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FACIS
São Paulo
2012
1
Amanda Marchesini dos Reis
Simone Aparecida Baldavia Girotto
Monografia apresentada à
FACIS. Como requisito parcial
para obtenção do título de
especialista em Dependências,
Abusos e Compulsões.
São Paulo
2012
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AGRADECIMENTOS
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DEDICATÓRIA
Aos preciosos Maria Antonia e Nelson por todo apoio e exemplo de vida que
sempre foram transmitidos.
Para Fernando que com seu senso crítico direcionando a novas descobertas.
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“O autoconhecimento é a beleza que se ouve no silêncio”
Rosana Gabriel
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RESUMO
Este trabalho visa discutir por meio da pesquisa dos principais conteúdos da
Psicologia Analítica a forma como todos os indivíduos associam a comida com a
introjeção de afeto, com isso, algumas vezes a querem em excesso e às vezes a
repelem totalmente, sendo esse objeto a essência de Transtornos Alimentares e
Distúrbios Afetivos. Essa obra teve como inspiração o filme Gordos do diretor Daniel
Sánchez Arévalo.
A partir da Obra de Jung, podemos afirmar que o padrão de beleza é
internalizado no indivíduo no início da puberdade, e antes mesmo dessa fase ser
ultrapassada, a comida pode ser vista como amiga ou inimiga.
Atualmente, os padrões de beleza são impostos a todos os indivíduos e a
aceitação social não necessariamente está ligada ao afeto, mas a introjeção afetiva
pode ser confundida então com o padrão e consequentemente o objeto que localiza
entre a beleza e o afeto, a comida, caminha em um paradigma o qual será abordado
no decorrer do presente trabalho.
É com isso que a Resiliência e a Individuação se tornam a base para o
reconhecimento do Self e a introjeção de afeto sem ser associado aos padrões de
beleza.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 08
O FILME “GORDOS”
Apresentação das Personagens ............................................................ 10
Resumo do Filme ................................................................................... 10
CONCLUSÃO ................................................................................................. 35
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 37
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INTRODUÇÃO
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No segundo capítulo, os conceitos relacionados ao primeiro capítulo são
discorridos na forma de subtítulos visando elucidar os pontos cardiais dessa obra,
afeto, comida e beleza. Sendo os temas: Complexo Materno, Processo de
Individuação, Sombra, Símbolo, Persona, Arquétipo, Inconsciente Pessoal e
Inconsciente Coletivo, os temas abordados com a intenção de explicar através da
Teoria Analítica a formação dos processos de Dependências, Abusos e
Compulsões, assim como a relação entre comida, beleza e afetividade nos
indivíduos da sociedade ocidental contemporânea.
O capítulo final que encerra o presente trabalho faz a correlação entre os
conceitos apresentados nos capítulos anteriores unindo afeto, os sintomas de
transtornos alimentares e faz uma breve exemplificação dos temas utilizando as
personagens do filme inspiração para demonstrar como indivíduos pertencentes à
Sociedade Ocidental Contemporânea se comportam em relação a si mesmo e aos
outros. Demonstrando a relação sobre as dificuldades afetivas em ser aceito como
expressão do sintoma do transtorno alimentar e a análise das personagens do filme
”Gordos”, encerra o presente trabalho.
Com todas essas elucidações e os conceitos da Psicologia Analítica
apresentada, é possível se concluir uma possível forma de lidar com a imagem
individual de si mesmo, através da aceitação da imagem corporal e do padrão de
beleza atual, que aliena e classifica os indivíduos como bons ou maus.
Sendo assim, através da aceitação dessas questões, é possível a
identificação dos padrões e a criação de identidade própria independentemente dos
padrões de beleza, não relacionando esse tópico com a aceitação e rejeição de
afeto.
A afetividade é uma questão ligada aos padrões apresentados nesse
trabalho, e é possível ser um dos caminhos para solução dos Transtornos
Alimentares que acometem indivíduos que projetam na comida, a relação inicial de
buscar a aceitação e, por conseguinte o afeto e o desenvolvimento psíquico e de si
mesmo, de uma forma saudável, sem recorrer as DACs como objeto de
compensação.
