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A Flauta Mágica

Carlos Carvalheiro
a partir do libreto de Emanuel Schikaneder da ópera de Mozart “A Flauta Mágica” e de
“Filha da Noite” de Marion Zimmer Bradley

Personagens
Papageno
Sarastro
três Mensageiros de Sarastro
Pamina
Rawa
Disa, Kamala, Zeshi, filhas da Rainha da Noite
Rainha da Noite
Monostatos
Papagena
Tamino

Um
[Disa, Kamala, Mensageiros, Monostatos, Papagena, Papageno, Pamina, Rainha da Noite,
Rawa, Zeshi]

[está um tabuleiro no meio da cena. [§# • ouvertüre] Papageno surge, agarra a pomba e
sobe para uma árvore, quando Sarastro e os Mensageiros entram. Sarastro despede-se dos
Mensageiros que ficam para a entrada de Pamina, que tira as flores e as entrega a Rawa.
saem. entra a Rainha da Noite, Disa, Kamala, Zeshi e Monostatos. a Rainha da Noite tira a
coroa, Disa Kamala e Zeshi as canas, esparramando o pão pelo chão e Monostatos o pano
do cesto. saem. os Mensageiros recolhem o pão num saco e saem. Papagena entra, aflita,
agarra no cesto e esconde-se debaixo dele.]

Dois
[Disa, Kamala, Papagena, Pamina, Rainha da Noite, Rawa, Zeshi]
Pamina: [para Rawa] Há sangue na Lua.

Rawa: Então vai haver procissão. E alguém será sacrificado…

Disa: [entrando] Prepara-te Pamina. Vais juntar-te à mãe na procissão.

Rawa: Senhora Disa, a Pamina ainda é tão nova…

Disa: [esbobeteando Rawa] Ninguém te autorizou a falar. Talvez te ande a fazer falta uns
tempos a caçar ratos nos estábulos. [para Pamina] Vou-te buscar uma túnica das minhas.
Vai-te ficar comprida, mas à noite, talvez a nossa mãe não dê por isso… se tiveres sorte. [sai]

Pamina: Não chores, Rawa. Eu falo com a minha mãe. Ela não vai deixar que tu vás para os
estábulos. [Rawa dá pela presença de alguém] O que é, Rawa? Está alguém escondido?
[Rawa agarra Papagena, que estava escondida] Não lhe faças mal, Rawa.

Rawa: Ela não devia estar aqui. Não devia.

Pamina: Larga-a. Estou a falar a sério. Papagena, que fazes tu aqui? Deixa-a estar, Rawa.
Ela não me quer fazer mal. E mesmo que quisesse, como é que podia contigo aqui? Deixa-a
falar.

Papagena: Princesa, elas querem levar-me para o sacrifício, querem-me matar. Não as deixes
levarem-me. Elas vão-me matar…

Rawa: Pamina, manda-a embora. Vamos meter-nos em sarilhos. Não devemos intometer-nos
nos sacrificios. Manda-a embora.

Pamina: Está calada, Rawa. Se Disa volta e te vê assim é que te manda mesmo para os
estábulos. Está descansada, Papagena. Eu não deixo que eles te sacrifiquem, não estejas
preocupada. [Kamala e Zeshi entram para apanhar Papagena] Deixem-na em paz!

Disa: [entrando com uma túnica] Despacha-te a vestir.

Pamina: Deixem-na. Eu prometi-lhe.

Kamala: Cala-te Pamina. Não te metas nisto.

Pamina: Vocês não têm o direito de a sacrificar.


Kamala: Não sejas parva. Papagena será sacrificada. É esse o desejo da Rainha da Noite e
não tens o direito de lhe pôr as decisões em causa.

Pamina: Não acredito nisso. A nossa mãe é boa e justa. Toda a vida ouvi dizer que os que são
sacrificados são os criminosos, aqueles que mataram, ou roubaram. A Papagena não infrigiu
nenhuma lei.

Zeshi: Não é o momento para falar de leis. Papagena foi escolhida para ser sacrificada. É
tudo o que precisas de saber. Solta-a ou faço com que a largues à força!

Pamina: Não largo!

Rawa: Não se atrevam a tocar na princesa!

Disa: Deixem-me tratar disto. Se ela me tocar, é esfolada viva. E ela bem o sabe.

Pamina: Eu não deixo. Eu prometi-lhe!

Rainha da Noite: [entra] O que é que se passa?

Pamina: Não deixes que elas sacrifiquem a Papagena. Eu prometi-lhe. Tu és boa, não vais
deixar que uma pessoa inocente seja morta. Não vais deixar, pois não, mãe?

Rainha da Noite: Se prometeste, não deixarei. Mas daqui em diante nunca mais faças
promessa destas sem falar primeiro comigo. Percebeste? [para as irmãs] Isto nunca deveria
ter começado, e tendo começado, nunca deveria ter ido tão longe.

Pamina: Mãe, porque… o que… tu disseste-me que ninguém seria sacrificado a menos que
infrigisse a lei. Porque é que a Papagena ia ser sacrificada?

Rainha da Noite: Quando o Sol se põe escuro ao meio dia e as estrelas se começam a ver, ou
quando a Lua fica vermelha de sangue como hoje, as pessoas ignorantes ficam assustadas e
acham que essas coisas acontecem por causa dos seus pecados. E então exigem que seja
sacrificado um inocente. E nós fazemos isso, porque assim desviamos a sua cólera dos
sacerdotes e dos governantes.

Pamina: Mas isso é horroroso.


Rainha da Noite: Na verdade é, minha filha. Pensei que já tinhas maturidade suficiente para
assistires a um sacrifício. Mas ainda és demasiado infantil. Rawa não está isenta de culpa
nisto tudo. Pamina, estás proibida da participar na procissão. A Papagena ficará ao pé de ti.

Pamina: Mãe…

Rainha da Noite: O que é agora?

Pamina: Mãe, não deixes que elas mandem a Rawa para os estábulos caçar ratos. Ia ser tão
infeliz!…

Rainha da Noite: Prometo-te que Rawa não irá para os estábulos. [faz sinal a Disa, Kamala e
Zeshi para trazerem Rawa. saem.]

