Sei sulla pagina 1di 16

Sociais

Curso de Ciências Sociais - Centro Universitário Fundação Santo André - Ano VIII - N° 12

Jornal de
Ciências

Informação que não se vende

200 anos de
Entre os 200 anos que separam o nas-
cimento de Karl Marx (1818−1883) e

MARX
os dias de hoje a humanidade passou
por transformações que reformula-
ram, ao redor do globo, as relações
sociais e de produção. P. 13

Lançamento Revolução e Polêmica sobre A China no Ensino Médio


Ângela Davis Feminismo João Goulart mundo atual em risco
Página 5 Página 9 Página 11 Página 14
Página 3

As cores de Evolução Mobilidade Guerra “O Poderoso


Lima Barreto Humana de classe psicológica DIGBY”, de KZ
Página 04 Página 7 Página 10 Página 12 Página 15
2 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

#EleNão
Prezados leitores, não basta nos brasileira vamos notar a íntima e Carta ao IPHAN
lamentarmos diante das condições inextrincável associação entre a
políticas que vêm nos assolando
desde o golpe de 2016 que elevou
(fora)Temer ao poder. Mais que
forma subordinada de nosso ca-
pitalismo, estruturada sobre um
capital atrófico, e o poder opres-
O Museu da
Destruição Nacional
isso, não basta lamentarmos a ina- sor de um estado autocrático,
bilidade e inconsistência políticas que se move entre a configuração
do PT desde 2003 (Lula e Dilma), ditatorial e a flexibilização insti- *
que resultou na ocupação dos tucional autocrática. Quer isto * Texto publicado originalmente no Jornal GGN (jornalggn.com.br) em 03/09/2018

espaços públicos pelos segmentos dizer que no Brasil uma forma


historicamente conservadores. política democrática burguesa Beatrice Papillon
Certamente esse partido não atinou está ontologicamente impedida. Drag Queen e colunista do jornal GGN
para aquilo que define a posição O que sofremos hoje não é senão Corram e avisem os bombeiros que conspiram para a destrui- sauros, a Ala dos Novos Meteoros
conservadora no Brasil, desde sem- a ampliação do teor bonapartista para não moverem nenhuma tábua ção do país. informará ao público sobre nossos
pre, e atuou com uma inexistente da autocracia burguesa que, sob a ou telha despencada! Não mexam Em seguida, o visitante deste projetos de devastação ambiental,
expertise diante das tarefas políticas forma institucionalizada que assu- nos destroços, nem sequer passem novo museu passará ao salão do desmatamentos e poluição das
exigidas por esta realidade. miu desde o abandono do estado vassouras sobre as cinzas. Peçam à Desmonte Científico. Os docu- águas. Em projeções de vídeos,
Observemos que a ideologia e pelos militares, em 1985, efetiva as perícia que analise as causas do in- mentos das resoluções de cortes voarão pelas paredes as muitas aves
o pragmatismo político dos con- limitações compatíveis com a for- cêndio sem alterar a cena. Deixem orçamentários nas áreas de edu- já extintas da nossa fauna. Esta área
servadores não romperam com ma de capital que aqui rege. Tal tudo como está! É preciso preservar cação, ciência e tecnologia estarão deve conter especial menção ao
os seus procedimentos ditatoriais regência demanda a opressão dos cada pedaço queimado desta histó- expostos junto aos dados sobre os desastre de Mariana.
oriundos da colônia. Basta rever o trabalhadores, na exata medida ria para a inauguração do primeiro impactos sociais e o retrocesso que No salão onde se assinou
fato histórico de que durante quatro em que sua sustentabilidade se “Museu da Destruição Nacional”. causaram. a Independência do Brasil,
séculos vigorou a ditadura escravo- ancora numa elevada extração Muitos povos fizeram memo- Todas as reproduções de textos exponham-se os contratos de
crata, que só foi se esgarçando por de valor da força de trabalho, vale riais das cinzas para contar suas devem ser feitas em material im- privatização das nossas empre-
medidas abolicionistas na segunda dizer, sua superexploração, como tragédias. Assim os alemães cons- permeável, porque o telhado, como sas e da exploração dos nossos
metade do século XIX. evidencia o achatamento salarial, truíram o memorial do holocausto. todo o resto, não será reconstruído. recursos naturais por estrangei-
Nunca houve qualquer iniciativa a crescente desconsideração Em Nova York há um marco em Tal qual a educação e a pesquisa ros. É o Hall do Entreguismo.
burguesa pela construção de uma das necessidades de educação, memória das vítimas do World brasileiras hoje, esta história ficará Emoldure-se artigos de jornal
sociedade democrática, situação moradia, saúde, transporte, pre- Trade Center. No mundo todo há ao relento. que desqualificaram a Petro-
demonstrada mesmo na transição vidência social, etc. para todos. museus que contam guerras, inva- Onde antes havia documentos brás, a Eletrobrás, os Correios, a
para a República, que contou com Enfrentar a situação política de sões bárbaras, escravidão, além de e peças que atestavam avanços Vale do Rio Doce, as telefônicas,
uma seqüência ditatorial sob a hoje, outubro de 2018, em que um acervos arqueológicos que remon- sociológicos, crie-se a Galeria do em campanhas de sabotagem e
tutela militar de Floriano Peixoto, despótico apedeuta encontra-se tam os últimos dias de civilizações Ódio e da Burrice. Estarão afixadas difamação da importância de
antecedido por Deodoro da Fon- em condições de substituir (fora) extintas, antes florescentes. reproduções impressas de tweets e fortalecimento do Estado.
seca. Do ponto de vista econômi- Temer e aprofundar a política Assim também ali, na Quinta postagens sobre o projeto “Escola Por fim, onde antes estava Luzia,
co, esse foi um período de ajuste socioeconômica exercida por ele da Boa Vista, onde até ontem Sem Partido”, “ideologia de gênero”, o fóssil humano mais antigo das
subordinativo da agro-exportação et caterva, exige o conhecimento estava exposto o mais importante discursos de ódio e declarações Américas, a mulher que era nosso
ao imperialismo capitalista em das condições históricas do Brasil acervo museológico do Brasil, fascistas da extrema-direita. Neste mais remoto vestígio de huma-
implantação no globo. Período, e a união de forças sociais para se contará das cinzas o que está passeio fascinante os futuros visi- nidade, exponha-se o descaso e a
também, em que se explicita impor, a partir da resistência da acontecendo no país hoje. Os tantes perceberão como uma so- exclusão a que hoje está submetido
uma postura opressora, já não classe trabalhadora, um novo ro- visitantes passearão por cima de ciedade se empenhou arduamente o povo brasileiro. Mostremos sem
mais escravista, mas correlata, no teiro político e econômico, para escombros conhecendo de que para sua própria ruína. dó aos visitantes o que estamos
sentido em que as necessidades afastar a continuidade da secular modo destruíram-se muitos dos No lugar do Trono de Daomé, fazendo com a nossa gente. A
da força de trabalho passaram a exclusão social como condição de nossos melhores projetos. Futuras doado pelo rei africano Adando- mortalidade infantil, a violência
ser tratadas como caso de polícia. acumulação do capital atrófico civilizações saberão, pelos cacos zan em 1811, crie-se o Salão da contra as mulheres, o extermínio
Se avançarmos pela história que aqui se efetivou. que sobrarem dos nossos dias, o Intolerância Religiosa. Aproveite- da população negra, o massacre

Sociais
que fizemos de nós, do Brasil. -se a atmosfera criada pelo incên- contra LGBTs, a volta da fome nos
Ciências Cada salão será rebatizado com dio e reproduza-se ali o cenário sertões e periferias. Sugere-se ainda
Jornal de

placas afixadas sobre os montes de de depredação de templos de que se deposite em salão amplo
madeiras e peças queimadas sinali- religiões de matriz africana, como os cadáveres de civis e militares
zando os acontecimentos históricos também a perseguição a seus mortos na guerra do Estado versus
que levaram a destruição do nosso sacerdotes e adeptos. Este setor crime organizado, para que suas
Colaboraram nesta edição: sonhado desenvolvimento. pode contar com ambientação ossadas empilhadas dêem dimen-
Beatrice Papillon
Haverá logo na entrada o Hall sonora em que se ouça canções são do saldo de morte obtido com
Sarah Rosangele da Silva Jornalista Responsável do Retrocesso, em que se verá, gospel e discursos de pastores políticas antidrogas e de criminali-
Juarez Donizeti Ambires
Guilherme Barros Araújo
Eduardo Kaze - MTB: 62857 dispostos sobre os destroços, os fundamentalistas evangélicos. zação dos pobres.
Raphaelle Denser
Izabela de Macedo Jacinto
documentos oficiais e fotos dos No Salão do Genocídio Indígena, Que o “Museu da Destruição
Roger Filipe Silva Fundação Santo André momentos em que a democra- para substituir as peças perdidas de Nacional” cumpra sua função
Felipe Henrique Gonçalves
Valquíria Braga
Av. Príncipe de Gales, 821, bairro cia brasileira foi golpeada desde acervo ameríndio, o visitante verá de catalogação histórica a partir
Sandro Barbosa de Oliveira Príncipe de Gales a proclamação da República. uma lista das tribos perseguidas e/ destes restos do incêndio para
Heitor Santinon Santo André - SP - CEP: 09060-870
Victor Monteiro dos Santos Tel.: (11) 4979-3406
Pode-se usar também sobre as ou dizimadas desde a chegada dos informar às próximas civiliza-
Renata Adriana de Sousa
Rodrigo Chagas colegiado.sociais@fsa.br paredes queimadas projeções europeus até nossos dias. Mapas ções sobre como um povo, com
de vídeos com os votos de cada devem mostrar as demarcações vocação inegável para o desen-
Tiragem: 5.000 exemplares deputado no impeachment de de terras e a invasão de grileiros do volvimento e a felicidade, pode
O Jornal de Ciências Sociais é uma publicação do Colegiado de Dilma Rousseff. Fiquem ali agronegócio latifundiário. sucumbir sob golpes perpetrados
Ciências Sociais da Fundação Santo André, distribuído gratuitamente. expostos os interesses e projetos No lugar dos fósseis de dinos- por inimigos de seu próprio meio.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 3

LANÇAMENTO

Para saber mais:

Mulheres, raça e
Davis, Angela; Dent, Gina. “A prisão como fronteira: uma conversa sobre gênero,
globalização e punição”. In: Estudos Feministas. Florianópolis, 2003. Disponível
em https://goo.gl/bx9dvF

classe, de Angela Davis


Mendieta, Eduardo. Introdução. In: Davis, Angela. Democracia da Abolição: para
além do império, das prisões e da tortura. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
Tertulian, Nicolas. Posfácio. In: Lukács, Gyorgy. Prolegômenos para uma onto-
logia do ser social. São Paulo: Boitempo, 2010.

