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Carlos Carvalheiro
a partir do libreto de Emanuel Schikaneder da ópera de Mozart “A Flauta Mágica” e de
“Filha da Noite” de Marion Zimmer Bradley
Personagens
Papageno
Sarastro
três Mensageiros de Sarastro
Pamina
Rawa
Disa, Kamala, Zeshi, filhas da Rainha da Noite
Rainha da Noite
Monostatos
Papagena
Tamino
Um
[Disa, Kamala, Mensageiros, Monostatos, Papagena, Papageno, Pamina, Rainha da Noite,
Rawa, Zeshi]
[está um tabuleiro no meio da cena. [§# • ouvertüre] Papageno surge, agarra a pomba e
sobe para uma árvore, quando Sarastro e os Mensageiros entram. Sarastro despede-se dos
Mensageiros que ficam para a entrada de Pamina, que tira as flores e as entrega a Rawa.
saem. entra a Rainha da Noite, Disa, Kamala, Zeshi e Monostatos. a Rainha da Noite tira a
coroa, Disa Kamala e Zeshi as canas, esparramando o pão pelo chão e Monostatos o pano
do cesto. saem. os Mensageiros recolhem o pão num saco e saem. Papagena entra, aflita,
agarra no cesto e esconde-se debaixo dele.]
Dois
[Disa, Kamala, Papagena, Pamina, Rainha da Noite, Rawa, Zeshi]
Pamina: [para Rawa] Há sangue na Lua.
Disa: [esbobeteando Rawa] Ninguém te autorizou a falar. Talvez te ande a fazer falta uns
tempos a caçar ratos nos estábulos. [para Pamina] Vou-te buscar uma túnica das minhas.
Vai-te ficar comprida, mas à noite, talvez a nossa mãe não dê por isso… se tiveres sorte. [sai]
Pamina: Não chores, Rawa. Eu falo com a minha mãe. Ela não vai deixar que tu vás para os
estábulos. [Rawa dá pela presença de alguém] O que é, Rawa? Está alguém escondido?
[Rawa agarra Papagena, que estava escondida] Não lhe faças mal, Rawa.
Pamina: Larga-a. Estou a falar a sério. Papagena, que fazes tu aqui? Deixa-a estar, Rawa.
Ela não me quer fazer mal. E mesmo que quisesse, como é que podia contigo aqui? Deixa-a
falar.
Papagena: Princesa, elas querem levar-me para o sacrifício, querem-me matar. Não as deixes
levarem-me. Elas vão-me matar…
Rawa: Pamina, manda-a embora. Vamos meter-nos em sarilhos. Não devemos intometer-nos
nos sacrificios. Manda-a embora.
Pamina: Está calada, Rawa. Se Disa volta e te vê assim é que te manda mesmo para os
estábulos. Está descansada, Papagena. Eu não deixo que eles te sacrifiquem, não estejas
preocupada. [Kamala e Zeshi entram para apanhar Papagena] Deixem-na em paz!
Pamina: Não acredito nisso. A nossa mãe é boa e justa. Toda a vida ouvi dizer que os que são
sacrificados são os criminosos, aqueles que mataram, ou roubaram. A Papagena não infrigiu
nenhuma lei.
Zeshi: Não é o momento para falar de leis. Papagena foi escolhida para ser sacrificada. É
tudo o que precisas de saber. Solta-a ou faço com que a largues à força!
Disa: Deixem-me tratar disto. Se ela me tocar, é esfolada viva. E ela bem o sabe.
Pamina: Não deixes que elas sacrifiquem a Papagena. Eu prometi-lhe. Tu és boa, não vais
deixar que uma pessoa inocente seja morta. Não vais deixar, pois não, mãe?
Rainha da Noite: Se prometeste, não deixarei. Mas daqui em diante nunca mais faças
promessa destas sem falar primeiro comigo. Percebeste? [para as irmãs] Isto nunca deveria
ter começado, e tendo começado, nunca deveria ter ido tão longe.
