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Volume
. 1
CAPA A capa apresenta pequena parcela do
Estado do Amazonas, destacando-se a con-
fluência do rio Branco no Negro.
Trata-se de uma Imagem multiespec-
tral obtida através do satélite landsat, que
orbita a 915 km da terra, proporcionando a
cada 18 dias uma nova cena da mesma
área em quatro canais distíntos.
A combinação de três canais a~:~ul apre-
sentada (4, 5 e 7), resulta no efeito infra-
vermelho falsa cor, tão a gosto dos ana-
listas, reunindo uma soma de informações
de interesse geral. Em meio a densa vege-
tação da hiléia amazônica, que nesta com-
binação figura em vermelho, notamos uma
diferença de coloração na hidrografia. Em
azul-elaro, vemos o rio Branco e em tona-
lidade bem mais escura o Negro e demais
afluentes. A diferença deve-se ao tipo de
sedimentação que as águas destes rios
carream. Podemos notar também às mar-
gens de alguns, que o vermelho é acin-
zentado, o que evidencia uma vegetação
menos densa, em terras baixas sujeitas à
inundação. As manchas brancas são nuvens.
Para estudos especificas, outras combi·
nações podem ser realizadas para obter o
destaque de temas a pesquisar.
(Imagem fornecida pelo Centro EROS
do IBGE).
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE
DIRETORIA TÉCNICA

Superintendência de Estudos Geográficos _e Sócio-Econômicos


Departamento de Geografia

GEOGl~l4t~ll4
DO Sl~l4Sll
l~e~lâo
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llotte
Volume 1

Diretoria de Divulgação
Centro Editorial
Centro de Serviços Gr6fic:os

Rio de Janeiro
1977
IBGE
BIBL!~"TECA
Reg. CENTRAl
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Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatlstica. Diretoria Técnica.


Geografia do Brasil. Rio de Janeiro, SERGRAF - IBGE, 1977.

5 v. 11., mapas (alg. color.) 18,5 em

Conteúdo. - v. 1 . RegiAo Norte. - v. 2. Região Nordeste. -


v.3. RegiAo Sudeste.- v.4. Região Centro-Oeste. - v.5. Região Sul.

1. Brasil - Geografia. I. Titulo.

BT
Central o eco 918.1
I 12
PLANEJAMENTO E COORDENAÇAO

Marlfla Valioso Galvlo

COORDENAÇlO TEMATICA
Alfredo José Porto Oomlngues
Elza Coelho de Souza Keller
Llndalvo Bezerra dos Santos
Lúcio de Castro Soares
Maria Magdalena Vieira Pinto
Pedro Plnchas Gelger

COORDENAÇlO DAS ILUSTRAÇOES


Ângelo Dias Maciel
Francisco Barboza Leite
Llndalva Nogueira Heberle
Najem Ramos
Rodolpho Pinto Barbosa

COLABORADORES

Ayrton Teixeira Almada


Célia Ologo Alves da Costa
Oora Rodrigues Hess
Elza Freire Rodrigues
lrene Braga Mlguez Garrido Filha
José Roberto Peixoto
Maria Coelho de Segadas Vianna
Maria Mônica Caetano O'Neill
Marieta Mandarlno Barcellos
Marília Carneiro Natal
Teima Sueli Araglo Castro Senra
VAnia lgnez Sendlm

EDITORAÇlO
Carlos Goldenberg
PREFÁCIO

A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística lança


uma nova edição da Geografia do Brasil, a nível elas cinco Macror-
regiões, um volume para cada região. Este lançamento encontra sob
novos moldes não s6 a Instituição como a pesquisa geográfica a ela
afetq., ambas compqndo um sistema essencialmente diferente do an-
terior à época em que a primeira edição foi lançada. Ao mesmo tempo
que reflete as novas realidades do Brasil na década de 70 permite
demonstrar o estágio atual da Geografia brasileira, seguindo as ~en­
dências mais recentes em igualdade com os centros adiantados da
pesquisa geográfica.
Assim como o conjunto de volumes permanece fiel aos seus pri-
meiros objetivos - divulgar o conhecimento do território brasileiro,
suas diferenciações regionais e seus problemas, para uma variada
gama de leitores - nele também está sempre presente o novo obje-
tivo da Instituição que é a produção da informação geográfica atua-
lizada para a tomada de decisões tanto a nível de Govemo como
do setor privado.
Dentro desta tônica, embora os volumes sejam regionais, cada
capítulo representa uma análise voltada de forma direta ou indireta
para os objetivos acima indicados abordando os principais aspectos
da organização do espaço brasileiro, orientação que é seguida desde
o quadro natural, com seu corolário de recursos naturais conhecidos,
até à população, aos sistemas de cidades, à energia, à atividade agrá-
ria e industrial e aos transportes, dando uma visão completa do
quadro nacional.
Este aspecto de detalhamento da informação regional é parti-
cularmente importante no momento em que uma das preocupações
dos diferentes Planos Nacionais de Desenvolvimento é a diminuição
dos desequilíbrios regionais. Esta importdncia se acentua porque
coloca a informação numa persr)ectiva global, representada pela soma
de informações contidas nos cinco volumes, sem perder de vista as
peculiaridades regionais.
A extensão de cada capítulo, bem como o número de ilustrações
(cartográficas, tabelas, gráficos e fotografias) refletem a maior com-
plexidade da obra, em relação à anterior.
Esta série de volumes procura atingir ampla jaixa de público-
leitor, planejadores regionais, professores - que dela retiram o que
de mais atualizado e sofisticado se pode realizar - estudantes, que
nela encontra!"- as informações e referências que sua f01'1ntWáo pro-
fissional venha a exigir, e todos aqueles que se interessam pelo amplo
espectro dos problemas da estrutura s6cio-econ6mica do País.
ISAAC KERsTENETZKY
Presidente

VII
Depois de longo tempo em situação de
área à espera de oportunidade para um
arranco no sentido do progresso -
malgrado algumas tentativas sem êxi-
to levadas a efeito com tal objetivo -
reabre-se, para a Amazônia, promissora
expectativa sob o impulso de medidas
oficiais e do engajamento da iniciativa
particular.

A Região ainda se ressente do descom-


passo considerável entre a grande
dimensão do espaço físico e a dimi-
nuta população da área. Disso ressalta
a magnitude da obra humana em reali-
zação nesse domínio da Natureza, on-
de tudo é grande - a terra, a água e a
floresta.
Mas, além do descompasso intra-ama-
zônico, um distanciamento físico e
sócio-econômico existe entre a Ama-
zônia e as demais áreas do País.
Conbibui poderosamente pa.ra tanto,
sua posição extremada no sentenbião
brasileiro, distante das áreas mais di-
nâmicas. Outrossim, ratificando esse
APRESENtAÇÃO afastamento, e até mesl]lo acentuan-
do-o, influíram a falta de acesso mais
MARrUA VELLOSO GALVAO
franco e melhor do que o proporcio-
nado precariamente pela navegação
fluvial e marítima e a inexistência, até
recentemente, de um sistema de comu-
nicações eficiente. PQr outro lado, a
circulação regional, adstrita à área em
apreço, aprisionava a Amazônia em si
própria, enquanto, a seu turno, a eco-
nomia de estilo colonial, voltada para
a exportação de matérias-primas arran-
cadas do seio da floresta e da fauna,
vinculava a Região, por força do co-
mércio, aos mercados estrangeiros,
mantendo-a fora de contato maior com
o restante do País.
Outrossim, o desconhecimento da rea-
lidade amazônica impediu, por longo
tempo, o correto equacionamento de
sua problemática, da avaliação de seus
recursos e do adequado dimensiona-
mento dos esforços e implementos
econômico-financeiros, tecnológicos e
humanos a serem mobilizados para a
árdua e prolongada missão de devas-
sar, ocupar e desenvolver o largo es-
paço. Este, se acrescido das parcelas

IX
de Estados vizinhos para constituir a visto o estabelecimento de moderna
Amazônia Legal. amplia sobremodo sua conexão rodoviária entre Brasília e
dimensão física, que se avizinha dos Belém, a reorganização e retomada da
cinco milhões de quilômetros quadra- penetração terrestre, por rodoviação,
dos, o que significa ser de caráter na dUeção de Porto Velho, já oonsu-
amazônico a maior parte do território mada, e de Santarém, numa figuração
b~euo. · de abordagem da Região pela sua
margem sul e, em período mais recente,
Não é de hoje que o fascínio da área a implantação da base do sistema
amazônica tem atraído a atenção e a amaz6nioo constituído por um anel
• investigação de especialistas no campo rodoviário composto pela Transamazô.
das ciências e das letras, nem é recente nica, pela Perimetral Norte e pelo
o interesse que desperta no campo in- Rio Amazonas, resultando num sistema
ternacional, notadamente agora, quan- integrado rodofluvial. Pelo setor oci-
do se toma mais aguda a crise mundial dental a penetração rodoviária já se
do ecúmeno face ~ explosão demográ- alongou de Porto Velho a Manaus e
fica, com todo seu séquito de cons~­ será ultrapassada em busca da fron-
qüênéias graves, dentre as quais o teira com a Venezuela.
deflcit da produção de alimento, a .
diminuição de água disponível para a Outros setores ativados no sentido do
sobrevivência humana, a preservação desenvolvimento regional abrangem a
da natureza e do equilíbrio eoológico, melhoria e implantação de modernos
e o perigo da poluição. meios de oomunicação que já integram
internamente a Região e a conectam ,
Daí o consenso do alto significado do eficazmente com outras áreas do País;
espaço amazônico brasileiro e da a criação da Zona Franca de Manaus
magna responsabilidade gue toca aos oom a finalidade de gerar, no âmago
governantes e ao povo de nosso País da Amazônia, um centro industrial,
no sentido da sua integração, mercê comercial e agropecuário; a ação so-
de processos de desenvolvimento que cioeconômica e tecnológica da ICOMI
o oompatibilizem, mais ooesamente, no Amapá; as ações prospectoras da
oom o todo nacional. PETROBRÁS e do Projeto RADAM; a
criação do órgão federal de desenvolvi-
A natureza na Amazônia, oonquanto mento regional - SUDAM - e a
ainda permaneça oomo o principal ooncessão de favores fiscais como atra-
fator característioo do famoso espaço, tivo para a iniciativa privada no setor
tem sofrido paulatina agressão pelo do desenvolvimento econômioo.
homem no seu empenho pela sobrevi-
vência e continuado esforço de apro- Em oonjunto, tudo isso vem resultando
fundar e dtlatar suas instalações, numa numa modificação no mundo amazô-
constante adaptação ~ condições me- nioo, de forma ainda débil mas visivel-
sológicas e persi~tente esforço na im- mente crescente, implicando, psioologi-
plantação de uma técnica racional, camente, numa salutar reversão de
capaz de atenuar e até alterar oontin- perspectivas. Semelhante mudança de
gências do meio natural e, ao mesmo atitude - quer no campo empresarial
tempo, alargar e tomar mais consistente quer no campo do assalariado - e
o processo econômioo de acionamento modificações nas condições tanto na
do potencial de recursos da importan- Região quanto no âmbito extra-regio-
tíssima Região. nal, constituem uma base de suma
importância, e imprescindível mesmo,
Tal esforço foi maior na década de 60 para o desejável e necessário ajusta-
e prossegue de forma crescente, esti- mento da Amazônia ao conjunto do
mulado por uma série de medidas País.
adequadas de iniciativa governamen-
tal. as quais buscam dotar a Região da A fim de alcançar-se tal objetivo torna-
indispensável infra-estrutura para seu se indispensável maior e continuada
desenvolvimento e integração. Haja aplicação de recursos e esforços para

X
O·aprofundamento, dilatação e atuali- tigação científica e o sensível progresso
zação do conhecimento das bases fisí- no conhecimento das bases estruturais
cas e humanas amazônicas, muito da vasta bacia sedimentar e dos fe-
embora seja esta área, senão a mais nômenos tectônicos que a afetaram,
perquirida pelo menos bastante in- devem-se às pesquisas orientadas para
vestigada do País. ~ que a extensão o carvão e para o petróleo, desenvolvi-
do espaço da Amazônia exige um das pelo antigo Departamento Nacio-
dimensionamento proporcional para nal de Produção Mmeral, pelo Cons~
seu estudo e domínio. lho Nacional do Petróleo e pelll
PETROBRÁS. Em resultado dessas
Assim, a despe~to da abundante biblio- pesquisas, esta parcela maior do espaço
grafia existente sobre a Região, toma-se amazônico foge à figuração tradicional
oportuna uma obra como a que ora se e superada, de monótona superfície de
oferece aos estudiosos da geografia um só estágio altimétrico, revelando-se
nacional que se consubstancia nesse composta de vários níveis e de perfil
volume primeiro, dedicado à Região ondulado, ao mesmo tempo que a bacia
Norte, dando início à nova edição da amazônica não aparece mais como uma
coletânea Geografia do Brasil, sob a entidade de uma peça única, mas,
iniciativa e responsabilidade da Fun- antes, constituída de diversas bacias,
dação Instituto Brasileiro de Geogra- o que resulta numa diferenciação
fia e Estatística e elaborada pelo seu intra-regional capaz d~ transparecer na
Departamento de Geografia. padronagem de fatos da superfície,
merecendo, pois, estudos especiais a
Por outro lado, a oportunidade cresce serem empreendidos. A seu turno, a
de expressão quando, a par do objetivo recente construção da Rodovia Tran-
didático, se põe termo ao hiato esta- samazônica ensejou conhecimentos
belecido desde o esgotamento da edi- mais preciosos da topografia, solos,
ção anterior e se atende ao reclamo estrutura e recursos minerais da área,
que de numerosos recantos do País se como autêntica revelação de fatos
fez ouvir no sentido de sua reapresen~ novos
tação, a qual surge sob nova feitura,
obedecendo ao que de mais atual se Outra face nova revelada da Amazônia
pode oferecer no que toca à Região prend~se ao seu manto vegetal, onde
Amazônica. a mata hileiana se apresenta de modo
não uniforme e a folhagem não é per-
~ compreensível que, em se tratando manente em sua maior porção, pois o
de uma área onde a natureza ainda se caráter semideclduo é bastante genera-
faz presente em termos grandiosos e lizado na terra-firme, dilatando-se até
marcantes, se tenha dado especial aten- às encostas setentrionais do Planalto
ção aos capítulos relativos ao mode- Central brasileiro. E, ao abordar-se a
lado e estrutura, à rede hidrográfica, ao questão do solo sob a mata, ressalta
quadro climático e à cobertura vegetal, o oposto à sua decantada opulência,
·I sem prejuízo daqueles outros dedica- reduzindo-se seu conceito ao de solo
dos à infra-estrutura, à população e à fértil apenas enquanto sob o manto
economia. florestal, e frágil, lixiviado e empo-
brecido quando exposto à erosão el~
No primeiro, alargou-se o ângulo de mentar.
visada, de modo a abranger com maior
amplitude toda a área, além de ofer~ De igual modo, o clima da Amazônia
cer, em termos adequados, uma visão não revela aquela pressuposta e decan-
geral do modelado amazônico em mol- tada unidade de característica e de
des modernos e atuais. Estuda-se o comportamento, com que se estereo-
relevo, com a estrutura que o suporta, tipava a Região. Assim, as áreas mais
à luz dos processos responsáveis pela úmidas são restritas em relação às
sua evolução com as implicações na menos úmidas, prevalecendo estas na
formação dos solos e da drenagem. maior parte da grande bacia e acen-
Cumpre apontar que uma larga inves- tuando-se na direção de suas bordas

XI
junto ao Planalto Central e ao Maci90 vegação fluvia~ na de cabotagem e de
das Guianas, o que resulta numa tipo- longo curso - vem aos poucos se ar-
logia climática nova, calcada em novos ticulando com as novas vias tenestres
conceitos sobre a realidade da área em implantadas e em implantação, en-
estudo. quanto o transporte aéreô continua no
seu papel de apoio e de contacto entre
A monumental e inbincada rede hidro- pontos distantes, atendendo sobre-
gráfica é abordada de forma atua- tudo ao transporte de passageiros e
lizada e tão completa quanto possf- ao servi90 postal. Desta forma esboça-
veL num estudo, centrado no eixo do se um entrosamento entre os vários
grande rio, que analisa todas suas modos de transporte, de forma a cons-
manifestações e impactos sobre a vida tituir-se num sistema viário devida-
regional, inclusive como via natural mente dimensionado e organizado para
de circulação a integrar-se no vasto atender às necessidades de desenvol-
sistema viário, em organização na área vimento e progresso da Região.
amazônica, onde a parcela das aqua-
vias representa 2/5 da rede hidroviária Foi dito que na Amazônia o homem é
nacional, ou seja, cerca de 20 mil qui- pequeno e grande é a sua missão. Com
lômetros, fato que empresta à Região efeito, contando uma população cor-
Norte forte destaque no setor. Ao lado respondente a quase 4i do total nacio-
da antiga aspiração de interligação de naL dentro de uma área representativa
bacias fluviais são ventiladas as impor- de 42% do espaço brasileJJ"O, e uma
tantes questões da pesca como fonte densidade demográfica de 1 bab/km2,
de alimento para a população da área, a Amazônia se caracteriza pelo sub-
e da geração de energia a partir do povoamento e subdesenvolvimento,
potencial hidráulico, avaliado há pou- ambos em diferentes estágios, dentro
cos anos ( 1973) em 21 mW, represen- do vasto espaço territorial, como decor-
tando, à época, l.U do total presumido rência do processo histórico de ocupa-
para o Pafs. ção espacial, dos sistemas econômicos
implantados, e, também, pelo impacto
Um dos entraves, ou freios, antepostos de dois fatores amplamente influentes
ao desenvolvimento da Região Amazô- na formação da Região, quais sejam a
nica, sem aludir às grandes dimensões distância face aos centros de decisão
do espa90 físico e ao diminuto contiu- de âmbito nacional e a fraca integra-
gente populacional, tem sido a carên- ção do sistema econômico amazônico
cia de energia e de transporte. A esse ao sistema do País como um todo.
problema, é dedicada especial atenção Contudo, o esfor90 do Governo Central
nos capítulos atinentes ao assunto. No a serviço da tese integradora já se re-
que toca à energia chama-se a aten- flete na área em apreciação; outros-
ção para o caráter incipiente dos sim, a implantação, na década passada,
setores de produção de energia e para de importantes eixos de circulação ter-
as limitações regionais que se opõem restre foi da mais alta relevtncia para o
ao fortalecimento do quadro energé- fortalecimento do intercâmbio da Ama-
ticos, mas, em compensação, assinala os zônia com o Pais e, ao mesmo tempo,
primeiros passos num sentido de para a aceleração do processo de mu-
progresso na utilização de outras fon- dança do estilo e da estrutura das
tes, e a facilidade que o caráter, ainda relações internas e externas da Região
não evoluído, da produção de energia Norte.
enseja para uma reorganização do sis-
tema energético global da Região, O processo integrador da Amazônia é
apontando promissoras perspectivas dos mais ricos em fatos e perpecti-
para o setor e, conseqüentemente, para vas dentro da polftica nacional ge-
o desenvolvimento econômico regional. raL com o objetivo de equilíbrio e
relacionamento entre as áreas. Não se
Por sua vez, a circulação de pessoas e pode negar a influência da economia
de bens - até há pouco calcada na na- paulista neste processo através do ne-

XII
xo estabelecido, a partir dos anos 40, quadro agrário mediante aumento da
entre a expansão industrial de São lavoura e da pecuária, com tendência
Paulo e a economia amazônica, revi- crescente a urna expressão maior na
gorada esta com o advento e desenvol- economia da Amazônia. Deve-se, con-
vimento da juta e com a implantação tudo, assinalar que outro setor extra-
de projetos agropecuários à sombra das tivista - o mineral - vem crescendo
facil:dades fiscais oferecidas pelo Go- de significado, mercê da ação direta
verno Federal, dentro da sua diretriz de origem estatal. Trata-se, pois, a
desenvolvimentista, da atenuação das Amazônia, de uma área onde, a des-
diferenças regionais e da menor discre- peito da permanência de antigos mo-
pância na distribuição da renda. delos de atividades econômicas, ao
lado de estruturas industriais ainda
Ainda assim, a economia da Região frágeis, opera-se significativa mudança
Norte continua baseada no extrativismo estrutural tanto na vida de relação
vegetaL este com sinais de declínio, quanto no setor da economia e do
enquanto se verificam modificações no desenvolvimento.

XIII
SUMÁRIO

RELEVO

INTRODUÇÃO

I. O CONHECIMENTO DA AMAZôNIA !I

2. ESTRUTURA GEOLóGICA 9
2. 1 A Bacia Amazônica 10
2.2 A Bacia do Acre ou a Região Ocidental 12
2.!1 A Bacia de Marajó 12

!1 . OS GRANDES QUADROS GEOMORFOLóGJCOS 14


!I .1 A Planície Amazônica 15
3.1 . 1 A Planície de Inundação 15
!I .1.2 As Terras Firmes 17
!1.2 Os Escudos Cristalinos 21
!1.!1 O Litoral Amazônico 2!1

•. PROCESSOS MORFOGEN:tTJCOS E PROBLEMAS GEOMORFOLóGICOS


DO MODELADO AMAZôNICO 25
4. I A Meteorização 26
4 .2 Papel do Escoamento 27
4 . !I Alguns Problemas Morfológicos da Amazônia 29
4. !I . 1 Adaptação da Rede de Drenagem às Direções Estruturais do
Embasamento Cristalino 29
4.5.2 Oscilação do Nível do Mar e Tectônica Quaternária na Elabo~ção
dos Níveis de Várzea e de Terras Firmes 30
4. !I. 3 Condições Paleoclimáticas Responsáveis pela Elaboração das
Superfícies Aplainadas da Amazônia 31

CONCLUSOES 53

NOTAS DE REFERtNCIAS !15

BIBLIOGRAFIA 36
36

CLIMA
INTRODUÇÃO 59

1. PRI~CIPAIS SISTEMAS DE CIRCULAÇÃO ATMOSF~RICA 39


2. PRINCIPAIS ASPECTOS TtRMICOS 42
S. PRINCIPAIS ASPECTOS PLUVIOM:tTRICOS 46
!I . 1 Desvios Pluviométricos Anuais em Relação às Normais 50
4. PRINCIPAIS DIFERENCIAÇôES CLIMÁTICAS 53
CONCLUSOES 54
NOTAS DE REFERtNCIAS 56
BIBLIOGRAFIA 58

XV
VEGETAÇÃO

INTRODUÇÃO 59
l. FLORESTA PERENIFóLIA HIGRóFILA HILEIANA AMAZONICA (HlliiA) 6!1

1 .1 Distribuiçao 64
1. 2 Co~posição Florística 66

2. FLORESTA PERENIFóLIA PALUDOSA RIBEIRINHA PERIODICAMENTE


INUNDADA 71

2.1 Distribuiçao 72
2. 2 Composição Flor{stica 75
!1. FLORESTA PERENIFóLIA RIBEIRINHA PERMANENTEMENTE INUNDADA 74

4. FLORESTA SUBCADUClFóLIA AMAZONICA 75

5. CERRADO 80

6. CAMPOS 81

6.1 Os Campos Mistos ou Alagáveis 82


6.2 Os Campos de Várzea 85
6.5 Os C•mpos Finnes 85
7. COMPLEXOS DE RORAIMA, CACHIMBO E XINGU 84

..
8. VEGETAÇÃO LITORA.NEA 87

CONCLUSOES 88

NOTAS DE REFER2NCIAS 90

BIBLIOGRAFIA 91

HIDROGRAFIA

1. A BACIA AMAZONICA NO QUADRO GEOTECTONICO E HIDROGRAFICO


DO CONTINENTE SUL-AMERICANO 95

2. O TECTONISMO E O EUSTATISMO NA DRENAGEM REGIONAL 97

5. A EXPRESSÃO CONTINENTAL DA BACIA AMAZONICA 106

4. OS CONDICIONAMENTOS DO CLIMA. REGIMES. AS CHEIAS DO AMAZONAS 108

5 . . O RIO AMAZONAS. EXTENSÃO E DESCARGA. TRANSPORTE DE


SEDIMENTOS E CONSTRUÇÃO FLUVIAL 117

6. CARACTERISTICAS MORFOHIDROLóGICAS. A DRENAGEM NA VÁRZEA E


NA TERRA FIRME AMAZONICAS. FORMAÇOES LACUSTRES 1"30

7. O DELTA·ESTUARIO DO AMAZONAS 145

8. AS MARts NO LITORAL AMAZONICO 151

9. CONCLUSÃO: A HIDROGRAFIA NA ORGANIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO


REGIONAL 155

NOTAS DE REFER2NCIAS 158

BIBLIOGRAFIA 164

XVI
POPULAÇÃO

INTRODUÇÃO 167

1. EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO 170


1. 1 Evolução da Populaçio Total 170
1.2 Evolução da Populaçlo Urbana e Rural 175

2. CARACTERtSTICAS DEMOCR.AFICAS DA POPULAÇÃO 178


2.1 Composição por Sexo 179
2 .2 Estrutura Etliria 181
2 . 5 Populaç:lo Ativa e Estrutura Profissional 185

5. MOBILIDADE DA POPULAÇÃO 195


!1.1 Migraç6es Intra-Regionais 194
5. 2 Migrações Inter-Regionais 199
5.2.1 Emigração 199
8.2.2 Tipos de Fluxos Emigratórios 205
5.2.5 Imigraçao 206
5.2.4 Tipos de Fluxos Imigratórios 211
5. 5 As Migrações Recentes e suas Variações Espaciais 214
5. 5 . I Distribuiçio Espacial dos Migrantes 218

4. REPARTIÇÃO ESPACIAL DA DINÂMICA DA POPULAÇÃO RURAL 228


4 . 1 AmazOnia Oriental 255
4 .2 AmazOnia Ocidental 256

5. PADROES DA URBANIZAÇÃO E O CRESCIMENTO DAS CIDADES 242

5.1 Tend~ncias da Concentração Urbana 244


5.2 Crescimento Urbano das Cidades 246

6. CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS E PROBLEMAS DEMOGRÁFICOS DA REGIÃO 259

NOTAS DE REFERtNCIAS 268

BIBLIOGRAFIA 271

TRANSPORTES

INTRODUÇÃO 275

1. REPARTIÇÃO ESPACIAL E COMPLEMENTAR DAS VIAS E CANAIS 274


1. 1 Hidrovias 276
1.1 .1 Jntra·Regionais 276
1. 1.2 Inter-Regionais Cabotagem e Longo Curso 286
1.2 Canais Rodoviários, Ferroviários e Aerovias 292
1.2.1 Canais Rodoviãrios 292
1.2.2 Canais Ferrovilirios 296
1.2. 5 Aerovias 296

xvn
2. FLUXOS DE CARGA E DE PASSAGEIROS 298

2 .I Fluxos de Mercadorias 299


2.1.1 Exportaç!o de Produtos Regionais 300
2 .1 . 1. 1 Exportação Imra-Regional 300
2 .I. I .2 Exportaçlio Inter-Regional SOl
2.2 Exportação do Minério de Manganês 305
2 .li _ Distribuiç~o Intra-Regional e Importaçlio Inter-Regional !106
2.3.1 Distribuição de Bens !106
2.3.2 A Importa~o por Cabotagem e Longo Curso !108
2.4 Fluxos de Passageiros !112
2.4 .I Fluxos Intra-Regionais !112
2.4.2 Fluxos Inter-Regionais !116

CONCLUSOES !117

NOTAS DE REFERtNCIAS 319

BIBLIOGRAFIA !120

ENERGIA

INTRODUÇÃO !12!1
1. FONTES ENERGtTICAS !124
1.1 Combustíveis Líquidos: Petróleo e seus Derivados !124
1.2 Combustíveis Sólidos !128

2. SISTEMA ELtTRICO !I!lO

2.1 Redes Locais de Transmissão de Energia Elétrica !135


!1. A SUBSTITUIÇÃO E A ALTERNÃNCIA DE FONTES NO SISTEMA
ENERGtTICO GLOBAL

NOTAS DE REFERtNClAS !140

BIBLIOGRAFIA 540

ATIVIDADE AGRÁRIA

INTRODUÇÃO 541

1. A AGRICULTURA NA REGIÃO NORTE 341

2. CARACTERfSTICAS SOCIAIS DA ORGANIZAÇÃO AGRÁRIA !142

2 .I Estrutura Fundiária 543


2.2 O Regime de Exploração da Terra 344

3. CARACTERfSTICAS FUNCIONAIS E ECONOMICAS DAS ATIVIDADES


AGRARIAS 347
(\ 3 . 1 Comb~naçlio de Culturas 348
( _ 5.2 Culturas Alimentares !!50
"'(!., 3 As Culturas Industriais !!52
5.4 A Pecuária !!58
!1.5 O Extrativismo Vegetal !165

XVIII
4. PROJETOS E PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO AGRtCOLA DA
REGIÃO NORTE -A AÇÃO GOVERNAMENTAL 577

5. A ORGt\NIZAÇÃO AGR.ARIA 580

6. TIPOS DE ORGANIZAÇÃO AGRARIA 586

CONCLUSOES !190

NOTAS DE REFERt.NCIAS !191

BIBLIOGRAFIA !192

INDÚSTRIA
INTRODUÇÃO 595

1. A INDúSTRIA DA AMAZONIA NO CONTEXTO BRASILEIRO - EVOLUÇÃO !195

1. 1 Posiçlio da Indústria na Renda Regional e Nacional 595


1.2 Evoluçao do Pessoal Ocupado na Indústria 397
1.!1 Composiçlio do Setor Industrial 398

2. FATORES E PROBLEMAS DA IMPLANTAÇÃO INDUSTRIAL 399

2.1 As Fases Históricas !199


2.2 A Indústria Dentro da Economia Extrativa Florestal 400
2. 5 A Industrialização dos Produtos Agrícolas 404
2 .4 Planos e Organismos para o Desenvolvimento da Amazônia e o Suno
Industrial Decorrente dos Incentivos Fiscais 404

3. A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA ATIVIDADE INDUSTRIAL DE


TRANSFORMAÇÃO E DA MINERAÇÃO 406

5. 1 Centros de Atividade Industrial de Transformaçlio 406


5. I .1 Manau.t 407
3.1.2 Belm 408
3. I . 5 Outros Centros 409

5.2 Centros de Mineraçlio 410


5.2.1 Amapá 411
!1. 2. 2 Rondônia 411
5. 3 Áreas de Garimpos 412

4. RESERVAS 412

4.1 Serra dos Carajás 413


4.2 Distrito Ferrífero de Jatapu 415
4.5 Capanema e Monte Alegre 415
4.4 Nova Olinda 415
4. 5 Serra de Oriximiná 415

CONCLUSOES 415

NOTAS DE REFEUNCIAS 421

BIBLIOGRAFIA

XIX
SISTEMA URBANO
SISTEMA URBANO

INTRODUÇÃO

I. OS FATORES LOCACIONAIS NA ORIGEM DAS CIDADES DA


REGIÃO NORTE

2. COMPORTAMENTO DOS NúCLEOS URBANOS ·UO

5. CARACTERtSTICAS ESTRUTURAIS DAS CIDADES 457


5.1 Tamanho Funcional 457
5 .2 Infra·Estrutura Social e Econômica 445
5.5 Acessibilidade à Metrópole Regional 448
!1 .4 Grau de Tradicionalismo ou de Modernização das Indústrias 448
!1.5 Esboço de Tipologia Urbana 450 ...
4. AS CIDADES E SUAS REGIOES DE INFLUtNCI:\ 452

4. 1 A Organizaç!io Urbana da Rcgi~o


4 . 2 Centros Macro· Regional, .í<.egional .! Sub· Regionais
452
454 ..
NOTAS DE REFERtNCIAS

XX
INTRODUÇÃO

Em linhas gerais, o relevo da


Região Norte é comandado pela es-
trutura geológica na qual dois aspec-
tos fundamentais são realçados: um
domínio de bacias sedimentares, con-
tido entre estruturas de escudos cris-
talinos.
A bacia. sedimentar do Amazonas
apresenta-se superficialmente como
uma grande planície de topografia
aparentemente homogênea, recoberta
de florestas e fracamente povoada.
Nela, a suavidade das formas mascara,
no entanto, estruturas geológicas e tec-
tônicas complexas.
Esta imensa área sedimentar se esten·
de de leste para o oeste, de Marajó às
fronteiras brasileiras dos Estados do
Amazonas e do Acre, com a Colômbia,
Peru e Bolívia, ocupando uma área de
mais de 2. 000.000 km2• Estreitando-se
no leste, e alargando-se para o inte-
RELEVO rior, a bacia sedimentar limita-se pela
zona pré-andina Amazônica e, mais
AMI!LIA ALBA NOGUEIRA MOREIRA
para oeste, pelos dobramentos da zona
subandina que antecedem os grandes
relevos andinos.
Alongada de leste para noroeste, a
área sedimentar é limitada, ao norte,
pelo escudo das Guianas e, ao sul, pelo
escudo brasileiro, estes relevos planál-
ticos modelados em rochas do Pré-
Cambriano.
A bacia sedimentar e os escudos peri-
féricos são banhados pela rede de dre-
nagem amazônica, constituída pelo rio
Amazonas e seus formadores, entre os
quais podem ser mencionados:
a) pela margem direita, o Madeira, o
Purus e Juruá, que têm suas nascentes
fora do Território Brasileiro, e o Ta-
pajós e o Xingu, oriundos do Planalto
Brasileiro.
b) pela margem esquerda, o Japurá,
o Negro e o Trombetas, procedentes
dos Andes bolivianos e do Planalto das
Guianas.

1
Correndo nos planaltos, sobre rochas De dimensões mais amplas, porém de
do escudo cristalino Argueano e Algon· altitudes mais reduzidas, o bloco cris-
quiano ou sobre os sedimentos que os talino do sul se dispõe de sudoeste para
recobrem, esses rios convergem para a o nordeste através das serras de Pacaás
bacia sedimentar, onde desenvolvem Novos e dos Parecis, estas com cober-
grande extensão de seus cursos sobre tura sedimentar no Território de Ron-
sedimentos Cenozóicos. Entre esses rios dônia, Apiacás e Cachimbo, no Mato
estão o }apurá, o Juruá, o Puros e o Grosso, e Seringa e Carajás, no Pará.
Madeira, que encontram o Amazonas
no trecho em que a bacia sedimentar é Os escudos cristalinos são modelados
mais ampla. Já os rios Negro, Trombe- em rochas do embasamento gnáissico
tas, Tapajós e Xingu, que drenam para (do Pré-Cambriano Indiviso) e rochas
o médio e baixo curso do rio Amazo- do Cambro-Ordoviciano e apresentam-
nas, através d'uma bacia sedimentar se, em certos trechos, capeados por se-
menos ampla, tem apenas seus baixos dimentos Paleozóicos e Mesozóicos.
cursos sobre os sedimentos recentes.
Recobertos por formações florestais e
Além destes rios, outros numerosos Campos Cerrados, os domínios crista-
afluentes e subafluentes poderiam ser linos são ainda pouco conhecidos, em
mencionados na composição do maior particular o trecho do escudo brasi-
conjunto fluvial do mundo - a bacia leiro.
do rio Amazonas.
A grande bacia de sedimentação do
Topograficamente, a Planície Amazô.. Amazonas passou por uma complexa
Dica e os escudos periféricos podem evolução geotectônica. Nela, as séries
apre6entar-se nivelados, cortados por sedimentares Paleozóicas foram depo-
uma mesma superfície de erosão, sitadas sob o mar durante as transgres-
porém, geomorfologicarnente, a pla- sões marinhas provenientes de sul-
nície comporta-se como área de subsi- sudeste, no Paleozóico Inferior e
dência, na qual os processos de sedi- Médio. Oriundas do noroeste e, por-
mentação Holocênica são predominan- tanto, do geossinclinal subandino são
tes. Já as áreas de escudos são carac- as transgressões do Paleozóico Supe-
terizadas por tendências tectônicas po- rior não continuadas no Mesozóico. A
sitivas e, no conjunto, os processos da partir de então, a bacia de sedimen-
erosão tornam-se dominantes. tação do Amazonas passou a evoluir
sob condições continentais, exceção
Assim, a bacia de sedimentação forma feita ao trecho de Marajó, que sub-
a extensa planície amazônica, cujas al- mergiu a profundidades superiores a
titudes não vão além de 100 metros, 4.000 metros durante o Terciário.
ao passo que os trechos de escudos se
erguem como planaltos ou vão se com- A evolução da bacia sedimentar com-
portar como maciços montanhosos preendeu fases de submersão, de emer-
como nas serras de Imeri-Tapirapecó, são, intrusões de rochas eruptivas,
onde é encontrado o pico da Neblina, falhamentos e fraturamentos. No Pós-
ponto culminante do Brasil, com a Cretácio a grande vaga de sedimen-
altitude de 3.014 metros. Entre esses tação continental e lacustre favoreceu a
blocos elevados estão aqueles que deposição dos sedimentos elásticos da
formam a fronteira com a Venezuela, formação Barreiras, sendo, de então,
como as serras de Parirna e Pacaraima, a abertura da drenagem para o Oceano
com o monte Roraima, na altitude de Atlântico.
2.875 metros. O conjunto cristalino es-
tendido de oeste para leste forma A partir do Quaternário, vêm sendo
também as serras de Acaraí e Tu- estruturadas as várzeas amazônicas,
mucumaque, dispostas de modo alon- mais amplas no médio curso, em parti-
gado no norte do Pará e, no seu cular a jusante de Manaus. Estreitan-
extremo leste, penetra no Território do do-se em óbidos, as várzeas se alargam
Amapá, onde se aproxima do mar. novamente no baixo curso dos rios

2
Amazonas e Tocantins, e na ilha de paleocJimáticas na explicação dos
Marajó, à semelhança de um enorme aplainamentos e sedimentações corre-
delta. lativas. No relativo à foimação Barrei-
ras, ficou patenteada a diversidade dos
A partir da segunda metade do século processos responsáveis pela vasta sedi-
passado, as rochas da bacia sedimen- mentação.
tar passaram a constituir tema de pes-
quisa para instituições e pesquisadores O relevo da Região Norte engloba um
isolados, interessados no conhecimento vasto e mal conhecido campo de pro-
da geologia regional e dos recursos blemas geomorfológicos, no . qual
minerais. Assim, parte inicial deste alguns de seus aspectos poderão ser
estudo foi dedicada a uma breve re- melhor conhecidos, como os estudos
trospectiva das pesquisas geológicas e que vêm sendo feitos pela Companhia
geomorfológicas realizadas na Região. de Pesquisa de Recursos Minerais
Iniciados na planície, esses estudos fi. ( CPRM) no sul do rio Amazonas. Re-
caram restritos à área ribeirinha e à cobrindo uma área de 1.500.000 km2,
geologia de superfície e deles resul- as fotografias "imageadas" pelo radar
taram os elementos essenciais para a (Projeto Radam), poderão contribuir
explicação da Planície Amazônica como para o conhecimento de aspectos do
um grande sinclinal, de evolução modelado ainda totalmente desconhe-
homogênea. cidos, e para a reformulação de velhas
premissas relativas à homogeneidade
No início do século atual novas pers- das condições e recursos naturais exis-
pectivas foram abertas ao conheci- tentes no imenso espaço amazônico.
mento do subsolo amazônico através
das sondagens realizadas para a pes-
quisa do carvão mineral e, posterior-
mente, a partir de 1940, com as sonda· 1 - O CONHECIMENTO DA
gens profundas e estudos geofísicos do AMAZÔNIA
Conselho Nacional do Petróleo e da
PETROBRÁS. As idéias relativas à ho- O esboço estrutural da Amazônia é
mogeneidade do sinclinal amazônico, conhecido desde o século passado,
vigent~s no início do século,· foram como o resultado de viagens de reco-
abandonadas pela identificação das nhecimento, de expedições científicas
complexas unidades geotectônicas a e dos trabalhos de pesquisadores iso-
saber: a bacia do Amazonas, a bacia lados, atraídos pelo misterioso da
do Acre, e a bacia de Marajó. Região que ainda hoje continua a desa·
fiar os estudiosos e as instituições vol-
No que respeita aos estudos geomorfo- tadas para seus problemas. De maneira
lógicos, apenas grandes unidades geral, as cartas sobre a Amazônia apre-
podem ser identificadas: os planaltos, sentam grandes claros e extensas gene-
correspondentes aos trechos de es- ralizações devido ao caráter localizado
cudos, e a planície com os aspectos das pesquisas, muitas das quais ainda
relativos às várzeas e às terras firmes. em nível de reconhecimento. A vasti-
dão a ser explorada, de cerca de ~
Nestes citados quadros, conhecidos e do Território Brasileiro, e a presença
descritos de maneira localizada, foram de floresta constituem entrave ao co-
destacados alguns dos processos nhecimento da Região, na quaL os estu-
atuantes na elaboração do modelado e dos realizados limitam-se às bordas ri-
alguns problemas geomorfológicos. beirinhas, portanto de modo localizado,
Entre estes, foram sumariamente des- ou ao longo das rodovias que vão
critos os problemas de adaptação da sendo abertas na floresta nos dias pre·
drenagem às condições estruturais, o sentes.
das características das várzeas em re· O interesse científico pela região data
!ação aos processos da sedimentação da segunda metade do século XIX,
Holocênica, e os de certas condições quando, ao lado das narrativas e des·

s
crições de viagens, iniciam-se as pes· Maicuru, o rio Trombetas e a ilha de
quisas relativas à geologia e à paleon- Marajó, onde foram realizadas pesqui-
tologia. sas e coletados fósseis.
Duas fases são reconhecidas nos es- Baseado em experiência própria e no
tudos relativos à Região: uma fase pio- grande trabalho de Hartt, já então
neira até o fim do século XIX, e uma falecido, Derby esquematizou a evo-
mod~rna, do início do século aos dias lução geológica da Amazônia, quando,
atuais. 1 em 1877, publicou nos arquivos do
Museu Nacional, o trabalho sobre
A primeira fase, do fim do século XIX, "Contribuição para a Geologia da Re-
é caracterizada por estudos relativos à gião do Baixo Amazonas". 2 O mar
geologia de superfície, estratigrafia e Siluriano, situado entre as duas ilhas
paleontologia, realizados também de arqueanas do escudo das Guianas e
modo localizado. Entre seus pesquisa- do escudo Brasileiro seria, segundo
dores podem ser enumerados João aquele autor, o ponto de partida para
Martins da Silva Coutinho, que estudou a evolução da bacia, na qual o caráter
os fósseis Paleozóicos do Tapajós, e marinho da sedimentação Siluriana,
W. Cliandless, com estudos relativos Devoniana e Carbonífera continuou até
aos fósseis Carboníferos do Parauari o Mesozóico, quando o canal existente
nos anos de 1865-1866. entre as duas ilhas foi se estreitando
No mesmo período foram realizadas cada vez mais.
expedições científicas à Amazônia, ca- No Pós-Cretáceo o levantamento da
bendo importância àquela chefiada por cordilheira andina no oeste teria fe-
L. Agassiz, a qual contou com a co- chado o golfão, onde teve início a de-
laboração do citado Silva Coutinho e posição do Terciário, então considera-
de C. F. Hartt que, mais tarde, ma do como de origem marinha. Entre-
participar. da expedição de Morg~n, tanto, o mar amazônico teria buscado
cujo objetivo era estudar o Paleoz61co saída para o leste, estabelecendo-se a
do Tapajós e o Devoniano e o Cretáceo drenagem atual para o Atlântico.
do Ererê. Os resultados da expedição
de Agassiz foram duvidosos e contro- As séries terciárias foram estudadas
vertidos, como a teoria glaciária para por Derby como formadas por grés
explicar a elaboração da calha amazô- e argilas de cores vivas e variadas,
nica, porém os trabalhos de ~artt pouco coerentes quando não consoli-
foram sendo progressivamente ennque- dadas, contendo óxidos de ferro.
cidos quando este estudioso foi nome- Quando não desnudadas essas forma-
ado para dirigir a Comissão Geológica ções aparecem recobertas pela floresta
do Império, de 1875 a 1877. que, uma vez devastad~, deixa apare-
As séries Paleozóicas continuaram a cer solos arenosos e estereis. As obser-
constituir foco de interesse das pes· vações realizadas nas várzeas mostram-
quisas estratigráficas, sendo as mesmas nas formadas por argilas amarelas e
descobertas no lado norte da calha pretas, impregnadas de matéria orgâ-
amazônica, em 1876. nica.

Em 1870 Derby já havia participado Embora as idéias de Derby e Hartt


de uma expedição dirigida por tenham sido contestadas em detalhes,
Hartt. Mais tarde os dois exploraram seus traços gerais se mantiveram até
o rio Tocantins até a cachoeira quase os dias atuais. Desse modo, ao
Guariba, e o rio Tapajós até a cacho- findar o século, tinha-se elaborado a
eira de Ap\l.Ílll e as regiões de Santa· teoria do esboço estrutural amazônico,
rém do rio Ererê e da serra de Para- modificado à medida que surgiram
'
naquara. Mais tarde Derby retornou novas teorias para explicação dos
ao Amazonas, onde estudou o Ererê, o grandes conjuntos regionais existentes.

4
Além das numerosas pesquisas sobre o tudadas por C. Maury ( 1924, 1929)
Paleozóico, as camadas Terciárias tam- e com as descrições geológicas e estu-
bém constituíram objeto de estudos dos paleontológicos realizados então
com os nomes de C. White e P. no século anterior, podem-se estabele-
Gervaís, no litoral, no baixo e no alto cer as características da evolução da
Amazonas. Os fósseis da formação Pe- bacia de sedimentação amazônica.
bas foram identificados no rio Solimões
e no rio Javari, bem como os depósitos Pesquisas paleontológicas em tomo de
vegetais dos Fios Trombetas e Curuá. fósseis Paleozóicos e Cenozóicos conti-
nuaram a ter curso de 1936 a 1938, com
Na fase denominada de moderna os nomes de P. Erichsen de Oliveira,
(Camargo Mendes, cit.) situam-se os M. C. Oliveira Roxo, C. Maury, E. W.
estudos estratigráficos levados a efeito Barry e Miranda Ribeiro. Então, no
pelo Serviço Geológico e Mineralógico . plano institucional, as pesquisas sobre
do Brasil a partir de 1900. Seguem a Amazô.nia eram levadas a cabo pelo
as pesquisas do Serviço de Fomento
Serviço do Fomento da Produção Mi-
da Produção Mineral, do Conselho Na-
cional do Petróleo e da PETROBRAS neral. Mais tarde, com a criação do
que abrem paulatinamente novas pers- Conselho Nacional do Petróleo ( CNP),
pectivas ao conhecimento da Amazô- novo grande passo foi dado no conhe-
nia. cimento da Amazônia. Paralelamente
aos estudos do CNP, estudos paleonto-
Além das pesquisas efetuadas por ins- lógicos foram feitos por S. Petri ( 1952,
tituições, numerosos estudos de pesqui- 1954) e S. Amaral (1955) que pes-
sadores ísolados ou vinculados àquelas quisaram testemunhos das sondagens
mesmas instituições permitiram melho- do CNP. Também o Departamento de
res conhecimentos tanto no domínio da Geologia e Paleontologia da Universi·
estratigrafia como da paleontologia, dade de São Paulo, em colaboração
tectônica e geomorfologia. com o CNP, desenvolveu estudos na
Amazônia a partir de 1948, tendo rea-
No tocante à estratigrafia-paleontolo-
lizado a coleta e identificação de
gia, merecem realce as pesquisas de-
senvolvidas no início do século pelo fósseis, com J. C. Mendes (1956, 1957),
Serviço Geológico e pelo Serviço do Petri (1956, 19-J/) e S. Amaral ( 1954).
Fomento da Produção Mineral, relati-
vas ao carvão, que muito representa- A Divisão de Geologia e Mineralogia
ram para o conhecimento da estrati- do DNPM também realizou estudos
grafia amazônica, muito embora as sobre fósseis Paleozóicos com W. Kegel
sondagens realizadas no médio Amazo- ( 1951) e W. Sommer ( 1953) .
nas não se tenham aprofundado a maís
de 700 metros. Relativamente às estruturas tectônicas
.da bacia sedimentar, grande foi a con-
Entre os numerosos estudiosos da geo- tribuição do Conselho Nacional do
logia regional devem ser mencionados, Petróleo durante o período de 1944 a
entre outros, os nomes de F. Katzer, 1953, fase em que foram realizadas
do Museu do Pará, que escreveu em perfurações profundas para a pesqui-
1903 sobre a Geologia do Baixo Ama- sa do petróleo.
zonas; Gonzaga de Campos ( 1913), O.
Albuquerque ( 1918, 1919), A. Ignácio Embora a estrutura anticlinal de
de Oliveira ( 1921, 1924, 1926, 1928), Monte Alegre tenha sido identificada
P. F. Carvalho ( 1921 ), M. C. Oliveira desde os trabalhos de Derby ( 1877),
Roxo ( 1924) Pedro de Moura e A. A. bem como posteriormente identifica-
Bastos ( 1929) e, ainda, Moura ( 1932). dos os mergulhos regionais do Carbo-
nífero, somente os estudos do CNP
As coleções de fósseis do Paleozóico revelaram as estruturas tectônicas exis-
e do Cenozóico foram descritas e es- tentes. A fossa de Marajó foi desco-

5
berta a partir das pesquisas realizadas -terra firme. Em 1949 P. Gourou, rea-
pelo Conselho Nacional do Petróleo, lizando estudos na região de Gurupá,
bem como as estruturas anticlinais de na foz do Amazonas, e na área de Ma-
Nova Olioda e os dobramentos N-S do naus, no médio-curso, pôde sistematizar
Juruá relacionados à tectônica andina. suscitando entre os numerosos proble-
mas morfológicos da Amazônia e dos
Os estudos geofísicos do CNP deixam vales submersos e o da formação das
ver que a profundidade maior da Ba- lateritas.
cia não coincide com o eixo do rio
Amazonas, mas se desloca para o sul Entre 1951-1959 aparecem oo; numero-
do mesmo. Revelam também que a Ba- sos trabalhos de A. T. Guerra sobre
cia não possui estrutura nem evolução as lateritas amazônicas do Rio Branco
homogênea, mas variadas, o que per- e Amapá.
mitiu J. Camargo Mendes ( 1967) sub- Contribuição à geomorfologia amazô-
dividi-la em três grandes unidades nica é também dada pelos estudos de
geotectônicas, a saber: a região cen- D. Heinsdijk ( 1957, 1958, 1960) pu-
tral, a região oriental e a região oci- blicados pela FAO, como resultado de
dental. 3 pesquisas levadas a cabo no Xingu-
Tapajós, Tocantins, Guamá-Capim, Ta-
A partir de então considerou-se a rede
pajós e Madeira; H. Sioli ( 1964),
de drenagem adaptada às direções tec- com estudos relativos aos solos e vege-
tônicas dominantes de SW-NE e de tação amazônicos chegando a esque-
NW-SE, direções essas que se apro- matizar as relações entre várzeas e
ximam da tectônica marajoara. 4 terras firmes. Também sob os auspícios
No tocante à geomorfologia, as pesqui- da F AO·SPVEA, existe o trabalho de
sas são menos numerosas que as de es- L. S. Vargas ( 1958), e sobre os níveis
tratigrafia e as observações relativas do baixo e médio Amazonas o trabalho
ao modelado estão geralmente incluí- de M. R. Mousinho Meis.
das em estudos de outras especialida- Destacados devem ser os trabalhos de
des, como nos de geologia-tectônica, Sternberg ( 1954) sobre os vales
solos, hidrografia e vegetação. Além tectônicos na Amazônia; ( 1960) a tese
destas, pesquisas geomorfológicas pro- sobre o paraná do Careiro, com a
priamente ditas têm sido realizadas, datação do material da várzea atra-
tendo por objetivo as mensurações de vés do método do carbono 14; (1964)
níveis de terraços e de terras firmes, em com mensurações feitas no leito do rio
pontos isolados da calha amazônica e - Amazon River Investigations. De
relacionados a movimentos glácio·eus- Ab'Saber ( 1957) As flutuações cli-
táticos. A identificação de áreas pedi- máticas do Quaternário no Brasil;
planadas nos terrenos cristalinos do ( 1966) sobre as superfícies aplainadas
alto rio Branco tem sido foco de inte- e terraços da Amazônia e ( 1967)
resse, resultando em estudos localiza- Problemas Geomcrfológicos da Ama-
dos e sistematizações válidas até hoje. zc'lnia Brasileira. Este último, bem
Com respeito à geomorfologia, além como o trabalho de J. Camargo Men-
da obra de Derby, não podem deixar des ( 1967) sobre a Evolução Geol6-
de ser mencionados os trabalhos de gica da Amaz6n1a, são ricos de elemen-
Katzer ( 1903) na identificação de ní- tos interessantes sobre os problemas
veis de terraços fluviais ao norte de estruturais e morfoclimáticos da região.
óbidos; Marbut e Manifold ( 1925) A realização ( 1966) do Simpósio sobre
que identificaram os níveis de Marajó, a Biota Amazônica, em cujas atas
Parintins e Codajás; Pedro de Moura estão publicados os dois últimos traba-
(1943) que, como ge6logo do CNP, lhos e numerosos outros de grande
estabeleceu magnífica descrição e in- interesse como o de O. Barbosa sobre
terpretação dos níveis de várzea e da tectônica na Bacia Amazônica; J. M.

6
Mabesoone sobre Sedimentos correla- sideração suas feições estruturais e es-
tivos do clima trOpical; H. Grabert tratigráficas. O mesmo autór, no re-
sobre Desaguamento natural do sis- lativo aos aspectos geológicos, consi-
tema fluvial do rio Madeira, F. M. C. dera a Amazônia brasileira dividida
Freitas, Levantamentos hidrográficos geograficamente nas regiões: a fossa
efetuados pela Marinha do Brasil na 'superior, a média e a inferior, nos Es-
Amazónia e I. C. Falesi, O estado atual tados do Pará e Amazonas; a área do
de conhecimentos sobre os solos da alto Amazonas do Brasil ocidental, nos
Amazónia brasileira constituíram, entre Estados do Acre e do Amazonas.
outros, elementos indispensáveis à ela-
boração do presente capítulo. Também Camargo Mendes subdividiu
a Bacia Amazônica em outras tantas
2 - ESTRUTURA GEOLÓGICA unidades geotectônicas, a saber: a ba-
cia do Acre, a Bacia do Amazonas e a
Muito embora os elementos básicos de bacia do Maraj6. Octávio Barbosa con-
um esboço estrutural para a Amazônia sidera a Bacia Amazônica, por sua vez,
tenham sido estabelecidos desde o fim como composta pelas sub-bacias do
do século passado com os trabalhos dos alto c do médio Amazonas, separadas
estudiosos da Região, as idéias a res- pelo arco do Purus.
peito da mesma têm evoluído progres-
Sivamente com as numerosas perfura- No presente trabalho procurou-se
ções realizadas pela PETROBRÁS. A grupar os conjuntos existentes dentro
idéia do geossinclinal que teria sofrido de tres grandes unidades, como já o
subsidência no Cambriano e no Carbo- tinha feito o citado Camargo Mendes
nífero Inferior foi sendo modificada à em seus trabalhos, a saber: a Bacia do
medida que os estudos revelavam que Amazonas, englobando as sub-bacias do
os sedimentos existentes não ~e encon- alto e médio Amazonas, nas quais as
traram dobrados segundo a menciona- espessas séries Paleozóicas estão pre·
da estrutura, mas sim falhados em sentes; a bacia do Acre e a bacia de
idades diversas. 11 Segundo este mesmo Marajó. ( Fig. 1)
autor, a bacia sedimentar do Amazo-
nas forma uma extensa fossa interes-
cudal cratônica como um extenso e 2.1 -A Bacia Amazônica
complexo graben que separa os es-
cudos Brasileiro e das Guianas. Vai do oeste do Estado do Amazonas
ao rio Xingu e na área sudeste da ilha
Nos escudos foram comprovados sis-
temas de falhas de N e S complicadas de Marajó comunica-se com a bacia do
por outros sistemas de direção SW-NE, Parnaiba. Compreende as bacias do
as quais foram reativadas durante o alto e do médio Amazonas que se en-
Mesozóico e o Terciário. Em Marajó contram separadas pelo arco do Pu-
os falhamentos escalonados possuem rus. 6 (Fig. 2)
direção de SSW-NNE.
Alongadas de oeste para leste, de
A evolução das bacias de sedimentação modo aproximadamente simétrico nas
não se processou de modo semelhante duas margens do rio Amazonas, estão
para o conjunto da calha amazônica, dispostas as formações Paleozóicas, in-
mas, de modo diverso, de uma para terpostas entre as formações Cenozói-
outra parte.
cas da calha aluvial e os escudos peri-
O referido autor considera que a Ba- féricos.
cia do Amazonas pode ser subdividida
em duas unidades morfogeológicas: a O Paleozóico da margem norte se
fossa amazônica e a zona subandina aproxima do rio na área de Monte
do alto Amazonas, se tomadas em con- Alegre e ao sul afasta-se do leito

7
Região Norte
GEOLOGIA

,,

BA CIA
DE
MAR AJO

e \?. ~s\CEIRO

CONVENÇÕES

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fluvial, indicando que a bacia de se-
dimentação tem seu eixo deslocado
para o sul em relação ao rio. A espes-
sura do manto sedimentar varia nesta
área de 2.000 a 4.000 metros.
O Siluriano representa depósitos de
100 a 200 metros de espessura, repou-
<t sando em discordância com o crista·
z lino ou sobre as formações Eopaleozói-
<O
N
cas, sendo constituído por arenitos e
<t folhelhos contendo fósseis.
:E
<t No norte do rio Amazonas o Siluriano
<t
o vai do rio Jari ao rio Urubu, como
(/) uma estreita faixa. Identificado desde
IJJ 11)
o século passado no rio Trombetas, o
a:: <t
z
<t o Siluriano recebeu a denominação de
1- N
z w < série Trombetas. ( Fig. 3).
~
IJJ z <t
:E As rochas Devonianas têm maior es-
g
o ...,o pessura que as silurianas, possuindo
~~ ~
o
N cerca de 800 metros de arenitos, falhe-
(/) ~ o 0 lhos e calcários contendo fósseis.
<t <t li..
w
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Distribui-se, como o Siluriano, na área
<t
co ~ "' ao norte de Manaus, seguindo pelo rio
o Trombetas, passando por Monte Ale-
(/) ~
ct:E gre, de onde continua até o território
ox
o
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'IJJ C1.
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11)
:::>
a:
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0~08 do Amapá, aparecendo em Erepecuru,
Curuá e Maicuru. Ao sul ocorre pró-
ximo a Itaituba no rio Tapajós. Desco-
<t o o
o berto desde o século passado, o De·
a::
I~
1- o. o voniano constitui, hoje, centro de in-
<t w u
a:
a:: <t teresse das pesquisas do petróleo.
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()
O Carbonífero dispõe-se paralela-
1-
'<t mente ao Devoniano, situado entre
:E este e· o Cenozóico, possuindo espes-
IJJ
::> sura de 1.300 a 1.500 metros nas sonda-
o
(/)
gens de Nova Olinda. t formado por
IJJ calcários, folhelhos, siltitos, arenitos e
IJJ
evaporitos (halita e anidrita).
l-
a:: As formações Carboníferas, do mesmo
o modo que as Devonianas, foram objeto
()
de pesquisas desde o século passado,
tendo em vista a procura do carvão.
o Foi denominado de série Itaituba pois
ocorre na cidade deste nome, no Ta-
pajós.
A ocorrência de evaporitos no Carbo·
nífero tem sido interpretada por Ca-
margo Mendes, cit. como depósitos
~ químicos precipitados em bacias fe-
2 -t- ....I I I I I I

10

\
SECÇÃO TRANSVERSAL HIPOTÉTICA
DA BACIA DO AMAZONAS

Cen- CENOZÓICO
K CRETÁCEO C.F.JOSUÉ CAMARGO MENDES
c CARBONÍFERO EVOL . GEOLÓGICA DA BACIA
o DEVONIANO AMAZÔNICA-1966
s SILURIANO

chadas, sob condições secas, cuja ex- metros nas sondagens de Nov~ Olinda,
ploração econômica vem sendo difi- e um conglomerado basal que ocorre
cultada pelas profundidades em que se no início da seqüência.
encontram as referidas formações. A série Barreiras possui importância
O Carbonífero representa a última in- geomorfológica e desenvolve-se em
vasão marinha sofrida pela bacia do vasta área, tanto ao norte quanto ao
médio Amazonas. A partir de então a sul da calha amazônica, form,mdo as
região teria evoluído sob condições áreas interfluviais e aparecendo nos
continentais. barrancos que limitam os níveis de al-
titudes que vão de alguns a mais de
O Cretáceo aparece localizado em uma centena de metros.
Monte Alegre, em Alter do Chão, no O Quaternário forma, em relação ao
Tapajós e em Nova Olinda, possuindo Terciário, exígua faixa ao longo do rio
espessura variável de 167 a 582 metros Amazonas, penetrando também pelo
na sondagem de Nova Olinda. Esta baixo curso dos afluentes. O Pleisto-
formação é constituída por siltitos, ar- ceno é mais restrito em área do que o
gilitos e arenitos, identificados desde o Holoceno, sendo constituído por argi-
século passado nas serras de Monte las, sil:tes, areias e seixos que vão dar
Alegre. ( Fig. 4). origem aos terraços e tesos; o Holo-
ceno, composto de argilas, siltes e ma-
Outros sedimentos Mesozóicos foram téria orgânica, ocupa a vasta planície
encontrados nas sondagens de Nova
Olinda, entre os quais os da for- de inundação ou a várzea.
mação Sucunduri, que foram falhados
e, desse modo, puderam ser conserva-
dos. 7 2.2 - A Bacia do Acre ou a
Região Ocidental
O Cenozóico compreendt\ os depósitos
Terciários e Quaternários. O Terciário Ainda mal conhecida, a bacia do Acre
é o mais extenso, sendo representado não apresenta as mesmas sucessões se-
pela série Barreiras, constando de ar- dimentares da Bacia Amazônica pro-
gilitos, siltitos, arenitos e conglomera- priamente dita. Cerca de 90% dos seus
dos dispostos em discordância, ora sedimentos são de idade Terciária, de
sobre o cristalino ora sobre o Paleo- origem marinha e flúvio-lacustre, tendo
zóico, possuindo espessura de 170 a 500 sido estudados sob denominações di-

11
versas, como as formações Pebas, Ma- seu interior, os depósitos quaternários
naus, Puca e Rio Branco. Delas, a atingem espessuras de 250 metros;
mais conhecida é a formação Pebas, Loczy, cit.
depositada sob condições flúvio-ma-
rinhas, contendo fósseis. O Terciário De acordo com estudos recentemente
repousa sobre o Cretáceo ainda mal realizados pela PETROBRÁS ..... .
conhecido, de arenitos claros, com lei- (DEXPRO) na área da plataforma
tos de conglomerados, folhelhos e cal- continental da foz do rio Amazonas e
cários dobrados e falhados. Sob as da ilha de Marajó, a estrutura tectôni-
rochas Terciárias e do Cretáceo estão ca regional é caracterizada por "uma
os sedimentos Carboníferos. cadeia de grabens com falhas margi-
nais escalonadas" 8• Seus sedimentos do
Cretáceo ao recente são dispostos em
2.3 - A Bacia de Marai6 discordãncia sobre o Pré-Cambriano ou
sobre as rochas das bacias sedimenta-
~ formada pelas teuas baixas de Ma-
res paleozóicas do Amazonas e do Ma-
rajó, separadas da bacia do Amazonas ranhão. Os referidos sedimentos são
pelo horst de Gurupá e da bacia do
divididos em 3 unidades básicas:·
Maranhão pelo arco do Tocantins.
a) uma formação elástica basal cre-
A bacia de Marajó tomou-se conheci- tácica e arenitos grosseiros;
da pelos estudos do Conselho Nacio-
nal do Petróleo, cujas sondagens atra- b) uma formação paleocênica-miocê-
vessaram espessuras de 4.000 metros nica constituída por sedimentos elás-
de sedimentos, sem contudo atingir o ticos (formação Marajó) e por uma
embasamento cristalino. Em outra unidade rica em carbonatos (formação
sondagem realizada em Cururu, na ilha Amapá};
de Marajó, os sedimentos ocupavam
pacote espesso de 3. 858 metros, antes c) as formações pós-miocênicas se-
ae ser afcançado o cristalino. A se- riam representadas por sedimentos
qüência sedimentar da sondagem de elásticos, Schaller, Vasconcelos, cit.
Cururu foi descrita por S. Petri pelos autores acima.
( 1954). Sobre o cristalino foram en-
A origem da bacia de Marajó e da
contrados sedimentos cretáceos, for-
mados por folhelhos, arenitos e silti- plataforma da foz do Amazonas esta-
tos com restos vegetais e com espessura riam relacionadas aos falhamentos re-
maior de 2.000 metros. O Cretáceo apa- sultantes da rotação diferencial dos
rece penetrado por veios de diabásio. escudos das GuiaDas e Brasüeiro em
função da deriva continental sul-ame-
Sobre o Cretáceo dispõe-se o Mioceno ricana, intensificada do Cretáceo ao
espesso de 1.500 metros, constituindo a Mioceno e atenuada a partir do Pa-
formação Pirabas, cujos calcários fossi- leoceno. Na deposição do delta do
líferos foram recobertos pela série Bar- Amazonas foram constatadas pelos re-
reiras. Esta é composta de argilas se- feridos autores, "estruturas formadas
dimentárias, caolínicas e pesadas, sem por escorregamentos de massas sedi-
estratificação visível, possuindo espes- mentares, onde poderão ocorrer boas
sura de 100 metros. Retrabalhadas condições para a acumulação de petró-
pela erosão, estas argilas foram dar leo." e
origem ao Pleistoceno.
Um conjunto de bacias sedimentares
Falhamentos de idade P6s-Miocênica, separadas por soleiras cristalinas com-
com falhas escalonadas de direção põe a grande Bacia Amazônica brasi-
NNW-SSE e SW-NE teriam cortado e leira.
aprofundado o Mioceno, Camargo
Mendes, cit. Para o mesmo autor, a ori- Na evolução do conjunto têm que ser
gem da bacia é cretácia, com os falha- considerados os problemas de subsi-
mentos reativados no Cenozóico. No dência que afetaram trechos do escudo

12
Fig. 4 - Superfíci~. suavemente ondulada, desenvolvida sobre terrenos devonianos ~ região
de Monte Alegre, na qual se destaca o relevo da serra do Ererê, de idade cretác!Ca.

cristalino a partir do Eopaleozóico, fa- O mesmo teria sucedido no Devoniano


vorecendo a acumulação de milhares Médio-Inferior, bastante desenvolvido
de metros de sedimentos. As rochas no médio Amazonas e pouco desenvo-
Eopaleozóicás do grupo Uatumã, cons- vido no alto Amazonas.
tituídas por sedimentos elásticos, pilo-
elásticos e vulcanitos, indicam, de O Devoniano Inferior, com a forma-
acordo com Octávio Barbosa, fenôme- ção Maicuru, repousa em discordância
nos vulcânicos responsáveis pela sub- sobre o cristalino e seus depósitos in-
sidência que afetou o cristalino, dando dicam condições de mar raso; no De-
origem à bacia. voniano Médio a formação Curuá é
As rochas da formação Uatumã for- petrolífera, resultante de depósitos
mam, segundo Loczy, "um sedimento neríticos, ao passo que o Devoniano
basal típico, depositado provavel- Superior corresponde à formação
mente na primeira regressão marinha Ererê. No Carbonífero a formação
sobre as rochas metamórficas Pré-Cam- Monte Alegre é de depósitos basais,
briana." 10 representando transgressão; o Carbo-
nífero Médio é dado pela formação
Sobre as bacias formadas encontram- ltaituba, constituída por calcários e
se sedimentos Paleozóicos, distribuídos folhelhos, depósitos de mares rasos e
de modo descontínuo, conforme doeu· profundos e no Carbonífero Superior
mentam as omissões de algumas séries da formação Nova Olinda, de sal ani-
sedimentares acumuladas. Octávio Bar- drito, folhelho, arenito e calcário. 11
bosa indica que o Siluriano Inférior do
grupo Trombetas se encontra na bacia O Permiano está ausente ou não
do médio Amazonas, porém não no alto é conhecido e, entre o Carbonífero Su-
Amazonas, o que faz supor, então, a perior e os sedimentos Cretáceos, colo-
presença do arco do Purus como ele- cam-se os derrames basálticos que
mento de separação das duas bacias. foram dar origem a diques e sills. O

13
Cretáceo da formação Sucunduri é areias de Abunã, estratificadas e in-
terrestre e, a partir de então, as bacias clinadas para o oeste. 18 O levantamen-
do médio Amazonas e do Acre passa- to da cordilheira no oeste, favorecendo
ram a evoluir sob condições continen- uma maior pluviosidade, teria facul·
tais. Constitui exceção a fossa de Ma- tado a erosão regressiva do Madeira
rajó, onde sobre o Cretáceo vieram se na área onde está localizada a estrada
depositar os sedimentos marinhos da de ferro Madeira-Marnoré. Através de
formação Pirabas, de idade Miocênica rápidos e cachoeiras, nos arenitos Me-
sozóicos e nas formações Pré-Cambria-
e Pliocênica.
nas, foi o rio Madeira encontrar a dre-
Os grandes arqueamentos que afeta- nagem atlântica através do Amazonas.
ram os escudos cristalinos e suas co- O solevarnento dos Andes contribuiu,
berturas sedimentares no Pós-Cretáceo, portanto, de modo determinante para
são mencionados ao lado de condições o retomo da drenagem para o Oceano
paleoclimáticas secas, como alguns dos Atlântico e para a deposição correlativa
fatores que fizeram desencadear in- de areias, sl.ltitos, argilitos e conglome-
tensa vaga de erosão, da qual resultou rados da bacia do Acre, com caracterfs-
a sedimentação da formação Barreiras. ticas diversas daquelas encontradas nas
Esta formação recobre grande parte da bacias do médio Amazonas.
Planície Amazônica com características
de depósitos continentais.
No Terciário Superior a rede de dre- 3- OS GRANDES QUADROS
nagem amazônica foi estruturada, bus-
cando saída para o Atlântico. GEOMORFOLÓGICOS
O solevamento da cadeia andina no Os grandes quadros geomorfológicos
oeste, e o desenvolvimento de condi- da Amazônia estão calcados nas macro-
ções de umidade maiores do que estruturas das bacias sedimentares e
aquelas em que se depositaram a for- dos escudos cristalinos, constituindo o
mação Barreiras, no médio Amazonas, domínio litorâneo uma outra unidade
contribuíram para a definitiva abertu- menor, à parte.
ra da drenagem amazônica em direção
do oceano. Estudada por Katzer Embora desenvolvidos sobre comple-
( 1903), a abertura da drenagem para xas unidades estruturais, o estado atual
dos conhecimentos sobre a geomorfo-
o Atlântico foi mais tarde retomada
logia regional não faculta um maior
por outros estudiosos como Loczy desdobramento dos grandes conjuntos
que considera que, não apenas no Ter- em unidades menores. Na realidade,
ciário Superior, a drenagem amazôni- na Planície Amazônica, apenas podem
ca reverteu para o Atlântico, pois "a ser distinguidos os aspectos ligados à
antiga barreira que fechara a saída várzea e à terra firme.
para o Atlântico não existiu durante
muito tempo no T~rciário." 12 No entanto, no caso do escudo das
Guianas, os estudos são mais numero-
Retomando ao problema, Grabert con- sos, permitindo uma subdivisão do
siderou a linha divisória entre a trecho que vai de Roraima ao Amapá,
drenagem de oeste e a do Atlântico conforme propôs Guerra. 14
como situada sobre arenitos Mesozói-
cos das serras dos Parecis e Pacaás Relativamente ao litoral, toma-se possí-
Novos, entre os rios Madeira e Guapo- vel a sua subdivisão em três unidades
ré. Anteriormente à abertura da dre- ou partes: o litoral amapaense, o
nagem para o Atlântico o levantamen- golfão amazônico ou marajoara e o
to dos Andes teria facultado a for- litoral do leste paraense, conforme tam-
mação do lago de água doce entre a bém já o fizera antes o mesmo autor
cordilheira e os divisores Mesozóicos para o estudo do relevo da Região
que, erodidos, teriam dado origem às Norte.

14
mento em relação à fraca declividade
3.1 - A Planície Amazônica da planície e ao volume de água es-
coada. ;
Ocupa uma área de cerca de 2 milhões
de quilômetros quadrados, correspon· Resultando do trabalho da sedimen-
dente a 40$ da superfície da Região tação Holocênica, as várzeas são for·
Norte. madas por materiais de textura pe-
sada, argila e siltes depositados por
Contida entre o escudo das Guianas e colmatagem nos lagos e terrenos perio-
o escudo Brasileiro, a extensa área se- dicamente inundados. Pode apresen-
dimentar de planície é caracterizada tar, entretanto, características mais are-
por relevos que não ultrapassam de 200 nosas nos diques marginais, pestanas
metros, dispostos a partir da várzea ou points bars, constituídos e recons-
como baixos níveis ou como um baixo truídos a cada cheia.
platô que se eleva suavemente para o
norte e para o sul, em direção dos es- Topograficamente a planície aluvial
cudos cristalinos periféricos. Acompa- reflete aspectos'de sua evolução: a vár-
nhando a calha fluvial de leste para zea baixa, planície inundada durante
o oeste, as topografias são ainda mais parte do ano e de aluvionamento re-
suaves. Assim em Tabatinga, no cente, com vegetação ora campestre
extremo oeste amazônico, a mais de ora florestal; os diques marginais que,
3.000 km do litoral, o rio Amazonas distribuídos pela planície de inunda-
corre em altitudes de apenas 65 ção e construídos paralelos ao curso
metros. 111 d'água em função dos transbordamen-
tos, marcam as posições do leito, e cuja
Dentro da homogeneidade da planície maior altura junto ao rio indica a di-
são encontrados aspectos e problemas minuição de competência por ocasião
geomorfológicos variados, entre os do transbordamento; a várzea alta que
quais são mais conhecidos e estudados aparece como estágio mais antigo, e
os relativos às várzeas. também colonizada por formações ve-
getais de porte arbóreo.
Os terraços ou tesos estão limitados a
3 .1. 1 · A Planicie de Inundação uma estreita faixa de terrenos situa-
dos a 1 ou 2 metros acima das águas
A planície de inundação forma faixa altas. Seriam os tesos de idade
de largura variável ao longo do baixo subatual, formados por materiais argi-
e médio curso do rio Amazonas e losos, confoqne foram identificados em
baixo curso dos seus afluentes, pos- Faro e Parintins. Esses terraços Rolo-
suindo 16 quilômetros de largura em cênicos colocar-se-iam em idade mais
Itacoatiara, 50 em Parintins, 33 em recente que os terraços Pleistocênicos,
óbidos e 24 em Pacaraí e Santarém. 16 situados possivelmente no flandriano. 18
Em certos trechos a várzea pode estar (Fig. 5).
ausente e o rio se encaixa em terra
fjnne. Nos terrenos Holocênicos correspon-
dentes às várzeas baixas e altas desen-
A área da planície de inundação é volvem-se solos glei húmico e glei
calculada em 64.400 quilômetros qua- pouco húmico, turfas e lateritas hidro-
drados ou 1,5% da Amazônia. 17 mórficas.
Modelada pela atual drenagem dos Aspectos interessantes existem rela-
rios, a planície de inundação do Ama- cionados à forma do leito aluvial na
zonas está encravada nos níveis mais planície, entre os quais poderiam ser
elevados da terra finne e possui os mencionados aqueles relativos à pró-
mais variados aspectos incluídos no pria forma do leito e à dinâmica does-
leito maior dos rios de planície: canais, coamento em relação às condições de
furos, paranás, meandros, lagos e ilhas fracas declividades e à própria carga
indicam as condições difíceis do escoa- aluvial.

15
Diversos tipos de várzeas são assina- acrescentar siltes, areias e cascalhos,
lados no trecho do baixo-médio curso que vão dar origem aos terraços e di-
do rio Amazonas: as várzeas de rios, ques, e as argilas que vão entulhar
nas áreas ribeirinhas inundadas a cada lagos e igarapés.
cheia; as várzeas de chuvas correspon-
deriam às bo.i.xadas afastadas do rio, Entre os processos que contribuem
nas quais as variações do lençol freá- para aumentar a carga aluvial estão os
tico estariam relacionadas às chuvas; as desbarrancamentos ou terras caídas, e
várzeas de marés localizadas no baixo a erosão das margens côncavas dos
curso do rio Amazonas e em Marajó, leitos meândricos. Os meandros, como
onde a renovação das águas se faz em fenômenos característicos da mobili-
função das oscilações das marés. 19 dade dos rios, constituem formas de
(Fig. 6). equilíbrio entre a carga e competên-
cia dos cursos d'água. Divagantes, dão
No leito de inundação, a drenagem se conta da facilidade com que o rio
processa de modo desordenado no pe- elabora sua planfcie de leito maior,
ríodo de cheias e mais ordenada sendo notáveis nos rios Madeira,
e definida na vazante. Pelo espraia- Purus, Javari e Juruá. De acordo com
mento das águas durante as cheias Monteiro ( 1962) no Juruá o sacado do
diminui a capacidade de transporte e Carauari é mencionado por estar em
opera-se a sedimentação que constrói vias de ser abandonado, o que conde-
e modifica o leito de inundação du- nará a cidade e seu porto, que estão
rante cada nova cheia. Como resulta- localizados junto ao mesmo.
do da deposição, formam-se bancos
fluviais (rasos), colmatam-se lagos e Se, de um lado, os terrenos Terciários
depressões e soldam-se diques margi- e Quaternários vão contribuir para ali-
nais, cf. Soares. Para o processo, con- mentar a carga aluvial, o mesmo não
tribui a enorme carga de detritos sóli- acontece com as rochas cristalinas,
dos e dissolvidos, transportados nos metamórficas e sedimentos do Paleo-
Jeitos. Entre esses materiais, podem-se zóico. Atravessando os afloramentos ro-

Fig. 5 - Várzeas Holocênicas com vegetação de igapó, aproveitadas para o cuJtivo da juta.

-16
DIVERSIDADES DE ASPECTOS DE ALGUMAS VÁRZEAS AMAZÔNICAS

[~,":'(.!iJ
QUATERNÁRIO ~E~;.lRIO lítlllm
EMBASAMENTO CRISTALINO
HOLOCENO: aluvião e vasos PUOCENO:oranitos1orollitos,conolo oronitos,onaisses e oronodloritos
PLEISTOCENO:orgilos,sfftes,orenitos meroclos e plintho1te
econglomerados ferruoinosos SUPERFÍCIES APLANADAS
TERRAS FIRMES
SUPERFfCIES APLANADAS E BLOCOS MONTANHOSOS
PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO
T~RRAÇOS FLUVIAIS E BAIXOS E ESCALONADAS
FIG 6
NiVEIS DE TERRAS FIRMES

17
cbosos, os rios formam cachoeiras ou Eopaleozóico favoreceram o desenvol-
travessões que parecem resistir longa- vimento de praias e cordões arenosos
mente, indicando o menor poder da depositados na várzea encaixada no
meteorização em condições de clima baixo planalto.
tropical quente e úmido e a fraca ca-
pacidade de erosão da carga aluvial Os rios negros ou de águas pretas
pobre em sedimentos grosseiros. são aqueles cuja coloração das águas
vai do marrom ao café, em função da
Um interessante problema geomorfo- elevada proporção de matéria org~­
lógico ligado à rede de drenagem atual nica que contêm. Suas margens colo-
é o das características das várzeas em nizadas com a mata de igapó, caaiga-
relação aos processos de sedimentação pó na denominação incligena, aparecem
Holocênica, incluindo o material trans- como elemento de fornecimento de
portado pelos rios e a competência do matéria orgânica ao curso d'água, que
curso d'água. O tema foi primeiramen- pode, em certos . trechos, apresentar-se
te abordado por Sioli em 1957, quando como rio de águas claras e em outros
o mesmo subdividiu os rios amazônicos como rio de águas pretas. O rio
de acordo com os materiais transpor- Negro, apesar de ter suas nascentes no
tados em três conjuntos: os rios de escudo Guianense, apresenta na tra·
águas brancas, os rios de águas claras vessia dos terrenos Terciários, a mon-
e os rios de águas negras. tante da confluência com o rio Branco,
vasta área de várzea inundável com
Os rios brancos, de águas turvas, cor igapós, capazes de imprimir coloração
de barro, como o Madeira, o Trombe- escura ao rio, mesmo após a confluên-
tas, o Purus e o Branco, possuem vár- oia com o Branco.
zeas mais amplas, em função de diva-
garem alargando seus leitos maiores
pelo solapamento lateral dos meandros 3.1.2 • As Terras Firmes
nos terrenos da formação Barreiras.
Carga aluvial considerável vai ser for- Constituem os terrenos não inundados
necida aos cursos d'água que, por di- pelas cheias do rio Amazonas e for·
níinuição da competência, passam a mados pelos sedimenWs de idade Ter-
sedimentar. O caráter anastomosado da ciária que recobrem a maior extensão
drenagem desses rios constitui fenô- da grande planície amazônica.
meno indicativo da proporção de sedi-
mentos grosseiros encontrados na As terras firmes estão dispostas a par-
carga aluvial. tir da várzea como uma sucessão de
baixos níveis que se elevam em dire-
O fenômeno adquire expressão regio- ção dos escudos periféricos, com os
nal, pois esses rios são aqueles que quais podem se apresentar nivelados.
concentram maiores densidades de Recobrindo vasta área e apresentando
ocupação humana em suas v.árzeas.
topografias extremamente monótonas,
Os rios de águas claras são aqueles as terras firmes são, no entanto, mode-
cujas águas possuem maior transpa- ladas em sedimentos que traduzem as
rência que a dos anteriores. pois trans- diversidades de condiçOes paleogeo-
portam menores proporções de sedi- gráficas reinantes a partir do Terciário
mentos argilosos e maiores proporções na Amazônia. Estas condições incluem
de areias. Entre eles estão colocados o deformações tectônicas, variações do
Tapajós, o Xingue o lri.ri, que têm nível do mar, condições paleoclimáti-
grande extensão de seus cursos no es- cas secas, estas responsáveis pelos ex-·
.cudo Brasileiro, em terrenos do Paleo- tensos aplainamentos, e climas úmidos
zóico e nas terras firmes Terciárias em que favoreceram a estruturação da
seus baixos cursos. Sedimentos are- rede de drenagem e a fomiação da vár-
nosos que lhes são fornecidos pela me- zea aluvial, além das erosões e redepo-
teorização das rochas do escudo e d? sições dos sedimentos Terciários.

18
I A

CORTES TRANSVERSAIS ESQUEMATICOS NA AMAZONIA


A NW-SE, DA BACIA DQALTO AMAZONAS AO ESCUDO BRASILEIRO
B N-s,NA BACIA DO MEDIO AMAZONAS

N
NW s
A B

250-400 m
250-400m
+
I 50-200m
m + 150-200m

T
+

UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS FORMAÇÕES GEOLÓGICAS


I - · SUPERFÍCIE CRETÁCEA T -TERCIÁRIO
JI -SUPERFÍCIE DO TERCIÁRIO INFERIOR K -CRETÁCEO
m -SUPERFÍCIE PLIO-PLEISTOCÊNICA C -CARBONÍFERO
.:rsz:- TERRAÇOSPLEISTOCÊNICOS D -DEVON IANO
S -SILURIANO FIG. 7
FONTE ·. W.G. SOMBROEK- AMAZON SOILS
Assim, na origem dos extensos sedi- O nível mais elevado da formação
mentos Terciários da Amazônia, aspec- Barreiras é mencionado a 300 metros,
tos da evolução das diversas bacias correspondendo a um nível soergui-
sedimentares têm que ser tomados em do juntamente com o escudo crista-
consideração. lino.

Na bacia do Acre, ou na parte ociden- De um modo geral, os níveis indica-


tal da Amazônia, as formações Terciá- dos estão relacionados às áreas inter·
rias recobrem cerca de 90% do territó- fluviais e àquelas periféricas aos es-
rio, com características de depósitos cudos cristalinos.
de ambientes diversos, continentais,
salobros, marinhos e de facies estua- Junto aos rios, as formações Terciá-
rino, cit. por Camargo Mendes. A rias vão constituir níveis de terras fir-
mais conhecida dessas formações é mes de altitudes situadas entre 30 e
a chamada formação Pebas, de idade 40 metros, podendo ir até 80-100 me-
Pliocênica, contendo fósseis. Os rios tros nas áreas interfluviais. ( Fig. 8).
que correm sobre esses sedimentÇ>s en-
talham·se diretamente nas terras fir- Assim, no terraço de Santarém, as
mes. As várzeas Holocênicas são loca- terras firmes estão a 30 metros; a 35-
lizadas, e o Terciário aflora nos barran- 40 metros na área de Manaus; no baixo
cos fluviais. No rio Solimões os sedi- rio Negro ocupa o interflúvio entre
mentos terciários são assinalados a 30 este rio e o Solimões; a 50 metros
metros de altitude e na área próxima em Tomé-Açu, Vargas, 1958, 80 a
de Porto Velho, a 40 metros, podendo 100 metros em úbidos e nos campos
elevar-se até cerca de 200 na área in- de Macapá, Guerra, 1954; entre os rios
terfluvial entre o alto Juruá e o alto Nhamundá e Trombetas na altitude de
Purus. 60 metros.

No médio Amazonas os sedimentos As terras firmes modeladas na forma-


Terciários constituem a formação Bar- ção Barreiras formam também níveis
reiras, de origem continental, conten- de fracas altitudes, porém situados aci-
do arenitos, siltitos e conglomerados ma dos níveis de cheias do rio Amazo-
que se dispõem ora sobre o Paleo- nas, a 6-8 metros em Marajó e Gurupá;
zóico ora sobre o cristalino. Esses se- a 15-20 metros nas terras altas de Ma-
dimentos são espessos de 170 metros a rajó.
500 metros nas sondagens de Nova
Olinda. Em superfície, foi assinalado Submetidos a condições quentes e
por Camargo Mendes na serra da úmidas, os horizontes superficiais das
Piroca, a 120 metros de altitude, em rochas que constituem as terras fir-
Alter do Chão, nas margens do mes são lavados, dando origem a um
Tapajós. ( Fig. 7). horizonte de adensamento subsuperfi·
cial, de estrutura argilosa e textura pe-
Diversos níveis são modelados na for- sada. De colorações avermelhadas e
mação Barreiras do médio Amazonas, mosqueadas, esses horizontes adensa-
os mais elevados nas altitudes de 100- dos vão formar o plinthaite amazônico
200 metros. A 80 quilômetros de San- que ocorre sob as topografias suaves
tarém a formação está a 180 metros de das terras firmes. Em função do ma-
altitude; em Belterra está a 175 metros terial de origem e dos processos de
e no oeste de Tucuruí, a 160 metros, formação, o plinthaite pode conter va-
ap. Sombroek, cit. Em Parintins, Hu- riados tipos de concreções. Em certos
maitá e Belterra a formação Barreiras casos, o adensamento pode dar ori-
constitui uma antiga superfície de 110 gem a crostas ferruginosRs ou crostas
metros; a 60 quilômetros de Macapá lateríticas que, uma vez formadas, pro-
aparece formando o nfvel de 110 me- tegem e mantém os relevos aplaina-
tros; na estrada Manaus-Itacoatiara, a dos, apesar do elevado poder da me-
120 metros, tomando o nome de "cha- teorização em condições equatoriais
pada". quentes e úmidas.
Fig. 8 - Os níveis de ter-
ras firmes Plio-Pleistocênicas
constituem elemento decisi-
vo para a instalação do ho-
mem ao longo das ·vias
fluviais na Amazônia. Na
margem esquerda do Ama-
zonas a cidade de Itariranga
localiza-se sobre níve exten·
so e regular, modelado nos
sedimentos da fonnação Bar-
reiras. A retilinidade do bar-
ranco é notBvel, indicando o
recuo paralelo da enoosta,
cujo ropo é "mantido pela
presença de lateritas. Na
base da escarpa do nível su-
perior desenvolve-se um no-
vo terraço mais recente, in-
dicando oscilações do nível
de base.

Ocorrendo nos diversos níveis, o plin-- acrescentam os problemas de subsi-


thaite. e as lateritas evidenciam ori- dência da várzea amazônica durante o
gens variadas: ora são encontradas Quaternário.
in loco ora como formações coluviais
ou aluviais, indicando as fases erosi-
vas que afetaram os níveis Terciários e 3.2 - Os Escudos Cristalinos
facuftaram o desenvolvimento de
outros mais recentes. Os escudos cristalinos periféricos à
Assim, abaixo dos níveis de terras planície encontram-se extremamente
firmes dispõem-se os terraços Pleistocê- pediplanados e nivelados com os ter-
nicos ou tesos da Amazônia oriental, renos sedimentares. Desse modo, o
nas altitudes de 10-15 metros e 5-7 me· contato entre as formações sedimenta-
tros, Guerra, 1954, 6-8 metros, Gourou, res e cristalinas se faz sem desconti-
1949 e 8 metros, Vargas, 1958. Seriam nuidade topográfica, sendo apenas as-
esses terraços as terras firmes de idade sinalado nas cachoeiras e travessões
Pleistocênica-Holocênica, de grande encontrados nos leitos dos afluentes do
importância para a vida regiona1, pois médio Amazonas, como nos rios Trom-
nefes se localiza a maior parte da po- betas, Maicuru e Paru, Tapajós e
pulação ribeirinha. Xingu. Nivelados com os sedimentos
da planície, os blocos cristalinos se
Interpretados como depósitos correla- elevam progressivamente, atingindo al-
tivos da tectônica de arqueamento dos titudes superiores a 200 metros nos
escudos cristalinos no Pós-Cretáceo, os
sedimentos Terciários da Amazônia pediplanos dominados pelos maciços
foram, no caso da formação Barreiras, encontrados no extremo norte do es-
relacionados a condições paleoclimáti- cudo Guianense. Ao sul, o escudo
cas secas ou de ambientes de vegeta- Brasileiro é praticamente desconhecido
ção aberta, dos quais resultaram os t·n. seu trecho amazônico.
extensos aplainamentos e o desenvolvi-
mento de lateritas. · Os domínios cristalinos enquadram as
grandes bacias de sedimentação d~
Os baixos níveis de terras firmes, re- Amazônia brasileira e neles predomi-
sultantes da erosão dos níveis mais nam rochas do Pré.-Cambriano, incluin-
elevados, podem ser explicados pelas do gnaisses, granitos, p6rfiros, granio-
oscilações do nível do mar, a que se dioritos, querat6firos e p6rfiros.

21
O Pré-Cambriano mencionado deve tes unidades geomorfológicas: - o pe-
ter formado um eogeossincllnal de di- diplano do alto rio Negro, a região
reção de SSW-NNE, "preenchido por montanhosa de Parima-Pacaraima, o
sedimentos . elásticos e considerável pediplano do alto rio Branco, a região
quantidade de material vulcâruco". 20 montanhosa da serra da Lua à de Tu-
O conjunto deveria ter permanecido mucumaque e o pediplano do Amapá,
emerso durante o Cambriano, para cf. Guerra, cit.
subemergir no Eopaleozóico quando
teve início a formação das bacias do As áreas rebaixadas desses relevos têm
médio Amazonas. O diastrofismo Taco- sido consideradas como pediplanos in-
niano em sua última fase seria o res- termontanos, modelados em condições
ponsável pela submersão, segundo o de semi-aridez e retocados por condi-
mesmo autor. ções de umidade, cf. Ab'Saber e Bar-
bosa, cit.
O escudo Guianense limita-se com os
sedimentos da bacia amazônica na área Recobrindo as formações Pré-Cam-
correspondente às corredeiras e traves- brianas das áreas aplainadas do pedi-
sões encontrados nos leitos dos aflu- plano do alto rio Branco, Andrade
entes da margem esquerda, com carac- Ramos identificou duas formações
terísticas de um faU-line. 21 O trecho recentes do Quaternário: a mais anti-
situado mais ao norte forma o Planalto ga, correspondendo a lavas oriundas
das Guianas constituído por dois blo- de um vulcanismo basáltico, e a mais
cos elevados ou conjuntos de relevos recente, formada por areias argilosas,
planálticos e de serras, separados pela · argilas arenosas, calcários, depósitos
depressão do rio Branco-Essequibo. O lacustres, espessos de 20 a 30 metros,
primeiro corresponde às denominadas dispostos sobre as rochas Pré-Cambria-
·serras ocidentais" onde são encontra- nas.
dos os relevos mais elevados da Região,
nas serras de lmeri-Tapirapecó (pico Nestas áreas aplainadas, vestígios de
da Neblina com 3.014 metros), as ser- pedimentações têm sido encontrados
ras de .Parima, Pacaraima (monte Ro- pelos estudiosos da região.
raima com 2. 875 metros).
Entre as "serras orientais" colocam-se
A área mais conhecida e estudada do as de Acari e Tumucumaque situadas
Planalto das Guianas é a mais seten-
trional, correspondente ao Território de no extremo norte do Pará. No Amapá
Roraima, onde grandes intrusões de o escudo cristalino possui altitudes mo-
rochas efusivas ácidas ocorrem no ex- destas, apresentando características
tremo norte do território, ao lado de de um pediplano. Na parte central do
formações do Eopaleozóico e do Me- território erguem-se os relevos mais
-sozóico Indiviso. Constitui essa área vigorosos de serras e cristas orienta-
a província mineralógica do Roraima, das segundo as direções estruturais do
onde a garimpagem do ouro e do dia- escudo, cf. Botelho. Na serra do
mante é feita na serra do Tepequém e Navio as altitudes máximas são de
nos rios Tacutu, Mau e Uraricoera, cf. 350 metros, sendo suas rochas o gra-
Frois Abreu, 1965. nito, o gnaisse, os xistos e os anfíbólios.
O minério de manganês constitui hori-
A depressão que separa as "serras oci- zontes nos quartzo-biotita-granada-xis-
dentais" das "serras orientais" tem sido tos, podendo, também, ser encontrado
atribuída como de origem tectônica, sob a forma de depósitos oriundos do
constituindo uma fossa pouco profun- intemperismo, como a canga do miné-
da, enquadrada por blocos falhados na rio: A este respeito, convém lembrar
área de Tacutu-Mau. 22 que as rochas da área da serra do
Navio encontram-se profundamente de-
No conjunto do escudo cristalino das compostas em função das condições de
Guianas foram distinguidas as seguin- umidade reinantes, aliadas às elevadas
temperaturas e à cobertura florestal. suindo cobertura de arenitos Mesozói-
No processo, os componentes solúveis cos, introduzem-se no território de
das rochas são rapidamente alterados, Rondônia como uma penetração dos
permanecendo como elementos mais chapadões do Centro-Oeste na planície
estáveis os óxidos de ferro, de alumí- amazônica.
nio, e de manganês. Estes tanto podem
ser transportados em solução quanto
precipitados em forma coloidal 24 3.3 - O Litoral Amaz&nico
Além da racional exploração do miné- Relacionado aos relevos continentais
rio de manganês da serra do Navio, de baixos platôs e planícies aluviais,
desenvolvem-se atividades de garimpo
o litoral da Região Norte, embora do-
neste trecho do escudo cristalino, como
minado por ações marinhas, guarda as
as da cassiterita, do ouro e dos dia-
características do modelado que se de-
mantes nos leitos fluviais.
senvolve para o interior do continente.
Menos conhecido que o escudo Guia- Assim, a faixa costeira que se estende
nense é a parte setentrional do escudo do rio Oiapoque ao leste paranaense
Brasileiro que se poderia denominar de é formada por terrenos extremamente
escudo sul-amazônico. Nele predomi- esbatidos, de fracas altitudes, modela-
nam as rochas do complexo cristali- dos em sedimentos Holocênicos. Nestas
no, sendo também encontradas gran- topografias suaves, apenas se destacam
des áreas de rochas do Cambro-Ordo- da paisagem os remanescentes de nf-
viciano e de rochas do Peleozóico e veis aplainados que se elevam como
do Mesozóico Indiviso. O escudo sul- uma continuação das terras firmes Pli-
amazônico estende-se do Território de ocênicas e Pleistocênicas pelo litoral.
Rondônia ao Pará com a orientação
de SW-NE, direção esta que corres- De maneira geral, o conjunto litorâ-
ponderia àquela da primitiva fossa neo apresenta-se mais elevado no leste
amazônica que se alongava do rio paraense, onde os nfveis modelados na
Beni, no território boliviano, ao oceano formação Barreiras vão formar falésias
Atlântico, como um rift oolley. e os vales fluviais afogados, rias. No
leste do Amapá, contrariamente, a
Estudado na área do rio Tocantins faixa de terrenos Quaternários é ampla
pelo já citado Andrade Ramos, o es- e a penetração do mar faculta o de-
cudo Brasileiro é descrito do ponto senvolvimento de extensas vasas e
de vista geológico como constituído manguesais, lagunas e cordões litorâ-
por gnaisses, granitos e migmatitos re- neos.
cobertos por sedimentos Paleozóicos e
Cenozóicos. Entre os dois aspectos mencionados
encontra-se o golfão amazônico ou
Nas topografias aplainadas em rochas
golfão marajoara, que ocupa grande
do escudo sobressaem os quartzitos
como relevos mais elevados. trecho da baixada costeira e inclui as
mais importantes feições morfológicas
O conjunto modelado em rochas cris- do litoral da Região: a ilha de Marajó,
talinas inclina-se para a planície ama- com o conjunto das ilhas Caviana e
zônica e eleva-se em direção do sul, Mexiana e as embocaduras dos rios
onde vai formar nas áreas interfluviais Amazonas e Tocantins. Nesta Região,
as chapadas e chapadões que vão ca- interessantes aspectos geomorfológicos
racterizar os modelados da Região têm sido assinalados por Guerra, Mo-
Centro-Oeste. Os relevos mais enérgi- rais Rego, Botelho et alii, além das
cos correspondem à serra do Cachim- pesquisas estratigráficas e geológicas
bo, no sudoeste paraense, e à serra do realizadas na área de Marajó, tendo em
Norte, no noroeste de Mato Grosso. As vista a ocorrência de petróleo não con-
serras dos Parecis e Pacaás Novos, pos- firmada até o presente.
De acordo com os estudos geomorfo- Esta grande extensão litorânea sugere
lógicos realizados e como já o tinha problemas geomorfológicos variados.
feito, antes, Guerra, foi o litoral da A wna primeira vista, a região do
Região Norte dividido nos seguintes golfão amazônico assemelha-se a um
trechos: o litoral amapaense, o gol- enorme delta ou um delta-estuário ou
fão amazônico ou marajoara e o leste uma foz sui generis. No entanto, es-
paraense. tudos levados a efeito mostram não ser
O litoral amapaense é constituído por a atual região da boca do Amazonas
baixadas inundáveis que, penetradas e do rio Pará um delta, mas formada
pelas marés, favorecem a formação de de estuários, fato evidenciado pela
amplos manguesais. A faixa de terre- presença, nas ilhas, de formações Qua-
nos Quaternários alarga-se considera- ternárias erodidas que formam as
velmente, vindo entrar diretamente em terras firmes, cf. Moraes Rego, cit.
contato com as formações cristalinas Retomando a questão, Guerra con-
relacionadas ao escudo amapaense. siderou a foz do Amazonas como um
Dois aspectos foram destacados nessas delta-estuário, baseado no fato de que
formações quaternárias, de acordo é pequena a contribuição do rio
com Botelho: wna área direta- Amazonas na alimentação do rio Pará,
mente influenciada pelas ações ma- e, portanto, na formação da baía de
rinhas, distribuída ao longo do litoral, Marajó, onde vem desaguar o estuário
com manguesais e pântanos, onde se do rio Tocantins.
desenvolvem solos orglnicos e húmicos
associados aos solos salinos; outra área O rio Amazonas encontra o Oceano
mais interiorizada, formando baixadas Atlântico através do canal do Norte,
periodicamente inundadas, com fe- onde se formaram inúmeras ilhas, entre
nômenos de hidromorfismo e desenvol- as quais as de Caviana, Mexiana, Ja-
vimento de solos húmicos. naucu, além do arquipélago do Juro-
pari, da ilha da Serraria e da ilha
No trecho litorâneo situado nas lati- Grande de Gurupá. Esse trecho ama-
tudes maiores de 30N, as direções es- zônico, contido entre as terras firmes e
truturais das rochas do escudo cris- várzeas do Território do Amapá e o
talino e os processos de sedimentação contorno nordeste da ilha de Maraj6,
litorânea aparecem como elementos tem sido caracterizado como de erosão
que determinam a orientação dos rios predominante, sobretudo na área ama-
para o NE ( Oiapoque) e para o paense, próxima de Macapá, onde o rio
NE-N como o Caciporé e Uaça. Amazonas possui várzea relativamente
pouco desenvolvida, entalhando-se nos
No sul do Amapá o litoral Quaterná- sedimentos do baixo platô Terciário.
rio amplia-se, projetando-se para o
leste através do desenvolvimento da Ao sul, o canal que separa a ilha de
planície do rio Araguari, em tomo da Marajó do continente forma o rio Pará
qual aparecem a extensa várzea alu- que se abre no estreito de Breves,
vial Holocênica e os terrenos de baixa- antes de atingir a baía de Marajó.
das periodicamente inundados com la- Nesta área os processos geomorfoló-
gos. Nesta várzea, como na do Ama- gicos são dominados por uma ativa se-
zonas, os níveis mais elevados, a salvo dimentação que vem colmatando os
.das cheias, abrigam populações e aglo- furos e dificultando as ligações entre as
merados urbanos. águas do Amazonas e as da baía de
Marajó. Desaguando nesta baía, o rio
O golfão amaz6nico ou marajoara Tocantins tem sua foz completamente
constitui a zona da foz do Amazonas, independente da do Amazonas.
com as ilhas de Marajó, Caviana e
Mexiana, os numerosos canais e ilhas A ilha de Marajó é de topografia
que formam a "região dos Furos" de extremamente plana, da qual se des-
Breves, e a baía de Maraj6, onde desá- tacam os pequenos níveis de altitudes
gua o rio Tocantins. entre 20 e 4 metros a saber: 20 me-
tros; 15-16 metros; 10-12 metros e 4 solos areno--argilosos de coloração
metros, cf. Guerra, cit. clara ou avermelhada sobre horizontes
argilosos mosqueados que tanto no
À primeira vista, os mencionados níveis litoral paraense quanto em Marajó e
assemelham-se a terraços, porém, a uma no restante da Amazônia podem
análise mais cuidadosa, verifica-se se- conter horizontes concrecionários ou
rem formados por argilas mosqueadas crostas ferruginosas. Em Salinópolis, o
intercaladas por depósitos de lateritas mencionado autor constatou o nível de
ou de cangas, contendo pequenos sei- 28 metros, formando barrancos escar-
xos. pados ou falésias de 5 meb-os com
submersão das crostas de canga.
Correlacionadas às formações de ori-
gem continental. modeladas sob hidro- Este trecho do litoral paraense possui
morfismo, as formações de canga hoje nítida tendência à submersão, confir-
se encontram nos diversos níveis men- mada pelas rias e plataformas de· can-
cionados, ou enterradas a pequenas gas submersas.
profund:dades, ou ainda submersas ao
longo do litoral, sugerindo os proble- Guardando as mesmas características
mas de subsidência recente deste li- dos modelados de terras firmes encon-
toral. trados no interior da Região Amazôni-
ca. o litoral da Região Norte reflete as
No Pleistoceno, a canga deveria variações do nível do mar e dos conti-
ocupar uma posição altimétrica mais nentes ocorridas no Quaternário, entre
elevada do que aquela em que se en- as quais a de uma generalizada sub-
contra hoje. Por regressão marinha mersão ou afogamento recente de ter-
ter-se-iam erodido e formado os pe- renos modelados sob condições con-
quenos níveis que foram posterior- tinentais.
mente afogados pela transgressão Flan-
driana. A rede de drenagem teria, no
Pleistoceno, facultado a formação e de-
senvolvimento do delta fóssil do rio 4 - PROCESSOS
Amazonas que tinha então, no rio Pará, MORFOGENÉTICOS E
o seu canal sul.
PROBLEMAS
A respeito dos problemas de subsi- GEOMORFOLÓGICOS
dência Quaternária do golfão amazô-
nico, poderia ser lembrado aqui que as DO MODELADO
estruturas subsuperficiais da área de AMAZÔNICO
Marajó foram, no Mioceno, submetidas
a tensões, resultando no aprofunda- Os processos morfogenéticos atuantes
mento da fossa de Marajó e na deposi- no modelado amazônico ainda são pra-
ção da formação correlativa de Pirabas, ticamente desconhecidos, exceção
formada por sedimentos marinhos. Re- feita a uma ou outra observação loca-
cobertas pelos sedimentos continen- lizada ao longo das vias fluviais.
tais da formação Barreiras, essa região
teria, após a deposição desses sedi- As primeiras observações sobre as
mentos. sofrido subsidência recente, relações existentes entre as cargas
responsável pela configuração atual da transportadas pelos rios e as caracte-
paisagem. rísticas das várzeas aluviais foram
feitas por Sioli, após o que nada mais
O litoral do leste paraense é indivi- foi publicado sobre o tema.
dualizado pela forma recortada, decor-
rente do afogamento de vales costei- Faltando à Região estudos sobre a me-
ros e de falésias características, mode- teorização em condições equatoriais
ladas nas rochas da formação Barrei- quentes e úmidas, bem como sobre
ras. Esta formação aparece em diver- o desenvolvimento dos solos e da ve-
sos níveis, os mais elevados de 100 getação, muito pouco pode ser dito
metros, sobre os quais são encontrados sobre os processos morfogenéticos

25
atuantes na Amazônia. Outrossim, o Nos campos as diferenciações não
caráter té6rico do presente estudo, devem ser menores e, em todos os
fundamentado na bibliografia e não casos, a presença e permanência da
em trabalho de campo, dificulta água no solo e no subsolo constituem
até mesmo a hierarquização dos pro- fatores determinantes da meteorização,
cessos morfogenéticos e dos mecanis- da formação dos solos e da cobertura
mos responsáveis pelos m~mos. En- vegetal.
tretanto, estudos levados a efeito em
regiões equatoriais quentes e úmidas, Sob a floresta a meteorização encon-
onde podem ser encontradas iguais ou tra condições altamente favoráveis
aproximadas condições geográficas, para o desenvolvimento de espessos
nos levam a tentar conceituar e apli- mantos alterados pela penetração da
car certas noções de processo à Ama- água e lavagem dos horizontes profun-
zônia Brasileira. Assim, a partir das dos, onde a conservação dos afloramen-
condições climáticas reinantes, refleti- tos de rocha sã toma-se dificultada.
das na própria cobertura vegetal, pro- Alteração química generalizada faz
curamos dar destaque ao papel da do modelado da planície amazônica
água na meteorização química e em um vasto domínio de formações siltico-
certos mecanismos do escoamento. argilosas dispostas em extensas super·
fícies esbatidas.
A vegetação amazônica, indiscrimi.na-
damente chamada de Hiléia, é repre-
sentada por toda uma variedade de as- 4.1 - A Meteorizasão
pectos que vão desde a grande flores-
ta equatorial aos campos. Sendo a A meteorização química prepondera
água e os solos fatores de diferencia- largamente sobre a meteorização física
ção dos diversos aspectos das florestas nas topografias suaves, recobertas pela
e dos campos existentes, constituem os vegetação do meio equatorial quente e
mesmos pontos de partida para a iden· úmido.
tificação dos processos morfogenéticos Hidratação, dissolução e lavagem rei-
atuantes, que vão desde aqueles equa- nam nas áreas permanentemente úmi-
toriais dominados pela permanência das. Dentro de uma hierarquia de sen·
da água aos tipicamente tropicais, de sibilidade maior ou menor dos mine-
altemlncia de um período úmido e um rais das rochas, alteram-se primeira·
período seco no decorrer do ano. Em mente as bases, o K, Ca, Mg, Na, que
linhas gerais, devem ser sensíveis as são postos em solução, ao passo que o
diferenças existentes entre um mode- Fe alterado é posto em suspensão co-
lado que evolui em terras firmes de loidal, sendo carregado pelas águas, ou
matas, de um modelado de várzea, permanece, localmente, colorindo os
ambos florestais, porém de caracterís- minerais próximos. Horizontes averme-
ticas diversas e variadas em função lhados, onde o ferro é mais abundante,
da maior ou menor permanência da e claros na ausência deste, aparecem
umidade. Heterogêneas, as florestas de nos latossolos, onde também podem
terras firmes ora são dotadas de árvo- ocorrer fenômenos de podzolização e
res de grande porte e sub-bosque manchas de mosqueado ou plinthaite
aberto, como ao norte do médio e alto em rochas ácidas. Penetrando a água
nos mantos que vão · sendo alterados,
Amazonas, ora por árvores de meno- opera-se o empobrecimento de uns
res portes e mais secas, no nordeste elementos por lavagem e expmta~-ãu. e
amazônico e no Amapá, ou ainda o enriquecimento de outros por rede·
matas de sub-bosque fechado e cipoais posição.
nas superfícies mais baixas e terraços Argilas mosqueadlls e tendência ao
Pleistocênicos, devendo, cada caso, encrostamento são fenômenos freqüen-
traduzir processos morfogenéticos de tes, com formas variadas em relação
intensidades variadas, ap. Sombroeck, ao dessecamento e desidratação opera·
cil dos na estação seca, quando existente.
A meteori21ação é parte da pedogênese, relacionadas ao embebimento conti-
na qual ganha ênfase a latolização, fe· nuado das argilas dos mantos de de-
nômeno homogêneo mas de variada composição.
gama de aspectos em função das con-
dições climáticas, topográficas, petro- ~ ainda a água que preside a mono-
gráficas e, naturalmente, da presença gênese das várzeas, onde elementos
da água. subjacentes vão sendo alterados e ele-
mentos alóctones vão sendo incorpora·
As lateritas tropicais são conhecidas dos à superfície pela sedimentação.
desde o século passado, tendo sido o
termo utilizado para designar as cros-
tas existentes nos solos tropicais e o 4.2 - Papel do Escoamento
próprio processo de elaboração dos
mesmos solos, tendo-se considerado as O escoamento apresenta grande im·
crostas como parte do próprio solo. A portância na morfogênese das regiões
laterização passou a representar o Ptó- equatoriais e tropicais pela remoção,
prio solo tropical, como uma esquema- transporte e deposição dos mantos
tização e generalização errônea. alterados.
Mais tarde surgiram os termos latosso- Soh a floresta, o escoamento difuso é
lo e latolização, para denominar o solo geralmente indicado como pouco mar-
e o conjunto de processos responsáveis cado, apresentando características ape-
pela formação dos solos tropicais, nos nas peliculares, podendo ser definido
quais as crostas surgem como resul-
tantes da i1uviação e da oscilação dos como um estágio intermediário entre
lençóis freáticos, não sendo, portanto, o escoamento difuso e a inflitração. 24
uma tendência geral e irreversível O citado autor menciona experimentos
desses solos. Da transposição e exagero realizados na África em floresta equa-
na conceituação das crostas, passou-se torial desenvolvida sobre sedimentos
a considerar os solos tropicais como fa· arenosos Terciários, nos quais foram
talmente condenados ao encrosta- levados em conta detalhes da micro-
mento. topografia da floresta, de modo a per-
mitir acompanhar o escoamento su-
A meteorização química e a latoli- perficial difuso. A água atuaria mais
zação devem predominar na Região na limpeza do material fino de húmus
amazônica, podendo apresentar no e de col6ides. Contornando os obstá-
vasto domínio toda uma gama de as- culos a água favoreceria a formação de
pectos ligados às variações das condi- sulcos e canais de pequenas dimensões,
ções ecológicas. As topografias das su- bem como a deposição de pequenos
perfícies escalonadas a partir da várzea cones de detritos. A progressiva reti-
devem favorecer a alteração química
profunda e os processos da latolização. rada dos elementos finos contribuiria,
A atuação vertical da água conduzirá no caso, para por em destaque os ele-
ao espessamento dos mantos alterados, mentos grosseiros e blocos existentes
superficialmente lavados e enriqueci- no solo.
dos • em argilas em profundidade.
A própria floresta serviria como ele-
A evolução geomorfológica dessas mento de entrave ao escoamento, difi-
superfícies aplainadas deverá, possi- cultando sua organização e facUitan·
velmente, processar-se de modo lento do. a infiltração e a evapotranspiração.
em função da fragilidade do escoamen- Sua maior intensidade deveria corres-
to superficial sob floresta. Já as topo· ponder à saturação dos solos durante
grafias colinosas e encostas, facultando certa parte da estação chuvosa.
o escóamento e menos a infiltração, de-
verão apresentar topos erodidos e a Relativamente ao escoamento concen·
evolução do modelado guiada por .CO· trado nos rios da Região Amazônica, é
luvionamento e movimentos de massas conhecido como dos maiores do mun·
do, para o qual contribuem os eleva- longo dó leito, como os diques margi-
dos totais caídos na grande bacia nais e deltas. Nas áreas de confluên-
fluvial. cia o fenômeno se faz sentir também
através dos baixos cursos afluentes
Apesar do escoamento superficial que, por imposição da dinâmica das
apresentar-se inibido pelos mantos de águas, vão se espraiar e sedimentar,
alteração e pelas formações flores- conforme ocorre na confluência dos
tais, os totais caídos e as topografias rios Madeira-Amazonas ou dos rios
esbatidas ao longo do rio Amazonas Branco-Negro. ( Fig. 9).
favorecem as concentrações das gran- Se a floresta de terra firme regula o
des descargas conhecidas. O rio atua escoamento superficial, o mesmo
na planície, na modelagem da ampla ocorre com as matas de várzea, onde,
várzea de inundação e no transporte freando o escoamento concentrado,
da carga de sedimentos predominan- promovem mais ampla sedimentação
temente finos, solúveis ou argilo-sílti- ao longo da planície de inundação e
cos, bem como dos sedimentos grossei- anastomose das artérias fluviais.
ros subtraídos das margens, entre as
quais o rio vai calibrando o seu leito. Na várzea do rio Amazonas opera-se,
São os sedimentos transportados que paralelamente à sedimentação, a al-
vão contribuir para a acumulação que teração quimica do leito talhado em
~e opera tanto por diminuição da com-
rochas e de características permanen-
petência quanto por decantação em temente úmidas no correr do ano.
lagos e braços de águas tranqililas. As formas de leitos móveis não são as
únicas existentes na Amazônia, apesar
O rio Amazonas desenvolve sua planí- do rio Amazonas e a maior parte de
cie de inundação encaixado em um seus afluentes terem seus leitos desen-
leito construído sobre as rochas móveis volvidos sobre formações recentes, do
do Terciário e do Quaternário. Para a Cenozóico. Os rios podem ter seus
formação da carga aluvial concorrem leitos encaixados ou apertados entre os
os afluentes vindos dos escudos das barrancos das formações Terciárias ou
Guianas e Brasileiro e o produto da sobre afloramentos rochosos, podendo
erosão das margens e dos baixos níveis apresentar-se encachoeirados sobre as
talhados em mantos de alteração pouco formações Paleozóicas e do Pré-Cam-
consistentes e recobertos pela floresta. briano.
Esses materiais de origem e granulo-
metria diferentes vão dar formas de Sobre os leitos rochosos encontram-se
acumulação emersas e imersas ao aspectos diversos daqueles dos leitos

Fig. 9 - Vista aérea da confluência dos rios Tapaj6s e Amazonas. Correndo sobre terrenos
Terciários da formação Barreiras, o rio Tapaj6s, ao confluir com o Amazonas, que tem
várzeas Quaternárias, favorece a formação de vasta área de sedimentos onde podem ser
observadas restingas, diques marginais, depressões e lagos.
móveis. Neles os rios correm desenvol- entre os quais sobressaem aqueles da
vendo rápidos e cachoeiras, geral- própria elaboração do modelado e da
mente a.florantes nas águas baixas. Nos organização da rede de drenagem no
leitos rochosos podem surgir formas Cenozóico.
particulares de polimento da rocha
emergente, por meio de sedimentos Vastas superfícies de erosão e aplaina-
arenosos finos que, impelidos por mo- mento e extenso manto sedimentar cor-
vimentos turbilhonares, vão dar ori- relativo desenvolvem-se através de
gem às marmitas torrenciais e às cane- toda a Região, porém com caracterís-
luras desses leitos rochosos. ticas diversas de uma para outra área
Ao longo dos leitos flu,viais encontram- do conjunto. Em meio aos aplaina-
se, pois, aspectos ligados à erosão dife- mentos generalizados erguem-se os
rencial atuante nas regiões equatoriais maciços e blocos montanhosos, em que
quentes e úmidas: os leitos móveis ta- os processos atuantes diferem dos que
lhados em aluviões, e os leitos rocho- afetam as depressões e várzeas de
sos nos quais o poder da decompo- inundação ou as topografias esbatidas
sição química é pequeno e o desgaste ou onduladas das terras firmes.
do leito vai se operar lentamente por
processos mecânicos. Se, de um lado, a Tentando compreender a evolução das
ausência de abrasivos nos leitos rocho- paisagens e o jogo das forças antagô-
sos dificulta o entalhe das cachoeiras, nicas da erosão-sedimentação, geomor-
nos leitos móveis a alteração química fólogos e geólogos têm lançado mão de
vai fornecer ponderável proporção de variadas explicações, baseadas nas
sedimentos, capazes de promover a conceituações da erosão normal de
extensa sedimentação atual. Davis, na evolução das estruturas
Sendo os processos morfogenéticos tectônicas e nas oscilações do nível do
amazônicos mal conhecidos, numerosas mar em função dos movimentos glácio-
dúvidas e problemas permanecem no eustáticos e, mais recentemente, pela
espírito de quem se propõe a realizar pesquisa dos processos morfogenéticos
uma breve sintese sobre a morfologia atuantes sob o clima equatorial, bem
regional Como evoluem os relevos como pelos vestígios de paleoclimas e
dentro dos diferentes domínios exis- processos dominantes no passado.
tentes sob mata e quais as implicações
das devastações efetuadas pelo homem A geologia e a tectônica aparecem
na aceleração dos processos atuantes? como principais responsáveis pelas
Como se comportam certos aspectos macropaisagens das baciàs e dos escu-
da sedimentação correlativa em con- dos, bem como pela estruturação da
dições atuais e quais os reflexos dos rede de drenagem, convergente dos
processos subatuais no modelado ama- escudos e sedimentos solevados, onde
zônico? se encontram as linhas divisórias para
as áreas deprimidas das bacias sedi-
Acrescentam-se a estas questões os mentares, concentradoras da dre-
problemas ligados à estruturação da nagem.
rede de drenagem, das oscilações do
nível do mar e da tectônica moderna,
sobre os quais serão dedicadas algu- 4.3. 1 - Adaptaçlo da Rede de
mas linhas do presente esboço. Drenagem las Direções
Estruturais do
4.3 - Alguns Problemas Embasamento Cristalino
Morfol6gicoa da Nos escudos cristalinos e nos sedimen-
Amaz&nia tos, os rios adaptaram-se às direções
estruturais. Predominam no conjunto
A Amazônia aparece como um vasto aquelas de SW-NE e as direções per-
campo de problemas geomorfológicos, pendiculares de NW-SE, que corres-
pondem às direções estruturais do pró- 4.3.2 - Oscilação do Nivel do
prio embasamento cristalino. Mar e Tectônica
Quatern6ria na
Os rios Puros, Madeira e Tapajós
Elaboração dos Níveis
apresentam nítidas adaptações de seus
baixos e médios cursos às direções de V6rzea e de Terras
SW-NE. Correndo ora sobre o escudo Firmes
cristalino ora sobre sedimentos do Pa-
O rio Amazonas encontrou o Atlântico
leozóico e do Cenozóico, essas direções e desenvolveu sua várzea encaixan-
orientam a drenagem tanto sobre o do-se nos sedimentos da formação Bar-
cristalino quanto sobre os sedimentos. reiras, a partir do Pleistoceno-Holo-
Considerando que as linhas estruturais ceno.
de SW-NE estão relacionadas aos
falhamentos antigos do Pré-Cambriano 1!: aceito que, durante os períodos gla-
e que as mesmas orientações guiam a ciários do Pleistoceno, o mar esteve em
drenagem nos sedimentos recentes, nível mais baixo que o atual, passan-
pode-se pensar em reativação das di- do o rio Amazonas a se encaixar e
reções antigas, no Mesozóico e no Ter- operar erosão regressiva nas terras fir-
ciário. mes da formação Barreiras. Resultou
disso a dissecação dos níveis de terra-
Na margem norte do Amazonas as ços do Pleistoceno, os quais parecem
orientações dominantes da drenagem ter-se originado no retrabalho das ter-
são as NW-SE. conforme foi observa- ras firmes.
do para os rios Negro, Uatumã, Nba-
Com a subida do nível do mar nos
mundá e Trombetas, portanto per-
interglaciários e invasão pelo mar dos
pendiculares às direções gerais de
baixos cursos d'água, novos processos
SW-NE.
de sedimentação têm seqüência com
Das sucessivas adaptações da rede de o afogamento dos terrenos deprimidos.
drenagem às direções estruturais, re- Aliam-se aos movimentos glácio-eustá-
sultou a padronagem ortogonal obser- ticos os problemas de subsidência e so-
vada nas cartas e fotografias aéreas da levamentos tectônicos recentes desen-
Amazônia, conforme estudado e des- volvidos na várzea e terras firmes, le-
crito na área dos rios Uatumã, Urubu, vando a intersecções dos níveis e difi.
Preto, Negro e Solimões, cf. Stern- cultando o seu estudo.
berg, cit. O fenômeno foi estudado
em área de terra firme, porém o autor As oscilações do nível do mar e os
não excluiu, entretanto, a possibilidade problemas de subsidência recente da
de sua existência na própria várzea. O várzea refletem-se nas variedades dos
paralelismo dos rios de terra firme apa- níveis de terraços encontrados, bem
rece também nos lagos e dilatações da como no afogamento do médio-baixo
drenagem observável nas fotografias Amazonas, onde foram identificados
aéreas, mesmo sob cobertura florestal rias e vales afogados. Novos afoga-
densa. mentos da rede de drenagem deram
origem a interessantes vales submersos,
A reativação das direções estruturais de encostas íngremes, escarpadas e
existentes no cristalino seria fator de altas margens formando barrancos,
explicação dos padrões de drenagem conforme pode ser observado ao longo
com direções rígidas, juntas e coto- do curso do Amazonas. Alguns dos
velos, encontrados tanto para os vales submersos, isolados pela sedi-
grandes cursos d'água quanto para os mentação da várzea, vão constituir
numerosos pequenos rios e lagos ama- lagos de terra firme, diferentes dos la-
zônicos. gos de várzea por se apresentarem, em

so
certos casos, adaptados aos padrões 4.3.3 • Condi~ões
ortogonais da drenagem. Já os lagos Paleoclimáticas
de várzea possuem aspectos meân- Responsáveis pela
dricos, recurvados, alongados e isola- Elabora~ão das
dos pelos diques marginais. Na região Superffcies Aplainadas
de Manaus as rias e vales submersos
da Amazônia
são encontrados no baixo curso dos
rios Coari, Tefé, Anamã e Urubu. Condições paleoclimáticas secas e
A origem dos lagos de terra finne e úmidas, em suas alternâncias, têm sido
rias poderia ser buscada não apenas invocadas para explicar os vastos
tlas variações do nivel do mar, decor- aplainamentos da Amazônia e as séries
rentes dos movimentos glácio-eustáti- sedimentares correlativas.
cos, mas, também, em problemas de Interessando vivamente os geomorfó-
subsidência e exondação localizados. O logos brasileiros, as osciJações climá-
achatamento do curso médio do rio ticas ocorridas no Plio-Quatemário
Amazonas, cujo perfil poderia ter sido vem sendo identificadas no sul-sudeste
menos esbatido no Pleistoceno e a con- do País desde 1956, mediante análise
sequente deformação dos niveis perifé- de materiais detrlticos de encosta e de
ricos, constituem problemas ainda fundos de vale. Uma série de trabalhos
pouco conhecidos, dificultando a inter- sobre o tema, entre os quais sobres-
pretação dos sucessivos escalonamen- saem os nomes de Tricart ( 1958),
tos dos niveis de várzea - terra firme. Ab'Saber ( 1958), Dresch ( 1964), Bi-
garella et alii ( 1964), Bigarella, Mou-
As evidentes osciJações do nivel do sinho e Silva ( 1965), mostra que con-
mar foram pesquisadas por Guerra dições secas e úmidas em suas reto-
madas sucessivas teriam contribuído de
em 1958 e identificada no litoral atra- modo determiante para a elaboração
vés das falésias e dos afloramentos de das paisagens brasileiras.
crostas e argilas mosqueadas na ilha
de Marajó. Essas corresponderiam a Alternâncias paleoclimáticas secas e
plataformas de crostas laterlticas, hoje úmidas também teriam reinado na
submersas. Amazônia, conforme indicam os tra-
balhos de Barbosa ( 1958) e Guerra
Oscilações do nível do mar e proble- ( 1965) no Alto Rio Branco.
mas de tectônica recente contribuem Muito embora a origem da formação
para a explicação dos su~sivos níveis Barreiras ainda constitua problema
dispostos a partir da várzea-terra para os seus estudiosos, tanto no lito-
finne, através da calha amazônica. As ral oriental do Brasil quanto na Ama-
próprias observações altimétricas fei- zônia, é inegável que foi a mesma de-
tas em relação ao nível das águas dos positada sob condições diversas dentro
rios, ora em cheia ora em vazante, do grande conjunto amazônico, con-
bem como seu caráter localizado e dis- forme indicam suas características nas
diversas partes da bacia. Argilosas, síl-
perso na vasta área, dificultam o esta- ticas, arenosas e conglomeráticas, por-
belecimento de correlações (a não ser tanto de textura e espessuras variadas,
localmente Y das medidas estabele- foram essas formações sucessivamente
cidas. meteorizadas, erodidas e edafisadas,
facultando o desenvolvimento de latos-
Na gênese e preservação dos níveis de solos e de solos podzolizados tanto
várzeas e terras firmes ganham impor- sobre as superfícies de Barreiras como
tância os problemas da sedimentação sobre as várzeas e terraços Pleistocê-
correlativa e, portanto, dos processos nicos, enquanto que nas depressões
morfogenéticos atuantes no presente e formavam-se os solos glei búmicos e
no passado. latossolos hidromórficos. Na evolução

Sl
dos latossolos amazônicos dois aspec- terísticas predominantes subatuais. Em
tos podem ser salientados: o dos solos certos casos, estas formações subatuais
de horizonte B latossólico e dos solos são erodidas e redepositadas, passando
de horizonte B textual. Os primeiros a constituir outros encrostamentos
possuem forte proporção de caolinita atuais ou 'não. No caso de serem
na fração argilosa e quando mal dre- atuais, as crostas indicam condições
nados permitem, de acordo com as os- úmidas alternadas com fases secas no
cilações do lençol freático, a formação correr do ano. Sob a floresta perma-
de um horizonte A, de lix:iviação dos nentemente úmida, a mobilidade dos
sesqui6xidos e partículas minerais, e óxidos de ferro e alumina deve ser
um horizonte B, de plinthaite argiloso grande, sendo os mesmos rapidamente
pouco permeável. São os plinthaites transportados. Em certos casos per-
de características variadas, destacan- manecem no perfil do solo, de modo
do-se aquele de aspecto macio, de ar- individualizado, fixando-se nas argilas
gila mosqueada, e o plinthaite com- que adquirem coloração vermelho-
pacto, constituído por cascalhos e amarela ou simplesmente amarela.
blocos rochosos. Existindo nos solos proporção variável
Observado em 1925 por Marbut, o de argilas caoHnicas e estas possuindo
mosqueado do plinthaite foi relaciona- capacidade maior ,de fixação dos
do às oscilações do lençol freático, com óxidos, os latossolos vermelho-amare-
a segregação e oxidação do ferro, de los vão oferecer características diversas
modo localizado. Mais tarde a origem quanto à cor e à plasticidade. Os la-
do mosqueado foi explicada pela solu- tossolos amarelos da zona Bragantina,
bilização parcial do íon ferro, sendo o no Estado do Pará podem apresen-
mosqueado considerado como um está- tar concentração de argilas em hori-
gio entre ferro estável e ferro dissolvi- zontes inferiores sem que haja, con-
do e transportado, cf. 'Mohr & Van tudo, uma zona de acumulação nitida,
Baren, 1954. ap. Falesi, Vieira, Santos, Oliveira, em
1967.
A lavagem da água carregada de
húmus dos horizontes superficiais, dis- Formado in loco, o plinthaite tem sido
solvendo e transportando o ferro e a erodido e transportado de um lugar
alumina para os horizontes inferiores, para outro, quer coluvialmente quer
irá concentrá-los ao nível do lençol como aluvião, e distribuído através de
freático. Nas áreas de boas condições vastas áreas planas com aspectos va-
de drenagem o ferro' adquire cor '!er- riados.
melha e, nas áreas de má drenagem, o
ferro hidratado daria cor acinzentada. Na região de Guamá-Imperatriz, no
Das oscilações do lençol freático e da Pará, Sombroek encontrou variados
alteração química do ferro resulta o tipos de concreções em materiais de
mosqueado do plinthaite. O desenvol- plínthaite contendo ferro, alumina,
vimento e espessura dos horizontes de manganês e titânio. Os blocos quart-
plinthaite seriam conseqüentes da lava- zfticos de tamanhos diversos, até
gem, oxidação, hidratação e solubiliza- 0,50 m apresentavam caracteres angu-
ção do ferro, bem como da amplitude lares e subangulares e estavam conti-
de variação dos lençóis freáticos. dos em matriz de grã fina, de cor ver·
melho claro ao vermelho escuro, indo
Resultando do enriquecimento das for- até o preto. De modo geral, o plin,.
mações em sílica e alumina, o plinthai- thaite está sob material arenoso e fino.
te enrijecido vai dar origem às crostas
que são formadas localmente nos nlveis Em certas áreas da Amazônia o plín,.
mais elevados, ou possuem caracterís- thaite encontra-se enterrado, não evo-
ticas alógenas nos níveis inferiores. luindo presentemente, mas com carac-
terísticas fósseis, uma vez que não é
O processo de formação do plinthaíte mais alcançado pelos lençóis freáticos
ocorre por toda a Amazônia com carac· atuais.
Esse pUnthaite fóssil pode estar ora A existência do plinthaite é generali-
conservado ora erodido, indo dar ori- zada no modelado amazônico, desde
gem a outros plinthaites aluviais e co- Maraj6 ao Acre. Desenvolvidas no
luviais. Apresenta-se, pois, com carac- Plio-Quartenário, tanto a formação do
terísticas pr6prias em relação à área plinthaite quanto a das crostas laterí-
de ocorrência e posição específicas, ticas constituem elementos de reforço
porém dominante nas superfícies aplai- para explicação dos grandes aplaina-
nadas. mentos elaborados sob condições cli-
máticas de alternâncias de uma estação
A origem do plinthaite f6ssil, segundo seca com uma estação chuvosa e, por-
o mesmo autor, tem sido recuada ao tanto, de intermitência da drenagem.
Terciário Superior, quando dominou Retocados por posteriores condições
em vastas áreas um tipo de drenagem úmidas generalizadas e retomadas lo-
imperfeita. Desenvolveu-se também calizadas de condições secas, os aplai-
no Pleistoceno ou mesmo nos tempos namentos teriam resistido ou apenas
atuais. Atual ou subatual, o proceSSI se transformado em níveis de colinas
de formação do plinthaite foi identifi- modeladas sob a floresta equatorial
cãdo também nos campos de Paciari- úmida. Em todos os casos, porém, os
Humaitá, no Estado do Amazonas, e encrostamentos e adensamentos super-
em Rondônia, na área entre o rio Ma- ficiais e subsuperficiais teriam contri-
deira e o rio ltuxi. (E. H. Braun e buído para a manutenção das topogra-
R. A. Ramos, 1965). Segundo os ci- fias aplainadas e dos níveis de colinas,
o
tados autores, processo do mosquea- de topos geralmente regulares.
mento se opera em solos de formações
campestres, em argilas de Barreiras, Erodidos e redepositados, adensamen-
de sedimentação arenosa plúvio- tos de plinthaite e crostas contribuem,
fluvial, argiloso-lacustrina e relevo ta- mesmo sob as condições de umidade
bular. Af, também, foi o processo re- permanente, para a conservação dos
lacionado à alteração química e às traços gerais de um modelado desen-
oscilações do lençol freático em seus volvido sob condições subatuais, vege-
aspectos atuais e subatuais. tação mais aberta do que a floresta
amazônica, presumivelmente de Cam-
A sucessão foi linearmente descrita pos e Cerrados.
nas áreas de transição da floresta para
os campos, dentro da seguinte varia- Quando formados nos dias presentes,
~ão:
plinthaites e crostas indicam más ou
incompletas condições de drenagem,
a) nos igarapés, de drenagem atual, com oscilação dos lençois freáticos. Um
os solos latoss6licos são profundos, grande desenvolvimento das crostas
porosos, sem mosqueado; implica, porém, em condições secas
acentuadas, conforme as descreve
b) na borda do tabuleiro, nos solos Daveau ( 1962) para os relevos afri-
de transição entre os de campos e os canos, onde os encrostamentos máxi-
de floresta; mos correspondem às áreas de Savanas.
c) nos cerrados e campos, de solos
latoss6licos e hidrom6rficos, com carac-
terísticas extremamente argilosas e im- CONCLUSÕES
permeáveis, intensamente mosqueadas;
Da geologia e da tectônica foram re-
d) nas lagoas sobre o tabuleiro, de tirados os elementos necessários ao
solos hidrom6rficos, argilosos, de cor esboço geotectônico apresentado, com
acinzentada e com ausência de mos- as sucessivas bacias de sedimentação
queamento. formadas entre escudos cristalinos,

ss
com os problemas de suas evoluções. paleoclimáticos, em que ganham ên-
O caráter heterogêneo do grande con- fase as alternâncias de fases secas e
junto sedimentar foi, portanto, eviden- fases úmidas ocorridas no Cenoz6ico e
ciado. suas relações com as variações do nível
Os grandes domínios morfológicos da do mar, capazes de elaborar as vastas
várzea, terras firmes e escudos crista- superfícies aplainadas e depositar ex-
linos, já consagrados e generalizados, tensa sedimentação correlativa. A falta
foram abordados por Guerra, 25 pois de pesquisas geomorfológicas sobre o
faltam elementos que permitam des- tema tem levado os geomorfólogos a
cer ao detalhe. Impossível se toma, buscar certos dados essenciais em ou-
no estado atual de conhecimentos da tras disciplinas, como a Sedimentolo-
geomorfologia amazônica, estabelecer gia, a Pedologia, a Petrografia-Estra-
correlações e diferenciações mais pro- tigrafia e a Tectônica.
fundas e consistentes entre tipos de
várzeas e de terras finnes. Os próprios 11: patente a necessidade de estudos
estudos dos níveis das várzeas e terras relativos aos processos morfoclimáticos
firmes constam de observações espa· equatoriais quentes e úmidos, bem
çadas e de difíceis sistematizações. como de suas transições para os do-
mínios tropicais amazônicos, marcados
No tocante à pesquisa dos processos
por um período seco mais ou menos
morfogenéticos em seus aspectos atuais
extenso. As pesquisas sobre os pro-
e subatuais há muito pouco a dizer no
cessos morfogenéticos, morfoclimáticos
vasto domínio, onde quase tudo está
por ser feito. l!: verdade que há cons- e paleoclimáticos poderão contribuir
tatações de problemas de laterização, para aquilatar o papel da erosão e da
latolização e estudos mínuciosos para sedimentação correlativa, bem como
os quais foram adotadas técnicas sub- para avaliar de modo exato o proble-
sidiárias, como as datações dos depó- ma da erosão e do empobrecimento
sitos aluviais mediante métodos de ra- dos solos, fenômeno este ainda mal
dioatividade, e das rochas do escudo, conhecido e controvertido.
por processo físico-químicos da geo-
cronologia. Realizadas de modo isola- Analisando-se, de modo sucinto, o es-
do, estas pesquisas possuem grande tado atual de conhecimentos geomor-
validade para a geomorfologia amazô.. fológicos sobre a Amazônia, podemos
nica, porém de seus IJ)étodos, bem afinnar que, exceção feita aos traba-
como daqueles da sedimentologia e da lhos de consagrados geomorfólogos, a
fotointerpretação, muito pouco têm pesquisa da disciplina apenas vem
feito uso os geomorfólogos. sendo realizada de modo subsidiário
Grandes lacunas, grandes vazios ( con- aos estudos da Pedologia, da Sedimen-
fonne indicam as cartas geográficas de tologia, Geologia, Vegetação, Paleonto-
1:1.000.000) continuam a existir, muito logia e Estratigrafia, ou pennanece na
embora sistematizações venham sendo compilação de dados já publicados, re-
feitas em bases de generalizações de petidos seguidamente, e pecando por
dados isolados. falta de originalidade.
Procurou-se no passado interpretar o Quanto ao mapeamento geomorfoló-
modelado a partir das concejtuações gico como instrumento indispensável à
da erosão nonnal e do ciclo de erosão, pesquisa, quase nada tem sido feito,
bem como pelas oscilações do nível do mesmo ao longo das vias fluviais, onde
mar por movimentos glácio-eustáticos.
se concentram populações e cultivos
No presente procura-se explicar o mo- integrados a certas fonnas do mode-
delado amazôuico através de processos lado.
A esse respeito, poderia aqui ser lem· cimento da regrao Amazônica, reali-
brado que o Projeto Radam incluiu zado mediante técnicas modernas e
em suas pesquisas o mapeamento geo. adequadas à vastidão do espaço a
morfológico da vasta área sul·amazõ. ser pesquisado constitui fato auspi-
nica que envolve aspectos das várzeas, cioso não apenas para a pesquisa geo-
das terras firmes, dos escudos e dos gráfica, mas para todos os que têm a
chapadões de transição para o Meio- responsabilidade de ocupar e valorizar
Norte e para o Centro-Oeste. O conh~ racionalmente a imensa Região vazia.

NOTAS DE REFER~NCIAS

1 Cf. Camargo Mendes; v. ref. 2J da Bibliografia.


2 Cf. Derby; v. ref. H da Bibliografia.

a Cf. Camargo Mendes; v. ref. 26 da Bibliografia.

' Cf. Stemberg; v. ref. JB da Bibliografia.


6 Cf. Loczy; v. ref.22 da Bibliografia.
8 Cf. Barbosa; v. ref. J da Bibliografia.
7 Cf. Camargo Mendes, op . cit. p. 26.
8 Cf. Rezende 8c Fernandes; v. ref. JO da Bibliografia.
o Rezende 8c Fernandes; op. cit. p. 221.
10 Loay, op. cit.
11 Idem
12 Ibidem; p. 64.
UI Cf. Crabert; v. ref. 1J da Bibliografia.
H Cf. Guerra; v. ref. 21 da Bibliografia.
16 Cf. Guerra; op. cit. p. 17.
te Cf. Gourou; v. ref. 17 da Bibliografia.
1T Cf. Camargo; cit. por Soares; v. ref. JJ da Bibliografia.
18 Cf. Sombroek; v. ref. J7 da Bibliografia.
111 Cf. Sombroek; op. cit.
20 Cf. Loczy; op. cit. p. M.
21 Cf. Guerra; op. cit. p. 48
22 Cf. Beigbeder; v. ref. 7 da Bibliografia.
28 Cf. Scapelli; v. ref. J2 da Bibliografia.
2t Cf. Rougerie; v. ref. Jl da Bibliografia.
2ll Cf. Guerra; op. cit.

35
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38
INTRODUÇÃO
A área por nós estudada, sob a de-
nominação de Região Norte, compre-
ende quase toda a Região Amazônica,
a maior extensão de floresta quente e
úmida do Globo, que ocupa quase a
metade do Territ6rio Brasileiro.
Este vasto territ6rio, juntamente com
a Região Centro-Oeste, possui a mais
deficiente rede de estações meteorol6-
gicas do Brasil. Neste fato residem as
mais sérias dificuldades deste estudo.
Com efeito, nesta enorme área, cujo
desbravamento data do século XVII,
mas cuja ocupação ainda hoje é muito
escassa, a distribuição das estações me-
teorol6gicas é determinada pelo povoa-
mento. Daí resulta uma rede com
acúmulo de estações meteorol6gicas
em certas áreas (nas margens do rio
Amazonas e de alguns de seus prin-
cipais afluentes) e escassez ou mesmo
ausência absoluta em outras, como o
leitor poderá observar através dos ma-
CLIMA pas que ilustram este estudo.
EDMON NIMER Entretanto, pela simplicidade de sua
topografia, quase toda ela constituída
por uma planura pr6xima ao nível do
mar, e pelo estudo do seu mecanismo
atmosférico, através de numerosos tra-
balhos publicados por diversos auto-
res, e através de análises de cartas si·
n6ticas do tempo diário, elaboradas
pelo Departamento de Meteorologia,
do Ministério da Agricultura, foi-nos
possível contornar alguns dos proble-
mas gerados por aquelas deficiências
e obter um retrato do quadro climá-
tico da Região Norte.

1 - PRINCIPAIS SISTEMAS DA
CIRCULAÇÃO
ATMOSFÉRICA .
O conhecimento das influências dos
fatores estáticos ou geográficos que
atuam sobre o clima da Região Nor-
te do Brasil, por mais completo que
seja não basta para a .compreensão de

S9
seu clima. Este não pode ser compre- guiares no Verão (dezembro a março),
endido e analisado sem o concurso do quando há um decréscimo geral de
mecanismo atmosférico, seu fator ge- pressão, motivado peJo forte aqueci-
nétiro por excelência, objeto de estu- mento do interior do continente. Na
do da Meteorologia Sinótko. Até mes- Amazônia tais correntes de perturba-
mo a influência dos fatores estáticos, ção atmosférica são comuns durante
tais como relevo, latitude, continen- todo o ano ao sul do equador, porém
talidade ou maritimidade, é exercida bem mais constantes no Verão.
em interação com os sistemas regionais
de circulação atmosférica. Sua origem parece estar ligada ao mo-
vimento ondulatório que se verifica na
Por isso iniciaremos este estudo com frente polar ao contacto com o ar
uma suscinta análise dos principais quente da zona tropical. A partir des-
sistemas de circulação atmo$/bica que, sas ondulações formam-se, ao norte da
por sua atuação direta. exercem um frente polar, uma ou mais IT sobre o
importante papel na variação de com- continente. Ap6s formadas, elas se
posições climáticas na Amazônia, no deslocam com extrema mobilidade até
tempo e no espaço. 60 lc:m/hora, embora elas possam, por
vezes, permanecer semi-estacionadas.
Através do setor oriental da Região À medida que a frente polar caminha
Norte sopram, periodicamente, ven- para o Equador, as IT se deslocam
tos de E a NE do anticiclone subtro- para E, ou mais comumente para SE,
pical semi{WJ do AIMntico Sul e do anunciando com nuvens ~ e ge-
anticiclone subtroplcol semifi%o dos ralmente chuvas tipicamente tropicais,
Açores. Em virtude de possuírem uma a chegada da FP com antecedência de
subsidência superior e conseqüente in- 24 horas, a qual, no entanto, pode não
versão de temperaturas, tais ventos são
acompanhados de tempo estável. chegar principalmente às latitudes
mais baixas.
No setor ocidental predomina a massa
de ar equatorial ( m Ec), formada pela Tais chuvas se verificam, geralmente,
convecção tennodint2mica do.t ventos no fim da tarde ou infcio da noite,
de NE do anticiclone do.t Açore• e da quando, pelo forte aquecimento diur-
convergência intertropic4l (ClT) . no, intensificam-se a radiação telúri-
ca e, conseqüentemente, as correntes
Esta massa de ar, pela sua forte umi- convectivas. Ao contrário das chuvas
dade especifica e ausência de subsi- das frentes polares (que costumam ser
dência superior, está, freqüentemente, frontais) provocadas pela ação direta
sujeita a instabtlidades causadoras de intermitentes durante todo dia (às ve-
chuvas abundantes. zes dois e raramente 3 dias), as chu-
vas de IT duram poucos minutos, rara-
No interior desta massa de ar as chu- mente ultrapassando 1 hora, sob céu
vas são provocadas por deprusões di- quase ou completamente en09berto
nAmicas denominadas linhas de insta- por pe$ados e grossos cumulus-nimbos.
bilidades tropicais (IT) induzidas em
O mais importante local de origem
pequenàs dorsais. No seio de uma lt,..
destas correntes perturbadas, na Ama-
Ma de IT o ar em convergência acar-
zônia, é o setor ocidental, onde ap6s
reta, geralmente, chuvas e trovoadas,
por vezes granizo, e ventos moderados formadas elas se deslocam comumen-
a fortes com rajadas que atingem 60 te para E ou SE, até o centro da
a 90 lc:m/hora. Região. Outro local também muito im-
portante situa-se sobre o ParA, daí se
Tais fenômenos são comuns em todo deslocando comumente até o Mara·
o Brasil tropical, principalmente no seu nhão, porém raramente até o sertão do
interior, no períooo que se estende de Nordeste.
meados da Primavera a meados do Ou- Outro sistema de circulação muito im-
tono, porém são mais freqüentes e re- portante vem do norte, e é represen-
tado pela invasão da ClT, zona de dades o anticiclone polar invade o
convergência dos ventos do anticiclo- continente sul-americano, seguindo,
ne dos Açores e do anticiclone do duas trajetórias diferentes: uma a oeste
Atldntico Sul. Tais correntes, respon- dos Andes, outra a leste dessa cordi-
sáveis por aguaceiros, têm sua posi- lheira, após transpô-la ao sul do Chile.
ção média sobre o Hemisfério Norte, Com orientação NW-SE sua frente, ou
porém no Inverno, Outono e Verão, es- descontinuidade frontal, invade a Re-
pecialmente no Outono, elas descem
freqüentemente para o Hemisfério Sul. gião Norte com ventos do quadrante
Embora elas atinjam o extremo sul da sul, provocando chuvas frontais acom-
Região, a grande intensidade de sua panhadas de sensível queda de tem-
freqüência é limitada ao setor norte peratura. Tais frentes atingem o Acre,
da Região, sendo tanto maior a nor- Rondônia e sul do Amazonas, no In-
deste, sobre o Amapá e norte do Pa- vemo.
rá. A exemplo das chuvas de IT as
chuvas da ClT são de notável concen- Nesta estação os anticiclones mais po-
tração no tempo e no espaço, porém derosos conseguem, embora muito ra-
estas são, geralmente, mais intensas e ramente, empurrar sua superfície fron-
pesadas do que aquelas. tal para além do equador geográfico,
na altura do Estado do Amazonas, pro-
Finalmente, o sistema de correntes vocando as chamadas ondas de frio ou
perturbadas de sul é representado pela friagens. Fora do Inverno, mas prin-
invasão do anticiclone polar com sua cipalmente no Verão, o anticiclone po-
descontinuidade frontal, denominada lar dificilmente consegue empurrar sua
frente polar. A fonte desses anticiclo- frente além do Acre e Rondônia, em
nes é a região polar de superfície ge- virtude do aprofundamento da baixa
lada, constituída pelo Continente An- t~rmodinâmica do Choco, nesta época.
tártico e pela banquisa fixa. De sua Deste mecanismo decorre, portanto, 4
base anticiclônica divergem ventos sistemas de circulação atmosférica:
que se dirigem para a zona depressio-
nária subantártica, originando, nessa a) Sistema de ventos de NE a E dos
zona ocupada pelo pack e por ou- anticiclones subtropicais do Atlântico
tros gelos flutuantes, as 11UJSSas de ar sul e dos Açores -tempo estáveL
polar. Desta zona partem os anticiclo-
nes polares que periodicamente inva- b) Sistema de ventos de W da mEc ou
dem o continente sul-americano com linhas de IT - tempo instável.
vento de W a SW nas altas latitudes,
mas adquirindo, freqüentemente, a c) Sistema de ventos de N da ClT -
direção S a SE em se aproximando do tempo instável.
trópico sobre o Território Brasileiro.
d) Sistema de ventos de S do antici-
De sua origem e trajetória ( SW-NE) clone ou frente polar - tempo ins-
até chegar a Região Norte derivam tável.
suas propriedades. Em sua origem
estes anticiclones possuem subsidf..ncia Os 8 últimos constituem correntes
e forte inversão de temperatura e o perturbadas, sendo, portanto, respon-
ar é muito seco, frio e estável. Porém sáveis por instabilidades e chuvas.
em sua trajetória ele absorve calor e (Fig. 1).
umidade colhidos da superfície do
mar, aumentados à medida que cami- Chamamos atenção para a sobreposi-
nha para o equador. De sorte que, já ção dos sistemas perturbados no setor
nas latitudes médias, a inversão desa- ocidental da Região, ao norte do qual
parece e o ar polar marítimo toma-se no Outono e Inverno se combina.m as
instável. Com esta estrutura e proprie- chuvas de N e W. 1
SISTEMAS DE CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA
PERTURBADA - REGIÃO NORTE

Fig.l -----+ SISTEMA DE CIRCULAÇÃO PERTURBADA DE W (mEc)


---l.,..,. SISTEMA DE CIRCULAÇÃO PERTURBADA DE N (C IT)
---l. . . SISTEMA DE CIRCULAÇÃO PERTURBADA DE S (F P)
O 100 200 300 400 500 Krn
OI•Ed/0 • J.A.C. I t I I I I

2 - PRINCIPAIS ASPECTOS Esses importantes índices térmicos


anuais resultam do fato de que du-
TÉRMICOS rante todo ano as temperaturas se
mantêm mais ou menos elevadas, des-
Sendo caracterizada por uma vasta tacando-se neste particular os me~es
planura situada próxima ao nível do de setembro-outubro e novembro-de-
mar e cortada de um extremo a outro zembro, períodos nos quais as médias
pelo paralelo do eqUDdor, a Região mensais se elevam entre 26 a 28°C na
Norte possui clima QUENTE.
maior parte do seu Território.
Conforme pode ser observado na figura
2, apenas restritas áreas do sudoeste Entretanto, em virtude da forte umi-
da Região (pela maior participação de dade relativa que caracteriza esta Re-
massa polar) e áreas serranas da fron- gião (em tomo de 80% durante todo
teira setentrional e da chapada dos ano ) e da intensa nebulosidade (co-
Parecis em Rondônia (pela altitude bertura do céu em tomo de 5/8), estes
bem acima da planura regional) pos- meses não registram máximas diárias
suem temperatura média anual infe- excessivas. Somente na área compre-
rior a 240C. Neste aspecto o que bem
caracteriza esta Região são temperatu- endida entre a zona do médio Amazo-
ras que variam de 24 a 260C, embora nas e o sudeste do Pará foram registra-
uma larga faixa ao longo do médio das temperaturas máximas de 4QOC:
e baixo curso do rio Amazonas ultra- estas ocorrendo nos meses de setem-
passe este último índice. bro e outubro 2 , como mostra a figura 3.
6 • 4.

AUTOR : AOALBERTO SERRA


( ATLAS CLIMATOLO'GICO l

.
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o• o•

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t. . •o•
•o• \..

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7C1' 65°

... ...

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FIG 3
42

TEMPERATURA MÁXIMA ABSOLUTA DO ANO t•C)


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38 100 100 .100 400 500 'Cfll
C0t.A8011A00R($ MT"U1t 4 f' FilHO
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48
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TEMPERATURA loU,NIMA ABSO..UTA DO ANO ("C)


AUTCHI lOMOH Hlllllflt
C0t.480itAOCI'I'lS . AATttiJJII A..~ fii.HO
JAM IHIN OA ~

1fl' 5.. 46"

Enquanto setembro e outubro são os do fenômeno da "friagem", caracteri-


meses mais quentes, junho - julho - zado por forte umidade especifica e
agosto se constituem no período mais relativa, acompanhada de chuvas fron-
ameno, embora nenhum destes meses tais e sucedidas por tempo bom e ex-
apresente temperatura média inferior traordinária queda de temperatura
a 220C. Contudo, isto não significa que atinge a mínimas como aquelas
que não ocorra frio na Amazônia. Não citadas.
obstante as temperaturas médias su-
periores a 22°C, esses meses costu- Estudando as "friagens", Serra e
mam registrar mínimas diárias inferio- Ratisbona ( 1945) escreveram: Com
res a 12°C na zona meridional da Re- a entrada do grande anticiclone polar,
gião, do Acre ao sul do Pará, por oca- de movimento lento, devido a reduzi-
sião da invasão de anticiclone polar
da energia de que é dotado nas baixas
de trajetória continental, muito co-
latitudes, a pressão sobe, atingindo va-
mum no Inverno. Nestas zonas os ter-
mômetros já desceram a OOC na cha- lores elevadíssimos para a Região, e
pada dos Parecis, conforme se pode perturbando a marcha normal da ma-
observar na figura 4. ré diurna. A temperatura caí e, sob o
vento fresco que passa a soprar de
Convém observar que durante o Inver- sul, o céu atinge 10 partes de nuvens
no toda zona me.ridional da Região stratu.s e stratucumulus ou mesmo de
Norte, especialmente o setor sudoeste altustratus, caso seja muito elevada a
(Rondônia, Acre e parte do Amazo- invasão fria. Sob a lenta velocidade
nas) é freqüentemente invadido por da frente, o sistema de nuvens persis-
tais anticiclones de origem polar, ap6s te sem se desmanchar, provocando
transpor a cordilheira dos Andes, ao chuvas frontais. A chuva frontal ter-
sul do Chile. Alguns são excepcional- mina, logo substituída por leve chu-
mente poderosos e provocam o chama- visco ou nevoeiro. Com céu ainda en-
70• ..
~. 60° 56•
·~·
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•o• FIG.5

MEDIA DAS MÍNIMAS DE JULHO (°C)


AUTOR . AOALBER TO ,SERRA
( ATLAS CLI MATOLOGICO )
\, ~

coberto pela presença da frente, re- reira "é mais freqüentemente atingida
sulta a fraca amplitude térmica diur- (pelas friagens) em maio, junho e ju-
na, com máxima baixa e mínima ainda lho, época em que o Sol está no ou-
elevada. A umidade relativa permane- tro hemisfério (setentrional) e é mais
ce em tomo de 97%, podendo, aliás, ser fácil a queda da temperatura à noite.
menor. Só daí a um ou dois dias, quan- To~am-se raros os anos de 3, 4 ou 5
do o anticiclone avançou muito para friagens e o valor médio é de 2,4% ao
o norte ou nordeste, diminui sua tur- ano", p. 179, ref. 4, da Bibliografia.
bulência anterior, seguindo-se a lim- Por isso, os declínios extremos de tem-
peza do céu que produz finalmente, peratura são muito raros, uma vez que
pela intensa radiação da noite, as bai- as médias das mínimas diárias nesses
xíssimas mínimas da "friagem". Elas meses são muito superiores àqueles
não se mantêm, contudo, não só pela valores absolutos, conforme demons-
destruição do anticiclone polar como tra a figura 5, relativa às médias das
ainda porque a massa de retorno à sua mínimas de julho.
retaguarda e a fraca nebulosidade per-
mit~m o aquecimento solar que acaba Neste mês, o mais representativo do
com o fenômeno. Este dura, em mé- Inverno para a maior parte da Região,
dia, quatro dias. as médias mínimas variam, na zona
meridional, de 18 a 140C, embora ~eja
Embora a passagem de frentes frias de J.20C, aproximadamente, no sudeste
seja muito comum no Inverno, o fenô- de Rondônia, sobre a chapada dos Pa-
meno da "friagem" não é muito fre- recis. Fora dessa zona a média das
qüente. A este respeito os referidos mínimas de julho varia de 18 a 230C,
pesquisadores fizeram um estudo uti- crescendo para o norte da Região.
lizando informações de 30 anos con-
secutivos da estação meteorológica de Se põr um lado a variação anual da
Sena Madureira, situada no Estado temperatura não é muito importante,
do Acre na latitude de 90S, chegando o mesmo não acontece com as varia-
às seguintes conclusões: Sena Madu- ções diurnas. Este fato é, aliás, uma
das características particulares dos cli- um modo geral, mais ativos quanto
mas das regiões de baixas latitudes. mais próximo o lugar esteja das mar-
Decorre daf a constatação de Riehl ~ns ao rio Amazonas. Decorre daí o
( 1954): "Na faixa equatorial é o ciclo fato de que a média da amplitude tér-
de temperatura diurna que governa os mica diurna, durante o ano, em Be-
hábitos da vida através do ano", p. lém (9,8°C) e em Manaus (8,7°C) é
105, ref. 3 da Bibliografia bem inferior a que se verifica em Sena
Madureira, Estado do Acre ( 13°5 )3 •
De fato, nas latitudes equatoriais, so-
bre o mar, embora a variação diurna De qualquer forma, a oscilação tér-
da temperatura permaneça, em qual- mica entre os dias e as noites na Re-
quer estação do ano, em tomo de l°C, gião Norte do Brasil é de amplitude
sobre o continente ela excede, de mui- bem maior do que a oscilação esta-
to,. a amplitude ·estacionai. cionai, principalmente quando verifi-
camos a amplitude que é registrada
Tomando por base a média das máxi- nos dias que sucedem as chuvas fron-
mas e das mínimas diárias verificamos tais de Inverno, quando o ar mais seco
que a média da amplitude térmica permite forte insolação diurna e inten-
diurna na Região Norte do Brasil, du- sa radiação noturna. Este fenômeno,
rante o ano, varia muito, entre 8 e aliás, concorre para a maior média da
140C. amplitude térmica diurna de Sena Ma-
dureira, local que, como vimos, está
Além da direção predominante do ven- mais sujeito à invasão de anticiclone
to e de sua velocidade, os fatores lo- polar, por estar situado a sudoeste da
cais que governam o cur.so diurno da Região Norte. ·
temperatura são a topografia, a alti·
tude, a natureza do solo e a nebulosi-
dade. Quanto mais seco e calmo forem
os ventos predominantes; quanto mais 3- PRINCIPAIS ASPECTOS
plana for a topografia; quanto mais
baixa for a altitude do lugar; quanto PLUVIOMÉTRICOS
mais raso e J>:edregoso for o solo; quan-
to menos <.:oberto e desprotegido por Se em relação à temperatura, a Região
vegetação arbórea e quanto mais dis- Norte apresenta, como vimos, uma
tante estiver o lugar aa influência de certa homogeneidade espacial e esta-
vastas superfícies lí~á~' tanto maior cionai, ou seja, pouca variedade tér-
será a amplitude · ·a. No caso da mica ao longo de seu território e uma
Região Norte a topografia e a altitude variação estacionai pouco significativa,
baixa favorecem o aumento da ampli- o mesmo não acontece em relação à
tUde diurna, entretanto a natureza do pluviosidade.
solo, profundo e coberto pela vegeta-
ção pujante da selva, e a notável rede Em virtude dos sistemas de circula-
de rios largos, além da forte nebulo- ção perturbada que descrevemos, a Re-
sidade durante todo o ano agem em gião Norte constitui-se no domínio cli-
sentido contrário. :E: bem verdade que mático mais pluvioso do Brasil, ou seja
na Amazônia predominam calmarias, o de maior total pluviométrico anual,
porém. o ar está diariamente muito conforme se pode observar na figura 6,
carregado de umidade. Por esses mo- relativa ao mapa de isoietas anuais.
tivos a amplitude térmica diurna na Este aspecto é mais importante no li-
Amazônia é um pouco inferior às re- toral do Amapá, na foz do rio Amazo-
gistradas em outras regiões da zona nas e no setor ocidental da Região,
equatorial, como por exemplo no ser- cuja pluviometria· excede a 3.000 mm.
tão semi-árido do Nordeste do Brasil,
abaixo das latitudes de 10 a 12.0 Sul. Entre ambos, um "corredor" menos
chuvoso, de orientação NW-SE, de Ro-
Tais fatores frenadores da amplitude raima a leste do Pará, passando pela
térmica diurna na Amazônia são, de zona do médio Amazonas, apresenta
70"

5.

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1500 A 1750
\ 1755 A 2000
2250

AUTORES
EOMON NIMER
ARTHUR A.P FILHO
ISOIETAS ANUAIS 2000 A 2250
2250 A 2500
JANINE M. OA CRUZ FIG. 6 MAIS OE 2500
? 5? 1 ~ 1 ~ 1 ~ Km
70. 65. 55°
250
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OE2!!0A 300
AMPLITUDE PLUVIOMÉTRICA DE300A 3!50
DE300A 400
ANUAL{mt m) DE400A 4:10

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DE~A l500
AUTOR EOMON NIMER
FIG. 7 OE 500 EMDIANTE
O
I
50
I I
1!50
I I
250
I I
350
I
km

55"
um total com cerca de 1.500 a 1 700 mínimo no Inverno. Este regime resul-
mm. As áreas mais pluviosas são jus- ta do seguinte: durante o Verão, en-
tamente aquelas onde com mais fre- quanto diminui a incidência de chu-
qüência se dá a sobreposição das chu- vas de oeste ao norte daqueles para-
vas de W da mEc e de N da ClT. O lelos, ao sul dos mesmos ela aumen-
citado "corredor" menos chuvoso cor- ta. Ao contrário, no Inverno, a mEc
responde à área onde são menos fre- estando deslocada para NW, sobre a
qüentes as chuvas desses dois sistemas Colômbia, sua circulação de W propi-
de circulação. cia chuvas freqüentes apenas a oeste
do Estado do Amazonas, especialmente
Entretanto, essas precipitações não se a noroeste. Sendo assim, o Verão fica
repartem igualmente durante o ano. na dependência quase exclusiva das
As médias da amplitude pluviométrica chuvas do sistema de circulação
anual (diferença entre a pluviometria Norte que, como vimos, possui forte
do mês mais chuvoso e do mês menos declíneo para o sul e das chuvas do
chuvoso) é das maiores do Brasil, sen- sistema de circulação S das frentes po-
do mais notáveis no sul entre os E5ta- lares, cujas invasões, além de serem
dos do Amazonas e Pará ( 300 a 400 pouco numerosas, acarretam chuvas
mm) e no litoral do Amapá e foz do geralmente pouco copiosas.
rio Amazonas ( 500 a 600 mm) . Estes
últimos índices são os maiores do Bra- O Território de Roraima e o extremo
sil ( Fig. 7). Apenas o setor noroeste setentrional do Estado do Amazonas
do Estado do Amazonas possui ampli- constitui um caso a parte. Estando esta
tude insignificante ( 200 mm) . Trata-
área localizada no Hemisfério Norte
se de área onde a circulação de oeste seu regime de chuvas é justamente o
se mantém mais constante durante todo inverso do que se verifica na zona me-
o ano.
ridional da Região Norte ao sul daque-
Embora o período chuvoso na Região les referidos paralelos. O máximo plu-
Norte seja representado pelos meses viométrico se dá no Inverno e o mí-
nimo no Verão. Entretanto, como se
do Verão-Outono, ao norte dos parale- trata de áreas do Hemisfério Norte,
los de 2 a 5° Lat. Sul o máximo plu- essas estações correspondem ao Verão
viométrico, geralmente, se dá no Ou- e ao Inverno boreais, respectivamente.
tono e o mínimo na Primavera. Este A figura 8, relativa às épocas do tri-
regime pluViométrico decorre do se- mestre mais chuvoso, fornece maiores
guinte: no Outono, além da incidência detalhes a este respeito.
de chuvas de oeste de IT da mEc ser
um pouco maior que no Verão, estas Deste ritmo estacionai da precipitação
chuvas se combinam com as chuvas de resulta que apenas uma porção rela-
norte da ClT, que no Outono, possuin- tivamente pequena do território da
do uma posição média mais meridio- Região Norte do Brasil não possui se-
nal, atingem mais freqüentemente as quer 1 mês seco. Trata-se do setor cen-
áreas setentrionais da Região Norte. tro-ocidental da Região e do pequeno
Ao contrário, na Primavera as corren- núcleo em tomo de Belém, capital do
tes perturbadas de N (ClT) acham-se Pará.
muito deslocadas sobre o Hemisfério
Norte e raramente descem ao Hemisfé- A inexistência de seca no setor centro-
rio Sul, ficando a Região Norte na de- ocidental é uma decorrência de chu-
pendência quase que exclusiva das vas abundantes do sistema de W du-
chuvas de oeste de IT que nesta época rante o Verão, Outono e Primavera, e
do ano começam a rarear ao norte da associação destas com as chuvas do
daqueles paralelos. sistema de circulação N no Outono e
Inverno, ao norte, e dos sistemas de W
Ao sul dos referidos paralelos o má- e S no Inverno, ao sul. A inexistência
ximo pluviométrico se dá no Verão e o de seca em Belém, encrustada numa
ÉPOCAS DA PRECPITA(:Ao MAxiMA EM
3 MESES CONSECUTIVOS
, p r • - FtG8

área onde o período seco dura de um sistema de W, durante o inverno bo-


a dois meses, decorre, certamente, de real, e da constância dos alísios de NE
influências locais, cujas causas estão do anticiclone dos Açores, durante a
ainda por serem pesquisadas. Primavera boreal, época em que a CIT
está mais freqüentemente ao sul de
Em tomo destas áreas, sem seca, exis- Roraima (Outono austral). A. ~ste res-
te uma estreita faixa que, embora não peito lembramos que em virtude da
apresentando um mês seco sequer, seu depressão equatorial ( CIT) estar si-
minimo pluviométrico estacionai é tão tuada, em media, mais perto de 5° Lat.
sensível a ponto de detenninar uma norte do que do equador geográfico,
estação subseca. • e de possuir no continente americano
uma orientação NE-SW, apenas o Ter-
Excluindo estas áreas, todo o restante ritório de Roraima está mais sujeito
do território regional possui, normal- à influência direta dos sistemas de cir-
mente, um período caracteristicamente culação tropical do Hemisfério Norte
seco de pelo menos um mês. Dentro do que dos sistemas do Hemisfério Sul.
deste território existe uma área bas- Ainda sobre o leste de Roraima, cha-
tante extensa cuja seca se prolonga por mamos atenção, por estar esta área
três meses. Trata-se do já citado "cor- compreendida na depressão topográfica
redor" central, menos chuvoso, que se da bacia dos altos cursos dos rios
estende de Roraima ao sul do Pará, Branco, Essequibo e Corantyne, para a
onde há uma rarefação de chuvas dos dissecação adiabática do ar que certa-
sistemas de W e de N, motivada por mente deve concorrer para o prolon-
certa constância de uma dorsal de a1ta. gamento de 4 a 5 meses secos af exis-
Através do Estado de Mato Grosso tentes.
este "corredor" se liga a Rondônia e
sudeste do Acre, onde também ocor- Outra área de 3 meses secos é repre-
rem 3 meses secos, por se tratar da sentada pela foz do rio Amazonas,
periferia meridional da Amazônia.
onde, na primavera austral, estando a
Neste "corredor", o leste de Roraima CIT freqüentemente muito ao norte
possui 4 a 5 meses secos, decorrentes no Hemisfério Boreal, as chuvas do sis-
sobretudo da rarefação de chuvas do tema de N são raras e as do sistema de

50
DESVIO PLUVIOMtTRICO MÉDIO ANJAL
EM RELACÀO À NORMAL (•t.)
'.

W são pouco freqüentes. Esta área se dinâmica costuma apresentar compor-


estende pelo Maranhão, já fora da Re- tamentos bem distintos, quando com-
gião Norte. A distribuição e extensão parada de um ano para outro. Disto
das diferentes áreas com a duração e resulta que os totais pluviométricos
época de seus períodos secos, está re- em cada ano estão sujeitos a valores
presentada na figura 11. bem distintos, podendo se afastar gran-
demente dos valores nomu:zis.
Esclarecemos, contudo, que o período
ou estação seca na Amazônia não se Na Região Norte do Brasil a média
caracteriza por secas muito intensas. dos desvios pluviométricos anuais, po-
Pelo contrário, durante tais secas ocor- sitivos ou negativos, em relação às nor-
rem normalmente dias de chuva, _al- mais é, em sua maior parte, superior a
gumas até relativamente intensas, po- 15%. Em outras palavras, os valores
rém sua insuficiência ecológica é o pluviométricos de um ano para outro
bastante para caracterizar a existência variam em média de 15% a mais ou a
de um curto período ou estação seca. menos do total médio representado
Isto é tanto mais verdadeiro nas áreas pela normal, conforme pode ser veri·
de 1 a 2 meses secos. Porém a área de ficado na figura 9.
4 a 5 meses secos do leste de Roraima
possui, normalmente, uma seca muito Entretanto, por se tratar de desvios
forte. médios, sua importância reside apenas
no fato deles indicarem a tendência
das variações: as áreas de maiores
3.1 - Desvios Pluviométricos desvios médios são aquelas mais sujei-
tas, em determinado ano, a maiores
Anuais em Relação às desvios efetivos, e estes costumam ser
Normais5 bem superiores aos indicados pelos des-
vios médios. Em determinados anos,
O mecanismo atmosférico nas reg10es certos locais ou áreas da Região Norte
tropicais se caracteriza, sobretudo, por recebem urna quantidade de chuvas
sua notável irregularidade, isto é, sua de cerca do dobro da normal.

51
.
DESVIOS PLUVIOMETRICOS EFETIVOS

1918 1919

{c) ( D)

1914 1938

OlvEd/0- ..I.A.C. Fig.IO

I ., , I DESVIOS POSITIVOS I DESVIOS NEGATIVOS


I - I
FONTE : ATLAS PLUVIOMETRICO DA DIVISAO DE AGUAS- D N P M

Outra característica dos desvios plu- vários anos, enquanto o setor norte
viométricos, nessa Região, é a sua ex- apresentou desvios positivos, o setor
trema complexidade; entre 1914 a sul registrou desvios negativos, ou vi-
1938 não se registrou um ano sequer ce-versa. As figuras 10A e B, relativas
em que a totalidade.do território apre- aos anos de 1918 e 1919, são exemplos
sentasse os meSm~s desvios: positivos deste fato. Os limites do contacto en·
ou negativos. Em cada ano extensas tre o setor de desvios opostos passa
áreas registraram desvios positivos, ao geralmente na faixa de menores des-
lado de outras áreas com desvios ne- vios médios da figurà 9.
gativos, muitas vezes bastante afasta-
dos do índice zero. Esse caráter oposto no comportamento
dos desvios num mesmo ano se deve,
Entretanto, apesar desta complexida- como vimos, à existência-de três siste-
de, é possível reconhecer uma certa mas de circulação perturbada semi-in-
freqüência de opasição de desvios en- dependentes. Disto resulta que em de-
tre o setor norte e sul da Região: em terminados anos, enquanto o sistema

52
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DIFERENOACCES QJMÁT1CAS
riG 11

de circulação N faz precij>itar chuvas 4 - PRINCIPAIS


abundantes, isto não signüica, necessa-
riamente, uma simetria com os outros DIFERENCIAÇÕES
sistemas de circulação perturbada. Os CLIMÁTICAS6
desvios ao norte da Região estão prin-
cipalmente na dependência do siste- Levando-se em conta o regime de tem-
ma de norte, enquanto que ao sul de- peratura, toda Região Norte possui
pende do sistema de W e S. Os anos Clima Quente, uma vez que todos os
em que toda Região ( excessão a res- meses se mantêm com temperatura
tritas áreas) apresenta desvios negati- média superior a 22<>C. ~ bem verdade
vos ou positivos decórre da reciproci- que as áreas meridionais dessa Região,
dade entre esses sistemas. Estes raros especialmente o sudoeste, costumam
anos estão representados nas figuras registrar bruscos e fortes declínios de
lOC e D, relativos aos anos de 1914 e temperatura no inverno, após a inva-
1938, respectivamente. são de poderoso anticiclone polar. Po-
rém, em virtude das constantes tem-
Disto resulta que a duração dos perío- peraturas elevadas, estas situações, tão
dos secos na Região Norte está sujeita raras, não chegam a afetar de modo
a importantes flutuações da maré plu- significante as médias mensais ao pon·
viométrica anual. Nos anos de fortes to de determinar um novo domínio cli-
desvios positivos pode desaparecer o mático.
período seco, pelo menos nas áreas
cuja no1'11UJl não excede a 3 meses se- Entretanto, levando-se em conta o re-
cos, enquanto que nos anos de fortes gime de umidade ou, mais especifica-
desvios negativos toda Região está su- mente, a exist~ncia ou inexist~ncia de
jeita à seca, inclusive aquelas áreas seca e o regime ~ duração dos perío-
onde a nomu.Jl indica que a seca é dos secos, verificamos que este domí-
inexistente. Nestes anos, as áreas de 3 nio de clima qãente possui áreas bem
meses secos, em média, devem ter seu diferenciadas que determinam quatro
período seco bem mais prolongado. subdomínios climáticos: a) superúmido
( Figs. lOA,B,C,D). sem seca (área ocidental da Amazônia
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e Belém, capital do Pará); b) superú· ção atmosférica que lhes dão origem,
mido com subseca (periferia dessas verificamos que o clima superúmido
áreas); úmido com 1 a 2 meses secos (sem seca ou com subseca) é carac·
(maior parte do nordeste do Pará e teristicamente equatorial, passando a
do Amapá); c) úmido com 3 meses se· tropical nas áreas de clima úmido
cos (amplo corredor que se estende (com 1 a 2 meses ou 8 meses secos)
de Roraima ao sul do Pará, além de e de clima semi-úmido (com 4 a 5 me·
Rondônia e leste do Acre) e d) semi- ses secos ) . Verificamos ainda que
úmido com 4 a 5 meses secos (leste tanto no clima equatorial como no
de Roraima) . tropical os paralelos de 2 a 5° Sul di-
Considerando a marcha estacional de videm a Região Norte em duas zonas:
precipitação e os sistemas de circula- ao sul o máximo pluviométrico se dá

DOMlNIO CLIMÁTICO Subdomínios Variedades Climáticas Tipo


Climáticos

Sem seca
Superúmido Equatorial
Com subseca
QUENTE
De 1 a 2 meses secos
Omido
De 3 meses secos Tropical
Semi-úmido De 4 a 5 meses secos Tropical

54
no Verão e o mínimo no Inverno ( re- cas hídricas verificamos que a Amazô-
gime característico do Brasil Cenrral); nia possui numerosos fáCies cuja dis-
enquanto que ao norte o máximo se tinção varia desde a inexistência de
verifica no Outono e o mínimo na Pri- mês seco até a existência de 5 meses
mavera (regime característico da zona secos. Entretanto, a delimitação geo-
equatorial sul-americana). ( Figs. 11 e gráfica dessas variedades climáticas
12). fica muito prejudicada pela rarefação
de postos de observação meteorológi-
Considerando em conjunto os regimes ca nesta Região. Uma das áreas mais
térmicos e pluviométrico, ou seja: a prejudicadas pela quase inexistência
média compensada do mês mais frio; de postos meteorológicos refere-se ao
a existência ou não de seca; a dura- citado "corredor" menos úmido, es-
ção dos períodos secos; a marcha esta- tendido de Roraima ao sul do Pará,
cionai da precipitação e os sistemas de passando pela chamada zona do mé-
circulação atmosférica, · chegamos ao dio Amazonas. Neste "corredor" reco-
quadro climático ( Pg 54) da Região nhecemos a existência de diversos lo-
Norte. 7 cais de clima sensivelmente menos
úmido com 4 a 5 meses normalmente
secos. Outros locais ou áreas semi-úmi-
CONCLUSÕES das seriam, por certo, delimitadas, não
fora a ausência de postos. ( Fig. 13).
1.0 - A Região Norte enquadrada na 3.0 - Enrretanto, não resta dúvida que
Amazônia é, juntamente com a Re- a Região Norte do Brasil, embora não
gião Sul, a de maior homogeneidade e abarcando toda a Amazônia, constitui-
unidade climática do Brasil. -se na mais extensa Região de clima
quente superúmido, ou úmido, do
2.0 - Sua homogeneidade e unidade mundo.
são tanto mais evidente em se tratan-
do da distribuição da temperatura, po- 4.0 - Por diversos motivos, o clima da
rém tratando-se de suas característi- Amazônia tem permanecido como um

...

IDENTIFICACAO DOS POSTOS


F'IG 13 METEOROLóGICOS
t o:> . . .. . . ..
... ...

55
dos menos conhecidos. Isto tem gerado metros descem brusca e sensivelmen-
uma série de conceitos parcialmente te, atingindo, não muito raramente, nas
incorretos e até mesmo falsos de suas situações de friagens, 18 a 14°C nas
propriedades climáticas . entre 14 a 100C no Acre, em Rondônia
e no norte de Mato Grosso. Nestas
Por exemplo, em pretender encontrar áreas o termômetro já desceu a 4°C
uma analogia entre o clima da Amazô- nas superfícies baixas e a OOC nas su-
nia e o clima guineense do critério perfícies elevadas da chapada dos Pa-
classificatório de E. de Martonne, ao recis. Estes fatos nos permitem dizer
qual este autor denominou de cli- que o clima da Amazônia é quente du-
ma do tipo equatorial (de acordo com rante quase todo ano, porém, no Inver·
conceitos tradicionais), reside parte no, há uma sensível diminuição da
dos motivos que têm levado à disper- temperatura em largas extensões de
são de imperfeições conceituais sobre seu território durante poucos dias.
o clima da Amazônia: enquanto na
Guiné (bacia do Congo) o ritmo esta- A respeito ainda do clima da Amazô-
cionai da precipitação se caracteriza nia muito já se discutiu e tem-se ain-
pela existência de dois máximos equi- da discutido, através de livros, revis-
nociais bem definidos, na Amazônia, tas e jornais, a respeito de sua possí-
somente as latitudes muito próximas vel "impropriedade" à civilização. Ale-
do equador possuem duplo máximo, gam alguns que a Amazônia, por ser
porém o máximo secundário, além de região úmida e quente, tem um clima
ser de muito pouca significâ.ncia, não "insalubre", opondo-se, por isso, ao es-
ocorre no equinócio; enquanto na Gui- tabelecimento de uma civilização pro-
né não há, a bem dizer, uma estação gressista. Entretanto, os índices de
seca, em quase toda a Amazônia há crescimento e desenvolvimento da
um apreciável declínio de chuvas na Amazônia, principalmente neste úl-
Primavera austral, nas latitudes próxi- timos 10 anos, quer no setor demo-
mas ao equador e, no Inverno, nas la- gráfico (pelo crescimento vegeta-
titudes mais afastadas desse paralelo. tivo e fluxo migratório, pela alfabeti·
· Deste declínio resulta que quase toda zação e elevação do poder aquisitivo
a Amazônia possui, pelo menos, um de sua população) quer no setor eco-
mês seco e em largas extensões de seu rnlmico (pelo crescimento do número
território existe, em média, 3 meses se- de proprietários rurais, aumento da
cos, além do registro normal de 4 a 5 produção agropecuária e multiplica-
meses secos em Jloraima. ção de empresas industriais), quer no
setor urbano (com dois grandes cen-
Outro importante conceito amplamen- tros urbanos, Manaus e Belém, em ace-
te divulgado é de que o clima da Ama- lerado crescimento, transformando
zônia é constantemente quente, sem Belém numa metrópole regional), de-
que suas temperaturas apresentem im- monstram que a "insalubridade" do
portantes variações durante o ano. O clima da Amazônia não representa ne-
estudo da sucessão dos tipos de tem- nhuma impropriedade ao desenvolvi-
po, no entanto, indica nitidamente que mento sócio-econômico desta Região,
este fato só é verdadeiro se se referir especialmente quando o Governo cria
à planície ao longo do rio Amazonas, uma firme e duradoura política de
porém não é menos verdade que du- apoio e incentivos, visando à integra·
rante o inverno, em vasta área do su- ção desta vasta Região geográfica no
doeste da Amazônia, são freqüentes processo de desenvolvimento nacional,
as penetrações de frentes frias de ori- agora definitivamente implantado com
gem polar, ocasião em que os termô- a Rodovia Transamazônica. 8

56
NOTA S DE REFER~NCIA S

1 As linhas ou "setas" que aparecem neste esquema representam as áreas onde a freqüência
daquelas correntes Perturbadas são significativas. A maior densidade das linhas exprime maior
freqüência no fenômeno.

Esquematizamos estes sistemas circulatórios baseados em observações diretas re.alizadas em car·


tas sinóticas elaboradas pelo Deprtamento Nacional de Meteorologia, do Ministério da· Agri·
cull!lra e na leitura sobre diversos trabalhos realizados por Adalberto Serra, dentre os
quaiS destacamos as obras 5 e 6 indicadas na Bibliografia. Para maiores detalhes a respeito da~
massas de ar, fonte de origem, transformação de estrutura e propriedades da frente polar,
ao longo de sua trajetória até alcançar as baixas latitudes, bem como de outros sistemas de
circulação perturbada, v. ref. 2 da mesma Bibliografia, bem como o artigo de nossa autoria:
Climatologia da Região Sudeste, Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, LBGE -
Instituto Brasíleiro de Geografia, J1 (4): !-30; outj dez. 1972.

