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XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012

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CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS AO FILÓSOFO E AO EDUCADOR:


REFLEXOES DE KANT E FOUCAULT SOBRE O ESCLARECIMENTO
APRESENTADAS NO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL

Cláudio Roberto Brocanelli


Universidade Estadual Paulista – UNESP/Marília

Resumo: Por meio deste artigo pretendo oferecer e promover uma discussão iniciada
por Immanuel Kant no século XVIII, a qual possibilita repensar nossa educação atual,
atrelada à sociedade da informação e às novas necessidades humanas recorrentes desta
mesma sociedade, o que implica numa outra postura didática e pedagógica. Pensar uma
escola que oriente as pessoas em uma formação mais humana é de suma importância em
nossos dias, especialmente uma formação dos próprios educadores que tenham
condições de pensar sobre si e sua própria atuação na escola e no mundo de forma que
tenham a coragem de ver, ler e sentir seu próprio presente por conta própria. Nesse
sentido, completando a proposta de Kant sobre a coragem de orientar-se por meio do
próprio entendimento e de chegar à emancipação, Michel Foucault indica uma nova
forma que não se alimenta somente de dados e que não se limita a descrever ou analisar
a situação atual, mas que integra o ator no seu momento presente e diante de um
contexto histórico concreto; a esta forma de pensar ele chamou de ontologia do
presente, ou seja, uma possibilidade e capacidade de verificar o tempo e a história
presentes integrando-se a eles e perguntando-se a si mesmo sobre este mesmo presente
no qual todos estão inseridos. A ontologia do presente apresentada e indicada por
Foucault recebe destaque neste texto, pois é uma nova possibilidade de integração dos
professores e estudantes à sua realidade, com todos os seus problemas e desafios,
especialmente os derivados da educação como formação humana. Desse modo, na
atualidade é preciso a coragem de servir-se do próprio entendimento e fazer uma
ontologia do presente, pensando a própria condição.
Palavras-chave: Educação; Emancipação; Ontologia do Presente.

A reflexão aqui apresentada é recorrente, em grande medida, de discussões em


sala de aula com os alunos do curso de Licenciatura em Pedagogia, na disciplina de
Filosofia da Educação e de reuniões com professoras de uma escola pública municipal
em Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) como atividade do “Programa de
desenvolvimento profissional de formadores e professores dos anos iniciais do Ensino
Fundamental no Local de trabalho: uma parceria entre Universidade-Escola” (CNPq –
proc. 400819/2010-4) a partir da resposta de Kant à pergunta mais pertinente de seu
século “O que é esclarecimento?”. Destaco a importância do pensamento sobre a
educação, especialmente nos dias atuais por parte dos professores e futuros professores,
pois, sem esta dimensão, será muito difícil a construção de uma escola que realize a
crítica a todas as estratégias e planos instituídos, bem como a si mesma como instituição
governamental. É fundamental, na função de educador, a reflexão permanente e

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persistente sobre a própria atuação daquele que se dedica à formação dos homens com a
perspectiva de uma crítica ao presente vivido.
A pergunta, nesse sentido, não pode ser elaborada somente para os outros e
também a sua resposta não pode ser direcionada a alguém muito estranho e distante da
realidade em que cada educador vive. Esta é uma pergunta, ainda que em outro
momento histórico e com outras palavras, que deve ser interiorizada, numa forma
filosófica de reflexão a fim de inquirir sobre o próprio ofício neste momento presente,
com todos os seus problemas e desafios. Para o próprio Kant, no século XVIII, esta não
era meramente a resposta a uma pergunta, mas o seu posicionamento diante de uma
questão importante da época, devendo esta ser pensada por todos aqueles que estavam
envolvidos com os ambientes acadêmicos e, principalmente, os que se consideravam já
esclarecidos.
No que se refere a Kant, seu pensamento é marco histórico na Europa do século
XVIII no que diz respeito à filosofia e aos ambientes acadêmicos. Vale ressaltar que seu
pensamento é motivador à filosofia atual, além da grande contribuição à educação e a
todo aquele que se dedica à formação dos homens, em especial, o educador escolar.
Não é possível ensinar filosofia, mas somente filosofar. Quero aqui pensar na
questão da formação e da preocupação do educador no sentido de refletir com seus
estudantes sobre o que eles vivem em seu momento, estimando uma formação que
busca o pensar, o filosofar sobre a vida como um todo, não meramente com as
preocupações dos programas e planos de aula ou de governo que determinam o que
deve ser vivido, ensinado, aprendido, pensado, etc., legitimando sempre o que já está
nas intenções universais na espécie de uma razão pura e nas normas sociais, mas, além
disso, desenvolver uma crítica da vida prática (práxis).
É preciso despertar, na academia em especial, a atitude do educador filósofo. O
educador filósofo é este que sabe o que ensina e o que é pensado no momento presente
de sua vida. Sem preocupações exageradas sobre as ações didáticas de ensinar, pois não
é sempre que se ensina algo e, quando se ensina, nem sempre alguém está aprendendo,
ele deve focar suas ações e atividades escolares no sentido do pensamento e de uma
razão prática, de ‘ensinar’ uma atitude filosófica diante dos fatos da vida, uma
possibilidade de crítica ao que já foi aprendido em outros momentos para que os
estudantes sejam instigados a pensar, a filosofar como diz Kant, sobre o que eles
mesmos vivem, sobre o que aprenderam, sobre o que assimilaram, sobre o que
aceitaram, sobre o que não perguntam ‘o que é’ e se é mesmo desse modo que deveriam

