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Miller, D. 2013. Treco, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material.

Zahar, Rio de Janeiro. [ Miller, D. 2010. Stuff. Polity Press, Cambridge]

ANTROPOLOGIA- PARTICULARIDADES // GENERALIDADES

A vantagem do compromisso simultâneo com esses dois extremos, particularidade e


generalidade, é que a antropologia pode dar sua contribuição mais importante para a
compreensão da humanidade e recoloca-los em conexão, sem perder o compromisso
com cada um deles. 16

O problema de uma teoria da semiótica – e de tratar a indumentária como algo


superficial – é que presumimos certa relação entre interior e exterior. Nós possuímos o
que poderia ser chamado de uma ontologia de profundidade. A hipótese é que ser – o
que realmente somos – está profundamente situado dentro de nós e em oposição direta
à superfície. Um comprador de roupas é superficial porque um filósofo ou um santo é
profundo. O verdadeiro núcleo do eu é relativamente constante e imutável, e também
indiferente à mera circunstância. Nós temos de olhar profundamente dentro de nós para
nos encontrar. Mas, tudo isso são metáforas. Profundamente dentro de nós há sangue
e bile, não certezas filosóficas. 28

[Para os trinitários] trabalha-se porque é preciso ganhar dinheiro; essa é uma fonte
inteiramente errada de autodefinição. Perguntar que trabalho uma pessoa exerce não
diz nada significativo sobre ela. São as coisas que a pessoa escolhe livremente que
devem defini-la, não as coisas que ela tem de fazer. A liberdade parece central na
autoconstrução. 29-30

a etnografia é uma devoção ao particular, ao que há de especial naquelas pessoas


individuais, naquele momento. Contudo, para compreender um minúsculo microcosmo
daquela população – porque as mulheres pobres [trinitárias, no caso] tinham tantos
sapatos? –, foi necessário enfrentar uma suposição filosófica básica quanto ao que é
ser humano. Eu precisei questionar nossa teoria ontológica fundamental, isto é, a
filosofia do ser, expor as hipóteses que fazemos sobre onde está situado o ser e sobre
a multiplicidade de metáforas e conjecturas que fluem em todas as direções a partir da
pressuposição de que o ser é profundo. 36

as roupas estão entre os nossos pertences mais pessoais. Elas constituem o principal
intermediário entre nossa percepção de nossos corpos e nossa percepção do mundo
exterior. 38
hoje temos uma antropologia baseada na igualdade global de espanto e exotismo. Só
porque nasci, fui educado e hoje vivo em Londres isso não quer dizer que eu
compreenda a cidade. Muito pelo contrário. De alguma maneira, como londrino, sou a
pessoa menos qualificada para me empenhar no esforço de compreendê-la, já que ela
tem, para mim, a qualidade de ser aceita sem questionamentos. 50-51

[...] ninguém teria a menor dificuldade de encontrar diversidades, sutilezas e distinções


infinitas. Porém, PARA CONDUZIR UMA INVESTIGAÇÃO ANTROPOLÓGICA,
PRECISAMOS AFIRMAR GENERALIZAÇÕES COMPARATIVAS. 52

a palavra cultura nos diz que as sociedades elaboram o que são e o que fazem de
muitas maneiras. Pelo parentesco, pelo ritual e também pelos objetos. Porém, se
deixássemos nossas descobertas, nesse nível, estaríamos apenas de volta à nossa
teoria básica da representação, a da semiótica. A distinção entre potes pode não ser
redutível à função, mas o último parágrafo dá a impressão de que diferenças
representam apenas distinções, por exemplo, em termos de pureza, em contraposição
à poluição; ou festivais em contraposição a tempos seculares. 75

uma teoria da representação, contudo, pouco nos diz sobre a verdadeira relação entre
pessoas e coisas; ela tende sempre a reduzir as últimas às primeiras. De modo que isso
sugere a necessidade de uma ambição a mais: a possibilidade de se desenvolver uma
teoria das coisas per se que não se reduza às relações sociais. (Miller 2013:76)

em Frame Analysis (1975), E. Goffmann argumentava que grande parte do nosso


comportamento é sugerido por expectativas determinadas pelos quadros que
constituem o contexto da ação. [...]. o ponto importante, aqui, é que as deixas que nos
dizem como interpretar os comportamentos em geral são inconscientes. Ex: quando um
palestrante inicia de repente uma conversa em particular com um estudante no meio da
palestra, logo todos se tornam conscientes das normas subjacentes à palestra como
gênero. 77

