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Resumo: Por meio deste artigo pretendo oferecer e promover uma discussão iniciada
por Immanuel Kant no século XVIII, a qual possibilita repensar nossa educação atual,
atrelada à sociedade da informação e às novas necessidades humanas recorrentes desta
mesma sociedade, o que implica numa outra postura didática e pedagógica. Pensar uma
escola que oriente as pessoas em uma formação mais humana é de suma importância em
nossos dias, especialmente uma formação dos próprios educadores que tenham
condições de pensar sobre si e sua própria atuação na escola e no mundo de forma que
tenham a coragem de ver, ler e sentir seu próprio presente por conta própria. Nesse
sentido, completando a proposta de Kant sobre a coragem de orientar-se por meio do
próprio entendimento e de chegar à emancipação, Michel Foucault indica uma nova
forma que não se alimenta somente de dados e que não se limita a descrever ou analisar
a situação atual, mas que integra o ator no seu momento presente e diante de um
contexto histórico concreto; a esta forma de pensar ele chamou de ontologia do
presente, ou seja, uma possibilidade e capacidade de verificar o tempo e a história
presentes integrando-se a eles e perguntando-se a si mesmo sobre este mesmo presente
no qual todos estão inseridos. A ontologia do presente apresentada e indicada por
Foucault recebe destaque neste texto, pois é uma nova possibilidade de integração dos
professores e estudantes à sua realidade, com todos os seus problemas e desafios,
especialmente os derivados da educação como formação humana. Desse modo, na
atualidade é preciso a coragem de servir-se do próprio entendimento e fazer uma
ontologia do presente, pensando a própria condição.
Palavras-chave: Educação; Emancipação; Ontologia do Presente.
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persistente sobre a própria atuação daquele que se dedica à formação dos homens com a
perspectiva de uma crítica ao presente vivido.
A pergunta, nesse sentido, não pode ser elaborada somente para os outros e
também a sua resposta não pode ser direcionada a alguém muito estranho e distante da
realidade em que cada educador vive. Esta é uma pergunta, ainda que em outro
momento histórico e com outras palavras, que deve ser interiorizada, numa forma
filosófica de reflexão a fim de inquirir sobre o próprio ofício neste momento presente,
com todos os seus problemas e desafios. Para o próprio Kant, no século XVIII, esta não
era meramente a resposta a uma pergunta, mas o seu posicionamento diante de uma
questão importante da época, devendo esta ser pensada por todos aqueles que estavam
envolvidos com os ambientes acadêmicos e, principalmente, os que se consideravam já
esclarecidos.
No que se refere a Kant, seu pensamento é marco histórico na Europa do século
XVIII no que diz respeito à filosofia e aos ambientes acadêmicos. Vale ressaltar que seu
pensamento é motivador à filosofia atual, além da grande contribuição à educação e a
todo aquele que se dedica à formação dos homens, em especial, o educador escolar.
Não é possível ensinar filosofia, mas somente filosofar. Quero aqui pensar na
questão da formação e da preocupação do educador no sentido de refletir com seus
estudantes sobre o que eles vivem em seu momento, estimando uma formação que
busca o pensar, o filosofar sobre a vida como um todo, não meramente com as
preocupações dos programas e planos de aula ou de governo que determinam o que
deve ser vivido, ensinado, aprendido, pensado, etc., legitimando sempre o que já está
nas intenções universais na espécie de uma razão pura e nas normas sociais, mas, além
disso, desenvolver uma crítica da vida prática (práxis).
É preciso despertar, na academia em especial, a atitude do educador filósofo. O
educador filósofo é este que sabe o que ensina e o que é pensado no momento presente
de sua vida. Sem preocupações exageradas sobre as ações didáticas de ensinar, pois não
é sempre que se ensina algo e, quando se ensina, nem sempre alguém está aprendendo,
ele deve focar suas ações e atividades escolares no sentido do pensamento e de uma
razão prática, de ‘ensinar’ uma atitude filosófica diante dos fatos da vida, uma
possibilidade de crítica ao que já foi aprendido em outros momentos para que os
estudantes sejam instigados a pensar, a filosofar como diz Kant, sobre o que eles
mesmos vivem, sobre o que aprenderam, sobre o que assimilaram, sobre o que
aceitaram, sobre o que não perguntam ‘o que é’ e se é mesmo desse modo que deveriam
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Assumir compromisso com o outro e com toda a humanidade requer esta atitude
corajosa e a disposição ao pensamento, ao filosofar e à construção de um pacto social
em função do homem.
Kant, mesmo em momentos ociosos, ocupava-se em pensar, em permitir que as
ideias já iniciadas e que necessitavam ainda de uma resposta consistente, ressurgissem
para que as formulasse da melhor forma, segundo seus parâmetros. Em sua carta a
Marcus Herz, ele afirma fazer “uma pequena narrativa sobre o modo de ocupação dos
meus pensamentos, os quais, em horas de ócio, são a razão do adiamento da
correspondência.” (KANT, 2004, p. 131). É bem sabido que também a tarefa
educacional exige, espontaneamente, nos momentos de descanso, a lembrança de
desafios, problemas e ações relativas à escola. No entanto, vale ressaltar que os
professores devem uma dedicação a esta reflexão fundada na filosofia, nas perspectivas
de uma filosofia da educação que elabore a crítica ao mundo ‘administrado’ no qual
estão imersos atualmente. Lembro ainda de sua afirmação que diz: “nos intervalos entre
as minhas ocupações e o descanso de que tanto necessito, revi os planos das
considerações [...]” (idem). Entre as horas de ofício e as de descanso deve haver as de
ócio; porém, o que não se pode esquecer, é que há um compromisso e uma dívida com a
humanidade que deve ser constantemente resgatada e pensada por todos os que se
dedicam à formação dos homens no que respeita à crítica do seu presente.
