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GOIÂNIA
2016
1
MAICK COSTA BRITO
GOIÂNIA
2016
2
MAICK COSTA BRITO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
_________________________________________________
GOIÂNIA
2016
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Em nosso país, temos essas três indescritíveis
coisas preciosas: a liberdade de expressão,
a liberdade de consciência e prudência de nunca
praticar nenhuma delas.
“Mark Twain”
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DEDICATÓRIA
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me dar força para buscar meus sonhos, e trilhar
meu caminho como operador da justiça.
Por fim e não menos importante devo muitas graças a minha namorada
Kamilla, que tem se mostrado companheira para todas as horas, e que nesses
quase dois anos de relacionamento conseguiu impulsionar meu desempenho
acadêmico, sempre me incentivando a buscar mais.
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RESUMO
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ABSTRACT
This study approaches the delicate relationship among the constitutional right to
freedom of expression and some crimes directly related to the abuse of that
right. During this work, first it was observed with more attention the principles of
the right to freedom of expression, as well as its history in our legal system,
legal prescription in other countries, and its importance in the formation of
democracy and the individual. Posteriorly are approached crimes that have a
direct link to this right, and all the conditions so that it can be characterized
correctly. Finally it is addressed the apparent limitation on the right to freedom
of expression, as well as specific cases in which we can see the contrast
among this right and some crimes, sometimes getting a clear distinction, and
other times a huge question mark. It follows therefore that it is the responsibility
of the state to form the citizen so that he can distinguish their right of criminal
practices cited, as well as to punish in proportion to one that does. Several
research methods were used, including the use of books, articles, materials,
and also websites.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10
9
2 – DELITOS LIGADOS AO ABUSO DO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO
...................................................................................................................................... 37
4 – CONCLUSÃO ...................................................................................................... 71
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INTRODUÇÃO
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possuem o intuito de punir aquele que publicamente incitar ou fazer apologia a
práticas delituosas. Entretanto, tal dispositivo encontra uma barreira no inciso
IX do artigo 5º da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão
intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou
licença. Dessa forma, como proceder se a própria Constituição permite que se
faça o uso da opinião de tal forma? Em virtude do que foi afirmado, em
princípio, surgem as seguintes dúvidas a serem solucionadas no transcorrer da
pesquisa: a) Quais as implicações advindas da extensão ilimitada ao direito à
liberdade de expressão?; b) Quais os danos da incitação ao crime e apologia
ao crime ou criminoso para com a sociedade?; c) É possível limitar o direito à
liberdade de expressão?
Para tanto, poder-se-ia supor, respectivamente, o seguinte: a)
amparados pelo direito à liberdade de expressão os indivíduos se sentem mais
seguros para espalhar opiniões odiosas, muitas vezes agredindo mesmo que
verbalmente, demais indivíduos e grupos da sociedade; b) há um grupo muito
grande atualmente que defende opiniões fortes. Quando esses encontram
pessoas que pensam da mesma forma, chegando até a defender condutas
criminosas, acabam por se sentirem mais fortes e encorajados a elevar seus
atos de ódio a novos patamares, chegando às vias de cometer crimes; c) o
legislador prevê dispositivos de controle, entretanto, cabe ao Judiciário fazer a
distinção entre o que configura a prática criminosa e o que não passa de
apenas “Liberdade de Expressão”.
No trabalho em questão, o meio utilizado é o de pesquisa bibliográfica e
jurisprudencial, assim como referências à casos concretos obtidos de diversas
fontes. O método bibliográfico se mostra de suma importância, para entender a
evolução do pensamento até os conceitos atuais que muitas vezes ainda
divergem entre si, observando assim a partir de diversas óticas. A pesquisa
jurisprudencial por sua vez se torna indispensável para que vejamos o que os
juízos e tribunais entendem sobre o assunto e de que forma os julgam, assim
constatando quais as consequências para com o assunto estudado. Os casos
concretos servirão para ilustrar o problema, que como já dito no processo, se
torna cada vez mais recorrente. O método científico a ser utilizado é o dedutivo,
partindo de conceitos já estabelecidos, colocando ideias em contraste e
buscando uma solução racional sobre o que foi proposto.
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Ter-se-á por objetivo principal analisar os dispositivos legais e
aplicabilidade do direito à liberdade de expressão, em contraste com os crimes
de incitação e de apologia ao crime, e buscar uma demarcação para o que
seria a linha tênue que distingue ambos os institutos do direito.
Como desdobramento deste, alia-se a pretensão de, primeiramente
buscar as origens do direito à liberdade de expressão, assim como comparar o
conceito brasileiro com o de outros países. Em seguida, tentaremos entender o
real objetivo da garantia à liberdade de expressão no ordenamento jurídico
brasileiro. Partiremos então a analisar o conceito dos crimes de incitação ao
crime e de apologia de crime ou criminoso, observando a relevância social de
se coibir os mesmos. Observaremos então, casos verídicos que demonstrem o
direito à liberdade de expressão usado de forma agressiva e suas implicações.
Por fim, após toda a pesquisa sobre os temas anteriores, buscaremos traçar
um paralelo entre liberdade de expressão e crimes de incitação ao crime e
apologia ao crime ou criminoso, observando o que diz a doutrina, a opinião
popular e o direito fundamental de cada ser humano.