em “o sentido da ordem” [the sense of order] – Gombrich argumentou que, quando uma
moldura é adequada, simplesmente não a vemos, pois ela nos transmite, sem emendas,
o modo como devemos ver aquilo que ela enquadra. Quando é inadequada, tomamos
subitamente consciência de que há uma moldura. 77

as ideias de Goffmann e Gombrich formaram um argumento para o que chamei de a


humildade das coisas [ material culture and mass consumption – cap 6]. A conclusão
surpreendente é que os objetos são importantes não porque sejam evidentes e
fisicamente restrinjam ou habilitem, mas justo o contrário. Muitas vezes, é precisamente
porque nós não os vemos. Quanto menos tivermos consciência deles, mais conseguem
determinar nossas expectativas, estabelecendo o cenário e assegurando o
comportamento apropriado, sem se submeter a questionamentos. Eles determinam o
que ocorre à medida que estamos inconscientes da capacidade que têm de fazê-lo. 78-
79

Assim, minha primeira teoria das coisas começa com a propriedade oposta ao que
esperaríamos dos trecos. Não que as coisas sejam trecos tangíveis, em que podemos
bater o dedão e tropeçar. Não que sejam fundações firmes e claras que se oponham à
leveza ou à sutileza das imagens da mente ou das ideias abstratas. Elas funcionam
porque são invisíveis e não mencionadas, condições que em geral alcançam por serem
familiares e tidas como dadas. Tal perspectiva parece ser descrita da maneira
apropriada como cultura material, pois implica que grande parte do que nos torna o que
somos existe não por meio da nossa consciência ou do nosso corpo, mas como um
ambiente exterior que nos habitua e incita. 79

“tão óbvio que cega”. 79

a ideia central do estruturalismo era que não deveríamos encarar as entidades


isoladamente: uma escrivaninha, uma mesa de jantar, uma mesa de cozinha. Em vez
disso, deveríamos começar da relação existente entre as coisas. O que estamos
preparados para aceitar como mesa de jantar depende, em grande parte, do ponto em
que, caso fosse um pouco menor, ela passa a aparecer uma mesa de cozinha. Ambos
os objetos, e as palavras que usamos para designá-los, obtêm sua definição por
contraste com o que não são e pelo que são. Como tal, o estruturalismo punha o foco
na relação entre as coisas, e não nas próprias coisas. Um pote [indiano, no caso]
sozinho é inexpressivo, não tem sentido. Como exemplo de cultura, eles são uma
elaboração de formas com dimensões sistemáticas de diferença, de modo que só
podemos entender cada um em relação a todo o sistema. 80

para Louis Dumont [...] uma casta era definida em parte pelas outras castas, que lhe
eram superiores ou inferiores. Para Lévi-Strauss, cosmologias e filosofias eram
representações desses sistemas de distinções e dualismos que davam às pessoas a
capacidade de ver o mundo como algo significativo. 81

uma sociedade particular elabora suas práticas culturais mediante um padrão


subjacente que é manifestado numa multiplicidade de formas diferentes. Ao aprender a
interagir com uma profusão de culturas materiais, o indivíduo cresce aceitando as
normas que nós chamamos de cultura. A criança não aprende essas coisas como um
conjunto passivo de categorias, mas por meio de rotinas cotidianas que levam a
interações consistentes com as coisas – TEORIA DA PRÁTICA, Bourdieu. 82-83
[RETORNA NA PAGINA 200]

antes de realizarmos coisas, nós mesmos crescemos e amadurecemos à luz de coisas


que nos foram transmitidas pelas gerações anteriores. Percorremos terraços de arroz
ou sistemas rodoviários, a moradia e os jardins ancestrais. Eles dirigem
inconscientemente nossos passos, assim como o ambiente cultural ao qual nos
adaptamos. Bourdieu chamou a ordem subjacente inconsciente de nosso habitus. Há a
natureza, mas a cultura nos dá a segunda natureza, aquela que geralmente pomos em
operação sem pensar. 83

a lição da cultura material é que, quanto mais deixamos de nota-la, mas poderosa e
determinante ela se mostra[...] a cultura vem dos trecos[stuff] 83

