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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

A Grande firma industrial e as finanças: do capitalismo concorrencial a mundialização do


capital.

Artigo final da disciplina de Microeconomia/2018

Profº Dr.: Ana Lúcia Gonçalves

Profº Dr: Marco Antônio Rocha

Felipe Amorim de Oliveira- RA 226055

Campinas – SP

Julho de 2018
A Grande firma industrial e as finanças: do capitalismo concorrencial a mundialização
do capital.

Introdução
Ao longo da história do capitalismo, diferentes autores têm tratado do tema da
relação entre a grande empresa industrial e a esfera financeira. Podemos dizer que Marx
(2013; 2017) ainda no século XIX inaugura este debate quando trata das diferentes
personificações para os quais o capital assume em sua busca incessante pela valorização do
valor. No início tínhamos duas personificações do capital, atuando sobre diferentes lógicas de
valorização, o capital industrial ou produtivo, sob a figura do empresário industrial, atuava
sob a lógica do 𝐷 − 𝑀 − 𝐷′ , entrar no mercado com certa quantia de dinheiro, comprar as
mercadorias força de trabalho e meios de produção, voltar ao mercado para vender sua
mercadoria, no intuito de receber de volta o dinheiro investido acrescido de um mais valor. A
lógica de valorização do capital subjacente ao capitalista industrial é que necessariamente o
capital deve passar pelo processo produtivo para ser valorizado, a mercadoria deve sair prenhe
de mais-valor no processo produtivo para ser realizada na esfera da circulação. Já o capital
portador de juros personificado na figura do emprestador, que pode ser visto na figura do
banqueiro, atua sobre outra lógica de valorização, o processo produtivo em nada lhe importa,
vai ao mercado com o seu capital-dinheiro que se apresenta como valor de uso para o
capitalista industrial para financiar seu processo produtivo, ao fim do processo produtivo, o
emprestador se apropria do mais-valor gerado na produção, sua lógica de valorização 𝐷 − 𝐷′,
a produção em nada lhe importa, pois consegue se apropriar do mais-valor sem passar por ela.
Dessa maneira, essas duas personificações do capital, se apresentavam de maneiras distintas e
distanciadas no processo continuo de valorização do capital, apesar de estarem integrados pela
lógica de valorização do valor, em sua manifestação concreta esse dois tipos de capital
travavam uma luta pela apropriação do mais-valor.
Todavia, nas diferentes etapas do capitalismo em seu continuo processo de
destruir formas de acumulação pretéritas para abarcar tudo num mercado mundial, as relações
entre a finança e a grande indústria também foram se transformando ao longo da história,
onde inúmeros autores, sobretudo, os ligados direta ou indiretamente ao marxismo vem
apontando que a finanças e a grande empresa industrial estão cada vez mais próximas, aquilo
que antes era claro como o sol, tem se tornado cada vez mais nebuloso, as fronteiras que
demarcavam atividades produtivo-industriais e as da finança estão cada vez mais próximas.

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Em suma, podemos dizer que a antiga separação entre capital produtivo e capital financeira
está em desuso pelo menos para alguns autores marxistas.
Pretendemos ao longo deste artigo pensar a relação entre a grande empresa
industrial e as finanças nas três diferentes etapas históricas pelos quais o capitalismo passou: a
concorrencial, a monopolista e a mundialização do capital. Pensando como essa relação foi se
complexificando ao longo do processo histórico de objetivação do capital em direção à
criação de um mercado mundial capitalista. Adverte-se que essas relações serão apresentadas
de maneira dialética, como negação-superação das contradições postas pela própria lógica de
acumulação capitalista, distanciando-se do olhar evolucionista sobre o processo histórico.
Por relações queremos compreender como os laços entre a esfera produtiva e
financeira foram se distanciando ou se aproximando nas diferentes etapas do capitalismo,
quando elas se aproximaram que tipo de lógica de acumulação prevalecia entre as duas? Que
tipo de relação financeira é subjacente à empresa industrial do início do século XIX quando o
capitalismo estava em sua fase concorrencial? Essas relações se transformaram com a
emergência da grande empresa oligopolista quando o capitalismo estava em sua fase
monopolista? Por último, que tipo de relação emergiu com a globalização financeira e a
grande empresa mundializada?

