Sei sulla pagina 1di 28

1

OS MANEJOS DE RISCO DE SUICÍDIO NAS ABORDAGENS PSICOLÓGICAS DO


PSICODRAMA E A GESTALT TERAPIA1

Ariane da Silva de Souza2


Valdirene Brüning de Souza3
Sâmia Torquato Rahim4

Resumo: O suicídio é um fenômeno com causas multifatoriais que requer a atenção de


profissionais de diversas áreas, inclusive da Psicologia. Existem diversas formas de
compreendê-lo, assim como de realizar intervenções em pacientes que apresentam risco ou
comportamento suicida. Dessa forma, torna-se fundamental investigar o assunto, sob diversos
pontos de vista. Assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral analisar os manejos
psicoterapêuticos do Psicodrama e da Gestalt terapia diante do paciente com risco de suicídio.
Para tanto, foi aplicada uma entrevista semiestruturada com seis profissionais psicólogos
participantes, divididos em três do Psicodrama e três da Gestalt terapia, com atuação na área
clinica há mais de cinco anos. Foi questionado aos entrevistados qual a compreensão do
suicídio, como é feita a identificação do paciente com RS, o tipo de acolhimento ao paciente
com RS, os encaminhamentos realizados, conceitos teóricos e técnicas utilizadas com
paciente RS. As respostas dos entrevistados foram categorizadas a partir das experiências
relatadas e dos objetivos da pesquisa. A análise dos resultados indica uma semelhança em
relação à compreensão do suicídio, à identificação do paciente com risco de suicídio e aos
encaminhamentos realizados. A intervenção dos profissionais diante desta queixa demonstra
pontos comuns no acolhimento, escuta e compreensão por parte de cada profissional,
independente da abordagem. Por outro lado, as maiores diferenças encontradas se referem às
técnicas de intervenção, que se mostraram mais específicas de cada abordagem.

Palavras-chave: Psicoterapia, Suicídio, Psicodrama e Gestalt Terapia.

1 Introdução

1
Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul
de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo (a).
2
Acadêmico (a): Ariane da Silva de Souza do curso de Psicologia. E-mail:arianesouza111@live.com
3
Professor (a) Orientador (a): Valdirene Bruning de Souza. Mestre em Educação pela Universidade do Sul de
Santa Catarina E-mail:Valdirene.souza@unisul.br
4
Professor (a) Coorientador: Sâmia Torquato Rahim. Mestre em Educação pela Universidade do Sul de Santa
Catarina E-mail:samia.correa@unisul.br
2

O suicídio nos dias de hoje está cada vez mais frequente. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde - OMS (2000), o suicídio é uma das dez maiores causas de
morte em todos os países, e uma das três maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 35
anos. As pessoas vêm se entregando à morte pelos mais diversos motivos, um deles sendo o
aspecto social, que abrange a questão da autoimagem, status social e mesmo bens materiais.
Assim, o suicídio é um fenômeno multifatorial, ou seja, fatores diversos interferem no
comportamento suicida (MALLAUER; MALISKA, 2012). Além disso, a depressão é um
fator importante para o suicídio tanto em adolescentes quanto em idosos, mas aqueles com
depressão de início tardio estão em maior risco (OMS, 2000a; 2000b).
O manejo do suicídio exige do psicoterapeuta um olhar atento aos fatores de risco
e aspectos relacionados à morte e ao desespero humano (FUKUMITSU, 2014, p. 270). Por
conta disso, objetivou-se nessa pesquisa de forma geral analisar os manejos psicoterapêuticos
do Psicodrama e da Gestalt terapia diante do paciente com risco de suicídio. De maneira mais
específica, objetivou-se: identificar as técnicas de avaliação dos pacientes com risco de
suicídio no Psicodrama e na Gestalt terapia utilizadas por psicoterapeutas adeptos de tais
abordagens; descrever o método psicoterapêutico utilizado por profissionais que utilizam o
Psicodrama e a Gestalt terapia no atendimento a pacientes em risco de suicídio e identificar as
diferenças e semelhanças do manejo psicoterapêutico de pacientes com risco de suicídio
dentro da teoria do Psicodrama e da Gestalt terapia.
Na psicologia clínica, além de conhecer as práticas gerais da área da
saúde/psiquiatria, é fundamental para o psicoterapeuta conhecer os aspectos teóricos de sua
abordagem psicológica para realizar a intervenção de forma específica, pois sabe-se que na
psicologia as abordagens teóricas e as técnicas dão um direcionamento, ou seja, uma base
para a intervenção prática.
A respeito do interesse pelo assunto, no período da graduação este é abordado de
forma geral. Não se discute o suicídio na especificidade das abordagens e com isto surgiu na
pesquisadora uma curiosidade cientifica para se falar do assunto; a falta de publicações
correlacionando os temas reafirmou este interesse. Existem na psicologia diversas teorias ou
abordagens psicológicas, porém, considerando as limitações dessa pesquisa, optou-se por
investigar o suicídio dentro das duas abordagens citadas, por serem as de maior interesse da
pesquisadora.
No atendimento ao paciente que apresenta risco de suicídio, o profissional
necessita de um vínculo de empatia no que se refere ao sofrimento humano, ou seja, o
psicoterapeuta deve se colocar à disposição para se aproximar um pouco mais do lugar onde o
3

paciente está. Por meio desta intervenção do profissional, há a esperança de que o paciente
possa verificar suas potencialidades a fim de modificar ou mesmo ampliar a “capacidade” de
enfrentar seus problemas, sofrimentos e conflitos. Neste sentido, uma relação terapêutica que
prioriza o cuidado para com o paciente – não a cura – pode ser uma orientação importante que
possibilitará ressignificar seu desespero existencial e descobrir maneiras de lidar com seus
conflitos. Entretanto, mesmo com tudo que foi proposto ao paciente, nem sempre se faz com
que ele pare de acreditar que a sua morte seja a solução para seu sofrimento (FUKUMITSU,
2014, p. 270).
A autora ressalta também que o psicoterapeuta, quando recebe um paciente com
queixa suicida, logo infere que este está passando por um momento difícil em sua vida e que,
para ele já ter chegado a pensar em tirar a própria vida, é porque realmente está diante de um
sofrimento intenso. Então, é fundamental que o terapeuta apresente empatia diante do que o
paciente lhe traz e dar a ele um olhar e uma direção que lhe tragam conforto, bem como uma
visão diferenciada diante daquele problema que ele pensa que não terá fim.

Durante o processo de existência, o ser humano experiencia o mundo de diversas


formas. Algumas experiências proporcionam a auto realização, fundada na harmonia
e na felicidade. Entretanto, em outras experiências, podem faltar as condições
necessárias que possibilitarão o crescimento e o desenvolvimento das
potencialidades do ser humano. A inexistência dessas condições pode contribuir para
uma perda do sentido da vida, para um vazio existencial, o que pode levar o ser
humano a se desesperar. Diante do sofrimento e do desespero, a pessoa pode
perceber a morte como uma solução para a sua dor, um alívio para a sua existência,
isto é, encontra no suicídio uma alternativa para a vida (SILVA; ALVES; COUTO,
2015, p. 184).

Desse modo, é fundamental que sejam realizadas investigações sobre o tema


suicídio, em especial à ação de profissionais psicólogos diante dessa demanda. Por isso, ao
iniciar esta pesquisa, o tema suicídio foi investigado em base de dados como BVSPsi,
SCIELO e PEPSIC com o intuito de verificar as publicações atuais. Os critérios para a
pesquisa foram a utilização de periódicos, revistas, livros e artigos produzidos entre 2012 e
2017, com o idioma em português e a busca por palavras-chaves no título ou no decorrer do
estudo publicado. As palavras-chave utilizadas foram: “suicídio e psicologia”, “suicídio”,
“causas que levam ao ato suicida” e “suicídio e profissional da saúde”. Ao todo foram
encontrados 427 estudos publicados a partir das palavras-chaves citadas. Porém, dentre os
estudos encontrados, nenhum aborda a questão do manejo do suicídio. Este dado mostra a
importância atribuída à pesquisa sobre o tema “suicídio” na área da saúde. No entanto, no que
se refere às publicações que abordam o assunto a partir da perspectiva de uma teoria
4

psicológica específica, não foram encontrados trabalhos publicados, o que reforça a


importância de um aprofundamento nessa questão.
Além disso, a partir do que se mostra na literatura pesquisada, é possível
identificar que as pessoas que relatam já terem pensado ou mesmo tentado se suicidar devem
ser levadas a sério, mesmo quando o discurso aparente ser falso ou manipulador. Os discursos
sobre o assunto ou tentativas podem ser possíveis indicadores de risco para a execução da
prática suicida (VIDAL; GONTIJO, 2013). Assim, os profissionais que atuam na área da
saúde devem estar atentos e preparados para lidar com tal demanda.
Quanto aos benefícios do presente estudo, essa pesquisa traz um direcionamento
específico de intervenção ao risco de suicídio no âmbito das abordagens teóricas citadas,
enriquecendo a formação e/ou prática de atuais estudantes de psicologia e profissionais
psicólogos. Como foi anteriormente afirmado, durante o período da graduação, o tema
suicídio é tratado na esfera da área da saúde de modo geral, como nas graduações de
enfermagem, medicina e outros cursos, sem o aprofundamento nas diferentes abordagens e
áreas psicológicas. Além disso, os resultados permitem uma atualização do conhecimento
psicológico sobre o modo como os profissionais formados lidam com a questão do suicídio,
visto que carecemos de publicações na área.
Por fim, como benefícios para a sociedade, os profissionais podem usar as
informações deste projeto para buscar novas formas de intervenção. Ademais, os estudantes
da área podem se beneficiar de um novo ponto de vista para a discussão do tema, que é de
suma importância na formação profissional.