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O FILME “GORDOS”
Resumo do Filme
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outro país, com a sua ausência, Núria engordou 20 kgs, alegando não saber viver
sozinha e com medo da reação do namorado por sua atual forma física.
Outro casal apresentado é Andrés e Pílar, noivos demonstrados como
cristãos religiosos, inicialmente não aceitam a proposta da terapia, mas Pílar sim,
alegando que não se sente amada e por isso, recorre ao alimento como fonte de
afetivo.
E, por último, Enrique é um obeso, mas já foi o inventor de um método
revolucionário para emagrecer, as pílulas Kiloaway, homossexual assumido, perde
os direitos e a sua fortuna quando volta a ganhar peso, demonstrando de imediato à
falha em seu produto, uma vez que para se perder peso, é necessário também um
acompanhamento psicológico e físico.
Com o desenrolar do filme, o método terapêutico funciona e todos perdem
peso, mas com isso os verdadeiros motivos que levaram todos os integrantes a
ganharem peso são revelados, e todos são basicamente ter o alimento como uma
fonte de afeto, tanto em uma tentativa desesperada de internalizá-lo quanto de
repelí-lo.
Assim, fica claro que casal religioso se utiliza do alimento para fazer com que
a noiva engorde e assim fique menos atraente sexualmente para seu noivo e ambos
possam manter a castidade pré-matrimonial. Quando ela perde peso, a castidade
não é mantida e por ser algo socialmente não aceito, volta a ganhar peso para
esconder a gravidez.
A obesidade era o fato que ligava a família de Párroco, e a filha que antes era
tida como não integrante na família e motivo de abuso verbal por parte do irmão, se
torna um fator determinante na identidade grupal da família, retirando o filho magro
da mesma, quando comprovado através de um teste de DNA que não é realmente
filho biológico do pai.
Foi também através do alimento que Núria começou a sabotar seu
relacionamento amoroso, assim, engordando, encontrou uma forma para que seu
namorado a rejeitasse, por causa de sua figura física. Com o retorno do namorado e
a aceitação dele pela sua figura física, torna-se claro que a tentativa de sabotar seu
relacionamento falha, e Núria é a única a realmente perder peso.
O antigo garoto propaganda das pílulas milagrosas para perder peso, volta a
ganhar peso e assume a esposa do antigo sócio e se torna o assassino do mesmo,
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unindo com a psicopatologia da mulher, que aceita a morte do marido na tentativa
desesperada de ter alguém como companheiro, e o antigo homossexual assume sua
heterossexualidade.
Por último, o terapeuta percebe as falhas em sua terapia quando começa a
repelir sua esposa quando ela perde a forma física dada como ideal, já que por
conta da gravidez engorda alguns kilos e por isso, seu desejo pela mesma se perde,
deixando claro que a terapia era uma grande projeção do terapeuta em seus
pacientes por conta de sua não aceitação da figura física obesa, transmitindo essa
frustração aos seus pacientes.
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VISÃO DE IMAGEM CORPORAL, TRANSTORNOS COMPULSIVOS
ALIMENTARES E AFETO
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Afetividade
16
Tornando a falta, a angústia e a vontade em formas conscientes e possíveis
de se obter, a comida pode ser considerada um forte objeto, tanto pela facilidade em
encontrá-la quanto pelo prazer real que uma alimentação proporciona ao indivíduo
em âmbito físico, biológico e psíquico que permite ao indivíduo ter noção de si
mesmo, uma vez que sentidos físicos são mais intensos, facilmente percebidos e
aceitos.
A projeção tem, também, efeitos positivos. No dia-a-dia, ela facilita as
relações interpessoais. Além disso, quando supomos que alguma característica ou
qualidade está presente em uma pessoa, e constatamos, então, pela experiência,
que a suposição não tem fundamento, podemos aprender algo sobre nós mesmos.
(SHARP, 1993, p.127-8)
A compreensão de Jung acerca da projeção é, até certo ponto, próxima da
psicanálise, especialmente em seu aspecto estrutural, segundo Jung, “A projeção,
onde quer que os conteúdos subjetivos sejam transportados para o objeto, surgindo
como se a ele pertencesse, nunca é um ato voluntário” (JUNG, 2000, p. 146).
