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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE RONDONÓPOLIS


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PSICOLOGIA

KESLEY GABRIEL BEZERRA COUTINHO

ENTRE MUROS E TITÃS: ANÁLISE DAS RELAÇÕES HIERÁRQUICAS E DE


PODER NO MANGÁ/ANIME SHINGEKI NO KYOJIN

RONDONÓPOLIS
2018
KESLEY GABRIEL BEZERRA COUTINHO

ENTRE MUROS E TITÃS: ANÁLISE DAS RELAÇÕES HIERÁRQUICAS E DE


PODER NO MANGÁ/ANIME SHINGEKI NO KYOJIN

Relatório de conclusão apresentado à


Universidade Federal do Mato Grosso como
requisito parcial para o encerramento da
participação no Programa de Iniciação Científica
voluntaria (VIC).

RONDONÓPOLIS
2018
Sumário
1 RESUMO ................................................................................................................................ 1
2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 2
2.1 Contextualização histórica.................................................................................................... 2
2.2 Objetivos............................................................................................................................... 3
2.2.1 Objetivos gerais ................................................................................................................. 3
2.2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................... 3
2.3 Justificativa ........................................................................................................................... 4
3 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 4
4 METODOLOGIA.................................................................................................................... 6
5 RESULTADOS ....................................................................................................................... 7
6 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 15
7 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 16
8 DIFICULDADES E AÇÕES ADOTADAS ......................................................................... 17
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 17
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1 RESUMO
Ao tratarmos de Shingeki no kyojin do mangá assim como no anime, estamos falando
de um território em que a população se apresenta a mercê das hierarquizações entre
populações e relações de poder-saber e subjugações dos enérgicos titãs, sendo obrigados a
viverem acuados e reclusos, na busca de sobrevivência. Neste trabalho propomos analisar as
relações de poder estabelecidas entre os diversos personagens da trama, verificando de que
modo estas relações se estabelecem e indicando os possíveis agenciamentos e acontecimentos
que mantém essa (des)ordem social. Propomos analisar por meio de estudos sociais e
filosóficos as condições em que a disciplina e o assujeitamento dos corpos ocorrem, levando
em consideração temáticas como: Biopolítica, Necropolitica, produção de subjetividade e
liberdade, temas estes que parecem estar ligados diretamente aos acontecimentos desta obra
da arte nipônica contemporânea e sucesso internacional entre crianças, jovens e adultos. A
metodologia adotada se remete a uma pesquisa bibliográfica e análise fílmica, a partir do
método cartográfico proposto pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari.
Partindo do pressuposto de que a ficção e a realidade se conectam e se compõem, podemos
por intermédio da análise dos processos de assujeitamento por meio de disciplina e controle
dos corpos entre os personagens de Shingeki no Kyojin seguir pistas que nos permitam
realizar comparações com os entrelaces vivenciados na realidade por diversas sociedades
contemporâneas - estas que buscam cada vez mais se enclausurar em redes protetivas dentro
de barreiras, muros e cercas vivenciando progressivamente uma privação de liberdade
consentida. O medo se constitui enquanto força imponente no que se refere a passividade
personificada nas populações, assim sendo, estes indivíduos tanto do universo ficcional
quanto do real adotam uma posição e fixam suas raízes, negando-se a apresentar quaisquer
atividades que rompam com aquilo posto enquanto normativo, em resumo não existe a
possibilidade para uma subjetividade nômade, uma desterritorialização de seus campos
subjetivos e existenciais, desta modo a ordem social bem como as relações de poder se
perpetuam. Em resposta a este medo não se produz, entretanto, conhecimento capaz de
elucidar as relações de dominação estabelecidas, ou seja, nos protegemos, mas não sabemos
de fato do que protegemos, nos escondemos dos monstros, dos titãs, dos marginais, entretanto
não conseguimos visualizar as relações responsáveis pela criação destes, as forças
responsáveis por sua produção.
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2 INTRODUÇÃO

2.1 Contextualização histórica


Ao tratarmos de Shingeki no kyojin do mangá assim como no anime, estamos falando
de um território em que a população se apresenta a mercê das hierarquizações entre
populações e relações de poder-saber e subjugações dos enérgicos titãs, sendo obrigados a
viver acuados dentro de 3 extensas muralhas denominadas de Sina, Rose e Maria. Estas
paredes com cerca 50 metros de altura se tornam as únicas barreiras que separam os humanos
dos titãs, e consequentemente evitam suas mortes. A trama de Shingeki no Kyojin se passa em
um período histórico desconhecido, visto a um clima pós-apocalíptico apresentado durante a
obra.

A história por de trás do anime busca demonstrar através do personagem Eren Yeager
a realidade vivenciada pela população dentro das muralhas, toda a agonia, dor, angústia e
sofrimento ocasionado pelo encontro entre a humanidade e os vorazes titãs. Eren, o
personagem principal, é um sujeito descontente com sua realidade atual bem como a realidade
vivenciada por toda a população das muralhas. O acomodamento da sociedade dentro das
muralhas incomoda Eren de maneira profunda, pois segundo sua lógica: - Como estes sujeitos
poderiam estar satisfeitos pelo fato de estarem presos? Como estes poderiam ficar tranquilos
tendo sua liberdade tomada pelos titãs? Eren não aceita viver acuado e cercado como um
animal em confinamento; para o protagonista está realidade não basta, não serve ficar atrás
das muralhas seguro se a sua liberdade lhe for tomada, ele deseja ter e ver mais do que apenas
um horizonte cercado por longos paredões.

