Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
PUC-SP
Ananda Carvalho
PROCEDIMENTOS CURATORIAIS:
PRÁTICAS COMUNICACIONAIS NO SISTEMA DA ARTE CONTEMPORÂNEA
SÃO PAULO
2013
Resumo
A JAC-72 era uma mostra livre, de caráter conceitual, em sentido amplo, com obras de
natureza muito efêmera, construídas no interior do museu e abertas a todo tipo de material e
técnicas. Foi planejada para os jovens, mas não havia restrições de idade, um lote
trabalhando ao lado dos outros. O espaço para exposições temporárias (cerca de 1.000
metros quadrados) foi dividido em 84 áreas com diferentes dimensões e formatos,
designadas a cada um dos inscritos por lotes de desenho (ZANINI apud OBRIST, 2010, p.
188).
Posteriormente, em 1981, Zanini foi curador da 16ª Bienal de São Paulo e convidou
Julio Plaza para organizar uma das exposições especiais desta Bienal: uma chamada aberta
para envio de Arte Postal. É importante relembrar que naquela época, a Bienal de São Paulo
era organizada por núcleo de países, que selecionavam suas obras separadamente através de
vias diplomáticas. Segundo Zanini (apud OBRIST, 2010, p. 202):
A mudança decisiva consistia em eliminar as representações nacionais e organizar a
instalação dos trabalhos usando critérios de analogia, quanto à linguagem, à proximidade e
ao confronto com o que os trabalhos de outros países tinham em comum. Tentamos,
portanto, influenciar as escolhas dos comissários através de um regulamento que daria
alguma orientação sobre a nossa ideia. E, pela primeira vez, a Bienal pôde adotar uma
atitude de responsabilidade crítica. Também introduzimos os convites diretos para um certo
número de artistas.
Somada a essa tentativa de transformação da Bienal, a exposição de Arte Postal vem
questionar uma organização tradicional, já que qualquer pessoa poderia enviar um trabalho
para ser exposto1. A Arte Postal discute, principalmente, a produção de mensagens e seus
espaços de recepção. No texto curatorial desta exposição, Julio Plaza define essa produção
como “uma estrutura espaço-temporal complexa que absorve e veicula qualquer tipo de
1
Na época, foi divulgada uma carta convite (posteriormente reproduzida no catálogo da exposição):
“A XVI Bienal de São Paulo (16 de outubro a 20 de dezembro de 1981) apresentará em seu Núcleo I a produção
artística configurada nos sistemas de expressão e comunicação que utilizam os novos media. Nesse contexto será
incluída a arte postal, que permitirá a criação de um espaço aberto aos artistas que se dedicam a essa atividade
em contínua expansão no mundo de hoje. É inegável a importância de se dar melhor a conhecer ao público esse
novo sistema de arte criado para a intercomunicação dos artistas. Apreciaria poder contar com a sua participação.
Envie trabalhos (produção gráfica, registros musicais, vídeo-K7, fotografias, etc.). Anexe foto sua junto ao seu
ambiente de trabalho, ou de seus arquivos.” (FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO, 1981)
informação ou objeto, que penetra e se dilui no fluxo comunicacional (…)” (PLAZA, 2009, p.
453). A autoria dissolve-se para tornar importante a ação e a criação de relações. É uma arte
do trânsito, em que desenvolve-se sistemas variáveis de produção. Conforme propõe Julio
Plaza (2009, p. 452), é “a informação artística como processo e não como acumulação”.
Como resultado da exposição de Arte Postal na XVI Bienal de São Paulo foi produzido
um catálogo2 com imagens de praticamente todos os trabalhos expostos. Os artistas cujas
reproduções das obras não foram possíveis ou não chegaram a tempo do fechamento da
edição do catálogo tem seus nomes citados. A publicação também lista os endereços de todos
os artistas participantes. Essa estratégia ressalta a importância da compreensão de uma arte
em rede que possibilita novos circuitos de expressão da linguagem. Nesse sentido, os
pensamentos de Julio Plaza a partir da Arte Postal, que posteriormente se desdobraram em
estudos sobre o videotexto e as artes tecnológicas, chama a atenção para uma perspectiva
relacional e expandida do esquema “autor + obra + recepção” (como pode ser observado no
livro resultante de sua pesquisa de doutorado “Tradução Intersemiótica” e também no texto
“Arte e Interatividade”).
