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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

O papel da oferta e da demanda por qualificação na disparidade salarial:


teoria e evidências para a América Latina, 1990-2010

Rodrigo Sequerra Mahlmeister

Orientador: Prof. Dr. Fernando Monteiro Rugitsky

São Paulo
2018
Resumo

O presente trabalho tem como objetivo investigar os determinantes da trajetória do


prêmio salarial associado à escolaridade e seu impacto na desigualdade de renda para
a América Latina durante o período de 1990 a 2010, com foco sobre o Brasil. Foi avali-
ado, para tanto, em que medida a oferta e a demanda por trabalhadores qualificados
contribuíram para as alterações verificadas nas suas remunerações relativas, e quais os
fatores por trás dessas duas forças. Apesar da heterogeneidade entre os paises, existe um
consenso na literatura de que o retorno atribuído ao ensino superior, que seguia na região
uma tendência de crescimento nos anos 1990, experimentou na década seguinte uma
reversão. A redução da disparidade salarial observada nessa década tem sido atribuída
sobretudo ao avanço educacional. O lado da oferta de qualificados, entretanto, apresenta
um poder explanatório limitado se comparado ao da demanda, que por sua vez envolve
fatores como difusão tecnológica, abertura comercial e termos de troca.

Palavras-chave: desigualdade de renda; salários; prêmio por qualificação; educação;


América Latina; Brasil.

Código JEL: O15, J31, N36.

Conteúdo
1 Motivação: desigualdade salarial e desigualdade educacional 2

2 Trajetória do prêmio salarial: os papéis da oferta e da demanda 6

3 A demanda por trabalho qualificado: teoria e evidências 20

4 Considerações finais 30

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1 Motivação: desigualdade salarial e desigualdade educacio-
nal
Os mercados de trabalho em nações periféricas têm experimentado importantes mudanças
nas últimas décadas tanto em termos de disparidades de remuneração, quanto de composição
da força laboral. A média de anos de estudo da população latino-americana tem se elevado
continuamente e variou 1,5 anos entre 1989 e 2009, alargando a parcela daqueles com níveis
de instrução altos e intermediários (Cruces et al., 2011). Essa expansão da oferta de mão de
obra mais qualificada, combinada à trajetória da demanda por esses trabalhadores, determina
seus diferencias de salário – o chamado “prêmio por qualificação”, frequentemente evocado
para denotar ganhos atribuídos à escolaridade.

Assumindo o que é convencionalmente batizado de “capital humano” como o principal


ativo produtivo das famílias, espera-se que ele exerça forte influência sobre a desigualdade de
renda de determinada região. O presente trabalho debruça-se sobre essa correlação a partir
da trajetória do prêmio salarial associado à qualificação dos trabalhadores na América Latina
das décadas de 1990 e 2000, com foco sobre o Brasil. Avalia-se em que medida ele flutua em
função de cada um de seus determinantes, a saber, a oferta e a demanda por níveis mais altos
de escolaridade, e quais os fatores por trás dessas duas forças.

A discussão sobre desigualdade econômica tomou novo fôlego e proeminência recente-


mente por consequência de estudos relacionados à renda e riqueza daqueles localizados
no topo da distribuição – cujo reduzido peso na população contrasta com a expressiva par-
ticipação em âmbito nacional do poder aquisitivo que detêm – e às tendências, por vezes
alarmantes, das remunerações relativas dos fatores capital e trabalho. Exemplo alinhado a
essas descobertas apresentadas nos últimos anos é a pesquisa de Atkinson, Piketty e Saez
(2011). Seus autores sugerem que o campo temático do prêmio à educação, sem desmerecer a
contribuição da literatura que o explora, não tem muito a dizer sobre o que vem acontecendo
com a extremidade superior da pirâmide salarial: as mudanças drásticas que tomaram vulto
dentro do decil mais alto da distribuição; ou seja, entre os trabalhadores mais qualificados.
Movimentos na composição de empregos em favor de habilidades técnicas, assim, oferecem
pouco a explicar no que diz respeito ao enriquecimento do grupo do 1% frente aos outros 9%.
Ainda que destoe dessa linha de pesquisa que tem recebido destaque, a abordagem do prêmio
por qualificação assume particular importância quando se considera que, ao menos no caso
do Brasil, a mudança mais significativa na desigualdade tem sido atribuída à distribuição
salarial: a parcela da renda apropriada pelo topo, divergindo do que vem ocorrendo nos
países ricos, embora imensa, permaneceu sem grandes alterações.

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Tal como é proposto na influente formalização de John Roemer (1998), a desigualdade
de renda dos indivíduos é originada por fatores de responsabilidade, como nível educacio-
nal e horas trabalhadas por ano; e não responsabilidade, como background familiar (nível
educacional e ocupação dos pais), raça, gênero e região de nascimento. Particularmente, as
variáveis que fogem do controle dos agentes têm efeito que prevalece sobre as demais em
países periféricos como os da América Latina, que em comparação internacional ocupam as
posições de maiores índices de correlação entre a escolaridade de pais e seus filhos (Hertz et
al., 2007). No que tange a essa influência entre gerações, distingue-se dois tipos de efeitos: os
indiretos, por meio dos quais os anos de estudo dos pais determinam condições que por sua
vez afetam a escolaridade de seus filhos, como o nível de renda; e os diretos, que sugerem
uma relação direta de causalidade entre a educação de pais e filhos, por conta de fatores não
observáveis como o ambiente familiar.

O expressivo aumento dos anos de estudo verificados nessas nações durante o período
estudado é atribuído sobretudo à expansão da escolaridade secundária, após a ampliação
do ensino primário que ocorreu entre as décadas de 1960 e 1980 (Gasparini et al., 2011b). O
Brasil, que na comparação de Cruces et al. (2011) entre 16 países da região aparece como o
que mais aumentou a média de anos de estudo da população de 25 a 64 anos entre 1992 e
2009, com um acréscimo de aproximadamente 2,5 anos, pode servir como exemplo onde a
desigualdade educacional ainda guarda íntima relação com variáveis como a escolaridade
dos pais, raça e região.

Essa relação é visível a partir do que é exposto na tabela 1.1, reproduzida de Mahlmeister et
al. (2017). Depreende-se dela que negros continuam a pertencer a famílias com menor nível
de instrução: 64,8% dos filhos de pais sem escolaridade se declaram pretos ou pardos, embora
esse grupo corresponda a apenas 49,6% da amostra. Além disso, em média, filhos que moram
em áreas rurais continuam a descender de pais com baixa escolaridade: 24,9% dos filhos de
pais sem escolaridade moram em áreas rurais, enquanto esse grupo corresponde a apenas
15,3% de toda a amostra. E o nível de escolaridade também continua consideravelmente
menor no Nordeste: 37,5% dos entrevistados no local descendem de pais que não têm
escolaridade, enquanto apenas 13,7% dos que mencionaram ter pais com nível superior
completo moram nessa região.

No que diz respeito especificamente à avaliação da influência da escolaridade dos pais,


Mahlmeister et al. (2017) emprega aos dados de 2014 a mesma metodologia que Veloso
e Ferreira (2003) havia aplicado a 1996. Esses estudos mostram que as não-linearidades
observadas ajudam a explicar as diferenças no padrão entre raças e regiões do que é chamado
de “mobilidade intergeracional da educação”. Por exemplo, a menor mobilidade entre os

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Figura 1.1 - Características dos filhos por escolaridade dos pais

Fonte: Mahlmeister et al. (2017), construída com base na PNAD de 2014.

negros continua fortemente associada à maior probabilidade, nesse grupo, de o filho de um


pai sem escolaridade permanecer sem escolaridade: enquanto a probabilidade de um filho
negro de um pai sem escolaridade permanecer na mesma categoria de educação do pai é
cerca de 24%, a probabilidade análoga para brancos é pouco acima de 11%. Já a persistência
de alta escolaridade é significativamente mais elevada entre indivíduos de cor branca, ainda
que a diferença em relação a essa persistência entre os negros seja menos pronunciada hoje
do que outrora: comparando os resultados obtidos de 1996 com 2014, a probabilidade de o
filho de um pai com ensino superior completo também completar seus estudos universitários
passou de 40% para cerca de 61%, se o indivíduo reporta ser negro, e de aproximadamente
62% para 73% para brancos (Mahlmeister et al., 2017).

Na comparação entre regiões, Veloso e Ferreira (2003) e Mahlmeister et al. (2017) atestam
que a discrepância entre Nordeste e Sudeste está na mobilidade verificada no grupo de
filhos de pais sem escolaridade: “no Nordeste, tal como havia sido observado em 1996, a
probabilidade em 2014 de o filho de um pai sem escolaridade permanecer na mesma categoria
de educação do pai continua maior do que o dobro daquela verificada no Sudeste: na primeira
região essa probabilidade é de cerca de 32%, enquanto na segunda ela é pouco acima de 11%”
(Mahlmeister et al., 2017).

