Sei sulla pagina 1di 16

Tópico 11

Melhorar a segurança no uso


de medicação

Medicações inapropriadas para uma Overdose de metadona


criança com náusea

Durante as férias, a filha de Heather, Jane, de 8 Quando Matthew se apresentou na clínica de


anos, se sentiu mal e começou a vomitar. Hea- metadona, havia três enfermeiros de serviço.
ther a levou à clínica de saúde local e se consul- Dois deles não identificaram seus dados ade-
tou com um médico que lhe disse que sua filha quadamente e administraram metadona sem
sofria de asma e necessitava de um nebulizador. verificar a dose de forma apropriada.
O médico diagnosticou náusea derivada de uma
infecção de ouvido e receitou um antibiótico. A dose de metadona administrada foi de
Injetou clorpromazina, metoclopramida e atro- 150mg quando deveria ter sido de 40mg.
pina para tratar a náusea. Os enfermeiros também não informaram ao
médico que o estava atendendo ao se darem
Mais tarde, Jane perdeu a consciência e foi conta da dose excessiva. Eles, em seguida,
internada em um pequeno hospital local. Em se- instruíram o terceiro enfermeiro para que
guida, ela foi transferida para um hospital maior desse a Matthew uma dose de 20mg para ele
por causa de sintomas respiratórios. levar para casa, apesar de estarem cientes da
O médico clínico pensava que estava fazendo a dosagem excessiva e não terem a autorização
coisa certa, tendo aprendido sobre esse coque- do médico. Matthew morreu na madrugada do
tel de medicamentos durante sua capacitação dia seguinte com intoxicação por metadona.
quando era residente. No entanto, as drogas
não eram apropriadas para náusea em crianças Fonte: Case studies. Health Care Complaints
por poderem provocar reações adversas e pela Commission Annual Report 1995-1996:38 Sydney,
dificuldade de monitoramento das condições New South Wales, Australia.
subsequentes da criança. O médico também
não forneceu informações adequadas sobre as
medicações para Heather.

Fonte: Walton M. Well being: how to get the best


treatment from your doctor. Sydney, New South
Wales, Australia, Pluto Press, 2002:51.

241 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


Introdução - Por que o foco nas para minimizar os danos causados aos pacientes
medicações? 1 pelas medicações.
Os medicamentos são comprovadamente
muito benéficos para o tratamento e a 2 Palavras-chave
prevenção de doenças. Esse sucesso levou a Efeito colateral, reação adversa, erro, evento
um aumento dramático no uso dos medicamentos. adverso, evento adverso de droga, erro de medica-
Infelizmente, esse aumento do uso trouxe consigo mento, prescrição, administração e monitoramento.
um aumento dos perigos, erros e eventos adver-
Objetivos pedagógicos 3
sos associados ao uso das medicações. Por várias
Este tópico fornece uma visão geral da
razões, o uso dos medicamentos também tem se
segurança de medicamentos. Foi projetado para
tornado cada vez mais complexo. Existe um enorme
encorajar os alunos a continuarem a aprender e
número e uma variedade de medicamentos dis-
praticar maneiras de melhorar a segurança no uso
poníveis. Essas medicações têm diferentes vias de
de medicamentos.
administração e ações variadas (ação prolongada,
ação curta). Às vezes, a mesma formulação de uma Resultados pedagógicos: conhecimento e
droga específica é vendida sob mais de um nome desempenho
comercial e isso pode causar confusão. Embora
tratamentos mais eficazes para doenças crônicas 4
Conhecimento necessário
estejam disponíveis hoje em dia, mais pacientes Os alunos devem saber:
agora tomam medicações múltiplas e há mais pa-
cientes com múltiplas comorbidades. Isso aumenta • a magnitude dos erros de medicação;
a probabilidade de interação das drogas, dos efeitos • que o uso de medicamentos está associado a
colaterais e de erros de administração. riscos;
• fontes comuns de erros;
O processo de administração de medicamentos • em que parte do processo o erro pode ocorrer;
para o paciente muitas vezes envolve vários pro- • as responsabilidades associadas a prescrever e
fissionais de saúde. Falhas de comunicação podem administrar medicamentos;
provocar interrupções na continuidade do pro- • como reconhecer situações perigosas comuns;
cesso. Os profissionais de saúde estão receitando • formas de tornar mais seguro o uso dos medica-
uma grande variedade de medicações, por isso eles mentos; e
precisam estar familiarizados com mais medica- • os benefícios do enfoque multidisciplinar na segu-
mentos. É simplesmente informação demais para rança da medicação.
que o profissional de saúde seja capaz de lembrar
5
de forma confiável sem o auxílio de materiais de Desempenho esperado
referência. Enfermeiros, farmacêuticos, dentistas A segurança da medicação é um tópico vasto. Um
e médicos cuidam de pacientes que estão tomando profissional de saúde que entenda as questões e os
medicamentos frequentemente receitados por riscos envolvidos no uso dos medicamentos irá:
outros clínicos (em geral, especialistas) e, por con-
seguinte, podem não estar familiarizados com os • usar nomes genéricos;
efeitos de todos os medicamentos que o paciente • adaptar a receita a cada paciente;
esteja tomando. • praticar a anotação detalhada de históricos de
medicação;
Além dos farmacêuticos, os profissionais que • conhecer quais medicamentos são de alto risco;
emitem receitas desempenham um papel impor- • estar bem familiarizado com os medicamentos
tante na utilização dos medicamentos. Seus papéis que prescreve e/ou dispensa;
incluem receitar e administrar medicamentos, • recorrer a auxílios de memória;
monitorar efeitos colaterais e trabalhar em equipe. • comunicar-se claramente;
Os profissionais de saúde desempenham papéis • desenvolver hábitos de verificação;
de liderança potencialmente gratificantes no local • encorajar os pacientes a se envolverem ativa-
de trabalho, em relação ao uso das medicações e à mente no processo de medicação;
melhoria dos cuidados do paciente. • notificar e aprender com erros;
• entender e praticar o cálculo das drogas, inclu-
Como futuros profissionais de saúde, os alunos sive ajustes baseados em parâmetros clínicos
precisam entender a natureza do erro de medica- (exemplo: depuração renal);
ção, aprender quais danos estão associados ao uso • detectar interações potenciais/reais entre drogas
das medicações e aprender o que pode ser feito e entre drogas e alimentos.
para tornar mais seguro seu uso. Farmacêuticos,
médicos e enfermeiros desempenham um papel de
liderança na redução dos erros de medicação, mas
cada pessoa envolvida no uso de medicamentos
tem a responsabilidade de trabalhar em conjunto

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 242


Definições 6
A receita de um medicamento requer que o pro-
fissional de saúde tome a decisão sobre a droga,
Efeito colateral 7 o regime da droga, a documentação da droga nos
Um efeito colateral é um efeito conhecido, registros do sistema de saúde e a solicitação. Há
distinto do pretendido inicialmente, relacionado às práticas baseadas em evidências que ajudam os
propriedades farmacológicas de um medicamento profissionais de saúde na preparação de receitas de
[1]. Por exemplo, um efeito colateral comum dos medicamentos para assegurar que a droga correta
analgésicos opiáceos é a náusea. é dada de forma apropriada ao paciente corre-
to. Porém, além disso, os profissionais de saúde
Reação adversa também são obrigados a levar em consideração os
Uma reação adversa ocorre quando um dano ines- valores, preferências e circunstâncias econômicas
perado resulta de uma ação justificada, quando foi dos pacientes. Em certos contextos, pode também
seguido o processo correto para o contexto no qual haver recursos limitados e restrições no que diz
a medicação foi usada [1]. Um exemplo disso poderia respeito ao que pode ou não pode ser fornecido aos
ser uma reação alérgica inesperada em um paciente pacientes.
que toma uma medicação pela primeira vez.
Sabe-se que erros ocorrem no estágio da pres-
Erro crição e são frequentemente associados à inex-
Um erro é uma falha em executar uma ação planeja- periência dos profissionais de saúde e à falta de
da da forma pretendida ou a aplicação de um plano conhecimento do medicamento, à falha em seguir
incorreto [1]. um protocolo acordado, ou a outros fatores, como
cansaço e lapsos de memória.
Evento adverso
Um incidente no qual o paciente sofre uma lesão [1]. Além das drogas vendidas somente com recei-
ta médica, os consumidores se automedicam e
Evento adverso de medicação
tomam medicamentos de venda livre. Às vezes,
Um evento adverso que envolve um medicamento
essas drogas podem causar eventos adversos, so-
(um evento adverso de droga) pode ser evitável
bretudo quando tomadas com outros medicamen-
(por exemplo, o resultado de um erro) ou não evitá-
tos. Os consumidores devem sempre consultar os
vel (por exemplo, uma reação alérgica inesperada
farmacêuticos quando pretenderem misturar dro-
em um paciente que toma um medicamento pela
gas de venda livre com medicamentos receitados.
primeira vez, conforme descrito acima).
Erro de medicação
Reação adversa à droga
Uma medicação errada pode resultar em:
Qualquer resposta a um medicamento que é nociva
e não intencional. Esta definição da OMS inclui • um evento adverso, no qual o paciente sofre
lesões que se julgue terem sido causadas pela droga dano;
e exclui lesões devido a drogas que foram adminis- • um near miss (quase erro), no qual o paciente
tradas por engano. quase sofre dano;
• nenhum dano, nem real nem potencial.
Erro de medicação
Todo evento evitável que possa causar ou levar Os erros de medicação são uma causa comum de
ao uso de medicação inapropriada ou danos ao danos evitáveis a pacientes. O IOM calcula que nos
paciente enquanto a medicação está sob o con- EUA há um erro de medicação por paciente hospi-
trole de profissionais de saúde, do paciente ou de talizado por dia [3], 1,5 milhão de eventos adversos
um consumidor [2]. Esses eventos podem estar provocados por drogas, evitáveis por ano [3], e 7 mil
relacionados a práticas profissionais, produtos de mortes por ano por causa de erros de medicação
cuidados em saúde, procedimentos e sistemas, em hospitais naquele país [4].
incluindo: receitas; solicitações de pedidos; rotu-
lagem; embalagem e nomenclatura de produtos; Pesquisadores em outros países do mundo nos
composição; dispensação; administração; educa- quais a incidência dos erros de medicação e eventos
ção; monitoramento; e uso. adversos de droga foram investigados apresentam
estatísticas igualmente preocupantes [5]. Apenas
Prescrição/receita 15% dos erros de prescrição cometidos afetam os
A receita é uma ordem para se tomar certos medi- pacientes; os outros são descobertos a tempo por
camentos. Em muitos países, quem emite receitas farmacêuticos e outros profissionais de saúde. Esse
tem responsabilidade legal pelos cuidados clínicos fato ressalta a importância do trabalho em equi-
do paciente, assim como a função de monitorar a pe. Trabalhando juntos, os profissionais de saúde
segurança e a eficácia da(s) droga(s). podem evitar muitos eventos adversos.

