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http://links.jstor.org/sici?sici=00335533%28193702%2951%3A2%3C209%3ATGTOE%3E2.0.CO%3B2-I
SUMÁRIO
I. Comentários sobre quatro discussões acerca de pontos da Teoria Geral
apresentados em edições prévias, 209. - II. Alguns pontos definidos em que o autor
diverge das teorias anteriores, 212. - A teoria dos juros reafirmada, 215. - Incertezas e
flutuações do investimento, 217. - III. Demanda e oferta do produto como um todo, 219.
- O produto de bens de capital e de consumo, 221.
I
Eu estou em grande débito com os editores do Quartely Journal pelas quatro
contribuições relacionadas à minha Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda que
apareceram na edição de novembro, 1936. Elas contêm críticas detalhadas, muitas das
quais eu aceito e das quais eu espero me beneficiar. Não há nada no comentário do
professor Taussig em que eu discorde. O sr. Leontief está certo, eu acredito, na distinção
que ele desenha entre a minha atitude e aquela da teoria "ortodoxa" a qual ele denomina
de "postulado da homogeneidade". Eu deveria ter pensado, entretanto, que existe
evidência abundante da experiência para contradizer este postulado; e que, de qualquer
modo, cabe àqueles que fazem uma hipótese altamente especial a obrigação de justificá-
la, ao invés daqueles que a rejeitam, de provarem a negativa. Eu poderia também sugerir
que a ideia dele deve ser aplicada de forma mais frutífera e com maior precisão teórica
na conexão com a parte desempenhada pela quantidade de moeda na determinação da
taxa de juros2. Por isso, eu acredito, que o postulado da homogeneidade primeiramente
entra no esquema teórico ortodoxo.
Minhas diferenças, assim como as deles [dos debatores], com o Sr.Robertson
surgem da minha convicção de que ele e eu diferimos mais fundamentalmente de nossos
1
Elementos entre colchetes são acréscimos do tradutor.
2
Cf. meu artigo sobre "A Teoria da Taxa de Juors" que aparece no volume de Ensaios em honra de Irving
Fisher.
predescessores do que a devoção dele permite admitir. Eu concordo com muitos dos
pontos dele, sem que, entretanto, estando consciente em diversos momentos de dizer
(ou, de qualquer forma, quere dizer) algo diferente. Eu estou surpreso de que e ele deva
ter pensado que aqueles que exploram a velocidade de circulação da moeda tem muito
em comum com a teoria do multiplicador. Eu concordo plenamente com o ponto que ele
destaca (p.180-183) de que o aumento da demanda de moeda resultante de um aumento
da atividade [econômica] tenha a contrapartida de tender a elevar a taxa de juros; e isso
é, na verdade um elemento significante na minha teoria de porque os booms carregam as
sementes de sua própria destruição. Mas isso é, essencialmente, uma parte da teoria da
liquidez da taxa de juros, e não parte da teoria "ortodoxa". Onde ele afirma (p.183) que
minha teoria deveria ser considerada "não como uma refutação da interpretação
amplamente aceita do evento em termos de oferta e demanda de fundos emprestáveis,
mas como uma versão alternativa a isto", eu devo perguntar, antes de concordar, por
apenas uma referência de onde esta interpretação amplamente aceita pode ser
encontrada.
Permanece o comentário mais importante dos quatro, ou seja, o do professor
Viner. Em consideração às suas críticas em relação à minha definição e tratamento do
desemprego involuntário, eu estou pronto para concordar que essa parte do meu livro
está particularmente aberta a críticas. Eu já me sinto em posição de fazer
melhoramentos, e eu espero que, quando eu fizer isso, o professor Viner se sinta mais
contente, especialmente pelo fato de que eu penso de que não há nada fundamental entre
nós neste ponto. No caso da sua segunda seção, entretanto, entitulada "Propensão a
Entesourar" eu estou preparado para debater os seus pontos. Há passagens que sugerem
que o professor Viner está pensando muito nos termos mais familiares da quantidade de
moeda efetivamente entesourada [acumulada/retida], e que ele desconsidera a ênfase
que eu procuro colocar sobre a taxa de juros como sendo o estímulo para não
entesourar. É precisamente porque as facilidades para entesourar são estritamente
limitadas que a preferência pela liquidez opera principalmente pelo aumento da taxa de
juros. Eu não posso concordar que "na moderna teoria monetária, a propensão a
entesourar é geralmente tratada com resultados que são substancialmente idênticos aos
de Keynes, como um fator que opera para reduzir a 'velocidade' do dinheiro". Pelo
contrário, eu estou convencido que os teóricos monetários que tentaram lidar com isso
estão todos no caminho errado3. Novamente, quando o professor Viner aponta que a
maioria das pessoas investe suas poupanças à melhor taxa de juros que eles podem
encontrar e pede estatísticas para justificar a importância que eu coloco na preferência
pela liquidez, ele está desconsiderando o ponto de que é o detentor pontencial marginal
que deve ser satisfeito pela taxa de juros, a ponto de trazer o desejo pelo entesouramento
efetivo dado os limites estreitos de disponibilidade de moeda para o entesouramento.