Com o fim de apresentar em maiores detalhes a distribuição educacional dos filhos condi-
cional à educação dos pais, reproduzimos na tabela 1.2 a matriz de transição de educação de
Mahlmeister et al. (2017), que indica com dados de 2014 a fração de filhos em cada categoria
de educação dada a categoria do pai. Assim como já havia sido atestado para 1996 por Veloso
e Ferreira (2003), a tabela revela uma forte persistência nos extremos da distribuição. A com-
paração entre os dois anos aponta ainda duas tendências: “enquanto a parcela de filhos de
pais sem escolaridade que permaneceram na categoria de educação do pai sofreu redução de
34% em 1996 para 20% em 2014, a fração de filhos de pais que haviam concluído o ensino

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superior que repetiram o desempenho dos pais aumentou de 60% para 71% da amostra”
(Mahlmeister et al., 2017).

Figura 1.2 - Matriz de transição da educação

Fonte: Mahlmeister et al. (2017), construída com base na PNAD de 2014.


Nota: as medianas estão nas células sombreadas.

É possível depreender, além disso, que a mediana da distribuição educacional de indivíduos


cujos pais tinham entre quatro e 11 anos de escolaridade é a mesma (11 anos de escolaridade
completa) – em 1996, ela assumia esse mesmo valor para filhos cujos pais tinham entre 8 e
11 anos de escolaridade. “Esse é um importante indício [...] da presença de uma barreira no
acesso ao ensino superior, que se manteve apesar do notável aumento nos acréscimos aos
anos de escolaridade dos filhos em relação aos de seus pais” (Mahlmeister et al., 2017).

Além do conjunto de evidências empíricas apresentadas por Mahlmeister et al. (2017) e


Veloso e Ferreira (2003), atestando um elevado grau de persistência educacional entre as
gerações brasileiras, Lam e Schoeni (1993) demonstram que, no Brasil, o nível de educação
dos pais tem influência direta sobre os rendimentos dos filhos no mercado de trabalho,
mesmo controlando para uma série de características sociodemográficas desses últimos.
Assim, conforme também foi detectado por Bourguignon et al. (2007), os rendimentos
também apresentam alta persistência intergeracional no país. Como será explicado adiante, a
distribuição de anos de estudo, sozinha, é insuficiente para explicar a correlação da educação
com a renda, o que empresta ainda mais proeminência às análises que abarcam também os
aspectos associados à demanda por qualificação.

De um modo geral, a literatura discutida no presente trabalho categoriza os trabalhadores


em diferentes níveis de acordo com o seguinte critério: aqueles com 0 a 4 anos de estudo
têm escolaridade primária; os com 5 a 11 anos de estudo, de escolaridade secundária, são
chamados de intermediários ou semiqualificados; já aqueles com 12 ou mais anos de estudo

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são ditos qualificados. Tanto o primeiro quanto o segundo grupo são considerados não
qualificados.

Este artigo está organizado em quatro seções, incluindo esta introdução. A seção 2 trata dos
papéis que a oferta e a demanda por trabalhadores qualificados exercem sobre a desigualdade
de renda e quais as evidências de estimações que quantificam essas duas forças e o prêmio
salarial. A seção 3 explora especificamente o lado da demanda por qualificação, investigando
seus possíveis determinantes. A seção 4 conclui o trabalho com considerações finais.

2 Trajetória do prêmio salarial: os papéis da oferta e da de-


manda
O nível educacional da população latino-americana tem aumentado continuamente desde
pelo menos a segunda metade do século XX, o que fica evidente analisando a evolução das
parcelas dos que atingiram as diferentes etapas de escolaridade (figura 2.1). Particularmente,
esse crescimento foi mais acelerado nas últimas décadas: entre 1990 e 2010, a proporção de
trabalhadores que haviam chegado ao ensino médio passou de 34% para quase 60% (Barro
e Lee, 2010). Depreende-se ainda do que mostra a seguinte figura que, em 2010, um a cada
oito havia atingido níveis de educação terciária, comparado com um em treze em 1990; e
aproximadamente metade tinha escolaridade secundária, contrastando com somente um
terço vinte anos antes.

Figura 2.1 - Porcentagem da força de trabalho por nível máximo de escolaridade


atingido; América Latina, 1950-2010.

Fonte: Barro e Lee (2010).

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A desigualdade de renda, por sua vez, seguia na região uma tendência secular generalizada
de aumento até a primeira metade da década de 2000, quando a maioria dos países passa a
experimentar significativa queda nos indicadores de disparidades sociais e econômicas, ainda
que o índice de Gini sobre a renda da América Latina tenha chegado em 2010 a uma média
de 50,6, entre os mais altos do mundo (Gasparini et al., 2011a). Essa reversão de tendência
tem sido atribuída a uma variedade de fatores: entre políticas redistributivas, realinhamento
depois dos choques e reformas dos anos 1990, cenário internacional favorável em termos de
liquidez e preços de commodities na segunda metade da década de 2000, o canal do retorno
aos níveis educacionais que será explorado pode ser considerado um dos mais relevantes,
dado que os salários são a principal fonte de renda da maior parte das famílias da região
(Gasparini et al. 2011b). Lustig et al. (2012) associam à trajetória da desigualdade na América
Latina outros fatores como captura do Estado pela elite, imperfeições no mercado de capitais,
desigualdade de oportunidades, segmentação do mercado de trabalho e discriminação contra
mulheres e negros.

Mudanças na distribuição da escolaridade determinam, junto a outras forças, a disparidade


de rendimentos uma vez que, se os pouco ou não qualificados tornam-se menos abundantes,
tudo o mais constante, reduzem-se os ganhos diferenciais por nível de educação – o prêmio
por qualificação. Barros et al. (2010) empregaram um método de decomposição não para-
métrica do Gini para o caso específico do Brasil nos anos 2000 e estimaram que metade da
redução na desigualdade de renda do trabalho (e quase 30% do declínio na desigualdade
da renda domiciliar per capita) é explicada pelo efeito combinado de uma redução na de-
sigualdade da educação e uma queda na discrepância dos retornos a diferentes níveis de
escolaridade, sendo este último o fator predominante, responsável por 35% da queda da
desigualdade salarial (e por 23% da de renda domiciliar per capita). A decomposição de
Barros et al. (2010) constata também que mais da metade do declínio na desigualdade de
renda é atribuído à distribuição salarial, importância que também pode ser verificada na
figura 2.2, na qual uma das variáveis parece direcionar a outra.

Bourguignon et al. (2005) discutem a possibilidade de um ‘paradoxo do progresso’, por


meio do qual ganhos na escolaridade média e distribuições menos desiguais da educação
entre a força de trabalho contribuiriam para acentuar a desigualdade de renda. Essa hipótese
contraintuitiva é explicada pelos retornos marginais à educação crescentes à medida que se
tornam mais altos os níveis de instrução, de tal forma que acréscimos na escolaridade média
resultariam em recompensas menores para aqueles com menos anos de estudos, e maiores
para os mais educados.

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Figura 2.2 - Variação, a partir do nível inicial em 1995, dos coeficientes de Gini para a
renda per capita e para os salários; 1995 – 2010.

Fonte: Menezes Filho e Tavares (2011)


Nota: Dados das PNADs de 1995 a 2009 e IPEADATA. income (linha cheia) = desigualdade de renda. earnings
(linha tracejada) = desigualdade salarial.

O estudo de caso é empregado pelos autores em países do Leste Asiático e da América Latina.
Por abarcarem o período 1976-1996 no Brasil, não encontraram substantiva variação na
distribuição de renda; segundo eles, o efeito da remuneração marginal maior para séries mais
avançadas foi neutralizado por uma queda no retorno médio à educação. Para a Argentina,
atestaram que mudanças nos retornos à educação exerceram um efeito sutil equalizador
entre 1986 e 1992, e um mais pronunciado no sentido oposto, concentrando renda, no resto
da década de 1990. Essa abordagem, que avalia se os níveis de salários condicionais aos anos
de estudo configuram uma linha mais ou menos convexa, não deixa de ser também uma
forma de mensurar o prêmio por qualificação. Sob a mesma ótica e com dados mais recentes,
Battistón et al. (2011) confirmam a presença na maior parte dos países latino-americanos do
‘paradoxo do progresso’, cujo efeito de aprofundar a desigualdade de renda foi mais acentuado
na década de 1990 do que na seguinte.