1.1 Comportamento suicida

O tema abordado neste tópico levantará a questão do comportamento do ato


suicida, bem como trará o que é suicídio, quais as causas que levam o paciente a cometer o
ato, qual a visão de profissionais a respeito, e o que a literatura traz sobre o assunto. Serão
abordadas também teorias psicológicas, cujo viés contribuirá de alguma forma numa melhor
compreensão do comportamento humano. Através de tais teorias, será possível compreender
de modo mais eficaz e contextualizado o comportamento do paciente que chega com a queixa
de suicídio.
O suicídio é um fenômeno que envolve aspectos biopsicossociais. Ao realizar a
observação destes aspectos caso a caso, torna-se possível identificar determinantes do risco de
suicídio individualmente. Observa-se assim com o quê este ato suicida está possivelmente
5

relacionado: a um estado de humor irritável ou depressivo, períodos prolongados de


isolamento, hostilidade com a família e amigos, afastamento da escola ou queda significativa
no rendimento escolar, violência física ou mesmo relação sexual indesejada. Estes são alguns
sinais de riscos para uma possível conduta suicida (FUKUMITSU, 2015).
Desta forma, a questão do suicídio envolve diversos aspectos, ressaltando que o
comportamento e o ato suicida estão principalmente relacionados ao estado emocional do ser
humano. O seu rendimento e práticas do dia a dia são fatores que influenciam para que o
sujeito pratique o ato.
De acordo com a OMS (2000a; 2000b), o comportamento suicida está muitas
vezes relacionado a um transtorno mental. Diz-se que alguns transtornos mentais estão mais
associados ao ato do que outros, como é o caso dos de humor: transtorno de personalidade
(especificamente antissocial e borderline), abusos de substância e alcoolismo, esquizofrenia, e
transtorno mental orgânico. Os diagnósticos mais comumente relacionados ao suicídio são os
de transtornos de humor.
Pode-se observar que transtornos mentais são facilitadores e mesmo fortes
indicadores de que um comportamento suicida pode culminar com o ato, o que costuma
causar sofrimento na vida dos familiares e amigos.

Dentro do transtorno de humor, a depressão maior e transtorno bipolar aparecem


com mais frequência. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças
Mentais IV (DSM-Lv, 2000), mais de 15% de pessoas com depressão maior
cometem suicídio. Enquanto no transtorno bipolar, além de 10-15% também
morrerem por suicídio, as tentativas a ideação suicida aparecem com mais
frequência nos episódios depressivos e de mania (MALLAUER; MALISKA, 2012,
p. 52).

Ainda os autores argumentam que existem algumas características que envolvem


o estado mental do indivíduo que praticaria o ato suicida, tais como ambivalência,
impulsividade e rigidez. Tais características podem ser evidenciadas através da fala, podendo
também estar relacionadas ao modo de falar e práticas do próprio indivíduo, ou mesmo ser
sintoma de um transtorno mental.
Em relação à faixa etária de mortes ocorridas pelo ato suicida, afirma-se que os
homens cometem mais o suicídio que as mulheres. No Brasil, as taxas mais altas de suicídio
ocorrem em jovens de 15 a 35 anos e em idosos acima de 75 anos (MALLAUER; MALISKA,
2012).
Os mesmos autores afirmam que para um comportamento suicida se tornar fatal,
não se necessita somente de fatores psicológicos. Os fatores sociodemográficos e ambientais
6

são fatores de suma importância para considerar a possibilidade do suicídio. Assim, tudo que
estiver presente no contexto de vida do indivíduo pode conduzi-lo ao ato. Problemas
relacionados ao trabalho ou mesmo o próprio desemprego são alguns exemplos de fatores que
podem desencadear um comportamento suicida nesse indivíduo.
Por outro lado, Mallauer e Maliska (2012) afirmam que uma das principais
categorias do fator ambiental está relacionada a estressores da vida. Os estressores da vida, de
modo geral, referem-se a problemas interpessoais, rejeição, perdas, mudanças, problemas
financeiros e/ou se sentir extremamente envergonhado ou ameaçado diante de alguma
situação.
Diante da discussão, constata-se que para a ocorrência do ato suicida, todo o
contexto social no qual o indivíduo se encontra pode e deve ser considerado, pois pode ser de
grande influência. Muitas vezes, os indivíduos não estão preparados para as adversidades
“impostas” pela vida, e estas podem atuar como fortes contribuintes para a realização do ato
quando não há um mínimo de equilíbrio de ordem psicológica.

1.2 A abordagem psicodramática

O Psicodrama é uma abordagem teórica com base fenomenológica que foi


fundada por Jacob Levy Moreno, um médico formado em 1917. Moreno começou sua carreira
no Psicodrama trabalhando com psicoterapia de grupo em comunidades e psicoterapia em
teatro. (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).
De acordo com Padovan (2016), na concepção Moreniana, a visão de ser humano
pode ser compreendida através de alguns pressupostos. Ele acredita que o homem é um ser
racional que tem por necessidade obter relações e interações onde determinará o surgimento e
desenvolvimento do Eu, de sua identidade. Moreno declara que é através de seus papéis que o
sujeito vai construindo o seu Eu, agregando ao grupo ao qual pertence.
Outro pressuposto teórico que Moreno traz é o de que a criança estabelece o seu
primeiro contato com o coletivo no que ele chama de Placenta Social, isto é, sua família. É
também onde começa a sua Matriz de Identidade (PADOVAN, 2016).
De acordo com Moreno (1988), o conceito da espontaneidade significa o sujeito
estar presente nas situações em que ele vive ou está vivendo, onde são configuradas suas
relações afetivas e sociais. No psicodrama, existe uma ligação entre a espontaneidade e a
criatividade onde esta torna-se indissociável daquela, ou seja: a espontaneidade é um motivo
que aprova ao potencial criativo atualizar-se e manifestar-se.
7

Segundo o autor, para que a criatividade se manifeste é necessário que se superem


as conservas culturais. A conserva cultural manifesta-se nos objetos materiais da sociedade,
onde se incluem as obras de arte, o comportamento, o uso de costumes e manias (que são
tratados idênticos), em uma dada cultura.
O autor fala sobre os conceitos de Tele e Empatia, que também são significativos
para o Psicodrama. Afirma que Tele e Empatia são fenômenos de grandes semelhanças,
porém com distinções importantes. Tele, para Moreno (1988), permite a prática subjetiva que
está estabelecida entre pessoas e pode ser observado por terceiros. Este fator de Tele supera o
afastamento entre pessoas que se relacionam. Entende-se por Tele o significado de “à
distância”.
Já a Empatia é a compreensão pela sensibilidade das emoções e sentimentos de
uma pessoa, ou são contidas, de alguma forma, em um objeto. Moreno (1988) relata que a
Empatia lembra a espontaneidade com a capacidade de inverter papéis, de sentir o que se
sentiria caso se colocasse na situação e condição vivenciada pela outra pessoa.
Também é importante abordar os conceitos de Co-inconsciente e a Teoria de
Papéis, que são conceitos fundamentais para o psicodrama. O autor (1988) fala que a
resistência interpessoal, semelhante a uma resistência a admitir certos aspectos próprios,
constantemente se apresenta como resistência frente ao outro. Para Moreno (1988), se há um
vencimento diante desta resistência, a ação psicodramática permitirá a superação de conflitos
Co-inconscientes. A ação psicodramática, através da técnica de inversão de papéis utilizada
com indivíduo X e indivíduo Y, possibilitará que o inconsciente de X se manifeste associado
ao inconsciente de Y, ou seja: mediante a inversão de papéis, poderão trazer para fora aquilo
que estava mantido por dentro.
Por último, vale ressaltar que o autor discorre do conceito de Matriz de
Identidade. Quando o sujeito (criança) está inserido em um meio, é a partir do que recebe
deste meio que se “constroem” seus aspectos sociais, psicológicos e materiais. A criança
então começa a estabelecer o processo de construção de identidade, durante o qual, pouco a
pouco, irá se reconhecendo como semelhante aos demais mas também como um ser único,
idêntico a si mesmo.

