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A JUVENTUDE NO CINEMA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Scheilla Franca de Souza1


Maria D‟Ajuda Alomba Ribeiro2
Ricardo Oliveira de Freitas3

Resumo: Este artigo busca refletir acerca da representação juvenil na cinematografia


nacional. Na contemporaneidade é possível perceber que são produzidos filmes que
abordam as questões da juventude como tema principal. Para fins de recorte, tendo
como foco de estudo a representação do universo jovem na sétima arte, é abordado o
filme Apenas o Fim (2008). Observa-se que o cinema juvenil cresce com um escopo de
produções variadas, estimulando uma gama de olhares acerca da representação de
juventudes. A metodologia de abordagem qualitativa e bibliográfica utiliza-se das
ferramentas da análise fílmica, dos estudos geracionais, de representação e do cinema
contemporâneo.

Palavras-chave: Cinema, Representação, Identidade, Interações Sociais, Culturas


juvenis

1 Introdução

Ao longo da história, a dinâmica das interações sociais vai delineando novas


formas de sociabilidade, de papéis sociais, que levam à constituição de identidades e
formações culturais. O homem é, antes de tudo, um ser social. Assim sendo, é possível
afirmar que há uma relação simbiótica entre o sujeito e a sociedade, por conseguinte
essa conjunção permite que surjam alterações constantes nos modos de viver e
estabelecer interações.
A questão da juventude é um exemplo dessas novas dinâmicas culturais e
sociais. Até o início do século XX, imaginar o que é um jovem, ou ainda, a

1
Mestranda em Letras: linguagens e representações pela Universidade Estadual de
Santa Cruz. Bolsista FAPESB (2010-2012). E-mail: scheillafranca@gmail.com
2
Professora do mestrado em Letras: linguagens e representações. E-mail:
dajudaalomba@hotmail.com. Orientadora do trabalho.
3
Professor do mestrado em Letras: linguagens e representações. E-mail:
ricofrei@gmail.com. Orientador do trabalho.
caracterização do sentido de juventude era basicamente inexistente. Foi apenas a partir
desse momento, de maneira mais latente em meados desse século, com os movimentos
sociais de juventude, que estes sujeitos acenaram suas preocupações particulares, suas
inquietações, suas necessidades e seu modo de viver. Inaugura-se, então, formas
distintas de estar em sociedade, inaugurando o que inicialmente, foi considerado como
condição juvenil, sendo mais tarde o termo substituído por culturas juvenis.
Em linhas gerais, num primeiro momento, pode-se observar que a força das
manifestações culturais e sociais da juventude, de alguma forma, está atrelada à questão
da contra-hegemonia, de uma posição antagônica ao sistema dominante, de
questionamento. No entanto, não se podem negligenciar os apelos comerciais que se
instauram sobre esses sujeitos, os jovens, sobretudo com a consolidação da indústria
cultural.
É inegável, contudo, a proeminência de representações que este universo da
juventude vem disseminando desde a metade do século XX. O protagonismo juvenil e
as representações do jovem no cinema refletem as transformações no campo das
identidades, das práticas e vivências contemporâneas. O cinema e o universo jovem
mantêm uma relação bastante próxima, sobretudo nos últimos cinqüenta anos, com os
movimentos juvenis da contracultura na década de 1960 e 1970, com o cinema jovem
da década de 1980 e com os diretores desta geração que abarcam o universo juvenil na
contemporaneidade, mais destacadamente na última década.
Mais recentemente, o número de produções cinematográficas brasileiras que se
aproximam desse imaginário juvenil e das identidades jovens é muito grande.
Compreendidos enquanto sujeitos sociais, as pontuações e conceitos em torno das
especificidades das identidades jovens estão presentes em diversos meios, e mais
especificamente, neste caso, no cinema brasileiro contemporâneo, vem alimentando este
amplo espectro de representações juvenis, sempre em metamorfose.
A inquietação, o deslocamento, a busca pelo processo de identificação são
motivações e facetas da juventude muito exploradas nesses filmes. Deve-se questionar,
portanto, como esse cinema vem representando o universo juvenil. Assim sendo, este
artigo se propõe a pontuar em um primeiro momento, a relação entre as configurações
da juventude e a questão das interações sociais. Por conseguinte, é lançado um olhar
sobre a relação entre a juventude e o cinema. E por fim, tece-se uma discussão acerca da
representação juvenil no filme Apenas o Fim (2008), dirigido pelo jovem diretor
Matheus Souza.
2 As interações sociais e a constituição da juventude: outros espaços, novos papéis