O ápice da história de Eren assim como a da própria trama começa no momento de


encontro entre a humanidade e as gigantes criaturas – os Titãs. Tudo se inicia com o
aparecimento do titã colossal, este que cria uma brecha no distrito de Shiganshina, permitindo
desta forma que outros titãs invadam o território dos humanos. Uma das vítimas do ocorrido é
a própria mãe de Eren e este fato lhe faz jurar vingança contra todos aqueles monstros,
prometendo exterminar cada um deles, reconquistando a liberdade perdida pela a humanidade.
Por intermédio desta catástrofe inicia-se todo o desenrolar da obra, envolvendo a busca de
Eren pela sua liberdade e vingança, revelando aspectos até então escondidos neste universo,
como conflitos políticos do reino, jogos de poder entre as forças policiais, ordenamento
religioso, bem como a real origem e segredo dos titãs. A história da obra de Shingeki no
kyojin narra todo sofrimento, dor e sacrifício realizado pela humanidade na empreitada e
busca pela recuperação de seu território, assim como sua luta incessante pela sobrevivência.
3

Neste trabalho propomos analisar as relações de poder estabelecidas entre os diversos


personagens da trama, verificando de que modo estas relações se estabelecem e indicando os
possíveis agenciamentos e acontecimentos que mantém essa (des)ordem social. Propomos
analisar por meio de estudos sociais e filosóficos as condições que a disciplina e o
assujeitamento dos corpos ocorrem, levando em consideração temáticas como: subjetividade
normatizada e nômade, Biopolítica, Necropolítica, liberdade e docilidade dos corpos, temas
estes que parecem estar ligados diretamente aos acontecimentos desta obra da arte nipônica
contemporânea e sucesso internacional entre crianças, jovens e adultos.

Para cumprir com a proposta, buscaremos realizar pesquisas bibliográficas que


proporcionem subsídios teórico-metodológicos de como pensar a vida em sociedade,
problematizando a relação entre a composição da população Shingeki no Kyojin e as
sociedades modernas contemporâneas. Os questionamentos trazidos versam sobre como, por
quê e para quê os indivíduos se sujeitam a uma falsa ideia de proteção em troca de sua
liberdade, e como este confinamento não é pensado pela própria população cerceada de
possuírem uma relação mais extensiva com a vida social.

2.2 Objetivos

2.2.1 Objetivos gerais


Buscamos analisar os processos de assujeitamento por meio de disciplina e controle
dos corpos entre os personagens do mangá/anime Shingeki no Kyojin, realizando comparações
entre a obra de ficção e a realidade das sociedades atuais.

2.2.2 Objetivos específicos


- Realizar recortes fílmicos dos conflitos da trama Shingeki no Kyojin no que tange as
produções de subjetivação normativa/singular a partir das políticas de biocontrole e
necropolíticas.

- Delinear no universo ficcional da obra em comparação às sociedades


contemporâneas, as relações hierárquicas e de poder referentes as intercessões sócio-histórica-
política-econômicas e culturais.

- Analisar de Shingeki no Kyojin a partir de uma pesquisa bibliográfica e análise


fílmica, ancorados no posicionamento teórico-metodológico cartográfico.
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2.3 Justificativa
Saraiva e Mügge (2015, p. 117) ao discutirem sobre as possíveis relações existentes
entre o ficcional e o real fazem a seguinte afirmação: “Ao construir seu texto, o escritor
instala um universo ficcional que decorre de experiências humanas e para elas se volta, em
um movimento circular”. Por meio desse posicionamento, os autores apresentam uma
perspectiva de que a ficção e a realidade se conectam e se compõem a partir desse
agenciamento de conceitos. Os autores partem deste pressuposto afirmando que os atos
criativos de um autor são resultados de processos suscitados pela realidade em que está
inserido, sendo que esta mesma realidade o incita, em um processo de subjetivação singular, a
olhar para sua própria realidade e colocar-se de maneira crítica perante ela. Ao entendermos
que a realidade atravessa as obras ficcionais e que em concomitância esta obriga o autor a
olhar de maneira crítica para o seu meio podemos analisar que muito que existe na ficção, de
fato, é produto da experiência em sociedade, portanto a ficção habita a realidade.

Desse modo, a partir da análise dos processos de assujeitamento por meio de disciplina
e controle dos corpos entre os personagens de Shingeki no Kyojin, podemos seguir pistas que
nos permitam realizar comparações com os entrelaces vivenciados na realidade por diversas
sociedades contemporâneas - estas que buscam cada vez se enclausurar em redes protetivas
dentro de barreiras, muros e cercas vivenciando progressivamente uma privação de liberdade
consentida. Assim como no anime os sujeitos que estão atrás das barreiras, sentem-se seguros
daquilo que consideram ruim, ou prejudicial as suas vidas, entretanto, não vislumbram as
condições ideológicas que os segregaram, os enclausuram e os levam a necessitar de proteção.
Entender os processos e relações de poder no anime nos oferece mecanismos para investigar e
levantar pistas para análises de como estas relações se estabelecem também no mundo
contemporâneo.

