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Curso de Ciências Sociais - Centro Universitário Fundação Santo André - Ano VIII - N° 12
Jornal de
Ciências
200 anos de
Entre os 200 anos que separam o nas-
cimento de Karl Marx (1818−1883) e
MARX
os dias de hoje a humanidade passou
por transformações que reformula-
ram, ao redor do globo, as relações
sociais e de produção. P. 13
#EleNão
Prezados leitores, não basta nos brasileira vamos notar a íntima e Carta ao IPHAN
lamentarmos diante das condições inextrincável associação entre a
políticas que vêm nos assolando
desde o golpe de 2016 que elevou
(fora)Temer ao poder. Mais que
forma subordinada de nosso ca-
pitalismo, estruturada sobre um
capital atrófico, e o poder opres-
O Museu da
Destruição Nacional
isso, não basta lamentarmos a ina- sor de um estado autocrático,
bilidade e inconsistência políticas que se move entre a configuração
do PT desde 2003 (Lula e Dilma), ditatorial e a flexibilização insti- *
que resultou na ocupação dos tucional autocrática. Quer isto * Texto publicado originalmente no Jornal GGN (jornalggn.com.br) em 03/09/2018
Sociais
que fizemos de nós, do Brasil. -se a atmosfera criada pelo incên- contra LGBTs, a volta da fome nos
Ciências Cada salão será rebatizado com dio e reproduza-se ali o cenário sertões e periferias. Sugere-se ainda
Jornal de
placas afixadas sobre os montes de de depredação de templos de que se deposite em salão amplo
madeiras e peças queimadas sinali- religiões de matriz africana, como os cadáveres de civis e militares
zando os acontecimentos históricos também a perseguição a seus mortos na guerra do Estado versus
que levaram a destruição do nosso sacerdotes e adeptos. Este setor crime organizado, para que suas
Colaboraram nesta edição: sonhado desenvolvimento. pode contar com ambientação ossadas empilhadas dêem dimen-
Beatrice Papillon
Haverá logo na entrada o Hall sonora em que se ouça canções são do saldo de morte obtido com
Sarah Rosangele da Silva Jornalista Responsável do Retrocesso, em que se verá, gospel e discursos de pastores políticas antidrogas e de criminali-
Juarez Donizeti Ambires
Guilherme Barros Araújo
Eduardo Kaze - MTB: 62857 dispostos sobre os destroços, os fundamentalistas evangélicos. zação dos pobres.
Raphaelle Denser
Izabela de Macedo Jacinto
documentos oficiais e fotos dos No Salão do Genocídio Indígena, Que o “Museu da Destruição
Roger Filipe Silva Fundação Santo André momentos em que a democra- para substituir as peças perdidas de Nacional” cumpra sua função
Felipe Henrique Gonçalves
Valquíria Braga
Av. Príncipe de Gales, 821, bairro cia brasileira foi golpeada desde acervo ameríndio, o visitante verá de catalogação histórica a partir
Sandro Barbosa de Oliveira Príncipe de Gales a proclamação da República. uma lista das tribos perseguidas e/ destes restos do incêndio para
Heitor Santinon Santo André - SP - CEP: 09060-870
Victor Monteiro dos Santos Tel.: (11) 4979-3406
Pode-se usar também sobre as ou dizimadas desde a chegada dos informar às próximas civiliza-
Renata Adriana de Sousa
Rodrigo Chagas colegiado.sociais@fsa.br paredes queimadas projeções europeus até nossos dias. Mapas ções sobre como um povo, com
de vídeos com os votos de cada devem mostrar as demarcações vocação inegável para o desen-
Tiragem: 5.000 exemplares deputado no impeachment de de terras e a invasão de grileiros do volvimento e a felicidade, pode
O Jornal de Ciências Sociais é uma publicação do Colegiado de Dilma Rousseff. Fiquem ali agronegócio latifundiário. sucumbir sob golpes perpetrados
Ciências Sociais da Fundação Santo André, distribuído gratuitamente. expostos os interesses e projetos No lugar dos fósseis de dinos- por inimigos de seu próprio meio.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 3
LANÇAMENTO
Mulheres, raça e
Davis, Angela; Dent, Gina. “A prisão como fronteira: uma conversa sobre gênero,
globalização e punição”. In: Estudos Feministas. Florianópolis, 2003. Disponível
em https://goo.gl/bx9dvF
LITERATURA
FEMINISMO
Revolução Russa e
Cotrim, Vera. “Emancipação feminina e dissolução da família no ideário da Re-
volução Russa”. In: Cotrim, Ana; Cotrim, Vera (orgs.). Todo Poder aos Sovietes!
A Revolução Russa 100 Anos Depois. Porto Alegre: Zouk, 2018.
os feminismos hoje
D’Atri, Andrea; Murilo, Celeste. Nós mulheres, o proletariado. Disponível em:
https://goo.gl/e8An6o
Goldman, Wendy. “As Mulheres e a Revolução” (vídeo, legendado, disponível
em: https://goo.gl/fVDRHf)
Raphaelle Denser
Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André
DEMARCAÇÃO JÁ!
Aldeia Multiétnica e
Para saber mais:
Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil: disponível em
que se encontram os Krahô, desses povos seja pelo lati- a gente não pode. Não pode
Fulni-ô, Kayapó, Dessana, fúndio ou pelo aniquilamen- porque o sistema econômico
Kariri-Xocó, Guarani Mbya, to dos recursos necessários e político não permite que a
Xavante, Rikbatsa, povos do para sua sobrevivência – um gente tenha paz”.
Alto Xingu como os Yawala- exemplo contemporâneo é a Num cenário de ofensiva
piti e Kamaiurá, entre outras construção da Hidrelétrica direta e constante aos povos
etnias de diferentes regiões, de Belo Monte na bacia do indígenas, os efeitos sobre os
no intuito de estabelecer di- Rio Xingu –, o desmonte da povos originários são diver-
álogos, aproximação entre as FUNAI, a perda de rudimen- sos e revelam a carnificina,
etnias, promover os saberes tos da língua e da cultura, o entretanto a causa, desde o
tradicionais e fortalecer lutas desaparecimento de etnias, o “descobrimento”, nos parece
em comum. Há também a empobrecimento compulsó- ser a mesma. Nas palavras fun-
presença do povo tradicional rio e marginalização dos in- damentais de Darcy Ribeiro
quilombola, do Sítio Histó- dígenas nos centros urbanos. em O Povo Brasileiro: “Nada
rico Kalunga, e os Kupen, Nessa perspectiva, o Acam- é mais continuado, tampouco
denominação Krahô dos não- pamento Terra Livre (ATL), é tão permanente, ao longo
-indígenas, “que vivem como assim como a Aldeia Multiét- desses cinco séculos, do que
cupins”, amontoados em casas nica, são de grande importân- essa classe dirigente exógena
construídas na vertical. cia para o fortalecimento do e infiel a seu povo. No afã de
Em outras palavras, para os movimento indígena. Desde gastar gentes e matas, bichos
indígenas a Aldeia Multiét- 2004, o Acampamento agluti- e coisas para lucrar, acabam
nica significa se reunir com na as etnias e suas respectivas com as florestas mais porten-
os parentes, unir o canto, o demandas numa mobilização tosas da terra. Desmontam
rezo, a comida, as histórias, nacional, em Brasília. Dessa morrarias incomensuráveis,
e colocar em dia questões mobilização, nasceu a Articu- na busca de minerais. Erodem
importantes como o genocí- lação dos Povos Indígenas do e arrasam terras sem conta.
