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Com a Revolução Industrial houve um rápido e significativo
desenvolvimento, que se deu em relação a cidades inglesas, rapidamente atingiu,
também, a França e a Alemanha. Surgiram problemas devido a essa migração como
o crescimento sem planejamento, a desenfreada especulação imobiliária e um sem
fim de fábricas poluentes. Acarretando péssimas condições sanitárias e habitacionais
e a liberdade de abusar do direito de explorar a miséria humana. Os privilegiados
buscando guarida nos melhores enclaves do centro urbano ou em áreas reservadas
às suas mansões na periferia. Áreas da preferência dos visitantes da cidade, sem
contato com a miséria da periferia e do entorno, situação ainda hoje reconhecida em
nossas próprias cidades. Como solução surge então o modelo de civilização ideal
“Utopista”, segundo o dicionário Michaelis a palavra utopia significa fantasia, logo o
modelo nada mais é que uma cidade imaginária, fantástica.
Com relação ao crescimento das cidades como fenômeno social, os
planejadores da época não apresentaram nada de novo, a exceção foi Ebenezer
Howard com sua ideia de cidade-jardim, apresentada em 1897. Queria simplesmente
estancar o crescimento das cidades e dirigi-lo para assentamentos industriais
autônomos e reunir as vantagens de se morar na cidade com as vantagens de se
morar no campo. As teorias que tentaram explicar a transformação, o crescimento, o
sentido e a função da cidade para informar seus melhoramentos e/ou planejamento,
tiveram grande importância nas intervenções feitas, tanto pelo Estado quanto pela
sociedade em várias manifestações. Essas teorias, pensadas nos países do centro
capitalista e apropriadas na periferia, muitas vezes representam “idéias fora do lugar”
aplicadas em áreas seletivas e deixando grande parte das cidades como “lugares fora
das idéias”. Por outro lado, é nas cidades (e no campo, com articulação nas cidades)
que se construíram as forças sócio-culturais, econômicas e políticas que formaram o
Brasil, produziram seu espaço urbano-regional e ainda o fazem. Das cidades coloniais
às metrópoles atuais, os referenciais teóricos foram sendo redefinidos, adaptados,
recriados para explicar processos sócio-espaciais e informar projetos políticos de
classes e grupos de interesse, dentro e fora do Estado. De outra parte, os “lugares
fora das idéias”, nas suas diversas escalas das cidades ao espaço (incompletamente)
urbanizado dos nossos dias, realimentam também os modos de ver a produção do
espaço urbano e regional no Brasil e forjando assim nosso planejamento urbano e
regional, na relação dialética entre as teorias advindas do capitalismo avançado.
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2 CIDADE INDUSTRIAL DE TONY GARNIER
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mesmo tempo em que uma cidade maior seria impossível de manusear da forma por
ele desejada. Em sua imaginada paisagem havia ainda uma microrregião, campos de
lavoura capazes de nutrir a população urbana, um rio como via de transporte dos
produtos industrializados. Um afluente capaz de produzir energia elétrica, luz e
aquecimento para toda a cidade. Pressupunha que a rede viária, o transporte, a água
e o esgoto seriam de responsabilidade pública como também, a definição do uso do
solo, o loteamento do mesmo, o abastecimento, a saúde e o lixo. Garnier confronta
sua nítida divisão da cidade em áreas de função especifica com a contínua ampliação
da diversificada constituição urbana. Com estudos de insolação e ventilação para
melhor conforto pessoal.
“Uma cidade industrial tem como princípios diretores a
análise e a separação das funções urbanas, a exaltação dos espaços
verdes que desempenham o papel de elementos isoladores, a
utilização sistemática dos materiais novos, em particular do concreto
armado”. (CHOAY, 1979, pág. 163).
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Figura 02. Estação Central da cidade. Figura 03. Zona Industrial.
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3 HAUSSMANN E O PLANO PARA PARIS
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expropriação do solo);
Intervenção pública no sentido de acompanhar de perto a vida
econômica e social da população;
Reformas transformaram-se em instrumento de controle sobre a
vida econômica e social;
Edificação com um mínimo de regularidade: Planimetria e
altimetria;
Novas construções seguem certos padrões construtivos;
Novos órgãos técnicos da comunidade fazem a prestação de
contas;
Diante dessas transformações, Paris passou a ter uma nova divisão com
20 arrondissements (distritos administrativos) como mostra a Figura 08 (a linha mais
grossa define o antigo cinturão alfandegário do século XVIII,) e a Figura 09, ambas à
baixo:
Figura 08. Esquema dos distritos administrativos. Figura 09. Planta dos distritos administrativos de Paris.
Fonte: BENÉVOLO, 1998. Fonte: BENÉVOLO, 1998.
A Île de la Cité (Ilha da Cidade) é uma de duas ilhas no rio Sena (a outra
é a Île Saint-Louis) que pertencem à cidade de Paris, na França. Esta ilha hoje é o
centro da capital francesa e onde foi fundada a cidade medieval de Paris. As Figura
10 e 11 á seguir, mostram as propostas de Haussmann para a Ilha.
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Figura 10. A Île de la Cité e seus arredores medievais Figura 11. A Île de la Cité transformada por Haussmann:
antes das obras de Haussmann. novas ruas transversais (vermelho), espaços públicos (azul
claro) e dos edifícios (azul mais escuro).
Fonte: BENÉVOLO, 1998.
Fonte: BENÉVOLO, 1998.
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Para ruas mais estreitas a altura
pode ser maior uma vez e meia a
largura da rua.
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São abertos parques e
jardins públicos: Jardin dês Tulleries,
Palais Royal, Parc Montsouris (ver Figura
17).
Surge a figura do quarteirão
que é determinado pelo sistema viário –
neste caso o quarteirão é residual,
configurado a partir do que ‘sobra’ depois
de definido o traçado viário, tornando-se Figura 17. Parc Montsouris.
um elemento complexo formado por lotes Fonte: GOOGLE IMAGENS, 2017.
de formato irregular. São definidas leis de ocupação: cada lote é perpendicular à rua
e não tem a mesma medida padrão; os edifícios passam a ter leis de padronização
para as fachadas; a tipologia urbana. Segue um catálogo pré-definido, passam a
apresentar unicidade arquitetônica; as galerias e passagens passam a ter função
comercial – multifuncionalidade do quarteirão e abrigam cafés e lojas. São definidas
áreas especiais para as estações ferroviárias.
O plano regulador colocado para a cidade moderna não foi apenas
desenhado no papel, mas traduzido para a realidade, controlando todas as suas
consequências técnicas, formais, administrativas e financeiras.
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4 O PLANO DE ILDEFONS CERDÀ PARA BARCELONA
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quadrado de 113m de lado com um
chanfro de 20m como o mais
adequado.
Ao compreender a
necessidade de compactação da
cidade industrial, abre mão de
qualquer exemplo de habitação
unifamiliar com jardim, ideais no seu
pensamento, mas procura manter o Figura 19. Plano Cerdà para Barcelona – Ilha Tipo.
máximo de qualidade ambiental, Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
como mostra a Figura 19.
Cerdà escreve em sua
“Teoria Geral da Urbanização” que a
presença dos dois conceitos
diretores, a “habitação” e a
“circulação”, que hoje mais do que
nunca continuam sendo os dois pólos Figura 20. Seção viária definida com o critério da
operacionais do urbanismo estão independência entre os meios de locomoção.
Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
presentes no plano de Barcelona no
cuidado com a habitação e no projeto cuidadoso de uma rua realmente racional, com
20m de largura e separação entre os meios de locomoção, como pode ser visualizado
na Figura 20.
Devemos entender como cidade tradicional um organismo urbano
gerado através de um longo processo
histórico. Neste contexto, tanto o traçado
viário como a habitação coletiva são
elementos que não podem ser concebidos
separadamente. Não existem, portanto
espaços indefinidos nesta relação restrita
aos domínios do público e do privado. A
quadra da cidade tradicional se caracteriza
por ser claramente delimitada e Figura 21. Interação das Quadras no Plano Cerdà.
homogênea. Ver Figura 21. Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
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O plano de Cerdà desenha uma grelha ortogonal, com quadras de 113m
x 113m e vias de 20m de largura, elevando a taxa de superfície viária, incluindo
praças, de 17% para 34%, ver Figura 22. A cada conjunto de nove quadras (Figura
23) e vias correspondentes se inscreve dentro de um quadrado de 400m de lado. A
quadricula estende-se até os núcleos urbanos vizinhos e envolve a cidade medieval.