A empresa industrial e as finanças: uma relação distanciada.


Para começarmos a pensar à relação entre as finanças e a empresa industrial é
importante relembrar a diferenciação feita por Fernand Braudel (1987) entre economia de
mercado e capitalismo. Braudel, em sua longa história do atlântico, nota que o ritmo da
modernização trazia consigo a divisão do trabalho expressa nas cidades na divisão de tarefas,
que cria uma hierarquia na sociedade mercantil, que começa a ocorrer nas cidades europeias
no século XI. Lá encontramos o topo e a base da sociedade mercantil; no topo está os
mercadores de longa à distância, o atacadista; e os comerciantes de curta distância - o
pequeno varejista. Essa divisão começa a aparecer como um prolongamento das rotas
comerciais. Para Braudel, é nesta divisão que vemos a diferenciação de duas esferas da vida
econômica que geralmente são colocadas como um único lugar. O capitalismo e a economia
de mercado. O capitalismo para Braudel possui regras e estratégias distintas da economia de
mercado, o que o rege é o monopólio, a diversificação das atividades e o estreitamento dos
laços familiares entre os donos do dinheiro - capitalistas e os donos do poder, reis e a nobreza.
Neste sentido é que Braudel define que o capitalismo só se torna capitalismo quando se junta

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ao Estado, quando ele mesmo é o Estado. Já a economia de mercado, surge da vida material,
das trocas, dos hábitos cotidianos. O mercado é o local da concorrência que se passa aos olhos
de todos, regida pela especialização das atividades produtivas, que ocorre pari passu, com o
avanço da sociedade mercantil.
O mercador de longa distância pode controlar o preço de compra e venda de seus
produtos, pois, os compradores tinham poucas opções de oferta, dessa forma, o mercador de
longa distância tinha lucros extraordinários no diferencial da compra e venda, tendo em vista
que detinha o monopólio da oferta. Mas não apenas na compra e venda as estratégias dessa
classe para acumular, advém de uma série de atividades, especulações com moedas, troca e
aceite de letras de câmbio, empréstimos, comércio de escravos. “Tornar-se e sobretudo ser
negociante é ter, não o direito, mas a obrigação de lidar, quando não com tudo, pelo menos
com muitas coisas”(BRAUDEL, 1996, p. 334). Em suma, como afirmava Braudel, o essencial
do mercador de longa distância é a fragmentação de suas atividades para onde pudesse obter
lucros extraordinários. É do topo da sociedade mercantil que irá surgir a classes dos
banqueiros e financistas, oriundo das classes dos negociantes e mercadores de longa distância,
aqui está para Braudel à face mais autêntica do capitalismo.
Na base da sociedade mercantil, opera-se o oposto a espacialização produtiva, o
mercado é neste caso a base da vida econômica, regido pela concorrência, clara aos olhos de
todos os comerciantes. Exceto pela intromissão dos mercados de longa distância que quebra
as regras da concorrência. Nesta esfera que irá surgir à manufatura transformada em
manufatura capitalista, e depois revolucionada na indústria têxtil. Ao passo que nos grandes
bancos encontraremos a esfera do capitalismo, em sua função de financiar a coroa, por isso,
os bancos sempre permanecerão distantes da produção, só foram se encontrar no meio do
século XIX quando da construção das ferrovias, na formação do capital monopolista, o grande
banco financiando adquirindo ações das empresas industriais de Ferro e aço. Controlando e
manipulando todo o complexo industrial, da produção á circulação das mercadorias.
Após localizar as diferentes origens dos industriais e dos banqueiros, podemos nos
deter como era a firma industrial típica do século XIX na Inglaterra. De acordo com Tigre
(2005) tratava-se de um tipo de firma-propriedade, gerenciada pelos próprios donos,
geralmente uma família ou um pequeno grupo de sócios. Tinha limitados recursos financeiros
e gerenciais, especializada em poucas atividades produtivas, como consequência tinha que
recorrer ao mercado para obter insumos. Devido a sua pouca disponibilidade financeira, o uso
intensivo de escalas de produção não aparecia como estratégia industrial.