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ser as coisas. Enfim, o pensamento, o filosofar, constitui-se de uma admiração diante


dos desafios que a sociedade atual apresenta e na possibilidade de crítica às ações que
orientam a vida e governam controlando o juízo das pessoas.
Assim, Kant destaca duas atitudes importantes do homem diante da sociedade e
seus preceitos: é preciso a decisão e a coragem. A decisão, na forma de uma disposição,
permite a saída da dependência aos outros para uma ação pensada por si mesmo; é a
saída da menoridade para a maioridade que se expressa na condição humana de tomar
decisões e fazer escolhas sem a ajuda permanente de outrem. No entanto, isso exige a
outra atitude: a coragem. Ter coragem de servir-se do próprio entendimento, eis o
primeiro movimento que transforma a condição de dependente para a de independente,
de menoridade para maioridade.

Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é


culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento
sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa
menoridade se a causa dela não se encontra na falta de decisão e coragem de
servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem a coragem
de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento
[Aufklärung]. (KANT, 1784, p.01).

Kant chama a atenção de seus companheiros acadêmicos e de todos os que


prezam por uma educação que seja formativa no sentido de criar oportunidades e
motivação para a saída da menoridade. Tornar as pessoas corajosas ou possibilitar que
elas descubram caminhos para isso é a forma de uma educação emancipadora: ou seja,
permitir a liberdade e a expressão da razão, da própria razão, sem limitar as experiências
àquilo que está determinado por uma única forma de vida legitimada e legitimadora.
Todas as ações (ou falta de ações) que não se fundamentem nesta decisão,
coragem e liberdade, são guiadas pela preguiça e covardia frente à capacidade humana
de fazer suas próprias escolhas, acostumando tanto os tutores como os subalternos num
regime de dependência, de menoridade destes últimos em função do comando daqueles.
Além disso, pensando a escola, o próprio pensar e a docência, o educador deve
incomodar, indicando as ações e comportamentos legitimados e legitimadores de uma
sociedade acomodada aos costumes infundados e preceituados. A preguiça e a covardia
estão presentes nos momentos em que deixamos as oportunidades para depois;
deixamos os afazeres para depois; deixamos as responsabilidades para depois; deixamos
esta atitude e esta ação como se ela correspondesse somente a uma função dos outros.