Figura 22. Grelha ortogonal do Plano Cerdà. Figura 23. Conjunto de quadras do Plano Cerdà.
Fonte: TARRAGÓ CID, 1994. Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
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e rede de energia elétrica são
planejados de modo que não
poluam ou interfiram na paisagem
da cidade (cabos, fios, postes e
etc.), estes devem ser
subterrâneos. Cerdà pensa na
cidade como um todo: o ato de ir e
vir, seja qual for o meio de
transporte, a ordenação dos
serviços básicos, o enquadramento Figura 24. Plano geométrico parcelado.
e as perspectivas do lugar. Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
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quadras deveriam interagir entre si, além de
serem elementos harmônicos na cidade: isso
seria possível através da análise de cortes
(relação altura x largura) e na relação da casa
com a quadra, ver Figura 26.
As muralhas são as condições do Figura 26. Relação altura x largura.
Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
contorno e um elemento importante para a
densificação do tecido urbano. Cada porta da
cidade é o ponto de confluência de vias, sendo
estes acessos centros do movimento. Quando
limitamos as vias de acesso (interior x exterior),
limitamos também a expansão natural das cidades,
como pode ser visualizado na Figura 27.
Os centros de ação de Cerdà eram
classificados conforme o tipo de atividade exercida
e a mobilidade permitida pelo espaço: políticos ou
administrativos, econômicos ou industriais, viários Figura 27. As muralhas.
existentes, lazer ou áreas verdes. Fonte: TARRAGÓ CID, 1994.
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Dentro dos ideais de Howard, o direito ao espaço era o mais defendido
por ele, por influência do cooperativismo, onde as terras agrícolas adquiridas para a
instalação da cidade seriam registradas em nome de industriais de posição
responsável e honra indubitável que arrendariam para os futuros moradores. O lucro
comumente obtido pelo empresário loteador serviria para amortizar a dívida do
empréstimo e seria revertido para a comunidade, em forma de infra-estrutura e
edifícios públicos como patrimônio coletivo. O comércio e a indústria seriam
incentivados por meio de baixas taxas e longos prazos de arrendamento para
possibilitar a fixação de novos moradores.
Howard concebia sua Cidade-Jardim de forma a propiciar aos homens
mais liberdade em uma vida comunitária renovada, diferentemente de
empreendedores que pensam somente na eficácia e no rendimento. De acordo com
Otoni (6), ele tinha a síntese conciliadora entre o socialismo e o individualismo, pois
não acreditava no liberalismo do Estado Inglês e nem na atuação do Estado socialista
controlador de todas as atividades. Reduzia o papel do Estado ao município e
acreditava que sua cidade-jardim poderia ser uma empresa privada. Por isso Howard
teve apoio das mais variadas posições políticas com sua posição moderadora.
Em 1903, a “Primeira Cidade-Jardim Ltda” foi registrada como
propriedade mista autorizada para vender ações para levantar o capital necessário.
Isto significa que nenhuma cooperativa formal foi estabelecida e não ficou claro
quando as posses de terras seriam transferidas para a comunidade. Isto só veio a ser
concretizado sessenta anos depois.
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um belo jardim, sendo que
na sua região periférica
estariam dispostos os
edifícios públicos e
culturais (teatro,
biblioteca, museu, galeria
de arte) e o hospital. O
restante desse espaço
central destinar-se-ia a
um parque público de 56
hectares com grandes
áreas de recreação e fácil Figura 30. Esquema da Cidade-Jardim.
acesso, como pode ser Fonte: HOWARD, 1996.
visualizado na Figura 30.
Ao redor de todo o Parque Central estaria localizado o “Palácio de
Cristal”, uma grande
arcada envidraçada que
se destinaria a abrigar as
atividades de comércio e
a se constituir num jardim
de inverno, estando
distante no máximo 558m
de qualquer morador (Ver
Figura 31). Nesse local,
poderiam ser
comercializadas as
mercadorias que
requerem “o prazer de
escolher e decidir” Figura 31. Esquema da Cidade-Jardim.
(HOWARD, 1996). Fonte: HOWARD, 1996.
Funcionaria também como um jardim de inverno, onde os habitantes poderiam
passear ao abrigo da chuva e contemplar a paisagem. Defronte à Quinta Avenida e
ao Palácio de Cristal, existiria um conjunto de casas ocupando lotes amplos e
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independentes. Mais adiante, estariam os lotes comuns, de cerca de 6,1 x 40m, em
número de 5.500. A população estaria próxima de 30.000 habitantes na cidade e 2.000
no setor agrícola. Com isso, a densidade média seria de 200 a 220 pessoas por
hectare segundo Hall (2002), o que, de certa forma, contraria a noção geralmente
aceita de que a Cidade-Jardim defende baixas densidades habitacionais. Entretanto,
utilizando o esquema geral de Howard como base, obteve-se uma área total para a
cidade de 416,83 hectares. Para uma população de 30.000 pessoas, portanto, a
densidade média bruta seria de 71,97 habitantes por hectare, o que é bem inferior ao
estimado por Hall (2002). Calculando apenas a área dos “setores” residenciais
(incluindo a Grande Avenida), ter-se-ia aproximadamente 251,72 hectares, o que daria
uma densidade média de 119,18 habitantes por hectare, que pode ser considerada
uma densidade de baixa a média.
A Grande Avenida dividiria a cidade em duas partes e possuiria 128 m
de largura. Ela constituiria, na verdade, mais um parque, com 46,5 ha, e nela estariam
dispostas, em seis grandes lotes, as escolas públicas. Também nessa avenida
estariam localizadas as igrejas necessárias para atender à diversidade de crenças
existentes na cidade. No anel externo estariam os armazéns, mercados, carvoarias,
serrarias, etc., todos de frente à via férrea que circunda a cidade. Dessa forma, o
escoamento da produção e a recepção de mercadorias e matéria-prima seria facilitado
(e barateado), evitando também a circulação do tráfego pesado pelas ruas da cidade,
diminuindo a necessidade de manutenção.
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pequenos, os habitantes da Cidade-Jardim poderiam quitar a dívida assumida e ainda
obter recursos para as ações coletivas necessárias (construção de edificações
públicas, manutenção dos espaços abertos, etc.). Na área rural, a competição natural
entre os produtores, as culturas e os modos de produção deveriam indicar quais
produtos seriam cultivados. Aqueles que conseguissem gerar mais renda se
estabeleceriam nos arredores da Cidade-Jardim. A renda, entretanto, não seria
apropriada por um único indivíduo, já que a terra teria sido adquirida coletivamente.
Os benefícios obtidos em termos financeiros pelo aumento do valor da terra e, como
consequência, pelo incremento da renda fundiária, seriam convertidos em menores
impostos e mais investimentos coletivos (HOWARD, 1996).
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6 CIDADE RADIOSA DE LE CORBUSIER
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foi muito influenciado por Le
Corbusier com o plano da Ville
Radieuse de 1933, com o qual
prometeu um futuro com luz do
sol, ar fresco e zonas verdes
para os habitantes da cidade.
A nova cidade de
Le Corbusier constaria de
gigantes blocos de
apartamentos e grandes
espaços ajardinados, como
mostra a Figura 35. Uma visão Figura 35. Blocos de apartamentos e grandes espaços ajardinados.
utópica pós-guerra, para Fonte: HERANÇA CULTURAL, 2013.
conversão de favelas a lugares limpos, e de modernos apartamentos, o qual foi uma
prioridade política. A Ville Radieuse influiu a Carta de Atenas de CIAM de 1933, um
documento elogioso das virtudes das cidades e zonas residenciais com torres
gigantes, sobre o planejamento urbano nos anos posteriores à Segunda Guerra
Mundial.
