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ASPECTOS DIAGNÓSTICOS

DA LEUCEMIA MIELÓIDE
CRÔNICA E DETECÇÃO
DE DOENÇA RESIDUAL MÍNIMA

SUZANA FERREIRA DA ANUNCIAÇÃO, LARISSA FERNANDA


QUEIROZ ELIAS, DAYANNE CINTRA GUIMARÃES, JOÃO LUIZ
NETO FILHO, VERA APARECIDA SADI

Resumo: a Leucemia Mielóide Crônica (LMC) é uma


doença mieloproliferativa caracterizada pelo aumento de
células mielóides, eritrócitos e plaquetas. Mais de 90% dos
casos apresenta uma translocação cromossômica específi-
ca, resultando no aparecimento do cromossomo Philadelphia
estudos, Goiânia, v. 35, n. 11/12, p. 1069-1083, nov./dez. 2008.

(Ph). Este estudo apresenta uma revisão bibliográfica sobre


os principais aspectos diagnósticos da LMC e da detecção
da doença residual mínima (DRM).

Palavras-Chave: leucemia mielóide crônica, métodos


diagnóstico, doença residual mínima

A
leucemia mieloide crônica (LMC) é uma doença
proliferativa do sistema hematopoiético caracteriza-
da por uma superprodução de células da linhagem
granulocítica, especialmente neutrófilos e ocasionalmente
monócitos, resultando em acentuada esplenomegalia e ele-
vada leucometria (KEATING et al., 2005).
Cerca de 90% dos pacientes diagnosticados com LMC
apresentam um “marcador” denominado cromossomo
Philadelphia (Ph) na maioria das metáfases celulares da
medula óssea (NOWELL, 1960). O marcador resulta de uma 1069
translocação envolvendo os cromossomos 9 e 22. Especificamen-
te, surgem cromossomos derivativos, ou seja, o cromossomo 9 com
acréscimo de material genético originário do cromossomo 22 no
braço longo, e o cromossomo 22 com decréscimo de material
genético no braço longo, sendo a translocação representada por
t(9;22)(q34;q11). Essa translocação funde um segmento do gene
BCR do cromossomo 22 com uma região anterior ao segundo éxon
do gene ABL do cromossomo 9, formando o gene quimérico BCR/
ABL. O gene codifica uma nova proteína com atividade tirosino-
quinase, que desencadeia a proliferação descontrolada das célu-
las na LMC (BARBOZA et al., 2000). Dessa forma, a proteína
bcr/abl promove a ativação constitutiva da sinalização mitogênica,
redução de apoptose e redução da adesão das células ao estroma
e à matriz extracelular (GOUVEIA, 2007).
Sob o ponto de vista epidemiológico, a LMC corresponde a
14% dos casos de leucemias, com uma incidência anual de 1,6 casos
por 100 mil indivíduos. É mais freqüente em adultos com idades
entre 40 e 60 anos e afeta ambos os sexos, com predominância no
sexo masculino. Quanto aos fatores de risco, o mais associado ao
surgimento da LMC é a exposição às radiações ionizantes em altas

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doses. Agentes químicos, biológicos e a predisposição genética
parecem não exercer muita influência no aparecimento dessa
doença mieloproliferativa crônica (DULLEY; HAMERS-
CHLACK, 2004).
A evolução clínica da LMC apresenta três fases: crônica,
acelerada e blástica. A fase crônica é caracterizada por hiperplasia
e intensa maturação de células mielóides, sendo que alguns pa-
cientes são assintomáticos, enquanto outros apresentam fadiga,
astenia, cefaléia, irritabilidade, febre, sudorese noturna e perda
de peso. O diagnóstico é realizado pelos achados clínicos,
citogenéticos e hematológicos do sangue periférico e medula ós-
sea e suas manifestações são controladas por quimioterapia oral.
A sobrevida global em cinco anos dos doentes tratados com
Interferon - alfa (INF-á) é de aproximadamente 63 %, e em 10
anos, de cerca de 40% (DULLEY, HAMERSCHLACK, 2004;
JAMUR, 2005).
A progressão da LMC para a fase acelerada está associada
à instabilidade genômica, o que predispõe ao aparecimento de
1070 outras anormalidades moleculares. A fase acelerada caracteriza-
se pelo aumento no número de blastos na medula óssea e no
sangue periférico, além de leucocitose, basofilia, anemia e
trombocitopenia. Clinicamente, o paciente torna-se refratário ao
tratamento empregado na fase crônica e pode apresentar progres-
são da hepato-esplenomegalia (DULLEY; HAMERSCHLACK,
2004).
Em seguida, a doença evolui para a fase blástica, definida
hematologicamente pelo aumento de blastos leucêmicos (linfóides
ou mielóides) no sangue periférico e/ou medula óssea (mais de
20%). Nesse estágio da doença, muitos pacientes evoluem para
óbito em três a seis meses (DULLEY; HAMERSCHLACK, 2004).
O presente estudo tem como objetivo apresentar uma revisão
bibliográfica sobre os principais aspectos laboratoriais relaciona-
dos ao diagnóstico da LMC e ao monitoramento da DRM em
pacientes com LMC, tratados com o mesilato de imatinibe ou com
transplante de medula óssea. Utilizando as palavras-chave chronic
myeloid leukemia, minimal residual disease e diagnostic methods,
foi realizada uma busca em diferentes bancos de dados (Medline,
Scielo, Lilacs), sendo selecionados 27 artigos científicos consi-
derados relevantes sobre o tema. Os artigos selecionados foram
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revisados e os principais aspectos pertinentes são apresentados a