O artigo seminal de Kuznets (1955) direciona a análise a um foco semelhante, na medida


em que sua tese também procura explicar como a distribuição de renda se altera com o desen-
volvimento. O autor argumenta que o processo de expansão da economia é acompanhado em
um primeiro momento por uma intensa migração da mão de obra mais qualificada de setores
tradicionais, com baixo retorno, para outros mais dinâmicos, com remunerações maiores, o
que resulta na ampliação da disparidade salarial dos trabalhadores. Esse estágio inicial da
formação econômica da sociedade, durante o qual a relação entre desigualdade e crescimento
de renda é positiva, atingiria um ponto crítico de maturação quando a mão de obra passasse a
se homogeneizar – tornando essa relação gradualmente negativa e configurando o que ficou
conhecido na literatura como a hipótese do “U” invertido.

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Ainda que tenha gerado controvérsias na academia, essa hipótese muitas vezes é apresen-
tada como regularidade empírica e constitui fonte importante onde bebeu a escola neoclás-
sica. No Brasil, o trabalho clássico de Langoni (1973a) repousa em uma explicação similar
para interpretar o aumento da desigualdade entre os anos 1960 e 1970: a premissa assumida
é a de que em qualquer economia com dois setores de comportamentos bem distintos em
termos de produtividade e de oferta de mão de obra, o processo de desenvolvimento irá gerar
desequilíbrios que tomam a forma de um aumento no salário relativo dos trabalhadores mais
qualificados. “À medida, porém, que a economia for reduzindo o seu ritmo, a expansão da
demanda [por qualificação] também se dará a uma taxa relativamente menor [...]. Ao mesmo
tempo, os investimentos passados em capital humano, realizados pelo setor de educação
formal, começarão a frutificar sob a forma de acréscimo da oferta de pessoal qualificado”
(Langoni, 1973b). Entre as evidências que respaldam os argumentos estão as diferenças
nas taxas observadas de crescimento do setor agrícola e do industrial ao longo da década, a
discrepância de composição da força de trabalho em termos de qualificação desses setores, os
ganhos salariais desproporcionalmente maiores daqueles com diploma do ensino médio ou
de faculdade e o aumento no grau de concentração de renda coincidente com a fase de maior
aceleração do crescimento. A interpretação desagua em implicações de políticas públicas
que propõem ênfase na ampliação da educação e de oportunidades. As considerações de
Langoni, entretanto, mostram-se frágeis se confrontadas com dados como os apresentados
por Barros et al. (2000), que evidenciam uma estabilidade da desigualdade de renda no país
de 1977 a 1999 – período marcado por crescimento mais lento da economia e aumento da
escolaridade média.

A relação entre educação e desigualdade de renda mostra-se, assim, mais complexa do


que a princípio se poderia supor. Outra evidência em favor disso é apresentada por Cruces
et al. (2011), reproduzida aqui na forma de três gráficos. O primeiro (figura 2.3) ilustra o
significativo aumento na média dos anos de estudo em todos os países da América Latina nas
décadas de 1990 e 2000, indicando que tanto indivíduos de classes sociais baixas quanto de
altas terminaram esse período analisado mais educados do que os mesmos grupos alguns
anos antes. Complementarmente, o segundo gráfico (figura 2.4) informa a variação negativa
no coeficiente de Gini para a distribuição dos anos de escolaridade. Já o terceiro, na figura 2.5,
que apresenta o hiato de anos de escolaridade entre o quintil de renda no topo e o na base da
distribuição, aponta que essa defasagem aumentou para quase todos os países. Uma análise
mais minuciosa acerca desse aumento entre os quintis, entretanto, revela que isso ocorreu
somente na década de 1990, enquanto na seguinte houve redução da discrepância na maioria
dos países, conforme resume a tabela 2.1.

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Figura 2.3 - Mudança na média dos anos de estudo (25 a 64 anos)

Fonte: Cruces et al. (2011) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

Figura 2.4 - Mudança no Gini educacional (25 a 64 anos)

Fonte: Cruces et al. (2011) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

Figura 2.5 - Mudança no hiato entre os quintis de renda (25 a 65 anos)

Fonte: Cruces et al. (2011) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

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Tabela 2.1 - Mudanças na média dos anos de estudo e nos indicadores de desigualdade
educacional (25 a 65 anos)
média dos anos de estudo hiato dos anos entre os quintis gini da educação
1990s 2000s total 1990s 2000s total 1990s 2000s total
Argentina 0.4 0.8 1.2 1.2 -0.6 0.7 -0.003 -0.023 -0.026
Bolívia 0.4 0.1 0.5 0.4 -0.3 0.1 -0.067 -0.018 -0.085
Brasil 0.9 1.7 2.5 0.8 -0.8 0.0 -0.049 -0.078 -0.127
Chile 1.1 0.9 2.0 0.4 -1.0 -0.6 -0.044 -0.047 -0.090
Colômbia 0.7 0.4 1.0 0.3 0.0 0.3 -0.022 -0.013 -0.035
Costa Rica 0.5 1.3 1.8 0.2 1.1 1.4 -0.031 -0.032 -0.063
Equador 0.8 1.2 2.0 0.8 -0.6 0.3 -0.030 -0.032 -0.061
El Salvador 1.5 1.0 2.4 1.2 0.1 1.3 -0.097 -0.058 -0.154
Honduras 0.6 0.7 1.3 0.1 0.2 0.4 -0.045 -0.053 -0.098
México 1.6 0.7 2.3 1.5 -1.6 -0.2 -0.074 -0.047 -0.121
Nicarágua 0.5 0.6 1.1 0.1 1.4 1.5 -0.035 -0.021 -0.056
Panamá 0.8 0.8 1.6 0.2 0.3 0.5 -0.032 -0.023 -0.055
Paraguai 0.5 1.5 1.9 0.6 0.0 0.6 0.008 -0.031 -0.024
Peru 0.1 1.0 1.0 0.0 -0.8 -0.8 0.000 -0.050 -0.050
Uruguai 1.1 0.5 1.6 0.6 1.1 1.6 -0.044 -0.012 -0.055
Venezuela 1.1 0.7 1.8 -0.4 -0.3 -0.8 -0.048 -0.025 -0.073
média 0.8 0.9 1.6 0.5 0.1 0.4 -0.038 -0.035 -0.073
Fonte: Cruces et al. (2011) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

Para determinar com precisão em que medida a escolaridade explica a desigualdade de


renda, então, a análise deve abarcar fatores para além da própria distribuição dos anos de
estudo. Tinbergen (1975) apresenta uma contribuição importante nesse sentido ao empregar
um arcabouço teórico para interpretar os papéis da oferta e da demanda por trabalho qualifi-
cado nas mudanças do retorno à educação. Sob essa ótica, um aumento na oferta relativa
desses trabalhadores deveria induzir uma redução na disparidade de remuneração em rela-
ção aos não qualificados, enquanto um crescimento na demanda relativa por qualificados
poderia compensar parcialmente esse impacto equalizador da oferta. O autor elenca duas
razões principais para justificar essas alterações: o avanço tecnológico favoreceria a demanda
relativa por trabalhadores com graus mais altos de instrução, aumentando seus salários; já o
aumento educacional promoveria uma força contrabalanceadora. A discussão de Tinbergen
(1975), assim, toma a forma de uma corrida entre educação e tecnologia.

Esse arcabouço viria a ser formalizado por Katz e Murphy (1992), que reduzem a análise da
desigualdade a dois fatores de produção, cada qual correspondendo a níveis de qualificação
entre trabalhadores – alto e baixo. Repousam, assim, na suposição de que a disparidade de
renda é principalmente determinada pelo diferencial de remuneração entre esses dois grupos,
o prêmio por qualificação, que por sua vez flutua de acordo com a interação entre a oferta e
demanda relativas pelos dois fatores considerados.

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A metodologia pioneira de Katz e Murphy (1992) e de sua literatura subsequente envolve
uma função de produção com elasticidade de substituição constante (CES) e os dois fatores,
dividindo a força de trabalho entre aqueles com educação terciária, completa ou não, e
aqueles que não passaram do ensino médio. O produto total é função da quantidade de cada
um dos fatores, da elasticidade de substituição entre eles e de outros parâmetros associados
à tecnologia (Gasparini et al., 2011b). Sob condições de competição perfeita e assumindo
que existe um número considerável de empresas, o diferencial de salários satisfaz a seguinte
equação:

λt
³ ´ ³ ´ ³ ´
WSt St
l og WU t = l og 1−λt − σ1SU l og Ut

onde a letra S se refere aos qualificados e U aos não qualificados. σSU é a elasticidade de
substituição entre o trabalho qualificado e o não qualificado, S t /U t são as respectivas ofertas
desses fatores e λt representa o parâmetro de deslocamento da demanda.