1.2.1 A função do psicoterapeuta

No Psicodrama, existem diversas técnicas utilizadas pelo terapeuta como


ferramentas em seus atendimentos. Algumas dessas técnicas podem ser usadas tanto no
8

psicodrama de grupo como no bipessoal, que seria o psicodrama individual. No psicodrama


bipessoal, existem três fases: o aquecimento, a dramatização e o compartilhamento; no grupo
são utilizadas essas três fases também, porém de forma mais aprofundada (CUKIER, 1992).
Para Moreno (1988), todo bom psicoterapeuta psicodramatista deve realizar seus
atendimentos (tanto individuais quanto grupais) de acordo com a abordagem teórica do
Psicodrama, obedecendo às três etapas citadas. No Psicodrama, acredita-se que para o sujeito
conseguir entrar em um determinado papel ao qual foi conduzido pelo diretor (terapeuta), ele
necessita de um bom aquecimento para a atividade, caso contrário ele não conseguirá
dramatizar o caso. O aquecimento ocorre por orientação do terapeuta, no momento em que se
dá a alternativa do protagonista e a organização da dramatização.
A dramatização vem logo após o devido aquecimento, onde o sujeito protagonista
começa a representar no contexto dramático as figuras de seu mundo interno, colocando seu
problema de conflito no presente, em cena. Neste momento da dramatização, entra o ego
auxiliar, que tem a importante função de ajudar o terapeuta de forma decisória, e é por meio
do qual o protagonista tem a chance de se dar conta dos vários aspectos dos componentes
presentes na ação dramática. A função do ego auxiliar é a mesma no processo grupal e
bipessoal; por mais que não exista a possibilidade de ter pessoas como membros positivos
para ajudar o terapeuta na dramatização no processo individual, existem os elementos de
instrumentos que são utilizados em ambiente clínico, que servem para auxiliar o terapeuta na
dramatização. As almofadas são instrumentos bastante utilizados nesse processo, onde o
terapeuta tem a possibilidade de entrar no papel quando o protagonista está em momento de
conflito e tenta ajudá-lo a compreender o outro lado, ou até mesmo entender o que necessita
de uma compreensão.
Por último, vem a etapa do compartilhamento, onde todos os fatores relevantes
descobertos/encontrados são processados junto com o protagonista, de acordo com seus
conflitos na dramatização. O terapeuta tem como função não expor comentários críticos, pois
para o protagonista que se expôs inteiramente (bem como para seu processo), não seria justo e
nem o melhor (MORENO, 1988).
No compartilhamento de um processo grupal, é possível a participação terapeuta
do grupo, durante a qual cada sujeito poderia expressar aquilo que o tocou e emocionou na
dramatização, os sentimentos que lhe despertou. Também teria como possibilidade expressar
sua própria vivência de conflitos semelhantes (MORENO, 1988).
Conforme o autor, no Psicodrama, existem ainda duas outras etapas que podem
acorrer em uma sessão psicodramática: a elaboração e o processamento.
9

A elaboração se dá no período de tempo coordenado pelo diretor, e tem finalidade


terapêutica. Ela pode ser realizada no início da sessão terapêutica como parte do aquecimento
ou após o compartilhamento. O diretor relembra com o protagonista o ocorrido na
dramatização, auxiliando-o a entender os conteúdos sentidos e relacionando-os com seu
processo terapêutico.
O processamento só ocorre em psicoterapia ligada à transmissão de
conhecimentos do Psicodrama. Seria uma forma especial de elaboração, pois está se referindo
aos aspectos técnicos da seção e do encadeamento do indivíduo (MORENO, 1988).

1.2.2 Suicídio e Psicodrama

De acordo com a Escola Paulista de Psicodrama – EPP (1987), o suicídio é um


dos casos que mais angustia os terapeutas. Sempre que aparece um indivíduo com queixa
suicida na psicoterapia, este deve ser encarado como soberano, ou seja, deve ter certa
prioridade sobre todos os outros. Mesmo quando se torna evidente que a ameaça de suicídio é
apenas um recurso para chamar atenção, deve ser levada a sério, pois o indivíduo que parte
para este discurso de ameaça à vida sente uma extrema necessidade de emergência de receber
atenção, ou mesmo sente que este é o último recurso para o recebimento de afeto desejado.
Ainda conforme a EPP (1987), na análise psicodramática, são consideradas quatro
temáticas de suicídio: por opção, histérico, rompimentos de vínculos compensatórios e
dinâmica assassino x vítima.
Dentro da temática do suicídio por opção, compreende-se como uma forma de
diminuir o sofrimento que o indivíduo vem enfrentando. Seria uma escolha de morrer ou
morrer. Na realidade, a opção é a forma de morrer, pois a morte é inevitável para o sujeito,
onde resta apenas a opção de abreviar este sofrimento. Em muitos casos, a opção de morte
surge no paciente que se encontra em estado terminal, pois já vem há determinado tempo
sofrendo com sua trajetória de vida e acredita que a morte lhe poupará de um sofrimento mais
longo (EPP, 1987).
No caso da temática do tipo histérico, seria o suicídio uma maneira de chamar a
atenção por si mesmo, onde o indivíduo ameaça ou mesmo tenta o suicídio na tentativa de
convencer as pessoas em que estão à sua volta (familiares, amigos, cônjuges, namorados, etc.)
de que realmente precisa de atenção e ajuda. Esta é a forma que o sujeito encontra para pedir
socorro, mas como ele acaba não sendo compreendido, desperta-se nele um sentimento de
raiva. No entanto, não seria um desejo de morte, mas sim de ajuda.
10

O suicídio por rompimento de vínculos compensatórios se dá quando o indivíduo


não tem vontade de se matar, mas sim um forte desejo de morrer. Neste caso, torna-se mais
rara a tentativa real de cometer o ato, pois a tendência é de estabelecer o risco simbiótico com
outro objeto, seja esse objeto pessoas ou coisas – comida, bebida, cigarro, drogas, entre
outros. Neste caso, fica maior o risco do sujeito sofrer acidentes do que realmente se matar, a
vocação de uma sobrevivência fica comprometida pelo desejo profundo da morte. O
desespero do paciente nesta temática é bastante visível e muito grande. É um período onde o
paciente está em andamento de psicoterapia e de uso de medicação, e mesmo com tal apoio,
ele tem um desejo forte de suicídio.
Sobre as quatros temáticas de análises de um processo psicodramático, vem por
último a dinâmica assassino x vítima. Aqui é onde o Psicodrama acredita que o suicídio é
decorrente de uma dinâmica conflituosa de mundo interno. O suicídio é uma maneira de
assassinato: é como se uma parte do indivíduo matasse a sua outra parte dele. Na dinâmica
assassino x vítima, o risco de suicídio deve ser avaliado pelo grau de afetos de estimulação,
procurar saber a situação real do conflito.

1.3 A abordagem gestáltica

A Gestalt terapia foi fundada por Fritz e Laura Perls na década de 1940
(ALMEIDA, 2010, p. 217). É uma abordagem de base fenomenológica que foi criada através
de uma série de influencias teóricas e filosóficas.
A abordagem gestáltica acredita que o homem é um ser em projeto, que em seu
processo de vida é capaz de fazer escolhas sobre o que pretende fazer e deseja ser
(CARDELLA, 2002).
Por sua base fenomenológica, para a Gestalt terapia, o processo de entender o
sujeito em sua plena consciência busca o “o quê” e o “como” (ao invés de procurar saber o
“porquê”) por ser extremamente relevante e trazer para o sujeito visões mais amplas e com
significados pertinentes, com os quais passará a entender melhor as situações vividas por ele
(CADELLA, 2002).

A fenomenologia clareia, então, significados atribuídos que constituem um


fenômeno, ou seja, um fragmento da experiência de um sujeito-no-mundo, pela
descrição da experiência, da observação de “como” ela acontece. A consciência
sempre é consciência de alguma coisa, voltada para um objeto, e o objeto, por sua
vez, é sempre um objeto para uma consciência (CARDELLA, 2002, p. 39).
11

Segundo Martin (2008), a abordagem da Gestalt terapia vem das teorias visuais e
auditivas, especialmente da Psicologia da Gestalt. Segundo o mesmo autor, a psicologia da
Gestalt não levava em conta os sentimentos, as emoções ou tudo que “viesse do interior” do
indivíduo, que pudesse de alguma forma representar e expressar sua personalidade.

