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Cadernos SFD, texto 43

Saint-Martin, a geometria e os números

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É evidente a referência a geometria e aos geômetras nas obras do Filósofo
Desconhecido. Ele parece tão entusiasmado com sua metodologia e a natureza de seu
assunto, que avança pelo invisível, quanto estava Platão no século IV antes de Cristo.
Ele está nela apoiado em dos Erros e da Verdade. Alude a ela desde o início de
Tableau Naturel e se detém no modo próprio de proceder desta ciência, que sempre
parte de seus axiomas, para deduzirem delas sempre verdades análogas. A maneira de
pensar própria a geometria que se serve de “número”, em sua acepção qualitativa, ou
seja, como análogo às formas geométricas: 1 = ponto, 2 = a reta, 3 = ao triângulo
(primeira figura), 4 = primeiro número quadrado ou quaternário. Além disso, ao número
quatro se soma uma nova significação: sendo o fim do primeiro ciclo, demonstra a
primeira manifestação completa no espaço geométrico e no tempo, compreendido a
partir dos movimentos físicos aplicados a produção, a geração e aos efeitos de uma
ação.
Em Ecce Homo, é esse ainda o seu ponto de partida contra todas as ciências
enciclopédicas de seu tempo.
Em dos Erros e da Verdade (VI), discutindo as matemáticas, Saint-Martin chega
a uma compreensão surpreendente: ele se dá conta da descontinuidade entre o
paradigma geométrico antigo com o qual o grego pensava as ciências e a as artes a
exemplo da astronomia e da arquitetura e a sua recepção, apropriação e emprego pela
ciência moderna nascente. O primeiro emprego da geometria era exatamente o de
medida da terra, e em seguida, passa a se ocupar da figura e da dimensão dos corpos
físicos em geral, de sua magnitude e distância e das leis que os regem, cuja
representação, varia como o círculo e a elipse.
É eminentemente moderno o hábito da contagem. Os gregos não se serviam de
uma aritmética, mas apenas da linguagem e desconheciam os algarismos que vieram a
formalizar a ideia de número em um sistema de notação distinta do alfabético.
Os modernos simplesmente romperam com esta visão de mundo e, a este, se
seguiu o modelo de cálculo ou cômputo aritmético da extensão dos corpos
materialmente dispostos, experiência que orienta a ciência e a geometria dos modernos.
Aí, no cerne da questão, o Filósofo Desconhecido chega à conclusão de que
somente o paradigma geométrico é capaz de compreender o movimento propriamente. E
mais, somente ele permite perceber a relação entre a causa e aquilo que ela explica, e a
transmissão de uma potência qualitativamente discernível que se opera entre aquele (ou
aquilo) que doa movimento e aquilo que o recebe, o mantém e o dinamiza em nova
atividade vital e cognitiva, ou puramente física e mecânica. O que não é apropriado é
aplicar uma compreensão mecânica do movimento àquilo que é causa do fenômeno:
para essa verdade estão cegos os modernos físicos segundo Saint-Martin.
Para iniciar nossa reflexão sobre os números, levemo-los em consideração o
ponto de partida crítico aos pensadores de sua época, aos fins do séc. XVIII, e o ponto
de chegada, resultante de sua tomada de posição, a apropriação do caráter qualitativo do
número, tanto como propriedade ou significação própria, como enquanto símbolo de
algo mais, pois se trata da pedra chave para a exposição sintética de seu pensamento.
Saint-Martin faz referência a um livro misterioso, muito disputado, que esteve
presente em sua unidade a visão do ser humano, mas que hoje só se deixa ler com
grande esforço e parcialmente. Ignoram os pensadores de seu tempo o todo do Livro
mais importante, ou se apegam a uma, ou substituem uma pela outra, alguma das dez
páginas dessa obra que a tudo contém. Para o Filósofo Desconhecido, aos fins da quarta
parte de dos Erros e da Verdade1, cada folha do Livro de Dez Folhas é análoga a um

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Utilizei-me da edição Arbre d’Or, Genebra: 2007.