A elasticidade de substituição entre cada tipo de trabalho é uma variável indispensável


porque é ela que determina o impacto que a oferta exerce sobre a disparidade salarial entre
eles. Menezes-Filho e Pecora (2014) explicam que, no caso em que o trabalho qualificado
e o não qualificado são substitutos perfeitos (elasticidade elevada), mudanças na oferta
relativa não alterariam em nada o diferencial de remunerações entre eles, já que a produção
da economia pode usar da mesma forma qualquer um dos dois tipos. Se, ao contrário, a
elasticidade de substituição é baixa, a oferta relativa terá grande influência sobre a razão
de salários. Assim, quanto menor a elasticidade, maior o efeito da oferta relativa sobre a
defasagem salarial.

Entre a literatura de maior proeminência que se inspirou nessa metodologia, como Autor,
Katz e Krueger (1998), Katz e Autor (1999) e Murphy, Riddell e Romer (1998), ainda que não
haja consenso entre os pesquisadores, a maioria concorda que o avanço tecnológico foi o
principal fator que estimulou a demanda por profissionais mais qualificados, influenciando
no prêmio, junto a outros fatores como comércio e medidas de terceirização. O último dos
estudos mencionados argumenta que seria necessário definir três grupos de trabalhadores
para examinar com mais precisão o caso dos Estados Unidos antes de 1960, quando a divisão
em somente dois grupos era pouco eloquente para descrever a distribuição dos níveis de
instrução da força de trabalho. Em função da heterogeneidade e do baixo nível médio de
educação, os estudos para a América Latina também optam pela divisão em três grupos, já
que não seria adequado reproduzir a categorização aplicada a países desenvolvidos para
períodos mais recentes. Os não qualificados, então, são divididos entre os que têm ou não
diploma do ensino médio, e a comparação entre eles se dá de forma análoga à equação
apresentada, fazendo a função CES acomodar os três tipos de trabalhadores.

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Uma limitação do arcabouço de Tinbergen (1975) e do modelo proposto por Katz e Murphy
(1992), aplicado por toda literatura subsequente, é a ausência de um meio cabal de aproximar
alterações na demanda: a partir dos salários e das mudanças nas quantidades relativas de
trabalhadores qualificados observados, computa-se dados sobre a demanda relativa como
resíduo, ou seja, com o que seria compatível com as variáveis observadas a um dado nível de
elasticidade de substituição entre os fatores (Gasparini et al., 2011b).

Para evidenciar o papel determinante da oferta e da demanda por trabalho qualificado na


desigualdade de renda, as figuras 2.6 e 2.7 1 correlacionam o prêmio por qualificação com o
índice de Gini da renda para 16 países latino-americanos. É nítido como os dois indicadores
são fortemente correlacionados e seguem trajetórias similares.

Figura 2.6 - Coeficiente de Gini de renda domiciliar per capita e prêmio qualificados/não
qualificados; 16 países da América Latina, 1989-2009.

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

1
No caso do gráfico à direita, o prêmio salarial é calculado com base na comparação entre os que têm diploma
de ensino médio e o que não chegaram a concluí-lo.

13
Figura 2.7 - Correlação: Gini da renda domiciliar per capita e prê-
mio salarial de ensino superior e de ensino médio; 16 países da América Latina, 1989-2009.

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

Além de constituir um fator determinante para a desigualdade de renda, a evolução desse


prêmio merece também destaque para efeito de formulação de políticas públicas, sobretudo
em países periféricos, mais desiguais, em que se sabe pouco a respeito dos movimentos dos
salários associados à distribuição educacional. Caso esses movimentos sejam provocados por
restrições no lado da oferta de trabalhadores qualificados, medidas que facilitem acesso ao
ensino ou aumentem sua qualidade seriam adequadas para revertê-los; se fossem provocados
pela demanda, políticas que afetem a procura por qualificados, como as relacionadas ao co-
mércio exterior, conforme será discutido mais adiante, seriam mais apropriadas (Manacorda
et al., 2010).

Com dados da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, Manacorda et al. (2010) estimam
os retornos à educação nas décadas de 1980 e 1990 e verificam que cada ano adicional de
estudo está associado a um aumento de 10 a 20% nos salários – nível relativamente alto. Há,
no entanto, variação significativa entre os países: trabalhadores que completaram ensino
secundário são pagos aproximadamente 45% mais do que aqueles com ensino primário na
Argentina e na Colômbia, e 83% mais no Brasil; salários de trabalhadores que completaram
faculdade são cerca de 90% maiores do que os com secundário completo no Chile, mas
apenas 45% superiores na Argentina e no México.

Para o período analisado no presente trabalho, a saber, décadas de 1990 e 2000, os estudos
sobre o tema convergem ao reportar um aumento contínuo da oferta relativa de trabalha-
dores qualificados na América Latina. Gasparini et al (2011b) mostram, com o exposto na
tabela 2.2, que a taxa de crescimento médio da região foi aproximadamente a mesma nas
duas décadas. Essa proximidade das taxas ofusca, contudo, casos como o do Brasil, em que,

14
segundo Menezes-Filho e Pecora (2014), a razão entre oferta de trabalho qualificado e não
qualificado aumentou cerca de 6% entre 1992 e 1999 e 37,2% entre 2002 e 2009. Resultado
mais preciso é alcançado com o emprego da categorização da escolaridade em três tipos: com
dados reproduzidos nas figuras 2.8 e 2.9, que abarcam desde 1981 até 2009, Menezes-Filho e
Fernandes (2012) revelam que é o número de trabalhadores intermediários que tem aumen-
tado substancialmente nesse período, a uma taxa crescente ao longo do tempo. A quantidade
de qualificados também aumentou, mas a um ritmo inferior; já o número de não qualificados
diminuiu. Em termos relativos, a oferta de trabalhadores intermediários, em relação a não
qualificados, aumentou mais que seis vezes, enquanto a de qualificados permaneceu pra-
ticamente estável em relação à de intermediários (Menezes-Filho e Fernandes, 2012). Esse
padrão de expansão da oferta relativa de trabalhadores com ensino secundário foi verificado
também no resto da América Latina – fato que Manacorda et al. (2010) atestou e atribuiu ao
aumento no esforço público para ampliar a cobertura dessas séries escolares.

Tabela 2.2 - Mudanças por país na oferta relativa de trabalhadores qualificados


oferta relativa
1990s 2000s
Argentina 4.6 2.4
Bolívia -0.2 5.1
Brasil 1.6 4.4
Chile 3.1 1.1
Colômbia 6.4 6.0
Costa Rica 4.0 3.4
Equador 3.4
El Salvador 5.5 -0.3
Honduras 2.6 2.3
México 3.6 2.2
Nicarágua 4.6 6.6
Panamá 2.3 2.4
Paraguai 5.3 6.1
Peru 0.2 3.8
Uruguai 2.9 1.1
Venezuela 3.9 4.2
média 3.4 3.4

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

15
Figura 2.8 - Evolução da oferta de trabalho (Brasil)

Fonte: PNADs/IBGE; elaboração de Menezes-Filho e Fernandes (2012).

Figura 2.9 - Evolução da oferta relativa (Brasil)

Fonte: PNADs/IBGE; elaboração de Menezes-Filho e Fernandes (2012).

Quanto aos salários, os dados da América Latina apresentados por Gasparini et al. (2011b)
indicam que o prêmio por qualificação cresceu para quase todos os países analisados durante
a década de 1990, sendo que o Brasil é exceção, conforme mostrado na tabela 2.3. Mas
esse resultado contrasta com outros estudos, como Menezes-Filho e Fernandes (2012) e
Menezes-Filho e Pecora (2014), que reportam aumento do prêmio durante o período no
país. Já na década seguinte, esse prêmio caiu em toda a região, e a taxa média de redução
foi aproximadamente 2,8% ao ano. Essa queda começou no fim dos anos 1990 em algumas
economias como a do México, e mais tarde em outras sul-americanas que passaram por crises
macroeconômicas (Argentina, Paraguai e Uruguai). Na maior parte dos países, a redução do
prêmio nos anos 2000 foi suficiente para compensar o aumento da década anterior, e em
alguns o prêmio chegou a 2009 em um nível mais baixo do que aquele do início da década
de 1990 (Gasparini et al., 2011b). Conforme é ilustrado na figura 2.10, no Brasil parece ter
ocorrido uma contínua queda no prêmio salarial: o salário dos qualificados tornou-se com o
tempo menos discrepante em relação ao dos trabalhadores com menos anos de estudo.