A Psicologia da Gestalt vê a necessidade de retornar à percepção simples, à


experiência imediata. Nós não percebemos sensações isoladas que posteriormente
vamos integrando em totalidades, mas antes temos uma sensação de totalidade. Por
exemplo, quando olhamos um quadro, o que vemos primeiro é a totalidade desse
quadro sem mais, isto é, uma paisagem, um mercadinho e, posteriormente, podemos
ver partes distintas de que se compõe: se é um mercadinho de frutas, primeiro vemos
o mercadinho, depois podemos ir vendo separadamente essas frutas ou aquela, um
canto ou outro. Mas enquanto nos fixamos no detalhe, o mercadinho como
fenômeno e totalidade desaparece (MARTIN, 2008, p. 16).

De acordo com Martin (2008), a Psicologia da Gestalt envolve-se dentro de um


campo fundamentalmente visual, pois o mesmo se estrutura de acordo com as diferenças de
intensidade existentes. Ou seja, a psicologia da Gestalt acredita que qualquer campo que possa
ser considerado como se almeja deve obter em sua constituição diferenças que possibilitam
atrair figuras com certo sentido. Endente-se que a contribuição da psicologia da Gestalt
segundo o autor citado acima (2008) na constituição da Gestalt terapia está especialmente na
construção dos conceitos fundamentais de boa forma, figura e fundo, relação entre todo e
partes.
Assim, no século XX, as teorias psicológicas e as ciências em geral acreditavam
que existem diferentes partes que se constroem um todo (MARTIN, 2008). Já alguns autores
como Wertheimer (1912 apud MARTIN, 2008) que estudaram a psicologia da Gestalt,
afirmam que não é possível compreender o todo a partir das partes ou elementos que o
formam.
Neste sentido, segundo Martin (2008), a Gestalt terapia tem como objetivo
observar a percepção e experiência imediata, não tendo assim como contrariar a realidade que
o indivíduo traz. Entende-se que a Gestalt terapia trabalha com o que é importante para o
indivíduo naquele momento como queixa.
Outro conceito bastante utilizado pelos psicoterapeutas gestaltistas é a relação de
figura e fundo, onde estes sempre caminham juntos, porém com focos diferentes. A figura traz
como característica a relação de incluir os sentimentos, emoções e necessidades em sua
consciência, algo que o fundo não possui (MARTIN, 2008). Entende-se que a figura seria a
queixa que o indivíduo traz para ser trabalhada na sessão terapêutica, já o fundo seria sua
história de vida.
12

Em toda superfície ou campo perceptual, o mais importante é aquilo que sobressai; a


isto chamamos figura, e naturalmente tem uma forma definida, enquanto que o
fundo é algo indefinido e sua principal função é servir de base à forma. Em certa
medida o fundo não tem forma. É algo difuso e indefinido que se perde em função
de sua finalidade de servir de base à figura. Não obstante, à medida que o fundo vai
se transformando em forma, enriquece-se com a mudança, em detrimento do que
anteriormente era forma (MARTIN, 2008, p. 32).

Ainda de acordo com o autor, a Gestalt terapia tem como principal função em seu
processo psicoterapêutico avaliar como o indivíduo lida com sua formação e eliminação de
gestalts. Ou seja, ela busca saber o que o indivíduo possa estar evitando, o que ele espera de
algo ou de alguma situação, o que ele sente e o que ele quer com seu comportamento.
Portanto, através do relato dirigido pelo autor (no caso o cliente), pode-se
entender que, para os gestalt terapeutas, suas intervenções estão ligadas a compreender como
ocorreu tal processo na vida do indivíduo. O porquê não seria de muita importância.
Uma premissa também muito importante para a Gestalt terapia é a homeostase. O
processo homeostático é definido como um processo de autorregulação, que seria como o
indivíduo interage com o ambiente para se equilibrar física e psicologicamente. Sabe-se que o
organismo possui muitas necessidades e uma delas seria essa relação do fisiológico com o
psicológico, já que estes não podem ser separados, pois cada um necessita e contém
elementos do outro (PERLS, 2008 apud MARTIN, 1974).
Martin (2008) ainda afirma que na Gestalt terapia existe o objetivo de o paciente
“dar-se conta”. Ele justifica tal objetivo pela capacidade de o ser humano perceber o que
acontece ao seu redor e dentro de si mesmo. É uma possibilidade de o indivíduo compreender
e entender a si mesmo, bem como situações que estão ao seu redor. Alguns níveis do dar-se
conta seriam: dar-se conta de si mesmo ou do mundo interior; dar-se conta do mundo exterior
e dar-se conta da zona intermédia ou da fantasia. Desse modo, o indivíduo tem como
possibilidade perceber todos os tipos de acontecimentos, sensações e emoções que estão a sua
volta e fazem parte do seu cotidiano.
O contato é também um dos conceitos fundamentais da psicoterapia gestáltica.
Existem diferentes tipos e maneiras de se conectar utilizando o contato. Pode ser conectado a
alguém, o que normalmente é pensado quando se fala no termo contato, mas vai além de estar
ligado somente fisicamente a uma pessoa ou mesmo a algo. O contato pode ser consigo
mesmo. O contato nada mais é que uma das mais importantes necessidades psicológicas que o
ser humano precisa ter (MARTIN, 2008).
Na Gestalt terapia, existem também diferentes tipos de limites do sujeito, que são
chamados de limites ou fronteiras do eu. Por meio delas, o indivíduo consegue estabelecer a
13

quantidade e qualidade do contato que queira ter com as pessoas e com o mundo ao seu redor.
São de alguma forma os riscos que este indivíduo se dispõe a enfrentar chegando aos limites
de seu comportamento (MARTIN.2008). Conclui-se que os limites que são empregados por
nós sujeitos dispostos a viver determinadas situações são de suma importância para não nos
prendermos a certos comportamentos inadequados, ou para chegar ao nosso limite e
conseguirmos comportamentos desejados. A forma como a pessoa utiliza suas fronteiras de
contato pode determinar seus processos de saúde e doença, uma vez que tais fronteiras estão
diretamente ligadas ao contato, isto é, às trocas físicas e psicológicas entre organismo e meio.

1.3.1 A função do terapeuta

Para Martin (2008), o que se pode dizer de bom ou de ruim de uma técnica
utilizada em Gestalt terapia não vem textualmente dela, mas sim da maneira como o terapeuta
está utilizando a técnica. Assim, o profissional deve ter um bom preparo, pois se a terapia não
for realizada da maneira correta, o resultado que se espera em uma sessão dificilmente será
eficaz. Entende-se que se o terapeuta não estiver totalmente preparado para aplicar uma
técnica gestáltica de maneira correta, automaticamente ele não terá um resultado esperado
pela abordagem (MARTIN, 2008).
A Gestalt enfatiza a ideia de que se o ser humano for de alguma maneira julgado
por seus comportamentos e pensamentos, a pessoa autora do julgamento estará culpando a
outra pessoa. Para alguns, receber um julgamento pode soar como um ato de desamparo ou
até mesmo condenação, principalmente se esta postura vier de alguém com grandes
significados para a pessoa, como um companheiro, ou mesmo o terapeuta. Esta pessoa pode
estar passando por um processo de medo, vergonha ou confusão, por isso, o julgamento não
terá serventia alguma (MARTIN, 2008).
O mesmo autor afirma que o bom terapeuta não deve criar deveres e obrigações
para seu paciente, pois ao sugerir que o paciente deveria ter tal postura e experiência
particular ou mesmo fazer alguma coisa de um modo que acredite ser o ideal, o profissional
não possibilitará o paciente seguir suas vontades e necessidades, e posteriormente, fará com
que o mesmo abandone suas experiências e necessidades para se adaptar aos desejos do
terapeuta. Entende-se que o profissional deve respeitar e aceitar as necessidades do paciente,
intervindo diante daquilo que for relevante e necessário, ou seja, acolhendo e mostrando
possibilidades de uma nova visão, mas deixando claro que quem decidirá alguma coisa sobre
14

