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A modernidade na literatura russa


Fundadores da modernidade

sem que ele mesmo se dê conta disso, como que à sua revelia. estou caçoando, não estou fazendo graça... Eu não teria tocado
Por isso O que é a arte?
deve ser lido com os devidos cuidados: nessa lacrimosidade, nesse arfar de alegria e de dor, nessas cha­
a "sinceridade" do autor na imperiosa manifestação de seu "senti­ gas da alma etc., se elas não fossem tão inoportunas e nocivas.
mento" — condição que Tolstói considera sine qua non
para qual­ [...] Também nas suas obras, você dá muita ênfase à miuçalha...
quer obra de arte — não pode ser tomada ao pé da letra. Ela será, No entanto, você não nasceu para ser um escrevinhador subje­
no processo mesmo de elaboração artística tolstoiana, elaborada tivo... Isto não é inato, e sim adquirido... Renunciar à subjetivi­
de maneira tão peculiar que o estranhamento,
na acepção dos for- dade adquirida é tão fácil quanto aprender o bê-a-bá... É sufi­
malistas russos hoje mais do que consagrada, passa a ser considera­ ciente ser apenas um pouco mais honesto: colocar-se à margem
do parte essencial de sua doutrina verbal, de seu modo de escrever. de tudo, não se enfiar nos heróis do romance, renunciar a si pró­
prio nem que seja por meia hora. Você tem um conto em que
um jovem casal se beija, geme, chove no molhado durante todo
Aurora Fornoni Bernardini o almoço... Nenhuma palavra sensata, mas tão-somente uma bea-
titudel Você não escreveu para o leitor... Escreveu porque essa
lengalenga lhe dá prazer. Descreva o almoço, de que maneira
Anton P. Tchékhov eles comeram, o que comeram, como é a cozinheira, como é vul­
gar o seu herói, satisfeito com sua felicidade indolente, como é
vulgar a sua heroína, como ela é ridícula em seu amor por esse

Cartas* ganso bem-alimentado e empanturrado, envolvido num guarda­


napo... Todos gostam de ver pessoas bem-alimentadas e satisfei­
tas — isto é verdade, mas, para descrevê-las, não basta contar o
que elas falaram e quantas vezes se beijaram... É necessário algo
Carta n? 1: para Aleksandr P. Tchékhov5 mais: é necessário rejeitar aquela impressão particular que a feli­
cidade açucarada causa nas pessoas não-exacerbadas... A subjeti­
Moscou, 20 de fevereiro de 1883. vidade é uma coisa horrível. Ela já é ruim só pelo fato de denun­
[...] Começarei pela forma da sua carta. Lembro-me de ciar o pobre autor da cabeça aos pés. Aposto que toda mulher
como você caçoava dos manifestos de nosso tio...6Era de si pró­ de pope ou de escrivão que leu a sua obra é apaixonada por você.
prio que você caçoava. Seus manifestos rivalizam com os de E se você fosse alemão, beberia cerveja de graça em todas as
nosso tio em pieguice. Neles há de tudo: “estreite nos braços”... cervejarias em que há alemãs trabalhando. Se não fosse essa sub­
“chagas da alma”... Falta apenas você se derramar em lágri­ jetividade, esse choramingar, você daria um artista de altíssimo
mas... Se formos acreditar nas cartas de titio, ele, o tio, já há rendimento. Você sabe rir, zombar, ridicularizar tão bem, você
muito tempo deve ter se esvaído em lágrimas (província!...). tem um estilo tão redondinho, passou por tanta coisa, viu tanto...
Você lacrimeja do começo ao fim da carta... Em todas as suas Ora! o material está se perdendo à toa. [...]
cartas, aliás, em todas as suas obras... Chega-se a pensar que
você e o nosso tio são feitos apenas de glândulas lacrimais. Não Carta n? 2: para Aleksandr P. Tchékhov
Moscou, 10 de maio de 1886.