16
Tabela 2.3 - Mudanças por país no prêmio salarial
prêmio salarial
1990s 2000s
Argentina 3.5 -2.4
Bolívia 7.9 -4.6
Brasil -0.4 -3.2
Chile 0.5 -1.9
Colômbia 2.5 -2.0
Costa Rica 0.4 -0.2
Equador -3.2
El Salvador 1.7 -0.1
Honduras 0.0 -1.9
México 1.8 -2.8
Nicarágua 3.5 -6.9
Panamá 0.3 -2.3
Paraguai 0.8 -5.6
Peru 0.6 -2.8
Uruguai 2.3 -0.9
Venezuela 1.1 -4.8
média 1.8 -2.8

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

Figura 2.10 - Salário real e anos de estudo (Brasil)

Fonte: Elaboração própria; dados da PNADs/IBGE retirados de Machado (2017).


Nota: A preços constantes de 2015 (deflacionado pelo IPCA/IBGE).

Analisando os retornos relativos aos diferentes níveis de escolaridade no Brasil, conclui-se


que houve uma substancial queda no salário relativo de trabalhadores intermediários: se-
gundo Menezes-Filho e Fernandes (2012), entre 1981 e 2009 o diferencial entre qualificados e
intermediários aumentou cerca de 30%, enquanto o entre intermediários e não qualificados

17
diminuiu cerca de 40%. Na maioria dos países latino-americanos, concorrentemente ao forte
aumento na oferta relativa de graduados no ensino médio, também houve queda na remune-
ração relativa desse grupo durante as duas décadas estudadas, ainda que mais fortemente
na segunda (Gasparini et al., 2011b). Um padrão semelhante foi verificado também para
a década de 1980 por Manacorda et al. (2010) em toda a América Latina com exceção do
México. Segundo eles, trabalhadores com educação secundária parecem ter perdido terreno
em relação à remuneração dos outros dois grupos – resultado que também foi reportado na
literatura desse tema para os Estados Unidos, como Autor et al. (2008). A trajetória salarial
comparada à oferta relativa das três categorias de qualificação pode ser vista nas figuras 2.11
e 2.12 para a América Latina e na 2.13 especificamente para o caso brasileiro.

Figura 2.11 - Prêmio salarial dos qualificados em relação aos não qualificados
(1989-2009); desvios em relação à média do país

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

Figura 2.12 - Prêmio salarial dos que concluíram/não concluíram o ensino médio
(1989-2009); desvios em relação à média do país

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

18
Figura 2.13 - Evolução dos diferenciais de salário no Brasil

Fonte: PNADs/IBGE; elaboração de Menezes-Filho e Fernandes (2012).

Conforme já foi mencionado, a demanda relativa é uma variável não observada, calcu-
lada como resíduo para uma dada elasticidade de substituição entre os fatores do modelo.
Menezes-Filho e Pecora (2014) explicam que, no Brasil, a elasticidade estimada entre traba-
lhadores não qualificados e intermediários, ainda que seja elevada e indique alto nível de
substituição, revela que esses dois tipos não podem ser considerados substitutos perfeitos.
Assim, há uma pequena sensibilidade de salários entre esses dois tipos de trabalho em relação
à oferta: quando a razão de oferta entre trabalho intermediário e não qualificado aumenta em
1%, o diferencial de salários diminui aproximadamente 0,1%. Já entre o trabalho qualificado
e o não qualificado, a elasticidade estimada é menor, o que significa um menor grau de subs-
tituição entre eles: uma elevação de 1% na oferta relativa reduz em aproximadamente 0,3% o
salário do primeiro em relação ao segundo. A partir dessa elasticidade calculada, chega-se ao
impacto que a oferta relativa de qualificados (que, como já foi mencionado, cresce cerca de
6% entre 1992 e 1999 e 37,2% entre 2002 e 2009) exerce sobre o diferencial de salários. Assim,
Menezes-Filho e Pecora (2014) estimam que ela impulsionou uma redução de 1,8% no prêmio
por qualificação no primeiro período, e de 11% no segundo.

Um dos modelos empregados por esses autores pressupõe que a oferta de trabalho é
exógena e a demanda por trabalho qualificado é linear ao longo do tempo. Combinando
esses impactos calculados para a oferta com essa tendência linear estimada, temos que na
década de 1990 a tendência de aumento do prêmio foi mais forte do que os efeitos negativos
(provocados pela oferta relativa): a demanda atuou elevando em 9,6% enquanto o efeito da
oferta comprimiu em 1,8% o diferencial de salários; o resultado líquido foi um aumento de
7,8% entre 1992 e 1999 – que contrasta com o dado de Gasparini et al. (2011b). Para o período
entre 2002 a 2009, o crescimento da oferta relativa de trabalho qualificado foi mais marcante
e provocou um efeito negativo no prêmio que superou o positivo da demanda, resultando na
redução de 0,2% no prêmio.

19
Segundo os cálculos de Gasparini et al. (2011b) para os países latino-americanos, os padrões
observados no prêmio e na oferta relativa são consistentes com um positivo e forte aumento
na demanda relativa por qualificados nos anos 1990 em todos os países, conforme se verifica
pelas estimativas da demanda residual calculadas para diferentes elasticidades de substituição
da tabela 2.4. Já as estimativas para a demanda relativa da década de 2000 indicam uma
reversão da tendência da década anterior, com um deslocamento negativo em todos os
países com exceção da Colômbia e da Costa Rica. Assim, apesar de esse estudo apontar uma
trajetória da demanda que diverge daquela linear e crescente suposta por Menezes-Filho e
Pecora (2014), há um consenso entre a literatura sobre a América Latina de que, na primeira
década, os efeitos da oferta sobre o prêmio por qualificação não foram grandes o suficiente
para compensar os da demanda; na segunda, a alteração negativa da demanda deu marguem
para que o grande aumento da oferta relativa de trabalhadores qualificados impulsionasse
uma queda no prêmio.

Tabela 2.4 - Mudanças por país na demanda para diferentes elasticidades (e)
demanda relativa (e=2) demanda relativa (e=3)
1990s 2000s 1990s 2000s
Argentina 11.5 -2.3 15.0 -4.7
Bolívia 15.6 -4.1 23.5 -8.7
Brasil 0.8 -1.9 0.4 -5.1
Chile 4.1 -2.7 4.6 -4.7
Colômbia 11.5 2.1 14.0 0.1
Costa Rica 4.9 3.0 5.3 2.8
Equador -3.0 -6.3
El Salvador 8.9 -0.4 10.6 -0.5
Honduras 2.6 -1.4 2.6 -3.3
México 7.2 -3.5 9.0 -6.3
Nicarágua 11.6 -7.2 15.0 -14.1
Panamá 2.9 -2.2 3.1 -4.4
Paraguai 6.9 -5.2 7.6 -10.8
Peru 1.3 -1.8 1.9 -4.6
Uruguai 7.4 -0.6 9.6 -1.4
Venezuela 6.2 -5.4 7.3 -10.3
média 6.9 -2.3 8.6 -5.1

Fonte: Gasparini et al. (2011b) baseado em SEDLAC (CEDLAS e Banco Mundial).

3 A demanda por trabalho qualificado: teoria e evidências


A mudança tecnológica é sem dúvida uma força importante por trás da demanda por
trabalhadores qualificados, mas vários outros fatores podem também desempenhar um

20
papel considerável. Choques externos, crises macroeconômicas e reformas estruturais como
liberalização e privatização são mais comuns na América Latina do que nas economias
estudadas por Katz e Murphy (1992) e influenciam diretamente no emprego e na demanda
de qualificados (Gasparini et al., 2011b). Em função disso, a abordagem de Manacorda et
al. (2010), por não estabelecer uma proxy explícita para a demanda relativa e capturar os
deslocamentos por meio de efeitos fixos de ano e país, tem sido mais seguida pela literatura
sobre a região.

Menezes-Filho e Pecora (2014) empregam essa metodologia de Manacorda et al. (2010),


que computa as elasticidades de substituição entre trabalhadores de diferentes escolaridades
para cinco países latino-americanos durante as décadas de 1980 e 1990, isolando o cálculo
dessas elasticidades apenas para o Brasil e usando dados mais recentes, de 1992 a 2009.
Além do modelo já mencionado que supõe crescimento linear da demanda por qualificação,
os autores empregam também uma equação que supõe uma demanda por qualificados
de crescimento quadrático, cujos resultados se ajustam particularmente bem aos dados
observados do prêmio. A partir do que foi obtido com tendência de crescimento não linear da
demanda, os autores isolam do modelo os efeitos da oferta e da demanda relativas. A figura
3.1 reproduz graficamente o resultado dessa decomposição e evidencia a relevância do efeito
da demanda relativa para dirigir a curva dos salários relativos: esse efeito parece ainda mais
importante que a oferta para explicar a evolução do prêmio. Levantando a necessidade de se
investigar os fatores para além da oferta que impulsionaram essa evolução, e sobretudo sua
redução em anos mais recentes, Menezes-Filho e Pecora (2014) sugerem que é provável que
a demanda maior por trabalhos que não exigem elevada qualificação tenha um peso a ser
considerado e estudado com mais profundidade.