dio da população indígena, Brasil (APIB), que reúne mais Gastam gente, aos milhões.
a luta pela demarcação de de 1000 lideranças do país Tudo, nos séculos, transfor-
terras, quais são as medidas inteiro, além de outras orga- mou-se incessantemente. Só
indigenistas que realmente nizações indígenas regionais. ela, a classe dirigente, per-
funcionam ou funcionariam Todo ano, o Acampamento maneceu igual a si mesma,
para eles, denunciar as ativi- dura por volta de 5 dias, e a exercendo sua interminável
dades predatórias nos terri- edição desse ano, com o lema hegemonia”.
tórios tradicionais indígenas, “Unificar as lutas em defesa do Durante o Acampamento,
enfim, demonstrar quais são Brasil Indígena – Pela garantia a marcha pela Esplanada dos
os desafios e as perspectivas dos direitos originários dos Ministérios deixa um “rastro
da luta indígena hoje em dia. nossos povos”, reuniu mais de de sangue” de urucum diluído
To das ess as questõ es s ão 3.200 indígenas. As palavras em água, com uma faixa cla-
Os índios não são proprie- Atualmente, aquilo que no abordadas à maneira deles, de Sonia Guajajara (PSOL) mando “Chega de genocídio
dade de ninguém, nem de geral se chamam índios, são por vezes numa roda de prosa durante o evento revelam a indígena – Demarcação Já!”.
padres nem de ONGs; enten- povos originários que to- logo pela manhã, comen- importância da mobilização: É o clamor desses povos origi-
dem que pensam diferente e talizam mais de 300 etnias, do um pedaço de melancia “E a gente vem pra cá por quê? nários, numa luta direta e que
que devem ser diferentes dos falantes de 274 línguas, cada depois do almoço, ou nas A gente vem pra cá por que a vem se organizando contra a
demais, e que devem apoiar qual com seu modo de orga- cantorias no pé do fogo de gente gosta de ficar na estrada, “interminável hegemonia” e
uns aos outros. Assim fala- nização social. Nesse cenário noite. Seja cantando, rezando passando dois, três dias, pra genocídio. No cenário som-
ram lideranças indígenas no tão amplo e diverso, a Aldeia ou dançando, tudo na Aldeia chegar em Brasília e ficar aqui brio em que nos encontramos
evento “Mekukradjá” em São Multiétnica aparece em 2007 denuncia o tempo todo o acampado? A gente vem pra cá atualmente, ambas as mobili-
Paulo. Entretanto, a primeira no formato de um evento que quanto a cultura indígena é pra ficar tomando sol, spray zações aqui apontadas são de
vez em que me encontrei com promove o fortalecimento rica e diversa, e ao mesmo de pimenta, tomando bala de extrema importância na resis-
elas foi num diálogo de mais cultural indígena. É na Cha- tempo, o pesar, a dura rea- borracha? Não, a gente vem tência aos projetos do capital
de sete dias, durante a Aldeia pada dos Veadeiros, durante lidade contra os indígenas: pra cá chorando. Quem de nós nacional e internacional de
Multiétnica. a segunda semana de julho, a expropriação constante não queria estar em casa? Mas usurpar vidas e gentes.
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ANTROPOLOGIA
espécie sapiens –, percebeu-se que africano; porém, apesar de conver- vis First, segundo a qual o homem
algumas características anatômicas girem para uma mesma adaptação, teria vindo a pé, pelo Estreito de
consideradas arcaicas, como a caixa inclusive por meio de miscigena- Bering, da Ásia ao norte do conti-
craniana alongada, estiveram pre- ções, teriam algumas características nente, e de lá teria se espalhado, se
sentes nestes exemplares, contudo anatômicas que apareceram de deu devido a diversas evidências,
sobrepostas às características tidas formas dessemelhantes a depender tal qual o achado de objetos no
como modernas, como a face dos mais diversos fatores. Chile, com datações anteriores às
pequena e as mandíbulas curtas. Apesar de tais descobertas res- encontradas no norte do continen-
Algo semelhante aconteceu com ponderem a algumas das dúvidas te, e a descoberta de ferramentas
os exemplares encontrados em que cercam a formação do humano que datam de mais de 20.000 anos,
Florisbad, na África do Sul, com moderno, e inaugurarem novas, no Parque Serra da Capivara, no
cerca de 260 mil anos: neles a face outras ainda continuam presentes. Piauí, além de restos de fogueiras
é larga e grande, mas relativamente Um destes mistérios diz respeito que parecem ter cerca de 100.000
plana, já a testa se aproxima do ao papel da miscigenação, que teria anos, uma diferença de mais 80.000
porte característico do homem ocorrido entre as diversas espécies anos do que se previra.
contemporâneo. de Homo que foram contempo- Ainda que se faça necessária
Tais achados, além de alterarem râneas e que se entrecruzaram na a descoberta de mais evidências
a teoria segundo a qual a nossa Eurásia por um longo período, para que se afirme algo que pode
espécie teria surgido no leste afri- até a extinção das espécies menos mudar, e muito, o que se conhece
cano e se espalhado ao redor do adaptadas. Segundo o mapeamen- sobre o desenvolvimento humano
globo posteriormente, uma vez que to genético obtido de neandertais, nas Américas, tal datação é extre-
demonstram o espalhamento hu- haveria parcelas destes genes nos mamente significativa para que
mano no continente africano bem humanos modernos não subsaa- se iniciem mais buscas e estudos
antes do que se esperava, também rianos, além de genomas de deniso- paleontológicos no país.
