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[Para os trinitários] trabalha-se porque é preciso ganhar dinheiro; essa é uma fonte
inteiramente errada de autodefinição. Perguntar que trabalho uma pessoa exerce não
diz nada significativo sobre ela. São as coisas que a pessoa escolhe livremente que
devem defini-la, não as coisas que ela tem de fazer. A liberdade parece central na
autoconstrução. 29-30
as roupas estão entre os nossos pertences mais pessoais. Elas constituem o principal
intermediário entre nossa percepção de nossos corpos e nossa percepção do mundo
exterior. 38
hoje temos uma antropologia baseada na igualdade global de espanto e exotismo. Só
porque nasci, fui educado e hoje vivo em Londres isso não quer dizer que eu
compreenda a cidade. Muito pelo contrário. De alguma maneira, como londrino, sou a
pessoa menos qualificada para me empenhar no esforço de compreendê-la, já que ela
tem, para mim, a qualidade de ser aceita sem questionamentos. 50-51
a palavra cultura nos diz que as sociedades elaboram o que são e o que fazem de
muitas maneiras. Pelo parentesco, pelo ritual e também pelos objetos. Porém, se
deixássemos nossas descobertas, nesse nível, estaríamos apenas de volta à nossa
teoria básica da representação, a da semiótica. A distinção entre potes pode não ser
redutível à função, mas o último parágrafo dá a impressão de que diferenças
representam apenas distinções, por exemplo, em termos de pureza, em contraposição
à poluição; ou festivais em contraposição a tempos seculares. 75
uma teoria da representação, contudo, pouco nos diz sobre a verdadeira relação entre
pessoas e coisas; ela tende sempre a reduzir as últimas às primeiras. De modo que isso
sugere a necessidade de uma ambição a mais: a possibilidade de se desenvolver uma
teoria das coisas per se que não se reduza às relações sociais. (Miller 2013:76)
em “o sentido da ordem” [the sense of order] – Gombrich argumentou que, quando uma
moldura é adequada, simplesmente não a vemos, pois ela nos transmite, sem emendas,
o modo como devemos ver aquilo que ela enquadra. Quando é inadequada, tomamos
subitamente consciência de que há uma moldura. 77
Assim, minha primeira teoria das coisas começa com a propriedade oposta ao que
esperaríamos dos trecos. Não que as coisas sejam trecos tangíveis, em que podemos
bater o dedão e tropeçar. Não que sejam fundações firmes e claras que se oponham à
leveza ou à sutileza das imagens da mente ou das ideias abstratas. Elas funcionam
porque são invisíveis e não mencionadas, condições que em geral alcançam por serem
familiares e tidas como dadas. Tal perspectiva parece ser descrita da maneira
apropriada como cultura material, pois implica que grande parte do que nos torna o que
somos existe não por meio da nossa consciência ou do nosso corpo, mas como um
ambiente exterior que nos habitua e incita. 79
para Louis Dumont [...] uma casta era definida em parte pelas outras castas, que lhe
eram superiores ou inferiores. Para Lévi-Strauss, cosmologias e filosofias eram
representações desses sistemas de distinções e dualismos que davam às pessoas a
capacidade de ver o mundo como algo significativo. 81
a lição da cultura material é que, quanto mais deixamos de nota-la, mas poderosa e
determinante ela se mostra[...] a cultura vem dos trecos[stuff] 83
Simmel é claro sobre essas contradições (dinheiro, por ex.: cria desigualdade mas paga
nosso trabalho), elas são intrínsecas à cultura. Nós simplesmente não podemos ter os
benefícios de um lado sem o risco do outro. Tudo que produzimos tende a ter um
interesse autônomo e o potencial de nos oprimir, em vez de nos servir. Se a cultura,
para Simmel, é o processo hegeliano que potencialmente nos cultiva ou oprime, então
ela é um subconjunto da filosofia dialética, e a cultura material um subconjunto da
cultura. Trecos possuem, aderida a eles, a trágica contradição da própria cultura. 97
Talvez em física seja possível definir materialidade, mas a definição seria de pouco valor
para a ciência social. O que podemos tentar, em vez disso, é ver o que as pessoas
querem dizer na prática com essa ideia; o que as religiões que querem escapar do
mundo material fazem quanto a isso; como as pessoas empregam na prática as ideias
de mais ou menos materialidade. 108-109
Bruno Latour, por exemplo, parece convencido de que a teoria dialética apenas
ressuscita a oposição entre sujeitos e objetos, ao passo que eu acredito que ela
consegue transcende-los. [...]Alfred Gell, que como Latour, encontrou uma via para
transcender a oposição entre coisas e pessoas dizendo que os objetos têm “agência”-
embora Gell use a palavra para criar uma abordagem da arte. [...] Ingold [ The perception
of the Environment, 2000] e Tilley [The phenomenology of Landscape, 1994] abordam
os objetos através da fenomenologia.