Segundo Rueda (2000), A Ville Radieuse, “A cidade contemporânea de
três milhões de habitantes” proposta por Le Corbusier para o centro de Paris é um
mito na história contemporânea do planejamento urbano. A proposta, de acordo a Le
Corbusier, poderia aumentar a capacidade das zonas urbanas e, ao mesmo tempo,
melhorar o meio ambiente urbano e a eficiência da cidade. Os pensamentos e
princípios de desenho incorporados na proposta da Ville Radieuse rapidamente
converteram-se em modelo para os arquitetos do pós-guerra. Tal proposta era
ambiciosa, inclusive propôs demolir toda a parte do centro de Paris, que acarretou
várias objeções.
A Ville Radieuse foi desenhada para acomodar ao menos seis vezes a
população do centro de Paris. Segundo Le Corbusier, o desenho da Ville Radieuse
representa um indiscutível ideal da liberdade pessoal. Achava que muitas cidades de
princípios do século XX foram caóticas e ineficientes; ele, portanto, chegou com a
proposta da Ville Radieuse que tinha os seguintes objetivos:
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Proporcionar meios eficazes para as comunicações;
Proporcionar uma grande quantidade de zona verde;
Proporcionar um melhor acesso ao sol;
Reduzir o tráfico urbano.
Finalmente deram-
se conta de que a construção alta
era a melhor instância com os
melhores meios para cumprir
estes objetivos e, ao mesmo
tempo, atender a crescente
população urbana (ver Figura
36). O desenho da Ville Radieuse
é quase simétrico no centro, o
qual é o núcleo de todos os tipos
de transporte público. O terminal
Figura 36. Modulação proposta para Paris.
central é um ponto de acesso ao
Fonte: ARCHTECTURECLUB, 2010.
metrô na parte inferior da coberta
do sistema subterrâneo, e o comboio é na parte superior da coberta do sistema
subterrâneo. A planta superficial
está aberta aos carros e táxis. A
parte central está reservada para
24 arranha-céus, que também são
os elementos mais controvertidos
em todo o desenho (ver Figura
37). Estes arranha-céus
cruciformes são principalmente
para fins comerciais e hoteleiros.
Em todos os arranha-céus com Figura 37. Maquete da Modulação.
dimensões de 190m x 190m e uma Fonte: ARCHDAILY, 2013.
altura a mais de 200m, foram desenhadas para abrigar de quinhentas mil a oitocentas
mil pessoas. Segundo Le Corbusier, esta zona se converteria no centro cívico e a
sede de todas as principais empresas. Em torno dos arranha-céus encontram-se uns
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bairros residenciais que
oferecem alojamento para as
pessoas que trabalham nos
arranha-céus. Estes blocos de
moradia conhecem-se como
apartamentos, chalés, etc.
Dentro destes blocos de
moradias, apartamentos e
dúplex a cada uma tem seu
próprio jardim e cada Figura 38. Perspectiva.
apartamento seria uma casa por Fonte: ARCHDAILY, 2013.
seus próprios meios. As zonas
edificadas só representam o
15% do total de superfície de
lugar da Ville Radieuse, assim,
a formação de canhões de
concreto poderia ser evitada e
os habitantes desfrutariam da
grande quantidade de jardins e
áreas verdes ao ar livre (ver
Figura 38). Por outra parte, os
apartamentos teriam acesso a
plena luz do dia e o problema do
ruído urbano se reduziria ao
mínimo. Na Ville Radieuse, o
distrito de negócios, o distrito
residencial, o transporte básico
e a rua de lojas comerciais
estão organizados em uma
forma cartesiana, onde todos os
elementos em seu conjunto Figura 39. Zoneamento.
funcionam como uma “máquina Fonte: ARCHDAILY, 2013.
da vida” (ver Figura 39). À luz do progresso da tecnologia da construção, Le Corbusier
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achava que milhões de residentes poderiam beneficiar das vantagens deste
planejamento racional. Ainda que sua proposta se apresentou pela primeira vez para
o centro de Paris, Le Corbusier propô-la também para adaptar a outros lugares, como
em Algiers em Argélia, Barcelona em Espanha, Buenos Aires na Argentina e São
Paulo no Brasil. Como se mencionou antes, o plano da Ville Radieuse pode se dividir
em dois grandes distritos, isto é, o distrito de negócios e o distrito residencial. Os
arranha-céus representam a única forma construída no distrito de negócios, enquanto
o distrito residencial está composto por três blocos de moradias. Estes blocos de
moradias denominam-se moradia “costas-costas”, moradia “celular” e moradia
“jardim” (RUEDA, 2000).
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eixo heliotérmico. O eixo heliotérmico varia do eixo geográfico a razão de 19° para o
este de Paris. Le Corbusier achava que o orientar o plano em sua totalidade a este
eixo heliotérmico poderia melhorar o rendimento global da luz do dia. O mérito da
proposta dos arranha-céus é obviamente, a enorme quantidade de superfície utilizável
e espaço aberto que proporciona.
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como “ilhas insalubres” da cidade moderna, e os densos e complexos distritos que Le
Corbusier queria são as verdadeiras fontes da saúde urbana”. Por que, então,
estamos trazendo seus projetos até o dia de hoje? Talvez tivesse bastantes intuições
a respeito da forma a que tinha de assumir a cidade comodamente. Ironicamente,
ainda estamos cativados pelas ambições e as formas que caracterizam seus planos,
que são, naturalmente, de seu tempo, não do nosso. O mundo tem sido testemunha
de grandes mudanças desde os anos 20 e se vê influída por um conjunto totalmente
novo de fenômenos tecnológicos e condições sociopolíticas. Portanto, seria lógico que
nós tratássemos de lhe dar sentido a nosso tempo, e de projetar novos esquemas
(com menos efeitos nocivos) em consequência.
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7 PLANO DE PEREIRA PASSOS PARA O RIO DE JANEIRO - RJ
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tensão entre a civilização e o atraso. “Era preciso acabar com a noção de que o Rio
era sinônimo de febre amarela e de condições anti-higiênicas; transformá-lo num
verdadeiro símbolo do ‘novo Brasil” (ABREU, 1997). A cidade tinha a função de servir
de exemplo para todo país. Tinha que estabelecer a sua vocação moderna, conforme
as grandes capitais europeias.
Segundo Abreu (1997), Pereira Passos, apoiado por Rodrigo Alves e os
setores dominantes da sociedade, estabelece seu plano e dando início ao “bota-
abaixo”, começa a realizar as obras de embelezamento e saneamento da cidade.
Com as obras de demolição, vários prédios que serviam de moradia às
populações pobres, foram destruídas (ver
Figura 44). De fato com o alargamento
das ruas centrais e a inauguração de
novas vias de comunicação, ocorreu a
destruição de inúmeros cortiços, que eram
entendidos como sínteses da
insalubridade e da violência, espaço da
barbárie. A reorganização do espaço
urbano carioca, sob novas orientações
Figura 44. Avenida Central, futura Avenida Rio Branco.
econômicas e ideológicas, não condizia
Fonte: ABREU, 1997.
com a presença de pobres na área central
da cidade. Afastar os pobres da área central da cidade e não permiti-los entrar nas
áreas nobres são objetivos de todos os prefeitos até Pereira Passos. A cidade com a
reforma define quem deve ou não deve estar na área central (ABREU, 1997).
Pereira Passos declara guerra ao comércio dos quiosques e proibi a
venda de produtos por ambulantes. A feira livre, inclusive, na cidade do Rio de Janeiro
foi criada em 1904, como um modelo de inspiração européia, assentada em
“modernos” princípios de beleza, disciplina e higiene, modelo este que paulatinamente
se difundiu e se consolidou pelo Brasil urbano. Proibisse também o exercício da
mendicância, e como dito anteriormente começa a demolir uma série de cortiços. Ou
seja, tudo que viesse imacular a imagem da cidade. A população pobre que morava
nas propriedades coletivas se via forçadas a morar, grande parte, com outras famílias,
a pagar aluguéis altos, ou ir morar nos subúrbios, já que eram poucas as moradias
populares feitas pelo governo em substituição às destruídas.