acabam abrindo a possibilidade de vanos, uma espécie próxima aos ne- Também foi no Brasil, em
que sejam encontrados cada vez andertais encontrada nas cavernas Minas Gerais, que se encontrou
mais fósseis com características in- de Denisova, na Sibéria, mas sobre o fóssil mais antigo de todo o
termediárias diversas entre o Homo a qual pouco se sabe além do que continente americano, o Lapa
erectus, o heidelbergensis, ancestral se pôde verificar com as análises de Vermelha IV Hominídeo 1, ape-
direto dos europeus neandertais e DNA de um dedo e de alguns den- lidado de Luzia em referência à
que apresenta características bem tes, ainda que se tenha encontrado famosa Lucy, uma Australopi-
próximas aos sapiens arcaicos, e o presença genômica denisovana, de thecus afarensis de 3,5 milhões
próprio Homo sapiens, de tal forma genes em regiões responsáveis pelo de anos achada na Etiópia. Luzia
que será cada vez menos possível desenvolvimento da linguagem e tinha entre 12.500 e 13.000 anos,
Reconstituição do rosto de nossa ancestral Luzia determinar em que momento os cerebral, em populações das ilhas e apresentava um tipo morfoló-
ancestrais deixaram e os sapiens do pacífico, na Melanésia. gico com características inter-
Mesmo antes de Darwin des- Cínico, depenou uma galinha e a passaram a existir. Isto é, aponta-se Uma recente descoberta lança mediarias, com traços negroides
vendar a forma com que a vida apresentou ao público dizendo: “eis que características consideradas uma luz sobre este quadro: pela e crânio arredondado, como dos
se adapta e se altera ao longo do aqui o homem de Platão!” primitivas, e outras tidas como primeira vez foi encontrada uma mongoloides, corroborando para
tempo, muito se conjecturava so- Apesar de a atual ciência es- modernas, são encontradas em di- cria direta da hibridização entre o surgimento de novas teorias
bre a nossa condição natural. Do tar muito à frente da concepção ferentes fases de desenvolvimento espécies, no caso, a filha de uma sobre as ondas migratórias que
homo politicus, de Aristóteles, ao platônica, o problema de uma em fósseis ao redor do continente neandertal com um denisovano, formaram as populações nativas
homo faber, de Bergson, a busca demarcação fixa das caracterís- africano, demonstrando uma com cerca de 90 mil anos. Ainda americanas. Apesar de sua suma
pela diferença essencial entre nós ticas que distinguiriam o Homo evolução que teria acontecido de que pese o desconhecimento dos importância, e dos estudos que
e os demais animais pululam e sapiens de seu ancestral e parentes forma gradual e dessemelhante nos denisovanos, os testes comprovam foram possibilitados por este
norteiam os mais diversos tipos próximos continua a assolar os múltiplos locais em que a espécie se que somente a relação direta destas achado, Luzia não resistiu ao Bra-
de teorias, das mais diferentes paleontólogos. Quando foi rea- desenvolveu. duas espécies, o que deveria ser sil contemporâneo, e parece ter
áreas. Seguindo este questiona- lizada a reconstrução dos fósseis Em outras palavras, os achados algo comum, poderia gerar tal queimado, junto a diversos outros
mento, a academia platônica teria encontrados no Marrocos, que e datações mais atuais demons- exemplar. incomensuravelmente relevantes
definido o ser humano como um datam de 300 a 350 mil anos atrás tram que o Homo sapiens teria se Ainda mais enigmático, talvez, itens, na evitável catástrofe do
bípede implume. Porém, precisou – mais de 100 mil anos antes do que desenvolvido concomitantemente seja a chegada dos hominídeos na incêndio do Museu Nacional, em
redefini-lo quando Diógenes, O se acreditava ter surgido a própria em diferentes partes do continente América. A queda da teoria de Cló- 03 de agosto passado.
8 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com
ECONOMIA
hegemonia financeira
de Janeiro: Contraponto, 2007.
Maringoni, G; Medeiros, J. Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo.
São Paulo: Boitempo, Fundação Lauro Campos, 2017.
Paulani, L. Brasil Delivery: servidão financeira e estado de emergência
econômico. São Paulo: Boitempo, 2008.
econômico do período também foi parcela dos setores industriais se de ativos direcionada também às
possível devido a um expressivo beneficiando do câmbio apreciado operações financeiras. Nesse cená-
aumento da relação crédito/PIB, e da rentabilidade dos ativos finan- rio as estruturas macroeconômicas
responsável por um consumo de ceiros. Com a crise financeira de estimulam e generalizam a revalo-
massa inédito na história do país, 2008 desacelerando o crescimento rização dos capitais por meio de
que estimulou o mercado interno, do comércio internacional, o mo- diferentes ativos e produtos finan-
principalmente após a crise de delo de desenvolvimento sustenta- ceiros, em prejuízo do crescimento
2008. A manutenção de elevados do nas exportações de commodities produtivo, intensificando, com isso,
superávits primários durante o e no mercado interno, via expansão a concentração da renda em bene-
período forçou uma política mo- do crédito, começou a encontrar fício dos lucros e dos rendimentos
netária conservadora de elevadas os seus limites, e o projeto de con- do capital e em detrimento dos
taxas de juros e uma política fiscal ciliação se viu em contradições salários.