seguir.

MÉTODOS USADOS PARA O DIAGNÓSTICO DE LMC

O diagnóstico da LMC pode ser feito por vários métodos,


incluindo o exame microscópico do sangue periférico e da medu-
la óssea, análise por citometria de fluxo, citogenética e biologia
molecular. Pacientes com LMC apresentam, no sangue periféri-
co, leucocitose de aproximadamente 225.000/mm3 com variação
de 20.000 a 600.000/mm3, e intenso aumento de granulócitos na
circulação. A granulocitose é caracterizada por pequena propor-
ção de blastos leucêmicos e promielócitos (células imaturas), pre-
domínio de formas intermediárias (como mielócitos e
metamielócitos), além de neutrófilos em processo de maturação e
já totalmente maduros (bastonetes e segmentados). Proporções de
15 a 20 % de basófilos e eosinófilos podem ser encontradas
(CHARLES, SAWYERS, 1999; DULLEY, HAMERSCHLACK,
2004). 1071
Na LMC, é comum a presença de anemia discreta e de
trombocitose. Os valores de hemoglobina oscilam em torno de 9,7g/
dL com variação de 5,4 a 14,4 g/dL, notando-se pequena correla-
ção entre a concentração de hemoglobina e o número total de
glóbulos brancos circulantes. O número de plaquetas oscila em
torno de 485.000/mm3, podendo variar de 25.000 a 1.400.000/mm3,
lembrando que esses valores variam de acordo com a fase da do-
ença. A atividade da fosfatase alcalina dos leucócitos fica reduzi-
da em quase todos os pacientes e pode ser usada para distinguir a
LMC de outras doenças mieloproliferativas (CHARLES,
SAWYERS, 1999; DULLEY, HAMERSCHLACK, 2004;
JAMUR, 2005).
O mielograma revela hipercelularidade à custa do aumento
marcante de neutrófilos e células precursoras, levando a relação
leuco-eritroblástica para 20:1. A seqüência de diferenciação é
mantida, mas com predomínio de células mais jovens como
promielócitos e mielócitos. O número de megacariócitos também
é aumentado. Observam-se ainda macrófagos contendo pigmen-
tos azulados ou por vezes assemelhando-se às células de Gaucher.
A biópsia de medula óssea também mostra hipercelularidade in-

