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São Paulo
2018
Resumo
Conteúdo
1 Motivação: desigualdade salarial e desigualdade educacional 2
4 Considerações finais 30
1
1 Motivação: desigualdade salarial e desigualdade educacio-
nal
Os mercados de trabalho em nações periféricas têm experimentado importantes mudanças
nas últimas décadas tanto em termos de disparidades de remuneração, quanto de composição
da força laboral. A média de anos de estudo da população latino-americana tem se elevado
continuamente e variou 1,5 anos entre 1989 e 2009, alargando a parcela daqueles com níveis
de instrução altos e intermediários (Cruces et al., 2011). Essa expansão da oferta de mão de
obra mais qualificada, combinada à trajetória da demanda por esses trabalhadores, determina
seus diferencias de salário – o chamado “prêmio por qualificação”, frequentemente evocado
para denotar ganhos atribuídos à escolaridade.
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Tal como é proposto na influente formalização de John Roemer (1998), a desigualdade
de renda dos indivíduos é originada por fatores de responsabilidade, como nível educacio-
nal e horas trabalhadas por ano; e não responsabilidade, como background familiar (nível
educacional e ocupação dos pais), raça, gênero e região de nascimento. Particularmente, as
variáveis que fogem do controle dos agentes têm efeito que prevalece sobre as demais em
países periféricos como os da América Latina, que em comparação internacional ocupam as
posições de maiores índices de correlação entre a escolaridade de pais e seus filhos (Hertz et
al., 2007). No que tange a essa influência entre gerações, distingue-se dois tipos de efeitos: os
indiretos, por meio dos quais os anos de estudo dos pais determinam condições que por sua
vez afetam a escolaridade de seus filhos, como o nível de renda; e os diretos, que sugerem
uma relação direta de causalidade entre a educação de pais e filhos, por conta de fatores não
observáveis como o ambiente familiar.
O expressivo aumento dos anos de estudo verificados nessas nações durante o período
estudado é atribuído sobretudo à expansão da escolaridade secundária, após a ampliação
do ensino primário que ocorreu entre as décadas de 1960 e 1980 (Gasparini et al., 2011b). O
Brasil, que na comparação de Cruces et al. (2011) entre 16 países da região aparece como o
que mais aumentou a média de anos de estudo da população de 25 a 64 anos entre 1992 e
2009, com um acréscimo de aproximadamente 2,5 anos, pode servir como exemplo onde a
desigualdade educacional ainda guarda íntima relação com variáveis como a escolaridade
dos pais, raça e região.
Essa relação é visível a partir do que é exposto na tabela 1.1, reproduzida de Mahlmeister et
al. (2017). Depreende-se dela que negros continuam a pertencer a famílias com menor nível
de instrução: 64,8% dos filhos de pais sem escolaridade se declaram pretos ou pardos, embora
esse grupo corresponda a apenas 49,6% da amostra. Além disso, em média, filhos que moram
em áreas rurais continuam a descender de pais com baixa escolaridade: 24,9% dos filhos de
pais sem escolaridade moram em áreas rurais, enquanto esse grupo corresponde a apenas
15,3% de toda a amostra. E o nível de escolaridade também continua consideravelmente
menor no Nordeste: 37,5% dos entrevistados no local descendem de pais que não têm
escolaridade, enquanto apenas 13,7% dos que mencionaram ter pais com nível superior
completo moram nessa região.
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Figura 1.1 - Características dos filhos por escolaridade dos pais
Na comparação entre regiões, Veloso e Ferreira (2003) e Mahlmeister et al. (2017) atestam
que a discrepância entre Nordeste e Sudeste está na mobilidade verificada no grupo de
filhos de pais sem escolaridade: “no Nordeste, tal como havia sido observado em 1996, a
probabilidade em 2014 de o filho de um pai sem escolaridade permanecer na mesma categoria
de educação do pai continua maior do que o dobro daquela verificada no Sudeste: na primeira
região essa probabilidade é de cerca de 32%, enquanto na segunda ela é pouco acima de 11%”
(Mahlmeister et al., 2017).
Com o fim de apresentar em maiores detalhes a distribuição educacional dos filhos condi-
cional à educação dos pais, reproduzimos na tabela 1.2 a matriz de transição de educação de
Mahlmeister et al. (2017), que indica com dados de 2014 a fração de filhos em cada categoria
de educação dada a categoria do pai. Assim como já havia sido atestado para 1996 por Veloso
e Ferreira (2003), a tabela revela uma forte persistência nos extremos da distribuição. A com-
paração entre os dois anos aponta ainda duas tendências: “enquanto a parcela de filhos de
pais sem escolaridade que permaneceram na categoria de educação do pai sofreu redução de
34% em 1996 para 20% em 2014, a fração de filhos de pais que haviam concluído o ensino
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superior que repetiram o desempenho dos pais aumentou de 60% para 71% da amostra”
(Mahlmeister et al., 2017).
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são ditos qualificados. Tanto o primeiro quanto o segundo grupo são considerados não
qualificados.