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De acordo com Rodrigues (2001), Pereira Passos ao eliminar as
contradições do espaço urbano carioca gerava novas contradições. Com a destruição
de inúmeros cortiços, a única alternativa, para uma população pobre que precisava
morar próximo ao local de trabalho foi à favela. Os morros do centro, até então poucos
habitados, passam rapidamente a serem habitados dando origem a algumas atuais
comunidades carentes.
No entanto, como disse anteriormente, nem todos que eram expulsos
dos cortiços, foram morar na favela. Grande parte da população foi morar na área
suburbana da cidade, contribuindo para a ocupação do espaço. O Rio de Janeiro
continuou uma cidade de contrastes, onde o novo se misturava com o velho, como
por exemplo, ao lado do homem moderno surgiam tipos urbanos ligados à pobreza
urbana. Fixou-se assim o cenário, a imagem que se ia caracterizar a aparência do Rio
(ABREU, 1997).
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Demonstra preocupação com esgotamento sanitário e sistema de abastecimento de
água. O sistema viário é um ponto trabalhado, prevendo abertura de grandes eixos de
circulação – as avenidas são o principal ponto do plano. As questões habitacionais
trazem sérias consequências para a população de baixa renda. São efetuadas
demolições e desapropriações nas áreas do Centro – a valorização desta área faz
com que a população seja expulsa. População de classe baixa vai para os subúrbios,
longe dos locais de trabalho ou para os morros próximos ao Centro e isso causa o
aumento do processo de favelização. Para atender a esta demanda Pereira Passos
instituiu uma política habitacional e construiu inicialmente 120 casas. Sua política não
teve continuidade após sua administração.
Tomando como base o Plano de Melhoramentos, são complementas as
reformas efetuadas pelo Presidente Rodrigues Alves (Porto do Cais do Rio de
Janeiro), concluídas as obras do Canal do Mangue, demolição do Morro do Senado e
abertura de grandes avenidas como a Av. Central (atual Rio Branco).
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Avenida Beira-Mar – vai do
início da Avenida Rio Branco
até a praia de Botafogo – foi
executada em área aterrada
(5.200m de extensão – 33m de
largura) (ver Figura 47);
Cais do Porto do Rio de Janeiro
– as obras abrangeram Figura 47. Avenida Beira-Mar – 1906.
drenagem e construção de Fonte: ALMACARIOCA, 2014.
muralha do cais, além de
colocação de trilhos da Estrada
de Ferro Leopoldina e linhas do
Cais do Porto;
Av. Rodrigues Alves – é
resultante das obras do Cais
do Porto – usada para ligação
com a Zona Norte;
Avenida Atlântica – é toda
48. 1906- Alargamento da Rua da Carioca –
executada sobre aterro. São Figura
Todos os imóveis do lado direito foram demolidos.
construídas muralhas e Fonte: ALMACARIOCA, 2014.
passeios;
Túnel do Leme;
Obras de higiene – instalação
de mictórios e defecatórios em
locais de aglomeração como
praças e recantos;
Obras executadas também no
Passeio Público, Praça XV,
Figura 50. Final do século XIX – cortiço na Rua
Praça São Salvador, Praça dos Inválidos.
Tiradentes, Largo da Lapa, Fonte: ALMACARIOCA, 2014.
dentre outras.
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A reforma urbana empreendida pelo prefeito Pereira Passos buscou
articular diversas regiões da cidade com o centro urbano do Rio de Janeiro, algo
fundamental em seu projeto de integração conservadora, no qual o centro urbano da
cidade aparecia como centro modelar da civilização, lugar da sua exemplaridade para
os habitantes das demais regiões da urbe (BENCHIMOL, 1992).
Desta forma, a reforma Passos não buscou excluir a presença das
camadas populares do centro, mas integrá-las de maneira conservadora, ou seja,
estimulando a participação destas no centro urbano a partir de sua adesão a uma
visão de mundo e, por conseguinte, comportamento burguês europeu.
Não sem sentido, quando Passos produziu o primeiro relatório da
reforma urbana ao Imperador, em 1875, projetou uma grande avenida ligando o centro
urbano do Rio de Janeiro com o bairro popular de Vila Isabel. Da mesma forma,
quando emitiu o segundo relatório da Comissão de Melhoramento da Cidade do Rio
de Janeiro, em 1876, apontou para a necessidade de se construir casas para
operários nas ruas secundárias do centro da cidade, que passava então a ser o objeto
da sua reforma. Na mesma perspectiva, projetou três vilas operárias junto ao centro
urbano, além de quatro artérias ligando esta região a diversos bairros operários do
Rio de Janeiro. Aproveitando as ligações viárias que estabeleceu entre o centro e as
várias partes da cidade, constrói atrações no centro do Rio de Janeiro, como o aquário
da cidade e diversas praças com coretos e bandas para entretenimento dos que por
lá passassem. Na última das suas Mensagens à Câmara Municipal, quando fez um
balanço da reforma que realizou, ressaltou que a reforma urbana empreendida fora
importante para não afastar do centro da cidade a população do Rio de Janeiro. Por
fim, após já ter abandonado a prefeitura da capital, Passos deixaria registrado no seu
diário de viagem o seu desencanto com o fato da população do Rio de Janeiro pouco
utilizar o centro da cidade (BENCHIMOL, 1992).
Assim, podemos afirmar que em sua ação reformadora o prefeito
expressou uma visão de integração típica de determinados setores da elite européia
– perplexos diante do fenômeno do crescimento da classe operária – que, a partir de
uma visão de mundo aristocrática, pensaram em “elevar espiritualmente o
operariado”, possibilitando o seu convívio com as elites urbanas das grandes cidades
através de sua adesão à visão de mundo destas, o que se daria pelo controle
governamental da civilidade urbana, pelas melhorias no espaço público e pelo
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fomento ao sentimento estético e cultural na cidade, além da educação escolar da
população(BRENNA, 1985).
Longe de empreender uma intervenção urbana com o fim de isolar as
camadas populares do centro da cidade, o organicismo da reforma urbana de Pereira
Passos pensou em aproximar e atrair o operariado ao centro do Rio de Janeiro, a fim
de que este, inserto em uma ética burguesa na utilização do espaço público,
disseminasse a urbanidade desejada pelo prefeito para além dos limites do centro
urbano.
Assim, podemos afirmar que Pereira Passos pensou em um projeto de
integração urbana, um projeto de integração conservadora.
38
8 PLANO ATTÍLIO CORRÊA PARA GOIÂNIA-GO
40
estética dos bulevares como
mostra a Figura 54.
Do estudo de Lima
para o planejamento de Goiânia, é
possível inferir, em uma forma
embrionária e ainda muito
incipiente, um planejamento
regional pelo fato do arquiteto ter
levado em conta a pequena
cidade de Campinas, nas
proximidades do sítio escolhido,
em consideração ao demonstrar o
interesse em preservá-la e não
como um obstáculo ao
desenvolvimento da nova cidade,
mas como elemento a ser levado
em conta no futuro
desenvolvimento da nova capital.
Tal preocupação pode ser aduzida Figura 54. Plano original do núcleo inicial da cidade de Goiânia
proposto por Attilio Corrêa Lima.
da transformação da velha estrada
Fonte: MANSO, 2001.
- que dava acesso à Campinas e
a outros pequenos arraiais no
entorno - na Avenida
Anhanguera, que já no final da
década de 1940 assumirá posto
de grande importância na
hierarquização das vias e do
tráfego da futura capital (ver
Figura 55). A Avenida
Anhanguera recebeu por parte do
arquiteto a proposta de um
parque linear no cruzamento do
Figura 55. Traçado Urbano Inicial de Goiânia.
eixo norte-sul, onde se
Fonte: LIMA, 1937.
41
concentrariam o comércio e o tráfego mais intenso.