Embora a teoria das relações objetais não possuam um equivalente explicito
do SELF, sugeriu-se que este conceito é implícito ou que uma tal idéia é compatível
com relações objetais (SUTHERLAND, 1980).
As projeções uma vez transformadas em temas conscientes e perceptíveis ao
indivíduo podem provocar culpa e falta de equilíbrio, esbarrando no quesito
socialmente aceitável ou não. Como é o caso da manutenção da figura física
considerada bela (magreza). Fazendo a projeção, o cálculo inconsciente poderia ser
resumido em: se eu comer eu me sinto bem, mas tenho culpa por não ser magro,
prefiro ser infeliz, mas aceito pela sociedade, isso gera afeto.
A necessidade de retirar as projeções é, geralmente, indicada por
expectativas frustradas nos relacionamentos, acompanhadas de um forte afeto. Jung
era da opinião, contudo, que enquanto houver uma discordância óbvia entre aquilo
que imaginamos ser verdade e a realidade que se nos apresenta, não há
necessidade de se falar em projeções e menos ainda de retirá-las. (SHARP, 1993).
Com isso, é possível observar que o afeto e a comida possuem entre si uma
relação objetal inconsciente que adentra o campo consciente a partir do momento
que atinge o corpo na forma de sintoma, tanto em formas moderadas como a fome e
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em formas mais graves, como compulsões alimentares tema que será discutida a
seguir.
Compulsão Alimentar
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afetando tanto o mental como o corpo físico, criando defesas para combater os
sintomas apresentados, geralmente, inconscientemente. Uma dessas defesas é a
projeção e a compensação para melhor lidar com estes conflitos internos. Uma das
formas de compensação é eleger um “objeto de prazer” projetando suas dificuldades
em lidar com si mesmo. Cada indivíduo adquirirá um objeto, podendo eles ser a
comida, sexo, compras, álcool, etc., podendo desenvolver as dependências, abusos
e compulsões.
E é com o enfoque mente e corpo que desenvolveremos a visão que a
psicologia analítica nos trás sobre os transtornos alimentares.
Ao nascermos criamos a necessidade de desenvolver uma consciência
corporal, que inicialmente está intimamente relacionada aos cuidados básicos da
mãe (cuidadora) e se isso não ocorrer o indivíduo não desenvolverá a
conscientização corpórea (sua imagem como um todo), ativando complexos e
levando-o ao distanciamento de seu self, sua alma, sua essência. Desta forma,
criando um vazio interior que necessita ser preenchido com algo ou alguma coisa,
“objeto”, podendo desenvolver diversos tipos de compulsões e dependências para
suprir esta carência de si próprias.
Temos uma imagem arquetípica da grande mãe cuidadora, que será
desenvolvida ao longo de nossas vidas, mas os primeiros cuidados básicos serão
marcantes para a vida do bebê/criança. No caso da compulsão alimentar, se a mãe
não for capaz de reconhecer o seu corpo e feminilidade, consequentemente não
conseguirá se amar como seres femininos completos e não transmitiram o amor
necessário aos seus filhos, gerando um grande medo e irão profundas inconscientes
nestes primeiros momentos da vida da criança.
Desta forma, este afeto e carinho não transmitido pela mãe pode se
transforma na figura simbólica da comida, levando a anorexa rejeitar a comida e a
bulímica a socar a comida “goela abaixo” em atitudes desesperadoras na busca de
aceitação ou rejeição desta mãe.
Com a ingestão ou a falta do alimento/comida, o corpo projeta na estrutura
física as consequências pelo ato compulsivo, mostrando, claramente, sinais de
advertência que algo não está correto, já que a pessoa não consegue perceber as
alterações psíquicas que vem ocorrendo em seu processo de desenvolvimento.
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Assim, o corpo envia sinais de advertências que devem ser ouvidos e
obedecidos e não de ser ignorados. O corpo nos protege e nos guia aos mostrar
estes sinais e sintomas nos levando a uma tentativa de religação com nós mesmos,
com a alma/essência perdida, esse é o padrão de beleza.