Sarah Rosangele da Silva


Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

estadunidense; lutou pelos na área de Filosofia e Política, o projeto arquitetado e execu-


direitos civis dos afro-ame- nos temas relações raciais e gê- tado pelos Estados Unidos para
ricanos, contra a política de nero, feminista e ex-secretária a população pós-escravidão e
encarceramento em massa, adjunta da Secretaria de Direi- depois da lei Jim Crow, através
pelo fim da intervenção es- tos Humanos e Cidadania em da política de encarceramento
tadunidense no Vietnã e na São Paulo, e Weber Lopes Góes, em massa, efetivada a partir
Guatemala, e em El Salvador professor do curso de Serviço de leis como a 13ª emenda da
se organizou em defesa do Social da Faculdade de Mauá – Constituição, segundo a qual
direito ao voto da mulher. FAMA, pesquisador na área de os presos eram alugados por
Neste mesmo período es- Ciências Sociais, sobretudo no honorários ínfimos a empresá-
teve na lista das dez pessoas pensamento conservador brasi- rios particulares do novo Sul.
mais procuradas pelo FBI, leiro, com enfoque na ideologia Tal prática, que ficou conhecida
o que resultou na sua cap- do racismo e eugenia. como sistema de locação de mão
tura, ficando presa por 16 Os pesquisadores aborda- de obra prisional, perdura até
meses sob falsas acusações. ram o pensamento de Davis, os dias de hoje, colocando os
Após sua prisão, a filósofa contextualizando o período Estados Unidos da América na
tornou-se foco de um intenso de efervescência nos EUA, primeira posição dos países que
movimento de solidariedade apontando as péssimas con- mais encarceram seres huma-
internacional, Free Angela dições dos afro-americanos, e nos no mundo, somando mais
Davis (Libertem Angela Da- suas lutas em diversas formas de dois milhões de presos.
vis). O movimento contou de organização, em coletivos A partir da exposição dos
com a manifestação de diver- e manifestações com objetivo debatedores foi possível com-
sas personalidades em todo o de combater o racismo e outras preender a importância da
mundo, como por exemplo formas de desigualdades exis- obra de Angela Davis, possi-
os escritores Gyorgy Lukács tentes naquele país. bilitando não somente uma
e Ernst Bloch, entre outros. Os principais pontos aborda- reflexão acerca dos temas que
Em 1997, ajudou a fundar a dos pela mesa no que tange às ela nos convida a enfrentar,
Critical Resistance (Resistên- obras de Davis tiveram como mas abrindo espaço para que
cia Crítica), uma organização objetivo identificar a atenção possamos compreender a reali-
nacional dedicada a desman- que a autora dispensa à situação dade na qual estamos inseridos,
telar o sistema carcerário, das mulheres, especialmente os projetos que estão em voga,
pois Davis acredita que existe das mulheres negras norte- especialmente no atual patamar
uma relação intrínseca entre -americanas, não perdendo de em que o capital se encontra,
o complexo industrial car- vista o sistema escravocrata e isto é, na fase do imperialis-
cerário e o militar, logo, em toda a violência que sofreram, mo. Mulheres, Raça e Classe
suas palavras: “Reconhecer destacando a cultura do estupro possibilita compreendermos
essas relações é o primeiro que impera desde o período da as relações de opressão como
No dia 15 de setembro de Angela Yvonne Davis, 71 passo necessário ao desen- escravidão e perdura nos dias a escravidão, racismo e capita-
2016, o curso de Ciências So- anos, que atualmente ocupa volvimento de estratégias atuais, e o papel subalterno lismo; Mulheres, Raça e Classe
ciais da Fundação Santo André a cátedra presidencial da para se contrapor e abolir das trabalhadoras pretas, cuja articula e demonstra a função
abriu o círculo de debates em Universidade da Califórnia as instituições e suas causas maioria exerce funções como la- social do patriarcado no seio da
torno do lançamento do livro no D e p ar t ame nto d e E s - latentes”. Ainda na esteira de vadeira, doméstica e outras que divisão de classes; por fim, Mu-
de Angela Davis, Mulheres, tudos Afro-americanos, é Angela, para que a verdadei- as colocam enquanto subclasse. lheres, Raça e Classe conta com
Raça e Classe – em parceria uma das mais importantes ra democracia possa emergir, Davis propõe a articulação uma rica pesquisa para aqueles
com a Editora Boitempo e ativistas da década de 1970 faz-se necessário o fim das entre classe, raça e gênero, que querem compreender as
outras universidades do es- nos EUA. Embora não tenha instituições que promovem perspectivando identificar a raiz raízes históricas do massacre,
tado de São Paulo. O referido sido participante orgânica do a dominação de um grupo das contradições sociais a fim da criminalização e do genocí-
livro – esperado pelo público Partido dos Panteras Negras, sobre outro. de compreender essas formas dio de um grupo, que por sua
brasileiro – foi publicado pela contribuiu teoricamente para Na atividade de lançamento de opressão estruturante na vez pertence a uma classe dos
primeira vez em 1981 e após a referida organização, atuou do livro de Angela Davis estive- sociedade de classes. despossuídos, que por sua vez
35 anos ganhou edição brasi- na organização Che-Lumumba ram presentes dois convidados: Outro aspecto fundamental mantém compulsoriamente a
leira pela Editora Boitempo. e n o Pa r t i d o C omu n i s t a Djamila Ribeiro – pesquisadora abordado pelos palestrantes foi atual ordem econômica.
4 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

LITERATURA

Lima Barreto e a A ontologia em


sua miríade das cores “A Náusea”, de Sartre
Guilherme Barros Araújo
Juarez Donizeti Ambires Graduado em Ciências Sociais pela FSA
Professor de Língua e Literatura Portuguesas na FSA
Jean Paul Sartre afirma que não A liberdade exercida por Ro-
somos a materialização da ideia quentin é acompanhada em todo
mais verídica à indagação. Por de deus, e por consequência ló- o decorrer da obra pelo jazz, e é só
meio dela, sabemos que negros, gica, não existe natureza humana por intermédio da música “Some
pardos, cafuzos, mulatos continu- em sua filosofia. Não há missão of these days” que ele não sente
avam à margem. Nesta exposição, designada para o homem – essa com tanto pesar a náusea exis-
uma linguagem das cores acaba máxima do existencialismo ateu tencial. O jazz, para Roquentin,
por habitar sua obra. Habita-a, não tem como objetivo colocar representa um modelo de socia-
também e na correlação, uma lin- o homem no mais profundo bilidade comunicativa indecifrá-
guagem da hierarquia social que os desespero; ao contrário, afirma vel, é um ato criativo livre de não
tons de pele mais escuros bem co- a liberdade inevitável que fun- compreensão, uma realização
nheciam e conhecem. Projetos so- damenta a existência, afinal de perfeita que possui começo, meio
ciais de inclusão não se ocupavam contas a resolução divina é uma e fim, diferentemente da existên-
deles. Na República, a igualdade era chave mestra que responde todos cia que não possui uma estrutura
para uns poucos tal como no im- os problemas, mas não explica pré-delineada - mesmo que a per-
pério. Os preconceitos enfrentados nenhum. O ser desaparece com sonagem afirme que “é preciso
ainda eram os mesmos anteriores à a justificativa da fé. sofrer em compasso”, o jazz é um
libertação. O processo social conti- Essa angustia – resultado da simbolo de eternidade. Apenas
nuava altamente excludente. Para observação da contingencia exis- pela produção da arte é possível
a constatação, bastava uma volta tencial – é o enredo que norteia permanecer eterno, como afirma
aos subúrbios e aos morros do Rio. Antoine Roquentin, protagonista Sartre no próprio romance: “em
Esta era a indicação de Lima, toda de A Náusea, primeiro romance uma obra de arte do aqui-e-agora
a vez que sua pena escrevia sobre de Sartre, publicado em 1938. A da existência do ser humano po-
o assunto. densidade da obra não me permi- deria ser mostrado como entre-
Por isto, o (herói) andarilho te fazer uma sinopse sem correr laçadas nas relações necessárias.
Lima Barreto é mestiço que nas- lembranças de sua infância. O pai que palmilha a cidade é em seu o risco de ser raso; basta saber Mas em contraste com a obra de
ce e morre no Rio de Janeiro. Seu o levará para assistir à oficializa- anonimato uma constante na es- que Roquentin é um historiador arte, no mundo real a existencia
percurso de vida vai de 1881 a 1922 ção do ato, e o menino registra o crita do autor. O exemplo viria do letrado que carrega consigo humana é contigente e por isso,
e, apesar da curta duração, legou- acontecimento. À distância e em andarilho de Baudelaire, que, sem várias experiências ao redor do muito livre”. Sartre afirma mais
-nos obra que é das mais impor- meio a grande multidão, há um destino certo, perambula por Paris. mundo e que almeja escrever a tarde que a ideia desta afirmação
tantes de nossa literatura. O melhor palanque. Nele, estão autoridades Andando, ele vê, constata e comen- biografia de uma figura esquecida é idealismo juvenil e afirmará a
de sua educação encontrou-o na civis, religiosas e Isabel, a princesa. ta situações e adversidades da vida do século XVIII, o marquês de necessidade de um engajamento
escola, mas também em casa e na Uma missa campal se desenrola e cotidiana, dando-se o mesmo com Rollenbon. No decorrer des- político, sem nunca negar que o
leitura. A mãe era professora de dela as autoridades mencionadas e o flaneur de Lima. Devido ao fato, sa empreitada, Roquentin se jazz é a manifestação musical da
formação e o pai, um tipógrafo o povo participam. No ato, todos o andarilho carioca está sempre desencanta de forma abrupta liberdade.
que gostava de ler e marcou o filho celebram a extinção de uma prá- em deslocamento e para constatar e irreversível pela pesquisa bio- Como já dito no começo do
com o hábito. Marcou-o também tica que, entre nós, fora mais que que a pobreza tem cor e lugar. gráfica e é submetido por uma texto, o existencialismo ateu não
com o nome. O escritor é em seu secular. Em verdade, com ela – a es- Em Lima, ela é negra ou mestiça (a priori) estranha sensação de tem como objetivo fazer com
batismo Afonso Henriques, em cravidão – convivêramos por mais e está nos subúrbios. A literatura aversão ao ser humano e à sua que o homem se desespere por
parceria primeiramente com o de trezentos anos. Para muitos, sua do autor também é espaço con- respectiva condição existencial. conta da gratuidade existencial.
padrinho e, depois, com o pai. abolição era um grande suspiro de tra conceitos pseudocientíficos, Roquentin chega à constatação O engajamento político de Sartre
Com ambos também estabelece alívio. No episódio, Lima e o pai pares dos sociais. Constitui-se, de que pode não haver nada no (sempre ao lado de sua compa-
parceria no apego ao Rio, cidade estão entre a multidão e também assim, em voz de combate ao ve- lugar do que há, tudo poderia não nheira Simone de Beauvoir) é um
que Lima personifica em seus entre os aliviados. Bem de perto, redito fatalista do determinismo ser – a “náusea”. exemplo de que a luta política é
escritos, transformando-a em sua sabiam o quanto a pele negra biológico, ao veredito da eugenia, Nós temos um distanciamento uma responsabilidade de nossa li-
principal referência. Nela, estão os pesava, apesar de os Lima Barreto da superioridade ariana. Para do nosso ser, penso sobre o eu, berdade: a negação da má fé, sem
negros e mestiços com os quais ele serem uma família bem assimilada. Lima, negros e mestiços não são que pensa sobre o eu, e é esse a pretensão de se livrar da náusea,
se identifica, com os quais se irma- No país, vivia-se o estigma da cor, inferiores. A inteligência não é distanciamento que permite que sempre nos acompanhará.
na. Em sua vida e literatura, o lugar vivera-se até bem pouco o estigma atributo caucasiano. A história do a estrutura de uma liberdade “A cada passo sempre haverá
social desta gente (e, na extensão, o da escravidão racial. negro é positiva, e o Brasil é prova absoluta por questão de contin- várias outras opções que serão
seu lugar) é a sua preocupação. Por Por isto, mais tarde, já homem, desta positividade. Em sua lógica, gencia lógica, ou seja, o ser que se naturalmente descartadas, sem
isto, sua obra inquire a Abolição e a o escritor perguntará sobre os o negro é o nosso colonizador e distancia não encontra nada no saber se são melhores ou pio-
República, pedindo-lhes respostas. destinos sociais dos libertos e des- o nosso artista por excelência. alienamento de si. Por isso, para res, pois nunca se vive a alegria
Neste diapasão, a assinatura cendentes que conhecia, conhecera Muito do país se fizera por suas Sartre, o homem está condenado ou as tristezas da vida que não
da Lei Áurea será contada pelo e avistara naquele ato e fora dele. E mãos. A leitura do seu Diário à liberdade, o ser só é e está sufo- escolhemos viver. A angustia te
escritor. Em verdade, é uma das sua obra acabou por ser a resposta íntimo revela-nos esta sua crença. cadamente livre. acompanhará, A náusea sou eu. ”
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 5