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número e, por extensão, a qualidade e a mensagem que cada um dos elementos da
década comunica. Os números trazem consigo sempre uma alusão aos princípios e às
atualidades presentes no universo e na intimidade do pensamento. Vejamos de que
modo a divisão denária a tudo encerra:

“A primeira [folha do Livro] trata do princípio universal ou do


Centro, de onde emanam continuamente todos os Centros”.
“A segunda, da causa ocasional [acessória ou interveniente] do
Universo; da dupla lei corporal que o sustenta; da dupla lei
intelectual, que agem no tempo; da dupla natureza do ser
humano, e geralmente, de tudo o que é composto e formado de
duas ações”.
“A terceira, [trata] da base dos corpos de todos os resultados e
produções de todos os Gêneros, e é nela que se encontra o
número dos Seres imateriais que não pensam”.
“A quarta, de tudo aquilo que é ativo; princípio de todas as
línguas sejam elas temporais ou fora do tempo; da religião e do
culto operado pelo ser humano, e é nela que se encontram o
número dos Seres imateriais que pensam”.
“A quinta, [trata] da idolatria e da putrefação”.
“A sexta, das leis da formação do Mundo temporal e da divisão
natural do Círculo pelo raio”.
“A sétima, da causa dos Ventos e das Marés; da Escala
geográfica do ser humano; de sua verdadeira ciência e da fonte
de suas produções intelectuais ou sensíveis”.
“A oitava, do número temporal daquele que é o único apoio, a
única fonte e a única esperança do ser humano, isto é, desse Ser
real e físico, que possui dois nomes e quatro números, enquanto
que ele é por sua vez, ativo e inteligente, e que sua ação se
estende sobre os quatro Mundos. Ela [a oitava folha] trata
também da justiça e de todos os poderes legislativos; aquilo que
compreende os direitos dos soberanos e a autoridade dos
generais e dos juízes”.
“A nona, [trata] da formação do ser humano corporal no seio da
mulher e da decomposição do triângulo universal e particular”.
“A décima, enfim, é a via e a consumação das nove precedentes.
Essa é sem dúvida a mais essencial e aquela sem a qual
nenhuma das outras será conhecida, porque quando se as
dispõem todas as dez em circunferência, segundo sua ordem
numérica, ela se encontra em maior afinidade com a primeira de
que tudo emana; e se desejar-se julgar a sua importância, que se
perceba que é pela década que o Autor das coisas é invencível,
pois que ela é uma barreira que o defende por todos os lados, e
que nenhum Ser pode atravessar” (Dos Erros e da Verdade,
IV, p. 219-221)

Nesse esquema, os números 1, 4, 8 e 10 se destacam. Quando diz que o número


4 é o número do movimento, isto é uma alusão ao Tetragrama que comporta em si todas
as leis de adaptação do movimento nos quatro níveis de sua atividade: o divino, o
arquetípico ou ideal, o formativo e a ação. Como essas coisas são as que permanecem

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(não as ideações, formações e ações, mas as potências capazes de torná-las existentes),
também se o considera como o número da estabilidade. Eben, a Rocha.

Legenda: a geometria é utilizada sempre que se buscam os modelos à inteligência, as


figuras geométricas, para o corte da pedra; diferentes formatos se complementam em diferentes
funções; pedras cúbicas, pedras singulares que se apóiam uma a outra e à chave do arco. O arco
se apóia sempre sobre duas colunas. Aí se projeta reproduzir a estabilidade que se sabe atuar no
universo através de uma obra de arte.

A Rocha a que aí se refere e a permanência mesma (Hayah) e, difere, portanto,


das coisas de que se ocupa a física, ou seja, o substrato material de que surgem e no qual
se resolvem as coisas geradas ou produzidas, pois mesmo as pedras mais compactas não
persistem o suficiente. Assim, as coisas físicas não podem ser senão análogas às não
físicas, tanto na linguagem quanto no modo como respondem umas às outras na
realidade. A lei como a necessidade, invisivelmente atravessa todos os corpos, ligando-
os à dinâmica própria da existência, que em sua manifestação fenomênica estará sempre
eivada de contrariedades: naturalmente tudo flui, passa de um estado a outro.
No caso do principio “imaterial” que é causa primeira, é ela, sendo vida
inteligente (alma) ou inteligência viva, antes de tudo causa de tudo quanto tem vida e
manifesta inteligência. Apesar disso, de estarem dadas as condições para que o ser
humano se conheça e também ao universo, são ambos como uma casa misteriosa. Em
seu aspecto visível e sensível, muitas coisas se dão a conhecer ao cognoscente, tais que
as que se mostram no espaço e são passíveis de ser incluídas na classe daquilo que
possui, manifestamente, extensão. De que modo damo-nos conta da necessidade do
princípio, já que é incorpóreo e invisível? Como a vida, além de evidente, é capaz de