Pamina: Mãe, porque… o que… tu disseste-me que ninguém seria sacrificado a menos que
infrigisse a lei. Porque é que a Papagena ia ser sacrificada?
Rainha da Noite: Quando o Sol se põe escuro ao meio dia e as estrelas se começam a ver, ou
quando a Lua fica vermelha de sangue como hoje, as pessoas ignorantes ficam assustadas e
acham que essas coisas acontecem por causa dos seus pecados. E então exigem que seja
sacrificado um inocente. E nós fazemos isso, porque assim desviamos a sua cólera dos
sacerdotes e dos governantes.
Pamina: Mãe…
Pamina: Mãe, não deixes que elas mandem a Rawa para os estábulos caçar ratos. Ia ser tão
infeliz!…
Rainha da Noite: Prometo-te que Rawa não irá para os estábulos. [faz sinal a Disa, Kamala e
Zeshi para trazerem Rawa. saem.]
Três
[Mensageiros, Papagena, Pamina]
Pamina: [[§#• acordes] para os Mensageiros, que entram] Quem são vocês?
Mensageiro C: Ninguém.
Mensageiro H: Princesa Pamina, ninguém te fará mal, mas tens de vir connosco em silêncio.
Pamina: Rawa! Rawa!
Quatro
[Disa, Kamala, Tamino, Zeshi]
[[§#1• zu hilfe! zu hilfe!] Tamino luta com um dragão. a luta é desigual e desmaia. debaixo do
dragão surgem Disa, Kamala e Zeshi]
Disa: Estás sempre a ferver, seja com quem for. Mas não nos está destinado. Esquece por
uma vez os prazeres da alcova e pensa na tarefa que a Rainha da Noite nos confiou.
Zeshi: Julgas que és melhor que eu, Disa? Há coisas passadas no Templo do Touro que eu
podia contar…
Kamala: Estejam caladas as duas. Cumprimos o nosso dever. Resta-nos informar a Rainha da
Noite.
Disa: Eu fico.
Zeshi: Eu velo.
Kamala: Eu protejo.
Disa: Eu!
Zeshi: Eu!
Kamala: Eu!
Cinco
[Disa, Kamala, Papageno, Pamina, Rainha da Noite, Tamino, Zeshi]
Tamino: [volta a si] Onde estou? Que lugar é este? O quê? O dragão morto a meus pés?
[Papageno assobia #20 • ein mädchen oder weibchen] O que é isto?
Papageno: [sai uma pomba a voar] Olhe para o que fez!… Agora fugiu!
Papageno: É o meu trabalho. Apanho pombas e em troca dão-me vinho, carne e pão. E você
quem é?
Papageno: E o que é que anda aqui a fazer? A Rainha da Noite vai ficar furiosa se o
descobre aqui.
Papageno: Logo se vê que não é daqui. É ela quem governa sobre todos nós. É muito
poderosa. E eu, Papageno, sou a sua companhia preferida, o seu apanhador de pombas e o
seu conselheiro pessoal… E você? O que anda a fazer por aqui?
Tamino: Fui atacado por um dragão e desmaiei. Quando despertei, tinha o dragão morto a
meus pés. Foi você que o matou?
Papageno: Matar um dragão? Aqui não há dragões… [Tamino aponta o dragão. Papageno
assusta-se] Está morto? [[§# • das klinget so herrlich] aproxima-se a medo e, depois,
confiante] Você pensa que eu tenho medo de dragões? Ainda por cima de um dragãozito
como este?
Papageno: Não preciso de armas. Um murro dos meus vale mais do que uma arma.
Papageno: Água?…
Papageno: Ossos?…
Disa: Queres saber porque te castiga hoje a Rainha? [§#5 • hm! hm! hm! hm!] Para nunca mais
mentires a estrangeiros.
Kamala: E para nunca mais te gabares dos feitos heroicos dos outros.