Eis a relevância social do presente estudo. Delimitar quando o excesso
de liberdade pode se tornar prejudicial à sociedade, quando a opinião se torna
lesiva a pessoas e grupos e qual a legalidade dos atos de quem faz apologia
ao crime e pratica discursos de ódio. Desse modo, trataremos disso no
presente trabalho, buscando elucidar da maneira mais clara as soluções para
esse dilema.
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CAPÍTULO I
1 - LIBERDADE DE EXPRESSÃO
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Faz-se importante observar também a observação de Sartre (1986, p.
542) que a respeito da liberdade em face do direito:
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apreciavam e davam suas opiniões a respeito das leis que eram propostas pelo
conselho.
Posteriormente, foi firmada pelo rei João Sem Terra na Inglaterra a
Magna Carta (Magna Charta Libertatum), tida para muitos como raiz do
constitucionalismo. Esse documento limitava o poder do estado monarca, e
garantia liberdades a nobreza e igreja, garantindo assim de certa forma,
direitos civis.
A luta pela liberdade de expressão ganhou força no século XVIII,
principalmente graças as ideias iluministas que pairavam sobre a França,
gritando por “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Então justamente no ápice
do mundo clamando por liberdade que a Constituição dos Estados Unidos da
América, tida para a maioria dos historiadores como a primeira Constituição do
mundo, foi aprovada em 1787, trazendo como um de seus principais alicerces
o direito à liberdade de expressão.
Logo em seguida, ocorreu o que foram provavelmente os maiores
avanços quanto as garantias individuais e por consequência a liberdade de
expressão, que são a criação da Declaração dos direitos do homem e do
cidadão, aprovada na França em 1789 e a Declaração dos direitos dos
cidadãos dos Estados Unidos (nome dado as primeiras dez emendas da
constituição norte americana) que entrou em vigor em 1791. É interessante
notar que apesar do avanço inegável em ambas declarações, a francesa se
torna mais eficiente, frente seu maior alcance social. Bonavides (2011, p.562)
diz o seguinte sobre o tema:
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Foi então que a Comissão das Nações Unidas para Direitos Humanos,
sob a liderança de Eleanor Roosevelt chamou a atenção do mundo ao esboçar
um projeto que em 1948 foi aprovada como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Os artigos XVII e XIX inclusive rechaçam o direito à
liberdade de expressar-se:
Art. XVII –Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,
consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de mudar
de religião ou de crença, e a liberdade de manifestar essa
religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela
observância, isolada ou coletivamente, em público ou em
particular.
Art. XIX – Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e
expressão. Este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e
ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.
Foi esse então o ponto de partida para que cada nação do mundo
abraçasse os ideais das garantias fundamentais, que em sua grande maioria
engloba o direito à liberdade de expressão.
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assegurava ainda autoridade quase que ilimitada. Entretanto tal Constituição
mostrou avanço quanto as garantias individuais, como a da liberdade de
expressão, como podemos extrair do seguinte trecho:
[...]
18
É interessante notar que como na Constituição do Império, são vedados
os abusos ao direito à essa liberdade de pensamento, entretanto prevê outro
dispositivo que pode ser o diferencial quanto a coibição desses abusos, que é a
vedação ao anonimato.
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1.3.4– Constituição dos Estados Unidos do Brasil – 1937
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É notável na Constituição de 1937 a introduziu diversos dispositivos afim
de limitar a liberdade de expressão, com o suposto motivo de garantir a ordem
pública, moralidade e a proteção a população, principalmente a juventude, mas
obviamente tal censura foi imposta de forma a evitar críticas à ditadura recém
imposta.
Em 1939 foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),
com o intuito de fiscalizar e censurar meios de comunicação, teatro, cinema e
qualquer meio de expressar pensamento.
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Aparentemente o texto tinha poucas alterações da sua antecessora, entretanto
era na interpretação das entrelinhas que o governo ditador daquela época
praticamente anulou a liberdade de expressão. O texto constitucional dizia o
seguinte:
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II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições
sindicais;
III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de
natureza política;
IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de
segurança:
a) liberdade vigiada;
b) proibição de freqüentar determinados lugares;
c) domicílio determinado,
§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos
poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício
de quaisquer outros direitos públicos ou privados. (Vide Ato
Institucional nº 6, de 1969)
§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste
artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça,
defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.
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VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias;
[...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura
ou licença;
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1.4 – LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO MUNDO
Vale lembrar também que cada estado norte americano tem autonomia
para estabelecer sua própria constituição, entretanto, todos optaram por adotar
o direito à liberdade de pensamento previsto na primeira emenda, uma vez que
essa faz principalmente referência ao congresso, a fim de que este não interfira
em tal direito.
Samantha Ribeiro Meyer- Pflug discorre o seguinte acerca do tema:
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prevalecendo na maioria das vezes a liberdade acima inclusive de outros
direitos civis dos demais cidadãos. O discurso de ódio por sua vez, recebe
proteção da primeira emenda, e o governo procura combater tal ato justamente
com um discurso tolerante e inteligente, além de políticas públicas em prol
daqueles que sofrem com tais discursos.