A criança, em seu desenvolvimento inicial expressa toda a sua naturalidade
criativa de expressão, é sua alma expressando a sua vida plena e total. Com o
decorrer do desenvolvimento está naturalidade acaba sendo silenciada pelas
imposições inconscientes dos pais, da sociedade que já estão “adoecidos”, pois não
se consegue perceber esta expressão. Assim a criança se torna um adulto faminto e
vazio, buscando algo para preencher este buraco através de objetos simbólicos,
como a comida, compras, sexo, álcool, etc. Criando uma rejeição profunda de si e
do corpo.
Também a grandes exposições da criança a valores sociais como ter bom
emprego, ter estabilidade, ser bom esposa/esposa, ser bons pais, etc., desta forma
fazendo que o ser humano corra e corra indiscriminadamente atrás destes objetivos,
e isto, pode se tornar algo compulsivo transmitido a criança, se vendo responsável
em realizar os mesmos padrões de comportamento, buscando aprovações
exteriores.
Ao chegarmos a idade adulta desenvolvemos está mesma correria frenética
aos valores transmitidos que acaba nos servindo para afastar do trágico medo de
não sermos amados, causando grande terror interior que nos leva a
comportamentos autodestrutivos. Desta maneira, o adulto cresce acreditando que o
exterior, esquecendo de amar-se, não desenvolvendo seu potencial arquetípico.
Passando a buscar o amor externamente esquecendo-se de amar a si mesmo,
desenvolvendo a sensação de ser necessário agradar ao outro e esquecendo de si.
Woodmaan (2003, p. 67) afirma isto quando diz que:
O processo de crescer se torna um exercício de adivinhação de como
agradar os outros, em vez de uma expansão por meio de experiências. Não
há crescimento sem sentimentos autênticos. As crianças que não são
amadas em seu próprio ser não sabem como se amar. Quando se tornam
adultos, têm de aprender a alimentar sua criança perdida, a ser a sua própria
mãe.
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CONCEITOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Inconsciente Coletivo
Em seus escritos, Jung postula que existem fatores que nos são natos e até
instintivos, com os quais dependemos para nossa sobrevivência, como por exemplo,
o ato de sentirmos fome ou até mesmo a necessidade de socialização desde as
primeiras concepções de ego.
Estas reações e impulsos parecem ser, aparentemente, de natureza pessoal
muito íntima, e nós os consideramos apenas uma forma de comportamento
idiossincrásico. Na verdade, fundamenta-se num sistema instintivo pré-formado e
sempre ativo, característico do homem. Formas de pensamento, gestos de
compreensão universal e inúmeras atitudes seguem um esquema estabelecido
muito antes de o homem ter desenvolvido uma consciência reflexiva.
As maiorias dessas funções vitais que nos são herdadas fornecem um
equilíbrio inicialmente físico nos classificando em uma única origem, a de ser um
autentico ser humano. Ninguém nos ensina a ter fome ou mesmo a querer um
alimento quente e fresco, ou ainda não temos que passar por alguma situação
desagradável para sabermos que precisamos disso.
O próprio Jung explica essa questão com outra levantada: A maioria deles
nem conhece os pais e não tem ninguém para ensinar-lhes nada. Então por que
supor que seria o homem o único ser vivo privado de instintos específicos, ou que a
sua psique desconheça qualquer vestígio da sua evolução?
Uma vez esclarecido a necessidade de existir esses impulsos primários na
sobrevivência do ser humano, os pensamentos inatos a todos os indivíduos de uma
determinada sociedade, também se fazem necessários para uma sobrevivência
geral dos indivíduos que por semântica são únicos.
Pela questão do ser humano ser sociável de natureza, são postulados alguns
padrões e objetivos e essas “normas” que devem ser seguidas, de certa forma
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nivelam todos os indivíduos daquela sociedade, mas de certa forma, mesmo
nivelados continuam únicos com tantas propriedades possíveis.