Este artigo está organizado em quatro seções, incluindo esta introdução. A seção 2 trata dos
papéis que a oferta e a demanda por trabalhadores qualificados exercem sobre a desigualdade
de renda e quais as evidências de estimações que quantificam essas duas forças e o prêmio
salarial. A seção 3 explora especificamente o lado da demanda por qualificação, investigando
seus possíveis determinantes. A seção 4 conclui o trabalho com considerações finais.
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A desigualdade de renda, por sua vez, seguia na região uma tendência secular generalizada
de aumento até a primeira metade da década de 2000, quando a maioria dos países passa a
experimentar significativa queda nos indicadores de disparidades sociais e econômicas, ainda
que o índice de Gini sobre a renda da América Latina tenha chegado em 2010 a uma média
de 50,6, entre os mais altos do mundo (Gasparini et al., 2011a). Essa reversão de tendência
tem sido atribuída a uma variedade de fatores: entre políticas redistributivas, realinhamento
depois dos choques e reformas dos anos 1990, cenário internacional favorável em termos de
liquidez e preços de commodities na segunda metade da década de 2000, o canal do retorno
aos níveis educacionais que será explorado pode ser considerado um dos mais relevantes,
dado que os salários são a principal fonte de renda da maior parte das famílias da região
(Gasparini et al. 2011b). Lustig et al. (2012) associam à trajetória da desigualdade na América
Latina outros fatores como captura do Estado pela elite, imperfeições no mercado de capitais,
desigualdade de oportunidades, segmentação do mercado de trabalho e discriminação contra
mulheres e negros.
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Figura 2.2 - Variação, a partir do nível inicial em 1995, dos coeficientes de Gini para a
renda per capita e para os salários; 1995 – 2010.
O estudo de caso é empregado pelos autores em países do Leste Asiático e da América Latina.
Por abarcarem o período 1976-1996 no Brasil, não encontraram substantiva variação na
distribuição de renda; segundo eles, o efeito da remuneração marginal maior para séries mais
avançadas foi neutralizado por uma queda no retorno médio à educação. Para a Argentina,
atestaram que mudanças nos retornos à educação exerceram um efeito sutil equalizador
entre 1986 e 1992, e um mais pronunciado no sentido oposto, concentrando renda, no resto
da década de 1990. Essa abordagem, que avalia se os níveis de salários condicionais aos anos
de estudo configuram uma linha mais ou menos convexa, não deixa de ser também uma
forma de mensurar o prêmio por qualificação. Sob a mesma ótica e com dados mais recentes,
Battistón et al. (2011) confirmam a presença na maior parte dos países latino-americanos do
‘paradoxo do progresso’, cujo efeito de aprofundar a desigualdade de renda foi mais acentuado
na década de 1990 do que na seguinte.
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Ainda que tenha gerado controvérsias na academia, essa hipótese muitas vezes é apresen-
tada como regularidade empírica e constitui fonte importante onde bebeu a escola neoclás-
sica. No Brasil, o trabalho clássico de Langoni (1973a) repousa em uma explicação similar
para interpretar o aumento da desigualdade entre os anos 1960 e 1970: a premissa assumida
é a de que em qualquer economia com dois setores de comportamentos bem distintos em
termos de produtividade e de oferta de mão de obra, o processo de desenvolvimento irá gerar
desequilíbrios que tomam a forma de um aumento no salário relativo dos trabalhadores mais
qualificados. “À medida, porém, que a economia for reduzindo o seu ritmo, a expansão da
demanda [por qualificação] também se dará a uma taxa relativamente menor [...]. Ao mesmo
tempo, os investimentos passados em capital humano, realizados pelo setor de educação
formal, começarão a frutificar sob a forma de acréscimo da oferta de pessoal qualificado”
(Langoni, 1973b). Entre as evidências que respaldam os argumentos estão as diferenças
nas taxas observadas de crescimento do setor agrícola e do industrial ao longo da década, a
discrepância de composição da força de trabalho em termos de qualificação desses setores, os
ganhos salariais desproporcionalmente maiores daqueles com diploma do ensino médio ou
de faculdade e o aumento no grau de concentração de renda coincidente com a fase de maior
aceleração do crescimento. A interpretação desagua em implicações de políticas públicas
que propõem ênfase na ampliação da educação e de oportunidades. As considerações de
Langoni, entretanto, mostram-se frágeis se confrontadas com dados como os apresentados
por Barros et al. (2000), que evidenciam uma estabilidade da desigualdade de renda no país
de 1977 a 1999 – período marcado por crescimento mais lento da economia e aumento da
escolaridade média.