1.4.2 – Europa
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Estas libertades tienen su límite en el respeto a los derechos
reconocidos en este Título, en los preceptos de las leyes que lo
desarrollen y, especialmente, en el derecho al honor, a la
intimidad, a la propia imagen y a la protección de la juventud y
de la infancia.
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Não esquecendo de Portugal, nosso país irmão, além de adepto a
Convenção Europeia de Direitos Humanos, tem previsão da liberdade de
expressão em sua Constituição, mais especificadamente no artigo 37:
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Entretanto, um caso teve grande repercussão, quando a exibição do filme
“A última tentação de Cristo”, do aclamado diretor Martin Scorcese foi proibida
em território chileno, pelo Consejo de Calificación Cinematográfica (CCC),
órgão esse remanescente da época da ditadura. A Suprema Corte do Chile
apoiou a decisão e apenas com a intervenção da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, que forçou o Chile a adequar sua legislação afim de que
permitisse a veiculação do filme. Foi aprovada posteriormente então uma Lei
de Qualificação Cinematográfica, sendo um passo importante para a volta da
democracia.
Segundo o site de notícias DNOTICIAS.PT (2007), em discurso acerca do
fechamento de uma rede de televisão venezuelana de oposição ao governo
Chavez, a então presidente do Chile Michelle Bachelet afirmou com orgulho. O
seguinte: “tendo em conta a sua história política, para o Chile, a liberdade de
expressão é a regra de ouro”.
A Constituição Argentina por sua vez traz no artigo 32 de sua Constituição
o seguinte: “O Congresso Federal não deve promulgar leis restringir a liberdade
de imprensa ou colocá-lo sob jurisdição federal”.
O grande diferencial na liberdade de imprensa argentina é a lei de
Serviços de Comunicação Audiovisual, implantada em 2009. Ela acabou com o
monopólio dos meios de comunicações que existia no país, limitando o alcance
e porcentagem do total de assinantes, e permitiu a concessão de canais de
televisão e rádio a universidades, escolas, prefeituras e inclusive tribos
indígenas. Tal lei foi um marco e também serve de lição para vários países
quanto a liberdade de expressão e comunicação.
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O direito constitucional, prega que no âmbito dos direitos fundamentais,
os mesmos devem ser classificados em direitos de primeira, segunda e terceira
geração. Paulo Bonavides (2004, p. 563) discorre o seguinte:
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opiniões, crenças e atitudes do indivíduo se exteriorizam, e esta por sua vez
também é garantia fundamental, entretanto deve se observar a sua
consequência para com a sociedade, afim de que essa não seja lesiva.
Cabe também salientar, quais meios de se expressar estão resguardados
pelo direito. Acerca disso, Gilmar Mendes leciona:
Por sua vez Ferreira Filho vai mais longe, e reconhece a abrangência da
liberdade de expressão, considerando até o discurso sigiloso e a liberdade de
correspondência como meios de exercer a liberdade de expressão:
A manifestação do pensamento pode, porém, dirigir-se a
outrem e não apenas exprimir as convicções do indivíduo, sem
preocupação deste que outros a percebam, ou não. Essa
liberdade, expressão fundamental da personalidade, também é
consagrada, mas sob regimes diversos, conforme sua
importância social.
Essa manifestação pode dirigir-se de uma pessoa para outra
ou outras não presentes de forma sigilosa, por carta,
telegrama, telefone ou rádio. Essa manifestação, se de pessoa
a pessoa e com caráter sigiloso, é a correspondência, cuja
liberdade é reconhecida pelo art. 5º, XII (FERREIRA FILHO,
2010, p. 1333).
31
lei, a interpretação fica a cargo do juiz e dos tribunais, onde realmente será
mastigado e interpretado da maneira correta (ou não).
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Portando, é possível notar que a dignidade da pessoa humana deverá ser
assegurada como princípio fundamental em um governo, devido a sua
finalidade social para com a população. Alexandre Sankievicz, (2011, p. 46),
ainda diz o seguinte sobre a responsabilidade do Estado quanto ao tema:
“Deve o Estado garantir um âmbito de autonomia e liberdade para o
desenvolvimento da personalidade”.
Trocando a miúdos, não há como não ligar a liberdade de expressão à
dignidade humana, uma vez que ela é de tamanha importância para o
desenvolvimento da pessoa, e é essencial para que esta adquira o respeito
próprio e da sociedade, ao invés de viver jogada as margens da alienação e
sem direito à opinião.
Ainda sobre a liberdade em face da dignidade humana, Zisman enaltece a
busca do homem por seus ideais, mas faz uma ressalva importante:
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pensamentos, ainda que a democracia de ênfase ao pensamento de cunho
político e social.
A origem da palavra remete a Grécia antiga, onde “Demos” significa
“povo” e “kratos” que significa governo. De forma interpretativa, temos
democracia como “governo do povo”, ou melhor dizendo, um governo no qual o
povo detenha o poder, onde participe das decisões. Tem-se como primeira
aplicação da democracia como forma de governo em Atenas, no século V
antes de Cristo, mas especificadamente no governo de Péricles.