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Assumir compromisso com o outro e com toda a humanidade requer esta atitude
corajosa e a disposição ao pensamento, ao filosofar e à construção de um pacto social
em função do homem.
Kant, mesmo em momentos ociosos, ocupava-se em pensar, em permitir que as
ideias já iniciadas e que necessitavam ainda de uma resposta consistente, ressurgissem
para que as formulasse da melhor forma, segundo seus parâmetros. Em sua carta a
Marcus Herz, ele afirma fazer “uma pequena narrativa sobre o modo de ocupação dos
meus pensamentos, os quais, em horas de ócio, são a razão do adiamento da
correspondência.” (KANT, 2004, p. 131). É bem sabido que também a tarefa
educacional exige, espontaneamente, nos momentos de descanso, a lembrança de
desafios, problemas e ações relativas à escola. No entanto, vale ressaltar que os
professores devem uma dedicação a esta reflexão fundada na filosofia, nas perspectivas
de uma filosofia da educação que elabore a crítica ao mundo ‘administrado’ no qual
estão imersos atualmente. Lembro ainda de sua afirmação que diz: “nos intervalos entre
as minhas ocupações e o descanso de que tanto necessito, revi os planos das
considerações [...]” (idem). Entre as horas de ofício e as de descanso deve haver as de
ócio; porém, o que não se pode esquecer, é que há um compromisso e uma dívida com a
humanidade que deve ser constantemente resgatada e pensada por todos os que se
dedicam à formação dos homens no que respeita à crítica do seu presente.
A educação tem a função de fazer valer os predicados da vida humana; o homem
estabelece leis, normas e regras para que a vida entre todos seja mais justa e
fundamentada em valores humanos e culturais claramente estabelecidos. Aqui cumpre
também pensar como pode e o que pode ser assimilado e cumprido entre os homens de
modo que passem da menoridade à maioridade sem o risco de voltarem a apenas
obedecer a preceitos impostos pelas instituições, inclusive a escola.
Nesse sentido, a natureza humana está determinada a aspirar ao sumo bem e
deve descobrir as formas para que este bem se instaure na vida efetivamente. Para tanto,
deve o homem alcançar uma garantia de que suas ações não estão inclinadas a fazer o
mal aos demais; deve, constantemente, buscar o bem de si e de todos, satisfazendo não
o individual, mas o coletivo por meio da felicidade de todos. A orientação para este fim
baseia-se na lei moral, uma orientação que organiza a conduta humana para o bem na
forma de uma disposição para isso. O sentido para que isso se cumpra não está
determinado por um outro que prediz e impõe o que deve ser realizado pelos homens,

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mas estaria na descoberta (disposição) pessoal e sua realização prática. Nas palavras de
Kant:

A transgressão da lei seria, imediatamente, evitada; o mandato seria


cumprido; mas como a disposição de ânimo por meio da qual devem ocorrer
as ações não pode ser introduzida em nós por nenhum mandato e, por outro
lado, o aguilhão da atividade está aqui sempre à mão e é externo,
prescindindo a razão de qualquer esforço para recolher diante de tudo isso,
por meio da representação viva da dignidade da lei, as forças mediante as
quais possa resistir às inclinações, a maior parte das ações consoantes à lei
ocorreriam por temor, poucas por esperança e nenhuma por dever, não
existindo, nesse caso o valor moral das ações, do qual não só depende o valor
do indivíduo e até o do mundo aos olhos da suprema sabedoria. (KANT, s/d,
p. 233).

Esta característica no pensamento de Kant nos ajuda a pensar a administração


social atual, que não orienta as pessoas, mas as tornam submissas às decisões dos
outros, dos interesses políticos e religiosos. Uma crítica a esta forma estabelecida de
vida deve estar presente nos ‘momentos’ de educação dentro da escola especialmente,
espaço oportuno para virar do avesso as ideias assimiladas. O uso de uma palavra
legitimada ou de um discurso e função superior, diante de uma sociedade passiva, já
determinam de pronto as ações das pessoas. Kant, em sua crítica, indica a conduta das
pessoas como fantoches numa forma mecânica onde todos gesticulam, movimentam-se
para todos os lados, “mas vida alguma nas figuras se encontraria”. Diante disso, qual
poderia ser a conduta, a atitude ou as atividades dos educadores para a reversão de
comportamento, também ele inserindo-se na questão engendrada?
A educação, como mostra esta reflexão, tem uma função importante na
sociedade na medida em que coloca a formação do homem primordialmente à frente de
suas questões e desafios. Kant defende a preocupação do educador como sendo alguém
que, antes de pensar os planos de aula, a lei da aula e suas normas burocratizadas,
elabore um pensamento e uma conduta para a educação moral, esta também não como
mera imposição de valores, mas como reflexão e autorreflexão, fazendo com que os
estudantes – as crianças podem ser iniciadas nisso – pensem por si mesmos,
perguntando-se sobre seus valores e as verdades instituídas, transmitidas de geração a
geração sem a averiguação filosófica. É preciso, e seria melhor, que os educadores
motivem a tendência do homem em usar sua razão para pensar por si sua própria
natureza e sua conduta na vida efetivamente.

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Não sei por que os educadores da juventude não fizeram há mais tempo uso
dessa tendência da razão em empreender com satisfação o exame mais sutil
das questões práticas propostas e por que, depois de ter posto como base um
catecismo meramente moral, não rebuscaram nas biografias antigas e
modernas para dispor de documentos dos deveres propostos, mediante os
quais, principalmente comparando ações semelhantes em circunstâncias
diversas, poriam em jogo o juízo dos seus educandos no discernimento do
maior ou menor conteúdo moral dessas ações. Concluiriam com isso que,
inclusive a primeira juventude, ainda não amadurecida para a especulação,
logo se torna muito mais perspicaz e, além disso, chega a interessar-se diante
do sentido que possui do progresso de sua faculdade de julgar. (KANT, s/d,
p. 241).