FEMINISMO

Para saber mais:

Revolução Russa e
Cotrim, Vera. “Emancipação feminina e dissolução da família no ideário da Re-
volução Russa”. In: Cotrim, Ana; Cotrim, Vera (orgs.). Todo Poder aos Sovietes!
A Revolução Russa 100 Anos Depois. Porto Alegre: Zouk, 2018.

os feminismos hoje
D’Atri, Andrea; Murilo, Celeste. Nós mulheres, o proletariado. Disponível em:
https://goo.gl/e8An6o
Goldman, Wendy. “As Mulheres e a Revolução” (vídeo, legendado, disponível
em: https://goo.gl/fVDRHf)

Raphaelle Denser
Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

parâmetro de comparação a ainda mais esta parcela da geral. Krupskaya descreve a


Rússia nos dias atuais, na qual população. Com a questão fe- importância que a questão
foi aprovada a lei da bofetada, minina não é diferente, visto feminista tinha para Lenin
que permite a agressão física que o capitalismo se vincula desde muito antes de estou-
de mulheres por seus maridos diretamente ao patriarcado, rar a revolução: “Quando ele
uma vez ao ano. o renova e reproduz, reser- estava no exílio, em 1899, Le-
Foi d emonst rad o que a vando às mulheres a camada nin trocou correspondências
abordagem da emancipação mais baixa da sociedade, o com a organização do partido
fe m i n i n a , qu e te m c omo que possibilita uma elevação (o Primeiro Congresso ocor-
pressuposto a emancipação da exploração nos diversos reu em 1898) e mencionou os
humana, acaba por se con- âmbitos de suas vidas. assuntos sobre os quais ele
trapor a muitos movimentos Há, assim, a necessidade de desejava escrever na impren-
feministas em nossos dias se analisar com maior aten- sa ilegal. Esses incluíam um
atuais, nos quais há diversas ção a questão de classes que panfleto chamado “Mulheres
vertentes do feminismo, cada existe no interior da socie- e a Causa dos Trabalhadores”.
uma das quais abordando de dade capitalista de um modo Nesse panfleto, Lenin preten-
maneira diversa a questão da geral, mas se compreendendo dida descrever a posição das
mulher e sua emancipação. a especificidade da questão mulheres trabalhadoras das
Hoje não se pode falar no feminina, com a sua dupla fábricas e das mulheres cam-
movimento feminista como exploração, sobretudo das ponesas, e lhes mostrar que a
um conceito geral, o que se mulheres negras: “O capita- única salvação para elas era
pode dizer é que existem fe- lismo carregou para sobre os através de sua participação
minismos – no plural – tal a ombros da mulher trabalha- no movimento revolucioná-
disparidade das ideias entre dora um peso que a esmaga; rio, e que apenas a vitória
as diversas correntes. a converteu em operária, sem da classe trabalhadora traria
Um grande marco da luta aliviá-la de seus cuidados de a emancipação às mulheres
feminista foi a tomada do dona de casa e mãe. Portan- operárias e camponesas”.
poder pelos bolcheviques to, a mulher se esgota como Sob essa perspectiva, os
na Rússia, pois associou-se consequência dessa tripla e movimentos feministas de-
a questão da emancipação insuportável carga que com veriam unir-se para debater
feminina à questão da eman- f re qu ê nc i a e x pre ss a c om a questão da propriedade pri-
cipação humana e à constru- gritos de dor e lágrimas” vada, do modo de produção
ção do comunismo, ainda (Alejandra Kollontai). e do nosso real e urgente ini-
que não o tenha alcançado, Assim, ao se tratar a ques- migo: o sistema capitalista.
e por levar este debate aos tão do machismo como algo Como disse Maíra Machado:
âmbitos públicos, nos quais de cunho retrógado, como “Quando a gente toma a lição
tal emancipação já não mais um resquício de sociedades das revolucionárias russas,
Em outubro de 2017 houve 1917, tal como expressas na era tratada como uma ques- antigas, não se chega à raiz pelos avanços concretos do
a Semana de Ciências Sociais nova legislação soviética que, tão estritamente feminina, do problema, visto que o estado soviético, mas mais
na Fundação Santo André, impulsionada principalmente mas relativa à construção de patriarcado tem uma exis- do que isso, pelos enormes
que teve como tema geral o por Alejandra Kollontai, per- uma nova sociedade. Neste tência objetiva dentro do sonhos que foram sonhados,
marco de 100 anos da Revo- mitiu às mulheres o direito processo revolucionário, as sistema capitalista. Também nossos sonhos devem então
lução Russa. Foram realizadas ao voto e a candidatar-se, o lutas feministas estiveram é assim quando, dentro de ser os maiores: de colocar
palestras com recortes diver- direito ao divorcio e à edu- muito mais próximas de se movimentos feministas, se abaixo toda essa sociedade e
sos sobre a temática, sendo cação gratuita, salários iguais tornarem vitoriosas. coloca os sexos em contra- construir o novo, com toda a
que a atividade que encerrou aos dos homens e o direito ao Nessa perspectiva, ao ana- posição, como se o problema criatividade humana, como
a semana foi a mesa compos- aborto livre e gratuito, entre lisar a sociedade capitalista do machismo e do patriar- vimos nos russos e que exis-
ta por Vera Cotrim e Maíra outros. Demonstrou-se tam- desde seus primórdios, per- cado estivesse, somente, no te dentro de nós, mas que o
Machado sobre as mulheres bém a perda de parte dessas cebe-se que ela se apropria indivíduo masculino, e não capitalismo apaga e impede
e a Revolução Russa. Nela conquistas, principalmen- de qualquer segregação, seja fazendo parte de um siste- que se expresse. Com todo
tratou-se das conquistas das te com o stalinismo, e mais de raça, de gênero, de clas- ma de dominação da classe sentimento livre que pode
mulheres após a revolução de ainda quando se toma como se ou outras, para explorar trabalhadora de um modo nos fazer sentir”.
6 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

DEMARCAÇÃO JÁ!

Aldeia Multiétnica e
Para saber mais:
Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil: disponível em

a resistência indígena http://apib.info/


Aldeia Multiétnica: disponível em
www.aldeiamultietnica.com.br/

Izabela de Macedo Jacinto


Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

que se encontram os Krahô, desses povos seja pelo lati- a gente não pode. Não pode
Fulni-ô, Kayapó, Dessana, fúndio ou pelo aniquilamen- porque o sistema econômico
Kariri-Xocó, Guarani Mbya, to dos recursos necessários e político não permite que a
Xavante, Rikbatsa, povos do para sua sobrevivência – um gente tenha paz”.
Alto Xingu como os Yawala- exemplo contemporâneo é a Num cenário de ofensiva
piti e Kamaiurá, entre outras construção da Hidrelétrica direta e constante aos povos
etnias de diferentes regiões, de Belo Monte na bacia do indígenas, os efeitos sobre os
no intuito de estabelecer di- Rio Xingu –, o desmonte da povos originários são diver-
álogos, aproximação entre as FUNAI, a perda de rudimen- sos e revelam a carnificina,
etnias, promover os saberes tos da língua e da cultura, o entretanto a causa, desde o
tradicionais e fortalecer lutas desaparecimento de etnias, o “descobrimento”, nos parece
em comum. Há também a empobrecimento compulsó- ser a mesma. Nas palavras fun-
presença do povo tradicional rio e marginalização dos in- damentais de Darcy Ribeiro
quilombola, do Sítio Histó- dígenas nos centros urbanos. em O Povo Brasileiro: “Nada
rico Kalunga, e os Kupen, Nessa perspectiva, o Acam- é mais continuado, tampouco
denominação Krahô dos não- pamento Terra Livre (ATL), é tão permanente, ao longo
-indígenas, “que vivem como assim como a Aldeia Multiét- desses cinco séculos, do que
cupins”, amontoados em casas nica, são de grande importân- essa classe dirigente exógena
construídas na vertical. cia para o fortalecimento do e infiel a seu povo. No afã de
Em outras palavras, para os movimento indígena. Desde gastar gentes e matas, bichos
indígenas a Aldeia Multiét- 2004, o Acampamento agluti- e coisas para lucrar, acabam
nica significa se reunir com na as etnias e suas respectivas com as florestas mais porten-
os parentes, unir o canto, o demandas numa mobilização tosas da terra. Desmontam
rezo, a comida, as histórias, nacional, em Brasília. Dessa morrarias incomensuráveis,
e colocar em dia questões mobilização, nasceu a Articu- na busca de minerais. Erodem
importantes como o genocí- lação dos Povos Indígenas do e arrasam terras sem conta.
dio da população indígena, Brasil (APIB), que reúne mais Gastam gente, aos milhões.
a luta pela demarcação de de 1000 lideranças do país Tudo, nos séculos, transfor-
terras, quais são as medidas inteiro, além de outras orga- mou-se incessantemente. Só
indigenistas que realmente nizações indígenas regionais. ela, a classe dirigente, per-
funcionam ou funcionariam Todo ano, o Acampamento maneceu igual a si mesma,
para eles, denunciar as ativi- dura por volta de 5 dias, e a exercendo sua interminável
dades predatórias nos terri- edição desse ano, com o lema hegemonia”.
tórios tradicionais indígenas, “Unificar as lutas em defesa do Durante o Acampamento,
enfim, demonstrar quais são Brasil Indígena – Pela garantia a marcha pela Esplanada dos
os desafios e as perspectivas dos direitos originários dos Ministérios deixa um “rastro
da luta indígena hoje em dia. nossos povos”, reuniu mais de de sangue” de urucum diluído
To das ess as questõ es s ão 3.200 indígenas. As palavras em água, com uma faixa cla-
Os índios não são proprie- Atualmente, aquilo que no abordadas à maneira deles, de Sonia Guajajara (PSOL) mando “Chega de genocídio
dade de ninguém, nem de geral se chamam índios, são por vezes numa roda de prosa durante o evento revelam a indígena – Demarcação Já!”.
padres nem de ONGs; enten- povos originários que to- logo pela manhã, comen- importância da mobilização: É o clamor desses povos origi-
dem que pensam diferente e talizam mais de 300 etnias, do um pedaço de melancia “E a gente vem pra cá por quê? nários, numa luta direta e que
que devem ser diferentes dos falantes de 274 línguas, cada depois do almoço, ou nas A gente vem pra cá por que a vem se organizando contra a
demais, e que devem apoiar qual com seu modo de orga- cantorias no pé do fogo de gente gosta de ficar na estrada, “interminável hegemonia” e
uns aos outros. Assim fala- nização social. Nesse cenário noite. Seja cantando, rezando passando dois, três dias, pra genocídio. No cenário som-
ram lideranças indígenas no tão amplo e diverso, a Aldeia ou dançando, tudo na Aldeia chegar em Brasília e ficar aqui brio em que nos encontramos
evento “Mekukradjá” em São Multiétnica aparece em 2007 denuncia o tempo todo o acampado? A gente vem pra cá atualmente, ambas as mobili-
Paulo. Entretanto, a primeira no formato de um evento que quanto a cultura indígena é pra ficar tomando sol, spray zações aqui apontadas são de
vez em que me encontrei com promove o fortalecimento rica e diversa, e ao mesmo de pimenta, tomando bala de extrema importância na resis-
elas foi num diálogo de mais cultural indígena. É na Cha- tempo, o pesar, a dura rea- borracha? Não, a gente vem tência aos projetos do capital
de sete dias, durante a Aldeia pada dos Veadeiros, durante lidade contra os indígenas: pra cá chorando. Quem de nós nacional e internacional de
Multiétnica. a segunda semana de julho, a expropriação constante não queria estar em casa? Mas usurpar vidas e gentes.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 7

ANTROPOLOGIA

Evolução humana: Para saber mais:


