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UNIVERSIDAD NACIONAL DE ROSARIO

FACULTAD DE HUMANIDADES Y ARTES


TRADUCTORADO DE PORTUGUÉS

LITERATURA EN LENGUA PORTUGUESA

Mongólia

Alumno: Pedro Costa

Rosario
2018
Introdução

O objetivo do presente trabalho é realizar uma análise do romance Mongólia, de


Bernardo Carvalho, publicado no Brasil no ano 2003. Para tanto, analisar-se-á de que
modo se manifesta a interculturalidade nesta obra. Para isso, tomaremos como
referência teórica as obras Diferentes, Desiguais e Desconectados (1990), de Nestor
García Canclini, e Desde la otra orilla (2005), de Zulma Palermo.
Bernardo Teixeira de Carvalho (Rio de Janeiro, 1960) é um romancista, contista,
jornalista e tradutor brasileiro. Entre suas obras se encontramo livro de contos
Aberração (1993) e os romances Teatro (1998), Nove noites (2001). Com uma escritura
próxima ao registro etnográfico (Koleff, 2015) em seus romances o autor se serve de
diversos narradores para contar suas histórias.

Interculturalidade

Quanto ao conceito de interculturalidade, segundo García Canclini esta remete a


“confrontação e entrelaçamento” entre culturas (García Canclini, 2017:17). Por outro
lado, para Zulma Palermo a interculturalidade vai além de uma simples inter-relação
entre diferentes grupos e representa “procesos de construcción de um conocimiento
otro, de uma práctica política otra, de um poder social (y estatal) otro, y de uma
sociedad otra” (Palermo, 2005:137).

Mongólia
Os personagens

Em relação à estrutura do romance Mongólia, podemos observar que se


manifestam três narrativas independentes que se identificam com três tipografias
diferentes. A narrativa principal é realizada por um ex diplomata brasileiro de sessenta e
nove anos de idade que encontra dois diários na sua casa. A partir daí, utiliza essas
outras duas narrativas para conformar o romance. O narrador principal parafraseia e
transcreve trechos do diário que um antigo colega recém falecido,um ex vice-cônsul de
Xangai chamado de o “Ocidental”, escreveu na forma de uma extensa carta para sua
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mulher. Neste texto, registra a busca de um jovem fotografo que desapareceu na
Mongólia no médio de um reportagem jornalístico. Do mesmo modo, o rapaz, também
relata a sua experiência em dois diários. Desta maneira, o narrador principal – ou
"regente" (Caldas; 2012:223) – propõe-se reconstruir uma espécie de quebra-cabeça e
“montar a imagem do que realmente acontecera” (Carvalho; 2003:33).
Neste sentido, o narrador principal é extradiegético em relação às duas narrativas
e intradiegético quanto a sua própria narrativa, na qual participa e opina sobre aqueles
trechos dos diários que vai selecionando. Os personagens-narradores dos relatos não
tem nomes próprios. Do "Desaparecido" – narrador intradiegético no seu relato – não
conhecemos seu nome, mas sabemos como passam a chamá-lo os mongóis: Buruu
nomton, o desajustado. No mesmo sentido, o “Ocidental” também se apresenta como
um narrador intradiegético na sua narrativa, mas é extradiegético em referência à
narração do “Desaparecido”, sobre quem tenta reconstruir seus últimos passos com o
intuito de encontrá-lo.
De outra parte, os outros personagens do romance são os guias mongóis.
Ganbold, o primeiro guia do “Desaparecido”, abandona ao jovem brasileiro depois de
acompanhá-lo durante um típico viagem turístico. Entretanto, o rapaz pretende viajar
para as montanhas do oeste durante o inverno em procura de uma deusa guardiã do
Tantra: Nano Hajodma. A rejeição do guia diante deste arriscado projeto provoca que o
brasileiro considere que o guia poderia ser um "oportunista" (Carvalho; 2003:50).
O outro guia, Purevbaatar, será quem acompanhe ao rapaz brasileiro na sua
temerária aventura. Quando conhecem ao "Ocidental" os guias expressam culpa pelo
fato de permitir que o jovem se lance a uma empresa tão perigosa, como se tivessem
sido cúmplices na ruptura de alguma regra milenar que não devia ser quebrada. Neste
sentido, o apelido que estes nativos colocam para o “Desaparecido” (Buruu nomton)
significa aquele que não segue as regras.

O espaço

No que respeita a função que cumpre o espaço nos relatos. O "Ocidental", vice-
cônsul de Pequim, faz uma descrição negativa da capital chinesa em sua carta-diário.
Assim, Pequim – a diferença de Xangai – é desenhada como uma cidade “opressiva”,
de uma escala arquitetônica “inumana”, um “labirinto” no médio do deserto. O
diplomata compara os bairros pobres pequineses (“hutongs”) com as favelas brasileiras.
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Nesse contexto físico os chineses são “subjugados e obedientes” (Carvalho, 2003:17).
Neste olhar de estrangeiro podemos observar uma matriz etnocêntrica e eurocêntrica, na
qual o elemento colonial tem muita influência em sua visão de Xangai, cidade onde os
traços da arquitetura ocidental ainda permanecem intatos. Pequim, ao contrário, foi
edificada no interior profundo do país oriental, afastada da costa e com um estilo
urbanístico próprio dos chineses. O “Ocidental” compara a capital oriental com Brasília,
demostra assim que é incapaz de apreender ao “outro” no que tem de específico,
projetando sobre uma cultura não ocidental os preconceitos próprios. O "Desaparecido"
descreve os prédios populares construídos no período soviético como as "favelas
verticais" do Brasil. Embora seja verdade que o jovem tem uma atitude mais otimista,
segundo o narrador principal nos diários dos brasileiros se percebem as mesmas ideias
etnocêntricas, os dois caracterizam aos mongóis como seres curiosos mas que possuem
uma violência latente no seu interior.

