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Transferência erótica na psicoterapia corporal *


Luiza Revoredo de Oliveira Reghin **

* Texto apresentado na mesa redonda com este tema no Instituto de Biodinâmica, em 19 de


junho de 2002. Presentes também à mesa : André Sansom e Cláudio Wagner.

** Membro do R 76 – Ação e Prevenção em Saúde Psicorporal.

Nossa tarefa hoje é compreender o impacto que este fenômeno gera nos
corpos e no processo terapêutico e como os corpos no processo terapêutico
geram e operam este fenômeno. Tema instigante, mas nada fácil, em especial
porque trabalhamos com intensidades, cargas e fluxos nos corpos.

Do latim “transferentia”, do verbo “transferre”, que significa transportar,


transferir, deslocar, o termo transferência refere-se sempre a algo que se
move de um para outro, como uma passagem, uma ponte que liga. É um conceito
que tem uma longa história no desenvolvimento da teoria psicanalítica, que vai
desde falsa conexão até tornar-se o eixo do processo analítico.

Erótica, de Eros, o elemento que une. Sempre associado ao amor e ao


relacionamento humano. Podemos circunscrever sua definição às energias
sexuais indiferenciadas regidas pelo princípio do prazer, ou agregar um sentido
além do desejo de descarga instintiva e busca de gratificação sensual no
relacionamento humano, definindo-o como uma função do princípio criativo de
união, o que busca o devir, a realização do destino particular de uma existência.

Segundo Freud a disposição congênita mais as influências experimentadas


durante os anos da infância determinam em cada indivíduo a modalidade
específica de sua vida erótica, fixando seus fins, as condições que o sujeito
exigirá e os instintos que terá que satisfazer.
Somente parte destas tendências que determinam a vida erótica realizam sua
evolução psíquica completa e são voltadas para a realidade e disponíveis à
consciência. A outra parte fica não completamente desenvolvida e inconsciente
ou é liberada na fantasia.As necessidades eróticas não satisfeitas na realidade
em cada indivíduo, as tensões orgânicas, buscarão a possibilidade de descarga

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em outro organismo que aparecer à sua frente, seduzindo inconscientemente


figuras consteladas no complexo deste outro com quem se relaciona. Ou, como
diz Keleman, a criança aprende com o adulto a usar a si mesma e ao outro
através do tocar, olhar, respirar junto, beijando, falando, trabalhando,
experimentando a pressão e a temperatura do contato. É nesta qualidade de
troca que fica a narrativa que levamos adiante em nossas vidas, narrativa
estagnada ou em movimento.
A história erótica fica registrada no caráter de cada indivíduo e é esta forma
que interfere e convida a formas do outro, buscando no outro pontos de
contato para que sua carga e descarga se dê.

Esta carga de libido insatisfeita fica mantida esperançosamente e se orienta


no processo terapêutico também ao terapeuta, como um outro, mas em especial
porque a própria terapia mobiliza quantidades afetivas (aspecto econômico) que
por sua vez ativam os complexos (aspecto dinâmico) que buscam uma realização
na situação atual. No contato entre paciente e terapeuta, criam-se estados
com o outro para encontrar-se a si mesmo. Este é o campo onde se dão os
processos de transferência e contratransferência e, nestes termos
poderíamos dizer que toda transferência é erótica.

O processo terapêutico é, portanto, um espaço privilegiado para o


reordenamento do vivido , permite que a história erótica seja vivenciada com a
sensação de atualidade na transferência, por isto o grau de erotização muitas
vezes é muito grande. É este realismo que faz da transferência o lugar potente
de transformação.

A questão que se coloca, como sabemos, é que a transferência é a própria


resistência, porque quando o trabalho terapêutico libera a libido da repressão,
inicia-se um conflito entre esta libido que quer fluir e as forças repressoras .

A transferência denominada especificamente transferência erótica, pode-se


dizer, é uma das transferências emocionalmente mais intensas pela demanda
que pressiona: a concretude do relacionamento genital que a lei interdita. O
apaixonamento do paciente pelo terapeuta é uma expressão onde o paciente
coloca suas paixões em ação, uma das características da transferência. Freud
no seu sempre atual “Observações sobre o amor de transferência”, escrito em
1914 diz que este enamoramento depende única e exclusivamente da situação
analítica e não pode ser atribuído aos atrativos pessoais do analista. O paciente