A iniciação à investigação e ao pensamento sobre a condição humana e todo o


seu comportamento em sociedade deve compor os planos de ensino, não como aula
somente com as preocupações exageradas de um ensino objetivo, do objetivamente
posto, mas como algo que auxilie na reflexão permanente dos modelos seguidos e de si
mesmo na forma de uma inflexão da própria conduta.
Naturalmente o homem possui uma tendência positiva de orientação de sua
própria conduta, apesar de uma inclinação ao mal e de adquirir, conforme a sua
convivência, maus costumes que norteiam de forma distorcida o seu comportamento.
Entretanto, Kant salienta que “duas coisas enchem o ânimo de crescente admiração e
respeito, veneração sempre renovada quanto com mais frequência e aplicação delas se
ocupa a reflexão: por sobre mim o céu estrelado; em mim a lei moral” (KANT, sem
data, 253). Não há saída para o homem a não ser perceber estas duas realidades, e
apreciá-las; é o que há como verdades imutáveis pelas mãos humanas e o que, no que se
refere à lei moral, há de mais certo para uma vida digna dos homens em todas as suas
relações.
Quando falamos em vida digna, do ponto de vista moral, podemos recorrer a
questões morais e éticas que orientam nossa conduta e nossas relações; isso implica
dizer que existe uma internalização da moral que faz referência a nós mesmos e aos
outros, produzindo relações mais humanizadas. Por outro lado, também pensando com
Kant, quero destacar que há uma dignidade humana que condiz com aquilo que é
pensado, ou seja, com a capacidade de pensar por conta própria, como se vê em sua
resposta à pergunta “o que é esclarecimento?”.
Com o intuito de contribuir à resposta de Kant, Michel Foucault aprimora a
reflexão e apresenta uma nova possibilidade ao educador, a de pensar as questões não
somente percebendo a lei moral diante de si, mas por meio de uma ontologia de si.

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Em seu texto “O que é o Iluminismo”, Foucault inicia dizendo surgir um novo


tipo de questão no campo da reflexão filosófica; a questão é a que é posta pelo próprio
homem (filósofo) sobre si mesmo e seu momento presente. A pergunta feita por muitas
pessoas da academia do século XVIII, debatendo-se entre eles mesmos, recebe a
resposta de Kant já com uma contribuição: não estamos esclarecidos, mas em um
processo lento de esclarecimento, o qual exige a iniciativa, a atitude de cada um,
corajosamente, libertando-se da menoridade. Assim, Foucault retoma a reflexão e quer
mostrar a questão da teleologia imanente ao processo mesmo da história, ou seja, como
pode ser alcançado este fim do homem, quem pode buscar este fim e como fazê-lo? Ou
ainda, este processo é referente a cada homem ou à humanidade?
A partir desta motivação, Foucault apresenta a questão mais interessante que
pode servir de ensaio à inflexão de todos nós educadores do presente:

A questão que me parece surgir pela primeira vez neste texto de Kant, é a
questão do presente, a questão da atualidade: que é que se passa hoje? Que é
que se passa agora? E o que é este “agora”, no interior do qual estamos uns e
outros; e quem define o momento em que escrevo? (FOUCAULT, 1994, p.
103).

Foucault identifica uma forma inaugurada por Kant para se pensar


filosoficamente a história, seus desafios; entretanto, não é pensar algo distante no tempo
e no espaço, mas pensar o presente, o momento em que cada um de nós está inserido,
desvelando o que se passa nele, no agora. Esta indicação possibilita um diagnóstico do
presente e uma reflexão mais consistente a partir daí, ou seja, a pergunta é feita no
sentido de verificar “o que é, então, precisamente, este presente ao qual pertenço?” Não
é simplesmente buscar uma resposta a uma pergunta, mas possibilitar perceber o que, no
presente, faz sentido para uma reflexão filosófica. No âmbito educacional, o que pode
ser considerado como sentido para uma reflexão ou o que está proporcionando a
reflexão na escola? O que é ensinado, o que é investigado, o que inicia os jovens no
pensamento sobre si e o mundo?
Outra questão inerente a esta anterior diz respeito à coragem de, no momento em
que o autor da questão a faz aos demais, ele mesmo fazer parte deste processo, ao
mesmo tempo, como elemento e ator. Como já destacado, não é uma pergunta aos
outros, mas algo que passa primeiramente por aquele que a elabora; é dizer, ainda, qual
a conduta dos educadores? É algo que repete, que reproduz as questões já pensadas ou a
educação privilegia repensar sobre o já instituído, até mesmo o próprio ensino? Pois,