restritiva de baixo investimento cada vez mais agudas de disputas Por isso, um novo modelo de
público, com relativa exceção no pelo orçamento público. desenvolvimento que garanta
segundo governo, que elevou os A manutenção de elevadas taxas distribuição de renda passa por
investimentos públicos por meio de juros reais em comparação colocar em debate questões de
do PAC e flexibilizou a política com os padrões internacionais mudanças estruturais. A título
monetária para conter os efeitos da foi elemento determinante dos de reflexão para promoção do
crise. A expansão do “bolo” permi- limites impostos pela hegemonia debate, elenco brevemente alguns
tiu uma elevação da lucratividade e financeira ao desenvolvimento. temas. Com o objetivo de reduzir
condições objetivas para o governo Nessa circunstância, impediu-se a volatilidade cambial, é necessá-
executar, momentaneamente, que a dívida pública fosse um rio colocar em debate o tema dos
metas contraditórias: manter a instrumento de financiamento do controles de capitais. Além disso,
estabilidade monetária assentada investimento público para tornar- recolocar a função social dos
em seus passivos, a segurança e a -se espaço de alocação de recursos bancos públicos na ampliação
confiança dos credores e investi- com elevada rentabilidade e baixo da participação no fornecimento
dores, gerando, simultaneamente, risco, desestimulando as atividades de créditos sob juros reduzidos e
renda, emprego, crédito e políticas produtivas e drenando a riqueza de longo prazo para atividades
sociais focalizadas para os de baixo. nacional por intermédio de um produtivas e bens de consumo
Nesse sentido, predominou uma sistema tributário extremamente duráveis. Quanto à dívida públi-
lógica de distribuição de renda na regressivo. Assim, o endividamento ca, faz-se necessário mudar o seu
Salve comunidades, não apenas bancos! (em tradução livre)
margem do sistema, dentro dos público interno contribuiu muito perfil, reduzindo gradualmente
ganhos do crescimento do PIB, mais para reproduzir os limites os juros e tornando-a de longo
A abertura econômica e a libe- alguns governos considerados de sem grandes enfrentamentos com estruturais do desenvolvimento prazo, possibilitando que seja
ralização comercial e financeira centro-esquerda. A recente experi- os beneficiários da especulação ou econômico do que para superá- instrumento de financiamento
do início dos anos 1990 criaram ência do PT na direção do governo da estrutura tributária regressiva do -los, uma vez que o volume de de investimentos públicos para
as condições para o processo de fi- federal (2003-2016) é ilustrativa. Brasil. É a fração bancário-finan- investimentos públicos não teve impulsionar o crescimento
nanceirização, impulsionadas pelo Os governos Lula procuraram ceira a maior beneficiada. A defi- contrapartida proporcional. econômico. A redução de ju-
cenário internacional de mundiali- reorganizar as frações de classe nição sobre a taxa básica de juros O grau elevado de financeiri- ros associada a uma profunda
zação do capital. O Brasil se inseriu oferecendo condições favoráveis significa, em última instância, uma zação da economia levou o país reforma tributária progressiva,
nesse processo de forma passiva, para a grande burguesia interna, disputa pela distribuição da renda. a sofrer influência excessiva das de ampliação de faixa de isen-
por meio do endividamento públi- principalmente aquela vinculada A alta regressividade e expansão da operações especulativas e de curto ção do Imposto de Renda e
co e sem um projeto de desenvol- ao agronegócio destinado à ex- carga tributária, combinada a uma prazo, em detrimento de conside- aumento da tributação para os
vimento nacional sustentável que portação, mas sem contrariar os estrutura de bem-estar de baixa rações e planejamento de longo mais ricos, além de taxação so-
promovesse distribuição de renda interesses da hegemonia financei- densidade, fazem do Estado bra- prazo. A manutenção de juros reais bre herança, grandes fortunas,
e expansão das políticas sociais. O ra. O boom das commodities e o sileiro um Robin Hood às avessas. elevados atraiu cada vez mais capi- lucros e dividendos e redução
determinismo financista, que com- cenário externo favorável puxado As medidas econômicas de na- tais voláteis. A política econômica de impostos sobre o consumo e
preende a predominância de me- pelo “efeito China” garantiram ao tureza heterodoxa que estiveram foi corrompida pelas avaliações produção e aumento sobre pa-
didas econômicas condicionadas agronegócio e à indústria de produ- presentes no segundo governo Lula curto-prazistas dos mercados trimônio e renda, estimulariam
pelo chamado “fundamentalismo tos de baixa densidade tecnológica ocorreram simultaneamente à acu- financeiros, decorrência de as as atividades produtivas e pos-
de mercado” como inescapável, ganhos superiores em relação aos mulação financeira, com elevada grandes empresas produtivas terem sibilitariam maior distribuição
tem sido incorporado mesmo em governos anteriores. O crescimento apropriação rentista e com uma parte expressiva de sua estrutura de renda em favor do trabalho.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 9
A polêmica em torno
Moniz Bandeira, L. A. O governo João Goulart. As lutas sociais no Brasil – 1961-1964.
São Paulo: Unesp, 2010.
Dreifuss, René. 1964 - A Conquista do Estado. São Paulo: Vozes, 1981.
Valquíria Braga
Graduada em Ciências Sociais pela FSA; mestranda em História Econômica pela USP
la e ilude as massas populares. apesar de ter como ótica a além das reformas urbana,
Desta forma Goulart seria democracia burguesa, de fato eleitoral e bancária.
caracterizado como um líder representara a melhor opção Essas reformas estritamen-
populista típico, que usaria o em voga na época para os tra- te democratizantes foram
povo para atingir benefícios balhadores. E justamente por encaradas como socialistas
pessoais. isso o impedimento, por parte ou populistas porque, a um
A visão conservadora, pre- da direita, de sua efetivação. capitalismo extremamente ex-
sente desde a grande mídia Em nossa análise a confusão plorador e que nega minima-
do período até em intelectuais em torno do caráter do gover- mente a integração da classe
da direita ou no Pentágono no Goulart e das Reformas trabalhadora ao desenvolvi-
norte-americano, que imputa de Base deve ser situada na mento, a burguesia brasileira
a Jango os rótulos de um pre- própria particularidade do ca- tem como correspondente
sidente socialista e subversivo pitalismo brasileiro. A neces- político a autocracia, ou seja,
que pretendia implementar no sidade de se refazer o sentido uma forma política de exer-
país uma república sindicalista da colonização apontado já por cício da dominação formada
ou uma nova Revolução Cuba- Caio Prado Jr e presente desde por uma burguesia que se
na, foi derrubada por uma o início de nossa história, ou nega a incluir minimamente
série de estudos e recentes seja, a imposição de se repetir as massas à democracia e se
pesquisas que mostram que um modelo de acumulação revolta quando se coloca em
Goulart era essencialmente que garantia a exportação de xeque seu domínio absoluto e
um democrata nacionalista, mercadorias para enriquecer excludente.
inspirado em ideais cristãos as potências internacionais e Os debates em torno de
de justiça social e igualdade; alimentar uma elite dominante Goulart se inserem nessa pro-
colocando-se contra o so- nacional, se mantém na déca- blemática, a saber, qual pro-
cialismo, considerava como da de 1960 – e até hoje. Para jeto nacional o Brasil deveria
solução para os problemas efetivar isto que caracteriza o seguir: um modelo que recolo-
nacionais a conciliação entre ser precisamente assim de nos- cava como demiurgo de nossa
classes no interior do sistema sa formação nacional, fazia-se história negócios exógenos ao
capitalista. Segundo Moniz necessária a manutenção de interesse nacional e, portan-
Bandeira, Goulart era um re- certos elementos políticos e to, perpetuavam a exclusão
formista, com um programa, econômicos, a saber, o reforço das massas trabalhadoras e a
um partido – o PTB – e uma da dependência externa e o subordinação ao capital in-
prática muito bem delineada, impedimento da autonomia ternacional, ou uma proposta
Os estudos sobre o gover- apenas a tentativa de efetivar cujas propostas foram, em nacional, a concentração de democrática que incluía, por
no João Goulart (1961-1964) a frágil e recente democracia termos nacionais, o que mais terras, bem como a exclusão mais que de forma limitada, os
têm despertado, nos últimos brasileira? se aproximou da social-demo- das massas, uma vez que a trabalhadores e alargava a eles
anos, especial interesse entre A interpretação mais clássica cracia europeia, responsável obtenção do lucro de ambas os direitos sociais básicos, mas
os historiadores. Desde debates sobre o período é a que atribui pelos anos de bem-estar social as burguesias – externa e na- que cobrava o alto preço de to-
quanto à natureza desse perí- a João Goulart o estigma de naquele continente. cional – repousava justamente car nos privilégios seculares
odo, passando por estudos da populista. Esta teoria, presente Diante da posição definida sobre a superexploração do de nossa casta dominante.
