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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Química
Departamento de Físico-Química

Exame de Qualificação Geral de Doutorado

Dicroísmo circular e sua aplicação na caracterização de


sistemas nano-estruturados, exceto micelas.

Doutorando: Eduardo José Creatto

Banca Examinadora:
Presidente:
Prof. Dr. Watson Loh

Membros:
Prof. Dr. Leandro Martínez
Prof. Dr. Pedro Luis Onófrio Volpe

Suplente:
Prof. Dr. Rogério Custodio

Campinas, setembro de 2015.


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1. Introdução
Dicroísmo circular (CD, circular dichroism) é uma técnica na qual se mede o desvio que a
luz circularmente polarizada sofre pela interação com a matéria. Como veremos, sua aplicação na
elucidação de conformações absolutas (CA) ganhou espaço com a evolução de sua teoria e
métodos. Devido à sua natureza, a abordagem para o tratamento de tal efeito é quântica. As
seções seguintes visam prover ao leitor as ferramentas necessárias para compreender o
fenômeno, e posterior aplicação nos sistemas de interesse.

2. Luz e matéria
2.1. Luz polarizada
A natureza da luz é diferente de tudo o que presenciamos em nosso cotidiano. Estamos
acostumados com as características de ondas formadas em um lago, por exemplo, ou de
partículas com trajetórias definidas, como bolas de bilhar. A luz, porém, apresenta ambos os
comportamentos, dependendo de como os experimentos são realizados, originando o termo
dualidade onda-partícula. Por conveniência, a luz será tratada como onda em nosso estudo.
As soluções das equações de Maxwell mostram que a luz é uma onda eletromagnética.1
Se esta se propaga com velocidade no eixo , pode-se mostrar que a luz nada mais é que um
campo elétrico ( ) oscilando perpendicularmente a um campo magnético ( ), como mostra a
Figura 1.

Figura 1. Representação esquemática de uma onda eletromagnética plana linearmente


polarizada se movendo na direção , com componentes elétrica ( ) e magnética ( ). Retirado e
adaptado da referência 1.

Para a onda mostrada na Figura 1, a variação temporal dos campos elétrico e magnético
pode ser escrita como:

( ) ̂ Eq. 1
( ) ̂ Eq. 2

Em que e são as amplitudes (altura da onda) dos campos, a frequência de


propagação (número de ciclos por unidade de tempo) e seu comprimento de onda (distância
entre duas cristas). Pode-se demonstrar facilmente que . Segundo Einstein, a energia de

1
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um quantum de luz (i.e., fóton) é dada por , em que é a constante de Planck.2 Dessa
forma, é comum associar a energia de fenômenos com a frequência ou o comprimento de onda da
luz envolvida. A Figura 2 apresenta o espectro eletromagnético com faixas de energias
pertinentes.

Figura 2. O espectro eletromagnético. Retirado da referência 2.

A Figura 1 apresenta uma onda linearmente polarizada, i.e., o vetor do campo elétrico
encontra-se sempre no mesmo plano, no caso, o plano . Há outros dois tipos de luz no que diz
respeito à sua polarização: não polarizada, a qual apresenta seus campos elétricos desorientados,
e circularmente polarizada, a qual é objeto de interesse no estudo do dicroísmo circular. Uma
onda é dita circularmente polarizada quando o módulo de seu campo elétrico se mantém
constante, mas sua trajetória é definida por uma hélice no sentido da propagação. Por convenção,
a luz é circularmente polarizada para a direita se o vetor do campo elétrico se move no sentido
anti-horário quando olhado diretamente para a fonte da luz, e polarizada para a esquerda quando
se move no sentido horário, nas mesmas condições.3 A Figura 3 mostra representações
esquemáticas dos três tipos de ondas possíveis referentes à sua polarização.

Figura 3. Representação esquemática de luz não polarizada, polarizada linearmente, e


circularmente polarizada para a esquerda. Os vetores mostrados correspondem àqueles do
campo elétrico. Figura de domínio público acessada em https://goo.gl/fhpvvU.

2.2. Espectroscopia
Entende-se por espectroscopia as medidas e experimentos realizados oriundos da
interação da luz com a matéria. Como se sabe, os níveis de energia em átomos e moléculas são
2
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discretos, e com isso podemos escolher uma luz com comprimento de onda adequado para
excitar exatamente o nível de energia desejado.
A técnica espectroscópica deve ser escolhida de acordo com a faixa do espectro
eletromagnético de interesse. A aplicação de campo magnético externo, por exemplo, gera
desdobramento nos níveis energéticos dos núcleos ou de elétrons desemparelhados, dando
origem às técnicas de ressonância magnética nuclear e de elétrons, respectivamente. A ordem de
grandeza das energias envolvidas nas transições rotacionais encontra-se na região de micro-
ondas. Vibrações moleculares, por outro lado, estão envolvidas com frequências na região do
infravermelho. E, por sua vez, transições eletrônicas necessitam de energia igual ou superior
àquelas do ultravioleta.4 Embora não tenha sido mencionado, a região mais comum em que se
realiza medidas de dicroísmo circular é a mesma de medidas puramente eletrônicas em que há
apenas interação com o campo elétrico da radiação.