Simmel é claro sobre essas contradições (dinheiro, por ex.: cria desigualdade mas paga
nosso trabalho), elas são intrínsecas à cultura. Nós simplesmente não podemos ter os
benefícios de um lado sem o risco do outro. Tudo que produzimos tende a ter um
interesse autônomo e o potencial de nos oprimir, em vez de nos servir. Se a cultura,
para Simmel, é o processo hegeliano que potencialmente nos cultiva ou oprime, então
ela é um subconjunto da filosofia dialética, e a cultura material um subconjunto da
cultura. Trecos possuem, aderida a eles, a trágica contradição da própria cultura. 97

Talvez em física seja possível definir materialidade, mas a definição seria de pouco valor
para a ciência social. O que podemos tentar, em vez disso, é ver o que as pessoas
querem dizer na prática com essa ideia; o que as religiões que querem escapar do
mundo material fazem quanto a isso; como as pessoas empregam na prática as ideias
de mais ou menos materialidade. 108-109

O outro lado da moeda da materialidade é a imaterialidade. [...] na religião, o principal


propósito do material é expressar o imaterial. 110

O imaterial só pode se expressar pelo material. 111 – TESE : A MORTE SE EXPLICA


ATRÁVES DOS OBJETOS: A MORTE PELO (CORPO) MORTO E OS OBJETOS QUE
ACOMPANHAM O RITUAL FÚNEBRE QUE CARACTERIZA A MORTE.

Bruno Latour, por exemplo, parece convencido de que a teoria dialética apenas
ressuscita a oposição entre sujeitos e objetos, ao passo que eu acredito que ela
consegue transcende-los. [...]Alfred Gell, que como Latour, encontrou uma via para
transcender a oposição entre coisas e pessoas dizendo que os objetos têm “agência”-
embora Gell use a palavra para criar uma abordagem da arte. [...] Ingold [ The perception
of the Environment, 2000] e Tilley [The phenomenology of Landscape, 1994] abordam
os objetos através da fenomenologia.

A religião realizou seu ideal de transcendência por meio do repúdio material.


Esclarecimento é igual a separação do desejo. Ao olharmos para nós, hoje, vemos que
herdamos em grande parte o mesmo sistema de crenças. A única coisa que jamais
devemos ser é materialistas, pois se supõe que dar atenção ao material significa não
dar atenção ao social, à pessoa. 117 POSSO USAR ESSA CITAÇAO PARA EXPLICAR
ALGUMA FALA QUE DIZ “ QUANDO SE MORRE NÃO SE LEVA NADA”, AO MESMO
TEMPO QUE OS TUMULOS ESTAO PREPLETOS DE OBJETOS. ABORDAR ESSA
CONTRADICAO (SIMMEL) A PARTIR DA “HUMILDADE DAS COISAS” QUE O
MILLER FALA (PAG.76). USO DE CERAMICA NOS TUMULOS IMITANDO AS CASAS.
TER CERAMICA NA CASA É SINONIMO DE RIQUEZA.

... buscas alternativas de transcender a oposição entre sujeito e objeto, teorias


associadas a escritores como Latour e Gell, que falam em termos da agência das coisas.
Isto é, nós pensamos que nós, sujeitos humanos, somos agentes livres que podemos
fazer isto ou aquilo com a cultura material que possuímos. Mas não podemos. Objetos
podem ser pequenas bestas obstinadas que caem do console da lareira e quebram, que
se recusam a crescer nos trechos sombreados do jardim, que nos obrigam a viajar, e
cujos sistemas caem justo quando estamos prestes a escrever algo genuinamente
interessante. 140

em resumo, uma maneira de pensar sobre essas teorias da dialética, ou constituição


mútua, é imaginar a cultura material como possuidora de agência inteiramente própria.
Coisas fazem coisas conosco, e não apenas coisas que gostaríamos que fizessem. 141

em vez de dizer que a casa tem agência, é mais fácil persistir com as entidades que em
geral pensamos como dotadas de agência, isto é, as pessoas, mesmo que, nesse caso,
elas estejam mortas. Um fantasma pode expressar o sentimento de que há poder na
mera longevidade da casa, uma agência que representa os limites de nossa própria
agência. 141 FANTASMAS NAS CASAS? USAR RELATO E USAR O DELAPLACE.