sua vida será somente o cliente. Só assim o terapeuta estará prestando um serviço eficaz para
ele.
Para uma terapia ser bem conduzida pelo terapeuta, ele deve seguir a princípios e
características como pautação, controle, potência, humanidade e compromisso. São
características que darão um suporte positivo para a realização de um processo terapêutico
(MARTIN, 2008).
Sobre a pautação, o autor afirma que o terapeuta deverá apresentá-la no momento
em que o paciente chega ao consultório. Desde o primeiro momento, o terapeuta deverá ir
guardando todas as informações trazidas pelo paciente e pontuando dados sobre seu passado e
presente, pois permitirá ao terapeuta conhecer seu paciente desde o primeiro encontro. Quanto
ao controle, é importante que o terapeuta peça a autorização do cliente para alguns
procedimentos que serão fixados pelo próprio profissional, que incluem uma série de técnicas
e jogos utilizados em uma sessão terapêutica gestáltica.
Sobre o que o autor destaca como potência, seria quando o terapeuta enxergar a
possibilidade de não conseguir ajudar o paciente em sua queixa. O profissional deverá expor
esta situação para o paciente, podendo expressar seus pensamentos e sentimentos em relação
às possíveis dúvidas da parte do paciente sobre o porquê não poderá ajudá-lo.
Martin (2008) afirma que humanidade é quando o terapeuta desenvolve certo
interesse e cuidado pelo seu paciente, e está disposto a compartilhar com ele sua afetividade.
A humanidade traz a possibilidade de o terapeuta falar sobre suas próprias experiências
(apenas se houver um momento adequado para isso, contudo), e também se volta para sua
própria abertura para um avanço, no qual se possibilitará como um modelo para seu paciente.
Por último, o autor (2008) fala que o compromisso terapêutico vem desde o momento em que
o terapeuta se responsabiliza com sua profissão até quando decide empregar-se a ela.
Além disso, uma das funções do terapeuta para a Gestalt terapia é estabelecer um
diagnóstico adequado. Em relação ao diagnóstico em Gestalt terapia, segundo Frazão (1995),
se o diagnóstico for mal feito, ou mesmo não ser realizado, isso poderá acarretar em
consequências graves para o paciente. A autora ressalta também que a realização do
diagnóstico é um instrumento importante, mas ainda não é suficiente para definir o trabalho
do terapeuta, pois acredita que todo ser humano, por mais que se siga uma linha de
diagnóstico em comum, possui características individuais. As pessoas são diferentes, com
interesses, pensamentos e sentimentos diferentes. Uns dão mais importância para tal situação
do que outros, ou seja, as queixas se diferem. Por esta razão, a realização do diagnóstico por si
só não trará ajuda para o paciente.
15

A autora destaca que aquilo que o paciente traz no aqui e agora, suas queixas,
sintomas e sofrimentos, é o que ele consegue identificar apenas. Porém, o terapeuta precisa
reconhecer que o que seu paciente traz de imediato não é o suficiente para entender seu
presente, pois o aqui e agora sofre interferência de seu passado. Configura-se assim a
importância de identificar o fundo além da figura, pois através do fundo fica possível entender
a história de vida do cliente.
Além disso, Frazão (1995) afirma que, para realizar o diagnóstico, é necessário
acompanhar o processo terapêutico, pois este está relacionado ao conhecimento deste paciente
e visa estabelecer diferenças. Não se deve, porém, mencionar os diagnósticos ao paciente, mas
sim seus pensamentos, que dão base para o terapeuta compreender o que está se passando
com ele.
Assim, entende-se que os critérios diagnósticos não são tão úteis quanto
aparentam, pois não dão conta de um processo terapêutico tão complexo. Tratando-se de
termos gestálticos, o diagnóstico está intrinsicamente ligado à ideia de desenvolvimento,
transformação, relações, e principalmente, compreender o que é o foco principal de um
processo terapêutico (FRAZÃO, 1995). Assim, o diagnóstico em Gestalt terapia remete ao
conceito de um processo de fato, e uma das funções do terapeuta é revê-lo de acordo com as
necessidades que emergem durante a psicoterapia.

1.3.2 Suicídio e Gestalt terapia

Para Fukumitsu (2005), a pessoa que busca o ato do suicídio procura na morte o
sentido que não conseguiu na vida. Ressalta ainda que o indivíduo que tenta praticar o ato ou
mesmo o pratica, fá-lo como uma maneira de tentar expressar algo que em vida não
conseguiu. A autora também acredita que a pessoa com queixa suicida não está procurando a
morte, mas sim outra maneira de viver.
Fukumitsu (2005) ainda afirma que o terapeuta que segue como base teórica a
abordagem da Gestalt terapia, quando recebe um paciente com queixa de risco suicida, e que
durante a sessão relata estar decidido a cometer o ato, deve informá-lo da necessidade de
entrar em contato com seus familiares para comunicar sobre o que ele diz estar decidido a
fazer, pois o paciente não se encontra em condições de ficar sozinho e precisa ser
acompanhado e monitorado no seu dia a dia. Seu papel enquanto terapeuta é manter o sigilo
em vida, mas como há um risco de vida, o terapeuta precisa quebrar este sigilo para não se
comprometer de forma negativa com o que o paciente poderá cometer (FUKUMITSU, 2005).
16

Para a autora (2005), uma das maneiras de o terapeuta identificar se há risco de


suicídio seria explorando os pensamentos do paciente, fazer com que ele possa compartilhar
seus sentimentos ou até mesmo encorajá-lo a comunicar o que talvez fica difícil para ele em
uma primeira sessão. Fukumitsu (2005) afirma que questionamentos como “você tem falado
de modo que, algumas vezes, pensa que seria melhor para todos se você estivesse morto.
Você já planejou como você se mataria?” trarão dados relevantes e fundamentais para o
terapeuta chegar a informações sobre o pensamento do paciente em relação ao ato suicida.
Um dos cuidados que o profissional que lida com o paciente com queixa de risco
suicida precisa ter é que, por mais que o paciente esteja minimizando a ideia de que pretende
tirar a própria vida, o terapeuta não pode descartar esta possiblidade e deve estar preparado
para estabelecer com o paciente que se essas ideias voltarem aos seus pensamentos, ele poderá
entrar em contato com o terapeuta por ligações telefônicas ou até mesmo sessões extras, pois
é importante estar ciente de que outros pensamentos e tentativas poderão ocorrer
(FUKUMITSU, 2005).
Abordar a queixa suicida ou trabalhar com o suicídio faz o terapeuta encarar as
características do ato como falta de sentido, solidão, tédio, medo, sofrimento, agonia,
desinteresse pela vida etc. Diante destas características que vêm do paciente com risco de
tentativa de suicídio, o terapeuta necessita ir além e fazer uma reflexão acerca de um
funcionamento saudável que a pessoa precisa ter, para que ela comece a encontrar e elaborar
outros sentidos para sua vida (FUKUMITSU; SCAVACINI, 2013).
Segundo as mesmas autoras, é sugerido que o Gestalt terapeuta trabalhe em busca
de fatores de proteção do indivíduo que pensa na morte, com intenção de levantar dados e
possibilidades positivas para que o paciente junto com o terapeuta possa descobrir novos
caminhos e recursos que auxiliem na superação das adversidades, ou ao menos a conviver
melhor com elas.
Enfim, é importante que o terapeuta destaque para o paciente que ele está ali para
ajudá-lo a enfrentar suas dificuldades e obstáculos. É consideravelmente importante o
terapeuta deixar claro que ele quer que o sujeito viva, e que ele poderá contar com sua ajuda
para enfrentar este momento de sua vida (FUKUMITSU; SCAVACINI, 2013).

2 Método

Esta pesquisa se define como uma pesquisa de campo, uma vez que possibilitará a
busca de informações diretamente com profissionais. Define-se também como qualitativa e de
17

campo, pois serão realizadas entrevistas onde o sujeito poderá expressar suas experiências e
opiniões como respostas. De acordo com Godoy (1995), a pesquisa qualitativa trata-se de uma
pesquisa que possibilita investigar as ocorrências que envolvem o ser humano e suas
complexas relações sociais e sua estabilidade em diversos ambientes. Quanto à pesquisa de
campo, o mesmo autor afirma que:

O pesquisador vai a campo buscando “captar" o fenômeno em estudo a partir da


perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista
relevantes. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se entenda a
dinâmica do fenômeno (GODOY, 1995, p. 21).

Portanto, segundo o autor (1995), a pesquisa de campo/qualitativa investiga o


relato pessoal do sujeito entrevistado perante aquilo que este acredita ser relevante ou pratica
sobre o assunto que está sendo estudado. Tudo o que será trazido pelo entrevistado em seu
relato será de suma importância para uma melhor compreensão do assunto.
Por outro lado, a classificação desta pesquisa quanto aos objetivos define-se como
exploratória, considerando que este tipo de pesquisa tem como objetivo descrever e esclarecer
ideias diante do manejo do risco de suicídio em teorias específicas, possibilitando a
elaboração de problemas ou hipóteses pesquisáveis para estudos futuros. Considerando as
afirmações de Gil (2008), entende-se que se trata de uma pesquisa exploratória, pois acredita-
se que esta poderá contribuir na elaboração de pesquisas posteriores.
Com relação aos sujeitos, participaram da pesquisa psicólogos da cidade de
Tubarão, que seguem como base teórica e prática a abordagem teórica do Psicodrama e da
Gestalt terapia, e possuem experiência na área clinica onde realizam ou já realizaram
atendimentos com queixa suicida. Foi definido um total de seis profissionais psicólogos,
distribuídos em três para cada abordagem estudada nesta pesquisa, escolhidos por
acessibilidade, tendo como critérios de inclusão a experiência de pelo menos cinco anos na
área clínica e atuação com a demanda de risco de suicídio. Foi utilizado o método bola de
neve, no qual um entrevistado indica o próximo até se alcançar o total pretendido na
investigação.
Tendo em vista o caráter procedimental, caracteriza-se como uma pesquisa
transversal, pois investiga o mesmo fenômeno em diferentes abordagens (Psicodrama e
Gestalt terapia), com o intuito de verificar diferenças nas técnicas utilizadas pelos
profissionais e identificar como são realizados seus atendimentos diante desta queixa, de
acordo com as orientações da abordagem teórica que seguem.
18

Com relação aos dados coletados, utilizou-se uma entrevista semiestruturada com
perguntas direcionadas aos objetivos desta pesquisa, às quais os participantes responderam
de acordo com seus atendimentos, bem como as respectivas abordagens com as quais
trabalham.
A realização das entrevistas ocorreu em ambientes fechados, reservados, buscando
a privacidade necessária ao procedimento. Foram realizadas individualmente e gravadas em
áudio.
No que se refere à análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo. Para
Bardin (2011), a análise de conteúdo seria:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens
(Bardin, 2011, p. 42).