2.3. Átomos e moléculas em um campo eletromagnético


Vamos verificar agora o que ocorre com um átomo ou uma molécula quando são inseridos
em um campo eletromagnético, i.e., incidência de luz sobre uma amostra. Utilizando a teoria da
perturbação, escrevemos o operador hamiltoniano de interação com a radiação como4

̂ ̂ ̂ Eq. 3

Os campos elétrico e magnético da radiação, definidos pelas equações 1 e 2, são os


responsáveis pelo potencial perturbativo. ̂ e ̂ são os operadores de momento de dipolo elétrico
e magnético, respectivamente. A construção destes operadores se dá por analogia com a
mecânica clássica,3 assim:

∑ Eq. 4
∑( ) Eq. 5

Em que é a carga do elétron, a massa do elétron, e a posição e o momento,


respectivamente, do -ésimo elétron. Note que ambos os dipolos são vetores resultantes da soma
de todos os elétrons por todo o átomo ou molécula. ̂ é o operador de perturbação de primeira
ordem. Esta aproximação é válida para pequenas perturbações, porém, se necessário, podem ser
acrescentados termos de maior ordem ou de acoplamento.3–5
Segundo a regra de ouro de Fermi3,4,6,7, a probabilidade de transição por unidade de
tempo, , do estado inicial, ⟩, para o final, ⟩, é dada por:

|⟨ |̂ | ⟩| Eq. 6

Em que é uma constante dependente da densidade de estados do sistema. A


quantidade ⟨ | ̂ | ⟩ é um vetor, logo, |⟨ | ̂ | ⟩| é o quadrado de sua norma. Como a
probabilidade de transição é um observável – relacionado com a área da banda em um espectro
de absorção –, esta norma deve ser um real. Isto é obtido se o operador de interação for
hermitiano4, resultando na igualdade ⟨ | ̂ | ⟩ ⟨ | ̂ | ⟩ ⟨ | ̂ | ⟩⟨ | ̂ | ⟩.
Substituindo a equação 3 na 6 e utilizando as propriedades do operador hermitiano, obtemos:

3
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{⟨ | ̂| ⟩ ̂ ⟨ |̂| ⟩ ̂ }{⟨ | ̂| ⟩ ̂ ⟨ |̂| ⟩ ̂} Eq. 8

Em que ̂ e ̂ são os vetores unitários na direção do campo elétrico e magnético,


respectivamente, e suas magnitudes foram incluídas na constante . As quantidades ⟨ | ̂| ⟩ e
⟨ |̂| ⟩ recebem o nome de momento de transição do dipolo elétrico e magnético,
respectivamente. Utilizando uma notação mais compacta, ⟨ | ̂| ⟩, tem-se

{ ̂ ̂ ̂ ̂} { ̂ ̂ ̂ ̂} Eq. 9

Este resultado será usado adiante, para o devido caso do CD.

2.4. Quiralidade
Diz-se que um objeto é quiral quando este não é superponível à sua imagem especular.
Rigorosamente, quiralidade é uma propriedade geométrica definida pela ausência de certos
grupos de simetria, tais como plano de simetria e centro de inversão.8,9 A quiralidade está
presente tanto em nível macroscópico quanto microscópico. Verifique por si mesmo que suas
mãos são quirais. O modo prático de verificar se uma molécula é quiral é examinar se esta possui
um carbono com quatro diferentes ligantes, se sim, este é o chamado carbono ou centro quiral,
marcado com um asterisco (*). Moléculas quirais são comuns em sistemas biológicos, como
ácidos nucleicos, sacarídeos e peptídeos. De fato, apenas L-aminoácidos – com exceção da
glicina, que é aquiral – constituem as proteínas. A Figura 4 apresenta as imagens especulares de
dois enantiômeros. É bem conhecido que enantiômeros – nome dado às moléculas que são
imagem especular uma da outra – rotacionam o plano da luz polarizada em quantidade iguais,
mas em direções opostas. Pasteur descobriu em 1848 a quiralidade molecular graças as
diferenças na cristalização dos enantiômeros do ácido tartárico.10 van’t Hoff foi o primeiro a propor
a ideia de carbono tetraédrico para explicar a existência de enantiômeros.11 Tais moléculas
apresentam também atividade no dicroísmo circular.

COOH COOH

 
H H
NH2 H2N
L-alanina D-alanina
Figura 4. Enantiômeros D e L-alanina.