2 Os valores térmicos deste estudo são relativos às normais até 1942.

8 Cumpre dizer que, em virtude da variação entre a temperatura do dia e da noite na


zona de latitudes baixas ser muito sensível àqueles fatores acima citados, é natural espeur
que este fenômeno se comporte de modo muito diferente no interior da Amazônia. Riehl
(1954) diz que uma tão extrema variedade, mesmo dentro de pequenas distâncias, "ilustra
o lugar importante que o clima local ocupa na meteorologia tropical", op. cit., p. 104 .

• Para a determinaçllo de seca adotamos a fórmula P < 2T de Gaussen e Bagnouls (1953).


Estes autores, com base em trabalhos de ecologia vegetal, consideram seco aquele mês
em que o total das precipitações em millmetro (P) é igual ou ·inferior ao dobro da tem-
peratura média em graus celsius (T). Nas áreas que nllo possuem período seco aplicamos
a fórmula P < 3T, de Walter e Lieth (1960), determinante de estação subseca.

G t através dos desvios que medimos a irregularidade dos totais pluviométricos por meio
de uma série de anos, ou seja quantificamos a variabilidade do regime de chuva. Neste estudo
tomamos por base os índices pluviométricos médios, isto é, normais. Se ao fim de determi·
nado ano as precipitações acumuladas atingiram um índice superior ao índice médio, o desvio
foi Positivo; se ele, ao contrário, esteve abaixo do tndice médio, ou seja, da normDI, o desvio
foi negativo. No mapa, (Fig. 9) estlio traçádos as isaritmas de desvio médio em relação à
normal, e por se tratar de média de um longo período de anos consecutivos, seus desvios
possuem a conotação simultânea de positivos e negativos.

e Antes de passarmos às diferentes categorias de climas da Região Norte, torna-se indis·


pensável alguns esclarecimentos. Não adotamos para esse fim nenhum critério classificatório
tradicional. Este comportamento permite ao climatologista selecionar os aspectos cliJnáticos
mais importantes, estabelecendo limites índices expres.,ivos em determinada região. Deste
modo, o climatologista não apenas foge dos enquadramentos preestabelecidos pelos critérios
tradicionais como ainda pode utilizar parcialmente diversos critérios de diferentes autores,
naquilo que lhe parece signiíicativo. Por exemplo, no critério classificatório aplicado nesta
pesquisa usamos do critério de Kõppen a média de 18°C para o mês mais frio como limite
entre os climas quentes (mais lSOC) e subquentes (menos ISOC) , embora o referido autor,
como sabemos, utilizasse essa isoterma mensal como limite entre os climas "tropical" e
"temperaM". Da mesma forma, utilizamos o critério de Gaussen e Bagnouls (1953) no
que diz respeito à determinação de mê.> seco, bem como das isotermas mensais de 15° e 1()0{;
do mb mais frio como limite entre os climas subquentes (18° a l5°C), mesotérmico brando
(15 a lOOC) e mesotérmico mldio (10 a O<>C), embora com denominações diferentes daquelas
utilizadas por esses autores.

Os outros aspectos aqui abordados foram estabelecidos de acordo com aspectos e índices
considerados expressivos na climatologia da Região Norte. Assim é que a consideração de
climas superúmidos, úmidos, semi-úmidos, semi-dridos e desérticos, com suas diversas varie·
dades: suPerúmido (sem seca ou com subseca) , úmido (com I a 2 ou 3 meses secos), semi-
tlmioo (com 4 a 5 meses secos), semi-drido brando (com 6 meses se«lS), mediano (com 7 a
8 meses secos), forte (com 9 a 10 meses secos) , muito forte ou subdesértico (com 11 meses
secos) , e desértico (com 12 meses secos), está baseada na relação existente entre esta seqüên·
cia e a· vegetação natural. No Brasil (com exceção de algumas áreas da Região Sul), a ausência
de seca está sempre relacionada às áreas florestais; a existência de 1 a 2 meses secos é quase
sempre acompanhada de ·florestas, e as áreas de 3 meses se1:os estão relacionadas às áreas
de transiçllo onde, na maioria das vezes, aparecem Florestas Semidedduas, enquanto que as
áreas de 4 a 5 meses secos se relacionam quase sempre com o Cerrado. Enquanto isso, as áreas

57
com 6 ou mais meses secos estão relacionadas à Caatinga predominantemente arbórea ou de
transiç5o, as de 7 a 8 meses à Caatinga predominantemente arbustiva e a de mais de 9 meses,
à Caatinga herbácea, sendo tanto mais rala nas áreas de 11 meses secos.

A adoção deste critério permite ainda introduzir na climatologia tradicional de determinada


regi:lo conhecimentos relativos à Climatologia dindmica (climatologia moderna) sempre que
for possível. Este último comportamento também norteou este estudo. Dele deriva o conceito
de climas tropicais, temperados, etc.

7 No mapa que, referente à figura 7, estão idéntificados os postos meteorológicos utilizados no


mapa sobre Diferenciações climdticas, Fig. 11. O número que aparece ao lado refere-se à
altitude em que está situado cada posto.

8 Este estudo realizado no Setor de Climatologia da Divisão de Pesquisas Sistemáticas do


DEGEO contou j;Om a colaboração dos estagiários Ana Maria de P. M. B'andão e Arthur
4.'. Pinheiro Filho.

BIBLIOGRAFIA

I. GAUSSEN, H. & BAGNOULS, F. Saison Seche et lndice Xerothermique. Toulouse


(Faculté d~ Sciences), I95S, 47 p. il.

2. NIMER, Edmond. Climatologia da Regi:lo Sul do Brasil. Introdução à Climatologia


Dinâmica. Subsídios à Geografia Regional do Brasil. Revista Brasileira de Geografia,
Rio de Janeiro, gg (4): S-65, out.jdez., 1971.

5. RlEHL, Herbert. Tropical Meteorology. N~w York, McGraw Hill, 1954, S22 p. il.

4. SERRA, Adalberto & RATISBONA, Leandro, As ondas de frio da Bacia Amazônica.


Boletim Geogrdfico, Rio de Janeiro, S (~6): 172-207, maio, 1945, il.
5. - - . Chuvas de Primavera no Brasil. Chuvas de J'erilo no Brasil. Chuvas de Outono
no Brasil. Chuvas de Inverno no Brasil. Rio de Janeiro, M. Agricultura - Seniço de
Meteorologia, 1960, 244 p. il.
6. - -. O prindpio da Simetria. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 24 (!):
877-439, jul.fset. 1962, il.
7. WALTER, H. 8c: LIETH, H. Klimadiagram. In: Weltatlas, Jena, Veb. Gustav. Fischer
Verlaf, 1960, 80 p. il.

58
INTRODUÇÃO

A Região Norte é o domínio da Flores-


ta Latifoliada Perene. Floresta denomi-
nada por Humboldt de "Hiléia", cujos
limites ultrapassam o Território Brasi-
leiro e avançam pela Guiana Francesa,
Suriname, Guiana, Venezuela, Colôm-
bia, Peru, Equador e Bolívia. Esta
imensa área florestal é atravessada
quase no sentido dos paralelos pelo
amplo vale do Amazonas, eixo da maior
bacia fluvial do mundo.
~ atribuída ao clima quente e úmido
da Região a presença da floresta densa
e sempre verde. Esta característica
climática não produz, entretanto,• a ho·
mogeneidade que à primeira vista é
sugerida. Variações locais de clima e,
sobretudo, mudanças topográficas e de
solo, são responsáveis pelo desenvolvi-
mento de tipos diferentes de floresta
e até mesmo de tipos de vegetação não
florestal que, em manchas de tama-
nho variado, se espalham pela Região. 1
VEGETAÇÃO Recobrindo cerca de 90% da área são
EDGAR KUHLMANN encontrados os seguintes tipos flores-
tai.s:
a) Floresta Perenifólia Higrófila Hi-
leiana Amazônica (que corresponde à
mata de terra firme);
b) Floresta Perenifólia Paludosa Ri-
beirinha Periodicamente Inundada
(mata de várzea);
c) Floresta Perenifólia Paludosa Ri-
beirinha Permanentemente Inundada
(mata de igapó);
d) Floresta Subcaducifólia Amazô-
nica.

Os tipos não florestais são representa-


dos por:
e) Cerrado;

f) Campos;

g) Complexos de Roraima, Cachim-


bo e Xingu;
h) Vegetação Litor!nea.

59
Esta grande variedade de tipos de ve- -fn~~;:mento do solo, pelo processo de
getação, dentro de uma área climática se · entação. Já nas várzeas de igapó,
relativamente homogênea, não tem si- como bem acentua Sioli ( 1951), as
do satisfatoriamente explicada até ho- águas quase destituídas de sedimentos
je. A própria flora amazônica é com- têm uma ação erosiva, determinando
partimentada dentro de cada tipo de um contínuo rebaixamento do solo e,
vegetação. Ducke e Black ( 1954 ), ao conseqüentemente, aprofundando cada
estudarem a distribuição do gênero vez mais a área alagada X'
Hevea, mostram a nítida separação
existente entre as áreas de ocorrência Segundo Ducke e Black (1954), os
de Hevea brasiliensis e Hevea bentha- solos são responsáveis pela presen-
miana, a primeira ocorrendo na mar- ça de pequenas manchas de vegetação
gem direita do Amazonas, enquanto a extraflorestal dentro da Hiléia, enquan-
outra tem sua área geográfica limitada to as áreas maiores de vegetação não
à margem esquerda. Em poucos luga· florestal resultam da ação combinada
res as áreas das duas espécies se su- de solo e clima. Afirmam estes auto-
perpõem. A própria Hevea brasiliensis, res que nestas últimas o Verão é mais
que é a espécie produtora do melhor quente e seco que nas terras vizinhas
e do mais farto látex, varia sua qua- da mata. A observação quanto à atua-
lidade de acordo com a localização no ção do clima foi posteriormente con-
estuário ou nos altos cursos. firmada por Marília Calvão (1967),
que em seu mapa das Regiões Bio-
O caboclo da Amazônia, segundo
climáticas do Brasil inclui as áreas do
Raymundo Moraes ( 1960), descreve o
solo pelos vegetais que nele medram. leste da ilha de Marajó, o nordeste
A ele devemos uma classificação dos de Roraima, e regiões de Obidos e
tipos de flor:esta, segundo se encontra Alto Madeira no clima termoxeroqui-
em terra firme, em várzea ou igapó. mênico atenuado, característico das
"Mas os vegetais, pela gama e pelo áreas de Cerrado.
porte, ~las folhas e pelos troncos, A crença de que a vegetação não flo-
através de indivíduos e de espécies, restal da Amazônia se origina pela
indicam e precisam a ondulação e a ação do fogo é contestada. "Certos au-
estrutura da gleba, que vai das bai-
tores atribuem a origem desses espaços
xadas aos firmes, dos firmes aos plaMs, abertos à ação do fogo; isto, no entan-
dos platôs aos cimos se"aDQs - indi-
to, não é verdadeiro. Campos e campi-
cam e precisam também o gênero das
nas naturais, muitas vezes separados
águas, desdobradas em alagadiços nos
igapós, em lençóis nas lagoas, em cau- por centenas de quilôme.tros de mata,
possuem flora e fauna radicalmente di-
dais nos cursos dos rios, em caminhos
versas das dà mata virgem vizinha ou
nos igarapés", cf. Morares, v. ref. 51
secundária, e têm em comum muitas
na Bibliografia.
espécies nunca observadas em outros
Ao atribuir-se aos tipos de solos a lugares da Região", ap. Ducke e Balck
maioria das variações ou gradações da (1954), Hueck (1972) et al.
vegetação amazônica, evidencia-se a Ab'Saber ( 1966) situa a Hiléia Ama-
notável influência da topografia. ~ zônica no domínio dos tabuleiros c
esta que, em realidade, vai determinar baixos platôs equatoriais florestados,r
a natureza físico-química dos solos
nos 1-lrmes e nas várzeas. Nos 1-lrmes a que se opõe ao domínio dos chapadões
'" ,. recobertos de Cerrados e ao domínio
presença da água é condicionada pelas das pediplanos interplanálticos ceves-
chuvas e. r:la _umidade atmosférica, tidos por Caatingas (Nordeste do
onde a lwVlaçao se processa com B .1)
· ou menor m
mator · tenst'dad e, d e acord o rast ·
com a maior ou menor permeabilidade '[Separando estes domínios existem fai-
do solo. Nas várzeas de sedimentação xas de transição proporcionadas por
a água telúrica é constante e contribui estruturas topográficas variadas, con-
nos rios de águas amarelas para o en- tinuação dos "mares de morros" fio- •

60
restados, dos chapadões centrais reco- Outra característica destas áreas de
bertos por Cerrados e penetrados por vegetação extra-hileiana é o seu com-
florestas galerias e das áreas das de- pleto isolamento das áreas típicas do
pressões intermontanas pediplanadas Cerrado no Centro-Oeste brasileiro e
ocupadas pela Caatinga. Este autor dos "li anos" da Venezuela ( chapar-
considera que a área nuclear do do- rales).
mínio morfoclimático amazônico é ca-
racterizado por uma área contínua de Hueck ( 1972) assim coloca o pro-
terras baixas sedimentares, tais como blema: "Muito menos podemos acei-
tabuleiros, colinas e planícies, tempe- tar o fogo como responsável pelo de-
raturas médias elevadas, pequena am- senvolvimento dos Cerrados no interior
plitude média anual, alta nebulosida- da Hiléia. Parece ser impossível que
de e precipitações abundantes e relati- sob as condições atuais as sementes de
vamente bem distribuídos. Exclui da árvores do Cerrado possam ter atraves-
área nuclear amazônica tipos de ve- sado centenas de milhas através das
getação até então considerados do do- densas matas pluviais do Amazonas,
mínio amazônico, como a vegetação da para poder se fixar em lugar da mata
pluvial, em pequenas áreas desmata-
serra do Cachimbo e outras áreas si- das pelo homem. Assim, as ilhas de
tuadas nas grandes faixas de transi- Cerrado na Hiléia não podem ser con-
ção. sideradas como os primeiros avanços
Algumas considerações devem ser fei- de uma vegetação em dispersão, mas
tas a propósito da ocorrência de vege- sim como os restos de uma cobertura
tação extrafloresta] dentro da área vegetal com distribuição mais ampla
core da floresta pluvial amazônica
no passado, que não está adaptada
stricto sensu. Estas verdadeiras "ilhas" para as condições climatológicas e eco-
lógicas atuais e que está sendo sufo·
de vegetação extraflorestal ou mesmo cada pela pujante mata pluvial amazô-
florestal, mas fisionômica e floristica- nica.
mente diferente da floresta pluvial
típica, podem estar ou não relaciona- ~Muitas das espécies mais importantes
das com a vegetação de áreas extra- do Cerrado são caracterizadas por seu
amazônicas. aspecto muito semelhante, apesar de
pertencerem a famílias muito diferen-
Entre os primeiros situam-se os cam- tes entre si. Têm a mesma altura de
pos firmes, tão ligados floristicamente tronco, copa de mesma aparência, cas-
aos Cerrados do Centro-Oeste brasilei- .ca de mesma espessura, e as mesmas
ro. A existência destas "ilhas" dentro formas de galhos retorcidos. Disto de-
da grande massa florestal amazônica corre o aspecto típico do Cerrado, que
constitui verdadeiro enigma para os nos permite distinguir imediatamente
fitogeógrafos .
a maioria das espécies do Cerrado das
Posta de lado por ser pouco convincen- espécies da Caatinga. Este f~:tto leva a
te e carente de provas a origem exclu- crer que o aspecto típico do Cerrado
siva destas áreas pela ação continuada é o resultado de um longo período de
de queimadas, parece que a teoria adaptação a condições ecológicas que
mais satisfatória é a que atribui a sua por muito tempo pouco ou nada se
origem à pobreza dos solos. modificaram. )(
Arens ( 1959) refuta as idéias que Considerando todos estes dados, não
atribuem à ação do fogo a origem dos podemos deixar de chegar à conclusão
Cerrados típicos, explicando-a pela po- de que os Cerrados são uma formação
breza dos solos em sais minerais. Po- vegetal natural. Explicar seu desen-
de-se admitir, desta forma, que tam- volvimento é mais um trabalho de fi-
bém as manchas de Cerrado e outros togeografia histórica que de fitogeo-
tipos não hileianos, "ilhados" na Re- grafia ecológica ou fisiológica. A úni-
gião Norte, correspondem também à ca explicação satisfatória que encon-
ocorrência de solos pobres. tramos é que parecem ser rélitos de

61
wna formação vegetal outrora mais Em conclusão:
extensamente distribuída, que tinha,
ou ainda tem, seu centro de dispersão a) a vegetação extra-hileiana teve uma
no Brasil Central. Podemos imaginar área bem maior do que a atual;
que esta vegetação pode atingir mui-
b) ela teve origem e expansão em épo-
to além do seu centro de distribuição
ca de clima mais seco;
em condições climatológicas distintas
das atuais, e podemos igualmente acre- c) ela era bastante diversificada,
ditar que depois de uma nova mudança abrangendo Campos Limpos, Cerrados
climatológica, para a qual existem ou- e tipos xeromórficos.
tras provas, as ocorrências marginais
de Cerrados tenham sido eliminadas d) ela se mantém em locais em que
pela vegetação vizinha, permanecendo as condições de topografia e solo se
então como ilhas dentro dos novos ti- aproximam daquelas do Planalto Bra-
pos de vegetação, enquanto o centro sileiro (chapadas com solos profun-
do Cerrado (Minas Gerais, Goiás e Ma- dos, arenosos, pobres em elementos
to Grosso) permaneceu inalterado", cf. minerais).
Hueck, ref. 44 da Bibliografia. e) os campos de várzea, campinara-
nas ou outro qualquer tipo de vegeta-
Esta opinião do autor coincide em
ção de terras baixas alcançadas pelas
grande parte com a de Ab'Saber.
enchentes anuais ou pelas marés não
Tudo indica que o quadro primitivo têm qualquer relação com as áreas rê-
da vegetação relacionado a um clima líquias.
mais seco abrangeria uma área muito Embora a flora e a vegetação da Ama-
mais extensa que a atual. Esta área, zônia já tenham sido estudadas de lon-
que abrangia quase toda a América do ga data por naturalistas de diferentes
Sul tropical e subtropical e o Caribe, ramos, notadamente botânicos, zoólo-
seria ocupada não somente por vege- gos e geólogos, poucas pesquisas foram
tação relacionada ao Cerrado como por realizadas diretamente por geógrafos.
outros tipos xeromórficos, dado a gran- Vários mapas da delimitação da flo-
de variedade de formas topográficas e resta amazônica foram publicados, sen-
conseqüentemente de habitats. Desta do eminentemente florlsticos, até fins
forma haveria continuidade entre a do século passado. Em 1907 Herman
área core do Cerrado situada no pla- Von Ihering publica o primeiro mapa
nalto, as terras baixas da Amazônia e de vegetação do Brasil, levando em
as demais áreas situadas no Planalto consideração a fitofisionomia.
das Guianas e vale do Orinoco. Com
o surgimento de um clima mais úmi- Lindalvo Bezerra dos Santos, em 1942,
do, as florestas que ocupavam apenas dá início à fase de estudos sobre vege-
o fundo dos vales foram, pouco a pou· tação realizados pelo então Conselho
co, ocupando áreas mais amplas em Nacional de Geografia. Em 1953, Lú-
detrimento das formações não flores- cio de Castro Soares empreende, com
tais. Estas foram sendo "ilhadas" em outros geógrafos do antigo Conselho
locais em que as condições de solo Nacional de Geografia, um trabalho
não permitiam o avanço da floresta. pioneiro em seu gênero no Brasil, esta-
No Sul do Brasil há evidências de um belecendo os prováveis limites da Flo-
crescimento da Floresta de Araucária resta Amazônica para fins de sua valo-
sobre as áreas de campo, cf. Hueck, rização econômica. Ele apresenta farta
ref. 44 da Bibliografia. Sem dúvida o documentação bibliográfica e cartográ-
problema da existência de "ilhas" de fica sobre flora e vegetação da Região
vegetação reliquia de um período mais Norte e áreas vizinhas. O mesmo autor,
seco está ainda no douúnio das espe- em 1953, relaciona os diversos natura-
culações, embora perfeitamente acei- listas que contribuíram até hoje para o
táveis. conhecimento botânico e fitogeográ-
fico da Amazônia e apresenta uma ma variedade de espécies e a dificul-
seqüência de mapas que mostram a dade de se aplicar métodos de traba-
evolução dos limites da floresta. lho que são apropriados para as co-
munidades menos complexas das re-
giões frias e temperadas. .€ por isto
, difícil se estabelecer os limites, pelo
1 -FLORESTA PERENIFOLIA menos aproximados, da floresta de ter-
HIGRÓFILA HILEIANA ra firme, podendo ser, na opinião de
Andrade Lima ( 1966), caracterizada
AMAZÔNICA (HILÉIA) pela presença da castanheira ( Bertho-
letia excelsa) e do caucho ( Castilloa
Muitas descrições que se fizeram da Ulei). Segundo Huber ( 1909), "a ma-
Floresta Amazônica traem o pouco co- ta de terra firme, quando intata, é
nhecimento que tiveram seus autores sempre mais compacta, de um verde
das suas verdadeiras características. escuro geralmente mais uniforme e os
Muitos a viram apenas nas margens dos seus elementos, extrema'tllente mais va-
rios, a bordo de alguma embarcação. riados, são confundidos em um conjun-
Entretanto, alguns percorreram-lhe o to orgânico bem harmonizado", ap.
interior e puderam desfazer as idéias Huber, ref. 43 da Bibliografia.
falsas ou errôneas, os tabus e os enga-
nos até então existentes sobre ela. Assim a descreve Le Cointe ( 1962),
"árvores de todos os tamanhos ele-
(Fig. 1). vam-se retiHneas, sem emitir ramos la-
Embora muitos botânicos tenham con- terais, a não ser a uma grande altura,
procurando antes de mais nada colo-
tribuído para um conhecimento bas- car sua fronde entre as de seus VlZl-
tante amplo de sua flora, a mata de nhos, a fim de receber também sua
terra firme tem sido pouco estudada parcela de ar e de luz. A seus pés,
sob o ponto de vista ecológico c fitos- poucas plantas herbáceas ou rasteiras
sociológico. Dificilmente poderia ter crescem do solo e, por entre os inú-
sido de outra forma. Somam-se às na- meros ramos que se elevam vertical-
turais dificuldades de acesso, a extre- mente e os gigantescos troncos larga-

Fif'. 1 - Tão logo a mata


pnmitiva seja cortada, a
maior incidência de lu2; em
sua borda contribui para o
desenvolvimento de plantas •
pioneiras e para a maior
prollleração de cipós.

68
mente espaçados, não é difícil abrir As subdivisões em floras locais são pro-
passagem; um facão de mato, de lâ- porcionadas em parte pelos totais de
mina curta, largo e pouco espesso, é chuva e de sua distribuição através do
suficiente para cortar as lianas impor- ano. A maior parte da Região recebe
tunas", ap. Le Cointe, ref. 46 da Bi· mais de 2.300mm por ano; algumas
bliografia. partes, como o baixo Amazonas, entre
Solo e chuva, segundo Ducke e o Trombetas e o Xingu e certos tre-
Black, são os principais responsáveis chos do Tapajós e médio Xingu, so-
pela divisão da Hiléia em pequenas flo- mente de l. 500 a 2. OOOmm.
ras locais, embora esta diversidade flo-
rística não se traduza sempre em mu- Os períodos de floração e frutificação
dança do tipo de vegetação. variam nas diferentes partes da Hiléia
conforme a distribuição da chuva du-
Na "terra firme" o solo de mata é em rante o ano. Em qualquer parte da
maior parte arenoso ou de argila plás- Região os frutos maduros são muito
tica, ambos ácidos e pobres, surgindo, mais abundantes na estação chuvosa
entretanto, áreas em que ocorre solo
(inverno) do que no "verão" seco ou
humo-silicoso profundo e fértil (terra
preta) bem como o "barro vermelho" mais ou menos chuvoso.
- um solo pardo-avermelhado, tam-
}>ém fértil. Neste último, que como a
"terra roxa", pareGe ser originário de 1.1 - Distribui~ão
rochas básicas, a flora é bem diferente
da que é encontrada em solos vizinhos De modo geral sua distribuição é limi-
mais pobres. Suas espécies arbóreas se tada pela presença do baixo platô ama-
caracterizam por possuir madeira mais zônico, ocorrendo no Estado do Pará,
mole do que as dos solos pobres. Estas excetuada a porção oriental da ilha de
manchas de solos vermelhos são encon- Marajó, ocupada por campos e man·
tradas nas proximidades de óbidos, gues e interrompida por algumas áreas
ao longo do baixo Trombetas, nas pro- campestres da margem do rio Amazo.
ximidades de Alenquer e Monte Ale- nas; nas porções norte e sul do Esta-
gre e ainda ao redor de Altamira no do, ocupados pela Floresta Subcaduci-
médio Xingu. fólia no Território do Amapá, excetua·
Embora sejam elevadas as temperatu- da a faixa litorânea campestre e de
ras e as taxas pluviométricas em quase mangues, cujos limites coincidem apro·
toda a Região Amazônica (climas axé- ximadamente com o meridiano de
ricos ), podem ser observadas algumas SOOW, porção noroeste do Território,
variações do índice xerotérmico, segun- domínio da Floresta Subcaducifólia; no
do a classificação adotada por Mari- Estado do Amazonas, excetuadas nu-
lia Galvão ( cit. p . 4) . Nos locais merosas manchas de campos que se es-
em que estes índices indicam menos palham por extensa área, situadas prin-
umidade deve ser considerada também cipalmente nos interflúvios Madeira-
a sua coincidência com o tipo de solo Puros e Madeira-Tapajós; e em quase
com pequena capacidade de retenção todo o Estado do Acre; no Território
de água. Dado a escassez de dades de Rondônia, excetuada a chapada dos
meteorológicos na Região Amazônica, Parecis, recoberta, em grande parte, por
há dúvidas se tais variações podem Campos Limpos e Cerrados e no Terri-
ser responsáveis pela diversidade de tório de Roraima na sua extremidade
aspectos florísticos e fisionômicos em sul.
outras áreas.
Estruturalmente pouca diferença exis-
A temperatura de toda a Região é per- te entre a Floresta Perenifólia Higrófila
manentemente alta, exceto o extremo Amazônica e a Floresta Perenifólia Pa-
sudoeste, onde em junho e julho ven- ludosa Ribeirinha, Periodicamente
tos fortes e relativamente frios sopram, inundada, que estudaremos adiante. A
por vezes, sem afetar a vegetação. diferença é sobretudo de natureza fio-

64
floresta de "terra firme", destacando- A maior riqueza em número de espé-
se o maior porte das árvores, troncos cies é encontrada nos estratos superio-
mais grossos, esgalhados, maior núme- res e o menor no estrato herbáceo, fa-
ro de cipós, maior número de espécies to comum à maior parte dos tipos flo-
que perdem as folhas nos meses mais restais latifoliados ao mundo, pois a
secos. Estas diferenças estruturais en· intensidade luminosa torna-se quase
tre "floresta de vár.zea" e de "terra nula do nível do solo até os 2 metros
firme" são mais acentuadas na parte de altura. Apesar disto o sub-bosque,
central e na oriental da Amazônia. Na compreendendo ervas, subarbustos e
parte ocidental várzea e terra firme. arbustos é denso e intrincado. Embora
wmo expressões topográficas se con- possuindo um menor número d~ espé-
fundem e, em conseqüência, também cies, os estratos intermediários apre-
a vegetação não apresenta muitas mu- . sentam variadas espécies, entre as
danças. quais predominam arbustos de folhas
largas e longas, como zingiberáceas,
Embora seja difícil determinar com musáceas, etc. A fraca iluminação dos
precisão o número de estratos, isto é, estratos inferiores é também responsá-
os diferentes níveis ou camadas predo- vel pela presença de um número con·
minantes de abóbodas foliares ou co- siderável de espécies escandentes, isto
pas, dentro deste tipo florestal, dado é, de cipós e de lianas que vão flo-
a grande variedade de espécies e, con- rescer e frutificar sobre as copas mais
seqüentemente, a grande variedade de elevadas, dando, desta forma, maior
exigências quanto à luz e outros fato- continuidade e densidade ao docel
res físicos, podem ser reconhecidos os
seguintes: herbáceo, subarbustivo, ar- foliar.
bustivo e arbóreo. ( Fig. 2). Os estratos arbóreos, com árvores
O estrato arbóreo é extremamente va- emergentes de maior porte, são consti-
riável, sendo considerados deste estra- tuídos de uma grande variedade de
to indivíduos de 6 a mais de 60 metros espécies. Poucas vezes os indivíduos de
de altu.ra. Há, portanto, dependendo uma mesma espécie se associam em
da área, vários estratos arbóreos. . grupamentos homogêneos, sendo esta

Fig. 2 - Mata de "terra


firme", destacando-se a va-
riedade de espkies e os
troncos retos, altos e fi.oos,
es~alhados apenas no topo,
refletindo a grande eompe-
tiçio pela luz em regiões
planas.

65
uma característica de toda a floresta cedrorana ( Cedrelinga catanaeformis),
equatorial e um dos empecilhos ao seu tracuá ( Phillodendron mynnecophi-
melhor aproveitamento econômico. lum).
Embora formado de árvores muito al- A leste da Amazônia, ou mais precisa-
tas, o estrato mais elevado está longe mente no Estado do Pará, incluindo
de atingir as dimensões das árvores praticamente todo o baixo Amazonas,
das florestas temperadas e mesmo da as espécies mais representativas são:
lndia e da África tropicais. A altura cedro-branco ( Cedrela huberi ), arapo-
média das árvores .situa-se entre 30 e ri ( Pogonophora schumburgkiana),
40 metros. Algumas árvores, excepcio- acapu ( Vouacapoua americana) , ba-
nalmente, ultrapassam esta altura, des- curi ( Platonia insigni.s ) , quaruba ( Vo-
tacando-se as espécies Dinizia excelsa, chysia max!ma), quaruba-azul (Qua-
árvore da família das leguminosas, que lea dinizi ), salsa ( Calliandra surina-
chega a atingir 60 metros de altura e mensis), salsaparrilha ( Smilax papy-
Ceárelinga catenaeformis, outra legu- racea), pau-rosa ( Aniba rosaedora),
minosa, com cerca de 50 metros de pente-de-macaco ( Apeiba rnacropeta-
altura. la), maçaranduba ( M imusops huberi),
inajá (Maximiliano regia), jacarandá-
branco ( Swartzia psilonema ), cupu-
açu (Theobroma grandiflorum), pau-
1.2 - Composição Florística pombo ( Tapirira guyanensis), tacará
Dado a enorme extensão da área, qual- ( Sterculia prueiens ou S. pilosa), et.
quer tentativa de estudo florístico será cat. ~ um tanto controvertida a dis-
incompleta. Mesmo porque, em algu- tribuição da seringueira ( Hevea brasi-
mas áreas, notadamente as do alto liensis e H. benthamiana). Para
Amazonas, muitas espécies de terra
firme são comuns a outros tipos.
(Fig. 3).
Miguel de Bulhões cataloga as seguin.
tes espécies comuns a toda a área de
terra firme: angelim ( Dinizia excel·
sa), ucbi-pucu ( Saccoglotis uchi ), mu-
rici-da-mata ( Byrsonima crispa), mum-
baca (Astrocoryum mumbaca}, su-
maúma (Ceiba pentandra), timbó-
venenoso ( Derris floribunda), acariu-
ba ( Minquartia guianensis), pajurá-da-
mata (Parinarium montanum) , baca-
ba-açu ( Oecocarpus bacaba), pau-de-
jangada ( Apeiba tibourbou), periqui-
teira ( Cochlosperma orínocense ), cau-
cho ( Castilloa Ulei), quina ( Ogcodeia
amara e O. oenosa), sapupira-da-mata
( Bowdichia nítida), tamboril ( Entero-
lobíum maximum), escada-de-jaboti
(Bauhinia sp.), timbó-da-mata (Der-
ris guyanensis), guaraná ( Paullinia
cupana ), batatão-amarelo ( Operculi-
na pterodos ), cebola-brava ( Clusia
insignis ), castanha-do-pará ( Berthcl-
letia excelsa), angelim-pedra (H yme-
nolobium petraeum), caju-açu (Ana-
cardium giganteum), pequiá ( Caryo- Fig. 3 - A castanheira BertboUetia excel-
sa) ~ uma das maiores árvores da Ooresta de
car villosum), tarumá-da-mata (Vitex tena firme. O exemplar da foto tem cerca
tríflora ), tento ( Ormosia paraensis), de 38 metros de altura.

66
Duclce e Blaclc ( 1954) as seringuei- Podem ser observadas ainda certas sin-
ras acima pertencem à terra finne, gularidades na distribuição: a Hevea
exceto nas várzeas do alto-Amazonas, brasiliensis é limitada à margem direi-
onde as condições de várzea e terra ta do Amazonas, enquanto que a H.
firme se confundem. Para estes a úni- benthamiana é encontrada na margem
ca seringueira espontânea nas vár- esquerda, sendo óbidos seu limite a
zeas do baixo e médio Amazonas é a leste. A bala ta verdadeira ( Mimusops
H evea spruceana. Para Le Cointe bidentata) é encontrada nos altos cur-
( 1945) a seringueira verdadeira (H. sos dos afluentes da margem esquerda
brasiliensis) é característica das vár- do Amazonas, até os limites do Estado
zeas. Esta confusão se deve ao fato de do Amazonas; o cumaru ( Coumarouna
ser a várzea subdividida por muitos odorata) até a foz do rio Negro; baba-
em várzea alta e várzea baixa. A vár- çu ( Orbignya oleifera), ao sul do rio
zea alta pode ser confundida com a Amazonas; pau-amarelo ou pau-cetim
terra-firme. Colocando-se de lado a (Enxylophora paraensis), do Tocan-
questão da ocorrência espontânea ou tins ao Atl~ntico; pau-mulato ( Capi-
não da seringueira verdadeira na vár- rona huberiana e C. decortirans ), no
zea baixa, é fato conhecido que a se- Pará e rio Madeira; pau-roxo (Pelto-
ringueira encontrada nesta área é a gyne lecointei), no rio Tapajós.
branca, de látex menos abundante, en- Na região do alto Amazonas a floresta
quanto que a da várzea alta é a se- de terra firme se confunde com a flo-
ringueira preta, de látex copioso. resta de várzea, apresentando uma fi-
(Fig. 4). sionomia idêntica. Também sua com-
posição florística é diferente das de-
mais áreas amazônicas. São espécies
características desta área: caiaué
( Elaeis melanicocca); paxiuba-barri-
guda ( lriartea ventricosa); pacova-so-
roroca ( Ravenala guyanensis); casta-
nha-de-porco ( Caryodendron amazo-
nicum); cacau ( Theobroma cacao);
ucuquirana ( Ecclinusa balata); sorvn.
pequena ( Couma utilis); sorva-gran-
de ( Couma macrocarpa), jarina ( Phy-
telephas microcarpa); verônica (Dal-
bergia subcymosa); manico (Recordo-
xylon stenopetalum); paracaxi ( Pen-
tacletthra macroloba); mucunã ( Dio-
clea vigata); marimari ( Cassia spru-
ceana); jataí-açu (Hymenaca courba-
ril); cupuaí (Theobroma sudcanum);
cedro-vermelho ( Cedrela odorata); su-
maúma ( Ceiba sumahuma); uacu
(Monopterix uacu); duraque (Aguia-
ria excelsa); ocuque (Pouteria ucu-
qtti); macucu ( Aldina heterophylla);
iebaro (Eperua purpurea), et. cat.
Em um dos trabalhos mais completos
sobre a vegetação da América do Sul,
Hueck ( 1972) compartimenta a ve-
getação da Amazônia em algumas re-
Fig. 4 - A castanheira, a seringueira e o giões, não seguindo rigorosamente um
pau-ferro, remanescentes da floresta primi-
tiva, foram poupados à beira da estrada. critério florístico ou fisionômico, mas
Logo ap6s a derrubada, surgem plantas in- utilizando-se de variados elementos,
vasons, como as embaúbas e as palmeiras. realçando mais, todavia, as caracterís-
ticas florlsticas. Dentro desta classifi- b) Matas do Nordeste do Amazonas -
cação a floresta hileiana propriamente incluem grandes trechos do Território
dita é a mais destacada . do Amapá e Estado do Pará até o rio
Trombetas a oeste e, partindo da mar-
As regiões da mata de terra firme em gem esquerda do rio Amazonas, até a
território brasileiro são as seguintes: serra de Tumucumaque. Suas espécies
a) Delta do rio Amazonas mais características são: Swartzia du-
ckei, Ormosia cuneata, Tachigalia
p) Matas do Nordeste do Amazonas grandeflora, Gynometra wngifolia (le-
guminosas); V ochysia mapuerae, Bon-
c) Região do Tocantins e do Gurupi netia dinizii, Lacunaria Sampaioi,
Laphostoma dinizii, Otenardisia spe-
d) Região do Médio e Baixo Xingu e ciosa e Zamia lecoíntii.
do Tapajós
A área de Obidos apresenta uma flo-
e) Região dos rios Madeira e Purus resta mais pobre, bastante uniforme e
f) Hiléia Ocidental aberta, fato que se deve a um menor
índice pluviométrico. A serra do Na-
g) Noroeste da Hiléia (Região do Rio vio, em particular, segundo Miran-
Negro) da Bastos (1960), e Rodrigues (1963),
apresenta as seguintes espécies, que
h) Região do Acre. atingem altura média de 25 me-
a) Delta do rio Amazonas - os solos tros: Goupia glabra, Aniba burchellii,
em geral são ácidos e pobres em subs- Roucheira punctata, Garapa guianen-
tâncias nutritivas e constituídos de ar- sis, Perebea laurifolia, Micropholis gui-
gilas ou mesmo areia pura. São encon- anensis, Pouteria laterifolia e Licania
trados trechos de pequena extensão canescens.
com terra preta e de regular fertilida- Algumas espécies, como a ucuúba ver-
de, assim como argilas v~rmelho-casta­ melha ( lryanthera sagotiana) e qua-
nhas. ruba ( Qualea rosea) atingem freqüen-
temente até 60 metros de altura.
As espécies características são: Parkia
paraensis, Parkia reticulata, Dimor- c) Região do Tocantins e do Gurupi
phandra glabrifolia, Hymenacea palus- - abrange a área que vai da foz do
tri.s, Ormosia coutinhoi e Vatairea pa- Tocantins, à confluência com o Ara-
raensis (leguminosas); Erisma fuscum guaia e até o rio Gurupi.
e Vochysia guianensis ( voquisiáceas); Aí os limites da hiléia propriamente
Manilkara paraensis e Manilkara sí- dita com a Floresta Subcaducif61ia são
queiraei, Pradonia praealta, Pradonia bastante imprecisos e irregulares e suas
pedicellata e Pradonia huberi ( sapotá- espécies características são: a casta-
ceas); Ladenbergia paraensis ( rubiá- nheira ( Bertholetia excelsa). que tem
cea); Virola melinonii e Virola crebi- em Marabá seu principal centro de ex-
nervia ( miristicácea), et. cat. plotação; aguano ( Swietenia sp.), á
seringueira-verdadeira (Hevea brasi-
Há grande uniformidade florística em liensis), Genostigma tocantinum, Bom-
toda a região entre a Guiana Francesa bax tocantinum, Bauhinia bombaciflo-
e o Maranhão, o que, segundo Ducke ra, Discolobium tocantinum, Strychnos
e Black ( 1954), é atribuído à faci- melinoniana e Strychnos solimoesana,
lidade com que as sementes das árvo- andiroba (Garapa guianensis ), cedro
res são transportadas por via fluvial. ( Gedrela odorata), cedrorana ( Gedre-
linga catenaeformis ), frei já ( Gordia
Nas proximidades de Belém, bem como goeldiana), macacaúba-da-terra-firme
ao longo da antiga Estrada de Ferro ( Platymiscium duckei). sucupira
Belém-Bragança, houve profunda des- (Bowdichia nítida}, quaruba (Vochy-
truição da floresta; em conseqüência sia maxima), quaruba-rosa (Qualea
as madeiras de maior valor econômico rosea), angelim-pedra (Hymenolo-
desapareceram . bium excelsum).

68
d) Região db Médio e Baixo Xingu Ainda se destacam pelo colorido das
e Tapaf6s - os técnicos da F AO desig- flores, pela altura ou pelo valor econô-
nam a floresta de dryland forests, mico as seguintes espécies: Physooa-
possivelmente como tradução da "ma- lymma scaberrimum ( lytrácea), Mar-
ta de terra firme" ou ainda "matas de- tiusia e lata (leguminosa), Swietenia
cíduas de Verão", o que é certo para macrophylla ( aguano), Garapa guía-
a sua porção sul, dominada pela Flo- nensis ( andiroba), H ymenolobium sp.
resta Subcaducifólia. ( angelim), M yroxylon peruiferum
(bálsamo), Dalbergia spruceana (ja-
O solo da área é bastante arenoso e os carandá), Peltogyne densiflora (pau-
rios são de águas claras. roxo), Swartzia laevicarpa ( saboena·
A composição florística é praticamente ra), Cariniana micrantha (tauari) e
a mesma da região anterior, sendo as CalycophyUum spruceanum. Em toda
espécies de maior valor comercial: aca- a área é abundante a seringueira (He-
pu ( Vouacapoua americana) e a su- vea brasiliensis) .
cupira ( Bowdichia nitida) .
f) Hiléia Ocidental - abrange a região
e) Região dbs rios Madeira e Puros - bastante plana, do rio Juruá para oes-
inclui a bacia do Madeira, (exceto o te, ultrapassando as fronteiras do Bra-
Mamoré e o Guaporé) e o interflúvio sil e atingindo as encostas dos Andes.
entre o Madeira e o baixo e médio Tanto o clima tropical úmido como a
Purus. vegetação são bastante uniformes em
Apesar de situar-se bem no interior da toda a área.
Amazônia, a facilidade de penetração A vegetação arbórea é rica em legumi-
através dos seus rios francamente na- nosas, miristicáceas, bombacáceas, so-
vegáveis tomou-a bastante conhecida lanáceas, rubiáceas, compostas, laurá-
tanto do ponto de vista florístico ceas e voquisiáceas. Restringe-se qua-
como do aproveitamento comercial de se exclusivamente a esta área o gêne·
suas essências. ro Theobroma. A espécie que em con-
São espécies características: Euterpe dições naturais alcança limites mais
oleracea, Dinizia excelsa, Manilkàra orientais é o Theobroma cacao, indo
huberi, H ymenolobium excelsum, Cor- até o Tapajós médio. O númer@ de pal-
dia goeldiana, Theobroma microcar- meiras é quase tão grande como o da
pum, Iriartea ventricosa, Macrolobium região do Delta.
brevense, Macrolobium huberianum,
Matisia paraensis, Sclerolobium ~oel­ Em compensação são ausentes a casta-
dianum, Talauma amazonica ( unica nha-do-pará, que só alcança o rio Ju-
ma~oliácea da bacia amazônica), Po- taí e a maior árvore da Hiléia ( Dizi-
lygala scleroxylon (poligalácea de nia excelsa) que só alcança os rios
maior porte do mundo); e Huberoden- Negro e Madeira.
dron ingens uma gigantesca bomba-
cácea. Há um grande número de epífitas e de
representantes das famílias musácea,
Há um grande número de gêneros zingiberácea e marantácea, todas adap-
monotípicos, destacando-se: Goniodis- tadas à área de grandeumidade.
cus elaeospermus ( celastrácea ), Para-
chimaffhis breviloba, Dialypetalan· g) Noroeste da Hiléia (Região tÚJ
thus fuscescens ( dialipetalantácea), rio Negro) - inclui quase toda a ba-
cuja família também é monotípica, cia do rio Negro (exceto as áreas de
Curupita tefeensis ( lecitidácea) . Savana, Estepes e matas subcaducifó-
lias do Território de Roraima), limi-
A família Leguminosae é das mais nu- tando-se a leste com o Trombetas e a
merosas, representada principalmente oeste com o médio e baixo Japurá.
por Eperua oleifera, Pa[ovea brasilien-
sis, Elizabetha paraensis, Elizabetha A flora desta área se relaciona com a
bicolor, Elizabetha duríssima e Cou- da bacia do Orinoco, através do Casi-
marouna speciosa. quiare.

69
A região é bastante plana no seu con- Outras espécies de valor econômico
junto e apresenta um dos mais altos são: aguano ( Swietenia macrophylla),
índices pluviométricos, com precipita- bálsamo (Myroxylon balsamum), ce-
ções que variam de 3.000 a 4.000mm. dro ( Cedrela sp.), cumaru-de-cheiro
Do ponto de vista florístico ressalta a ( Torresea acreana ), marfim-vegetal
grande riqueza em eseécies. Entre ( Phytelephas microcarpa) .
estas predominam as da família das le-
guminosas, cuja subfamília Caesalpi- Como enclave na Hiléia aparece a "Ca-
noideae tem na região um dos seus atinga" amazonense que é uma forma-
dois grandes centros de dispersão. En- ção vegetal encontrada na bacia média
tre os gêneros característicos encon- superior do rio Negro, incluindo os
tram·se Dinwrphandra, Peltogyne, rios Curicuriari, Uaupés e Loana e
Eperua, Heterostomon e Elizabetlia. ~ também em São Paulo de Olivença,
também alto o índice de endemismo de no rio Solimões, e possivelmente nos
alguns de seus gêneros, tais como Di- rios Içá e Japurá, segundo Fróes, cit.
corynia, Aldina, Macrolobium e Swart-
:r;ia. por Hueck ( 1972) .

Também são famílias bem representa- As ilhas ou enclaves da mata mais ra-
das as voquisiáceas, euforbiáceas e gu- la, com árvores mais baixas e com ca-
t{feras, as rapatáceas, miristicáceas, li- racterísticas que fazem lembrar as do
náceas, rutáceas, malpiguiáceas, trigo- Nordeste brasileiro semi-árido, contras-
niáceas, anacardiáceas, tiliáceas, eleo- tam grandemente com a pujante flo-
·carpáceas, bombacáceas e lecitidáceas. resta hileiana propriamente dita.
~ também muito rica em espécies a
família sapotácea, sobressaindo-se a es- Devemos a Spruce ( 1908) as pri-
pécie Pouteria ucuqm, uma das maio- meiras observações sobre as "Caatin-
res árvores da Amazônia, com frutos gas" da Amazônia. Posteriormente
comestíveis. Entre as numerosas pal- Ducke e Black ( 1953), Ferri ( 1960),
meiras destaca-se, pelo seu valor eco- Takeuchi ( 1960-62), Sioli ( 1960), Ro-
nômico, a piaçava ( Leopoldinia pias- drigues ( 1961), Fróes e Hueck ( 1970),
saba). estudaram-na sob o ponto de vista eco-
lógico e florístico. Devemos, principal-
Entre as inúmeras madeiras de valor mente a Ferri e Sioli, estudos em que
econômico destacam-se: andiroba ( Ga- são examinadas as relações solo-água-
rapa guianensis), cedro ( Cedrela ode- planta. Esta pseudocaatinga é própria
rata), pau-roxo (Peltogyne sp.), tauari das terras altas com solo de sílica e hú-
( Cariniana micrantha), maçaranduba mus preto muito ácido, submetido a
( Mimusops huberi) e espécies de Ca- chuvas abundantes durante o ano intei-
lycophyllum, Eperua e Caryocar. ro. Em alguns trechos ela consiste de
O látex obtido da seringueira da re- árvores baixas e arbustos, com árvores
gião (Hevea benthamiana) é de qua- altas intercaladas; em outros ela é for-
lidade bem inferior ao látex da Hevea mada por arbustos e árvores baixas e
brasiliensis. altura quase uniforme. A quase totali-
dade das plantas lenhosas tem folha-
A exploração da madeira é feita com gem persistente e em grande parte es-
relativa intensidade, por ser fácil o clerófila. São reconhecíveis quatro DÍ·
transporte e a área estar próxima das veis ou estratos: um mais baixo, o her-
serrarias de Manaus. bcloeo, bastante variável, constituído
h) Região do Acre - ligeiramente on- de plantas de pequeno porte; um estra-
to arbustivo-lier'báceo, até 7 metros;
dulada e com índices de precipitação um estrato arbóreo de até 15 metros
entre 2.000 e 3.000mm, compreende as ( pseudocaatinga baixa) e outro de até
terras banhadas pelos formadores do 25 metros ( pseudocaatinga alta) .
Juruá e do Purus. A região é floristi·
camente pouco conhecida, tendo havi- Nas regiões muito abertas, recobertas
do, entretanto, uma intensa exploração por espécies arbustivas, que não ultra-
da seringueira (Hevea brasiliensis) . passam 4m, são chamadas campinas. A

70
vegetação rasteira sobre a areia branca 2 - FLORESTA PERENIFÓLIA
se reduz a musgos e alguns líquens.
Embora esta formação seja conhecida PALUDOSA RIBEIRINHA
com o nome de Caatinga do rio Negro, PERIODICAMENTE
não possui nenhuma afinidade florís- INUNDADA
tica com a Caatinga do Nordeste do
Brasil. Sua afinidade é puramente fi- Este tipo de vegetação difere da Flo-
sionômica. resta Perenifólla Higrófila Amazônica
ou da terra firme, por apresentar um
Ducke e Black consideram que a va- número menor de espécies e pela me-
riedade de espécies destas Caatingas nor altura de suas árvores nos estratos
excede a de qualquer outra formação mais elevados. Não havendo excessiva
em qualquer parte da Hiléia. Embora diminuição de água no solo em qual-
quase todas as ârvores de maior porte quer parte do ano ela se mantém sem-
da Caatinga sejam encontradas tam- pre verde. Entre março e junho o solo
bém nas florestas pluviais vizinhas, ela é enriquecido pelos sedimentos depo-
não possui muitas afinidades estrutu- sitados pelas águas durante as cheias
rais com outros tipos de matas vizi- nas partes mais baixas da margem.
nhas. Embora seus solos sejam mais ricos do
que os da floresta de terra firme, em
A afinidade entre a Caatinga do rio Ne- virtude desta sedimentação, o e:tcesso
gro e a de São Paulo de Olivença é d'água em determinados períodos pa-
tanto fisionômica como florística, sen· rece ser um elemento desfavorável.
do as espécies mais comuns às duas Raramente as árvores do estrato mais
áreas as seguintes: I ryanthera oblova- elevado ultrapassam os 25 metros de
ta, Hevea pauciflora var., coriacea, Lis- altura. 11: diffcil, entretanto, estabele-
socarpa benthami e Ladenbergia ama- cer-se com precisão os limites entre este
zonensis. tipo e o da mata de terra firme. À me-
Entre as espécies mais típicas da pseu- dida que se distancia da margem o solo
docaatinga são encontradas: alCima de vai ficando mais seco e, em conseqüên-
cia. há mudança do porte das ârvores,
1 metros - cumuri ( Cunuria crassi- que são mais altas, observam-se sensí-
pes), acauã (Eperua leucantha), ja- veis mudanças na composição florísti-
purarana (Peltogyne caatingae ), iéba- ca e aumento no número de espécies.
ro (Eperua purpurea), macucu (Aldi- As árvores da floresta da várzea pos-
na discolor), pau-amarelo ( Lissocar- suem troncos retos com esgalhamento
pa Benthami), pau-doce ( Pradosia apenas na parte superior, com diâme-
inophylla-) e seringa (Hevea rigidifo- tros que raramente ultrapassam 60
lia) . Entre as espécies com menos de centímetros. Embora a floresta possua
1 metros de altura se destacam: mira- nos estratos inferiores menos espécies
miri ou apuí ( Clusia spathulaefolia ou que a floresta de terra firme, é, por
C. colunaris), pau-de-tucano ( Swart- vezes, quase impenetrável, com uma
zia conferia), iuapixuna ou cicantá enorme profusão de galhos espinhen-
(Protium reticulatum), envira (Du- tos que se entrelaçam. São mais co-
g~ sp.), marapari ( Campsoneura muns as consociações de rabo-de-ca-
debílis), espinheiro ( Bactris cuspida- maleão (Mimosa sagotiana, M. rufes-
ta), biriba-de-jaboti ( Sphaeradenia cens ou M. myriaáema), leguminosa
amazonica), pacacaa ou jasmin (Ta- arbustiva, escandente e portadora de
bernaemontana sp. ) , lourinho ( Oura- acúleos.
tea sp.), pau-mulato (Eugenia egen- Embora sendo encontrada em quase
sis), buiuio ( Psychotria sp.), samam- todos os rios da Bacia Amazônica, as
baia ( Selaginella amazonica); turi matas de várzea são muito bem carac-
( Erythroxylum sp.), cipó-de-jacu ( Psa- terizadas a partir da foz do rio Ma-
misia guyanensis ), pau-de-cotia ( Coue- deira até a região do Delta. A área de
pia racemosa) e outras. inundação, isto é, o leito maior do rio

71
Fig. 5 - Aspecto da mata de várzea ao longo do rio Pará. A maior incidência de luz na
periferia favorece o desenvolvimento de espécies heli'ófilas, podendo ser observada a
proliferação de palmeiras.

atinge em alguns lugares até 100 km cus, bem como Spondías mombin, Le-
de largura e no seu todo atingem de cointea amazonica, Virola surinamen·
1 a 2~ da área total da Hiléia. sis, Sapium sp., Garapa guianensis,
Cordia tetrandra e Cassia grandis.
As várzeas encobertas pela floresta pa-
ludosa, ou simplesmente floresta de Nas porções mais altas dos diques mar-
várzea, são produto dos rios de "água ginais, menos expostas às águas altas,
branca" que, na verdade, são rios de elementos da mata de terra firme se
água barrenta amarelada, rica em ma- misturam com elementos da mata da
téria inorgânica em suspensão. ( Fig. 5) várzea. Huber, cit. por Hueck ( 1972,
enumera as seguintes espécies encon-
tradas nos diques do Purus: Cedrela
2.1 - Distribuição sp., Dypteryx odorata, H ymenaea
sp., Couratari sp., Hura creptans, An-
Muitos indivíduos da mesma espécie dira inermis, Apuleia molaris e gran-
são encontrados em toda a várzea des- de número de palmeiras entre as quais
de a desembocadura até os limites com o ouricuri ( Attalea excelsa), jauari
o Peru, sendo atribuído este fato, se- ( Astrocaryum tauari) e o murumuru
gundo Hueck, à intensa e constante ( Astrocaryum murumuru) .
influência das inundações. Entre estas
espécies, comuns a toda a várzea, des- Nem sempre a floresta de várzea tem
tacam-se a sumaúma ( Ceiba pentan- origem junto ao rio, na margem pro-
dra), que é também comum na várzea priamente dita. Ela aparece quando
dos rios da bacia do Orinoco, a muira- bem próximo à margem se erguem di-
tinga ( Olmediophaena 17UlXima), a ques que isolam parcial ou totalmente
munguba (Bombax munguba), o pau- as partes interiores planas e baixas da
mulato ( Calycophyllum spruceanum), margem propriamente dita. Estes di-
Couroupita subssessilis, Pithecolobium ques localmente conhecidos como "res-
niopoides, Piptadenia pteroclada, Pla- tingas" são formados por sedimentos
tymiscium paraense, Pterocarpus ancy- fluviais que se depositam ao encontrar
lOcalyx, várias espécies do gênero Fi- um obstáculo, por ocasião das cheias

72
anuais. Estas várzeas interiores são ini- maior parte do tempo e sua composi-
cialmente constituídas por campos ção florística é bem diferente da flo-
(campos-de-várzea) que evoluem aos resta típica de várzea.
poucos para floresta baixa de várzea
e desta para a floresta alta de várzea, Nas aluviões mais recentes, mal des-
pela diminuição da umidade do solo. cobertas pela água, mesmo nas vazan-
As partes mais elevadas das "restin- tes, agrupam-se as aningas ( Montri-
gas' são recobertas por vegetação ca- chardia arborescens), aráceas de tron-
racterística da terra-firme. co cônico e coroada por largas folhas.
Nas áreas que sofrem a influência .das
O corte de um rio de águas brancas, marés são abundantes várias palmei-
segundo Sioli ( 1951), esclarece o pro- ras, das quais muitas gozam de rel~:
cesso de formação das pestanas e dos tiva importância econômica. São mais
campos e lagos de várzea. conhecidas: o jupati ( Raphia t>inife-
ra), o miriti ( Mauritia flexuosa), o
açaí ( Euterpe oleracea), produtor de
2 .2 - Composição Florística excelente bebida e palmito, ubuçu
( Manicaria saccifera), a bacaba ( Oe-
t;; bastante homogênea em quase toda nocarpus distichus), o patauá ( Oeno-
a Amazônia. Apesar desta aparente carpus pataua ), o inajá ( Maximiliana
homogeneidade, podem ser reconheci- regia), o ouricuri ( Attalea excelsa), a
dos dois subtipos de matas de várzea, paxiúba ( lriartea exorrhiza), o muru-
caracterizadas por sua composição flo- muru ( Astrocarium murumuru), o ma-
rística: as matas de estuário e as que
cajá (Pyrenoglyphis macafa), o ubim
acompanham o curso do Amazonas e
( Geonoma sp.). Entre outras árvores
de seus afluentes. As matas de estuá-
características das "ilhas" destacam-se:
rio resultam da ação de represamento
ucuúba (Viro/a surinamensis), andi-
das marés, que ocasionam uma forte
roba (Garapa guianensis), sucuúba
deposição de sedimentos ricos em ma-
(Plumeria sucuuba), taperibá (Spon-
téria orgânica. Esta parte, segundo Le
dias lutea ), castanha-de-macaco ( Cou-
Cointe (1945), é recoberta por uma
roupita guianensis ), jutaí-açu (H yme-
vegetação mais exuberante e é entre-
naea courbaril),. o tachi ( Tachigalia
cortada por numerosos "furos". ( Fig. 6)
sp. ), cupiúba ( Goupia glabra ), mapa-
A vegetação das "ilhas", sujeita à ação rajuba ( Mimusops paraensis ), amapá
das marés, pode ser considerada inter- (Hancornia amapa), mamorana (Pa-
mediária entre as matas de igapó e as chira aquatica), paracuúba (Mora pa-
de várzea, pois passa inundada a raensis) e muitas outras.

Terra firme com FIG. 6


moto oito
moto de golerio

--~-

d•pôailo~
aedim~"toru
terciário• do terro firme
nlvel doe
ÓQUOI bOhtGS
•o lo
t edímentor
r e CI'III do
várzea
Corte tfrico de um rio de águot bro nco~t com for moçõo de vóruo,
••li UI! doSioli (I(. Hueck- 1972 )

73
Nas margens do Amazonas e na maior taxi ( Tachigalia myrmecophila), Scle-
parte de seus afluentes e paranás a rolobium tinctorium, ucuúba-branca
mata de várzea é constituída predo- (Virola surinamensis ), pau-mulato
minantemente de: embaúbas, entre as ( Callycophillum spruceanum), pracu-
quais se distinguem a embaúba bran- úba (Mora paraensis), seringueira
ca (Cecropia paraensis), a embaúba (Hevea brasiliensis e H. guianensis),
verde ( Cecropia robusta), sendo que aturiá ( Machaerium lunatum), açaí
a primeira é espécie mirmecófila, isto (Euterpe oleracea), timboúva (Ente-
é, hospeda em seu tronco oco ninhos rolobium sp.,), Cassia sp.
da formiça de fogo (gênero Azteca).
As embaubas se enfileiram nas partes Para o observador colocado no rio ou
mais baixas e recentemente sedimenta- no lago, antecede a fachada da mata
das da várzea; munguba ( Bombax de várzea um conjunto de plantas que
munguba), açacu-rana ( Erythrina obedecem a uma ordem evolutiva na
glauca ), tachi ( Triplaris surinamen- formação da floresta: o murumuré
sís), genipa-rana (Custavia augusta) ( Eichhornia azurea), espécie natante;
ucuúba branca (Virola surinamensís ), a canarana ( Panicum spectabile) e a
o açacu ( Hura crepitans ), o apuí aninga ( Montrichardia arborescens).
( Urostigma sp.), castanha-de-macaco Esta disposição de plantas aquáticas,
( Couroupita su.bsessilis ), sapucaia diante da floresta de várzea é pratica-
( Lecythís paraensis), genipapo ( Ceni- mente a mesma em toda região das
pa americana), limão-rana ( Chloro- Ilhas.
phora tinctoria ), macacaúba-da-várzea Associações quase puras de Mauritia
(Platymiscium Ulei), mamorana (Bom- flexuosa ( meritizais) são encontradas
bax aquaticu.m), mamorana-grande na região das Ilhas, notadamente ao
( Bombax spruceanum), maparana longo do canal de Breves.
( Aspidosperma inundatum), marimari-
da-várzea ( Cassia leiandra), pau-mu-
lato ( Calycophyllum spruceanum) pa-
ricá-branco ( Acacia polyphylla ), pari- 3 - FLORESTA PERENIFÓLIA
cá-grande-da-várzea ( Pithecolobium
niopoides), piquiá-rana-da-várzea ( Ca- RIBEIRINHA
rocar microcarpum), piranheira ( Pi- PERMANENTEMENTE
ranhea trifoliata ), seringueira-barrigu- INUNDADA
da (Hevea spruceana), sumaúma
( Ceiba pentandra), tacacazeiro ( Ster-
culea elata ) e outras . 1!: conhecida como floresta ou mata de
igap6, característica do baixo-médio
Azevedo ( 1967) faz distinção entre rio Negro, alguns de seu afluentes e
as flQrestas de várzea, dos cursos mé- outros trechos de rios de águas pre-
dios que se originaram da deposição tas, isto é, muito pobres em sedimen-
direta de aluviões fluviais e a floresta tos. Ao contrário dos solos das várzeas
das várzeas dos baixos cursos dos rios que são enriquecidos anualmente pelo
e que resultam da sedimentação das acréscimo de argila, os solos dos iga-
partículas levadas ao oceano pelo rio pós sofrem a ação da erosão pelas cor-
Amazonas e que daí são transportadas rentes. Le Cointe (1945) denomi-
para aquelas áreas por efeito das ma- na de matas de igapó aquelas que, tan-
rés. Neste último tipo são assinaladas to na terra firme como na várzea, co-
as seguintes características da vegeta- brem espaços onde, por deficiência de
ção no Território Federal do Amapá: escoamento natural, as águas prove-
maciço florestal de 20-25 metros de al- nientes de enchentes ou das chuvas
tura no máximo, grande número de ár- locais ficam retidas muito tempo, ou
vores portadoras de raízes tabulares, estagnadas, banhando os troncos a al-
grande variedade de cipós, sub-bosque turas variáveis.
arbustivo denso. As espécies mais fre- Para Sioli ( 1951), entretanto, o iga-
qüentes são: sumaúma ( Ceiba pentan- pó ou mata de igapó, resulta sempre
dra), andiroba (Garapa guianensís), da ausência de sedimentação nos rios
, 74
de "água preta", que na verdade são ta ou sapupira-de-igapó ( Diplotropis
rios de água clara, transparente, dando martiusii), marajá ( Bactris concinna),
ao observador colocado em suas mar- cururu ( Cylindrosperma anomalum),
gens ou em embarcações a impressão louro-mamorim ou inhamuí (Nectan-
de cor de café ou mesmo castanho- dra elaiophora ), catuari ( Crataeoo
avermelhado. Estes rios possuem ge- benthami), araparirana ( Macrolobium
ralmente um vale largo, cuja soleira é multijugum), cip6-de-tucunaré (Dal-
coberta pela floresta, quase constante- bergia inundata ), iara-açu ( Leopoldl-
mente inundada. (Fig. 7)
nia maior), piaçava ( Leopoldinia pias-
"Nos igapós cresce uma vegetação di- saba), cedro-rana-de-igapó ( Andria-
ferente da vegetação de terra firme, petalum rubescens), cedro (Roupa la
que já à primeira vista dá uma im- obtusa), macacu ( Aldina latifolia),
pressão menos pujante. O chão tem ajuru ( Licania heteromorpha), hervão
uma coberta muito rala de gramíneas (Heterostemon mimosoides), coman-
e ervas, se é que se pode falar deste dá-açu (Campsiandra laurifolia), itau-
tipo de vegetação. Durante as águas barana ( Sweetia nitens ), riteira ( Bur-
altas é possível penetrar de canoa en- dachia prismatocarpa), umiri-rana
tre as copas das árvores, podendo-l>e (Qualea retusa), sururu ( M ollia lepi- .
coletar as orquídeas epífitas de uma dota), apapá ( Eloosia callophylla),
maneira muito fácil", cf. Hueck, op. casinga-cheirosa ( Laetia suaveolens),
cit.
cumacai ( Lophostoma calophylloides),
Huber ( 1909) cita para o igapó do caranaí ( Mauritia aculeata), e outras.
rio Negro e de outros rios de águas Na fisionomia pouco difere a mata de
semelhantes a este as seguites espécies igapó da mata de várzea.
mais características: Roupala obtusa-
ta, Panor>sis rubescens ( proteáceas);
Licania heteromorpha, Couepia sp.
(rosáceas); espécies de inga, Pitheco- 4- FLORESTA
lobium, CaUiandra, Parkia, Sclerolo- SUBCADUCIFÓLIA
bium, Peltogyne, Eperua, Heterosto-
mon, Ormosia e Sweetia ( legumino- AMAZÔNICA
sas); Qualea retusa ( voquisiácea) e
numerosas mirtáceas, rubiáceas e me- Em torno do núcleo da floresta hileia-
lastomatáceas. na, com largura variável, estende-se a
À semelhança das árvores dos climas floresta subcaducifólia.
temperados e frios, as madeiras das Floristicamente ela é hileiana, embora
matas de igapó apresentam anéis de alguns de seus elementos participem
crescimento nítidos, que se desenvol- igualmente da Floresta Subcaducifólia
vem de acordo com o nível da água.
Tal fato também pode ser observado Tropical. Ab'Saber ( 1966) a exclui da
Hiléü~, considerando-a transição entre
em árvores da várzea.
três diefrentes domínios; também nós
São espécies tí:eicas do igapó: anani ( 1960) clasl>ificando-lhe como mata de
( Symphonia globulifera), sapupira-pre- transição.

FIG. 7
Cortt tlpico otrov4e MatG Glla da
de um ri o ele óvuos prttGs, ttrra firMe
sevundo Si o li ( K. Hutck- 1972)

75
Esta enorme área de transição encon· racteriza é o babaçu ( Orbignya 1TU.lr·
tra-se a leste e sul do Estado do Pará, tíana).
sudoeste do Estado do Amazonas, su-
deste do Estado do Acre, mais de 3/4 No que se refere a sua composição flo-
do Território Federal de Roraima, rística, a leste do Estado do Pará ocor-
grande parte do norte do Estado do rem as seguintes espécies: castanheira
Pará e a porção noroeste do Território ( Bertholetia excelsa), o caucho (C~­
Federal do Amapá. ( Fig. 8). tilloa ulei), acapu ( Voucapoua ame-
ricana), pau-amarelo ( Enxylophora
paraensís), pau-santo ( Zollernia pa-
De modo geral predominam neste tipo raensis), maçaranduba ( M imu.sops
de vegetação árvores altas ( 15 a 20 elata e M. amazonica), mata-matá
metros de altura), troncos finos, copas ( Chytroma sp.), Estas espécies for-
pouco desenvolvidas. Há vários estra- mam um estrato de 30 metros. Um es-
tos, nos mais altos dos quais grande trato mais elevado que atinge até cerca
parte das árvores perde as folhas na de 50 metros é constituído por árvores
estação seca. Outros estratos mais bai- dos seguintes gêneros: Lecythis, Cari-
xos, em número variável, pode perdê- niana, Ceiba, Hymenaea, Andira, Te-
las em parte ou conservá-las inteira- coma, Vochysia, et. cat.
mente, dependendo da maior ou me-
nor quantidade de água qisponível no São também inúmeras as palmeiras,
solo. Há muitas lianas, mas tornam-se sendo assinaladas inajá ( Maximiliana
mais raras as epífitas. Uma das espé- regia), bacaba ( Oenocarpus dísticu.s),
cies que integra o estrato superior da tucumá (Ast1"ocaryum vulgare), mum-
vegetação nos altos cursos dos afluen- baca (Astrocaryum mumbaca), macajá
tes da margem direita do Amazonas é ( Acrocomía sclerocarpa), pixiúba ( Iri-
a seringueira (Hevea brasiliensis) . artea exorrhiza), pupunharana (Cocos
Entretanto, a espécie 9ue mais a ca- speciosa), jatá (Cocos syagru.s), ubin-

Fig. 8 - Aspecto da Floresta Subcaducifólia Amawnica no alto curso do rio Candeias. Est>a
flOresta tem como uma das principais características a perda parcial de sua.s folhas durante
a estação seca. Para o menor desenvolvimento da floresta contribuem ainda os solos rasos,
podendo-se observar na área afloramentos rochosos.

76
guaçu (Geonoma ma:xima), açaí (Eu- estação seca, que tem a duração de
terpe oleracea ), meriti ( Mauritia fle- três meses, os solos muito permeáveis
xuosa) e, sobretudo, babaçu ( Chbig- retêm pouca umidade e a maioria das
nya martiana) . plantas perde a folhagem. Entre as es-
pécies mais comuns podem. ser cita-
São poucos os documentos existentes das: ariauá ( Qualea grandiflora) e ou·
sobre a Floresta Subcaducifólia da ver- tras do mesmo gênero, o carvão-de-
tente norte da Bacia Amazônica, pois ferreiro ( Schlerolobium paniculatum),
o acesso ao interior das matas ainda a quaruba (Vochysia ferruginea) e ou-
é difícil. Apenas através do exame de tras do mesmo gênero, o jacarandá
fotografias aéreas é possível estabele- ( Dalbergia spruceana) e o feijão-bra-
cer-se os limites aproximados entre este vo ( Centrosema venosum) .
tipo de vegetação e a Floresta Pereni-
fólia. O mapa de vegetação da Região Norte
A parte mais conhecida da Floresta (Fig. 9), quando confrontado com
Subcaducifólia é a que se limita com a outros mapas de vegetação, mostrará
Hiléia ao sul do Estado do Pará, em uma sensível redução da área de Flo-
grande parte recobrindo o rebordo do resta Perenifólia e um correspondente
Planalto Brasileiro. Nesta floresta as aumento da área da Floresta Subca-
espécies mais caracteristicas são: se- ducifólia. A diminuição da área da
rin~eira (H evea brasiliensis), gua-
Floresta Perenif6lia se deve, em grande
nandi (Calophyllum brasiliensis), sou- parte, à recente utilização de fotogra·
veira ( Couma sp. ), angico ( Piptade- fias aéreas e estudos in loco, sendo
nia sp.), carapanaúba ( Aspidcesper- quase certo que os limites assinala-
ma sp.), gogó-de-guariba (Mootabea dos ainda estejam longe da realidade.
sp.), et. cat. Embora estas espécies te- Os fatos que até há pouco concor-
riham sido encontradas em áreas da riam para o alargamento da área da
Floresta Semidecídua, elas praticamen- floresta perene eram a suposta homo-
te podem ser consideradas do domínio geneidade do cli.ma superúmido em
hileiano, pois são espécies que ocupam quase toda a Região Amazônica e o
o solo da várzea alta. desconhecimento quase total dos seus
solos. Sioli ( 1951), indicando a exis-
Em terreno mais seco, mais afastado tência de rios de água clara em vasta
dos cursos d'água, são comuns as se- porção da vertente sul da bacia ama-
guintes espécies: garapa ( Apuleia Zônica, implicitamente indicava a exis-
praecox), jatobá (Hymenaea stilbo- tência de solos arenosos pobres. A
carpa), abiurana (Lucuma lasiocar- mancha de vegetação semixeromorfa
pa), peroba-branca e preta (bignoniá- em solos arenosos nas proximidades de
cea), marupá (Simaruba amara), pe· Santarém já é conhecida de ·longa
roba-poca ( Aspidosperma cylindrocar- data.
pa).
Entretanto, questiona-se ainda a res-
À margem direita do rio Tapajós, en- peito da relação clima-vegetação. Os
tre Santarém e Belterra e na margem trabalhos de Nimer ( 1972-1973) apli-
esquerda do rio Amazonas, em área cáveis ao Brasil mostram a grande ex-
dos municípios de Monte Alegre e tensão do clima quente com mais de
úbidos, ocorre vegetação semixero- 3 meses sem chuva na Amazônia e
morfa. Este tipo de vegetação é encon- que, significativamente, cobre a maior
trado em solo de areia branca, muito parte àa área de Floresta Subcaducifó-
permeável. Fisionomicamente ela tem Iia, tomando ainda muito maior a área
afinidade tanto com a Caatinga como possível. Desta forma, pode ser expli-
com o Cerrado, apresentando três es- cada também a maior parte das man-
tratos característicos: um herbáceo, po- chas de Cerrado inclusas nos tipos flo-
bre, que em alguns lugares deixa o restais.
solo descoberto; um arbustivo, denso
e um arbóreo, também pobre, com ár- Este autor, pondo em evidência não
vores bastante espalhadas e que rara- apenas os totais pluviométricos mas,
mente ultrapassam os 10 metros. Na principalmente, o número de meses

77
Região Norte
...
VEGETAÇAO

-
D
Floresta pere111fóho polu<loso nbetunho pertodleomenle tl'llfl<lodo ( moto de vórzeo
0<1 permoMntemenre tnunóodo ( moto de 1q0pó l

Floresta perentf oha hu;róftiO luleana amazôr-co ( maio de terra fume

Floresta subcaductfóflo amozôntca


l
l

S. 9
-
D
D
Cerrado

Campo

Campa tnundÓvtl
-

,---
1
---'
I
Vegelacão Ltlaranto

Reservo florestal ( sevundo I B O F- 1972)

o 100 200 K111

D Cornpluo do ROI'otmo, do Ca chtmba e da Xingu


Fig. 10 - Nas proximidades de Monte Alegre são .encontradas manchas de Cerrsdo. A
composição florística encerra espécies do Cerradp elo Brasil Central. como a Curatella
americana, BC7Wdichia virgilioides, Qualea grandiflora, Vochysia ferruginea, etc. A interfe-
rência humana imprimiu modificações estruturais: o estado herbáceo apresenta-se rarefeito e
o arbustivo bastante agrupado.

ro Grande e da serra Azul, têm com- 6- CAMPOS


posição semelhante aos Cerrados de
Monte Alegre e Prainha. ( Fig. 10) X
A imensa floresta que recobre quase a
Na ilha de Marajó o Cerrado tem, como totalidade da Região Norte é, em mui-
no Território Federal do Amapá, dire- tos lugares, interrompida por áreas
ção norte-sul, formando uma Iaixa de abertas que recebem os nomes de sa-
largura regular no centro da ilha, li- vanas nas Çuianas e campos e cam-
mitando-se a leste com os campos e a pinas no Brasil. Neste, de modo geral,
oeste com a Hiléia. Fisionômica e flo- qualquer área de vegetação aberta
risticamente pouca semelhança tem es- que se opõe fisionomicamente às áreas
ta formação com o Cerrado típico, fechadas ou florestadas recebe o no-
devido talvez à profunda interferên- me de campo. AssiJ? sendo, os tipos
cia humana, através de intensa cria- mais diversos de vegetação, como Cer-
ção de gado. rado e Campo Limpo são considerados
A mangabeira (Hancomia speciosa), como campo ~
produtora de frutos comestíveis, é uma Na Amazônia as áreas de vegetação
aas poucas espécies do Cerrado pre- aberta são conhecidas com vários no-
servadas. ~es regionais, resultando ser difícil
Sob a denominação de campo sujo ou estabelecer-se comparações com tipos
campo coberto há um gran:de núme- correspondentes em outras partes do
ro de áreas de vegetação aberta que Brasil. São comuns os campos lavra-
fisionomicamente podem ser classifi- dos, campos sujos ou cobertos, campos
cadas no grupo dos Cerrados. Sua afi- de várzea, campinas, campinaranas,
nidade com o Cerrado típico das re- campos- inundados, campos firmes.
giões do Brasil Central, de clima semi-
úmido, com uma estação seca de 5 a 6 Levando-se em consideração a grande
meses é não só fisionômica como importância da água, juntamente com
também florística, embora as espécies a riqueza mineral e orgânica dos so-
comuns. às diversas áreas sejam poucas. los, os campos são classificados em 2

81
grandes grupos: os campos de várzea Estes campos na ilha de Mataj6, se-
inundados eeriodicamente pela água gundo Chermont de Miranda cit. por
de rios ou de lagos e campos firmes Le Cointe, são de cinco categorias:
não inundáveis. Os principais campos
de várzea são encontrados ao longo do a) Os Campos Altos, com solo areno-
litoral atllntico e acompanham o Bai- so, ou de barro consistente (campos
xo Amazonas Paraense. de Muaná, do rio Atuá, margens do
rio Camará e do igarapé Grande) .
Autores, entre os quais Le Cointe São ricos em plantas forrageiras de
( 1945). admitem a existência de três boa qua!idade, notadamente gramíneas
tipos: e leguminosas. Sobre o estrato herbá-
a) Os Campos Mistos - inundáveis em ceo sobrepõe-se um de pequenas árvo-
parte pelas enchentes peri6dicas ( cam- res isoladas ou formando pequenos gru.
pos inundáveis para outros autores), pos ou capões.
cujos melhores exemplos são os de Ma- b) Os Campos pouco Alagados - cam-
raj6, os do leste do Tenit6rio do Ama- pos centrais, lavrados ou limpos, con-
pá e os da região do lago Grande de
Vilafranca, ao sul de óbidos, na mar- siderados como os melhores pastos.
gem direita do Amazonas. c) Os Campos Baixos - alagados du-
b) Os Campos de Várzea - mais ou rante uma parte do ano, de solo mais
menos cobertos pelas águas durante as ou menos barrento, formando atolei-
cheias anuais e situados atrás da cor- ros, com vegetação vigorosa, cerrada,
tina estreita de matas que acompanha constituindo pastagens de primeira
as restingas ao longo dos rios. qualidade.
c) Os Campos Firmes, nunca alagados. d) Mondongos - são campos baixos,
com atoleiros, em grande parte sub-
mersos no inverno e com grandes anin-
6.1 -Os Campos Mistos ou gais e poucos tesos. A vegetação é mais
desenvolvida e cerrada que a dos cam-
Alagáveis pos baixos.
embora de solos mais pobres que e) Tesos .ou Restingas - que recortam
os da várzea propriamente dita, pos- os diversos tipos de campo, ou cons-
suem abundância de plantas forragei- tituem simples ilhotas um pouco mais
ras, aproveitadas pelo gado no perto- elevadas no meio da planície. ( Fig.
do das secas. 11).

Fig. 11 - Quase toda a


porção oriental da ilha de
Maraj6 é recoberta por cam-
pos inundáveis, de importln-
da para a pecuária. Como
n.o restante da área de tais

_,
campos, houve uma grande
·alteração na flora original
após a introdução de novas
.-- ·~)f.. ,~
,, !> (
forrageiras. As J)eC}uenas ele-
vações, os "tesos ', a salvo
das inundações, são recober-
tas por .uma vegetação de
porte arbustivo ou arbóreo.

82
Nas partes alagadas dos campos inun· 6.2- Os Campos de Várzea
dáveis são mais comuns as seguintes
espécies: agrógano ( Polypompholyx - "Atrás da cortina, geralmente estrei-
laciníata), espadana ( Sagitaria acuti- ta, que cobre a restinga da margem
folia), maücia-d ' água ( N eptunia ole· do rio quando este corta a planície de
racea), purpurina ( Rhynchantera ser- aluviões recentes, avistam-se, no tem-
rulata ), juquiri-manso ( Neptunia ple- po de verão, campos verdejantes que
na), alcatifa ( Trichospira menthoides), se estendem, às vezes, a perder de vis-
alg~o-bravo (Ipomoea fistulosa), ta. Mastando-se da beira, o terreno vai
aninga ( Montrichardia arborescens ), baixando gradualmente e apresenta
botão-de-ouro (Xyris paUida), carque- depressões dispersas sem ordem,
ja (Hydrolea spinosa), coquilho (Can- ocupadas por aningais ou, quando
na glauca), corticeira-do-campo ( Aes- mais fundas e extensas, formando la-
gos cujas partes mais rasas são capin-
chynomene sensitiva), jupinda ( Cleo- zais meio submersos. Com a cheia
me psoraleaefolia), partasana ( Typha estes lagos unem-se e na água lodosa
dominguensis), samambaia ( Lycopo- tudo submerge durante alguns meses".
dium cernum), sororoca-mirim (Heli-
Este trecho de Le Cointe ( 1945) re-
conia pendula), majuba (Sphenoclea
produz fielmente o aspecto dos cam-
zeylanica), uapé ( ?Vymphea rudgea- pos de várzea, tão comuns a toda a
na), arumarana ( Thalia geniculata), área de várzeas do Amazonas e seus
capim-de-marrua ( Paspalum conjuga- afluentes. São constituídos quase ex-
tum), capim-cortante ( Cyperus radia· clusivamente de gramíneas, algumas
tus), canarana-fluvial (Panicum spec- das quais excelentes forrageiras.
tabilis ), canarana-de-folha-miúda (Pa- As espécies mais encontradas são : o
nicum amplexicaule ), violeta-d'água murim ou mori (Paspalum fascicula-
(Eichhornia natans), piri (Cyperus tum), gramínea alta, formando conso-
gtganteus), orelha-de-veado ( Eích- ciações muito densas. Juntamente com
homia azurea ). junco bravo ( Cype- esta é abundante a canarana ( Pani·
rus articulatus); et. cat. cum spectabile e P. amplexicaule), ex-
celente forrageira. Além destas são
Nos tesos são encontradas as seguin- comuns as seguintes gramíneas : piri-
tes espécies: tucumã ( Astrocaryum tu- mumbeca ou canarana-rasteira (Pas-
cuma), língua-de-vaca ( Elephantopus palum repens), peripomongo ou an-
dr~uicé (Laercio liexandra ), taqua-
scaber), batatão (Ipomoea pentaphyl-
ri-d água (Panicum oppressum), taqua-
la), embaúba (Cecropia leucocoma), rizinho ( Andropogon spathiflorus),
mata-pasto (Cassia marginata), anin- capim uamá (Luzio1a spruceana), que
ga-pará ( Dieffenbachia preta), puruí cobre inteiramente as superfícies das
( Alibertia edulis), capim-manso ( Pae- águas rasas, capim-miçanga ( Coix la-
palanthus lamarchii), arroz-do-campo crima ), arroz-bravo ( Oriza sativa var.
( Trachypogon polymorphus ), capim- subulata).
de-bolota ( Rhyncospora cephalotis ),
capim-de-botão ( Cyperus luzular), pi-
tomba ( Simaba guianensis), lacre 6.3- Os Campos Firmes
(Visima guianensis), jutaf-rana (Cns-
- da Região Norte estão dispersos
dia pari voa), geniparana ( Gustavia pelos Estados do Pará, do Ainazonas e
guianensis), morcegueira ( Andira pelo Território de Roraima, ao sul do
inermis ), canária ( Crotalaria maypu· paralelo de 2° N. Não estão sujeitos
ensis), anil (Indigofera anil), mundu- às inundações e podem ser subdividi-
bi ( Cassia diphylla), ouricuri ( Atta- dos em duas categorias principais de
lea excelsa), sumaúma ( Ceiba pentan- acordo com sua fisionomia: campos
dra ), macajá ( Bactris major), caua- limpos ou lavrados e campos sujos ou
çu ( Coccoloba latifolia ), et. cat. cobertos. Muitas áreas de campo sujo

8S
Fig. 12 - Vista nos campos de Ererê, constituídos predominantemente por gramineas.
Tais campos são denominados por Hu~k de "campos abertos". Ao fundo, as elevações da
"serra" do Ererê recobertas por uma ve~tação arbórea.

possuem algumas espécies do Cerrado c) Território Federal do Amapá: Cam-


típico, fato que tem determinado a in- pos de Calçoene, Macapá, Matapi e
efusão destas áreas na 'Categoria de Mazagão.
Cerrados. ( Fig. 12).
As seguintes espécies são comuns a
Somente um estudo detalhado poderia quase todos os campos firmes: peua
individualizar as áreas de campo lim- (Andropogon brevifolius), salva (Hyp-
po e campo sujo na Região Norte, pois tis sp.), rabo-de-raposa (Andropogon
eles se sucedem com freqüência em es- bicorne), pau-de-candeia, candeia ou
paços relativamente curtos e apresen- oiteira (Plathymenia reticulata), pau-
tam muitas nuances. de-marfim ( Agonandra brasíliensis),
Entre o grande número de áreas de genipapo-do-campo (Tocayena fomw-
campo firme da Região destacam-se os sa) muirapixi (Lucuma parviflora), za-
seguintes: ranza ( Leptocoryphium lanatum).

a) Estado do Pará: Campos de Almei-


rim; Alter-do-Chão, Ariranha, Arraiolos,
Bragança, Breu Branco, Cametá, Cica- 7 - COMPLEXOS DE RORAIMA,
tanduba, Cupijó, Ererê, Faro, serras CACHIMBO E XINGU
ltanapari e Paituna, morro Mangabal,
rio Maracá, Marajó, Mariapixi, ilha As áreas assinaladas no mapa como
Me.xiana, Monte Alegre, Santarém, Ti- complexos incluem diferentes quadros
gre, morro Uruâ, Velha Pobre, Vila fitofisionômicos e florísticos.
Franca, Viseu, Campinas de Vigia,
Perdido, Porto de Moz, rio Mapuera, O termo "complexo" assinala tipos de
Aramateua, Breves, Gurupi, Gurupá. vegetação pouco identificados com os
b) Estado do Amazonas: Campo tipos mais característicos da vegeta-
Amélia, Grande (Borba), Puciari-Hu- ção brasileira, tipos que mostram re-
maitá, Jutaí, campinas do rio Padauri, lações evidentes com duas ou mais co-
rio Tarumá-Mirim e Ponta Negra. munidades ou ainda áreas em que vá-

84
rios tipos de vegetação se intercalam Cerrado na hiléia são comuns, incluin-
formando um mosaico de tal forma do-se a bela Salvertia conoolariaedo1-a,
complexo que somente uma cartogra- estão ausentes nos campos de Rorai-
fia minuciosa poderá representá-lo. ma. (Fig. 13).
A área dos campos de Roraima pode Entre as principais espécies contam-se:
ser enquadrada em todas as situações pnracariana ( Bowdichia virgilioides),
acima referidas. Eles são constituídos canária ( Crotalaria 11Ulypurensis), mo-
por extensas superfícies, ora de cam- roró ( Bauhinia f1UlCrostachya e B. gla-
pos sujos, não chegando a ser conside- bra), carrapicho ( Krameria .tomento-
rados campos cobertos, isto é, seme- sa), muirarema ou angelim-pedra (Hy·
lhantes aos Cerrados, ora por florestas menolobium petraeum), mirixi ou mu-
em estreitas faixas ao longo dos rios rici ( Byrsonif1Ul coccolobifolia), inajá
ou como manchas em algumas de- ( Maximiliana regia), mirixi-do-cam-
pressões do terreno. Estão localizados po ( Byrsonima crassifolia ), capim-ti-
ririca ( Diplasia kerataefolia), pé-de-
na porção nordeste do Território Fede- pato ( Dtoclea guianensis ), caimbé
ral de Roraima, a partir do rio Cana- {Curatella americana), pirito ( Swart·
mé e do igarapé do Cachorro, afluentes zia dipetala ), timbó ( Clitoria guianen-
do rio Branco. sis), algodãoziQho ( Cienfuegosia phlo-
Sua origem é tanto climática como pe- midifo[ia), aráçá-do-campo (Eugenia
dológica. O clima da área é semi-úmi- polyphylla ), surucuá ( Combretum
do, com 4 a 5 meses secos e solos bas- assimile), tapioqueira ( Martiusia ex-
tante profundos e pobres. O lençol celsa), manga-brava ( Clusia grandi-
d'água está situado entre 10 e 15 me- flora e Andina retusa), folha-de-carne
( Casearia silvestris), congonha ( Rou-
tros de profundidade. pala montana ), canela-de-maçarico
Embora as características do clima, ( Cassia flexuosa), castanha-elétrica
do relevo e dos solos sejam semelhan- ( Thevetia peruvianà~ vinagreira-de-
tes às do Centro-Oeste brasileiro, sua camaleão ( Oxalis mairàf'yensis), uari-
flora tem pouca afinidade com a flora mã ( Cassia multiiuba ), orelha-de-ra-
do Cerrado e outros tipos campestres posa ( Galactia jussialva), pau-roxo
daquela área. As espécies típicas do (Peltogyne puQescens e P. gracilipes),
Cerrado que mesmo em enclaves de relógio-do-campo ( Soemmeringia sem-

Fi~. lS - Uma das fisionomias da vegetaçio do Complexo de Roraima é a do Cerrado


CUJA estrutura apresenta um estrato arbóreo-arlnutivo disperso e um herbáceo, mais ou meno;
contínuo, onde pndominam grauúneas.

85
per-flcrens), raposa-quirinha ( M yrda báceos pouco diferenciados. Sobre so-
didrichsmíana), mata-zombando (In-- lo arenoso, mais delgado, predomina
digofera pascuorum), esporão-de-galo vegetação arbustiva, com indivíduos
( Basanacantha spioosa ) , cedro-de-es- grupados ou esparsos. Entre estes, for-
pinho ( Bombax quinatum), ca_pim.,de- mando uma cobertura baixa e muito
bolota (Rhynchospora cephalotes), rala, crescem gramíneas e eriocaulá-
capim-do-brejo ( Rhynchospora globo- <:eas. Em afloramentos diaclasados de
sa ), capim-estrela ( Dichromena cilia- quartzito desenvolve-se vegetação ar-
ta), coroa-de-frade ( Melocactus ne· bustiva, de folhas coriáceas, com estra-
blyi). tos herbáceos de bromeliáceas, cipe-
A "serra" do Cachimbo é um chapa- ráceas, eriocauláceas e velosiáceas.
dão residual, quartzítico, longo e es- 1!: assinalada também a existência de
treito, ao sul do Estado do Pará e pe- áreas de campo limpo, constituídas
quena porção do norte de Mato Gros-
so. Suas encostas são fortemente dis- principalmente pela gramínea (An-
secadas por rios das bacias do Xingu thaenantia lanata ), eriocauláceas ( Syn-
e Tapaj6s. gonanthus graomongolensis, Paepalan·
thus spp.), labiata (Hyptis sp.) e bro-
Castro Soares ( 1953), faz preciosas e:
meliácea (Ananas sp.). observada a
observações sobre a vegetação da ação do fogo nas proximidades do
"serra" do Cachimbo. Os solos quart- campo de aviação da "serra" do Ca-
zíticos, muito pobres, são recobertos chimbo, fato que, generalisado para
por uma vegetação sui genem, toda a área, poderá explicar em parte
abrangendo, fisionomicamente, aspec- o caráter "sui generis" da vegetação.
tos que vão da mata seca a verdadei-
ros campos limpos. Diz este autor. Na bacia do rio Xingu, entre os Esta-
dos de Mato Grosso e Pará, foi tam"
"Verificamos que a vegetação dos to-
pos dos chapadões em apreço não po- bém assinalada, por meio de fotogra-
de ser confundida com a dos Cerraaos fias aéreas, uma grande área de vege-
e cerradões. A única espécie arbórea tação semelhante à observada na "ser-
característica do Cerrado que nela en- ra" do Cachimbo, e que constitui o
contramos foi o murici ( Byrsonima chamado "Complexo do Xingu".
sp.). Trata-se, evidentemente, de uma Nos topos tabulares da chapada dos
vegetação "sui generis", de difícü clas- Parecis e "serra" dos Pacaás Novos,
sificação. Não sabemos se os índios
para ela têm alguma denominação es- são encontrados diferentes tipos de ve-
pecial. Tentaremos, todavia, descrevê- getação, que podem ser enquadrados
-la em seus traços principais. Consis- na classificação de "complexo". São
tirão estas fonnações arbustivas os cerrados, cerradões, chavascais, char·
chamados cbavascais ou charravascais? ravascais, bamburrais, taquarais, etc.
Logo à primeira vista pode-se, porém, O referido autor faz referência ao char-
distinguir três tipos dessa vegetação: ravascal descrito por Hohene, consi-
o arbõreo, o arbustivo e o gramínea-
herbáceo", ap. Castro Soares, v. ref. 69 derando-o em tudo semelhante a um
da Bibliografia. dos tipos encontrados na "serra" do
Cachimbo: "mato seco raquítico, ora
Assinalou ainda o autor quatro aspec- denso ora mais aberto, deixando ver,
tos diferentes da vegetação, ligados a amiúde, por entre as suas árvores altas
diferentes condições de solo. Sobre so- de troncos finos e pequenas copas de
lo arenoso profundo desenvolve-se ve- poucas folhas (principalmente duran-
getação constituída de pequenas árvo- te a época da estiagem, quando as
res, com altura variável entre 4 a 5 observamos), um solo pedregoso, on-
metros, troncos finos, copas estreitas de afloram lajedos lisos e grandes blo-
e com pouca folhagem, com espaça- cos rochosos fraturados e decompos-
mento muito reduzido entre os troncos, tos", cf. Castro Soares, op. cit. ( Fig.
apresentando estratos arbustivos e her- 14).

86
Fig. 14 - Nas partes de solos mais pobres e arenosos a vegetação do Complexo do
CaChimbo se ·apresenta com a fisionomia campestre, constituída por subarbustos e gramíneas
esparsas. Destacam-se na foto representantes da família Eriocaulácea, como Paepalanthus e
Syngonanthus.

8 - VEGETAÇÃO LITORÂNEA Do cabo Orange à foz do rio Gurupi


a vegetação de praias e dunas se alter-
nam com a de mangues, de acordo com
Distinguem-se dois tipos de vegetação o substrato.
em quase todo o litoral brasileiro e
que estão subordinados às influências As espécies características das praias
diretas do mar: a vegetação de praias e dunas são: o capim-da-areia (Pani-
e dunas, constituídas de plantas ·her- cum racemosum); capim-da-praia ou
báceas e arbustivas e · a vegetação de paraturá ( Spartina brasilíensis); cam-
mangues, constituídas de espécies ar- painha-branca ( Ipomoea litorallis);
bustivas e arbóreas. salsa-da-praia ( Ipomoea pes-capreae);
A vegetação de praias e dunas está ipecacuanha-de-flor-branca ou poaia
adaptada a um substrato exclusivamen- da-praia (H ybanthus ipecacuanha) e
te arenoso, onde a ação da água do outras.'
mar se faz sentir diretamente através
de ondaS mais violentas e do vento, Os manguezais ocorrem em quase toda
nas praias propriamente ditas e a ação a extensão dos lit~rais tropicais e pos-
mecânica do vento nas dunas. Na praia suem fisionomia semelhante graças à
o número de espécies é bastante redu- presença de espécies homólogas, em-
zido e ·as plantas são exclusivamente bora apresentem composição florística
de pequeno porte, com profuso e pro- diferente, seg. Schnell ( 1971).
funêlo sistema radicular. Nas dunas,
tanto a ausência do cloreto de sódio Do ponto de vista florístico, distin-
ci>mo a presença na areia de matéria guem-se os manguezais ocidentais, tí-
orgância permitem o desenvolvimen- picos do litoral atlântico do continen-
to de um maior número de espécies, te africano e dos litorais atlântico e
uma cobertura mais contínua do solo pa~ífico das Américas do Sul e Cen-
e maior porte dos indivíduos, tanto tral e dos manguezais orientais, que
arbustivos como arbóreos. abrangem os litorais do leste da Afri-

87
ca, da Ásia, da Indonésia e de algu; do manguenzal: o mututi ( Pterocar-
mas ilhas do Pacífico. pus draco), embira-do-mangue ( Hi-
biscus tiliaceus) e araticum, ( Anona
Os gêneros Rhyzophora e Avicennia palustris).
são comuns a quase todas as áreas de
mangue, em ambos os tipos. Quando a vegetação do mangue pene-
Os manguezais orientais são muito tra em lugares arenosos é chamado de
"mangue seco" pelas populações locais.
mais ricos em espécies características
No litoral do Estado do Pará ó man-
do que os ocidentais, encontrando-se
guezal penetra de 20 a 40 quilômetros
nos primeiros 49 espécies e nestes ape- ao longo dos rios costeiros, ocorrendo
nas 13, segundo Van Steenis ( 1962), até onde chega a água salgada ou sa-
cit. por Schnell ( 1971) . lobra das marés. Jt justamente nas par-
Do ponto de vista dinâmico, o man- tes mais interiores do manguezal que
guezal pode ser considerado o estágio as árvores atingem o maior porte, de-
inicial da halosere da mata pluviaf, crescendo em ãltura à medida que se
isto é, a série evolutiva que, a partir aproxima do mar, passando a formas
de espécies halófilas pioneiras ( Rhy- arbustivas e, finalmente, sendo substi-
zophora mangle, etc. ), evoluirá até o tuídas por uma cobertura de grami·
clímax da floresta úmida tropical. neas.

A vegetação dos mangues, ao contrá- Os extensos manguezais entre o rio


rio da vegetação das praias e dunas, é Amazonas e o rio Oiapoque são as-
constituíáa de vegetais que ocorrem sim descritos por Hueck ( 1972):
em solos de vasa, de formação recen- "Rhyzophora e Laguncularia, em opo·
te, de pequena declividade, sob a ação sição ao trecho mais meridional da
diária das marés de água salgada ou costa, são menos freqüentes aqui. Sem
pelo menos salobra. dúvida, a espécie que predomina é ·
Avicennia nítida ( siriúba) . Os man-
Os manguezais são floristicamente bas- guezais deste tipo são chamados siriu-
tante homogêneos, desde o' extremo bais. Seu aspecto fisionômico é com-
norte do Brasil até Santa Catarina. Do pletamente diferente dos manguezais
'ponto de · vista fisionômico apresen- ae laguncularia do sul do •Brasil. For-
tam variações quanto à altura dos in- ma-se aqui uma mata de grande uni-
divíduos, sendo que na região norte formidade, mais ou menos densa, de
suas espécies alcançam porte bem mais cerca de 20 metros de altura. Em lo-
elevado do que nas outras regiões, cais com baixo teor de salinidade vi-
constituindo verdadeira floresta. vem arbustos de Conocarpus erecta e
Bucida buceras que atingem 20 me-
Por ordem de afastamento do litoral tros. O sub-bosque é muito pobre em
são encontradas as seguintes espécies: espécies, como em todos os mangue-
mangue-vermelho ( Rhyzophora man- zais. Encontram-se: Arrabidea sp.,
gle), que atinge até 12 metros de al- uma espécie de bambu ( Guadtl4 sp.) ,
tura e possui raízes aéreas que, de- uma leguminosa arbustiva ou arbórea
vido ao solo lodoso e instável, garan- ( Machaerium lunatum) c uma sa-
tem-lhe sustentação. Suas raízes aéreas mambaia grande Acrostichum aureum,
são em parte ou totalmente recobertas onde o manguezal penetra para o in-
pelas águas da maré alta; mangue-si- terior ao longo dos rios em geral é mar-
riúba ( Avicennia schaueriana ou A. geada por uma faixa de "Pterocarpus
nítida) que pode atingir até 15 me- draco", cf. Hueck, op. cit.
tros de altura e ocorre numa área pou-
co atingida pelas marés e, finalmente,
no trecho mais estável porém ainda
lodoso, a tinteira ou mangue-branco - CONCLUSÕES -
(Laguncularla racemosa) e Conocar-
pus erecta. Além das espécies acima, A Região Norte, ao contrário das de-
conhecidas como mangues, as seguin- mais llegiões brasileiras, apresenta o
tes espécies são também características seu revestimento vegetal pouco altera-

88
do. Apenas em locais atravessados por algumas espécies de alto valor econô-
estradas nas áreas vizinhas aos a~lo- mico são fatos que indicam a necessi-
merados humanos e nas áreas agnco- dade da criação de meios de proteção
las, em geral muito pequenas, foi feito tanto aos recursos vegetais e paisagís-
o desmatamento. ~moora diminutas, ticos como à conservação dos solos.
em relação à imensa área coberta de
florestas, as experiências agrícolas in- 'l-A abertura da Transamazônica, um
dicaram a necessidade de um intenso dos acontecimentos mais importantes
trabalho de esclarecimento ao agricul- para a integração da Amazônia, repre..
tor regional, visando ao melhor apro- senta, por isto mesmo, uma séria preo-
veitamento dos recursos do solo. Os cupação. Embora tenham sido toma-
solos de "terra firme" são, no enten- das medidas para a restrição do des-
der da maioria de seus pesquisadores, matamepto das áreas ao longo das es-
bastante pobres, e, em conseqüência, tradas, sabe-se ser quase impossível
susceptíveis de rápido esgotamento manter a ação destrutiva apenas nas
quando submetidos à práticas agríco- áreas loteadas ou nas grandes pro-
las tradicionais, isto é, ao processo de priedades agropecuárias. Daí a neces-
queimada e coivara. A região da Bra- sidade da criação de um maior nú-
gantína, cuja cobertura florestal foi mero de reservas florestais, reservas
quase inteiramente retirada com a ins- biológicas ou parques, que deverão ser
talação de colonos ao longo da Estra- mantidos como verdadeiros santuários,
da de Ferro Belém-Bragança (hoje em que não só a flora como também
substituída por estrada de rodagem), a fauna deverão ser protegidos.
dá idéia do que poderá ocorrer em
quase toda a Região Norte. Os solos Atendendo à necessidade de preser-
empobrecidos depois de alguns anos var e reconstituir a vegetação no Ter-
de uso, mal dão para minguadas co- ritório Brasileiro o Governo Federal
lheitas de mandioca, sendo então repo- criou parques e reservas florestais em
voados por arbustos sem valor, for- várias áreas do Território Brasileiro.
mando ralas capoeiras. Estas, antes de Obedecem elas a quatro categorias:
proporcionar substancial melhoria do Parque Nacional, Reserva Biológica,
solo, passam novamente pelo processo Monumento Nacional e Floresta Na-
de queimada e, assim, sucessivas utili- cional ( Reservas Florestais ) .
zações reduzem os Jolos a uma areia Até o momento a Região Norte não
pura, quase estéril. possui nenhuma área com a categoria
Menos evidentes na paisagem do que de Parque Nacional.
a exploração para fins agrícolas, a re-
tirada de madeiras e a exploração dos As Reservas Florestais distribuídas em
seringais e castanhais nativos consti- diferentes áreas da Região Norte têm
tuem as atividades de maior significa- por fim "a proibição cfe atividades li-
ção na Região. gadas à utilização, perseguição, caça,
apanha ou introdução de espécies da
Apesar da imensa riqueza potencial da fauna e da flora silvestres e domésti-
Floresta Amazônica ( 600 espécies de cas, bem como modificações do meio
madeira de lei, segundo Ducke), a ambiente, ressalvadas as atividades
exploração madeireira mal foi inicia-. científicas devidamente autorizadas
da. Em alguns locais, entretanto, algu- pela autoridade competente", segundo
mas espécies já são escassas, desta- Magnanini, ref. 49 da Bibliografia. .
cando-se o pau-rosa, árvore que é sa-
São sete as reservas florestais da Re-
crificada para obtenção de óleo per- gião,
fumado e o mogno, cujas maiores re- das pela localizadas em áreas pouco afeta-
atividade humana:
servas encontram-se no oeste do Ma-
ranhão e norte de Goiás, áreas muito No Estado do Pará:
expostas à destruição.
1.0 Reserva Florestal de Caxiuaná, nas
A comprovada pobreza dos solos de proximidades da Baía de Caxiuaná,
"terra firme" e a possível extinção de entre os rios Xingu e Tocantins. Área

89
típica de floresta · hileiana com casta- da com a denominação de Caatinga e
nlieiras, maçaranduba, etc. Ocupa par- pela floresta hileiana.
te da várzea e parte da terra firme.
No T errit6rio de Roraima:
2.0 Reserva Florestal Gorotire, forma
um polígono irregular, compreendido 5.0 Reserva Florestal Parimo-, cujos li-
entre os rios Fresco ao norte, Xingu mites ao Norte atingem as elevações
ao norte e oeste e por segmento ao da serra de Pacaraima, na fronteira
paralelo de 8° ao sul. Ela engloba com a Venezuela. Compreende gran-
áreas de floresta decídua nos vales, des extensões de Cerrados e matas ci-
com ocorrência de mogno e Cerrados liares. Há poucas áreas de mata pro-
nos espigões. priamente dita.
3.0 Reserva Flore~l Mundurucdnia, No Território de Rond.,nia:
de forma bastante irregular, limitada 6. 0 Reserva Florestal do ]aru, situada
ao norte pelos rios Tapajós e das Tro- no vale do rio Machado, englobando
pas, estendendo-se no sentido NO-SE um grande trecho da floresta hileiana.
e englobando parte da "serra" do ca:.
chimbo. Ela compreende Cerrados nas 7.0 Reserva Florestal de Pedras Ne-
partes mais elevadas da "serra" do Ca- gras, situada na encoita da serra dos
chimbo e uma extensa área de flo- Parecis e no vale do Guaporé, englo-
resta. bando vegetação florestar hileiana e
Cerrados.
No Estado do Amazonas:
Dado a grande extensão da Região
4.0 Reseroa Florestal do Rio Negro, si- Norte e a fragilidade do seu equilibrio
tuada no alto rio Negro até atingir a ecológico, maior número de reservas
fronteira com a Colômbia. Ela é cons- florestais poderia ser implantado bem
tituída, em sua maior parte, por vege- como serem criados Parques Nacio-
tação arbórea baixa e aberta, conheci- nais. 1

NOTA DE REFER~NCIA

1 Grande . parte das listas de espécies aqui apresentadas foi obtida de trabalho inédito do
geógrafo Miguel Guimarlles de Bulhões.

90
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Boletim do Museu Goeldi, Belém Série Botânica, (7): 1·17, 1960.
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Editora Nacional, 1939, 668 p. il.

94
A

1- A BACIA AMAZONICA
NO QUADRO A

GEOTECTONICO E
HIDROGRÁFICO DO
CONTINENTE
SUL-AMERICANO
Abrangendo uma área de aproximada-
mente 6,5 milhões de km2 ( exclusive
a bacia independente do Tocantins-
Araguaia), a Bacia Amazônica se es-
tende, segundo Fernando F. M. de
Almeida. por dois grandes domínios
estruturais do continente sul-america-
no, isto é, pela vasta área cratônica
Brasília-Guiana, a leste, e pela Cordi-
lheira dos Andes, a oeste, incluindo-
se no último os sistemas extra-andinos
- os "Brasüandes", de Steinmann t.
"Sobre ela se alojam grandes bacias
sedimentares Paleoz6icas e Mesozói-
cas de reduzido tectonismo" escreve
este autor, acrescentando ser a mesma
uma "área que, desde o Siluriano, se
tem mostrado tectonicamente calma,
HIDROGRAFIA reagindo às ações diastr6ficas através
de manifestações de caráter epirogê-
LúCIO DE CASTRO SOARES nico e deformações locais por abaula-
mentos ( plis de fond) e falhamentos
de gravidade" 2.
Seu dilatado âmbito geográfico abar-
ca, assim, quatro granáes unidades
geotectônicas: a extensa bacia sedi-
mentar amazônica; a elevada cadeia
andina; e os velhos escudos cristali-
nos brasileiro e guianense 8 • Em seu
fundo encontra-se um dos seis grandes
doDlÍoios modoclimáticos brasileiros
caracterizados por Aziz N. Ab'Saber -
o domínio mqrfoclimático amaz6rúco,
constituído, segundo este autor, pelas
"terras baixas equatoriais florestadas
ou ainda o domínio dos "tabuleiros"
equatoriais florestados" 4 •
A calha coletora geral das suas águas
é o caudaloso Amazonas que se dis-
põe 110 longo do eixo de um geossin-
clinal produzido em terrenos do Pri-
mário e do Secundário, os quais foram,
por sua vez, cobertos por espesso man-
to de sedimentos do Terciário; cavan-
do, desde o inÍcio, o seu leito na imen-
sa bacia detrltica instalada dentro do

95
geossinclinal e suavemente inclinada mar se estendia, por um lado, à Bacia
para leste, o Amazonas viria a se trans- do Parnaíba e, por outro, ao Peru e
formar, no decorrer do Quaternário, Bolívia.
em "um grande rio conseqüente-mes-
tre", segundo Ab'Saber 5 • Foi a última ingressão marinha no in-
terior da Amazônia que passou ao re-
A origem da bacia hidrográfica ama- gime continental.
zônica é, sensu lato, a da própria bacia Se o quadro paleogeográfico esboçado
sedimentária amazônica, surgida na era for correto, a presença na bacia do
terciária pelo entulhamento do imenso Acre apenas do terreno Carbonífero e
"lago" de água doce então alojado no a prática ausência dos terrenos Pa·
gigantesco "anfiteatro" compreendido leozóicos na bacia de Marajó devem-
entre as "ilhas" Arqueanas do norte e se à erosão.
do sul do equador, o geossincUneo an-
dino, a oeste, e, segundo Mesner & A alternativa é de a Bacia do Amazo-
Wooldridge, o "horst de Gurupá" que nas ter-se comportado como a única
separava as bacias sedimentárias do área subsidente até o fim do Carbo-
Médio Amazonas e de Marajó 8 • nífero, época em que o mar ocupou
as bacias do Acre e Marajó.
Numa feliz tentativa de síntese da evo-
lução geológica do vale do Amazonas, Então os sítios das bacias do Acre e
Marajó ter-se-iam mantido emersos
escreve Josué Camargo Mendes: até o fim do Carbonífero. No fim do
"Formaram-se, em primeiro lugar, os Paleozóico passaram ao regime con-
escudos Brasileiro e das Guianas que tinental todas as bacias.
PQ<iem ter-se mantido unidos até o Os sedimentitos cretáceos das bacias
início do Paleozóico. sedimentares, embora nllo se possa es-
tar certo disso no caso do Acre, gera-
No Siluriano o sítio da atual Bacia do ram-se de sedimentação fluvial e lacus-
Amazonas sofreu subsidência, talvez tre. Pelo menos uma parte dos rios
acompanhada de falha.mento, transfor- dessa época demandava o mar a leste,
mando-se em uma grande calha de di- num arremedo do futuro Amazonas, a
reção leste-oeste. julgar pelas grandes espessuras dos se-
dimentitos Cretáceos deltaicos da bacia
Ocupou-a, então, o mar, talvez o mar de Marajó.
que invadiu a bacia do Parnaíba. :E:
pouco provável, mas não impossível, No fim do Mesozóico os depósitos do
que também mantivesse conexão a oes- geossinclíneo andino sofreram nova
te com a bacia andina. fase orogenética. Pode ter sido essa a
causa do dobramento das camadas ba-
Deu-se, após, a exondação da bacia do sais do Acre.
Amazonas, que perdurou até o início
A~s o clímax da orogênese andina, no
do Devoniano, quando houve nova irucio do Terciário, formou-se a vasta
subsidência. cobertura sedimentar moderna da
Com gJ'8Dde probabilidade, o mar De- Amazônia, enquanto as falhas da fos-
voniano da Amazônia se continuava na sa de Marajó se reativavam, aprofun-
dando sucessivos depósitos Cenozóicos.
bacia do Parnaíba e, aparentemente, A drenagem que acumulou tais alu-
ligava-se, a oeste, com a bacia andi- viões deve ter sido muito similar à ho-
na. Entre as rochas acumuladas figu- dierna.
ram as que geram petróleo.
"O atual Amazonas e seus tributários
Após outro longo intervalo de exon- alargaram seus vales nesses antigos de-
dação. retomou o mar à Bacia do Ama- pósitos fluviais e passaram, por sua vez,
zonas no fim do Carbonífero. Suge- a aluvionar na imensidão das suas
rem os dados paleontológicos que esse várzeas" 7 •

96
2 - O TECTONISMO E O cudos cristalinos) do continente e,
ainda, a disposição do próprio rio Ama-
EUSTATISMO NA zonas ao longo do eixo de um geossin-
DRENAGEM REGIONAL clinal muito fraturado (fossa interes-
cudal cratônica, segundo Loczy, for-
Com cerca de 2 milhões de km2, aba- mando extenso e complexo graben),
cia sedimentar amazônica representa cara<.:terizam-na como sendo, no seu
uma vastíssima extensão de terras bai- conjunto, uma região de drenagem ori-
xas, a maior do País, cobertas por flo- entada pela tectônica.
restas pouco acessiveis e esparsamen- Com efeito, os ângulos, com vértices
te habitadas, onde o Amazonas tem voltados para leste, formados com o
3/4 do seu curso e onde se encontra Amazonas por seus tributários mais
quase toda a rede naturalmente nave-
gável da sua bacia; estreita a leste importantes por ambas as margens,
(costa atlântica), vai se alargando con- mostram uma nítida adaptação da dre-
sideravelmente para oeste, até os flan- nagem às linhas de falhamento, orien-
cos orientais dos Andes, limitando-se tadas na direção NNW-SSE (margem
ao norte e ao sul com os planaltos esquerda) e na direção SSW-NNE
Guianense e Brasileiro 8 • (margem direita ) , direções gerais es-
tas que são as do fraturamento pro-
A adaptação da rede hidrográfica duzido pelos arqueamentos epirogêni-
amazônica às grandes linhas de aobra- cos principais dos escudos brasileiro
mento (parte andina) e de fratura ( es- e guianense ( Fig. 1)

LINHAS DE ELEVAÇÃO OU DOBRAMENTO


UNHAS DE ELEVAÇAO OU DOBRAMENTO INCOMPLETAMENTE
I VERIFICADAS- ( Seo. EVANS)
'- .... 1
I
........ -.. DIRECAO DE ARQUEAMENTO PRINCIPAL
I

Fig. 1 - Croqui tectônico da Bacia .Amuauica, segundo Evans, com as direções dos arquea-
mentos priDc:ipais. Note-se a acentuada dissimetria da bacia, resulante do tectonismo, bem
como a disposição do rio Amazonas ao longo do eixo de um geossinclinaJ. (Extrafdo de
Freltas, ref. 18 da Bibllografla).
São exemplos de grandes rios de vales acentuada dissimetria. Por outro lado,
estruturais o Negro e seu afluente o o abaulamento, de grande raio de cur-
rio Branco, o Uatumã, o Trombetas, o vatura, sofrido durante a orogênese
Paru e o Jari (direção NW-SE), bem andina pelo escudo brasileiro, seria o
como o Javari, o Puros, o Madeira-Be- responsável pela considerável extensão,
ni-Madre de Dios, o Tapajós e o Xin- por vezes superior a 1.500 km, de al-
gu-lriri (direção SW-NE}; tal adap- gun~ rios da vertente meridional da
tação é particularmente observada nos bacm.
médio e baixo cursos de muitos outros
rios da Bacia Amazônica. Por terem os grandes tributários do
Amazonas suas bacias alojadas sobre
A disposição E-W (a "direção amazô- os desgastados maciços guianense e
nica", de Ruellan) do socle guianense, brasileiro, "rebaixados pela pediplana-
assim como a proximidade deste escu- ção neogênica e reentalhados pela evo-
do cristalino em relação à calha do lução geomorfológica comJ>lexa do
Amazonas, fizeram com que seus tri- Quaternário", segundo Ab'Saber 9 , são
butários setentrionais tivessem, naque- freqüentes os casos de epigenia, estes
le trecho, menor percurso, disso resul- evidenciados por numerosas gargantas
tando apresentar a Bacia Amazônica que cortam cristas monoclinais e por

Fig. 2 - Garganta epigênica produzida pelo rio Juruena Jogo a jusante da cachoeira de
São João da .Barra (extremo-norte de Mato Grosso), no ponto em que o rio corta uma crista
arrasada e formada por rochas do embasamento cristalino do planaJto sul-americano.

98
Fig. 3 - Padronagem da hidrografia sobre o platô terciário amazônico entre os rios Negro e
Solimões, segundo Stemberg, p. 522 ref. 66 da Bibliografia.

incontáveis rápidos e corredeiras for- cesso lento de restabelecimento do


mados por camadas rochosas mais re- equilíbrio isostático 10 ainda em curso,
sistentes à erosão fluvial e orientadas como constatou Antônio Teixeira
nas direções gerais NW-SE e NE-SW Guerra há duas décadas, na cidade de
( Fig. 2) . Dessa adaptação à estrutura Rio Branco, capital do Acre 11 •
resUltou uma padronagem acentuada-
mente ortogonal da drenagem secun- Em conseqüência das regressões mari-
dária amazônica. nhas manifestadas no Quaternário An-
tigo, houve forte encaixamento do
Tal padronagem orientada pela tectô- Amazonas e de toda a sua rede hidro-
nica é também, com freqüência, encon- gráfica nos sedimentos Terciários ( Fig.
trada, com as direções já referidas, na 5 ); os leitos dos cursos d'água cavados
rede hidrográfica dos terrenos Terciá- nesses sedimentos foram aprofundados
rios amazônicos, o que levou Hilgard pela erosão remontante durante as os-
O'R. Stemberg ( Fig. 3) a supor um cilações glácio·eustáticas marinhas qua-
tectonismo resultante do abatimento do ternárias ( estas devidas à formação ou
embasamento cristalino ( provavelmen- fusão de grandes massas de gelos con-
te já fraturado pelo diastrofismo gond- tinentais) e tiveram os vales dos seus
wAnico) sob a ação da enorme sobre- trechos finais "afogados" pela subida
carga produzida pela massa de sedi- das suas águas, em virtude das trans-
mentos sobre ele acumulados desde os gressões que sucederam aos diversos
princípios da era Paleozóica ( Fig. 4); abaixamentos do nível de base oceâni-
esses abatimentos, observados desde co e que foram igualmente responsá-
fins do século XVII, operar-se-iam, se- veis pela construção das várzeas ama-
gundo este autor, devido a um pro- zônicas, como bem explica Sioli 12 •

99
Fig. 4 - Adaptação da rede fluvial amazônica à estrutura, no platb Terciário (padronagem
or~o&onal). Note-se o alargamento dos trechos finais (afogados) ciOs afluentes de pouca exten-
sio, devido à eJOsio de vertentes resultante das variações gJácio-eustáticas do nível de base
marinho. O espesso manto florestal oculta quase totalmente o curso superior dos pequenos
afluentes.

Reâlmente, os últimos trechos "afoga- Quem primeiro admitiu a existência


dos" do Xingu, Negro, Coari, Tefé e de "rias fluviais" recortando as bordas
Anapu (o deste rio veio a formar a dos baixos tabuleiros arenosos que
grande "baía" de Caxiuaná), para ci- margeiam o leito maior do Amazonas
tar somente os mais expressivos exem- foi Pierre Denis ( 1927), que tentou
plos, assemelham-se, por sua forma, explicar a origem das mesmas pelas
largura e profundidade, a rias mari- oscilações eustáticas do continente. 14
nhas em costas baixas. Deve-se, porém, a Francis Ruellan a
explicação dos processos que realmen-
As "rias fluviais", ou interiores, am~ te deram causa às "rias" interiores ama-
nicas apresentam notáveis despropor- zônicas, oú seja, aqueles relacionados
ção entre suas larguras e extensões e as com as variações glácio-eustáticas qua-
dos cursos d'água que para elas fluem ternárias do nível de base atlAntico 115•
( Figs. 5 e 6); Pierre Gourou descre-
veu-as como sendo vales encaixados e Segundo Ruellan, as "rias" interiores
muito digitados, cheios de água doce amazônicas formam uma série de va-
e com vertentes muito íngremes 1a les fluviais muito ramificados, invadi-

100
FIG.5

Fig. 5 - Exemplos de antigas "rias fluviais" na Planicie Amazônica. Observe-se a despro-


porção existente entre as suas larguras e comprimentos e os dos cursos d'água que para elas
fluem. Fonte - Carta do Brasil ao Milionésimo (Folhas Manaus, Santarém e Belém) - mGE.

dos por água doce e não colmatados, Tal fato, acrescenta Ruellan, não é par-
não apresentando grande modificação ticular ao Amazonas: a formação dos
após a sua formação. aluvionamentos Terciários é uma se-
qüência relativa dos movimentos alter-
Explicando a sua origem, este geomor- nados do nível do mar e dos continen-
fólogo lembra que, por ocasião das tes, correspondendo às oscilações de-
grandes glaciações, o nível do mar nominadas na Europa baixo Monaste-
abaixou-se (mais de 100m em Würm), riano e pré-F1andriano, esta última cor-
acarretando uma retomada de erosão respondente à Würm. Algumas dessas
fluvial. Esses fatos foram evidenciados oscilações se colocariam, perto de nós,
pelos terraços de 100, 50, 40, 30, 20, 8 a cerca de 9 mil anos.
e 4 m (os três últimos existentes na ilha
de Marajó e nas proximidades de Be- As "rias marinhas", conclui Ruellan, são
lém), representando os diversos de- evidências dos abaixamentos do mar,
graus de dissecação ligados aos aluvio- como o são as "rias fluviais" interiores
namentos do fim do Terciário. amazônicas.

101
o lkm

SONDAGENS EM METROS

S. Raimundo
+ lg.N.S. de Fáti ma

MANAUS

31
35 26

28 34
3J

31
31 Educandos
38
17
33

28 31 32 33 44 30 36

Fig. 6 - Os terra90s que servem d.e Sítio à capital do Estado do Amazonas são sulcados por
duas recortadas e profundas "rias" do rio Negro. (Reproduzido, com simplificações, da Carta
de Praticagem 4.100 (Porto de Manaus), da Diretoria de Hidrografia e Navegação).

Fig. 1 - Mouthbay (Sioli) do rio Arapiuns, afluente do baixo Tapaj6s. Note-se as franjas
brancas fonnadas pelas praias deste 'rio de água preta' . Foto aérea de H. Sioli.

102
Fig. 8 - Um pouco acima da sua mouthbay, o rio Arapiuns ocupa um vale afogado em
fonna de meandros-de-vale. Foto e legenda de H . Sioli.

Aos trechos finais, muito dilatados ( an- de embocadura) ou, como prefere, ri-
tigas rias fluviais), dos rios de águas ver-lakes (rios lagos), observando fur-
"claras" ou "pretas", tributários diretos marem os mesmos aspectos muito pe-
ou não do Amazonas, Sioli expressiva- culiares na paisagem amazônica. 16
mente denomin~ mouthbays (baías (figs. 7 e 8).

Fig. 9 - O litoral muito recortado, com numerosas ilhas ·e estuários com a forma de funil,
compreendido e.ntre as baías de Maraj6 (Pará) e de São Marcos (Maranhão), apresenta-se
como uma baixa costa de ria talhada em terrenos Terciários da série das Barreiras e do
Quaternário antigo. (Fonte: - Carta do Brasil ao Milionésimo (Folha São Luís) - ffiGE).

~20
o

o 20km
I

lOS
Em conseqüência, portanto, dos movi· sendo raros os trechos em que o seu
mentos regressivos do oceano, o Ama· talvegue está entre 60 e 90 m (Tah. 3);
zonas e seus afluentes mais caudalosos nos baixos cursos de seus afluentes, a
tiveram seus leitos profundamente en- profundidade chega a atingir 25 me-
caixados nos sedimentos Terciários. Se- tros.
gundo as sondagens procedidas pela
Marinha de Guerra Brasüeira, de 1966 Da colmatagem dos leitos planiciários
a 1969, a profundidade do Amazonas do Amazonas e de seus afluentes re-
chega a atingir a mais de 100 m, não sultaram extensas planícies aluviais -

Fig. 10 - Situação do cmyon submarino do Amazonas no primitivo deltoa deste rio e hoje
localizado na borda da platalonna contineotaJ. A reentrAncia fonnada pela curva batimétrica
de 10 metros, em frente ao estuário amaz6oico, estaria a iodicH as margens do antigo canal
desa~or do Amazonas, quando da última regressão marinha. (Extraído de MM-DHN, ref.
11 dá Bibliografia).

0~·--------------1-Joqkm

ILHA DE MARAJÓ

104
as várzeas - que, entrecortadas por Da sedimentação processada nas ca-
paranás e furos e semeadas de nume· lhas fluviais amazônicas resultou a
rosos lagos e lagoas formam, em seu barragem de grande número de bocas
complexo conjunto fisiográfico, a "pla- de vales submersos ("rias fluviais")
nície amazônica propriamente dita." não s6 de tributários diretos do Ama-
segundo Pedro de Moura; nelas a pre- zonas mas também de afluentes des-
sença multiforme da água é uma cons- tes, transformando-se tais "vales afo-
tante, mesmo no período da vazante, gados" em profundos, alongados e ra-
dando a impressão, quando vista de mificados lagos de água "limpa" ou
grande altura, de ser uma vasta exten- "preta", dos quajs os maiores são os
são alagadiça, onde o elemento líquido das embocaduras dos rios Coari, Tefé,
parece dominar sobre as terras, como Piorini, Amanã e Urubu, todos de mar-
bem observa Ab'Saber, ao chamar a gens altas e com forte declive. Tais
atenção para o contraste que elas ofe- margens, fluviais ou lacustres, são,
recem em relação ao baixo platô sedi- na maioria dos ·casos, bordas de terra-
mentar florestado, no qual se acham ços mais antigos (alguns atualmente
embutidas 17 • na retaguarda da planície de inunda-

Fig. 11 - Entre as isóbatas de 50 e 80 metros e a uns 150 quilômetros da costa, as pesquisas


oceanográficas da Expediçiio Ceomar li localizaram o pró-delta do rio Amazonas, próximo
ao seu primitivo delta, onde se encontra o seu profundo e recurvado canyon sul:imarino.
(Extraído de MM-DHN, ref. 11 da Bibliografia).

o 30 kM

GEOMAR l i
Conven~Oes
Fig.ll
LABOftATÓfiiO DE GEOLOGIA MARINHA - · - I n icio do BOTTOMSET
INSTITUTO DE GEOCtl:NCtAS U f R J - - f r o n t e do DELTA
.......... Limito do fundo LAMOSO com fundo ARENO·LAMOSO
AGOSTO • 1911 ou LAMO·ARENOSO

105
ção ), assinalando vanaçoes pretéritas plataforma continental, ao largo da foz
do nível de base atlântica 18• do Amazonas e a cerca de 200 km da
costa sul do Amapá. Este vale subma-
O último abaixamento do nível de base rino, de uns 70 km de comprimento
oceânico teve como conseqüência o e 5 km de largura média, acha-se em
encaixamento do rio Amazonas em an- seu primeiro terço disposto na direção
tigos terraços provavelmente do Pleis- SW-NE, infletindo depois para E, até
toceno, no que foi acompanhado pelos o limite da plataforma, e está delinea-
seus tributários; desse encaixamento do, em toda sua extensão, pela isóbata
resultaram margens ~ltas e de perfil de 150 m, em sua borda, e pela isóbata
abrupto, talhadas em argilas fortemen- de 200 m, em seu fundo; a menos de
te endurecidas por diversos estágios de uma dezena de quilômetros e a noroes-
laterização, como pode ser observado te do mesmo, os registros ecobatimétri-
na cidade paraense de Gurupá, cujo cos do N. Oc. Almirante Saldanha des-
Sítio é um terraço de 6 a 8 m de altura, cobriram um outro vale submarino um
formado pelo que restaria de um anti- pouco menos profundo ( 150 m), de-
go dique marginal do Amazonas t&. senvolvendo-se por uns 60 km de SW
para NEE. Este vale e aquele canyon
As variações do nfvel atllntico deixa- - denominado Canyon do Amazonas
ram igualmente evidências no litoral - estão talhados no primitivo delta ou
amazônico. Com efeito, uma baixa cone do Amazonas 21 ( Figs. 10 e 11) .
"costa de ria" (com falésias talhadas No croqui da figura 10 a curva bati-
pela abrasão em terrenos da série métl·ica de 10 m parece mostrar as
Barreiras) se estende nos litorais do margens do antigo canal desaguador
leste Paraense e do noroeste do Ma-
do Amazonas; lançado, como o seu pri-
ranhão, ( Fig. 9), por mais de 400 lan
no litoral da chamada "Amazônia Ma- mitivo delta, na direção geral SW-NE,
ranhense" se destacam, pela sua gran- este canal submarino estaria a indicar
deza e penetração no continente, as uma adaptação à estrutura do trecho
"rias" formadas pelas embocaduras final do Amazonas submerso pelas úl-
afuniladas do rio Turiaçu (baía de Tu- timas transgressões marinhas .
riaçu), dos rios Pericumã e Itapetinga
(baía do Cumã), bem como as dos As expedições oceanográficas GEO-
rios Mearim (baía de São Marcos) e MAR I e II revelaram, peJa primeira
ltapicuru (baía de São José), as duas vez, os principais aspectos da geomor-
últimas separadas pela ilha de São fologia submarina da porção da plata-
Luís. forma continental fronteira ao estuário
do Amazonas, a qual "apresenta uma
Evidências das variações glácio-eustá- superffcie de gradiente muito regular
ticas que afetaram a drenagem da Ba- e reduzido, da costa até aproximada-
cia Amazônica são também encontra- mente a isóbata de 00 m. A partir des-
das na porção da plataforma continen- ta profundidade, o gradiente acentua-
tal situada em frente ao golfão Ama- se até a profundidade de 75 metros
zônico ou Marajoara. (Zembruscky, Gorini, Palma é Costa).
A partir daí o fundo apresenta-se com
Sondagens realizadas pelo Navio Ocea- irregularidades e acha-se em faixa de
nográfico Almirante Saldanha - ao se- profundidade entre 70 e 85 metros" 22;
rem levadas a efeito as Operações as características geomorfo16gicas dos
GEOMAR I ( 1969) e GEOMAR 11 níveis de O a 00 m e de 70 a 85 metros,
( 1970) 20, programadas Pela Diretoria bem como o dimensionamento de sedi-
de Hidrografia e Navegação da Mari- mentação nestes dois nfveis são, igual-
nha Brasileira - revelaram a existên- mente, encontradas neste relatório dos
cia de um canyon submarino próximo resultados da "Operação GEOMAR
à borda ou quebra ( shelf break) da 11".

106
Fig. 12 - Com uma área superior a 6 milhões de km' e uma extensão navegável da ordem
de 20 mil km, a gigantesca Bacia Amazônica apresenta a maior, a mais rica e mais densa rede
fluvial do mundo. Extraído de MT-DNPVN, ret. 9 da Bibliogratia.

3 - EXPRESSÃO lume da água doce de todo o planeta,


o rio Amazonas é a artéria fluvial de
CONTINENTAL DA maior vazão já medida, carregando 15
BACIA AMAZÔNICA a 20% da água que todos os rios do
mundo conduzem aos oceanos.
Em virtude do predomínio do clima A expressão continental da Bacia Ama-
de elevada pluviosidade na quase tota- zônica reside no fato de ela drenar
lidade do seu imenso território, a Bacia aproximadamente 1/4 da superfície da
Amazônica apresenta a mais densa e América do Sul, abrangendo seis dos
rica rede de drenagem conhecida, do onze países sul-americanos ( Fig. 12);
que resulta possuir a Região Amazôni- no Brasü, sua importância decorre do
ca o maior sistema fluvial da Terra. papel que ela desempenha na circula-
ção da Região Norte, graças às excep-
Recolhendo grande parte da precipita- cionais condições de navegabilidade
ção pluvial do Globo, os rios da Bacia oferecidas pela sua abundante rede de
Amazônica são permanentemente cau- drenagem. Realmente, como estradas
dalosos; escoando cerca de 1/5 do vo- liquidas q'l.le cortam, em todas as dire-

107
ções, o denso manto florestal que reco- realidade, divisores cristalinos forte-
bre quase inteiramente a grande re- mente rebaixados pela erosão), têm
gião, seus rios vêm contribuindo, há suas cabeceiras em brejos e banhados
mais de trezentos anos, para o devas- que são também as nascentes de for-
sarnento e ocupação da Amazônia bra- madores de grandes rios da vertente
sileira. norte do maciço das Guianas; um des-
ses brejos é a fonte comum dos rios
Não obstante possuir uma drenagem Trombetas e Essequibo.
nitidamente do tipo exorréico, a Bacia
Amazônica apresenta a singularidade Duas ligações são encontradas, ao sul,
de comunicar-se com outras grandes com a Bacia Platina, unindo as bacias
bacias hidrográficas sul-americanas, do Guaporé e Paraguai, resJ>eetivfl
por vezes através de verdadeiras anas- mente pelos seus formadores Alegre e
tomoses entre diferentes sistemas flu- Aguapeí, este último afluente do Jau-
ru; fazem-se pela lagoa Rebeca e pelo
viais. Grande Tremedal, oferecendo navega-
A ligação mais conhecida é aquela fei- ção a barcos de reduzido calado na
ta por meio do canal Casiquiare, que epoca das cheias.
estabelece comunicação permanente A intercomunicação mais central d~t
entre as Bacias Amazônica (rio Negro) América do Sul verifica-se entre as Ba-
e orinocense (rio Orinoco), permitin- cias do Amazonas e do Paraná e acha-
do navegação por pequenas embarca· se numa pequena área brejosa, semila-
ções durante todo o ano 23; entre estas custre, situada nos confins ocidentais
duas bacias existem mais quatro inter- da chapada dos Parecis (Mato Gros-
comunicações fluviais. so), interligando formadores do Jurue-
na e do Paraguai; no Brasil Central es-
Ainda nos limites setentrionais da ba- tas áreas brejosas de cabeceiras, en-
cia há outros casos de defluviação, co- contradas sobre chapadões campestres,
mo o verificado nas cabeceiras do rio recebem o nome de "águas emenda-
Madalena, a principal artéria fluvial das", por estabelecerem ligação entre
da Colômbia; faz-se por meio de dois as águas de diferentes bacias fluviais u.
lagos andinos, situados a 3. 500 m de
altitude e de onde manam as águas do No quadro hidrográfico sul-americano,
rio Caquetá, este um dos mais impor- a Bacia Amazônica figura com um ren-
tantes tributários ocidentais do Amazo- dimento 211 variando entre 436,7 e 618,8
nas e denominado Japurá em terras milímetros por ano, depois da bacia
brasileiras . do Madalena, esta a detentora do
maior rendimento do continente, ou se-
As interligações de bacias hidrográfi- ja, 982,6 mm/ ano; o maior rendimento
cas sobre os escudos cristalinos perifé- do mundo - 995,5 mm/ ano - é o apre-
ricos à Planície Amazônica são uma sentado pela bacia do Irrawady, a
conseqüência do rebaixamento sofrido grande artéria fluvial de Burma.
pelos mesmos, devido à forte pedipla-
nação que, em determinadas áreas, os Graças à descomunal descarga do
colocou praticamente ao nível dos ta- Amazonas, a América do Sul - com
buleiros Terciários da Bacia do Amazo- um rendimento variando de 404,1 a
nas, como ocorre com o pediplano do 484,8 mm/ ano - é o Continente que
alto rio Negro, onde se verifica, entre oferece o mais elevado rendimento mé-
outras, a interligação estabelecida pelo dio ( 32,9$) dentre as demais extensões
canal Casiquiare. continentais, cujos rendimentos total
e médio são, respectivamente: Europa
Alguns formadores de afluentes seten- - 285,7 mm/ano e 19,4%; ÁSia -
trionais do curso inferior do Amazo- 283,8 mm/ ano e 19,3%; América do
nas, que nascem nas chamadas "serras" Norte - 200,9 mm/ano e 13,6%; e
de Tumucumaque e Acaraí (estas, na África - 186,7 mm/ ano e 12,7% 2e.

108
@OS CONDICIONAMENTOS tidade média anual de chuva apresen-
ta um índice muito elevado, e sua dis-
DO CLIMA. REGIMES. AS tribuição geográfica está intimamente
CHEIAS DO AMAZONAS ligada à ação das massas de ar,Jrinci-
palmente à massa Ec ( Equatori Con-
tinental), que ocupa grande parte do
tô regime dos rios da Bacia Amazôni- território durante largo período do ano,
ca está, antes de tudo, condicionado ao Provocando precipitações abundantes
regime pluvial reinante nesta vastís- sob a forma de grandes chuvas de con-
sima área geográfica, muito embora o vecção" 28
Amazonas e seus formadores extremo-
ocidentais de origem andina tenham Cortada pelo círculo do equador em
também uma alimentação nival. A sua porção extremo-norte, a Bacia Ama-
água proveniente do derretimento pri- zônica sofre, portanto, a influência do
maveril das neves andinas representa, regime oluvial dos dois Hemisférios: no
porém, uma contribuição bem peque- Verão austral a vasta porção meridio-
na quando comparada com o formidá- nal ela bacia, cerca de seis vezes maior
vel volume d'água que cai na grande que a setentrional, recebe maior quan-
bacia; além disso, há uma certa regu- tidade de chuva que esta última, ocor-
laridade na alimentação da rede hidro- rendo o inverso no Verão boreal, quan-
gráfica am~nica pelo degelo andino. do as precipitações são mais abundan-
Estudando os fatores do regime dos tes na porção setentrional.
rios brasileiros, Maurice Pardé assim
se refere à inexpressiva contribuição Tal alternblcia é devida aos desloca-
oferecida pelo derretimento nival an- mentos anuais a que está submetida a
dino ao regime do Amazonas~..A neve massa Equatorial Continental ( Ec),
não exerce papel algum como fator originada na "zona ciclonal interior"
hidrográfico no interior do Brasil; ela (segundo a denominação de Serra &
pode, fora do Pais, no extremo oeste Ratisbonna) formada, por seu turno,
da rede amazônica ter alguma impor- na parte sul da Região Am~nica e na
tblcia nas áreas andinas, porém este Região Centro-Oeste do BrasU, pelo
aspecto é insignificante na gigantesca superaquecimento do solo nestas duas
superfície de'5 e meio milhões de qui- Regiões do Continente. "Esta massa Ec
lômetros quadrados que drena o Ama- tem sua origem na área aquecida e co-
zonas", escreve este autor, acrescen- berta de vegetação florestal do conti-
tando que "as pulsações devidas à nente sul-americano, onde dominam as
neve, lúnitadas portanto a pequenas calmarias e os ventos fracos", escreve
áreas, não teriam influência marcante, Marília Galvão, acrescentando tratar-
ao lado das flutuações sazonárias das se a mesma de "'uma massa estável de
chuvas no Solimões e mesmo talvez no elevada umidade e temperatura que,
Maraiion inferior" 27 no período de Verão (austral), cobre
toda a região central do Brasil e países
Assim, a explicação do regime dos rios vizinhOS"" ao norte do trópico, ficando
amazônicos está no pr6prio regime das limitada a oeste pelos Andes e a leste
chuvas caídas na bacia, este dependen- pela Frente Intertropical ( FIT), pro-
do, por sua vez, do comportamento da duzindo chuvas e trovoadas quase diá-
circulação geral atmosférica dentro da rias" 29• Já no Invemo austral dá-se o
zona intertropical sul-americ:ana, isto deslocamento para o norte da massa
é, dos deslocamentos das massas de ar Equatorial Continental (Ec), que nes-
nesta larga faixa climática. ta quadra do ano se instala no Hemis-
fério Norte, a noroeste da Bacia Ama-
A dinâmica da circulação geral atmos- zônica, sem contudo muito se afastar
férica da faixa intertropical onde se en- do equador.
contra a América do Sul, amplamente
estudada por Serra & Ratisbõnna em Vê-se, assim, que a alimentação plu-
1942, foi bem caracterizada por Ma- vial dos rios das vertentes norte e sul
rilia Velloso Galvão: "Na Região Ama- da Bacia Am~nica é garantida, alter-
zônica, escreve esta geógrafa, a quan- nadamente, pelas migrações no senti·

109
ENCHENTE-I
53 I
:;;~; I

VAZANTE- -1
I 35
I
I
I
27
I
I
I
I
I
13 I
I
I
Fi~. 13 - Freqü&k:ia
(numero de vezes por I
5
mês) das cotas m4ximas I
das enchentes do rio
Amazooas, pró'limo à
foz do rio Negro, no o !- !- > N Z >
periodo de 1900 a 1973. ~
UJ
(J)
:::>
o oz UJ
o <l
..., UJ
I.L

do dos meridianos, da massa Equato- e a periodicidade de suas máximas re·


rial Continental, cujas chuvas são mais sulta do papel preponderante que exer-
abundantes e constantes na porção oci- cem sobre o regime do rio os seus aflu-
dental da bacia, pois esta parte é o entes meridionais. Mas como não coin-
domínio, praticamente durante todo o cidem as cheias destes com as dos da
ano, da massa Ec, portadora de copio· margem setentrional (pelo fato de os
sos aguaceiros de convecção. primeiros pertencerem ao Hemisfé-
rio Austral e os segundos ao Hemis-
.;(A alternância de períodos chuvosos, fério Boreal) dá-se uma compensação,
ao sul e ao norte da Bacia Amazônica, vulgarmente conhecida pelo nome de
garante, pois, uma alimentação farta "interferência" 30 •
e permanente do rio Amazonas o ano
inteiro, fazendo com que as oscilações t'com efeito, a subida das águas dos
do nível das suas águas apresentem afluentes meridionais do Amazonas
uma amplitude bem menor do que tem início em outubro ou novembro -
ocorreria se ele fosse subordinado a em conseqüência das grandes chuvas
um único regime pluvial.-\' caídas na porção sul da bacia, no Ve-
rã o austral - áo passo que o engros-
Há, portanto, um fator moderador que samento dos seus tributários, que têm
mantém, durante todo o ano, o gran- suas bacias situadas no Hemisfério Nor-
de volume d'água dentro do seu largo te, dá-se em abril e maio (águas pro-
e profundo leito, impedindo variações venientes das copiosas chuvas tomba-
mais acentuadas da sua lâmina d'água. das nesse Hemisfério, no Verão bo-
Este re1atwo equilíbrio hidrostático de- real), quando, então, a vazante já vai
corre, como vimos, do fato de a Bacia adiantada nos altos cursos dos afluen-
Amazônica abranger dois Hemisférios, tes meridionais a~
nos quais as estações chuvosas se al-
ternam, devido ao deslocamento anual As cheias dos afluentes meridionais
da massa Equatorial Continental de prolongam-se por uns quatro meses,
um Hemisfério para outro. Observa até março, aproximadamente, e as dos
Delgado de Carvalho que "a relativa tributários setentrionais até julho, don·
moderação das enchentes amazônicas de as águas das cheias dest~s últimos

110
ainda encontrarem ·no leito do Amazo- ~epois qo "repiquete" há a segunda
nas as águas das enchentes dos aflu- época de diminuição de pluviosidade
entes da sua margem direita; desse en- (fevereiro) quando o rio baixa às ve·
contro de águas de cheias alternadas zes apenas alguns metros, enquanto
- a "interferência" 32 - resulta o intu- que outras vezes alcança nível ainda
mescimento máximo do Amazonas, isto mais baixo que na vazante de setem-
é, a sua enchente propriamente dita, bro. Cumpre salientar que os dois pe-
a qual, nos seus cursos planiciários de- ríodos de diminuição de pluviosidade
nominados "médio" ( Solimões) e "bai- não são, de maneira a1guma, estações
xo" (Amazonas), ocorre com mais fre- secas propriamente ditas, pois no alto
qüência no mês de junho: .53 vezes em Amazonas, mesmo nestes períodos, as
71 anos ~e observação ( 1903-1973); 13 chuvas são quase que diárias, princi-
vezes em julho; e somente 2 vezes em palmente no Outono, estação em que
maio ( Fig. 13). ocorre o máximo de pluviosidade" M.
~s vazantes do Amazonas têm início, No seu trecho conhecido regionalmen-
via de regra, na segunda quinzena de te como "baixo Ama-zonas', o nível
junho e atingem a sua cota mínima mais alto das águas do Amazonas é.
geralmente em outubro e novembro, todavia, observado com mais freqüên~
respectivamente, 35 e 27 vezes em 72 cia em maio, apresentando ali as cheia'>
anos de observacão ( 1902-1973 ), 9 uma antecedência com relação ao apo-
vezes em dezembro e somente uma geu das águas do Solimões e médio
vez em setembro. · Amazonas (trecho compreendido entre
as embocaduras do Negro e Trom-
Devido ao fenômeno da "interferên- betas).
cia", o Amazonas, embora alimentado
por dois regimes pluviais desencontra- O ingurgitamento máximo do baixo-
dos, tem uma única enchente; como Amazonas em maio seria provocado
observou Pardé, "na maior parte do ' pela cheia do Tapajós (que atinge seu
Amazonas, no Brasil pelo menos, o nível mais alto em abril e maio, em
gráfico das médias mensais apresenta virtude do auge do período chuvoso
um só ápice e uma só descida" 33 . ocorrer em abril), sendo reforçado
pelo afluxo das águas das cheias dos
l'No período em que a vazante é mais afluentes oriundos do Planalto das
acentuada, as águas do Amazonas ex- Guianas (Trombetas, Cuminá, Curuá
perimentam, em seu curso inferior, e Maicuru), cujas bacias têm seus má-
uma pequena e passageira elevação de ximos pluviométricos também em abril
nível, a qual é conhecida regional- e maio. Seriam, pois, as cheias destes
mente por "repiquete". tributários setentrionais concomitantes
com as do Tapajós, responsáveis pela
Ass:m se refere Marília Galvão à...ocor- elevação, em maio, das águas do baixo-
rência dessa "segunda ~nchente", que Amazonas, um mês antes da subida
está relacionada com o regime pluvial máx:ma das águas do médio Amazo-
na porção da Bacia Amazônica corres- n_as, a qual, como visto, ocorre com
pondente ao baixo curso do Amazo- mais freqüência em junho~
nas:
A amplitude média de variação do ni-
-iSegue-se (à grande ou "primeira en- vel do Amazonas é superior a 10 m; no
chente", de março a junho) durante os seu curso médio ( Solimões) vai de 16
meses de julho, agosto e setembro uma a 20 m; em frente à foz do rio Negro
época de diminuição de pluviosidade; de 10 a 16 m e, mesmo no seu baixo
o nível do rio volta ao normal, assim curso, de 5 a 7 m. Considerando-se o
permanecendo até outubro quando se descomunal volume d'água do Amazo-
inicia a segunda estação chuvosa que nas, tais amplitudes são relativamente
se estende até janeiro. Acontece neste modestas e, se não houvesse a ação,
momento a segunda cheia, menor 9ue até certo ponto mpderadora, da "inter-
a primeira, e comumente chamada 're- ferência", as oscilações do nível do rio
piquete". mais caudaloso do mundo seriam diff-

111
Tabela 1 Níveis nuiximos e nummos do Rio Negro em Manaus (1902/1975)
correspondentes aos do rio Amazonas, funto à sua foz.
(Cotas em metros reduzidos ao nível do mar)

ENCHENTE VAZANTE Amplitude


ANO de
Da"' Co"'
(m) Da"' Cou
(m) ~
1902. •.....• .. .
1903 ...• .... . .. 26
-jun. -
27,52
20 nov.
9 nov.
16,78
111,26
-
11,27
11104• ....... . .. 26 jun. 28,78 5 dea. 17,69 10,09
1005. .......... 20 juo. 26,07 10 out. 17,.52 9,56
1906 .. ..•....•. 6 jun. 26,01 13 nov. 14,20 11,81
1907 ........... 9 juu. 27,10 9 nov. 16,44 10,76
1008... .••. ... . 9 jun. 28,92 30 out. 18,09 10,83
1909 .....•..... 14 JUO, 29,17 23 out. 1.5,04 14,13
1910.. ..•. .... . 2 jul. 27,81 29 out. 18,S9 9,42
1911 ........... 22. lt n. 27,67 23 out. 16,08 11,49
1012.. ...•.. .. . 19 jun. 24,87 30 nov. 19,42 5,46
1013. .......... 29 jun. 28,60 14 nov. 21,24 7,26
1914 .... ....... 17 jun. 28,44 12 dea. 17,60 10,94
11115........ ... 27 mai. 27,73 6 nov. 16,t'2 11,11
1916••......... 8 ~un. 26,63 17 out. 14,92 12,21
1917.. ......... 13 l\U>o 26,77 14 out. 17,48 11,29
1918........... 13 jun. 28,74 16 out. 18,61 10,23
1019. • 9 jun. 2o,3G 26 out. 11\,76 9,110
1920 ........ ... 6 juJ. 28,57 16 des. 19,80 8,77
1921 .. ......... 13 Jun, 27.97 29 out. 16,32 11,66
1922.. ... . ..... 18 jun. 29,34 22 nov. 20,90 8,44
1923 •..••..•..• 24 jun. 29,19 29 nov. 16,75 12,44
19 24 ........... 26 jul. 26,14 1 out. 17,31 8,78
1925.. . . ... .. .. 29 ju.n. 28,43 16 oov. 17,67 10,76
19211. . ···•··· . . 5 jul. 21,71 12 out. 14,54 7,23
1027........... 15 jun. :17,67 22 out. 18,78 9,79
1928..... .... . . 15 juJ. 28,60 5 out. 18,19 10,70
19~9 ........... 20 jun. 28,14 4 nov. 111,98 11,16
1930. .......... 23 ju.n. 27,119 27 nov. 18,36 9,33
1931. .......... 6 jun. 26,66 13 out. 17,48 9,18
1932.. ......... 12 jun. 27,76 30 out. 17,87 0,89
1933...... ..... 23 jun. 28,12 25 out. 16,43 11,60
1034.. ......... 23 juo. 2764 25 out. 21,16 6,48
1035. •. 11 jun. 27!67 7 nov. 16,13 11,54
1036. ...•.....• 20 mai. 26,64 14,97 11,67
1931........... 19 j un. 26,91 29
13 ""'·
des. 16,12 10,79
1938.......... . 15 jun. 27,92 18 out. 17,96 9,96
1039. .......... 23 juJ>. 28,04 16 des. 20,66 7,-18
11140.. ......... 30 jun. 26,77 14 de&. 19,58 7,19
1941 .. 28 mai. 27,09 21 out. 16,20 10,89
1042. .......... 25 jun. 27,63 23 out. 17,34 10,29
1043 . .......... I jul . 28,19 6 nov. 16,64 11,35
11144. .......... 22 ju.n. 28,79 17 nov. 18,11 10,64
1045.. ......... 18 jun. 27,03 20 out. 16,72 10,31
1046.. .•....... 8 jun. 27.98 6 nov. 17,62 10,38
1047.......... . 8jul. 26,75 31 out. 19,30 7,38
1948.. ......... 16 JUD.. 27,51 18 out. 16,69 11,82
1949 .. ......... 2 jun. 28,32 2 nov. 20,08 8,24
1950.......... . 17 jun. 28,25 9 nov. 16,74 1~.1)1
1051. .......... 3 jul. 28,47 7 nov. 18,05 10,42
1062........... 7 jun. 26.~8 30 out. 19,1-l 7,44
:9.53........... 11 jun. 29,69 31 out. 17,07 12,62
1954 . .......... 14 jun. 28,49 18 out. 17,63 10,86
1956.. 21 jun. 28,53 24 nov. 16,03 12,50
1066... :::::::: 23 jun. 27,6f 22 out. 20,89 16,76
19.57. .......... 11 jul. 27,33 22 out. 16,51 10,82
1958........... 29 mai. 27,58 18 out. 14,74 12,84
1969........... 30 jun. 27,71 211 out. 18,67 9,04
1960........... 21 jun. 27,55 I nov. 18,33 9,22
1961 ........... 7 jul. 27,13 12 out. 15,96 11,17
1962•.•........ 4 jul. 28,33 25 out. 17,16 11,18
1963.. .•. . • ... . 17 jun. 27.~1 30 out. 13,64 13,117
1964 ...........
196.!>.. ... . . ....
ta jul.
4 jun.
25,91
26,58
28 nov.
6 nov.
18,(1
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10,68
1966........... 20 jun, 26,41 11 nov. 16,76 9,65
1967.... ....... 19 jun. 27,91 26 out. 16,18 11,73
11168• .••.••.. . . 4 jun. 27,13 31 des. 21.0:\ 6,10
1969........... 26 mai. 2?,40 2 des. 16,86 10,5-t
1970. •...•..... 26 jun. 28,31 12 nov. 18,19 10,12
1971 ••......... 24 jun. 29,12 8 nov. 21,14 7,98
1972.......... . !6 jun. 28,70 10 nov. 20,02 8,68
1973 . ••..•..• . . 6 jul. 28,57 1 des. 21,47 7,10
11174. .•..•.•... 2 iul. 28,43 4 des. 21,84 0,68
1976........... 23 jnn. 2?,11 2~ nov. 19,32 9,79
1976 ........... 1' juu. 2~.ll1 22 n~v. 18,03 11.56

Fonte: PORTOBRÃS.

112
FLUVIOGRAMAS CARACTERISTICOS
.
3000

RIO NEGRO EM MANAUS


2600 .......... _
······.··~·.·~·.-···.··_···~·:~·.-:..·::::.:::~.::.·:-•. :. :,'"'"'~--=:-.::--...·-....:.-.. ·~ -~
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~ 1800 ...
o "········ ·· ...........;·'··
..
õ<.>
w 1400
1948 estiagem
1947 médio
1953 máximo

1000~------.-------~------~------~------,-------.-------.-----~~------,-------.-------.-----__,
31 28 31 30 31 31 31 31 30 31
Fev. Mor. Abr. Moi. Jun. Jul. Ago Set. Out. Nov. Dez
Fonte: DNPVN SGTE- LASA

Fig.l4
250
225

200~
RIO AMAZONAS EM ÓBIDOS
175 i'
..
~
150 "'e
..........··· 125 g
1943 estiagem e'
......···
~
!1
o<.> ....................·"'· 1940 médio
., 1944 máximo
100
"O
w 100
80
0~------.------.-------r------.-------.-------.-------.-----~-------.-------r------~----~
31 28 31 30 31 30 31 31 30 31 30 31
Jon. Fev. Mor. Abr. Moi. Jun. Jul. Ago. Set Out. Nov. Oez. .
Fonte: DNAEE- DNPVN SGTE -LASA

Fig. 14- Fluviogramas característicos do rio Nego em Manaus e do rio Amazonas em óbidos. (Reproduzido de MT-DNPVN, ref. 9 da Bibliografia).
..
... o
DD
...

....e ..e..
u ...
00
..
... o
DD
...

.. ..
e e
>
o o
>
zz
.
... ...
o

--
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N
1/)
N N N
..,
N N
N
Sij3.l3~ N1 .LH913H 39Y9
4

Fig. 15 - Cotas diárias (metros acima do ruvel do mar) do rio Amaz~na.s, próximo a Manaus,
no período 1900-1952, por décadas, e no ano de 1953. (Reproduzido de Oltman et alii, p. 8,
ref. 37 da Bibliografia). .

114
m 1902 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1973 m

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FIG:I6
190 2 1910 1920 1930 194 0 1950 1973

Fig. 16 - Níveis extremos do rio Negro em Manaus, de 1902 a 1973, segundo dados forne-
cidos pelo Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis. Estes nivei.s correspondem,
praticamente, aos do trecho do Amazonas-Solimões nas proximidades da foz do rio Negro.
Note-se como a variação das alturas máximas das enchentes é, comumente, bem menor que
a variação d.as alturas mínimas das vazantes.

ceis de imaginar 35 . Lembre-se que o A carência de dados lúdrológicos, ne-


rio Olúo, com uma descarga muitas cessários para uma melhor compreen-
vezes menor, mas alimentado por um são do comportamento sazonário do
único regime pluvial, chega a apresen- Amazonas, lamentada por Pardé, ain-
tar, em Cincinnati, a diferença de 21 da perdura, a despeito das medições de
m entre os níveis máximo das cheias descarga até agora ( 1977) levadas a
e mínimo das vazantes. efeito em cerca de 70 estações fluvio-
métricas espalhadas por toda a vasta
Estudando as variações sazonárias do área brasileira da bacia aT.
Amazonas, escrevia Maurice Pardé, há
quarenta anos: Como observou Pardé, o regime do
Amazonas se caracteriza por uma só
"Até o presente ( 1936) a incerteza cheia e uma única vazante (Figs. 14 e
paira sobre a hidrologia do maior rio 15), em côntraste com o Congo, seu
do nosso globo, o Amazonas. A respei- símile africano, cujo nível apresenta
to das descargas do curso d'água prin- dois ápices e dois mínimos cada ano.
cipal e de seus afluentes, sabe-se pou- Medições dom régua linimétrica du-
ca coisa. Até o momento não estamos rante 72 anos (1902-1973) revelam
melhor informados sob este ponto de que a . maior amplitude de variação
vista, o que muito lamentamos. A cheia-vazante do Amazonas foi, próxi-
abundância média anual e mensal, os mo à foz do rio Negro as, de 16,76m,
coeficientes e os déficits de escoamen- em 1956, e a menor, de 5,45 m, em
to, os máximos e mínimos nos dtversos 1912 (Tab. 1).
ramos da imensa rede, tantas questões
apaixonantes de alta importância geo- A amplitude média de variação para
gráfica e para as quais quereríamos aquele perío_d o e local 39 foi de 10,2
uma resposta. Tememos que isto não m; o nível mais elevado ( 29,69 m) e
seja para breve. o nível mais baixo ( 13,64 m) das suas
águas acima do nível do mar foram
Ao contrário, alguma precisão começa registrados, respectivamente, em 1953
a aparecer quanto às variações sazo- e em 1963; o nível médio das cheias
nárias, graças às observações regulares foi, no período, 27,61 m, e o nível mé-
de altura d'água". as dio das vazantes, 17,53 m (Fig. 16).

115
Tabela 2 Níveis máximos atingidos Penna informa que o seu nível ultra-
pew rio Amazonas funto à foz do rio passou de 3 metros o da várzea, pro-
Negro vavelmente no baixo Amazonas, onde
sempre se concentrou a maior parte
(Cotas em metros reduzidos ao rnvel dos habitantes ribeirinhos do Grande-
domar). Rio 4o.

Grandes cheias Cheias e:xcepcione.i.<l Neste século outras grandes enchentes


assolaram as várzeas amazônicas, in-
flingindo enormes J>lejufzos aos seus
ANO Cote. , ANO Cote. habitantes, devastando rebanhos e des-
(m) (m) truindo plantações (Figs. 17 e 18).
Se considerarmos como grandes cheias
1904 28,78
1908 28,92 .
aque]as em que as águas do Amazonas
1909 29,17 atingiram (na foz do rio Negro) cotas
1913 28,50 entre 28 e 29 metros acima do nível
19H 28,44 do mar, e 'como cheias excepcionais
1918 28,74 quando alcançaram níveis superiores a
1920 28,57
1922 29,34 29 metros, constataremos que as pri-
1925 28,43 1923 29,19 meiras representam 31% das inundações
1928 28,50 amazônicas e as últimas, mais raras,
1929 28,14 10%, no período 1903-1976.
1933 28,12
1939 28,04
1943 28,19
Segundo este critério, ocorreram, na-
1944 28,79 quele período, 23 gi'andes cheias e 7
1949 28,32 cheias excepcionais ( Tab. 2).
1950 28,25
1951 28,47 Dentre as cheias do Amazonas até hoje
1953 29,69 medidas por estação fluviométrica, des-
1954 28,49
1955 28,53 taca-se a ocorrida em junho de 1953,
1962 28,33 a maior já registrada e que elevou as
1970 28,31 águas do rio Negro, em Manaus, 29,695
1971 29,12 metros acima do nível do mar, isto é,
1972 28,70
1973 28,75 praticamente a mesma altura atingida,
1974 28,46 naquele ano, pelas suas águas junto à
1975 28,57 29.11 confluência daquele seu grande aflu-
29,61 entre 41• As cheias excepcionais, bem
como as grandes enchentes do Amazo-
nas, não se apresentam como um fenô-
Pelas suas conseqüências, sempre meno dclico e, por dependerem da in-
desastrosas para as populações que ha- tegração de diversos fatores variáveis
bitam as suas váneas, as grandes do clima, são imprevisíveis.
cheias do Amazonas merecem especial
menção quando se estuda o regime As oscilações anuais do nívE-l das águas
deste gi~antesco caudal. do Amazonas em seus médio e baixo
cursos estão, como visto, relacionadas
A mais antiga grande enchente do com o chamado fenômeno da "interfe·
Amazonas já registrada pela crônica rência", e as suas grandes cheias (e,
regional ocorreu em meados do século em particular, as excepcionais), são,
passado; dela nos dá notícia Domingos por sua vez, manifestações mais acen-
S. Ferreira Penna, no capítulo "A gran- tuadas deste fenômeno oriundo da al-
de inundação de 1850 e seus efeitos.., ternância das estações chuvosas nas
da sua obra A Região Ocidental da Pro- porções da Bacia Amazônica si~uadas
víncia do Pará. Não se conhece, toda- em cada Hemisfério.
via, a altura a que chegaram as águas
do Amazonas na grande cheia de 1850; As enchentes do Amazonas são a con-
louvado, porém, no relato de testemu- seqüência da subida do seu nivel (já
nhas desta famosa enchente, Ferreira elevado pelas cheias dos afluentes do

116
Fig. 17 - A ván;lea do Amazonas, a montante de Parintins, cobert>a pelas águas da grande
eochente de 1953. Um par~ de margens inundadas, é visto na diagonal da fotografia.

Fig. 18 - O nfvel mais baixo da vúzea alta marginal do rio Amazonas, onde está instalada
a Vila Amaz6nia, a jusante de Parintins, foi inteiramente coberto pelas águas da grande cheia
de 1953, a maior registrada neste skulo.

117
sudoeste da sua bacia, no Verão aus- D:)!IUIIII'It OUDII:)Q - - e
X
trai) pelo afluxo das águas das cheias o
9dO:)O~--
dos seus tributários do noroeste da ba-
cia, no Inverno austral. Assim, basta
uma pequena antecedência na estação
chuvosa do noroeste amazônico, ou um
atraso (ou prolongamento) do período
1
(/) 810
mais chuvoso no sudoeste da bacia, ct
para que o nível médio da enchente z
do Amazonas suba mais alguns metros,
{/) o
~ N
produzindo cheias de maior porte. z ct sop1qp--
Q ::;;
(!)
As alterações no regime pluvial da por- w ct o
ção ocidental da Bacia Amazônica são
também devidas ao estacionamento, no
Outono austral, da massa Equatorial
Continental (Ec), numa área mais
a:
{/)
w
~
o
ª
próxima do equador, ou mesmo sobre
z
{/)
esta linha. :::> '
go
snouor~--
w
{/)
Em outras palavras: as causas das
cheias, grandes ou excepcionais, do ~
o(.)
Amazonas podem resultar da concomi-
tância parcial das enchentes nele pro- {/)
~
vocadas pelas abundantes chuvas que z
o
caem nas regiões sudoeste (de ou tu-
bro a novembro) e noroeste (de mar-
N
~
(/)

UJ
8
C\1

ço a julho) da sua gigantesca bacia, ~ o


~ ::;;
quer pela antecedência das precipita- o
ções na região noroeste quer pelo atra- .J
a: o
so destas na região sudoeste . o (/)
o
o 810
Outra causa seria, simplesmente, uma C\1
maior pluviosidade, de caráter excep-
a:
-~
cional, ocorrida na vasta região noro- ü
este da bacia, ou seja, no território com- z
~
preendido entre o Solimões e o rio _J
0Jid/JISOJ8 II~IW!I - -
Negro . a..
o 8
::t:
(.)
~
w
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-
5 - O RIO AMAZONAS.
EXTENSAO E DESCARGA.
1-
oo
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SO~!Ob!--
TRANSPORTE DE LL. z 8
a: I()

-
ct
SEDIMENTOS E w cr
pt)

Q..
CONSTRUÇAO FLUVIAL ct
::E

Canal coletor geral das águas de uma


das maiores e mais pluviosas bacias hi- O)
...-
drográficas do p laneta, o rio Amazo-
5:2
O:)UOJJOg-- §
nas, pelo seu comprimento e largura, .r
LL.
se destaca na paisagem terrestre como tlj:)fJ8SUO~ IIP OfliJOd - -
um dos mais notáveis acidentes geo- 8 ~ E
o
N
gráficos.

118
Fig. 20 - Neste longo trecho do seu curso inferior, entre as cidades paraenses de Almeirim e
Monte Alegre, o Amazonas apresenta· sua maior largura, ou seja, quase 10 quilômetros entre
as ilhas do Itanduba e do Acará-Açu, bem como profundidades que atingem a até 90
metros, conforme sondagem feita entre a margem esquerda ·e a ilha do Jurupari. (Mosaico
semicontrolado de radar - Projeto Radam - 1972).
Sua verdadeira extensão, todavia, so- Não obstante o. seu diminuto gradiente
mente poderá ser conhecida quando de 3/100.000, o Amazonas é um rio
for definitivamente determinado o seu muito impetuoso, devido à pressão de
principal formador, ou seja, onde se escoamento da sua descomunal massa
encontram as suas verdadeiras nascen· d'água. Assim, a sua velocidade média
tes . é àe aproximadamente 2,5 km/h, des-
locamento esse muito maior no~ pe-
Os livros didáticos vêm repetindo, de ríodos de enchente, quando então a sua
longa data, que a origem do Amazo- correnteza chega a desenvolver mais
nas está no lago Lauri ( Lauricocha) de 5 quilômetros horários, e até mes-
dos Andes peruanos, onde nasce o rio
mo 7 km/h em sua aJ>ertada passagem
Maraíion; tal afirmação, já tradicional,
em frente à cidade de ~dos, como
lhe conferiria o comprimento aproxima-
do de 5. 500 km, o que o situaria em nos informa Le Cointe '
terceiro lugar entre os mais extensos Com uma largura média de 4 a 5 km
rios da Terra, depois do Nilo e do em seu curso planiciário, o leito menor
Mississipi-Missouri. do Amazonas chega a atingir um má-
Admitindo-se, porém, o Ucaiali (de ximo de distância livre de uma mar-
maiores bacia, extensão e descarga que gem a outra (isto é, sem ilhas de per-
o Maraiion) como sendo o seu princi· meio) de quase 10 km, como observa-
pal formador, e o rio Apurimac como do logo a montante da ilha Curuá e
o principal formador do Ucaiali, o entre as ilhas de Itanduba e Acará-
Amazonas teria - de acordo com as Açu, no Pará ( Fig. 20); durante as
medições feitas por J. c. Pedro Gran- grandes cheias, porém, ao cobrir total-
de - uma extensão total de 6. 571 km; mente o seu leito maior (a várzea), se
com este comprimento o Amazonas se- espraia numa faixa de aproximadamen-
ria a segunda mais extensa artéria flu- te 50 km de largura, como ocorre no
vial do Globo, vindo logo após o rio trecho compreendido entre a foz do
Nilo (6.696 km), ficando em terceiro rio Nhamun<ij e a cidade amazonense
lugar o binômio fluvial Mississipi-Mis- de Parintinsf
souri (6.231 ou 6.418 km) •2 •
Suas menores larguras em Território
Segundo, no entanto, o geógrafo José Brasileiro são encontradas no trecho
Cezar de Magalhães Filho ( 1960), o em que ele recebe a denominação re-
principal formador do Ucaiali é o rio giomil de Solimões (entre a foz do rio
Urubamba, o que dá ao Amazonas a Negro e a fronteira com o Peru) e va-
extensão total de 6. 577 km ( ref. 81 da riam de 1 km em Tabatinga, quando
Bibliografia). entra no Brasil, a 4 km, entre as cida-
des de Coari e Codajás.
kQuanto ao seu perfil, o Amazonas é
um rio tipicamente de planfcie, dre- As enormes larguras do Amazonas,
nando - com a sua riquíssima rede hi- quase sempre medidas por pares de
drográfica formada por numerosos quilômetros, justificariam a expressiva
afluentes e subafluentes, também de denominação de "Rio-Mar.., que lhe foi
consideráveis extensões, grandes bacias dada desde a sua descoberta (o mar
e enormes volumes d'água - a maior dulce, de Pirizon); pela mesma razão,
planfcie ou baixo platô sedimentar do suas extensas margens sem recortes re-
mundo. cebem o nome de "costas.. (costa de
óbidos, costa do Iranduba) e os gran-
O declive que o Amazonas apresenta des estirões nas concavidades dos seus
em seu longo trecho planiciário (cerca amplos meandros são chamados ..en-
de 3/4 do seu comprimento total) é seadas" (enseada do Carapanaf, en-
mínimo; ao entrar em terras brasileiras seada do Madeira), ambos termos de-
(Tabatinga), a mais de 3.000 km do signativos de acidentes geográficos
oceano, está apenas a 60 m de altitude, marítimos.
descendo para o nível de base atlân-
tico com a ine~ressiva queda de 20 A comparação do Amazonas com o
mm/km ( Fig. 19) . oceano poderia ainda ser feita se con-
.,.
2'
60' 56' 52' .•.
100 o 100 200 KILOM ETERS
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·r. I I
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I
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200 MOLES
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EXPLANATION
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MANAUS
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I DO CARE I RO

Fig. 21 - Croqui mostrando, acima, o local (Obidos) onde as observações foram feit-as e,
abaixo, a localização das seções onde foram realizadas as medições de descarga e velocidade,
nas vizinhanças de Manaus. Direction of flow - direção da corrente; Location of discharge-
measurement section - localização das seções das medições de descarga. (Reproduzido de
Oltrnan, p. 5, ref. 87 da Bibliografia).

siderannos a movimentação que, por do forte agitação, que dá aos largos


vezes, suas águas apresentam sob a e longos estirões um aspecto de mar
ação do vento. Com efeito, os alíscos encapelado, podendo fazer sossobrar
de NE encrespam a superfície da pequenas canoas; por outro lado, o
água no seu trecho final, principal- ataque pelas ondas produzidas pelos
mente de outubro a novembro, quando alísios (combinado com a pulsação das
sopram com mais violência, provocan- marés), sobre a base da elevada mar-

121
gem do antigo terraço sobre o qual está A medição feita na seção de óbidos
a cidade de Gurupá, deu origem a uma revelou a surpreendente descarga de
escarpa que, pelo seu perfil e proces- 216. 340 m3 I s, num período de cheia
so de formação, pode ser comparada anual um pouco mais baixa que a mé-
a uma falésia costeira ... dia 47 •
O Amazonas é o caudal possuidor da Em 1967, por iniciativa do Departa-
maior vazão conhecida. mento Nacional de Águas e Energia,
foram levadas a efeito novas medições
A primeira estimativa da descarga e diretas de descarga na seção de óbi-
velocidade do Amazonas data do se- dos 48, as quais indicaram, no período
gundo quartel do século passado e foi de 24 a 29 de maio, uma vazão de
feita, em 1831, por Spix & Martius; em 227.075 m8 /s 49 •
sua memorável viagem à Amazônia,
estes dois sábios alemães estimaram, As descargas do Amazonas medidas
na seção de óbidos e na vazante, a sua em 1963 e 1967 vieram confirmar a sua
descarga em 14.000 m3 /s e a sua velo- absoluta primazia entre os rios mais
cidade em 0,7 m/s. A esta, outras esti- volumosos do Globo, pois elas são mais
mativas se seguiram, não só em óbi- de três vezes superiores às do Mississi-
dos mas também na sua embocadura, pi-Missouri (65.128 m3 /s) e quase cin-
como as de Wallace (1853), Lalle- co vezes maiores que as do Gongo
mont ( 1860), Ferreira Penna ( 1880), ( 41. 000 m3I s). O deflúvio médio
Guppy ( 1880), Selfridge ( 1882), Re· anual para toda a bacia é estimado
clus ( 1895), Siemens ( 1896), Katzer em 250.000 m3 /s.
( 1898), Le Cointe ( 1922), Delgado de
Carvalho ( 1942), Jarvis ( 1945) e Par- O descomunal e incomparável volume
dé ( 1955), uns baseando-se nas esti- d'água do Amazonas resulta, essencial-
mativas dos outros 46 • Tais estimativas, mente, do fato de a sua imensa bacia
feitas em diversos pontos do seu curso - que com seus seis e meio milhões de
e em diferentes épocas do ano, variam quilômetros quadrados abrange 82
de 21. 500 a 286.000 m8 I s, para a des- graus em latitude e 26 graus em lon-
gitude - estar dentro de uma das zo-
carga, e de 1 a 2,04 m/ s, para a velo- nas de mais alta pluviosidade do pla-
cidade46. neta. Sua alimentação não é, como vi-
mos, somente de origem pluvial; ten-
As primeiras medições diretas da des-
do os seus grandes formadores ociden-
carga do rio Amazonas são, porém, tais ( Marafion, Caquetá, Putumaio,
relativamente recentes ( 1963 e 1964) Napo, Huallaga, Ucaiali) e sul-ociden-
e resultaram da execução de um pro- tais ( Beni, Madre de Dios, Mamoré)
jeto conjunto de iniciativa da Univer- suas nascentes em geleiras e nevados
sidade do Brasil (Departamento de andinos, possui também uma alimenta-
Geografia do Brasil), tendo sido reali- ção nival, se bem que em escala mui·
zadas pelo U. S. Geological Survey, to reduzida. O Amazonas é, assim, um
com a cooperação da Marinha de rio d~ regime misto, plúvio-nival, pro-
Guerra do Brasil e com a participação vindo todavia da chuva a quase tota-
da Divisão de Águas do antigo Depar- lidade das suas águas.
tamento Nacional da Produção Mi-
neral. Para dar vazão à considerável massa
líquida que se precipita sobre sua gi-
Assim, em julho de 1963, foi direta- gantesca bacia, o Amazonas cavou pro-
mente medida a descarga do Amazo- fundo leito nos depósitos sedimentares
nas em quatro pontos: uma medição onde tem os seus médio e baixo cur-
na seção de óbidos e três medições em sos, chegando o seu talvegue a encon-
seções · próximas à foz do rio Negro trar-se a pouco menos de uma centena
(no Solimões, no Amazonas e no pa- de metros abaixo do seu nível médio,
raná do Careiro), assinaladas na fi- como é observado em diversos pontos
gura 21. do seu curso inferior (Tab. 3).
Tabela 3 Maiores profundidades do ficas apesar da temperatura; ritmo de
rio Amazonas encontradas entre o seu origem pluviométrica e não de origem
estuário e a foz do rio Negro. térmica; contrastes de regimes atenua-
dos pelo efeito da permeabilidade dos
solos; modéstia relativa das cheias
Profun· et c." 61 .
LOCAL didade
em
metros• A singularidade hidráulica do Amazo-
nas, observa ainda Demangeot, faz-se
igualmente notar quanto à sua descar-
Próximo it margem esquerda e em ga específica de 31 litros/s por km 2,
frente i> ilha do Jurupari, 24 km excepcic;>nal para um rio tropical, bem
a montante de Almeirim (Pará) 91
como quanto às suas cheias, também
Entre a margem esquerda e a ilha excepcionais, como a de 1953 que,
do Acará-Açu, no trecho com- com um coeficiente A de 157, escoou
preendido entre Almeirim e Prai- 850.000 m8 I s ( sic) na seção de óbi-
nha (Pará) ..... .... ..... ..... . 86
dos 52 .
Entre a margem esquerda e a pon-
ta E da ilha da Prainha, 6 km a No estudo do transporte de sedimentos
j\L'l&.nte de Prainha (Pará) ..... . 84 pela rede hidrográfica amazônica, há
Em frente it cidade de Óbidos {Pará) 81
que considerar-se três tipos de rios
que, na terminologia geográfica regio-
Em frente il cidade de Parintins nal da Amazônia Brasileira, são deno-
(Amazonas).. ................. . 98 minados: rios de "água branca", rios
Entre a margem direita e a ilha do
de "água clara" (ou âe "água limpa" )
Arari, 40 km a montant~ de Pa-- e rios de "água preta" 53, os dois últi-
rintins (Amazonas) ............ . 84 mos quase não transportando carga só-
lida em suspensão ( Fig. 22). "O fenô-
Em frente it ponta do Remanso, no meno mais notável no ambiente dos
trecho compreendido entre Pa--
rintins e Urucurituba (Amazonas) 91 rios de água preta, observa Sioli, são
os vales que eles elaboram no terreno,
Entre a margem esquerda e a ilha pelo menos em certos trechos; o fundo
do Beiju-Açu, entre Parintins e destes vales é então coberto !'Or uma
Urucurituba (Amazonas)....... . 118
floresta característica de inunâaç~o, o
Em frente r. cidade de Itacoatiara chamado "igapó", pelo qual o verda-
(Amazonas).. ................. . 89 deiro leito fluvial se estende, ora em
meandros, como no rio Cururu, ora !)U-
• Sondagens em metros reduzidas aproxima· ma largura formidável de muitos qui-
damente ao nível mínimo de 1963, o mais lômetros como no rio Negro" M.
baixo do século.
Fonte: Marinha do Brasil - Cartas de Pra- Os rios ditos de "água branca" deve-
ticagem do Rio Amazonas N.•• P 4.102 B, riam, a rigor, ser chamados rios de
P 4.104 A e B e P 4.105 A e B.
"água amarela", pois a cor das suas
águas é amarelada, barrenta, pela con-
Jean Demangeot chama a atenção para siderável quantidade de argüa que
o fato de a bacia do Amazonas, instala- contêm em suspensão. Assim, o bar-
da em sua maior parte em terras bai- rento Amazonas é regionalmente consi-
xas e planas, recoberta por um tapete derado um "rio branco", bem como o
vegetal contínuo e com uma pluvio- caudaloso Madeira, o Puros, o Trom-
mebia de certo modo homogênea ( 2 betas e muitos outros seus afluentes e
subafluentes de grande caudal.
a 3 metros de água sobre a metade da
área), apresentar características hi- Outra característica dos "rios brancos",
dráulicas únicas no mundo 50 • "A hi- ou de "água branca", é a instabilidade
drologia do Amazonas, acrescenta este dos seus leitos; estes rios estão sempre
autor, apresenta evidentemente todos modificando os seus cursos pela ação
os caracteres da hidrologia intertropi- simultânea da sedimentação e da ero-
cal: abundância de descargas especi- são. São ricos em meandros que diva-
gam nas planfcies aluviais por eles A cor escura das águas dos rios ·ne-
construídas; estes deslocamentos de gros" ou "pretos", variando do mar-
seus leitos menores se processa à custa rom amarelado ao marrom avermelha-
da erosão de suas margens de terrenos do, decorre da forte dissolução de
argila-arenosos mal consolidados, a substâncias húmicas coloidais que pro-
qual provoca, durante as enchentes, as vêm do manto de matéria orgânica em
chamadas "terras caídas" que, por sua decomposição ( litter); fornecida pela
vez, são uma das fontes do material vegetação florestal que se desenvolve
argiloso encontrado em suspensão nas nas áreas inundáveis das suas nascen-
suas águas. tes e margens, bem como pelos solos
podzólicos e arenosos das áreas cam-
Os rios denominados de "água preta", pestres das suas cabeceiras ( Sioli). As
em compensação, justificam plenamen- áreas justafluviais inundáveis destes
te tal apelido; suas águas, quando em rios, quando ocupadas por floresta, fo-
grandes massas, são realmente muito ram denominadas igap6s pelos indíge-
escuras, de cor marrom-café, como as nas, e as matas nelas existentes, caai-
do já famoso rio Negro. São transpa- gap6s (matas alagadas) .
rentes e cristalinas; quando vistas em
lugares rasos, com fundo de areia bran- Há ainda os rios que, apesar de prati-
ca, apresentando a cor da infusão de camente não transportarem sedimen-
chá. Isto porque praticamente não tos, não são rios de "água preta", mas
transportam sedimentos, do que resul- apresentam uma cor esverqeada (ver-
ta não constituírem várzeas às suas de-oliva, segundo Sioli) nos trechos
margens, nem ilhas em seus leitos, a profundos, e verde-esmeralda nas par-
não ser quando recebem afluentes de tes rasas com fundo de areia branca.
"água branca", como acontece com o São os chamados "rios de águas cla-
próprio rio Negro que, segundo obser- ras" ( Sioli), dos quais são exemplos
vação de Sioli, apresenta, por esse mo- típicos o Tapajós e seus formadores
tivo, algumas ilhas e pequenas planí- Juruena e São Manuel ou Teles Pires,
cies aluviais G:>. o rio Verde (afluente deste último), o

- CURSO SUPERIOR-: :--------- B A I X O C U R S O - - - - - -

Zono de sedimento~õo
com formo~o de várzea

Encosto de
terro- f i r me

várzea -formoçõo de
sed imentoçlSo recente

Nível oito
do óouo
Fig. 22 - Díferentes seções ao longo do curso de um rio de "águas claras" na Amazania,
segundo Sioü. {Reproduzido de Sioü, p. 120, ref. 59 da Bibliografia).
Xingu e seu afluente lriri, para citar mus), que dão às águas as colorações
somente os mais representativos. marrons. Ambos fatores dependem de
determinadas caractensticas das re-
Os rios de "águas claras", ou de "águas giões das nascentes dos rios, sobretudo
limpas", se caracterizam pelo diminu- da sua topografia. Regiões montanho-
to transporte de sedimentos argilosos, sas, possuidoras de quantidade neces-
os quais se depositam principalmente sária de chuva, pela qual é continua-
a jusante das últimas cachoeiras, corre- mente lavada e sempre renovada a
deiras e rápidos por eles vencidos an- crosta terrestre, formada por erosão e
tes de atingirem a planície terciária. que é transportada pelas águas correo·
Essa deposição, muito fraca, só ocor- tes, dão origem às águas brancas; fica
re praticamente na época das grandes demonstrado que os grandes rios da
chuvas caídas em suas bacias, que se Amazônia típicos de águas brancas,
encontram geralmente sobre terrenos
rochosos ou arenosos, com pouca quan- como por exemplo o Amazonas, Soli-
tidade de argilas. A areia - oriunda, mões ou o Madeira, têm o seu começo
na sua maior parte, da meteorização nos Andes ou nas montanhas situadas
das rochas pré-cambrianas dos escudos antes dele. Regiões de perfis fortemen-
norte e sul amazônicos - constitui o te trabalhados e terraplanados podem
material básico na sedimentação pro- oferecer somente pequenas quantida-
vocada pelos rios de "águas claras" des de matérias em suspensão nas
gue, por isso, são ricos em praias e águas; os rios que delas se originam
liancos de areia ("coroas"), emergen- possuem água clara e transparente.
tes nas vazantes ( Fig. 22) . Desta forma descem os grandes rios de
"águas claras", o Tapajós, o Xingu etc.,
Estes três tipos de rios amazônicos do antigo platô de Mato Grosso.
( Figs. 23 e 30) foram pela primeira vez
caracterizados por Harald Sioli, a quem No caso de precipitação e planação
são devidas importantes ·pesquisas e mais forte não pode haver escoamento
estudos sobre a composição química, das águas pluviais; contínua ou perio-
coloração, zoo e fitoplancto dos cur- dicamente se encontram amplos areais
sos d'água e lagos da Amazônia bra- cobertos de águas mais ou menos es-
sileira. Transcrevemos a caracteriza- tagnadas e por conseguinte de igapó
ção que dos mesmos faz este eminente (floresta inundada) . As águas oriun-
hidrobiologista, diretor do Instituto das de tais regiões são enriquecidas de
Max-Planclc de Limnologia: matérias de húmus colorante ( depen-
"1. Rios de águas turvas cor de bar- dendo também de determinada quí-
ro, chamados na região "água branca". mica das águas e de especiais condi-
2. Rios de água mais ou menos trans- ções do solo ( Sioli, 1955), talvez
parentes, de cor verde-amarela até ver- também até a existência de determina-
de-oliva ("água clara"). das qualidades de plantas ) , são rios
de "água preta". O mais conhecido, o
3. Rios de água também mais ou me- maior representante deste tipo, o rio
nos transparentes, mas de cor marrom- Negro, não possui nascente própria,
oliva e cor de café, havendo em cer- vem, sim, de gigantescos miritizais,
tos trechos riachos de cor vermelho- bosques de palmeiras existentes em
marrom, chamados pela população lo- pântanos. Ou o rio Cururu (afluente
cal "água preta". do alto Xingu) que vem, na qualida-
Tal divisão dos rios amazônicos tem de de rio verde-oliva de "águas claras",
por base, de um lado, a quantidade de de região desconhecida do Brasil Cen-
matérias contidas em suspensão na tral, entrando porém abaixo das que-
água, as quais determinam o grau de das d'água e da cachoeira de Kere-
turvação (medido pela lâmina Secchi putjá, num vale plano de 10 quilôme-
e apontado como profundidade visí- tros de largura, inundável e coberto
vel), de outro lado o conteúdo de de igapó, formando aqui um rio mar-
substâncias em estado coloidal ( hú- rom de "água preta" ~~e.
Segundo Sioli, estes três tipos de águas Para a presença da carga sólida trans-
correntes são, à vista disso, "determi- portada pelos rios de "águas brancas"
nados pelas condições geomorfológicas contribuem, episodicamente, as "terras
e/ ou pelas condições litológicas e pe- caídas", nome dado na região aos mo-
dológicas existentes nas regiões das ca- vimentos coletivos de grandes massas
beceiras dos respectivos rios ou córre- de terras marginais argilo-arenosas pa-
gos. Assim, na Amazônia, os rios de ra dentro do rio; esses deslizamentos,
"águas brancas" estão relacionados a bruscos e de conjunto, de extensas fai-
encostas montanhosas na região das xas ribeirinhas, são devidos, segundo
suas nascentes e os de "águas claras" ao Tricart, a variações, durante as vazan-
relevo suave e bastante nivelado na- tes, da pressão hidrostática e ocorrem
quela região; os rios de "águas pretas" quando o limite de retenção da água
são encontrados sobre terrenos planos, pelas argilas é atingido.
bem como sobre certos tipos de solos
podzólicos e sobre areias lavadas com O material lançado ao rio pelas "terras
ou sem horizonte B compacto ou orsts- caídas" freqüentemente acumula-se em
tein"151. (Tab. 4). grandes massas no seu álveo; trabalha-

TERRA TERRA
FIRME FIRME

G A P (f I G A PÓ
L E I T O
O O R IO

C A )

TERRA FIRME TERRA FIRME

LEI TO DO RIO

CB )

NlVEL MÁXIMO DA ENCHENTE


NÍVEL MÍNIMO DA VAZANTE

Fig. 23 - Corte trãnsversal ideal (A) pelo vale de um rio de "'gua preta" e (B) pelo vale
de um rio de "'gua limpa" ou "clara". (Reproduzido de Sioll, p. 19-20, ref. 51 da Biblio-
grafia).

