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O PROBLEMA DO PENSAR NATUREZA E CULTURA, HUMANO E NÃO

HUMANO

Natalia Ferreira de Amorim1

INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem como objetivo analisar de forma critica as relações
entre natureza e cultura, humanidade e animalidade. Assim sendo, explicitarei as
relações e as conexões interespecíficas destes tanto da forma positiva quanto
negativa.

Para responder tal questão, utilizarei os seguintes autores: Uirá Garcia, Tim
Ingold, Bruno Latour e Anna Tsing com suas referentes bibliografias pré-estabelecidas
pela orientadora da disciplina.

A discussão será feita a partir da obra desses escritores colocando a forma


como os conceitos são colocados como opostos, levando a ver suas conexões. Ora
será apresentada conceitos formulados por eles, ora contestados outros de seus
postulados podendo assim responder à questão colocada em análise.

A importância de discutir a relação entre humano e não humano, natural e


cultural, dá-se no fato das grandes concepções errôneas que os colocam como
opostos proporcionando grandes dificuldades em analisar questões que não se
encaixam em um extremo ou outro. Sendo assim, a pergunta norte do presente ensaio
é: quais relações possuem a natureza, cultura, humanidade e animalidade?

2. NATUREZA, CULTURA, HUMANIDADE E ANIMALIDADE: UMA RELAÇÃO


INTERESPECÍFICA

A relação com que o “homem branco” tem tido com a natureza e os animais
parte de um ponto de vista antropocêntrico, no qual haveria a superioridade humana
em relação a qualquer outra forma. Para o ser humano, pelo menos á algum tempo,
seria inconcebível pensar-se com conexões feitas e entre humanos e animais, pois a
humanidade colocou a animalidade como seu total oposto e a própria noção do que

1Graduanda do 2o período do Curso de Ciências Sociais oferecido pela Universidade Federal do


Paraná, Setor de Ciências Humanas. Trabalho proposto como nota integral da disciplina do módulo
de Antropologia, da disciplina de Antropologia e Arqueologia, ministrada pela professora Fabiana
Maizza.
seria o “humano” passou a ser visto ponto de vista do que tem ausência nos animais
(INGOLD, 1995, p.1), como muitos postulam no senso comum: “somos superiores por
termos consciência, um intelecto avançado, a linguagem etc.”. Isso implica em dois
problemas: o primeiro, impede de conseguir pensar a animalidade não como nosso
oposto; e o segundo, que segue essa crença divisória, que colocamos tudo em apenas
dois polos opostos: natureza e cultura. Por que não conseguimos pensar na relação
com os animais e a natureza, não como de posse, mas como uma relação que tem
conexões interespecíficas?2
Nasce-se e ao longo do desenvolvimento vamos aprendendo com nossos
pares como nos relacionar com a nossa própria natureza e com os não-humanos e
desde cedo somos afastados do reconhecimento que a natureza humana é uma
relação entre espécies. É então tirada a noção de que o humano está num
ecossistema onde sem a diversidade ecológica ele não pode sobreviver (TSING,
2015, p.178). Isso leva a pensar a humanidade como uma unidade separada do todo,
existindo de forma autônoma tanto na sua cultura como na história.
A natureza e a cultura, a animalidade e humanidade não podem ser pensadas
como dois polos opostos onde só existiria, respectivamente, os objetos e os sujeitos.
Sendo assim, “[...] a natureza humana reside em nossa animalidade ou em nossa
humanidade? – descobrimos que cada significado de ‘natureza’ proporciona respostas
conflitantes” (INGOLD, 2015, p.7). Na extrema busca de separar o humano do não
humano, Ingold, em relação a sociedade, afirma:

Por um bom tempo persistiu em nosso século a idéia fundamentalmente


equivocada, e ainda predominante em certos círculos, de que seria possível
construir uma tabela de "tipos humanos". Mas os seres humanos individuais
não são encarnações de "tipos", assim como também não têm uma essência
única, característica da espécie. Em termos biológicos, a humanidade se
apresenta como um campo contínuo de variação, composto de uma miríade
de diferenças sutilmente graduadas. Toda e qualquer divisão desse campo é
uma construção nossa, produto artificial de nosso pendor para a classificação
e os estereótipos (INGOLD, 2015, p.4).

A singularidade humana não estaria contida na sua consciência moral,


intelecto, razão, aspectos que foram adquiridos por longos processos. A humanidade
tem uma longa herança do pensamento dualista, gerada no que chamaríamos de
modernidade, além de tirar o divino das coisas do mundo ainda acaba por criar um

2Conceito utilizado com base no escrito de Anna Tsing, Margens indomáveis: cogumelos como
espécies companheiras.
problema gigantesco de pensar a natureza, a cultura, a animalidade, e a humanidade
sem uma visão eurocêntrica e antropocêntrica onde qualquer relação com o não-
humano seja inconcebível.
Na própria formação da nossa cultura, em seus primórdios e até hoje
precisamos da natureza. Desde éramos nômades e coletores, a natureza tem tido um
denominador de nossas ações. A natureza tem grande relação com os aspectos que
levam a certas culturas, como podemos ver no seguinte excerto:

O fungo desenvolveu-se lentamente até o verão chuvoso e abafado de 1845,


quando repentinamente todas as plantas da Irlanda estavam infectadas,
assim como todas as batatas armazenadas. O resultado foi que um milhão
de pessoas passaram fome e talvez dois milhões tenham emigrado para os
Estados Unidos (TSING, 2015, p.188).