Três
[Mensageiros, Papagena, Pamina]

Pamina: [[§#• acordes] para os Mensageiros, que entram] Quem são vocês?

Mensageiro H: Somos mensageiros de Sarastro.

Pamina: Quem vos autorizou a entrar?

Mensageiro C: Ninguém.

Pamina: O que estão aqui a fazer?

Mensageiro H: Viemos buscar-te para te levar para o Templo de Sarastro.

Pamina: Não quero sair daqui.

Mensageiro F: Bom, nesse caso temos que te raptar.

Pamina: [grita] Rawa!

Mensageiro H: Princesa Pamina, ninguém te fará mal, mas tens de vir connosco em silêncio.
Pamina: Rawa! Rawa!

Mensageiro C: Nós avisámos. [agarram Pamina e levam-na]

Quatro
[Disa, Kamala, Tamino, Zeshi]

[[§#1• zu hilfe! zu hilfe!] Tamino luta com um dragão. a luta é desigual e desmaia. debaixo do
dragão surgem Disa, Kamala e Zeshi]

Disa: Desmaiou. Que bonito que é!

Zeshi: Tenho a certeza de que me provocaria um enorme prazer. Estou a pensar…

Disa: Estás sempre a ferver, seja com quem for. Mas não nos está destinado. Esquece por
uma vez os prazeres da alcova e pensa na tarefa que a Rainha da Noite nos confiou.

Zeshi: Julgas que és melhor que eu, Disa? Há coisas passadas no Templo do Touro que eu
podia contar…

Kamala: Estejam caladas as duas. Cumprimos o nosso dever. Resta-nos informar a Rainha da
Noite.

Disa: Ide então dizer-lhe. Eu ficarei aqui.

Zeshi: Não, não! Ide vós. Eu velarei por ele.

Kamala: Não, não é preciso. Eu proteje-lo-ei sozinha.

Disa: Eu fico aqui.

Zeshi: Eu velo por ele.

Kamala: Eu protejo-o sozinha.

Disa: Eu fico.
Zeshi: Eu velo.

Kamala: Eu protejo.

Disa: Eu!

Zeshi: Eu!

Kamala: Eu!

Disa: Elas bem queriam ficar a sós com ele.

Zeshi: O que eu não daria para ficar com ele.

Kamala: Para o ter só para mim.

Disa: Mas nenhuma se quer ir embora.

Zeshi: Mas assim não pode ser.

Kamala: Não, não pode ser.

Disa, Kamala e Zeshi: Será então melhor irmos. [saem]

Cinco
[Disa, Kamala, Papageno, Pamina, Rainha da Noite, Tamino, Zeshi]

Tamino: [volta a si] Onde estou? Que lugar é este? O quê? O dragão morto a meus pés?
[Papageno assobia #20 • ein mädchen oder weibchen] O que é isto?

Papageno: [pendurado na árvore] Eu sou o Papageno e a minha profissão é apanhar


pombas. Por isso ando alegre e feliz porque todas as pombas são minhas. Mas o que eu
gostava era de apanhar raparigas: apanhava-as às dúzias e depois fechava-as em casa e
todas as raparigas eram minhas. Depois escolhia uma, trocava as outras por açúcar e dava o
açúcar àquela que eu tinha escolhido. E então ela beijava-me carinhosamente e seriamos
marido e mulher.
Tamino: Desculpe, amigo…

Papageno: [sai uma pomba a voar] Olhe para o que fez!… Agora fugiu!

Tamino: O que anda a fazer?

Papageno: A apanhá-las. Não viu? É ceguinho?

Tamino: Mas porque é que apanha pombas?

Papageno: É o meu trabalho. Apanho pombas e em troca dão-me vinho, carne e pão. E você
quem é?

Tamino: Sou o príncipe Tamino.

Papageno: E o que é que anda aqui a fazer? A Rainha da Noite vai ficar furiosa se o
descobre aqui.

Tamino: A Rainha da Noite? Quem é?

Papageno: Logo se vê que não é daqui. É ela quem governa sobre todos nós. É muito
poderosa. E eu, Papageno, sou a sua companhia preferida, o seu apanhador de pombas e o
seu conselheiro pessoal… E você? O que anda a fazer por aqui?

Tamino: Fui atacado por um dragão e desmaiei. Quando despertei, tinha o dragão morto a
meus pés. Foi você que o matou?

Papageno: Matar um dragão? Aqui não há dragões… [Tamino aponta o dragão. Papageno
assusta-se] Está morto? [[§# • das klinget so herrlich] aproxima-se a medo e, depois,
confiante] Você pensa que eu tenho medo de dragões? Ainda por cima de um dragãozito
como este?

Tamino: [sorrindo] Ah, então você matou-o? E com quê?

Papageno: Não preciso de armas. Um murro dos meus vale mais do que uma arma.

Disa: [entrando com Kamala e Zeshi] Papageno!

Tamino: Quem são?


Papageno: São as filhas da Rainha da Noite.

Disa: A nossa Rainha hoje envia-te em vez de vinho, água.

Papageno: Água?…

Kamala: E a mim ordenou-me que, em vez de carne, te desse os ossos…

Papageno: Ossos?…

Zeshi: E em vez da pão, uma oferta especial: um freio contra a tagarelice.

Papageno: Senho… [Zeshi espeta-lhe uma rolha na boca]

Disa: Queres saber porque te castiga hoje a Rainha? [§#5 • hm! hm! hm! hm!] Para nunca mais
mentires a estrangeiros.

Kamala: E para nunca mais te gabares dos feitos heroicos dos outros.

Zeshi: Fomo nós que te libertámos.

Disa: Príncipe Tamino, a Rainha da Noite tem um pedido a fazer-te.

Rainha da Noite: [[§#4 • o zittre nicht] entra] Meu filho, vês perante ti a mais infeliz das
mulheres. A minha filha me levaram. Com ela desapareceu para sempre a minha alegria. Foi-
me roubada por um ser odioso chamado Sarastro. És puro, sensato e inocente e Sarastro
não terá qualquer poder sobre um ser incorrupto como tu. Vê. [Disa mostra-lhe um retrato e
surge a figura de Pamina] É o retrato da minha filha.

Tamino: É tão bonita. Como se chama?