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considerar-se esclarecido é o mesmo que acreditar que sempre ensina, sem nunca
aprender.
Foucault pondera em resumo o que aparece no texto de Kant: a questão do
presente como acontecimento filosófico ao qual pertence o filósofo que fala,
problematizando a sua própria atualidade discursiva. A tarefa educacional instaura-se
agora em questionar qual é a ‘minha atualidade’? Qual é o sentido desta atualidade? E o
que é que eu faço quando falo desta atualidade? Neste sentido, não há muitas
possibilidades em perguntar qual a melhor ou pior educação dos séculos anteriores, mas
colocar em questão o momento presente, a escola que temos, a educação que temos e,
mais do que isso, o ofício que temos e exercemos dentro deste espaço ‘educação’ neste
tempo presente.
Ilustrando esta reflexão, vale pensar que em muitos casos – Kant também faz
referência em seu texto ao que vou dizer, especialmente tratando da Revolução Francesa
– a grande maioria segue de modo entusiasmado tudo aquilo que faz barulho, que
movimenta rápido, que ecoa pelas ruas e que se declara ‘salvador’ imediato das
situações vividas. O problema é: por que seguem? Pois, não compreendem o que está
acontecendo e nem buscam entender, mas simplesmente desejam seguir a multidão. Na
educação, de modo geral, aquilo que se prenuncia como um bom programa de ensino
recebe rapidamente um sem número de adeptos. Tal atitude mostra, como apresentado
inicialmente, a incapacidade e a covardia em não elaborar por conta própria e seu
entendimento o que pode revolucionar o seu presente e sua atuação, mas sendo ainda
um menor seguidor da cabeça alheia.
Assim, Foucault ressalta a existência de um novo modo de interrogação crítica
na modernidade, já inaugurada por Kant, que permite questionar “o que é a nossa
atualidade? Qual é o campo atual das experiências possíveis?” (FOUCAULT, 1994, p.
112). Aqui Foucault destaca a sua contribuição, afirmando que “não se trata mais de
uma analítica da verdade, mas trata-se agora do que se poderia chamar uma ontologia
do presente, uma ontologia de nós mesmos” (idem).
Este modo de questionamento da própria realidade, de investigação das formas
de vida administrada e da possibilidade desta ontologia do presente e de nós mesmos é o
modo com o qual os pensadores dos séculos XIX e XX pensaram o seu momento e a
sua atuação no mundo. Destaco aqui, em especial, os trabalhos e reflexões da Escola de
Frankfurt e de Nietzsche na busca de proporcionar, aos que da filosofia se

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aproximassem, a mesma possibilidade de escapar, ao menos em algum momento, da


sociedade administrada.
Neste mesmo sentido, cabe a nós, educadores, sustentar uma reflexão que
denuncie as formas de vida indigna, criando, indicando e despertando as pessoas para
novas formas livres e respeitosas. Espero que a leitura ou a discussão destas ideias
instiguem uma forma de pensar a educação e a profissão docente, devemos todos nós,
educadores, repensar as aulas, os planos, os programas de governo e todas as formas de
vida administrada para, ao menos, inscrevermos outras propostas ou a sua denúncia,
imprimindo renúncias, coragem e um pensamento por conta própria como nos indicam
Kant e Foucault: a coragem de servir-nos do próprio entendimento e fazermos uma
ontologia do presente, pensando a nossa própria condição.

Referências
FOUCAULT, M. O que é o Iluminismo. «Qu’est-ce que les Lumières?», Magazine
Littéraire, nº 207, mai 1984, pp. 35-39. (Retirado do curso de 5 de Janeiro de 1983, no
Collège de France). Traduzido a partir de FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris:
Gallimard, 1994.
KANT, I. Dissertação de 1770. SANTOS, L. R. dos (Trad.). 2 Ed. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2004.
______. Resposta à pergunta: O que é o Iluminismo? In:
http://rgirola.sites.uol.com.br/Kant.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2012.
______. Carta a Marcus Herz. MARQUES, A. (Trad.). 2 ed. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2004.
______. Crítica da Razão Prática. BERTAGNOLI, A. (Trad.). Rio de Janeiro: Editora
Tecnoprint – Edições de Ouro, s/d.

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