3 REVISÃO DE LITERATURA
No que se refere a prática de pesquisa, leitura e revisão de literatura, devemos
esclarecer algumas temáticas vigentes que se instauraram enquanto base de sustentação para a
escrita e elaboração proposta por este trabalho. Entre os autores mais utilizados podemos citar
Michel Foucault, Gilles Deleuze, Felix Guattari dentre outros autores e pesquisadores pós-
estruturalistas. As obras utilizadas por este trabalho, em sua maioria, dizem respeito ao
constructo de subjetividades, mais precisamente as obras buscam lançar luz sobre sua
produção e elaboração, por meio da análise de macro e micro agenciamentos que interpelam-
se e se compõe.
5

Ao utilizarmos as obras do Michel Foucault, mais precisamente, História da


sexualidade I (1988) e Vigiar e punir (2014), estávamos interessados em demonstrar relações
diretas entre o universo aqui investigado a demais sociedades de controle abordadas por este
autor. Deste modo, investigaríamos aquilo que ele delimitaria enquanto conceito de Panóptico
(Um constante vigiar), mecanismo utilizado enquanto material de controle, subjugação e
padronização dos corpos e das subjetividades. Ao abordar este autor poderíamos então
demonstrar de modo claro os agenciamentos responsáveis pela produção e elaboração da
subjetividade desta população; em geral, buscávamos responder de que modo as relações
macropolíticas interfeririam em uma micropolítica existencial da vida cotidiana.

Para dar aporte teórico sobre a produção de subjetividade propriamente dita, fazemos
uso de autores como Gilles Deleuze e Felix Guattari, que assim como Foucault procuram
estabelecer conhecimentos frente a constituição e elaboração sobre a produção da
subjetividade e sendo assim, utilizamos obras como Caosmose (1992) e Mil platôs:
capitalismo e esquizofrenia (1995). O uso destes autores também foi necessário para
demonstrar e estabelecer possibilidades no que se refere aos modos de resistência frente as
relações de dominação estabelecidas por uma sociedade disciplinar e de controle e desta
forma ao utilizarmos o conceito de Subjetividade nômade, pensamos sobre a potência de
resistência aos mecanismos de controle do estado e de outras instituições sociais. Os autores
definem este constructo enquanto um elemento subversivo contrário as instituições do Estado
detentores do poder, enfatizando a necessidade de resistência e transgressão a toda e qualquer
forma de enrijecimento da vida plural e expansiva.

Outro ponto que merece destaque, refere-se a metodologia propriamente dita, esta que
se apresenta enquanto fuga dos padrões positivistas, essencialista e deterministas de análise
fechadas, priorizando o envolvimento do pesquisador com o campo a ser investigado, sendo a
implicação do pesquisador um modo de intervenção na elaboração e desenvolvimento das
análises. Para delinear o desenvolvimento desta pesquisa, utilizamos como referencial teórico-
metodológico a filosofia da diferença trazida nas obras dos autores Gilles Deleuze e Felix
Guattari, bem como também Lisiane Machado Aguiar (2010) e Luciano Bedin da Costa
(2014). O investimento no posicionamento metodológico aconteceu devido o suporte de
análises rizomáticas que buscam produzir conhecimento a partir de análises macro e
micropolíticos em diversas esferas das existências singulares e coletivas. Em resumo,
compreendemos que esses autores nos ofereceram subsídios filosóficos utilizados em
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intersecção com diversos saberes, entre eles: antropologia, ciências sociais, filosofia, arte,
cinema, entre outros.

4 METODOLOGIA
A metodologia adotada por este plano de trabalho individual, se remete a uma
pesquisa bibliográfica e analise fílmica, a partir do método cartográfico proposto pelos
filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari. Grande parte do método cartográfico foi
apresentada a partir da escrita destes dois autores na obra Mil Platôs: capitalismo e
esquizofrenia de 1980. A cartografia foi desenvolvida segundo Aguiar “pela atualização de
diversos projetos filosóficos, como o método intuitivo de Henri Bergson, ou a genealogia de
Michel Foucault.” (AGUIAR, 2010, p. 2).

O método cartográfico pode ser definido como uma forma de pesquisa inovadora,
visto que este propõe através de sua técnica descrever movimento, desviando dos padrões de
recortes estáticos que são adotados pelos métodos de pesquisas da atual academia bem como
da ciência positivista. A cartografia, antes de mais nada, se instaura enquanto processo,
inacabável que está sempre em fluxo, ou seja, a cartografia não possui começo e nem fim, ela
começa a partir da entrada do pesquisador cartógrafo na temática da pesquisa. Outra
característica predominante deste método, é a implicação do pesquisador com a proposta da
pesquisa, pois sua atuação se dá de forma direta, sem distinção de pesquisador e campo
experimental a ser cartografado.

Entretanto o pesquisador que se utiliza deste posicionamento teórico-metodológico


nunca sabe quais serão os caminhos a serem percorridos, não existe um a priori dos objetivos
a serem alcançados; o caminho será percorrido e por meio deste percurso é que o objetivo
começara a tomar forma, isto devido a potência do encontro entre o pesquisador e a temática a
ser pesquisada. Segundo Costa a cartográfica exige:

[...] que o próprio cartógrafo esteja em movimento, afetando e sendo afetado por
aquilo que cartografa. O cartógrafo cartografa sempre o processo, nunca o fim. Até
porque o fim nunca é na realidade o fim. O que chamamos de final é sempre um fim
para algo que continua de uma outra forma. Se não conseguimos enxergar
movimento é porque alguma coisa está impedindo, e lançar o olhar para isto é
também função do cartógrafo. A cartografia é, desde o começo, puro movimento e
variação contínua. (COSTA, 2014, p. 4)
Ao propormos a cartografia como uma possibilidade de quebra com os métodos
tomados como padrões normativos pela ciência positivista, podemos fazer uso de elementos
teórico-metodológicos considerados antes inviáveis e inaceitáveis, como é caso das obras
cinematográficas, bem como também literárias de ficção. Deste modo propõe-se aqui a
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realização de uma análise fílmica cartográfica em animes, os aclamados desenhos japoneses.