3. Dicroísmo circular
3.1. Visão histórica
A descoberta da atividade óptica de algumas substâncias é compartilhada pelos franceses
Dominique-François Jean Arago (1786-1853) e Jean-Baptiste Biot (1774-1862). Biot observou que
o quartzo e algumas substâncias orgânicas, como o ácido tartárico, possuíam a capacidade de
rotacionar o plano da luz polarizada. Ele introduziu o termo rotação específica e verificou que esta
é inversamente proporcional ao quadrado do comprimento de onda, relação conhecida como a lei
de Biot.10–12
Em 1895, o também francês Aimé Auguste Cotton (1869-1951) publicou dois artigos
intitulados “Unequal absorption of right and left circularly polarized light by certain optically active

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substances” e “Anomalous rotatory dispersion of absorbing substances” mostrando seus estudos
com luz polarizada e compostos de coordenação de tartarato.11 Ele observou o agora chamado
efeito Cotton (CE, Cotton effect): quando luz plano-polarizada é incidida em um material
opticamente ativo, luz elipticamente polarizada emerge. Isto ocorre pois a luz plano-polarizada, ao
interagir com o meio, é convertida em luz circularmente polarizada para a direita e esquerda, as
quais são absorvidas diferentemente. Como resultado, as ondas de amplitudes desiguais se
combinam resultando em radiação elipticamente polarizada.12
A Figura 5 mostra medidas de rotação e elipticidade obtidas por Cotton para o tartarato de
cromo e potássio. Observa-se que a rotação específica, [ ], é zero quando a elipticidade é
máxima. Além disso, máximos são observados em ambos os lados.11,12 Chama-se 1º efeito Cotton
o máximo observado em comprimentos de onda maior, e 2º efeito Cotton aquele em menor
comprimento de onda.11

Figura 5. Rotação óptica (tracejado) e dicroísmo circular (curva cheia) do tartarato de


cromo(III) e potássio em água medidos por Cotton. Retirado da referência 12.

Até o final da década de 1920, praticamente nenhum avanço foi realizado a fim de
compreender o efeito Cotton. Porém, no fim dessa década, diferentes modelos foram
desenvolvidos. Kuhn13 utilizou mecânica clássica para relacionar, por meio da ideia de osciladores
harmônicos acoplados, o poder rotatório (normalização da rotação específica pelo caminho óptico
e a concentração da amostra) observado em determinada frequência de radiação com os
coeficientes de absorção molar dos estados eletrônicos relacionados na transição. Este modelo
consegue descrever matematicamente os espectros observados, contudo, não há ganho de
informação do ponto de vista estrutural da molécula, i.e., não é aplicável na determinação de
configurações absolutas. De fato, Kuhn assume que a aplicabilidade de seu método se encontra
na determinação de parâmetros moleculares a partir de dados experimentais.
Com o alvorecer da mecânica quântica e o trabalho de Erwin Schrödinger em 1926, ficou
claro que o tratamento da espectroscopia deve ser realizado utilizando mecânica quântica. Com
isto, Rosenfeld14 resolveu formalmente o dicroísmo circular utilizando funções de onda (o trabalho
original foi publicado em alemão, uma dedução em inglês foi realizada por Tinoco 15). O tratamento
convencional para interação da radiação com a matéria assume que a força que o campo
magnético da radiação exerce nos elétrons é negligenciável frente à força elétrica. Contudo,
Rosenfeld mostrou que esta não é uma boa aproximação para o tratamento da atividade óptica, e,
por tanto, o dipolo magnético deve ser levado em conta nas equações.15 Os modelos posteriores

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se baseiam nos estudos de Rosenfeld. Kirkwood16 propôs a teoria da polarizabilidade
(polarizability theory). Condon, Alter e Eyring17 desenvolveram a teoria do um-elétron (one-
electron theory). Somente em 1948, Davydov18 introduziu o conceito de exitons (exiton theory).
Tais teorias foram aplicadas por físicos e químicos em diversos sistemas. A escolha dos
químicos pela teoria da polarizabilidade se justifica pela sua praticidade e familiaridade com o
conceito. Por outro lado, os físicos mostraram interesse teórico na teoria do um-elétron. Em uma
luta particular, o dicroísmo circular perdeu para a cristalografia de raios-x, quando, em 1951, esta
técnica foi aplicada por Bijvoet19 para determinar, pela primeira vez, a configuração absoluta do
(+)-ácido tartárico.
Modificações da teoria do oscilador acoplado foram realizadas para estudar a relação do
CD com a estrutura helicoidal de biopolímeros. Em 1956, Moffitt20 estudou proteínas. Em 1962,
Tinoco21 aplicou a teoria para o estudo de DNA’s e oligonucleotídeos. No mesmo ano,
Schellman22 estudou polipeptídeos helicoidais.
No final da década de 1960, Harada23 e Nakanish desenvolveram a regra da quiralidade do
dibenzoato (dibenzoate chirality rule) para determinação da configuração absoluta de glicóis. Esta
regra é usada até hoje para a determinação da CA por dicroísmo circular de compostos
opticamente ativos que apresentam cromóforos.

3.2. Exciton chirality theory (ECT)


ECT é um método não-empírico para determinação de configurações absolutas. Vamos
verificar como este método é aplicado à molécula 5 -colestano-2 ,3 -diol bis(p-
dimetilaminobenzoato) (Figura 6). A regra diz que quando dois cromóforos, e , estão presentes
em uma molécula com uma intensa transição , eles podem interagir de forma a desdobrar o
nível excitado, formando dois estados, e , enquanto o estado fundamental permanece
inalterado, como mostra a Figura 6. Isso possibilita duas transições, 0 e0 . Os momentos
de transição eletrônicos dos substituintes p-dimetilaminobenzoato são dados por e .11

Figura 6. Estrutura do 5 -colestano-2 ,3 -diol bis(p-dimetilaminobenzoato) e


representação do desdobramento de seus níveis de energia. Modificado da referência 11.
6
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A força rotacional de uma transição3,11,14,15 (relacionada com a intensidade e sinal da


transição) é proporcional à relação ( ), em que é o vetor distância entre os grupos
e . Como vemos pela projeção de Newman na Figura 7, os grupos p-dimetilaminobenzoato se
encontram em sentido horário, logo, a multiplicação dos vetores de momento de transição resulta
em um vetor paralelo ao vetor distância. Portanto, a força rotacional desta transição é positiva, o
que leva ao 1º efeito Cotton positivo para a transição 0 . A mesma análise mostra que a
transição 0 corresponde ao 2º efeito Cotton, cujo sinal é negativo, como mostrado no espectro
de CD na Figura 7.