Dessa forma, os dados foram analisados a partir de uma transcrição das entrevistas
e posterior criação de categorias de análise, obedecendo aos objetivos da pesquisa. Por fim, as
respostas dos participantes foram relacionadas ao referencial teórico do projeto.

3 Resultados e discussão

Para efeitos de contextualização, foi elaborado o quadro abaixo com algumas


características dos participantes da pesquisa. Foram utilizadas informações que não
identificam os entrevistados, mas permitem que se tenha uma ideia de sua formação e atuação
profissional. A pesquisa realizada teve seis entrevistados, onde três dos participantes eram da
abordagem teórica do psicodrama e os outros três da Gestalt terapia. E1 (Psicodramatista de
33 anos), E2 (Psicodramatista de 46 anos), E3 (Psicodramatista de 30 anos), E4 (Gestalt. T de
49 anos), E5 (Gestalt. T de 55 anos) e E6 (Gestalt. T De 33 anos) atuam na área clinica do
município de Tubarão, SC.

Quadro 01: Caracterização dos participantes (continuação)


Entrevistado Abordagem Tipo de formação Tempo de Tempo de
na abordagem atuação na atuação na
abordagem profissão
E1 Psicodrama Psicodrama nível I 7 anos 7 anos
19

Quadro 01: Caracterização dos participantes (conclusão)


E2 Psicodrama Psicodrama nível I 5 anos 5 anos
E3 Psicodrama Psicodrama nível I 7 anos 7 anos
E4 Gestalt Formação e pós na 21 anos 21 anos
Terapia Gestalt terapia
E5 Gestalt Especialista 12 anos 12 anos
Terapia Clínico em Gestalt
terapia
E6 Gestalt Especialização em 9 anos 10 anos
Terapia Gestalt terapia e
formação em
Gestalt terapia
infantil

Fonte: Elaboração da autora (2018).

Pode-se observar no quadro acima que o tempo de atuação na profissão varia de 5


anos a 21 anos, sendo o mesmo tempo de atuação na abordagem psicológica, o que sugere que
esta se trata de uma escolha que ocorre desde o início da carreira. Além disso, todos os
entrevistados fizeram ou estão fazendo formação na abordagem escolhida, formalizando a sua
qualificação profissional como psicólogos clínicos psicodramatistas e Gestalt terapeutas.
As respostas obtidas nas entrevistas foram organizadas em dois quadros distintos:
um representando as concepções dos psicólogos do psicodrama e outro representado os
Gestalt terapeutas. Optou-se por fazer essa distinção para facilitar a visualização. Sendo
assim, em cada quadro foram agrupadas as respostas referentes às categorias que compõem os
objetivos específicos dessa pesquisa. Essas respostas foram descritas a partir das falas dos
entrevistados. Na sequência, o Quadro 2 traz a caracterização do suicídio para o Psicodrama.

Quadro 2 – O suicídio para o Psicodrama (continuação)


Categoria Descrição da Categoria
Compreensão do suicídio Sofrimento, fuga, ato de coragem para lidar com algo que o
paciente já não consegue.
20

Quadro 2 – O suicídio para o Psicodrama (conclusão)


Identificação do paciente Falta de expectativas de futuro, a fala do paciente, a
com RS utilização da técnica “átomo social” pela parte do
psicoterapeuta e mudanças de comportamento.
Tipo de acolhimento ao Acolher, ouvir, explicar a necessidade de conversar com a
paciente com RS família do paciente sobre o RS, mostrar para o paciente que
ele não está sozinho, disponibilizar-se para o contato fora
da sessão (em caso de crise) e fazer o vínculo.
Encaminhamentos e Encaminhamento para psiquiatra ou neurologista; contato
influência da abordagem com a família do paciente; a abordagem teórica não
influencia no processo de encaminhamento.
Teorias e técnicas Conceito teórico da espontaneidade, criatividade, Tele,
utilizadas com paciente matriz de identidade, teorias dos papeis, teoria do vínculo, a
RS teoria do momento e conservas culturais; as técnicas
utilizadas seriam: troca de papel, espelho, duplo, solilóquio,
maximização e concretização.
Fonte: Elaboração da autora (2018).

O Quadro 02 sintetiza a compreensão do suicídio no Psicodrama para os


pesquisados. Sendo assim, quanto à compreensão do suicídio, para os psicodramatistas, este
fenômeno é entendido como um resultado de um sofrimento, como um ato de coragem para
lidar com algo que o paciente já não consegue mais lidar e também é considerado como um
ato de fuga. Sobre isso, a Escola Paulista de Psicodrama (1987) fundamenta que o paciente
que entende o suicídio como uma possibilidade, traz um sofrimento de muito tempo em
relação a sua trajetória de vida. No entanto, em relação à ideia do suicídio como um ato de
fuga e coragem para lidar com determinada situação, não foram encontradas publicações
teóricas. Assim, entende-se que esse posicionamento possa ter sido uma visão das práticas
clínicas desses entrevistados ao longo de suas experiências profissionais.
Já com relação à identificação do paciente com RS, para os psicodramatistas, esta
se faz a partir da observação da falta de expectativas sobre o futuro, da fala do paciente, pela
utilização da técnica “átomo social” e mudanças de comportamento apresentadas pelo
paciente nas sessões. Neste sentido, segundo Cukier (1992), existem várias técnicas
psicodramáticas que o terapeuta pode utilizar também, o átomo social é apenas uma delas. Em
relação à falta de expectativas de futuro e mudanças de comportamento, contudo, não foi
21

encontrada na literatura uma visão especificamente psicodramatista. No entanto, acredita-se


que tais indícios possam estar relacionados à visão de homem na teoria, que compreende o ser
humano como espontâneo e criativo. Características que se referem à espontaneidade do
sujeito, segundo Moreno (1988), estão relacionadas à presença do sujeito nas situações em
que ele vive ou está vivendo, onde são configuradas as relações afetivas e sociais. Já a
criatividade está relacionada à espontaneidade, pois depende dela para conseguir se
manifestar.
Em relação ao tipo de acolhimento ao paciente com RS para os psicodramatistas,
seria necessário o terapeuta acolher este paciente, ouvir, explicar a necessidade de conversar
com a família do paciente sobre o RS, mostrar para o paciente que ele não está sozinho,
disponibilizar-se para contato fora da sessão (em caso de crise) e fazer o vínculo terapêutico.
Sobre o assunto, não há uma visão fundamentada teoricamente por algum autor específico do
Psicodrama, embora represente claramente o acolhimento típico realizado na psicoterapia de
maneira geral, bem como alguns cuidados recomendados pela própria psiquiatria ao se
deparar com um paciente com RS. Ademais, para o psicodrama, a atuação do psicoterapeuta
deve ser caracterizada por três fases, que seriam o aquecimento, dramatização e
compartilhamento (CULKIER, 1992). Percebe-se que estas são algumas das práticas que os
entrevistados possuem com seus pacientes, como é exemplificado no relato a seguir:

No primeiro momento, vou acolher ele, ouvir ele, e tentar mostrar para ele que ele
não esta sozinho, eu tenho o hábito de passar o meu contato e autorizar este meu
paciente para que em algum momento de crise ou algo do tipo em que ele não tenha
ninguém para conversar, que ele me ligue para poder colocar para fora aqueles
sentimentos que estão guardados dentro dele (E2 Psicodramatista).