126
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ra parede de argila no fundo do rio" 118•
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"' ê·'::0t! Quando os "salões" afloram nas vazan-
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cheias, surgindo uma vegetação pio-
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tos, dão início à formação de uma ilha
fluvial ("'ilha nova", na terminologia
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vas" e das "varzeas novas" do Médio e
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A elevada taxa de sedimentos, carrea-
dos pelos rios de "águas brancas", não
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dos seus médio e baixo cursos, mas
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destes, que têm suas bacias drenando
os plamiltos guianense e sul-amazôni-
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D !i .,f trazido pelas suas águas, resulta da
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alteração profunda das rochas-mães
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temente químico, peculiar ao sistema
o 3 km

Fig. ~4 - Formas de construção fluvial no Jeito menor do rio Amazonas: S - "Salão"; SD -


"Siilio" ch!scoberto na vazante; IN - "Ilha nova" com vegetação sempre descoberta; T -
"Torrão"; l - Ilha aluvial já formada. (Fonte: - Carta de Praticagem P 4 .110 B (Rio Solimões)
da Diretoria de Hidrografia e Navegação).

morfoclimático equatorial, no caso, ao (em terras da antiga fazenda Cacaual


do domínio morfoclimático amazôni- Grande, município de Monte Alegre,
co 59. Pará), revelaram ser maior do que se
supunha a quantidade de sedimentos
Segundo Le Cointe, a concentração da transportados pelo Amazonas durante
carga em suspensão nas águas do rio as cheias .
Amazonas é de 500 p.p.m. na época da
vazante e de 1. 250 p. p. m. durante as Reportando-se a este fato, Felisberto
cheias, informa Stemberg 60 . "As alu- C. de Camargo informa que as medi-
viões deixadas na várzea do Careiro, ções da carga sólida transportada pelas
quando as águas baixam, atingem, às águas do Amazonas em 1951, 1952 e
vezes em uma só enchente, vário.s pal- 1953, por um daqueles canais de col-
mos de espessura. Em alguns casos, matagem, indicaram que a quantidade
como no da enchente de 1953, terre- de sedimentos em suspensão oscilava
nos houve que tiveram um acréscimo entre 50 e 200 gramas por tonelada de
de 1,50 m de sedimentos" 61 • água que passava pelo canal; tomando
por base uma vazão do rio Amazonas
Experiências de colmatagem provoca- da ordem de 16 milhões de metros
da, realizadas há mais de duas décadas cúbicos de água por dia e a capacidade
pelo então Instituto Agronômico do transportadora, de 200 gramas de sedi-
Norte (atual Institulo de Pesquisas mentos por metro cúbico, Camargo es-
Agronômicas da Amazônia), em 'cinco timou em S milhões de toneladas a
canais (de 32 m de largura e 5,5 m de quautidade de sedimentos lançada
profundidade) abertos na faixa de diariamente ao mar pelo Grande-Rio 62•
várzea-baixa situada entre o lago Estimativa mais recente ( Oltman et
Grande do Maicuru e o rio Amazonas alii, 1973), segundo informa Stemberg

128
Fig. 25 - "Várzea oova" da margem esquerda do SoUm6es (Bailio Craode, muoiclpio ele
Manaw) oa grande enchente de 1953, ocupada por uma rinúsia de ouraoeira (Salh sp>, uma
das espkies vegetais piooeiras dos depósitos aluviais de rec:eot-e emersio; esta ~ie arbórea
fixa também os secl.imlmtos dos "salões" que emergem na vazante, daodo origem aa "ilhas
oovaa".

(v. ref. 70 da Bibliografia), revelou O crescimento das várzeas amazônicas


que o volume total da matéria sólida pode ser: a) - pela sedimentação de
que o Amazonas lança ao mar vai além extensas áreas subfluviais que, toman-
de l,S milhões de toneladas por dia. do-se cada vez mais rasas devido à
acumulação constante de sedimentos
Sioli chama a atenção para o fato de
a corrente equatorial norte impedir (como no caso dos bancos e baixios
que o Amazonas construa um delta pa- fluviais), afloram finalmente nas águas
ra dentro do oceano, apesar de lançar baixas; b ) - pela deposição de sedi-
ao mar a volumosa carga sólida que as mentos sobre estas áreas subfluviais
suas águas transportam; ". . . os sedi- (já emersas e revestidas de vegeta-
mentos são levados pela corrente e de- ção); e c) - pelo aluvionamentó total
positados no Amapá e Guiana France- dos lagos e depressões de várzea.
sa - escreve este autor - onde a zona
costeira é construída por aluviões de A construção das várzeas faz-se tam-
sedimentos de água doce do Amazo- bém pela soldadura das "restingas",
nas, numa largura de 80 Jan: -a bai- isto é, de antigos diques marginais ar-
xada litorânea do Amapá e Guiana, queados (os •arcos de crescimento" da
coberta de campo inundável e que fica planície aluvial, de Stemberg), graças
4 m sob a água na estação chuvo- à acumulação de sedimentos nas es-
sa" 83• A corrente equatorial não im- treitas e alongadas depressões ("jazi·
pede, todavia, que parte da carga só- gos") que separam os dorsos das res-
lida lançada ao oceano pelo Amazonas tingas, paralelamente dispostos ao lon-
se deposite sobre a plataforma conti- go das margens dos grandes rios de
nental, em frente ao seu amplo estuá- "água branca" e presentes, da mesma
rio e até a profundidade de 80 metros maneira, nas grandes ilhas aluviais
(Fig. 11). (Fig. 26).

129
Fig. 26 - Extremidade sul da ilha Grande do Tapará, no rio Amazonas, vendo-se no canto
direito da fotografia a foz do rio Tapaj6.$. Notem-se as "restingas" (cobertas de mata) de forma
recurvada, e os "jazigos" (com campo alagável), que constituem um dos estágios da construção
fluvial. A ilha está inteiram'ente sob as águas da grande cheia de 1953.

Nos trechos adiante transcritos, Sioli aluviões, mas sim, no Amazonas infe-
explica o mecanismo da construção das rior, por sedimentos do lago continen-
várzeas amazônicas pela sedimentação tal amazônico Terciário, das camadas
anual durante as cheias: da "série Barreiras" ( Pliocênio) .
Como exemplo de várzeas de rio de
"águas brancas" seja citado a do curso 1l: fácil compreender como foi realiza-
inferior do rio Amazonas. da a formação especifica da várzea,
com maior elevação junto às margens
O terreno da várzea é mais ou menos e baixando terra adentro: com a cres-
amplo, mas incompleto. As partes mais cente altura da água do rio, isto é, no
elevadas acompanham a margem do curso inferior do Amazonas, mais ou
rio, em forma de faixas relativamente menos na época do fim do ano, áreas
estreitas, formando um paredão que cada vez maiores da várzea do rio fi-
carrega a floresta de várzea com sua cam sob a água; nesta ocasião a água,
formação florística especifica ( Huber, penetrando terra adentro, vem a per-
1909). der com relativa rapidez sua corrente-
Penetrando no interior, o terreno vai- za, permitindo a deposição de partí-
se inclinando proporcionalmente, a culas em suspensão, nela contidas. A
floresta vai-se tornando primeiro mais floresta em galeria da várzea não atua,
baixa, para dar lugar a mais gigantes- nesta ocasião, como peneira, colhendo
ca várzea-campo, campinas inundáveis. e retendo as matérias em suspensão na
As partes m~s baixas do terreno são água, mas s:m como freio à corrente-
então tomadas por lagos rasos que al- za original, que atinge no curso infe-
cançam, com freqüência, grandes ex- rior do Amazonas, na época da seca,
tensões. em média 1-2 milhas por hora, e du-
rante as chuvas, no tempo das águas
Além dos lagos o terreno sobe relativa- altas, 2-5 milhas marítimas por hora
mente depressa para a "terra firme", ( correspondendo mais ou menos 0,5-
que não é mais formada por recentes 2,5 m/seg).

lSO
As elevadas beiras das margens ( ba- Bem se pode avaliar, portanto, os pre-
laústre das margens) poderão, desse juízos sofridos pelos habitantes das
modo, teoricamente, crescer em apro- várzeas amazônicas, e pela própria eco-
ximação assintótica até as alturas má- nomia regional, em conseqüência das
ximas das águas. Na verdade, sua altu- grandes enchentes do Rio-Mar e, so-
ra está situada, na maioria das vezes, bretudo, das suas cheias excepcionais.
em nível mais baixo, correspondendo
à média da cheia anual do rio, de ma-
neira que, no caso das extremas inun-
dações, como por exemplo em 1953, CARACTERÍSTICAS MORFO-
fica toda a várzea sob a água, o que
traz conseqüências catastróficas aos HIDROLÓGICAS.
moradores e ao gado. A DRENAGEM NA VÁRZEA
Da mesma forma que a formação ver- E NA TERRA-FIRME
tical (para cima), é evidente que, com AMAZÔNICAS.
a diminuição da correnteza das "águas FORMAÇÕI:S LACUSTRES
brancas" penetrantes na várzea, alcan-
çam primeiro as partículas em sus- Os perfis longitudinais dos grandes rios
pensão, minerais, mais grosseiras, de da Bacia Amazônica revelam dois tipos
peso específico mais elevado, enquanto de cursos d'água: rios de planície e
as partes minerais mais delicadas e as rios de planalto.
orgânicas de peso específico menor
( planctos fluviais, vivos e mortos, as- Entre os primeiros figuram o Amazo-
sim como detrito orgânico finíssimo) nas e seus importantes tributários oci-
são transportados mais para dentro da dentais como, por exemplo, o Madeira,
várzea e para os lagos de várzea, an- o Içá-Putumaio e o Japurá-Caquetá
tes de formarem, por deposição, o so- que, embora tendo a quase totalidade
lo da várzea. Assim, é necessário ad- .dos seus cursos na planície amazônica,
mitir que as características dos solos são formados por rios que têm nas-
das várzeas resultam da diferença do centes nas elevadas altitudes da cordi-
material depositado na proximidade lheira andina.
da margem do rio e no interior da
várzea" 84 • Os rios Javari, Purus e Juruá, para ci-
tar unicamente os maiores tributários
Devido ao limo depositado sobre a sua ocidentais do Amazonas pela margem
superHcie pelas águas das cheias, as direita, podem ser considerados rios
várzeas amazônicas possuem solos cuja inteiramente de planície, já que suas
fertilidade é naturalmente renovada, e respectivas bacias acham-se instaladas
por isso são aproveitadas para cultu- sobre as terras baixas do platô terciá-
ras de subsistência (de ciclo rápido) rio amazônico; apesar de ser também
e para o cultivo comercial da juta um rio de planície, o rio Negro tem
(anual), todas com grande rendi- somente a metade do seu leito cavado
mento. nos sedimentos terciários amazônicos,
O fértil solo das várzeas prop1c1a, correndo o restante do seu encachoei-
igualmente, a existência de extensas rado curso sobre terrenos do embasa-
manchas de campos alagáveis, forma- mento cristalino, fortemente rebaixados
dos por gramíneas de alto valor nutri- por pediplanação e situados pratica-
tivo e que constituem excelentes pasta- mente no mesmo nível daquele baixo
gens nativas, nas quais é praticada a platô sedimentar.
criação extensiva de gado de corte,
do que resulta encontrar-se nos cam- Os perfis longitudinais dos rios Ama-. _\,.•
pos-de-várzea amazônicos cerca da zonas e Negro apresentados nas figu-
terça parte do rebanho bovino da Re- ras 19 e 27 foram desenhados tendo-
gião Norte. se como base perfis construídos pelo

181
Departamento Nacional de Portos e ainda bastante desconhecidas; até ago-
Vias Navegáveis 65, com modificações ra somente cerca de uma centena de-
em suas escalas vertical e horizontal. las foi traçada para medição de des-
O perfil do rio Amazonas é parcial, carga, construção de usinas hidrelétri-
abrangendo unicamente o seu longo cas e pontes rodoviárias e para estu-
trecho planiciário, entre o Pongo ( sãl- dos de projetos hidroviários. Num rá-
to} de Manseriche, situado em terri- pido levantamento do que já foi feito
tório peruano, a 150 m acima do nível (até 1974) com tais finalidades, pode-
do mar e limite de navegação franca se constatar que:
do Grande-ruo e o oceano; represen-
tando uma extensão de 4. 350 km. ou a) no Território do Amapá o rio Ara·
seja. mais de 60% ( Amazonas-Ucaiali) guari teve sua seção determinada em
e 70$ ( Amazonas-Maraiion) do seu Porto Platon e em alguns pontos pró-
comprimento total, este perfil mostra ximos à cachoeira do Paredão (para a
claramente ser o Amazonas um típico construção da Usina Hidrelétrica Coa-
rio de planície. Essa mesma caracte- racy Nunes), o mesmo ocorrendo no
rística é evidenciada pelo perfil do rio rio Amapari (em serra do Navio, para
Negro, não obstante grande parte do a construção de ponte ferroviária) e no
seu CW'SO ser interrompido por núme- afluente deste último, o rio Falsino;
ros rápidos e corredeiras, entre as
quais se destaca, pela sua extensão e b) no Estado do Pará são conhecidas as
desníveL a corredeira de São Gabriel. seções dos rios Guamá (no ponto em
que ele é atravessado pela Rodovia Be-
Como rios de planalto da Bacia Amazô- lém-Brasllia}, Curuá-Una ( 4 seções na
nica podem ser considerados aqueles cachoeira do Portão, onde está sendo
que, embora de grande extensão, so- construída uma usina hidrelétrica),
mente oferecem navegação livre de Tapajós (em Santarém, Fordlândia e
obstáculos naturais em seus trechos fi-
nais, de poucas centenas de quilôme- Jatobal), Trombetas (em Oriximiná e
tros e já cavados nos terrenos que for- na cachoeira da Porteira), Mapuera
mam os baixos tabuleiros arenosos Ter- (no estirão da Angélica), Xingu (em
ciários. Altamira e Porto de Moz), Aiaiá (em
Taperinha), Jari (em São Francisco),
Os mais extensos rios de planalto da Maicuru (em Arapari), Capim (em
Bacia Amazônica são o Xingu e o Ta- Boca do Inferno), Gurupi (em Cami-
pajós, que descem do planalto sul- ranga) e outras mais. Na Zona Bra-
amazônico, o último formado por dois gantina ( leste paraense) quase todos
rios inteiramente de planalto, o Jurue- os principais cursos d'água já tiveram
na e o São Manuel ou Teles Pires; suas seções levantadas. No trecho em
descendo do planalto das Guianas e que o rio Tocantins se encontra na
também apresentando pequenos tre- região amazônica foram traçadas se-
chos francamente navegáveis, podem ções transversais em Baião, Nazaré dos
ser citados os rios Trombetas ( Fig. Patos, Tucurui, Sítio Soturno (a 7 km
27), Jari, Paro e Maicuru. Os trechos a montante de Tucuruí), Jatobal, ca-
planiciários dos rios de planalto da Ba- choeira do Ipixuna, Itupiranga, Mara-
cia Amazônica têm como limite a cha- bá, Porto São Félix e em outros pontos;
mada "linha das cachoeiras" que, ao no seu afluente ltacaiúnas foram de-
norte e ao sul do vale do Amazonas, terminadas seções em Barra do Cin-
une as quedas d'água que freqüente- zento e Fazenda Alegria, e em seu
mente marcam o contacto dos terrenos afluente Parauapebas, em Gelado;
Terciários com as formações Paleozói-
cas e Mesozóicas do geossinclinal ama- c) no Estado do Amazonas o Solimões
zônico. teve sua seção levantada num ponto
As seçõE-s transversais dos leitos per- ( ltacoatiara) situado entre Coari e a
manente~ dos rios da Região Norte são foz do rio Negro, bem como em Mana-

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800 700 600 500 400 300 200 100 OKm

Fig. 27 - Perfis dos rios Negro (rio de planície) e Trombetas (rio de planalto), com alturas referidas ao nível de base do rio Amazonas. Fontes: - MT-
DNPVN, ref. 9 da Bibliogafia (rio Negro) e Carta do Brasil ao Milionésimo (Folha Santarém) - IBGE (rio Trombetas).
capuru, Coari, Santo Antônio do Içá, Por iniciativa do Departamento Na-
São Paulo de Olivença e Benjamim cional de Aguas e Energia foi também
Constant. Outros rios amazonenses ti- levantada, em 1968, a seção do Ama-
veram suas seções determinadas, como zonas em óbidos ( Fig. 29) .
o Madeira (em Humaitá), o Purus, o
Juruá, o Uatumã (na cachoeira More- Como se vê, poucas são as informações
na), o Jatapu (na base da Siderama), disponíveis para o estudo da morfolo-
o Paru de Oeste ou Urubu e o Negro gia dos leitos dos rios que formam a
(em Manaus, em Airão, Barcelos e a mais rica e extensa rede potâmica do
jusante de Tapuruquara); mundo 87, o mesmo acontecendo com
referência à carência de dados quanto
d) no Estado do Acre foram traçadas ao perfil longitudinal das suas grandes
seções no rio Acre (em Rio Branco), artérias fluviais .
no rio Purus, no rio Iaco ( 3 seções) e
no rio Moa ( 2 seções) ; Os processos geomorfológicos peculia-
res ao domínio morfoclimático amazô-
e) no Território de Roraima duas se-
nico geraram formas resultantes da
ções transversais do rio Branco foram ação da erosão plúvio-fluvial (ação
levantadas, uma perto de Boa Vista e combinada com as variações glácio-
outra junto às cachoeiras de Caraca- eustáticas do nível de base atlântico e
raí, nos pontos em que este rio é trans- com o trabalho da construção fluvial)
posto por grandes pontes rodoviárias; que deram origem a elementos da dre-
com a mesma finalidade foram deter- nagem tanto da terra-firme quanto da
minadas as seções dos rios Mucajaí (em várzea amazônica. Tais elementos são
Fé e Esperança e em Santo Antônio), os "igarapés", "paranás" e "furos", bem
Parimé, Cauamé, Uraricoera, Apeú como os lagos-de-terra-firme e os la-
(em Macapasinho) e Cotingo (na Fa- gos-de-várzea.
zenda Branca );
A várzea amazônica é formada pelo
f) no Território de Rondônia foram leito maior do Amazonas e dos seus
unicamente traçadas seções no rio Pa- afluentes de "água branca", ou seja,
caás Novos e, no rio Jamari, uma se- pelas suas planícies de inundação,
ção em Ariquemes e duas na cachoeira constituídas por faixas de terrenos ho-
do Samuel 88 • locênicos encaixadas no baixo platô
O rio Amazonas e o rio Negro tiveram Terciário, este regionalmente chamado
suas seções pela primeira vez levan- "terra-firme".
tadas para medição direta de descar-
ga em 1963, graças ao trabalho em co- Pela sua amplidão, flora e fauna varia-
operação do U. S. Geological Survey, das, e, sobretudo, pela sua abundância
Universidade do Brasil e Marinha Bra- em água, a várzea do Amazonas im-
sileira ( Fig. 28). Desse esforço con- pressiona a todos que penetram na Re-
junto resultou o levantamento de três gião vindos do litoral atlântico. Mar-
seções, uma no final do seu trecho re- geando quase todo o caminho daqueles
gionalmente denominado Solimões, ou- que, subindo o Rio-Mar, demandam o
tra próxima à foz do rio Negro, e outra interior da Amazônia, tem sido a par-
em frente à cidade de óbidos; fora cela mais conhecida da Região; muitos
do seu leito principal foi traçada mais dela não passam, satisfeitos com o es-
uma seção transversal, esta no paraná petáculo quase completo que oferece
do Careiro, braço que liga o Solimões da natureza amazônica.
ao Amazonas, formando a ilha do Ca-
reiro. A seção transversal do rio Negro, Daí a imensa e variada Região Amazô-
levantada em 1963, fica bem próxima nica ter sido repetidamente descrita
da sua foz e a somente uma dezena pela sua encharcada ante-sala - a vár-
de quilômetros distante de Manaus. zea; disso decorreu o falso conceito de

184
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'::!!

o zooo 4000 6000 8000 Feet

o 1000 2000 Meters

Fig. 28 - Seções e velocidade média na vertical dos rios Amazonas, Negro, Solimões e
paraná do Careiro nos locais das medições (Fig. 21) . Left bank - margem esquerda;
Right bank - margem direita; Feet - pés; Sounding - sondagem; Feet per seoond - pés por
segundo; Meters per second - metros por segundo. (Reproduzido de Oltman et alii, p. 7, ref.
37 da Bibliografia).

ser toda a Amazônia um vasto alagadi- Na realidade, a várzea amazônica, ape-


ço com terrenos ainda em formação, o sar da sua vastidão, representa uma
que lhe valeu os epítetos de "terra parcela relativamente pequena do gran-
imatura", "último capítulo do Gênesis" de todo regional; segundo Felisóerto
e outros igualmente fantasiosos, mas de Camargo ( ref. 12 da Bibliografia)
de grande efeito literário, todos frutos ela ocupa cerca de 64 .400 km 2, que
de uma generalização decorrente do correspondem, aproximadamente, a
desconhecimento geográfico da região 1,5$ da área amazônica em Território
em seu conjunto. Brasileiro.

185
Rio Amozonos em Obados
PERFIL DA SE<;Ão DE MEDIÇÃO DE DESCARGA
MorQem
dI relia Óbldoa

lO

20

30

50

60 lsÓiocos em melros por otQundo

o 500m
70m

Fig. 29 - Perfil da seção do rio Amazonas em frente à cidade de óbidos, em fins de maio
de 1967 (por ocasião da medição da sua descarga por iniciativa do Departamento Nacional
de Águas e Energia), quando foi também medida a velocidade máxima de 3,2 metros por
segundo. {Reproduzido, com simplificações, de MME-DNAE, ref. 8 da Bib)jografia).

A primeira tentativa de representação rios de planície da Ásia Meridional e


cartográfica das várzeas do rio Ama- da Indonésia. .
zonas, desde a sua foz ao sopé dos An-
des, bem como das várzeas dos trechos A morfologia da várzea amazônica é
finais de alguns de seus afluentes mais relativamente simples. Trata-se de
importantes, como o Purus, Madeira, uma planície aluvial inundável muito
Ucaiali, data de 1925, tendo sido feita baixa; em Benjamim Constant, na fron-
por C. F. Marbut e C. B. Manifold; teira brasileiro-peruana e a 2. 500 km
do litoral atlântico, está somente a 65
no croqui que estes dois membros da m acima do nível do mar. Não guarda,
Missão Oficial Norte-Americana de Es- porém, um nível uniforme, donde há
tudos do Vale do Amazonas organiza- que se distinguir várzeas-altas e vár-
ram, na escala de 1:5.000.000 e publi- zeas-baixas, as primeiras somente sub-
caram sob o título Faixas de planícies mersas pelas águas das grandes en-
inundáveis da bacia amazónica inte- chentes, enquanto que as últimas são
rior, estão representadas as áreas de alagadas, anualmente, pelas cheias
várzeas que puderam então delimitar, normais. As várzeas-altas são, via de
assinalando os trechos em que as mes- regra, sempre florestadas, ao passo que
mas confinam com as bordas íngremes as várzeas-baixas, além de serem tam-
(a que chamaram bluffs) do platô bém recobertas pelas matas-de-várzea,
Terciário 68• são a sede de extensas campinas inun-
dáveis - os campos-de-várZea, dispos-
A fisiografia da várzea amazônica se tos em torno dos lagos-de-várzea, per-
assemelha, em última análise, à das manentes ou temporários, e por detrás
várzeas dos grandes rios que correm dos diques marginais dos rios, paranás
nas planícies sedimentares florestadas e furos.
das regiões equatoriais e intertropicais,
notadamente com as do rios Gongo, A várzea-alta é modelada nos níveis
Orinoco, Ganges e outros caudalosos mais elevados do Quaternário amazô-

136
nico. isto é, nos níveis dos tesos de pendente menos forte, quando as bor-
Marajó ( 4 a 20 m), de Marbut & Ma- das desses terraços já foram bastante
nifold. Não se apresenta como uma desgastadas pela erosão pluvial.
planície contínua, mas é, na realidade,
constituída por tratos de terrenos que Quanto à amplitude de sua seção, po-
demos distinguir três tipos de leito
permanecem acima do nível das águas
maior do Amazonas e dos trechos pla-
durante as cheias normais, e por isso
niciários de seus afluentes: 1 ) o for-
aproveitados para abrigar as sedes, mado por várzeas de grande largura,
currais e retiros da fazenda de criação alcançando mais de 200 Jcm, encontra-
e as habitações dos plantadores de ju- do na chamada "região das Ilhas",
ta. Podemos considerar ainda como compreendida entre as ilhas de Mara-
várzea-alta tanto os diques marginais jó e Grande de Curupá; 2) o constituí-
atuais como os antigos, estes últimos do por várzeas de largura média, até
aparecendo dentro da planície de inun- 50 Jcm, como na região do Baixo-Ama-
dação sob a forma de baixos dorsos zonas; e 3) o em que as várzeas são
arqueados e paralelos entre si - as comparativamente mais estreitas, como
"restingas". se observa entre a foz do rio Madeira
e o sopé dos primeiros contrafortes
Traçando-se um perfil esquemático da andinos (nos trechos do Amazonas re-
várzea amazônica, tem-se uma idéia gionalmente chamados Solimões e Ma-
aproximada da sua morfologia ( Fig. rafion) . Somente na embocadura do
30). caudaloso Ucaiali, já em território pe-
ruano, o Maraõon apresenta uma vár-
A largura da várzea do Amazonas não zea de considerável largura, superior a
é uniforme; ao longo dos 3. 500 km de 80 quilômetros.
seu curso planiciário varia de poucas
centenas de metros a dezenas de qui- Construída pelas deposições sucessi-
vas dos sedimentos em suspensão nas
lômetros, sendo que em numerosos e
águas transbordantes dos rios durante
extensos trechos observa-se mesmo a as enchentes, sua topografia é, no con-
sua ausência. junto, plana com depressões, do9de a
sua drenagem ser difícil e desorganiza-
A explicação desse fato pode ser en- da, mesmo na época da vazante, em
contrada na topografia do fundo da conseqüência do seu relevo inexpressi-
Bacia Amazônica, constituída em qua- vo e do seu caráter essencial áe pla-
se sua totalidade por um baixo platô nície de inundação.
terciário (e, em algumas áreas, por
terrenos que datariam do Quaternário Além da topografia peculiar que apre-
antigo), dispostos em degraus e cujos senta, outro fator concorre para difi-
níveis superiores ultrapassam alturas cultar a circulação da água, tanto a de
de 100 m acima do nível médio do origem pluvial como a de transborda-
rio, os mais baixos ficando a ·poucos mento; trata-se da densa e intrincada
metros a cavaleiro do nível máximo vegetação graminácea, arbustiva e ar-
atingido pelas enchentes. bórea que a reveste inteiramente, como
um manto contínuo.
~ que o Amazonas, segundo o pro-
A circulação da água nas várzeas é in-
cesso normal de evolução dos rios de
teiramente desordenada durante as
planície aluvial, ao descrever grandes cheias; nas vazantes, quando os rios
meandros na planície por ele cons- voltam aos seus leitos normais, a sua
truída, vai calibrando o seu vale en- drenagem toma-se um pouco mais de-
caixado no baixo platô Terciário, ou finida, circulando a massa líquida
terra-firme, tocando este em vários tre- pelos "regos" (estreitos canais que, na
chos, O(lde então a sua margem passa vazante, aparecem no fundo das de-
a ser a própria borda do platô; nesses pressões lacustres em adiantado pro-
pontos sua margem é ora alcantilada cesso de colmatagem) , pelos "para-
(dando origem às "barreiras") ora de nás" e pelos "furos", estes últimos re-

187
PLATÕ TERCIÁRIO PLANÍCIE QUATERNÁRIA PLATÕ TERCIÁRIO

Terra- firme Várzea oito várzea b o lt o Terra -f i r me

PoronÓ
ou Rio
furo principal

Sed imantas tere iÓrios Sedimentos terciários


( Série Barreiros ) ( Série Barreiros)
Terreno de aluviões recentes

1 nos orondes cheios campo inundóvel


N tve I do rio principal: 2 - nos cheios médios
3 - nos vazantes médios v eoetoç"o florestal
FIG .30
L. C.S . - 1975

Fig. 30 - Corte ideal do leito maior cfe um rio ~nico transportador de sedimentos (rio de "água branca"), mostrando os principais elementos da sua
drenagem, relevo e vegetação.
cebendo também as águas que defluem ilha de Marajó do continente e esta-
dos lagos permanentes e temporários. belece comunicação entre o rio Amazo-
Assim, enquanto as drenagens dos pla- nas e o chamado "rio Pará", nome
naltos norte e sul amazônicos, bem esse dado ao extremo corpo d'água do-
como a do platô Terciário, são geral- ce situado ao sul daquela grande ilha e
mente bem definidas, a das várzeas é onde o Tocantins tem o seu estuário.
complicada e difícil, sendo variada a
nomenclatura regional para designá-la. Os cursos d'água de pouca extensão e
reduzida largura, mas com bacias bem
O extenso, largo e profundo braço de definidas, tanto da várzea como da
um grande rio que, na planície de terra-firme, recebem na Amazônia bra-
inundação amazônica forma uma gran- sileira o nome indígena de igarapés
de üha, é regionalmente chamado "pa- ( igara - canoa; pé - caminho, tri-
raná" (pará - mar; nã - semelhante, lha).
na língua indígena) 69 ; quando de me- No capítulo sobre a Amazônia de sua
nores proporções recebe o nome de obra L'Amérique du Sud, Pierre Denis
"paraná-muim" (mirim - pequeno). refere-se aos igarapés como "braços
Os "paranás" são permanentemente na- d'água" da várzea do Amazonas, e aos
vegáveis, ao passo que os "paranás-nú- "paranás-mirins" como "canais parale-
rins" nem sempre permitem, na época los ao rio", comunicando entre si os
da vazante, a livre circulação de em- lagos-de-várzea e "confluindo com o
barcações de maior calado ( Figs. 31 e rio no topo dos meandros, nos pontos
32). em que a corrente vem se chocar com
a terra-firme" 70 •
Os canais que nas várzeas amazônicas
estabelecem comunicação entre o rio Gilberto Osório de Andrade considera
principal e o seu afluente mais próxi- os igarapés elementos mais da drena-
mo, acima da confluência definitiva, gem do platô Terciário (terra-firme)
são denonúnados "furos". :E: digna de do que propriamente da várzea; em
menção, pela grande área que abran- seu trabalho intitulado Furos, paranás
ge, a rede de canais desse tipo, verda- e igarapés 11, este autor estuda a gê-
deira anastomose fluvial, conhecida nese e a morfologia desses componen-
como "região dos furos", que separa a tes do sistema potâmico da Amazônia,

Fig. 31 - Principais elementos da drenagem da várzJea amazônica: 1 - Igarapé; 2 - Furo;


3 - Paraná; 4 - Re~os em lago temporário; 5 - Lago pennanente; 6 - Lago de meandro
abandonado ("sacado'); 7 - Lago de barragem em antiga na fluvial.

139
Fi$· 32 - Mosaico aerofotográfko de um trecho da várzea amaz6nica mostrando os ~­ ~o ~gem, nas úus baixas; na mata-de-várzea que margeia o parW, na linha, sio
pau elementos que com~m a sua paisagem ~ica. A esquerda vl·se parte de uma ilha vistas clarea~ retangulares com plantações de juta. Os lagos-àe-várzea ocupam as dep~
aluvial com faixas arqueadas de "restingas" cobertas por mat.a-d.e-várzea; separando-a da do terreno amda em processo de .entulhamento; comunicando entre si lagoas situadas entre
planície de inundação, um ..paraná" apresenta duas ilhas alongadas, tamWm de origem aluvial. os dois furos, são vistos os "regos.. pelos quaiJ é feits, na vazante (época em que (oram
Um "furo", ao ~ual vem ter um outro mais estreito, corta a planície inundávei; note-se a
mata ciliar, ou • de pestana", instalada sobre os seus cliques mar~, bem como sobre os tomadas as fotografiaJ), a dreoagem dos terrenos ainda em formaçio. No canto superior direito
cliques mar~is do paraná. Nas partes já parcial ou ~talmente colmatadas da planicle de vf-se o contato da várZea com a terra-firme coberta de mata, onde foram abertos roçados
inundação podem ser vistos campos-de-várzea e matas-de-várzea, os primeiros utilizados para lavoura de subsistlncia.

140 141
com "o propósito de sugerir critérios Os chamados wgos-de-terra-firme e
sobretudo genéticos à identificação lagw-de-várua são elementos de
desses elementos e mais dos lagos-de- grande expressão na hidrografia regio-
terra-firme, por oposição aos lagos-de- naL ambos desempenhando importante
várzea". Do resumo 72 que apresenta papel na drenagem, tanto da terra-fir-
deste bem fundamentado trabalho, me como da várzea amazônicas.
fruto de acurada pesquisa de campo,
colhemos as seguintes conclusões: Os lagos ditos de terra-firme são mas-
sas de água doce e límpida, alongados,
1.0 Do ponto de vista genético os "fu- profundos e ramificados, que ocupam
antigas "rias fluviais", cujas bocas fo-
ros" podem ser identificados como a)
ram colmatadas pelo material sólido
- resultados de ruturas de interflúvios carreado por rios de "água branca";
(captura) ou de antecedência ( heran- são, portanto, lagos·de-barragem, isto é,
ça) na terra-firme e na várzea alta, e resultantes do represamento - pelas
b) - canais ramificados e anastomosa- aluviões das restingas construtoras da
dos que drenam as águas das cheias várzea- das largas e afuniladas embo-
e da vazante na planície inundável caduras de cursos d'água que, descen-
atual (várzea baixa), sendo, assim, do dos tabuleiros arenosos, afluíam ou-
elementos fluviais que se formam tan- trora diretamente para os rios transpor-
to nas terras-firmes como nas várzeas tadores de sedimentos ( Fig. 33) .
amazônicas 73 •
Por esse processo formaram-se grandes
2.0 Quanto aos paranás, devem ser lagos-de-terra-firme que se desenvol-
considerados, numa primeira caracte- vem por dezenas de quilômetros e che-
rização geral, os trechos do Solimões- gam a apresentar até 7 km de largura,
Amazonas nos quais têm lugar a) - entre os quais merecem especial men-
confluências de tributários importantes ção os lagos Piorini e Erepecu, res-
de"água branca" e b) - confluên- pectivamente com 80 e 70 km de ex-
cias de tributários de "água preta" ou tensão, bem como os lagos Badajós,
"limpa". Anamã, Nbamundá e Manacapuru,
todos com cerca de 50 Jcm, e o lago
3.0 Os rios de ..água branca" sobre- de Tefé com 25 1cm de comprimento.
carregam o rio principal, com o ma-
terial sólido que transportam em sus- A orientação NE-SW e NW-SE dos
~nsão em suas águas, e entulham os eixos de grande número de lagos-de-
deltas de confluência", onde a dre- terra-firme, formando ângulos quase
nagem, no princípio divagante, termi- retos, sugeriu a Hilgard O'R. Stem-
na por se estabelecer como uma rede berg uma adaptação dos mesmos à re-
de furos e paranás, com uma resultan- de de fraturas ( Figs. 3 e 4) que,
te lateral. segundo este autor, teria fendido o pa-
cote Terciário amazônico 74 •
4.0 A montante da confluência dos
tributários de "água preta", ou "lim- Estariam, assim, os lagos-de-terra-fir-
pa", a migração do leito menor se es- me dispostos ao longo de linhas de fra-
tende sobre a margem da confluência; turas nas quais se Clesenvolveram ini-
no rio principal, a montante do ponto cialmente vales rasos que, posterior-
de confluência, a planície de inunda- mente alargados pela erosão das ver-
ção permanece instável e os desloca- tentes e aprofundados pelas sucessivas
mentos do leito menor deixam segmen- regressões marinhas, foram finalmen-
tos ( paranás) na retaguarda da mi- te "afogados" pela última elevação do
gração. nível de base atlântico, transformando-
se em verdadeiras "rias fluviais" no in-
5.0 Os furos e paranás são "cursos terior da Planície Amazônica.
complementares", no sentido de que
eles restituem elO rio principal a fração São exemplos de lagos-de-terra-firme,
da descarga que ele recusou na con- originados de antigas "rias fluviais" in-
fluência. teriores e orientados pela tectônica: na

142
direção geral NW-SE - o lago de Fa- dos rios Anapu, Camarapi e Mucaja-
ro ("ria" do Nhamundá), as séries de tuba (Fig. 39), pelas suas enormes
lagos dispostos ao longo do baixo cur- extensões ( 20 a 50 km) e considerá-
so do rio Trombetas ("ria" do Trom- veis larguras ( 5 a 15 km), receberam
betas) e do rio Uatumã ("ria" do Ua- os nomes de "baias" (baía de Caxiua-
tumã ), bem como os grandes lagos ná, baía de Pacajaí, baía de Portei
Piorini e Anamã; na direção geral e baía de Melgaço, esta última comu-
SW-NE - o grande lago de Coari nicando-se, por um feixe de furos, com
("ria" do Coari), o lago Mamori ("ria" o chamado "rio Pará").
do paraná do Mamori), a grande "ria"
lacustre do rio Arapiuns, próxima à A barragem destas "rias" não foi feita
foz do Tapajós ( Figs. 7 e 8) e a já men- por aluviões recentes, mas por sedi-
cionada "baía" de Caxiuaná ("ria" do mentos datando provavelmente do
Anapu). Quaternário antigo, os quais formam
atualmente terrenos com altitudes cor-
Na gênese dos lagos-de-terra-firme há respondentes às dos níveis de Marajó
que considerar-se, como observa Gil- ( 4, 8 e 20 m), donde tais "baías" não
berto Osório de Andrade, a evolução poderem ser classificadas como lagos-
dos igarapés, e nesta a ação combi- ae-barragem típicos; de formação bem
nada da erosão das vertentes dos seus mais remota, constituem hoje em dia
trechos finais ( recuo das vertentes ) e lagos-de-terra-firme interiorizados.
o afogamento dos mesmos pelas águas
dos rios da planicie quaternária, em Formada pela deposição anual dos se-
conse~üência de transgressões mari- dimentos em suspensão nas águas das
nhas 7 • enchentes, a várzea amazônica tem um
crescimento lento e intermitente, da
Os grandes lagos-de-terra-firme em sua periferia mais alta (dique margi-
que se transformaram as antigas "rias" nal) para o seu interior deprimido, que

Fig. 33 - Lago-de-terra-finne de barragem (L), com a boca barrada por estreita faixa de
mesma a uma rede de falhas e fraturas. (Croqui feito sobre fotografia aérea Trimetrogon,
USAF - 1943).

143
abriga grandes lençóis d'água - os la- cia din~mica da erosão e do aluviona-
gos-ile-várzea - estes em progressivo mento que vinha caracterizando a ca-
processo de entulhamento. lha ativa, e esta, reduzida a lago em
ferradura ou sacado, entra a deterio-
Os lagos-de-várzea ocuram as depres- rar, sendo aos poucos entulhada" 77 •
sões da planície aluvia em formação,
ou seja, as áreas ainda não inteira- Recolhendo apreciável parcela da des-
mente colmatadas pelo material sólido carga fluvial durante as enchentes, os
depositado durante as cheias, no pro- lagos-de-várzeas de qualquer origem
cesso normal de construção das várzeas funcionam, até certo ponto, como re-
amazônicas; são massas líquidas rasas, servatórios de compensação das cheias
de margens indefinidas e com profun- dos rios de "água branca", impedindo
didades variando de 3 a 6 m, nas que estas alcancem níveis mais eleva-
cheias, e somente de 1 a 2 m nas va- dos.
zantes.
Fora da bacia de drenagem do Amazo-
Muitos lagos-de-várzea ocupam gran- nas, mas dentro ainda do gigantesco
des áreas na planície aluvial do Ama- quadro hidrográfico da Região Norte,
zonas; com áreas variando de 20 a mais estão as formações lacustres da baixa-
de 40 km 2 podem ser citados o lago da litorânea do Amapá e da porção
Grande do Maicuru, entre Santarém oriental da ilha de Marajó.
e Monte Alegre; o lago Itandeua, en-
tre Alenquer e óbidos; o lago Grande Estudando a gênese da chamada "re-
do Curuaí e a lagoa do Poção, ao sul gião dos lagos do Amapá", Antonio
de óbidos; o lago Camaçari, a nor- Teixeira Guerra concluiu tratar-se a
deste de ltacoatiara; e o lago Cabalia- mesma de uma zona lacustre constituí-
na, próximo a Manacapuru. Outros es- da "de lagos de barragem, isto é, for-
tão situados em grandes ilhas aluviais, mados por flechas sucessivas de lama,
como o lago do Rei, na ilha do Careiro, hoje transformadas em terras fir-
fronteira à foz do rio Negro, e o lago mes" 78 • Na época das chuvas (janeiro
Piracacira situado na ilha Grande do a maio) estes lagos transbordam e suas
Tapará, para citar somente os que pos- águas cobrem toda a planície litorâ-
suem área superior a 10 km 2 • nea, transformando-a em um vasto ala-
gadiço, que vai das margens do Ara-
São também lagos-de-várzea agueles guari às do Amapá Grande e ao ocea-
oriundos de meandros abandonados, no no (Fig. 35).
caso com a forma de crescente ou fer-
radura. Dentre os grandes rios amazô- O interior da porção oriental da ilha
nicos que divagam em suas planícies de Marajó se caracteriza topografica-
de inundação, o Puros e o Juruà são mente por ser uma área deprimida e
os mais ricos em meandros, apresen- de drenagem desorganizada, no fundo
tando, conseqüentemente, maior nú- da qual encontra-se o grande lago Ara-
mero de lagos desse tipo, formados por ri; não se trata, porém, de uma região
alças de antigos meandros e reponal- de drenagem endorréica, uma vez que
mente denominados "sacados" 7 ( Fig. este lago tem como principal desagua-
34). douro o rio Arari, que desemboca na
baía de Marajó, após um longo per-
A origem desses lagos de meandros curso de quase 100 km, através de
abanáonados ("lagos-de-meandros", campos alagáveis. O lago Arari funcio-
segundo Ab'Saber) foi pormenorizada- na, no entanto, como um verdadeiro
mente estudada por Sternberg em seu nível de base regional, para onde cor-
trabalho intitulado A propósito de me- re grande quantidade das águas das
andros. Escreve este autor: "O rompi- chuvas caídas sobre aquela parte da
mento do istmo da península em que se ilha, de janeiro a maio.
transforma o terreno envolvido por um
meandro põe termo ao crescimento des- Apesar de ocupar a considerável área
te. A volta isolada do rio pode dizer- de aprox:madamente 400 km 2, o lago
se inativa ou morta; cessa a coexistên- Arari possui pouca profundidade, o

144
Fig. 34 - Trecho do rio Purus a montante de Lábrea. Note-se a sua riqueza em meandros
e a existência de grande número de lagos-de-vánea fonnados por alças de meandros abando-
nados, regionalmente denominados "sacados". (Extraído da Carta Aeronáutica USAF (Base
Preliminar} - Folha Lábrea - 1945).

que faz com que, no longo período da nia Maranhense" uma região lacustre
estiagem marajoara (junho a dezem- situada dentro da Baixada Ocidental
bro), ele exponha grandes trechos do Maranhense, de expressiva atividade
seu fundo lamacento 711 • agropecuária (rizicultura inundada e
criação extensiva de bovinos); os la-
Da dificuldade de escoamento das gos nela encontrados são antigas "rias"
águas provenientes da elevadíssima do Mearim, Pindaré e Grajaú, hoje in-
precipitação pluvial insular ( 3. 000 mm teriorizadas. No trecho final do rio
anuais), resulta a generalizada inunda- Turiaçu um conjWlto de antigas "rias"
ção das pastagens nativas e o acúmulo interiores forma uma série de lagos-
do excesso d'água em vastas e numero- de-terra-firme.
sas áreas permanentemente brejosas
no norte da ilha - os "mondongos",
cujas maiores concentrações estão si-
tuadas entre o lago Arari e a lagoa da 7- O DELTA-ESTUÁRIO DO
Tartaruga ( mondongos do Cajueiro)
e entre esta lag.oa e a lagoa de Açoeua AMAZONAS
( mondongos áo Cemitério) .
O trecho final do rio Amazonas se ca-
Os mondongos de Maraj6, ricos em racteriza por apresentar um grande
gramíneas próprias dos terrenos en- número de ilhas, numa extensão de
charcados, prestam-se admiravelmente mais de 300 km; ali · se encontra Ma-
à criação de búfalos indianos (o "bú- rajó - que, .possuindo cerca de 50 mil
falo d'água"), animais de hábitos aquá- krit2 , é a maior ilha flúvio-rnadtima do
ticos, abrigando a grande ilha o maior mundo - e outras menores, mas com
rebanho bufalino do País. área-s superiores a mil quilômetros qua-
drados (ilha Grande de Gurupá -
Considerando-se o Mearim como sen- 4.864 km2; Mexiana:- 1.534 km:l; Ca-
do o limite geográfico da Região _Nor- viana - 4. 968 km 2 ), todas alojadas
~ no Maranhão (pelo fato de até este dentro da larga reentrância da costa
rio se estender à floresta amazônica ), atlântica conhecida p9r "Golfão Ama-
vamos encontrar na chamada "Amaz6- zônico".

145
--Limite do Baixado 30km
Litorâneo lnundovel

Fig. 35 - "Região dos lagos" do Amapá na porção da baixada litoorAnea inundável situada
entre os rios Araguari e Amapá Grande.

As ilhas situadas na entrada do afuni- Mais para dentl'o do estuário amazô-


lado estuário do Grande-Rio, isto é, as nico há um outxo "arquipélago" inte-
mais próximas do oceano, formam rior (chamado "delta interno" por Le
agrupamentos aos quais Delgado de Cointe) que, embora visitado pelas
Carvalho denominou "arquipélagos marés, já apresenta características ti-
amazônicos". picamente fluviais; dele fazem parte a
ilha Grande de Gurupá e as ilhas dos
Os "arquipélagos" que estão ao norte Porcos, do Pará, do Vieira Grande,
da ilha de Marajó, ocupando quase Queimada, Mututi, Ituquara e deze-
todo o estuário do Amazonas e dos nas de outias.
quais fazem parte as ilhas de Bailique,
Mexiana, Caviana, Janaucu e Jurupa- As ilhas da foz do Amazonas são, em
ri, fronteiras ao oceano, sofrem maior sua maioria, de origem fluvial, do tipo
deltaico; as ilhas de Marajó, Caviana
influência marinha, manifestada pela e Mexiann têm, contudo, uma origem
invasão de seus cursos d'água pelas ma- mista, de vez que em parte foram cons-
rés; a presença da água salobra é res- txuídas por sedimentos fluviais e em
ponsável pela existência de mangue- parte são constituídas por tratos de
zais nas costas insulares voltadas para terrenos bem consolidados, que datam
leste, fato também observado em toda do Quaternário antigo ( Pleistoceno) e
a costa oriental de Marajó. ao que se supõe separados tectonica-

146
mente do continente; a porção ociden- confluência. A única diferença reside
tal de Maraj6, predominantemente flo- no fato de aqui não se tratar de um s6
restal (mata-de-várzea) e formada por afluente, mas de um estuário formado
terrenos mais recentes, é, porém, de por grande número de rios maiores ou
origem fluvial 8o. menores. Seria mesmo preferível falar
não dum "rio Pará", como se faz ge-
Comunicam o Amazonas com o ralmente, compreendendo sob este no-
chamado "rio Pará" numerosos canais me um trecho mais ou menos extenso
("furos") de grande extensão (até 100 do estuário que se estende ao sul de
km ), profundos (de 6 a 40 m), estrei- Maraj6, mas de um "estuário do Pará",
tos uns (50 m), outros muito largos reunindo sob esta denominação toda
( 450 m) e interligados; dispostos na a série de "baías", desde a baía de
direção geral N-S formam, no seu con- Maraj6 até a de Portei, senão até a de
junto, a já referida "região dos furos" Caxiuana. Em toda a extensão destas
de Maraj6. baías, a feição hidrográfica mais im-
portante parece ser o fato de que a
Segundo Sioli, a "região dos furos" maré provoca correntezas contrárias e
formou-se com a colrllatagem da zona não, como na boca do Amazonas, sim-
deprimida a oeste de Maraj6 81, du- plesmente uma represa mais ou menos
rante as transgressões marinhas post- forte. A parte meridional dos furos es-
glaciais, enquanto que os furos teriam tá sob a influência do sistema hidro-
sido produzidos pela erosão fluvial du- gráfico do estuário do Pará; a porção
rante as fases de regressão do mar 82 • setentrional é dependente do regime
fluvial do Amazonas .
Deve-se a Jacques Huber minucioso
estudo sobre esse interessante sistema A particularidade hidrográfica da re-
potâmico do estuário amazônico, em- gião dos furos reside nesta dependên-
bora muitos outros autores tenham es- cia de dois sistemas hidrográficos de
crito a seu respeito, como o fizeram caráter diferente. Entretanto, os fenô-
Martius, Wallace, Agassis, Hartt, Her- menos provocados pelas marés são os
bert Smith, Barão de Maraj6, Katzer, mesmos na maioria dos furos, tanto nas
Le Cointe e, mais recentemente, Sioü;
em seu trabalho Contribuição à Geo- embocaduras setentrionais como nas
grafia Ffsica dos furos de Breves e da meridionais. De ambos ·os lados a água
parte ocidental de Maraj6, Huber as- entra com a enchente e sai com a va-
sim situa, descreve e caracteriza a "re- zante, porque a sjmples represa das
gião dos furos": águas do Amazonas provoca, nestes ca-
nais laterais, correntezas semelhantes
"Sob o nome de "Região dos furos de às dos verdadeiros fluxos e refluxos no
Breves" deve-se compreender a área domínio do estuário do Pará.
limitada ao N pelo furo de Tajapuru e
sua continuação meridional, Tajapuru- Importa agora, antes de tudo, saber on-
zinho, a E pelo rio Macacos e o rio de se acha, nesta rede de canais, a zona
dos Breves, ao S pelas baias Portei, de neutralização destas influências. O
Melgaço e das Bocas. O conjunto hi- ponto onde se encontram, num furo
drográfico assim d~limitado correspon- determinado, a influência hidrográfica
de à definição do "furo" propriamente do rio Amazonas· e a do estuário do
dito, isto é, de uma comunicação entre Pará é chamado, pela gente do País,
o rio principal e o seu afluente, acima pelo termo muito apropriado de "en-
da confluência definitiva". contro d'água". € claro que os "encon-
tros d'água", isto .é, os pontos onde teo-
Como magistralmente mostrou Herbert ricamente as correntezas de maré do
Smith, " ... o Amazonas entra com qua- Amazonas e do rio Pará se encontram,
se todos os seus afluentes em comunica- praticamente não são pontos bem de-
ção por um ou diversos furos, pelos finidos, mas zonas mais ou menos ex-
quais estes afluentes recebem, ao me- tensas, mesmo por causa dó nível va-
nos durante a cheia do Amazonas, as riável do Amazonas e do rio Pará, res-
águas deste rio, acima da verdadeira pectivamente. Além disto, é de obser-

147
var que a gente do País não pode to- (a ilha Grande de Gurupá representa
mar em conta senão as correntezas su- a palma desse pé e os artelhos a ilha
perficiais, que certamente não concor- do Pará e os agrupamentos insulares
dam sempre com o movimento das onde se encontram as ilhas dos Porcos
águas do fundo destes canais relativa- e da Queimada, a ilha do Vieira Gran-
mente estreitos e profundos. Apesar de, a ilha Mututi e as ilhas Ituquara
destas resbições, a determinação dos e Mutunquara). A forma do delta e
"encontros d'água" é uma das questões sua posição parecem permitir classifi-
fundamentais para a compreensão do cá-lo como um delta-de-flanco estua-
regime hidrográfico dos furos" 83 . rino ( Fig. 36) .
Ao estudar a foz do rio Amazonas, o c) Mais adiante, em direção ao ocea-
geógrafo não se pode furtar a abordar no, surge um outro delta, cujas partes
o problema da sua classificação como emersas formam um arquipélago (ilhas
acidente geográfico . Mexiana, Caviana, Jurupari e Janaucu )
e ainda um arquipélago menor, junto
A existência nela de um grande nú- à costa do ~apá, formado pelas ilhas
mero de ilhas de formação deltaica, si- Curuá, do Brigue e Bailique. A porção
tuadas dentro de uma larga emboca- submersa deste outro grande delta (ele
dura de mais de 150 km de abertura, é de maré ) está compreendida entre
com características de um amplo es- a borda externa do emerso e a isóbara
tuário, levou alguns estudiosos da hi- de 10 metros. Aí é digno de nota um
drografia amazônica a considerá-la um setor muito picotado que deve corres-
"delta-estuário"; outros, desconhecen- ponder ao principal canal de entrada
do a geologia da porção oriental da e saída das mais fortes correntes de
ilha de Maraj6 e das grandes que lhe marés, cujas águas são o resultado da
ficam próximas e ao norte ( Caviana, mistura (ambiente de muita turbulên-
Mexiana) e, portanto, acreditando se- cia) de águas oceânicas e amazônicas.
rem as mesmas inteiramente de origem No interior do canal aparecem vários
fluvial, admitiram a existência de um cordões alinhados, paralelos à direção
grande delta na foz do Grande-Rio. de penetração das marés. Também em
frente ao rio Pará aparecem feições se-
Em trabalho inédito, o geógrafo Carlos melhantes.
de Castro Botelho aborda o problema,
preferindo classificar o complexo mor- d) Num resumo de interesse hidroló-
fohidrográfico encontrado no trecho gico: os rios Anapu-Pacajá, Jacundá,
final do Amazonas como um "delta-de- Araticu, Cupij6, Tocantins, Moju, Aca-
flanco estuarino". Assim resume este rá e Guamá desembocam no rio Pará;
autor as razões que o levaram a adotar o rio Amazonas, vencido o delta em
tal classificação: forma de pé, despeja suas águas no
oceano através de vários canais, dentre
a) Os rios Amazonas e Tocantins cor- os quais se destacam o do Norte e o
rem para um amplo e complexo estuá- do Sul; a ilha de Marajó é envolvida
rio que se estende desde o litoral do completamente por correntes de ma-
Amapá (talvez a planície do Araguari rés, pelo norte e pelo sul, até os furos
dele participe) até o litoral de Belém de Breves e dos Macacos, por onde
e no sentido do ocidente deve englo- penetram, reversivelmente atingindo o
bar a ria da baía de Caxiuaná. Ele é rio Pará, quando vindas do norte, e o
extremamente complexo por conter, canal Vieira Grande, quando vêm do
além das deposições estuarinas e for- sul.
mas associadas, também "rias" e deltas
recentes e atuais ( emersos e sub- Com estas considerações, baseadas na
mersos). disposição das massas insulares e na
hidrografia da área geográfica em te-
b) Observe-se bem toda a área e po- la, Carlos Botelho oferece argumentos
der-se-á perceber um gigantesco delta válidos para a definitiva classificação
fluvial progredindo dentro do estuário, do complexo estuário do rio Amazo-
assumindo a forma de um pé humano nas.

148
Por sua vez, Sioli também não consi- do Planalto Central brasileiro fosse o
dera a boca do Amazonas· um verda- primeiro grande tributário do Amazo-
deiro delta, mas sim um extenso e lar- nas a partir do oceano. .
go estuário; para este autor, o verda-
deiro delta do Amazonas está entre a Na realidade, porém, o rio Amazonas
ilha de Marajó e o continente, e é for- lança a quase totalidade das suas águas
mado pelo feixe de "furos" que desem- no Atlântico através do seu próprio es-
bocam na baía das Bocas ( Figs. 37 tuário, ou seja, pelo canal do Norte,
e 38), esta situada na extremidade oci- sendo comparativamente mínimo o vo-
dental do "rio Pará" 8'. lume de suas águas que, pelos "furos"
que separam a ilha de Marajó do con-
O fato de o Tocantins desaguar no cha- tinente, vem ter ao "rio Pará" onde,
mado "delta-estuário" amazônico, le- por sua vez, o Tocantins despeja suas
vou à crença de que este caudaloso rio volumosas águas ( Fig . 39) .

·~

Mozog& o

ILHA DE MARAJÓ

Fig. 36 - Formações deltaicas no estuário do rio Amazonas.

149
Tudo está a indicar que o rio Tocan- ao mesmo tempo (1942), em seu tra-
tins sempre possuiu o seu próprio es- balho O rio Amaz:onas e sua bacia:
tuário no "rio Pará" ao qual outrora "O rio Tocantins nunca foi, em pedodo
vinham ter as águas do Amazonas pelo geológico algum, tributário direto do
seu antigo "canal do Sul", cujo entu- Amazonas: a sua foz é. distinta, é o
lhamento deu origem à "região dos fu- rio Pará" 87•
ros" de Marajó 85 ; a afluência ou não
do Tocantins ao Amazonas somente Apesar das afirmações feitas há tantos
anos por estas duas autoridades, res-
suscita controvérsia entre aqueles que pectivamente na geologia e na geogra-
ainda não examinaram o "problema" do fia do Brasü, livros diâáticos e publi-
ponto de vista geológico e geomorfoló- cações oficiais vinham incluindo, até
gico, pois há quase quatro décadas há bem pouco, o rio Tocantins na bacia
(1938), escrevia Matias Roxo: " . . . do Amazonas; a partir, porém, de 1972,
questão que muito tem feito gastar tin- o Anuário Estatístico do Brasil passou
ta e papel é a de ser ou não o Tocantins a apresentar, em separado, os dados
afluente do Amazonas: nunca foi nem referentes ao potencial hidráulico das
é; em qualquer das épocas passadas bacias Tocantins-Araguaia, de acordo
teve uma comunicação livre com o com a divisão adotada pelo Departa-
oceano, como hoje em dia tem" 86• Cor- mento Nacional de Águas e Energia
roborando com esta assertiva, Delgado Elétrica para as bacias hidrográficas
de Carvalho também afirmou, quase brasüeiras.

Fig. 37 - O feixe de canais ("furos") que se~ra a ilha de Maraj6 do continente e vem
desaguar na extremidade ocidental do "rio Pará' (baia das Bocas) forma, segundo Harald Sioli,
o verdadeiro delta d:a boca do Amazonas, admitido o mesmo como um delta interno. Fonte:
Carta Aeronáutica USAF (Base Prelímlnar) - Folha Mazagão - 1948.

150
Fig. 38 - Litoral sul da ilha de Marajó. A direita e ao alto as entradas dos furos de Breves
e Boiuçu e, além, a baía das Bocas.

8 - AS MARÉS NO LITORAL tas baixas de longos trechos dos lito-


rais do Amapá e da ilha de Marajó:
AMAZÔNICO
No litoral amazônico a amplitude mé-
Fato marcante da hidrografia do lito- dia das marés de sizígia (fevereiro a
ral e estuário amazônicos são as suas abril) varia de 3,5 a 4 m; excepcional-
marés que, manifestando-se naqueles mente pode alcançar quase 4,5 m na-
trechos com considerável amplitude, quele período. Dentro do estuário do
grande impetuosidade e com certas pe- Amazonas e na baía de Maraj6, obser-
culiaridades, têm notável influência na va-se grande irregularidade nas oscila-
navegação dos pequenos barcos que ções do nível da maré 88.
estabelecem as comunicações maríti-
mas entre os portos situados nas em- Na cidade de Amapá, situada no tre-
bocaduras dos rios que deságuam di- cho final do rio Amapá Pequeno, as
retamente no Atlântico. Além disso, diferenças entre a baixamar e a prea-
penetrando pelos estuários de alguns mar de equinócio são também supe-
desses rios e no próprio Amazonas, riores a 3,5 m; no porto de Santana,
produzem o temido fenômeno da "po- ao sul de Macapá, no canal do Norte
roroca", bem como os já referidos "en- do Amazonas, as marés sizígias têm
contros d'água" da região dos "furos", e oscilações que podem atingir até 3,94
ainda a constante destruição das cos- metros .

151 .
Na costa do Amapá e na boca do Ama-
zonas as marés apresentam caracterís-
ticas mais diversas e imprevisíveis, de-
vido à influência de certos fatores de
ação também variável. "As marés nas
vizinhanças do Amazonas são sujeitas
a tantas variações e irregularidades,
que é difícil precisar o seu regime: a
duração, a altura e força da corrente
dependem da força do vento, da quan-
tidade de chuva e das caprichosas va-
riações da direção da corrente. Como
exemplo de anomalias existentes nas
marés do estuário do Amazonas, pode-
se citar já terem sido observadas dife-
renças de 2 a 3 horas em estabeleci-
mento do porto, em dois lugares sepa-
rados somente por 1 milha, e uma di-
ferença, nesses mesmos pontos, nas
amplitudes das marés, de 2 para 9 me-
tros. Nas proximidades da ilha de Ma-
rajó, durante a estação chuvosa, a pre-
amar se manifesta quase instantanea-
mente, sendo a amplitude da maré de
5 metros, realizando-se metade da ele-
vação nas duas primeiras horas da en-
chente, e sendo a velocidade da cor-
rente cerca de 6 nós" 89 •
Distanciando-se do oceano, as ampli-
tudes das marés vão sendo cada vez
menores; nos furos de Breves, Rubens
Lima constatou "que no verão, nos
meses de J.ulho, agosto e setembro, nas
marés de 'quadratura", a amplitude de
oscilação entre a baixamar e a preamar
é de 1,2 metros em média. Naqueles
mesmos meses as marés de "lua cheia"
e "lua nova" ultrapassam de 20 a 25
centímetros os limites atingidos nas
"quadraturas" 00 . Amazonas acima, a
amplitude da maré continua a diminuir
gradativamente, não indo além de 40
a 50 em na foz do Xingu e, em Santa-
rém já é de 20 em somente. Normal-
mente, a influência da maré no rio

Fig. 39 - O rio Tocantins tem a sua ampla


foz, de quase 20 lan, no chamado "rio Pari";
não sendo este um braço ou canal do rio
Amazonas, possui saída livre e independente
para o oceano. As regionalmente chamadas
"baías" de Caxiuaná, de Pracaf, de Portei e
de Melgaço são, na realidade, lagou-de-
terra-fimie interiorizadas, que· ocupam antigas
"rias" dos rios Anapu, Pracaf, Pacajá e Ca-
marapi. Fonte - Carta do Brasil ao Milioné-
simo (Folha Belém) - IBGE.

152
Amazonas se faz sentir até óbidos, a uma intumescência, a "onda de maré",
mais de mil quilômetros do oceano, on- que vai subindo o rio, que tem assim a
de a amplitude é praticamente a mes- sua correnteza invertida na superfície.
ma de Santarém.
Quando a onda da maré passa por so-
Pela sua maior amplitude e velocidade bre os baixios e bancos de areia dos
(que chega a 20 km/h), as marés equi- estuários, a massa d'água em desloca·
nociais, ou preamares de sizígia, se mento se fragmenta em vagalhões de
destacam sobremodo no estudo da hi- 4 e mais metros de altura, com um
drografia do litoral amazônico. As su- ruído surdo e fragoroso como o trovão,
cessivas ondas por elas formadas sobre ouvido a quilômetros de distância.
o fundo areno-lamoso do oceano (ex- Vencendo sempre a massa fluvial, a
posto na baixamar, junto à linha da onda da maré vai "rolando" rio acima
costa), se deslocam velozmente do lar- com uma velocidade de 10 a 20 quilô-
go para o continente; ao encontrarem metros por hora 9 2 •
as costas baixas, cobertas por densa
franja de manguezais, sobre elas se O ruído estrondeante· e repetido que
precipitam com violência, destruindo- acompanha o fenômeno fez com que
as em grandes extensões ' 1 e alagando- o aborígine o denominasse poroc-po--
as numa profundidade de centenas de roc, expressão onomatopaica que, se-
metros, pelo que as marés que as pro- ~ndo Barbosa Rodrigues, significaria
duzem são regionalmente denominadas arrebentar -seguidamente: que bem
"marés de lançante" ou de "águas vi- exprime a maneira da sucessão das va-
vas". gas que arrebentam".

O Amazonas penetra com relativa fa- Para explicar a velocidade e a impe-


cilidade no oceano, exceto nos perío- tuosidade da onda de maré que pro-
dos das "marés vivas", ou de sizígia, duz a pororoca, alguns autores lem-
quando a atração combinada do Sol e bram a ação dos ventos que constan-
da Lua (então em conjunção, ou em temente sopram, por vezes com gran-
oposição) faz subir ainda mais alto o de intensidade, do mar para a terra
nível das águas do mar que procuram, naquele trecho do litoral brasileiro .
de acordo com o princípio dos vasos O fenômeno da pororoca tem sido des-
comunicantes, invadir o seu vasto es- crito e explicado por diversos observa-
tuário. Acontece, porém, que nos me- dores; as descrições são geralmente
ses de janeiro, fevereiro, março e abril semelhantes, concordando em seus as-
as "marés vivas" têm que vencer uma pectos principais, mas as explicações
força maior, oferecida pela pressão da nem sempre revelam as suas verdadei-
massa líquida do Grande-Rio,- então ras causas.
mais volumosas devido ao fato de nes-
tes meses ele ter a sua descarga pro- A melhor descrição e explicação da
gressivamente aumentada em conse- pororoca parece ser ainda a de Le
qüência das abundantes chuvas na sua Cointe, e é a seguinte:
imensa bacia.
"Ao norte de Maraj6 o Amazonas es-
Elevando-se consideravelmente na épo- tende seu imenso estuário com águas
ca das sizígias, as águas do mar, por de um amarelo turvo, correndo com
sua vez, procuram penetrar com maior violência, no meio de grandes ilhas de
ímpeto o estuário amazônico, nas ma- aluvião, entre margens freqüentemen-
rés enchentes. No início da preamar, te lamacentas, cobertas de detritos de
toda a espécie e de troncos de árvores
a enorme massa fluvial opõe-se, no en- encalhados; faz irrupção no Atlântico
tanto, à marcha da maré montante, por três cortes largos e profundos e
oferecendo-lhe grande resistência. Es- repele a água salgaaa até uma grande
ta, no entanto, vai elevando cada vez distância da costa; as marés normais
mais o nível das águas do rio, e quan- fazem somente subir o nível das águas
do o equilíbrio existente entre as duas e diminuem a velocidade da corrente-
forças contrárias é rompido, forma-se za, mas não podem invertê-la. Raros

158
são os bons ancoradouros. À ação com- ocorre periodicamente, pondo em pe-
binada da correnteza e dos ventos que rigo as embarcações por ela surpre-
nada detêm do lado do largo, vem, endidas.
com efeito, acrescentar-se, periodica-
mente, na maior parte das enseadas Na costa do Amapá a pororoca não só
das margens, o peri&oso e curioso fe~ ocorre em quase todos os rios que ali
nômeno da "pororoca', espécie de "on- desembocam como também se faz sen-
da de maré" análoga ao ma.scaret do tir com grande intensidade; são bem
rio Sena, ou ao bore do rio Ganges, conhecidas e temidas as violentas po-
rorocas do estuário do rio Araguari.
que se manifesta com extrema violên-
cia nas épocas das grandes marés, nos Mais ao sul da foz do Araguari, nos
dois ou três dias que precedem ou se- rios e canais das ilhas Bailique, Curuá,
guem a lua nova e a lua cheia (marés Caviana, Janaucu, Jurupari e Mexiana,
de sizígia), principalmente nos equi- a pororoca se manifesta igualmente
nócios. Nestas ocasiões, mais ou me- impetuosa e destruidora, o mesmo
nos três horas depois do princípio da acontecendo nos trechos finais dos rios
enchente, produz-se a ruptura de equi- que deságuam nas costas norte e leste
líbrio entre as águas montantes do da ilha áe Maraj6.
oceano e a massa de água doce que se
escoa pela foz do Amazonas e, sendo Na baía de Maraj6, bem como no "rio
mais leve que a água salgada, estende- Pará" e no estuário do Tocantins, não
se à grande distllncia pelo mar afora, se observam pororocas; entretanto, em
muitos rios que defluem naquela imen-
numa larga toalha que se inclina para sa baía-estuãrio, a pororoca ocorre
o norte sob o impulso da corrente normalmente. Martius presenciou uma
equatorial; a "onda de maré", assim pororoca no baixo rio Guamá (à mar-
atrasada, prec:pita-se com impetuosi- gem de cujo estuário está a cidade de
dade ainda aumentada pelo vento rei- Belém), e a descrição vívida que dela
nante; quando passa por cima de uma faz dá uma excelente idéia do que real-
coroa de areia ou de um baixio e quan- mente é este curioso e espetacular fe-
do penetra num canal apertado entre nômeno hídrico. A. W. Sellin, em sua
ilhas, ou em rios pequenos por onde Geografia do Brasil, assim apresenta o
sobe, não acha mais, na seção assim relato do grande sábio alemão:
diminuída, uma passagem suficiente,
um intumescimento maior se manifes- Martius descreve de maneira ani-
ta e, de repente, erguem-se três enor- mada o fenômeno da pororoca, que
mes vagas, algumas vezes quatro, de viu no rio Guamá, afluente do Tocan-
tins ( sic). "A pororoca, descreve ele,
3 a 4 metros de altura, que se seguem devia em conseqüência da periodicida-
de perto, e avançam com fragor de de regular no fluxo e refluxo começar
uma a outra margem, derrubando, depois do meio-dia, pois a lua naquele
varrendo e submergindo tudo o que dia ( 28 de maio de 1820) tinha de
encontram. Em dois ou três minutos passar pelo meridiano um minuto an-
deixam de si as águas niveladas com tes da meia-noite; não deixei, pois, um
as do mar, elevando assim de repente instante um morro baixo, fronteiro ao
a maré à altura que gastou horas a rio, do qual poderia vê-la. Trinta mi-
alcançar em outros lugares. Na sua nutos depois de uma hora, ouvi um
carreira, quando chegam em paragens rugido violento, igual ao estrépito de
profundas, estas vagas desaparecem grande cachoeira; dirigi os olhos pelo
como que mergulhando, para surgirem rio abaixo, e passado um quarto de
outra vez nos baixios que seguem" 93 . hora apareceu uma onda de uns quin-
ze pés de altura, ocupando, qual mu-
A pororoca não é, todavia, exclusiva ralha, toda a largura do rio, que com
do estuário do Amazonas; em alguns terrível estrépito avançava para cima
estuários e trechos finais de rios do li- com grande rapidez, sendo as águas
toral amazônico, que deságuam direta que se precipitavam na crista em tor-
ou indiretamente no Atlântico, ela velinho substituídas sempre por outras

154
que vinham da enchente de trás. Em do estuário do Amazonas; segundo Le
alguns lugares, contra a praia, mergu- Cointe, "em 1850 a ilha Caviana foi
lhava a água na largura de uma a duas dividida em duas partes por um largo
toesas; eleva-se, porém, de novo rio canal que a violência da "pororoca"
acima, onde a onda reunida prosse- rasgou no meio terras relativamente
guia sem descanso. Enquanto, pasmo, altas" 95 •
eu assistia a esta insurreição das águas,
mergulhou por duas vezes toda a mas- O material arrancado das margens dos
sa aquosa, abaixo da união do Capim estuários e da própria costa pela poro-
com o Guamá, ao mesmo tempo que roca e pelas vagas nas "marés vivas",
ondas largas e superficiais e peque- juntamente com a carga sólida lançada
nos turbilliões ocupavam toda a super- ao oceano pelo Amazonas, é tangido
fície do tio. Apenas se apagara o es- para o norte, pela corrente Equatorial,
trondo dessa primeira corrida, emi>i-
nou-se de novo a água, subiu mugindo e vai dar origem a grandes bancos de
com violência, e continuou, qual· mu- lodo que, quando fixados por vegeta-
ralha de água-viva, sacudindo as praias ção halófila (mangues), dão origem a
trêmulas até os alicerces, coberta de ilhas ao longo da costa.
uma crista de espuma, quase tão alta
como viera, e dividida em dois ga- Em virtude da sua descomunal descar-
lhos meteu-se pelos dois rios, onde ga, o Amazonas avança mar adentro,
em breve perdi-a de vista. levando bem longe as suas águas car-
regadas de material sólido em suspen-
Todo o fenômeno fora obra de meia- são e quebrando a salinidade do ocea-
hora apenas, as águas assanhadas que, no até uma distância que pode ser
entretanto, bem como as ondas da po- superior a duas centenas de quilôme-
roroca, não pareciam muito turvas, de tros, conforme a estação do ano, como
lama, apareciam agora nas condições informa Sioli, baseado em estimativas
da mais alta cheia; gradualmente fo- feitas por Egler & Schwassermann
ram sossegando, e depois de prazo quanto à variação anual da salinidade
igualmente curto ao começar o refluxo do Atlântico em frente ao delta-estuá-
começaram a baixar visivelmente. rio do Amazonas es. Informa Stemberg
( ref. 70 da Bibliografia) que, se-
Em outra parte, diz o mesmo escritor: gundo Ryther et alü ( 1967), é da or·
Em muitos lugares, e são sempre de dem de 2 e meio milhões de Jan2 a área
fundo considerável, a pororoca mergu- do oceano que tem a salinidade abai-
lha, mas eleva-se de novo acima, em xada pelas águas do Amazonas.
lugares rasos do rio. Os lugares tran-
qüilos chamam-se esperas. Neles se ob-
serva aumento d'água, porém não po-
roroca" e•. 9 - A HIDROGRAFIA NA
A pororoca é, antes de tudo, um agen-
-ORGANIZAÇÃO E
ce destruidor. A baixa costa do Amapà, VALORIZAÇÃO REGIONAL
de formação flúvio-marinha recente,
está em longos trechos recuando cons- A importância da hidrografia na orga-
tantemente, devido ao ataque periódi- nização e valorização da Região Norte,
co das vagas das "marés àe lançante" ou seja, do espaço geográfico amazô-
e à ação da pororoca nos estuários; cor- nico brasileiro, é devida à navegabili-
roendo as margens destes últimos, a dade natural oferecida não só pelo rio
pororoca vai alargando-os progressiva- Amazonas mas também pelos nume-
mente e tomando-os cada vez mais ra- rosos cursos d'água que drenam as ter-
sos, com barras instáveis, em perma-
nente deslocamento e de difícil pra- ras baixas da sua imensa bacia; conta
ticagem. a região com uma extensão fluvial na-
vegável estimada em 20 mil km, dos
Sua ação destruidora é igualmente ob- quais cerca de 10 mil km francamente
servada nas ilhas situadas na entrada navegáveis.

155
Constituindo os rios as únicas vias na- prias à colonização e, por outro, suple-
turais de circulação na região, em qua- mentar o transporte ffuvial com a im-
se sua totalidade revestida por espesso plantação de um sistema conjugado hi-
manto florestal, são às suas margens drorrodoviário, para atendimento do
que se localizam os habitantes da ama- transporte na região, estabelecendo um
zônia interior, quer isoladamente, como entrosamento do rio com a estrada.
no caso da solitária habitação pala- Um grande projeto elaborado dentro
fítica do caboclo ribeirinho (considera- da idéia do Governo em estabelecer
da esta como a menor unidade de po- um Programa de Integração N acionai
voamento), quer em núcleos urbanos - com o objetivo de gerar de forma
de diversas categorias (povoados, vilas mais racional o desenvolvimento do
e cidades ) . Daí o .habitat rural amazô- Nordeste e promover a colonização da
nico poder ser classificado como do
Amazônia - foi o da construção da
tipó linear e disperso, tendo o rio co-
Rodovia Transamazônica, definida co-
mo eixo.
mo uma linha no sentido leste-oeste,
Por mais de três séculos os rios da para conectar o Nordeste à Amazônia;
Amazônia vêm sendo as vias naturais outro foi o da construção da Rodovia
de penetração e de circulação entre Perimetral .Norte, réplica da Transama-
as unidades de povoamento, núcleos zônica cortando os aflu~ntes setentrio-
humanos e centros urbanos regionais, nais do Amazonas.
permanecendo indevassados os inter-
flúvios que os separam. Juntamente com o Departamento Na-
Até a inauguração da Rodovia Belém- cional de Estradas de Rodagem e ou-
Brasília, na década de 60, todo o sis- tros órgãos federais, o Departamento
tema de transporte na Amazônia esta- Nacional de Portos e Vias Navegáveis
va condicionado pela rede hidrográfi- participa ativamente do Programa de
ca, e, em princípios de 1974, cerca de Integração Nacional, pela implanta-
80% do transporte global da Região ção de terminais rodofluviais nos pon-
Norte eram feitos por hidrovias, o que tos em que as principais artérias na-
revela o alto índice de transportes flu- vegáveis são cortadas pela Transama-
viais na região e a importância da hi- zônica; esta rodovia corta, num per-
drografia na vida regional. Não obs- curso de mais de 2. 000 km, os Estados
tante, portanto, a execução de grandes
projetos rodoviários na Amazônia bra- do Pará e Amazonas e tem por. obje-
sileira, a rede viária desta vasta área tivo "interligar os terminais navegáveis
geográfica ainda reflete as condições dos afluentes meridionais do Amazo-
ambientais, isto é, baseia-se na nave- nas, como o rio Tocantins, Xingu. Ta-
gação fluvial. pajós e Madeira, unindo, conseqüente-
mente, por terra, os distanciados nú-
Em 1970 o Governo Federal imprimiu cleos populacionais da região, como
nova orientação à conquista, povoa- Marabá, Altamira, ltaituba e Humai-
mento e colonização da Amazônia, tá, e complementar o vasto sistema flu-
atràvés do estabelecimento de cami- vial da Amazônia (20.000 km), possi-
nhos terrestres para conectar os aflu-
entes navegáveis do Amazonas; na con- bilitando o acesso às terras altas e seu
cepção dessa política g~vernamental aproveitamento racional" 97•
visando ao desenvolvimento da região,
foi levado em conta 6 aproveitamento Dentro da estratégia de povoamento e
dos rios amazônicos e suas ligacões ter- valorização regional adotada - pela
restres através do sistema rodoviário suplementação do transporte fluvial
regional. com a criação de um sistema conjuga-
do lúdrorrodoviário . - já foram exe-
Com essa nova política deseja o Gover- cutados no setor portuário os primei-
no, por um lado, criar entre o Grande- ros projetos que dotarão os rios prin-
Rio e esses caminhos uma extensa fai- cipais de uma infra-estrutura indispen-
xa de terra, entrecortada de vias nave- sável, ligando-os às estradas; para ar·
gáveis que apresente condições pró- ticular a Transamazônica e a Cuiabá-

156
Santarém com os principais cursos Visando a intensificar a utilização dos
d'água, foram construídos, em princí- grandes rios brasileiros e melhorar as
pios de 1974, portos fluviais em Impe- condições de sua navegabilidade, o
ratriz (na margem esquerda do rio Plano Hidroviário contido no II Pla-
Tocantins, no Maranhão), em Altami- no Nacional de Desenvolvimento pre-
ra (em Remanso do Pontal, na margem vê a interligação de diversas bacias -
esquerda do rio Tapajós) e em Santa- hidrográficas, bem como a introdu-
rém (na confluência dos rios Amazo-
ção, nos leitos das principais arté-
nas e Tapaj6s) . Outras obras de ins-
talações de portos fluviais serão leva- rias fluviais, de melhoramentos di-
das a efeito em Marabá, Tucuruí, Hu- retos, da canalização parcial com apro-
maitá, Porto Velho, Lábrea e Boca do veitamentos múltiplos, da construção
Acre, todas em conexão com a Transa- de canais laterais, de barragens mó-
mazônica; em fase de projeto para im- veis e de eclusas.
plantação ou ampliação, se encontram
os portos de Itacoatiara, Parintins, Ma- Dentre a série de medidas a serem
nicoré, Tefé, Coari e Tabatinga no executadas em todo o Pais, dentro do
rio Amazonas, e o porto de Borba no sistema hidroviário nacional e de acor-
rio Negro e a construção de terminais do com esse plano, encontra-se a inter-
hidroviários em Macapá (Amapá) e ligação da Bacia do Amazonas com a
Caracarai (Roraima) . Bacia do Paraguai, seus principais aflu-
entes e subafluentes, estando previstas
A idéia básica no planejamento deste a canalização das corredeiras do Bem
programa governamental sem prece- Querer, no rio Branco, a qual estabele·
dentes, isto é, a abertura de rodovias cerá a continuidade da navegação entre
na floresta tropical mais densa do
Manaus e Boa Vista, interrompida em
mundo, bem como a construção, am-
pliação e modernização dos portos que 14 km, e a canalização dos rios Ma-
servem à Amazônia, foi conjugar uma deira e Mamoré, entre Porto Velho e
rede rodoviária com o sistema fluvial, Guajará Mirim, trecho encachoeirado
visando a um aumento substancial na com quase 400 km de extensão. Na
capacidade transportadora dos rios, ilha de Maraj6 está prevista a interli-
conforme declarou o Ministro dos gação dos rios Tartaruga e Jenipapocu.
Transportes, ao inaugurar o porto de
Santarém, em fevereiro de 1974 &a. Estariam, assim, lançadas as bases para
a revitalização da navegação fluvial
O rio Amazonas passará, assim, a figu- na região, um dos grandes objetivos do
rar como uma grande mediatriz desse Plano de Integração Nacional.
sistema integrado rodofluvial da Ama-
zônia brasileira, circundado por um A utilização da rede . hidrográfica na-
enorme "anel rodoviário" - formado cional (estimada em 50 mil km), co-
pela Transamazônica e pela Perime- mo forma de transporte, integração e
tral Norte - a interceptar os trechos escoamento da produção, colocará o
navegáveis de seus afluentes de am- Brasil em destaque no mundo aqua-
bas as margens. viário e, dentro do País, fará ressaltar
Salientando a importãncia da hidro- ainda mais a importância da Região
grafia na execução dos projetos de cir- Norte nesse setor, uma vez que nela
culação na área, declarou naquela se encontra cerca da metade da exten-
ocasião o Ministro dos Transportes que são fluvial brasileira.
os rios continuarão a ser importantes
componentes no sistema de transporte Intimamente relacionados com a hidro-
na Região, por serem "significativos ca- grafia amazônica estão valiosos recur-
minhos naturais que, conjugados com sos naturais, entre eles a pesca abun-
os caminhos terrestres, hão de formar dante em seus incontáveis rios e lagos,
a grande e necessária resultante: um e ainda a sua potencialidade em ener-
sistema integrado de transportes para gia hidráulica, como se pode depre-
toda a Amazônia". ender das estimativas mais recentes.

1ST
A pesca fluvial e a lacustre ainda não J>or sua vez, a rede hidrográfica do
permitem, todavia, a industrialização Amazonas já oferece, em Território
do pescado em grande escala, mas Brasileiro, apreciável potencial energé-
abastece os núcleos urbanos regionais tico: pesquisas visando à descoberta de
e constitui um dos itens básicos na ali- novas reservas hidrelétricas revelaram,
mentação das populações ribeirinhas. em 1973, segundo a ELETROBRAS,
um potencial presumido de 20 mil mW
Por outro lado, o fato de o Amazonas (15 mil mW, nos afluentes da margem
possuir várzeas em quase toda a sua esquerda e 5 mil mW, nos afluentes da
extensão planiciária - o que ocorre margem direita), o qual representava,
igualmente em muitos dos seus maio- naquele ano, cerca de 34,5i do poten-
r~s afluentes ..... propicia a criação ex- cial presumido para todo o País, então
tensiva nos campos nativos nelas exis- da ordem de 58 mil mW 99•
tentes, atividade essa que, além de ser
um fator de fixação do homem à terra, Finalmente, os recursos minerais da
na despovoada Amazônia, contribui Região Norte poderão certamente con-
expressivamente para a economia re- tar com a rede fluvial regional para o
gional; um terço (mais de meio milhão seu escoamento dentro do sistema In-
de cabeças) do rebanho bovino da Re- tegrado. das vias fluvia;s com as vias
gião Norte é criado nos campos inun- terrestres em implantacão na Região.
dáveis das várzeas amazônicas e a me- Os rios têm sido e continuarão a ser,
tade nas pastagens nativas alagáveis da ainda por muito tempo, importantes fa-
ilha de Marajó e da baixada litorânea tores na organização e valorização do
do Amapá. espaço amazônico brasileiro.

NOTAS DE REFERlNCIAS

1 Cf. Almeida, Os fundamentos geológicos, p. 61; v. ref. 4 da Bibliografia.


2 Ibidem.
8 Na constituição geológica da Bacia Amazônica em Território Brasileiro, Josué Camargo Men-
de.s di.,tingue quatro grande~ unidades georectônicas: "a área cratônica conhecida como Escu·
do BrtJJileiro, a área cratônica designada Escudo dtJJ GuiantJJ, a bacia intracratôniei chamada
Bacia do Amazonas e a bacia pericratônica que os geólogos denominam Bacia do Acre. Mendes.
Evolução geológica da Amazônia, p. 2; v. ref. 34 da Bibliografia.
• Ab'Saber, ProblemtJJ geomorfo/6gicos da A.maz6nia Brasileir~ pp. 41-47; v. ref. 2 da Bi-
bliografia.
G Ibidem, p. !19.

6 Mesner 8c: Wooldridge, Estratigrafia das bacias paleozóica e cretácea do Maranhão, p. 138;
v. ref. 35 da Bibliografia.
T Mendes, op. cit., pp. 7-8.
8 Com uma espessura variando de 2 a 4 mil metros, a bacia sedimentar amazônica tem gran-
de importAncia para a economia brasileira, pelas possibilidades que apresenta da ocorrência
de petróleo, já comprovada por sondagens levadas a efeito na reg~o amazonense do Baixo-
Amazonas (em Nova Olinda, no vale inferior do rio Madeira e no paraná do Autás-Mirim. a
8 km de Manaus).
9 Ab'Saber, op. cit., p. 36.
lO Cf. Stemberg, Vales tectônicos na planície amazônica? p. 516; v. ref. 66 da Bibliografia.
11 "O falhamento que vem ocorrendo nessa área está danificando as construções, sendo que
algumas já estão sendo abandonadas e outras, como é o caso da Santa Casa de Misericórdia,
terão também de ser abandonadas, em virtude dessas falhas.,. As direções das falhas são muito
variadas, todavia existe um grande predomínio das que possuem direção NW-SE e mais ou
menos paralelas". Guerra, Estudo geográfico do Território Federal do Acre. pp. 14-16; v. rd.
2!1' da Bibliografia.
12 "Sabe-se que nos períodos glaciais o nível do mar era de 75 a 100 m mais baixo do que
hoje. Os rios da planície amazônica devem então ter tido um declive muito mais forte que
hoje e, em conseqüência disso, puderam escavar amplos vales nos sedime.n tos moles do

158
Terciário. Com a elevaç:lo do nível do mar, ao derreterem-se os capeamentos de gelo, os rios
foram represados em gigantescos lagos fluviais. nos quais. tal como antes, o material em sus-
pensão trazido pelos rios, diminuída a correnteza, era depositado. Assim, os rios puderam,
progredindo corrente abaixo, encher os seus antigos vales com suas próprias aluviões ... Os
rios de água branca. entre eles o próprio Amazonas, formaram com sua enorme car~ra de
sedimeotos uma extensa terra de colmatagem, a chamada várzea ... ". Sioli, Landschafts-
õlr.ologischer Beitrag aus Amazonien, p. 44; v . rer. 55 da Bibliografia.
13 Cf. Gourou. Observações geográficas na Amazônia, p. 391; v . ref. 20 da Bibliografia.
H "Entre estes lagos de vale - escreveu Denis - a terra firme avança em promontórios na
várzea. A borda da terra firme. com seu desenho sinuoso e suas profundas articulações. faz
pensar numa costa de rias; e!a tem as mesmas origens; os lagos interiores do baixo Amazonas,
emoldurados pela terra firme, são vales submersos. Ao levantamento geral, que obrigou o rio
e seus afluentes a entalhar seus vales no platô terciário, sucedeu um movimento inverso,
muito menos amplo. mas que foi suficiente para colocar os antigos talve~rnes. na zona vizinha
ao rio, abaixo do nível de base. Este movimento determinou um aluviamento rápido que
aprofundou as partes inferiores dos vales e deixou subsistir lagos por toda parte onde os
rios eram pobres em aluviões". Denis,. L'Amirique du Sud, p. 114; v. ref. J5 da Bibliog:tafia.
15 Ruellan, As rias amazônicas; v. ref. 46 da Bibliografia.
16 Paisagens muito peculiares na Amazônia Baixa e Central são formadas pelos trechos com
a forma de bala de muitos tributários. Os rios aqui são largos, o Tapajós com largut:l supe-
rior a 14 km; a correnteza cai a quase rero e. por isso. estes trechos se parecem mais com Ja~ros
do que com rios verdadeiros. Essas "mouthbays" n-lio slio produtos daqueles rios em seu pre-
sente estágio, mas são conseqüências da variação do nível do mar". Sioli, Amazon Tributaires
and Drainage Basins, p. 205; v . ref . 61 da Bibliografia. Acha, no entanto, Sioli, que ""um
novo termo - "lagos-de-rios amazônicos" (riverlakes) - seria mais adequado a esta espécie
de corpo de água". Sioli, Principal biotopes of primat-y production in the waters o{ Ama-
tania, p. 593; v. ref. 59 da Bibliografia.
tT "O último ePidclo erosivo do entalhamento pós-pliocênico coincidiu com a formação das
atuais planícies de inundação, que acompanham a calha do grande rio e de ~eus afluente~
por alguns milhares de quilômetros, numa largura média variável de 15 a 30 km. Observada
de avião. à. altura de !l ou 4.000 metTos. a planície aluvial se destaca como uma larga esteira
de sedimentação em processo, embutida num corredor de relevo estabelecido no dorso dos
tabuleiros que ladeiam pelo norte e pelo sul. Enquanto na planície rasa n:lo se pode dizer
quem domina - se é a água ou se são os depósitos modernos em faixas e ma:tchas irregulares
- nos tabuleiros as colinas se desdobram em maciça sucessão de baixos Platôs tabuliformes,
inteiramente recobertas por floresta", Ab'Saber. op. cit., p. 157.
18 Estas bordas íngremes de terraços foram pela primeira vez representadas cartografica-
mente, como bluffs, por C. F. Marbut e C. B. Manifold, no croqui que estes dois autores
organizaram com o título de Faixas de p/anicies inunddveis da bacia amazônica interiOT.
Marbut &: Manifold, A topografia do vale do Amazonas; v . ref. 32 da Bibliografia.
19 Soares. Observações sobre a morfologia dtts margens do Baixo Amatanas e do Baixo Tapajós,
p. 750; ref. 64 da Bibliografia.
20 "A Expedição "Geologia Marinha I" (GEOMAR 1) foi idealizada pelo Departamento de
Geofísica da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Br:;sil, com a finalidade de
cooperar com as entidades nacionais empenhadas ou que quisessem se iniciar na pesquisa
geológica da Plataforma Continental do Brasil", tendo sido convidados para dela participarem
a Petrobrás, o Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Depar-
tamento Nacional da Produção Mineral, o Instituto de P<'Squisa da Marinha c ainda o Labo-
ratório de Ciências do Mar do Instituto Oceanográfico de Recife. MM-DHN, Operação Geomar
li, p. I; v. ref. li da Bibliografia.
:!1 "A existência de um canyon submarino na parte externa da plataforma e no tabuleiro
continental até a profundidade de 1.500-2.000 m, ao largo da foz do Rio Amazonas, foi pri·
meiramente assinalada por Ealey (1969, inédito)". MM-DHN, op. cit., p. 25.
22 MM-DHN, Operação Geomar ll, pp. 5·6.
23 Deve-se a Alexandre von Humboldt o primeiro estudo geográfico do canal Cassiquiare.
por ele percorrido em meados do século passado. quando da sua memorável viagem pela
região equinocial da América do Sul. Cf. Sioli, Studies in Amazonian waters, p. 19; v. ref.
58 da Bibliografia.
2-l Informações pormenorizadas sobre as imercomunicações da bacia amazônica com as de-
mais bacias hidrográficas sul-amcric~as são encontradas na memória apresentada por Jagua-
ribe de Mattos ao 111 Congresso Internacional de Hi~tória das Ciências, sob o título Les idies
sur la physiographie studamericaine, v. ref. JJ da Bibliografia.

159
25 Quantidade também chamada de potência ou escorrimento da bacia, "t. o caudal acumu-
lado de um ano, referido à área total da bacia, e pode ser expresso em milímetros d'água por
ano, assim .como se costuma indicar em Meteorologia a precipitação e a evapotranspiração. O
rendimento reflete. porta.nto, a relação entre a bacia imbrífera (bacia pluvial) e o caudal por
ela produzido, sendo, na maioria dos casos. um dado muito significativo das condições cli-
máticas da mesma". Heinsheimer. Os cinqüenta rios mais caudalosos da Terra, p. 9; v. ref. 24
da Bibliografia.
26 Cf. Heinsheimcr, op. cit., pp. 11·12 .
27 Pardé, Les variations saisonniere de l'Amazone, p. 5; v. ref. J9 da Bibliografia.
28 Galvlio, A Grande Regi4o Norte, p. 65; v. ref. 19 da Bibliografia.
29 Como no inverno austral o anticiclone do Atlântico Sul, observa Marília Calvão, "se
encontra bem acima do equador. e os ventos por ele emitidos, os alíseos de nordeste (da
massa En) têm sua ação muito reduzida (apenas atingindo o extremo norte do Brasil), tam·
bém a oeste o encontro das massas Ec e Ea (Equatorial Atlântica), se desloca para o norte,
localizando-se muito próximo do equador, na regi<lo do alto Amazonas, onde permanece a
massa Ec". Ibidem, p. 64.
Ao emprejtar a expressão "alto Amaronas" esta geógrafa quer ~e referir à porção NW
da bacia amazônica, onde se situam as bacias dos rios Napo, Putumaio-lçá, Caquetá-Japurá,
Uaupés e Negro.
30 Delgado de Carvalho, O rio Amazonas e sua bacia, p. 340; v. ref. 1J da Bibliografia.
81 "Em maio, informa Le Cointe, enquanto rio abaixo o Coari continua a engrossar, os altos
Purus, Juruá, Madeira, etc. já se encontram quase secos". Le Cointe, O clima amazônico,
p. 505;' v. ref. 28 da Bibliografia.
32 "Na bacia amazônica há certa complexidade nos regimes fluviais. Tal complexidade advém
~obretudo da imensa extensão territorial da bacia, abr.tngendo regiões onde não se identificam
totalmente as condições climáticas. As águas drenadas para o Amazonas provêm de três cen-
tros dispersares diferentes, a encosta dos Andes bolivianos e equatorianos, o Planalto Brasileiro
e o Plan:!lto dás Cuianas. Em cada um desses centros varia o regime das fontes, porque varia,
principalmente, o regime pluviométrico.
Acrescente-se, ainda, que a bacia Amazônica, dado a sua posição geográfica, estende -se
ao norte e ao sul da linha do equador e, em conseqüência, o rio Amazonas recebe afluentes de
um e outro hemisfério. Diverge o regime de uns e outros, mas, na realidade, as cheias e
vazantes não se alternam perfeitamente, como em geral se julga, ao considerar o fenômeno
da intf'T'erê,..cia no regime do Amaronas ". Simões, O regime dos rios brasileiros, p. 13; v.
ref. 50 da Bibliografia.
33 Pardé, op. cit., p. 35.
u Galvão, op. cit.. p. 75.
SG A ação moderadora da "interferência" juntam-se outras que contribuem igualmente para
atenuar a intensidade das cheias do Amazonas; essas seriam, como observou Maria de Lourdes
Radesca, o transbordamento lateral para a pbnície de inundação c para os lagos nela situa-
dos, e :\inda a pouca velocidade das águas motivada pelo pouco declive. Cf. RADESCA, Hidro-
grafia, O Brasil- a Terra e o Homem, p. 563: v. ref. O da Bibliografia.
aa Pardé, op. cit., p. 502 .
ST As medições de descarga fluvial na Região Norte resultaram de iniciativas do antigo
Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), Departamento Nacional de Aguas e
Energia (DNAE), Departamento Nacional de Portos e Vias ~avegáveis (DNPVN), Eletrobrás,
e das Centrais Elétricas <to Pará (CELPA) e do Amapá (CEA).
ss "No curso médio (Solimões) as flutuações sazonárias do nível d'água chegam a ser de
10 a 20 m, na boca do rio Negro de 10 a 16 m e mesmo no baixo curso de 5 a 7 m".
Wilhelmy, Amazonia as a living area and an economic area, pp. 119-120; v. ref. 71 da Bi·
39 Os dados numéricos das oscilações do nível do rio Amaronas aqui apresentados não re-
sultaram de medições feitas no seu leito, e sim em Manaus, no trecho final do rio Negro. a
18 km da sua foz, onde os níveis destes dois rios praticamente se equivalem. Assim, o nível
do rio Negro pode ser considerado, grosso modo, como sendo o do próprio Amazonas na altura
do meridiano de Manaus, pois, tanto nas cheias como nas vazantes, as suas águas são como
que "represadas" pelas do Grande-Rio, estas muitas vezes mais volumosas.
40 Cf. Penna. op. cit.; v. ref. 4/ da Bibliografia.

41 Incalculáveis foram os danos cau!ados pela cheia de 1953. Cidades tiveram grande núme·
ro de construções total ou parcialmente destruídas, sendo incontáveis :\S habitações arrasadas,
nas várzeas, pela força das águas. Estimou-se em 30% a perda do rebanho bovino na região
do Baixo Amazonas, onde os prejuízos nas plantações de juta foram praticamente totais.

160
Milhares de ribeirinhos, desalojados de suas casas, procuraram abrigo nas cidades mais pró·
ximas. Tendo assumido um caráter de calamidade pública, exigiu do Governo Federal e Esta.
dual medidas especiais de socorro às suas vitimas.
42 Grande, O maior rio do mundo, p. 188; v. ref. 21 da Bibliografia.
43 "A correnteza, contudo, é rápida, tão grande é a massa líquida que recebe a vasta super.
fície da bacía e que se apressa para o oceano por este único coletor. Sua velocidade no meio
do rio varia de mais ou menos 2.000 metros por hora (0,60 metros por segundo) durante
a estiagem, a 4.500 metros (1.25 metros por segundo) em tempo de maior enchente. Em
frente de óbidos, onde as margens se aproximam para formar o que se chama a "garganta
do Amazonas", com 1.892 metros somente de largura, ela atinge e ultrapassa, nesta época,
7.000 metros por hora". Le Cointe, O Estado do Pard, p. 28; v. ref. 27 da Bibliografia.
u Soares. Observações sobre a morfologia das margens do Baixo AmazO[IaS e Baixo TaPa·
jós, p. 754; v. ref. 64 da Bibliografia.
45 Bareado na precipitação pluvial da Bacia, Maurice Pardé estimou entre 90.000 e 100.000
m3js o módulo do Amazonas em óbidos. Cf. Pardé, Q.uelques aperçus relatifs à l'hidrologie
brbiliense; v. ref. ~O da Bibliografia.
48 Cf. Oltman, Reconnais.sance investigation of the discharge and water quality of the
.fmazon; v. ref. JB da Bibliografia.
n Cf. Oltman et alii, .fmazon River 1nvestigations, Reconnaissanu Measurements of ]uly
1963; v. ref. J7 da Bibliografia.
48 As operaçõts destas mediçõts foram executadas pela firma especializada Hidrologia Co-
mercial Ltda.; sua sucessora, Hidrologia S. A. - Engenharia, Indústria e Comércio, realizou
para a Divis!!o de Aguas do DNAE, por intermédio da CPRM, mais de 21 medições em
óbidos e 54 mediçõts em outros pontos do eixo Solimõts-Amazonas.
A preferência pela seção do Amazonas fronteira à cidade de óbidos. para a medição de
sua descarga, deve-se ao fato de naquele ponto o rio correr em um único canal, uniforme e
relativamente estreito (1.800 m) e de ali serem os efeitos da maré (20 em apenas) pratica·
mente desprezíveis.
49 Cf. MME·DNAE, Mediçllo de descarga e seus problemas técnicos; v. ref. 8 da Biblio·
grafia.
1!0 Demangeot, Le continent brésilien, p. 15; v. ref. U da Bibliografia.
51 Demangeot, op. cit. , p. 15 .
52 Demangeot. Ibidem .
53 A primeira explicação de que se tem noticia, em obra essencialmente geográfica, das de-
nominaçõts regionais "branco" e "negro" (ou "preto"), dadas a certos rios da Amazônia, é
devida a Pierre Denis. Realmente, há cinqüenta anos escrevia este geógrafo: "A populaç.ão
amazônica distingue duas espécies de cursos d'água: os rios turvos argilosos (rios brancos)
e os rios com água puras, coloridas por matérias vegetais (rios negros)". Denis, op. cit., p. 111.
p. Jll.
11• Sioli, Alguns resultados e problemas da limnologia amazônica, p. 20; v. ref. 51 da
Bibliografia. "O terreno do igapó não é então formado por crescimento - como a várzea
dos rios de água branca - pela deposiçllo vertical de partfculas suspensas na água (a água
preta praticamente ~o carrega tais partículas), mas sim o resultado de processos de desgaste
da superflcie terrestre e, quando muito, talvez recolmatado em alguns lugares e, até um certo
grau, pela areia transportada no fundo do Jeito Ouvia!. Por isso, porém, ele nunca alcança,
em relação ao nlvel mais alto do rio durante a enchente, a altura registrada perto da margem
do rio, no caso da terra aluvial da várzea dos rios de água branca". Sioli, Ibidem.
55 A respeito, escreve Sioli: No rio Negro deve-se considerar que somente seus afluentes da
direita, que vêm da região entre o Negro e o Solimõts, trazem "água preta". Quase todos os
afluentes da margem esquerda, entre eles o majestoso e rico em água, Demeni, bem como
o rio Branco, vêm, todavia, das montanhas do sistema das serras Paracaima, Parima, Curupira,
Tapirapecó e Imeri, e conduzem assim "água branca", rica eru matéria suspensa. A estes
afluentes deve o rio Negro, e não à sua própria "água preta", a formaçllo de suas ilhas de
sedimentos recentes e pequenas várzeas de margem que ele possui em certos trechos". Sioli,
Sedimentation in Amaxonasgebit, p. 631; v. ref. 54 da Bibliografia.
1!8 Sioli, op. cit., pp. 609·610.
1!7 Sioli, .fmazon Tributaries and Drainage Basins, p. 201; v. ref. 61 da Bibliografia.
H. Klinge, do Instituto Max-Planck de Limnologia, estudou alguns solos podzólicos ocor-
rentes na Bacia Amazônica, concluindo serem os mesmos fontes dos rios de "água preta" (v.
ref. 26 da Bibliografia).

161
58 Figueiredo, Terras caldas. p. 2!19; v. ref. 17 da Bibliografia.
59 Cf. Mabesoone, Sedimentos correlativos do cfima tropical, p. !129; v. n:f. JO da Biblio·
grafia.
80 Stemberg, A água e o homem na várzea do Careiro, p. 51; v . n:f. 68 da Bibliografia.
81 Stemberg, Ibidem.
62 C f. Camargo. A conquista das vár%eas do A matonas; v. ref. J2 da Bibliografia.
63 Sioli, General features of the delta of the Amaton, p. !181; _v. ref. 56 da Bibliografia.
64 Sioli, Sobre a sedimentação na várzea do Amazonas; v. ref. 52 da Bibliografia.
65 MT·DNPVN, Vias navegáveis interiores do Brasil; v. n:f. 9 da Bibliografia.
68 Agradecemos a Hidrologia S.A. - Engenharia, Indústria e Comércio, as informações pres-
tadas sobre a situação, em 1974. das medições de seções fluviais na Região Norte.
87 Uma dessas raras informações é a que nos transmite Sioli, ou seja, de que existe no
fundo do leito do Baixo Amazonas "material que se desloca em forma de ripple-marJr.s gigan·
tescos, de verdadeiras dunas". Sioli, Studies in Am4%0n waters, p. 45; v. ref. 58 da Biblio-
grafia.
68 Cf. Marbut 8c Manifold, A topografia do vale do Amatonas; v. ref. J2 da Bibliografia.
69 Extenso paraná de aproximadamente 450 km, com os nomes locais de Abacaxis, Urariá e
do Ramos, liga os rios Madeira e Amazonas, formando a chamada ilha Tupinambarana que,
representando a largura máxima de 60 km e uma área de cerca de 50 mil km2, é a segunda
maior fluvial da América do Sul, depois da ilha do Bananal. esta considerada a maior ilha
fluvial do mundo.
70 Denis, op. cit., p. 144; v. ref. JJ da Bibliografia.
11 Andrade, op. cit.; v. ref. 6 da Bibliografia.
72 Andrade, Furos, paranás e igarapés, pp. 4!1-45; v. ref. 5 da Bibliografia.
73 "Os furos que se estabelecem nas planícies de inundação atuais dos grandes c1,1rsos ama-
zônicos sao elementos do sistema-padrão de condutos anastomosados e entrelaçados que, nas
aluviões recentes, dão escoamento às águas da vazante e são por estas deixados .em condições
de orientar o subseqüente alagamento da várzea-baixa na enchente". Andrade, Furos, paranás
e igarapb, p. 115; p. ref. 6 da Bibliografia.
'lf Cf. Sternberg, Jlales tectdnicos na planície amatdnica!; v. ref. 66 da Bibliografia.
75 wJgarapés e lagos-de-terra-firme represent.a m diferentes estágios, ou mesmo diferentes des-
fechos dum só e mesmo processo: a erosao "flsica" das vertentes das seções afogadas de vales
secundários. A penetração do afogamen1o e as proporções em que esses vales se alargam variam
entre diversas partes da bacia, certamente em virtude de estrutura ou de clima, quando nlio
de uma e de outro; especialmente no que diz respeilo à constituiç4o e à porosidade dos solos
terciários e à distribuição anual das chuvas em relação com o ritmo das cheias". Andrade,
op. cit. p. 124.
76 Em monografia intitulada, O Sacado - Murfo-dinâmica fluvial, Mário Ypiranga Mon-
teiro assim se retere a este elemento da drenagem ttgioi\àl: ··o sacado é um dos mais comple-
xos fenômenos de mobilida<:fe fluvial. Uma rotura, o estrangulamento do istmo ralizado, que
favorece a consumação lógica de dois acidentes: um lago semicircular, em forma de ferra-
dura ou semilunar, e uma ilha. Às vezes, mais lagos. O lago principal e a ilha só aparecer:ío
definitivamente quando se verificar a clotura nos extremos do braço morto". Monteiro. op.
cit., p. 12; v. ref. J6 da Bibliografia.
77 Sternberg, op. cit., p . .488; v. ref. 66 da Bibliografia.
78 Guerra, Estudo geogr;\fico do Território Federal do Amapá, p. ~O; v. ref. 22 da Bi·
bliografia. A expressão "terras firmes", usada por Guerra, signiiica terrenos consolidados do
Quaternário antigo (níveis de Marajó), não devendo ser confundida com aquela reservada
aos terrenos que constituem o baixo platô terciário amazônico.
78 "O lago Arari, o maior de Marajó, tem 4 a 6 quilômetros de largura e 18 de compri-
mento N-S, profundidade de I a 2,5 metros no verão e de 5 a 7 metros no inverno, com
águas cristalinas nesta estação, parecendo, no verão, mais uma lama lfquida cor de zinco
e sabor sui generis", Le Cointe, O Estado do P_ará, p. 75; v. ref. 27 da Bibliografia. Os
termos "verlio" e "inverno", aqui empregados por Le Cointe, t~m acepção regional, corres-
pondendo, respeCtivamente, aos períodos anuais de estiagem e de chuvas.
80 Cf. Sioli, General features of the delta of the Amazon, pp. SS!I-!184; v. rcf. 56 da Bi-
bliografia.
81 "No largo desvão talhado na série Barreiras, entre o Amapá e o nordeste do Pará, pro-
cessou-se, no Quaternário antigo, um afogamento eustático, de certo vulto, que contribuiu para

162
a geração de um delta moderno em cima da criPtod~pr~ssào d~ Marajó. t. de se crer que
o golfão, ali criado pela invasão eusútica da primitiva área de embocadura da drenagem
amazônica, preparou o terreno para a sedimentação deltaica subseqüente. Enquanto o Ama·
ronas da época desaguava no fundo desse antigo golfo, o Tocantiru jogava suas águas e sedi·
mentos na borda sul do mesmo". Ab'Saber, O r~levo brasileiro e seus problema5, pp. 157
158; v. ref. J da Bibliografia.
82 Sioli, op. cit., p. !185; v. ref. JJ da Bibliografia. Lembra este autor ser "também neces·
sário supor que não somente as variações eustáticas do nfvel do oceano mas também os
movimentos verticais da crosta terrestre contribuíram para trazer o estuário amazônico à sua
forma atual". Ibidem, p . !186.
8S Huber, op. cit., pp. 45245!1; v. ref. 25 da Bibliografia.
84 Cf. Sioli, op. cit., pp . !18!1 e !185.
85 Surgida a fossa de Marajó, o Amazonas passou a fluir também pelo sul da grande ilha,
desaguando igualmente no gigantesco corpo d'água que viria a ser denominado "rio Pará ",
o qual, por sua vez, ia dar no já existente estuário do Tocantins. Cf. Sioli, ibidem, p. !185.
86 Roxo, O vai~ do Amazonas, p. 485; v. ref. 45 da Bibliografia.
87 Delgado de Carvalho, op. cit., p. !147; v. ref. JJ da Bibliografia.
88 Informa Rubens Lima que "a amplitude da oscilação nas sizígias de fevereiro, março e
abril é de !1.50 m, !1,59 m e !1,61 m ... " e que ".. . em anos excepcionais, a maré no porto
de Belém tem apresentado oscilações muito acima daquela média, como aconteceu, por exem·
pio, em 1928', ano em que a amplitude chegou a 4,47 m". Lima, Agricultura na.s várz~a.s do
~stuário do A mazonas, p. 2!1, v. ref. 29 da Bibliografia.

89 MM-DHN, Roteiro- 1945, pp. 4!144; v. ref. 10 da Bibliografia.


90 Lima, op. cit., p . 25; v . ref. 29 da Bibliografia.
91 O canal de Carapapóris, que separa a ilha de Maracá da costa do Amapá, com uma lar·
gura variando de 10 a l!O Jun e 50 km de extensão, alarga-se cada vez. mais em virtude da ação
destruidora das "mam de águas vivas", tanto na sua margem insular como na continental.
92 Este interessante fenômeno produzido pela "onda de maré" também ocorre nos estuários
de rios de outros continentes, em diversas latitudes, onde recebem, por exemplo, os nomes
locais de m4Scar~t (estuário do Sena) e bore (estuário do Ganges) .
93 Le Cointe, O E.stado do Pard, p. 46; v. ref. 27 da Bibliografia.
94 SeUin , A Pororoca, pp. 414·415; v. ref. 48 da Bibliografia.
95 Le Cointe, op. cit., p . 42; v. ref. 27 da Bibliografia.
96 "Em todo estuário com :a forma de funil há uma z.ona transicional de água salobra de
diversas concentrações entn: a água pura do rio e a água pura do mar. Es1a z.ona varia
acentuadamente com as estações do ano. Foi estimado por Egler e Schwassermann que o seu
começo está a uns 200 km mais próximo do mar na estação chuvosa do que durante a
esta~o seca". Sioli, G~ntral f~atures of the eleita of lhe Ama:on, p. !189; v. ref. 56 da Bi·
bliografia. ·
97 Reis, A Rodovia Transamaz6nica; v. ref. 44 da Bibliografia.
98 Santarém é, depois de Belém, o porto amazônico mais próximo da América do Norte t•
da Europa, e integra o "Corredor de Exportação" que ligará a Região None ao Brasil Central;
situado em posição estratégica entre duas capitais, Belém e Manaus, servirá de escoadouro da
Rodovia Santarém-Cuiabá.
99 Cf. Pinto, A energia do amanhã; v. ref. 42 da Bibliografia.

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America. Eisuitalter und Gegemuart, OhringenjWürtt., Band 19: 20!1·208. Oktober,
1968.

166
INTRODUÇÃO

A análise do processo demo~ico na


Amazônia em seu caráter evo1utivo, es-
pacial e estrutural será orientada no
sentido de destacar os fatores respon-
sáveis pelo atual elenco de caracterís-
ticas populacionais da Região.
Duas dimensões caracterizam o qua-
dro geográfico da Amazônia Brasilei-
ra: a enorme dimensão física, com
seus 3.554.000 quilômetros quadrados
( 42,0i do espaço nacional) e a muito
pequena dimensão humana (3.650.750
habitantes) , das quais resultam a es-
cassa ocupação de 1,0 habitante por
quilômetro quadrado. Apenas 3,9% da
população do País aí se encontram.
Considerando-se a Amazônia Lega1, 1
a sua dimensão física passa a ser, apro-
ximadamente, de três quintos do terri-
tório brasileiro, no qual se encontram
7,4% da população. De caráter ama-
zônico é, portanto, a maior parte do
território nacional.

POPULAÇÃO Fato importante a destacar, também,


é que sendo a Amazônia um conceito
geográfico, sua área transcende as
ELZA COELHO DE SOUZA KELLER fronteiras nacionais, abrangendo total
ou parcialmente a Colômbia, Peru,
Bolívia, Venezuela, Equador, Guiana,
Suriname, Guiana Francesa, área que
corresponde a quatro décimos do con-
tinente sul-americano.
Este imenso espaço físico, que contém
um quinto da disponibilidade mundial
de água doce e a terça parte das re-
servas de Florestas Latifoliadas do glo-
bo, tem problemas comuns de desen-
volvimento:
- desconhecimento da potencialidade
dos recursos naturais;
- escassez e baixa qualificação dos
recursos humanos;
- modesta infra-estrutura sócio-econô-
mica;
- baixo grau de integração com áreas
mais dinlmicas;
- pobreza da tecnologia tropical em
termos de melhor aproveitamento dos
recursos naturais.

167
Todo esse quadro comporta obstáculos participa, por diferentes fatores, do
à ocupação territorial, à valorização mercado interno nacional com força
econômica e ao desenvolvimento re- semelhante a das demais Regiões.
gional desta área de dimensão conti-
nental. A poUtica de integração levada a efei-
to pelo Governo Federal na década de
A unidade da Amazônia Brasileira é 60, com a implantação dos dois gran-
apoiada em dois dados: o subpovoa- des eixos rodoviários: Belém-Brasilia
mento e o subdesenvolvimento, que se e Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco, foi
estendem sobre um quadro físico de o fator mais importante de aumento
características heterogêneas. das relações da Amazônia eom o res-
tante do País e de aceleração do pro-
O subpovoamento e o subdesenvolvi- cesso de mudança da estrutura de in-
mento apresentam diferentes estágios tercâmbio da Região.
dentro do vasto espaço territorial, co-
mo decorrência do processo histórico O processo histórico de ocupação es-
de ocupação espacial e dos sistemas só- pacial foi responsável pelos moldes que
cio-econômicos implantados, coman- guardam o ecúmeno amazônico: pe-
dados sempre por duas condições que quenas áreas com densidade demográ·
tiveram ampla influência nas carac-- fica apreciável, onde a população se
terísticas regionais: a distância dos dedica basicamente a uma agricultura
centros de decisão nacional e a fraca tradicional de subsistência apoiada no
integração do sistema econômico ama- sistema de "roças" e, excepcionalmen-
zônico ao. sistema nacional. te, em áreas muito restritas a culturas
industriais de produtos de exportação
Essa integração só começou a se estru- (juta, pimenta-do-reino e malva), so-
turar na década de 40, pela atuação si- bretudo na Amazônia oriental, de gran-
multânea da frente industrial paulista des extensões de população extrema-
e da frente econômica da Amazônia, mente rarefeita, com o extrativismo ve-
pela complementariedade de interes- getal e · a pecuária extensiva como ati-
ses que passou a unir os dois sistemas. vidades predominantes, em meio a
O processo de industrialização do cen- grandes vazios demográficos.
tro-sul representava um enorme po-
tencial de consumo para absorver os Região que foi ocupada sob o signo
p~odutos primários e as matérias-pri· de uma economia primária exporta-
mas produzidas pela Região. Foi quan- dora, tendo como base o fornecimento
do se desvia o fluxo de sua tradicio- de matérias-primas aos mercados in-
nal corrente de comércio exterior para
o núcleo dinâmico do centro-sul. lni· dustrializados nacionais ou estrangei-
ciada pela borracha, a integração dos ros e daí sujeita à instabilidade econô-
dois sistemas teve novo ímpeto com a mica provocada pela demanda externa,
juta, a partir de 1945. teve o seu arcabouço urbano apoiado
apenas em duas cidades macrocéfalas:
Ao lado da importação, a Amazônia Belém e Manaus, nas quais se verifi-
passou a consumir produtos agrícolas, cam a concentração quase absoluta da
bens de consumo e bens de produção geração de renda, da produção e dis-
para dar partida ao seu próprio pro- tribuição de bens e serviços e das re-
cesso de industrialização regional. 2 .
lações com o mundo extra-amazônico.
Porém a integração da Amazônia ao E este o quadro geral da conjuntura
mercado interno nacional ainda é bas- demográfica da Região.
tante fraca, reduzindo-se as trocas co-
merciais à pequena pauta de pro· O principal problema que se coloca
dutos. nesse quadro é que a capacidade de
domínio e valorização do espaço ama-
Na realidade, como será mostrado mais zônico tem estado em desproporção
adiante, a rigor a Amazônia ainda não com os esforços e o grau de desenvol-

·168
vimento tecnol6gico reclamados pelas nhado pela ampliação progressiva das
dimensões, pelas potencialidades e pela fronteiras econ~micas, a exemplo do
complexidade do quadro natural da que ocorreu nas frentes de expansão
Região. agrícola das Regiões Sudeste e Sul. Só
recentemente as áreas mais meridio-
Como destaca Mário Lacerda de Melo nais da periferia amazomca vêm so-
"a extensão territorial representa van- frendo a penetração e a valorizaç.ão,
tagem enquanto espaço produtiv~, .mas através do impacto provocado pelas
indica encargo enquanto sur,erfiCle a novas vias de acesso que estão abrindo ·
ocupar e distância a percorrer '. 8 frentes de expansão agrícola e intro-
duzindo novas relações de trabalho.
A baixa população representa não só Esse movimento de ocupação pioneira
escassez de mão-de-obra para as tare- vem atingindo o norte áe Mato Grosso
fas produtivas como debilidade de e de Goiás, o sude5te e o centro-leste
mercado interno para motivar um cres- do Pará, o Território de Rondônia, po-
cimento baseado na demanda e no con- rém, sem mobilizar, ainda, grandes
sumo regional •. massas de migrantes.
Ao longo de toda a história da ocupa- Em síntese, as condições geográficas
ção territorial e da valorização econô- da Região: dimensão continental, es-
mica do Território Brasileiro não se cassez e dispersão dos recursos huma-
encontraram, aqui, fatores de atração nos, fraca integração com os centros
de atividades e de populações seme- dinâmicos do País, grande distância
lhantes aos que ocorreram em outras dos centros de decisão nacional, falta
Regiões do País. de integração interna da economia, re-
lações de subordinação do sistema eco-
Excluindo-se o movimento amplo de nômico a mercados externos, primiti-
ocupação nordestina dos vales amazô- vismo dos processos produtivos que
nicos ricos em seringueiras como con- ainda se apoiam grandemente no ex-
seqüência do aumento da demanda in- trativismo vegetal e dimensões reduzi-
ternacional da borracha ocorrido no das e não dinâmicas do quadro indus-
começo do século, nenhum outro surto trial, são debilidades do sistema ama-
povoador significativo ocorreu em ter- zônico que se refletem na incapacidade
ras amazônicas. de manter comunidades humanas em
níveis de vida condignos e na limita-
Esse espaço jamais conheceu proces- ção de sua capacidade de ocupar novas
so dinâmico de crescimento, acompa- terras.

Tabela 1 Densidade demográfica


POPULAÇÃO
UNIDADES
DA Habitantes por quilômetro quadrado
FEDERAÇÃO
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970

Rondônia . . ... ...


Acre .. ..........
-- -
-
-- -
-
-0,52 0,15
0,75
0,29
1,15
0,48
1,43
Amazonas ...... . 0,04 0,09 0,16 0,23 0,28 0,33 0,46 0,62
Roraima . ....... .
Pará ... .. . ..... .
-0,22 -
0,27
-
0,36
-
0,80
-
0,77
0,08
0,92
0,13
1,26
0,18
1,76
Amapá .. ........ - - - - - 0,27 0,50 0,84

Região Norte .. ,. 0,09 0,13 0,20 0,40 0,44 0,52 0,73 1,03

BRASIL . .. . ... . 1,17 1,70 2,06 3,62 4,88 6,14 8,39 11,18

Fonte: Sinopse Preliminar do Censo Demogrdf•co. Bras•l 1970.

169
Dest~ modo, compreendido o quadro EVOLUÇÃO DA POPULAÇAo· TOTAL A curva ascencional da população da ritórios, sendo que este último sofreu
sócio-econômico regional, do qual o MIL HA8S. Região, no período indicado, se mostra uma perda de 13,6%.
10000
processo demográfico é um componen· bastante irregular e nela podem ser
te, entende-se o reduzido dinamismo identificadas três fases principais que Nesse período v~rificou-se - ·como de-
da população amazônica. correspondem a diferentes períodos corrência da depressão econômica - o
da história econômica da Amazônia. refluxo de nordestinos e a emigração
A escassez da população se verifica em 5 000
(Fig. 1). dos naturais da Região.
todas as unidades da Região Norte: 4 .000
apenas os Estados do Pará e do Acre
tem densidades superiores a um habi- 3 000
AE GIÃO A primeira fase, de 1872 a 1920, tem
um alto incremento populacional e
A partir de 1940 verifica-se a retoma-
da do crescimento da população re-
tante por quilômetro quadrado (Pará V JAR Á corresponde ao período de exploração gional acompanhada pela recuperação
1,76 e Acre 1,42), tendo os Territórios 2 .000 I da borracha, destinada aos mercados populacional em todas as unidades fe-
de Rondônia e Roraima as mais baixas
densidades, menos de 0,5 habitante por v vI mundiais. De 332.847 habitantes, em
1872, a Região passa a contar com
derativas. O cr~cimento vegetativo, a
partir dessa data, tem sido o fator mais
atuante de e~ansão demográfica. Ve-
quilômetro quadrado (0,47 e 0,18 res-
pectivamente) . O Amazonas e o Ama-
pá têm densidades ligeirnmente su-
I 000
900 /
I . / AMAZONAS
1. 439.052 em 1920, quando atingiu a
mais alta participação na população
rificou-s~ mesm<il um pequeno aumen-
to da taxa intrín~eca de crescimento, de
800
/ / L brasileira, 4,7% ( Tab. 3 ). 2,4% no período 1930-1940 para 2,8%
periores: 0,61 e 0,82 ( Tab. 1). 100 v /
/ / / em 1940-1950, possivelmente em decor-
6 00 Entre 1890-1900 e 1900-1920 foi a Re-
500 / / v giãq Norte a que teve, no Brasil, maior
rência de uma relativa melhoria nas
/ / /
v intensidade de crescimento: 45,9% no
condições sanitárias da Região e pe-
1- EVOLUÇÃO
DA POPULAÇÃO
4
v_v /
/ primeiro período e 106,9% no segundo,
representando um aumento ao ano de
quena redução das altas taxas de mor-
talidade. 6
300
.........
v cRE
4,5% nos dois períodos indicados A retomada vem se caracterizando por
I - ( Tab. 4) . . um ritmo crescente de aumento: no
v
200
1.1 - Evolução da v Deu-se, nessa época, a grande afluên-
periodo 1940-1950, quando o incre-
mento relativo foi de 26,1%, verificou-
População Total
I /
I RONDÔNIA
J w. APÁ
cia de nordestinos, sobretudo cearen·
ses, que atraídos pelo extrativismo da
se pequeno movimento migratório con·
seqüente ao recrudescimento da explo-
100
O aumento da densidade regional foi I / I borracha e afugentados por grandes ração da borracha natural, em decor-
bastante lento: em 1872 a Região Nor-
90
80 L -........ I
secas, principalmente a de 1877, espa-
70 I 'I rência da Segunda Guerra Mundial e
te tinha 0,09 habitante por qUilômetro 60 1
/ J lharam-se pelos vales seringueiros do da formação do mercado interno da
quadrado e 3,3% da população nacio· I Juruá, Purus, Madeira, Tapajós e Xin· borracha, com o desenvolvimento da
50
nal; em 1970 com 1,0 habitante por AP/ RORAl MA gu. A migração nordestina nesta fase indústria paulista.
quilômetro quadrado nela se concen- foi de mais de 300.000 pessoas 5 .
v
40
RO
travam apenas 3,9% da população do 30
Foram novamente correntes imigrató-
País (Tab. 2). Com a perda dos mercados externos rias nordestinas que se encaminharam
O aumento abs?luto da população da
Região de 1872 a 1970, durante um sé-
20 I da borracha amazônica, inicia-se uma
segunda fase no processo demográfico
regional: no período 1920-1940 verifi-
para a Amazônia, tendo tido o Acre,
então, maior aumento relativo regio-
nal, 43,9%.
culo, portanto, foi apenas de 3 317 903 ca-se um pequeno crescimento absolu-
habitantes em contraste, por exemplo, to da população que, de 1. 439. 052 ha- Apesar dos fluxos populacionais de fo-
com a Região Sudeste cujo incremen· lO bitantes, passa a 1.462.420, o que re- ra da Região, nesse período, o saldo
to populacional foi da ordem dos 30 1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970
presentou um incremento relativo de líquido entre o número de brasileiros
milhões de habitantes ou do Nordeste· apenas 1,6%. O Pará e o Acre tiveram naturais de outras Regiões - residen-
com 20 milhões. FIG. 1 diminuição de população em seus ter- tes na Amazônia - e aquele dos natu-

Tabela 2 Evolução da participaçiio da população regional na população brasileira - Período 1872-1970

1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970


REGIÃO
População % População % População % População % Populaçio % População % População % População %
NORTE
332.847 3,35 476 .370 3,32 695 . 112 3,99 1.439.052 4,70 1.462.420 3,55 1.844.655 3,55 2.601.519 3,67 3 .650. 750 3,86

Brasil .. .. .. .... 9.930.478 100,00 14 .333 .915 100,00 17.438 .434 100,00 30.635 .605 100,00 41.236. 315 100,00 51.944.397 100,00 70.992 .343 100,00 94.508.554 100,00

Fonte: Sinopse !'reliminaT do Censo !Xmogrdtiéo. Brasil 1970.

170 171
rais dela - residentes em outros Esta-
dos - era negativo (- 1,1%) . O mais ••• o • •

o c:oooo-~'--"'
alto saldo negativo estava no Pará &:; =~8·:::::
(- 4,7%) . Realmente, os Estados da .... ~
Região Norte pouca atração exerciam,
na época, sobre as correntes de migra-
ções internas, e mesmo as motivações •• o •• o

econômicas da Região não eram capa- o:::-c:ooo


I ' <Q N N •r.
_..,_ ar.- <Q
zes de reter sua população.
A partir de 1950 acelera-se o ritmo de
aumento da população para 41,~. de C"!U'::'~<J:J~t-­
C?lt:"x_-t-t--
1950 a 1960, o qual se mantém quase 0:1'---
. . .-.N'O!'
..
o mesmo de 1960 a 1970, 40,3%. A <O'OI''OI'OC<":I'--
C") --- ~:-')
-_;
taxa de incremento anual nos últimos
vinte anos tem sido, portanto, de cerca
-~
-
1 .'')

de 4%. Essa taxa tem sido pouco su-


perior à taxa intrínseca de crescimen-
to que foi de 3,8% no período 1960-
1970.
O crescimento demográfico da Amazô-
nia é, portanto, basicamente resultan-
te do aumento natural. O aumento da
taxa de crescimento intrínseco de 2,8% o
em 1940-1950 para 3,8% em 1960-1970
representa, também, um maior contro-
le das causas de morte na Região e
ª
conseqüentemente um dos fatores de :g :g
I' (')
aceleração no crescimento populacio-
nal. I I~ I~ I
O incremento de 4% ao ano significa
uma maior retenção dos naturais da ~----+-----~---~---r-0~-~~~
Região pela atração de algumas novas C>~ ~O'l .....
atividades - implantadas em determi-
nadas áreas amazônicas - as quais pro- I I ~ I~ I ~ ~
vocaram não somente importantes des- -
..;.
locamentos internos como também co-
meçaram a se estruturar como áreas ~----+-----0---1'-----r-"~-00~~ ·ª
de atração de migrantes inter-regio- ;é ~ ~ ~ E
nais. ~ h1 c!lo
C>
De 1950 a 1960 os incrementos rela- ~
tivos mais significativos verificaram-
Q"
se nos Territórios do Amapá (83,8%),
Rondônia (91,6%) e Roraima (62,8%). -
11-----+-----------+--~----1 ~

~~
~ ~
.

Nesse período se deu a instalação dos


- "...
'M ...

.§E
Territórios, daí o seu grande incremen- ~ .
to populacional e a implantação da in- Q,ct:
dústria extrativa do manganês no ~.g
Amapá. ~]'
!S.
Outras atividades responsáveis pela .. ~
dinâmica populacional do período fo- "'o
cl
ram o desenvolvimento das culturas "'""
172
industriais de exportação; juta no va- de livre comércio de importação e ex-
le médio do Amazonas; pimenta-do- portação e de Incentivos Fiscais espe-
reino em Tomé-Açu e malva na Gua- ciais com a finalidade de criar no in-
jarina. A formação dessas áreas de cul- terior da Amazônia um centro indus-
turas industriais, embora reduzidas em trial, comercial e agropecuário dota-
extensão, tiveram como resultado o in- do de condições econômicas que per-
cremento da mobilidade espacial in- mitam seu desenvolvimento, em face
terna, a partir das áreas de depressão dos fatores locais e da grande distân-
demográfica, e a atração de correntes cia a que se encontram os centros con-
externas, principalmente de maranhen- sumidores de seus produtos.
ses e cearenses .
A criação da Zona Franca tem tido re-
Foi também nesse período que a ação percussões demográficas e econômicas
governamental passou a atuar no sen- significativas, como a atração de ca-
tido de desenvolver a Regiãp com a pitais externos, criação de novos em-
criação da Superintendência do Plano pregos que vêm absorvendo parte da
de Valorização Econômica da Amazô- força de trabalho ociosa, elevação do
nia (1953). volume de negócios, retomo de téc-
De 1960 a 1970, como indicado, con- nicos locais radicados em outras áreas
tinuou a ser elevado o incremento po- do País, incremento do turismo, au-
pulacional na Região ( 40,3%), decor- mento da renda real da população e
rente das novas variáveis introduzidas deflagração de um incipiente processo
no espaço amazônico através da ação de industrialização.
governamental em três campos: em
primeiro lugar, a polftica de Incentivos Finalmente, a partir de 1970, a im-
fiscais 1 aplicados a projetos agrope- plantação do Programa de Integração
cuários, industriais e de serviços bá- Nacional que, com a abertura de ro-
sicos, os quais, com a participação do dovias de ligação inter-regional (Ma-
setor privado, vêm provocando o de- naus-Porto Velho, Cuiabá-Santarém
senvolvimento de algumas áreas da e Transamazônica) vem abrindo a Re-
Amazônia. oriental e das duas grandes gião à penetração de novas correntes
cidades da Região. Grupos empresa- de povoamento e de novos investimen-
riais do Sudeste e do Sul do Brasil têm tos destinados à valorização do seu po-
procurado prpmover substanciais in- tencial natural.
vestimentos graças a esse sistema con-
trolado pela SUDAM 8 • Um aspecto Essas três medidas de âmbito gover-
positivo da política de Incentivos Fis- namental já vêm tendo repercussões no
cais é a maior diversificação da econo- desenvolvimento regional e conse-
mia, o que vem proporcionando base qüentemente no processo demográfico,
mais efetiva ao processo de povoamen- sobretudo promovendo a ocupação e
to e de desenvolvimento regional. a valorização de espaços vazios, pro-
vocando mudanças estruturais na for-
Em segundo lugar, o Governo Federal, ça de trabalho e incrementando as ta-
procurando induzir os investimentos à xas de urbanização.
aplicação na Amazônia ocidental, área
menos desenvolvida no contexto regio- Assim é que, no período de 1960-1970,
nal, inaugurou novo elenco de incen- verificou-se uma aceleração do cresci-
tivos especiais dispensados à Superin- mento populacional no Pará, sem dú-
tendência da Zona Franca de Manaus vida o Estado que mais vem se bene-
- SUFRAMA - cuja jurisdição esten-
de-se a uma superfície de 10.000 qui- ficiando do impacto dessas medidas
lômetros quadrados, na qual se encon- governamentais ( 18,9% na década de
tra á cidade de Manaus. 1940-1950, 38,0% em 1950-1960 e 41,6%
em 1960-1970). Nessa última década
O objetivo da instituição da Zona mantiveram-se, também, os altos cres-
Franca foi o de estabelecer uma área cimentos das populações de Rondônia

173
Tabela 4 Variação absoluta e relativa da população total
1872-1890 1890-1900 1000-1920 192()-1940 194()-1950 1950-1960 1960-1970
UNIDADES DA
FEDERAÇÃO
Absoluta Rdat. Absoluta Relat. Absoluta ReiAt. Absoluta Relat. Absoluta Relat. Absoluta
I Relat. Absoluta Relat.

Rondônia. .. .. - - - - - -
-
-12.611 -13,65 -34.987 - 33 .848 91,64 45.837 64,75
Arre ...... .. -90.30.3 - -
101.841
- 68,85 -
113.410 45,40 74.842 20,60 76 .091
43,86
17,37
4.'>.453
207 . 116
39,60
40,29
57.798
239 .719
36,07
33,23
Amazonas ..... 156,75
Roraima .. - - -116 .901 - -
5.18.151
-
120,83
-
38.863
-
3,95
-
178.629
-18,90 11 .376
427 .662
62,79
38,07
12. 149
646.137
41,19
Pará. ..........• 53.218 19,33 35,59 41,66
Amapá ........ - - - - - - - - - - 31.412 83,81 47 .591 69,08

143.:>23 43,11 218 .742 45,91 743 .940 106,93 23.368 1,62 382 . 235 26,13 756.864 41,03 1.049.231 40,33
Região Norte ......

4 . 403. 437 44,34 3 . 104 .519 21,65 13 . 197 . 171 75,67 10.600.710 34,60 10.708.082 25,96 19 .047.946 36,66 23.516 . 211 33,12
Bra.sil ........

e do Amapá, 64,7% e 69,0% respectiva- queno, esse aumento por migrações in- Estados da região amazônica sejam os ções sobre o processo de urbanização
mente. ter-regionais foi, no entanto, maior que de maior proporção de população na- que vem acontecendo na Região, em
em outras áreas do País, como no Nor- tural na população total: 96,0$. seu conjunto, e nas diferentes Unida-
As tendências de incrementos mais deste, inclusive meio-norte, em Minas des Federativas que a compõem.
significativos da população encontram- Gerais-Espírito Santo e mesmo em
se no Amapá e em Rondônia, com sua Santa Catarina-Rio Grande do Sul. Como característica mais importante
economia extrativa mineral em expan- 1.2- Evolução da População
da urbanização na Amazônia se des-
são, e no Pará, onde estão sendo aber- A despeito de seus grandes vazios de- Urbana e Rural taca a rapidez deste processo nas últi-
tas novas frentes de expansão agrá- mográficos, de suas potencialidades e mas décadas. Considerando-se a taxa
ria, simultaneamente com o desenvol- das novas e recentes medidas de in- As características do sistema econômi- de urbanização, definida como a taxa
vimento de Belém no setor industrial. centiv.os ao povoamento e à valoriza- co amazônico, com predominância das de incremento médio anual da popula-
Na realidade, a maior parte dos pro- ção econômica por parte do Govemo atividades primárias, fazem com que ção urbana, encontram-se valores mui-
jetos agropecuários e industriais resul- Federal, a Amazônia se configura., ain- no quadro demográfico sejam mais nu- to elevados nos últimos 20 anos: 6,9%
tantes da política de Incentivos Fiscais da, como área não dinâmica e onde a merosos os habitantes rurais. Em 1970, na década 1950-1960 e 6,8% em 1960-
tem sido implantados no Pará, em fun- terra é fator extremamente abundan- na Região Norte, viviam 2.001.320 ha- 1970. Este processo está em expansão,
ção essencialmente da existência de te e não aproveitado. bitantes rurais e 1. 646.430 urbanos, pois que na década de 1940-1950 o au-
economias externas, da potencialidade ou seja, uma predominância dos pri- mento urbano foi de 4,3% apenas. As
da demanda e da boa disponibilidade Essa situação se expressa bem no seu meiros de 54,8$. taxas de urbanização na Amazônia fo-
de recursos produtivos. ( Fig. 2). índice de mobilidade espacial no pe- ram semp~e superiores às taxas de in-
ríodo 1960-1970,9 o qual é o mais bai- Seguindo a tendência geral do País de cremento médio anual da população
Esse fato vem acentuando as desigual- xo de todo o País: f8 em 100 pessoas diminuição dos quadros rurais, verifi- total, que foram de 2,6$ (1940-1950),
dades regionais já existentes no con- da população residente se deslocaram ca-se na Amazônia uma diminuição 4,1% ( 1950-1960) e 4,0$ ( 1960-1970),
texto amazônico entre a Amazônia ori- dentro da própria Região, ou realiza- progressiva da participação rural da de modo que, como referido anterior-
ental (Pará e Amapá) e a Amazônia ram migrações inter-regionais. Esse população: em 194b, 72,2% da popula- mente, os quadros urbanos vêm au-
ocidental (Amazonas, Acre, Roraima baixo volume migratório está perfei- ção total localizavam-se nas áreas ru- mentando progressivamente sua parti-
e Rondônia) muito mais isolada e me- tamente consistente com as caracferís- rais, em 1950, 68,5% e em 1960, 62,2$. cipação na distribuição espacial dã po-
nos dinâmica: cerca de 66,0% da po- ticas geográficas e sócio-econômicas Essa diminuição está relacionada ao pulação. Um ritmo de urbanização
pulação acrescentada ao contingente da Região: grandes distâncias e ex- mais lento incremento da população tão rápido é explicado pelo crescimen-
amazônico na última década se con- trema deficiência do sistema de trans- residente no campo: se na década to diferencial da população urbana e
centrou na Amazônia oriental. portes - que são dois fatores limita- 1950-1960 o aumento rural foi de 28,0%, da rural, dando-se o crescimento urba-
tivos aos deslocamentos - a situação na década de 1960-1970 reduziu-se a no às expensas da população rural.
Pelo exposto, compreende-se a forma- de subdesenvolvimento regional - que 23,7$ (Tab. 5).
ção de novas correntes de migração de não gera diversificação espacial de Ao mesmo tempo, os quadros urbanos No Brasil a população urbana tem
destino amazônk'<>, no fim da década oportunidades de emprego - e o pe- cresceram aceleradamente: 43,H foi o crescido mais rapidamente nos Esta-
de 60, mas ainda restritas a pequenos queno número de centros ou zonas incremento relativo de 1940 a 1950, dos ou Regiões menos urbanizadas, in-
volumes de pessoas. Considerando-se de atração capazes de induzir às mi- 69,3% de 1950 a 1960 e fr7,7$ na últi- dependentemente do tamanho de suas
o aumento absoluto da população ocor- grações. ma década . populações e das densidades demográ-
rido no período ( 1. 049. 231 pessoas ), ficas. As taxas de urbanização do Cen-
tem-se como crescimento devido à mi- A importância muito reduzida das mi- As informações contidas na tabela 5 tro-Oeste são ainda muito mais eleva-
gração cerca de 11$. Apesar de pe- grações inter-regionais faz com que os permitem estabelecer algumas observa- das que as da Amazônia, mesmo ex-

174 175
REGIÃO NORTE
VARIAÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL 1960 -1970
(Segundo os óreos mínimos Mo alterados no período)

1-VIGI-·ANANIND(UA-KHEVtD(S-
S I ~"e[ L 00 'AIIÃ t OIJTAOS
Z·UAETITUIA
)•SOUA[·IALYATP:AAA
4-C.UTAHHAL
5·S.'AAt.ctSCO 00 'AU
6-CUtlucA
?-IOAIIA'f·IIIRI
I·IIUANO'
,_TUCUIIU(
IO.UI!YCURITUIA
tt-NOYA OLINOO 00 NORTE
tl·SILVES
l)·tTAPIRAHGA

......... 0

- - 100.000 8 """'""-.0/1'0

Poo ~­
-.0/10
o Poo ltl'O

Oro POt c ~uo Olooo Alnt


cluindo-se Brasília. Na década 1950- 1960) o aumento urbano devido às
1960, a taxa de urbanização nessa Re- novas localidades foi de 2,4%.
gião foi de 12,4% e em 1960-1970, de
10,1%. ~ crescimento diferencial da popula-
çao urbana e da rural vem determi-
As elevadas taxas de urbanização das nando diferenças importantes no grau
Regiões menos desenvolvidas do País, de urbanização 10 das Unidades Fede-
nos últimos 20 anos, contrastam com rativas da Região.
as taxas mais moderadas das áreas de-
senvolvidas e já altamente urbanizadas Em 1970 o Estado do Pará e os Ter-
do Sudeste e do Sul. A constatação do ritórios do Amapá e Rondônia tinham
grau de urbanização superior à média
processo crescente de urbanização nas regional ( 45,2%) . O mais alto grau de
áreas subdesenvolvidas leva à neces- urbanização estava no Amapá com
sidade da elaboração de estudos com 54,6%, seguindo-se Rondônia com
o objetivo de compreender o proces- 52,7% e o Pará com 47,3%.
so, suas características e causas deter-
minantes, de estabelecer as relações Já em 1950 essas três unidades supe-
com outros processos econômicos e so- ravam o grau de urbanização regional
ciais e de conhecer os problemas hu- que era de 31,5%. Rondônia e Amapá
manos que acarreta e as necessidades tinham cerca de 37,0% de urbanos e o
administrativas que se criam. Pará 34,6%.

Outro aspecto significativo a conside- O Acre, desde 1950, é a mais ruraliza-


rar quando se examina o nível regio- da unidade amazônica ( 18,5% de ur-
nal de urbanização é a magnitude das banos) e mantém ainda essa situação,
· taxas de crescimento urbano absoluto. em 1970, com 27,5% de habitantes ur- .
Do total anual de aumento de 105.000 banos apenas.
pessoas (1960-1970) na Amazônia, cer-
ca de 66.000 ou 63,0% foram absorvi- O Estado do Amazonas é o que obteve
dos no setor urbano. Neste elevado o mais alto crescimento urbano, tendo
crescimento, já referido, a migração se elevado o seu grau de urbaniza-
teve papel mais importante que o au- ção de 26,8% em 1950 para 42,4% em
mento vegetativo. 1970.

Um fator que na Amazônia - Região Os Estados e Territórios da Amazônia


em processo de povoamento e valori- diferem amplamente quanto aos níveis
zação - também atua nas taxas de e tendências do crescimento urbano-
urbanização é a criação de novas vi- rural. A tabela 5 permite apreciar a
las e cidades. Nos últimos trinta anos diversidade de situações e tendências.
( 1940-1970) o número de vilas pas- As unidades amazônicas nas quais a
sou de 116 a 162, com uma população população urbana cresceu mais rapi-
que aumentou de 50.599 habitantes a damente durante a década 1000.1970
132.403. O número de cidades no mes- foram os Territórios de Rondônia com
mo período passou de 88 para 143, 96,3% e Amapá com 80,2% ( Fig. 3).
com uma população absoluta de
355.193 habitantes e 1. 517.021 nas Os Estados ainda muito rurais do
duas datas. Na última década (1960- Amazonas e Acre também tiveram au·
1970) cerca de 3,5% do crescimento mentos urbanos superiores à média re-
urbano total se deve às novas locali- gional (67,7%), com 70,8% e 78,1% res-
dades de caráter urbano surgidas no pectivamente. Com crescimentos ur·-
período. Também esse fator de urba- banos inferiores ao da Região estão
"nização vem se tomando mais atuan- o Pará com 64,5% e Roraima com
te, pois que no período anterior ( 1950- 41,0%.

177
Tabela 5 Variação absoluta e relativa da população urbana e rural nos períodos censitários
POPULACXO URBANA POPULACXO RURAL POPULAC.ÃO URBANA POPULACXO RURAL
UNIDADES DA J$4011g&e 19~/11180 11180(lg'70 1$40/1~ Jg~/ 11180 I1180/1g'TO

I
FEDERAC!O 1~0 urro 1960 1970 1$40 111~ 11180 1g'70
Abeoluto % Abeoluto % Abeoluto % % Abeoluto % Abeoluto
Al>.oluto %
Acr. ... •••....•.•..•. 14. 138 21.272 33.998 60 .551 M .630 U . 483 1211. 210 157. 449 7 . 134 ~.45 12. 72«1 sg.s2 2G . Mg 78.11 27 .853 42.43 32. 727 35,00 31.2ag 24,75
Aaut.IOIIAa ............. 104 . 7sg 137 . 736 239 .659 .og. 278 333. 21g 3711. 363 481.556 Ml.~ 32.947 31.44 101.g23 73,99 1119.11Jg 70,77 4'1 . 144 12.94 J05. 1g3 27.~ 10 100 0,1,
Pani ... . . ............ 286 .865 389.011 630.672 1.037.340 102. 148 35,60 241.11111 62,12 4011 .11118 64.48 76 . 483 11,62 186. 001
Road6aia ........ ....... . . -- 13.816 30.842 60 .541
M7 . 779
-
734 . 282
23 . 119
920 . 2113
39 .941
1. J5g. 732
58.079 -- --- 17 .02G 123,23 29. 1199 98,29 -
-- - 111.822
25,33
72,711
2ag 4119
111 . 138
2«1,02
40,40
-- --
Roraima .................. 5 . 132 12. 717 17.929 12.984 111.772 23 . 709 7 . 5&S 147,79 5 .212 40.98 3 . 788 29,17
Amap6 ... . . .... - 13.900 35. 390 113. 785 23 .677 33. 499 62 .695 - 21.4g() 154,60 28 396 80,23 g _gn 42,08
11 937
Jg 198
25,91
57,30
REOIXO NORTE. 405 . 795 580.867 g83 .278 1.649. 430 1.058. 828 1.2113.788 1.818. 241 2 . 001.320 175.075 43,14 402 . 411 &g,27 111111 . 162 67,74 207 . 160 1g,60 354 . 463 28,04
----
383 079
---
23,67
Fonte: Smopse Prel1mmar do Censo Demograf&co. Bras1l 1970.
..
EVOLUCÃO DA POPULAÇÃO URBANA E RURAL
2.1- Composição por Sexo
A tabela indicada pennite analisar, urbanos, por constituírem focos de - - P.Urbano
também, a evolução da população ur- atração de fluxos migratórios. 3000 ,A_e s._ _ _r----..------..
MIL H_ - --P. Rural
A igualdade aproximada entre o nú-
bana nos três últimos períodos inter-
censitários. Os mais altos crescimentos De outro. lado, o Amazonas se destaca mero de pessoas do sexo feminino e
REGIÃO
urbanos verificaram-se no período como o Estado de mais baixo cresci- 2 .000 1-----+----+---..-=-,._, do masculino - que é uma caracterís-
.. .... - REGIÃO tica orgânica de toda a população bio·
1950-1960, quando foram criados os
Territórios Federais e conseqüente-
mento rural - 14,6i. O aumento da
população desse Estado, na última dé- .... .. .... logicamente normal - pode ser mo-
mente instaladas as suas capitais. Cres-
cimentos superiores a cem por-cento
cada, foi quase exclusivamente de ha-
l:itantes urbanos que, como referido, --- .. -- dificada por certos fatores de desequi-
líbrio, entre os quais são significativos
os diferenciais de mortalidade dos se-
ocorreram nos três Territórios, tendo aumentaram em 70,8i xos e a mobilidade geográfica da po-
sido o mais alto o do Amapá ( 154,6$). pulação .
Após o período de instalação, os au- Acre e Pará mantêm-se pouco acima
mentos urbanos se reduziram na déca- da média do incremento regional rural.
A medida da relação entre o número
da seguinte, porém continuaram bas- Comparando-se a evolução das taxas
de homens e o de mulheres é dada
tante elevados, com exceção de Rorai- de cres-cimento da população rural
pelo índice ou razão de masculinida-
ma. nos três períodos intercensitários, ob-
de, que se define como o número de
serva-se que, na última década, ocorreu homens para cada 100 mulheres. De
Nos três Estados, enquanto o Acre e um decréscimo nos incrementos rurais modo geral. a composição da popula-
o Pará tiveram incrementos ascen- muito acentuado no Acre, Amazonas ção por sexo caracteriza-se por um li-
e Rondônia. :€ de se destacar, porém,
dentes, o Amazonas - cuja população
urbana crescera a um nível extraordi- o aumento crescente da população ru·
ral do Amapá e uma situação de esta-
.. ....
ACRE geiro predomínio dos homens nas ida-
des jovens, predomínio que é cada vez
nariamente alto (74,0i) na década menor até aproximadamente 40 anos
bilidade nos quadros rurais do Pará. de idade, quando passa a se verificar
1950-1960- desceu para um valor ain-
da muito elevado de 70,~ no último o predomínio crescente do sexo femi-
período intercensitário . , nino até as últimas idades da vida, em
2 - CARACTERISTICAS decorrência da mais elevada mortali-
Do mesmo modo, as unidades amazô- dade masculina nas idades adultas.
nicas diferem amplamente quanto aos DEMOGRÁFICAS DA
níveis e tendências do crescimento da POPULAÇÃO Os índices de masculinidade a nível
população rural. O maior crescimento regional e de cada Unidade Federativa
rural no último decênio ocorreu no A classificação da população segundo deverão aqui ser interpretados consi-
Amapá (57,3i) que obteve também determinadas características tem gran- derando as condições especiais de ca·
os mais altos crescimentos urbanos de interesse para os estudos demográ- da área.
na Região, como referido. Rondônia ficos, sobretudo as classificações quan-
também se destaca com um crescimen- to à idade e ao sexo, pois que o com- De modo geral, procura-se conhecer as
to rural bastante acima da média re- portamento dos grupos de população causas que determinam um distancia-
gional (23,7i) com 40,4$. Os dois definidos segundo essas características mento do índice em relação a cem: os
Territórios indicados são, portanto, os é diferencial com relação à natalidade, 10~------~------~----~
fato(eS que levam a esta situação são
1940 1950 1960 1970
de crescimento mais rápido na Amazô- à mortalidade, às migrações e aos as- o número diferente de nascimentos
MOGRÁFICO- 8 R AS I L - 1970
nia, tanto nos quadros rurais quanto pectos educacionais e econômicos. masculinos e femininos, a mortalidade
FIG. 3
178
' 179
'
diferencial por sexo e os movimentos
migratórios.
Em 1970, na Região Norte, o índice
de masculinidade era ligeiramente su-
perior a 100, o que é característico das
áreas de alta proporção de população
jovem (O - 19 anos) e de adultos jo-
vens ( 20 - 39 anos) como ocorre
quando a natalidade é elevada. A ní-
vel regional esse índice atingiu 101,9 I
homens para 100 mulheres, tendo seus ?.:
a; 1

mais altos valores em Rondônia E


( 113,2) e Acre ( 103,8) por serem ~ I
áreas de atração imigratória e onde
ocupações basicamente do sexo mas-
culino predominam, como as ativida-
des extrativas minerais e a exploração
-
::;>

de produtos florestais. O Estado do


Pará apresenta um equilíbrio entre os
sexos ( 100,7), enquanto o Amapá e o
Amazonas muito pequena predominân-
cia masculina (Tab. 6).

O efeito dos movimentos migratórios


adquire especial importância quando
se trata de áreas urbanas e rurais. Co-
mumente os índices de masculinidade
são altos nas zonas rurais e baixo nas
urbanas, particularmente nas grandes
cidades.
C')
a>
Entre as causas mais importantes do .......
o

-~
~

menor índice de masculinidade das


áreas urbanas destaca-se a atração que
a possibilidade de empregos no setor 1----.--~1------+---1 cq
de serviços exerce sobre as mulheres à
jovens que geralmente não dispõem de . . . .a>. .
C') :o:~ O> C'l <D ~
fontes de trabalho nas zonas rurais pela _..,.0
cr--r--u:~~.o

~
própria natureza das atividades agrí- E
colas. No caso da Amazônia, a situa- ~
ção ainda se agrava pelo tipo de eco-
nomia dominante, pois que a explora-
ção de produtos florestais é feita qua-
se exclusivamente pela população mas- .,...
culina. 1:

t----~---------t---t E
A tendência de pessoas em idade ma-
dura de retirar-se para cidades e vilas,
l
também contribui para diminuir os ín-
dices de masculinidade urbanos, já
que as mulheres, tendo maior longevi-
dade, sobrevivem em maior número
que os homens.

180
lt significativa a diferença dos índices A progressiva perda de importância
de masculinidade dos quadros rurais relativa da economia extrativa na Re-
e urbanos na Amazônia, onde o baixo gião e o processo crescente de urba-
índice de masculinidade urbano 91,9 nização seguem paralelas a uma dimi-
se contrapõe ao alto índice rural de nuição da proporção masculina na po-
110,9. pulação.
O mais baixo índice urbano encontra-
se no Pará ( 90,8), onde está a Metró-
pole Regional. Em Rondônia há um 2.2 - Estrutura Etária
equilíbrio de sexos na população ur-
bana ( 100,3 ) pela importância da imi- A composição, por idade, é uma das
gração, a qual se comp3e principal· mais importantes características demo-
mente de população masculina. gráficas; o seu conhecimento permite
avaliar as possibilidades de evolução
Nos quadros rurais é geral o predo- e expansão de uma população e é uma
mínio da população masculina, sendo variavel das mais necessárias à aná-
o índice de masculinidade rural da lise e à política econômicas, pois que
Região de 110,9. Os mais elevados ín- a repartição por idades de uma popu·
dices estão em Rondônia ( 130,3), Acre !ação está na origem das transforma-
( 114,6 J e Roraima ( 112,2) . ções demográficas.
Na tabela 7 observa-se que está ha- Para sintetizar o exame da estrutura
vendo uma pequena diminuição da por idades distinguem-se três princi-
proporção da população masculina so- pais grupos etários, divisão que cor-
bre a total que em 1950 foi de 50,9% responde a uma preocupação econô-
e em 1970 de 49,6$. A <Jiminuição vem mica: os adultos ( 20 a 59 anos) re-
se verificando em todos os Estados e presentam a parte da população pro-
Territórios, à exceção do Pará que, dutiva, os jovens (O a 19 anos) os fu-
desde 1940, tem uma situação equili- turos produtores, os quais, juntamente
brada na repartição de sexos ( 50,1%) . com os velhos ( 60 anos e mais) re-
presentam os grupos improdutivos.
O Estado do Acre chegou a ter 63,1~
de população masculina em 1920, em As características principais da estru-
decorrência do afluxo das correntes tura etária da Amazônia - proporção
migratórias para a exploração da bor- muito elevada da população jovem e
racha, a qual diminuiu para 52,1% em proporção muito baixa de velhos -
1970. vem se mantendo praticamente inalte-

Tabela 7 Percentagem da população masculina

POPULAÇÃO MASCULINA
UNIDADES
DA % sobre a população total
FEDERAÇÃO
1872 1890 1900 1920 1940 1950
I 19701

Rondônia . .... ... .


Acre ...... ........
-
-
-- -
-
-
63,1
-
55,3
56,6
54,6
55,5
53,0
Axnazonas...••.. .. 54,6 54,7 54,7 54,0 51,5 51,3 51,3
Roraima .. ...... . . - - - - - 53,2 52,0
Pará ... ... . .... . .. 51,8 50,6 51,3 51,1 50,1 50,1 50,3
Axnapá ........ .... - - - - - 52,6 51,0.

REGIÃO NORTE - - - - 50,8 50,9 49,6

Fontes: Brastl, a Terra e o H.omem, volume ll, A V1da Humana.


1 Sinopse Preliminar do Censo Demográfico. Brasil, 1970.

181
radas, porém com pequeno aumento da to menor população de velhos, 5,1%
população jovem desde 1940, quando para 3,~. ( Fig. 4).
era de 52,~. atingindo os 58,5% em
1970 (Tab. 8). Com jovens em grande número e ve-
lhos muito pouco numerosos, a Ama-
A proporção de velhos vem-se man- zônia tem a estrutura típica de uma
tendo praticamente em tomo dos 3,5~ população demográfica jovem.
(3,3% em 1940, 3,7% em 1950 e 3,6%
em 1970). Examinando-se a proporção de sexos
Embora venham se incrementando os por grupos de iàade (Tab. 9), ve-
fluxos migratórios para a Região, o rifica-se que a estrutura etária exis-
grupo de adultos está diminuindo tente em 1950 e 1960, com predomínio
( 43,9% em 1940 e 37,9% em 1970) . do grupo masculino em todas as faixas
de idade, exceto na de 80 anos e mais,
Comparando com os valores da estru- teve em 1970 pequena alteração, com
tura etária do Brasil, verifica-se que ligeiro predommio de mulheres na fai-
a Região Norte tem mais alta propor- xa dos adultos jovens ( 20 a 39 anos),
ção de jovens, a qual era, em 1970, o que mostra uma estabilidade grande
de 52,7% para o País e 58,5% para a da composição etária e de sexo na Re-
Região e, por outro lado, também mui- gião.

Tabela 8 População segundo os grupos de idade (anos completos) em 1920,


1940, 1950 e 1970
ANOS O a 19 anos 20 a 59 anos 60 e mais
CENSI-
TÁRIOS Absoluto % Absoluto % Absoluto %
1920 .... ...... . 739 .624 52,91 616 .075 44,05 42 .565 3,04
1940 .. .. ... .... 770 . 460 52,7S 640.702 43,87 49 .007 3,35
19.50 ... . ... . .. . 991.426 53,93 778.715 42,35 68.419 3,72
1970 .. .... .. ... 2 . 104 . 995 58,54 1.363.104 37,90 128 .250 3,56
Fonte: Censos Demográficos, 1920- 1940 - 1950 - 1970.

REGIÃO NORTE
POPULAÇÃO TOTAL
Idade
HOMENS MULHERES
70e+

r
I
I
I 20.29

I I
10.19
I
600 500
.
400 300 200 100
0.9
Milhares 100 200 '300 400 500 600

- Populaçõo.f970
Populaçõo.l950

FONTE: TABULAÇÕES AVANÇADAS DO CENSO DEMOGRÁFIC0-1970


CENSO DEMOGRÁFICO DO BRASIL -1950
FIG. 4

182
A situação dessa relação sexo-estrutu- mininos que não dispõem de fontes
ra etária era, porém, bem diversa em de trabalho na área (criação extensi-
1940, quando a Região ainda se en- va de gado, exploração madeireira e
contrava em grande depressão econô- outras atividades de extração vegetal)
mica, o que levara à emigração sobre- e que são atraídas pela possibifidade, .
tudo masculina, e daí uma predomi- de empregos terciários e domésti~s
nância de mulheres nos grupos adultos em Macapá.
e velhos da população. No Pará, também, havia ligeira pre-
A -predominância numérica do sexo dominância de mulheres na faixa de
masculino é característica geral das adultos jovens e de velhos, nesta prin-
unidades integrantes da Região Norte cipalmente ( 5. 241 mulheres para
em 1960 e 1970. (Fig. 5). 4. 759 homens) .
Essa situação corresponderia ao mo-
Porém, examinando-se a composição delo de maior concentração feminina
por sexo segundo os três grandes gru- nas cidades, pela oferta de trabalho
pos etários (Tab. 10), desdobrado o no setor terciário, e de mulheres ido-
grupo adulto em adultos jovens ( 20 sas mais Iongevas, pois que esse Esta-
- 39 anos) e adultos maduros ( 40 - do é o de maior população urbana da
59 anos), verifica-se que, já em 1960, Região ( 1. 037.340 pessoas ) e nele
em algumas das Unidades Federativas está a Metrópole Regional, o grande
da Região, as mulheres predominavam foco de atração de correntes migrató-
em determinadas faixas de idade. rias na época.
Assim, no Amapá, as mulheres eram Em 1970 a situação se altera um pou-
mais numerosas no grupo adulto, so- co, com o predomínio de mulheres
bretudo entre os adultos jovens também nos grupos jovens do Amapá
( 5. 437 mulheres para 4. 563 homens), (5.013 mulheres e 4.987 homens) e
o que talvez se deva ao fato de ter do Amazonas ( 5. 005 para 4. 995), si-
grande importância nos fluxos migra- tuação devida possivelmente à alta ta-
tórios para esse Território os de ca- xa de urbanização no período 1960-
ráter rural-urbano, saídos sobretudo 1970 nessas áreas ( 80,2% e 70,8% res-
do Pará. Como o grande foco de ex- pectivamente), acrescendo-se ainda,
pulsão de rurais nesse Estado para o no caso do Amazonas, o fato de ter
Amapá é a região das Ilhas, sobretudo sido bastante incrementado em Ma-
a ilha de Marajó, é possível que esteja naus o emprego no comércio, com a
havendo maior saída de migrantes fe- implantação da SUFRAMA.

Tabela 9 Distribuifão proporCional da população de idade conhecida por sexo


e grandes grupos de idade
PROPORÇÃO POR 10.000 HABITANTES
DE IDADE CONHECIDA
IDADE
(Anos
completos) 1940 1950 1960 1970

Romen~ \1ulheres Homens \1ulheres Homem: \1u1here::; Homens \1u1heres

Oa 19 .. . . . .... 2.677 2.600 2.727 2.655 2.877 2.798 2. 938 2.925


20 a 39 .. .. . .... 1.510 1.532 1.527 1.460 1. 378 1.346 1.284 1.291
40 1\ 59 .. .. . .... 734 611 654 594 646 579 641 567
60 a 79 .. .. . .... 151 154 176 165 130 118 120 116
80 e mais, ... ... 11 20 12 20 62 67 56 62
TOTAL POR
SEXO .. . ..... 5.083 4.917 5, 096 4.904 5.093 4.907 5.. 039 4.961

TOTAL GERAL 10.000 10.000 10.000 10.00o

183
I
grupos de idade
Tabela 10 Distribuição proporcional da população de idade conhscida por sexo e grandes

PERTENCEM AO SEXO
IESPECIFICAD::> SOBRE 10.000 HABITANTES
1970
UNIDADES 1960
DA De Todas as
De Todas as De O a 19 De 20 a 39 De 40 a 59 De 60 e Mais Idades
FEDERAÇÃO De O a 19 De 20 a 39 De 40 a 59 De 60 e Mais Idades
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Homens ~1ulheres Homens ~1ulhere.• Homens Mulheres Homens ~1ulheres Homens ~fulheres
5.093 4.907 5.176 4.824 5.763 4.237 5 .8:)() 4.150 5.211 4.789
Acre ...... . . .. 5.082 4.917 5.393 4.607 5.785 4.215 6.762 3.238 5.301 4.699 4.987 5.013 4.958 5.042 5.393 4.607 5.074 4.926 5.026 4.974
Amap'········ 5.034 4.966 4563 5.437 4.901 5.099 5.302 4.698 5.107 4.893 4.995 5.005 5.002 4.998 5.373 4.627 5.137 4.863 5.046 4.9.)4
Amazonas ..... 5.087 4.913 5.088 4.912 5.432 4.568 5.259 4.741 5.139 4.861 5.011 4.989 5.008 4.992 5.178 4.822 4.707 5.293 5.018 4.982
Pará ...... ... . 5.059 4.941 4.981 5.019 5.186 4.814 4.759 5.241 5.035 4.96.') 5.009 4.991 5.465 4.535 6.184 3.816 5.703 4.297 5.308 4.692
Rondônia . .... 5.184 4.816 5.886 4.114 6.058 3.942 6.134 3.866 5.558 4.442
Roraima .. .... 4.989 5.011 5.258 4.742 6.033 3.967 5.959 4.041 5.201 4.799 I 4.987 5.013 5.156 4.844 5.859 4.141 5.711 4.289 5.152 4.848
-,
Fonte: Censos Demogrdficos do Acre, Amapá, Ama%onas, Ronddnia, Pard e Roraima, 1960 e 1970.

POPU LAÇÃO URBANA E RURAL matamento e de implantação das pas- xas particularmente elevadas de na-
tagens nas grandes empresas agrope- talidade, os quais, com os adultos
cuárias ou nas empresas madeireiras também aí dominantes, compõem o
1970
se faz basicamente com mão-de-obra modelo da estrutura etária de uma re-
Idade masculina. gião basicamente de economia primá-
ria, onde as atividades de produção se
HOMENS MULHERES
Em 1970, a mais alta superioridade concentram no meio rural.
70e+ masculina de toda a Região encontra-
se em Rondônia, na faixa dos adultos, A análise da estrutura etária é impor-
60.69 em decorrência das correntes migra· tante por suas repercussões de ordem
tórias: na faixa de adultos jovens a econômica, social e demográfica. A
proporção é de 5. 465 homens para estrutura por idades age de maneira
50.59 4. 535 mulheres e na de adultos madu- decisiva sobre a atividade econômica
ros é de 6.184 homens para 3. 816 mu- do País, por dela depender, em gran-
lheres. de parte, a proporção entre a popula-
40.49
A composição por idade varia também ção ativa e a improdutiva.
sob influência do habitat: a pirâmide
30.39
de idade da população urbana e rural
da Região mostra a mais forte pro- 2 .3- População Ativa e
20.29 porção de jovens nas populações ru- Estrutura Profissional
rais em relação à cidade, se.ndo muito
grande a diferença nas idades inferio- Os dados referentes à população ati-
10.19 res a 10 anos ( 56,9$ no c~mpo) . va devem ser interpretados em função
da realidade econômica e social pró-
Também a proporção de · adultos é pria a cada País e Região. Dessa for-
0.9 maior no campo ( 55,4$) que nas ci- ma, tomam-se um instrumento útil de
dades ( 44,6%), enquanto que no Brasil
I análise econômica e, especialmente,
'
300 200 100 MI LHARES 100 200 300 a dominância do grupo adulto se en-
de previsão de emprego.
contra na cidade, 59,3$ contra 40,7%
no campo. Considerando-se ~mo população ati·
No grupo de velhos a proporção ainda va, segundo o critério do Censo Demo-
População Rural FI G. 5 ~ráfico, a mão-de-obra cujo emprego
é mais elevada na zona rural, embora
População Urbana
as mulheres de mais de 50 anos se- e remunerado, tinha-se um efetivo na
jam pouco mais numerosas nas cida- Região Norte, em 1970, de 1. 028.660
FONTE: TABULAÇÕES AVANÇADAS DO CENSO DEMOGRÁFICO -1970 pessoas ( 28,2$ da população total )
des, o que significa talvez a maior mor-
talidade Qas mulheres nas zonas rurais. contra uma população não economica-
No Pará, ao contrário, resQibelece-se mento das correntes imigratórias para mente ativa (pessoas de 10 anos e
a predominância masculina nos gru- as novas fronteiras agrícolas do sudes- A proporção muito mais elevada de mais) de 2. 575.019 pessoas. Tem-se,
pos adultos, em decorrência do incre- te do Estado, onde o trabalho de des- jovens no campo explica-se pelas ta- portanto, uma taxa de atividade muito

184 185
Tabela 11 População Ativa
1940 1950 1970
UNIDADES
DA % na % na % na
FEDERAÇÃO População P opulação População População População PopulaçA<>
Ativa At iva total Ativa tQtal
totRl

Rondônia . .. ... .. . . .. .
Acre .. .. . .. .... . . .. . .
-
27.785
- 34,8 14 .211
38 .925
38,5
33,9
33 .903
64 .540
29,1
29,6
AJna1.onas . .. . . . .. . . . . 149 . 180 34,1 156 . 538 30,4 269.333 28,0
Roraima .. ... . . . . . . . . . - - 5 .946 32,8 11.466 27,5
Pará ... .... . . . . . . . . .. 335 .252 35,5 351.488 31,3 620. 315 28,2
Amapá .... .... .. . .... - - 12 . 136 32,4 29 . 104 25,0
REGIÃO XORTE 512. 217 35,0 579. 244 31,4 1.028 .660 28,2

Fontes: Censos Demográficos de 1940 e 1950. Bras1l.


Sinopse Preliminar do Censo Demográfico, Brasil, 1970.

baixa e bem inferior a do Brasil, que elevada quanto mais evoluído o País
foi de 31,3~ em 1970. Esse baixo va- ou Região e mais baixa a fecundidade.
lor contrasta com o do Sudeste Assim é que, enquanto para o Brasil
( 32,7~) e especialmente o de São Pau- a taxa de atividade feminina em 1970
lo ( 35,5%) e o do Sul ( 32,5%). era de 20,9%, na Região Amazônica era
de 16,5% e no Sudeste 23,0%, coerentes
Esses dados confirmam o pressuposto essas diferenças com as características
de que a proporção de ativos é tanto demográficas da população e o grau
mais forte quanto maior o grau de de desenvolvimento.
desenvolvimento econômico, conside-
rando a proposição a nível nacional. 'fAs proporções de ativos são também
correlatas com os grupos de idade: o
Os diferenciais na proporção de ativos grande peso das idades infantis e ado-
na Região Amazônica parece-nos, no fescentes na população amazônica
entanto, muito mais influenciados pelo (59,5%) e a exigüidade do grupo adul-
dinamismo das diferentes âreas em to ( 37,9%) são responsáveis pe1a baixa
termos de atração de fluxos de migran- proporção de ativos ( 28,2%) .
tes que vão reforçar os grupos ativos
locais e alterar suas estruturas etârias Outro aspecto importante a considerar
e de sexo, do que propriamente pelo é a proporção entre os setores ativos e
nível de desenvolvimento, que não inativos da população, por suas reper-
apresenta na ârea diferenças significá- cussões econômicas e sociais.
tivas. Assim é que as mais altas pro-
porções de ativos .encontram-se no A atividade econômica de um País ou
Acre (29,6%) e em Rondônia (29,1%), Região e suas possibilidades de cresci-
áreas que têm recebido os maiores con- mento são influenciadas fortemente
tingentes de migrantes em relação à pela proporção entre os setores produ-
população e onde, como referido, es- tivo e improdutivo de sua população.
tão os mais altos índices de masculi- É do setor ativo que depende o pro-
nidade da Região ( 108,8 e 113,2 res- gresso econômico, ao mesmo tempo
pectivamente) e grande massa de po· que esse setor tem que suportar o en-
pulação adulta jovem ( Tab. 11). cargo dos improdutivos. 1!: evidente
que quanto maior o número de impro-
As diferenças globais de população dutivos mais considerável tem que ser
ativa recobrem aesigualdades em seus o esforço de produtividade do setor
componentes de sexo e grupos de ida- ativo.
de. A participação feminina na popu-
lação ativa varia sensivelmente com u A relação entre o número de pessoas
desenvolvimento econômico e com a em idade não produtiva e o número
taxa de fecundidade, sendo tanto mais de pessoas em idade produtiva é um

186
Tabela 12 Grupos de idade - 1970
GRUPOS DE IDADE
UNIDADES
DA O- 14 anos 15 - 59 anos 60 anos e IIIAÍS
FEDERAÇÃO
Absoluto Relativo Absoluto Relativo Absolut~ Relativo

Acre .. ........ ... .... 106 .987 49,76 101.776 47,33 6 . 255 2,91
Amazonas . ... . . . ..... 457 .569 48,62 464 .004 48,70 31.233 3,28
Pará ................ . 995 .789 46,06 1.074 .939 49,72 91.098 4,21
Rondônia . .. ... ....... 50. 680 45,86 57 .034 51,61 2.795 2,53
Roraima .... ... .. . .... 19.979 48,91 19.660 48,1:3 1.210 2,96
Amapá .. .. ........... 57 . 162 50,02 53.512 46,83 3 .:>95 3,15

REGIÃO NORTE .. . 1.688 . 166 46,96 1 . 7i0.925 49,26 136 . 186 3,79
Fonte: Censos Demográficos do Acre, A.ma.wnas, Pará, Ronddnia, A.mapd, 1970.

indicador do encargo econômioo da ção à força de trabalho e às popula-


população ativa. O setor produtivo ções não economicamente ativas das
(população de 15 a 59 anos ) repre- diversas unidades que compõem a Re-'
senta 49,3% da população total, a qual gião Amazônica} .
tem um encargo de população não
produtiva ( 50,7%) dividida entre Considerando-se a evolução da popu-
47,0% de crianças e adolescentes e lação ativa total verifica-se que, en-
3,8% de velhos. As diferenças a nível quanto no período 1940-1950 o seu
de Estados e Territórios se dispõem crescimento foi de apenas 13,0$, o que
desde os mais altos setores produtivos representou a metade do crescimento
de Rondônia ( 51,6%) e Pará ( 49.7ll ), da população total (26,1%}, no perío-
ambos superiores à média regional, até do 1950-1970, o cresc'mento de 77,5%
os menos elevados do Amapá ( 46,8%) correspondeu a uma taxa média anual
e Acre ( 47,3ll}, ambos com uma média de incremento de 3,9$ ( 1,3$ ao ano no
de população infantil e adolescentes período anterior), o que significa um
bem superior à da região ( 47,0% ), pri- substancial alargamento da força de
meiro com 50,0% e o segundo 49,8$ trabalho ( Tab. 13).
(Tab. 12 ~
A análise da população deve ser com-
Para Rondônia e Pará, que se desta- p!etada pelo exame da estrutura pro-
cam com as mais elevadas populações fissional.
produtivas na Região, a situação é
bastante diversa quanto ao setor im- Uma característica dos Países em fase
produtivo. Enquanto o Pará, com as de desenvolvimento é a participação
áreas de mais antiga ocupação na relativa cada vez menor da população
Amazônia e mai~ urbanizado, tem que se dedica às atividades primárias
uma taxa de crianças e adolescentes (agricultura, pecuária e extrativismo
retativamence baixa ( 46,0%) e a mais vegetal) ao mesmo tempo que d renda
elevada popula.ção velha da Re~ião gerada nesse setor vai perdendo a sua
( 4,2$), Rondônia_ - com o seu qua- importância relativa. O início do pro-
dro demográfico em expansão acele- cesso de industrialização leva natural-
rada pela entrada de grandes massas mente ao crescimento da população
de migrantes, possivelmente adultos ocupada no setor Secundário ( indús-
jovens e sem família - tem a mais bai- trias extrativas minerais e de transfor-
xa taxa regional de população infatl- mação) e quando o crescimento se tor-
til ( 45,9%) e também o mais baixo ín- na mais acentuado aumenta o setor
dice de velhos ( 2,5$) . Terciário (serviços).
Esses aspectos sumariamente referidos Sabe-se que os produtos dá atividade
refletem diferentes situações em rela- ·primária são de alta -essencialidade,

187
enquanto os produtos e serviços de-
correntes das atividades secundárias e
terciárias são exigidos e consumidos
quando o nível de renda das popula-
ções ultrapassa o mínimo de subsistên-
cia. De modo que o incremento da ren-
da per capíta aumenta a proporção de 00
recursos destinados à aquisição de gs"
bens secundários e, sobretudo, de ser-
viços.
Verifica-se, em conseqüência, varia-
i- ]
<
ções na distribuição relativa da força
de trabalho e modificações na estru-
tura das atividades econômicas.
(Fig. 6).
A repartição dos setores de atividade
no Brasil evolui dentro desse modelo,
através de uma transferência progres-
siva da força de trabalho do setor Pri-
mário para os outr•>S dois. 1t o resul-
tado de um desenvolvimento estrutu-
ral acompanhado por uma expansão
demográfica muito grande e por um
processo de êxodo rural que se inten-
sifica.
Embora a Região Amazônica tenha no
contexto brasileiro uma posição de sub-
desenvolvimento, com dominância de
um setor Primário periférico, também
ela sofre esse processo, evidentemente,
com muito menor intensidade que ou·
tras Regiões do País. Observa-se já
uma acentuada regressão relativa dos
ativos no setor Primário: entre 1940
e 1970 sua participação na população
ativa diminuiu de 74,0$ para 56,9%, ou
seja, um decréscimo de 17,1~, enquan-
to a força de trabalho no secundário
passou de 6,6~, em 1940, para 11,4~,
em 1970, e a do terciário de 19,~ para
31,~ ( aumento de 12,4%) (Tab.14).