Viver em sociedade é, antes de tudo, partilhar um jogo entre espaços público e


privado, papéis sociais a representar em rituais e circunstâncias que se estendem durante
toda a vida humana, desde o nascimento até a morte. No entanto, os papéis, rituais e
espaços não se encontram delimitados de maneira imóvel, estanque, imutável. Muito
pelo contrário, como pontua Arendt (2005), a condição humana gira em torno de que o
homem é um ser social, e assim sendo, suas definições, formas de agir, seu
comportamento, está intimamente ligado à sociedade, sobretudo às noções de espaço
público (vida na polis, na cidade, ou ainda a questão da cultura) e espaço privado (lar,
família, casa, e também de ordem da natureza).
Ao longo dos tempos, no entanto, observa-se que estas definições estão em
constante reordenamento e ainda como pontua Arendt (2005), as linhas que delimitam o
espaço público e privado vão se imbricando e esmorecendo dentro de novas formas de
socialização. Com a explosão da globalização, a popularização dos meios de
comunicação no século XX, torna-se ainda mais complexo definir o que é pertinente ao
domínio público e o que deve ficar restrito ao privado. Essa, dentre outras
transformações, geram uma instabilidade que leva a outras formas de interação, entre
espaços, entre grupos sociais e entre sujeitos.
Essa mesma instabilidade faz com que o homem contemporâneo se reconheça de
maneira plural. Pode-se observar a questão dos papéis que surgem na vida cotidiana
como uma conseqüência destes novos arranjos sociais, mais complexos, fragmentados e
descentralizados como pontuam os estudos de Goffman (1999). Os papéis são, pois,
constituintes de novas identidades (sempre relacionais) e formações culturais que
acompanham essas outras experiências que compõe o modo de viver sujeito atual. O
comportamento, as práticas e as vivências do homem ganham novos contornos e estes
partilham outros papéis.
Nesse contexto, é pertinente considerar a juventude como um conjunto de
identidades que surge a partir de novas formações e formas de sociabilidade desse
homem contemporâneo. Como pontua Brandão, “a cultura surge das relações que os
homens travam entre si e com o meio em que vivem, em busca da própria
sobrevivência” (BRANDÃO, 1997: 09). Assim, a juventude é espectro de papéis e
identidades que começa a se configurar no início do século XX, com o período do pós-
guerra. Com a divergência de visões entre o universo adulto e o ponto de vista juvenil
neste momento é, segundo o autor, “apenas a partir da década de 1950 que surgiu a
chamada „cultura da juventude‟, dentro e fora dos Estados Unidos reflexo da expansão
do capitalismo em busca de novos mercados” (BRANDÃO, 1997: 10).
Nessa história recente, observa-se que a concepção dessas identidades jovens
surge em oposição ao mundo dos adultos e seu conformismo. Por tal razão, a juventude
esteve durante muito tempo (e, de alguma forma ainda está), atrelada a um papel de
questionamento, de transgressão face ao que é conservador, posicionamento contra-
hegemônico, embora, como pontua Brandão (1997), existam movimentos de juventude
também conservadores.
A consolidação do que ficou conhecida como cultura jovem, e que mais tarde
desmembrou-se em culturas juvenis, ocorre dentro do contexto de explosão demográfica
e expansão econômica dos EUA após a Segunda Guerra Mundial. Embora tenha suas
principais configurações iniciais ligadas à revolta, à revolução e contra o sistema, em
pouco tempo a indústria cultural percebeu o potencial consumidor dos jovens e passou a