Desse modo, a conquista da democracia no Brasil, observados os
conceitos da mesma, traz incontáveis avanços para sociedade, uma vez que o
governo passa a atender melhor os clamores da população, mesmo que essa
democracia ande a passos lentos ainda em nosso país. O filósofo John Stuart
Mill discorre o seguinte sobre a participação popular no governo que
caracteriza democracia:
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Os ensinamentos de Samantha Ribeiro Meyer- Pflug também nos dá
visão importante sobre a dependência da democracia frente a liberdade de
expressão:
Assegurar a liberdade de expressão é garantir um espaço
público no debate no qual todas as opiniões, por mais diversas
e antagônicas que sejam sobre todos os temas políticos,
sociais, econômicos, religiosos, entre outros, são levados em
consideração, isso é importante para a consolidação e
aprimoramento da democracia. Ela não subsiste sem uma
opinião pública livre, nesse sentido a liberdade de expressão é
fundamental para a democracia (MEYER- PFLUG, 2009, p.
222).
Tal autora por sua vez, elenca a importância do debate público, onde a
pluralidade de ideias será o que impulsionará a democracia afim da
consolidação de um governo que pense primeiramente no povo e alcançar os
ideais almejados pelo mesmo. Para que isso aconteça, é indispensável a
autonomia da liberdade de pensamento e manifestação do mesmo.
José Afonso da Silva traz a ligação da liberdade com democracia, para a
realização pessoal do ser humano:
O regime democrático é uma garantia geral da realização dos
direitos humanos fundamentais. Vale dizer, portanto, que é na
democracia que a liberdade encontra campo de expansão. É
nela que o homem dispõe da mais ampla possibilidade de
coordenar os meios necessários à realização de sua felicidade
pessoal. Quanto mais o processo de democratização avança,
mais o homem se vai libertando dos obstáculos que o
constrangem, mais liberdade conquista (SILVA, 2009, p.234).
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Segundo SANKIEVICZ (2011), tal artigo reconhece a existência de uma
quantidade grande de camadas populares com concepções de valores e
costumes diferentes, e mostra que o governo pretende acolher todos, inclusive
suas opiniões, para a construção de uma sociedade complexa e que garanta
um extenso rol de direitos, não só para as maiorias, e sim para todos,
buscando formas cada vez melhores de garantir a participação popular
igualitária para todos.
Partindo de tais pressupostos, é inegável a importância da liberdade de
expressão para um país e seu governo, sendo alicerce da democracia popular.
No entanto, devemos estar atentos aos excessos que por diversas vezes se
nota, onde o indivíduo se aproveita da prerrogativa da liberdade de expressão
e passa a pregar a “anarquia”, por assim se dizer. Surge então o emblemático
embate discutido nesse trabalho, no qual compete judiciário a difícil tarefa de
delimitar a linha tênue que separa a liberdade do crime.
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CAPÍTULO II
Há uma importância social em coibir tais crimes, uma vez que mesmo não
ocorrendo situações drásticas a partir dos mesmos, eles podem causar um
furor na população que pode estimular atos descabidos. Segundo Julio Fabbrini
Mirabete e Renato N. Fabbrini, (2011, p. 156) “A influência dessa instigação
implícita, oblíqua, pode atingir aquele que, facilmente sugestionável ou em
estado latente de criminalidade, recebe o ilícito estímulo”.
Uma peculiaridade importante a se ressaltar, é que a caracterização
desses crimes se dá meramente pelos atos preparatórios por assim dizer,
sendo mais fácil entender a partir das palavras de André Estefam.
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Os ilícitos penais insculpidos no Título IX têm como traço
comum a antecipação da tutela penal, ou seja, cuida-se de
tipificar autonomamente comportamentos que constituem atos
preparatórios de outras infrações. (ESTEFAM, 2011, p. 51).
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Dessa forma, se o comportamento levado a efeito pelo agente,
embora incitando publicamente a multidão a praticar
determinado delito, for inócuo, risível, não podemos
simplesmente presumi-lo como perigoso, pois o perigo criado à
paz pública deverá ser demonstrado no caso concreto.
(GRECO. 2011, p. 196)
O bem jurídico tutelado por tal crime é a paz pública, podendo o sujeito
ativo ser qualquer pessoa, e o sujeito passivo por sua vez é a coletividade. Os
meios de execução podem ser diversos, podendo ser além de palavras,
também gestos e escritos. O Código Penal prevê para esse crime a pena de
detenção de três a seis meses ou multa.
A consumação é dada pela percepção de indeterminado número de
pessoas da incitação ao crime, causando assim um sentimento de insegurança
e medo, capaz de abalar a paz da população. Dependendo dos meios
empregados para praticar tal crime, pode ser admitida a tentativa.
Fernando Capez vai além, e liga a apologia ao crime à uma forma indireta
de se incitar um crime, dizendo o seguinte:
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A apologia então se trata da conduta de glorificar atos ou agentes
criminosos, incitando assim de forma subliminar, que tais atos são corretos e
honrosos. Devemos, no entanto, diferenciar o debate sobre práticas penais
com intuito de evoluir na lei penal da apologia ao crime. Rogério Greco explica
com mais afinco essa questão:
Temos de ter cuidado, no entanto, em fazer a distinção entre a
apologia ao crime e as discussões que são necessárias ao
desenvolvimento e aperfeiçoamento do próprio Direito Pen al,
sob pena de engessarmos esse ramo do direito. Assim,
discussões acadêmicas sobre a necessidade de revogação de
tipos penais, até mesmo com justificativas e enaltecimentos de
sua prática, como acontece com o delito de aborto, não podem
se configurar no delito sub examen. O que não se justifica é o
engrandecimento puro e simples de um fato definido como
crime. (GRECO. 2011, p.203)
40
características. Sendo assim, resta diferenciar em qual dos dois crimes a
pessoa que discursa se enquadra.