A importância das atividades comer-


ciais na estrutura econômica da Região
(comércio exportador de produtos ~x­
trativos vegetais e minerais), a implan-
tação da Zona Franca de Manaus, a
expansão do subsetor Governo e a ins-
talação do subsetor Intermediários Fi-
nanceiros (política de incentivos fis-
cais) foram responsáveis pelo progres-
sivo e significativo aumento de pessoas
ocupadas em atividades terciárias na
Região.
No exame da evolução dos setores de
atividade verifica-se que o mais eleva-

188
REGIÃO NORTE
~

POPULAÇAO ATIVA
Mil Hobs .

1.000

900

800

700

------
600

500 __.. ........

400

300

-- --· ..

---- ---
200
..........
100 .... ---- ...
-- ---
-·- .-·-·
......-
0+------------1------------------------~
. . __.

1940 1950 1970

POP. ATIVA TOTAL

.
POP. ATIVA FEMININA _ _ _ - -
POP. PRIMARIA
POP. SECUNDARIA
I
FIG. 6
POP. TERCIÁRIA
-···-··-
Fonte : Censo Demográfico 1940-1950
Tobuloções Avonçodos do Censo Demogrófico-1970

do incremento nos últimos vinte anos verifica-se o incremento quase igual


se deu no secundário, com 182,3%, se- dos setores Primário e Terciário.
guido do terciário, com 187,3%, o que
implicou num incremento anual nesse Uma comparação interessante que se
período de 9,1% da mão-de.obra in- pode fazer é a do crescimento da po-
dustrial e de 6,9% da terciária. Se con- pulação nos três setores de atividade
siderarmos, porém, os números absolu- e a evolução da Renda Interna real
tos de aumento no período 195().1970, por setor, no período 1950-1970 para

189
a primeira e 1947-19~ para a segun-
*I
c:.~~OI!.~~
~
da 11 • No setor agricultura a evolução
da Renda Real e da população ativa ~
~~~;~;
I .,
foram semelhantes: 48,1~ para a Ren-
~
.!<
•t-~8-co
1:: ...
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da e 46,2$ para a população. No en- ~~~·s~
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tanto, no setor indústria e serviços o


I .,..
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aumento da população empregada foi :i ó-1/oi..:!Jio
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*I
muito mais vigoroso que a renda ge-
r ada: para um crescimento de 182,8$
de população secundária deu-se um in-
cremento na Renda de 80,~ apenas, e
no setor serviços, para um aumento
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de 137,8$ de ativos, deu-se um incre- ~
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mento na Renda de oo,oo; somente. Essa ~ õ'l
situação sugere que a evolução desses
dois setores de atividade está se fa-
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zendo com baixa capitalização e tem .,. .... oao .... ~
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o seu incremento apoiado basicamen· *I I
te no uso abundante de mão-de-obra.
Consid~rando-se a estrutura profissio-
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nal a nível das Unidades Federativas


observam-se algumas diferenças signi- :i
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ficativas que correspondem a caracte- ~ *I
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)·ísticas e ~raus de desenvolvimento ~
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econômico diversos.
Em 1970 as maiores proporções de
~opulação primária encontravam-se no
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cre (68,6%) e no Amazonas (OO,oo;), *I I ~
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Estados que, desde 1940, vêm lideran-
do a Região nas atividades primárias,
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significativamente, pois representava, ..
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em 1940, 82,3% da )opulação ativa no
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primeiro Estado e 6,9% no segundo, · -•co •- :8 1:
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nia ocidental. =
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A expansão das atividades de minera-
ção nos Territórios do Amap! e Ron-
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dônia tomou-os as unidades de mais ,~:,~, ...
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alta proporção de população secundá- o *I COt- ,._
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destacam pelos mai:$· altos ~rcentuais
de terciários na pofulação ativa ( Ro-
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· 40,6i), pela importância relativa do
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maior empregador (mais de 3. 500


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~ ~
"'
190
REGIÃO NORTE
PESSOAS ECONOMICAMENTE ATIVAS,POR SEXO E SETOR DE ATIVIDADE
1970
MULHERES
Outros Atividades
Administroçllo Publico
Atividad" Sociais
TroMp. Comunicações e Armozenooem
Prestação de Serviços
Comercio de Mercadorias
Atividades Industriai s
Agricultura, Pecuário, Silvicultura,
~xtroção Veoetol, Coço e Pesco.
500 400 300 200 100 100
Milhares
FIG. 7
FONTE: TABULAÇÕES AVANÇADAS 00 CENSO DEMOGRÁFICO -1970

funcionários públicos), desempenha o setor Primário na sua estrutura eco-


funções empresariais e é responsável nômica: o incremento anual dos ativos
por alguns dos mais importantes em- primários nos últimos vinte anos foi,
preendimentos de infra-estrutura. Tam- porém, o mais baixo da Região ( 1,9~ ),
bém em Roraima o setor Governo é o pela decadência da economia extrati-
grande comprador, o mais importante vista, crescendo o setor Secundário de
empregador e o principal empreende- 11,~ ao ano e o Terciário num ritmo
dor 12 • anual de 7,5~, taxas estas superiores
às do Pará.
Já Rondônia, em decorrência do pro-
cesso de desbravamento e ocupação No contexto regional, no período con-
determinado pela abertura da BR-364 siderado ( 1950-1970 ), a população se
(Rodovia Cuiabá-Porto Velho) tem ti- viu acrescida anualmente de 3,9% de
do um revigoramento do subsetor Co- novos ativos, tendo tido o setor Pri-
mércio pelo crescimento da função re- mário um incremento de 2,3% ao ano,
gional de Porto Velho e das relações o Secundário de 9,1% e o Terciário de
comerciais com o centro-sul. 6,9%.
As mudanças estruturais aqui indica-
As mais significativas mudanças na das sobre a cotnposição profissional da
estrutura profissional vêm se proces- população ativa foram acompanhadas
sando no Pará: de uma dominância, por mudanças na participação dos
em 1940, das atividades primárias que três setores de atividade na composi-
reuniam 72,0$ da população ativa, che- ção da Renda Interna Regional.
gou-se, em 1970, a um quase equilí- (Fig. 7).
brio entre as atividades agrícolas e
não agrícolas, com 55,9% para o setor As informações em seguida apresenta-
primário. As atividades secundárias, das estâo contidas no trabalho Mudan-
que em 1940 contavam apenas com ças na divisão inter-regional do traba-
8,1~ dos ativos, passou, em 1970, para lho no Brasil 13 , no qual as estimativas .
11,7~. O maior incremento verificou- da Renda Interna, segundo os ramos
se, porém, nas atividades de serviços de atividade por Região, são do Centro
que, contando em 1940 apenas com de Contas Nacionais do IBRE-FGV.
f9,7~ dos ativos, passou em 1970 a en- A partir dessas estimativas foram cal-
globar 32,~. culadas as participações dos três seto-
res de atividade econômica por Re-
Enquanto no período 1950-1970 a taxa gião, em relação à Renda Interna Re-
de incremento anual da população pri- gional e em relação à Renda Total do
mária no Pará foi de 2.~. a do secun- País.
dário atingiu 8,~ e a do terciário 6,~.
Como nas demais Regiões Brasileiras,
O Estado do Amazonas tem evolução a participação do setor agrícola na
semelhante, embora ainda predomine Renda Interna Regional, na Amazônia,

191
sofreu um decréscimo entre 1947 e dústria de 1,3% para 1,4% e os serviços
1968 de 32,~ para 22,1%. A redução de 2,6% para 2,4% u.
da participação do setor agrícola se
deu em virtude do crescimento da par- O aumento da participação da popu-
ticipação da indústria, já que o setor lação agrícola amazônica na popula-
ção ativa nacional e sua menor parti-
I
(
serviços não se alterou fundamental-
mente. cipação na renda significa, certa-
mente, que a abertura da Região como
O setor indústria teve sua participa- nova fronteira agrícola está se dando
ção aumentada de 9,4%, em 1947, para basicamente com agricultores de sub-
16,9%, em 1968 e o setor serviços de sistência, o que significa abundante
57,7% para 60,~. O setor serviços· é, mão-de-obra, tecnologia rudimentar e
baixa produtividade.
portanto, o principal formador do pro-
duto na Região. Na formação do setor A evolução dos outros dois setores em
Terciário as mais elevadas participa- termos de participação na população
ções são as do subsetor comércio, com e na Renda Nacional são coerentes.
aproximadamente 40,0$ e do subsetor
Governo, com cerca de 20,0$. Nos úl- Segundo os autores do trabalho cita-
timos anos a participação do subsetor do, a Região Norte não foi aparente-
intermediários financeiros cresceu mente afetada pela redivisão do tra·
apreciavelmente, em decorrência, so- balho que está se operando no País, a
bretudo, da política de incentivos fis- partir do surto industrial no Sudeste,
cais que proporcionou a ampliação e que vem tomando o Nordeste e o Sul
a implantação de diversas instituições mais exportadores regionais de produ-
financeiras na área . tos agrtcolas e mais importadores de
produtos industriais do Sudeste 15.
Como nas demais Regiões do País hou-
ve um decréscimo da importância re- Esse mecanismo praticamente não
lativa do subsetor comércio, trans- atingiu a Região Norte, que ainda
portes e comunicação e um crescimen- continua bastante isolada do mercado
to da importância de outros serviços, interno. A hipótese levantada pelos au-
dentre os quais se destacam o setor tores, de que o setor agrícola para as
Governo e intermediários financeiros. regiões "dependentes,. aumente a par-
Examinando a participação da Região ticipação na Renda Nacional não se
Norte nos totais do País, nos três se- verificou para o Norte, que manteve
tores de atividade, quanto à população quase a mesma participação, o que não
(período 1950-1970) e a Renda Nacio- aconteceu no Nordeste (de 19,9% para
nal (período 1947-1968) verifica-se a 24,6%) e no Sul (de 23,2% para 28,7%).
seguinte situação: Ao mesmo tempo, o seu setor indus-
trial manteve-se quase o mesmo, ao
1 - em relação à participação na po- contrário do Nordeste e do Sul que
pulação ativa brasileira verifica-se que tiveram uma participação relativa mais
foi no setor Primário que houve o baixa. As dificuldaaes de transportes
maior ~umento da participação ama- e comunicação e o fato de a Amazônia
zônica, de 3,9%, em 1950 para 4,5%, exportar grande parte de seus produ-
em 1970, certamente em decorrência tos sem passar pelo Sudeste seriam os
da abertura da Região como a nova fatores responsáveis pelo relativo iso-
fronteira agrícola em anos recentes; o lamento do seu mercado interno.
setor Secundário teve pequeno aumen·
to de 1,8% para 2,2% e o setor Terciário Essa situação trouxe para a Re~ão um
sofreu pequena diminuição de 3,1% desenvolvimento mais homogeneo e
para 2,~; conseqüente com a distri~uição de seus
fatores de produção. Assim, o isola-
2 - em relação à participação na Ren- mento do mercado interno evitou, até
da Nacional praticamente não houve o fim da década de 60, que sua econo-
alteração nos três setores: a agricul- mia fosse afetada pela redefinição da
tura passou de 2,4% para 2,H, a in- divisão inter-regional do trabalho a ní-

192
vel nacional, decorrente da industria- sas de colonização privadas e oficiais,
lização no Sudeste. alcança aproximadamente 1. 500. 000
quilômetros quadrados, abrangendo
Essa situação está se alterando com o terras de Rondônia, do Acre, do su-
término da construção dos grandes ei- doeste do Amazonas, do sul do Pará,
xos rodoviários do Programa de Inte- às quais se somam a vasta Amazônia
gração Nacional que vêm progressiva- mato-grossense.
mente abrindo a Amazônia ao inter-
câmbio com os centros dinãmicos do Esse movimento imigratório ainda é
País. recente e os dados do Censo de 1970
apenas mostram o seu inicio.
O estudo das migrações será feito a
3 - MOBILIDADE nível de fluxos intra-regionais e inter-
DA POPULAÇÃO regionais, segundo sua natureza, oo se-
ja, origem e destino urbano e rural.
A repartição geográfica da população Dois conceitos de migração serão uti-
resulta, em grande parte, dos movi· lizados: o que leva em conta o lugar
mentos migratórios internos. As pró- de nascimento e a residência à data do
prias diferenças entre as taxas de cres- Censo e o que considera o último des-
cimento da população rural e da ur- locamento realizado, confrontando~e
bana refletem a intensidade dos fluxos residência na data do Censo e a ime-
migratórios e sua significativa partici- diatamente anterior, sem referência ao
pação no processo de urbanização. No
caso específico da Amazônia, as altas lugar de nascimento. Para as pessoas
taxas de crescimento urbano referidas que se mudaram uma só vez os dois
são correlatas com a dominância de conceitos coincidem; quando se verifi-
fluxos de origem e destino urbano e de ca mais de um deslocamento intermu-
fluxos campo-cidade, tanto nas migra· nicipal, sendo um deles inter-regional,
ções intra-regionais como nas inter-re- as classificações serão difer~ntes. Este
gionais. segundo conceito só poderá ser utiliza-
do com referência aos dados do Censo
O conhecimento dos movimentos mi· de 1970, assim como a análise da na-
gratórios assume especial importância tureza dos fluxos migratórios.
por suas implicações em relação aos
aspectos e problemas sociais e econô· Foi considerado como migrante intra-
micos os mais diversos. De outro lado, regional a pessoa que, não residindo no
o processo migratório reflete a própria Município de nascimento à data do
redistribuição dos recursos humanos, Censo, tenha nascido na Região opde
em decorrência das diferenças de opor- foi recenseada e, pelo segundo con-
tunidades existentes nas diversas áreas ceito, aquela pessoa cujo Município
ou regiões de um Estado ou País. anterior de residência se situasse na
mesma Região do domicílio do Censo.
A recente abertura dos novos eixos O ·migrante inter-regional é aquele
rodoviários do Programa de Integra- cujo local de nascimento ou o Muni-
ção Nacional e a decisão de colonizar cípio de residência anterior se situam
a Amazônia, integrando-a no esforço fora do âmbito da Região recenseada.
de desenvolvimento nacional assumi- A Região Norte tem os mais baixos
do pelo Governo Federal, vem abrin- índices de mobilidade do Brasil. O
do a Região aos excedentes de mão-de- seu índice de mobilidade geral 16 é de
obra de outras áreas do País, princi- 20,9%, enquanto o do Nordeste é de
palmente do Nordeste e do Sudeste cerca de 30,0%, o do Sudeste de 45,0%
(Minas Gerais e Espírito Santo) . e o do Centro-Oeste quase 50,0%. O
índice de mobilidade intra-regional
O espaço rural já alcançável por via supera o inter-regional 11 , pois os flu-
rodoviária e que se abre tanto ao po- xos migratórios àentro da Região são
voamento espontâneo como às empre- mais volumosos que as entradas e saí-

193
das para outras áreas do País: 11,31 e mais Regiões do País têm maior nú·
9,6$ respectivamente. mero de naturais residindo na Ama·
zônia, do que resulta saldos postivos
A Amazônia é uma área de saldo mi- para a Região Norte.
gratório positivo e os seus ganhos ~
pulacionais nas trocas com as dema1s No conjunto da Região a relação não
Regiões do País elevaram·se de 79.014 natural presente e nortista ausente é
pessoas em 1940, a 30.900 em 1950 e de cerca de 1,8 imigrante por 1. Esse
102. 661 em 1970. Porém, ela não man- índice foi o mesmo em 1950, tendo si-
tém saldos líquidos migratórios positi- do, porém, mais elevado em 1940,
vos com todas as Regiões. 2,7:1.
Em 1970 os saldos positivos existiam
com relação ao meio-norte, Nordeste
oriental, Nordeste meridional, Minas 3.1 - Migrações
Gerais-Espírito Santo e Centro-Oeste, lntra-Regionais
regiões que tinham maior número de
naturais residindo na Amazônia, do Os deslocamentos que se realizam no
que naturais desta área nelas residen- interior da própria Região, numa redis-
tes. Os excedentes migratórios nor- tribuição espacial da população regio-
destinos já são históricos, porém os nal e dos liabitantes no quadro rural
excedentes de Minas Gerais-Espírito e urbano, superam os movimentos in-
Santo, do Extremo Sul e do Centro- ter-regionais. Na Amazônia, em 1970,
Oeste só começaram a aparecer na dé- os m grantes intra-regionais acumula·
cada de 1950, aumentando em 1970. dos eram mais de 400.000 ( 412.198 se-
gundo o conceito de lugar de nascimen-
Três áreas, tradicionalmente, têm sal- to e 441.155 segundo o conceito de mu-
dos migratórios desfavoráveis à Re- nicípio anterior de residência) . Re-
gião Norte: Rio de Janeiro-ex-Gua- presentam cerca de 60$ do tot.al das
nabara, São Paulo e Parariá. As rela- migrações.
ções entre os naturais nortistas ausen-
tes e os não-naturais presentes na Re- As migrações intra-regionais estão for-
gião revelam, no entanto, que as per- temente associadas à dimensão da po-
aas nortistas vêm se tomando propor- pulação regional. Daí os Estados do
cionalmente menores: no Rio de Ja- Pará e Amazonas terem os mais volu-
neiro-ex-Guanabara ating'u um má- mosos ·nuxos intra-regionais dentro de
ximo de 17:1 em 1950, reduzido para seus territórios e serem os mais atuan-
7:1 em 1970; em relação a São Paulo, tes focos de atração ou de envio de
era de 7:1 em 1940, reduzida para 4:1 popl!}ações para as outras unidades da
em 1970. RegJaO.
Embora os fluxos mi~ratórios nortistas O Pará, com 60,2% da população regio-
para o Rio de Janeiro-ex-Guanabara nal, em 1970, concentrava 55,5~ aos
continuem a ser os mais volumosos, os fluxos intra-regionais segundo o con-
planos de desenvolvimento da Região ceito de lugar de nascimento (293.764
vão atraindo fluxos urbanos progressi· migrantes) e 57,1% segundo a residên-
vamente mais importantes das duas cia anterior ( 308. 713 migrantes) (ta-
Metrópoles Nacionais para as capitais belas 15 e 16 )18 •
nortistas: Belém e Manaus, como será
examinado mais adiante. A maior parte dos deslocamentos se
fez dentro do próprio território para-
No Paraná a relação de 6:1, em 1940, ense (71,1~ e 74.~ pelo primeiro e se-
resulta da atração dessa área, com gundo conceitos respectivamente) . A
amplas fronteiras de expansão agrí- diferença no número e na proporção
cola, na época. Essa relação se man- de migrantes nos dois conceitos ( 8,8~
tém ainda negativa em 1970, com 3:1, a mais no conceito de migrantes segun-
porém mais baixa pela relativa satura- do domicílio anterior) decorre de des-
ção de suas áreas agrícolas. As de- locamentos dentro do próprio Estado

194
Tabela 15 Migração l ntra-Regional (segundo lugar de nascimento) - 1970

~ Pará Ama- Acre Ron- Roraima Amapá Total de


g zonas dõnia Saídas'

Pará 208 .940 18. 530 1.409 3.797 616 40.482 64.834
Amazonas ..... .... 12.128 59.446 9.623 16.420 3 .291 302 41.764
Acre .... . . ... . .... 3.075 13.i07 6 .216 3.970 li9 113 21.044
Rondônia . ...... .. 840 1.104 485 1.010 74 31 2.534
Roraima .. .... . ... 368 1. 201 57 222 48 11 1.679
Amapá ........ .... 3.579 lOi 12 126 21 838 3.845

TOTAL DE EX-
TRADAS1 • •• • .• 19 .990 34.469 11.586 24.535 4.181 40 .939

Fontes: Censo Demográfico, Brasil, 1970.


l Exclusive os deslocamentos dentro do próprio Estado ou Território.

Tabela 16 Migração Intra-Regional (segundo domicílio anterior) - 1970

~ Pará Ama- Acre Ron- Roraima Amapá Total de


g zonas dOnia Saidas1

Pará ....... ....... 231.254 18.315 1.298 3.799 499 32.691 56.602
Amazonas ..... . . .. 12.263 67.432 8.906 15.001 3.622 255 4().047
Acre . ..... ........ 3.121 13.071 7.859 4.211 58 123 20.584
Rondonia . .... .. .. 989 1.493 629 4.233 67 25 3.203
Roraima .. .... .. .. 324 1.358 42 225 885 38 1.987
Amapá ....... ..... 4.160 113 11 166 19 2'600 4.469
-
TOTAL DE EN-
TRADAS1 • .. . .. 20.857 34.350 10.886 23.402 4.265 33.132

Fontes: Censo Demográfico, Brasil, 1970.


1 Exclusive os deslocamentos dentro do próprio Estado ou Território.

de não naturais ( 14. 949 migrantes) . meiro lugar, Belém como foco de atra-
O índice de mobilidade do Estado ( re- ção e, em seguida, em um deslocamen-
lação entre população e migrantes) foi to de pequena distância, as cidades
de 14,1% em 1970. Os movimentes mi- menores.
gratórios dentro do território paraense
foram em mais de metade movimentos A proporção de deslocamentos entre
de caráter urbano ( 41,2% fluxos urba- as zonas rurais do Estado foi também
no-urbano e 17,1% fluxos rural-urba- relativamente elevada, 29,2%. Esses
no) . A maior parte desses fluxos con- movimentos estão se fazendo das áreas
centram-se em Belém . deprimidas economicamente: Bragan-
tina, Salgado, Baixo Tocantins, região
Quase um terço dos deslocamentos das Ilhas para a Guajarina, a região de
campo-cidade na região amazônica ti- Tomé-Açu e as novas fronteiras agrí-
veram Belém como foco (27,8%). As colas do sudeste do Estado.
cidades médias ( 10 . 000 a 50. 000 ha-
bitantes) receberam apenas 9,5% dos Os fluxos de safda do Pará (cerca de
migrantes rurais da Região. 60. 000 saídas intra-regionais) têm co-
mo principais destinos o Amapá e o
As pequenas cidades paraenses (menos Amazonas. Mais da metade das saídas
de 10. 000 habitantes) concentraram totais do Estado se dão para o Amapá,
17,9% desse movimento. Portanto, a sendo que a emigração nem sempre é
desruralização no Pará tem, em pri- direta, pois que os migrantes natu-

195
rais do Pará são cerca de 8. 000 a mais superam as entradas em 44.844 mi-
que os domiciliados anteriormente no grantes.
Estado, de modo que se supõe haver
deslocamentos de paraenses dentro do Excetuando-se Belém, que exerce al-
próprio Tenitório do Amapá (57,8i e guma atração sobre a população re-
62.41 das migrações totais do Pará) . gional, as demais áreas paraenses que
O extrativismo do manganês, as ativi- estão em processo de povoamento, so-
dades urbanas e portuárias em Maca- bretudo as do leste e sudeste do Esta-
pá-Santana, ao lado do grande cresci- do, recebem novos habitantes de ou-
mento de Macapá, podem explicar tras Regiões do País, principalmente
esses deslocamentos internos pelas di- do Nordeste, de Goiás e do próprio
ferentes oportunidades de emprego. Estado. A participação de outros ha-
bitantes amazônicos na ocupação e va-
Daí as migrações do Pará para o Ama- lorização das frentes de expansão agrá-
pá serem basicamente de caráter ru- ria paraenses é praticamente nula.
ral-urbano (55,7i) e urbano-urbano
( 22,6S) . A migração rural se faz prin- De outro lado, o Pará é o principal
cipalmente da região das ilhas para emissor de fluxos migratórios para o
Macapá. sendo que parte dessa área Amapá.
paraense está diretamente dentro da
área de influência da capital amapa-
O Estado do Amazonas tem menor vo-
lume de migrantes intra-regionais -
ense. 135.679 (local de nascimento) e
141. 829 (residência anterior) - que
Para o Estado do Amazonas dominam correspondem a 22,~ e 23,1~, respec-
os fluxos urbano-urbano destinados a tivamente, dos deslocamentos totais
Manaus e são migrações diretas: o nú- dentro da Região. A participação do
mero de migrantes é praticamente o Estado nos movinientos intra-regionais
mesmo segundo os dois conceitos, pou- equivale aproximadamente à sua par-
co mais de 18.000. ticipação na população regional
( 26,3$) . O seu índice de mobilidade
O Pará recebe cerca de 20.000 mi- é semelhante ao do Pará ( 14,8%).
grantes, sendo maior a corrente proce-
dente do Amazonas (OOi do total), a Os movimentos migratórios dentro do
qual é basicamente de origem e des-- próprio . Estado têm proporçãQ bem
tino urbano. Naturalmente esse des- menor que no Pará ( 43,S% pelo con-
locamento se faz principalmente para ceito de lugar de nascimento e 47,5%
Belém, e como não há praticamente pelo de domicílio anterior) .
diferença entre os dois conceitos, a
migração dos urbanos amazonense que Embora não existam zonas agrícolas
se deslocam para as cidades paraenses particularmente atrativas no Estado,
se faz diretamente. aominam os movimentos do tipo ru-
ral-rural (55,4%), possivelmente liga-
Uma corrente sccundária é a proce- dos à pop~ação flutUante, caracte~ti­
dente do Amapá (20:' do total), tam- ca da atividade extrativa, ainda base
bém de carãter urbano. da economia estadual.

O movimento campo-cidade, segundo


O Pará caracteriza-se na Região, por- em importância ( 25. 000 migrantes),
tanto, como foco de atração de fluxos corresponde a 23,3% da migraçã9 in-
de origem e destino urbano, natural- tra-estadual, movimento mais forte que
mente dirigidos para a Metrópole Re- o paraense ( 17,1%} e que tem Manaus
gional. como foco.
O balanço migratório intra-regional do Enquanto no Pará a migração entre
Pará é altamente negativo: as saídas cidades, possivelmente das menores

196
para as maiores e daí para Belém-Me- efetuam entre esses dois Estados são
trópole, atingiu 41,2% dos deslocamen- quase exclusivamente de habitantes
tos e é o mais importante, o Estado do urbanos dirigidos para Belém e Ma-
Amazonas com poucas cidades e Ma- naus. Também o movimento campo-
naus como o quase único organismo cidade se faz basicamente na direção
urbano, tem o fluxo urbano-urbano re- dessas cidades: Belém, como referido,
duzido a 15.~ dos deslocamentos concentra 27,8% das migrações rurais-
globais. urbanas regionais e Manaus 17,2%. Por-
tanto, 45,0% dos migrantes rurais da
Os movimentos intra-estaduais nos Região concentram-se nessas duas ca-
dois grandes Estados nortistas têm, por- pitais.
tanto, características bem distintas.
Como o Pará, o Amazonas tem tam-
Os fluxos interestaduais a partir do bém um balanço migratório intra-re-
Amazonas são mais volumosos para gional negativo, as saídas superando
Rondônia (37,5%), Pará (30,6%) e Acre as entradas em cerca de 7. 000 migran-
(22,2%). tes. O maior foco regional de atração
Como a economia da Amazônia oci- para os amazonenses é Rondônia e, se-
dental é basicamente extrativista e a cundariamente, o Pará (Belém) .
ela se vi-ncula uma população primária
extremamente flutuante, os fluxos do- O Acre, com cerca de 39.000 migrantes
minantes para Rondônia e Acre são ( 38.846 - local de nascimento e
também, como os próprios fluxos ama- 39. 329 - residência anterior) e 4% dos
zonenses, principalmente de tipo rural- fluxos regionais, concentra em seu pró-
rural ( 45,2% para Rondônia e 44,2% prio Território menos de um quarto
para o Acre) . Para Rondônia é expres- dos movimentos totais ( 16,0% e 20,0%
sivo o fluxo urbano-urbano ( 34,6% do segundo os dois conceitos) . Os seus
total) dirigido a Porto Velho, pÓlo se- fluxos internos são em cerca de 54%
cundário na Amazônia ocidental. de tipo urbano-urbano e mais 18% ru-
ral-urbano, portanto àois terços dos
A migra.ção amazonense para o Pará, deslocamentos se fazendo para cida-
como já referido neste trabalho, é de des. A crise da extração da borracha e
tipo urbano, predominando largamen- a venda de seringais para a instalação
te a de origem e destino urbano de empresas pecuárias é um dos prin-
(79,5%) .
cipais fatores desse processo de con-
O Amazonas recebe correntes imigra- centração urbana .
tórias num total de 34.000 migrantes, Os seus movimentos interestaduais,
dominando os fluxos urbanos e diretos
do Pará ( 53,5%) seguindo-se as entra- pelo contrário, são muito intensos: as
das do Acre (cerca de 13. 000 migran- entradas são quase o dobro dos mo-
tes) de tipo urbano também ( 44,6% vimentos in.temos e as saídas são três
urbano-urbano e 28,8% rural-urbano) . vezes maiores. Isso o caracteriza como
uma área de grande emigração inter-
Com relação aos movimentos de en- estadual na Região.
tradas interestaduais o Amazonas tem
exatamente a caracterfstica do Pará, Enquanto as saídas do Pará represen-
com dominância de entradas de mi- tam 3,0% da sua população, as do Ama-
grantes urbanos para Manaus. Mesmo zonas 4,2%, as do Acre chegam a 9,7%.
as entradas de migrantes de Rondônia As saídas se fazem dominantemente
e Roraima, bem menos importantes, são para o Amazonas (65,1% do total),
de urbanos. com um fluxo de cerca de 13.000 mi-
grantes, fluxo esse de destino urbano,
Portanto, as migrações interestaduais com 44,6% de origem urbana e 28,8%
que se realizam para o Amazonas e o de origem rural, como referido. Por·
Pará e as trocas populacionais que se tanto, mais de dois terços dos acrea-

197
nos deslocam-se para domicílio urba- 1 - fluxos internos em números abso-
no no Amazonas, sendo certamente lutos mais volumosos em Rondônia
Manaus o destino. com 4.233 migrantes segundo o con-
ceito de domicilio anterior, tendo o
Rondônia e Pará recebem emigrantes Amapá 2. 600, o que pode significar
acreanos quase na mesma proporção oportunidades mais variadas de em·
( 3. ()()() para Pará e 4. 000 para Ron- prego em Rondônia.
dônia) sendo também fluxos de ca-
2 - maior imigração intra-regional
ráter urbano, em maior proporção ur- para o Amapá que para Rondônia
bano-urbano. ( 40.939 migrantes e 24.535 segundo o
local de nascimento e 33. 132 e 23.402,
As maiores entradas intra-regionais segundo residência anterior, respecti-
para o Acre procedem do Amazonas e vamente).
são, em números absolutos, maiores
que os próprios movimentos internos 3 - mais alta mobilidade geraltt no
(cerca de 9. 000 migrantes) . Metade Amapá (39,2$) que em Rondônia
dos migrantes deslocaram-se do meio (24,11).
rural amazonense para atividades ru-
rais no Acre. 4 - enorme atração de fluxos do meio
rural regional para o meio urbano do
Verifica-se, portanto, uma troca de po- Amapá ( 54,51 fluxo rural-urbano) e
pulações significativa entre os dois Es- importância também dos fluxos urba-
tados, porém de conteúdo diferente, no-urbano regionais ( 23,8!1), situação
coerente com a economia extrativa mi-
segundo a direção. O fluxo do Acre
neral-exportadora que concentra a po-
para o Amazonas é predominantemen- pulação no sistema Macapá-Santana.
te urbano e o de direção inversa é Em Rondônia, apesar dos fluxos urba·
rural. nos serem também importantes, os flu-
xos de origem e destino rural são cer-
No balanço migratório o saldo é t.am- ca de um terço do total, situação que
bém negativo, como nos outros Esta- corresponde às novas frentes agrárias
dos, em cerca de 9. 500 migrantes. que se abrem no Território, ao lado da
tradicional atividade extrativa, situa-
Nos movimentos intra-regionais de en- ção coerente também com o maior vo-
tradas e sn{das interestaduais é o Pa- lume de fluxos internos.
rá que, proporcionalmente, tem as
maiores perdas migratórias: 76,41 dos 5 - Rondônia se coloca como terri-
movimentos migratórios (imigração tório mais aberto às migrações intra
mais emigração) são de saídas regio- e inter-regionais que o Amapá. A atra-
nais. Em seguida situa-se o Acre com ção do Amapá se faz em relação a
64,5$ e o Amazonas com 54,8%. migrantes próximos, em migração di-
reta; cerca de 981 dos migrantes re-
O processo migratório nos territórios gionais procedem do Pará. Rondônia,
tem caráter absolutamente diverso: por sua posição geográfica, sua aber·
são essencialmente áreas receptoras de tura recente por rodovias e pelas no-
migrantes regionais, recebendo Ron- vas frentes de ocupação agropecuária
dônia cerca de 24. 000 imigrantes in- em instalação, está atraindo migrantes
tra-regionais, o Amapá cerca de de procedência vária. Dentro da pró-
85.000 e Roraima 4. 000. pria Região Amazônica, além da cor-
rente dominante de amazonense, rece-
Há, no entanto, diferenças nas caracte- be também migrantes do Pará e Acre.
rísticas migratórias nos dois territó- O volume de migrantes intra-regionais
rios de maior imigração (Rondônia e é semelhantes ao dos extra-regionais
Amapá): (cerca de 23.000 pessoas) .

198
Ambos os Territórios são áreas bem Por oposição, os Territórios se situam
caracterizadas de atração imigratória como áreas de atração, tendo o Amapá
no contexto regional, sendo as entra- os mais elevados saldos migratórios
das cerca de dez vezes superiores às positivos. Enquanto o Amapá e Ron-
saídas. dônia recebem correntes intra-regio-
nais de migrantes relativamente fortes,
No balanço migratório geral da Re-
gião, os Estados do Pará, Amazonas que correspondem a 35,1% da popula-
e Acre se colocam, pois, como áreas ção do primeiro e 21,0% da do segun-
de saída, tendo o Pará o mais eleva- do, Roraima, ainda muito isolado, tem
do saldo negativo absoluto (cerca de uma baixa proporção entradas-popu-
45 . 000 saídas a mais que entradas) . lação total, 10,0% (Tabs. 17 e 18).
Proporcionalmente à população, no
entanto, o Acre é o Estado de maior 3.2 - Migrações
emigração: enquanto as saídas do Pa-
rá representam 3,0% da população to-
Inter-Regionais
tal as do Amazonas 4,3%, as do Acre
representam 9,7%, como referido. 3.2. 1 -Emigração

O movimento emigratório da Região


será analisado, examinando em pri-
Tabela 17 Balanço Migratório Intra- meiro lugar a emigração segundo o
Regional (segundo lugar de nascimen· conceito de lugar de nascimento do
to) -1970 migrante.

ESTADOS Entrada• Saldae Saldo O total dos fluxos emigratórios acumu-


lados até 1970 era de 125.870 pes-
soas, o que representou apenas 1,2%
Par,......... . 19.990 64 .834 - 44 . 8-14
do total dos fluxos de saída no Brasil:
Amuonae .. ... 34.460 41.764 - 7 296
Acre .. .... .. 11.686 21 .014 - 9 . 458
a ) segundo destino ( regiões de pre-
RoDd6ni~>. .... 24 .536 :!.5~4 + 22.002
sença) . Considerando-se o total dos
Roraima . .... 4 . 181 1 11711 + 2 .502
nortistas ausentes ( Tab. 19) segundo
Amap,, .. . 40 .939 3 8lS + 37.004 as regiões de presença nos anos de
1940, 1950 e 1970 observa-se que o
Fonte: Censo Demográfico. Bra.sil, 1970. maior percentual, em 1970. encontra-
va-se no Rio de Janeiro-ex-Guana-
bara ( 49,5%), área de atração dominan-
te para os emigrantes nativos da Re-
Tabela 18 Balanço Migratório Intra- g.ão Amazônica. O Estado de São Pau-
Regional (segundo domicílio anteri.or) lo e o Nordeste oriental que se co-
- 1970 locam, em seguida, como áreas mais
atrativas dos fluxos nortistas, atingi-
ESTADOS Entradas Saldu Raldo ram um percentual de 13,4% e 11,7%
respectivamente, portanto muito me-
P~>r6 ....... 20.857 58.60:! - 35 7U nos importantes em termos de atração
que a anterior. Com 11,0% segue-se a
Am.uon~>t ..... 34.aso 40 .047 - 5 .897
Região Centro-Oeste.
A~re .......... 10.886 20.684 - 9.698
Rondtlnl~> ...... 23 .402 3 . 20~ + 20 . 199
A comparação dos fluxos migratórios
Rorl>im~> ... .... 4 .:!65 1.987 + 2.278 nos três anos censitários fornece in-
Amap, ........ 33.132 4. 469 + 28. 6G:I dicações sobre as .tendências e as di-
reções das correntes emigratórias par-
Fonte: Censo DemogTáfico. Bra.sil, 1970. tidas do Norte.

199
Tabela 19 Nortistas Natos Ausentes, segundo as Regiões de Presença -
1940/1970 1

Nt1MERO ABSOLUTOS PERCENTAGEM


(pesso&S) SOBRE o TOTAL
REGIÕES DE PRESENÇA
1940 1950 1970 1940 1950 1970

Maranhão e Piauí .. ............ 6 .687 6.593 7.851 14,8 11,7 6,2


CeAr" R. (}. do Norte, Paraíba,
Parnambuco, Alagoaa e Fernan-
do de Noronha ............. 9.637 10.585 14 .763 21,3 18,8 11,7
Sergipe e Bahia ...... .......... 902 1.044 2 .260 2,0 1,8 1,8
Minas Gerais e Espírito Santo .. 900 1.166 3. 540 2,0 2,1 2,8
Rio de Janeiro e Ex-Guanabara 18.679 28 . 106 62. 361 41,3 49,8 49,5
São Paulo ... .................. 2.869 4.334 16.844 6,3 7,7 13,4
Paraná. ..... .. . ............. ··· 340 356 3.090 0,7 0,6 2,5
Santa Catarina e Rio G. do Sul .. 598 755 1.368 1,3 1,3 1,1
Mato Grosso, Goiás e D. Federal 4.648 3.482 13.793 10,3 6,2 11,0
TOTAL ... ... .......... ....... 45.260 56.421 125.870 100,0 100,0 100,0

Fonte: Censos Demográficos de 1940, 1950 e 1970, Brasil.


1 Conceito de lugar de nascimento.

Os aspectos principajs a serem desta- nindo 10,3% dos emigrantes nortistas


cados são os seguintes: em 1940, viu-se reduzido em 1950 a
6,2%, para novamente se tomar área
1 - a permanência do Rio de Janeiro- atrativa em 1970 ( 11,0$) .
ex-Guanabara como a área de maior
atração para os emigrantes nortistas: 6 - as demais regiões têm importân-
em 1940 41,3$ dos nortistas tinham cia muito reduzida, sendo que o Nor-
como destino essa área, em 1970 49,5% deste meridional (Bahia e Sergipe),
e em 1950 49,8%; e o extremo sul decrescem de impor-
tância, enquanto Minas Gerais-Espíri-
2 - a perda de importância relativa to Santo e o Paraná têm muito peque-
do Nordeste oriental como área atra- no aumento (de 2,0 para 2,8 os pri·
tiva ( 21,8~ em 1940, 18,8$ em 1950 e meiros e de O,7$ para 2,5% o segundo).
11,7% em 1970).
Portanto, o grande foco de atração dos
3 - a importância decrescente tam- emigrantes amazônicos está no conjun-
bém do Nordeste ocidental ( Mara- to- Rio de Janeiro, ex-Guanabara, São
nhão e Piauí) que, do terceiro lugar Paulo - que em 1970 concentravam
em 1940 ( 14,8$ ), passou em 1970 a 62,9$ do total. Estas Unidades do Su·
reunir apenas 6,2$ dos emigrantes nor- deste estão aumentando seu poder de
tistas. atração, po:s em 1940 reuniram 49,6$
4 - o aumento de importância de São dos emigrantes.
Paulo como área de atração imi~tó­
ria: o percentual de 6,3$ em 1940 ele- As mudanças mais importantes no di-
va-se em 1950 para 7,7% e para 13,4% recionamento dos fluxos emigratórios
em 1970. se deram de 1950 a 1970. Embora per-
manecesse a dominância da ex-Guana-
5 - a situação peculiar do Centro-Oes· bara-Rio de Janeiro como área de atra-
te como área de atração, pois que, reu- ção, houve mudança nas regiões re-

200
ceptoras que se seguiam. Enquanto em Territórios que não têm muita signi-
1950 as mais importantes eram o Nor- ficação por sua criação recente, ve-
deste oriental e o Nordeste ocidental, rifica-se que é o Estado do Acre o que
em 1970 passaram a ser São Paulo e o tem a mais alta taxa de crescimento de
Centro-Oeste. emigrantes com 13,6% a.a., seguido do
Amazonas com 5,1%. O Estado do Pa-
Atualmente é o Estado de São Paulo rá tem a taxa mais reduzida ( 4,7% a. a.)
que recebe o maior fluxo em núme- embora deste Estado saiam as maio-
ros absolutos - 16.844 emigrantes res massas de migrantes em termos
nortistas - depois da Guanabara. absolutos e relativos.
O total de nortistas ausentes elevou-se Quanto à década 1940/50, as taxas dt
de 45. 260, em 1940, a 125. 870 em 1970, incremento foram mais baixas para o
num aumento relativo de 178,1%. Acre e o Amazonas, (2,4% e 1,8% res-
pectivamente) enquanto a do Pará era
b) segundo origem (estados de nasci- a mais elevada da Região (2,6%). As
mento) Considerando-se os nortistas taxas anuais de crescimento de emi-
ausentes segundo os Estados de nasci- grantes se intensificaram mais no Es-
mento verifica-se que, em 1970, meta- tado do Acre, portanto.
de dos emigrantes eram do Pará
( 56,1%), Estado que sempre deu os A tabela 21 permite conhecer quais
maiores fluxos migratórios. Os amazo- as principais áreas de atração para os
nenses constituíam 27,0% do total dos fluxos migratórios originados nos Es-
emigrantes em 1970 ( Tab. 20). tados e Territórios amazônicos.

A particiJ:>ação dos paraenses vem, en- lt interessante verificar um comporta-


tretanto, aecrescendo nos fluxos migra- mento semelhante dos fluxos emigra-
tórios desde 1950 quando era de tórios em 1950 no Amazonas e no
64,6%. Acre: maior importância dos fluxos
para o Rio de Janeiro-ex-Guanabara
Se observados os ritmos de crescimen- ( 41,9% e 46,0% respectivamente ) e cor-
to relativo dos emigrantes segundo as rentes de emigrantes também signifi-
Unidades da Federação no período cativas para o Nordeste oriental ( 28,1%
1950/70, e excluídos os . valores dos e 36,~) . Essa elevada migração era

Tabela 20 Naturais ausentes segundo Estados e Territ6rios de nascimento -


1940/1970 1
.1970
ESTADOS 1940 1950
N.<>s
Absolutos %

Rondônia. .. . ... .. . ......... - 64 6.033 4,8


Aére .. . . .. . .......... . , ... 2.493 3 .093 11.547 9,2
Ame.zonas . ................ 14.087 16.671 33 .922 27,0
Roraima. ................... - 40 1.290 1,0
Pará ... .. . ..............•. 28.893 36.413 70 .627 56,1
Amapá ... ............... . . - 45 2.451 1,9

REGIÃO NORTE . .. . .... 45.473 56 .326 125.870 100,0

Fonte: Censos Demogrdficos de 1940, 1950 e 1970, Brasil.


1 Conceito de lugar de nascimento.

201
possivelmente constituída por filhos portante para o Maranhão-Piauí ....
aos migrantes nordestinos da borra- ( 19,2%) e também uma corrente para
cha. As migrações para São Paulo já o Nordeste oriental mais volumosa que
alcançavam cerca de Si do total. em 1970. Cerca de 35% dos paraenses,
nessa época, migravam para o Nor-
As correntes emigratórias do Pará eram deste.
diferentes: o Rio de Janeiro-ex-Gua-
nabara era mais importante como des- As correntes migratórias do Amazonas
tino ( 52,5i do total ) , o Nordeste oci- dividiam-se de modo equivalente para
dental superava o oriental como área o Rio-ex-Guanabara ( 35,31) e o Nor-
de destino de paraenses emigrados deste ( 41,2%), neste com predomínio
(14,7%). São Paulo e o Centro-Oeste bem ~nde do Nordeste oriental
eram igualmente atrativos ( 7,ZIJ e 7,3% ( 31,6%). Do Acre os fluxos migratórios
respectivamente). mais volumosos dirigiam-se para o Nor-
deste ( 45,2%) com grande predominân-
Em 1970 o Acre passa a ter correntes cia do Nordeste oriental (33,7%) e se-
emigratórias mais diversificadas: a mu- cundariamente para o Rio-ex-Guana-
dança mais si~ificativa é a queda da bara ( 29,7%), valores aproximados aos
im~rtância relativa ao fluxo para o do Amazonas. Nessa época, portanto, os
Nordeste oriental (de 36,2% para fluxos para o Nordeste eram bem mais
14,9%), a menor importância também importantes que atualmente. Essa si-
do fluxo Rio-ex-Guanabara ( 36 1%), o tuação se relacionava evidentemente
grande aumento dos fluxos para São com a migração nordestina para a ex-
Paulo (15,7$) e o surgimento de duas ploração da borracha, constituindo
novas correntes: para o Paraná ( 11,8%) possivelmente uma migração de filhos
e o Centro-Oeste ( 10,2$) . Esta nova de nordestinos.
situação decorre da abertura para o
centro-sul proporcionada pelas novas Os fluxos emigratórios dos Territórios
rodovias. Agora, em 1970, os Estados seguem os mesmos esquemas daqueles
do Amazonas e do Pará são semelhan- dos três Estados. Em 1970 os maiores
tes em relação aos fluxos de emigra- fluxos se dirigiam para o Rio de Ja-
ção: reforçam-se as correntes emigra- neiro-ex-Guanabara: no Amapá 26 8$
tórias para o Rôo de Janeiro-ex-Gua- do total, em Rondônia 22,7% e em Ro-
nabara ( 53,8% e 53,1% respectivamente) raima 31,1$. Em todos eles essa situa-
especialmente em relação ao Amazo- ção representou um pequeno aumento
nas, e para São Paulo: 14.5% das cor- do movimento emigratório para o atual
rentes amazonenses e 12,5% das para- Município do Rio de Janeiro em rela-
enses. Cresce também a importância ção a 1950. Semelhantemente aos Esta-
do Centro-Oeste como área de des- dos, os fluxos para São Paulo são im-
tino. portantes: 15,8% do total no Amapá,
Ao mesmo tempo reduz-se de muito a 11,7% em Rondônia e 13.6~ em Roraima
O Centro-Oeste é também área atra-
importância relativa do Nordeste ori-
tiva em aumento, exceto para Rondô-
ental ( 15,1% do tçtal no Amazonas e
nia, e o Nordeste oriental perde impor-
8,8% no Pará) e do Nordeste ocidental. tância, sobretudo para os amapaenses
Os emigrantes paraenses, em 1970, con- (de 35,6% em 1950 para 16,0% em
centravam-se no Sudeste em cerca de 1970).
dois terços (67,7%) e os amazonenses
em mais de dois rerços ( 70,9$) tendo O movimento migratório, segundo o
o Rio de Janeiro-ex-Guanabara como conceito da última mudança de muni-
o grande foco de atração. cípio, independentemente do lugar de
nascimento, só pode ser estudado para
A situação dos fluxos emigratórios em o Censo de 1970, o primeiro a levantar
1940 nesses três Estados era diferente: os dados segundo este conceito. As mi-
o Estado do Pará mandava já quase ~ções inter-regionais são subeslima-
metade dos seus emigrantes para o Rio das por ele, em comparação com o
de Janeiro-ex-Guanabara ( 45 6%), po- conceito de migrante segundo o lugar
rém tinha uma corrente migratória im- de nascimento. Desde que o migrante

202
Tabela 21 Saldos de Naturais Ausentes Segundo Estados Nortistas de Nascimento e Regiões de Presença -1940/1960
Regilles de Pre;oença
Total do
MT,GO,DF Estado
Estados de Na'ICimento
1940
Acf'f! ..... ....•........... .. ..................... 7,3 33,7 4,3 2.8 29,7 8.0 0,4 1,4 I:!A 100.00
Amaaonu ... .................................... 7,3 31,6 2,4 2,0 35,3 0,9 1,2 1.0 12,3 100,00
PILrl. ....... ............... . ..................... 19,2 14,4 1,6 1,9 45,() 6,0 O,ll 1.4 9,2 100,00
REGIÃO NORTE ..... ......................... 14,9 20,6 2,0 2,0 41,6 6,4 0.8 1,3 10.4 100,00
1950
Rondônia ........... ................. . ........... 9,4 23,4 3,1 4,7 21,9 hl,S 25,0 100,00
Ac........ . ........ ......................... ...... 5,2 36,2 2,7 2,3 41,9 8,4 0,5 1,1 1,7 100,00
A~tonaa .. •...... .. •. ...... , ................ . •. 6,2 28,2 2,0 2,5 46,0 8,7 0,7 1,2 4,5 100,00
Roraima ............................ ............ 61,9 16,7 4,8 7,1 4,7 2,4 2,3 100,00
Pará ............. ................ .... ...... .. ,., 14,7 12,9 1,5 1,8 62,5 7,2 0,11 u 7,:1 100,00
Amapd ....... ................................ , .. 4,4 35,1\ 22,2 4,4 2.2 4,6 11,7 100,00
REGIÃO NORTE ..... ....................... . . 11,7 18,8 1,7 2,1 49,9 7,7 0,0 1,:1 fl.~ 100,00

1970

~
Rondônia ................... ,, .. ,, .... ,, ....... , . 6,6 17,4 7,1 13,3 22,7 11,7 7,3 0,7 1:1,3 100,00
Acre ........... , .............................. ·. 4,4 14,9 1,3 2,0 36,1 1&,7 11,8 3,11 10,2 100,00
Amatonaa ... , ......... , , ... , ..... , , .. • ........ , . :1,2 15,1 1,8 2,6 53,8 14,5 1,2 0,8 7,0 100,00
Roraima ......... , .......... ,, ... ,, ............. 11,8 17,(1 2.4 3,6 31,1 1:1,11 2,5 1.8 15,1\ 100,00
PArá....... .............. .... ' .... ' ........... ' ' 7,7 1!,8 1,3 2,1 53,1 12,5 1,1 0,9 12,6 100,00
Amapá ......... ..... ····· ···················· 12.1 HI,O 3,9 3,8 211.8 15.8 4.:1 0.4 lfi,9 100,00
REGIÃO NORTE .... fl,2 11,7 1,8 2,8 49.5 1:1,4 2,5 1,1 11.0 100,00
For.[e: Censos Demogrd(icos de 1940, 1950 e 1970, Brasil.

Tabela 22 Emigração (segundo o domicílio anterior) -1970

~
CF:,RN,PB Total dó
MA.PX SE,BA MG!ES RJ,Cfl SP PR SC,RS MT.GO,OF
PF:,AL,FN Estado

Rond6ni:\ ........... . , , ......................... :158 484 118 70 928 638 112 29 9111 3 . 606
A<'re ..... •.. . , . , .. , . , . .. , ...................... 376 1.198 89 131 2,9_9 8:19 133 33 576 6.304
An:uonaa ... ... , ... ,, .... ,, ........ , ....... , .. ,, 718 4.3117 477 6.13 16. 0:16 3.70:1 221 234 1.:199 27.788
Ronr.i~ .....................................• , 127 228 1 16 399 114 11 12 89 1.003
Pará .. .......................................... 5 .:~81 5 . 720 749 1.08'1 32.498 7 . 7911 402 407 8.163 62.204
..... 188 252 115 l:l:t 778 257 fi5 4 4:11! 2 . 180
""""''
RhGIÃO !lo'ORH: .... 7 .1 48 12 . 249 1.455 2.071 53.5fl8 13.:147 944 719 11.584 103 085

Fonte: Censo Demogrdfico, Brasil, 1970.


nascido em outra regtao faça apenas O Rio de Janeiro-ex-Guanabara é me-
um deslocamento de município dentro lhor percebido pelos migrantes nortis-
da região onde mora, passa a ser con- tas como local atrativo, sendo mais di-
siderado migrante intra-regional. reta a migração, pois apenas 14,1~ dos
nativos não vieram diretamente para o
Embora o conceito da residência an- Rio de Janeiro.
terior não possa ser aplicado aos ou- Nas correntes migratórias de destino
tros Censos, o de 1970 permite compa- Nordeste e Centro-Oeste a proporção
rações temporais, pois que os migran- é mais elevada de nativos não residen-
tes foram classificados segundo o tem- tes: 17,~ e 16,~ respectivamente dos
po de residência no domicilio. emigrantes nortistas para aqueles des-
tinos se deslocaram por etapas. Esse
As emigrações inter-regionais acumu- fato pode estar relacionado ao menor
ladas até 1970 compreendiam um to- grau de desenvolvimento dessas áreas
tal de 103.085 pessoas. Como os nati- e, no caso do Centro-Oeste, ao fato
vos emigrantes da Região Norte, em de ser uma área em desbravamento e
1970, eram em número maior ( 125.870 ocupação onde a mobilidade se toma
elevada. ll; possível também que mui-
pessoas) conclui-se que 22.785 pessoas
tos nortistas migrados para Brasília
nascidas no Norte ( 18,li) chegaram
tenham vindo de outras regiões.
à região de destino por etapas. A expli-
cação para que quase um quarto dos Interessante nesse particular é a posi-
emigrantes nortistas realizem mais de ção de São Paulo e do Paraná, as novas
um deslocamento quando emigram áreas de atração imigratória para os
pode estar no maior fechamento da nortistas. O número de nativos supera
Região, tanto em termos de transporte em muito · o de residentes, sobretudo
como de informações, resultando em no caso do Paraná: 20,8% de nortistas
safdas pouco vantajosas ou necessida- não residentes anteriormente na Região
de de paradas a meio do percurso, nos Norte estão atualmente em São Paulo
deslocamentos de maior dist~cia 20 • e 69,4% no Paraná. A atração maior
dessas áreas está se dando, portanto,
Segundo este conceito, o maior número não somente em relação a pessoas que
de emigrantes se dirige também para o migram diretamente da Região Norte
Rio de Janeiro-ex-Guanabara (53.568 como também sobre nortistas residen-
pessoas). Porém, como este número é tes em outras Regiões · do País.
menor em quase 10.000 pessoas que os
que nasceram no Norte e aí residem, Essa situação se refere especialmente
conclui-se que muitos nortistas vieram aos acreanos e rondonenses: 90,2% dos
de outras áreas do País para o Rio- açreanos e 74,7% dos naturais de Rcm-
ex-Guanabara. Essa diferença tam- dônia migraram para o Paraná saindo
bém existe nos fluxos para o Nordeste de outras regiões, possivelmente de
oriental: 14.763 nativos do Norte es- Mato Grosso. A proporção de paraen-
tão presentes no Nordeste, enquanto ses e amazonenses nesta migração por
apenas 12.249 tinham residência an- etapa é de cerca de 45%.
terior nessa região. O mesmo acontece Certamente o incremento das emigra-
com os residentes no Norte que migra- ções nort:Mitas, sobretudo de acreanos
ram para o Centro-Oeste: são em me- e rondonenses para São Paulo e Para-
nor número que os nativos (os emi- ná,· as principais áreas atrativas no pla-
grantes residentes foram 11. 584 e os no nacional, decorre da abertura pro-
nativos presentes no Centro-Oeste porcionada pelas rodovias ao sudoeste
13.793). Para todas essas áreas há, por- da Amazônia que incrementa seus con-
tanto, uma migração por etapa, porém tatos com as áreas dinâmicas do cen-
em proporção diferente. (Tab. 22). tro-sul.
Em proporção com a população total habitantes urbanos que migram não
da Região, está havendo um pequeno só da Amazônia mas também de ou-
incremento das saídas, possivelmente tras Regiões do País. Os seus merca-
pela abertura proporcionada pelo no- dos de trabalho são os maiores do meio
vo sistema viário: S,li era a propor- urbano nacional, assim como as van-
ção de saídas em 1940 e 3,4% em 1970. tagens educacionais, de assistência mé-
dico-hospitalar e o meio cultural con-
3.2.2 - Tipos de Fluxos tribuem para aumentar a atração des-
dessas metrópoles.
Emigratórios
Na corrente emigrat6iia que sai da O segundo fluxo em importância é o
Amazônia (pouco mais de 100.000 pes- rural-urbano, com 9,7% ào total. Tam-
soas )21 73,3% procedem de habitat ur- bém seu destino principal é o Rio de
bano e se dirigem também para cida- Janeiro-ex-Guanabara ( 59,4%) e na
des ( 83 511 emigrantes) . maior parte os emigrantes procedem
do Pará (62,7%). Como no anterior,
O maior fluxo emigratório que, como São Paulo é o segundo destino, ( 13,2%)
referido anteriormente, dirige-se ao com emigrantes vindos também do
Rio de Janeiro-ex-Guanabara, é pre- Pará, na sua maior parte.
dominantemente urbano. Pouco mais
de metade dos fluxos urbano-urbano re- A emigração que se faz para o Nor-
gionais ( 58,3%) têm aquela direção. deste oriental e para o Centro-Oeste
São Paulo recebe cerca de 15% dos é basicamente de caráter rural-rural
emigrantes urbanos amazônicos . ( 9,0% do total) e se divide entre o
Ceará (37,4%) e Mato Grosso (27,0%).
f: do Estado do Pará, o mais urbani- Para o Ceará os emigrantes procedem
zado, que sai o maior número de emi- na maior parte do Pará ( 65,5%) e para
grantes (64,4%) que, na sua grande Mato Grosso o maior número de emi-
maioria, localizam-se no atual Municí- grantes é proveniente de Rondônia
pio do Rio de Janeiro. Também os ( 41,6%) e do Amazonas ( 36,4%) .
amazonenses ( 26,1%) se fixam prefe-
rentemente na ex-Guanabara.
3.2.3 -Imigração
São Paulo e Rio de Janeiro, juntamen-
te com suas Áreas Metropolitanas cons- Segundo o critério de lugar de nasci-
tituem o grande foco de atração dos mento, ao se considerar as correntes

Tabela 23 Não Naturais Presentes na Região Norte Segundo Regiões de Nas-


cimento - 1940/1970
NOMEROS PERCENTAGEM
REGIOES DE ABSOLUTOS SOBRE o TOTAL
NASCIMENTO
1940 1950 1970 1940 1950 1970

Mara'nhão e Piauf. ... . . .. ... 20.030 20.969 60.925 16,4 15,9 26,9
Ceará, R. G. do Norte, Pa.-
raíba, Pernambuco, Alagoas
e F. de Noronha ... . .. .... 92.382 93.419 111.615 76,1 71,4 49,4
Sergipe e Bahia ..... . ....... 2 .400 2 .509 7.430 1,9 1,9 3,3
Minas Gerais e Espírito Santo 389 633 9 .350 0,3 0,4 4,1
Rio de Janeiro e ex-Guanabara 1.365 1.739 5.125 1,1 1,3 2,3
São Paulo .... .............. 396 594 3.881· 0,3 0,4 1,7
Paraná . . .. . . ...... . ... . ... . 58 107 2.42'i 0,0 0,1 1,1
Santa Catarina e R. G. do Sul 369' 633 1.842 0,3 0,4 0,8
Mato Grosso, Goiás e D. Fe-
deral. ... . ................ 4.469 1Q.816 23.499 3,6 8,2 10,4
TOTAL ... . . ........ . ...... 121.858 131.419 226.089 100,0 100,0 100,0
'
Fonte: Censos Demogrdf~eos de 1940, 1950 e 1970, Brastl.

205
MIGRAÇÕES SEGUNDO AS SITUAÇÕES ANTERIOR E ATUAL
DO DOMicr'LIO POR REGIÃO DE ORIGEM NA DATA DO CENSO ( 1970)

MIGfltAMTES
40000

0 ~0000
10000

~ wtGRAÇar:s AURAtS~t~uRAIS
~ IIIGAACÔU IIUAAIS·UR8ANAS
CJ IIIGRACÕES URIANA$-RURAIS
- WIGRAÇÕ($ UR8ANAS•UR8AHAS

FOHTf : VHI RECEN$t.AWtHTO GERAl.- f910

FIG.8

imigratórias para a Região Norte (ta- Na década de 60 a Região Amazônica


bela 23) em 1940, 1950 e 1970 verifi- começou a se tomar mais atrativa às
ca-se o aumento progressivo das en- correntes de migração interna com a
tradas: em 1940 o total de imigrantes ocupação de novas áreas no leste e su-
era de 121.858 pessoas, em 1950 de deste do Pará abertas pela Belém-
131.419 e em 1970 de 226.089, o que Brasllia, e em Rondônia pela Cuiabá-
representa um aumento nesse perfodo Porto Velho. ( Fig. 8).
de 85,5%, aumento relativamente redu-
zido e que mostra a posição da Ama- Em 1970 o maior volume de imigran-
zônia como área de ainda pequena tes provinha do Nordeste (79,6%), sen·
atração de fluxos imigratórios. do o maior número do Nordeste orien-

206
tal ( 111. 615 pessoas) . Praticamente gião Norte provinham do Ceará
metade dos imigrantes da Região Ama- (38,5$ ) (Tab. 24).
zônica procedem dessa área do Nor-
deste ( 49,4%) . ];; interessante desta- Do meio-norte a maior parte dos imi-
car a pe<Juena participação de ele- grantes procedem do Maranhão
mentos do Nordeste meridional ( Ba- (38,5$ ) (Tab. 24).
hia e Sergipe) os quais correspondiam A segunda corrente imigratória em im-
apenas a 3,3$ dos imigrantes da Re· Eortância foi a procedente do Centro-
gião. Oeste com 23.499 pessoas e 10,4% do
Os imigrantes da porção sul do Nor- total. Dessa região os imigrante~, na
deste, tradicionalmente,_ têm como fo- maioria, vêm de Goiás ( 80,0%) .
co de atrãção São Paulo, particular-
mente os baianos. As demais regiões pouco contribuem
para os fluxos migratórios de direção
O Estado do Nordeste oriental que amazônica, destacando-se dentre elas
fornece a quase totalidade dos imi- apenas o Rio · de Janeiro-ex-Guanaba-
grantes é o Ceará com 78,0%, se~in· ra com 2,~ do total.
do-se os potiguares com 9,4% apenas.
Examinando-se o direcionamento e o
Quase quarenta por-cento de todos os volume desses fluxos desde 1940 para
imigrantes entrados até 1970 na Re- conhecer as tendências, observa-se que

Tabela 24 Imigrantes (segundo lugar de nascimento) -1970

~ Pará Ama- Acre Rondô- Ro- Amapá Total


m zonas o ia raima Regional

Maranhão . ....... . .... 44 .773 1.581 327 1.980 841 490 49.992
Piauí ................. 8.926 595 289 764 208 151 10.933
Ceará ..... . . .......... 50.368 15.871 10.001 8 .134 1.410 1.288 87 .072
Rio Grande do Norte .. 5.221 1.750 1.358 1.317 334 464 10.444
Paraíba . ... .. . .. . ..... 3. 501 1.427 690 1.091 287 201 7. 197
Pernambuco . ... . ...... 2.787 1.271 390 .908 119 94 5.569
Alagõas .. . . .. . . . ...... 554 264 86 327 24 22' 1.227
Fernando de Noronha .. 28 17 2 9 - - 56
Sergipe ..... .. . . ...... 259 162 86 197 21 12 737
Babi.& .. . . •.. ......... . 5.180 ' 360 158 888 53 54 6.693
REGIÃO NORDESTE 121.597 23 . 298 13.387 15. 615 3.297 2.776 179 .970
Minas Gerais .. ... . .... 3.745 950 96 2.069 79 106 7.045
E,qpfrito Santo ..... . .. . 1.159 86 25 1.014 9 12 2.305
Rio de Janeiro ... ... .. 1.051 551 148 251 56 59 2.116
ex-Guanabara . . .. . .. . . . 1.648 918 110 209 46 78 3.009
São Paulo .... ..... .... 1.622 794 130 1. 202 50 83 3.881
REQIÃO SUDESTE . 9.225 3. 299 509 4.745 240 338 18.356
Paraná ... .. ... ........ 676 211 20 1.464 34 17 2.422
Santa Catarina ...... .. 174 85 32 113 28 8 440
Rio Grande do Sul .. .. 515 322 77 317 132 39 1.402
REGIÃO SUL ....... 1.365 618 129 1.894 194 64 4.264
Mato Grosso ... ....... 777 513 113 3.038 50 9 4.500
Goiás . ... . .... . ....... 18.073 206 33 420 33 34 18.799
Distrito Federal. ...... 120 34 4 28 1 13 200
REGIÃO CENTRO-
OESTE . ... .. ....... 18.970 753 150 3.486 84 56 23 .499
TOTAL GERAL . .... . 151.157 27 . 958 14.464 25. 740 3.815 3.234 226. 089
Fonte: Censo Demogrdfico, Brasil, 1970.
o Nordeste, em seu conjunto, vem proximidade atuou ai no mesmo sen·
perdendo posição como região domi- tido que no meio-norte.
nante de envio de migrantes: em 1940,
94,4~ dos fluxos tinham essa proce- Considerando-se o volume de imigran-
dência, em 1950 já se reduziria para tes, segundo o conceito de residência
89,.2$, chegando em 1970 a 79,6~. No anterior, em 1970 tem-se um total de
entanto, oóserva·se nesse período uma fluxos acumulados de 199.617 pessoas,
mudança si~ficativa das correntes o que corresponde a 2,4~ dos imigran·
originárias das diferentes áreas do tes no conjunto do movimento no Bra-
Nordeste: o aumento dos imigrantes sil. O Nordeste oriental e o Extre-
procedentes do Maranhão-Piauí que, mo Sul são as áreas que, juntamente
em 1950, eram 15,9~ do total e em com a Região Norte, constituem as
1970, 26,~ e o pequeno aumento dos menos atrativas no campo imigratório
procedqntes do Nordeste meridional nacional.
(de 1,91 em 1940, para s.s~ em 1970),
enquanto diminuem os de procedência Também como para a emigração, o vo-
do Nordeste oriental (de 76,1~ em lume de imigrantes é mais baixo se-
1940 para 49,4$ em 1970) . gundo este conceito: os nativos de ou·
tras Regiões que imigraram para a Re-
A maior atração da Amaz&nia sobre a gião Norte são 226.089. Há, portanto,
população do meio-norte se dá pela uma diferença de 26.472 pessoas a
proximidade das áreas pioneiras do menos ( 11,7~), o que mostra que tam-
Pará em relação ao Estado do Mara- bém parte do deslocamento para a
nhão. Em números absolutos, em 1950, Amazônia se faz por etapas, porém de
na Região Norte estavam 20 .969 pes- modo mais direto que na emigração
soas nascidas no meio-norte e, em (18,1$) .
1970, elevavam-se a 60. 925.
A Amazônia é melhor percebida como
O número de pessoas nascidas no Nor- local de atração pelos que migram para
deste oriental era pouco maior em a região do que a percepção dos seus
1970, em comparação com 1940: nativos em relação às áreas nacionais
111.615 e 92.892. de atração, o que pode ser explicado
pelo relativo iso1amento e menor infor-
A atração das novas frentes de expan- mação para os seus habitantes sobre
são agrária está também bem rutida as áreas atratiyas ou menor recurso de
em relação à população do Centro- seus migrantes para os deslocamentos.
Oeste, de onde apenas S,6$ dos imi- Também a maior procedência de imi-
grantes de 1940 provinham. A maior grantes residentes está no Nordeste

Tabela 25 Imigrantes na Região Norte segundo Regiões de Domicílio Anterior


1970
Percentagem
REGIOES Imigrantes' s/Total

Maranhio e Piauí. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50. 947 25,6


Ceará, Rio G. do Norte, Paraiba, Pernambuco, Alagoas e
Fernando de Noronha .. .......... . .............. . 92.046 46,2
Sergipe e Bahia . .. .. ..... . .... .. ... . ............... . 5. 589 2,8
Minas Gerais e Espmto Santo .. .................... . 6.994 3,5
Rio de Janeiro e ex-Guanabara . . . ................ . . 6.855 3,4
São Paulo . ... ..................................... . 3.837 1,9
Paraná. ... . . . . ......... .. ........ ... ............ . 3.679 1,8
Santa Catarina e Rio Grande do Sul ... .. . . ......... . 1. 539 0,8
Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal . . . . .. ......... . 27 . 928 14,0
TOTAL .. •. ........................................ 199. 414 100,0

Fonte: Censo Dtmogrdfico, Brasil, 1970.

208
oriental ( 92. 046 pessoas) e no meio- O Maranhão continua a ser muito pe-
norte (50. 947), seguindo-se o Centro- culiar, pois que embora sirva de eta-
Oeste com 27.928 pessoas (Tab. 25). pa no caminhamento das correntes
tmigratórias mais distantes do Nor-
Essas tn!s principais correntes imigra- deste oriental, parte dos seus nativos
tórias se processam de forma diferen- também migra por etapa, apesar da
te: enquanto os nordestinos imigrados contiguidade territorial com a Amazô-
chegam ao destino mediante etapas, os nia: 12,3% dos maranhenses natos en-
procedentes do Centro-Oeste migram traram na Amazônia, via outro Esta·
diretamente, sendo o Estado de Goiás do. A substituição da lavoura pela pe-
uma das etapas do processo migrató- cuária nos vales agrícolas e os proble-
rio procedente do Nordeste. mas de posse da terra tem tido como
conseqüencia o transbordamento de
Enquanto 16,4% dos nativos do meio- massas de lavradores para Goiás e daí
norte chegam à Amazônia vindo de para o Pará.
domicílios fora da própria Região, os
do Nordeste oriental, na mesma situa- Grande parte dos fluxos maranhenses
ção, são 17,5i. O Maranhão é, possi- para o leste do Pará avançou através
velmente, etapa no deslocamento dos de Goiás pelo vale do Tocantins. Nas
nordestinos orientais. frentes agrícolas dos cursos médios e
inferiores do Mearim-Grajaú-Pindaré,
Do Centro-Oeste os nativos são em à medida que o povoamento avançava
menor número do que os que tiveram no rumo geral do norte ou noroeste.
essa Região como último domicílio. uma parte do seu contingente se desta-
Essa situação caracteriza o Centro- cava e se dirigia para o oeste 23 •
Oeste como área de etapa nos desloca-
mentos para a Amazônia: 15,9% dos No final da década de 40, quando a
imigrantes da Região são naturais de Frente Pioneira começava a ultrapas-
outras Regiões do País. Mato Grosso sar o Mearim, e na de 50 o Pindaré,
entra com proporção maior de migran- em direção ao Turiaçu, levas de la-
tes não nativos ( 16,1$) que Goiás vradores maranhenses e piauienses
(15,0%). ocupam a zona do Itacaiúnas-Ara-
guaia no Pará, fazendo agricultura de
O ~faranhão em termos de comporta- subsistência, o trabalho sazonal da cas-
mento migratório tem uma posição tanha e garimpagem.
muito peculiar: em 1950 foi área de
grande atração de imigrantes e já em A zona de Marabá c São João do Ara-
1970, com saldo negativo, teve saídas guaia, portanto, antes da construção
superiores às entradas. ~ uma situa- da Belém-BrasíliaJ·á era penetrada por
ção paradoxal, pois frentes de expansão frentes agrícolas e pequenos lavra-
agrícola estão ainda se abrindo na re- dores maranhenses, responsáveis por
gião de Imperatriz e nas matas da pré- altos incrementos de população já na
Amazônia. Parece não haver uma fi- década de 50 na zona do ltacaiúnas
xação dos n~ricultores quer por pro- . ( 76,0%) , fruto do transbordamento de
blemas tecnológicos ligados ao primi- gente pela pressão da frente na região
tivismo da exploração agrícola quer de Imperatriz-Montes Altos ( 241,7%
por problemas fundiários de posse da de aumento) .
terra ou pela ex-pansão recente da pe-
cuária, menos absorvedora de mão-de- Essa corrente foi parte constituída de
obra 22 • maranhenses de primeira geração, fi.
lhos de cearenses e piauienses emigra-
O Maranhão parece ser a etapa do des- dos para as frentes agrícolas dos vales
locamento mig;·atório de piauienses, úmidos, e por pessoas que já tinham
sobretudo rio-grandenses do norte e anteriormente emigrado para o Estado.
cearenses, para a Amazônia: 35,2~ dos A esses lavradores da frente maranhen-
primeiros, 18,1% dos segundos e 16,8~ se no Araguaia-Itacaiúnas também se
aos últimos imigraram lazendo etapas juntaram goianos do norte. A dinâmi-
no percurso ( Tab. 26). ca de ocupação das frentes agrícolas

209
Tabela 26 Imigrantes (segundo lugar de domicílio anterior) - 1970

::::---::__
m
Pará Ama-
zonas
Acre Rond6-
nia
Ro-
raima
Amapá Total
Regional

Maranhão ...... ....... 39 .503 I.2i2 319 1.764 718 288 43.864
Piauí. .. ............ . . 5 .551 505 247 483 162 135 7.083
Ceará ................. 40.489 13.683 9.443 6 .632 1.125 1.040 72.412
Rio Grande do Norte 4. 170 1.481 1.288 995 219 ' 402 8.555
Paraíba . ...... ... 2.723 1.321 691 693 253 209 5.890
Pernambuco ..... ..... 2. 174 975 344 626 101 86 4.306
Alagoas .... ........ 337 168 77 225 21 12 840
Fernando de Noronha 43 - - - - - 43
Sergipe . .............. 202 135 56 125 7 - 525
Bahia ............ 4.219 272 110 386 26 51 5 .064
REGIÃO NORDESTE 99.411 19 .812 12. 575 11.929 2.632 2.223 148.582
.Minas Gerais ....... ... 3. 008 492 135 894 54 126 4. 709
Espírito Santo .........
Rio de Janeiro ........
1.577
1.207 748
64 3
190
637
259
-119 4
112
2.285
2.635
ex-Gnanabara ...... . ... 2.048 1.482 127 316 80 167 4.220
Silo Paulo ......... .. 1.749 1.011 118 835 63 61 3.837
REGIÃO SUDESTE 9 .589 3 .797 573 2.941 316 470 17 .686
Paraná............ .. 826 220 33 2.580 16 4 3.679
Santa Catarina ..... 88 132 24 94 50 8 396
Rio Grande do Sul. . 393 246 71 269 137 27 1. 143
REGIÃO SUL...... 1.307 598 128 2.943 203 39 5.218
Mato Grosso .......... 789 511 98 3.930 27 9 5 .364
Goiás ................. 21 .223 320 14 476 81 4 22.118
Distrito Federal ... 182 170 11 73 6 4 446
REGIÃO CENTRO-
OESTE .. . ... ... .. 22 . 194 1.001 123 4.479 114 17 27 .928
Total .... .......... 132.501 25 .208 13.399 22.292 3 .265 2.749 199.414
S/Especific~ão de lugar 184 - 8 11 - - 203
TOTAL GERAL...... 132.685 25.208 13 .407 22. 303 3.265 2.749 199.617

Fonte: Censo Demográfico, Brasil, 19/0.

do leste e sudeste do Pará, que se de- gração de residentes é superior a de


ve ao avanço de lavradores, princi· nativos ( 1. 730 migrantes a mais) num
palmente do Maranhão, Piauí e Ceará percentual de 25,2%. Situação seme~
faz do norte goiano uma das etapas Jhante ocorre com os imigrantes do Pa-
em seu deslocamento, sobretudo a raná, superiores os residentes sobre os
área da confluência Tocantins-Ara- nativos em 51,~. Este fato mostra que
guaia. Assim, nos fluxos migratórios de o Paraná, área de grande atração mi-
Goiás para a Amazônia, os imigrantes gratória na década de 60 por suas
residentes superam os nativos ( 22.118 fronteiras agrícolas em expansão,
pessoas e 18. 799 respectivamente), ao talvez já tenha atingido o estágio
contrário do que acontece nas migra- ·de plena ocupação de seus espa-
ções do Nordeste oriental e do meio- ços vazios, passando a funcionar na
-norte. década de 70 como área receptora-
Com relação aos fluxos migratórios do emissora de fluxos que para o Centro-
Rio de Janeiro-ex-Guanabara, a mi- Oeste já são bem volumosos.

210
3.2.4 · Tipos de Fluxos Deve-se destacar que quase metade do
Imigratórios fluxo imigrat6rio do Maranhão para a
Amazônia ( 47,4%) é constituído de
Considerando os movimentos tmtgra- migrantes procedentes de cidades e vi-
t6rios para a Amazônia, de acordo com las, os quais se dirigem quase todos
sua origem e destino em relação à si- para Belém.
tuação do domicílio em zona rural ou O fluxo imigrat6rio de origem e des-
urbana, os fluxos analisados tem carac- tino urbano que se destaca em segui-
terísticas diversas. da é o procedente do Sudeste (21,7%
do total ), no qual os imigrantes pro-
Os mais volumosos.. fl~os imigratórios cedem em grande parte do Rio de Ja-
inter-regionais são os interurbanos neiro-ex-Guanabara ( 60,2%) . O desti-
com cerca de 80. 000 migrantes acumu- no é, principalmente, o Estado do Ama·
lados até 1970, constituindo 41,0% do zonas ( 68,4%) e secundariamente o Pa-
total. Em seguida colocam-se os flu- rá ( 26,3%). Situação inversa ocorre
xos inter-rurais que, com cerca de quanto aos destinos das correntes pro-
65 .000 imigrantes, são 33,7% dos des- venientes de São Paulo, onde a maior
locamentos ( Tab. 27). parte dos imigrantes concentra-se no
Pará ( 64,7%) e menos no Amazonas
1l: do Nordeste que vem a maior pro- (23,7%).
porção de migrantes urbano-urbano
para a Região ( 66,3% do total) domi- Quanto aos fluxos de origem e destino
nando os do Nordeste oriental com rurais, 64,6% do total provêm do Nor-
mais da metade dos fluxos. Conside- deste e também, como o anterior, do
rando-se, porém, a procedência a nivel Nordeste oriental. Em maior núme-
de Estado, os fluxos provenientes do ro os imigrantes são procedentes do
Ceará e do Maranhão são praticamen- Ceará ( 27. 486) e se dividem quanto
te iguais (cerca de 19. 000 pessoas) . ao destino entre o Pará ( 40,8%) e o
Porém, o destino destas correntes é Amazonas ( 35,3%), à semelhança dos
diverso, porque enquanto os mara- fluxos urbanos.
nhenses se dirigem quase exclusiva-
mente para o Pará ( 95,1%) os cearen- Do mesmo modo, os fluxos rural-ru-
ses dividem-se entre o Pará ( 58,6%) e ral provenientes do meio-norte: nos
o Amazonas (27,8%). quais dominam os maranhenses, o des-

Tabela 27 Migrações para a Região Norte segundo as situações anterior e


atual do domicílio por Região de origem na data do Censo

REGIÃO DA ).iigrações Migrações :\-1igrações Migrações


RESIDÊNCIA Rurais- Rurais- Urbanas- Urbanas- Total
ANTERIOR Rurais Urbanas Rurais Urbanas

11. . . ... . ........ 10.706 5. 996 5 . 731 22 . 155 44 .588


~n ... ........... 30.899 13. 191 12.749 29 .587 86 .426
IV ... . .... . ..... 609 112 2.048 910 3.679
V. ........... . .. 659 2.411 397 1.246 4. 713
VI ..... . ........ 58 154 175 10.391 10.778
VII ...... . . ...... 58 - 79 5 .636 5. 773
VIII ....... ......
I X . ............ .
-
-
- 72
-- 306
1.554
306
1.626
X ... ............ 22 .364 1.233 4.626 7.668 35 .819

TOTAL ........ .. 65.353 23 .169 2.5805 79.453 193.780

Fonte: TabultJf6es _.vançadas do Censo Demográfico, 1970.

211
tino quase único é o Pará: 90,7~ dos Rio Grande do Norte, ~1aranhão e Mi·
maranhenses e 75,1~ dos piauienses. nas Gerais.
O segundo fluxo em importância de Para o Amapá predominam também
origem e destino rural para as terras os fluxos de caráter urbano, na maior
amazônicas é procedente do Centro- parte de migrantcs do Ceará ( 80,7%) .
Oeste ( 22. 364 pessoas) sendo, na sua e interessante destacal' a importância
quase totalidade, constituído de goia- dos fluxos urbano-rurais para o Ama-
nos que migram para as frentes de pá, vindos, na maior parte, do Mara-
expansão agrícola do Pará ( 94,6%) . nhão, e para Roraima, vindos do
Ceará.
Quanto às migrações de origem rural
e destino urbano que representam um Com relação ao Acre, que recebe um
movimento campo-cidade inter-regio- total de 18. 688 migrantes, os fluxos
nal de 23.169 pessoas, o maior contin- mais volumosos são os de origem e
gente vem também do Nordeste destino rurais, ( 61,0%) na maior parte
procedentes do Ceará ( 85,2%) . Os flu-
( 83,3~), sendo os cearenses os mais nu-
xos urbano-urbano e urbano-rural se
merosos ( 57,1% do total) seguidos equivalem, sendo também os cearenses
pelos maranhenses com 29,3%. Exata- os migrantes mais numerosos. Cerca de
mente como as correntes anteriores, os um terço dos migrantes de origem e
cearenses se dividem entre o Pará destino urbanos do Acre, procedem do
( 50,8i) e o Amazonas ( 33.4~) e os Rio de Janeiro-São Paulo.
maranhenses se fixam no Pará ( 98,5%).
Fica bem caracterizada, portanto... a
Em resumo, dos três Estados que for- maior importância dos fluxos inter-re-
necem o maior volume de imigrantes gionais de destino urbano, os quais
para a Amazônia (Ceará, Maranhão e constituem 53,4% do total, enquanto o
Goiás), do primeiro, qualquer que sejà meio rural recebe os 46,6~ de Imigran-
a origem e o destino, cerca da meta- tes restantes.
de dirige-se ao Pará e um terço ao
Amazonas, enquanto dos outros dois O total de imigrantes procedentes de
os imi~rantes fixam-se quase todos no outras Regiões do País <.' que se ins-
Pará, Estado vizinho a essas Unidades talaram em centros urbanos da Ama-
Federativas. zônia, com predominância em Belém ,
e Mannus foi de cerca de 100.000.
Cabe, ainda, ressaltar a importância ~fais uma vez se destaca a distorção
dos fluxos de origem urbana e destino que representa o direcionamento des-
rural (25.805 migrantes) que em nú- sas correntes para as cidades amazô-
meros absolutos supera a migração in- nicas, carentes de infra-estrutura so-
ter-regional rural-urbana. e freqüente cial e de serviços e com limitado mer-
a atração para as novas fronteiras cado de trabalho e já "inchadas" de
agrícolas que se abrem, de habitantes habitantes saídos, também em massa,
de pequenas cidades e vilas que, ape- de suas zonas rurais. Em uma região
sar da residência urbana, têm uma ati- em que a terra é o capital abundan-
vidade agrícola ou um passado agrí- te, com imensos espaços vazios a
cola recente. ocupar e plena de potencialidades em
recursos naturais, o objetivo precípuo
Dos Territórios, o que recebe maiores em termos de planos de desenvolvi-
fluxos migratórios inter-regionais é o mento deveria ser a ocupação desses
de Rondôni.a ( 4. 827 migrantes) . A espaços e o aproveitamento racional
maior corrente é a de caráter urbano- dos recursos .
urbano com 37,7% do total seguida da
rural-rural ( 34,4~) . Os dois fluxos O movimento imigratório para a Ama·
comp5em-se de cerca de um terço de zônia relativamente à sua população
cearenses, sendo que os fluxos urba- total vem diminuindo desde 1940. O
nos são também provenientes de Ma· aumento das entradas na Região no
to Grosso e São Paulo e os rurais do período 1940-1970 ( 85,5%) não acom-

212
panhou o crescimento demográfico que mento rural-urbano as cidades recebe-
foi de 149,1% nesse período, de modo ram, no período, 68.310 migrantes
que a proporção de entradas na Ama- ( 17,1$) . Tem-se, portanto, mais da
zônia relativamente à sua população metade dos deslocamentos recentes na
vem diminuindo de 8,5$ em 1940, para Amazônia ( 54,9%) ligados a habitao·
7,1% em 1950 e 6,2% em 1970. tes urbanos.
Fazendo-se o balanço entre os fluxos Do mesmo modo que nos fluxos
migratórios (emigração e imigração) acumulados até 1970, a maior propor-
de acordo com sua natureza - urbana ção de deslocamentos são intra-regio-
ou rural - verifica-se que, apesar dos nais e mesmo intra-estaduais ( 286.l383
fluxos imigratórios de origem e destino migrantes) alcançando 71,7$ dos mo-
urbanos serem os mais volumosos, co- vimentos totais.
mo as saídas do meio urbano amazô- Neste decênio os fluxos intra-estaduais
nico são também elevadas, tem-se sal- mais volumosos, como os globais, fo-
dos positivos mais altos para o meio ram os de tipo urbano-urbano ( 99.428
rural. migrantes) abrangendo 34,7% do total
Enquanto as saídas do meio rural re- e os de tipo rural-rural ( 96. 260) com
presentam apenas 32,0$ das corre~tes 33,6%. O movimento campo-cidade é
emigratórias inter-regionais, as saídas proporcionalmente mais importante
do meio urbano concentram 68,0$ da que nos fluxos globais, com 20,5% dos
emigração. fluxos internos (58. 728 novos urba-
nos) . As proporções são quase as mes-
Daí se ter um saldo positivo de 70. 697 mas dos fluxos acumulados até 1970,
pessoas no meio rural e um bem me- verificando-se apenas um pequeno de-
nor de 13 .118 no meio urbano. clínio no percentual dos fluxos inte-
rurbanos, que era de 35,2%, e muito
Esta situação migratória associa-se à pequeno aumento dos movimentos in-
estrutura de produção da Amazônia, ter-rurais. A abertura das novas fren-
na qual o setor Primário é o princi- tes de ocupação agropecuária, pos-
pal formador da renda interna reg:icr teriormente a 1970, deverão ampliar
nal, c à sua condição de área onde se estes movimentos dentro do âmbito da
instalam as mais recentes frentes de Região.
expansão agrícola do País.
O total de entradas de imigrantes de
outras Regiões do País foi de 112 .318
migrantes. A participação dos fluxos
3.3 - As Migrações de origem e destino urbano foi muito
Recentes e suas mais elevada que nos deslocamentos
internos ( 45,4% do total das migrações
Variações Espaciais inter-regionais) . Comparando-se com
o percentual dos fluxos acumulados
O processo migratório recente ( déca- até 1970, observa-se um incremento,
da 1960-1970) será analisado conside- nos últimos dez anos, das entradas in-
rando as migrações intra-regionais e as ter-regionais de habitantes urbanos,
entradas de migrantes inter-regionais que fora de 41,0$. Ao mesmo tempo,
no conceito de residência anterior, se- verifica-se um percentual menor das
gundo os tipos de fluxos. No decênio migrações de tipo rural-rural naque-
1960-1970 o total de migrantes intra- las entradas ( 33,7% nos fluxos acumu-
regionais e imigrantes entrados na Re· lados até 1970 e 32,1% no último de-
gião foi de 399. 7~ 2 ', com pequeno cênio).
predomínio, no conjunto, dos fluxos
mterurbanos, com um volume de Cerca de 55. 763 emigrantes deixaram
151.291 migrantes (37,8% do total) se- a Região no decênio, dominando lar-
guidos pelos inter-rurais com 131. 681 gamente as migrações interurbanas
migrantes ( 32,9$) . O meio urbano, ( 38 .170 migrantes e 68,5% do total ) .
no entanto, teve um número bem maior A maior parte dos emigrantes urbanos
de deslocamentos, pois com o movi- deixou o Pará ( 46,0$) .

213
A análise espacial da mobilidade no ção rural-urbana é a da saída maciça
último decênio mostra diferenças sig- de rurais para o Amapá, dirigidos para
nificativas entre a Amazônia ociden- Macapá.
tal e a oriental. As maiores entradas
de migrantes e os mais elevados sal- Nas entradas rurais-urbanas nesse Ter-
dos positivos, assim como os movimen- ritório (12 .017 migrantes), 97,7% pro-
tos internos mais volumosos, ocorrem vinham do Pará .
na Amazônia oriental, sobretudo na O movimento de entradas no Pará se-
região de Belém, nas áreas novas da gue o mesmo modelo de domin~cia
Guajarina e do Araguaia Paraense, na dos fluxos urbano-urbano ( 44,4i) e
Bragantina e no Território do Amapá. rural-rural (32,9%). Nos fluxos de pro-
Na Amazônia ocidental apenas a re- cedência urbana o maior percentual é
gião de Manaus se destaca no Quadro o do Maranhão (29,4%), superior mes-
migratório, tendo as Unidades Federa- mo aos fluxos urbanos procedentes
tivas da área pequenos saldos positivos dos outros Estados da Região ( 21.~).
no balanço migratório, sendo que o Os migrantes de origem urbana do
Acre tem saldo negativo. Ceará também são numerosos ( 10,8%),
como os vindos do Sudeste (13,2%),
O Estado do Pará, no decênio consi- principalmente de São Paulo.
derado, teve um movimento intra-esta-
dual de 149.805 migrantes e as entra- Nos fluxos rurais os Estados da Região
das foram as mais elevadas da Região quase não participam (1,4%), domi-
( 97. 732) . Porém, como deixaram o nando as correntes vindas de Goiás
Estado 27.932 pessoas, seu saldo Jí. ( 53,6%), Estado que serve de etapa
qui do foi de 69.800 migrantes. A par- nas migrações do Nordeste e do Su-
ticipação do Estado nos deslocamen- destê, sendo também grande a entrada
tos internos e nas entradas na Região de résidentes do Maranhão (17,6%) e
foi de 61,9i ( 247. 537 migrantes) . do Ceará ( 15,9%). -

No total dos deslocamentos estaduais Nas pesquisas de campo sobre coloni-


(entradas e mobilidade interna) do- zação realizadas e dirigidas pelo
minaram os fluxos de caráter urbano- IPEA/INPES 25 em dez áreas de co-
urbano com 4l,li do total, valor su- lonização da Amazônia e do Centro-
perior à média da Região, seguindo-se Oeste foi identificada como uma das
os de origem e destino rural com Sl,oo; correntes migratórias inter-rurais, a
(menos que o percentual regional) . que, tendo origem em Minas Gerais e
na Bahia, se dirige inicialmente para
O movimento campo-cidade tem per- fazendas do centrQ-sul de Goiás, onde
centual bem inferior ao regional os migrantes trabalham como assala-
(13,7i), e o deslocamento a partir de riados ou parceiros e, posteriormente,
pequenas cidades e vilas para insta- vão subindo progressivamente para o
lação no meio rural é expressivo norte ao longo dà Rodovia Belém-Bra·
( 14,2i). Esses índices comprovam sília em busca de áreas livres. Daí a
maior atração ou menor expulsão do import~cia de Goiás nos fluxos inter-
meio rural paraense em relação ao con- rurais.
texto regional. Mas, de qualquer forma,
como no conjunto da Região, os des- Duas outras correntes provêm do Nor-
locamentos afetam em maior medid11 deste oriental.. deslocando-se uma de-
o meio urbano ( 54,8%) . las por via marítima-fluvial para o
Pará e o Amazonas, com etapa nos
Nos fluxos de saída, a maior parte é principais centros urbanos da Região,
formada por migrantes que deixam a sobretudo em Belém e Manaus, antes
zona rural por cidades fora do Estadll da fixação em núcleos agrícolas gover-
( 47,6%), seguindo-se os fluxos saídos namentais, e a outra faz etapa. no Ma-
das cidades e com destino urbano ranhão, vindo por estradas do interior,
(27,1%). O peso maior nessa emigra- sempre no sentido leste-oeste, em bus-

214
ca de terras devolutas. Parte, portan- tantes no Pará, aqui têm pequena si~
to, do fluxo de migrantes nordestinos nificação ( 18.~) pela precariedade
para as capitais amazônicas pode ser da rede urbana estadual. A maior im-
atribuída ao transbordo para as vias portância dos fluxos inter-rurais se de-
fluviais em direção às áreas rurais de ve, aqui. aos deslocamentos da popu-
destino. Também nessa pesquisa ficou lação de extrativistas que realiza forte
evidenciado o papel do Maranhão co- migração na coleta dos diferentes pro-
mo etapa no caminhamento para oes· dutos da floresta 28 •
te das correntes migratórias vindas,
em maior número, do Ceará . Nos movimentos de entrada dominam
largamente os fluxos urbano-urbano
As causas detectadas pela pesquisa ci- dirigidos para Manaus (64,4%). Soma-
tada para a saída de nordestinos, prin- dos aos de origem rural e destino ur-
cipal centro dispersor de migrantes bano, o meio urbano amazonense re-
para as colônias da Amazônia e do cebe 77,8$ dos imigrantes vindos de
Centro-Oeste, foram os problemas das outros Estados. E outra diferença em
áreas relacionados com a estrutura fun- relação ao processo migratório do Pará
diária e com a situação econômica do onde, ao lado da atração das cidades
lavrador, refletidos na escassez de ter- (Belém, sobretudo), o meio rural, pe-
ras, na falta de emprego e no bai.Jto las razões expostas, começa a atrair
nível de renda, aos quais se acrescenta migrantes externos para as novas fron-
a incerteza climática. O que mais teiras agrícolas.
atraiu os colonos para a Amazônia foi
a possibilidade de virem a ser produ- Os imigrantes de origem urbana vêm
tores autônomos. em igual número da Região e do Su-
O Estado do Amazonas teve no decê- deste (cerca de 8. 400 migrantes) .
nio 1960-1970 um movimento intra-es- Com referência aos imigrantes intra-
tadual de 64. 222 migrantes, bem infe- regionais, no Amazonas entraram tan-
rior ao do Pará . As entradas foram de tos imigrantes urbanos do Pará quan-
36. 318 ~soas, mas como as saídas se to do Acre e de Roraima.
elevaram a 22. 458 migrantes, o seu
saldo líquido foi baixo, 13. 860 pessoas. Manaus funciona na Amazônia oci-
Nos movimentos migratórios do Esta- dental como um grande foco de atra-
do predominaram os deslocamentos ção para as populações urbanas des-
internos (52,~); portanto, caracteri- sas duas últimas unidades. Já Rondô-
za-se o Amazonas, nesta última déca- nia não sofre o mesmo efeito, estando
da, como um espaço onde está se ope- mais desligada do processo migrató-
rapdo basicamente um rearranjo espa- rio centrado em Manaus, por suas re-
cial de sua população e onde as tro- lações intensificadas com o centro-
cas com as outras unidades da Região sul do País.
e os outros Estados do País têm quase
equilibradas as entradas e saídas, com A migra.ção urbana do Sudeste, alta-
pequeno predomínio das primeiras. mente seletiva, é quase toda formada
Neste particular difere bastante do de fluxos provenientes da ex-Guanaba-
Pará, já bem aberto às penetrações ex- ra ( 75,7$), diferentemente do Pará,
temas pelos fatores de atração decor- onde a migração sudestina é basica-
rentes basicamente das inversões go- mente de São Paulo.
vernamentais, sobretudo em infra-es-
trutura. Também outra diferença fundamen-
tal, comparando com o Pará, é a pe-
Também, diferentemente do Pará, nos quena importância de imigrantes ur-
fluxos internos predominam os movi- banos procedentes do Nordeste para o
mentos inter-rurais (55,7%) e, em se- meio urbano amazonense: 14,7$ con-
guida, os rurais-urbanos ( 22.~) . Os tra 50,7~. A maior parte dos imigran-
movimentos urbano-urbano, tão impor- tes desta procedência vem do Ceará.

215
Os fluxos rurais-rurais de entrada, os área de imigração, com saídas reduzi-
segundos em importância, mas muito díssimas. Também são muito reduzi-
abaixo dos urbanos, apenas 17,0$, vêm dos os movimentos intraterritori~,
em maior número da própria Região 2.4~ apenas do total.
( 69,0$), sobretudo do Pará e do Acre.
De outros Estados só tem alguma im- Todo o dinamismo demográfico do
portância o tradicional fluxo cearense. Território está na entrada de imigran-
Nos fluxos de saída, as correntes ru- tes provenientes, na sua quase totali-
ral-rural e urbana-urbana têm volume dade, do Pará. Em todos os tipos de
equivalente ~ ( ?erca de 8. 000 migran- fluxos a origem paraense domina em
tes ) . O destino mais freqüente delas mais de 90% . Apenas nos fluxos urba-
é o Pará. no-urbano cai essa participação a
68,7~. entrando em Macapá-Santana
O Acre tem particularidades no pro- também migrantes do Amazonas e do
cesso migratório totalmente diferentes Acre e nordestinos, sobretudo cea-
dos outros dois Estados: em primeiro renses.
lugar, apenas 24,6~ dos movimentos A atração do Território é basicamente
migratórios totais se fazem dentro do urbana ( 78,2% do total) sendo muito
Território Estadual, contra mais de me- grande a migração de tipo rural-urba-
tade nos outros dois; em segundo, o na, procedente, na quase totalidade, do
saldo migratório dos movimentos inte- Pará, como referido anteriormente.
restaduais é negativo. As saídas foram
superiores às entradas, em cerca de As características do processo migra-
2. 000 migrantes. tório em Rondônia são bem distintas.
Seu saldo líquido é menor como tam-
Nos movimentos internos os fluxos bém o volume de entradas. Seus mo-
urbano-urbano são os mais importan- vimentos intraterritoriais são, porém,
tes, seguidos do rural-urbano: 73,6~ bem mais intensos ( 15,8% do total),
dos movimentos se dão no meio ur- como também as saídas (13,0$).
bano.
Como o Amapá, é também área de
Nas entradas os maiores fluxos são os atração. Porém a diversidade das ati-
de origem e destino urbanos, ( 35,4%) vidades desenvolvidas (novas frentes
com maior procedência de São Paulo- de ocupação agropecuária, mineração
Rio de Janeiro. Nas entradas rurais- da cassiterita e o tradicional extrativis-
rurais ( 29,~) dominam os tradicionais mo vegetal) dá maior variedade aos
fluxos cearenses . deslocamentos espaciais, enquanto no
Amapá se desenvolve uma atividade
Nos movimentos intra-regionais para o única, primária-exportadora, a explora-
Acre, o maior número de migrantes ção e exportação do minério de man-
procede, em qualquer tipo de fluxo, ganês.
sempre do Amazonas.
Nos fluxos internos de Rondônia os de
Os grandes fluxos de saída são de tipo tipo urbano-urbano são os mais im-
urbano-urbano e dirigidos em maior portantes e se dirigem para Porto Ve-
volume também para o Amazonas lho . Nas entradas predominam os mi-
( 62,5~) . O balanço migratório deste grantes provenientes da própria Região
ti~o de fluxo é negativo, como tam- Amazônica (mais de 75%) principal-
bem o dos fluxos rural urbano. mente nos fluxos de tipo urbano-urba-
no e rural-rural.
Os três Territórios têm saldos Hqui-
dos positivos, em primeiro lugar se co- Nos fluxos rurais inter-regionais en-
locando o Amapá. tram migrantes nordestinos ( mara-
nhenses e cearenses principalmente) e
:€ o Território que recebeu, no decê- mineiros. Nos fluxos urbanos, além de
nio, o maior volume de imigrantes nordestinos, vêm migrantes de São
(cerca de 20.000) . :e: tipicamente uma Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.

216
Por sua posição geográfica, Rondônia Os fluxos provenientes do pr6prio Es-
é mais acessível às correntes migrató- tado dominam com 62,~ do total
rias procedentes do Sudeste e Centro- ( 55. 717 migrantes). Nestes, o maior
Oeste, enquanto o Amapá tem uma volume corresponde ao deslocamento
posição muito isolada. de urbanos provenientes das outras ci-
dades paraenses, cerca de 60,~ e, em
O Território de Roraima é também área seguida, os migrantes que deixaram o
de imigração como os demais, em que campo ( 23,5~) . g significativo, tam-
as entradas de pequeno volume supe- bém, o deslocamento de pessoas de pe-
ram largamente as saídas, onde, pelas quenas cidades do interior que se ins-
suas condições viárias e pela falta de talaram nas zonas rurais da vizinhan-
frentes de trabalho atrativas, movi- ça de Belém ( 11,1~ ).
mentos internos quase não existem.
As relações migratórias de Belém com
As entradas a;e fazem quase exclusiva-
a própria Região Amazônica e as de-
mente para destino rural, sendo as saí-
mais do País se fazem, com mais for-
das de caráter urbano-urbano. As re-
ça ainda no campo urbano: 89,1~ das
lações migratórias todas se fazem qua- entradas ( 29. 232 migrantes) . O maior
se exclusivamente com o Amazonas. número de migrantes urbanos vem do
Maranhão ( 6. 336) e se acrescentar-
mos as correntes campo-cidade mara·
3.3. 1 -Distribuição nhenses tem-se um total de 7. 992 mi-
Espacial dos Migrantes grantes .
A análise dessa distribuição será feita ! importante destacar que o fluxo mi-
à base da figura 9, na qual foram re- gratório maranhense aproxima-se ao
presentados os deslocamentos intra-es- aos migrantes intra-regionais (fluxo
taduais ou intraterritoriais (círculo in- urbano-urbano e rural-urbano) que no
terno ) segundo os tipos de fluxos, e decênio somaram 8 .136 pessoas.
as migrações interestaduais no âmbito O Maranhão se encontra, ~rtanto,
regional e inter-regionais (coroa), muito bem definido como situado den·
também segundo os tipos de fluxos. Os tro do camr migratório do Pará e de
• vetores representam, em números ab- sua capita , Belém. Possivelmente, a
solutos, as procedências mais fre- maior parte dos migrantes urbanos
qüentes. provém de São Luís, cidade menos
equipada no setor de serviços, sobre-
A base territorial foi as Microrre- tudo nos campos educacional, médico-
giões Homogêneas, tendo sido estabe- hospitalar e cultural.
lecido como limite mínimo o movi·
mento de mil migrantes. Os dados es- Belém é também mercado de trabalho
tatísticos são da subamostra que ser· para maranhenses: os dados estatísti-
viu à elaboração das Tabulações Avan- cos do Departamento Nacional de
çadas do Censo Demográfico de 1970 Mão-de-Obra do Ministério do Traba-
(IBGE). lho ( 1969) referentes à composição e
distribuição de mão-de-obra mostram
No conjunto da Região Amazônica, o que no setor Terciário (comércio e ser-
maior volume de mi2rantes está na viços), entre os empregados não-natu-
Microrregião de Belém, que corres- rais do Pará, os maranhenses vinham
ponde à sua Área Metropolitana, com o em segundo lugar depois dos naturais
município de Ananindeua e mais Be- do Amazonas ( 1,5~ e 2,9$ respectiva-
nevides. Os deslocamentos que têm mente) . Todos os demais Estados so-
Belém como foco correspondem a mados tinham apenas 3,2$ dos empre-
35,8~ dos movimentos migratórios to- gados. .
tais do Estado, índice pouco superior
à sua participação na população total Dentre os empregados i.ndustriais, os
(31.~). maranhenses também se destacavam

217
A.M
~
I
REGIAO NORTE I
I SP
BEL EM
i
Migra ç õ e s ( t 9 6 o- 10) i GO
I
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CE - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - MA

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NÚMERO DE MIGRANTU
(Pe1Íolf0 lHO- 70 I
PROC:EDlNCIA OOS MIGRANTE:S
TIPOS OE MIG~ES ( 'Wiorn·IOOPHIOOP,IIMI)
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-·..:.OI/TO..
.._.,..~o .........
"•"W ____
UTaoot

Oro por Eira Freore Roclrtouu


FIG 9 --URBANA· URBANA
• CI·CI~
---- RURAL·UR8ANA

-
Fonte Cento Oemoorci f tto_ 1970-18GE
- -·-'VftBANA·RVR AL
lOO ... RURAL· RURAL
o
PA
dos demais ( 1,2%), porém neste setor 1!: evidente, no entanto, que em valo-
os amazonenses dominam largamente res absolutos o maior número de mi-
com 11,9% do total e aparecem, ainda, grantes urbanoc; é sempre proveniente
os acreanos e cearenses (pouco menos do próprio Estado do Pará (no qüin·
de 1,0% cada) . qüênio 1965-70, cerca de 23. 000 pes-
soas).
A afluência de maranhenses é expres-
siva na Universidade Federal do Pará Esses dados mostram que Belém man-
e nos serviços hospitalares do Estado. tém a hegemonia na Amazônia e é o
Segundo pesquisa realizada por Anto- principal centro de atração migrató-
nio R . Penteado, em 1964 27, o número ria, mesmo que Manaus venha cres-
de alunos naturais do Maranhão, da cendo na sua função regional em rela-
Universidade, superava os do Amazo- ção à Amazônia ocidental, sobretudo
nas e vinha em primeiro lugar entre depois da construção do porto que lhe
os estudantes não paraenses. Também deu autonomia parcial, reforçada pela
os doentes maranhenses internados em abertura das Rodovias, Porto Velho-
hospitais de Belém eram em número Manaus, Cuiabá-Santarém e da cria-
equivalente aos do Amazonas, apenas ção da Zona Franca.
superados pelos do Amapá.
O crescimento mínimo das saídas de
Belém tem, portanto, seu campo mi-
gratório coerente com sua área de in- urbanos do Amazonas em direção a
fluência, sendo não só o centro comer- Belém deve refletir uma retenção, por
cial, universitário e médico-hospitalar Manaus, da sua própria mão-de.obra
da Amazônia como também de parte e daquela deslocada de pequenas ci-
do Maranhão. dades ou do meio rural por deficiên-
cias estruturais, representando este fa-
Considerando-se a evolução no tempo to maior equiHbrio na urbanização
dessas correntes imigratórias para Be- regional.
lém, verifica-se que os fluxos urbano-
urbanos do Maranhão e do Amapá en- Considerando-se a distribuição espa-
trados entre 1965-1970 apresentam um cial dos migrantes nas demais Micros
grande incremento em relação ao paraenses, destaca-se a importância
qüinqüênio anterior ( 1960-1965): o dos deslocamentos internos e das en-
aumento dos fluxos maranhenses foi de tradas intra e inter-regionais naquelas
138,5% e do Amapá 550,0%. Foi tam- que se dispõem na parte leste do Es-
bém bastante grande o aumento dos tado beneficiadas pela Rodovia Be-
fluxos urbanos procedentes da ex-Gua- lém-Brasília e pelos recentes planos de
nabara ( 325,0%) e de São Paulo desenvolvimento regional.
( 357,1%), aumento este relacionado
aos programas de desenvolvimento re- O maior movimento migratório verifi-
gional e como tal constituído por mi- ca-se na Guajarina onde, como refe.
gração altamente seletiva. 28 rido, abriram-se novas frentes de ex-
pansão agrícola ou reativaram-se mo-
À exceção do Amapá, a intensificação vimentos de penetração que já vi-
dos fluxos inter-regionais urbanos tem nham se processando anteriormente à
sido maior do que a dos fluxos intra- abertura da rodovia.
regionais e a dos deslocamentos den-
tro do próprio Estado: os fluxos pro· Na Guajarina estão se instalando, sin-
cedentes do Amazonas, no último cronicamente, áreas de expansão da
qüinqüênio, foram apenas maiores em Bragantina•Salgado, na parte norte, e
29,0% e a atração de Belém sobre ou- frentes agropecuárias abertas e ocupa-
tras cidades paraenses resultou, no pe- das por rnigrantes extra-regionais, na
ríodo 1965-70, no aumento de 124,5% parte sul. Destaca-se como a Micror-
dos movimentos interurbanos, valores região que maior volume de rnigran-
bem inferiores aos das principais cor- tes intra-estaduais recebeu no último
rentes externas. decênio (à exclusão de Belém) . Do

..220
total de 51.619 migrantes, 67,1% mi- Para as cidades que estão se implan-
grou de outras áreas do Estado, domi- tando e se desenvolvendo nessa área
nando os fluxos inter-rurais .( 59,5%) nova, a quase totalidade dos migrantes
provenientes das áreas de depressão inter-regionais provêm de zonas rurais
demográfica acima mencionadas. Sig- de Minas Gerais e do Maranhão.
nificativa também é a migração urba-
na-rural ( 17,li) que nas zonas pio- A participação de migrantes de outras
neiras sempre aparece com algum des- áreas amazônicas na abertura e ocupa-
taque pela possibilidade que estas ofe- ção da Guajarina é praticamente ne-
recem a urbanos recém-safdos do meio nhuma (3,7%).
rural, ou a habitantes de pequenas ci- Os dois grandes eixos de penetração
dades com atividades rurais de se tor- na parte norte da Microrregião da Gua-
narem produtores autônomos. Tam- jarina são a bacia do alto Guamá e o
bém a migração de pessoas das sedes eixo da Belém-Brasília. A estes pode-
municipais e vilas afastadas para os -se acrescentar o da bacia do Acará,
povoados que vão se formando ao lon- que faz parte da mesma área. Esses
go dos novos eixos viários é responsá- eixos deram origem às frentes de ex-
vel pela relativa importância desse pansão agrícola de Capitão Poço, da
fluxo. Belém-Brasília e de Tomé-Açu.
Pelas caracteristicas da área, as migra-
ções para o meio urbano são pouco Uma conjugação de fatores tor-
importantes (fluxo rural-urbano, 13% naram essa área atrativa: a existência
e urbano-urbano, 10$) . de terras virgens, a introdução e o de-
senvolvimento da cultura da pimenta-
Os fluxos externos são de cerca de -do-reino, a valorização da fibra da
17. 000 migrantes, destinando-se ao malva e a abertura da Belém-Brasí-
meio rural 75% do total. Destaca-se lia. A sua posição geográfica limitada
nestes, especialmente, a alta participa- pela Salgado-Bragantina, ao norte, e a
ção de fluxos de origem urbana T ocantina a oeste, áreas de antiga
(35,li), formados por pessoas proce- ocupação agrícola e que atravessam
dentes do Maranhão, da Bahia e do crise sócio-econômica, aliada àqueles
Ceará. fatores, tornaram essa parte da Gua-
jarina foco do mais intenso movimento
O processo de expulsão de trabalha- interno de migrantes. 2$
dores rurais do campo, que desde a
década de 50 vem acontecendo no A frente de colonização de Capitão
Nordeste, e que se intensificou com a Poço foi aberta através da concessão
extensão da Legislação Trabalhista às de terras - pelo Estado - a agriculto-
áreas rurais ( 1963) teve como conse- res provenientes principalmente do
qüência a criação de uma reserva de Nordeste (em especial do Ceará) ap6s
mão-de-obra rural localizada nas vilas 1955. As correntes migratórias, que se
e periferia das pequenas cidades. Em- formaram aproveitando os planos de
preiteiros de mão-de-obra têm recorri- colonização do Governo Estadual, vêm
ao a esses reservatórios para recruta- também em grande massa da Bragan-
mento da força de trabalho necessá- tina-Salgado. Há 15 anos passados, to-
ria às novas empresas de exploração talmente coberta de matas, a área está
madeireira e de pecuária, que se im- hoje parcialmente desbravada pelos
J>lantam no sudeste do Pará estimula- migrantes, que recebem do Estado pe-
das pela política de Incentivos Fiscais. quenos tratos de terra nos quais ins-
Tal situação é que pode, em parte, ex· talam cultivos de subsistência e mal-
plicar a importância dos fluxos urba- va. Em todo o nordeste do Pará é a
no-rurais (um terço do total na Gua- área de mais densa ocupação, ( 10,4
jarina) e na região do Araguaia Para- habitantes por quilômetro quadrado),
ense, com procedência mais freqüente com a mafva como produto agrícola
do Maranhão e da Bahia. de valor comercial.

221
Segundo O. Valverde, a grande área eixo de uma nova ocupação, com a pe-
malveira de Capitão Poço vem funcio- netração de fazendeiros mineiros, baia-
nando como uma bomba de sucção nos e capixabas, que fazem a pecuá-
para o excesso de população rural, ria nos mesmos moldes da área de Pa-
isolada pela crise agrária nas áreas de ragominas. 31
emigração já citadas.
Os fazendeiros são, em geral, prove-
A ocupação do eixo da Belém-Brasília nientes da grande província pecuária
é bem recente ( 1957-58) e iniciou-se do nordeste de Minas Gerais, sul da
antes de completada a estrada. Uma Bahia e norte do Espírito Santo (vales
onda de povoamento vinda da Bra- do Pardo, Jequitinhonha, Mucuri e Do-
gantina acompanhou a abertura da ce) . Grandes fazendeiros e médios
rodovia, e na Frente Pioneira aberta proprietários, estes muitas vezes de
implantou-se também a cultura da origem urbana, atraídos pelas possibi·
malva como lavoura comercial, além lidades de terras desocupadas, estão
sobrepondo a empresa pecuária a um
das lavouras de subsistência. substratum de pequenos lavradores
A franja pioneira de Tomé-Açu, na ba- maranhenses, que foram penetrando,
cia do Acará, desenvolveu-se com a co- à medida que a estrada ia sendo aber-
ta, e que vão sendo gradativamente
lonização japonesa e a cultura da pi- levados mais para dentro da mata, num
menta-do-reino. Essa área não se des- processo de ocupação que está sendo
taca especialmente pela atração de mi- comum no centro-leste do Pará.
grantes nacionais, pois que seu povoa-
mento se fez com imigrantes japone- Algumas das grandes empresas, insta-
ses, e grande parte da mão-de-obra ladas de preferência no entroncamento
empregada nos pimentais desloca-se da Belém-Brasília, têm Incentivos Fis-
em migração sazonal do Baixo Tocan- cais da SUDAM. Esses pecuaristas,
tins. ao chamados genericamente na área de
baianos, têm o papel de modernizado-
Ao sul da área malveira da Belém- res, introduzindo novas relações de tra-
Brasília, em data mais recente, desen- balho e novas técnicas de criação. 32
volveu-se a área de invernadas de Pa-
ragominas, aberta por migrantes mi- Numa apreciação final sobre os movi-
neiros, baianos, goianos e paulistas. Ao mentos migrat6rios na Guajarina, de-
contrário das anteriores, o seu desbra- vemos enfatizar que nessa extensa área
vamento e ocupação foram feitos por desenvolvida pela Belém-Brasília dois
migrantes extra-regionais, num movi- grandes setores podem ser perfeita-
mento de penetração sul-norte. mente caracterizados não s6 em ter-
mos de processo de penetração e mo-
O povoamento iniciou-se antes de a do de exploração como na origem dos
rodovia atingir a Região, tendo se ve- migrantes. A parte norte, com as áreas
rificado a venda antecipada dos lotes malveiras de Capitão Poço e de Ipixu-
em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e na, na Belém-BrasUia, desenvolveu-se
sul de Goiás. Paragominas constitui como zona de recebimento dos exce-
um dos núcleos mais dinâmicos de- dentes populacionais das áreas de ex-
senvolvidos em função da Belém-Bra- pulsão da Bragantina-Salgado e do
sllia, e a atividade pecuária aí insta- Baixo Tocantins, e de recebimento,
lada está se expandindo especialmente também, dos tradicionais migrantes
ao Jon~o do ramal Marabá-Belém-Bra- amazônicos: os cearenses e maranhen-
sUia (PA-70) no sul do município de ses. Resultante dos planos de coloni-
São Domingos do Capim e em São zação do Estado, que nada mais são
João do Araguaia, com migrantes da do que simples distribuição de terras
mesma proveniência. a pequenos lavradores, mantêm essas
áreas a tradicional agriculttpa amazô-
A estrada. aberta ao tráfe2o em ju- nica de rotação de terras. Tem-se, en-
lho de 1969, está se constituindo no tão, no nordeste do Pará, uma nova
fronteira agrícola aberta por contin- A Microrregião do Araguaia Paraense,
gentes de agricultores de subsistência diferentemente da Guajarina, tem vo-
que, pressionados pela falta de terra, lume pequeno de deslocamentos inter-
foram povoando a área de forma ex- nos, nos quais predominam os fluxos
pontAnea, ou mediante esquemas de rural-rural ( 60,91) e urbano-rural.
colonização governamental, quase sen Os fluxos inter-regionais são os mais
capital e com tecnologia rudimentar. volumosos (cerca de 27.000 migran-
tes) e na quase totalidade constituído
As características desta frente de ex- de goianos. Nestes a participação dos
pansão agrícola sãO' sémelhantes às das fluxos de origem e destino rural é
frentes maranhenses, também de nor- maior que nos deslocamentos internos
destinos atraídos pela abundAncia de (71,1$). Além dos goianos, também
terras, que se instalam em áreas quase entram migrantes procedentes do Nor-
sem valor comercial. com escassa ou deste: ·Maranhão, Ceará e Bahia e de
nula capitalização, o que resulta numa Mato Grosso.
grande instabüidade de ocupação. Com
eles se dá também, nas novas regiões. Nesta região a criação de gado é ati-
a instalação de estruturas arcaicas se·· vidade já muito antiga, }>Ois ela cons-
melhantes às das regiões de origem. tituiu o limite oeste da frente pecua-
rista baiana que, desde meados do sé-
Tem-se nesta fronteira os mesmos sis- culo passado, expandiu-se pelas áreas
temas produtivos da economia de ~ub­ de Campos Cerrados do sul do Piauf
sistência típica das áreas nordestinas e do Maranhão, atravessou o Tocan-
e semelhante a que foi implantada na tins, o norte goiano, transpôs o Ara-
Bragantina no início do século. guaia e atingiu os últimos campos na-
turais (Campos Cerrados), já no Pará,
O setor centro-sul ( Paragominas e par- na região de Conceição do Araguaia.
te sul do município de São Domin- A frente pecuarista que avancou atra-
gos do Capim) representa uma área vés das Caatingas e Campos Cerrados
modernizada onde pecuaristas do Su- do Nordeste encontrou, aqui, a bar-
deste, da Bahia e do sul de Goiás, os reira florestal que limitou sua expan-
novos migrantes da Região introduzi- são.
ram, com a atividade pecuária, técni-
cas agrícolas mais racionais (pasta- O sentido da penetração leste-oeste, já
gens artificiais e gado zebu) e novas histórico, continua a acontecer atual-
relações de trabalho. mente com migrantes maranbenses,
cearenses e piauienses, além de grande
A infra-estrutura de comunicações pro- número de goianos que constituem a
porcionada pelo Governo e os Incenti- mão-de-obra das primeiras empresas
vos Fiscais foram os fatores responsá- af?;ropecuárias que aí vão sendo ins-
veis pela implantação e desenvolvi- taladas, através dos Incentivos Fiscais
mento do !.etor comercial da produção supervisionados pela SUDAM.
pecuária nesta nova fronteira. Ela in-
t~ o mesmo processo de expansão Os empresários pecuaristas são do
da fronteira agrícola do Centro-Oeste centro-sul, sobretudo de São Paulo.
que, assim como a região do centro-sul Esta área constitui o prolongamento,
da Amazônia, é dirigida por inversões para o norte, da nova ocupação que
governamentais, soliretudo em infra- está se fazendo com a grande empresa
estrutura. Nesta frente pecuária tende agropecuária de capitais do Sudeste,
a predominar a grande propriedade e no norte de Mato Grosso, com alta
a produção de bOvinos de corte. concentração no município de Barra
do Garças, e daí a presença., na área,
Com este mesmo estüo de ocupação de migrantes mato-grossenses.
e sob o mesmo estímulo estabeleceu-
-se também uma frente de expansão :eum movimento independente da-
pecu~a na região do Araguaia Pa- quela ocupação que vem se fazendo
raense . em Paragominas e São Domingos do
Capim, embora com o mesmo estilo 11: tradicional a migração, para a re-
de penetração e efetuado sob os mes- gião de Marabá, de pessoas proceden-
mos estímulos (mercados de consumo, tes do Tocantins maranhense, especial-
infra-estrutura de comunicações e mente, e do norte de Goiás, primeiro
abundância de terras) . Essa área en- como migrantes sazonais para a coleta
contra-se, assim, em um incipiente pro- da castanha e atividades nos garim-
cesso de desenvolvimento desencadea- pos e, posteriormente, com a diversi-
do pelas empresas agropecuárias, mas ficação das atividades regionais ( déca-
que, pela falta de infra-estrutura, so- da de 50), pela implantação do con-
bretudo de estradas, encontram gran- sórcio castanha·gado, como mão-de-
des dificuldades de implantação. Pro- -obra permanente.
blemas de fixação do homem à terra
Ao lado dessa migração para a casta-
vão também surgindo, pelos investi-
nha, também a área da confluência do
menfos exclusivos na criação de f:';ado,
Tocantins-Araguaia e da bacia do Ita-
que ocupa pouca mão-de-obra (só ne-
caiunas começou a ser penetrada - na
cessária em maior quantidade nas fa-
década de 50 - por pequenos lavra·
ses iniciais de derrubada da mata e de
dores nordestinos, em um prolonga-
formação das pastagens artificiais) .
mento da expansão da fronteira agrí-
A Microrreg~ão recebeu quase tantos cola do Maranhão, como indicado.
migrantes extra-estaduais quanto a de Neste avanço de pequenos agriculto-
Belém (cerca de 27.000). Na de Be- res de subsistência predominavam os
lém. porém, há uma entrada grande maranhemes e piauienses, aos quais
de núgrantes da própria Amazônia, se juntaram também goianos. Depois
enquanto esta área recebe exclusiva- de aberta a Belém-Brasllia esses lavra-
mente migrantes inter-regionais. No dores tornaram·se pequenos produto-
seu padrão migratório difere da Gua- res de arroz (produto que no Centro-
jarina, onde a migração intra-estadual Norte marca a passagem entre a agri-
é muito importante, sobretudo, como cultura de subsistência e a de mer-
referido, nas áreas agrícolas de expan- cado) . 33
são da "região de Belém". Essa região, quando do início da cons-
A região de Marabá, encravada entre trução da Transamazônica, já atraves-
as duas, tem o seu padrão nú~atório sava uma fase em que diversos fatores
totalmente diferente, como também é provocavam um processo de transfor-
diversa na estruturação de seus siste- mação bastante acelerado: além da pe-
mas produtivos. netração da frente agrícola e do ae-
senvolvimento da pecuária - feita por
Essa Microrregião atrai pouquíssimos proprietários locais, acrescentaram-se
rnigrantes do próprio Estado, e os pou- a ' nstrução do ramal de Marabá da
cos são de tipo urbano-urbano. A atra- B, •n·Brasília e o início das ativida-
ção inter-regional é exercida, sobre- des de prospecção e instalação da in-
tudo, sobre os habitantes de cidades fra-estrutura de exploração do minério
próximas, no Maranhão e Goiás de ferro da serra dos Carajás. Esse
( 61,11). processo certamente acelerará a entra-
da de migrantes extra-regionais na re-
A concentração urbana em Marabá se gião de Marabá .
dá em função do gênero de economia
dominado pelo comércio da castanha, A Microrregião da Bragantina destaca-
atividade básica da cidade. -se pelo volume de migrantes ( 23.500),
predominando os deslocamentos intra-
O segundo fluxo inter-regional. em estaduais (78,li). Por ser uma área,
importância, é o rural-rural, no qual em geral, de estagnação das atividades
predominam os maranbenses e, em agrárias, como referido, verifica-se
muito menor volume, os piauienses e uma grande mobilidade da população
goianos. que, aliás, é das mais densas do Pará
( 20,5 habitantes por quilômetro qua- um esboço de vida de relações dá pro-
drado). jeção para outras pequenas cidades do
vale médio: óbidos, Alenquer, Orixi·
Além da saída de habitantes para as miná e Monte Alegre. A maior parte
frentes agrícolas da Guajarina e para dos migrantes interestaduais urbanos
Belém, .verifica-se também uma migra- vêm do Amazonas, possivelmente des
ção cainpo-cidade, expressiva, concen- _ sa mesma região do médio vale.
trada nas cidades mais importantes da
região, sobretudo em Castanha! e Ca- Finalmente, as outras duas Microrre-
panema, centros de serviços e de inci- giões paraenses que têm mais de 1.000
piente industrialização (migração ur- migrantes e que são as de menor mo-
bana-urbana, 62,0%) . bilidade, a dos Furos e a do Tapajós,
têm diferenças no quadro migratório.
A migração externa, também relativa- Enquanto a do Tapajós tem quase
mente importante, tem como principal nenhuma migração intra-estadual e re-
fluxo o de origem e destino urbano cebe migrantes rurais-rurais do Mara-
( 60,0%), predominando os maranhen- nhão e poucos do Ceará, a dos Furos,
ses e cearenses, também os nordesti- por sua localização na foz do Amazo-
nos mais freqüentes em Belém. nas, está em área de alguma mobili-
dade intra-estadual de tipo rural, tal-
Vcrifica-se na Bragantina, pequena vez em decorrência das atividades ex-
mobilidade rural-rural interna (14,7$) trativas da área, recebendo também
e externa (23,6$), que talvez decorra migrantes rurais-urbanos do Maranhão
do desenvolvimento de novos cultivos e do Piauí.
em algumas de suas áreas, como os
pimcntais em Santa Isabel do Pará e Na Amazônia oriental destaca-se, ain-
Castanha!, e a malva em Capanema e da, a Microrregião de Macapá, no Ter-
no médio vale do Guamá. São ma- ritório do Amapá.
ranhenses e cearenses os migrantes in-
ter-regionais rurais mais freqüentes. Como referido, nesse Território o mo-
vimento interno é reduzidíssimo. O
As Microrregiões do Salgado e do Bai· movimento migratório de entradas se
xo Tocantins situadas também na cha- faz praticamente todo para Macapá-
mada "região de Belém", ao contrário Santana. A grande massa é de migran-
da Bragantina, praticamente não têm tes rurais-urbanos e urbano-urbanos do
migrantes interestaduais, mas possuem Pará. Essa Micro recebe cerca de
mobilidade interna relativamente ele- 20. 500 migrantes.
vada, porém de características distin-
tas:. enquanto no Salgado os fluxos ur- Na Amazônia ocidental o movimento
bano-urbano e rural-urbano correspon- migratório é bastante reduzido, desta-
dem a 44,0% dos movimentos totais, cando-se das demais a Microrregião
mostrando uma certa atração das ci- do Médio Amazonas onde se situa Ma·
dades da área, principalmente Salinó- naus. o movimento migratório é de
polis, por sua função balneária e Vigia, 69.480 migrantes, sendo mais ou me-
cidade pesqueira, no baixo Tocantins nos equivalentes os movimentos intra
os movimentos internos são todos de e interestaduais. t interessante obser-
tipo rural-rural (95,0$). var que nos deslocamentos internos
têm maior importância os movimentos
No Pará destaca-se, ainda, a Microrre- rurais-rurais ( 55,5$) . Essa região é a
gião do Médio Amazonas Paraense on- de maior desenvolvimento agr1cola do
de Santarém, a terceira cidade amazô- Amazonas e a zona da juticultura, daí
nica, responsável pela dominância dos a importância daquele tipo de migra-
fluxos urbano-urbano tanto nos movi- ção.
mentos intra como interestaduais.
Também os deslocamentos campo-ci- Os deslocamentos de tipo urbano-ur-
dade têm algum destaque (cerca de bano e rural-urbano correspondem a
15$), valendo lembrar que nessa área 40,1.% dos movimentos totais. Além da
atração de Manaus, Parintins e ltacoa- ma importância os rural-urbano
tiara, pequenos centros sub-regionais, (27,31). Portanto, 91,61 dos migran-
que integram a rede urbana em fonna- tes internos estão em Rio Branco, nes-
ção do médio Amazonas, também re- ta Micro.
cebem migrantes do Estado.
Os fluxos interestaduais (cerca de
Nas migrações externas dominam lar- 6. 000 pessoas) estão divididos em mi-
gamente as de tipo urbano-urbano, es- grações de tipo urbano-urbano ( 40,01),
tas naturalmente centradas em Manaus no qual são em maior número os mi-
(68,11). grantes do Sudeste, entre os quais do-
minam os de São Paulo, e os proce-
A diversidade das procedências inte- dE'ntes do vizinho Estado do Amazo-
restaduais para Manaus mostra o re- nas e em migrações de tipo inter-ru-
vigoramento econômico da cidade, li- ral ( 31,01), encabeçadas pelos tradi-
derando as entradas as pessoas pro- cionais migrantes cearenses.
cedentes da ex-Guanabara ( 6. 400 ),
seguindo-se os paraerues ( 3 . 600 ) e os Na Microrregião do Alto Juruá os mi-
acreanos ( 2. 600) . Das correntes in- grantes intra e interestaduais se equi-
terestaduais destacam-se, ainda, as valem, mas enquanto nos deslocamen-
procedentes de São Paulo e do Ceará tos internos os fluxos rurais têm do-
com volumes equivalentes (cerca de minância, ( 891) pela base econômica
1. 300 migrantes) . extrativista da micro, os fluxos inter-
estaduais são mais variados, sendo
No Estado do Amazonas as Microrre- mais volumosos os urbano-rurais
giões do Solimões-Japurá e do Purus ( 30,11) procedentes do Amazonas,
têm valores aproximados de migran- Ceará e Minas Gerais e os rurais-ur-
tes (cerca de 14.000). A do Solimões- banos ( 28,2!) do Amazonas, possivel-
Japurá tem uma alta mobilidade in- mente migrantes extrativistas da bacia
tema rural-rural, devido naturalmen- do Juruá.
te à sua economia extrativa ligada a
uma população extremamente fluida, Os dois Territórios da Amazônia oci-
situação que se repete em volume dental são basicamente diferentes:
muito menor na Microrregião do Alto- Roraima, por sua posição geográfica
Solimões. A do Purus tem pequena extremamente isolada, recebe poucos
entrada de acreanos por sua vizinhan- migrantes e exclusivamente do Ama-
ça geográfica e pelas relações estabe- zonas e não tem migrantes internos
lecidas através da navegação do rio pela precariedade de sua vida econô-
que dá acesso fluvial à capital do mica, enquanto Rondônia, no sudoeste
Acre. O que a destaca das demais é da Região Norte, tem movimento mi-
a alta migração interna rural-urbana gratório superior a da Microrregião de
(cerca de 8. 200 migrantes) que pode Rio Branco. Sendo área de imigração,
ser interpretada como conseqüência predominam os movimentos interesta-
da decadência da extração da borracha duais. Os movimentos internos são ba-
e a acumulação da população extrati- sicamente urbanos: urbano-urbano
vista nas pequenas cidades e vilas da (57,6i e rural-urbano (34,81). Nos
região, possivelmente em descida para movimentos interestaduais é mais im-
Manaus. portante o fluxo urbano-urbano
( 47,51), sendo a maior parte da po-
As duas Microrregiões do Acre têm ca- pulação urbana migrante de Porto Ve-
racterísticas migratórias diferentes: a lho, no último decênio, originária da
Micro do Alto Purus que contém Rio própria região: Amazonas, Acre e Pa-
Branco, tem maior movimento migra- rá. Como em Rio Branco, entram mi-
tório ( cerca de _lO. 000 migrantes ) e grantes urbanos também de São Paulo.
bem mais numerosos deslocamentos in- As migrações rurais-rurais. com 42,8~
terestaduais. Nestes dominam os flu- do total, têm a maior parte dos mi-
xos urbano-urbano concentrados na grantes procedentes do Amazonas, vin-
capital do Estado ( 64,31) e com algu- do em seguida o grupo dos tradicionais

226
migrantes amazônicos: cearenses-ma- Os maiores crescimentos rurais no de-
ranhenses. Os mineiros rurais já estão cênio ocorreram nos Territórios que
também penetrando nas novas frentes mais receberam migrantes: Amapá
de ocupação agropecuária que se ( 57,3%) e Rondônia ( 40,~) . O Pará
abrem na Região. com 26,0%, Roraima com 25,9% e o
Acre com 24,7% têm crescimentos pou-
Rondônia repete em pequena escala o co superiores à média regional.
padrão migratório característico do
conjunto da Região Norte: dominân- O Estado do Amazonas praticamente
cia dos fluxos urbanos nos deslocamen- permaneceu, nos últimos dez anos, com
tos internos e importância dos deslo- a mesma população rural: o aumento
camentos rurais externos para as fron- de cerca de 70. 000 rurais representou
teiras agrícolas que estão se abrindo um incremento relativo de apenas
na área. Ao lado dos tradicionais la- 14,6%.
vradores cearenses e maranhenses,
cOrrentes do Sudeste encaminham-se Os movimentos migratórios explicam
para a nova fronteira. Sincrônicamen· esses diferenciais da evolução rural nas
te, as cidades de função regional li- diferentes unidades da Região.
gadas aos centros dinâmicos do País
começam a receber urna migração al- As maiores participações relativas da
tamente seletiva de migrantes do Rio migração no aumento rural no decê-
de Janeiro-São Paulo. nio estão em Roraima (51,4%), no
Amapá (19,8%), no Pará (7,3~) e em
Rondônia ( 6,9%) .
4- REPARTIÇÃO ESPACIAL As mais elevadas taxas de crescimento
DA DINÂMICA DA anual da população rural são as do
Amapá ( 5,7%) e de Rondônia ( 4,0%) ,
POPULAÇÃO RURAL valores muito superiores à média re-
gional de 2,4%. Os aumentos rurais
A população rural da Amazônia vem nesses territórios, no período 1960-
progressivamente diminuindo sua par- 1970, decorreram do incremento da
ticipação na população total, embora exploração de minérios e da abertura
se trate de um espaço ainda pratica- de frentes agropecuárias.
mente vazio, e onde a carência de
mão-de-obra é um dos grandes obstá- No Amapá a exportação do minério de
culos à valorização regional. manganes iniciou-se em 1957. O po·
voamento provocado diretamente pelas
Em 1970 a população rural era pou- atividades ligadas à. extração, trans-
co mais da metade da total ( 54,8%) . porte e embarque do minério se deu
:E: evidente que a menor importância principalmente na serra do Navio, si-
relativa que progressivamente vem ten- tuada no alto Araguari - a área de
do a população rural relaciona-se com extração - e ao longo do eixo Santa-
o lento e decrescente incremento desse na-Macapá o centro exportador.
setor: como referido, no decênio 1960-
1970 o crescimento dos quadros rurais A ocupação do Território de Rondô·
foi de apenas 23,7%, o que significa nia, desde sua criação até a metade
um aumento médio anual de cerca de da década de 60, foi bastante lenta e
2.~. taxa muito inferior à do cresci- sem grande significação sob o ponto
mento vegetativo regional no período, de vista econômico.
de 3,8%.
Com o advento da garimpagem da
Essa situação é coerente, também, com cassiterita deu-se grande affuxo de
a importância dos fluxos rurais-urba- povoadores para a área e concomitan-
nos intra-regionais e dos de saídas ru- temente evasão maciça da mão-de-obra
rais da Região para outras áreas do rural interna do setor agrícola e ex-
País com destino rural ou urbano. trativo vegetal para as atividades de
mineração, com graves distorções na namentais. A base econômica do Ter·
divisão do trabalho . ritório é a tradicional e decadente ati·
vidade pecuária dos campos de Rio
No fim da década novo fator veio Branco e que, nas circunstâncias
atrair povoadores para a região: a im- atuais, não oferece nenhuma perspec-
plantação das Rodovias BR-364 (Cuia- tiva de desenvolvimento.
bá-Porto VeJho) e BR.$19 (Cuiabá-
Santarém) desencadeou um fluxo mi- O Estado do Pará, com um crescimen-
gratório espontâneo, principalmente to anual de cerca de 2,6% de rurais, foi
originário do centro-sul, atraído pelas o que recebeu o maior volume abso-
boas qualidades das terras. Deu-se luto de migrantes rurais no decênio,
uma ocupação desordenada de peque- cerca de 65. 000, tanto de quadros ru-
nos agricultores nas faixas de terra ao rais de outros Estados como de qua-
longo dos eixos viários . dros urbanos, atraídos para as novas
frentes de expansão agrária do leste
Sincronicamente a abertura dessas es- do Estado. Com o mais alto saldo mi-
tradas provocou também uma corrida gratório positivo na Região, o seu cres-
de grupos interessados - oriundos da cimento rural foi profundamente pre-
região centro-sul, sobretudo de São judicado pela intensidade dos fluxos
PaUlo - que passaram a transacionar rurais-urbanos concentrados principal-
terras visando principalmente à espe- mente em Belém, e pela importante
culação, outros à ampliação das ativi- corrente de migrantes rurais para o vi-
dades extrativas tradicionais da borra- zinho Amapá, como referido.
cha e da castanha ou à implantação
de projetos agropecuários apoiados Os Estados do Acre e do Amazonas,
nos Incentivos Fiscais. 8 • com muito baixos aumentos rurais
( 24,7% e 14,~ respectivamente) têm
A posição geográfica desses dois Ter- saldos migratórios rurais negativos e
ritórios, na Região, vizinhos a zonas fortes correntes migratórias rurais-ur-
de depressão sócio-econômica, fez com banas dentro dos seus territórios. Do
que atraíssem populações intra-re- total das saídas rurais do Amazonas
gionais. O Acre, que tem saldo migra- (dos quadros rurais para os urbanos
t6rio negativo, perde população rural ou para outros Estados e Territórios),
em decorrência da crise da borracha e 72,2% o fazem para quadros urbanos,
do desenvolvimento da pecuária e par- sendo 55,9% para cidades do próprio
te da população migrante - constituÍ· Estado. Também no Acre as perdas
da de seringueiros e posseiros - é rurais são essencialmente para os qua-
atraída por Rondônia, com suas novas dros urbanos.
frentes de trabalho.
A perda rural nesses Estados relacio-
Para o Amapá é grande a corrente na-se com a situação de crise da eco-
migratória das áreas de depressão eco- nomia extrativista da área e a total
nômica da foz do Ama20nas, sobretudo falta de perspectivas de emprego nas
da região das iJhas. zonas rurais .
No Território de Roraima, onde cerca Opõem-se, portanto - nas caracterís-
de 50$ do crescimento rural 60-70 são ticas da dinâmica rural - à Amazônia
devidos aos fluxos migratórios, a taxa oriental, onde as novas frentes agrá-
anual de crescimento rural foi de 2,~, rias do Pará e de mineração do Ama-
também pouco superior 2 taxa de cres- pá fazem crescer, por imigração, algu-
cimento regional. Esse aumento demo- mas de suas áreas e a Amazônia oci-
gráfico, que em números absolutos dental extrativista que, quase toda, per-
correspondeu apenas a cerca de 7. 000 de habitantes rurais, apesar de sua
habitantes, nijo reflete realmente uma muito baixa densidade demográfica,
transformação econômica, estando o cerca de um habitante por quilômetro
crescimento do Território ligado ex- quadrado. Aqui, apenas Rondônia, no
clusivamente aos investimentos gover- limite sudoeste da Amazônia, muito ll-

228
Tabela 28 Variação da população (Urbana e Rural) -Censos 1960!1970

t:RBA!\A VARIAÇÃO- 1960/70


:\U"~IC1PlOS
(Por .Arent :\llnimaa 191)0 1 1970 1960 1 1970 'Crbana Rural
~Ao .-\herad&a)
Hahitant•• Abtooluta Abeoluta %

ROXD0XB .......... . 30.842 60.541 3!l.9H 61\.079 29.699 96,29 16,138 40,40
1 - Guajsrá·:\lirim...• !1.018 11.702 11.716 16.0112 3.68·1 45,!l5 4.346 37,09
2 - Porto \'plbo . 2!!.8U -18.839 28.225 40.017 26.015 113;98 11,792 41,78

ACRE................. . 33.998 60.557 126.210 167.449 26.559 78,12 31.239 24.75


I - Bra.sil~ia ......... . 1.862 2.742 8.683 9.758 890 48,06 1.075 12.38
2 - Cruzeiro do Sul .. . 5.7611 9.837 25.873 34.356 J.071 10.60 8.483 32.711
: l - Feijó ........... .. 1.628 2.178 12.4G3 13-708 550 33,78 1.245 9,99
4 - Ri'' Bro.nen . .. . . . 18.1-17 36.095 29.735 48.750 17.948 98.90 19.016 63.115
5 - Sena :\ladurdra. . 2.196 3.816 20.299 1!1.082 1.620 73,77 1.~08 5,95
6 - Tarnuacá ....... .. 2.~09 3.860 17.784 20.197 1.451 60.23 2.413 13.57
7 - Xapuri. ..... .. .. . 2.000 2.029 1.1.382 11.598 29 1.45 216 1,90

A:\IAZO!\AS .......... . 2:l9.0611 409.278 481.556 551.656 169.619 70.78 70.100 14,66
I - Airlo ........ . ... . 21111 ~20 ' 4.756 5.767 54 20,30 1.012 21,28
2-,. Anori ............ . 3.984 3.5::!3 5.0~7
4.!;70
8.726 - ~~~~ - 11,57
43,21
3.689
737
73,24
16,13
3 - ..\talaia do Norte . 530 759 6.307 229
4 - ..\uta•ea ......... . 1.912 880 12.546 Hl.956 - 1.032 - 53,97 4.410 35,15
5 - Barc:eloa. 1.626 1.335 10.624 8.558 - 291 - 17,90 - 2.066 - 10.45
6 - Barnlirinba ....... 1.454 1.986 9.178 12.015 532 36,59 2.837 30.91
7 - Benjamin Conataet 3.224 4.526 7.985 10.70-1 1.302 40,38 2.710 34,05
8 - Bo<!a do Acre .... . 3.337 4.141 15.019 1:1.946 80-1 !!4,09 927 6,17
9 - Borha ..... .... .. . 1.963 2.831 17.856 14.227 8118 44,2:? - 3.629 - 20,32
lO - Canutamt ....... . 977 1.334 5.674 4.465 357 36~4 - 1.209 - 2,31
11 - C&rauari ........ .. 1.345 2.386 12.1135 14.608 1.641 77,40 1.773 13,81
12 - Careiro.......... . 212 156 33.373 40.888 - 46 - 21,70 7.515 22,52
13 - Coari ............ . 5.008 8.922 17.468 IS.834 3.014 51,02 1.366 7,82
H - Codaj$.5 .. .. .... . 1.605 2.402 8.306 9.736 897 69,60 1.430 17,22
15 - Eiruncp~ ........ .. 3.023 3.992 5.985 6.983 969 32,05 991$ 111.68
111 - F.n,·ira .... ... ... . 24 806 11.022 10.895 782 3.253,33 - 127 - 1,15
17 - Fonte Boa ...... . 1.15~ 2.024 13.S80 9.736 870 75,09 - 3.853 - 28,35
18 - Humaitti. • ...•.. .. 1.192 1.175 13.529 13.744 - 17 - 1,43 216 1,59
19 - Ilh& Grande . ... . 675 717 3.436 3.146 42 11,22 - 201 - 8,47
20- lpixuna . ......... . :lll 697 9.381 12.160 386 124,12 2.279 23,06
21 - haeoatiara..... . .. 9,013 16.058 16.886 21.351 7.045 78.16 4.465 26.44
22 - lupirana:a . .. .... . 477 678 1.770 1.9t'8 201 42,14 198 11,\9
23- Japur4 ........ .. 70 154 2.041 2.283 84 120,00 - 1158 - 22.37
24- Juru:i ........... . 186 218 7.5411 6.582 32 17,20 - 964 - 12,77
25- Juta! ........ ... . 60 4:11 1.436 3.511 371 618,33 2.075 144,60
26- Ubrea ..... . . .. 2.173 3.020 4.383 13.803 8-l7 38,118 - {\$() - 4,03
27 - :\tana~aa>Uru .•. 5.053 7.240 36.928 42.677 2.187 43,28 5.749 15.~7
28- .Manaue ... . ... . 154.0-10 286.083 24.303 28.114 132.043 8~.72 6.811 31,97
29 - lll&nico~ . .. .....• 2.268 2.292 16.701 17.758 24 1,06 1.057 fl,:t3
30 - :\larftl,........... . 71'1 288 6.489 8.043 - 429 - 59,83 1.654 23,95
31- ;-.,,....... ......... . 4.161 6.011 5.860 18.151 1.850 44,46 2.291 14.45
32- Nbamnndá .• ...... 287 555 11.897 15.054 2118 93,38 5.357 54,10
33 - Nova Olindn do
No""' . ...... .. . 2.701 1.896 f\.167 10,015 - 805 2!1,80 :l.848 112,40
34 - !\o"o Aripu&n& .. . 1.329 2.401 5.031 13.713 1.072 1.10,66 8.f>82 172,57
35 - Parintina .....•... 9.068 17.062 9.012 21.627 7.994 88,16 2.615 13,75
311 - Paooini .......... . 46P 450 0.815 9.248 - 19 - 4,05 - 51i7 - 6.78
37 - Slanto Ant6nio do
lçá...........• •.• 1.346 2.012 7.066 7.535 666 49.48 469 6.64
38 - Slo Gabriel da Ca-
choeira......... . 1.381 1.467 12.328 12.102 86 6,23 - 226 - 1,83
30 - Slo Paulo de Oli·
''Pnca ......... . 2.399 3.562 3.736 15.378 1-.163 48,48 1.642 11,95
40- Sih·ee......... .. 537 ROl 2.792 3.863 64 11,92 1,071 38,36
41 - Tapaut ........ .. 271 9.'>9 7.753 9.658 688 253.87 1.905 24,57
42- Teff . .......... .. . l'.308 8.237 10.522 11.515 2.929 55,18 993 9,44
43 - t:rucart.. . . .. .. . 1.203 2.172 3.948 4.522 969 80,55 574 14,54
44 - t:ru~urituba ...... . 520 609 8.578 9.785 - 11 - 2.12 1.207 14,07

RORAI:\1..\ ........ .... . 12.717 17.929 16.772 23.709 6.212 40.98 11.937 41,30
I -Boa Viata . ...... . 11.785 17.154 14.38.~ 19.008 6.369 45,56 5.525 38,41
2 - Caracaral........ . 932 775 2.31!9 3,801 - lli7 - 16,85 1,412 119,10

PARÁ......... ........ . 630.672 1.037.340 920.263 1.159.732 406.068 64.48 239.469 26,02
I - Abaetetuba . ..•... 11.703 20.009 3:!.377 38.21\4 8.~97 70,90 4.887 14,64
2 - A~ar' .......... . . 1.739 1.365 16.925 2:1.459 - 374 - 21,51 6.534 38,61
3 - Afu,.......... .. 659 765 14.638 17.216 106 16.08 2.678 18,42
6 - Alenquer ........ . . 7.723 11.809 20.825 23.505 4.085 52,89 2.680 12,1!7

229
TABELA 23 (continuação )
Rt:R.U VARIACÃO- 1960(70
Mt:NICfPIOS
(Por Áreae Minimu 1960 1 1970 1960 1 1970 l:rbaoa Rural
!olio Alterad..)
Habitantes Abaoluta Abtoluta

PARÁ
5 - AlmeiJim ........ . 2.426 3.738 4.!1.;3 8.549 1.312 54,08 3.596 72.60
6 - Aoaj!a.......... . 182 21l0 8.724 9,907 78 42,86 1.183 13,54\
7 - B•iio . ......•... 2.5~8 2.'30:? 5.~:16 li.H2 254 9.!17 1.200 80,33
8 - B~rcareoa ..•...... 5!\1 2AH 14S44 1!;.~03 1.!!93 343.56 959 6,73
9 - Bol~n... .. . •.. 380.667 611.497 21.503 31.017 230.830 60.64 9.514 44,24
10 - BragançarAugusto
Correia-Bonite>-Ca·
p~ma-(garar# Açu
- :\úgalhllcs Barata
-:\f aracana-:Mara·
panim-No,·e. Tim·
boteua-Peixe Boi-
Priu>avera-Salin6-
polit-5t .• :-.1Rria do
Parli-5antarém :-io-
vo-5Ao Mi11uel do
Guam6 .•• ....... ~~.662 96.096 196.77~ 2!'13.087 32.434 50.95 8.313 4,22
11 - Brevra ...... .. . :!.110 4.978 29.?03 33.612 2.268 83,69 3.709 12,40
12- Bujaru. . . 1.010 1.818 12.463 13.994 808 !10,00 1.531 12,28
13 - Caeh~ira do Arari 2.532 4.406 7.173 6.170 1.874 74,01 - 1.003 - 13,98
14 - Cameté-Baere-Li-
mo..iro do Ajuru-
Oeiraa do Paré. 3.490 1-1.200 58.304 72.242 !5.710 67,26 !3.938 23.80
15 - Casc.anhal.... .. . 10.224 26.192 11.394 12.205 15.968 156,18 811 7,12
16 - Chavea-Poota de
Pedru-Santa Crua
do Arari .... . . 2.822 3.388 29.913 33.830 566 20,00 :1.917 13,09
17 - Cooceiç!o do Ara-
cuaia-8antana do
Ar&ll'l&ie . ..•...•• 2.887 8.848 8.564 30.633 5.961 :?06,48 22.069 257,70
111 - Curralinho...... . 849 1.2fl 7.905 9.3111 412 48,53 1.486 18,80
19- Curuçé..•. • . ..•. 5.549 8.õll7 ·H.817 1·'-250 3.038 ó7,45 567 3,83
20 - Faro-Ori:<imin4 .... 6.~6 11.277 15.868 18.454 4.831 74,95 2.586 16,30
21 - Gurup4 ..•....... 1.031 1.365 12.931 12.620 334 a2,40 - 311 - 2,41
22 - lg&rap#-MirÍJD .... 3.706 7.582 21.1119 23.949 3.806 102,70 2.000 96.83
23 - lnhangapi. ..•. ... . 244 436 5.635 6.212 192 7M9 f>17 12,24
24 - lrituia . . . ....... . 8S.'J 1.368 19.185 32.392 515 60,38 13.207 68.84
25 - ltupiranga-Jacun<!á 1.556 1.984 2.809 5.613 42~ 27,51 2.804 99,112
26 - Marab4- Sio João
do Araguaia. . . 8.9G3 16.481\ 11.31>9 23.660 7.523 83.93 12.291 108,11
27 - MO<"&juba ...••.•. 1.391 2.4ro 6.376 6.723 1.059 76,13 • 347 5,H
28- M.oju ..•...•. ....• 4!36 931 14.514 17.160 295 46,38 2.646 18.20
29 - Monte Al11.,-e .• •. 3.011 &.274 15.122 22.532 2.363 60,42 7.410 49,00
30- M••a~ ..... ..... . 810 1.223 11.965 13.916 413 50,99 1.961 16,31
31 - Óbidoa . ......... . 5.001 9.171 14.692 17.722 3.270 55,41 3.030 20,62
32 - 0\rim..Caritlo Po-
ço•.• . •.••..... 33.167 45.481 12.314 37,13
33 - Portel-Mell[&ço.. .. 2.002 6.197 14.081 16.464 4.195 209,54 2.383 u:.o2
34 - Porto de Mo&-AI-
tamira~~en. José
Pnrliro-Sio Felix
do Xingu .••••... . 4.089 8.373 14.860 111.964 4.284 10t,77 ii.104 34,35
35 - Prainha .. .•.•..... 865 1.736 7.860 10.623 871 100,69 2.763 3.~.1S
3tl - Santarém-A veiro-
ltaituba-J urnti. . .• 35.976 70.021 87.078 109.465 34.045 94,63 22.3!17 25,71
37 - SAo Ca<!tano de
Odivelsa ....... . 2.919 4.8111 8.506 9.464 1.972 67,56 9S8 11.26
38 - Sio Franeioeo do
Paré .• •......... 1.362 1.519 6.116 5.396 1S7 11,53 - 720 - 11,71
39 - S&o Sebastiio da
Boa Viata . ....•.• 922 1.899 1.190 9.572 977 I05,97 t.:l82 16,87
40 - Soure-Salvaterra.. 9.154 14.200 1.546 8.8.19 5.1311 66.11 - 2.707 - 2:l.45
41 - Tomé-Açu ... .... . 1.130 2.306 1.078 22.201 1.176 104,07 15.623 232,45
42- Tueurui ......... . 3.558 5.860 2.230 4.285 2.248 63,18 :.!.055 92,1!5
43 - Vigia-Ananideua-
Benevidea..Colarea
-8t.• luhel do Pa-
rá-5t.• Antõoio do
Tao.á ...... ..... . 17.825 27.033 46.453 63.008 10.108 56,71 36,64
44 - Viaeu-Paragominao
-8Ao Domingos do
Capim ....... .... . 6.488 7.429 37.495 71.522 941 14,50 3·4 .027 90,75

AMAPÁ ... ............ . 35.390 63.785 33.499 52.695 28.395 80,23 10.196 57,30
1 - Amap6.......... . 2.180 2.735 5.824 7.780 555 25.46 1.956 33,59
2 - Calcoeoe......... . 983 1.290 1.400 1.723 337 35,36 323 23,07
3 - Oiapoque........ . 1.927 2.129 2.042 2.466 202 10,48 424 20,76
4 - Macap, . .•..... •. 28.~5 5.~.915 18.1".00 31.840 27.070 93,% 13.780 76,30
5 - MatAI{io....... .. 1.485 1.116 6.173 8.886 231 15,56 2.71~ 43,95

Fonte: Censos Demogrdficos, Brasil, 1960 e 1970.

280
REGIÃO NORTE
VARIAÇÃO OA POPULAÇÃO RURAL
!960/70 (Segundo Áreas Mín imos
não alterados no período )

VARI Aç:ÃO VARIAÇÃO RELATIVA


ABSOLUTA AUMENTO (%1
o - 25

I
Hob.

@-34027.. 15000
_5000
26 -

+de 4 0
40

ESCALA -- __ 100
- DI MIN UIÇÃO
100 O JOO 200 300 FIG. 10
J 11 !!I I I I
gada ao centro-sul. como já referido, 4 - Áreas de diminuição absoluta de
destaca-se pelo aumento significativo rurais, que estão quase todas no Estado
de seus quadros rurais ( Tab. 28). do Amazonas e que abrangem espe-
cialmente os vales dos rios Negro, Ja-
Os padrões espaciais da repartição das purá, Médio Purus e parte do Baixo
variações da população rural foram Madeira e que são, também, de eco-
analisados com base na figura 10. Fo- nomia extrativista.
ram considerados os seguintes padrões:
1 - Crescimentos rurais por imigração
com valores relativos superiores a 40$,
4.1- Amazônia Oriental
concentrados principalmente na área A maior área na Região, com cresci-
de influência da Belém-Brasília, na mentos rurais por imigração localiza-
região de Macapá-Mazagão no Ama- se, como referido, na faixa leste do
pá, de Porto Velho em Rondônia e de Pará na zona de influência da Belém-
Rio Branco no Acre. Brasília. Como essa área já foi sufici-
entemente analisada no capítulo refe-
2 - Crescimentos rurais mantidos prin-
rente às migrações, apenas acrescen-
cipalmente pelo aumento vegetativo
tamos que os maiores aumentos rurais
com valores relativos entre 26 e 40~.
regionais encontram-se na zona pe-
Têm a sua maior ocorrência na mar-
cuária de Conceição do Araguaia-San-
gem direita do Amazonas, de Santa-
tana do Araguaia com 257,7% de cres-
rém para jusante e nos vales do Tapa-
cimento no último decênio e na de
j6s e Xingu, onde as recentes inversões
Marabá-São João do Araguaia com
governamentais em estradas têm dado 108,1%.
maiores condições de fixação à popu-
lação rural e, posteriormente a 1970, A região vizinha do Médio Tocantins:
atraindo uma migração espontânea de Itupiranga-Jacundá e Tuc:nuí com
pequenos lavradores, ao lado da colo- 99,8% e 92,2$ de aumentos rurais tam-
nização oficial do INCRA. A região bém integram a zona de dinamismo ru-
de Manaus, o Território de Roraima ral de Marabá que, ao consórcio gado-
e a região de Guajará-Mirim, em Ron- castanha, juntam a lavoura comercial
dônia, são outras principais áreas desse de arroz desenvolvida pelos pequenos
padrão . agricultores maranhenses.
3 - Áreas de perdas relativas, de ru- Ainda nesta porção do Estado do Pará,
rais, aquelas com aumento inferior ao as áreas de pecuárias de Paragominas
vegetativo ( 3,8% ao ano) e que por e São Domingos do Capim, desenvol-
esse fato se caracterizam como áreas vidas sob os mesmos impulsos que a
de esvaziamento: os seus crescimentos de Conceição do Araguaia, têm au-
rurais relativos no decênio são de, no mentos rurais de 90,81.
máximo, 25%. Juntamente com as áreas
de diminuição abrangem a maior par- No vale do Acará a zona de Tomé
te da Amazônia . Açu, com a próspera agricultura co·
mercial da pimenta-do-reino de colo-
As perdas relativas de rurais encon- nos japoneses, teve também um dos
tram-se tanto nas antigas e tradicionais mais elevados crescimentos rurais da
áreas agrícolas ou agropecuárias da Amazônia, 232,5%. A colonização ja-
"região de Belém" (zonas Bragantina, ponesa ainda continua no Projeto de
Salgado, Baixo Tocantins, região das Daini-Tomé Açu, executado pela Em-
llhas), do Médio Amazonas (zonas de presa de Colonização e Imigração
Alenquer-óbidos e Parintins-ltacoatia- Ltda. - Jamic que está ocupando
ra ), como nos vales de economia extra- uma área e 25.000 hectares, dividida
tivista do próprio Solimões, do Javari, em 720 lotes rurais com o mesmo ob-
Juruá, Purus e Madeira, no Amazonas jetivo econômico: expansão do cultivo
e no Acre. da pimenta-do-reino.

·282
São essas as novas e mais dinâmicas ca de dez mil cabeças) e o plantio de
áreas agrícolas da Amazônia e, como arroz irrigado em 20.000 hectares na
indicado no capítulo de migrações, a Jarilândia, em Mazagão (Amapá) .
população rural aumenta pelo desloca-
mento de migrantes de áreas em de- A implantação dessas atividades está
pressão econômica do próprio Estad'? se fazendo com mão-de-obra trazida,
do Pará e pelas entradas de migrantes na maior parte, do Maranhão pelos
nordestinos, principalmente maranhen- gateíros (aliciadores de mão-de-obra
ses e goianos do norte. a serviço das empreiteiras) e que tra-
balham como peões, principalmente no
Uma pequena área de aumentos ru- desmatamento.
rais superiores a 25$ se localiza nas
circunvizinhanças de Belém, tendo Cerca de 90% da área povoada no mu-
tido o próprio município da capital nicípio de Almeirim pertence a essa
um aumento populacional de 44,2%. O empresa. A sede da companhia é cin-
conjunto de municípios constituídos co vezes maior que a própria sede mu-
por Ananindeua, Benevides, Santa Isa- nicipal. Somente a existência dessa
bel do Pará e Santo Antônio do Tauá grande empresa, pode explicar os au-
tiveram um crescimento de população mentos rurais, pois essa área é essen-
rural de 35,6%. Essa situação demo- cialmente extra ti vista ( balata e casta-
gráfica corresponde ao desenvolvimen- nha-do-pará) com agricultura rudi-
to na área de uma pequena produção mentar no nível de subsistência 88 .
hortíco1a e frutícola para o mercado Monte Alegre, na zona agropecuária
belenense, além da formação de pi- do Médio Amazonas, foi o município
mentais, principalmente em Santa Isa- que teve, na área, o maior crescimento
bel do Pará . S!1
rural no decênio 1960-1970 ( 49,0%) .
Essas atividades agrícolas dão condi- Encontra-se em processo de ocupação
ções de permanência à população ru- territorial de franca dinâmica e aí se
ral local e servem mesmo de atração instalou uma das colônias agrícolas do
à população de áreas menos favoreci- INCRA. Por suas boas condições pe-
das da própria região Bragantina. Sí- dológicas e uma relativa melhoria dos
tios de veraneio constituem também transportes, tem na lavoura (milho,
outra forma de ocupação rural nas vi- juta, fumo, pimenta-do-reino, arroz)
zinhanças de Belém que levam a um e na fruticultura sua mais importante
incremento do povoamento tural. fonte de renda, e daí o crescimento
significativo de sua população rural. 87
No Estado do Pará outra área de au- No Estado do Pará, a margem sul do
mentos rurais por migração localiza-se Amazonas, nos vales do Tapajós e do
na margem esquerda do Amazonas, Xingu, tem aumentos rurais em tomo
nas bacias do Jari e Paru (município do crescimento vegetativo, variando
de Almeirim, 72,6%) e em Monte Ale- entre 25,7% nos municípios do Tapajós
gre, no médio vale do Amazonas ( Itaituba, Aveiro, Santarém) a 34,5%
( 49,0%). nos do Xingu (São Felix do Xingu,
Altarnira, Senador Tosé Porfírio, Porto
Na bacia do Jari o crescimento da po- de Moz) . Esses valores correspondem
pulação rural está se dando pela ins- a aumentos absolutos de habitantes
talação da grande empresa Jari Flores- rurais relativamente baixos, cerca de
tal Agropecuária, o maior projeto do 5.000 no Xingu e 22.000 no Tapajós.
gênero na Amazônia, com sede em O maior aumento rural é de Santarém,
Monte Dourado na confluência dos um dos municípios de grande impor-
rios Jari e Amazonas. O projeto prevê tância agrícola no Médio Amazonas.
a plantação da Gmelinia lpino em
80.000 hectares, para a produção de Além da população garimpeira que
celulose, a formação de rebanhos bovi- sempre aflui para esses vales, sobre-
nos de corte (atualmente já com cer- tudo para os garimpeiros de ouro do

23S
Tapajós, os aumentos rurais se manti- vida, migra para as zonas novas ou
veram, no decênio, relativamente mais para as cidades, sobretudo para Be-
elevados na margem sul do Amazonas, lém, em busca de melhores oportuni-
pelas melhores condições de acesso. dades.
Posteriormente a 1970, a construção
da Transamazônica e da Cuiabá-San- O desemprego aberto e estrutural, os
tarém provocaram grande afluxo de baixos níveis de renda e de vida são,
migrantes, que vêm se instalando ao portanto, os fatores essenciais do es-
longo das rodovias de forma espontâ- vazi,a~;nto rural da antiga "região de
nea ou nos núcleos de colonização do Belem .
INCRA.
Ainda na Amazônia oriental, o Terri-
Contrapondo-se a essa situação de di- tório do Amapá, como referido, se ca·
nâmica rural, ativada pelo desenvol- racteriza como área de imigração e de
vimento da circulação terrestre e pela grande crescimento da população
implantação de novas atividades agro- rural.
pecuárias com produtos comerciais
para mercados intra-regionais ou na· Porém, a dinâmica rural apresenta
cionais (principalmente a pimenta-do- contrastes bem caracterizados nas di-
reino, a malva e o gado de corte) se ferentes áreas do Território. A seme-
encontram as antigas e tradicionais lhança do leste do Pará, a região ama-
áreas agropastoris _do Pará como zonas paense, cujo povoamento rural é mais
de esvaziamento rural, onde o cresci- dinâmico - o município de Macapá
mento dos quadros rurais no decênio ( 76,3$ de aumento) - corresponde ao
1960-1970 não ultrapassou os 25%. desenvolvimento da circulação terres-
tre, fugindo ao padrão amazônico de
Formando como que um semicírculo penetração e fixação justafluvial da
em tomo de Belém, dispõem-se as zo- população. ,
nas do Baixo Tocantins, a região das
Ilhas, o baixo Guamá, a Bragantina e As iniciativas da !COMI: construção
o Salgado como áreas de depressão de- da Estrada de Ferro de Santana a Ser-
mográfica. Alguns municípios tiveram ra do Navio e construção do porto de
mesmo diminuição da população ru- embarque do minério de manganês.
ral, como Soure e Salvaterra (- 23,5~). As atividades de extração mineral em
Cachoeira do Arari (- 13.~), São Serra do Navio funcionaram como po-
Francisco do Pará (- 11,8~) e Guru- derosos fatores de atração de popula-
pá (- 2,4%). A população saída do ções, tanto do Território como do vi-
campo emigra para as novas frentes zinho Estado do Pará.
agropecuárias do centro-sul do Esta-
do, acumula-se nas cidades próximas Além do efeito direto das atividades
ou se dirige para Belém. Os aumentos de mineração sobre o povoamento da
da população das cidades aí situadas parte central do Território, a via fér-
foram, geralmente, superiores a 50%- rea e as rodovias implantadas para ser·
60$ no decênio. vir à atividade mineradora serviram
como eixos de povoamento ao longo
De modo geral, as causas da grande do percurso Macapá-Santana à serra
evasão populacional são as mesmas do Navio. Ao mesmo tempo, o desen-
para tod~ a área: permanência de pro- volvimento da atividade mineradora
cessos de exploração agrária empíricos provocou a expansão da agropecuária,
e rotineiros, escassez de assistência como conseqüencia do alargamento do
técnica, baixos níveis de produtividade mercado regional de consumo.
nas diversas atividades econômicas ru-
rais, dificuldades de crédito e meios As mais importantes áreas agricolas
de transporte deficientes. Êssa situa- do Território situam-se ao. longo da
~·ão provoca a não fixação da mão-de- ferrovia, no trecho florestal entre Por-
obra rural que, sem perspectivas de to Platon e serra do Navio. Instalou-
emprego ou de melhores condições de se aí uma área de cultivos alimenta-
res em uma frente pioneira de dimen- regiões beneficiadas pelas inversões in-
sões modestas, onde o Governo do Ter- fra-estruturais da ICOMI.
ritório, para disciplinar a ocupação das
terras, demarcou lotP.s e conferiu ca- 2 - acentuação dos desequilíbrios re-
tegoria de colônia aos núcleos mais gionais nos padrões de repartição e
importantes 38 • dinâmica da população rural pela con-
centração dos aumentos demográficos:
Algumas colônias agricolas de inicia· 60,4$ da população rural e 71,8i do
tiva do Governo também atraíram crescimento rural 1960-1970 estão no
agricultores: a de Matapi e Ferreira município de Maca pá.
Gomes no município de Macapá e a
3 - parte desse crescimento se deve
de Mazagão no município de mesmo
nome, onde o crescimento da popula- à estagnação e mesmo perda demo-
gráfica das regiões de Oiapoque e Cal-
ção rural também foi relativamente çoene ( 20,8i e 23,0i respectivamente,
elevado ( 4S,9$) . Além das áreas agrí- de aumento) áreas de atividades ex-
colas localizadas nas proximidades da trativas em decadência (garimpagem
sede municipal e de Mazagão Velho do ouro, extração de madeiras e de
(cultivos de cana-de-açúcar, arroz, mi- peles de animais silvestres) .
lho e mandioca principalmente) tem
importância econômica, na área, a Essa situação se agrava com o exage-
produção extrativa de castanha-do-pa- rado e descontrolado crescimento ur-
rá, borracha e madeira. bano de Macapá, o qual vem acarre-
tanto graves problemas sócio-econô-
~ o domínio das grandes empresas co- micos para a cidade, como será refe-
merciais que controlam a coleta e o rido mais adiante.
comércio âesses produtos florestais. A
maiOI' delas é a Jari Comércio e Indús-
tria, que também exerce atividades 4.2 - Amaz&nia Ocidental
agropecuárias, como já foi menciona-
do. ~ grande o movimento emigrató- Na Amazônia ocidental o Território
rio das ilhas paraenses fronteiras, prin- de Rondônia teve estímulos semelhan-
cipalmente de Afuá, quer de trabãlha- tes aos da região leste do Pará e do
dores sazonários para a extração do Amapá para se desenvolver, atualmen-
látex e da ca.stanlia nos vales do sul te, como uma das mais dinâmicas
(Jari, Cajari, Maracá e Vila Nova), áreas da Região.
como de migrantes permanentes para
atividades extrativas e agricolas n. Como decorrência da expansão da ex-
tração da cassiterita desde a segunda
No município de Amapá, com 33,6$ metade da década de 50, Rondônia
de crescimento rural, está a mais im· passou a ser área atrativa aos fluxos
portante área amapaense de criação migratórios, ativados recentemente
bovina, situada na reg!ão dos Lagos. pefa abertura 'd e rodovias.
Ao longo da estrada âe rodagem de
Ferreira Gomes a Amapá encontram-se Novamente são os eixos viários os ele-
algumas das x:nais recentes áreas agri· mentos impulsionadores da dinâmica
colas do Território e que têm como rural, proporcionando a abertura de
centro a localidade de Itaubal e a frentes de expansão agricola.
Colônia Cruzeiro, para onde se deu
afluxo de povoadores agricolas 40 • Além do povoamento es~ntâneo que
vem se fazendo ao longo dos eixos da
A exemplo de outras áreas amazônicas, BR-364, colônias oficiais estão sendo
a situação demográfica do Amapá instaladas. A primeira experiência· de
apresenta graves distorções: colonização foi realizada pelo Governo
do Território, com a implantação da
1 - alta concentração da população colônia do IATA próxima à Guajará-
e das áreas de crescimento rural nas Mirim, na fronteira boliviana.· Essa co-

2S5
Ionização, feita há cerca de 15 anos, absorver o constante fluxo migratório
não teve sucesso devido a deficiência que desemboca no território. O pro-
de crédito e assistência técnica, tama· cesso de ocupação racional vem sendo
®o pequeno dos lotes ( 25. hectares ) e realizado, também, por empresas pri-
solos de baixa fertilidade. Outra ex- vadas de colonização, além das em-
periência foi a implantação de peque- presas agropecuárias instaladas com
nos núc1eos nos arredores de Porto os benefícios dos Incentivos Fiscais.
Velho, visando à criação de um cin-
turão verde para o abastecimento da No decênio 1960-1970 o aumento da
capital com produtos hortigranjeiros. população nu-al do território foi de
Dessa experi~ncla resta apenas um 41,8$ no município de Porto Velho e
núcleo, tendo sido as outras áreas de 37,0$ no de Guajará-Mirim. Os
transformadas em sítios de lazer. efeitos de indução dos novos eixos viá-
rios na ocupação do Território estarão
Como conseqüência da ocupação de- mais visíveis nas estatísticas posterio-
sordenada, que vinha se fazendo mais res a 1970, pois o término da abertu-
recentemente ao longo dos eixos das ra das novas rodovias intensificou for-
novas rodovias e, criando problemas de temente os fluxos núgratórios extra·
caráter social com antigos ocupantes regionais.
e grande especulação de terras, o Go-
verno Federal criou, em 1968, uma Nos Estados do Amazonas e do Acre
área prioritária de ocupação, compre· são bastante localizadas as áreas de
endida no eixo viário da BR-364 entre crescimento rural. A maior parte da
Vila Ariquemes e Vila de Rondônia, Amazônia interior perde população ru-
numa faixa lateral de seis quilômetros, ral, como ficou evidenciaáo nos seus
com o objetivo de regularizar a ocupa· muito baixos valores médios de incre-
ção existente e ampliar as possibilida- mento no último decênio.
des de assentamento de novas famílias.
A ordenação de ocupação das novas A região agropastoril do Médio Ama·
terras ao longo das estradas federais zonas - com 60i da população rural
está também apoiada na colonização do Estado - é a de maiores aumentos
oficial com a implantação pelo INCRA rurais, desde os municípios' de Ma-
do Projeto Ouro Preto ( 226.000 hec- naus-Careiro a Nhamunâá e Barreiri-
tares) situado na BR-364, a cerca de nhas, com incrementos na maior parte
300 quilômetros de Porto Velho e do superiores à média regional. Excluem-
de Sidney Girão, próximo a Guajará· se, no entanto, os munidpios de Pa-
Mirim. rintins ( 18,8~). Maués ( 14,4$), Uru-
cará (14,5~) e Urucurituba (14,0$)
Em 1972 o lNCRA iniciou támbém a com crescimentos bem inferiores à
implantação de um programa de emer- média.
gência na região de Pimenta Bueno,
área denominada Gi-Paraná, a cerca Os maiores aumentos foram os de
de 500 quilômetros de Porto Velho. Nhamundá (54,1$), Silves (38,4$),
Com a consolidação desses Projetos, o Nova Olinda do Norte ( 62,4$), Autazes
INCRA visa ao assentamento de 8. 000 ( 35,2$). Essas áreas de maior aumento
famílias no território até 1975. 41 são também as de maior densidade de
população, cerca de 3 habitantes por
O Projeto Ouro Preto, o mais avança- quilômetro quadrado, atingindo 21,8
do na implantação, com população de nabitantes no município de Manaus.
cerca de 5. 000 pessoas, proCedentes na
maior parte de Minas Gerais, Espírito O maior incremento rural que ocorre
Santo, São Paulo e alguns nordestinos, no Médio Amazonas, em grande parte,
já é responsável por quase metade da resulta de uma certa retenção dos ha-
produção de cereais no território. bitantes, aumentados pelo simples cres-
cimento vegetativo. Não se pode con-
Esses Projetos Integrados de Coloniza- siderar que essa área tenha propria-
ção são, na verdade, insuficientes para mente elementos de atração. Os cres-
cimentos que poderiam ter considera- Essa área agropastoril mediana no va-
dos como resultado de imigração ocor· le do Amazonas apresenta grandes pos-
rem somente em áreas limitadas. sibUidades de desenvolvimento agrí-
cola com a revalorização de sua po-
As condições relativamente melhores sição geográfica pela construção da
de oportunidadt>S de trabalho na ati· Transamaz6nica e da Cuiabá-Santa-
vidade agrícola e pecuária podem rém ( BR-165 ).
atuar no sentido de reter populações
imigradas dos vales extrativistas em Com destaque no crescimento da po-
crise econ6mica, no seu caminhamen- pulação rural no Estado do Amazonas
to para Manaus ou para as maiores ci· aparece também a região de Novo Ari-
dades da área, Parintins e Itacoatiara puanã, no vale do Aripuanã, na bacia
que têm elevados crescimentos urba- do alto Madeira.
nos, 88,2i e 78,2i respectivamente.
A mais alta taxa de incremento na
Nessa região se dá alta concentração Amaz6nia ocidental, no decênio con-
da população agropecuária 'amazonen- siderado ( 172,6~). é a dessa área. A
se: 7~ do rebanho do Estado e 69% descoberta do minério de manganês
da produção agrícola, que coincide em 1954 atraiu grandes contingentes
com a alta concentração de habitantes de migrantes para as atividades de ga·
rurais. Depois da estagnação econ6- rimpo e numerosas firmas, objetivan-
mic.a conseqüente ao decUnio da borra· do à comerciaUzação. A partir de
cha foi a introdução da juta que deu 1969, no extremo sudoeste do municl-
novo impulso à região. O cacau e a pio, em Igarapé Preto, a descoberta de
pimenta-do-reino são outras culturas uma das maiores ocorrências estanífe-
industriais da região com alguma ex- ras da região provocou a entrada maci-
pressão. Atualmente, a criação de gado ça de migrantes, tendo-se iniciado, em
vem tendo maior desenvolvimento, em 1971, a extração mecanizada do miné-
decorrência do crescimento do merca· rio, que é exportado por via área para
·do urbano da área, sobretudo, de Ma- Rond6nia.
naus.
Os imigrantes garimpeiros de Igarapé
Uma razão física indicada por C. V. Preto são, em sua quase totalidade, nor-
Dias 42 para o destaque da população destinos, ex-trabalhadores da estrada
rural do médio vale do Amazonas, de Cuiabá-Porto Velho, ex-candangos de
Manacapuru a Monte Alegre, é a maior BrasUia e aventureiros do sul que ex-
extensão da várzea, com numerosas ploram o comércio de abastecimento.
ilhas e muitos paranais que facilitam a Os trabalhadores na mineração não são
instalação de comunidades rurais, além nativos da região ou egressos dos se-
da proximidade de terrenos primários ringais em decadência 48 •
com intrusões de diabaisios. Essas con-
dições naturais favoreceram a expan· Como era uma área quase despovoada
são da juticultura, a instalação de fa- em 1960, com uma população total de
zendas ele gado e de co16nias agrícolas 8. 360 habitantes, dos quais 5. 031 ru-
na ..terra finne.., como em Monte Ale-
gre e óbidos. rais, o aumento absoluto no decênio
de 8. 682 habitantes rurais levou àque-
No Estado do Amazonas essa região le elevado incremento relativo.
agropastoril do médio vale concentra
69,8S do aumento rural total, valor que Excluindo as áreas de maior dinamis-
corresponde aos de concentração elos mo rural já analisadas, o restante do
habitantes e da produção agropecuá- território amazonense e acreano tem
ria. Já a porção paraense dessa região população rural em diminuição ou ~m
agropastoru representa apenas 15.~ muito pequeno aumento, bastante m-
dO aumento rulal do Pará. ferior ao crescimento natural, o que re-
presenta também uma situação de per- nhais migra, em grande parte, para as
da de habitantes . pequenas cidades da área em descida
para Manaus.
As maiores diminuições de população
rural no Amazonas verificam-se princi- O crescimento dos pequenos núcleos
palmente na margem esquerda do rio urbanos desses vales extrativistas em
Amazonas, no médio Japurá e no alto depressão sócio-econômica atingiu fre-
e médio rio Negro. As mais fortes di- qüentemente mais de 40i no último
minuições são as de Barcelos ( -19,41) decênio .
e Japurá (- 22,41).
Os mais elevados aumentos relativos
Na margem direita as diminuições encontram-se justamente nos pequenos
ocorrem no baixo Juruá, no médio e núcleos de menos de 1. 000 habitan-
alto Purus e no baixo Madeira. As tes, como Tapauá no Purus com
mais fortes diminuições ocorrem no 253,91, lpixuna no Juruá com 124,1i,
Juruá inferior (Fonte Boa, - 28,31), Jutaf e Japurá, nos rios de mesmo no-
no médio Purus ( Canutama, - 21,31) me, com 618,31 e 120,01 respectiva-
e no baixo Madeira (Borba, - 20,31) . mente.
São áreas de população muito rarefei-
ta, com densidades demográficas infe- O êxodo rural apresenta sérios proble-
riores a 0,3 habitante por quilômetro mas para essas pequenas cidades que
quadrado, chegando a menos de 0,1 não têm as mínimas condições de ab-
habitante no alto rio Negro (Ilha sorver a população migrante como
Grande, 0,05 e Barcelos, 0,08) . mão-de-obra economicamente ativa. O
subemprego e desemprego generaliza-
Áreas de perdas relativas de rurais dos obrigam os migrantes a viverem
(menos de 261 de aumento no decê- em piores condições de subsistência
nio ) são o próprio vale do Solimões, que no habitat original, e criam toda
os vales médio e inferior do Javari, o sorte de problemas sócio-econômicos.
médio e alto Juruá e o médio Madei-
ra . São áreas também de bai.xíssima Na margem direita do Amazonas, nos
densidade de população, em geral me- vales do Japurá e do Negro, a situação
nos de 0,5 habitante por quilômetro demográfica é, ainda, mais grave, pois
quadrado. junto ao esvaziamento rural também os
pequenos aglomerados perdem popu-
Caracterizam-se todas por um povoa- lação, tendo tido Barcelos e Maraã di-
mento rural descontínuo, confinado às minuição de 17,91 e 59,81 em suas po-
margens dos rios, pela inexistência de pulações urbanas.
outras vias de penetração que não a
rede hidrográfica e por um semi-isola- Sendo a maioria da população de ori-
mento em relação à Capital do Estado gem indígena, a economia local refle-
e, de modo geral, à toda a Região . te, ainda, as primitivas formas de pro-
dução: o extrativismo vegetal é a ati-
A decadência da atividade extrativa, vidade quase única.
que vem provocando o êxodo da po-
pulação rural quase geral, como indi- As condições naturais são aí menos fa-
cado, decorre dos seguintes fatores: voráveis à economia primitiva de ex-
baixo rendimento, pela variedade e tração: florestas pobres em bévea, rios
dispersão das espécies; caráter aleató- cortados de rápidos e cachoeiras, e au-
rio da atividade para a mão-de-obra, sência de período seco. São, porém,
pela manutenção do sistema de avia· áreas, de grande pote~cial madeireiro,
mento; aviltamento dos preços no mer- mas cujo desenvolvimento exige pri-
cado internacional e esgotamento dos meiramente a fixação e organização da
seringais. A crescente mão-de-obra li- população local e a integração à vida
berada nos antigos seringais e casta- nacional através de vias ae circulação.

2S8
Os recursos do Estado do Amazonas, isoladas do resto do País durante gran-
muito restritos, estão sendo aplicados de parte do ano.
em áreas que oferecem maior rendi-
mento para o desenvolvimento da eco- As melhores condições de acesso estão
nomia estadual. Como os problemas resultando em iniciativas de implanta-
fundamentais da Região atingem dire- ção da atividade agropecuária em mol-
tamente nos interesses nacionais em des racionais, sobretudo em Boca do
seus aspectos de integração e de segu- Acre no Purus, visando ao abasteci-
rança por sua situação fronteiriça, as mento da capital acreana através da
soluções dependem do nível federal BR-317.
de decisões u .
No alto Madeira, a abertura da BR-
A construção da Rodovia Perimetral 319 (Porto Velho-Manaus) e da BR-
Norte ( BR-210) é o primeiro passo 230 ( Transamazônica em implanta-
para a integração da área à comunida- ção) abriram a região às relações di-
de nacional. retas com os centros dinâmicos do Su-
deste. A região de Humaitá, especial-
~fais povoado apenas na Região é o mente, irá se beneficiar da posição de
curso do baixo rio Negro, onde o mu- entroncamento rodoviário da BR-319 e
nicípio de Airão teve um crescimento da BR-230, além da ligação rodoviá-
de 21,3~ em sua população. A crise ria que está sendo implantada entre os
econômica que esvaziou as áreas de vales do Madeha e do Purus, que é
coleta do Juruá e do Purus e a proxi- parte da Transama.zônica em direção
midade de ~fanaus com a possibilida- a Benjamim Constant.
de de venda mais fácil da sorva, da
balata, da coquirana e das madeiras Essas novas rodovias forçarão a uma
aí exploradas atraíram algum contin- completa mudança da estrutura eco-
gente populacional•$. Tem·se, tam- nômica extrativista local e, ao mesmo
bém, um início de desenvolvimento da tempo, produzirão uma nova forma de
criação de gado para abate em Ma- organização espacial na área.
naus.
As perspectivas são para uma diversi-
Algumas pequenas áreas na margem ficação mais racional da estrutura eco-
direita do Amazonas também apresen- nômica da Região e o início do pro-
tam maior crescimento da população cesso de formação de um complexo
rural, como no Solimões-Javari a área sub-regional que, através de Rio Bran-
de Benjamin Constant (34,0$), oóde a co e Porto Velho, tenderá a se alinhar
extração, serragem e comercialização -a longo prazo - ao eixo dinâmico
da madeira vem sendo atividade eco- da economia brasileira (São Paulo-Rio
nômica de importância para a região, de Janeiro), em detrimento da atual
com empresas madeireiras que estão posição de dependência em relação a
se instalando nas cidades do vale ama- Manaus e Belém.
zôniC9.
Essa situação de mudança começa a
Nos limites com o Acre, no alto Purus se manifestar, especialmente no Acre
e ~ladeira, a recente construção de ro- que, de modo geral, tem menores per-
dovias ( BR-319 e BR-317) permitiu a das rurais que o Estado do Amazonas.
ligação permanente dessa área com o Já está se dando aí uma substituição
Sudeste, por intermédio de Rio Branco da coleta pela pecuária como conse-
e Porto Velho. Anteriormente, o regi- qüencia da valorização do gado de
me fluvial dos rios com navegação pra- corte com o crescimento dos mercados
ticável apenas na época das chuvas urbanos de consumo e as possibilida-
( nov~mbro-março) fazia com que as des de acesso ao centro-sul que as
comunidades ficassem praticamente novas rodovias proporcionam.

239
No Acre não se verificaram, no últi- A migração de rurais acreanos está
mo decênio, perdas absolutas de po- se dando também para o Amazonas,
pulação rural como ocorreu no Ama- (sobretudo com destino urbano, pos-
zonas, em vastas áreas. O crescimento sivelmente Manaus), para Rondônia e
de sua pópulação rural foi bem supe- para o trabalho em seringais dos paí-
rior ao do vizinho Estado ( 24,7% e ses fronteiriços, especialmente a Bo-
14,~ respectivamente ) . lívia.

Os aumentos maiores estão nos municl- A grande valorização das terras, decor-
pios de Rio Branco ( 63,9%) e de Cru- rente da nova posição da Região em
zeiro do Sul ( 32,8%), onde uma ativi- relação ao sistema de circulação na-
dade agrícola mais desenvolvida, so- cional (de Cr$ 5,00 - 8,00 por hecta-
bretudo em Rio Branco, e destinada ao re há quatro anos para Cr$ 400,00 -
abastecimento desses mercados urba- 500,00 atualmente) levou à intensa es-
peculação e a desequilíbrios sociais.
nos, mantém níveis relativamente ele-
vados de incremento rural. A repercussão da abertura das novas
rodovias, no Acre e em Rondônia, so-
O restante do Território Estadual ca-
bre os movimentos de população ru-
racteriza-se por perdas relativas de ru- ral não pode se refletir com mais
rais, pois os aumentos no decênio fo- força nas estatlsticas demográficas,
ram inferiores ao vegetativo. Essas pois em 1970, época do Censo, esses
perdas foram mais intensas na bacia movimentos de mudança apenas come-
do Purus, em Xapuri ( 1,9% de aumen- çavam. No entanto, as primeiras con-
to rural) e Sena Madureira ( 5,9%) . seqüências da nova organização espa-
cial já podem ser apreciadas através
De modo geral, nos últimos dez anos da análise das estatísticas censitárias.
o endividamento dos seringalistas, pela
queda da produção de borracha na A situação demográfica indicada para
região, levou-os a vender, por preços a Amazônia ocidental, que é de esva-
muito baixos, suas terras a empresários ziamento rural quase geral para toda
do Sul para a implantação de grandes a Região - em algumas áreas chegando
empresas agropecuárias. mesmo a elevados valores de diminui-
ção de população - coloca sérios pro-
Cerca de dois terços dos seringais blemas nos planos de desenvolvimen-
acreanos já foram vendidos, processo to regional. Trata-se de áreas já quase
que vem obrigando os seringueiros e vazias, onde a carência de mão-de-obra
posseiros a abandonarem as terras, fi- chega a afetar a própria atividade de
xando-se nas cidades, sobretudo na ca- coleta, tomando a instabilidade dessa
pital ( 98,9% de crescimento urbano ), atividade ainda maior do que já é por
em Sena Madureira onde se concentra sua própria natureza.
a maior parte dos seringais acreanos
( 73,8% de aumento) e em Cruzeiro do A situação ainda mais se agrava, por-
Sul, pequeno centro de serviços de âm- que o êxodo atinge evidentemente a
bito sub-regional (70,6%) . Essas cida- mão-de-obra mais qualificada, privan-
des, porém, já se encontram com o do a região de seus elementos mais ca-
mercado de trabalho há muito satu- pacitados. A sincrônica acumulação de
rado. rurais nas cidades, sobretudo em Ma-
naus, cidade já de mercado de traba-
Vale lembrar que o aumento relativo lho saturado e de precária infra-estru-
da população urbana do Estado foi, no tura de serviços básicos, toma a con-
decênio considerado, de 78,1%, em juntura demográfica da Amazônia in-
grande parte decorrente do êxodo terior extremamente grave por seus de-
rural . sequilibrios e distorções.
100. 000 habitantes. Estando concen-
5- PADRÕES DA trados nessas duas cidades 56,6$ da
URBANIZAÇÃO população urbana total, infere-se que
E O CRESCIMENTO os escassos 13,7% restantes distribuem-
DAS CIDADES se pelas cidades médias da Região.
Este dado indica a pequena impor-
Como a estrutura de urbanização é de tância das cidades médias na estrutu-
grande importância para planejamen- ra de urbanização regional, segundo
tos de desenvolvimento social e eco- aspecto importante dos padrões regio·
nômico, passamos a indicar, sucinta- nais de urbanização.
mente, os principais padrões da urba-
nização amazônica. As conseqüências da escassez de cida-
des médias são sérias, pois que as po-
Se considerarmos como índice de u,... pulações do meio rural ou de peque-
banização a proporção de habitantes nas localidades fluem diretamente para
concentrados em localidades de 20.000 as grandes cidades, pressionando for-
e mais habitantes em relação à popu- temente o limitado mercado de tra-
lação total, como é usual nos estudos balho com uma mão-de-obra de qua-
de urbanização, temos para a Amazô- lificação inferior. Acrescida à pro-
nia uma taxa de 28,~ em 1970. Esse cura dos benefícios de caráter social,
mdice é bem inferior à média brasi- sobretudo no campo da saúde, tem-se
leira de 36,6$, o que no nível nacio- um agravamento sério dos problemas
nal significa uma concentração de urbanos nesses dois grandes centros
cerca de um terço da população do amazônicos subequipados. Para os no-
Pais em cidades médias e grandes e vos migrantes rurais ou os provenien-
uma concentração muito menor na Re- . tes de pequenas localidades, o contras-
gião Norte. te com o seu antigo habitat e seus pa-
drões de comportamento tradicionais
Outro indicador bastante significativo poderá trazer sérios problemas de
de urbanização é o que revela a con- adaptação e integração, constituindo
centração da população em cidades de este um aspecto muito importante a
20.000 habitantes e mais no conjunto ser considerado nos planos de desen-
do quadro urbano regional. O valor volvimento.
desse indicador foi para a Amazônia,
em 1970, de 70,31, sendo que desse to- Uma terceira característica importan-
tal 56,6$ concentravam-se em Belém e te da estrutura de urbanização regio-
Manaus, cidades de mais de 100. 000 nal - e que é uma extensão da ante-
habitantes. Temos, então, como pri- riormente indicada - é a existência,
meira característica da urbanização nos padrões regionais, de urbanização
amazônica a elevad{ssima concentra· de cidades primazes, tanto a nível re-
ção em duas grandes cidades. gional como no das Unidades Federa-
das da Região. Essa situação decorre
Esses dois indicadores sugerem algu- da alta concentração e expansão das
mas caracterlsticas do povoamento e funções administrativas, comerciais e
da urbanização amazônica: em pri- de serviços, sobretudo em Belém, a
meiro lugar, o índice de urbanização Metrópole Regional, e a nível estadual
relativamente baixo mostra que as for- em cada capital de Estado ou Terri-
mas dispersas de habitat e os peque- tório.
nos aglomerados urbanos têm impor-
tância nos padrões regionais de povoa- Outro aspecto a destacar na estrutura
mento; em segundo lugar, consideran- de urbanização amazônica é a concen-
do-se somente os quadios urbanos, ob- tração do crescimento urbano em Be-
serva-se uma alta concentração de ur- lém e Manaus: 778 habitantes em mil
banos em duas grandes cidades (as dos novos habitantes urbanos do Es-
duas capitais estaduais) de mais de tado do Amazonas estavam em Ma-

241
naus e 523 em mil do aumento urbano naus com 284.118 habitantes. A segun-
do Pará concentrava-se em Belém. da cidade em população no Pará é
Santarém, com 51.123 habitantes, 11
Dos habitantes acrescentados ao qua· vezes menor que Belém e com uma
dro urbano regional. a cidade de Ma- intensidade de crescimento 8 vezes
naus recebeu 198 habitantes e Belém menor, enquanto no Amazonas a se-
319 em mil. Portanto, cerca da meta- gunda cidade em tamanho demográfi-
de dos novos habitantes urbanos do co é Parintins, com 16. 721 habitantes,
decênio 1960-1970 eram somente des- 17 vezes menor que Manaus e com
sas duas cidades. uma força de crescimento menor 16
Porém, enquanto Manaus é para o Es- vezes (47/1.000).
tado do Amazonas o grande e quase O fenômeno da urbanização na Ama-
único foco de atração, Belém se colo- zônia é, portanto, um processo alta-
ca como o grande centro de atração re- mente concentrado em termos espa-
gional, reunindo cerca de um terço ciais ( 60,9$ da população urbana da
dos novos urbanos da Região. Região estão nas capitais dos Estados
A mesma função atrativa tem Rio e Territórios) e dinâmicos ( 62,8$ do
Branco, no Acre, com uma taxa de aumento decenal 1960-1970).
668/1.000 e Macapá, no Território do
Amapá, com 879 em 1. 000, recebendo,
a nível regional, a primeira 27 habitan- 5.1- Tendências da
tes em mil e a segunda 87. Apenas Concentração Urbana
uma cidade não-capital se destaca com
participação regional maior no cresci- A classificação segundo o tamanho das
mento urbano: Santarém, com 42 no- localidades permite avaliar outra di-
vos urbanos em mil, sendo assim o ter- mensão da urbanização: o grau de con-
ceiro foco de atração maior no con- centração urbana ( Tab. 29).
texto regional e superando as capitais
dos Territórios. O primeiro aspecto a destacar, neste
particular, é a tendência decrescente
Vale destacar a enorme diferença da do grau de concentração da população
segunda colocada no crescimento re- urbana regional na. cidade principal
gional, Manaus ( 198$) e a terceira (Belém) . Em 1940 Belém reuniu
Santarém ( 42/1.000) . Enquanto a 46,3$ da população urbana total; em
força de crescimento de Belém é qua- 1950, 44,0$; em 1960, 88,7$ e em 1970,
se o dobro da de Manaus, esta cres- 84,2$. A causa principal dessa tendên-
ceu cinco vezes mais que Santarém. cia foi a grande expansão de Manaus,
A taxa de crescimento médio anual no sobretudo a partir de 1960, juntamente
período 1960-1970 das duas principais com a arrancada do crescimento das
cidades amaz6nicas foi também muito cinco cidades médias 47 dâ Região.
alta: a de Belém foi de 5,9$ e a de Tanto em 1940 como em 1950 havia
Manaus 8,6$, bem superiores à taxa apenas uma cidade com essa categoria
anual de incremento da população da dimensional.
Região, 4,0$.
Estas cidades, que em 1960 concentra-
As duas cidades indicadas têm absolu- vam apenas 5,9$ da população urbana
ta situação de primazia no sistema ur- e eram apenas duas, em 1970 em nú-
bano regional, não só em termos de mero de cinco cidades, tinham 18,6$
concentração do crescimento como dos urbanos. O desenvolvimento recen-
também de tamanho demográfico: -Be- te deste segundo escalão de cidades
lém com 565. 097 habitantes 46 em 1970 significa o início da estruturação de
liderava o sistema urbano amazônico uma rede urbana, na qual além das
do qual é a Metrópole, seguida de Ma- capitais dos Territórios mais desenvol-
População
1,00

REGIÃO NORTE
0,90
RAZÃO DE CONCENTRAÇÃO DE GINI

0,80

1940
0,70
1950
1960
0,60 1970

0,50

0,40

0,30

0,20

0,10

o
OJO 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00
F I G. 11 Cidades

vidos se colocam duas cidades paraen- número e população: de 2 em 1940


ses de maior conteúdo regional, San- são 27 em 1970, com uma participação
tarém e Castanhal, centros sub-regio- relativa na população urbana total
nais. que passou de 3,8$ ( 1940) a 17,51
( 1970).
A este segundo aspec~o acrescenta-se
a progressiva diminuição da importân- A curva de concentração (curva de
cia relativa das muito peguenas cida- Lorenz) ( Fig. 11) construída com as
des (menos de 5. 000 habitantes ) que percentagens acumuladas relativas ao
de um participação de 31,0% em 1940 número de cidades e à população se-
nos quadros urbanos regionais, chega- gundo quatro categorias dimensionais
ram, em 1970, a reunir apenas 12,3$ (até 5.000; 5.000- 20.000; 20.000-
dos urbanos. Embora tenha havido au- 100.000; mais de 100.000 habitantes)
mento absoluto do número de peque- nos quatro últimos Censos, mostra gra-
nas localidades (de 84 a 109), a per- ficamente a evolução indicada. À me-
centagem também diminuiu. Em 1940 dida que a curva se afasta da diagonal
essas pequenas localidades eram 95,4% traçada entre os pontos O e 100 por-
do total e em 1970, 76,2%. cento, a concentração aumenta: se a
curva se confundisse com a diagonal,
.t\s pequenas cidades (5.000 - 20.000 isso equivaleria a urna distribuição uni·
habitantes) estão em crescimento, em forme e, portanto, a iguais incremen-
tos das duas variáveis (número e po- Este fato está relacionado, evidente- cidades, pode-se prever uma acelera- Paralelamente, o ritmo de crescimento
pulação das quatro categorias de ci- m,eote, com a sua alta taxa de cresci- ção no processo de urbanização, com das grandes cidades (mais de 100.000)
dades). mento, que aliás é geral para todas as concentração crescente de pessoas em está se desacelerando (de 56,1$ em
capitais da Região. Considerando~se a cidades carentes de infra-estrutura e 1950/1960 para 40,1$ em 1960/1970),
Observa-se, através das curvas traça- taxa anual de crescimento dos municí~ de limitado mercado de trabalho e enquanto se acelera o crescimento das
das, Que está se dando um aumento da pios das capitais entre 1960 e 1970, a cons~üente agravamento dos proble- cidades pequenas ( 5 . 000 - 20. 000 ha-
concentração da população urbana da Amazônia coloca-se em segundo lugar mas socio-econômicos regionais. O de- bitantes) que passou de 52,~ a 63,5$,
Região. A concentração pod~ ser ex- no Brasil, após o Centro-Oeste, com senvolvimento planificado da Região no período considerado.
pressa através de valores numéricos, um índice de 5,3$, bem superior à mé- necessariamente terá que dar ênfase à
pelo conhecido coeficiente de concen- dia brasileira que foi de 4,4%. ocupação de seus grandes espaços ru- A perda de importância relativa das
tração de Gini •s . rais e à valorização dos seus recursos muito pequenas localidades (menos de
Sabendo-se que a Região Norte não naturais . 5. 000 hal>1tantes ) se relaciona com a
Em 1940 o índice de Gini na Região está em processo dinâmico de desen· diminuição de seu ritmo de crescimen-
era de 0,66; em 1950, 0,70; em 1960, volvimento e que não houve grandes to, de 26,~ a 21,8%.
0,74 e em 1970, 0,78 . Essa progressi- transformações estruturais nessas cida-
va concentração corresponde nos 30
5.2- Crescimento
des que resultassem numa ampliação .Examinand~se a repartiçoo espaciai
anos a uma diminuição das percenta- do mercado de trabalho e maior de-
Urbano das Cidades do crescimento urbano na Região, te-
gens da população urbana nas cidades manda de mã~de-obra, presume-se mos que a maior participação no de-
médias ( 20.000 - 100.000) de 18,8~ que os fluxos migratórios camp~cida­ Outro aspecto importante a ser exami- cênio 1960-1970 coube ao Estado do
em 1940 para 13,6% em 1970, embora de ou de pequenas localidades urba- nado no processo de urbanização é o Pará, com 610,5 habitantes em mil,
esse valor represente um acréscimo em nas estejam se verificando não pela do ritmo de crescimento urbano dos crescimento que foi o dobro do Es-
relação a 1960, Quando era de 5,~ e"' atração das capitais mas por indução grupos dimensionais de cidades, ou das tado do Amazonas ( 254,6 por mil) . O
a uma progressiva concentração nas de a partir das áreas de origem menos cidades individualmente. Acre e os Territórios do Amapá e Ron-
100.000 e mais habitantes, que conti- promissoras. 1!: este o fator de urba- dônia têm crescimentos urbanos se-
nham 56,6% dos habitantes urbanos em Fica evidente pela tabela 30 que, a melhantes, em tomo dos 40/1000
nização corrente nos países em desen-
1970, valor que em 1940 era de 46,4%. volvimento e que está ocorrendo com nível regional, o grupo de cidades mais (Tab. 31).
Conseqüentemente, diminuiu a impor- muita força na Amazônia. A intensi- dinâmico (período 1950-1970) é o das
tância demográfica das muito peque~ dade crescente do crescimento urbano, cidades médias, que de 1950 a 1960 Considerando-se o crescimento das ci-
nas cidades (menos de 5. 000 habitan- muito superior ao da população rural tiveram diminuição de população, pois dades de mais de 2. 000 habitantes e
tes), as quais em 1940 continham 31,~ numa área como a Amazônia - em foi quando se deu a passagem de Ma- sua participação no aumento dos babi-
dos urbanos e em 1970, 12,3$. No en- que a terra é um fatOr extremamente naus para a categoria superior (mais . tantes urbanos da Região destacam-se
tanto, está se verificando um cresci- abundante e onde as perspectivas de de 100.000 habitantes) e que tiveram as seguintes características: ( Fig. 12)
mento relativo da participação das pe- desenvolvimento estão, basicamente, de 1960 a 1970 um incremento rela-
quenas cidades (5.000 - 20.000 habi- no meio rural - não faz muito sen- tivo de 74,6%. Esta constatação é coe- 1 - a importância de Belém como
tantes) como referido anteriormente. grande foco de atração de rnigrantes e
tido. rente com a observação anterior da
de concentração do aumento urbano
Apesar da emergencia das cidades mé- emergência recente na organização no decênio 1960-1970, cabendo só a
dias, a tendência mais significativa do Considerand~se que as medidas go- urbana amazônica desse segundo esca- essa cidade cerca de um terço
processo de urbanização da Amazônia vernamentais atuais, sobretudo no ca- lão de cidadés, o que significa um pr~ (319,2$) dos novos urbanos da Ama-
é ainda a concentração da população so da SUFRAMA, introduzem um im- cesso incipiente de formação de rede zônia. O seu incremento relativo equi-
nas duas principais cidades. portante elemento de aqação para as urbana. para-se à média estadual ( 59,0$) .

Tabela 29 Região Norte


194.0 1950 1960 1970
CATEGOR.IAS ~.· d~ Ci;!adea Pop. p/Catec. Dimen.. K.• de Cüa1ea Pop. r/:'ater. e;mrn, N.• de Cidades Pop. p,ICatec. Dime11.1. N.• de Cidades Pop. p,ICatec. Dim•11.1.
DIMEKSIONAIS
DE CXDADES % % % I c % % % %
Abs. %
-95.-15
--95.45
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Aeumu-
lada
Aba.
I ~o Aemnu-
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lada
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AW 6.000... . ..... 84 110.098 31,00 31,00 811 87,76 120.:.: >7 :!:1,;;.1 82,60 162.845 17,34 17.3. 109 76.22 76.22 186.239 12,27 12,27
T'e 5.001 a 20.000 .... 2 :l,27 97.72 13.568 3.8~ 3-1.82 lO IO,:iO 97,9\i 76 .~78 l-1,!11 17 14,16 96.66 162.039 18,38 35,72 27 18,88 95,10 265 .025 17,47
De 1,0. 98,98 89 .61:.! 17•.;:.! 2 IM 98.33 52.609 29.74
20.001 a 100.000 . ... I 1,14 98.86 66.81>-i 18,8:! 53,1\4 I 5,96 41,68 5
De 100.001 a 1.000. 000 ... 1.14 100.00 1111.673 46.311 I 1,0_ 100.00 2~5 . 2111 44,0:1 .ã 2 1,67 100,00 514.028 ~.32
3,60 98,60 207.026 13,65 43,39

TOTAIS.......
I

88
- -
100,00 355 193 100.00
-100.00
- -9s-1-100.00
- 511.195 100.00 120 100,00 881.421 100,00
100,00 2
143
1,40
100,00
100.00 858. 737 66.!\1 100,00
··········· ' 1.517. 027 100,00

Fontes: Censo Demogrdfico, 1940.


Anudrio Estatístico do Brasil, 19H.
Sinopses Preliminares do Censo Demogrdfico. Brasil, 1960 e 1970.

244 245
Tabela 30 Variação da população das categorias dimensionais de ci&zdes

CATEGORIAS VARIAÇÃO ABSOLUTA VARIAÇÃO RELATIVA


DIMENSIONAIS (%)
DE CIDADES
1950/1000 1960/1970 1950/1960 1960/1970
até 5 .000 .. 32.458 33.394 26,9 21,8
de 5.001 a 20.000 .. 85.761 103 .013 52,0 63,5
de 20.001 a 100 .000 .. 37.103 154.517 - 74,6
de 100.001 a 1 .000.COO .. 288.810 344.709 56,1 40,1

Tabela 31 Variação e participação no aumento Estadual e Regional da popula-


ção das cidades de 2 .000 e mais habitantes

População População Varig,çào Partici- Partici-


Variação Relativa paçào paçAo
da.<J das Absoluta no no
CIDADES Cidades Cidades (1960- (1960-
em em 1970) Aumento Aumento
1960* 1970• 1970) Estadual Regional
(%)
(o/()(I) (%o)
.
Guajará-Mirim ...... . 7. 115 10 .901 3 .786 53,21 127,47 5,68
Porto Velho .. ....... 19.387 41 .635 22.248 114,75 749,11 33,39

RONDONIA ..... ... 30.842 60.541 29.699 96,29 1.000,00 44,58


Brasiléia ... .. . ...... · 1.852 2.742 890 48,05 33,51 1,33
Cruzeiro do Sul ...... 4.807 8.582 3.775 78,53 142,13 5,66
Feijó ....... ......... 1.628 2.178 550 33,78 20,70 0,82
Rio Branco ...... . . .. 17 .245 34.988 17 .743 102,88 668,05 26,63
Sena Madureira . .. ... 1.962 3.442 1.480 75,43 55,72 2,22
Tarauacá .... .... ... 2 .292 3.830 1.538 67,10 57,90 2,30
Xapuri. ..... ........ 2.000 2.029 29 1,45 1,09 0,04

ACRE . ........ . .... 33.998 60.557 26 .559 78,11 1.000,00 39,86


Benjamin Constant. . . 3.224 4.526 1.302 40,38 7,67 1,95
Boca do Acre ..... ... 2.994 3.988 994 33,19 5,86 1,49
Borba ............... 1.304 2.400 1.096 84,04 6,46 1,64
Carauari. ........ . . .. 1.345 2.386 1.041 77,39 6,13 1,56
Coari .. ............ 5.908 8.922 3.014 51,01 17,76 4,52
Codajás .. ..... . ..... 1.505 2.402 897 59,60 5,28 1,34
Eirunepé . ........ .. . 3.023 3.992 969 32,05 5,71 1,45
Fonte Boa ....... .... 1.154 2.024 870 75,38 5,12 1,30
Itacoatiara ......... .. 8.818 15 .944 7 .126 80,81 42,01 10,69
Lábrea ... ... 2.080 3.020 940 45,19 5,54 1,41
Manacapuru ... ...... 2.584 5. 116 2.532 97,98 14,92 3,80
Manaus .. .. . ... ..... 154.040 286 .083 132.043 87,71 778,46 198,21
Manicoré ..... ....... 2.268 2.292 24 1,05 0,14 0,03
Maués .... ... .... . .. 4.161 6 .011 1.850 44,46 10,90 2,77
Novo Aripuanã .. .... 1.116 2.261 1.145 102,59 6,75 1,71
Parintins .. .......... 9.068 17.062 7.994 88,15 47,12 12,00
Tefé . .......... . .... 2 .781 7.300 4 .519 162,49 26,64 6,78
Urucará ... .......... 1.203 2.172 969 80,54 5,71 1,45

AMAZONAS . .... .. 239.659 409 .278 169 .619 70,77 1.000,00 254,62
Boa Vista ... . ....... 11 .785 17 .154 5.369 45,55 1.030,12 8,05
Caracaraí. ...... ..... 932 77!) - 157 -16,84 -30,12 -2,35

RORAIMA ..... .. ... 12.717 17.929 5 .212 40,98 1.000,00 7,82


Abaetetuba ... .. . ... . 11.196 19.456 8.260 73,77 20,31 12,39
Alenque.r . .. .... ..... 7.027 10.923 3.896 55,44 9,58 5,84

246
Tabela 31 (conclusão )

População P opulação Variação Partici- Partici-


Variação Relativa pação paçl!.o
das das Absolu ta no no
CIDADES Cidades Cidades (1960-
(1960- 1970) Aumento Aumento
em em 1970) Estadual Regional
196()- 197()- (%) (o/oo) (o/oo)

Almeirim . .. . ....... 2 .082 3 .384 1.302 62,53 3,20 1,95


Altamira ............ 2 .939 5 .816 2 .877 97,89 7,07 4,31
Ananindeua ... .. . .. .. 1.785 3.132 1.347 75,46 3,31 2,02
Baião . . ..... . ....... 2 .265 2.478 213 9,40 0,52 0,31
Belém .. ..... ....... 359 .988 572.654 212 .666 59,07 522,94 319,24
Bragança . ...... .... . 12 .848 16.755 3.905 30,39 9,60 5,86
Breves . .......... ... 2 .051 4.082 2.031 99,02 4,99 3,04
Cachoeira do Arari. .. 2 .532 3 .390 858 33,88 2,10 1,28
Cametá ...... .. . ... 5 .695 8 .234 2 .539 44,58 6,24 3,81
Caplmêma .... ....... 9 .678 15.792 6 . 114 63,17 15,03 9,17
Capitão Poço . .. ..... - 5.445 - - - 8,17
Castanha!. .......... 9.528 25 , 1\)1 15 .663 164,38 38,51 23,51
Conceição do Araguaia 2 .332 5 .435 3 . 103 133,06 7,63 4,65
Curuçá ... ... . ....... 3.871 4 .494 623 16,09 1,53 0,93
Igarapé-Açu . ........ 4 . 195 4.629 434 10,34 1,06 0,65
Igarapé-Miri .... ..... 2 .591 5.789 3.198 123,42 7,86 4,80
Itaituba .... ......... 1.187 2 .818 1.631 137,40 4,01 2,44
Juruti. ..... . . . ...... 1.868 3.078 1.210 64,77 2,97 1,81
Marabá . ............ 8 .533 14.776 6.243 73,16 15,35 9,37
Maracanã ........... 3. 903 4.669 766 19,62 1,88 1,14
Marapanim ... .. ..... 3 .542 3.740 198 5,59 0,48 0,29
Mocajuba . ....... . .. 1.352 2.367 1.015 75,07 2,49 1,52
Monte Alegre .. . .. ... 3. 911 6.274 2.363 60,41 5,81 3,54
Nove. Timboteue. ..... 1.779 2.035 256 14,39 0,62 0,38
:ehidos .. ... . .. .. . .. 5 .901 8 .856 2. 955 50,07 7,66 4,43
Oriximiná . . .... .. 3 .974 6.887 2.913 73,30 7,16 4,37
Ourém . ............. 2.004 2.947 493 24,60 1,21 0,74
Ponta de Pedras . .. . . 1.907 2.015 108 5,66 0,26 0,16
Portei. . .. . .. . ...... . 1.821 5.711 3.890 213,61 9,56 5,83
Prime.vera . . ... ...... 2. 219 2.285 66 2,97 0,16 0,09
Salinópolis .. . .. .. 4. 101 6.886 2.785 67,91 6,84 4,18
Salve.terra . .. ........ 1.422 2 .69i 1.269 89,24 3,12 1,90
Santa lzabel do Pará 3.769 4.430 661 17,53 1,62 0,99
Se.nta Marie. do Pe.rá - 3. 149 -
27 .741
-
111,30
-68,21 4,72
41,64
Se.nte.rém ... ......... 24.924 52.665
São Caetano de Odi-
velas . .. . ..... ... .. 1.760 2 .685 925 52,55 2,27 1,38
São Miguel do Guamá 2.470 4.006 1.536 62,18 3,77 2,30
Soure .. ........ .. 6.666 9.018 2.352 35,28 5,78 3,53
Tomé-Açu ... ........ 1. 130 2.306 1.176 104,07 2,89 1,76
Tucuruf. . .. . 3.403 5 .673 2.270 66,70 5,58 3,40
Vigia .. ... . .. •..... 7.246 10.309 3.063 42,27 7,53 4,59
Viseu .... .. ......... 1.606 2.416 810 50,43 1,99 1,21

PARÁ .. ...... .. ... 630.672 1.037.340 406.668 64,48 1 .000,00 610,47


Ame.pá . ... • ~ • o •••• 1.591 1.971 380 23,88 13,38 0,57
Calçoene ....... .. ... 798 1.115 317 39,72 11,16 0,47
Me.capá . .. .. .. . . . . 27.585 52.547 24.962 90,49 879,09 37,47
Me.zagl!.o . . . .. 1.485 972 - 513 - 34,55 - 18,06 - 0,77
Oiapoque .... .. ...... 1. 927 827 -1 100 - 57,08 - 38,73 - 1,65

AMAPÁ .... .. ... ... 35 .390 63 .785 28 .395 80,23 1.000,00 42,62

REGIÃO NORTE .. 983 .278 1.649 .430 666 . 152 64,74 - 1.000,00

Fonte: Sinopses Preliminares dos Censos Demor;rdficos, de Rondónia, Acre, Amaz.onas, Ro·
raima, Pard, Amapd, 1960 e 1970.
• - população recenseada.

247
AUMENTO DA POPULAÇÃO URBANA
DAS CiDADES DE 2 000 E MAIS HABS.
1960-1970
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• C.-...C'O"!--Otl'OODIOIMt

Porém, deve ser lembrado que Belém hora a Região se encontre em estágio
está. progressivamente, concentrando incipiente de desenvolvimento de um
menor parcela da população regional, sistema de cidades - pois a rigor não
como mencionado, e este fato possi- se estabeleceu uma hierarquia de cen-
velmente está relacionado com a aber- tros implícitos em um sistema, a qual
tura de novas fronteiras agrícolas no decorre da competição e da interação
Estado ( Guajarina, região do Ara- entre as cidades - pode-se reconhecer
guaia Paraense) que estão drenando a existência de pequenos ou médios
os fluxos migratórios deslocados pela centros que servem áreas circunvizi-
crise agrária da região Bragantina-Sal- nhas mais ou menos extensas e que
gado e que até o fim da década de funcionam basicamente como centros
1940-50 se dirigiam exclusivamente pa- coletores e exportadores dos produtos
ra Belém 60• do setor Primário, sobretudo do extra-
tivismo vegetal. A falta de comunica-
2 - o destaque de Manaus que, como ção, que impede a competição entre
já referido, é o grande e quase único os centros, toma-os aproximadamente
centro de expansão urbana do Estado do mesmo nível e dotados com equi-
do Amazonas (778,5%o). Ao nível re- pamentos urbanos distribuídos de acor-
gional, quase 200 novos urbanos eram do com o volume da população ime-
de Manaus (198.2%o), tendo sido seu diatamente dependente. Reduzidos
crescimento bem superior à média do
contactos de significação econômica
Estado ( 85,71) .
verificam-se entre as localidades urba-
3- o destaque do crescimento das ci- nas, canaliz:...tdo-se todas as relações
dades que têm funções centrais na or- para a Metrópole Regional (Belém) e
ganização urbana da Amazônia. Em- para Manaus, única cidade que pode
ser caracterizada, no incipiente sistema Santarém, escolhida como centro pro-
urbano amazônico, como um centro pulsor regional no Programa de Inte-
regional. Como referido, essas duas gração Nacional (PIN), terá papel re-
cidades concentraram pouco mais da levante no processo de desenvolvimen-
metade do aumento urbano total niJ to da Região, em decorrência basica-
decênio 1960-1970. mente da nova infra-estrutura de trans-
porte: construção da Rodovia Cuiabá-
Das cidades que foram classificadas Santarém (BR-165), ampliação do por-
como centros sub-regionais no estudo to e construção de novas instalações
Divisão do Brasil em Regiões Funcio- para navios de grande calado, e aero-
nais Urbanas, 61 as mais importantes e porto dimensionado para descida de
com maior área de atuação são quase jatos, medidas que possibilitarão a vin-
todas capitais: suas taxas de cresci- culação direta aos centros dinâmicos
mento situam-se na faixa dos 20 a 40 do centro-sul e ao exterior. 0
habitantes em mil e todas superaram
as médias de crescimento urbano das Macapá, Porto Velho e Rio Branco,
Unidades Federadas em que se loca- como centros sub-regionais, têm sua
lizam. área de influência estruturada nos Ter-
ritórios dos quais são capitais.
Do grupo se destaca especialmente
Santarém, com 41,6%o, terceira cidade Das três, Macapá teve a maior parti-
no crescimento urbano na Região. cipação no crescimento urbano regia-
mil ( S7,5%o) e o maior incremento re-
No sistema de cidades que começa a lativo, 90,5~ no decênio 1960-1970. O
se estruturar na Amazônia, Santarém, aglomerado urbano Macapá-Santana
eqüidistante dos dois principais cen- com 52.533 habitantes, agrupando
tros urbanos (Belém e Manaus) tam- 82,3% da população do Território, vem
bém tem posição de realce em re~a~o progressivamente firmando a sua posi-
aos demais centros de mesma categona ção na organização espacial da região,
funcional. ~ o mais importante centro graças basicamente aos seguintes fa-
sub-regional e o de mais vigoroso cres- tores:113
cimento urbano.
1 - ao fato de ser capital administra-
Com 52.665 habitantes em 1970 teve tiva, o que deu lugar ao desenvolvi-
um incremento relativo no decênio mento áe equipamentos terciários de
1960-1970 de 111,3~, bastante superior relativa importância e do setor Gover-
à média estadual ( 64,5~) . Do aumen- no; esse fato gerou volumosos fluxos
to urbano do Pará, Santarém partici- migratórios das zonas rurais e possi-
pou com 68,2%o, taxa muito superior à velmente de outras cidades do Terri-
cidade que se lhe segue, Castanha! tório, pois que Mazagão e Oiapoque
com 38,5%o, também centro sub-re- tiveram, no período cor:-siderado, dimi·
gional. nuição de 84,5% e 57,~ em suas popu-
A. semelhança de outras cidades do lações.
sistema fluvial amazônico, Santarém, 2 - à comercialização do minério de
na confluência do rio Tapajós, está manganês, em função do que aumen-
sendo reposicionada numa região que taram as oportunidades de emprego,
não terá mais seus limites condiciona- fato que acentuou o esvaziamento in-
dos pela rede hidrográfica, em função terior.
da instalação da Rodovia Cuiabá-San·
tarém (BR-165). 3 - à condição de entreposto comer-
cial do Território e da região das Ilhas
A tradição urbana J'á bastante desen- no Pará ( Afuá, Anajás e Breves) .
volvida da cidade avorece o desem-
penhp das novas funções que estão Esses fatores, que estão agindo no sen-
sendo introduzidas na área, as quais tido do fortalecimento da atuação de
trarão maior dinamismo demográfico Macapá em sua área de influência,
ao núcleo urbano e uma reafirinação são os mesmos que estão levando ao
de suas funções regionais. exagerado crescimento urbano, o qual,
no decênio 1960-1970, atingiu um in- bens de consumo para a sua área de
cremento anual de 9,0%. influência que, através de Guajará-Mi-
rim, atingia parte do território bolivia-
Ao mesmo tempo que o êxodo rural no e o centro coletor e exportador dos
vem provocando queda na produção produtos primários extrativos: borra-
agrícola 5•, vai acumulando, na capi- cha e castanha-do-pará.
tal, população de baixa qualificação
profissionaL pt!:a a qual há uma es- A exploração da cassiterita, a constru-
cassa oferta de oportunidades de em· ção da BR-364 (Rodovia Cuiabá-Por·
prego. Paralelamente, não houve am- to Velho) e mais recentemente da
pliação suficiente -dos serviços urbanos BR-319 (Rodovia Manaus-Porto Ve-
de caráter social e de infra-estrutura. lho ) vieram revalorizar a sua posição
O desemprego e a proliferação de pro- geográfica, tomando-a centro de uma
blemas sociais são decorrências da des- área que sofre profundas modificações
controlada expansão do aglomerado econômicas, decorrentes da abertura
urbano Macapá-Santana. de novas frentes de ocupação ( pecuá·
ria, agricultura, madeiras e minerais)
As perspectivas não são promissoras com maciça entrada de migrantes, co-
nesse setor, pois que a permanência da mo referido.
extração e exportação do manganês co-
mo atividade econômica quase única, Os traços de uma nova organização es-
e cujos efeitos no resto da economia pacial já são bem visíveis na área. A
amapaense são muito débeis, e a es- diversificação mais racional da estru-
cassa oferta de oportunidades de em- tura econômica e o processo de forma-
prego, em função da ausência de in~ ção de um complexo sub-regional que
ciativas diversificando o sistema pro- se estende ao sul do Estado do Amazo-
dutivo poderão dificultar o crescimen- nas vai progressivamente integrando
to da renda per capita e agravar os a área aos centros mais dinâmicos da
problemas de desemprego. 55 economia brasileira no centro-sul, em
detrimento da antetior posição de de-
Porto Velho é o terceiro· -centro sub- pendência em relação a Manaus e Be-
regional no crescimento urbano da lém. Todos esses fatores já tornaram
Amazônia e a sua participação foi de Porto Velho a terceira cidade em im·
33,4 novos urbanos em mil. Com portância econômica da Amazônia.
uma população de 41.635 habitantes
em 1970, teve um dos mais altos cres- Rio Branco é o centro sub-re~onal que
cimentos relativos no último decênio, se segue em crescimento urbano com
114,7%. participação de 26,6 novos urbanos em
mil na Região. Com 34.988 habitan-
De uma cidade estagnada e sem pers- tes, em 1970, cerca de metade da po-
pectivas de desenvolvimento até fins pulação urbana do Acre teve, no perío-
da década de 50, pela instabilidade da do 1960-1970, o elevado aumento re-
economia de sua região, apoiada ex- lativo de 102,9%. Não concentra, po-
rém, o aumento urbano no mesmo
clusivamente no extrativismo vegetaL grau que Macapá, pois que no Acre
é atualmente um dos centros urbanos outras cidades tiveram um incremen-
de melhores condições potenciais de to razoáveL sobretudo Cruzeiro do Sul
desenvolvimento, integrando o escalão ( 5,7%), pequeno centro local.
das cidades médias que emergem no
sistema urbano em formação. Rio Branco vem experimentando um
crescimento grande de população des-
Por sua posição - ponto terminal de de o início da década de 60, quando
navegação no Madeira e inicial da Es- da elevação do antigo Território a Es-
trada de Ferro Madeira-Mamoré - tado ( 1962), fato que trouxe efeitos
Porto Velho já tinha uma função mui- benéficos imediatos à cidade. O au-
to bem caracterizada de localidade mento da receita, decorrente da situa-
central. Era o centro redistribuidor de a
ção de capital estadual, gerou cons-

250
trução de obras infra-estruturais, de promissoras de desenvolvimento. Co-
equipamentos sociais e a implantação mo referido, a implantação de grandes
de serviços urbanos. O setor Governo empresas pecuárias já inicia o proces-
transformou-se no grande empregador, so de nova organização espacial na
passando os serviços públicos a se Região.
constituir na principal atividade da po-
pulação. Castanha! é, deste grupo de centros
sub-regionais, o que teve menor cres-
No final da década passada, novos ele- cimento, 23,5 habitantes em mil. Tam·
mentos vieram participar da vida urba- bém do grupo de cidades médias
na, marcando novos rumos para seu
desenvolvimento. Dentre eles se des- ( 25.191 habitantes em 1970) teve um
tacam a construção de pistas para pou- elevadíssimo crescimento relativo no
sos de aeronaves de grande porte, o último decênio, 164,4%.
que dinamizou o tráfego aéreo, e a Castanha} tem uma tradicional função
chegada a Rio Branco das obras de
construção da Rodovia BR-236, princi- de subcentro regional, desde que foi
pal fator de desenvolvimento que, a "ponta de trilhos" da antiga Estrada de
exemplo do que vem ocorrendo em Ferro de Bragança e o centro comer-
Rondônia com a BR-364, tende a mu- cial do conjunto de colônias abertas
dar o eixo de comercialização da re- ao longo dos trechos ferroviários pró-
gião. ximos.
Necessário se toma realçar as mudan- Recentemente, a construção da Rodo-
ças demográficas e a reorientação que via Belém-Brasília veio consolidar a
a economia do setor sul da Amazônia posição que Castanha! ocupa na eco-
ocidental vem sofrendo, desde que a nomia do Estado, do qual é a terceira
estrutura viária deixou de se basear cidade em importância econômica e
nos sistemas fluvial e aéreo, passando demográfica.
a se apoiar em uma malha rodoviária
já em grande parte implantada. lt a sua excelente localização geográ·
fica a responsável por seu grande cres-
Já na década 1950-1960, Rio Branco cimento populacional: é um nó rodo-
tivera grande incremento populacio- viário com estradas para Curuçá-Ma-
nal, em conseqüência do fato da Es- rapanim, Inhangapi, Belém e Capane-
trada Porto Velho-Rio Branco ter-se ma. Não só está havendo um cresci-
tornado carroçável. A melhoria do sis- mento progressivo da população de
tema viário, com a complementação da Castanha! como já se verifica predo-
navegação fluvial, teria sido o pilnci- minância da população urbana no mu-
pal agente das migrações para Rio nicípio ( 68,0%).
Branco no período, tirando-a do isola-
mento geográfico que a exclusiva na- basicamente uma cidade de funções
:1!:
vegação fluvial (Puros-Acre) a vota- terciárias, onde o setor Governo ( ór-
va no período da estiagem. gãos estaduais) emprega 22% do total
da mão-de-obra, como é comum em
Em 1969, quando a Estrada Cuiabá- muitas cidades amazônicas. No entan-
Porto Velho-Rio Branco (BR-364/ to, inicia-se em uma incipiente função
236) passou a ser trafegável durante industrial, com benefícios dos Incenti-
todo o ano, as correntes migratórias vos Fiscais aplicados em duas indús-
recrudesceram, mantendo-se, assim, o trias: uma de produtos alimentícios e
ritmo de crescimento demográfico. outra de derivados de malva. Foi tam-
bém fator de desenvolvimento para a
Essa ligação rodoviária, integrando o cidade a expansão recente da pimen-
Acre ao centro-sul, certamente atuará ta-do-reino na regíão, o que reforçou
no sentido de uma diversificação de a sua função comercial.
sua estrutura produtiva, até agora
apoiada basicamente no sistema extra- Um fator exógeno que contribuiu para
tivo, o que lhe abrirá perspectivas o processo de urbanização nos último~

251 .
anos e que deve ser indicado é a po- pansão, o que resulta em graves pro-
lítica adotada pela administração mu· blemas de desemprego e subemprego.
nicipal: Incentivos Fiscais para criação Os centros dessa categoria no Pará são
de indústrias e incentivos à fixação de Marabá e Capanema, ambos com um
moradores através da venda de terre- crescimento no decênio de 9,4%o e Bra-
nos municipais por taxas mínimas 58 • gança o centro sub-regional menos
atrativo no contexto amazônico. Situa-
Por esses fatores todos, a cidade pas- do como está numa área de depressão
sou a exercer uma força atrativa em demográfica e não revitalizado pelos
relação às populações das áreas pró- programas ~e desenvolvimento da Re-
ximas e apresentou, no último decê- gião, teve uma participação no cres-
nio, a elevada taxa de incremento cimento urbano de apenas 5,9%o.
anual de 16,4%.
Marabá, instalada no Tocantins, na
O grupo constituído pelos centros sub- confluência do Itacaiunas, se desenvol-
regionais menos importantes, com ci- veu como centro de armazenamento e
dades de população em tomo dos transporte da castanha coletada na re-
15.000 habitantes, tiveram também me- gião. Porém, como o comando do sis-
nor crescimento, situando-se na faixa tema de produção da castanha sempre
dos 9 aos 12%o. esteve concentrado em Belém a cidade
permaneceu à margem de qualquer
Os de maior crescimento foram os do beneficio decorrente das atividades ne·
Estado do Amazonas: Parintins com la exercidas.
12,0%o e um crescimento relativo de
88,1% e Itacoatiara com 10,7%o e um S6 recentemente, com a expansão da
incremento relativo de 80,8%, portan- pecuária na região, a cidade vem so-
to, bem superiores à média do cresci- frendo algumas transformações, porém,
mento urbano do Estado ( 70,8%) . Si- ainda, relativamente de pequena con·
tuadas na região de maior desenvolvi- sistência econômica.
mento agropecuário do Amazonas,
essas cidades do vale médio são cen- A sua rígida vinculação ao sistema de
tros de comercializaç.ão da produção cidades da economia fluvial do To-
agricola regional, pequenos centros de cantins já está sendo rompida e a ci-
serviços e centros de industrialização dade reposicionada pela construção da
da juta, principal produto da agricul- Rodovia Transamazônica e da ligação
tura regional . com a Belém-Brasília ( PA-70) .
Foi a expansão da juticultura na re- A sua posição de centro sub-regional
gião o principal fator de atração de será fortalecida com as novas funções
migrantes que, em parte, se fixaram nas
cidades citadas e também em Mana- que virá a desempenhar. As ativida-
capuru ( 3,8%o) . Porém, como o cres- des urbanas já vêm se desenvolvendo,
cimento da população rural desses mu- sobretudo porque a cidade está servin-
nicípios é muito baixo (menos de do de apoio aos trabalhos iniciais do
20,~) deve estar· ocorrendo também programa de mineração do ferro na
um processo ativo de esvaziamento ru- serra dos Carajás, como base de recru-
ral, que deve ser conseqüente à insta- tamento de mão-de-obra e como cen-
bilidade da economia juteira afetada tro de abastecimento de gêneros.
por graves crises .
A sua função regional será certamente
O crescimento que essas cidades vêm reforçada pela escolha como Centro de
experimentando tem sobrecarregado Apoio do Plano de Integração Nacio·
os incipientes serviços de infra-estrutu- nal e também pelo desenvolvimento
ra urbana, ao mesmo tempo que o agropecuário da Região, fortalecido
mercado de trabalho não oferece em- com a ação do INCRA ao longo da
pregos suficientes à população em ex- Transamazônica.

252
Capanema, com 15.792 habitantes em economia paraense ao Estado do Ma-
19'i0, teve no decênio 1960-1970 um ranhão e aos do Nordeste. Essa situa-
crescimento relativo de 63,2$. ~ o ção lhe traz vantagens, seja na indus-
centro de abastecimento da zona mal- trialização de produtos destinados aos
veira da Bragantina e controla a co- Estados vizinhos, como aos produzidos
mercialização da fibra produzida nas para consumo da Região Amazônica. 57
áreas vizinhas. Bragança, outro subcentro da região
Bragantina ( 16 753 habitantes) teve o
Com a implantação do novo sistema menor crescimento demográfico entre
viário, teve sua posição geográfica re- os centros de igual hierarquia ( 5,9%o)
valorizada, tomando-se importante en- e um aumento relativo no decênio
troncamento rodoviário da Rodovia Be- 1960-1970 que praticamente corres-
lém-Bragança ( PA-25) de sentido les- pondeu ao aumento natural ( 30,4%).
te-oeste que substituiu a antiga ferro- Afastada dos novos eixos viários res-
via e da PA-13 de direção norte-sul ponsáveis pelo reposicionamento de
( Saün6polis-Ourém-Capitão Poço); é muitas cidades amazônicas, sobretudo
também a maior cidade paraense nas paraenses, Bragança não tem condi·
proximidades da BR-316 (Rodovia Pa- ções de desenvolvimento. Continua
rá-Maranhão) . como modesto e tradicional centro de
serviços, principalmente no setor edu-
O que determinou seu crescimento re- cação, de uma área agrícola decadente
cente foi a atividade industrial, que se e em esvaziamento, onde as lavouras
iniciou na pequena cidade com a im- de subsistência predominam e as la-
plantacão de uma indústria de cimen- vouras de mercado (apenas 22~ da
to ( Cibrasa em 1962) e o beneficia- área cultivada) têm na malva seu prin-
mento da malva, principal produto cipal produto. :e tipicamente uma
agrfcola da zona, indústrias estas favo- área de emigração, onde os rurais
recidas com Incentivos Fiscais. acumulam-se nas pequenas cidades ou
Realmente, a cidade tem condições migram para as Frentes Pioneiras da
privilegiadas no contexto amazônico Guajarina e para Belém.
para se desenvolver no setor da indus-
trialização, por sua localização na área 4 - Os pequenos centros locais tive-
mais povoada da Amazônia ( região ram crescimento urbano muito diferen-
Bragantina e Cuajarina ). por estar no ciado, o que leva a supor que outros
entroncamento das principais Rodovias fatores Que não os de centralidade ope-
estaduais ( PA-25 e PA-1:3), o que lhe ram nesse nível, favorecendo a expan-
proporciona fácil acesso à Capital do são de alguns deles, enquanto outros
Estado e aos principais municípios da estão quase estagnados. A sua parti·
Região ( Salinópolis-centro balneário- cipação no crescimento urbano regio-
Bragança, CastanhaL Capitão Poço) e nal vai de 1,9%c em Benjamim Cons-
por sua proximidade da Rodovia Pará- tant a 12,4%c em Abaetetuba. A maior
Maranhão que corta o munidpio e lhe parte deles tem um crescimento que
dá acesso aos mercados maranhenses. oscila em torno dos S,O%o .

A produção de cimento local é absor- Com participação no crescimento ur-


vida por mercados do Maranhão, Ama- bano regional acima desse valor si-
pá, parte norte de Goiás, além do pró- tuam-se dois tipos de centros locais:
prio Estado do Pará. Através da Be- aqueles que têm sua posição geográ-
lém-Brasília abastece-se diretamente fica revalorizada, seja com o sistema
no sul goiano e Sudeste. viário em instalação na Amazônia
seja com a expansão de frentes de
O desenvolvimento de Capanema está, ocupação agrfcola, e os situados em
portanto, vinculado à sua posição geo- tradicionais áreas agropecuárias. Os
gráfica e às possibilidades de indus· primeiros crescem juntamente com as
trialização. A sua proximidade da Ro- áreas rurais que lhe são dependentes,
dovia Pará-Maranhão poderá tomá- enquanto os segundos se nutrem das
la cabeça de ponte para integração da áreas rurais que se esvaziam.

25S
No primeiro grupo estão Altamira e Como a maior parte dos projetos pe-
Conceição do Araguaia, e no segundo cuários estão em implantação, fase
Abaetetuba e Cametá, no Baixo Tocan- que demanda mão.:cle-obra nó desma-
tins, e óbidos e Oriximiná no Médio tamento e na formação dos pastos ar-
Amazonas Paraense. Enquanto os pe- tificiais, a atração de migrantes tem si-
quenos centros locais do primeiro gru- do relativamente grande. Parte desses
po têm crescimento urbano acima da migrantes se fixa na cidade à espera
média estadual, os do segundo estão de trabalho nas "agropecuárias" ou
próximos ou abaixo da média. quando delas dispensádos.
Altamira ( 5. 816 habitantes, em 1970) Um grande problema sócio-econômico
com uma participação de 4,3%o no se cria com o tipo de exploração im-
crescimento regional, teve um aumen- plantado na área, pois que se nas fa-
to relativo no decênio de 97,9% . Das ses iniciais de implantação das empre-
cidades previstas como Centros de sas uma parcela significativa de mão-
Apoio do Programa de Integração Na- de-obra é utilizada, na fase propria-
cional, é a que mais rapidamente co- mente de exploração ela é liberada e
meça a desempenhar as funções pla- assim não se promove a efetiva fixa-
nejadas. ção do homem à terra. Essa população
instável concentra-se na periferia da
Pelas condições pedológicas favorá- cidade e, subempregada ou totalmen-
veis, a região próxima a Altamira vem te desempregada, vai acumulando pro-
se constituindo no principal campo de blemas pela total incapacidade do nú-
operação do INCRA. O avanço do pro- cleo urbano de absorvê-los, além de
grama de colonização está se realizan- pressionarem os serviços de infra-es-
do a partir de Altamira, em direção a trutura urbana e social de grande pre-
Itaituba. Ai estão instalados os escri- cariedade.
tórios centrais do INCRA, bem como
de outros órgãos e empresas atuantes Nessas novas áreas do sudeste do Pará
na área. que estão sendo ocupadas quase ex-
Como decorrência de suas novas fun- clusivamente por grandes empresas
ções, a cidade vem sofrendo um pro- pecuárias, cuja prOdução se destina
cesso de "inchação" conseqüente ao toda a mercados externos, deveria se
fluxo migratório que para ela se di- planejar e incentivar iniciativas que di-
rige. versificassem o sistema produtivo, de
modo a garantir um desenvolvimento
Conceição :do Araguaia ( 5. 435 habi- mais efetivo e uma ampliação da ofer-
tantes) pequeno centro local no vale ta de oportunidades de emprego para
do Araguaia vem se desenvolvendo os migrantes que necessariamente atra-
em razão da implantação de projetos em. Desse modo, o crescimento dos
pecuários incentivados pela SUDAM. núcleos urbanos da região correspon·
Teve no último decênio um crescimen- deria a um real desenvolvimento eco-
to relativo de 133,0% e o seu crescimen- nômico e não a um simples processo
to urbano significou uma participação
na Região de 4,6%o. Já na década de de "inchação", fato que vem ocorrendo
50 a cidade tivera um crescimento ex- a muitos dos pequenos aglomerados
pressivo, graças ~ exploração de ga- urbanos da zona de influência da Be-
rimpos e era centro de uma área ba- lém-Brasília.
sicamente de economia extrativa ( cas-
tanha-do-pará e madeiras) . Com a li- Os centros locais das tradicionais
gação rodoviária à Belém-Brasflia, áreas agropecuárias do Médio Amazo-
embora precária, e com a abertura de nas e do Baixo Tocantins têm cresci-
fazendas de criação de gado de em- mento relativo pouco acima do vege-
presários do Sudeste, fato já referido, tativo e estão na faixa dos 8. 000 ha-
está havendo um incipiente processo bitantes, à exceção de Abaetetuba que
de .revitalização da cidade, sobretudo com 19.456 habitantes teve um au-
· no setor comercial. mento relativo de 73,8% e participou
no crescimento regional com 12,4$. de ao fato de ser capital administrativa
novos urbanos. do Território Federal de Roraima .

O crescimento das cidades localiza- Das capitais amazônicas é a de maior


das nessas áreas está se fazendo basi· isolamento geográfico, tendo sua ati-
camente pelo êxodo rural da popula- vidade econômica um caráter sazonal
ção do próprio município ou da re- ligado ao regime de águas do rio
gião: assim no Baixo Tocantins, de Branco: a navegabilidade do rio até
·modo geral, o aumento rural foi infe- Boa Vista só é possível durante os me-
rior a 15ll no decênio 1960-1970, en- ses de maio a novembro, época de
quanto o urbano foi sempre superior maior intercâmbio com Manaus, o
a 60$. Essa transferência dos rurais qual, no período de estiagem, se faz
para os quadros urbanos está se dando por via fluvial somente até Caracaraí,
também no Médio Amazonas, onde o e daí pela BR-174 até Boa Vista.
crescimento urbano sempre superior a
50% se deu em quadros rurais que cres- Essa situação prejudica enormemente
cem no máximo a 20$ (exceto Monte um maior desenvolvimento da cidade,
Alegre) . Nessas áreas tradicionais de a qual tem no setor Governo a base
agricultura tecnicamente rudimentar e de sustentação da economia urbana.
de baixa produtividade, apoiada a
primeira nos cultivos de cana-de-açú- Basicamente em uma cidade adminis-
car e cacau e a segunda na juta e nas trativa, grande parcela da população
lavouras de subsistência, além dos pe- depende direta ou indiretamente do
quenos centros de serviços e comercia· Governo, que é o mais importante em-
lização dos produtos primários terem . pregador e comprador.
seus quadros urbanos em aumento,
também outras pequenas localidades A conclusão das rodovias projetadas
da área têm tido sua população au- para.a Região: BR-174 (Man"us-Cara-
mentada graças ao esvaziamento ru- cas) e BR-401 (Boa Vista-George-
ral. ];: o caso no Baixo Tocantins de town) que farão da cidade entronéa-
Igarapé-Miri com 4,&f. de participa- mento desse sistema viário internacio-
ção no crescimento urbano regional e nal e a construção da Perimetral Nor-
um aumento relativo de 123,~. en- te ( BR-210) deverão acelerar o cresci-
quan~o sua população rural cresceu mento de Boa Vista que, -através delas,
apenas de 9,81 no último decênio; no poderá integrar suas regiões de maior
Médio Amazonas, de Alenquer, rom potencial econômico e manter inter-
5,8%. de participação no aumento re- câmbio com outras cidades do sistema
gional e um incremento relativo de amazônico Gs.
55,~ no último decênio, paralelo ao
baixo crescimento rural ( 12,91) . Outro centro local que se destacou no
crescimento 1960-1970 foi Tefé (7.300
O êxodo rural e a concentração da po· habitantes) que, com um incremento
pulação nas pequenas cidades, quando relativo de 162,5%, foi responsável pelo
não o deslocamento direto pat:a as aumento de 6,8 urbanos em mil. Situa-
grandes cidades - Belém e Manaus - do na confluência do rio Tefé com o
é o aspecto demográfico comum a Solimões, e imediatamente a jusante
das confluências do Juruá e d~ ]apu-
todas as áreas agropecv.áriàs mais anti- rá, a pequena cidade constitui o cen-
gas e estagnadas da Amazônia·. tro de serviços dos muniCípios banha-
dos por esses rios e o alto Solimões.
Na Amazônia ocidental três outros
centros locais se destacaram no cresci- O crescimento da população em geral
mento urbano regional: Boa Vista e especialmente da população em ida-
( 17.154 habitantes) que teve uma de produtiva não é acompanhado por
participação de 8,0% e um aumento uma mínima expansão econômic~ que
relativo de 45,5llo e deve a sua impor- possibilite ocupar essa população, o
tância demográfica, embora reduzida, que leva à situação geral de desempre-
go e subemprego. Sendo o extrativismo Cruzeiro do. Sul é o centro comercial
vegetal a base da economia local, não e financeiro do sistema extrativista,
há realmente perspect:va de desenvol- que se desenvolveu na ' bacia do alto
vimento. Pelo estreito grau de depen- Juruá. };; o centro coletor e exportador
dência entre a economia de Tefé e a da produção extrativa da área que co-
comercialização da castanha prevale- manda, constituída principalmente de
ce grande instabilidade na situação borracha, couros e peles silvestres.
econômica do município, alterando fa-
ses de prosperidade e de depressão, Como o futuro do sistema extrativista
conforme a cotação da safra. está condicionado ao comportamento
da conjuntura econômica da borracha,
Segundo o Relatório Preliminar de De- as perspectivas de desenvolvimento de
senvolvimento Integrado, o poder de Cruzeiro do Sul não são promissoras,
atração de Tefé em relação às locali- a não ser que se promova a diversifi-
dades vizinhas, nos últimos anos, está cação da estrutura econômica da re-
aumentando em decorrência da insta· gião e uma ampliação das ·funções da
lação de uma série de equipamentos cidade.
e serviços (agência do Banco do Bra-
sil, hospital, usina da CELETRA~1A­ 5 - O último aspecto a se destacar no
ZON), o que explicaria o seu cresci- processo de urbanização regional é o
mento populacional expressivo no últi- decorrente da abertura das frentes de
mo decênio. expansão agrária, do desenvolvimento
de novas atividades urbanas e da im-
A projeção que começa a ter como plantação do novo sistema viário, que
centro de serviços mais eficiente tem se tomaram fatores de surgimento ou
sido fortalecida pelo fato de Tefé ter de crescimento de pequenos centros,
sido escolhido no Plano Qüinqüenal que passam a integrar o incipiente sis-
do Governo do Estado, para o período tema amazônico de cidades.
1968-1972, como um dos municípios
prioritários entre os 14 "Pontos de Os dois elementos que compõem um
Apoio e Irradiação" identificados co- sistema de cidades, de um lado o con-
mo áreas básicas de atuação governa- junto de centros que devem sua ori-
mental para o desenvolvimento do in- gem e desenvolvimento a funções es-
terior do Amazonas: esta condição peciais com clemandas locacionais es-
lhe valeu uma série de outras inicia- pecíficas e, de outro, o conjunto de ci-
tivas governamentais. A cidade inicia- dades que devem seu crescimento a
se também numa incipiente atividade funções de localidade central deriva-
industrial, com a instalação de ser- das de demanda regional, aparecem
rarias, que é o ramo que apresenta no sistema amazônico em suas fases
perspectivas mais concretas de desen- primárias de desenvolvimento em de-
volvimento, como cJecorrência da polí- corrência da atuação dos fatores aci-
tica governamental de condicionar a ma mencionados.
· exportação de madeiras em toras à im-
plantação progressiva de projetos in- Pequenos centros de funções especiais
dustriais 00 • e daí com localização relacionada a
demandas específicas estão se desen-
Cruzeiro do Sul ( 8. 582 habitantes), volvendo quer na "região de Belém"
no Acre, é outro centro local de cres- (zona Bragantina-Salgado) quer na
cimento expressivo na Amazônia oci- foz e vale âo Amazonas, principal ar-
dental. téria de circulação na região.. Dentre
os primeiros salienta-se Salinópolis
Sua participação no crescimento urba- (6.886 habitantes) que, com um incre-
no regional foi de 5,7~ com um in- mento relativo de er/,9$ e uma partici-
cremento relativo no último decênio pação no crescimento urbano regional
de 78,5!. Formando um sistema com- de 4,2 urbanos em mil, é o centro bal-
pletamente independente da influên· neário da população belenense e Vi-
cia econômica da capital do Estado, gia ( 10.309 habitantes) principal

256
centro pesqueiro do Pará, que teve ção da população, sobretudo dos ele-
um aumento relativo de 42,M; e parti- mentos jovens, que normalmente mi-
cipou no incremento regional com 4,6 gram para Manaus. Os pequenos cen-
novos urbanos, apesar da atividade tros urbanos do Solimões, que se ini-
pesqueira· ser, ainda, marcadamente ciam nessa atividade de extração e fu.
artesanal. A metropolização de Belém dustrialização de madeira, tiveram au-
está criando áreas de lazer próximas à mentos urbanos superiores ao vegeta-
cidade, destacando-se nessa função as tivo: Coari ( 8. 922 habitantes) com
praias de Salinópolis e daí o incre- 51,0% de incremento relativo e partici-
mento de sua popUlação. pação em 4,5 novos urbanos da Re-
gião; Tefé, já referido, com 162,5% de
Uma atividade industrial em franca aumento e Benjamim Constant com
expansão atualmente, sobretudo na 40,4%. Os baixos incrementos rurais
Amazônia ocidental, é a madeireira, dos próprios municípios devem signi-
que vem em parte substituindo a ex- ficar uma migração rural-urbana para
ploração da borracha como base da a sede.
economia primária exportadora de vá-
rios municípios do Solimões-Javari. Na região das Ilhas da foz do Amazo-
Essa atividade extrativa vem se desen- nas a industrialização da madeira tem
volvendo, principalmente em decor- sido, também, o principal fator de cres-
rência do funcionamento da Zona cimento de Portei ( 5. 711 habitantes),
Franca de Manaus e dos favores fis- 5,8. novos urbanos da Região e o ele-
cais concedidos com isenção de im- vado incremento relativo de 213,6% e
postos, de acordo com legislação apli- de Breves ( 4. 082 habitantes), 3,0 no-
cada à Amazônia ocidental. vos urbanos da Região e incremento
relativo de 99,0% no decênio, decor-
A influência da Zona Franca ( 1967) rendo estes crescimentos basicamente
na exportação de madeiras está se dan- do esvaziamento rural da região.
do em conseqüência da disponibilida·
de de navios com capacidade ociosa Um segundo aspecto refere-se às no-
de carga de retorno, e da criação de vas cidades que estão se estruturando
uma infra-estrutura administrativa vol- no sistema amazônico como pequenos
tada para o comércio exterior, que vie- lugares centrais nas áreas de expansão
ram estimular a produção de madeiras das frentes de ocupação agrária. Den-
cujo mercado internacional atravessa tre elas se destacam Capitão Poço e
fase de expansão. Tomé-Açu nas novas zónas agrícolas
do Pará, abertas na bacia superior do
A proibição de exportação de madei- Guamá e na bacia do Acará.
ras em toras pelo Conselho Nacionai
de Comércio Exterior em 1969 e junta- Capitão Poço ( 5. 445 habitantes) con-
mente ·com os Incentivos Fiscais, vem tribuiu com 8,2% pessoas em mil dos
propiciando a instalação de serrarias e novos urbanos da Região Amazônica. f:
fábricas de laminados e compensados o centro de comercialização e expor-
em antigas pequenas cidades do vale tação da malva, cujo cultivo na bacia
do Solimões, com posição estratégica do Guamá, como referido, permitiu o
para o recebimento de matéria-prima. rompimento do esquema da economia
O desenvolvimento dessa atividade, no de subsistência, com pequenos possei-
entanto, ainda não veio mudar a situa- ros produzindo a fibra para a indús-
ção do homem rural, pois persistem as tria nacional.
instituições do barracão e do aviamen-
to, embora reforcem a função urbana Um fator que vem, de certa forma, en-
e representem um modesto alargamen- travando o maior desenvolvimento de
to das possibilidades de emprego nas Capitão Poço nas suas funções cen-
pequenas cidades do vale. Essa nova trais é sua relativa proximidade de
atividade urbana talvez venha provo- Belém. A capital funciona como um
cando, senão uma atração de novos ha- pólo de atração e mesmo um sinal de
bitantes, pelo menos uma certa reten- promoção social para os administra-

9157
dores, os comerciantes e as pessoas de nas áreas rurais, as quais compelem os
situação sócio-econômica mais eleva- migrantes a desejar a vida nas cidades.
da, que tendem a possuir residência No entanto, como ficou evidente, tam-
fixa em Belém, para onde transferem a bém, a interação de fatores nesse pro-
família. Esse fato transfere para a ca- cesso é mais complexa que a simples
pital uma parcela significativa de in- atuação de uma força de expulsão no
teresses, dificultando com isso o pro- sentido campo-cidade.
cesso de urbanização de Capitão Poço,
que passa a ter o caráter dominante de Os planos de desenvolvimento - a ní-
local de trabalho, em detrimento da vel estadual e regional - e o Plano
expansão das atividades sociais, cul- . Rodoviário Nacional introduziram um
turais e educacionais . 80 importante elemento exógeno dentro
da situação do quadro amaz6nico, no
Tomé-Açu (2.306 habitantes) com um sentido de acelerar o processo de urba-
aumento relativo de 104,0% no último nização. Esse processo é positivo
decênio é o centro da área de cultivo quando significa um real desenvolvi-
de pimenta-do-reino desenvolvida por mento das cidades com a ampliação
colonos japoneses no vale do Acará- e a implantação de novas atividades
Miri. urbanas, que alargam a oferta de opor-
tunidades de trabalho, promovem o
Finalmente, em Rondônia, outra ,cida- aumento da renda individual e dão,
de vem se desenvolvendo em suas fun- através de uma eficiente infra-estru-
ções de centro de serviços, graças ao tura urbana e social, melhores condi-
novo sistema viário instalado no terri- ções de vida aos habitantes.
tório: é a cidade de Guajará-Mirim
( 10.901 habitantes) que, com um in- Porém, não é essa a situação prevale-
cremento relativo de 53,2$ no último cente na maior parte dos núcleos ur-
decênio, contribuiu com 5,7 em mil banos amaz6nicos, onde a precarieda-
novos habitantes urbanos da Região. de e insuficiência da infra-estrutura
O desenvolvimento da cidade, em sua básica de serviços urbanos e um mer-
função central, vem se dando desde a cado de trabalho já saturado e sem
abertura da BR-819, que a liga a Abu- perspectivas de ampliação, a curto ou
nã e daí a Porto Velho e ao Acre. a médio prazos, criam graves desequi-
h'brios e distorções no processo de-
O setor Terciário é o mais importante mográfico da Região.
em Guajará-Mirim, sobretudo o comér-
cio, funcionando a cidade como entre-
posto comercial entre o centro-sul bra-
sileiro e parte do norte boliviano. 6- PERSPECTIVAS
Essa função, que já existia com a Fer- E PROBLEMAS
rovia Madeira- Mamoré, está sendo
muito reforçada com a ligação rodo- DEMOGRÁFICOS
...
viária. .DA REGIAO
A cidade está se firmando como pe-
queno pólo comercial de uma área de A análise procedida do processo demo-
influência bem definida, dentro do gráfico, na Amazônia, destacando as
complexo sub-regional de Porto Velho. principais características demográfi-
cas, os aspectos mais significativos da
Nessa análise sobre os padrões da ur- evolução e da distribuição da popula-
banização na Amazônia e a aprecia- ção, da dinâmica da população rural
ção do crescimento individual das ci- e dos padrões de urbanização regional,
dades de mais importância no sistema o conliecimento suscinto dos movimen·
urbano da Região, fica evidente que o tos migratórios intra e inter-regionais
processo de urbanização de grande for- que vêm operando uma redistribuição
ça que vem acontecendo é basicamen- dos recursos humanos e a ocupação e
te resultado da expulsão de habitantes, valorização de novos espaços, mostrou
decorrente de condições deterioradas a estreita correlação, em suas peculia-

258
ridades, com o quadro espacial e co- Amazônia vem tendo como uma de
loca alguns problemas que serão aqui suas diretrizes a ocupação territorial
sumariamente indicados. Concomitan- através de dois programas principais.
temente serão abordadas as perspect:i- O mais antigo, o Programa de Integra-
yas e tendências mais significantes da ção Nacional (PIN) de 1970, dentro
problem&tica populacional da Região, da diretriz de expansão da fronteira
sobretudo aquelas decorrentes das es- agrícola com incorporação de novas
tratégias governamentais em processo áreas às atividades produtivas, opera
de execução, ou que serão implanta- através da abertura de Rodovias de
das dentro do 11 Plano Nacional de Integração Nacional e da colonização
Desenvolvimento. ( Fig. 13). ao longo dessas rodovias. O outro,
muito recente, o POLAMAZONIA
1 - A desproporção espaço-população . ( 1974) preconiza a criação de pólos
coloca os mais graves problemas quan- agropecuários e agrominerais na Re-
to às possibilidades de desenvolvimen- gião, que deverão se tomar núcleos
to regional. As muito baixas densida- propulsores do desenvolvimento.
des regionais de população, a extrema
dispersão e a grande irregularidade de Dentro do Programa de Integração
· distribuição dos habitantes rurais, a Nacional coube ao Instituto Nacional
alta concentração dos urbanos em al- de Colonização e Reforma Agrária
gumas . poucas cidades, levam a uma ( INCRA) implantar os projetos de co-
organização espacial da ocupação hu- lonização oficial ao longo das Rodovias
mana que reflete o sistema econômico Transamazônica e Cuiabá-Santarém.
incipiente, com baixo grau de utiliza- Como medida complementar ao PIN,
ção dos recursos naturais e de grande o Governo Federal, em 1971, declarou
primitivismo de processos proáutivos, indispensáveis à segurança e ao de-
a falta de integração interna do siste- senvolvimento nacionais as terras de-
ma econômico e a debilidade desse volutas situadas na faixa de cem qui-
sistema, baseado em atividades prim&- lômetros de largura em cada margem
rias não-dinlmicas, responsáveis pela das rodovias amazônicas construfdas,
relativa estagnação do meio rural. em construção ou projetadas, integran-
tes do Plano Rodoviário Nacional e do
Desse modo, as atividades produtivas Fundo de Integração Nacional, ao lon-
regionais não são capazes, J>Or si só, de go das quais se prevê a implantação de
impulsionarem o avanço das frontei- programas de colonização. A área to-
ras de povoamento, através dos imen- tal a ser desenvolvida constituiria uma
sos espaços vazios da Região. superfície de cerca de dois milhões de
81
Coloca-se, assim, a carência de efetivo quilômetros quadrados •
humano para a ocupação territorial e
a escassez de mão-de-obra para a ex- Concomitantemente, a colonização par·
. pansão e o revigoramento das ativida- ticular foi prevista pelo Estatuto02
oo
des de produção como uma das maio- Terra e sua regulamentação , como
res dificuldades encontradas na pro- complementar à ação do Governo e o
PIN admite a participação da iniciati-
moção do desenvolvimento regional. va privada não só nos próprios empre-
Acrescentam-se a isso a baixa qualifi- endimentos oficiais como mediante o
cação dessa mão-de.obra e as prec&rias estabelecimento de incentivos para
condições de vida resultantes do pró- projetos privados de colonização nas
prio sistema, que qiam condições mui- duas rodovias citadas.
to difíceis ao acesso a formas e rela-
ções de produção mais modernas e di- O programa especial de crédito rural
nâmicas. do PROTERRA (Programa de Redis-
tribuição de Terras e de Estímulo à
Considerando a extrema escassez dos Agroindústria do Norte e do Nordes-
quadros demogr&.ficos regionais e a te) previu financiamentos através do
imensidão dos espaços vazios, a polí- Banco da Amazônia e do Banco do
tica econômica governamental para a Brasil para atender a programas de re-

259
distribuição de terras e projetos de co· "terra firme" e todas as suas implica-
Ionização particular. ções ecológico-econômicas, ainda ~
prematura. O que se tem de real nesse
As empresas privadas de colonização novo quadro e que já vinha se esbo-
vêm recebendo, ainda, outros incenti· çando com a implantação da Belém-
vos de natureza técnica, administrati- Brasllia é uma mudança na clássica
va e tributária por intermédio do padronagem de configuração linear do
INCRA. Com essas medidas vem se povoamento e, portanto, do aproveita-
verificando um afluxo crescente de em- mento de recursos com uma posição
presas privadas interessadas em parti- ribeirinha da população. Na quase to-
cipar do processo de colonização na talidade da Amazônia, tanto a popu-
Transamazônica e na Cuiabá-Santa- lação rural extrativista pouco se afas-
rém no trecho mato-grossense. tou dos rios que davam acesso às
áreas de extração e eram os meios de
A primeira experiência de colonização escoamento dos produtos de coleta,
oficial dirigida às margens da Transa- quanto os agricultores, que nas suas
mazônica está sendo o Projeto Inte· atividades agropastoris pela distribui-
grado de Colonização de Altamira. ção geográfica dos solos cultiváveis
Este projeto se propõe a ocupar uma ( várz~as) ficaram sempre vinculados
área aproximada de 350. 000 hectares, à rede hidrográfica. Também ordena-
cobrindo uma faixa de 20 a 24 quilô- das pelas ribeiras fluviais estão as ci-
metros de largura, ao longo de 150 qui- dades que, na sua maior parte, têm,
lômetros da Rodovia Transama.zônica ainda, função de entrepostos de comer-
no trecho Altamira-Itaituba. cialização ou centros de convergência
O projeto prevê a instalação de agro- dos produtos primários.
vilas, as menores unidades urbanas es-
sencialmente residenciais para ruríco- O caráter ribeirinho das atividades
las, de agrópolis, pequenos centros ur- agropastoris amazônicas está também
banos agroindustrais e administrati- sendo atingido como padrão dominan-
vos e de rur6polis, que serão os cen- te de distribuição população-ativida-
tros principais da grande comunidade des por outra variável de caráter exó-
rural constituída por agrópolis e agro- geno, os Incentivos Fiscais que, aplica-
vilas. O projeto Altamira compreende dos predominantemente em projetos
60 agrovilas, 6 agrópolis e 2. 973 lotes pecuários e agropecuários de grande
rurais ea. porte em empresas modernas, vin-
culam-se basicamente ao novo sistema
Além do "sistema de agrovilas" - ca- viário.
racterizado pelo fato cfe os "parcelei-
ros" residirem em núcleos urbanos e se Esse instrumento governamental tam-
deslocarem para trabalhar em lotes ru- bém está contribuindo para a atração
rais - desenvolve-se o ''sistema de nú- de correntes imigratórias extra-regio-
cleos urbanos de apoio", pelo qual os nais e para a valorização de espaços
"parceleiros" residem e trabalham nos vazios, como referido, sobretudo no
próprios lotes rurais . leste e sudeste do Pará.

Até fins de 1972 estavam instalados em Estruturam-se, assim, graças a medi-


Altamira 1. 554 "parceleiros", sendo das de política econômica, novos pa-
63$, colonos selecionados no Nordeste. drões espaciais de repartição da popu·
A implantação do projeto foi realizada Jação amazônica, como decorrência das
no período 1972/1974. novas relações espaço-população-pro-
cessos produtivos e inicia-se, com rela-
A avaliação dos resultados desta po- tivo dinamismo, a ocupação e incorpo-
Utica de colonização dirigida que in- ração de novas áreas ao espaço econô-
troduz uma nova variável no espaço mico brasileiro.
econômico amazônico - o povoamen-
to e a ocupação condicionados por ro- Após a implantação dos eixos de pene-
dovias - com o aproveitamento da tração rodoviária, das experiências de

200
colonização oficial dirij~ida, da exe- ferro ( 18 bilhões de toneladas) pela
cução de grande número de projetos Amazônia Mineração S/ A. - AMZA,
agropecuários, industriais e agroindus- que já inicia os trabalhos de prospec-
triais pela atividade empresarial bene- ção e onde se incentivará também o de-
ficiária dos mecanismos de Incentivos senvolvimento da pecuária.
Fiscais e financeiros e da prospecção
dos recursos naturais por sensoreamen- III - Araguaia-Tocantins que só em
to remoto, realizados através da exe- parte do .t'ará está dentro da clássica
cução do Programa de Integração Na- Região Norte, e compreende o Pontal
cional, nova estratégia governamental de Goiás, constituindo-se em área de
de ocupação econômica se estrutura. influência das Rodovias Transamazôni-
.,. Considerando a imensa extensão da ca e Belém-Brasília. O plano global
Amazônia, a limitação dos recursos de aproveitamento que vem sendo
materiais e humanos ainda disponíveis elaborado abrangerá a colonização,
e o atual conhecimento das grandes pecuária, exploração de minério~ e ge-
potencialidades de algumas regiões, a ração de energia, criando pólos agro-
nova estratégia orienta-se no sentido industriais.
de um processo de ocupação ordena-
do e seletivo, concentrando-se a ação IV - Trombetas, na re~ião de influên-
do Governo Federal em áreas prioritá- cia da Rodovia Perimetral Norte, onde
rias, capazes de nuclear forças propul- se desenvolve um programa de apro-
soras do desenvolvimento. veitamento de recursos minerais, prin-
cipalmente de bauxita, através do Pro-
Repetindo o modelo resultante de um jeto Trombetas, a cargo da Mineração
processo seletivo que destacou áreas Rio Norte, associação de empresas com
que, por sua posição geográfica e po- participação da Companhia Vale do
tencialidades, concentraram esponta- Rio Doce. Paralelamente, será incen-
neamente a atividade econômica e a tivado o desenvolvimento da fruticultu-
população em espaços limitados da r~ e da rizicultura.
imensa Região Amazônica, o Governo
Federal, em setembro de 1974, criou V - Altamira, onde ao lado do proces-
o Programa de Pólos Agropecuários e so de colonização desenvolvido pelo
Agrominerais da Amazônia POLAMA- INCRA - ao longo da Rodovia Tran-
ZONIA. samazônica - serão criadas condições
para ampliação da fronteira agrícola,
Inicialmente foi feita a seleção de 15 através da iniciativa privada, devendo
áreas, em função de suas potenciali- o Programa atrair e orientar esses in-
dades, com o objetivo de promover sua vestimentos, visando ·ao desenvolvi-
ocupação e seu desenvolvimento inte- mento da pecuária e de culturas sele-
grados. cionadas (café, pimenta-do-reino, ca-
cau e cana-de-açúcar) .
Dentro do âmbito da Região Norte
clássica encontram-se 12 áreas:R4 VI - Rondônia, onde a região priori-
tária abrange cerca de metade da área
I - Xingu·Araguaia, situada no sul do do Território e o Programa prevê o
Pará e nordeste de Mato Grosso, onde .' reforço da infra-estrutura econômico-
se desenvolvem grandes projetos pe- social e o estímulo e ordenação do pro-
cuários nas á,reas de influências das
Rodovias Brasília-Manaus (BR-080), cesso de ocupação efetiva da região,
partes da BR-158 (Barra do Garças- através de atividades empresariais vi-
São Félix do Xingu) e da BR-242 sando à expansão da lavoura cafeeira
(Barreiras-São F€lix), visando o de- .e à implantação de lavouras cacauei-
senvolvimento da pecuária de corte e ras, além da expansão da mineração da
a industrialização da carne bovina em cassiterita.
Suiá-Miçu ( MT).
VII - Acre, onde a região selecionada
II - Carajás, onde deverão ser explora- para o Programa estende-se ao longo
das as grandes jazidas de minério de da Rodovia Rio Branco-Cruzeiro do

261
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\'"""""----~ DISTRIBUIÇÃO DA POPUL_AÇÃO
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\ 1970

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l._ r POPULAÇÃO URBANA

CIDADES COM MAIS DE 20.000


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HABITANTES~
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5. 000
1 . 500
10.000
20 000
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RONDÔNIA 20 000 o 50 000
1- Porto Velho
ACRE
l-Rio Btonco
o 50 000 o 100 000

AMAZONAS
1-Monous
8 100 000 o 200.000

200 000 o 350. 000

o
PAR-'
l-Selim
2-costonllol
3-Sontorim

o
350 000 o 500 000
AMAPÁ
1-Mocopó F IG. 13
500. 000 o 750 000

POPULAÇÃO RURAL
Oro por Célio Oiooo Alves Codo Ponto vale 1 000 hQ!)s.
Sul ( BR-236), abrangendo os princi- XII - Marajó, onde o programa pre-
pais centros urbanos do Estado e as tende a revitalização da pecuária e o
principais áreas de concentração de aproveitamento florestal, inclusive da
seringais e de produção da borracha. borracha natural.
A criação do Programa de Estímulo à
Produção de Borracha Vegetal, a car- O POLAMAZôNIA está sendo imple-
go da SUDHEVEA, permitirá a revita- mentado pelo Ministério do Interior,
lização, em bases racionais, da princi- principalmente através da SUDAM,
pal atividade econômica do Estado, da SUDECO, e do Banco da Amazô-
além do desenvolvimento da pecuária nia (BÀSA).
e da atividade madeireira na área.
Este programa, concentrando os inves-
VIII - ]uruá-Solimões é uma área timentos e os estímulos para aplicação
identificada pelo projeto RADAM co- somente em determinadas áreas, em
mo uma das concentrações florestais posição geográfica, a maior parte delas
mais expressivas da Amazônia, pres- permitindo relações diretas com os
tando-se para o aproveitamento madei- centros dinâmicos do Sudeste, e sufi-
reiro em bases econômicas. Coari, Tefé cientemente dispersas pelo espaço
e Eirunepé serão os núcleos urbanos amar:ônico poderá, realmente, resultar
de apoio para o desenvolvimento da na ocupação produtiva desses espaços
área. · e tomá-los focos de atração tanto para
IX - Roraima, onde a área considera- a população rural regional, que está
da prioritária, com vistas à ação gover- se acumulando nos núcleos urbanos,
namental, compreende a porção do ter- quanto para populações provenientes
ritório situada a oeste do rio Branco de outras áreas do País.
e ao norte do rio Catrimani e o Pro-
grama prevê a execução de programa- 2 - Os grandes contrastes regionais de
ção orientada para o desenvolvimento . povoamento, que resultam de uma dis-
da pecuária bovina e suína e sua in- tribuição física da população muito
dustrialização, objetivando-se à expor- desigual, não só entre as duas porções
ta.ção para a Venezuela e outros mer- da Região, a Amazônia ocidental e a
cados externos, através do Porto Livre oriental, como a nível de pequenas
de Georgetown. áreas ou municípios, é outro aspecto
espacial a destacar. No Estado do Pa-
X - Tapajós, pólo que compreende a rá, por exemplo, às Microrregiões do
área de influência da Transamazônica Salgado e da Bragantina, com 2.'3,08 e
e da Cuiabá-Santarém, que se entron- 20,50 habitantes por quilômetro qua-
cam em ltaituba. A energia elétrica drado, respectivamente, se opõem os
proveniente da Usina de Curuá-Una vazios demográficos representados
será de importância para dinamizar os pelas densidades das regiões do Tapa-
núcleos urbanos regionais, principal- jós ( 0,11) e do Xingu ( 0,07) .
mente Santarém, propiciando o desen-
volvimento das atividades agroindus- No Amapá os 18,22 habitantes por
triais e a exploração racional do calcá- quilômetro quadrado de Macápá se
rio e sal-gema existentes na área. In- opõem aos 0,27 de Amapá-Oiapoque.
vestimentos privados deverão comple- No Estado do Amazonas os contrastes
mentar o esforço de colonização ofi- se atenuam, por ser a Amazônia oci-
cial dirigida aí, já em implantação. dental bem menos povoada, mas mes-
XI - Amapá, onde a área prioritária mo assim se tem diferenças significa-
para a· ação governamental e estímulo tivas quando se compara a região do
à iniciativa privada está sob influência Médio Amazonas, com 2.91 habitantes
da Rodovia Perimetral Norte, da Rodo- por quilômetro quadrado, com o vazio
via BR-156 ( Macapá-Fronteira da da bacia do rio Negro, com 0,10 ha-
Guiana Francésa) e da Estrada de bitantes .
Ferro do Amapá. Planeja-se a implan-
tação de pólos agropecuários e indus- Sob a influência das condições ecoló-
triais. gicas, da evolução econômica, das con-

264
dições de acessibilidade operou-se, e rotineiros, e pelas dificuldades de
dessa forma, um processo seletivo es- escoamento e comercialização das sa-
pontâneo de ocupação demográfica e fras, pela deficiência dos meios de
econômica, que favoreceu determina- transportes e pelo tradicional sistema
das áreas geográficas . de comercialização. Essa situação dá à
população rural uma grande instabili·
A concentração da população está evi- dade, que mais se agrava nas áreas de
dente, também, nos percentuais de extração da borracha pelo baixo nível
área e população seguintes: no Estado das condições de vida do seringueiro,
do Pará cerca de dois terços da popu- relacionado à própria estrutura de eco-
lação ( 68,4%) se concentram em Be- nomia extrativista. Um agravamento da
lém, na sua antiga região (Salgado, situação está levando ao abandono dos
Bragantina, Baixo Tocantins) e nas seringais, com reflexo no nível de pro-
novas regiões da Guajarina e Tomé- dução das safras das unidades produ-
Açu, que representam apenas 11,0% da toras e na dinâmica populacional, com
área do Estado. No Estado do Amazo- diminuições de habitantes rurais, es·
nas também é evidente a alta concen- pecialmente em áreas do Solimões, do
tração populacional, com 61.~ da po- Juruá, do Purus e do Madeira, como
pulação concentrados no Médio Ama- referido no presente estudo .
zonas, em 12,9% da área estadual.
:e evidente que o processo de esvazia-
A política governamental do POLA- mento rural indicado não se coaduna
MAZONIA a ser implementada, pela com a política governamental de
condição de focos de atração popula- ocupação dos vazios demográficos da
cional a médio prazo em que necessa- Amazônia.
riamente se tornarão as áreas seleciona-
das, certamente repetirá este modelo 4 - A dominância do grupo etário
de concentração espacial. Porém, con- jovem ( 58,5% da PÇ>pulação com me-
sideradas a imensa extensão da Amazô- nos de 20 anos) o qual vem aumen-
nia, a limitação dos recursos humanos tando a sua participação na população
e materiais disponíveis e o interesse regional, constitui característica demo-
econômico no aproveitamento de re- gráfica típica da ~egião em desenvol-
cursos naturais já conhecidos em al- vimento. A exagerada juventude demo-
gumas das áreas indicadas, parece ser gráfica da população representa grande
essa a política de ocupação econômica encargo de ordem econômica e social:
mais racional na atualidade. Deve- assistir sanitária e educacionalmente e
se destacar, no entanto, que a relativa alimentar um tão grande contingente
dispersão das áreas selecionadas é um de inativos agrava os problemas de
aspecto positivo dessa nova estratégia. uma região subpovoada e subdesenvol-
vida como é a Amazônia.
Necessário se torna, entretanto, ressal-
tar que desequilíbrios de repartição 5 - O desequilíbrio no crescimento da
populacional podem resultar em pro- população, com a acentuação do cres-
blemas sérios, senão de caráter econô- cimento diferencial urbano-rural, vem
mico, pelo menos de ordem social. aumentando progressivamente a pro-
porção dos habitantes urbanos e a sua
3 - Estagnação e decadência demo- concentração em áreas restritas do ter-
gráficas de áreas rurais tradicionais, ritório, ao mesmo tempo que se tor-
alimentadoras ou de áreas de povoa- na mais lento o incremento rural. Essa
mento dinâmico ou dos núcleos urba- situação reflete a importância dos flu-
nos, cria graves distorções no proces- xos migratórios de caráter urbano
so demográfico regional. Se a primei- (fluxos urbano-urbano e rural-urba-
ra situação tem sido comum a muitas no), situação paradoxal num espaço
Regiões Brasileiras em processo de po- geográfico, caracterizado por grandes
voamento, aqui ela se agrava pelos pro- vazios demográficos e onde a terra é

265
o capital abundante. As políticas go- as grandes cidades, pode criar sérios
vernamentais de colonização dirigida problemas de adaptação e integração
ao longo das novas rodovias implanta- desses migrantes ao meio urbano, pelo
das e a do POLAMAZONIA a ser im· enorme contraste com seu antigo ha-
plementada, certamente resultarão num bitat e seus padrões tradicionais de
incremento de correntes migratórias comportamento. De outro, essa mão·
inter-regionais rurais e numa reativa- de-obra de muito baixa qualificação,
ção da dinâmica rural interna. pressionando fortemente o limitado
mercado de trabalho urbano, agrava a
Essa condição é, sem dúvida, de gran- situação regional de desemprego e
de importância para um maior desen- subemprego.
volvimento das atividades agropastoris As políticas econômicas governamen-
e daí maior incremento na produção tais de desenvolvimento regional, a ní-
de culturas alimentares, necessárias ao vel estadual ou regional, concentrando
abastecimento interno, o que constitui sua atuação sob a forma de dotações
uma das principais deficiências no de- de capital social básico e de Incentivos
sempenho do setor rural da economia Fiscais e financeiros nos principais cen-
amazônica. tros urbanos, tem contribuído para
uma concentração espacial do cresci-
A tendencia ao crescimento acelera- mento urbano, nesses centros, com um
do da população urbana regional, com esvaziamento dos municípios interio-
o aumento da população consumidora ranos.
e o muito lento incremento da popu-
lação rural agrícola, pode levar a uma Desse modo, no processo demográfico
acentuação da incapacidade da agri- da Região, no que respeita ao progres-
cultura regional suprir, em maior me- sivo crescimento dos quadros urbanos
dida, as necessidades de abastecimen- .e sua concentração nas duas cidades
to alimentar da Região. ( 517 habitantes de mil novos urbanos
no período 1960/70) indicam debili-
6 - Hipertrofia da população urbana dades da or~anização urbana regional,
é uma situação não normal em áreas em conseqüencia das quais fica pro-
de predomínio de atividades primárias fundamente comprometida a atuação
e em processo de ocupação. dos núcleos urbanos amazônicos quer
na sua função de proporcionar os ser-
Em relação aos padrões de urbaniza- viços necessários ao desenvolvimento
ção regional, como indicad<2 no estu- das atividades rurais quer de agi-
rem na função de
do, verifica-se não só a concentração zação ou de irradiação centros de dinami-
da expansão da
de mais da metade da população tuba- economia para as áreas periféricas. Na
na em apenas duas cidades: Belém e realidade, as políticas governamentais
Manaus, como a importância demo- até agora aplicadas à Amazônia não
gráfica reduzidíssima da categoria de têm conseguido atenuar ·o intensivo
cidades médias, resultam num extremo proce-sso de urbanização e, de certa
desequilíbrio da organização urbana forma, têm mesmo contribuído para
regional. incrementá-lo.
A situação de maior importância dos Das considerações feitas a respeito dos
fluxos intra-regionais interurbanos e principais aspectos da geografia da
rurais-urbanos que representaram, no população da Região Norte destaca-se
último decênio, 55,2$ do total e a não a necessidade de uma estreita vincula-
existência de uma categoria de cida- ção entre política demográfica e polí-
des médias, poderão resultar em gra- tica de desenvolvimento, pois se um
ves problemas de caráter sócio-econô- dos grandes problemas da Região é o
mico. De um lado, o fato das popula- populacional, este deverá constituir
ções rurais ou de muito pequenas lo- um dos principais itens das politicas de
calidades migrarem diretamente para ocupação produtiva da Amazônia.
NOTAS DE REFER~NCIAS

1 Para fim de planejamento econômico a Amazônia brasileira compreende os Estados do


Amazonas, Paroi e Acre e os Territórios Federais do Amap.t, Roraima e Rondônia e ainda
parte do Território de Mato Grosso, ao norte do paralelo de 16o, de Goiú, ao norte do
paralelo de 13° e do Maranhão, a oeste do meridiano de 440 (Leis n.• 1.806 de 6/1/1955
e n.0 5.175 de 27fl0fl966}. Esta .trea, aproximadamente de 5 milhões de quilômetros qua·
drados (quase 60% do Território Nacional), a qual se convencionou chamar de Amazônia Legal.
constitui o 1mbito de atuação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM), órgão do Ministério do Interior. A oirea abrangida por este estudo corresponde
apenas à cl:bsica Macrorregiio Norte.

2 Benchi.mol, Samuel. Estudo Geo·Social e Econdmico da Amazdnia, 2.o vol. Manaua. Edi·
tora do Governo do Estado do Amazonas, 1966.

8 Lacerda de Melo, Múio. O Estado do Amazonas: bases para uma política de colonizaçlo.
(Mimeo), p. ll .

t Benchimol, S. op. cit.

11 Tupiassu, Amilcar Alves. O processo demográfico da Amaz~nia. Belém . Instituto de De·


senvolvimento EconOmico·Social do Pari. (Mimeo), 198.

e Os valores das taxas intrúuecas de crescimento referidas neste capitulo são de José Alberto
Magno de Carvalho e apresentadas na tese-, Analyris o/ regional trends in fertility, mortalíty
and migration in Brazil, 1910·1970, p. 112. O autor a conceitua como a taxa de crescimento
de uma população estável, definida por uma dada função de fecundidade e mortalidade. Na
falta de dad~ com relação às taXas de crescimento vegetativo na Região Norte utilizamos a
referida taxa como um indicador do aumento natural.

1 Com o objetivo de reduzir as desigualdades inter-regionais o Governo Federal estendeu l


Amazônia os beneficios fiscais concedidos ao Nordeste. A Operação Amazônica institucionalizou
o sistema através da Lei n.o 5.174 de 1966. Foi facultado por esse diploma legal a toda pessoa
jurídica do País deduzir até 50% de seu imposto de renda para aplicação em projetos consi·
derados de· interesse ao deaenvolvimento da Amazônia pela SUDAM. O mecaniuno criado
tem suprido parcialmente a necessidade do fator d.e produção que a Região mais carece, o
capital.

8 Em 1966 a SPVEA se transformou em Superintendência para o Desenvolvimento da Ama·


zõnia (SUDAM) repetindo o modelo da SUDENE.
11 Consideramos como indice de mobilidade estHJcial a soma dos migrantes internos, imigrao·
tes e emigrantes (no período 1960·1970) em proporçlo com a população total residente em
1970.

1o Entendemos por grau de urbaniUJÇilo a porcentagem da população urbana na população


total de um Estado ou Região .

11 As percentagens de renda foram calcula.das segundo dados publicados em Conjuntura Eco·


ndmica, n .o 9, 1971. Centro de Contas Nacl.onais IBRE - FGV, a preços de 1970 .

12 Diagnóstico Econômico Preliminar das áreas urbanas do Acre, Amapá, Roraima e Ron-
dônia. Belém. Dep. de Estudos Econômicos, Banco da Amazônia, 1969 .

18 Oliveira, Francisco de; Reichstul, H. P. Mudanças na Divisão Inter-regional do Trabalho


no Brasil . Estudos CEBRAP 4, 1975.

H ibidem, p. 159.

15 ibidem, p. 14().

t& Proporção dos emigrantes, imigrantes e migrantes intra·regionais em relação à população


da Região em 1970 .
11 Proporção de migrantes intra-regionais em relação à população total e proporção de
emigrantes mais imignntes (migrantes inter·regionais) em relação à população total. Tod01
os índices f<>t'am calculados pelo conceito de mignnte segundo o local de nascimento. Tam·
bém as avaliações comparativas de migrantes em 1940. 1950 e 1970 utilizam c.-sse crit~rio.

18 :->o total estão incluídos os migrantes dentro do próprio Estado, as entradas e as saídas
inter·estaduais dentro da Região :->orte.

19 Proporção de emigrantes. imigrantes e migrantes internos em relação à população total


de 1970 (conceito lugar de nascimento) .

20 Mata, Milton da: Carvalho, Eduardo Werneck R. de: Castro e Silva, Maria Thereza L I.
de. Migrações Internas no Brasil. Rio de Janeiro. IPEA. INPES, 1975 .

21 Conceito de migra me segundo residência anterior.

22 A SUDE:'\E até fim de 1971 aprovara 24 projetos não·industriais no Maranhão e todos fo.
ram projetos pecuários (informação do Escritório da SUDI.XE em São Luis) .

23 Velho, Otávio Guilherme. Frent~s d~ expans6o e estrutura agrária. Rio de Janeiro. Zahar
Editores, 1972 .

24 Os dados de população migrante com até 10 anos de residência utilizados nesta parte do
estudo são os das apurações especiais efetuadas para as Tabulações Avançadas do Censo De·
mográfico de 1970. \'erifica·se um pequeno aumento da população migrante em relação aos
dados definitivos do Censo - 383 .17(1 migrantes neste e 399.787 nas Tabulações. com uma
diferença para mais de 4.2%. .Essa diferenç-a n!lo invalida as conclusões gerais deste subca·
pitulo.

~ Tavares, Vânia Porto; Considera, Cláudio M.: e Castro e Silva, M. Thereza I. I. de,
Coloniza~ão dirigida no Brasil. Rio de Janeiro. IPEA/ 1:->PES. 1972.

28 Dias, Catharina V. Une région sous·peuplée; J'Amazonie Brésiliense. tiniversité de Stras·


bourg, 1963.

27 Penteado, A. Rocha . B~Um - Estudo de Geografia Urbana, 2 vol. Belém. Universidade


Federal do Pará, 1968.

28 Deve·se considerar que nos totais de migrantes de cada período não está sendo considerada
a mortalidade. Apesar disso, as comparações de evolu~lio entre os fluxos de diversas proced~n·
cias são válidas.

29 Vai verde, Orlando e Dias, Catharina V. A rodovia Btlém-Brasflia. Rio de Janeiro. Insti·
tu to Brasileiro de Geografia . Fundação IBGE, 1967 .

ao Ibidem.

81 Velho. Otávio Guilherme, op. cit.

82 ibidem.

aa Ibidem.

84 Instituto Nacional de COlonização e Reforma Agrária. A Colonização no Brasil: situação


atual, projeções e tendências em Rondônia. Rio de Janeiro, 1972.

85 Valverde, Orlando e Dias, Catharina V., op. cit.

38 Relatório Preliminar de Desenvolvimento Integrado de Almeirim. Belém. SI.RFHAU, 1970.

87 A PA·28, rodovia que fará a ligação Almeirim-Faro em direçao paralela ao rio Amazonas,
já está construída entre Prainha-Monte Alegre e óbidos.

ss Atlas do Amapá. ·Rio de Janeiro. Instituto Regional de Desenvolvimento do Amapá, 1966.

39 ibidem.

40 ibidem.

268
41 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. A Colonização no Brasil: situação
atual, projeções e tend~ncias em Rondônia. Rio de Janeiro, 19?2.

42 Dias, Catharina V., op. cit.

43 Relatório Preliminar de Desenvolvimento Integrado, Município de Novo Aripuanlt


SUDAM, 1970.

H Relatório Preliminar de Oe$envolvimento Integrado, Município de São Gabriel da Cachoei·


ra. SERFHAU, 1970.

4:1 Dias, Catharina V., op. cit.

46 População residente. Sinopse Preliminar do Censo Demogrdjico, 1970.

n Castanha!, Macapá, Porto Velho, Rio Branco e Santarém.

48 A fórmula utilbada para o cálculo do coeficiente foi a seguinte: C =1 - 1 ~ 1 (Pi +


+ Pi - 1) (Ci - Ci - I) , onde Pi representa frações acumuladas da população urbana
e Ci frações acumuladas do número de cidades.

49 No período 1950·1960 houve grande diminuição da população urbana concentrada nas


cidades médias pela passagem de Manaus para a categoria dime.nsional de grande cidade
(100.000 e mais habitantes) .

60 Valverde, Orlando e Dias, Catharina V., op. cit.

151 Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas. Rio de Janeiro. Instituto Brasileiro de
Geografia. Fundação IBGE, 1972.

62 Planejamento urbano e local e o desenvolvimento das faixas pioneiras. Brasília.


SERFHAU. 1972.

58 Diagnóstico Económico Prelimina'f das Áreas U'fbanas do Acre, Amapd, Roraima e Rondó·
nia. Belém. Dep. de Estudos Econômicos. Banco da Amazônia, 1969.

M Atlas do Amapá, op. cit.

6:1 Diagnóstico Económico Prelimina1' das tlreas Urbanas do Acre, lf.mapd, Roraima e Rotl·
dónia, op. cit.

118 Relatório Preliminar de Desenvolvimento Integrado, Castanha[. Rio de Janeiro. SERFHAU,


1970.

$1 Relatório Prelimina1' de Desenvolvimento Integrado, Capanema. Rio de Janeiro. SERFHAU,


1970 .

:18Plano de Desenvolvimento Urbano, Roraima. vol. I. Centro de Desenvolvimento Urbano.


Fundação João Pinheiro, 1973.

39 Relatório Preliminar de Desenvolvimento Integrado, Benjamin Constant. Rio de Janeiro.


SERFHAU, 1970.

60 Relatório Preliminar de Desenvolvimento Integrado, Capitão Poço. Rio de Janeiro.


SERFHAU, 1970.

81 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Sistemas e programas de coloniza.


ção na Amazônia Brasileira. Belém, 1972.

6.2 Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964 .

63 ibidem.

64 Secretaria de Planejamento. Programa Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia


(Polamaz6nia). Brasília, 1974.

269
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Castanha/ (PA), Conceição do Araguaia (PA) Coari (AM), Guajard·Mirim (RO), H11·
maitd (AM), ltacoatiara (AM), Novo Aripuanã (AM), Parintins (AM), Rio Branco (A C),
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22. TUPIASSU, Amilcar Alves. O Processo demogrdfico da Amaz6nia. Belém, Instituto de


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2!1 VALVERDE, Orlando & DIAS, Catharina V. A Rodovia Belém-Bras/lia. Rio de Janeiro,
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24 . VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de expansão e estrutura agrdria. Rio de Janeiro,


Zahar Editores, 1972. 178 p .• il.

271
INTRODUÇÃO

A infra-estrutura de transportes da
Região Norte caracteriza-se como in-
suficiente e precária, refletindo o
baixo grau de desenvolvimento regio-
nal. Essas características são resultan-
tes de fatores exógenos e endógenos
aos próprios sistemas de transportes.
Entre os primeiros fatores notam-se:
a participação ínfima da renda inter-
na bruta regional à global brasileira,
- participação essa que, em 1968, foi
de 2% (Cr$ 1. 631.126 para Cr$ .....
78.280.944) segundo a Fundação
Getulio Vargas e o IBGE, decorrente
da predominância da economia colo-
nial, apoiada nas exportações dt: maté-
rias-primas oriundas do extrativismo,
as quais encontram uo comércio exter-
no seu principal mercado. e na impor·
tação de bens; a dificuldade da po-
pulação da Região de domínio e uti-
lização econômica do quadro natural,
em razão de seu reduzido efetivo de
3.602.171 habitantes em relação à imen-
TRANSPORTES sidão de sua área, 3.581.180 km2,
contribuindo, respectivamente, com 3 e
MYRIAM GUIOMAR GOMES COELHO 42% dos totais orasileiros, segundo o
MESQUITA Censo de 1970; o longo período em
que permaneceu a Região, com es-
cassas aplicações de recursos para co-
nhecimentos científicos, técnicos e eco-
nômicos à altura dos exigidos, dado a
complexidade do quadro natural, em-
bora, recentemente o Governo Federal,
reconhecendo a necessidade de melhor
aproveitamento do potencial econô-
mico, tenha investido de modo maciço,
principalmente nas pesquisas minerais.
Entre os fatores endógenos, salien-
tam-se: o pouco conhecimento, ou
mesmo desconhecimento das limita-
ções e condicionamento do espaço na-
tural aos sistemas de transportes e de
comunicação; a reduzida mão-de-obra
ocupada no setor transportes, armaze-
nagem e comunicações, cujo montante,
pelo Recenseamento de 1970, era de
36.591 pessoas, o que equivale a 41
do total da população ocupada em
todos os setores da economia regional;
a grande dominância do sistema hidro-
viário de percursos longos, com frota

273
obsoleta, embora esta venha se reno- pecilhos atravessando inclusive divi-
vando recentemente; a falta de insta· sores de águas. O sistema aeroviário
)ações portuárias; a pequena participa- desempenha importante papel nos
ção do sistema rodovário, apesar de transportes de passageiros, particular-
vir-se expandindo atualmente em ritmo mente entre as maiores cidades nas
acelerado, em virtude da política de áreas mais afastadas da calha do
transportes do Governo Federal, pos- Amazonas, nas mal servidas por hidro·
suindo, em 1970, a Amazônia apenas vias e nestas é importante, ainda hoje,
21.260 km de rodovias e participando o transporte de carga. (Tab. 1).
com 2$ dos 1.039.779 km referentes
à extensão total brasileira; a ínfima
Tabela 1 Transporte lntra-Regional
.contribuição do sistema ferroviário,
de Passageiros
cuja extensão total das linhas da
Região é de 312 km, participando com %sobre
ViA e Ano N.o
'1.$ dos 32.054 km do global do País, de o total
acordo com o Anuário Estatístico de
1972. Hidrovia 1971 ...... 60 .676 16,2
Aerovia· 1970 . ... . . . 318 .676 83,8
Todos esses fatores concorreram para TOTAL .... 379 .352 100,0
a permanância de relacionamentos
frágeis entre os núcJeos urbanos da Re- Fonte: Superintendência Nacional de Mari-
gião t! o isolamento desta, no passado, nha Mercante e Departamento de Aerondu·
com outras Regiões brasileiras, parti- tica Civil.
cularmente com as mais desenvolvi-
das, como o Sudeste e Sul.
1.1 - Hidrovias

1 -REPARTIÇÃO ESPACIAL As hidrovias constituem os canais


mais difusos, de maior penetrabilidade
E COMPLEMENTAR DAS no interior da Amazônia e sua utili-
VIAS E CANAIS zação é tradicional. O fato de a grande
artéria Amazonas-Solimões ser possui·
Dado a grande predominância das dora de vasta rede de afluentes e de
hidrovias na Amazônia, as outras vias atravessar a Região no sentido leste-
têm o caráter de complementação, oeste, vinculando à Amazônia brasi-
particularmente nas áreas em que a na- leira a de outros países, principalmente
a do Peru e da Bolívia, muito contri·
vegação é extremamente difícil e onde
buiu para a dominância dessas vias. A
a mesma só é possibilitada durante esse fato outros se associam: o ex-
uma parte do ano. As ferrovias, que no tenso litoral com 1.839 km, parecia fa-
passado possuíram alguma importân- vorecer, .até o final do século XIX, não
cia, além da finalidade de ligar área só o acostamento dos navios em certos
produtora de matéria-prima a um trechos como a penetração dos mes-
porto fluvial para a movimentação de mos para o interior, utilizando um
grandes volumes de mercadorias, ti- braço do Amazonas ou um dos inúme·
veram, também, o objetivo de unir ros furos de seu baixo curso; o predo-
dois trechos navegáveis de um rio, se- mínio quase absoluto "da densa e in-
parados por cachoeiras, em áreas de trincada floresta equatorial; a posição
produção economicamente rentável geográfica da Região ao norte do País
para o comércio mundial. As rodovias atravessada pelo círculo equatorial, não
construídas recentemente, as que estão constituindo passagem obrigatória
em construção e que são objeto de para outra Região brasileira e estando
política prioritária do Governo Fede- relativamente menos afastada dos
ral, têm seus percursos nos trechos em grandes mercados do comércio
que a navegação fluvial encontra em- mundial.

274
1.1.1 • Infra· Regionais servem ao interior, a vanaçao dos
níveis das águas entre cheia e vazante
Possuidora de litoral recortado de atinge, muitas vezes, aproximadamente
"rias", na parte oriental, estuários e nu- 15 m. A constante modificação do
merosas ilhas do arquipélago de Ma- fundo sedimentar e conseqüente alte-
rajó, interligadas através de uma rede ração da linha do canal navegável, o
alto índice de sinuosidade e a ocorrên-
emaranhada de "furos" na foz do Ama-
cia de cachoeiras e corredeiras, origi-
zonas, mais retilíneo, para o norte, no nam navegação compartimentada, que
Território do Amapá e contando com necessita de vários transbordos. De
a mais extensa rede fluvial navegável modo geral, sem tráfego noturno, esses
de todo o País, são nessas hidrovias condicionamentos e limitações concor-
que se apóiam a navegação fluvial, a rem para a freqüência muito reduzida
de cabotagem e de longo curso. aos portos localizados fora da calha do
Amazonas. Para se ter uma idéia das
Embora constituam, até hoje, as prin- limitações e condicionamentos à nave-
cipais vias de acesso e delas dependa a gação, basta verificar que dos 19.938,
grande maioria da movimentação de km de vias navegáveis da Região, só
carga, essas . vias naturais são despro- 9 . 042 km ( 45%) são de tráfego livre
vidas quase totalmente de obras que o ano todo, incluindo-se entre os
visem ao melhoramento da navegabili- mesmos: vários trecho:t sem navegação
dade e não contribuem, portanto, para noturna; os que necessitam de um
dinamizar os transportes. transbordo em Manaus, durante a va-
zante, para mudança de calado e o re-
Nas vias Htorâneas que articulam o li- ferente ao rio Amazonas, que participa
toral do Salgado e o oriental de Marajó com 19% dos 45% (sendo sua extensão
com o grande porto de Belém, o ama- em território brasileiro de 3.739 km).
paense com os de Santana e de Ma- Segue-se o percentual de 24%, nos .aflu-
capá, onde dominam ainda os relacio- entes do Amazonas, com o total de
namentos com ilhas e núcleos urbanos 4.741 km referentes às partes que,
situados ao norte de Marajó, a nave- apesar de serem consideradas trafegá-
gação está prejudicada pelo assorea- veis nas águas baixas, requerem, geral-
mento. O litoral do Amapá é revestido mente, nesta ocasião dois ou mais
de siriubais e manguezais, que formam transbordos. Os restantes 6.155 km,
um cinturão, desde o norte da cidade com a percentagem de 31% cabem às
de Macapá até Ponta dos lndios, situa- vias navegáveis somente durante a
da um pouco além da foz do Oiapoque. cheia.
O litoral paraense só permite acesso
livre a emoarcações pequenas. a vela ou O . baixo nível das águas atingido du-
a motor de popa-, em decorrência da rante a vazante, cuja duração varia de
forte sedimentação com material remo- 3 a 5 meses, isola grandes áreas. Em-
vido das falésias pela erosão marinha. bora a vazante acentuada ocorra em
Por essas razões tanto os portos lito- quase todos os afluentes, sua ação é
râneos do Amapá como os do Pará, mais grave nos da margem direita, na
localizam-se a montante da foz, em lu- parte sudoeste, onde o platô Terciário
gares atingidos pela preamar, para cobre área muito superior a dos ter-
aproveitar a vantagem da inversão da renos cristalinos e é portanto livre de
corrente fluvial pelas vagas da maré. cachoeiras. Rios como o Purus,
A influência das marés penetra para o Branco, Iaco e Juruá, Tarauacá e o
interior da bacia, atinge o baixo curso Envira, com mais de 3.000 e 4.000 km
do Tocantins e Xingu, porém sua ação navegáveis, não incluídas partes tra-
não condiciona a navegação de modo fegáveis só na enchente, possuem, res·
semelhante à do Htoral. ( Fig. 1). pectivamente, 1.415 e 727 km de nave-
gação livre, desde Manaus; 1.426 e
Nas vias fluviais, de importância pri· 3.315 com dois transbordos, realizados
mordia}, porque são, na realidade, em Lábrea e Boca do Acre no primei-
salvo raras exceções, as únicas que ro, em Carauari e Eirunepé no último.

275
Para montante das cidades de Rio
Branco, Sena Madureira, Feijó, Ta-
rauacá e Cruzeiro do Sul, a circulação REGIÃO NORTE
é condicionada ao período de enchente VIAS DE TRANSPORTE - 19 73
constituindo essas cidades pontos ter-
minais da navegação permanente, em SISTEMA ROOO ~ FLU V IAL • 19 73
virtude do baixo calado permitido na
vazante, como se vê na tabela 2.

Tabela 2
WBOGOTA • ··

Calado
Rios Trechos (mj f

Purus U.brea - B. do Acre .. 0,90


11
B. do Acre - R. Branco 0,50 OOCAPI~
11
Rio Branro - Xapuri. 0,30
" Xapuri - Brasiléio. 0,10
Juruá. Carauari - Eirunepê 1,50
" Eirunepê - C. do Sul. 0,70

A vazante dos rios do sudoeste da Re-


gião é tão forte que até o rio Madeira,
conhecido como o afluente de melhor
navegabilidade, pois conta com exten-
são aproximada de 1.000 km de trá-
fego, com um transbordo, no auge da
vazante o calado máximo admissível é
de 2 m, enquanto que na enchente o P/9RASÍLIA
mesmo ultrapassa 7 m. Seu afluente
Mamoré-Guaporé é a única via de
ligação entre a cidade de Guajará-
Mirim e aglomerados de Príncipe da
Beira, Pedras Negras e até recente-
mente também da cidade de Mato
Grosso. Dos 1.034 km navegáveis, só
382 são de tráfego perene, situados
entre Guajará-Mirim e Príncipe da
Hobitonlto por Kml tm 1970
Beira, suportando calado de 0.90 m na
vazante, entre os meses de julho a se- VIAS - d• 0,4 c::::J 11e 5,0 a 6,4 c::::J
tembro. Em Príncipe da Beira o calado ~ 0,0 o 1.4 c::::J dt 6,6 o 14 ,O c::::J
CONSTRUioA
FEDERAIS EM CONSTRUÇAO de 1 ,5 a 2,9 c::::J
nas águas baixas é de 0,60 m e diminui, { PLANEJADA
progressivamente, à medida que se
sobe o rio. Durante a estação chuvosa
ROOOV1AS {
ESTADUAIS
f
CONSTRUfOA
~-•A

--
-
EMCONST~ 1 S CAETAHO DE
a navegação ainda encontra empeci- 2 Cl.fiUCÁ

---
FERROVIAS 3 MARAI'ANlM
lhos, em razão do rápido e violento es- fLUVIAIS
CACHOEIRAS E CORREOElRAS
4 SALINáFous
5 VIGIA
coamento dos tributários que descem LOCALIDADES SERVIDAS POR
6 MARACANA
7 MAGALHÂES BARATA
dos contrafortes andinos, das chapadas HIDfJOVIAS o F I G. 1 8 COLARES
9 S ANTONio 00 TAUI(

=
dos Pacaás Novos e Parecis, carregados TRA"FEGO LIVRE
• COM TRANSOOROO NA VAZANTE iil
10 S FRAN.CISOO DO PARÁ
11 IGARAPE-.ACU
de sedimentos. Suas águas inundam a LOCAL DE TRANSBORDO T 12 SANTARÉM NOVO ~-----2~~~--~_j

~ ~~t~~RfA ~ =~l !
planície Holocênica, sobre a qual corre TRÁFEGO DEPENOENTE DA MARÉ ALTA ll
• SCf NA CHEIA !11
o rio principal descrevendo amplos LOCALIDADES SERVIDAS POR :
1S S ISABEL 00 FWUí 23 BWA RU , 29 S. DOtoCINGOS 00 CAPIM
meandros e formando lagos temporá- ~~:JA$ RODO· HIOROVIÁRIA ~ ~~X~~~ PAR/( 24 INHANGAPI 50 IRITOIA
• ROOO • FERROVUIRIA 19 NOVA TIMBOTEUA 2~ S MIGUEL DO GUAMA: 31 CAPITAo ~
rios junto às embocaduras dos aflu- LOCAUOAOES ISOLADAS
entes. Isso dificulta muito o acesso à

276
linha do canal navegável, que só é águas altas há possibilidade de se
encontrada por práticos conhecedores chegar até Boa Vista através de um
do rio. braço de rio chamado de furo do
Cujubim; na vazante a comunicação só
Nos afluentes da margem esquerda, a é feita hoje por estrada de rodagem
ocorrência de cachoeiras e corredeiras,que acompanha o trecho encachoei-
em conseqüência da maior aproxima- rado. Embora até Caracaraí esse rio
ção dos planaltos cristalinos à calha seja considerado de tráfego perma-
Amazônica, condiciona a navegabili- nente, na vazante, cuja duração é
dade a áreas reduzidas no Estado do aproximadamente de 5 meses, o ca-
Amazonas, no Território de Roraima e lado permitido não pode ultrapassar
impede a mesma no Pará. Os rios Içá 0,60 m. As limitações à navegabilidade
e Japurá, únicos que correm no platô durante a vazante, neste trecho da
Terciário, só são trafegados nas águas Região, privam de ligações área de
altas; o Negro, de comprimento supe- 342.894 km 2 que corresponde a 22%
rior a 1.000 km em território brasi- da superfície do Amazonas (de
leiro, conta aproximadamente com 1.560.327 km 2 ) e isolam totalmente
770 km navegáveis da foz até Ilha 164.418 km 2, isto é, 10% da mesma.
Grande, e tem seu limite de navegação
permanente na boca do Branco, Quanto aos rios da margem direita do
junto à localidade de Carvoeiro, situa- Amazonas, que correm no Pará, as
da a 172 km da sua foz. A partir daí, partes navegáveis restringem-se a pe-
a circulação só é possível quando o quenos trechos do Tapajós e Xingu.
rio está em cheia, ocasião em que o Embora ambos sejam de grande ex-
calado das embarcações é superior a tensão, ultrapassando as fronteiras do
1,00 m. Pouco além da Ilha Grande Estado, a navegabilidade tem seus pon-
iniciam-se os trechos encachoeirados tos terminais a 450 km da sua foz, na
que isolam as cidades de São Gabriel localidade de São Luís, no primeiro e,
da Cachoeira, as pequenas localidades a 184 km, em Vitória, no último. No Ta-
de Içana e Iuaretê. As ligações destas pajós, de Santarém até Itaituba, num
percurso de 360 km, a navegação é
com a Ilha Grande são realizadas com livre de transbordo, porém para São
grandes dificuldades, por canoas que Luís, na vazante, o canal de acesso a
circulam nas pequenas partes livres de esta localidade é difícil e perigoso, em
cachoeiras ou aproveitam um braço de razão da forte correnteza e da ocor-
rio e picadas abertas na mata,
rência de muita pedra nas margens,
contornando as mesmas. Quanto à
exigindo manobras difíceis dos práticos
pretendida ligação do alto Negro com
o Orinoco, através do canal de e utilização de motores com potência
capaz de vencer a correnteza. No
Casiquiare, aventada em 1943 por
Xingu a ligação de Vitória com Alta-
engenheiros do exército dos Estados
mira antes da chegada da Rodovia
Unidos da América do Norte, com o Transamazônica era feita por terra.
· objetivo de facilitar o escoamento da
borracha desta área, via Venezuela, O Tocantins-Araguaia, que serve a
os resultados dos levantamentos efe- grande parte das áreas do leste e su-
tuados não foram satisfatórios à deste do Estado do Pará, articula esta
mesma, devido à ocorrência das cacho- região com a capital, <J norte de Goiás
eiras, de muita pedra no Casiquiare e · e o sudoeste maranhense, apresenta
do condicionamento à utilização de ·navegação compartimentada em dois
calado de mais ou menos 1,00 m trechos distintos: o primeiro de Abae-
para o tráfego permanente. O Branco, tetuba a Tucuruí e o último de Mara·
afluente do Negro, é a hidrovia que bá a Conceição do Araguaia. Não sen-
condiciona totalmente a ligação do do possível a circulação junto à foz do
Território de Roraima com o Estado Tocantins, pela existência de um gran-
do Amazonas até o presente; a nave- de banco de areia, a navegação se rea-
gação permanente encontra seu limite liza através de um braço deste rio,
em Caracaraí, em virtude da ocorrên· conhecido como Mainatá, que passa
. da da cachoeira do mesmo nome. Nas pela cidade de Abaetetuba. Desta ci-

278
dade até Tucuruí, a 280 km da sua foz, da compra da produção e da distribui-
o tráfego é permanente. Entre esta lo- ção de bens aos primeiros, através das
calidade e Jatobal a mesma é interrom- casas aviadoras. Estas, ou constituem
pida por cachoeiras e corredeiras, firmas exportadoras-importadoras, se-
constituindo a de Itaboca, a 360 km, diadas principalmente em Belém e em
a mais perigosa e intransponível na Manaus, e a elas compete fornecer o
vazante. A partir de Marabá, a jusan- crédito às operações comerciais, ou são
te da confluência com o Araguaia, a intermediárias entre as firmas referidas
navegação se reinicia; só é possibilita- e pequenos e médios armadores. O
da nas águas altas, entre os meses de principal armador é a ENASA que
outubro a maio, ocasião em que a pro- substitui, como a Companhia de Docas
fundidade do rio é superior a 0,70 m. do Pará (CDP), desde 1967 o antigo
Serviço de Navegação em Belém. São
Trafega nas hidrovias intra-regionais duas sociedades de economia mista,
uma frota de mais de 1.000 embar- cabendo à ENASA o transporte de
cações de tipos variados, que vão mercadorias. Para isso possui 41 em-
desde gaiolas e chatas, de propulsão a barcações, entre navios mistos de pas-
vapor, até comboios integrados de sageiros e carga, rebocadores, empur-
chatas. Segundo levantamento reali- radores, cargueiros, todos com 'propul-
zado em 1967 e informações da Su- são e perto de 80 sem propulsão, entre
perintendência Nacional de Marinha balsas, alvarengas e chatas; num total
Mercante, a situação de estagnação e aproximado de 120 unidades, sua ca-
obsoletismo da frota permanece, não pacidade de carga e passageiros é, res-
tendo havido modificações entre 1967 pectivamente, de 16.140 t e 4.491
e 1970. Predominam pequenas embar- pessoas. 1 Em 1970 a contribuição da
cações de baixa capacidade de carga, empresa no transporte total intra-re-
como se pode ver pela tabela 3. Das gional, no montante de 326.016, foi de
1.069 existentes nessa categoria, 819 63.800 t, o que equivale a 19,6'!o ex-
situam-se entre 10 e 99 t concorrendo cluído o petróleo. ~ esta empresa a
com 28.567 t da tonelagem total de principal transportadora de alimentos,
97. 658, o que significa que 77'!o do materiais de construção, medicamen-
número contribuem com 29'!o da tone- tos, tecidos e outros bens, assim como
lagem total. Quanto à idade das em- dos produtos regionais, como madeira,
barcações observa-se que, em 1967, castanha-do-pará, borracha e outros.
perto de 20'!o tinham idade inferior a Quanto ao transporte de passageiros,
10 anos, e mais de 50% menos de 20, seu domínio é quase absoluto. Em
considerando-se as 787 que possuíam 1971 o movimento foi de 55.116, atin-
a idade declarada igual a 100'!o. Nota-se gindo 90,8% do total dos 60.676, re-
ainda o domínio das embarcações com lativos ao transporte realizado por 14
propulsão, em todas as classes de anos, empresas. 2 Embora a ENASA seja a
com exceção das anteriores a 1927 empresa à qual recorre maior número
conforme tabela 4. de usuários apresenta deficiências fi-
nanceiras e técnicas. A arrecadação,
A frota é composta de mais de 200 normalmente, não dá para cobrir os
armadores, a maioria possuindo embar-
custos operacionais, em decorrência da
cações pequenas e médias, cuja capa-
aplicação de tarifas não realísticas,
cidade de carga está situada entre as
principalmente para percursos longos,
classes de 10 a 99 t. Seguem-se os que
em que as embarcações estão sujeitas
dispõem de embarcações com tonela-
gem de 100 a 399 t. a paradas freqüentes, arcando a
ENASA C()m despesas de alimentação.
Entre os grandes armadores que dis- Em 1971 o frete foi alterado, passan-
põem de embarcações maiores e tone- do a vigorar o exposto na tabela 5 for-
lagem também maior, resultante inclu- necida pela empresa. Verifica-se pela
sive do somatório de embarcações de tabela que o custo do frete é ainda
capacidade de carga inferior a 400 t, é baixo. Esse preço representa uma ten-
comum o exercício da função comercia] tativa do Governo Federal de garantir
de modo direto ou indireto, por meio a exportação e a importação, comercia-

279
lização mais direta, libertando produ- própria empresa, no da Estanava e no
tores e distribuidores da ação de ar- da Mac Laren: 11 empurradores, sendo
madores particulares, que descontam, 6 de 420 e 5 de 210 C. V. e 51 chatas de
tanto nas mercadorias que adquirem 247 t brutas cada uma. Melhor equi-
como nas que vendem, preços eleva- pada de embarcações de fundo chato e
dos de transportes. O Governo Federal de empurradores, a EN ASA poderá ser-
cobre, na medida do possível, as defi- vir melhor à navegação fluvial, man-
ciências econômicas da empresa; tendo freqüência maior de linhas re-
assim, em 1971, no orçamento da :gulares. ( Fig. 2 e Tab. 6).
União foram consignadas dotações de
Cr$ 4.700.000,00 para cobrir o defícit Os armadores que atuam na Bacia
operacional de Cr$ 5.000.000,00, para Amazônica não têm necessidade de es·
atendimento à despesa prevista em Lei pecificar linhas ou itinerários que pre-
Trabalhista, referentes a indenizações tendam seguir, ao solicitarem licença
com fundo de garantia. para tráfego, em decorrência da incer-
teza dos transportes. 3 Já houve tentati-
Recente estudo sobre a frota da vas para o estabelecimento dessas, po-
ENASA, realizada pela SUNAMAM rém os resultados não foram satisfató-
concluiu que, para o transporte de rios, dado o desinteresse da manuten-
carga nas hidrovias fluviais da Região, ção de linhas regulares. Estas só exis-
o mais indicado é o tipo conjugado de tem em relação à EN ASA. Iniciam-se
chatas e empurradores. Determinou o em Belém ou em Manaus, notando-se a
Ministério dos Transportes que fossem predominância das primeiras, que
construídas, em 1971, no estaleiro da atingem os pontos terminais da nave-

Regiõo Norte
LINHAS REGULARES DE NAVEGAÇ
FLUVIAL- 1970

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280
gação na calha amazônica e na de
•Q

e 'f"'/2.
"'~~~~:e&i8
- quase todos os afluentes. Resta às
últimas a navegação nos rios Negro-
~
o!
õ)
Branco, no Arnazonas-Maués e no So-
c: "Of'C>"Of'I'-U')"Of'-· 00 limões-Juruá. Quanto à freqüência, as
3o ~~~~~~~~
•(:
~
~ "'lftOO~,t....(&JO~c-l 1'- maiores observadas pertencem às linhas
~ E-< ---~~~ C>
próximas a Belém, como acontece com
3
~ l. ~~~--~·t:-t--0>8
a que se estende para o Tocantins, as
quais ligam Belém a Manaus, e esta
"'e "' • • r--
<)
C>C>C>-
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cidade à de Porto Velho.
r:'l 'f/2.
G)
"O
Os portos de maior freqüência, exce-
o ...,.tt>N ..... <Oet,t--~ a>
~~C!i::!" -4- ~
tuando·se os de Belém e Manaus, são
:i ;;;
;§ - os que servem às linhas iniciadas em
Belém, entre este porto e o de Ma-
naus, com mais de 8 escalas bimen-
C)
e.:a-O)eo-c~g
..... ~lQQ()Q')C'>-
sais. Entre esses notam-se os de Almei-
rim, Santarém, Parintins, ltacoatiara,
~ 'f"'/2. com 12 escalas, em razão de concentra-
~ rem maior volume de carga escoada
õ)
c: ;:;~~~~;~~ a>
.... e destinada aos portos situados, res-
~ 3 . . . . . . . 00
C>('?C!'>C?tr.C?"Of'C?
pectivamente, nas margens do Xingu,
~
""coS(t)~-N
"' Tapajós, Maués e Madeira. O de lta-
coatiara se beneficia, também, de ser
LO escala da linha de Manaus-Maués. No
--
C)