Observa-se no discurso da entrevistada que este primeiro contato com o paciente é


fundamental, de extrema importância para se estabelecer o vínculo terapêutico, fazendo com
que este paciente se sinta de alguma forma cuidado e amparado por alguém, correspondendo
ao papel do terapeuta no psicodrama. Para Moreno (1988), o processo de empatia é
fundamental, pois configura-se como uma compreensão através da sensibilidade, emoções e
sentimentos desse paciente.
De acordo com os relatórios de encaminhamentos de pacientes com RS, tais
encaminhamentos são delegados a psiquiatras ou neurologistas, também por meio de contato
com a família do paciente. De acordo com os entrevistados, a abordagem teórica não
influencia no processo de encaminhamento, sendo utilizadas as recomendações psiquiátricas
gerais para esse tipo de caso, pois tal como afirmam Mallauer e Maliska (2012), para o
22

paciente aderir ao ato suicida não se envolvem somente fatores psicológicos. Os fatores
sociodemográficos e ambientais são de extrema relevância quando se considera o cenário da
possibilidade do ato suicida.
Por fim, as teorias do Psicodrama utilizadas com paciente RS seriam os conceitos
teóricos da espontaneidade, criatividade, Tele, matriz de identidade, teoria dos papéis, teoria
do vínculo, a teoria do momento e conservas culturais. Já as técnicas utilizadas seriam a troca
de papel, espelho, duplo, solilóquio, maximização e concretização. Moreno (1988) discorre da
importância destes conceitos teóricos e técnicas para atender esse paciente. O autor destaca
que são trabalhados os conceitos teóricos e técnicas que forem necessárias e que um bom
psicodramatista sempre irá trabalhar com seu paciente o que há de espontâneo e de criativo
dentro dele.
Na sequência, traz-se o Quadro 3, que sintetiza a compreensão do suicídio na
Gestalt terapia para os pesquisados. As categorias representam as questões da entrevista e os
objetivos específicos da pesquisa, tal como ocorreu na elaboração do quadro dos
psicodramatistas.

Quadro 3 – O suicídio para a Gestalt Terapia (continuação)


Categoria Descrição da categoria
Compreensão do suicídio Compreende o suicídio a partir dos eventos
que podem estar presentes; mecanismo de
fuga, mecanismo disfuncional, sofrimento
intenso, depressão, drama existencial;
elimina o todo e encontra na morte a única
solução para determinado conflito.
Identificação do paciente com RS Se é algo que está nas entrelinhas desse
sofrimento, faz-se a pergunta diretamente;
entender se este paciente tem pensado a
respeito ou mesmo planejou alguma coisa
nesse sentido; falta de amor à vida; falta de
perspectiva; desesperança; baixa
autoestima; ausência de objetivos, foco, ou
sonhos.
23

Quadro 3 – O suicídio para a Gestalt Terapia (conclusão)


Tipo de acolhimento ao paciente com RS Trabalhar com o que há de vida ao redor
dele, “trazer” esse paciente para a vida,
resgatar o que há de bom na vida dele para
mantê-lo vivo. Fazer uma escuta ativa e
respeitosa, acolher de uma forma humana.
Encaminhamentos e influência da Encaminhamentos ao psiquiatra, com visão
abordagem mais humana; envolvimento da família; a
abordagem teórica não influencia.
Teorias e técnicas utilizadas com paciente Todos os conceitos teóricos e técnicas da
RS Gestalt terapia podem ser utilizados para
tratar o risco suicida, não existiria uma
específica para esta queixa.
Fonte: Elaboração da autora (2018)

Percebe-se que, quanto à compreensão da questão para os profissionais psicólogos


da Gestalt terapia, concebe-se o suicídio a partir dos eventos que podem estar presentes para o
paciente, configurando-se como um mecanismo disfuncional e de fuga, um sofrimento
intenso. Pode estar associado à depressão ou a um drama existencial, e é algo que elimina o
todo e encontra na morte a única solução para aquele conflito. A respeito do assunto,
Fukumitsu e Scavacini (2013) fundamentam que falar da queixa suicida ou trabalhar com o
suicídio faz com que o terapeuta compreenda as características do ato como falta de sentido,
solidão, tédio, medo, sofrimento, desinteresse pela vida, entre outros. Além disso, Fukumitsu
(2005) caracteriza o suicídio como uma maneira de o paciente tentar expressar algo que, em
vida, não conseguiu. Segundo a mesma autora, nem sempre o paciente está procurando a
morte, mas sim outra maneira de viver. Sendo assim, percebe-se uma coerência na visão
retratada na fala dos entrevistados.
Em relação à identificação do paciente com RS, para os psicólogos que seguem
como base teórica a Gestalt terapia, entende-se que se é algo que está nas entrelinhas desse
sofrimento, deve-se fazer perguntas sobre o RS diretamente, assim como entender se este
paciente tem pensado a respeito do assunto, ou mesmo se estaria planejando algo nesse
sentido. Também identificam o RS pela falta de amor à vida, falta de perspectiva,
desesperança, baixa autoestima, e ainda pela ausência de objetivos, foco ou sonhos. Sobre
isso, para a autora Fukumitsu (2005), uma das maneiras de o terapeuta identificar se o
24

paciente possui risco de suicídio ou mesmo como ele identificaria esse risco seria explorando
seus pensamentos, fazer com que este paciente possa compartilhar seus sentimentos ou ainda
encorajá-los a comunicar o que talvez fique difícil para ele naquele primeiro momento. A
autora (2005) afirma também que essa possível identificação do RS pode ser realizada a partir
da detecção de falta de interesse pelas coisas, autoestima baixa, forte desejo de se isolar do
mundo etc. De uma forma geral, Cardella (2002) traz que, para a Gestalt terapia, o processo
de entender o sujeito em sua plena consciência busca muito mais que os “porquês”. Mais
importante que isso são o “o quê” e o “como”, pois isso trará ao sujeito visões mais amplas e
significativas.
No que se refere ao tipo de acolhimento ao paciente com RS para os Gestalt
terapeutas entrevistados, o mais adequado é trabalhar com o que há de vida ao redor dele,
“trazer” esse paciente para a vida, resgatar o que há de bom na vida dele para mantê-lo vivo,
fazer uma escuta ativa e respeitosa, e acolhê-lo de uma forma humana. Acerca do assunto,
Fukumitsu e Scavacini (2013) afirmam que se sugere ao Gestalt terapeuta trabalhar em busca
de fatores de proteção ao paciente que pensa na morte, com o propósito de levantar dados e
expectativas positivas para que este paciente, guiado pelo terapeuta, possa avistar novos
caminhos e recursos, bem como compreender que adversidades podem ser solucionadas e/ou
servirem de aprendizado. Além disso, para Martin (2008) o objetivo da Gestalt terapia é o
paciente dar-se conta, pois ele próprio tem a capacidade de compreender a si mesmo e os
acontecimentos ao seu redor, podendo assim encontrar novos e diferentes pontos de vista. O
mesmo autor afirma que o terapeuta na Gestalt terapia deve acolher o paciente sem
julgamentos, pois estes tendem apenas a levar o paciente ao sentimento de culpa que são
negativos ao processo terapêutico. Martin (2008) também afirma que para uma terapia ser
bem conduzida pelo terapeuta, ele deve seguir a princípios e características de pautação,
controle, potência, compromisso e humanidade, sendo que esta se refere ao interesse e
cuidado pelo paciente. Dessa forma, a fala dos pesquisados parece ir ao encontro dos autores
da Gestalt terapia.
Em relação a encaminhamentos, eles geralmente são feitos ao psiquiatra, sendo a
preferência dos entrevistados por profissionais que apresentem uma visão mais humanizada
em sua atuação; envolve-se também a família. A abordagem teórica não influencia
diretamente na escolha dos encaminhamentos, conforme afirmaram os pesquisados. Sobre
esta colocação, Fukumitsu (2005) destaca que o terapeuta adepto da Gestalt terapia, quando
recebe um paciente com queixa de risco suicida, deve-se colocar na postura de avisá-lo da
necessidade de entrar em contato com seus familiares para comunicá-los sobre o que ele diz
25