Rainha da Noite: [[§#4 • o zittre nicht] entra] Meu filho, vês perante ti a mais infeliz das
mulheres. A minha filha me levaram. Com ela desapareceu para sempre a minha alegria. Foi-
me roubada por um ser odioso chamado Sarastro. És puro, sensato e inocente e Sarastro
não terá qualquer poder sobre um ser incorrupto como tu. Vê. [Disa mostra-lhe um retrato e
surge a figura de Pamina] É o retrato da minha filha.
Rainha da Noite: Pamina. A tua alta posição como filho do Imperador do Ocidente, torna-te
seu igual. Se conseguires salvá-la serás recompensado. A minha filha te darei para sempre e
o seu dote é o próprio Reino da Noite.
Tamino: Juro ajudar esta mulher infeliz e profundamente injustiçada. [[§#4 • o zittre nicht] a
Rainha da Noite parte uma cana do tabuleiro, do que resulta uma flauta, com que arma
Tamino. sai]
Disa: Essa flauta é mágica e irá proteger-te do perigo.
Papageno: [escapando-se] Pe - i - o?
Zeshi: [para Papageno que se escapa] Papageno! Onde julgas tu que vais?
Papageno: Vo… vo… [Zeshi tira-lhe o freio] Voltar à minha cabaninha na floresta, senhoras
minhas. Por favor, perdoai ao vosso humilde servo, e desejo-vos a todas uma boa noite. E os
meus respeitosos cumprimentos à vossa ama, a Rainha, e à princesa Pamina e aqui ao
príncipe, e a todas vós, senhoras minhas, que sois tão finas, e durmam bem e sonhos
agradáveis. Boa noite a todos vós, boa noite.
Kamala: Ainda não te tinhamos dito, mas é vontade da Rainha que vás com o príncipe Tamino
para o guiares e servires como deve ser.
Papageno: Não, agradeço muito mas não quero. O Sarastro mandava-me assar para o
jantar. O príncipe merece um servo melhor e mais valente do que eu. Eu sou muito mentiroso
e muito gabarola. Sou uma pessoa que não presta para nada.
Seis
[Mensageiros, Papageno, Tamino]
Papageno: Anima-te, anima-te… Não fui eu que jurei ajudar uma mulher infeliz e
profundamente injustiçada.
Tamino: Não tens que vir comigo, Papageno. Podes ficar. Eu vou sozinho.
Papageno: Vou sozinho, vou sozinho… E vai sozinho para onde se nem sabe o caminho?
Assopre aí na gaita. Como é mágica pode ser que apareça alguém que lhe diga onde é que
pára o Sarastro e a mim me arranje comida que estou a morrer de fome.
Tamino: É uma ideia, sim senhor. [[§#15 • wie stark ist nicht dein zauberton] toca a flauta e
surgem os Mensageiros]
Tamino: Papageno!
Mensageiro C: O mundo, meu filho, está cheio de pessoas que não têm respeito pela
verdade.
Tamino: É ou não verdade que ele arrancou Pamina dos braços da mãe?
Mensageiro H: Há vários tipos de verdade. Muitos. Pode não ser assim tão simples. E mesmo
que nós digamos a verdade, poderás sempre pensar que te estamos a mentir.
Tamino: Posso não conhecer Sarastro. Mas sei o que fez. E sei distinguir o certo do errado!
Mensageiro C: Se sabes distinguir o certo do errado, então, meu filho, sabes mais do que
qualquer de nós. Quem me dera que refreasses a tua vontade de julgares Sarastro, ou seja
quem for, até estares certo da verdade. Não é tão simples como parece.
Tamino: Todos os bandidos podem encontrar desculpas boas para os males que fazem. Os
factos falam por si. Que desculpa pode haver para roubar uma filha aos braços da sua mãe?
Tamino: Ah, não estão? Pensava que era exactamente o que estavam a fazer.
Mensageiro F: Não sabes a história toda. Até essa altura, farias bem em não julgar entre
causas rivais.
Tamino: Quando um homem nobre ouve falar numa injustiça, não é seu dever e previlégio
transformá-la em justiça? Doutra forma, não será melhor que o pior dos patifes.