243 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


Fabricação, distribuição e comercialização Monitoramento
Antes das drogas serem usadas em humanos, elas O monitoramento envolve a observação do pacien-
precisam ser testadas para garantir que sejam se- te para determinar se a medicação está funcionan-
guras. O desenvolvimento e a fabricação de drogas do, se está sendo usada corretamente e se não está
é altamente regulado na maioria dos países. causando danos. As atividades de monitoramento
também devem ser documentadas, assim como
Etapas do uso da medicação 8 todas as outras etapas do processo de medicação.
Há várias etapas distintas no uso da me-
dicação: prescrição, dispensação, administração e Existe um potencial de erro em cada etapa do pro-
monitoramento são as quatro principais. Médicos, cesso. Os erros podem ocorrer de várias maneiras
farmacêuticos, pacientes e outros profissionais de em cada etapa.
saúde desempenham papéis importantes nesse
processo. Por exemplo, alguns pacientes podem se O uso de medicamentos envolve 10
automedicar com medicamentos de venda livre, riscos
O uso de medicação envolve certos riscos. 11
administrar esses medicamentos por conta própria
e se automonitorarem para ver se houve algum Diferentes riscos e oportunidades de erro
12
efeito terapêutico. Alternativamente, por exemplo, estão associados a etapas diferentes no
no ambiente hospitalar, quando um médico receita processo de medicação. 13
uma medicação; um farmacêutico, em seguida,
Prescrição
dispensará a medicação; um enfermeiro adminis-
O conhecimento inadequado sobre as indicações
trará a medicação; e um enfermeiro e um médico
da droga, as contraindicações e as interações entre
diferente podem terminar o monitoramento do
drogas podem levar a erros de prescrição. Isso tem
progresso do paciente e tomar decisões sobre o
se tornado um problema crescente, uma vez que
atual regime da droga. Em uma prática colaborati-
o número de medicamentos em uso tem aumen-
va, o farmacêutico pode ajustar a dose.
tado. Não é possível que um profissional de saúde
Os componentes principais de cada uma das quatro sozinho se lembre de todos os detalhes relevantes
etapas mencionadas acima são descritos abaixo. necessários a uma receita segura sem recorrer a
materiais de referência. Maneiras alternativas de
Prescrição 9 acesso a informações sobre as drogas são neces-
O profissional de saúde responsável pela sárias. Falhas em levar em consideração fatores físi-
prescrição deve escolher a medicação apropriada cos, cognitivos, emocionais e sociais que poderiam
para uma determinada situação clínica, levando em alterar a prescrição, tais como alergias, gravidez,
consideração fatores individuais do paciente, tais comorbidades, conhecimentos de saúde e outros
como alergias. Quem emite a receita também preci- medicamentos que o paciente possa estar toman-
sa selecionar a via de administração mais adequada, do, são outra fonte de erro.
a dose, o horário e o regime. Esse plano deve ser
comunicado a quem quer que administre a medica- Os erros podem envolver prescrição para pacientes
ção (essa comunicação pode ser escrita, verbal ou errados, prescrição de dosagens erradas, prescri-
ambas) e o plano completo deve ser devidamente ção de drogas erradas, prescrição de via errada
documentado. ou erros no horário de administração da droga. Às
vezes, esses erros podem ocorrer devido à falta
Dispensação de conhecimento, mas, em geral, são resultado de
Um farmacêutico transcreverá a receita escrita um “erro bobo” ou de um “erro simples”, chamado
pelo profissional de saúde e verificará a transcrição. de deslize ou lapso. Esses são os tipos de erros que
O farmacêutico, em seguida, buscará a medica- ocorrem mais provavelmente às 4 horas da manhã,
ção, a conferirá com a receita e documentará seu ou se o clínico que receitou o medicamento estava
trabalho. apressado, entediado ou cansado e não estava com-
pletamente concentrado na tarefa em questão.
Administração
Administrar uma medicação pode incluir a ob- A comunicação inadequada é outra fonte de erro de
tenção do medicamento e tê-lo em uma forma de receita. Comunicações que são ambíguas podem ser
pronta utilização. Isto pode implicar em contar, mal interpretadas (por exemplo: certas abreviações).
calcular, misturar, rotular ou preparar a droga Erros podem resultar de uma escrita ilegível ou uma
de alguma maneira. Qualquer administrador de simples comunicação verbal mal interpretada.
medicação deve sempre verificar a existência de
alergias e conferir se foi dada a dose correta do Erros matemáticos cometidos no cálculo de doses
medicamento correto pela via correta, ao pa- podem causar erros de medicação. Esses erros
ciente correto no horário correto. A pessoa que podem ser o resultado de descuido ou fadiga, mas
administra o medicamento deve documentar o também podem resultar da falta de treinamento e
que foi feito. de familiaridade com as maneiras de manipular vo-

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 244


lumes, quantidades, concentrações e unidades e/ou Monitoramento 18
falta de acesso a parâmetros atualizados. Os erros Os erros nessa área incluem não monitorar
de cálculo que envolvem medicações com uma janela adequadamente os efeitos colaterais; não 19
terapêutica estreita podem causar eventos adversos interromper a medicação uma vez que o curso
20
graves. Não é raro que ocorra um erro de cálculo na receitado tenha sido completado ou clara-
transposição de unidades (por exemplo, de micro- mente não esteja ajudando o paciente; e não
gramas para miligramas). Esse tipo de erro de cálculo completar o curso de medicação receitado. Os erros
pode resultar na multiplicação de um erro por mil. de monitoramento ocorrem quando níveis de drogas
A competência no cálculo de doses é especialmente não são medidos ou são medidos, mas não são verifica-
importante na pediatria, em que a maioria das doses dos ou não são objetos de ação corretiva. Esses erros
são determinadas de acordo com o peso da criança. muitas vezes envolvem falhas de comunicação.