comercializar produtos voltados para estes sujeitos. Dessa forma expandiu-se o que se
considera como cultura jovem na década de 1950. Fica evidente a relação entre os
jovens, as identidades e os meios de comunicação na sociedade mediada.
Ao longo das gerações, as prerrogativas que delineiam o pensamento e o
comportamento juvenil alteram-se de modo que novos papéis juvenis são colocados e
partilhados. Como pontua Martín-Barbero (2008), os jovens são os senhores eternos do
presente, do atual, do contemporâneo. Em cada geração, emergem novas práticas e
vivências que conferem ao universo jovem um caráter extremamente volátil.
Dentro desses movimentos de reconhecimento e pluralidade cultural, começou-
se a compreender a juventude não mais de maneira singular, mas como “juventudes”. A
concepção de juventude está atrelada à noção de sujeitos sociais, culturais e políticos.
Segundo Zuleika Bueno (2008), é ainda mais intensamente na década de 1950,
que se pode perceber, em uma escala global, a existência dos jovens como novos
agentes políticos e culturais. Assim, “a vivência da juventude havia se expandido e
diversificado em variadas microssociedades relativamente autônomas da vida adulta. É
neste momento que podemos falar do desdobramento da condição juvenil em culturas
juvenis (Feixa e Porzio, 2004).” (BUENO, 2008: 04).
Trata-se de uma construção cultural e não apenas de um fator biológico, mas de
um conjunto de práticas e vivências particulares. Para Martín-Barbero “o mundo está
diante de juventudes cujas sensibilidades respondem as alternativas de sociabilidade que
permeiam tanto as atitudes políticas quanto as pautas morais, práticas culturais e gostos
estéticos” (MARTÍN-BARBERO, 2008: 13). Nesse viés, o autor segue sua reflexão
apontando que a política, o trabalho, a escola e a família passam também por uma crise
de identidade que marcam o comportamento juvenil. Nessa instabilidade e falta de
pertencimento no regime dessas instituições, o sujeito jovem parte para outros modos de
identificação em grupos, pares, bandos, guetos.
Segundo o autor, deve-se dar crédito às culturas audiovisuais e às tecnologias
digitais em seu papel de consumo na vida cotidiana juvenil, fator que estimula
configurações de imaginários onde os jovens vêem a si mesmos e interfere em seus
respectivos modos de estarem juntos. No percurso dessas novas sensibilidades e formas
de sociabilidades é preciso considerar as interações desses sujeitos com as tecnologias e
com os produtos culturais e midiáticos. Nesse sentido, Freire Filho (2008), corrobora a
relevância e a necessidade de considerar a mídia e as artes como ponto fundamental
dentro dos estudos de juventude.
Dentro desse contexto, o cinema brasileiro contemporâneo, objeto desta
pesquisa, estrutura-se em um período de avanços tecnológicos, articulando recursos de
linguagem e representação a fim de se aproximar deste público jovem. De acordo com
Pryston (2008), a cultura contemporânea tende a considerar prioritariamente as
configurações da juventude na construção de seus produtos culturais. Nesse cenário,
segundo a autora, possivelmente é no cinema e na música popular que essa centralidade
juvenil ocorre de maneira mais intensa.
Dentro destas prerrogativas sociais, culturais, econômicas e mesmo
mercadológicas, observa-se que estes artefatos culturais, no cinema, na música ou nos
meios de comunicação em geral, funcionam como textos, obras que fazem parte do
tecido social e que permitem ao homem narrar, discutir e apreender a história da
sociedade contemporânea.