^ Anton Pávlovitch Tchékhov (1860-1904), contista e dramaturgo russo. Nasceu em Tagan-
rog (Rússia Meridional) de família de modestos comerciantes. Quando terminou a Faculdade [...] “A cidade do futuro” é um tema esplêndido, tanto pela
de Medicina de Moscou em 1884, já escrevia para revistas satíricas os seus contos. sua novidade quanto pelo interesse. Acho que, se você não tiver
4 “Pisma” : escritas entre 1883-1899. Textos extraídos de T c h é k h o v , A. P. Sóbranie sotchi- preguiça, escreverá algo bastante bom, mas só o diabo sabe como
nicnii v dvienátsati tomakh (Obras reunidas em doze volumes). Moscou, Editora Literatura
Artística, 1963, v. 11, 12. As cartas numeradas de 1 a 6 encontram-se no v. 11 (1877-1892)
você é preguiçoso! “A cidade do futuro” só se tornará uma obra
respectivamente às p. 11-8, 92-3, 217-22, 274-7, 401-2, 410-2. As cartas 7 e 8 encontram-se de arte nas seguintes condições: 1. ausência de palavrório prolon­
no v. 12 (1893-1904) respectivamente às p. 241-2, 308-9. gado de natureza político-sócio-econômica; 2. objetividade total;
5 Aleksandr Pávlovitch Tchékhov (1855-1913), irmão mais velho de Tchékhov, escritor e 3. veracidade nas descrições das personagens e dos objetos; 4.
jornalista. Aleksandr era também formado em ciências exatas (física e matemática). Apesar
das várias aptidões, teve uma vida apagada. brevidade extrema; 5. ousadia e originalidade — fuja dos chavões;
Tchékhov refere-se às cartas de seu tio Mitrofan Egórovitch Tchékhov. 6. sinceridade.
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Na minha opinião, as descrições da natureza devem ser à textos longos, eu sou desconfiado; enquanto escrevo, a idéia de
propos. Lugares-comuns do tipo: “O sol poente, ao se banhar nas que minha novela será longa e não estará na devida forma assusta-
ondas do mar que escurecia, inundava de ouro rubro” e assim me o tempo todo, e eu tento escrever o mais curto possível. O
por diante; “as andorinhas, voando sobre a superfície da água, final do engenheiro com Kíssotchka11 dava-me a impressão de
chilreavam alegremente” — tais lugares-comuns devem ser aban­ um detalhe pouco importante, que estancava a novela, e, portan­
donados. Nas descrições da natureza, é necessário se apegar a to, abandonei-o, substituindo-o, a contragosto, por “Nicolai e
detalhes minúsculos, agrupando-os de tal forma que, após a lei­ Macha”.
tura, quando se fechar os olhos, surja um quadro. Por exemplo, Você escreve que tanto a conversa sobre o pessimismo
você obterá uma noite de luar se escrever que, no açude do moi­ quanto a história de Kíssotchka não fazem evoluir e não resolvem
nho, um caco de garrafa quebrada cintilava como uma estrelinha, absolutamente a questão do pessimismo. Parece-me que os escrito­
e a sombra negra de um cão, ou de um lobo, pôs-se a rodar
res não devem resolver questões tais como Deus, o pessimismo
como uma bola etc.7 A natureza surgirá com vida se você não
etc. O papel do escritor é apenas retratar quem falou ou pensou
tiver objeção em comparar seus fenômenos com as ações huma­
nas etc. a respeito de Deus ou do pessimismo, de que maneira e em que
circunstâncias. O artista não deve ser o juiz de suas personagens,
Na esfera psicológica, também os detalhes. Que Deus lhe
nem do que elas falam, mas apenas uma testemunha imparcial.