41
consumou quando ela toma conhecimento, mas não exige a
sua presença no momento em que a agressão à sua honra é
proferida. (GRECO, 2011, p. 349)
2.3.2 - Racismo
O crime de racismo é um tanto mais grave, uma vez que fere todo um
grupo de pessoas. O racismo se enquadra mais ainda no tema discursos de
ódio devido a sua particularidade de ofender toda uma comunidade de
pessoas, pois quem pratica esse tipo de ato, geralmente o faz por preconceito
generalizado, e quando o faz, suas consequências entoam como uma
agressão a todo aquele que pertence a tal grupo.
Uma vez que diferenciamos racismo de injúria qualificada, percebemos
quão ofensivo é o crime de racismo, e por isso mesmo, tal crime é
imprescritível e inafiançável, e a pena prevista é de um a três anos de reclusão
mais multa. Mesmo o tempo de reclusão sendo o mesmo, o crime de racismo
mostra sua gravidade eliminando a chance de dois institutos penais muito
importantes ao acusado, que é a possibilidade de responder em liberdade
42
mediante fiança, e a prescrição da pretensão punitiva, que impede que o
estado atue passado determinado tempo da ação.
O bem jurídico tutelado pelo crime de racismo é a dignidade humana, a
igualdade, a não-segregação e tudo que isso representa. O sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa, e o passivo por sua vez é toda a coletividade, e não
apenas a pessoa ou o grupo ofendido, uma vez que as consequências
perduram por toda a sociedade.
Como é crime de mera conduta, a consumação se dá com a prática dos
elementos qualificadores, que seria o ato discriminativo, não prevendo que isso
ocasione resultado ou lesão efetiva. A tentativa não é admitida no crime de
racismo.
43
CAPÍTULO III
44
O inciso V, do supracitado artigo 5º da Constituição Federal, traz ainda
mais um alento a pessoa vítima daquele que se excede em seu direito de
liberdade, garantido o direito de resposta, de forma proporcional, ou seja, a
vítima terá direito a responder através do mesmo modo usado pelo agressor,
de modo que tenha a mesma publicidade. Além disso, o mesmo inciso ainda
prevê indenização por danos materiais, morais, ou a imagem, lembrando que o
direito de resposta não exclui a necessidade de indenização de danos, e vice e
versa.
No entanto, Jonatas E. M. Machado (2009, p.669) nos faz uma ressalva
importante quando ao poder limitar do Estado: “A intervenção do Estado, não
sendo acompanhada de critérios delimitadores, conduz ao domínio estadual
sobre o mercado de ideias, e à subversão das finalidades associadas às
liberdades da comunicação”.
O adendo acima citado faz total sentido devido importância da
disseminação de ideias, principalmente na mídia, para o controle da sociedade.
Uma vez que o Estado passe a manipular o conteúdo que possa ser
transmitido para a população, este terá um maior controle da massa, no
entanto de forma totalitária.
Frente a isso, torna-se necessário que o Estado adote regras quanto a
seu poder de limitar, de forma que mantenha a segurança jurídica para o
detentor do direito à liberdade de expressão. Por isso existe a necessidade de
leis específicas para limitar a liberdade quando houver necessidade explicita de
se resguardar outro direito. Gilmar Mendes nos diz o seguinte:
Isso não impede que, no Brasil, sejam editadas leis, com o fito
de preservar valores relevantes da juventude, restringindo a
liberdade de expressão. Isso porque não são apenas aqueles
bens jurídicos mencionados expressamente pelo constituinte
(como a vida privada, a intimidade, a honra e a imagem) que
operam como limites à liberdade de expressão. Qualquer outro
valor abrigado pela Constituição pode entrar em conflito com
essa liberdade, reclamando sopesamento, para que,
atendendo ao critério da proporcionalidade, descubra-se, em
cada grupo de casos, qual princípio deve sobrelevar.
(MENDES. 2009, p.410)
46
religião, características físicas entre outros. No entanto, não é porque isso é
corriqueiro que deva ser aceitado.
No Brasil não é diferente, e frequentemente ouvimos casos em que
pessoas são excluídas socialmente, e tem de aguentar insultos, grosserias e
muitas vezes até agressões físicas. Temos então nesses insultos e grosserias
acima citados, uma figura um tanto atual, a do discurso de ódio. O InfoEscola
descreve discurso de ódio da seguinte maneira:
3.2.1 –Internet
É importante começar pela internet, uma vez que essa foi a ferramenta
que possibilitou a popularização do discurso de ódio, uma vez que possui um
grande alcance. Então pessoas compartilham seus preconceitos, e muitas
vezes endeusados, como se estivesse pregando a justiça, a moral e os bons
costumes. Triste.