“Filha de Neandertal e denisovano, ‘menina híbrida’ é descoberta

novas descobertas por cientistas”. Disponível em: https://goo.gl/8AcVhm

Roger Filipe Silva


Graduado em Ciências Sociais pela FSA; mestrando em Filosofia pela UFABC

espécie sapiens –, percebeu-se que africano; porém, apesar de conver- vis First, segundo a qual o homem
algumas características anatômicas girem para uma mesma adaptação, teria vindo a pé, pelo Estreito de
consideradas arcaicas, como a caixa inclusive por meio de miscigena- Bering, da Ásia ao norte do conti-
craniana alongada, estiveram pre- ções, teriam algumas características nente, e de lá teria se espalhado, se
sentes nestes exemplares, contudo anatômicas que apareceram de deu devido a diversas evidências,
sobrepostas às características tidas formas dessemelhantes a depender tal qual o achado de objetos no
como modernas, como a face dos mais diversos fatores. Chile, com datações anteriores às
pequena e as mandíbulas curtas. Apesar de tais descobertas res- encontradas no norte do continen-
Algo semelhante aconteceu com ponderem a algumas das dúvidas te, e a descoberta de ferramentas
os exemplares encontrados em que cercam a formação do humano que datam de mais de 20.000 anos,
Florisbad, na África do Sul, com moderno, e inaugurarem novas, no Parque Serra da Capivara, no
cerca de 260 mil anos: neles a face outras ainda continuam presentes. Piauí, além de restos de fogueiras
é larga e grande, mas relativamente Um destes mistérios diz respeito que parecem ter cerca de 100.000
plana, já a testa se aproxima do ao papel da miscigenação, que teria anos, uma diferença de mais 80.000
porte característico do homem ocorrido entre as diversas espécies anos do que se previra.
contemporâneo. de Homo que foram contempo- Ainda que se faça necessária
Tais achados, além de alterarem râneas e que se entrecruzaram na a descoberta de mais evidências
a teoria segundo a qual a nossa Eurásia por um longo período, para que se afirme algo que pode
espécie teria surgido no leste afri- até a extinção das espécies menos mudar, e muito, o que se conhece
cano e se espalhado ao redor do adaptadas. Segundo o mapeamen- sobre o desenvolvimento humano
globo posteriormente, uma vez que to genético obtido de neandertais, nas Américas, tal datação é extre-
demonstram o espalhamento hu- haveria parcelas destes genes nos mamente significativa para que
mano no continente africano bem humanos modernos não subsaa- se iniciem mais buscas e estudos
antes do que se esperava, também rianos, além de genomas de deniso- paleontológicos no país.
acabam abrindo a possibilidade de vanos, uma espécie próxima aos ne- Também foi no Brasil, em
que sejam encontrados cada vez andertais encontrada nas cavernas Minas Gerais, que se encontrou
mais fósseis com características in- de Denisova, na Sibéria, mas sobre o fóssil mais antigo de todo o
termediárias diversas entre o Homo a qual pouco se sabe além do que continente americano, o Lapa
erectus, o heidelbergensis, ancestral se pôde verificar com as análises de Vermelha IV Hominídeo 1, ape-
direto dos europeus neandertais e DNA de um dedo e de alguns den- lidado de Luzia em referência à
que apresenta características bem tes, ainda que se tenha encontrado famosa Lucy, uma Australopi-
próximas aos sapiens arcaicos, e o presença genômica denisovana, de thecus afarensis de 3,5 milhões
próprio Homo sapiens, de tal forma genes em regiões responsáveis pelo de anos achada na Etiópia. Luzia
que será cada vez menos possível desenvolvimento da linguagem e tinha entre 12.500 e 13.000 anos,
Reconstituição do rosto de nossa ancestral Luzia determinar em que momento os cerebral, em populações das ilhas e apresentava um tipo morfoló-
ancestrais deixaram e os sapiens do pacífico, na Melanésia. gico com características inter-
Mesmo antes de Darwin des- Cínico, depenou uma galinha e a passaram a existir. Isto é, aponta-se Uma recente descoberta lança mediarias, com traços negroides
vendar a forma com que a vida apresentou ao público dizendo: “eis que características consideradas uma luz sobre este quadro: pela e crânio arredondado, como dos
se adapta e se altera ao longo do aqui o homem de Platão!” primitivas, e outras tidas como primeira vez foi encontrada uma mongoloides, corroborando para
tempo, muito se conjecturava so- Apesar de a atual ciência es- modernas, são encontradas em di- cria direta da hibridização entre o surgimento de novas teorias
bre a nossa condição natural. Do tar muito à frente da concepção ferentes fases de desenvolvimento espécies, no caso, a filha de uma sobre as ondas migratórias que
homo politicus, de Aristóteles, ao platônica, o problema de uma em fósseis ao redor do continente neandertal com um denisovano, formaram as populações nativas
homo faber, de Bergson, a busca demarcação fixa das caracterís- africano, demonstrando uma com cerca de 90 mil anos. Ainda americanas. Apesar de sua suma
pela diferença essencial entre nós ticas que distinguiriam o Homo evolução que teria acontecido de que pese o desconhecimento dos importância, e dos estudos que
e os demais animais pululam e sapiens de seu ancestral e parentes forma gradual e dessemelhante nos denisovanos, os testes comprovam foram possibilitados por este
norteiam os mais diversos tipos próximos continua a assolar os múltiplos locais em que a espécie se que somente a relação direta destas achado, Luzia não resistiu ao Bra-
de teorias, das mais diferentes paleontólogos. Quando foi rea- desenvolveu. duas espécies, o que deveria ser sil contemporâneo, e parece ter
áreas. Seguindo este questiona- lizada a reconstrução dos fósseis Em outras palavras, os achados algo comum, poderia gerar tal queimado, junto a diversos outros
mento, a academia platônica teria encontrados no Marrocos, que e datações mais atuais demons- exemplar. incomensuravelmente relevantes
definido o ser humano como um datam de 300 a 350 mil anos atrás tram que o Homo sapiens teria se Ainda mais enigmático, talvez, itens, na evitável catástrofe do
bípede implume. Porém, precisou – mais de 100 mil anos antes do que desenvolvido concomitantemente seja a chegada dos hominídeos na incêndio do Museu Nacional, em
redefini-lo quando Diógenes, O se acreditava ter surgido a própria em diferentes partes do continente América. A queda da teoria de Cló- 03 de agosto passado.
8 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

ECONOMIA

Para saber mais:

A questão social sob


Carvalho, Laura. Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico. São
Paulo: Todavia, 2018.
Filgueiras, Luiz; Gonçalves, R. A economia política do governo Lula. Rio

hegemonia financeira
de Janeiro: Contraponto, 2007.
Maringoni, G; Medeiros, J. Cinco mil dias: o Brasil na era do lulismo.
São Paulo: Boitempo, Fundação Lauro Campos, 2017.
Paulani, L. Brasil Delivery: servidão financeira e estado de emergência
econômico. São Paulo: Boitempo, 2008.

Felipe Henrique Gonçalves


Graduado em Ciências Sociais pela FSA; doutor em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC

econômico do período também foi parcela dos setores industriais se de ativos direcionada também às
possível devido a um expressivo beneficiando do câmbio apreciado operações financeiras. Nesse cená-
aumento da relação crédito/PIB, e da rentabilidade dos ativos finan- rio as estruturas macroeconômicas
responsável por um consumo de ceiros. Com a crise financeira de estimulam e generalizam a revalo-
massa inédito na história do país, 2008 desacelerando o crescimento rização dos capitais por meio de
que estimulou o mercado interno, do comércio internacional, o mo- diferentes ativos e produtos finan-
principalmente após a crise de delo de desenvolvimento sustenta- ceiros, em prejuízo do crescimento
2008. A manutenção de elevados do nas exportações de commodities produtivo, intensificando, com isso,
superávits primários durante o e no mercado interno, via expansão a concentração da renda em bene-
período forçou uma política mo- do crédito, começou a encontrar fício dos lucros e dos rendimentos
netária conservadora de elevadas os seus limites, e o projeto de con- do capital e em detrimento dos
taxas de juros e uma política fiscal ciliação se viu em contradições salários.
restritiva de baixo investimento cada vez mais agudas de disputas Por isso, um novo modelo de
público, com relativa exceção no pelo orçamento público. desenvolvimento que garanta
segundo governo, que elevou os A manutenção de elevadas taxas distribuição de renda passa por
investimentos públicos por meio de juros reais em comparação colocar em debate questões de
do PAC e flexibilizou a política com os padrões internacionais mudanças estruturais. A título
monetária para conter os efeitos da foi elemento determinante dos de reflexão para promoção do
crise. A expansão do “bolo” permi- limites impostos pela hegemonia debate, elenco brevemente alguns
tiu uma elevação da lucratividade e financeira ao desenvolvimento. temas. Com o objetivo de reduzir
condições objetivas para o governo Nessa circunstância, impediu-se a volatilidade cambial, é necessá-
executar, momentaneamente, que a dívida pública fosse um rio colocar em debate o tema dos
metas contraditórias: manter a instrumento de financiamento do controles de capitais. Além disso,
estabilidade monetária assentada investimento público para tornar- recolocar a função social dos
em seus passivos, a segurança e a -se espaço de alocação de recursos bancos públicos na ampliação
confiança dos credores e investi- com elevada rentabilidade e baixo da participação no fornecimento
dores, gerando, simultaneamente, risco, desestimulando as atividades de créditos sob juros reduzidos e
renda, emprego, crédito e políticas produtivas e drenando a riqueza de longo prazo para atividades
sociais focalizadas para os de baixo. nacional por intermédio de um produtivas e bens de consumo
Nesse sentido, predominou uma sistema tributário extremamente duráveis. Quanto à dívida públi-
lógica de distribuição de renda na regressivo. Assim, o endividamento ca, faz-se necessário mudar o seu
Salve comunidades, não apenas bancos! (em tradução livre)
margem do sistema, dentro dos público interno contribuiu muito perfil, reduzindo gradualmente
ganhos do crescimento do PIB, mais para reproduzir os limites os juros e tornando-a de longo
A abertura econômica e a libe- alguns governos considerados de sem grandes enfrentamentos com estruturais do desenvolvimento prazo, possibilitando que seja
ralização comercial e financeira centro-esquerda. A recente experi- os beneficiários da especulação ou econômico do que para superá- instrumento de financiamento
do início dos anos 1990 criaram ência do PT na direção do governo da estrutura tributária regressiva do -los, uma vez que o volume de de investimentos públicos para
as condições para o processo de fi- federal (2003-2016) é ilustrativa. Brasil. É a fração bancário-finan- investimentos públicos não teve impulsionar o crescimento
nanceirização, impulsionadas pelo Os governos Lula procuraram ceira a maior beneficiada. A defi- contrapartida proporcional. econômico. A redução de ju-
cenário internacional de mundiali- reorganizar as frações de classe nição sobre a taxa básica de juros O grau elevado de financeiri- ros associada a uma profunda
zação do capital. O Brasil se inseriu oferecendo condições favoráveis significa, em última instância, uma zação da economia levou o país reforma tributária progressiva,
nesse processo de forma passiva, para a grande burguesia interna, disputa pela distribuição da renda. a sofrer influência excessiva das de ampliação de faixa de isen-
por meio do endividamento públi- principalmente aquela vinculada A alta regressividade e expansão da operações especulativas e de curto ção do Imposto de Renda e
co e sem um projeto de desenvol- ao agronegócio destinado à ex- carga tributária, combinada a uma prazo, em detrimento de conside- aumento da tributação para os
vimento nacional sustentável que portação, mas sem contrariar os estrutura de bem-estar de baixa rações e planejamento de longo mais ricos, além de taxação so-
promovesse distribuição de renda interesses da hegemonia financei- densidade, fazem do Estado bra- prazo. A manutenção de juros reais bre herança, grandes fortunas,
e expansão das políticas sociais. O ra. O boom das commodities e o sileiro um Robin Hood às avessas. elevados atraiu cada vez mais capi- lucros e dividendos e redução
determinismo financista, que com- cenário externo favorável puxado As medidas econômicas de na- tais voláteis. A política econômica de impostos sobre o consumo e
preende a predominância de me- pelo “efeito China” garantiram ao tureza heterodoxa que estiveram foi corrompida pelas avaliações produção e aumento sobre pa-
didas econômicas condicionadas agronegócio e à indústria de produ- presentes no segundo governo Lula curto-prazistas dos mercados trimônio e renda, estimulariam
pelo chamado “fundamentalismo tos de baixa densidade tecnológica ocorreram simultaneamente à acu- financeiros, decorrência de as as atividades produtivas e pos-
de mercado” como inescapável, ganhos superiores em relação aos mulação financeira, com elevada grandes empresas produtivas terem sibilitariam maior distribuição
tem sido incorporado mesmo em governos anteriores. O crescimento apropriação rentista e com uma parte expressiva de sua estrutura de renda em favor do trabalho.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 9

Populismo, socialismo ou democracia?