Para tanto entendemos como analise fílmica, um processo de análise que não possui uma
única fórmula. Segundo Tomaim e Mombelli para que haja a realização de uma análise
fílmica se torna necessário considerar:

[...] aspectos internos e externos ao filme. Os internos se referem aos elementos da


linguagem audiovisual que darão forma ao produto. Já os externos estão ligados às
temporalidades. É preciso levar em conta a época que o documentário retrata, o
período econômico, social, cultural em que ele é produzido, e o tempo da arte, que
refere-se ao movimento do cinema ao qual os filmes fazem parte. (TOMAIM &
MOMBELLI, 2015, p. 3)
Outros autores como Vayone e Goliot-Lété (2006) entendem que a análise de uma
obra cinematográfica deva partir de uma minuciosa análise que leve em consideração seus
aspectos constitutivos, para tal se torna necessário desmembrá-la e analisá-la minuciosamente,
cada traço e ponto em particular para que assim se possa estabelecer elo entre estes elementos
viabilizando o entendimento de como estes se entrelaçam e se constituem, fazendo surgir um
possível significado. Deste modo compreendemos que para realizar uma análise fílmica, é
preciso desmembrá-lo para que só após haja possibilidade de sua compreensão enquanto todo.
Vayone e Goliot-Lété (2006) esclarecem:

Uma segunda fase consiste, em seguida, em estabelecer elos entre esses elementos
isolados, em compreender como eles se associam e se tornam cumplices para fazer
surgir um todo significante: reconstruir o filme ou o fragmento. É evidente que essa
reconstrução não apresenta qualquer ponto em comum com a realização concreta do
filme. É uma “criação” totalmente assumida pelo analista, é uma espécie de ficção,
enquanto a realização continua sendo uma realidade. O analista traz algo ao filme;
por sua atividade, à sua maneira, faz com que o filme exista. (VAYONE &
GOLIOT-LÉTÉ, 2006, p. 15)
Desta maneira propomos como metodologia uma investigação minuciosa do
mangá/anime, buscando por meio deste entendimento construir uma análise problematizadora
no que se refere as práticas vivenciadas dentro deste universo ficcional. Propomos deste modo
estabelecer significados para obra aqui analisada e trazer visibilidade para entrelaces
vivenciados, utilizando estas como disparadores de discurso, problematizações e comparações
com as gestões políticas da vida coletiva contemporâneas.

5 RESULTADOS

A subjetividade pode ser descrita enquanto espaço íntimo, resultado de diferentes


campos efêmeros que em confluência se colidem elaborando aquilo que convencionamos a
chamar de nós mesmos, assim sendo, devemos entendê-la enquanto processo inacabado ainda
em elaboração e em constante fluxo estabelecendo conversações entre o sujeito e o campo
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social no qual este se insere, campo esse que passa a ser entendido agora enquanto parte
constitutiva do indivíduo, responsável pelos agenciamentos constituintes do eu (MANSANO,
2009). Deste modo ao buscarmos compreender este constructo devemos partir do pressuposto
não mais de uma subjetividade estática, inerte e passível, de antemão a subjetividade se
estabelece enquanto uma experiência não tão somente individual é, entretanto também
histórica, coletiva e ainda em desenvolvimento, Guattari ao realizar explanações frente a
subjetividade delimita que:

[...] subjetividade é: "o conjunto das condições que torna possível que instancias
individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial
auto-referencial, bem adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade
ela mesma subjetiva"(GUATTRI, 1992, p. 19)
Ao propormos um trabalho que busca compreender o funcionamento do mecanismo
subjetivo torna-se então necessário desvencilharmo-nos de um olhar que seja meramente
individualizante, é impreterível que a percepção vá além e busque estabelecer um campo
teórico-metodológico capaz de investigar a produção da subjetividade em si, redirecionando
nossas averiguações para os agenciamentos responsáveis pela sua elaboração e
desenvolvimento. Guattari nos expõe que “A subjetividade não é fabricada apenas através das
fases psicogenéticas da psicanalise ou dos "matemas do Inconsciente", mas também nas
grandes maquinas sociais, mass-mediaticas, linguísticas, que não podem ser qualificadas de
humanas.” (GUATTARI, 1992, p. 20)

Ao adotarmos este posicionamento teórico-metodológico frente a constituição


subjetiva, entendemos que sua fundação deve ser agora não tão somente buscada em relações
individualizantes e sim no vínculo Rizomatico que o indivíduo estabelece com seu campo
social. O termo Rizoma é resultado das elaborações exercidas entre Felix Guattari e Gilles
Deleuze, este constructo é um modelo descritivo da teoria filosófica de ambos, que parte do
pressuposto de que não existem proposições mais fundamentais que outras, ou seja, o rizoma
seria esta forma em que o pensamento se abre como raízes, podemos compreendê-lo enquanto
uma espécie de vínculo por meio do qual o indivíduo poderá se ligar com diferentes esferas,
tomando posse de múltiplas identidades.

Deste modo ao realizarmos a análise que versa sobre a história de Eren bem como o
universo de Shingeki no Kyojin devemos partir da compreensão que suas relações, sejam elas
aspectos físicos/estruturais, questões econômicas ou políticas, interferem diretamente na
constituição subjetiva de seus personagens, deste modo torna-se necessário elucidar as
relações estabelecidas internamente a esta sociedade por meio do qual será possível investigar
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a correspondência entre a dominação e controle dos corpos no que se refere a uma


docilidade/passividade esboçada por esta população.

