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O que é literatura¿ Essa mesma pergunta, se direcionada a estudiosos do assunto, poderia ser

respondida com definições muito diversas uma das outras, ou até mesmo com o silêncio, algo
que não aconteceria ao perguntar a químicos: o que é química¿ Entretanto, a primeira
situação poderia se repetir ao perguntar o que é filosofia a filósofos, um deste poderia não
conseguir definir filosofia, mas diria que perguntar isso é um ato filosófico, daí partiria para
várias divagações (bom, são filósofos!). Nós também teríamos que refletir sobre esse algo
chamado “literatura”, pois diferente dos já citados químicos, que não precisam questionar o
que é H2O ou O2, já que possuem existência física no mundo e são universais, água não deixa
de ser água por estar no Brasil ou na Finlândia, em 1500 ou 2018. A literatura não existiu
sempre e em todo lugar, ela foi criada e modificada pelos homens, ou seja, é um fenômeno
histórico e cultural, por isso pode receber diferentes conceituações, em diferentes épocas por
diferentes grupos sociais.

Apesar da literatura resistir ao rigor de uma definição objetiva, inúmeras foram as tentativas
durantes os anos, cabendo a nós debater esses conceitos a fim de entendemos melhor esse
fenômeno. Uma das definições mais conhecidas é a de literatura como ficção, algo imaginado,
esse conceito vem desde a Grécia Antiga e está no primeiro estudo sistemático, no âmbito da
cultura ocidental, da literatura feito por Aristóteles, a Poética. A literatura seria a mimese, uma
representação verossímil, uma mentira verdadeira, por meio da linguagem, do homem e suas
ações no mundo. Contudo, essa conceituação é um pouco vaga e traz problemas. Em primeiro
lugar, porque a distinção entre “fato” e “ficção” é questionável, a Bíblia, por exemplo, pode ser
lida como ficção por uns e fato por outros. Em segundo lugar, porque muitas vezes o que é
“factual” é considerado literatura, e o “ficcional” é excluído. Ninguém diria que um poema de
um poeta realmente apaixonado não é literatura, mas muitos diriam isso das histórias em
quadrinhos do Batman.

Passemos para outra definição, já que a anterior excluiria obras que geralmente são consideras
literatura e incluiria outras que geralmente não o são, a de literatura como instrumento de
aprendizado e lazer, outra concepção clássica de literatura, aquilo que é doce e útil, segundo
Horácio, definindo uma função, a de instruir e agradar. Contudo, podemos pensar: que tipo de
aprendizado a literatura é capaz de proporcionar¿ Algumas pessoas poderiam dizer que a
literatura traz um conhecimento mais amplo e profundo, alterando a maneira como leitor age
e entende o mundo, humanizando os sujeitos, tornando-os melhores, entretanto existem
pessoas boas que nunca leram livros, assim como leitores “cultos” que são péssimas pessoas,
os soldados supervisores dos campos de concentração de judeus liam Goethe, por exemplo.
Agora, tratemos do deleite causado por ler textos literários. Podemos nos deleitar lendo obras
tidas como literárias, mas outras podem não o fazer, é o caso de boa parte dos estudantes do
ensino médio que falam que livros de José de Alencar e Machado de Assis são chatos, por
exemplo, além disso, às vezes, até mesmo um leitor assíduo dessas obras pode acabar não se
deleitando, e sim tendo reações negativas como sentir repulso e indignação ao ler Lolita.

Vimos anteriormente que nem sempre a literatura “melhora” as pessoas ou as deleita, além
disso, parece que buscar uma função para literatura não é a melhor opção, por isso alguns
tentaram conceitua-la como algo não-pragmático, sem um fim prático imediato. Diante disso,
a literatura seria uma espécie de uso peculiar da linguagem, que se volta para si mesma, uma
arte verbal, que se diferencia da linguagem padrão, cotidiana. Seguindo essa definição, a
literatura singularizaria a linguagem, quebrando a automaticidade perceptiva, causando um
estranhamento, uma desfamiliarização, modificando nossas relações com a linguagem habitual
por meio de um conjunto de artifícios que tornariam o texto literário, a literariedade, como a
complexidade, ênfase na conotação, multissignificação, utilização de figuras de linguagem etc.
À primeira vista, essa definição pode parecer algo lógico e de difícil contra argumentação, mas
não caberia ao leitor ler ou não com intenções pragmáticas¿ Um leitor de jornal poderia ler a
manchete “Papa pede paz em Jerusalém” e refletir sobre a sensação que a repetição do “p”
causa, em vez de utilizar como meio de informação. Agora, passemos à questão da utilização
peculiar da linguagem. Quem diria que não está diante de um uso especial da linguagem ao ler
“Grande Sertão:Veredas¿ E diante de um poema¿ Porém, alguns pontos devem ser
questionados. O primeiro ponto, é que para fugir da linguagem padrão, deveria existir uma.
Nem mesmo as pessoas de uma mesma cidade falam exatamente da mesma maneira, com os
mesmos vocábulos e sintaxe, devido as diferenças de classe, gênero, escolaridade etc, por isso
um mineiro poderia estranhar as gírias cearenses como “frescar” ou “pitél”, seria um desvio da
“norma” para ele, mas seria literatura ¿ O segundo ponto, é que existem textos considerados
literários que são simples, que utilizam poucos recursos especiais da linguagem, procurando
parecer ao máximo com a linguagem “comum”, já outros discursos utilizam vários desses
artifícios e não são tidos como literários. O discurso jurídico é complexo e possui
multissignificados, daí a discrepância de interpretações das leis, e a própria linguagem
cotidiana está repleta de figuras de linguagem. Poderíamos questionar que a própria
simplicidade em textos literários poderia ser uma forma de desfamilizariação, porém o
estranhamento causado pela linguagem não é algo garantido e imutável, depende do contexto
histórico e cultural, um texto tido como literário antigamente pode não o ser hoje, assim
como o inverso. Aristóteles diferenciava o poeta do fisiologista pelo conteúdo, já que ambos
escreviam em versos, se achássemos um tratado de fisiologia da época desse filósofo,
certamente estranharíamos e poderia nos parecer literário, até certo ponto, mas não para os
habitantes da Grécia Antiga do século IV.

Por fim, percebemos que buscar uma essência da literatura não é algo proveitoso, ser ou ter
algo como ficção, função de deleitar e instruir ou linguagem especial não é o bastante para
consagrar o texto como literário. Com isso, podemos supor que a literariedade não é algo
imanente dos textos, porém, deve existir algo que define textos como literários ou não, uma
vez que nos parece bastante estranho a leitura de uma bula de remédio em uma aula de
literatura.

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