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DIPLOMACIA APLICADO

PORTUGUÊS

Texto: A hora da estrela

1 Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-
história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei... que o universo
jamais começou.
2 Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
3 Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas
acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe,
passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o
mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente
interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou
primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto
agudo uma melodia sincopada e estridente — é a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade?
Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
4 Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos
descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na
hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida —
porque preciso registrar os fatos antecedentes.
5 Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De
onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia
trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela — e é claro que a história é verdadeira
embora inventada — que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro
tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro — existe a quem falte o delicado essencial.
6 Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de
Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que eu em menino me
criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é que os
senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos.
Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro. 1998. p. 11-12.

Questão 1
Com base nas ideias contidas no texto, julgue os itens a seguir.

I. Depreende-se do último parágrafo que o narrador-autor escolheu a personagem principal do romance que ainda vai escrever
ao acaso, como evidencia o trecho “no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina”.
II. No trecho “e é claro que a história é verdadeira embora inventada” (5º parágrafo), o narrador vale-se da metalinguagem
ao definir, mesmo que de modo subjetivo, o princípio da verossimilhança, que caracteriza as obras ficcionais.
III. No sexto parágrafo, no período “Como é que sei que tudo o que vai se seguir e que ainda desconheço, já que nunca o
vivi?” está exemplificado o emprego de palavras de realce, cujo objetivo é conferir ao trecho maior expressividade quanto à
dúvida expressa pelo narrador.
IV. Na oração “Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente” (3º parágrafo), verifica-se a existência de
quatro adjetivos, sendo dois na função de predicativo e dois na função de adjunto adnominal, o que evidencia o emprego da
função emotiva da linguagem.

Questão 2
Considerando os trechos abaixo, marque a alternativa em que a palavra "como" tem o mesmo valor semântico da
conjunção "consoante”.
DIPLOMACIA APLICADO
(A) "Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer?" (terceiro parágrafo)
(B) "Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual" (quarto parágrafo)
(C) "Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido." (quarto parágrafo)
(D) "como a morte parece dizer sobre a vida" (quarto parágrafo)
(E) "Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi?" (sexto parágrafo)

Questão 3
Considerando o sentido do texto e a correção gramatical, julgue os itens subsequentes.

I. Em suas três ocorrências no primeiro parágrafo, o vocábulo “sim” apresenta mesma classificação morfológica e mesma
função sintática.
II. No trecho “Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida”, houve um desvio do padrão formal da língua, visto
que deveria ter sido utilizado o acento grave no termo “a outra molécula”.
III. Pode-se afirmar que os vocábulos “nunca” e “sim”, em “e havia o nunca e havia o sim” (1º parágrafo), e “pensar” e
“sentir”, em “Pensar é um ato. Sentir é um fato.” (3º parágrafo), foram formados pelo mesmo processo de conversão.
IV. Atenderia à prescrição gramatical a reescrita do período “Como começar pelo início se as coisas acontecem antes de
acontecer?” (3º parágrafo) da seguinte forma: Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecerem?.

Questão 4
Julgue as afirmativas abaixo, considerando o estilo da autora e aspectos linguísticos e gramaticais do texto.

I. Verifica-se, no texto, a utilização do fluxo de consciência como recurso estilístico, característica marcante nos textos de Clarice
Lispector, que consiste em o narrador, que assume a voz feminina, dar vazão aos pensamentos de uma personagem também
feminina, sem se preocupar com a pontuação tradicional.
II. Se o período “Também sei das coisas por estar vivendo” (6º parágrafo), fosse reescrito como Uma vez que estou vivendo
também, sei das coisas, seria mantida a correção gramatical e não haveria alteração semântica em relação ao sentido original.
III. A prescrição gramatical seria seguida de modo mais rígido, a fim de respeitar o ritmo do período, caso fosse inserida uma
vírgula após a forma verbal “vive”, em “Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe” (6º parágrafo), da seguinte forma:
Quem vive, sabe, mesmo sem saber que sabe.
IV. Pode-se afirmar que, no quinto parágrafo, a transitividade do verbo “haver”, no trecho “Se há veracidade nela”, é a mesma
do verbo “faltar”, em “por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro.”.
DIPLOMACIA APLICADO
GABARITO:

1. C C C E
2. letra B
3. E E C C
4. E E E E

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