Figura 7. Esquema mostrando a a) direção dos momentos de transição, b) 1º e 2º efeito


Cotton e c) espectro UV-vis e CD do 5 -colestano-2 ,3 -diol bis(p-dimetilaminobenzoato).
Retirado da referência 11.

3.3. A técnica
Até aqui foi brevemente discutido a descoberta e o desenvolvimento do dicroísmo circular,
nesta seção vamos definir claramente o que é medido nesta técnica. O dicroísmo circular é
definido como a diferença de absorção da luz circularmente polariza para a esquerda, , e para a
direita, :

Eq. 10

A definição exige que a radiação incidente seja circularmente polarizada, não dizendo
respeito ao comprimento de onda desta, ou seja, qualquer faixa do espectro pode ser utilizada
para estudo do CD. Na prática, três condições de medidas são realizadas: 1) dicroísmo circular
vibracional24 (VCD), no qual radiação na região do infravermelho é utilizada, 2) dicroísmo circular
no ultravioleta visível (UV-CD ou simplesmente CD) e 3) dicroísmo circular magnético25 (MCD),

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em que é aplicado um campo magnético na amostra na direção da propagação da radiação
incidente. Neste texto, vamos nos referir ao dicroísmo circular sempre na região do UV-vis.
Além de moléculas quirais, estruturas que apresentam algum tipo de ordenamento, são
ativas no CD. A Figura 8 apresenta um esquema do dicroísmo circular. Podemos observar que
uma molécula aquiral ou uma mistura racêmica de enantiômeros não são ativas do CD.

Figura 8. Representação esquemática do dicroísmo circular e os sinais observados.


Retirado da referência 26.

O interesse no uso do CD se justifica pela vasta quantidade de sistemas que apresentam


quiralidade. Organismos vivos são a maior fonte de moléculas que apresentam atividade óptica,
seja aminoácidos, peptídeos, sacarídeos, proteínas, nucleotídeos, DNA, RNA, etc. Em escala
macroscópica podemos mencionar cristais, cristais líquidos e membranas. A quiralidade, nesses
casos, pode ser devido à uma indução preferencial pela própria agregação de monômeros quirais,
ou a estrutura final apresenta quiralidade intrinsecamente, como o caso de uma hélice, que é
quiral independente de seus monômeros.3,27

Como mostra a equação 10, define-se o dicroísmo circular em termos da absorbância da


amostra, porém, por fatores históricos, a unidade padrão de grande parte dos instrumentos é a
elipticidade, , em miligraus. A relação entre a absorbância e a elipticidade é dada por3:

( )
( ) Eq. 11

Uma modificação da lei de Lambert-Beer também pode ser feita:

Eq. 12

Em que é a absortividade molar, a concentração da amostra, e o caminho óptico.

3.4. Espectropolarímetro
A chave para um espectropolarímetro é a obtenção de luz circularmente polarizada para
direita e para a esquerda com intensidades idênticas. Para tal, é necessário uma fonte de luz,
geralmente uma lâmpada de xênon. Uma série de prismas e fendas são utilizadas para gerar luz
8
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monocromática e linearmente polarizada. Esta, por sua vez, é circularmente polarizada através de
um modulador fotoelástico (PEM), o qual usa cristais de quartzo isotrópico para tal.3

Figura 9. Esquema de um espectropolarímetro. Imagem disponível em:


http://goo.gl/23brnt.

3.5. Formalismo
Até aqui obtivemos uma descrição qualitativa da interação de uma amostra opticamente
ativa com radiação circularmente polarizada. Vamos aplicar as condições devidas aos resultados
obtidos na seção 2.3 e verificar os resultados encontrados por Rosenfeld.
Para calcular a quantidade na equação 10 devemos substituir a expressão analítica da
luz circularmente polarizada para a esquerda na equação 9, e então substituir a expressão da luz
circularmente polarizada para a direita e realizar a diferença. A expressão do campo elétrico para
a luz circularmente polarizada é dada por:

̂ ( ) Eq. 13

̂ ( ) Eq. 14

Em que ̂ e ̂ são os vetores unitários do campo elétrico da luz circularmente polarizada


para a esquerda e para a direita, respectivamente. Notando-se que as funções de onda são reais
e realizando uma média, devido ao fato de as moléculas estarem aleatoriamente distribuídas no
espaço durante a medida, temos que:

[ ] Eq. 15

Em que denota a parte imaginária do termo entre colchetes. Esta é conhecida como a
equação de Rosenfeld.3