vida pessoal do ex-presidente e de livros didáticos e discursos de Goulart e do PTB, Bandeira trabalhador. Assim foi que na década de
por pesquisas com objetivo de midiáticos até em intelectuais pode afirmar com segurança As Reformas de Base pro- 1960 se delinearam as opções
aclarar os motivos que levaram de grande monta, tem como que já em 1959 o programa postas por Jango questiona- dos modelos de acumula-
ao golpe empresarial-militar de origem as leituras de Francisco deste correspondia a um nível vam justamente estes pontos ção capitalista possíveis em
1964 até ensaios que tentam Weffort e Octávio Ianni. Guar- de consciência da problemá- que garantiam a manutenção nosso país e foi no governo
relacionar nosso atual mo- dados os méritos dos autores tica brasileira, ou seja, longe da extrema desigualdade no Goulart que as forças sociais,
mento político com as véspe- e as especificidades de cada de ser populista, de proferir país, propondo limitar os a favor ou contra este ou
ras do golpe, um elemento é leitura feita a partir deles, em retóricas vazias, Goulart e seu lucros astronômicos do capi- aquele modelo, se digladia-
polêmica certa entre os inte- geral o líder populista é aquele partido tinham um programa tal internacional, a reforma ram pela vitória. A ditadura
lectuais: seriam os anos Jango que, para benefício da classe coerente com a realidade na- agrária, o estímulo à indústria militar imposta em 1964 não
um período populista, um dominante, e através de uma cional; este programa nunca nacional e mesmo a nacionali- deixa dúvidas sobre qual foi o
caminho para o socialismo ou retórica demagógica, manipu- fora negado por ambos e, zação de setores estratégicos, vencedor desse embate.
10 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com
SOCIEDADE
Para saber mais:
Mobilidade de classes na
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A reprodução do espaço urbano.
São Paulo: Edusp, 2008.
HARVEY, David. Os limites do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
refere-se às condições diárias de determinar o modal de transpor- sudoeste da cidade de São Paulo
deslocamento e autonomia nessa te que passou a predominar no (65% dos empregos) e nas sub-
circulação. Ela expõe o problema deslocamento intra-urbano no -regiões sudeste (11,6%), oeste
relativo à dinâmica de circulação país. Não por acaso, as estatísticas (8,5%) e nordeste (6,1%) da me-
de trabalhadores e mercadorias, e do Denatran (Departamento trópole. Esses dados expõem que
mostra as barreiras socioespaciais Nacional de Trânsito) mostram o modo coletivo de transporte
de apropriação da riqueza social o quê os trabalhadores vivenciam (54,3%) ainda se sobrepõe ao
distribuídas desigualmente no cotidianamente e está presente nos modo individual (45,7%), porém
urbano pela valorização do capital. noticiários: congestionamentos de recebeu menos investimentos
No caso das metrópoles brasi- veículos, passageiros em paradas à nas últimas décadas. As viagens
leiras, em consequência da forte espera do ônibus ou amarrotados diárias por modo e renda familiar
concentração industrial e do intenso em vagões de trens e metrôs. também mostram a desigualdade
processo de urbanização entre as Em São Paulo o sistema de desses deslocamentos: cerca de
décadas de 1950 e 1990, houve transporte, que deveria ser priori- 18,1 milhões de viagens diárias
uma vertiginosa aglomeração da dade dos investimentos públicos, eram feitas por trabalhadores
população e de ocupações em áreas é limitado e desigualmente distri- que recebiam até 4 s.m. (salários
periféricas em diversas cidades e buído. O sistema de mobilidade mínimos; em 2012, o s.m. era R$
regiões metropolitanas, locais que no Brasil gerou muitas iniquida- 622,00), representando um total
desenvolveram sistemas de mobi- des, ao passo que a urbanização de 47% do total geral de viagens.
lidade limitados e de alto custo na recolocou pessoas em ambientes A faixa de até 2 s.m. na época
relação localização-deslocamento. urbanos nos quais elas passam a mostrava que os trabalhadores de
A localização pode ser de “fácil” ou necessitar de transporte público baixa renda, em sua maioria, utili-
“difícil” acessibilidade e por isso não regular. Em síntese, as cidades zavam ônibus. Em contrapartida,
é possível pensá-la separadamente e metrópoles brasileiras foram auto superava em conjunto metrô
da dinâmica de deslocamento. Tal produzidas e estão estruturadas e trem nas terceiras (de 4 a 8 s.m.)
como a localização (lugar produzido para um modo de vida das classes e quartas (de 8 a 15 s.m.) faixas de
socialmente que reúne característi- médias e dominantes que se utili- renda, o que mostra o predomínio
A problemática da mobilidade de para elas, enquanto as demais cas que determinam as condições de zam do automóvel para circular, do rodoviarismo entre as classes
classes na sociedade brasileira passa classes sociais habitam um lugar vida das classes – moradia, escola, enquanto que a maior parte da médias e dominantes, enquanto
pelas questões das mobilidades e trabalham em outro; essa condi- transporte, infraestrutura, empre- classe trabalhadora que depende que as camadas de baixa e baixís-
urbana e social. Para compreender ção estrutural indica os efeitos da go), o deslocamento é determinado de transporte público e coletivo sima renda da classe trabalhadora
sua dinâmica e suas barreiras so- necessidade de deslocamentos di- pelos sistemas viários e de transpor- sofre diariamente com o tempo de utilizam ônibus, metrô e trem.