Quando, como acontece em uma crise, a preferência pela liquidez se eleva rapidamente,
isso se mostra não tanto pela elevação do entesouramento - pois existe pouco, se existir
algum, dinheiro que pode ser entesourado além do que existia antes - mas por uma
elevação rápida da taxa de juros, i.e. securities [títulos, ações] caem de preço até que
aqueles, que agora poderiam desejar ficar líquidos, se eles pudessem fazer isso aos
preços anteriores, sejam persuadidos a desistir da ideia já que ela não é praticável em
termos razoáveis. Uma elevação da taxa de juros é um meio alternativo de elevar o
entesouramento para satisfazer o aumento da preferência pela liquidez. Meu argumento
também não é afetado pelo fato admitido de que diferentes tipos de ativos satisfazem o
desejo por liquidez em diferentes graus. O prejuízo ocorre quando a taxa de juros
correspondente a um grau de liquidez de um dado ativo leva a uma capitalização de
mercado deste ativo que é menor do que o custo de produção [também poderia ser custo
de oportunidade].
Há outras críticas que eu também estou pronto para debater. Mas eu devo estar
apto para justificar a minha própria linguagem, eu estou ansioso para não ser levado a
fazer isto em muito detalhe, de forma a desconsiderar pontos substanciais que devem,
sem dúvida, ter dado base para as reações que o meu tratamento tem produzido nas
mentes dos meus críticos. Eu estou mais atento para as ideias fundamentais e
comparativamente simples que lastreiam a minha teoria, do que para as formas
particulares com as quais eu as incorporei, e eu não desejo que as últimas sejam
cristalizadas no presente estágio do debate. Se as ideias simples e básicas podem se
tornar familiares e aceitáveis, o tempo, a experiência e a colaboração de um número de
mentes irão descobrir a melhor forma de expressá-las. Contudo, eu gostaria de ocupar o
espaço restante deste artigo, como o Editor deste Journal me permitiu, para tentar
reexpressar alguma das ideias, que em uma controvérsia detalhada poderiam se provar
estéreis. E eu acredito que seja o melhor, mesmo que isto pareça para alguns um
3
Veja abaixo.
mergulho direto na controvérsia que eu me propus a escapar, eu coloco o que eu tenho a
dizer na forma de uma discussão com um conjunto de pontos definidos onde eu procuro
ser o mais claro o possível partindo de teorias anteriores.
II
III
4
Quando o professor Viner considera que eu atribuo à preferência pela liquidez uma "importância
grandemente exagerada", ele deve querer dizer que eu exagero a sua instabilidade e sua elasticidade. Mas
se ele está certo, um pequeno declínio na renda nominal poderia levar, como dito antes, a uma grande
queda na taxa de juros. Eu defendo que a experiência indica o contrário.
Segue deste princípio extremamente óbvio uma importante, ainda que não
familiar, conclusão. As rendas são parcialmente criadas por empresários que produzem
para investimento e parcialmente por empresários que produzem para consumo. A
quantidade que é consumida depende da quantidade de renda que assim é criada. Por
isso a quantidade de bens de consumo que irá compensar aos empresários produzirem
depende da quantidade de bens de investimento que eles estão produzindo. Se, por
exemplo, o público tem o hábito de gastar nove décimos de sua renda em bens de
consumo, segue-se que se os empresários produzissem bens de consumo a um custo
nove vezes maior que o custo dos bens de investimento que eles estão produzindo,
alguma parte do produto não poderia ser vendida ao preço que cobre o custo de
produção. Os bens de consumo no mercado que tivessem um custo nove vezes maior
que a renda agregada do público estariam em excesso em relação á demanda do público,
que é por hipótese de apenas nove décimos. Assim os empresários incorreriam em
perdas até que eles reduzissem seu produto de bens de consumo até uma quantia que
não exceda nove vezes o produto corrente de bens de investimento.
A formula não é, logicamente, tão simples como nesta ilustração. A proporção
da renda que o público escolherá consumir não será uma constante, e na maior parte dos
casos outros fatores também são relevantes. Mas existe sempre uma fórmula, mais ou
menos deste tipo, relacionando o produto de bens de consumo que compensa produzir
com o produto de bens de investimento; e eu dei atenção a isso em meu livro sob o
nome de Multiplicador. O fato de que um aumento no consumo ser capaz de por si
mesmo estimular o investimento ainda mais apenas fortalece o argumento.
Que o nível de produto de bens de consumo, que é lucrativo para o empresário,
deva estar relacionado por uma fórmula deste tipo ao produto de bens de investimento,
depende de suposições de caráter simples e óbvio. A conclusão parece pra mim estar
além de qualquer disputa. Ainda que as consequências que se seguem disto sejam ao
mesmo tempo não familiares e da maior importância possível.