Dispensação Existe um risco especial de falha de comunicação


Um estudo de 2007 mostrou que volumes mais quando o prestador de cuidados muda, por exemplo,
elevados de trabalho na farmácia, definido como a quando um paciente é transferido de um hospital
quantidade de receitas expedidas por farmacêu- para um estabelecimento comunitário ou vice-versa.
tico por hora de trabalho, aumentavam o risco de
dispensar uma medicação potencialmente inse- Fatores contribuintes para erros de medicação
gura. Os seguintes passos [6] podem ser tomados Os eventos adversos de medicação costumam ser
pelos farmacêuticos para diminuir os riscos de erro de natureza multifatorial. Muitas vezes, ocorre uma
de dispensação: combinação de eventos que juntos resultam em
• assegurar o registro correto da receita; dano ao paciente. É importante compreender isso
• confirmar que a receita está correta e completa; por várias razões. Ao tentar compreender a razão
• ter cuidado com as drogas com aspecto - look-a- da ocorrência de um erro, é importante procurar
like ou nome parecidos • sound-alike (os nomes por todos os fatores que contribuíram para o erro,
similares de drogas constituem um terço dos em vez da razão mais óbvia ou da etapa final do
erros de medicação); processo. As estratégias para melhorar a segurança
• t omar cuidado com zeros e abreviações; da medicação também precisam abranger múltiplas
•o  rganizar o local de trabalho; etapas no processo.
• r eduzir as distrações quando possível; 21
Fatores do paciente
• f ocar na redução do estresse e no equilíbrio de
Certos pacientes são especialmente vulneráveis
grandes volumes de trabalho;
aos erros de medicação. São eles: pacientes com
•d  isponibilizar tempo para armazenar as drogas
condições específicas (por exemplo, gravidez,
apropriadamente;
disfunção renal, etc.); pacientes que tomam várias
• c onferir minuciosamente todas as receitas;
medicações, sobretudo se essas medicações
• sempre dar aconselhamento detalhado ao paciente.
tiverem sido receitadas por mais de um presta-
Administração dor de cuidados em saúde; pacientes com vários
Os erros clássicos de administração con- 14 problemas de saúde; e pacientes que não tenham
sistem em dar a dose errada da droga ao um interesse ativo em serem informados sobre
15 sua própria saúde e seus medicamentos. Pacientes
paciente errado, pela via errada, no horário
errado, ou usar a droga errada. Não admi- 16 com problema de memória (por exemplo, pacien-
nistrar a droga receitada é outro erro de tes com Alzheimer) e pacientes que não podem se
administração. Esses erros podem resul- 17 comunicar bem, incluindo pacientes inconscien-
tar de comunicação inadequada, deslizes tes, bebês e crianças pequenas, e pacientes que
ou lapsos, falta de procedimentos de verificação, não falam a mesma língua da equipe são também
ausência de vigilância e erros de cálculos, assim especialmente vulneráveis aos erros de medicação.
como projetos inapropriados de locais de trabalho Crianças e bebês, sobretudo neonatais, têm um ris-
e embalagens de medicamentos. Nesses casos, é co maior de exposição a erros de medicação devido
frequente uma combinação de fatores indutores. ao cálculo das doses de drogas necessárias em seus
tratamentos.
A documentação inadequada também pode levar 22
a erros de administração. Por exemplo, se um me- Fatores do staff
dicamento é administrado, mas não foi registrado Os fatores de staff que aumentam o risco de erros
como tal, outro membro da equipe pode também de medicação incluem: pessoal inexperiente; pres-
dar a medicação ao paciente na suposição de que sa, como em uma situação de emergência; realiza-
ela ainda não havia sido administrada. ção de várias tarefas ao mesmo tempo; interrupção
de uma tarefa; fadiga; tédio; e falta de vigilância. A
Erros de cálculo para drogas intravenosas (por falta de hábitos de verificação ou de verificar duas
exemplo, gotas/h ou gotas/min, ml/h ou ml/min) são vezes, ou da verificação feita por pessoas dife-
outro tipo de erro de administração. rentes também pode levar a erros de medicação,

245 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


assim como o trabalho em equipe deficiente, a má Outros fatores técnicos
comunicação entre colegas e a relutância em usar Outros fatores técnicos também podem contribuir
auxílios de memória. para os erros de medicação. Por exemplo, conectores
idênticos para cateter intravenoso e cateter intrate-
Fatores de planejamento do local de cal permitem que drogas sejam dadas pela via errada.
23
trabalho
Fatores de planejamento do local de trabalho tam- Algumas formas de tornar mais
25
bém contribuem para os erros de medicação, incluin- seguro o uso das medicações
do a falta de uma cultura de segurança no local de
trabalho. Isso pode ficar claro pela falta de sistemas Usar nomes genéricos
de notificação e pela incapacidade em aprender com Os medicamentos têm nomes comerciais 26
near misses e eventos adversos passados. Outros (nome da marca) e nomes genéricos (princí-
fatores relativos ao planejamento dos locais de pio ativo). A mesma fórmula da droga pode ser pro-
trabalho incluem a ausência de auxílios de memória duzida por empresas diferentes e ter vários nomes
facilmente disponíveis para a equipe e/ou outras comerciais diferentes. Em geral, o nome comercial
informações sobre uma medicação específica, falta aparece em letras grandes na caixa/frasco e o nome
de acesso ou acesso restrito aos dados diagnósticos genérico aparece em letras pequenas. É difícil fami-
por parte da equipe farmacêutica e armazenagem liarizar-se com todos os medicamentos genéricos
inapropriada de medicamentos, por exemplo, drogas em uso; e pode ser quase impossível lembrar-se de
diferentes com nomes similares e que podem ser todos os nomes comerciais a eles relacionados. Para
confundidas ou guardadas perto umas das outras ou minimizar a confusão e simplificar a comunicação,
medicações não armazenadas de uma forma fácil de é útil que a equipe use apenas nomes genéricos.
usar ou não armazenadas em seu lugar usual. A falta Entretanto, é importante estar ciente de que os
de pessoal adequado é outra questão de planeja- pacientes frequentemente usarão os nomes comer-
mento do local de trabalho que pode levar a um ciais, pois é isso que aparece em letras grandes nas
aumento dos erros de medicação. embalagens. Isto pode gerar confusão tanto para
24 a equipe quanto para os pacientes. Por exemplo,
Fatores do projeto da medicação considere o caso de um paciente que está rece-
Certos fatores relativos ao projeto das medicações bendo alta em um hospital com uma receita para
também podem aumentar o risco de erros de medi- sua medicação usual, mas com um nome comercial
cação. Algumas medicações podem ser facilmente diferente. O paciente pode não perceber que a
confundidas, tais como comprimidos que tenham medicação que lhe foi receitada na alta é a mesma
uma aparência similar (por exemplo, cor, formato). que ele tomava antes da internação e, como conse-
Medicações com nomes similares também po- quência, continuar tomando a primeira medicação
dem ser facilmente confundidas. Exemplos desse simultaneamente, tendo em vista que ninguém lhe
problema incluem celecoxib (um anti-inflamatório), falou para interrompê-la ou que ela é igual à “nova”
fosfenitoina (um anticonvulsivo) e bromidrato medicação. É importante que quem emite a recei-
de citalopram (um antidepressivo), que podem ta e os farmacêuticos expliquem ao paciente que
causar confusão quando seus nomes comerciais alguns medicamentos podem ter dois nomes.
(Celebrex, Cerebryx e Celexa) são usados; assim
como efedrina e epinefrina. Rótulos ambíguos são Os médicos e outros emissores de receita deveriam
outra fonte de confusão. Diferentes preparações receitar as drogas pelo nome genérico. Os pacien-
ou dosagens de medicamentos similares podem tes devem ser encorajados a manter uma lista de
ter nomes ou embalagens parecidos. Por exemplo, seus medicamentos, incluindo o nome comercial e
fitonadiona 1mg e 10mg têm embalagens muito genérico de cada droga.
parecidas. Alguns medicamentos de liberação 27
prolongada podem se diferenciar dos de liberação Adaptar a receita para cada paciente
convencional por meio de um sufixo. Infelizmente, Antes de receitar uma medicação, sempre pare e se
existem muitos sufixos diferentes em uso para pergunte, “existe alguma coisa sobre este paciente
indicar propriedades similares, como liberação por que faz com que eu deva alterar a minha escolha
tempo, liberação controlada, liberação retardada usual de medicamento?”. Os fatores a serem consi-
ou liberação prolongada (exemplo: LA, XL, XR, CC, derados incluem alergias, gravidez, amamentação,
CD, ER, SA, CR, XT e SR). comorbidades, outros medicamentos que o pacien-
te esteja tomando e a altura e o peso do paciente.
Certos problemas relativos ao desenho dos
medicamentos induzem a erros de administração, Aprender e praticar a coleta de uma
28
incluindo rótulos que são pequenos demais para se- história farmacológica completa
rem lidos e dificuldades de leitura das informações O histórico de medicamentos deve ser preenchi-
de dosagem em frascos. A falta de instrumentos do tanto por profissionais de saúde que fazem
de medição (por exemplo, colheres para xaropes) prescrição quanto por farmacêuticos. Na hora de
constitui outro problema. coletar o histórico de medicamentos, as seguintes