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Figura 2.3 - Mudança na média dos anos de estudo (25 a 64 anos)
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Tabela 2.1 - Mudanças na média dos anos de estudo e nos indicadores de desigualdade
educacional (25 a 65 anos)
média dos anos de estudo hiato dos anos entre os quintis gini da educação
1990s 2000s total 1990s 2000s total 1990s 2000s total
Argentina 0.4 0.8 1.2 1.2 -0.6 0.7 -0.003 -0.023 -0.026
Bolívia 0.4 0.1 0.5 0.4 -0.3 0.1 -0.067 -0.018 -0.085
Brasil 0.9 1.7 2.5 0.8 -0.8 0.0 -0.049 -0.078 -0.127
Chile 1.1 0.9 2.0 0.4 -1.0 -0.6 -0.044 -0.047 -0.090
Colômbia 0.7 0.4 1.0 0.3 0.0 0.3 -0.022 -0.013 -0.035
Costa Rica 0.5 1.3 1.8 0.2 1.1 1.4 -0.031 -0.032 -0.063
Equador 0.8 1.2 2.0 0.8 -0.6 0.3 -0.030 -0.032 -0.061
El Salvador 1.5 1.0 2.4 1.2 0.1 1.3 -0.097 -0.058 -0.154
Honduras 0.6 0.7 1.3 0.1 0.2 0.4 -0.045 -0.053 -0.098
México 1.6 0.7 2.3 1.5 -1.6 -0.2 -0.074 -0.047 -0.121
Nicarágua 0.5 0.6 1.1 0.1 1.4 1.5 -0.035 -0.021 -0.056
Panamá 0.8 0.8 1.6 0.2 0.3 0.5 -0.032 -0.023 -0.055
Paraguai 0.5 1.5 1.9 0.6 0.0 0.6 0.008 -0.031 -0.024
Peru 0.1 1.0 1.0 0.0 -0.8 -0.8 0.000 -0.050 -0.050
Uruguai 1.1 0.5 1.6 0.6 1.1 1.6 -0.044 -0.012 -0.055
Venezuela 1.1 0.7 1.8 -0.4 -0.3 -0.8 -0.048 -0.025 -0.073
média 0.8 0.9 1.6 0.5 0.1 0.4 -0.038 -0.035 -0.073
Fonte: Cruces et al. (2011) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).
Esse arcabouço viria a ser formalizado por Katz e Murphy (1992), que reduzem a análise da
desigualdade a dois fatores de produção, cada qual correspondendo a níveis de qualificação
entre trabalhadores – alto e baixo. Repousam, assim, na suposição de que a disparidade de
renda é principalmente determinada pelo diferencial de remuneração entre esses dois grupos,
o prêmio por qualificação, que por sua vez flutua de acordo com a interação entre a oferta e
demanda relativas pelos dois fatores considerados.
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A metodologia pioneira de Katz e Murphy (1992) e de sua literatura subsequente envolve
uma função de produção com elasticidade de substituição constante (CES) e os dois fatores,
dividindo a força de trabalho entre aqueles com educação terciária, completa ou não, e
aqueles que não passaram do ensino médio. O produto total é função da quantidade de cada
um dos fatores, da elasticidade de substituição entre eles e de outros parâmetros associados
à tecnologia (Gasparini et al., 2011b). Sob condições de competição perfeita e assumindo
que existe um número considerável de empresas, o diferencial de salários satisfaz a seguinte
equação:
λt
³ ´ ³ ´ ³ ´
WSt St
l og WU t = l og 1−λt − σ1SU l og Ut
onde a letra S se refere aos qualificados e U aos não qualificados. σSU é a elasticidade de
substituição entre o trabalho qualificado e o não qualificado, S t /U t são as respectivas ofertas
desses fatores e λt representa o parâmetro de deslocamento da demanda.
Entre a literatura de maior proeminência que se inspirou nessa metodologia, como Autor,
Katz e Krueger (1998), Katz e Autor (1999) e Murphy, Riddell e Romer (1998), ainda que não
haja consenso entre os pesquisadores, a maioria concorda que o avanço tecnológico foi o
principal fator que estimulou a demanda por profissionais mais qualificados, influenciando
no prêmio, junto a outros fatores como comércio e medidas de terceirização. O último dos
estudos mencionados argumenta que seria necessário definir três grupos de trabalhadores
para examinar com mais precisão o caso dos Estados Unidos antes de 1960, quando a divisão
em somente dois grupos era pouco eloquente para descrever a distribuição dos níveis de
instrução da força de trabalho. Em função da heterogeneidade e do baixo nível médio de
educação, os estudos para a América Latina também optam pela divisão em três grupos, já
que não seria adequado reproduzir a categorização aplicada a países desenvolvidos para
períodos mais recentes. Os não qualificados, então, são divididos entre os que têm ou não
diploma do ensino médio, e a comparação entre eles se dá de forma análoga à equação
apresentada, fazendo a função CES acomodar os três tipos de trabalhadores.
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Uma limitação do arcabouço de Tinbergen (1975) e do modelo proposto por Katz e Murphy
(1992), aplicado por toda literatura subsequente, é a ausência de um meio cabal de aproximar
alterações na demanda: a partir dos salários e das mudanças nas quantidades relativas de
trabalhadores qualificados observados, computa-se dados sobre a demanda relativa como
resíduo, ou seja, com o que seria compatível com as variáveis observadas a um dado nível de
elasticidade de substituição entre os fatores (Gasparini et al., 2011b).
Figura 2.6 - Coeficiente de Gini de renda domiciliar per capita e prêmio qualificados/não
qualificados; 16 países da América Latina, 1989-2009.
