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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
2.ª edição
2009
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D449s
2.ed.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0265-8
A sociologia da educação....................................................... 33
Os primeiros grandes sociólogos:
a educação como tema e objeto de estudo..................................................................... 34
As teorias sociológicas e a educação.................................................................................. 43
Educação e família.................................................................... 63
As transformações da família................................................................................................. 64
Educação e família no Brasil................................................................................................... 70
A mudança social....................................................................151
Fatores que desencadeiam a mudança............................................................................154
A ação pedagógica e a mudança social...........................................................................157
A estratificação social............................................................169
Formas de estratificação social............................................................................................173
A educação e a estratificação social..................................................................................177
A mobilidade social................................................................189
Tipos de mobilidade social...................................................................................................190
Educação como fator de mobilidade social....................................................................193
Educação e desenvolvimento.............................................241
As desigualdades sociais e o subdesenvolvimento.....................................................245
Origens históricas do subdesenvolvimento...................................................................247
As desigualdades sociais e o papel transformador da educação...........................248
A profissão de professor.......................................................293
A questão da formação profissional..................................................................................295
O ofício de professor e seu papel na sociedade............................................................298
O que você espera dessa disciplina? Quais são suas expectativas em relação à so-
ciologia? No que a sociologia se aproxima da educação? Essas e outras perguntas
nos acompanharão a partir daqui.
Mas, antes disso, seria interessante esclarecer algumas questões que nortearão
nosso trabalho. Inicialmente, deve-se destacar que o que se apresenta aqui é uma
síntese dos temas mais relevantes da sociologia enquanto Ciência Social, preocu-
pada em tentar explicar a vida social e as questões relacionadas à vida do homem
em sociedade, em seus múltiplos aspectos. Não se pretendeu elaborar um manual
e muito menos um compêndio que pretendesse dar conta de todos os temas e/
ou conceitos relacionados a essa ciência. Optou-se por privilegiar alguns tópicos
que são considerados básicos e depois relacioná-los com a questão da educação.
A sociologia da educação tem como objetivo pesquisar e analisar a educação em
seus aspectos sociológicos, isto é, os fenômenos sociológicos.
O objetivo maior é procurar conhecer e analisar a inter-relação entre o homem, a
sociedade e a educação, à luz de diferentes teorias sociológicas, bem como das
práticas pedagógicas ratificadoras e/ou transformadoras dos contextos cultural,
social, político, econômico e ecológico.
A proposta é despertá-lo para discussões futuras a partir do embasamento teórico
que essa ciência oferece e, sempre que possível, trazer o debate para a realidade
educacional brasileira. Para tanto, sugere-se alguns textos de apoio, bem como
atividades para autoavaliação. Indicações de leituras complementares e filmes
acompanharão o texto-base, e são importantes para aprofundar algum assunto/
tema que se considere relevante.
Vale lembrar também que nada substitui a leitura dos próprios mestres, no caso
aqui, os “fundadores” da sociologia e da sociologia da educação. Portanto, não de-
sanime em buscar na própria fonte as respostas às suas inquietações. Vá em frente!
A disciplina pretende desenvolver módulos que possibilitem a compreensão
da constituição da realidade social e sua relação com a educação, por meio do
estudo de aspectos dos processos sociais presentes na produção e configuração
do sistema educacional. Assim, o livro está estruturado em 18 unidades, em que
se propõe uma discussão sobre a relação entre a sociologia e a educação, apresen-
tando as contribuições dos autores clássicos e sua percepção acerca das questões
relacionadas à educação (A Sociologia da Educação) e contextualizando a ciência
no Brasil (A Sociologia da Educação no Brasil).
A partir daí, tem-se a discussão de alguns temas/conceitos fundamentais para
a reflexão aqui proposta. Na unidade intitulada educação e família apresenta-se
uma síntese das transformações pelas quais passou a família ao longo do tempo
e sua importância quando se discute educação. Para tanto, também se faz ne-
cessário observar como o sentimento de infância surge e se modifica a partir do
que se tem, inclusive o surgimento dos colégios e novas visões da infância e da
juventude (concepções de infância e juventude).
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Concepções de infância e juventude
Fala em paparicação (um sentimento superficial ligado à criança nos seus pri-
meiros anos de vida, quando ainda é “engraçadinha”) e a percepção da inocência
e fraqueza da infância.
Domínio público.
Ao longo de todo o seu texto, Ariès destaca que a infância era vista como um
período muito curto, durando apenas o tempo em que a criança era mais frágil.