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 246


diretrizes devem ser observadas: familiarizados com a farmacologia, as indicações, as
• incluir o nome, dose, via, frequência e duração de contraindicações, os efeitos colaterais, as precau-
cada droga que o paciente esteja tomando. ções especiais, as dosagens e os regimes recomen-
• perguntar sobre medicações que o paciente dados para essas medicações. Se precisar receitar
tenha tomado no passado recente. uma medicação que não conheça bem, leia sobre
• perguntar sobre medicamentos de venda livre, ela antes de receitá-la. Para isso, é necessário ter
suplementos alimentares e medicamentos com- material de referência facilmente disponível nas
plementares. instalações clínicas. É melhor para quem receita
• perguntar ao paciente se existe algum medica- conhecer poucas drogas bem do que muitas super-
mento que ele tenha sido aconselhado a tomar, ficialmente. Por exemplo, em vez de aprender sobre
mas que, na realidade, não toma. cinco anti-inflamatórios não esteróides diferentes,
• c ertificar-se de que o paciente na realidade toma quem receita pode conhecer apenas um em detalhe
o que está em sua lista. Ser particularmente cuida- e receitá-lo. No entanto, os farmacêuticos devem
doso com relação a isso durante as transições do estar familiarizados com muitos medicamentos.
cuidado. Praticar a reconciliação de medicamen-
tos na admissão e na alta do hospital, visto que Uso de auxílios de memória 31
existe um risco elevado de erros nesses momentos Talvez no passado fosse possível lembrar da
[7], devido a mal-entendidos, históricos de medi- maioria dos conhecimentos necessários a respeito
camentos inadequados e comunicação precária. dos principais medicamentos em uso. Entretanto,
• pesquisar todos os medicamentos com os quais com o crescimento rápido do número de medicamen-
não esteja familiarizado. Pode-se buscar fontes tos disponíveis e o aumento da complexidade das
de informação confiáveis, baseadas em evidên- receitas, contar somente com a memória não basta.
cias e/ou contatar outro profissional de saúde
Os alunos devem ser encorajados a pesquisar sempre
(por exemplo, farmacêuticos).
que acharem necessário. Devem se familiarizar com
• levar em consideração as interações droga-dro-
a seleção e o uso de auxílios de memória indepen-
ga e droga-alimentos, medicações que podem
dentes e baseados em evidências. Os alunos devem
ser interrompidas e medicamentos que podem
considerar o uso de auxílios de memória como um
causar efeitos colaterais.
indicador de uma prática segura e não como um sinal
• sempre incluir um histórico completo de alergias.
de conhecimento inadequado. Exemplos de auxílios
Quando estiver coletando um histórico de aler-
de memória incluem livros didáticos, livros de bolso
gias, lembrar que se o paciente tem uma alergia
de farmacopeia e tecnologias da informática, como
potencialmente séria e uma doença para a qual
pacotes de softwares para computadores (apoio
a equipe talvez queira receitar uma medicação;
à tomada de decisão/ dispensação) e assistentes
esta é uma situação de alto risco. Alertar o pa-
pessoais digitais. Um exemplo simples de auxilio de
ciente e alertar os outros integrantes da equipe.
memória é um cartão com todos os nomes e doses de
Saber quais medicamentos usados em sua medicamentos que podem ser necessários no caso
área são associados a riscos elevados de de um ataque cardíaco. Esse cartão pode ser deixado
29 no bolso de quem receita e utilizado no caso de uma
eventos adversos
Alguns medicamentos têm a reputação de causar emergência, quando não há tempo para consultar o
eventos adversos de drogas. Isso pode ocorrer livro didático ou computador para verificar a dosagem
devido a uma janela terapêutica estreita, uma da medicação. (Observe que os auxílios de memória
farmacodinâmica ou farmacocinética específica, ou também são chamados de auxílios cognitivos).
à complexidade da posologia e do monitoramento.
Lembrar dos 5 Cs quando estiver receitando
Exemplos desses medicamentos incluem insulina,
e administrando medicações
anticoagulantes orais, bloqueadores neuromuscu- 32
Em várias partes do mundo, programas
lares, digoxina, agentes quimioterápicos, potássio
de treinamento têm enfatizado a importância
e antibióticos aminoglicosídeos intravenosos.
da verificação dos 5 Cs antes da dispensação ou
Pode ser útil consultar um farmacêutico ou outro
administração de medicamentos. Os 5 Cs são: me-
membro da equipe pertinente nessa área para
dicamento correto, via correta, momento correto,
saber quais medicamentos tendem a estar mais fre-
dose correta e paciente correto. Essas diretrizes
quentemente implicados em eventos adversos de
são relevantes para todos os profissionais de saúde
medicação. (Os instrutores poderão querer alocar
que receitam e administram medicamentos. Dois
um tempo para o ensino sobre esses agentes).
pontos adicionais aos 5Cs são a documentação
Familiarize-se bem com os medicamentos correta e o direito de um membro da equipe ou um
30 cuidador questionar a receita de um medicamento.
que receita
Nunca receite uma medicação que não conheça
Comunicar-se com clareza 33
muito bem. Encoraje os alunos a pesquisarem
É importante lembrar que o uso seguro
sobre os medicamentos que provavelmente usarão
dos medicamentos é uma atividade de equipe e
com frequência em sua prática. Eles devem estar

247 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


que o paciente também é um membro da equipe. A mas computadorizados resolvem alguns problemas
comunicação clara e livre de ambiguidades ajudará (por exemplo, letra ilegível, confusão entre nomes
a minimizar as suposições que possam conduzir ao genéricos e comerciais, interação medicamentosa),
erro. Uma máxima útil para lembrar quando estiver mas também representam novos desafios. [8].
falando sobre medicamentos é afirmar o óbvio, já
que muitas vezes aquilo que é óbvio para o médico Algumas máximas úteis relativas à verificação:
ou farmacêutico pode não ser óbvio para o paciente • medicamentos sem rótulo devem ser descartados;
ou enfermeiro e vice-versa. • nunca administre um medicamento a menos que
você tenha 100% de certeza do que se trata.
Escrever à mão de forma inadequada pode levar a
erros de dispensação. Os profissionais de saúde de- Estimule os pacientes a se envolverem
36
vem escrever de forma clara e legível, incluindo seus ativamente em seus próprios cuidados e no
nomes e dados de contato. Farmacêuticos que não processo medicamentoso. Deve-se informar a seus
conseguem ler o que foi escrito devem contatar a pes- pacientes sobre seu(s) medicamento(s) e quais-
soa que assinou a receita para verificar os detalhes. quer danos associados. Comunique seus planos de
forma clara aos pacientes. Lembre-se de que eles e
Lembre-se que os 5Cs (conforme descrito acima) são seus familiares querem muito evitar problemas. Se
uma maneira útil de recordar pontos importantes forem informados sobre a importância do próprio
sobre a medicação, os quais precisam ser comunica- papel no processo de medicação, podem contribuir
dos. Por exemplo, em uma situação de emergência, de maneira significativa para melhorar a seguran-
um médico pode precisar dar uma ordem verbal para ça no uso do medicamento. A informação pode
administração de uma droga a um enfermeiro. “Por ser verbal e escrita e deve abranger os seguintes
favor, dê a este paciente 0,3ml de 1:1000 epinefrina aspectos:
tão logo seja possível” é muito melhor do que dizer, • nome genérico da droga;
“Rápido, pegue um pouco de adrenalina.” • o propósito e a ação do medicamento;
• a dose, a via e o cronograma de administração da
Outra estratégia de comunicação útil é fechar o círcu- medicação;
lo. Isso diminui a probabilidade de desentendimen- • instruções especiais, informações e precauções;
tos. Em nosso exemplo, o enfermeiro poderia fechar • efeitos colaterais comuns e interações;
o círculo dizendo, “Está certo, darei ao paciente • como os efeitos da medicação serão monitorados
0,3ml de 1:1000 de epinefrina tão logo seja possível.” (por exemplo, eficácia, efeitos colaterais, etc.)
Desenvolver hábitos de verificação 34 Incentive os pacientes a manterem o registro escrito
É útil desenvolver hábitos de verificação no das medicações que estiverem tomando e a detalha-
início da carreira. Para que isso aconteça, 35
rem quaisquer alergias ou problemas que tenham
esses hábitos precisam ser ensinados nos apresentado com medicações no passado. Essa lista
anos da graduação. Um exemplo desse hábito de deve ser apresentada sempre que estiverem
verificação é sempre ler o rótulo da ampola antes interagindo com um sistema de cuidados clínicos.
de preparar a medicação. Se a verificação se tornar
um hábito, é mais provável que isso ocorra mesmo Notificar e aprender com erros de
37
que o profissional não esteja pensando ativamente medicação
em ser vigilante. Descobrir mais sobre como e por que
erros de medicação ocorrem é fundamental para
A verificação deve ser uma parte importante da melhorar a segurança no uso da medicação. Cada
prescrição, distribuição e administração de drogas. vez que acontece um evento adverso ou near miss
Cada um é responsável por cada prescrição que relacionado com alguma droga, existe uma oportu-
emite e por cada droga dispensada ou administra- nidade de aprendizado e melhora nos cuidados. É
da. Verifique os 5 Cs e faça os testes de alergia. Os útil que os estudantes entendam a importância de
medicamentos e as situações de alto risco merecem falar abertamente sobre erros e se estejam cientes
vigilância extra com a verificação e uma dupla veri- de quais processos estão em vigor nos programas
ficação, por exemplo, quando se empregam drogas de treinamento ou nas instalações em que estive-
de emergência muito potentes no tratamento de rem trabalhando para maximizar o aprendizado
pacientes em estado crítico. Fazer a dupla verifi- com erros e o progresso em segurança no uso de
cação das ações dos colegas, assim como das suas medicamentos.
próprias, contribui para um trabalho de equipe efi-
caz e fornece uma garantia adicional. (Entretanto, A notificação de erros é facilitada quando há
é muito importante que cada um primeiro confira confiança e respeito entre profissionais de saúde.
seu próprio trabalho, pois delegar essa tarefa pode Por exemplo, é mais provável que farmacêuticos
induzir a erros). informem e expliquem um near miss se a pessoa
que prescreveu estiver aberta para escutar suas
Lembre-se de que as prescrições computadorizadas explicações.
não eliminam a necessidade de verificação. Siste-