A teoria pode ser sintetizada dizendo-se que, dada a psicologia do público, o
nível de produto e emprego, como um todo, dependem da magnitude do investimento.
Eu coloco desta forma, não porque este seja o único fator sobre o qual o produto
agregado dependa, mas porque é usual em um sistema complexo considerar como causa
causans o fator que é mais suscetível a bruscas e amplas flutuações. Mais
compreensivamente, o produto agregado depende da propensão a entesourar
[preferência pela liquidez], do efeito da política da autoridade monetária sobre a
quantidade de moeda, do estado de confiança sobre os rendimentos esperados dos ativos
de capital, da propensão a gastar e dos fatores sociais que influenciam o nível dos
salários nominais. Mas de todos estes diversos fatores, são aqueles que determinam a
taxa de investimento os menos confiáveis, desde que são eles que são influenciados por
nossas visões sobre o futuro do qual sabemos tão pouco.
Assim, o que eu ofereço é uma teoria de por quê o produto e o emprego são tão
suscetíveis a flutuações. Ela não oferece um remédio pronto para evitar estas flutuações
e para manter o produto em um nível estável ótimo. Mas ela é, propriamente falando,
uma Teoria do Emprego porque explica por quê, em qualquer circunstância, o emprego
é o que é. Naturalmente eu estou interessado não apenas no diagnóstico, mas também na
cura; e muitas páginas do meu livro estão devotadas a está última. Mas eu considero que
minhas sugestões para a cura, as quais, reconhecidamente, não estão elaboradas
completamente, estão em um plano diferente [do plano] do diagnóstico. Elas não
pretendem ser definitivas; elas estão sujeitas a todos os tipos de suposições especiais e
estão necessariamente relacionadas às condições particulares do momento. Mas minhas
principais razões para rejeitar a teoria tradicional vão muito mais fundo do que isso.
Elas são de caráter altamente geral e buscam ser definitivas.
Eu sintetizo, daqui em diante, as principais bases para a minha rejeição como se
segue:
(1) A teoria ortodoxa assume que nós temos o conhecimento do futuro de uma
forma bastante diferente da qual nós realmente possuímos. Essa falsa racionalização
segue as linhas do cálculo benthamita. A hipótese de futuro calculável leva a
interpretações errôneas sobre os princípios do comportamento que a necessidade de
ação nos compele a adotar, e a uma subestimação dos fatores ocultos de dúvida extrema,
precariedade, esperança e medo. O resultado tem sido o de uma teoria equívocada da
taxa de juros. É verdade que a necessidade de equalizar as vantagens da escolha entre
emprestar dinheiro e possuir ativos requer que a taxa de juros deva ser igual à eficiência
marginal do capital. Mas isso não nos diz a que nível a igualdade será efetiva. A teoria
ortodoxa considera que a eficiência marginal do capital estabelece o passo. Mas a
eficiência marginal do capital depende do preço dos ativos de capital; e desde que esse
preço determina a taxa do novo investimento, ele é consistente em equilíbrio com
apenas um nível dado de renda. Assim a eficiência marginal do capital não é
determinada, a menos que o nível de renda seja dado. Em um sistema no qual o nível de
renda é capaz de flutuar, a teoria ortodoxa tem uma equação a menos do que o
necessário para dar a solução. A razão indubitável de por quê o sistema ortodoxo falhou
em descobrir esta discrepância é porque ele sempre assumiu tacitamente que a renda
está dada, claramente, ao nível correspondente ao emprego de todos os recursos
disponíveis. Em outras palavras [o sistema ortodoxo] está assumindo tacitamente que a
política monetária é tal que ela mantém a taxa de juros em um nível compatível com o
pleno emprego. Ele [o sistema ortodoxo] é incapaz de lidar com o caso geral em que o
emprego está suscetível a flutuar. Assim, ao invés da eficiência marginal do capital
determinar a taxa de juros, é mais verdadeiro (sem se pretender ser o ponto final do
assunto) que é a taxa de juros que determina a eficiência marginal do capital.
(2) A teoria ortodoxa poderia ter descoberto o defeito acima se não tivesse
ignorado a necessidade de uma teoria da oferta e da demanda do produto como um todo.
Eu duvido que muitos economistas modernos realmente aceitem a Lei de Say de que a
oferta cria a sua própria demanda. Mas eles não tem prestado atenção de que eles estão
tacitamente assumindo a lei. Por isso a lei psicológica subjacente ao Multiplicador
escapou por completo. Não foi observado que a quantidade de bens de consumo que
compensa aos empresários produzirem é uma função da quantidade de bens de
investimento que compensa ser produzida. A explicação está para ser encontrada, eu
suponho, na suposição tácita de que cada indivíduo gasta a totalidade de sua renda ou
em consumo ou na compra, direta ou indireta, de novos bens de capital. Mas, aqui
novamente, eu dúvido que algum economista contemporâneo realmente acredite nisto.
Eles tem descartado todas está ideias antigas [da demanda efetiva, de Malthus] sem
estarem atentos para as consequências.
J. M. Keynes.