3 Cinema e Juventude
Em uma perspectiva histórica, observa-se que o universo jovem e o cinema vêm
tecendo um diálogo importante e intenso. Em linhas gerais, pode-se afirmar que esta
relação ganhou mais forma a partir da década de 1950. Nesse viés, a título de breve
exemplificação, podem ser citadas obras como Juventude transviada (1955), O
prisioneiro do rock (1955), Blow up – depois daquele beijo (1966), Partner. (1968), os
filmes da Nouvelle Vague Francesa e dos Cinemas Novos, além dos contemporâneos,
Edukators – Os Educadores (2003), Os Sonhadores (2003) ou Elefante (2001), Last
Days (2003) e Paranoid Park (2008).
No cinema brasileiro, o universo juvenil apresenta também um conjunto de
obras bastante expressiva, sobretudo a partir dos anos de 1980. Nesse momento podiam
ser vistas obras como Bete Balanço (1984), Menino do Rio (1981), por exemplo. No
entanto, é mais substancialmente nesta última década que o diálogo com a cultura
jovem, ou melhor, com as culturas juvenis, está se tornando mais encorpado.
Com retomada das produções brasileiras na década de 1990 e mais tarde com a
consolidação de mercado cinematográfico no país em 2002, com o lançamento de
Cidade de Deus, inaugurando o cinema brasileiro de pós-retomada, as produções
alcançaram um novo perfil. Novos diretores surgiram e vem aparecendo e outro
panorama começa a ser desenhado. O barateamento e a popularização das tecnologias
digitais de captação e edição audiovisual, bem como os métodos de captação de
recursos, vem ampliando o número de filmes produzidos no Brasil, bem como o
tornando mais diversificado e plural, em temáticas, perfis de produção e público.
Como apontam Rêgo e Gutfreind (2008), no cinema brasileiro, sobretudo nos
últimos dez anos com o período da pós-retomada, é crescente o número de obras que se
debruçam sobre este universo. Dentre algumas, as autoras citam: “Cidade de Deus
(2002), Houve uma Vez Dois Verões (2002), Dois Perdidos Numa Noite Suja (2003), A
Cartomante (2004), Nina (2004), De Passagem (2004), Cama de Gato (2004), O Diabo
A Quatro (2005), A Concepção (2005), Árido Movie (2006), Muito Gelo e Dois Dedos
D´Água (2006), O Céu de Suely (2006), A Máquina (2006) e Cão Sem Dono (2007)”
(REGO e GUTFREIND, 2008, p. 01).
Além desses já citados pelas autoras, podem-se vislumbrar alguns outros títulos,
que dialogam ainda mais proeminentemente com a juventude atual tais como Proibido
Proibir (2007), Apenas o fim (2008), Sonhos Roubados (2009), Antes que o mundo
acabe (2010), Os famosos e os duendes da morte (2009), As melhores coisas do mundo
(2010), Desenrola, o filme (2010), Estrada para Ythaca (2010), A fuga da mulher gorila
(2009) e A alegria (2010), apenas para citar alguns. Estes títulos apresentam múltiplos
olhares sobre a cultura jovem e vem ganhando destaque no cenário nacional e
internacional, em festivais ao redor de todo o mundo. Um grande diferencial é que os
jovens participam ativamente da concepção destes filmes, seja na direção como é o caso
de Apenas o Fim (2008) e Os Famosos e Os Duendes da Morte (2009), seja na
concepção do roteiro ou atuação como é o caso de As Melhores Coisas do Mundo
(2010), Estrada para Ythaca (2010), Sonhos Roubados (2009) ou Antes que o mundo
acabe (2009), por exemplo.
As práticas, vivências e perspectivas da juventude vêm alimentando uma gama
de filmes na produção cinematográfica brasileira contemporânea, ao mesmo tempo em
que permite pensar acerca de como se constitui o imaginário juvenil nos tempos atuais.
Estando atento aos perfis dessas novas produções do cinema brasileiro de pós-retomada,
um fator a se destacar é que jovens cineastas, ao realizarem suas obras tem buscado
representar o próprio universo jovem, das mais diversas maneiras.
E o número de produções de cinema jovem é crescente. Em 2010 no Festival de
Brasília, novos filmes e olhares sobre a juventude são lançados. É o caso do filme
Alegria (2010) de Felipe Bragança e Marina Meliande. Assim como Os Famosos e os
Duendes da Morte (2009), este filme se aproxima do universo juvenil em um tom
onírico, a partir do imaginário, para narrar o descontentamento e o desconforto juvenil
com o mundo.
Tendo em vista a breve descrição de parte dessas obras que se propõem a
representar o universo do jovem brasileiro, pode-se concordar com Sposito, quando a
autora afirma que “a juventude é uma construção simbólica inscrita em práticas sociais,
e que certamente o cinema dos últimos 50 anos constitui um momento importante na
constituição desta arquitetura. Ele tanto é produto dessas representações como produtor
de novas formas de percepção desses segmentos.” (SPOSITO, 1997: 01).
Observa-se assim que o cinema brasileiro contemporâneo vem buscando então,
nos últimos anos uma maior textualização desta juventude, ou de universos jovens, a
partir da produção de filmes que buscam representá-los. Diante desse panorama, o filme
Apenas o Fim (2008) pode trazer contribuições no sentido de gerar discussões
encorpadas no campo da representação juvenil no cinema.