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 248


Habilidades práticas e seguras para nal. Verifique os 5 Cs sempre que administrar um
38
estudantes medicamento.
Embora, em geral, não seja permitido que estu-
dantes prescrevam ou administrem medicações Envolver e instruir pacientes a respeito de suas
antes de estarem formados, eles podem começar medicações
a praticar e a se preparar para muitos aspectos do Busque oportunidades e maneiras de ajudar os
uso seguro da medicação. Espera-se que a lista de pacientes e seus cuidadores a minimizarem erros.
atividades a seguir seja desenvolvida em múltiplas Ouça atentamente o que eles têm a dizer.
fases ao longo da formação do aluno. Cada tarefa
Aprender e praticar cálculos de medicação
em si pode servir de base para uma sessão peda-
Esteja familiarizado com as formas de manipu-
gógica importante (palestra, oficina, tutorial). A
lar unidades e ajustar volumes, concentrações
apresentação detalhada desses tópicos está além
e doses. Pratique ajustes de cálculos com base
do escopo de uma sessão introdutória de segurança
em parâmetros clínicos. Em situações de um
no uso de medicação.
nível elevado de estresse e/ou alto risco, con-
Entender os perigos intrínsecos ao uso de medi- sidere maneiras de diminuir as chances de erro
camentos afetará a maneira como o profissional de cálculo, como, por exemplo, usar uma calcu-
realizará muitas tarefas em seu dia a dia. Seguem ladora, evitar cálculos mentais (use um lápis e
abaixo as instruções de como um profissional da papel), pedir a um colega que realize o mesmo
área clínica que está atento à segurança realizará as cálculo para ver se coincidem e usar alguma outra
diferentes tarefas. tecnologia disponível. Quando da dispensação de
medicamentos, é sempre importante verificar a
Prescrição dose calculada.
Considere os 5 Cs, conheça bem as drogas que
prescreve e adapte a decisão de tratamento a cada Reunir um histórico de medicamentos
paciente específico. Considere os fatores indivi- Sempre faça um histórico exaustivo de medica-
duais do paciente que podem afetar a escolha ou a mentos antes de prescrever e revise com frequên-
dose do medicamento, evite o uso desnecessário de cia a lista de medicações dos pacientes, sobretudo
medicação e considere a relação risco-benefício. dos que tomam múltiplas medicações. Interrompa
todos os medicamentos desnecessários. Sempre
Documentação considere o medicamento como uma possível
A documentação deve ser clara, legível e não am- causa de sintomas durante o processo de diagnós-
bígua. Aqueles que não escrevem de forma legível tico. Quando um(a) paciente não puder fornecer
devem usar letra de forma. Considere o uso de seu histórico de medicamentos (por exemplo, se
prescrição eletrônica, se possível. Inclua o nome do estiver inconsciente), esses registros podem estar
paciente, o nome da droga e a dose, a via, o horá- disponíveis com seu farmacêutico ou clínico geral.
rio e a frequência da administração como parte Em algumas situações, um histórico de medica-
da documentação. Também é importante incluir mentos pode ser reunido pelo farmacêutico antes
o contato do clínico que prescreve para facilitar a da consulta médica.
comunicação entre o farmacêutico e ele.
Detecção e redução de possíveis interações
Uso de lembretes e/ou contraindicações
Não espere muito para buscar informação, saiba
como selecionar processos auxiliares de memória Reunindo um histórico de alergia
e empregue soluções tecnológicas eficazes, se Sempre pergunte sobre alergias antes de pres-
possível. crever qualquer medicação. Caso um paciente
tenha uma alergia séria a algum medicamento,
Trabalho em equipe e comunicação acerca do uso pare e pense se esse paciente corre o risco de
de medicamentos ter essa medicação prescrita. Por exemplo, caso
Lembre-se de que o uso de medicamento é uma um médico de família envie um paciente ao hos-
atividade em equipe. Comunique-se com outras pital com suspeita de apendicite e o paciente
pessoas envolvidas no processo e certifique-se de tenha uma alergia séria a penicilina, é possível
que não estejam partindo de premissas falsas. Esteja que, em algum momento, dentro do hospital,
atento a possíveis erros e incentive o resto da equi- seja administrada penicilina ao paciente. Nessa
pe a ser vigilante em suas ações e nas dos outros. situação, é importante enfatizar a alergia ao co-
municar-se com a equipe do hospital; advertir o
Administração de medicamentos
paciente de que é comum o uso de antibióticos
Esteja familiarizado com os danos e precauções de
a base de penicilina no tratamento de apendici-
segurança associados à administração de medi-
te; alertar o paciente para o uso de medicações
cação por diferentes vias – oral, sublingual, bucal,
que lhe forem dadas; e reclamar se alguém
inalação, nebulização, transdérmica, subcutânea,
tentar lhe dar penicilina. Deve-se também men-
intramuscular, intravenosa, intratecal, retal e vagi-

249 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


cionar o risco de alergias cruzadas. Além disso, nos grupos liderado por um professor. Pode ser
é importante que os profissionais de saúde facilmente ajustada para ser mais ou menos
perguntem sobre alergias antes de administrar interativa e pode ser adaptada ao âmbito clínico
medicamentos. local, por meio da inclusão de exemplos, ques-
tões e sistemas locais. Uma série de perguntas
Monitorar paciente para efeitos colaterais são intercaladas ao longo da apresentação para
Esteja familiarizado com os efeitos colaterais dos incentivar os alunos a se envolverem de maneira
medicamentos que você prescreve/dispensa/ ad- ativa no tópico, assim como também pequenos
ministra e seja proativo aos estudá-los. Instrua os casos com perguntas e respostas que podem ser
pacientes a respeito dos efeitos colaterais: como integrados à palestra ou fornecidos aos alunos
reconhecê-los e quais as ações apropriadas caso como um exercício separado.
eles ocorram. Sempre considere os efeitos colate-
rais do medicamento como parte do diagnóstico Abaixo estão listados alguns outros métodos pe-
diferencial ao avaliar pacientes com problemas dagógicos e ideias a serem consideradas no ensino
clínicos de origem desconhecida. sobre uso seguro de medicamento.
Aprender com erros de medicação e near-misses Aprendizagem baseada em problemas
Aprenda com erros por meio da investigação e Use casos que levantem questões relevantes ao
solução de problemas. Se um erro pode acontecer uso seguro de medicamentos. Pode pedir-se aos
uma vez, ele pode acontecer de novo. Considere estudantes que respondam à perguntas reflexivas
estratégias para prevenir a recorrência de erros depois de lerem um caso. Como alternativa, os alu-
tanto no plano individual como no plano organiza- nos podem trabalhar com problemas que envolvem
cional. Esteja familiarizado com as formas de no- o cálculo de medicações.
tificar erros, reações adversas e eventos adversos
envolvendo medicamentos. Farmacêuticos podem Atividades adicionais de ensino e aprendizagem
considerar a realização de reuniões multidiscipli- – Oficinas práticas
nares para debater os erros comuns e identificar Alunos podem praticar suas habilidades sob
métodos/procedimentos para evitar esses erros pressão de tempo, dramatizando situações de
(por exemplo, excluir do formulário hospitalar as emergência. Sugestão para tópicos de oficinas
medicações com nomes similares). incluem administração, prescrição e cálculo de
39 medicamentos.
Resumo
Medicamentos podem gerar grandes melhorias na – Projetos de trabalho
saúde quando são empregados de maneira correta Possíveis projetos incluem a realização de um ou
e com conhecimento. No entanto, os erros de me- todos os seguintes:
dicações são comuns e causam sofrimento e custos • entrevistar farmacêuticos para descobrir quais
financeiros que podem ser evitados. Lembre-se de são os erros mais comuns;
que o uso de medicamentos para ajudar os pacien- • acompanhar um enfermeiro em uma ronda de
tes não é uma atividade isenta de risco. Conheça medicação;
suas responsabilidades e trabalhe muito para fazer • entrevistar enfermeiros e médicos que admi-
do uso de medicação uma prática segura para seus nistrem muitos medicamentos (por exemplo,
pacientes. anestesistas) e perguntar para eles sobre suas
experiências e conhecimento sobre erros de
Formatos e estratégias de ensino 40 medicamentos e quais estratégias usaram para
São várias as maneiras de se ensinar aos minimizar a chance de erros.
estudantes sobre segurança medicamen- 41
• pesquisar um medicamento conhecido por ser
tosa, e uma combinação de abordagens é causa comum de eventos adversos e comparti-
42
provavelmente mais eficaz. lhar suas descobertas com os colegas;
• preparar um formulário pessoal de medica-
As opções são: palestras interativas, debates em
mentos com maior probabilidade de serem
pequenos grupos, aprendizagem baseada em pro-
prescritos nos primeiros anos de sua carreira
blemas, workshops, tutoriais, projetos que incluam
profissional;
tarefas em torno do ambiente clínico e à beira do
• realizar uma história farmacológica detalhada
leito, pacotes de ensino on-line, leituras e análises
de um paciente que tome múltiplas medicações.
de casos.
Deve-se investigar sobre cada um dos medica-
Apresentação de mentos e, em seguida, considerar os potenciais
palestra e/ou debate em grupo efeitos colaterais, a interação medicamentosa e
A apresentação de Power Point incluída nes- se há alguma medicação que possa ser inter-
te pacote é desenvolvida para uso como uma rompida. Discutir suas ideias com um farmacêu-
palestra introdutória interativa em segurança de tico ou médico e compartilhar com os colegas o
medicamentos ou como um debate em peque- que tiver aprendido;