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perpetuar-se, devemos investigar, com Saint-Martin, qual é esse princípio de
permanência que as suas manifestações trazem consigo como uma imagem.
“Por isso não estaremos induzindo ninguém a erro ao indicar a
progressão geométrica quaternária como princípio da vida dos
seres, ou ao afirmar que o número de toda ação é quatro, por
desconhecida que seja essa linguagem” (p. 222).

Ora, o que o filósofo quer dizer? Que se trata de um pressuposto, mormente


desconhecido de seus interlocutores, e que provado, revela-se útil à correção dos
observadores ou empiristas e aos geômetras modernos, ambos materialistas que negam
o princípio primeiro de que provém o princípio do movimento e do repouso, como dirá
Aristóteles na Física e Metafísica. Os textos do estagirita não são decisivos2, contudo,
para compreendermos aquilo que diretamente interessa a Saint-Martin como filósofo. A
não ser que se preste atenção às monografias do filósofo macedônio sobre os
pitagóricos, seus números e symbola.
O Filósofo Desconhecido se refere ao quaternário do mesmo modo que o faziam
os pitagóricos em relação à Tetraktys: 1+2+3+4=10 ou

Os pontos podem ser substituídos por “iotas” ou “iods”, como unidades do ponto
de vista geométrico. Alguns conhecerão o sistema de transposições do Tetragrammaton
ao modelo de disposição da Tetraktys.
IOD-HÊ-VAV-HÊ é o quaternário que explica o movimento em todos os níveis
do ser e os quatro tipos de movimento ou ação que são típicos dos correspondentes
planos de atuação da Força Divina. Está no topo e na base de tudo, como nos níveis
assinalados pela figura acima.
Para o Filósofo Desconhecido há duas espécies de movimento: um que afasta
algo de seu centro e o outro que tende a aproximá-lo de seu centro. Um desfaz o
caminho do outro e provêm ambos do mesmo número.
Para aprofundarmos o nosso estudo, faremos citações de dois parágrafos da obra
póstuma denominada Sobre os Números.
O primeiro deles é o parágrafo IV cujo título é “Espírito dos números 1, 2 e 3”.
Em sua abertura, Saint-Martin nos diz:

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Veja-se, contudo, a distinção entre o que é próprio à geometria, a saber, “a propriedade das grandezas”,
e a aritmética, que é acerca “dos números”, em Retórica (1355b30-32). Aristóteles está mais tendente a
admitir os números como relações, não como entes separados das coisas. Já para Platão e os geômetras,
Teeteto, por exemplo, a conversa é outra. No Sofista, o Hóspede de Eleia, refere-se sem qualquer
cerimônia o que é pressuposto no que concerne aos números (arithmoi). “Hóspede: Postulamos o número
entre a totalidade dos seres; Teeteto: Sim, se é que algo mais pode ser posto como sendo” (238a-b). Os
números são como seres. O sábio H. G. Murachco dizia amiúde: “O número (arithmos) é o ajuste que a
inteligência produz”.

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“UM traz o princípio em si e o retém junto a si.
DOIS o traz em si e não o retém.
TRÊS não o traz em si nem o retém”.

Nosso primeiro comentário consiste em apontar para os seguintes axiomas: (1) o


Um é o pressuposto. Propriamente não é um número, sendo o princípio geral e
suficiente para a produção de todos os números. Os números propriamente ditos como
ajuizara Aristóteles à mente geométrica dos gregos, começam (2) com o número Dois.
A dualidade não surge senão como uma diferenciação interna à unidade e não
irrompe propriamente como uma manifestação autônoma. Saint-Martin pensa a
formação do número dois como o resultado de uma subtração. A metade do todo
esmaece e a outra metade se destaca. Por isso, o numero dois traz o princípio, isto é, a
unidade em si, mas não como algo separado da unidade, pois ela nunca se aparta de si
mesma, sendo antes um reflexo dela, e por isso mesmo dualidade.
Já o número TRÊS não traz a unidade em si, isto é, não a contém, nem a aparta
de si mesma. É o ternário antes uma unidade realizada como síntese de duas tendências,
e que se manifesta sempre a partir do encontro de ambas, sendo nesse sentido posterior
e dependente, embora se torne autônomo, como síntese. Trata-se do resultante ou
solução da oposição aparente dos contrários, que se resolvem na coincidentia
oppositorum, isto é, naquilo em que são análogos. Toda oposição de contrários aponta
para a unidade e dela parte.