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tensa com aumento de granulócitos e de megacariócitos. Fibrose
reticulínica medular detectada por meio da coloração de
Hematoxilina & Eosina habitual, com evidente aumento de fibras
de reticulina também pode ser observada (CHARLES, SAWYERS,
1999; DULLEY, HAMERSCHLACK, 2004).
A técnica de citometria de fluxo, criada em meados da década
de 50, permite avaliar características físico-químicas de células
ou partículas suspensas em meio fluido. Esta tecnologia utiliza
anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos como ferra-
menta de investigação em diversas análises e necessita de contro-
les isotípicos para definição da região negativa (background). Estes
controles são representados por imunoglobulinas do mesmo isotipo
marcadas pelos mesmos fluorocromos dos anticorpos testes, sen-
do o isotiocianato de fluoresceína (FITC) o marcador fluorescen-
te mais utilizado na conjugação dos anticorpos. Os controles
isotípicos têm como função definir a fluorescência inespecífica
(células negativas) e as regiões fluorescentes (células positivas).
Desta forma verifica-se a proporção do total de células brancas e
1072 de cada tipo das mesmas (GOLIM et al., 2007).
Quanto à citogenética, a presença do cromossomo Philadel-
phia (Ph) representa o alvo mais explorado, mas é importante
ressaltar que o Ph não é patognomônico da LMC, uma vez que
está presente em 25% dos indivíduos adultos e em 3%-5% de
crianças com leucemia linfoblástica aguda (LLA) (JAMUR, 2005).
A metodologia clássica por banda G é o exame de escolha para
identificar essa anormalidade cromossômica, seja pela possibili-
dade de detectar alterações adicionais que poderiam indicar evo-
lução clonal ou Ph variante, seja pelo seu menor custo, porém, essa
análise não é rápida. A sensibilidade do método é superior a 90%,
com um limite de detecção celular de 1:20 (uma célula maligna
para vinte células normais) (JAMUR, 2005; VENDRAME-
GOLONI et al., 2006). O exame citogenético é realizado prefe-
rencialmente em células de medula óssea colhidas com heparina
ou em meio de cultura especial. Alternativamente, pode ser usado
o sangue periférico colhido com heparina de forma estéril, mas a
sensibilidade é bem menor do que o exame em medula óssea. Em
10% dos pacientes com critérios compatíveis para LMC, nenhum
Ph é detectado, mas em cerca da metade desses, o rearranjo BCR-
ABL é identificado por métodos moleculares (FISH ou RT-PCR).
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Nos restantes, nem Ph nem rearranjo BCR-ABL são identificados


e, aparentemente, estes pacientes têm doença mais agressiva
(CHARLES, SAWYERS, 1999; CHAUFFAILLE et al., 2001;
VENDRAME-GOLONI et al., 2006).
A análise por Southern blotting para detectar o rearranjo BCR/
ABL também já foi usada, empregando o DNA genômico após
digestão com endonucleases de restrição. O DNA empregado pode
ser extraído de células colhidas a fresco ou congeladas a partir do
sangue periférico ou da medula óssea. A sensibilidade do método
é dependente da distribuição espacial dos pontos de quebra e da
combinação da sonda com a enzima de restrição. A sensibilidade
desse método é de aproximadamente 98%, com um limite de
detecção celular de 1:20 a 1:100, sendo mais sensível que a
citogenética clássica (JAMUR, 2005).
Já os métodos mais modernos e eficazes para a detecção dos
transcritos BCR/ABL são baseados em técnicas de biologia
molecular. Os mais freqüentemente usados incluem a hibridização
fluorescente in situ (FISH - fluorescent in situ hibrydization) e a
reação em cadeia da polimerase (PCR - polymerase chain reaction) 1073
após a conversão do mRNA extraído das células leucêmicas em
DNA complementar (cDNA). Para esta etapa inicial, utiliza-se uma
enzima conhecida como transcriptase reversa (RT), daí o nome
do método: RT-PCR (CHARLES, SAWYERS, 1999;
CHAUFFAILLE et al., 2001; VENDRAME-GOLONI et al., 2006;
GOUVEIA, 2007; SAHAY et al., 2008). A etapa subseqüente é a
amplificação da seqüência gênica a ser estudada, usando um par
de oligonucleotídeos iniciadores (primers) e a detecção dos trans-
critos (HOCHHAUS et al., 2000).
Uma variante do método de RT-PCR, com potencial de ofe-
recer resultados quantitativos para o transcrito BCR/ABL, vem se
mostrando útil no seguimento dos pacientes com LMC. Trata-se
da RT-PCR em tempo-real ou real-time PCR. Como conseqüên-
cia da detecção com química fluorescente, o método é mais sen-
sível para o diagnóstico definitivo da LMC e também para a
identificação de doença residual mínima após transplante de
medula óssea ou durante tratamento com o Mesilato de Imatinibe
(MI). Além disso, essa metodologia é mais rápida, possibilitando
melhores controles de qualidade e permitindo a padronização do
processo de amplificação e a eliminação de contaminação no la-