Mensageiro H: Deixa-me fazer-te uma pergunta a ti, já que tu nos fizeste tantas: porque é
que não vens connosco, que nós levamos-te a Sarastro?
Sete
[Monostatos, Pamina]
Monostatos: [§#6 • du feines täubchen, nur herein] Ah, senhora, a nossa hospitalidade
agrada-te? Sentes-te confortável? Precisas de alguma coisa?
Monostatos: Tenciono ser tido em consideração quando Sarastro der a mão da filha em
casamento.
Monostatos: Nada que se pareça. Tenho a certeza que a tua mãe tencionava explicar-te um
dia quem foi o teu pai, filha de Sarastro.
Monostatos: Não sejas criança, Pamina. Eu quero ser teu amigo. Talvez seja eu o teu único
amigo aqui. Sou capaz de vir a ser teu marido. Seria prudente para ti permaneceres minha
amiga.
Pamina: Nunca.
Monostatos: Bom, havemos de ver. Em penhor desse dia, dá ao teu futuro noivo o teu
primeiro beijo, Pamina.
Monostatos: [interpondo-se] Pensei que o farias. Volta para os teus aposentos. É melhor
ires com dignidade, senão arrasto-te até lá. [Pamina volta] Pamina, desagradaste-me e
desagradaste a Sarastro. Fazes-me a promessa solene de não tentar fugir de novo? Ou vais
obrigar-me a prender-te? Seria um espectáculo impressionante: uma princesa acorrentada…
Pamina: Não te vou prometer nada! Sou a filha da Rainha da Noite e nada tenho a ver com
Sarastro, nem contigo. Não admito que tu ou ele tenham qualquer direito de me fazer
prisioneira e se puder fugir podes ter a certeza que o farei.
Pamina: Não te atrevas a dizer que sou eu que te vou forçar a isso. Se o fizeres fá-lo-ás pela
tua malvadez e não pelo que eu tenha feito.
Pamina: Sai da minha vista! Não voltes mais à minha presença. Se Sarastro quer alguma coisa
de mim, diz-lhe para vir ele em vez de te mandar!
Pamina: [[§#19 • soll ich dich, teurer, nicht mehr sehn?] para Papageno que surge] Que és
tu?
Pamina: Deixa-me ver. Sim, sou eu. Como foi o meu retrato parar às tuas mãos?
Pamina: Mãe!
Papageno: Ah é verdade! Ainda não tinha falado dele. Afinal de contas, ele é que tinha de
vos salvar. É um príncipe muito novo e muito bonito e muito amigo da Rainha da Noite. Ela
mostrou-lhe o vosso retrato. E logo que ele vos viu, ficou apaixonado.
Papageno: Príncipe Tamino. Ele devia ter tido o bom senso de continuar perto de mim. Eu
nunca lhe permitiria fazer algo tão tonto como perder-se.
Pamina: Tenho a certeza que não. Mas ele perdeu-se e temos que arranjar uma maneira
qualquer de sairmos daqui. [vão para fugir. entra Monostatos que agarra Pamina] Não me
toques! Tira as mãos de cima de mim! Papageno, socorro!
Monostatos: Achas que ele te pode socorrer? Oh não, Pamina. Agora que sabes que não
podes fugir, resigna-te. Não te vai acontecer nada se reconheceres que me és destinada.
Dá-me um beijo e fiquemos outra vez amigos. [Papageno vai para atirar uma pedra a
Monostatos.]
Nove
[Mensageiros, Monostatos, Papageno, Pamina, Sarastro, Tamino]
Monostatos: [[§#8 • finale I: es lebe sarastro, sarastro lebe] Papageno larga a pedra e
Monostatos disfarça] Sarastro vem aí. O melhor que tens a fazer é ficar calada.
Papageno: Se eu fosse pequeno como um caracol, escondia-me dentro de casa. [tenta
meter a cabeça dentro da caixa do retrato] O que vamos nós dizer?
Pamina: Tamino…
Monostatos: [agarrando Tamino] Que intromissão é esta? [para Sarastro, que entra] Meu
senhor Sarastro…
Pamina: Não vai deixar que aconteça nenhum mal ao pobre do Papageno, pois não?