Rainha da Noite: Pamina. A tua alta posição como filho do Imperador do Ocidente, torna-te
seu igual. Se conseguires salvá-la serás recompensado. A minha filha te darei para sempre e
o seu dote é o próprio Reino da Noite.

Tamino: Juro ajudar esta mulher infeliz e profundamente injustiçada. [[§#4 • o zittre nicht] a
Rainha da Noite parte uma cana do tabuleiro, do que resulta uma flauta, com que arma
Tamino. sai]
Disa: Essa flauta é mágica e irá proteger-te do perigo.

Papageno: [escapando-se] Pe - i - o?

Zeshi: [para Papageno que se escapa] Papageno! Onde julgas tu que vais?

Papageno: Vo… vo… [Zeshi tira-lhe o freio] Voltar à minha cabaninha na floresta, senhoras
minhas. Por favor, perdoai ao vosso humilde servo, e desejo-vos a todas uma boa noite. E os
meus respeitosos cumprimentos à vossa ama, a Rainha, e à princesa Pamina e aqui ao
príncipe, e a todas vós, senhoras minhas, que sois tão finas, e durmam bem e sonhos
agradáveis. Boa noite a todos vós, boa noite.

Zeshi: Volta já para aqui.

Kamala: Ainda não te tinhamos dito, mas é vontade da Rainha que vás com o príncipe Tamino
para o guiares e servires como deve ser.

Disa: Papageno! [entraga-lhe a caixa do retrato] Ficas encarregue de transportar o retrato


da princesa Pamina.

Papageno: Não, agradeço muito mas não quero. O Sarastro mandava-me assar para o
jantar. O príncipe merece um servo melhor e mais valente do que eu. Eu sou muito mentiroso
e muito gabarola. Sou uma pessoa que não presta para nada.

Disa: Está na altura de se porem a caminho. [saem as três]

Papageno: Mas eu nem sei o caminho para o reino de Sarastro…

Seis
[Mensageiros, Papageno, Tamino]

Tamino: Anima-te Papageno.

Papageno: Anima-te, anima-te… Não fui eu que jurei ajudar uma mulher infeliz e
profundamente injustiçada.
Tamino: Não tens que vir comigo, Papageno. Podes ficar. Eu vou sozinho.

Papageno: Vou sozinho, vou sozinho… E vai sozinho para onde se nem sabe o caminho?
Assopre aí na gaita. Como é mágica pode ser que apareça alguém que lhe diga onde é que
pára o Sarastro e a mim me arranje comida que estou a morrer de fome.

Tamino: É uma ideia, sim senhor. [[§#15 • wie stark ist nicht dein zauberton] toca a flauta e
surgem os Mensageiros]

Mensageiro H: O que querem de nós?

Papageno: Bom, se não lhes faz diferença, eu comia qualquer coisinha…

Tamino: Papageno!

Mensageiro F: A cada um segundo as suas necessidades. [dá-lhe um pão] Satisfaz a tua


fome, meu amigo. A sabedoria pode não residir num estomago cheio, mas de certeza nunca
habitou num vazio.

Mensageiro H: E tu, príncipe Tamino, qual é a tua necessidade?

Tamino: Resgatar a princesa Pamina das mãos do malvado Sarastro.

Mensageiro C: O mundo, meu filho, está cheio de pessoas que não têm respeito pela
verdade.

Tamino: É ou não verdade que ele arrancou Pamina dos braços da mãe?

Mensageiro H: Há vários tipos de verdade. Muitos. Pode não ser assim tão simples. E mesmo
que nós digamos a verdade, poderás sempre pensar que te estamos a mentir.

Tamino: Ele raptou a Pamina ou não?

Mensageiro F: Como já te dissemos, meu rapaz, há muitas espécies de verdade. A um certo


nível é verdade o que dizes: Sarastro mandou arrancar a princesa Pamina aos cuidados da
mãe, a Rainha da Noite.

Tamino: E atreveu-se a fazer uma coisa dessas?


Mensageiro H: Não conheces Sarastro nem os seus motivos.

Tamino: Posso não conhecer Sarastro. Mas sei o que fez. E sei distinguir o certo do errado!

Mensageiro C: Se sabes distinguir o certo do errado, então, meu filho, sabes mais do que
qualquer de nós. Quem me dera que refreasses a tua vontade de julgares Sarastro, ou seja
quem for, até estares certo da verdade. Não é tão simples como parece.

Tamino: Todos os bandidos podem encontrar desculpas boas para os males que fazem. Os
factos falam por si. Que desculpa pode haver para roubar uma filha aos braços da sua mãe?

Mensageiro H: Não estamos aqui para te dar desculpas em nome de Sarastro.

Tamino: Ah, não estão? Pensava que era exactamente o que estavam a fazer.

Mensageiro F: Não sabes a história toda. Até essa altura, farias bem em não julgar entre
causas rivais.

Tamino: Quando um homem nobre ouve falar numa injustiça, não é seu dever e previlégio
transformá-la em justiça? Doutra forma, não será melhor que o pior dos patifes.

Mensageiro H: Deixa-me fazer-te uma pergunta a ti, já que tu nos fizeste tantas: porque é
que não vens connosco, que nós levamos-te a Sarastro?

Tamino: Mas é precisamente isso que eu desejo.

Mensageiro H: Já podias ter dito! Vamos embora.

Tamino: Vamos, Papageno. [sai com os Mensageiros]

Papageno: [continuando a comer o pão] Vá andando, que eu já o sigo. Quando estou no


melhor, ia-me embora, não? Não, não tenha pressa. Chegamos sempre a tempo de nos
assarem. [vê-se sozinho e segue Tamino e os Mensageiros, mas por outro caminho]

Sete
[Monostatos, Pamina]
Monostatos: [§#6 • du feines täubchen, nur herein] Ah, senhora, a nossa hospitalidade
agrada-te? Sentes-te confortável? Precisas de alguma coisa?

Pamina: Monostatos, a minha mãe confiava em ti. E tu abandonas-te-a para te juntares a


Sarastro.

Monostatos: Tenciono ser tido em consideração quando Sarastro der a mão da filha em
casamento.

Pamina: Sarastro tem uma filha?

Monostatos: Absolutamente. A Rainha da Noite não te disse que és filha de Sarastro?