Logo, era misturada aos adultos e passava a vivenciar as mesmas experiências que
eles. Toda a socialização da criança se dava dessa forma e a educação era garanti-
da pela aprendizagem na prática, isto é, a criança aprendia as coisas ajudando os
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Sociologia da Educação
adultos a fazê-las. O amor podia existir, mas não era determinante nas relações da
família com a criança. Não impedia, por exemplo, que ela fosse mandada embora
para viver longe dos pais, muitas vezes para aprender um ofício.
Domínio público.
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Concepções de infância e juventude
É nesse contexto que surgem os estudos de Henry Wallon, Jean Piaget ,Lev
Vygotsky e as teorias psicogenéticas. Apesar de explorarem o tema criança/in-
fância de maneiras diferentes, têm em comum o fato de chamarem a atenção
para a relação entre compreender o desenvolvimento da criança, como se dão
as mudanças biológicas e os processos mentais, e de que maneira tudo isso se
reflete na educação.
A busca da contensão dos impulsos e dos instintos por meio de uma rígida e,
por vezes, até cruel disciplina dá o tom do avanço do processo de escolarização.
Tem-se, também, uma nova percepção das idades, começando a haver então
uma separação das classes por faixa etária, procurando agrupar os alunos a partir
desse critério. Com um sistema disciplinar cada vez mais rigoroso, os colégios as-
sumem uma estrutura que em muito se aproxima da atual. Agora, a duração da
infância equivale à duração da escolaridade, que no fim do século XVIII chega a
quatro ou cinco anos. Os colégios passam a ser a moderna expressão de como se
deve tratar as crianças. Ao seu lado se tem os chamados manuais de boas maneiras
ou de civilidade, voltados para o público pueril, que visavam a apresentar as
normas de conduta que deveriam nortear os comportamentos das crianças no
mundo. Alguns desses manuais foram muito bem analisados, especialmente o de
Erasmo, por Norbert Elias em O Processo Civilizador, em que a história dos costu-
mes, focando seu interesse nas mudanças das regras sociais e no modo como o
indivíduo as percebia, gerando mudanças de comportamento e sentimentos. Uti-
lizando como fontes os livros de etiquetas e boas maneiras (editados entre o século
XIII até a década de 1930), o autor mostra que desde a Idade Média, quando o
controle das pulsões era bastante reduzido, até os nossos dias, as classes dirigen-
tes foram aos poucos sendo modeladas pela vida social e a espontaneidade deu
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Concepções de infância e juventude
Nicolau Carissimo.
Escola Superior de Agricultura e Veterinária em Viçosa.
Mas antes disso, tem-se a contribuição de Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778) para a discussão das concepções de infância e o surgimento dos colégios.
Domínio público.
nistas do século XVI rejeitavam com vigor a alter-
nativa escolar. Acreditavam que não se conhecia
a criança direito, não se sabia exatamente como
ela era, o que pensava e quais eram os seus limi-
tes. Diante disso, consideravam quase que uma
violência impor-lhe qualquer tipo de educação
formal. Seria uma agressão à sua natureza pura e
àquilo que se comentou – a ideia de insuficiência
ou do caráter incompleto da criança.
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Sociologia da Educação
É necessário, contudo, prepará-la para o futuro. Isso porque ela tem uma enorme potencialidade,
não aproveitada imediatamente. A tarefa do educador consiste em reter pura e intacta essa
energia até o momento propício. Nesse sentido, é particularmente importante evitar a excitação
precoce da imaginação, porque esta pode tornar-se uma fonte de infelicidade futura. Outros
cuidados devem ser tomados com o mesmo objetivo e todos eles podem ser alcançados
ensinando-se a lição da utilidade das coisas, ou seja, desenvolvendo-se as faculdades da
criança. Apenas naquilo que possa depois ser-lhe útil.
A criança, de acordo com Rousseau, aprende por meio do exemplo, por pala-
vras e por práticas que observa nos adultos. Daí a necessidade dos pais se preo-
cuparem com as normas de civilidade e boas maneiras de seus filhos, que deve-
riam ser preparados para viver em sociedade e “ser civilizados”.
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Concepções de infância e juventude
Finalmente, o que não se pode esquecer é que a infância deve ser entendi-
da como um tempo social, construído historicamente, de acordo com as condi-
ções materiais e culturais que caracterizam determinado tempo e espaço. Desse
modo, é possível haver diferentes concepções de criança, infância e juventude.
De acordo com as estruturas econômicas e sociais da época, surge uma ideia de
criança e do papel da educação.
Texto complementar
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Concepções de infância e juventude
(ARIÈS, 1981; Snyders, 1984). [...] O que se passou historicamente para que
silenciassem as vozes das mulheres, das crianças, dos escravos, dos negros, da-
queles considerados loucos, das filósofas e poetas? Por que alguns textos são
reconhecidos e outros são desprezados? Falo não somente dos textos acadê-
micos, mas de outros textos expressos nas diferentes formas de linguagem.