Para saber mais:

A polêmica em torno
Moniz Bandeira, L. A. O governo João Goulart. As lutas sociais no Brasil – 1961-1964.
São Paulo: Unesp, 2010.
Dreifuss, René. 1964 - A Conquista do Estado. São Paulo: Vozes, 1981.

do governo João Goulart


Silva, Aline V. O Projeto Nacionalista de João Goulart: Análise dos Discursos de 1961 a
1964. Dissertação de mestrado. PUC-SP. Disponível em: https://goo.gl/LtgzCV
Chasin, J. “A via colonial de entificação do capitalismo”. In: A Miséria Brasileira. Santo
André: Ad Hominem, 2000.

Valquíria Braga
Graduada em Ciências Sociais pela FSA; mestranda em História Econômica pela USP

la e ilude as massas populares. apesar de ter como ótica a além das reformas urbana,
Desta forma Goulart seria democracia burguesa, de fato eleitoral e bancária.
caracterizado como um líder representara a melhor opção Essas reformas estritamen-
populista típico, que usaria o em voga na época para os tra- te democratizantes foram
povo para atingir benefícios balhadores. E justamente por encaradas como socialistas
pessoais. isso o impedimento, por parte ou populistas porque, a um
A visão conservadora, pre- da direita, de sua efetivação. capitalismo extremamente ex-
sente desde a grande mídia Em nossa análise a confusão plorador e que nega minima-
do período até em intelectuais em torno do caráter do gover- mente a integração da classe
da direita ou no Pentágono no Goulart e das Reformas trabalhadora ao desenvolvi-
norte-americano, que imputa de Base deve ser situada na mento, a burguesia brasileira
a Jango os rótulos de um pre- própria particularidade do ca- tem como correspondente
sidente socialista e subversivo pitalismo brasileiro. A neces- político a autocracia, ou seja,
que pretendia implementar no sidade de se refazer o sentido uma forma política de exer-
país uma república sindicalista da colonização apontado já por cício da dominação formada
ou uma nova Revolução Cuba- Caio Prado Jr e presente desde por uma burguesia que se
na, foi derrubada por uma o início de nossa história, ou nega a incluir minimamente
série de estudos e recentes seja, a imposição de se repetir as massas à democracia e se
pesquisas que mostram que um modelo de acumulação revolta quando se coloca em
Goulart era essencialmente que garantia a exportação de xeque seu domínio absoluto e
um democrata nacionalista, mercadorias para enriquecer excludente.
inspirado em ideais cristãos as potências internacionais e Os debates em torno de
de justiça social e igualdade; alimentar uma elite dominante Goulart se inserem nessa pro-
colocando-se contra o so- nacional, se mantém na déca- blemática, a saber, qual pro-
cialismo, considerava como da de 1960 – e até hoje. Para jeto nacional o Brasil deveria
solução para os problemas efetivar isto que caracteriza o seguir: um modelo que recolo-
nacionais a conciliação entre ser precisamente assim de nos- cava como demiurgo de nossa
classes no interior do sistema sa formação nacional, fazia-se história negócios exógenos ao
capitalista. Segundo Moniz necessária a manutenção de interesse nacional e, portan-
Bandeira, Goulart era um re- certos elementos políticos e to, perpetuavam a exclusão
formista, com um programa, econômicos, a saber, o reforço das massas trabalhadoras e a
um partido – o PTB – e uma da dependência externa e o subordinação ao capital in-
prática muito bem delineada, impedimento da autonomia ternacional, ou uma proposta
Os estudos sobre o gover- apenas a tentativa de efetivar cujas propostas foram, em nacional, a concentração de democrática que incluía, por
no João Goulart (1961-1964) a frágil e recente democracia termos nacionais, o que mais terras, bem como a exclusão mais que de forma limitada, os
têm despertado, nos últimos brasileira? se aproximou da social-demo- das massas, uma vez que a trabalhadores e alargava a eles
anos, especial interesse entre A interpretação mais clássica cracia europeia, responsável obtenção do lucro de ambas os direitos sociais básicos, mas
os historiadores. Desde debates sobre o período é a que atribui pelos anos de bem-estar social as burguesias – externa e na- que cobrava o alto preço de to-
quanto à natureza desse perí- a João Goulart o estigma de naquele continente. cional – repousava justamente car nos privilégios seculares
odo, passando por estudos da populista. Esta teoria, presente Diante da posição definida sobre a superexploração do de nossa casta dominante.
vida pessoal do ex-presidente e de livros didáticos e discursos de Goulart e do PTB, Bandeira trabalhador. Assim foi que na década de
por pesquisas com objetivo de midiáticos até em intelectuais pode afirmar com segurança As Reformas de Base pro- 1960 se delinearam as opções
aclarar os motivos que levaram de grande monta, tem como que já em 1959 o programa postas por Jango questiona- dos modelos de acumula-
ao golpe empresarial-militar de origem as leituras de Francisco deste correspondia a um nível vam justamente estes pontos ção capitalista possíveis em
1964 até ensaios que tentam Weffort e Octávio Ianni. Guar- de consciência da problemá- que garantiam a manutenção nosso país e foi no governo
relacionar nosso atual mo- dados os méritos dos autores tica brasileira, ou seja, longe da extrema desigualdade no Goulart que as forças sociais,
mento político com as véspe- e as especificidades de cada de ser populista, de proferir país, propondo limitar os a favor ou contra este ou
ras do golpe, um elemento é leitura feita a partir deles, em retóricas vazias, Goulart e seu lucros astronômicos do capi- aquele modelo, se digladia-
polêmica certa entre os inte- geral o líder populista é aquele partido tinham um programa tal internacional, a reforma ram pela vitória. A ditadura
lectuais: seriam os anos Jango que, para benefício da classe coerente com a realidade na- agrária, o estímulo à indústria militar imposta em 1964 não
um período populista, um dominante, e através de uma cional; este programa nunca nacional e mesmo a nacionali- deixa dúvidas sobre qual foi o
caminho para o socialismo ou retórica demagógica, manipu- fora negado por ambos e, zação de setores estratégicos, vencedor desse embate.
10 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

SOCIEDADE
Para saber mais:

Mobilidade de classes na
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A reprodução do espaço urbano.
São Paulo: Edusp, 2008.
HARVEY, David. Os limites do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

urbanização em São Paulo


MARICATO, Ermínia. Para entender a crise urbana. São Paulo:
Expressão Popular, 2015.
PASTORE, José e SILVA, Nelson. Mobilidade Social no Brasil. São
Paulo: Makron, 2000.

Sandro Barbosa de Oliveira


Graduado em Ciências Sociais pela FSA, mestre em Ciências Sociais pela UNIFESP e doutorando em Sociologia pela UNICAMP

refere-se às condições diárias de determinar o modal de transpor- sudoeste da cidade de São Paulo
deslocamento e autonomia nessa te que passou a predominar no (65% dos empregos) e nas sub-
circulação. Ela expõe o problema deslocamento intra-urbano no -regiões sudeste (11,6%), oeste
relativo à dinâmica de circulação país. Não por acaso, as estatísticas (8,5%) e nordeste (6,1%) da me-
de trabalhadores e mercadorias, e do Denatran (Departamento trópole. Esses dados expõem que
mostra as barreiras socioespaciais Nacional de Trânsito) mostram o modo coletivo de transporte
de apropriação da riqueza social o quê os trabalhadores vivenciam (54,3%) ainda se sobrepõe ao
distribuídas desigualmente no cotidianamente e está presente nos modo individual (45,7%), porém
urbano pela valorização do capital. noticiários: congestionamentos de recebeu menos investimentos
No caso das metrópoles brasi- veículos, passageiros em paradas à nas últimas décadas. As viagens
leiras, em consequência da forte espera do ônibus ou amarrotados diárias por modo e renda familiar
concentração industrial e do intenso em vagões de trens e metrôs. também mostram a desigualdade
processo de urbanização entre as Em São Paulo o sistema de desses deslocamentos: cerca de
décadas de 1950 e 1990, houve transporte, que deveria ser priori- 18,1 milhões de viagens diárias
uma vertiginosa aglomeração da dade dos investimentos públicos, eram feitas por trabalhadores
população e de ocupações em áreas é limitado e desigualmente distri- que recebiam até 4 s.m. (salários
periféricas em diversas cidades e buído. O sistema de mobilidade mínimos; em 2012, o s.m. era R$
regiões metropolitanas, locais que no Brasil gerou muitas iniquida- 622,00), representando um total
desenvolveram sistemas de mobi- des, ao passo que a urbanização de 47% do total geral de viagens.
lidade limitados e de alto custo na recolocou pessoas em ambientes A faixa de até 2 s.m. na época
relação localização-deslocamento. urbanos nos quais elas passam a mostrava que os trabalhadores de
A localização pode ser de “fácil” ou necessitar de transporte público baixa renda, em sua maioria, utili-
“difícil” acessibilidade e por isso não regular. Em síntese, as cidades zavam ônibus. Em contrapartida,
é possível pensá-la separadamente e metrópoles brasileiras foram auto superava em conjunto metrô
da dinâmica de deslocamento. Tal produzidas e estão estruturadas e trem nas terceiras (de 4 a 8 s.m.)
como a localização (lugar produzido para um modo de vida das classes e quartas (de 8 a 15 s.m.) faixas de
socialmente que reúne característi- médias e dominantes que se utili- renda, o que mostra o predomínio
A problemática da mobilidade de para elas, enquanto as demais cas que determinam as condições de zam do automóvel para circular, do rodoviarismo entre as classes
classes na sociedade brasileira passa classes sociais habitam um lugar vida das classes – moradia, escola, enquanto que a maior parte da médias e dominantes, enquanto
pelas questões das mobilidades e trabalham em outro; essa condi- transporte, infraestrutura, empre- classe trabalhadora que depende que as camadas de baixa e baixís-
urbana e social. Para compreender ção estrutural indica os efeitos da go), o deslocamento é determinado de transporte público e coletivo sima renda da classe trabalhadora
sua dinâmica e suas barreiras so- necessidade de deslocamentos di- pelos sistemas viários e de transpor- sofre diariamente com o tempo de utilizam ônibus, metrô e trem.
cioespaciais é necessário entender ários de trabalhadores, pequenos te produzidos socialmente, o que deslocamento socialmente deter- Para finalizar, não é possível
o processo de urbanização, que burgueses, profissionais liberais leva a desigualdade na apropriação minado para essa circulação, além entender a mobilidade de classes
adquiriu suma importância para o e camadas médias, mas não suas da cidade e da riqueza pelas classes. dos custos para sua realização. Por nas regiões metropolitanas apenas
desenvolvimento capitalista por ser causas. Estas se encontram na Em relação aos problemas de isso, o tempo de deslocamento por meio de modelos de mobili-
induzido pela produção capitalista relação entre segregação urbana, acessibilidade, nos últimos anos permite ampliar a noção de luta de dade social baseados em renda
do espaço, ao passo que o espaço renda da terra e sistemas viários e da década de 2000 houve aumento classes nas cidades e metrópoles. e consumo, já que a apropriação
urbano de metrópoles e cidades de transporte, que podem eviden- de veículos automotores no Brasil As pesquisas Origem e Destino da riqueza socialmente produzi-
grandes no Brasil apresenta visual- ciar os fundamentos estruturais dez vezes maior do que o aumento de 1997 e 2007 e a Mobilidade da remete aos deslocamentos e
mente os efeitos das desigualdades da mobilidade entre as classes nas da população, resultado da opção de 2012 do Metrô de São Paulo acesso às localizações que concen-
estruturais deste tipo de capitalismo contradições dessa urbanização. política assumida desde a década mostram como a maior parte dos tram essa riqueza. Distribuição e
dependente. O problema do transporte ex- de 1950 por um modelo de mobi- trabalhadores habita as periferias apropriação de renda e consumo
As consequências do desenvol- põe a crise de mobilidade urba- lidade urbana oriundo do modelo enquanto que os empregos estão precisam ser entendidas a partir
vimento desigual e combinado na evidenciada após a revolta de urbanização rodoviarista que localizados em determinadas da estrutura de classes presentes
são visíveis e se manifestam por da tarifa de 2013 na discussão se baseia no tripé indústria auto- áreas e sub-regiões da metrópole. no espaço, e o deslocamento é
meio da segregação urbana, que sobre deslocamentos e direito motiva, indústria da construção Isso provoca cerca de 29 milhões fundamental para ampliar a noção
expressa a separação entre as à cidade nas metrópoles bra- civil e indústria petrolífera, que de viagens diárias (Auto 12 mi- de classes sociais no urbano. A luta
classes no espaço produzido, em sileiras. A mobilidade urbana, determinaram as localizações lhões; Ônibus 9 milhões; Metrô de classes se lê no espaço produ-
que as classes dominantes habitam noção relacionada aos modos de (bairros) e formas de deslocamen- 4 milhões; Trem 2 milhões), ao zido, e o tempo de deslocamento
e trabalham numa área da metró- acesso às diferentes localidades tos (sistemas viário e transporte) concentrar os empregos na re- socialmente determinado é fun-
pole construída exclusivamente das médias e grandes cidades, nas regiões metropolitanas, ao gião central, oeste e no quadrante damental para sua compreensão.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 11