Contudo, esses indivíduos teoricamente únicos, devem seguir as normas que
são comuns a todos, nesse processo, abandonam algumas de suas características e
adotam as do grupo. Esse processo, em suas palavras: “Como os instintos, os
esquemas de pensamentos coletivos da mente humana também são inatos e
herdados. E agem quando necessário, mais ou menos da mesma forma em todos
nós” (JUNG, 1919, p. 219–237).
Essa dualidade entre o que é herdado e comum a todos e o que é individual
faz a sociedade ser saudável, uma vez que, esse dualismo permite que haja essa
troca de informações sem que as características do self se dissolvam: E mesmo
então precisamos ter em conta o equilíbrio mental (ou "sanidade") da pessoa em
causa. Pois o resultado não poderá ser um nivelamento coletivo do indivíduo para
ajustá-lo às "normas" da sua sociedade, já que tal procedimento levá-lo-ia a uma
condição totalmente artificial. Uma sociedade saudável e normal é aquela em que as
pessoas habitualmente entram em divergência, desde que um acordo geral é coisa
rara de existir fora da esfera das qualidades humanas instintivas.
Também em sua teoria de Psicologia Analítica, muito do que é explicado
como Inconsciente coletivo provém da Filosofia grega, com o qual Jung explica
através dos Arquétipos as ideias centrais que lideram o ser humano. É através dos
arquétipos que os indivíduos possuem características que os nivelam e mantem
suas características individuais.
Como citado em O Homem e seus Símbolos, Jung chamou "o inconsciente
coletivo" isto é, a parte da psique que retém e transmite a herança psicológica
comum da humanidade. Estes símbolos são tão antigos e tão pouco familiares ao
homem moderno que este não é capaz de compreendê-los ou assimilá-los
diretamente.
Inconsciente Pessoal
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O inconsciente pessoal refere-se às camadas mais superficiais do
inconsciente. Seu conteúdo são experiências que não foram aceitas pelo ego e
foram reprimidas ou desconsideradas por diversos motivos. São conteúdos
dolorosos, esquecidos propositalmente e é constituído por diversos complexos.
Arquétipo
Jung em seus estudos observou que seus pacientes traziam conteúdos que
eram, por diversas vezes, imagens espontaneamente e temas semelhantes aos da
mitologia grega, mitologia egípcia, entre outras culturas. Diante destes fatos Jung
percebeu que todos os indivíduos possuem um “modelo original” ou “imagens
primordiais” que denominou como Arquétipos.
Arquétipo é uma fonte primária de energia organizadora da psique.
Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a
repetição e a elaboração dessas mesmas experiências. Eles se encontram isolados
uns dos outros, embora possam se interpenetrar e se misturar. São predisposições
natural que surgem na consciência como imagens, padrões ou motivos recorrentes e
universais que representam e simbolizam a experiência típica humana universal de
diferentes maneiras.
Todos os indivíduos herdam as mesmas imagens arquetípicas básicas,
universais, e no decorrer de suas vidas estes arquétipos, que são inconscientes,
passam a consciência se transformando em imagens arquetípicas, imagens estas
que se formam conforme as experiências de cada indivíduo, aparecendo assim às
diferenças individuais e essenciais criadas a partir destas experiências individuais.
Os arquétipos formam os complexos, pois constituem o núcleo de um
complexo atraindo para si experiências significativas para vida dos indivíduos.
Alguns dos arquétipos são da mãe, do pai, da criança, do herói, dos deuses,
do velho sábio, entre outros. São muitos os arquétipos gravados em nossa psique
em formas sem conteúdos que representam a possibilidade de um certo tipo de
percepção e ação (HALL E NOIRDBY 2005).
Hillman (1983) cita que o conceito de arquétipo como sendo fundamental na
obra de Jung, refere-se aos arquétipos como importante processo no funcionamento
psíquico e descreve o modo pelo qual percebemos e nos relacionamos com o
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mundo.
Complexo
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Existem diversos tipos de complexos atuando em nossa psique, mas Jung
aborda o complexo materno como um dos mais importantes na vida do indivíduo,
por isto descreveremos este complexo com mais atenção no próximo subtítulo.