4 A representação juvenil no filme Apenas o Fim (2008)


O conceito de representação dentro do universo fílmico é um dos mais
discutidos e relevantes do cenário contemporâneo. Realidade, ficção e verossimilhança
são pontuações que circundam preocupações do cinema. A representação dentro do
âmbito cinematográfico é muito significativa, pois torna possível à sétima arte contar
histórias e entreter/informar este público, como coloca Xavier (1999). Dialogando com
o teórico, Jean-Claude Carrière (2005) ressalta que a memória da imagem
cinematográfica pode ser mais forte e duradoura do que as palavras e frases, sobretudo
tendo em vista as possibilidades narrativas do cinema.
Assim sendo, os longas-metragens de ficção podem ser encarados e analisados
como instrumentos importantes para materializar a metamorfose ambulante que é são as
juventudes. Dessa forma, a análise de Apenas o Fim (2008), deve ocorrer observando a
obra como um todo, a partir de uma abordagem dos aspectos visuais, sonoros,
dramáticos e narrativos. Nesse momento, o artigo não vai se deter a uma cena
específica, mas aos aspectos gerais da representação juvenil no filme escolhido, em uma
abordagem mais ampla, como observam Vanoyé e Goliot-Leté (2004). Como o filme
tem sua construção narrativa voltada para o diálogo entre os personagens, durante este
artigo devem ser transcritas algumas partes da conversa entre os protagonistas a fim de
exemplificar e vislumbrar melhor as questões colocadas.
Como pode ser observada, a representação no cinema é atravessada por diversas
questões, levando a considerá-lo como um evento que apresenta uma multimodalidade:
ao mesmo tempo agregando a si características de meio de comunicação, indústria e
arte. Esta noção permite compreender as particularidades da representação no cinema,
fazendo-o estar intrinsecamente ligada às questões culturais, políticas, econômicas e
tecnológicas de sua época.
Apenas o Fim (2008), dentro desta nova safra de filmes sobre a juventude
inserido no contexto da pós-retomada, pode ser considerado um marco. Seu diretor,
Matheus Souza, de apenas 21 anos, fez uma comédia romântica onde um casal discute
basicamente a sua relação com o mundo a partir das referências juvenis. Eis porque o
lançamento do filme causou tanto furor no universo do cinema nacional contemporâneo.
Tão logo foi visto pela primeira vez, Apenas o Fim (2008), foi apontado pela
crítica e pelo público como a representação de uma geração. O filme em questão foi
feito por um jovem estudante de cinema cujo principal interesse é discutir a relação de
sua geração com a sociedade. Para tanto, o diretor cria uma situação-limite de término
de relacionamento na qual os personagens revisam a relação antes da despedida. No
entanto, narrativamente o que acontece é a dinâmica oposta. Ao iniciarem a sua
despedida, o que ocorre, é uma apresentação. Uma apresentação deles por eles mesmos,
a partir de uma amálgama de referências que costuram a sua relação com o mundo e
com a sua própria representação.
Trata-se de uma geração nascida no fim de década de 1980. Naquele momento, a
Internet passou do estigma da utopia para tornar-se uma realidade cotidiana (em meados
dos anos 90) e, como conseqüência de todas estas questões, o consumo é também uma
prática de identificação. Sobretudo, quando se fala em bens simbólicos e culturais.
A escolha narrativa por apresentar dentro desta relação de casal o jogo de
citações à cultura pop traz então uma possibilidade de representação sintomática desse
momento. Não se trata de um fenômeno novo, de uma inovação ou revolução, em
termos da cinematografia, visto que é possível perceber a influência de diversas obras e
autores, tais como a do brasileiro Domingos de Oliveira e sua relação com a juventude e
a representação da sociedade brasileira. No entanto, a sua utilização é válida, uma vez
que Matheus Souza busca nesta situação uma forma de explorar a relação de sua
geração de jovens urbanos e alternativos com a questão dos referenciais culturais.
Uma questão interessante na construção da narrativa de Apenas o fim (2008) diz
respeito à análise que seus próprios personagens tecem sobre eles mesmos como se
estes tivessem certa consciência de que são parte de uma trama. Este recurso da
linguagem deixa claro de que não se trata de uma representação ingênua.
Tratando de seus efeitos visuais, observa-se que a câmera, em maior parte, se
desenha a partir de planos sequência, acompanhando os personagens em seus trajetos
pela universidade. No entanto, é dado bastante enfoque em detalhes, sobretudo da
construção visual dos personagens: ambos de tênis All Star em cores complementares