Na rede social Facebook, a mais popular até então, temos páginas
dedicadas a grupos extremistas, que defender veementemente suas
convicções racistas, como a página “Faca na caveira”, “Orgulho de ser hétero”
e “Bolsonaro 3.0”. Ambas as páginas compartilham conteúdos defendendo
barbáries contra “bandidos”, “vagabundos” ou demais termos para os acusados
de cometer algum crime. Insistem que estão fazendo justiça e a serviço de
Deus. Algumas delas ainda desprezam a luta de mulheres, negros e
homossexuais por igualdade, e tratam isso como “mimimi”. Vale lembrar ainda
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que a página “Bolsonaro 3.0”, em alusão ao Deputado Federal Jair Bolsonaro,
de opiniões fortes e também racistas, tem a alcunha 3.0 por ter tido outras duas
páginas excluídas pela moderação do Facebook, após várias denúncias de
conteúdo impróprio.
49
A internet não é "terra de ninguém" e crimes praticados no
virtual também são punidos. Essa é a lição que muita gente
aprenderá com um recente caso envolvendo o deputado
federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). Grande defensor da causa
homossexual na política, o deputado recebeu uma ameaça de
morte de um usuário no Facebook e realizou uma denúncia ao
Ministério Público, que encaminhou o caso para a 2ª Vara
Federal de Natal.
O internauta Márcio Damasceno escreveu o seguinte
comentário: “Eu falei do deputado federal endemoniado Jean.
Se Deus não matar esse infeliz, eu mesmo vou matá-lo
pessoalmente. Querem respeito desrespeitando as leis de
Deus e os princípios da Bíblia Sagrada. Mas rapaz, quem vai
virar homofóbico agora sou eu”.
A Justiça Federal aceitou a decisão do MP e condenou o rapaz
à seguinte "pena": prestar serviços comunitários por oito meses
(sete horas por semana) na Sociedade Viva, que cuida de
homossexuais em situação de risco. A casa fica no município
de São José de Mipibu, a 45 km de Natal.
50
“Enfrentando o discurso de ódio online” foi apresentado durante
a conferência “Juventude e a Internet: Radicalização do
Combate e Extremismo”, realizada em Paris em 16 e 17 de
junho. Oferecendo uma análise abrangente dos quadros
normativos internacionais, regionais e nacionais desenvolvidas
para abordar o discurso de ódio online, e suas repercussões
para a liberdade de expressão, o estudo coloca particular
ênfase nos mecanismos sociais e não regulamentares que
podem ajudar a combater a produção, divulgação e impacto
das mensagens de ódio online.
3.2.2 – Esporte
51
Como foram gravadas as imagens do momento da ofensa, foi fácil
identificar os ofensores, e a uma moça que estava mais anima em gritar as
ofensas, ficou marcada como pivô da ação. A parte interessante é que além
das medidas legais tomadas pelo Ministério Público após a queixa formal do
atleta, houve uma grande mobilização na internet, onde retaliaram os perfis em
redes sociais da torcedora em questão. Isso mostra que as redes sociais na
internet são utilizada tanto por aqueles que querem ofender por preconceito,
quanto por aqueles que buscam ofender os preconceituosos, criando um ciclo
de ódio mutuo.
O portal TERRA (2014) citou também os desdobramentos do caso para a
torcedora:
Podemos dizer também que tais retaliações vão de contra mão ao direito
à liberdade de expressão, uma vez que ferem o direito da torcedora, ainda que
esta seja acusada de crime, continua detentora de seus direitos. Além do mais,
a função de julgar, deve ser desempenhada pelo judiciário.
3.2.3 – Política
52
Não se pode deliberadamente agredir e humilhar, ignorando-se
os princípios da igualdade e isonomia, com base na invocação
à liberdade de expressão. Nosso Código Civil expressamente
consagra a figura do abuso do direito como ilícito civil (art. 187
do Código Civil), sendo esta claramente a hipótese dos autos.
O réu praticou ilícito civil em cristalino abuso ao seu direito de
liberdade de expressão”
53
E pós a réplica de Luciana, ainda comentou em sua tréplica:
A arte muitas vezes pode ser controversa, e por isso mesmo podemos
notar no meio artístico alguns casos onde exista a confusão entre liberdade de
expressão e crimes de ódio. Nesse meio é muito importante o cuidado ante a
coibição á algo, visto que a expressão artística deve ser preservada, mas algo
lesivo também não pode ser amplamente divulgado.
Um caso recente que traz uma visão interessante aconteceu no Rio de
Janeiro, com a proibição da comercialização, exposição e divulgação do livro
"Mein Kampf - Minha Luta", autobiografia de Adolf Hitler, escrito em 1925 pelo
líder nazista. O Ministério Público pediu a proibição com fundamento no
54
parágrafo 2º, do artigo 20, da Lei 7.716 de 1989, sendo que o parágrafo da
ênfase aos crimes de preconceito utilizando meios de comunicação ou
publicações de qualquer natureza.
O livro narra a vida e história do ponto de vista do próprio Adolf Hitler, um
dos ditadores mais conhecidos no mundo, e marcado pelo ódio à todos aqueles
que não pertencem a “raça ariana”. Dessa forma, o livro traz à tona todo um
preconceito com as minorias, que nos dias de hoje ainda sofrem para serem
tratadas com igualdade.