Ou seja, a todo momento as relações então sendo reciprocamente orientadas. A


aptidão humana para a cultura seria pelo fato de gerar diferenças e o ato da diferenciação de
si mesmo faria a essência do humano, “minha condição de pessoa, portanto, é inseparável
do pertencimento a uma cultura e ambos são ingredientes cruciais da minha existência
humana” (INGOLD,2015, p.8). Sendo o a natureza humana esse ato de tentar se
autodiferenciar de qualquer um, isso implicaria que a natureza não seria apenas uma
realidade externa e a cultura algo que está “na cabeça das pessoas” (INGOLD, 2015, p.7), já
que ambas estariam se relacionando.
Nesse sentido, nos aproximando do que seria a chamada “modernidade” onde
teria sido incompleto o próprio ato de tentar reduzir a diversidade em dois polos
opostos coloca em xeque o que seria o “ser humano”. E para a chamada pós-
modernidade sobrou o que Latour, chama de “híbridos”, fatos esses que não poderiam
ser aplicados a dicotomia proposta e que foram se acumulando até estourar como
algo para a pós-modernidade resolver.

Enquanto considerarmos separadamente estas práticas, seremos realmente


modernos, ou seja, estaremos aderindo sinceramente ao projeto da
purificação critica, ainda que este se desenvolva somente através da
proliferação dos híbridos. (LATOUR, 1994, p.16).

Se “jamais fomos modernos” esse projeto de reduzir as coisas ao plano


irredutível de oposição de dois conceitos abstratos foi insustentável, o que seria
confirmado pela existência da pós-modernidade que estaria fadada a lidar com esses
híbridos aderindo então a compreensão deles através de redes de relações. A própria
problemática de pensar a relação do humano com o não-humano foi se consolidando
ao longo de um processo este que, por sua vez, foi tornando natural a elevação do
humano como senhor do não-humano e que esse não dependeria de outrem para
viver:

Ao forjar um novo antagonismo com as plantas das monoculturas, os seres


humanos modificaram a natureza de ser espécie. As elites estabeleceram seu
senso de autonomia com relação às outras espécies: eles eram senhores e
não amantes dos seres não humanos, ou seja, das espécies outras que
vieram ao mundo para definir a autoatribuição humana (TSING, 2015, p.190).

Pensamos controlar as espécies, como seus senhores, mas a afirmação


oposta também seria verídica, vivemos em uma rede de relações interespecíficas na
qual domesticamos os não humanos, mas eles também nos domesticam (GARCIA,
2018, p.182). Pensamos os não-humanos como nossos subordinados e
principalmente os macacos, os quais teriam mais semelhanças físicas conosco, como
um animal incompleto, que não adquiriu todas as potências humanas, não tentamos
enxerga-los apenas como o que são realmente: macacos. Segundo Tsing, “nossa
forma de espécie é realinhada para barrar os Outros na porta de casa” (2015, p.193),
e é através dessa negação e afastamento do que seria animalidade que quando se
depara com um animal com características que também possuímos logo o atribuímos
um status de ser incompleto:

domesticação é geralmente compreendida como o controle humano sobre


outras espécies. Que tais relações podem também transformar os humanos
é algo frequentemente ignorado. Além disso, tende-se a imaginar a
domesticação como uma linha divisória: ou você está do lado humano, ou do
lado selvagem. Pelo fato de essa dicotomia se basear num comprometimento
ideológico com a supremacia humana (TSING, 2015, p.185).

Os não humanos também nos transformam. Garcia, (2018, p.189) em seu


ensaio Macacos também choram, ou esboço para um conceito ameríndio de espécie,
escrevendo sobre as relações entre Guajá e animais, afirma:

O selvagem (ka’a) e o doméstico (tipa) não parecem encontrar ecos


automáticos em outras oposições (supostamente) derivadas, como o já
mencionado “par” masculino e feminino ou, então, humanidade e
animalidade. A “animalidade” de um animal de criação, muito provavelmente,
em nada se conecta à animalidade de um animal selvagem que será caçado
(GARCIA, 2018, p.192).
Sendo assim, a criação da qual o autor cita não seria a mesma coisa que
domesticação para “nós” humanos. Os Guajá, portanto, diferenciariam os animais não
por suas características ou por igualdade de características e sim pelos que são
caçáveis (para alimentação) e os que são criáveis, e aqui vemos um grande exemplo
da possibilidade de pensar animalidade e humanidade não como oposição e
classificação a partir de um conjunto de características semelhantes.
A natureza como a cultura estão em plena relação com o humano e o não-
humano e estes criam teias de conexão cada vez mais complexas, sendo assim tornar
invisível e criar oposições seria deixar de conseguir uma parte dos fatos que fazem a
ação ou existência ser tal como é. E dentro disso vemos como um desastre causado
por humanos pode afetar tanto os animais como os humanos, dá-se para pensar todas
as pequenas teias que levaram aquele fato e atingindo a natureza, cultura,
animalidade, humanidade estando todos entrelaçados.

