações e dados relevantes existentes nos mapas. Este procedimento ocorreu
em alguns encontros e reuniões com a equipe de pesquisa e a equipe do laboratório
de cartografia social. No decorrer, houve algumas seções com a equipe toda, onde

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foram discutidas algumas abordagens. Nestas abordagens foram evidenciados os
relatos dos agentes sociais, as organizações, os encontros com as lideranças. Os
mapas impressos foram analisados, digitalizados, scanneados e fotografados para que
pudéssemos inseri-los na interface do software SIG.

A equipe de laboratório de cartografia social, a partir do software SIG ArcGIS


ArcInfo Advanced 10.2.2 instalado em uma mesa digitalizadora de alta resolução
iniciou os procedimentos. E após consultas às equipes fizemos os procedimentos de
separação das bases cartográficas dos mapas impressos. Esta separação deu-se pela
identificação e georreferenciamento de informações geográficas em todos os mapas,
os quatros primeiros citados com exceção do ano de 2014. Este procedimento de
georreferenciamento gerou informações distintas de todos os mapas. Usamos
ferramentas tecnológicas de precisão como: georreferenciamento, conversão
geográfica, análise espacial, seleção automática, seleção por atributos, conexão de
tabelas, edição de vértices, edição gráfica.

Os mapas agora existem, como bases geográficas, de forma digital, em


formato Shapefile (SHP). Formato de arquivo que é permitido leitura no software SIG –
ArcGIS 10.2.2. Estas informações podem, agora, ser manipuladas de maneira a
elaborarmos novos mapas com considerável acurácia. Sejam para identificar as
manchas de babaçuais, organizações, associações, elementos físicos e geográficos
que estão presentes nos diferentes mapas, assim como agregar informações atuais.

Esta etapa proporcionou uma gama de informações que poderão ser usadas
nos trabalhos de campo o andamento da pesquisa. Isto organizou outros mapas
situacionais para o campo como o mapa dos cocais, o mapa da baixada, o mapa do
bico, o mapa das organizações, o mapa das áreas de babaçuais, castanhais, soja,
dendê, unidades de conservação e outros dados cartográficos.

Estes mapas estarão somando para a disseminação das informações


previstas para o desdobramento do projeto. Tais informações estarão disponíveis em
banco de dados, conectadas para acesso dos agentes sociais e instalação dos
minilaboratórios. Com a instalação dos minilaboratórios os dados levantados a partir
dos mapas impressos e dos trabalhos de campo formarão uma nova base cartográfica
para acesso em rede.

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Os dados a serem coletados no desdobramento da pesquisa proporcionarão
uma gestão territorial, dos eventos localizados, ainda não evidenciados pelos agentes
sociais com tecnologia embarcada em rede. A inserção das informações agilizará uma
eventual tomada de decisão pelas organizações sociais diante das políticas
governamentais. Esta gestão conectará agentes sociais e pesquisadores a partir das
informações cartografadas.

Para esta inserção ocorrer completamente, serão proporcionados cursos e


treinamentos para a operação dos minilaboratórios. Cursos de legislação, ambiental e
territorial, de Convenção 169, noções básicas de manuseio com GPS, software SIG,
instalação e operação de programas em computadores e treinamentos para a
continuidade das atribuições operacionais e manutenção.

CAMINHOS PERCORRIDOS PARA DELINEAR “O MAPA DAS PALMEIRAS”

A forma como essas informações serão inseridas na cartografia social dos


babaçuais estarão versadas por uma gama de informações que são estabelecidas
pelos agentes sociais de maneira pertinente por se tratar de um contexto de luta e de
conflitos frente a diferentes contextos de atuação, seja por grandes empreendimentos
econômicos, seja por fazendeiros ou empresas de pequenos portes.

Entretanto, cabe aqui enfatizar que os recursos naturais, sintetizados então


na ideia de “terra” e as mobilizações no sentido de sua conservação, servem de
reforço à reivindicação da identidade coletiva de mulheres quebradeiras de coco
(AlMEIDA,2008) . Essa especificidade faz parte de uma interpretação que não pode
ser dissociada das mobilizações existentes nas áreas de ocorrência do babaçu. São
essas mobilizações que passam a compor parte de um conjunto considerado para a
reprodução física e social de comunidades inteiras que habitam essas regiões. Essa
identidade é reforçada, fortalecendo também os laços de solidariedade que são
criados face à ocorrências dos antagonistas sociais.