1
No caso do gráfico à direita, o prêmio salarial é calculado com base na comparação entre os que têm diploma
de ensino médio e o que não chegaram a concluí-lo.
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Figura 2.7 - Correlação: Gini da renda domiciliar per capita e prê-
mio salarial de ensino superior e de ensino médio; 16 países da América Latina, 1989-2009.
Com dados da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, Manacorda et al. (2010) estimam
os retornos à educação nas décadas de 1980 e 1990 e verificam que cada ano adicional de
estudo está associado a um aumento de 10 a 20% nos salários – nível relativamente alto. Há,
no entanto, variação significativa entre os países: trabalhadores que completaram ensino
secundário são pagos aproximadamente 45% mais do que aqueles com ensino primário na
Argentina e na Colômbia, e 83% mais no Brasil; salários de trabalhadores que completaram
faculdade são cerca de 90% maiores do que os com secundário completo no Chile, mas
apenas 45% superiores na Argentina e no México.
Para o período analisado no presente trabalho, a saber, décadas de 1990 e 2000, os estudos
sobre o tema convergem ao reportar um aumento contínuo da oferta relativa de trabalha-
dores qualificados na América Latina. Gasparini et al (2011b) mostram, com o exposto na
tabela 2.2, que a taxa de crescimento médio da região foi aproximadamente a mesma nas
duas décadas. Essa proximidade das taxas ofusca, contudo, casos como o do Brasil, em que,
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segundo Menezes-Filho e Pecora (2014), a razão entre oferta de trabalho qualificado e não
qualificado aumentou cerca de 6% entre 1992 e 1999 e 37,2% entre 2002 e 2009. Resultado
mais preciso é alcançado com o emprego da categorização da escolaridade em três tipos: com
dados reproduzidos nas figuras 2.8 e 2.9, que abarcam desde 1981 até 2009, Menezes-Filho e
Fernandes (2012) revelam que é o número de trabalhadores intermediários que tem aumen-
tado substancialmente nesse período, a uma taxa crescente ao longo do tempo. A quantidade
de qualificados também aumentou, mas a um ritmo inferior; já o número de não qualificados
diminuiu. Em termos relativos, a oferta de trabalhadores intermediários, em relação a não
qualificados, aumentou mais que seis vezes, enquanto a de qualificados permaneceu pra-
ticamente estável em relação à de intermediários (Menezes-Filho e Fernandes, 2012). Esse
padrão de expansão da oferta relativa de trabalhadores com ensino secundário foi verificado
também no resto da América Latina – fato que Manacorda et al. (2010) atestou e atribuiu ao
aumento no esforço público para ampliar a cobertura dessas séries escolares.
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Figura 2.8 - Evolução da oferta de trabalho (Brasil)
Quanto aos salários, os dados da América Latina apresentados por Gasparini et al. (2011b)
indicam que o prêmio por qualificação cresceu para quase todos os países analisados durante
a década de 1990, sendo que o Brasil é exceção, conforme mostrado na tabela 2.3. Mas
esse resultado contrasta com outros estudos, como Menezes-Filho e Fernandes (2012) e
Menezes-Filho e Pecora (2014), que reportam aumento do prêmio durante o período no
país. Já na década seguinte, esse prêmio caiu em toda a região, e a taxa média de redução
foi aproximadamente 2,8% ao ano. Essa queda começou no fim dos anos 1990 em algumas
economias como a do México, e mais tarde em outras sul-americanas que passaram por crises
macroeconômicas (Argentina, Paraguai e Uruguai). Na maior parte dos países, a redução do
prêmio nos anos 2000 foi suficiente para compensar o aumento da década anterior, e em
alguns o prêmio chegou a 2009 em um nível mais baixo do que aquele do início da década
de 1990 (Gasparini et al., 2011b). Conforme é ilustrado na figura 2.10, no Brasil parece ter
ocorrido uma contínua queda no prêmio salarial: o salário dos qualificados tornou-se com o
tempo menos discrepante em relação ao dos trabalhadores com menos anos de estudo.
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Tabela 2.3 - Mudanças por país no prêmio salarial
prêmio salarial
1990s 2000s
Argentina 3.5 -2.4
Bolívia 7.9 -4.6
Brasil -0.4 -3.2
Chile 0.5 -1.9
Colômbia 2.5 -2.0
Costa Rica 0.4 -0.2
Equador -3.2
El Salvador 1.7 -0.1
Honduras 0.0 -1.9
México 1.8 -2.8
Nicarágua 3.5 -6.9
Panamá 0.3 -2.3
Paraguai 0.8 -5.6
Peru 0.6 -2.8
Uruguai 2.3 -0.9
Venezuela 1.1 -4.8
média 1.8 -2.8
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diminuiu cerca de 40%. Na maioria dos países latino-americanos, concorrentemente ao forte
aumento na oferta relativa de graduados no ensino médio, também houve queda na remune-
ração relativa desse grupo durante as duas décadas estudadas, ainda que mais fortemente
na segunda (Gasparini et al., 2011b). Um padrão semelhante foi verificado também para
a década de 1980 por Manacorda et al. (2010) em toda a América Latina com exceção do
México. Segundo eles, trabalhadores com educação secundária parecem ter perdido terreno
em relação à remuneração dos outros dois grupos – resultado que também foi reportado na
literatura desse tema para os Estados Unidos, como Autor et al. (2008). A trajetória salarial
comparada à oferta relativa das três categorias de qualificação pode ser vista nas figuras 2.11
e 2.12 para a América Latina e na 2.13 especificamente para o caso brasileiro.