Sarastro: Não sei o que te disseram acerca de mim, Pamina, mas asseguro-te que não
tenciono fazer qualquer mal ao Papageno.
Pamina: Se é realmente meu pai… não me deixa voltar para a minha mãe?
Sarastro: Lamento, Pamina, mas não posso. Tu não conheces a tua mãe tão bem como eu…
É uma mulher sem coração, cruel e dominadora. A tua mãe…
Sarastro: Não posso censurar-te por acreditares na tua mãe. Gostava que confiasses em
mim, mas suponho que serei obrigado a ganhar a tua confiança.
Pamina: Eu tentei… tentei fugir… porque tinha medo dele… do Monostatos. Ameaçou-me.
Disse-me que eu lhe estava destinada para noiva, e eu tive medo… medo de que fosse
verdade. Ele… ele falou com uma tal convicção. E tratou-me como se… como se eu
realmente já lhe tivesse sido prometida como esposa.
Monostatos: Tudo o que fiz foi para vosso serviço. O vosso favor é suficiente como
recompensa.
Mensageiro H: [para Monostatos] Vais ver a carga que levas durante o intervalo. [§#8 • finale
I: wenn tugend und gerechtigkeit] todos saem.]
Dez
[Mensageiros, Papageno, Sarastro, Tamino]
[[§#9 • march der priester] Sarastro entra com os Mensageiros e falam entre si. Sarastro sai]
Mensageiro H: [§#10 • o isis und osiris] Vamos lá a coisas sérias. Príncipe Tamino, estás
disposto a provar que mereces Pamina?
Tamino: Um príncipe está sempre disposto a lutar pela sua dama. Mas posso primeiro fazer
uma pergunta?
Mensageiro C: Com certeza. Não prometemos uma resposta, mas és livre de perguntar.
Tamino: Suponhamos que me pedem para eu fazer qualquer coisa que eu sei que está
errada?
Tamino: Não estou a tentar armar-me em juíz. Mas como vou saber se não me vão pedir algo
de errado para me pôr à prova?
Tamino: Calado?
Mensageiro F: A natureza das provas tem de ser ignorada ou não haveria mérito nenhum em
as enfrentar.
Mensageiro C: Então, Tamino, possa o teu silêncio servir-te bem. E enquanto estás em
silêncio, medita. Não podes falar com nenhuma mulher.
Papageno: E é jovem?
Papageno: Hãn?
Mensageiro C: Papagena.
Papageno: Como?
Mensageiro H: Podes vê-la, mas não podes dirigir-lhe a palavra. Nem a nenhuma mulher.
Terás vontade suficiente para te manteres calado?
Papageno: Se é só isso…
Mensageiro H: Silêncio. A prova começou. [os Mensageiros saem mas ficam visíveis para o
público.]
Onze
[Disa, Kamala, Mensageiros, Papagena, Papageno, Pamina, Tamino, Zeshi]
Disa: [[§#12 • wie? wie? wie?] entrando com Kamala e Zeshi] Príncipe Tamino! A Rainha da
Noite está zangada contigo! Caíste no encanto de Sarastro e serás castigado. O que tens a
dizer, tu que juraste devolver-lhe Pamina?
Zeshi: Papageno, o que achas tu que a Rainha dirá quando souber que podias ter salvo a
Pamina e nada fizeste? Fala!
Tamino: Cala a boca, Papageno. Queres quebrar o teu voto de não falares a nenhuma
mulher aqui dentro?
Papageno: Estão a ver? Não posso!
Papageno: Escute aqui, eu nunca quis vir para cá coisíssima nenhuma, mas obrigaram-me a
vir com o príncipe, e agora quero cá ficar, pronto!
Tamino: Cala-te.
Papageno: [afastando-se] Não era assim que me tratavam em casa da Rainha da Noite. Acho
que isso é truque. Não me parece que possais fazer-me grande mal aqui! Acho que se
pudesseis fazer-me mal aqui, já o tinheis feito.