[...] Será que eles têm relação com o que estamos vivendo, com a crise da
ciência moderna e pautada em uma razão universal, masculina e branca? Por
que tentamos resgatar essas vozes, seja nos escritos poéticos, na música, nas
pesquisas, nos espaços acadêmicos? Por que insistimos em ganhar tempo
num mundo que esfacelou nossas experiências e transformou nosso tempo
em coisa, em mercadoria? Por que hoje procuramos resgatar, em inúmeros
estudos, as culturas infantis, as concepções de infância, as vozes das crian-
ças, ou por que hoje falamos e escrevemos sobre pluralidades, relações de
gênero, em uma ciência menos andocêntrica? Essas, seguramente, são ques-
tões sem respostas definitivas. É tão somente nas caminhadas que vamos
construindo, nas pegadas que vamos deixando, nos rastros que assinalam
para novos horizontes que encontramos respostas, sem contudo tratarmos
de respostas homogeneizadoras.
[...] é possível recordar o que escreve Ariès (1981) acerca da Idade Média.
Os quadros e a iconografia da época demonstram que ser criança era algo
muito próximo e vinculado ao mundo dos adultos. Tratava-se de promis-
cuidade? Certamente que não. O que acontecia é que as noções de tempo
e espaço e as existências humanas se organizavam de formas distintas da
modernidade.
Na Europa (séculos XVI e XVII) e um ou dois séculos mais tarde (séculos
XIX e XX) na cidade do Rio de Janeiro (Abreu; Martinez, 1997), as ruas
estavam povoadas de crianças abandonadas, escravos, imigrantes pobres,
enfim, de uma massa de excluídos perambulando pelas ruas, cujos valores,
hábitos e comportamentos eram estranhos ao ideal burguês de sociedade.
Isso provocava um sentimento, qual seja o de moralizar os costumes, confi-
nar, regular essa população e evitar possíveis revoltas. Assim, o sentimento
de infância também surge no Brasil, com a necessidade de instrução e am-
pliação da escola de massas (Martinez, 1997). O ideal de moralização dos
costumes passava pela família burguesa e nuclear e centralizava na figura da
mãe e mulher a responsabilidade pela amamentação, pelos cuidados e edu-
cação das crianças. Nesse período, as condições de higiene eram péssimas e
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Sociologia da Educação
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Concepções de infância e juventude
E nem mesmo as lições diárias que a vida nos ensina e que fragilizam uma a
uma das nossas certezas, como peças de um jogo de dominó que vão se suce-
dendo, nos fazem compreender que a realidade é dinâmica e ainda sabemos
pouco sobre as crianças e suas culturas. É provável que elas saibam bem mais
sobre nós adultos/as, sobre as instituições que ajudamos a construir, embora
ainda não tenhamos parado para escutá-las, para compreender suas ideias
acerca das nossas pedagogias, ou sobre o que elas pensam de nós, das esco-
las infantis, das creches e pré-escolas, que criamos pensando nelas e nas suas
necessidades.
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Utilizo a definição de ethos cultural, fundamentada em Bourdieu (1998), como um sistema de valores implícitos e interiorizados, que defi-
nem as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar.
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Sociologia da Educação
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Concepções de infância e juventude
Dicas de estudo
Para compensar você por seu esforço, que tal assistir a alguns filmes que, de
alguma forma, retratam o cotidiano infantil e a infância e vários momentos da
história? Escolha um (ou veja todos) e depois tente fazer uma síntese do que
pode perceber do universo infantil. Quais imagens da criança aparecem em cada
um deles? Elas são diferentes umas das outras?
Central do Brasil
A Vida é Bela
Nem um a Menos
A Princesinha
Sugestões de leituras
O processo histórico que instituiu uma nova concepção de criança, de
infância, de adolescência e de juventude pode ser analisado a partir de di-
versas abordagens. Assim, apresenta-se uma relação de algumas obras que
hoje são referência nessa área.
FREITAS, Marcos César de. História Social da Infância no Brasil. São Paulo:
Cortez, 2006.
FREITAS, Marcos Cezar de. (Org.). História Social da Infância no Brasil. São
Paulo: Cortez/USF, 1997.
DEL PRIORE, Mary. (Org). História das Crianças no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2000.
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Sociologia da Educação
Atividades
1. O conceito de família sofreu, ao longo do tempo, várias modificações, de acor-
do com as mudanças que ocorreram na sociedade. Sabe-se também que, mes-
mo sendo uma criação histórica e cultural, e não algo material, é um conceito
que se relaciona com a sociedade e sua estrutura econômica e política. O mes-
mo ocorre com a concepção de infância. Como se pode relacionar a ideia de
família moderna com as concepções de criança e infância da atualidade?
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