em vez de dizer que a casa tem agência, é mais fácil persistir com as entidades que em
geral pensamos como dotadas de agência, isto é, as pessoas, mesmo que, nesse caso,
elas estejam mortas. Um fantasma pode expressar o sentimento de que há poder na
mera longevidade da casa, uma agência que representa os limites de nossa própria
agência. 141 FANTASMAS NAS CASAS? USAR RELATO E USAR O DELAPLACE.
Esboço de uma teoria da prática, Bourdieu: Indivíduos crescem para se tornar, em graus
variáveis de tipicidade, membros de determinada sociedade. Na maioria dos casos, isso
não acontece pela educação formal, mas porque os hábitos e disposições gerais da
sociedade lhes são inculcados pelo modo como interagem em suas práticas cotidianas
com a ordem prefigurada nos objetos que encontram em torno de si. 200
um dos problemas da morte é que muitas vezes ela é inesperada e em geral não
planejada – atributo dos mais diruptivos, dada a significação social que atribuímos a ela.
Se você não tiver chance de se preparar para a morte, é muito complicado morrer direito,
do ponto de vista da sociedade. A solução para o problema é, em termos relativos,
ignorar o momento efetivo da morte como mero representar do fim de uma entidade
biológica que era a vida. Em vez disso, o evento é usado como sinal para começar a
preparar-se para todo um elaborado festim e todos os rituais que devem acompanhar a
morte (Miller 2013: 215).
A morte biológica não planejada é substituída por uma morte social planejada. Ora,
nesse tocante, os trecos são muito úteis. Se você não pode controlar o modo como se
separara do corpo vivo, decerto pode controlar o modo como se separa ou se despoja
dos objetos outrora associados àquele corpo. 215
A maioria das principais divisões de status social e sucesso que ocorrem durante a vida
são inteiramente ignoradas nas relativas homogeneidade e igualdade expressas na
maior parte das práticas fúnebres inglesas. O tamanho e a qualidade da lápide nos
dizem muito pouco sobre as distinções próprias à pessoa viva. Substituímos a hierarquia
real pela igualdade imaginada. 221 DIFERENTE DESSAS PRÁTICAS
PROTESTANTES, NO BRASIL, ESPECIFICAMENTE EM LARANJEIRA E AGUA VIVA,
DOS ENTERRAMENTOS NOS CEMITÉRIOS CATOLICOS - FALAR DO TEXTO DO
ANTONIO MOTTA.
O estudo da cultura material é pelo menos um caminho tão efetivo para a antropologia
dos relacionamentos e a constituição ou o desenvolvimento da individualidade quanto
qualquer tentativa de confrontar a natureza dos relacionamentos de forma direta. A
análise da cultura material é uma via indireta para compreender as pessoas e os
relacionamentos, mas podemos chegar mais depressa ao nosso destino e ir muito mais
longe que inúmeras outras vias mais tentadoras e diretas. 225
Sem uma disciplina clara, os pesquisadores interessados na cultura material têm muita
liberdade em sua habilidade para perambular pelo mundo e avaliar por que algumas
coisas importam, quando e para quem; e por que as pessoas afirmam que coisas que
julgamos ter grande importância para elas na verdade não importam. 229
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