O juiz Alberto Salomão Junior da 33ª Vara da Capital (Rio de Janeiro) foi
quem acatou a cautelar ajuizada pelo Ministério Público. Segundo o site de
notícias G1 (2016), o juiz afirmou o seguinte na decisão:
É importante destacar que o Supremo Tribunal Federal já se
pronunciou sobre o tema, oportunidades em que se posicionou
pela tutela das garantias das pessoas humanas em detrimento
de atos discriminatórios e incentivadores de ódio e violência”,
lembrou o juiz, na sentença.
Registre-se que a questão relevante a ser conhecida por este
juízo é a proteção dos direitos humanos de pessoas que
possam vir a ser vítimas do nazismo, bem como a memória
daqueles que já foram vitimados. A obra em questão tem o
condão de fomentar a lamentável prática que a história
demonstrou ser responsável pela morte de milhões de pessoas
inocentes, sobretudo, nos episódios ligados à Segunda Guerra
Mundial e seus horrores oriundos do nazismo preconizado por
Adolf Hitler.
55
Figura 1 – Autorretrato matando Elizabeth II
56
Figura 4 - Autorretrato matando Fernando Henrique Cardoso
57
A polêmica no entanto aconteceu quando tais obras seriam expostas na
bienal do livro de 2010, entre os meses de setembro e dezembro em São
Paulo. Quando noticiado da participação de tais obras, a OAB-SP logo tratou
de se manifestar, uma vez que vê apologia ao crime em tais obras. A nota
pública da OAB-SP, segundo o site MIGALHAS (2010), foi a seguinte:
"Uma obra de arte, embora livremente e sem limites expresse a
criatividade do seu autor, deve ter determinados limites para
sua exposição pública. Um deles é não fazer apologia ao crime
como estabelece a vedação inscrita no Código Penal Brasileiro.
São Paulo
58
A dupla sertaneja Junior e Gustavo foi autuada pela polícia militar em um
show em setembro, na Exposição Agropecuária de Macuco, região serrana do
Rio de Janeiro. O motivo? Apologia ao uso de drogas. Segundo o site de
notícias G1 (2015), o coronel da Polícia Militar Carlos Eduardo Espanha
explicou a abordagem da seguinte maneira:
Tais fatos nos mostram que os crimes podem estar contidos até mesmo
em nossa arte. No entanto, resta saber como agir de maneira ponderada, de
forma a punir apenas aquilo que ofereça risco a sociedade, e não coibir a
liberdade de expressão de forma arbitrária.
59
pessoas que utilizam discursos de ódio sensacionalistas para aumentar a
audiência. Como é o caso da jornalista Rachel Sheherazade.
A supracitada jornalista, chegou a bancada do SBT Brasil por conta de
suas opiniões fortes e polemicas, e continuou desempenhando o papel mesmo
em rede nacional. Mas se superou em uma demonstração de desrespeito aos
direitos humanos, que fez com que seu nome ficasse um bom tempo na mídia.
No caso em questão que ocorreu em setembro de 2014, ela teceu um de
seus corriqueiros comentários a matérias. A matéria em questão era sobre um
garoto de quinze anos suspeito de cometer crimes em uma região, que foi
amarrado a um poste e espancado por várias pessoas. O site OPINÓLOGO
(2014) relembra o comentário da jornalista:
60
O sindicato dos jornalistas também fez questão de demonstrar que a
opinião da Rachel é isolada, e não demonstra o sentimento da classe para com
o assunto. A VEJA SÃO PAULO (2014) transcreve um trecho da nota:
61
foram chamados de “bandidos”, “marginais” e “criminosos” pelo
apresentador.
62
acreditam em deus. Porque não é possível, quem não acredita
em deus não tem limite. Não tem limite.
--------------------
-------------------
63
“Trata-se de infração grave a merecer repreensão
paradigmática. É preciso que José Luiz Datena se corrija, bem
como a emissora que o contrata.”
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população que a compartilhava, e assim começaram a surgir inclusive
ameaças contra Francineide.
Francineide é caixa em um supermercado, e foi avisada por um vizinho de
loja sobre o boato, e logo se encaminhou a delegacia para resolver o problema.
Ao G1 (2015) Francineide disse o seguinte: "Quando descobri, entrei em
pânico. E a única coisa que sabia fazer era chorar. Foi um pesadelo”. Ainda na
mesma matéria completou sobre quem começou a espalhar os boatos, mesmo
sem imaginar quem seja: "Essa pessoa tem que pagar, porque essa pessoa
ajudou a destruir a minha vida naquele momento”.
O delegado Eduardo Botelho é quem cuida do caso, e afimou ao G1
(2015) o risco que tais crimes oferecem às pessoas acusadas erroneamente e
de forma precipitada: “A integridade física da Francineide e do ex-marido dela
estava sob risco. Uma vez que as mensagens são criadas e divulgadas, as
pessoas podiam reconhecê-los na rua, abordá-los e até linchá-los”.
O caso de Francineide no entanto não teve proporções mais drásticas, e
nem todos têm a mesma sorte. Um caso em 2014 foi amplamente divulgado,
incluindo um vídeo de momentos do linchamento, onde Fabiane Maria de
Jesus foi confundida com uma suposta bruxa que raptava crianças e acabou
sendo espancada até a morte.