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Por um lado, faltavam recursos técnicos e financeiros para promover investimentos
em equipamentos e desenvolver formas de organização que garantissem a produção
em massa com qualidade. Por outro, a presença de economias externas em distritos
industriais dinâmicos, a exemplo de Manchester, garantia a eficiência coletiva das
empresas individuais. As economias externas, como se sabe, derivam da
disponibilidade de fatores de produção de baixo custo no mercado, e não de uma
melhor utilização dos recursos produtivos no interior da firma. (TIGRE, 2005, P.
194).
Por estas características, tinha-se um padrão de concorrência que tinha poucas
barreiras à entrada, um padrão tecnológico difundido em que novas empresas podiam ter
acesso com reduzido investimento; um tamanho de firma enxuto e especializado, cada qual
controlando diminutas parcelas do mercado, com tamanho reduzido das plantas industriais.
Essas características da firma surgida da revolução industrial são expressas da fase
concorrencial do capitalismo, onde os países atrasados como EUA, Alemanha e França
podiam mimetizar a empresa industrial britânica. De acordo com Oliveira (2003), esse padrão
industrial supõe a existência de um aparelho produtivo integrado no interior da qual são
diferenciados um departamento produtor de meios de produção e de meios de consumo, mais
um sistema de crédito que garanta a mobilidade dos capitais. Regido pela livre concorrência,
pois é por meio dela que são reguladas as relações entre os capitais individuais, bem como as
relações entre capital e trabalho. “Dessa maneira, o capitalismo concorrencial conforma uma
estrutura econômica cuja reprodução é regulada por mecanismos puramente econômicos.”
(OLIVEIRA, 2003, p. 177).
Quanto à esfera financeira, nesse momento os bancos e as demais instituições
financeiras, se limitavam a financiar o capital de giro, e a fornecer crédito de curto prazo para
a indústria britânica. Como dirá Hobsbawm (2013), havia capital acumulado, mas faltavam
oportunidades lucrativas para serem investidas, foi só com o surgimento das coqueluches
ferroviárias e criação das sociedades anônimas que a finança passará a se aproximar da
indústria conformando o nascimento da grande empresa oligopolista, fruto de uma nova etapa
do capitalismo ao qual será discutida na sessão seguinte. O que importa reter neste momento,
é que dado o mercado e o padrão de concorrência da indústria, as relações entre as finanças e
a empresa industrial eram distanciadas, se limitavam a empréstimos de curto prazo, que
atendiam as necessidades de financiamento dos industriais.