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boratório. Este último ponto é crítico e motivo de grande preocu-
pação para laboratórios que empregam métodos como PCR. A
menor chance de contaminação com o método de RT-PCR em
tempo real ocorre porque o tubo de reação não precisa ser aberto
ao seu final, uma vez que a detecção e a quantificação dos trans-
critos são feitas em tempo-real durante os ciclos de amplificação
(GOUVEIA, 2007).
A RT-PCR em tempo real é um grande aliado do oncologista
clínico em busca de melhores resultados terapêuticos, porque aju-
da na definição do tratamento, que pode ser mais ou menos agres-
sivo de acordo com a resposta de cada paciente. Com essas
características, a RT-PCR em tempo real permite o acompanha-
mento dos pacientes portadores de LMC ao longo de interven-
ções que promovem remissão duradoura da doença. Entretanto,
os diferentes níveis de transcritos BCR/ABL encontrados ao lon-
go do tratamento da LMC e o valor prognóstico desses achados
ainda precisam ser melhor estabelecidos (CHARLES,
SAWYERS, 1999; VENDRAME-GOLONI et al., 2006;
1074 GOUVEIA, 2007).
Os métodos de FISH e RT-PCR em tempo real, no diagnósti-
co da LMC, têm sido reservados para os casos em que o cariótipo
não apresenta alterações compatíveis com a doença, mas nos quais
a suspeita de LMC persiste, ou em situações de fibrose medular,
onde não há material disponível para a análise citogenética. É
importante ressaltar que os métodos moleculares, apesar de extre-
mamente sensíveis, não permitem observação de alterações gênicas
ou cromossômicas concomitantes. Em 5% dos casos de LMC, são
identificadas translocações complexas (Ph variantes) envolvendo
o cromossomo 9 e o cromossomo 22 e pelo menos mais um
cromossomo (CHAUFFAILLE et al., 2001; VENDRAME-
GOLONI et al., 2006; GOUVEIA, 2007).

TRATAMENTO DA LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA

A droga ideal para o tratamento de LMC deve inibir os pro-


dutos de expressão do gene BCR/ABL (FRAZER et al., 2007). O
surgimento do inibidor da tirosino-quinase, Mesilato de Imatinibe,
representou um grande progresso, uma vez que induz altas taxas
de resposta citogenética e molecular. Essa medicação foi revolu-
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cionária, pois tornou as práticas tidas como modelo ultrapassadas.


Apesar do transplante de medula óssea (TMO) ser o único trata-
mento capaz de promover a cura definitiva da doença, a sua indi-
cação foi reduzida consideravelmente como terapêutica de primeira
linha após o MI. Atualmente, há um consenso universal na utili-
zação do MI como primeira linha (SOUZA; PAGNANO, 2004).
A proteína bcr/abl, exclusiva das células leucêmicas e alvo
molecular do MI, está geralmente expressa em níveis elevados nas
células da LMC e seu domínio SH1 tem atividade de tirosino-
quinase essencial para a indução da doença. O domínio SH1 é
responsável pela transformação oncogênica, sendo um alvo atra-
ente no combate à LMC (FRAZER et al., 2007). O MI inibe a
atividade de tirosino-quinase da proteína bcr/abl, pois simula a
molécula de ATP, e assim, liga-se ao sítio do ATP no domínio SH1
da enzima, impedindo a fosforilação de substratos envolvidos na
regulação do ciclo celular (PALLOTTA et al., 2006).
Outra característica marcante dessa droga é o seu efeito so-
bre outros domínios de tirosino-quinases celulares. No tratamen-
to da LMC em fase crônica, o Imatinib produz uma resposta 1075
sustentável e superior, em comparação com INF-á. Apesar da sua
notável eficácia no tratamento da LMC, a resistência surge em uma
minoria dos pacientes após a administração regular da droga. A
resistência pode ser adquirida ou intrínseca, respectivamente, por
falta de resposta hematológica e citogenética e pela presença de
mutações na região que codifica o domínio de tirosino-quinase da
proteína quimérica bcr/abl (FRAZER et al., 2007).
O tratamento da LMC por TMO é realizado usando sangue
ou medula óssea derivados de células-tronco a partir de um indi-
víduo HLA-compatível. Quando realizado na fase crônica da
doença oferece uma probabilidade de sobrevida de 60 a 80%, li-
vre de leucemia em 5 anos. Se realizado na fase acelerada dessa
doença, a sobrevida diminui (FRAZER et al., 2007).
O transplante alogênico, quando oferecido a pacientes de bai-
xo risco para o procedimento, é a melhor opção, mas atenderá ape-
nas uma porcentagem pequena de pacientes recém-diagnosticados
(cerca de 10%). O restante dos pacientes, de alto risco para o trans-
plante e sem doador aparentado HLA-compatível, deverá ser trata-
do continuamente com o MI, ou até que ocorra a resistência primária
ao medicamento (recidiva citogenética ou hematológica ao MI, fase