Pamina: Acho que deves ter enlouquecido!

Monostatos: Nada que se pareça. Tenho a certeza que a tua mãe tencionava explicar-te um
dia quem foi o teu pai, filha de Sarastro.

Pamina: Como é que um ser como tu sabe isso?

Monostatos: Não sejas criança, Pamina. Eu quero ser teu amigo. Talvez seja eu o teu único
amigo aqui. Sou capaz de vir a ser teu marido. Seria prudente para ti permaneceres minha
amiga.

Pamina: Antes de te ter por marido, faria um voto de castidade.

Monostatos: És mesmo uma criança, Pamina. És a herdeira da Rainha da Noite e do Senhor


do Dia. Acreditas realmente que qualquer um deles te permitiria desperdiçares a tua pessoa
dessa forma? Dar-te-ão em casamento. E tenciono ser eu o eleito.

Pamina: Nunca.

Monostatos: Bom, havemos de ver. Em penhor desse dia, dá ao teu futuro noivo o teu
primeiro beijo, Pamina.

Pamina: [esbofeteia-o] Como te atreves?!…

Monostatos: Um dia far-te-ei lamentar isto, Pamina. [sai]


Pamina: Isto foi tudo arranjado por Sarastro! Tenho de fugir daqui. [vai para fugir]

Monostatos: [interpondo-se] Pensei que o farias. Volta para os teus aposentos. É melhor
ires com dignidade, senão arrasto-te até lá. [Pamina volta] Pamina, desagradaste-me e
desagradaste a Sarastro. Fazes-me a promessa solene de não tentar fugir de novo? Ou vais
obrigar-me a prender-te? Seria um espectáculo impressionante: uma princesa acorrentada…

Pamina: Não te vou prometer nada! Sou a filha da Rainha da Noite e nada tenho a ver com
Sarastro, nem contigo. Não admito que tu ou ele tenham qualquer direito de me fazer
prisioneira e se puder fugir podes ter a certeza que o farei.

Monostatos: Pamina, vais forçar-me a prender-te!

Pamina: Não te atrevas a dizer que sou eu que te vou forçar a isso. Se o fizeres fá-lo-ás pela
tua malvadez e não pelo que eu tenha feito.

Monostatos: Vais obrigar-me!…

Pamina: Sai da minha vista! Não voltes mais à minha presença. Se Sarastro quer alguma coisa
de mim, diz-lhe para vir ele em vez de te mandar!

Monostatos: Obrigaste-me a ir longe de mais, Pamina.

Pamina: Vai lamber as botas a Sarastro. [Monostatos sai]


Oito
[Monostatos, Papageno, Pamina]

Pamina: [[§#19 • soll ich dich, teurer, nicht mehr sehn?] para Papageno que surge] Que és
tu?

Papageno: Sou o Papageno. E tu?

Pamina: Sou a Pamina.

Papageno: Sois a filha da Rainha da Noite?

Pamina: Sou eu, sim.


Papageno: Vou já ver isso. [confere pelo retrato] Olhos verdes. Está certo, verdes. Lábios
vermelhos. Está certo, vermelhos. Cabelos louros. Confere.

Pamina: Deixa-me ver. Sim, sou eu. Como foi o meu retrato parar às tuas mãos?

Papageno: A Rainha da Noite mandou-nos salvar-vos. Vamos embora depressa.

Pamina: Mãe!

Papageno: Temos de encontrar o príncipe.

Pamina: Que príncipe?

Papageno: Ah é verdade! Ainda não tinha falado dele. Afinal de contas, ele é que tinha de
vos salvar. É um príncipe muito novo e muito bonito e muito amigo da Rainha da Noite. Ela
mostrou-lhe o vosso retrato. E logo que ele vos viu, ficou apaixonado.

Pamina: Que história tão romântica. Como é que ele se chama?

Papageno: Príncipe Tamino. Ele devia ter tido o bom senso de continuar perto de mim. Eu
nunca lhe permitiria fazer algo tão tonto como perder-se.

Pamina: Tenho a certeza que não. Mas ele perdeu-se e temos que arranjar uma maneira
qualquer de sairmos daqui. [vão para fugir. entra Monostatos que agarra Pamina] Não me
toques! Tira as mãos de cima de mim! Papageno, socorro!

Monostatos: Achas que ele te pode socorrer? Oh não, Pamina. Agora que sabes que não
podes fugir, resigna-te. Não te vai acontecer nada se reconheceres que me és destinada.
Dá-me um beijo e fiquemos outra vez amigos. [Papageno vai para atirar uma pedra a
Monostatos.]

Nove
[Mensageiros, Monostatos, Papageno, Pamina, Sarastro, Tamino]

Monostatos: [[§#8 • finale I: es lebe sarastro, sarastro lebe] Papageno larga a pedra e
Monostatos disfarça] Sarastro vem aí. O melhor que tens a fazer é ficar calada.
Papageno: Se eu fosse pequeno como um caracol, escondia-me dentro de casa. [tenta
meter a cabeça dentro da caixa do retrato] O que vamos nós dizer?

Pamina: A verdade! A verdade, ainda que nos custe a vida.

Tamino: [entrando com os Mensageiros] Pamina…

Pamina: Tamino…

Monostatos: [agarrando Tamino] Que intromissão é esta? [para Sarastro, que entra] Meu
senhor Sarastro…

Pamina: Não vai deixar que aconteça nenhum mal ao pobre do Papageno, pois não?

Sarastro: Não sei o que te disseram acerca de mim, Pamina, mas asseguro-te que não
tenciono fazer qualquer mal ao Papageno.

Pamina: Posso fazer uma pergunta, Senhor?

Sarastro: Acabaste de a fazer. Mas podes fazer outra.

Pamina: O Monostatos disse-me que é meu pai. É verdade?

Sarastro: Sim, Pamina.

Pamina: Se é realmente meu pai… não me deixa voltar para a minha mãe?

Sarastro: Lamento, Pamina, mas não posso. Tu não conheces a tua mãe tão bem como eu…
É uma mulher sem coração, cruel e dominadora. A tua mãe…

Pamina: É a minha mãe. Não quero ouvir nada contra ela.