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ou deve renunciar ao tratamento ou precisa aceitar este amor como passageiro


e o analista deve acolher este afeto e trabalhá-lo como uma situação que
precisa ser atravessada para a cura, tornando consciente os elementos mais
ocultos da vida do paciente. Freud ainda adverte ao analista a manter firme
domínio sobre este amor, pois após mobilizar a energia, se o reprime desfaria
todo o trabalho da análise, reprimindo novamente a libido. De qualquer forma,
este amor aparece como resistência ao processo, porque o paciente perde todo
interesse pelo tratamento em si e passa a exigir a retribuição do seu amor pelo
analista.Talvez o mais correto seria dizer que a resistência encontra o amor
diante de si e serve-se dele exacerbando suas manifestações, com novas
edições de conteúdos reprimidos. Remontar estes afetos à suas origens
inconscientes é favorecer que o amor transforme o paciente e este
restabeleça sua capacidade de amar. Dizemos então que o amor é o princípio
transformador que ao transformar se transforma e o objetivo terapêutico é
devolver ao paciente sua capacidade de amar e aí levá-la para a vida real.

Penso como Mario Jacoby: ainda que ninguém duvide que uma relação amorosa
pode ser uma experiência de tal forma intensa que possa representar um
impacto ainda maior do que a própria análise no processo de individuação de
alguém, precisamos considerar que o relacionamento analítico e o amor físico
são de naturezas bastante diferentes em essência e finalidade para que
possam caminhar juntos na mesma díade.
A expressão do amor transferencial no processo terapêutico dirige muita
carga à figura do terapeuta e afeta seu corpo e psique. Temos expressões de
medo, culpa, fantasias onipotentes de preenchimento de necessidades, raiva,
envaidecimentos, etc, e atravessar estes sentimentos é o que transforma
paciente e terapeuta. É um convite à responsabilidade daquela dupla a
manterem-se fiéis ao que os trouxe ali, um momento onde não atender a um
desejo ardente é um sacrifício em função da vida. Por isso diz-se que ao
reconhecer que a situação terapêutica convoca a expressão deste afeto,
manter-se na abstinência não é uma posição moralista, é um valor ético, pois
endereça o amor na direção da cura.

Masud Khan diz que Freud foi hábil em ritualisticamente estabelecer os tabus
da motilidade ( o paciente deveria permanecer no divã ) e da visão e tato (
porque intensificam rapidamente a excitação ). Assim, na situação analítica,
onde dois humanos se encontram, torna-se impossível o incesto e o parricídio e
a transgressão está no convite ao paciente a expressar através da palavra seus

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desejos, inclusive os incestuosos e parricidas. Ainda segundo Khan a criação de


um tempo, espaço e processo potencializam uma área, a área da ilusão, na qual o
discurso pode expressar-se. O que está no centro da análise é a valência
erótica e afetiva da linguagem que se processa através da transferência – o
paciente reproduz o que esqueceu ou reprimiu, não simplesmente lembra.
Porém, quando a ação muscular ocorre, temos uma expressão de busca concreta
e não só uma ação através da linguagem. A ilusão é transfigurada e concretiza -
se uma nova realidade psíquica que a Psicanálise define como atuação, que
rompe a aliança terapêutica. Khan descreve casos clínicos onde os pacientes
não têm a capacidade de manter a área de ilusão na situação clínica , exigindo
do analista a criação de um setting e manejo diferente. Ouvi nestes relatos um
convite profícuo para nossa reflexão de hoje, pois se no campo das análises o
enquadramento é bastante claro, no território das psicoterapias corporais as
bordas são outras, na realidade tantas quanto as diversas abordagens
corporais e incluem o contato frente a frente (que limita e/ou dirige
projeções), o olhar do terapeuta para o corpo do paciente (que ativa conteúdos
ligados ao ver e ser visto), o movimento e o contato físico ( que mobilizam
grandes quantidades de energia). Incluem também uma presença ativa do
terapeuta.

Reich segue Freud e também define que a transferência assinala o caminho a


ser percorrido na direção da cura, a prevalência da genitalidade, e para tal
atravessa-se a questão edípica. O terapeuta fica no lugar transferencial da
figura do incesto e o trabalho é liberar esta função e transferi-la para um
parceiro da vida do paciente. O que Reich constrói é um manejo técnico
diferente da Psicanálise, o trabalho com o caráter, a análise sistemática das
resistências, destacando o trabalho com a transferência negativa. O trabalho
caracterológico implica na investigação contínua da função que determinado
comportamento cumpre ao expressar-se e existe apenas uma técnica para cada
paciente, definida a partir do próprio caso e da relação ali estabelecida.