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acelerada ou crise blástica) (SOUZA & PAGNANO, 2004). Apesar
de seu poder de cura, somente 15-30% dos pacientes serão candi-
datos ao TMO, tendo como principais limitantes a idade e a
indisponibilidade de doador compatível. As taxas de recidiva após
o TMO variam de 5-30% na fase crônica, e em fases acelerada e
blástica podem chegar a 60% (PALLOTTA et al., 2006).
Antes da Era do MI, o TMO autólogo estava inserido em um
contexto experimental para uso terapêutico. Estudos procuravam
saber, até que ponto, esta modalidade terapêutica poderia ser útil.
Acreditava-se que células-tronco periféricas teriam baixa ou ne-
nhuma presença do cromossomo Ph, e por isso poderiam ser trans-
plantadas. Os resultados de alguns transplantes autólogos
consecutivos em diferentes centros de transplante na Europa e
América do Norte, entre 1984 e 1992, revelaram que o procedi-
mento induziu resposta citogenética em uma parte dos pacientes,
mas a maioria dos sobreviventes apresentou doença residual (SOU-
ZA; PAGNANO, 2004). O TMO autólogo é capaz de reduzir o
clone Ph+ sem fazê-lo desaparecer, e por isso está fora do uso
1076 terapêutico. Estudos clínicos controlados poderão encontrar um
eventual subgrupo de pacientes que possa se beneficiar deste pro-
cedimento. Entretanto, considerar o TMO autólogo como proce-
dimento descartado na Era do MI ainda é temeroso. O papel desse
procedimento em LMC ainda é uma incógnita e está restrito, hoje,
a pacientes que falharem ao tratamento com Imatinib (SOUZA;
PAGNANO, 2004).
O Interferon alfa (INF-á) foi a primeira terapia eficaz para a
LMC. Essa glicoproteína de origem biológica exibe propriedades
antivirais e antiproliferativas. A droga entrou em ensaios clínicos
no início de 1980 e continuou a ser o tratamento de escolha para
pacientes com LMC, até uma mudança na estratégia terapêutica
após a chegada do Imatinib. Em LMC, o INF-á prolonga a sobrevida
dos pacientes, principalmente daqueles que respondem
citogeneticamente. É capaz de induzir uma resposta citogenética
em 35 a 55% dos pacientes, com uma maior sobrevida em combi-
nação com a quimioterapia. Na terapêutica com INF á, o nível da
doença diminui, mas a LMC raramente é eliminada por completo
(FRAZER et al., 2007).

DOENÇA RESIDUAL MÍNIMA


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A resposta do paciente oncológico ao tratamento para LMC


deve ser avaliada sob três aspectos. Além da resposta clínica,
caracterizada pela ausência do quadro sintomatológico de
leucemia, é necessário pesquisar: a resposta hematológica, defi-
nida pela normalização de valores quantitativos no sangue perifé-
rico e avaliação do tamanho do baço; a resposta citogenética,
definida pela proporção de metáfases Ph-positivas residuais; e a
resposta molecular, definida por meio da avaliação da transcrição
gênica (mRNA) ou da detecção de proteínas bcr-abl residuais
(EDER et al., 1999; HOCHHAUS et al., 2000; PALLOTTA et
al., 2006; FRAZER et al., 2007; ALMEIDA, SADDI, 2007).
Assim, após o tratamento da LMC, a presença de células
leucêmicas residuais sem evidências clínicas de doença é conhe-
cida como doença residual mínima (DRM), na qual os níveis de
leucemia estão abaixo da detecção pela microscopia convencio-
nal (ALMEIDA; SADDI, 2007).
Em certas categorias de doenças mieloproliferativas, infor-
mações sobre DRM são importantes na determinação de resposta 1077
ao tratamento, no diagnóstico de possíveis recidivas (ALMEIDA;
SADDI, 2007) e na tomada de decisões clínicas, como mudanças
de estratégia terapêutica (VAN DER VELDEN et al., 2003). O
exame de rotina, normalmente empregado para a detecção ou a
definição de remissão em leucemias, é a análise morfológica da
medula óssea. O critério aceito é a presença de menos de 5% de
blastos na medula óssea com normalização no sangue periférico.
O exame não prevê a recaída, mas, apenas a detecta quando já
existente (SIMÕES, 2000). Nos últimos anos, foram desenvolvi-
das muitas metodologias capazes de detectar a t(9,22), seus res-
pectivos transcritos e a DRM, incluindo a citogenética
convencional, a imunofenotipagem, FISH e os métodos
moleculares, em especial a PCR qualitativa e a RT-PCR quantita-
tiva. A PCR qualitativa indica apenas presença ou ausência de
determinada alteração molecular, enquanto a quantitativa estima
a concentração de DNA ou o número de seqüências transcritas, no
caso de mRNA (SIMÕES, 2000). Destas, as três técnicas princi-
pais para análise de DRM são: imunofenotipagem por citometria
de fluxo; técnicas de PCR, usando DNA específico de células
leucêmicas e, técnica de RT-PCR em tempo real, usando transcri-

