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GEOFÍSICA y

​ esquícios
R
da Terra primitiva
Blocos rígidos com milhares de quilômetros de extensão
devem ocupar as profundezas do planeta

Possível distribuição dos beams


(em amarelo), as áreas de concentração
de plumas (em vermelho e as regiões 2 e 4) e de
mergulho de placas tectônicas (em azul e as
regiões 1 e 3). As setas indicam as direções em que
o manto se movimenta; S são as placas paradas

I
mensos blocos de rochas devem ocupar o in- Uma equipe que reuniu pesquisadores do Ins-
terior da Terra e, mais densos e mais rígidos tituto de Tecnologia de Tóquio e da Escola Poli-
do que o material que os cerca, ajudariam a técnica de Zurique, com a participação da física
estabilizar os movimentos do manto, a camada brasileira Renata Wentzcovitch, da Universidade
entre a superfície e o núcleo que responde por Columbia, nos Estados Unidos, propôs essa nova
BALLMER, M. D. ET AL. NATURE GEOSCIENCE

cerca de 80% do volume do planeta. Chamados hipótese sobre a composição e o funcionamento


de beams, sigla em inglês de estruturas antigas do manto inferior em um estudo publicado na
do manto enriquecidas em bridgmanita, esses Nature Geoscience em 27 de fevereiro deste ano.
blocos devem ter milhares de quilômetros (km) Embora não seja considerada completa, essa
de extensão, situar-se a pelo menos mil km de abordagem explica alguns fenômenos, como a
profundidade e flutuar no manto inferior, che- subida de material rochoso menos denso do man-
gando até perto do limite com o núcleo terrestre, to para a superfície e a trajetória do mergulho
a quase 2.900 km da superfície. das bordas das placas tectônicas, formadas pela

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crosta e pela parte superior do manto,
no in­terior do planeta. Ambos poderiam Descobertas profundas
ocorrer nas regiões de viscosidade me-
nor entre os beams. Os beams explicariam os movimentos das placas tectônicas
Os pesquisadores elaboraram essa em direção ao núcleo terrestre
proposta com base em duas evidências
Jatos de rocha quente e pouco densa (em
sobre a composição do manto. A primei-
vermelho-claro) que saem das regiões próximas
ra delas é indireta, obtida por meio dos (em amarelo) do núcleo (em vermelho) rumo à As placas tectônicas
chamados modelos tomográficos, que superfície ocupariam os espaços entre os beams (em azul) mergulhariam
até encontrar um beam
indicam a consistência do interior do (à esq.) ou chegariam
planeta a partir de variações de veloci- até a base do manto
dade das ondas sísmicas. Geradas por quando não
terremotos, essas ondas cruzam o inte- encontrassem nenhum

rior do planeta em velocidades que de-


pendem da densidade e da temperatura
do material que atravessam. Beams (verde-claro)
A segunda evidência é direta. São os ocupariam o manto
inferior entre regiões
meteoritos primitivos chamados condri- de rochas de
tos, ricos em magnésio e silício. Embora menor viscosidade
vindas do espaço, essas rochas devem (verde escuro)
representar o mesmo material que for-
mou o interior da Terra, há 4,5 bilhões de
anos. A composição desse tipo de meteo-
rito indica que o manto inferior poderia 1

ser diferente da camada imediatamente


mais próxima da superfície, o manto su- do manto superior e inferior deveriam aumentaram a proporção desse elemento
perior. A camada mais externa do manto ser iguais. “A proporção entre a quanti- químico e fizeram simulações numéricas
começa logo abaixo da crosta terrestre dade de magnésio e a de silício da Terra por computador, em duas dimensões,
e chega a 660 km de profundidade, com deveria ser a mesma que a do Sol, porque dos possíveis movimentos dessa cama-
rochas a temperaturas que aumentam ambos se formaram a partir da mesma da mais profunda da Terra. As simula-
com a profundidade, chegando a cerca nebulosa”, supõe Renata. “O manto su- ções indicaram que boa parte do manto
de 1.600 graus Celsius (ºC) no limite com perior contém 25% mais magnésio do formado logo após o início do planeta
o manto inferior. No manto inferior, as que silício na forma de silicato de mag- poderia ter permanecido até hoje na for-
rochas apresentam maior densidade e a nésio (Mg2SiO3). Se essa proporção se ma de um mineral conhecido como pe-
temperatura varia de 1.600 ºC a 3.700 ºC mantivesse no manto inferior, haveria rovskita ou bridgmanita (MgSiO3), sem
no limite com o núcleo do planeta. menos silício na Terra do que esperado se misturar com a região vizinha, for-
Os pesquisadores verificaram que es- com base na composição solar ou dos mada por rochas com uma viscosidade
sas indicações sobre a composição do condritos.” de 20 a 30 vezes menor. Portanto, esse
interior da Terra não se encaixavam com Nesse estudo, os pesquisadores do material mais viscoso, os beams, pode-
um pressuposto, estabelecido na década grupo assumiram o pressuposto de que ria representar resquícios dos primeiros
de 1960, segundo o qual as composições o manto inferior deveria ter mais silício, tempos do planeta. “Nossas simulações
indicaram que esses blocos rígidos não se
diluíram ao longo da evolução da Terra”,
explica a pesquisadora, que tem estuda-
do os possíveis processos de formação
e transformações da brigmanita no in-
terior do planeta (ver Pesquisa FAPESP
no 198). “O silício que parece faltar deve
estar escondido no manto inferior.”
“Não sabemos quantos beams existem,
mas não devem ser muito mais do que
três ou quatro”, afirma Renata. “Nosso
próximo trabalho será delimitá-los com
2 Meteoritos do tipo precisão, por meio de uma análise de-
condrito, como talhada da variação da velocidade das
este, encontrado no ondas sísmicas.” A comprovação de sua
noroeste da África,
ajudam a entender
real existência é muito difícil. Um gru-
melhor a composição do po internacional de cientistas anunciou
manto inferior da Terra neste mês de abril que, provavelmen-