Em direção a essa investigação sobre fatores do lado da demanda por trabalhadores qua-
lificados que possam explicar as disparidades salariais, Behrman et al. (2007), embora sem
abordar explicitamente a oferta e a demanda por trabalho qualificado, usam dados de 18
países da América Latina entre 1977 e 1998 e traçam a trajetória dos hiatos de salário entre
trabalhadores com diferentes níveis de escolaridade relacionando com políticas liberalizantes
como mudanças nas tarifas de comércio e privatizações. Os autores atestam que, de um
modo geral, essas políticas liberais na economia tiveram o efeito de reforçar a desigualdade
ao aprofundar as discrepâncias das remunerações.

Fatores institucionais como políticas de crescimento real do salário mínimo também devem
ser considerados entre os que favoreceram a queda no prêmio por qualificação durante as
décadas mais recentes. Lustig et al. (2012) apontam essa como uma provável causa da
redução na disparidade salarial na Argentina e no Brasil, apesar de sugerirem que é muito
difícil discernir esses fatores institucionais do efeito da queda da demanda por trabalho

21
Figura 3.1 - Efeitos da oferta relativa de trabalho qualificados e da demanda quadrática
por trabalho qualificado

Fonte: Menezes-Filho e Pecora (2014).


Nota: a linha com traços curtos mostra o efeito apenas da demanda quadrática por trabalho qualificado. Para
obter essa série, calculou-se os valores estimados pelo modelo fixando o diferencial de oferta para o seu valor
inicial observado em 1992. A linha com traços longos mostra o efeito apenas do diferencial de oferta entre
trabalhadores de elevada e baixa qualificação. O modelo final (linha cheia) considera conjuntamente os efeitos
de oferta e demanda.

qualificado. Autor et al. (2008) tentam isolar esse impacto incluindo o valor real do salário
mínimo como uma das variáveis independentes nas regressões com dados dos Estados
Unidos, sob o argumento lógico de que, aumentando a remuneração da base da distribuição,
um mínimo obrigatório deveria ter relação negativa com o prêmio da educação. Gasparini
et al. (2011b) colocam como discutível se esse raciocínio seria válido na América Latina por
conta dos altos níveis de informalidade da força de trabalho. Nas regressões, de fato não
encontram coeficientes significantes relacionando os níveis de salário mínimo ao prêmio
na região. Maloney e Nunez (2006) e Bosch e Manacorda (2008), entretanto, apresentam
evidência de que políticas de crescimento real do mínimo exercem impacto relevante sobre
a disparidade de remunerações na América Latina, sobretudo quando se atenta à base da
distribuição.

Voltando propriamente aos determinantes da evolução da demanda por qualificados, é


indispensável que essa análise associe à distribuição dos anos de estudo a estrutura do mer-
cado de trabalho. Isso porque um trabalhador que concluiu níveis mais altos de escolaridade
não necessariamente ocupará uma vaga que exija a qualificação que alcançou, sobretudo
se essa estrutura estiver se movimentando em favor da procura por pessoas com menor
grau de instrução. No Brasil, por exemplo, trabalhadores intermediários estão cada vez mais
realizando tarefas que eram antes feitas por não qualificados, o que pode ser interpretado
como sinal de over-education (Hartog, 2000).

22
Menezes-Filho e Fernandes (2012) apresentam um modelo capaz de captar esse efeito
observando a distribuição dos trabalhadores com o mesmo nível de ensino nas diferentes
tarefas. O arcabouço teórico empregado supõe dois tipos de tarefas na economia: simples e
complexas; trabalhadores não qualificados só fazem as primeiras e os qualificados só fazem
as segundas. Já os trabalhadores intermediários podem executar ambas. A particularidade
desse método é que a separação em três grupos educacionais leva em conta a diferença na
parcela de trabalhadores intermediários realizando cada tipo de tarefa. Assim, sob a estrutura
de equilíbrio geral, um choque de demanda em determinado setor, dada a oferta relativa,
não se traduz automaticamente em uma mudança relativa dos salários: parte do choque será
absorvido por meio de alterações na composição dos trabalhadores intermediários em todos
os setores (Menezes-Filho e Fernandes, 2012).

Frente à já mencionada queda relativa de salários de trabalhadores intermediários, por


exemplo, que à primeira vista pode parecer apenas um resultado de sua maior oferta, resta
avaliar em que medida isso pode ser também explicado pela evolução da parcela de interme-
diários em cada uma das tarefas. Inserindo os dados de 1981 a 2009 no modelo, constatou-se
que a demanda por habilidades subiu tanto nas tarefas simples quanto nas complexas, o que
causou um aumento na porcentagem de intermediários executando tarefas simples. Seus
salários relativos teriam se elevado no período estudado, pelo menos na comparação com os
não qualificados, não fosse seu extraordinário aumento na oferta relativa. De acordo com os
autores, na ausência de choques de demanda, o diferencial de salário entre intermediários e
não qualificados teria caído muito mais: os dos primeiros teriam convergido para o salário
dos últimos em 2009, em vez de serem duas vezes maior. Além disso, na ausência desses
choques, a parcela de intermediários realizando tarefas complexas teria caído de 54% para
35%; segundo o modelo, caiu para 3%.

Outro resultado é o aumento na demanda por trabalhadores qualificados nas tarefas com-
plexas, o que contribuiu para o aumento de sua remuneração relativa. Não fossem os choques
de demanda, seus salários em relação aos dos intermediários teriam diminuído para uma pro-
porção de 1,4, em vez de crescer para uma de 2,4 como observado nos dados. Menezes-Filho
e Fernandes (2012) notam que essa demanda relativa por qualificados cresceu a um ritmo
mais lento entre 1988 e 1996 – período de liberalização comercial –, resultado que parece se
contrapor à conclusão citada de Behrman et al. (2007).

Essas alterações na estrutura do emprego podem ser atribuídas a diversas causas. Gasparini
et al. (2011b) destacam como exemplo delas uma eventual expansão da indústria intensiva
em trabalho não qualificado, ou mudanças tecnológicas, que poderiam operar fazendo o
avanço de tecnologias de informação e comunicação requerer habilidades mais sofisticadas
para manuseá-las. Os autores sugerem que essa hipótese parece encaixar com a evidência

23
da América Latina da década de 1990, que indica generalizado aumento no uso de trabalho
qualificado em todos os setores. Já a reversão na tendência de crescimento do prêmio por
qualificação na década seguinte seria explicada pela difusão tecnológica a um grupo mais
amplo da população, reduzindo o prêmio para esse conhecimento específico.

Além disso, é possível também que uma desincompatibilização de habilidades, ou "skill


mismatches", no mercado de trabalho tenha desempenhado um papel. O progresso limitado
atingido em termos de escolaridade por países latino-americanos em testes padronizados
como o PISA, particularmente para o Brasil, sugere que a queda nos retornos à educação
pode estar relacionada com uma qualidade deficitária das instituições de ensino. Nesse caso,
anos adicionais de estudo não necessariamente melhorariam os conhecimentos gerais e
habilidades dos trabalhadores. Em função desse fator, o crescimento explosivo no número de
alunos em faculdades privadas no Brasil (figura 3.2), por exemplo, pode ter produzido efeitos
que ficam ocultos sob uma análise superficial do ganho salarial atribuído ao ensino superior.
Isso porque essa expansão parece ter comprometido a qualidade média das universidades: o
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes indica que um terço dos cursos oferecidos
nessas instituições privadas não obteve desempenho satisfatório em 2016, contrastando com
cerca de um em sete na rede pública. Possivelmente respaldando essa hipótese, os histogra-
mas com a distribuição de salários menores que R$10.000 de trabalhadores qualificados de
2001 e 2015, na figura 3.3, parecem indicar um crescimento da concentração de qualificados
mais à esquerda da distribuição, com rendimentos menores, sobretudo entre trabalhadores
mais novos, que se formaram no período recente.
Figura 3.2 - Número de concluintes do ensino superior: rede pública e privada

Fonte: Fonte: MEC/Inep/Sinopse do Censo Superior

24
Figura 3.3 - Distribuição de salários de qualificados em 2001 e 2015

Fonte: elaboração própria; dados da PNAD/IBGE.


Nota: a preços constantes de de 2015 (deflacionados pelo IPCA/IBGE)

Alternativamente, outra hipótese é a de que as habilidades ensinadas em escolas e faculda-


des poderiam até ser de qualidade relativamente boa, mas elas não seriam as mais exigidas no
mercado de trabalho (Gasparini et al., 2011b). Pesquisas de empregadores na América Latina,
como a realizada pelo Banco Mundial (2011), corroboram essa hipótese ao identificarem que
a maioria das empresas tem tido dificuldades crescentes para encontrar trabalhadores com
as habilidades adequadas, em particular as associadas à tecnologia.