4. Estudo de casos
Entende-se por química supramolecular o estudo de sistemas que resultam de interações
intermoleculares entre dois ou mais monômeros.28 Tais interações nunca são covalentes, podendo
ser eletrostática, ligação de hidrogênio, forças de van der Waals, stacking, etc.27 Sistemas
biológicos são um importante exemplo de auto-agregação e reconhecimento molecular. A química
supramolecular estende-se desde pequenos dímeros até sistemas coloidais como micelas, géis,
emulsões e nano-estruturas. Como dito, sistemas supramoleculares podem apresentar
quiralidade, e, embora exista a possibilidade de um tratamento formal do CD para pequenas

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moléculas e biopolímeros, grande parte das aplicações na caracterização de nano-estruturas é
feita qualitativamente. Como mostra o esquema da Figura 9, o CD é utilizado como detector para
verificar alterações de quiralidade do sistema, seja em nível molecular ou supramolecular.
Diferentes estímulos podem ser realizados em sistemas que apresentam resposta térmica, 29
fotossensível30 e química.31 Os trabalhos a seguir exemplificam a utilização do CD na
caracterização de sistemas nano-estruturados.

Figura 9. Esquema representando os sinais observados no CD quando a) uma molécula


quiral (laranja) induz a formação de moléculas aquirais (verde) em agregados quirais, b) a
interconversão de enantiômeros pela luz, por exemplo, e c) formação de estruturas quirais
dirigidas pelo excesso enantiomérico dos monômeros. Retirado da referência 27.

4.1. “Multi-stimuli-responsive chiral organogels based on peptide derivatives”

Em trabalho de 2015, Liu32 e colaboradores mostraram, por CD, sistemas quirais auto-
estruturados que respondem à estímulos químicos e físicos. Isto foi possível através do design de
derivados de peptídeos. As moléculas em questão, 1L/D e 2L/L (Figura 10), foram sintetizadas e
caracterizadas pelo grupo por RMN de 1H e 13C, espectrometria de massas, análise elementar e
ponto de fusão. Tais moléculas apresentam características específicas que as tornam
susceptíveis à auto-agregação: 1) grupos amida provenientes das ligações peptídicas, capazes de
formar ligações de hidrogênio intermoleculares, 2) longa cadeia hidrofóbica, que favorece
interações por forças de van de Waals e 3) grupos aromáticos, capazes de realizar interações
stacking.
Foi testada a habilidade de gelificação destas três moléculas, bem como de seus
precursores. Para isso, foi dissolvida uma pequena quantidade da substância, em torno de 0,4-2,0
% m/m, em diferentes solventes próticos e apróticos. Como esperado, 1L/D e 2L/L mostraram ser os

10
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melhores gelificantes dentre os casos estudados. As moléculas 1L e 1D produziram géis
translúcidos quando dissolvidas em tolueno, benzeno, o e m-diclorobenzeno e dimetil éter,
solventes pouco polares, enquanto a 2L/L produziu os mesmos resultados em etanol, dicloroetano
e diclorometano, solventes mais polares. Quanto à quiralidade, não foram observadas diferenças
de comportamento entre as espécies 1L e 1D, enquanto que, diferentemente de 2L/L, 2L/D não foi
capaz de promover gelificação mesmo em altas concentrações. Isto é, a quiralidade não permitiu
que as interações ocorressem, impedindo a gelificação. A Figura 11 apresenta imagens dos géis
obtidos.

Figura 10. Estrutura dos gelificantes: 1L/D = (S ou R)-N-(1-(octilamino)-1-oxopropan-2-il)-4-


(prop-2-in-1-iloxi)-benzamida e 2L/L = N1,N4-bis((S)-1-(octilamino)-1-oxopropan-2-il)-tereftalamida.
Retirado da referência 32.

Liu et al. verificaram que a temperatura de gelificação aumenta com a concentração do


gelificante, i.e., quanto maior a quantidade do monômero, maior a temperatura necessária para
que o gel se torne uma solução. Os experimentos de RMN do 1L/D e 2L/L mostram significativo
aumento no deslocamento químico dos hidrogênios dos grupos amida, o qual é maior quanto
maior for a concentração de gelificante. Além disso, pouca diferença é observada para os
hidrogênios dos anéis aromáticos, indicando que as interações stacking não apresentam
grande contribuição para a gelificação nestes casos.

a) b)

Figura 11. Formação e reversibilidade dos géis de a) 1L e b) 2L/L em tolueno. Modificado da


referência 32.
11
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A morfologia dos géis formados foi estudada por microscopia eletrônica de varredura
(MEV). As Figuras 12a e b mostram que os géis de 1L em o-diclorobenzeno formam finas fitas
com aproximadamente 5 m de largura, empilhadas de maneira a formar uma estrutura fibrilar.
Por outro lado, as micrografias obtidas para os géis de 2L/L em 1,2-dicloroetano mostram
agregados helicoidais que formam uma estrutura tridimensional através de cross-links (Figura 12c
e d). Neste caso, a quiralidade dos monômeros foi transferida para a estrutura do agregado.