Sarastro: Não posso censurar-te por acreditares na tua mãe. Gostava que confiasses em
mim, mas suponho que serei obrigado a ganhar a tua confiança.

Pamina: Prometeu-me ao Monostatos como esposa?

Monostatos: Meu senhor, descobri um intruso no vosso reino.


Sarastro: Bem vindo, príncipe Tamino. [Monostatos larga Tamino. para Pamina] Não, não te
prometi ao Monostatos. Ele disse-te isso, Pamina?

Pamina: Porque julga que eu andava a tentar fugir?

Sarastro: Tinha esperança que me explicasses.

Pamina: Eu tentei… tentei fugir… porque tinha medo dele… do Monostatos. Ameaçou-me.
Disse-me que eu lhe estava destinada para noiva, e eu tive medo… medo de que fosse
verdade. Ele… ele falou com uma tal convicção. E tratou-me como se… como se eu
realmente já lhe tivesse sido prometida como esposa.

Sarastro: Monostatos, mereces ser recompensado. Que este homem receba…

Monostatos: Tudo o que fiz foi para vosso serviço. O vosso favor é suficiente como
recompensa.

Sarastro: … setenta e sete chicotadas. [interpondo-se entre Pamina e Tamino] Ainda é


cedo. Chegou o momento, Pamina e Tamino, de provarem que se merecem um ao outro.
Vamos.

Mensageiro H: [para Monostatos] Vais ver a carga que levas durante o intervalo. [§#8 • finale
I: wenn tugend und gerechtigkeit] todos saem.]
Dez
[Mensageiros, Papageno, Sarastro, Tamino]

[[§#9 • march der priester] Sarastro entra com os Mensageiros e falam entre si. Sarastro sai]

Mensageiro H: [§#10 • o isis und osiris] Vamos lá a coisas sérias. Príncipe Tamino, estás
disposto a provar que mereces Pamina?

Tamino: Um príncipe está sempre disposto a lutar pela sua dama. Mas posso primeiro fazer
uma pergunta?

Mensageiro C: Com certeza. Não prometemos uma resposta, mas és livre de perguntar.
Tamino: Suponhamos que me pedem para eu fazer qualquer coisa que eu sei que está
errada?

Mensageiro F: Errada segundo o juízo de quem?

Tamino: Não estou a tentar armar-me em juíz. Mas como vou saber se não me vão pedir algo
de errado para me pôr à prova?

Mensageiro H: E se te pedirem para… ficares calado?

Tamino: Calado?

Mensageiro H: Sim. Não falares a nenhuma mulher.

Tamino: Mas porquê?

Mensageiro F: A natureza das provas tem de ser ignorada ou não haveria mérito nenhum em
as enfrentar.

Tamino: Isso parece um truque.

Mensageiro H: Talvez. És capaz de não falar a nenhuma mulher?

Tamino: Claro que sou.

Mensageiro C: Então, Tamino, possa o teu silêncio servir-te bem. E enquanto estás em
silêncio, medita. Não podes falar com nenhuma mulher.

Mensageiro H: E tu, Papageno, também queres lutar pela tua mulherzinha?

Papageno: Lutar não é comigo. Prefiro ficar solteiro!

Mensageiro F: E se Sarastro te tivesse destinado uma rapariga?

Papageno: E é jovem?

Mensageiro F: Jovem e bonita.

Papageno: E como se chama?


Mensageiro F: Papaguena.

Papageno: Hãn?

Mensageiro C: Papagena.

Papageno: Como?

Mensageiro H: Oh pá, é Papagena!

Papageno: Pa… Pa… Só por curiosidade, gostava de a ver.

Mensageiro H: Podes vê-la, mas não podes dirigir-lhe a palavra. Nem a nenhuma mulher.
Terás vontade suficiente para te manteres calado?

Papageno: Se é só isso…

Mensageiro H: Silêncio. A prova começou. [os Mensageiros saem mas ficam visíveis para o
público.]
Onze
[Disa, Kamala, Mensageiros, Papagena, Papageno, Pamina, Tamino, Zeshi]

Disa: [[§#12 • wie? wie? wie?] entrando com Kamala e Zeshi] Príncipe Tamino! A Rainha da
Noite está zangada contigo! Caíste no encanto de Sarastro e serás castigado. O que tens a
dizer, tu que juraste devolver-lhe Pamina?

Kamala: Calas-te, Tamino? Portanto, a tua honra não vale nada.

Zeshi: Papageno, o que achas tu que a Rainha dirá quando souber que podias ter salvo a
Pamina e nada fizeste? Fala!

Papageno: Gostava muito mas…

Tamino: Cala a boca, Papageno. Queres quebrar o teu voto de não falares a nenhuma
mulher aqui dentro?
Papageno: Estão a ver? Não posso!

Kamala: Tu és servo da Rainha da Noite e ela enviou-nos aqui para te levarmos.

Papageno: Escute aqui, eu nunca quis vir para cá coisíssima nenhuma, mas obrigaram-me a
vir com o príncipe, e agora quero cá ficar, pronto!

Tamino: Cala-te.

Papageno: Sempre calado, sempre calado.

Zeshi: Oh Papageno… [acaricia-o]

Papageno: [afastando-se] Não era assim que me tratavam em casa da Rainha da Noite. Acho
que isso é truque. Não me parece que possais fazer-me grande mal aqui! Acho que se
pudesseis fazer-me mal aqui, já o tinheis feito.

Disa: Fizemos o possível por resolver isto a bem. A Rainha da Noite será informada da vossa
conduta. [saem]

Papageno: Oh, iu, oh, iu…

Tamino: O que é que tu tens, Papageno?

Papageno: Estou com um ataque de cobardia!

Tamino: Não tens vergonha?

Papageno: Não sou nenhum príncipe. Não tenho obrigação de ser valente!

Tamino: Um príncipe não passa de um homem, Papageno.

Papageno: Oh! Pensava que os príncipes eram diferentes. Então qual é a vantagem de se ser
príncipe se se é como toda a gente?

Tamino: Talvez não seja nenhuma. E agora está calado e medita. Foi isso que te disseram.

Papageno: Não, foi a si que disseram para meditar. Já é mau que se farta ter de estar calado
sem ser preciso meditar. De qualquer forma, não sei meditar.
Tamino: Schiu!