Ao buscarmos compreender o universo estabelecido dentro de Shingeki no kyojin, se


faz necessário atentarmo-nos inicialmente as suas questões estruturais propriamente ditas,
uma análise frente a construção e vida dentro da muralha deve ser elencada, buscando
compreender como e de que maneira este modo de existência influi sobre o fluxo subjetivo
dos indivíduos que compõe esta sociedade.

Como já delineado este universo fictício se estrutura e desenvolve dentro de três


extensas muralhas, o que ainda não foi explicitado é que a ordem pela qual a população se
divide dentro desta redoma está diretamente ligada a seu poder aquisitivo, explicando de
modo simplório podemos dizer que quanto mais externa a muralha mais pobre também será
sua população. Esta divisão estrutural estabelecida entre as populações se organiza de modo a
garantir maior proteção a nobreza bem como qualquer outra população considerada
indispensável a este mecanismo social, quem se localiza no núcleo simultaneamente se vê
protegido pelas 3 muralhas, o que os garante um estado constate de segurança, enquanto que
as demais populações permaneceriam em regiões mais distantes, as bordas e as margens desta
sociedade. Deste modo podemos exemplificar que a área central do reino se mantem ocupada
pela nobreza bem como outros indivíduos considerados influentes neste universo fictício,
como seria o caso de alguns de seus líderes militares, em contrapartida em áreas mais externas
localizam-se camponeses, trabalhadores, fazendeiros dentre outros indivíduos encarregados
pela produção e manutenção do reino.

Imagem 1: Representa o esquema arquitetônico da muralha, exposto


durante o episódio número 2, entre os minutos 00:31 a 00:43.

Ao analisar o processo referente as praticas de subjetivação e de produção de


subjetividade destes indivíduos devemos nos atentar também as relações políticas e práticas
estabelecidas por seu governo/governante, no que se refere ao universo ficcional até então
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estabelecido poderíamos inferir deste modo que as condições existenciais até então delineadas
se estabelecem enquanto relações de dominação, tendo em vista que o rei enquanto autoridade
máxima exerce controle e manipula as relações vigentes dentro das muralhas em busca de sua
manutenção, para tal ele exerce controle sobre os comportamentos destes indivíduos, mais
precisamente ele exerce um controle biopolítico estabelecendo uma administração dos corpos.
Encontramos no discurso de Armin, um dos principais personagens, resquícios desta relação
de dominação. Armin ao se referir ao governo explica que este “declarou que manifestar
interesse no mundo exterior seria considerado um tabu.” (1º temp., 1º ep., 16:41 min.). Ao
adotar esta postura frente ao mundo exterior a muralha o governo busca promover maior
suscetibilidade no que diz respeito ao controle de sua população, o biocontrole. Foucault ao
explanar sobre este constructo afirma:

A velha potência da morte em que se simbolizava o poder soberano é agora,


cuidadosamente, recoberta pela administração dos corpos e pela gestão calculista da
vida. Desenvolvimento rápido, no decorrer da época clássica, das disciplinas
diversas — escolas, colégios, casernas, ateliês; aparecimento, também, no terreno
das práticas políticas e observações econômicas, dos problemas de natalidade,
longevidade, saúde pública, habitação e migração; explosão, portanto, de técnicas
diversas e numerosas para obterem a sujeição dos corpos e o controle das
populações” (FOUCAULT, 1988, p. 130).
Devemos aqui esclarecer que o controle biopolítico, vai além de uma mera ação
coercitiva, vai além do controle já estabelecido, ele exige necessariamente uma padronização
dos corpos e das subjetividades, por meio da qual viabilizara com maior facilidade a execução
do controle propriamente dito (FOUCAULT, 2014). Desta maneira ao entendermos a
biopolítica enquanto uma relação de administração dos corpos, devemos salientar que esta
utiliza-se de ferramentas que oportunizam maior perícia no processo de dominação dos
mesmos, para tal esse biocontrole faz uso daquilo que Foucault instituiria enquanto
disciplinas, o mecanismo que rege a submissão e sujeição dos corpos, transformando-os e
aperfeiçoando-os, atribuindo-lhes certa docilidade (FOUCAULT, 2014).

Esta docilidade e passividade podem ser facilmente identificadas durante o transcorrer


da obra aqui elencada, no dialogo estabelecido entre Eren juntamente a um dos soldados
responsáveis pela proteção do reino, podemos observar com lucidez o que denominamos
enquanto docilidade. Eren ao questionar os soldados frente a sua displicência e inércia no que
se refere ao trabalho de defesa da população, obtém como resposta a seguinte afirmação: “Em
época em que somos chamados de inúteis e só comemos é que todos podemos viver em paz”.
Eren passa a demonstrar a partir do enunciado sua maior preocupação dentro deste universo
ficcional, oferecendo como retorica a seguinte afirmação: “Claro que podemos viver a vida
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toda sem sair das paredes, só comendo e dormindo, mas assim é como se fossemos gado”.
Através deste pequeno dialogo fica claro a passividade vivenciada dentro das muralhas, pois
assim como afirma o protagonista, a população em geral estaria vivendo a espera do abate
pelos impiedosos titãs. Sobre esta docilidade Foucault afirma:

Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que
realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as "disciplinas". Muitos processos
disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas
também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII
formulas gerais de dominação docilidade (FOUCAULT, 2014, p. 118)
Elucidado os agenciamentos em vigência nas relações de poder estabelecidas dentro
deste universo, resta-nos esclarecer os modos e os mecanismos pelo qual esta dominação e
sujeição é aplicada, para explicar tais questões faz-se necessário a utilização do conceito de
Panóptico, pensado por Foucault enquanto técnica de manter sob vigilância uma quantidade
de pessoas em espaços limitados, utilizado necessariamente enquanto maquina disciplinar do
Estado,ou seja, busca através da disciplina já aqui estabelecida executar o controle e
administração dos corpos. Passamos a compreender este conceito enquanto:

[...] deve ser compreendido como um modelo generalizável de funcionamento; uma


maneira de definir as relações do poder com a vida cotidiana dos homens. [...] É um
tipo de implantação dos corpos no espaço, de distribuição dos indivíduos em relação
mútua, de organização hierárquica, de disposição dos centros e dos canais de poder,
de definição de seus instrumentos e de modos de intervenção, [...]. Cada vez que se
tratar de uma multiplicidade de indivíduos a que se deve impor uma tarefa ou
comportamento, o esquema panóptico poderá ser utilizado (FOUCAULT, 2014,
p.169).
O Panóptico enquanto ferramenta disciplinar do estado busca executar o controle
biopolitíco frente à existência subjetiva dos indivíduos por intermediação de uma constante
vigilância, fazendo desta busca incessante pela docilidade/sujeição uma mola propulsora para
seus objetivos. Ao acompanharmos a serie aqui analisada passamos a identificar que a
reclusão e o aprisionamento dentro das muralhas não causam espanto, muito menos incômodo
a população do universo ficcional aqui analisado. Podemos conceber que em troca da
proteção estabelecida pela muralha somada a uma constante vigilância, que é disciplinar, o
governante deste reino garante sua subsistência, é através a manutenção e preservação dos
corpos que as relações de poder dentro deste universo se organizam e se mantem. Foucault ao
buscar descrever relações agenciais em sociedade disciplinares descreve de maneira fiel o
universo ficcional aqui analisado, deste modo reiteramos a similaridade entre ficção e
realidade proposto no escopo deste trabalho:

Esse espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos
estão inseridos num lugar fixo, onde os menores movimentos são controlados, onde
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todos os acontecimentos são registrados, onde um trabalho ininterrupto de escrita


liga o centro e a periferia, onde o poder é exercido sem divisão, segundo uma figura
hierárquica contínua, onde cada indivíduo é constantemente localizado, examinado e
distribuído entre os vivos, os doentes e os mortos – isso tudo constitui um modelo
compacto do dispositivo disciplinar (FOUCAULT, 2014, p. 163).
Observamos até o presente momento que as relações estabelecidas dentro do reino
priorizam uma utilização dos corpos enquanto força de produção, para tal o
governo/governante lança mão de técnicas disciplinares que suscitam a passividade e
docilidade nos indivíduos para que assim o controle biopolítico seja exercido em
conformidade com os desejos do reino, entretanto o que ocorreria se esta população não fosse
mais utilitária? Ou se ainda por um acaso as condições do reino chegassem a um ponto no
qual o excesso da população fosse um obstáculo para sua própria sobrevivência? A partir da
quebra da muralha o cenário se altera e as relações existências se modificam, em decorrência
da ruptura desta barreira a população passa a se concentrar em um grande aglomerado de
pessoas, isto produz momentaneamente um ambiente desorganizado, com superlotação e
escassez de alimentos. É através desta situação que se expõe aquilo que MBEMBE delinearia
não mais enquanto controle biopolítico, mas sim uma Necropolítica, esta pautada não mais na
administração dos corpos e sim na decisão de quem deva viver e quem deva morrer.
MBEMBE ao explanar sobre estas questões afirma:

La soberania consiste em ejercer un control sobre Ia mortalidad y definir Ia vida


como el despliegue y Ia manifestacion del poder. He aqui un resumen de lo que
Michel Foucault entendia por biopoder, ese dominio de Ia vida sobre el que el poder
ha establecido su control. Pero, (en que condiciones concretas se ejerce esse poder
de matar, de dejar vivir o de exponer a Ia muerte? (Quien es el sujeto de ese
derecho? (Que nos dice Ia aplicacion de este poder sobre Ia persona que es
condenada a muerte y de Ia relacion de enemistad que opone esta persona a su
verdugo? (MBEMBE, 2006 p. 20)
Baseado no constructo desenvolvido por MBEMBE, podemos observar cenas que
representam de forma incisiva as condições em que se exercem o poder de matar. Durante o
episódio número 2 entre os minutos 19:52 a 20:25 podemos observar relações que exemplificam
está necropolitica, o governante ordena que uma fração de sua população (Refugiados) deva
partir de volta a área de perigo buscando retomar a terra até então ocupada pelos titãs,
entretanto a decisão se vê fundada em uma certeza, pois parte da convicção de que estes
indivíduos não voltariam com vida desta expedição, como resultado a população diminuiria e
os problemas relacionados a falta de comida bem como a superpopulação consequentemente
deixariam de existir. Podemos compreender deste modo que ao decorrer da trama as relações
estabelecidas no que se refere a estrutura de controle se alteram, passando de uma relação
Biopolítica para uma Necropolítica.
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Imagem 3: Cena que de modo claro exemplifica o resultado da expedição


de retomada.

Exemplificado o modo pelo qual a produção da subjetividade se estabelece neste


universo ficcional, bem como as relações de poder se organizam e se mantem, resta nos
esclarecer as formas pelas quais a insurgência e resistência de alguns personagens se
estabelecem, pois como observado até o presente momento, no que se refere não somente ao
controle biopolítico como também ao necropolitico, verifica-se nos protagonistas: (a) O
anseio e necessidade de desvencilhamento ao poder imposto, (b) Resistência aos mecanismos
determinados pelas instituições detentoras do controle, (c) indignação perante a satisfação da
população da muralha em ter sua liberdade tomada em troca de proteção. Cabe-nos agora
descrever quais seriam os mecanismos responsáveis pela essa insurgência destes personagens,
que demonstram resistência frente as condições padronizadoras no que se refere as suas
subjetividades.