POEMA ECONOMIA

Bolha A China no Para saber mais:

mundo atual
https://goo.gl/8C57ui

Heitor Santinon
Estudante secundarista

Dizem que a gente é o que a gente come Victor Monteiro dos Santos
A maldade a gente ingere Graduado em Ciências Sociais pela FSA
Muitos passando fome
Sendo julgados pela cor da pele ao imóvel por conta do preço
ofertado.
Um menino morre voltando da escola A crise internacional do
Sonhava apenas em jogar bola capital, que se origina do
mesmo fenômeno, não foi
Não tinha nada com esse papo de marola empecilho para o modelo
Mas isso não importou na hora de sacarem a pistola de desenvolvimento chinês,
cujo PIB continuou crescen-
Ele foi assassinado do na primeira década do mi-
Um tiro precipitado lênio. Embora também não
E aí eu te pergunto represente a saída milagrosa
que buscam os economistas.
O que ele fez de errado Aliás, como disse ao jornal
espanhol El País Gary Liu,
Tem branco por trás da fraude diretor executivo do Insti-
Tem negro atrás da grade tuto Internacional Lujiazui,
Tem muito salafrário a China se encontra em um
Ainda dentro do armário ponto de inflexão, caracte-
rizado por excesso de oferta
no mercado e pela influência
O preconceito é real das empresas. A produção
E a sociedade não tá pronta des enf re ad a d as rel açõ es
O preconceito é racial capitalistas tem sido uma
E ninguém quer pagar a conta pedra no sapato da harmonia
confucionista. A urbanização
é predatória, a cidade é ira,
Então desmonta e remonta fumaça, barulho, velocida-
Quem sabe assim a gente aprende de. Repito as palavras de
A sociedade está pronta Interpretar o movimento cisa? Comunismo? Belluzo Belluzo sobre a importância
Isso é o que a elite vende não é tarefa fácil, e o econo- afirmou que a desigualdade das decisões do Estado, com
Mas você não tá abrindo a boca mista que se propõe a estudá- de renda na China aumentou, seus investimentos e aportes
Então me fala, o que te prende ? -lo merece atenção. E assim, embora tenha diminuído o mu lt i m i l i onár i o s , p ar a o
atenciosa, estava a plateia nível de pobreza. Um país crescimento econômico do
que assistiu ao economista que tinha uma população e país. Porém a analogia com o
Luiz Gonzaga de Mello Bellu- uma economia majoritaria- desenvolvimento cauteloso é

Semana de Ciências zo, na palestra inaugural da


Semana de Ciências Sociais
mente rural, hoje é referência
de megalópoles. No f inal
imprópria, pois, como disse
o economista palestrante,

Sociais e Geografia 2018


2016. A China, que atual- de 2011 o governo chinês “a travessia do rio pulan-
mente têm agitado o mundo anunciou que, pela primeira do pedras” tem deixado os
com suas transformaçõ es vez na história, sua popu- trabalhadores à margem. A
Crises e Contradições econômico-sociais, foi pauta
da palestra.
lação urbana ultrapassou a
população rural. A China
modernização constante da
produção impele para um
Desde a década de 1970 a pipocou cidades e, como a menor número de trabalha-
5 a 10 de novembro de 2018 China deu passos largos em
direção à industrialização,
pipoca, a cidade transbordou
a panela. No território chinês
dores na linha de produção,
e as relações sociais terão
(das 18h00 às 22h30)
conquistou espaço no merca- existem cidades fantasmas, de lidar com “o desafio do
Apresentações artísticas, conferências e debates com do internacional exportando ou seja, cidades construídas tempo livre”, como afirmou
intelectuais de diferentes universidades sobre as crises, bens não duráveis. Especia- pela necessidade de expansão B elluzo. Sem trabalho ou
contradições e alternativas que afetam nosso lizada em produtos eletrôni- e não habitadas. Ainda que com os baixos salários no
cotidiano e nosso futuro. cos, o expressivo crescimento digam que a não habitação é setor de serviços as consequ-
chinês é, para grande parcela “falta de gente”, não há como ências da menina dos olhos de
Evento gratuito e aberto a todos. dos economistas, uma meni- esconder o que se gerou: ouro é quiçá o cobre na mão
Informações: cienciassociaisfsa@uol.com.br na dos olhos de ouro. Modelo uma bolha imobiliária, onde do trabalhador. Quanto ao
a ser seguido? Estratégia pre- a população não tem acesso ouro… Ahhh… o ouro...
12 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

As vicissitudes da arte na era da guerra fria cultural

A CIA e a guerra Para saber mais:


Carlson, Marvin. Teorias do Teatro. São Paulo: UNESP, 1997.
Costa, Iná Camargo. Nem uma lágrima. São Paulo: Expressão Popular, 2012.

subterrânea e psicológica
Saunders, Frances Storner. Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura.
São Paulo: Record, 2000.

Renata Adriana de Sousa


Graduada em Ciências Sociais pela FSA ; mestre em Ciências Sociais pela UNIFESP e pesquisadora do CPDOC Guaianás

após a morte de Lenin (1924) militares e diplomáticas”, foi ele era a própria “antítese
e o aparecimento de Hitler autorizada a colher infor- do realismo socialista”. Nas
na Alemanha provocou um mações ou intervir secreta- artes serão referências desse
novo cenário que passou a mente nos assuntos de outras movimento: Jackson Pollo-
desqualificar o tipo de arte nações, tendo como missão ck, David Alfaro Siqueiros,
política que se fazia na URSS, “salvar a liberdade ocidental Adolph Gottlieb, William
minando o movimento his- das trevas comunistas”. De Baziotes e Julian Beck. No
tórico que vinha ocorrendo. tal maneira que ela não só teatro coexistia o princípio
Em contraposição àque- coordenou, mas orientou e da “instituição moral”, que
la produção artística, um armou diversos países a fazer trazia lições “desejáveis pelos
novo movimento artístico se o mesmo, o que significou a EUA”, são exemplos: Lillian
avoluma, seguido também universalização da “experi- Hel lman, Eugene O’ Nei l,
p or uma nova concep ção ência americana”. Thornton Wilder, Tennesse
ideológica. Este é o período A CIA se auxiliou prin- Williams, William Saroyan,
marcado pela guerra fria, c ip a l m e nte d e i nte l e c tu - Clifford Odets e John Stein-
no qual a disputa se trava ais e artistas que estavam beck; estes tiveram aporte
pr incip a lmente na esfera contrariados com a União do “projeto teatral maciço”
ideológica e cultural entre a Soviética. Desenvolveu uma por influência da CIA. E o
arte comunista, pautando a guerra dissimulada, em que princípio da liberalização
classe trabalhadora, e a arte os agentes eram intelectuais do inconsciente individual
“não objetiva”, pautando a que lançavam a proposta de através da experiência in-
liberalização do indivíduo; “outro” projeto societário tensa do teatro fomentados
nesta última se evidenciou livre de qualquer autorita- por Kirby, John Cage, Joseph
também a busca pela técnica rismo. Organizaram o Con- Chaikin, etc.
e a livre iniciativa do artista gresso Cultural pela Paz em Para financiar seus projetos
se contrapondo às formas abril de 1949 em Paris, no culturais, a CIA usava dinhei-
“autoritárias”. Essa forma qual, revestidos de trajes ro que era um subproduto do
artística liberal contou com “democráticos”, debateram Plano Marshall e distribuía
a colaboração do governo temas como ciência, totalita- através das fundações: Ford,
“Alguma vez tentamos tervenções, sobretudo na pro- estadunidense, fomentando rismo, artistas e liberdade, o Rockefeller, entre outras.
interferir nas eleições de dução ideológica e cultural. O a Escola de Nova York, que cidadão, a paz, a liberdade e E proporcionou um êxodo
outros países? Provavel- trabalho de Saunders, A guer- ficou conhecida como Ex- a cultura livres num mundo artístico de artistas e intelec-
mente. Mas foi pelo bem ra fria cultural, retrata como pressionismo Abstrato. livre. Temas que se tornaram tuais do mundo inteiro para
do sistema para evitar que a ideologia anticomunista foi Para artistas e intelectuais as bases para a escola de arte os EUA, para participação
o comunismo assumisse. incorporada nas atividades a discussão se dava em tor- de Nova York, que até então em conferências, exposições,
Por exemplo, na Europa, intelectuais e artísticas, e con- no das questões estéticas, não tinha grande relevância. premiações, festivais, etc.
de 1947 a 1949, com os tribuiu para o fortalecimento enquanto que para o gover- Os artistas que haviam parti- Por fim, a guerra subter-
gregos e italianos...” da ideologia liberal. no dos EUA tratava-se de cipado do New Deal de Roo- rânea e psicológica dos EUA
(Ex-diretor da CIA, James A partir da Revolução Sovi- penetrar profundamente na sevelt foram seus principais fomentou o pacifismo e a
Woolsey, em entrevista no ética de 1917 e da formação sociedade global, por uma realizadores; estes recebiam liberdade individual contra
programa da Fox News). do bloco socialista, o mundo guerra psicológica e pacífica, e produziam arte para o go- o coletivismo e o pensamen-
se polarizou em duas partes. forjando nas pessoas a crença verno, ao mesmo tempo em to marxista, considerados
A intervenção dos Estados Por um lado, inspirou a eclo- de que os “norte-americanos que se envolviam na política “totalitários”. A contradição
Unidos da América através são revolucionária em toda querem um mundo em paz, de esquerda. entre grupos artísticos de
da CIA (Agência C entral parte do cenário mundial, e um mundo em que to das O expressionismo abstrato perspectiva revolucionária
de Inteligência) nas ações os trabalhos produzidos pela as pessoas tenham oportu- surgiu no final da década e os de perspectivas liberais
políticas e econômicas de esquerda, aliada à ótica da nidade do máximo de de- de 1940, e foi considerado pôde mostrar as disputas, os
outros países tem se eviden- classe trabalhadora, passou senvolvimento individual” a “verdadeira ar te nor te- conflitos e a movimentação
ciado numa densidade de a d om i n ar a c e n a c u ltu - (presidente Eisenhower). A americana”, sem influências que engendrou as duas vi-
documentos e depoimentos ral. Por outro lado, o fluxo CIA, fundada em 26 de julho europeias; sobre as bases ide- sões de mundo na disputa
que exige maiores pesquisas contrarrevolucionário que de 1947 com o objetivo de ológicas do anticomunismo pela narrativa da sociedade
sobre o significado dessas in- se colocou, principalmente “coordenar as informações e politicamente silencioso, contemporânea.
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 13

MARXISMO

200 anos de Para saber mais:

Karl Marx
Engels, F. Karl Marx. Disponível em: https://goo.gl/Q2uLDX
Lenin, V. I. Os destinos históricos da doutrina de K. Marx. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/03/01.htm
Lukács, G. “Os princípios ontológicos fundamentais de Marx.” In: Para uma
Ontologia do Ser Social I. São Paulo: Boitempo, 2012.
Chasin, J. Marx - Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica. São Paulo:
Boitempo, 2009.