Sabemos que no seu trabalho de investigação Reich continuou a pesquisar a


fonte de energia das neuroses e passou a trabalhar com a couraça muscular,
onde introduziu o toque e a proposição de movimentos para liberar as energias
vegetativas, ao lado dos elementos verbais de análise. Sabemos também que ao
longo das diferentes fases do seu trabalho Reich distanciou - se da análise do
caráter, passando mais e mais a operar sobre as questões defensivas no corpo.

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Vejamos a análise da conduta terapêutica de Reich quando já no seu trabalho


em Orgonomia, no caso ”A cisão esquizofrênica”, descrita por Amadeu
Weinmann e colegas, num texto intitulado “A transferência em Psicoterapia
Reichiana”. Aqui a erótica não é genital mas também está presente, marcando e
definindo a carga e forças de atuação. Ir a este caso clássico é uma escolha
para começarmos a delimitar o novo setting em que operamos e os recursos que
dispomos para trabalhar as transferências.
Os autores fazem duas leituras do caso, a primeira à luz da Psicanálise e a
segunda à luz da própria abordagem reichiana.
Se observado à luz da Psicanálise, diríamos que Reich vê a repetição
transferencial ( ódio à mãe – impulso de estrangulá-la ) , mas leva a paciente a
atuar o impulso inconsciente ao invés de recordar em palavras. Ele aceita o
pedido da paciente de colocar as mãos em torno do seu pescoço, o que poderia
ser visto como uma decorrência de sugestão, uma vez que ele propõe atividades
e aceitação da demanda, o que impediria o trabalho de elaboração. Além disso,
Reich intervém diretamente sobre o corpo da paciente, o que erotizaria a
relação. Ele não observa portanto a regra de abstinência e gratifica demandas
que deveriam ser resolvidas simbolicamente.
Vejamos agora o mesmo caso à luz reichiana: diríamos que, mesmo num caso
grave como este, Reich domina o manejo da transferência. Como? Ele se
oferece como suporte para a expressão da paciente, permitindo-a vivenciar
transferencialmente um impulso inconsciente e assim, o que era da ordem da
repetição pode ser rememorado em toda sua intensidade afetiva, para aí então
dar lugar à palavra. Nesse ponto diferencia atuação, de atividade. Se
permitisse atuação, manteria a paciente na repetição inconsciente e busca de
gratificação terapêutica, mas o que faz é dirigir e modular conscientemente
uma intervenção ativa, para aí buscar sua resolução bioenergética e simbólica.
Pois é... toda minha reverência a este clínico dedicadíssimo e competente. Mas
é a tamanha sutileza e propriedade no manejo técnico e do setting que faz
toda a diferença na condução do caso. Ele mesmo faz esta advertência aos
terapeutas todo o tempo. Temos aqui mais um chamamento à nossa
responsabilidade no trabalho como clínicos corporalistas e o assinalamento de
uma direção, onde o desafio que se coloca é o trabalho investigativo de
determinada função, a elaboração bioenergética e simbólica, a construção e
manejo do setting.

O setting terapêutico, que é a ambiência física propiciada pelo terapeuta, inclui


o tempo e a própria presença do terapeuta, cumprindo a função de holding do

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ser, a relação terapêutica baseada na função de experienciar. O experienciar


tem um lugar privilegiado nas terapias corporais e trabalhar com o corpo
envolve possibilidades, mas também grandes riscos, como o de ficar capturado
nas altas cargas de carência, medo, agressividade e excitação.

Voltando ao Masud Khan,como pensar a área de ilusão nas psicoterapias


corporais ? O que no campo é delimitado como as bordas em que paciente e
terapeuta podem se mover e expressar livremente e o que é considerado
transgressão ? Onde esta pode ser expressa? Quais são os nossos contratos
internos ?

Por um lado a cultura reichiana traz inúmeros recursos e permite e favorece


criatividade para adaptarmo-nos ao processo e às necessidades do paciente.
Isto é construção de setting. Por outro, existe um descuido na sustentação
deste, pela má avaliação das conseqüências que a destruição de um setting tem
num processo, impedindo o trabalho interpretativo corporal e verbal e fazendo
com que se fique muitas vezes só na experiência. Minha hipótese é que o
descuido com o setting leva à uma grande exigência dos corpos do paciente e
do terapeuta, sendo este um dos favorecimentos à atuações, bloqueios
energéticos e estados confusionais.