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 250


• verificar o que se entende pelo termo reconcilia- o filho do paciente ficaria irritado e relutante em
ção medicamentosa e falar com a equipe do hos- aceitar quaisquer explicações adicionais.
pital para verificar se isso se aplica ao estabele-
cimento local. Observar e, se possível, participar Um médico que estava passando por perto
do processo de internação e alta de um paciente escutou a conversa. O médico entrará no quarto
e considerar como o processo pode evitar erros se o ator chamar por ele. Se o ator não o cha-
e também se há alguma interrupção ou problema mar, o médico entrará no quarto após cerca de 8
no processo. minutos (trata-se de uma situação hipotética de
12 minutos). O médico entra no quarto e per-
Exercícios de interpretação de papéis gunta sobre o evento que está sendo discutido.
O exercício de interpretação de papéis é uma outra A enfermeira relata o que ocorreu pela manhã e
ferramenta pedagógica para ensinar segurança de sua conversa com o filho do paciente (quer seja
medicamento aos alunos. em sua presença ou não, dependendo do médico
e da enfermeira).
Cenário I: Erro na administração de medicação
Descrição do personagem
Descrição do evento O filho, 45 anos, é um advogado bem vestido. Ele
Durante as primeiras horas do turno da manhã, a visita o pai sempre que pode. Está interessado em
enfermeira administrou 100 unidades de insulina todos os eventos relativos ao pai, mas tem dificul-
regular subcutânea, em vez de 10 unidades como dade em aceitar o novo estado de saúde dele. Ele
estava escrito no pedido médico. A origem do erro se sente confuso, ignorado e um pouco triste. Ele
estava na letra ilegível do médico. realmente quer ajudar, mas não sabe como. Uma
conversa com o assistente social revela que nunca
O paciente, que sofria de demência, não cooperava tivera necessidade de cuidar do seu pai antes,
e parecia estar dormindo. Durante a verificação de mas, desde que sua mãe caíra e quebrara a perna
rotina da enfermeira, ela descobriu que o paciente e a situação de seu pai começara a se deteriorar,
estava completamente inconsciente. O exame de a tarefa de cuidar deles caiu somente sobre seus
sangue confirmou que o paciente estava em choque ombros.
hipoglicêmico. Chamaram o médico de plantão e o
erro foi descoberto. Conselhos para o ator
O ator deve queixar-se para o chefe da equipe mé-
O paciente foi tratado com uma infusão de glicose dica de que houve encobrimento e omissão de fatos
50% intravenosa. Um carro de parada cardíaca foi e ameaçar com uma publicidade negativa (indo a
levado para o quarto do paciente, para ficar pron- um jornal) (isto é, “Você quase o matou! Vocês têm
tamente disponível, se necessário. O paciente se sorte de não tê-lo matado!”).
recuperou em poucos minutos, se levantou e voltou
a agir normalmente. Cenário II: Morte causada por erro médico

Dramatização Descrição do evento


Mais tarde, naquela manhã, o filho do paciente, um Sarah, 42 anos, foi internada para extrair um tumor
advogado, foi visitar o pai. Parecendo agitado, ele duodenal maligno localizado, não metastático.
se dirigiu à enfermeira e perguntou: “O que aconte-
ceu com o meu pai? ” O colega de quarto de seu pai Com exceção desse problema, Sarah estava com
relatou o ocorrido, comentando que tinham muitas saúde e não havia histórico de antecedentes de
pessoas em torno do leito do seu pai no início da malignidade em sua família. Ela tinha consentido
manhã. A enfermeira que administrara a insulina foi a cirurgia e qualquer outro tratamento poste-
chamada para conversar com o filho do paciente. riormente necessário com base nos resultados
patológicos.
Se a enfermeira explicasse a cadeia de eventos,
assumindo a responsabilidade e admitindo o erro, Na manhã da cirurgia, a paciente se despediu do
o filho do paciente não ficaria tranquilo e respon- marido e dos dois filhos (de 13 e 8 anos). Foi feita a
deria: “É esse o nível de cuidado que meu pai tem ressecção total de uma pequena massa localizada.
recebido?”, “Que tipo de enfermeira trabalha nessa A massa foi enviada para diagnóstico patológico.
enfermaria?”, “Isso não vai ficar assim. Vou tomar Passadas duas horas de cirurgia, a paciente mos-
providências!”; trou sinais de redução na saturação, taquicardia
e hipotensão. A paciente recebeu fluidos intrave-
“Quero falar com o médico responsável imediata- nosos, enquanto o cirurgião voltou a verificar o
mente!”; “Exijo ver o relatório desse incidente!”. Se local da ressecção para verificar se havia sinal de
a enfermeira não explicasse o erro com detalhes, hemorragia, laceração ou embolia. Uma vez que

251 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


não encontrou nada, o cirurgião suturou o local de Cenário III: Comunicação entre paciente e profis-
acordo com o protocolo. sional de saúde

Após regressar à enfermaria, a paciente rapida- Descrição do evento


mente desenvolveu febre alta, que se manteve por Kirk, 54 anos, foi internado com uma queixa de dor
uma semana. A prescrição de antibióticos foi: transitória no peito. Ele já tinha sido hospitalizado
em uma UTI devido a um evento coronário agudo.
Gentamicina IV 80 MGR x 3 P/D
Desta vez, os resultados de testes preliminares não
A enfermeira transcreveu o seguinte pedido: foram conclusivos, e sua dor não era grave. O médi-
Gentamicina IV 80 MGR x 3 P/DOSE co pediu repouso completo e um monitoramento
cardíaco contínuo por 48 horas. Kirk fuma muito
A enfermeira que copiou o pedido interpretou e está acima do peso. Ele não estava tomando as
errado a letra “D” como se fosse “dose”, enquanto medicações prescritas para a pressão e o coleste-
o médico que escreveu o pedido na verdade quis rol altos.
dizer “dia”. Durante os 10 dias seguintes, a paciente
recebeu 240 mg de gentamicina, três vezes ao dia. O paciente exige que seja liberado imediata-
mente. Ele tem medo que a hospitalização possa
Durante esse período, a paciente começou a causar a perda de seu emprego em uma fábrica de
mostrar sinais de insuficiência renal e deficiência automóveis.
auditiva. No décimo dia de tratamento, enquanto o
chefe da enfermagem estava verificando o estoque Sua raiva é dirigida à enfermeira-chefe do turno
das drogas administradas, o erro foi descoberto. O da noite. Ele alega que lhe prometeram que ele
tratamento foi interrompido, mas o estado geral da teria alta e que não havia necessidade de ele ser
paciente se deteriorou devido a uma insuficiência monitorado ou ficar de repouso absoluto. Ele não
renal aguda. Dez dias depois, a paciente morreu por quer cooperar e já tinha convencido um outro
falência múltipla dos órgãos. enfermeiro a deixá-lo sair da enfermaria por um
breve intervalo de tempo. Agora ele pede para sair
A família da paciente criticou a equipe de enfer- da enfermaria novamente e se recusa a ficar no
magem durante sua hospitalização, acusando-os quarto. Quer fumar e quer ter alta. Está com raiva e
de imperícia. Os familiares expressaram sua gritando no posto de enfermagem.
indignação ao chefe da enfermagem e ao chefe do
setor. Supondo que a enfermeira-chefe insista que ele
permaneça na enfermaria, o paciente a acusa de ser
Depois que a paciente morreu, seu marido pediu insensível e dirá que o outro enfermeiro foi mais
para falar com o chefe da enfermagem. Ele culpou amável e compreensivo e mostrou mais empatia.
os enfermeiros pelo erro e pela imperícia que
culminaram na morte de sua esposa. Alegou ter O médico de plantão está próximo, mas não
descoberto qual enfermeira havia copiado o pedido intervém e continua tratando dos outros pacien-
e ameaçou processá-la. tes (alguns dos quais estão próximos ao posto de
enfermagem onde o evento está ocorrendo).
Descrição do personagem
O marido da paciente é um homem trabalhador, Descrição do personagem
que trabalha em uma loja. Ele tem dificuldade de Kirk está acima do peso e é um fumante inveterado.
sustentar a família e luta para pagar as contas. Está Ele gosta de chamar a atenção gritando. Teme não
revoltado e agitado e ainda não consegue aceitar estar apto para trabalhar tanto quanto está acos-
o diagnóstico de câncer de sua mulher. Ele está tumado e ser demitido. Ele tem muito medo de ser
indignado com todo mundo e especialmente com a submetido a uma cirurgia, pois seu melhor amigo
equipe de enfermagem, depois que sua mulher lhe morreu em uma mesa de cirurgia dois anos atrás no
contou que recebeu “muitos antibióticos porque a mesmo hospital.
enfermeira não sabia calcular”. Queria saber o que
matou sua esposa, de quem era a culpa e quem iria
Fonte: Esses cenários foram fornecidos por Amitai
pagar pelo erro. Quer envolver a direção do hos-
Ziv, The Israel Center for Medical Simulation, She-
pital e quer ajuda para seus filhos. Ele está muito
ba Medical Center, Tel Hashomer, Israel.
nervoso e gritando muito.