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O capitalismo financeiro e a grande empresa oligopolista.
O contexto que surge o imperialismo se processa uma série de mudanças nos
países centrais do capitalismo. Primeiro, o fim da era do liberalismo protagonizado pela
Inglaterra, que permitia o livre fluxo de capitais, de mercadorias e mão-de-obra, neste
contexto os países atrasados, sobretudo EUA e Alemanha, puderam dar o passo decisivo para
a industrialização pesada, ancoradas em protecionismo e financiamento de longo prazo para
as indústrias nascentes. Esses países antes atrasados passam a disputar as zonas de mercados
periféricos com a Inglaterra, para tanto, requeria-se um forte apoio de seus Estados nacionais.
A anarquia da burguesia revolucionária não deixava espaço para o Estado, como afirma
Hobsbawm (2014), agora havia uma junção umbilical entre as grandes empresas destes países
e seus respectivos Estados nacionais. Isso conforma a segunda grande mudança, a segunda
revolução industrial, agora baseada nas indústrias metal-mecânica, puxadas pelos insumos
pesados, cujo símbolo maior é as ferrovias que integravam os mercados nacionais. Todavia, o
novo padrão de acumulação requeria vultosos investimentos, não podendo mais ser financiado
por empreendedores individuais como no padrão da indústria têxtil da primeira revolução
industrial, pelas oportunidades de lucro e financiamento, começam a se desenvolver as
sociedades anônimas, por meio do mercado acionário, que reunia diversas formas de capital
para financiar esses empreendimentos. No entanto, a industrialização pesada dependia
matérias primas para promover a acumulação e alimentos para baratear o custo de reprodução
da força de trabalho, por consequência, os países centrais se voltam aos mercados periféricos,
uma corrida para ganhar zonas de influência de onde pudessem importar as matérias primas e
alimentos que necessitavam; ao mesmo tempo em que receberiam as exportações dos
produtos industrializados desses países, bem como, os capitais excedentes. É neste contexto
de disputa pelos mercados periféricos e suas zonas de influência que se tem início a era dos
impérios, que como assinalou Hobsbawm (2014) não era mais monocêntrica, a Inglaterra
apesar de ser a economia que pela qual passava todos os serviços financeiros e comerciais,
como fretes e seguros, via a concorrência pela hegemonia dos mercados aumentar com a
Alemanha e EUA, nações que a ultrapassaram na industrialização.
Se na primeira revolução industrial tínhamos um padrão de firma enxuto,
especializado com poucos recursos gerenciais e financeiros, as mudanças operadas pelo setor
de bens de produção revolucionaram a indústria, o capitalismo entrava na sua fase da grande
empresa oligopolista, oriunda de Estados imperialistas. Os países atrasados Alemanha e EUA,

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puderam superar a Inglaterra em termos de competitividade industrial, fundamental neste
processo foi a maior potencial de acumulação das firmas americanas e alemãs.
Segundo Tigre (2005) temos três grandes inovações que contribuíram para o
surgimento da grande indústria e a mudança do centro dinâmico para os Estados unidos: a
eletricidade, o motor a combustão e as inovações organizacionais fordista-taylorista. Estas três
inovações permitiram a determinadas firmas “[...] concretizarem a lógica dinâmica do
crescimento e competição pela exploração das oportunidades para obter economias de escala
e de escopo e para reduzir os custos de transação. Em consequência, muitos ramos da
indústria se tornaram oligopolistas.” (TIGRE, 2005, p. 198)
Este processo de concentração, foi seguido com certo atraso, por uma nova
microeconomia que começa a questionar a teoria neoclássica. Todavia, mesmos os autores
que formularam um corpo teórico mais denso, como Labini e Steindl, deram pouca
importância para a aproximação entre a indústria e os bancos, processo observado e teorizado
por Hilferding no clássico O capital Financeiro.
É preciso pontuar que Hilferding, observa o caso alemão, o que para muitos
autores inválidos suas conclusões para outros países. O autor mostrava que o crescimento das
sociedades anônimas, em conjunto a crise econômica do fim do século XIX havia feito surgir
uma nova forma de capital: o capital financeiro. Tal movimento decorre da junção do capital
industrial com o capital bancário, sob o comando do segundo sobre o primeiro. O capital para
a expansão da indústria não vem mais do simples empréstimos dos bancos para os
empresários industriais, mas do próprio controle dos bancos sobre a indústria por meio do
controle acionário. Nas palavras do próprio autor:
A dependência da indústria com relação aos bancos é, pois, consequência das
relações de propriedade. Uma parte cada vez maior do capital da indústria não
pertence aos industriais que o empregam. Não podem dispor deste capital senão
através dos bancos que, frente a eles, representam o proprietário. Por outro lado, o
banco tem que fixar na indústria uma parte cada vez maior de seus capitais. Assim,
se converte em um capitalista industrial em proporções cada vez maiores. Chamo de
capital financeiro o capital bancário, isto é, capital em forma de dinheiro, que deste
modo se transforma realmente em capital industrial. Frente aos proprietários,
mantém sempre a forma de dinheiro, é invertido por eles na forma de capital
monetário, de capital produtor de juros, e podem retirá-lo sempre na forma dinheiro.
Mas, na realidade, a maior parte do capital invertido assim nos bancos se
transformara em capital industrial, produtivo (meios de produção) e se imobilizara
no processo de produção. Uma parte cada vez maior do capital empregado na