“Essas verdades se descobrem com evidência na ordem


espiritual como na ordem material; mas elas são mais sensíveis a
nós na classe material, onde nós estamos aprisionados. Também
se as encontra escritas legivelmente nas ações e nas leis dos três
reinos da Natureza, embora em sua essência essa Natureza nada
possua que não tenha recebido. Tomemos tudo o que é formado.
O animal tem sua força em si e tira tudo de si.
O vegetal possui uma força em si, mas não a pode usar
senão por meio da terra.
O mineral não possui uma força em si, e tudo indica nada
tira de si.
Isso nos leva a considerar as três grandes classes da
ordem material. Cada uma é quaternária, sob o nome de
superior, maior, inferior e menor” (Des Nombres, IV).

Essas últimas categorias são as quatro classes gerais de seres espirituais segundo
Martinez de Pasqually.
O esquema geral é assim disposto:

Primeira Classe: Divina


1 10 8 7 = 26 = 8
Deus Pensamento Vontade Ação

Segunda Classe: Espiritual temporal que é dupla


10 8 7 4 = 29 = 11
Pensamento divino Vontade divina Ação Divina Ser Humano

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Terceira Classe: para as produções corpóreas e materiais
8 7 4 3 = 22 = 4
Vontade divina Ação Divina Concurso do Ser Produções
Humano elementares

Trata-se então da questão da autocracia. Os vetores da equação são Deus e as


quatro potências ou operações gerais do ser espiritual: Pensamento, Vontade e Ação. A
segunda classe é já um reflexo da primeira, e experimenta a imagem das operações
primárias em seu âmago, pois no ser humano elas estão alojadas, sendo este o motivo de
se lhe considerar o pequeno mundo psíquico. Esse Ser Humano original permanece em
sua origem como um membro da segunda classe dos seres espirituais temporais. A
terceira indica-nos as potências atuantes no Mundo produzido e gerado, onde há a
agência e padecimento do ser humano temporal, e para o transcurso do tempo prefixado
à passagem de todas as produções elementares, ações humanas e divinas, e o
cumprimento (consumação) da Vontade divina.
“A primeira classe possui tudo em si e tira tudo de si mesma.
A segunda ou o ser humano que ela produziu, tem tudo em si.
A terceira classe ou as produções elementares nada têm nelas e
nada retém delas [das propriedades], já que elas receberam sua
forma pelo concurso da ação humana que possui tudo em si, mas
nada detém que seja proveniente de si próprio” (Des Nombres,
IV).

A primeira classe é, portanto, autocrática. Posto isso, é princípio. A segunda está


principalmente relacionada à produção do ser humano pela divindade. Ou seja, o ser
humano tudo recebe, porém nada disso que recebe é por ele originado, nem nada detém,
recebendo tudo o que recebe daquele que tudo lhe doa. A terceira classe refere-se
particularmente à ação do ser humano, pelos quais vêm a ser as produções elementares,
nas quais a forma divina ainda se manifesta, mas de maneira ainda mais efêmera que
uma existência humana.
Deve-se compreender o esquema pela lei das analogias. O primeiro está para o
segundo como o segundo para o terceiro. Há sempre uma diferença, seja quanto à
perfeição ou a plenitude dista de sua imagem, em outras palavras varia relativamente ao
grau, seja quanto a eternidade da essência, pela capacidade de perpetuar-se por suas
potências inseparáveis. Entre as ações intermitentes desencadeadas pelo ser humano e o
Eterno situa-se a irrevogabilidade de Suas leis. Ora, as ações humanas não estão
somente sujeitas às leis como decorrem sempre e a seu modo daquilo que está posto na
essência. O divino é infalível, enquanto a ação humana como cópia, nem é capaz de
perpetuar-se enquanto ação, quiçá como obra, nem sempre manifestará claramente a
essência, embora não possa operar-se algo senão porque a essência divina está sempre
em vigor, diferindo assim a essência, suas leis e as ações segundo o modo. Deus está em
si mesmo, mas no ser humano e na natureza, como uma imagem, porque nunca sai de si
mesmo. O ser humano está em Deus porque nele estão as potências divinas. Como o ser
humano, por meio da geração, está também na natureza, então nele também haverá
necessidade e carência, evidente em todos os estados de privação que experimenta.
Segundo Saint-Martin, o ser humano nem está atualmente no centro nem de posse das
perfeições de que dispunha enquanto nele esteve (Dos Erros e da Verdade, I).
“É necessário sempre ter o olho aberto para a diferença entre a
essência das coisas e suas leis e ações, para não se confundir a
vista nesse esquema, pois há uma cadeia progressiva que liga cada