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 252


Estudos de caso Não houve nenhuma comunicação entre o médico e
o enfermeiro nesse momento.
Um erro de prescrição 43
Este estudo de caso ilustra a importância de se O médico administrou todo os 10 ml de adrenalina,
coletar uma história farmacológica completa e 44 (epinefrina) pelo acesso intravenoso pensando es-
precisa. tar usando a solução fisiológica para limpar a sonda.
45 De repente, a paciente começou a ficar agitada e
Um homem de 74 anos consultou um
médico do posto de saúde para tratamen- ansiosa. Ela teve taquicardia e, em seguida, ficou
46
to de uma recaída de angina estável. O inconsciente e sem pulso. Descobriu-se que estava
médico não vira este paciente antes e anotou a sua tendo uma taquicardia ventricular, foi ressuscitada
anamnese e história farmacológica. Constatou que e, felizmente, teve uma boa reação. A dose reco-
o paciente estava em bom estado de saúde e que mendada de adrenalina (epinefrina) para os casos
tomava somente remédios para dores de cabeça. O de anafilaxia é de 0.3-0.5 mg por via intramuscular.
paciente não conseguiu lembrar o nome do remé- Essa mulher recebeu 1mg por via intravenosa.
dio para dor de cabeça. O médico deduziu que fosse
Perguntas
um analgésico que o paciente tomava sempre que
– Que fatores estão associados a este evento
tinha dor de cabeça. No entanto, o medicamento
adverso?
era, na verdade, um betabloqueador que o paciente
tomava todo dia para enxaqueca. Um outro médico – Descreva como a equipe poderia ter trabalhado
havia prescrito essa medicação. O médico iniciou o melhor.
tratamento com aspirina e um outro betabloquea-
dor para a angina. Depois de começar a usar a nova
medicação, o paciente desenvolveu bradicardia e Fonte: WHO Patient Safety Curriculum Guide for
hipotensão postural. Infelizmente, ele sofreu uma Medical Schools. Geneva, World Health Organiza-
queda três dias depois devido à tontura que sentia tion, 2009:242-243.
ao ficar em pé e fraturou o quadril.
Erro de monitoramento 51
Perguntas Este estudo de caso ilustra a importância
– Com que frequência os erros de medicamentos da comunicação com o paciente sobre suas 52
costumam acontecer? medicações. Os pacientes sempre devem ser
53
avisados sobre o tempo que devem tomar
– Como se pode evitar que esses erros aconteçam? suas prescrições. Este estudo de caso também 54
– Os pacientes podem fazer algo na prevenção dos ilustra a importância de coletar históricos de
medicamentos precisos e exaustivos para que 55
erros?
sejam evitados resultados negativos.

Fonte: WHO Patient Safety Curriculum Guide for Um paciente deu início ao uso de um anticoagu-
Medical Schools. Geneva, World Health Organiza- lante oral em um hospital para tratamento de uma
tion, 2009:242-243. trombose venosa profunda, seguida de uma fratura
no tornozelo. A duração do tratamento planejado
Um erro de administração era de três a seis meses. Entretanto, nem o paciente
47
Este caso ilustra a importância da verificação e nem o médico tiveram essa informação. O pacien-
dos procedimentos quando se administram 48 te continuou tomando essa medicação por vários
drogas, assim como a importância da boa anos e estava se expondo desnecessariamente a um
49 risco maior de sangramento associado à medicação.
comunicação entre os integrantes da equipe.
Ele demonstra também a importância de se Depois de um tempo, prescreveram ao paciente an-
50
manterem todos os materiais em recipientes tibióticos para uma infecção dental. Nove dias após
corretamente rotulados. ele ter começado a tomar o antibiótico, o paciente
começou a se sentir mal com dores nas costas e
Uma mulher de 38 anos procurou um hospital por hipotensão, como consequência de uma hemor-
causa de vermelhidão facial com edema e prurido ragia retroperitoneal espontânea e precisou de
que aparecera fazia 20 minutos. Ela tinha um his- hospitalização e transfusão de sangue. O teste de
tórico de reações alérgicas graves. Um enfermeiro coagulação sanguínea revelou resultados extrema-
preparou 10 ml de 1:10.000 de adrenalina (epine- mente elevados. O antibiótico havia potencializado
frina) em uma seringa de 10 ml (1 mg no total) e o efeito terapêutico do anticoagulante.
deixou na mesa ao lado do leito pronta para uso,
caso o médico pedisse. Entretanto, o médico inseriu Perguntas
um acesso intravenoso. Ele viu a seringa de 10 ml – Quais são os principais fatores associados com
de um fluido claro que o enfermeiro tinha prepara- eventos adversos?
do e deduziu que fosse solução fisiológica.

253 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


– Como o evento adverso poderia ter sido evitado? A comunicação é essencial entre profissionais de
saúde e pacientes.
Neste caso, um farmacêutico, ao perceber que a
Fonte: WHO Patient Safety Curriculum Guide for paciente não entende como os medicamentos intera-
Medical Schools. Geneva, World Health Organiza- gem, decide dedicar um tempo para explicar-lhe cada
tion, 2009:242-243. medicação que ela tomava e seu uso apropriado.

Erros de prescrição levam a efeitos adversos Mary tem 81 anos e uma dor forte crônica
Neste caso, um dentista subestimou o estado sistêmico nas costas; tem também osteoporose, doença
imunodeficiente de um paciente e, assim, não tomou as coronária e depressão, esta causada por sua dor
medidas apropriadas para prevenir efeitos adversos de constante e falta de confiança nos medicamentos
antibióticos sistêmicos. prescritos para ela. Suas medicações incluem
prescrições do seu neurologista, endocrinologis-
Um homem soropositivo de 42 anos foi ao dentista ta, dois clínicos gerais e um reumatologista. Ela
para um tratamento de canal, periodontite e extra- tem um total de 18 drogas diferentes prescritas.
ção de um dente devido a uma cárie grave. A maioria das medicações é para a dor. Por causa
da frequência com que toma medicamentos
Depois de anotar o histórico médico e odontológico
(AINEs) para dor, ela sofre de gastrite (inflamação
do paciente, o dentista concluiu que seu estado era
das paredes do estômago). Isso faz com que ela
estável e prescreveu um tratamento com antibióti-
desconfie muito dos analgésicos que toma ocasio-
cos profiláticos antes de realizar qualquer trata-
nalmente. Mary foi a várias farmácias em busca
mento odontológico. Na segunda visita, durante o
de diferentes remédios para dor (paracetamol,
exame intraoral, o dentista percebeu que o pacien-
ibuprofeno etc.).
te havia desenvolvido lesões orais semelhantes a
infecção fúngica (Candida). Mary está preocupada com os remédios para dor
por causa de sua intoxicação gástrica; algumas
Quando considerou a condição sistêmica do
vezes ela usa todos eles juntos com os medica-
paciente, percebeu que não havia focado no risco
mentos que não precisam de receita médica (OTC
de infecções fúngicas nas pessoas com HIV/AIDS
- do inglês over-the-counter). Apesar disso, Mary
quando elas tomam antibióticos sistêmicos e tinha
não sente nenhuma melhora. Mary tem medo das
esquecido de prescrever a droga antifúngica ade-
reações adversas da droga tramadol e não a usa
quada junto com os antibióticos para prevenir as
com regularidade. Para aliviar as dores fortes,
lesões. Ele notou também que havia considerado a
usa paracetamol, mas o remédio para dor tem
condição sistêmica do paciente estável sem consul-
pouco efeito. Da mesma forma, ela não vê me-
tar o seu médico.
lhora com o antidepressivo citalopram, mesmo
Logo, subestimou o estado de imunodeficiência do depois de uma semana de uso regular; logo, ela
paciente. Ele encaminhou o paciente ao seu médico usa a medicação de vez em quando. No Quadro
para tratamento das lesões fúngicas orais e o pa- B.11.1 estão listados todos os medicamentos que
ciente recebeu o tratamento necessário. O trata- Mary toma.
mento odontológico do paciente foi adiado até que
Um farmacêutico, ao perceber que Mary não en-
o estado de saúde sistêmico e oral fosse adequado.
tendia como suas medicações interagem, dedicou
Perguntas algum tempo a ela para explicar-lhe cada medica-
– Quais fatores colaboraram para que o plano de mento e seu uso adequado. Falou sobre a combina-
tratamento inicial do dentista se desenvolvesse ção imprópria de AINEs e, em especial:
de forma isolada com relação ao médico que o • o uso apropriado de metamizol com altas doses
tratava? de paracetamol se ela não tiver problemas no
fígado;
– Quais fatores levaram o dentista a subestimar o • planos para avaliar os efeitos de citalopram um
estado de imunodeficiência do paciente? mês depois de iniciar o tratamento;
• a importância de informar aos médicos sobre
– Quais fatores impediram o dentista de prescrever suas medicações e seu histórico clínico;
uma droga antifúngica com antibióticos sistêmi- • a necessidade de se avaliar a interação da
cos para este paciente soropositivo? droga para minimizar seus riscos de reações
adversas;
Fonte: Caso fornecido por Nermin Yamalik, Profes- • a necessidade de revisar as contraindicações e
sor, Department of Periodontology, Dental Faculty, uso das drogas OTC de forma apropriada.
Hacettepe University, Ankara, Turkey.