Papageno: Acho que posso falar comigo mesmo, não? Digo a mim mesmo, que devia estar lá
fora a apanhar pombas e depois olho em volta e dou comigo aqui. Eu, o Papageno! E a sede
que eu tenho? O que eu não dava por um golinho de vinho…

Papagena: [[§#20• ein mädchen oder weibchen] entrando disfarçada de velha e dirigindo-se
a Papageno com vinho] Oh, se é só isso que queres, nada há de mais fácil.

Papageno: Anda sempre com vinho na manga?

Papagena: Oh, não. Só porque o marido que me prometeram está aqui.

Papageno: Ah, prometeram-lhe um marido… Que idade tem avózinha?

Papagena: Vinte anos e um dia.

Papageno: Esse dia deve ter sido mesmo muito comprido. E o seu prometido é também assim
tão novo?

Papagena: Disseram-me que era mais velho.

Papageno: Tenho a certeza de que fazem um par delicioso. Como se chama ele?

Papagena: Papageno.

Papageno: [cuspindo o vinho] Que brincadeira vem a ser esta?

Papagena: Não é brincadeira nenhuma. Dá-me a tua mão, Papageno.

Papageno: Aqui a tens com a promessa de que te serei sempre fiel… [aparte] desde que não
apanhe outra!…

Papagena: Juras?

Papageno: Juro. Como te chamas minha comprometida?

Papagena: [descobrindo-se] Papagena.


Mensageiro H: Vai-te embora, Papagena. Ele ainda não é digno de ti.

Papageno: [procurando seguir Papagena] Papagena…

Mensageiro C: Anda cá, Papageno. Prometeste estar calado e não cumpriste.

Papageno: Não digo nem mais uma palavra.

Pamina: [entrando] Tamino, temos de falar. [[§#8 • finale I: wie stark is nicht dein zauberton]
Tamino toca a flauta] Estás triste? Tamino, por favor fala comigo. Preciso de saber se me
queres mesmo ou se é por o meu pai te ter escolhido. Tamino, por favor, fala comigo. Não
suporto quando nem sequer me olhas! Papageno, diz-me o que tem o teu amigo. [Tamino sai
e Papageno segue-o] Como? Também tu?

Papageno: [para Tamino] Vê que eu também sei estar calado quando é preciso?

Pamina: Isto é pior que uma ofensa!

Doze
[Mensageiros, Monostatos, Pamina, Rainha da Noite]

Monostatos: Vês, Pamina? Não podes confiar em Tamino. Ele rejeitou-te. Só me tens a mim,
Pamina.

Pamina: Nunca.

Monostatos: Pamina, já fui espancado por tua causa e vou obter mais do que um beijo, desta
vez. Porque não havemos de simplificar as coisas?

Pamina: Sarastro vai esfolar-te vivo por causa disto!

Monostatos: Tens a certeza, minha querida? Talvez depois fiques satisfeita.

Pamina: Não! [Monostatos vai para violá-la] Socorro! Socorro! [surge a Rainha da Noite que
fulmina Monostatos. [§# • bum] Pamina atira-se aos braços da mãe] Mãe!
Rainha da Noite: Ele fez-te mal, Pamina? Ou só te assustou?

Pamina: Só… Só assustou.

Rainha da Noite: Mesmo em casa de Sarastro julgava que estavas mais bem guardada do que
isto! Podes verificar no que te ias transformar aqui.

Pamina: Mãe, vamos fugir.

Rainha da Noite: É demasiado tarde para isso. [entrega-lhe um punhal] Toma. Com isto
matarás Sarastro.

Pamina: Mas, não podes querer uma coisa dessas!…

Rainha da Noite: Escuta! Resolvi que tu me vingarias. Se Sarastro não sentir a morte pela tua
mão, não mais serás minha filha.

Pamina: Mas, mãe… Não!

Rainha da Noite: Serve e obedece, Pamina. [sai]

Pamina: Perdi tudo… Tudo menos isto. [saca o punhal] Serás então tu que vais pôr fim ao
meu sofrimento?

Mensageiro C: Ó desgraçada, o que é que vais fazer?

Pamina: Quero morrer!

Mensageiro H: Infeliz! Pára! Se o príncipe visse uma coisa dessas, morreria também de dor
porque ele só a ti te ama.

Pamina: Como? Ele ama-me? E escondeu-me os seus sentimentos? Virava-me o rosto?


Porque não falava ele comigo?

Mensageiro F: Porque estava a sujeitar-se a uma prova.

Treze
[Mensageiros, Papagena, Papageno]
Papageno: Pombinha, minha linda! É em vão! Perdi-a para sempre. já nasci para ser infeliz.
Quem é que me mandou a mim falar?… Mas eu também não sabia que a velha era a
Papagena… Bem mereço o que me está a acontecer. Desde que provei o vinho que a
Papagena me deu, o meu coração arde por todo o lado. Dói-me aqui, dói-me aqui, dói-me
aqui. Minha pombinha! É inútil, tudo está perdido. Estou cansado da vida. A morte será o fim
do amor quando ele arde assim no coração. Vou-me atirar daqui abaixo. Uma vez que a vida
me trata tão mal e nenhuma mulher me dá, adeus falso mundo. Já que é assim vou morrer.
Mas se alguma donzela de mim tiver piedade, diga, que por esta vez eu desisto. É só dizerem
sim ou não. Nenhuma me ouve. Tudo está silencioso. Então é essa a vossa vontade?
Papageno vamos a isto! Acaba com a tua vida. Vou ainda esperar mas só até contar até três.
Um, dois… três! Pronto, terá de ser. Uma vez que nada me detém, adeus falso mundo.

Mensageiro H: Oh infeliz, pára. Tem juízo. Só se vive uma vez. Que isso te baste.

Papageno: Bem podem falar, bem podem gozar. Se o vosso coração ardesse como o meu
arde pela Papagena, também não queriam saber da vida para nada.

Mensageiro F: És um pateta. Porque é que não chamas por ela?

Papageno: E acham que resulta?

Mensageiro C: Experimenta.