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classe vizinha, uma a outra, por uma propriedade comum,
embora, nas duas classes contíguas, haverá sempre uma
propriedade que carece e que por isso será segunda, pelo que se
estabelece a diferença e a superioridade da primeira. É por essa
progressão seguida de similitudes e diferenças que a unidade ou a
vida divina se liga e se estende até os últimos ramos dos seres. É
por essa lei que Deus é em toda parte, que Deus é tudo, embora
nada seja ele, exceto ELE MESMO.” (Des Nombres, IV)

Essa escala ternária ou primitiva será desdobrada em uma progressão por seis
estados + uma coisa que as experimenta = 7. É disso que trata o parágrafo IX,
“Progressão espiritual e circular do quaternário no círculo universal”. Nele está disposto
o seguinte esquema.

Primeiro Quaternário: Divino

1. 2. 3. 4. 10

Segundo Quaternário: Estado e destinação do ser humano em sua eleição primitiva

4. 5. 6. 7 4

Terceiro Quaternário: Estado do ser humano prevaricador, em padecimento, em


arrependimento e regenerado.

5. 6. 7. 8. 8

Quarto Quaternário: Destruição das formas e redução da aparência material aos seus
três princípios constitutivos [Enxofre, Mercúrio e Sal].

6. 7. 8. 9 3

Quinto Quaternário: Reintegração dos seres em suas virtudes espirituais.

7. 8. 9. 10 7

Sexto Quaternário: Reintegração dos seres em suas virtudes divinas da unidade pelas
operações do quaternário.

8. 9. 10. 1 1

Há aqui o seguinte paralelismo: os quatro primeiros números são equivalentes à


década. Esse é o Quaternário Primeiro e Divino. Nele tudo está prefigurado. A firmeza
do Estado primitivo do ser humano é indicada pelo número quatro, símbolo da
estabilidade. É a primeira nota do ciclo do Segundo Quaternário. A nota principal do
Terceiro é o número oito, associado ao Princípio Reparador. O Quarto trata de uma lei
que opera nas coisas geradas e que determinará a dissolução do universo no fim deste
ciclo. Os princípios constitutivos do universo psíquico e físico são o Enxofre, Mercúrio
e Sal, entendidos no seu sentido alquímico. O Quinto e o Sexto dizem respeito a dois

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momentos no processo de Reintegração: a restituição das virtudes espirituais aos seres e
a reintegração final que é um entronizar-se dos seres na unidade, como unidade(s), a
partir do que, como outrora, tornam-se parte ativa das operações do quaternário ou
Verbo: 4 = 1.
Para reconduzirmos o nosso estudo à dimensão qualitativa ou geométrica dos
números no pensamento de Louis-Claude de Saint-Martin, façamos uma última
referência à obra intitulada Dos Números (Des Nombres);