Figura 2.11 - Prêmio salarial dos qualificados em relação aos não qualificados
(1989-2009); desvios em relação à média do país
Figura 2.12 - Prêmio salarial dos que concluíram/não concluíram o ensino médio
(1989-2009); desvios em relação à média do país
18
Figura 2.13 - Evolução dos diferenciais de salário no Brasil
Conforme já foi mencionado, a demanda relativa é uma variável não observada, calcu-
lada como resíduo para uma dada elasticidade de substituição entre os fatores do modelo.
Menezes-Filho e Pecora (2014) explicam que, no Brasil, a elasticidade estimada entre traba-
lhadores não qualificados e intermediários, ainda que seja elevada e indique alto nível de
substituição, revela que esses dois tipos não podem ser considerados substitutos perfeitos.
Assim, há uma pequena sensibilidade de salários entre esses dois tipos de trabalho em relação
à oferta: quando a razão de oferta entre trabalho intermediário e não qualificado aumenta em
1%, o diferencial de salários diminui aproximadamente 0,1%. Já entre o trabalho qualificado
e o não qualificado, a elasticidade estimada é menor, o que significa um menor grau de subs-
tituição entre eles: uma elevação de 1% na oferta relativa reduz em aproximadamente 0,3% o
salário do primeiro em relação ao segundo. A partir dessa elasticidade calculada, chega-se ao
impacto que a oferta relativa de qualificados (que, como já foi mencionado, cresce cerca de
6% entre 1992 e 1999 e 37,2% entre 2002 e 2009) exerce sobre o diferencial de salários. Assim,
Menezes-Filho e Pecora (2014) estimam que ela impulsionou uma redução de 1,8% no prêmio
por qualificação no primeiro período, e de 11% no segundo.
Um dos modelos empregados por esses autores pressupõe que a oferta de trabalho é
exógena e a demanda por trabalho qualificado é linear ao longo do tempo. Combinando
esses impactos calculados para a oferta com essa tendência linear estimada, temos que na
década de 1990 a tendência de aumento do prêmio foi mais forte do que os efeitos negativos
(provocados pela oferta relativa): a demanda atuou elevando em 9,6% enquanto o efeito da
oferta comprimiu em 1,8% o diferencial de salários; o resultado líquido foi um aumento de
7,8% entre 1992 e 1999 – que contrasta com o dado de Gasparini et al. (2011b). Para o período
entre 2002 a 2009, o crescimento da oferta relativa de trabalho qualificado foi mais marcante
e provocou um efeito negativo no prêmio que superou o positivo da demanda, resultando na
redução de 0,2% no prêmio.
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Segundo os cálculos de Gasparini et al. (2011b) para os países latino-americanos, os padrões
observados no prêmio e na oferta relativa são consistentes com um positivo e forte aumento
na demanda relativa por qualificados nos anos 1990 em todos os países, conforme se verifica
pelas estimativas da demanda residual calculadas para diferentes elasticidades de substituição
da tabela 2.4. Já as estimativas para a demanda relativa da década de 2000 indicam uma
reversão da tendência da década anterior, com um deslocamento negativo em todos os
países com exceção da Colômbia e da Costa Rica. Assim, apesar de esse estudo apontar uma
trajetória da demanda que diverge daquela linear e crescente suposta por Menezes-Filho e
Pecora (2014), há um consenso entre a literatura sobre a América Latina de que, na primeira
década, os efeitos da oferta sobre o prêmio por qualificação não foram grandes o suficiente
para compensar os da demanda; na segunda, a alteração negativa da demanda deu marguem
para que o grande aumento da oferta relativa de trabalhadores qualificados impulsionasse
uma queda no prêmio.
Tabela 2.4 - Mudanças por país na demanda para diferentes elasticidades (e)
demanda relativa (e=2) demanda relativa (e=3)
1990s 2000s 1990s 2000s
Argentina 11.5 -2.3 15.0 -4.7
Bolívia 15.6 -4.1 23.5 -8.7
Brasil 0.8 -1.9 0.4 -5.1
Chile 4.1 -2.7 4.6 -4.7
Colômbia 11.5 2.1 14.0 0.1
Costa Rica 4.9 3.0 5.3 2.8
Equador -3.0 -6.3
El Salvador 8.9 -0.4 10.6 -0.5
Honduras 2.6 -1.4 2.6 -3.3
México 7.2 -3.5 9.0 -6.3
Nicarágua 11.6 -7.2 15.0 -14.1
Panamá 2.9 -2.2 3.1 -4.4
Paraguai 6.9 -5.2 7.6 -10.8
Peru 1.3 -1.8 1.9 -4.6
Uruguai 7.4 -0.6 9.6 -1.4
Venezuela 6.2 -5.4 7.3 -10.3
média 6.9 -2.3 8.6 -5.1
20
papel considerável. Choques externos, crises macroeconômicas e reformas estruturais como
liberalização e privatização são mais comuns na América Latina do que nas economias
estudadas por Katz e Murphy (1992) e influenciam diretamente no emprego e na demanda
de qualificados (Gasparini et al., 2011b). Em função disso, a abordagem de Manacorda et
al. (2010), por não estabelecer uma proxy explícita para a demanda relativa e capturar os
deslocamentos por meio de efeitos fixos de ano e país, tem sido mais seguida pela literatura
sobre a região.