proteja dos lugares-comuns. É melhor evitar a descrição do
Ouvi uma conversa sem nexo entre dois russos sobre o pessimismo,
estado de espírito dos heróis; procure fazer com que ele seja per­
cebido através das ações das personagens... Não é necessário que não resolvia nada, e devo transmitir essa conversa exatamente
sair em busca de muitas personagens. Como centro de gravidade, como a ouvi, e os jurados, ou seja, os leitores, irão julgá-la. Meu
deve haver duas: ele e ela... papel é apenas ter talento, ou seja, saber distinguir as declarações
importantes das insignificantes, saber iluminar as personagens e
Escrevo isto para você como um leitor que tem um deter­
minado gosto. Escrevo, também, para que você, ao escrever, não falar a língua delas. Chtcheglóv-Leôntiev me recrimina por eu ter
se sinta só. A solidão, no trabalho criativo, é uma coisa penosa. concluído o conto com a frase: “Não se compreende nada neste
E melhor uma crítica ruim do que nada... Não é assim? [...] mundo!” Na sua opinião, o artista-psicólogo deve compreender,
pois ele é psicólogo, mas eu não concordo com ele. Já está na
hora de as pessoas que escrevem, sobretudo os artistas, percebe­
Carta n° 3: para Alekséi S. Suvórin8 rem que neste mundo não se compreende nada, como reconheceu
outrora Sócrates e como Voltaire reconhecia. A multidão pensa
Sumi, 30 de maio de 1888. que sabe tudo e entende tudo; e quanto mais estúpida ela é, mais
[...] O que você escreve a respeito de “Luzes” 9 está total­ amplo parece-lhe o seu horizonte. Mas se um artista, em quem a
mente certo. “Nicolai e Macha” 10 atravessam “Luzes” como um multidão acredita, decide declarar que não compreende nada do
fio condutor, mas o que fazer? Por falta de hábito de escrever que vê, só isto já constituirá um grande saber no domínio do pen­
samento e um grande passo avante. [...]

7 Esse exemplo foi tirado do conto “O lobo” (“Volk"), publicado em março de 1886, no
Peterbúrgskaia Gazeta. Mais tarde, Tchékhov aproveitaria essa imagem na peça A gaivota,
Carta n° 4: para Alekséi S. Suvórin
quando Treplióv se refere à maneira de o escritor Trigórin descrever uma noite de luar.
8 Alekséi Serguéievitch Suvórin (1832-1912), diretor do Nóvoie Vrêmia, jornal de Peters- Moscou, 27 de outubro de 1888.
burgo de tendências conservadoras, com ampla circulação. Tchékhov era colaborador-do jor­
nal de Suvórin desde 1886. Em fins da década de 1880, Tchékhov tornou-se muito amigo [...] As vezes eu prego heresias, mas ainda não cheguei
de Suvórin, embora este fosse tido como oportunista e reacionário. Mais tarde, em fins da
década de 1890, a amizade entre ambos seria abalada devido às posições de Suvórin no caso
nenhuma vez à negação absoluta de problemas na arte. Em con­
Dreyfus. versas com meus colegas escritores, sempre insisto no fato de que
9 O conto “Luzes” (“Ogni”) de Tchékhov havia sido publicado na edição de maio de 1888
da revista Sévemi Véstnik.
10 Como a carta de Suvórin não foi guardada, não há possibilidade de se explicar essa refe­ 11 Personagens do conto “Luzes” . Kíssotchka é a personagem feminina que o engenheiro
rência. A leitura do conto também não dá nenhuma indicação a respeito do que se trata. Anâniev evoca na narrativa que faz dentro do conto.
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não é função do artista resolver questões estritamente especializa­ pois do contrário você nunca poderá elaborar as frases. É preciso
das. E mau quando o artista trata daquilo que não entende. Para que cada frase permaneça no cérebro uns dois dias e seja lubrifi­
questões especializadas temos os especialistas; é tarefa deles jul­ cada, antes de se deitar no papel. Evidentemente, eu próprio, por
gar a comunidade, os destinos do capital, os males da bebedeira, preguiça, não sigo essa regra, mas recomendo-a a você, que é
as botas, as doenças femininas... O artista deve julgar apenas jovem, sobretudo porque já experimentei mais de uma vez em
aquilo que entende; seu círculo é tão limitado quanto o de qual­ mim mesmo as suas propriedades salutares, e sei que os manus­
quer outro especialista — é o que repito e no que insisto sempre. critos de todos os verdadeiros mestres são borrados e riscados
Que em sua esfera não haja questões, e sim apenas respostas, só de cabo a rabo, são surrados, cobertos de remendos que, por sua
quem nunca escreveu e não lidou com imagens é capaz de dizer. vez, são riscados e emporcalhados... [...]