a febre amarela está aparecendo como se fosse algo inerente à natureza dos
macacos, como se só fosse possível, em momentos de crise, pensá-los em
duas caixas: politicamente, como uma ameaça aos humanos, ou
cientificamente, a partir dos esclarecimentos dos cientistas. Crises como
essas revelam, em muito, como pensamos o ambiente. Ameaça ou controle.
[...]. De acordo com uma “autoridade do Ministério da Saúde” quem mata
macacos está colocando os seres humanos em risco ainda maior ao matar o
“mensageiro”. [...]. Nessa lógica, eles não passam disso, de ser o nosso
escudo? Eles devem morrer para nós ficarmos vivos, apesar de nós termos
desmatado, e eles (os macacos) não?” (GARCIA, 2018, p.198).

Mesmo nesse acontecimento os humanos ainda não conseguem enxergar os


sofrimentos de ambos os lados. Então se não podem controlar alguma coisa desejam
sua destruição. E, até cientificamente, o humano estaria na centralidade de tudo, se
entendêssemos os animais a partir deles mesmo também se conseguiria entender a
si mesmo e as diferentes formas de ocupar o mundo (GARCIA, 2018, p. 201).
Portanto, as espécies estão num constante ciclo de relações interespecíficas, são
mutuamente afetadas:

Apesar desses esforços extremos, a maioria das espécies dos dois lados da
linha, incluindo os humanos, vive em complexas relações de dependência e
interdependência. Prestar atenção a essa diversidade pode ser o início da
apreciação de um modo interespecífico de ser das espécies (TSING, 2015,
p.185).
Os humanos, de fato, dependem dos não humanos. Não existem sem se
relacionar com eles, influenciar e ser influenciado. A natureza e a cultura junto com a
animalidade e humanidade se mantêm em constante interdependência, e se de fato
não tivermos sido modernos evitar essa oposição e estudar os diversos “híbridos”,
seria uma tarefa um tanto quanto mais fácil.

3. CONCLUSÃO

Mesmo que os percursores da Modernidade quisessem tirar o divino e


formular apenas dois polos, disso veio resultante questões que não se encaixavam
em apenas um dos polos estabelecidos e assim, os estudos se tornaram um tanto
quanto difíceis. Sendo assim, o homem se coloca nesses estudos de forma central
não conseguindo enxergar o Outro como algo que completo e que as relações
interpassam formando linhas de dependência. Tanto a natureza como a cultura e a
animalidade são conceitos um tanto abstratos para o completo entendimento de sua
real complexidade, mas eles se conectam até quando se tenta evitá-los. Assim, a
própria essência humana de produzir diversidades e o ato de tentar se autodiferenciar
do não humano seria um fator que não o tornaria supremo a essas coisas, seu dono,
e sim apenas seria “ser humano” e não estar acima de qualquer Outro.
Então, as relações têm grande efeito tanto direta quanto indiretamente entre
natureza, cultura, humano e não humano. Por exemplo, a queima de uma floresta por
ação humana afeta os não humanos, que podem ter que se adaptar em relação a sua
natureza quanto a isso e a mudança do não humano pode ter o efeito de afetar o
humano. Ou, mais um exemplo, como Tsing fala, em seu livro referenciado, os
cogumelos são espécies companheiras estavam lá desde que o homem começou com
sua atividade de coleta, e durante a evolução até chegar em uma sociedade, a autora
nos mostra como a simples ação dos cogumelos afeta substancialmente a cultura dos
humanos.
Portanto, tanto o humano que tenta se afastar do não humano acaba
possuindo proximidades desse. E se ao invés de negar colocando certos animais
como formas nossas que não obtiveram êxito em sua formação, conseguiremos um
melhor entendimento de nós mesmos através do não humano, claro que esse estudo
deve descentralizar o homem e ver as conexões interespecíficas que ocorrem
constantemente na sociedade. Uma questão não tem só um polo, ela possui uma teia
de relações com outros.
BIBLIOGRAFIA

GARCIA, Uirá. Macacos também choram, ou esboço para um conceito


ameríndio de espécie. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n° 69, p. 179-
204, abr.2018.

INGOLD, tim. Humanidade e animalidade. Revista Brasileira de Ciências


Sociais, 28, junho de 1995

LATOUR, Bruno. Crise. In: _____. Jamais fomos modernos: ensaio de


antropologia simétrica. 1° ed. Rio de Janeiro, 1994, p.7-17.

TSING, Anna. Margens indomáveis: cogumelos como espécies companheiras.


Ilha, v.17, n.1, p. 177-201, jan./jul. 2015

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