Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
STUDIUM
REVISTA TEOLÓGICA
Studium: revista teológica/ Studium Theologicum de Curitiba - Ano 7
n. 11 - 2013.
Semestral
ISSN 1981-3155
CDU: 2
Artigos
A jovialidade da
religião/religação
The joviality of religion/a re-linking of faith
RESUMO: Este texto não tem, como tal, um caráter teológico, antes a sua é uma perspectiva de
antropologia da religião. A religiosidade humana vive uma jovialidade, em constante mudança.
Para compreender isso, torna-se necessário percebê-la em diferentes níveis e elementos da
realidade global que as religiões implicam: experiência religiosa, explicação religiosas, realização
39
institucional e fundamento “objetivo” da religião. Tudo o que é a substância, o coração da
religiosidade continua vivo e jovial, cheio de força e criatividade, de mil maneiras diferentes,
inclusive nas aparências mais estranhas. A religião está viva, goza de boa saúde e de muita
jovialidade, inclusive onde classicamente acreditávamos que já nem existia mais. Ela se recompõe
a si mesma, se renova, adota novas formas, até mesmo onde parecia estar ausente: e nisso
demonstra uma jovialidade permanente, apesar de alguns sinais de vetustez.
ABSTRACT: This text has not, as such, a theological character, but a perspective of anthropology of
religion. Human religiosity lives a joviality constantly changing. To understand this, it is necessary
to see it at different levels and elements of the global reality that religions involve: religious
experience, religious explanation, realization and institutional foundation “goal” of religion. All
that is the substance, the heart of religiosity, is still alive and jovial, full of energy and creativity, in a
thousand ways, including the strangest appearances. The Religion is alive, in good health and lots
of joviality, even where classically we believed no more existed. She rebuilds herself, renews itself
and adopts new forms, even where it seemed to be absent: and it demonstrates a permanent
joviality, despite some signs of dilapidation.
* Espanhol, naturalizado nicaragüense e vive no Panamá, doutor em Teología e Psicologia. Colabora em Servicios
Koinonía en Internet e coordena a edição anual da “Agenda Latinoamericana Mundial”. É um dos coordenadores
da Asociación de Teólogos y Teólogas del Tercer Mundo; pesquisa teologia do pluralismo religioso.
Vamos tomar a palavra «jovialidade» não em sentido de caráter de
juvenil de uma realidade, equiparando-a ao conceito de vitalidade, como
antônimo de decrepitude ou velhice; uma pessoa ou entidade é jovial quando
tem vitalidade suficiente para crescer, desenvolver-se, superar dificuldades
e afastar o perigo de morte. É neste sentido que nos perguntamos - e nos
perguntam - pela jovialidade das religiões. Consideramos que a pergunta tanto
é teórica quanto prática: têm futuro (jovialidade , vitalidade) as religiões? E em
que se fundamenta esse futuro?
A experiência religiosa
Não é que tudo neste nível da experiência religiosa seja simples e sem
problemas, nem que se possa deixar de observar que se está numa grave crise,
pois as formas, os meios, as expressões da dita experiência, numa parte não
majoritária; porém, qualitativamente muito significativa da sociedade, estão
mudando. As formas e chavões clássicos da experiência religiosa já não seduzem
com a necessidade religiosa dos homens e mulheres que se consideram mais
«atuais», da nova sociedade... Porém, em todo caso, as religiões podem contar
com a forca sempre renovada da experiência religiosa, que tem acompanhado o
44 ser humano desde sempre e não vai abandoná-lo na hora presente. Quer dizer:
a religião como sentimento/experiência religiosa está viva, e goza de muita boa
saúde, é pura jovialidade, apesar de qualquer crise.
A «explicação» religiosa
Dissemos que forma parte também das religiões esse mundo abarrotado
de interpretações, doutrinas, cosmogonias, teologias, dogmas... são também
fruto inevitável do componente heurístico-racional do ser humano, junto com
sua inerente necessidade de indagação de sentido. Por isso, também este nível da
religiosidade tem exibido uma fecundidade e uma jovialidade tremendamente
criativa no passado. Recordávamos, no início, que as obras enciclopédicas de
Mircea Eliade nos serviam para percorrer rapidamente uma visão panorâmica
desta inabarcável criatividade, tão jovial. Podemos recordar também aqueles
séculos nos quais a própria sociedade laica discutia com veemência os debates
teóricos sobre as mais complexas doutrinas teológicas, sobre sua ortodoxia ou
heterodoxia. A tremenda divisão e subdivisão interna das grandes religiões dá
conta das feridas históricas que esta mesma jovialidade, tão fecunda em novas
«explicações»˝ religiosas produziu na história.
Pois bem, à diferença do que dizíamos no item anterior, cremos que este
nível religioso das explicações (teologias, relatos, mitos, doutrinas, dogmas...)
entraram em crise e não gozam já da jovialidade da que durante os milênios
passados fez sucesso. É fato que durante todo esse tempo a inteligência e a
imaginação religiosa têm ido de mãos dadas, numa dança de liberdade sem
competidores. Podiam improvisar e criar qualquer dança, com a mais pura
criatividade. As páginas do livro estavam em branco, e poderia se escrever nelas
qualquer interpretação com a mais pura criatividade e jovialidade.
45
Porém, os tempos mudaram neste campo. Passamos de um mundo
ignorante e pré-científico, para uma sociedade profundamente marcada por um
desenvolvimento extraordinário da ciência, com sua atual explosão científica.
Hoje o livro da natureza, do cosmos - macro e micro - se abre diante de nós com
inimaginável generosidade, e o conhecimento se amplia a cada dia, ao ritmo de
investigações que nos enchem de quantidades imensas de novas informações
que não somos capazes de processar.
As instituições religiosas
Minha opinião pessoal é que, por si mesmas, por sua própria natureza,
de iure, são capazes, pode, transformar-se. O passado é testemunha das grandes
transformações que nelas se ocorreram. É certo que nenhuma das transformações
históricas registradas foram tão profundas como a que está em curso, pelo que
não cabe extrapolar o passado para adivinhar o futuro; porém, a lucidez que
demonstram muitas pessoas religiosas na atualidade - pensadores, teólogos/as,
48
leigos/as carismáticos - faz pensar que não estamos falando de um impossível. As
religiões poderiam, podem, devem transformar-se.
Tradução: Hr.