O artista observa, escolhe, adivinha, arranja: apenas estas opera­
ções já pressupõem, em sua origem, um problema. Se o problema Carta n? 6: para Alekséi S. Suvórin
não foi colocado desde o início, não haverá nada a adivinhar nem
a escolher. A fim de ser mais breve, terminarei através da psiquia­ Moscou, 1? de abril de 1890.
tria: se o problema e a intenção forem negados no ato criativo,
[...] Você me repreende a objetividade, chamando-a de indife­
será então necessário admitir que o artista cria sem premeditar e rença em relação ao bem e ao mal, de falta de ideais e de idéias
sem um propósito, sob a influência da emoção; por isso, se um etc. Você quer que, ao representar ladrões de cavalo, eu diga: rou­
autor se vangloriasse diante de mim de ter escrito uma narrativa bar cavalos é um mal. Isto, porém, já é sabido há muito tempo,
sem intenção premeditada, apenas por inspiração, eu o chamaria sem eu precisar dizer. Deixemos os jurados julgá-los, ao passo
de louco.
que a minha função é apenas mostrar como eles são. Eu escrevo:
Ao exigir do artista uma atitude consciente em relação ao vocês estão diante de ladrões de cavalos, pois saibam então que
seu trabalho, você tem razão, mas confunde dois conceitos: a solu­ eles não são indigentes e sim pessoas bem-alimentadas, que cum­
ção do problema e a colocação correta do problema. Apenas o segundo prem um ritual, e que o roubo de cavalos não é um simples roubo,
é obrigatório para o artista. Em Ana Karênina e em Oniéguin não é uma paixão. Evidentemente, seria agradável combinar a arte
está resolvido nenhum problema, no entanto essas obras o deixam com um sermão, mas para mim, em particular, é extremamente
plenamente satisfeito, porque todas as questões foram colocadas difícil, quase impossível, por razões técnicas. Para representar
de forma correta. Um tribunal é obrigado a colocar as questões ladrões de cavalos em 700 linhas, eu preciso, o tempo todo, falar
corretamente, e que os jurados resolvam, cada um à sua maneira. e pensar no tom deles e sentir à maneira deles. Do contrário, se
[...] eu introduzir a subjetividade, as imagens ficarão borradas, e o
conto não será tão compacto como devem ser todos os contos cur­
tos. Quando eu escrevo, confio inteiramente no leitor, supondo
Carta n° 5: para Aleksandr S. Lázariev (Gruzínski)12 que ele próprio acrescentará os elementos subjetivos que faltam
ao conto. [...]
Moscou, 13 de março de 1890.
[...] O seu conto “A fuga” não é mau, porém foi feito de Carta n? 7: para Alekséi Maksímovitch13
maneira mais do que negligente. [...] Construa a sua frase, faça-a
mais suculenta e consistente, pois ela está parecendo um espeto Ialta, 3 de dezembro de 1898.
de peixe defumado. É preciso ficar escrevendo um conto durante Sua última carta deu-me um grande prazer. Agradeço-lhe
uns 5 ou 6 dias e, enquanto se escreve, pensar nele o tempo todo, de toda a alma. “Tio Vânia” foi escrita há muito, muito tempo.
Nunca a vi em cena. Nos últimos anos começaram a representá-

Aleksandr Siemiónovitch Lázariev, cujo pseudônimo literário era Gruzínski, havia enviado
a Tchékhov o manuscrito de seu conto “A fuga” , antes de publicá-lo no jornal Nóvoie Vrêtnia. Trata-se do escritor Máximo Górki.
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la freqüentemente em teatros de província — talvez por eu ter
publicado uma coletânea de minhas peças. Há muito tempo que çoar-se com o galo e adquirir maiores habilidades, mas para que
me afastei do teatro, já não tenho vontade de escrever para o teatro. finalmente penetre com a cabeça na literatura e a ame. Além do
O Sr. pergunta qual a minha opinião sobre seus contos. mais, a província faz envelhecer cedo. Korolenko, Potápenko,
Qual a minha opinião? Talento indiscutível e autêntico; um grande Mâmin, Ertel são pessoas excelentes; nos primeiros tempos, pode
talento. Por exemplo, no conto “Na estepe”, ele se manifestou ser que lhe pareçam um tanto enfadonhos, mas depois, dentro de
com uma força extraordinária e inclusive tive inveja por não ter um ou dois anos, o Sr. se acostumará e os apreciará devidamente,
sido eu quem o escreveu. O Sr. é um artista, um homem inteli­ e a companhia deles o compensará largamente do desagrado e
gente. Sente com perfeição. É um plástico, ou seja, quando des­
do desconforto da vida na capital.