Fabiane foi mais uma vítima de crime incitado por um boato pelas redes
social, compartilhado por pessoas que pouco se importam se é verdade ou
mentira, apenas querem dizer que alguém é criminoso e tem de ser punido.
Uma página no Facebook denominada GUARUJA ALERTA postou a suposta
existência de uma bruxa, que raptava crianças para fazer seus rituais. O boato
foi tomando grandes proporções, surgindo inclusive retratos falados falsos, e
instigando o ódio da população.
O site ISTO É (2014) descreve um pouco do ocorrido:
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dona de casa, confundindo a “Bíblia” que ela levava com um
livro de magia negra. O linchamento durou 20 minutos.
Mas não é apenas por engano que pessoas são atacadas verbal e
fisicamente. O caso já citado no qual a jornalista Rachel Sheherazade fez seu
famoso comentário se tratava de um adolescente, acusado de cometer furtos
na região do Flamengo no Rio de Janeiro, e foi espancado, desnudo e
amarrado a um poste, segundo ele por “justiceiros da moto”.
A artista plástica Yvonne Bezerra, coordenadora do projeto Uerê, foi
chamada por vizinhos que viram a ação e foi prestar socorro ao jovem. O site
EXTRA (2014) transcreveu o que Yvonne disse:
66
Tais comentários nos chamam a atenção para o requinte de crueldade
com o qual algumas pessoas pensam. Para fins de análise, podemos observar
o gráfico da pesquisa divulgada no site da FOLHA DE SÃO PAULO (2015), no
qual observamos metade da população pensa que “bandido bom é bandido
morto”. E se considerarmos mais a fundo, é sabido que são essas as pessoas
que apoiam situações extremas, e que querem fazer o papel de julgador e
executor, sem ao menos buscar a verdade. O que lhes importa é punir.
E ainda há crimes que são cometidos contra pessoas apenas por aversão
a cor, religião, opção sexual, ou até origem. Como o caso do haitiano
assassinado em Navegantes-SC. A cidade citada, tem abrigado vários
haitianos que vieram ao Brasil em busca de vida melhor, e estes por ali sofrem
grande preconceito, chegando no caso de Fetiere Sterlin, a uma situação
extrema.
Vanessa Nery, que vivia maritalmente com Sterlin a cerca de dois anos
contou a FOLHA DE SÃO PAULO (2015) como se deu a agressão que resultou
na morte do marido:
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Sterlin estava com a sua companheira, a brasileira Vanessa
Nery Pantoja, 27, em uma confraternização de haitianos. A
festa, segundo Fagundes, foi interrompida pela polícia por falta
de alvará.
O casal voltou ao local depois das 23h, na expectativa de que o
evento tivesse sido retomado. Foi quando os rapazes
passaram de bicicleta e começaram a ofendê-lo. “Macici são
vocês”, teria respondido Sterlin. Os rapazes buscaram reforço
e voltaram armados com facas e ferramentas para agredir os
dois.
“Fui atacada por apenas um deles, que parecia menor de
idade. Consegui me defender e atacar de volta, ele fugiu. Foi aí
que corri para encontrar meu marido, que estava mais adiante.
Eles já tinham fugido e não pude fazer nada. Foi muito rápido”,
disse Vanessa.
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Se não houvesse tantas pessoas por perto, ele teria disparado
a arma. Isso é tentativa de homicídio sim, um atentado contra a
minha vida, pelo simples fato de ser homossexual - disse. -
Pretendo continuar lutando. Não tomei o tiro, mas milhares
tomam no meu lugar.
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CONCLUSÃO
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de pensamentos parecidos, e muitas vezes pessoas desequilibradas e
suscetíveis a atos descabidos.
Ponto importante ainda a se ressaltar, são tais crimes de apologia por
pessoas públicas, que por sua vez detêm atenção de grande parte da massa, e
que quando praticam tais crimes, acabam por influenciar uma quantidade
enorme de pessoas, se tornando assim um perigo a sociedade. Estes devem
então ser reprimidos, para que não inspirem outros a cometer crimes ainda
mais graves.
Vale no entanto a ressalva, do princípio da proporcionalidade, de forma
que a liberdade de expressão só seja suprimida na medida em que lhe for
necessária para assegurar a paz pública, assim como punir conforme a
gravidade do delito, e a forma e particularidades com os quais foi praticado.
No mais, vivemos em um país de diversas raças, cores, religiões, ideais e
opiniões. A convivência livre e pacífica é o pressuposto de toda e qualquer
sociedade. Não podemos deixar que uma maioria dite normas e costumes a
serem seguidos, contrariando inclusive nossa Constituição Federal. Dessa
forma, o Estado deve ser o guardião da sociedade, de forma a coibir qualquer
um que tentar estabelecer uma nova ordem, uma sociedade elitista, uma terra
de escolhidos (uma raça ariana?).
Pode não parecer pertinente ao tema, mas podemos enxergar no Brasil
uma grande falta de educação. Não apenas no âmbito acadêmico, mas no
sentido de formação cultural, de diversidades, de respeito. Logo que o
brasileiro passar a aceitar o próximo de maneira mais humana e respeitosa,
consequentemente os crimes em questão citados nesse trabalho cairão
drasticamente, e será alcançada uma sociedade mais segura e harmoniosa.
71
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72
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78