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É evidente a referência a geometria e aos geômetras nas obras do Filósofo
Desconhecido. Ele parece tão entusiasmado com sua metodologia e a natureza de seu
assunto, que avança pelo invisível, quanto estava Platão no século IV antes de Cristo.
Ele está nela apoiado em dos Erros e da Verdade. Alude a ela desde o início de
Tableau Naturel e se detém no modo próprio de proceder desta ciência, que sempre
parte de seus axiomas, para deduzirem delas sempre verdades análogas. A maneira de
pensar própria a geometria que se serve de “número”, em sua acepção qualitativa, ou
seja, como análogo às formas geométricas: 1 = ponto, 2 = a reta, 3 = ao triângulo
(primeira figura), 4 = primeiro número quadrado ou quaternário. Além disso, ao número
quatro se soma uma nova significação: sendo o fim do primeiro ciclo, demonstra a
primeira manifestação completa no espaço geométrico e no tempo, compreendido a
partir dos movimentos físicos aplicados a produção, a geração e aos efeitos de uma
ação.
Em Ecce Homo, é esse ainda o seu ponto de partida contra todas as ciências
enciclopédicas de seu tempo.
Em dos Erros e da Verdade (VI), discutindo as matemáticas, Saint-Martin chega
a uma compreensão surpreendente: ele se dá conta da descontinuidade entre o
paradigma geométrico antigo com o qual o grego pensava as ciências e a as artes a
exemplo da astronomia e da arquitetura e a sua recepção, apropriação e emprego pela
ciência moderna nascente. O primeiro emprego da geometria era exatamente o de
medida da terra, e em seguida, passa a se ocupar da figura e da dimensão dos corpos
físicos em geral, de sua magnitude e distância e das leis que os regem, cuja
representação, varia como o círculo e a elipse.
É eminentemente moderno o hábito da contagem. Os gregos não se serviam de
uma aritmética, mas apenas da linguagem e desconheciam os algarismos que vieram a
formalizar a ideia de número em um sistema de notação distinta do alfabético.
Os modernos simplesmente romperam com esta visão de mundo e, a este, se
seguiu o modelo de cálculo ou cômputo aritmético da extensão dos corpos
materialmente dispostos, experiência que orienta a ciência e a geometria dos modernos.
Aí, no cerne da questão, o Filósofo Desconhecido chega à conclusão de que
somente o paradigma geométrico é capaz de compreender o movimento propriamente. E
mais, somente ele permite perceber a relação entre a causa e aquilo que ela explica, e a
transmissão de uma potência qualitativamente discernível que se opera entre aquele (ou
aquilo) que doa movimento e aquilo que o recebe, o mantém e o dinamiza em nova
atividade vital e cognitiva, ou puramente física e mecânica. O que não é apropriado é
aplicar uma compreensão mecânica do movimento àquilo que é causa do fenômeno:
para essa verdade estão cegos os modernos físicos segundo Saint-Martin.
Para iniciar nossa reflexão sobre os números, levemo-los em consideração o
ponto de partida crítico aos pensadores de sua época, aos fins do séc. XVIII, e o ponto
de chegada, resultante de sua tomada de posição, a apropriação do caráter qualitativo do
número, tanto como propriedade ou significação própria, como enquanto símbolo de
algo mais, pois se trata da pedra chave para a exposição sintética de seu pensamento.
Saint-Martin faz referência a um livro misterioso, muito disputado, que esteve
presente em sua unidade a visão do ser humano, mas que hoje só se deixa ler com
grande esforço e parcialmente. Ignoram os pensadores de seu tempo o todo do Livro
mais importante, ou se apegam a uma, ou substituem uma pela outra, alguma das dez
páginas dessa obra que a tudo contém. Para o Filósofo Desconhecido, aos fins da quarta
parte de dos Erros e da Verdade1, cada folha do Livro de Dez Folhas é análoga a um
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Utilizei-me da edição Arbre d’Or, Genebra: 2007.