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ção reversa dos transcritos (mRNA) do gene de fusão (BCR-ABL)
(VAN DER VELDEN et al., 2003).
Inicialmente, a citogenética convencional foi muito utilizada
para a detecção da recaída em pacientes com LMC submetidos a
transplante de medula óssea (TMO). A metodologia foi quase que
totalmente substituída por técnicas mais sensíveis, como o FISH
e métodos moleculares (HOCHHAUS et al., 2000; SIMÕES,
2000). O método de FISH possibilita a análise rápida de grande
número de células e a detecção de alterações estruturais não vistas
pela citogenética convencional, porém, é caro, necessita de son-
das específicas e sua sensibilidade é relativamente baixa. A
citometria de fluxo utiliza marcações duplas ou triplas (dois ou
três antígenos) para a identificação rápida (algumas horas) de
fenótipos tumorais, entretanto, tem baixa sensibilidade e necessi-
ta de uma combinação de vários anticorpos o que exige uma
capacitação técnica importante (HOCHHAUS et al., 2000;
SIMÕES, 2000). A RT-PCR em tempo real é uma metodologia
quantitativa pela qual a detecção dos transcritos ocorre em tempo
1078 real na fase exponencial da amplificação. Diversas variações da
RT-PCR em tempo real têm sido desenvolvidas e padronizadas
(MULLER et al., 2002; VALASEK, REPA, 2005). As
metodologias mais comumente aplicadas a essa técnica de biolo-
gia molecular são SYBR Green e sondas hidrolisáveis (TaqMan e
LightCycler) (VAN DER VELDEN et al., 2003; VALASEK,
REPA, 2005; GABERT et al., 2003). O inconveniente da RT-PCR
em tempo real é que necessita de equipamento próprio que permi-
ta a detecção de fluorescência, equipamento este ainda muito caro
(SIMÕES, 2000; VALASEK, REPA, 2005).
A RT-PCR em tempo real para quantificação de BCR-ABL é
a técnica mais sensível no contexto de análise de DRM e pode
detectar uma única célula leucêmica em 105 – 106 células normais
(EMIG et al.,1999; HOCHHAUS et al., 2000; VALASEK, REPA,
2005). Entretanto, a sensibilidade do monitoramento de DRM por
RT-PCR depende da quantidade e qualidade do RNA derivado de
sangue periférico ou medula óssea dos pacientes oncológicos
(EDER et al., 1999; MULLER et al., 2002), e a determinação
quantitativa depende da padronização da técnica de RT-PCR em
tempo real (KIM et al., 2004; MULLER et al., 2007). Dados quan-
titativos de DRM também podem ser obtidos, com análises de RT-
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PCR em tempo real, a partir de rearranjos de genes para