Papageno: [canta §#21 • finale II: pa pa pa pa pa pa papagena] Pa… Pa…

Papagena: [surge cantando] Pa… Pa…

Papageno: Pa Pa Pa Pa…

Papagena: Pa Pa Pa Pa…

Papageno: Pa Pa Pa Pa Pa Papagena!

Papagena: Pa Pa Pa Pa Pa Papageno! [escondem-se aos beijinhos]


Catorze
[Disa, Kamala, Mensageiros, Monostatos, Papagena, Papageno, Pamina, Rainha da Noite,
Rawa, Sarastro, Tamino, Zeshi]

Rainha da Noite: [[§#14 • der hölle rach kocht in meinem herzen] entra] Pamina, vim para te
levar para casa, minha querida. És tudo o que eu tenho, és a minha herdeira, um dia serás a
Rainha da Noite. Vem, querida, pega na minha mão. Agora já não és uma criança, mas uma
mulher, para governar a meu lado. Pega na minha mão, filha. Não queres ir para casa, meu
tesouro, minha querida?

Pamina: Disseste que me ias renegar, que nunca mais me chamarias filha, a menos que eu
voltasse com o sangue de Sarastro a manchar-me as mãos.

Rainha da Noite: Estava furiosa, Pamina. Nunca ouviste falar em fúria? Agora que és uma
mulher, não compreendes o poder da ira?

Pamina: Porque não me disseste que Sarastro era meu pai?

Rainha da Noite: Porque não precisavas de saber.

Pamina: E quanto a sacrifícios, mãe? Deverei eu reinar num mundo imerso em sangue? E a
Rawa, mãe?

Rainha da Noite: A Rawa? De que estás a falar, minha filha?

Pamina: Da minha ama. Quando me concedeste a vida da Papagena levaste a Rawa. Na altura
não percebi que ia ser sacrificada.

Rainha da Noite: Ah, essa. E porque não? Tinha-te arranjado uma dúzia de Rawas se
soubesse que as querias.

Pamina: Não vou contigo, mãe. Amo Tamino e ficarei com ele!

Rainha da Noite: O Tamino? Julgas que ele quer alguma coisa de ti a não ser o poder que lhe
advirá de um casamento com a filha de Sarastro?

Pamina: Mentiste-me e mentiste a Tamino. Alguma vez disseste a verdade?


Rainha da Noite: A verdade? És uma tola, Pamina. Vais ter a verdade. Vou pôr à prova o teu
precioso Tamino e já verás quão profundo é esse amor do qual te sentes tão certa.
Prendam-na! [Disa, Kamala e Zeshi entram e prendem Pamina dentro do tabuleiro. [§#21 •
finale II: der, welcher wandelt diese straße voll beschwerden] a Rainha vira-se para Tamino,
que entra com flores.] Tens medo de mim, meu filho? Portanto também tu me traiste. Não te
pedi para salvares a minha filha Pamina? E não me juraste que o farias?

Tamino: Jurei. Mas percebi que ela não precisava de ser salva.

Rainha da Noite: Foste seduzido por Sarastro, como todos os meus amigos têm sido
seduzidos por aquele malvado homem. Toda a terra está sob a sua tirania, uma tirania que
preverte e seduz a mente e onde a fé não tem lugar. Tamino, olha para mim, meu filho. Escuta
a minha voz, Sarastro enfeitiçou-te, estimulou o teu orgulho. Pamina regressou para junto de
mim; agora ela sabe a verdade e sabe como Sarastro vos mentiu a ambos.

Tamino: Preferia ouvir isso dos lábios de Pamina.

Rainha da Noite: Mas não sabes que eu sou Pamina, como sou todas as mulheres? Meu bem
amado, estou outra vez contigo, bem vês, e juntos aniquilaremos aquele tirano. Vem, toma a
minha mão, meu único amor, e juntos venceremos. [Tamino, como que hipnotizado, dirige-se
à Rainha da Noite e entraga-lhe as flores.]

Tamino: [subitamente afasta-se] A senhora não é a Pamina. A Pamina não olha assim.

Rainha da Noite: Matem-no. [§#21 • finale II: die strahlen der sonne vertreiben die nacht]
[Disa vai para matar Tamino]

Sarastro: [entrando com os Mensageiros] Não é tempo para isso.

Rainha da Noite: Vamos.

Sarastro: Que levais convosco, senhora?

Rainha da Noite: São flores, senhor.

Sarastro: Essas flores não vos pertencem. [a Rainha da Noite atira as flores para o chão] É
tempo de repôr as coisas. [o tabuleiro é reposto: Sarastro recompõe a flauta e espada numa
cana, os Mensageiros espetam o pão nas canas, Sarastro coloca a coroa, Pamina e Tamino o
pano do cesto e as flores e finalmente entra Papageno e Papagena com uma pombra para
colocar no cimo do tabuleiro. a pomba voa e muitas mais. [§#21 • finale II: pa pa pa pa pa pa
papagena] fim]

A FLAUTA MÁGICA
Carlos Carvalheiro
(a partir de Emanuel Schikaneder e Marion Zimmer Bradley)

Produção
Fatias de Cá - Tomar
estreada em Julho de 1991 no Terreiro da Alcáçova do Castelo Templário, Convento de
Cristo, Tomar, no âmbito da Festa dos Tabuleiros

Música
Wolfgang Amadeus Mozart

Encenação
Carlos Carvalheiro

Direcção de Produção
Ana Paula Eusébio e Ana de Carvalho

Direcção Musical
António de Sousa

Vestuário
Ana Paula Eusébio

Execução Musical e Coral


Coro Canto Firme

Cartaz
Paulo Delgado

Interpretação
Ana Antunes - (Rawa)
Carlos Carvalheiro - (Sarastro)
Diva Cobra - (Kamala)
Joana Jacob - (Papagena)
Luis Santos - (Tamino)
Manuela de Freitas - (Rainha da Noite)
Margarida Alves - (Mensageiro)
Mariana Madureira - (Mensageiro)
Marisa Serafim - (Disa)
Paulo Delgado - (Monostatos)
Pinto - (Mensageiro)
Piu - (Papageno)
Rita Ferreira - (Pamina)
Susana Franco - (Zeshi)

Colaboração
Comissão Central da Festa dos Tabuleiros' 91, Convento de Cristo, Raul Saldanha, Rui
Tasso