Em direção a essa investigação sobre fatores do lado da demanda por trabalhadores qua-
lificados que possam explicar as disparidades salariais, Behrman et al. (2007), embora sem
abordar explicitamente a oferta e a demanda por trabalho qualificado, usam dados de 18
países da América Latina entre 1977 e 1998 e traçam a trajetória dos hiatos de salário entre
trabalhadores com diferentes níveis de escolaridade relacionando com políticas liberalizantes
como mudanças nas tarifas de comércio e privatizações. Os autores atestam que, de um
modo geral, essas políticas liberais na economia tiveram o efeito de reforçar a desigualdade
ao aprofundar as discrepâncias das remunerações.
Fatores institucionais como políticas de crescimento real do salário mínimo também devem
ser considerados entre os que favoreceram a queda no prêmio por qualificação durante as
décadas mais recentes. Lustig et al. (2012) apontam essa como uma provável causa da
redução na disparidade salarial na Argentina e no Brasil, apesar de sugerirem que é muito
difícil discernir esses fatores institucionais do efeito da queda da demanda por trabalho
21
Figura 3.1 - Efeitos da oferta relativa de trabalho qualificados e da demanda quadrática
por trabalho qualificado
qualificado. Autor et al. (2008) tentam isolar esse impacto incluindo o valor real do salário
mínimo como uma das variáveis independentes nas regressões com dados dos Estados
Unidos, sob o argumento lógico de que, aumentando a remuneração da base da distribuição,
um mínimo obrigatório deveria ter relação negativa com o prêmio da educação. Gasparini
et al. (2011b) colocam como discutível se esse raciocínio seria válido na América Latina por
conta dos altos níveis de informalidade da força de trabalho. Nas regressões, de fato não
encontram coeficientes significantes relacionando os níveis de salário mínimo ao prêmio
na região. Maloney e Nunez (2006) e Bosch e Manacorda (2008), entretanto, apresentam
evidência de que políticas de crescimento real do mínimo exercem impacto relevante sobre
a disparidade de remunerações na América Latina, sobretudo quando se atenta à base da
distribuição.
22
Menezes-Filho e Fernandes (2012) apresentam um modelo capaz de captar esse efeito
observando a distribuição dos trabalhadores com o mesmo nível de ensino nas diferentes
tarefas. O arcabouço teórico empregado supõe dois tipos de tarefas na economia: simples e
complexas; trabalhadores não qualificados só fazem as primeiras e os qualificados só fazem
as segundas. Já os trabalhadores intermediários podem executar ambas. A particularidade
desse método é que a separação em três grupos educacionais leva em conta a diferença na
parcela de trabalhadores intermediários realizando cada tipo de tarefa. Assim, sob a estrutura
de equilíbrio geral, um choque de demanda em determinado setor, dada a oferta relativa,
não se traduz automaticamente em uma mudança relativa dos salários: parte do choque será
absorvido por meio de alterações na composição dos trabalhadores intermediários em todos
os setores (Menezes-Filho e Fernandes, 2012).
Outro resultado é o aumento na demanda por trabalhadores qualificados nas tarefas com-
plexas, o que contribuiu para o aumento de sua remuneração relativa. Não fossem os choques
de demanda, seus salários em relação aos dos intermediários teriam diminuído para uma pro-
porção de 1,4, em vez de crescer para uma de 2,4 como observado nos dados. Menezes-Filho
e Fernandes (2012) notam que essa demanda relativa por qualificados cresceu a um ritmo
mais lento entre 1988 e 1996 – período de liberalização comercial –, resultado que parece se
contrapor à conclusão citada de Behrman et al. (2007).
Essas alterações na estrutura do emprego podem ser atribuídas a diversas causas. Gasparini
et al. (2011b) destacam como exemplo delas uma eventual expansão da indústria intensiva
em trabalho não qualificado, ou mudanças tecnológicas, que poderiam operar fazendo o
avanço de tecnologias de informação e comunicação requerer habilidades mais sofisticadas
para manuseá-las. Os autores sugerem que essa hipótese parece encaixar com a evidência
23
da América Latina da década de 1990, que indica generalizado aumento no uso de trabalho
qualificado em todos os setores. Já a reversão na tendência de crescimento do prêmio por
qualificação na década seguinte seria explicada pela difusão tecnológica a um grupo mais
amplo da população, reduzindo o prêmio para esse conhecimento específico.