A educação tem a função de fazer valer os predicados da vida humana; o homem
estabelece leis, normas e regras para que a vida entre todos seja mais justa e
fundamentada em valores humanos e culturais claramente estabelecidos. Aqui cumpre
também pensar como pode e o que pode ser assimilado e cumprido entre os homens de
modo que passem da menoridade à maioridade sem o risco de voltarem a apenas
obedecer a preceitos impostos pelas instituições, inclusive a escola.
Nesse sentido, a natureza humana está determinada a aspirar ao sumo bem e
deve descobrir as formas para que este bem se instaure na vida efetivamente. Para tanto,
deve o homem alcançar uma garantia de que suas ações não estão inclinadas a fazer o
mal aos demais; deve, constantemente, buscar o bem de si e de todos, satisfazendo não
o individual, mas o coletivo por meio da felicidade de todos. A orientação para este fim
baseia-se na lei moral, uma orientação que organiza a conduta humana para o bem na
forma de uma disposição para isso. O sentido para que isso se cumpra não está
determinado por um outro que prediz e impõe o que deve ser realizado pelos homens,
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mas estaria na descoberta (disposição) pessoal e sua realização prática. Nas palavras de
Kant:
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Não sei por que os educadores da juventude não fizeram há mais tempo uso
dessa tendência da razão em empreender com satisfação o exame mais sutil
das questões práticas propostas e por que, depois de ter posto como base um
catecismo meramente moral, não rebuscaram nas biografias antigas e
modernas para dispor de documentos dos deveres propostos, mediante os
quais, principalmente comparando ações semelhantes em circunstâncias
diversas, poriam em jogo o juízo dos seus educandos no discernimento do
maior ou menor conteúdo moral dessas ações. Concluiriam com isso que,
inclusive a primeira juventude, ainda não amadurecida para a especulação,
logo se torna muito mais perspicaz e, além disso, chega a interessar-se diante
do sentido que possui do progresso de sua faculdade de julgar. (KANT, s/d,
p. 241).
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A questão que me parece surgir pela primeira vez neste texto de Kant, é a
questão do presente, a questão da atualidade: que é que se passa hoje? Que é
que se passa agora? E o que é este “agora”, no interior do qual estamos uns e
outros; e quem define o momento em que escrevo? (FOUCAULT, 1994, p.
103).
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considerar-se esclarecido é o mesmo que acreditar que sempre ensina, sem nunca
aprender.
Foucault pondera em resumo o que aparece no texto de Kant: a questão do
presente como acontecimento filosófico ao qual pertence o filósofo que fala,
problematizando a sua própria atualidade discursiva. A tarefa educacional instaura-se
agora em questionar qual é a ‘minha atualidade’? Qual é o sentido desta atualidade? E o
que é que eu faço quando falo desta atualidade? Neste sentido, não há muitas
possibilidades em perguntar qual a melhor ou pior educação dos séculos anteriores, mas
colocar em questão o momento presente, a escola que temos, a educação que temos e,
mais do que isso, o ofício que temos e exercemos dentro deste espaço ‘educação’ neste
tempo presente.
Ilustrando esta reflexão, vale pensar que em muitos casos – Kant também faz
referência em seu texto ao que vou dizer, especialmente tratando da Revolução Francesa
– a grande maioria segue de modo entusiasmado tudo aquilo que faz barulho, que
movimenta rápido, que ecoa pelas ruas e que se declara ‘salvador’ imediato das
situações vividas. O problema é: por que seguem? Pois, não compreendem o que está
acontecendo e nem buscam entender, mas simplesmente desejam seguir a multidão. Na
educação, de modo geral, aquilo que se prenuncia como um bom programa de ensino
recebe rapidamente um sem número de adeptos. Tal atitude mostra, como apresentado
inicialmente, a incapacidade e a covardia em não elaborar por conta própria e seu
entendimento o que pode revolucionar o seu presente e sua atuação, mas sendo ainda
um menor seguidor da cabeça alheia.
Assim, Foucault ressalta a existência de um novo modo de interrogação crítica
na modernidade, já inaugurada por Kant, que permite questionar “o que é a nossa
atualidade? Qual é o campo atual das experiências possíveis?” (FOUCAULT, 1994, p.
112). Aqui Foucault destaca a sua contribuição, afirmando que “não se trata mais de
uma analítica da verdade, mas trata-se agora do que se poderia chamar uma ontologia
do presente, uma ontologia de nós mesmos” (idem).
Este modo de questionamento da própria realidade, de investigação das formas
de vida administrada e da possibilidade desta ontologia do presente e de nós mesmos é o
modo com o qual os pensadores dos séculos XIX e XX pensaram o seu momento e a
sua atuação no mundo. Destaco aqui, em especial, os trabalhos e reflexões da Escola de
Frankfurt e de Nietzsche na busca de proporcionar, aos que da filosofia se
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Referências
FOUCAULT, M. O que é o Iluminismo. «Qu’est-ce que les Lumières?», Magazine
Littéraire, nº 207, mai 1984, pp. 35-39. (Retirado do curso de 5 de Janeiro de 1983, no
Collège de France). Traduzido a partir de FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris:
Gallimard, 1994.
KANT, I. Dissertação de 1770. SANTOS, L. R. dos (Trad.). 2 Ed. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2004.
______. Resposta à pergunta: O que é o Iluminismo? In:
http://rgirola.sites.uol.com.br/Kant.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2012.
______. Carta a Marcus Herz. MARQUES, A. (Trad.). 2 ed. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 2004.
______. Crítica da Razão Prática. BERTAGNOLI, A. (Trad.). Rio de Janeiro: Editora
Tecnoprint – Edições de Ouro, s/d.
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