64  z  maio DE 2017


3

O próximo
trabalho será
delimitar
os beams,
por meio da
variação
da velocidade
das ondas
sísmicas

Uma equipe internacional


de cientistas pretende usar raram um mapa que assinala uma possível em três dimensões, mas pode também
este navio, o Chikyu, para
distribuição dos beams e das regiões ricas ser consequência de erro no modelo ou
perfurar a crosta e chegar
ao manto, em 2030 em plumas, concentradas no sul da África de problemas na detecção das ondas sís-
e na região central do oceano Pacífico. micas, que não é um método infalível.”
O físico João Francisco Justo Filho,
Limites e interações professor da Escola Politécnica da USP
te em 2030, pretende ser o primeiro a Em um comentário publicado na mes- que tem trabalhado com Renata desde
perfurar o manto, com o navio Chikyu, ma edição da Nature Geoscience, o geo- 2007, mas não participou do estudo pu-
chegando a 11 km de profundidade da físico Frédéric Deschamps, pesquisa- blicado na Nature Geoscience, observa:
superfície, ainda distante dos mil km dor do Instituto de Ciências da Terra da “O modelo geodinâmico proposto é o
em que os blocos ricos em silício já po- Academia Sinica, em Taiwan, observou mais simples possível para levar a resul-
deriam ser encontrados. que a hipótese dos beams poderia de fa- tados plausíveis. Há, no entanto, outros
O que se supõe agora é que as placas to explicar a movimentação das placas elementos químicos, como ferro, hidro-
tectônicas devem mergulhar na região tectônicas nas regiões do manto com gênio e oxigênio, que podem mudar a
menos viscosa entre os beams e chegar menor viscosidade e a localização das viscosidade das rochas do manto, mesmo
fotos 1 BALLMER, M. D. ET AL. NATURE GEOSCIENCE 2 H. Raab / wikimedia commons  3 JAMSTEC

ao fundo do manto. O fato antes intrigan- regiões vulcânicas sobre as plumas. No em pequenas proporções”. Em 2013, em
te de algumas placas pararem a cerca de entanto, segundo ele, o modelo de duas um estudo publicado na Physical Review
mil km de profundidade agora poderia dimensões não consegue descrever in- Letters, Renata, Justo e Zhongquing Wu,
ser explicado pela possibilidade de te- teiramente a heterogeneidade espacial da Universidade de Minnesota, nos Es-
rem encontrado um beam, que barraria das medidas de velocidade das ondas tados Unidos, mostraram que o aumento
o mergulho. No sentido inverso, o ma- sísmicas a profundidades maiores que de pressão nas camadas mais profundas
terial do manto profundo poderia subir 2.500 km. Para entender melhor essa do planeta poderia alterar o magnetis-
à superfície também pelas regiões entre situação, ele sugere, “seriam necessárias mo do ferro, aumentar a viscosidade de
os blocos rochosos. simulações em três dimensões”. rochas com outro mineral, o ferroperi-
Esse estudo indica também que os “A simulação apresentada na Nature clase, além de bridgmanita, e favorecer
beams poderiam fixar a origem e a traje- Geoscience é um passo a mais na com- a formação de beams. n Carlos Fioravanti
tória das plumas, como são chamados os preensão do manto inferior”, comen-
jatos de rocha quente e pouco densa, com ta o geofísico Eder Molina, professor
100 a 200 km de diâmetro, que saem do do Instituto de Astronomia, Geofísica e Artigos científicos
limite entre o manto e o núcleo e chegam Ciências Atmosféricas da Universidade BALLMER, M. D. et al. Persistence of strong silica-enriched
à superfície, originando regiões vulcâni- de São Paulo (IAG-USP). “O fato de a domains in the Earth’s lower mantle. Nature Geoscience.
v. 10, p. 236-40. 2017.
cas como os arquipélagos de Fernando de modelagem não explicar alguns regis- WU, Z. et al. Elastic anomalies in a spin-crossover sys-
Noronha, Havaí ou Galápagos. A partir tros da tomografia pode ser decorrente tem: Ferropericlase at lower mantle conditions. Physical
dessa proposta, os pesquisadores elabo- de suas limitações, feita em duas e não Review Letters. v. 110, p. 228501. 2013.

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