cioespaciais é necessário entender ários de trabalhadores, pequenos te produzidos socialmente, o que deslocamento socialmente deter- Para finalizar, não é possível
o processo de urbanização, que burgueses, profissionais liberais leva a desigualdade na apropriação minado para essa circulação, além entender a mobilidade de classes
adquiriu suma importância para o e camadas médias, mas não suas da cidade e da riqueza pelas classes. dos custos para sua realização. Por nas regiões metropolitanas apenas
desenvolvimento capitalista por ser causas. Estas se encontram na Em relação aos problemas de isso, o tempo de deslocamento por meio de modelos de mobili-
induzido pela produção capitalista relação entre segregação urbana, acessibilidade, nos últimos anos permite ampliar a noção de luta de dade social baseados em renda
do espaço, ao passo que o espaço renda da terra e sistemas viários e da década de 2000 houve aumento classes nas cidades e metrópoles. e consumo, já que a apropriação
urbano de metrópoles e cidades de transporte, que podem eviden- de veículos automotores no Brasil As pesquisas Origem e Destino da riqueza socialmente produzi-
grandes no Brasil apresenta visual- ciar os fundamentos estruturais dez vezes maior do que o aumento de 1997 e 2007 e a Mobilidade da remete aos deslocamentos e
mente os efeitos das desigualdades da mobilidade entre as classes nas da população, resultado da opção de 2012 do Metrô de São Paulo acesso às localizações que concen-
estruturais deste tipo de capitalismo contradições dessa urbanização. política assumida desde a década mostram como a maior parte dos tram essa riqueza. Distribuição e
dependente. O problema do transporte ex- de 1950 por um modelo de mobi- trabalhadores habita as periferias apropriação de renda e consumo
As consequências do desenvol- põe a crise de mobilidade urba- lidade urbana oriundo do modelo enquanto que os empregos estão precisam ser entendidas a partir
vimento desigual e combinado na evidenciada após a revolta de urbanização rodoviarista que localizados em determinadas da estrutura de classes presentes
são visíveis e se manifestam por da tarifa de 2013 na discussão se baseia no tripé indústria auto- áreas e sub-regiões da metrópole. no espaço, e o deslocamento é
meio da segregação urbana, que sobre deslocamentos e direito motiva, indústria da construção Isso provoca cerca de 29 milhões fundamental para ampliar a noção
expressa a separação entre as à cidade nas metrópoles bra- civil e indústria petrolífera, que de viagens diárias (Auto 12 mi- de classes sociais no urbano. A luta
classes no espaço produzido, em sileiras. A mobilidade urbana, determinaram as localizações lhões; Ônibus 9 milhões; Metrô de classes se lê no espaço produ-
que as classes dominantes habitam noção relacionada aos modos de (bairros) e formas de deslocamen- 4 milhões; Trem 2 milhões), ao zido, e o tempo de deslocamento
e trabalham numa área da metró- acesso às diferentes localidades tos (sistemas viário e transporte) concentrar os empregos na re- socialmente determinado é fun-
pole construída exclusivamente das médias e grandes cidades, nas regiões metropolitanas, ao gião central, oeste e no quadrante damental para sua compreensão.
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POEMA ECONOMIA
mundo atual
https://goo.gl/8C57ui
Heitor Santinon
Estudante secundarista
Dizem que a gente é o que a gente come Victor Monteiro dos Santos
A maldade a gente ingere Graduado em Ciências Sociais pela FSA
Muitos passando fome
Sendo julgados pela cor da pele ao imóvel por conta do preço
ofertado.
Um menino morre voltando da escola A crise internacional do
Sonhava apenas em jogar bola capital, que se origina do
mesmo fenômeno, não foi
Não tinha nada com esse papo de marola empecilho para o modelo
Mas isso não importou na hora de sacarem a pistola de desenvolvimento chinês,
cujo PIB continuou crescen-
Ele foi assassinado do na primeira década do mi-
Um tiro precipitado lênio. Embora também não
E aí eu te pergunto represente a saída milagrosa
que buscam os economistas.
O que ele fez de errado Aliás, como disse ao jornal
espanhol El País Gary Liu,
Tem branco por trás da fraude diretor executivo do Insti-
Tem negro atrás da grade tuto Internacional Lujiazui,
Tem muito salafrário a China se encontra em um
Ainda dentro do armário ponto de inflexão, caracte-
rizado por excesso de oferta
no mercado e pela influência
O preconceito é real das empresas. A produção
E a sociedade não tá pronta des enf re ad a d as rel açõ es
O preconceito é racial capitalistas tem sido uma
E ninguém quer pagar a conta pedra no sapato da harmonia
confucionista. A urbanização
é predatória, a cidade é ira,
Então desmonta e remonta fumaça, barulho, velocida-
Quem sabe assim a gente aprende de. Repito as palavras de
A sociedade está pronta Interpretar o movimento cisa? Comunismo? Belluzo Belluzo sobre a importância
Isso é o que a elite vende não é tarefa fácil, e o econo- afirmou que a desigualdade das decisões do Estado, com
Mas você não tá abrindo a boca mista que se propõe a estudá- de renda na China aumentou, seus investimentos e aportes
Então me fala, o que te prende ? -lo merece atenção. E assim, embora tenha diminuído o mu lt i m i l i onár i o s , p ar a o
atenciosa, estava a plateia nível de pobreza. Um país crescimento econômico do
que assistiu ao economista que tinha uma população e país. Porém a analogia com o
Luiz Gonzaga de Mello Bellu- uma economia majoritaria- desenvolvimento cauteloso é
subterrânea e psicológica
Saunders, Frances Storner. Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura.
São Paulo: Record, 2000.
após a morte de Lenin (1924) militares e diplomáticas”, foi ele era a própria “antítese
e o aparecimento de Hitler autorizada a colher infor- do realismo socialista”. Nas
na Alemanha provocou um mações ou intervir secreta- artes serão referências desse
novo cenário que passou a mente nos assuntos de outras movimento: Jackson Pollo-
desqualificar o tipo de arte nações, tendo como missão ck, David Alfaro Siqueiros,
política que se fazia na URSS, “salvar a liberdade ocidental Adolph Gottlieb, William
minando o movimento his- das trevas comunistas”. De Baziotes e Julian Beck. No
tórico que vinha ocorrendo. tal maneira que ela não só teatro coexistia o princípio
Em contraposição àque- coordenou, mas orientou e da “instituição moral”, que
la produção artística, um armou diversos países a fazer trazia lições “desejáveis pelos
novo movimento artístico se o mesmo, o que significou a EUA”, são exemplos: Lillian
avoluma, seguido também universalização da “experi- Hel lman, Eugene O’ Nei l,
p or uma nova concep ção ência americana”. Thornton Wilder, Tennesse
ideológica. Este é o período A CIA se auxiliou prin- Williams, William Saroyan,
marcado pela guerra fria, c ip a l m e nte d e i nte l e c tu - Clifford Odets e John Stein-
no qual a disputa se trava ais e artistas que estavam beck; estes tiveram aporte
pr incip a lmente na esfera contrariados com a União do “projeto teatral maciço”
ideológica e cultural entre a Soviética. Desenvolveu uma por influência da CIA. E o
arte comunista, pautando a guerra dissimulada, em que princípio da liberalização
classe trabalhadora, e a arte os agentes eram intelectuais do inconsciente individual
“não objetiva”, pautando a que lançavam a proposta de através da experiência in-
liberalização do indivíduo; “outro” projeto societário tensa do teatro fomentados
nesta última se evidenciou livre de qualquer autorita- por Kirby, John Cage, Joseph
também a busca pela técnica rismo. Organizaram o Con- Chaikin, etc.