imunoglobulinas, para receptor de células T e para outros trans-
critos de genes-fusão em diferentes tipos de neoplasias (VAN DER
VELDEN et al., 2003).
A PCR é a técnica de escolha na determinação de interven-
ções terapêuticas em caso de recaída após transplante de medula
ósseo (TMO) alogênica (HOCHHAUS et al., 2000). Sabe-se que
a DRM pode ser detectada em 20% a 30% dos pacientes que fo-
ram submetidos TMO. A associação entre a presença de DRM e
recaída é altamente dependente de dois fatores: tempo de trans-
plante e tipo de transplante (FADERL et al., 2004).
Além da RT-PCR, várias metodologias de PCR são também
utilizadas. A nested PCR assemelha-se à RT-PCR, porém o seu
processo de amplificação tem dois passos, que requerem dois pares
de primes, tornando-a mais sensível e específica. A PCR compe-
titiva é também um método quantitativo (SOUZA, PAGNANO,
2004; VALASEK, REPA, 2005), no qual um competidor interno
é preparado para cada gene que se queira estudar. O gene alvo e o
competidor são amplificados na mesma reação e produzem seqüên- 1079
cias de tamanhos diferentes, que podem ser identificados por meio
de uma eletroforese em gel de agarose. Assim, conhecendo a con-
centração do competidor e fazendo reações com diluições seria-
das, a concentração da amostra poderá ser estimada (HOCHHAUS
et al., 2000; SIMÕES, 2000; VALASEK, REPA, 2005). A PCR
quantitativa em tempo real, entretanto, traduz de forma legitima
os níveis de DRM, sendo atualmente o “padrão ouro” para seu
monitoramento, uma vez que o método fornece informações a
respeito do número e da cinética das outras células tumorais resi-
duais (ALMEIDA; SADDI, 2007).

CONCLUSÕES

O estudo dos diversos aspectos relacionados à LMC foi rea-


lizado com o propósito de revisar, facilitar e divulgar o conheci-
mento acerca da doença. Diante da revisão realizada, evidencia-se
a necessidade do diagnóstico precoce, rápido e preciso dessa
leucemia, destacando a metodologia da RT-PCR em tempo real
como o padrão ouro para esse fim. Em termos de tratamento, des-
taca-se a eficácia do Mesilato de Imatinib em relação às demais

estudos, Goiânia, v. 35, n. 11/12, p. 1069-1083, nov./dez. 2008.


estratégias terapêuticas, além de sua fácil administração, não re-
querendo procedimentos invasivos. Mesmo durante ou após o
tratamento, é importante a avaliação periódica dos pacientes para
a detecção precoce de uma possível DRM. Dessa forma, garante-
se segurança do paciente em relação à evolução do seu estado de
saúde, melhorando assim sua qualidade de vida.

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Abstract: chronic Myeloid Leukemia (CML) is a myeloproliferative


disorder characterized by an increased number of myeloid cells,
red cells and platelets. About 90% of the cases of CML present
with a typical chromosomal translocation, named Philadelphia
chromosome (Ph). This study presents a literature review about
the diagnostic methods used for the detection of CML and for the
monitoring of Minimal Residual Disease (MRD).

Key words: chronic myeloid leukemia, diagnostic methods,


1082 minimal residual disease
Contribuições dos autores – SF Anunciação: revisão bibliográfica e redação do
item sobre tratamentos da LMC; LFQ Elias: revisão bibliográfica e redação do
item sobre os métodos diagnósticos da LMC; DC Guimarães: revisão bibliográ-
fica e redação do item sobre definição e epidemiologia da LMC; JL Neto Filho:
revisão bibliográfica e redação do item sobre definição, importância e detecção
de DRM; VA Saddi: idealização, revisão final e submissão do artigo.
Apoio – CNPq e Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade
Católica de Goiás.

SUZANA FERREIRA DA ANUNCIAÇÃO


estudos, Goiânia, v. 35, n. 11/12, p. 1069-1083, nov./dez. 2008.

Acadêmica no Departamento de Medicina da Universidade Católica de Goiás


(UCG).

LARISSA FERNANDA QUEIROZ ELIAS


Acadêmica no Departamento de Medicina da Universidade Católica de Goiás
(UCG).

DAYANNE CINTRA GUIMARÃES


Acadêmica no Departamento de Medicina da Universidade Católica de Goiás
(UCG).

JOÃO LUIZ NETO FILHO


Acadêmico no Departamento de Medicina da Universidade Católica de Goiás
(UCG).

VERA APARECIDA SADI


Doutora em Fisiologia pela Universidade de São Paulo. Mestre em Ciências
pela University of Victória, Victoria, BC, Canada. Biomédica pela Universidade
Católica de Goiás, Goiânia. Professora do Departamento de Biomedicina e De-
partamento de Medicina da UCG. Coordenadora do Programa de Mestrado em
Genética, Departamento de Biologia da UCG. Biomédica do Setor de Anatomia
Patológica, Hospital Araújo Jorge – Associação de Combate ao Câncer em Goiás,
Goiânia. E-mail: vsaddi@terra.com.br 1083

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