Complexo Materno
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relações com irmãos. Mas ela nunca é esquecida, sendo sempre relembrada com as
figuras primárias contidas no mundo e comum a todos os seres humanos. São os
arquétipos, dentre eles, aquele que revive a dependência da mãe: o arquétipo da
grande mãe.
Portanto, a idéia de Complexo Materno é quando esse vínculo é trazido à
mente por alguma situação que força uma lembrança inconsciente dessa marca
negativa essencial do individuo. Seja nas relações sociais e afetivas posteriores ao
primeiro vínculo, ou simplesmente quando o arquétipo que simboliza a mãe é
colocado em pauta na vida do indivíduo.
O complexo materno apresenta certas características, como: ansiedade,
necessidade de quebra de contrato, agressividade, persecutoriedade e desrespeito
às regras sociais, portanto, pode-se afirmar que dentro deste complexo estão todas
as dependências e drogadições (SANTOS E MURO, 2004).
Existe um padrão que é arquetípico no complexo de inferioridade, no qual a
pessoa se acostuma com a forma destorcida de ganhar amor, que leva a uma
fixação nesse processo propiciando o auto-boicote. Este complexo está estritamente
associado à criação, rejeição dos pais e falta de afetividade, portanto, para que o
indivíduo possa suportar viver no complexo de inferioridade ele infla seu ego, ou
seja, aparenta uma superioridade que não possui.
Persona
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Uma atitude pode ser manifesta ou latente, mas esta atuando constantemente
a fim de orientar uma pessoa para uma situação ou um ambiente. Além disto, uma
atitude e uma combinação de fatores ou conteúdos psíquicos que terminarão a ação
nesta ou naquela direção definida. Quanto mais tempo uma atitude persiste e quanto
mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigências do meio, mais
habitual ela se torna. (STEIN 2006).
Desta forma podemos dizer que a persona pode ter um caráter positivo
quanto negativo. Se positivo proporcionará a pessoa se adequar as diversas
situações sociais, mas se negativas a pessoa se deixa tomar por este personagem
que acaba assumindo sua essência e passa a desempenhá-la em excesso e seu
ego passa a identificá-la como papel único, tornando-se alheio à sua natureza e vive
em estado de tensão em razão do conflito entre a persona superdesenvolvida e as
partes subdesenvolvidas de sua personalidade.
A persona serve também como proteção contra nossas características
internas as quais achamos que nos desabonam e, portanto, queremos esconder.
Resumindo a persona é um arquétipo de adaptação social que a princípio tem
o caráter do inconsciente coletivo e posteriormente vai se adequando ao
inconsciente pessoal, conforme as atitudes necessárias a serem tomadas no
cotidiano do indivíduo.
Sombra
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recursos internos para lidar com dificuldades emocionais, características estas
importante para o desenvolvimento do indivíduo.
Ao tornar-se consciente a sombra é integrada ao eu, o que faz com
que se opere uma aproximação à totalidade. A totalidade não é a perfeição,
mas sim ser completo. Pela assimilação da sombra, o homem como que
assume seu corpo, o que traz para o foco da consciência toda a sua esfera
animal dos instintos, bem como a psique primitiva ou arcaica, que assim não
se deixam mais reprimir por meio de ficções e ilusões. (JUNG, 1999, p 6-28).
Símbolo
Processo de Individuação
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afetividade, etc. É um mergulho no desconhecido, é ficar sem chão, é perder o
apoio.
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RELAÇÃO SOBRE AS DIFICULDADES AFETIVAS EM SER ACEITO
COMO EXPRESSÃO O SINTOMA DO TRANSTORNO ALIMENTAR E
A ANÁLISE DAS PERSONAGENS DO FILME GORDOS.
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unidade familiar, tem pela comida o afeto reconhecido e que guarda com muito zelo,
já que não o sente em nenhum outro objeto e pessoa.
A personagem de Núria sabota seu relacionamento através do objeto comida.
Engordando vinte quilogramas, sabe que não será aceita por seu namorado que
prefere as mulheres magras (dentro dos padrões de beleza). A sabotagem se deve
ao contato de si mesma (Self) e ao conhecimento do que quer e não quer (Processo
de Individuação) que estava sendo abafado pela figura do namorado que a mantinha
aos seus padrões.