No que diz respeito a população do reino até o determinado momento é possível


identificar relações de passividade e docilidade frente aos agenciamentos experiênciados
dentro desta realidade, deste modo assim como Deleuze e Guattari afirmam, esta população
apresentaria impossibilidades frente as mudanças, eles não estariam aptos a abandonar sua
segurança, tão pouco quebrar com as amarras sociais vigentes, segundo os autores poderíamos
atribuir estes fatos ao medo:

Fugimos diante da fuga, endurecemos nossos segmentos, entregamo-nos à lógica


binária, seremos tanto mais duros em tal segmento quanto terão sido duros conosco
em tal outro segmento; reterritorializamo-nos em qualquer coisa, não conhecemos
segmentaridade senão molar, tanto no nível dos grandes conjuntos aos quais
pertencemos, quanto no nível dos pequenos grupos onde nos colocamos e daquilo
que se passa conosco no mais íntimo ou mais privado. Tudo é concernido: a maneira
de perceber, o gênero de ação, a maneira de se mover, o modo de vida, o regime
semiótico. O homem que entra dizendo: "A sopa está pronta?", a mulher que
responde: "Que cara! Você está de mau humor?", efeito de segmentos duros que se
afrontam de dois em dois. Quanto mais a segmentaridade for dura, mais ela nos
tranqüiliza. Eis o que é o medo, e como ele nos impele para a primeira linha.
(DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 100-101).
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No que se refere tanto a Eren quanto seus companheiros, podemos entendê-los


enquanto força de resistência frente as disciplinas propagadoras do controle biopolítico, desta
maneira partimos do pressuposto de que Eren bem como seus companheiros apresentam uma
produção subjetividade nômade/resistente, que viabiliza uma maior potencialidade aos
personagens. Ao ter o "encontro com o poder" Eren e seus amigos não se dobram ao
assujeitamento, instaurando e suscitando críticas as biopolíticas que fazem do medo uma mola
propulsora para controle social. Entende-se subjetividade nômade enquanto:

[...] constitui-se como elemento subversivo, irredutível e contraposta aos Aparelhos


de Estado que exprimem poder, controle e referencialidade unitária. Nomadologia é
produzida como práticas em fluxos e de intensidades poéticas que funcionam como
dispositivos de potencialização da vida individual, coletiva, social, cultural e
política. Não mais está no centro do debate a produção e o controle da subjetividade,
mas as políticas de subjetivação. Nesse sentido, somente há uma postura nômade
quando existe a capacidade de criar novos territórios de agenciamento de tal modo
que se reterritorializar culmine no movimento intenso de desterritorializar a própria
existência. (SOUZA; SANTOS, 2011, p.6)
Deste modo ao entender a subjetividade nômade enquanto potência de resistência aos
mecanismos de controle do estado, instaurado está um ambiente conflituoso entre aqueles que
fazem da singularização uma potente arma contra a administração dos corpos e das
subjetividades. Podemos observar em Eren o nomadismo a partir do Manga de número 4,
momento este em que ele afirma possuir um sonho, ele explica que tem como desejo eliminar
todos os titãs para que assim possa sair para além das muralhas explorando o mundo a fora,
deste modo compreendemos que enquanto seus colegas procuram se manter seguros
desejando estar atrás das muralhas, Eren em contrapartida busca criar uma realidade própria,
em suas palavras podemos compreender o desejo pela liberdade, o personagem se configura
enquanto força insurgente as regras normativas impostas pela disciplinarização, Eren busca
criar uma subjetividade desterritorializada o que promove neste individuo potencialidade para
se desvencilhar dos controles até então impostos.

Imagem 4: Eren buscando exemplificar que o modo de vida em que se


estruturam está baseado em uma docilidade/passividade alicerçada em
medo.
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6 DISCUSSÃO

A investigação aqui estabelecida promove uma análise comparativa que traduz certa
similaridade entre a ficção descrita a outras sociedades contemporâneas que por não
apresentarem uma subjetividade nômade/resistente, tornam-se passivas do controle
estabelecido pelas instituições, sem se quer entender os reais agenciamentos responsáveis pelo
seu enclausuramento progressivo que se dá em redes protetivas dentro de barreiras, muros,
atrás das paredes, cercas e condomínios, apresentando grande satisfação frente a esta privação
de liberdade. Como afirma Marandola Jr (2008) ao descrever o ambiente nacional os
indivíduos usam sua liberdade como moeda de troca, eles a oferecem e em contrapartida
esperam estabelecer um ambiente suficientemente protegido, esta relação entre a privação da
liberdade e segurança está atada ao receio e ao medo, pois quanto mais protegido está o
indivíduo maior também será sua desconfiança frente ao que está fora de sua proteção, ou seja
aquilo que lhe é ainda desconhecido.

No entanto, assim como a história da cidade mostrou, esses condomínios e


loteamentos não garantem a segurança. O medo prevalece, pois o desconhecido é
um perigo em potencial. O isolamento pode trazer a segurança, de um lado,
enquanto o medo do que está além-muros pode crescer desproporcionalmente, de
outro. A imaginação atua na construção de riscos e perigos que não são vividos nem
vistos. E o diferente se torna um monstro. (MARANDOLA JR, 2008, p. 198)
O medo se constitui enquanto força imponente no que se refere a passividade
personificada nas populações, assim sendo, estes indivíduos tanto do universo ficcional
quanto do real adotam uma posição e fixam suas raízes, negando-se a apresentar quaisquer
atividades que rompam com aquilo posto enquanto normativo, em resumo não existe a
possibilidade para uma subjetividade nômade, uma desterritorialização de seus campos
subjetivos e existenciais, desta modo a ordem social bem como as relações de poder se
perpetuam.