Rodrigo Chagas
Graduado em Ciências Sociais pela FSA, mestre em História pela PUC e doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp

clara a alternativa para se es- mente desinteressada pela turais por meio de disputas
tabelecer novas relações dos intervenção social? às cegas.
indivíduos entre si e com a O objetivo de Marx não Para além dos escombros
natureza. era o de constituir um “exér- de velhos dogmas e batalhas
Para Marx, diferente do que cito de doutrinados”, e sim a políticas, o pensamento de
geralmente se afirma, o fator elaboração teórica dos con- Karl Marx nos oferece hoje
subjetivo tem importância flitos existentes como passo novas possibilidades: tanto
nas grandes transformações essencial para superá-los. pelo distanciamento históri-
sociais e nunca se limitou a um Na estreia pública das suas co do trauma da experiência
simples efeito mecânico do de- primeiras descobertas, em da URSS, como pelo acesso
senvolvimento das forças pro- 1844, Marx escreveu: “/.../ aos estudos marxianos iné-
dutivas. O desenvolvimento nada nos impede de criticar ditos e a possibilidade de re-
econômico repõe ciclicamente a política, a participação na flexões renovadas sobre a sua
a possibilidade revolucioná- política e, portanto, tomar pertinência teórico-prática.
ria, mas não produz por si a as lutas reais como ponto Em suma, os investigadores
consciência para que esta se de partida de nossa crítica marxistas do século XXI es-
realize. Assim sendo, a inte- e de identificar nossa crítica tão fadados ao duplo esforço
ração entre forças materiais e com elas. Nesse caso, não de redescoberta do pensa-
sociais apenas se efetivam por confrontamos o mundo de mento do próprio Marx – que
meio da intervenção subjetiva: maneira doutrinária com um foi, em grande medida, dis-
a decisão humana. novo princípio: aqui está a torcido e ocultado no século
Neste processo, não ape- verdade, ajoelhe-se diante passado – e a compreensão
nas a política, mas também dela! Desenvolvemos novos crítica da realidade atual.
as ciências sociais podem princípios para o mundo Temos de ter a clareza de
ganhar importância na con- a partir dos princípios do que estamos em um novo
solidação de caminhos para mundo. Nós não dizemos ao começo. Portanto, devemos
além do capital. As confusões mundo: cessem suas lutas, l i d ar s obr i ame nte c om o
alimentadas, nos dias que elas são tolas; nós lhe dare- fato de que as alternativas
correm, sobre o papel das mos a verdadeira consigna à superação do capitalismo
“ideologias” nas universida- da luta. Nós simplesmente encontram agora apenas um
des apenas ocultam que tanto mostramos ao mundo pelo eco mínimo na sociedade. A
as ciências têm motivações que realmente está lutando, revolução social não se apoia
ideológicas sem necessaria- e a consciência é algo que na vontade de poucos indi-
mente prejudicar a busca por ele tem que adquirir mesmo víduos ou num milagroso
objetividade, como a mais que não queira. A refor- método partidário; ela deve
pura verdade científica pode ma da consciência consiste renascer como uma necessi-
ser utilizada como ideologia apenas em tornar o mundo dade lastreada socialmente
desastrosa. cons ciente de si própr io, para enfrentar as guerras, a
Entre os 200 anos que se- turais. Os problemas sociais Nas investigações vincula- em despertá-lo a partir de devastação ambiental e as
param o nascimento de Karl tornaram-se, essencialmente, das ao marxismo, em prin- seu sonho sobre si mesmo, crises econômicas periódicas
Marx (1818−1883) e os dias uma consequência da atuação cípio, o que se expressa é a explicando-lhe o significa- do capitalismo.
de hoje a humanidade passou coletiva norteada pela lógica escolha de um lado: tomar do de suas próprias ações” Revisitar Marx hoje nos
por transformações que refor- do capital. por referência a posição das (Marx, K. Letters from Deuts- ajuda a manter o discerni-
mularam, ao redor do globo, Celebramos o bicentenário classes desprovidas de capi- ch-Französiche Jahrbücher. mento sobre as raízes dos
as relações sociais e de produ- do nascimento de Marx, so- tal como ponto de partida à MECW, vol.3, p.144). desafios impostos pelas
ção. Como resultado, vivemos bretudo, pelo reconhecimento pretensão científica. Isto não Como vemos, a reflexão enormes contradições que
atualmente em sociedades de que ele foi o pensador que significa a imposição de uma do autor continua oportuna nasceram com a sociedade
industrializadas nas quais a melhor compreendeu os pro- doutrina, mas a tomada de neste momento histór ico moderna. Mais do que come-
violência, a ignorância e a mi- blemas estruturais do modo consciência e de atitude crí- em que os preconceitos e a morar um autor, celebramos
séria deixaram de ser produtos de produção capitalista e a tica sobre os dilemas sociais. confusão de ideias conduzem a esperança na decisão hu-
da incapacidade humana para demanda por sua superação. Qual seria o sentido de uma diariamente a humanidade mana consciente e a coragem
lidar com as adversidades na- Com a sua obra, tornou-se prática científica suposta- às catástrofes sociais e na- para tomar posição.
14 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

Retirada da Proposta de BNCC Apresentada em Abril de 2018

Nota Pública pela Revogação da Lei da


Reforma do Ensino Médio – Nº. 13415/2017
tes posições políticas e de pulares, que há muito pouco manas, entre as quais, a So-
concepções sobre o sistema tempo conseguiram chegar ciologia, privando nossos(as)
nacional de educação, têm ao Ensino Médio, ainda não estudantes dos conteúdos de
O curso de Ciências Sociais concordado e reiterado que
essa proposta de Ensino Mé-
universalizado no Brasil,
haja vista que atinge cerca
Ciências Sociais indispensá-
veis à compreensão crítica da
dio aprofunda as desigualda- de 68% de mat r íc u las na realidade e à tomada de posi-
da FSA se solidariza com des sociais e educacionais no
Brasil. Desde a publicação
idade escolar de 15 a 17 anos.
Se somarmos os(as) jovens
ção política. Não é possível o
atendimento dos propagados
da Medida Provisória MP adultos(as) que tentam voltar objetivos da atual reforma do
as entidades científicas 746/2016 que a SBPC, a SBS, a esse nível de ensino, tere- Ensino Médio sem a oferta de
a ABA, a ABECS, a ANPOCS, mos um contingente enorme disciplinas da área de Ciên-

signatárias dessa nota na ANPOF, a ANPED, ent re


outras entidades científicas,
que precisa ser incluído nas
escolas. Com tanto esforço
cias Humanas no currículo
escolar.
pronunciaram-se contrárias para chegar ao Ensino Médio, C onsiderando, ent ão, a
expressão de sua revolta à proposta de um Ensino
Médio amorfo, sem os com-
esses sujeitos têm direito a
uma educação de qualidade,
forma antidemocrática com
que essa Lei e a essa proposta
ponentes curriculares que com conteúdos científicos, de BNC C foram elab ora-
com a exclusão das sustentam as formações nas
diferentes profissões e áreas
componentes curriculares
diferentes e que os prepare
das e impostas ao país, e a
consequente destruição do
de atuação, incluindo-se a de para a inserção no mundo Ensino Médio em seu caráter
disciplinas da área de formação de professores(as).
As críticas também ressal-
do trabalho, nas Instituições
de Educação Superior e, so-
universalizante, como última
etapa da Educação Básica
tavam a falta de tempo para bretudo, à participação na no Brasil, exigimos a revo-
Ciências Humanas, entre um debate amplo com toda
a sociedade e com os sujei-
vida cultural, social e políti-
ca, exercendo plenamente a
gação da Lei nº. 13415/2017
e a retirada da proposta de
tos diretamente envolvidos cidadania, conforme prevê a BNCC apresentada em abril
as quais, a Sociologia, com as escolas, como por
exemplo, os(as) estudantes
Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº
de 2018.
As entidades signatárias

privando nossos(as)
e professores(as). Os(As) 9394/1996). dessa nota assumem uma po-
estudantes e professores(as) A referida Lei e a proposta sição em defesa da qualidade
do Ensino Médio manifes- de BNCC de 2018 não ga- da educação brasileira e con-

estudantes dos conteúdos t ar am - s e, e n f at i c ame nte,


contrários a essa reforma,
rantem a obrigatoriedade de
oferta dos cinco itinerários
clamam o Governo Federal
a dialogar com especialistas
mobi lizando mi l hares de formativos em todas as esco- da área. O futuro de nossa
de Ciências Sociais. jovens que ocuparam as es-
colas em vários Estados da
las e estados e nem os treze
componentes curriculares vi-
juventude e do Brasil está
em jogo.
federação, em 2016. Ao con- gentes até então. Retiram das
trário da propaganda oficial, escolas todos os conteúdos,
O Comitê do Ensino Médio sidência da República a revo- é forte a reação contrária garantindo apenas as disci-
da Sociedade Brasileira de gação da Lei nº. 13415/2017, ao cenário proposto para o plinas de Língua Portuguesa Brasília,
Sociologia (SBS), a Associa- que reforma o Ensino Médio, CV Ensino Médio, tanto por e Matemática, empobrecendo 17 de julho de 2018
ção Brasileira de Ensino de b e m c om o a re t i r a d a d a parte de pesquisadores(as) o currículo escolar. Estabe-
Ciências Sociais (ABECS), proposta de Base Nacional universitários(as), como das lece, assim, a oferta de uma Comitê do Ensino Médio da
a C omissão de Educação, Curricular Comum (BNCC) comunidades escolares que “escola pobre para os pobres”, Sociedade Brasileira de Sociolo-
Ciência e Tecnologia da As- apresentada em abril de 2018 estão na bas e do sistema retrocedendo em, pelo me- gia (SBS); Associação Brasileira
sociação Brasileira de Antro- e que está sendo debatida em educacional. nos, duas décadas no debate de Ensino de Ciências Sociais
pologia (ABA) e a Associação audiências públicas. E ss a re for ma re pre s e n - educacional do país. (ABECS); Comissão de Educa-
Nacional de Pós-Graduação e E st amos nos unindo às ta a negação dos direitos Em especial, as entidades ção, Ciência e Tecnologia da As-
Pesquisa em Ciências Sociais mais variadas vozes de de aprendizagem dos(as) científicas signatárias dessa sociação Brasileira de Antropolo-
(ANPOCS) vêm a público entidades científicas e de estudantes brasileiros(as), nota expressam sua revolta gia (ABA); Associação Nacional
requerer junto ao Ministério estudiosos(as) da educação especialmente dos(as) com a exclusão das discipli- de Pós-Graduação e Pesquisa em
da Educação (MEC) e à Pre- que, a despeito das diferen- oriundos(as) das classes po- nas da área de Ciências Hu- Ciências Sociais (ANPOCS).
www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 15

LIVRO

DIGBY - A inteligência
O Poderoso DIGBY - trecho do livro
em produção de Eduardo Kaze
Novo livro em gestação de Eduardo Kaze, O Poderoso DIGBY,

riqueza da humanidade
trata de uma distopia na qual um sistema operacional governa o
mundo, determina a divisão social do trabalho e produz efeitos
radicais na forma de sociabilidade humana.