estar decidido a fazer, pois entende-se que o paciente não se encontra em condições de ficar
sozinho e precisa ser acompanhado e monitorado constantemente. Já em relação ao
acompanhamento ser feito para psiquiatras, não foram encontrados registros na literatura
sobre Gestalt terapia que fundamentassem essa questão, onde fica subentendido que esta visão
vem das práticas executadas pelos entrevistados, bem como das orientações gerais sobre
suicídio e psiquiatria advindas da formação dos psicólogos.
Por último, sobre as teorias e técnicas utilizadas com pacientes RS, é entendido
pelos pesquisados que todos os conceitos teóricos e técnicas da Gestalt terapia podem ser
utilizados para tratar o risco suicida. Assim, não existiria uma técnica específica para esta
queixa. Sobre esta colocação, Martin (2008) afirma que o que se pode dizer de técnica e
conceito teórico utilizados em Gestalt terapia não vem textualmente deles, mas sim da
maneira que o profissional os está utilizando. Dessa forma, o terapeuta deve ter um bom
preparo, pois se os procedimentos não forem realizados da maneira correta, o resultado
esperado em uma sessão não será o mesmo. Além disso, para Fukumitsu (2005), mais do que
observar as características do paciente com risco ou tentativa de suicídio, o Gestalt terapeuta
precisa fazer uma reflexão acerca de um funcionamento saudável que esse paciente precisa
ter, para que comece a encontrar e elaborar outros sentidos para sua vida. Logo, não são
apontadas técnicas voltadas para o suicídio em si, mas para a retomada do funcionamento
saudável do paciente, tal como os pesquisados sugerem em suas falas.
Entende-se que em relação à compreensão do suicídio, os participantes das duas
abordagens teóricas estudadas trazem grandes semelhanças, uma vez que os ambos entendem
o suicídio como um ato que é resultado de grande sofrimento, onde a pessoa encontra na
morte a única solução. Em relação à identificação do paciente com RS, os participantes
coincidem novamente nas respostas, ficando possível identificar que a mudança de
comportamento e a falta de objetivo trazem um olhar mais atento na ocorrência da queixa.
Quanto ao tipo de acolhimento ao paciente com RS, em algumas das respostas, os
participantes se assemelham; em outras, alguns utilizam diferentes ferramentas, como a
questão de disponibilizar seu contato para qualquer emergência. Em relação aos
encaminhamentos e influência da abordagem dos participantes, apresentou-se semelhança
total entre os participantes. E por último, no que concerne às teorias e técnicas utilizadas com
paciente RS, fica possível identificar maiores distinções, pois os participantes afirmaram que
utilizam todas as teorias e técnicas de sua abordagem de atuação. Acredita-se que as
semelhanças encontradas tenham ocorrido em função de dois fatores: de um lado, o olhar
mais amplo que não se limita à abordagem e engloba a visão psiquiátrica do suicídio, e do
26

outro, o fato de as duas abordagens terem em comum a base fenomenológica e humanista, o


que aproxima as formas de ver o sujeito, o mundo e os fenômenos psicológicos, incluindo o
suicídio.

Considerações Finais

Tendo em vista que o objetivo geral da pesquisa foi analisar os manejos


psicoterapêuticos do Psicodrama e da Gestalt terapia diante do paciente com risco de suicídio,
pode-se afirmar que o mesmo foi alcançado, uma vez que se observou que ambas as
abordagens trabalham com um olhar e foco semelhantes diante da queixa suicida. Os
profissionais de ambas abordagens atendem esses pacientes com um olhar que vai além da
abordagem psicológica, incluindo o conhecimento proveniente da psiquiatria. Porém, cada
profissional utiliza suas ferramentas e técnicas baseadas em sua abordagem específica para
realizarem o atendimento de maneira eficaz.
De acordo com os objetivos específicos, conclui-se que todos foram alcançados,
pois as categorias apresentadas no item Resultados e Discussão são diretamente baseadas em
tais objetivos. O método escolhido para a pesquisa, especificamente quanto ao instrumento de
coleta utilizado (entrevista), foi adequado, porque os participantes puderam expor seus relatos
de acordo com suas abordagens teóricas, bem como os recursos utilizados para atenderem a
tal demanda, e trouxeram respostas significativas e construtivas sobre a atuação profissional
diante dessa queixa.
A pesquisa apresenta resultados semelhantes entre as abordagens estudadas no
que se refere ao manejo do suicídio. Acredita-se que isso se deve à semelhança da base teórica
entre as abordagens (Fenomenologia e Humanismo), assim como a ampliação do olhar dos
profissionais ao incluírem o conhecimento da Psiquiatria sobre o suicídio. Entende-se que tais
semelhanças são positivas, pois demonstram, que apesar de existirem diferenças na visão de
homem e de mundo entre as abordagens, bem como nas técnicas utilizadas, há uma
proximidade na forma como o fenômeno é visto pelos profissionais. Tal fato indica coerência
na atuação do profissional psicólogo, fortalecendo sua imagem diante da sociedade como um
todo. Ainda assim, seria interessante dar continuidade aos estudos sobre o suicídio com esse
enfoque, considerando a possibilidade de trabalhar outras abordagens psicológicas para poder
identificar semelhanças ou diferenças diante da queixa do paciente com risco suicida, visando
entender quais seus olhares e intervenções perante esse paciente. Como o suicídio é um
27

fenômeno multifatorial, acredita-se que estudos que especifiquem e aprofundem o


conhecimento sejam fundamentais.

Referências

ALMEIDA, Josiane Maria Tiago de. Reflexões sobre a prática clínica em gestalt-terapia:
possibilidades de acesso à experiência do cliente. 2010. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v16n2/v16n2a12.pdf>. Acesso em: 22 out. 2017.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 2011. Disponível em:


<https://pppvetornorte.files.wordpress.com/2016/07/bardin-analise.pdf>. Acesso em: 06 nov.
2017.

CARDELLA, Beatriz Helena Paranhos A Construção do Psicoterapeuta: uma abordagem


gestáltica. São Paulo: Summus, 2002.

CUKIER, Rosa. Psicodrama Bipessoal: Sua técnica, seu terapeuta e seu paciente. 1992.
Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Psicodrama+bipessoal.pdf>. Acesso em:
28 out. 2017.

FRAZÃO, Lilian Meyer. Pensamento diagnóstico processual: uma visão gestaltica de


diagnóstico. 1995. Disponível em: <itgt.com.br/wp-
content/uploads/.../Pensamento_Diagnóstico_Processual-Lilian.doc>. Acesso em: 15 out.
2017.

FUKUMITSU, Karina Okajima. Suicídio e Psicoterapia: uma visão gestáltica. Série Gestalt
terapia. Campinas: Livro Pleno, 2005.

______; SCAVACINE, Karen. Suicídio e manejo psicoterapêutico em situações de crise:


uma abordagem gestáltica. 2013. Disponível em:
<https://attachment.outlook.office.net/owa/>. Acesso em: 15 out. 2017.

______. O psicoterapeuta diante do comportamento suicida. Psicologia USP. São Paulo, v.


25, n. 3, p. 270-275. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v25n3/0103-6564-
pusp-25-03-0270.pdf>. Acesso em: 29 de set. 2017.

______ et al. Posvenção: uma nova perspectiva para o suicídio. Revista Brasileira de
Psicologia, Salvador, v.2, n. 2, p. 48-60, 2015. Disponível em: <http://revpsi.org/wp-
content/uploads/2015/12/Fukumitsu-et-al.-2015-Posvenção-uma-nova-perspectiva-para-o-
suicídio-Posvenção-uma-nova-perspectiva-para-o-suicídio.pdf>. Acesso em: 03 out. 2017.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisas. 2008. Disponível em:
<https://professores.faccat.br/moodle/pluginfile.php/13410/mod_resource/content/1/como_ela
borar_projeto_de_pesquisa_-_antonio_carlos_gil.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2017.

GODOY, Arilda Schmidt. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. 1995. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n3/a04v35n3>. Acesso em: 21 out. 2017.
28

GONÇALVES, Camila Salles; WOLFF, José Roberto; AMEIDA, Wilson Castello de. Liçôes
de psicodrama: introdução ao pensamento de J. L. Moreno. 1988. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/46593542/LICOES-DE-PSICODRAMA>. Acesso em: 22 out.
2017.

MARTIN, Ángeles. Manual Prático de Gestalt. Tradução de Lúcia M. Endlinch Orth.


Petrópolis: Vozes, 2008.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do suicídio: manual para médicos


clínicos gerais. Genebra, 2000. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/67165/7/WHO_MNH_MBD_00.1_por.pdf> Acesso
em: 29 de set. 2017.

PADOVAN, Maria Aparecida Diogo. Psicodinâmica dos transtornos de personalidade: um


olhar psicodramático. Olinda: Livro Rápido, 2016.

SILVA, Karina de Fátima Aparecida da; ALVES, Mariany Aparecida; COUTO, Daniela
Paula do. Suicídio: uma escolha existencial frente ao desespero humano. Pretextos: Revista
da Graduação em Psicologia da PUC Minas, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, jul./dez. 2016.
Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/download/13618/10512>. Acesso
em: 03 out.2017.

SILVA, Victor R C. Escola paulista de psicodrama. 1987. Disponível em:


<http://www.epp.psc.br/suicidio.htm>. Acesso em: 02 nov. 2017.

VIDAL, C. E. L.; GONTIJO, E. D. Tentativas de suicídio e o acolhimento nos serviços de


urgência: a percepção de quem tenta. Caderno de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.2, n. 21,
p. 108-114. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cadsc/v21n2/02.pdf>. Acesso
em: 29 de setembro de 2017.

MALLAUER, A. MALISKA, M. E. Suicídio: um desafio para profissionais de saúde.


Florianópolis: Pandion, 2012.

Potrebbero piacerti anche