Disa: Fizemos o possível por resolver isto a bem. A Rainha da Noite será informada da vossa
conduta. [saem]
Papageno: Não sou nenhum príncipe. Não tenho obrigação de ser valente!
Papageno: Oh! Pensava que os príncipes eram diferentes. Então qual é a vantagem de se ser
príncipe se se é como toda a gente?
Tamino: Talvez não seja nenhuma. E agora está calado e medita. Foi isso que te disseram.
Papageno: Não, foi a si que disseram para meditar. Já é mau que se farta ter de estar calado
sem ser preciso meditar. De qualquer forma, não sei meditar.
Tamino: Schiu!
Papageno: Acho que posso falar comigo mesmo, não? Digo a mim mesmo, que devia estar lá
fora a apanhar pombas e depois olho em volta e dou comigo aqui. Eu, o Papageno! E a sede
que eu tenho? O que eu não dava por um golinho de vinho…
Papagena: [[§#20• ein mädchen oder weibchen] entrando disfarçada de velha e dirigindo-se
a Papageno com vinho] Oh, se é só isso que queres, nada há de mais fácil.
Papageno: Esse dia deve ter sido mesmo muito comprido. E o seu prometido é também assim
tão novo?
Papageno: Tenho a certeza de que fazem um par delicioso. Como se chama ele?
Papagena: Papageno.
Papageno: Aqui a tens com a promessa de que te serei sempre fiel… [aparte] desde que não
apanhe outra!…
Papagena: Juras?
Pamina: [entrando] Tamino, temos de falar. [[§#8 • finale I: wie stark is nicht dein zauberton]
Tamino toca a flauta] Estás triste? Tamino, por favor fala comigo. Preciso de saber se me
queres mesmo ou se é por o meu pai te ter escolhido. Tamino, por favor, fala comigo. Não
suporto quando nem sequer me olhas! Papageno, diz-me o que tem o teu amigo. [Tamino sai
e Papageno segue-o] Como? Também tu?
Papageno: [para Tamino] Vê que eu também sei estar calado quando é preciso?
Doze
[Mensageiros, Monostatos, Pamina, Rainha da Noite]
Monostatos: Vês, Pamina? Não podes confiar em Tamino. Ele rejeitou-te. Só me tens a mim,
Pamina.
Pamina: Nunca.
Monostatos: Pamina, já fui espancado por tua causa e vou obter mais do que um beijo, desta
vez. Porque não havemos de simplificar as coisas?
Pamina: Não! [Monostatos vai para violá-la] Socorro! Socorro! [surge a Rainha da Noite que
fulmina Monostatos. [§# • bum] Pamina atira-se aos braços da mãe] Mãe!
Rainha da Noite: Ele fez-te mal, Pamina? Ou só te assustou?
Rainha da Noite: Mesmo em casa de Sarastro julgava que estavas mais bem guardada do que
isto! Podes verificar no que te ias transformar aqui.
Rainha da Noite: É demasiado tarde para isso. [entrega-lhe um punhal] Toma. Com isto
matarás Sarastro.
Rainha da Noite: Escuta! Resolvi que tu me vingarias. Se Sarastro não sentir a morte pela tua
mão, não mais serás minha filha.
Pamina: Perdi tudo… Tudo menos isto. [saca o punhal] Serás então tu que vais pôr fim ao
meu sofrimento?
Mensageiro H: Infeliz! Pára! Se o príncipe visse uma coisa dessas, morreria também de dor
porque ele só a ti te ama.
Treze
[Mensageiros, Papagena, Papageno]
Papageno: Pombinha, minha linda! É em vão! Perdi-a para sempre. já nasci para ser infeliz.
Quem é que me mandou a mim falar?… Mas eu também não sabia que a velha era a
Papagena… Bem mereço o que me está a acontecer. Desde que provei o vinho que a
Papagena me deu, o meu coração arde por todo o lado. Dói-me aqui, dói-me aqui, dói-me
aqui. Minha pombinha! É inútil, tudo está perdido. Estou cansado da vida. A morte será o fim
do amor quando ele arde assim no coração. Vou-me atirar daqui abaixo. Uma vez que a vida
me trata tão mal e nenhuma mulher me dá, adeus falso mundo. Já que é assim vou morrer.