e a livre iniciativa do artista gresso Cultural pela Paz em Para financiar seus projetos
se contrapondo às formas abril de 1949 em Paris, no culturais, a CIA usava dinhei-
“autoritárias”. Essa forma qual, revestidos de trajes ro que era um subproduto do
artística liberal contou com “democráticos”, debateram Plano Marshall e distribuía
a colaboração do governo temas como ciência, totalita- através das fundações: Ford,
“Alguma vez tentamos tervenções, sobretudo na pro- estadunidense, fomentando rismo, artistas e liberdade, o Rockefeller, entre outras.
interferir nas eleições de dução ideológica e cultural. O a Escola de Nova York, que cidadão, a paz, a liberdade e E proporcionou um êxodo
outros países? Provavel- trabalho de Saunders, A guer- ficou conhecida como Ex- a cultura livres num mundo artístico de artistas e intelec-
mente. Mas foi pelo bem ra fria cultural, retrata como pressionismo Abstrato. livre. Temas que se tornaram tuais do mundo inteiro para
do sistema para evitar que a ideologia anticomunista foi Para artistas e intelectuais as bases para a escola de arte os EUA, para participação
o comunismo assumisse. incorporada nas atividades a discussão se dava em tor- de Nova York, que até então em conferências, exposições,
Por exemplo, na Europa, intelectuais e artísticas, e con- no das questões estéticas, não tinha grande relevância. premiações, festivais, etc.
de 1947 a 1949, com os tribuiu para o fortalecimento enquanto que para o gover- Os artistas que haviam parti- Por fim, a guerra subter-
gregos e italianos...” da ideologia liberal. no dos EUA tratava-se de cipado do New Deal de Roo- rânea e psicológica dos EUA
(Ex-diretor da CIA, James A partir da Revolução Sovi- penetrar profundamente na sevelt foram seus principais fomentou o pacifismo e a
Woolsey, em entrevista no ética de 1917 e da formação sociedade global, por uma realizadores; estes recebiam liberdade individual contra
programa da Fox News). do bloco socialista, o mundo guerra psicológica e pacífica, e produziam arte para o go- o coletivismo e o pensamen-
se polarizou em duas partes. forjando nas pessoas a crença verno, ao mesmo tempo em to marxista, considerados
A intervenção dos Estados Por um lado, inspirou a eclo- de que os “norte-americanos que se envolviam na política “totalitários”. A contradição
Unidos da América através são revolucionária em toda querem um mundo em paz, de esquerda. entre grupos artísticos de
da CIA (Agência C entral parte do cenário mundial, e um mundo em que to das O expressionismo abstrato perspectiva revolucionária
de Inteligência) nas ações os trabalhos produzidos pela as pessoas tenham oportu- surgiu no final da década e os de perspectivas liberais
políticas e econômicas de esquerda, aliada à ótica da nidade do máximo de de- de 1940, e foi considerado pôde mostrar as disputas, os
outros países tem se eviden- classe trabalhadora, passou senvolvimento individual” a “verdadeira ar te nor te- conflitos e a movimentação
ciado numa densidade de a d om i n ar a c e n a c u ltu - (presidente Eisenhower). A americana”, sem influências que engendrou as duas vi-
documentos e depoimentos ral. Por outro lado, o fluxo CIA, fundada em 26 de julho europeias; sobre as bases ide- sões de mundo na disputa
que exige maiores pesquisas contrarrevolucionário que de 1947 com o objetivo de ológicas do anticomunismo pela narrativa da sociedade
sobre o significado dessas in- se colocou, principalmente “coordenar as informações e politicamente silencioso, contemporânea.
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MARXISMO
Karl Marx
Engels, F. Karl Marx. Disponível em: https://goo.gl/Q2uLDX
Lenin, V. I. Os destinos históricos da doutrina de K. Marx. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/03/01.htm
Lukács, G. “Os princípios ontológicos fundamentais de Marx.” In: Para uma
Ontologia do Ser Social I. São Paulo: Boitempo, 2012.
Chasin, J. Marx - Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica. São Paulo:
Boitempo, 2009.
Rodrigo Chagas
Graduado em Ciências Sociais pela FSA, mestre em História pela PUC e doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp
clara a alternativa para se es- mente desinteressada pela turais por meio de disputas
tabelecer novas relações dos intervenção social? às cegas.
indivíduos entre si e com a O objetivo de Marx não Para além dos escombros
natureza. era o de constituir um “exér- de velhos dogmas e batalhas
Para Marx, diferente do que cito de doutrinados”, e sim a políticas, o pensamento de
geralmente se afirma, o fator elaboração teórica dos con- Karl Marx nos oferece hoje
subjetivo tem importância flitos existentes como passo novas possibilidades: tanto
nas grandes transformações essencial para superá-los. pelo distanciamento históri-
sociais e nunca se limitou a um Na estreia pública das suas co do trauma da experiência
simples efeito mecânico do de- primeiras descobertas, em da URSS, como pelo acesso
senvolvimento das forças pro- 1844, Marx escreveu: “/.../ aos estudos marxianos iné-
dutivas. O desenvolvimento nada nos impede de criticar ditos e a possibilidade de re-
econômico repõe ciclicamente a política, a participação na flexões renovadas sobre a sua
a possibilidade revolucioná- política e, portanto, tomar pertinência teórico-prática.
ria, mas não produz por si a as lutas reais como ponto Em suma, os investigadores
consciência para que esta se de partida de nossa crítica marxistas do século XXI es-
realize. Assim sendo, a inte- e de identificar nossa crítica tão fadados ao duplo esforço
ração entre forças materiais e com elas. Nesse caso, não de redescoberta do pensa-
sociais apenas se efetivam por confrontamos o mundo de mento do próprio Marx – que
meio da intervenção subjetiva: maneira doutrinária com um foi, em grande medida, dis-
a decisão humana. novo princípio: aqui está a torcido e ocultado no século
Neste processo, não ape- verdade, ajoelhe-se diante passado – e a compreensão
nas a política, mas também dela! Desenvolvemos novos crítica da realidade atual.
as ciências sociais podem princípios para o mundo Temos de ter a clareza de
ganhar importância na con- a partir dos princípios do que estamos em um novo
solidação de caminhos para mundo. Nós não dizemos ao começo. Portanto, devemos
além do capital. As confusões mundo: cessem suas lutas, l i d ar s obr i ame nte c om o
alimentadas, nos dias que elas são tolas; nós lhe dare- fato de que as alternativas
correm, sobre o papel das mos a verdadeira consigna à superação do capitalismo
“ideologias” nas universida- da luta. Nós simplesmente encontram agora apenas um
des apenas ocultam que tanto mostramos ao mundo pelo eco mínimo na sociedade. A
as ciências têm motivações que realmente está lutando, revolução social não se apoia
ideológicas sem necessaria- e a consciência é algo que na vontade de poucos indi-
mente prejudicar a busca por ele tem que adquirir mesmo víduos ou num milagroso
objetividade, como a mais que não queira. A refor- método partidário; ela deve
pura verdade científica pode ma da consciência consiste renascer como uma necessi-
ser utilizada como ideologia apenas em tornar o mundo dade lastreada socialmente
desastrosa. cons ciente de si própr io, para enfrentar as guerras, a
Entre os 200 anos que se- turais. Os problemas sociais Nas investigações vincula- em despertá-lo a partir de devastação ambiental e as
param o nascimento de Karl tornaram-se, essencialmente, das ao marxismo, em prin- seu sonho sobre si mesmo, crises econômicas periódicas
Marx (1818−1883) e os dias uma consequência da atuação cípio, o que se expressa é a explicando-lhe o significa- do capitalismo.