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número e, por extensão, a qualidade e a mensagem que cada um dos elementos da
década comunica. Os números trazem consigo sempre uma alusão aos princípios e às
atualidades presentes no universo e na intimidade do pensamento. Vejamos de que
modo a divisão denária a tudo encerra:
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(não as ideações, formações e ações, mas as potências capazes de torná-las existentes),
também se o considera como o número da estabilidade. Eben, a Rocha.
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perpetuar-se, devemos investigar, com Saint-Martin, qual é esse princípio de
permanência que as suas manifestações trazem consigo como uma imagem.
“Por isso não estaremos induzindo ninguém a erro ao indicar a
progressão geométrica quaternária como princípio da vida dos
seres, ou ao afirmar que o número de toda ação é quatro, por
desconhecida que seja essa linguagem” (p. 222).
Os pontos podem ser substituídos por “iotas” ou “iods”, como unidades do ponto
de vista geométrico. Alguns conhecerão o sistema de transposições do Tetragrammaton
ao modelo de disposição da Tetraktys.
IOD-HÊ-VAV-HÊ é o quaternário que explica o movimento em todos os níveis
do ser e os quatro tipos de movimento ou ação que são típicos dos correspondentes
planos de atuação da Força Divina. Está no topo e na base de tudo, como nos níveis
assinalados pela figura acima.
Para o Filósofo Desconhecido há duas espécies de movimento: um que afasta
algo de seu centro e o outro que tende a aproximá-lo de seu centro. Um desfaz o
caminho do outro e provêm ambos do mesmo número.
Para aprofundarmos o nosso estudo, faremos citações de dois parágrafos da obra
póstuma denominada Sobre os Números.
O primeiro deles é o parágrafo IV cujo título é “Espírito dos números 1, 2 e 3”.
Em sua abertura, Saint-Martin nos diz:
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Veja-se, contudo, a distinção entre o que é próprio à geometria, a saber, “a propriedade das grandezas”,
e a aritmética, que é acerca “dos números”, em Retórica (1355b30-32). Aristóteles está mais tendente a
admitir os números como relações, não como entes separados das coisas. Já para Platão e os geômetras,
Teeteto, por exemplo, a conversa é outra. No Sofista, o Hóspede de Eleia, refere-se sem qualquer
cerimônia o que é pressuposto no que concerne aos números (arithmoi). “Hóspede: Postulamos o número
entre a totalidade dos seres; Teeteto: Sim, se é que algo mais pode ser posto como sendo” (238a-b). Os
números são como seres. O sábio H. G. Murachco dizia amiúde: “O número (arithmos) é o ajuste que a
inteligência produz”.
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“UM traz o princípio em si e o retém junto a si.
DOIS o traz em si e não o retém.
TRÊS não o traz em si nem o retém”.
Essas últimas categorias são as quatro classes gerais de seres espirituais segundo
Martinez de Pasqually.
O esquema geral é assim disposto:
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Terceira Classe: para as produções corpóreas e materiais
8 7 4 3 = 22 = 4
Vontade divina Ação Divina Concurso do Ser Produções
Humano elementares
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classe vizinha, uma a outra, por uma propriedade comum,
embora, nas duas classes contíguas, haverá sempre uma
propriedade que carece e que por isso será segunda, pelo que se
estabelece a diferença e a superioridade da primeira. É por essa
progressão seguida de similitudes e diferenças que a unidade ou a
vida divina se liga e se estende até os últimos ramos dos seres. É
por essa lei que Deus é em toda parte, que Deus é tudo, embora
nada seja ele, exceto ELE MESMO.” (Des Nombres, IV)
Essa escala ternária ou primitiva será desdobrada em uma progressão por seis
estados + uma coisa que as experimenta = 7. É disso que trata o parágrafo IX,
“Progressão espiritual e circular do quaternário no círculo universal”. Nele está disposto
o seguinte esquema.