creve um objeto, o Sr. o vê e o apalpa com as mãos. Isso é arte
autêntica. Eis a minha opinião e estou muito contente de poder Vou correndo para o correio. Saúde, prosperidade e um forte
expressá-la. Repito, estou muito contente e, se nos conhecêsse­ aperto de mão. Mais uma vez, obrigado pela carta.
mos pessoalmente e conversássemos uma hora ou mais, então o
Sr. se convenceria de como o tenho em alta conta e que esperan­
ças deposito em seu talento. Carta n° 8: para Alekséi Maksímovitch
Falar agora dos defeitos? Mas isto não é tão fácil. Falar dos
defeitos de um talento é o mesmo que falar dos defeitos de uma Ialta, 3 de setembro de 1899.
grande árvore que cresce num jardim: o principal não está na
éárvore em si, mas no gosto daquele que olha para a árvore. Não
assim? Saudações, mais uma vez. Estou respondendo à sua carta.
Em primeiro lugar, em geral sou contra dedicatórias a pes­
Começarei com o seguinte: na minha opinião, falta-lhe con­ soas vivas. Antes eu fazia dedicatórias, e agora sinto que teria
tenção. O Sr. é como o espectador num teatro que manifesta seu sido melhor, talvez, não fazê-las. Isto em geral. Em particular, o
entusiasmo de maneira tão desenfreada, que impede a si, e aos fato de você me dedicar Gordéiev só me dará prazer e honra. Mas,
outros, de ouvirem. Sente-se especialmente esta falta de conten­
ção nas descrições da natureza, com as quais o Sr. interrompe os por que mereci isto? No entanto, é assunto seu julgar e meu ape­
diálogos; quando se lêem essas descrições, tem-se vontade de que nas saudar e agradecer. Faça a dedicatória, na medida do possí­
elas sejam mais compactas, mais concisas, de mais ou menos vel, sem palavras supérfluas, ou seja, escreva apenas: “dedica-se
duas ou três linhas. Freqüentes referências a deleite, veludez etc. a um tal...” 14, e basta. Só Volínski15gosta de dedicatórias longas.
conferem a essas descrições algo de retórico, de monótono — e Ainda um conselho prático, se desejar: mande imprimir em maior
esfriam, quase cansam. Sente-se também falta de contenção nos quantidade, não menos de 5 ou 6 mil. O livro sairá rapidamente.
retratos das mulheres (“Malva”, “Nas balsas”) e nas cenas de A segunda edição pode ser impressa junto com a primeira. Outro
amor. Não é a amplitude, não é a largura da pincelada, mas justa­ conselho: ao fazer a revisão, corte, onde puder, os atributos dos
mente falta de contenção. Ademais, há o emprego freqüente de
substantivos e dos verbos. Você coloca tantos atributos que a aten­
palavras totalmente incompatíveis com os contos de seu tipo. “A-
companhamento”, “disco”, “harmonia”, tais palavras incomodam. ção do leitor dificilmente se orienta e ele se cansa. E compreensí­
Freqüentemente o Sr. fala das ondas. Na representação dos inte­ vel quando escrevo: “Um homem se sentou no gramado”. É com­
lectuais sente-se uma tensão, como se fosse cautela, não porque preensível porque é claro e não retém a atenção. Ao contrário, é
tenha observado pouco os intelectuais — o Sr. os conhece, mas ininteligível e pesado para o cérebro se eu escrever: “Um homem
simplesmente não sabe exatamente por que lado abordá-los. alto, de peito estreito, de talhe médio, barba ruiva, sentou-se sem
Qual a sua idade? Não o conheço, não sei de onde é, nem
quem o Sr. é, mas me parece que, enquanto ainda é jovem, deve­
14 No livro, publicado em 1900, Górki escreveria a seguinte dedicatória: “A Anton Pávlo-
ria deixar Níjni e viver dois ou três anos, esfregar-se, por assim vitch Tchékhov” .
dizer, na literatura e em gente de literatura. Não é para aperfei- 13 A Volínski (pseudônimo de A. K. Flekser — 1863-1926): um dos ideólogos do Simbolismo
russo.

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