Figura 12. Microscopia eletrônica de varredura dos géis formados por 1L em o-


diclorobenzeno (a e b) e 2L/L em 1,2-dicloroetano (c e d). Modificado da referência 32.

Por si só, o design das moléculas gelificantes já seria um ótimo trabalho, porém, o
interesse, do ponto de vista da aplicação do CD, se encontra na caracterização dos sistemas de
acordo com seu comportamento frente à mudanças de 1) temperatura, 2) pH, 3) pureza
enantiomérica e 4) concentração de ânions, e suas respostas quanto à quiralidade do sistema.

Temperatura
A temperatura de gelificação é a temperatura na qual o gel se converte em solução. Isto
ocorre pois em tal temperatura a energia térmica do sistema excede a energia das ligações de
hidrogênios, rompendo-as, e assim desfazendo os agregados. Como as interações são
reversíveis, o gel volta a ser formado se a solução for resfriada, como mostra a Figura 11.
Para estudar o efeito da temperatura, o grupo obteve espectros de CD e UV-vis de 1L em
tolueno (1,0 % m/m) e 2L/L em 1,2-dicloroetano (0,4 % m/m), na faixa de -10 à 50 ºC. Para o 1L, a
presença do 1º efeito Cotton negativo (Figura 13a), em torno de 283 nm, mostra que o sistema
apresenta algum grau de quiralidade para temperaturas até 20 ºC. O sinal no CD decresce até
que, acima de 30 ºC, este se torna positivo. A diminuição do sinal corrobora a perda de
quiralidade, resultante da quebra das estruturas auto-agregadas quirais. A solução ainda
12
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apresenta alguma quiralidade, resultante da quiralidade dos monômeros, e, por isso, o sinal é
menor. O mesmo comportamento é observado para os espectros do 2L/L (Figura 13b).

Figura 13. Espectros de CD e UV-vis para misturas de a) 1L em tolueno (1,0 % m/m) e b)


2L/L em 1,2-dicloroetano (0,4 % m/m) em diferentes temperaturas. Modificado da referência 32.

pH
Como dito, o principal componente para estes sistemas apresentarem comportamento
gelificante é a possibilidade de ligações de hidrogênio intermoleculares. A adição de ácido leva à
protonação dos grupos amido, impedindo as interações intermoleculares. Experimentalmente, Liu
e seu grupo verificaram que a adição de quantidade equivalente de ácido trifluoroacético (TFA)
desmancha os géis de 1L/D e 2L/L. Porém, estes voltam a se formar quando quantidade equivalente
de trietilamônia é adicionada, verificando a reversibilidade do sistema.
Foram obtidos espectros de CD e UV-vis de 1L em tolueno (2,0 % m/m) com adições
sucessivas de 0,1, 0,2 e 0,3 equivalentes de TFA, mostrados na Figura 14a. Verificou-se que o
sinal do 1º efeito Cotton, em 290,5 nm, diminui com a adição do ácido. Com 0,2 equivalente de
ácido o gel é desfeito, e adições de mais de 0,3 equivalentes não alteram significativamente o
sinal. Resultados semelhantes foram encontrados para experimentos com 2L/L em 1,2-dicloroetano
(0,4 % m/m) (Figura 14b). O resultado confirma a necessidade das ligações de hidrogênio dos
grupos peptídeo para a formação dos agregados quirais.

Figura 14. Espectros de CD e UV-vis para misturas de a) 1L em tolueno (2,0 % m/m) e b)


2L/L em 1,2-dicloroetano (0,4 % m/m) para sucessivas adições de TFA. Modificado da referência 32.

13
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Excesso enantiomérico
Para os sistemas em que a quiralidade dos monômeros determina a quiralidade dos
agregados, um excesso enantiomérico pode evitar a auto-agregação. Isto ocorre pois a forma
como as moléculas se agregam depende de sua estrutura, uma molécula não é capaz de
participar do agregado da mesma forma que seu enantiômero. Liu et al. verificaram que
adicionando uma pequena quantidade de 1D em um gel formado por 1L, este se desfaz. O gel
volta a ser formado quando um novo excesso e 1L é adicionado.
Novamente, espectros de CD e UV-vis de 1L em tolueno (2,0 % m/m) foram obtidos com
adição de 1D concentrado. A Figura 15 mostra que a adição de 1D diminui o sinal do CD em 290
nm. Visualmente, observa-se que após a adição de 0,015 equivalente de 1D serem adicionados, o
gel vira solução e o CD praticamente não é afetado. Isto mostra que um pequeno excesso
enantiomérico inibe a formação dos agregados.

Figura 15. Espectros de CD e UV-vis de 1L em tolueno (2,0 % m/m) para sucessivas


adições de 1D. Modificado da referência 32.