1. 2. 3. 4. 10
4. 5. 6. 7 4
5. 6. 7. 8. 8
Quarto Quaternário: Destruição das formas e redução da aparência material aos seus
três princípios constitutivos [Enxofre, Mercúrio e Sal].
6. 7. 8. 9 3
7. 8. 9. 10 7
Sexto Quaternário: Reintegração dos seres em suas virtudes divinas da unidade pelas
operações do quaternário.
8. 9. 10. 1 1
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momentos no processo de Reintegração: a restituição das virtudes espirituais aos seres e
a reintegração final que é um entronizar-se dos seres na unidade, como unidade(s), a
partir do que, como outrora, tornam-se parte ativa das operações do quaternário ou
Verbo: 4 = 1.
Para reconduzirmos o nosso estudo à dimensão qualitativa ou geométrica dos
números no pensamento de Louis-Claude de Saint-Martin, façamos uma última
referência à obra intitulada Dos Números (Des Nombres);
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Quadro Geral da Década
Espiritual Puro 1
Espiritual no Espiritual 6 2 3 5 7
…………………………………………………………………………………………….
Astral do Espiritual
(o quadrado) 4
9
…………………………………………………………………………………………….
Material no Espiritual
(o cubo) 8
…………………………………………………………………………………………….
Nova série 10
De acordo com essa ordenação, números como “2” e “5” são vistos como
oposições entre duas perfeições. Ora, já vimos que eles são vistos por Saint-Martin sob
desconfiança. Seriam números que trazem consigo algo dúbio, duplo. Não é que
tenhamos qualquer superstição acerca da natureza dos números. O que se está aí a
considerar é que no quadro geral delineado pelo Filósofo Desconhecido, no âmbito da
Década, o número dois será signo da dualidade ou da oposição que se manifesta nos
fenômenos e na moralidade humana.
O número cinco será um número dual, podendo indicar a vontade humana em
sua imagem à soberania do Princípio, ou a mesma submetida às correntes de atração
astral ou física. É preciso compreender essas coisas sempre sob a perspectiva do
humano, pois é no ser humano “livre”, em alguma dimensão em que o seja, que os
números adquirem uma conotação mística, ou seja, ajudam-nos a perceber que as
dimensões íntimas de nossa psique respondem a leis que também regulam o universo, e
assim podem ser um sinal para tais regularidades.
Por fim, Saint-Martin, aborda a Década e sua distribuição hierárquica em três
classes de potências: (a) primeira, que compreende unicamente a Unidade, (b) segundas,
4-7-8-10, e (c) terceiras, 3-6-9; os números 2 e 5 estão banidos dessa contagem, porque
ou não figuram como potências primárias, ou não são fixas, mas indeterminadas, porque
dependentes de crise e resolução, permanecendo latentes e vindo a tona, alternadamente,
no plano cósmico e anímico. São sinais de potências restritivas, se não são polarizadas
adequadamente: a dualidade superada pela conciliação dos contrários, a superação de
todo jugo pela exaltação da vontade.
“As potências segundas têm um domínio a percorrer porque elas
retiram [sua força] ao centro imediatamente. As potências
terceiras não a mantêm [tomam] senão mediatamente, e não têm
outro fim a cumprir que o da produção das formas. Elas são, pois,
mais restritas que as potências segundas. Elas não possuem a lei
criativa que pertence apenas à unidade. Elas também não possuem
a lei administrativa que está confiada às potências segundas. Elas
não possuem senão a potência executora e operadora que, sendo
sempre a mesma (já que o objeto de sua obra não muda), não faz
mais que transmitir de um ser a outro uma ação, por meio de uma
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geração necessária. Do mesmo modo, todos os seus feitos são
iguais” (Des Nombres, 1913, p. 78)
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Referências
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Notas para Publicação
Atenciosamente,
Do Conselho Editorial
João Pessoa,
Junho de 2018
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