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 254


Quadro B.11.1 Lista dos medicamentos da paciente

Neurologista: Clínicos Gerais:


Gabapentina citalopram
Tramadol + paracetamol (para aliviar a dor) bromazepam (para fobia)
ácido tiaprofênico (para aliviar a dor) nimesulida (para aliviar a dor)
tramadol (para aliviar a dor)
Drogas OTC com paracetamol (para aliviar a dor) metamizol (para aliviar a dor)
metoprolol
Endocrinologista:
indobufeno
levotiroxina
omeprazol
colecalciferol+ Ca+Zn+Mn colecalciferol
Reumatologista:
Meloxicam (para aliviar a dor)
atorvastatina
ranelato de estrôncio
diclofenaco (para aliviar a dor)

Na segunda visita ao farmacêutico, Mary estava Ferramentas e material de referência


satisfeita com a gestão de sua dor.
Soluções de segurança para o paciente da OMS
Perguntas Estes são resumos que detalham soluções para
– Quais erros de comunicação podem ter ocorrido problemas de segurança do paciente. Alguns deles
que resultaram em um mau uso de medicações tratam de problemas de medicação.
por Mary? Solução 1 - Medicamentos de aspecto e nomes
parecidos (look-alike, sound-alike)
– Quais são os problemas associados ao comparti-
Solução 5 - Controle das soluções concentradas de
lhamento inadequado e incompleto de informa-
eletrólitos .
ção entre profissionais de saúde?
Solução 6 - Assegurar a precisão da medicação nas
– Todos os pacientes devem ser instruídos sobre transições de cuidados.
suas medicações? Solução 7 - Evitar erro de conexão de cateteres e
tubos.
– Quais mecanismos podem ser implementados Solução 8 - Usar apenas uma vez os dispositivos de
para garantir que cada profissional de saúde que injeção.
trata pacientes tenha conhecimento das medica- Estes documentos estão disponíveis na internet
ções prescritas para eles e tomadas por eles? (http://www.who.int/patientsafety/solutions/en/;
acesso em 21 de fevereiro de 2011).
– Qual é a responsabilidade do profissional de
saúde que prescreve ou fornece medicação aos Outras referências na internet
pacientes? The Agency for Healthcare Research and Quality
(United States of Health and Human Services -
– Qual é a responsabilidade dos farmacêuticos ao
Rockville, MD) mantém um arquivo on-line de casos
aconselharem o uso de drogas OTC? Como devia
que pode ser usado como fonte de estudo de caso
ser o algoritmo para maximizar o efeito benéfico
que pode ser útil no ensino (http://www.webmm.
das drogas OTC e minimizar os riscos potenciais?
ahrq.gov). Outras referências on-line úteis incluem
os sites mantidos pelo Institute for Safe Medication
Fonte: Jiri Vlcek, Professor of Clinical Pharmacy Practices (Horsham, PA) (http://www.ismp.org) e o
and Pharmaceutical care. Clinical fharmacists on National Patient Safety Agency (http://www.npsa.
internal department in teaching hospital in Hra- nhs.uk).
dec Kralove Charles University, Prague, Faculty
DVDs educativos
of Pharmacy, Department of Social & Clinical
Documentário Beyond Blame (Para além da cul-
Pharmacy .
pa). Este DVD tem 10 minutos de duração e é uma
forma eficaz de envolver os alunos nas questões
de uso seguro de medicamento. Trata-se de um

255 Parte B  Tópico 11. Melhorar a segurança no uso de medicação


médico, um enfermeiro e um farmacêutico que Avaliação do ensino deste tópico
falam sobre graves erros de medicamentos nos A avaliação é importante para se verificar como
quais se envolveram. Este DVD está disponível uma sessão de ensino ocorreu e que melhorias
para compra no Institute for Safe Medication podem ser implementadas. Veja o Guia do Profes-
Practices (http://www.ismp.org; acesso em 21 de sor (Parte A) para ler um resumo de princípios de
fevereiro de 2011). avaliação importantes.

O workshop da OMS Learning from Error inclui uma Referências


representação em DVD de um erro de administra- 1. The conceptual framework for the international
ção de medicamento vincristina intratecal. O DVD classification for patient safety. Geneva, World
ilustra a natureza multifatorial do erro. Health Organization Patient Safety Program-
me, 2009 (http://www.who.int/patientsafety/
Livros en/; acesso em 21 de fevereiro de 2011).
Vicent K. The human factor (O fator humano) Lon-
don, Routledge, 2004:195-229. 2. Cousins DD. Developing a uniform reporting
system for preventable adverse drug events.
Cooper N, Forrest K. Cramp P. Essential guide to Clin Therap, 1998; 20 (suppl C):C45-C59.
generic skills. (Guia essencial das habilidades gerais)
3. Institute of Medicine Preventing medication
Oxford, Blackwell Publishing Ltd, 2008.
errors. Report brief Washington, DC, National
Institute of Medicine. Preventing medication Academies Press, 2006.
errors: quality chasm series Washington, DC, Na- 4. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS, eds.
tional Academies Press, 2006 (http://www.iom. To err is human: building a safer health system.
edu/?d=35961; acesso em 21 de fevereiro de Washington, DC, Committee on Quality of
2011). Health Care in America, Institute of Medicine,
National Academies Press, 1999.
Avaliação do conhecimento deste tópico
Há uma variedade de métodos de avaliação que 5. Runciman WB, et al. Adverse drug events and
pode ser usada para avaliar o conhecimento de medication errors in Australia. International
segurança e desempenho de medicação nesta área, Journal for Quality in Health Care, 2003, 15 (Su-
incluindo: ppl. 1):S49-S59.
• MCQ
6. Nair RP, Kappil D, Woods TM.10 strategies for
• testes de cálculo de drogas;
minimizing dispensing errors. Pharmacy Times,
• perguntas de respostas breves;
20 Janeiro de 2010 (http://www.pharmacyti-
• reflexão, por escrito, de um estudo de caso en-
mes.com/issue/pharmacy/2010/January2010/
volvendo um erro de medicação, a identificação
P2PDispensingErrors-0110; acesso em 21 de
dos fatores coadjuvantes e a consideração de
fevereiro de 2011).
estratégias para evitar sua recorrência;
• um projeto associado a uma reflexão sobre os 7. Vira T, Colquhoun M, Etchells E. Reconcilable
resultados da aprendizagem da atividade; differences: correcting medication errors at
• uma estação de OSCE. hospital admission and discharge. Quality &
Safety in Health Care, 2006, 15:122-126.
Uma estação de OSCE pode incluir exercícios de
prescrição/ dispensação/administração. Estas esta- 8. Koppel R, Metlay JP, Cohen A. Role of compute-
ções podem ser usadas para: avaliar as habilidades rized physician order entry systems in facilita-
dos alunos em coletar um histórico de medicamen- ting medication errors. Journal of the American
tos e de alergia, administrar uma medicação; checar Medical Association, 2005, 293:1197-1203.
os 5Cs e alergias; e instruir o paciente sobre novos
medicamentos. Slides para o Tópico 11: Melhorar a segurança
no uso de medicação
Observe que vários desses tópicos de verificação Palestras didáticas não costumam ser a melhor
potenciais não estão cobertos em detalhes nesta forma de ensinar segurança do paciente Se uma
apresentação de PowerPoint que acompanha o palestra for considerada, é uma boa ideia planejar
material. São incluídos aqui como uma ideia de ava- a interação e debate dos estudantes durante a
liação na área de uso seguro de medicação, supon- palestra. Usar um estudo de caso é uma maneira
do que os estudantes tenham recebido instrução de gerar um debate do grupo. Uma outra maneira
adicional nestes aspectos específicos de uso seguro é perguntar aos alunos quais são os diferentes
de medicação. aspectos de cuidados clínicos que trarão questões
contidas neste tópico, tais como a cultura da culpa,
a natureza do erro e como os erros são gerenciados
em outras atividades.

OMS  Guia Curricular de Segurança do Paciente: Edição Multiprofissional 256

Potrebbero piacerti anche