Esboço de uma teoria da prática, Bourdieu: Indivíduos crescem para se tornar, em graus
variáveis de tipicidade, membros de determinada sociedade. Na maioria dos casos, isso
não acontece pela educação formal, mas porque os hábitos e disposições gerais da
sociedade lhes são inculcados pelo modo como interagem em suas práticas cotidianas
com a ordem prefigurada nos objetos que encontram em torno de si. 200
um dos problemas da morte é que muitas vezes ela é inesperada e em geral não
planejada – atributo dos mais diruptivos, dada a significação social que atribuímos a ela.
Se você não tiver chance de se preparar para a morte, é muito complicado morrer direito,
do ponto de vista da sociedade. A solução para o problema é, em termos relativos,
ignorar o momento efetivo da morte como mero representar do fim de uma entidade
biológica que era a vida. Em vez disso, o evento é usado como sinal para começar a
preparar-se para todo um elaborado festim e todos os rituais que devem acompanhar a
morte (Miller 2013: 215).

A morte biológica não planejada é substituída por uma morte social planejada. Ora,
nesse tocante, os trecos são muito úteis. Se você não pode controlar o modo como se
separara do corpo vivo, decerto pode controlar o modo como se separa ou se despoja
dos objetos outrora associados àquele corpo. 215

Processo de acumulação e despojamento: as pessoas usam o ato de despojar-se de


coisas para manter o controle sobre o processo de separação, o qual é menos violento
e súbito que a própria morte. De vez que isso não é socialmente reconhecido como ritual
de separação, as pessoas encontram seus próprios caminhos para viver esse processo,
e há várias maneiras de concluí-lo. Uma delas pode se chamar economia [natural] dos
relacionamentos. Em certa medida, novos relacionamentos tendem a deslocar ou
desalojar relações passadas. O processo de se despojar das coisas após a morte segue
um padrão que já estabelecemos como prática regular, quando se trata de separar-se
de relações passadas. 218

Economia dos relacionamentos – cada relação significativa, com pessoas ou períodos


e acontecimentos do passado, foi enfim reduzida a um ou dois objetos, enquanto outras
lembranças abriram caminho para novas relações. 220 SOBRE OS SANTOS E
ROUPAS DA MAE DE DONA RAIMUNDA E ACRESCENTAR ROUPAS DOADAS AO
LONGO DOS ANOS DO MARIDO DE AMPARO. A CAMISA DA REMEDIOS COM A
FOTO DOS PAIS... POSSO USAR SENDO DE AMPARO....

A materialidade de cada um dos gêneros de objetos materiais com frequência também


é empregada para determinar a temporalidade do despojamento, a qual pode se aplicar
a relações que terminaram por várias razões[...] o desgaste de roupas apresenta um
contraste complementar à fixidez das joias.

A maioria das principais divisões de status social e sucesso que ocorrem durante a vida
são inteiramente ignoradas nas relativas homogeneidade e igualdade expressas na
maior parte das práticas fúnebres inglesas. O tamanho e a qualidade da lápide nos
dizem muito pouco sobre as distinções próprias à pessoa viva. Substituímos a hierarquia
real pela igualdade imaginada. 221 DIFERENTE DESSAS PRÁTICAS
PROTESTANTES, NO BRASIL, ESPECIFICAMENTE EM LARANJEIRA E AGUA VIVA,
DOS ENTERRAMENTOS NOS CEMITÉRIOS CATOLICOS - FALAR DO TEXTO DO
ANTONIO MOTTA.

O estudo da cultura material é pelo menos um caminho tão efetivo para a antropologia
dos relacionamentos e a constituição ou o desenvolvimento da individualidade quanto
qualquer tentativa de confrontar a natureza dos relacionamentos de forma direta. A
análise da cultura material é uma via indireta para compreender as pessoas e os
relacionamentos, mas podemos chegar mais depressa ao nosso destino e ir muito mais
longe que inúmeras outras vias mais tentadoras e diretas. 225

Sem uma disciplina clara, os pesquisadores interessados na cultura material têm muita
liberdade em sua habilidade para perambular pelo mundo e avaliar por que algumas
coisas importam, quando e para quem; e por que as pessoas afirmam que coisas que
julgamos ter grande importância para elas na verdade não importam. 229

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