~~~lZ~8i8f8
'f"'/2.
rio Solimões a frequência é de 2 esca-
~ o las, e reduz-se à insignificância de uma
G) ~ ~
-o<JS"= nos portos mais distantes de Belém e
o

z~
. "'.. :il ~ei5.
r:'l
3
~
-
~Qõ~~~Q>~~ <D
C>

. "'
Manaus. a partir da boca do Juruá.
Quanto às cidades situadas nos afluen-
tes, com exceção dos portos do Tocan-
tins e do Madeira, predominam fre·
.., .... .,C> - ~l/)('?8
-~• cooo_ qüências baixas e mínimas, sendo 2
"'
~
para os que se localizam nas margens
:i
"O do Xingu, Tapajós, Maués, Negro e
~
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Branco, e de 1 para as localidades das
~á1~~-l;;~~
~
~ 3 """
margens do Purus-Acre e Juruá. A do-
M~oó~~.O$i~ L"ri minância das linhas iniciadas no
~
grande porto de Belém favorece a
maior atuação de armadores, cujo
~
C)

"'
~
~~óõ~~~g;g
- transporte é incerto. A participação
maior de Manaus, de posição geográfi·
~le~ ca muito mais favorável, tanto pela sua
•. :; 8 6.
z.D
~
e
~ ..
;;; ~g;~~~~~~
o
E-<
~--
x
;::
localização aproximadamente central
na calha do Amazonas como por estar
mais perto da maioria dos afluentes de
maior extensão navegável, concorreria
para ativar a circulação.
Q)
"O
. Em relação à infra-estrutura portuá-
ria, só as cidades de Belém e Manaus
"' "' E
:gQ)~
possuem instalações significativas. ·
~"O C)"'
g. ~~sisisisi§§
-('?LO Portos como Rio Branco e Porto Velho
C)
-- ...:i< que figuravam, em 1970, entre os 6
lll~~,,~ E-< primeiros lugares quanto ao volume
-~u:--88+
-~~:c
g total de carga intra-regional transpor-

281
Tabela 4 Idade da Frota Fluvial em 1967
N. 0 de N.o de
Emba~ Em bar-
cações cações Total
com sem
Ano de Idade Propulsão Propulsão
Construção (Anos)
N.0 de
Total % ac Total % ac Embar- % ac
cações

1967- 1963 ....... 5 49 10 23 8 72 9


1962 -- 1958 ....... 10 41 19 36 20 77 19
1957 -- 1948 .... : .. 20 201 60 82 47 283 55
1947- 1938 ...... . 30 98 80 68 69 166 66
1937 - 1928 ....... 40 30 86 19 75 49 72
A~ - 1927 ....... +de 40 65 100 75 100 140 100
TOTAL ....... ... 484 303 787
Fonte: Com1ssilo de Mannha Mercante e Empresas de NavegOfiiO.

Tabela 5 Fretes Fluviais na Amaz"- tada, não dispõem de cais, utilizando o


nia. Vig~ncia a partir de 1.1. 71 barranco do rio, o que é comum em
Uni<'a.-le toda Bacia Amazônica. Para melhorar
Mercadorias d• :\lcdida Km,'Crl
as condições de oferta dos portos flu-
I• GAneroa alimentícioo. O.ot viais, considerando as perspectivas de
2. ln!lam4veia, Conosi-
voa, Ozidanteae>Atv"eo· aumento de rodovias e tendo em vista
ai voe ......... ...... . t 11,04
3. Ex!'l<>f!voa...... . .. t 0,07 os efeitos de irradiação das cidades de
4. Anomaos ........... . t C,02 Belém e de Manaus, previstos em
6. Gran~ia, uceto petró-

11,
leo e rleri\·a.doa. . •
Va•i!hameo d~ retnrnn t ou
t
m8
0.02
0,01
Planos Regionais de Desenvolvimento
7. Volume~ indil'isiveis .
0 ,32
Econômico Integrado, o Governo Fede-
a) de 1,001 a 2t.. teu m3
b) d~ 2 .001 a :lt.. t 011 nt3 0,03 ral determinou a construção de portos.
c) de 3,001 a 4t. t ou m3 0.03
<1) de 4,001 a lit. t ou m3 o.o~ Tais portos, até o momento, são os se-
e) mt.i• de 6,001t. t ou m3 Convencional
8. Car11a Ú<'ral: ;\lerc&- guintes: Itaituba e Santarém no Ta-
dori&a nAo eop~ifico.- pajós; Imperatriz e Marabá no Tocan·
da' noo itena rl• I a7 t ou mS 0,02
11. V&lioau- od ttJIDrto tins; Altamira no Xingu; Hurnaitá e
ciP ll",
f onte: E!'ASA Empresa de Savegação da Porto Velho no Madeira e Caracaraí
Ama~6nia ... no Branco. Para a escolha de tais por-
Obs.: Fica estabelecido o valor de Cr$ 15/)() tos levou em conta o Ministério dos
para o frete minimo por conhecimento de
embarque. Transportes o fato de serem terminais

Tabela 6 Linhas Regulares da ENASA


F1·eqüência Distância
Início Rios Fim em km .
bimensal

Beltm
1 Amazona..,.Tocantins ... • o o ••• 4 Tucurul 345
2 AmAzonas-Xingu ............. 2 Vitória. 944
3 Amazonas-Tapajós ..... ....... 2 ltaituba 1.314
4 Amazonas .... .... ...... .. .... 4 :Manaus 1. 704
5 Amazonas-Madeira ......... ... 4 Porto \'elho 2.750
6 Amazonas-Solimões .. .... .... 1 Tabating" 3.344
7 Amazonas-Purus-Acre .. .... .. 1 Rio Branco 5.284
Manaw
1 Amazonas-Maués ...... .. . .... 2 :Maués 524
2 Negro-Br~onco ............... 2 Caracara! 1.001
Solimões-J uruá. . . . . . . . . . . . . . 1 C. do Sul 4.1~3
3

282
da navegação fluvial, entroncamento úbidos e Oriximiná àquela. estrada de
rodoviário e a necessidade de dotar rodagem.
essa ou aquela área de um porto que
servisse, realmente, a demanda da Em Porto Velho o porto em constru-
mesma, como acontece em Santarém. ção tem cais flutuante, em razão da
Todos esses portos são conexões rodo- oscilação do nível da água entre cheia
fluviais. Os portos deverão possuir e vazante.
armazéns para guardar carga, depósito Dos portos citados já foram construí-
de combustível para abastecimento dos os de Imperatriz, Itaituba e o de
das embarcações e outras instalações, Altamira, este situado fora da cidade,
como as necessárias à administração do no lugar chamado Remanso do Pontal,
porto; o cais deverá ser em rampas de a montante de Vitória, onde a Transa-
12 graus, com patamares, a fim de pos- mazônica corta o Xingu. Tais portos,
sibilitar o acostamento das embar- como o de Santarém, foram construí-
cações em qualquer época do ano. dos num prazo aproximado de 2 anos.
Entre os portos citados notam-se os O porto de Humaitá está em constru-
de Santarém e o de Porto Velho. ção e os de Caracaraí e Tucqruí ern
projetos.
O primeiro, inaugurado em meados de
1974, é considerado flúvio-marítimo
porque permite operar com navios até 1. 1.2- Inter-Regionais,
18.000 t brutas. Possui cais apropriado Cabotagem e Longo
para navios de longo curso, de cabo- Curso
tagem, construído um pouco afastado,
paralelo à margem direita do Tapajós A navegação de cabotagem e a de lon-
e cais marginal, este destinado a go curso têm como principais objetivos
barcos menores, geralmente utilizados figações dos portos da Amazônia com
na circulação intra-regional. A exten- os do Brasil e com os da costa atlân-
são total para navios de longo curso e tica dos continentes americanos e
de cabotagem, considerando-se os dois europeu. Ambas têm seu. limite no in-
lados do cais é de 380 m e 140 para o terior da bacia em Território Nacional,
cais marginal. As condições de calado no porto de Manaus; entrosam-se na
no auge das águas baixas é de 10 m circulação intra-regional e apresen-
na parte externa do pier, 6 na interna e tam-se vinculadas à estrutura do co-
3 no cais de margem. A área dos arma- mércio regional.
zéns é 1.500 mz e a dos pátios de
10.000, possui uma subestação abaixa- Tanto a navegação de cabotagem como
dora com 300 kVA, depósito para a de longo curso utilizam principal-
combustível e, além de outras instala- mente os portos de Belém, Santana-
ções comuns aos portos, dispõe de uma Macapá e Manaus, que contribuem
plataforma em trincheira com decli- com cerca de 91,6$ do total da carga
vidade de 12 graus, destinada a atra- transportada. Os restantes 8,4% estão
cação de ferry-boats, embarque e de- distribuídos entre alguns pequenos por-
sembarque de viaturas. O porto foi tos, abordados geralmente na volta dos
construído a montante da cidade de navios, com o objetivo de diminuir ou
Santarém, no local chamado Ponta da evitar capacidade ociosa de carga. Lo-
Caieira, local que dispõe de boas con- calizam-se em trechos próximos aos
dições hidrográficas (águas tranqüilas, três portos citados: o primeiro entre
profundidade grande, bacia de evo- Manaus e Santarém, onde este e os de
lução e fácil acesso à navegação) e Itacoatiara, Parintins, Oriximiná, e
de fácil acesso à Rodovia Cuiabá-San- úbidos são os principais; o segundo,
tarém, prevendo-se ligações com cida- no litoral do Amapá, entre Macapá e
des próximas, inclusive com as situa. Amapá, abrangendo ilhas próximas e
das à margem esquerda do Amazonas o noroeste de Marajó com os portos de
e a articulação da Cuiabá-Santarém Afuá e Chaves; o último e o principal,
com a Perimetra1 Norte, através dos por ser o mais freqüentemente procu-
ferry-boats e da rodovia que liga rado, estende-se desde a boca do

283
Xingu, em Porto de Moz, até o litoral dores transporte mais rentável, em con-
do Salgado, em Bragança, e penetra seqüência do maior volume de carga
no baixo curso dos rios Guamá MoJ·u e importada; esta, em 1970, foi de
Acara,' notando-se entre outros
' o de 688.294 t para o global de 813.811 atin-
São Miguel do Guamá e Acará. gindo o percentual de 84,6%. Ad todo
existem 6 linhas regulares; a maioria
Pela cabotagem e longo curso são tem início nos portos das Regiões Su-
transportadas 3.194.935 t, das quais deste e Sul. Os portos do Rio de Janei-
74,5%, isto é 2.381.124;cabem ao lon- ro e Santos são os mais vinculados aos
go curso. da Amazônia, pelo fato de serem iní-
cio de linhas e figurarem praticamente
As ligações da Região com os portos em todas elas como portos alternados
estrangeiros são feitas, principalmente ou opcionais. Para algumas linhas,
por meio de três linhas, das quais dua~ quando são fixadas, é levada em consi-
partem de lquitos, no Peru, e uma de deração
Recife. As primeiras têm como portos a órgãosa governamentais
necessidade de atendimento
que servem
de escalas: Manaus, Belém, Santana-
Macapá, pequenos portos próximos aos a produtores e exportadores, como o
mesmos, e dirigem-se uma para o con-. IBC (Instituto Brasileiro do Café)
tinente europeu e outra para a costa Instituto do Sal e IAA (Instituto d~
atlântica da América do Norte. Quanto Açucar e do Álcool), o que influi na
à última, não penetra no interior da categoria dos portos. Assim, a que se
bacia, limita-se a fazer escala em Belém inicia no porto do Rio de Janeiro e
e prossegue para os portos europeus finda em Belém, antes de se orientar
do Atlântico. Entre os armadores na- para o Norte, tem extensão opcional até
cionais, três percorrem essas linhas: a Santos, Paranaguá ou Antonina para
sociedade de economia mista Com- carregamento de café e, a partir do
panhia de Navegação Loide Br~sileiro, porto em que o mesmo for comple-
a Empresa de Navegação Aliança S.A. tado, as escalas são opcionais, com ex-
e L. Figueiredo S.A. Este é o único ceção da obrigatória em Fortaleza
permissionário das linhas que percor- para o embarque do sal. Fato seme-
rem o interior da Bacia, tendo contri- lhante ocorre com a linha Paranaguá-
buído, em 1970, com 49% ( 28.113 t) do Manaus, cuja extensão opcional até
total de 57.718 t da carga importada São Francisco do Sul - esta para
por empresas nacionais para a Amazô- servir ainda a exportadores de madeira
nia brasileira. A existência dessas - possibilita um segundo embarque de
linhas não exclui a possibilidade de café em Paranaguá, antes dos navios
navios, que circulam em outras, esca- se orientarem para o norte, prosseguem
larem nos portos de Belém, de San-- as escalas opcionais até a obrigatória
tana-Macapá ou em Manaus, devido de Belém, com exceção das de Maceió
ao reconhecido direito à liberdade e RecJe, classificadas como alternadas,
dos mares e da Zona Franca de Ma- para o embarque de açúcar. Outras
naus. linhas de percursos mais extensos, pro-
cedentes dos portos argentinos e de
Na cabotagem, linhas e escalas são Porto Alegre, possuem grandes partes
determinadas pela SUNAMAM, com- de rotas diretas sem escalas. Entre as
prometendo-se os armadores com mesmas nota-se a rápida Porto Ale-
navios próprios ou fretados, s~guirem gre-Manaus, cujo trecho opcional li-
a legislação estabelecida, que interfere mita-se ao que se estende de Pelotas
inclusive no tocante ao número e à ou ~o Rio Grande até Porto Alegre,
distribuição de navios em cada linha. continuando a linha sem escalas até
Nestas, orientadas do sul para o norte Manaus, com exceção das alternadas
na viagem de ida, quando a linha é em Santos ou Rio de Janeiro e da obri-
regular, as escalas são classificadas em . gatória em Belém. Trafegam na mesma
obrigatórias, alternadas e opcionais •. linha frota pertencente a 10 arma-
No retomo há liberdade total de es- dores, que geralmente dispõem de um
calas, a fim de possibilitar aos arma- ou mais navios em cada uma. A de

284
maior circulação é a Santos-Manaus, Entre as cargas de maior custo figura
com tráfico de 9 navios pertencentes a o grupo de inflamáveis, agressivas,
4 armadores. A esta segue-se a oxidantes e corrosivas, nas quais o
Recife-Manaus, única linha especial, 5 maior volume é de petróleo e deri-
que servia à Região Norte, em vados combustíveis, exportados do
1970, percorrida por 4 navios de Sudeste, Nordeste e Sul, onde os
propriedade de 3 empresas, sendo portos do Rio de Janeiro contribuem
2 pertencentes à ENASA. Quanto com 56,9~. de Madre de Deus com
à carga, já foi yista a dominân- 36,1~ e do Rio Grande com 5,1~.
cia da importada, e nesta a maioria A de preço mais elevado são as classi-
é procedente das Regiões Nardeste e ficadas como explosivas, figurando no
Sudeste, com percentagens respectivas mesmo espingardas de repetição e
de 42,3~ e 47,~. cabendo ao Sul 5,7~. balas, cujo consumo é indispensável ao
Essas importações procedentes de por- pessoal que tem como atividade eco-
tos das Regiões Sudeste e Sul têm na- nômica a explotação florestal, vegetal
turalmente custo mais elevado, porque e animal.
os valores referentes especificamente
às mercadorias são acrescidos de qui- Comparando-se o custo de transporte
lometragem maior. da navegação de cabotagem com os da
fluvial, num percurso aproximado até
Na composição do frete fixado pela 1.704 km, equivalente à distância entre
SUNAMAM, a carga é classificada por Belém e Manaus, ou vice-versa, para
grupos, segundo as principais caracte- cargas mais comuns, tais como alimen-
rísticas: como sacarias-alimentos, ali- tos ensacados, granéis, carga geral, in-
mentos perecíveis, granéis, carga geral, flamáveis, agressivas, corrosivas, oxi- '
carga densa e outras, sendo os preços dantes e explosivas, verifica-se que os
resultantes do valor de uma parte fixa da última apresentam-se mais vantajo-
até determinadas distâncias, acrescida sos, com reduções que oscilam de 48 a
de outra variável por quilômetro exce- 25~. referentes aos de gêneros alimen-
dente, estipuladas em classes de per- tícios e inflamáveis, sobre os da cabo-
cursos, como está exposto nas tabelas tagem. o custo do transporte de ex-
que se seguem. ( Tabs. 7 a 12). plosivos é, em segundo lugar, o que
apresenta maior redução, equivalente
Calculando-se o custo para os princi- a 4~, como se vê na tabela 8.
pais grupos de carga importada, segun-
do procedência, para os portos de Do custo mais baixo da navegação
Belém e Manaus, os de menor preço fluvial se beneficia a cabotagem, em
são alimentos ensacados e perecíveis, virtude de resolução da .SUNAMAM,
seguindo-se granéis, carga geral e que faculta a opção pelo frete da pri-
densa, procedentes particularmente meira, quando o transporte pelos na-
de Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, vios de cabotagem se realiza exclusi-
Santos e Porto Alegre. vamente entre portos da Bacia Amazô-

Tabela 7 Distância em km entre Principais Portos Exportadores e Importadores


Exportadores
ImportAdores Porto
Rio de Ale1re
Fortale111 Recife Maceió Salvadcr Janeiro Santos Paranoguá

Bel~m ............ 1.480 2 .320 2 . MO 3 .232 4 . 722 5 . 142 5 .472 6.862


Maoaua . . ... ..... 3.aao 4 . 170 4.410 1'.028 6 . 572 6 .992 7.322 8 . 712

Obs.: Para a carga destinada a Macapá aplica-se o frete de Belém, por determinaçiio da
SUNAMAM.

285
Tabela 8 Frete de Cabotagem (ton.) Vigente a purtir de 1. 6. 70
CrS/Km•

GRUPOS DE Além de 400 e menos


de 1.200 Além de 1. 200
MERCADORIAS
Parte Por km Parte Por km
Fixa Excedente Fixa Excedente

1. Sacarias Alimentos .. ... . ... 28,18 0,04 39,64 0,02


2. Perecíveis Alimentos .. .. .. .. 31,04 0,04 42,50 0,02
3. Granéis** .... .. . . . ......... 18,62 0,04 31,98 0,04
4. Carga Geral••• ..... ........ 22,48 0,04 42,84 0,04
5. Carga Densa••••. •• • •• • •• o. 32,96 0,04 46,32 0,04
6. Inflaml[veis, Agressivas, Oxi-
dantes e Corrosivas . ....... 48,36 0,04 63,64 0,04
7. Explosivas . .... . . .. . ....... 115,00 0,08 151,30 0,08
Obs.
•Não foi considerada a classe inicial até 400 km, devido as distdncias dos pontos de fora
da Regi/lo serem superiores.
• • Nos granéis não foram incluídos os preços de: gesso, ferro gusa, sal, caroão, milho, óleo
combustível, petróleo com seus derivados e dlcool, porque esses produtos, geralmente,
niio são importados a granel.
••• Carga geral-mercadorias não incluidas nas demais .
•••• Carga densa-mercadorias com 0,5000 m~ ou menos por ton .

Tabela 9 Custo do Transporte de Cabotagem (Ton.) Vigente a Partir de 1. 6. 70


PORTOS EXPORTADORES E IMPORTADORES

Fortale•a Recife Rio de J&neiro S&nto• Porto Alegre

Belém M&naus Belém Manaus Belém Manaus Belém Manaus Belém Manaus
- - - --- - - - - - - - - - - -- - - - - - -
45,27 62,04 110,08 147,08 118,48 155,08
--- - --
125,08 162,08
S&c&ria Alimentos 82,24 99.04
Pereci veio Ali-
mentoa .. .. . . . . 48,10 85,10 64,90 101,90 112,94 149,94 121,34 158,34 127,94 164,94
Granlio ....... . .. 43,18 117,18 76,78 150,78 172,86 2411,86 186,66 263,66 202,86 276,86
Carga Geral. . ... 54,04 128,04 87,114 161,64 1R3,72 257,72 200,52 274,52 213,72 287,72
C&rr& Denoa 57,52 131,52 91,12 165,12 187,20 251,20 204,00 278,00 217,20 291,20

nica. Esta é a razão da grande supe- terior da Bacia, onde se alinham o


rioridade de volume de carga impor- maior número de núcleos urbanos.
tada por Belém ( 481.498 t), equiva- Está próximo às cidades da região do
lente a 72,1% do total de 667.360 t res- Salgado e do litoral marajoara, sofre
tringindo-se a de Manaus ao percentual intenso assoreamento no canal; 6 exige
de 23,3% com 155.834 t. dragagem anual, que oscila perto de
1.500.000 m8 Por esta razão está em
A .situação em que se encontram os estudo a mudança do porto para a ilha
portos de Belém, Manaus e de San- de Caratateua, localizada a jusante
tana-Macapá, únicos em que há ex- mais próxima, onde se pretende cons-
pressiva movimentação de cargas de truir um porto novo, com todos os
longo curso e de cabotagem, não satis- requisitos modernos, para a movimen-
faz à demanda, com exceção do último. tação da carga.
Belém, situado na baía de Guajará, Manaus, situado .à. margem esquerda
junto à foz e à margem direita do do rio Negro, junto à confluência com
braço meridional do Amazonas, tem o Amazonas, tem posição geográfica
posição geográfica estratégica, pois privilegiada, constituindo a entrada
constitui a principal entrada para o in- para os afluentes do Amazonas situa-
Tabela 10 Custo do transporte do pe- Franca, em 1967, provocou considerá-
tróleo e derivados combustíveis vel aumento da demanda, principal-
(1.6.70) (Cr$/km) mente para navios que procedem do
estrangeiro. A ampliação do porto foi
Portos
planejada; o projeto prevê mais 300 m
Impor- de extensão do cais, o que possibilitará
Portos tadores atracarem 4 navios de 12.000 t brutas;
Exportadores
permanece o tipo de cais flutuante,
Bel(.m :Manaus apoiado em bóias cilíndricas e, portan-
to, adaptado à grande amplitude do
Madre de Deus . . ...... . 144.92 216,76
20Ú2 278,52
nível das águas do Negro, que na cheia
Rio de Janeiro ..... . ... .
Santos ................ . 221.32 295,20 sobe mais de 15 m.
Rio Grande . .. . ........ . 275.72 349,72
Santana e Macapá, situadas à margem
esquerda do braço setentrional do
Amazonas, têm posição geográfica mais
Tabela 11 Custo do transporte de ex- ou menos .semelhante à de Belém, em-
plosivos (ton.) vigente a partir de bora menos privilegiada: constituem
1.6. 70 (Cr$/km) passagem obrigatória para os navios de
longo curso e de cabotagem, que se di-
rigem para o interior da grande arté-
Portos ria amazônica através desse braço, e
Impor-
Portos tadores
desfrutam da vantagem de maior pro-
Exportadores ximidade dos núcleos urbanos locali-
Belém Manaus zados ao norte de Marajó e no litoral
amapaense. Funcionam, na realidade,
Rio de Janeiro .. .. . . .... 433,06 581,06 como um único porto, distantes 15 km
Santos ... . . . . . . . . . . . . 466,66 614.66 um do outro, interligados por ferrovia
e rodovia. Santana foi construído pela
Empresa Indústria e Comércio de Mi-
dos a montante. Apresenta-se, atual- neração S.A. (!comi) com o pbjeti-
vo de ser terminal exportador de miné-
mente, com sucessivos congestiona-
rio de manganês. A escolha do local
mentos, o que obriga os navios a es- a montante de Macapá foi devida à
tacionarem afastados, em filas, duran- maior profundidade, sendo a mínima
te vários dias, à espera de vaga no de 10 m. Em Macapá a profundidade
cais e nos piers sempre ocupados. Até é bem inferior, o que muito condicio-
alguns anos atrás o porto continuava na o acesso ao porto; é comum as em-
deficitário, ainda em conseqüência da barcações ficarem encalhadas na
crise da borracha brasileira no mer- baixa mar. Quando a Icomi obteve a
cado mundial. A implantação da Zona concessão da explotação do minério

Tabela 12 Preços de frete da Cabotagem e da navegação fluvial T/Cr$ em


1.074 km
Redução na
Navegação
Navegação Navegação Fluvial
Grupos de Carga de
cabotagem fluvial
Diferença Diferença
absoluta em %
Sacaria: Alimentos ... . .. . . . ... ·.... 49,72 2.'i.60 - 24,12 48
Granéis . .... ... .............. . . . ...
Carga Geral. .. . ....•. . ... .. .......
52,14
63,00
37,49
37,49 -
- 14,65
25,51
28
40
Inflamáveis, Agressivas, Oxidantes e
Corrosivas . . .......... .. ........ . 83,80 63.05 - 20,7.5 25
Explosivas .. . ... . . .............. .. . 191,62 115.87 - 75.75 40

287
de manganês da serra do Navio, pelo A extensão em tráfego vem aumen-
prazo de 50 anos, ao construir o porto tando de modo mais nítido a partir da
dotou-o de instalações que possibilitas- segunda metade da década de 1950,
sem receber navios de 40 e 50 mil cuja quilometragem passou de 5. 335
tonelàdas brutas, em embarcadouro em 1956 para 9.890 em 1966 e 26.054
de minério, com cais flutuante, tipo em 1971. Ao comparar a evolução dos
mais adaptado à amplitude das marés totais em tráfego por 1.000 1cm2 da
e às condições do leito do rio, e car- Amazônia com a relativa ao Brasil, no
regá-los em ritmo de 1.500 t/hora. O período . de 1956 a 1971, observa-se
cais mede 240 m de extensão; é de grande defasagem. Assim, em 1956 a
estrutura metálica, apoiado sobre Região possuía 1,5 km por 1.000 km2
e o Brasil 48,1; em 1971 a J>rimeira
caixões flutuantes de aço. Para a carga tinha 7,3 e o último 142,5, tenao a di-
e descarga de mercadorias foi construí- ferença, num período de 15 anos, pas-
dó um cais fixo, medindo mais ou me- sado de 46,6 para 135,2 km por
nos 83 m de comprimento por 17 de 1.000 km 2• (Tab.l8).
largura. A implantação do porto de
Santana deu novas perspectivas à na- A maior extensão em tráfego cabe ao
vegação de longo curso dirigida tam- Estado do Pará, cujas percentagens
bém à Manaus e lquitos, com a redu- variaram, no decorrer desse tempo,
ção de 72 horas de rota dos navios, entre 56,8 em 1966, e 74,7$ em 1968,
atrav~ da possibilidade de navegação como se verifica na tabela 14.
pelo canal Norte, entre Macapá e as O aumento da quilometragem em trá-
ilhas de Caviana e de Janaucu. Até fego tomou maior impulso na região da
1957, quando terminaram os estudos e Bragantina-Salgado, área de ocupação
o balisamento do canal Norte, a nave- agrícola antiga e muito próxima a
gação era feita pelo canal Sul, entre as Belém. Seus principais fatores, entre
ilhas de Mexiana e Maraj6, via de pos- outros, foram: o desenvolvimento das
sibilidades limitadas a navios no má- lavouras comerciais da pimenta e da
ximo de 10 t, calando, de modo aproxi- juta; a importância da área para lazer
mado, 9,2 m. da burguesia enriquecida de Belém; a
pesca em Vigia; a industrialização, em
particular a cfe fibras têxteis; a alta den-
1.2- Canais Rodoviários, sidade populacional, superior a
13 hab/km2 já em 1950 e, finalmente, a
Ferroviários e Aerovias ampliação do mercado consumidor de
Belém, com aproximadamente 255.000
habitantes em 1960. 1 Em 1954 o
1.2.1 ·Canais Rodoviários trecho Belém-Castanha} da atual Be-
lém-Brasilia constava como estrada
Os canais rodoviários são, de modo estadual e a ela já se ligavam as que
geral, recentes; têm importância intra- partiam de Vigia, Curuçá, Maracanã e
regional restrita, devido à reduzida ex- Salinópolis. No mesmo ano já exis-
tensão que percorrem em relação à tiam ligações de Capanema com Bra-
superfície amazônica. Excetuando-se a gança, Ourém, lrituia, passando esta
área vizinha à Belém, até 1970, cons- por São Miguel do Guamá e Sali-
tavam de 2 grandes eixos, formados n6polis. O tráfego, de cabotagem rea-
pelas Estradas Belém-Brasília e Rio lizado entre os portos do Salgado e
Branco-Porto Velho-Cuiabá. Tais eixos Belém, o fluvial entre a capital para-
unem ao Brasil Central pontos da na- ense e as localidades de São Miguel do
vegação fluvial de trechos situados a Guamá e Ourém foram abandonados,
leste e sudoeste da Região, e resultam passando os mesmos para as rodovias.
de política prioritária do Governo Fe- Formava-se, assim, o principal eixo
deral, com o objetivo de vincular a que corta essa área de leste para oeste;
Amazônia, região de periferia afastada, delineava-se a futura rede rodoviária
à Região core Sudeste do Brasil. única existente, até hoje, na Amazônia,

288
Tabela 13 Evolução da quilometragem em tráfego
I
REGIÃO BRAS!~
ÁREAS
Por Por
Total 1.000 km2 Total -' ,1 . 000 km2
,,
1956 ........... .. . 5 . 335 1,5 409 .488 48, 1
1958 ... . .......... 5 .655 1,6 450 . 439 52,9
1960 .. .. ......... . 6 . 250 1,7 466 . 926 54,9 .
1962 .............. 7 . 250 2,0 524 .395 61,6
1964 ....... . ., ... . . 7 . 588 2,2 248 . 510 64,4
1966 ......... . . . . 9 .890 2,8 688 .363 80,3
1968 . ............. 20 . 027 5,6 1. 034 . 159 121,5
1970 ....... ....... 23 . 007 6,4 1.130 .395 132,8
1971. ............. 26 .054 7,3 1.212 . 720 142,5
Fonte: IBGE: o Bras1l em número e MT - Anuano dos Transportes.

Tabela 14 Expansão da quilometragem em tráfego

REGIÃO PARÁ % SOBRE A


REGIÃO
ANOS
Estaduais Estaduais Estaduais
Total e Total e Total e
Municipais Municipais Municipais
1956 .... . 5 . 335 4.482 3 . 466 3 .281 65,0 61,5
1958 .. ... 5 . 655 4 .591 3 . 571 3 .307 63,2 58,5
1960 ..... 6 .250 4 .591 3 . 907 3.307 62,5 52,9
1962 ..... 7 . 250 5 . 173 4.489 3.389 61,9 53,6
1964 .. . .. 7 . 588 5 . 411 4.489 3 .389 59.2 51,2
1966 ... . . 9 .890 7.071 5.576 4 . 976 56.3 50,3
1968 ..... 20 . 027 16 . 790 14. 967 14 . 368 74,7 71,7
1970 . .... 23 . 007 18 . 563 16 . 036 15.400 69,7 67,0
1971. ... . 26 . 054 19 . 956 17 .899 16 .062 68,7 61,0
Fonte: IBGE: o Bras1l em número e MT - Anudno dos Transportes.

e constituíam-se os principais nós ro- sando de 72.049 para 121.992, não in-
doviários de Castanha!, Capanema e cluindo-se Belém e a cidade de Ana-
Bragança. Ainda: no final da década nindeua da Área Metropolitana. 9 Iri-
de 19:50 e início da de 1960 ocorrem a tuia já estava ligada à Capitão Poço
abertura da Belém-Brasília e da estra~ em direção oeste e à Abaetetuba, para
da para Teresina. As novas vias aber- leste, por estrada que atravessa os vales
tas contribuíram para expansão do po- do Capim, Acará e Moju, onde cruza
voamento, que se estendeu em direção com outra que sai de Igarapé-Mirim e
às mesmas, antes delas estarem con- se dirige para Belém. As ligações Iri-
cluídas. A importância da abertura tuia-Capitão Poço e Irituia-Acará favo-
dessas rodovias foi de tal monta que receram um maior adensamento popu-
deslocou a fronteira do povoamento, lacional.
que desde o final do Século XVII e
início do XVIII pouco tinha avançado Nas outras regiões da Amazônia as
ao sul do Cuamá. No princípio da dé- rodovias são bastante atuais, datam do
cada de 1970, o panorama do leste pa- final da década de 1960 e do início da
raense já se mostra modificado. A Bra- de 1970. São particularmente impor-
gantina-Salgado dis~unha de rede ro- tantes a Rio Branco-Porto Velho-
aoviária densa, o numero de cidades Cuiabá e a Transamazônica, pelo fato
na mesma passou de 16 para 26 8 e sua de possibilitarem ao tráfego regional
população urbana· entre· os Censos de interligação com as Regiões Centro-
1960 e 1970 aumentou de 69,3%, pas- Oeste e Nordeste.

289
A primeira, concluída no final da dé- gãos do Governo Federal, elaborou pro-
cada de 1960, serve ao sudoeste da jetos de colonização para implantar e
Amazônia, interliga as localidades de desenvolver as atividades agropastoris
Vilhena, Rondônia, Ariquemes, antes nas áreas atravessadas pela rodovia. A
isoladas e servidas por táxis aéreos. Transamazônica começa na Região em
Prossegue, em seguida, para Porto Estreito, local de entroncamento com a
Velho e Abunã, onde bifurca-se com a Belém-Brasília, penetra na Amazônia
estrada que segue para Guajará-Mirim. pelo município de São João de Ara-
A ligação de Rio Branco-Porto Velho- guaia, prossegue para o vale do Tocan-
tins onde passa por Marabá, Itapiranga,
Cuiabá favoreceu relacionamentos co- Jatobá e por Tucuruí, ponto terminal da
merciais mais diretos e mais freqüentes navegação do baixo Tocantins. Dirige-
entre os núcleos populacionais da Re- se, em seguida, para oeste e atravessa
gião e as Metrópoles de Rio de Janeiro os interflúvios Tocantins-Xingu, Xin-
e de São Paulo, fugindo, de~a ma- gu-Tapajós, liga o terminal navegável
neira, à velha estrutura oomercial de Remanso do Pontal à Altamira, no
apoiada no aviamento. Provocou a Xingu, e esta cidade a de Itaituba, no
formação de franjas pioneiras perto de Tapajós. Continua com rumo para
Vilhena, Rondônia e de Guajará- oeste, atinge J acareacanga e corta o
Mirim para invernada, com gado pro- Pará, com grande transversal. Segue
cedente do pantanal mato-grossense, a para os Estados do Amazonas e Acre,
fim de abastecer em carne verde os atravessa os interflúvios Tapajós-Ma-
núcleos populacionais de Rondônia, e deira, Madeira-Puros, Purus-Juruá;
os acreanos de Rio Branco, Xapuri e aproveita trechos de estradas mais an-
Brasiléia. Na segunda metade de 1968, tigas que unem Humaitá a Lábrea,
quando o trecho Porto Velho-Rio Boca do Acre a Rio Branco e interliga
Branco não estava concluído, cami- as cidades de Rio Branco, Xapuri e
nhões procedentes do Rio de Janeiro e Brasiléia, em direção sul, chegando à
São Paulo já chegavam à capital do fronteira boliviana e Rio Branco, Sena
Acre, embora o transporte fosse pe- Madureira, Feijó, Tarauaéá e Cruzeiro
noso, exigisse utilização da extinta Es- do Sul, em rumo oeste, prosseguindo
trada de Ferro Madeira-Mamoré entre para o sul, para a fronteira com o
Porto Velho e Abunã. A implantação Peru. A continuação da rodovia para
da rodovia concorreu para o aumento ôs limites da Bolívia e do Peru visa à
populacional de Rondônia e as cidades interligação dessa parte da· Amazônia
de Porto Velho e Rio Branco consti- com o sistema rodoviário americano. A
tuíram-se em importantes nós rodo- Transamazônica foi planejada como
viários antes da chegada da Transama- estrada que atravessa grandes áreas e
zônica: Porto Ve1 ho, com ligação para concebida para funcionamento de um
Humaitá, Ariquemes e Abunã; Rio sistema conectado rodofluvial.
Branco para Boca do Acre, Vila Plá-
cido e Xapuri. A rodovia mais recentemente plane-
jada de construção imediata é a Pe-
A Transamazônica foi projetada e con- rimetral Norte, que data de 1973.
cluída entre· 1970 e 1973. ll: rodovia Trata-se de grande artéria, que corta
prioritária, segundo o Plano de Inte- o norte da Amazônia, de leste para .
gração Nacional, considerada como in- oeste, vinculando a parte setentrional
dispensável à integração da Amazônia ao sudoeste da Região e ao Atlântico,
à Região Nordeste. A implantação da com percurso superior a 4.000 km. A
estrada objetiva ocupar, colonizar e artéria parte de Macapá e segue em
atrair fluxos de imigrantes nordestinos, forma de grande eixo que atravessa os
desviando-os dos 2 grandes focos de afluentes da margem esquerda do
maior atração, isto é, as Áreas Metro- Amazonas-Solimões, notando-se entre
politanas do Rio de Janeiro e São outros o Trombetas e seu afluente
Paulo. Essas finalidades constam do Cuminá, o Branco onde passa por Ca-
Plano de Integração Nacional ( PIN), racaraí, o Negro em Içana e em São
que, em coordenação com outros ór- Gabriel da Cachoeira; toma depois o

290
rumo sudoeste, passa pelos interflúvios e com a Transamazônica em Jacarea
Japurá-Içá e Içá-Solimões, serve . às canga; a Vilhena-Manaus, que se cru-
localidades de Tabatinga e Benjamin za com esta última ao sul do Estado
Constant, situadas nas margens deste do Amazonas, atravessa o Madeira em
rio, continua pelo ~ale · do Javari e Novo Aripuanã; prossegue rumo a
depois embica para o vale do Purus, Porto Velho-Manaus e aproveita o tra-
entroncando-se com a Transamazôni- çado da mesma até Manaus. · Quando
ca em Cruzeiro do Sul. Seu traçado estiverem concluídas as 4 últimas, a
assemelha-se ao desta; seus objetivos capital amazonense, que já está ligada
são, também, o da interação de um à Manacapuru e a Careiro por estra-
sistema rodofluvial, vinculando áreas das estaduais, será grande nó rodoviá-
em que a navegação fluvial é impossí- rio de posição estratégica para circu-
vel pela ocorrência de cachoeiras e lação geral da Amazônia, desfrutando
onde a mesma é condicionada ao pe- das vantagens que lhe garantem sua
ríodo de águas altas. 1!: ainda de posição geográfica, · como central no
grande importância para . a segurança hinterland da grande Bacia.
nacional e deverá comandar o acesso
às fronteiras com as Guianas, Colômbia Há ainda outras rodovias em tráfego,
e Peru. porém estas só estarão integradas aos
sistemas regional e americano quando
Além da Transamazônica e da Perime- estiverem prontos os trechos situados
tral Norte, outras estradas foram cons- no Amapá e na vizinhança desse Ter-
truídas e planejadas nos 3 primeiros ritório com o Pará.
anos da década de 1970. Entre elas a
Cuiabá-Santarém, a Porto Velho-Ma- Pelo exposto, verifica-se que o Gover-
naus e a Manaus-Boa Vista, considera- no Federal objetiva a implantação de
das prioritárias pelo Governo Federal. um sistema rodofluvial integrado atra-
A Cuiabá-Santarém, orientada de sul vés das interligações de portos que
para norte, penetra no Pará pouco condicionam a navegação fluvial a
antes do lugarejo chamado Cachimbo; transbordos; de portos terminais na
entronca-se na Transamazônica perto época de vazante e pontos extremos em
de Itaituba, continua por esta em dire- virtude da ocorrência de cachoeiras.
ção leste até o sul de Santarém, Para a ocupação e implantação de pro-
quando ruma para o norte. O trecho si- jetos de colonização, considerou áreas
tuado entre a Transamazônica e San- situadas ao sul do rio Amazonas c6mo
tarém já está em tráfego. A Porto mais favoráveis, pelo fato de as mes-
Velho-Manaus, concluída no final de mas serem contíguas às Regiões Nor-
1973, asfaltada em meados de 1974, des~ e Centro-Oeste, o que seria de
entronca-se com a Transamazônica em maior interesse para a iniciativa priva-
Humaitá; segue mais ou menos para- da e para atrair imigrantes. Assim, ao
lela ao vale do Madeira até o rio Ama- elaborar o PIN, o Governo Federal
zonas. A Manaus-Boa Vista, corta o estabeleceu que seriam prioritárias fai-
·alto curso dos afluentes do Negro, xas de terras ao longo da Transama-
orienta-se em seguida para o vale do zônica, da Cuiabá-Santarém, Cuiabá-
rio Branco; passa por Caracaraí, onde Porto Velho, Porto Velho-Guajará-Mi-
encontra a Perimetral Norte; prossegue rim e denominou estas rodovias de
para Boa Vista, lugar em que se bi- "Eixos de Desenvolvimento Potencial"
furca em direção às fronteiras da Guia- em decorrência da conexão com a rede
na Inglesa e da Venezuela, a fim de de estradas construídas e em constru-
entrosar-se no sistema americano. Já ção do Nordeste e do Cent~o-Oe~te;
estão construídos os percursos que das conexões dentro da própria Re-
ligam Caracaraí à Boa Vista e esta às gião; do acesso fácil para regiões em
fronteiras. As rodovias federais pla- que as ocorrências de minerais sejam
nejadas para serem iniciadas são: a economicamente explotáveis e do mes-
Brasília-Manaus, que se entroncará mo para áreas que dispõem de outros
em Cachimbo com a Cuiabá-Santarém recursos naturais.