(verde e vermelho), usando jeans e ele com a camiseta do Star Wars e óculos antigos.
Embora o enfoque esteja nos diálogos, o figurino é bastante representativo deste
universo jovem representado. Jovens urbanos e alternativos, que conversam sobre
videogame, cinema, música, Internet e HQs.
O filme é dividido em dois grandes segmentos: um colorido, representando o
tempo presente e o outro preto e branco, na parte das lembranças do casal. A luz, na
maior parte das cenas, é iluminação natural. O filme tem uma paleta de cores bastante
diversificada. A parte colorida é rodada nas locações da faculdade. As cenas em preto e
branco se passam no quarto dele, numa cama onde os jovens jogam, conversam,
namoram, assistem a filmes.
Logo nas cenas iniciais, ao saber que sua namorada vai embora, Antônio coloca
seu posicionamento: “Sabe, esse perfilzinho de menina má não combina com você.
Você devia pelo menos fumar para se encaixar nesse perfil, mas você não... você não
fuma. Você é uma fraude. Pronto, falei. Você é uma farsa. Uma farsa bem bonitinha,
mas uma farsa”. Farsa, encenação, jogo. Tais palavras também fazem parte do
inventário desta representação em Apenas o Fim (2008).
Em um determinado momento, ela afirma ter lido o roteiro que ele escreveu para
um trabalho da faculdade. “Sua personagem principal, a menina má, é descaradamente
inspirada em mim. E o mocinho, é descaradamente inspirado em você. E adivinha? Ela
mata o mocinho no fim”, ela diz. Embora, diegeticamente, a sua namorada estivesse
tratando de um roteiro outro, é impossível que não se deixe ao espectador a noção de
que se trata do próprio filme encenado. “Não há muita diferença entre fazer arte e fazer
análise”, Antônio conclui.
Enquanto perambulam e dialogam pelas instalações da universidade,
despedindo-se, os jovens presenciam a gravação de um filme. Um filme que é
inteiramente gravado na PUC-Rio e cujo diretor se chama Matheus e é colega de
Antônio na narrativa. O próprio diretor Matheus Souza aparece gravando uma cena.
Embora esteja no fundo do quadro e não pronuncie uma palavra sequer, pode-se dizer
que sua voz ecoa durante toda a narrativa, dividindo-se entre Antônio, sua namorada e
uma geração.
Ao discutirem sobre o hábito de ir ao McDonalds e pedir sempre um número da
promoção e alterá-lo de alguma forma (normalmente retirando os picles), Antônio
afirma se sentir consumindo algo singular, personalizado, ainda que saiba que se trate
de um produto padronizado. Seria como burlar o sistema. Uma maneira de fazer um uso
particular a partir de produtos da cultura de massa. De alguma forma, pode-se dizer que
esta premissa se estende à dinâmica da representação do próprio filme, que compõe uma
enunciação particular acerca da juventude, de um casal de jovens, a partir da evocação
de todo um repertório cultural pop, da indústria cultural, ou da cultura das mídias.
Em meio a flashbacks que entrecortam a sua conversa e funcionam como
lembranças particulares que ecoam em cada fala, têm-se uma série de posicionamentos
e identificações a partir de ícones da sociedade de consumo e de espetáculo. Em um
pequeno inventário, pode-se elencar: Backstreet Boys (famosa boyband do final dos
anos 1990), He-Man, Britney Spears, sites da Internet como o Jovem Nerd, Orkut, MSN,
a revista Bravo, Sony, Nintendo, Julio Cortázar, Paulo Coelho, Oscar Niemeyer, Star
Wars, Cavaleiros do Zodíaco, McDonalds, Lojas Americanas, Godard, Bergman,
Woody Allen, Quentin Tarantino, Chico Buarque, Johnny Depp, Super Mario Bros.
Os aspectos sonoros do filme são marcados pelo diálogo e também pelo uso da
trilha sonora. Neste caso, o foco principal é música de indie rock (um gênero bastante
representativo do público jovem, feito por jovens, como Mallu Magalhães, Vanguart,
MopTop). Em uma cena, a música chega a tocar inteira, no momento em que Antônio
caminha ao encontro de sua namorada. Passando, ao longo do percurso, por uma série
de “personagens-atores”, que estavam gravando diegeticamente um filme naquele lugar.
Bem como no final do filme, no momento da despedida, agora privilegiando a
estética descontínua do videoclipe, seccionando telas, juntando planos que remetem a
momentos vividos durante o percurso dos personagens na faculdade, ao som de Los
Hermanos, possivelmente a banda brasileira de maior apelo entre os jovens urbanos na
última década.
Como coloca o Matheus Souza em entrevista à Revista Rolling Stones, Apenas o
Fim (2008), é “um filme jovem, feito por jovens, sobre um casal jovem” (SOUZA,
2009). Dessa forma, embora a comédia romântica aborde a universalidade da questão
dos relacionamentos amorosos, ela o faz com a leveza e as marcas dessa juventude.