Corrêa Lima demonstra particular atenção a questões como as de
zoning, topografia, áreas verdes, hierarquia das vias e tráfego. Esta preocupação
comunica inapelavelmente a maturação, no pensamento urbanístico nacional, das
questões centrais do urbanismo desde o seu nascimento na condição de disciplina
científica. Corrêa Lima deixa evidente que para atender plenamente à vida moderna
o plano de uma cidade deveria ter em conta a independência econômica da cidade,
além de se preocupar com os outros elementos já mencionados anteriormente.
O zoning é encarado
no urbanismo moderno deste
período como a grande ferramenta
para o satisfatório sucesso do
planejamento urbano. Os escritos
de Prestes Maia (1950) sobre o
plano elaborado por ele para a
cidade de Santos deixam isso
muito claro, uma vez que Maia
separa um capítulo inteiro para
esclarecer sobre a importância do
zoneamento no planejamento das
cidades. Corrêa Lima entende que
o zoneamento deveria ser aplicado
de uma forma que não limitasse
em demasia a liberdade
do Figura 56. Zoneamento Inicial de Goiânia.
proprietário e, por isso, mesmo Fonte: LIMA, 1937.
abraçando o ideário moderno, o zoning em Goiânia não foi tão rigoroso (ver Figura
56). A cidade foi dividida em cinco grandes zonas com os usos separados: A praça
central concentrando toda a estrutura administrativa do Estado e município; um setor
comercial na confluência da Avenida Pedro Ludovico (futura Avenida Goiás, um dos
três eixos principais que nascem da praça central) com a Avenida Anhanguera; a
região norte da cidade, no outro extremo do eixo principal, próximo à estação de ferro,
esta em posição de destaque fazendo um contraponto com o próprio palácio em um
dos pólos visuais da principal perspectiva elaborada pelo arquiteto – notamos aqui a
42
adoção de um princípio caro às cidades jardins - seria dedicada às indústrias, os
setores sul e oeste seriam eminentemente voltados para as residências suburbanas
e as demais áreas identificadas como rurais.
Outra preocupação de Corrêa Lima foi com a arborização da cidade. A
solução encontrada foi a da constituição de parques e avenidas parques entremeados
por pequenos lagos (ver
Figura 57). No entanto,
Graeff (1985: 13) afiança
que ao propor um
tratamento paisagístico
de avenida parque, com
renque central de
árvores frondosas,
fechando a perspectiva,
Corrêa Lima acaba por
eliminar os efeitos Figura 57. Estudo para o Parque dos Buritis.
intencionados por essa Fonte: LIMA, 1937.
mesma perspectiva e que daria às três avenidas convergentes a expressão anunciada
e, assim, na ausência de alamedas, o pitoresco
vigorou sobre o monumental. O abastecimento
de água foi um ponto bastante estudado por
Lima com a sugestão do aproveitamento e
preservação do rio que abasteceria a cidade
bem como de seus afluentes. Nesse sentido,
Corrêa Lima apresentou ao governador uma
proposta de delimitação rigorosa do perímetro
urbano da cidade para que fosse prevenida pelo
Estado a deterioração a bacia da região através
da aquisição dos terrenos assim como uma
esquematização da rede de esgoto para a
capital (ver Figura 58). Aqui também
percebemos uma intenção regional do
planejamento. Figura 58. Esquema de sistema de Esgoto.
Fonte: LIMA, 1937.
43
Além dos projetos arquitetônicos e urbanísticos, Corrêa Lima teve a
preocupação de propor para o Estado um projeto de organização administrativa e um
regulamento para as construções da cidade, o primeiro com a finalidade de separar a
cidade das influências políticas
e especulativas e o segundo
procurando definir o
regulamento urbanístico (ver
Figura 59). Percebe-se uma
preocupação que extrapola a
arquitetura, considerando a
cidade em várias dimensões
inclusive aquela política. Lima
entregou em 1935 ao governo
do Estado um conjunto de
projetos que situava o plano de
Goiânia na vanguarda da
discussão urbana do entre
guerras com a predominância
de espaços para as vias
públicas, jardins e parques.
Seu plano estruturava uma
grande fluência para o tráfego
Figura 59. Centro Cívico e Edifícios Públicos.
e continham uma grande
Fonte: LIMA, 1937.
preocupação com o bem estar dos munícipes a partir do desenho das ruas de cada
bairro. Com a entrega dos planos em janeiro de 1935, Attilio Corrêa Lima foi desligado
das obras já em andamento.
44
9 PLANO PILOTO DE LÚCIO COSTA PARA BRASÍLIA – DF
45
mais aglomerados, o Plano Piloto se caracteriza pela paisagem horizontalizada, pela
predominância de espaços livres e pela grande amplitude visual (COSTA, 2001). São
quatro escalas: a residencial, a monumental, a gregária e a bucólica.
47
o centro de diversões da cidade, com os cinemas, os teatros, os restaurantes etc. (ver
Figura 63 – Rascunho 5).
7 – Desse modo e com a introdução de três trevos completos em cada ramo do eixo
rodoviário e outras tantas passagens de nível inferior, o tráfego de automóveis e
ônibus se processa tanto na parte central quanto nos setores residenciais sem
qualquer cruzamento. Para o tráfego de caminhões estabeleceu-se um sistema
secundário autônomo com cruzamentos sinalizados mas sem cruzamento ou
interferência alguma com o sistema anterior, salvo acima do setor esportivo e que
acede aos edifícios do setor comercial ao nível do subsolo, contornando o centro
cívico em cota inferior, com galerias de acesso previstas no terrapleno (ver Figura 63
– Rascunho 7).
48
8 – Fixada assim a rede geral do tráfego
automóvel, estabeleceram-se, tanto nos
setores centrais como nos residenciais,
tramas autônomas para o trânsito local dos
pedestres a fim de garantir-lhes o uso livre
do chão, (ver Figura 64 – Rascunho 8)
sem contudo levar tal separação a
extremos sistemáticos e anti-naturais pois
não se deve esquecer que o automóvel,
hoje em dia, deixou de ser o inimigo
inconciliável do homem, domesticou-se, já
faz, por assim dizer, parte da família Ele só
se “desumaniza”, readquirindo vis-à-vis do
pedestre feição ameaçadora e hostil
Figura 64. Rascunhos do Plano Piloto.
quando incorporado à massa anônima do
Fonte: COSTA, 2001.
tráfego. Há então que separá-los, mas sem
perder de vista que em determinadas condições e para comodidade recíproca, a
coexistência se impõe.
49
10 – Nesta plataforma onde, como se via anteriormente, o tráfego é apenas local,
situou-se então o centro de diversões da cidade (mistura em termos adequados de
Piccadilly Circus, Times Square e Champs Elysées). A face da plataforma debruçada
sobre o setor cultural e a esplanada dos ministérios, não foi edificada com exceção de
uma eventual casa de chá e da
ópera, cujo acesso tanto se faz
pelo próprio setor de diversões,
como pelo setor cultural contíguo,
em plano inferior. Na face fronteira
foram concentrados os cinemas e
teatros, cujo gabarito se fez baixo
e uniforme, constituindo assim o
conjunto deles um corpo
arquitetônico contínuo com
galeria, amplas calçadas, terraços
e cafés, servindo as respectivas
fachadas em toda a altura de
campo livre para a instalação de
painéis luminosos de reclame (ver
Figura 66 – Rascunho 11). As
várias casas de espetáculo Figura 66. Rascunhos do Plano Piloto.
estarão ligadas entre si por Fonte: COSTA, 2001.