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indústria é capital financeiro, capital à disposição dos bancos e utilizado pelos
industriais. (HILFERDING, 1910, P. 262, 263)
Ao mudar as relações de propriedade, houve importantes mudanças na capacidade
das empresas industriais. Primeiro, uma capacidade financeira maior, o que permitiu às
empresas industriais alemãs a compra, fusão e aquisição de empresas irmãs ou menores,
gerando economias de escala, integração vertical do processo produtivo. Este processo, no
entanto é em si mesma dispendiosa, supõe a concentração de capital para se financiar, ao
mesmo tempo em que produz ainda mais concentração de capitais, ou seja, dois processos que
se retroalimentam. Para os bancos o controle da indústria lhes permitia uma valorização
fictícia das ações por eles controladas, ao mesmo tempo, em que podiam gerenciar a liquidez
desses títulos sem torna-los “escravos da produção”.
Para Hilferding o surgimento do capital financeiro decorria da disputa inter-
imperialistas por zonas de influência nos mercados periféricos, apoiados fortemente como já
foi dito em seus respectivos Estados nacionais. Do ponto de vista lógica da acumulação,
podemos dizer nos inspirando em Braudel, que com a junção do capital bancário com o
capital financeiro, os industriais a troco de perderem o controle sobre a suas empresas, foram
alçados ao topo da sociedade mercantil, isto é, passaram a atuar sob lógicas de acumulação
típica dos financistas: o monopólio, a diversificação e o estreitamento dos seus laços com o
Estado, tendo em vista que a conquista de fatias do mercado internacional e nacional só foi
possível, graças ao forte apoio dos Estados nacionais.
Anos mais tarde Sweezy (1942) apontava que “Apesar do curso de evolução por
vezes divergente, principalmente devido às diferenças nas delimitações legais dos bancos
comerciais, o resultado tanto nos Estados Unidos como na Alemanha, países que Hilferding
tomou como base de suas generalizações, foi substancialmente o mesmo.” (SWEEZY, 1942,
P. 290) Todavia, o autor discordava de Hilferding, “[...] que errou ao superestimar a
importância do predomínio financeiro na última fase do desenvolvimento capitalista.”
(IDEM). Para Sweezy, no momento em que Hilferding escrevia o capital financeiro os bancos
viviam seu momento de glória, para passarem novamente “[...] a uma posição subsidiária em
relação ao capital industrial, restabelecendo dessa forma a relação que existia antes do
movimento de combinação.” (Ibid, p. 292).
Independentemente das posições de comando sobre o processo de acumulação de
capital, o que nos importa para os fins deste artigo é que Hlferding foi fundamental em
mostrar que a grande indústria só pode surgir por decorrência da aproximação dos bancos
com a indústria. Teoria que anos mais tarde Sweezy confirmou para o caso americano.
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A mundialização financeira e empresa globalizada1.
Nos início dos anos 1970 a fordismo começa a entrar em crise, segundo Harvey
(2008) por sua própria rigidez: nos contratos de trabalho, nos investimentos de capital fixo em
larga escala e de longo prazo, com sistemas de produção em massa que impediam a
flexibilidade da produção, nos controles rígidos sobre o mercado financeiro. Em suma, a
chave do sucesso da grande empresa oligopolista - a verticalização - se tornava um problema,
a solução era a flexibilidade. Primeiro, grandes conglomerados, de início no Japão, começam
a apresentar novos modelos organizacionais mais intensivos em informação e conhecimento.
Segundo, ocorre uma série de desregulamentaçãoes nos mercados financeiros, permitindo
maior flexibilidade nas operações financeiras, inclusive em empresas “produtivas”.
Chesnais (1996) pontua que no início dos anos 1980, ocorre um processo
acelerado de concentração e internacionalização. As empresas transnacionais (ETN)
realizando fusões e aquisições em mercados nacionais, em investimentos externo direto
cruzado. Resultando num aumento acentuado na dimensão das grandes empresas e
conglomerados. A concentração e internacionalização transformam a intensidade da
concorrência, agora o espaço de rivalidade entre os grandes grupos é global, atuando em seu
próprio mercado e nos rivais, com a quebra dos oligopólios nacionais, o oligopólio agora é
mundial. Todavia, esse gigantismo das ETN abre o desafio da gestão e coordenação. Como
solução as GET começam a externalizar processos produtivos, através da gestão do tipo
empresa-rede, por meio de terceirizações, acordos de cooperação tecnológica, entre outras;
um processo de horizontalização da produção, todavia, que mantém a hierarquização entre as
empresas conectadas, numa relação assimétrica entre elas.
Todos esses movimentos, no entanto, tem um núcleo dinâmico central: a
financeirização. “Chesnais é o primeiro intelectual a caracterizar o regime que emerge como
sendo “dominado” pelo capital financeiro. Portanto, o papel exercido a partir de então pela
empresa transnacional - e suas estratégias - seria decisivamente marcado pelo processo de
“financeirização” das decisões econômicas, políticas e produtivas.” (CASSIOLATO, 369, p.
368). Nesta nova etapa do capitalismo, a relação entre a finança e a indústria se estreita de tão
maneira que as finanças passam a modelar o padrão de investimentos (incluindo P&D) das