5 Considerações

Com base nas discussões apresentadas nesse artigo, observa-se que a juventude
não é um universo estanque e cristalino. Trata-se de uma construção social, histórica e
cultural que mantém uma relação muito próxima com o universo simbólico dos
produtos artísticos e culturais, tendo no cinema, uma de suas aproximações mais
recorrentes. A juventude configura-se como um conjunto de papéis, identidades novas,
datadas do início do século XX e que se transformam na medida em que as interações
sociais levam a outros caminhos, práticas, comportamentos e necessidades.
Na cinematografia mundial, diversos filmes se debruçam sobre discursos da
juventude, permitindo explorar a diversidade e a multiplicidade de faces deste universo.
No cenário nacional, nos últimos dez anos, tem sido crescente o interesse pela
identidade juvenil. É interessante observar que o texto cinematográfico, então, tem
buscado dialogar com o universo que envolve o jovem contemporâneo, contribuindo
para que se possa discutir sobre o imaginário juvenil atual.
A textualização deste universo identitário, pelas obras do cinema nacional e mais
especificamente no filme Apenas o Fim (2008), permite compreender e melhor
vislumbrar as inquietações e perspectivas destes sujeitos. Na última hora em que passam
juntos, o casal decide que eles devem conversar para se despedir sem tantas mágoas.
Mas, entre conversar e se despedir, Matheus Souza faz com que eles se apresentem (e
apresentem também o próprio diretor em sua estréia) e representem em suas formas
particulares de se relacionar, não apenas enquanto casal, mas com o mundo.
Portanto, o debate em torno das representações destes jovens no cinema
brasileiro contemporâneo contribui para compor um olhar que busca compreender como
se constitui o imaginário juvenil da última década. E, por outro lado, como este universo
juvenil alimenta narrativamente este momento do cinema brasileiro contemporâneo.

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