O tempo

Quanto ao tempo, na conjugação das três narrativas se manifestam, também,


três temporalidades diferentes. Em um primeiro momento, o rapaz decide percorrer
Mongólia de Norte a Sul para tirar fotos para uma revista de turismo. O jovem narra sua
viagem em seu diário, podemos lê-lo com uma tipografia diferente. Uma vez acontecida
a sua desaparição o diplomata brasileiro, o “Ocidental”, viaja da China para Mongólia
para encontrar o jovem. O diplomata reproduz o mesmo percurso do rapaz
desaparecido. Experiência que também registra em um diário. Finalmente, o narrador
principal, encontra – alguns anos depois – uma pasta na sua casa com os dois diários.
Assim, com esse material decide reconstruir a história dos dois brasileiros na Mongólia.
Desta maneira, o leitor vai reconstruindo, junto com o narrador principal, uma história
que mistura ficção com realidade.

O contexto

Em relação à imagem que os narradores constroem sobre o “outro”. O


etnocentrismo do "Ocidental" se manifesta quando, a causa de seu desconhecimento do
idioma chino, tira conclusões apressuradas sobre a suposta incapacidade dos chinos de

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desenvolver uma literatura moderna como as dos outros países ocidentais. O narrador
principal não dúvida em qualificar as opiniões do seu antigo colega como frutos da
ignorância e da arrogância (Carvalho;2003:25). O regime político socialista e suas
manifestações, por exemplo a “Revolução cultural”, são considerados pelo narrador
principal como a explicação do atraso cultural chinês. Para o “Ocidental” a China é um
“inferno” habitado por uma massa de “sobreviventes” (Carvalho; 2003:21). De outro
modo, a descrição que o “Desaparecido” faz de Mongólia é mais "ingênua" (Carvalho;
2003:50), mas não totalmente diferente. O jovem revela sua intenção etnográfica. Desta
forma, frente aos povos nômades que percorrem a taiga com seus animais, o
“Desaparecido” descreve suas casas (“Iurtas”), cerimônias e costumes características.
Os mongóis, ao igual que os chineses, são não-ocidentais, mas estes conservam melhor
um modo de vida tradicional que, porém, está sendo contaminado pelos ocidentais. Não
obstante, a colonização cultural não se impõe apenas sob a forma do colonialismo
comunista chinês – os novos amos dos mongóis depois dos monges budistas – e sim por
meio da invasão de turistas ocidentais que procuram nestas terras um produto “exótico”.
O jovem fotógrafo percebe o constrangimento dos povos nativos (os tsaatan) em face
da constante presença dos estrangeiros: “Devem estar cheios dos estrangeiros curiosos
que vêm vê-los como se fossem animais em vias de extinção” (Carvalho; 2003:44). A
paisagem (desertos, altas montanhas e extensas planícies) parece inatingível e o
fotógrafo fica paralisado diante da imensidão do país oriental: “O céu está sempre tão
perto. A paisagem não se entrega. O que você vê não se fotografa” (Carvalho; 2003:41).

Considerações finais

Para finalizar, em Mongólia podemos perceber uma combinação de diversas


narrações, cada uma com seu própria temporalidade, estilo e até tipografia. A presença
dos brasileiros em oriente gera conflitos no seu interior, em face de um "outro"
totalmente diferente suas reações estão carregadas de preconceitos.
Em um contexto de globalização, onde o acesso a outras civilizações e cada vez
maior, os personagens-narradores não podem evitar a projeção sobre as culturas
orientais de conceitos e visões da sua própria cultura ocidental, o que evidencia a
impossibilidade de se vincular de modo genuíno com modos singulares de perceber a
vida.

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Bibliografia

CALDAS, Pedro. O primeiro narrador: uma reflexão sobre “Mongólia”, de Bernardo


Carvalho. Viso: Cadernosde estética aplicada, VI, n° 11 (jan-jun/2012), pp. 218-
223.

CARVALHO, Bernardo. Mongólia. São Paulo; Companhia das Letras: 2003 (1° ed.)

GARCÍA CANCLINI, Nestor. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro;


UFRJ: 2007.

KOLEFF, Miguel. Bernardo Carvalho y la transnacionalización literaria. Revista de


Culturas y Literaturas Comparadas, Vol. 5, año 2015. Disponible en:
https://revistas.unc.edu.ar/index.php/CultyLit/article/view/13225/19413

NUNES DA MATA, Anderson Luís. A deriva: espaço e movimento em Bernardo


carvalho. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Abril/ Maio/ Junho de 2005
Vol. 2 Ano II nº 2. Disponível em: www.revistafenix.pro.br

Ortiz, Graciela. De viajes y enigmas. Mongólia de Bernardo Carvalho y L'énigme du


retour de Dany Laferrière. X Jornadas Nacionales de Literatura Comparada. 17 al 20
de agosto 2011, La Plata, Argentina. En Memoria Académica

PALERMO, Zulma. Desde la otra orilla. Pensamiento crítico y políticas culturales en


América latina. Buenos Aires; Alción Editora: 2005

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