Katz e Murphy (1992) empregam um método de estudar a composição da qualificação por


setor de atividade a partir de uma decomposição das mudanças em “intersetores” e “intra-
setores”. O primeiro termo captura o impacto de transformações no padrão de emprego
motivado, por exemplo, pelo crescimento relativo de um dado setor, enquanto o segundo
mensura alterações na intensidade do uso de trabalhos com diferentes graus de qualificação
dentro de cada setor. Essa decomposição aplicada a países da América Latina em Gasparini et
al. (2011b) sugeriu que ambas as mudanças contribuíram para o aumento no emprego relativo
de trabalhadores com educação terciária nas duas décadas, ainda que o efeito “intra-setor”
tenha prevalecido (na média dos países considerados, foi responsável por quatro quintos do
aumento do emprego de trabalhadores com ensino superior nas duas décadas). Nos anos
2000, no entanto, Brasil, Chile, Costa Rica e El Salvador experienciaram mudanças relevantes
intersetoriais, em particular em favor dos qualificados – evidência que os autores associam à
expansão de setores de alta tecnologia e à atração de investimento estrangeiro direto durante

25
o período. Em relação àqueles trabalhadores que alcançaram até o diploma do ensino médio,
o efeito intersetor explica aproximadamente um quarto do aumento no emprego relativo
desse tipo de trabalhador nos anos 1990, mas, na década seguinte, quase todas as mudanças
são explicadas pelo “intra-setor” (Gasparini et al., 2011b).

Reis (2006) faz uma análise da estrutura setorial específica para o Brasil. Os dados de 1990 e
2003 da tabela 3.1 reproduzida captam as alterações desse período, marcado pela liberalização
comercial, em 31 setores da economia por meio das mudanças tanto na participação deles no
emprego total, quanto na composição de cada um por qualificação. Em relação aos efeitos
intersetoriais, nota-se uma tendência de redução na participação de atividades ligadas à
indústria: em 12 dos 17 ramos industriais, entre as linhas 4 e 20 da tabela, ocorreu redução
na parcela do emprego total. Atividades de serviços e comércio, em oposição, apresentam
tendência de aumento dessa parcela.

Tabela 3.1 - Emprego e qualificação por setor no Brasil (1990 e 2003)


Participação no emprego Proporção de
qualificados
1990 2003 Variação 1990 2003 Variação
1 Agropecuária 6,0 5,6 –0,4 4,1 7,4 3,4
2 Extrativa mineral 0,5 0,3 –0,2 17,9 30,8 12,9
3 Extração de petróleo 0,1 0,1 0,0 46,9 80,0 33,1
4 Indústria de minerais não-metálicos 0,9 0,7 –0,2 16,0 27,5 11,5
5 Indústria siderúrgica e metalúrgica 2,2 1,6 –0,6 19,1 35,0 15,8
6 Material de transportes 0,9 0,9 0,0 29,4 49,5 20,1
7 Indústria eletrônica 0,8 0,5 –0,3 33,5 59,7 26,2
8 Indústria mecânica 1,3 0,8 –0,5 25,5 58,3 32,8
9 Serrarias e artigos de madeira 1,7 1,5 –0,2 9,3 21,0 11,7
10 Indústria de papel e gráfica 1,0 0,8 –0,2 32,9 55,5 22,6
11 Indústria de borracha 0,2 0,1 –0,1 25,4 54,2 28,7
12 Produtos químicos 0,7 0,6 –0,1 34,0 53,2 19,2
13 Petróleo e indústria petroquímica 0,2 0,2 0,0 61,9 48,7 –13,2
14 Produtos farmacêuticos 0,3 0,4 0,1 42,1 65,1 22,9
15 Indústria de material plástico 0,5 0,3 –0,2 27,9 44,2 16,3
16 Indústria têxtil 1,1 0,9 –0,2 14,6 27,6 13,0
17 Vestuário e acessórios 4,1 2,3 –1,8 12,4 24,8 12,4
18 Calçados e artefatos de couro e peles 0,7 1,0 0,3 13,2 21,3 8,1
19 Indústria de alimentos 2,7 2,2 –0,5 18,1 29,7 11,5
20 Indústrias diversas 0,4 0,5 0,1 26,5 30,7 4,2
21 Serviços Industriais de utilidade pública 1,0 0,5 –0,4 47,6 62,6 15,0
22 Construção civil 7,9 7,9 0,0 7,4 12,4 5,0
23 Comércio 15,6 19,6 4,0 28,3 38,9 10,6
24 Transporte 5,1 5,3 0,2 14,8 26,6 11,8
25 Comunicações 0,6 0,6 0,0 56,5 79,4 22,9
26 Instituições financeiras 2,5 1,6 –0,9 78,9 89,0 10,0
27 Serviços prestados às famílias 16,2 12,7 –3,5 24,0 49,9 25,9
28 Serviços prestados às empresas 3,0 5,3 2,3 56,6 62,2 5,6
29 Aluguel de imóveis 0,6 0,5 –0,1 39,6 60,3 20,7
30 Administração pública 14,9 13,8 –1,1 56,0 70,7 14,7
31 Serviços privados 6,2 10,5 4,3 7,4 16,0 8,6
Fonte: Dados da PNAD organizados por Reis (2006)

26
No que diz respeito às proporções de trabalhadores qualificados, as discrepâncias entre
os setores são bastante acentuadas: na agropecuária e construção civil, por exemplo, essa
parcela correspondia a menos de 10% dos trabalhadores em 1990, e pouco mudou até 2003.
Ainda que tenha aumentado em quase todos os setores, foram nos que já apresentavam
essa proporção mais elevada, com marcas superiores a 60%, que ocorreram aumentos nessa
parcela relativamente mais pronunciados. Além disso, esses setores mais intensivos em
trabalho qualificado, em geral, tiveram reduções na participação total de empregados (Reis,
2006).

Para avaliar a importância relativa dos efeitos intra e intersetoriais, Reis (2006) também
empregou a decomposição entre esses dois tipos de variações no emprego por grupo de
qualificação. O resultado não destoa do que Gasparini et al. (2011b) mostrou sobre a América
Latina na medida em que Reis (2006) também atribui ao componente intra-setorial força
predominante: mais precisamente, foi responsável pelo aumento do emprego qualificado em
13 p.p. e pela redução do emprego dos não qualificados em pouco mais de 10 p.p., enquanto
o termo intersetorial agiu de forma muito mais amena no sentido contrário, reduzindo o
emprego qualificado em 1 p.p. e aumentando o não qualificado em uma magnitude seme-
lhante. Em relação aos semiqualificados, com educação secundária, houve uma queda no
período de 2,3 p.p. associada ao efeito intra-setorial. Gonzaga, Terra e Menezes-Filho (2006),
com dados da PNAD de 1988 a 1995, também atribuem quase toda variação ao componente
intra-setorial, com efeito positivo sobre os empregos qualificados, enquanto o impacto mais
marginal do intersetorial operou sobre eles com efeito negativo.

Conforme já foi mencionado, o comércio internacional é também um tema que ocupa


espaço na literatura para a região da América Latina, frequentemente associado a mudanças
tecnológicas, por exercer impacto no hiato de remunerações. A abertura comercial pode
ocorrer atrelada à incorporação de bens de capital complementares ao trabalho qualificado,
e assumir dessa forma o viés tecnológico que favorece esse último fator. Essa hipótese é
respaldada pela evidência sobre diferencial de salários, patamares de exportação e introdução
de equipamentos e maquinaria à produção latino-americana. Gasparini et al. (2011b) usam
esse argumento para justificar a inclusão de um índice que reúne as médias dos níveis
tarifários da região nas regressões.

Além das reformas comerciais, mais numerosas durante a década de 1990 do que na
seguinte, um fator que ganha mais vulto durante os anos 2000 é a importância crescente de
produtos exportados no contexto de boom nos preços das commodities e de emergência
de novos parceiros comerciais, mais notavelmente a China (Gasparini et al., 2011b). Ainda
que não tenham sido homogêneas entre os países da região, os autores optaram por inserir
também nas regressões as alterações nos termos de troca.

27
Em relação às variáveis de comércio, foi verificado que o coeficiente de tarifas tem cor-
relação positiva com a variação no prêmio da educação, como esperado, mas não signi-
ficantemente diferente de zero. Já o resultado para os termos de troca é mais notável: a
relação negativa com o diferencial de salários é significante – e consistente com a hipótese
segundo a qual o boom de commodities beneficiou desproporcionalmente trabalhadores
não qualificados na maior parte dos países da região. Vale lembrar, contudo, que esse efeito
se enquadra na categoria dos intersetoriais, que por sua vez são responsáveis por apenas
um quinto das mudanças na composição do emprego durante o período estudado. Assim,
o papel dos termos de troca parece ser promissor, mas não é suficiente para explicar toda a
queda na demanda relativa por qualificação nos anos 2000.