24
Figura 3.3 - Distribuição de salários de qualificados em 2001 e 2015
25
o período. Em relação àqueles trabalhadores que alcançaram até o diploma do ensino médio,
o efeito intersetor explica aproximadamente um quarto do aumento no emprego relativo
desse tipo de trabalhador nos anos 1990, mas, na década seguinte, quase todas as mudanças
são explicadas pelo “intra-setor” (Gasparini et al., 2011b).
Reis (2006) faz uma análise da estrutura setorial específica para o Brasil. Os dados de 1990 e
2003 da tabela 3.1 reproduzida captam as alterações desse período, marcado pela liberalização
comercial, em 31 setores da economia por meio das mudanças tanto na participação deles no
emprego total, quanto na composição de cada um por qualificação. Em relação aos efeitos
intersetoriais, nota-se uma tendência de redução na participação de atividades ligadas à
indústria: em 12 dos 17 ramos industriais, entre as linhas 4 e 20 da tabela, ocorreu redução
na parcela do emprego total. Atividades de serviços e comércio, em oposição, apresentam
tendência de aumento dessa parcela.
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No que diz respeito às proporções de trabalhadores qualificados, as discrepâncias entre
os setores são bastante acentuadas: na agropecuária e construção civil, por exemplo, essa
parcela correspondia a menos de 10% dos trabalhadores em 1990, e pouco mudou até 2003.
Ainda que tenha aumentado em quase todos os setores, foram nos que já apresentavam
essa proporção mais elevada, com marcas superiores a 60%, que ocorreram aumentos nessa
parcela relativamente mais pronunciados. Além disso, esses setores mais intensivos em
trabalho qualificado, em geral, tiveram reduções na participação total de empregados (Reis,
2006).
Para avaliar a importância relativa dos efeitos intra e intersetoriais, Reis (2006) também
empregou a decomposição entre esses dois tipos de variações no emprego por grupo de
qualificação. O resultado não destoa do que Gasparini et al. (2011b) mostrou sobre a América
Latina na medida em que Reis (2006) também atribui ao componente intra-setorial força
predominante: mais precisamente, foi responsável pelo aumento do emprego qualificado em
13 p.p. e pela redução do emprego dos não qualificados em pouco mais de 10 p.p., enquanto
o termo intersetorial agiu de forma muito mais amena no sentido contrário, reduzindo o
emprego qualificado em 1 p.p. e aumentando o não qualificado em uma magnitude seme-
lhante. Em relação aos semiqualificados, com educação secundária, houve uma queda no
período de 2,3 p.p. associada ao efeito intra-setorial. Gonzaga, Terra e Menezes-Filho (2006),
com dados da PNAD de 1988 a 1995, também atribuem quase toda variação ao componente
intra-setorial, com efeito positivo sobre os empregos qualificados, enquanto o impacto mais
marginal do intersetorial operou sobre eles com efeito negativo.
Além das reformas comerciais, mais numerosas durante a década de 1990 do que na
seguinte, um fator que ganha mais vulto durante os anos 2000 é a importância crescente de
produtos exportados no contexto de boom nos preços das commodities e de emergência
de novos parceiros comerciais, mais notavelmente a China (Gasparini et al., 2011b). Ainda
que não tenham sido homogêneas entre os países da região, os autores optaram por inserir
também nas regressões as alterações nos termos de troca.
27
Em relação às variáveis de comércio, foi verificado que o coeficiente de tarifas tem cor-
relação positiva com a variação no prêmio da educação, como esperado, mas não signi-
ficantemente diferente de zero. Já o resultado para os termos de troca é mais notável: a
relação negativa com o diferencial de salários é significante – e consistente com a hipótese
segundo a qual o boom de commodities beneficiou desproporcionalmente trabalhadores
não qualificados na maior parte dos países da região. Vale lembrar, contudo, que esse efeito
se enquadra na categoria dos intersetoriais, que por sua vez são responsáveis por apenas
um quinto das mudanças na composição do emprego durante o período estudado. Assim,
o papel dos termos de troca parece ser promissor, mas não é suficiente para explicar toda a
queda na demanda relativa por qualificação nos anos 2000.
Uma abordagem mais tradicional na literatura que estuda os efeitos da abertura comercial
usa o modelo Heckscher-Ohlin; assumindo que o trabalho qualificado é um recurso relativa-
mente escasso em países periféricos como os da América Latina, ele prevê que uma relação
mais íntima com economias mais desenvolvidas resultaria em aumento no preço relativo
de bens domésticos intensivos em trabalho não qualificado, elevando assim a demanda por
esse fator – e fazendo declinar o prêmio por qualificação. Esse raciocínio tona-se vacilante,
entretanto, quando confrontado com os dados: os períodos de liberalização comercial nes-
ses países periféricos coincidem com a ampliação da disparidade salarial entre os níveis
educacionais.