Mas se alguma donzela de mim tiver piedade, diga, que por esta vez eu desisto. É só dizerem
sim ou não. Nenhuma me ouve. Tudo está silencioso. Então é essa a vossa vontade?
Papageno vamos a isto! Acaba com a tua vida. Vou ainda esperar mas só até contar até três.
Um, dois… três! Pronto, terá de ser. Uma vez que nada me detém, adeus falso mundo.
Mensageiro H: Oh infeliz, pára. Tem juízo. Só se vive uma vez. Que isso te baste.
Papageno: Bem podem falar, bem podem gozar. Se o vosso coração ardesse como o meu
arde pela Papagena, também não queriam saber da vida para nada.
Mensageiro C: Experimenta.
Papageno: Pa Pa Pa Pa…
Papagena: Pa Pa Pa Pa…
Papageno: Pa Pa Pa Pa Pa Papagena!
Rainha da Noite: [[§#14 • der hölle rach kocht in meinem herzen] entra] Pamina, vim para te
levar para casa, minha querida. És tudo o que eu tenho, és a minha herdeira, um dia serás a
Rainha da Noite. Vem, querida, pega na minha mão. Agora já não és uma criança, mas uma
mulher, para governar a meu lado. Pega na minha mão, filha. Não queres ir para casa, meu
tesouro, minha querida?
Pamina: Disseste que me ias renegar, que nunca mais me chamarias filha, a menos que eu
voltasse com o sangue de Sarastro a manchar-me as mãos.
Rainha da Noite: Estava furiosa, Pamina. Nunca ouviste falar em fúria? Agora que és uma
mulher, não compreendes o poder da ira?
Pamina: E quanto a sacrifícios, mãe? Deverei eu reinar num mundo imerso em sangue? E a
Rawa, mãe?
Pamina: Da minha ama. Quando me concedeste a vida da Papagena levaste a Rawa. Na altura
não percebi que ia ser sacrificada.
Rainha da Noite: Ah, essa. E porque não? Tinha-te arranjado uma dúzia de Rawas se
soubesse que as querias.
Pamina: Não vou contigo, mãe. Amo Tamino e ficarei com ele!
Rainha da Noite: O Tamino? Julgas que ele quer alguma coisa de ti a não ser o poder que lhe
advirá de um casamento com a filha de Sarastro?
Tamino: Jurei. Mas percebi que ela não precisava de ser salva.
Rainha da Noite: Foste seduzido por Sarastro, como todos os meus amigos têm sido
seduzidos por aquele malvado homem. Toda a terra está sob a sua tirania, uma tirania que
preverte e seduz a mente e onde a fé não tem lugar. Tamino, olha para mim, meu filho. Escuta
a minha voz, Sarastro enfeitiçou-te, estimulou o teu orgulho. Pamina regressou para junto de
mim; agora ela sabe a verdade e sabe como Sarastro vos mentiu a ambos.
Rainha da Noite: Mas não sabes que eu sou Pamina, como sou todas as mulheres? Meu bem
amado, estou outra vez contigo, bem vês, e juntos aniquilaremos aquele tirano. Vem, toma a
minha mão, meu único amor, e juntos venceremos. [Tamino, como que hipnotizado, dirige-se
à Rainha da Noite e entraga-lhe as flores.]
Tamino: [subitamente afasta-se] A senhora não é a Pamina. A Pamina não olha assim.
