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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
DOCENTE: DÉCIO MARCO ANTÔNIO DE ALENCAR GUZMÁN
DISCENTE: SARAH DE SOUZA MENDES

RESENHA CRÍTICA DO CAPÍTULO “AS ORIGENS DA CONSCIÊNCIA


NACIONAL” DO LIVRO “COMUNIDADES IMAGINADAS” DE BENEDICT
ANDERSON (2008)

BELÉM / PA
2018

ANDERSON​, B. As origens da consciência nacional. In: ​Comunidades Imaginadas.
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Trad. Denise Bottmann, São Paulo: Cia. das Letras, 2008, p. 71-83.

No campo da historiografia das nações e do nacionalismo - clássico, porém que


até algumas décadas carecia de interpretações inovadoras -, assim como na grande parte
dos campos de estudo de nossa área, o desafio é sair da limitada narrativa eurocêntrica.
Explicar o nacionalismo pelo viés da industrialização ocidental, pelo processo do
Iluminismo - Revolução Francesa - nascimento do Estado francês, e até mesmo pelo
marxismo, “que privilegia a esfera da "emissão" e entende a política como exercício
exclusivo dos mandatários e poderosos” ​são interpretações que podem fazer sentido no
mundo europeu, mas não se adequam com a mesma eficiência em outros contextos
geopolíticos. Como um historiador brasileiro, com esses aportes teóricos, pode buscar
compreender de maneira não limitada o nacionalismo na obra “A Pátria” (1919), de
Pedro Bruno, por exemplo? Ou ainda o nacionalismo nas obras românticas,
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modernistas, dentre outros movimentos artísticos que não possuem no Estado o grande
agente e motor da história? É nesse contexto que Benedict Anderson se encaixa,
escrevendo um livro que se torna um clássico por suas ideias inovadoras, o ensaio
“Comunidades Imaginadas”. Anderson navega pelos meandros da construção e da
essência da ideia de nação, evidenciado no seu segundo capítulo, “As origens da
consciência nacional”.
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A princípio, o autor busca entender o porquê de a ideia de nação ser tão popular
na sociedade “horizontal-secular, transtemporalizada”, partindo da tese de que dentre os
múltiplos fatores para tal, o principal é o capitalismo. Assim, Anderson elege o
capitalismo editorial como catalisador do processo de tomada de consciência nacional,
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dissecando este processo ao longo do capítulo.
A revolução feita pela prensa de Gutemberg, mudando as funções e usos do
papel e de seu conteúdo, é o fator chave para engendrar o capitalismo na editoração,
delineando a “era da reprodução mecânica”. Os desdobramentos disso perpassam o
declínio do latim e a valorização das línguas vernáculas, a unificação da língua
nacional, o impacto da Reforma de Lutero e a relação poder administrativo-língua
vernácula.
Considerando o princípio capitalista de busca de mercado, o campo editorial
precisava encontrar, dentre os já escassos alfabetizados da Europa do século XVI, uma
alternativa ao restrito público que dominava o latim. Língua elitizada e sacra, o latim
restringia as possibilidades de alcance do mercado, logo, de lucro. A alternativa é
publicar nas línguas vernáculas, locais, acessíveis a um público muito maior do que o
anterior, tanto na língua, quanto no preço.
Anderson aponta ainda três fatores externos a essa necessidade inerente do
capitalismo editorial de procurar mercado, a primeira sendo a mudança no caráter do
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​Resenha crítica apresentada como avaliação parcial da disciplina de Formação dos Estados Nacionais,
ministrada pelo Profº Décio Marco Antônio de Alencar Guzman, no curso de História da UFPA.
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Aliás, a maioria dos movimentos artísticos aqui citados e ampliados no excelente artigo de Vieira e
Neiva (2014, não foram movimentos promovidos pelo Estado e sim por indivíduos, entendidos como
agentes sociais em seu campo, e não somente ​sujeitos à ação estatal.
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​Deve-se esclarecer que, no mesmo livro, Anderson define a ideia de nação como uma comunidade