Todas as personagens remotam ao terapeuta, que diz saber que todos
precisam de ajuda psicológica, por estarem fora dos padrões sociais de beleza.
Todos são obesos e gordos, o que os fazem ser alienados da sociedade e, portanto,
feios e mal amados.
Essa situação terapêutica se faz presente em sua própria família, onde sua
esposa, grávida, perde as figuras físicas de uma mulher engajada no padrão de
beleza social contemporâneo. Mesmo sendo algo reversível, sabe que não tem o
mesmo afeto de seu marido. Sendo então, o terapeuta a representação do padrão
social de beleza e que o projeta em sua própria esposa.
Portanto o padrão está intrínseco em todas as camadas da sociedade e em
todas as pessoas, não há um individuo que escape a essa realidade, e com isso,
pode-se afirmar que a fuga de tal padrão não é viável e sim, a aceitação como
primeiro passo à possível cura desse mal-estar e quiçá as Dependências, Abusos e
Compulsões.
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CONCLUSÃO
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possibilidade de projetar em objetos externos essa busca (dos elementos essenciais
primários). Nesse trabalho abordamos o objeto: comida.
A angústia de ser rejeitado por uma sociedade que impõe características que
padroniza indivíduos ou também os unifica associados aquele vazio inicial
provocado pela poda da alma (exemplo da menina) faz com que se desenvolvam as
Dependências, Abusos e Compulsões, sendo também uma forma de tentar
compensar e preencher esse vazio. Pode-se dizer que é uma forma de alimentar
esse vazio através da comida.
Exemplificando o uso do objeto comida com o filme Gordos de Daniel Sánchez
Arévalo a personagem Núria está em um processo de descobrimento de seu Self,
caminhando através da individuação e da descoberta de novas situações nunca
antes experimentadas, que só foi possível com a ausência do namorado.
Com isso, tenta deixar de agradá-lo com a sua forma física, comendo e
engordando, que antes era aceitável pelo namorado e pela sociedade e uma vez
interrompido esse ciclo de agradar ao próximo, encontra a sua própria identidade,
iniciando um processo de encontro de si mesma. (Resiliência).
Outro exemplo do uso é a esposa do terapeuta que enquanto possuía as
formas físicas atléticas socialmente aceitáveis recebia o afeto do marido, e mantinha
uma postura de não comer comidas não consideradas saudáveis. Quando perde
essas características, é desprezada pelo marido perdendo a aceitação e o afeto do
mesmo, começando a comer comidas gordurosas e não saudáveis.
Podemos perceber no casal, essa relação corpórea e afetiva, não foi
influenciada pelo padrão de beleza físico social atual. Mesmo havendo
consequências do reflexo dessa unidade nos filhos, não houve mudanças no peso
do marido, já que estava pleno com sua forma física e era aceito pela esposa e
reciprocamente.
Desta forma, podemos demonstrar que a relação que existe entre afeto e
transtornos alimentares, é um reencontro de si mesmo com as sensações de
descoberta primárias experimentadas na infância, e que retorna ao longo da vida na
forma de Dependências, Abusos e Compulsões, mais especificamente com o objeto
comida, abordados nesse presente trabalho.
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REFERÊNCIAS
CORNEAU, G.. Pai Ausente, Filho Carente. São Paulo: Brasiliense. 1999. (Trabalho
original publicado em 1989).
HALL, C. S.; NORDBY. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo. Cutrix: 2005.
HART, E. A.. Avaliando a Imagem Corporal. In Barrow & McGee. Medida e Avaliação
em Educação Física e Esportes. São Paulo. Manole, 2003.
JUNG, Carl Gustav. A Prática da Psicoterapia. 13ª. Edição. Rio de Janeiro. Vozes.
2011.
38
JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. Petrópolis: Vozes, 1991.
39
SCHILDER, P.. A Imagem do Corpo. São Paulo. Martins Fontes, 2009.
SUTHERLAND, J.. “The British Object Relations Theorists. Psychoanal. Assn., 28,
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THOMPSON, J. K.. The (mis) Measurement of Body Image. Body Image, 1, 7-14.
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40