Rainha da Noite: Matem-no. [§#21 • finale II: die strahlen der sonne vertreiben die nacht]
[Disa vai para matar Tamino]
Sarastro: Essas flores não vos pertencem. [a Rainha da Noite atira as flores para o chão] É
tempo de repôr as coisas. [o tabuleiro é reposto: Sarastro recompõe a flauta e espada numa
cana, os Mensageiros espetam o pão nas canas, Sarastro coloca a coroa, Pamina e Tamino o
pano do cesto e as flores e finalmente entra Papageno e Papagena com uma pombra para
colocar no cimo do tabuleiro. a pomba voa e muitas mais. [§#21 • finale II: pa pa pa pa pa pa
papagena] fim]
A FLAUTA MÁGICA
Carlos Carvalheiro
(a partir de Emanuel Schikaneder e Marion Zimmer Bradley)
Produção
Fatias de Cá - Tomar
estreada em Julho de 1991 no Terreiro da Alcáçova do Castelo Templário, Convento de
Cristo, Tomar, no âmbito da Festa dos Tabuleiros
Música
Wolfgang Amadeus Mozart
Encenação
Carlos Carvalheiro
Direcção de Produção
Ana Paula Eusébio e Ana de Carvalho
Direcção Musical
António de Sousa
Vestuário
Ana Paula Eusébio
Cartaz
Paulo Delgado
Interpretação
Ana Antunes - (Rawa)
Carlos Carvalheiro - (Sarastro)
Diva Cobra - (Kamala)
Joana Jacob - (Papagena)
Luis Santos - (Tamino)
Manuela de Freitas - (Rainha da Noite)
Margarida Alves - (Mensageiro)
Mariana Madureira - (Mensageiro)
Marisa Serafim - (Disa)
Paulo Delgado - (Monostatos)
Pinto - (Mensageiro)
Piu - (Papageno)
Rita Ferreira - (Pamina)
Susana Franco - (Zeshi)
Colaboração
Comissão Central da Festa dos Tabuleiros' 91, Convento de Cristo, Raul Saldanha, Rui
Tasso
A FLAUTA MÁGICA
Carlos Carvalheiro
(a partir de Emanuel Schikaneder e Marion Zimmer Bradley)
Produção
Fatias de Cá - Tomar
reposição em Agosto de 2003 no Terreiro da Alcáçova do Castelo Templário, Convento de
Cristo, Tomar
Música
Wolfgang Amadeus Mozart
créditos discográficos
“Die Zauberflöte” - Sir Neville Marriner • Philips 426 276 - 2
“The Magic Flute” - Sir Collin Davis • Philips 442 568 - 2
“Die Zauberflöte” - Harmoniemusik (Josseph Heidenreich 1753-1821) • Münchner
Bläserakademie • Orfeo (1984) S 092-841-A
Encenação
Carlos Carvalheiro
Direcção de Produção
Ana Paula Eusébio
Vestuário
Ana Paula Eusébio
Cartaz
MBV Design
a partir de ideia de Carlos Carvalheiro
Interpretação
Papageno - Luis Mourão ou Sérgio Costa
Sarastro - Carlos Carvalheiro
três Mensageiros de Sarastro - Carlos Medeiros, Fernando Rodrigues, Humberto Machado
Pamina - Dora Martinho
Rawa - Isabel Passarito
Rainha da Noite - Ana Paula Eusébio
Disa, Kamala, Zeshi, filhas da Rainha da Noite - Ana de Carvalho, Gabriela de Azevedo, Inês
Cúrdia
Monostatos - Menino Jesus
Papagena - Joana Jacob
Tamino - Filipe Seixas
Montagem
Ana de Carvalho
Bruno Guerra, Dora Martinho, Filipe Seixas, Gabriela de Azevedo, Inês Cúrdia, Joana
Jacob, Luis Lopes, Sérgio Costa
Banda Sonora
concepção e montagem: Carlos Carvalheiro
execução: Laura Lopes
Divulgação
Manuela Guedes
Acolhimento
Gabriela de Azevedo
reservas: Dulce António, Manuel Carvalheiro
bilheteira: Maria José Jacob
mershandising: Cátia Basílio
Acomodação
Manuela Teixeira
Carla Cotrim, Chimene Flórido, José Nunes
Pombos
Raul Saldanha
Catering
Assim se Fazem as Coisas, catering & bastidores
Apoio
MC/IPPAR/Convento de Cristo
Repertório