Essas mulheres reconhecidas como quebradeiras de coco babaçu


apresentam necessidades que lhe são particulares em decorrência de suas práticas e
relações sociais com os recursos naturais. Elas arquitetaram formas de organizações
especificas, de relações de trabalho com os recursos naturais que lhes permitem

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reivindicar direitos que lhes assegure o livre acesso a esses recursos. São as
palmeiras de babaçu que asseguram a essas mulheres importância na reprodução
física, social e cultural. Como ressalta Almeida (2006) “a palmeira não representa um
mero acessório do solo, ela é da construção social e política das organizações das
quebradeiras de coco”.

No âmbito do projeto “Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento Social


da Região Ecológica do Babaçu”, para elaboração do mapa nos baseamos nas
informações que foram sendo mais evidentes durante o período dos trabalhos de
campo, onde a ênfase dada às formas organizativas no mapa que apresentam relação
direta ou indireta com as mulheres quebradeiras é parte de um contexto de
informações fornecidas pelos agentes sociais. É possível ainda identificar áreas com
maior ou menor incidência de palmeirais, áreas com verdadeiras florestas
homogêneas e outras se demonstram bem espaçadas, sendo, portanto, permeadas
por essas formas organizativas e movimentos sociais relacionados.

Esse espaçamento das palmeiras identificado em muitas áreas pode ser


explicado pelas extensas áreas de pastagens que permeiam as áreas de babaçuais,
mas pode também significar mecanismos de manejo do babaçu. Na região dos cocais
maranhense, a existência de florestas homogêneas de babaçu nem sempre significa
grande produtividade da palmeira, exigindo assim, praticas de derrubadas de algumas
palmeiras para o aumento da produtividade da palmeira. Alguns desses pastos
apresentam palmeiras espaçadas e algumas pindovas, entretanto, essas pindovas são
por vez, são envenenadas para não prejudicarem o gado.

São essas demandas que tornam os mapas em questão situacionais,


evidenciando os aspectos sociais dos lugares, pois ao produzir tais mapas os agentes
sociais reproduzem aquilo que julgam necessário enfatizar para retratar sua própria
realidade. Ao analisar o mapa, os pontos evidenciados como referências são
compatíveis com os discursos de apropriação de lugar construído pelos agentes
sociais.
Os mapas elaborados evidenciarão de fato, as características pertinentes nos
discursos dos agentes, dando ênfase aos fatores religiosos, aos usos dos recursos
naturais e à organização social em torno do território, permitindo compreender a

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realidade dos agentes sociais. A informação obtida no mapa retrata maneiras de
interpretações que não está naturalizada nas produções dadas “oficialmente”, pelo
contrário, são parte de um processo de apropriação do saber construído pelos agentes
sociais ligadas aos seus interesses comuns, pois trata-se de uma construção coletiva.

CONCLUSÃO

Enfim, parte do processo de elaboração dos mapas é fazer entender que as


cartografias sociais produzidas são resultado das ações e da participação dos agentes
sociais envolvidos. São cartografias que refletem suas lutas, conflitos, crenças e
formas de mobilizações que compõem parte daquilo que interessa para saber como
vivem, tornando possível o uso desses instrumentos atuantes no processo de
construção social dos mapas. Transformando tais cartografias sociais em objeto de
ação política, revelando-se ferramentas uteis para mobilizar comunidades e gerar
debates locais sobre situações adversas que acometem seus territórios.

BIBLIOGRAFIA

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ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno; MARTINS, Cynthia Carvalho; SHIRAISHI NETO,


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Balaios Typographia, 2005.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de Almeida. Antropologia dos Arquivos da
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BOURDIEU, Pierre. Compreender. A miséria do mundo. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

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FARIAS JUNIOR, Emmanuel de Almeida. Cartografia social e conhecimentos
tradicionais associados à reivindicação de territorialidades específicas no baixo
Rio Negro: os quilombolas do Tambor. Cadernos de debates, Nova Cartografia
Social. Conhecimentos tradicionais e territórios na Pan-Amazônia.Manaus: UEA, 2010.

SHIRAISHI NETO, Joaquim. Leis do Babaçu Livre: Práticas jurídicas das


quebradeiras de coco babaçu e normas correlatas. Manaus: PPGSCA-UFAM,
2006.

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