“Há uma divisão do quadro universal reconhecida por todos os


observadores na ordem da verdadeira filosofia, aquela pela qual
se distingue a região divina, a região espiritual e a região
natural. É reconhecido igualmente que há uma correspondência
entre a região divina e as duas regiões, espiritual e natural, e
que, por conseguinte, os números do ordenamento divino devem
ter seus representantes e suas imagens em ambas as regiões. Mas
aqueles que não possuem a chave dos números são expostos a
grandes equívocos quando querem fixar ou contemplar essas
correspondências.
A principal causa de seu erro provém de eles se guiarem em
suas especulações pelas luzes da aritmética recebida, onde os
números se fazem reconhecer por seus múltiplos e por suas
partes análogas ou similares, e não mais por suas propriedades,
posto que a aritmética não reconheça a esses números outras
propriedades que as convencionais e dependentes da vontade do
ser humano.
O segundo erro é querer confinar as três divisões acima
apresentadas a um esquema de três décadas consecutivas, de
modo que, depois de trinta, não haveria mais necessidade de
outros números.
Enfim, o terceiro erro é querer encontrar na segunda e terceira
décadas, a mesma série de princípios que há na primeira, porque
aí se encontra, com efeito, a mesma ordem aos números e o
mesmo alinhamento aritmético” (Des Nombres, Paris,
Chacornac, 1913: p. 20)

Há para Saint-Martin, devido à recepção tardia “da aritmética recebida”, isto é,


aquela que se ocupa do cálculo e das cifras, e que não reconhece um valor outro,
simbólico ou alegórico, aos números, nem uma significação não quantitativa. São,
assim, duas as aritméticas. Quando o Filósofo Desconhecido diz: “e não mais”,
percebemos que a aritmética qualitativa de cunho geométrico, como veremos, é anterior
a sua simplificação, como é indicado, e que, por evidente, guia o pensamento científico
moderno.
Papus segue de perto os diversos ordenamentos da década sugeridos por Saint-
Martin. Se é certo que as coisas naturais não manifestam a perfeição das figuras
geométricas, embora sejam efetivamente seus modelos, não é menos certo que as
figuras de geometria se prestam a explicação de um espaço mais difuso que o físico e
tridimensional. Trata-se das três dimensões qualitativas da única realidade, que em A
Ciência dos Números, “o médico da primeira hora” assim dispõe:

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Quadro Geral da Década

Espiritual Puro 1
Espiritual no Espiritual 6 2 3 5 7
…………………………………………………………………………………………….

Astral do Espiritual
(o quadrado) 4
9
…………………………………………………………………………………………….

Material no Espiritual
(o cubo) 8
…………………………………………………………………………………………….

Nova série 10

De acordo com essa ordenação, números como “2” e “5” são vistos como
oposições entre duas perfeições. Ora, já vimos que eles são vistos por Saint-Martin sob
desconfiança. Seriam números que trazem consigo algo dúbio, duplo. Não é que
tenhamos qualquer superstição acerca da natureza dos números. O que se está aí a
considerar é que no quadro geral delineado pelo Filósofo Desconhecido, no âmbito da
Década, o número dois será signo da dualidade ou da oposição que se manifesta nos
fenômenos e na moralidade humana.
O número cinco será um número dual, podendo indicar a vontade humana em
sua imagem à soberania do Princípio, ou a mesma submetida às correntes de atração
astral ou física. É preciso compreender essas coisas sempre sob a perspectiva do
humano, pois é no ser humano “livre”, em alguma dimensão em que o seja, que os
números adquirem uma conotação mística, ou seja, ajudam-nos a perceber que as
dimensões íntimas de nossa psique respondem a leis que também regulam o universo, e
assim podem ser um sinal para tais regularidades.
Por fim, Saint-Martin, aborda a Década e sua distribuição hierárquica em três
classes de potências: (a) primeira, que compreende unicamente a Unidade, (b) segundas,
4-7-8-10, e (c) terceiras, 3-6-9; os números 2 e 5 estão banidos dessa contagem, porque
ou não figuram como potências primárias, ou não são fixas, mas indeterminadas, porque
dependentes de crise e resolução, permanecendo latentes e vindo a tona, alternadamente,
no plano cósmico e anímico. São sinais de potências restritivas, se não são polarizadas
adequadamente: a dualidade superada pela conciliação dos contrários, a superação de
todo jugo pela exaltação da vontade.
“As potências segundas têm um domínio a percorrer porque elas
retiram [sua força] ao centro imediatamente. As potências
terceiras não a mantêm [tomam] senão mediatamente, e não têm
outro fim a cumprir que o da produção das formas. Elas são, pois,
mais restritas que as potências segundas. Elas não possuem a lei
criativa que pertence apenas à unidade. Elas também não possuem
a lei administrativa que está confiada às potências segundas. Elas
não possuem senão a potência executora e operadora que, sendo
sempre a mesma (já que o objeto de sua obra não muda), não faz
mais que transmitir de um ser a outro uma ação, por meio de uma