Concentração de ânions
A série de Hofmeister é bem conhecida, assim como seu efeito na solubilidade de
proteínas. O grupo verificou o que ocorre com a adição de ânions em géis de 1L/D e 2L/L.
Observou-se que apenas o F- é capaz de inibir a formação dos géis, enquanto Cl-,Br-,I-, AcO-, e
H2PO4- não causam nenhum efeito. Isto ocorre, pois há formação de ligações de hidrogênio entre
o fluoreto e os hidrogênios do grupo amino, o que impede a formação de ligações de hidrogênio
intermoleculares nos monômeros, evitando a gelificação.
O grupo realizou medidas de CD e UV-vis de 1L em o-diclorobenzeno (2,0 % m/m) e 2L/L
em diclorometano com adições de fluoreto de tetrabutilamônio (TBAF). A Figura 16a mostra que
sucessivas adições de F- diminuem o sinal do CD em 300 nm. Para adições acima de 0,1
equivalente de F-, o gel é desfeito e o sinal do dicroísmo circular tende à zero. O mesmo
comportamento é observado para o 2L/L. Isto mostra sensibilidade do sistema pela presença de
fluoreto, que inibe a formação de agregados quirais.

Os autores pecam em não apresentar nenhum CD em que não haja agregados, i.e.,
apenas monômeros livres em solução, uma vez que a comparação entre tais espectros do 1L e 1D
poderia auxiliar na elucidação de alguns aspectos, por exemplo, não se sabe se todos os
monômeros encontram-se na forma de agregados ou ainda se há monômeros livres após a
gelificação. Além disso, não é mencionado se o sinal do CD observado para géis de 1L é resultado
14
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de um agregado quiral ou dos próprios monômeros, já que não foram observadas fibras
helicoidais (Figura 12a e b). No caso do 2L/L, em que foram observadas estruturas helicoidais, não
foi utilizado todo o potencial da técnica de CD, já que seria possível determinar como sendo uma
estrutura do tipo ou -hélice.

4.2. “Helicity-Controlled Liquid Crystal Reaction Field Using Nonbridged and Bridged
Binaphthyl Derivatives Available for Synthesis of Helical Conjugated Polymers”

Em trabalho de 2008, Mori33 e colaboradores descreveram a formação de cristal líquido


nemático quiral (N*-LC) pela dopagem de um cristal líquido nemático aquiral (N-LC) com
moléculas quirais. Além disso, o N*-LC foi aplicado como solvente na síntese assimétrica de
polietilenos com helicidade controlada.
Os dopantes utilizados são derivados do 1,1’-bi-2-naftol (binol), a saber, (R)- ou (S)-1,1′-bi-
naftol-2,2′-bis-[para-(trans-4-n-pentolcicloexil)-fenóxi-1-hexil]éter (R- ou S-1), (R)- ou (S)-6,6′-bis-
[para-(trans-4-n-pentolcicloexil)fenóxi-1-hexil]-2,2′-di-etóxi-1,1′-bi-naftol (R- ou S-2) e (R)- ou (S)-
6,6′-Bis-[para-(trans-4-n-pentolciclohexil)fenóxi-1-hexil]-2,2′-butil-ponte-1,1′-bi- 2-naftol (R- ou S-3).
As três moléculas (Figura 16) foram sintetizadas e caracterizadas pelo grupo por RMN de 1H e
13
C, espectroscopia no infravermelho e análise elementar.
A fase nemática foi obtida pela mistura de derivados do pentilcicloexano, a saber, 4-(trans-
4-n-propilcicloexil)-etóxibenzeno (PCH302) e 4-(trans-4-n-propilcicloexil)-butóxibenzeno (PCH304)
(Figura 16). Sabe-se que tanto o PCH302 quanto o PCH304 apresentam fase LC, porém em baixa
temperatura, abaixo de 1 ºC.34 Nesta temperatura não seria viável realizar a polimerização do
acetileno, pois o calor liberado levaria a fase nemática à uma solução isotrópica. Já a dopagem
com 1,5 % mol de R-1, 2 e 3, ou S-1, 2 e 3, com a mistura equimolar de PCH302 e PCH304 foi
possível obter a fase LC em maiores temperaturas, tipicamente33:

cristal N*-LC isotrópico

O grupo sintetizou os polímeros via catálise Ziegler-Natta, com Ti(o-n-Bu)4 e Et3N como
catalizadores, e os N*-LC’s como solvente assimétrico. A mistura foi mantida em banho de álcool
à 14 ºC e 30 atm, por 30 min. Os polímeros foram obtidos na forma de filmes.

Figura 16. Estrutura dos dopantes e LC’s. Retirado da referência 33.


15
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Em via de caracterizar as fases N*-LC, Mori et al. obtiveram espectros de UV-vis e CD dos
dopantes R-1, R-2 e R-3 em n-heptano, bem como dos respectivos cristais líquidos obtidos. No
espectro de UV-vis mostrado na Figura 17a, pode-se notar uma transição entre 200-250 nm, com
máximo em 230 nm, para os três dopantes. Na mesma figura, nos espectros de CD, observa-se
um 1º efeito Cotton negativo (240 nm), e 2º efeito Cotton positivo (220 nm). Na Figura 17b, o 2º
efeito Cotton (~250 nm) é positivo para os N*-LC’ obtidos com R-1 e R-2, e negativo para aquele
obtido pela dopagem com R-3. De fato, os espectros de CD de R-1-LC e R-3-LC são praticamente
idênticos, mas com sinais opostos.

a) b)

Figura 17. Espectros de UV-vis e CD dos a) dopantes R-1, R-2 e R-3 em n-heptano e b)
dos respectivos N*-LC’s. Retirado e adaptado da referência 33.

