Química dos Produtos Naturais

Taninos

Taninos

O nome de tanino provém do francês tanin e inclui uma grande gama de

compostos polifenólicos naturais.
Desde os tempos antigos que são conhecidas substâncias que têm
propriedades de fazer a curtimenta das peles animais obtendo-se deste modo
um material flexível e resistente, o cabedal. Embora a curtimenta das peles
seja um processo muito antigo só no século XX, com o desenvolvimento das
técnicas analíticas, foi elucidado o processo que na realidade ocorre: os
taninos promovem o aparecimento de ligações cruzadas entre as fibras de
colagénio que formam a pele.
Na natureza os taninos encontram-se em muitas plantas superiores, como na
casca do carvalho e do castanheiro, e nas folhas do sumagre, etc…
Os taninos são também utilizados como mordentes no tingimento de tecidos e
na indústria alimentar para clarificar o vinho, a cerveja e os sumos de fruta. São
ainda utilizados nestas indústrias como antioxidantes. Outra aplicação é a de
coagulantes na produção da borracha.
Os taninos são macromoléculas polifenólicas. O seu peso molecular encontra-
se em geral entre os 300 e os 3000 D, embora já tenham sido isoladas
moléculas cuja massa molar é superior a 20 0000 D e que ainda são
classificadas como taninos.
Historicamente os taninos são divididos em duas grandes classes: Os taninos
hidrolisáveis e os taninos condensados.
Os taninos hidrolisáveis devem este nome ao facto de, por acção da água
quente ou por acção de enzimas, poderem ser hidrolisados a componentes
mais simples. Podem ser formados a partir do ácido gálico (ou gálhico, ácido
3,4,5 tri-hidroxi-benzóico), galhotaninos, ou do ácido elágico ( lactona do ácido
hexa-hidroxi-difenóico), elagitaninos (Fig. 11.1). O ácido elágico é formado pelo
acoplamento carbono-carbono de duas unidades de ácido gálhico seguida de
lactonização espontânea.

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HO
O O
OH O OH
HO HO OH
O
O HO OH
HO OH OH
OH HO
OH O HO O
OH

ácido gálico ácido elágico ácido hexa-hidroxi-difenóico

Figura 11.1 – Estruturas dos ácidos gálico, elágico e hexa-hidroxi-difenóico

O ácido tânico, um dos taninos hidrolizáveis mais simples, é formado por ácido
gálico e glucose, encontrando-se os grupos hidroxilo da glucose esterificados
com ácido gálico. Moléculas mais complicadas são formadas por esta unidade
esterificada com outros radicais de ácido gálico.

OH
HO

HO
O OH
HO O OH
O O
O
HO OH
O O O
HO
O
O OH

O
OH
HO OH
OH OH

Figura 11 .2 – Estrutura de uma pentagaloil-glucose

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Uma outra categoria de taninos é a dos taninos condensados, que são

formados por unidades de catequina unidas entre si por ligações carbono-
carbono, que se estabeleceram entre o carbono 3 de uma unidade e o carbono
8 de outra unidade de catequina

OH
8 H
HO O
OH

OH
3
OH

Catequina

OH
8 H
HO O
OH

OH
3 OH
OH
H
HO O
OH
n
OH
OH
OH
H
HO O
OH

OH
OH

Figura 10.3 – estrutura da catequina e de um tanino condensado

Estes compostos também são designados por proantocianidinas, pois por cisão
oxidativa ( e não hidrólise) em álcool, a quente, dão origem às antocianidinas.

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OH
H
HO O
OH OH

OH
OH HO O+ OH
OH H
HO O
OH OH
n
OH OH
OH
OH
H
HO O
OH

OH
OH

Figura 10.4 – Formação de uma antocianidina

Existe ainda um outro tipo de taninos, os taninos complexos, designados

inicialmente por “taninos não clássicos”, em que uma unidade glicosídica está
ligada, por uma ligação C-C a uma catequina e cujos grupos hidroxilo estão
esterificados com o ácido gálico e com o ácido elágico. Estes taninos são
parcialmente hidrolisáveis.
HO
HO
HO
OH
H
O
OH
OH
O O O
HO OH
O OH
O O
HO
O
HO O OH
HO
OH O
HO OH

OH

Figura 10.4 – Estrutura de um tanino complexo

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Resumidamente os taninos podem classificar-se do seguinte modo:

Galhotaninos – todos os taninos nos quais as unidades galoil estão
ligadas a diversas unidades de poliois,
Elagitaninos – são aqueles taninos em que pelo menos duas unidades
galoil estão acopladas uma à outra por uma ligação C-C, e não contêm uma
unidade de catequina ligada a um glicósido;
Taninos complexos – são aqueles taninos em que uma unidade de
catequina está ligada por meio de um glicósido a unidades de galhotaninos
e/ou elagitaninos
Taninos condensados – São proantocianidinas oligoméricas e
poliméricas formadas por ligações C-4 de uma catequina com C-8 ou C-6 de
outro monómero de catequina. Podem possuir resíduos de ácido gálico a
esterificar os grupos hidroxilo das unidades de catequina.

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Biossíntese do ácido gálico

A Figura 10.5 representa as vias possíveis de biossíntese do ácido gálico.

As três vias apresentadas foram bem estudadas e são possíveis. Existem

mesmo algumas plantas em que o ácido gálico é biossintetizado por mais de
uma via.

Propriedades biológicas

Os taninos possuem várias actividades biológicas:

 são usados no tratamento de diarreias, em problemas estomacais
(azia, gastrite, úlcera gástrica, tumores de estômago e duodeno) e
também como anti-sépticos, anti-inflamatórios e hemostáticos (ou seja

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que suspende as hemorragias favorecendo a coagulação do sangue).

Pensa-se que estas propriedades sejam devidas às propriedades
comuns aos taninos hidrolisáveis e aos taninos condensados: as
actividades antioxidante e sequestradora de radicais livres e a
capacidade de complexar macromoléculas de natureza proteica
(enzimas digestivas, proteínas fúngicas e proteínas virais);
 os taninos também têm actividade antimicrobiana pelo que têm sido
usados por via externa para tratamento de afecções da boca;
 plantas e extractos muito ricos em proantocianidinas, como o chá
verde (Camellia sinensis) assim como extractos de sementes de uva e
de cascas de Pinus maritima têm demonstrado potencial actividade
preventiva de alguns tipos de cancro como o da mama, próstata , pele
e estômago;
 os taninos têm uma acção impermeabilizante da pele, pelo que
aplicados externamente limitam a perda de fluidos, impedem as
agressões externas, favorecem a regeneração dos tecidos e, portanto,
ajudam a sarar as feridas, a curar as queimaduras e a tratar as
inflamações.

Referências

Tess De Bruyne, Luc Pieters, Hendrik Deelstra, Arnold Vlietinck, Condensed

vegetable tannins: Biodiversity in structure and biological activities,
Biochemical Systematics and Ecology 27 (1999) 445-459

Karamali Khanbabaee and Teunis van Ree, Tannins: Classification and Definition,
Natural Product Repports., 2001, 18, 641–649

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