A FLAUTA MÁGICA
Carlos Carvalheiro
(a partir de Emanuel Schikaneder e Marion Zimmer Bradley)

Produção
Fatias de Cá - Tomar
reposição em Agosto de 2003 no Terreiro da Alcáçova do Castelo Templário, Convento de
Cristo, Tomar

Música
Wolfgang Amadeus Mozart

créditos discográficos
“Die Zauberflöte” - Sir Neville Marriner • Philips 426 276 - 2
“The Magic Flute” - Sir Collin Davis • Philips 442 568 - 2
“Die Zauberflöte” - Harmoniemusik (Josseph Heidenreich 1753-1821) • Münchner
Bläserakademie • Orfeo (1984) S 092-841-A

Encenação
Carlos Carvalheiro

Direcção de Produção
Ana Paula Eusébio

Vestuário
Ana Paula Eusébio

Cartaz
MBV Design
a partir de ideia de Carlos Carvalheiro

Interpretação
Papageno - Luis Mourão ou Sérgio Costa
Sarastro - Carlos Carvalheiro
três Mensageiros de Sarastro - Carlos Medeiros, Fernando Rodrigues, Humberto Machado
Pamina - Dora Martinho
Rawa - Isabel Passarito
Rainha da Noite - Ana Paula Eusébio
Disa, Kamala, Zeshi, filhas da Rainha da Noite - Ana de Carvalho, Gabriela de Azevedo, Inês
Cúrdia
Monostatos - Menino Jesus
Papagena - Joana Jacob
Tamino - Filipe Seixas

Montagem
Ana de Carvalho
Bruno Guerra, Dora Martinho, Filipe Seixas, Gabriela de Azevedo, Inês Cúrdia, Joana
Jacob, Luis Lopes, Sérgio Costa

Banda Sonora
concepção e montagem: Carlos Carvalheiro
execução: Laura Lopes

Divulgação
Manuela Guedes

Acolhimento
Gabriela de Azevedo
reservas: Dulce António, Manuel Carvalheiro
bilheteira: Maria José Jacob
mershandising: Cátia Basílio

Acomodação
Manuela Teixeira
Carla Cotrim, Chimene Flórido, José Nunes

Pombos
Raul Saldanha

Catering
Assim se Fazem as Coisas, catering & bastidores

Apoio
MC/IPPAR/Convento de Cristo

Repertório

1. FATIAS DE CÁ COM NINI FERREIRA, Autores Vários, 1979


2. FATIAS DE CÁ NO ANIVERSÁRIO DA NABANTINA, Autores Vários, 1979
3. O CON(S)CERTO, Karl Valentim, 1981
4. GENTE SÉRIA, Autores Vários, 1981
5. HÃN?, Mario Frati, Dario Fo/Franca Rame, Pitigrilli, 1982
6. A FESTA DA MEMÓRIA QUE É CURTA, Autores Vários, 1983
7. O FARMACEUTICO A CAVALO, Carlos Carvalheiro a partir de Pitigrilli, 1983
8. FATIAS DE CÁ BAR É…, Autores Vários, 1984
9. A MENINA INÊS PEREIRA, Carlos Carvalheiro a partir de Gil Vicente, 1984
10. POR TRÁS DAQUELA JANELA, Autores Vários, 1985
11. A FUGA DE WANG-FÔ, Carlos Carvalheiro a partir de Marguerite Yourcenar, 1987
12. HAMLET, Carlos Carvalheiro e Graça Afonso a partir de William Shakespeare e Heiner
Müller, 1987
13. HOMLET, Carlos Carvalheiro a partir de Gotlib/Alexis, 1988
14. SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, William Shakepeare, 1988
15. CRÓNICA DOS BONS MALANDROS, Carlos Carvalheiro a partir de Mário Zambujal,
1989
16. A SAPATEIRA PRODIGIOSA, Frederico Garcia Lorca, 1990
17. CARMEN, Ana Paula Eusébio a partir de Mérimée / Bizet, 1990
18. A FERA AMANSADA, William Shakepeare, 1990
19. A COMÉDIA DA MARMITA, Plauto, 1991
20. A FLAUTA MÁGICA, Carlos Carvalheiro a partir de Shikaneder/Mozart e Marion Z.
Bradley, 1991
21. TIMOR, Autores Vários, 1991
22. A MENINA FEIA, Manuel Frederico Pressler, 1992
23. CONFUSÕES, Alan Ayckbourn, 1994
24. A COMISSÃO DE FESTAS, Alan Ayckbourn, 1995
25. AS LIGAÇÕES PERIGOSAS, Carlos Carvalheiro a partir de Choderlos de Laclos,
Cristopher Hampton, Milos Forman e Heiner Müller, 1996
26. TANEGASHIMA, Carlos Carvalheiro e Isabel Passarito a partir de Fernão Mendes
Pinto e Nampo Bunshi, 1997, TANEGASHIMA-HOI!, Autores Vários, 1998
27. XANANA GUSMÃO - LIBERDADE, LIBERDADE!, Autores Vários, 1997
28. T DE LEMPICKA, John Krizanc, 1998
29. AS ÁRVORES MORREM DE PÉ, Alejandro Casona, versão Carlos Carvalheiro, 1999
30. TANNHÄUSER, Carlos Carvalheiro, a partir de Richard Wagner, Gabriela Morais e
Peter Berling, 1999. TANNHÄUSER E O TESOURO DOS TEMPLÁRIOS, 2003
31. VIRIATO, Carlos Carvalheiro e Filomena Oliveira, a partir de João Aguiar, 1999
32. SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, William Shakepeare, versão Carlos
Carvalheiro, 2000
33. CORTO MALTESE - CONCERTO EM O’MENOR PARA HARPA E
NITROGLICERINA, Hugo Pratt, versão Carlos Carvalheiro, 2001
34. A TEMPESTADE, Carlos Carvalheiro, a partir de William Shakespeare, 2001
35. astérix no criptopórtico, Goscinny/Uderso, versão Carlos Carvalheiro, 2002
36 alcacer kibir, Carlos Carvalheiro, 2002
 37 Inês, João Aguiar, versão Carlos Carvalheiro, 2003

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