travessas no gênero tradicional da rua do Ouvidor, das vielas venezianas ou de
galerias cobertas (arcades) e articuladas a pequenos pátios com bares e cafés, e
“loggias” na parte dos fundos com vista para o parque, tudo no propósito de propiciar
ambiente adequado ao convívio e à expansão (ver Figura 66 – Rascunho 11). O
pavimento térreo do setor central desse conjunto de teatros e cinemas manteve-se
vazado em toda a sua extensão, salvo os núcleos de acesso aos pavimentos
superiores, a fim de garantir continuidade à perspectiva, e os andares se previram
envidraçados nas duas faces para que os restaurantes, clubes, casas de chá etc.,
tenham vista, de um lado para a esplanada inferior, e do outro para o aclive do parque
no prolongamento do eixo monumental e onde ficaram localizados os hotéis
comerciais e de turismo e, mais acima, para a torre monumental das estações rádio
50
emissoras e de televisão, tratada como elemento plástico integrado na composição
geral (ver Figura 66 – Rascunho 11 e 12). Na parte central da plataforma, porém
disposto lateralmente, acha-se o saguão da estação rodoviária com bilheteria, bares,
restaurantes, etc., construção baixa, ligada por escadas rolantes ao “hall” inferior de
embarque separado por envidraçamento do cais propriamente dito. O sistema de mão
única obriga os ônibus na saída a uma volta, num ou noutro sentido, fora da área
coberta pela plataforma, o que permite ao viajante uma última vista do eixo
monumental da cidade antes de entrar no eixo rodoviário residencial — despedida
psicologicamente desejável. Previram-se igualmente nessa extensa plataforma
destinada principalmente, tal como no piso térreo, ao estacionamento de automóveis,
duas amplas praças privativas dos pedestres, uma fronteira ao teatro da ópera e outra,
simetricamente oposta, em frente a um pavilhão de pouca altura debruçado sobre os
jardins do setor cultural e destinado a restaurante, bar e casa de chá. Nestas praças,
o piso das pistas de rolamento, sempre de sentido único, foi ligeiramente sobrelevado
em larga extensão, para o livre cruzamento dos pedestres num e noutro sentido, o
que permitirá acesso franco e direto tanto aos setores do varejo comercial quanto ao
setor dos bancos e escritórios (ver Figura 64 – Rascunho 8).
51
galerias. Dois braços elevados da pista de contorno permitem, também aqui, acesso
franco aos pedestres.
15 – Percorrido assim de ponta a ponta esse eixo dito monumental, vê-se que a
fluência e unidade do traçado (ver Figura 65 – Rascunho 9), desde a praça do
Governo até a praça Municipal, não exclui a variedade, e cada setor, por assim dizer,
vale por si como organismo plasticamente autônomo na composição do conjunto.
Essa autonomia cria espaços adequados à escala do homem e permite o diálogo
monumental localizado sem prejuízo do desempenho arquitetônico de cada setor na
harmoniosa integração urbanística do todo.
52
seqüência contínua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de
ambos os lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente
arborizada, árvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espécie
vegetal, com chão gramado e uma cortina suplementar intermitente de arbustos e
folhagens, a fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posição do observador, o
conteúdo das quadras, visto sempre num segundo plano e como que amortecido na
paisagem (ver Figura 67 –
Rascunho 13). Disposição
que apresenta a dupla
vantagem de garantir a
ordenação urbanística
mesmo quando varie a
densidade, categoria,
padrão ou qualidade
arquitetônica dos edifícios, e
de oferecer aos moradores
extensas faixas sombreadas
para passeio e lazer,
independentemente das
áreas livres previstas no
interior das próprias quadras
(ver Figura 64 – Rascunho
8). Dentro destas “super-
quadras” os blocos
residenciais podem dispor-
se da maneira mais variada, Figura 67. Rascunhos do Plano Piloto.
Fonte: COSTA, 2001.
obedecendo porém a dois
princípios gerais: gabarito máximo uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e
separação do tráfego de veículos do trânsito de pedestres, mormente o acesso á
escola primária e às comodidades existentes no interior de cada quadra. Ao fundo das
quadras estende-se a via de serviço para o tráfego de caminhões, destinando-se ao
longo dela a frente oposta às quadras, à instalação de garagens, oficinas, depósitos
do comércio em grosso etc., e reservando-se uma faixa de terreno, equivalente a uma
53
terceira ordem de quadras, para floricultura, horta e pomar. Entaladas entre essa via
de serviço e as vias do eixo rodoviário, intercalaram-se então largas e extensas faixas
com acesso alternado, ora por uma, ora por outra, e onde se localizaram a igreja, as
escolas secundárias, o cinema e o varejo do bairro, disposto conforme a sua classe
ou natureza (ver Figura 67 – Rascunho 13). O mercadinho, os açougues, as vendas,
quitandas, casas de ferragens, etc., na primeira metade da faixa correspondente ao
acesso de serviço; as barbearias, cabeleireiros, modistas, confeitarias, etc., na
primeira seção da faixa de acesso privativa dos automóveis e ônibus, onde se
encontram igualmente os postos de serviço para venda de gasolina. As lojas dispõem-
se em renque com vitrinas e passeio coberto na face fronteira às cintas arborizadas
de enquadramento dos quarteirões e privativas dos pedestres, e o estacionamento na
face oposta, contígua às vias de acesso motorizado, prevendo-se travessas para
ligação de uma parte a outra, ficando assim as lojas geminadas duas a duas, embora
o seu conjunto constitua um corpo só (ver Figura 67 – Rascunho 14). Na confluência
das quatro quadras localizou-se a igreja do bairro, e aos fundos dela as escolas
secundárias, ao passo que na parte da faixa de serviço fronteira à rodovia se previu o
cinema a fim de torná-lo acessível a quem proceda de outros bairros, ficando a
extensa área livre intermediária destinada ao clube da juventude, com campo de jogos
e recreio.
54
outra serão neutralizadas pelo próprio agenciamento urbanístico proposto, e não
serão de natureza a afetar o conforto social a que todos têm direito. Elas decorrerão
apenas de uma maior ou menor densidade, do maior ou menor espaço atribuído a
cada indivíduo e a cada família, da escolha dos materiais e do grau e requinte do
acabamento. Neste sentido deve-se impedir a enquistação de favelas tanto na
periferia urbana quanto na rural. Cabe à Companhia Urbanizadora prover dentro do
esquema proposto acomodações decentes e econômicas para a totalidade da
população.
55
florido e manchado de arvoredo. Essa estrada se articula ao eixo rodoviário e também
à pista autônoma de acesso direto do aeroporto ao centro cívico, por onde entrarão
na cidade os visitantes ilustres, podendo a respectiva saída processar-se, com
vantagem, pelo próprio eixo rodoviário-residencial. Propõe-se, ainda, a localização do
aeroporto definitivo na área interna da represa, a fim de evitar-lhe a travessia ou o
contorno.
56
autônomas, sem prejuízo da integridade arquitetônica, e assim se submeterem
parceladamente à venda no mercado imobiliário, podendo a construção propriamente
dita, ou parte dela, correr por conta dos interessados ou da Companhia, ou ainda,
conjuntamente.
58
Araguaína, no norte do Estado, além de estar situada próxima à área conflituosa de
mineração e garimpo do Pará, disputaria influência no sul do Maranhão. A opção por
Gurupi, no sul, poderia manter a capital sob a influência de Goiás, o que era
contraditório com o esforço de separação dos dois Estados.
De acordo com Teixeira (2009), a opção pela construção de uma cidade
nova se afirmava pouco a pouco. A estratégia, além de procurar escapar das disputas
políticas consolidadas nas cidades eleitas como alternativas durante o processo de
escolha visavam intervir de uma maneira positiva sobre a organização do espaço
territorial do Tocantins. Estrategicamente, o governador Siqueira Campos identificou
um quadrilátero de 90x90 km, situado no centro geográfico do Estado, como área
geopolítica mais favorável à construção da capital. Determinou ainda a elaboração de
estudos de pré-seleção de áreas para que a assembleia constituinte do Estado
escolhesse a mais adequada. O relatório
que envolvia aspectos de topografia,
hidrografia, paisagem, disponibilidade de
infraestrutura, entre outros, definiu quatro
áreas com potencial para implantar uma
cidade do porte de capital de Estado. Duas
delas situavam-se à margem esquerda e
outras duas, na margem direita do Rio
Tocantins.