291
1.2.2 -Canais Ferroviários ção. 13 Iniciada em 1910 e concluída
em 1913, sua importância no trans-
Existem hoje, na Amazônia, apenas porte da borracha teve curta duração.
duas ferrovias, ambas de pequena ex- Em 1920 esse produto contribuía ape-
tensão, construídas com o objetivo de nas com 7% do total da carga trans-
possibilitar o escoamento de matérias portada ( 4.456 para 60.437 t). H Arrui-
primas destinadas particularmente ao nada e abandonada, a estrada entrou
mercado internacional. São a Estrada em processo de erradicação em 1966,
de Ferro do Amapá, que liga o porto porém foi readaptada para servir de
de Santana . às jazidas de minério de apoio à construção da Rodovia Porto
manganês da serra do Navio, com Velho-Guajará-Mirim, nos transportes
194 km, e a Estrada de Ferro Tocan- de material e de pessoas. Em 1970,
tins, entre Tucuruí e Jatobá, com segundo o Anuário de Transportes, p.
117 km, que contorna este trecho en- 135 e 141, circularam pela via férrea
cachoeirado do rio do mesmo nome. 7.000 t e 2.000 pessoas; em 1971 a to-
A primeira, construída pela empresa nelagem baixou para 2.000, não houve
Indústria e Comércio S/ A - Icomi, neste ano passageiros e, em 1972, a es-
na segunda metade da década de 1950, trada deixou de funcionar.
é ferrovia moderna e bem equipada, A Estrada de Ferro Bragança unia
com trilhos de bitola larga, pontes e Belém a Bragança, foi a única cuja
estações de estrutura metálica, loco- construção teve objetivo de colonizar
motivas diesel-elétricas. Possui, entre a área por ela atravessada, a fim de
outros, 90 vagões destinados ao trans- garantir o abastecimento, em gêneros
porte de minério, cuja capacidade alimentícios, para Belém. Dado a de-
total é de 5.760 t. 10 Em 1970 foram mora da construção, começada em
transportadas pela ferrovia 1.328 mi- 1883, e terminada 25 anos depois,
lhares de toneladas, contribuindo o apesar do percurso ser inferior a
minério de manganês com 98$, isto é, 300 km, muito pouco contribuiu para a
1.285 t. Quanto ao transporte de pas- expansão das colônias, pois a ocupação
sageiros, no mesmo ano, foi de 121.000 de novas glebas precedia a chegada
pessoas. 11 dos trilhos. Contudo, concorreu para
A Estrada de Ferro Tocantins teve sua a ocupação espontânea de imigrantes
construção iniciada em 1905 e termi- nordestinos e até a chegada da rodo-
nada em 1944. Embora decadente e via, na década de 1940, não existia
abandonada presta ainda alguns ser- outro meio de ligação por terra entre
viços. Em 1970 transportou aproxima- Belém e a Bragantina. Com o desen-
damente 3.000 t, correspondendo a volvimento das estradas de rodagem a
castanha-do-pará a 36$ ( 1. 077 t). 1 2 ferrovia perdeu, gradativamente, sua
importância e, antes do final da dé-
Além dessas, a Amazônia possuía a cada de 1960, seus trilhos foram arran-
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e cados.
a de Bragança, ambas de pequena ex-
tensão e já substituídas por rodovias
que seguem o mesmo traçado. 1.2.3 - Aerovias
A Madeira-Mamoré, com 366 km, As aerovias, na Amazônia, desempe-
surgiu da necessidade de transpor o nham importante função no desloca-
trecho encachoeirado do Madeira, mento de pessoas em decorrência das
entre Porto Velho e Guajará-Mirim. grandes distâncias que separam os
Desde a segunda metade do século principais centros urbanos, da insu-
XIX, Brasil e Bolívia cogitavam da im- ficiência da navegação intra-regional e
plantação de. um sistema ferro-fluvial da expansão de rodovias ser muito re-
que ultrapassasse as cachoeiras do rio cente e restJ:ita a algumas áreas.
Madeira entre São Carlos (a 6 km de
Porto Velho) e Guajará-Mirim. Porém, Servida pelas empresas Cruzeiro do
só depois do Tratado de Petrópolis, em Sul - Viação Aérea São Paulo -
1903, é que foi decidida sua constru- VASP e Viação Aérea Riograndense -
RegiOo Norte
LINHAS AÉREAS
FREQUENCIA SEMANAL - 1970

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FIG. 3
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VARIG, que cortam a Região em várias Vilhena; ou de acesso dificultoso na


direções, notam-se ainda táxis aéreos vazante, como Boca do Acre, todas as
pertencentes a particulares, que reali- cidades acreanas, Carauai·i e Eirunepé,
zam transportes de pessoas, entre áreas no Juruá. Para garantir transporte às
rurais mal servidas por hidrovias e ro- populações residentes nas áreas atra-
dovias e cidades próximas. Além dos vessadas pelas linhas com escala, o Go-
taxis aéreos, a Aeronáutica presta ser- verno Federal mantém convênio com
viços no transporte da população de as empresas de aviação. ( Fig. 3).
baixo poder aquisitivo.
As cidades para as quais converge
As rotas aéreas das empresas Cruzeiro maior núrnero de linhas e que apresen-
do Sul e Viação Riograndense propor- tam maior freqüência semanal de via-
cionam ligações diretas e indiretas. As gens são, hierarquicamente, Belém,
primeiras entre cidades que são, geral- Manaus, Santarém, Porto Velho e Rio
mente, capitais administrativas, como Branco.
Belém-Manaus, Belém-Macapá, Ma-
naus.!-Porto Velho, Manaus-Boa Vista; Belém, com mais de 70 viagens sema-
entre essas e centros regionais impor- nais e Manaus, que se situa na classe
tantes, como as de Belém-Santarém, de 69 a 50, são os principais focos de
Manaus-Santarém; entre as capitais çonvergê.ncia de linhas tanto para li-
dos Estados do Amazonas e do Pará e gações intra-regionais como para inter-
lugares mal servidos · pela navegação regionais. Nas ligações indiretas - que
fluvial, como ocorre entre Manaus ·e são as · que mais servem à Região,
Tabatinga, entre a primeira e Barcelos, partindo-se de Belém - chega-se a
entre Belém e Marabá. ·As ligações in- Santarém através de 3 linhas: a pri-
diretas são as das linhas que interli- meira com escala em Monte Alegre, a
gam localidades menores às capitais e segunda em Altamira e a última em
a Santarém, e descrevem trajetórias, em Portei e Altamira. De Manaus, também
que se alinham localidades inacessíveis por meio de rotas com escalas, partem
à navegação fluvial, como Rondônia e 5 linhas: 2 dirigidas para Tefé e Ca-

293
Região Norte

ESTRUTURA ESPACIAL DAS VIAS


1973

olçono
.S. Gabriel
do Cachoeira

Árto.a S.rvldos :
c::::J Somente por Hidrovlo com trát.oo livre o o no todo
c:::J Somente por Hidrovlo com tróftQO com transbordo na vazante
1-Coioru 13- Novo Timbott"uo 25 - Moju
2- Curuço' 14- S. M. do Porá 26- Igarapé - Mirim c:::J Somente por Hldrovla com tráfego só na enchente
3· Bragança 15- CastanhO! 27· Acoró
28- Tomé Açu - Somente por Rodovia
4·VIItU 16- S.lsobtl do Porá
5· Primavera 17- Benevides - 29- Ponta dt Pedras .:::11 Por Rodovia 1 Hldrovia
6· Sontorém Novo 18- lnhongopl 30- S. StbostiÕO do Boa Visto
-,... Moraconõ 19- Ourtm 31 - Curr.allnho ~ Por Hldrovlo , Rodovia t Ferrovia
&- Mo9olhãu Barato 20- S. Miguel do Guomó 32.- Otlros do Porá
9- s, Francisco do Porá 21- lrltulo 33- Limoeiro do Ajuru FIG. 4 - SOmente por Ferrovia
10· l9aropt Açu 22- Cop. Poço 34- Urucurituba • Cidades ~tnldat por Linhos AÍrtoa
11· Capanema 23· Borcareno
12-Polu Boi 24- Abottetubo Localidades
rauari, prosseguindo desta cidade uma se com o Rio de Janeiro por linha di-
para Tabatinga e outra para Cruzeiro reta e indireta; esta, através de escalas
do Sul, esta com escala em Eirunepé; em São Luís, Fortaleza, Natal e Recife.
1 para Porto Velho, com paradas em Por linha direta une-se à Brasília; Ma-
Manicoré e Humaitá; e, finalmente, 2 naus e Porto Velho, cidades mais in-
para Santarém, ambas com escalas em teriorizadas dentro do espaço regio-
ltacoatiara, continuando 1 por Maués, nal, e que têm ligações inter-regionais
Parintins, Oriximiná e óbidos e a outra com Brasília e Cuiabá, predominando
por Parintins, Alenquer e Monte Ale- as de Manaus com Brasília. As linhas
gre. Santarém, com freqüência, perten- inter-regionais que servem a Marabá,
cente a classe de 49 a 20 linhas sema- Conceição do Araguaia, Vilhena e Prín-
nais, é centro que serve exclusivamente cipe da Beira têm freqüência semanal
às ligações intra-regionais e para baixa; situam-se nas classes de menos
a mesma convergem, praticamente, de 2,2 a 4 viagens semanais e per-
todas as ligações procedentes das ci- tencem às rotas de aviões do tipo
dades situadas entre Belém e Manaus DC-3 e AVRO, que unem Belém a
ao longo do Amazonas e, ainda, a de Porto Nacional, Porto Velho e Guajará-
Itaituba. Na mesma hierarquia de Mirim a Cuiabá, através de várias
Santarém classifica-se Porto Velho escalas.
com 5 linhas dirigidas: 1 para Vilhena,
com escala em Rondônia; outra para Além dos aeroportos citados é neces-
Príncipe da Beira, através de Guajará- sário destacar o de Boa Vista (que
Mirim; 2 para Rio Branco, a primeira permite, também, a descida de qual-
tem parada em Guajará-Mirim e últi- quer tipo de avião), dado a importân-
ma em Boca do Acre e a última para cia das ligaÇ:ões aéreas de Manaus com
Manaus, com as escalas citadas. Rio essa cidade e pelo fato de a mesma
Branco, logo abaixo de Porto Velho, estar na rota de aviões que fazem linha
além de se unir à última por linhas já internacional. Há ainda vários campos
descritas, domina todas as do Estado de pouso disseminados ao longo da
do Acre, com exceção de uma que une faixa de fronteiras , construídos pela
Feij6, Tarauacá e Cruzeiro do Sul à Comissão de Aeronáutica da Região
rota que parte desta cidade para Ma- Amazônica - COMARA, 6rgão subor-
naus. De Rio Branco saem 2 linhas dinado ao Ministério da Aeronáutica,
para Sena Madureira, prosseguindo que têm como finalidade a segurança
uma para Cruzeiro do Sul, com esca- nacíonal. Com exceção dos de Cachim-
las em Feij6 e Tarauacá. Ainda da ca- bo e Jacareacanga no Pará, do de
pital acreana sai outra com destino a Amapá no Te~rit6rio do mesmo nome,
Cruzeiro do Sul, escalando em Taraua- existem 4 na fronteira do Brasil com a
cá. As linhas aéreas que servem ao Es- Bolívia, 1 na do Peru, 3 na da Colôm-
tado do Acre constituíam, até a con- bia, 2 na da Venezuela e 4 nas das
clusão da Transamazônica, as únicas Guianas. Devem ser construídos mais
vias que uniam a capital com as cida- sete, 3 na fronteira peruana, 2 na co-
des dispostas ao longo da fronteira lombiana, 1 na venezuelana e 1 na
com o Ama~onas, excetuando-se a na- guianense. 15
vegação precária e dificultosa do
Purus e do Juruá. A análise da repartição espacial das
vias, no quadro Amazônico, conside-
As linhas inter-regionais partem de rando-se como rodovias as construídas
Belém, Manaus e de Porto Velho, ci- e as em construção refletem uma estru-
dades equipadas de aeroportos, cujas tura, com limitações e condicionamen-
pistas permitem operações para qual- tos impostos pelo quadro natural. De
quer tipo de avião. Por meio da capi- início, verifica-se grande dominância
tal paraense ocorrem a maioria das li- da navegação fluvial, cobrindo imensa
gações, que contribuem com mais de área quase contínua, que se estende da
50% do total da freqüência, o que foz do Amazonas até seus afluentes de
mostra sua importância como maior oeste e sudoeste, apresentando a no-
centro regional da Região. Belém liga- roeste, sudoeste e sul grandes trechos

295
EXPORTAÇÃO REGIONAL PARA MANAUS,
BELÉM E MACAPÁ - 1970

TONELAGEM
EXPORTAÇÃO
35000 PARA MACA

30000

20.000 O MADEIRA

111 CASTANHA-ocr-PARÁ
15.000
I I I JUTA

10.000
li BORRACHA

D FARINHA DE MANDIOCA,
FEIJAO,ARROZ E MILHO
5.000 111 PEIXES SECOS E DEFUMADOS p
2 .500
1.500 O BOVINOS

FIG. 5 EXPORTAÇÃO REG IONAL


ESC AL A PARA BELÉM - 1970
Km
com navegabilidade sujeita a trans- os fluxos de carga, embora saiba-se
bordos, na vazante, e limitado ao perí- que o movimento de passageiros como
odo de cheia dos rios. Essa imensa o de carga vem aumentando sensivel-
área acompanha, em linhas gerais, os mente nos últimos anos com a expan-
contornos da nlanície Holocênica da são das estradas.
foz do Amazonas e do baixo platô Ter-
ciário. Ao norte e ao sul da grande
superfície navegável situam-se grandes 2.1 -Fluxos de Mercadorias
vazios sem vias, que correspondem aos
terrenos cristalinos dos planaltos das Os fluxos de mercadorias demons-
Goianas e Brasileiro. Este é cortado tram a permanência da economia co-
pela Transamazônica no Estado do lonial, a falta de integração do sistema
Pará, no sudoeste do Estado do Ama- econômico regional ao nacional, a
zonas e pela Porto Velho-Cuiabá em ausência de interação dentro da pró-
Rondônia. Seguem-se áreas que dis- pria economia amazônica e a precarie-
põem de vias rodofluviais, correspon- dade das relações de produção no
dendo, de modo geral, às de navega- conjunto dos produtos regionais, par-
bilidade sujeita às condições climáticas, ticularmente nos do setor Primário
a junções de terminais navegáveis que constituem a quase totalidade das
pela ocorrência de cachoeiras e as exportações. Refletem, ainda, a fragili-
áreas de navegação livre. Finalmente, dade do setor Secundário, composto da
as áreas servidas por vias aéreas se su- exploração de minérios, basicamente
perpõem também às de navegação de manganês, da Refinaria de Petró-
difícil ou impossível e refletem a au- leo de Manaus, dos beneficiamentos
sência de linhas de navegação organi- da produção primária, de algumas fia-
zadas segundo as necessidades regio- ções e tecelagens de juta e malva loca-
nais, mesmo nos trechos de navegação lizadas principalmente em Belém e
livre e também à insuficiência de ro- Manaus, e algumas outras indústrias
dovias. ( Fig. 4). implantadas na capital paraense.
Ora, como a Amazônia é Região que
2 - FLUXOS DE CARGA exporta quase toda sua produção e
importa, praticamente, tudo o que ne-
E DE PASSAGEIROS cessita para consumo, mantém, portan-
to, relações com outras Regiões bra-
Os fluxos de carga apoiam-se princi- sileiras, sobretudo no tocante às im-
palmente nas hidrovias e refletem a portações, dado a predominância das
organização da economia regional ba- exportações para o mercado mundial.
seada nas exportações de produtos Contudo, embora existam relaciona-
primários, de minério de manganês e mentos comerciais e os mesmos se
na importação de bens, todas vincula- processem mais com o Sudeste,
das a mercados inter-regionais. Infe- grandes áreas amazônicas permanecem
lizmente não é possível verificar a con- isoladas, não usufruindo dos benefí-
tribuição dos fluxos rodoviários, em vir- cios transferidos pelas grandes cidades
tude da inacessibilidade aos dados refe- de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tais
rentes aos mesmos. benefícios se acumulam nas cidades
de Belém e Manaus através das quais
Os fluxos de passageiros utilizam ocorrem, de modo geral, as relações
muito mais as aerovias que possibilitam comerciais, provocando grande fra-
deslocamentos de pessoas em quase queza de vínculos de natureza econô-
toda a Região e mantêm grande domi- mica de extensas áreas produtoras e
nância nos fluxos inter-regionais. As consumidoras da Região com outras
hidrovias têm papel mais restrito, li- Regiões. A fragilidade desses vínculos
mitam sua importância a certas áreas é muito influenciada pelo aviamento,
no interior da Amazônia. A partici- já apreciado nas hidrovias. Constitui o
pação das rodovias é desconhecida, mesmo um forte instrumento de uma
pela mesma razão que acontece com sociedade de caráter mercantilista,.

298
onde exportadores - importadores e tanha, juta, borracha, couros e peles
aviadores, incluindo-se entre os mes- silvestres, óleos e essências aromáticas;
mos grandes proprietários rurais e alguns destinados ao abastecimento ali-
arrendatários, mantêm sob forte subor- mentar, como gado bovino para corte,
dinação econômica produtores do ex- farinha de mandioca, feijão, arroz,
trativismo vegetal. Tal subordinação milho, peixes secos e defumados, peixes
se manifesta na troca do produto regio- frigorificados, crustáceos e moluscos,
nal por bem de consumo, em geral, condimentos em geral e pimenta.
efetuada no barracão do grande pro- Constituem esses produtos a maioria
prietário rural ou arrendatário abaste- das exportações e contribuem com
cido em firmas exportadoras-importa- 273.261 t ou com 82,1% do total da
doras sediadas em Belém e Manaus, carga exportada. Considerando-se o
sendo o mesmo, geralmente, dono ou montante de 273.261 t igual a
interessado nessas firmas. O "aviamen- 100,0%, vê-se que a madeira concorre
to" impede relações de produção mais com 55,7~ (152.316 t), a castanha com
modernas, favorece a concentração da 15,0% ( 41.000 t), em 3.0 lugar vêm
renda nas duas maiores cidades da juta e borracha com, respectivamente,
Região, não possibilita aos produtores 10,7 e 8,3$, (29.194 e 22.724); suce-
usufruir das vantagens de melhoria de dem-se os outros produtos que, em
preços para os produtos ofertados, conjunto, concorrem com 10,3% ..... .
mesmo a nível regional, prejudica-os (28.027 t).
quanto ao acesso ao crédito fornecido
por entidades governamentais e, conse-
qüentemente, reforça os efeitos das 2.1.1. 1 · Exportação Infra-Regional
distâncias entre os mercados exporta-
O total da exportação intra-regional,
dores e importadores. em 1970, foi de 48.245 t, concorrendo
As relações comerciais, até as primei- com o percentual de 17,7% das
ras décadas do século XX, eram man- 273-.261 t exportadas. Para melhor apre-
tidas, exclusivamente, com o mercado ciação da natureza da carga-exportada,
mundial por meio da exportação da foram destacadas dos outros produtos
borracha brasileira. a participação de bovinos, de peixes
secos e defumados, do conjunto de gê-
O movimento total de carga exportada neros alimentícios, oriundos da pro-
e importada pelas hidrovias, em 1970, dução agrícola (farinha de mandioca,
com exclusão do minério de manganês, feijão, milho e arroz). (Tab. 15).
foi de 1.962.869 t e o frete Cr$ .....
188.240.418. Desses totais competem à Belém, Manaus e Macapá são os por-
navegação intra-regional, cabotagem-e tos para onde é dirigida a exportação,
longo curso, respectivamente, 328.013 t na sua quase totalidade, com objetivos
e Cr$ 16.277.031, 813.811 t e Cr$ de ser reexportada por longo curso ou
65.891.277, 823.045 t e Cr$ ......... . por cabotagem, de ser aproveitada para
106.072.110. 16 A média dos preços de consumo alimentar e consumo indus-
frete por tonelagem foi de Cr' 49,9 trial, prosseguindo, às vezes, a expor-
para a primeira, seguem-se a de cabo- tação como produto beneficiado ou
tagem e longo curso, com Cr$ 81,0 e transformado. Do total de 48.245 t
Cr$ 128,8. 17 esses portos absorvem 46.719, isto é
96,8%. Os restantes 1.526 t são exporta-
dos para outros portos abordados por
2 . 1. 1 - Exportação de navios de longo curso e de cabotagem
Produtos Regionais na viagem de retomo, com o objetivo
de complementação de carga.
O volume de exportação intra-regional
por cabotagem e longo curso é de No mapa exposto ( Fig. 5) foi necessá-
332.868 t. Os principais produtos da rio suprimir, algumas vezes, um ou
economia regional são (excetuando-se outro produto, em virtude da impossi-
o minério de manganês) madeira, cas- bilidade de serem figurados, devido ao

299
pequeno volume apresentado, embora a OO<QO>>.t)t-.O>.t) o
escala dos fluxos seja de 3mm = 375t.
l!: o que acontece com a madeira
e com o grupo de alimentos originários
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para Manaus, peixes secos e defuma-
dos, e borracha enviadas para Belém,
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mas vezes incluídos nos manifestos sob
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deira, que tem sua maior exploração ""


nas matas de várzea e igapós, procede .,....; .,.
principalmente do baixo Amazonas, a
partir de Porto de Moz para a jusante,
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zell, grande empresa de renome inter- ~ I'-

nacional na indústria da madeira, que e


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implantou uma subsidiária no Brasil ~ ~-<Ql"-0>0>1"- 00
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chamada Brunasa S.A., esta cons- ~;li~~~~~ r-:
tituída com capitais da !comi. Antes
da existência dessa indústria em Maca-
pá, o porto de Belém detinha a prima-
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zia das exportações de madeira. Outros 6-"t-."M" r 6 ....
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produtos seguem, principalmente, !§
para Belém: a castanha-do-pará é ex- oi
portada, na sua quase totalidade, para :a O>.,.O<Q
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esse porto e procede dos vales do To- ~ """"""""
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cantins, Purus, Tapajós e do Madeira;


a juta é cultura de várzea e encon-
""
tra no trecho situado entre Manaca-
puru e Santarém, na área de maior
produção, sua exportação; o gado bo- ...e
vino, para produção de carne, origina- : :á
se dos campos alagáveis de Marajó e : CI)
· o
dos próximos à foz do Amazonas; os
gêneros alimentícios resultante-s da ~]
p~odução agrícola vêm, principal- :~
mente, da área próxima ao mercado de s:I"'
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Belém entre Santarém e Abaetetuba. o
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Do total de 48.245t Belém im-


"" ~ Jl
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porta 33.718 t ou 70,0%, seguindo-se : ] 'tl
Manaus e Macapá com o percentual
de 13,4% e as respectivas tonelagens de
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6.479 e 6.522 t. Belém importa 100,0$ i~ ; Jiio~
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dos peixes secos e defumados, 99,1 dos ·-i 3 ! f... ·~.5~ ~


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bovinos, 95,8 dos gêneros alimentícios ::;!; ~:I o~ i'4l .!!i


oriundos da agricultura, 94,5 da cas- .... lXI """" .s
tanha-do-pará, 74,9 da borracha, 60,8 ,..;~~~..Q<Dr-: ~

800
da juta e 47,9% da madeira. A capital mundial 47,0 pertence à madeira, 12,1
paraense é o porto mais freqüentado à castanha, 4,0 a outros produtos e
pelos navios de longo curso e de cabo- 3,8% à pimenta. Tais mercadorias so-
tagem, maior mercado consumidor de madas dão o montante de 150.381 t,
alimentos, centro "que vem crescendo que concorre com 66,9 dos 70,7~.
pela expansão da atividade industrial, Quanto ao mercado interno, embora
principalmente a partir da segunda absorva 32.675 t da madeira, sua maior
metade de 1960, ocasião em que a importância é relativa à juta e à bor-
Amazônia passou a gozar os benefícios racha, importando, respectivamente,
da Lei de Incentivos Fiscais (redução 16.417 e 11.363 dos globais de 19.598
de 50,0% do .imposto de renda para in- e 16.675 t.
vestimentos na Região)." 18 A Belém
segue-se Manaus que importa 25,1 da Entre esses produto~ o de maior custo
borracha, 39,2 da juta e 5,5~ da cas- de transporte para o mercado mundial
tanha. Quanto ao porto de Macapá- é o da castanha, seguindo-se o da pi-
Santana, como foi descrito, sua impor- menta, cujas médias de fretes por to-
tância é relativa somente à madeira. nelada exportada, em 1970, foram de
Cr$ 366,95 e Cr$ 261,76, respectiva-
mente. O preço mais elevado do frete
da castanha é por ser esse produto pe-
2. 1. 1.2 - Exportação Inter-Regional recível, mesmo quando embarcado em
casca. A primeira como é exportada
A cabotagem e o longo curso partici- seca tem maior resistência à deterio-
pam com 225.016 t, o que equivale a ração. Quanto às médias dos fretes da
82,3% das 273.261 t exportadas. Desses borracha e da juta, exportadas por
70,7 ( 158.874 t) pertencem ao longo cabotagem, a maior é a da última, em
curso e 29,3$ (66.142) à cabotagem. virtude de suas necessidades de melhor
embalagem e acondicionamento. Em
Considerando-se a cabotagem e o 1970 a média dos fretes por tonelada
longo curso igual a 100,0%, observa-se exportada foi de Cr$ 118,98 para a
que - em relação à importância - os juta e de Cr$ 114,41 para a borracha.
produtos se escalonam de maneira se-
melhante ao da exportação intra-regio- A exportação sofre com os condicio-
nal. Assim, como se vê na tabela 16 namentos ao quadro natural, que in-
a madeira permanece em 1.0 lugar, a fluem mais quando o período de safra
castanha - com grande diferença - não coincide com o de transporte,
em 2.0 , seguem-se borracha e juta. acarretando aumento de custo do úl-
Alguns produtos como couros e peles timo, dado a necessidade de se guar-
silvestre!>, 6leos e essências aromáti- dar ou de armazenar a produção. A
cas, peixes frigorificados, crustáceos e armazenagem é, geralmente, deficien-
moluscos, cacau e condimentos, s6 te, o que provoca a desvalorização da
aparecem na exportação inter-regional mercadoria. Os produtos de mercado·
e, assim mesmo, em quantidades pe- externo estão ainda sujeitos a flutu-
quenas. Quanto aos peixes secos e ações de preços, em virtude da maior
defumados, bovinos para corte e gê- ·ou menor demanda e da falta de orga-
neros alimentícios originários da agri- nização dos exportadores.
cultura, também apresentam quanti·
dades semelhantes. Por essa razão foi Assim, a madeira, produto de maior to-
considerado um grupo composto pelos nelagem, tem sua explotação e seu
mesmos, chamado na tabela 16 e no transporte regulado pelo regime dos
mapa como outros produtos. Entre os rios. Nas águas baixas processa-se o
condimentos foi destacada a pimenta- corte e o amontoainento das toras nas
do-reino expQrtada por Belém, dado a margens. Nas águas altas ocorre o
importância dessa exportação. transporte até os portos de embarque
de 3 modos: no primeiro, o mais sim-
Pelo quadro exposto vê-se que dos ples, as toras são amarradas e descem
70,7% das importações do mercado rio a baixo, sob forma de jangadas; no

SOl
segundo, as toras ligadas são puxadas correm as linhas de cabotagem, a juta
por chatas e, no último, o transporte é e a borracha escoados por longo curso.
feito dentro de chatas, com a utili- Os volumes dessas mercadorias proce-
zação de rebocadores. O condiciona- dem de vários portos em quantidades
mento da produção e transporte ao re- não representativas, na escala logarít-
gime dos rios oneram o custo da ma- mica adotada.
deira exportada, em decorrência da ne-
cessidade das empresas madeireiras ê:le Os principais portos exportadores são
financiamentos a período correspon- Belém, Manaus, Portei, Abaetetuba,
dente, para pagamento do trabalho dos Breves, Macapá e Itacoatiara, cujas ex-
chamados "especialistas", pessoas en- portações somam o volume de 165.338t
carregadas do corte e transporte da e perfazem o percentual de 73,4%, va-
madeira. riando os mesmos entre 59.392 e 9.736.
Seguem-se os de Santarém, Parintins,
A castanha-do-pará, conhecida no óbidos, Iguarapé-Miri, Oriximiná,
mercado internacional como noz de Muaná, Limoeiro do Ajuru, Moju e
Brasil, dá ao País o privilégio de ser Curralinho todos com mais de 1.000 t
o único fornecedor, pois até agora, e os de Porto de Moz, Gurupá, Acará,
apesar de terem sido feitas tentativas Bragança, São Miguel do Guamá e
de plantio por países importadores, os Viseu com mais de 100 t, contribuindo
mesmos não obtiveram sucesso. O com 25.218, ou sejam 11,1% das
"Comitê de Ordenamento da Oferta 225.016 t exportadas. Os restantes
. da Noz do Brasil" composto de expor- 15,5% pertencem a vários portos peque-
tadores de Belém e de Manaus, limita- nos, alguns incluídos nos resumos de
se a fixar preços mínimos de exporta- manifestos sob a denominação de
ção, preços esses nem sempre mantidos. vários portos. (Tab. 17).
A heterogeneidade do produto ofertado
concorre para manter a ausência de pa· Belém e Manaus são os 2 maiores
dronização; as condições precárias de portos e participam com 41,8%
acondicionamento e de estocagem in- ( 94.250 t) do total da exportação, ca-
fluem para a má qualidade, favore- bendo 11,4 à cabotagem e 30,4% ao
cendo a presença e a maior dosagem longo curso. O primeiro, com 59.392 t
do tóxico aflatoxina. Concorre ainda exporta mais de I/4 do total, em razão
para baixa cotação da castanha-do-pará da grande maioria de suas exportações
no mercado mundial o fato de a maio- se destinarem ao mercado externo.
ria da mesma ser exportada em casca. Porto tradicional desse mercado, nele
Tanto a dosagem da aflatoxina como se concentram a maior parte das sedes
o fato do ·grosso das exportações ser de firmas exportadoras-importadoras-
efetuada em casca demonstram a ne- "aviadoras", desde os tempos em que a
cessidade de investimento na armaze- borracha era produto de grande valor
nagem e beneficiamento. para o mesmo. Favorecido por sua po-
sição geográfica e próximo às princi-
No mapa exposto ( Fig. 6) não figu- pais áreas produtoras da madeira., cas-
ram a castanha-do-pará e outros produ- tanha-do-pará e pimenta-do-reino, é o
tos transportados por navios que per- maior exportador dessas mercadorias

Tabela 16 Exportação Inter-regional


CABOTAGEM LONGO CURSO TOTAIS
PRODUTOS
Peeo % ac• % Peeo % % ac• Peao % % a•
1. Madeira ........ 82.1175 lU a.5 105.760 47.0
-47.0
- 138.435
-61.5
- - -61.5-
2 . Ca•tanht.-do-pará 73 0.0 1·1.11 27.138 12.1 69.1 27.211 12,1 73,6
3 . Juta ........... 16. 417 7.2 21,7 3 . 181 1,5 60.6 19.508 8.7 82.a
••
15.
Borracha.. . ....
Outroa produto&
11 . 363
5.614
5,1
2,5
26,8
29,3
6 . 312
8.927
2,3
4.0
62,9
66.9
16. 676
14. 541
7,4
6,5
89.7
96, 2
6. Piment-'l........ - - 20.3 8.556 3,8 70.7 8 .556 3,8 100.0

TOTAIS . .......... 66 . 142


---
29.3
- -
29.3 158. 874 70,7 70.7 225 . 016
- ----
100.0 100,0

Obs.: • ac = Percentagem acumulada.

302
Região No rte
EXPORTAÇÃO REGIONAL POR LONGO CURSO
E CABOTAGEM - 1970

EUA

(..)

TONELAGEM
185 000

140 000

tiO 000
oI
50 100
I I
200 I

LEGENDA 75 000
CABOTAGE M C=:J lonoo Curso - Juta 55 000
FIG. 6 EUA· Estados Unidos So • Santos IZ.ZJ Cobotooem - Borracho 35 000
IN • lnotaterro RJ • Rio de Janeiro
CJ Madeiro Outros Produtos zo 000
Al- América latino F - Fortaleza
6 000
- Castanha-do-Porá - Pimenta o
Fonte : Superintendência Noc. de Marinha Mercante
e das que constam como outros pro- neiro são os maiores importadores. O
dutos para o mercado mundial. Por porto paulista importa 8.972 t de borra-
Belém são escoadas 18.719 t de cas- cha e 2.766 de juta, o do Rio de Ja-
tanha-do-pará, 14.654 de madeira, a neiro 998 da última. A importação
totalidade da pimenta-do-reino ( 8.556) desses portos decorre das necessidades
e 6.707 de outros produtos. As tonela- desses produtos para a indústria de
gens dessas mercadorias contribuem pneumáticos do Estado de São Paulo e
com 48.636 do total de 50.336 expor- para as exportações de café. Por longo .
tado por longo curso. O maior impor- curso são exportadas, principalmente,
tador são os Estados Unidos da a castanha-do-pará 7.750 t e outros
América, para onde seguem 30.464 t. produtos 3.879. Desses, os Estados
Belém é o 2.0 porto de cabotagem, ex- Unidos absorvem 4.026 t da primeira e
porta principalmente madeira e outros países da América Latina 2.005 do
produtos dirigidos para Fortaleza. último, que é composto no porto de
Para este porto são escoadas 2.584 t de Manaus, principalmente de gêneros
madeira das 5.031 exportadas por alimentícios oriundos da agricultura e
Belém e 2.144 de outros produtos, cujo de peixes secos e defumados.
total que sai por cabotagem de
Belém é de 2.500 t. Manaus é porto Seguem-se os portos de Portei, Abaete-
que se caracteriza por apresentar re- tuba, Breves, Macapá e Itacoatiara,
lativo equilíbrio entre exportações por cuja importância decorre exclusiva-
cabotagem e longo curso, esta com mente das exportações de madeira, ex-
apenas 1.332 t a mais, o que equivale ceção feita para ltacoatiara. A expor-
a 0,6%, devido ao fato de a grande tação dos mesmos atinge 61.352 t, o
maioria das exportações serem de bor- que corresponde a 44,3$ do total expor-
racha e de juta, cujos volumes de 9.132 tado de madeira ( 138.435) e a 27,3 do
e 4.283 somam 13.415, o que represen· total geral (225.016). A madeira é
ta mais de 1/5 do total de 66.142 re- quase toda dirigida para o mercado ex-
lativo à cabotagem. Santos e Rio de Ja- terior, principalmente para os Estados

Tabela 17 Principais portos exportadores (ton.) -1970


CABOTAGEM LONGO CURSO TOTAIS
PORTqS
Peao % % ac Peao % %ao Peao % % ae
1. Belbn. .. 9 .0511 4,0 4,0 60.336 22,4 22,4 59. 302 26,4 26,4
2. Ma.naua ..... . 16.763 7,4 11,4 18,095 8.0 30,4 34.~8 15,4 41,8
3. Portei.. ...... . - 11,4 21.960 Q,7 40,1 21.960 9,7 51,5
4. Abaetetuba .. .. 174 0,1 11,5 13.401 5,11 46,0 13.575 6,0 57,5
6. Brevoa .. .. 4 .1128 2,1 13,6 8 .604 8,8 49,8 13.232 5,11 63,4
11. Maoap6 .... . - 13,6 12. 585 5,7 55.5 12. 585 &,7 611,1
7. ltacoatiara.. . 6 .763 2,5 16,1 3 .1173 1,8 57, 3 9.736 4,3 73,4
TOT.US ... 36.384 16,1 16,1 128. 954 57,3 57.3 165. 338 73,4 73,4

8. Santarém . . 3 . 182 1,4 17,5 1.662 0,7 511,0 4 .84-4 2,1 75,5
11 . Parintiruo ..... . 4.602 2,0 19,5 163 0,1 58,1 4.665 2,1 77.6
10. Óbidoe ..... .. 2 .341 1,0 20,5 859 0,4 58,5 3 . 200 1,4 79,0
I I. Ic!'r~p~-Miri. . 3 .051 1,3 21,8 58,5 3.051 1,3 80,3
12 . Onx•mtná... . . 230 0,1 21,9 1.584 0,7 &9.2 1.814 0,8 81,1
13. M.uaná ....... . - 21,9 1.72-l 0,8 60,0 1.724 0,8 81,11
14. 1.-. do Ajuru . 1.594 0,7 22,6 60,0 1.594 0,7 82,6
15 . Moju.... . 585 0,3 22,9 76-l 0,3 60,3 1.349 0,6 83,2
16. Curralinho .. . . 5 0 ,0 22,9 1. 198 0,5 60,8 1.203 0,5 83,7
17 . Porto d e Moa 421 0,2 23,1 120 0,1 60,9 541 0,3 84,0
18 Ü11rupá • • 316 0,1 23,2 60,9 315 0,1 84,1
111. Acará ...... . . 305 - 23,2 309 0,1 61,0 309 0,1 84,2
20. Bragança ..... . 315 0,1 23,3 61,0 305 0,1 84,3
21 . S. M. Guamá - 23,3 170 0,1 61,1 170 0,1 84,4
22 Viaeu ....... . 1'14 0,1 23,4 13<l 0,1 84,5
TOTAIS.. . 16.665 7,3 23,4 8 .653 3,8 61,1 25.218 11,1 84,5

De I a 22
TOTAIS... . 53 .049 23,4 23,4 137.607 61,1 61,1 190.656 84,5 84,5
OUTROS .. .
TOTAIS .. 13.093 5,9 29,3 21.367 9,6 70,7 34 . 460 15,5 100,0
TOTAL OERAL.. 66.142 29,3 ~.9.3 158.874 70,7 70,7 225.016 100,0 100,0

Fonte: SUNAMAM.

304
Unidos da América, para onde seguem Iniciada em 1957 após a implantação
47.508 t, das 56.550 destinadas por da Indústria e Comércio de Minérios
esses portos ao longo curso. ltacoatiara S.A. (Icomi), empresa subsidiária da
é porto que se caracteriza pela expor- Bethlehem Steel, em Macapá, as ex-
tação da juta, e daí sua importância portações oscilam entre 649.150 t, em
como 3.0 porto em cabotagem, logo 1957 e 816.318, em 1963. O ano de
após Manaus e Belém, com 5.763 t. 1967 foi o que apresentou menor ex-
Deste número 3.723 são de juta expor- portação atingindo 521.660. 20 A partir
tada por cabotagem, seguindo 1.366 de 1968 a exportação toma impulso
para Santos, 1.357 para Rio de Janeiro e ultrapassa o montante de 1.000.000 t
e 1.000 para outros portos. com, respectivamente, 1.025.483, nesse
ano e 1.036.732 em 1969. O aumento
Seguem 15 portos cujas exportações sensível da exportação é decorrente
oscilam entre 5.000 e 130 t. O volume da reforma de uma das cláusulas do
total das mesmas é de 25.218; destas, contrato, efetuado entre a empresa
23.479 resultam das exportações de concessionária e o Governo do Terri-
madeira e de juta. Como acontece tório do Amapá, este na qualidade de
com os portos anteriores, exceção feita delegado da União, que fixava como
para Belém e Manuus, no grupo desses limite máximo de exportação anual
15 po1los enquarlram·se uma maioria 1.000.000 t.
de exportadores de madeira e, em A exportação pelo porto de Santana
menor número, exportadores de juta, muito contribuiu para o aumento da
salvo Santarém, que mantém relativo exportação brasileira que, em 1955, era
equilibrio entre esses 2 produtos. A ca- de 176.544. Em 1957 a exportação na-
botagem tem maior importância do cional passou a 798.067, participando o
que o longo curso, em virtude da Território do Amapá com 81,3$. A par-
juta, cujo volume para o mercado in- tir do início da década de 1960, 'com
temo é de 8.520, restando apenas 40 t exceção dos anos de 1965 e 1966, a ex-
para o exterior e ainda porque a ex- portação pelo porto de Santana se
portação de madeira para longo curso mantém sempre superior a 80S do total
e cabotagem tem mais ou menos o do País, como se vê pelo quadro que
mesmo volume: 7.512 t para o primeiro segue.
e 7.4(17 para o último. Os maiores ex-
portadores de juta são Parintins, óbi- Os maiores importadores são: os Es-
dos e Santarém, com respectivamente tados Unidos da América que absor-
4.502, 2 .267 e 1. 751 t. Das 8.520 t vem, de modo aproximado, 38,61, dos
Santos e Rio de Janeiro importam quais 16,6$ pertencem à própria
5.604, cabendo ao porto paulista 3.624
e 1.980 ao do Rio de Janeiro. O res- Tabela 18 Exportação do Minério de
tante segue para Recife e, principal- Mangan~s (Ton.) - 1970
mente, Rio Grande. Quanto à madeira
que sai por cabotagem e longo curso, AMAPÁ BRASIL
os maiores importadores são Fortaleza,
ANOS
Recife e Portugal com, respectiva- %8/o
mente 3. 404, 1. 480 e 2 .184 t. Peso 100,0%
Brasil

1960.... .. 760. 363 87,8 866.318


2.2 - Exportação do 1961.. .... 801.127 92,2 868 .501
1962 .. .. .. 685 . 499 90,2 7.i9 .915
Minério de Manganês 1963 .. .. .. 816 .318 97,1 840.709
1964 ... . .. 798 .763 95,9 R32. 918
1965 .... .. 796 .016 74,5 1.067.763
A exportação do manganês constitui 1966 .. . . .. 761.162 79.6 956. 558
a base econô~ca das exportações de 1967 .. .. . 521.660 96,2 542.017
1f6~ . .. . .. 1.025. 483 91,2 1.123. 909
minério. Em 1970 seu montante foi de 1969 . . . ... 1.036 . 732 93,3 1.110.619
1.~.925 t e o frete de Cr$ ...... . 1970... .. . 1.284 .92.5 80,9 1.558.079
34.355.678. 18 (Tab. 18).

305
Bethlehem Steel, seguindo-se o Ca- curso contribuem oom 1.630.001 t das
nadá com 8,3$, pedazendo o conti- 1:962.869 referentes ao movimento
nente Norte Americano 46,9 ..... . global da Região Norte.
( 603.927 t); a Europa, com os seguin·
tes países: Inglaterra, França, Norue- Dado a grande heterogeneidade de
ga, Alemanha, Itália, Iugoslávia, Gré- mercadorias importadas, as mesmas
cia, Dinamarca, Bélgica, Espanha, foram selecionadas e reunidas nos 5
Portugal e Tchecoslováquia importam segu.ntes grupos: petróleo e derivados
50,6%, com 655.324 t. Os restantes combustíveis; metais, estruturas metá-
2,5$ pertencem ao Japão e à Argen- licas, material de construção e vidros;
tina que importam, respectivamente, alimentos (inclusive para animais);
1,7 e 0,8$, somando ambos 25.674. máquinas, motores e veículos, peças e
acessórios para veículos, eletrodomés-
Para aproveitamento dos minérios ticos; diversos: bebidas (inclusive
miúdos e dos finos de baixo teor de alcoólicas) café, chá, fumo, tecidos, ar-
manganês, estes resultantes do benefi- tigos de confecção e de armarinho,
ciamento, Icomi construiu uma usina objetos de escritório e escolar, móveis,
de concentração em Macapá, no local louças e ferragens, produtos químicos
de exploração, na serra do Navio. pro- e farmacêuticos (inclusive ar\igos de
porcionando economia de transporte limpeza). Os produtos selecionados
ferroviário, com a redução do peso dos concorrem com 1.543.162, o que equi-
últimos. Construiu, também, uma usina vale a 94,7% das 1.630.001 t importadas.
de pelotização de minérios em Santa-
na, tendo sido concluídas as obras em Considerando-se os 1.543.162 t igual a
1971. 100,0$, vê-se que a maior participação
pertence ao petróleo e seus derivados
A exportação do minério de manganês combustíveis, com 54,9$ ( 847.102),
favoreceu à cidade e ao município de seguem-se a de alimentos, a de metais,
Macapá certo desenvolvimento, em estruturas metálicas, material de cons-
decorrência das necessidades que a em- trução e vidros, a de diversos e, por
presa concessionária teve para se im- fim, a de máquinas, veículos, peças e
plantar, isto é, manter um equipamen- acessórios para veículos, eletrodomés-
to que atendesse às necessidades de ticos, com os percentuais de 18,8
seu pessoal ocupado. (289.220), 16,4 (253.213),. 7,6
( 117.607) e 2,3% ( 36.020 t). 21
A cidade de Macapá cresceu de modo
significativo, passando sua população
de 9.748, em 1950, para 27.585 em 2.3. 1 - Distribuição de Bens
1960, e para 51.563 em 1970. O cres-
cimento da cidade provocou a expan- A distribuição intra-regional de bens,
são das atividades agrárias, a fim de por hidrovias, é de 277.768 t, feita
atender à demanda de alimentos da quase que exclusivamente pelos por-
população citadina. O município de tos de Manaus e Belém, com o mon-
Macapá tornou-se, então, um foco de tante de 236.515, correspondente a
atração da população rural que passou 85,1$ de 277.768 e a 15,3 do global de
de 10.526 em 1950 para 18.060 em 1.543.162 t. Admitindo-se 236.515 como
1960, e para 31.421 habitantes em 100,0$ a ·participação dessas cidades
1970. são respectivamente de 54,9$ ( 129.757)
e 45,1$ (106.758). O escalamento dos
grupos de mercadorias não segue, exa-
2.3 - Distribuição tamente, o do total da Região como se
Infra-Regional e vê na tabela 19.
Importação O maior volume do porto de Manaus
lnter-Regiona I decorre da distribuição do combustível
petróleo e derivados, que contribui com
A distribuição de bens intra-regiona1, 43,0$ das 236.515 t. Manaus exporta
a importação por cabotagem e longo esses produtos para a totalidade da

306
Amazônia, éOm exceção dos portos de da importação desses portos atinge a
S. Miguel do Guamá e Abaetetuba, 96.058, o que corresponde a 94,3$ do
que importam de Belém, devido à total de combustível distribuído pela
grande proximidade dessa cidade. capital do Amazonas e a 70,9$ das
Belém, por sua vez, como complemen- 135.533 t, relativas à distribuição global
tação, distribui 1.881 t para Santarém, desses produtos. Excluindo-se os com-
19 para Parintins e 69 para Oriximiná. bustíveis citados, a importância de
Os maiores importadores de petróleo e Manaus restringe-se às cidades locali-
derivados combustíveis de Manaus são zadas nos rios Branco, Madeira, Purus
Porto Velho, Macapá, Santarém e Rio e Juruá, com exceção do porto de Rio
Branco com, respectivamente, 47.637, Branco, onde o volume importado de
24.000, 14.000 t e 10.421. O somatório Belém é quase duas vezes superior ao

Tabela 19 Principais produtos exportados (Ton.) -1970


MANAUS BEL:e~1 TOTAIS
PRODUTOS
Peso % Peso % Pes'J %
1- Petróleo e der. combus-
tíveis ... ...... . . ....... 101 .818 43,0 33 .715 14,3 135 .533 57,3
2 - Metais, est. metálicas,
materiais de construção
e vidros ... ... . .. .. .... 14.782 6,2 29 .260 12,4 44. 042 18,6
3 - Diversos ....... . 6 .816 2,9 18 .879 8,0 25 .695 10,9
4 - Aliment<>s inc. p/animais 4.214 1,8 20 .382 8,6 24 .596 10,4
5 - Máquinas, motores, veí-
culos, peças e acess. p/
veículos, eletrodomésticos 2 . 127 0,9 4.522 1,9 6 .649 2,8

TOTAIS . ............... .. 129.757 54,9 106 .758 45,2 236 .515 100.0

Rqlõo Norte
DISTRIBUIÇÃO REGIONAL POR
BELtM E MANAUS • 1970

··t~r·=
..---...
. . . ····-·-
-,..,.....·-~
---·-
...--- ... .
. -·-- . ..
CJ-
....,_,.-. ....
............. ..........
...-.. ............. --.....
~ -- -
··-I1 !11110
IELbl
-·-··
--- •ooo
000

FIG. 7
procedente de Manaus, 8.705 e 4.953 t. dessas áreas, embora não se distancie
Até mesmo os portos situados às muito do de Manaus (o da última de
margens do Solimões dependem, de 25.864 e o de Belém de 38.319 t), é
modo geral, da distribuição feita por expressivo. Do global distribuído por
Belém. Tal dependência explica-se Manaus, só 713 t não são de combustí-
pelos fatos de a capital paraense, mes- veis e do mesmo de Belém, des-
mo no trecho ocidental da Amazônia, contando esses produtos, restam
ter supremacia nas exportações de ali- 27.572 t. Os principais portos importa-
mentos, concorrendo com 4.348 das dores de Belém da parte oriental da
5.923 t distribuídas e apresenta a pe- Amazônia são os de Santarém e de
quena diferença de 1.400 no tocante às Macapá com, respectivamente, . 11.082
de metais, estruturas metálicas, mate-
rial de construção e vidros, com a par- e 7.679 t. A maior importação desses
ticipação de 11.703 das 24.806 t, impor- portos decorre do fato de serem, como
tadas pelas cidades que se alinham nos cidades de maior população, os dois
afluentes citados e no Solimões. grandes centros consumidores. As prin-
cipais importações procedentes de
Nesta área os dois maiores portos im- Belém são de metais, estruturas metá·
portadores são Porto Velho e Rio licas, material de construção e vidros,
Branco, cidades mais populosas logo com as toneladas de 4.314 para o pri-
abaixo de Belém. A importação dos meiro e 3.271 t para o último. Segue-se
mesmos procede de Manaus e de
a de alimentos com respectivos volu-
Belém, seus volumes são 36.780 para a
primeira e 16.942 para a última, per- mes de-2 . 196 e 1.589 t. (Fig. 7) .
fazendo os percentuais de 15,6 e de Contudo, a maior distribuição de
7,2% do total de 236.515 t relativos à Belém, que é de 49.290 t destina-se a
distribuição intra-regional. Manaus, centro regional de 2.0 nível
A atuação do porto de Belém esten- que exerce função redistribuidora
de-se, praticamente, por toda a Região daquela cidade. As principais impor-
e mantém seu domínio nas cidades que tações são de petróleo e derivados com
se localizam às margens do Amazonas e 26.943, de alimentos com 9.047 t, que
de seus afluentes - de Itacoatiara para perfazem 79,9 e 44,4% dos totais desses
a jusante - nas de Macapá e Amapá. produtos ( 33.715 e 20.382), distribuí-
Seu montante exportável nas cidades dos por Belém.

Tabela 20 Importação Inter-Regional (Ton.) - 1970


Cabo~&~em Lonco C u reo T otais
Produ toe
Peeo % % ae Puo % % &e Peso % % ac
1- PeWieo e d&o
ríY&dotl com-
b11atlveia.•.. 32G.002 26.2 2S,2 382. 567 29,3 2G,3 711 . 569 54,5 1'4,6
2 - Alimentos iD-
t1uaive p/&ni-
maia...... . . 1113 . 400 14,8 40,0 71.22' s.s 34,8 264.1124 20,3 74,8
3 - Metaia, eatru-
\ilrumot41.icaa,
ma\eríal d e
conotruçlo e
vidroe . •• . ...• 1'5. 057 4.2 44,2 154 . 114 11,8 46,6 209 . 171 16,0 90,8
4 - Dive.- •. •. 46 . 552 3,6 47,7 5 . G20 0,5 47,1 52 .472 4,0 94,8
5 - Produtos quf·
micoa "!arma- '
dutitOII .••.• 31 . 0:9 2,4 S0,1 8 . 411 0,6 47,7 39.440 3,0 97,8
6 - .M6quiDaa. mo-
wre-. velculOO>,
peçu e aceae6-
rios p/"iculoe,
eletrodom~ati·
coe . .... ..... 12. 320 0,9 51 ,0 17. 0Sl 1,3 40,0 20 . 371 2.2 100,0

TOTAIS..... ..... 1167. 3110 6 \,0 51.0 1139 .2g7 49.0 49,0 1.306 r.47 100,0 100,0

Fonte: SUNAMAM.
Obs.: • ac = Percentagem acumulada.

SOB
Belém, metrópole regional, só depende grupados em: petróleo e derivados
de Manaus para o abastecimento do combustíveis; metais, estruturas metá-
combustíveis petróleo e derivados. Das licas, material de construção e vidros;
suas 49.113 t importadas, 97,0% (49.113) máquinas, motores, veículos, peças e
são desses combustíveis. eletrodomésticos. O pequeno número
de portos importadores, quando com-
parados com os exportadores, o alto
2 .3.2- A Importação por percentual de 97,0 de carga importada,
Cabotagem e Longo contra 41,8% da exportada por Belém e
Curso Manaus, a primeira superior em volu-
me ao dobro da última, demonstram
A cabotagem e o longo curso concor- de modo nítido a incapacidade econô-
rem com 1.306.647, o que equivale a mica da grande maioria dos portos ex-
84,7% das 1.543.162 t relativas ao global portadores manterem fluxos nos dois
dos bens que circulam na Região. sentidos, o que é típico das áreas sub-
Dessa percentagem 43,3% ( 667.360) desenvolvidas, com população rare-
pertencem à cabotagem e 41,4 feita. ( Tab. 21).
( 639.287) ao longo curso. Consideran-
do-se o montante de 1.306.647 t igual A diferença entre Belém e Manaus não
a 100,0%, vê-se que o mercado interno é tanto em relação ao volume de carga
concorre com 51,0% e o externo com importada e sim quanto à procedência
49,0% das importações. A ordem das da maioria das importações. Belém é
mercadorias importadas não é a mesma porto mais voltado para o mercado na-
que a observada na distribuição intra- cional e Manaus, em virtude de
regional, embora esta dependa, basica- ser Zona Franca, tem no mundial a
mente, do abastecimento inter-regio- maioria de suas importações, como se
nal, em virtude do grande consumo de constata pela tabela exposta. A grande
Belém e Manaus, cujos volumes são quantidade de carga importada por
muito superiores à distribuição das esses portos destina-se principalmente
mesmas e também porque foi neces- ao abastecimento dos mesmos. Consti-
sário destacar os produtos químicos e tuem essas cidades os dois maiores
farmacêuticos, dado a importância centros de consumo da área amazôni-
desses, o que se vê pelo quadro apre- ca, com população total de 939. 586
sentado na tabela 20. . habitantes. 2 superior portanto a mais
de 1/4 dos 3.602.171 habitantes daRe-
Os 2,0% a mais da cabotagem resultam gião. A função portuária dessas cidades,
da maior participação da mesma nas desde o período áureo da borracha, tor-
mercadorias classificadas como ali- naram-nas grandes centros de negocio
mentos diversos e produtos quimicos e e de comércio; nelas se instalaram gran-
farmacêuticos, apesar da maior tonela- des organizações financeiras estrangei-
gem em longo curso, dos produtos ras e nacionais, agência de companhias

Tabela 21 Portos importadores (Ton.) - 1970


Cabotaaem Lonro Curso Tou.ie
Portos
PaRo % % ae Pe&O % % ao Peeo % ao
- %- - --
I - M'aau. .... .. 156. 834 11,9 11.9 605. 394 38,7 38,7 661.228 60,6 50,6
2 - Belt!m . . .. ... 481.498 36.8 48.7 126.1166 9,6 411,3 608.0113 46.4 117,0
3 - Saat~m . . .. 9.0 ~6 0,7 49.4 6 .0 24 0,5 48.8 15. 0CO 1.2 98,2
4 - Macapi...Saa-
taoa ... . . ..•. 12 . 628 0,9 50,3 2.304 0,2 49.0 14 .8:!2 1,1 1111.3
5 - Colares .
6 - S. S . d.: .
il. 4 . 470 0,3 60,6 - - 49,0 4 . 470 0,3 99,6

7 -
Vteta .. •.•..
Braaança •.• . •
2 . 010
1.479
0,2
O, I
50,8
50,9
-- -- 49.0
49,0
2.010
1. 479
0,2
O. I
119.8
9:1,9
8 - Abaetet ubA .. . 515 O, I 51,0 - - 49,0 615 O, I 100.0
-100,0
-
TOTAIS .. . . ..... . 667 . 360 6 1,0 51 ,0 6 39 2$7 49,0 49,0 1. 306 1147 100,0

Fonte: SUNAMAM: Superint~ndência Nacional d~ Marinha M~rcante.


Obs.: ac = Percentagem acumulad4.

S09
de navegação de longo curso e de ca- ocupado pelo grupo de .diversos que
botagem, constituindo ainda os dois atinge 29.044 t, das quais 16.982 pro-
maiores centros de armadores da Ama- cedem do Rio de Janeiro, 6.349 de
zônia.23 Santos e o resto de outros portos. A ra-
zão do maior volume exportável da ex-
Manaus participa com 50,6$ ( 661.228) Guanabara decorre da exportação de
do total de 1.306.647 t do volume im· bebidas, que concorre com 12.182 t. O
portado, cabendo às mercadorias proce- 3.0 lugar, de montante igual a 23.063 t
dentes do mercado externo 38,7 é constituído, basicamente, de metais
( 505. 394) . Favorecida pela existência comuns empregados em metalurgia
da refinaria de petróleo, sua maior im- com 10.643, sendo 8.315 exportadas
portação é deste combustível, exporta- pelo Rio de Janeiro e o restante por
do principalmente pela Líbia e Vene- Santos, seguindo-se material de cons-
zuela com, respectivamente, 167.135 e trução, estruturas metálicas e manufa-
164.809 t, que perfazem 331.944 ou turados de metal, que somam 6.893 t;
65,7$ das 505.394 transportadas por nessas, o porto de Santos apresenta um
longo curso. Seguem-se a importação volume maior 3.488 t. Em relação aos
de ciment<>, com 102.208 t, procedentes outros grupos de· carga as diferenças
da Rússia 57.870, da Romênia 20.164 em · tonelagens são bem inferiores às
e da Colômbia 22.174. Quanto às im- especificadas, não chegando a 650 t:
portações de alimentos essas são, sobre· 10.543 máquinas, motores, veiculas,
tudo, composta de trigo em grão, cujo peças e acessórios, eletrodomésticos e
volume de 21.348 t corresponde a 79,6$ 9.919 produtos químicos e farmacêu-
do total de 26.821. A importação do ticos ( incluindo tintas e vernizes ) . O
trigo procede, na sua quase totalidade, maior exportador é Santos com 3.162 t
da Argentina, com 20.799 t, seguindo-se de máquinas, veículos e peças não es-
dos Estados Unidos da América com pecificadas e 2.927 de produtos quí-
549 t. As restantes 5.473 t de alimentos micos e farmacêuticos, vindo depois
referem-se 1.540 t à farinha de trigo e o Rio de Janeiro e Fortaleza, o pri-
outras farinhas, a vários alimentos tais meiro com 1.316 t de maquinaria, in-
como: pat~. biscoitos, conservas e clusive peças e 736 de produtos quími-
outros importados de países europeus e cos, o último com 2.500 t, também, de
dos Estados Unidos. Quanto à impor- produtos químicos.
tação do grupo de mercadorias classi-
ficadas como diversos, que monta a Belém, com maior parte na cabota·
3.753 t, a maior participação é de ma- gem, à semelhança do que acontece a
nufaturados têxteis, com 1.903 t, sendo Manaus em relação ao longo curso, tem
os Estados Unidos da América o maior também primazia na grande partici-
exportador com 752 t. Em relação à pação do petróleo e derivados combus-
cabotagem Manaus ocupa o 2.0 lugar, tíveis, cujo montante de 320.401 t con-
concorre com mais de 11,9$ de toda corre com 66,5 das 481.498 t importadas
carga transportada. Sua maior impor- do mercado interno. Os combustíveis
tação é de alimentos com 75.090, das são procedentes. em grande maioria. de
quais 31.137 t são de açúcar escoados portos que têm refinaria e terminais de
pelos portos de Maceió e Recife. O petróleo, procedendo 182.007 do Rio
maior exportador é o primeiro com de Janeiro, 116.596 de Madre de Deus
16.092 t, vindo logo depois Recife com e 16.844 do Rio Grande; esses portos
15.045 t. Segue-se grande variedade de exportam, em conjunto, 315.447 t.
alimentos procedentes, em sua maio- Segue-se a carga de alimentos com
ria, de Santos, Rio de Janeiro e Forta- 102.100 t, superior a de Manaus, na
leza, que contribuem com 32.752 t. De cabotagem, em 27.010 t. Tal superiori-
Santos são exportados 13.072 e do Rio dade demonstra, mais uma vez, a su-
de Janeiro 9.738 t. De Fortaleza são premacia de Belém como centro con-
enviados 9.942 e as mercadorias mais sumidor e distribuidor, principalmente
importadas são a farinha de trigo e o de alimentos em geral, pois as impor·
sal com, respectivamente, 3.256 e tações do exterior são, basicamente, de
2.997 t. O 2.0 lugar em cabotagem é trigo em grão. Como ocorre com

310
Manaus, a maior importação de ali- grão, exportados 36.080 da Argentina e
mentos é de açúcar e os principais ex- 1.197 t dos Estados Unidos. Em 3.0
portadores são: Recife, Maceió e Cabe- lugar vêm 9.186 t das mercadorias clas-
delo, com as respectivas tonelagens de sificadas como. máquinas, veículos, mo-
26.827, 20.070 e 600 t. Ao açúcar segue- tores e peças, exportadas, principal-
se o sal procedente dos portos de Luís mente, pelos Estado~ Unidos da Amé-
Correia, Tutóia, Chaval, Fortaleza, Ca- rica, com 5.307 e pela República Fe-
mocim e Areia Branca, destacando-se a deral Alemã, com 2.573 t. Finalmente,
contribuição dos 2 primeiros com no grupo de diversos, de participação
11.563 e 4.113, do montante de 25.144 t muito pequena, com 2.167 t, as princi-
importadas. Em 3.0 lugar classifica-se pais mercadorias são papel e artigos de
o grupo de metais, estruturas metáli- papéis com 1.950 t enviadas pelo
cas e material de construção, com Canadá.
24.703 t procedentes dos portos do Rio
de Janeiro e de Recife, exportando o Santarém e Macapá são portos que im-
primeiro 7.792 t de metais comuns em- portam pequenos volumes de carga,
pregados em metalurgia, o último equivalentes a 1,2 e 1,1% das
7.599, das quais o cimento concorre 1.306.647 t. As diferenças entre os
com 4.600 e metais comuns 2.999 t. mesmos consistem da variedade ·dos
Quanto ao grupo diversos com 15.426 t, grupos de carga, dos volumes de suas
respectivas toneladas e da procedência
destaca-se o café exportado pelo porto das mesmas. Assim, o primeiro com
de Paranaguá com 10.176. Entre as 15.050 importa 9.026 t do mercado na-
exportações do mercado mundial que cional. Destas 6.828 são de alimentos,
montam a 125.565 t, o maior volume
compete aos metais, estruturas metá- 1.350 de metais e 848 t de diversos.
licas e material de construção com Como acontece com Belém e Manaus,
45.451, onde o cimento tem domínio a maior participação é de alimentos e
quase exclusivo com 40.706, enviados entre esses nota-se a contribuição do
29.706 da Colômbia e. 11.000 t da Ve- açúcar com 4.448 escoados por Recife
nezuela.. Seguem-se 44.403 de alimen- e Maceió. Entre as 1.350 t de metais os
tos, dos quais 37.277 t são de trigo em maiores exportadores são Angra dos

TCOI€UIGEM

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~. . . .Of'tla.. . . . . .,IM(. . . ~,.... ~~"

~:
- ....... ..,......
M*OI ( treo64kDI rtlrlolrOfll•)
FIG. 8

Sll
Reis, Santos e Rio de Janeiro, com os sem incluir o minério de manganês. A
respectivos montantes de 613.307 e exportação desse País é apenas de
146 t. Quanto ao grupo de diversos que 25.809 t correspondente a 4,oo; do to-
somam 848 t, 561 são de bebidas e pro- tal de 639.287 t importado do exterior.
cedem do porto do Rio de Janeiro. A Os principais exportadores são os paí-
importação do exterior monta a 6.024 t, ses que enviam petróleo, metais co-
é toda de cimento importado da Vene- muns empregados na metalurgia, ci-
zuela. Macapá-Santana com 14.832 t mento e trigo em grão, que se orde-
absorve do mercado nacional 12.528 t. nam da seguinte maneira: Venezuela
Suas importações por cabotagem pro- com 179. 739, Líbia com 167.135, Ar-
cedem quase todas do Rio de Janeiro gentina com 58.340, Rússia com 57.870
que envia 11.215 t, sendo 2.387 de ali- e Colômbia com 51.880 t. A contribui-
mentos, dos quais 1.432 são de açúcar, ção desses é de 514. 964, equivalente a
5.522 das 5.941 de metais e material 80,6% do total de 639. 287 t.
de construção, 2.126 das 2.132 t de pro- Para a cabotagem essa comparação é
dutos químicos e farmacêuticos, 781 de válida em relação ao porto de Santos,
bebidas, das 1.660 de diversos e 399 das porém sua diferença entre importação
408 t de máquinas. A primazia das im- e exportação é bem menor. Santos im-
portações de Macapá-Santana com o porta 19.290 t que correspondem a
porto guanabarino se explica pelo fato 29,2$ do total de 66.142 exportadas
de a .grande maioria das mesmas ser pela Região e exporta 50.301 t, isto é,
feita pela !comi, sediada no Rio de 7,5$ do global de 667.360 importado
Janeiro. Do mercado externo são im- pela mesma. Às importações do porto
portadas 2.304 t, participando a Ho- de Santos seguem-se as de Fortaleza e
landa com 1.030 das 1.121 de produ- Rio de Janeiro com, respectivamente,
tos químicos e farmacêuticos e os Es- 14.179 e 6. 504 que, somadas às do
tados Unidos da América com 1.128 primeiro, perfazem 39. 973, contribuin-
das 1.138 t de máquinas, veículos e do com 60,4% do total exportado pela
peças. (Fig. 8). Amazônia. Os principais exportadores
Os pequenos portos de São Sebastião para a Região são os portos que man-
da Boa Vista, Abaetetuba e Colares, o dam petróleo, alimentos, metais e ma-
últiino funcionando, principalmente terial de construção. O maior exporta-
como um prolongamento do de Belém, dor é o Rio de Janeiro com 250. 284
são meros importadores de sal grosso t, contribuindo com 37,5% do montan-
procedente de Luís Correia, Chaval e te exportável. Em seguida situam-se
Camocim, com as respectivas tonela- Recife, Santos, Fortaleza, que em con-
das de 5.060, 1.580 e 355 t. O sal pro- junto participam com 194.978, isto é,
cedente de Luís Correia é transPQrta- 29,2$ do global de 667. 360 t.
do em vigilengas 2• que penetram no
rio Pará e numa das bocas do Tocan-
tins, em Abaetetuba, retomando com 2.4- Fluxos de Passageiros
carregamento de madeira. A importa- Os fluxos de passageiros apoiam-se
ção de Colares destina-se, principal- preponderantemente nas linhas aéreas,
mente, À distribuição de Belém, a de demonstrando a importância desse
São Sebastião da Boa Vista e de Abae- transporte tanto na circulação intra
tetuba ao abastecimento das áreas de como na inter-regional. As linhas de
pecuária do leste de Marajó e do vale navegação têm papel mais restrito, li-
do Tocantins. mitam-se, salvo algumas exceções, ao
Comparando-se no longo curso os paí- movimento de passageiros de localida-
ses maiores importadores com os maio- des situadas ao longo do rio Amazo-
res exportadores, verifica-se que os nas. Quanto aos fluxos rodoviários não
mesmos não coincidem. Assim, o maior houve possibilidade de se saber de
importador são os Estados Unidos da quanto é a participação dos mesmos,
América que absorvem 90.383 t, o que em virtude da inacessibilidade de esta-
equivale a 56,9% do global de 158.874 tísticas para alguns lugares e da inaces-
exportados para o comércio externo, sibilidade dessa para outros. Contudo,

312
Tabela 22 Fluxos de Passageiros (n. 0 )
HIERARQUIA AEROVIÁRIOS 1070 HIDROVIÁRIOS 1071 TOTAIS
DAS
LOCALIDADES N.• % ae N.• N.•
% % % ac %ao

1.• Grupo
"" ---
I - B~l~m ....... 87 .235 28,0 23,0 25.014 6.6 6,6 112 . 249 ~9,6 29.6
2 - Manaue .....• 81.740 21,5 44,5 14. 265 3,8 10,4 96 .005 2&,3 64.9
TOT,AIS .. . 168.975 44,5 44,5 39. 279 10,4 10,4 208.264 54,11 54,0
--- - - - --- ---
2.• Grupo
3 - Porto Velho. 34. 879 9,2 53,7 772 0,2 10,6 35.651 9,4 64.3
4 - Santarém. 25.096 6,8 60,5 7 . 623 2.0 12,6 33.519 8.8 73,1
5 - Maeapá .. • 211.335 7,7 68,2 -- - 12.6 29.335 7.7 80.8
--
6 - Rio Branco. . 18.6117 4,9 73,1 12.fl 18.667 4,!) 86.7
7 - B. Vieta .. 13.416 3,5 76,6 - 12,6 13 .416 3.6 89,2
TOTAIS ... 122.:<113 32,1 76.6 8 . 2115 2,2 12,6 130.588 3<1,3 89,2
--- ---
3.• Grupo
0,5 77,1 1,4
8 - Uacoatiara
O- Cam•tá
10 - S . l\ladureira
-1. 965
4 . 4~2
- 1,2
77,1
78,3
3 .!!37
4 . 733
- -
0.11
1.2
13.5
14,7
14,7
5 .202
-1.733
4.452
1.2
1,2
110.6
91.8
93.0
11 - l\'larabá
12 - PariotiM
4 . 220
2 . 841
1,1
0,7
79.4
80,1
-1.046 - 0,3 14,7
15,0
4 .220
3 . 887
1,1
1,0
94,1
95,1
!3 - G. !\1irim 3 .628 1.0 81,1 - -- 15.0 3 .628 1,0 96,1
S••l. :: 3 . 126 0,8 81,9 15.0 3 . 126 0,8 96,9
14 - C. do
15 - .'\ltamira
16 - P.. do Acre ::
1.758
1.187
0,6
0,3
82.5
82.8
-
-1.5112 -- 15,0
15.0
t . n8
1.187
0.6
0,3
97,5
97,8
17 - Mnot& Aleare 246 0,1 82,9 0,4 16,4 I.SO!l 0 ,5 98,3
18 - Óbidoe
TOTAIS ..
. -
23 . 423
-
0.3
82.9
82,11
1.034
11.612
0,3
3,1
15,7
15,7
1.034
35 .035
0,3
9,4
98,6
9S,6
--- ------ ---
10 -
20-
Tarauacá.
B. Constant:
986
370
0.2
0,1
83,1
83,2
- 352 - 0,1 15,7
15,8
986
722
0,2
0.2
98.8
99.0
21 - F.iruoe1 é ..... 702
657
0,2
0,2
83.4
83.6
-
- 595 -- 15,8
11\,8
702
657
0.2
0.2
99,2
99.4
22- Telé .. .... .
23 -
24 -
A1enquer .....
!llau~e .....
- 482 - 0,1 83,6
8:1,7 -- --
0.2 16.0
16,0
t95
482
0,2
O. I
99,6
99.7
25 - C • .-to Aragttaia 425 0,1 83.8 16.0 425 0,1 99,8
26 - Alnté.rim ..... - -- 83,8 290 0,1 16,1 290 0,1 99,9
27-
28-
Breves ..... ..
Portei ....... .
- 210 0.0
83,8
83,8 -
253
-
O, I 16,2
16.2
253
210
O, I
0,0
100,0
100,0
29 - Ori.r.imin' .. .• 153
3 , 9115
0,0
0.9
83,8
83,8
-14110 -
0,5
16.2
16,2
153
5.475
0,0
1,4
100,0
100,0
TOTAIS .. .
--- --- --- - --
TOTAIS GERAIS . 318.676 83,8 83,8 60.1176 16,2 11',2 379 352 100.0 100,0

sabe-se por informações obtidas, inclu- maiores cidades da Amazônia, distân-


sive na Região, que o movimento de cias essas bem mais longas nas liga-
passageiros rodoviários intra e inter- ções com as Regiões Sudeste, Nordes-
regional, vem se intensificando cada te e Centro-Oeste; pelo fato de que
vez mais. D.entro da Região os fluxos as rodovias que formam grandes eixos,
rodoviários são, praticamente, os úni- atravessando divisores de águas, sejam
cos existentes na área de Bragantina recentes, mas também devido à falta
- Salgado e nas ligações inter·regio· de dados dos fluxos rodoviários .
nais com a Região Centro-Oeste, a
freqüência de ônibus que fazem os
percursos Belém-Brasília, Rio Branco- 2.4. 1 - Fluxos lntra-Regionais
Cuiabá e Rio de Janeiro-Belém en-
contra-se em expansão. O movimento intra-regional de passa-
geiros aeroviários e hidroviários mon-
O movimento de pessoas que se deslo- ta a 379.352 e participa com 68,0% do
caram por aerovia e hidrovia foi de global de 558.436. Equivalendo-se o
558. 436, contribuindo a última com a total de 379.352 a 100%, nota-se mais
insignificância de 67.991 2~. A grande nitidamente a grande contribuíção dos
predominância do número de passa- passap;eiros aéreos, cujo montante de
geiros que utilizam o avião como 318.676 é igual a 83,8$. O grande nú-
meio de transporte não se explica só mero de usuários dos transportes aé-
pelas deficiências da navegação flu- reos é devido ao mesmo ser o mais
vial; pelas grandes distâncias entre as difuso, acessível, praticamente, a qua·

813
~e todas as localidades regionais, o e Boa Vista, cidades com efetivos po-
mais certo e o mais freqüente. Trata- pulacionais que variam entre 51. 563,
se de transporte apropriado à Região em Macapá, e 16.720, em Boa Vista.
Norte porque c:obre longos percur~os Todas são capitais de Unidades Fede-
em tempo reduzido. Os ffuxos aeroVIá- radas com exceção de Santarém. O
rios e hldroviários escalonam centros movimento de passageiros entre as
hierárquicos, como se observa pela ta- mesmas oscila entre 35.651 e 13.416.
bela 22.
O total atinge 130.588 e corresponde a
O primeiro grupo cujo montante é de 34,3% do global dentro da Amazônia.
208.254, equivalendo a 54,9$, abrange Como ocorre com o precedente, esse
a Metrópole de Belém e a capital re- grupo também apresenta a maioria de
gional de Manaus com, respectivamen- passageiros como usuários do trans-
te, 655.901 e 283.685 habitantes. Para porte aéreo, cujo volume e percenta-
essas duas principais cidades converge gem totais são de 122.293 e 32,11,
o maior número de linhas aéreas e concorrendo os que utilizam o trans-
delas partem todas as de navegação porte fluvial com os reduzidos núme-
fluvial. O movimento total de passa- ros de 8.295 e 2,2% do total de 379.352.
geiros em cada uma é superior a 95.000 Porto Velho e Santarém são os dois
fluxos; apresentam os maiores percen- maiores centros com, respectivamente,
tuais tanto em relação aos transpor- 35.651 e 33.519 passageiros. A dife-
t~ aéreos como aos hidroviários, com
rença entre essas duas cidades não de-
os respectivos montantes e percentuais corre só dos 2 .132 a mais que Porto
de 168.975 e 44,5, de 39.279 e 10,41. Velho, mas sim dos transpÕrtes uti-
Belém é a maior localidade, apresen-
lizados. Assim, nesta localidade o so-
tando 16. 244 passageiros a mais, dos
mat3no de passageiros aéreos excede
quais 10.749 util.izaJn as linhas de na-
o de Santarém em 8. 883, porém a últi-
vegação e 5 .495 as aéreas. ( Fig. 9).
ma possui 7. 523 passageiros fluviais,
Se~e-se o grupo formado por Porto ultrapassando nestes, Porto Velho em
Velho, Santarém, Macapá, Rio Branco 6.751. Seguem-se as cidades de Ma-

Roo16o No<!t
MOVIMENTO DE PASSAGEIROS POR AEROVIA E HIOROVIA
EM CIOlOES DE MAIS DE 3000 HA8TS /1970

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314
capá, Rio Branco e Boa Vista com' os Cruzeiro do Sul e destinam-se a Rio
respectivos fluxos de 29.335, 18.667 e Branco, Porto Velho, Boca do Acre, ou
13.416, todos, exclusivamente, aéreos. vice-versa.
Os dois primeiros grupos de cidades
contribuem com 89,2i (338.842), per- Seguem os centros de Marabá, Parin-
tins, Guajará-Mirim e Cruzeiro do
tencendo 76,6 (291.268) aos passagei-
ros aerovh\rios e 12,6 ( 47.574) aos Sul, todos com mais de 3. 000 fluxos.
hidroviários . Marabá, centro só de fluxos aéreos, tem
importância regional em decorrência
O 3.0 grupo é composto de cidades em de ser servida por 4 viagens semanais
que a população já não influi tanto para Belém e e escala obrigatória de
para o volume dos fluxos. Concorrem linhas que passam por Conceição do
mais, de modo geral, a proximidade Araguaia e pelo norte goiano. Parin-
daquelas cidades a centro de hierar- tins, cidade mais populosa de todo o
quia de grupo superior; sua posição es- 3.0 grupo, com 16.721 habitantes e
tratégica no cruzamento de linhas aé· 3. 887 fluxos, é, como Itacoatiara, bem
reas e como escala de navios de linhas servida por linhas de navegação flu-
iniciadas principalmente em Beléin. vial e linhas aéreas. No entanto, dado
sua maior distância de Manaus, a
Os fluxos entre as localidades deste maioria de viajantes ( 2.841 para 1.046)
grupo variam entre 5. 202, em ltacoa- prefere os transportes aéreos. Guaja-
tiara e 1. 034, em óbidos. O tota1 · de rá-Mirim e Cruzeiro do Sul contendo
fluxos é de 35. 035, sendo 23. 423 de só fluxos aéreos, com os respedivos
passageiros ~éreos e 11. 612 de fluviais, montantes de 3. 628 e 3 .126, consti-
correspondendo aos percentuais de 6,3 tuem pontos importantes na circula-
e 3,1 do total intra-regional. l!: esse o ção aérea pelo fato de ambos serem
grupo de cidades que, depois das do cidades para onde convergem linhas.
1.0 grupo, apresenta certa significação As localidades de Altamira, Boca do
quanto aos passageiros fluviais que, al- Acre, Monte Alegre e óbidos possuem
gumas vezes, constituem os únicos flu- menos de 2. 000 passageiros por ano.
xos existentes. O centro maior é Ita- As duas primeiras têm, unicamente,
coatiara, localidade muito próxima a fluxos aéreos cujos montantes são, res-
Manaus, escala das linhas de navega- pectivamente, 1. 758 e 1.187; óbidos,
ção que partem de Belém e penetram só hidroviários com 1. 034 passageiros.
para o interior da Bacia Amazônica Monte Alegre, com 1. 80S, a maioria,
com destino às localidades situadas a que é de 1. 562, é hidroviário. Os
montante da capital manauara. Por 246 aeroviários são de passageiros que
essas razões é que em Itacoatiara o se locomovem para Santarém.
núme~o de fluxos hidroviários é supe-
Os três grupos de centros somam
rior: 8 .237 e os aéreos de 1.965. Se- 373.877 e participam com 98,6%. Des-
gue-se a localidade de Cametá no ses números 314.691, o que equivale
Baixo Tocantins, com 4. 733 todo; hi- 82,9, são de passageiros aéreos e
droviários, em virtude, também, de sua 59.186 ou 15,7 de passageiros fluviais.
proximidade de Belém e de ser ainda Ao último grupo composto das cidades
porto procurado por navios que se di- de Tarauacá, Benjamim Cons~ant. Ei-
rigem ou procedem do interior da ba- runepé, Tefé, Alenquer, Maués, Con-
cia, embora para isso tenham que se ceição do Araguaia, Almeirim, Breves,
desviar um pouco de sua rota. Em 3.o
Portei e Oriximiná compete, apenas, a
lugar situa-se Sena Madureira cujo
mínima participação de 1,4% (5.475),
efetivo populacional de 3. 293 habitan-
dos quais 0,9 ( 3. 985) são de fluxos de
tes é inferior ao número de passagei-
passageiros aéreos e 0,5% ( 1. 490) de
ros aéreos e 4.452 fluxos, todos aeroviá- pessoas que utilizam a via fluvial.
rios, o que se explica pela maior fre-
qüência semanal de viagens entre essa Considerando os movimentos de pas-
cidade e Rio Branco, servindo, possi- sageiros entre pares de localidades na
velmente, como local de estacionamen- Região Norte, vê-se que cada cidade
to de passageiros que procedem de está mais vinculada a uma outra por

315
meio de um fluxo maior, nos 2 senti- Belém-Manaus. Santarém tem seu
dos, isto é, no do destino e no da maior movimento com Belém. Em po-
procedência. Tanto num sentido como sição hierárquica imediatamente supe-
no outro esse fluxo ocorre entre cida- rior a Santarém e a de Porto Velho
des de hierarquias diferentes, relacio- está Manaus, cidade de 2.a hierarquia
nando um centro mais baixo a outro pertencente ao 1.0 grupo. Com essa ci-
de nível hierárquico mais alto. Os pas· dade ocorre o maior movimento de
sageiros deslocam-se para satisfazer passageiros de Maués, Parintins, lta-
suas necessidades de bens e serviços coatiara e Eirunepé, os únicos fluxos
não encontrados no local onde resi- existentes em relação a Tefé e Benja-
dem, para a realização de negócios e, mim Constant. Manaus tem posição
também, para prosseguimento da via- estratégica na circulação aérea, como
gem de ida ou da de retomo, em vir- local de estacionamento de passagei-
tude de certas localidades serem me- ros que procedem de Belém e de San-
lhor servidas por linhas aéreas ou por tarém, que também são lugares de
de navegação fluvial. A diferença dos conexão de linhas aéreas e se desti-
fluxos de destino e procedência ou, ao nam a Boa Vista, Porto Velho e, atra-
contrário, procedência e destino, ocor- vés desta cidade, a Rio Branco ou vi-
re, entre outras razões, pela de traje- ce-versa. Por sua vez Manaus tem seu
tos diferentes percorridos pelos passa- maior fluxo com Belém, centro de pri-
geiros. meira hierarquia e que domina direta
e indiretamente a circulação geral dos
Assim, como mostram mapa e tabelas passageiros intra-regionais. lndireta-
expostas, Rio Branco, de 6.a hierar- mente através das localidades de San-
quia, pertencente ao 2.0 grupo, é o tarém e de Manaus, diretamente por
centro com o qual Sena Madureira, meio dos fluxos com Conceição do
Boca do Acre, Tarauacá e Cruzeiro do Araguaia, Marabá, Altamira, Portei,
Sul têm seu maior fluxo. O maior vo· Cametá, Breves, Almerim, Monte Ale-
lume de passageiros de Rio Branco es- gre, Alenquer e óbidos.
tá ligado a Porto Velho, localidade de
3.a hierarquia. Esta cidade, que domi- Observa-se, portanto, que nem sempre
na também os movimentos de passa- cidades que apresentam grande núme-
geiros de Guajará-Mirim, tem seu ro de passageiros, como acontece com
maior fluxo com Manaus. Em hierar- Macapá e Boa Vista que se situam em
quia, logo abaixo de Porto Velho, po- s.a e 7.a hierarquia, ambas pertencen-
rém de importância muito inferior em tes ao 2.0 grupo hierárquico, têm ca·
relação ao maior fluxo, situa-se San- pacidade de gerar fluxos com cidades
tarém, que se relaciona através do menores. Tal fato se explica em ra-
mesmo com Oriximiná. em virtude de zão da inexistência de cidades nas suas
sua posição intermediária no trajeto respectivas áreas vizinhas, com expres-

Tabela 23 Fluxos de passageiros (n. 0 )


LOCALIDADE REGIONAL
LOCALIDADE
EXTRA Belém Manaus P. Velho
REGIONAL Totais
Aerov. Aerov. Hidrov. Totais Aerov.

1 - Rio de Janeiro
2 - Fortaleza . .......
41.962
20 .629
31 . 198
5.313
3.624
1.595
34.822
6.903
-- 76 .784
27 .537
3 - São lufs ........ 24 .958 1.261 - 1.261 - 26.219
4 - Bras!lia ... . ... . 7.726 13.632 - 13.632 - 21.358
5 - Cuiabll. . . .. ...... -9. IR9 - - -1.056 12.422 12.422
6 - Recife.. . ... .. . .. -1.753 1.056 -- 10.245
7 - São Paulo .. .. ...
~ - Salvador .......
1. 726
- -
-1.040 1. 7!13
1.040 -
3.479
1.040

TOTAIS GERAIS . . . 106. 190 53 .1á7 7.315 60.472 12.422 179.084

816
sivo montante populacional, que na aos hidroviários 1,~ com 7. 315. A
Amazônia parece ser o de 3. 000 habi- insignificância dos últimos explica-se
tantes, pois é a partir do mesmo que pelas grandes distâncias que separam
ocorrem fluxos com mais de 50 passa- Belém e Manaus do Rio de Janeiro,
geiros, nos sentidos destino e proce- Fortaleza, Brasília e outras capitais
aência. Macapá e Boa Vista são cida- com as quais têm movimento de pas-
des situadas em regiões de população sageiros.
rarefeita e de vazio demográfico, que
cresceram devido a existência de fun- Considerando o montante de 179.048
ção especializada e não de função de igual a 100,0$, vê--se que Belém man-
centralidade. Ambas são capitais de tém a primazia com 59,3% (106.190),
Territórios e Macapá tem ainda a fun- seguindo-se Manaus com 33,8 ( 60.422)
ção de grande porto exportador do e por fim a subcapital regional de Por-
minério de manganês. to Velho com 6,9% ( 12 .422), como
se verifica na tabela 23.
2.4 .2 • Fluxos lnter·Regionais Levando em consideração, primeira-
mente, só os fluxos aeroviários vê-se
Os fluxos inter-regionais somam .... que Belém e Manaus articulam-se mais
179.084 passageiros, contribuem com com o Rio de Janeiro com, respectiva-
82,0% do total de 558.436. Desses mente, 41 . 962 e 31. 198 passageiros.
30,7 ( 171.769) são de pessoas que uti- Em seguida situam-se os relacionamen-
lizam os transportes aéreos, restando tos de Belém com São Luís e Forta-

Região Nom
FLUXOS DE PASSAGEIROS INTER-REGJCrolAIS
1970

---·--····
.... •«
~

· o ·. --·· .•
--"'-·.......--
c.~ ..... . .............

FIG 10 c - --.- ................ - ..........

817
leza, com os respectivos fluxos de CONCLUSÕES
24.958 e 20.629, os de Manaus com
Brasília e os de Porto Velho com Cuia- 1 . A manutenção dos transportes hi-
bá, cujos fluxos são de 13.632 r.ara os droviários como quase únicos utilizados
primeiros e de 12. 422 para os ultimos. para a movimentação de carga, vincu-
Além desses há ainda os que ocorrem lou a economia amazônica ao mercado
entre Belém e Recife, Belém e Brasí- externo e é responsável pela falta de
lia, todos superiores a 7. 500 passagei- integração da Região com outras Re-
ros. O pequeno movimento de passa- giões brasileiras.
geiros de Belém e Manaus em relação
a São Paulo pode ser explicado, si- 2. O transporte aéreo é ainda muito
multaneamente, pela atração turística importante para deslocamentos de
do Rio de Janeiro e pela sua ligação pessoas dentro da Região, embora ve-
estreita com· São Paulo, através da nha sendo substituído pelo rodoviário
ponte aérea, servindo, portanto, o Rio nas rodovias recentemente construídas.
de Janeiro como cidade em que esta-
cionam passageiros que se destinam a 3. A Região Amazônica ainda se as-
São Paulo ou a Belém e Manaus. semelha a uma imensa bacia urbana
(Fig. 10) com dois grandes pólos de crescimen-
to que evoluíram em detrimento da
As 7. 315 pessoas usuárias do transpor- própria Região, drenando recursos eco-
te hidroviário para deslocamentos en- nômicos e população da mesma. Ex-
tre Manaus e as cidades do Rio de cetua-se a área da Bragantina-Sal-
Janeiro, Fortaleza, Recife e Salvador, gado, muito próxima a Belém e servi-
são, em sua maioria, turistas atraídos da por rede rodoviária, já se notando
pela viagem através do lendário rio nela, em esboço, o surgimento de uma
Amazonas e conhecimento da Zona rede urbana.
Franca de Manaus.
4. A expansão rodoviária dentro da
Considerando·se os relacionamentos Amazônia em grandes eixos que inter-
totais de Belém e de Manaus vê-se, se- ligam cidades separadas por divisores
gundo quadros expostos, que se escalo- de águas, como a vinculação dessas às
nam em 1.0 lugar o Rio de Janeiro, outras localidades extra-regionais,
com 76.784 passageiros, 2.° Fortale- através das rodovias de integração na-
za, São Luís e Brasília, com efetivos cional, muito contribuirá para a trans-
entre 27. 537 e 21. 358, 3.° Cuiabá e formação do espaço amazônico, de do-
Recife com 12. 422 e 10. 245 e, em úl- mínio da natureza para espaço orga-
timo lugar, São Paulo e Salvador com nizado pela atividade humana e inte-
3.479 e 1.040. grado no grande espaço brasileiro.

NOTAS DE REFER~NCIAS

1 Cf. ENASA, v. ref. JJ da Bibliografia.

2 Cf. SUNAMAM, v. ref. 27 da Bibliografia.


a Cf. SUNAMAM, op. át., p. 10.

• Linhas regulares são as ~guidas por navios com mais de S.OOO t brutas. Escalas alternadas
ocorrem entre dois portos próximos, devendo os navios pararem num ou noutro, tendo ainda
a liberdade de escalar em ambos; as opcionais são livres.

G A Linha Especial é composta de navios com menos- de 5.000 t brutas.

e Cf. SUNAMA:M, op. cit. p. 10.


7 Cf. 1BGE, Anuário Estatístico, v. ref. 5 da Bibliografia.

318
8 Incluídas as cidades de Bujaru e São Miguel do Guama

9 Cf. IBGE- DECEN', v. ref. 11 da Bibliografia.

10 Cf. ICOMI, v. ref. J7 da Bibliografia.

11 Cf. Serviço de Estatística dos Transportes, p. 135, v . ref. 20 da Bibliografia.


12 Id. ib., p. 141.

13 O Tratado de Petrópolis surgiu em conseqüência da conquista de terras bolivianas, hoje


pertencentes ao Acre. Pelo mesmo o Brasil comprometia·se construir uma ferrovia que . desse
escoamento à borracha boliviana até Porto Velho, com destino ao porto de Belém.

H Ap. Estatística Fiscal da Rede Ferroviária, 1922, auotações da autora.

16 Cf. SUDAM. p . 27. v . ref. 26 da Bibliografia.

16 Cf. SUNAMAM, op. cit. p . 10 .

17 O valor do frete de I t carga de longo curso foi convertido em CrS 4,65, que é a média
de preços da variação de dólar para a compra, em 1970.

18 Cf. Mesquita, p. 216; v. ref. J8 da Bibliografia .

19 Cf. SUNAMAM, op. cit. - o frete foi convertido em cruzeiro (CrS 4,65 o dólar).

20 Cf. IBGE - Anuários Estatísticos, v. refs . 5 e 9 de Bibliografia.

21 Cf. SUNAMAM, op. cit., p. 10 .

22 No montante de 939.586 habitantes está incluída a população da área metropolitana de


Belém, v. ref. I I da Bibliografia.

23 Cf. Mesquita, op. cit. p. 207-216.

24 Vigilengas são embarcações a vela e motor. Na viagem de ida, para a Região, utilizam
a vela impulsionada pelos alísios de sudeste e na volta usam o motor.

25 O montante de 558.436 pessoas refere-se: ao movimento intra·regional entre cidades de


3.000 e mais habitantes, com mais de 50 passageiros nos sentidos destino e procedência: ao
movimento inter-regional só com as capitais estaduais, em virtude do reduzidíssimo número
em rela~o a outras localidades; v. ref. U e 27 da Bibliografia.

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88 . MESQUITA, Myriam Gomes Coelho. Terra·água nô complexo amazônico e a economia


regional, in Problemdtica da Amaz;6nia, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1971,
220 p. il.
!19. PANDOLFO, Clara. A realidade amaz;6ni~a. Belém, SUDAM - Secçlio de Documentaçao,
197!1, 4!1 p. il.

40. RESENDE, Eliseu. As rodavias e o desenvolvimento do Brasil. Rio de Janeiro, DNER


- Seção de Documentação. 197~. ofp.
41. - - . O papel da rodovia no desenvolvimento dq, Amazônia. Rio de Janeiro, DNER
- Seçlio de Documentaçao, 1969, 11 p. il.

42. SOARES, Lúcio de Castro. Amazônia. 18.0 Congresso Internacional de Geografia, Rio
de Janeiro, UGI - Comitê Nacional do Brasil, Guia de Excursão n. 0 8, 1957, Serviço
Gráfico do IBGE, ~45 p. il.
4~. V ALVERDE, Orlando &: DIAS, Catharina. A rodovia Belém-Brasllia. Rio de Janeiro,
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia, Biblioteca Geográfica Brasileira, 1967, !149 p. il.

321
INTRODUÇÃO
Os recursos naturais da Região Norte
ainda pouco conhecidos e estudados
impedem urna avaliação precisa das
potencialidades energéticas dessa par-
cela imensa do Território Brasileiro.
Por exemplo, no que se refere ao po-
tencial hidráulico, as avaliações vão
desde valores mínimos de 5.325 mW
até 36.000 m\V, conforme as últimas
informações do Departamento Nacio-
nal de Águas e Energia Elétrica.
O aproveitamento desse potencial, um
dos maiores do Brasil, poderá, dentro
de alguns anos mais, beneficiar não
s6 a economia da Região Norte mas
também a do Centro-Oeste e, .ainda
pela interligação de sistemas de trans-
missão, em tensões ultra-elevadas, a
grandes distâncias, servir às Regiões
Nordeste e Sudeste, especialmente
esta última onde o crescimento indus-
trial acarreta, de ano para ano, cada
vez mais, maior consumo de energia
ENERGIA elétrica.
JOS~ CEZAR DE MAGALHAES No que se refere ao petróleo, as pros-
pecções realizadas desde 1954, na Re-
gião, ainda não levaram à sua desco-
berta em escala comerciável, de forma
que a economia regional se vale da
importação, seja do petróleo ou de
seus derivados.
Quanto à produção de lenha são
muito grandes as reservas desse com-
bustível sólido, graças à presença, na
Região, da maior floresta .pluvial do
mundo o que garante, igualmente, a
existência potencial de mil~ões de to-
neladas de carvão vegetal Por outro
lado, as jazidas de carvão mineral são
quase descon~ecidas, pretendendo-se
utilizar as reservas do rio Fresco, aflu-
ente do Xingu e do alto Amazonas.
Os valores absolutos e percentuais do
consumo das fontes energéticas regio-
nais, em relação ao Brasil, demonstram
a sua pequena participação em rela-
ção à economia nacional. Assim, veri-
fica-se que a Região Norte consumiu,
em 1971, 1.018.257 toneladas de óleo Região Norte, para o que já foram to-
cru equivalentes 1 a apenas 1,59% de madas as primeiras providências atra-
todas as font~ consumidas no Brasil. vés da instalação, ali, do Comitê Coor-
Separadamente, cada fonte consumida denador de Estudos Energéticos da
na Região em relação ao Brasil indica, Região Norte, que já elaborou uma
também, baixos percentuais: lenha série de estudos visando a conhecê-los
1,20%, carvão vegetal 0,91%, energia melhor. Tais estudos deverão desen-
elétrica 0,98$; não seriam muito dife- volver-se segundo um enfoque sistê-
Ientes os percentuais para os diversos mico global das fontes energéticas e
tipos de derivados de petróleo consu- não apenas de cada tipo separada-
midos na Região. mente e para este objetivo a Matriz
Energética Brasileira, recentemente
Esses valores, inexpressivos em relação concluída pelo Governo Federal, terá
ao País, poderiam contudo refletir as a maior validade, uma vez que forne-
necessidades regionas e então os índi- cerá as variáveis necessárias ao enfo-
ces per capita de cada fonte seriam ele- que sistêmico.
vados, mas tal não acontece em vir-
tude do estágio econômico de subde- O exame que se fará a seguir per-
senvolvimento da Região Norte, inca- mitirá a melhor compreensão do pro-
paz de possibilitar que amplos setores blema energético na Região e dará ao
da população se beneficiem dos servi- pesquisador condições de avaliar a dis-
ços prestados pela produção energé- tribuição atual dos recursos energéti-
tica. cos no espaço amazônico, e as medi-
das que se tomarão necessárias para
Em decorrência desse estágio econô- planejar o seu bom aproveitamento.
mico, a maneira de produzir e forne-
cer energia na Região não passou por
maiores transformações técnicas, carac-
terizando-se por ser embrionária e tra- 1 - FONTES ENERGÉTICAS
dicional. Cada fonte apresenta com-
ponentes de estrutura interna organi-
zados de tal forma que a produção de 1.1 - Combustíveis Líquidos:
energia se faz com menor rendimen- Petróleo e seus
to, com preços mais caros e irregulari-
dade de fornecimento. Derivados

Outras possibilidades surgem, atual- Em virtude de não ter sido encontrado


mente, no setor energético regional, ainda petróleo, em escala comerciável,
graças à dinamização da política pro- na Região Norte, a análise fica res-
tecionista do Governo Federal que tringida aos trabalhos de prospecção
procma, por um lado, atrair para a ali empreendidos pela PETROBRÁS,
Região Norte novas indústrias estimu- e que se referem a um levantamento
ladas pelos Incentivos Fiscais ofereci- fotogeológico para localização de poços
dos pela SUDAM e, por outro, promo- produtores.
ver a abertUia das longas rodovias Para a execução desse. serviço a
através do seu território, por onde PETROBRÁS se integrou ao Projeto
novas levas de imigrantes chegarão RADAM (Radar da Amazônia) para
procedentes de outras Regiões, para a cobertura de 150.000 km 2 que englo-
acelerar a ocupação da área e se cons- bam parte do Acre e do Amazonas,
tituírem em novos consumidores de junto da fronteira do Peru 2 •
energia.
Nas áreas em que se fez o levanta-
O crescimento da economia regional mento geológico dos terrenos a
ocasionará, sem dúvida, uma reava- PETROBRÁS já está prospectando al-
liação dos recursos energéticos da guns poços.
Na plataforma continental, em busca geral que conduzem os latões de com-
do petr6leo submarino, trabalha a Pla- bustíveis para seu abastecimento, ca-
taforma de Perfuração "PENROD 55" bendo a centenas de pequenos pro-
numa distância de 140 quilômetros a prietários de embarcações realizarem
leste da ilha de Marajó e 250 quilô- este serviço para as firmas fornece-
metros ao norte de Belém, realizando doras.
prospecções em águas que alcançam
até 50 metros de profundidade. As condições físicas e a maneira pela
qual são transportados os derivados de
Também na costa do Amapá o navio petróleo na Região Norte explicam a
oceanográfico "~rante Saldanha" má distribuição destes derivados, pois,
executa, desde 1969, a prospecção e de- quanto ao primeiro caso, observa-se
limitação das áreas petrolHeras nessa que os rios com diversos meandros,
mesma plataforma continental, visando bancos de areia e vasantes acentuadas,
o "canyon" do rio Amazonas e a sedi- dificultam a navegação, atrasando a
mentologia das áreas adjacentes.
chegada regular das embarcações; o
A economia da Região Norte, muito atraso ocorre também porque estas
ligada à rede fluvial, é atendida, no últimas transportam de tudo e se de·
que se refere ao seu abastecimento de moram pelos numerosos pequenos por-
combustíveis líquidos, por um sistema tos, desembarcando e embarcando im-
de transporte de petróleo e seus deri- provisadamente mercadorias variadas.
vados, dirigido atualmente pela PE-
TROBRAS e constituído pelos petro- Uma vez desembarcado, o combustí-
leiros da Frota Nacional de Petroleiros vel não requer um sistema terrestre re-
( FRONAPE) , que tanto utiliza navios gional de distribuição, mas apenas um
próprios como outros arrendados e o sistema local, pois quase sempre cada
transporte de derivados por embar- núcleo não se comunica com outro
cações comuns. No que concerne ao pelas rodovias; desta forma, apenas
primeiro caso, petroleiros de 20.000 um vendedor mantém um posto ou
T.P.~ (Tonelagem de Porte Bruto) depósito para abastecer a cidade.
trazem o petróleo do Recôncavo Baia-
no, do Peru, da Venezuela e de outros As regiões economicamente desenvol-
países para ser beneficiado na Refina- vidas requerem meios apropriados para
ria de Manaus. Este estabelecimento o suprimento de grandes volumes de
consumiu, em 1970, 366.628 toneladas, petróleo ou de seus derivados como os
das quais 32.512 toneladas do Peru, oleodutos que oferecem um rendimen-
164.809 toneladas da Venezuela,
167.135 toneladas da Líbia, 77 tonela- to operacional melhor do que os meios
das dos Estados Unidos da América do tradicionais de transporte em ·cami-
Norte e 2.095 toneladas procedentes nhões e composições ferroviárias que
de Madre de Deus, na Bahia. condicionam o fluxo de combustíveis
líquidos às irregularidades de entrega,
Somente em Belém e Manaus é que os à capacidade dos tanques em disponi-
petroleiros ou navios-tanque atracam bilidade, e ao pagamento de fretes
'em cais apropriados à movimentação para seu transporte.
de inflamáveis, mas também acostam
em cais comercial, pois a organização . Porém, regiões de fraca produção e
atual da movimentação do petróleo consumo de combustíveis não têm
na Região ainda não comporta a cons- quase condições de estruturar um sis-
trução de terminais próprios, moder- tema de transporte de petróleo e seus
nizados e dinâmicos. derivados por oleodutos. Por isso, na
Região Norte, apenas um embrião do
Quanto ao transporte de derivados mesmo existe; trata-se de um pequeno
por embarcações comuns, as localida- oleoduto de cinco quilômetros de ex-
des não servidas pelos petroleiros são tensão, com um diâmetro de 10 pole-
abastecidas pelos navios de carga gadas para levar óleo combustível da

325
Refinaria da COPAM para a Usina subsidiária da PETROBRÁS, o que foi
Térmica da Companhia de Energia de feito em 1972, possibilitando através
Manaus, nesta cidade. desta medida sua ampliação. Com
essas . providências adotadas pelo Go-
A explotação e o transporte, após orga- verno Federal, a Companhia de Petró-
nizados, possibilitam a condução do leo da Amazônia (COPAM ) está em
petróleo dos poços produtores para as condiçOes agora de ampliar cada vez
unidades industriais de tratamento do mais a sua produção para acompanhar
petróleo, constituídas pelas refinarias a ev(?lução do mercado e abastecer
que compõem o setor de produção de melhor as bases de suprimento ( tan-
derivados energéticos. ques armazenadores) nas capitais dos
Estados e Territórios e ainda nas ci-
Antes de 1956 não havia produção de dades de Santarém, ltaituba, ltacoa-
derivados na Região Norte, de forma tiará, a Humaitá, Eirunepé, Boca do
que os navios das companhias estran- Acre e Caracaraí.
geiras encarregavam-se de abastecer
as principais praças em derivados de Pela -análise comparativa entre pro-
petróleo. Neste ano inaugurou-se, con- · dução e consumo na Região Norte
tudo, uma pequena refinaria cuja ins- fica evidenciada a urgência de sua
talação se deve aos capitais particula- ampliação, pois, apesar do consumo de
res. Esta refinaria é na Região o único derivados de petróleo ser ah ainda
produtor e corresponde a um estágio muito pequeno, já está muito além da
industrial embrionário, pois não existe produção local, tendendo a ampliar-se
ainda a segunda fase petroquímica, a muito mais após a integração da
de derivados não energéticos. Refinan- Região ao sistema rodoviário nacional,
do atualmente 1.113 m8 ou 7.000 barris graças ao consumo de derivados por
diários, apenas tem capacidade para parte de numerosos veículos que irão
abastecer a Região Norte ocidenta~ trafegar nos grandes eixos rodoviários
quando anteriormente a distribuição ora em construção.
de seus derivados alcançava toda a
Região e ainda São Luís no Maranhão. Considerando toda a Região Norte
( Fig. 1 ), constatou-se em 1969 uma
Esta restrição da área do mercado é produção de 399.900 m8 de derivados
uma decorrência do impedimento para um consumo de 663.305m3, por·
legal da ampliação da refinaria. tanto atendendo a 60$ do mercado re-
Desta forma, como aumentava o con- gional. Os derivados mais produzidos,
sumo na sua área de influência e sua conforme se aprecia na tabela 1, são
produção permanecia a mesma, o o óleo diesel, o óleo combustível e a
recurso foi reduzir o fornecimento gasolina, não havendo produçãp de
ao mercado mais próximo ou seja o combustível para jato.
da Região Norte ocidental. Como isto Conforme a tabela 1, os maiores defi·
não foi suficiente, pois a situação de cits estavam na produção de óleo com-
deficit de produção obrigava à trans- bustível, pois a Região produzia
ferência de suprimentos de deriva- 60.994m3 ( 28,3-ti de um consumo de
dos cada vez mais volumosos de 215.214m3 ) e na produção de gás li-
outras Regiões para o Norte (como quefeito onde, para uma produção de
por exemplo de Landulpho Alves 7.172 m3 (28$ do consumo), a Região
na Bahia, ou mesmo da Refinaria consumiu 25.279 m3 •
Duque de Caxias no Estado do
Rio para abastecer Belém e outras Quanto ao emprego desses derivados
cidades), o Conselho Naciona) do Pe- pelo mercado regional, é mister assi-
h'Óleo, demonstrando que os custos de nalar que o óleo combustível repre-
transporte entre Mataripe e Belém senta 32,29$ de todos os derivados con-
eram superiores aos do trajeto Manaus- sumidos na Região e o óleo diesel
Belém, sugeriu que o impasse fosse re- 28,40$; a participação em 60,69% destes
solvido, transformando a COPAM em dois combustíveis no conjunto dos de-

326
REGIÃO NORTE
~ I
PRODUÇAO E CONSUMO DE DERIVADOS DE PETROLEO
1969

--- - _399. 900 m3

_ 663. 305 m3

~Gasolina ~ Combusffvel poro Jato

(ll> Querosene
~Óleo Diesel
~Gás Liquefeito

~ Óleo combustível
e _Produ<;Ôo
_..Consumo

Fig .: 1

Tabela 1 Comparação entre produção e consumo dos derivados do petr6leo


(1959)

PRODUTOS Produção Consumo Superavit Deficit

Gasolina . ...... .... •. ... . .. 149.045 145.872 3 . 173 -


Querosene . . . . .......... , . .. , 31 .951 37 .015 - 5.064
Oleo Diesel. .. . • o ••••• • ••• 150.738 189.811 - 39 .073
Comb. para Jato ........ . . . · - 45 .247 - 45.247
Gás Liquefeito .. : . . . . .. . . . . 7 .132 25 .279 - 18. 107
Oleo Combustível . . . .... ... 60. 994 215 .214 --'- 154 . 220

TOTAL ... .... ..... ... ... 399 .900 663 .30.'} - 263 .405

Fonte: Anuário &latistico do Brasil, IBGE. 1970.

827
j

REGIAO NORTE
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E DO CONSUMO DE DERIVADOS DO PETRÓLEO

Góa Liquefeito
-Querosene de Jato
., --- Consumo
Produ~llo
40 I
I
» I Querosene
I
30 JO
I
u I u

lO
I lO
_,/
, / 16
lOOO
Total do Revii5o
/
'0 v lO no I
aoo I
o o o
.. .. aao I
~ ~ i i i I
' ~ i I I laoo
I I i I i I

-
!
I Óleo Combuatível lOOOml leo Diesel 1000,., Gasolina A e B /
110000 460
/
160000

140000

/"'
..... /
110

-
400

JOO

uo
l;/

/
200

1:10

100

OL-------~ O 0~----------~ OL--------~

lliiiliiiliiililiJiliJI
FIG-2

rivados consumidos se deve às neces- 1.2 - Combustíveis Sólidos


sidades energéticas da economia regio-
nal, intimamente ligadas às caracterís- Na Região Norte os estudos de com-
ticas físicas da Amazônia que exigem bustíveis sólidos compreendem a lenha
o emprego do transporte fluvial e a e o carvão vegetal, não tendo, por outro
geração de energia elétrica de fonte lado, qualquer importância na Região
térmica. o carvão mineral.
No que se refere à produção de gás Apesar da lenha se constituir no com-
liquefeito de petróleo, sua utilização bustível de mais ampla distribuição
no lugar da lenha explica o elevado geográfica no território nortista, sendo,
crescimento do consumo, que passou portanto, o de uso mais vulgarizado
de 11.550 toneladas em 1940 ( Fig. 2) pela população, está comparativamente
para 25.279 toneladas em 1969. participando, cada vez menos, em re-
lação às outras fontes energéticas.
Observa-se, contudo, que a Região
sempre foi deficitária nesta produção, Segundo o gráfico ( Fig . 3), em 1960
pois em 1964 a diferença a favor do a Região produziu 159.112 toneladas
consumo já era de 7.070 toneladas, de óleo-cru equivalentes de lenha
tendo-se ampliado em 1969 para ( TOCE ), representando 33,87$ de
18.107 t. todas as fontes; em 1964 sua partici-

328
Região Norte decrescer, 1,07 em relação a todas as
I fontes. Isoladamente como fonte,
FONTES ENERGETICAS observa-se o mesmo fenômeno ocorri-
CONSUMO do com a lenha, pois a produção de-
1. Óleo cru cresceu de 15.458 toneladas em 1969
equivalentes para 13.291 toneladas em 1969.
t 000.000
Ao contrário da Região Sudeste, onde
TOTAL
estas duas fontes primárias continuam
a.OOO•OOO
a aumentar em termos individuais,
principalmente dado a importância da
siderurgia baseada no carvão vegetal,
na Região Norte este gênero industrial
não pesa no consumo desta última
fonte.
•oo·OOO
e oo-ooo Também contribuem para o menor
1'00®0
consumo desses combustíveis primá-
100.000

000.000 DERIVADOS OE PETRÓLEO • /


."'' rios a melhoria técnica das usinas tér-
micas e das fornalhas dos navios da Re-
·' ·-" gião que substituuam a lenha ou o
,.. ·- ·""
.....
400.000
carvão pelo óleo díesel ou combustível.
too ooo . _. Considerando contudo a maneira pela
qual se distribui a população pelos
100000 _

tooooo I
.I· . ....·. . . .•
L~~~A
t

• •.•.• •
1 imensos espaços geográficos da Região,
isto é, dispersa nos espaços rurais (54$
de população total) e mal servida de
estradas, tudo leva a concluir que este
1 abastecimento tradicional de combus-
00-000 I tíveis sólidos ainda deverá se consti-
tuir por muito tempo no mais utilizado
- ·--EARVÃO VEGETAL pela população, pois o caboclo amazô-
.. ··· ...... ···- ··· - ···- ···- ·") nico ou o proprietário das fazendas
. . . . . .....
o-.-."'•~•,...••
r!~~!!!!!!!
encontra a lenha nas próprias terras,
não precisando adquiri-la fora.
FIO 3

Por outro lado, como ainda acontece


no Sudeste, a lenha é utilizada nas in-
pação já era de 27,60$ e em 1969 dt-- dústrias alimentares (torrefação de fa-
crescia para 116.612 TOCE ou ape- rinha, fabricação de doces, usinas de
nas 17,37~ do total de todas as fontes. açúcar, padarias ou ainda nos curtu-
Isto se deve ao fato do aumento de mes c olarias). Se é ainda um fato
produção de energia elétrica e à con- constante que muitas destas fábricas,
corrência de gás liquefeito de petró- na Região Sudeste, a utilizam por sig-
leo nas maiores cidades. Isoladamente, nificar incapacidade dos seus proprie·
observa-se sua vertiginosa queda entre tários em transformar os fomos de
196:>, quando a Região produziu aquecimento por falta de recursos, com
2.305.978m8, e 1969 quando a pro- muito mais razão esta será a causa na
dução decresceu para 1.832.141ms. Região Norte.
(Fi~. 4).
Tanto a produção da lenha como a do
O mesmo fenômeno vem ocorrendo carvão vegetal compreendem, em geral,
com a produção de carvão vegetal; em a seguinte estrutura: o caboclo derruba
1960 a produção era de 10.667 a mata e levanta as estâncias de lenha
TOCE, 2,27% do total de todas as ou prepara os balões de carvão que,
fontes; em 1964, 7.647 TO C E ou no caso particular da Região Norte, são
1,48~ do total; em 196i, embora au- colocados junto à barranca do rio, es-
mentando levemente para 9. 170 perando o comprador que vem sempre
TCCE, o percentual continuava a pelo rio.
Região Norte
CONSUMO DE LENHA
1.000 m3 Região Norte
CONSUMO DE CARVÃO VEGETAL
2.300 Toneladas

2.200 18. 000


2 . 100 17000
2 .000 16000
1.900 15.000
1.800 14.000
1. 700 13. 000
1.600 12.000
1.~ 11.000
1.400 10.000
1.300 9 .000
I.ZOO 8 .000
o o

F1o.: 4

2- SISTEMA ELÉTRICO em geral, a antigas empresas conces-


sionárias de energia, muitas vezes
No estudo do sistema elétrico cumpre pertencentes às Prefeituras e que
analisar os setores: administrativo, o foram reorganizadas ou agrupadas
de produção e o de transmissão. para atenderem mais eficientemente ao
crescimento do mercado. Tal reagru-
O setor administrativo é constituído pamento conduziu a existência em
pelos órgãos de direção de cada em- cada Estado de uma única emP.resa de
presa de eletricidade que tem a coor- energia, com exceção do Amazonas
dená-los no plano federal a ELETRO- que possui duas. Estas empresas são
BRÁS. Estas empresas correspondiam, as Centrais Elétricas do Pará

Região Norte
PARTICIPAÇÃO DAS. USINAS TÉRMICAS PARTICIPAÇÃO DAS USINAS TÉRMICAS
NO CONSUMO DE OLEO DIESEL ·1971 NO CONSUMO DE ÓLEO COMBUSTÍVEL
t -1971-
90000 100 000