O que nos faz legitimar a gratificação oral, promovendo todos os tipos de


holding que utilizamos e não a gratificação genital ? O que permite nos colocar
como presenças concretas para o contato real quando o paciente expressa seus
anseios de contato / intimidade mais primitivos, seus vazios, raivas, medos ?
Como definimos o que pode ser gratificado e o que deve ser frustrado e como
sustentamos, e em nome do que, a interdição para a gratificação genital ? Mais
do que isso, como manejamos as situações transferenciais ?

Ainda confundimos terapia ativa com fazer, o que nos leva muitas vezes a negar
as necessidades de tempo e distância psíquicas e corporais. Uma vez que
definimos que vemos o que está lá, o que permitimos que se oculte e o quanto
permitimos que o que apareça possa ser des / coberto pelo paciente ? A pressa
(sintoma dos nossos tempos) leva muitas vezes a mais contração ou ao menos a
não sustentar o que encontrou em si. Lembro de uma frase da Miriam
Chnaiderman : O analista não deve saber fazer (ou só fazer, no nosso caso),
mas fazer saber.

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A preocupação com recursos técnicos e o pouco cuidado com as questões


anteriormente levantadas fez sinais e sintomas no campo corporalista, como a
busca de academias para produção e atualização teórica e interlocução com
outras abordagens. Outros deslocando - se para as análises clássicas. Pelo lado
sombrio,queda na qualidade das formações, diminuição da demanda e queda no
nível dos alunos que buscam formação e, mais grave ainda, o sintoma das
denúncias de abusos e produção de falsas memórias. Esta expressão da sombra
pessoal e coletiva da nossa categoria veio com muita força na Costa Oeste dos
EUA, um dos berços desta modalidade de terapia, com a denúncia de
despreparo dos terapeutas na acolhida e elaboração dos conteúdos
transferenciais, especialmente os de cunho erótico, acabando por contribuir
com as resistências dos pacientes. Isto nos demonstra mais uma vez como um
desenvolvimento unilateral torna-se lesivo. Denuncia também e nos convida a
assumir que existe uma necessidade mútua de conexão anímica entre paciente
e terapeuta, este é um anseio da ordem do humano que encontra no espaço
terapêutico uma possibilidade de expressão. Estar ciente disso é saber do
risco que se evidencia nas múltiplas e variadas formas de transferências, caso
contrário o primitivo, o pré – genital do terapeuta passa a funcionar de modo
autônomo e inconsciente.

Todo reichiano que queira construir uma clínica precisa ter presente o espírito
de investigação tão apregoado e desenvolvido por Reich, precisa acolher cada
expressão no processo como uma forma específica daquele corpo - psique que
busca fluxo, usar o recurso precioso da análise da forma, construir com toda
sua criatividade o setting para aquele caso e sustentá-lo, confiar e cuidar do
seu próprio Eros. Assim, a meu ver, desenvolvemos condições de possibilidade
de fazer do processo terapêutico um encontro criativo, que se reinvente a
cada momento e, por isso mesmo, a favor da vida.

Bibliografia:

- Freud, S. – Observaciones sobre el amor de transferência – in Obras


Completas, tomo II, Biblioteca Nueva.
- Fucks, Betty – O amor e a responsabilidade em Freud – texto
apresentado nos Estados Gerais da Psicanálise, 2000.
- Green, André – O outro e a experiência de self – Prefácio de Psicanálise:
teoria e técnica e casos clínicos, Masud Khan, 1974.

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- Hedges, Hilton, R. e Hilton, V. – Terapeutas em risco – perigos da


intimidade na relação terapêutica, Summus Ed., 1997.
- Jacoby, M. – O encontro analítico : Transferência e relacionamento
humano, Ed. Cultrix, 1984.
- Keleman, S. – Amor e vínculos – uma visão somático – emocional, Summus
Ed., 1994/96.
- Khan, M. – O papel da ilusão no espaço analítico e no processo analítico -
in Psicanálise: teoria, técnica e casos clínicos, Francisco Alves Ed., 1974.
- Miguelez, O.- Amor de Transferência – texto apresentado nos Estados
Gerais da Psicanálise, 2000.
- Paz, R. – Introdução à transferência – in Transferências, Abrão
Slavutzky (org.) , Ed. Escuta, 1991.
- Wagner, C. – A transferência na vegetoterapia caratero-analítica , tese
de doutorado, PUC-SP, 2000.
- Weinmann e outros – A transferência em psicoterapia reichiana – in
Revista da Sociedade W. Reich, RS, ano 3, n. 3, dez./99.

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