imaginada, limitada e soberana. Imaginada por ser uma comunidade em que há a consciência de uma
coletividade que nem se conhece; limitada, pois mesmo as mais expansivas nações encontram suas
fronteiras; e soberana, já que a soberania é necessária para a garantia da liberdade de seus integrantes.
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Mesmo com suas críticas ao marxismo, o autor não deixa de usá-lo como método. Em entrevista,
Anderson, em retrospecto, classifica sua obra como uma “transição” na historiografia da área.
latim, que graças ao humanismo do século anterior, “era arcano por conta ​do que estava
escrito, por conta da língua-em-si” e não mais por sua “condição de texto” escrito. O
segundo fator são os impactos da Reforma Protestante, enfatizando o ato de Lutero de
escrever suas teses em alemão, o que proporcionou rápida difusão de seu conteúdo; e
traduzir a Bíblia em alemão, duplicando o consumo de livros em apenas duas décadas.
A Reforma trouxe, portanto, uma ​guerra de propaganda, uma “batalha pelo espírito dos
homens”, tornando a imprensa uma ferramenta importantíssima no campo político. O
terceiro é a relação poder-língua vernácula, onde o autor faz questão de lembrar a
diferença entre língua oficial e língua nacional, concluindo que “a ascensão desses
vernáculos à condição de línguas oficiais (...) contribuiu para o declínio da comunidade
imaginada da cristandade”. Assim, considerando o caráter “gradual, inconsciente,
pragmático, para não dizer aleatório” da proeminência de uma língua sobre a outra,
Anderson introduz o elemento da “fatalidade”, atribuindo a ele grande importância
nesse processo entre modo de produção, tecnologia de comunicação e a diversidade
linguística humana.
O autor conclui, argumentando de que maneira todo esse desenrolar culmina nas
bases do pensamento nacional, por meio, em primeiro lugar, da criação de campos de
comunicação e interação linguística, essencial para a ideia de grupo. Além disso,
aparece a fixidez da língua, dando a ideia de antiguidade e memória, cruciais à ideia
subjetiva de nação; e a criação de línguas oficiais diferentes dos vernáculos
administrativos anteriores, estabelecendo um novo estatuto para a língua impressa. Em
suma, Anderson mostra no capítulo ​As origens da consciência nacional como a
“interação entre fatalidade, tecnologia e capitalismo [...] criou a possibilidade de uma
nova forma de comunidade imaginada, a qual (..) montou o cenário para a nação
moderna”.
Portanto, vemos neste capítulo, primeiro do ponto de vista temático, uma
interpretação que não apenas enriquece as respostas à questão “Como se origina a ideia
de nação?”, mas também diversifica as possibilidades de trabalho a partir do debate
colocado em torno do mercado editorial, da escrita, dos impressos, e da linguagem. Do
ponto de vista teórico-metodológico, a sua contribuição é inestimável. Ao levar em
consideração o fator subjetivo (por mais que não estejam explicitamente presentes neste
capítulo , as ideias de mentalidade e de representação se fazem sentir); e ao entregar um
seuvconceito de nação, Benedict Anderson abriu caminho para que paralelos,
reinterpretações e novas reflexões voltadas para a Ásia, a América Latina, a África, e a
Oceania: os segundo e terceiro mundos por muito tempo obliterados pela historiografia.

Referências:

ANDERSON​, B. As origens da consciência nacional. In: ​Comunidades Imaginadas.


Trad. Teresa F. Rodrigues, Lisboa: Estampa, 1993, p. 71-83.
ANUNCIAÇÃO​, S. Entrevista com Benedict Anderson, 2011. Disponível em:
<​http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2011/ju504_pag67.php​>.
Acesso em 21 de jun. 2018.
TADDEI​, A. M. S. M. Notas sobre a obra A Pátria (1919), de Pedro Bruno. ​Revista
CPC​, n. 10, p. 193-205, 2010.
VIEIRA, Nanci Rita Ferreira; ​NEIVA, Luciano Santos. Representações nacionalistas
na formação histórico-literária brasileira. ​Ipotesi, Juiz de Fora, v.18, n.1, p. 63-72,
jan./jun. 2014

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