Havia grupos pró-margem
esquerda e pró-margem direita do Rio
Tocantins. A margem esquerda já havia
sido beneficiada pela construção da
Figura 69. Região de escolha do local de implantação.
rodovia Belém–Brasília, com impactos
Fonte: GRUPOQUATRO, 1989.
inclusive no esvaziamento das cidades mais antigas da região, junto às margens do
Rio Tocantins. A margem direita era tida como a mais atrasada do Estado (ver Figura
69). A disputa chegou a gerar especulação da criação, no futuro, de outro movimento
separatista do território da margem direita, caso a capital fosse construída na margem
esquerda. A decisão final foi tomada por uma comissão especial do Estado, com
decisiva influência do governador eleito. O sítio escolhido, um quadrilátero de 12x32
km, incluía terras das duas margens do Rio Tocantins, situadas nos municípios de
59
Taquaruçu do Porto e Porto Nacional. Todavia decidiu-se que a cidade seria
construída em uma faixa de terra situada entre a margem direita do Rio Tocantins e a
Serra do Lajeado, próximo ao antigo povoado de Canela, no município de Taquaruçu
do Porto. De fato, essa região central, ainda pouco desenvolvida, mas com um
povoamento considerável em torno de cidades como Porto Nacional, Miracema do
Tocantins e Paraíso do Tocantins, poderia ser positivamente influenciada pela
presença da capital. Uma forte rede de cidades poderia ser formada no coração do
Estado sob o impulso multiplicador da capital. A Constituição Estadual, promulgada
em 5 de outubro de 1989, definiu Palmas como a capital do Estado, estabelecendo a
data de 1º de janeiro de 1990 para a transferência da capital de Miracema do
Tocantins para Palmas. Antes, em 29 de dezembro de 1989, o município de
Taquaruçu do Porto teve sua sede transferida para o local onde estava sendo
construída a capital e seu nome mudado para Palmas. A pedra fundamental de
construção da cidade foi lançada em 20 de maio de 1989. Uma lei de 13 de fevereiro
de 1990 anexou o Distrito de Canela ao novo município de Palmas. Outra lei, de 19
de dezembro de 1995, anexou também o Distrito de Taquaralto. O Taquaralto,
portanto, faz hoje parte da cidade de Palmas, constituindo-se em bairro. A divisão
distrital do Município de Palmas hoje inclui, além da sede, os Distritos de Taquaruçu
e Buritirana. O sítio urbano de Palmas tem limites bastante definidos e apresenta forte
identidade paisagística. O sítio é formado por uma faixa de terra com baixas
declividades, estendendo-se por uma distância média de 15 km entre a margem direita
do Rio Tocantins e a encosta da Serra do Lajeado. O rio, posteriormente o lago, e a
serra estão alinhados no sentido norte-sul. A barreira natural formada pela serra está
protegida da ocupação por uma reserva ecológica estadual, atingindo altitudes
máximas que ultrapassam 600 metros em relação ao nível do mar. A altitude média
da área do sítio indicado para a construção da cidade é de 260 metros. O lago formado
pela Usina Hidrelétrica do Lajeado inundou uma significativa faixa de terra até a cota
estimada de 212 metros. A área designada para implantação do plano básico está
situada entre os ribeirões Água Fria e Taquaruçu Grande. Nesta região, entre os
ribeirões Água Fria, ao Norte, e Taquaruçu, ao Sul, foi desenhada a área urbana de
Palmas, com 11.085 hectares e capacidade para abrigar cerca de 1,2 milhão de
habitantes (GRUPOQUATRO, 1989).
De acordo com Teixeira (2009), outras duas áreas – ao Norte do Água
60
Fria, com 4.625 hectares, e ao Sul do Taquaruçu, com 4.869 hectares – foram
reservadas à futura expansão da cidade, fazendo com que Palmas tenha na realidade,
potencial para conter uma população superior a 2 milhões de habitantes. Portanto, os
recursos hídricos e a proteção de suas matas de galeria foram elementos
determinantes para a configuração urbanística do macrozoneamento e do desenho
da cidade. Trata-se de avanço no planejamento do território onde a bacia hidrográfica
insinua a organização do território.
De acordo com Teixeira (2009) O sítio urbano, com alguns limites bem
demarcados pelo Rio Tocantins e pela Serra do Lajeado, sugeria uma planta linear
para a cidade. O rio, o lago artificial projetado e a serra puderam garantir um bom
enquadramento urbanístico e paisagístico da cidade no lugar.
O eixo da rodovia estadual TO-132 (hoje TO-010) foi deslocado para
leste, servindo de referência ao traçado viário. Acompanhando a cota de enchente do
futuro lago, foi projetada uma via-parque junto à qual foram previstas amplas áreas
verdes de lazer e recreação destinadas ao uso público. As matas ciliares junto aos
ribeirões foram preservadas,
formando grandes faixas verdes,
entremeando as quadras
destinadas à edificação
(GRUPOQUATRO, 1989).
Teixeira (2009)
afirma que entre a rodovia e a via-
parque foi projetada a Avenida
Joaquim Teotônio Segurado, Figura 70. Praça dos Girassóis.
principal via da cidade, Fonte: GRUPOQUATRO, 1989.
homenageando o pioneiro da luta regionalista do Tocantins. A Avenida Juscelino
Kubitschek, cruzando a Teotônio Segurado, completa o traçado viário básico da
cidade. No cruzamento dessas duas grandes avenidas foram localizados os principais
61
edifícios públicos do governo estadual e a Praça dos Girassóis, que simbolizam a
cidade (ver Figura 70). No local estão o Palácio Araguaia, sede do Executivo, o
Palácio João d´Abreu, sede do Legislativo, e o Palácio Feliciano Machado Braga, sede
do Judiciário. Em torno dessa praça foi prevista a localização de usos e atividades
urbanas capazes de gerar centralidade, com bancos, escritórios, clínicas médicas,
restaurantes, cinemas e mesmo edifícios mistos com apartamentos a partir do
primeiro andar.
A opção por uma malha viária ortogonal, em xadrez, além de econômica
e de se adequar bem ao sítio urbano, garantiu simplicidade quase didática para a
implantação do plano (ver Figura 71).
62
de 700x700 metros podendo abrigar uma população de 8 a 12 mil habitantes. Esse
formato quadrado básico pode sofrer adaptações dependendo da posição da quadra
e das condições do sítio urbano em cada trecho da cidade. As vias confrontantes com
os limites das quadras formam um sistema de circulação arterial, enquanto dentro de
cada quadra os loteamentos particulares progressivos vão definindo um sistema de
arruamento vicinal com alamedas, de modo a garantir segurança aos pedestres e
áreas verdes indispensáveis ao conforto e ao lazer da população. Os cruzamentos
dessas avenidas arteriais são em rótula, visando disciplinar o trânsito e reduzir o risco
de acidentes (GRUPOQUATRO, 1989).
De acordo com o plano urbanístico, uma vez implantada a rede básica
de quadras, a partir da abertura das vias arteriais, cada uma delas seria objeto de
parcelamento interno próprio, podendo as soluções variar em cada caso, inclusive
quanto aos tipos construtivos permitidos para as edificações (casas, edifícios de
apartamentos, residências geminadas, etc.). Nos miolos das quadras foram previstos
equipamentos públicos básicos, como praças e escolas (GRUPOQUATRO, 1989).
As quadras foram planejadas como unidades básicas de organização da
vida urbana, vindo até mesmo
nos dias atuais a servir de base
territorial para a criação de
associações de moradores na
cidade (ver Figura 72). O
comércio e os serviços de
caráter vicinal, de afluência mais
imediata e cotidiana da
população, foram previstos para
trechos mais ou menos regulares
das vias arteriais formadas pelas
Figura 72. Distribuição das quadras.
quadras (TEIXEIRA, 2009).
Fonte: GRUPOQUATRO, 1989.
De acordo com
Teixeira (2009), No eixo da rodovia foi prevista a implantação de comércio atacadista,
indústrias e outras atividades de caráter regional geradores de tráfego de carga mais
pesada. A Avenida Teotônio Segurado foi programada para abrigar grandes
equipamentos públicos, comércio e serviços geradores de muito tráfego, como
63
hospitais, sede da polícia, hotéis, shopping centers, supermercados, edifícios de
apartamentos, etc. Devido ao tipo de uso previsto para esse eixo e sua posição no
conjunto do sistema viário da cidade, a Avenida Teotônio Segurado deverá se
consolidar, como já vem
ocorrendo, como um grande
corredor de transporte
coletivo de Palmas.