As justificativas para a rejeição desse modelo apontavam para sua excessiva simplificação:
os países não passam instantaneamente de uma economia fechada para uma aberta como
ele supõe, mas de um padrão de tarifas altas para baixas, e essa transição tende a variar
substancialmente entre os setores, dependendo da estrutura de proteção que prevalecia em
cada um antes da liberalização. O impacto que esse processo exerce sobre a desigualdade
de renda é, então, função de alterações tarifárias e da intensidade de trabalho qualificado
entre os setores (Menezes-Filho e Giovannetti, 2006). Esse arcabouço teórico mais complexo
foi empregado por Hanson e Harrison (1999), Robertson (2004) e Gonzaga, Menezes-Filho
e Terra (2006). Os dois primeiros estudos concluem que a redução nos entraves comerciais
no México esteve associada ao aumento na defasagem salarial; já o último sustenta que, no
Brasil do início da década de 1990, a evidência de um declínio no diferencial de salários entre
quem tem e não tem diploma do ensino médio é na verdade consistente com as predições do
Heckscher-Ohlin.
28
grupos de qualificação. Uma análise mais robusta desse tema, categorizando os trabalhadores
em três grupos, foi apresentada por Menezes-Filho e Giovannetti (2006). Os autores testam
a hipótese de que uma redução tarifária não só provocaria declínio nos preços de bens
comercializados no país intensivos em trabalho qualificado, mas também barateariam os
bens estrangeiros usados como insumos à produção doméstica de outros bens. Assumindo
que incorporam mais tecnologia, esses bens intermediários e de capital contribuiriam para a
difusão tecnológica que operaria aumentando a produtividade relativa de trabalhadores mais
qualificados.
As figuras 3.4 e 3.5 ilustram a redução das tarifas no Brasil para insumos e produtos, res-
pectivamente, entre os setores ao longo do tempo. Nota-se que entre 1988 e 1990 houve uma
pequena redução, na ordem e 10%; o novo governo anuncia, então, um regime de abertura
comercial, de tal forma que a maioria dos setores chega a 1994 com tarifas flutuando entre
10% e 20%. Nesses quatro anos, por exemplo, as tarifas no setor de vestuário foram reduzidas
de 70% para 20% (Menezes-Filho e Giovannetti, 2006).
Figura 3.4 – Tarifas sobre insumos entre setores ao longo do tempo (Brasil)
Figura 3.5 – Tarifas sobre produtos entre setores ao longo do tempo (Brasil)
29
Para explicar a evolução do emprego de qualificados e semi-qualificados, Menezes-Filho
e Giovannetti (2006) recorrem a uma expressão que decompõe a participação desses traba-
lhadores em dois componentes: variação “inter-empresas” e “intra-empresas”. A parcela
de qualificados cresceu, segundo eles, 8,19% entre 1990 e 1998. Com o método da decom-
posição, cujos resultados estão reproduzidos na tabela 3.2, argumentam que empresas que
usam trabalho qualificado mais intensivamente tiveram sua participação relativa no em-
prego total relativa no emprego total reduzida, já que o termo “inter-empresas” é negativo
(-2,88%). Assim, o que determinou o aumento de participação dos qualificados foi a variação
“intra-empresas”, de 11,07%. O arcabouço teórico de Heckscher-Ohlin sugere que a abertura
comercial provoca aumento relativo na produção e no emprego em empresas produtoras
de bens intensivos em trabalho não qualificado, e, portanto, supõe um sinal negativo na
variação “inter-empresas” para os qualificados. Esse efeito até foi verificado, mas não teve
força para reduzir a parcela relativa desses últimos no emprego total em função do compo-
nente “intra-empresas”. Já para o caso dos semi-qualificados, com educação secundária,
a alteração “inter-empresas” foi positiva – contradizendo as predições do modelo, a não
ser que se considere que no Brasil da década de 1990 esses trabalhadores constituíam fator
abundante, relativamente, em relação a seus parceiros comerciais.
4 Considerações finais
O presente trabalho documentou a tendência de crescimento do prêmio salarial associado
ao ensino superior na América Latina dos anos 1990 e sua reversão durante a década de 2000.
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Por ser determinante da disparidade de remuneração, esse prêmio guarda relação íntima
com a desigualdade de renda dos países analisados.
31
Referências
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Economic Literature, American Economic Association, vol. 49(1), pp. 3-71, Mar.
Behrman, J., Birdsall, N. e Szekely, M. (2007) "Economic Policy and Wage Diffe-
rentials in Latin America."Economic Development and Cultural Change, Vol. 56, No. 1, pp.
57-97.
32
Gasparini, L., Cruces, G. e Tornarolli, L. (2011a). “Recent Trends in Income
Inequality in Latin America”. Economia 10, pp. 147-201.
Hertz, T., Jayasundera, T., Piraino, P., Selcuk, S., Smith N., Verashchagina, A.
“The inheritance of educational inequality: International comparisons and fifty-year trends”,
The B.E. Journal of Economic Analysis & Policy, Vol. 7, Article 10, 2007.
33
Radar: Produção, tecnologia e comércio exterior, n. 53, Ipea.
Robertson, R. (2004) “Relative Prices and Wage Inequality: Evidence from Me-
xico” Journal of International Economics 64, pp. 387-409.
34