O sinal da elipticidade, bem como seu valor, dependem do ângulo diedro ( ) dos derivados
do binol. A saber, as conformações em que são chamadas cisóides, e
, transóides. Estas possuem M- e P-helicidade, respectivamente, de acordo com o sentido de
rotação, como mostra a Figura 18. Utilizando ECT,27 é possível verificar que compostos que
apresentam o 1º efeito Cotton negativo, possuem M-helicidade, enquanto aqueles com P-
helicidade possuem 1º efeito Cotton positivo. Com isso, conclui-se que, em n-heptano, todos os
derivados apresentam M-helicidade, e, consecutivamente, estão em conformação transóide.
Porém, se observamos os espectros de CD dos N*-LC, verificamos que R-1 e R-2 possuem efeito
Cotton positivo em 250 nm, enquanto R-3 apresenta elipticidade negativa neste comprimento de
onda. Como R-3 possui rotação restrita em torno do eixo quiral devido a ligação 2 e 2’ em ponte,
este encontra-se sempre na conformação cisóide. Com isto, conclui-se que R-1 e R-2 assumem a
conformação metaestável transóide, na mesofase.

16
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Figura 18. Configurações cisóide e transóide dos derivados do (R)- 1,1’-bi-2-naftol.


Retirado da referência 33.

Mori et al. puderam também determinar a quiralidade dos cristais líquidos e dos polímeros
obtidos. A saber, R-1-LC e R-2-LC apresentam P-helicidade, enquanto R-3-LC, M-helicidade. É
interessante notar que os três dopantes apresentam a mesma quiralidade (R), o que nos leva a
concluir que a conformação, transóide ou cisóide, também influencia a quiralidade dos N*-LC’s.
A quiralidade dos polímeros obtidos foi determinada por MEV e CD. Com os espectros da
Figura 19 e aplicando-se os princípios do ECT, pode-se determinar a quiralidade dos filmes
poliméricos. As micrografias na Figura 20 corroboram com os resultados obtidos por CD,
mostrando claramente que os polímeros apresentam quiralidade invertida com relação aos N*-
LC’s utilizados para síntese. Assim, os polímeros obtidos em meio R-1-LC e R-2-LC apresentam
estruturas com rotação em sentido anti-horário (M-helicidade), enquanto aqueles sintetizados em
R-3-LC possuem estruturas no sentido horário (P-helicidade).

Figura 19. Espectros de CD dos filmes de polietileno sintetizados com a) R-2-LC e S-2-L e
b) R-3-LC e S-3-LC como solventes. Retirado da referência 33.

17
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Figura 20. Microscopia eletrônica de varredura dos polímeros sintetizados em a) R-1-LC,


b) R-2-LC e c) R-3-LC. Retirado da referência 33.

Neste trabalho os autores não são capazes de determinar o porquê de as configurações


transóides serem mais estáveis nos cristais líquidos. O leitor atento e com algum conhecimento de
CD deve notar falhas nas considerações realizadas pelo grupo, mesmo que o resultado final tenha
se revelado correto. De qualquer maneira, o artigo é um excelente exemplo de como esta técnica
pode sem empregada, e, se interpretada corretamente, é capaz de oferecer grande informação
sobre o sistema.

5. Considerações finais

Desde o descobrimento do efeito Cotton até hoje, muito foi desenvolvido no dicroísmo
circular. Diversas teorias e modelos foram criados e evoluíram com o tempo, de acordo com a
necessidade de explicar fenômenos, ou simplesmente conhecimento científico disponível.
Com o trabalho de Rosenfeld, a técnica deixou de ser qualitativa, e, com o conhecimento
obtido, foi possível compreender completamente o fenômeno. Os primeiros modelos
desenvolvidos eram aplicáveis apenas à moléculas pequenas e casos específicos. Porém, com a
aplicação do CD em biopolímeros, realizado por Moffitt, e o advento do ECT, a técnica ganhou
maior abrangência e solidez.
Desde o final da década de 1950 o dicroísmo circular já se mostrava útil no estudo de
sistemas biológicos, como na caracterização de enzimas, por exemplo. Porém, o grande
desenvolvimento e interesse em nanoestruturas, ocorrido nas últimas décadas, proporcionou um
novo nicho de aplicação da técnica. Atualmente, sistemas quirais nano-estruturados, das mais
diversas formas e composições, são objeto de estudo. Infelizmente, relativamente poucos
pesquisadores tem conhecimento do potencial desta técnica. Deve-se ressaltar que, em alguns
casos, há relutância em sua aplicação devido à difícil interpretação dos resultados. Os estudos de
casos realizados mostram claramente que a aplicação da técnica em sistemas nano-estruturados
pode ocorrer de duas maneiras: 1) de forma qualitativa, de modo acompanhar as alterações dos
sistemas, ou simplesmente definir a ausência/presença de quiralidade no sistema; e 2) análise e
interpretação quantitativa dos resultados utilizando os modelos existentes. Apesar de mais
trabalhosa, esta última traz grande informação sobre o sistema, utilizando uma técnica não
destrutiva, simples e rápida.
18
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6. Referências

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20
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