A transformação desse circuito da arte contemporânea também pode ser observada
através de Anne-Marie Schleiner (2003), curadora que desenvolve pesquisas sobre a cultura
das redes. A autora sintetiza as diferenças entre o curador tradicional (ou do passado) e o
“filtrador” (o curador do futuro) através de uma tabela um tanto dicotômica, mas que permite
visualizar algumas transformações:
Curador do passado3: Filtrador do futuro4:
Espaço expositivo em galerias ou museus Espaço periférico, ou que tende a não
existir
Formação em História da Arte Crítica a cultura pop, história da
tecnologia
Laços com mecenas endinheirados Laços com outros filtradores e artistas
Localizado em metrópolis ou espaços Localizações dispersas
urbanos
Lida com a burocracia e as instituições Circula por aí e evita as instituições
Arte como mercadoria Efêmero, desafios extremos de
conservação
Permanece dentro da comunidade Infiltra-se, subverte outras comunidades
2
Atualmente a Fundação Bienal de São Paulo disponibiliza todas as edições de seus catálogos para serem
visualizados online: http://www.bienal.org.br/FBSP/pt/AHWS/Publicacoes/Paginas/default.aspx
3
Texto original: Past Curator: museum or gallery exhibition space; art history education; ties to wealthy patrons
of art; urban metropolis-located; navigates bureaucracy and institutions well; art as Commodity; stays within Art
Community.
4
Future Filter Feeder: space peripheral, in tandem or 0; pop culture criticism, tech history; ties to other Filter
Feeders and artists; dispersed locations; flows around and avoids institutions; ephemera, extreme preservation
challenges; infiltrates, subverts other communities.
artística
Fonte: SCHLEINER, Anne-Marie. Fluidities and Oppositions among Curators, Filter Feeders, and Future
Artists. Disponível em: http://www.intelligentagent.com/archive/Vol3_No1_curation_schleiner.html
Neste sentido, a pesquisa procura por objetos possíveis de serem observados como
sistemas de ideias. Este conceito deve ser considerado de acordo com a proposta de Morin
(1998, p. 173): a partir de “um certo número de aspectos auto-eco-organizadores que
asseguram a sua integridade, a sua identidade, a sua autonomia, a sua perpetuação, e
permitem-lhe metabolizar; transformar e assimilar os dados empíricos da sua competência”.
Os objetos devem ser observados como possibilidades de interação num sentido ecológico,
físico, sociocultural e noológico. Como um sistema, os elementos heterogêneos,
continuamente, ajudam-se e contradizem-se, organizam-se e desorganizam-se.
Para compreender a denominação arte contemporânea, esta pesquisa concorda com
Anne Cauquelin que defende a existência de um sistema da arte e que o seu conhecimento é
que “permite apreender o conteúdo das obras” (CAUQUELIN, 2005, p. 14). Para isso deve
ser considerado o “papel dos diversos agentes ativos no sistema: o produtor, o comprador
passando pelos críticos, publicitários, curadores, conservadores, as instituições, os museus,
Fonds Régional d’Art Contemporain e Direction Regionale des Affaires Culturalles etc”
(CAUQUELIN, 2005, p. 15). A autora também defende que a arte contemporânea, em
contraposição a arte moderna que seguia um esquema fechado de um regime de consumo,
acontece numa sociedade configurada pela comunicação. E Cauquelin explica os elementos
que compõem esse sistema da arte contemporânea ou as práticas da comunicação:
Em primeiro lugar, a noção de ‘rede’: redes conectadas e metarredes. Depois vêm: 2) o
bloqueio, ou autonomia; 3) redundância, ou saturação da rede; 4) a nominação ou
prevalência do continente (a rede) sobre o conteúdo; 5) a construção da realidade em
segundo grau, ou simulação. (CAUQUELIN, 2005, p. 58 e 59)
Do ponto de vista metodológico, esta pesquisa busca por interconexões, nós e relações
que permitam mapear os procedimentos curatoriais de exposições de arte contemporânea
realizadas em São Paulo. Para tanto, será dividida em duas etapas:
Etapa 1:
- Mapeamento de textos curatoriais, releases e outras informações sobre exposições de
arte contemporânea realizadas em São Paulo (sites e catálogos);
- Pesquisa de publicações e registros de eventos em que se discute a curadoria no Brasil;
- Revisão histórica e bibliográfica sobre procedimentos curatoriais.
Etapa 2:
- Análise dos procedimentos curatoriais de acordo com a teoria dos processos de criação
em rede proposta por Cecilia Almeida Salles.
8. Cronograma