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geração necessária. Do mesmo modo, todos os seus feitos são
iguais” (Des Nombres, 1913, p. 78)

A citação acima acrescenta a imagem da unidade como Centro (Kern no


linguajar de Boehme) da existência, de que “as potências segundas” retiram o seu ser ou
sua força. A “lei criativa” é aquilo a que as potências segundas podem aspirar, sendo-
lhes própria a “lei administrativa” a que, efetivamente, o ser humano se destinava desde
o início de sua emanação-emancipação. As “potências terceiras” são os mecanismos
naturais pelos quais se opera a transmissão da força às cadeias de mundos e eventos
físicos, a dinâmica da produção de efeitos e gerações, cuja causalidade se estima por sua
regularidade: “todos os seus feitos são iguais” (idem, p. 78).
Charles Barlet, citado por Papus, em A Ciência dos Números, sintetizara a
relação entre as componentes da Década nas disposições do Pantáculo Universal. Essa é
uma oportunidade de revisitar o simbolismo inerente ao que se pode considerar o brasão
e uma síntese da doutrina martinista em sua feição pictórica.

Legenda: Chave das relações entre os dez primeiros números

Na imagem acima, o número quatro ao centro equivale a um e a unidade estável


e fonte de toda a dinâmica psíquica e natural. O triângulo ascendente equivale aos três
primeiros princípios, e o descendente, aos três últimos elementos da década que é o
círculo que envolve a todos os outros. Quatro, cinco e seis são os números medianos.
Dois triângulos ou um hexágono e uma cruz, o círculo e o ponto, enfim, a década
analisada em seus signos constitutivos.

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Referências

SAINT-MARTIN, L-C. Des Erreurs et de la Vérité, ou Les Hommes rappellés au


Principe universel de la Science. Arbre d’Or: Genève, 2007.
__________________. Des Nombres. Oeuvre posthume, suivie de L’Éclair sur la
Association Humaine, orneé du portrait inédit de l’auteur et d’une introdution par M.
Matter… Schauer: Paris, 1861.
__________________. Des Nombres. Oeuvre posthume. Préface de Sedir. Biblioteque
Chacornac: Paris, 1913.
__________________. Ecce Homo. Imprimerie du Cercle Social, 1792.
__________________. Tableau Naturel des rapports qui existent entre Dieu,
l’Homme et l’Univers. Préface de Papus. Edition de L’Ordre Martiniste. Chamuel
Éditeur: Paris, 1900.
PAPUS. La Science des Nombres. Oeuvre posthume orneé d’un portrait par L.
Journot. Chacornac Frères: Paris, 1934.

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Notas para Publicação

Àqueles que quiserem contribuir com artigos, resenhas e traduções


seguem as recomendações:

1. Artigos (máximo de 20 páginas) que contemplem uma ou mais


das disciplinas arcanas;
2. Resenhas (até 5 páginas) sobre obras recentes ou antigas as
quais desejam indicar a leitura;
3. Traduções (até 20 páginas por edição, além disso, serão
publicadas em distintos volumes);
4. Os textos devem ser enviados em caracteres “Times New
Roman” ou “Palatino Linotype” com 14 para o título (em
negrito) e corpo do texto; 11 ou 12 para citações destacadas,
notas e legendas;
5. As referências bibliográficas podem ser abreviadas (autor,
obra, edição, ano, página) e incorporadas ao corpo do texto;
6. Devem ser enviadas para ombrasil.pb@gmail.com para que
sejam repassadas aos membros do conselho editorial;
7. O conselho editorial preza pela prática da concordância,
princípio hermético, e desconsiderará textos que insistam em
posicionamentos sectários ou que expressem opiniões
intolerantes; o aceite, por sua vez, não implica em sua
publicação imediata, haja vista o cronograma e a ordenação
das temáticas que são objeto das sucessivas edições deste
periódico.

Atenciosamente,
Do Conselho Editorial

João Pessoa,
Junho de 2018

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