80000 90000

7'0000 80000

60000 70000

!50 000 60000

40000 50000
aD1D CONSUMO TÉRMICO
30 000 li.\\\1 OUTROS CONSUMOS 40000

20 000 30 000
0IUD CONSUMO TÉRMICO
20 000 li.\\\1 OUTROS CONSUMOS

Fig.: 5

330
( CELPA), Centrais Elétricas do Ama-
zonas (CELETROAMAZON), Com-
panhia de Eletricidade de Manaus
(CEM), Empresas Elétricas do Acre
(ELETROACRE), Centrais Elétricas
de Rondônia ( CERON), Centrais Elé-
tricas de Roraima ( C ,E R), Centrais
~~?ai~~~~ Elétricas do Amapá ( CEA) ( Tab. 2).
-
~aoaoc:2oo...;
... ~
... Ao contrário das Regiões mais desen-
volvidas, como o Sudeste, onde em
cada Estado ainda existem numerosas
empresas, foi relativamente fácil fazer
a incorporação de empresas oa Região
...:;; Norte, colocando-a, desta forma, à
I frente no que se refere à política em-
preendida pelo Governo Federal de
unificar o mais possível as diversas
~g~§~~~ ~ empresas de eletricidade. Isto por se
..; "'"' ~ ~
~
o
tratar de empresas que atendiam iso-
ladamente a uma cidade e não a uma
o
i;:J ~ ~ rede de cidades, distribuídas por uma
l 11 l I I área de concessão, circunstãncia em
(/1
z que a política de unificação torna-se
8 mais complexa.
"'o No que concerne à produção, tanto as
velhas empresas como as modernas
produzem, em suas usinas, energia de
fonte térmica, pois os espaços geoeco-
nômicos da Região Norte se organizam
nos vales dos médios e baixos cursos
dos rios de planície, onde quase não
há quedas d'água para a produção hi-
drelétrica (Tab. 2).
~~~~~~s ~
-
~aooÕ.,;2oo"'
... ~
... À distribuição das usinas térmicas ao
longo dos rios amazônicos, bem como
o pequeno potencial instalado de toda

Região Norte ,
I~ PRÓOUÇÃO E CONSlt.IO DE ENERGIA ELETRICA

400 ~Produção
- Consumo

300

:·:.· :··v·~
200

:: :;;·: =~
~:~. ::
=~
:: =::
.=

62 63 64 65 66 67 68 69

Fio.: 6

331
CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA
POR MICRORREGIÃO
-1970-

TIPOS DE CONSUMO

f;"('4H eo- Rnidondal c::J Contumo Comorciot

[lliiJ eon...... lndutlrlal § k-Prioril<lrictt do Plano RoQjonol elo


- 117 . 332 .000 DuO<WOivlm•!lo do AmotÕnlo (SUDAN)

- l..min<>ÇIIoo - · PúbliCOI FONTE : Sotvi,o F.clorol do ~toç6o o


9 tcp 2ÇO 3<!0 ~km Úll>onltoç6o ·1969.
CONSUMO EM kWII. - 21 157. 000
O~ J.C. do MQ90~ Etob: A L da SiiYo
7 . 9!4. 000
2 . 000 000
FIG. 7
a Região Norte era de 163.827 mW em Passando-se a apreciar ( Fig. 6) a evo-
1970 ou seja a produção de uma úni- lução da produção de energia elétrica
ca usina de potencial médio da Região na Região Norte, verifica-se que esta
Sudeste. não foi muito acentuada entre 1960 e
Os maiores centros urbanos como 1965, pois nesta última data represen-
Manaus e Belém utilizam usinas tér- tava 211.922 mWh ou 52% em relação
micas movidas a óleo combustível ao ano base; mas a partir de 1965
( Fuel-Oil ) complementadas por mo- teve forte incremento, a ponto da
tores díesel, ao passo que os centros produção em 1969, com 393.723 mWh,
menores apenas dispqem desses últimos representar um crescimento de 183%
motores. • · em relação ao ano base. Este fato se
explica pela dinamização das ativi-
Há alguns núcleos, como Maués, onde dades industriais nas cidades de Belém
a caldeira da usina térmica ainda fun- e Manaus, graças à política de Incen-
ciona com lenha, lembrando uma fase tivos Fiscais executada pelo Governo
de alguns anos atrás, quando a maio- Federal para os Estados da Região
ria das usinas não utilizava combustí- Norte e especialmente pela criação do
veis líquidos e quando todo um pro· Porto Franco de Manaus.
cesso de improvisação foi montado
para minorar as conseqüências da Para atender ao aumento da demanda
falta de energia: emprego de motores que ocorre principalmente nas duas
de barcos, de caminhões, de automó- capitais, foi providenciada a ampliação
veis, de navios, etc. da capacidade instalada das usinas de
Para movimentar as usinas térmicas Manaus para 50.775kW e as de Belém
para 93. 788 kW. A par deste incre-
foram utilizados em 1971 ( Fig. 5) mento nos dois pólos da Região, pro-
130.832 toneladas de óleo combustível
ou 73,48% do consumo deste combus- curou-se dotar as cidades menores de
tível na Região. No Estado do Amazo- novos motores para atender aos seus
nas foram consumidos 44 .053 tonela- consumidores. Desta forma a Centrais
Elétricas do Amazonas, responsável
das ou 65,09% de todo o óleo consumi- pela execução do plano de eletrificação
do no Estado; quanto ao Estado do do interior deste Estado, reorgan.izou,
Pará o consumo foi de 86.779 tonela- em 1968, os sistemas elétricos urbanos
das ou 76,91% do consumo estadual. de numerosas cidades, inaugurando as
O óleo díesel consumido nos motores novas usinas de Humaitá, Urucará,
térmicos correspondeu, no Estado do Benjamim Constant, Tefé, com uma po-
Acre, a 64,67% do consumo total do tência total instalada de 755 kVA, valor
Estado, a 54,81% em Roraima, a este muito modesto mas em consonân·
48,20% no Amapá, 19,84% no Amazonas cia com as necessidades das peque-
e 8,34% no Pará. Em relação ao con- nas populações consumidoras destes
sumo de toda Região, o óleo diesel núcleos.
consumido correspondeu a 17,01%.
(Fig. 5). A ampliação dos mercados consumi-
dores de Belém e Santarém e a insta-
Estes dados demonstram que a am- lação, há alguns anos, de uma indústria
pliação da produção de energia elé- extrativa mineral moderna no Terri-
trica da Região Norte está na íntima tório do Amapá, a do manganês, incen-
dependência do fornecimento destes tivaram os Governos Estaduais a come-
derivados à Região e justificam a am- çar a explorar o potencial hidráulico
pliação da Refinaria de Manaus para da Região Norte.
produzi-los, pois do contrário aumen-
tará a dependência de importação por A primeira obra hidráulica da Região
cabotagem, tanto de Landulpho Alves começou há doze ahos no rio Araguari;
na Bahia como de Duque de Caxias trata-se da construção da Usina Hidre-
no Estado do Rio de Janeiro, podendo létrica Coaracy Nunes, mais conhecida
ocorrer deficits na Região, caso as como Paredão, ao norte de Macapá;
outras áreas não possam atender ao paralizada durante todos esses anos
consumo necessário. por falta de verbas, recebeu recente-
PERCENTAGEM DAS LIGAÇÕES ELÉTRICAS EM RELAÇÃO
Região Norte
AO TOTAL DOS DOMICÍLIOS URBANOS POR MICRORREGIÃO
1970

___________56 925

FIG. 8 ___________ 15 638 - Domicilios com ligações elétricos

FONTES m:::{:;) Domic11ios sem ligações elétricos


Sinopse Preliminar do Censo ~mogrÓfico - 1970 CJ Áreos prioritários do plano regional de
Oro.: J. c. de Magalhães - - - - - - - - - - - - 2 874
ServiçO Federal de Habitação e Urbanizoçóo- 1970 Elab.: E . Moreira - - - - - - - - - - - - - 609 desenvolvimento do Amozônio (SUOAM)

SS4 SS5
mente dotações que a possibilitam pro- quase uma constante em todo o Brasil,
duzir 40mW e posteriormente 100mW. e como há diversos bairros nas cidades
sem eletricidade, o consumo per capita
Na Região de Belém pretende-se é muito baixo e apesar de vir aumen-
construir a usina de Tapanã, no rio tando, como se aprecia na tabela 3,
Guamá, para fornecer 50mW a esta situa-se entre os mais baixos do Brasil
capital e cidades próximas; por outro 101 kWh/habitantes. 3
lado, Santarém será beneficiada pela
usina, ora em construção, de Curuá- Como ocorre em todas as Regiões, há
Una, com uma capacidade de 20mW. diversidades regionais, demonstrando
As ampliações e as novas usinas hi- Estados, Territórios ou regiões homo-
drelétricas fornecerão um acresc1mo gêneas que se encontram mais favo-
de 185mW que, somados aos 181mW recidas do que outras. O Território
programados, possibilitarão a Região do Amapá, por exemplo, possui o
atingir, em 1976, a aproximadamente índice per capita mais elevado da
530mW; deverão contudo ser dobra- Região, isto porque as instalações da
dos, pois as estimativas para 1985 Icomi exigiram desde a sua insta-
estão avaliadas em l.OOOmW. lação maiores quantidades de energia;
também o Porto Franco de Manaus,
a partir de 1965, contribui para
concentrar uma quantidade maior de
2.1 - Redes Locais de energia na capital do Estado do Ama-
Transmissão de Energia zonas, e elevou o índice per capita
Elétrica deste Estado em 1970 para 114 kWh/
habitan.te. O Estado do Pará, que
Em virtude das características pecu- possui a maior população da Região,
liares da organização do espaço ama- é o menos servido proporcional-
zônico, com pequenas cidades, de mente, pois seu índice per capita não
vai além de 102 kWh/habitante.
consumo elétrico limitado e muito dis-
tanciadas umas das outras, separadas Apesar de o índice per capíta de con-
quase sempre por intrincada Floresta sumo, em toda a Região ( Tab. 3)
Equatorial, não houve condições de se ter passado de 43 lCWb/habitantes
organizar um sistema de transmissão em 1961 para 101 kWh/habitante em
de energia do tipo regional, estrutura- 1970, ainda está muito aquém do va-
do por uma rede de linhas interligadas lor per capita nacional, correspon-
a uma ou diversas usinas produtoras. dente neste último ano a 398 kWh/
Desta forma as cidades são abastecidas habitante. Em valores absolutos o cres-
por linhas de transmissão urbanas -que cimento em relação ao ano base de
partem da central térmica para os di- 1960 foi de 208,18$ correspondente a
versos bairros. um aumento bruto de 211.076.000 kWh,
ou seja, o dobro do consumo de 1960;
Como a população rural não se bene- tal ocorreu principalmente a partir do
ficia com este sistema, o que aliás é ano de 1965 (Tab. 4).

Tabela 3 Consumo de Energia Elétrica kWh/hab.

1961 1962
----
1963 19641~ 1966 1967 1968
--------
1969 1970

Acre . .. . ........... 24 23 22 20 21 20 14 12 11 ao
Amazonas .......... 22 23 37 45 51 63 73 85 100 114
Roraima ... . .... .... 19 18 20 14 14 27 11 10 11 70
Pará .. .. . .......... 47 48 45 50 44 59 66 74 90 102
Amapá ... .......... 186 198 173 148 116 167 151 167 185 173
Rondônia . . ... ...... 97 91 85 67 55 52 63 50 63 38
Região . ............ 43 45 46 50 47 60 67 75 89 101

SS6
Tabela 4 de energia fornecida se destina ao
consumo residencial, demonstrando-se
Quantidade assim que o processo de industriali-
Consumida Ano Base zação ainda não alcançou a Região
ANO .. 100
(1.000 kWh) Norte. Mesmo em cidades como Belém
e Manaus esta característica se man-
19600oooooooo 101 0391 100 tém como se aprecia na tabela 5,
1961 ..
• • o ••• 117 0141 115,53 ocupando o consumidor industrial o
19620 125o538 123,81 terceiro lugar em Belém e suplantando
1963 1330 489 131,65 ligeiramente o comercial em Manaus.
Hl64o 149 0598 147,!)4
19650 143 0030 141,06 Porém esta situação tende a se modi-
19660 192 .508 189,86 ficar graças aos incentivos que estão
1967 0 219 .343 216,33 sendo oferecidos aos empresários do
1968o 254 o046 250,56 Sul do País que desejam instalar in-
1969 0 312. 467 308,18
dústrias na Região.
Outra característica que se pode obser-
Quanto à produção, a evolução do var pelo cartograma é a forte concen-
consumo se manteve numa proporção tração do consumo nos dois pólos da
de 75~ em relação à mesma ( Fig. 7), Região, não havendo outros centros
garantindo o fornecimento de energia urbanos que formem com os dois pri-
aos domicílios, às lojas comerciais e meiros uma hierarquia de centros con-
aos estabelecimentos industriais. sumidores; também em cada centro
menor assinala-se somente a existência
Pelo cartograma (Fig. 7), que indica a de um só tipo de consumidor, quase
quantidade de energia consumida em sempre o residencial. Este fato, bem
cada Microrregião Homogênea pelos como a excessiva concentração nos
diversos tipos de consumidores, pode- dois pÓlos, traduzem situações típicas
se verificar que a maior quantidade de regiões subdesenvolvidas.

337
Tabela 5
CIDADES 1970 TIPOS DE CONSUMIDORES (%)
Ilumin&çAo
Pública e
Residencial IndustriAl Comercial Poderes
Públicos

Belérrl .. . . ... . . .... 40,30 17,33 2.'),13 17,22


~anaus .. .. . ...... 39,45 18,99 18,55 22,99

A localização de um ou outro estabe- 3 - A SUBSTITUIÇAO E A ..


lecimento industrial moderno em de-
terminada Microrregião Homogênea, ALTERNÂNCIA DE
como ocorre em Macapá, com as ins- FONTES NO SISTEMA
talações da !comi, explicam sua
maior relevância no consumo indus- ENERGÉTICO GLOBAL
trial. Por outro lado, nos dois pólos da
Região, Manaus e Belém, a diversi- Considerando que há tipos de moto·
dade de funções da cidade possibilita res, caldeiras ou fornalhas que podem
a divisão do consumo em setores mais trabalhar com diversas fontes de ener-
variados: residencial, industrial, pode- gia, pode-se alternar uma com a outra,
res públicos e principalmente para o conforme esteja objetivando a maior
tipo comercial, que, como se aprecia, facilidade de sua obtenção ou o seu
é inexistente nas outras Microrregiões melhor preço na produção e consumo.
Homogêneas. Por outro lado, o avanço da tecnolo-
Apesar do aumento da produção e con- gia exige, para o melhor rendimento
sumo de energia elétrica na Região, de um sistema de combustão, a subs-
amplos setores da população de seus tituição da matéria prima energética
Estados e Territórios estão carentes tradicional por outra mais adequada às
deste serviço, como se pode apreciar necessidades atuais dos usuários.
pelo cartograma de ligações elétricas Estes aspectos referentes à alternân-
em relação ao total de domicílios urba- cia e à substituição de fontes condu-
nos, onde quase todas as Microrregiões zem ao enfoque sistêmico, permitindo
Homogêneas apresentam deficits eleva· a análise da organização de um sis-
dos (Fig. 8). tema energético global pelo qual se
Essa falta de ligações de luz elétrica estuda a energia como um todo, anali-
deve-se, por um lado, à incapacidade sando-se as diversas fontes como seus
da concessionária de energia em atua- componentes.
lizar seus serviços, ficando então di- Uma primeira substituição de fontes
versos bairros ou parte deles sem rede que se pode observar na área é a
local de distribuição e, por outro, ao troca, nas cozinhas residenciais e co-
baixo poder aquisitivo dos consumido- merciais, da lenha pelo gás liquefeito
res que impede aos mesmos pagar a de petróleo (GLP), graças à vanta-
instalação interna domiciliar da rede de gem deste último: limpeza, constância
distribuição ou mesmo manter atuali- das chamas, pouco espaço ocupado
zado o pagamento mensal da conta de pelo butijão no depósito das casas
luz. Desta forma o consumo ideal ur- ou nos veículos de entrega do produto.
bano para cada Microrregião ( Fig. 9)
está muito além do consumo real, pois, Graças ao interesse que o consumo do
enquanto este equivalia em 1970 a GLP vem tendo na Região, diversas
150.119. OOOkWh (54~ do total ideal), companhias se organizaram para dis-
o consumo ideal correspondia a ..... tribuí-lo, como a Fogás que atende a
277. 806.833 kWh, havendo, portanto, Manaus, Porto Velho e Santarém, a
necessidade de um suplemento de Gasônia que serve à Manaus e a Pa-
127.687.833 kWh para atender ao ragás que abastece a região de Belém.
mercado. Em 1971 forneceram à Região 33.138
toneladas, sendo que 6.708 toneladas energia ou seja a organização do sis-
produzidas na COPAM, 18.447 tone- tema energético global da Região,
ladas importadas por cabotagem e como pretendem os organizadores da
7.982 toneladas pela importação de na- Matriz Energética Brasileira. Esta reor-
vegação de longo curso. ganização se fará cada vez mais inten-
sa na medida que se elabore na Região
Entre o estágio da lenha e a fase do um processo de industrialização que
uso da eletricidade já se mencionou revolucionará o estágio atual de sub-
que numerosas usinas térmicas abando- desenvolvimento, proporcionando a
naram aquele combustível primário fabricação, in loco, de produtos manu-
para substituí-lo pelo óleo combustível faturados que atualmente são compra-
ou d1esel nas suas caldeiras; porém dos em outras Regiões do País e no es-
ainda não há na Região Norte con- trangeiro. Quando se der a abertura
dições para substituir ou alternar a para este processo, a produção de ener-
energia de fonte térmica pela de fonte gia irá se constituir como um fator
hidráulica, de forma que se torna de favorável à elaboração do mesmo, pois
fundamental importância equacionar será fonte de matéria prima-para novas
os problemas regionais de abasteci- indústrias, ao mesmo tempo que pro-
mento de petróleo e seus derivados às porcionará força motriz para toda a
usinas térmicas da Região, para que atividade industrial.
o crescimento anual da energia elétrica
não seja interrompido. Por exemplo, no caso do petróleo, que
se caracteriza hoje em dia por produ-
A produção de energia de fonte hidráu- zir apenas produtos para combustão,
lica esbarra em problemas como as haverá uma ampliação de tal ordem
longas distâncias entre um núcleo ur- que surgirá, como já ocorre no Sudeste,
bano e outro, além do seu baixo con- a indústria de produtos petroquímicos
sumo em eletricidade, face o subdesen- não energéticos. Cada ramo deste gê-
volvimento regional; desta forma não nero químico será por si mesmo capaz
há atualmente, condições econômicas de gerar uma gama muito variada de
para a organização de um sistema de outros gêneros industriais que tenham
linhas de transmissão de energia que como matéria-prima os derivados de
utilize o grande potencial hidráulico petróleo. Também numerosas fábricas
da Região. de material elétrico surgirão em decor-
Assim não cabe pensar, em futuro pró- rência da dinamização do sistema elé-
ximo, na alternância de fontes térmicas trico que contribuirá, desta forma,
e hidráulicas na Região para a pro- também para a diversificação e cresci-
dução de eletricidade e nem mesmo mento do parque industrial da Região.
na complementação da térmica pela Estas novas demandas técnicas, tanto
hidreletricidade, como já é mais no setor elétrico como nos demais se-
comum no Sudeste e Sul do Brasil. tores energéticos, exercerão, por sua
Porém, como já se apreciou no capí- vez, pressões para a instalação de
tulo do sistema elétrico, as regiões de centros de formação de pessoal téc-
Belém e Santarém, bem como a de nico especializado, concentrados ainda
Macapá, já contam com estudos ou hoje em pequena escala na Região
mesmo com a construção de pequenas Sudeste.
usinas hidrelétricas, de forma que Novas necessidades industriais pode-
dentro de alguns anos serão discuti-
dos problemas até mesmo do preço rão surgir, forçando o setor energético
mais vantajoso do kWh fornecido seja não só a ampliar a sua pequena capaci-
de fonte térmica ou de fonte hidráu- dade produtora como também a se
lica. integrar mais coordenadamente, orga-
nizando-se, então, o sistema global de
Na Região Norte, cada um dos setores energia. Nessas circunstâncias, novas
de produção de energia é muito em- refinarias de maior capacidade deve-
brionário, o que, de certa forma, facili- rão ser instaladas na Região para o
tará a sua reorganização segundo um fornecimento de matéria-prima aos nu-
planejamento total de fornecimento de meroso~ consumidores.

889
Por outro lado, as novas indústrias da um total de 5.000mW, pois novos nú-
Região, como por exemplo as metalúr- cleos urJ>anos para consumir energia
gicas e siderúrgicas, entre elas a surgirão nos espaços geográficos que
SIDERAMA, em fase de montagem, se organizarão em função de obras de
poderão propiciar a estruturação do infra-estrutura de integração regional,
setor energético do carvão mineral, co- como os longos eixos rodoviários ora em
meçando por incrementar as explo- construção. A maior proximidade entre
tações dos carvões do rio Fresco e do eles será, por outro lado, o fator que
Alto Amazonas, ora em fase de estudos propiciará a instalação de um sistema
de geologia de superfície e de labora- de transmissão regional de energia até
tório, pelo Instituto de Desenvolvimen- agora inexistente no Norte do País.
to do Estado do Pará, no primeiro caso
e pelas firmas Otto Gold da Alemanha O desenvolvimento econômico da Re-
e Compequi do Rio Grande do Sul, no gião Norte deverá, no futuro, propi-
segundo caso. ciar até mesmo o aproveitamento do
Também o desenvolvimento da Região imenso caudal dos rios de planície, que
permitirá o aproveitamento das quedas quando represados por vastos reserva-
d'água já estudadas pelo Comitê tórios, além de fornecer água para a
Coordenador de Estudos Energéticos geração de energia hidráulica, regula-
da Região Norte, as quais fornecerão rizarão o regime fluvial na Região.

NOTAS DE REFER~NCIAS
1 Os fatores de conversão adotados para equivalência de todas as fontes em T O C E fo-
ram os seguintes: lm!l de lenha = 0,069t de TOCE; lt de carvão vegetal = 0,69t de
TOCE; 1.000 kWh = 0.46t de TOCE, e 11 de derivados de petróleo =
1.15t de TOCE.
Correspondem aos fatores de conversão empregados pelas estatísticas oficiais das Nações
Unidas e pelas fontes governamentais brasileiras que tratam de energia.
2 Este projeto, que abrange área muito mais vasta que a do interesse da Petrobrás, consiste
no mapeamento aéreo P?r meio do radar, de uma área de !1.800.000 km2, abrangendo 46%
do Território Nacional; é executado pelo Departamento Nacional da Produção Mineral através
de duas empresas especializadas.
3 Para o cálculo do índice per capita foi tomada a população absoluta do Estado e nlio
somente a populaç§o servida pela concessionária como na tabela 2.

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10. SIDERAMA. Companhia Siderúrgica da Amazónia. Manaus, 1970, 24 p. il.

340
INTRODUÇÃO

1 - A AGRICULTURA NA
REGIÃO NORTE

A economia da Região Norte ainda se


encontra baseada no extrativismo ve-
getal, embora modificações no quadro
agrário estejam-se verificando e colo-
quem a pecuária e a lavoura desempe-
nhando importantes posições no contex-
to regional. A agropecuária vem aos
poucos representando maior expressão
na economia da Amazônia, em decor-
rência do declínio pelo qual vêm pas-
sando as atividades extrativas, devido à
relativa desvalorização dos produtos
florestais nos mercados nacionais e es-
trangeiros e ainda em virtude do re-
cente desenvolvimento de mercados ur-
banos-regionais, onde existe maior den-
sidade demográfica, fatos que se aliam,
na Região, à política governamental
apoiada na aplicação de Incentivos Fis-
ATIVIDADE
,
cais, ocasionando grande incremento
dessa atividade. A atividade agrícola
na Região Norte baseia-se no cultivo
AGRARIA de lavouras alimentares, destinadas à
subsistência de seus produtores ou à
MARIA ELISABETH C. DE SA comercialização nos centros urbanos lo-
TAVORA MAIA cais, atividade esta que se encontra es-
pacialmente distribuída por toda a Re-
gião. Entretanto, alguns produtos co-
merciais por excelência começam a se
impor, com~ a juta, a pimenta-do-reino
e a malva, substituindo, pelo menos em
algumas áreas, a atividade extrativa,
embora sejam cultivos de ocorrência
muito concentrada.
De um modo geral, o desenvolvimen-
to das atividades agrícolas encontra co-
mo sério entrave a dificuldade de es-
coamento das safras. Existem ainda
sérios problemas referentes à formação
de pastagens, à baixa fertilidade dos
solos de "terra firme", bem como não
existem estruturas de transportes, be-
neficiamento, armazenagem e comer-
cialização da produção agrícola que fa-
cilitem o abastecimento dos centros ur-
banos e concedem melhores preços aos
produtos.

341
As áreas onde se nota maior desenvolvi- Espacialmente, a principal atividade Agropecuário de 1970 que permitiram
econômica da Região Norte ainda é o No Estado do Pará verifica-se o mais
mento das atividades agropastoris coin- analisar a estrutura funaiária e o regi- alto percentual da primeira classe di-
cidem com as regiões mais populosas. extrativismo vegetal. A Floresta Ama- me de exploração da terra.
zônica, rica em espécies de alto valor mensional, com 94,45% do número to-
No Médio Amazonas, principalmente tal dos estabelecimentos. Dentro desta
em tomo do eixo Manaus- Santarém, econômico, imprimiu à Região um tipo
de economia baseada na coleta de pro- categoria ocorre uma acentuada con-
onde a criação é atividade tradicional, 2.1 - Estrutura Fundi6ria centração dos estabelecimentos com
a lavoura tende a assumir papel impor- dutos silvestres, principal atividade ·das
populações rurais. menos de 10 hectares que .alcançam
tante em função da cultura da juta. Em Os estabelecimentos agrícolas da Re- cerca de 48$ do total estadual. Estes
Bragantina, região essencialmente agrí- gião Norte apresentam-se espacialmen- se localizam, na sua grande maioria,
cola, a economia é baseada em cultivos
alimentares e na produção de plantas 2 - CARACTERÍSTICAS te mal· distribuídos, ocupando apenas nas Microrregiões vizinhas à capital,
5,5% da área total regional. Da área em áreas tradicionalmente voltadas pa-
comerciais, fumo, pimenta-do-reino e SOCIAIS DA total dos estabelecimentos, 51,96% cor- ra a lavoura de produtos alimentares,
malva. Em Tomé-Açu e Capitão Poço, ORGANIZAÇÃO respondem aos de mais de 500 hecta- horticultura e fruticultura que abaste-
dois produtos comerciais são a tônica ,
AGRARIA . res, os quais constituem apenas 1,67$ cem o mercado de Belém. Embora nu-
da produção: pimenta-do-reino e mal- do número total. Nestes estabelecimen- mericamente importantes, os estabeleci-
va. ~egulannente povoadas, são tam- tos concentram-se as atividades criató- mentos com área inferior a 100 hecta-
bém áreas essencialmente criadoras as Encontram-se na Região Norte cerca
de 8$ de áre~ total dos estabeleclmen- rias ou extrativas. Já os estabelecimen- res não tem importância espacial, ten-
d~ Campos de Maraj6 e a região das
tos do País e apenas 2% da área total tos que possuem menos de 100 hecta- do em vista que ocupam apenas 22% da
inve!'fladas de Paragominas e Marabá. res são numericamente muito impor- área total dos estabelecimentos do Es-
ocupada com lavouras permanentes e
Os cultivos na Região Norte são feitos temporárias, nas quais. a mecanização tantes, uma vez que totalizam 83,70$, tado. Já os estabelecimentos com mais
muitas vezes como atividade satélite das lavouras é praticamente inexistente, entretanto espacialmente, são pouco ex- de I. 000 hectares, que representam
do extrativismo e, geralmente, segundo uma vez que apenas 0,7$ do número pressivos, representando apenas 17,19$ apenas 0,83$ do número total estadual,
práticas primitivas, rotineiras e tradi- total de tratores do País são aí encon- da área total dos estabelecimentos concentram 62,86$ da área total dos
cionais, lierdadas dos índios pelos ca- ( Tab. 1). Estes estão voltados para a estabelecimentos. Estes estão voltados,
trados. lavoura. principalmente, para a criação bovina
boclos, o que lhes confere característi-
cas de extensivos e itinerantes, sempre No âmbito regional, apenas 6% da área que vem atualmente recebendo grande
em busca de novas áreas recém-desma- O Acre é o Estado que apresenta a incentivo de desenvolvimento, através
total da Região Norte são utilizados maior proporção de área ocupada com de projetos agropecuários administra-
tadas, onde a fertilidade do solo ainda pelas atividades agropecuárias e ex- estabefecimentos rurais, os quais abran-
não tenha sido comprometida. Do mes- dos pela SUDAM.
trativas. As lavouras ocupam apenas gem cerca de 27$ de sua área estadual.
mo modo, a pecuária tem sua instala- 9% do total da área utilizada, sendo a As demais Unidades Federadas da Re- No Amazonas os estabelecimentos com
ção condicionada à presença de campos atividade que apresenta menor expres- gião apresentam valores bem inferiores, área inferior a 100 pectares alcançam
naturais, onde se desenvolve de ma- são espacial, uma vez que a pecuária aparecendo o Pará em segundo lugar, 82,08$ do número total estadual.
neira extensiva ou ao redor dos cen- ocupa 20$ e a exploração florestal 70$ com apenas 8,5$; Rondônia e Roraima, Quanto à área, é neste Estado que a ca-
tros urbanos locai.s, aos quais abaste- tegoria dimensional de O a 100 ba as-
da área total regional utilizada . com cerca de 6,5%, respectivamente; o sume o valor mais elevado, quando
ce de leite e de derivados, ou ainda em Território do Amapá com 4,3% e o Esta-
áreas de matas, onde através da apli- Para o estudo da organização agrária comparado às demais unidades federa-
do do Amazonas, que possui o mais das regionais, alcançando 27,92% da
cação de Incentivos Fiscais vão sendo da Região Norte, através de suas ca- baixo percentual, aproximadamente 3$ área total estadual, ocupada com es-
formadas grandes extensões de campos racteristicas sociais, foram utilizados de sua área estadual ocupados com es- tabelecimentos rurais. Dentro desta
artificiais . dados da Sinopse Preliminar do Censo tabelecimentos rurais. mesma classe dimensional destacam-se

Tabela 1 Estrutura Fundiária


TOTAL O- 100 ha 100- 500 hl> 500 - I. 000 h .. 1.000 - 10.000 ha + de 10. 000 ha

UNIDADES Are..
FEDERADAS N.• Eeta- (la) N.• Eata- N.• Eata- N.• Eata.- N.• Esta
beleci- Total doe beleei- .(,...,., % beleei- % Área
(b) %
Are.
(h a) % beleci- %
Área
(la) beleci- Área
(ba)
mentoea E.tabelec:i- mentoa (la) mento• m~ntos ruentos
mentos

Rondônia ........ ........ ... 7.090 I .689.4.84 3 . 3-4.0 47,11 93.921 5,91 3.636 411,87 840.985 5 108 1,52 71.297 4,49 94 1,33 238 . 498 15,00 12 0,17 344.782 21,69
Acre ..... .......... . ....... 23 . 108 4.073 . 300 9 . >&04 40,119 258.632 6,35 13.173 57,01 2 .43>& .380 5 333 1.44 210. 051 5,16 180 0,78 567.338 13,93 18 0,08 602.000 14,80
Amuonu .... ...... . ....... 81.706 4.266 . 784 67.067 82,08 1.191.171 27,92 14.105 17,26 2.400.455 5 387 0,47 246 .550 5,78 144 0,18 307 . 448 7,20 3 0,01 121.160 2,84
Roraima . ..•.............•. 1.959 1.587 .•oe 620 31,115 11.428 0,72 352 17,97 7l.o.l5 308 1~.72 203 . 207 12,80 677 34,56 1 .258.727 79,29 2 0,10 43.000 :?,71
l'a.ri ..... .................. 140. C»C 10.366.867 132.323 9>&,45 2.264 .868 21 ,811 5.938 >&,24 1.114.530 I 616 0,48 470.570 4,54 1.078 0,77 a. a6.t3a 30,35 79 0,011 3.370. 767 32,51
Amaf" .... ........ · · · · · ··· · 2.316 598.866 1.7.a 75,39 >&5.161 7,64 396 17,10 75 . 339 I 56 2,>&2 38 . 759 6,47 107 >&,62 269.158 -l4,95 11 0,47 170.450 28,t6

~cilo ... ................. 266.273 22.-182 .707 21<1 . 500 83,70 3 . 865 . 181 17,19 37 .500 1>&,63 6 .1136.734 3 .868 0,73 1. 2>&0. 434 5,52 2.280 0,89 5 .787 .302 25,74 125 0.05 4 . 653 .059 20.70

Fonte: IBGE- Censo Agropecudrio, 1970.

S42
os estabelecimentos que possuem me- os de 20 a 50 hectares que represen-
nos de 10%, os quais rerresentam 40% tam, em cada uma dessas Unidades Fe-
do número total estadua . Nestes esta- deradas, cerca de 18% do número total.
becimentos são feitos, principalmente, Diferenciam-se, contudo, das demais
cultivos de produtos alimentares e tam- Unidades Federadas do Norte por
bém da juta. apresentarem os mais elevados percen-
São os estabelecimentos da classe de tuais na classe dimensional de 100 a
100 a 500 hectares os que apresentam 500 hectares: 57,01% e de 49,87% do
maior importância espacial no Amazo- número total de estabelecimentos.
nas, alcançando 56,26% da área total Com relação à área total dos estabele-
dos estabelecimentos do Estado. Com cimentos do Acre e de Rondônia, os de
relação ao número, no entanto, alcan- mais de 1. 000 hectares correspondem
çam apenas 17,26% do total. a 28,73 e 36,6~, respectivamente, mas
11: ainda o Estado do Amazonas a Uoi- quanto ao número total esses estabele-
dade Federada da Região Norte que cimentos correspondem a apenas 0,86 e
apresenta a ·menor participação dos es- 1,50%.
tabelecimentos de mais de 1. 000 hecta- O Território de Roraima é dentre as
res tanto em relação ao número quan- Unidades Federadas da Região Norte a
to à área por eles ocupada, sendo seus que apresenta a menor participação da
percentuais 0,18 e 10,0.U, respectiva- categoria de estabelecimentos com área
mente, quando relacionados aos totais inferior a 100 hectares, tanto em rela-
estaduais. ção ao número total dos estabelecimen-
Também no Território do Amapá é bas- tos do Território quanto à área que
tante elevado o número de estabeleci- ocupam, sendo seus valores 31,65 e
mentos com menos de 100 hectares, que 0,72%, respectivamente. Entretanto,
alcançam cerca de 75,3~ do número quando comparamos suas classes di-
total. Dentro desta categoria dimen· mensionais de 500 a 1. 000 e de 1. 000 a
sional verifica-se uma grande concen· 10 . 000 hectares às dos demais Estados
tração daqueles de menos de 50 hecta- e Territórios, é flagrante a sua concen-
res ~ue chegam a alcançar a metade tração fundiária . A categoria dimensio-
do numero total de estabelecimentos do nal de 500 a 1. 000 hectares correspon-
Território. Apesar de numericamente de, respectivamente, a 15,72 e 12,80% do
importante, esta classe de menos de 100 número e da área dos estabelecimen-
hectares representa apenas 7,54% da tos do Território e os estabelecimentos
área total dos estabelecimentos do Ter- de 1. 000 a 10. 000 hectares ocupam
ritório. 34,56 e 79,29% do número e da área dos
estabelecimentos desta Unidade Fede-
Ainda no Amapá, com relação às de- rada, respectivamente. Este fato se cor-
mais classes dimensionais, na de 100 a relaciona bem com o predomínio, em
500 hectares que representa 17,10% uo Roraima, das atividades ligadas à cria-
número total, verifica-se que os esta- ção extensiva em grandes estabeleci-
belecimentos de 100 a 200 hectares re· mentos.
presentam 10% do total dos estabeleci-
mentos rurais. Já os estabelecimentos
com área superior a 1. 000 hectares são 2.2 - O Regime de Exploração
numericamente inexpressivos, alcançan-
do 5,~ do número total. No entanto, da Terra
concentram cerca de 73,41% da área
total dos estabelecimentos. No que tange ao regime de explora-
ção da terra, no Estado do Pará
O Acre e o Território de Rondônia ( Tab. 2) a importância dos proprietá-
apresentam estruturas fundiárias orga- rios e dos ocupantes equivale-se em re-
nizadas de maneira semelhante. Apre· lação ao número dos estabelecimentos,
sentam nítido predomínio numérico dos havendo, no entanto, grande superio-
estabelecimentos com menos de 100 ridade quanto aos proprietários no to-
hectares, sobre os das demais classes cante ao percentual relativo à área,
dimensionais, destacando-se entre eles uma vez que estes se concentram em

344
estabelecimentos pequenos. Os arren-
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Os proprietários alcançam valores mais
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extrativismo. Já nas Microrregiões do
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A maior proximidade de Belém per-
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vados no Pará, bem como em toda a
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Íós e do Baixo Amazonas, onde seus va-
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dedicam às ativida es da lavoura. 1!:
também freqüente sua partici~ação
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~ <"~ ~o~ < 2 ~ nas áreas de extrativismo veget .

345
No Amazonas os proprietários sobres- arrendatários aparecem em segundo lu-
saem quanto ao número e área dos es- gar, em 36,50$ do número e 33,29%
tabelecimentos, com cerca de 33,18% da área total dos estabelecimentos. Os
do número e 31,16% da área total. proprietários apresentam valores bai-
Destacam-se, principalmente, nas Mi- xos, quando comparados aos anteriores,
crorregiões do Médio Amazonas que concentrando-se em 17,63$ do número
concentra 80% do número e 55% da dos estabelecimentos e 13,36$ da área
área total dos estabelecimentos e no total destes.
Alto Solimões e no Rio Negro, onde Os arrendatários destacam-se na Mi-
ocupam, respectivamente, 40 e 31% do crorregião do Alto Juruá, onde predo-
número dos estabelecimentos. Nestas mma o sistema do "aviamento" ligado
regiões, entretanto, os proprietários à extração vegetal, em grandes esta-
apresentam valores mais baixos quan- belecimentos que ocupam 70% da área
to à área total dos estabelecimentos, total deles e 58$ do seu número. Os
alcançando 10 e 5%. Os proprietários, ocupantes predominam na Microrre-
no Estado do Amazonas, encontram-se gião do Alto Purus, em 57% dos esta-
intimamente ligados às atividades cria- belecimentos agrícolas, que correspon-
t6rias. Os arrendatários sobressaem nas dem a cerca de 63% da área total dos
Microrregiões do Juruá, do Purus e do estabeecimentos. Na Microrregião do
Madeira, áreas essencialmente extrati- Alto Juruá seus valores ainda são ele-
vas, onde essa categoria de produtor al- vados, correspondendo a 31 e 23%, res-
cança valores expressivos, tanto em re- pectivamente, do número e da área dos
lação ao número quanto à área dos estabelecimentos. Sua predominância
estabelecimentos, pois é freqüente nes- deve-se à ocupação de grandes glebas
sas regiões o aluguel de grandes pro- de terras devolutas aí existentes, onde
priedaaes, por parte do dono das ter- praticam o extrativismo vegetal. Os
ras, aos seringalistas q,ue aí praticam o proprietários concentram-se em peque·
sistema do "aviamento '. nos estabelecimentos, abrangendo ape-
Os parceiros são totalmente inexpres- nas 6 e 15% da área total dos estabele-
sivos no Amazonas, destacando-se na cimentos das Microrregiões do Alto Ju-
Microrregião do Purus com apenas 5% ruá e do Alto Purus, respectivamente,
da área total dos estabelecimentos, sen- geralmente ligados às atividades da la-
do que relativamente ao número seu voura de produtos alimentares, destina-
valor não se apresenta significativo, dos ao consumo da mão-de-obra ocupa-
pois é de apenas 0,12$ do total deles, da no extrativismo, bem como a uma
tendo em vista ser esta uma região de pecuária também de subsistência.
intensa atividade extrativa, onae do- No Amapá os proprietários destacam-se
minam os grandes estabelecimentos. quanto ao número e área dos estabele-
Os ocupantes destacam-se quanto ao cimentos, ocupando cerca de 54,8% e
número e quanto à área dos estabeleci- 87,74$, respectivamente, uma vez que
mentos, com valores bastante elevados se encontram concentrados em jran-
nas Microrregiões do Alto Solimões, do des estabelecimentos criadores. á os
Purus, do Rio Negro e do Solimões- ocupantes, embora apareçam em ,35%
Japurá, áreas essencialmente destina- do número dos estabelecimentos, em
aas ao extrativismo vegetal. No qua- relação à área ocupam apenas 7,01%,
dro estadual é esta a classe que apre- atestando seu predomínio em peque-
senta a maior percentagem no número nos estabelecimentos.
dos estabelecimentos, enquanto que, Os arrendatários se concentram em
com relação à área, ocupam os valo- apenas 1,68% do número e 1,18% da
res mais baixos, demonstrando que eles área total dos estabelecimentos e
se concentram em pequenos estabeleci- ocupam grandes extensões de terra
mentos. onde praticam o extrativismo vegetal.
No Estado· do Acre é notório o predo- Os proprietários predominam nas duas
mínio dos ocupantes que abrangem Microrregiões do Território. Em Ama-
45,75% do número de estabelecimentos pá-Oiapoque seus valores são os mais
rurais e 53,25% da área total destes. Os altos e afcançam 61~ do número e

346
97~ da área total dos estabelecimen- mentidos e à criação de pequeno nú-
tos. Nesta Microrregião os proprietá- mero de animais. Os proprietários
rios se dedicam à criação extensiva em ocupam 26,66~ do número e 39,20i da
grandes estabelecimentos. Na Micror- área total dos estabelecimentos; con-
repão de Macapá eles ocupam 52% do centram-se, na sua ·quase totalidade,
numero e 87~ da área total dos esta- nas colônias agrícolas dos vales do Can-
belecimentos . ~ esta classe a responsá- deias e do Madeira. Os parceiros al-
vel, aí, pela atividade extrativa. Os cançam aí os valores mais elevados de
ocupantes se concentram em pequenas toda a Região Norte: 18,39~ do núme-
unidades rurais, fatO' i,ndicado pela sua ro e 23,45~ da área total dos estabeleci-
predominância no número dos estabele- mentos, dedicando-se às atividades li-
cimentos, onde chegam a alcançar per- gadas ao extrativismo vegetal. Já os
centuais elevados: 45~ na Microrregião arrendatários se empenham mais em
de Macapá e 3~ na Microrregião do atividades extrativas, alcançando seus
Amapá-Oiapoque, enquanto, relativa- valores 10,~ do número e 7,90%. da
mente à área total dos estabelecimen- área total dos estabelecimentos .
tos, seus valores são bastante baixos: 9
e 3%, respectivamente, nas duas Micror-
regiões. Os ocupantes se dedicam às
lavouras de produtos alimentares, hortí- 3- CARACTERÍSTICAS
colas inclusive, para o abastecimento FUNCIONAIS E
das populações locais. A parceria é
praticamente inexistente no Território ECONÔMICAS DAS
do Amapá. ATIVIDADES AGRÁRIAS
No Território de Roraima verifica-se o
predomínio, praticamente absoluto, dos As lavouras, na Região Norte, consti-
proprietários que ocupam 75,40% do tuem-se numa atividade espacialmente
número e 89,65~ da área total dos es- inexpressiva, o que se evidencia ao
tabelecimentos aí existentes. Estão li- comparar a área total cultivada com a
gados à criação extensiva de gado bo- área total estadual das Unidades Fede-
vino, praticada em grandes estabeleci- radas regionais. O Pará é o Estado que
mentos e que constitui a base da eco- apresenta maior percentual de área
nomia local . Os ocupantes relevam ocupado com lavouras e esse valor é
quanto ao número dos estabelecimen- insignificante: 0,22% da área estadual,
tos, ocupando cerca de 23,12~ do seu (Tab. 3).
total. Estão concentrados em pequenas Predominam em área, em toda a Re-
propriedades, o que é atestado pelo gião Norte, as culturas alimentares,
baixo valor percentual alcançado por sendo que em toda a Região a percen-
essa classe de produtor na área total tagem estabelecida entre a área culti-
dos estabelecimentos, a qual é de ape- vada com esses produtos e a área total
nas 5,4~. Os ocupantes se dedicam cultivada, por Unidade Federada, acu-
também ao extrativismo vegetal, atra- sa valores entre 52% e 80%. :f: no Pará
vés do qual se fixam em grandes gle- e Amazonas onde o cultivo de produ-
bas de terras devolutas. Os arrenda- tos industriais começa a assumir papel
tários e os parceiros são totalmente relevante e a proporção de culturas ali-
inexpressivos no Território. mentares é menor.
Em Rondônia os ocupantes se destacam No Pará os produtos industriais apare-
quanto ao número dos estabelecimen· cem em 21,62% do total da área culti-
tos alcançando o valor de 44,15~ do
total dos estabelecimentos sob a res- vada no Estado, em virtude do desen-
ponsabilidade dessa categoria de pro- volvimento sempre crescente das cultu-
dutor; entretanto, ocupam somente ras da malva e da pimenta-do-reino.
29,45~ da área total dos estabelecimen- No ·Amazonas os produtos industriais
tos, o que indica que se concentram chegam a alcançar 44,56% da área to-
eles em pequenas unidades geralmente tal cultivada, devido à expansão da ju-
dedicadas à lavoura de produtos ali- ticultura através do vale do Amazonas.

847
Tabela 3 Lavouras

UNIDADES Área c/ Área c/


Área Total Área Cult. Cult.
DA Estadual Cultivada % Alimen- % Indus- %
FEDERAÇÃO tares t riais
-- ---
Amazonas .. .......... 155 .898 .700 41.688 0,03 21.603 51,82 18 .576 44,56
Pará... . ... . ... . ..... 122.753 .000 281 .215 0,22 216 .700 77,06 60 .802 21,62
Rondônia .. .......... 24 .304.400 31.778 0,13 31.305 98,51 166 0,52
Roraima ............. 23.010.400 2.679 0,01 2.510 93,69 82 3,06
Acre . . .........•..... 15 .258 .900 16. 026 0,11 13 .622 85,00 1.401 8,74
Amapá:· · ............ 13.906.800 3.074 0,02 2.495 81,16 347 11,29

Fontl!: Anudrio Estatistico, 1970.

As áreas cultivadas com os produtos ( Fig. 1) o franco predomfnio das la·


industriais tendem a apresentar cons- vouras temporárias de produtos alimen-
tante expansão . A juta e a pimenta-do- tares, principalmente de mandioca, mi-
reino se destacam entre eles, embora lho e arroz, que se combinam em toda
seus valores sejam inferiores aos apre- a Região; aparecem também, de forma
sentados pelas lavouras dos produtos bem localizada, lavouras de produtos
alimentares e desempenham importan- industriais como a juta, a pimenta-do-
te papel no desenvolvimento regional reino, a cana-de-açúcar, o cacau e o
da Amazônia, uma vez que se trata de fumo, principalmente.
importantes produtos na pauta das ex- Além de ser a mandioca o _produto i-
-portações nacionais . que mais aparece nas diferentes com-
Quanto à pecuária, esta foi introduzida binações, ele se destaca em algumas
na Região Norte sem nenhuma organi· áreas como o único produto represen-
zação ou critério seletivo e dessa ma- tado. Na verdade, isto não significa
neira ela se expandiu, tendo evoluído que nessas áreas não sejam feitos ou-
apenas quantitativamente. Os métodos tros cultivos; ocorre, entretanto, que es-
antiquados e rudimentares de criação se produto sobressai em relação aos de·
foram-se repetindo através dos anos e mais, quanto à área cultivada. Essas
não permitiram nenhum melhoramento áreas se caracterizam pelo predomínio
do rebanho ou das condições de vida a da atividade extrativa, constituindo-se
que estavam submetidos os criadores. em grandes produtores de borracha e
Os rebanhos criados na Região são: os de castanha. Correspondem essas áreas
bovinos, sufnos, eqüinos e bufalinos. aos municípios de Santo Antônio do
Dentre estes sobressai o rebanho bovi- Içá, Airão, Barcelos, Canutama, Ta- ·
no, assumindo seu efetivo, em 1970, o pauá e Manicoré, onde as lavouras são
total de 1. 700.000 cabeças . feitas em pequenos e médios estabele-
cimentos, tendo por objetivo o aten·
dimento das necessidades alimentares
3.1 -Combinação de Culturas de suas populações.
O milho e o arroz são os cultivos que
O estudo da combinação de culturas aparecem em praticamente todas as
foi baseado no método apresentado em combinações, delas participando com
um trabalho de Jerzy Kostrowicki, 1 igual importância. Apenas no municí-
o qual possibilita, com o emprego pio de Breves, na Microrregião de Pu-
de dados de área cultivada dos prin- rus, e em Porto Velho, no Território de
cipais produtos agrícolas de uma deter- Rondônià, o arroz aparece como pro-
minada região, chegar-se, por meio de duto quase único. ~m Breves existem
quocientes sucessivos, à organização do mais de 2. 800 hectares cultivados com
espaço, através de uma hierarquização esse produto, enquanto' que· os demais
desses cultivos. Segundo esse método, produtos aí plantados não alcançam
foi elaborado um mapa que mostra 200 hectares. Note-se, porém, que a

348
COMBINAÇÃO DE CULTURAS

MANDIOCA LARANJA

ARROZ FUMO
MILHO CACAU
JUTA TOMATE

CANA coco
FEIJÃO ABACAXI
PIMENTA CAFÉ
BANANA

FtQ · I
~ ....1,Tl-cl 04 AOIIIWI.TOOA- ET[A-IM8

lavoura nessa Microrregião ocupa cerca No nordeste do Pará se localiza uma


de ~ da área dos estabelecimentos. A área com grande variedade de cultu-
principal atividade econômica é aí re- ras, aparecendo combinados produtos
presentada pelo extrativismo vegetal, e alimentares e industriais. Essa área é
as culturas temporárias realizadas formada pelas Microrregiões do Salga-
oc-upam cerca de 80$ da área total do, da Bragantina e da Guajarina, que
dos estabelecimentos destinada à la· se constituem em áreas tradicionalmen-
voura de produtos alimentares . Já em te agrícolas, dentro da Região Norte,
Porto Velho a presença de colônias e mais as Microrregiões de Belém, de
agrícolas nos vales dos rios Candeias e Tomé-Açu e de Viseu.
Madeira, voltadas para os cultivos fei-
tos sob o sistema de roças, totalizam Além da mandioca, do arroz e do mi-
cerca de 23.000 hectares cultivados lho, produtos que aparecem cultivados
com arroz. em praticamente todos os municípios
dessa área paraense, sobressaem como
No vale do Amazonas concentra-se a produtos industriais aí localizados: o
lavoura comercial da juta, sobressaindo cacau, a pimenta-do-reino e ainda a
também o cultivo da mandioca que vi- malva e o fumo. Do total de terras
sa à alimentação das populações locais. cultivadas nessas regiões destacam-se

349
Tabela 4 Culturas Alimentares

Área
UNIDADE Total Área Área Área
DA Cult. C/ Cult. c/ Cult. c/
Prod. Arroz % Cult. c/ % Milho %
FEDERAÇÃO Aliment. (ha)
Mandioca (ha)
(ha)

Amazonas. ...... 21.603 1 .305 6,04 14 .797 68,49 1.382 6,39


Pará. ........... 216 .700 64 .508 29,76 82.501 39,07 50 .468 23,28
Rondônia . ...... 31.305 23 .837 76,14 731 2,33 3 .253 10,39
Roraima .. ...... 2 .510 891 35,49 420 16,73 999 39,80
Acre... ......... 13 .622 3.525 25,87 4.546 33,37 4.120 30,25
Amapá.......... 2.495 544 21,80 1.369 54,86 420 16,83
Região.. ........ 288 .235 94 .610 32,82 104 .364 36,21 60.642 21,04

Fonte: IBGE - Anudrio Estatfstico, 1970.

as lavouras permanentes, nas Micror- Constitui o arroz o segundo produto


regiões de Tomé-Açu e de Belém, que em área entre os cultivos .alimentares
chegam a alcançar 49 e 39%, respecti- da Região Norte, ocupando aproxima-
vamente, graças ao desenvolvimento da damente 33% do totaf utilizado nesse
cultura da pimenta-do-reino. Nas de- ramo. :E; a rizicultura uma atividade
mais regiões as lavouras temporárias bem distribuída em toda a Região, es·
ocupam mais de 80%, chegando, em Vi- tendendo-se ao longo das várzeas ama-
seu, a alcançar 97% da área total das zônicas.
lavouras.
O milho ocupa o terceiro lugar entre os
produtos alimentares da Região Nor-
te, ocupando 21,04% da área total de-
3.2 - Culturas Alimentares dicada às culturas alimentares. Seu cul-
tivo é feito de maneira rudimentar, se-
Em uma análise da distribuição dos gundo o sistema de roças, geralmentf
produtos, segundo a área cultivada de consorciado à mandioca, ao arroz e ao
cada uma (Tab. 4) , sobressaem entre feijão, formando com esses produtos as
as culturas alimentares, como espacial· principais lavouras alimentares da Re-
mente as mais importantes, a mandio- gião.
ca e o arroz, ambas com mais de 3oo;
da área total regional cultivada com
produtos alimentares, seguindo-se, em
A mandioca é o primeiro produto plan-
tado após a derrubada aa mata, for·
+
importância, o milho que ocupa 21,04%. mando os primeiros roçados juntamen-
Desses produtos, a mandioca é o que te com o arroz e o milho . Seu cultivo
é feito, em geral, cerca de dois anos no
ocupa a maior área cultivada. Deve-se mesmo terreno, sem nenhuma racionali-
este fato, principalmente, ao hábito ali- zação, através de métodos rudimenta-
mentar das populações amazônicas que res e predatórios, tomando os solos im-
têm na mandioca a base de sua alimen- próprios para outras atividades da la-
tação, sendo ela consumida ao natural, voura, sendo, por esta razão, abando-
no caso do aipim, ou já transformada nados após a colheita, para formação
em farinha. Outra causa de seu predo- de capoeiras.
mínio espacial são as facilidades que
a~resenta seu cultivo, pelas poucas exi- Quanto aos objetivos da produção, seu
gencias em matéria de tratos e de so- cultivo visa à transformação em fari·
fos. A quase totalidade da Região Nor- nha. Sob essa forma são consumidos
te tem condições favoráveis ao cultivo 90% de sua produção. Esse beneficia-
da mandioca, principalmente nas áreas mento é feito pelo próprio produtor,
de "terra firme", o que favorece sua de maneira muito primitiva, por meio
expansão por toda a Região. do "tipiti", em "casas de farinha", gran·

350
demente espalhadas pela Região. Toda tos . Deve-se este fato à existência de
a produção se destina à subsistência ou invernistas de baixo poder aquisitivo,
é comercializada regionalmente. Na os quais conseguem, através áa venda
Bragantina, por exemplo, área tradicio- desses dois produtos, superar as despe-
nalmente agrícola dentro da Amazônia, sas feitas com a formação de pastagens.
a produção da mandioca se destina não
apenas ao abastecimento de Belém mas No caso de invemistas de melhor situa-
áe toda a Região Norte, como uma ção financeira que, conseqüentemente,
complementação das produções dos Es- dispõe de maiores extensões de terra,
tados do Amazonas, do Acre e do Terri- os cultivos não são feitos nas áreas
tório do Amapá. destinadas à formação das invernadas,
mas sim em áreas reservadas a lavou-
Nas áreas de "várzeas", principalmen· ras, sendo estas feitas isoladamente com
te no médio Amazonas, onde a ativida- finalidade comercial.
~e ~~atória assume importância con-
Siderável, são feitas roças de mandioca A rizicultura assume caráter comercial,
para o arraçoamento do gado, empre- no Amazonas, nos municípios do médio
gando-se para este fim as suas folhas. Amazonas, onde o principal centro
comprador é Manaus. No Pará, em
Entretanto, as lavouras de mandioca Santarém, Altamira e principalmente
ocupam lugar secundário quanto à sua nas invernadas de Paragominas, o arroz
área cultivada, em lugares onde se cul- se destaca como o produto de maior
tivam produtos industriais, como é o área cultivada. Também é muito sig-
caso da juticultura no médio Amazo. nificativo o seu cultivo na Bragantina,
nas; nas invernadas de Paragominas, assim como na região malveira de Ca-
Ituporanga e São João do Araguaia; na pitão Poço. Nessas Microrregiões pa-
área castanheira c1e Marabá; em Sena raenses a produção está voltada para
Madureira e Xapuri no Acre, que se o abastecimento do mercado de Belém.
constituem em extensas áreas voltadas Na fronteira com o Maranhão o culti-
para o extrativismo da hévea, do cau- vo do arroz constitui-se num prolonga-
cho e da castanha e, no Amapá, no mu- mento da área rizicultora áa Frente
nicípio de Calçone, que se encontra Pioneira maranbense, e a produção é
localizado numa área de campos natu- também comercializada com a capital
rais, onde a atividade pastoril é a tôni- paraense.
ca da economia. Nessas áreas os culti-
vos da mandioca são destinados ao No plantio do milho, além de ser este
atendimento das necessidades alimen- produto comumente associado ao arroz
tar~s de seus plantadores, e das popu-
e ao feijão, existe ainda um segundo
laçoes ocupadas nas demais atividaaes sistema que consiste no cultivo da man-
agropastoris . dioca em vez do feijão, a qual se ex-
pande pelo terreno após a colheita do
Quanto ao arroz, seu cultivo também milho e do arroz.
é feito através do sistema de roças, em Na Microrregião da Bragantina o plan-
consorciação com os demais cultivos tio do milho é feito tanto consorciado
alimentares produzidos na Região, sen- com o feijão e com a mandioca quanto
do geralmente plantado com o milho isoladamente. Nesses dois casos os
em janeiro, logo após a derrubada da rendimentos obtidos variam, sendo de
mata . Em abril ou maio é feita a co- 360 quilos por hectares no caso dos
lheita do milho, após o que é semeado cultivos consorciados e de 600 quilo~
o feijão, pénnanecendo o arroz no ter- por hectare nos cultivos isolados.
reno até junho para ser colhido junta-
mente com o feijão. Depois da safra Na Microrregião do Baixo Amazonas e
o terreno é deixado em pousio para a no município de Altamira o plantio do
formação de capoeiras. milho e feijão é feito nas várzeas altas,
onde solos mais férteis e sujeitos a
Nas invernadas de Paragominas o inundações menos freqüentes propor-
cultivo do arroz é feito com o da cionam um rendimento da ordem de
malva, precedendo à formação dos pas- três toneladas por hectare.

351
Tabela 5 Culturas Industriai$
kea Área
UNIDADES Total Área Cuh . Área Área Área
Cult. Cult. c/Piro . Cult. Cult. Cult.
DA c/Prod. e/Juta % do % c/Ca.oa % c/Ca.cau % c{Fumo %
FEDERAÇÃO Iod. (ha) Reino (h a) (ba) (ha)
(ha) (ha)

Amqonaa .. , ..... 18.576 15.393 82,86 42 0,23 1.8 53 9,08 1.272 6,85 653 6,86
ParA . . ............ 60 .802 29. 214 48,05 3 . 530 5,81 13. 21621,74 6.098 10,03 2 . 99t 10,03
Rood6nia ........ .
Roraima ... ...... .
166
82
-
-- -
H 8,43 152
12
91 ,57
14,63
-- - 6 7,32
Acre .. . .. .........
Amap'······· . • ..
1.401
:!47 -
2
6
0,14
1,73
67147,89
116 33,43
- 20 6.76
327
30
23,3'
5,78
Reailo .... ..... . .. 81 .374 4<4 .601 S4,82 3 . 594 4,42 16.020 19,69 7 . 390 9,08 4 . 010 4.93

Fonte. IBGE Anudno Estatlsttco, 1970.

Nas áreas de criação de Paragominas, 54,82% da área total cultivada com essa
Conceição do Araguaia, São João do categoria. No Estado do Amazonas en-
Araguaia e São Domingos do Capim, contram-se, ocupados com jutais, 82.~
bem como na Frente Pioneira de Capi· da área estadual cultivada com produ-
tão Poço, a cultura do milho precede a tos industriais e no Estado do Pará
formação dos pastos e é feita logo após 48,05%.
a derrubada da mata. O capim é pfan-
tado quando o milho alcança a altura A pimenta-do-reino, embora quanto ao
de dois palmos e é deixado no terreno valor seja um produto economicamen-
para a expansão do pasto após a co- te importante, em relação à área culti·
lheita do milho. Dessa maneira, obje- vada não se destaca, porquanto apre·
tiva-se a diminuição dos gastos com a senta seu cultivo feito de maneira ex·
formação das pastagens. Outro siste- tremamente concentrada, abrangendo
ma grandemente empregado em Ca- apenas 4,42~ da área ocupada com la-
pitão Poço é a plantação do milho jun· vouras industriais na Região Norte.
tamente com a malva. Neste caso, após
a queima do terreno, que é praticada Dos demais produtos agrícolas regio-
de novembro a janeiro, os dois pro- nais dessa categoria, como se pode ver
dutos são semeados. Em maio o milho na tabela 5, a cana-de-açúcar, o cacau
é tombado à espera da estação seca e o fumo ocupam, respectivamente
para ser colhido, sendo a malva dei- 19,69%, 9,08% e 4,93% da área em cultu:
xada no terreno, para sua expansão. ras industriais; entretanto, sua impor-
tâ.ncia na economia da Região é inex-
As regiões nas quais a cultura do mi· pressiva.
lho assume maior importância espacial
são aquelas nas quais se desenvolvem Tendo em vista tratar-se a juta de um
outras atividades econômicas, como o produto industrial que desempenha
extrativismo vegetal, notadamente no importante papel no desenvolvimento
Acre, ou a juticultura. conforme ocorre econômico da Amazônia, quer do pon-
no Médio Amazonas Paraense, ou ain- to de vista do valor da produção quer
da em áreas de pecuária extensiva, da extensão espac~al que distingue seu
no Amapá e em Roraima. Nesses ca- cultivo dos demais, foi estabelecida,
sos a lavoura do milho é destinada à utilizando-se dados de área cultivada
subsistência dos trabalhadores rurais. referentes a 1968,2 , uma relação entre
a área cultivada com a juta nos muni-
cípios e a área total cultivada com o
3.3 - As Culturas Industriais produto na Região. Esta relação deu
origem a um quociente de locação da
As culturas industriais ocupam cerca lavoura, através do· qual ordenaram-se
de 21% da área total cultivada na Re- três classes de diferentes índices de
gião Norte . ocorrência com os quais foi elaborado
Entre os produtos industriais sobressai o mapa de Distribuição da Cultura da
espacialmente apenas a juta, que ocupa Juta (Fig. 2).
DISTRIBUIÇÃO DA REGIÃO NORTE
CULTURA DA JUTA

QUOCIENTES OE LOCAÇlO

~ 0,17- f,~7

D

1,60- 3,99
Fio . 2
4,01 - 12,10
F'of\fe: Mintat4,1o do Atrltultuto .. ETEA· 1968

Estes índices são: tas, salientando-se Maraã e Tefé na Mi-


crorregião do Solimões-Japurá e Mani-
- baixos índices de ocorrência, com va- coré, no vale do rio Madeua, estes no
lores variando entre 0,17 e 1,57; · Estado do Amazonas. No Pará estes
índices ocorrem no município de ltaitu-
- médios índices de ocorrência, os ba, no vale do Tapajós, em M9nte Ale-
quais estão contidos entre 1,60 e 3,99; gre, no Médio Amazonas Paraense. em
- e altos índices de ocorrência, cujos Breves e Gurupá, na Microrregião de
valores extremos são 4,01 e 12,10. Furos.
Esses índices possibilitam o reconheci- As condições edafoclimáticas da Re-
mento de áreas de alto quociente de gião Norte constituem-se na grande
locação da juticultura ao longo do vale causa da expansão da juticultura na
do Amazonas, em municípios das Mi- Re'gião, pois oferecem as condições exi-
crorregiões do Médio Amazonas e do giáas pela juta para seu desenvolvi-
Solimões-Japurá, no Estado do Ama- mento: um clima com temperaturas va-
zonas e do Médio Amazonas Paraense riando entre 22 e 32°C, e de umidade
. e Baixo Amazonas no Pará. relativa média. O regime pluviométri-
co deve corresponder a precipitações
Os médios índices de ocorrência apa· médias anuais entre 2. 000 e 2. 500 mm.
recem ainda no Baixo Amazonas e Os solos apropriados são os argUo-sili-
Médio Amazonas Paraense, destacan- cosos de aluvião das várzeas alagáveis,
do-se nesta última os municípios de os quais, além de boa fertilidade, têm
Alenquer, Oriximiná e Santarém. No alto poder de retenção de água, fator
Amazonas apenas dois municípios apa- indispensável durante o ciclo vegetati-
recem com índices médios âe ocor- vo da planta que é de quatro meses.
rência; são eles Borba no vale do Ma-
deira e Urucurituba no Médio Amazo- Aparecem, ainda, áreas bastante res-
nas. trttas no Estado do Pará ocupadas com
o plantio da juta em terrenos de "terra-
Os baixos índices de ocorrência do firme", mas, neste caso, sua produção
cultivo da juta ocorrem em áreas restri- se destina à obtenção de sementes.
A introdução e expansão da juticultura chentes. ·O início dos trabalhos varia
na Região Norte Ioi devida a colonos de acordo com a localização das cultu-
·aponeses que para essa região se des- ras em relação ao rio, pois a enchen-
locaram, após insucessos dessa cultura
no Sul do País. Na Amazônia as pri-
te deverá ocorrer quando a juta já es-
tiver desenvolvida, caso contrário ha-
meiras tentativas de cultivo da juta fo- verá o risco da perda da safra.
ram feitas no município de Parintins,
na década de 1930 e, atualmente, cerca Em geral, o plantio da juta é feito em
de 40.000 pequenos produtores dedi- setembro ou outubro, quando a várzea
cam-se ao seu cultivo, perfazendo um está seca, tendo o terreno sido desma-
tado e preparado para o cultivo em ju-
número aproximado de 5 a 10.000 uni-
lho ou agosto. Não é necessário o em-
dades produtoras, com área de cultivo
prego de adubo para o cultivo da juta,
em tomo de 2 a 3 hectares por esta-
pois as várzeas têm seus terrenos anual-
belecimento.
mente recomposto pelas enchentes. O
A juticultura é realizada, geralmente, início das cheias é aproveitado para o
através da mão-de-obra familiar, sen- processo da preparação da fibra que
do freqüente, nas épocas de maior tra- consta de afogamento, maceração e. la-
balho da lavoura, o recrutamento de vagem, fases que correspondem a maior
ajuda entre vizinhos e amigos de seus soma de trabalho exigido pela juticul-
plantadores . tura, consumindo cerca de 45% a 55%
dos dias de trabalho, bem como a
No cultivo da juta é comum a presen- maior percentagem dos salários.
ça de arrendatários, geralmente entre
pequenos proprietários, os quais em al- Os juteiros, especialmente na colheita,
guns casos chegam a arrendar terras trabalham em condições insalubres, por
àe extensão superior às suas. O paga- longo tempo com água até a cintura.
mento desse arrendamento é feito em Não é empregada nenhuma mecaniza-
dinheiro e varia o seu valor em fun- ção nessa atividade, nem tão pouco uti-
ção do tempo durante o qual a terra já lizam tanques para a maceração das fi-
vem sendo cultivada. No primeiro ano bras, para tanto aproveitando os iga-
de cultivo o preço pago pelo arrenda- rapés de águas claras. As operações são
mento da terra é mais alto em virtude realizadas manualmente, o plantio é
do solo apresentar maior fertilidade, feito a lanço, ocorrendo grande desper-
dispensando gastos com o emprego de dício de sementes, bem como falta de
corretivos e de adubos e, conseqüen- homogeneidade na distribuição espa-
temente, apresentando maior produti- cial da lavoura. Os juteiros dedicam-
vidade. se também ao plantio de alguma la-
voura de produtos alimentares e tam-
No caso de produtores não proprietá- bém à caça e à pesca para garantirem
rios da terra, predomina o sistema de seu sustento. Nem os próprios colonos
"aviamento", através do qual a terra é japoneses, mais experimentados, conse-
cedida gratuitamente, havendo o com- guiram livrar-se totalmente dessa situa-
promisso da entrega da safra, por parte ção. A maioria deles dedica-se tam-
ao produtor ao "aviador", como paga- bém à prensagem da fibra, conseguin-
mento. Dentro deste sistema, a renda do acumular o lucro proveniente de
do juteiro não vai além dos custos que duas etapas da juticultura: da lavoura
teve com a produção e isto o leva a e do beneficiamento.
manter-se sempre ligado ao seu "avia-
dor". Este sistema é o responsável pela A produção da juta na Região Norte é
manutenção da estrutura social em que pouco superior a 40. 000 toneladas
vive a grande maioria dos juteiros, bem anuais. Principalmente para o Amazo-
como pelas baixas qualidades e produ- nas, a economia da juta é importante,
tividade do cultivo da juta. uma vez que grande parte da receita
O preparo da terra para o cultivo é tributária estadual é dela resultante.
feito segundo a técnica tradicional do Em termos de mercado regional, seu
"encoivaramento". Todo ele é muito papel é bem expressivo, principalmen-
dependente das chuvas, secas e en- te se considerarmos que a agricultura

354
na Região está baseada no cultivo de bons resultados; porém, em 1935, rece-
produtos alimentares e a juta é produto beram mudas provenientes de Singa-
de exportação. pura que se adaptaram muito bem, em
função dos métodos racionais de culti-
Cerca de 45% da produção são indus- vo empregados. O emprego de corre-
trializados e exportados dentro da pró- tivos e fertilizantes orgânicos e quími-
pria Região. O restante é vendido para cos contribuíram para o desenvolvi-
ser industrializado principalmente em mento desse cultivo, ocasionando o
São Paulo e no Rio de Janeiro. soerguimento da Cooperativa Agríco-
la decadente, já instalada desde 1931,
o_ transporte da fibra dos locais de pro· cuja finalidade era a de produzir horta-
dução para as fábricas leva até 90 liças, destinadas ao abastecimento de
dias, o que ocasiona prejuízos sérios à Belém . A Cooperativa Agrfcola de
fibra, e6pecialmente quanto à sua re- Tomé-Açu, que se encarrega também
sistência. A solução seria a implanta- da industrialização da pimenta, tomou-
ção das indústrias de beneficiamento se a mais sólida de toda a Amazônia.
próximas às áreas de produção da ma- Tomé-Açu constitui, hoje, um caso
téria-prima, podendo essas indústrias exemplar de agricultura com alto ren-
usufruírem dos benefícios fiscais desti- dimento, em área de clima equatorial
nados à Amazônia. quente e úmido, sem emprego de irri-
Quanto à pimenta-do-reino, embora se. gação.
ja esta cultura industrial a que se apre- A fase inicial da cultura da pimenta
senta com a menor área cultivada entre consta da retirada da mata, através
os principais produtos industriais da da derrubada, destaca e queimilda. As
Região Norte, ressalta o seu significado espécies que fornecem madeira de lei
comercial, uma vez que dois terços de são retiradas antes da queimada, pois
sua produção são destinados ao mer· são utilizadas no estaqueamento do pi-
cado externo, no qual os Estados Uni- mental, o que constitui a segunda fa-
dos, a Argentina e a Alemanha absor- se na instalação dessa lavoura. A 3.3
vem mais de 80% da exportação . fase consiste, finalmente, no plantio
Em números relativos, o Estado do Pa- que é feito através de galhos, direta-
rá concentra 9~ da área total regional mente na quadra ou em viveiros, em
ocupada com cultivos de pimenta-do- princípios de novembro. Em fevereiro
reino, totalizando, ainda, 99% da sua é feito o transplante do viveiro para a
produção, enquanto que neste mesmo quadra . As fases seguintes são: a adu-
Estado a pipericultura ocupa apenas bação, que é a mais cara (a quantidade
9% da área total regional cultivada com de adufio empregado varia de acordo
produtos industriais. com a idade áo pimenta) e com a situa-
ção financeira do Eroprietário ) ; se-
As principais áreas produtoras de pi- guem-se· a capina, poâa e borrifamento
menta-do-reino concentram-se nas Mi- com inseticida. Em Tomé-Açu o ren-
crorregiões de Tomé-Açu e da Bragan- dimento de um hectare plantado com
tina, com, respectivamente, 51 e ~ da pimenta é de aproximadamente 3 qui-
área total cultivada com esse produto, los por pé, o que dá uma média de
no Estado. A maior concentração ve- 4. 000 quilos por ano, uma vez que nes-
rifica-se no município de Tomé-Açu, sa porção de terra são plantados, em
no qual em 1970 encontrava-se quase média, 1. 300 pés de pimenta-do-reino.
que 45% da área cultivada com o pro- Um pimenta! começa a produzir três
duto, em todo o Pará. A principal cau- anos após sua instalação, e no fim do
sa dessa concentração tão localizada foi quarto ano sua produção já cobriu o
a instalação, nessa· área, de colonos ja- gasto feito com sua formação. Os lu-
poneses, na década de 1930, em Tomé- cros nessa lavoura alcançam até 50%
Açu. nos anos seguintes, começando a decli-
nar, aproximadamente, após o décimo
Inicialmente, esses colonos empregaram ano de cultivo, quando entã~ os pés de-
uma espécie nativa que não apresentou verão ser substituídos.

355
Nos primeiros anos da cultura predo- A malva constitui, juntamente com a
mina a mão-de-obra familiar; mas tão juta e com a pimenta-do-reino, os pro-
logo melhorem as condições financeiras dutos comerciais, por excelência, da
dos produtores, passam estes a admi- Região Norte.
tir trabalhadores assalariados que rece-
bem por dia de trabalho ou por tarefa, Suas propriedades têxteis foram des-
mão-de-obra essa que dobra de volume cobertas na década de 1930 por técni-
por ocasião da safra. À medida que há cos do Ministério da Agricultura que
uma ascensão sócio-econômica do pro- chegaram a considerá-la superior à ju-
prietário do pimenta!, este nao apc::nas ta, uma vez que suas fibras são mais
melhora sua moradia como também resistentes, mais brilhantes e mais lon-
adquire outros lotes de terra, contiguos gas e se apresentam em disposição pa·
ou não à sua primeira propriedade e raleia, constituindo-se, por todas essas
que também vão sendo cobertos por pi- qualidades, em excelente matéria-pri-
mentais. ma para a fabricação de sacarias e de
telas.
O pimenta} dá apenas uma safra anual,
de agosto a novembro . A colheita é A sua cultura é praticada, apenas, no
manual, feita principalmente por mu- Estado do Pará e concentra-se princi-
lheres, crianças e velhos . A maioria palmente nas regiões da Guajarina,
deles vem da área do Baixo Tocantins, Bragantina e Salgado.
em migrações periódicas, com a finali-
dade de arranjar emprego nos pimen- Ao contrário do que se observa com
tais. os pimentais, a zona malveira se ex-
pande nos espaços mais afastados das
As primeiras etapas do beneficiamento rodovias principais, pois a malva se
e armazenagem da pimenta-do-reino adaptou perfeitamente bem ao sistema
são realizadas na sede das proprieda- de roças tradicional dos caboclos.
des, as quais possuem construções de Apesar de atualmente ser cultivada, a
madeira para a instalação das máqui- malva mantém ainda seu comportamen-
nas de beneficiamento, terreiros para to ruderal, pois o terreno no qual ela
secagem e/ou secadores e abrigo de já foi plantada, mesmo tendo sido dei-
pequeno motor diesel que fornece xado em capoeira durante anos, terá
força e luz. novamente a malva brotada esponta-
Em virtude de ser um produto de alto neamente, após a derrubada e quei-
valor comercia], a cultura da pimenta· mada.
do-reino está numa fase de expansão Após a abertura da Belém-Brasília, a
não apenas dentro da própria Coope- cultura da malva se expandiu para o
rativa Agrícola de Tomé-Açu como sul até as vizinhanças de Paragominas,
também na Bragantina e em tomo do tomando o sudeste paraense, em parti·
município de Capitão Poço, na Mi- cular a região da Guajarina, a principal
crorregião da Guajarina. área produtora. Dentro desta salienta-
se o município de Capitão Poço como
Além dos produtos acima analisados, a área de maior concentração de pro-
outro começa a se impor paulatina- dução.
mente na balança comercial da Região:
a malva . Entretanto, não foi possível A região de Capitão Poço se caracteri-
estabelecer-se um termo de compara- za por ser uma área pioneira, onde ain-
ção entre a área cultivada com este da existem grandes manchas de mata
produto e a dos demais, devido ao fato primitiva e capoeirões. A produção
de ser ele considerado, para efeitos es- agrfcola encontra-se mais diversificada
tatisticos, oriundo basicamente do ex- do que nas demais áreas produtoras,
trativismo vegetal, uma vez que foi uma vez que roças mais extensas aí
assim que começou a produção desta ocorrem em virtude de possuir um solo
fibra. Deste modo, os dados disponí· mais rico e descansado, fazendo com
veis sobre a malva se referem apenas que se instalem culturas alimentares,
ao volume e ao valor da produção. principalmente de arroz, feijão, milho

356
e mandioca, consorciadas à malva. Os cimento de fiação e tecelagem - a
malvais dessa região são maiores que Cata, bem como de cooperativas de
os da Bragantina, outra área de im- créditos, as quais levam os malveiros a
portância quanto a este produto . A se livrarem do sistema de "aviamento"
grande valorização da malva deu-se nas ao qual se encontram ligados.
décadas de 1950/60, e a partir dessa
época Capitão Poço passou a atrair Os plantadores de malva das áreas pio-
grande numero de pessoas, especial- neiras comumente não têm título de-
mente de nordestinos . finitivo da terra . São ocupantes que
praticam a ajuda mútua. Quando a si-
O rendimento da lavoura da malva, ge- tuação financeira do plantador permite,
ralmente alto, correspondendo a apro- este paga trabalhadores para a colhei-
ximadamente 30 arrobas por tarefa ta c lhes fornece também alimentação.
(uma tarefa corresponde a 1/3 de hec- O financiamento é concedido pelos co-
'tare). constitui especial atrativo para merciantes, sendo efetuado o adianta-
os agricultores da região. mento em espécie ou dinheiro, e o pa-
gamento é feito a combinar, também
J1: o seguinte o sistema de cultivo: os em espécie ou em dinheiro. Na região
roçados são queimados em outubro e do Salgado verifica-se uma completa
em novembro; em dezembro e janeiro substituição da malva pela guaxima,
plantam a malva juntamente com o mi- outra planta fibrüffera que é também
llio, quando este é colhido a malva ruderal e perfeitamente adaptada ao
se espalha pelo terreno. Muitas vezes sistema de roças . Ela tem valor econô-
quanao o campo é de malva plantada, mico menor do que a malva, pois sua
esta é cortada rente ao chão e semeiam fibra alcança cotação mais baixa no
feijão, mandioca e milho. O repouso mercado, em virtude da qualidade ser
em capoeira na área malveira varia en- inferior . Seu cultivo é feito em terrac;
tre oito e doze anos; entretanto, em esgotadas e o rendimento, por hectare,
terrenos mais cansados o pousio deve é menor do que o da mafva. A gua-
ser de vinte anos. Na época da colheita xima se expandiu na região do Salgado
a mão-de-obra se toma insuficiente, justamente por ser menos exigente em
fazendo-se necessário o afluxo de tra- solos do que a malva, pois nessa re-
balhadores de outras áreas, principal- gião, em conseqüência da exploração
mente de Salinópolis, Primavera e mes- predatória através de longos anos, seus
mo do Maranhão, inclusive mulheres. solos apresentam-se esgotados.
Na Bragantina a malva disputa com Entre os demais produtos industriais
a pimenta-do-reino a primazia entre os da Região Norte merecem ainda des-
produtos comerciais. Nessa região a taque a cana-de-açúcar, o cacau e o
malva é plantada em dezembro e colhi- fumo.
da em julho e os malveiros são geral-
mente os proprietários da terra . A introdução da cana-de-açúcar na Re- 't
gião data do infcio da colonização,
A mais recente área de expansã.o da quando todas as fazendas, ai instaladas
malva é a Frente Pioneira da Be- por missionários, possuíam plantações e
lém-Brasília que abrange o trecho en~enhos para sua transformação em
compreendido entre a cidade de lpixu- açucar e aguardente. Atualmente ela
na e o vale do Guamá. A ocupação da encontra-se concentrada nas regiões do
terra partiu do eixo da rodovia por pi- vale do Juruá, do alto Solimões, do
cadas a ela perpendiculares, que ai- vale do Madeira, estas no Estado do
minuem sua extensão à medida que se Amazonas, o Baixo Tocantins e Baixo-
encaminham para o sul. A maioria da Médio Amazonas no Pará, e em Maca-
população dessa região é composta de pá no Amapá .
imigrantes nordestinos. De um modo
geral, a situação atual dos produtores Esta cultura já pesou consideravelmen-
de malva é precária, embora já existam te na economia regional, sobretudo no
boas perspectivas de progresso, com a Estado do Pará, onde a lavoura cana-
instalação, em Belém, de um estabele- vieira chegou a atingir apreciável pros-

357
peridade. Entretanto a concorrência Nas mais úmidas o plantio é feito após
na produção dos engenhos nordestinos, a derrubada e queimada da mata, e
provocou a decadência dessa lavoura, quando as folhas estão grandes vão sen-
concorrendo para que os processos uti- do colhidas à medida que suas pontas
lizados no plantio não evoluíssem e se apresentem murchas. Terminado o
para a extinção de muitos engenhos. corte das folhas os pés de fumo são ar-
Atualmente, a principal finalidade da rancados e plantada a mandioca para
cutura canavieira na Amazônia é a a formação de roças. O outro sistema,
fabricação em pequenos engenhos e grandemente empregado na região,
pequenas usinas, de aguardente e de principalmente na Bragantina e Salga-
álcool, destinados ao consumo local. ao, é o chamado processo da "terra
virada". :E: próprio das áreas de terra
Em toda a Região Norte existem cer- firme, para onde vai o gado durante a
ca de 16. 000 hectares ocupados com a estação das chuvas. Findo esse perío-
cultura canavieira, dos quais aproxima- do, a terra naturalmente estercada pelo
damente 13.000 hectares estão no Esta- gado é virada e o plantio é feito geral-
do do Pará. :E: nas terras de várzea do mente nos meses de abril e maio, cons-
Baixo Tocantins, principalmente em tituindo os chamados "currais de fu-
Abaetetuba e Igarapé-Miri, que se con- mo. "
centra a maior produção paraense, cor-
respondendo a 8. 000 e 2. 300 hectares, A cultura fumageira nestas Micror-
aproximadamente, a área cultivada com regiões está estreitamente dependente
cana-de-açúcar nesses dois municípios. do gado que por aí passa, vindo do Ma-
ranhão com destino à Belém e às prin-
Embora ·o cacau tenha sido, em tempos cipais cidades da Bragantina, uma vez
coloniais, o principal esteio da econo- que a criação, nessas áreas, encontra-se
mia amazônica, atuahnente sua parti- decadente, tendo em vista o empobre-
cipação é muito reduzida; corresponde cimento do solo, o qual, através da per-
a apenas 1,68% da p:-odução nacional, da de elementos minerais, ocasiona de-
suplantada, há muito tempo, pela pro- generescências no rebanho bovino. ~ _
dução baiana. O Pará é o Estado on-
de se encontra a maior área cultivada
com cacau dentro da Região Norte e 3.4 - A Pecuária
abrange aproximadamente 6 .100 hec-
tares, dos quais 2. 400 hectares estão
Dentre os rebanhos criados na Região
localizados no município de Mocajuba, Norte destacam-se os bovinos, os suí-
onde correspondem a 55% da área culti-
nos, seguidos pelos bufalinos e os
vada e ainda 2. 000 hectares no muniCÍ·
eqüinos, sendo que os dois primeiros
pio de Cametá ( 25% da área cultivada).
correspondem à cerca de 87'/; do total
de unidades-gado s regional.
O fumo é a principal fonte de renda
do município de Irituia no Pará, onde Conforme pode-se ver na tabela 6, o
se constitui numa cultura comercial bá- rebanho bovino na Região Norte cor-
sica, embora nesse município os fumais responde a mais de três vezes o valor,
não ultrapassem um total de 250 hecta- em unidades-gado, do rebanho suíno,
res cultivados. Maiores áreas cultiva- que se constitui no segundo da Região.
das com fumo são encontradas em Ca- A pecuária foi introduzida na Região
pitão Poço, Ourém e Bragança que pos- Norte nas áreas de campos naturais
suem, respectivamente, 546, 511 e 410 existentes e neles se fixou de maneira
hectares plantados com o produto. Dos tal que constituem os Campos de
4. 000 hectares cultivados com fumo Marajó, do Alto Rio Branco e do Lito-
em toda a Regiãt> Norte, cerca de 3. 000 ral Amapaense as principais áreas de
hectares estão concentrados no Estado pecuária da Região. Nesses Campos a
do Pará. evolução do pastoreio foi apenas quan-
titativa, uma vez que o crescimento dos
Nas áreas produtoras de fumo o culti- rebanhos deu-se sem nenhuma organi-
vo é feito geralmente sob dois sistemas. zação ou critério seletivo. A criação é

858
Tabela 6 Rebanhos

VALOR DOS
Total UNIDADE - GADO Valor REBANHOS
UNIDADES t:nidade- Total (Cr$ 1.000)
FEDERADAS Gado Rebanhos
Bovino Suino Bovino Suíno

Pari .. . .. . .. ...... 1.875.687 1.306.9-15 32~ . 786 294.265 .303 20~ .730.495 43 .473.636
Amuonu ........ 55-1. 224 200.981 206.48(1 88.708.057 52. 240.071 29.210 .013
Acre .. .. ..... . •.....• 148.370 74.353 49 .096 38.9-10.749 19.961.289 9.1&4.100
Rondônia .. 39.791 14.4~2 9.758 l.'i .03!1 .780 4. 239 .264 4. 264 .596
Ror&ima .... :::: ::::: 300.099 267 .000 8 . 148 33 .382. 135 28 .226.070 1.014.415
AmapA . 62 .697 11.397
············ 82 .001 16 .839 .014 13 . 495.798 1.140.196
REGIÃO NORTE ... 3.001.072 2.016 . 428 610 .671 487 . 175 .038 322.892 .987 88. 256 .956

feita com o emprego de métodos anti- solo; a aquisição de matrizes e de re-


quados e rudimentares que caracteri- produtores de raças adaptáveis à re-
zam a pecuária da Região Norte como gião, visando ao melhoramento do re-
essencialmente extensiva. O predomí- banho em aumento de peso, percentual
nio das pastagens naturais é absoluto, de carne produzida por cabeça, redu-
sendo sua área total de aproximada- ção da idade de abate e, ainda, a er-
mente 890. 500 hectares, enquanto que radicação de doenças endêmicas, com o
apenas cerca de 102.100 hectares são emprego de medicação profilática, ten-
cobertos por pastos plantados. do em mira o aumento da taxa de nata-
lidade e redução da taxa de mortali-
As raças bovinas inicialmente introdu- dade.
zidas na Região Norte foram as euro-
péias que, no seu processo de adapta- Assim sendo, apesar de a pecuária ser
ção às condições mesológicas da Re- considerat.ia, na Região Norte, como
. gião, deram origem ao gado "crioulo'', uma atividade tradicional, áreas exis-
de pequeno porte e desenvolvimento tem em que já se fazem sentir modifi-
lento, porém resistente às doenças e cações q·1e ocasionam o desenvolvi-
pragas tropicais. Posteriormente foram mento da criação. Essas áreas encon-
introduzidas também as raças zebuínas tram-se, principalmente, no leste e su-
indianas Nelore, Gir e Guzerá que fo- deste paraenses e abrangem o municí-
ram levadas para a Região por alguns pios de Paragominas, na Guajarina;
fazendeiros com a finalidade de serem Conceição do Araguaia, Santana do
cruzadas com o gado "crioulo" aí exis- Araguaia e São Domingos do Capim,
tente, tendo em vista os bons resulta- e em Rondônia, ao longo do vale do
dos então obtidos com tal CIUzamento, rio Candeias, nas várzeas do Mamoré
no Triângulo Mineiro. Essas raças fo- e no município de Porto Velho.
ram destinadas à formação de plantéis
de corte. Quanto às raças leiteiras, Entre as áreas de pecuária tradicio-
não têm importância na pecuária regio- nal sobressaem no Pará as Micror-
nal, pois os rebanhos destinados à pro- regiões de Campos de Marajó, do Bai-
dução de leite são poucos numerosos xo e do Médio Amazonas Paraense; no
e se concentram nas proximidades das Amazonas as Microrregiões do Médio
capitais. Amazonas, do Rio Negro e do Soli-
mões-Tefé; no Acre, as Microrregiões
Entretanto, esse quadro tradicional ten- do Alto Purus e do Alto Juruá; em
de a se modificar, tendo em vista as Roraima, na região do Alto rio Branco;
mudanças previstas pela política do Go- no Amapá, nos campos ao longo do.
verno Federal com relação à aplicação ütoral e em Rondônia, na várzea do
do Incentivos Fiscais em projetos agro- rio Madeira. ··
pecuários. Essas modificações prevêm,
principalmente, a formação de pastos A Microrregião de Campos de Marajó
artificiais, bem como a rotação de pas- que concentra 4/5 da pecuária pa-
tagens e npücação de corretivos para o raense deve sua posição de mais im-

859
portante centro pastoril da Amazônia A Microrregião do Médio Amazonas,
às suas condições naturais de relevo e mais precisamente os municípios de
de vegetação. Além disso, essa região Manaus, Parintins, Itacoatiara, Autazes
possui excelente posição geográfica e Careiro, constitui a bacia leiteira
com relação ao comércio interno com que abastece a capital estadual; entre-
o Estado e mesmo em relação ao mer· tanto, o Careiro sobressai como o maior
cado externo, tendo em vista o gran- produtor. Suas propriedades, cerca de
de número de vias navegáveis que a 150, somam aproxtmadamente 3 mil
cercam. Dentro dessa Microrregião hectares e seu rebanho perfaz um to-
destacam-se como maiores municípios tal de 900 a 1. 000 cabeças, que produ-
criadores: Ponte de Pedras, Chaves, zem em média 7. 500 litros por dia.
Soure e Cachoeira do Arari. Nela exis- A área média das fazendas leiteiras no
tem cerca de 4 milhões de hectares de Careiro é de aproximadamente 190 hec-
várzeas inundáveis na época das chu- tares e cerca de 84% dessas proprieda-
vas, o que ocasiona a cólocação dos des são ocupadas pela pecuária leitei-
rebanhos em "marombas" nessa época ra. As terras restantes são ocupadas
do ano. com plantações de juta e lavouras de
produtos alimentares. As fazendas são
O principal objetivo da pecuária nessa constituídas por "várzeas" baixas, su-
região é a criação de gado de corte jeitas a inundações anuais, e por "vár-
para ser exportado para as Guianas e, zea" altas, que sofrem inundações ape-
secundariamente, criam gado leiteiro nas em anos de maiores cheias.
para o abastecimento da capital, em la-
ticínios. Como de hábito, a criação ai O ·rebanho desta Microrregião é com-
é feita de maneira extensiva em mé- posto de mestiços de raças européias
dias e grandes propriedades e os plan- com gado Zebu. As principais raças
téis são melhorados com o cruzamento européias que entram na mestiçagem
de raças zebuínas, principalmente Gir, são: a Hoúzndesa, que corresponde a
N elore e Guzerá. cerca de 1/4 do rebaqho total, e ainda
Guernesey, ]ersey e Schwyz. Entre as
No Médio Amazonas Paraense os prin- raças zebuínas destacam-se Gir, Nelore,
cipais municípios criadores são: San- Guzerá e I ndubrasil. Os fazendeiros
tarém, Orixinúná e Alenquer. Predo- da reg!ão possuem em média 60 ca-
·minam ai as pequenas e médias pro- beças de gado, sendo cerca de 30% de
priedades, com área em tomo de 150 e vacas leiteiras, com uma lotação média
200 hectares. O gado é criado à solta. dos pastos aproximada de 2,7 cabeças
sendo a atividade criatória exercida por Jiectare .
sob regime de parceria e também de
assalariados. Na bacia leiteira de Manaus o gado
se alimenta praticamente de pastagens
No Baixo Amazonas são freqüentes os naturais e, em menor escala, de pasta-
campos naturais, ·principalmente nas ge~s cultivadas de capim colonião. Na
áreas de "várzeas", onde existem gramí- época das ~randes cheias o gado é co-
neas de baixo teor alimentício, como a locado em marombas" e sua alimenta-
canarana . Nos campos de "terra firme" ção consta quase que exclusivamente
surgem pastagens de capim-elefante de canarana, colhida no rio. Após as
e, secundariamente, colonião e braquiá- cheias as "marombas" são abandonadas
ria. Os principais mercados consumido- e o manejo volta a ser feito nos currais
res do .gado criado nessa região são Be- ou abrigos de chão batido, que se apre·
lém, Uanaus e Macapá e a circulação sentam muito lamacentos. À produção
entre essas áreas é feita por via fluvial. le:teira diária, por fazenda, nessa área
corresponde a aproximadamente 44,5
O Estado do Amazonas concentra 80% litros, o que equivale a uma média de
do seu rebanho em apenas três Micror- cerca de 3,5 litros por vaca . Este índi-
regiões: na Microrregião do Médio ce é insatisfatório e poderia facilmen-
Amazonas ( 45%), na Microrregião do te ser elevado para 5 litros, havendo
Rio Negro ( 19%). e a Microrregião do apenas necessidade de melhoria na ali-
Solimões-Tefé (15%). mentação das vacas e uma orientação

860
mais adequada na técnica de manejo, No processo de formação das pasta-
pois dentro das atuais condições o volu- gens é geralmente empregado o sistema
me de leite produzido na época da es- de plantio de produtos alimentare&,
tiagem é 25$ e m superior à produção principalmente arroz, feijão, milho e
na época das cheias. mandioca, logo após a queimada. So-
mente no fim do segundo ano é semea-
Além da produção de leite o Médio do o pasto. Este sistema, aliás freqüen-
Amazonas se distingue ainda, princi- te em quase todas as áreas do País on-
palmente nos municlpios de Parintins, de se processa a expansão das pasta-
Barreirinha, Nhamundá, ltacoatiara, gens, oferece a vantagem de proporcio-
Autazes e Maués, pela criação destina- nar às culturas um terreno fértil recém-
da ao corte. Esses municípios totalizam desmatado, que após a colheita dos
aproximadamente 750 estabelecimentos produtos se encontra mais apropriado
com área em torno de 500 hectares ao pastoreio. Entretanto, existe ainda
destinados a esse tipo de atividade. O outro sistema que consiste no plantio
rebanho de corte dessa área também do pasto logo após a queimada. Este é
faz rodizio, na época das cheias, entre antieconômico, uma vez que só per-
a "várzea" e a "terra firme", como mite o pastoreio um ou dois anos após
acontece com o rebanho leiteiro. En- o plantio, em virtude de ficar o terreno
tretanto, é grande ainda o número de coberto por grande quantidade de
criadores que não possuem parcelas de troncos.
pasto em "terra firme" para abrigar
seu gado na época das cheias. Na "ter- A maioria dos criadores empregam a
ra firme" predominam os pastos de ca- queima anual dos pastos como técnica
pim-elefante e venezuela e quando es- de manejo do gado, entretanto já se
tes atingeJD dois metros de altura rece- encontra um número razoável de cria-
dores que, em vez da queima, empre-
bem os animais, sem que haja uma ro-
ga a roçadeira para limpar o pasto.
tação adequada. Os capins pangola e Dado a exigilidade de várzeas, as fa-
braquiária só recentemente estão sen- zendas acreanas localizam-se na "terra
do introduzidos nessa área . firme", não havendo, portanto, proble-
mas com enchentes durante a estação
As Microrregiões do Rio Negro e de
das chuvas.
Solimões-Tefé concentram, respectiva-
mente, 19$ e 15$ da pecuária estadual. A pecuária acreana destina-se tanto à
Os rebanhos aproveitam os campos na- produção de leite quanto à de carne,
turais, ai existentes, constituídos de sendo comum cada fazendeiro dedicar-
gramíneas de fraco teor alimentício, se à cria, recria e engorda. O gado
principalmente os campos da Micror- dominante é o "crioulo", que é ven-
região do Rio Negro. Os criadores des- dido para o abate com cerca de dois
ta Microrregião vendem o gado para anos apenas.
outras áreas a fim de ser processada a
engorda. Com relação ao rebanho leiteiro, en-
contram-se esparsamente rebanhos
No Acre as pastagens artificais alcan- mestiços com raças leiteiras européias:
çam elevado percentual quando com- Holandesa, Schwyz, ]ersey e Gueme-
paradas às pastagens artificiais da Re- sey. A demanda estadual de leite é
gião (em 1960 já existiam cerca de atendida através da complementação
48$ do total de pastagens artificiais por produtos lácteos industrializados.
do Estado, enquanto que apenas cerca
de 8$ correspondiam às pastagens arti- Como não existe uma coleta organizada
ficiais, no total das pastagens regio- de leite, a bacia leiteira se restringe
nais). Isto acontece porque os criado- aos municípios mais próximos da capi·
res, no Acre, dispõem de pequenas tal: Rio Branco, Xapuri, Brasiléia e
áreas de campos naturais, sendo neces- Sena Madureira, sendo feita uma co-
sária a abertura de áreas de pastagens mercialização primitiva com a venda
em terras de mata . de leite cru para consumo imediato.

361
Nessa bacia leiteira é bastante variável na criação de gado "crioulo", apresen-
o tamanho das propriedades; nos mu- tando baixíssimos índices de rendimen-
nicípios de Xapuri e Brasiléia a média to. Nos últimos anos, porém, tem-se
das propriedades está em tomo de 95 beneficiado de inovações introduzidas
hectares, enquanto que em Rio Bran- principalmente pelos órgãos do Gover-
co este valor se eleva para 830 hecta- no Federal, com medidas de melho-
res, aproximadamente. ramento do rebanho, através de em-
préstimo de reprodutores zebus, e ain-
Também a produção de carne dos re- âa com a prestação de assistência téc-
banhos ae1·eanos é insuficiente para nica e veterinária às fazendas e com o
atender ao consumo estadual. Sua com- fornecimento gratuito de sementes de
plementação é feita através da importa- forrageiras, visando à melhoria das pas-
ção de gado a pé, da Bolívia. tagens. Essas inovações são, entretan-
to, incipientes e ainda pouco repre-
Atualmente estão sendo generalizadas sentativas no quadro da pecuária local.
medidas de melhoria do rebanho pela
ACAR-AC, através do cruzamento do Cerca de 15% do rebanho bovino da
gado "crioulo" local com raças zebuí- Região Norte encontram-se no Territó-
nas importadas. Na região do Alto Pu- rio àe Roraima, onde os extensos cam-
ros já predominam os rebanhos mes- pos naturais da região do alto rio
tiços de zebu. Branco favoreceram a ocupação pas-
toril. Além disso, este desenvolvimento
Quanto às medidas profiláticas encon- da pecuária beneficia-se da posição es-
tradas, apenas a vacinação contra afto- tratégia que ocupa este território em
sa tem aplicação sistemática. relação ao abastecimento do mercado
da capital amazonense, como também
A pecuária no Território do Amapá lo- em relação às Guianas e Venezuela,
caüza-se, principalmente, ao longo do para onde há exportação de gado.
litoral oriental, nas áreas de lagos e
de campos naturais. Estes camr.os se Em 1969 o efetivo bovino de Roraima
dividem em "campos de várzeas', que Pra da ordem de 270.000 cabeças, con-
são inundáveis, e os dos "firmes" ou centradas quase que exclusivamente na
Campos Cerrados. Nestes predomina região do alto rio Branco, onde quase
uma gramínea conhecida vuie;armente a totalidade da população vive em fun-
como "capim-barba-de-bode" pobre ção da pecuária. As pastagens ocupa-
em elementos nutrientes, porém resis- vam aproximadamente 4% aa área to ..
tente à ação destruidora aas Queima- tal do Território e em números abso-
das, e que só pode ser utilizado pelo lutos representam 707. 863 hectares,
gado enquanto tenra. Na "terra fir- sendo cerca de 98% da área total ocupa·
me", cujos campos constituem-se -em das com pastos naturais. Dentro da
refúgio para o gado durante a época área total dos estabelecimentos, as
das enclientes, as gramíneas de melhor pastagens correspondiam a mais de 80%.
qualidade só serão encontradas ao lon- Predominam aí as grandes p::oprieda-
go dos vales dos rios. des com mais de 1. 000 hectares, equi-
valendo a 67% da área total dos esta-
No Amapá se evidenciam dois muni- belecimentos do território.
cípios francamente criadores: Maca pá
e Aniapá que concentram 96% do efeti- Os campos naturais distinguem-se em
vo bovino de todo o território. Os es- dois tipos: os campos de "várzea" e os
tabelecimentos de mais de 1. 000 hec- campos dos "firmes". Os campos de
tares ocupam percentagens entre 67% e "várzeas" localizam-se às margens do5
100% da área total das propriedades, ~andes rios, possuem forrageiras na-
sendo que pastos naturais cobrem de tivas de boa qualidade e são fertiHz~­
32% a 72~ dá área total. das anualmente pelas cheias . Estas
cheias são as responsáveis pela retira-
Como acontece em toda a Amazônia da do gado para os campos dos "fir-
a pecuária no Amapá se caracteriza co- mes", onde os animais permanecem
mo uma atividade rudimentar, baseada abrigados durante as enchentes. As

862
pastagens destes campos são pobres, por pouco tempo, geralmente cinco ou
mas mesmo assim eles constituem re- seis meses. No fim deste período o
fúgios melhores do que as "marornbas" pasto é queimado, ficando apenas uma
do Médio e Baixo Amazonas. Em par- parte sem queimar, que será destinada
te, o problema da alimentação do gado ao fornecimento de sementes para a
nos campos "firmes" é resolvido com formação de novas pastagens. Nessa
a plantação de capineiras. O gado cria- época a lotação dos pastos varia entre
do é o "crioulo", porém já está sendo duas a três cabeças por hectare.
objeto de programas governamentais
de melhoria. Outro processo, também grandemente
usado pelos pecuaristas dessa região
Em Rondônia, cerca de 70% de seu efe- para a formação de pastagens, consiste
tivo bovino estão localizados, sobretu- no arrendamento de áreas de mata,
do, em pequenos estabelecimentos agrí- nas quais, após · o desmatamento, são
colas no vale do rio Madeira. Pratica- feitos cultivos de malva. Em seguida à
da, igualmente, de modo extensivo, esta colheita da malva o campo é entre-
pecuária objetiva o abastecimento de gue, com o pasto plantado, como for-
Porto Velho, em carne e em leite, po- ma de pagamento. Após a formação dos
rém sua produção é insuficiente para pastos é freqüente o seu aluguel; po·
o consumo da população citadina, sen- rém as despesas com o gado, bem co-
do necessária urna complementação rno com os peões e vaqueiros, correm
através da importação de gado bolivia· por conta dos proprietários dos ani-
no e mato-grossense. O predomínio das mais.
pastagens naturais é absoluto, corres-
pondendo elas a 70% da área total das As raças bovinas mais freqüentemente
pastagens. criadas nessa área são Guzerá, Gir e
Nelore, sendo que o Guzerá destaca-se
Das regiões amazônicas, cuja pecuária como bom produtor de leite, enquanto
se caracteriza por desenvolvimento re- os plantéis de Gir e Nelore são destina-
cente, sob influxos dos grandes mer- dos ao abate. Deste último, já exis-
cados internos, destaca-se a Guajarina, tem rebanhos cuja finalidade é a pro-
no Pará. Nela, a área de Paragominas dução de reprodutores e de matrizes.
se caracteriza por ser a mais recente
das franjas pioneiras, onde grandes es- Na área de transição entre a Amazônia
tabelecimentos pastoris constituem em- e o Brasil Central, a existência de Cam-
presas bem maiores do que os tradicio- pos Cerrados nas vizinhanças de Con-
nais latifúndios extrativistas. A cria- ceição do Araguaia e de Santana do
ção se desenvolveu às margens da Be- Araguaia propiciou o desenvolvimento
lém-Brasília, em função do mercado de invernadas destinadas à recria e à
de Belém e nela frutifica ampla ativi· engorda de gado. Essas atividades vêm
dade de recria e engorda de gado pro- crescendo em virtude da valorização
veniente do sul do Maranhão e do nor- alcançada pelo gado e do aumento de
te de Goiás. consumo do mercado de Belém. Este
último fato, bem como a abertura da
A formação dessas invernadas requer Belém-Brasília, fizeram com que a pe-
aplicação imediata de capital vultoso, cuária local, até então destinada ao
uma vez que as operações necessárias abastecimento das áreas de garimpo e
são onerosas. Depois da derrubada da de extração da castanha existente na
mata, da queimada e da destoca é co- região, se expandisse em direção à ca-
mum fazerem o plantio do milho e pital. Domina a média propriedade,
quando este atinge dois palmos de embora existam também latifúndios,
altura é então semeado o pasto, que é sendo a média, por estabelecimento,
geralmente de capim colonião, braquiá- de 700 cabeças de gado. Atualmente,
ria e, menos freqüentemente, uma le- com a aplicação de fundos provenien-
guminosa - a puerária. Em seguida à tes do sistema de Incentivos Fiscais,
colheita do millio, destinado ao arraçoa- novas invernadas estão sendo formadas
mento do gado, este é colocado nas nesta região, já agora em á1 eas de mata,
mangas em formação, onde permanece em São Domingos do Capim e Marabá.
Para a formação das pastagens é prati- za por ser mais dócil e por apresentar
cado o mesmo método empregado na maior aptidão leiteira. O "rosilho" é
re~ão de Paragominas. OUtras ativi- originário da China e Indo-China, é
dades, tais como o garimpo e a extra- mais bravio e quando criado à solta é
ção da castanha, encarecendo e absor- freqüentemente encontrado em estado
vendo mão-de-obra, dificultam a aber- semi-selvagem.
tura das invernadas.
Os búfalos localizam-se, ainda hoje,
Nessa região o gado destinado à en- principalmente nos Campos de Ma-
gorda é compraâo em Goiás, Mato rajó, onde se concentram cerca de 87%
Grosso e Maranhão, sendo vendido do número total de cabeças existentes
quando alcança cerca de 200 quilos, na Região Norte . Sua importância está,
enquanto o gado destinado à recria é sobretudo, na rusticidade e na adapta-
em geral comprado no Triângulo Mi- lidade que apresentam, fatores respon-
neiro. As gramíneas mais empregadas sáveis pela sua expansão, que se faz
para a formação dos pastos são os ca- em direção ao médio Amazonas, onde
pins colonião e jaraguá e, menos fre- sobressai na sua criação o município
qüentemente, são feitos plantios de /'á
de Monte Alegre, tendo também al-
braquiária. Recentemente, começa a cançado áreas iso adas no Acre e no
ser introduzido na região o plantio da sudeste Paraense. A Microrregião do
puerária destinada também à forma- Baixo Amazonas concentra o segundo
ção das pastagens. rebanho bufalino da Região, sendo
Porto de Moz o município que mais
A abertura da Rodovia Belém-Brasília se distingue na criação àesse rebanho.
originou amplas possibilidades pastoris
para as áreas do extremo leste da Ama- Os Estados do Pará e do Amazonas
zônia oriental, abrindo-lhes os merca- constituem-se nos principais criadores
dos do centro-sul. de búfalos da Região Norte, e neles se
concentram, respectivamente, 53,5 e
As condições físicas das Microrregiões 35,5% do total desse .rebanho.
dos Campos de Marajó, do Baixo Ama-
zonas e de Macapá, com suas várzeas Entre os demais rebanhos criados na
constantemente alagadas, propiciaram Região Norte destacam-se os suínos,
o desenvolvimento .da criação ae búfa- tenâo em vista as facilidades de aqui-
los, que se instalou a partir do início sição, de transporte, de manejo e de
deste século na Microrregião dos Cam- adaptação dos animais. Entretanto, a
pos de Marajó e daí se expandiu para suinocultura desenvolveu-se na Região
as demais. Norte sempre como uma atividade se-
cundária . A criação é feita inteiràmen-
A grande rusticidade apresentada por te à solta, e os suínos procuram a mata
esses animais permitiu sua perfeita ou campo, de onde tiram sua alimenta-
adaptação ao meio natural, constituin- ção - frutas silvestres, capins, rai-
do-se o gado ideal para o aproveita- zes, etc., pois os criadores dão somen-
mento dos campos inundáveis, pois te uma ração suplementar, pela manhã
além de sua natureza anfíbia, que os ou à noite, formada de raspas de man-
toma capazes de vencer até mesmo as dioca, caP-a e milho . Apenas nas áreas
maiores enchentes, possui outras qua- próximas às maiores cidades da Região
lidades economicamente compensado- é comum o fato de os criadores darem
ras, tais com: precocidade na elevada aos suínos farelo de arroz ou mesmo ra-
produÇão de carné, grande capacidade ção balanceada. Quanto às raças cria-
de aproveitamento de forrageiras re- das, chamam localmente de "canela" ao
cusadas pelo gado vacum, grande ca- porco destinado à produção de carne
pacidade reprodutora, bem como exce- e de "baiê" àquele que produz banha;
lente aptidão para a produção de leite. poucos são os criadores que se preo-
São criadas duas raças bufalinas: o cupam em criar suínos de raça e não
búfalo preto e o "rosüho". A primeira chegam a desempenhar rapei relevante
prevalece em número e se caracteri- na suinocultura regiona . Essa produ-

364
ção se destina, com exclusividade, à um dos elementos que melhor a ca-
subsistência de seus criadores, e mesmo racteriza fisionomicamente no Terri-
nas áreas em que se encontram cabo- tório Nacional. Como fonte de maté-
clos no mais baixo nível econômico e rias-primas industriais e alimentares, a
social, terão eles, conforme suas pos· exploração da floresta foi o principal
ses o permitirem, maior ou menor motivo de ocupação da Região Norte,
número de porcos em suas terras. ];; sendo responsável pela dispersão de-
no Estado do Pará que se encontra mográfica que caracteriza a ocupação
maior concentração desse tipo de cria- do espaço geográfico amazônico.
ção, correspondendo, sua produção, a
66% de todo o rebanho sUíno amazô- Comparando-se a superfície total das
nico. diversas unidades aàministrativas da
Região Norte com suas áreas cobertas
Os eqüinos tiveram sua introdução na de mata em exploração, o Estado do
Amazônia ligada ao problema dos Acre aparece com o maior percentual
transportes, tendo-se constituído num 95,1$, o Território de Rondônia com
único tipo de transporte terrestre em 92,3%, o Estado do Amazonas com
várias áreas, situação na qual perma- 81,8%, o Estado do Pará com 56,3$
necem até hoje. e os Territórios do Amapá e Ro-
Atualmente é de 161. 000 cabeças o raima com 38,1% e 15,9%, respectiva-
efetivo do rebanho eqüino na Reg~ão mente, em 1970.
Norte e cerca de 66% se concentram no Examinando-se a participação das ati-
Estado do Pará.
vidades primárias no produto bruto da
O rebanho eqüino que já alcançou im- Região, no Brasil, a produção extrati-
portante posição nos Campos de Ma- va vai aparecer com o maior percen-
rajó, atualmente se enconaa de~den­ tual, 11%, cabendo 1$ às lavouras e
te, embora esta Microrregião ainda con- 2% à pecuária, em 1969. Esses dados
centre cerca de 33$ do rebanho eqüi· mostram o quanto as atividades rurais
no regional . A principal causa da de- amazônicas estão voltadas, ainda, para
cadência desse rebanho na Região foi a exploração dos produtos que a mata
a falta de recursos econômicos de seus oferece e que constituem o alicerce da
criadores que garantissem o sustento economia primária exportadora.
dos animais. Alem do mais, os cavalos,
criados à solta no meio do rebanho A extração do látex e a coleta da cas·
bovino, contribuíram para a destruição tanha-do-pará, apesar de repetidas cri-
dos pastos, tornando-os impróprios ses, continuam ~endo as principais ati-
para o desenvolvin1ento da pecuária vidades das populações rur!lis, ainda
bovina, principal atividade pastoril da mais, a base da vida comercial da Ama-
região. zônia, desde o início de sua ocupação,
Atualmente, nas áreas de criação da tem sido a coleta dos produtos flores-
Região Norte, os eqüinos estão ligados tais, características predominantes até
principalmente ao atendimento das ne- a última década, quando as lavcuras
cessidades de manejo do gado bovino, e a pecuária começaram a superar a
embora seja ainda freqüente, em mui- produção extrativa vegetal na Região.
tas fazendas de criação, a utilização do A economia da Amazônia, que pratica-
"boi de sela". mente era dependente da produção ex-
trativa, atividade que representou mais
da metade do produto bruto interno re-
3.5 - O Extrativismo gional na década de 1950, quando a
Vegetal produção da borracha atingiu o seu
ponto mais alto ( 31. 238 toneladas) •.
A Região Norte tem, na sua densa modificou-se a partir de 1960. Na últi·
cobertura florestal, a maior reserva de ma década a produção anual da borra-
matérias-primas vegetais do mundo, cha, de 28.833 toneladas em 1960,

365
caiu para 25.439 toneladas em 1967, re- 1~9 . A participação da produção ex-
fletindo-se na participação da produ- trativa decresce também no valor da
ção extrativa na venda interna regional produção; os índices• oscilam entre
que, de 41,1% em 1960, desceu para 106,1 em 1961, e 53,4 em 1967, o ano
28,8% em 1965, sendo reduzida a 22,6$ de mais baixo valor da produção ex-
no fim do segundo qüinqüênio ( Tab. trativa, enquanto que nas outras ati-
7). vidades primárias estiveram quase sem-
pre superiores a 100,00, exceto nos
Enquanto o valor deflacionado da pro- anos de 1963 e 1964. Esses índices
dução extrativa decresce a partir de mostram mais uma vez o quanto a pro-
1960, o das lavouras e da proàução ani- dução extrativa vem gradativamente
mal melhoram substancialmente suas cedendo lugar às atividades agrícolas
contribuições à economia regional, cres- devido a constantes crises, provocadas
cendo entre aquele ano e o de 1969 de pela concorrência da matéria-prima de
32,6$ para 36,9% e de 26,ztí para outros países e de produtos sintéticos,
40,4%, respectivamente. ao lado de fatores outros como a baixa
produtividade, a ausência de uma es-
As atividades extrativistas continuam trutura adequada de comercialização e
em seus moldes primitivos, extrema- escoamento dos produtos coletados,
mente rotineiros e com baixa produtivi- bem como as dificuldades de assistên-
dade, fornecendo somente matéria-pri- cia técnica e financeira aos produto-
ma não beneficiada, a qual é grande- res, tudo isso refletindo-se no alto
mente prejudicada pela variação de custo da produção e da comercializa-
preços em função do volume da safra ção do produto. A conjugação desses
e da sua cotação no mercado interna- fatores começa a gerar uma tendência
cional. de abandono dos seringais, com gra-
dativo esvaziamento das áreas que, tra-
A Amazônia ocidental (Estados do dicionahnente, vinham encontrando no
Amazonas e Acre e Territ6rios de Ron- seringal a única forma de ocupação.
dônia e Roraima), representando 22%
do territ6rio nacional e 61% do regional, A Amazônia oriental (Estado do Pará
é a área de maior densidade florestal, e Territ6rio do Amapá) é a região me-
sendo rica em espéeies de alto valor nos extrativista, apesar de ser ~ maior
econômico como a Hevea brasiliensis e produtora de castanha-do-pl\fá, com
a H evea benthamiana. Ela é responsá- 80% da produção regional, coletada no
vel por 75% da produção de borracha Médio e Baixo Tocantins. Além da cas-
da Região e, além do látex, outros re- tanha-do-pará, as madeiras e a borra-
cursos florestais são explorados como a cha, extraída na região das Ilhas, são
ucuquirana, a piaçava, a sorva, o guara- produtos que participam da pauta
ná e as madeiras. Dado a sua grande de exportação desta área. Apesar de a
extensão territorial e a sua posição in- produção extrativa contribuir substan-
terior, é a área mais isolada na imen- cialmente para o montante do produto
sa floresta, estruturada em grandes la- bruto das atividades primárias, também
tifúndios, os maiores do País, cuja dis- na Amazônia oriental ela vem decli-
tância dos grandes centros regionais nando sua participação nos últimos dez
prejudica a dinamização de seu desen- anos; de 31,1%, em 1960, desce a 12,9%
volvimento. no fim do período, enquanto que as la-
vouras e a produção animal melhora-
Examinando-se o produto bruto do se- ram consideravelmente de 39,1% para
tor primário na Amazônia ocidental, 46,0% e de 28,9% para 41,0% respecti-
observa-se nele expressiva modificação vamente. Vale ressaltar que o valor
da participação do extrativismo ( tabe- da produção extrativa também decaiu,
la 8) que de 51,0% em 1960, cai para segundo os índices de preços deflacio-
34,1% em 1969, enquanto a pecuária nados, em relação a 1960; de 93,1%,
consegue ultrapassá-lo, pois, partindo em 1961, passa a 56,81% em 1969
de 23,5% em 1960, chega a 39,7% em (Tab. 9).

866
Tbl
a ea 7 ~l
a ores dos produtos brutos da la voura, _pe_cCtUÍrw
• e do extratimsmo vet;eta

LAVOURA PECUÁIUA EXTUATIVISMO VEGETAL


Produto
ANOS Bruto Índice % lndice % lndice %
(Cr$ 1. 000,00) (CrS I . 000,00)
Defia- sobre
(Cr$ 1. 000,00)
Defl~ 110bre (CrS I . 000,00)
])efia- I!Obre
cionado Produto cio nado Produto c:ionado Produto
1960 = 100 Bruto 1960 = 100 Bruto 1960 = 100 Bruto
1960 12. 790,2 4 . 170,8 100,00 32,6 3.356,2 100,0 26,2 5.263,2 100,0 41,1
1961 22. 026,0 ' 6.678,2 116,8 30,3 8.044,0 174,9 36,5 7.303,8 101,2 33,2
1962 27.014,0 9.711,4 112,0 35,9 8.076,0 115,7 29,8 9.235,6 84,4 34,2
1963 45.052,7 17.549,8 115,4 38,9 12.207,4 99,8 27,1 15.295,5 79,7 33,9
1964 95.179,4 28.952,3 99,9 30,4 36 .904,1 158,3 38,8 29.323,0 80,2 30,8
1965 158 . 7~,5 58.948,4 129,8 37,1 54.124,6 148,1 34,1 45.647,5 79,6 28,8
1966 196. 277,8 74. 960,7 119,6 38,2 71.437,9 191,6 36,4 49 .879,2 63,0 25,4
1967 251.450,3 88.136,3 109,6 35,0 107 .063,1 165,4 42,6 56.250,9 51),4 22,4
1968 361.870,1 130.983,7 131,1 36,2 144.187,3 179,4 39,8 86.699,1 68,8 2.~,9
1969 459 . 197,9 169 .805,0 140,8 36,9 185 .570,6 191,2 40,4 103 .822,3 68,2 22,6
Fonte: FGV - Contas Nacionais.
Obs.: Yalores (Cr$ l.OQOIJ()) não dt:flacionados.
lndices deflacionados.

Tbl
a ea 8 ~lo
a res . ocidental)
dos produtos brotos da lavoura, pecuarw e do extrat•msmo veget al (Amaz6nw
LAVOURA PECUÁRIA EXTRATIVISMO VEGETAL
Produto
ANOS Bruto fndice % lndice % lndice %
(CrS 1. 000,00) (CrS 1 . 000,00)
Defl~ sobre (Cr$ 1.000,00)
Defl~ sobre (Cr$ 1. 000,00)
Defl~ 110bre
cionado Produto cionado Produto cionado Produto
1960 = 100 Bruto 1960 = 100 Bruto 1960 = 100 Bruto

1960 6 . 460,6 1.644,2 100,0 25,4 1.521,0 100,0 23,5 3.295,4 100,0 51,0
1961 12 .344,5 2.867,0 127,2 23,2 4.684,7 224,7 37,9 4.792,8 106,1 38,8
1962 15.077,8 3 . 718,8 108,8 24,6 4.720,9 149,3 31,3 6 .638, 1 96,9 44,0
1963 22.121,3 5.820,5 97,1 26,3 5.208,G 93,9 23,5 11.092,2 92,3 50,1
1964 47 .967,7 11.008,3 96,4 22,9 16 . 114,6 152,6 33,6 20.844,8 91,1 43,5
1965 73 . 137,5 22.664,4 126,6 30,9 20.316,6 122,7 27,8 30.156,5 84,0 41,2
1966 90.500,1 30.062,9 121,6 33,2 29.497,2 129,0 32,5 30.940,0 62,4 34,2
1967 110.704,0 27.725,3 87,4 25,0 49. 034,4 167,2 44,2 33.944,4 53,4 30,7
1968 164.147,0 45.470,6 115,4 27,7 60.102,0 165,0 36,6 58.574,4 74,2 35,7
1969 209.892,1 55.126,4 115,9 26,2 83.276,2 189,3 39,7 71.489,5 75,0 34,1
Fonte: FGV - Contas NaaonaJs.
Obs.: Valores (C,.$ I.Q()()IJO) não deflacionados.
lndices dt:flacionados.
Quanto à população ativa, segundo o Dentre as inúmeras espécies que a Flo-
Censo Demográfico de 1970, a Região resta Amazônica oferece à exploração
Norte contava com 1.028.660 pessoas econômica destacam-se a borracha, a
ativas, das quais 116.785, ou seja lli castanha-do·Eará, as gomas não elás-
viviam de coleta dos produtos •silves- ticas e as madeiras.
tres. Dentre os Estados e Territórios,
o Acre e Rondônia apresentaram os A principal árvore ·que produz borra·
maiores percentuais de população ati· cha, a seringueira, do gênero H evea
va ocupada no extrativismo, apesar da ( famüia das E ufor biáceas ) , a parece
redução de 57,9% para 38,5~ e de 39,5~ dispersa em quase toda a Floresta
para 19,9% entre 1960 e 1970 ( tabe- Amazônica, distante uma das outras
bela 10) . Essas unidades têm sua eco- dezenas de metros. Segundo pesquisas
nomia voltada para a coleta do látex, recentes, avalia-se que há na Região
principalmente o Acre . Recentemente, Norte cerca de 300 milhões de pés de
com a abertura das Estradas BR-236, seringueiras de várias espécies.
(Cuiabá-Porto Velho-Acre) e BR-319 O seu habitat característico são as vár-
(Manaus-Porto Velho), grandes trans- zeas, terras baixas e argilosas, justa-
formações estruturais estão ocorrendo fluviais, mas é também encontrada nas
nas áreas atravessadas por essas rodo- terras firmes . Não obstante a disper-
vias. Um tipo de pioneirismo vem sur- são da seringueira na floresta, algumas
gindo com apropriação de terras visan· áreas amazônicas destacam-se pefa con-
do à expansão da criação de gado, centração da Hevea brasiliensis, a es-
transformando os seringais em campos pécie de maior importância econômica
de pastagens para a implantação de pela riqueza do latex que produz e,
projetos agropecuários. conseqüentemente, pela superioridade
do produto na sua utilizaç.ão comercial
No Estado do Amazonas a produção e industrial. Outro tipo também de
extrativa é um dos seus suportes econô- grande valor econômico é a Hevea ben-
micos, mesmo que sua participação da thamiana, própria dos vales do Negro
população ocupada neste setor venha e do Solimões.
decaindo percentualmente nos últimos
dez anos, de 20,8~ para 16,0$. No Ter· Em um mapa de Combinação de Pro-
ritório de Roraima a estrutura ocupa- dutos Extrativos 5 a borracha figura
cional tradicional está muito ligada à como o mais representativo nas combi-
produção animal e o percentual de ati- nações, sobressaindo-se, em algumas
vos primários no extrativismo vegetal áreas, como o único produto ( Fig. 3).
é baixo; de -ti, em 1960, cai para 3~ Essas áreas, as maiores produtoras de
em 1970. borracha, estão no alto e médio curso
do Puros, nos Estados do Acre e Ama-
O Estado do Pará e o Território do zonas, e no alto Madeira, no Território
Amapá contam com maior proporção de Rondônia. Abrangem elas o sul e
da sua população ativa do setor Primá- sudoeste da Amazônia ocidental, de
rio ocupada no extrativismo vegetal e onde provém mais de 73~ da produção
com tendência a diminuir menos do de borracha da Região Norte. Aí pre-
que a Amazônia ocidental. Estas uni- domina a Hevea brasiliensis produtora
dades da federação baixaram de 9.4~ dos melhores tipos de borracha, a "acre
para 6,3~ e de 8,2$ para 5,1~ respecti- fina" e "altos rios" que alcançam as
vamente. No Pará, acrescente-se, a der- melhores cotações no mercado, pela sua
rubada da mata vem cedendo lugar a maior elasticidade.
novas áreas agricolas ao longo da Ro-
dovia Belém-Brasflia, principalmente, Os municfpios do Acre têm na bor-
em detrimento do extrativismo vege- racha seu único produto extrativo de
tal. No Amapá a expansão da explo- valor econômico, mais de 25~ do va-
ração extrativa mineral (manganês) faz lor da produção amazônica. Os muni-
crescer os montantes de ativos do se- cípios em que a borracha aparece com·
tor indústria. binada com a castanha-do-pará, o se-

S68
Tabela 9 Valores dos produtos brotos da lavoura, pecuária e do extrativismo vegetal (Amazônia oriental)

LAVOURA PECUÁRIA EXTRATIVISMO VEGETAL


Produto
ANOS Bruto lndice % lndi('.e % lndice %
(Cr$ 1. 000,00) Defla.- sobre (Cr$ 1. 000,00) Defla.- sobre (Cr$ 1 . 000,00) Defla- sobre
(Cr$ 1. 000,00)
cio nado Produto cio nado Produto cionado Produoo
1960 = 100 Bruto 1960 = 100 Bruto 1960 = 100 Bruto

1960 . 6.329,6 2.526,6 100,0 39,9 1.835,2 100,0 28,9 1.967,8 100,0 31,1
1961 9 . 681,5 3.811,2 110,1 39,3 3.359,3 133,5 34,1 2.511,0 93,1 25,9
1962 11.936,2 5.992,6 114,1 50,2 3.346,l 87,7 28,0 2 .597,5 63,5 21,8
1963 22. 931,4 11.729,3 127,3 51,1 6.998,8 104,6 30,5 4 . 203,3 58,6 18,3
1964 47 .211,7 17 .944,0 102,2 38,0 20.789,5 163,1 44,0 8 . 478,2 62,0 17,9
1965 85 .583,0 36.284,0 131,9 42,4 33.808,0 169,2 39,5 15 .491,<1 72,3 18,1
1966 105 . 777,7 44.897,8 118,2 42,4 41.440,7 152,0 39,6 18 .939,2 64,0 17,9
1967 140.746,2 60.411,0 124,0 42,9 58.028,7 164, 0 41,2 22 . 306,5 58,8 15,8
1968 197 .723,1 85.513,1 141,3 43,2 84.085,3 191,3 42,5 28.124,7 59,7 14,2
1969 249 . 302,8 114.678,6 156,9 46,0 102.291,4 192,8 41,0 32.332,8 56,8 12,9

Fonte: FGV - Contas Nacionais.


Oh!~.: JlalMes· (CrS 1.000,00) não deflacionados.
lndices deflacionados.

Tabela 10 Pessoas de 10 anos e ma,is ocupadas no e::rtrativismo vegetal.

RONDONIA ACRE AMAZONAS RORAIMA PARÁ AMAPÁ


OONDIÇÃO
1960 1970 1960 1970 1960 1970 1960 1970 1960 1970 1960 1970

Seringueiros.. ................. 8.554 6.458 27 . 307 24. 118 40.154 36 . 254 153 204 35 . 69S 18. 654 1. 188 848
Madcireir<»J e Lenhadores...... 196 186 167 666 1.808 5 .231 - 123 5.006 14 .086 249 497
Carvoeiros (fabricantes)........ 58 - 103 54 472 264 - \ 1 . .')01 747 145 -
Total dos Trabalhadores Fio-
rest&i.<> ................... . .. 8.R59 6 . 734 27 . 581 24 .841 44 .235 43. 975 299 388 44.686 39.342 1.555 1.S05
Total da População Ativa ..... 22. 452 33. 903 48 .054 64 .540 212.949 269 . 333 7 .855 11.466 475 .514 610.3 14 LR. Q:34 2!'}.104
% dos Trabalhadores Florestais
no Total d.a População Ativa 39,5 19,9 57,9 38,5 20,8 16,1 4,8 3,4 9,4 6,:{ 8,2 5,2

Fonte: IBGE - Anuários Estatisticos - 1961·1971.


REGIÃO NORTE
COMBINAÇÃO DE PRODUTOS EXTRATIVOS

....
,...
.
....... ___ ,)·~/
· \.
)

-----

D CASTANHA

• BORRACHA

• GOMAS NAo ELÁSTICAS

MALVA·GUAXIMA

111 GUARANÁ

D PIAÇAVA
ESCALA DAS FAIXAS

O 100 200 300 Km


FIG. 3 D BA8AÇU
·~ l/6 lt6 •111

~ B8SNN
!te ~

Fonte· Mtntsténo do AQnculluro - ETEA - 1967


gundo produto em valor econômico, nada, isto é, em deficit, quando o Bra-
são os de Rio Branco, Xapuri e BrasUé- sil necessita de mais de 100 mil tone-
ia que são os maiores produtores de ladas por ano.
borracha do Estado. No Amazonas a
borracha participa de todas as combi- O Brasil, até 1909, foi o único forne-
nações de produtos extrativos e sempre cedor de borracha natural do mundo.
com o maior valor. Nas Microrregiões Entre 1910/14, a concorrência da bor-
do Juruá e do Alto Solimões chega a racha cultivada da Malásia fez com
alcançar 20% do valor da produção re- que a borracha nativa entrasse em CO·
gional, sendo que nos municípios de lapso. A produção da borracha silves-
Carauari, Eirunepé, Envira, Ipixuna, tre obtida no interior da mata, empre·
Atalaia do Norte, Benjamim Constant, gando métodos primitivos e predató·
Jutaí e São Paulo de Olivença, a bor- rios, e mão-de-obra escassa, não conse-
racha sobressai como único produto. guiu e não consegue de modo algum
No Território de Rondônia, somente a competir com os preços da borracha
borracha representava 18% do valor da cutivada nas grandes plantations do
produção regional em 1967. No Esta- Sudeste Asiático onde são empregadas
do do Pará a borracha é o segundo pro- técnicas na extração e coagulação do
duto que mais aparece nas combina- látex. Como uma tentativa de resolver
ções de produtos extrativos, sobressain- o problema do abastecimento das in-
do-se como único produto representati- dústrias de borracha e impedir o aban-
vo nos municípios de Breves, Anajás, dono em massa dos seringais nativos, o
Curralinho e Cametá, das regiões de governo brasileiro procurou proteger a
Furos e Baixo Tocantins, as quais atin- produção dos mesmos, garantindo pre·
giram a 11% e 3%, respectivamente, do ços e dando financiamentos para mon-
valor da produção regional. tagem das safras. Além de proteger a
borracha nativa foi tentado o cultivo
Outras áreas produtoras de borracha, em grande escala da seringueira, nos
mas já em combinação com a castanha- moldes orientais pela Cia. Ford Indus-
do-pará e gomas não-elásticas, ocor- trial do Brasil, tanto em Fordlândia,
rem, principalmente, na vertente seten- às margens do rio Tapajós, como em
trional do Solimões-Amazonas, domí- Belterra, no planalto de Santarém. As
nio da Hevea benthamiana. duas tentativas não surtiram o efeito
desejado. Entre outros inconvenientes
O maior produtor de borracha da Re- surgidos, as seringueiras foram ataca-
gião Amazônica é o Acre, com 32% do das por um fungo "o mal das folhas".
total da produção regional, seguido do Numerosas tentativas foram, entretan·
Amazonas 29%, Pará 23~ e finalmente to, realizadas com objetivo de tomar
Rondônia com 6%, em 1967. as seringueiras mais resistentes, o que
foi conseguido pela dupla enxertia atra·
A produção regional de borracha, nos vés de cfones selecionados. Atualmen-
últimos dez anos, oscilou entre 25. 000 te, a heveicultura na região amazônica
e 34. 000 toneladas, salvo em 1970, vem-se desenvolvendo com recursos e
quando alcançou as 47.000 toneladas, estímulos técnicos da Superintendên-
um aumento de 64% em relação à pro- cia do Desenvolvimento da Hévea
dução de 1960. Os índices deflacioná- (SUDHEVEA).
rios do valor da produção variaram de
No que conceme ao processo de pro-
56,77$ para 147,68, entre 1960/69; de dução, o seringal vale não pela ex-
modo geral os preços acompanharam a tensão de suas terras, mas pela riqueza
variação das safras. A borracha é o em árvores que oferece ao corte. Co-
produto extrativo de preço menos ins- mo a seringueira está dispersa na fio·
tável; voltada somente para o mercado resta, ocorrendo em número muito re·
nacional é protegida pelo Governo. duzido em relação à área explorada, o
Apesar do financiamento e garantias de estabelecimento extrativo ocupa mui-
compras a preços fixos, anualmente rea- tas centenas de hectares, geralmente
justáveis, a produção não acompanhou de terras devolutas, arrenaadas por
a demanda do País, mantendo-se estag- tempo indeterminado.

372
O regime de trabalho no seringal é economizando para poder se manter o
peculiar. O seringueiro não é um resto do ano. Atualmente o seringueiro
assalariado que ganha por dia ou por procura outra atividade, pois os altos
mês, nem é um trabalhador. Ele é um preços dos gêneros de consumo não
arrendatário da colocação, que tem acompanham o preço do látex. Para
de uma a quatro estradas para ex- agravar ainda mais a situação dos se-
ploração das árvores ou madeiras. As ringais, o esgotamento das árvores e
estradas são caminhos abertos no os altos preços dos fretes são outros
interior da floresta, ligando as serin- fatores que concorrem para a fuga da
gueiras em exploração . Geralmente um mão-de-obra dos seringais tradicionais
seringal tem de 100 a 120 seringueiras para as fazendas, em busca de traba-
que o seringueiro sangra ou corta, du- lho assalariado.
rante o período de safra.
O trabalho de extração do látex inicia- A castanha-do-pará ( Bertholletia ex-
se no mês de maio ou junho, esten- celsa) é típica das terras altas e argi-
dendo-se até outubro e novembro, no losas e encontra-se largamente dissemi-
Verão. Depois de recolhido, o látex é nada por toda a Região Amazônica,
defumado formando as bolas ou desde o litoral até os altos rios.
pelas que chegam a 40 quilos. Um
seringueiro chega a recolher até 20 li- A castanha é o principal produto ex-
tros de látex diário. Seu trabalho na trativo alimentar da Região Amazônica
extração do látex não costuma ir além e um dos seus sustentáculos, pois tor-
de quatro dias na semana; nos outros nou-se líder da exportação regional, até
dias ele cuida de sua roça ou então que o manganês veio a ocupar o pri-
caça e pesca para sustento próprio e meiro lugar.
da famffia. Quando na área em explo-
ração existe a castanha, o binômio bor- O volume de sua produção está muito
racha-cast.anha, proporcionando ocupa- aquém daquele de seu potencial,
ção na entressafra óo látex, ajuda a me- havendo regiões em que o produto co-
lhorar a renda do seringueiro. meçou a ser explorado recentemente.
Quanto à comercialização da borracha, A produção relativamente baixa, em
esta é feita em bola ou pela, que termos gerais, deve-se ao fato de a
varia de 30 a 40 quilos, e que geral-
mente é cheia de impurezas devido ao castanha-do-pará contar com um baixo
processo muito primitivo da defumação mercado consumidor nacional, fato
feita no tapiri. As bolas são vendi- aliado ao não aproveitamento do enor-
das ao seringalista muito abaixo do me potencial de demanda do mercado
preço que o produto alcança no mer- externo, pela forte concorrência de ou-
cado e depois são enviadas através tras castanhas e amêndoas.
dos rios para as usinas de lavagem e
cubagem, localizadas em Manaus, Be- A produção de castanha, na última dé-
lém e Porto Velho. cada, acusou um aumento de 165~ em
relação a 1960. As flutuações registra-
Os mecanismos de produção, de finan- das são em parte devidas a fatores na-
ciamento e de escoamento da borracha turais, pois as safras produzem-se es-
são subordinados ao chamado sistema pontaneamente no interior da flores-
de "aviamento" que tem como objetivo ta, com variações bruscas de ano para
garantir ao seringalista o privilégio de
aquisição da borracha. Para isso ele ano. Essas oscilações refletem-se nos
fornece ao seringueiro, dentro de um preços, sendo um dos produtos de
prazo estipulado, ferramentas, armas, maior especulação, tanto nos países im-
pólvora e gêneros de primeira neces- portadores como na própria Região
sidade (querosene, sal, leite em pó) . Amazônica, o que se reflete nos índices
de valor da produção, que oscilaram
O seringueiro, por ocasião da explora- entre 100,00 e 43,00, o mais baixo valor
ção da borracha, permanece sete meses de sua produção entre 1960/70.

878
A castanha-do-pará tem como principal mento da castanha para os centros ex-
produtor o Estado do Pará, com 55~ portadores de Belém e Manaus. Como
ao total regional, seguido do Amazo- toda extração vegetal, a coleta da cas-
nas, com ~. do Acre, com 12~. e fi- tanha é aleatória . O extrator penetra
nalmente dos Territórios de Rondônia, no interior do castanha!, permanecendo
5~ e do Amapá, 4$, em 1967. Ela apa- somente o tempo necessário para apa-
rece em todas as combinações de pro- nhar os frutos, constituindo-se numa
dutos extrativos. Poucos são os muni- mão-de-obra móvel e pouco exigente.
cípios em que a castanha aparece como Um castanheiro pode apanhar, maria-
único produto. Os municípios da re- mente, de 700 a 800 ouriços, o que
gião de Marabá, no vale do Tocantins, pode atingir até 200 litros de sementes.
têm na exploração da castanha a mais Entretanto, o afastamento das árvores
importante atividade econômica, com entre si, o terreno hostil e a inexistên-
55~ do valor total regional. cia de caminhos faz com que o casta-
nheiro perca muito tempo em longas
A castanha é explorada em grandes e caminhadas. Após a coleta, a castariha
médias propriedades, predominando, é transportada para os barracões cen·
em quase todas, o sistema de arrenda- trais onde é recolhida nos paióis e daí
mento. O maior produtor de castanha- é remetida para os portos de Belém e
Manaus.
do-pará é o município de Marabá, com
mais de m do valor da produção da
A sua comercialização apresenta duas
Região Amazônica. Ainda na região de fases distintas. Na primeira fase a ne-
Marabá, nos municípios de Tucuruí, gociação se faz entre o extrator e o
São João do Araguaia, ltupiranga e Ja- produtor ou empresário e este, poste-
cundá, a castanha &parece como único riormente, vende ao exportador. Na se-
produto de valor comercial. gunda fase, o exportador, depois de be-
neficiar o produto ou simplesmente se-
O vale do Xingu é um dos grandes lecionar, coloca-o no mercado externo
produtores de castanha, assim como de e no interno.
borracha. Nele o município de Altami-
ra apresenta a castanha como o único Assim, no circuito econômico da casta-
produto de sua economia extrativa. nha, três são os elementos básicos: o
A região do Trombetas é uma das gran- extrator, o produtor e o exportador. O
des reservas castanheiras do Pará, ~n­ extrator ou castanheiro é o indivíduo
do o município de Oriximiná como que corre todos os riscos da coleta e
maior produtor. No Território do Ama· chega geralmente ao final da safra sem
pá, o município de Mazagão aparece ver o lucro de seu trabalho. Vive na
como o único produtor de castanha dependência do produtor, que lhe for-
com 3% do valor da produção amazô- nece todos os gêneros de que necessita
nica. para sua manutenção no castanha! (ali-
mentos, vestuário, armas, munição e
No Estado do Amazonas a castanha ferramentas), pagando com a castanha
colhida naquele período; geralmente
aparece quase sempre em combinação
volta sempre na próxima safra a fim
com a borracha, principalmente nos
de saldar a divida restante. O produ·
vales do Purus ( 4~). do médio Ama- tor recebe financiamentos dos expor-
zonas (~). do Solimões-Japurá (5~) tadores, com a obrigação de efetuar o
e do Madeira (BS). Boca do Acre, Lá- resgate dos empréstimos através da en-
brea, Manicoré e Humaitá são os prin- trega do produto, a preços previamente
cipais municípios produtores . estabelecidos que são, em geral, infe-
riores aos do mercado. Os preços são
Quanto à roleta da castanha, ela tem mais ditados do que ajustados, propor-
início no período de abril a julho na cionando ganhos ao comerciante ex-
estação chuvosa quando caem os ouri· portador, através dos juros que o pro-
ços. Este período coincide com as autor lhe paga e da castanlia que lhe
cheias dos rios, o que facilita o escoa- entrega.

874
O cic1o da exploração, inicialmente, pouca aplicabilidade industrial, prin-
parte do produtor sobre o extrator, do cipalmente depois da descoberta dos
e>..-portador sobre o produtor e se com- cliicles sintéticos e da concorrência do
pleta com a depenaencia do exporta- jelutong, resina produzida na Tailândia
aor em relação ao preço ditado pelo e Malaca e usada na preparação do
importador estrangeiro. chiclets e d~ tintas e vernizes, o que
reduziu o volume e o valor das gomas
No transporte a castanha vem geral- não-elásticas. Outro fator negativo na
mente a granel. A deteriorização ocor- produção das gomas não-elásticas é a
re, com freqüência, o que diminui mui- técnica usada na extração da seiva,
to o lucro do produtor. A operação pois as árvores são sistematicamente
de transporte constitui o maior peso derrubadas para melhor aproveitamen-
na formação do custo de produção da to do leite, exceção feita à chamada ba-
castanha, chegando a fazer com que o lata verdadeira, em cujo tronco são fei-
produtor venda a castanha ao exporta- tas incisões num período de cada qua-
aor por preços menores do que o custo. tro ou cinco anos. o sistema de aer-
rubada da árvore é nocivo, exterminan-
O comércio externo da castanha-do- do gradativamente as espécies no inte-
pará apresenta uma oferta totalmente rior da mata, o que torna a cata de
desorganizada e uma demanda organi- árvores uma tarefa difícil.
zada, principalmente por parte dos Es-
tados Unidos e da Inglaterra, sendo O mapa das Combinações de Produtos
que o primeiro importa a castanha sem Extrativos mostra o que representam as
casca e o segundo com casca. O fato gomas comparadas com a borracha e
da existência de uma oferta desorgani- a castanha, dominantes em toda a Re-
zada faz com que a comercialização gião Amazônica. As gomas sobressaem
da castanha fique à mercê dos com- em algumas áreas dos vales dos rios
pradores que, então, impõem o preço. Negro, Madeira e alto Solimões, no
Ao lado disto, cumpre citar que o pro- Estado do Amazonas e no médio e bai-
cesso de beneficiamento da castanha xo Amazonas, no Estado do Pará. No
ainda é manual, o que onera os seus Estado do Amazonas estão elas em
custos e reduz os lucros. combinação com a borracha, com a cas-
tanha e com a piaçava, sobressaindo
O consumo da castanha-do-pará ainda em alguns municípios como único pro-
é pouco difundido no mundo, apesar duto: é o que ocorre em Ilha Grande e
da sua grande procura no mercado in- Santo Antônio do Içá. No Pará, nos
ternacional. O principal obstáculo ao vales do médio e baixo Amazonas, do
desenvolvimento da produção anual da Paru e do Maicuru, nos municípios de
castanha está no fato de serem os casra- Alenquer, Monte Alegre e Juriti sobres-
nhais silvestres de produção extrema- saem as gomas como principal produto
mente aleatória o que concorre para extrativo de valor econômico. Elas apa-
variações muito acentuadas nos preços. recem também, mas em combinação
Paralelamente, o mercado da castanha só com a borracha, em Portei, Porto de
é altamente especulativo, tanto nos paí- Moz e São Domingos do Capim e com
ses importadores como na própria Re- a castanha, em Almeirím. No Território
gião Amazônica. de Roraima, o município de Caracaraí
tem nas gomas o único produto eXtrati-
As gomas não-elásticas são vulgarmen- vo de valor.
te conhecidas pelos nomes de balata e
chicles. As espécies mais conhecidas Enquanto a castanha-do-pará e a bor-
que produzem tais gomas são a ucuqui- racha são os sustentáculos da economia
rana, maçaranduba e a sorva, disper- extrativa vegetal da Amazônia, pela sua·
sas na floresta de terra firme. Dos pro- produção e pelos preços alcançados
dutos extrativos que pesam na balança nos mercados, as gomas não-elásticas
comercial da Região Amazônica, as go- não chegam a representar 7. 000 tone-
mas são as menos expressivas, dado sua ladas por ano. Os principais produto-

S75
res de gomas são os Estados do Amazo- por espécies de alto valor econômico
nas, com 54$ do total regional, Pará e de fácil exploração. ~ o domínio ·
com 32$ e os Territórios de Rondônia das madeiras moles ou leves, também
e Roraima com 8% e 3%, respectiva- chamadas brancas, fáceis de serem ser-
mente. radas e de grande aceitação no mer-
cado internacional. São espécies dessa
As madeiras representam uma riqueza floresta: o pau-amarelo, o angelim, o
ubíqua na Reg1ão. A Floresta Amazô- rajada, a imbuia e a cuúba.
nica, cobrindo cerca de 261 milhões de
hectares no Território Brasileiro, é con- A floresta de flanco ou "arenosa" é
siderada a maior reserva de mata do uma transição entre a floresta da vár-
mundo. Ela é constituída de uma zea e a do planalto. f: o tipo mais po-
gama muito grande de espécies que, bre, estando assentada sobre solos mui-
em sua maioria, não são bem conheci- to arenosos o que desaconselha o em-
das e que se encontram dispersas hete- prego de máquinas na sua exploração.
rogeneamente na vastidão da área. Se- A peculiaridade deste tipo de floresta
gundo a Missão Florestal da F AO, o é a presença de espécies tanto de vár-
potencial madeireiro da Floresta Ama- zeas como de planalto, sendo um tipo
zônica é, em ordem de grandeza, supe- de transição .
rior a 70 milhões de metros cúbicos de
madeira em pé . A maior parte da madeira exportada é
do Pará, que abrange dois terços da
Se de um lado a heterogeneidade da produção regional. As áreas de maior
floresta tem sido apontada como causa produção são as do Baixo Tocantins, de
Tomé-A~]u, da Guajarina, do Maraj6 e
do fracasso de muitos empreendimen-
tos madeireiros, por outro lado ela ex- da região dos Furos . As vastas regiões
do sul do Estado são muito ricas em
plica, em parte, a quase integridade da espécies, mas com produção pouco sig-
Mata Amazônica. Com efeito, a difi- . nificativa. No Território do Amapá, a
culdade de exploração florestal em lar· maior parte da produção vem do mu-
ga escala evitou a devastação comple- nicípio de Mazagão. Nos Estados do
ta e sistemática da Hiléia. Amazonas e do Acre, os vales do Ju-
ruá, do P.urus, do Negro, do Solimões
A dispersão natural das espécies cria e do Madeira são os maiores fornece-
diversas fonnações florestais, com áreas dores de madeira.
bem definidas, pelo tipo de solo e a to-
pografia, os quais originaram tipos dis- O maior volume de madeira exporta-
tintos de florestas. do tem-se processado através do porto
de Belém, alcançando a média de 80%
A floresta de terra firme é a grande do total exportado pela Região Amazô-
reserva amazônica . Ela está assentada nica, no período de 1965/69. O se-
em solo argiloso, suportando bem a me- gundo porto exportador é o de Mac.a-
canização e os diferentes tipos de cor- pá, embora sua participação relativa se-
te e podendo ser trabalhada em qual- ja bem inferior à de Belém, pois em
quer estação do ano. f: nesta mata que 1965 era da ordem de 17% do volume
está concentrada a quase totalidade das regional, enquanto que, em 1968, acha-
espécies de maior valor econômico co- va-se reduzido a 15%, tendo exportado
mo o cedro, o mogno ou aguano, o apenás 29.~69 ·m3 • Em terceiro lugar
freij6, a sucupira, o acapu, o pequiá, vem o porto fluvial de Manaus, cuja
a maçaranduba e a macaúba. Outro participação nos três últimos anos foi
tipo, a floresta de várzea ou mata ala- de 11% em média. Em menor escala
existem as exportações oriundas de San-
gável, é pouco conhecida botânica tarém e Itacoatiara.
e estatisticamente, sendo, entretanto, a
preferida dos madeireiros. Nelas estão Até hoje a exploração madeireira tem
a quase totalidade das serrarias, em vis- sido feita de modo desordenado, em
ta da facilidade de escoamento das to- moldes predatórios, por processos rudi-
ras. f: constituída, em grande parte, mentares e primitivos. Visando. pura·

S76
mente à especulação comercial, não há que flutuam e as alvarengas como
condições para o estabelecimento de meio principal para as toras pesadas.
uma estrutura industrial sólida e per-
manente. A extração da madeira, tal como acon-
tece com os outros produtos florestais,
Geralmente, as empresas que benefi- envolve um número excessivo de inter-
ciam a madeira não dispõem de áre~s mediários entre o verdadeiro extrator
florestais próprias para o. seu. supn- na floresta e o consumidor na serraria,
mento. Adquirem a maté~a-pr;ma de cada um deles tendo o direito a uma
terceiros, dos produtores P?mán.os, que parte nos lucros.
se espalham a enormes rustânc1as, ca- A indústria madeireira sempre se res-
tando nas matas as espécies de melhor sentiu da escassez de recursos finan-
cotação comercial, que lhes são enco- ceiros, de aparelhagem adequada e da
mendadas. A derrubada da árvore e o preservação da maaeira após a derru-
transporte das toras dependem exclusi- bada; nunca teve condição para melho-
vamente do machado e da força huma- rar, evoluir e fortalecer-se. Um outro
na. Essas tarefas são extremamente Ee- grande problema do extrativismo flo-
nosas, o que explica, de certo . modo, restal é o da derrubada de árvores sem
como compensação, a preferênc1a para prévio esquema de sua futura utiliza-
a extração nas várzeas, em lugares onde ção. O uso de tecnologia rudimentar
é possível o transporte da madeira rio e o obsoletismo de equipamentos po-
abaixo. A operação de derrubada das dem ser apontados, seguramente, co-
árvores e o preparo das toras apresen- mo causa principal do suprimento inc~r­
tam baixo rendimento, estimado em to, desorganizado e oneroso da maténa-
3 mll de madeira/homem dia. Essa prima, originando altos custos de pro-
produção entretanto, varia em função aução e assim impedindo o alcance de
ao tipo de solo, da floresta e do diâ- preços competitivos nos mercados na-
metro dos troncos. cional e estrangeiro.
Uma operação difícil no interior da flo-
resta é o transporte das toras abatidas Em conseqüência, as co,ndi~es prin:ti~­
vas de trabalho nas industnas madeuet-
até os rios, por onde são escoadas. Nas ras amazônicas são responsáveis por
florestas de planalto e de flanco, a ope- um baixo nível de produção, não con-
ração transporte é pior: os mateiros dizente com as possibilidades p~ten­
constroem estradas, pelas quais as toras ciais da imensa reserva florestal exiSten-
são arrastadas até as margens da estra- te na Região.
da principal, onde são reunidas e trans-
portadas para os córregos onde perma-
necem ate o perfodo Chuvoso, quando
as enxurradas propiciam seu transporte 4 - PROJETOS E PROGRAMAS
ató os rios. Quando o volume de água
é insuficiente para o arrasto, as toras DE DESENVOLVIMENTO
são abandonadas na floresta até o pe- AGRÍCOLA DA REGIÃO
ríodo chuvoso do ano seguinte. Desse
modo, as madeiras ficam expostas aos NORTE - A AÇÃO
agentes naturais, deteriorando-se. GOVERNAMENTAL
Cerca de ~ do volume derrubado é,
deste modo, perdido por decomposição. Entre os problemas que e~enta a Re-
Na floresta de várzea os riscos são gião para seu desenvolv1mento rural,
menores e as dificuldades também, o . releva o das grandes distâncias que de-
vem ser vencidas, não apenas para o
que reduz a ~ão-de-obra .Par~ a extra~ escoamento dos produtos entre as áreas
ção e conduçao da madeua, Já. que ~s
árvores não estão a grande d1stânc1a produtoras e as de consumo mas tam-
dos rios. bém no tocante à difusão de novas téc-
nicas agrícolas, na aquisição de imple-
A indústria madeireira prefere o trans- mentos e no acesso cfe contin:?;entes de
porte da matéria-prima, empregat;tdo mão-de-obra provenientes de outras
as jangadas de toros para as maaeuas Regiões.

877
Essas grandes distâncias têm sido per- condições capazes de atrair para a Re-
corridas pela navegação fluvial, precá- gião interesses empresariais potencial-
ria e lenta, que ocasionam, em muitos mente existentes, bem como a concen-
casos, o perecimento dos produtos tração de esforços em atividades que,
transportados e o encarecimento do por sua natureza, não ofereceriam atra-
preço pelo qual deverão ser vendidos tivos ao setor privado, em virtude do
nos centros consumidores, uma vez que seu elevado custo social. Problemas
comporta o aparecimento de interme- que ocorreram em outras áreas pionei-
diários que visam ao lucro sobre os pro- ras do Pais fizeram com que fossem
dutores, permanecendo estes em precá- tomadas medidas de precaução na
ria situação financeira. ocupação territorial da !legião Norte,
pois nelas a regularização de posses,
Com o desenvolvimento, na Região bem como a ocupação das terras, ain-
Norte, de culturas comerciais, órgãos da hoje criam entrave ao seu desen-
Governamentais de planejamento pas- volvimento. A participação do setor
saram a estudar medidas que solucio- privado na colonização da Região Nor-
nassem esse tipo de problema. A solu- te ficou condicionada à elaboração do
ção encontrada foi a construção de ro- Plano Re~onal de Colonização Agrá-
dovias, medida que mereceu progra- ria, cujo objetivo primordial é o con-
mação prioritária por parte dos Gover- trole do procedimento dos empreendi-
nos Estadual e Federal. As estradas mentos liberais .
abriram à Região ligações internas e
também com as demais Regiões do Segundo o Plano de Integração Nacio-
País. nal, a colonização na Amazônia deverá
utilizar as tendências espont~eas do
O Plano de Integração Nacional povoamento, através dos seus fluxos
( PIN), visando à incorporação de vas- migratórios, que constituem três e:..Xos
tas áreas do Território Nacional e de principais: dos nordestinos, que pene-
populações à margem do processo de tram na Amazônia pela Transamazôni-
desenvolvimento do Pa.fs, tem como ca; de Brasília, que tem acesso à Re-
objetivo primordial a redução dos de- gião pela Belém-Brasília, e do cen-
sequilíbrios regionais, bem como a des- tro-sul. que penetram em Rondônia
centralização do desenvolvimento. Con- através da Cuiabá-Porto Velho.
ta essa política com importantes ins-
trumentos operacionais, cujos objeti- Ao longo do traçado das rodovias da
vos principais são: a promoção de mais Amazônia foram estabelecidos alguns
fácil acesso do homem à terra, cria- trechos de atendimento prioritário,
ção de melhores condições de empre- dentro do programa de colonização,
go da mão-de-obra, assistência finan- que constituem verdadeiros eixos de
ceira organizada, modernização das desenvolvimento potencial. São eles: o
propJiedades rurais, ampliação dos trecho que vai de Marabá a Itaituba,
meios de comercialização da produção no eixo da Transamazônica; o trecho
agropecuária, criação de vias de trans- de Santarém a Itaituba, ao longo da
Cuiabá-Santarém e o eixo da Bl\-364
porte. energia elétrica e garantia de pre- (Cuiabá--Porto Velho), no Território
ços mínimos para os produtos de ex- de Rondônia.
portação.
A vocação econômica da Região Norte
Esses objetivos vêm sendo parcialmen- vem sendo respeitada pelos planos de
te alcançados com a construção de im- desenvolvimento do Governo, que estão
portantes eixos rodoviários que cortam baseados em quatro pontos essenciais:
a Região no sentido norte-sul e leste- a implantação de grandes projetos
oeste. agropecuários; o desenvolvimento or-
denado dos núcleos urbanos ao longo
O Instituto Nacional de Colonização da Transamazônica; a exploração ra-
Agrária ( INCRA) tomou a si a incum- cional dos recursos naturais, abran-
bência de dosencadear as primeiras gendo madeiras e minérios, e o incen-
operações, visando à introdução de tivo ao turismo. ·

878
Tendências acentuadas para o desen- aplicação do próprio Estado do Ama-
volvimento das atividades agropecuá- zonas. A única tonte de recursos dos
rias têm sido apresentadas com pers- investimentos feitos no Território de
pectivas altamente promissoras, espe- Rondônia, resultantes de Incentivos
cialmente com a ampliação programa- Fiscais, é o Estado do Pará que canali-
çla da rede de transporte, incluindo a za sua aplicação apenas em projetos de
abertura de novas estradas de pene- cria e recria de gado, enquanto que no
tração e de integração, as quais àbrem Amazonas e no Pará os investimentos
novas frentes para a criação de gado são, em grande escala, destinados tam-
nas regiões de Paragonúnas e Alto Ara- bém à engorda dos rebanhos.
guaia. Essas medidas, aliadas à políti-
ca de Incentivos Fiscais, têm constituí- A SUDAM, juntamente com o Banco
do o principal instrumento de dinami- da Amazônia S. A. ( BASA ), se pro-
zação do setor privado regional. O se- põe a urna ajuda creditícia adequada
tor agropecuário tem absorvido quase à<; condições regionais e se acha ligada
52% dos recursos dela oriundos. Essa às diretrizes do Plano de Integração
supremacia é normal, levando-se em Nacional (PIN) e do Programa de Re-
conta ser uma região de grande po- distribuição de Terras e de Estímulos à
tencial para o desenvolvimento dessas Agropecuária do Nordeste e da Ama-
atividades, além de possuir um merca- zônia (PROTERRA), na realização de
do interno incipiente que não permite, programas de fortalecimento da políti-
ainda, a instalação de grandes empre- ca de desenvolvimento harmônico. Esta
endimentos industriais. visa à ampliação das fronteiras inter-
nas, sua ocupação racional e progres-
Cabe à Superintendência do Desenvol- siva, por elementos da própria Região
vimento da Amazônia ( SUDAM) a ou de outras Regiões do País. O
seleção das áreas prioritárias, 'bem co- PROTERRA visa âiretamente à mo-
mo a administração dos recursos a se- dernização dos estabelecimentos rurais,
rem nelas empregados, voltadas para: bem como à organização e ampliação
formação de pastos artificiais, com o de serviços de pesquisa e experimenta-
emprego de rotação de pastagens; am- ção agrícola, afém do fornecimento de
pliação de corretivos para o solo; com- outros elementos que constituem a in-
pra de matrizes e reprodutores, de ra- fra-estrutura básica das atividades agrí-
ças adaptadas às condições ecológicas colas: armazenamento e silos, meios
regionais, visando à melhoria genética de comercialização da produção, trans-
do rebanho, aumento do peso, percen- porte, energia elétrica etc.
tual de carnes produzida por animal;
redução da idade do abate; erradicação Outro projeto de grande importância
para o desenvolvimento da agricultura
de doenças endênúcas, através de va- e racional aproveitamento dos recursos
cinação sistemática contra aftosa, bru- naturais da Região Norte é o Projeto
celose etc. e uso de medicação profi- Radar da Amazônia (RADAM), im-
lática, visando à melhoria da taxa de plantado pelo Departamento Nacional
natalidade bem como à redução da aa Produção Mineral. Assim, com o
taxa de.mortalidade. emprego de imagens obtidas por radar
Neste plano merece menção a aplica- e com' adequado controle terrestre, foi
ção, no Pará, de recursos provenientes mapeado o Uso Potencial do Solo que
avalia a média capacidade natural para
do próprio Estado, que alcançam cer- o uso da terra, além de se realizar uma
ca de 51% do total dos investimentos identificação de áreas adequadas à im-
realizados, enquanto que aproximada- plantação ou intensificação de ativida-
mente 45% dos recursos aplicados pro- des agropecuárias, madeireiras e de ex-
vêm de investimentos advindos do Es- trativismo vegetal. Coube à SUDAM,
tado de São Paulo. No Estado do juntamente com o Banco da Amazô-
Amazonas o total de investimentos nia S.A. e com o Instituto de Pesquisa
oriundos de São Paulo se eleva a 7(8;, e Experimentação Agropecuária do
enquanto que 15% são originários do Norte {IPEAN), 6rgão do Ministério
Pará e cerca de 15% correspondem à da Agricultura, através de convênio,

879
elaborarem um plano de plantio de se- Nos planos de recuperação dos serin-
ringueiras denominado Pfano Geral de gais de cultivo e de formação de no-
Heveícultura para a Amazônia Brasi- vos seringais compete à SUDHEVEA
leira (PROHEVEA) com o objetivo a administração dos recursos financei-
de transformar o atual extrativismo da ros. Estes planos são assistidos tecni-
borracha na instalação de seringais te<> camente, no caso de recuperação de
nicamente cultivados . Este plano des- seringais de cultivo, pela Associação
tina-se também a fornecer mudas sele- Brasileira de Crédito e Assistência Ru-
cionadas e orientar os empresários in- ral ( ABCAR) e, no caso da formação
teressados no plantio racional da serin- de novos seringais de cultivo, pelo Mi-
gueira. Atualmente já existem mais de nistério da Agricultura.
200 seringais de cultivo e com sua ex-
pansão na Região Norte pretende o Com a aplicação desses planos gover-
Projeto substituir os seringais nativos namentais de desenvolvimento agríco-
cuja produção se torna caaa vez mais la favorecendo à Região Norte, são al-
insuficiente para atender ao consumo tamente promissoras suas perspectivas
do mercado interno. O PROHEVEA já econômicas. Amplia-se a rede de trans-
tem seringais em formação nos Estados portes que abre novas frentes para a
do Pará, Amazonas, Acre e Território criação de gado e para o desenvolvi-
de Rondônia . mento de importantes culturas comer-
ciais; canalizam-se recursos para o fo-
Ainda com relação ao desenvolvimen- mento agropecuário, levando em consi-
to da produção de borracha, coube à deração o fato de que esses planos so-
Superintendencia do Desenvolvimento lucionarão problemas sérios, enfrenta-
da Hévea (SUDHEVEA), órgão vin- dos até hoje pelas ativida.des rurais da
culado ao Ministério da Indústria e do Região. Rompe-se o isolamento em
Comércio, o estabelecimento de novo que se encontrava e buscam-se solu-
programa de crédito e de assistência ções específicas para cada ramo de
técnica. Este programa compreende suas atividades agropastorias.
cinco subprogramas distintos: a recupe-
ração de seringais nativos; a insta-
ção de usinas de beneficiamento junto 5 - ORGANIZAÇÃO AGRÁRIA
às áreas de produção; a recuperação de
seringais em formação; a formação de O presente estudo, que utiliza a análi-
seringais de cultivo e a assistência téc- se fatorial e a análise de agrupamento,
nica e formação de pessoal. O pro- tem como objetivo a definição da or-
grama trará novas perspectivas à tradi- ganização agrária da Região Norte. As
cional atividade da Amazônia, ofere- unidades básicas de observação foram
cendo apoio necessário para assegurar as 28 Microrregiões da Amazônia, estu-
o desenvolvimento da produção, tendo dadas por meio de 25 variáveis estabe-
o objetivo também de conferir aos lecidas através da análise de dados es·
habitantes da grande área condições tatísticos fornecidos pelo ETEA, órgão
de trabalho e remuneração que lhes do Ministério da Agricultura, referen-
permitem melhorar seus padrões de tes ao ano de 1968, pelo Censo Demo-
vida. gráfico de 1970 e Dados Preliminares
Gerais do Censo Agropecuário de 1970,
O apoio financeiro a este plano é da- estes dois últimos do IBGE.
do pelo Banco da Amazônia S. A. e é
destinado ao preparo do terreno, onde As 25 variáveis são relativas à densida-
de da população rural na área das Mi-
deverá ser desenvolvido o seringal, à crorregiões: percentagem da área co-
aquisição e transporte de mudas sele- lhida na área das Microrregiões; per·
cionadas; ao plantio e adubação; à centagem do valor das lavouras no va-
aquisição de inseticidas, fungicidas, e lor total da produção agropecuária-
herbicidas; às despesas de combate a extrativa; percentagem do valor das la-
pragas e doenças e aos tratos culturais vouras alimentares no valor total das
até o início da produção. lavouras; percentagem do 'alor da cul·

S80
Tabela 11

MICROlutEGIÃO Fator I Fator li Fator III Fator IV Fator V Fator VI Fator Vll F ator VIII F ator IX

Rondônia . ..................... -2,1882 - 0,6680 6,0195 2,1535 7,7572 3,3417 -0,2051 2,4542 -(),4455
Alto Juruá. ......... •.. ........ -1,6956 0,6048 -2,0090 3,0175 0,6378 2,3530 0,6837 1,7243 - 0,6686
Alto Purllll.. ................... - 0,9818 2,0711 -1,2096 1,6452 3,3367 0,8737 -1,3356 2,1031 -o,7090
Alto Solimões .................. - ·2,0647 2,3873 -1,1771 1,7301 2,2360 0,0284 0,1397- 0,3576 -(),2753
Juruá .. . . ............ · · · · · · · · · · -2,7624 0,6765 - 1,3984 2,3514 0,0484 5,5232 2,7241 2,1701 -1,3210
Purus. . .. .... . ... . . . ........ . .. -1,4556 0,9234 -2,4725 1,7917 0,0878 3,1638 -0,6692 2,0143 ~0,5709
Madeira . ...................... -1,9773 1,1502 -2,0784 0,5848 -1,6348 3,4279 1,0825 1,6084 -o,8216
Rio Negro ............. . ....... 0,0441 0,1964 -3,1681 1,5771 -o,7844 3,7662 -0,5683 0,9059 - 0,4167
Solimões- Japurá . .. ..... . .. . ... -0,7845 1,3638 -2,7253 -0,5220 - 1,1834 0,5593 0,6487 -2,5522 -0,0110
Médio Amazonas . .............. - 0,7186 1,6913 - 2,5398 0,8362 -0,2057 0,0552 0,0256 -2,4881 0,2521
Roraima ... .. . ........ . ........ -0,5689 2,8040 0,3287 -0,0638 -0,6995 -1,3854 -o,7328 0,3769 2,0765
Médio Amazonas Paraense.. . . ... -1,9975 1,5302 0,7474 -0,0790 -0,1378 -0,9573 -2,3519 -2,8126 - 0,1553
Tapajós. ..... . .... . ............ -3,9005 2,7387 0,8739 1,0641 4,0154 -0,0910 - 0,6047 -2,4511 -0,2131
Baixo Amazonas................ -2,3507 3,4015 0,0842 -1,0093 1,5145 -1,3655 2,2089 - 2,7456 -0,2532
Xingu ..... . ................... - 1,4633 -0,1611 4,4581 -0,2954 -0,3840 - 1,0826 -1,4476 1,2788 -1,2032
Purus.............. . ........... - 2,7415 0,69<J6 2,5935 0,6231 0,2827 0,6521 2,0439 0,6897 -o,7740
Campos de Maraj6 ............. 0,8525 3,2120 -1,6781 2,2929 -2,ll00 - l,2812 1,6224 -1,8095 6,9705
Baixo Tocantins .. .............. -1,4847 -1,0404 0,5319 0,9477 0,9112 -0,8233. 1,4965 1,0235 -&,9708
Marabá.............. . ......... - 2,9275 1,6336 2,5774 -3,5021 - 1,9961 2,0751 -0,2985 0,8005 --(),6686
AragU&iâ. Paraense ... ... . ....... - 3,0390 3,1418 4,9675 -9,6351 2,9615 -3,7695 3,3253 1,5517 -1,3«4
Tomé-Açu.. .................... 9,7908 -10,1210 -1,1768 -4,72ll -2,1324 -1,4281 -0,9573 -0,5652 1,8925
Guajarina. ..................... -0,0045 - 2,5410 0,4091 -0,7098 - 0,4699 -1,5702 0,0209 -0,6393 ---1,2136
Salgado.. ...................... 2,0703 -5,8273 0,3254 0,4170 -1,9~2 -2,6219 1,5673 - 0,4716 --1,1451
Bragantina............... . ..... 1,4663 -7,8196 0,4442 1,5400 -o,9684 -3,0318 2,4292 -o,5355 -·1,0545
Belém . ........................ 2:J,1354 -8,5513 -4,3692 -0,4591 -3,8469 -2,8695 0,7629 -0,4026 0,9856
Viseu. ............. . .... . ...... - 2,9723 2,8476 6,4714 0,5038 -(),3706 - 1,669\) -1,9821 -2,4111 -1,2220
Macapá.... ...... . . . ..... .. . . .. 0,2705 1,1260 -1,ffiWO - 2,8374 -1,6214 --(),4463 -2,8313 0,9042 0,8599
Amapá-Oiapoque ... . .......... 0,4491 2,5296 -2,8959 0,7577 -3,2878 -1,4262 --6,796!) -0,0789 2,4204
Tabela 12

Fator Fator Fator Fator Fator Fator Fator Fator Fator


VARIÁVEIS
I 11 Ili IV V · VI VII VIII IX

Densidade da população rural .. ...... . .............. . ... . ............ 0,84 -o,24 -o,01 0,16 -0,14 -0,24 0,19 -(),01 -(),15
Percentagem da área colhida na área das microrregiões ................ --(),14 -0,74 0,01 0,18 -0,13 -0,42 0,22 -o,Ol --0,10
Percentagem do valor das lavouras no valor da produção agropecuária,.
-extrativa.. .. . . . ......... ... ... . ..... .. ........ .. .. . ....... .. ... . 0,31 -o,89 -0,01 -(),01 --(),02 -0,11 --(),04 0,01 - 0,12
Percentagem do valor das lavouras alimentares no valor total das lavouras -(),42 0,17 0,42 0,02 0,20 0,05 -o,n 0,57 --(),37
Percentagem do valor da cultura do arroz no valor das culturas alimen-
tares .. ........... . ....... .. ........ . ........ . .. . . . ...... . ... . .... --(),05 -(),05 0,96 -(),06 0,14 -.0,03 -o,08 0,02 -o,04
Percentagem do valor da cultura do milho no valor das culturas alimen-
tares.. . .. ......................................... . ...... . ....... --(),16 - 0,03 0,39 -(),56 0,06 -0,38 0,30 -o,14 -(),20
Percentagem do valor da cultura d& mandioca no valor das culturas sli-
mentares.. ...... . .... . ... . ..... . .. . .......... . ............. .. .... 0,18 -0,04 -0,94 0,13 -0,11 0,07 --(),11 0,00 --(),07
Percentagem do valor da cultura da juta no valor das culturas indW!triais - 0,16 0,18 0,07 0,11 0,02 --(),17 0,04 --(),91 -0,09
Percentagem do valor da cultura da pimenta-do-reino no valor das cul-
turas industriais . ........ . .... . ................... . ........... . . . . 0,60 -0,73 0,08 -(),03 0,09 --(),12 -o,01 0,02 0,10
Percentagem do valor dos rebanhos no valor da produção agropecuária-
-extrativa .. .................... . ......... . ........... . ........... - 0,19 0,80 0,05 -o,o1 0,09 --(),41 --(),11 --(),17 0,23
Valor da produção de leite por unidade-gado de rebanho bovino.. ...... 0,93 --(),04 -0,07 0,08 --(),05 - 0,05 0,04 0,11 -(),19
Percentagem do valor extrativismo no valor da produção agropecuária,.
-extrativa . ....................... . ................................. - 0,18 0,10 --(),05 0,04 -0,11 0,83 0,23 0,26 -(),18
Percentagem do valor das borrachas no valor da produção extrativa .... --(),27 - 0,10 --(),06 0,55 0,34 0,12 0,32 0,27 0,15
Percentagem do valor da castanha-do-pará. no valor da produção extrativa -(),09 - 0,02 0,02 -o,oo -0,05 0,14 -o,oo 0,04 0,03
Pessoal ocupado na agricultura pelo número de estabelecimentos. .... . .. 0,33 -0,19 0,18 --(),37 --(),30 --(),60 -o, li 0,02 0,11
Tratores pelo nómero de estabelecimentos rurais ....................... 0,63 -·0,49 -0,07 -0,35 -Q,Ol - ·0,02 --(),10 -o,oo 0,37
Produção total das lavouras por unidade de área colhida.. ............. 0,95 -.0,23 -{),07 -0,09 ~0,05 -o,oo 0,04 -(),04 -o,02
Valor das lavouras por unidade de área colhida ........ . ...... . ....... O,l«l 0,02 --(),26 0,06 -0,09 --(),01 -o,os 0,01 0,30
Valor da produção agropecuária-extrativa pelo pessoal ocupado.. ....... -0,02 0,28 0,02 0,12 --(), 12 - 0,17 0,04 0,03 O,!H
Pessoal ocupado na agricultura com renda média men:sal inferior a Cr$ . ..
200,00. ........... . .............................................. 0, 18 -0,08 -(),05 0,09 -0,80 0,28 -0,17 0,16 0,14
Pessoal ocupado na agricultura com renda média mensal ent.re Cr$ 200,00
e CrS 500,00 . ....... : ............................................ 0,()3 0,16 0,10 -0,02 0,76 0,03 0,10 0,33 -0, 12
Pel150al ocupado na agricultura com renda média m ensal superior a CrS ...
500,00 .................... . ....... . .................. . ...... . .... 0,02 0,13 0,03 -o,74 0,15 -o,23 0,25 0,20 - 0,09
Pessoal ocupado no extrativismo com renda média mensal inferior a Cr$ ...
200,00 .. . ............ .. ................ . ........................... 0,00 -0,06 - 0,28 --(),16 0,07 0,15 0,85 0,04 0,13
Pessoal ocupado no extrativismo com renda média mensal entre CrS 200,00
e Cr$ 500,00 . . .... ... . . . . .... .......... . ......................... - 0,03 o,ou -o,33 --(),09 0,00 - ·0,05 -0,84 0,10 0,09
Pessoal ocupado no extrativismo com renda média menllal superiur a Cr$ ...
500,00 .. . ..... . .. . ........ . ........... . .......................... - 0 ,()4 - 0,()7 0,26 0,17 0,70 O,JR - 0,21 -(),1 1 0,09
tura do arroz, do milho e da mandioca seu solo, ela constitui, juntamente com
no valor das culturas alimentares; per- a Bragantina, uma área cuja economia
centagem do valor da cultura da juta e está voltada para o abastecimento de
da pimenta-do-reino no valor das cul- Belém, sendo a atividade agrícola pra-
turas industriais; percentagem do valor ticada em pequenos estabelecimentos
dos rebanhos no valor da produção destinados ao cultivo de produtos ali-
agropecuária-extrativa, valor da produ- mentares, e neles já se verifica uma ex-
ção de leite por unidade-gado de re- pansão de cultivos comerciais represen-
banho bovino; percentagem do valor tados pela pimenta.
do extrativismo no valor total da pro-
dução agropecuária-extrativa; percen- A segunda dimensão básica ou fator
tagem áo valor da borracha e da reúne 12,55% da variação total e é
castanha-do-pará no valor da produ- def!nida como tipo de atividade agrí-
ção extrativa; pessoal ocupado na agri- cola, identificando a orientação desta
cultura, número de estabelecimentos, atividade através da oposição da im-
número de tratores, número de esta- portância relativa dos rebanhçs e da
belecimentos rurais, produção e valor lavoura ( Fig. 4).
totais das lavouras por unidade de área
colhida, valor da produção agropecuá- As Microrregiões que apresentaram for-
ria-extrativa, pessoal ocupado, pessoal te tendência para as atividades cria-
ocupado na agricultura e no extrativis- tórias são as do Baixo Amazonas, dos
mo, respectivamente, com rendas mé- Campos de Marajó e do Araguaia Pa-
dias mensais inferiores a Cr$ 200,00, raense, oorrespondendo esta última a
de Cr$ 200,00 a Cr$ 500,00 e superio- uma região de recente desenvolvimento
res a Cr$ 500,00. da pecuária, em áreas de mata, onde
os campos artificiais constituem a qua-
Tal análise resultou em 9 dimensões se totalidade das áreas ocupadas com
básicas ou fatores ( Tabs. 11 e 12) dos pastagens . Com tendência média para
quais 5 apresentaram maior importân- o desenvolvimento da criação desta-
cia, representando 59,47% do total da cam-se as Microrregiões de Viseu e de
variação. Roraima. Na primeira existem algu-
mas invernadas para o gado prove-
A primeira dimensão básica ou fator, niente do Maranhão, com destino à Be-
que reúne 18,63% da variação total, lém e na segunda destacam-se os Cam-
definiu atividades agrárias com alto pos do alto rio Branco, tradicional área
nível de desenvolvimento, identifican- de criação. As Microrregiões que apre-
do a produtividade da cultura indus- sentam baixa tendência para a criação
trial da pimenta-do-reino e a pecuária são o Médio Amazonas, que se caracte-
leiteira. riza pela pecuária destinada ao corte,
mas onde se localiza a bacia leiteira de
Disting1,1e-se, dentro desse fator, a Mi- Manaus, Parintins, Itacoatiara, Auta-
crorregião de Belém, em virtude de zes e Careiro; a Microrregião de Mara-
nela estar concentrada a maior inten- bá, que se constitui numa área onde a
sificação da atividade agrícola, tendo atividade criatória se encontra em de-
em vista o ~ abastecimento do mercado senvolvimento, através da formação de
da capital. Além da Microrregião de invernadas com aplicação de Incentivos
Belém, a de Tomé-Açu se destaca, uma Fiscais; o Médio Amazonas Paraense,
vez que sua economia gira em torno da centro de criação tradicional; as Mi-
cultura da pimenta-do-reino, atividade crorregiões do Solimões-Japurá e· do
altamente rentável, de elevado valor Madeira que se destacam principal-
comercial, que emprega métodos inten- mente com a criação de suínos e onde
sivos de trabalho e utiliza-se de técni- se localizam os municípios maiores pro-
cas avançadas de cultivo, com alto ní- dutores de porcos de toda a Região:
vel de mecanização da lavoura. Em~ Coari e Manicoré e, finalmente, a Mi-
hora a Microrregião do Salgado consti-. crorregião de Macapá cuja criação está
tua uma área agrícola já bastante de- voltada para o abastecimento de
gradada, em função do esgotamento de Belém.

S8S
Reg1do Norte

ORIENTACAO DAS ATIVIDADES FATOR ]]


AGRÁRIAS

9 3,401~ o 3,1418

~ 3,1418 o 2,0711

FRACA § 2,0711 o 0,1964


FIG 4 INTENSIDADE DAS LAVOURAS

FRACA §o,l&ll o- 2,S410

FORTE §2,S410 a-10,1210

Quanto às lavouras, destacam-se com das nas várzeas; a do Araguaia pa-


forte intensidade as Microrregiões de: raense, onde roças de arroz e de milho
Tomé-Açu, centro nacional de produ- precedem à formação dos pastos e a
ção da pimenta-do-reino; Belém, cuja Microrregião do Xingu, onde a lavoura
importância da lavoura está intima- está voltada para a produção de cereais
mente ligada à produção de gêneros em sistema de roças, sobressaindo o
aliment{cios para a capital; Bragantina,
município de Altamira cuja produção
Salgado e Guajarina que se constituem
em áreas tradicionalmente voltadas é comercializada para outros municí·
p ara a atividade da lavoura. pios vizinhos .

A terceira dimensão básica ou fator, As Microrregiões que mais se desta-


que reúne 10,11~ da variação total, foi caram como produtoras de mandioca
definida como - tipo de uso agrícola foram as de Belém e a de Rio Ne-
em lavouras alimentares - e identifica gro, entretanto a mandioca é um culti-
a oposição entre a lavoura de arroz e vo grandemente difundido em toda
a lavoura de mandioca. Amazônia e principalmente no Esta-
do do Amazonas.
As Microrregiões voltadas para a rizi-
cultura são: a de Viseu, que é um pro- A quarta dimensão básica ou fator de-
longamento da Frente Pioneira mara- finiu - tipos de atividade extrativa -
nhense, grande produtora de arroz; a identificando áreas de exploração da
de Rondônia, onde o cultivo do arroz é castanha-do-pará c áreas produtoras
grandemente difundido, em virtude da de borracha. Este fator reúne 9,73~
existência de algumas colonias localiza- da variação total.

384
Como áreas produtoras de hévea, ca- e, reunindo 8,10$ da variação total,
racterizaram-se as Microrregiões do Al- identificou a oposição entre as áreas
to Juruá e do Juruá. Entretanto, a qua- de extrativismo e as áreas agropastoris.
se totalidade das Microrregiões do Es-
tado do Amazonas foram definidas co- Entre as Microrregiões voltadas para o
mo produtoras de borracha, com extrativismo vegetaL destacaram-se
maior ou menor importância comercial. com maior intensidade as do Juruá,
onde predomina a exploração da bor-
Como principais áreas produtoras de
racha; a do Rio Negro, onde pwdo-
castanha-do-pará destacaram-se as Mi-
crorregiões de Marabá, Araguaia Pa- minam a extração da borracha, da cas-
raense e ainda Tomé-Açu. O municí- tanha-do-pará, da piaçava e de ma-
pio de Marabá, na Microrregião do deiras de lei; a Microrregião do Rio
mesmo nome, é o maior produtor de Madeira na qual sobressaem as explo-
castanha da Região Norte. rações de borracha e de castanha-do-
pará e, ainda, a Microrregião de Ron-
A quinta dimensão ou fator, que reuniu dônia que tem na borracha o grande
8,45$ da variação total, definiu a es- produto de seu extrativismo vegetal .
trutura da renda agroextrativa. Iden-
tificou a oposição entre os rendiment~s As áreas de maior intensidade da ati-
alto, m~dio e baixo, do pessoal ocupado ~ vidade agropastoril correspondem às
na agricultura e no extrativismo. Microrregiões do Araguaia Paraense,
onde sobressai a criação bovina e às
Com rendimentos médios do pessoal
Microrregiões da Bragantina, de Belém,
ocupado na agricultura sobressai a Mi-
corregilio de Rondônia, em virtude da do Salgado e da Guajarina, que cor-
presença de colônias agrícolas; os ren- respondem às áreas onde aparece a
dimentos elevados do pessoal ocupado maior intensificação das atividades da
nas atividades extrativas aparecem nas lavoura de toda a Região Norte.
Microrre~iões do Tapajós e do Alto Pu-
rus, tendo em vista a intensificação, A sétima dimensão básica ou fator de-
nessas áreas, da exploração da borra- finiu a estrutura da renda do extrati-
cha e da castanha-do-pará. Este rendi- vismo através da identificação da opo-
mento médio, no entanto, é resultante sição entre o rendimento médio e o
do sistema de "aviamento" vigente nas rendimento baixo mensal, do pessoal
atividades extrativas regionais, no qual ocupado nas atividades extrativas; este
o intermediário que realmente recebe fator explicou ·7,90% da variação total.
o lucro de toda a comercialização está
Com relação às Microrregiões onde so-
pesando muito, enquanto que a mão-
bressai a renda baixa mensal da mão-
de-obra extrativista permanece com
de-obra extrativista, correspondem elas
renda baixa.
a áreas nas quais o extrativismo vegetal
Com relação à renda baixa do pessoal aparece como atividade secundária.
ocupado na agricultura, esta predomi- Na Microrregião do Araguaia Paraen-
na espacialmente em toda a Região, se, maior ênfase é dada à pecuária co-
em função da própria estrutura regio- mo atividade econômica e nas Micror-
nal dessa atividade. Entretanto, des- regiões da Bragantina, do Baixo Ama-
tacaram-se as Microrregiões de Be- zonas e de Furos destacam-se as la-
lém e do Amapá-Oiapoque que, em- vouras e a criação bovina com a fina-
bora se constituam em regiões que se lidade de atender às necessidades do
destinam ao abastecimento da capital, mercado de Belém, pennanecendo o cx-
nelas ainda não se fez sentir nenhuma trativismo vegetal sem expressão eco-
melhoria do nível social da mão-de- nômica.
obra ocupada na lavoura.
As Microrregiões, nas quais o pessoal
A sexta dimensão básica ou fator de- ocupado no extrativismo possui renda
finiu - tipo de atividade econômica - mensal média, são aquelas onde se ve-

S85
rifica, apenas, maior intensificação des- Este fator caracterizou, com os mais
sa atividade sem que, entretanto, haja altos vaores de rendimentos, as Micror-
nenhuma modificação no seu sistema regiões de Campos ~e Marajó, Amapá-
de exploração, que permanece depen- Oiapoque e Roraima, onde a pecuária
dente do "aviamento". Estas Micror- se destaca, tendo em vista o valor da
regiões são: a do Amapá-Oiapoque, na produção mais elevado que este tipo de
qual o município de Oiapoque se des- atividade alcança, quando comparado
taca na extração de madeiras e de se-
ao da lavoura. Com alto rendimento
mentes oleaginosas; a de Macapá, que
tem na economia extrativa a tônica da voltado para a lavoura, sobressaiu ape-
Microrregião, sobressaindo-se o muni- nas a Microrregiões de Tomé-Açu, on-
cípio de Mazagão na produção de bor- de a intensividade com que é pratica-
rocha e de castanha-do-pará; a do Mé- da a pipericultura foi a responsável
dio Amazonas Paraense onde, apesar pela sua elevação.
da crescente lavoura da juta, o extra-
tivismo vegetal constitui importante ati-
vidade econômica das áreas de mata,
principalmente nos municípios de Mon- 6 - TIPOS DE ORGANIZAÇÃO
te Alegre, com a extração da balata AGRÁRIA
e, no município de Alenquer, com a
exploração da castanha-do-pará. Para a determinação de uma regio-
naização do espaço agrário Amazô-
A oitava dimensão básica explica 6,22%
.nico foi feita uma análise de agrupa-
da variação total e define a orientação
da lavoura: cultivos alimentares e culti- mento baseada nos coeficientes de si-
vos industriais através da oposição en- milaridade entre as Microrregiões, os
tre a agricultura de produtos alimen- quais foram estabelecidos em função
tares e a agricultura comercial da juta. dos fatores determinados pela análise
fatorial.
As Microrregiões voltadas para a pro-
dução de cultivos alimentares, defini- Tendo em vista as peculiaridades agrá-
das por este fator, foram, principalmen· rias de cada unidade de observação,
te, a de Rondônia, em virtude da pre- foi estabelecido em 25% o grau de ge-
sença de colonias agrícolas destinadas neralização que, aplicado ao dendro-
aos cultivos de arroz e de milho; as de .grama ( Fig. 5), reuniu as 28 Micror-
Juruá, Alto Purus e Purus, regiões por regiões da Região Norte em 13 tipos,
excelência extrativistas, onde a lavoura de acordo com suas atividades agrárias
está restrita às roças de arroz, milho e e suas características econômicas e fun-
mandioca para o sustento da mão-de- cionais ( Fig. 6).
obra ocupada no extrativismo. Apesar
de, espacialmente, as lavouras aliinen- O tipo 1 define uma maior intensifica-
tares predominarem, em toda a Amazô- ção da atividade agrícola, através da
nia, sobre as lavouras comerciais, fo- alta densidade da população rural, bem
ram apenas estas as Microrregiões que como maior rentabilidade da área culti-
se distinguiriam neste fator. vada na área das Microrregiões que o
Quanto às Microrregiões que apresen- compõem. Define o predomínio das
taram maior intensificação da cultura lavouras alimentares, destacando-se en-
da juta destacam-se o Médio Amazonas tre estas a da mandioca e entre as la-
Paraense, o Baixo Amazonas, o Soli- vouras industriais, a cultura da pimen-
mões-Japurá e o Médio Amazonas. En- ta-do-reino. Esta encontra-se em ex-
tretanto, a juticultura amazônica vem- pansão nas Microrregiões que com-
se impondo paulatinamente nas áreas põem esse tipo: Salgaao e Bragantina,
de várzeas da Região. áreas tradicionalmente agrícolas den-
tro da Região Norte, cujas atividades
A nona dimensão básica explica 6,18% da lavoura destinam-se à produção de
da variação total e define o nível de gêneros alimentícios para o abasteci-
rendimento da mão-de-obra. mento de Belém.

886
DENDROGRAMA
TIPOS MICRORREGIÕES

12 - TOMÉ- AÇU
13- BELÉM
I- !SALGADO
IBRAGANTINA

=======r--n
FUROS
BAIXO- TOCANTINS
GUAJARINA -------------
XINGU
2- RQRAIMA
-----------
----------------------
~ge:~Õ~~~Jf~tfi/ARAENSE -----------------------1
MEOIO- AMAZONAS
BAIXO- AMAZONAS
= =====r·--------
-------------------
ALTO - PURUS~
ALTO - SOLI~OES =----====r---------1
--~--~-:---~-~g_:::-=r~·.J..t-n-t-------
ALTO- JURUA
3- PURUS
RIO NEGRO
MADEIRA =--_
JURUÁ
4- TAPAJÓS
5- MACAPtj
6 - MARABA
7- VISEU,
8- AMAPA -OIAPOQUE ,
9 - CAMPOS DE MARAJO
I O- RONDÔNIA
I I - ARAGUAIA-PARAENSE ================ -=======-==========--====--r----------- FIG. 5
25%
TIPOS DE ORGANIZAÇÃO AGRÁRIA

O tipo 2, que abrange as Microrregiões tipo 2, importante área juteira da Ama-


'Cio Solimões-Japurá, Médio Amazonas, zônia localizada ao longo do vale ama-
Roraima, Médto Amazonas Paxaense zônico.
•Baixo Amazonas, Xingu, Furos, Baixo
Tocantins e Guajarina, é definido pela A pecuária tem importância, neste tipo,
baixa produtividade da terra e das la- não apenas a de corte mas também a
vouras, pelo baixo rendimento da pro- pecuária leiteira, embora esta última
dução agropecuária-extrativa e pelos apresente-se restrita· às Microrregiões
baixos rendimento e rentabilidade da do Médio Amazonas e do Médio Ama-
lavoura, tendo em vista apresentar ain- zonas Paraense, que se constituem nas
da baixo índice de mecanização e ren- principais áreas produtoras de leite da
da baixa do pessoal ocupado em ativi- Região Norte.
dades da lavoura e do extrativismo.
Por outro lado, esse tipo apresenta Quanto ao extrativismo, este tipo ca-
grande intensidade da mão-de-obra racteriza as áreas de produção da bor-
ocupada em atividades rurais. Nele racha, na qual se distinguem as Mi-
definem-se com importância, principal- crorregiões do Solimões-Japurá, Médio
lnente nas Microrregiões da Guajarina, Amazonas, Xingu, Furos e Baixo To-
.do Baixo Tocantins, do ,Xingu, do Mé- cantins, ficando a extração da casta-
dio Amazonas, do Médio Amazonas Pa- nha-do-pará em posição secundária,
raense as atividades da lavoura e da sobressaindo em importância sobre a
criação em oposição às atividades ex- extração da borracha, apenas na Mi-
trativas, que predominam nas Micror- crorregião do Solimões-Japurá.
regiões do Solimões-Japurá e de Furos.
O tipo 3 abrange as Microrregiões do
Entre as atividades da lavoura sobres- Alto Juruá, Alto Purus, Alto Solimões,
saem, nesse tipo, os cultivos de produ- Juruá, Purus, Madeira e Rio Negro e
tos alimentares, principalmente de tem como características as baixas den-
mandioca, de milho e de arroz sobre os sidade de população rural e produtivi-
cultivos industriais, caracterizando, o dade da terra. A lavoura apresenta bai-

388
xos rendimento e produtividade, exceto O #po 5 abrange a Microrregião de
no Alto Juruá e Alto Purus devido à Macapá e caracteriza o espaço agrá-
existência de colônias agrícolas e no rio voltado para a criação bovina, apre-
rio Negro, em virtude da presença de sentando baixa densidade de popula-
missões religiosas aí existentes. O ren· ção rural, baixo índice de mecanização
dimento das atividades agropecuária- e renda do pessoal ocupado nas ativi-
extrativas é baixo, exceção feita às Mi- dades agrícolas também baixa.
crorregiões do Alto Juruá e Alto Purus.
Outra característica desse tipo é a ine- A lavoura é representada pelos cultivos
xistência de mecanização das ativida- alimentares, sobressaindo a mandioc'l
des agrícolas, bem como a renda bai· sobre o milho e o arroz.
xa apresentada pelo pessoal ocupado O extrativismo é praticamente inexis-
nas lavouras e nas atividades extrativas. tente e nele se destaca a extração da
Nesse tipo predominam as lavouras ali- castanha-do-pará.
mentares, principalmente os cultivos O tipo 6 corresponde à Microrregião de
de mandioca. A cultura de produtos Marabá e foi identificado pelo extrati-
industriais destaca-se apenas na Mi- vismo da castanha-do-pará, principal
crorregião do Alto Solimões. atividade econ6mica desta Microrre-
gião. Distingue-se ainda a ativi-
A pecuária tem relativa importância dade criatória através da aplicação de
nesse tipo, visando ao atendimento das Incentivos Fiscais em projetos agrope·
necessidades em carne e leite, de seus cuários em desenvolvimento nessa área.
criadores, alcançando maior importân- área.
cia nas Microrregiões do Rio Negro e
do Purus. A lavoura está voltada para o cultivo
de produtos alimentares, principal-
Quanto às atividades extrativas, esse mente em roças de arroz, de milho e
tipo reúne as Microrregiões nas quais mandioca que são plantados lop;o após
predomina a exploração da hévea, per- a derrubada da mata, antecedendo à
manecendo a castanha em posição se- formação das invernadas.
cundária, exceto na Microrregião do
Madeira, onde esses dois produtos O tipo 7 define a organização agrária
equivalem-se no valor da produção. voltada para o predomínio dos cultivos
alimentares com ênfase na rizicultura e
O tipo 4 corresponde à Microrregião do da criação de bovinos, uma vez que
Tapajós. Ele é caracterizado pela bai- ele corresponde à Micror~egião de Vi-
xa densidade da população rural, baixa seu que é um prolongamento da fran·
produtivid.ade da terra, predomínio da ja pioneira maranhense onde estas
renda média mensal inferior a .... duas atividades são predominantes.
Cr$ 200,00, do pessoal ocupado nas
atividades da lavoura e do extrativismo O tipo 8 abrange a Microrregião de
e da rentabilidade média da produção Amapá-Oiapoque, e é definido pelo
agropecuária-extrativa, esta devido ao alto valor dos rebanhos, tendo em vista
valor elevado que alcançam os re- tratar-se de uma região onde a criação
banhos. bovina assume papel de destaque sobre
as demais atividades agrárias, sendo a
Destacam-se as lavouras alimentares, lavoura representada pelos cultivos ali-
sobressaindo a produção de mandio· mentares, principalmente da mandioca,
ca, em oposição aos cultivos de arroz aparecendo em posição secundária as
e de milho. Entre os cultivos indus- roças de arroz e de milho.
triais a juta ocupa papel relevante. O
extrativismo é representado, nesse tipo, O tipo 9 é definido pela importância
pela extração da borracha, embora esta da atividade criat6ria e abrange a Mi-
atividade não se apresente com des- crorregião dos Campos de Maraj6. Di-
taque. fere do tipo anterior por não apresentar

S89
destaque nas atividades da lavoura, fi- óização existente na Região Norte, em
cando esta restrita apenas aos cultivos função da maior intensificação da la-
aümentares, principalmente da man- voura da pimenta-do-reino, aí pratica-
dioca destinada à subsistência dos la- da em sistema intensivo.
vradores e do pessoal ocupado com a
pecuária. A lavoura de produtos alimentares é
uma atividade secundária, predominan-
O tipo 10 corresponde à Microrregião do o cultivo da mandioca; da mesma
de Rondônia. E definido por uma forma a pecuária, que neste tipo visa
maior intensificação da lavoura, desta- apenas ao abastecimento em carne e
cando-~e os cultivos- alimentares, prin- em leite da Microrregião.
cipalmente de arroz, em colonias agrí-
colas situadas na várzea. Merecem ain- O tipo 13 define a Microrregião de Be-
da menção as roças de mandioca e de lém. ~ caracterizado pela intensifica-
milho, muito freqüentes nessa área. ção da atividade agrária através da al-
ta densidade da população rural, do
A atividade extrativista é também uma alto valor das lavouras e dos rebanhos,
característica deste tipo e predomina a visando estes últimos à producão lei~·
exploração da hévea sobre os demais teira e ao alto índice de mecanização
produtos. responsáveis pela alta produtividade e
Apesar de esse tipo ser definido pela alto rendimento da área colhida apre-
renda média mensal baixa do pessoal sentados por este tipo, uma vez que
ocupado na agricultura, na Microrre- este se refere à região voltada para o
gião de Rondônia é elevado o percen- abastecimento do mercado urbano de
tual do pessoal que alcança renCla mé- Belém.
dia mensal entre Cr$ 200,00 e .. ..
Cr$ 500,00.
O tipo 11 é definido pela atividade ex- CONCLUSÃO
trativa, com ênfase na exploração da
castanha-do-pará e corresponde à Mi- Constituindo-se numa zona periférica
crorregião de Marabá. Embora seja es- do conjunto econômico nacional inten-
ta a atividade determinante desse tipo, samente polarizado pelo centro indus-
destaca-se ainda a implantação da cria- trial e financeiro localizado em São
ção bovina, através da formação de in- Paulo e Rio de Janeiro, a Amazônia é
vernadas, por projetos agropecuários uma região tradicionahnente exporta-
com recursos advindos de incentivos dora de produtos primários e impor-
fiscais. tadora de artigos industrializados.
Estas atividades são as responsáveis Até há bem pouco tempo o extrativis-
pela fraca densidade de população ru- mo vegetal destacava-se com o maior
ral, tendo em vista a extensividade com volume na balança econômica-financei-
que são praticadas e ainda pela renda ra da Região Norte, entretant.o, atual-
baixa do pessoal ocupado na agricultu- mente, as atividades extrativas apresen-
ra e no extrativismo. tam nítida tendência de declínio em
A lavoura tem importância secundária, toda a Região. Ao contrário do que
uma vez que se trata de uma ativida- está acontecendo com o extrativismo
de que é realizada apenas na fase de vegetal, a agricultura regional apresen-
preparação dos campos de pastagem, ta-se com perspectivas bastante favorá-
após a derrubada da mata e predomi- veis, em conseqüência da aplicação de
nam principalmente os cultivos de ar- medidas governamentais de desenvol-
roz e de milho. vimento agrícola, no sentido de au·
mentar a comercialização da produção
O tipo 12 corresponde à Microrregião agrícola, através da construção de im-
de Tomé-Açu e é definido através da portantes vias de acesso que ligam a
alta produtividade e do alto rendimen- Região ao restante do Território Na-
to por hectare plantado, bem como cional, bem como através da abertura
apresenta o mais alto índice de meca- de novas áreas a serem exploradas.

S90
Entretanto, o quadro agrário regional no Nacional de Desenvovimento. Por
aparece, ainda, definido pelo predomÍ· meio deles é feita a integração física,
nio das lavouras alimentares, tendo em econômica e cultural da Região Norte
vista sua importância espacial, e pela ao território brasileiro, no sentido leste-
grande importância econômica das la· oeste com o Nordeste e no sentido
vouras comerciais, apesar de sua con- norte-sul com o Centro-Oeste e centro-
centração relativa à área cultivada. sul.
Com relação à pecuária regional, é nes-
te setor que se fazem sentir, de maneira Por outro lado, o Plano de Desenvol-
imediata, as conseqüências da nova po- vimento da Amazônia, visa promover
lítica governamental, uma vez que ao o levantamento da potencialidade dos
lado de uma atividade criatória ex- recursos naturais, o desenvolvimento
tensiva, praticada de maneira tradi- da economia, a formação de recursos
cional, surgem áreas de pecuária em humanos e a implantação de uma in-
desenvolvimento, resultante da aplica- fra-estrutura sócio-econômica, confor-
ção dos projetos agropecuários admi- me as necessidades regionais e as metas
nistrados pela SUDAM, em regiões se- propostas pelo Governo Federal.
lecionadas como prioritárias. Dessa maneira, espera-se que a Região
Norte, uma das mais favorecidas do
O desenvolvimento do setor agropecuá- Brasil em termos de recursos naturais,
rio amazônico vem sendo amplamen- venha a contribuir, de modo expres-
te atendido através do Plano de Inte- sivo, para o desenvolvimento do País,
gração Nacional e do Programa de Re- tendo seu imenso potencial conhecido
distribuição de Terras e de Estímulos à e avaliado no processo de seu aprovei-
Agropecuária do Nordeste e da Ama- tamento, planejado em bases nacio-
zônia, como partes integrantes do Pia- nais. 6

NOTAS DE REFERÊNCIAS

1 Kostrowicki, Jerzy - "Some methods of detennining Jand used and agricultura) orienta·
tions as used in Polish land utilizaliom and typological studies", in Geografia Polonica,
n.o 19 - 1970 . -

2 Dados fornecidos pelo Escritório Técnico de Estatística Agropecuária, do Ministério da


Agricultura .

a Unidade-gado (UG) corresponde a uma unidade comum de expressllo dos rebanhos que
torna possível a comparação e avaliação de importância de cada rebanho da Região. A con·
versão à UG foi elaborada pela FAO e recomendada pela Comissão de Atlas Nacionais da
União Geográfica Internacional, em 1968 - in A proposal to the unification and the
standardiUJtion of agricultura[ maps in National and Regional Jftlases. Segundo essa tabela:
I bovino = 1,0 UG; I suíno = 0,3 UG.

• tndices deflacionados da tabela de preços da Fundação Getulio Vargas - ano básico 1960
igual a 100,00.

ti Este mapa, ~rganizado segundo o método dos quocientes sucessivos de Jerzy Kostrowicki
(ver item 3 . I) , foi elaborado com dados de valor da produção dos principais produtos extra-
tivos em 1967. As madeiras não foram representadas por falta de dados a nlvel de munidpio.

G O capítulo O Extrativismo Vegetal é de autoria de EUGE.NIA GONÇALVES EGLER.

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de Pesquisas, iRo de Janeiro, 1972, n.0 "8.

41. VALVERDE, Orlando &: DIAS, Catharina V. A Rodovia Belém-Brasília. IBGE, Rio de
Janeiro, 1967, 350 pp.

898
INTRODUÇÃO
A indústria na Região Norte reflete o
estado geral de desenvolvimento eco-
nômico dessa área, isto é, apresenta-
se bastante defasada em relação a Re-
giões mais dinâmicas do País.
No entanto, presencia-se, atualmente,
um movimento geral de renovação erri
toda a Amazônia. O Governo, interes-
sado em diminuir as disparidades re-
gionais, vem procurando, através de
uma nova política, acelerar o proces-
so de integração dessa Região ao con-
junto brasileiro.
Dentro deste ponto de vista, a indús-
tria, no seu amplo sentido, incluindo-se
o beneficiamento de matérias-primas e
a mineração, vem sendo considerada
como setor econômico eficaz para atin-
gir esse objetivo, merecendo, por esse
motivo, atenção especial dos órgãos de
, planejamento.

INDUSTRIA Dos recursos naturais, os que propi-


ciam maior aumento ao valor da pro-
MARIA THERESA BESSA DE ALMEIDA dução industrial são os ligados a ati-
ELVIA ROQUE STEFFAN
vidade extrativa mineral. Como esta
atividade inclui, além da exploração,
fases complementares de preparação e
beneficiamento, foi considerada, no
presente trabalho, como atividade se-
cundária.

1 - A INDÚSTRIA DA
AMAZÔNIA NO
CONTEXTO BRASILEIRO-
EVOLUÇÃO

1.1 - Posição da Indústria na


Renda Regional e
Nacional

Em termos de renda, a participação da


indústria da Região Norte ainda é de-
ficiente tanto no conjunto nacional
como no regional, conforme pode ser
observado na tabela 1.

395
Tabela l Participação percentual Isto se deve à descoberta de minerais
do produto interno líquido da muito valorizados - manganês e cas-
indústria nas rendas regional e da siterita - nesta Região que até então
indústria nacional s6 possuía pequenas áreas de garim-
pos de ouro e diamante. O manganês
% na Renda foi logo explorado com técnicas mo-
ANOS % na Renda da Indli.~tria dernas, enquanto que a cassiterita teve
Regional Naci.onal sua exploração mecanizada mais re-
centemente, persistindo ainda técnicas
1950 ..... .... 11,34 0,95 rudimentares (desmonte manual e des-
1,18
monte mecânico) em algumas áreas.
1955 ......... 15,12
1960. ........ 18,35 1,89 Estendendo a caracterização da indús-
1968 . ........ 16,90 1,43 tria da Região Norte, torna-se necessá-
rio examinar a evolução do valor per
Fonte: MINIPLAN: A industrialit~ão bra·
capita da produção e da transforma-
sileira, Diagnóstico e Perspectivas, 1969. ção industrial. Assim pode-se observar
na tabela 3 que o valor da produção
evoluiu favoravelmente no período
Analisando os dados apresentados 50/69, enquanto que a da transforma-
constata-se que houve uma melhoria ção em relação à população total
na participação da indústria na renda acusou uma melhoria na década 50/60
interna em relação à decada de 50. Na e um ligeiro declínio na década 60/69.
indústria nacional, embora ela tenha
quase dobrado sua participação a par- O valor da transformação sobre o pes-
tir de 1950, isto pou~ significa, pois a soal ocupado evoluiu, de modo cres-
atividade industrial da Região Norte cente, nos períodos considerados.
não pôde ainda compensar o descom-
passo em que se encontrava em rela- Baseado nas informações e dados dis-
ção a outras Regiões. Quando se anali- poníveis, pode-se tirar algumas conclu-
sa a evolução da participação do valor sões sobre a indústria da Região Norte.
da produção industrial da Região Nor·
te, no total do Brasil, verifica-se que o O parque industrial da Amazônia ori-
percentual é ainda muito baixo, infe- ginou-se de pequeno número de uni-
rior a 1% e pouco evoluiu no período dades semi-artesanais voltadas para
1950/69, exceção feita à indústria ex- elaboração primária da matéria-prima
trativa mineral, que passou de 0,41 e principalmente para o beneficiamen-
para 9,74% (Tab. 2). to da produção extrativa vegetal.

Tabela 2 Valor da produção industrial em relação à indústria do Brasil

ANOS 1950 1960 1969*

% da Indústria Total . . .... .... ............. .... 0,70 0,86 0,82


% da Indústria de Transformação . . ...... ....... 0,67 0,78 0,67
% da Indústria Extrativa .... .. ... .. . ........... 0,41 7,65 9,74

Fonte: IBGE - DEICOM: Censo Econ6mico, 1950; Censo Industrial, 1960; Produ~ In·
dustrial, 1969.
• Como o Censo de 1970 Ginda não foi divulgado, utilizou-se, numa tentativa de comparoçlfo,
os dados da Produção Industrial de 1969, por ser a única fonte disponlvel mais atualizada.
Contudo, as conclus6es podem estar distorcid4s em virtude de serem dados de uma amos·
tragem.

S96
Tabela 3 Valor per capita da Indústria (em Cruzeiros constantes •)

ANOS 1950 1960 1969

Valor da produçAo/populaçio total. ...... . .... . .. 0,37 0,69 0,98

Valor da tra.nsfonnaçAo/populaçio total ..... ..•... 0,18 0,41 0,38

Valor da tra.nsfonnaçio/pessoal ocupado ...... .. .. 19,39 52,31 77,17

Fonte: IBGE - DEICOM: Censo Econ6mico, 1950; Censo Industrial, 1960; Produção In-
dustrial, 1969.
• Dados deflacionados segundo indice de Conjuntura Econ6mica n .0 6, 1970; {ndice de 1949 =
100.

Em meados da década de 50 teve iní- 1.2 - Evolução do Pessoal


cio uma nova fase com a implanta-
ção de unidades fabris voltadas para Ocupado na Indústria
transformação industrial e mais diversi-
Ao observar-se o total do pessoal
ficada quanto aos setores. Isto se re- ocupado na indústria, nos últimos 20
fletiu no aumento não s6 dos per anos, nota-se ter ocorrido um sensível
capitas do valor da produção e do valor aumento no contexto regional, ainda
da transformação mas principalmente que sua contribuição seja muito fraca
no valor da transformação pelo pessoal no conjunto brasileiro.
ocupado que quase triplicou.
Apesar de, em números absolutos, os
Na década seguinte há uma implanta- economicamente ativos da Região Nor-
ção de estabelecimentos mais moder- te terem quase duplicado durante o
nos, advindos de Incentivos Fiscais. período 1950/70 (de 588 239 pessoas
Observa-se acentuado aumento no va- para 1. 009 641) sua participação no
lqr de transformação por pessoal ocu- total do Brasil manteve-se praticamen-
pado, o que é um indício do progresso te estável, pois de 3,43 em 1950, pas-
tecnológico. No entanto, em relação sou para 3,41 em 1970.
ao total da população da Região, hou- O pessoal ocupado nos estabelecimen-
ve até ' ligeiro declínio. Como o valor tos industriais da Região Norte cres-
da produção pela população total tàm- ceu no período 1950/69, passando de
bém acusou aumento apreciável, de- 16 442 para 26 549 pessoas, respectiva-
duz-se que o valor da produção cres- mente. Relacionando-se esses núme-
ceu bem mais do que o valor da trans- ros com o total de ressoas ocupadas
formação e que a população da Região na indústria do Brasi , o aumento cor·
cresceu bem mais do que a população responde a uma participação que era
ocupada nas indústrias. Na verdade, de 1,22 em 1950 e que passou para 1,27
os estabelecimentos mais modernos em 1969 .
são poucos ainda, em número absolu- No conjunto regional, esses números
to, para determinar maior alteração na refletiram um ligeiro decréscimo na
estrutura industrial da Região. A im- participação do pessoal ocupado na
portância relativa dos estabelecimen- indústria em relação ao total dos eco-
tos tradicionais e de pequeno valor nomicamente ativos da Região. Em
adicionado no total do valor da pro- 1950 o setor Secundário participava
dução ainda é grande. com 2,79 e em 1969 com 2,63 1 •
1.3 - Com posi~ão do Setor Entre os setores industriais que com-
põem a atividade secundária da Re-
Industrial gião, apenas alguns devem ser consi-
derados representativos como as in-
Mesmo tendo em vista a pequena im- dústrias extrativas mineral, a têxtil, a
portãncia da indústria da Amazônia alimentar, indústrias de beneficiamen-
no cenário nacional, cabe uma análi- to da produção extrativa (aqui repre-
se no seu perfil e nas mudanças que sentada pela borracha, madeira, cou-
ocorreram uJtimamente. ros e peles), as urbanas (mobiliário,
,.,
REGIAO NORTE
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

1950 1969

90 90

80 80

70

60

50

40

30

20

lO

o
PESSOAL VALOR PESSOAL VALOR
OCUPADO DA~ OCUPADO DA PRODUÇÃO

- IndÚstrias Urbanos

- Extrativo Mineral

--
~
~ Alimentar

Madeiro, Couros e Peles, e Borracho

Tê X t li

FIG. 1 D Outros
Ora. por Ayrton T.Aimodo

398
vestuário e calçado, bebidas 2, edito- no total industrial da Região. Entre os
rial e gráfica) e papel e papelão, que Gêneros que o compõem, o de bebidas
representam 73$ do valor total da in- sobressai pelo majc; alto valor de pro-
dustria. };; verdade que o setor siderúr- dução.
gico e o petrolífero vêm dando um
sentido de renovação à Região Norte; Muitos dos estabE>lecimentos não man-
no entanto, o primeiro ainda não figu- tém uma produção em grande escala,
ra em estatísticas e o segundo, por destinando-se esta principalmente ao
conter um só estabelecimento, o valor mercado interno. Trata-se de estabele-
da produção ainda é bem inferior aos cimentos que surgiram apenas em fun-
dos Gêneros acima mencionados. ção das necessidades dos núcleos urba-
nos em que se localizam. Os bens de
Para um exame do comportamento da- consumo imediato provenientes de ou·
Queles setores foram elaborados grá- tras Regiões chegavam a Região Norte
ficos com o valor da produção e pes- muito onerados pelo frete. Assim, os
soal ocupado, em números relativos produtos ora fabricados na Amazônia,
(nestes gráficos o Gênero papel e pa- dado que não tenham qualidade apri-
pelão foi incluído no setor urbano) . morada, conseguem suportar a concor-
A figura 1 mostra esta distribuição por rência dos r.:ongêneres de melhor qua-
setores, nos anos de 1950 e 1969, de lidade, ori~Jndos de centros longín-
modo que se pode avaliar alguma quos.
mudança nos últimos 20 anos na com-
posição da atividade industrial na
Região.
2 - FATORES E PROBLEMAS
Em 1950 as indústrias de produtos ali-
mentares e as de beneficiamento da DA IMPLANTAÇÃO
produção extrativa vegetal e couros e INDUSTRIAL
peles representavam 60$ do valor total
da indústria, enquanto que em 1969
elas contribuíam apenas com 38$. A 2.1 - As Fases Históricas
indústria têxtil triplicou a sua partici-
pação e a extrativa mineral, que em Em qualquer estudo sobre a Amazô-
1930 não atingia a 1% do valor total, nia devem ser considerados os aspec-
passou a figurar em 1969 com 19%. tos peculiares de seu quadro natural
Este fato, de tanto significado para a e ht,mano e os problemas que apre-
Região, se deve às novas indústrias senhlm para o desenvolvimento econ·
têxteis da juta, à exploração em grande nô~nico.
escala do manganês no Amapá e à Como fatores determinantes dessa rea-
exploração racional da cassiterita no lidade tem-se a imensidade do terri-
Território de Rondônia. tório para uma população pequena,
extensas áreas a serem desbravadas, a
Assim, ao mesmo tempo que se verifi- grande ·dist~cia que a separa das Re-
cou uma diminuição nas indústrias de giões mais dinâmicas do País, a po-
produtos extrativos da floresta, pre- breza de sua infra-estrutura econômi-
sencia-se a um novo renascimento do ca-social, a deficiência no fornecimen-
processo de extrativismo, baseado ago- to de energia elétrica, a desarticulação
ra nos produtos minerais e, como no interior quanto a seus próprios cen-
primeiro ciclo, este extrativismo é tam- tros, distantes entre si e separados por
bém todo destinado à exportação. vazios; e a limitação do mercado pelo
baixo poder aquisitivo da população
Quanto ao agrupamento de indústrias local.
"urbanas", apesar de cada um dos Gê-
neros que o compõem, isoladamente, Apesar das deficiências apontadas, a
não apresentar valores bastantes signi- Região apresenta riquezas naturais em
ficativos, merece atenção no seu con- potencial que, sendo transformados em
junto, dado a sua participação relativa bens exportáveis, poderiam repercutir

399
no sentido de um processo de dina- des perdas sofridas com e:rtrativismo
mização da economia regional . vegetal, desestimulando assim os in-
vestimentos na Região. Outro fato ne-