O plano
urbanístico procurou evitar
a excessiva separação das
funções urbanas, abrindo
possibilidades de
convivência de usos
compatíveis entre si, dentro
de limites mínimos de
segurança, conforto, bem-
estar e configuração da Figura 73. Distribuição das quadras.
paisagem urbana (ver Fonte: GRUPOQUATRO, 1989.
Figura 73). Em alguns locais foi prevista até mesmo a tradicional edificação de dois
andares com comércio no térreo e residência no andar superior (TEIXEIRA, 2009).
64
terreno para adequação das instalações de infraestrutura que pudessem se servir da
gravidade, como o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a drenagem de
águas pluviais.
De
acordo com Teixeira
(2009), a
implantação integral
do núcleo central,
entre o córrego
Brejo Comprido e o
córrego Suçuapara,
prevista para a Figura 74. Perspectiva de Implantação.
primeira etapa, Fonte: GRUPOQUATRO, 1989.
permitiria abrigar uma população estimada cerca de 200 mil habitantes nos primeiros
dez anos (até o ano2000) (ver Figura 74). O processo de implantação seguiria até a
ocupação de toda a área reservada ao plano básico, quando então a cidade atingiria
a população total de 1,2 milhão de habitantes.
65
Em março de 1989, foi criada a Comissão de Implantação da Nova
Capital (Novatins). O agente principal de implantação de Palmas é, desde a sua
origem, o Poder público, já que a cidade foi fundada por razões político-administrativas
(VELASQUES, 2010).
Como capital do Estado, Palmas é, ao mesmo tempo, sede dos governos
estadual e municipal. A função de governo é a principal força motora da criação e do
desenvolvimento da cidade. A necessidade de instalação imediata dos governos
exigiu prioridade para os investimentos na construção dos edifícios públicos. Algumas
instalações, como a própria sede do governo estadual, foram construídas
provisoriamente até a conclusão dos edifícios definitivos. O Palacinho, como ficou
conhecida a sede provisória do governo estadual, hoje está tombado como bem do
patrimônio histórico da cidade (VELASQUES, 2010).
Foi também priorizada a implantação do sistema viário principal e da
infraestrutura básica, como abastecimento da água, energia elétrica, hospital e outros
serviços e equipamentos indispensáveis. As empresas, num Estado que procurou
nascer já com um perfil privatista, foram chamadas a complementar o investimento
público na construção da cidade (VELASQUES, 2010).
Segundo Teixeira (2009), o impacto da fundação de Palmas atraiu gente
de quase todos os lugares do país. A posição geográfica do Estado no Brasil, fazendo
fronteira com seis outros Estados e situado em uma região de transição entre o
Cerrado, o semi-árido do Nordeste e a Floresta Amazônica, tornou Palmas um lugar
de fácil afluência de migrantes de várias origens. Havia também o agravante da
ausência de cidades próximas com força de contenção e triagem de parte dessa
migração para Palmas. Os que se estabeleceram na cidade manifestaram vínculo e
identidade com o lugar, assumindo compromissos de longo prazo com a decisão de
se estabelecerem em Palmas.
De acordo com Teixeira (2009), como costuma ocorrer neste tipo de
empreendimento no Brasil, são os mais pobres que se fixam primeiro e em maior
número. O controle sobre esses novos grupos sociais, experimentando uma
convivência recente e sujeita a tensões, inspirou a edição de uma lei seca no território
da cidade em construção. Apesar disso, a força empreendedora dos pioneiros vencia
pouco a pouco os céticos e os descrentes na decisão da construção e no futuro da
cidade.
66
A primeira grande desapropriação de terras, realizada pelo Estado,
ocorreu em abril de 1990 e atingiu 24 propriedades na área destinada ao plano básico
da cidade. As principais fazendas desapropriadas foram Suçuapara e Triângulo. A
venda dos lotes foi iniciada por leilão público, em janeiro de 1990 (VELASQUES,
2010).
Com o avanço da urbanização, o Estado desapropriava terra rural e
vendia terra urbana já valorizada pela ação governamental, estratégia que permitiu a
formação de algum capital para investimento. A estratégia de implantação por etapas
do plano básico, a partir do núcleo central, foi logo rompida pelo governo estadual. Os
mecanismos de formação do preço e de acesso à terra dirigiam boa parte da demanda
por moradia sobretudo para os bairros de Taquaral e Aureny´s, projetados pelo próprio
governo e situados fora da área do plano básico. Ocuparam, portanto, o território
destinado à expansão urbana norte, quando deveriam ser implantadas após a
urbanização de 70% da área projetada pelo plano diretor. Esse processo deveu-se,
em grande parte, a políticas de governo deliberadamente de segregação da
população mais pobre, antecipando uma forma de organização do espaço urbano que
o mercado imobiliário, por si só, talvez só pudesse construir ao longo de muitos anos.
O resultado desse processo implicou uma baixa densidade na ocupação do solo, com
impactos negativos nos custos de implantação da infraestrutura urbana. Com o
espalhamento da cidade e a restrição do número de contribuintes por quadra, a
demanda por infraestrutura e serviços urbanos cresceu, pressionando a capacidade
de resposta dos governos. Esse foi o caso da pavimentação de ruas, do
abastecimento de água, da energia elétrica e da iluminação pública. O retorno desses
investimentos, por outro lado, tornou-se lento, reduzindo a capacidade de
reinvestimento especialmente das empresas concessionárias. A expansão das redes
de serviços fez crescer, também, os custos da sua manutenção. No caso dos serviços
não autofinanciáveis, como a educação, o impacto sobre o orçamento municipal é
significativo (VELASQUES, 2010).
Segundo Teixeira (2009), houve invasões em áreas públicas e privadas,
em áreas industriais e em área de preservação ambiental, como resultados marginais
do processo de urbanização. Os abrigos provisórios de lona plástica foram se
constituindo na marca dos que não encontravam acesso fácil ao mercado imobiliário.
Hoje, procura-se contornar essas invasões com o mínimo de tensões sociais,
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buscando-se inclusive preservar algumas diretrizes gerais do plano diretor da cidade.
Segundo Velasques (2010), a preocupação com a expansão da
ocupação urbana, e, sobretudo das invasões para além do plano básico, fez surgir um
grande loteamento de sítios de recreio no entorno da cidade, como estratégia de
contenção. Na realidade essa estratégia veio agravar o problema da ocupação urbana
espraiada.
Na Vila União, área de invasão ao norte da cidade, a iniciativa de
consolidação do assentamento pôde atingir bons resultados com o emprego de
tecnologias apropriadas e a participação dos moradores na construção das casas. Os
outros assentamentos ao norte tornaram-se áreas onde os níveis de pobreza,
desemprego e dependência dos serviços e equipamentos públicos são altos
(VELASQUES, 2010).
Segundo Velasques (2010), o Taquaralto, que já era um povoado antes
mesmo da fundação de Palmas, já apresentava um comércio próprio que atendia as
necessidades locais. A região chamada Aureny´s foi implantada em etapas, com
participação de alguns poucos financiamentos federais. Esse processo evidencia o
surgimento de núcleos carentes, em contradição com a cidade planejada na sua
ocupação e expansão. Na verdade, conforme Faida Kran “a população foi empurrada
para as áreas de habitação popular”, longe da cidade planejada. Outro trabalho de
dissertação em mestrado, em Geografia, mostra o impacto na ocupação territorial,
afirmando que “o plano diretor já foi corrompido, desvirtuado e até mesmo
desconhecido”.
A questão da ocupação territorial reflete a ineficiência do processo de
implantação da cidade. O custo por habitação de urbanização é 5 vezes maior que o
previsto pelo plano. Os reflexos são enormes quanto à implantação e à prestação de
serviços de segurança, saúde, transporte coletivo, limpeza urbana, habitação, etc.
Palmas tem portanto desafios pela frente. O principal deles é promover o
adensamento das áreas urbanizadas evitando novos loteamentos que produzam
vazios urbanos. Com isso talvez se consiga devolver a Palmas os princípios de
ordenamento territorial estabelecidos pelo plano diretor (VELASQUES, 2010).
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