Uma abordagem mais tradicional na literatura que estuda os efeitos da abertura comercial
usa o modelo Heckscher-Ohlin; assumindo que o trabalho qualificado é um recurso relativa-
mente escasso em países periféricos como os da América Latina, ele prevê que uma relação
mais íntima com economias mais desenvolvidas resultaria em aumento no preço relativo
de bens domésticos intensivos em trabalho não qualificado, elevando assim a demanda por
esse fator – e fazendo declinar o prêmio por qualificação. Esse raciocínio tona-se vacilante,
entretanto, quando confrontado com os dados: os períodos de liberalização comercial nes-
ses países periféricos coincidem com a ampliação da disparidade salarial entre os níveis
educacionais.

As justificativas para a rejeição desse modelo apontavam para sua excessiva simplificação:
os países não passam instantaneamente de uma economia fechada para uma aberta como
ele supõe, mas de um padrão de tarifas altas para baixas, e essa transição tende a variar
substancialmente entre os setores, dependendo da estrutura de proteção que prevalecia em
cada um antes da liberalização. O impacto que esse processo exerce sobre a desigualdade
de renda é, então, função de alterações tarifárias e da intensidade de trabalho qualificado
entre os setores (Menezes-Filho e Giovannetti, 2006). Esse arcabouço teórico mais complexo
foi empregado por Hanson e Harrison (1999), Robertson (2004) e Gonzaga, Menezes-Filho
e Terra (2006). Os dois primeiros estudos concluem que a redução nos entraves comerciais
no México esteve associada ao aumento na defasagem salarial; já o último sustenta que, no
Brasil do início da década de 1990, a evidência de um declínio no diferencial de salários entre
quem tem e não tem diploma do ensino médio é na verdade consistente com as predições do
Heckscher-Ohlin.

A conclusão desse último estudo reforça a sugestão de Menezes-Filho e Fernandes (2012),


segundo a qual o ritmo mais lento de crescimento da demanda por qualificação entre 1988
e 1996 no país poderia estar associado às políticas liberalizantes; o trabalho de Gonzaga,
Menezes-Filho e Terra (2006), contudo, tem a limitação de dividir a amostra em apenas dois

28
grupos de qualificação. Uma análise mais robusta desse tema, categorizando os trabalhadores
em três grupos, foi apresentada por Menezes-Filho e Giovannetti (2006). Os autores testam
a hipótese de que uma redução tarifária não só provocaria declínio nos preços de bens
comercializados no país intensivos em trabalho qualificado, mas também barateariam os
bens estrangeiros usados como insumos à produção doméstica de outros bens. Assumindo
que incorporam mais tecnologia, esses bens intermediários e de capital contribuiriam para a
difusão tecnológica que operaria aumentando a produtividade relativa de trabalhadores mais
qualificados.

As figuras 3.4 e 3.5 ilustram a redução das tarifas no Brasil para insumos e produtos, res-
pectivamente, entre os setores ao longo do tempo. Nota-se que entre 1988 e 1990 houve uma
pequena redução, na ordem e 10%; o novo governo anuncia, então, um regime de abertura
comercial, de tal forma que a maioria dos setores chega a 1994 com tarifas flutuando entre
10% e 20%. Nesses quatro anos, por exemplo, as tarifas no setor de vestuário foram reduzidas
de 70% para 20% (Menezes-Filho e Giovannetti, 2006).

Figura 3.4 – Tarifas sobre insumos entre setores ao longo do tempo (Brasil)

Fonte: Menezes-Filho e Giovannetti (2006).

Figura 3.5 – Tarifas sobre produtos entre setores ao longo do tempo (Brasil)

Fonte: Menezes-Filho e Giovannetti (2006).

29
Para explicar a evolução do emprego de qualificados e semi-qualificados, Menezes-Filho
e Giovannetti (2006) recorrem a uma expressão que decompõe a participação desses traba-
lhadores em dois componentes: variação “inter-empresas” e “intra-empresas”. A parcela
de qualificados cresceu, segundo eles, 8,19% entre 1990 e 1998. Com o método da decom-
posição, cujos resultados estão reproduzidos na tabela 3.2, argumentam que empresas que
usam trabalho qualificado mais intensivamente tiveram sua participação relativa no em-
prego total relativa no emprego total reduzida, já que o termo “inter-empresas” é negativo
(-2,88%). Assim, o que determinou o aumento de participação dos qualificados foi a variação
“intra-empresas”, de 11,07%. O arcabouço teórico de Heckscher-Ohlin sugere que a abertura
comercial provoca aumento relativo na produção e no emprego em empresas produtoras
de bens intensivos em trabalho não qualificado, e, portanto, supõe um sinal negativo na
variação “inter-empresas” para os qualificados. Esse efeito até foi verificado, mas não teve
força para reduzir a parcela relativa desses últimos no emprego total em função do compo-
nente “intra-empresas”. Já para o caso dos semi-qualificados, com educação secundária,
a alteração “inter-empresas” foi positiva – contradizendo as predições do modelo, a não
ser que se considere que no Brasil da década de 1990 esses trabalhadores constituíam fator
abundante, relativamente, em relação a seus parceiros comerciais.

Tabela 3.2 - Decomposição "inter-empresas"e "intra-empresas"

Variação total Intra-empresas Inter-empresas


total anual total anual total anual inter/total
Qualificados 8,19% 0,68% 11,07% 0,92% -2,88% -0,24% -35,16%
Semi- 13,13% 1,09% 9,80% 0,82% 3,33% 0,28% 25,36%
qualificados

Fonte: Menezes-Filho e Giovannetti (2006).

Menezes-Filho e Giovannetti (2006) apresentam também evidências por meio de regressões,


e concluem que tarifas nos insumos são de fato negativamente correlacionadas com a partici-
pação de trabalhadores qualificados, mesmo isolando eventuais efeitos da intensificação de
capital e de tarifas sobre produtos. Como era de se esperar, reduções tarifárias aumentam a
demanda por qualificação mais intensamente em setores que usam insumos mais intensivos
nesse tipo de trabalho. Os autores, dessa forma, apresentam evidência suficiente em favor da
tese de que a liberalização comercial pode ter efeito perverso sobre a desigualdade de renda,
ao contrário do que prevê as considerações do Heckscher-Ohlin.

4 Considerações finais
O presente trabalho documentou a tendência de crescimento do prêmio salarial associado
ao ensino superior na América Latina dos anos 1990 e sua reversão durante a década de 2000.

30
Por ser determinante da disparidade de remuneração, esse prêmio guarda relação íntima
com a desigualdade de renda dos países analisados.

De um modo geral, a literatura explorada atribui à oferta de qualificados um papel limitado


frente à distribuição salarial, uma vez que seguiu na região uma trajetória semelhante nas
duas décadas. O lado da demanda, assim, assume protagonismo na explicação que repousa
sob diferentes hipóteses. A variação negativa da demanda por trabalhadores qualificados
durante os anos 2000 teve por consequência uma redução em suas remunerações relativas,
se comparadas com as da década anterior.

Os dados apresentados argumentam em favor da tese de que as hipóteses de Kuznets


(1955) e Langoni (1973) são muito insuficientes para associar corretamente as causações
das variáveis anos de estudo, desigualdade de renda e crescimento econômico. Tampouco é
suficiente a discussão que reduz as forças da oferta e da demanda por qualificação somente
ao efeito do avanço tecnológico operando contra o do aumento educacional, como propõe o
arcabouço teórico de Tinbergen (1975).

Ainda que a incorporação de tecnologia à produção de determinado país, possivelmente


consequência de abertura comercial, constitua determinante fundamental da demanda por
trabalho qualificado, outros fatores também merecem destaque, em particular aqueles que
contribuem para a expansão de setores que usam mais intensamente trabalho não qualificado,
como o chamado “boom das commodities”. O Brasil, em meados de 2000, experienciou um
aumento no poder de compra que foi particularmente mais pronunciado para trabalhadores
menos qualificados, de setores como o da construção civil cujo crescimento foi expressivo no
período. A análise da estrutura do emprego brasileira reproduzida de Reis (2006), por abarcar
dados só até 2003, não captou bem os efeitos desse processo. Nesse sentido, pesquisas futuras
seriam importantes para mensurar mais precisamente o quanto da redução no diferencial
de salários desse período foi provocado por mudanças na expansão relativa dos diferentes
setores.

31
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