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Esta sessão tratará do tema das mundialização do capital e a aceleração do processo de financeirização da
produção, por se tratar de um debate à quente, ainda em curso, com diversos autores de matrizes teóricas
diferentes, disputando uma interpretação a cerca do processo recente de Por consequência nos limitaremos as
indicações de Chesnais, e alguns apontamentos de Braga (2004), sabemos que os autores possuem algumas
discordâncias teóricas que não serão tratadas neste artigo.

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grandes corporações. As instituições financeiras passaram a controlar as ETN não financeiras.
Cassiolato sintetiza o processo de financeirização:
A financeirização representa, portanto, esse processo de subordinação de suas
estratégias às necessidades de valorização do capital financeiro, mediadas pelos
mercados financeiros. Grandes empresas transnacionais industriais tornaram-se, na
verdade, centros financeiros com atividades industriais. (CASSIOLATO, 2013, p.
370)
Braga (2004) chama atenção para o fato de que ao lado das atividades produtivas,
têm-se o crescimento de uma macroestrutura financeira nas ETN, são operações monetário-
financeiras e patrimoniais, operadas em várias praças financeiras, que têm como objetivo a
valorização fictícia dos ativos das ETN, que passam a ser operados como quase-moedas que
“[...] permitem gerir e realizar a riqueza financeira numa velocidade e amplitude antes
inexistentes.” (Ibid, p. 224)
O novo padrão de acumulação dominado pelas finanças alterou mais uma vez a
relação entre as finanças e as empresas industriais, a ponto de não ser mais possível verificar
onde termina uma e começa a outra, tendo em vista que as atividades de acumulação
financeira estão presentes em ambas. Ao mesmo tempo, as finanças também sofreram um
processo de complexificação, sintetizado na desintermediação financeira. O novo capital
financeiro que emergiu da mundialização do capital não é apenas a fusão do capital bancário
com o capital industrial; a face financeira foi transmutada em fundos de pensão, fundos de
investimento, holding, entre outras; ao penetrar na indústria não o faz apenas pela aquisição
de ações, modifica mesmo sua forma de organização. Dessa forma, a fase mais recente do
capitalismo estreitou de maneira jamais vista a relação entre a indústria e as finanças, a ponto
de alguns autores chegarem a uma conclusão apressada de que o capital fictício dominaria o
produtivo e não haveria mais inovações produtivas. Discordamos desta posição, a indústria
4.0 surge com força para mostrar que a indústria continua inovando e produzindo.
Acreditamos que a verdadeira face deste capitalismo seja aquilo que Braudel já apontava, a
busca pelo monopólio, representado pela extrema concentração nos conglomerados e a
diversificação das atividades produtivas, comerciais e financeiras controlados pelos mesmos
conglomerados.

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