de hoje a humanidade passou coletiva norteada pela lógica escolha de um lado: tomar do de suas próprias ações” Revisitar Marx hoje nos
por transformações que refor- do capital. por referência a posição das (Marx, K. Letters from Deuts- ajuda a manter o discerni-
mularam, ao redor do globo, Celebramos o bicentenário classes desprovidas de capi- ch-Französiche Jahrbücher. mento sobre as raízes dos
as relações sociais e de produ- do nascimento de Marx, so- tal como ponto de partida à MECW, vol.3, p.144). desafios impostos pelas
ção. Como resultado, vivemos bretudo, pelo reconhecimento pretensão científica. Isto não Como vemos, a reflexão enormes contradições que
atualmente em sociedades de que ele foi o pensador que significa a imposição de uma do autor continua oportuna nasceram com a sociedade
industrializadas nas quais a melhor compreendeu os pro- doutrina, mas a tomada de neste momento histór ico moderna. Mais do que come-
violência, a ignorância e a mi- blemas estruturais do modo consciência e de atitude crí- em que os preconceitos e a morar um autor, celebramos
séria deixaram de ser produtos de produção capitalista e a tica sobre os dilemas sociais. confusão de ideias conduzem a esperança na decisão hu-
da incapacidade humana para demanda por sua superação. Qual seria o sentido de uma diariamente a humanidade mana consciente e a coragem
lidar com as adversidades na- Com a sua obra, tornou-se prática científica suposta- às catástrofes sociais e na- para tomar posição.
14 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com
privando nossos(as)
e professores(as). Os(As) 9394/1996). dessa nota assumem uma po-
estudantes e professores(as) A referida Lei e a proposta sição em defesa da qualidade
do Ensino Médio manifes- de BNCC de 2018 não ga- da educação brasileira e con-
LIVRO
DIGBY - A inteligência
O Poderoso DIGBY - trecho do livro
em produção de Eduardo Kaze
Novo livro em gestação de Eduardo Kaze, O Poderoso DIGBY,
riqueza da humanidade
trata de uma distopia na qual um sistema operacional governa o
mundo, determina a divisão social do trabalho e produz efeitos
radicais na forma de sociabilidade humana.
Eduardo Kaze
Graduado em Ciências Sociais FSA; escritor e jornalista
O MUNDO
das comunidades tradicionais, e em especial o processo de constituição do mundo contemporâneo com
seus dilemas e perspectivas. Os alunos realizam-se neste curso pela amplitude de visão que adquirem, em
contato com dinâmicos conteúdos que envolvem o movimento social, a cultura e a política.
o que dizem
vidual e para o amplo leque cial pela ECA-USP, doutor em
atividades profissionais que História Social pela PUC-SP;
Ciências Sociais já desenvolvi. E eu só tenho a ex-professor da FSA).
agradecer por isso!”
na FSA e suas
atividades
nossos ex-alunos Thaís de Souza Lapa
(Mestre em Sociologia pela
“O curso de Ciências Sociais
da FSA fornece um incom-
USP e doutoranda em Ciên- parável potencial de análise
cias Sociais pela Unicamp. e de interpretação dos fenô-
O curso de Ciências Sociais da “No curso de Ciências Sociais da “O curso de Ciências Sociais, Coautora do livro Aborto e menos sociais contemporâ-
Fundação Santo André promove FSA pela primeira vez aprendi a além de abrir os olhos para a Religião nos Tribunais Bra- neos. O mercado de trabalho
periodicamente a edição do Jornal investigar os problemas que realidade objetiva dos fatos, sileiros). atual valoriza a capacidade
de Ciências Sociais, o único produ- cercavam a mim e ao mundo; possibilitou que eu conseguis- de interpretar e relacionar
zido na região, onde participam indo para a educação, minha se emprego que me permite “Quando terminei o ensino dados e informações e de
ativamente seus alunos, na pes- visão sobre a formação huma- ampliar meus horizontes, médio, precisava fugir do tra- compreender a realidade que
quisa e redação de matérias. na foi da construção de mentes além do retorno financeiro. balho em escritórios. Quando se transforma rápida e con-
Anualmente o curso promove críticas e investigativas.” Tenho habilitação para traba- soube que em Ciências Sociais tinuamente, apresentando
a Semana de Ciências Sociais, Leona Lopes dos Santos lhar como professora da rede eu teria aulas de filosofia, so- problemas e desafios a serem
composta por debates e palestras (Pós-graduanda em Direitos pública e de cursinho popular, ciologia, economia e antropo- entendidos e superados. Aos
com intelectuais de outras uni- Humanos na UFABC, profes- para atuar como educadora logia, e que na FSA eu poderia que buscam na formação e
versidades nacionais e internacio- sora de sociologia da rede pú- de espaços museológicos e conciliar estudo e trabalho, no trabalho realização e de-
nais, mini-cursos e apresentações blica de ensino, coordenadora como pesquisadora em uma não tive dúvidas. Lá fui aluno senvolvimento profissional,
artísticas. do Coletivo LGBT PRISMA- Associação de catadores de de professores diferenciados, pessoal e humano, trata-se de
As palestras e os temas des- -Dandara dos Santos.) materiais recicláveis, cuja quase todos doutores, que um curso instigante.”
tacados na Semana de Ciências atuação é replicada em doze me fizeram tomar gosto pela Bruno Monteforte
Sociais são publicados na revista “Entrei no curso de Ciências países.” atividade acadêmica. Acabei (Professor de Sociologia)
Cadernos de Ciências Sociais, ao Sociais da FSA dando início à Lílian Damasceno Marques por me tornar professor uni-
lado de outros artigos teórica e realização de um sonho. Fiz (Professora, educadora em versitário, podendo gozar de
socialmente relevantes. a melhor escolha, pois hoje museus e pesquisadora). uma rotina nada igual à dos Informações
entendo que o conhecimento escritórios”. e inscrições:
Onde trabalha transforma a realidade! Além
de trazer conteúdos que nos
“A minha experiência como
discente em outras três pres-
Leandro Candido de Souza
(Mestre em Comunicação So-
https://goo.gl/iHLKP1