Eduardo Kaze
Graduado em Ciências Sociais FSA; escritor e jornalista

Ainda existem lugares pra “Singularidade tecnológica é a Engenharia Computacional


visitar, com praias, natureza e denominação dada a um evento definiu as mensagens recebidas,
a coisa toda da Mãe Terra. As histórico no qual a humanidade no mundo todo, por usuá-
pessoas transam, têm filhos e atravessará um estágio de colos- rios do aplicativo de conversa
estão divididas entre melhores e sal avanço tecnológico em um PANDEIA. O que a princípio
piores categorias de indivíduos, curtíssimo espaço de tempo, foi considerado o maior viral
como sempre foi. A mobilidade onde a inteligência artificial terá já criado pode agora, com base
social ainda é uma impossibi- superado a inteligência huma- nos dados divulgados pela
lidade para a maioria e todos na, alterando radicalmente a empresa, tornar-se um aconte-
ainda buscam a felicidade sem civilização e a natureza. DIGBY cimento milagroso…”
saber determiná-la, como era é o início deste estágio. Precisa-
antes. mos alimentá-lo digitalmente”, Folha de S. Paulo,
Antes de DIGBY. disse o doutor Ray Kurzweil Segunda-Feira, Manchete.
Digamos que você segue num para o mundo. O mundo ouviu “InDigby declara não ser
automóvel, por uma rodovia, a o que queria ouvir e vieram ‘responsável’ por mensagens
90 km por hora. centenas de entrevistas. da madrugada de sábado - ‘Não
DIGBY diz: Atenção! Surto de DIGBY é isso? DIGBY é aqui- fomos nós, nem nenhuma en-
gripe num raio de 30 quilôme- lo?, queriam saber. tidade biológica, quem gerou a
tros quadrados. E então, frente ao “avanço última interação’, afirma CEO”
DIGBY diz: Atenção! Você miraculoso”, a incógnita desa-
não faz uma parada há 4.25 pareceu e a interrogação deu InDigby Engenharia
horas. Melhor descansar! lugar à exclamação: Computaciona, coletiva
DIGBY diz: Baseado em suas DIGBY é isso! “Bom dia!”, diz o CEO, suando,
horas/ócio e destino, é aconse- DIGBY é aquilo! afrouxando a gravata, tremu-
lhável realizar a manutenção Ele é maior que nós! lando com papéis nas mãos,
do veículo! No próximo acesso, frente ao microfone arranjado
promoções de ... no posto de ... Indigby Engenharia no púlpito para o comunicado
Escolhemos isso! Criamos um Computacional -7h30 da empresa. Ele lê em voz alta:
deus presente para o mundo de “Ok, olá senhores, sei que “Na madrugada do último
um Deus ausente. não é praxe reuniões de domin- sábado, dia 31 de dezembro de
DIGBY diz: “Faz tempo que go, mas… essa foi necessária. 2018, tivemos a constatação da
você não compartilha seu status Quero mostrar alguns gráficos primeira manifestação de uma
de humor! Está tudo bem?” que… Alguém sabe como liga inteligência artificial autônoma
Hoje, com DIGBY, as pessoas esse projetor? Ele tem que e auto-evolutiva, originada na
compram segundo seus “perfis” conversar com meu notebook, equação exponencial paten-
de consumo e amam de acordo mas não está reconhecendo… teada da InDigby Engenharia
com os “parceiros sugeridos”. Putz… Bem, ok, vamos adiante, Computacional. Posso, hoje,
A modernidade é escolher sem até alguém consertar isso. Na afirmar sem sombra de dúvida
o pesar da ponderação: DIGBY madrugada deste sábado identi- que galgamos o derradeiro pas-
nos diz. DIGBY é perfeito. ficamos alguns padrões… como so em direção à singularidade e
DIGBY nos conhece melhor posso chamar isso… padrões DIGBY, como se autointitulou a
do que nós mesmos, pois se inesperados nas mensagens do manifestação, será para esta ge-
baseia no algoritmo, o belo, aplicativo, e quero que os se- ração o que o fogo foi para nos-
maravilhoso e sublime algorit- nhores vejam uma coisa… Opa, sos antepassados primitivos.”
mo possibilitado por Ele, para olha lá, o projetor apareceu. Ok,
nós. A liberdade matemática o que tivemos foram…
de nunca se preocupar, pois a Para saber mais:
máquina transcende a com- Bom Dia Brasil, Para conhecer mais sobre a li-
preensão. Frente à ignorância, Segunda-Feira, 07h30 teratura de Eduardo Kaze, leia
acatamos aos que supostamente “’Notificações autônomas online seu último romance,
sabem mais. Foi conveniente sem a participação humana!”’ Paris 20, disponível no link:
no passado, é conveniente hoje. Com essas palavras a InDigby https://goo.gl/2w7tuL
16 Jornal de Ciências Sociais - nº 12 - Outubro de 2018 www.colegiadosociais.com

CONHECER E participe desse desafio


As Ciências Sociais constituem área de conhecimento e de atuação profissional diversificada. No curso de
Ciências Sociais da FSA são abordados os conteúdos clássicos e contemporâneos das disciplinas de Socio-
TRANSFORMAR logia, Antropologia e Ciência Política, que formam seu núcleo central, acompanhadas pela Filosofia e pela
Economia. Essa conjunção científica visa orientar a reflexão sobre a dinâmica das sociedades modernas e

O MUNDO
das comunidades tradicionais, e em especial o processo de constituição do mundo contemporâneo com
seus dilemas e perspectivas. Os alunos realizam-se neste curso pela amplitude de visão que adquirem, em
contato com dinâmicos conteúdos que envolvem o movimento social, a cultura e a política.

o que dizem
vidual e para o amplo leque cial pela ECA-USP, doutor em
atividades profissionais que História Social pela PUC-SP;
Ciências Sociais já desenvolvi. E eu só tenho a ex-professor da FSA).
agradecer por isso!”
na FSA e suas
atividades
nossos ex-alunos Thaís de Souza Lapa
(Mestre em Sociologia pela
“O curso de Ciências Sociais
da FSA fornece um incom-
USP e doutoranda em Ciên- parável potencial de análise
cias Sociais pela Unicamp. e de interpretação dos fenô-
O curso de Ciências Sociais da “No curso de Ciências Sociais da “O curso de Ciências Sociais, Coautora do livro Aborto e menos sociais contemporâ-
Fundação Santo André promove FSA pela primeira vez aprendi a além de abrir os olhos para a Religião nos Tribunais Bra- neos. O mercado de trabalho
periodicamente a edição do Jornal investigar os problemas que realidade objetiva dos fatos, sileiros). atual valoriza a capacidade
de Ciências Sociais, o único produ- cercavam a mim e ao mundo; possibilitou que eu conseguis- de interpretar e relacionar
zido na região, onde participam indo para a educação, minha se emprego que me permite “Quando terminei o ensino dados e informações e de
ativamente seus alunos, na pes- visão sobre a formação huma- ampliar meus horizontes, médio, precisava fugir do tra- compreender a realidade que
quisa e redação de matérias. na foi da construção de mentes além do retorno financeiro. balho em escritórios. Quando se transforma rápida e con-
Anualmente o curso promove críticas e investigativas.” Tenho habilitação para traba- soube que em Ciências Sociais tinuamente, apresentando
a Semana de Ciências Sociais, Leona Lopes dos Santos lhar como professora da rede eu teria aulas de filosofia, so- problemas e desafios a serem
composta por debates e palestras (Pós-graduanda em Direitos pública e de cursinho popular, ciologia, economia e antropo- entendidos e superados. Aos
com intelectuais de outras uni- Humanos na UFABC, profes- para atuar como educadora logia, e que na FSA eu poderia que buscam na formação e
versidades nacionais e internacio- sora de sociologia da rede pú- de espaços museológicos e conciliar estudo e trabalho, no trabalho realização e de-
nais, mini-cursos e apresentações blica de ensino, coordenadora como pesquisadora em uma não tive dúvidas. Lá fui aluno senvolvimento profissional,
artísticas. do Coletivo LGBT PRISMA- Associação de catadores de de professores diferenciados, pessoal e humano, trata-se de
As palestras e os temas des- -Dandara dos Santos.) materiais recicláveis, cuja quase todos doutores, que um curso instigante.”
tacados na Semana de Ciências atuação é replicada em doze me fizeram tomar gosto pela Bruno Monteforte
Sociais são publicados na revista “Entrei no curso de Ciências países.” atividade acadêmica. Acabei (Professor de Sociologia)
Cadernos de Ciências Sociais, ao Sociais da FSA dando início à Lílian Damasceno Marques por me tornar professor uni-
lado de outros artigos teórica e realização de um sonho. Fiz (Professora, educadora em versitário, podendo gozar de
socialmente relevantes. a melhor escolha, pois hoje museus e pesquisadora). uma rotina nada igual à dos Informações
entendo que o conhecimento escritórios”. e inscrições:
Onde trabalha transforma a realidade! Além
de trazer conteúdos que nos
“A minha experiência como
discente em outras três pres-
Leandro Candido de Souza
(Mestre em Comunicação So-
https://goo.gl/iHLKP1

uma pessoa capacitam a conhecer, enten-


der e transformar nossa socie-
tigiosas universidades corro-
bora o meu apreço ao curso
formada em dade, no meu caso me senti de Ciências Sociais da FSA.
acolhida pela maior parte dos Principiei ali uma pesquisa
Sociais? professores.” que resultou na apresentação
Hosana Meira da Silva de um trabalho num impor-
Os cientistas sociais podem atu- (Pós-graduanda em Direitos tante congresso na Europa e
ar no campo das políticas públicas Humanos, Diversidade e Vio- na publicação de um livro pela
voltadas para o desenvolvimento lência pela UFABC). Editora Unesp.”
sócio-econômico e educacional e Claudinei Cássio de Rezende
para a ampliação da cidadania e in- “Estudar na Fundação foi funda- (Doutor e Mestre em Ciências
clusão informacional. Nesse âmbi- mental para minha militância e Sociais pela Unesp. Autor do
to, os graduados podem trabalhar para minha vida pessoal e profis- livro Suicídio Revolucionário:
em organizações governamentais sional. Se hoje me considero uma a luta armada e a quimérica
e não governamentais, centros de pessoa crítica e uma profissional revolução em etapas).
memória e de cultura, organismos de respeito, devo isso, em grande
sindicais, partidos políticos etc. medida, à minha vida acadêmica “A formação crítica e huma-
Na área da docência, podem na Fundação. Tenho orgulho de nista que tive no curso de
atuar como professores compe- fazer parte desta história.” Ciências Sociais da FSA, o re-
tentes de Sociologia e Filosofia, Vânia Noeli Ferreira de Assunção ferencial teórico consistente
no Ensino Médio, e de História e (Mestre e doutora em Ciências e as relações que estabeleci
Geografia no Ensino Fundamen- Sociais pela PUC-SP, professora com professores e colegas fo-
tal, bem como se preparar para a
docência no ensino superior.
da UFF – Universidade Federal
Fluminense).
ram de extrema importância
para minha formação indi- *R$ 450

Potrebbero piacerti anche