Em resposta a este medo não se produz, entretanto, conhecimento capaz de elucidar as


relações de dominação estabelecidas, ou seja, nos protegemos, mas não sabemos de fato do
que protegemos, nos escondemos dos monstros, dos titãs, dos marginais, entretanto não
conseguimos visualizar as relações responsáveis pela criação destes, as forças responsáveis
por sua produção. Sem a produção de uma subjetividade nômade insurgente, capaz de ir além
das muralhas que impedem a chegada ao conhecimento, se torna inviável compreender quais
são os agenciamentos responsáveis pelo nosso processo de enclausuramento, o que torna esta
atividade protetiva obsoleta e sem sentido.
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Ao compreender de fato o real motivo que nos leva a estabelecer um ambiente de


proteção, estamos mais aptos a intervir com maior direcionalidade, podemos desviar nossos
olhares do monstro, do titã e do marginal e encarar as relações que os produzem, relações
estas que estabelecem as circunstâncias vigentes neste processo de enclausuramento. É
necessário vislumbrar as relações em um nível macropolitico, para que assim se entenda a
micropolítica que versa sobre os desejos e os corpos. Concluo minha análise por meio da frase
exposta no Episódio 37 da segunda temporada, esboçada por Erwin Smith um dos
personagens, que conclui: “Um dia vamos desvendar, a muralha que esconde a verdade vai
cair”, a partir deste enunciado reafirmo que a insurgência e a resistência frente ao controle
biopolítico se constituem enquanto ferramentas bélicas que nos mune de conhecimento,
aquilo que Eren delimita enquanto liberdade, liberdade ir e vir, liberdade para se descobrir,
liberdade para ser, enquanto sujeito desejante.

7 CONCLUSÃO
No que se refere ao material teórico-metodológico abordado neste trabalho, devemos
salientar o baixo número de produções referentes a cultura de animes, enfatizamos que o
trabalho aqui desenvolvido se estabelece enquanto material inovador e espera-se que por
intermédio do desenvolvimento deste um novo campo nesta área de pesquisa se instaure,
buscando dar visibilidade a esta arte ainda desconhecida enquanto material disparador de
pensamentos.

O anime atualmente é reconhecido mundialmente enquanto ferramenta de


entretenimento, pelo menos o encaramos assim, o que não conseguimos visualizar é que este
material cinematográfico influi diretamente sobre os fluxos subjetivos dos indivíduos que os
assistem. Promover a inserção de um pensamento crítico frente a realidade através das obras
fictícias dos animes é um dos principais objetivos desta produção, buscamos por intermédio
deste trazer um breve comparativo entre as sociedades de controle do universo ficcional e do
real, entretanto muito ainda pode ser explorado dentro das obras ficcionais, sejam elas
japonesas ou não, sexualidade, politica, produção de subjetividade, liberdade, moral, ética, os
temas são infinitos e efêmeros, pois assim como no real as relações estabelecidas dentro do
anime também estão em constante produção, pois sua elaboração e desenvolvimento está
diretamente ligado as relações vigentes no mundo real.
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8 DIFICULDADES E AÇÕES ADOTADAS


As maiores dificuldades estão diretamente ligadas a falta de aporte teórico-
metodológicos para a análise e investigação dos animes, deste modo a iniciação e
desenvolvimento do trabalho estabeleceu-se enquanto difícil barreira a ser superada, a
realização de constantes pesquisas e revisões aos materiais bibliográficos se tornaram o maior
desafio desta elaboração acadêmica. Outra situação igualmente desafiadora refere-se a uma
falta de habilidade para a realização de projetos acadêmicos que fujam de um padrão
positivista de escrita e de análise.

Objetivando superar a primeira problemática exposta, foi necessário compreender o


universo ficcional enquanto espelho de uma sociedade de controle contemporânea, estando
deste modo passível das mesmas análises e pressupostos, deste modo foi possível por
intermédio de autores consagrados como, Deleuze, Guattari e Foucault estabelecer
conversações entre o real e o fictício, o que facilitou a obtenção de aporte teórico-
metodológicos para a análise e compreensão deste universo.

Já no que se refere a segunda queixa exposta, foi possível superá-la durante o próprio
percurso de investigação, análise e escrita do trabalho, isto através de constante supervisão e
participação de grupos de estudos, que estabeleceram um ambiente suficientemente
esclarecedor.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Deleuze e Guattari como método de pesquisa processual. In: XXXIII Congresso Brasileiro
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Thereza da Costa Albuquerque e JA Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro, Edições Graal,
1988.
18

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GOLIOT-LÉTÉ, Anne; VANOYE, Francis. Ensaio sobre a análise fílmica. Papirus Editora,
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Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Ed, v. 34, 1992.

GUATTARI, Félix; DELEUZE, Gilles. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Editora 34,
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MARANDOLA JR, Eduardo. Entre muros e rodovias: os riscos do espaço e do lugar. en


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MBEMBE, Achille. Necropolitique em traverses, diásporas, modernités. Raisom politiques,


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MOMBELLI, Neli Fabiane; TOMAIM, Cássio Dos Santos. Análise fílmica de


documentários: apontamentos metodológicos. Lumina, v. 8, n. 2, 2014.

SARAIVA, Juracy Assmann; MÜGGE, Ernani. “Gente-grande”: denúncia da pequenez dos


adultos. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 46, p. 117-132, 2015.

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