A implantação industrial vem obede- gativo era a deficiência das fontes
cendo, em suas linhas gerais: energéticas. O ressurgimento do setor
a) uma localização restrita a poucos industrial só veio ocorrer na década de
pontos, isto é, concentra-se em lugares 50 quando surgiram novos incentivos.
próximos do suprimento da matéria- Assim tem-se a instalação da Refinaria
prima vegetal ou mineral; de Petróleo de Manaus em 1956, que
veio resolver um dos problemas mais
h) nos centros urbanos que já possuem cruciantes da Região : o abastecimento
uma razoável estrutura de serviços . de combustível; a implantação da In-
dústria e Comércio de Minérios S.A.
A implantaçãç de indústrias iniciou-se (!COMI) no Amapá, em 1957 (época
na Amazônia em fins do século pas· da inauguração), que trouxe à Região
sado, visando, de um lado, a dar apoio várias contribuições em técnicas extra-
e completar as necessidades mais ime- tiva mineral modernas; e, em função
diatas da comercialização das matérias- do desenvolvimento da produção ju-
primas provindas do extrativismo flo- teira, a instalação de fábricas de fia-
restal e, de outro lado, à elaboração ção e tecelagem, junto à zona produ-
de bens primários de subsistência a tora, médio vale do Amazonas.
fim de atender à população dos centros
urbanos. Na década seguinte surgiram novos
fatores que vieram facilitar e dar apoio
Para o beneficiamento surgiram, em a esse ressurgimento industriaL tais
base semi-industrial, a lavagem e pren- como a melhoria da situação energéti-
sagem da borracha, a quebra da casta- ca, com a instalação de novas usinas
nha, a curtição do couro, a salga do termelétricas e a ampliação de algu-
peixe, o esmagamento das sementes mas já existentes, e a criação dos In-
para a extração dos óleos, o desdobra- centivos Fiscais.
mento e serragem das madeiras e ou-
tras. Estas indústrias se localizaram,
via de regra, junto às áreas de produ·
ção e nas duas capitais estaduais:
2.2 -A Indústria dentro da
Belém e Manaus. Economia Extrativa
As unidades fabris, voltadas para o Florestal
consumo regionaL que se localizaram
nos centros urbanos, eram pequert.as As matérias-primas provenientes do
unidades com maquinarias sem grande extrativismo vegetal vem apresentan-
complexidade, visando às necessidades do obstáculos à industrialização em
mais rudimentares do mercado local. virtude da irregularidade quanto às
São representadas por padarias, casas quantidades, à qualidade e às remes-
de torrefação e de moagem, fabrica- sas dos produtos a serem beneficiados.
ção de telhas, pedras para construção Por outro lado, as condições de vida
que, acompanhando as crises conjun- nas atividades extrativas vegetais são
turais da economia regional, estagna- demasiadamente penosas, não incenti·
vam. O pequeno mercado local não vando a fixação do trabalhador nessa
incentivou a modernização dos proces- ocupação. As atividades de coleta são
sos industriais de modo a dar-lhes con- abandonadas logo que surgem outras
dições de competir com as de outras oportunidades de trabalho. A evasão
áreas mais adiantadas. provoca, assim, insuficiência no supri-
mento de matéria-prima.
O desânimo que reinava acerca das
reais possibilidades da Região foi mo- Como exemplo pode ser citado o caso
tivado pelo peso, às vezes excessivo, da evasão de seringueiros em Rondô-
que era dado aos aspectos adversos do nia, motivada pela construção da Rodo-
seu quadro físico e também pelas gran- via Brasília-Acre ( BR 364) . Esta ro-
dovia, atravessando área de seringais, brica de artefatos de borracha locali-
possibilitou ao pessoal ali empregado zada em Belém. Já em 1965 o Regis-
erocurar ocupação em outras ativida- tro Industrial assinala a existência de
des como, por exemplo, na extração de 7 estabelecimentos de artefatos de bor-
cassiterita, onde os salários são pagos racha.
mensalmente.
O exame da tabela 4 mostra que a
Todos esses fatores vêm contribuindo posição da indústria da borracha, ape-
para que a implantação de uma indús- sar de não ser das mais importantes,
tria mais desenvolvida, baseada nos vem, recentemente, apresentando uma
produtos extrativos vegetais, não te- melhoria, tanto assim que a sua parti-
nha até hoje florescido na Amazônia: cipação no valor da produção da in-
dustria de transformação duplicou,
a) Borracha embora tenha havido decréscimo na
A principal motivação do desenvolvi- participação do pessoal ocupado. Isto
mento do extrativisdlo vegetal na Re- se deve provavelmente ao apareci-
gião prendeu-se à demanda de borra- mento de unidades realmente de trans-
cha no mercado mundial no fim do formação do produto no lugar das de
século 19 e inicio do atual. Em pouco simples beneficiamento.
tempo a borracha passou a ser o se- A indústria da borracha, no entanto,
gundo produto na pauta de exporta- não pode ainda oferecer perspectivas
ção do comércio exterior do Brasil e o de grande expansão, pois está limi-
sustentáculo de toda economia regio- tada pelo ritmo ainda insatisfatório da
nal, por vários anos, até a entrada dos produção do látex. Tanto os seringais
concorrentes asiáticos no mercado nativos como os das áreas plantadas
mundial. ainda apresentam uma série de proble-
A partir da segunda década desse sé- mas que têm resultado num declinio
culo iniciou-se uma queda continua e anual da produção da borracha.
insustentável da posição alcançada, Etn face destes problemas, o Governo
pelo produto, ocasionando o colapso Federal criou o -programa de Incenti-
de toda a economia regional. Como vo à Produção da Borracha Vegetal
reflexo desse colapso ocorreu um in- PROBOR 8 • Este programa visa à re-
tenso êxodo dos seringueiros para as cuperação de seringais nativos e a for-
capitais e de elementos das classes mação de novos seringais, a fim de me-
mais abastadas para outras Regiões . lhorar a produção e também a instala-
Esse êxodo assumiu proforções tais ção de usinas junto às áreas produto-
que a população regiona ficou prati- ras, utilizando novas técnicas de be-
camente estática entre 1920 e 1940 neficiamento do látex, com obtenção
( 1920: 1439 052 habitantes; 1940: de matéria-prima de melhor qualida-
1462420). de para a indústria de transformação.
No período áureo da borracha havia O Governo pretende com esta medi-
um desinteresse pela sua industrializa- da amenizar a situação contraditória
ção, pois a comercialização era feita que se observa no momento e que con-
por firmas inglesas que não estavam siste num progresso de indústria da
interessadas na compra de produto J.á borracha não acompanhado, num mes- •.
industrializado. ~sto explica o fato e mo ritmo, pela produção do látex.
predominarem, por muito tempo, na
Região, apenas unidades de beneficia- Apesar do Governo Federal ter tenta-
mento que consistiam numa simples do reativar a exploração de hévea atra-
lavagem, prensagem, laminação e re- vés de medidas isoladas (planos seto-
generação (essencial para sua venda), riais, programa de ação, política fi-
não se tratando, na realidade, de trans- nanceira, comissões de estudo) obteve
formação industrial propriamente dita. apenas resultados efêmeros e a borra-
No Censo de 1960 aparece, pela pri· cha, até hoje, não conseguiu retomar
meira vez, para um total de 22 unida- sua posição anterior nas economias re-
des de simples beneficiamento, urna fá- gional e nacional.

401
Tabela 4 Indústria da bo"acha e sua participação ~ total da indústria de
transformações da Amaz6nia

N'OMERO DE PESSOAL VALOR DA


ESTABELECI- OCUPADO PRODUÇÃO EM
ANOS MENTOS Cr$1.000

Participação Total Participaçlo Participaçlo


Total Total
% % %

1950 ........... 18 1,49 1.337 8,20 48 5,64


1960 .. ......... 23 1.27 782 4,27 561 6,07
1969 ........... 22 2,33 1.528 5,89 59 .905 l2,22

'
Fonte: IBGE-DEICOM: Censos Econ6micos, 1950 - 196() e Produçllo Industrial, 1969.

Contudo, a nova iniciativa governa- e uma tecnologia avançada no proces-


mental PROBOR, sendo uma me- so industrial.
dida setorial inserida num plano glo-
bal 4 de toda a economia da Região, Apesar da escassez destes últimos fa-
tem maior possibilidade de atingir seus tores, a Região possui, embora disper-
objetivos. sa, uma matéria-prima preciosa e
abundante, um transporte fácil e ba-
b) Madeira rato, pela presença de uma rede hidro-
gráfica densa e francamente navegá-
Embora a extração madeireira seja vel.
muito antiga na Região Amazônica
cingia-se a uma atividade extrativista Desde que seja introduzida a tecno-
de pura especulação comercial, dai sua logia moderna da indústria madeireira,
inexpressiva participação no setor Se- uma área de floresta pode ser explo-
cundário. · rada mais racionalmente, uma vez que
os vários materiais lenhosos podem ser
A falta de incentivos para o estabeleci- processados, pois se destinam a produ-
mento de instalações permanentes, ca- tos diversos como: lâminas de madei-
pazes de utilizar as madeiras da flo- ra, madeiras contraplacadas, madeiras
resta como base de um investimetno aglomeradas, chapas de fibras, cava-
lucrativo, era motivada pela deficiên- cos, celulose, papel, etc. Abriu-se as-
cia no fornecimento energético, maqui- sim um novo campo para a indústria
naria obsoleta e métodos inadequados madeireira da Amazônia. Contudo,
às explorações nos estabelecimentos já para uma exploração nestas condições
existentes . Em decorrência disso, es- é necessário elevado investimento ini-
tas indústrias, baseadas em investimen- cial e assim só grandes firmas podem
tos limitados e deficientes tecnicamen- entrar neste setor, destinando-se a pro-
te, extraíam apenas as árvores de alto dução principalmente para o exterior.
valor comercial, em terras devolutas. Destaca-se, entre as firmas implanta-
Pélra o estabelecimento de uma explo- das, a Compensa (Madeira Compen-
ração madeireira, em bases econômi- sada da Amazônia, Cia Agroindustrial),
cas mais estáveis, del'em ser conside- a Brazplac S. A. (Indústria de Ma-
rados uma série de problem~s regio- deira) e Bruynzeel Madeiras S. A. 4 A
nais tais como: a dispersão das espé- primeira localizada em Manaus, às mar- .
cies (numa exploração racional deve gens do rio Negro, tendo sido projeta-
haver utilização para todas as espécies da para produzir 360. 000 m3 de com-
abatidas), grande consumo de força pensados e 3. 000 m3 de faqueados,
motriz e calor (deficiente na Região) destinados principamente ao mercado
exterior. A segunda, localizada em quais a ma.Iona está localizada no
Belém, fabrica chapas e placas de aglo- hstado do Pará. A demanda mundial
merados de madeira. A terceira, a dos produtos madeireiros, de papel e
Bruynzeel Madeiras S.A. (Brumasa) de celulose vem se expandindo e os
representa o maior investimento investimentos, nesta área, darão mar-
aplicado na industrialização da ma- gem a lucros se a qualidade do pro-
deira na Amazônia. Ela se caracteriza duto for mantida em nível elevado.
pelo racional aproveitamento da maté-
ria-prima, isto é, pelo mais elevado ín- Presencia-se, atualmente, na Regiãt
dice de utilização de madeiras pobres. Norte a um grande desmatamento em
Este empreendimento resulta de dois duas frentes: uma para atender à in-
grupos empresariais: a !COMI, cujas dústria madeireira florescente e outra
atividades no Amapá já foram cita- para preparar áreas destinadas à agro·
das e a Bruynzeel, empresa holandesa pecuária. Assim, para uma ocupação
especializada na industrialização de mais racional da Região, é necessário
madeiras tropicais, terem se associado evitar desmatamento desordenado, com
para a implantação de uma fábrica perdas da matéria-prima. Para tanto
de compensados no Amapá. Inaugu- o planejamento e o controle dos pro-
rada no início de 1968, numa área jetos, ora em instalação na Amazônia,
de 16.000 m3, em Santana, junto do devem ser no sentido de não se pro-
porto de minério, foi dimensionada cessar uma dilapidação dos recursos
para uma produção anual de 24 000 ms naturais, com o rompimento do equilí-
e pode ser considerada uma das mais brio ecológico.
modernas produtoras de madeiras com-
pensadas do Brasil. Apesar de pos- c) Outros Produtos da Floresta
suir 224 370 hectares de área floresta] Após a queda da borracha foram fei·
e estarem em negociações para aquisi- tastentativas no sentido de conseguir
ção de novas áreas, prossegue na ini- outros produtos da floresta que pudes-
ciativa de adquirir toras de madeira sem sustentar a economia regional. To-
de fornecedores particulares . dos tiveram uma importância efême-
Os centros da atual indústria madei- ra e um resultado econômico pouco sa-
reira são: Belém e Manaus, mas há tisfatório .
também uma certa quantidade de es- Apesar das oleaginosas constituírem
tabelecimentos em localidades próxi-
um grande recurso natural da Região,
mas de Belém e da foz do Toç_antins em decorrência da qualidade e quan-
e na "região dos Furos". As serrarias,
de conversão primária da madeira, es- tidade das oleíferas, essa produção é
tão espalhadas nos povoados do inte- caracterizada por uma extrema insta-
rior ou ao longo das linhas de trans- bilidade em virtude da dispersão das
porte fluvial de mais fácil acesso à ma- espécies e do primitivismo das extra-
téria-prima ou aos mercados. ções. Isso faz com que alcancem pre-
ços baixos no mercado mundial de
Ainda que a participação da indústria matérias-primas. O beneficiamento des-
madeireira no âmbito nacional não
seja muito expressiva (3% do valor da tes produtos, dado as condições aci-
produção em 1969), na economia re- ma mencionadas, é muito rudimentar.
gional ela é responsável por 1~ do Dentre os produtos da floresta, que
valor da produção da indústria de vêm sendo beneficiados pela indústria
transformação. local, merecem ser mencionados a cas-
A importância deste setor para os pla- tanha-do-pará e o pau-rosa, planta
nos desenvolvimentistas pode ser ava- odorífera da qual se extrai uma essên-
liada quando se examinam os vários cia utilizada como matéria-prima na
projetos aprovados pela SUDAM, dos indústria de perfumaria.

40S
O comércio do pau-rosa, se bem que evoluindo do simples beneficiamento
especulativo, é valorizado. No entan- e prensagem para modernas unidades
to, para a indústria regional esse pro- de produção industrial e da zona pro-
duto não possui a mesma importlncia, dutora para os grandes centros Belém
pois sua extração primitiva e seu bene- e Manaus. Destacam-se, neste setor, a
ficiamento rudimentar determinam um Fabriljuta, recentemente instalada em
desperdicio na produção e na aplica- Parintins, no Estado do Amazonas, com
ção dos resíduos. As destilarias, sim- o apoio da SUDAM, BASA e BNDE.
ples barracões, são logo abandonadas, Dispondo do equipamento mais moder·
quando se esgotam as reservas da área no no gênero, quando atingir a ple-
de exploração e novas instalações são
constnúdas, quando outras reservas são nitude do funcionamento de todo o
encontradas. seu parque industrial beneficiará qua-
tro milhões de quilos de fibra por
A castanha-do-pará apresenta uma si- ano, o que corresponde, em média, a
tuação semelhante. Apesar de ocupar oito milhões de sacos. Tem-se ainda,
uma posição importante na balança co- entre outras, a Jutex (Cia. Brasilei-
mercial da Amazônia, sua industrializa- ra) localizada em Santarém, a Cia.
ção se restringe ao beneficiamento em Amazônica Têxtil de Aniagem (Cata)
usinas cujos trabalhos se limitam à sediada em Belém, e a Cia. de Fiação
época das safras. e Tecelagem de Juta de Santarém S.A.
b) A malva, planta ruderal, com a
2.3 - A lndustrializa~ão dos descoberta do valor de suas fibras, pas-
sou a ser cultivada e utilizada indus-
Produtos Agrícolas trialmente. Com fibras mais longas e
resistentes do que outras similares, ela
O setor agrícola de produção da maté- vem se impondo no mercado de fia·
ria-prima para a indústria, represen- ção e tecelagem.
tado principalmente pela juta, malva e
pimenta-do-reino, pode ser considera· c) A pimenta-do-reino, introduzida
do como um dos responsáveis pela re- na Amazônia pelos japoneses, vem
cuperação da economia da Região Nor- apresentando resultados satisfatórios
te. Inicialmente, sua produção era no quadro econômico regional. A sua
destinada à exportação, mas os exce- industrialização, mesmo em fase ini-
lentes resultados dessas culturas moti- cial, já apresenta boas perspectivas de
varam a industrializá-las na Região. expansão.
Como os projetos agropecuários são
altamente prioritários na política do
desenvolvimento econômico regional, 2.4 - Planos e Organismos
é de se supor que daqui para frente para o Desenvolvimento
as indústrias, baseadas nesses produ- da Amaz&nia e o Surto
tos, deverão ter uma posição de des-
taque no parque industria do Norte: Industrial Decorrente dos
a) A futa tomou-se um dos princi-
Incentivos Fiscais
pais produtos da economia regional e As primeiras tentativas governamen-
embora sua industrialização não atinja tais de promover o crescimento regio-
aos índices desejados é um setor que nal tiveram como objetivo reativar o
vem apresentando apreciáveis progres-
extrativismo, principalmente o da bor-
sos e traduz a capacidade empresarial
da Região. racha e tendo em vista o marasmo até
então dominante na Região.
Os estabelecimentos industriais locali·
zados inicialmente perto da matéria- Enquanto as iniciativas governamen-
prima (vale médio do Amazonas) vem tais se colocavam como defensoras e
promotoras do beneficiamento da ma- O Governo Federal estabeleceu novos
téria-prima, não se obtinham resulta- incentivos especiais para a Amazônia
dos satisfatórios, daí sentir-se a neces- ocidental, reestruturando a legislação
sidade de planos globais. referente .a Zona Franca de Manaus e
criando a SUFRAMA - Superinten-
A transformação da antiga SPVEA na dência da Zona Franca de Manaus -
atual Superintendência do Desenvolvi- como órgão coordenador dos progra-
mento da Amazônia ( SUDAM ), a mas dessa área.
transformação do Banco de Crédito da
Amazônia ( BASA) num banco de A Zona Franca de Manaus situa-se à
desenvolvimento, com atribuições mais margem esquerda dos rios Negro e
amplas, e a criação da Zona Franca de Amazonas numa área de aproximada-
Manaus representaram uma tomada de mente 10 000 km2, englobando a cida-
posição do Governo frente aos proble- de de Manaus e quase a totalidade do
mas da Região. município do mesmo nome.
Através da isenção de impostos o Go- :E: uma área de livre comércio de im-
verno vem promovendo uma campa- portação e exportação e de Incentivos
nha para ativar a participação de todo Fiscais especiais estabelecida com a fi-
empresariado nacional que se manti- nalidade de criar, no interior da Ama-
nha indiferente ou cético na potencia- zônia, um centro industrial, comercial
lidade da Região. e agropecuário dotado de condições
econômicas que permitam seu desen-
O sistema de Incentivo criado em volvimento em face dos fatores locais
1963 em favor da Região foi amplia- e da grande distância em que se en-
do, aperfeiçoado e reestruturado nos contram os centros consumidores de
anos subseqüentes. seus produtos 7 •
Os Incentivos Fiscais, além do afluxo Pela importância do investimento deve
de recursos que vem proporcionando se salientar, dentre as indústrias locali-
à Região, serviram de veículo ao em- zadas na Zona Franca de Manaus, a
presariado local, no sentido de receber SIDERAMA que, apesar de anterior a
uma experiência industrial de áreas criação da Zona Franca, passou a go-
mais adiantadas (Sudeste e Sul), na zar dos favores fiscais dessa área. Nu-
fonna de maquinarias e técnicas mais merosos projetos industriais foram
modernas. aprovados muitos dos quais já estão
implantados e outros em vias de con·
Inicialmente os recursos oriundos dos clusão. 8
Incentivos Fiscais foram totahnente
aplicados em empreendimentos indus- Alguns se relacionam à matéria-prima
triais 11 • Já em 1966, quando a SUDAM local como a Agro-Industrial de Ma-
tornou-se o órgão responsável pela co- deira S. A. ( Agrinsa). Em valor de
ordenação dos investimentos, houve investimentos sobressai a Cia. Indus-
uma mudança de orientação e os capi- trial Amazonense que processa a cassi-
tais foram também dirigidos para ou- terita para a exportação. Outras estão
tros setores 6 • relacionadas à indústria de bens de
consumo, como a Antex S. A. ( Admi-
Assim, a SUDAM, ao mesmo tempo nistração, Comércio e Indústria de
que vem orientando os recursos dos Confecções), a Raymond (Indústria de
incentivos ao setor industrial para a. Roupas S.A.), a Refrigerantes da Ama-
instalação de novas unidades fabris e zônia, a Sharp de produtos eletrônicos
a remodelação de algumas das já exis- e outras como a Semp, já instalada no
tentes, atualmente também libera re- Distrito Industrial que, para a mont:\-
cursos de vulto para outras atividades gem de seus televisores, utiliza um sis-
produtivas. tema de trabalho semi-artesanal e por-
tanto precisa de mão-de-obra abundan- ção de boa parte de seus produtos ex-
te e barata. trativos e agropecuários e para a aqui-
sição de bens de consumo.
Preenchendo lacunas, que se fazem
sentir na Região, tem-se a Estanave
(Estaleiros da Amazônia S.A.), Co-
marsa Motores Diesel S. A. ( Modie- 3 - A DISTRIBUIÇÃO
sel) montagem de motores na pró-
pria Região, proporcionando melhores ESPACIAL DA ATIVIDADE
condições à aquisição de tais equipa- INDUSTRIAL DE
mentos e a J. A. Castro & Cia., Fá- TRANSFORMAÇÃO E DA
brica Cometa (embalagens) .
MINERAÇÃO
Além disso existem outras indústrias,
como as de jóias, perucas, ouros odon-
tológicos, etc. que aproveitam a mão- 3.1 - Centros de Atividade
de-obra barata e as vantagens dos in- Industrial de
centivos especiais daquela área, a fim
de produzir a baixo custo e colocar Transformação
seus produtos no mercado nacional,
com vantagens de concorrência. A atividade industrial não tem uma
grande expressão econômica na Região
Merecem especial destaque os projetos Norte e o pouco que existe concentra-
aprovados de modernização das indús- se nas capitais: Belém e Manaus, que
trias já existentes na área, entre elas já possuíam uma infra-estrutura de
a Cia. de Petróleo do Amazonas - transporte, de energia, organismos de
COPAM; a Fiação e Tecelagem de Tu- crédito, uma rede comercial estabele-
ta S.A. (Fitisul), Madeiras Compen- cida, facilidade de obtenção de mão-
sadas da Amazônia Cia. Agroindustrial de-obra e um mercado consumidor
(Compensa). mais amplo.
A SUFRAMA planejou, dentro de sua Nota-se na Amazônia um descompas-
área, a zona industrial com o forneci- so econômico muito grande entre Be-
mento de energia a cargo da Cia. de lém e Manaus e os outros centros da
Eletricidade de Manaus, subsidiária Região, pois estas duas cidades se
da ELETROBRÁS, que utiliza com- constituíram em empórios comerciais
bustível fornecido pela refinaria local sustentados pelo monopólio que pos-
e três usinas auxiliares a diesel suíam da borracha silvestre e manti-
nham assim toda a área de produção a
O sistema de franquias especiais foi elas vinculadas, em virtude dos inte-
estendido às cidades de Porto Velho, resses comerciais . Essa situação fez
Boa Vista e Rio Branco, além de 16 com que elas centralizassem todo o in-
postos de localização disseminados por tercâmbio da Região com o resto do
várias cidades . mundo, permitindo assim a formação
de uma infra-estrutura de serviços des-
De modo geral, tóda a legislação pro- mesurada em relação ao resto da Re-
gramada para a Amazônia tem trazi- gião.
do uma variedade de indústrias e um
estímulo às atividades urbanas. Ao No ano de 1969 esses centros geraram
analisar os projetos industriais, já im- 76% do valor da produção industrial
plantados, pode-se observar, pelos Gê- de toda a Região e concentravam 64%
neros escolhidos, uma tendência parà do pessoal ocupado no setor Secundá-
reforçar, ainda mais, a posição dos dois rio 9 • Ao examinar-se a importância
pólos econômicos da Região: Belém e dessas duas capitais em relação aos
Manaus, pois toda a Região continua- Estados verifica-se que o grau de con-
rá a depender deles para a transforma- centração de Manaus é maior, com

406
90$ do valor da produção, 80% do pes- sóleos para craqueamento) e de con-
soal ocupado e 60$ dos estabeleci- centração de gases.
mentos industriais.
Ainda que o consumo de derivados se-
ja pequeno na Região Norte, em re-
3. 1. 1 -Manaus lação as outras áreas, devemos levar
em conta que a energia elétrica da
Capital regional da Amazônia ociden- Amazônia provém de usinas térmicas
tal, tradicionalmente um empório co- e que o aumento do transporte, em vir-
mercial de matéria-prima regional, tude da implantação de novos eixos ro-
vem, a partir do final da década de 50, doviários, vem consumindo quantida-
lançando-se à implantação de indús- des sempre maiores de combustível.
trias.
Também Manaus detém a primazia de
Apesar de o Estado do Amazonas ter possuir a primeira indústria siderúrgi-
contribuído com 33% do valor da pro- ca de toda a Região Norte- A SIDE-
dução da Região Norte, em 1969, é em RAMA. Considerada um marco no pro-
Manaus que estão localizados empre- cesso de desenvolvimento da Amazô-
endimentos que talvez sejam os mais nia, foi constituída como empresa, em
significativos para a estruturação de 1961, a fim de construir uma usina em
uma economia regional, como a Refi- Manaus destinada a suprir de perfila-
naria de Petróleo, a SIDERAMA e a dos de aço toda a Região Norte e par-
Cia. Industrial do Amazonas. Os dois te do Nordeste.
primeiros constituem indústrias de ba- A presença de um mercado precaria-
se com finalidade de suprir a necessi- mente abastecido e a existência na
dade do consumo regional. área de matérias-primas necessárias
ao abastecimento da usina justifica a
Entre os Gêneros industriais que com- sua implantação. Assim, o ferro é pro-
põem o setor Secundário de Manaus, veniente das jazidas de Jatapu ( AM),
apenas quatro se destacam atualmente o calcário do Monte Alegre ( PA), e
pelo valor da produção: química, ali- carvão da reserva florestal do igarapé
mentar, têxtil e borracha, pois repre- Araras, o óleo da COPAM e a energia
sentam, em conjunto, 73% do total. elétrica da Cia. Elétrica de Manaus.
Dentre estes sobressai o ramo da in- Quanto ao transporte ela está numa
dústria química com a Refinaria de situação privilegiada, pois situada às
Petróleo de Manaus, responsável pela margens do rio Negro conta com a via
maior parcela do valor industrial do fluvial para o transporte da matéria-
ramo químico na Região. prima e dos produtos acabados.
Criada em 1956, constitui um dos pou- A construção da usina foi iniciada em
cos empreendimentos de vulto, oriun- 1967 e em 1972 foi lançada a primeira
do de capital regional, com a finali- linha de produtos o ferro gusa, des-
dade de abastecer não só a Região tinado à· exportação; e posteriormente
como parte do Nordeste. Em 1972 a entrariam em funcionamento a lamina-
PETROBRÁS passou a ter controle ção e a aciaria. A usina tem capaci-
acionário dessa refinaria e com isso dade para produzir 60. 000 t de gusa
pôde ampliar sua produção, pois com por ano, a aciaria 60. 000 t de palan-
o crescimento da procura de energé- quihas de aço e a laminação 54.000 t
ticos ela se tomou insuficiente. Opera de produtos diversos. A área total
construída é de 46.000 m2, abrangen-
com 9 000 barris de óleo, com pe- do todo complexo de produção: ofici-
tróleo que vem da Venezuela, sendo nas, depósitos de matéria-prima, siste-
descarregado no próprio porto da re- ma de carga e transporte interno, com-
finaria à margem esquerda do rio Ne- plexo do alto fomo, aciaria, laminação,
gro. Suas instalações constam de três alojamentos e escritório. Possui um
unidades: de fracionamento (unidade porto flutuante próprio funcionando o
de cru), de vácuo (preparação de ga- ano inteiro. O quadro de seu pessoal
prevê um total de 1.150 empregados, cha, a 2.a em valor da produção, em
quando a usina estiver em plena capa- Manaus forma o setor básico mais
cidade, assim distribuído: administra- importante; seguem-se a química, ali-
ção, produção industrial e os ocupados mentar, madeira, têxtil e outras em
no suprimento de matérias-primas. Só menor proporção ( Fig. 2).
a usina, quando estiver totalmente
pronta, ocupará 630 homens.
3. 1.2 - Belém
Outros aspectos relativos à renovação
da ativitlade industrial em Manaus já Localizada na entrada do grande eixo
foram tratados nos capítulos anterio- econômico, vale do rio Amazonas, a
res . Utilizando cálculos indiretos para cidade de Belém tomou-se o mais im-
definir atividades básicas e não bási- portante centro dessa área. A posição
cas 10 dos centros urbanos, tem-se Ma- geográfica, aliada à função portuária
naus com 70$ do valor industrial para e a de entreposto comercial, determi-
nou a supremacia de Belém em rela-
exportação, indicativo de seu papel de ção aos demais centros da Região, tor-
centro voltado para a economia regio- nando-a Metrópole Regional.
nal e nacional e também da importân-
cia que ainda alcança a exportação de Resulta ser Belém a principal concen-
produtos de matérias-primas tradicio- tração de atividades industriais da Re-
nais. Com efeito, a indústria da borra- gião Norte. Atualmente essa situação

REGIÃO NORTE
DIMENSÃO DE CENTROS INDUSTRIAIS
Setores Básicos e n<lo Bósicos das Indústrias
Valor do ProduçCo Industrial

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408
de entreposto comercial .e de Metró- Ao analisar-se a estrutura industrial de
pole se encontra reforçada pelo fato Belém, nota-se que sobressaem as in-
de a cidade ter sido alcançada por um dústrias alimentares, o que deve estar
outro eixo de circulàção, a Rodovia Be- relacionado, em parte, ao crescimento
lém-Brasília. No Pará o setor Secun- populacional da cidade, a têxtü e a de
dário é um pouco mais disperso do produtos de perfumaria. Cumpre sa-
que o do Estado do Amazonas, embo- lientar que a indústria têxtil com 5 es-
ra Belém contribua com os altos índi- tabelecimentos consegue um valor de
ces de 80% do valor da produção, 66$ produção apenas superado pela indús-
do pessoal ocupado e 45% do número tria de produtos alimentares que con·
de estabeleçimentos. Naquele Estado ta com 105 estabelecimentos. Confor-
tem-se a presença de cidades de certa me já foi explicado, o parque indus-
categoria. Ao examinar-se o Censo de trial têxtil do Norte é formaao por in·
1950, porém, verifica-se que a disper- dústrias novas que empregam técnicas
são já fora bem maior, pois Belém modernas.
concentrava apenas 32% dos estabele-
cimentos, 63% do pessoal ocupado e O crescimento da própria Metrópole
75% do valor da produção. absorve boa parte da produção indus-
trial; o setor básico da aglomeração
Com efeito, a partir de 1964, com o formada por Belém e Ananindeua, esta
advento dos Incentivos Fiscais, a in- última seu subúrbio, foi estimado em
dústria recebeu novos estímulos e vá- 36% da produção industrial, abrangen-
rios empreendimentos novos fQram im- do os Gêneros alimentar, perfumaria,
plantados. Contudo, houve uma prefe- bebidas, borracha e fumo. Deve ser re-
rência marcante por Belém, que era a lembrado que os dados utilizados para
cidade mais bem dotada em termos de estas estimativas são de 1969, quando
infra-estrutura. Em Belém se instala- novos setores, implantados recente-
ram, entre outras, a Vip (Vidros Indus- mente, não figuraram nas estatísticas
triais do Pará S.A. ) que se propõe a de produção de forma expressiva.
produzir 10 000 t de vidros comerciais,
trabalhando 24 horas por dia; Cibra-
3.1.3 - Outros Centros
sa (Cimento Brasil S. A. ) com um in-
vestimento total projetado de ..... . Além dessas cidades acima referidas,
Cr$ 48 315 6li,OO, também em re~­ são muito poucos os centros urbanos
me de 24 horas por dia, produ?Jndo com alguma expressão no setor Secun·
cerca de 350 t de cimento por ano, dário.
atingindo o mercado regional e nacio-
nal; Azpa (Azulejos do Pará S. A. ) no No eixo Belém-Bragança, além de
krn 8 da Rodovia Belém-Ananindeua, Ananindeua, que faz parte da Área Me-
indústria destinada ao fabrico de azu- tropolitana de Belém, onde vem se ins-
talando grande parte das novas indús-
lejos de alta qualidade, com uma pro- trias,. destacam-se, no setor industrial,
dução estimada de 720 000 m2 de azu- as cidades de Capanema, Castanha! e
lejos em cores e decorados; Ge'ar S. A. Benevides. Dentre os empreendimentos
(Indústria Alimentícia) destinada à mais importantes desta área tem-se a
fabricação de sorvetes, com sede em Fábrica de Cimento de Capanema e a
Belém e com um investimento total Fábrica da Cia. Têxtil de Castanha]
da ordem de Cr$ 5. 223. 860,00 dos que produz 1 000 000 metros de telas
quais Cr$ 3.100.135,00 provêm dos In- de juta mensalmente.
centivos Fiscais. Assim, Belém foi a
porta de penetração de elementos mo- Na região de "Furos e Ilhas" tem-se
demizantes, reforçando a sua posição atualmente um grande desenvolvimen-
de centro ma~. dinâmica da Região. to do setor madeireiro, onde se desta-
Verifica-se ainda que também no caso cam Breves, Muaná e Porte). Nesta
de Belém uma série de novas fábricas última instalou-se uma das três fábri-
se destina a suprir, em grande parte, cas mais modernas de Jaminados e
o mercado regional. compensados da Amazônia.

409
No vale médio do Amazonas tem-se O interesse pelos minerais vem cres-
Itacoatiara ( AM), que se converteu cendo singularmente, como provam os
em centro têxtil especializado da Re- dados relativos à participação do valor
gião, apoiado na produção juteira des- da produção mineral na indústria to-
sa área. Numa aplicação do coeficien- tal da Região, que passou de 8% em
te de localização 11, considerando-se o 1950 para 11% em 1960, e finalmen-
Brasil como conjunto, Itacoatiara apa- te 19% em 1969. No âmbito nacional
esse incremento, conforme já foi visto
rece como o único centro da Região no início do trabalho, se toma mais
Norte de coeficiente expressivo no Gê- expressivo, pois essa atividade que re-
nero têxtil. O seu índice aliás é um dos presentava apenas em valor da pro-
mais elevados do Brasil, 7,38 (veja dução 0,41% em 1950, passou a rerre-
Fig. 3) . ltacoatiara figura com setor sentar em 1969 quase 1~ do tota do
básico de 68% que inclui também a Brasil. · Assim, cabe observar o com-
madeira. Rio Branco possui setor bási- portamento do setor nas últimas déca-
co de 59% concentrado na borracha, in- das:
dústria na qual o centro possui coefi-
ciente de localização muito elevado, de Examinando-se as tabelas 5 e 5-A veri-
fica-se que o setor apresentou um au-
32,50. Também em Santarém o setor mento da produtividade e mudança na
da borracha apresenta elevado coefici- sua estrutura, pois ocorreu um acréSci-
ente 23,90, sendo praticamente o setor mo muito grande no valor da produ-
básico do município (o coeficiente de ção, não acompanhado nem pelo núme-
localização mais elevado na indústria ro de estabelecimentos nem pelo pes-
da borracha pertence a Ananindeua, soal ocupado. Isto se justifica pela uti-
com 38,9). lização de técnicas e recursos modernos
empregados pela Icomí na explora-
ção do manganês no Amapá. Quanto
3.2 - Centros de Mineração ao pessoal ocupado, o grande acrésci-
mo, em 1960, .deve-se ao pessoal de
A Amazônia é uma das Regiões do País obras, uma vez que, neste ano, a
mais ·hem providas de recursos mine- !comi ainda estava em fase de ins-
rais, mas a mineração ainda é uma ati- talação e necessitou, para a implanta-
vidade subsidiária. A enorme extensão ção do seu complexo industrial, de
da Região e outras peculiaridades muitas obras complementares. Já em
da mesma foram sempre empecilhos ao 1969 o pessoal computado foi, em sua
con~le e coordenação dos estudos, maior parte, o que realmente estava li-
aos projetos e à pr6pria atividade mi- gado às atividades de exploraÇão mi-
neradora. neral.

0
Tabela 5 lndtlstri<fextráiiva mineral

Pessoal
CrS 1.000
ANOS
N.• de Estabe- Ocupado
Valor da
B/A
lecimentos Produção
(A) (B)

1950 .. .... . ... 4 134 4 29


1960 .. ........ 6 1.831 190 104
1969 .. . .. ..... 11 596 685 1.149

Fonte: IBGE·DEICOM: Censos Econdmicos e Industrial, 19$0 - 196Q; Produção Indus-


tri(d, 1969.
• Dados deflaaonados segundo índice de Conjuntura Econdmica n.0 6, 1970; indice de 1949 =
100.

410
Ainda que se abram muitas perspecti- de porte, como a construção de uma
vas quanto à núneração na Região estrada de ferro com 200 km de ex-
Norte, face aos programas de prospec- tensão, eficiente porto de desembar-
ção e mapeamento, atualmente es~o que, vilas residenciais e várias insta-
apenas em produção significativa os lações e obras de apoio à área indus-
minerais: manganês e cassiterita . trial. As pesquisas das jazidas da ser-
ra do Navio foram uma das mais com-
O manganês, explorado somente no pletas, no gênero, para a época, já
Amapá, correspondeu a 84$ da produ- realizadas no Brasil, com levantamen-
ção nacional em 1969, enquanto que to topográfico de 2. 500 ha de área e
a cassiterita, extraída nos Territórios meticulosas análises químicas das
de Rondônia e Amapá, contribuiu, no amostras.
mesmo ano, com 92$. A exploração do manganês, no Amapá,
trouxe transformações essenciais à
área, todavia a maior parcela dos bene-
3.2.1 -Amapá fícios advindos dessa atividade foi ab-
O Amapá é o maior produtor nacio- sorvida pela economia nacional ( divi-
nal de manganês, totalizando 1 428 049 sas) e não pela regional. O manganês
t em 1969, no valor de Cr$ 98 335,00 ocupa, na obtenção de divisas, o 11.0
lugar entre os produtos brasileiros ex-
destinando-se à exportação. portados, segundo os dados estatísticos
A exploração é feita pela Indústria e de 1970.
Comércio de Minérios S. A. - I comi Macapá figura assim com setor básico
- (do Grupo Caemi ) que presente- de 96$, concentrado na produção mi-
mente ingressa em nova fase com a neral (coeficiente de localização de
implantação de uma fábrica de peleti- 58,2) . No entanto, mais recentemen-
zação que aproveita rejeitas finos com te, vem se desenvolvendo a indústria
alto teor mineral. Este investimento madeireira, como foi visto noutro lo-
trouxe, pela primeira vez, à Região, vá- cal, sendo o coeficiente de localização
rios aspectos de técnicas extrativas mi- para este produto de 33,65.
nerais modernas. Todas as operações
de extração, transporte, embarque do
minério são realizadas com máxima 3.2.2 - Rondônia
eficiência. A exploração da cassiterita começou
em Rondônia, com garimpagem, em
As primeiras amostras do manganês 1958, mas o isolamento em que se
foram encontradas na região central achava aquele Território, os métodos
uo Território, numa área em plena ma- primitivos de extração e a ausência de
ta, visitada apenas por garimpeiros e empresariado competente impediram
exploradores. Realizados os trabalhos o desenvolvimento dessa atividade
de prospecção verificou-se que a im- (Tab. 5-A).
portância da jazida exigia empreen-
dimento de vulto . A Icomi ganhou a Quando foram feitos os estudos e as
concorrência da exploração e iniciou análises dessas reservas e aquilatadot
na Região a execução de um investi- de modo mais preciso o seu potencial,
- mento considerável, em obras de gran- a exploração passou a ter economici-

Tabela 5-A Produção de Cassiterita em Rondónia


ANOS 1059 1060 1061 1062 1068 1064 1965 1966 1967 1968 19119
-- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Prodnçlo (t) . .•....•... 18 49 49 678 1.038 2 .818 2 . 459 2.035 2 . 23!1 2.505 2 . 818

Fonte: IBGE: .Anudrio Estat{stico do Brasil, 1959 - 69.

411
dade. Companhias mineradoras com computada convenientemente em sua
capitais mistos aí se estabeleceram e a quantidade e valor e assim medir sua
exploração passou a ser racional. contribuição na economia da Região.
Quando a Rodovia Brasília-Acre al- A mais importante ocorrência aurífera
cançou Porto Velho, em 1965, facilitou é a do Tapajós e seus tributários da
as comunicações e deslocou parte da margem direita, onde se desenvolve
população que se dedicava à coleta de uma atividade mineradora, atualmente
borracha, na floresta, para a extração responsável pela maior parcela do va-
da cassiterit~. lor da produção desse mineral.
A Companhia Industrial da Amazônia O diamante é explorado rudimentar-
foi constituída pela fusão dos maiores mente no Tocantins e em Roraima
produtores nacionais de estanho 12, a (Fronteira da Venezuela com a Guia-
fim de processar a redução do miné- na), por garimpagem e escafandro.
rio de Rondônia. A sua localização Contudo essa produção é expressiva e
em Manaus foi motivada pelos benefí· de boa qualidade.
cios fiscais que esta área oferece e pe-
las vantagens de poder contar com um
porto internacional e com uma infra-
estrutura de serviços já estabelecida. 4 - RESERVAS
Operando em instalações provisórias
O Governo Federal recentemente vem
(usina piloto}, sua produção prevê a
dando grande ênfase a pesquisa siste-
fundição de minério e a preparação
mática de minérios. Neste campo o
de ligas, com capacidade instalada de
programa mais arrojado é o Projeto
produção de estanho metálico de or-
Radam (Radar da Amazônia), atual-
dem de 8.000 t anuais.
mente em fase adiantada, que repre-
Atualmente o Território de Rondônia é senta um passo fundamental no co·
responsável por 91.% da produção bra· nhedmento do subsolo brasileiro.
sileira e deve ser considerado centro Consistindo no mapeamento aéreo de
especializado em extração mineral uma área de aproximadamente meta-
(coeficiente de 58,1%) dentro do qua- de do Território Nacional, tem como
dro nacional ( fig. 3) . Até 1969 o Bra- finalidade fornecer dados básicos das
sil importava cassiterita e já em 1970 nossas riquezas naturais, em tempo re-
o Brasil passou a exportador desse mi- corde, com uma margem de erro bem
neral. pequena e sem grande interferência
de condições atmosféricas e meteoro-
lógicas. Além do levantamento aero-
3.3- Áreas de Garimpos fotogramétrico o projeto vai elaborar
mapas de geologia, hidrografia, geo-
Tem-se, ainda, com referência aos mi- cartografia, uso potencial da terra, so-
nerais em exploração, o ouro e o dia- los e florestas.
mante. Na Região essa atividade, ape-
sar de muito antiga, sempre foi reali- A Companhia de Pesquisa de Recursos
zada por métodos empíricos, só atin- Minerais ( CPRM) contratou o servi-
gindo às aluviões mais ricas e de mais ço de duas empresas especializadas
fácil acesso, tendo por isso rendimen· para execução de vôos controlados da
to baixo. terra, revelação, ampliação das fotos
e construção dos mosaicos. A interpre·
As próprias çaracterlsticas da ativida- tação está a cargo do Projeto Radam
de de garimpagem - aventureira e de- propriamento dito.
sordenada - o isolamento das áreas
produtorai, tomaram essa atividade, Com todos esses planos e recursos o
que é tão largamente praticada em Governo espera transformar a minera-
toda a área, sem condições de ser ção num ponto básico de apoio à po-

412
Htica desenvolvimentista. Já, atualmen- 4.3- Capanema e Monte
te, quase 50$ da totalidade dos pedi-
dos de exploração mineral feitos no Alegre
Brasil a CPRM se destinam à Amazô-
nia. Entre os recursos minerais já cons- A ocorrência dos maiores jazimentos
tatados e que oferecem perspectivas de de calcário encontra-se nos municípios
alto significado econômico tem-se o de Capanema e Monte Alegre no Pa-
ferro, o sal-gema, o calcário e a bau- rá. O calcário de Capanema alimenta
xita. a fábrica de cimento que ali está fun-
cionando desde 1968. O de Monte Ale-
No tocante às reservas de ferro, são gre, de propriedade da SIDERAMA,
duas as áreas importantes: a serra dos localiza-se na serra do ltajauari, cuja
Carajás e o distrito ferrífero do rio Ja- reserva parece oferecer melhor pers-
tapu. pectiva.

4.1 - Serra dos Caraiás 4.4 - Nova OI inda


As reservas da serra dos Carajás loca- A PETROBRÁS, em suas prospecções
lizam-se na região do médio Tocantins, na área de Nova Olinda, constatou es·
no sul do Pará; sua formação ferrífera pessas camadas de sal-gema, anidrita
é a magnesita, com teor de ferro de e calcário numa grande área entre os
65%, tratando-se das maiores reservas rios Purus e Tapajós. A exploração
já dimensionadas. Encontram-se em dessa bacia terá grande importância
fase pré-exploratória e em estudo para a economia regional, uma vez que
quanto sua viabilidade econômica por fornecerá matéria-prima essencial à
uma companhia de capitais mistos 13 indústria de álcalis.
(nacionais e estrangeiros) . Para uma
boa rentabilidade na exploração do
minério, é necessário um investimento 4.5 - Serra de Oriximiná
de grande vulto, uma vez que esta área
é de difícil acesso, sem nenhuma infra- A Amazônia figura como uma das Re-
estrutura sócio-econômica, necessitando giões mais promissoras quanto aos de-
de grandes instalações suplementares e pósitos de bauxita.
obras de apoio à área industrial. Uma De suas reservas, as localizadas na
ferrovia unirá a serra ao porto de lta- serra de Oriximiná, nas cabeceiras do
qui, em São Luís do Maranhão, uma rio Trombetas, norte do Pará, será ex-
vez que a maior parte da exportação plorada, segundo acordo já firmado,
será para o mercado externo 14 • Em pela Vale do Rio Doce e pela ALCAN,
Itaqui deverá ser constru!da também sendo que o escoamento do mineral
grande usina de aço. será feito pelo próprio rio que possui
boas condições de navegabilidáde.
Em Belém uma usina de beneficia-
4.2 - Distrito Ferrífero de mento produzirá alumina ideal para
Jatapu exportação. Para este investimento está
prevista uma produção de 600 mil a
O distrito ferrífero de Jatapu, locali- 1 milhão de toneladas anuais.
zado a 500 km de Manaus, entre os Sem contar os inúmeros recursos mine-
rios Jatapu e Nhamundá é uma for- rais em fase de pesquisa, a Amazônia
mação extensa de hematita colítica. já pode ser considerada como um pólo
Está sendo explorado na área de con- de mineração. Assim os estudos e pros-
cessão da SIDERAMA, constituída pecções já efetivados permitem pre-
aproximadamente de 500 ha de terras, ver que a mineração venha se tornar
onde os trabalhos são realizados a céu uma das atividades mais dinâmicas da
aberto. Região.

418
Tabela 6 Estimativa de setores básicos na atividade industrial 0 de algum
municípios

(A) (B) (C) {0) (E) (F)


C~NTROS E Valor da Valor c-
O JliEROS DE Teórico A-B
ProduçAo Eatimado c c c
IND!rSTRIA (em 1.000 {em
CrSl 1.000
Setor
JW.j~o
D --100
A
E • --
:EC
100 F - - 100
2: A
CrS) Eatimado

SEL~M- A."'iANrNDEUA

Borracb1>....•.... •
Couroa o Pele• .....
Perfumaria. •...... .
14. 728
1.920
17. 368
6.019
1.232
~.252
8 . 709
1\88
13. 116
59,1
35,8
75,5
11,6
0,11
17.4
"·'
0,3
6,2
Têxtil. .......... . . 29.344 26.676 3.668 12,5 4,9 1,7
Aliment&r ...•.•.... 63.576 35.584 27.1K'2 H,O 37,1 13,3
Bebidas.......... •. 17.262 6.008 11.164 64,7 J4,8 11,3
Fumo ........... .. . 11.068 3.2112 7 . 786 70,3 10,3 3,7
Ed. e Gráfica .. . . 8.967 11.687 2.280 25,4 3,0 1,1
Sub total. ........ . 164.233 71;.383
TOTAL........ ... . 210 . 266 76 .383 35,8 100,0 36,8

Borraeha... ...... . .
Subtotat. ...... ... . 2 . 3781
2.378 1.2041 1.1741
1.174 49,41 100.0 I 23,6

TOTAl........ .. .... . 4.980 1.174 23,6 100,0 23,6

MACAPÁ

Prod. Minerai1.... .
M&d~ira .... . . ... ..
Subtotal. ......... .
98.646
11.144
100.789
615
270 I 98.3761
10. 529
108.904
114,5
99,71
90,3
9,7
87.0
9.3

TOTAL .......... ... . 113.046 108.904 96,3 100,0 IID,3

AMAZONA8-MANAUS

MadeirA .. ...... .. 15.689 1.845 13 .844 88,2 10,11 7,6


Borracha.......... . 34.605 2.257 32 .3411 93,5 211,4 17,7
Couro• o Polea.... . 6.925 462 6.463 92,2 4,3 3,0
Qu!miea .. . .. ..... . 41.618 14.799 26.819 64,4 21,0 14,7
Perfumaria..... .. . . 2.148 1.694 564 25.8 0,4 0,8
Têxtil. ......... . . . 20.872 11.629 11.243 63,9 8.8 11,1
Alimentar . •..... , . 35.763 13.344 22.410 62,7 IT,6 12,3
Bébidu........ .. . 7.804 2.287 6.619 70,7 ...a 3,0
Fumo .......... ... . 3.750 1.231 2.519 67,2 2,0 1,4
Ed. e Critica..... . 5.627 2.608 3.119 55,4 2,4 1,7
Diveraoe .......... . 6.409 1.751 3.658 67,11 2,9 2,0
Subtotal......... .. 179.210 127.605
TOTAL ........... . . . 182.687 127.605 60,8 100,0 69,8

RONDÔNIA- PORTO VELHO

Prod. Minorai~ .. .. . 111,11


Subtotal ........ .. .
19.0791 18.8631
18 . 86~ 118,91 100,0 1
TOTAL........... .. . 20. 514 18. 883 100,0

ACRE- RIO BRANCO

Borracha . ......... .
Sub total .......... . 6.2331 5.631
5,631 I 9-'),31 100.0 I 58,7

TOTAL........ ..... . 9.594 5.631 100,0

ITACOATIARA

Madeira.......... . 759 246 518 10,3 7,1


Tanu ..... ....... . 5.760 1.284 4.466 67,61
77,7 80.'1 61,5
Subtotal. . ........ . 6.509 4.979
TOTAL .......... ... . 7 .265 4.878 68,3 100,0 68.3

Fonte: lBGE-DEICO~: Registro Indwtrial, 1969 e lfnudrio Estatlstico do Brasil, 1972.


• Foram registrados afleruzs os Ctneros de indústria que apresentam estimativa positiva de
setor bdsico.

414
.!! ..
..•.,
>
3 I I I I ~ I
CONCLUSÕES
A industrialização da Região Norte
~ não deve ser encarada como uma sim-
I I I I
ples implantação de estabelecimentos
industriais, mas como parte de um pro-
cesso global de desenvolvimento inte-
grado, o mais possível, com os outros
g
setores produtivos da Região.
I I I ..; I I I I Nos programas governamentais de in-
tegração das áreas periféricas do Ter-
ritório Nacional, vem se tentando con-
~ I I I I I ciliar interesses nacionais e regionais
com o propósito de equilibrar a im-
~ 8 plantação de indústrias. Esta implan-
I I I I ..r I I tação procura visar não só ao aprovei-
tamento de recursos naturais em nível
.,.
.!.•
'i '=
p.E
I I I I I ., I I
tecnológico atualizado (que são ainda
um grande reforço ao processo de cres-

I I ~
... .. I ~ I I
cimento geral da economia brasileira)
mas também as indústrias de base e
germinativas do próprio interesse re-
o gional. Neste sentido, as indústrias a
~ o
I I I - I ..; I I serem favorecidas na sua instalação de-
vem possuir ou características de in-
dústrias motoras, capazes de influen-
ciar no crescimento de novas ativida-
des, ou aproveitar a matéria-prima re-
gional e transformá-la em produtos
manufaturados.
O extrativismo deixou profundas mar-
cas na economia desta área, na popu-
lação e na organização social. Com a
...c::i desvalorização dos produtos da flores·
ta no mercado mundial houve um de-
sencorajamento e um desestímulo para
novas inversões de capital na área. Os
lucros dos comerciantes, em J?;eral. se
evadiram para outras áreas. Atualmen-
te o Governo tem procurado mudar a
mentalidade empresarial e incentivá-
la, ao mesmo tempo que atrai capital
de fora. Deste modo já se observa um
certo estancamento dessa evasão, e o
capital regional já se une ao capital
de fora abrindo novas perspectivas aos
empreendimentos.
As indústrias, que gozam de possibili-
dades de se desenvolverem nesta re-
gião, são, em primeiro lugar, as que
. E : utilizam matéria-prima regional e em
.l 1 segundo lugar aquelas que, aproveitan-
l ~l • do vantagens locacionais, se destinam

415
A utilizaçiic de nova fonte, visando uma atualização dos textos implicaria em
grande atraso no andamento dos trabalhos, porém tendo em vista a utilidade
da divulgação imediata de algum dcs principais rest.dtados censitárlos relativos
à ativldade indtiS'trial, foram incluídas, a seguir tabelas com dados de elevada
agregação extraídas do Censo Industrial de 1970. Essas medidas não excluem,
porém, a oportunidade para novo.s trabalhos geográficos com informaç6es esta-
tísticas mais atualizadas possíveis.

Quadro I lnd6stria

Valor da Valor da
N.• de Pessoal Produção Translor-
EBpecificaçAo Estabele- Ocupado mação
cimentos
(CrS 1 000)

BRASIL . ... •••• o ••••• o •••• 164 .793 2.652. 179 118 .427. 561 M .837 .311
REGIÃO NORTE .............. 3 .201 39 . .a5 1.064.387 546. 177
Rondônia ....... o o ••• ~ ••••••• 134 1.410 29 .604 18.854
Acre ....•....•........ ..... ··· 172 770 11 . 256 5 .(()7
Amasonaa ... •.. ...•..... •..... 606 10.344 383 .655 180.333
Roraima .......... •.•..•.••.... 55 289 1.588 911
Pará ...... •..•.....•......•... 2. 137 24 .651 498 .903 224 . 117
Amapá ................. o ...... 97 2.061 139 .381 116 .555
Área Metropolitana de Belém. .... 562 13.496 381.897 163 .337

Fonte: Cemo lndtUtri4l do Brasil e do1 EtWdol - IBGE - 1970.

Quadro II Classes e GOneros de lndúsrla

Valor da Valor da
N.• de Pesaoal Produçlo Transfor-
Eçecilicação Estabele- Ocupado mação
cimentos
(CrS 1 000)

IND'OSTRIA EXTRATIVA

RondOnia ...............•........ 4 208 10.415 9.886


Acre . .... . ............... ·······
Amazonas . ...................... 19 60 173 141
Roraima . . . . . ....•.••..•....••... 19 X X X
Pará . .....•.. ... . .
. .. ......... 41 177 1.813 1. 108
Amap4 ..... o •••• ........... 1 X X X
REGIÃO NORTE ....••.... 84 445 11 .901 11 . 135

IND'OSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

Rondônia . .. . ................... . 130 1.240 19 . 189 8.968


Acre . ..................... ··· .. · 172 126 11 . 256 5.407
AmAzonas ...................... . 587 10 .674 383 .482 180. 192
Roraima ........................ . 36 X X X
Pará .. .. .......... ..... . ··· · ·· · 2 .096 24.903 497.590 223 .009
A.map,,,, ............ .... ..... . 96 X X X
REGIÃO NORTE ........ .. 8 . 117 37 .543 911.517 417 . 576

416
Quadro Il continuação

Valor da Valor da
N.• de Produção Transfor-
Espeeificaçlo Estabele- Pessoal mação
cimentos Ocupado
(CrS 1 000)
í
PRODUTOS DE MINERAIS NÃO METÁLICOS
Rondônia ....................... . 40 218 966 773
Acre . ......................... . . 50 303 2.244 1.729
667 5.452
~:~~::::::::: ~:::::::::::::
64 3.205
8 52 189 139
Pará . . ..................... . ... . 485 3.545 32.127 22.045
Amapá ......................... . 3 117 483 350
REGIÃO NORTE .. ...... .. 650 4.902 41.461 28 .241
METAL'ORGICA
Rondônia . ...................... . 2 X X X
Acre . .......................... . 1 X X X
Amazonas ...................... . 14 207 20 .306 3 .362
Roraima ................... . .... . 1 X X X
Pará ........................... . 32 653 16.556 7.800
Amapá .... . ................. . . . . 1 X X X
REGIÃO NORTE . ........ . 51 860 36 .862 11.)62
MECÂNICA
Rondônia ...... . ........... . .... .
Acre . ....................... ···· 1 X X X
Amazonas ..... . ................ . 18 X X X
Roraima .. ...................... .
Pará . .................. ·· .. ····· 50 287 4. 115 3.293
Amapá.. ...... . ................ . 6 165 7.457 2.568
REGIÃO NORTE .... ..... . 75 452 11.572 5.861
MATERIAL ELmRICO E DE COMUNICAçOES
Rondônia . .... . ....... . ........ . . 2 X X X
Acre .. ......................... .
Amazonas ...................... . 5 X X X
Roraima . ............... . ...... . .
Pará .. ............. .. ....... ... . 17 86 1.597 978
Amapá .... ..................... .
REGIÃO NORTE . ........ . 24 86 1.597 978
MATERIAL DE TRANSPORTE
Rondônia.................... . .. . . 2 X X X
Acre . ............... . ......... . . 16 22 115 84
Amazonas ..................... . . 93 554 5.322 3.340
RoraÍJna . ... .. ... . ... .. ....... .. .
Pará .. ........... .. ..... . ... . . . . 72 329 3 .328 2.010
Amapá ... .......... . ........... . 2 X X X
REGIÃO NORTE .. .... . . . . 185 905 8.765 5.434
MADEIRA
Rondônia .................. ... .. . 15 170 2.914 1.939
Acre . .......................... ·. 20 76 924 462
Amazonas ...................... . 46 1.699 24.628 12.423
Roraima . ............ . ....... . . . . 4 19 202 100
Pará . ..................... . .... · 297 4.764 48.633 26 .829
Amapá . ....... . ....... . ... . . . .. . 19 766 17 .971 13.141
REGIÃO NORTE .. ....... . 401 7.494 95.282 54 .894

417
Quadro li continuação

Valor da Valor da
N.• de Pessoal Produção Trans!or-
Espedficaçlo Estabele- maçAo
Ocupado
cimentos
(Cr$ 1 000)

MOBILIÁRIO
Rondônia . ....... , .............. . 7 X X X
Acre........................... . 10 X X X
Amazonas ............... • ....... 39 256 3.442 '1,938
Roraima ................... ..... . 3 9 93 46
Pará ................ ·· .. ········ 134 892 8.973 5. 125
Amapá ......................... . 17 90 821 441
REGIÃO NORTE ......... . 210 1.247 13.329 7.550

PAPEL E PAPELÃO
Rondônia .... .. ................. . 1 X X X
Acre ........................... .
Amazonas ...................... .
Roraima ........................ .
Pará.................... · · · · ··· 2 X X X
Amapá .. .......................•

REGIÃO NORTE ......... . 3


BORRACHA
Rondônia ....................... . 2 X X X
Acre....•.•............. ···.···· 1 X X X
Amazonas ...................... . 6 249 38.739 7.877
Roraima .......... .. . ..... ' ..... .
Pará ........................... . 18 X X X
Amapá .. ....................... .
REGIÃO NORTE ......... . Z1 249 38 .739 7.877
COUROS, PELES E PRODUTOS SrniLARES
Rondônia .... .. ................. .
Acre ...................... ····.·
A.masonas ...................... . 4 185 7.522 5.229
Roraima ........................ . 1 X X X
Pará ............... ... ......... . 21 212 3.030 1.212
Amapá . .. .. .................... .

REGIÃO NORTE ......... . 26 397 10.552 6.441


QUfMICA
Rondônia....................... .
Acre ••. .... .. . ...............•..
Amazonas . ..................... . 19 X X X
Roraima ........................ .
Panf. .•.......................... 41 691 8.076 4 .459
Amapá ..•...•....•.............•
REGIÃO NORTE ......... . 60 691 8.076 4.459
PRODUTOS FARMA~UTIOOS E VETERINÁRIOS
Rondônia ....................... .
Acre .. .....•....................
Amazonas ...................... .
Roraima ........................ .
Pará ................ · .. ········· 3 81 732
Amap6. . .. .. ........ ····· ....... .
REGIÃO NORTE ........ .. 3 81 732

418
Quadro 11 continuaç4o

Valor da Valor da
N. 0 de Produção Transfor-
Estabele- Pessoal mação
Especifica.çlio Ocupado
cimentos
(CrS 1.000)

PERFUMARIA, SABOES E VELAS


Rondônia ..................... .
Acre........................... .
Amazonas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 X X X
Roraima ........ .......•.........
Parlf............................. 28 608 33 . 178 10 .534
Amapá .... .... ····· .......... .. .
REGIÃO NORTE....... ... 30 608 33.178 10.534
PRODUTOS DE MAT:tRIAS PLÁSTICAS
Rondônia ....................... .
Acre ........................... .
Amazonas .... ...... ............ .
Roraima........................ .
Parlf. ........................... . 2 X X X
Amapá ...................... • . ·
REGIÃO NORTE ...... . .. . 2
'rtXTIL
Rondônia . ...................... .
Acre .......................... . .
Amazonas . ...........•...... ... . 7 X X X
Roraima ........................ .
Pará . .......... ....... ..... .. . . . 15 X X X
Amapá ... ...................... .
REGIÃO NORTE ... .. .... . 22
VESTUÁRIO, CALÇADOS E ARTEFATOS DE TECIDOS
Rondônia ...................... . 1 X X X
Acre ......•..................... 1 X X X
Amazonas ............. .. ....... . 11 141 3.933 1.805
Roraima ........................ .
Pará ..................... ···· ··· ?:l 464 7. 057 2.660
Amapá . ...... . ................. . 2 X X X

REGIÃO NORTE ........ .. 42 605 10.990 4.465


PRODUTOS ALIMENTARES
Rondônia ....................... . 45 584 769 2.604
Acre ...•.........••.......... · . · 68 210 4 .606 2.084
Amazonas ...................... . 210 1.628 86.23? 28.069
Roraima ....................... • . 16 X X X
Pará ....................... · .. ·· 649 5.895 156.469 54.687
Amapá ......................... . 36 132 3.859 1.326

REGIÃO NORTE ......... . 1.024 8.449 251.940 88. 770


BEBIDAS
Rondônia .... .. ...... . . . ........ . 3 37 374 244
Acre .. . ...... .......... . . ...... . . 1 X X X
Amazonas ...................... . 15 X X X
Roraima . .. ......... . ...... . .... . 1 X X X
Pará ....................... ·· ··· 132 1.?:10 22.010 13.049
Amapá ......................... . 1 X X X

REGIÃO NORTE ......... . 153 1.307 22.384 13.293

419
Quadro 11 conclusão

Valor da Valor da
N. 0 de Produç~ Transfor-
Especificação Estabel~
Pessoal mação
Ocupado
cimentos
(Cr$ 1.000)

FUMO

Rondônia.... .. . ................ .
Acre . .......................... . 1 X X X
Amazonas . .. .... ......... . ..... . 1 X X X
Roraima . . . .. .... ............... .
Pará ........ . ....... ... · · ······· 3 305 18.147 12.7~
Amapá ..... .................... .

REGIÃO NORTE ......... . 5 305 18.147 12.7~

EDITORIAL E GRÁFICA

Rondônia. .•...................... 10 89 762 581


Acre ..... .................... · .. 2 X X X
Amazonas ...................... . 21 495 9.840 6 .485
Roraima . ..... . .......... .... ... . 1 X X X
Pará ... ................ · · ······ · 46 933 13.282 8.164
Amaplt ........................ . 3 70 425 295

REGIÃO NORTE . ........ . 83 1.587 24.309 15.525.

DIVERSAS

Rondônia....................... .
Acre ........................... .
Amazonas . ... ·.................. . 12 X X X
Roraima ........................ . 1 X X X
Pará... .. . ... .. . .. · . ·.·········· 22 89 724 397
Amapá ......................... . 6 34 2.487 378
REGIÃO NORTE ...... . .. . 41 123 3.211 775

Fonte: CenBO. Industrial - IBGE - 1970.


CONVENÇOES
- O dado, de acordo com a declaraç~ do informante, ni!.o existe.
X Resultado omitido a fim de evitar identificação do inform.ante.

ao mercado regional a fim de atender tam-se as de minerais não metáUcos,


~ necessidades mais prementes dos editorial e gráfica, mobiliário.
núcleos urbanos. Quanto às primeiras,
têm·se as indústrias de produtos da A nova poütica aplicada à Amazônia
poderá ser avaliada convenientemente,
floresta (borracha, madeira, óleos ) e dentro de pouco tempo tendo em vista
as de beneficiamento de minerais, in- a sua recente implantação.
dústrias essas voltadas principalmente
para o mercado nacional e internacio- Espera-se que os investimentos reali-
naL e as indústrias de pouca tecnologia zados na Região Norte, no setor Secun-
que empregam os produtos provenien- dário, devam apresentar crescimento
tes do set~r agropecuário (laticlnios, que proporcionará contribuição mais
curtumes, alimentos congelados, frigo- significativa da indústria para a for-
ríficos). Quanto às segundas, salien- mação da renda regional.

420
NOTAS DE REFER~NCIA S

1 A relação de 1969 pode estar ligeinmente subestimada, uma vez que fon.m utilizados
dados de anos consecutivos e de fontes distintas; para os economicamente ativQS, "' ref. IJ da
Bibliografia e os do pessoal ocupado na indústria, a ref. 10 da Bibliografia.
2 A indústria de bebidas está incluída entre as indústrias urbanas, uma vez que esta clas-
sificação foi feita pan todas as Regiões do Brasil, onde na realidade esse ~nero industrial é
urbano. Nas regiões em estágio de desenvolvimento prim:bio, como é o caso da Regiao None,
elas são muito mais runis do que urbanas, uma vez que este gênero inclui também destilarias
que são a{ em maior m1mero do que as fábricas propriamente ditas.
a Decreto-Lei n. 0 1 2S2 de 17-07-72 abrangendo a Amazônia Legal.
• Programas e Planos de Desenvolvimento para a Amazônia tais como: SUDAM, SUFRAMA,
BASA, Incentivos Fiscais, etc.
5 A SPVEA aprovou 6 projetOs em 1964 e 15 em 1965, totaliz:ando Cr$ 50 195 56f,OO.
• Dos 22 projetos aprovados, 5 se destinaram à agropecuária e 2 à navegação. Esta situação
continuou, em 1967, quando os recursos aplicados no setor tecundário correspondiam apenas
a 27% do total.
T Lei de criação da SUFRAMA: Decreto-Lei n.o 288 de 28 de fevereiro de 1967.
8 Dadosextraldos do Boletim Informativo da SUFRAMA. v. ref. U da Bibliografia.
& Todos os dados estatfsticos que se referem a Belém e Manaus para o ano de 1969 perten-
cem à amostra realizada pelo DE!COM. IBGE.
10 A identificação das atividades básicas e não básicas d.e um centro foi estabelecida através
do emprego de modelo quantitativo que pode ser expresso na seguinte equação:

Pop
- - X pil
POP
Vpgi= -----X VPGi
PIL

onde: Pop = total da população do munic:fpio


POP
Pil
= total da população do Brasil
= Produto Interno Liquido do Estado
PIL = Produto Interno Líquido do Brasil
VPGi = Total do Valor da produção industrial, por gênero (i) , do Brasil
Vpgi = Valor estimado do setor não básico do lugar. A diferença ent.r e o constatado
no lugar e o Vpgi é o setor Msico.

Obs. Na defruição do VPGi foram subtraídos os valores das exportações de mercadorias


afins ao gênero considerado em 1969 e acrescidos os valores das importaçõet de mercadorias
afins, no mesmo ano.

11 Coeficiente de Localização é igual a

_e_
t
E --!...
T t

Em que e = Valor da produção de determinada indústria local


E
t =
= Valor da produção total de indústrias locais
Valor da produção de determinada indústria nacional
T = Valor da produção total nacional de indústrias
12 Estanlfera do Brasil, a Best Metais e a Industrial Fluminense.
111 Cia. Meridional de Mineração c Cia. Vale do Rio Doce.
H Está previsto para 1985 toda a implantação desse empreendimento, prevendo-se uma pro·
dução de 40 milhões de toneladas de placóides.

421
BIBLIOGRAFIA
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10. - - . Superintendência de .Desenvolvimento da Amazônia. A SUDAM revela a Ama-


%6nia, Belém. sjd. 52 p. i!.

11. - - . - - . Amaz6nia Legal: manual do investidor. Belém. 1972, 9(} p. i!.

12 . - - . Superintendência do Plano de Valorizaçâo Econômica da Amuônia. Política de


desenvolvimento da Ama16nia. Rio de Janeiro. 1960. 2 vol. il.

lll. - - . Superintendência da Zona Franca de Manaus. Anuário Estatlstico. Manaus,


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14. --. --. Boletim Informativo. Manaus, 1971, 20 p . , il.

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estanho de envergadura internacional. Jornal do Brasil, Rio de janeiro, nov. 1971 . Suple-
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16. COMO integrar as regiões que sofrem atraso econômico. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
nov. 1972, Suplemento Especial, p. 2, c. I.

17. COMISSÃO NACIONAL DE DEFESA E PóLO DE DESENVOLVIMENTO DA AMA·


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18. COMPANHIA Amuônia Têxtil de Aniagem (CATA) fará 10 anos em 197g e ampliará
sua produçâo em 55%. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, nov. 1972. Suplemento Especial,
p. 2. c. 2.
19. COMPANHIA SIDERúRGICA DA AMAZONIA. Resumo do Projeto de constr~6o da
Usina Siderúrgica de Manaus. Manaus. 1970.

20. CONCLUEM-SE as obras da primeira usina de pelotização de mangan~. Jornal do Brasil,


Rio de Janeiro, nov. 1972. Suplemento Especial, p. 2, c. 2.

21. ESTADO DO AMAZONAS. Banco da Amazônia S.A. Uma Filosofia de Ação. Manaus,
s/d. 59 p., il.

22. EXISTE no ar um cheiro de minério. Jornal do Brasil, Rio de janeiro, 31 de março de


1972. Revista Econômica, p. 131.
2~. GARRIDO FILHA, lrene. A zona franca de Manaus. Rio de Janeiro. A Amll%6nia Brasi-
leira em Foco, Comissilo Nacional de Defesa e Pol. de Desenvolvimento da Amuõnia -
CODIPLAN, (5): 72-81 jan.jjul. 1971.

24. - -. Geografia do emprego em Manaus. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Ja-


neiro. 31 (4): 15!1-178, out.fdez., 1969.

25 . ICOMI é o progresso na tecnologia do manganês. jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 31 de


março de 1972. Revista Econômica, p. 130, c. 2.

26. INDúSTRIA madeireira desenvolve-se no mesmo ritmo da regi!io Amazônica. O Globo,


Rio de Janeiro, 18/ 25 abr. 197!1. Programa Econômico 75, p. 105, c. 2 e 4.
27. O HOMEM e a meta nos planos da SUDAM. Correio da Manhli, Rio de Janeiro, 18 de
setembro de 1970. p . 8. c. 2.
28. OLIVEIRA, Francisco de et alii, Mudanças na div~o inter-regional do trabalho no
Brasil. Estudos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. São Paulo, CEBRAP,
4:133-168, abr.fjun., 1975 .
29. O PAPEL do Banco da Amazônia S.A. (BASA) no desenvolvimento da Amazônia, Correio
da Manha, Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1970. p. 4, c. 2.

50. PETEY, Beatriz Célia C. de Mello. Aspectos da economia Amuõnica à época da depres-
sao (1920-1940). Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, 51 (229): 112-130, jul.fago., 1972, il.

31 . PETROBRÁS intensifica trabalhos de perfuraçto no Norte-Nordeste. Correio da Manhii,


Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1970, p. 6, c. 2.

32. PROJETOS de exploraçto confirmam riquezas do subsolo. Correio da Manhã, Rio de


Janeiro, 18 de setembro de 1970. p. 4, c. 1.
55 . SOUZA, Wilson Otávio et alii. Método de lavra de cassiterita na província estanlfera
de Rondônia. Boletim de Geografia e Mineralogia. São Paulo, USP. Cenuo Moraes Rego,
(32): 283-501, 1971. il.

54. VALVERDE, Orlando. Alguns aspectos sócio-econômicos. Rio de Janeiro. A Ama.t6nia


Brasileira em Foco, Comissâo Nacional de Defesa e Pólo de Desenvolvimento da Amazônia,
CODIPLAN, (1): 7-17. 1967.
INTRODUÇÃO
A concepção de redes urbanas, surgi-
da da análise da organização espacial
de países desenvolvi<los, traduz muito
mais que a mera existência de um cer-
to número de cidades. Sua formação
decorre do registro de relacionamentos
entre elas e entre suas atribuições, dos
quais emanam hierarquia e interação
urbana.
Entre as cidades da Região Norte não
se encontram definidos, com precisão,
esses atributos fundamentais das redes
urbanas bem estruturadas.
O espaço limitado do território amazô-
nico fez e faz parte de um espaço
maior, em cuja economia global sem-
pre desempenhou a função de forne-
Cedor de matérias-primas. Os poderes
de decisão, ou seja, político e econô--
mico, escaparam da Região Norte.
Nela montou-se uma economia tipi-
camente colonial, estruturada como um
arquipélago, que em suas linhas domi-
SISTEMA nantes acompimhou, no passado, a or-
ganização espacial brasUeira.

URBANO Fatores diversos, decorrentes de sua


posição geográfica, das peculiaridades
CATHARINA VERGOLINO DIAS de seu qua<lro natural, da natureza
da exploração econômica, contribut-
ram fortemente para que a Amazônia
permanecesse, ~r quase quatro sécu-
los, a grande ilha, completamente à
margem do processo econômico do
País.
Pela situação geográfica, ela é parte
integrante da Amazônia sul-americana
que, por fatores locacionais, sempre
se manteve diretamente ligada a mer-
cados europeus e norte-americanos, dis-
tante, portanto, dos centros de decisão
poUtico-econômica do Brasil.
Uma caracterlstica periférica que foi
aprofundada, em primeiro lugar, pelas
características da rede hidrográfica:
imensas possibilidades de navegação,
permitindo uma ampla integração da
massa continental com o Atlântico e,
ao mesmo tempo, o sentido transversal
do grande eixo fluvial e a direção da
drenagem dos afluentes da margem di-
reita ao Amazonas, colocaram-na em
sentido oposto ao centro-sul do Brasil; ções dos centros urbanos regionais;
em segundo lugar, ao contrário dos de- afrouxaram-se os laços de uma depen-
mais arquipélagos brasileiros que se dência exclusiva a Belém, sem que as
estruturaram à base de uma agricul- cidades tenham uma estrutura que lhes
tura comercial, a Amazônia era con- possibilite organizar sua área de in-
quistada economicamente através da fluência.
exploração da mata equatorial úmida,
em moldes de uma rurumentar coleta, As modificações ocorridas até então
para fornecer, exclusivamente, maté- ainda não alteraram substancialmente
rias-primas para as indústrias européias as relações entre Belém e o espaço sob
e norte-americanas. seu comando, pois persiste uma atuação
"de fora" em direção à região, .sem
Facilidade de penetração interior e que se processe uma irradiação do de-
sistemas produtivos forneceram à Ama- senvolvimento. Perdura um desenvol-
zônia as características básicas de sua vimento urbano desequilibrado, expres-
organização espacial: diluição do con- so, por um lado, nas deficiências de
tingente demográfico no macroespaço; Belém, ao irradiar, na Amazônia, as
mesquinhez de seus núcleos populacio- inovações recebidas através de seus re·
nais a funcionarem como simples pon· !acionamentos com regiões desenvol-
tos de estocagem da produção vegetal; vidas e, por outro lado, no impacto
e poder anômalo de Belém, a envolver que sofrem Porto Velho e Rio Branco
a região por uma complexa malha de com a penetração dos valores da socie-
relacionamentos. Hierarquia e interação dade moderna do centro-sul do País,
urbanas praticamente inexistiram em sem possuírem uma estrutura urbana
semelhante organização, pois na estru- compatível com a rapidez e intensida-
tura econômica montada verificou-se de dessa penetração.
tanto uma subutilização do espaço
como uma inexpressiva demanda de As características encontradas entre as
bens e de serviços urbanos pelas popu- cidades da Região Norte traduzem,
lações interioranas, dispersas ou nu- portanto, a permanência de uma or~a­
cleadas, mas sempre com baixo poder nização espacial elaborada por Belem,
aquisitivo. resultante do jogo de forças exógenas
responsáveis pelo comportamento dos
As grandes distâncias fizeram com que núcleos urbanos regionais que apre-
a Amazônia, mergulhada desde o co- sentaram carência de hierarquia e in-
lapso da borracha em profunda crise teração entre si.
sócio-econômica, não se integrasse à
região core do Brasil. A implantação
de grandes eixos rodoviários represen-
ta enorme passo na integração física 1 -OS FATORES
desse macroespaço ao Sudeste, com a LOCACIONAIS NA
finalidade de transformar o arquipéla-
go amazônico em uma de suas áreas ORIGEM DAS CIDADES
periféricas. Assiste-se a uma gradativa DA REGIÃO NORTE
perda de sua exclusiva dependência
extranacional. Não é menos real, con- Retraçar a progressiva posse dessa
tudo, que o território amazônico, ao imensa Região setentrional do País,
fazer parte da economia global do realizada sob o duplo signo de uma
País, mantém sua fu.nção de fornece- coleta vegetal e de uma agricultura
dor de matérias-primas, pois a cres- especulativa, significa, portanto, ana-
cente concentração dos poderes de de- lisar a origem e o comportamento de
cisão no Sudeste não favorece o de- seus núcleos urbanos.
senvolvimento amazônico.
No decorrer de mais de dois séculos
As rodovias vêm reformulando o sen- e meio, o processo econômico amazô-
tido dos fluxos econômicos, havendo, nico significou a sua incorporação em
de imediato, uma desarticuJação regio- uma economia global; caracterizou-se,
nal: sedimenta, amplia ou dilui as fun- também, por ciclos de economia mer-
cantil, suscitados, nos séculos XVII e }acionais, alguns dos quais deram ori-
XVIII, pela dominação portuguesa, no gem a importantes cidades da Amazô-
sentido de alimentar o mercado lis- nia: Belém, óbidos, Vigia, Ourém, Gu-
boeta de "drogas do sertão", para se- rupá, Salinópolis, Viseu (todas no Es-
rem substituídos, a partir das últimas tado do Pará); Manaus, Manacapuru,
décadas do século XIX, pela função Coari, Tefé no Amazonas; Macapá no
de abastecer de matérias-primas, so- Amapá; Boa Vista em Roraima.
bretudo a borracha, as indústrias euro-
péias e norte-americana. Finalmente, Outro fator que robusteceu o móvel
em decênios mais recentes, esta Região econômico da empresa portuguesa, na
começou a fazer parte dos mercados Região Norte, foi o início imediato da
brasileiros (sobretudo os do Sudeste), colonização, realizada através das
japonês e argentino, mas ainda com a Ordens Religiosas. Em lugares até en-
exclusiva finalidade de fornecer bens tão ocupados por agrupamentos indí-
primários. genas, ou ao lado dos fortins, estabe-
leceram-se as aldeias missionárias, ori-
Sob esse enfoque, a expansão militar gem de outros tantos centros popula-
portuguesa, realizada a partir de 1616 cionais, dentre os quais se encontra-
na Região Norte, não encontra justifi- vam as atuais cidades de Alenquer,
cativa na simples tomada de posse de Altamira, Bragança, Cametá, Monte
um território a que Portugal tinha Alegre, Santarétn, no Pará, Borba, Coa-
direito pelo Tratado de Tordesilhas; ri, ltacoatiara, Manacapuru, Tefé no
de imediato verificou-se a exploração Amazonas. ( Fig. 1).
e ocupação pela Coroa Lusitana de
terras interioranas, muito além das es· Ao findar o período colonial, encon-
tabelecidas, em 1492, pelo hipotético trava-se definido o arcabouço urbano
meridiano. Não se pode restringir, tam- da Região, tanto em sua distribuição
bém, a ocupação do espaço amazôni- espacial como em sua estrutura: uma
co a meros desígnios da defesa militar, distribuição linear, que no sentido les-
com a criação de umas poucas dezenas te-oeste ia do vale do Guamá ( cida-
de fortalezas. Em realidade, a expan- de de Ourém), acompanhando o va-
são militar teve uma conotação essen- le do Amazonas até Tabatinga (já nas
cialmente econômica, conseqüente da fronteiras com os domínios espanhóis).
conjuntura internacional do período do A essa extensa penetração no sentido
"Grande Comércio." Resultou, sim, da das longitudes contrastava a de dire-
imperiosa necessidade dos portugue- ção norte-sul, que se limitava aos bai-
ses reconstruírem, na bacia do rio Mar, xos cursos dos afluentes do Amazonas;
seu empório asiático, perdido para ho- raras foram as exceções como por
landeses e ingleses. As praças militares exemplo, os vales do rio Negro e de
localizaram-se em pontos estratégicos seu ãfluente, o Branco, nas quais fo-
da Bacia Amazônica, para garantirem ram ultrapassadas as corredeiras e ins-
o domínio e o controle da navegação taladas as Fortalezas de S. Gabriel e
fluvial, funcionando, desde logo, como S. Joaquim das Marabitanas, respecti-
postos fiscais. Responsabilizavam-se vamente. Muito embora o Madeira se
pelo recolhimento dos impostos que constituísse na mais importante via de
l'esavam sobre a circulação, quer das acesso às minas de Mato Grosso, o
drogas do sertão quer dos bens de Forte Príncipe da Beira (no Guaporé)
consumo provenientes da Europa, para não originou nenhum centro urbano
o abastecimento das populações inte- importante; os centros populacionais
rioranas. Essas praças de guerra foram que limitavam o povoamento desse vale
as responsáveis pelo domínio econômi- eram as missões religiosas de Borba e
co na Amazônia Lusitana, como tam- de Humaitá, ambas do baixo curso
bém colocaram sob sua dependência daquele rio.
a Amazônia Espanhola. ..
Aspectos locacionais comuns são uma
Nesses atributos residem as causas constante nesses aglomerados humanos
fundamentais que fizeram dessas for- surgidos nos sécUlos XVII e XVIII:
talezas os embriões de núcleos popu- fossem fortalezas ou missões religiosas,


••
• ••

••
• •



todos eram ribeirinhos, mas sempre si- banização foi um fenômeno universal.
tuados em terra firme; aproveitara-se As cidades eram ~rtos. fortalezas, se-
a experiência indígena - o usufruto des do poder político-administrativo,
do rio, pelas facilidades que a rede pois assim havia melhor possibilidade
hidrográfica apresentava à circulação, de garantir o domínio eoonômioo de
mas os locais escolhidos para esses um espaço, inserido na economia do-
' núcleos populacionais ficavam a salvo bal da época. V árias cidades brasDei-
da ação até mesmo das grandes en- ras locali.zadas no litoral possuiam as
chentes. Eram pequenos pontos para mesmas características de Belém. como
a estocagem da produção de "drogas do também vários centros urbanos em
sertão", proveniente da rudimentar co- outras áreas da América Latina, da
leta e/ ou da agricultura, incentivada África e da Ásia.
pela política pombalina. A demanda de
bens e de serviços urbanos era pratica- O aparecimento de Manaus, que desde
mente inexistente devido ao subpovoa- suas origens foi o núcleo populacional
mento regional, ao baixo poder aquisi- mais importante da Amazônia interior,
tivo e, sobretudo, ao caráter de auto- refletiu a necessidade de um ponto
suficiência com que se revestiam essas de apoio interno a Belém, deVido à
pequenas células. Mesmo Belém, que distância que a separava de áreas im-
desde cedo desempenhou o papel de portantes na produção de ..drogas do
"cabeça de zona" entre as regiões de sertão": a bacia do rio Negrc· e o vale
produção e de consumo, tinha mais do Soümões. O local escolhido para a
importância pelo acúmulo de suas fun- construção daquele núcleo urbano foi,
ções do que pela estrutura urbana. portanto, eminentemente estratégico:
no centro da Amazônia e para onde
Mas para Portugal o sentido desse ma- convergem a rede hidrográfica do So-
croespaço é refletido sobretudo a limões e de seus grandes afluentes;
partir da segunda metade do século é a partir desse nó fluvial que o Ama-
XVIII, pelo exercício de novas funções zonas é um grande rio. Ponto estraté-
atribuídas a Belém: político-adminis- gico também para o controle político,
trativas, como capital do Estado do Manaus foi logo investida das funções
Grão-Pará e Maranhão e econômico- de sede da Capitania de São José do
financeiras, como sede da Companhia Rio Negro.
de Comércio do Grão-Pará e Mara-
nhão. Como capital daquele Estado, O condicionamento hidrográfico dos
Belém ficava diretamente ligada a núcleos populacionais foi ampliado no
Lisboa, independente, portanto, do res- decorrer do ciclo da borracha. A par-
to do País, que constituía o Estado do tir das últimas décadas do século XIX
Brasil; como sede administrativa da o desenvolvimento das indústrias de
Companhia de Comércio, ligava-se tan- pneumáticos nos Estados Unidos e na
to à capital portuguesa como aos Europa fez crescer constantemente a
principais portos europeus, e explora- demanda de borracha. Houve o impul-
va diretamente a comercialização intra- so da penetração e da conquista da
regional. Belém, ao substituir São Luís hinterlândia amazônica; movida pelo
nestas funções, marginalizava a cidade capitalismo internacional essas indús-
maranhense que, por fatores locacio- trias ocuparam os médios e altos vales
nais, não tinha condições de exercer o dos afluentes da margem direita do
controle do grande vale. ~. realmente, Amazonas. À proporção que a posse
nessa segunda metade do século XVIII econômica se efetuava em terras cada
que se inicia a especialização de Belém, vez mais afastadas do eixo da circula-
com o aparecimento do bairro do Co- ção regional e, logicamente, de Belém
mércio. e Manaus, surgiram pequenos entre-
postos para a estocagem da produção
Essa superposição de funções encon- extrativista vegetal; novos aglomerados
trada na cidade paraense não é sui humanos, que deram origem a cidades
generis à Amazônia, mas sim uma ca- como Marabá, no médio Tocantins;
racterística dominante da própria épo- Manicoré no Madeira; Boca do Acre
ca mercantilista, durante a qual a ur- Rio Branco, Xapuri, Brasiléia e Sena
Madureira na bacia do ato Juruá. "ponta-de-trilho", conheceu uma de
Todas, em suas origens, pontos de suas fases mais significativas de cres-
comércio, por serem sedes de serin· cimento.
gais. Todas ribeirinhas; todas em con- Mais recentemente, a implantação de
fluências de rios. Em terra firme ou grandes eixos rodoviários traduz o não
em várzea alta, constituíram-se, na- atendimento da rede hidrográfica ama-
quela época, em pontos ideais para zônica para ligações inter-regionais;
concentração da produção de borracha esse sistema vem possibilitando o apa-
de uma pequena bacia hidrográfica, recimento de novos núcleos populacio-
subsidiária dos grandes eixos trans· nais: Paragominas, Santa Maria do
versais ao Amazonas. Em decorrência Pará, no eixo da Belém-Bra~ília; Gu-
do estrangulamento da navegação flu- rupi, na Pará-Maranhão; Vila Rondô-
vial, pela existência de corredeiras no nia, Ariquemes, na .l;lrasília-Acre; Pre-
médio curso do Tocantins e do Ma- sidente Médici, no entroncamento da
deira, - rios importantes no escoa- Transarnazônica com a Cuiabá-San-
mento da produção da borracha - sur- tarém . . . e tantos outros, que ainda
giram como cidades "ponta-de-trilho", são conhecidos apenas pela quilome-
Tucuruí, no Pará, e Porto Velho e Gua- tragem rodoviária em que se localizam.
jará-Mirim, em Rondônia. Em sua maioria não podem ainda ser
A importância desempenhada pela hi- considerados como cidades; muitos
drografia na localização das cidades guardam o traçado de pequenos .ttras-
amazônicas não J><>de ser atribuída ex- sendcrfs, mas já possuem uma função
clusivamente às facilidades apresenta- comercial importante, através de suas
das pela rede fluvial à circulação. Ve- feiras semanais, recebendo os padrões
rifica-se, no século XIX, corno no da sociedade moderna pelos constantes
XVlli, a ultrapassagem das corredei- relacionamentos com o centro-sul do
ras, quando um motivo econômico era País. Competem mesmo, sob esse as-
a grande força propulsora da ocupa- pecto, com as tradicionais sedes dos
ção espacial. Deve-se, também, consi- municípios em que se localizam, que
derar como importante para esta loca- ficaram isoladas dessa nova infra-es-
lização o sentido convergente da dre- trutura dos transportes. Traduzem, por-
nagem da rede hidrográfica do Ama- tanto, uma fase que se inicia com a
zonas em relação a Belém. Ausente integração física da Amazônia às de-
esta caratcerística, o rio deixa de pre- mais Macrorregjões brasileiras.
dominar como fator locacional no apa·
recimento dos séculos populacionais.
No início do século XX, para a ocu- 2 - COMPORTAMENTO DOS
pação agrícola do leste paraense, co·
mandada por Belém, construiu-se a NÚCLEOS URBANOS
ferrovia, pois nessa área os rios correm
em sentido paralelo à capital do Esta- A ocupação espacial da Amazônia não
do do Pará. Nas margens dessa Estrada foge, portanto, às peculiaridades das
de Ferro - a Belém-Bragança - jus- regiões subdesenvolvidas que, se estru-
tamente nos locais para onde conver- turando à base de uma economia colo-
gia a produção agiícola que se des- nial, tiveram como esteio uma rudimen-
tinava ao mercado ·belenense, surgiram tar coleta vegetal: "esfacelamento em
centros de população, dos quais se vez de agrupamento, fluidez antes que
originaram cidades como Ananindeua, urna organização estabilizada do es-
Castanha}, Benevides, Igarapé-Açu e paço".
Capanema. A introdução desse novo O tamanho populacional e o compor-
meio de transporte no quadro ama- tamento de seus núcleos urbanos cons-
zônico, proporcionando facilidades à tituem · algumas das principais conse-
circulação, deu .novo estímulo aos pe· qüências desses atributos regionais,
quenos núcleos urbanos da faixa lito- perfeitamente identificáveis à luz da
rânea, como Marapanim, Maracanã, análise da evolução demográfica de
Salinópolis; a própria cidade de Bra- suas cidades, no período entre 1940 e
gança, por ter-se transformado em 1970 (Tab. 1).

4SO
Tabela 1 Distribuição . dos Núcleos Populacionais por Clas!es de Tamanho ( 1940 _.. 1950
1960 - 1970)

1940 1950 1960 1970

CLASSES DE Ceo~roa %da Ceotroe %da Centros %da Ceotroe %da


POPt:LACÃO P op. da Pop. da Pop. da Pop. da
N.• % do Clane/ %do Cluae/ % do Claaae/ %do Cluee/
Total Pop. Urb. N.• Total Pop. Urb. N.• Total Pop. Urb. N.• Tot.al Pop. Urb.

Menno de 1. 000 ... ...... 38 43,18 -t,88 41 41,00 4,88 41 3t,45 2,46 40 27f 1,60
1.001 a 6.000... 46 52.27 26,12 46 46,00 18,57 58 48,73 15,30 69 .a, 5 10,60
6.001 a 10. 000...... 2 2,27 3,82 8 8,00 10,22 12 10,08 10,58 Jll 11,88 7,M
--
---1,13 --18,22 -1
10. 001 a 20.000 ...... 2 2,00 4,72 4 3,36 6,20 10 6,69 9,63
-1,00 -17,55 2 1.68 6.0.5 3 2,09 11.69
20.001 a
50. 001 a
50 . 000..... .
100.000 . ...·.. 1
1 1,13 46,36 1,00 ot4,12
-2 -1,68 -59,41 2
1
1,39
0,69
6,83
18,8e
100. 001 a
Acima de
500.000 . .....
500.000.. ..... - - - -1 - - - - - l 0,69 37,87

TOTAL REGIONAL ... 88 100,00 100,00 99 100,00 100,00 120 100,00 100,00 H3 100,00 100,00

Fonte: IBGE: Censos Demogrdficos (RO-RR· - P·AC·AM e PA); 1950-1960.

Em 1940 registrava-se na Região Nor- b) as duas mais importantes cidades


te o domínio absoluto de sedes muni- amazônicas - Belém e Manaus - ao
cipais com menos de 1. 000 habitantes englobaram 65% da população urbana
e de 1.000 a 5.000 habitantes: 84 cen- regional, entraram em uma fase mais
tros, ou seja, 95% dos 88 eixstentes. de "inchamento" que de urbanização.
Abrigavam, entretanto, apenas 31% da
população urbana regional. Ocupavam c) aprofundara-se a defasagem de-
o estrato de 5. 001 a 10. 000 habitantes· mográfica entre as cidades: Belém,
Santarém e Vigia, com cerca de 4% com 166.674 habitantes, era 2,4 vezes
do contingente urbano amazônico. Na maior que Manaus; esta possuía 8,8
classe de 50.001 a 100.000 habitantes vezes a população de Santarém ( 7. 527
situava-se Manaus, e na de 100.001 a habitantes), que era o terceiro núcleo
500. 000 habitantes, Belém, represen- urbano amazônico; Rio Branco ( 4. 945
tando, respectivamente, 18% e 46% da habitantes), que representara o mais
população urbana registrada para a importante apoio interiorano a Belém
Região Norte. e a Manaus, durante a ocupação do
mundo extrativista, ocupava o quinto
Esses dados traduzem muito mais que lugar entre as cidades regionais, por
o subpovoamento amazônico. Eviden- classe de tamanho demográfico, mas
ciam a situação demográfica de uma era 33,4 vezes menor que Belém e
região ao atingir o clímax de profunda 13,5 vezes menor que Manaus.
crise sócio-econômica, motivada pelo
colapso do ciclo da borracha, com ine- A decadência da coleta vegetal foi,
vitáveis repercussões em seus núcleos J)Ortanto, a responsável pelo aprofun·
urbanos, quais sejam: <lamento da grande característica do
arcabouço urbano da Região Norte:
a) as pequenas cidades perderam a inexistência, entre suas cidades, de
expressão de pontos de estocagem da níveis intermediários de tamanho po-
produção extrativista devido ao de- pulacional, que possibilitam níveis de
saparecimento dos fluxos econômicos tamanho funcional hierarquizados. No
que haviam animado a fase áurea da arquipélago amazônico não havia con-
coleta vegetal na Região Norte; trans- dições para difusão de inovações entre
formaram-se em centros de expulsão as cidades.
do elemento humano nelas radicado e
em pequenas etapas de migração para Mo.dificações se efetuaram entre 1940
os que viviam no mundo ao seu der· e 1970. Pequenas em seu teor quan-
redor. Essa migração, realizando-se no titativo, em decorrência do crônico
sentido da drenagem fluvial, convergia subpovoamento regional, são, por isso
para Belém, com etapa em Manaus. mesmo, expressivas em seu significado,

481
pelas repercussões diretas de suas con- úm crescimento demográfico que as
seqüências no quadro urbano da Re- fez passar para a classe de tamanho
gião Norte. imediatamente superior. Estão nesse
caso Boa Vista, Soure, Abaetetuba,
O aumento de 62,50%, observado en- Bragança, ltacoatiara, Parintins, Rio
tre 1940 e 1970, para os núcleos po- Branco e Macapá; Porto Velho, com
pulacionais amazônicos, por se refe- 3.148 habitantes em 1940, registrou, em
rirem a sedes municipais, traduziram, 1950, 10.036 habitantes. Houve, por-
principalmente, a redivisão havida na tanto, uma renovação dos centros ur-
malha político-administrativa e não um banos que formavam esse estrato, uma
processo mais intenso de urbanização. vez que numericamente, em 1950, ele
continuava sendo constitu{do por 46
A tendência da localização da popula- sedes municipais.
ção urbana é melhor visualizada na
distribuição desse contingente demo- c) em 1950 surgiu a representação
gráfico por classes de tamanho de po- na classe de 10.001 a 20.000 habi-
pulação das sedes municipais, com a tantes, com Santarém ( 14 . 061 habi-
identificação das principais cidades tantes) e Porto Velho ( 10.036 habitan-
nelas localizadas, nos Censos Demo· tes); a primeira, no Censo anterior
gráficos: localizava-se na classe imediatamente
a) o número de sedes municipais com inferior e o aumento de sua população
resultou de uma série de fatores: mon-
menos de 1. 000 habitantes não apre-
tagem em seus quadros urbanos, de
sentou sensíveis modificações: 38 em
uma infra-estrutura social no período
1940; 41 em 1950 e 1960; e 40 em da z.a Guerra Mundial (hospitais, es-
1970. Houve, entretanto, uma redução
tabelecimentos de ensino de nível
gradativa de sua contribuição tanto
médio); incentivo governamental con-
para o número total de centros (de
cedido à coleta da borracha; expan-
43% em 1940 decresce gradativamen- são das colônias agrícolas no planalto
te até restringir 2.8% em 1970) como de Santarém e início da expansão da
na população urbana total (de Si em cultura da juta nas várzeas do baixo
1940 a 2$ em 1970) . Esses decrésci- Amazonas, que repercutiram na maior
mos traduzem a continuação do êxodo movimentação de seu porto e de sua
demográfico em direção a núcleos praça comercial. O aumento popula-
maiores, com refexos conseqüentes na cional acusado por Porto Velho refle-
distribuição dos centros populacionais tiu a criação do Território Federal de
por classes de tamanho. Rondônia (em 1943) e a conseqüente
b) a classe de 1.001 a 5.000 habi- transformação da sede de um municí-
tantes, de 46 centros em 1940, atingiu pio decadente em uma capital político-
a 69 em 1970; a população neles ra- administrativa; ganhou toda uma má-
dicada diminuiu a sua participação no quina administrativa, houve uma efê-
conjunto regional :26% em 1940 para mera revitalização de seu comércio -
11% em 1970. Uma vez mais eviden- pelo momentâneo incentivo governa-
cia-se o aumento da mobilidade es- mental à coleta da borracha - porém,
pacial da população amazônica, intro- depois transformou-se em centro de
auzindo modificllções significativas (a atração de uma rarefeita população
partir da década de 40) no quadro rural, que abandonava os seringais.
urbano da Região Norte e que podem Em 1960 permaneceu nessa classe,
ser bem observadas na evolução demo- embora acusasse um aumento de mais
gráfica do grupo de cidades, que em de 9. 000 habitantes.
1970 registraram cerca de 5.000 habi-
tantes e mais. Em 1960 registrou-se o aumento do
Esse grupo é constituído de 33 centros número de cidades com esse tamanho
urbanos, dos quais 27, em 1940, esta- demográfico. Ao lado de Porto Velho
vam justamente localizados nesse es- apareceram Rio Branco ( 17. 104 ha-
trato de 1. 001 a 5. 000 habitantes; em bitantes), Bragança ( 12. 670 habitan-
1950, 8 dessas cidades foram alvo de tes). Abaetetuba ( 11.136 habitantes),
Boa Vista ( 10.002 habitantes). Estan- ranhão marginalizou ainda mais Bra-
do localizadas em áreas de depressão gança, que cedeu lugar a Capanema.
econômica, o crescimento demográfico
dessas cidades significou muito mais Boa Vista, embora com um crescimen-
inchamento que urbanização. As medi- to populacional da ordem de õl%, na
das tomadas pelo Governo Federal década de 1960-1970, não acompanhou
quanto às capitais dos Territórios Fe- o apresentado pelas capitais dos dois
derais e quanto à tentativa de renovar outros Territórios Federais, pelo isola-
a navegação fluvial, tiveram respostas mento de Roraima face às principais
econômicas tênues, pois não mudaram variáveis introduzidas na Região Norte
a arcaica estrutura existente: as ativi- pela política de integração.
dades econômicas continuaram a ser
predominantemente extrati vistas (ma- Abaetetuba e Capanema, pela sua lo-
deira, castanha-do-pará, essência de calização, passaram a usufruir dessas
pau-rosa), com uma produção aleató- renovações: Incentivos Fiscais para a
ria, dependentes das condições climáti- instalação de estabelecimentos indus-
cas (que possibilitavam ou não boas triais, responsáveis pelo surto da in-
safras), da instabilidade dos preços dústria madeireira em Abaetetuba, e
ditados pelos mercados internacionais; do cimento e de fiação e tecelagem
perdurava uma agricultura de subsis- de juta-malva, em Capanema; abertu-
tência, em solos esgotados, e uma pe- ra de rodovias, facilitando o acesso a
cuária extensiva antieconômica. Belém e transformando Capanema em
um dos mais importantes nós rodo-
Em 1970 essa classe de tamanho po- viários da Amazônia.
pulacional passou a ser representada
por 10 cidades. Nela permaneceram Parintins, Alenquer e ltacoatiara pas-
Bragança, Abaetetuba, Boa Vista, às saram a gozar da expansão da cultura
quais se vieram juntar Parintins, Ma- da juta, da instalação de pequenas in-
rabá, Itacoatiara, Capanema, Alenquer. dústrias de fiação e de uma melhor
Guajará-Mirim e Vigia. participação na circulação regional.

Houve um crescimento demográfico Marabá transformou-se, progressiva-


heterogêneo nesses núcleos urbanos. mente, de um pequeno núCleo urbano,
Dentre as cidades que permaneceram que abrigava uma população flutuante
nesse estrato, Bragança, que ocupava o (durante a safra da castanha), em uma
7.0 lugar na hierarquia dos núcleos cidade com uma população radicada
em franco crescimento. Causas diver-
urbanos amazônicos, foi deslocada pa- sas vêm contribuindo para essa trans-
ra o 11.0 , sendo ultrapassada por Aba- formação, tais como: a abertura de
etetuba, Parintins e Boa Vista. O pe- crédito do Banco do Brasil à coleta
queno aumento populacional registra- da castanha, representando o primeiro
do para aquela cidade paraense ( 81%, passo para a expansão de sua praça
entre 1960-1970) refletiu a não solução comercial; sua transformação em pon-
dos problemas de sua área de atuação to de apoio ao abastecimento do mer-
e também devido ao aparecimento de cado belenense em gado bovino, que
Frentes Pioneiras na Microrregião da teve como conseqüência imediata a
Guajarina, que passaram a funcionar abertura de invernadas, substituídas
como verdtdeiras "bombas de sucção" progressivamente por fazendas de ga-
para a popUlação rural da. Bragantina. do; sua ligação com a Belém-Brasília
Dominando uma área de solos esgo- (através àa Rodovia PA-70), libertan-
tados, Bragança não pôde, também, do-a de um transporte fluvial precário e
antieconômico. Localizando-se em
competir com os novos núcleos popu- uma área de transição entre o Nor-
lacionais que surgiram no subcomando deste e a Amazônia, foi beneficiada,
das Frentes Pioneiras da malva ( Capi- recentemente, pela Transamazôoica,
tão Poço) e das invernadas na Belém- mantendo-se diretamente ligada tanto
Brasília ( Paragominas). A intensifica- à Metrópole da Amazônia como às
ção do tráfego na Rodovia Pará-Ma- do centro-sul e do Nordeste.
O estrato de 20.001 a 50.000 habitan- cita-se a progressiva expansão da :irea
tes aparece em 1960 e é representado de dominância de sua praça comercial,
por duas cidades: Santarém e Ma- de sua infra-estrutura social e do seu
cap:i. setor industrial, que surge com o apro-
veitamento de matérias-primas locais,
O crescimento demográfico registrado alvo da aplicação de Incentivos Fiscais.
por esses dois núcleos urbanos, na dé-
cada de 5().6(), diferiu bastante quer Em 1970 essa classe de tamanho de-
quanto ao seu teor quantitativo quer mogr:ifico é representada por três ci-
nas causas que o proporcionaram. dades: Porto Velho ( 41.146 habitan-
tes), Rio Branco (34.531 habitantes) e
Macapá, com seus ZT. 560 habitantes Castanha) ( 24. 815 habitantes), com
em 1960, passou a ser a terceira cidade crescimentos populacionais bastante ex-
amazônica quanto ao tamanho popu- pressivos na década de 60-70; 310$,
lacional; registrando 9. 748 habitantes 102$ e 166$, respectivamente. Pela sua
em 1950, experimentou um aumento localização geográfica essas cidades
de 17. 812 habitantes, ou seja, cerca passaram a usutruir diretamente das
de 182$ em sua população urbana. vari:iveis introduzidas pelo Governo
Este crescimento não foi conseqüên- Federal na Região no decorrer desse
cia direta de medidas tomadas pelo decênio, principalmente a da implan·
Governo Federal no sentido de montar tação do sistema rodoviário. Este que·
na cidade os equipamentos condizen- brou o isolamento em que se encontra-
tes com uma capital político-adminis- vam esses centros urbanos, permitindo-
trativa (causas do crescimento demo- lhes uma ligação direta com o centro-
gráfico de Macapá, na década ante- sul do País.
rior); nem da exploração do manga-
nês na serra do Navio, pela Icomi. A posição de Castanha!, face ao siste-
O aumento da população de Macapá ma rodoviário do leste paraense, con-
na década de 50-60 foi devido, prin- feriu-lhe o papel de nó rodoviário:
cipalmente, à proximidade da cidade com as estradas para Curuçá e Ma-
a duas áreas paraenses em saturação rapanim (a PA-15 e a PA-25) tem
demográficas: as Microrregiões dos Fu- fácil acesso à Microrregião do Salgado;
ros e dos Campos de Marajó. Esse ligada diretamente a Inhangapi, fica
inchamento de Macapá é comprova- face ao Guam:i; pela Belém-Brasília
do pela saturação de seu mercado de tem fácil acesso tanto a Belém como
trabalho, de seus hospitais e escolas. a Capanema. Essa posição que des-
fruta de ponto de parada obrigatória
Santarém, com seus 24.498 habitantes, dos caminhões que trafegam em dire-
em 1960, apresentou um crescimento ção a Belém foi causa suficiente para
demográfico bem mais modesto: 10.437 a instalação de hotéis, pensões, dormi-
pessoas, correspondendo a 74$ a mais tórios, restaurantes, bombas de gasoli-
do que possuía em 1950. Colocava-se na, oficinas mecânicas e casas comer-
em 4.0 lugar entre as cidades amazô- ciais; sua proximidade com a capital
nicas, quanto ao tamanho populacio- paraense vem proporcionando o esta-
nal. O aumento de sua população foi, belecimento de indústrias têxteis, de
entretanto, resultado de fatores loca- madeira, de mobiliário, material elétri·
cionais e econômicos bastante ponde- co e de comunicações, qufmica, de ves-
niveis, que asseguram-lhe não um me- tuário, calçados e artefatos de tecidos e
ro inchamento, mas uma constante de borracha. A constante ascensão de
urbanização. Entre os primeiros so- sua população urbana não pode, por-
bressaem a localização de seu porto tanto, ser explicada apenas pela crise
no eixo da navegação fluvial (reati- agrária da Bragantina, pois ela reflete
vada tanto pela circulação internacio- antes de mais nada a ampliação dos
nal e nacional como por uma embrio- setores de serviços e da indústria.
nária indústria de turismo) e de seu Castanha!, oferecendo melhores possi-
aeroporto, ponto de apoio às ligações bilidades de trabalho, passou a exercer
domésticas que demandam para o in- força de atração sobre as populações
terior amazônico; entre os segundos das áreas adjacentes.
A classe de 50.001 a 100.000 habitan- sobretudo, do aparecimento de Maca-
tes foi ocupada por Manaus, nos anos pá e Porto Velho como capitais polí-
de 1940 a 1950. A capital amazonense, tico-administrativas.
embora acusando um aumento de 34$
nessa década, reduziu sua contribuição Esses fatores não foram ainda sufici-
para o total da população urbana da entes para quebrar a macrocefalia de
Região Norte: áe 1~ em 1940, pas· Belém e, em menor escala, de Manaus,
sou para 17~ em 1950, reflexo do quanto à posição que ocupam no qua-
aparecimento de uma diversificação dro urbano da Amazônia; tanto assim
no sentido dos fluxos migratórios; nesse que, em 1960, essas duas cidades per-
período a população localizada no su- faziam um total de 5~ da população
doeste amaz6nico dirigiu-se, preferen- urbana regional; ambas ocupavam a
cialmente, para Porto Velho e Rio classe de 100.001 a 500.000 habitao·
Branco, e não mais exclusivamente pa- tes.
ra Manaus, como na década de 20-40.
Em 1970 Manaus ocupava sozinha essa
Sem qualquer representação, em 1960, classe, com 284.118 habitantes. Seu
essa classe reaparece, em 1970, com tamanho populacional era 4,2 vezes
Maca pá (51. 563 habitantes) e Santa- maior que em 1940; acusara um cres-
rém ( 51.123 habitantes), guardando cimento relativo da ordem de 325~
as posições de 3.0 e 4.0 lugares, respec- no decorrer de 1940-1970 e, embora
tivamente, entre as cidades amazôni- distanciando-se menos que em 1940
cas, quanto ao seu tamanho popula- da terceira cidade da Região Norte,
ciona[ O crescimento demográfico re- era, em 1970, 5,5 vezes maior que
gistrado pela primeira, entre 1960 e Macapá.
1970, caiu para 87~, em decorrência do
soerguimento econômico progressivo O estrato demográfico de mais de
verif1cado nas Microrregiões dos Furos 500.000 habitantes apareceu represen-
e dos Campos de Marajó; as pequenas tado, em 1970, por Belém ( 565.007
cidades de Breves e Afuá se constituí- habitantes), contribuindo com ~ pa-
ram em alvos principais para a loca- ra o contingente urbano regional; in-
lização da indústria madeireira; Soure ferior, portanto, ao que registrava em
e Salvaterra, dos estabelecimentos in- 1940 ( 46%), mas distanciando-se de
dustriais de laticínios. Passaram a ser maneira bem mais expressiva das de-
centros de atração da população rural mais cidades amazônicas: era mais de
circunjacente, diminuincfo, assim, o duas vezes maior que Manaus e onze
fluxo migratório para Macapá. O au- vezes maior gue Macapá, respectiva-
mento populacional de Santarém, nesse mente segundo e terceiro núcfeos po-
período, foi da ordem de 109%; vindo pulacionais amazônicos quanto ao ta-
comprovar as observações feitas em manho demográfico.
parágrafo anterior.
Essas transformações, constatadas em
Em 1940 e 1950 a classe de 100.001 trinta anos de evolução demográfica
a 500.000 habitantes foi ocupada por dos centros urbanos da Região Norte,
Belém, com, respectivamente, 164. 673 aparecem evidenciadas no gráfico
e 225.218 habitantes; o aumento de- rank-size, elaborado para 1940 e 1970,
mográfico registrado ( 37~) não acom- apresentando 34 cidades amazônicas
panbou o das cidades de tamanho bem (Fig. 2}.
inferior; decresceu sua participação no
conjunto da população urbana regio- Um exame mais cuidadoso desse dia-
nal: 46% em 1940, para ~ em 1950. grama revela:
Registra-se, portanto, em relação à
Metrópole da Amazônia a mesma ca-
1.0 } em 1970, como em 1940, os gru-
pos de cidades se fonnam e à propor-
ractemtica já salientada para a capital
ção que seu tamanho é menor, esses
amazonense nesse mesmo período: a
grupos aumentam de componentes.
população migrante não mais se dirige
com exclusividade para as duas maio- 2.0 } em 1970, como em 1940, há uma
res cidades regionais, em conseqüência, descontinuidade entre Belém e Manaus
600 -;
111

200

100
50
40
30

20

lO

0-+-------
o
ii

FIG. 2
DlvEd/0- M.J.S.A.

e entre ambas, de modo bem mais Não se modificou o padrão primacy


acentuado, das quatro cidades que lhes que sempre caracterizou a armadura
segue em tamanho hierárquico: Maca- urbana da Região Norte.
pá, Santarém, Porto Velho e Rio Bran-
co. Belém, por fatores locacionais e estru·
turais, continua sendo a cidade que
3.0 ) essas quatrc cidades constituem mais usufrui dos elementos de trans-
ainda um esboço de um nível interme- formação, de modo que em 1970, co-
diário entre os dois centros mais im- mo em 1940, concentrava forte parcela
portantes da Região - Belém e Ma- da população urbana regional: 38% e
naus - e as demais cidades existentes. 46%, respectivamente.
Todo o crescimento populacional apre-
sentado por esses quatro centros, entre Em se tratando de uma imensa Região
1940 e 1970, não foi suficiente para subpovoada e subdesenvolvida, como
conferir ao conjunto urbano amazôni- a Amazônia, um conjunto de forças
co o equilíbrio na distribuição de suas menos variado age para fazer Belém
cidades por classes de tamanho de- crescer de maneira aleatória, portanto
mográfico, caracterfstica encontrada sem log-normalidade, na relação ta-
nas redes urbanas bem estruturadas. manho-hierarquia. Observa-se que a
tendência para a acentuação da irre- b) dificuldades em agrupar os cen-
gularidade é muito mais evidente em tros, dado o grande distanciamento dos
1970 que em 1940. mesmos.
O fator res~nsável por essa tendência c) o grupamento dos centros só é
fOi, sem duvida, o processo de indus- mais nítido quando as cidades têm uma
trialização mais acentuado em Belém, expressão puramente local; o número
secundada por Manaus, do que nas de- considerável dos componentes desses
mais capitais das Unidades Federadas grupos resulta do subequipamento das
da Região Norte e em Santarém. cidades amazônicas em contraposição
à macrocefalia de Belém .
d) as variáveis que compõem a infra-
3 - CARACTERÍSTICAS estrutura social e econômica revelaram,
sobretudo, a importância da função
ESTRUTURAIS DAS político-administrativa das capitais das
CIDADES Unidades Federadas e do setor comer-
cial nas principais cidades regionais,
Esse desequilíbrio de desenvolvimento reflexos de uma ocupação econômica
urbano na Região Norte já foi eviden- em que prevaleceu a atividade mer-
ciado, em relação ao sistema urbano cantil.
nacional, principalmente por Faissol,
em vários estudos sobre as cidades bra-
sileiras. 3.1 -Tamanho Funcional
O exame das características estrutu- Na análise das cidades, a primeira di-
rais das cidades amazônicas, utilizan- mensão básica a emergir foi o tamanho
do-se a análise fatorial, permite definir funcional; sob esse aspecto a Região
o quadro intra-regional. Norte acompanha uma característica
brasileira, pois, em todos os estudos
A delimitação do universo para a aná- de redes urbanas ou conjunto de cida-
lise levou em consideração o subpro- des até agora realizados para o Brasil,
voamento regional, ao estabelecer como esta dimensão aparece como a mai~
cidades importantes as 34 sedes muni- importante (anexo 2).
cipais que em 1970 registram 5. 000
habitantes e mais (Tab. 2). Soma- Este tamanho está estreitamente asso-
ram 1. 313. 227 habitantes que corres- ciado ao processo de desenvolvimento,
pondiam a cerca de 80% da população pois crescimento cria tamanho e este
urbana da Região Norte naquele ano reage para estruturar a economia local
censitário. e produzir crescimento. 1
Na seleção das 28 variáveis (anexo 1) O significado do tamanho funcional é
consideradas para cada uma dessas expresso na sua contribuição de 38,50%
localidades predominou o caráter só- para a explicação da variação total,
cio-econômico, visando à qualificação confirmando a hipótese de que o ta·
do nível de desenvolvimento regional e manho da cidade é uma dimensão bá-
suas nuances intra-regionais. sica na diferenciação dos centros urba-
nos amazônicos.
Os resultados da análise fatorial reve-
laram: Foram responsáveis pela estruturação
desse fator 13 variáveis:
a) como dimensões básicas responsá-
veis pela diferenciação entre os centros - população da área de influência da
considerados: o tamanho funcional, a cidade ( score: 0,98).
infra-estrutura social e econômica, a - população urbana da sede munici·
acessibilidade à Metrópole Regional e paf ( score: 0,95 ) .
o tradicionalismo ou modernização das
indústrias; esses fatores explicaram - grau de relacionamento do centro
86,55% da variação total. ( score: 0,97).

487
Tabela 2 Evolução da População Urbana de Cidades de mais de 5. 000 Habitantes em 1970 ( 1940 - 1950 1960- 1970)

ORDEM CIDADE POPU- ORDEM CIDADE POPU- ORDEM CIDADE POPU- ORDEM CIDADE POPU-
{1940) LACÃO (1960) l.AÇÃ.O (1960) LACÃO (1970) LAÇÃO

01 Belém .......... . ..... . 164.673 01 Belém ............ .... . 226.218 01 Belém ...• •......•...•• 357.229 01 Belém .. ~ ...... ....... . 6M.097
02 Mllnaua .. ......... • •.. G6.8M 02 Manaus .............. . 89.612 02 ManaUll ..•...••. . .. .. · 162.432 02 ManaW! . .... . ........ . :184.118
oa San&ar6m ........ .... . 7.527 03 Santar6m ....... ... , .. 1(.061 03 MaoapA.............. . 27.660 03 MacapA . ............. . 51.663
04 Vigia ...... ........... . 6.041 04 Porto Velho .......... ,. 10.036 04 Santar6m ....... ...... . 24.498 04 Sant&rém ............. . 51 . 123
06 Rio Branoo........... . 4.946 06 Macapé. ..•... .. . ... .•. 9.748 OIS Porto Velho.... ....... . 19.293 06 Porto Velho ...... . ... . 41.146
0«1 lt&coatian.. . .. • •....•• 4.741 0«1 Rio Branoo.......... . . 9.371 06 Rio Branoo .... . .. .... . 17,104 06 Rio Branoo... ........ . 34.631
07 Soure ............. . (.462 07 lt&o.o&tiara .. •. ....... , . 6.867 07 Braganoa ... .......... . 1.2.870 07 Caot&nhal.. .. . . ....... . 24.816
08 8r&g&nQ& ....... ... . . .. 3.762' 08 ParintiM .••.. . •••. .. 6.866 08 Abaetewb& ..... . .. ... . 11.136 08 Abaetewba........... . 19.197
09 Parintina ....... . 3.2111 011 BM~C&nça. . . . .. .... .. . 6.496 09 Boa Vibt& ....•. .... ... 10.002 09 Parintina ......... •... 16.721
10 Porto Velho.. . ......• 3.148 10 Abaetetuba .. ......... . 6.4411 10 C..panemo........... .. 9.1102 10 Boa VÍAt& . ........... . 111 . 720
11 C..pane.ma .. ...... . ... . 3 .094 11 Soure ............. .. 6.264 11 Caa!-&'!hal ............. . 9 , 319 11 Bro.ganoa .•.•. . . ...•... Ul.642
12 Abaetetuba ... .... . ... . 12 Boa Viot& ........... .. 12 Parantane.......• . .•... 8 . 934 12 lt&coatiara ••.....••..
~}-m--
3.064 6.132
13 C..meú........ ....... . 2.1169 13 Vigia ..... ............ . 4 .920 13 lt&eoo.tiara.... ... . .... . 8. 747 13 Capanema ........... .
Mara~.............. . Marab,.. ........... . Marabá............ .. .
14
16
16
Alenquer............. .
Cruaearo do Sul .... ... .
2.894
2.801
2 , 7(7
14
16
16
Capanema ............ .
Alenque.r...... . ..... ..
4 . 636
4.3&2
4.172
14
15
111
v.,................... .
Ma!'*bl................ .
Guajar"-Mirim ........ .
8.342
7.1117
7.012
14
16
111
Alenqucr............ .
O~~jará-Mirim .•... .•.•
14 . 693
10.825
10.823
17 Óbidoe . ........... . 2.726 17 Cruseiro do Sul ....... . 3.709 17 Alenquer......... .. .. . 11.1195 17 Vt&•a •••.• ; ••.•.• . .•••• 10.231
18 Guajar6-M irim ..• •..•.. 2.306 18 Cameú. ......... ..... . 3 .638 18 Soure. . .. •. . .•...... 8.691 18 Soure ....•...... • •.. 8 . 958
19 Mc;m.te, Ale.gre .... ....•• 2.172 111 Óbidoe............... . 3.•UII 111 Co11ri ................. . 6.895 19 Coari ............... .. . 8.880
20 OrllnmanA .•.•• . .. l.M7 20 Co&ri ............... . .. 3.019 20 CametA............... . 6 . 65-l 20 CometA... ........ .... . 8 . 667
21 Salinópolia............ . 1.833 21 Caot&nhal ......... .... . 2.9611 21 Óbidoe ............•.. 6.200 21 Cruseiro do Sul... .... . 8.426
22 c....
tanhal.. .. ......... . 1.780 22 Portei ...... ..... ... .. . 2.871 22 Cmseiro do Sul .. ...... 4.735 22 Óbidoo............. ... . 7 .11M
23 Tef~ .. ...... .. ... .. . . t.M1 23 Monte Alegro ...... ... . 2 . 768 23 Mautée.... ... .. . 4 . 0112 23 Tefé ... ....... ..... . 7 . 0711
24 Alt&mira ...... ........ . 1.673 ~4 O~ajar~·Mirim ..•.. •... 2 . 582 24 Salif!-6~1io ............ . 4 . 009 24 Oriximíná, ............ . 11 . 774
26 Coari ... , ............. . 1.44-'l 26 Onxtman, . .. .......... . 2 . 415 26 OmoaunA......... . ... . 3.8116 2.5 Salin6poUa. .. . ....... .. 6.652
26 Boa Viot& .. .......... . 1.3118 26 Tef6..... .... .. ...... . 2.073 26 Monte Alegre ...•... •.• 3.842 26 Mauée..... .. •.• 6 . 0ll
27 Manaoapuru . . ..••..... 1.3U 27 Mauéa... ... .. ...... .. t.97t 27 Tuourul. ..•........... 3.309 27 Monte AJecre...... . .. 6.008
28 Mauê<o ....... . 1.374 28 Alt&mira .............. . 1.809 28 Alt&mira..... .. ..... . 2.883 28 Altalftira ....... ...... .. 6.741
2'9 Tucurul. .... . 1.191 29 Mano.capuru .. . ...... . 1.605 29 Tel~ ............... . 2.766 111 Por~ .... ...... .... . . 6 . 711
30 Conoeiçlio do Araguaia. 1.034 30 Salin6polis .. .......... . 1.694 30 lpra~Miri ...... ..... . 2 .l!G6 30 lpra~Miri ........ , .. 5 . 690
31 MacapA .......... . . 1.012 31 Conceição do Ar&«U&ia . 1.334 31 Mo..,.caputu . •.... .... 2.661 31 Tucuréu ........... .. . . 6.5-lll
32 lora~Miri ........... . 771 32 Tueuréu.......•..•.... 1.173 32 Conoeiçlo do Aracu&ill. 2.270 32 C..pil&o Poço.. ...... .. 6 . 404
33 Portei .... ........... . . 284 33 (pra~Miri ... ...... . 900 33 Portei... . . ... ........ . l. 718 aa Mo..,.eapuru .......... . 6 . ll3
34 34 34 u Conoeio&o do Aro.gu&ia . 4 .111111

TOTAL.. ....................... 312 . 661 TOTAL.... . . . .. . .. . . . . . . . • . . . 449.010 TOTAL....................... 760.038 TOT.,L... • ..... . . . .... . 1.313.227

1940 1960 1960 11170

Fonte: IBGE - Crnsos Demogrdficos das Unidades Federadas da Regs·iW Norte (1940 à 1970).
- número de alunos no ensino secun- Ao se considerar essas variáveis
dário (score: 0,97). ( anexo 3) em seu teor social e econô-
mico concui-se que o tamanho funcio-
- número de instituições culturais nal é qualificado e não meramente um
( score: 0,96) . tamanho demográfico. Veja-se, por
- número de leitos hospitalares ( sco- exemplo, cidades como Boa Vista e Pa-
ríntins: possuem o mesmo tamanho de-
re: 0,87) .
mográfico (em tomo de 16.000 habi-
- número de médicos por 10. 000 ha- tantes, em 1970), mas diferem quanto
bitantes ( score: 0,65). ao tamanho funcional. Boa Vista, por
se tratar de uma capital político-admi-
- número de caminhões (score: 0,97). nistrativa, é dotada de uma infra-estru-
- número de estabelecimentos indus- tura social e econômica bem superior
triais (se ore: 0,95). a de Parintins, embora a cidade ama-
- custo de frete de navegação (score: zonense domine uma das áreas agro-
pastoris importantes da Região Norte
0,87).
e que, por fatores locacionais (no pró-
- número de empréstimos bancários prio eixo da circulação regional o rio
na sede municipaf pelo total de em- Amazonas), possa mais rapidamente
préstimos bancários ( score: 0,94). receber inovações.
- consumo de energia elétrica por Esse fator destacou Belém com uma
1. 000 habitantes da sede municipal dimensão equivalente ao do\Jro de
( score: 0,62). Manaus e um distanciamento conside-
rável de ambas em relação às demais
- custo de frete de navegação por cidades consideradas.
1. 000 habitantes da sede municipal
( score: 0,52). O tamanho funcional de Belém é con-
seqüência do papel que sempre desem-
Desse rol de variáveis e dos respectivos peiihou no comando da organização do
scores alcançados salientam-se dois as- espaço amazônico; as atribuições que
pectos: lhe foram conferidas em mais de três
séculos e meio, no processo de ocupa-
a) ao lado das variáveis que repre- ção econômica do macroespaço, pro-
sentam o teor demográfico há as que porcionaram-lhe um desenvolvimento e
indicam aspectos econômicos e cultu- um poder econômico em bases sólidas.
rais através de elementos da infra-es· As crises regionais refletiram-se nessa
trutura social e econômica, traduzindo cidade que não conseguiu, contudo,
serviços prestados à população e à eliminar as características urbanas que
economia, o que dá ao tamanho fun- ganhara como cidade primaz da Ama-
cional um valor econômico agregado. zônia. Sua localização estratégica em
relação ao grande vale e sua atuação
b) dentre as treze variáveis que estru- urbana foram as responsáveis por Be-
turaram o fator, cerca de 77% apresen- lém ter sido alvo dos grandes empre-
taram correlações superiores a 0,86 e endimentos que começaram a ser ca-
apenas três apareceram com scores nalizados para a região através de
baixos: as referentes a custo de frete uma política de integração nacional.
de navegação por l. 000 habitantes da E em prazo relativamente curto esse
sede municipal (0,52), a de consumo centro voltou a se revestir de aspectos
de energia elétrica por 1. 000 habitan- de grande cidade; a reorganização e
tes da sede municipal ( 0,62) e a de expansão da Região ligada especial-
número de médicos por 10.000 habi- mente a ela são os mais importantes
reflexos dos atributos urbanos da Me-
tantes ( 0,65). Esses baixos scores não trópole Amazônica.
deixam de ser importantes para o es-
tudo regional, pois são indicativo do Manaus, a segunda cidade regional,
baixo poder aquisitivo da população após a instalação da Zona de Comércio
de uma Região s·ubdesenvolvida. Livre, conseguiu sair do marasmo que
a decadência do extrativismo da borra- são ainda pelo aproveitamento dos es-
cha a tinha envolvido, através da re- treitos de Breves e contorno da parte
vitalização de seu porto, da ampliação oriental da ilha do Marajó. Macapá en-
de sua praça comercial e da remstala- contra-se, de certo modo, distanciada
ção de serviços urbanos que haviam dos poderes de decisão regional e fa-
ficado completamente obsoletos por tores competitivos fazem com que Be-
mais de meio século de isolamento. lém usufrua da industrialização dos
Todos esses empreendimentos não con- cardumes de camarão do litoral ama-
seguiram diminuir a defasagem que paense.
sempre a separou de Belém, devido a
fatores locacionais e econômicos. Sua As perspectivas de Porto Velho são
posição estratégica, como centro da melhores; sua ligação direta com o
Região Norte, fica diluída, em primeiro centro-sul do País, através da Rodovia
lugar, por essa mesma interiorização, Brasília-Acre, trouxe como resultado
face aos fluxos econômicos nacionais a quebra do isolamento da área em
decorrentes de sua situação à margem que se localiza e libertou-a da influ-
esquerda do Amazonas, dificultando ência de Manaus. A faixa de fronteiras
uma ligação terrestre direta ( rodoviá- em ocupação existente em Rondônia
ria, principalmente) com o centro-sul e as perspectivas de uma ligação, a
do País; em segundo, pela inexistência médio prazo, com os Países Andinos,
de uma vincufacão desse desenvolvi- fazem com que o Governo Federal
mento urbano CÓm o sudoeste amazô- realize grandes investimentos no setor
nico, região que outrora comandou; e agropecuário em áreas do Território,
em terceiro, pelo agudo despovoamen· o que, evidentemente, reflete no cres-
to que caracteriza a quase totalidade cimento e desenvolvimento de Porto
das áreas sob seu comando. Velho.
Macapá e Porto Velho registraram um Abaixo dessas quatro cidades, os cen-
tamariho funcional, respectivamente, de tros populacionais amazônicos se agru-
10 e 14 vezes menores que o de Belém. pam e, à proporção em que se desce
Essa defasagem é conseqüência das os escalões hierárquicos, os intervalos
dificuldades que têm ocorrido na di- que definem os grupos ficam muito
fusão de inovações que a Metrópole distanciados. Cada vez é maior, tam-
da Amazônia recebe de seus relacio- bém, o número de centros a consti-
namentos com o Sudeste brasileiro; tuí-los.
transmite-as, apenas, de modo tênue
aos centros de menor hierarquia. Esses aspectos definem, uma vez mais,
a estrutura colonial da economia de
O crescimento dessas cidades decorreu um espaço subpovoado.
~ais de aspectos políticos,_ quais se-
Jam: a montagem de uma infra-estru- O primeiro grupo é formado por Rio
tura social e econômica, na época em Branco, Santarém, Castanha}, Boa Vis-
que foram inv.estidas das fwições de ta e Capanema.
capitais de Unidades Federadas. O As duas primeiras cidades apresentam
melhor equipamento de Macapá re- um tamanho funcional mais próximo,
sultou de sua proximidade de Belém uma relativa equivalência na impor·
e, logicamente, das maiores facilida- tância dos setores comercial e indus-
des na obtenção de recursos humanos; trial e nos empréstimos bancários. Di-
outro fator ponderável foi a constru- ferem, entretanto, em suas funções es-
ção de um porto para exportação do pecíficas e nas perspectivas que já se
minério de manganês pela lcomi. Res- encontram delineadas. O melhor equi-
salte-se, entretanto, que essa proximi- pamento de Rio Branco resulta de uma
dade de Macapá a Belém decorre, função política, capital de Território
principalmente, da freqüência de via- Federal e, mais recentemente, de Es-
gens aéreas; em termos econômicos tado, e de sempre ter sido alvo de
fica, portanto, bastante diluída; as investimentos do setOI" público em ser-
comunicações fluviais mais constantes viços urbanos. A distância que a sepa-

440
ra dos centros regionais e nacionais convergem para Belém, usufrui de sua
foi um fator ponderável para que o proximidade com a capital do Pará.
Ministério da Educação e Cultura aí J:{enova-se e amplia-se toda sua infra-
instalasse uma Universidade, objetivan- estrutura urbana, e Castanha! se trans-
do evitar o êxodo da classe jovem. A forma no mais próximo ponto de apoio
POLAMAZONIA estabeleceu para Rio da expansão urbana de Belém. As fa-
Branco a criação de um pólo agro- cilidades e a rapidez dos transportes
madeireiro. Esses fatores influirão, sem rodoviários vêm possibilitando a loca-
dúvida, no desenvolvimento e cresci- lização de investimentos industriais,
mento da capital do Acre, sem elimi- que fogem aos entraves ocasionados
nar todavia sua dependência do papel pela especulação imobiliária existente
que Porto Velho vier a desempenhar na Metrópole Amazônica. Por estarem
no sudoeste amazônico. próximas a Belém, as áreas rurais de
seu município vêm sendo alvo de sig-
Santarém, na calha do Amazonas, usu- nificativos investimentos no setor Pri-
frui de uma posição privilegiada. Seu mário (invernadas, expansão dos pi:
tradicional pqrto internacional revestiu- mentais, ... ), por apresentarem su-
se de maior importãncia após as ins- perioridades competitivas, com refle-
talações recebidas. Sua área de atuação xos positivos no crescimento de Cas-
é bem mais povoada e de melhor ex- tanha}.
pressão agropecuária, pelo aproveita-
mento simultâneo das várzeas e das Boa Vista e Capanema assemelham-se
terras firmes. A instalação da Hidrelé- no tamanho fúncional. A primeira não
trica de Curuá-Una abre-lhe perspecti- apresenta as mesmas peculiaridades de
vas de um melhor desenvolvimento in- Macapá e Porto Velho (embora de-
dustrial, a curto prazo, em bases mais tenha as mesmas funções políticas)
competitivas; estabelecimentos de en- devido a fatores locacionais: o muni-
sino médio profissionalizante ( princi- dpio de Boa Vista só participará dos
palmente para o setor madeireiro ) pre- fluxos regionais após a total implanta-
param mão-de-obra qualificada, facili- ção da Rodovia Manaus-Boa Vista.
tando investimentos no setor industrial. Os investimentos aí realizados pelo
A Rodovia Cuiabá-Santarém permite- Governo Federal, no sentido de revi-
lhe uma ligação direta com o centro- talizar a economia, ficam geralmente
sul, mas, principalmente, abre-lhe uma sem resposta, pois a cidade domina
região rica em recursos naturais. A uma área de pecuária extensiva, predo-
POLAMAZONIA estabelece a criação minantemente realizada em moldes
de um pólo agropecuário em Santarém muito tradicionais. Seu crescimento de-
e dois pólos agrominerais em sua área mográfico resultou de um aumento
direta de influência (Aveiro c ltaitu- vegetativo e de fracos contingentes
ba) . Seu grau de relacionamento com migratórios provenientes de áreas
outros centros urbanos nacionais e in- subpovoadas. Sua deficiência em im-
ternacionais: em 1965, já superava o plementos urbanos vem sendo modifi-
apresentado por Rio Branco. Seu equi- cada recentemente devido aos gran-
pamento urbano saturado pela deman- des investimentos do setor público.
da de serviços vem sendo remodelado. Está programada a criação de um pólo
i;: programação prioritária do Governo agromineral em Boa Vista, mas as
Federal ( 1975/1979) a exploração das perspectivas de aproveitamento dos re-
jazidas de calcário e de sal-gema da cursos minerais existentes são para lon-
bacia do Tapajós, por isso consta dessa go prazo.
mesma programação o reforço da in-
fra-estrutura de Santarém. Capanema registra um aumento de
seus setores comercial e industrial pela
Castanha} apresenta-se com um tama- sua localização face às Frentes Pionei-
nho funcional menor que as duas pri- ras agropastoris, as quais se desenvol-
meiras cidades. ll:, todavia, uma das vem nas áreas das Rodovias Pará-Ma-
mais importantes localidades centrais ranhão e Belém-Brasília; esses fatores
da Região Norte. Nó rodoviário de explicam porque seus empréstimos ban-
um -sistema de estradas asfaltadas que cários são superiores aos de Boa Vista.

441
Cercada de pequenos núcleos popula- sicas. Sua atuação é, portanto, reduzi-
cionais e com acesso rodoviário direto da em extensão de área, embora esta
à Microrregião do Salgado, é natural apresente um contingente demográfico
que registre um número maior de re- considerável, em termos de uma Ama-
lacionamentos do que a capital do zônia subpovoada. Toda a produção
Território de Roraima, localizada em agrícola comercializável de Alenquer é
um vazio demográfico. realizada por Santarém, em virtude
daquela cidade estar situada à margem
No segundo grupo destacam-se lta- de um paraná, não usufruindo direta-
coatiara, Guajará-Mirim, Salinópolis, mente da circulação realizada no Ama-
Parintins, Bragança, Marabá, Abaete- zonas. Características semelhantes são
tuba, Altamira, óbidos, Alenquer e encontradas em óbidos. Ambas pos-
Cruzeiro do Sul, pequenas cidades de suem uma infra-estrutura social em de-
tamanho funcional equivalente, mas senvolvimento, conseqüente de medi-
de importância, atual e futura, bem das do Governo Estadual, pela impor-
diferenciada em níveis regionais e sub- tância gue esses pequenos núcleos ur-
regionais. banos desempenham na economia agrí-
Itacoatiara, Parintins, Alenquer e óbi- cola e pastoril do Médio Amazonas
dos localizam-se no médio Amazonas, Paraense. Encontra-se em curso nessa
beneficiando-se do eixo principal da região um importante programa de
circulação da Região Norte. aproveitamento dos recursos minerais,
notadamente da bauxita. A POLAMA-
Itacoatiara salienta-se pela sua praça ZôNIA deverá executar, em programa-
comercial; porto por excelência da ba- ção prioritária, o fortalecimento desses
cia do Macfeira, vai perdendo seu cará- núcleos urbanos através de investimen-
ter sazonal; sua ligação com Manaus, tos -na infra-estrutura econômico-social,
através de uma rodovia asfaltada, necessária ao desenvolvimento das ati-
transformou-a em porto subsidiário da vidades extrativas (mineral e vegetal L
capital amazonense, para escoamento
de bens primários (juta, cacau, madei- Guajará-Mirim, no Território Federal
ra, castanha-do-pará), diluindo a ex- de Rondônia, surgiu como "ponta-de-
pressão dos pequenos estabelecimentos trilho" da Estrada de Ferro Madeira-
industriais existentes nessa cidade. Mamoré, em uma faixa de pobre ex-
trativismo da borracha, na fronteira
Parintins, dotada de melhores serviços com a Bolívia. A derrocada da coleta
urbanos (bancário, médico-hospitalar, da borracha, na época da 2.a Guerra
educacional, ... ), atende à população Mundial, levou o Governo do então
de pequenos municípios existentes nas recém-criado Território Federal a es-
proximidades, alcançando maior nú- tabelecer parte da população aventu-
mero de relacionamentos do que lta- reira e desenraizada, proveniente das
coatiara, segundo porto do Estado do áreas extrativistas, na Colônia de lata.
Amazonas. Suas maiores facilidades de A posição dessa cidade em uma área de
ligação são com Santarém, apesar de fronteira, o desenvolvimento da colô-
fazer parte da área de influência de nia agrícola e a substituição da ferro-
Manaus, em função das relações de via pela rodovia tomam Guajará-Mi-
ordem administrativa. Encontra-se em rim, a segunda cidade de Rondônia,
estudos a ~mplantação de uma rodovia alvo das atenções do poder público.
de penetração, ligando Parintins à Seus equipamentos urbanos são, por
Transamazônica, na margem esquerda isso, bem superiores aos da maioria das
do Tapajós, o que permitirá sua mais cidades amazônicas do mesmo tama-
rápida integração ao sistema produtivo nho demográfico.
da região de Santarém.
Alenquer, apesar de desempenhar uma Salinópolis, localizada na Microrregião
função local, exerce-a em uma das do Salgado, no momento em que pas-
áreas agrícolas mais importantes da sou a usufruir do sistema rodoviário. do
Amazônia, que se desenvolve em terre- leste-paraense, aproveitou-se de sua
nos de decomposição de intrusões há- situação marítima; desenvolve-se como
uma das mais importantes cidades de va, por um lado, o acesso a Belém e,
turismo e de veraneio para a popula- por outro, atingir diretamente as pra-
ção de Belém. Ao merecer atenções ças do Sudeste. A cidade aumentou de
especiais do Governo Estadual, foi importância com a Transamlzônica,
equipada com serviços urbanos. que lhe possibilitou o acesso às Me-
trópoles nordestinas. Acrescen!e-se a
Bragança, na Microrregião da Bragan- esses fatores os investimentos a serem
tina, pela sua estrutura urbana, eviden- efetuados para viabilizar a exploração
cia o papel que desempenhou como das minas de ferro de Carajás que, sem
"ponta-de-trilho" da Ferrovia Belém- dúvida, abrirão novas perspectivas à
Bragança. Seu crescimento demográ- capital do Médio Tocantins Paraense.
fico na última década ( 31%) resulta, Reflexos sensíveis já podem ser obser-
principalmente, da área em depressão vados na infra-estrutura que está sen-
demográfica na qual se localiza. Não do montada em Marabá, reformulando
tem conseguido competir com outros totalmente essa cidade, com vistas à
núcleos populacionais de sua região, implantação planejada de sua expansão
sobretudo com Capanema. A erradi- urbana.
cação da estrada de ferro e seu isola-
mento quanto ao sistema rodoviário im- Altarnira é um dos exemplos mais ex-
plantado no leste paraense, somadas à pressivos dos pequenos núcleos urba-
crise agrária da Bragantina, afetam pro- nos amazônicos que experúnentaram
fundamente a cidade. Seus equipamen- uma fase de crescimento artificial, pois
tos urbanos não refletem um dinamis- seu desenvolvimento decorreu exclusi-
mo atual, porém são frutos da únpor- vamente de medidas governamentais
tância que a cidade possui na região, em uma política de integração nacio-
ao tempo em que se constituía na nal. Sua ascensão, em uma fase inicial,
área agricola mais importante da Ama- refletiu as medidas tomadas pelo Go-
zônia. Recentemente o Governo Esta- verno Estadual para a ocupação agrí-
dual pleiteou junto ao Poder Público cola das terras férteis, resultantes da
Federal a implantação de um pólo decomposição das intrusões básicas do
agromadeireiro em Bragança, buscando Paleozóico. A considerável produção
aproveitar as condições favoráveis des- agrícola, em uma Amazônia tradicio-
sa cidade, face às Frentes Pioneiras nalmente extrativista, ficava sem possi-
agropastoris da Guajarina e de Viseu. hilidade de comercialização por Alta·
mira, devido às dificuldades apresen-
Marabá, com um tamanho demográfi· tadas pelos transportes fluviais, blo-
co inferior e sem a tradição de Bragan- queados pelas corredeiras do Xingu,
ça, já possui uma estrutura urbana que logo a jusante da cidade. O traçado
lhe confere um tamanho funcional se- e a implantação da Transamazônica,
melhante ao da outrora capital regio- e a colonização planejada pelo INCRA
nal da Braganlina. A localização geo- colocaram em evidencia nacional esse
gráfica de Marabá explica, em grande núcleo amazônico, mais em função do
parte, o crescimento contínuo da im- desconhecimento dos programadores
portância desse núcleo urbano: situada quanto às peculiaridades da Região
justamente na área de transição entre Norte do que pela importância de
a Amazônia, o Nordeste e o Centro- Altamira no cenário econômico e so-
Oeste, desde suas origens beneficiou- cial da Região. A estrutura dessa pe-
se dessas peculiaridades. A importân- quena cidade era incompatível com a
cia de sua praça na comercialização da designação de pólo de desenvolvimen-
castanha-do-pará e, nas duas últimas to pela qual passou a ser conhecida
décadas, na rota do comércio da car- no panorama nacional; uma infra-estru-
ne para abastecer Belém, colocaram tura montada às pressas não possibi-
em ordem prioritária a implantação lita compará-la com outras cidades
da P A-70. Esta rodovia estadual é res- que, com ela, aparecem formando esse
ponsável pela ligação de Marabá com grupo. A continuidade de sua impor-
a Belém-Brasília, o que lhe facilita- tância fica na exclusiva dependência
de decisões do Governo Federal em fluvial e de um irregular transporte
considerá-la com máxima prioridade aéreo. A região de influencia desse
em um programa de atuação. núcleo urbano tem como atividade eco-
nômica predominante a coleta da bor-
Abaetetuba é, também, um pequeno racha, em moldes rudimentares, e cuja
núcleo urbano, mas com um dinamis- produção fica na dependência de uma
mo que não caracteriza a maioria dos instabilidade de preços c de uma
centros populacionais que acusara~ política de Governo que em nada be-
tamanho funcional semelhante. Domi- neficia a produção gomífera da Ama-
na uma das poucas áreas da Região zônia. A deficiência em equipamentos
Norte que, desde sua ocupação inicial, verificada na cidade de Cruzeiro do
foi dedicada, predominantemente, às Sul reflete as inevitáveis peculiarida-
atividades agrícolas. Mas, por ter sua des que envolvem a população de uma
produção vottada para a obtenção da região com uma estrutura econômica
cana-de-açúcar desde a época c:olonial, colonial: a maioria, pela sua baixa
teve seu dinamismo refreado devido a renda, demanda poucos serviços ur-
uma política protecionista adotada em banos. As perspectivas para esta cida-
relação ao Nordeste açucareiro. Essa li- de acreana são bem melhores que as
nha de atuação governamental foi mais condições atuais que enfrenta: a im-
radical com a atuação do Instituto do plantação da Rodovia Brasília-Acre
Açúcar e do Álcool, para contornar a irá incorporá-la à corrente dos fluxos
supre:nacia da produção paulista em econômicos, comandada pelo centro-
relação à do Nordeste açucareiro. sul e que terá em Porto Velho sua
Abaetetuba passou a aproveitar seus cabeça de zona; as conexões do siste-
canaviais para a obtenção de "cacha- ma rodoviário brasileiro com o pana-
ça", eliminando qualquer t:oncorrente, mericano revestirão Cruzeiro do Sul de
nesse produto, no abastecimento do va- uma função estratégica para o País; a
le amazônico. Seus terrenos argilosos ocorrência de solos férteis em sua
possibilitaram a instalação de peque- área de influência possibilitará o de-
nas olarias, cuja produção encaminha- senvolvimento das colônias agropecuá-
se para os mercados de Belém e da rias já existentes em torno da cidade;
Amazônia interior. Na última década a própria topografia que caracteriza
passou a usufruir da política de Incen- essa região facilita a introdução de sis·
tivos Fiscais para a remodelação, am- temas agrícolas intensivos, resultando
pliação e instalação de indústrias, so- em maior produtividade agrícola, com
bretudo a madeireira; esta baseia-se, benéficos reflexos para o desenvolvi-
principalmente, no beneficiamento da mento de Cruzeiro do Sul.
ucuuba, uma das espécies da flora
amazônica mais valorizada nos merca- Os demais centros populacionais ama-
dos internacionais. Abaetetuba é, tam- zônicos, representando 41% dos 34 se-
bém, um pólo comercial no baixo To- lecionados, podem reunir-se no último
cantins, vinculado às correntes de co- grupo. A equivalência do tamanho
mércio do baixo e médio Amazonas, funcional entre essas pequenas cidades
assim como serve, ainda, de entreposto decorre da igual deficiência nas suas
entre Belém e Maca pá. estruturas urbanas e limitadas áreas de
atuação. Cada uma delas possui, toda-
Cruzeiro do Sul, situada no extremo via, características específicas.
sudoeste da Região Norte, apresenta
características bem diferenciadas dos Há aquelas que já usufruíram de uma
demais centros populacionais que a ela projeção no cenário sócio-econômico e
se assemelham quanto ao tamanho cultural de sua região e mesmo da
funcional. Considerável é a distância Unidade Federada a que pertencem.
que a separa das principais cidades Cametá e Igarapé-Miri representam-
regionais e mesmo da capital do Acre nas bem. A importância das atividades
(pelo sentido da drenagem da bacia ap?colas, em seus respectivos muni-
do Juruá, paralelo ao da bacia do Clpios, com a cultura do cacau e da
Purus ), pois ficou sempre na depen- cana-de-açúcar, foi a responsável pelo
dência de uma obsoleta navegação surgimento da verdadeira aristocracia
rural da Amazônia. A concorrência 3.2 - Infra-Estrutura Social
feita por outras Regiões brasilei-
ras, quer por uma produção simi- e Econômica
lar maciça (como a do cacau, pela Ba-
hia ) quer pela política protecionista Para a estruturação desse fator, as va·
do Governo (como o açúcar do Nor- riáveis foram selecionadas visando à
deste) , foi a principal responsável pela melhor definição, no quadro intra-re-
crise sócio-econômica que passou a ca- gional, da posição ocupada pelos een-
racterizar essas áreas do Baixo Tocan- tros estudados quanto aos serviços
tins; as cidades perderam a sua ex- prestados à população e à economia.
pressão como centro de negócios e Considerou-se, para tanto, o número
transformaram-se em meros centros de de alunos, de médicos, de leitos hos-
expulsão do elemento humano nelas pitalares, de telefones, de caminhões,
radicado em direção a Belém; a pró- de passageiros aéreos e o consumo de
pria evolução demográfica dessas ci- energia elétrica por habitante urbano,
dades atesta a perda de seu dinamis· assim como o índice de urbanização
mo anterior. registrado, em 1970, por essas sedes
municipais.
Manacapuru não pode se beneficiar de
Essa dimensão, embora apresentando
sua proximidade da capital amazonen-
significativa correlação com o tama-
se; domina uma região cuja base eco-
nlio funcional, ressaltou aspectos ou-
nômica repousa em uma agricultura
de produtos regionais, que não encon- tros, tais como:
tra no mercado de Manaus - voltado a ) a infra-estrutura social e econômi-
para a comercialização de produtos ca concentra-se nas capitais das Uni-
alienígenas - um incentivo para de- dades da Região Norte. Essa caracte·
senvolver e ampliar aquela produção. rlstica é encontrada em outras Regiões
Mesmo a abertura de uma rodovia e o brasileiras, pois resulta de uma tradi-
estabelecimento de linhas mistas de cional política de canalização dos in-
transporte (rodoviário e fluvial ) ligan- vestimentos governamentais para as
do-a a Manaus não foram suficientes capitais. Na Amazônia, entretant~, tais
para que Manacapuru. viesse a usu- aspectos encontram-se mais salientes,
fruir de benefícios que idênticas me- justamente por se tratar da Região me-
didas haviam possibilitado a Itacoa- nos desenvolvida do País e de ser re·
tiara. cente a interiorização de ação do Go-
verno.
Capitão Poço surgiu na década de 60, b) a defasagem que separa Belém de
no subcomando da Frente Pioneira Manaus, e essas duas cidades das ou-
agrícola (exclusivamente da malva) tras capitais localizadas na Região
da Guajarina. Um pequeno strassendorf Norte, é bem menor quanto a esse fa-
em 1965, possuía, em 1970, aspectos tor do que a apresentada peo tama-
de cidade, suplantando em tamanho nho funcional.
populacional centros urbanos tradicio- c) centros que exerE:em uma função
nais como Manacapuru e Conceição importante no âmbito sub-regional si·
do Araguaia. Sua deficiência em equi- toaram-se em nível superior a outros
pamentos urbanos reflete, ainda, sua que, mesmo sendo sedes político-ad-
pouca idade, em uma Amazônia sub- ministrativas de Unidades Federadas,
povoada e subdesenvolvida. O dina- atuam em áreas menos expressivas do
mismo da área em que se localiza, ponto de vista demográfico e econô-
visualizado através da diversificação mico.
da ocupação econômica (instalação e
expansão das invernadas e de culturas A análise do posicionamento ocupado
de pimenta-do-reino) , aliado a sua pelos centros deve, portanto, levar em
proximidade da Metrópole Regional consideração esses tres aspectos .
abrem-lhe novas e otimistas perspec- Em Belém e Manaus encontram-se os
tivas·. melhores equipamentos urbanos da
Região Norte, refletindo a importància terísticas mais de inchamento urbano.
que essas duas cidades tiveram na \f as, em termos de Amazónia, pode-
ocupação econõmica do mncroespaç:o se considerar como boa a infra-estrutu-
amazõnico, o que garantiu-lhes uma ra social e econàmica nelas existente.
predominància e<.:onómica, social, po-
lítica e cultural, em relação aos demais O uivei ocupado por Porto Velho, Ma-
centros urbanos regionais. Esses <\tribu- capá, Rio Branco c Boa Vista resulta
tos, somados ao teor demográfico que de peculiaridades atinentes às quatro
possuem, explic-c1m a aplicação de cidades acima mencionadas t• das res-
grandes investimentos governamentais, pectivas áreas ('tn que atuam, quais
objetivando reestruturar, ampliar e mo- sejam:
derni~r os equipamentos existentes, e
a ) sob o ponto dt• vista político-ad-
não simplesmente implantá-los. Hoje, mini!>trativo, são hierarquicamente im·
como ontem, Belém e \lanaus são alvos portantes pela sua situação de capitais
prioritários de empreendimentos ofi- de Unidades Federadas. Esta função
ciais. Na natureza dessa atuação en- não dimina a de ser<·m sedes dos mu-
contra-se a principal diferença política nicípios em que se localizam .
governamental programada para t'ssas
cidades. Em Belém, pela melhor infra- b) nelas se registra uma concentração
estrutura social e económi<:a que sem- acentuada dos equipamt.'ntos urbanos
pre possuiu assiste-se à montagem de existentes nos Territ6rios Federais e
serviços mais sofisticados, orientando- no Estado do Acre. Em 1972, em \ia-
se a Metr6pole da Amazónia para uma capá e em Boa Vista se localizavam a
especialização nestes setores; em Ma- totalidade dos médicos e dos leitos
naus o esforço feito foi maior e mais hospitalares de Amapá c de Roraima.
tardio, pois se tratava tanto de rees- Em Porto Velho. 7frl. c 84~ dos exis-
truturar os serviços que se encontra- tentes em Rondônia. Rio Branco pos-
vam obsoletos como de montar outros, suía 65$ dos leitos hospitalares acrea-
ainda inexistentes, mas indispensáveis nos. No ano considerado, a média na-
para que a capital ámazoncnse pudesse cional de participação das capitais nos
fornecer o apoio necessário às realiza- subsetores de saúde rE-gistrava 55,50%
ções do Governo Brasileiro na Amazó- e 38,44%, respectivamente.
nia ocidental.
c) à sua atuação de Governo vem se
Na defasagem de equipamentos regis- juntar o subpovoamento e a depressão
trada entre Belém e Manaus e, prin- económica de seus municípios e/ ou
cipalmente, entre essas duas cidades e áreas adjacentes. Os municípios de
as outras capitais e centros regionais, Macapá, Porto Velho e Boa Vista, ao
encontra-se a causa fundamental do contribuírem, em 1970, com 75$, 77'JJ
poder de atração inter e intra-regional e 89% para a população total do Ama-
que Belém, secundada por Manaus, pá, de Rondônia e de Roraima, evi-
exercem. Ou seja: no aspecto inter- denciavam o agudo subpovoamento
regional, vantagens comparativas tor- que domina nas demais comunas des·
nam-nas os centros preferidos para os ses Territórios Federais, sendo que, no
investimentos da iniciativa privada nos primeiro e no terceiro, as outras sedes
setores industrial e de serviços. No as- municipais existentes exemplificam me-
pecto intra-regional há aumento cres- lhor um tipo de habitat rural grupado
cente de intensidade dos fluxos mi- do que propriamente cidades. Os ín-
gratórios. São elevados os índices de dices de urbanização de ~1acapá
urbanização registrados, em 1970, pe- ( 59,6$), de Porto Velho ( 48$) e de
las duas maiores cidades da Região Boa Vista ( 41$ ), quando visualizados
Norte ( 90,35$ e 91,64$, respectivamen- ao lado das densidades demográficas
te). Todavia, em função do fenómeno rurais de seus municípios ( 1,2 hab./
migrat6rio é diluído o desenvolvimento km 2, 0,46 hab./km!! e 0,20 hab./km2 ),
urbano e constata-se um crescimento ressaltam o agudo subpovoamento que
desordenado de seus bairros periféricos caracteriza as áreas em que se locali-
que concedem às duas capitais carac- zam essas cidades.

446
d) são prioritárias para ação oficial, b) usufruem de uma regular é cons-
mas a administração pública, ao parti- tante navegação fluvial, não se regis·
cipar da população economicamente trando, por isso, elevados índices de
ativa do setor Terciário, com 22% em passageiros aéreos: esses aparecem de
Porto Velho, 34% em ~tacapá, 43% em maneira mais expressiva em Santarém,
Boa Vista, comprova que o Governo pela localização de seu aeroporto, a
também é o maior usuário desses equi- funcionar como ponto de apoio às via-
pamentos. gens intra-regionais.
e ) a distância entre os centros de de- c) ambas vêm sendo atingidas pelas
cisão intra-regional (Belém) e nacio- renovações introduzidas na Amazónia:
nal (Brasília) justifica o número eleva- Santarém vem sendo alvo de grandes
do de passageiros aéreos (constituídos, investimentos em sua infra-estrutura
principalmente, por pessoas ligadas à sócio-econômica: a Universidade Fe-
administração pública ) . deral do Pará selecionou-a como uma
das cidades para realização de cursos
Esses centros podem ser classificados de curta duração, objetivando a im-
como possuindo uma infra-estrutura so- plantação da reforma educacional; am-
cial e econômica de nível médio em plia-se a sua rede telefônica; seu porto
um estudo intra-regional. ganha nova expressão quanto li fre-
qüencia de viagens intra e inter-regio-
Dos 34 núcleos selecionados para essa nais e, em menor escala, internacionais.
análise, cerca de 53% possuem uma Abaetetuba passa por transformações
deficiência de equipamentos urbanos, semelhantes devido ao dinamismo que
ficando ressaltado, uma vez mais, o caracteriza sua área de atuação c, prin·
subdesenvolvimento amazonico . cipalmente, pelo novo surto da indús-
Reunir 18 cidades em um só grupo tria madeireira.
não significa igualá-las na importância Cruzeiro do Sul e Tefé localizam-se em
que possuem no quadro regional e/ou sub-regiões onde o extrativismo vege-
sub-regional. Significa, sobretudo, tra- tal é ainda significativo e responsável
duzir que a infra-estrutura soda! e eco- pelos elevados índices de participação
nômica nelas existente é deficiente pa- do setor Primário no perfil de empre-
ra atender à demanda de suas respec- go de seus respectivos municípios: 82i
tivas áreas de atuação. e ~. Diferem, entretanto, quanto ao
Guajará-Mirim, ao obter nesse fator o índice de urbanização: 1~ e 37i, pois
mesmo score que Santarém, não se re· em tomo da cidade ac:reaua desenvol-
vestiu do importante papel de capital ve-se uma região agrícola de grande
sub-regional que essa cidade paraenst' potencialidade; já a cidade amazonen-
desempenha no médio Amazonas. Am- se, apesar de melhor localizada, ainda
bas, todavia, são caracterizadas por usufrui em escala muito pequena dos
um subequipamento <:m serviços ur- fluxos r~gionais. Continua a desem-
banos quanto às suas respectivas áreas peuhar o papel de etapa de migração
de atuação. para Manaus, uma vez que o pequeno
surto madeireiro que se observa <•m
A evidência de um subequipamcnto seu município não beneficia a cidade;
em Santarém e Abaetetuba é um re- os estabelecimentos buscam, em sua
flexo de uma série de peculiaridades maioria, locais de mais fácil acesso de
dessas cidades paraenses e das respec- matéria-prima .
tivas áreas em que atuam, tais como:
Os dez centros restantes são cidades
a) a significativa participação do se-
tor Primàrio ( 75% e 64%) no perfil de que acusaram os menores tamanhos
emprego de seus municípios é a tradu- funcionais. Possuem infra-estrutura so-
ção de áreas povoadas e de expressão cial e econômica muito deficiente; são
agrícola da Região Norte: o Médio exemplos expressivos desse grupo,
Amazonas Paraense e o Baixo Tocan- Maués, Capitão Poço e Conceição do
tins. Araguaia.

447
3.3 - Acessibilidade à c) Guajará-Mirim, Porto Velho, Rio
Branco, Cruzeiro do Sul e Boa Vista
Metrópole Regional registram os maiores afastamentos e
difícil acessibilidade a Belém. As liga-
Duas variáveis foram responsáveis pela ções fluviais demoradas e incertas agra·
estruturação desse fator: distância em vam o problema da rustância, conce-
linha reta à Metrópole e percentual de dendo aos transportes aéreos maior
passageiros aéreos em relação à popu· freqüência e importância.
lação urbana da sede municipal con-
siderada. A localização de Manaus nesse grupo
decorre, em primeiro lugar, de sua
Observou-se uma constante correlação função de nó aeroviário para as via-
entre as duas variáveis pois à maior gens que, de Rio Branco, Porto Velho
distância à Metrópole, correspondeu e Boa Vista, dirigem-se para Belém;
maior índice de passageiros aéreos e em segundo, pelo Último relacionamen-
vice-versa. to de interesses econômicos entre as
duas cidades mais importantes da Ama-
Essa correlação resulta da extensão zônia, que não podem ficar depen-
territorial da Região Norte; da locali- dentes de uma demorada navegação
zação de Belém (centro de serviços fluvial.
especializados e recorrido por todas as
cidades) na periferia oriental da Ama-
zônia, às quais se v6m agregar a fa!en-
cia da navegação fluvial e a implan- 3.4 -Grau de Tradicionalismo
tação de um sistema rodoviário asfal- ou de Modernização
tado, servindo apenas a algumas sub· das Indústrias
regiões.
Quanto a esse fator, foram individua- Esse fator foi cstruturÇtdo em quatro
lizadas três áreas: atributos referentes às indústrias tra-
dicionais e modernas quanto aos per-
a) área de fácil acesso a Belém: os centuais de pessoal ocupado e do va-
centros nela localizados não registra- lor de vendas .
ram passageiros aéreos, pois o acesso
à Metrópole é reaJjzado pela utilização Como tradicionais foram consideradas
de um sistema rodoviário implantado as indústrias de beneficiamento da
no leste e sudeste paraense; incluem-se produção extra ti vista vegetaJ (borra-
nesta categoria as cidade de Vigia, Sa- cha) e anjmal (couros e peles), as
lin6polis, Capauema e Castanha!. Ou- primeiras, evidentemente, surgidas nas
tros centros localizados nesse grupo cidades amazônicas em conseqüência
utilizam-se de um sistema de transpor- do surto da borracha; as de constru-
te rodofluvial (como Abaetetuba) ou ção de embarcações, bastante difun-
fluvial (como Portei) . didas na Amazônia e, em sua maioria,
constituídas por pequenos estabeleci-
b) dos S4 centros analisados, cerca de mentos; as alimentares formadas pre·
59% acusaram uma distância média à
dominantemente por pequenos estabe-
Metrópole. Nelas, deficiencias da na-
vegação fluvial·já se fazem sentir e o lecimentos de produção de farinha de
transporte aéreo passa a ser utilizado manruoca, de rapadura, por padarias;
com maior freqüência, de acordo com e as de bebidas, onde sobressaem as
as necessidades de melhor relaciona- de aguardente. As indústrias de bis-
mento com Belém. Essas cidades loca- coitos, os moinhos de trigo, as indús-
lizam-se ao longo do rio Amazonas trias de sorvetes, de cerveja, relativa-
( Santarém, Oriximiná, óbidos, Parin- mente recentes, não foram incluídas
tins, Itacoatiara ... ), ou nos baixos por não constatarem da fonte estatís-
cursos de seus afluentes, como Came- tica (Registro Industrial de 1965) dis-
tá e Tucuruí, no baixo Tocantins e ponível na época da elaboração do
Altamira, no XiQgu. estudo.
REGIAO NORTE

FIG 3
- -- 17 ,.
FATOR 11
IHf'RA- ESTR\.ITI.III.t
sóao-ElXlfÔICA
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- IIUitO ocncttJm
Esse fator identificou centros onde há quais pode-se mencionar Macapá, Ita-
predominância de estabelecimentos in- coatiara. Parintins e Capanema. Na
dustriais tradicionais; centros onde, ao primeira, a extração do manganês
lado dos estabelecimentos tradicionais, absorveu a quase totalidade do pessoal
aparecem indústrias modernas e cen- ocupado e é, também, responsável pela
tros onde há predominância de indús- importância que atingiu a indústria
trias modernas: moderna na participação do total das
vendas. Capanema se beneficiou da
a) Centros tradicionais: instalação das indústrias de cimento e
de fiação e tecelagem, ambas utilizan·
Esse grupo reuniu cerca de 35~ dos do matéria-prima da região (o calcá-
centros analisados. A melhor represen- rio e a malva). Itacoatiara e Parintins
tação dessa categoria é, sem dúvida, passaram a usufruir de parte da pro·
Igarapé-Miri. Pequena cidade localiza- dução da juta do médio Amazonas pa·
da na Microrregião do Tocantins, tem ra alimentar suas indústrias de fiação
seu setor Terciá-rio constituído exclusi- e tecelagem. (anexo 4).
vamente por pequenas fábricas de
aguardente, melado e rapadura, cujos
excedentes de produção destinam-se
às feiras de Belém. Santarém e Rio 3.5 - Esboço de Tipologia
Branco aparecem nesse grupo. Esclare- Urbana
ça-se, entretanto, que a partir de 1967
passaram a usufruir da política de In- As características estruturais das cida-
centivos Fiscais, aplicados no setor des amazônicas, definidas oela análise
Secundário. Santarém, por exemplo, fatorial, foram utilizadas para a elabo-
em 1970 já registrava 5 estabelecimen- ração de uma análise de agrupamento,
tos no setor têxtil, ocupando 164 pes- baseada nos coeficientes de similari-
soas e 8 indústrias madeirei.Fas que dade entre os centros urbanos da Re-
reuniam 68 pessoas. A própria indús- gião Norte.
tria de beneficiamento do látex é hoje
A análise de agrupamento, ao medir
uma das que apresenta boa produti-
vidade. ( Fig. 8). índices de similaridade entre pares de
cidades, permitiu o agrupamento das
mesmas, levando em conta o conjunto
b) Centros intef'f116diárlos: de suas caracterísicas, definidas pelos
Representado por 14 cidades ( 41~ do vários fatores e segundo o grau de ge-
total considerado), entre as quais fi. neraliza-ção que permitisse estabelecer
guram Belém, Manaus e Porto Velho. o máximo de diferenciação da MetrÓ·
Nas duas primeiras, sobretudo, ainda pole Regional e o conjunto de cidades
existem numerosas indústrias tradicio- amazônicas. ( Fig. 4).
nais, decorrentes do papel que sempre
representaram no beneficiamento da Belém s6 se liga ao sistema com eleva-
produção extrativista e de pequenos es- do índice de generalização, salientan-
tabelecimentos da indústria alimentar, do-se após a Metrópole, Manaus, e em
seguida Porto Velho e Macapá. Só a
que proliferam em seus bairros perifé- partir dessas quatro cidades é que
ricos. Mas é justamente nessas cidades
surgem os centros reunidos em grupos,
que, a partir de 1967, vem se assistin-
cuja constituição tem maior número,
do à modernização no setor; a aplica·
à proporção que as pequenas cidades
ção de Incentivos Fiscais vem possibi- passam a ter uma influência meramen-
litando, por um lado, a reformulação, te local.
ampliação e modernização de estabele-
cimentos industriais; por outro, a ins- Os grandes agrupamentos foram os
talação de indústrias modernas. seguintes:
c) Centros trwis modernos: 1 -Belém
Esse grupo apareceu constituído por 2- Manaus
24~ dos centros estudados, entre os 3 - Porto Velho e Macapá
REGIÃO NORTE

-"'"'"·

ESIIOCO llf: TIPOLOGIA UMAMA

c:orroo oon~TIUIO ~~tOIOIIAI.

. .. CCNTIIO I06IOIIAL

--M:-
Ç(NTI!OS SUIH<l-
M--

--0 10 co
-=
- ....
....
COITOCS
COITAOS LOCAIS
CUTIIOS I.OCAit
---
~ - Guajará-~firim, Boa Vista, Santa- cuja importância depende do maior ou
rém, Castanha!, Altamira e Rio Bran- menor dinamismo que individualizam
co. suas áreas de atuação. (anexo 6).
5 - Ananindeua, ~faués, Tefé, Portei, d) Conceição do Araguaia, Maués,
Capanema, Itacoatiara, Parintins e Tefé, Portei, Capanema, Itacoatiara e
~larabá. Parintins diferem quanto ao tamanho
funcional e à infra-estrutura social e
6 - Salinópolis, Igarapé-Miri, ~fana­ econômica, mas apresentam similari-
capuru, Vigia, Capitão Poço, Bragan- dade quanto ao setor econômico, dado
ça, ~lonte Alegre, Oriximiná, Tucuruí, a existência de indústrias modernas
Cametá, Coari, Abaetetuba, óbidos, em seus municípios. Usufruem das ma-
Alenquer, Soure, Cruzeiro do Sul. térias-primas que suas áreas de atua-
ção fornecem (madeira, calcário, fibra
Observe-se que a seqüência dos gru- de juta), e também da poHtica de In-
pos e das cidades não obedece a ne- cen'tivos Fiscais, dado as vantagens
nhum critério de hierarquia. comparativas em relação a outros cen-
tros de igual porte ( Tab. 3).
Entretanto, o agrupamento geral indi-
ca algumas características que mere-
cem registro especial:
a) Dois centros urbanos se destaca- 4- AS CIDADES E SUAS
ram de maneira expressiva dos demais: REGIÕES DE INFLUÊNCIA
Belém e Manaus. Face às caractersti-
cas ~ncontradas entre as cidades da As características apresentadas pelas
Região Norte, o grande tamanho fun- cidades amazônicas são reflexos de
cional e uma melhor infra-estrutura uma organização espacial que concede
social e econômica foram os responsá- à região funcional urbana de Belém
veis tanto pela individualização desses diferenças fundamentais quando com-
dois centros como pelo seu total dis- parada às elaboradas por outras Metró-
tanciamento dos demais centros w·ba- poles brasileiras.
nos regionais. (anexo 5).
b) Porto Velho e Macapá apresentam A natureza e intensidade dos relacio-
similaridade quanto ao tamanho fun- namentos entre os diversos centros ur-
cional e à infra-estrutura social e banos definem uma rede urbanà ainda
econômica, embora a capital amapa- não totalmente estruturada.
ense apresentasse melhor índice de
proximidade de Belém. Essas _!liferen-
ças, entretanto, não foram suficientes 4.1 -A Organização Urbana
para reduzir o afastamento que regis- da Região
traram quer · em relação a Belém e a
~anaus quer aos demais núcleos ur· A região urbana sob o comando de
banos de hierarquia mais baixa. Belém apresenta como características
básicas:
c) Rio Branco, Boa Vista, Guajará-
Mirim, Castanha!, Santarém e Alta- a) extensão terrltorilll: o raio de ação
mira diferem quanto a sua função po- de Belém engloba uma área superior
lítico-administrativa; as duas primei- a 3.800.000 lcrn 2, o que significa ul-
ras são capitais de Unidades Federa- trapassar os limites político-adminis-
trativos da Região Norte, pois atinge
das, enquanto que as outras são apenas o noroeste e o sudoeste maranhenses
sedes municipais. O posicionamento e o norte goiano. A implantação das
delas nesse grupo reflete a aproxima- Rodovias Belém-Brasília e Pará-Ma-
ção, em termos de nível médio, quan- ranhão resultou na sedimentação dos
to ao tamanho funcional dentro de relacionamentos entre os centros exis-
padrões amazônicos e da função que tentes nessas áreas e a capital do Esta-
desempenham de centros sub-regionais, do do Pará.
Tabela 3 Tamanhc populacional e polição ocupada nos diferentes fatores

TAMANHO
POPULA-
CIDADES CIONAL
(1970) Fator I Fator II Fator III Fator IV

Belém . ............... 585.097 57 . 1438 -o.8021 14.6918 + 0 .2745


Manaus ............... 284. 118 31.4846 1 .8426 11 . 7424 -2.8041
Macapll................ . 51.563 5 .8025 6 .0417 6.6990 -o.4465
~taréDl . ...........• 51 . 123 0.9160 - 5 .3437 1.4521 -o.6385
Porto Velho ...... . .... 41.146 4. 0635 -o.5819 7 .2380 - 3 .9649
Rio Branco ........... 34 .531 1.3198 - 5 .9717 5.7219 - 3 .4449
Caatanhal.. ........... 24.815 0.3195 - 3.8679 2 . 7553 1.2355
Abaetetuba ..... . ... . .. 19.197 - 3 .0961 0. 1852 - 2. 0284 1.4656
Parintins .. ............ 16 .721 - 2 .5413 4 .3504 - 1.5946 0.6600
Boa Vista ............. 16.720 - 0 .9460 -o.2538 4 .8074 -2.6027
Bragança.............. 16 .642 - 2 .5827 - 2 .2412 - 1.0952 0.6233
Itacoatiara .. .......... 15.881 - 2 .0274 5 .3295 - 0 .4532 0 .5354
Capanema ............. 15.616 - 1.4009 5 .0520 0 .8735 2 . 1587
Marabll. .... ........... 14.592 - 2 .7006 0 .7195 0. 1529 0.7429
Alenquer .............. 10.825 - 3.2909 -o .6232 - 2.7080 0.2475
Guajanf...Mirim ........ 10.823 - 2 . 1484 -2 .6727 1.3815 -1.8091
Vlgia•........•....... 10.231 - 4 .6681 -3 .7034 - 2.3217 1.7332
Soure................. 8 .958 - 4 .8849 -o .6216 - 2.2034 3 .3431
Co&ri .. . . ....... ...... 8.860 - 4.. 1810 - 1.4006 - 3.8250 -o.2270
Óbid.oe ....•..... ...... 8 .657 - 3 .2842 -o.5923 - 1.3874. 0.8152
Cruseiro do Sul ....... 8 .426 - 3.7903 0.9177 - 0.7615 -4..6371
Came~ ...... ........ . 7 .965 - 4 . 1890 -o.8956 - 3.0873 0.6819
TeM . . . . .............. 7 .076 - 4 . 2731 -6 .6371 - 2.5956 -o. 3038
Oriximinll.............. 6 .774. - 4 .7088 -o. 1138 - 3.8357 1. 0126
Salinópolis .... . . .... .. 6 .853 - 2 .4754 0.4815 - 1.0417 1.9724
Maub! .... ............ 6 .011 - 4 .9082 4. 3827 - 3. 1727 0.7325
Monte Alegre ..... .. .. 6.008 - 4. 1580 - 3 .2971 - 1. 1326 0.6979
AI~ .... .. .. ...... 5 .741 - 3 . 1283 -6. 1209 - 0 .5997 0 . 14.84
Portei .. . ............. 5 .711 - 8 .4363 6.6487 - 4 .5050 1.0874
I~~i ........... 5 .890 - 4 .3588 -4. .2481 - 4 .0339 0 .5159
Tucuruf .•..•... •. .. •.. 5 .549 - 4.4751 1. 1525 - 3 .7191 0 .8462
Capitão Poço .......... 5 .404 - 5 .9592 - 1.8841 - 4 .8125 0 .3036
Manacapuru ........... 5 . 113 - 4 .3604 - 3 . 1556 - 3 .7144 - 0 .9720
Conceição do Araguaia 4 .959 - 5.8964 4.8284 - 3 .0883 -o. 1836

Facor I - Ta17Ulrlho Funcional (58 .50).


Fator U - Grau ck Tradicionalismo ou Modemir.açllo de Indústrias (12 .67).
Facor W - lnfra·Estrutura Social e Econdmica (11 . 19).
Fator IV - Acessibilidllck d Metr6pole (5 .65).
b) subpoooamento regional: essa a atuação de Belém a eles se sobrepõe
imensa região caracteriza-se por agudo através de relacionamentos diretos até
subpovoamento. Considerando-se ape- mesmo com pequenos centros de in·
nas a Região Norte, em 1970, registra- fluência exclusivamente local.
ram-se, como população residente,
8. 602.171 habitantes, o que lhe pro-
porcionou uma densidade demográfica 4.2- Centros Macrorregional,
geral de um habitante por quilõmetro
quadrado. Outra não é a característi- Regional e Sub-Regionais
ca encontrada nas áreas maranhenses Na caracterização das regiões funcio-
e goianas sob a órbita de Belém. nais urbanas do Brasil 2 Belém apare-
Esse subpovoamento é agravado pela ce como um centro de nível1d, ou seja,
densidade da distribuição da popUla- um centro macrorregional com grande
ção nesse macroespaço: áreas povoa- intensidade de relacionamentos em um
das são separadas por outras, bem amplo espaço e grande independência
mais extensas, onde a população é ra- de atuação em sua área de influência.
refeita e não muitas vezes constitu-
indo, ainda, vazios demográficos. A extensão e interiorização da atuação
de Belém foi possibilitada por uma
c) concentTação da população urba- série de fatores; entre os quais figu-
na em uns poucos centros: em Belém ram predominantemente:
e Manaus, em 1970, residiam cerca de 1.0 a facilidade de penetração inte-
57% da população urbana da Região rior através da rede hidrográfica do
Norte e, das 143 sedes municipais, 34
Amazonas que converge para a ca-
possuíam mais de 5. 000 haliitantes,
pital do Estado do Pará;
contribuindo com 88% para a popula-
ção urbana da Amazônia. 2.0 a organização de viagens aéreas
intra-regionais que se dirigem para
d) padrão tradicional da cidade pri- Belém;
maz evidenciado pela desproporção
da força regional de Belém, secundada 8.0 o desenvolvimento de sua tradi·
por Manaus, quanto aos demais cen- cional praça comercial, de seu setor
tros amazônicos. O tamanho funcional administrativo, da diversificação e es-
de Belém representa 10 e 14 ve~s os pecialização em serviços e, mais recen-
tamanhos registrados para Macapá e temente, do crescimento de seu setor
Porto Velho, terceira e quarta cidades industrial;
da Região Norte.
4.0 o subequipamento dos demais cen-
e) uma rede urbana incompleta pela tros regionais, inclusive Manaus.
ausência e irregularidade de distribui-
ção dos centros de nível hierárquico Esses atributos são responsáveis pelo
inferior. Nessa imensa região, sob a número de relacionamentos mantidos
subordinação de Belém, existem 26 entre Belém e os demais centros ama-
centros, com apenas um centro regio- zônicos. Em 1965 eles já atingiam cer·
nal (nível 2a), representado por Ma- ca de 1.100 e pela superposição de
naus; não se registrou nenhum centro sua área de influência às de Manaus,
do nível 2b. Os centros sub-regionais, Macapá, Porto Velho, Rio Branco,
em número de 11, distribuíam-se assim: Santarém e Castanha!, de que são
seis pela categoria 3a e cinco pela ca- exemplos típicos dos relacionamentos
tegoria 3b. Entre os primeiros figura- diretos de Parintins e Itacoatiara, por
vam as cidades de Porto Velho, Ma- exemplo (ambas na área de atuação de
capá, Rio Branco, Santarém, Casta- Manaus}.
nha} e Imperatriz (MA) .
Quanto à natureza desses relaciona-
f) fragilidade na hierarquia e inte- mentos há, pela própria caracter(stica
ração entre as cidades, pois embora es- estrutural da economia amazônica, a
boçada a região de atuação dos diver- predominância dos fluxos da produção
sos centros (regional e sub-regionais), primária e de distribuição de bens e
de serviços à população. Os serviços A pro1eçao de Manaus na Amazônia
prestados à economia são de menor ocidental prende-se a uns tantos fato-
significado pelo estágio de desenvol- res que podem ser assim resumidos:
vimento da Região Norte e, logicamen-
te, J>ela baixa renda que possui a a) sua localização no centro da Re-
grande maioria da população regional. gião Norte, justamente na confluência
do Negro com o Amazonas. Usufruindo
A implantação de um sistema rodoviá- da navegabilidade, em qualquer época
rio inter-regional contribuiu tanto para do ano, no Amazonas e nos seus gran·
ampliar a área de atuação de Belém des afluentes, Manaus teve a possibi-
como também lhe possibilitou um lidade de interiorizar seus refaciona-
acesso mais fácil às demais Metrópoles mentos;
brasileiras, fazendo com que esta cida- b) suas funções de localidade cen-
de aumentasse sua função de redistri- tral foram significativas a partir das
buidora de bens, r.rovenientes, sobre- últimas décadas do século XIX, pela
tudo, do centro-su , especialmente das franquia de navegação no Amazonas
Metrópoles Nacionais. para embarcações estrangeiras e pelas
Belém também funciona como um cen- instalações portuárias recebidas para
tro regional para uma área mais ime- facilitar o escoamento da produção go-
diata, onde os relacionamentos dos mífera;
centros são realizados quase que exclu- c) suas funções de localidade central
sivamente com a capital do Pará. explicam a ação do Governo Brasileiro
Esta área, outrora limitada aos Cam- em escolhê-la para instalação de uma
pos de Marajó, a Tocantina, ao SaJ- refinaria de petróleo ( resJ>ünsável pe-
gado e a Bragantina, encontra-se hoje lo abastecimento, em combustível, de
em franca expansão, e o crescimento toda a Amazônia) e, mais recentemen-
de Belém é responsável pelas transfor- te, para implantação de um aeroporto
mações que se observam nessas áreas, supersônico;
como também pelo dinamismo da ocu- d) a concentração da infra-estrutura
pação da Guajarina. social e econômica do Estado do Ama-
O sistema rodoviário de que é dotado zonas em sua capital: 84,7$ da potên-
o leste paraense é o responsável pela cia elétrica instalada, 57$ dos hospi·
irradiação da atuação de Belém, mas tais, 91$ dos leitos hospitalares, assim
também, ao encurtar as distAncias que como os mais importantes e diversifi-
a separa dos demais centros, diluiu a cados estabelecimentos de ensino mé-
importAncia de Castanha! (centro re- dio e uma Universidade, a segunda
gional) e de Capanema (centro sub- em importAncia na Região Norte.
regional). As facilidades de acesso à ~. em realidade, a única cidade na
capital da Amazônia, melhor equipada, Amazônia ocidental capaz de distribuir
provocaram cada vez maior número de bens de consumo e serviços à popu-
relacionamentos diretos dos centros lo- lação e à economia. Mas os relaciona-
calizados no leste paraense (mesmo os mentos de Manaus com a Amazônia
de expressão nitidamente local) com interior são deficientes, devido à de-
Belém. sarticulação e pobreza da economia
amazonense, derivadas do subpovoa-
Manaus é o segundo centro regional mento, da crise social e econômica
da Amazônia. Difere de Belém princi- proporcionada pela falência do extra-
palmente por ser dotada de equipa- tivismo vegetal e, logicamente, pelo
mentos menos diversificados. A área obsoletismo da navegação fluvial.
em que exerce sua influência impres- A implantação da Rodovia Brasília-
siona, também, pela ampla extensão Acre resultou na redução dos relaciona·
( 2. 234 .802 km 2 ), mas caracteriza-se mentos de Manaus com Porto Velho e
l??r um agudo subpovoamento .... Rio Branco, atualmente mais voltadas
( l. 328. 310 habitantes) . para o centro-sul do País.
Manaus, em realidade, realiza maiores cionamentos com a capital acreana,
relacionamentos com a Microrregião do atraindo-a para sua área de atuação e,
Médio Amazonas. Esta constitui a através de Guajará-Mirim, exerce sua
verdadeira região de Manaus e é a influência sobre a margem esquerda
área mais ocupada do Estado do Ama- do rio Mamoré, onde as atividades
zonas, abrigando mais de 61% da po- primárias começam a se diversificar.
pulação estadual. Dela provém a qua- A exploração da cassiterita por grandes
se totalidade da renda do Estado, pela grupos econômicos, a implantação de
produção maciça de bens de consumo: projetos agropecuários e uma coloniza-
com ~ dos estabelecimentos indus- ção dirigiaa, voltada, sobretudo, para
triais e com 92% da produção de ener- a agricultura, são os principais respon-
gia, responde por 9~ da produção sáveis pelo dinamismo que caracteriza
industrial amazonense. a área de influência direta da capital
do Território de Rondônia .
Esta projeção de Manaus no cenário
estadual e regional deve-se, principal- A implantação da Rodovia Brasília-
mente, à instalarão, em seus quadros Acre, suplementada por uma série de
urbanos, de uma Zona Franca de Livre ramais, buscando facilitar o escoamen-
Comércio, a partir de 1967. O setor to da produção de cassiterita, possibi-
Terciário revestiu-se de dinamismo pela litam a Porto Velho um melhor rela-
ampliação das atividades comerciais, cionamento com as áreas em que pas-
pelo crescimento ~nstante do movi- sou a atuar. A estrada Brasflia-Acre
mento portuário, pela ampliação da representou para esta capital, sobretu-
rede bancária e pelo reequipamento do, a libertação de uma obsoleta na-
dos demais subsetores de serviços. O vegação fluvial, responsável pelo seu
setor Secundário, que usufrui de uma acesso a Belém. Mas também contri-
série de regalias (isenção e aplicação buiu de maneira decisiva para o au-
de Incentivos Fiscais), tem-se voltado, mento de intensidade dos fluxos migra-
sobretudo, para a montagem e acaba- tórios provenientes do centro-sul e de
mento de produtos importados. Não sua captura por São Paulo. Evidente-
vem, por isso, contribuindo para uma mente que Porto Velho não era dotado
modificação substancial da estrutura de uma estrutura capaz de usufruir
econômica do Estado do Amazonas. totalmente de relacionamentos diretos
Nesta região de Manaus se localizam com a grande Metrópole Brasileira. A
os únicos centros sub-regionais do Es- caótica expansão de seu setor comer-
tado do Amazonas. cial fez com que retomasse sua melhor
infra-estrutura social, montada unica-
Na categoria de centros sub-regionais mente por desempenhar as funções po-
de nível Sa encontram-se três capitais lítico-administrativas de uma Unidade
de Unidades Federadas: Porto velho, Federada, cuja finalidade é abastecer
Macapá e Rio Branco, e duas cidades em bens de consumo apenas os peque-
paraenses: Santarém e Castanhal. nos centros de sua área de atuação,
perdurando, contudo, seus relaciona-
Esses centros, embora considerados no mentos com Belém e com Manaus
mesmo nível, apresentam, atualmente, quanto aos serviços prestados à popu-
importância sub-regional bem diferen- lação no setor saúde, acompailhado
ciada, resultante de transformações de perto pelo setor educacional.
ocorridas em algumas das áreas em
que atuam. A função da capital de Rondônia co-
mo "cabeça de zona" de São Paulo s6
Porto Velho, caEital de Rondônia, tem será possível quando as atividades
sob seu comanao uma área superior econômicas de suas áreas de atuação
a 277. 000 km2, transcendendo os limi- estiverem suficientemente desenvolvi-
tes político-administrativos desse Ter- das nos setores de produção agrícola e
ritório Federal; seu raio de ação, atra- pecuária.
vés do rio Madeira, atinge o pequeno
centro amazonense de Borba; pela Ro- Macapá, sede poHtico-administrativa
dovia Brasília-Acre desenvolveu rela- do Território Federal do Amapá, está

456
na dependência direta de Belém; so· tureza e intensidade de seus relaciona-
bressai-se entre os demais centros sub- mentos, que não se restringem à sua
regionais da Amazônia, mesmo consi- sub-região. A área a ela subordinada
derando-se aqueles que com ela se diretamente corresponde a 301.728 km2
igualam pelas funções poHtico-admi- e na qual foram recenseados, em 1976,
nistrativas. Os setores hospitalar e edu- cerca de 233.000 habitantes. Sua
cacional instalados em Macapá são atuação ultrapassa, portanto, os limi-
muito superiores aos encontrados nos tes da Microrregião em que se localiza,
outr~s centros sub-regionais amazôni- a do Médio Amazonas. Ao estabelecer
cos, mas continuam sob dependência relacionamentos com pequenas locali-
direta da Metrópole Regional, através dades amazonenses (Nhamundá, Uru-
da atuação da Universidade Federal do cará, Urucuritu~a, Barreirinha, ltapi-
Pará, da migração de técnicos de nível ranga), concorre com Parintins e lta·
superior para uma melhor atuação das coatiara; não são raros, também, os
Secretarias de Governo e da assistên· relacionamentos com estas duas cida-
cia constante de profissionais especia- des, principalmente com a primeira,
lizados da capital paraense. Subordi- pelas facilidades apresentadas pela na-
nada a Macapá, estende-se uma área vegação fluvial e possibilidades de
de cerca de 154.201 km2 , constituída atendimento por Santarém, quanto a
pelos municípios do Território e p_elos bens de consumo e serviços à popula-
municípios paraenses de Afuá e Cha- ção.
ves. Caracteriza-se por um despovoa-
mento tão acentuado quanto o da re- A tradicional diversificação das ativi-
gião de Porto Velho: 102.000 habi- dades agrícolas, pastoris e extrativistas
tantes, incluindo a população urbana do médio vale do Amazonas lhe confe-
da própria cidade. Os centros existen- rem uma posição de relevância na eco-
tes em sua área de atuação são bons nomia da Região Norte e justificam a
exemplos de habitat rural grupado; maior intensidade de relacionamentos
nos relacionamentos mantidos com sua de fluxos agropastoris entre Santarém
área de influência predominam os de e os demais centros da região.
prestação de serviços à população.
uma vez que os mais importantes flu· Localizada à margem esquerda do Ta-
xos da prOdução do setor Primário es- pajós, na sua confluência com o Ama-
capam-lhe pela concorrência exercida zonas, o porto de Santarém mantém
por Belém. Portanto, difere, essencial- relacionamentos constantes quer com
mente, de Porto Velho. as cidades mais importantes da Ama-
zônia, Belém e Manaus, quer com For-
Rio Branco, como sede poütico-admi- taleza, Recife, Rio de Janeiro, São Pau-
nistrativa do Estado do Acre, é dotada lo e Rio Grande. Em relação a Belém,
de equipamentos, sobretudo no que predominam os relativos à prestação
conceme aos setores educacionais e de de serviços à população (especializa-
saúde, justificando seus maiores rela- ção no setor de saúde e no educacio-
cionamentos quanto à prestação de ser- nal); com as demais cidades citadas,
viços à população; os fluxos econômi- referem-se a bens de consumo, os quais
cos, representados principalmente pe- redistribui aos centros de sua região.
la produção do extrativismo vegetal
(borracha, castanha). vem sendo inten· Seu equipamento em serviços, embora
sificados ap6s o acesso que Rio Branco apresente diversificação, é ainda insu-
obteve às cidades do Sudeste brasilei- ficiente para atender à demanda de
ro através da Rodovia BrasHia-Acre. sua região, justificando-se a atuação de
Com essas cidades e com Porto Velho Belém nesses setores.
os relacionamentos da capital acreana
também se referem à aquisição de bens Castanha!, localizada no leste paraense,
de consumo para distribuir à popula- distingue-se dos outros centros sub-re-
ção de sua área de influência. gionais por uma série de fatores.
Santarém evidencia sua importância Em primeiro lugar, pela expressiva po-
como cidade, na Região Norte, pela na- pulação da pequena área sob seu co-
mando: em 7. 233 km2 localizam-se possibilita a Castanha) usufruir da pre-
152. 294 habitantes, o oue lhe confere ferência para instalação de estabeleci-
uma densidade demográfica geral da mentos de ensino médio, visando à
ordem de 22 habitantes por quilôme- formação de· mão-de-obra; da presta-
tro quadrado; em segundo lugar, pelo ção de serviços em seus hospitais por
grande número de relacionamentos médicos residentes na Metrópole e pela
quanto à prestação de serviços que instalação de indústrias de empresários
belenense. Mas essa mesma aproxima-
resultam, principalmente, da existência
ção é responsável pelo estabelecimento
de numerosas localidades na Braganti- de relacionamentos diretos da capital
na e no Sal~ado aue a ela recorrem; do Pará com as localidades da área
em terceiro lugar, pela sua posição em de atuação de Castanha} e da predo-
importante nó rodoviário, e em quarto, minância dos fluxos agrícolas para
pela sua proximidade de Belém, que Belém.

FONTES DAS VARIÁVEIS

IBGE - Informações Básicas sobre o município - 1969:


- Número de estabelecimentos comerciais.
- Número de estabelecimentos industriais.
- Número de caminhões.
- Número de alunos no curso secundário.
- Número de instituições culturais e de difusão.
- Número de prédios com água.

IBGE - Sinopse do Censo Demográfico - 1970:


- População da sede municipal.
- População total do município.
- População da área de influência dos centros.

IBGE - Censo Demográfico - 1960:


- População da sede municipal.

IBGE - Dados inéditos da Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas:


- Grau de relacionamento dos centros.

IBGE - Registro Industrial - 1965:


- Pessoal ocupado na indúsbia.
- Valor de Vendas.

Ministério da Saúde - Serviço de Estatística da Saúde - 1970:


- Número de leitos hospitalares.
- Número de médicos

SUNAMAM - Resumo de Manifestos de Navios - 1970:


- Custo do frete de navegação.
Diretoria de Aeronáutica Civil - ·1970:
·- Número de passageiros aéreos.
Fundação IBGE - DEICOM - Brasil - Empresas Telefônicas - 1969:
- N. 0 de telefones.
Serviço de Estatística Econômica e Financeira - Movimento Bancário do Brasil,
1968, segundo as praças:
- Empréstimos bancários.
SERFHAU - Centro de Informações para o Desenvolvimento Urbano local:
Número de liga-ções de energia elétrica, por município, segundo as clas-
ses de consumidores- 1970:
- Consumo de eletricidade.

ANE X O 1

RPlação tkls 28 variáveis escolhitkls para a análise fatorial do. Região Norte:
1. N.0 de estabelecimentos comerciais, 1969.
2. N. 0 de estabelecimentos industriais com mais de 5 pessoas ocupadas, 1965.
3. População da sede, em 1970.
4. Custo do frete de ·navegação, 1970 ( • ) .
5. N. 0 de caminhões, 1969.
6. N.O de alunos do curso secundário, 1969.
7. N.0 de leitos hospitalares, 1970.
8. N.0 de instituições culturais e de difusão, 1969.
9. N.0 de prédios com água, 1969.
10. N.0 de telefones/1.000 habitantes da sede.
11. N. 0 de médicos/10.000 habitantes da sede.
12. N.0 de leitos/10 .000 habitantes da sede.
13. % do pessoal ocupado na indústria tradicional, 1965.
14. % do pessoal ocupado em outras indústrias, 1965.
15. % do valor de vendas da indústria tradicional, 1965.
16. % do valor de vendas de outras indústrias, 1965.
17. % do valor de vendas do maior setor industrial sobre o total, em 1965.
18. Crescimento relativo da população da sede, 1960/70.
19. População da sede/população total, 1970.
20. Distância da metrópole (Belém).
21. N .0 de passageiros aéreos ( •) /população urbana.
22. Grau de relacionamento do centro.
23. Empréstimos bancários/total dos empréstimos bancários da Região.
24. População da área de influência, 1970.
25. N. 0 de alunos/10.000 habitantes da sede.
26. Consumo de eletricidade/ 1. 000 habitantes da sede.
27. Custo do frete de navegação /1.000 habitantes do município, 1970.
28. N. 0 de caminhões/10.000 habitantes urbanos, 1969.
(
0
) Dados fornecidos pela geógrafa Myriam Guiomar Coelho Mesquita e que constam da
pesquisa sobre tnnspottes na Amazônia.

459
ANE X O 2

\'ariáveis que se associam no fator tamanho funcional:


Número de alunos do curso secundário - 1969.
População da área de influência - 1970.
Número de caminhões.
Grau de relacionamento dos centros.
Número de instituições culturais e de difusão - 1969.
Número de estabelecimentos industriais com mais de 5 pessoas ocupadas, 1965.
População da sede - 1970.
Empréstimos bancários/Total dos empréstimos bancários da Região - 1968.
Número de leitos hospitalares - 1970.
Custo do frete de navegação - 1970.
Número de médicos/ 10.000 habitantes da sede.
Consumo do frete de navegação/ 1. 000 habitantes do município - 1970.
População da sede/População total - 1970.

ANEXO 3

FACTOR SCORE
(VARIMAX ROTATION)

Tamanho Funcional e Importdncia Re- Altarnira . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 3,12


gional. óbidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 3,28
Belém ................... . 57,14 Alenquer ................ . - 3,29
Manaus . ................ . 31,48 Cruzeiro do Sul . ........ . - 3,79

Macapá ........... . .... . . . 5,60 Monte Alegre ..... . ...... . :.... 4,15
Porto Velho . ... .. ........• 4,06 Coari ................... . - 4,16
Cametá ................. . - 4,18
Rio Branco ............... . 1,31
Tefé .................... . - 4,27
Santarém ................ . 0,91
Igarapé-Miri ............. . - 4,35
Castanha! ...........•.... 0,31
Manacapuru ............. . - 4,36
Boa Vista .............. . . - 0,94 -4,47
Tucuruf ................. .
Capanema .... . .......... . - 1,40
Vigia ........ . .......... . -4,66
Itacoatiara ............... . - 2,02 Oriximiná .............. .. -4,70
Guajará-Mirim ........... . - 2,14 Soure ........ . .......... . - 4,88
Salinópolis ............... . - 2,47
Maués .................. . - 4,90
Parintins ................ . - 2,5i
Conceição do Araguaia ... . - 5,89
Bragança ................ . - 2,58
Marabá .................. . - 2,70 Capitão Poço ............ . - 5,95
Abaetetuba . . . .......... . - 3,09 Portei . .................. . -6,43

460
ANE X O 4

FATOR 2

Grau de tradicionalÍ$mO ou de moder- Oriximiná ................ . - 0,1


nização das indústrias: Boa Vista ................. . -0,2
Porto Velho .............. . -0,5
Centros com indústria.s modernas e óbidos ................... . - 0,6
outras: Soure .................... . -0,6
Tefé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,6 Alenquer ................. . -0,6
Portei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,6 Belém ................... . - 0,8
Macapá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,0 Cametá ................... . -0,8
Itacoatiara . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,3
Capanema . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,0 Centros com indústrias tradicionais:
Conceição do Araguaia . . . . . . 4,6
Maués . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,3 Coari . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 1,4
Parintins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,2 Capitão Poço . . . . . . . . . . . . . . - 1,8
Bragança . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 2,2
Centros intermediários com Indústrias Guajará-Mirim . . . . . . . . . . . . . - 2,6
tradicionais e modernas: Manacapuru . . . . . . . . . . . . . . . - 3,2
M.o~te Alegre . . . . . . . . . . . . . . - 3,3
Manaus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1,8 Vtgla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 3,7
Tucuruí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1,1 Castanha! . . . . . . . . . . . . . . . . . - 3,8
Cruzeiro do Sul . . . . . . . . . . . . 0,9 Igarapé-Miri . . . . . . . . .. .. . . . - 4,2
Marabá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0,7 Santarém . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 5,3
Salinópolis . . . . . . . . . . . . . . . . 0,4 Rio Branco . . . . . . . . . . . . . . . . - 5,9
Abaetetuba . . . . . . . . . . . . . . . . 0,1 Altamira . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 6,1

ANEXO 5

FATOR 3

Infra-estrutura s6cio-eco~ Salinópolis ... . ........ . .. . - 1,0


Bragança ........ . .. . ..... . - 1,1
Boa: Monte Alegre ............. . - 1,1
óbidos ................... . - 1,4
Belém . ... ............. . .. . 14,7 Parintins .................. . - 1,6
Manaus .................. . 11,7 Abaetetuba ............... . - 2,0
Soure .................... . -2,2
Média: V1gta .. . .. ................ . -2,3
Porto Velho .... . ....... .. 7,2 Tefé ................. . .. . . -2,6
Macapâ .................. . 6,7 Alenquer ......... . ....... . -2,7
Rio Branco ............... . 5,7
Boa Vista . ........... . .... . 4,8 Muito deficiente:
Cametá .................. . - 3,1
Deficiente: Conceição do Araguaia .... . -3,1
Castanhal .... . ... ........ . 2,7 Maués . ................... . -3,1
Santarém ................. . 1,4 Coari .. . ................. . - 3,6
Guajarâ-Mirim ............ . 1,4 Manacapuru .............. . - 3,7
Capanema ........... . .... . 0,8 Tucuruí ............ .. .... . -3,7
Marabá . .. . . .............. . 0,1 Oriximiná ................ .. - 3,8
Itacoatiara ............... . - 0,4 Igarapé-Miri .............. . - 4,0
Altamira ... . .............. . -0,6 Portei .................... . - 4,5
Cruzeiro do Sul ........... . -0,7 Capitão Poço ........ ..... .. - 4,8

461
ANE X O 6

FATOR 4

Acessibilidade Itacoatiara ................ . 0,53


lgarapé-Miri ............. .. 0,51
Soure .................... . 3,34 Capitão Poço .............. . 0,30
Capanema ................ . 2,15 Befém .................... . 0,27
S~6polis ............... .. 1,97 AJenquer ................. . 0,24
V1gia ..................... . 1,73 Altaxnira ................. . 0,14
Abaetetuba ............... . 1,46 Conceição do Araguaia .... . - 0,18
Castanha! ................ . 1,23 Coari ................... .. -0,27
Portei .................... . 1,08 Tefé ..................... . - 0,30
Macapá .................. . -0,44
Oriximiná ................ . 1,01 Santarém .. ............... . - 0,63
Tucuruí .................. . 0,84 Manacapuru .............. . - 0,97
óbidos ................... . 0,81
Marabá .................. . 0,74 Guajará-Mirim ............ . - 1,80
Maués ................... . 0,73 Boa Vista ......... . ....... . - 2,60
Monte AJegre ............. . 0,69 Manaus .................. . - 2,60
Cametá. ...... . ........... . 06S Rio Branco ..... . .......... . -3,44
Parintins .................. . 0,66 Porto Velho .............. . -3,96
Bragança ................. . . 0,62 Cruzeiro do Sul ........... . - 4,63

NOTAS DE REFER!NCIAS

1 Thompson, W. - Internai and ext~ma1 factors in tbe development of urban economles.


2 IBGE-IBG. Divido do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas; 1972; 112 p.

462
Aeropono supersônico 455
Afogados 99
Agropolis 265
Agrovilas 265
Aguano 576
Alfsios 50
Amplitude t~nnlca 44, 46, 61
Análise fatorial 580
Andes 2, 6, 10, 15, 14, 41, 44, 108, 109, 117,
121
Anticiclone• 41, 44, 50, 55
Anticlinal 7

Áreas
agrlco'as 185, 191, 208, 210, 215, 214,
217. 219, 225. 228, 235. 254, 255, 236,
258, 240, 241, 251, 255, 254, 255, 501,
545
de subsid~ncia 2
metropolitana. 409
pecuárias 197, 210, 225, 224, 229, 258,
240, 255, 255, 265, 546, 848, 552
Arroz 254, 256, 548, 549 550, 551, 556, 564,
585. m. 588, 589, 590
Associaçlo Bruileira de CrMito e Assist~nda
Rural (ABCA R) 580
Aviamento 299, !105, 546
, , Bacias de sedimentaçSo 1, 2, 5, 7, 9, 10, 15,
INDICE ANALITICO 14, 21
Baixos plat& 17, 25, 24, 64

Banco
da Amazônia S.A. 262, 265, 379, 580
404, 405
do Brasil S.A. 257, 262, 452
Nadonal do Desenvolvimento EconOruic·o
(BNDE) 404

Banquiza 41
Bauxita 4 U, 442
Brasflia 177, 204, 578, 448

Cacau 258, 256, 264, 548, 549, !52, 557, 858,


442. 446
Caf~ 264, 287
Calcário 407, 415, 441, 451
Calmarias 46, 109
Cama~o 459
Cana·de-açllcar 256, 256, 264, 310, 548. 352,
557, 558, 564. 445, 446
Caneluras 29
Canas sinóticas 59
Carvlo 5, 7, 525,524,!28,529,407
Cassiterita 25, 217, 228, 236, 251, 596, 399,
401, 405. 411. 412. 450
Castanha-do-pari 225, 229, 255, 254, 256, 259,
251, 255, 255, 281, 296. !100, !101, 5'02, 305.
504, 548, 351. 565, !164, 865, 569, 575, 574.
!184, 385. 8'86, !188. 589, 590, 40!1, 404, 452.
442
Celulose 254
Centrais El~tricas
de Rondônia !151
de Roraima 5!11
do Amapt 551 Nacional de Estradas de Rodagem
do Amazonas !!1, !54 (DNER) 156
do Pará !20 Nacional de M~o-de-Obra 218
Central tbmica 555 Nacional de Meteorologia 59
Centralidade 254 Nacional de Portos e Vias Navqr.heis
QenlTOI
m. 156, 291
locais 254, 255 Depósitos nerlticos 1!
regionais 508 Derrames basálticos 15
sub-regionais 245, 250, 251. 252, 25~ Desflorestamento 29, 61, 68, 69, 89, 255, ~29.
Ciclo de erodo 54 !50, 551, 552. 554, !55, 558. 561, 565,
!77, !89, 590, 405
Cidades Diamante 22, 25, 596, 412
grandes 242, 246 Diastrofismo 22
m~ias 195, 242, 24-4, 245, 246, 251, :!52, Diques marginais 15
267 Diretoria de Hidrografia e Navega~o da M•·
m~ias e grandes 242 rinha Brasileira 106
muito pequenas 245 Drenagem 55, 106
pequenas 195, 245, 256
primazes 242 adaptaçfo de 2. 5
atllntica 14
Cimento 510 endorr~ica 144

Climas rede de 1, 8, 15, 25, 29, 50


equatorial 29, 55 Drogas do sertão 427, 428
equatorial quente e ámido !55 Dryland forests 69
mais .seco 62
quente 42, 55, 77 Emigração 185', 197, 198, 199, 201, 204, 205,
quente e úmido 59 206, 209
quente auperúmido 55 Empresa de Navegaçfo da Amazônia S.A •
.semi-ámido 5! 281, 289
superúmido 55, 77 Empresas El~tricas do Acre 551
temperados e frios 75
tropical quente e úmido 17 Eras geológicas
tropical llmido 69
ámidos 17, 55 Primária 1, 2, 6. 9, 11, 12, 15, 16, 17,
21. 50. 95, 96
Coeficiente
Quaternária 2, 5, 11, 12. 16, 22, 25, 50,
de concentraçlo de Cini 245 80, 95, 150. 142
de localiza~o 410, 411
Secundária 2, 6, 11, 12, 15, 14, 50, 95,
Colmat~ 15 96
Colônias 256, 2!8, 252. 547, !49
Colonizaçfo 19!, 215, 222, 225, 255, 256. 257, Terciária 2. 7, 10, 11, 12, 15, 14, 16,
255.265,264,267,294,295,557.578 20, 28, 50, 55, 54, 80, 95, 96, 99, 101,
105, 150
Coluvionamento 27
Cornit! Coordenador de Estudos Energêticos Eros4o 16, 17, 21, 24, 28, 29, 00, 74, 96, !18,
da Regi~o Norte !24. 540 100, 107, 127. 142, 146
Companhia diferencial 29
de Eletricidade de Manaus 551 marinha 276
de Energia de Manaus 526 normal 54
de Pesquisa de Recunos Minerais regressiva 14, 50
(CPRM) 5, 412, 41!
de Petróleo da Amazônia, 526, 3:S9 .Escoamento 27. 28
Estações meteorológicas 59
Conselho Nacional do Petróleo 5', 7, 8. 12, Estanif~s 258
526 Evapotranspiraçlo 27
Coquirana 240 Exonda~o 51, 96
Core trea 426 Exorr6ca 106
Cotovelot 50 Exportações 299, 548, 554
Ct01W ferruginosas ou crostas later!ticas 20
Curva de concentraçlo (curva de Lorenz) 245 Fall-line 22
Fal~ias 25, 25, 51, 120, 276
Decompotiçio qulmica 29 Falhas 96
Delta 15 Fatores estáticos do clima 59, .fO
Departamento Feij~o 550, ~1. 556, 357, 561
Fenômenos vulctnicos 15
Nacional de Produçfo Mineral (DNPM) Ferro 407, 415
120, !79 Ferrovias 14, 235, 251, 252, 259, 274, 294,
Nacional de Águas e F.nergia El~trica 525 296. 442
Fósseis 6, 10, 12, 20, 25 Mandioca 89, 236, 349, m. 351, !156, 857.
Frentes 41, «. 45 358. 361, 364, 383, !189, 390
pioneiras 210, 223, 254. 351. 352. 3S4, Mangan~ 22, 2!1. 172, 196, 217, 228, 2!18, 250,
452. 441, 443, 446 251, 296. 298, 299, 300. 305, 312, 354. !168.
polar 40 !17!1. 396,399,410,441,451
Frota Nacional de Petroleiros 325 Mlio-de-Obra 169, 185, 189, 190, 192, 19!1,
Fumo 254, 542, 348, 849, 8'52. 358 210, 219, 222, 22!1, 224, 225, 228, 234, 239,
Função balneária 226 241, 242. 245, 252. 253, 255, 267. 27!1, 346,
!154, 355, 356, !i57, !164, !173, !174, !177. !178,
Garimpos 22, 23, 210, 225, 254, 236, 255, 385. 386. 406, 458
364, 596
Geossinclinal, 9 Mares de morros 60
Geotect6nica 2 Marinha de Guerra do Brasil 120
Grabens 9, 12, 97 Marombas 360. 363
Grau Matriz Energética Brasileira !124, !1!19
Metamórficos 16
de concentrac;lio urbana 244 Meteoritaçlo I 7, 26
de urbanização 177 Meteorologia sinótica 40
Método do carbono 8
Guaxima 857 Metrópole regional 249, 308
Migraçõe$ 177, 19!1, 196, 197, 198, 201, 204,
Horst 12 226, 234, 2!16, 246, 259, 348, 349, 350,
351. !152, 356, 3'57. 361, 36!1, 364, 585.
Jluvia~o 27 !184, !186, 589, 390
Imigraçlio 193, 198, 206, 207, 208, 209, 210,
211. 213 Minas de ferro 44!1
Incentivos fiscais 173, 174, 188, 192, 222. 224, Mi~o Florestal da FAO !176
229, 2!17, 252. 254, 258, 268, 264. 267. Mogno !176
SOl, 324, 3S4, 341, 542, 358, 363, 385, Monumento Nacional 89
389. 397. 400, 404, 405, 409, 4!12. 145, Museu
451, 452
do Pará 7
1ndices Na.ciona1 6
de masculinidade 179, 180, 181. 186
de mobilidade 195, 196 Musgos 71
de natalidáde 180 Navegação 227, 240, 251, 252, 274, 295, !178
de urbanizaç4o 242, «6, 447, 448 Navio Oceanogdfico Almirante Saldanha 106
Neves 108
Indústria e Comércio de Minérios S.A. Niveis de terraços 8
(ICOMI) 400, 40!1, 410, 411 Ouro 22. 2!1
lndustrializ.açlio 168, 187, 193, 226, 254. 258 Paragominas 223, 224, 2!1~
Instituto Parque Nacional 89
Pediplanos 60, 61
Brasileiro do Café 287 Peles si!vestres 236, 257, ~00. 501
de Desenvolvimento do Estado do Par.\ Pestanas 15
340 PETROBRÁS !1, 7, 9, 12, 324, 407, 41~
de Pesquisas Agronômicas da AmuOnia Petróleo 7, 18, 25, 96. 506. 310, 325, !24, 2!15,
128 !126. 528, 399
de Pesquisa e Experimentação Agropecuá. Pico da Neblina 2
ria do Norte (IPEAN) !179
do Açúcar e do Alcool 287, !157, «5 Pimenta·do·reino 168, 222, 225, 226, 233, 2~4,
235, 2!18, 252, 259, 264. !10!1, !141, 342, 347,
do Sal 287 348, 349, !1'50, 352, 355. !156, 357, !183, 384,
Nacional de Colonitaçlio e Reforma Agrá· 386, 390, 404, 446
ria (INCRA) 2!13, 284, 2!15, 237, 253, Pidmide de idade 185
255, 262. 265', 264, 443
Plano
Interfer~ncia 109, 110, 111, 115 de Integração Nacional (PJN) 156, 157,
Inversão de temperatura 41 175, 250, 253, 255, 262. 264, 294, 378,
Isóbatas 105, 106 !79
lsoietas 46 de Integração Nacional e do Programa de
Japoneses 2!18, 259, !158, !154, !155, 404 Redistribuiçlo de Terras e de Esd·
Juta 16, 1!10, 168, 226, 2!14, 25!1, 299, 300, mutos à Agropecuária do Nordeste
301, 341. 842, 344, 347, 348, 349, 3'51, !152, e da Amazônia 391
553. 354. 560. 386. ·s8s. 389, 399, 404, 409, Geral de Hervicultura para a Amazônia
4!11, 432, 442, 451 Brasileira (PROHEVEA) !180
Nacional de Desenvolvimento (11) 157
Madeiras 68, 70, 28'6, 258
Rodoviário Nacional 259
Malva 168, 222. 223. 226, 2!15, 254, 299, !141,
!142. 347, 349. 351, 356, 357. !163, 404, 4!12, Plantations !172
451 Plataforma continental 325
Platôs 15, 60, 100, 105. 118, 124. 155, 155, da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA)
156, 158, 15'9, 278, 279. 298 175, 185, 246, 405, 406
Plintluite 20, 21. 26, 52, 55 de Desenvolvimento da Amazônia .. , . .
Plis de fond 95 (SUDAM) 223', 224, 255, 265, 524.
Polamazõnia 262, 267 545, 591. 405, 404, 405
Ponta-de-trilho 445 de Desenvolvimento do Centro-Oeste
Populaç~o
(SUDECO) 265
de Valoriza~o da Amazônia 17!1
ativa 185, 187, 190, 191. 192, !168 do Desenvolvimento da Hevéa . • . . . . . . .
aumento vegetativo da 117. 2!15, 2!14, 257 (SUDHEVEA) 265, ll72, !180
economicamente ativa 597, 448 :'l/acionai de Marinha Mercante . .. . , . .
n:io economicamente ativa 185, 187 (SUNAMAM) 281. 287, 289
rural 175, 178, 195, 228, 229. 255, 254,
255. 257. 258, 259. 240, 241. 255, 259, Tabuleiros 107
265, 265, 267, !106, 5!15. 588 Taxa
urbana 175, 177, 185, 2!19, 241, 242, 244.
245, 2s2. 267. 450. 451 , 4!15. 454, ·n6. de fecundidade 186
449, 454 de monaJidade 179, 579
de urbanizaçlo 175. 177
Porto Franco 554, 555 Teoria glaciária 6
Potencial hidráulico !IM Terdál"ios 11, 12. 15, 14, 16, 20, !lll, 80, 95,
Prognma 96, 99, 101. 105

ae Incentivo à Produ~o da Borracha Ve- Terras


getal (PR.OBOR.) 401, 402 caldas 16
uc Integraçlo Nacional (PJN) 156, 175, devolutas 547
250. 255. 262. 264. 578, 579 firmes 5, 8, 14. 15, 17, 20, 21, 24, 25.
de Redistribuiçlo de Terras e Estimulo 28, 29. 50, 51, 54, 55, 59, 60, 64, 65,
à Agroindástria do Norte e do Nor· 66, 67. 68, 69, 71, 72. 74. 75. 89,
deste (PROTER.R.A) 262, 579 90. 129, 1!1!1, 1!16, 1!19, 14!1, 145, 2!18,
26!1, 541, !150, 35!1, !158, !160, 561, 362,
Querosene 57! 569, !175, 376,428.429
Quociente de locaçlo da lavoura !52 preta 64, 68
Rdinaria de Petróleo de Minas 525, 554, roxa 64
400, 407
Regressão marinha 15, 25, 99, 146 Tl!liOS 12, 15, 21
Repiquete 110 Torrões 126
Reserva Biológica 89 Transgressões 2. 15, 25, 99. 106. 142
Rias 25, 25, 50. 100, 101, 104, 105, 142. 144. Tmtado de Petrópolis 296
145, 276 Trigo !110, 511
Rüt va!Jey 25 Turismo !178, !143
Rank·size 454
Füos 2, 6, 24, 25, 29, 50, 51, 60, 240, 256, Umidade relativa 44
280, 525, S'Sl, 562
Unidades
brancos 125 gado 558
de águas amarelas 60 geotécnicas S. 8
de águas brancas 17, 2!1, 72
de águas claras 17, 75, 77 Universidade Federal do Pará 219
de águas pretas 17, 74 Urbanizaçlo 175, 175. 181, 185, 187, 19!1,
219, 244. 245, 246, 252, 257, 259, 267.
Rochas 15, 16, 22, 64 428. 4!10, 4!11 o 452. 455
Rodovias 89, 1!11, 155, 156, 168, 175, 191. 219,
229, 2!16, 251 , 252, 255, 254. 255, 256, 265, Usinas
264, 265, 267. 274. 280, 285, 286, 295, 296, hidrelétricas 151, !155, !1!19, 407, 441
298, 518, 325, MO, !156, 557, 578, 426, 429 1ermelétricas 529, 5!11, 35'4, !1!19, 400, 407
452, 455, 4~. 441, 455
Vales tectõnicos 8
Sal 287, 510, 575. 441 Várzeas 2. !1. 6, 8, 12, 14, 15, 17, 20, 21, 24,
Salões 126 27, 28, 29. !10, !11, 54, !15, 59, 60, 62. 65,
Sensoreamento remoto 264 67. 72, 7!1. 74, 75, 77, 82. 90, 96, 99,
SIDERAMA 155, 504, 407 105, 115, 116, 118, 128, 129, 1!10, 1!15, 1!15,
SincllnaJ 5 1!16, 158, 1~. 141 , 146, 157, 2!18, 26!1, 501,
Sítio 102. 105 s5o, m. !155. !154, !158, M9, 560, !161, !162,
Socle 98 !164. !169. !184, 431, 441
Soleiras 15, 75
Vasas 2!1
Solevamentos 50
Sorva 240 VuJcanísmo 22
Strassendorfs 429, 446
Subsid~ncia 9, 1!1, 21. 25. 50, 51. 96 Zona Franca de Manaus 188, 219, 258, 284,
Superintendência 291, 3'09. 317. 405. 456

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